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AGRADECIMENTOS Aprendi nestes anos de luta e labuta que é muito difícil fazer algo sozinho, que o trabalho de equipe rende dividendos para todos. Basta pôr a mão na massa e arregaçar as mangas e lá vamos nós conquistando nosso espaço e construindo nossa história. A equipe de Patologia da Universidade de Uberaba a cada ano se renova com a saída e chegada de um novo residente. Aproveito neste momento para agradecer a colega Laryssa Rezende que está se despedindo. Sua colaboração durante dois anos foi fundamental no aprimoramento das aulas práticas de necropsias. Felicito ao colega Marcelo Coelho que está incorporando nossa equipe. Agradeço ao professor Raul Morais Nolasco pela colaboração competente e suas observações embasadas na prática da Medicina Veterinária. Ao colaborador Arthur Queiroz técnico em Anatomia que divide seus esforços integrando nossa equipe. Ao farmacêutico industrial Hélio Alberto que depois de dezessete anos de empenho e desempenho constante em uma sala de necropsia, tornou-se um exímio técnico, com perfil de professor de patologia. Aproveito a oportunidade para agradecê-lo. Registro aqui a participação incansável de Cláudio Henrique Barbosa professor de patologia das aves, um belo exemplo de dedicação e esmero no ofício da Medicina Veterinária. Expresso meus sinceros agradecimentos. Agradeço ao colega Médico Veterinário e R2 em patologia: Cayque Emmanuel de Oliveira editor deste livro. Penso que sem a participação, incentivo e entusiasmo deste jovem prodígio e estudioso, este livro não sairia das entranhas do meu encéfalo. Sua dedicação me fez crescer e buscar alternativas que tornaram possível a publicação deste, uma vez que as editoras convencionais estão em recesso. Meus agradecimentos a Universidade de Uberaba local onde nasceram as melhores ideias e observações das lesões que aqui relato. Agradeço e dedico aos meus alunos e ex-alunos razão pelos quais e para os quais me tornei escritor. PREFÁCIO Escrever um livro tem sempre um mistério envolvido. Cada autor tem sua motivação particular. No meu caso estou cumprindo meu dever de professor de patologia das aves, depois de ter convivido e ser orientado pelo professor José Maria Lamas da Silva, cujo conhecimento nesta área atravessou as fronteiras do Brasil. Mas para chegar até este ponto foi preciso à intervenção do professor Wilson Ferreira Lúcio a quem rendo todas as homenagens como educador e patologista sem comparação. Ainda há a figura inusitada do professor Nelson Ferreira Lúcio que além de ensinar me motivou. Expresso aqui minha gratidão. Esta estória não teria acontecido se, lá atrás o meu colega de trabalho no departamento municipal de água e esgoto de Uberlândia MG, Luiz Carlos de Araújo Carvalho, não tivesse dado um ultimato: vá fazer veterinária, combina com você que é da roça. E assim não me deu descanso até que fiz vestibular e passei. Toda vez que eu encontro com ele é sempre uma emoção. Aproveito este espaço para expressar meus sinceros agradecimentos. Foi a partir daí que tudo começou. Agradeço ao colega Divino Zandonaidi que se graduou comigo. Ele me cedeu seu emprego de professor de biologia para que pudesse seguir pagando o curso e não o interromper no meio do caminho. Que Deus lhe pague. Certa ocasião o representante financeiro da faculdade chegou à sala de aula e disse: quem não pagou não faz prova. Eu era um que devia umas cinco mensalidades. Desta vez, quem me salvou foi outro colega de turma, Hélcio Pereira de Queiroz. Quem tem Deus no coração nunca está sozinho. Há sempre um anjo para nos socorrer. Mas a maior motivação vem da vontade de levar até meus alunos a forma mais simples de se encarar o conhecimento. Entendi que conhecimento não tem dono, ele pertence ao universo, quem chega primeiro abarca a fatia que puder, e quem angariar a fatia maior fica no dever de colaborar com o seu próximo, e meu próximo é o aluno. Nunca trabalhei em nenhuma empresa avícola. Minha experiência reside em salas de patologia e dezenas de visitas em criatórios de aves. Este livro tem toda a didática do autor que se emociona ao ver o crescimento de seu ex-aluno que se destaca no senário Médico Veterinário. Não tenho nenhuma pretensão financeira com esta obra, minha proposta é ser útil depois de quatro décadas de dedicação á patologia animal. Não quero passar minha vida em branco, por isso, escrevo as coisas que vivi. E o que mais vivi, além do convívio com a minha família foi a Medicina Veterinária. Sou muito grato à oportunidade que a vida me concedeu, por isso é que presto homenagens a alguns benfeitores na minha vida. Aprendi que a gratidão é mãe de todas as virtudes, então sou grato a todos que contribuíram nestes anos de aventuras e desventuras. Penso até que sou um perdedor que venceu, quando olho para traz e vejo as barreiras que me foram impostas e mesmo assim cheguei com disposição, alegria e amor à vida. 1 SUMÁRIO INTRODUÇÃO ................................................................................................................ 2 TÉCNICA DE NECROPSIA ........................................................................................... 3 ALTERAÇÕES POST MORTEM ................................................................................... 6 SITEMA TEGUMENTAR ............................................................................................. 10 APARELHO LOCOMOTOR DAS AVES .................................................................... 25 SISTEMA CARDIOVASCULAR ................................................................................. 52 SISTEMA RESPIRATÓRIO ......................................................................................... 62 PERITÔNIO ................................................................................................................... 87 APARELHO DIGESTÓRIO .......................................................................................... 92 FÍGADO ......................................................................................................................... 11 SISTEMA HEMOCITOPOIÉTICO ............................................................................... 19 SISTEMA URINÁRIO .................................................................................................. 37 SISTEMA GENITAL MASCULINO ............................................................................ 44 SISTEMA GENITAL FEMININO ................................................................................ 48 SISTEMA NERVOSO ................................................................................................... 56 2 INTRODUÇÃO Patologia é a ciência que estuda as lesões macro e microscopicamente, sua origem e mecanismo de formação. Por questões lógicas, essa ciência foi dividida em Patologia Humana, Animal e Fitopatologia. Dentro da patologia animal encontra-se a ornitopatologia: uma parte dedicada exclusivamente às alterações anatomopatológicas das aves. Didaticamente a ornitopatologia é denominada patologia das aves. Coloca todas as alterações em seus respectivos sistemas, obedecendo as seguintes sequencias: alterações post mortem; do desenvolvimento (congênitas); degenerativas; circulatórias; inflamatórias; granulomatosas e neoplásicas. Neste contexto, as mais importantes enfermidades das aves serão aqui estudadas em seus respectivos sistemas e aparelhos, enfatizando os aspectos macro e microscópicos, visando a caracterizar e a identificar as lesões, para depois reuni-las em um ou mais diagnósticos. Estudar os sintomas e outras manifestações clínicas da maioria das enfermidades aviária parece muito difícil e até mesmo confuso, uma vez que raramente chegaremos a um diagnóstico seguro. Ave doente é sinônima de asas caídas, espirros, torcicolos, apatia e sonolência. Este conjunto de sintomas pode fazerparte da maioria das doenças que afetam as aves. Por isso encorajamos nossos alunos a fazerem necropsia sempre que puderem. Isso porque por meio do reconhecimento as lesões, se pode oferecer um diagnóstico seguro e ainda, se for o caso, remeter material para exames laboratoriais, como o histopatológico, realizado a luz da microscopia ótica. Assim elucidar a maioria dos casos em que os olhos não conseguem enxergar. 3 TÉCNICA DE NECROPSIA Necropsia ao pé da letra quer dizer: ver o morto. A necropsia das aves segue um ritual diferente daqueles realizados em mamíferos. Para cortar a ave, emprega-se apenas uma tesoura. O uso de luvas é essencial para proteção e higiene. A prática eficiente da técnica de necropsia requer uma sequencia de ações. Deve-se inspecionar a ectopia da ave, analisando as condições gerais de saúde, nutricionais e desenvolvimento. Em seguida, molha-se a ave para evitar que as penas se espalhem favorecendo a manipulação da técnica. Coloca-se a cabeça da ave voltada para o necropsiador. Inicia-se o procedimento examinando a cabeça, as narinas, o bico, fazendo um corte entre os dois bicos seguindo pelo esôfago, passando pelo ingluvio e interrompendo-se no peito da ave. Com a ave na mesma posição, examina-se traqueia, laringe, faringe, timo, tireoide, enfim, todas as estruturas que estão próximas ao pescoço. Em seguia, vira-se a ave voltando-a com os membros pélvicos para si. Promove a divulsão e retirada do tegumento e a desarticulação da cabeça do fêmur com o acetábulo. Examina-se o nervo ciático presente entre os músculos femorais. Faz-se uma incisão nos músculos abdominais e inspecionam-se os sacos aéreos ali presentes desarticulando-se os ossos do peito, assim facilita a retirada das vísceras: coração, proventrículo, moela, intestinos, fígado e baço. Os pulmões, ovário, testículo, rins, bolsa cloaca, oviduto e cloaca permanecem na carcaça da ave e devem ser examinados somente fazendo cortes, sem a necessidade de serem retirados. O exame geral dos músculos deve ser criterioso por meio de pequenos cortes na musculatura dos peitos e da coxa. Os ossos devem ser testados pela medição de sua resistência e depois pelo seu corte. O diagnóstico poderá ser emitido no ato da necropsia, porém algumas vezes será necessária a coleta de material para exames complementares: histopatológico, bacteriológico, hematológico, fezes e outros. Para o exame histopatológico, recomenda-se colher fragmentos de espessura entre 0,5 a 1 cm de diâmetro, colocá-los em formal a 10%, podendo ali permanecer por vários dias. 1. Imobilização de membros da ave para promoção da eutanásia. 2. Forma correta para realizar a eutanásia. 4. Abertura do esôfago e ingluvio a partir da comissura. 5. Inspeção do esôfago e ingluvio. 3. Imersão da ave em água com sabão para. 6. Abertura e inspeção da traqueia 7. Inspeção dos seios nasais 8. Abertura do crânio para inspeção. 9. Retirada do couro com penas da região do peito e desarticulação da cabeça do fêmur. 10. Abertura da cavidade celomática 11. Inspeção das vísceras da cavidade celomática 12. Inspeção do nervo isquiádico. 5 EM OUTRAS PALAVRAS... Necropsiar é examinar um corpo sem vida. É fazer a leitura nas entrelinhas entre uma lesão e outa buscando sempre um diagnóstico. Toda ave ao ser necropsiada serve a saúde daquelas que permanecem vivas. Cabe ao necropsiador expandir sua capacidade de enxergar os sinais deixados pelas enfermidades. Cada vez que é encarada uma necropsia, amplia-se um conhecimento, mesmo que aquelas lesões já tenham sido vistas. A repetição é também uma forma de aprendizado. Ler e procurar informações são atualizar o conhecimento, algo imprescindível para o saber. O aprendizado só é seguro quando o indivíduo vê o que estuda e estuda o que vê. CONSULTA RÁPIDA 1 - Conceito de necropsia Necropsia significa examinar o morto, o que implica na abertura do cadáver, averiguando criteriosamente cada órgão ou estrutura lesada. 2 - Indicar a finalidade de se fazer uma necropsia A necropsia serve para alcançar o diagnóstico, confirmar a suspeita clinica e corrigir alguns equívocos, entre outros. 3 - Indicar a espessura do material coletado Os fragmentos coletados podem ser de vários comprimentos e medir de 05 a 1 cm de espessura. 4- Indicar o fixador ideal para rotina histopatológica O fixador ideal para fragmentos coletados de órgão s lesados para exame histopatológico é o formol a 10%. 5 - Como conservar material par exame toxicológico e bacteriológico Os fragmentos devem ser colocados no gelo BIBLIOGRAFIA FURLAN, R.L. Anatomia – Fisiologia. Campinas. Facta. 2000 SANTOS, C.H.C.; SILVA, E.N. Métodos de Diagnósticos laboratoriais microbiológicos e sorológicos. Campinas: Facta. 2000. 6 ALTERAÇÕES POST MORTEM O conhecimento das alterações post mortem é importante para que se possa chegar a conclusões corretas e esclarecedoras, sem confundi-las com as que são produzidas no decurso de uma enfermidade. As principais alterações post mortem são: RIGIDEZ CADAVÉRICA É o resultado do estiramento das fibras musculares, provocando um enrijecimento das massas musculares. A rigidez ocorre nas primeiras horas após a morte e se inicia pelos músculos da cabeça, pescoço, peito, asas e membros pélvicos. Ela atinge toda a musculatura a partir de três horas após a morte e decorrido aproximadamente oito horas, ela é máxima, e se inicia o relaxamento muscular. O relaxamento das fibras musculares ocorre no mesmo sentido que a rigidez: começa na cabeça e vai em direção da cauda. No plano crânio caudal. O musculo cardíaco sofre rigidez muito rapidamente, permitindo, a expulsão de todo o sangue que se encontra em todo ventrículo esquerdo, onde a parede é mais espessa. Por isso é normal que se encontre o ventrículo esquerdo sempre vazio; caso contrário, se observa a presença de coágulos, isso representa insuficiência do musculo cardíaco. Qualquer lesão no miocárdio prejudica o desdobramento da rigidez das fibras musculares. LIVIDEZ CADAVÉRICA Resulta da ação da força da gravidade exercida sobre o sangue, conduzindo-o para partes mais baixas do corpo, ou seja, as que estão voltadas para o piso, provocando palidez (lividez cadavérica) de um lado, e vermelhidão (hipóstase cadavérica) do outro. HIPÓSTASE CADAVÉRICA É o acúmulo do sangue nas partes inferiores do corpo devido à ação da força da gravidade, fazendo com que o sangue desça para as partes baixas e ali exibindo uma coloração vermelho escuro. Estas áreas de muita concentração de sangue permitindo a invasão das bactérias saprófitas. Instala-se então a pseudomelanose: uma coloração azulada. 7 COAGULAÇÃO DO SANGUE A coagulação ocorre poucos minutos após a morte da ave. Formam-se inicialmente coágulos de coloração avermelhada denominados cruórico. Posteriormente, as hemácias sofrem lise e desaparece a coloração avermelhada, formando então coágulo lardáceo, que se apresenta com coloração amarelada e sujeito a aderência nas paredes das cavidades cardíacas. A aderência do coágulo lardáceo se dá pela grande quantidade de fibrina contida nele. Há que se ter o máximo de cuidado para não o confundir com alguma patologia: como por exemplo, pensar que seja algum crescimento neoplásico. A presença de coágulo é comum nos grandes vasos, nos átrios e no ventrículo direito. EMBEBIÇÃO SANGUÍNEA É a capacidade de tingir que a hemoglobina apresenta ao ser liberada das hemácias lizadas. Cora em vermelho brilhante a parede dos vasos e todos os tecidos vizinhos. Você pode denomina-la de embebição hemoglobínica. EMBEBIÇÃO BILIAR Semelhante a embebição sanguínea, a embebição biliar é a capacidade de tingir que a bile e seus componentes (bilirrubina) apresentam. O resultado é a coloração esverdeadaobservada em todas as estruturas próximas a vesícula biliar. A bile das aves semelhante ao que acontece em bovino, possui coloração esverdeada. Enquanto na maioria das espécies animais a coloração é amarelada. AUTÓLISE É o processo de autodigestão celular promovido por enzimas autolíticas que estão contidas nos lisossomos, disponíveis para cumprir o papel de lise celular, logo após a morte da ave, colaborando com a desintegração do corpo da mesma. Algumas estruturas entram em autólise mais rapidamente. A vesícula biliar, o fígado, os intestinos e outras glândulas sofrem autólise antes dos músculos. PUTREFAÇÃO É o resultado da invasão de bactérias saprófitas nos tecidos autolisados. As bactérias saprófitas produzem enzimas proteolíticas que decompõem as proteínas. Com 8 a invasão ocorre uma severa fermentação, com alta produção de gases, que produzem odores desagradáveis e imprimem uma coloração típica, podendo ser esverdeada, azulada ou até mesmo parda, denominada pseudomelanose. (Bactérias saprófitas são aquelas que se alimentam de matéria orgânica inanimada). A origem desses gases encontra-se nas as enzimas cadavéricas, principalmente o sulfureto ferroso, resultante da reação entre sulfureto de hidrogênio, produzido pelas bactérias e, o ferro, liberado pela degradação da hemoglobina. O acúmulo de gases em um tecido devido ao efeito da putrefação é denominado enfisema post-mortem. Os órgãos que sofrem putrefação mais precoce são aqueles nos quais se acumula grande quantidade de sangue. Eles possuem um parênquima rico em nutrientes, como é o caso do fígado. Os músculos, os tendões e s cartilagens são bastante resistentes. Quando resfriados, permanecem por muito tempo sem grandes alterações. Os ossos são sem dúvida, as mais resistentes estruturas do corpo, devido à grande quantidade de minerais, ali presente, tornando-se verdadeiras rochas e servindo para contar a história do universo, e dos seres que nele habitaram. Se não fosse a resistência e durabilidade dos ossos, não saberiam contar a história da existência dos dinossauros. FATORES PREDISPONENTES AO PROCESSO POST MORTEM As alterações post mortem representam uma sequência de eventos que ocorrem logo após a morte da ave. Dois grupos de fatores interferem diretamente no aparecimento dessas alterações: Fatores inerentes à ave: presença de penas, quantidade de gordura, estado corporal, doenças toxêmicas, septicêmicas e traumáticas. Fatores inerentes ao meio ambiente: altas e baixas temperaturas, condições de higiene e superpopulação. EM OUTRAS PALAVRAS... Conhecer as alterações post mortem é evitar que se confunda, como aquelas produzidas no decurso de uma enfermidade. As aves devem ser examinadas logo após a morte ou, se for o caso, eliminar àquelas doentes, para um exame criterioso e sem nenhuma interferência indesejável. 9 As alterações post-mortem aparecem precocemente devido ao empenamento. Assim, a observação detalhada dessas alterações é indispensável para que no ato da necropsia possa dar um diagnóstico com margem de segurança. CONSULTA RÁPIDA 1 - Conceito de autólise Autólise é o processo de autodigestão celular promovido pelas enzimas autolíticas. 2 - Conceitue putrefação A putrefação resulta da invasão de bactérias saprófitas nos tecidos autolisados. 3 - Conceitue hipóstase cadavérica Hipostase cadavérica é o acúmulo de sangue nas partes inferiores do cadáver. 4 - Conceitue embebição sanguínea Embebição sanguínea é a capacidade de tingir que a hemoglobina liberada apresenta durante autólise 5 - Três alterações post-mortem Alterações post-mortem: rigidez, lividez coagulação do sangue. BIBLIOGRAFIA BERCHIERI Jr, A; MACARI, M. Doença das aves. Campinas: Facta, 2000. 490p BORDIN, E.L. diagnóstico histopatológico. In: BERCHIERI Jr, A; MACARI, M. Doença das aves. Campinas: Facta, 2000. COELHO, H.E. Patologia geral veterinária. 2ª ed. Uberlândia: Gráfica Impresso; 2000. VASCONCELOS, A.C. Necropsia e remessa de material para laboratório em Medicina Veterinária. 2ª ed. Teresina: Universidade Federal do Piauí. 1997. 10 SITEMA TEGUMENTAR O sistema tegumentar compreende: pele e seus anexos A PELE A pele é um conjunto de tecidos que desempenha importantes funções. Por isso, é considerada órgão, o maior que a ave possui. Além de exercer a função protetora, a pele é um excelente órgão termorregulador. A pele é o espelho da saúde. ANEXOS DA PELE São todas aquelas estruturas que estão incorporadas, dependentes e subordinadas à pele: penas, glândulas, bico e unhas. A única glândula presente como anexo da pele nas aves é a uropigiana (Figura 1). Figura 1 – Glândula uropigiana em ave. A glândula uropigiana é também conhecida como uropígio. Trata-se de uma glândula alveolar composta, dividida em dois lobos localizados sobre o músculo tensor do pigóstilo. Sua função é lubrificar e impermeabilizar as penas contra a umidade excessiva. Nas aves aquáticas, essa função é essencial para manter as penas sempre limpas e brilhantes, protegendo o corpo com muita eficiência. De modo geral, os numerosos tubos excretores da glândula uropigiana convergem para dois tubos coletores principais, que se abrem na papila uropigial. Se lavar uma ave aquática com detergente e coloca-la na água, ela terá grandes problemas pra não afogar. A secreção da glândula uropigiana é oleosa e impermeabilizante. ALTERAÇÕES POST MORTEM 11 As alterações post-mortem da pele ocorrem mais tardiamente, devido à sua própria constituição física. São elas: Pseudomelanose Presença de manchas azuladas, que ocorrem nas partes em que houve acúmulo de sangue pela ação da gravidade (hipóstase cadavérica) e invasão de bactérias saprófitas (putrefação). Enfisema post-mortem Acúmulo de gases na região subcutânea, devido à fermentação das bactérias saprófitas. ALTERAÇÕES DO DESENVOLVIMENTO São as alterações congênitas. Àquelas formadas dentro do ovo, durante o período de incubação. Empenamento imperfeito Alteração típica na qual as penas se apresentam com a face ventral voltada para cima – ou seja, ficam arrepiadas, como apresenta a Figura 2. Os criadores empolgados com a novidade selecionam-nas, criando uma linhagem de galinhas arrepiadas. Figura 2 – Ave apresentando empenamento imperfeito Empenamento incompleto Ausência de penas em áreas da pele que normalmente seriam cobertas como a região cervical. Algumas linhagens de galinha apresentam o chamado “pescoço pelado”, como mostra a Figura 3 que é a falta de penas naquela região do pescoço. 12 Figura 3 – ave apresentando empenamento incompleto na região cervical (“pescoço pelado”) As aves que apresentam má formação no empenamento devem ser descartadas, para não transmitir essa caraterística aos seus descendentes. ALTERAÇÕES ADQUIRIDAS Queda De Penas Manifestação clinica comum em todas as aves, caracterizada por perda de parte das penas e de etiologia variada. Essa alteração frequentemente se relaciona com certas agressões à pele e ao folículo da pena, tais como: ectoparasitas, botulismo e dermatites. Ectoparasitas Os ectoparasitas são os principais agentes promotores das quedas das penas. Os mais conhecidos são: Percevejos (Cinmex lectus) Parasitas sugadores de sangue comum nos climas temperados subtropicais. Atacam aves domésticas, homens e demais mamíferos. Provocam edema e prurido na região da pele picada. Piolhos (Menacanthus stramineus) Alimentam-se da pele, subprodutos da pele e sangue. Os piolhos geralmente são introduzidos em uma granja por equipamentos e maquinário. A Figura 4 mostra o piolho presente na pena de uma ave. 13 Figura 4 - Menacanthus stramineus presente em pena de ave Pulgas (Echidnophaga galinácea) Espécie exclusiva entre as pulgas aviárias, porque seus adultos tornam-se parasitas sésseis e geralmentepermanecem presos na pele da cabeça por dias ou semanas. Borrachudos (Simulium spp) Sugadores de sangue transmitem leucocitozoonose para patos, perus e outras aves. Mosca dos pombos (Pseudolychia canarienses) Parasita presente nos pombos das regiões quentes e tropicais. Carrapatos (Argas persicus) Encontrados nos países tropicais e subtropicais. Vetores da Borrelia anserina, provocam anemia, perda de peso, depressão, toxemia e paralisia das aves infectadas. O carrapato é visto na Figura 5. Figura 5 - Argas persicus, o carrapato das aves. Ácaros (Dermanyssidae – das galinhas; Trombiculidae – dos perus) 14 Aparecem nas aves e provocam danos à saúde e perdas econômicas. A espécie Dermanyssus gallinae infesta galinhas, perus, pombos, canários e várias espécies de aves silvestres. Ácaro das pernas (Knemidocoptes mutans) Ácaro sarcóptico, esférico e pequeno. Geralmente escava tuneis nos tecidos sob as escamas das pernas. O controle é feito descartando-se as aves infectadas. O tratamento pode ser feito com ivermectina. A Figura 6 mostra ave acometida por esse ácaro. Figura 6 – membro de ave acometido pelo ácaro Knemidocoptes mutans. Ácaro subcutâneo (Laminosioptes cysticola) Parasita pequeno que forma nódulos caseocalcários de coloração amarelada, medindo de um a três centímetros de diâmetro, localizado no tecido subcutâneo. Ácaro desemplumante (Neoknemidocoptes gallinae) Escava o interior da epiderme, na base das hastes das penas, e causam irritação intensa e queda de penas. O ácaro das penas pertence à família Analgidae. Eles causam grandes desconfortos para as aves, além de dermatites e perda de penas. Mosquitos (principais: Culex, Aedes e Psorophora): transmissores de doenças e responsável pela diminuição da produção de ovos ou até pela morte das aves. BOTULISMO NAS AVES Nas aves é conhecido como doença do pescoço mole. O que chama atenção é exatamente o fato das aves afetadas não conseguirem erguer o pescoço, tem-se a impressão que está morta, tamanha é a paralisia do pescoço. A enfermidade é 15 caracterizada pela paralisia flácida, formando o tripé: pescoço mole, asas caídas e queda de penas como mostra a Figura 7. Figura 7 - Anas platyrhynchos apresentando botulismo Trata-se de uma intoxicação alimentar, geralmente de curso agudo, causada pela ingestão da exotoxina produzida pelo Clostridium botulinum, uma bactéria anaeróbica, formadora de esporos, que vive em matéria orgânica em decomposição, seja de origem animal ou vegetal. São várias as toxinas produzidas pelo Clostridium botulinum, mas as aves são sensíveis ao do tipo C, podendo ter problemas com as do tipo A e E. A transmissão da doença no plantel se da pela ingestão de carcaças contaminadas, água contaminada, e até mesmo cama de ave. A toxina ingerida atua na placa motora dos músculos impedindo a ação da acetilcolina não permitindo a contração muscular. O resultado é uma paralisia flácida, principalmente dos músculos que sustentam o pescoço e asas, além do músculo retrator das penas. A morte deve a parada cardiorrespiratória. É comum ocorrerem casos de aves intoxicadas por comerem larvas que se alimentaram de carcaças contaminadas. As larvas de moscas ingerem os tecidos podres onde está concentrada a maior parte das toxinas. Clinicamente as aves apresentam paralisia flácida das pernas, asas, pescoço, pálpebras e queda das penas. Macroscopicamente o botulismo não produz nenhuma lesão digna de nota. É uma doença sem lesões. O diagnóstico requer demonstração da toxina nas aves doentes. O teste de inoculação em camundongos tem sido o mais eficiente. O material colhido deve ser o conteúdo gastrointestinal, fragmento do fígado e lavado ingluvial. 16 Controle: o controle deve ser feito com rigorosa limpeza e desinfecção. As aves não podem ter contato com nenhum tipo de matéria orgânica em decomposição, pode usar vacina antitoxina tipo C. Têm ocorrido grandes perdas econômicas devido à mortalidade das aves com botulismo. A falta de um bom manejo sanitário tem promovido à enfermidade que mata milhares de aves em um surto, pelo fato delas estarem aglomeradas e tendo acesso ao mesmo conteúdo de matéria orgânica em decomposição, local onde o Clostridium botulinum prolifera e produz a toxina mais potente do universo. Esta toxina pode ser desnaturada a oitenta graus de calor. Este é seu ponto vulnerável. Não há restrição entre as aves domésticas, porem as aves de rapina são resistentes. Os urubus são os mais resistentes e contam com o auxilio da camada de ozônio como elemento esterilizador, capaz de conferir a estas aves uma proteção todas as vezes que fazem seus voos a grandes alturas. ALTERAÇÕES INFLAMATORIAS Dermatite É a inflamação da pele. Pode ser provocada por agentes físicos, químicos e biológicos, incluindo irritantes externos, queimaduras, alérgenos, traumatismos e infecções bacterianas, virais, micóticas e parasitárias. Pode estar associada a uma doença interna ou sistema intercorrente e hereditária. Clinicamente, a coceira é um sinal de alerta. A intensidade desta pode piorar ou complicar mais ainda a lesão da pele. “A coceira é o prelúdio da dor”. Macroscopicamente, na dermatite vesicular as lesões progridem a partir de um edema, depois hiperemia, em seguida pápula, vesícula, pústula, formação de crostas e escamas. Nas aves não há exsudato purulento liquefeito como nos mamíferos. O heterofilo não tem enzimas proteolíticas capazes de liquefazer o pus. Portanto, nessa érea pode haver a presença de massa caseosa ressecada. Microscopicamente, na dermatite sempre há intenso infiltrado leucocitário que se acumula no tecido conjuntivo da derme. Dermatite Gangrenosa Enfermidade aguda septicêmica caracterizada por necrose seguida de gangrena, edema e celulite dos tecidos vizinhos. É causada por Clostridium septicum, Clostridium perfringens tipo A e Staphylococcus aureus, isoladamente ou associados. Essa doença 17 pode ocorrer ainda como sequela de outras enfermidades como hepatite por inclusão e bursite infecciosa. Clinicamente as aves acometidas aprestam-se letárgicas, prostradas e morrem entre 8 e 24 horas. A mortalidade varia entre 10 e 60%. Macroscopicamente, ocorre perda de penas e deslocamento epidérmico, necrose, gangrena; acumulo de exsudato sero-sanguinolento e presença de bolhas na região subcutânea. A coloração da pele se torna negra, purpura ou verde escura. O fígado e o baço aumentados de volume e os rins hiperêmicos. Microscopicamente, as áreas de necrose e gangrena da pele apresentam grande quantidade de bactérias cocoides ou bastonetes gram positivos. Edema, enfisema e hemorragia também estão presentes no musculo esquelético. Dermatite Traumática Inflamação da pele por traumatismos de diversas naturezas. Geralmente na região da articulação coxofemoral, na coxa, cristas e barbelas. As principais causas são os arranhões, resultando na invasão de germes secundários. A redução do espaço populacional e do galpão contribui para maior contato entre as aves e comedouros, o que favorece todo o processo. Os músculos da perna são frequentemente afetados, resultando na condenação da carcaça. Macroscopicamente, as lesões na pele são representadas por cristas secas. A pele afetada apresenta-se espessa, com a coloração amarelo acastanhada. Microscopicamente há necrose da epiderme e inflamação grave dos tecidos vizinhos, podendo-se observar a presença de esporos e hifas na camada de queratina. O diagnóstico pode ser feito pela observação das lesões macro e microscópica Inflamação Do Folículo Das Penas Foliculite é a inflamação do folículo da pena caracterizado por aumento de volume e espessamento da derme. É causada pelo Staphylococcus aureus, que compromete vastas regiões da pele. Mesmo que, na maioria dos casos, não atinja somente os folículos das penase provoque dermatites, essa lesão não altera a qualidade da carne, limitando-se apenas à pele e seus anexos. A predominância da doença é baixa em aves criadas em piso. Macroscopicamente, há aumento de volume dos folículos e presença de exsudato caseoso de coloração acinzentada. Microscopicamente, há necrose caseosa e infiltrado heterofilo. O diagnóstico se baseia nas lesões macro e microscópicas. 18 Insuficiência De Biotina A deficiência de biotina provoca lesões do tipo: crostas nos cantos do bico e nas pálpebras, além de fissuras na pele da superfície plantar das patas. Microscopicamente, ocorre acantose (espessamento da camada escamosa da pele) e hiperqueratose (espessamento da camada de ceratina), com hipercelularidade da camada germinativa da pele, aumento aparente na vascularização da derme, erosão, ulceração e reação inflamatória (é comum haver dermatite secundária na maioria dos casos). Paraqueratose A paraqueratose é um espessamento da camada de ceratina da pele, formando placas irregulares, diferentes da hiperqueratose pela aparência microscópica e pela presença de núcleos persistentes na camada de queratina. Tem sido observada em avestruzes, especialmente no canto da boca, nas pálpebras e nos pés. Celulite Nas Aves Processo inflamatório supurado difuso e agudo localizado no tecido subcutâneo. Trata-se de uma alteração que pode afetar a pele de qualquer parte do corpo, sendo mais comum na cabeça e abdome. É comum estar associada à infecção secundária por Staphylococcus aureus, acometendo em especial as reprodutoras pesadas. Nos casos mais complicados as aves apresentam um quadro de septicemia. Macroscopicamente, ocorre espessamento da pele nas áreas atingidas. Ao corte, deixa fluir um exsudato seroso, que algumas vezes pode estar associado com exsudato sanguinolento. Um exemplo prático desta alteração verifica na síndrome da cabeça inchada, uma enfermidade comum em poedeiras. Dependendo da localização das lesões, condenam-se durante inspeção as carcaças quando afeta a pele das coxas e o peito das aves. Motivo de preocupação para a indústria avícola em todo o mundo. Na etiologia desta infecção, incriminam-se vários agentes microbiológicos: Staphylococcus aureus, Streptococcus dysgalactiae, Protheus spp, Aeromonas spp, Citobacter freundii, Clostridium colinum, Clostridium septicum e C. perfringens. Vale a pena destacar que a E. coli está presente na maioria dos casos. Sua presença no processo infeccioso confere a lesão uma maior intensidade e transtorno para ave. O diagnóstico se baseia nos achados macro e microscópicos das lesões de pele. Síndrome Da Cabeça Inchada 19 Enfermidade infecciosa que afeta a cabeça das aves: matrizes e frango de corte, promovendo edema subcutâneo em toda cabeça. Nas matrizes poedeiras observa-se pneumonia e alterações neurológicas e queda na produção de ovos. Em frango de corte observa-se secreção nasal e depressão. A invasão de E coli agrava a infeção. As perdas econômicas variam entre 1 a 3%. A etiologia desta enfermidade inicialmente aponta para problemas ambientais como pouca ventilação, excesso de calor e poeiras. Já foi isolado coronavírus (vírus da doença de Newcastle), depois pneumovírus aviário (responsável pela Rinotraquite infeciosa dos perus), paramixovírus aviário (vírus da gripe aviaria), vírus da bronquite infeciosa, algumas bactérias como: Haemophilus paragallinarum (agente da coriza infecciosa) e Escherichia coli (responsável pela colibacilose). A transmissão se da de forma horizontal por via aérea, quando aves sadias entram em contato com aves doentes. Clinicamente, observa-se edema e hiperemia ativa dos tecidos Peri orbital, que se estende pela cabeça e desce até as barbelas. Há intenso prurido facial e espirros constantes. O curso da doença varia de cinco a dez dias. Macroscopicamente, as aves apresentam com a cabeça inchada, como mostra a Figura 8, resultado de um edema inflamatório na derme e tecido subcutâneo. O exsudato pode ser seroso ou serohemorrágico. Figura 8 – Ave apresentando síndrome da cabeça inchada. Gentileza: Marcelo Coelho. Microscopicamente, ocorre uma dermatite caracterizada pela invasão de linfócitos e heterofilos. O controle vai depender das condições observadas no ambiente: promover higienização, climatização, vacinação e nutrição adequada. Bouba Aviária (Viruela) 20 Enfermidade hiperplásica da pele, caracterizada pelo aparecimento de caroços, como mostra a Figura 9, que são lesões cutâneas nodulares nas áreas desprovidas de penas: cristas, barbelas, pálpebras, orelhas, narinas e pés. É conhecida como viruela e doença do caroço. Figura 9 – Pintainho apresentando bouba aviária Há duas formas desta enfermidade: forma cutânea e diftérica A forma cutânea é a mais comum e que chama mais atenção pelas lesões nodulares nas partes sem penas. A forma diftérica atinge a laringe provocando uma laringite fibrinonecrótica aguda que de expande pela cavidade bucal e esôfago. A doença afeta galinhas, perus, pombo, canário, codorna e papagaio. Sua etiologia é viral. Trata-se de um poxvirus avícola do gênero Avipoxvirus, da família Poxviridae. O poxvirus é um DNA altamente resistente, sobrevive por muito tempo nas crostas ressecadas. Não é uma doença de interesse na saúde pública. Não afeta mamíferos. Sua transmissão ocorre por vetores como moscas que podem levar o vírus para os olhos e feridas preexistes na pele. Mosquitos hematófagos permanecem infectados por mais de uma semana e pode neste período transferir o vírus. O contato de aves sadias com aves doentes. Piolhos (Dermanys gallinae) têm sido incriminados na transmissão do vírus. A descamação da pele e das penas dissemina o vírus para o ambiente e por aerossol as aves se infectam via respiratória. Inseminação artificial também pode ser um meio de transmissão. Do ponto de vista epidemiológico sua grande importância é que as aves que contraem a enfermidade e não morrem se tornam portadoras. O período de incubação varia entre quatro a dez dias. 21 Os sinais clínicos começam com ligeira depressão, redução do apetite e a presença de nódulos milimétricos na pele glabra. Quando na forma diftérica, as aves apresentam espirros, dispneia, descarga nasal e inapetência. Aves jovens são as mais sensíveis e apresentam maior índice de mortalidade, podendo chegar a 100%. Macroscopicamente, as lesões são nódulos hiperplásicos, que se iniciam de coloração esbranquiçada tornando amarelada que evoluem para formação de crostas espessas de coloração cinzenta. Microscopicamente, ocorre espessamento da camada escamosa da pele, caracterizando uma hiperplasia destas células. A presença de corpúsculos de Bollinger é observada nas células epiteliais. O diagnóstico se baseia nas alterações macroscópicas. Não havendo necessidade de exame microscópico. As referidas lesões macroscópicas são clássicas da doença. O controle é feito por meio de vacinação. Existe uma vacina disponível no mercado. A vacinação é feita no incubatório no primeiro dia de vida ou aos quinze dias. NEOPLASIAS Marek cutânea e queratoacantoma Marek Cutânea Uma das formas que compõe o quadro da doença de Marek como mostra a Figura 10. Trata-se de uma enfermidade viral que acomete os linfócitos no folículo da pena. É um linfoma altamente infeccioso alojado na polpa das penas. Figura 10 – Pele de ave manifestando Marek Cutânea Acomete todas as idades das aves e provoca grandes perdas econômicas especialmente quando ocorre em aves jovens. Tem transmissão vertical e horizontal. Do 22 ponto de vista epidemiológico a transmissão horizontal é muito importante pela disseminação das penas no ambiente, em especial durante o transporte de aves doentes. Macroscopicamente, observa-se nos folículos da pena a presença de nódulos milimétricos de coloração branca, que podemestar cobertos por crostas ou ulcerados. Geralmente as penas inseridas nestes nódulos se desprendem deixando os nódulos mais evidentes. Microscopicamente, ocorre multiplicação de linfócitos na região perifolicular da pena, com agregados de células proliferantes como plasmócitos e histiócitos. Os macrófagos (células reticulares) apresentam pleomorfismo nuclear e basofilia com vacuolização do citoplasma caracterizando as denominadas “células de Marek”. Os linfócitos apresentam pleomorfismo e atipia celular. O diagnostico se baseia no exame macro e microscópicos dos nódulos nos folículos da pena. O controle se faz com vacinação realizada no primeiro dia de vida da ave. Queratoacantoma Trata-se de neoplasia benigna que afeta as células escamosas da pele das aves. É semelhante ao carcinoma que ocorre nas células escamosas dos mamíferos. A origem desta neoplasia parece ser multicêntrica semelhante a que ocorre na pele de humanos. Nos frangos pode ter cura espontânea no período médio de quatorze dias. Nestes a neoplasia também conhecida como carcinoma dérmico das células escamosas. Macroscopicamente, há presença de nódulos ulcerados e repletos de queratina localizados próximos ao folicular das penas. Microscopicamente, ocorre proliferação da camada escamosa da pele, com displasia clássica e a presença de cistos epiteliais. As células epiteliais dos folículos são acompanhadas de inflamação e fibroplasia. O uso repetido por varias vezes de substancias cancerígenas (metilcolantreno) tem sido incriminado como causa da neoplasia. O diagnostico se baseia no exame macro e microscópico das lesões dérmicas. Outras neoplasias de ocorrência na pele das aves são: fibroma, fibrossarcoma, mixoma, mixossarcoma, sarcoma-histiocítico, e hemangioma. EM OUTRAS PALAVRAS... 23 A pele é o maior órgão do corpo. Nas aves, a pele apresenta um aspecto especial com a inserção das penas. Estas conferem maior proteção, termorregulação, e promove leve durante o voo. Há momentos em que as aves merecem maior atenção: nos primeiros dias de vida e no final próximo ao abate. Estes cuidados se referem à temperatura do ambiente. No inicio há que aquecer o ambiente e no final resfria-lo. As dermatites merecem nossa atenção pelo desconforto e predisposição a outras enfermidades. O estresse representa o maior desconforto que se pode submeter às aves que estão confinadas. Todos os cuidados com manejo sanitário e de alimentação se faz necessários no dia a dia. O controle dos ectoparasitas é imprescindível e se faz necessário seu controle regularmente. Algumas doenças importantes têm como vetores os ectoparasitas com os carrapatos, mosquitos e pulgas. As neoplasias são raras, com exceção da doença de Marek: uma enfermidade viral com alto grau de malignidade e transmissão. As penas de aves doentes representam importante disseminador da enfermidade no ambiente e entre as aves. CONSULTA RÁPIDA 1- Conceito de pele A pele é o maior órgão do corpo e funciona como proteção e termorregulação. 