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ÉTICA-CRISTÃ-

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2 
 
 
SUMÁRIO 
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................. 3 
2 NOÇÕES HISTÓRICAS DA ÉTICA .................................................................. 4 
3 DEFINIÇÃO DE ÉTICA ..................................................................................... 6 
3.1 Moral .......................................................................................................... 9 
3.2 Ética e Moral ............................................................................................ 13 
4 A ÉTICA E SUAS RAMIFICAÇÕES................................................................ 17 
4.1 Ética Normativa E Suas Divisões ............................................................. 18 
5 ORIGENS DA ÉTICA CRISTÃ: O ÉTHOS BÍBLICO ..................................... 30 
5.1 As fontes do éthos bíblico ........................................................................ 31 
6 ÉTICA CRISTÃ ............................................................................................... 32 
6.1 Os fundamentos da Ética Cristã ............................................................... 36 
6.2 Princípios Éticos Cristãos ......................................................................... 39 
6.3 Princípio da ternura e do vigor ................................................................. 41 
6.4 Princípio da conduta de amor a todas as pessoas ................................... 42 
6.5 Princípio da licitude e da conveniência .................................................... 44 
6.6 Princípio da tolerância .............................................................................. 45 
6.7 Princípio do respeito e companheirismo cristão ....................................... 46 
6.8 Princípio do respeito ao mais fraco .......................................................... 47 
7 REFERÊNCIAS .............................................................................................. 48 
 
 
 
 
 
 
 
3 
 
1 INTRODUÇÃO 
Prezado Aluno! 
O Grupo Educacional FAVENI, esclarece que o material virtual é 
semelhante ao da sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – quase 
improvável - um aluno se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor 
e fazer uma pergunta, para que seja esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado. 
O comum é que esse aluno faça a pergunta em voz alta para todos ouvirem e todos 
ouvirão a resposta. No espaço virtual, é a mesma coisa. Não hesite em perguntar, 
as perguntas poderão ser direcionadas ao protocolo de atendimento que serão 
respondidas em tempo hábil. 
Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da 
nossa disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à 
execução das avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da 
semana e a hora que lhe convier para isso. 
A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser 
seguida e prazos definidos para as atividades. 
 
Bons estudos! 
 
 
 
 
 
 
4 
 
2 NOÇÕES HISTÓRICAS DA ÉTICA 
Segundo José Adriano (2007), como disciplina filosófica, a história da ética 
é mais limitada no tempo do que a história das ideias morais da humanidade. As 
ideias morais da humanidade dizem respeito a todas as normas que pautaram a 
conduta humana desde tempos longínquos. 
Desta forma, a descrição dos diversos grupos de ideias morais é tema de 
que se ocupam disciplinas como a sociologia e a antropologia. Contudo, a existência 
de ideias morais e de atitudes morais não implica a presença de uma disciplina 
filosófica particular. Assim, por exemplo, podem estudar-se as atitudes e ideias 
morais de diversos povos primitivos, ou dos povos orientais, ou dos judeus, ou dos 
egípcios, sem que o material resultante deva forçosamente enquadrar-se na história 
da ética. (ADRIANO, 2007). 
Por isso, pode-se dizer que a história da ética se enquadra perfeitamente 
no âmbito da história da filosofia. Pode-se dizer ainda que a história da ética adquire 
uma considerável amplitude, porquanto fica difícil, com frequência, estabelecer uma 
separação rigorosa entre os sistemas morais – objeto próprio da ética – e o conjunto 
de normas e atitudes de caráter moral predominantes numa dada sociedade ou 
numa determinada fase histórica. (ADRIANO, 2007). 
No intuito de solucionar este impasse, os historiadores da ética limitaram 
seu estudo àquelas ideias de caráter moral que possuem uma base filosófica, ou 
seja, que, em vez de se darem simplesmente como supostas, são examinadas em 
seus fundamentos e filosoficamente justificadas. O decisivo é que haja uma 
explicação racional das ideias ou das normas adotadas. Por este motivo, os 
historiadores da ética costumam seguir os mesmos procedimentos e adotar as 
mesmas divisões propostas pelos historiadores da filosofia. (ADRIANO, 2007). 
Com o fim de responder aos problemas básicos apresentados pelas 
relações entre os homens e em particular pelo seu comportamento moral efetivo, é 
que nasceram e se desenvolveram, em diferentes épocas e sociedades, as 
doutrinas éticas fundamentais. Por isso, existe uma estreita vinculação entre os 
conceitos morais e a realidade humana, social, sujeita historicamente à mudança. 
 
