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RESENHA DOS TEXTOS 9 E 10 ________________________________________________________________________________ DO ESTADO LIBERAL AO NEOLIBERAL (TEXTO 9) Pereira (2004) exibe as concepções centrais do Estado Liberal e do Estado Neoliberal, visando explicar a utilização do conceito de liberdade nestes dois campos de pensamento. Teoricamente, a concordância do Liberalismo com o Neoliberalismo se dá pela ausência estatal no mercado, o que caracteriza, segundo os autores, a liberdade econômica dos povos. Porém, os níveis e as formas são dissemelhantes. O Liberalismo como corrente de pensamento econômico e político, surge em oposição aos sistemas absolutistas e feudais, denunciando os privilégios concedidos pelos Estado, assim como sua ineficiência econômica. Surge-se, nesse contexto, uma nova burguesia, idealizadora da garantia da propriedade privada, do individualismo e da liberdade econômica, mecanismos que garantem, segundo as ideias liberais, o bom funcionamento do sistema e o bem-estar coletivo. A ideia de Estado Mínimo contrapõe a ineficiência econômica do protecionismo estatal. Contudo, a minimização deve assegura a propriedade privada e a conservação dos direitos básicos, além de fornecer infraestrutura e institucionalidade para as atividades econômicas, visto que o setor privado não possui interesses em atividades não lucrativas. Considerando o intuito de dissolução dos Estados absolutistas, o Liberalismo surge como uma corrente revolucionária no período. Por outro lado, o Neoliberalismo, apesar de apresentar as mesmas estruturas filosóficas do Liberalismo, assume um caráter reacionário, segundo o autor. A hegemonia do pensamento neoliberal surge nas décadas de 1970 e 1980, após a crise da era dourada do keynesianismo. Segundo os principais autores neoliberais, as crises da década de 1970 foram ocasionadas pela irresponsabilidade do intervencionismo econômico estatal. Apesar de sua origem como solucionador de crises, o Neoliberalismo, segundo Pereira, condiciona as regressões econômicas. As privatizações e as desregulamentações marcam a saída do Estado das atividades produtivas, elevando as instabilidades estruturais. Tais movimentos corroem o bem-estar social, principalmente dos mais vulneráveis, criando contradições dentro do sistema de relações econômicas. As consequências diretas destas discordâncias são as crises. Talvez a divergência central se realize no âmago da ideologia. Exemplos históricos mostram que existem proximidades entre os ideais do Neoliberalismo com os sistemas ditatoriais - como ocorreu no Governo de Pinochet, no Chile. O discurso mostra que a Liberdade econômica sobrepõe a política, restringindo a mobilidade social e política nas sociedades. A insustentabilidade dos regimes neoliberais pode ser explicada pela “síndrome da imunidade autoatribuída”. A tese defende que os fracassos das medidas neoliberais são atribuídos à insuficiência dessas medidas. Logo, adota-se com mais intensidade as mesmas medidas, criando-se aspirais viciosas. Tal desgaste exponencial pode ser observado pelo aumento do desemprego e, consequentemente, pela redução da demanda, uma vez que o Neoliberalismo propõe medidas pró- cíclicas para estabilização da economia. Dentre as classes, a dos trabalhadores é a mais afetada por tais movimentos, pois a flexibilização das relações de trabalho comprime os salários reais dos trabalhadores e viabiliza o desemprego, gerando um encadeamento negativo na demanda agregada. Com base nisso, é possível ver que o crescimento econômico das sociedades neoliberais retrocede numa tipologia de servidão. Em suma, as ideias neoliberais, pautadas na falsa racionalidade dos indivíduos e no egoísmo, vão contra os difireitos trabalhistas e sociais, os quais, segundo os teóricos adeptos a tal corrente, atrapalham o funcionamento pleno dos mercados. É importante ressaltarmos que o movimento neoliberal não se realizou de forma centraliza nas principais nações. A corrente foi, e ainda é, muito relevante na academia. Também é visível a propagação desta ideologia por meio das instituições multilaterais. Como exemplo dessa expansão, podemos citar o Consenso de Washington, o qual viabilizou o Neoliberalismo na América Latina. NEOLIBERALISMO NA AMÉRICA LATINA E A NOVA FASE DE INDEPENDÊNCIA Amaral (2007) expõe as principais ideias sobre a Teoria da Dependência, mostrando a que as periferias estão subordinadas e presas aos centros. Discorda-se, nesta linha de pensamento, da ideia de que o subdesenvolvimento é o estágio anterior do desenvolvimento, pois, segundo os teóricos, o que existe é uma periferia subdesenvolvida sustentando um centro desenvolvido. A autora coloca que existe duas formas de dependência: a colonial e a financeira-industrial, marcada pela dominação do capital industrial e financeiro de algumas nações. Dentro do contexto da dependência contemporânea é notável o peso das multinacionais no cenário