2- Conceito de dermatite Dermatite é um processo inflamatório da pele. Suas causas mais comuns são os ectoparasitas e o traumatismo. A celulite é uma inflamação purulenta da pele das aves. 3- Principal neoplasia da pele A forma cutânea da doença de Marek representa a neoplasia mais importante da pele. 4- Conceito de bouba aviaria Bouba também chamada de viruela é uma enfermidade viral caracterizada por hiperplasia da pele. Conhecida como doença do caroço. Há duas formas: cutânea e diftérica. 5- Cite um acaro da pele Knemidocoptes mutans. 24 LEITURA RECOMENDADA BENEZ, S. M. AVES: Criação-Teoria-Prática. Silvestres-ornamentais-avinhados. 4ª Ed, Tecmedd, Ribeirão Preto SP, 2014. 600p. BERCHIERI Jr, A; MACARI, M. Doença das aves. Campinas: Facta, 2000. 490p. 25 APARELHO LOCOMOTOR DAS AVES Constituído de vários sistemas: ósseo, articular, muscular e tendões. SISTEMA ÓSSEO Os ossos são órgãos que compõe o esqueleto com enumeras funções. Sevem para sustentar os músculos e suportar todo peso do corpo. Os ossos são alavancas que permitem os movimentos em sincronia com os músculos. São depósitos de minerais imprescindíveis na manutenção da homeostasia como o cálcio e o fosforo. 99% do cálcio e 80% do fosforo de todo organismo da ave concentra-se nos ossos. São 150 ossos que compõe o esqueleto da ave. A ave tem menos ossos que os mamíferos. Existem muitas adaptações e fusões destes. No ano de 1774, foram descobertos por paleontólogos que alguns ossos das aves comunicam com os sacos aéreos e por tanto são pneumatizados. São os chamados ossos pneumáticos das aves. Para a maioria das aves, o úmero, esterno, fêmur e a coluna vertebral são os principais ossos pneumáticos. As grandes aves voadoras possuem maior número destes ossos. Os pelicanos são as mais adaptadas para o voo, portanto possuem o maior numero de ossos pneumáticos. O úmero é considerado o mais importante osso pneumático, podendo ventilar uma ave através do osso fraturado. Na galinha e demais aves domésticas, o úmero se destaca, enquanto para algumas espécies de aves selvagens o fêmur é o mais pneumatizado. Na galinha os ossos pneumáticos são: vertebras cervicais (exceto atlas e áxis), primeiras cinco vertebras torácicas, primeiras duas costelas vertebrais, osso esterno, osso sinsacro e cintura pélvica ( íleo, ísquio, e púbis) e o úmero. A coluna vertebral apresenta fusão das 14 vertebras lombo-sacrais, incluindo a primeira coccígea e a última torácica, para formar o osso sinsacro. As últimas vertebras coccígeas se fundem para formar o osso pigóstilo, que serve para sustentação para as penas da cauda. O osso esterno apresenta-se bastante modificado nas aves, com uma crista ventral para inserção do músculo peitoral. Esta crista é denominada quilha. Ela representa o espelho da saúde dos ossos, seu desvio indica deficiência de minerais. 26 O esqueleto da cabeça possui 31 ossos, sendo os ossos fugais, quadrados-fugais, com nomenclatura própria para as aves. O alongamento da pré-maxila e da mandíbula forma a base do bico e o anel esclerótico (ossificação da esclera do bulbo ocular). A cintura escapular é formada pela escapula, pelo coracóide e pelas clavículas (a união ventral das clavículas forma o que popularmente denomina-se “jogo”). Os membros torácicos formam as asas que estão adaptadas para o voo, com algumas reduções e fusões de dedos (os dedos presentes nas aves são o segundo, terceiro e quarto). Nos membros pélvicos, a tíbia se funde distalmente com o tarso, formando o osso tibiotarso: o maior osso das aves, escolhido pelos pesquisadores e estudiosos do esqueleto, como o osso representativo na saúde e na desordem. Os ossos da fileira distal do tarso se fundem com o segundo, terceiro e quarto metatarsos, formando o osso tarsometatarso, de onde emerge, de sua face medial, uma proeminência óssea denominada espora. O osso pode ser encarado como órgão, estrutura ou simplesmente tecido, representado por três componentes: substancia fundamental amorfa, substancia fundamental organizada e células. A substância fundamental amorfa apresenta dois componentes: a osteína os minerais. Os minerais representam dois terços da massa óssea: carbonatos, fosfatos de cálcio, magnésio, potássio, sódio, citrato e cristais de hidroxiapatita. A permanência da maioria destes minerais no tecido ósseo, dura cerca de uma semana, o que explica a grande mobilização óssea nas aves. Isso difere dos mamíferos, o que confirma a grande sensibilidade das aves com relação à insuficiência de minerais na dieta. A substância fundamental organizada está representada pelas fibras colágenas. As células ósseas são: osteoblastos responsáveis pela produção da matriz orgânica ou simplesmente matriz osteoide. O principal substrato é a proteína, sendo o estímulo trófico indispensávelpara seu desenvolvimento, qualquer falha no processo de produção da matriz osteoide resulta em uma desordem osteodistróficas denominada osteoporose. O mais importante estimulo trófico é o hormônio sexual. Galinhas poedeiras podem apresentar índices elevados e subclínicos de osteoporose. Osteócitos encarregam da reabsorção óssea: osteólise osteocítica. Trata-se do mais importante modelo de reabsorção óssea, devido a riqueza de minerais nas estruturas onde se localizam estas células (osteócitos). 27 Osteoblastos são células gigantes multinucleadas que tem a função de remodelagem da superfície do osso. É também um tipo de reabsorção óssea de superfície óssea. Menos importante, pois estas células estão em uma área pobre em minerais. Osteogênese É o processo de formação de um osso. Ocorre por meio de um modelo cartilaginoso que quando invadido pelos vasos sanguíneos, permite aos condrócitos receberem maior nutrição e secretam a matriz condroide, a qual nutrirá as células osteoprogenitoras recém-chegadas ao modelo cartilaginoso. Juntamente com os vasos, produzem a matriz osteoide, dando inicio à formação do tecido ósseo com o surgimento do centro de ossificação primário, localizado na metáfise do osso longo. O centro de ossificação secundário localizado na epífise do osso longo aparece na terceira semana nas aves do sexo masculino e na quarta semana nas do sexo feminino. O crescimento ósseo se dá por dois mecanismos: crescimento intramembranoso e crescimento endocondral. O crescimento intramembranoso Tem como origem as células mesenquimais encontradas no tecido conjuntivo do periósteo e as células adventícias que acompanham os vasos sanguíneos. É observado nos ossos planos, curtos, irregulares e na diáfise dos ossos longos. É desta forma que os ossos longos crescem em espessura. Crescimento endocondral Tem sua origem nas cartilagens das epífises dos ossos longos, denominadas cartilagem de crescimento, cartilagem epifisária, disco epifisário, cartilagem de conjugação, placa epifisária ou simplesmente fise. A fise é constituída por duas zonas de células distintas: zona proliferativa e zona hipertrófica. Diferente do que ocorre nos mamíferos, as zonas proliferativas e hipertróficas são organizadas em colunas e possuem 50% a mais por colunas. As células proliferativas estão mais próximas umas das outras, sendo cerca de 60% mais numerosas, motivo pelo qual as colunas têm maior espessura. O comando que ativa o crescimento é hormonal. Ele vem por meio da irrigação procedente de três origens diferentes: artéria nutrícia, epífiso-metafisário e periosteais. 28 A artéria nutrícia penetra na região da diáfise óssea, formando um sulco denominado canal nutrício. O comando hormonal é feito por três tipos de hormônios: hormônio da tireoide (T3 e T4): promovem a maturação das células de reserva da zona proliferativa, imprescindível para o bom desempenho do crescimento. Na insuficiência deste hormônio, o crescimento é retardado. A presença de iodo na formulação do sal mineral é indispensável para dar suporte à glândula tireoide na produção do T3 e T4. Há casos de aves com atraso do crescimento por insuficiência de iodo. Hormônio de crescimento (GH): promove a multiplicação das células da zona proliferativa. Na insuficiência deste, haverá um crescimento retardado e incompleto. Hormônios sexuais: estrogênio e testosterona. Atuam promovendo a sexualidade da ave e sessando o crescimento. As principais células que participam do crescimento ósseo endocondral são: os condrócitos que quando alimentados adequadamente, crescem e secretam a matriz condroide que servira de alimento para posteriormente nutrir os osteoblastos. Os osteoblastos células jovens que irão produzir a matriz osteoide. Os osteócitos células maduras que constituem as trabeciulas ósseas mineralizadas. Farão a reabsorção óssea por meio do mecanismo de osteólise. Os osteoclastos são células multinucleares que se localizam na periferia das trabéculas ósseas e estão alojadas nas lacunas superficiais dos ossos. São células responsáveis pela reabsorção óssea de superfície denominada de osteoclasia. Serve para remodelação do osso. Em um estudo do crescimento ósseo endocondral em frango de corte, pode se observar que o desenvolvimento do osso é primordial na primeira semana, onde a fise, a metáfise e a diáfise apresentam bem estruturadas. As maiores transformações na estrutura cartilaginosa da fise ocorrem na primeira semana. Os ossos das fêmeas desenvolvem primeiro que dos machos. As três primeiras semanas de vida da ave são as mais importantes do ponto de vida do crescimento ósseo endocondral em frango de corte. A Dinâmica Óssea Os minerais dos ossos estão em constante movimento. Uma ave consegue mobilizar seus minerais no prazo de uma semana. Há constante reabsorção e deposição ósseas, comandadas pela ação do hormônio produzido na paratireoide: o paratormônio. Tudo isto ocorre em função da homeostasia: manutenção dos níveis de cálcio no 29 sangue. O cálcio precisa sempre estar saturado na corrente sanguínea. Se a ave não se nutre com níveis adequados de minerais, o seu organismo retira o cálcio dos ossos. Assim mantem o cálcio em saturação máxima no sangue. Sua diminuição na corrente sanguínea compromete processos vitais como manutenção da estabilização das membranas celulares. Sua insuficiência grave gera transtornos musculares, como tremores musculares e falta de coordenação motora. Quem comanda a retirada de cálcio dos ossos é o paratormônio produzido pela paratireoide, localizada na região cervical, próximas à tireoide e ao timo. O paratormônio na baixa do cálcio no sangue libera a fosfatase alcalina que irá atuar nas profundezas das trabéculas ósseas, local onde se encontra abundancia de minerais. Assim a reposição do cálcio ocorre com rapidez necessária. Reabsorção é a retirada de cálcio dos ossos. Há dois tipos de reabsorção: osteólise osteocítica e osteoclasia. Por outro lado a deposição de minerais nos ossos é comandada pelo hormônio chamado calcitonina. Este hormônio é produzido pela glândula denominada ultimo branquial. O hipercalcitonismo leva ao excesso de deposição de minerais nos ossos determinando uma enfermidade chamada osteopetrose. Uma enfermidade caracterizada pelo endurecimento dos ossos, como se fossem pedras. Doenças Osteodistróficas São as chamadas doenças do metabolismo ósseo, também conhecidas como doenças carências dos ossos. Deficiência de algum mineral ou mesmo de proteínas ou até mesmo de hormônios com é o caso da osteoporose. As principais doenças osteodistróficas são: Osteoporose Raquitismo Osteodistrofia fibrosa Osteopetrose Condrodisplasia tibial Osteoporose É uma doença carencial dos ossos caracterizada por osteopenia, ossos finos, trabéculas delgadas e pouca massa óssea. Sua etiologia esta ligada a pouca atividade do osteoblasto. Este fato ocorre na queda do hormônio sexual. Este é responsável pelo estimulo trófico, o que significa estimulo nutricional. 30 Os movimentos, os exercícios são estímulos para manutenção dos ossos sadios. A deficiência de proteínas na ração, e a incapacidade da ave absorver os aminoácidos essenciais são causas predisponentes da osteoporose. A osteoporose não é deficiência de cálcio. Não falta cálcio na matriz, o que falta é tecido osteoide, e quem produz este tecido são os osteoblastos. A manutenção destes em plena atividade se faz por meio de estímulos tróficos. Macroscopicamente, os osteoblastos apresentam-se com a cortical delgada e a resistência diminuída, embora todas as trabéculas ósseas estejam bem mineralizadas. Microscopicamente, os osteoblastos apresentam-se alongados, diminuídos de tamanho e numero, as trabéculas estão finas e mineralizadas. O diagnostico da osteoporose é feito por meio da observação dos aspectos macroe microscópicos e pelo exame radiológico do osso. Nele se observa menor densidade óssea e maior radio transparência. Toda vez que se faz um bom manejo, previne-se a osteoporose. Ela é mais comum nas aves adultas em franca produção, porque toda síntese exige aminoácidos. A alimentação é o principio, meio e fim do processo. Raquitismo É uma doença carencial osteodistrofica caracterizada por osteopenia, devido à deficiência de minerais, em especial cálcio e fosforo. Trata-se de uma enfermidade comum nas aves jovens, ocorrendo nos momentos de pico do crescimento, o que coincide com as três primeiras semanas de vida. Em uma pesquisa realizada com setecentos e sessenta e seis frangos de corte de ambos os sexos, observou-se que a maior frequência de raquitismo ocorreu na 3ª semana, quando as aves cresciam mais rapidamente. Cerca de onze por cento das aves examinadas, o raquitismo ocorreu por meio do estudo histológico do osso tibiotarso, embora as aves tivessem um comportamento clinicamente normal. A carência de vitamina D também provoca raquitismo, uma vez que se trata de uma vitamina indispensável para a absorção do cálcio intestinal. Na síndrome de má absorção intestinal das aves, ocorrem desordens nas vilosidades, de natureza variável, ou até mesmo sua destruição por completo, o que impede a absorção do cálcio intestinal. Trata-se também de uma importante causa de raquitismo nas aves. Macroscopicamente, observa-se desenvolvimento retardado dos ossos longos, em especial dos ossos das pernas e das costelas. Ocorre um aumento de volume das extremidades ósseas, formando na região costocondral o chamado “rosário raquítico”. 31 A fise se apresenta espessa e irregular. Os ossos são fracos e dobram como vara verde, como mostra a Figura 11 (há muita matriz e poucos minerais). Observa-se ainda aumento de volume das articulações tibiotársica metatársica. O bico torna-se mole e com consistência de borracha, podendo ser dobrado com certa facilidade. Figura 11 – Osso de animal com raquitismo. Observe que os osos dobram por deficiência de minerais. Microscopicamente, há grande quantidade de matriz osteoide não mineralizada ou parcialmente mineralizada e espessamento irregular das cartilagens da fise. As trabéculas ósseas são moles e deformadas e, na correlação clínica patológica, as aves não apresentam bom aspecto, demonstrando um crescimento lento, observando-se um enfraquecimento dos ossos das pernas. Osteodistrofia Fibrosa É uma doença carencial osteodistrofica caracterizada por osteopenia devido à reabsorção óssea promovida pelo hiperparatireoidismo secundário nutricional, raramente pelo hiperparatireoidismo primário. No hiperparatireoidismo primário, há um aumento da atividade da glândula paratireoide devido a uma neoplasia. Isso faz com que haja grande produção de paratormônio capaz de incrementar a reabsorção óssea, levando a uma osteodistrofia fibrosa generalizada. (Isso não é comum, podendo ocorrer casos isolados). O hiperparatireoidismo secundário tem origem nutricional, pela insuficiência de cálcio e fósforo, não sendo de ocorrência rotineira nas as primeiras manifestações são ovos de casca fina, seguidas de queda na postura e de baixa eclodibilidade. O osso esterno é o mais afetado, tornando-se mole, semelhante à borracha (osteomalácia), e tortuoso. Os ossos das pernas e asas tornam-se frágeis, com a resistência diminuída, sujeitos a fraturas espontâneas. As aves perdem a mobilidade das articulações das pernas e caminham com os pinguins. 32 Macroscopicamente, há intensa reabsorção óssea (osteólise osteocítica) e invasão discreta de tecido conjuntivo fibroso. A glândula paratireoide apresenta-se com maior volume no hiperparatireoidismo. No primário, devido a uma neoplasia, que pode ser benigna ou maligna, em geral hormonalmente ativa, no secundário, devido a uma hiperplasia da glândula, estimulada pela insuficiência de cálcio e fósforo, promovendo maior produção de paratormônio. Osteopetrose É uma doença metabólica óssea caracterizada por osteomegalia, (muita formação de osso) causada pela sobreposição óssea, ultrapassando os limites normais da configuração anatômica do osso. Pode ocorrer durante o restabelecimento do raquitismo e do hiperparatireoidismo (o tecido osteoide é produzido em grande escala, resultando em uma excessiva formação de osso bem mineralizado). Nos casos de hipercalcitonismo (aumento de produção do hormônio calcitonina elaborado pela glândula ultimobranquial), na intoxicação por flúor, zinco e esteroides, há uma osteopetrose que se deve á inibição de reabsorção e constante deposição ósseas. A osteopetrose pode ainda ser causada, provavelmente, pelo vírus da leucose aviária, atingindo aves de 4 a 6 semanas de idade. Os ossos mais afetados são os dos pés, comprometendo a locomoção. Macroscopicamente, a osteopetrose é caracterizada por: 1) aumento de volume do osso cortical; 2) restrição do canal medular; 3) excesso de formação óssea (osteomegalia); 4) superfície óssea irregular e áspera; 5) resistência óssea aumentada. A Figura 12 ilustra a enfermidade. Figura 12 – Membro de peru (Meleagris gallopavo) apresentando osteopetrose. 33 Microscopicamente, observa-se basofilia do tecido osteoide bem mineralizado e pouca atividade dos osteócitos, demonstrando inatividade, ou seja, ausência de osteólise osteocítica (principal processo de reabsorção óssea). Condrodistrofia Tibial Também chamada de condrodisplasia e discondroplasia tibial. Trata-se de uma alteração observada nos ossos longos das aves (tibiotarso, tarsometatarso, fêmur e úmero), caracterizada pela retenção das cartilagens da fise, devido à falta de irrigação na parte afetada da mesma. A frequência dessa alteração pode ser reduzida pela seleção genética e pela composição mineral da dieta. Existe uma correlação proporcional entre a velocidade da taxa de crescimento e o desenvolvimento da condrodistrofia. A intoxicação por tetrametiltiuram foi relacionada entre as causas da enfermidade, bem como o manejo inadequado. Em um estudo sobre a ocorrência da condrodistrofia tibial em 656 aves de ambos os sexos, para produção de frango de corte, encontramos, durante as seis primeiras semanas de vida, 13,11% de aves do sexo masculino e 10,67% do sexo feminino acometidas pela enfermidade. O tibiotarso, objeto do estudo, a partir da quarta semana de vida das aves, mostrou uma alteração macroscópica na fise, representada pelo seq6uestro da cartilagem, de aspecto homogêneo, consistência firme e coloração quase branca, tornando a fise totalmente irregular e disforme, como mostra a Figura 13. Figura 13 – Tibiotarso de ave apresentando condrodistrofia. Microscopicamente, a condrodistrofia esta representada pela retenção da cartilagem hipertrófica da fise, falta de penetração dos túneis vasculares que levam os elementos de escavação, ausência de formação do tecido osteoide e de mineralização. Os dados da pesquisa permitiram concluir que a frequência da condrodistrofia tibial em 34 frango de corte nas seis primeiras semanas de vida é relativamente alta e compromete em maior escala os indivíduos do sexo masculino. Fraqueza Das Pernas Genericamente, esse é o termo empregado para designar uma série de problemas locomotores, em especial quando afeta os membros pélvicos. Em frangos de corte, a elevada frequência de distúrbios dessa natureza tem sido atribuída a fatores nutricionais, genéticos e ambientais. Estas deformidades ósseas têm sido descritas em aves jovens nas primeiras semanas de vida, permitindo dizer que a nutrição adequada das matrizes possa contribuir para minimizar estas alterações. A suplementação de piridoxina (vitamina B6) nos primeiros dias, reduz a ocorrência destas desordens ósseas. O crescimento rápido da ave é fator que a predispõe para o aparecimento de váriasalterações nas pernas, com destaque para o osso tibiotarso. Recentes pesquisas apontam que todas as linhagens criadas no Brasil são suscetíveis a diversos problemas nas pernas, embora a frequência seja relativamente baixa, dependendo mais do manejo empregado. Macroscopicamente, a fraqueza das pernas manifesta-se por encurvamento do osso tibiotarso, podendo ser observado ao corte da extremidade proximal um sequestro da cartilagem de crescimento, o que denominamos condrodisplasia (condrodistrofia). Outras vezes o osso esta mole no raquitismo, poroso na osteoporose, e até o bico apresenta-se amolecido na osteodistrofia fibrosa. Microscopicamente é a forma mais viável de se identificar todas estas alterações. Onde se observa modificações nas cartilagens, no tecido osteoide, mineralização deficiente e intensificação da reabsorção óssea. Perna Torta Trata-se de uma deformidade angular do osso, caracterizada por um desvio lateral ou medial de uma ou das duas pernas. O tibiotarso é o osso mais envolvido, podendo ser afetados o fêmur e o metatarso. A torção do tibiotarso determina a pressão direta do tendão de Aquiles sobre os côndilos da articulação intertarsal, resultando na deformação da mesma e, consequentemente, no deslizamento parcial ou total do tendão de seus côndilos. A etiologia pode estar relacionada com fatores nutricionais. Acredita-se que matrizes alimentadas adequadamente e recebendo suplementação vitamínica na agua 35 ingerida durante os períodos de baixo consumo de ração, provocado pelo calor, podem produzir pintinhos mais saudáveis. A suplementação de vitamina B6 na dieta de pintinhos reduz a frequência de pernas torcidas e dedos curvos. A etiologia também pode estar relacionada ao manejo da iluminação. Aves submetidas à luz intermitente (uma hora de luz e três no escuro) mostraram maior atividade por hora durante o período de luz do que aquelas que receberam iluminação contínua por 24 horas. Essa maior atividade das aves durante o período de luz seria responsável por melhor estruturação dos ossos e, consequentemente, por menor ocorrência de pernas torcidas. A presença de micotoxinas (Fusariose e Aspergilose) e elevado teor de tanino do sorgo nas rações constituem fatores importantes como agentes predisponentes na etiologia das alterações angulares das pernas. Perose É o termo empregado para descrever aves com pernas encurvadas e engrossadas. As articulações intertarsais estão em tamanho maior, com desenvolvimento de variados graus de deformidades angulares, frequentemente associados ao deslizamento do tendão do musculo gastrocnêmico (tendão de Aquiles), devido ao nivelamento dos côndilos. Em aves que apresentam perose, a perna desvia-se lateralmente, dificultando a locomoção e, consequentemente, o acesso ao alimento e à água. A perose geralmente ocorre em aves mais desenvolvidas e com melhor conformação. Matrizes submetidas a dietas deficientes em manganês podem dar origem a pintinhos que apresentam pernas curtas e engrossadas, encurvamento da asa e da coluna vertebral e ataxia com a cabeça voltada para trás. A perose esta intimamente ligada à velocidade do crescimento e a fatores ambientais e nutricionais. Rações deficientes em manganês, colina, niacina, ácido fólico, piridoxina e zinco podem induzir o aparecimento dessas tão pronunciada alteração. ALTERAÇÕES POST- MORTEM Os ossos são recobertos por tecidos moles: cartilagens, tendões, músculos e tecido conjuntivo que entram em autólise e putrefação e desaparecem. Porém, os ossos, por serem mineralizados, tornam-se objeto de preservação, servindo para contar a história das diferentes espécies do planeta. 36 ALTERAÇÕES DO DESENVOLVIMENTO São alterações congênitas aquelas que aparecem durante a incubação do ovo. Braquidactilia Aves que apresentam dedos curtos Sindactilia Fusão dos dedos Polidactilia Dedos supranumerários Perocornia Encurtamento da coluna por falta de uma ou mais vértebras Amelia Ausência de formação de membros Polimelia Presença de membros supranumerários Micromelia Redução do tamanho dos ossos Nanossomia Hipoplasia generalizada do esqueleto Gigantismo Crescimento descontrolado das cartilagens epifisárias Bifurcação da crista do osso esterno ALTERAÇÕES DEGENERATIVAS Osteose e osteocondrose Osteose A todo processo degenerativo do osso denominamos osteose: partindo de uma simples degeneração das células do tecido ósseo até necrose. O osso é muito resistente. As células ósseas estão protegidas pelos minerais depositados na matriz orgânica, mas nas fraturas é comum observar extensas áreas de necrose óssea, que também podem acompanhar os processos inflamatórios e infecciosos. As fraturas de membros, quando imobilizados adequadamente, apresentam grande capacidade de recuperação, podendo uma ave, em condições normais, restabelecer-se em apenas 10 dias. 37 Macroscopicamente, o osso necrótico adquire um aspecto macerado, com perda da arquitetura, brilho e resistência. Microscopicamente, ocorre intensa reabsorção óssea e acidófila das células, além de picnose, cariorrexe e cariólise do núcleo. Osteocondrose Consiste em necrose fortemente acidófila, proliferação de tecido conjuntivo fibroso e fendas na cartilagem circunvizinha ao centro de ossificação secundário epifisário. Nas aves, a osteocondrose tem se manifestado com maior frequência no osso tibiotarso. Esses tipos de lesões também já foram descritos na extremidade proximal do fêmur de frangos, sendo consideradas similares às da osteocondrose dos mamíferos. ALTERAÇÕES PIGMENTARES Melanose Presença de manchas pardas ou pretas, que coram os tecidos. No caso específico dos ossos das aves, pode ocorrer melanose em diversos ossos, destacando os membros, onde o periósteo apresenta-se corado com o pigmento melânico. Osteohemocromatose Coloração parda dos ossos por meio de pigmentos derivados da hemoglobina. Constitui-se em um achado de abatedor. ALTERAÇÕES CIRCULATÓRIAS Hiperemia ativa e passiva Observadas somente no periósteo. Hemorragias Importantes pelo fato de os ossos serem muito irrigados. Durante as fraturas, as aves podem perder muito sangue (cerca de 10% de todo sangue que sai do coração vão para os ossos). As hemorragias por diérese são: 1. Rexe (ocorre nos traumatismos: fraturas) 2. Diabrose (ocorre nos casos de neoplasias ósseas: osteossarcoma, leucose mielóide e outras) ALTERAÇÕES INFLAMATÓRIAS Osteítes 38 A inflamação do tecido ósseo é denominada osteíte. Quando atinge a medula óssea, osteomielite; quando atinge o periósteo, periosteíte. As osteítes são provocadas por vírus, bactérias e outros microrganismos. O vírus da leucose pode provocar osteopetrose nas aves, nas quais, concomitantemente, observam-se osteomielite primaria e ate mesmo secundaria (invasão de bactérias). Nos casos de artrite viral, podem ocorrer complicações ósseas instalando-se osteítes ou até mesmo osteomielite e periosteíte. Toda vez que uma ave apresentar uma inflamação óssea, haverá uma degeneração de suas células (osteoblastos e osteócitos), pois elas são nobres e, portanto, não inflamam, mas degeneram. Osteítes crônicas tipo granulomatosa (que formam nodulações) podem se instalar em algumas aves devido ao contato com o fungo Aspergillus spp. A tuberculose óssea apresenta-se no tecido ósseo de forma semelhante aos outros tecidos: um processo inflamatório crônico, nodular e especifico cujas células reagentes pertencem ao sistema monocítico fagocitário. A principal via de acesso é a hematógena; por essa razão, a enfermidade se aloja inicialmente na medula óssea, instalando uma osteomielite granulomatosa. Os ossos mais acometidos são os esponjosos, principalmente as vertebras. Macroscopicamente, apresentam nodulações, rarefação óssea e necrose. Microscopicamente, apresentamnecrose caseosa com presença de células gigantes tipo Langhans e intensa reação inflamatória (linfócitos, plasmócitos e histiócitos). A ocorrência de tuberculose nas aves é rara, principalmente na criação moderna. Todavia, aves caipiras apresentam grande potencial para enfermidade, pois normalmente são subalimentadas, e a queda de resistência das mesmas é fator primordial para promover o desequilíbrio entre a força do germe (Mycobacterium tuberculosis variedade avium, bovis e hominis) e a resistência natural ou adquirida da ave. A tuberculose não respeita órgãos nem estruturas. Ao contrário da espécie humana, na qual ela incide principalmente no pulmão; nas aves, ela pode ocorrer até nos folículos das penas ou simplesmente nos ossos. ALTERAÇÕES NEOPLÁSICAS 39 As neoplasias tradicionais do tecido ósseo – como osteoma, condroma, osteossarcoma e condrossarcoma – são raras. Porém, aquelas causadas por vírus podem ser comuns, como na leucose mielóide, leucose linfoide e enfermidade de Marek. AS ARTICULAÇÕES As articulações representam o encontro de duas estruturas ósseas, permitindo o perfeito movimento do esqueleto. De acordo com sua constituição orgânica e a que se destinam, as articulações podem ser classificadas em: 1. Articulações fibrosas (unindo os ossos do crânio) 2. Articulações cartilaginosas (unindo os ossos longos) 3. Articulações sinoviais (possuem cavidade articular, contendo o líquido sinovial) As aves desidratadas apresentam suas articulações sinoviais com certa redução do conteúdo líquido sinovial. Os casos em que há aumento de volume do líquido sinovial sugerem artroses (alterações degenerativas) e artrites (alterações inflamatórias). ALTERAÇÕES POST-MORTEM A embebição sanguínea, ou simplesmente embebição hemoglobínica, ocorre geralmente depois de 12 horas post-mortem e cora o líquido sinovial de vermelho ou pardo. ALTERAÇÕES DO DESENVOLVIMENTO Durante o desenvolvimento, podem ocorrer alterações ósseas como artrogripose e contratura congênita de membros. Artrogripose Contratura dos membros torácicos e pélvicos, bem como das vértebras cervicais, associada a uma hipotrofia muscular. Nas aves, a maior ocorrência é observada nas vértebras cervicais. Contratura congênita de membros Fixação da articulação de um determinado membro em posição de flexão ou distensão. Observa-se com relativa frequência em pintos de um dia de vida. ALTERAÇÕES ADQUIRIDAS As principais alterações adquiridas são: luxação e anquilose. 40 Luxação Torção entre duas extremidades ósseas devido a movimentos inadequados. Isso resulta no rompimento de cápsulas e ligamentos, podendo comprometer músculos e pele. As aves estão sujeitas a certos movimentos repentinos, quando algum barulho se dá nas proximidades do galpão. Isso deve ser evitado exatamente para prevenir contusões e demais transtornos estressantes. A luxação mais comum observada em aves é aquela que ocorre na bandeja de incubação, na qual o pintinho torce o membro pélvico e o deforma a ponto de se locomover com dificuldade, atrapalhando sua aproximação ao comedouro e bebedouro, o que torna a ave inviável para a criação. Anquilose Fixação de uma articulação. As articulações perdem seus movimentos, o que representa sua maior função. As fraturas, artroses e artrites predispõem à ancilose. ALTERAÇÕES DEGENERATIVAS Artroses Processo degenerativo da articulação caracterizado por degeneração e necrose das cartilagens e das cápsulas articulares. A artrose não tem sido descrita com frequência nas aves, mas nem por isso ela não é importante, já que está presente em todos os casos de artrite, o que é comum. ALTERAÇÕES CIRCULATÓRIAS Como alterações circulatórias, podemos observar hiperemia ativa, hemorragia. Hiperemia ativa Prelúdio da inflamação aguda (vermelhidão no local). A hiperemia passiva é o acumulo de sangue venoso devido geralmente a um bloqueio local (obstrução, compressão e outros). A principal causa de hiperemia passiva é insuficiência cardíaca. Hemorragia Possui duas causas: diérese e diapedese. A hemorragia por diérese pode ser por rexe (traumatismo, muito comum durante a pega das aves) e por diabrose (nos casos de neoplasias e ulcerações). As hemorragias por diapedese são do tipo petequial e sufusão (intersticial, à prova d’água) e ocorrem nas toxemias, septicemias, viremias e deficiência das vitaminas K e E. 41 Deficiência De Vitamina K Por ser a vitamina K um fator de coagulação do sangue, sua deficiência causa hemorragias espontâneas por injurias banais. Sua deficiência aumenta o tempo de coagulação do sangue, seguido dos níveis de protrombina e hemorragia. Elas podem ocorrer nas regiões subcutânea, intramuscular, intrapeitoral e podem ser disseminadas pelas articulações. Tratamentos prolongados com sulfas (sulfaquinoxalina) resultam na deficiência de vitamina k. Aves alimentadas com grãos contaminados com pesticidas com derivados dicumarínicos, estão sujeitas a quadro de hemorragias espontâneas. A Deficiência De Vitamina E A deficiência de vitamina E resulta pelo menos em três condições patológicas: diátese exsudativas, encefalomalacia e distrofia muscular. Diátese Exsudativas Em Aves Trata-se de uma enfermidade nutricional caracterizada pelo aparecimento de edema subcutâneo espalhado pelo corpo da ave. É provocado pela deficiência de vitamina E. Com o advento do selênio na ração, esta alteração reduziu significativamente, uma vez que há uma interação da deficiência de vitamina E e selênio. Nos frangos de corte as áreas mais afetadas são cabeça, pescoço e asas. A patogenia do edema explica por que há concomitantemente uma hemorragia. É que a causa do edema é a mesma da hemorragia: aumente da permeabilidade vascular. A presença de hemorragia permite o aparecimento de uma coloração esverdeada nas áreas afetadas. As aves apresentam apatia e se não tratadas adequadamente podem morrer. Rações estocadas de maneira impropria (em ambientes fechados e muito úmidos) favorecem a deficiência de vitamina E, tornando-as rançosas. A correção da dieta em vitamina E e selênio se faz necessário. Selênio O selênio está intimamente ligado à vitamina E, são importantes na proteção das membranas biológicas, nas degenerações oxidativas e com outros antioxidantes na formulação das rações. É constituinte da enzima glutamina peroxidase, protetora das membranas celulares contra danos exsudativos. O selênio atua como primeira linha de defesa contra a peroxidação de fosfolipídios vitais. A vitamina E previne a formação de hidroperóxidos. A deficiência de selênio nas aves provoca: diátese esxudativa, distrofia pancreática e muscular. ALTERAÇÕES INFLAMATÓRIAS Artrites 42 Inflamação de uma ou mais articulações, podendo ter causas infecciosas ou não, de caráter agudo ou crônico, caracterizado quanto ao exsudato em serosa, fibrinosa, hemorrágica e caseosa. Artrites Infecciosas Podem ser provocadas por vírus (reovírus), bactérias (Pasteurella spp, Salmonella spp, E. coli e Staphylococcus spp) e mycoplasma spp. A Figura 14 mostra articulação de ave com artrite infecciosa. Figura 14 – frango de corte apresentando artrite infecciosa. Artrites não infecciosas: geralmente são causadas por traumatismo e gota (deposição de cristais de urato de cálcio e sódio nas articulações: processo altamente irritativo e doloroso). Artrites Agudas Acompanham quadros septicêmicos ou virêmicos, podendo atingir várias articulações (poliartrite). Artrites Crônicas Formas persistentes. Geralmente apresentam exsudatos fibrinoso, caseoso ou simplesmente fibrinocaseoso. São provocadas na maioria das vezes por bactérias e, por serem duradouras, normalmente promovem anquilose (fixação de uma articulação devido à união das extremidades ósseas, que ocorre principalmente como sequela da artrite crônica).Embora predominem os heterofilos, não há supuração, pois essas células são diferentes dos neutrófilos, não produzem enzimas proteolíticas capazes de produzir o “pus”, portanto exsudato caseoso ou fibrinocaseoso. Artrites Serosas São geralmente primarias, tendo como agentes os vírus. Têm duração rápida e, quando não curadas servem de porta de entrada por outros germes, constituindo-se em grandes problemas para o plantel (aves com problemas de locomoção são aves 43 subnutridas que não conseguem chegar ao coxo de água e de ração, representando grandes perdas econômicas). Aspecto Macro e Microscópicos Das Artrites Macroscopicamente, há aumento do volume da articulação e do líquido sinovial, acrescido, do exsudato em questão (seroso, fibrinoso, hemorrágico ou caseoso). As membranas sinoviais apresentam-se avermelhadas na artrite aguda e endurecidas na artrite crônica. Microscopicamente, observa-se um exsudato fibrinoso, hemácias e, em casos mais severos, os heterofilos (não há formação de pus; estas células não possuem enzimas proteolíticas capazes de produzi-lo). Correlação clinica patológica: as aves apresentam apáticas, perdem a mobilidade dos membros, sentem muita dor na fase aguda e sofrem anquilose na fase crônica. Além disso, elas perdem peso e se tornam inadequadas para a reprodução (na ave do sexo masculino, o membro pélvico é órgão imprescindível na reprodução). As aves doentes devem ser eliminadas do plantel, pois são portadoras. Geralmente, a articulação tibiometarsiana e a mais afetada. Tenossinovite Infecciosa Das Aves Trata-se de uma enfermidade viral das aves, caracterizada por tendinite e periartrite (inflamação do tecido periarticular). A alteração é provocada pelo Reovírus, que já foi incriminado em outras condições, como na síndrome de má absorção, nas pericardites, na morte súbita e no empastamento de cloaca. A transmissão da doença se dá de forma horizontal, diretamente pelo contato. O Reovírus é excretado pelo trato respiratório por vários dias e por meio de o canal alimentar. O vírus persiste por longos períodos nas tonsilas cecais e articulações. As aves mais sensíveis encontram-se na faixa etária de quatro a sete semanas. A doença é aguda e atinge preferencialmente o tendão gastrocnêmico e as membranas periarticulares. Macroscopicamente, ao corte das articulações e dos tendões, observa-se um exsudato de coloração avermelhada, podendo evoluir para um exsudato caseoso, nos casos de infecção secundária. Hemorragias petequeais estão presentes nas proximidades das articulações. Essa doença tem sido reportada com maior frequência nos indivíduos do sexo masculino. 44 Microscopicamente são observadas tendinites e periartrites serosas e hemorrágicas que evoluem para caseosa nos casos de infecção secundaria. Hemorragias por diapedese são comuns. Correlação clínica patológica: infecção do tendão gastrocnêmico e das membranas das articulações dos membros pélvicos provoca claudicações, dificuldades de locomoção e apatia. Ocorre aumento de volume de todo o membro afetado e certa imobilidade. O diagnostico é feito por meio da identificação das lesões e do isolamento do vírus. O controle é feito com vacinação especifica contra o Reovírus, via água de beber ou injetável (as aves jovens tem prioridade na vacinação. E possível vacinar as matrizes visando proteção via ovo). ALTERAÇÕES NEOPLÁSICAS A neoplasia mais importante das articulações é o sinovioma. Não é comum e pode ter caráter benigno ou maligno. Quando maligno é denominado sarcoma sinovial. MÚSCULO Existem três tipos de músculos: 1. Musculo estriado esquelético 2. Musculo estriado cardíaco 3. Musculo liso O primeiro tipo recobre todo o esqueleto, e o terceiro é parte importante da estrutura de muitas vísceras (estômago, intestino, útero e outras). Os músculos estriados, que recobrem as vértebras cervicais, são bem desenvolvidos, uma vez que o pescoço das aves possui número maior de vértebras, quando comparado com a maioria dos mamíferos. O músculo mais desenvolvido é o peitoral, responsável pelos movimentos das asas e que compreende cerca de um quinto do peso total do corpo da ave. Outros músculos bem desenvolvidos são aqueles que recobrem os membros pélvicos, pois são responsáveis em parte pela sustentação e movimentação da ave. Os músculos que recobrem o dorso da ave são pouco desenvolvidos, uma vez que parte dos ossos da coluna vertebral é fusionada para formar o osso sinsacro, diminuindo a mobilidade daquela região do corpo, exigindo menor movimentação muscular. 