5 
 
Por conseguinte, não se pode considerar as doutrinas éticas isoladamente, mas 
dentro de um processo de mudança e de sucessão que constitui propriamente a 
sua história. (ADRIANO, 2007). 
Portanto, ética e história, relacionam-se duplamente: a) com a vida social e, 
dentro desta, com as morais concretas que são um dos seus aspectos; b) com a 
sua história própria, já que cada doutrina está em conexão com as anteriores, 
tomando posição contra elas ou integrando alguns problemas e soluções 
precedentes, ou com as doutrinas posteriores, prolongando-se ou enriquecendo-se 
nelas. (ADRIANO, 2007). 
Consubstanciando a relação entre ética e história, José Adriano (2007) 
assevera: 
“Em toda moral elaboram-se princípios, valores e normas. Mudando 
radicalmente a vida social, muda também a vida moral. Os princípios, 
valores ou normas encarnados nela entram em crise e exigem a sua 
justificação ou a sua substituição por outros. Surge então, a necessidade 
de novas reflexões ou de uma nova teoria moral, pois os conceitos, valores 
e normas vigentes se tornam problemáticos. Assim se explica a aparição 
e sucessão de doutrinas éticas fundamentais em conexão com a mudança 
e a sucessão de estruturas sociais, e, dentro delas, da vida moral. ” (p. 11). 
Antigamente, para os filósofos gregos e romanos, a vida ética se passava 
como uma constante batalha entre os apetites e desejos de uma pessoa e a sua 
razão. Para eles, o ser humano era visto como naturalmente passional, de forma 
que a ética tinha o papel de educar a natureza das pessoas para que seguissem a 
razão. Nesse sentido, uma pessoa passional era aquela que se deixava levar por 
seus desejos, tornando-se escrava deles. Assim, para os filósofos antigos, a ética 
se resumia em três aspectos principais: o racionalismo, que diz respeito à 
necessidade de agir conforme a razão; o naturalismo, o qual ressalta a importância 
de agir em conformidade com a natureza; e a inseparabilidade da ética e da política, 
de forma que a conduta individual deve estar de acordo com os valores da 
sociedade (CHAUÍ, 2000). 
 
6 
 
3 DEFINIÇÃO DE ÉTICA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Fonte: anttenado.antt.gov.br 
 
Em seu sentido etimológico, sabe-se que o termo ética é oriundo do 
vocábulo grego ethe, e significava originalmente costumes. Aristóteles, porém, 
emprega-o para caracterizar a parte da filosofia que busca problematizar a conduta 
humana. Nesse sentido, a ética não pode ser tomada como mero sinônimo de 
moral; antes, deve ser enfocada como a disciplina que a tem por objeto. Na 
academia pós-moderna, é conhecida também como metaética, que podeser 
definida como a especulação que a ética faz de si mesma. (ANDRADE, 2015). 
Andrade (2015), salienta que que fora dos círculos acadêmicos, a ética 
ainda é vista como sinônimo de moral, de modo que ele a define como: “[...] conjunto 
de normas e preceitos valorativos, cuja missão é orientar o indivíduo, em particular, 
e a sociedade, como um todo, a trabalhar pelo bem comum. Logo, pode-se falar de 
uma ética política, médica, pessoal, etc.” 
Para Megale (1989, p.169 apud DIAS, 2014) ética é “o que de mais justo 
existe”. Estas palavras, que são sem dúvida muito fortes, pretendem afirmar dentro 
http://anttenado.antt.gov.br/
 
7 
 
do possível, tudo aquilo que move a dinâmica e a justificação na elaboração deste 
texto. (DIAS, 2014). 
Segundo Finkler, Caetano e Ramos (2013), a percepção de ética é 
evidenciada sob dois enfoques que refletem distintas concepções que coexistem, 
ainda que uma delas seja a predominante, a saber: 
 
“[...] a da ética que embasa a Deontologia. Deontos significa "deve ser" e 
o que deve ser é um dever. Trata-se, portanto, da ética dos deveres - uma 
ética normativa, prescritiva, que determina o que deve ser feito. Com essa 
fundamentação, a ética é entendida como fazer o bem e, por conseguinte, 
não fazer o mal; fazer o correto; fazer apenas o que é legalmente permitido; 
obedecer a um código estabelecido; e adotar determinada postura 
profissional. ” 
 