econômico, além da manutenção da mobilidade do capital fictício. A sobreposição de algumas nações, no contexto da globalização, gera um movimento de acumulação de capital mais complexificado e mais financeiro, caracterizado pela superexploração da força de trabalho e pela redistribuição regressiva da renda. Com isto, a relação do centro com a periferia é marcada pela apropriação da Mais-Valia dos países marginalizados pelos países desenvolvidos. Sobre o processo de financeirização das periferias, podemos afirmar que o discurso globalizante da década de 1990 o consolidou, o que fez com que a vulnerabilidade externa dos países menos desenvolvidos ficasse mais exposta, visto a predominância do capital fictício em suas economias. Além dos fatores conjunturais, podemos ressaltar os institucionais. O movimento globalizante do capital contou com a participação de uma gama de organismos internacionais (como FMI, BIRD e Banco Mundial), os quais disseminaram reformas estruturais para o desenvolvimento dos mercados globalizados, aplicando, para isto, a livre abertura e a desregulamentação econômica. A condução dos movimentos globalizantes é realizada com base na Teoria das Vantagens Comparativas e na divisão internacional do trabalho. Tais medidas reforçam o subdesenvolvimento das periferias, uma vez que se reduz a diversificação produtiva nestas localidades (via abertura comercial e financeira). Estimula-se, com essas ideias, a produção e a exportação dos produtos primários, o que, por sua vez, desindustrializa a economia e desequilibra o Balanço de Pagamento nos países menos desenvolvidos. Estes fatores, em conjunto, desnacionalizam os países periféricos, pois a predação dos países centrais descaracteriza toda forma de desenvolvimento nacional nas regiões mais marginalizadas. A excessiva abertura comercial e financeira, assim como a falta de controle dos capitais, deixa as periferias mais vulneráveis ao setor externo. Percebe-se que a fragilidade das periferias diante do capital global se reproduz com o tempo, de forma praticamente inercial. Os resultados líquidos da Balança de Pagamento se realizam de forma negativa nas periferias, o que faz com que a dívida interna e externa sejam incrementadas. A recategorização de devedor faz com que o investimento e o consumo sejam desestimulados nestas localidades, fazendo com que a dívida aumente novamente, gerando um novo desequilíbrio. Desta forma se consolida o ciclo vicioso da dependência, a qual, gradualmente, gera mais dependência As dificuldades enfrentadas nas periferias transbordam o escopo produtivo, afetando, também, o bem-estar da sociedade. O caráter cíclico da dominação aprofunda a superexploração do trabalho, uma vez que os déficit precisam ser compensados de alguma forma. Continuamente, os salários reais são reduzidos e o desemprego se eleva, mantendo um exército industrial de reserva crescente.CONSIDERAÇÕES Os textos mostram com clareza como o Neoliberalismo foi um retrocesso para a economia e para humanidade. Medidas egoístas, encapadas com o filantropismo, tomaram conta do ideário contemporâneo. A crise gerada entre 2008 e 2009 mostra de perto a falácia do movimento neoliberal. Porém, essa exposição não foi o suficiente para quebrar com as práticas tão desmedidas desse movimento. O retrocesso ainda é observado em algumas das nações, como é o caso do Brasil recente. Com os textos também podemos perceber como o Neoliberalismo se alastrou como um câncer nas décadas de 1980 e 1990, condicionando muitos países à uma situação de dependência com as principais potências econômicas, redesenhando os parâmetros de um novo tipo de imperialismo velado. A escada foi chutada, colocá-la de volta no seu lugar demanda muito esforço e vitalidade estatal. O caso da dominação na América Latina deixa claro o efeito parasitário nos países periféricos. Vemos, também, a institucionalização do arcaísmo neoliberal, principalmente durante movimento de globalização. Organismos internacionais, como FMI, BIRD e Banco Mundial colaboram com a intensificação dependência entre o centro e a periferia, sugerindo (de forma até mesmo impositiva) medidas liberalizantes, assim como a minimização do Estado. Outro ponto que merece destaque é a trágica convergência ideológica do Neoliberalismo com as correntes políticas mais extremas. Existe uma grande discussão acerta desta concordância. Um caso interessante de se notar é a proximidade do fascismo latino americano com os ideais neoliberais. Podemos ver essa estrita relação na ditadura chinela, comandada por Pinochet. Estudar o Neoliberalismo é um exercício complexo, pois existe uma série de especificidades. Os questionamentos que ficam são: até quando as contradições neoliberais vão se sustentar? Qual será a nova forma de organização econômico-social? Essas questões podem parecer intangíveis, mas as recorrentes crises põe a sustentabilidade do sistema em dúvida.
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