45 Os correspondentes às asas estão modificados (existem pequenos músculos tensores da membrana da asa denominados patógios), para auxiliar na manutenção do voo. Por fim, o musculo diafragma é rudimentar e está representado por uma membrana tendínea, situada na face ventral dos pulmões, ligada a pequenos feixes musculares. Dessa forma, o musculo diafragma não separa a cavidade torácica da abdominal, permitindo que o coração se sobreponha aos lobos hepáticos. Nas aves estas duas cavidades formam cavidade celômica. ALTERAÇÕES POST-MORTEM Rigidez cadavérica Endurecimento muscular que ocorre após a morte. Esse processo inicia-se no musculo estriado cardíaco, expulsando todo seu conteúdo sanguinolento para fora do ventrículo esquerdo. Nos músculos estriados esqueléticos, a rigidez inicia-se por aqueles localizados na cabeça, passando pela região cervical e progredindo para as extremidades. A rigidez dá lugar ao relaxamento na medida em que se instala a autólise e a putrefação. As penas dificultam a perda de calor, o que favorece a invasão a invasão de bactérias saprófitas, fazendo com que o relaxamento muscular instale-se muito rapidamente. Além dos músculos, as vísceras são prejudicadas pela invasão das bactérias, estimuladas pela temperatura elevada que se mantem por um período prolongado de tempo, tornando a tarefa do necropsiador muito difícil para sua investigação diagnostica. Para a prática de necropsia, recomenda-se utilizar somente aves que tenham acabado de morrer, ou então aquelas mais doentes que serão eliminadas, a fim de emitir um diagnóstico com precisão. ALTERAÇÕES DO DESENVOLVIMENTO Hipoplasia muscular Desenvolvimento incompleto do musculo pode promover torções no esqueleto que comprometem a estrutura física da ave (a hipoplasia dos músculos cervicais promove torcicolos irreversíveis). ALTERAÇÕES DEGENERATIVAS As principais degenerações musculares são as seguintes: Degeneração turva 46 Observada na intoxicação leve. Degeneração gordurosa Aves com dieta deficiente em fatores lipotróficos: metionina, colina; geralmente apresentam “coração tigrado”: aspectos macroscópicos degeneração gordurosa no coração. Degeneração hialina Conhecida como necrose de Zenker e miopatia nutricional Miopatia Nutricional (necrose de Zenker) Trata-se de degeneração hialina muscular provocada pela deficiência de vitamina E ou selênio, conhecida também como a doença do musculo branco. Afeta principalmente o músculo peitoral, que se torna duro, brancacento, pálido, assemelhando-se a carne de peixe. As aves perdem a mobilidade e tornam-se apáticas. Microscopicamente, na degeneração hialina as fibras musculares perdem as estriações e parte delas caminha para necrose. Necrose Muscular Toda degeneração muscular, se não for retirada a causa que a provocou, acaba em necrose. Existe uma importante necrose do musculo peitoral profundo conhecida como miopatia peitoral das aves. Trata-se de uma enfermidade comum nas aves que têm um desenvolvimento muscular muito rápido; é provável que seja provocada por um desequilíbrio acido básico orgânico. Macroscopicamente, os músculos peitorais profundos apresentam-se áreas de consistência firme, cetimétricas, de forma irregular, de coloração esverdeada que se aprofundaao corte. Microscopicamente, observa-se necrose caseosa. Trata se de uma enfermidade subclínica, difícil até para a inspeção, pois atinge preferencialmente o músculo peitoral profundo. O diagnostico geralmente se da durante o processo de desossa e no processamento de corte da carcaça. Mineralização Das Fibras Musculares Ocorre sempre que houver lesões previas, tais como: degeneração, necrose, inflamação (as áreas de necrose caseosa da tuberculose apresentam este tipo de mineralização). É denominada mineralização distrófica. Hipotrofia Muscular 47 É a diminuição do volume e do tamanho da fibra muscular, contribuindo para a diminuição de todo o musculo. Acompanha a desnutrição, as doenças que provocam emagrecimento e na senilidade. Os músculos mais atingidos são os peitorais, comprometendo o peso das aves, uma vez que são seus maiores músculos. ALTERAÇÕES CIRCULATÓRIAS Isquemia, hiperemia ativa, edema e hemorragia, ocorrem esporadicamente e acidentalmente. Isquemia Redução do fluxo sanguíneo de determinado musculo, comum nas anemias de causas nutricionais. Hiperemia ativa Maior aporte de sangue para um determinado musculo. Pode ocorrer durante a atividade muscular e na inflamação aguda. Edema Comum nas doenças que provocam emagrecimento, doenças parasitarias e neoplásicas. A musculatura torna-se pálida e o tecido intersticial embebido com liquido citrino que flui na superfície muscular. Na diátese hemorrágica das aves por deficiência de vitamina E, observa-se, além de intensa hemorragia muscular, edema. Hemorragia Ocorre por diérese e diapedese. A hemorragia por diérese pode ser por rexe e diabrose. As hemorragias por rexe são provocadas por traumatismos, enquanto as hemorragias por diabrose aparecem nos casos de neoplasias por ulceração (Leiomioma, rabdomioma, leiomiossarcoma e rabdomiossarcoma). As hemorragias por diapedese são do tipo petequial e sufusão, podendo ocorrer principalmente nas toxemias, viremias, deficiência de vitaminas “E” e “K” e insuficiência hepática devido à redução da protrombina. A deficiência de vitamina K retarda a coagulação do sangue, levando a intensas hemorragias intramusculares, intrapeitoral e subcutânea. É mais comum em aves jovens, uma vez que as aves adultas podem sintetizar a vitamina, desde que o fígado esteja em boas condições fisiológicas. Hemorragias musculares estão presentes na bursite infecciosa aguda (Doença de Gumboro). ALTERAÇÕES INFLAMATORIAS Miosites 48 Nas aves, a miosite não é comum e, quando ocorre, tem forma e resposta diferentes. A reação inflamatória é pequena, e as células envolvidas (heterofilos) são incapazes de produzir enzimas proteolíticas; assim, não há formação de supuração nas aves. Ao contrario, o que se vê é exsudato caseoso, no qual a necrose predomina sobre a inflamação. Nos músculos cujas fibras são células nobres, a degeneração é mais comum que a inflamação. Nenhuma representa grandes problemas. A reação granulomatosa (granuloma) no musculo, vez por outra, ocorre por bactérias, fungos, protozoários ou corpos estranhos, podendo ter casos isolados e geralmente secundários a um traumatismo inicial. A lesão geralmente é progressiva, com formação de nódulos, permitindo seu diagnostico preciso por meio do exame histopatológico. O que caracteriza microscopicamente a miosite granulomatosa é a presença das células do sistema monocítico fagocitário, com destaque para as células gigantes Langhans de corpo estranho. ALTERAÇÕES NEOPLÁSICAS Neoplasias primárias dos músculos são raras (leimioma, leiomiossarcoma, rabdomioma e rabdomiossarcoma). As mais comuns são aquelas provocadas por vírus. Normalmente atingem outras estruturas e vísceras (Marek, leucose linfoide e leucose mieloide). TENDÕES Os tendões são feixes de colágeno em arranjo regular próprios para grande força tênsil. Além da resistência, possuem grande elasticidade, sendo capaz de absorver e armazenar energia quando necessário. Apesar de todas essas características, os tendões estão sujeitos a vários problemas: movimentos bruscos, atritos com superfície dura, piso irregular e acidentes. ALTERAÇÕES DO DESENVOLVIMENTO O encurtamento dos tendões representa uma formação incompleta (hipoplasia), o que resulta em graves problemas de locomoção e no comprometimento físico das aves. É comum observar hipoplasia dos tendões superficial e profundo do tarso do carpo, promovendo a flexão do membro, não permitindo sua extensão. ALTERAÇÕES INFLAMATORIAS Tendinites 49 Os tendões estão sujeitos a traumatismo que podem provocar rompimento, constituindo importante causa de tendinites. As tendinites virais são as mais comuns, podendo ter como consequência a invasão de bactérias e fungos como agentes secundários. Nas aves, tem sido reportada com mais frequência a tenossinovite infecciosa, provocada pelo reovírus e que atinge o tendão gastrocnêmico e as membranas articulares dos membros pélvicos. A reação inflamatória é caracterizada pelo espessamento dos tendões e pelo acumulo de secreção caseosa. Pode haver como sequela a ruptura do tendão afetado. A reovirose é onipresente nas galinhas e perus. As cepas patogênicas se localizam nas grandes articulações. Muitas vezes provocam artrites, tendinites e tendossinovites (tenossinovite). Tendossinovite (tenossinovite) É uma enfermidade infecciosa causada pelo Reovirus, caracterizada por afetar a bainha sinovial e tendões de pintinhos e galinhas, com distribuição mundial. Sua transmissão se da por via vertical e horizontal. O período de incubação gira em torno de duas semanas. Nas aves infectadas o vírus persiste nas tonsilas cecais e articulações tibiotarso e tarsometatarso. As aves sadias podem se infectar por via respiratória e oral. Correlação clinica patológica as aves apresentam claudicação, e aumento de volume das articulações atingidas. As lesões podem ser bilaterais e comprometer a locomoção das aves. A morbidade é altíssima, chegando a 100%. A mortalidade é relativa podendo chegar a 50%. Macroscopicamente, as articulações apresentam se aumentadas de volume, exsudato caseoso envolvendo os tecidos periarticulares. Nos casos crônicos pode haver fibrosamento da bainha e tendões. Coelho (2013) relata um surto ocorrido em Minas Gerais, onde cerca de vinte mil frangos de uma população de cem mil aves, apresentavam claudicação. Depois vários exames contraditórios, onde se isolou e identificou a E coli em alguns, e nos outros, uma virose sem identificação, foi acionado o laboratório de patologia da Universidade de Uberaba MG, com vinte pernas de frangos para exame histopatológico. Depois do exame criterioso de cada lamina confeccionada, chegou-se a conclusão de se tratar de uma infecção viral típica do Reovirus, caracterizada pela invasão de mononucleares: linfócitos e plasmócitos. Havia em algumas laminas, cerca de 5%, infiltrado de heterófilos, o que indicava uma infecção bacteriana secundária, mas o que 50 predominava era a infiltração de linfócitos e plasmócitos que estavam presentes em 100% da laminas examinadas. Foi sugerido àquela empresa que confeccionasse uma vacina autógena daquele vírus. O resultado foi coroado com sucesso e saúde das aves futuras. Microscopicamente, há presença de linfócitos em resposta da agressão viral e heterófilos pela resposta aos agentes bacterianos que invadiram secundariamente. Pode haver casos sem contaminação secundária, o mais comum é sua ocorrência. EM OUTRAS PALAVRAS... É necessário saber que o aparelho locomotor é constituído por ossos, articulações, tendões e músculos. Os ossos são extremamente sensíveis à deficiência mineral, principalmente pela rapidez com que se mobilizam o cálcio e o fosforo. As doenças osteodistróficas são importantes do ponto de vista nutricional e anatomopatológico, participando diretamente no incrementoda síndrome das pernas tortas das aves. Os músculos são, para os consumidores e produtores, a razão de ser de uma ave de corte. Isso porque, do ponto de vista nutricional e econômico, os músculos são tudo o que se espera delas: carne. É importante salientar a importância que as articulações e os tendões exercem sobre as pernas: elas podem parar por conta deles. Se isso acontece, a ave não se alimenta nem se reproduz, pois, para o macho, as pernas são como um órgão reprodutor. Sendo constatado que uma ave do sexo masculino apresenta problemas nas pernas, ela deve ser descartada do plantel, caso contrário, provocará sérios distúrbios na fertilidade dos ovos, pois o macho, estando presente, certamente exercera domínio sobre as fêmeas, impedindo que outros machos se aproximem. Produzir uma ave no menor tempo é uma das preocupações do momento para o combate à fome, uma vez que a carne de frango é nobre e de baixo custo. Hoje já faz leite de carne de frango; utilizado na dieta de crianças com alergia com outros leites. CONSULTA RÁPIDA 1. Conceito de reabsorção óssea Reabsorção é a retirada de cálcio dos ossos por meio do comando do paratormônio. 51 2. Tipos de reabsorção óssea São dois os tipos de reabsorção: osteoclasia e osteólise osteocítica. A primeira é feita pelos osteoclastos; a segunda, pelos osteócitos. 3. Doenças osteodistróficas (mais importantes) Osteoporose, raquitismo, osteodistrofia fibrosa e osteopetrose. 4. Conceito de condrodistrofia tibial A condrodistrofia tibial também é chamada de condrodisplasia tibial ou discondroplasia tibial. Trata-se de uma alteração nos ossos longos das aves, caracterizada pela retenção das cartilagens da fise. 5. Conceito de osteocondrose Osteocondrose é degeneração que caminha para necrose da cartilagem. LEITURA RECOMENDADA SANTOS, B. M; MOREIRA, M. A; DIAS, C. C. A. Manual de Doenças Avícolas. Editora UFV Universidade Federal de Viçosa, 2009. 224p. BERCHIERI Jr, A; MACARI, M. Doença das aves. Campinas: Facta, 2000. 490p. 52 SISTEMA CARDIOVASCULAR O sistema cardiovascular é constituído pelo coração, artérias e veias. CORAÇÃO O coração é um órgão cavitário formado por quatro cavidades e uma parede constituída por tecido muscular estriado. Nas aves, o coração é proporcionalmente maior, quando comparado com os mamíferos, apresentando maior numero de batimentos por minuto e bombeando maior quantidade de sangue por unidade de tempo. O sistema cardiovascular é constituído de um circuito fechado, por onde passa um volume de sangue proporcional ao peso corporal da ave, ou seja, cerca de 7% do mesmo. O fluxo sanguíneo relaciona-se diretamente com o fornecimento de oxigênio e a atividade metabólica do animal. ALTERAÇÕES POSTE-MORTEM No musculo cardíaco, rapidamente inicia-se a rigidez cadavérica. Quando ocorre a rigidez, o sangue no ventrículo esquerdo é imediatamente expulso. Caso contrário esse sangue coagula e a presença do coágulo indica uma insuficiência cardíaca. A presença de coágulo no ventrículo direito é considerada normal. Sua parede é delgada e na contração não consegue expulsar o sangue. O ventrículo esquerdo consegue porque sua parede é espessa. ALTERAÇÕES DO DESENVOLVIMENTO As alterações que ocorrem durante o desenvolvimento são: Acardia Ausência de formação do coração. Se houver um pequeno sinal de sua formação, denomina se aplasia; se ausência total: agenesia. Trata-se de uma alteração incompatível com a vida e ocorre em indivíduos que apresentam outras anomalias do desenvolvimento. Pode ser causada por poluentes, por consanguinidade e por razoes biológicas como vírus, bactérias, fungos, protozoários e outras. Hemicardia Desenvolvimento incompleto do coração, formando apenas uma das metades do órgão: direita ou esquerda. A etiologia pode estar relacionada com irradiações, 53 medicamentos e produtos químicos, além da consanguinidade. Trata-se de uma alteração incompatível com a vida. Ausência do saco pericárdio Nessa alteração não há formação do folheto parietal do pericárdio; assim, não haverá o saco pericárdico que abriga, além do coração, certa quantidade de liquido cuja finalidade é lubrificar o órgão. O saco pericárdico mantem o coração envolvido pelas membranas visceral e parietal, impedindo sua expansão pela cavidade torácica. Na sua ausência o órgão tende a sofrer dilatação. Ectopia cardíaca Coração fora de sua localização normal. O órgão pode estar deslocado para a direita ou em qualquer outra posição, como, por exemplo, próximo às vertebras cervicais. Coração supranumerário Indica a presença de mais de um coração no mesmo individuo, podendo ou não funcionar e com dimensões normais ou anormais. Intercomunicação ventricular Trata-se de uma pequena abertura na parede dos ventrículos direito e esquerdo, permitindo a comunicação entre eles. Persistência do forame oval Trata-se de uma pequena abertura que existe entre os átrios. Caso não se feche logo após o nascimento, esse orifício permitira a comunicação do sangue venoso com o sangue arterial, por meio do átrio; essa alteração é conhecida como persistência do forame oval. A dextroposição da aorta Trata-se do reposicionamento da artéria aorta para o lado direito, uma vez que nos mamíferos posiciona-se para o lado esquerdo do corpo. A este fato denomina-se dextroposição. Nas aves é normal: a aorta sai para o lado direito. PERICÁRDIO Trata-se de uma membrana serosa que reveste o coração. Possui dois folhetos: folheto parietal e folheto visceral. Esse último é chamado de epicárdio. Entre eles existe uma cavidade chamada saco pericárdico, que contem líquido, de quantidade variável 54 para cada espécie. Esse líquido aumenta nos casos de edema e inflamação e diminui nos casos de desidratação da ave. ALTERAÇÕES CIRCULATÓRIAS Hiperemia ativa e hiperemia passiva, edema e hemorragias. Hiperemia ativa É o início da inflamação aguda, o que significa se o pericárdio avermelhar começa inflamar. Hiperemia passiva Indicativo de retorno venoso defeituoso: de origem local ou sistêmica. Pode haver drenagem ruim por obstruções locais de veias, mas o mais comum são as causas sistêmicas nos casos de insuficiência cardíaca, quando a debilidade da bomba cardíaca dificulta o retorno venoso. Edema Acúmulo de líquido no saco pericárdico. Ocorre nos processos inflamatórios e nas deficiências nutricionais. Nos processos inflamatórios, o edema é provocado pelo aumento da permeabilidade capilar, e será um edema inflamatório. Neste caso denomina se exsudato que pode variar: de seroso a fibrinoso. Nos casos de deficiência nutricional, o edema será por deficiência de proteína, o que provocará uma diminuição da pressão oncótica da corrente sanguínea, levando a um edema frio. Esse acúmulo de líquido (transudato) no saco pericárdico é denominado hidropericárdio. Hemorragias Podem ocorrer por traumatismo, sendo assim denominadas hemorragias por diérese: rexe e diabrose. Se por meio de objeto perfurante, hemorragia por rexe. Se for por algo que provoque erosão no tecido, então será chamada diabrose. Em ambos os casos, provocará um hemopericárdio. As hemorragias mais importantes são aquelas por diapedese, em que o sangue fica retido no interstício tecidual. São denominadas: Petequiais, sufusões e equimoses. Suas causas são: viremia, septicemia, bacteremia, toxemia. ALTERAÇÕES INFLAMATÓRIAS Pericardites Classificas, quanto ao curso, em agudas e crônicas. Quanto ao exsudato, em fibrinosas e purulentas, podendo haver associação das duas: fibrinopurulenta. 55 Etiologia: vírus, protozoários, fungos, bactéria e sais de urato. O vírus da gripe do frango tem predileção para o coração. Uma das principais causas de pericardite nas aves é a E. Coli, que provoca incialmente uma pericardite fibrinosa, com aderência dos folhetos parietale visceral, e posteriormente constitui uma pericardite fibrinopurulenta, comprometendo toda a superfície do coração. Semelhante a esse caso, podemos citar outras bactérias: Salmonella typhimurium, S. enteritidis; A. Pasteurella gallinarum, P anatipestifer; Streptococcus faecium; Erysipelothrix rhusiopathiae; além da Chlamydia psittaci e do vírus Reovirus. E nos casos de gota visceral é muito comum à deposição de sais de urato no pericárdio, em consequência, provoca uma inflamação. Macroscopicamente, o quadro é clássico, podendo se observar a presença de uma substância branca semelhante ao pó-de-giz denominada “Tofo”. Microscopicamente, verifica-se a presença de cristais pontiagudos que quase não se coram pelas técnicas de rotina: hematoxilina e eosina. Intoxicação Por Monesina Pode provocar hemorragia petequial e sufusão, além da presença de placas de fibrina no saco pericárdico. MIOCÁRDIO Músculo estriado cardíaco constituído por três feixes musculares: feixe dos átrios, feixe dos ventrículos feixe musculo átrio ventricular . ALTERAÇÕES DEGENERATIVAS Degeneração turva, hialina, gordurosa e necrose. Degeneração Turva Do Miocárdio É degeneração que ocorre nas fibras do miocárdio, na qual há acúmulo de água no interior do citoplasma, tornando-o turvo e comprometendo seu desempenho. A etiologia está relacionada aos processos toxêmicos e isquêmicos, nos quais as mitocôndrias são lesadas, deixam de produzir energia suficiente para retirar o excesso de água no citoplasma. Sabe-se que a retirada da água das células é feito com gasto de energia. Assim ocorre edema celular. Macroscopicamente, a fibra adquire um aspecto de cozido ou fervido, devido principalmente à sua palidez. 56 Microscopicamente, o citoplasma (sarcoplasma) apresenta-se nebuloso, granuloso e edemaciado. Degeneração Hialina Do Miocárdio Trata-se da presença de substância homogênea (hialina), produto da destruição das fibras musculares e perda das estrias. Ocorre principalmente na “doença do músculo branco”, por deficiência de vitamina E ou Selênio. Os músculos se apresentam pálidos e de coloração branca, semelhante à carne de peixe. Consistência firme durante a palpação. Degeneração Gordurosa Do Miocárdio Também conhecida como lipidose, esteatose e metamorfose gordurosa. Trata-se de um distúrbio do metabolismo das gorduras, no qual ocorre retenção de gorduras no inteiro do citoplasma (sarcoplasma) das fibras musculares. A etiologia pode estar relacionada com toxemia e fatores lipotróficos, como a deficiência de aminoácidos. Sabe-se que aminoácidos como colina e metionina são imprescindíveis na alimentação das aves: elas não suportam níveis inadequados, o que normalmente leva a uma esteatose das fibras musculares e principalmente no fígado. Macroscopicamente, o citoplasma (sarcoplasma) apresenta-se com manchas amareladas intercaladas com áreas normais, o que dá o aspecto de pele de tigre; daí a denominação “coração tigrado”. Microscopicamente, observamos os espaços vazios semelhantes a gotículas deixadas pela gordura impregnada nas fibras musculares e dissolvidas durante a preparação do corte histológico. Necrose Do Miocárdio Necrose do miocárdio é quase sempre uma evolução da degeneração hialina muscular. É conhecida como necrose de Zenker e a etiologia pode ser deficiência de vitamina E ou Selênio, provocando a chamada “doença do musculo branco”. ALTERAÇÕES CIRCULATÓRIAS Hiperemia ativa Acúmulo de sangue nos vasos arteriais que normalmente indica processo inflamatório agudo. Hiperemia passiva 57 Acúmulo de sangue nos vãos venosos que indica drenagem defeituosa. Pode ter causas locais e gerais. As primeiras por obstruções venosas e as demais são motivadas por insuficiência cardíaca. Hemorragia Presença do sangue fora dos vasos. A hemorragia comum no miocárdio é provocada por diapedese. É do tipo intersticial e macroscopicamente se apresenta como pontos avermelhados, denominados: petéquias, ou como manchas avermelhadas irregulares denominadas sufusões e equimoses. A etiologia pode ser toxemia (Crotalaria spp; furazolidona em excesso; dicumoral e outros), septicemia (Pasteurella multocida; Escherichia coli), viremia (reovírus; vírus da doença de Newcastle), ou hipovitaminose (deficiência de vitamina K). ALTERAÇÕES INFLAMATORIAS Miocardites Inflamação do miocárdio, geralmente secundárias devido à localização do musculo cardíaco. Podem ser provocadas por bactérias, fungos, protozoários e vírus. A miocardite mais importante é causada pela bactéria Salmonella pullorum. Macroscopicamente, são observadas manchas com coloração branca ou amarelada que se aprofundam ao corte. Microscopicamente, essas manchas são representadas por áreas de degeneração hialina muscular, necrose e infiltração de células inflamatórias como heterofilos e linfócitos. Outra bactéria que pode causar miocardite é a Pasteurella multocida. As lesões são semelhantes àquelas provocadas por outras bactérias, acrescidas por vasculite, edema e presença de exsudato fibrinoso. Algumas vezes resulta em uma miocardite do tipo fibrinopurulenta. A Escherichia coli agente etiológico da colibacilose provoca infiltração de heterofilos, linfócitos, plasmócitos e proliferação de tecido conjuntivo fibroso no miocárdio. A miocardite de etiologia viral pode ser provocada pelo reovírus; vírus da doença de Newcastle e vírus da influenza aviária. As lesões são marcadas por reação linfoplasmocitária e intensa destruição de fibras musculares. ALTERAÇÕES NEOPLÁSICAS 58 Rabdomioma e rabdomiossarcoma. Enfermidades neoplásicas como: Marek, leucose linfoide aviaria, leucose mielóide, reticuloendoteliose e doença linfoproliferativa dos perus, atingem o miocárdio. Macroscopicamente, estas neoplasias são vistas através de nódulos milimétricos de consistência relativamente macia e de coloração branca ou amarelada, que se aprofundam ao corte. ENDOCÁRDIO O endocárdio é a membrana que reveste internamente as cavidades do coração. É lise e constituída de uma só camada do endotélio. Cobre as válvulas cardíacas e circunda as cordas tendíneas. ALTERAÇÕES REGRESSIVAS As desordens degenerativas do endocárdio são raras nas aves. Alguns casos de degeneração hialina e mineralização distrófica em determinadas enfermidades crônicas. ALTERAÇÕES INFLAMATÓRIAS Endocardites São classificadas do ponto de vista morfológico em: endocardite mural ou parietal e endocardite valvular vegetativa. A primeira quase não ocorre nas aves; a segunda é caracterizada pela proliferação de tecido fibrinonecrótico de coloração branca ou amarelada, de consistência friável, nas válvulas atrioventricular direita, mitral e aórtica. O principal agente etiológico é o Estreptococus spp, podendo a endocardite ser provocada pela Pasteurella gallinarum. Sua denominação: endocardite valvular vegetativa se refere a semelhança com a couve flor. ALTERAÇÕES ADQUIRIDAS Hipertrofia cardíaca e dilatação. Hipertrofia Cardíaca É o aumento da espessura das paredes do coração promovendo maior volume do mesmo. Ocorre quando aumenta o esforço cardíaco e o miocárdio esta saio, tem boa irrigação e tempo necessário. A hipertrofia pode não comprometer o tamanho das cavidades do coração (hipertrofia simples); se reduzir as dimensões das cavidades, será denominada hipertrofia concêntrica; se aumentar o tamanho, hipertrofia excêntrica. 59 Dilatação Cardíaca Define-se como: aumento de volume do coração como um todo. Nesse caso, o coração apresenta-se com o diâmetro transversal aumentado, pálido e com as paredes delgadas e flácidas. Quando o trabalho do coração aumenta e o musculo cardíaco apresenta alguma lesão, consequentemente ocorre uma dilatação. A doença do coração redondo dos perus é um bom exemplo. Não se conhecem suas causas, mas afeta aves de 1 a 4 semanas de idade.Outro exemplo é a intoxicação por furazolidona que, além de provocar dilatação cardíaca, ainda acarreta outras alterações como hidropericárdio e ascite. A Crotalaria spp provoca degeneração e necrose do miocárdio, o que impede uma resposta frente ao aumento de trabalho do coração à medida que a ave se desenvolve, provocando então dilatação cardíaca. Quando o trabalho do coração aumenta e ele esta sadio, começa a aparecer uma resposta com o aumento da pressão hidrostática. Então o musculo cardíaco vai se hipertrofiando. Há casos em que aparece ao mesmo tempo dilatação e hipertrofia. Isso é o que acontece na hipertensão pulmonar da síndrome ascítica de origem metabólica. O resultado é uma insuficiência cardíaca congestiva. Síndrome Ascítica Trata-se de um conjunto de sintomas que culmina em ascite: presença de liquido na cavidade celômica da ave. É um transtorno multifatorial que envolve fatores genéticos e ambientais concomitantemente. A limitação anatômica e fisiológica da circulação do pulmão provoca síndrome de hipertensão pulmonar que leva ao acumulo de liquido na cavidade da ave. Este quadro provoca morte das aves por hipóxia, uma vez que as trocas gasosas são realizadas insuficientemente pela incapacidade patológica da circulação pulmonar. O estresse oxidativo celular pode estar envolvido no processo, uma vez que a ave não consegue se livrar dos agentes oxidantes e gera aumento dos radicais livres. Macroscopicamente, observa-se liquido citrino na cavidade celômica, caracterizando um quadro de ascite. O controle se faz melhorando as condições ambientais, e eliminando aves doentes. VASOS SANGUÍNEOS 60 Os vasos sanguíneos são as artérias, as veias e os capilares condutores dos elementos sanguíneos por meio de uma corrente impulsionada pelos movimentos cardíacos. ALTERAÇÕES ADQUIRIDAS Dilatação vascular A dilatação de uma artéria é denominada aneurisma, que pode ter duas origens: congênita ou adquirida. A dilatação de uma veia é chamada de variz ou flebectasia. ALTERAÇÕES DEGENERATIVAS Degeneração hidrópica, hialina, necrose e ateromatse. As principais alterações degenerativas ocorrem na camada média e íntima dos vasos. O destaque vai para degeneração hidrópica, degeneração hialina e necrose. A etiologia esta relacionada com certas enfermidades como aspergilose, doença de Newcastle e doença de Marek. Ateromatose (arteriosclerose) Processo degenerativo progressivo crônico, caracterizado pela formação de placas ateromatosas, identificadas por manchas amareladas e espessas, observadas na camada intima das artérias coronárias, da aorta e de seus principais ramos. Pode ocorrer infiltração de tecido conjuntivo fibroso, levando à obliteração vascular. A etiologia pode estar relacionada com a doença de Marek ALTERAÇÕES INFLAMATÓRIAS Vasculites Inflamação de um determinado vaso sanguíneo. Se for uma artéria, denomina-se arterite; se for uma veia, flebite. As vasculites são principalmente de origem infecciosa: Mycoplasma synoviae, M. gallisepticum; M. meleagridis e M. iowe. No sistema nervoso central, é comum observar nas encefalites uma reação perivascular caracterizada pela presença de células inflamatórias, formando o que denominamos manguito perivascular. ALTERAÇÕES NEOPLÁSICAS As neoplasias primárias dos vasos (artérias ou veias) são denominadas hemangioma (benigna) e hemangiossarcoma (maligna). Acometem os vasos da pele e as vísceras, tendo como um dos agentes etiológicos o retrovírus da leucose. 61 EM OUTRAS PALAVRAS... No sistema cardiovascular se estuda uma rede de distribuição de sangue partindo do coração com dois sentidos: o pulmão e o restante do corpo. A distribuição do sangue se dá por uma rede vascular constituída por artérias, arteríolas e capilares. O retorno do sangue distribuído pela rede vascular ao coração se dá por meio de veias, vênulas e capilares. O coração é um órgão cavitário e muscular que pode apresentar durante sua formação algumas alterações ou malformações: intercomunicação ventricular, persistência do forame oval, ausência do saco pericárdico, entre outras. As hemorragias são comuns, sendo as petequiais e sufusões as mais importantes, cujas causas são viremias, septicemias e toxemias. Os processos inflamatórios são capazes de atingir desde o pericárdio, o miocárdio e endocárdio, ate fazerem parte do quadro de algumas enfermidades como salmonelose, pasteurelose e colibacilose. A hipertrofia e a dilatação cardíaca podem ser vistas esporadicamente e de forma isolada. Neoplasias como leucose linfoide, mielóide e doença de Marek são comuns no coração das aves. CONSULTA RÁPIDA 1. Alterações do desenvolvimento do coração a) Intercomunicação ventricular b) Persistência do forame oval c) Ausência do saco pericárdico 2. Conceito de hipertrofia cardíaca Hipertrofia cardíaca é o aumento de volume do musculo cardíaco, sendo mais comum a ocorrência do lado esquerdo, de preferencia no ventrículo esquerdo. 3. Conceito de dilatação cardíaca Dilatação cardíaca é o aumento de volume do coração, tornando-o pálido e flácido. 4. Três enfermidades bacterianas que afetam o coração Salmonelose, pasteurelose e colibacilose. 5. Três neoplasias que acometem o coração Marek, leucose linfoide e mielóide. 62 SISTEMA RESPIRATÓRIO O sistema respiratório é constituído por: narinas, cavidades nasais, laringe, siringe, traqueia, brônquios, bronquíolos, pulmões e sacos aéreos. NARINAS E CAVIDADES NASAIS As narinas são dois pequenos orifícios ovais situados na base do bico superior, que se abrem em uma estreita e curta cavidade nasal. As cavidades nasais são separadas pelo septo mediano e possuem três conchas. O tecido conjuntivo, localizado na região respiratório das cavidades nasais, é bastante vascularizado, possuindo redes venosas capazes de grande enturgescimento com sangue para facilitar a troca térmica. ALTERAÇÕES POSTE-MORTEM Secreções de diversas naturezas são observadas nas narinas e cavidades nasais, que podem alterar a coloração e desidratar-se com o decorrer do tempo após a morte, podendo se tornar fétidas. ALTERAÇÕES DO DESENVOLVIMENTO Arhinia Ausência de formação das narinas, podendo acompanhar as alterações do bico. Campylognathia Estreitamento das vias nasais. ALTERAÇÕES DEGENERATIVAS Amiloidose (Infiltração amiloide) Acúmulo de substancia amiloide de coloração rósea e aspecto homogêneo localizada na submucosa. Tem como causa a precipitação do complexo antígeno e anticorpo e aparece nas doenças crônicas. É facilmente observada ao microscópio óptico. Degeneração mucoide Acúmulo de substancia seromucosa nas cavidades nasais, devido à irritação crônica, ocasionando espessamento da mucosa devido à hiperplasia das células 63 caliciformes. É observada principalmente nas rinites crônicas: coriza infecciosa das aves. ALTERAÇÕES CIRCULATÓRIAS Hiperemia ativa Acúmulo de sangue nos vasos arteriais da mucosa nasal. Ocorre no inicio de cada processo inflamatório agudo. As cavidades nasais são naturalmente avermelhadas e não há uma mudança perceptível na hiperemia. Clinicamente, ocorre uma ligeira dificuldade respiratória, obrigando a ave a abrir o bico de vez em quando, voltando-o para cima. Hiperemia passiva Acúmulo de sangue nas veias e ocorre nos bloqueios localizados nos vasos ou na insuficiência cardíaca. Hemorragias nasais Ocorrem durante traumatismos e nas doenças hemorrágicas e metabólicas, como acontece na insuficiência de vitamina K. Insuficiência de vitamina K Retarda o tempo de coagulação do sangue nas aves alimentadas com ração não balanceada. Elas podem ter hemorragia ate morrer, em consequência de injurias ou ferimentos causados por rupturas de vasos sanguíneos. Podem sofrer hemorragias subcutânea, intramuscular, nasal e no musculo peitoral. As aves adultas não estãosujeitas à insuficiência aguda de vitamina K, indicando que podem sintetizar a vitamina ate certo ponto. A insuficiência de vitamina K durante a postura leva à produção de ovos com baixo teor dessa vitamina. Pintinhos nascidos desses ovos tem pouca reserva de vitamina K e apresentam maior tempo de coagulação do sangue. ALTERAÇÕES INFLAMATÓRIAS Rinites São de natureza primaria e secundaria. As principais causas são a poeira, os corpos estranhos, os parasitas, as bactérias, os fungos, os protozoários e os vírus. As bactérias são, na maioria das vezes, habitantes naturais das vias respiratórias superiores. A rinite expande-se para os seios nasais, faringe, traqueia, brônquios e pulmões. Quanto ao curso, as rinites são classificadas em agudas e crônicas. 64 Quanto ao exsudato, em seromucosa, mucopurulenta e serofibrinosa. Nas aves há uma maior tendência de associação aos diferentes exsudatos. As rinites estão presentes nos quadros de insuficiência de vitamina A, na coriza infecciosa das aves, na bordeteliose e bouba aviaria. Insuficiência De Vitamina A A insuficiência de vitamina A na dieta das aves induz o aparecimento dos primeiros sintomas nas aves com três semanas de idade. O crescimento é retardado e as aves se mostram fracas, magras, com andar cambaleante e penas arrepiadas. A resistência às infecções cai e a mortalidade aumenta. As secreções das glândulas intestinais, lacrimais e glândulas salivares diminuem ou até cessam. Pode-se observar que a terceira pálpebra apresenta aspecto opaco devido à ceratinização. Há possibilidade de infecção, resultando na produção de liquido viscoso e consequente aderência de uma pálpebra com a outra. Os principais achados de necropsia são: 1) Edema dos olhos e da cabeça 2) Secreção seromucosa nos olhos e nas narinas 3) Ceratinização da terceira pálpebra 4) Exsudato caseoso no bico 5) Andar rígido 6) Retardamento do crescimento 7) Ovos de casca frágil 8) Quebra na produção e oclusão dos ovos 9) Presença de uratos nos ureteres e túbulos renais; pústulas de coloração brancacenta no palato, no esôfago e no ingluvio. Coriza Infecciosa O termo coriza é empregado para designar todas as alterações caracterizadas por secreção nas narinas e olhos. A coriza infecciosa, porem, é uma infecção provocada pela bactéria Haemophilus paragallinarum, de preferencia no período do inverno, em lugares úmidos e abrigos sujeitos a ventos frios. O período de incubação vai de um a três dias; o curso é de duas a três semanas. O principal sintoma é o corrimento nasal e ocular. Os achados de necropsia são: 1) Secreção mucopurulenta nos olhos e nas narinas 65 2) Aderência das pálpebras e acumulo de secreção nas cavidades oculares, provocando aumento de volume na cabeça da ave. 3) Apatia e depressão fazem com que a ave coloque a cabeça debaixo das asas, na tentativa de protegê-la. 4) Há sempre infecção secundaria O tratamento se faz principalmente com sulfas: 1) Sulfatiozol na concentração 0,125% diluído em agua 2) Sulfamidina a 0,25, diluída em água. 3) Pode ser utilizada furazolidona adicionada na ração a 0,04% A profilaxia exige melhora das condições de vida da ave, protegendo-a contra as correntes frias de ar e umidade. As aves doentes devem ser isoladas das demais para evitar o contagio. A Figura 15 mostra um frango de corte com blefarite caseosa provocada pelo Haemophilus paragallinarum, caudador da enfermidade. Bordeteliose Trata-se da coriza dos perus, uma doença bacteriana altamente contagiosa. Ataca o sistema respiratório dos perus, caracterizando-se por descarga nasal e ocular, espirros, aumento de volume da cabeça, dificuldade respiratória, atraso no crescimento e predisposição para outras infecções. É provocada por uma bactéria gram negativa, a Bordetella avium. Dependendo da patogenicidade do germe, pode provocar sozinha a enfermidade. Em condições de estresse ambiental e outras alterações respiratórias, sua presença é desastrosa. A transmissão ocorre pelo contato direto entre aves contaminadas e susceptíveis por meio da cama, da água e ração contaminadas. Em ambientes favoráveis como a cama, ela pode sobreviver por até Seis meses, aguardando uma oportunidade. Aves susceptíveis, eventualmente, podem apresentar a doença com sete e dez dias de idade. É comum observa-la entre dois e seis semanas de idade. A enfermidade começa a se mostrar por meio de espirros com descarga nasal e redução do consumo de alimento. Apresenta alta mortalidade, que pode aumentar quando há infecção secundaria pela E. Coli, podendo chegar a 50%. Macroscopicamente, as lesões são observadas no trato respiratório superior: narinas, cavidades nasais e traqueia. Desencadeia-se uma rinite serosa, que evolui para catarral e termina em mucopurulenta. 66 A traqueia fica avermelhada e a presença de secreção é notada desde as narinas. Quando há infecção secundaria pela E. Coli haverá uma aerossaculite aguda. Microscopicamente, a doença é caracterizada por uma infecção no trato aéreo superior: rinite e traqueíte agudas. O diagnostico é realizado através dos achados macro e microscópicos e do isolamento de bactéria. O tratamento é feito com antibióticos. O resultado pode ser prejudicado pela existência de infecção secundária. A prevenção é realizada com biosseguridade e vacinação. As aves devem ser vacinadas quatorze dias de vida. Influenza Aviária (peste aviária; gripe do frango) A influenza aviária é uma enfermidade contagiosa das aves causada pelo vírus RNA da influenza tipo A, membro da família orthomyxoviridae, que provoca lesões do tipo miocardite e sintomas como tosse, espirros, corrimento nasal e ocular, sinusite, diarreia, edema de cabeça e face além de distúrbios nervosos. O vírus H5N1 tem se espalhado ultimamente (anos 2005-2006) pela Ásia e Europa, causando grande mortalidade de aves e até mesmo de pessoas. Sua transmissão se dá por intermédio de aves silvestres migratórias que podem ser portadoras da enfermidade. A morbidade e a mortalidade são variáveis, dependendo de fatores ambientais, das condições físicas das aves e da patogenicidade do vírus. A doença foi descrita em 1878 na Itália e, a partir da década de 1990, tem aterrorizado os Estados Unidos, a Austrália, Hong Kong, O México, O Canadá e muitos outros países. O vírus tipo A é um mutante que possui dois antígenos distintos: hemaglutinina e neuraminidase. Cada um destes antígenos possui varias possibilidades de combinações entre eles. São 15 hemaglutinina e 9 neuraminidase. As mais comuns são: H7N4, H5N2, H1N1 e H5N1. Sua transmissão ainda pode ocorrer por congelados, secreção nasal, insetos, roedores e outros vetores como carros, caminhões e utensílios. As aves migratórias tem um papel muito importante na disseminação do vírus. Quando migram em áreas com temperaturas semelhantes à transferência do vírus é mais comum. O vírus da influenza tem preferencia para locais de baixa temperatura. Aves que voam do Canadá com destino ao Brasil passam do frio de um país de clima polar, ao calor de um país tropical. Este fato é um dos fatores que tem afastado o vírus das 67 aves criadas aqui. As aves selvagens e pássaros são todos em potencial para transmitir o vírus. Macroscopicamente, durante a necropsia pode-se observar: aerossaculite fibrinonecrótica como mostra a Figura 15, salpingite fibrinosa, pericardite fibrinosa e miocardite linfoplasmocitária. Áreas de necrose podem ser observadas na pele, nas cristas e na barbela, no fígado, nos rins e pulmões. Hemorragias petequiais e sufusões podem ser notadas nas serosas do pericárdio, da pleura e do peritônio. Há edema e cianose no tecido subcutâneo da cabeça e das patas. Necrose e hemorragias petequiais podem ser vistas na mucosa da moela e no proventrículo. Nos casos superagudos, quase não se veem lesões, pois não há tempo suficientepara formá-las. Figura 15 – Ave apresentando aerossaculie fibrinonecrótica Microscopicamente, todas as lesões visíveis devem ser colhidas para exame histopatológico, o que acrescenta muito pouco por falta de especificidade. Observa-se que há uma reação tipicamente linfoplasmocitária e necrótica, demonstrando a presença de vírus altamente destrutivo. No baço ainda pode ser vista uma hiperplasia de polpa branca com aumento do numero tanto de linfócitos como de células reticulares. O diagnostico baseia-se nos sintomas e lesões. A confirmação é feita pelo isolamento e pela identificação do vírus. O controle é feito por meio de isolamento das aves doentes, limpeza, desinfecção e conscientização do problema por parte dos tratadores, além de eliminar todas as aves doentes e suspeitas, seguido de rigorosa quarentena, barreiras sanitárias, cuidados com aves migratórias e outros. ALTERAÇÕES NEOPLÁSICAS As neoplasias das narinas e cavidade nasais são raras nas aves. O papiloma é o mais comum. 