Mas, comumente, entende-se que ética é a teoria sobre a prática moral; 
uma reflexão teórica que analisa e critica os fundamentos e princípios que regem 
um determinado sistema moral. Abbagnano (apud ADRIANO, 2007) diz que a ética 
é, “em geral, a ciência da conduta” e Sanchez Vasques (apud ADRIANO, 2007) 
amplia a definição, afirmando que “a ética é a teoria ou ciência do comportamento 
moral dos homens em sociedade. Ou seja, é a ciência de uma forma específica de 
comportamento humano. ” 
A definição se esclarece na distinção. Fato é que, as questões teóricas 
éticas não se identificam com os problemas práticos morais, apesar de estarem 
estritamente relacionados. Isto posto, não se deve confundir a ética e a moral. A 
ética não cria a moral, não obstante seja certo que toda moral supõe princípios, 
normas ou regras de comportamento. Conclui-se, assim, que não é a ética que 
estabelece os princípios numa determinada comunidade. (ADRIANO, 2007). 
Nesse sentido, explica José Adriano (2007): 
“A ética se depara com uma experiência histórico-social no terreno da 
moral, ou seja, com uma série de práticas morais já em vigor e, partindo 
delas, procura determinar a essência da moral, sua origem, as condições 
objetivas e subjetivas do ato moral, as fontes da avaliação moral, a 
natureza e a função dos juízos morais, os critérios de justificação destes 
juízos e o princípio que rege a mudança e a sucessão de diferentes 
sistemas morais. ” (p. 10). 
 
8 
 
A ética também pode ser definida como “a ciência que estuda a conduta 
humana e a moral é a qualidade desta conduta, quando se julga do ponto de vista 
do Bem e do Mal” (WALKER, 2015, p. 3). 
Na conduta ética, deve-se ter tanto senso moral e quanto consciência moral. 
O senso moral diz respeito ao modo como avaliamos determinada situação 
de acordo com princípios como justiça, admiração, etc. A consciência moral, por 
outro lado, refere-se não apenas a sentimentos morais, mas também a avaliações 
de conduta no momento da tomada de decisão, de forma a sermos responsáveis 
pelas consequências de nossos atos (WALKER, 2015). 
Assim, a ética é constituída tanto pelo sujeito moral como por valores morais 
e virtudes éticas. Para um indivíduo ser um sujeito ético ou moral, de acordo com 
Marilena Chauí (2000), ele deve seguir as seguintes condições: 
 Possuir a consciência de si mesmo e dos outros, de forma a 
reconhecer os outros como sujeitos éticos iguais a ele. 
 Possuir vontade, ou seja, a capacidade de controlar seus desejos e 
impulsos, guiando-os para uma conduta ética, e possuir a capacidade de deliberar 
entre as alternativas possíveis. 
 Ser responsável, de forma a se reconhecer como autor de suas ações 
e saber das consequências delas para si mesmo e para os outros, além de assumir 
as consequências de seus atos e responder por elas. 
 Ser livre, admitindo-se como a causa interna de suas atitudes por não 
estar submetido a poderes externos que o forcem a agir. Essa liberdade diz respeito 
a dar a si mesmo as regras de conduta. 
 
 
9 
 
3.1 Moral 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Fonte: www.significados.com.br 
Assim como a ética, a palavra moral também deriva do grego ethos, 
indicando “os costumes, os hábitos e os comportamentos concretos das pessoas”, 
que posteriormente os latinos passaram a chamar de mores, donde se deriva moral. 
Conforme o escritor Leonardo Boff (apud PIMENTEL, 2012), pode-se fazer a 
seguinte definição: 
 
“A moral é parte da vida concreta. Trata da prática real das pessoas que 
se expressam por costumes, hábitos e valores culturalmente 
estabelecidos. Uma pessoa é moral quando age em conformidade com os 
costumes e valores consagrados. Estes podem, eventualmente, ser 
questionados pela ética. Uma pessoa pode ser moral (segue os costumes 
até por conveniência) mas não necessariamente ética (obedece a 
convicções e princípios). ” 
A consciência moral sempre existiu na humanidade, desde o momento em 
que os homens começaram a morar em grupos havia a necessidade de manutenção 
de regras numa tentativa de manter o equilíbrio social. O termo é proveniente do 
latim mores significando “costumes”, ou em outras palavras, a manutenção dos 
valores e o conhecimento do bem e do mal no contexto em que se vive, ou seja, 
“[...] um conjunto de normas que regulam o comportamento do homem em 
http://www.significados.com.br/
 
10 
 
sociedade, essas normas são adquiridas pela educação, pela tradição e pelo 
cotidiano” (SILVANO, 2008 apud RIBEIRO, 2008, p. 78). 
A moral faz parte da filosofia e encontra-se dentro da ética, mas não está 
ligada diretamente aos valores do indivíduo, como a ética, mas aos atos humanos, 
aos bons costumes e aos deveres do homem dentro da sociedade a qual ele 
pertence. (PIMENTEL, 2012). 
Nesse sentido, pode-se dizer que um indivíduo moral deve, em geral, seguir 
as regras de conduta impostas pelo meio em que vive, para que assim mantenha 
uma sintonia com os que o rodeiam, procedendo sempre conforme a honestidade 
e a justiça estabelecida pelo meio, mesmo que esta conduta não represente 
exatamente os seus ideais, mas que seja o ideal para o meio que o cerca. 
(PIMENTEL, 2012). 
De acordo com alguns autores clássicos que desenvolveram estudos sobre 
a moral, ela é definida “como a relação essencial com a norma ou lei” (DUSSEL, 
1986, p. 44 apud PIMENTEL, 2012), porém, “Kant exigia amar a lei” (Ibidem). 
Para Kant, a moral não é algo tão simples ao ponto de dizer que basta agir 
de acordo com as regras sociais ou leis que nos cercam, pois não está ligada aos 
bons costumes de cada povo, e sim, a moral deve seguir um princípio universal, 
incondicional, válida por si mesma como uma máxima que pudesse fazê-la desejar 
tornar-se uma lei universal (PIAGET; MACEDO, 1996 apud PIMENTEL, 2012): 
“A moral tem que indicar como “bom” ou como “certo” algo que possa 
aparecer assim (bom, certo) para o maior número de pessoas possível, ou 
seja, para toda e qualquer pessoa desse mundo, em qualquer lugar. A 
moral indicaria, como princípio, um dever necessário a todos, assim, 
universal! (Ibidem, p. 38 apud PIMENTEL, 2012). 
Desta forma, o que é considerado bom para o indivíduo deve ser bom para 
o seu próximo, o que é aplicado como punição para o próximo também deve ser 
aplicado para o indivíduo, indiferente de ser conveniente ou não, deve seguir a base 
de que tudo o que é válido para si, deve valer para o outro também, e vice-versa. 
(PIMENTEL, 2012). 
Ainda, de acordo com Kant, para ser moralmente correto, não basta que o 
indivíduosiga uma lei imposta por terceiros como se ela fosse o indicador da ordem, 
 
11 
 
mesmo que isso lhe traga alguma conveniência. É preciso que o indivíduo tenha o 
discernimento necessário para tomar decisões e ter atitudes que o levem a um bem 
comum. Assim, a “corretude” ou “bondade” de um ato não deve estar ligada a uma 
lei, regra ou norma a ser obedecida, mas deve ser levado em conta o porquê de 
obedecê-la, dando ênfase ao princípio da obediência e não ao ato dela. 
(PIMENTEL, 2012). 
Kant entende também que a moral conduz inevitavelmente à religião, tendo 
Deus como um legislador moral poderoso, que impõem suas leis, deixando-as 
claras, inclusive com suas recompensas e punições, e que ao mesmo tempo dá aos 
homens a oportunidade de tomarem suas próprias decisões, que por sua vez, 
podem ser moral ou não. Kant (apud PIMENTEL, 2012) afirma: 
“A religião não se distingue em ponto algum da moral quanto à matéria, 
quanto ao objeto, pois tem em geral a ver com deveres, mas distingue-se 
dela só formalmente, ou seja, é uma legislação da razão para proporcionar 
à moral, graças a ideia de Deus engendrada a partir desta, uma influência 
sobre a vontade humana para o cumprimento de todos os seus deveres. ” 
Mesmo que haja algum questionamento sobre se é moral ou não atender o 
desejo de um único legislador, no caso Deus, avalia-se também a finalidade de tudo 
se levando em conta que Deus não institui leis para que Ele mesmo seja beneficiado 
por elas, mas que existe um bem universal a partir delas e a Sua vontade objetiva 
que a própria humanidade seja beneficiada. (PIMENTEL, 2012). 
Seguindo um pensamento distinto do de Kant, o autor Enrique D. Dussel 
(apud PIMENTEL, 2012) fala sobre um sistema moral vigente que indica que, para 
que tenha um bom convívio no âmbito do meio social, o indivíduo precisa se dispor 
a cumprir as normas impostas a fim de que todos sigam em uma mesma direção, 
tenham as mesmas responsabilidades/obrigações e sejam julgados da mesma 
forma, de modo tal que se tenha um parâmetro para identificar os que estão certos 
e os que estão errados. Destaca: 
“Assim aparece um sistema moral “vigente” (não importa que na sua 
origem, e para a sua subsistência, haja um pecado original e institucional 
de dominação em todos os níveis). Quem cumprir este sistema em suas 
práticas, suas normas, seus valores, suas virtudes, suas leis, é um homem 
bom, justo, benemerente, louvado pelos semelhantes. ” (DUSSEL, 1986 
apud PIMENTEL, 2012). 
 