68 O vírus da bouba aviária provoca hiperplasia epitelial benigna (caroços) que podem ser letais quando afetam aves jovens e provocam alterações respiratórias do tipo laringite e laringotraqueite. Estas verrugas são conhecidas como caroço. LARINGE A laringe e constituída de uma mucosa que reveste as cartilagens cricóide e aritenóide. Elas possuem um enorme potencial para ossificação, o que ocorre precocemente. Anatomicamente, classifica-se a laringe em caudal e cranial, separadas pela traqueia. A laringe caudal é conhecida com o nome de siringe. Está localizada na bifurcação da traqueia em brônquios. É o órgão fonador das aves, constituída de cordas vocais, apropriadamente denominada membrana tinpaniforme interna e externa. A araponga é a ave que apresenta o som mais estridente aqui no Brasil. alterações POST- MORTEM Pseudomelanose Manchas azuladas ou pardas que se apresentam na mucosa da laringe, quando se inicia o processo de putrefação. ALTERAÇÕES DO DESENVOLVIMENTO Hipoplasia das membranas timpaniformes. As aves apresentam dificuldade de emitir sons. ALTERAÇÕES DEGENERATIVAS E METABOLICAS Mineralização Deposição de sais minerais, principalmente o cálcio, nas áreas previamente lesadas, como nos casos de laringites crônicas. Ossificação Formação de autênticas estruturas ósseas em áreas inapropriadas. As cartilagens cricróide e aritenóide apresentam tendência a se ossificar na medida em quase a ave envelhece. Há registro de ocorrência em aves mais jovens. ALTERAÇÕES CIRCULATÓRIAS. Hiperemia ativa 69 Acúmulo de sangue nas artérias, anunciando a reação inflamatória. Quando se faz necropsia de uma ave e observa mucosas avermelhadas na laringe, traqueia, brônquios e bronquíolos alveolares, sabe-se que esta coloração indica hiperemia ativa: o inicio de um processo inflamatório. Hiperemia passiva Acumulo de sangue nas veias devido a qualquer obstáculo na corrente venosa: pode também ter causas gerais, como ocorre na insuficiência cardíaca. Hemorragia Sangue fora dos vasos sanguíneos. É quase sempre do tipo petequial, podendo estar associada com asfixia e doenças infecciosas como laringotraqueite das aves. As hemorragias petequiais são punquitiformes de coloração vermelha quando recente e parda quando antigas. Se for por trauma é denominada diérese subdividida em rexe e diabrose: perfuração e o ato de arrancar a parede dos vasos respectivamente. ALTERAÇÕES INFLAMATÓRIAS Laringites Comuns nas aves e geralmente estão associadas com outros processos inflamatórios nas estruturas vizinhas (narinas, cavidade nasal, traqueia). Estão classificadas quanto ao curso em agudas e crônicas; quanto ao exsudato; em seromucosa, serofibrinosa, mucopurulenta e fibrionopurulenta. Macroscopicamente, a laringite apresenta vermelhidão (hiperemia ativa) com pontos avermelhados (hemorragias petequiais) e a presença de secreção viscosa pegajosa, que varia de acordo com a qualidade e a quantidade do exsudato. Microscopicamente, a mucosa apresenta hiperemia ativa, hemorragia e invasão de células inflamatórias. No caso de laringite seromucosa, predomina o muco. Na laringite mucopurulenta, há presença de muco e heterofilos. Na laringite fibrionopurulenta, há presença de fibrina e heterofilos. Alguns exemplos importantes de laringites nas aves são: 1. Laringotraqueite infecciosa 2. Doença respiratória crônica 3. Doença de Newcastle 4. Singamose Laringotraqueite Infecciosa Das Aves 70 Trata-se de uma enfermidade aguda altamente infecciosa, viral, caracterizada por respiração forçada, cabeça erguida, bico entreaberto e expectoração hemorrágica. Sua causa é o herpes vírus que se propaga por inalação ou via intraocular. Raramente ocorre infecção pelo sistema digestório, pois o vírus tem maior predileção pelas vias aéreas. A transmissão ocorre por meio do contato entre aves contaminadas e aves sensíveis, ou por equipamentos e cama. O vírus ataca galinhas, perus e faisões. As aves sobreviventes tornam-se portadoras do vírus por mais de um ano. Correlação clínica patológica: trata-se de uma inflamação aguda mucohemorrágica ou, ás vezes, hemorrágica da laringe e traqueia como mostra a Figura 16. Isso provoca uma descarga nasal sanguinolenta, com espirros constantes e dificuldade respiratória, como é visto na Figura 17. Aves são vistas com o bico aberto voltado para cima procurando ar. Podem ser observados coágulos de sangue na traqueia. Olhos lacrimejantes resultam da conjuntivite serosa inicial que caminha para um exsudato seromucoso. Nos casos menos graves, não se observam desordens hemorrágicas. Figura 16 – Laringotraqueite em ave provocada por herpes vírus Figura 17 – frangos de corte apresentando dispneia causada pela Laringotraqueite por herpes vírus 71 O diagnóstico pode ser dado por meio dos achados macro e microscópicos na laringe e traqueia, do isolamento do vírus e testes sorológicos. O controle em áreas endêmicas é feito por meio a vacinação. Aves são vacinadas com dez semanas. Pode ser usado o método de spray ou na água de bebida. Quando for necessário vacinar frangos, isso é feito com quatorze dias de idade, junto com Newcastle e bronquite infecciosa. Singamose Trata-se de uma doença resultante da infestação parasitária, localizada na laringe das aves, provocada pelo Syngamus laringeus, como mostra a Figura 18. Figura 18 – traqueia de ave parasitada por Syngamus trachea. Apresenta gogo ou pigarro, condições caracterizadas por dificuldade respiratória, como mostra a Figura 19, ronqueira, secreção bucal, nasal e ocular. Atinge principalmente aves jovens, podendo provocar altos índices de mortalidade. Figura 19 – pintainho apresentando dificuldade respiratória por singamose. Correlação clínica patológica: os parasitas são finos como um fio de cabelo, mas o suficiente para provocar obstrução parcial da laringe. Isso causa dificuldade respiratória, ronqueira e tosse. Parasitas podem ser retirados com uma pinça pela boca. 72 Eles provocam uma laringite catarral. As aves perdem peso e têm o crescimento comprometido; aves jovens apresentam alto índice de mortalidade. O tratamento é feito com vermífugo à base de ivermectina injetável. O controle se faz com eliminação das aves adultas portadoras, ou isolamento evitando o contato com aves jovens. Recomenda-se vermifugação periódica e limpeza do local que abriga as aves ALTERAÇÕES NEOPLÁSICAS Papiloma Neoplasia benigna da mucosa. Fibroma Neoplasia benigna do tecido conjuntivo localizado na submucosa. Condroma Neoplasia benigna das cartilagens que sustentam a laringe. Condrossarcoma Neoplasia maligna das cartilagens que sustentam a laringe. Carcinoma Neoplasia maligna do epitélio que reveste a mucosa da laringe. TRAQUEIA A traqueia é um tubo relativamente longo nas aves, compostode anéis cartilaginosos completos. Está situada entre as duas laringes: cranial e caudal, terminando em sua bifurcação, em dois brônquios principais. ALTERAÇÕES POST- MORTEM Embebição sanguínea Resultado da hemólise das hemácias e liberação da hemoglobina que se espalha e infiltra na mucosa da traqueia. A mucosa da traqueia se apresenta vermelha e brilhante. Pseudomelanose Resultado da degradação da hemoglobina e liberação de ferro que se liga ao hidrogênio produzido pela putrefação das bactérias. No final, aparece a coloração azulada ou parda que originou o termo pseudomelanose. ALTERAÇÕES DO DESENVOLVIMENTO 73 Estenose Estreitamento que pode ocorrer por hipoplasia dos anéis traqueais. Agenesia de anéis Ausência completa de um ou mais anéis traqueais. ALTERAÇÕES CIRCULATÓRIAS Hiperemia ativa Acúmulo de sangue nas artérias. Ela promove a inflamação aguda. A resposta inflamatória vem dos vasos sanguíneos. Hiperemia passiva Acúmulo de sangue nas veias. É conhecida pelo termo “congestão”. Tem como principal causa o obstáculos na corrente sanguínea de retorno. Pode ter como causa a insuficiência cardíaca. Hemorragia na traqueia Quase sempre do tipo petequial: uma hemorragia intersticial, causada por toxemia, septicemia e viremia. O destaque vai para a viremia. O exemplo é o vírus da laringotraqueite infecciosa aguda. ALTERAÇÕES INFLAMATÓRIAS Traqueites Quase sempre acompanham as rinites, laringites, bronquites, pneumonias e aerossaculites (coriza, laringotraqueite infecciosa aguda, doença crônica respiratória). Quanto ao curso, a traqueite pode ser classificada em aguda e crônica. Quanto ao exsudato, em seromucosa, mucohemorrágica, mucopurulenta. ALTERAÇÕES PARASITARIAS O Syngamus trachea é um parasita que tem predileção pela traqueia. Provoca traqueite mucopurulenta e atinge galinhas, perus, faisões e outras espécies avícolas. A infecção parasitária tem um desfecho quase sempre fatal, especialmente em pintinhos e frangos. As larvas atingem os pulmões por via sanguínea, partindo do intestino, passando pelos brônquios, atingindo a maturidade e finalmente chegando até a traqueia. Essa infecção é denominada singamose. ALTERÇÕES NEOPLÁSICAS Papiloma Neoplasia primária benigna do epitélio que recobre a traqueia. 74 Fibroma Neoplasia primária benigna do tecido conjuntivo localizado na submucosa da traqueia. Condroma Neoplasia primária benigna das cartilagens da traqueia. Carcinoma Neoplasia primária maligna que atinge o epitélio da mucosa traqueal. Fibrossarcoma Neoplasia primária que atinge o tecido conjuntivo da submucosa da traqueia. Condrossarcoma Neoplasia primária maligna que atinge as cartilagens da traqueia. BRÔNQUIOS São formados por quatro camadas: mucosa, submucosa, camada de músculo liso com peças cartilaginosas e uma adventícia. Os bronquíolos são resultantes da ramificação dos brônquios. Suas paredes vão perdendo gradualmente alguns de seus componentes (peças de cartilagens, glândulas submucosas). Além da mucosa, o músculo liso passa a ser um dos principais componentes das paredes. ALTERAÇÕES POST-MORTEM Embebição sanguínea Também denominada embebição hemoglobínica é o resultado da lise das hemácias com liberação de hemoglobina durante a putrefação. A mucosa brônquica apresenta-se imensamente avermelhada e brilhante. Pseudomelanose Resultado da combinação do ferro da hemoglobina, com sulfureto de hidrogênio resultante da putrefação bacteriana, produzindo uma substância denominada sulfureto ferroso, que confere coloração azulada ou parda à mucosa bronquial. ALTERAÇÕES DO DESENVOLVIMENTO Agenesia de brônquios Pode ocorrer a ausência de formação de alguns brônquios. Hipoplasia de brônquios Desenvolvimento incompleto de alguns brônquios. ALTERAÇÕES ADQUIRIDAS E ACIDENTAIS 75 Corpos estranhos são substâncias das mais variadas espécies que, quando em contato com as vias aéreas superiores, podem alcançar os brônquios e promover irritações, obstruções e até mesmo alterações inflamatórias. O melhor exemplo são os diversos tipos de poeiras (poeiras são partículas exógenas que possuem cor própria). Poeiras de carvão, ferro, calcário e poeira da estrada. ALTERAÇÕES DO LUME Estenose e dilatação dos brônquios. Estenose Dos Brônquios Estreitamento do lume dos brônquios (broncoestenose) causado por alteração da própria parede por compressão externa e por contração da musculatura lisa do brônquio. A broncoestenose provoca uma obstrução total, surge a atelectasia (colabamento dos alvéolos) e, na obstrução parcial, o enfisema alveolar (acúmulo de ar nos alvéolos). Dilatação Dos Brônquios Ampliação do lume dos brônquios (bronquiectasia). É provocada por processos inflamatórios crônicos destrutivos da parede dos brônquios. Macroscopicamente, pode se verificar duas formas anatômicas diferentes: dilatação sacular e dilatação cilíndrica. A primeira é localizada lateralmente a parede do vaso, assemelhando-se o formato de um saco; a segunda é do tipo tubular: afeta a parede como um todo. ALTERAÇÕES CIRCULATÓRIAS Hiperemia ativa Acúmulo de sangue nas artérias. Precede os processos inflamatórios dos brônquios. Hiperemia passiva Acúmulo de sangue nas veias. Ocorre por obstrução vascular localizada e na insuficiência cardíaca. Hemorragia Presença de sangue fora dos vasos sanguíneos. As principais hemorragias nos brônquios são do tipo petequial, causada por toxemias, septicemias, bacteremias e viremias. O melhor exemplo ocorre na bronquite infecciosa das aves, uma enfermidade provocada por vírus. ALTERAÇÕES INFLAMATÓRIAS 76 Bronquites e bronquiolites Bronquite: inflamação dos brônquios. Raramente ocorrem de forma isolada. Elas estão associadas às estruturas vizinhas. Muito comum se espalharem por todo trato aéreo superior (narina, cavidade nasais, laringe e brônquios). Quanto o curso, as bronquites podem ser classificadas em agudas e crônicas. Quanto ao exsudato: catarral, hemorrágica, mucohemorrágica e mucopurulenta. Bronquite Infecciosa Das Aves Trata-se de uma enfermidade aguda altamente contagiosa das aves, que afeta primariamente o sistema respiratório. Provoca alta mortalidade em pintinhos e afeta significativamente a produção de ovos. Algumas cepas podem atingir os rins. A doença é caracterizada por tosse e espirros constantes. É causada pelo coronavírus. A contaminação ocorre por inalação do vírus quando do contato entre aves sadias e doentes ou por meio de equipamentos ou até e ovos contaminados. Clinicamente, os sinais clínicos são semelhantes aos casos das doenças de Newcastle. O período de incubação vai de três a dez dias. Tosse, espirros e dificuldade respiratória chamam atenção para a doença. Macroscopicamente, as principais lesões observadas nos brônquios são secreção mucopurulenta, hiperemia e hemorragia da mucosa. Há descarga nasal e comprometimento da traqueia e dos pulmões (traqueite e pneumonia aguda). Quando atinge os rins, há presença de uratos nos túbulos e ureteres, podendo acumular nas serosas e sobre a pele, nos casos extremos. Microscopicamente, observa-se hiperemia ativa, hemorragia e a infiltração de células inflamatórias: linfócitos, heterofilos e substância mucoide. A correlação clínica patológica mostra que a inflamação dos brônquios provoca tosse, descargas nasais, dificuldades respiratórias e alta mortalidade em pintinhos. Em aves adultas, a doença provoca queda de postura e ovos deformados (alongados, descorados, marmorizados e rugosos). O diagnostico pode ser feito por meio do teste de ELISA e imunofluorescência (em cortes de tecido e do isolamento do vírus). Controle se dá por meio de um programa de vacinação. Há várias cepas empregadas, mas a mais utilizada é a Massachusetts. As vacinas são produzidas utilizando vírus: vivos ou mortos.77 As aves podem ser vacinadas entre sete e dez dias de vida, e revacinadas aos vinte e um dias. Existe a possibilidade de a vacinação ser feita junto com a vacina de Newcastle, por meio da nebulização, na água e injeção. ALTERAÇÕES NEOPLÁSICAS Papiloma Neoplasias benignas que atingem o epitélio da mucosa bronquial. Carcinoma Neoplasia da mucosa bronquial. A presença de neoplasias nos brônquios das aves é rara. PULMÕES Os pulmões são dois órgãos pequenos que estão colados por sua face dorsal à coluna vertebral e ás costelas. Possuem vários bronquíolos respiratórios e cada pulmão é demarcado por um brônquio, que passa na face ventral em toda sua extensão e se comunica com os sacos aéreos. ALTERAÇÕES POST-MORTEM Pseudomelanose Pigmentações azulada, parda ou preta, devido à presença do ferro da hemoglobina com o sulfureto de hidrogênio das bactérias saprófitas. Ocorre nas partes baixas do pulmão com a ave em decúbito. Enfisema post-mortem Acúmulo de ar nos bronquíolos respiratórios devido à ação das bactérias saprófitas fermentadoras. Hipóstase cadavérica Acúmulo de sangue nos pulmões que ocorre após a morte. Muitas vezes confundido com a hiperemia hipostática que ocorre durante a vida. As partes inferiores do pulmão apresentam-se avermelhadas. ALTERAÇÕES DO DESENVOLVIMENTO Agenesia Ausência de formação do pulmão ou de parte dele. Hipoplasia Desenvolvimento incompleto do pulmão ou de parte dele. 78 Ectopia Presença do pulmão fora do local habitual. Órgão acessório Presença de um ou mais pulmões na mesma ave, além dos dois normais. Melanose congênita Presença de pigmento melânico formado manchas pardas na serosa que recobre os pulmões, geralmente na pleura visceral. ALTERAÇÕES CIRCULATÓRIAS Hiperemia ativa Acúmulos de sangue nas artérias. No pulmão, revela uma fase importante de pneumonia aguda, chamada fase congestiva. O pulmão apresenta-se avermelhado, deixando fluir grande quantidade de sangue ao corte. Hiperemia passiva Acúmulo de sangue nas veias. Ocorre geralmente pela debilidade cardíaca. Hipóstase Hiperemia hipostática na qual o sangue se acumula nas partes baixas do pulmão, quando a ave permanece em decúbito por muito tempo. Edema Presença de líquido espumoso que geralmente se acumula nos brônquios e traqueia. A presença de liquido espumoso na traqueia indica edema pulmonar. A coloração do liquido pode ser branca, rósea e avermelhada: dependendo da quantidade de sangue, que pode ter ou não. Macroscopicamente, a presença do líquido espumoso pode variar de coloração brancacenta até avermelhada. As causas têm origem inflamatória: físicas, químicas e biológicas; e causas gerais: aumento da pressão sanguínea, aumento da permeabilidade vascular, diminuição da pressão oncótica das proteínas sanguínea e obstrução linfática. Hemorragia Presença do sangue fora dos vasos sanguíneos. O tipo mais comum de hemorragia nos pulmões é a petequial ou sufusão. Aparecem em septicemias, bacteremias, toxemias e viremias. Quando recentes, são observadas como pontos ou manchas irregulares de coloração vermelha; quando antigas, apresentam coloração preta ou parda. ALTERAÇÕES INFLAMATÓRIAS 79 Pneumonia Inflamação do pulmão. A pneumonia primária é provocada por agentes específicos que têm predileção pelos pulmões. Os melhores exemplos são: os vírus da doença de Newcastle, da laringotraqueite e da bronquite infecciosa; bactérias como: Haemophilus paragallinarum, causador da coriza; fungos como: Aspergiullus spp, causador da aspergilose. A pneumonia secundária está presente na maioria dos casos em que há queda da resistência das aves, predispondo-as para novas infecções. As bactérias são os principais agentes causadores desse tipo de pneumonia. A palavra peneumonite corresponde à pneumonia intersticial. Aquela que só é afetada na parte intersticial, onde estão os tecidos estromais de sustentação do órgão. Pneumovirose aviária Trata-se de enfermidades que são provocadas pelo pneumovírus aviário. Nos perus causa Rinotraqueite Aguda. Nas galinhas: Síndrome Da Cabeça Inchada. A doença nos perus afeta o trato respiratório com rápida evolução. A síndrome da cabeça inchada pode apresentar-se na forma aguda e subclínicas. Em frangos de corte os sinais clínicos aprecem entre três a seis semanas de idade com curso de até três semanas. Em frango de corte observa-se sonolência, depressão, anorexia, conjuntivite, secreção nasal, lacrimejamento, espirros e tosse. O quadro progride para conjuntivite, edema facial ao redor dos olhos que se estende até a cabeça. Nas matrizes são vistos lesões inflamatórias no ovário, com degeneração de folículos. Aspergilose Doença infecciosa aguda, causada por fungos, caracterizada por distúrbios respiratórios e formação de placas caseosas no pulmão e nos sacos aéreos. A aspergilose aguda ocorre com maior frequência nos pintinhos e provoca alta mortalidade. A aspergilose crônica é mais comum nas aves adultas, em especial nos perus. É causada por duas espécies de fungos: Aspergillus fumigatus e Aspergillus flavus. São microrganismos facilmente encontrados na natureza, onde há calor e umidade. Os alimentos produzidos com grãos úmidos estão sujeitos à sua contaminação. É necessário muito cuidado no armazenamento. As aves contraem a doença por inalação dos esporos presentes nos galinheiros, na cama e nos alimentos. O milho é, sem dúvida, 80 o alimento mais sujeito à contaminação, dependendo do grau de umidade. Em situação de estresse, as aves ficam vulneráveis à contaminação pelo Aspergillus spp. Clinicamente, na forma aguda são observados: respiração ofegante, coração acelerado, emagrecimento e sede intensa. Ocasionalmente, há paralisia, torcicolo e perda do equilíbrio resultante da aceleração do sistema nervoso central, principalmente pelas toxinas produzidas pelo fungo. Na forma crônica, os sintomas são semelhantes, mas a mortalidade é baixa. Ocasionalmente, podem ocorrer infecções nos olhos, resultando no acúmulo de material caseoso sobre as pálpebras. A aspergilose ocular é caracterizada por ceratoconjuntivite serosa e posteriormente caseosa, podendo afetar todo o bulbo ocular, semelhante à coriza infecciosa. Macroscopicamente, são observadas placas caseosas nos pulmões e nos sacos aéreos. À medida que o processo se organiza, as placas se transformam em nódulos de tamanho e em maior número. Essas lesões podem aparecer no cérebro. Microscopicamente, o exsudato inflamatório é necropurulento, onde se observa hifas do fungo. O controle se faz necessário por meio da eliminação da fonte de contaminação; cuidados com a conservação dos alimentos, manejo adequado da cama; não utilizar camas e alimentos mofados; manter os depósitos sempre limpos, secos e bem ventilados. Criptosporidiose Aviária Enfermidade infecciosa provocada por um protozoário denominado Criptosporidium spp. Acomete intestinos, rins e principalmente os pulmões. A forma respiratória da doença é a mais severa e, portanto a mais importante. Os sinais clínicos são tosse, espirros e dispneia. Macroscopicamente, há presença de substancia mucoide nos brônquios, traqueia e sacos aéreos. Microscopicamente, podem observar os oocistos nas fezes e fluidos respiratórios, à fresco ou corados. Controle se faz com limpeza das gaiolas com desinfetantes apropriados, inclusive alvejantes. ALTERAÇÕES DAS FUNÇÕES PULMONARES Atelectasia e enfisema 81 Atelectasia É a ausência de ar no pulmão ou parte dele. Isso se dá por dois mecanismos: falta de expansão dos alvéolos ou bronquíolos respiratórios ou colabamento dos mesmos (atelectasia congênita ou adquirida). O pulmão de uma ave que não respirou ao nascer apresenta o teste Docemasia hidrostática: positivo. Coloca-se um fragmento do pulmão em um frasco com água que deverá boiar. Caso contrário se precipitar,significa que a ave não respirou: trata-se de natimorto. Macroscopicamente, o pulmão ou a área afetada se apresenta colabado devido á ausência de ar. Sua coloração é avermelhada e a consistência é firme e não crepita. A ausência de crepitação significa ausência de ar. Microscopicamente, a configuração do órgão é totalmente celulífera e a consistência é firme pela ausência de ar. Enfisema Trata-se do acúmulo de ar nos túbulos alveolares. Isso se dá pela obstrução parcial dos brônquios. O ar entra nos bronquíolos alvéolos ou bronquíolos respiratórios e, devido à obstrução parcial, tem dificuldade para sair. Macroscopicamente, o pulmão ou a área afetada se apresentam com aumento da crepitação, ficam pálidos e a coloração rósea torna-se mais clara. Quanto maior for a quantidade de ar nos bronquíolos respiratórios, maior será a crepitação. ALTERAÇÕES NEOPLÁSICAS As neoplasias secundárias são mais comuns que as primárias. Entende-se por neoplasias primárias aquelas oriundas das células do próprio órgão. Neoplasias secundárias as que se apresentam por meio da metástase de uma neoplasia primária. Neoplasias Secundárias No Pulmão Leucose linfoide: neoplasia de origem viral que atinge órgãos linfoides e que pode se espalhar para outros órgãos, como o pulmão. Leucose mieloide: neoplasia de origem viral que atinge as células mieloides da medula óssea (mielócitos). Forma nódulos em diversas partes do corpo da ave, inclusive no pulmão. Doença de Marek: neoplasia de origem viral que atinge inicialmente órgãos linfoides e que pode se espalhar para os demais. Carcinoma broncogênico: uma neoplasia maligna primária do pulmão, de baixa ocorrência. Afeta os brônquios. SACOS AÉREOS 82 Os sacos aéreos são estruturas sacuolares constituídas de paredes delgadas e transparentes. São extensões dos pulmões, encontrados principalmente nas cavidades do corpo, se envolvendo com as vísceras. Divertículos partem dos sacos aéreos, estendendo-se através dos forames pneumáticos dos ossos, preenchendo considerável parte do esqueleto com ar. A pneumatização dos ossos é extremamente avançada nas melhores aves voadoras, que obtêm um esqueleto largo e forte, sem ser correspondentemente pesado. São oito os sacos aéreos na galinha: um cervical, um clavicular, dois torácicos craniais, dois torácicos caudais e dois abdominais. a. O saco aéreo cervical ventila todas as vertebras cervicais, exceto o atlas e o áxis, as cinco primeiras vertebras torácicas caudais e dois abdominais. b. O saco aéreo clavicular situa-se na base do pescoço, possui uma câmara mediana e duas câmaras laterais. c. A câmara mediana ventila o osso esterno, o coracóide, a 2ª e 3ª costelas esternais. A câmara lateral ventila o úmero. d. O saco torácico cranial corresponde a um par de cavidades simétricas. Ele não possui divertículos e não ventila ossos. e. O saco aéreo torácico caudal corresponde a um par de sacos aéreos pequenos, achatados, com formato de orelha, mais ou menos simétricos e bem menores que os torácicos craniais. Não possui divertículos e não ventila ossos. f. O saco aéreo abdominal corresponde a um par e possui corpos e divertículos. Os corpos dos sacos aéreos, quando cheios, se estendem do pulmão à cloaca. Eles ventilam o sinsacro e a cintura pélvica. Aves selvagens em especial as grandes voadoras possuem maior numero de sacos aéreos. Os pelicanos, as águias representam estas espécies que estão melhores adaptadas ao voo. A função dos sacos aéreos consiste em reduzir o peso especifico do corpo das aves e em facilitar o voo, mediante sua repressão de ar. Os sacos aéreos exercem influencia sobre o equilíbrio corporal durante o voo e a natação, assim como sobre a mobilidade de diversos ossos. Participam da termorregulação e constituem-se em verdadeiros reservatórios de ar para os pulmões. Os sacos abdominais estão em contato com os testículos, podendo rebaixar a temperatura destes e facilitar a espermatogênese. Os sacos aéreos também umedecem o ar inspirado. 83 O volume de ar dos sacos aéreos é aproximadamente 10 vezes maior que o dos pulmões. O volume de ar do sistema respiratório de uma ave adulta do sexo masculino (galo) atinge 500 ml. As trocas gasosas na parede dos sacos aéreos são insignificantes. A respiração das aves É do tipo pulmonar e as estruturas do pulmão diferem da que compõe a dos mamíferos. Os alvéolos estão ausentes e são substituídos por bronquíolos alveolares. A elasticidade do pulmão é reduzida por apresentar-se colado nas costelas e vertebras. Os brônquios principais atravessam toda a parte ventral dos pulmões e se comunicam com os sacos aéreos, e esses, por sua vez com os ossos pneumáticos. O centro respiratório da galinha e do peru esta situado no bulbo cerebral. Ele é sensível à variação de temperatura alterações no pH sanguíneo e condições de estresse. ALTERAÇÕES POST-MORTEM Embebição sanguínea Coloração avermelhada que se espalha pelas paredes dos sacos aéreos, devido à lise das hemácias e liberação da hemoglobina que se infiltra nos tecidos. Enfisema post-mortem Presença de gases na parede dos sacos aéreos devido à putrefação pelas bactérias saprófitos. Pseudomelanose Coloração azulada que se apresenta nas paredes dos sacos aéreos assim que se iniciam a putrefação pelas bactérias saprófitos. ALTERAÇÕES CIRCUTATÓRIOS Hiperemia passiva Acúmulo de sangue nas artérias. Aparece sempre no início de um processo inflamatório agudo. Hiperemia passiva Acúmulo de sangue nas veias. Aparece nas obstruções vasculares locais e na insuficiência cardíaca. Edema Presença de liquido citrino nas paredes dos sacos aéreos, que se tornam espessos e opacos. Ocorre nos processos inflamatórios agudos e crônicos. Hemorragia 84 Saída de sangue dos vasos sanguíneos. As hemorragias por diapedese são as mais importantes nas paredes dos sacos aéreos. Elas podem ser do tipo petequial ou sufusão e equimose. As hemorragias petequeais aprecem como pontos avermelhados milimétricos; as do tipo sufusão, como manchas avermelhadas nas paredes dos sacos aéreos. As equimoses como manchas irregulares. As principais causas são septicemias, viremias e toxemias. ALTERAÇÕES INFLAMÓTORIAS Aerossaculite Inflamação dos sacos aéreos, que pode ser aguda ou crônica. É causada por bactérias (Pasteurella spp; E. coli); vírus (bronquite infecciosa e doença de Newcastle); mycoplasma gallisepticum (doença crônica respiratória); e fungos (Aspergillus spp). Quanto ao exsudato, a aerossaculite pode ser classificada em fibrinoso, fibrinocaseosa, fibrinopurulenta e caseosa. Macroscopicamente, os sacos aéreos apresentam-se espessos, opacos, aderidos, podendo conter fibrina e substancia necrótica. Tudo isto depende do tipo de exsudato presente, o que certamente vai depender do agente invasor. Microscopicamente, observa-se hiperemia, hemorragia, edema e invasão de células infamatórias com diferentes quantidades, dependendo da qualidade do exsudato, necrose e fibrina. Doença Crônica Respiratória (DCR) É a micoplasmose das aves, caracterizada por descarga nasal, dificuldades respiratórias, tosses, ronqueiras, sinusites e aerossaculites. A enfermidade pode estar associada a algumas viroses ou à colibacilose. É causada pelo Mycoplasma gallisepticum. Há vários sorotipos que afetam as aves. É transmitido pelo contato direto entre aves doentes e sadias, por meio de equipamentos contaminados ou pelos ovos, causando infecção na prole. Os sinais clínicos são descargas nasais, espirros, tosses, ruídos traqueais e secreção ocular. A doença é mais comum na estação do inverno. Quando associada a outros agentes, agrava os sintomas, provocando perda de peso e queda na postura de ovos. 85 Macroscopicamente, a doença apresenta uma secreção nasal viscosa e pegajosa, oriunda da traqueia e dos sacos aéreos. Há acumulo de exsudatocaseoso ou fibrinocaseoso nos sacos aéreos. Em alguns casos, é observada peritonite fibrinosa, podendo atingir a cápsula hepática e o pericárdio. Observa-se exsudato caseoso nos embriões oriundos de matrizes portadoras da enfermidade. Microscopicamente, observam-se aerossaculite fibrinonecrótica crônica, traqueite e pneumonia. O diagnostico se baseia nos sinais clínicos e nos achados de necropsia. A confirmação se faz com identificação a partir do isolamento do germe. Trata-se de uma doença endêmica, está intimamente liga ao manejo e ao clima. O tratamento é feito à base de oxitetraciclina, clorotetraciclina, tirosina, eritromicina, lincomicina e spectinomicina. O controle se baseia na desinfecção das instalações e na utilização de matrizes livres do germe. A desinfecção dos ovos reduz a transmissão vertical. Um bom manejo nem sempre resolve a situação. Há que se fazer uma verificação radical das aves, eliminando as doentes e climatizando o ambiente, quando for o caso. EM OUTRAS PALAVRAS... É preciso saber que o sistema respiratório das aves é muito diferente quando comparado aos mamíferos, mostrando-se bastante complexo. A traqueia possui anéis cartilaginosos completos; possui duas laringes: uma cranial e outra caudal, denominada siringe. Os pulmões aderem às costelas e possuem bronquíolos respiratórios. Os sacos aéreos interligam-se aos pulmões por meio de ductos. Na galinha, são oito sacos aéreos: um cervical, um clavicular, dois torácicos craniais, dois torácicos caudais, e dois abdominais. A função dos sacos aéreos consiste em reduzir o peso das aves, favorecendo o voo. Participam da termorregulação e servem como reservatórios de ar para os pulmões. A quantidade de ar presente nos sacos aéreos é dez vezes maior que nos pulmões. A aerossaculite é uma importante alteração que acomete os sacos aéreos. A principal causa é o Mycoplasma gallisepticum, enfermidade conhecida como DCR: Doença Crônica Respiratória. 86 Uma das mais importantes enfermidades do sistema respiratório é a bronquite infecciosa, causada pelo coronavírus. Nela se observam descargas nasais, espirros, tosses, ruídos traqueais e secreção ocular. CONSULTA RÁPIDA 1. Conceito de siringe Siringe é a laringe caudal. Órgão fonador das aves 2. Parasita da laringe O parasita da laringe das aves é o Syngamus laringeus. 3. Sacos aéreos da galinha São oito aéreos: um cervical, um clavicular, dois torácicos craniais, dois torácicos caudais, e dois abdominais. 4. Etiologia da DCR A Doença Crônica Respiratória é provocada pelo Mycoplasma gallisepticum. 5. Conceito de aerossaculite Inflamação dos sacos aéreos. LEITURA RECOMENDADA Aerossaculite é a inflamação dos sacos aéreos das aves. BENEZ, S. M. AVES: Criação-Teoria-Prática. Silvestres-ornamentais-avinhados. 4ª Ed, Tecmedd, Ribeirão Preto SP, 2014. 600p. BERCHIERI Jr, A; MACARI, M. Doença das aves. Campinas: Facta, 2000. 490p. 87 PERITÔNIO O peritônio é uma importante membrana serosa dividida em dois folhetos: um parietal e outro visceral. O folheto parietal reveste a parede interna da cavidade abdominal; o folheto visceral reveste externamente as vísceras abdominais. Nas aves o correto é chamar a cavidade abdominal de cavidade celômica. O peritônio é parte da cavidade celômica. A ausência de diafragma unificam as cavidades torácica e abdominal. O peritônio das aves está em contato íntimo com os sacos aéreos abdominais o que favorece a contaminação nos casos de algumas enfermidades infecciosas. ALTERAÇÕES CIRCULÁTORIAS Hiperemia ativa Pode ser fisiológica ou patológica (a hiperemia ativa é o prelúdio da inflamação agua). Ocorre também nos casos de descompressões rápidas. Hiperemia passiva Ocorre nas obstruções das veias locais e na insuficiência cardíaca. Hemorragia Na cavidade abdominal: denominada hemoperitônio. As grandes hemorragias são provocadas por traumatismos e principalmente pela ruptura da capsula do fígado, comum nos casos da síndrome do fígado gorduroso. As pequenas hemorragias do tipo petequial, sufusão e equimose ocorrem nas septicemias, viremias e toxemias. Edema Acúmulo de líquidos na cavidade abdominal denominada ascite. Ascite Trata-se do acúmulo de transudato na cavidade abdominal. O liquido se acumula tanto no espaço peritoneal como no torácico, uma vez que nas aves não possuem diafragma. A causa mais comum da ascite é o aumento da pressão hidráulica vascular no sistema venoso, provocado pela insuficiência ventricular direita ou fibrose hepática. Nas aves domésticas, a insuficiência ventricular direita é geralmente secundaria à insuficiência valvular e pode resultar de miocardiopatia ou valvulopatia inflamatórias, degenerativas ou congênitas. 88 A síndrome da hipertensão pulmonar é causada por aumento na pressão das artérias pulmonares quando o coração tenta bombear mais sangue para os pulmões a fim de preencher a exigência corporal de oxigênio. O volume e a sobrecarga de pressão resultante no ventrículo direito causam dilatação e hipertrofia, além de ascite, insuficiência valvular e ventricular direita. Macroscopicamente, observa-se a presença de liquido de coloração amarelo claro, com coágulos de fibrina nos espaços da cavidade peritoneal. O fígado apresenta- se aumentado de volume, avermelhado, firme e com superfície capsular de aspecto áspero pela fibrina aderida. Os pulmões estão hiperêmicos e edemaciados. Há presença de hidropericárdio associado com pericardite e aderência. O diagnostico se baseia nos achados macroscópicos e o controle quando a causa da ascite for a síndrome da hipertensão pulmonar, se faz reduzindo a exigência de oxigênio da ave. Deve-se retardar o crescimento, diminuir a alimentarão, controlar a temperatura ambiente e dificultar a manifestação de agentes infecciosos. Gota Visceral Gota é uma alteração do metabolismo das proteínas caracterizado pela deposição de cristais de uratos de sódio e cálcio nas articulações e serosas (pleura, pericárdio e peritônio), devido o excesso de acido úrico no sangue. A gota pode se apresentar sobe duas formas clinicas: articular e visceral. A forma articular é comum nos mamíferos, enquanto a visceral ocorre principalmente nas aves. Os sinais clínicos da enfermidade são raros e os locais de deposição dos cristais ocorrem preferencialmente nas serosas (pleura, pericárdio e peritônio). Os ureteres podem estar dilatados pelo acumulo de uratos e provocar hidronefrose; o peritônio visceral, que corresponde à capsula do fígado, baço e rim, apresentam grandes depósitos de cristais de coloração branca e áspera, que se assemelha ao pó de giz. A este aspecto denomina-se tofo. A maior frequência de gota visceral ocorre nas aves poedeiras comerciais e nos frangos de corte alimentados com dieta contendo elevado nível proteico. Casos esporádicos ou surtos podem ocorrer em espécies selvagens em cativeiro. Um dos fatores que predispõe essa condição pode ser a inatividade das aves devido à prisão a que são submetidas. Vários fatores predisponentes têm sido associados, tais como: hereditariedade, insuficiência de vitamina A, insuficiência renal e restrição hídrica. 89 A nefropatia diminui a depuração de ácido úrico do sangue, o que resulta em hiperuracemia aguda ou crônica, e o excesso de ácido úrico se precipita nas superfícies viscerais ou articulares na forma de cristais de uratos de sódio e cálcio. Macroscopicamente, há deposito de substancias de coloração branca, semelhante a pó de giz, denominada tofo. Microscopicamente, os depósitos de cristais de uratos se apresentam na forma de feixes radiados, provocando intensa reação inflamatória, podendo estar presentes os histiócitos e as células gigantes tipo corpo estranho. As células gigantes tipo corpo estranho possuem vários núcleos aglomerados no centro. É resultado de um plasmodium: fragmentaçãodo núcleo em vários novos núcleos. O diagnóstico se baseia nos achados macroscópicos. O controle se faz observado os níveis de proteína da dieta. Excesso de proteína na ração ocorre geralmente por erro nos cálculos durante o balanceamento. ALTERAÇÕES INFLAMATÓRIAS Peritonite É a inflamação dos folhetos visceral e parietal que recobrem a cavidade abdominal. Quanto ao curso pode ser classificada em aguda e crônica; quanto ao exsudato: em serosa, fibrinosa, hemorrágica e outros. Peritonite Por Ovos A peritonite por ovos caracteriza-se pela presença de exsudato fibrinoso entre as vísceras abdominais. Trata-se de causa de morte esporádica em aves poedeiras; em alguns casos, pode se tornar a principal causa de morte, quando está associada com alguma doença contagiosa como colibacilose, pasteurelose e salmonelose. É caracterizada pela presença de ovos que caem na cavidade abdominal da ave. Peritonite Crônica A peritonite crônica tem se apresentado nos casos persistentes da infecção por E.coli, denominado coligranuloma. Além de atingir vísceras importantes como o fígado, é comum observar nódulos de tamanho variado de coloração branca, cinza ou amarelados na serosa intestinal, caracterizando uma peritonite crônica. Além das galinhas, há uma grande ocorrência nas codornas. Postura De Ovos Na Cavidade Abdominal Trata-se da chamada postura interna, quando os ovos caem na cavidade abdominal. Os ovos atingem a cavidade por peristaltismo revertido ovidutal. 90 Geralmente não apresentam casca, são deformados devido à absorção parcial ou completa do conteúdo. Frequentemente, só se encontram presentes as membranas de casca. ALTERAÇÕES NEOPLASIAS As neoplasias do peritônio são raras. As primarias são: mesotelioma, fibroma, hemangioma, leucose linfoide, leucose mieloide e enfermidade de Marek. EM OUTRAS PALAVRAS... O peritônio é formado por dois folhetos: o parietal e o visceral. Algumas doenças infecciosas podem se disseminar por meio dos folhetos do peritônio e atingir vários órgãos, constituindo as chamadas perihepatite, periesplenite, perinefrite e outras. A cavidade formada entre os dois folhetos é denominada peritoneal ou abdominal, sendo que o termo mais correto é “cavidade celômica”. As aves não possuem diafragma. A presença de liquido citrino indica ascite; a presença de sangue hemoperitônio, sugere uma hemorragia oriunda de algum órgão abdominal. A presença de ovos na cavidade abdominal indica postura interna, o que sugere algum problema esporádico ou até mesmo sério, desde que associado com algumas doenças como: colibacilose, pasteurelose e salmonelose. A gota visceral é mais comum nas aves e pode estar relacionada a problemas nutricionais. CONSULTA RÁPIDA 1. Conceito de peritônio O peritônio é uma importante membrana serosa dividida em dois folhetos: o visceral e o parietal. 2. Conceito de ascite Ascite é o acumulo de transudato na cavidade abdominal. 3. Causa da síndrome da hipertensão pulmonar A síndrome da hipertensão é causada por aumento da pressão das artérias pulmonares, quando o coração tenta bombear mais sangue dos pulmões. 4. Conceito de gota 91 Gota é uma alteração do metabolismo das proteínas, caracterizada pela deposição de cristais de úrico de sódio e cálcio nas serosas e articulações. 5. Conceito de peritonite por ovos Peritonite por ovos é a consequência da postura interna de ovos. A presença de ovos na cavidade peritoneal atua como corpo estranho irritando a camada de revestimento interno da ave (peritônio visceral), instalando-se uma peritonite fibrinocaseosa. 92 APARELHO DIGESTÓRIO Aparelho é o conjunto de sistemas onde se agregam vários órgãos e estruturas. O aparelho digestório pode ser denominado simplesmente canal alimentar. Órgãos e estruturas do aparelho: cavidade bucal, esôfago, inglúvio, proventrículo, moela, intestino delgado, intestino grosso e cloaca. CAVIDADE BUCAL A cavidade bucal das aves apresenta uma conformação própria, cuja forma é apropriada de acordo com a alimentação. Assim sendo, apresenta-se o bico no lugar dos lábios e das bochechas. Trata-se de uma estrutura constituída de extrato córneo, de consistência firme e com extremidade bastante resistente, moldada segundo a especificidade do alimento. O limite caudal da cavidade bucal não é bem evidenciado devido à ausência do palato mole. A última fileira de papilas do palato duro é perfurada por uma fenda longitudinal que se comunica com a cavidade nasal (fenda palatina). Numerosas glândulas salivares são observadas no palato duro: glândulas maxilares, palatinas, esfenopterigóides, submandibulares, linguais e cricoaritenóides. Todas são consideradas do tipo: mucosa pura. A cavidade bucal é considerada pequena e não possui dentes. A função dos dentes é executada pela moela, parte posterior do estômago, que tem por encargo triturar os alimentos, oficialmente denominada de ventrículo. ALTERAÇÕES POST-MORTEM As características, especificidade e resistência das estruturas da cavidade bucal quase não permitem que se evidencie alguma alteração post-mortem. ALTERAÇÕES DO DESENVOLVIMENTO Agenesia e aplasia do bico Ausência de formação do bico. Aves que apresentam essa alteração têm dificuldade de sobrevivência. Hipoplasia do bico Desenvolvimento incompleto do bico. Trata-se de uma alteração com grandes prejuízos para a ave. Desvio do bico 93 Geralmente observa-se um desvio lateral do bico, tornando-o incapaz durante a apreensão de alimentos. Aglossia Ausência de formação da língua. As aves nessa condição não sobrevivem. Microglossia Desenvolvimento incompleto da língua: uma hipoplasia lingual. Glossosquis Aparecimento de uma fenda na língua, dividindo-a em duas. O sufixo quis significa fenda, abertura: palavra do latim. Língua lisa É o caso de epiteliogênese incompleta da língua, caracterizada pela ausência de papilas. Há prejuízo no paladar. ALTERAÇÕES DO METABOLISMO 1. Insuficiência de vitaminas Tais como acido fólico, riboflavina, piridoxina e ácido pantotênico: provoca o aparecimento de placas esbranquiçadas, ulcerações, paraqueratose e hiperqueratose. 2. Paraqueratose Hipertrofia do epitélio pavimentoso estratificado queratinizado com particular hiperplasia do stratum corneum, com persistência do núcleo das células remanescentes. Foi relatada à presença de placas de paraqueratose nas bordas do bico em avestruz, as quais foram atribuídas como deficiência de zinco. Hiperqueratose Hipertrofia do epitélio pavimentoso estratificado queratinizado com particular hiperplasia do stratum corneum. Macroscopicamente não é possível distinguir a paraqueratose da hiperqueratose. Só é possível microscopicamente. Na paraqueratose há presença de restos celulares. Na hiperqueratose só se vê queratina. ALTERAÇÕES CIRCULATÓRIAS Hiperemia ativa Ocorre pelo acúmulo de sangue arterial na cavidade bucal, modificando a coloração da mucosa, tornando-a avermelhada. É o prelúdio da inflamação aguda. Hiperemia passiva Ocorre pelo acúmulo de sangue venoso na cavidade bucal, tornando a mucosa de coloração avermelhada escura. É sinal de drenagem venosa insuficiente. Pode ter causas 94 locais ou gerais. As primeiras são as obstruções vasculares de natureza variada. As demais ocorrem por insuficiência cardíaca. Hemorragia Presença de sangue fora dos vasos, quando se dá por traumatismo, denomina-se hemorragia por diérese. Podem ocorrer em algumas situações em que a ave ingere corpos estranhos perfurantes como pregos, arames, pedaços de telha, vidros e outros. Quando a hemorragia ocorre nos casos de toxemias, septicemias, viremias e bacteremias, são chamadas de hemorragia por diapedese. Nesse caso, ela será do tipo petequial e sufusão, equimose, ou seja, pontos e manchas avermelhadas. Edema Acúmulo de líquido nos tecidos. Na cavidadebucal das aves, pode ser observado na mucosa e submucosa. Não é comum e as causas são diversas. ALTERAÇÕES INFLAMATÓRIAS Estomatite Termo empregado para designar a inflamação da cavidade bucal. Pode ocorrer de forma disseminada, atingindo todas as estruturas dessa cavidade, ou somente partes. Quanto ao curso, a estomatite pode ser classificada e aguda e crônica; quanto ao exsudato: em catarral, erosiva, ulcerativa, fibrinosa e necrótica. O tipo de exsudato corresponde à determinada causa. Começa com exsudato seromucoso, quando as causas são mais leves, e termina em exsudato necrótico, nas causas são mais severas. A presença de fenda palatina permite que o exsudato nasal se comunique com a cavidade bucal. ALTERAÇÕES NEOPLÁSICAS As neoplasias primárias da cavidade bucal das aves são: papiloma, fibroma e carcinoma. Raramente são observadas. FARINGE A faringe está localizada no fundo da boca. Em sua parede dorsal encontra-se uma fenda, e na parede ventral observa-se uma estreita passagem para a laringe (tuba faringolaringotimpanica). Depois da faringe, começa o esôfago. ALTERAÇÕES INFLAMATÓRIAS Faringite 95 Geralmente associadas a outros processos inflamatórios de estruturas vizinhas: laringe, tonsilas, fossas nasais, esôfago e traqueia. As principais causas estão relacionadas a doenças virais. ALTERAÇÕES NEOPLÁSICAS As neoplasias primárias da mucosa da faringe são: Papiloma (neoplasia benigna) Carcinoma (neoplasia maligna) ESÔFAGO O esôfago é um canal muscular que se estende da faringe, ventralmente à coluna cervical, e termina no proventrículo, depois de atravessar toda a cavidade torácica. Antes de penetrar na cavidade, observa-se uma grande dilatação de seu lume: o inglúvio, estrutura em forma de saco que tem os mesmos componentes do esôfago. Serve para armazenar os alimentos ingeridos. O esôfago tem a função de transportar os alimentos durante a deglutição. Sua parede é constituída das seguintes camadas: Mucosa (epitélio estratificado pavimentoso não queratinizado); Submucosa (no terço inicial, músculo estriado; no terço final, músculo liso. A parte intermediária possui músculo estriado e liso); Adventícia (tecido conjuntivo fibroso), com inervação bastante complexa (nervo vago, neurônios motores somáticos do vago, neurônios viscerais do vago e neurônios pós ganglionários). ALTERAÇÕES POST-MORTEM Pseudomelanose Manchas azuladas ou pardas que se apresentam na mucosa do esôfago devido à putrefação provocada pelas bactérias saprófitas. Embebição sanguínea Manchas avermelhadas que se apresentam na mucosa do esôfago, devido à lise das hemácias e à liberação da hemoglobina que espalha pelos tecidos. ALTERAÇÕES DO DESENVOLVIMENTO Agenesia 96 Ausência de formação do órgão. Aplasia segmentar Ausência de formação de parte do esôfago, podendo aparecer numa parte apenas um cordão fibroso. Estenose do lume Redução do diâmetro do lume, podendo reduzir ao máximo a passagem de alimento, dificultando até mesmo a deglutição de líquidos. Fístula esôfago traqueal congênita Abertura entre os dois órgãos, permitindo a comunicação entre seus lumes. A presença de alimento na traqueia dificulta a respiração e provoca pneumonia por corpo estranho. ALTERAÇÕES ADQUIRIDAS Metaplasia do epitélio Transformação do epitélio glandular em pavimentoso estratificado e queratinizado. Uma das causas é a insuficiência ou excesso de vitamina A. Importante observar que tanto a insuficiência de vitamina A, quanto o excesso são causas de metaplasia da mucosa esofagiana. Ela se torna mais espessa e resistente com adição da camada de queratina. Hiperqueratose Espessamento da mucosa devido à hiperplasia da camada de queratina. Uma das causas mais comum é o envenenamento por naftalina colorada. Paraqueratose Espessamento da mucosa devido á hiperplasia da camada queratinizada, podendo observar a retenção de núcleos de algumas células. Corpos estranhos Prego, arame e outros objetos pontiagudos podem encravar-se na parede do esôfago e provocar sérios distúrbios (obstrução, inflamação, necrose, gangrena e morte). ALTERAÇÕES DO LUME Estenose, dilatação e divertículo. Estenose Do Esôfago Estreitamento do lume do esôfago. Pode ter causas congênitas: aplasia segmentar (ausência de formação de um determinado segmento do esôfago) e hipoplasia (desenvolvimento incompleto do órgão). Ainda pode ter causas adquiridas, tais como 97 compressão externa da parede (miosite e esofagite). A retração da mucosa por motivo de cicatrização provoca estenoses crônicas. O fibrosamento da mucosa nos processos inflamatórios crônicos (esofagites crônicas). Dilatação De Esôfago Aumento do lume do esôfago. As principais causas relacionam-se à destruição da enervação intrínseca. Parasitas e traumas na mucosa e submucosa destroem os gânglios e paralisam os movimentos esofagianos. Divertículo Esofágico Projeção digitiforme da parede do esôfago, como se fosse um apêndice. Pode provocar disfagia e esofagite. ALTERAÇÕES CIRCULATÓRIAS Hiperemia ativa Presença de maior quantidade de sangue arterial estimulada pelos agentes da inflamação aguda que se inicia. A mucosa esofagiana apresenta-se avermelhada. Hiperemia passiva Presença de maior quantidade de sangue venoso provocando por obstrução das veias locais ou por insuficiência cardíaca (se o coração não está bem, a drenagem venosa não é bem executada). Hemorragia Presença de determinada quantidade de sangue fora dos vasos. As hemorragias por diérese são mais graves porque a ave perde maior quantidade de sangue. As hemorragias por diapedese podem ser do tipo petequial, sufusão e equimose com menor perda de quantidade de sangue, mas podem ter causas graves como: toxemias, septicemias, viremias e bacteremias. Edema Excesso de líquido nos tecidos. Promove um espessamento da parede do esôfago e causa estenose do lume. Quando o edema faz parte de uma esofagite aguda: é chamado de edema inflamatório e o líquido é denominado exsudato. ALTERAÇÕES INFLAMATÓRIAS Esofagites Termo empregado para designar a inflamação do esôfago. As formas anatomopatológicas mais comuns são erosivas e ulcerativas, seguidas pelas formas exsudativas: seromucosa, fibrinosa e caseosa. 98 A etiologia das esofagites é bastante variada: certos traumatismos provocados por corpos estranhos ingeridos ou alimentos fibrosos, substâncias químicas, fungos, parasitas, vírus e bactérias (agentes físicos, químicos e biológicos). O fungo Candida albicans é o que tem predileção para o esôfago, provocando esofagite na forma de placas amareladas ou brancas, disseminadas pela mucosa. A principal correlação clínica patológica é uma disfagia (desordem na deglutição). A disfagia impede o desenvolvimento da ave: torna-se produto de refugo. Destaque-se aqui a importância da refugagem: retirada dos mais fracos e colocando-os em outro boxe diminuindo a competição. ALTERAÇÕES NEOPLÁSICAS Na mucosa do esôfago podem ser observados papilomas e carcinomas. Fibroma e fibrossarcoma no tecido conjuntivo da submucosa. ALTERAÇÕES INGLÚVIO (papo das aves) O inglúvio é uma dilatação em forma de saco que se proteja na parte final do esôfago. Sua função é armazenar alimento a serem digeridos. Além do que muitas aves alimentam seus filhotes armazenando alimento e depois o regurgitando no bico do recém-nascido. Nos pombos, o inglúvio produz chamado leite do papo: uma sustância cremosa, de coloração branca, destinada à alimentação dos filhotes. Este processo garante a sobrevivência dos filhotes por um bom tempo, o que promove a proliferação da espécie (um pombo é símbolo da paz, dois pombos simbolizam o amor e mais de três é praga). Sobrecarga Do Inglúvio É o enchimento com dilatação extrema do inglúvio, provocando interrupção temporária do bolo alimentar.Trata-se de uma situação comum nas aves (galinhas de granja) durante o arraçoamento, quando há uma grande competição, na qual cada ave tenta comer o maior volume de ração em um curto espaço de tempo. Este fato acontece no sistema de alimentação: dia sim dia não. As aves permanecem vinte e quatro horas sem comer. Quando liga os comedouros, há uma correria e cada qual quer comer mais que a outra. A sobrecarga do inglúvio se faz acompanhar de um relaxamento da musculatura, uma vez que há uma compressão de ramos do nervo vago. A ave cai e permanece em 99 decúbito até o alimento umedecer e seguir seu trajeto. Se por a mão na mesma, ela morre de estresse. Os alimentos farelados e secos favorecem esse processo. Há casos de ruptura da parede do inglúvio, ocasionando a morte imediata da ave. ALTERAÇÕES INFLAMATÓRIAS Ingluvites Esta inflamação geralmente acompanha as esofagites. Ocorrem nos casos de retenção de alimentos ou por meio de alimentos duros e pontiagudos, causando traumatismo e provocando inflamação. A inglutive mais comum é a seromucosa. Nos casos de bouba aviária (aquela que, quando na forma cutânea, provoca formações de verrugas nas barbelas e cristas) na forma difteróide, pode ocorrer uma inglutive fibrinosa ou pseudomembranosa. A candida albicans pode estar presente no inglúvio sem causar lesões, mas em condições de estresse o quadro pode se manifestar com uma ingluvite micótica, cujo exsudato é necrocatarral. Parasitas do Inglúvio Os nematoides que habitam o inglúvio são mais comuns nas aves aquáticas do que nas galinhas. O Acuria hamulosa é encontrado na mucosa do inglúvio das galinhas, dos perus e dos faisões. O nematoide Echinuria uncinata é encontrado no inglúvio de gansos, perus e cisnes. Várias espécies de Capillaria spp são observadas no inglúvio de galinhas e pombos. O Hystrichis tricolor é encontrado no inglúvio de patos. ALTERAÇÕES NEOPLÁSICAS As neoplasias do inglúvio são raras, podendo apresentas papilomas e linfomas (leucose linfoide, leucose mieloide e doença de Marek). PROVENTRÍCULO O proventrículo é o estomago glandular das aves, situado junto ao plano mediado, entre os dois lobos do fígado. É fusiforme e tem cerca de quatro centímetros de comprimento (Gallus gallus domesticus). A mucosa possui coloração branca e está revestida por um epitélio cilíndrico, mucossecretor, que se distingue nitidamente do revestimento do esôfago, que é levemente avermelhado. Possui inúmeras glândulas produtoras de ácido clorídrico e pepsina, localizadas junto à túnica muscular. 100 ALTERAÇÕES POST-MORTEM A mais comum alteração post-mortem que aparece no proventrículo é a embebição biliar observada na mucosa, devido o refluxo da bile que é escoada no duodeno. ALTERAÇÕES DO DESENVOLVIMENTO Agenesia É a ausência de formação do órgão: é rara. Não há relato na literatura consultada. Hipoplasia É o desenvolvimento incompleto do órgão: tem ocorrência esporádica. ALTERAÇÕES CIRCULATÓRIOS Hiperemia ativa fisiológica Ocorre sempre durante os processos de digestão. A hiperemia ativa patológica É o prelúdio da inflamação aguda. Hiperemia passiva Ocorre nas obstruções venosas e na insuficiência cardíaca. Hemorragias Podem ocorrer por diérese (rexe e diabrose). Elas acontecem nos traumatismos e acidentes na ingestão de corpos estranhos pontiagudos (hemorragia por rexe). Nas inflamações ulcerativas do proventrículo ocorrem hemorragias (do tipo diabrose) com relativa frequência. As hemorragias por diapedese (petequial, sufusão e equimose) acontecem geralmente nas diáteses hemorrágicas das aves (insuficiência de vitamina E), nas doenças virais (doença de Newcastle) e nas intoxicações (por sulfas em doses elevadas). Edema Ocorre na parede do proventrículo e particularmente na mucosa. Sua etiologia acompanha as inflamações agudas e as parasitoses. ALTERAÇÕES INFLAMATÓRIAS Proventriculites As proventriculites são provocadas por: 101 Nematoides: o Tetrameres spp acarreta uma proventriculite catarral aguda; Fungos: o Aspergillus spp causa uma proventriculite aguda ou crônica, com exsudato variando entre seromucoso e necrótico; Tóxicos: as micotoxinas provocam uma proventriculite erosiva ou ulcerativa aguda. Vale a pena ressaltar que uma das principais causas de ulceras no proventrículo de galinhas são as micotoxinas; Vírus: a bursite infecciosa aguda das aves (doença de Gumboro) causa uma proventriculite ulcerativa aguda. Parasitas Do Proventrículo Poucos são os parasitas que habitam o proventrículo. Alguns nematoides (Tetrameres spp) vivem das secreções das glândulas do órgão e constantemente provocam proventriculites. ALTERAÇÕES NEOPLÁSICAS Adenoma e adenocarcinoma da mucosa do proventrículo são raros. Algumas vezes são observados alguns linfomas (leucose linfoide e doença de Marek). Sobrecarga Do Proventrículo Sobrecarga é o acúmulo exagerado de alimento que ocorre no ventrículo (moela) e na maioria das vezes no inglúvio. Geralmente é observada quando as aves estão sendo alimentadas com ração farelada, seca e sem restrição. Elas comem de forma voraz e acabam por empanturrar-se, caindo sobre a “cama” devido ao relaxamento muscular provocado pela compressão do nervo vago que se localiza nas proximidades do inglúvio e do proventrículo. Elas podem morrer de estresse se tentar socorrê-las. MOELA (ventrículo) A moela O termo correto é ventrículo. É o estômago mecânico das aves. Tem o formato de uma lente, seu interior é alongado e dilatado por sacos cegos: cranial e caudal, dos quais o primeiro une-se ao proventrículo. O piloro e a origem do duodeno localizam-se na superfície do saco cego cranial. A parte principal do órgão consiste em duas massas grossas de músculo estriado, que se inserem em centros tendíneos de aspecto brilhante: um em cada superfície. O epitélio é cuboide e reveste glândulas tubulares, secretoras de uma firme cutícula, que depois se solidifica (glicoproteína). Nas 102 aves que se alimentam com sementes, as potentes contrações da moela esmagam o alimento com o auxílio dos grãos ingeridos. Na ausência de grãos, é comum as aves ingerem pequenas pedras, no intuito de favorecer o esmagamento do alimento. ALTERAÇÕES POST-MORTEM A principal alteração post-mortem que se observa na moela é a chamada embebição biliar, que cora a mucosa da moela em amarelo. Geralmente, ao destacar as camadas da mucosa, não se observa infiltração do pigmento colorindo as camadas musculares. ALTERAÇÕES DO DESENVOLVIMENTO Agenesia é ausência de formação do órgão: é rara. Não há registro desta alteração na literatura consultada. Hipoplasia é o desenvolvimento incompleto do órgão: uma alteração pouco comum. Corpos Estranhos Na Moela Os corpos estranhos mais comuns encontrados na moela são: pedras, arame, agulhas vidros, louças, parafusos, pregos e outros. É comum a presença de corpos estranhos na moela dos palmípedes (aves aquáticas), que são mais vorazes. As galinhas caipiras comem pedras a fim de favorecer o processo de trituração dos grãos na moela. Certa vez na cidade de Estrela do Sul MG, foi encontrado uma pedra de diamante na moela de uma galinha. Resultado: uma semana depois, não havia nenhuma galinha na cidade. Houve uma corrida a procura de um novo diamante e eliminaram todas as galinhas na tentativa de encontrar a pedra preciosa. A correlação clínica patológica aponta para o seguinte: A presença de corpos pontiagudos pode perfurar a parede do órgão. Provocam pleurites, pericardites e peritonites, todas fibrinonecróticas. Aderências com órgãos vizinhos Formação de fístulas Contaminação do fígado, do abdome e da parede torácica. Formação de abscessos Deficiência motora do órgão leva paralisia que acarreta sobrecarga do inglúvio e proventrículo Hialinose Muscular Da Moela103 Degeneração hialina no musculo estriado da moela é denominada hialinose muscular. Trata-se de um processo conhecido como miopatia degenerativa, reportado principalmente nos palmípedes, em que a degeneração dos músculos estriados é patente, podendo afetar os músculos estriados da moela. Trata-se de uma alteração provocada pela insuficiência de vitamina E, caracterizada pela presença de estrias de coloração branca e hemorragias por diapedese do tipo intersticial (petequial, sufusão e equimose). ALTERAÇÕES CIRCULATÓRIAS Hiperemia ativa Ocorre durante a digestão (hiperemia ativa fisiológica) e precedendo a todos os processos inflamatórios da moela (hiperemia ativa patológica). Hiperemia passiva Acompanha a insuficiência cardíaca e os processos obstrutivos das veias locais da moela. Hemorragias por rexe Comuns nos acidentes com corpos estranhos perfurantes. As hemorragias por diabrose ocorrem nas ulcerações da mucosa. As por diapedese (petequial, sufusão e equimose) ocorrem na miopatia degenerativa dos palmípedes, na doença de Newcastle, na insuficiência de vitamina E, na intoxicação por excesso de sulfa, arsênio, micotoxinas e outros. ALTERAÇÕES INFLAMATÓRIAS Ventriculite Inflamação do ventrículo. Termo pouco empregado. Refere-se à moela. O termo poderia ser empregado como “moelite”, mas não é usual. As ventriculites geralmente acompanham as proventriculites, devido à grande proximidade entre os dois órgãos e à sequência que os alimentos percorrem. As causas são as mais variadas: Traumatismo (corpos estranhos) Infecções (vírus da Newcastle, fungos, bactérias) Insuficiência de vitamina E (fator predisponente) Toxinas (substâncias cáusticas, arsênio, ácidos e outras) Ventriculite pode ser classificada morfologicamente em: erosiva, ulcerativa, hemorrágica, seromucosa e necrótica. Parasitas Da Moela 104 O Cheilospiura hamulosa é uma nematoide que parasita a moela das galinhas e ocasionalmente dos perus, provocando uma ventriculite ulcerativa. ALTERAÇÕES NEOPLÁSICAS Neoplasias primárias Do músculo estriado da moela: são rabdomioma ou rabdomiossarcoma. As neoplasias secundárias: Os linfomas das aves (leucose linfoide, e doença de Marek) e leucose mieloide, aparecem sob a forma de nódulos de coloração branca na parede da moela. INTESTINO DELGADO E GROSSO O intestino delgado É uma porção tubular longa medindo e média de 120 a 140 cm. Somente o duodeno é bem identificável; o jejuno e o íleo são muito parecidos. O duodeno tem aproximadamente 20 cm de comprimento. A porção anterior forma uma flexura com a porção caudal do órgão formando uma dobra: uma alça passa ao lado da outra e, entre elas, está o pâncreas. Na camada mucosa encontram-se numerosas e longas vilosidades e, próximo ao estômago muscular (moela), evidenciam-se algumas pregas longitudinais permanentes, denominadas válvulas coniventes. As mesmas glândulas presentes na moela se estendem para o duodeno. Os ductos biliares e três ductos pancreáticos desembocam no duodeno por uma papila comum. O jejuno e o íleo medem cerca de 100 a 120 cm de comprimento. O vestígio do saco vitelino (divertículo de Meckel) é uma constante nessa porção do intestino. Representa a porção remanescente do umbigo da ave: aquele que se liga com o saco vitelino. O intestino grosso É um tubo muito curto, constituído de duas partes: colo e reto. O colo é formado por dois tubos cegos medindo de 16 a 18 cm de comprimento designados: ceco. O reto é a parte terminal que se comunica com a cloaca. A cloaca é uma cavidade tubular comum aos sistemas digestivo, urinário e genital. Está dividia em três câmaras internas, separadas por constrições pouco evidentes: Coprodeu: primeira porção, que é a continuação do tubo digestivo; 105 Urodeu: porção média na qual os ureteres e tubos genitais se abrem; Proctodeu: porção final que se abre para o exterior. Localizado dorsalmente ao proctodeu encontra-se a bolsa cloacal. Trata-se de um órgão linfoide histologicamente semelhante ao timo dos mamíferos, atingindo o máximo desenvolvimento nos primeiros dias de vida, regredindo à medida que a ave vai completando a maturidade sexual. A função da bolsa cloacal é também semelhante à do timo, isto é, relacionada com a produção de anticorpos. A bolsa cloacal é denominada Bursa de Fabrício. Atualmente não se usa mais epônimos para designar nome de órgãos e estruturas anatômicas e histológicas. Assim o termo que emprega o nome do ilustre cientista Fabricius esta em desuso. ALTERAÇÕES POST-MORTEM Enfisema post-mortem Acúmulo de gases dentro do lume instestinal, proveniente da fermentação das bactérias saprófitas. Pseudomelanose Formação de manchas de coloração esverdeada, azulada, parda ou preta na parede do intestino. ALTERAÇÕES DO DESENVOLVIMENTO Agenesia e aplasia Ausência de formação do órgão ou parte dele: observadas apenas em um ou outro segmento do canal alimentar. Hipoplasia Desenvolvimento incompleto do órgão: raramente ocorre. Divertículo de Meckel Projeção digitiforme que tem origem na persistência do ducto que liga o saco vitelino ao intestino delgado. Reminiscência do umbigo da ave. Aplasia segmentar Ausência de formação de parte do intestino, havendo somente um cordão fibroso naquele local: pode ocorrer em qualquer parte do segmento intestinal. Atresia do proctodeu Ausência de abertura do proctodeu: provoca acúmulo de fezes e urina na cloaca. É incompatível com a vida. A ave more nos primeiros dias de vida. 106 ALTERAÇÕES ADQUIRIDAS Torção do mesentério, intussuscepção intestinal, estenose, obstrução, dilatação, corpos estranhos e hipotrofia. Torção Do Mesentério (vólvulo intestinal) É a torção do intestino em torno de si mesmo. Provoca obstrução do lume. Pode atingir graus elevados, como 180° ou mais. As partes mais afetadas são do jejuno e íleo Intussuscepção Intestinal (alça telescopiada) Invaginamento intestinal em que a porção cranial penetra na porção caudal, promovendo um estrangulamento de toda a parede intestinal. Os vasos sanguíneos presentes na parede intestinal, também são estrangulados, assim promovem obstrução de ambos os fluxos venoso e arterial. Há desta forma uma hiperemia passiva do lado venoso e isquemia do lado arterial. A consequência é necrose e gangrena. Necrose por isquemia e gangrena por excesso de sangue: excelente meio de cultura para as bactérias saprófitas promoverem a destruição do tecido necrótico em gangrenoso. As principais causas do aumento do peristaltismo são: verminoses, presença de corpos estranhos, alimentos com pH elevado e ingestão de produtos químicos de limpeza, defensivos agrícolas e pesticidas. Estenose Intestinal Estreitamento do lume do intestino promovido pelo espessamento da parede ou compressão externa e estrangulamento de alça intestinal nos casos de torção, intussuscepção e obstrução. Há casos de enterites crônicas que promovem espessamento da parede intestinal promovendo estenose do lume. Obstrução Intestinal Fechamento do lume por um corpo estranho presente. Alimentos ressecados e grandes quantidades de vermes podem ser as principais causas. A privação e restrição de água de bebida são causas de obstrução tanto do esôfago, quanto do próprio intestino. Uma matriz consome cerca de trezentos mililitros de água por dia. Dilatação Intestinal Aumento da capacidade do lume por distensão das paredes do intestino. As principais causas são: excessiva quantidade de alimento ingerido; obstrução de um 107 segmento intestinal; excesso de gases acumulados; e paralisia da alça intestinal. Quando há destruição da enervação intrínseca da parede do intestino, ocorre imediatamente uma dilatação do seu lume. Parasitas, protozoários e bactérias são incriminadas neste processo quando a lesão intestinal se torna crônica. Por exemplo:nos casos de eimeriose. Corpos Estranhos No Intestino Pedras, areias, pregos, ossos, fios e outros são encontrados com relativa frequência. As pedras são encontradas frequentemente em moelas de galinhas caipiras. As galinhas têm o costume de ciscar a cama à procura de objetos estranhos. E quando encontram imediatamente os ingerem. Assim uma cama como material limpo e selecionado torna-se imprescindível. Hipotrofia Intestinal As paredes do tubo intestinal se tornam delgadas, devido á redução do tamanho das vilosidades e há diminuição das glândulas. Os vermes, as bactérias, os protozoários e os vírus são causas frequentes de enterites que, quando não bem tratadas, podem se tornar crônicas, daí a hipotrofia intestinal, relacionando-se com a chamada síndrome de má absorção intestinal. Aves nesta condição se tornam inapetentes e são refugadas. O Rotavírus já foi incriminado e testado e um experimento na Universidade Federal de Uberlândia pela pesquisadora (GARCIA, A 1987) que mostrou a destruição das vilosidades intestinais promovendo uma enterite aguda, inoculando experimentalmente cepas de Rotavírus em frangos de corte. ALTERAÇÕES CIRCULATÓRIAS Hiperemia ativa É acúmulo de sangue nas artérias: pode ser fisiológica durante a digestão e patológica durante a inflamação aguda. Hiperemia passiva É o acúmulo de sangue nas veias: pode ser local (nos casos de obstrução, torção, estenose e intussuscepção instestinal) e geral (nos casos de insuficiência cardíaca). Edema É acúmulo de líquido cítrico na parede intestinal: presente nos casos de inflamação aguda e crônica e na hiperemia passiva crônica. Pode ocorrer edema angioneurótico provocado por processos alérgicos. As micotoxinas são capazes de promoverem este fenômeno. A palavra angioneurótico significa vaso sanguíneo 108 descontrolado. O que leva ao descontrole destes vasos são os alergenos. E o descontrole é o aumento da permeabilidade, permitindo extravasamento de liquido em excesso para os tecidos. Hemorragia intestinal (enterorragia) Pode ser classificada segundo suas causas em diérese, quando for provocada por rexe, ou seja, perfuração do vaso sanguíneo; e diabrose: nos casos de ulcerações da mucosa intestinal, arrancando os vasos sanguíneos. Este ultimo caso exemplifica a doença provocada por Eimeria ssp: elas destroem as vilosidades intestinais, erodindo- as. As hemorragias podem ser ainda classificadas em diapedese: todas do tipo petequial, sufusão e equimose, provocadas por septicemia, toxemia, viremia e outros. ALTERAÇÕES INFLAMATÓRIAS Enterites Enterite é inflamação do intestino. Pode ser classificada quanto ao curso em aguda e crônica; e quanto ao exsudato em catarral, hemorrágica, fibrinosa, necrótica e gangrenosa. Podendo haver associação destes exsudatos: mucohemorrágico, fibrinonecrótico e outros. As enterites podem ser chamadas de duodenites, jejunites, ileítes e tiflites, referentes ao duodeno, jejuno, íleo e ceco, respectivamente. O intestino requer determinado tempo para colonizar as bactérias da microbiota natural (E. coli e outras). Nesse período, todos os recém-nascidos, em especial as aves, passam por um teste de vida ou morte: a exacerbação da microbiota intestinal é suficiente para desencadear graves enterites (colibacilose, salmonelose, clostridiose e outras). A alimentação cuidadosa nos primeiros dias de vida da ave é fundamental para que ela adquira resistência e sobreviva com saúde suficiente para crescer e produzir. As formas mais comuns de enterites nas aves são: Enterite catarral É observada na salmonelose e colibacilose. A mucosa intestinal possui grande quantidade de células mucigênicas: são as células caliciformes que produzem mucos no intuito de proteger a mucosa. Quanto maior for à agressão. Maior será a produção de muco. Enterite hemorrágica 109 É sem dúvida a mais importante enterite das aves, pois tem como principal causa a coccidiose (Eimeriose). Neste caso ocorre intensa hemorragia na mucosa devido à agressão promovida pelo protozoário sobre as vilosidades intestinais. Enterite necrótica Está associada a outros exsudatos: fibrinoso e hemorrágico: encontrada na clostridiose das aves (enterite necrótica das aves por Clostridium perfringens tipo A). Neste caso a agressão é intensa que leva a necrose da mucosa. Durante a necropsia observa-se que a mesma esta macerada e apresentando odor fétido. Coccidiose A Coccidiose, também conhecida como Eimeriose, é uma enfermidade provocada por um protozoário denominado coccídio. Pertencente ao gênero Eimeria spp caracterizada por enterite hemorrágica aguda, apatia e queda na produção. Nove espécies de coccídeos afetam as galinhas; três afetam os perus. Os coccídeos são específicos: os que afetam as galinhas não afetam os perus, e vice-versa. O ciclo de vida do coccídio leva de 4 a 7 dias para se completar e seu desenvolvimento se dá nas células da mucosa intestinal. A doença não é transmitida de uma ave para outra, mas pela ingestão dos oocistos esporulados, encontrados na cama, nos comedouros, na ração e na água. Os sinais clínicos dependem do nível da infecção e da espécie de coccídio envolvida. Os principais sinais são: palidez, desânimo, cansaço e presença de sangue nas fezes. A mortalidade é crescente à medida que a infecção aumenta, enquanto o consumo de ração diminui. Macroscopicamente, as lesões vão depender da espécie do agressor, provocando vários graus de enterites com hemorragia que também varia conforme a intensidade da lesão: vai desde um aspecto de massa de tomate até simples manchas e pontos avermelhados. Estrias brancas na mucosa significa necrose. Microscopicamente, observa-se a presença da forma de esquizonte e trofozoítas nas células do sistema monocítico fagocitário do intestino, além de uma enterite correspondendo á intensidade da agressão parasitária. O tratamento com sulfas mostra-se efetivo. A sulfaquinoxalina é eficiente. O uso de amprólio também é empregado. O controle pode ser feito por meio da incorporação de diferentes tipos de coccidiostáticos na ração, com o intuito de minorar o ataque dos coccídeos. Já existem vacinas comercialmente distribuídas no mercado. Vários são os métodos de aplicação e 110 a resposta depende diretamente da eficiência da aplicação e do manejo adequado da cama. Sete espécies de coccídeos são parasitas de frangos e matrizes, apenas quatro ocorrem no Brasil: E acervulina; E maxima; E tenella e E necatrix. Eimeria acervulina A Eimeria acervulina é encontrada na parte superior do intestino delgado, como mostra a Figura 20. Não provoca hemorragia, mas faz com que as fezes se tornem líquidas nos casos mais graves. Apresenta um quadro clínico em que a mortalidade é baixa, mas há queda no desempenho das aves, interferindo na absorção intestinal. É a espécie que produz maior quantidade de oocistos e completa seu ciclo na ave mais rapidamente (quatro dias) provocando alta contaminação do ambiente. Figura 20 – duodeno de ave acometida por Eimeria acervulina Eimeria maxima A Eimeria maxima é encontrada na porção média do intestino delgado (jejuno) e, nos casos graves, pode acometer todo o intestino delgado (duodeno, jejuno e íleo), como é visto na Figura 21. Provoca baixa mortalidade, enterite mucohemorrágica aguda e perda de peso. Produz poucos oocistos e proporciona uma boa formação de imunidade às aves. Com duração de apenas cinco dias, suas lesões podem ser confundidas com outras enterites de causas diversas. 111 Figura 21 – intestino delgado de ave acometido por Eimeria maxima Eimeria tenella A Eimeria tenella é encontrada provocando lesões no ceco (enterite hemorrágica aguda) e produzindo fezes com aspecto semelhante à massa de tomate, como mostra a Figura 22. Produz grande quantidade de oocistos e baixa imunidade nas aves. Nos casos maisgraves, provoca alta mortalidade e queda do desempenho devido à grande hemorragia intestinal. Figura 22 – lesão em ceco de ave causada pela Eimeria tenella. Eimeria necatrix A Eimeria necatrix é encontrada no intestino delgado, na região média (jejuno). Seu ciclo é completado no ceco, onde ocorre o desenvolvimento dos oocistos, que são produzidos em pequena quantidade. Trata-se de uma espécie muito patogênica, podendo provocar altos índices de mortalidade em frangos e matrizes. Há casos de reincidência da doença. No Brasil, não há registro da enfermidade em frangos de corte. Colibacilose A colibacilose é uma enfermidade infecciosa que acomete primeiramente aves jovens, caracterizada por septicemia, aerossaculite, peritonite, onfaloflebite e granuloma 112 hepático. É provocada pela Escherichia coli, bactéria gram negativo, habitante comum do trato intestinal das aves e demais espécies. O microrganismo (E.coli) é considerado um oportunista que se apodera do organismo nos momentos de estresse e queda da resistência das aves. Pertence a família das enterobacteriáceas. Certas amostras de E coli são consideradas patogênicas, mesmo fazendo parte da microbiota intestinal. A mutação constante desta bactéria faz com que aparecem novas cepas altamente patogênicas que provocam verdadeiro desastre no plantel de aves jovens. Elas produzem endotoxinas, enterotoxinas e neurotoxinas. A transmissão se dá por meio do contato com aves doentes, secreções e excrementos. O ovo se contamina no contato com as fezes: importante via de contaminação. O período de incubação varia entre seis e quarenta e oito horas. Observar que se trata de um período muito rápido, questão de horas. Clinicamente, há varias formas da doença, que pode variar conforme a patogenicidade da bactéria e resistência da ave. Sabes que há casos de maior patogenicidades das cepas, e que quanto mais jovens, menor é a resistência da ave. Os sinais clínicos mais frequentes são: depressão, apatia, diarreia e dificuldade respiratória. A forma septicêmica afeta qualquer idade, pode ter morte súbita, cianose de crista e barbela; desidratação rápida; hemorragias petequial, sufusão e equimose; além de hidropericardio. A forma de onfalite ocorre devido à infecção do resto gema. Trata-se de inflação do saco vitelino. Os pintinhos apresentam fraqueza, abdome distendido, diarreia e mortalidade elevada. O resto de gema mostra-se duro e fétido de coloração parda. A forma que afeta os sacos aéreos provoca aerossaculite. Os sacos aéreos mais atingidos são: os torácicos e os abdominais. A presença de exsudato caseoso de coloração branca ou amarelada. Pode ocorrer pericardite e peritonite. Neste caso é provável que haja uma carga bacteriana elevada no ambiente. A forma que afeta as articulações provoca artrite e sinovite, comum em frango de corte devido principalmente excesso de umidade na cama. Os sinais clínicos são de claudicação e aumento de volume das articulações. Macroscopicamente, presença de exsudato caseoso nas articulações. A forma que afeta o oviduto provoca uma salpingite crônica nas galinhas poedeiras. Macroscopicamente, presença de massa caseosa no interior do oviduto que se apresenta com parede delgada. 113 Nas formas agudas são observadas alterações compatíveis com os sinais clínicos da inflamação. Macroscopicamente, hemorragias na pele, na forma de manchas avermelhadas. Nos músculos, no peritônio visceral, no coração e no tecido adiposo. Pericardites, peritonites e aerossaculites são constantes. Na forma crônica, a doença é conhecida como coligranuloma. O destaque vai para a formação de nódulos centimétricos de coloração amarelada ou branca, espalhados por toda a cavidade, comprometendo fígado, intestino, rins e demais vísceras, como é visto na Figura 23 A e B. Figura 23 A – Intestino de ave apresentando coligranuloma. Figura 23 B – Fígado de ave apresentando coligranuloma. O coligranuloma pode ser confundido com diferentes tipos de linfoma das aves. O tratamento é recomendado somente durante a fase aguda da doença (colibacilose). Os antibióticos podem ser colocados na água a ser ingerida. Aves que apresentam a forma crônica da doença (coligranuloma) devem ser eliminadas do plantel. O controle é feito promovendo uma higienização de todo o ambiente das aves. O controle da qualidade da água ingerida é muito importante, pois algumas vezes a E. coli é veiculada por ela. Limpeza e desinfecção dos ovos previnem a enfermidade. Salmonelose Aviária A salmonelose aviária envolve vários tipos de salmonelas. O mesmo gênero de uma bactéria que constitui diferentes espécies, todas importantes. Destaca-se a Salmonella gallinarum, S. pullorum, S.typhimurium, S. enteritidis, e S. Arizona. A Salmonella gallinarum constitui o chamado tifo aviário. A Salmonella typhimurium, S enteritidis, S Arizona, e uma série de outras espécies menos importantes constituem o paratifo aviário. Tifo Aviário 6 Quando se refere à palavra tifo quer dizer: uma enfermidade provocada por espécie de Salmonela exclusiva das aves (S. gallinarum,). É uma doença septicêmica que acomete aves domésticas. Caracterizada por esplenomegalia, hepatomegalia, apresentado na Figura 24 e diarreia. Tem sua causa na Salmonella gallinarum, transmitida por meio de ovos (transmissão vertical) e pelas aves contaminadas (transmissão horizontal). Figura 24 – fígado de ave apresentando tamanho aumentado por consequência do tifo aviário Clinicamente, as aves apresentam diarreia pastosa, fraqueza e prostração. A mortalidade é maior nas aves jovens. A enfermidade apresenta duas formas quanto ao curso: aguda e crônica. Macroscopicamente, na fase aguda pode não apresentar lesões características, a não ser uma enterite catarral aguda. Na fase crônica, é possível observar esplenomegalia, hepatomegalia (fígado aumentado de volume, apresentado coloração esverdeada, amarronzada ou mesmo bronzeada, salpicado de pontos acinzentados milimétricos), pericardite, peritonite, rupturas e má formação de ovos. O diagnóstico presuntivo pode ser feito por meio da observação criteriosa das lesões macroscópicas. O diagnóstico final requer isolamento e identificação da Salmonella gallinarum. O tratamento é feito com antibióticos. As sulfas são igualmente eficientes: sulfaquinoxalina, sulfamerazina e os nitrofuranos. Esses últimos estão proibidos pelo Ministério da Saúde. O controle se faz principalmente por meio da biosseguridade. Pulorose A pulorose é uma enfermidade contagiosa que ataca pintinho nas três primeiras semanas de vida. Perus e palmípedes são sensíveis à doença, que é causada pela 7 Salmonella pullorum. Os ovos são infectados via ovariana, podendo matar o embrião ou tornar os pintinhos portadores da doença. A Salmonella pullorum pode penetrar no organismo por meio de alimentos, água e ar contaminados. Os pintinhos oriundos dos ovos infectados podem morrer dentro da casca ou pouco depois da eclosão. Alguns podem viver por algumas semanas; outros chegam à idade adulta. As frangas que sobrevivem conservam a bactéria no ovário, tornando-se portadoras de pulorose, disseminando-a. Clinicamente, as aves apresentam prostração, diarreia catarral de coloração branca com aspecto espumoso e pegajoso. Pode haver uma obstrução do orifício proctodeu por um tampão de fezes ressecadas. Macroscopicamente, as aves podem apresentar focos pneumônicos; pericardites e miocardites focais; inflamação focal do peritônio visceral; ooforites, como mostra a Figura 25 e formação de ovos defeituosos com coloração amarelada ou esverdeada. Figura 25 – ave apresentando ooforite causada pela Salmonella pullorum (pulorose). O controle deve ser rigoroso: ovos procedentes de plantel contaminado não podem ser incubados. Todas as galinhas devem ser submetidas ao teste de aglutinação da pulorose.As aves portadoras da enfermidade devem ser eliminadas. O tratamento só é recomendado em aves destinadas ao abate. A sulfametazina, a sulfamerazina e a sulfaquinoxalina são utilizadas com bons resultados. Lamas da Silva e Coelho (1979) relataram um surto de pulorose em pintos de um dia, provocando meningoencefalite linfocitária aguda, com morte de cerca de cem mil aves. A origem do problema veio dos ovos contaminados. Os pintinhos apresentavam descoordenação motora, paralisia das asas e pernas, prostração e morte rápida. A necropsia revelou a presença de secreção purulenta nas meninges e encéfalo avermelhado. Ao exame histopatológico observou infiltração de heterófilos nas 8 meninges e nos espaços de Virchow-Robin, formando um manguito perivascular próprio da infecção purulenta. Foi isolado no laboratório Cedave de Belo Horizonte MG, a bactéria E coli, fechando o diagnostico em questão. Este fato na época foi relatado como ocorrido no triangulo mineiro MG. Por questões éticas não puderam dar maiores informações. Agora depois de mais de trinta anos, pode-se afirmar que foto ocorreu no município de Uberaba MG. Paratifo O paratifo se refere a uma enfermidade provocada pela bactéria do gênero Salmonella spp com várias espécies que afetam além das aves outros animais. Estas espécies não são exclusivas das aves. As espécies mais importantes são: Salmonella typhimurium, S. enteritidis, S. Arizona. Elas acometem aves e pássaros, além de outras espécies de animais domésticos e selvagens. A transmissão se dá pelo contato com aves doentes, objetos e instalações contaminadas. Ovos contaminados também são os grandes responsáveis pela disseminação da doença. Os principais sintomas são: sonolência, sede intensa, edema da cabeça, mostrado na Figura 26, conjuntivite, cegueira, perturbações nervosas e diarreia. Figura 26 – Ave apresentando edema de cabeça por consequência do paratifo O curso da doença pode ser agudo ou crônico. Macroscopicamente, nódulos amarelados são observados no fígado e baço, além de peritonite fibrinosa e enterite catarral aguda. Microscopicamente, focos de hepatite e hiperplasia de centros germinativos do baço são observados, além de pericardite fibrinosa aguda, conjuntivite aguda e enterite catarral aguda. O diagnóstico pode ser feito por meio do isolamento e da identificação da Salmonella spp e pela observação dos sintomas e achados macro e microscópicos. 9 No tratamento, pode ser utilizada a sulfamerazina sódica ou a sulfametazina sódica dissolvida na água de bebida (0,1 ou 0,2%) durante quatro dias. O controle é feito eliminando aves portadoras da enfermidade, detectada por exames de sangue, desinfetando e limpando todos os utensílios e o abrigo das aves. Pasteurelose (cólera aviária) Trata-se de uma enfermidade bacteriana (Pasteurella mutocida) que acomete aves de todas as idades, provocando infecções no sistema respiratório e no aparelho digestivo (canal alimentar). Apresenta duas formas: 1) Aguda sepcticêmica – associada com alta morbidade e mortalidade. 2) Crônica- associada com redução na produtividade. A doença é provocada por uma bactéria gram negativa, a Pasteurella multocida, bastante sensível aos desinfetantes, mas pode sobreviver por algumas semanas protegida em matéria orgânica. Existem vários sorotipos já identificados: cerca de 20. Os mais comuns são o tipo 1 (galinha) e os tipos 2 e 3 (peru). A transmissão se dá pelo contato direto entre aves contaminadas e sensíveis. A ingestão de água, alimento, carcaça e contato com secreção das aves doentes contribuem para a disseminação da doença. Clinicamente, na forma sepcticêmica as aves podem ter morte súbita. Outras que sobrevivem apresentam descarga nasal, respiração sibilante, diarreia amarelada ou amarela esverdeada e, na maioria dos caos, a crista e as barbelas tornam-se avermelhadas, edemaciadas e por fim azuladas, como é visto na Figura 27. Há febre e sede intensas, as aves ficam sonolentas e as penas arrepiadas, podendo haver paralisia; é comum a presença nas narinas de um exsudato seromucoso com odor repugnante. Figura 27 – Ave apresentando crista e barbelas azuladas em decorrência da pasteurelose (cólera). 10 Na forma crônica, há perda de peso, crista pálida, diarreia contínua ou ocasional, articulações aumentadas de volume e rígidas e queda na produção de ovos. Macroscopicamente, na forma septicêmica há hiperemia e hemorragia em todas as vísceras, com destaque para as vias aéreas e para a mucosa intestinal. Pode haver hemorragia ovariana, ruptura de folículos e postura abdominal. Microscopicamente, são identificadas: hiperemia, hemorragia nos pulmões, fígado, intestino e articulações, rinite, pneumonia, inflamação do ovário (ooforite), enterite catarral e necrose hepática focal. O diagnostico se baseia nos achados clínicos, necroscópicos e no isolamento da bactéria. O tratamento é feito com o emprego de sulfonamidas: sulfametazina, sulfamerazina e sulfaquinoxalina. Os antibióticos mais empregados são: clortetracilina, novobiocin e oxitetraciclina. O controle da enfermidade é feito evitando aglomeração, promiscuidade, ventilação deficiente, umidade, mudanças repentinas de ração e introdução de aves estranhas no plantel, sem os devidos cuidados. As aves doentes devem ser eliminadas e as condições sanitárias deficientes devem ser corrigidas. Histomoníase (Enterohepatite) Trata-se de uma enfermidade que acomete o intestino provocando inflamação do tipo enterite catarral aguda e no fígado uma hepatite focal disseminada. A enterohepatite é uma enfermidade causada pelo protozoário Histomona meleagridis. Conhecida como histomoníase. Acomete principalmente perus, pavões e falcões. As aves jovens são as mais susceptíveis e geralmente morre se não forem tratadas. As aves adultas apresentam a forma crônica da doença e atuam como portadoras da enfermidade. Os principais sintomas são: diarreia amarelada, anorexia e debilidade. Macroscopicamente, observa-se enterite catarral ou necrocatarral, localizada principalmente no ceco. No fígado, verificam-se manchas circulares, bem delimitadas, com áreas concêntricas, medindo aproximadamente quatro milímetros de diâmetro, de coloração alternando entre o amarelo e o verde, de tonalidade escura. Pode haver peritonite fibrinosa. 11 Microscopicamente, observa-se o protozoário Histomona meleagridis fagocitado por macrófagos intestinais ou pelas células de Kupffer: são as responsáveis pelo sistema monocítico fagocitário no fígado. As lesões no intestino são enterite necrocatarral aguda ou crônica; e a lesão no fígado é uma hepatite necrótica focal aguda. Na fase crônica: uma hepatite granulomatosa. O controle é feito identificando-se os doentes, tratando-os ou eliminando-os, conforme o caso. A vermifugação também é imprescindível, pois o Histomona meleagridis invade os ovos de alguns vermes (Heterakis gallinae) e se infesta em outras aves por meio deles. Minhocas, moscas e insetos com grilos são vetores deste protozoário. O tratamento pode ser feito com a furazolidona a 0,04% na ração, durante 10 dias. Furazolidona é um nitrofurano. Os nitrofuranos estão proibidos pelo ministério da Saúde. Flagil em doses adequadas tem dado bons resultados. Verminose É o acúmulo de vermes que se apoderam do hospedeiro e vive à custa deste. Podem alojar em qualquer parte do corpo: numa determinada víscera, principalmente no intestino das aves. Geralmente ocorre devido a fatores como sujeira, umidade e manejo inadequado. O ciclo dos vermes se completa fora do corpo das aves, por isso é preciso um bom manejo para interrompê-lo. Os locais muito contaminados só ficam livres dos vermes depois de 12 meses de vazio sanitário. Aves infestadas com vermes apresentam os seguintes sintomas: perda de peso; debilidade; palidez; desenvolvimento retardado e quedana produção. Dentre os vermes que se destacam como importantes parasitas intestinais das aves cita-se o Heterakis gallinae, Ascaridia galli e Raillietina tetragona. Heterakis gallinae Um nematoide que habita o ceco como mostra a Figura 28. Ele está presente em mais de 50% das aves domésticas. Trata-se de um verme pequeno com cerca de oito milímetros de comprimento, filiforme e de cor branca. Alimenta-se de sangue, portanto provoca um quadro de anemia nas aves e seus efeitos colaterais. É combatido com fenotiazina de 0,5 a 1,0 gramas por ave. 12 Figura 28 - Heterakis gallinae em ceco de ave Ascaridia galli Nematoda do intestino delgado, de coloração branca levemente amarelada como mostra a Figura 29. O macho mede de três a oito centímetros. As fêmeas são maiores medindo até doze centímetros de comprimento. São quimófogos, prejudicam diretamente a ave provocando anemia, fraqueza e morte. Trata-se de um verme quimófogos que divide o alimento com o hospedeiro. Provoca fraqueza nas aves, debilidade e retarda o crescimento. As minhocas são consideradas hospedeiros transportadores dos ovos embrionados desta espécie. Figura 29 – Ascaridia galli em intestino delgado de aves Adipato de piperazina é o vermífugo indicado, devendo ser adicionado na ração durante cinco dias no mínimo. Tetrameres spp São vermes nematoides de corpo cilíndrico, comprido, afinado nas extremidades. O gênero Tetrameres spp tem um ciclo heterogênico do qual as aves são hospedeiros definitivos. Parte da evolução dos Tetrameres spp acontece no organismo de invertebrados: gafanhotos, baratas e crustáceos. 6 Os parasitas apresentam dimorfismo sexual, os machos são pálidos, delgados, medindo seis milímetros de comprimento e com cutículas espinhosas, vivem na superfície mucosa do proventrículo. Enquanto as fêmeas são vermelhas, quase esféricas com diâmetro de cinco milímetros, habitam o fundo das glândulas do proventrículo. Elas são hematófagas e causam anemia, bem como erosão na mucosa do proventrículo. A grande infestação pode ser fatal em pintinhos. Poucos são os parasitas que habitam o proventrículo. O Tetrameres spp vive das secreções das glândulas do órgão e constantemente provocam proventriculites. Penetram na mucosa e nas glândulas do proventrículo, provocando ulceras, hemorragias, edema e obstrução. A luz do proventrículo apresenta-se dilatada em consequência da descamação celular, que evolui para hipotrofia por degeneração do tecido glandular. Cistos são formados em torno das glândulas. Seu controle é feito com manejo sanitário correto e vermifugação. São sensíveis a adipato de piperazina. Davainea proglotina Trata-se de Cestoda parasita do intestino delgado das aves, mede cerca de quatro milímetros de comprimento. Tem como hospedeiro intermediário: moluscos gastrópodes. Provocam enterite hemorrágica devido à penetração dos parasitas na mucosa e submucosa intestinal. Promove um quadro de diarreia sanguinolenta. Proglotes gravídicas são eliminadas com as fezes e no meio exterior as cápsulas liberam os ovos embrionados. Raillietina tetragona Cestoda saprófita que se alimenta de restos, mesmo assim são importantes por produzir toxinas. São pequenos parasitas, medem cerca de cinco milímetros e abitam o intestino grosso no segmento do ceco, como mostra a Figura 30. São hematófagos e além de provocar uma colite ulcerativa gravíssima, causa anemia, fraqueza, perda de peso, queda na produção e morte. São parasitas definitivas das aves e tem como hospedeiros intermediários: formigas, moscas e besouros. 7 Figura 30 - Raillietina tetrágona em ceco de ave Seu controle é feito por meio de manejo higiênico, limpeza geral, controle de moscas, insetos, a vermifugação é indispensável. Oxyspirura mansoni Nematoide que mede 15 mm de comprimento. Possi corpo alongado nas extremidades. Não possui bolsa copulatória. Apresenta ciclo biológico que tem como hospedeiro intermediário uma barata a Pycnoscelus surinamensis. Tem como hospedeiro definitivo: aves domésticas e selvagens. Parasita o olho das aves alojando na membrana nictante, no saco conjuntival e ductos lacrimais. Clinicamente pode passar despercebido. Geralmente provoca irritação, blefarite, aderência de pálpebras, panoftalmia e cegueira. Enterite Necrótica A enterite necrótica é uma doença bacteriana aguda, provocada pelo Clostridium perfringens tipo A. Acomete galinhas, principalmente na fase que antecede a postura (dezenove semanas). Este é o momento de maior estresse das aves: alteração hormonal; presença de objeto estranho no galpão (os ninhos); presença dominadora dos machos que chegam selecionado suas parceiras; mudança de ração (ração de postura); e o maior dos estresses que é iniciar a postura, onde os ovos são desuniformes (pequenos grandes e até de duas gemas); ainda há o estresse daquelas aves que convalescem de alguma enfermidade como bursite infecciosa das aves, coccidiose e outras. O Clostridium perfringens tipos A, é encontrado nas fezes, solo, alimentos contaminados e na água de beber. É um aproveitador para se instalar no trato intestinal das aves, provocando a enterite necrótica aguda. A contaminação só se dá por via oral, quando aves sadias ingerem alimentos contaminados com o Clostridium perfringens. Aves portadoras devem ser eliminadas e é preciso manter todos os cuidados com a cama contaminada por fezes de aves doentes. 8 Clinicamente, as aves ficam deprimidas, apáticas, quase não se alimentam e têm uma diarreia de coloração cinza-escura, podendo conter certa quantidade de sangue. A doença apresenta alta morbidade e alta mortalidade, com um curso entre 10 a 14 dias. Macroscopicamente, as alças intestinais se apresentam com pouca resistência; algumas hemorragias na serosa; conteúdo pegajoso, amarelado, cinza e fétido. Há formação de pseudomembrana e certa quantidade de gás. O diagnóstico pode ser feito por meio de necropsia das aves enfermas, observando as alterações no trato intestinal, o histórico da doença, isolamento e identificação do Clostridium perfringens tipos A. O tratamento se faz com antibióticos e quimioterápicos: bactracina e penicilina. A prevenção se faz com uma boa desinfecção do ambiente e de todas as instalações, evitando maiores cargas de estresse, adotando um manejo adequado. Enterite Ulcerativa A enterite ulcerativa é uma doença infecciosa bacteriana aguda que acomete principalmente aves jovens, causada pelo Clostridium colinum, caracterizada por súbito aparecimento e mortalidade crescente. Nas galinhas, geralmente está associada a estresse e outras enfermidades como coccidiose, anemia aplástica e bursite infecciosa. A transmissão se da por meio das fezes. Assim, as aves são infectadas pela ingestão de ração ou água contaminada pelas fezes. Clinicamente, algumas aves morrem subitamente; outras ficam apáticas, com olhos cerrados, penas arrepiadas e sem brilho. Macroscopicamente, aparecem úlceras que medem cerca de dois a cinco centímetros de diâmetro, localizadas na porção distal do intestino delgado e no ceco, caracterizando uma enterite ulcerativa aguda. Pode haver perfuração da parede intestinal e, como consequência, a instalação de uma peritonite aguda. O diagnóstico se faz por meio de necropsia das aves doentes, observando-se as alterações intestinais e identificando o Clostridium colinum. No tratamento podem ser utilizadas: a estreptomicina, a bacitracina e zinco e a clorotetraciclina. O controle é feito com higienização do ambiente, devendo-se utilizar normas de manejos adequados para evitar qualquer tipo de estresse. Rotavírus 9 O Rotavírus é conhecido como causador de enterites e diarreias. O primeiro caso de infecção intestinal por Rotavírus em aves foi descrito por Bergelland et al (1977). O Rotavírus está classificado como sendo da família Reoviridae. Os hospedeirosnaturais são perus, patos, galinha d’ angola e pombos. Clinicamente, a infecção por Rotavírus em frango de corte pode variar desde uma infecção subclínica até um quadro clinico provocando diarreia. Pode ocorrer perda de peso e morbidade crescente, com mortalidade alta. O Rotavírus é excretado em número muito grande e permanecem viáveis por meses em fezes infectadas. A transmissão é horizontal e ocorre por meio de pássaros em contato direto ou indireto. Macroscopicamente, observa-se a presença de grande quantidade de líquido e gases no intestino delgado e ceco. As aves ainda apresentam-se desidratada e com inflamação da cloaca. O diagnóstico é feito por meio do isolamento e pela identificação do vírus nas fezes e no conteúdo intestinal. Experimento realizado pela professora Adriana Garcia (1990). Utilizando pintos de um dia para infecta-los com o Rotavírus, chegou-se a seguinte conclusão: provoca enterite aguda com destruição das vilosidades intestinais. As aves que sobrevivem, apresentam o intestino careca. O prejuízo pra ave é grande, ela muitas vezes acaba virando refugo. NEOPLÁSICAS As neoplasias primárias do intestino são: adenoma e adenocarcinoma (mucosa); leimioma e leiomiossarcoma (musculo liso); fibroma e fibrossarcoma (tecido conjuntivo); doença de Marek e leucose linfoide (nos órgãos linfoides). EM OUTRAS PALAVRAS... O aparelho digestório das aves apresenta modificações com base na alimentação e forma de vida. O bico da galinha é uma estrutura apropriada para apreensão de grãos. O inglúvio é um compartimento destinado a armazenar os alimentos, de onde pode ser regurgitado para alimentar os filhotes em determinadas aves selvagens. Nos pombos, o ingluvio produz secreção de glândulas para alimentar seus filhotes (leite do papo). A moela é uma potente estrutura muscular capaz de triturar qualquer alimento em forma de grãos encontrado na natureza. 10 O ceco possui folículos linfoides. A cloaca é uma cavidade própria das aves, sendo uma estrutura adequada para o tipo de vida peculiar de todas as espécies avícolas. A saúde da ave depende da saúde do canal alimentar. Os vírus, as bactérias, os fungos, os protozoários e os vermes conspiram em prol da destruição da integridade da parede intestinal, o que é um desastre, pois a boa alimentação só trará retorno se houver bom aproveitamento intestinal. As vilosidades intestinais são muito sensíveis e, uma vez destruídas, proporcionam o aparecimento da síndrome de má absorção. CONSULTA RÁPIDA 1. Conceito de inglúvio Inglúvio é uma dilatação em forma de saco que se projeta na parte final do esôfago das aves. É denominado “papo” e serve para armazenar alimentos. 2. Conceito de moela Moela é o estômago mecânico das aves, constituído das paredes musculares, com capacidade para triturar grãos. 3. Conceito de cloaca Cloaca é uma cavidade tubular comum aos sistemas digestório, urinário e genital. Está dividida em três câmaras internas: (1) Coprodeu; (2) Urodeu; (3) proctodeu. 4. Conceito de coligranuloma Coligranuloma é a forma crônica da infecção da colibacilose aviária. 5. Conceito de enterohepatite Enterohepatite é uma enfermidade causada pelo protozoário Histomona meleagridis, também conhecida como histomoníase. Acomete principalmente perus, pavões e falcoes. LEITURA RECOMENDADA SANTOS, B. M; MOREIRA, M. A. S; DIAS, C. C. A. Manual se Doenças Avícolas. Editora UFV Universidade Federal de Viçosa. Viçosa MG. 2009. 224p. 11 FÍGADO O fígado é a maior glândula do corpo, possuindo maior diversidade de funções. Trata-se de um órgão parenquimatoso, glandular, lobado, de coloração vermelho marmóreo, de consistência frágil, recoberto por uma capsula de tecido conjuntivo (capsula de Glisson), que emite ramificações para o interior do órgão, formando uma arvores de tecido conjuntivo, o qual da sustentação interna para toda a glândula, proporcionando meios para que os ramos da veia porta, da artéria hepática e os canais biliares, assim como os vasos linfáticos, possam alcançar todas as partes do fígado. Nas aves jovens, o fígado apresenta coloração amarelada. Cada lobo hepático é formado por lóbulos: um agrupamento de células denominadas hepatócitos, que se dispõe em placas orientadas radialmente, formando o que se chamam de cordões hepáticos, envolvendo os capilares sinusoides revestidos por uma única camada de células, onde se encontram os macrófagos hepáticos (células de Kupffer). Nas aves, os cordões hepáticos são duplos; os hepatócitos têm forma poligonal com seis faces e medem de vinte a trinta micrômetros de diâmetro. O hepatócito apresenta um (às vezes dois) núcleo(s), central e arredondado, com um ou mais nucléolos bem evidentes. O hepatócito é a célula de maior versatilidade do organismo. É um tipo celular com funções glandulares endócrinas e exócrinas simultaneamente. Além de sintetizar, acumular e neutralizar vários compostos, ainda transporta corantes. Nas aves, a função metabólica do fígado é muito sensível. Para que o fígado converta o excesso de lípides em lipoproteínas são necessários os aminoácidos essenciais. Na ausência, por exemplo, de colina e metionina, ocorre o chamado fígado gorduroso: uma metamorfose gordurosa severa. Por esta razão os aminoácidos essenciais são conhecidos como fator lipotrófico. Neste paragrafo veem-se alguns epônimos (nome de pessoas e lugares para identificar estruturas celulares e órgãos). Nas aves o fígado apresenta ninhos de linfócitos tornando-o um órgão que auxilia o sistema hemocitopoiético. A presença destes linfócitos para os menos avisados pode parecer um processo inflamatório. Nos casos de anemia grave, pode ser observada a presença de megacariócitos. Estes representam a tentativa do organismo restabelecer a hipovolemia produzindo células do sangue em órgãos extra medular. 12 Nomina anatômica aboliu e não permite mais o emprego destes epônimos. Todavia alguns nomes são tão eloquentes que estão enraizados na literatura científica e sobrevivem ao tempo. ALTERAÇÕES POST-MORTEM As aves apresentam certa dificuldade para perder calor devido á presença de penas que revestem a pele. O acumulo de calor faz com que o fígado apresente rapidamente manchas azuladas denominadas pseudomelanose. É o sulfureto de hidrogênio produzido pelas bactérias saprófitos, que reagem com o ferro liberado pela hemoglobina formando o composto sulfureto ferroso, que promove esta coloração estranha. Todos estes gases oriundos da putrefação, promovido pelas bactérias saprófitas acumulam nos tecidos e região subcutânea constituindo o que se denomina: enfisema post mortem. A embebição biliar ocorre nas partes próximas da vesícula biliar apresentando coloração amarelada ou amarelo esverdeado. ALTERAÇÕES DO DESENVOLVIMENTO Cistos Hepáticos Representam acúmulos de líquidos contidos em uma capsula de tecido conjuntivo fibroso. Os cistos podem ser congênitos ou adquiridos. Os primeiros são mais comuns e ocorrem devido à má formação dos ductos biliares. Em uma experiência realizada na Universidade Federal de Uberlândia MG e frigoríficos da região, realizada pelo professor Reis e Coelho (1987), chegaram à conclusão que os cistos congênitos em bovinos são mais comuns que os adquiridos. Os cistos adquiridos normalmente são de origem parasitária. A diferença anatômica entre eles está no fato de que os cistos parasitários possuem duas cápsulas: uma do órgão e outra do parasita. Os cistos congênitos possuem somente uma capsula. Ectopia Hepática O fígado pode estar deslocado de sua posição original. Esta alteração não é comum devido o tamanho do órgão que toma conta da maior parte da cavidade celômica. ALTERAÇÕES ADQUIRIDAS Rupturas 13 Comuns em situações acidentais cujas causas predisponentes são representadas por degenerações hepáticas, entre elas a metamorfose gordurosa,quando o órgão fica aumentado de volume e intensamente friável (fígado gorduroso). Durante a pega das aves, muitos acidentes ocorrem. E é neste senário que são observados rupturas hepáticas que podem ocasionar a morte da ave por hemorragia interna. Síndrome Do Fígado Gorduroso Alteração degenerativa das aves, principalmente das galinhas, caracterizada por fígado aumentado de volume e infiltrado com gordura, podendo haver hemorragias subcapsulares. Sabe-se que o consumo calórico excessivo é a principal causa. Também é possível que a síndrome gordurosa hepática esteja associada com micotoxina nas rações. É comum encontrar nos exames toxicológicos das rações a presença de uma micotoxina denominada zearalenona. Em um experimento realizado na Universidade Federal de Uberlândia MG, sob a orientação de Coelho (1990), verificou-se que a maioria das rações examinadas apresentava esta micotoxina Macroscopicamente, o fígado apresenta-se aumentado de volume, amarelado, untuoso ao corte e friável. Há hemorragias petequiais na capsula e coágulos na cavidade abdominal nos casos mais graves em que há ruptura da capsula. Nesses casos, as aves apresentam cristas e barbelas pálidas. Microscopicamente, há um intenso infiltrado de gotículas de gordura no citoplasma dos hepatócitos. Eles mais se parecem com um adipócito (célula do tecido adiposo), por isto é que se chama de metamorfose gordurosa: há uma verdadeira transformação de um hepatócito em uma célula gordurosa. O controle pode ser feito baixando os níveis de caloria da ração e adicionando maior quantidade de proteína (6% de casca de aveia). Hipotrofia Hepática Impropriamente denominada atrofia hepática. Representada pela diminuição de volume do órgão, provocada por subnutrição, inanição, caquexia e senilidade. Hipertrofia Hepática Aumento de volume do órgão motivado por alterações degenerativas, infiltração e inflamatórias. (metamorfose gordurosa, degeneração turva, infiltração amiloide, hiperemia ativa e passiva, hepatite). Hepatotoxinas 14 Representam um grupo de toxinas que provocam lesões hepáticas como necrose (periacinar, periportal e médio zonal); hiperplasia de ductos biliares; metamorfose gordurosa e cirrose. Cirrose Hepática Nas Aves Cirrose é um processo degenerativo progressivo crônico e difuso do fígado. As micotoxicose são as causas mais evidentes. Embora não seja uma alteração comum nas aves, especialmente em frango de corte, os quais têm um período de vida muito curto. A palavra cirrose significa no grego: fibrose. Ocorre depois de um processo degenerativo grave caracterizado por necrose de hepatócitos. De fato quando chega num ponto em que as células já não conseguem mais regenerar-se, então ocorre invasão de tecido conjuntivo fibroso, caracterizando a cirrose. Macroscopicamente, o fígado apresenta-se diminuído de volume, enrugado, duro e com a coloração amarelada. Microscopicamente, ocorre degeneração gordurosa e necrose dos hepatócitos, seguida de invasão de tecido conjuntivo fibroso. Diagnóstico, por meio de exame macro e microscópico do fígado lesado. ALTERAÇÕES CIRCULATÓRIAS Hiperemia ativa Acúmulo de sangue arterial que pode ser fisiológico ou patológico. Hiperemia passiva Acúmulo de sangue venoso que ocorre nas obstruções locais e na insuficiência cardíaca. Tanto a hiperemia passiva como a ativa são causas de aumento de volume do fígado (hepatomegalia). Nos casos de insuficiência cardíaca do ventrículo direito, ocorre uma estase venosa na veia cava, que culmina com uma hiperemia passiva crônica do fígado. A escassez de oxigênio e o excesso de gás carbônico no sangue venoso retido provocam necrose próximo à veia terminal hepática. Hemorragia por diérese Pode ser rexe e diabrose. As hemorragias por rexe são provocadas por traumatismo e ruptura da capsula do fígado, nos casos da síndrome do fígado gorduroso. As hemorragias por diabrose ocorrem nos casos de neoplasias (leucoses e enfermidade de Marek), além dos processos inflamatórios crônicos, como o coligranuloma. ALTERAÇÕES INFLAMATÓRIAS 15 Hepatites Células nobres não inflamam, degeneram (COELHO 2006). A reação do fígado surge do seu estroma conjuntivo, seus vasos e do sistema monocítico fagocitário, aqui representado pelas células de Kupffer. Os hepatócitos são nobres, portanto não inflamam. Eles diante de uma agressão qualquer degeneram e morrem. Quanto á localização, a hepatite pode ser classificada em: Perihepatite Inflamação da capsula hepática, acompanha os casos de peritonites. Hepatite portal Inflamação do tecido conjuntivo do sistema porta Colangiohepatite Inflamação dos ductos biliares com extensão para o parênquima hepático Quanto à etiologia, a hepatite pode ser classificada em: Hepatite toxica Micotoxinas, medicamentos pesticidas, herbicidas e outros. Hepatite infecciosa Vírus, Histomona spp, Salmonella spp, E. coli e outros. Hepatite Viral Dos Patos A hepatite viral dos patos é uma doença aguda, altamente contagiosa que tem predileção para os patos jovens. É provocada pelo Enterovirus da família Picornaviridae. Caracterizada por um período de incubação curto (quarenta e oito horas); provocar graves lesões no fígado e mortalidade alta. Clinicamente, os patinhos ficam letárgicos, perdem o equilíbrio e morrem em opistótono (a cabeça virada pra trás). Macroscopicamente, o fígado apresenta-se aumentando de volume e recoberto por hemorragias tipo sufusão; o baço apresenta esplenomegalia e fica mosqueado; os rins aumentados de volume e hiperêmicos. O controle se faz com isolamento dos patinhos recém-nascidos por até cinco semanas. Hepatite Viral Dos Gansos A hepatite viral dos gansos é conhecida como parvovirose dos gansos. É uma doença contagiosa e fatal que acomete os recém-nascidos, caracterizada por 16 hemorragias teciduais, ascite, hidropericárdio, lesões hepáticas, perda de penas e anorexia. Macroscopicamente, o fígado apresenta-se aumentado de volume, firme e salpicado de pontos avermelhados milimétricos (hemorragia petequial); pericardite serofibrinosa; perihepatite e ascite. O controle se faz com isolamento das aves sadias nas primeiras quatro semanas de vida. Evitar o contato das aves recém-nascidas com outras aves até que elas adquiram resistência. Micotoxicose A micotoxicose é uma enfermidade causada por toxinas de origem fúngica. Isso ocorre quando fungos crescem nos grãos e rações. As micotoxinas são varias: Aflatoxina, Fusariose e alcaloides do ergot. Aflatoxina Metabólico fúngico carcinogênico e altamente tóxico produzido pelo Aspergillus flavus. O quadro clínico é chamado Aflatoxicose que afeta principalmente o fígado, envolvendo as funções imunológicas, digestivas e hematopoiéticas. Macroscopicamente, o fígado somente irá apresentar alguma alteração se a intoxicação for crônica. Caso contrário, o fígado poderá manifestar-se com hiperemia: aumentado de volume e avermelhado. No proventrículo, observa-se úlcera nos casos crônicos. Fusariose Intoxicação produzida pelo fungo: Fusarium spp. A principal toxina produzida por este é a zearalenona presente em grãos e rações mofados. Clinicamente, esta intoxicação é subclínica. As aves apresentam queda na produção. Macroscopicamente, há presença de úlceras no proventrículo. Alcaloides Do Ergot (ergotamina) Produzido por um fungo denominado Claviceps purpurea provoca o chamado ergotismo. A enfermidade é gravíssima pelos efeitos deletérios da toxina, que promove vasoconstrição e leva ao aparecimento de necrose e gangrena, com perda principalmente de membros. Há formação de vesículas que evoluem e deformam crista, barbelas, face e pálpebras. 17 Macroscopicamente, o fígado apresenta-se aumentado de volume, avermelhado ou amarelado, dependendo do grau da degeneração dos hepatócitos. Pontos avermelhados são comuns erepresentam as hemorragias petequiais. No proventrículo pode ser observada uma proventriculite ulcerativa focal. O controle é feito dispensando maiores cuidados com os alimentos produzidos com diferentes grãos; deve-se evitar a umidade e a proliferação de fungos. ALTERAÇÕES NEOPLÁSICAS Neoplasias primárias do fígado: adenoma hepatocelular (hepatoma); adenocarcinoma hepatocelular (hepatocarcinoma) ; adenoma colangiocelular (colangioma); adenocarcinoma colangiocelular (colangiocarcinoma); leucose linfoide; leucose mielóide; enfermidade de Marek e reticuloendoteliose. Reticuloendoteliose A reticuloendoteliose é uma enfermidade neoplásica, de origem viral, na qual o vírus tem predileção pelos linfócitos (B e T), induzindo a formação de tumores nos diversos órgãos linfoides e especialmente no fígado. Algumas vezes a doença é confundida com leucose linfoide e Marek. O vírus da reticuloendoteliose é um retrovírus de transmissão horizontal, podendo ser também transmitido de forma vertical, como já foi observado em galinhas e perus. Clinicamente, observa-se a síndrome da consumação caracterizada por perda de peso, paralisia ocasional, palidez e empenamento defeituoso. Macroscopicamente, observam-se hipotrofia da bolsa cloacal e tímica, aumento de volume dos nervos, anemia e empenamento defeituoso. Quadro neoplásico é observado no fígado, baço, intestino e coração. São nódulos centimétricos de coloração que varia do branco, passando pelo cinza e chegando ao amarelo. Microscopicamente é um linfoma. O diagnóstico é extremamente difícil pela semelhança com leucose linfoide e enfermidade de Marek. Isolamento viral ou detecção de anticorpos são uteis na confirmação. Controle: estuda-se vacina. EM OUTRAS PALAVRAS... O fígado é um órgão glandular com múltiplas funções. Morfologicamente, apresenta nas aves cordões duplos de hepatócitos, na configuração do lóbulo. 18 Sua coloração é amarelada no jovem e vermelho marmórea no adulto. Dentre os processos degenerativos, a síndrome do fígado gorduroso tem se destacado pela grande ocorrência. As hepatites possuem causas diversas, com destaque para os vírus que têm predileção pelas aves jovens. Afeta os patos. As hepatotoxinas são comuns e geralmente causam necrose do parênquima. O destaque vai para as micotoxinas encontradas nos grãos e rações com alto teor de umidade. As Aflatoxinas são produzidas pelos Aspergillus flavus; a zearalenona pelo Fusarium spp. As neoplasias hepáticas são importantes, com destaque para aquelas de origem linfoide, como leucose, Marek e reticuloendoteliose. Essa última é de difícil diagnóstico devido à grande semelhança com as outras duas. CONSULTA RÁPIDA 1. Conceito de coligranuloma Coligranuloma é um processo inflamatório crônico provocado pela E.coli, observado no fígado e em outras vísceras. 2. Conceito de micotoxinas Micotoxinas são toxinas produzidas por fungos em contato com alimentos com alto grau de umidade. 3. Principais causas da síndrome do fígado gorduroso A síndrome do fígado gorduroso é provocada por dieta muito calórica e deficiência de aminoácidos: metionina, colina etc. 4. Etiologia da enterohepatite A enterohepatite é causada pelo Histomona meleagridis. 5. Duas neoplasias primárias do fígado Adenoma e adenocarcinoma hepatocelular. 19 SISTEMA HEMOCITOPOIÉTICO O sistema hemocitopoiético é constituído por: medula óssea, baço, bolsa cloacal e timo. As aves não apresentam linfonodos. MEDULA ÓSSEA No adulto, a medula óssea pode ser de dois tipos: a vermelha e amarela. A medula vermelha tem essa cor devido ao grande número de hemácias em vários estágios de formação. Por isso, é uma ativa produtora de células sanguíneas. A cor amarela se deve à grande quantidade de gordura que contém. Embora tenha a potencialidade de produzir hemácias, o fato de não ser vermelha indica que não está ativamente empenhada em fazê-lo, e o fato de ser amarela indica a tarefa mais simples: armazenar gordura. O tecido mielóide desenvolve-se a partir do tecido mesenquimal que penetra nas cavidades dos ossos em desenvolvimento. As células mesenquimais se diferenciam em duas linhagens principais: células fixas e células reticulares. A medula óssea é o órgão responsável pela produção dos principais elementos figurados do sangue: hemácias, leucócitos e plaquetas. Hemácias Glóbulos vermelhos do sangue. São consideradas células porque possuem núcleos. Essa característica aparece nas aves, répteis, anfíbios e peixes. Essas células são arredondadas quando jovens e ovoides depois de maduras. Nos indivíduos do sexo masculino, após atingirem a maturidade sexual, encontra-se maior quantidade de hemácias. Leucócitos Glóbulos brancos do sangue, divididos em dois grupos morfologicamente distintos: polimorfos nucleares e mononucleares. Polimorfos Nucleares São denominados granulócitos: possuem granulações citoplasmáticas especificas. O núcleo lobado. São classificados em três grupos: heterófilos, eosinófilos e basófilos. Heterófilos 20 São células arredondadas e que possuem granulações citoplasmáticas acidófilas. A maioria dos heterófilos circulantes apresenta núcleo lobado, com pequeno número em bastonetes. A principal função dos heterófilos é a fagocitose. Possui pouca ou nenhuma enzima proteolítica, motivo pelo qual não se observa liquefação do exsudato purulento nas aves. As aves não possuem neutrófilos, estes são de exclusividade dos mamíferos. Os heterófilos são células correspondentes aos neutrófilos. Estes produzem enzimas proteolíticas e por isso nos mamíferos, o exsudato purulento é liquefeito. Eosinófilos Têm as mesmas dimensões dos heterófilos, entretanto seu núcleo é menor. As granulações específicas do citoplasma são fortemente acidófilas e arredondadas. Apresentam as mesmas propriedades funcionais dos heterófilos, são móveis em certas enfermidades, especialmente nas parasitoses e nas alergias. Possuem granulações tóxicas contra parasitas. Basófilos Possuem citoplasma com numerosas granulações basofílicas metacromáticas. São células produtoras de histamina. Mononucleares São células arredondadas não lobadas. O citoplasma não apresenta granulações específicas. Dividem-se em dois tipos principais: monócitos e linfócitos. Monócitos São células volumosas com citoplasma abundante e menos basofílicos do que os linfócitos. Podem conter granulações não específicas finas no citoplasma. O núcleo é geralmente ovalado e com cromatina filamentosa. Essas células são as representantes do sistema monocítico fagocitário no sangue e possuem grande capacidade fagocitária. São consideradas como os grandes fagócitos. Os monócitos são mais numerosos nos galos e nas aves que vivem livres. O Sistema Monocítico Fagocitário Foi assim denominado em substituição ao antigo sistema retículoendotelial. Descobriu-se que todas as células que têm função fagocitária, exceto os heterofilos e neutrófilos, são oriundas do monócito do sangue. Então são várias células representantes deste sistema espalhadas pelo organismo. Os macrófagos alveolares estão no pulmão; as células reticulares no baço e linfonodos; as células de Kupffer no fígado; os histiócitos no tecido conjuntivo e os microgliócitos no sistema nervoso central. Ainda 21 pertencente a este sistema: as células epitelioides, as células gigantes tipo Langhans e tipo corpo estranho. Linfócitos São células mononucleares que apresentam núcleo grande cobrindo praticamente toda superfície do citoplasma. Cora intensamente pela hematoxilina, por isso bem basofílico. Os linfócitos quando maduros apresentam o núcleo deslocado para um lado dentro do citoplasma. Recebe o nome de plasmócitos. Os plasmócitos são comuns nas infecções crônicas. A função de ambos é produzir anticorpos. ALTERAÇÕES HEMATOLÓGICAS Anemia Redução do numero de hemáciase de hemoglobina. Acompanha doenças agudas e crônicas, havendo hipoplasia medular ou não. Muitas vezes a anemia resulta da hemorragia aguda ou crônica. Insuficiências nutricionais também acarretam o aparecimento de anemia. As mais frequentes alterações morfológicas observadas na anemia são: 1) Anisocitose: variação do tamanho das hemácias 2) Macrocitose: aumento do tamanho das hemácias 3) Microcitose: redução do tamanho das hemácias 4) Poiquilocitose: hemácias de diferentes formas 5) Policromasia: hemácias jovens com pouca hemoglobina A correlação clínica patológica da anemia: apresenta o quadro de uma ave anêmica caracterizada por palidez, muitas vezes oculto por icterícia. A palidez se deve a uma redução do nível total de hemoglobina e, em parte, a uma redistribuição do sangue na circulação maior. Quando a anemia é crônica, o coração apresenta-se dilatado, flácido e pálido, sendo que no miocárdio há degeneração gordurosa. Órgãos como o fígado e os rins se mostram pálidos e gordurosos. Na anemia pós-hemorrágica aguda, o baço esta diminuído de volume. Nas anemias infecciosas agudas, o baço esta aumentado de volume e de consistência polposa. Nas anemias hemolíticas crônicas e carências, o baço esta aumentado de volume e de consistência carnosa. Nas anemias crônicas, os músculos esqueléticos tendem a estar pálidos. O edema é um acompanhante frequente da anemia. 22 Leucocitose Aumento do numero de leucócitos. Ocorre nas diversas infecções, em especial nas bacterianas. Esses agentes biológicos atraem ou repelem determinado tipo de leucócito. Na salmonelose (Salmonella spp.), ocorre leucocitose com heterofilia. O aumento de formas maduras de leucócitos circulantes é indicativo de reação positiva em favor do organismo. A predominância de leucócitos jovens indica reação negativa a favor do organismo. Nas infestações parasitárias e nas reações alérgicas, frequentemente observa-se eosinofilia. O uso prolongado e indiscriminado de alguns produtos químicos, como os antibióticos, pode levar ao aparecimento de anemia hipoplástica com agranulocitose. Leucopenia Redução do numero de leucócitos circulantes. Ocorre em diversas situações e condições em que se encontra a ave. Nos casos de imunossupressão: há redução dos anticorpos porque as células estão incapazes de produzi-los, e apresentam com numero reduzido. Este fato acontece com os linfócitos em doença como bursite infeciosa das aves (doença de Gumboro). Diáteses Hemorrágicas São transtornos que se caracterizam por hemorragias espontâneas ou por traumatismos com hemorragias excessivas. As principais causas são: 1) Transtornos vasculares a- Purpura sintomática b- Purpura hemorrágica trombocitopênica c- Carência de vitamina C d- Purpura anafilática 2) Transtornos plaquetários (observados na trombocitopenia) 3) Transtornos da coagulação (doenças carências e lesões hepáticas) 4) Outras enfermidades hemorrágicas (intoxicações por micotoxinas produzidas em grãos com excessiva umidade) Macroscopicamente, as hemorragias podem apresentar na forma de pontos avermelhados, denominadas hemorragias petequiais, ou na forma de manchas chamadas hemorragias por sufusão. Insuficiência De Vitamina K Nos Pintinhos 23 Retarda a coagulação do sangue. Pintinhos alimentados com ração deficiente em vitamina K têm hemorragias graves. Macroscopicamente, são observadas manchas avermelhadas na região subcutânea, nas massas musculares e coágulos intraperitoneais. Anemia Infecciosa Das Aves Enfermidade infecciosa caracterizada por anemia aplástica. É causada por um vírus conhecido simplesmente por vírus da anemia infecciosa das aves. Secundariamente pode haver infecções por bactérias, fungos e outros vírus. Aves de todas as idades são suscetíveis ao vírus da anemia infecciosa das aves. A transmissão vertical se da por meio do ovo. A horizontal, pelo contato entre aves infectadas e sadias. As vias oral e respiratória são os meios de transmissão mais comuns, pois o vírus pode ser encontrado na agua, nos alimentos, na poeira e nas fezes. Clinicamente, a doença é caracterizada por anemia, hemorragia na pele e nos músculos. A medula óssea vermelha é quase toda substituída pela amarela. As aves infectadas verticalmente apresentam sintomas de depressão, perda de apetite e palidez. Aves infectadas horizontalmente podem não exibir nenhum sintoma. Macroscopicamente, o timo e a bolsa cloacal exibem acentuada hipotrofia. A medula óssea vermelha quase desaparece, dando lugar à medula óssea amarela, rica em tecido adiposo. Hemorragias são observadas na pele e nos músculos esquelético e cardíaco. O diagnostico pode se dar por meio de isolamento do vírus. Exames sorológicos como ELISA são apropriados. O controle se faz ao adquirir aves de fontes isentas da doença. Não há vacina liberada para o mercado. ALTERAÇÕES INFLAMATÓRIAS Osteomielite Processo inflamatório da medula óssea que por continuidade afeta o osso, o que a torna mais grave ainda. A principal via de contaminação é a hematógena, podendo haver causas por extensão direta, quando há osteíte infecciosa. As lesões podem ter caráter agudo e principalmente crônico. O diagnostico é difícil e o prognóstico é quase sempre desfavorável. 24 A Osteomielite provocada pelo Mycobacterium tuberculoses é o exemplo típico de uma enfermidade crônica que pode atingir a medula óssea, cujo prognostico é desfavorável. ALTERAÇÕES NEOLÁSICAS Leucose mielóide: principal neoplasia que atinge as células da medula óssea. Leucose Mieloide Trata-se de uma enfermidade neoplásica que atinge as células da medula óssea (mielócitos). É provocada pelo vírus da leucose aviária subgrupo J (VLA-J). Esse vírus pode ser transmitido tanto pela via vertical (de geração a geração) como pela via horizontal (por meio de excreções e secreções). O vírus já foi observado na maioria das aves comerciais da linhagem de corte. A doença ocorre em aves adultas, geralmente após a maturidade sexual. Macroscopicamente, as lesões se caracterizam por formação de nódulos nos ossos da pélvis, mandíbula, costelas, cabeça e esterno. Podendo ainda ser observadas em vísceras como: fígado, baço e rins. Microscopicamente, os núcleos dos mielócitos são bem corados em vermelho, apresentando uma cromatina densa, como mostra a Figura 31. Figura 31 – Fotomicrografia Núcleos dos mielócitos bem corados em vermelho, com cromatina densa O diagnóstico pode ser feito com segurança por meio do exame histopatológico. O prognóstico é desfavorável. O controle se faz, identificando e eliminando as aves portadoras do vírus. BAÇO 25 O baço é um órgão hemocitopoiético que desempenha papel fundamental na produção de linfócitos nas aves, uma vez que elas não apresentam linfonodos. Tem forma levemente oval e proporcionalmente é considerado um órgão grande. O baço é recoberto por uma capsula de tecido conjuntivo que possui fibras musculares lisas. O interior do baço é constituído por tecido mole, conhecido como polpa esplênica, de dois tipos: a polpa branca e a polpa vermelha. Microscopicamente, a polpa branca é formada por centro germinativo, constituída de uma arteríola com sua adventícia e grande quantidade de linfócitos. A polpa vermelha é formada de cordões vasculares anastomosados, separados por seios venosos. ALTERAÇÕES POST-MORTEM Hipóstase cadavérica Acumulo de sangue nas partes inferiores do órgão devido à ação da forca da gravidade, tornando-as de coloração vermelho escuro. Enfisema post-mortem Acúmulo de gases provenientes da fermentação bacteriana que se apodera do órgão principalmente naquelas áreas de maior acumula de sangue Pseudomelanose Pigmentação azulada, parda ou preta proveniente da ação das bactérias saprófitas que se apoderam do baço com a finalidade de nutrir-se de sangue, em especial naquelas áreas de hipóstase cadavérica.Macroscopicamente, as alterações post-mortem promovem um aumento de volume do baço, tornando-o mole e fofo, com ou sem a presença de gases. Ao corte, seu parênquima se desfaz como uma substancia gelatinosa. ALTERAÇÕES DO DESENVOLVIMENTO Asplenia Ausência de formação do baço (agenesia ou aplasia). Embora o baço não seja um órgão vital, sua ausência compromete o bom desempenho da ave, uma vez que a produção de linfócitos fica altamente prejudicada, pois as aves não possuem linfonodos. Baço supranumerário Presença de mais de um baço na mesma ave. É mais comum o chamado baço duplo. Baço rudimentar 26 Desenvolvimento incompleto do órgão (hipoplasia esplênica). 1. Ectopia esplênica Presença do órgão em locais diferentes do normal (distopias). ALTERAÇÕES ADQUIRIDAS Hipotrofia Redução do tamanho do baço em decorrência de vários fatores: nutricionais, fisiológicos e senis. Macroscopicamente, o órgão apresenta-se diminuído de tamanho e com a cápsula enrugada. Microscopicamente, os centros germinativos se apresentam com celularidade rarefeita. Amiloidose (infiltração amiloide) Distúrbio do metabolismo das proteínas que favorece a infiltração de uma substancia homogênea, vítrea e translúcida no interior da polpa branca. É o complexo antígeno anticorpo se precipitando nas doenças crônicas e autoimunes. Macroscopicamente, o baço apresenta-se aumentado de volume, salpicado de pontos esbranquiçados milimétricos que se aprofundam ao corte. Microscopicamente, verifica-se a presença de uma substancia homogênea corada em róseo pela hematoxilina e pela eosina, infiltrando-se entre as células e capilares dos centros germinativos do órgão. A Amiloidose tem como etiologia a precipitação do complexo antígeno e anticorpo. Isso faz com que se considere que o aparecimento dessa alteração pode ser mais frequente nas doenças crônicas, o que está comprovado. Mineralização Deposição de minerais, excepcionalmente o cálcio, que se faz presente com maior ocorrência na cápsula e nas trabéculas conjuntivas do baço. Trata-se de uma alteração que não provoca maiores transtornos, sendo observada, na maioria das vezes, durante a inspeção nos abatedouros (mais comum em bovinos). Esplenomegalia Aumento do tamanho do baço provocado por diferentes causas: hiperemia passiva por causas cardíacas; hiperplasia de folículos linfoides devido a doenças infecciosas; e neoplasias nos casos de leucose linfoide, leucose mieloide e enfermidade de Marek. 27 Os exames macroscópicos nestes casos são essenciais e outras vezes exigem exames microscópicos. ALTERAÇÕES CIRCULATÓRIAS Hiperemia ativa Acúmulo de sangue arterial nos vasos sanguíneos. Na maioria das vezes, é o prelúdio da inflamação aguda. Hiperemia passiva Acúmulo de sangue nos vasos sanguíneos venosos. Na maioria das vezes, é indicativo de insuficiência cardíaca. O baço exibe uma esplenomegalia denominada congestiva. Macroscopicamente, o órgão apresenta-se aumentado de volume, avermelhado e deixando fluir sangue ao corte. Microscopicamente, o sangue se acumula nos vasos sanguíneos venosos localizados na polpa vermelha. Há uma redução da polpa branca por compressão. Hemorragia Saída do sangue para fora do sistema cardiovascular. Quando ocorre por traumatismo, denomina-se hemorragia por diérese; quando ocorre por aumento da permeabilidade capilar, chama-se hemorragia por diapedese. As hemorragias por diérese ocorrem nos acidentes com aves em que há perfuração do baço. A consequência imediata é a formação de um hemoperitônio. As hemorragias por diapedese ocorrem nas doenças toxêmicas e septicêmicas, bem como nas bacteremias e viremias. ALTERAÇÕES INFLAMATÓRIAS Esplenite Termo empregado para identificar o processo inflamatório do baço. É de causa geralmente infecciosa e, na maioria das vezes acompanha os casos de peritonites. Assim sendo, tornam-se mais comuns as periesplenite por contiguidade, podendo fazer parte do quadro da colibacilose e da micoplasmose. ALTERAÇÕES NEOPLÁSICAS Neoplasias primárias mais importantes na polpa vermelha hemangioma e hemangiossarcoma. Neoplasias primárias na polpa branca 28 Ocorrem a partir dos linfócitos e fazem parte de um complexo de importantes enfermidades, como a leucose aviária e a doença de Marek. São os linfomas das aves. Este termo não é normalmente empregado, comum é o termo leucose, que ao pé da letra significa doença do linfócito. Esta denominação também é usada para os mamíferos, portanto se distingue quando se diz: leucose aviaria. Leucose Aviária Trata-se de um grupo de doenças infectocontagiosas causadas por retrovírus que induz à formação de tumores em galinhas e em outras espécies aviárias. O vírus da leucose aviária foi dividido em seis subgrupos (A, B, C, D, E e J), classificado pelo mecanismo natural de transmissão em vírus endógeno e exógeno, sendo os vírus exógenos (A,B e J) os de maior impacto econômico, pois se disseminam de forma vertical e horizontal, levando ao desenvolvimento de neoplasias, enquanto os subgrupos exógenos (C e D) e o subgrupo endógeno (E) são considerados não patogênicos. Nos últimos anos, foram obtidas linhagens de aves resistentes aos subgrupos A e B, mas levarão alguns anos para se conseguirem plantéis completamente livres do vírus do subgrupo J. Esse subgrupo é o responsável pela leucose mielóide. Os demais subgrupos patogênicos são responsáveis pela leucose linfoide. Leucose Linfoide Trata-se de uma enfermidade neoplásica caracterizada pelo aparecimento de nódulos esbranquiçados distribuídos nas principais vísceras das aves, causados pelo retrovírus (A e B) disseminado pelas vias: vertical e horizontal. A transmissão vertical consiste na passagem do vírus da mãe para o albume do ovo, contaminando o futuro embrião. Aves infectadas por essa via são mais susceptíveis ao desenvolvimento de neoplasias do que aquelas infectadas por via horizontal. As aves que apresentam viremia são aquelas com maior probabilidade de disseminação do vírus no ambiente e de transmissão para a prole. Galos que apresentam viremia podem transmitir o vírus por meio do sêmen, durante o acasalamento. Na transmissão horizontal, o vírus não sobrevive por muitas horas fora da ave. Assim sendo, a maneira mais eficaz de contagio é o contato direto. A infecção pelo vírus da leucose provoca imunossupressão, atingindo a produtividade, o rendimento, o crescimento, a resposta vacinal e ocasionando suscetibilidade a outras enfermidades. 29 Macroscopicamente, nódulos centimétricos são observados disseminados por todas as vísceras. Alguns são de coloração esbranquiçada, outros, acinzentadas. São nódulos firmes, porem friáveis, de tamanhos variados. Microscopicamente, as células neoplásicas são os linfócitos que apresentam certo grau de anaplasia, mas conservam sua forma. Esta uniformidade dos linfócitos na leucose linfoide é fundamental para distingui-la da enfermidade de Marek, onde os linfócitos apresentam pleomorfismo celular. São células maiores que o normal, mas com o núcleo hipercromático. Há presença de figuras de mitose, e são observadas apoptoses. O diagnostico da leucose linfoide pode ser realizado por meio do estudo histopatológico de fragmentos da neoplasia. A uniformidade das células neoplásicas é o fator mais importante na diferenciação com a doença de Marek. Algumas medidas preventivas de manejo minimizam o impacto da infecção pelo vírus. Entre elas podemos citar: 1. Estabelecimento de um adequado programa de vacinação contra a doença de Marek 2. Garantia de níveis elevados de imunidade materna contra o retrovírus, o vírus da doença infecciosa da bolsa e anemia infecciosa das aves, visando a reduzir ou atrasar os desafios de campo. 3. Controle da coccidiose aviária e de outras infestações parasitárias 4. Controle de qualidade do alimento 5. Ahigiene e a desinfecção são fatores críticos 6. Redução do estresse 7. Separação de população por idade e peso corporal 8. Estabelecimento de níveis nutricionais adequados 9. Troca frequente de agulhas durante a vacinação 10. Estabelecimento de uma relação macho/fêmea adequada 11. Utilização de espaço e equipamentos adequados Enfermidade De Marek A doença de Marek é uma enfermidade infecciosa caracterizada pela formação de tumores nos nervos, pele, baço, fígado, rim, ovários, testículos, olhos e demais vísceras. Segundo a localização das lesões, podemos classifica-la em três formas: visceral, cutânea e nervosa. 30 É causada pelo herpesvírus gallid com três sorotipos: o oncovírus (sorotipo1); o não oncogênico (sorotipo2); e o herpes vírus do peru (sorotipo3). A transmissão se da pelas vias respiratórias de aves infectadas. Algumas aves aparentemente normais podem transmitir por meio da pele por aproximadamente dezoito meses. Há transmissão vertical e horizontal. Alguns besouros pretos podem ser portadores do vírus. O período de incubação nunca é inferior a três ou quatro semanas. Nos quadros agudos, as aves apresentam severa depressão, descoordenação motora; e paralisia dos membros pélvicos (uni ou bilateral). Muitas aves morrem de sede e fome. Nos casos crônicos, há sempre paralisia de um ou dois membros pélvicos, podendo afetar asas e pescoço. A mortalidade é baixa, mas persistente de quatro a dez semanas. A enfermidade Marek na forma cutânea afeta a pele formando nódulos neoplásicos exatamente no folículo da pena. Assim provoca queda das destas, o que favorece a disseminação da doença pelo espalhamento do vírus por onde se encontrar uma pena oriunda de um folículo neoplásico. Esta forma é a mais importante do ponto de vista epidemiológico. Sua localização favorece a contaminação. A enfermidade de Marek na forma nervosa é denominada neurolinfomatose. Afeta os nervos ciático, braquial, vago e ótico. Quando atinge o nervo ciático provoca paralisia assimétrica do membro pélvico. Quando no nervo braquial provoca paralisia em uma das asas de forma assimétrica. No nervo vago além de torcicolo pode dificultar a respiração. No nervo ótico afeta a íris, deformando a pupila e comprometendo a visão da ave. Os nervos que se apresentam a neoplasia tornam-se espessos, rígidos e opacos. Macroscopicamente, os nervos atingidos sofrem espessamento e aumento das estriações e mudança de coloração, exibindo um tom de cinza ou amarelado. Todas as vísceras podem estar atingidas: gônadas, baço, coração, pulmão, fígado, rim, intestino, olho, bolsa cloacal, musculo e pele. Microscopicamente, o vírus atinge os linfócitos, que se tornam atípicos e exibem pleomorfismo: são observados linfócitos de várias formas como mostra a Figura 32. Eles são grandes e hipercromático, com o núcleo proeminente. Essa característica permite a diferenciação da enfermidade de Marek, uma vez que a leucose linfoide mostra células uniformes. 31 Figura 32 – Microfotografia de Mareck visceral. Notar pleomorfismo de linfócitos. O diagnostico se dá por meio da observação das lesões neoplásicas na pele, nervos e vísceras: macro e microscopicamente. O controle é feito por meio de vacinação, executada nas aves com um dia de vida dentro do incubatório. Em casos de surtos, um novo esquema pode ser efetuado. Trata-se da primeira vacina elaborada contra uma neoplasia: aqui começa a descoberta da cura das neoplasias, justa homenagem a Joseph Marek: um pesquisador Húngaro que a exemplo de Sigmund Freud e Adolfo Hitler foram pra Alemanha e mudaram a historia do universo. Marek, J não somente elaborou a primeira vacina contra o câncer, mas foi quem identificou a primeira causa como sendo de origem viral. Não se usa mais os epônimos para dar nomes nas identificações científicas. Penso que este epônimo é justo e histórico, o que se faz questão da sua permanência na literatura avícola e científica. Epônimo é o emprego de nomes de pessoas e lugares para nomear: células, órgãos e doenças. Um exemplo de uma localidade que é usada como nome de uma doença: doença de Newcastle, uma bela cidade localizada na Gram Bretanha. BOLSA CLOACAL A bolsa cloacal (Bolsa ou Bursa de Fabrício) é um órgão linfoide fundamental nas aves, que se localiza na região dorsal e anterior à cloaca, próxima ao proctodeu. Possui forma levemente arredondada e é facilmente identificável nas aves jovens. Durante o crescimento, a bolsa sofre hipotrofia progressiva, até seu completo desaparecimento, por volta de dez meses de idade. A parede da bolsa contem uma serosa e uma túnica muscular. A mucosa é bastante pregueada e cada prega contem vários folículos linfoides. O epitélio é constituído de células colunares modificadas. ALTERAÇÕES POST-MORTEM 32 Pseudomelanose Acúmulo de substancia de coloração azulada, parda ou preta na superfície da bolsa, proveniente da putrefação dos tecidos, onde há produção de sulfureto de hidrogênio, pelas bactérias saprófitas, que reage com o ferro liberado pela hemoglobina lizada, formando a substância denominada sulfureto ferroso. ALTERAÇÕES DO DESENVOLVIMENTO São as alterações congênitas Agenesia e aplasia da bolsa cloacal Ausência de formação do órgão. Raramente ocorre. Não há descrição na literatura consultada. Hipoplasia da bolsa cloacal Desenvolvimento incompleto da bolsa cloacal. ALTERAÇÕES ADQUIRIDAS Hipotrofia Da Bolsa Cloacal Diminuição do tamanho da bolsa. Essa alteração pode ser fisiológica e patológica. Hipotrofia Fisiológica Da Bolsa Cloacal Diminuição do tamanho da bolsa, que ocorre em todas as aves, à medida que caminham para a maturidade sexual. Hipotrofia Patológica Da Bolsa Cloacal Diminuição do tamanho da bolsa ocasionada por indução de algum agente nocivo. Alguns vírus e bactérias podem provocar essa alteração. Pode ocorrer hipotrofia da bola cloacal em determinado estagio da doença de Gumboro, que é uma bursite infecciosa viral. Degeneração Da Bolsa Cloacal Processo regressivo que ocorre nas células, caracterizado pelo comprometimento de suas organelas. É comum observar degeneração hidrópica no epitélio da bolsa cloacal, formando às vezes verdadeiro microcistos. Apoptose Na Bolsa Cloacal Morte programada de linfócitos que constituem os folículos da bolsa. É comum observar células apoptóticas nos casos de hipotrofia, degeneração e inflamação da bolsa. Estas células são identificadas por meio de suas granulações exibidas no núcleo. 33 Hipertrofia Da Bolsa Cloacal Aumento de tamanho do órgão. Geralmente esta associada à hiperplasia, que é o aumento do numero das células do órgão. Esses aumentos ocorrem principalmente na bursite infecciosa denominada doença de Gumboro ALTERAÇÕES CIRCULATÓRIAS Hiperemia ativa Aumento da quantidade de sangue arterial que ocorre na bolsa, geralmente no inicio de uma inflamação aguda. Hiperemia passiva Acúmulo de sangue venoso que se dá na bolsa quando há insuficiência cardíaca ou um bloqueio na circulação venosa local. Hemorragia Perda de sangue que ocorre na bolsa cloacal devido a lesões na parede vascular: por diérese: rexe e diabrose; por diapedese: hemorragias petequiais, sufusões e equimoses. Essas hemorragias são pontos e manchas avermelhados que por causas diversas estão presentes nas serosas, mucosas e folículos linfoides da bolsa. O melhor exemplo de hemorragia na bolsa cloacal é aquele que ocorre na doença de Gumboro. Edema Acúmulo de líquido plasmático que deixa a corrente sanguínea e vai para os tecidos da bolsa cloacal, conferindo-lhe um aumento de volume chamado de hipertrofia. É uma das manifestações importantes da doença de Gumboro. ALTERAÇÕES INFLAMATÓRIAS Bursites Reação inflamatória que ocorre na bolsa, devido principalmente à agressão de agentes biológicos. O destaque vai para o vírus da doença de Gumboro.Bursite Infecciosa Das Aves (Doença de Gumboro) A doença de Gumboro é uma bursite infecciosa viral aguda, altamente contagiosa, que acomete aves jovens, de ambos os sexos, nas quais a bolsa cloacal, órgão responsável pelo desenvolvimento do sistema imunológico das aves, é primariamente envolvida. A enfermidade tem sido identificada em muitas áreas de produção avícola em todo o mundo. É considerada uma das principais causas de imunossupressão, 34 provocando sérias perdas econômicas para a indústria avícola devido à mortalidade e aos efeitos negativos no desempenho dos plantéis, reduzindo o crescimento e aumentando as taxas de condenações de carcaças. A doença aumenta a susceptibilidade para infecções bacterianas, virais e por protozoários, diminuindo a eficiência da resposta vacinal. O vírus da doença de Gumboro pertence à família Birnaviridade (RNA), com dois sorotipos. É resistente a vários agentes químicos e muito estáveis no meio ambiente, o que explica sua persistência nos galpões, mesmo após procedimentos de limpeza. Fezes, água e ração contaminadas são importantes fontes de contaminação. Insetos, pássaros e roedores são vetores importantes. O besouro Alphitobius diaperinus pode servir como reservatório do vírus. A enfermidade apresenta duas formas: uma clinica e outra subclínica. A forma clinica é considerada clássica. Tem inicio súbito com período de incubação de dois a três dias. Acomete aves com três a seis semanas de idade. Apresenta alta mortalidade, depressão e morte. Quanto mais severa for a amostra viral, mais evidentes serão os sinais clínicos. A forma subclínica acomete aves com idade inferior a três semanas. É considerada a forma mais importante da doença devido à interferência no desenvolvimento do sistema imunológico, tornando as aves susceptíveis a diversos agentes infecciosos. Macroscopicamente, todos os órgãos linfoides estão afetados. A alteração principal e mais comum é hemorragia. A bolsa cloacal apresenta exsudato amarelo cobrindo a superfície serosa. Apresenta um aumento de volume, chegando a ficar duas vezes maior. Uma hiperemia ativa: bolsa cloacal avermelhada. A presença de hemorragia: pontos ou manchas avermelhados. Focos necróticos na mucosa: pontos esbranquiçados. Microscopicamente, há degeneração, apoptose e necrose dos linfócitos dos folículos linfoides, seguida de hiperemia, hemorragia e edema e havendo certa infiltração de plasmócitos, macrófagos e heterófilos. No final da doença, pode ser observada necrose difusa dos folículos, formação de cistos e proliferação de tecido conjuntivo fibroso. O diagnostico é feito por meio do isolamento do vírus da bolsa ou do baço e pela microscopia óptica observando as principais lesões. 35 O controle é feito por meio da higienização do ambiente e da vacinação efetiva. Vacinam-se os pintinhos com sete e quatorze dias. Quando eles possuem boa quantidade de anticorpos maternais, vacina-se com 14 e 21 dias. Em casos de surtos, é recomendado vacinar as matrizes mais de uma vez, a fim de conferir maior imunidade à prole. ALTERAÇÕES NEOPLÁSICAS Neoplasias primárias da bolsa cloacal: ocorrem nos linfócitos. A mais comum é a doença de Marek, neoplasia viral altamente maligna que afeta, além de outras vísceras, o nervo ciático, o vago, olhos e a pele. TIMO O timo é um órgão de natureza linfoide, situado em quase toda extensão do pescoço da ave. Consiste em um aglomerado denso de células redondas contidas em uma formação reticular. Trata-se de um órgão bem desenvolvido nas aves, que se distribui nos dois lados do pescoço e, mesmo sofrendo certa regressão (hipotrofia) na medida em que a ave sofre maturidade, ele permanece grande, de fácil localização e identificação macroscópica. É um importante produtor de linfócitos, desempenhando papel fundamental na imunidade das aves. Discretas hemorragias são observadas nos casos de septicemias, toxemias, viremias e bacteremias. Grandes hemorragias são verificadas nos traumatismos. Não são comuns as alterações inflamatórias do timo, podendo fazer parte de alguma infecção geral. As neoplasias primárias do timo são aquelas que atingem os linfócitos. O destaque vai para a doença de Marek, controlada por vacinação sistemática das aves. EM OUTRAS PALAVRAS... O sistema hemocitopoiético das aves representa um papel fundamental para a manutenção da imunológica frente aos diferentes desafios. As aves não possui linfonodos, mas em compensação, possui a bolsa cloacal, de extrema importância, que divide suas funções com o baço, um órgão fundamental no diagnóstico de inúmeras enfermidades, como Marek, leucose e outras. São elas as principais neoplasias de origem viral que acometem as aves. 36 Toda necropsia que revelar uma esplenomegalia sugere a coleta de fragmentos do baço para posterior exame histopatológico. Uma das mais graves enfermidades dos últimos tempos é a chamada bursite infecciosa (Gumboro) que acomete aves jovens e adultas provocando uma imunodepressão capaz de abrir as portas para outras enfermidades. A bolsa cloacal (Bursa de Fabrício) pode estar diminuída ou aumentada de volume. O exame histopatológico permite um diagnostico seguro. O timo é um órgão bem desenvolvido que se localiza nos dois lados do pescoço e é fácil identificação. Trata-se de um importante produtor de linfócitos. CONSULTA RÁPIDA 1. Tipos de medula óssea Existem dois tipos de medula óssea: uma vermelha devido ao grande número de hemácias, e outra amarela, rica em tecido adiposo. 2. Conceito de heterófilos Os heterófilos são polimorfos nucleares que correspondem aos neutrófilos dos mamíferos. 3. Conceito de leucocitose Leucocitose é o aumento do numero de leucócitos. 4. Conceito de anemia infecciosa das aves A anemia infecciosa das aves é uma enfermidade infecciosa caracterizada por anemia aplástica, hipotrofia linfoide e imunodepressão. 5. Sobre apoptose na bolsa cloacal Apoptose na bolsa cloacal é a morte programada de linfócitos nos casos de hipotrofia, degeneração e inflamação da bolsa. LEITURA RECOMENDADA BENEZ, S. M. AVES: Criação-Teoria-Prática. Silvestres-ornamentais-avinhados. 4ª Ed, Tecmedd, Ribeirão Preto SP, 2014. 600p. 37 SISTEMA URINÁRIO O sistema urinário é constituído pelos rins e ureteres que desembocam na cloaca num orifício denominado Urodeu. Aves não possuem bexiga. RINS Os rins das aves são constituídos por lobos craniais, mediais e caudais. Cada lobo contem vários lóbulos e cada lóbulo é formado pelos néfrons, que representam a unidade funcional dos rins. ALTERAÇÕES POST-MORTEM Pseudomelanose Impregnação de uma substancia denominado sulfureto ferroso, produzida pela bactéria da putrefação em combinação com o ferro da hemoglobina, resultando em uma coloração azulada ou parda nas partes em que se acumula sangue no parênquima renal. Microscopicamente, é possível verificar os vários graus da autólise e da putrefação. O desprendimento das células do epitélio dos túbulos é o primeiro sinal, no qual o resultado é o desaparecimento primeiro do núcleo e finalmente do citoplasma. Nos casos de putrefação, é possível observar a presença de bastonetes simbolizando a invasão de bactérias saprófitas. ALTERAÇÕES DO DESENVOLVIMENTO Agenesia e aplasia Alterações em que não há formação significativa do órgão. Podem ser uni ou bilateral, os pintinhos não conseguem desenvolver-se completamente e acabam morrendo ainda na fase embrionária. Quando unilateral, a ave pode sobreviver e até mesmo passar despercebida. Hipoplasia renal Desenvolvimento incompleto do órgão, podendo ser induzido por infecções virais. O melhor exemplo ocorre com amostras nefrotóxicas do vírus da bronquite infecciosa. Macroscopicamente, o rim apresenta-se diminuído de volume e com consistência firme. Microscopicamente, observa-se um numero reduzido de néfrons.Cistos renais 38 Coleções encapsuladas de liquido citrino que se apresentam em diversos tamanhos e números. Quando se observam mais de um cisto, denomina-se rim policístico. A etiologia varia entre as causas congênitas e adquiridas. Não é raro verificar casos de rim policístico em aves, após inflamação renal. ALTERAÇÕES ADQUIRIDA Hipotrofia Renal Redução do tamanho do órgão. As causas estão relacionadas com certas injurias no parênquima, como é o caso de nefrites, nefroses, neoplasias e até mesmo uma desidratação grave. É bom lembrar que nos casos comuns de restrição hídrica ocorre desidratação e os rins aumentam de volume na tentativa de funcionar com mais néfrons e menos sangue circulante, então ocorre hipertrofia renal. ALTERAÇÕES CIRCULATÓRIAS Hiperemia ativa Quando ocorre maior afluxo de sangue para o órgão. Nesse caso, os rins se apresentam avermelhados. Hiperemia passiva Quando a drenagem venosa fica prejudicada, seja por causas locais ou gerais. As causas locais são as obstruções (trombose e embolia) e as causas gerais são as insuficiências cardíacas. Macroscopicamente, os rins apresentam-se com coloração vermelho azulado. Hemorragias Podem ocorrer por diérese ou diapedese. A etiologia relaciona-se diretamente com a intensidade: grandes hemorragias costumam ocorrer por traumatismo (diérese); hemorragias pequenas são do tipo petequial, sufusão e equimose, provocadas principalmente por vírus. ALTERAÇÕES DEGENERATIVAS Nefroses Processo degenerativo do rim, com destaque para os túbulos, que são constituídos por células nobres que degeneram diante de alterações inflamatórias e metabólicas provocadas por intoxicações diversas. Os pesticidas e as micotoxinas são muito importantes como causa de nefroses. 39 As principais nefroses são: degeneração turva, degeneração hidrópica, degeneração hialina (cilindros hialinos), amiloidose e necrose tubular. Algumas causas são emergentes e fazem parte do manejo inadequado, como privação de água e uso prolongado de antibióticos e sulfas (gentamicina e sulfonamida). Macroscopicamente, os rins apresentam-se aumentados de volume e pálidos. Microscopicamente, na degeneração turva, as células do epitélio tubular aumentam de volume e perdem o contorno. Na degeneração hidrópica, há presença de gotículas no citoplasma das células. Na degeneração hialina epitelial, os cilindros hialinos são vistos corados em róseo, no interior dos túbulos. A substância amiloide (amiloidose) se infiltra entre as células e os capilares, com uma estrutura homogênea, corada em róseo. Na necrose há picnose, cariorrexe e cariólise. Picnose é a condensação do núcleo. Cariorrexe é a fragmentação. Cariólise é a lise, com o desaparecimento do mesmo. Gota É um distúrbio do metabolismo das proteínas caracterizado pela deposição de cristais de uratos de sódio e cálcio nas articulações, nas membranas serosas, nos rins e nos ureteres, devido o excesso de ácido úrico. A forma comum nas aves é a gota visceral (galinhas poedeiras comerciais e frangos de corte alimentados com dieta de elevado nível proteico). Fatores predisponentes: a hereditariedade tem sido observada por meio da seleção genética em sucessivas gerações de galinhas poedeiras comerciais, obtendo duas linhagens: uma caracterizada por hiperuracemia (altos níveis de ácido úrico no sangue) e outra por normauracemia (níveis normais de acido úrico no sangue). Variações de temperatura influenciam na quantidade de alimento consumida e no ácido úrico excretado. Insuficiência de vitamina A é um fator consideravelmente importante. Restrição hídrica predispõe o aparecimento de cristais de ácido úrico nos ureteres. Macroscopicamente, todas as serosas (pleura, pericárdio peritônio) que revertem as principais vísceras como: coração, fígado, baço e rins, estão cobertas por uma substancia branca semelhante ao gesso ou simplesmente pó de giz, que é conhecida como “Tofo”. Microscopicamente, o tofo gotoso aparece em forma de leque de forma radiada, depositada nas serosas. São cristais com aparência de agulhas que provocam uma reação degenerativa e inflamatória em torno de si mesmos. 40 Aves silvestres em cativeiro podem apresentar gota. A etiologia pode estar relacionada com insuficiência de vitamina A e intoxicação por bicabornato de sódio. É provável que as aves de rapina em cativeiro coma mais que as que estão na natureza: lá elas não encontram comida regularmente. As de cativeiros recebem alimentação com hora marcada, procurando dar a mais adequada como: ratos e pintinhos. Assim elas acabam tendo excesso de proteína, o que provoca alta de acido úrico no sangue e finalmente deposito de uratos de cálcio e sódio nas serosas, caracterizando o quadro de gota visceral. Hidronefrose É a retenção de urina nos ureteres e na pelve. O excesso de urina projeta-se contra o parênquima renal, comprimindo-o. Nos casos extremos, há destruição do rim, com formação de um enorme cisto repleto de urina. Pode ocorrer nos casos de gota, devido à obstrução dos ureteres pelo deposito de ácido úrico. A Hidronefrose é geralmente unilateral. ALTERAÇÕES INFLAMATÓRIAS Nefrite Inflamação do rim de um modo geral. Sua classificação se faz pela localização das lesões, em: glomerulite, nefrite intestinal, pielite, pielonefrite, nefrite granulomatosa glomerulonefrite. Glomerulite É a inflamação dos glomérulos, onde há invasão de células inflamatórias, com destaque para as mononucleares. Na glomerulite, os rins estão aumentados de volume, podendo estar avermelhados ou até pálidos. Geralmente, há degeneração hidrópica das células glomerulares. A glomerulite aparece no decurso de alguma enfermidade bacteriana ou viral. Glomerulonefrite É a inflamação dos glomérulos e do interstício renal, podendo apresentar exsudato seroso ou serofibrinoso. Macroscopicamente, os rins estão aumentados de volume e podem apresentar manchas avermelhadas. Há casos de nefrose colêmica quando associada a lesões hepáticas, o que é comum nas aflatoxicoses. A nefrose colêmica ocorre devida ao excesso de pigmento que é eliminado pelo rim. Isto ocorre nas icterícias. Neste que caso os rins apresentam-se com aspecto bronzeado. 41 Microscopicamente, degeneração turva e degeneração hidrópica estão presentes principalmente nos túbulos renais. Na primeira as células apresentam-se aumentadas de volume e com os detalhes levemente apagados. No segundo há gotículas de líquidos intracitoplasmáticas. Nefrite Intestinal É a inflamação do interstício renal, cuja reação é predominante mononuclear: linfócitos e plasmócitos. Ela pode ser classificada em nefrite intersticial difusa ou focal. A forma focal é mais comum e aparece no decurso de algumas enfermidades como a salmonelose e colibacilose. Macroscopicamente, os rins estão aumentados de volume nas fases aguda e subaguda, mas diminuídos na fase crônica. Microscopicamente, há a invasão de leucócitos com predomínio dos heterofilos nas fases agudas e destaque dos mononucleares linfócitos e plasmócitos na fase crônica. A presença de urato de sódio e cálcio é observada na maioria dos casos de nefrite intestinal, seja ela focal ou difusa, aguda ou crônica. Pielite É a inflamação da pelve renal. A principal via é a ascendente. Pode haver retenção de uratos nos ureteres e acumulo de liquido na pelve renal provocando hidronefrose. Há presença de células inflamatórias do tipo heterófilos e mononucleares linfócitos e plasmócitos, conforme o agente infeccioso. Pielonefrite É a inflamação da pelve e do interstício renal. A principal via é a ascendente. Não é comum nas aves. A pielonefrite pode ser uma evolução da pielite. Elas ocorrem no decurso de varias enfermidades de origem bacteriana e viral. Quando isto acontece agrava de forma definitiva o quadro nosológico da ave. Macroscopicamente, os rinsencontram-se aumentados de volume e avermelhados nos casos agudos. Nos crônicos estão diminuídos, podendo estar vermelhos ou pálidos, dependendo da evolução do caso. Nefrite Granulomatosa É uma inflamação crônica nodular, especifica cujas células reagentes pertencem ao sistema monocítico fagocitário. As causas são as mais diversas. Nos patos e gansos, incrimina-se a Eimeria truncata como importante agente etiológico da nefrite granulomatosa nestas duas espécies avícolas. 42 Macroscopicamente, os rins apresentam-se pálidos, aumentados de volume e com nodulações milimétricas. Microscopicamente, observa-se dilatação tubular e invasão de coccídeos em diferentes fases de desenvolvimento. Há destruição epitelial e necrose dos túbulos renais, invasão de células como: linfócitos, plasmócitos, macrófagos e células gigantes tipo corpo estranho, podendo ocorrer acúmulo de cristais de uratos de sódio e cálcio. ALTERAÇÕES NEOPLÁSICAS Nefroblastomas Afeta as células dos néfrons. Observados geralmente na forma cística unilateral. As neoplasias renais de maior ocorrência nas aves são aquelas provenientes dos linfomas, tais como: leucose linfoide e enfermidade de Marek, além da leucose mieloide que também pode afetar os rins. EM OUTRAS PALAVRAS... Sabe-se que os rins das aves, proporcionalmente, são maiores que os outros órgãos e estão aderidos aos ossos da coluna vertebral (sinsacro). Os rins têm a função de filtrar toda a impureza do sangue, eliminando-a por meio da urina. Aves que apresentam os rins aumentados de volume sugerem desidratação, podendo ocorrer por falta de água. Algumas vezes ocorre por distribuição inadequada deste precioso liquido ao plantel. As nefroses acompanham as nefrites, porque as células dos túbulos renais são nobres; células nobres não inflamam, degeneram. A presença de uratos de cálcio é comum nos ureteres, que se apresentam com manchas brancas, desde os rins até a cloaca. Isso significa gota visceral, uma alteração comum nas aves, principalmente quando há excesso de aminoácidos na ração. A Eimeria truncata provoca uma nefrite granulomatosa caracterizada por nodulações no parênquima renal. O vírus da doença de Marek é o grande responsável pelas neoplasias renais. Se a neoplasia for cística, o destaque vai para o nefroblastoma. CONSULTA RÁPIDA 6. Quantos são os lobos dos rins das aves São três lobos: craniais, mediais e caudais. 43 7. Conceitue cistos renais Cistos renais são coleções encapsuladas de liquido citrino, circunscritos e bem delimitados. 8. Conceitue hidronefrose Hidronefrose é o resultado da retenção de urina por meio da obstrução dos ureteres, levando a completa destruição do parênquima renal devido ao excesso de liquido acumulado. 9. Conceitue gota Gota é um distúrbio do metabolismo das proteínas caracterizado pela deposição de cristais de uratos nas serosas e ureteres da ave. 10. Conceitue nefrite granulomatosa Nefrite granulomatosa é um processo inflamatório crônico nodular, especifico cujas células reagentes pertencem ao sistema monocítico fagocitário. 44 SISTEMA GENITAL MASCULINO O sistema genital masculino| constituído por testículos, epidídimos, ductos deferentes e falo. TESTÍCULOS São gônadas localizadas na cavidade abdominal, ventralmente ao lobo cranial de cada rim. São revestidos por uma túnica denominada albugínea. Constituídos pelos túbulos seminíferos e pelo interstício. Os túbulos seminíferos são revestidos pelas espermatogônias e sustentados pelas células de Sertoli. O interstício é formado de vasos sanguíneos, tecido conjuntivo discreto e células intersticiais de Leydig. ALTERAÇÕES POST- MORTEM Autólise Autodigestão das células pelas suas enzimas autolíticas. Estas enzimas estão contidas no interior de lisossomos. Durante a morte somática com o cessar da circulação sanguínea, falta o oxigênio: este é o sinal para que os lisossomos liberem as enzimas e inicia-se o processo de autodigestão celular conhecido por autólise. Este mecanismo ocorre rapidamente nas células testiculares, em especial nas do epitélio dos túbulos seminíferos: as espermatogônias. ALTERAÇÕES DO DESENVOLVIMENTO Agenesia Ausência de formação dos testículos. Pode ser uni ou bilateral. Aplasia Ausência de formação dos testículos. Pode ser uni ou bilateral. A diferença entre agenesia e aplasia é que, nessa última, há um resquício de formação do órgão. Hipoplasia Desenvolvimento incompleto do testículo, podendo apresentar vários graus: leve, moderado e severo. Nos graus leve e moderado, o testículo pode apresentar espermatogônias, mas nos casos severos não há espermatogênese e a ave é infértil. Essa alteração pode estar ligada a um gene dominante incompleto. 45 ALTERAÇÕES DEGENERATIVAS Degeneração Testicular Quadro degenerativo que vai desde uma simples degeneração hidrópica até uma necrose dos túbulos seminíferos. As causas podem ser indiretas, uma vez que doenças infecciosas ou toxêmicas podem promover uma degeneração testicular. Qualquer desconforto provocado na ave frente a uma gônada tão sensível e exigente como o testículo serve como etiologia nas degenerações. Macroscopicamente, os testículos podem estar aumentados de volume e amolecidos quando na fase aguda. Na fase crônica, eles se apresentam diminuídos de volume e com consistência firme por causa do aumento relativo do estroma testicular. Microscopicamente, inicia-se com uma degeneração hidrópica dos túbulos seminíferos caracterizada pela presença de vacúolos contidos no citoplasma das espermatogônias. A presença de células gigantes multinucleares vistas no interior dos túbulos é indicativo de um quadro grave de degeneração testicular. Podem ser observadas picnose, cariorrexe e cariólise das espermatogônias e invasão de tecido conjuntivo fibroso, caracterizando uma alteração crônica. ALTERAÇÕES INFLAMATÓRIAS Orquite ou testiculite Termos empregados para designar inflamação do testículo. Quanto ao curso, pode ser classificado em aguda e crônica. Na fase aguda, o testículo apresenta-se diminuído de volume, com consistência firme e túnica albugínea aderida, espessa e rugosa. Microscopicamente, a orquite é caracterizada por hiperemia, invasão de células inflamatórias (linfócitos e heterofilos), principalmente como focos no interstício. A orquite crônica é caracterizada pela invasão de tecido conjuntivo fibroso do interstício para os túbulos seminíferos. Em ambos os casos, há sempre degeneração testicular, em graus variados, dependendo da intensidade da inflamação. Pode ocorrer redução da fertilidade e espermiostase. Casos de peritonite provocada por diferentes agentes, entre eles a Salmonella spp pode por extensão direta, provocar inicialmente uma periorquite, que se aprofunda até o parênquima testicular e constitui uma orquite difusa. 46 ALTERAÇÕES NEOPLÁSICAS Neoplasias primárias do testículo: seminoma, leydigocitoma, sertolioma e teratoma. Dentre estes, os mais comuns são os seminomas e teratomas. Embora a ocorrência destes seja esporádica. A identificação macroscópica pode ser feita por meio do aparecimento de nódulos na superfície do órgão ou fazendo saliência ao corte. Microscopicamente, cada célula neoplásica relembra sua célula de origem, sejam as células intersticiais Leydig, de Sertoli ou as espermatogônias do epitélio dos túbulos seminíferos. No caso dos teratomas, pode haver formação de tecido estranho ao órgão, como: cartilagem, osso, tecido epitelial, tecido linfoide, fibras musculares e cavidades císticas, entre outros. EPIDÍDIMO O epidídimo é estrutura tubular simples e discreta nas aves. Poucas são as alterações observadas, sendo uma delas as epididimites. ALTERAÇÕES INFLAMATORIAS Epididimite Processo inflamatório do epidídimo, em geral associado à orquite. Trata-se de uma lesão discretae difícil de ser observada macroscopicamente. Todavia, o infiltrado inflamatório pode ser visto ao microscópio óptico, que geralmente é focal e constituído por linfócitos e plasmócitos. Na epididimite aguda, observa-se hiperemia, linfócitos e heterófilos. Na epididimite crônica, há sempre invasão de tecido conjuntivo fibroso, além das células inflamatórias. Uma das formas crônicas que pode ocorrer é quando há rompimento da membrana basal e extravasamento de espermatozoides para o interstício. Nesse caso, forma-se então uma epididimite granulomatosa caracterizada pela presença das células do sistema monocítico fagocitário. EM OUTRAS PALAVRAS... O sistema genital masculino das aves é constituído pelos testículos, epidídimos, ductos deferentes e falo. 47 É importante lembrar que os testículos das aves estão localizados no abdome. A refrigeração é feita por meio dos sacos aéreos abdominais. O falo é uma estrutura minúscula e quase imperceptível. Das alterações testiculares, o destaque vai para a Hipoplasia, degeneração, Orquite e neoplasias. O epidídimo apresenta poucos problemas, a não ser uma epididimite, o que também é raro. CONSULTA RÁPIDA 1. Conceitue falo Falo é o órgão copulador das aves, similar ao pênis dos mamíferos, de difícil visualização. 2. Como é feito a refrigeração dos testículos das aves Os testículos das aves são refrigerados pelos sacos aéreos abdominais. 3. Conceitue orquite Orquite é um processo inflamatório dos testículos. 4. Conceitue hipoplasia testicular Hipoplasia testicular é o desenvolvimento incompleto do órgão. 5. Cite quatro neoplasias testiculares Seminoma, sertolioma, leydigocitoma e teratoma. 48 SISTEMA GENITAL FEMININO O sistema genital feminino das aves apresenta significativas alterações, quando comparado com o mesmo sistema nos mamíferos. É constituído por oviduto e o ovário esquerdo. OVIDUTO Trata-se um complexo estrutural formado por: infundíbulo, magno, istmo, útero e vagina, por onde passa o ovo e principalmente onde se desenvolve. Nas galinhas, o oviduto mede cerca de setenta centímetros de comprimento. O tempo necessário para se formar um ovo a partir do momento em que ele sai do ovário e entra no oviduto pelo infundíbulo são aproximadamente vinte e quatro horas. Para formar a casca com suas membras que envolvem a gema e a clara, são necessárias vinte e uma hora. Tudo isto ocorre no istmo e no útero. A deposição de cálcio se da exatamente no útero, onde o ovo permanece por quatorze horas aproximadamente. Por esta razão uma galinha só pode botar um ovo por dia. Quando isto ocorre por um período longo considera-se o máximo da eficiência. Há casos em que matrizes pesadas (produção de frangos de corte) chegam botar um ovo por dia durante dez semanas consecutivas. ALTERAÇÕES POST-MORTEM O sistema genital das aves, assim como todas as vísceras que estão contidas na cavidade celômica, apresenta rapidamente certo grau de autólise e putrefação. A presença de penas dificulta a perda de calor e, portanto permite que a bactérias saprófitas invadam os órgãos e promovam a putrefação. A coloração azulada indica a formação de pseudomelanose: sulfureto de hidrogênio das bactérias mais o ferro da hemoglobina. ALTERAÇÕES DO DESENVOLVIMENTO Agenesia do oviduto É rara. Seria ausência de formação do órgão Atresia do oviduto Fechamento completo do lume impedindo a passagem do ovo. Aplasia segmentar pode ocorrer falha na formação do seguimento tubular do oviduto. 49 Hipoplasia do oviduto Desenvolvimento incompleto do órgão, propiciando um lume mais estreito para o oviduto. Persistência do oviduto direito Representada pela presença de cistos com conteúdo fluido, incolor, devido ao acúmulo de secreção no lume do conduto de Mueller ( resquício embrionário do oviduto direito). ALTERAÇÕES CIRCULATORIAS Hiperemia ativa Pode ser fisiológica e patológica. A fisiológica ocorre durante a movimentação da postura. A patológica nos casos de inflamação do oviduto. Pode ser observado de forma isolada, mas o mais comum é estar associado a determinadas enfermidades tais como: salmonelose e pasteurelose. Hiperemia passiva Nos casos de insuficiência circulatória do órgão ou sistêmica. Hemorragia Comum nas doenças sistêmicas como: salmonelose e pasteurelose. Há uma bacteremias ou uma septicemia que leva o aparecimento de hemorragia do tipo petequial, sufusão e equimose. Pode haver hemorragia por diérese quando a ave bota um ovo muito grande: ocorre um traumatismo da mucosa do órgão. Micotoxicose, pulorose e doença de Newcastle são exemplos de enfermidades que podem provocar hemorragia no oviduto. Edema Nas doenças sistemas e na hipovitaminose E. ALTERAÇÕES DEGENERATIVAS São raros os processos degenerativos do oviduto podendo ocorrer alguns casos de mucometra: excesso de formação de muco principalmente na porção do útero. Ocorre nos casos de micotoxicose por zearalenona e bronquite infeciosa das aves. ALTERAÇÕES INFLAMATORIAS Salpingite A inflamação do oviduto corresponde a uma salpingite dos mamíferos. As bactérias são os principais agentes infeciosos, que podem atingir o oviduto por meio dos 50 sacos aéreos abdominais e por via ascendentes partido da cloaca. É relativamente comum por estar associada na maioria das vezes a doenças infecciosas sistêmicas como é o caso de salmonelose, pasteurelose, bronquite infeciosa das aves, doença de Newcastle, laringotraqueite, síndrome da queda de postura e influenza. Macroscopicamente, o oviduto se espessa e altera sua coloração, que pode variar entre um cinza escuro até vermelho azulado. Geralmente apresenta-se repleto de exsudato necrótico, fibrinoso ou simplesmente necrofibrinoso. Microscopicamente, há invasão de bactérias e infiltração de heterofilos e mononucleares linfócitos e plasmócitos, além da presença de células mortas. Diagnostico se faz pelo exame macro e microscópico do órgão. Clinicamente, as aves param de botar e podem desenvolver um quadro de peritonite. Os principais sinais clínicos são de uma ave que se apresenta com a cabeça em pé e a cauda voltada para baixo, se assemelhando a um pinguim. Postura Abdominal Trata-se de falsa poedeira: ela bota dentro da cavidade celômica. É uma alteração relativamente comum nas galinhas em alta produção. Pode ocorrer acidentalmente e induzido por alguma enfermidade sistema que afeta o sistema genital feminino, tais como salmonelose e pasteurelose. Os sinais clínicos relacionam-se com o andar da ave e a posição do corpo inclinado para traz. Assemelha-se a um pinguim. Macroscopicamente, são observados ovos mumificados e envolvidos com uma camada de fibrina. Há relato de aves com vários ovos na cavidade celômica, promovendo dilatação abdominal na ave. Controle: há como reduzir esta alteração coibindo o excesso de alimentação, não permitindo que ave aumente a quantidade de tecido adiposo e dificulte a postura. E ainda, fazer um bom manejo sanitário, evitando assim determinadas doenças que possam contribuir para o aparecimento desta alteração. Síndrome Da Queda De Postura (EDS-76: Egg Drop síndrome) Trata-se de uma enfermidade infeciosa causada pelo vírus EDS-76, um adenovírus. Afeta galinhas na fase de postura, provocando queda na produção e alteração na qualidade da casca e nas partes interna do ovo. A principal via de contaminação é vertical por meio de reprodutoras infectadas. A transmissão horizontal pode ocorrer de forma lenta. 51 Clinicamente, as aves podem apresentar diarreia severa na fase de crescimento (15 a 25 semanas). Na fase de postura, as aves apresentam sonolentas e há queda na postura por tempo entorno de oito semanas, diminuindo o consumo de ração. Os ovos apresentam-se deformados com a casca fina, às vezes sem casca, outras vezes com casca descorada, com redução do peso, dotamanho e excesso de calcificação. Macroscopicamente, as lesões se restringem ao útero, que se representa hipotrofiado e com o ovário inativo, além da presença de ovócitos na cavidade abdominal. Microscopicamente, há degeneração e descamação do epitélio uterino. Alterações nas glândulas tubulares, degeneração e necrose. Infiltração de células mononucleares e heterofilos. Fibroplasia da lâmina própria do epitélio. O diagnóstico pode se dar por meio de isolamento e cultivo do vírus em ovos de aves livres do vírus EDS-76. Patos e ganso são livres deste vírus. O controle é feito eliminando as reprodutoras contaminadas. O uso da vacina com 18 semanas de vida é suficiente para imunizar as aves durante a vida produtiva. ALTERAÇÕES NEOPLÁSICAS Leiomioma, leiomiossarcoma são neoplasias benigna e maligna do musculo liso respectivamente. Fibroma e fibrossarcoma são neoplasias benignas e malignas do tecido conjuntivo respectivamente. Carcinoma leucomiomatoso e carcinoma peritoneal das aves. Carcinoma Peritoneal Das Aves É uma neoplasia maligna que se apresenta na forma de nódulos brancos de consistência firme, localizados na serosa abdominal. A ave acometida apresenta letargia e ascite. OVÁRIO As aves possuem unicamente o ovário esquerdo. Apresenta-se fixo entre o pulmão e o rim esquerdo. Os ovócitos se apresentam fixados externamente ao estroma ovariano como num desenho de um cacho de uvas. São estruturas milimétricas esferoidais de coloração amarelo pálido que se acentua assim que começa desenvolver. O ovário de uma ave em reprodução possui uma hierarquia folicular contendo quatro 52 categorias: folículos pequenos brancos, grandes brancos, pequenos amarelos e folículos F1, F2, F3. ALTERAÇÕES POST-MORTEM Agenesia Ausência de formação de um órgão. As aves apresentam agenesia do ovário direito. Portanto há formação de somente de um oviduto correspondendo ao ovário esquerdo. Cistos Presença de cistos ovarianos é comum tanto os congênitos, quanto os adquiridos. Macroscopicamente podem medir de um milímetro até cinco centímetros no geral. As causas ocasionalmente são hormonais. São estruturas arredondadas com conteúdo aquoso e parede delgada constituída de tecido conjuntivo e epitélio simples. É comum encontrar em ovários ativos pequenos cistos localizados no estroma ou na teca de folículos em desenvolvimento. ALTERAÇÕES CIRCULATORIAS Hiperemia ativa Presente nas ooforites. Os ovócitos apresentam-se avermelhados. Pode ser observado nos folículos em involução ou parada da maturação folicular; ruptura da teca e presença de vitelo na cavidade abdominal; distúrbios metabólicos; falta de água e processo inflamatório agudo. Hiperemia passiva Presentes na insuficiência circulatória geral. Os ovócitos apresentam avermelho azulados. Hemorragia Comum hemorragia nos casos de salmonelose e pasteurelose. Os ovários apresentam-se intensamente avermelhados como se fosse uma pintura. Estas hemorragias são do tipo diapedese: petequial, sufusão e equimose, causadas por bacteremia e septicemia nos casos das enfermidades acima citadas. Edema: acompanham os processos inflamatórios do ovário. ALTERAÇÕES DEGENERATIVAS Degeneração Dos Ovócitos 53 Ovócitos podem degenerar-se espontaneamente em qualquer fase reprodutiva da ave, especialmente no final da postura ocorrem torna-se comum. Macroscopicamente, os ovócitos apresentam-se diminuídos de volume, se enrugando e finalmente são invadidos por tecido conjuntivo fibroso. Microscopicamente, observa-se resto de gema que é invadida por tecido conjuntivo fibroso. ALTERAÇÕES INFLAMATÓRIAS Ooforites As ooforites são comuns em aves em plena postura. Geralmente acompanha os casos de enfermidades sistêmicas. Os melhores exemplos são: salmonelose e pasteurelose. A presença de óvulos degenerados, deformados, pedunculados e de aspecto cozido, na cavidade celômica , pode indicar outra enfermidades tais como: pulorose, Newcastle, influenza aviária, e pasteurelose. Macroscopicamente, o ovário apresenta-se avermelhado, ou com manchas avermelhadas e deformado. Há casos em que a deformação é tão expressiva que o ovário torna-se irreconhecível. Microscopicamente, observa-se hiperemia, hemorragia, invasão de células inflamatórias: heterofilos, linfócitos e plasmócitos, além de resto de gema. Falsa Poedeira São geralmente aves obesas, que apresentam ovário e oviduto normais, porem dom a gema fluida ou liquefeita que chega ao peritônio devido à falha no infundíbulo em coletar o ovócito. A principal causa é incriminada a bronquite infeciosa das aves. Ovo Entalado É aquele ovo grande e arredondado que tem dificuldade em deslizar-se pelo oviduto e acaba entalado na vagina ou na cloaca; as principais causas são: paralisia muscular e processo inflamatório do oviduto. Síndrome Da Queda De Postura Síndrome da queda de postura também chamada EDS-76 (Egg Drop Síndrome). Trata-se de uma doença infectocontagiosa de ocorrência mundial. Afeta galinhas na fase de postura provocando acentuada queda na produção de ovos. A qualidade interna e externa do ovo é comprometida. O primeiro relato da doença foi na Irlanda do Norte (1976). No Brasil, aves oriundas do Rio Grande do Sul, que receberam vacina contra a 54 doença de Marek produzidas em fibroblastos em embrião de pato, são apontadas como o primeiro caso diagnosticado em 1976. A etiologia é um Adenovírus. Os hospedeiros naturais são os patos, e gansos domésticos e selvagens. A principal via de transmissão é a vertical. A horizontal é lenta, ocorre por meio da cama contaminada pelas fezes de aves doentes. Sinais clínicos são observados inicialmente pela queda de 10 a 30% na postura. A diarreia é o grande sinal. Há casos de diarreias tão profusas que se faz necessário, a troca da cama. As aves apresentam sonolentas, diminuição do consumo de ração, distúrbios de comportamento: comendo os próprios ovos. Estes apresentam com casca fina, deformada, descorada, redução do peso e descalcificados. A morbidade é notória pela diarreia e sonolência. Não há mortalidade. Sua importância econômica esta na queda de produção de ovos. Macroscopicamente não se observa nenhuma lesão. Microscopicamente observa-se na glândula formadora da membrana da casca uma discreta reação inflamatória com a presença de mononucleares linfócitos, plasmócitos e macrófagos. O vírus replica nas células epiteliais desta membrana produzindo corpúsculos de inclusão intranuclear, sete dias após a infecção. Diagnóstico deve ser feito por meio de isolamento do Adenovírus em ovos embrionados de ganso ou patos. Controle se faz monitorando sorologicamente as poedeiras, eliminando aquelas com diagnostico positivo. ALTERAÇÕES NEOPLÁSICAS Adenocarcinoma cístico é a neoplasia mais comum no ovário das galinhas. EM OUTRAS PALAVRAS... O sistema genital feminino das aves é muito complexo quando comparado com o mesmo sistema nos mamíferos. As aves possuem somente o ovário esquerdo e o oviduto correspondente. O oviduto é um segmento que mede cerca de setenta centímetros de comprimentos. São cinco estruturas que compõe o oviduto: infundíbulo, magno, istmo, útero e vagina. O ovócito ou simplesmente o ovo gasta vinte e quatro horas para percorrer o oviduto. Assim uma galinha não poderá botar mais de um ovo por dia. São vinte e uma horas gastas para se forma as membras da casca. 55 Quatorze horas utilizadas no processo de calcificação da casca. O embrião retira cálcio da casca do ovo para mineralização dos ossos. A proteína da clara é utilizada pelo embrião para compor a musculatura. A gema é o alimento do embrião. Está armazenada no saco vitelino e ligada ao embrião pelo umbigo. As enfermidades do oviduto e do ovário geralmente estão associadas a outras enfermidades tais como: salmonelose e pasteurelose. Ovário deformado é indicativode doença infecciosa. Postura abdominal pode ter como consequência uma inflamação do oviduto. Galinhas que apresentam com aparência de pinguim: pescoço em pé e cauda voltada para baixo, é indicativo de postura abdominal. Galinhas velhas apresentam ovários com degeneração. CONSULTA RÁPIDA 1. De que lado está o ovário esquerda galinha¿ O ovário esquerdo localiza-se do mesmo lado do coração. 2. Em quantas partes se divide o oviduto e quais são¿ Em cinco partes: infundíbulo, magno, istmo, útero e vagina. 3. Quais as causas mais comuns de ovário deformado¿ Salmonelose e pasteurelose. 4. Quanto tempo leva pra se formar um ovo¿ Vinte e quatro horas. 5. Quanto tempo leva para se calcificar as membranas da casca¿ Quatorze horas. LEITURA RECOMENDADA BENEZ, S. M. AVES: Criação-Teoria-Prática. Silvestres-ornamentais-avinhados. 4ª Ed, Tecmedd, Ribeirão Preto SP, 2014. 600p. PATRICIO, I, S. IN: BERCHIERI Jº, A e MACARI, M. Doenças das aves. Síndrome da queda de postura EDS-76, pg 327 a 332. FACTA, Campinas SP. 2000. 490p. 56 SISTEMA NERVOSO O sistema nervoso das aves apresenta inúmeras modificações quando comparado com o mesmo sistema nos mamíferos. As maiores diferenças estão no sistema nervoso central, formado pelo encéfalo e medula espinhal. No encéfalo não se vê giros e nem circunvoluções cerebrais. As dimensões do encéfalo são menores do que o volume do bulbo ocular. Proporcionalmente o bulbo ocular é muito grande nas aves. A visão destas é bastante complexa e carece de aprofundamento nesta questão. O sistema nervoso periférico é bastante desenvolvido. Os nervos ciáticos, braquial, ótico e vago se destacam pela sua espessura. Além dos nervos periféricos o sistema é composto por gânglios que controlam as vísceras, especialmente o canal alimentar (sistema digestório). ALTERAÇÕES POST-MORTEM Difícil é manter a massa cefálica em bom estado de conservação após a morte. Trata-se de um órgão constituído de derivados lipídicos, o que favorece a liquefação num período muito curto. Para um bom exame se faz necessário Necropsiar a ave logo após a sua morte. A proteção que dispõe o sistema nervoso central contribui para seu isolamento, o que favorece a autólise quase que imediatamente após a morte. Em seguida ocorre a putrefação. Macroscopicamente, o que se vê é um amolecimento geral do órgão, tornando impossível executar cortes para exames macro ou mesmo histopatológico. Microscopicamente, as células apresentam com citoplasma vacuolado e muitas delas já sem núcleo. ALTERAÇÕES DO DESENVOLVIMENTO São as alterações congênitas do sistema nervoso. Poucas são as descrições relatadas na literatura consultada. Anencefalia Ausência de formação do encéfalo. Nestes casos as aves não sobrevivem, geralmente nascem mortos. Microcefalia Redução do tamanho do encéfalo. As aves sobrevivem, mas apresentam desempenho indesejável. Macrocefalia Aumento do volume da massa encefálica. 57 Dicefalia Presença de duas cabeças em uma mesma ave. Ciclopia Conjunto de alterações com destaque para microcefalia e a presença de um único olho localizado frontalmente ao crânio. Hidrocefalia Acúmulo de liquido nos ventrículos e nos espaços meningiais. Quando localizado nos ventrículos a alteração é denominada: hidrocefalia interna. Se localizada nos espaços meningiais: hidrocefalia externa. No primeiro caso, observa-se aumento do crânio, uma vez que as fontanelas estão abertas para permitir o crescimento do encéfalo. Neste caso o encéfalo não para de crescer e a cabeça apresenta-se cada vez maior. Na hidrocefalia adquirida a cabeça não aumenta de tamanho, pois as fontanelas estão fechadas, ossificadas. Ausência de vertebras Agenesia de especifica do osso. ALTERAÇÕES CIRCULATÓRIAS Hiperemia ativa É caracterizada pelo aumento do fluxo sanguíneo arterial. O cérebro apresenta- se avermelhado. Este processo ocorre em condições fisiológicas e patológicas. No primeiro caso, acontece no aumento da atividade cerebral e no segundo, ocorre nos processos inflamatórios. Hiperemia passiva É caracterizada por retenção de sangue nos vasos venosos. Ocorre nas obstruções vasculares. A compressão dos vasos pelo aumento da massa encefálica é relativamente comum nos casos de edema, inflamação e neoplasia cerebral. Hemorragia É caracterizada pela saída de sangue fora dos vasos. Este fato é conhecido como derrame cerebral, nos casos de AVC (acidente vascular cerebral). Quando há rompimento de algum vaso por diérese: rexe e diabrose. Rexe quando fura o vaso e diabrose quando arranca a parede do vaso. Há hemorragias por diapedese que apenas deixa pequenas marcas como pontos e manchas avermelhadas (petequias, sufusão e equimose). Sua etiologia está relacionada com toxemia, bacteremia e septicemia. Edema é caracterizado por aumento de liquido nos espaços teciduais. É comum nos casos de traumatismo craniano e pode ocorrer em algumas enfermidades como é o 58 caso insuficiência de vitamina “E” e selênio. Macroscopicamente, o encéfalo apresenta- se aumentado de volume amolecido e com certo brilho. ALTERAÇÕES DEGENERATIVAS Encefalomalacia As alterações degenerativas do encéfalo são denominadas: encefalomalacia. Trata-se do amolecimento da massa encefálica com o aumento de liquido e degeneração das células neuronais. Quando afeta a substancia cinzenta: local onde se concentram os neurônios denomina-se polioencefalomalacia. E quando afeta a substancia branca: onde se localizam as terminações nervosas como dendritos e axônios, denomina-se leucoencefalomalacia. Estas duas alterações são relatadas em bovinos e equinos respectivamente. Não há registro em aves. Encefalomalacia Dos Pintos É uma enfermidade nutricional provocada pela insuficiência de vitamina “E” e selênio. Conhecida como “Doença do pinto louco”. Os sinais clínicos da enfermidade permite este apelido, uma vez que o pintinho apresenta um total descontrole de seus movimentos e descoordenação motora grave. Macroscopicamente, durante a necropsia observa-se que a massa encefálica apresenta-se amolecida e com certo brilho que não é peculiar ao cérebro. Microscopicamente, há edema e necrose dos neurônios. São observados: picnose, cariorrexe e cariólise, além de acidofilia citoplasmática. A área edemaciada é vista como uma espoja. Assim foi denominada de espongiose. Daí dando origem em determinadas enfermidades que causam edema cerebral como encefalopatias espongiformes. É o caso da “Doença da vaca louca” Diagnostico se faz clínico, macroscópico e histopatológico. Controle: sabe-se que as insuficiências de vitamina “E” e selênio em uma ração, estão ligados diretamente com as condições de armazenamento desta ração. Uma ração velha apresenta oxidação e concomitantemente a deterioração da vitamina “E” e selênio. Uma ração rançosa é uma ração que perdeu seus principais ingredientes. O estoque de ração precisa ser bem orientado afim de não permitir um tempo muito elevado em deposito para não se tornar rançosa, além de permitir a proliferação de fungos produzindo micotoxinas. Necrose Neuronal Os neurônios sofrem a chamada tigrólise: destruição da substância tigroide que integra o citoplasma dos neurônios e representa o retículo endoplasmático rugoso, 59 responsável pela síntese de proteínas. Assim se inicia a morte de um neurônio, que evolui para um processo de liquefação. Macroscopicamente, além do amolecimento progressivo, vê se a presença de liquido que flui ao corte. Microscopicamente, observa-se citoplasmólise, picnose, cariorrexe, cariólise além de espongiose. Espongiose Cerebral Espongiose é um termo microscópico que se refere ao edema cerebral. Foi assim denominado pela semelhança que há com espoja. A visão que se tem ao olhar um campo microscópico é de uma área repleta de buracos, o que se assemelha a uma espoja.Até porque aqueles espaços estavam repletos de água antes da preparação das laminas. São várias enfermidades que são caracterizadas por apresentarem espongiose. São denominadas encefalopatias espongiformes: doença da vaca louca, doença do pinto louco, polioencefalomalacia, leucoencefalomalacia e scrapie em ovinos e caprinos. ALTERAÇÕES INFLAMATÓRIAS Encefalites São vários os termos empregados para identificar inflamação do encéfalo. Depende da localização da lesão. Se a inflação nas meninges: meningite. No encéfalo: encefalite. Na medula: mielite. E se estiver em dois ou mais lugares atingidos, pode associar as palavras: meningoencefalite, encefalomielite. As principais causas de encefalites são: vírus, bactérias, fungos, protozoários e parasitas. Vírus: Paramyxoviridae, gênero Avulavirus é o agente da doença de Newcastle. Bactéria: Chlamydophila psittaci provoca clamidiose. Fungos: Cryptococcus neoformans provoca criptococose. Protozoário: Toxoplasma gondii provoca toxoplasmose. Trypanosoma spp provoca tripanossomíase. Encefalomielite Aviária Enfermidade infecciosa que acomete principalmente aves jovens, provocando descoordenação motora, tremores musculares e paralisia. Quando atinge aves adultas acarreta queda de produção de ovos e morte embrionária. Trata-se de uma doença viral, um Enterovirus que pode ser encontrado por longos períodos nos galinheiros. Galinhas e perus são igualmente sensíveis. 60 A transmissão se dá por via oral, permitindo a multiplicação intestinal do vírus. Pintinhos podem eliminar o vírus por mais de duas semanas. O vírus se espalha rapidamente de uma ave para outra por meio de equipamentos e pessoas que tiveram contato com aves doentes ou mortas. A transmissão pode ser horizontal, porem a vertical é a mais importante. Ocorre pela contaminação do ovo ou o próprio embrião. Macroscopicamente, não se observa lesões específicas, podendo notar hiperemia ativa, hemorragia e edema do encéfalo e medula espinhal. Microscopicamente, trata-se de encefalomielite linfocitária aguda, caracterizada pela presença de linfócitos, constituindo os manguitos perivasculares, tanto no encéfalo como na medula espinhal. O diagnostico deve ser observado os seguintes itens: a enfermidade é comum em aves jovens de uma a duas semanas de vida. Os principais sinais clínicos: ataxia e descoordenação motora; tremores da cabeça, pescoço e pernas; paralisia, desidratação e morte. Há queda na produção. Testes sorológicos e histopatológicos de áreas afetadas e isolamento do vírus permitem um diagnostico seguro. A prevenção é feita com vacinação quatro semanas antes do inicio da postura a fim de conferir imunidade aos pintinhos através do ovo. Meningoencefalite Purulenta Em Pintos De Um Dia A meningoencefalite purulenta não é comum em aves, embora ocasionalmente ocorra com maior frequência em aves jovens. As alterações, em geral, iniciam-se nas meninges e, por contiguidade, atingem os hemisférios cerebrais. Os agentes causais até agora descritos incluem a Salmonella Arizona, Salmonella typhimurium, Pasteurella anatipestifer, Escherichia coli e Streptococcus spp. Na presente comunicação, Coelho e Lamas da Silva, (1983), relatam um surto da doença causado por Salmonella pullorum, bactéria isolada em material oriundo de aves acometidas da referida infecção. A manifestação clinica de pulorose foram observadas em aproximadamente 160 mil pintinhos de corte, com três a quinze dias de vida, em uma população de cerca de 400 mil aves. Além das manifestações clínicas próprias da pulorose, um grupo de quase quatro mil aves apresentou sinais de comprometimento do sistema nervoso central. O diagnostico foi realizado microscopicamente e comprovado com isolamento da bactéria Salmonella pullorum. Microscopicamente, apresentou uma invasão de heterófilos invadindo as meninges e o encéfalo. O manguito perivascular era predominantemente heterofílico. 61 Os sinais clínicos da meningoencefalite era descoordenação motora, prostração e morte. Doença De Newcastle É uma doença infecciosa aguda viral que afeta principalmente o sistema nervoso central das aves. Causada por um vírus da família Paramyxoviridae e gênero Avulavirus. Por se tratar de uma enfermidade sistêmica que provoca viremia é conhecida como pseudo peste aviaria. O destaque fica por conta do encéfalo e pulmão. Assim foi denominada pneumoencefalite. Trata-se de uma enfermidade contagiosa de afeta aves de todas as idades. O Paramixovírus possui três cepas patogenicamente distintas, produzindo quadro clínico patológico diferente: Cepa velogênica produz severa doença, apresenta alta mortalidade. Aves podem ser encontradas mortas sem ter apresentado aumento da frequência respiratória, prostração, diarreia com conteúdo de coloração esverdeada e descarga nasal e ocular. Aves que sobrevivem a fase superaguda apresentam alterações no sistema nervoso central. Exibem uma queda de produção de ovos com deformação dos mesmos. A mortalidade está acima de 90% nos lotes susceptíveis. Cepa mesogênica produz uma enfermidade semelhante àquelas provocada pela cepa velogênica, mas menos severa. Raramente atinge o sistema nervoso central e a mortalidade está entre cinco e 50%. Cepa lentogênica produz modera alteração no sistema respiratório e queda na produção de ovos. Pode haver recuperação da doença e, em poucas semanas, a produção se normaliza. Há casos de complicações secundárias pela E coli. Essa cepa é usada na produção de vacinas. Macroscopicamente, há três formas que se baseiam na intensidade da doença: cada cepa produz suas lesões compatíveis com sua virulência. A cepa velogênica provoca hiperemia e hemorragia no pulmão, proventrículo, intestino delgado, ceco e encéfalo. Pode haver secreção seromucosa nas narinas e nos olhos, na laringe e traqueia. Há casos de postura abdominal. A cepa mesogênica provoca secreção nasal e ocular, hiperemia e hemorragia na laringe e traqueia. A cepa lentogênica pode provocar, em alguns casos, traqueites. Microscopicamente, as alterações no pulmão são tipicamente de uma reação inflamatória aguda, na qual hiperemia, hemorragia e infiltração de células inflamatórias 62 como os linfócitos estão presentes. No sistema nervoso central, há uma encefalite linfocitária aguda, caracterizada por manguito perivascular linfocitário, gliose focal e hiperemia ativa. A transmissão ocorre por via respiratória e digestiva. O vírus está presente nas descargas nasais e intestinais, podendo estar presentes na água, nos alimentos, equipamentos e pessoas que estiverem em contato com aves doentes. O diagnóstico presumível se baseia na correlação clinica patológica e testes sorológicos. O diagnostico definitivo se faz por meio de isolamento e identificação do vírus, em órgãos como cérebro, pulmão, traqueia e cloaca. O controle envolve biosseguridade e um programa de vacinação. Vacinação: os frangos de corte são vacinados com um dia de vida e aos quatorze. As matrizes aos quatorze dias e seis semanas; aos treze e dezesseis semanas com cepa lasota; e a cada sessenta dias, durante o período de produção. Clamidiose Trata-se de uma doença infecciosa causada por uma bactéria Chlamydophila psittaci. Afeta o sistema nervoso central e provoca encefalite heterofílica aguda. A doença é conhecida com o nome de psitacose, ornitose e febre dos papagaios. É mais comum em pássaros e aves selvagens. Afeta também os pulmões. Calopsitas são consideradas portadoras. Elas contaminam outras aves, incluindo o ser humano prlo contato direto com urina e fezes. Macroscopicamente, observa-se um quadro de pneumonia aguda onde os pulmões apresentam intensamente avermelhados e hipocrepitantes nas áreas de hepatização. O encéfalo apresenta-se avermelhado, e as meninges com os vasos dilatados repletos de sangue. Microscopicamente, no pulmão é observadohiperemia, hemorragia e infiltração de células inflamatórias: linfócitos e heterófilos. No encéfalo há presença de hiperemia ativa, hemorragia e intensa invasão de heterófilos. Ainda se observa espongiose e restos celulares. Controle: evitar contato de aves comerciais com pássaros: Calopsitas e papagaios. Manter os viveiros dos pássaros sempre limpos e evitar um contato íntimo. Criptococose Trata-se de uma enfermidade micótica causada pelo Cryptococcus neoformans: um fungo encontrado nas fezes de animais portadores e até mesmo em determinadas frutas. Acometes aves de todas as espécies, sendo mais comum em aves selvagens em 63 cativeiro. Gatos e cães são vitimas deste fungo, assim como outros mamíferos em menor escala, como, por exemplo: o ser humano. Pessoas que trabalham como cuidadores de animais portadoras da enfermidade, estão sujeitas a contrair esta doença. Macroscopicamente, as aves enfermas apresentam queda das penas nos locais das feridas, sendo mais comum nas asas e na cabeça. A lesão é do tipo: ulcerativa, ou seja, uma dermatite crônica necroulcerativa. Quando afeta o sistema nervoso central há meningoencefalite crônica representada por uma área vermelha escura, quase parda, circunscrita e bem delimitada. Algumas vezes aparece somente áreas levemente avermelhadas. Microscopicamente, as lesões exibem restos celulares, infiltração de células do sistema monocítico fagocitário: macrófagos, células epitelioides, linfócitos e plasmócitos. Nas preparações com corantes especiais para fungo: PAS e outros, pode se observar a presença do fungo nas lesões. No sistema nervoso central há uma meningoencefalite crônica do tipo granulomatosa. O diagnostico pode ser feito observando as lesões macro e microscopicamente. O controle se faz com higienização constante e responsável nos locais onde vivem estas aves e demais animais susceptíveis. Toxoplasmose A toxoplasmose é uma doença cosmopolita que está presente nos animais do mundo inteiro. Alguns são mais sensíveis e outros conseguem uma relação harmônica com o protozoário e se tornam portadores. As galinhas (Gallus gallus domesticus) apresentam sorologia positivo em várias situações. Sabe-se que as condições de manejo inadequadas favorecem a multiplicação deste microrganismo. A intercorrência com outras enfermidades também contribui para a permanência da toxoplasmose no plantel. O Toxoplasma gondii é um protozoário muito resistente e por isso difícil de ser combatido. Muitas apresentam altíssimos níveis de anticorpos, mas clinicamente são assintomáticas. Raramente afeta o encéfalo provocando encefalite necrohemorrágica do tipo granulomatosa. ALTERAÇÕES NEOPLÁSICAS São raras as neoplasias no sistema nervoso central das aves. Alguns exemplos citados na literatura consultada: neuroblastoma, meningioma, astrocitoma, oligodendroma, e ependimoma. SISTEMA NERVOSO PERIFÉRICO 64 Este sistema é composto pelos nervos periféricos craniais e espinhais, além dos gânglios. ALTERAÇÕES NEOPLASÍCAS Neurolinfomatose Trata-se de uma enfermidade neoplásica viral que afeta os principais nervos craniais e espinhais, tais como: ótico, vago, braquial e ciático. É a forma nervosa da doença de Marek. Não esquecer que existem mais duas formas desta doença: Marek cutânea e Marek visceral. É provocada pelo herpesvírus gallid. Afeta galinha de granja e especialmente galinhas de terreiro devido a falta de vacinação. A transmissão se da por via aerógena e pelo contato direto e indireto com aves doente. Os sinais clínicos revelam uma doença do olho cinza com a pupila deformada, devido à lesão do nervo ótico. Também mostra uma doença com paralisia assimétrica de membros torácicos e pélvicos, devido o comprometimento do nervo braquial e ciático. Quando atinge o nervo vago, a ave apresenta torcicolo. Macroscopicamente, os nervos lesados apresentam-se espessos e de coloração acinzentada. A musculatura correspondente mostra-se hipotrofiada. Microscopicamente, observa-se uma neoplasia maligna de linfócitos que apresentam pleomorfismo celular. Trata-se de um linfoma. Diagnostico é feito clínico, macro e microscopicamente por meio do exame dos sinais clínicos e lesões do nervo afetado. O controle se faz eliminando as aves doentes e promovendo um esquema vacinal. As aves devem ser vacinadas no primeiro dia de vida. EM OUTRAS PALAVRAS... O sistema nervoso está dividido em nervoso central e periférico. Algumas doenças importantes afetam o sistema nervoso central, mas nenhuma é tão importante quanto a doença de Newcastle. A doença de Newcastle está sobre controle no Brasil faz algumas décadas. Portanto não há diagnostico recentes desta enfermidade. A neurolinfomatose quer dizer: uma doença que afeta os nervos e é um linfoma. As galinhas de quintal são as mais atingidas por falta de vacinação. A doença de Newcastle causa paralisia assimétrica dos membros. A doença de Newcastle é conhecida com doença dos olhos cinza. 65 A vacinação se faz no primeiro dia de vida. Há incubatório que faz aos dezoito dias de incubação diretamente no ovo, com uma maquina especial. Os principais nervos afetados pelo vírus da enfermidade de Marek são: ótico, vago, braquial e ciático. CONSULTA RÁPIDA 1. O sistema nervoso central é constituído de: Encéfalo e medula espinhal. 2. O sistema nervoso periférico é formado de: Gânglios e nervos periféricos craniais e espinhais. 3. Conceitue neurolinfomatose É a forma nervosa da doença de Marek que atinge os nervos periféricos. 4. Conceitue doença de Newcastle É uma enfermidade infecciosa viral que afeta o encéfalo das aves e causa bastantes prejuízos econômicos. 5. Quais os sinais clínicos da Neurolinfomatose. Olho cinza, torcicolo e paralisia assimétrica dos membros. LEITURA RECOMENDADA BENEZ, S. M. AVES: Criação-Teoria-Prática. Silvestres-ornamentais-avinhados. 4ª Ed, Tecmedd, Ribeirão Preto SP, 2014. 600p. BERCHIERI Jr, A; MACARI, M. Doença das aves. Campinas: Facta, 2000. 490p. 66