12 
 
 
Assim, mesmo que a lei seja oriunda de algo considerado como não ideal, 
se ela atingir um objetivo comum, aquele que a cumprir passa a ser moral. Seria 
como dizer que o fim justifica o meio. Dussel (apud PIMENTEL, 2012) também faz 
referência quanto aos casos em que as leis acabam sendo voláteis e afirma que 
não são elas quem determinam como deve ser o meio, mas o meio acaba 
determinado como devem ser as leis. Com isso, o certo hoje pode ser considerado 
errado amanhã e vice-versa, fazendo com que o indivíduo que segue as leis de 
hoje, amanhã tenha que decidir se permanecerá seguindo o que acreditava ser 
correto ou se redefinirá seus conceitos para se manter dentro dos padrões sociais 
e ser considerado moral mantendo a sua consciência tranquila, pois mesmo a lei 
sendo perversa, é aprovada pelo sistema. 
Para Pimentel (2012), a prática de inversão dos atos morais ocorre por 
influência do legislador humano com a justificativa de readequação da sociedade e 
é realizada pela igreja para que ela também tenha uma readequação social. Em 
relação às igrejas que seguem o evangelho como base, Dussel (1986 apud 
PIMENTEL, 2012) destaca que deve ser observado que ele “não pode evoluir”, já 
que as exigências dele devem ser válidas e seguidas em qualquer época ou 
situação, pois representam princípios absolutos, indiferente da fase em que se 
encontra a humanidade ou dos conceitos impostos pelo homem. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
13 
 
3.2 Ética e Moral 
Fonte: monitoriajuridica.com 
Ana Pedro (2014, p. 486), em seu artigo “Ética, moral, axiologia e valores: 
confusões e ambiguidades em torno de um conceito comum”, infere que “[...] não 
terá significado idêntico referenciar moral e ética sob a mesma perspectiva para 
falarmos de uma única realidade valorativa” e ela ratifica a questão do conceito 
anteriormente dado sobre a moral referir-se a um conjunto de normas, valores (nas 
dualidades bem/mal), além dos princípios de comportamentos e costumes 
atribuídos a determinada sociedade ou cultura. Nesse sentido, trata-se da moral 
que é coletiva, que representaria o pensamento vigente da sociedade. 
Já a ética exige maior grau de cultura, reflexão e inteligência. A reflexão 
sobre ela acontece após Sócrates começar a questionar os costumes vigentes e 
trazer à luz da sociedade as formas e motivos que a levaram a agir de maneira a 
fazer sentido, com regras e normas de convivência. Ela investiga e explica as 
normas morais, pois obriga o homem a refletir sobre suas ações não só por tradição, 
educação ou hábito e então decidir com maior convicção, ou seja, a ética é a “[...] 
forma que o homem deve se comportar no seu meio social” (BORGES, 2018). 
Borges (2018), em seu artigo sobre as diferenças entre moral e ética, 
elabora um quadro comparativo e procura deixar mais compreensível as definições 
 
14 
 
de cada termo e suas nuances. Pode-se perceber as sutis diferenças e 
compreender onde os termos estão imbricados. 
 
 
As palavras, ética e moral, comumente são confundidas como se tivessem 
o mesmo sentido. Apesar de ambas derivarem de ethos e a filosofia indicar que a 
moral está dentro da ética, as duas são distintas e cada qual possui sua importância. 
(PIMENTEL, 2012) 
Explicando cada uma das palavras, Boff (apud PIMENTEL, 2012) apresenta 
a ideia de que a ética está ligada ao caráter, princípios e valores próprios do 
indivíduo, enquanto a moral é a realização dos atos do indivíduo dentro dos 
costumes, hábitos e valores culturalmente estabelecidos dentro da sociedade. 
Neste sentido, o indivíduo pode tomar decisões com seu ponto de vista ético ainda 
que, nesta decisão, não haja moral e vice-versa. 
Já Yves de La Taille (2016) tece as seguintes considerações a respeito da 
diferenciação das duas terminologias (moral e ética); 
“[...] reservarei o conceito de moral ao sistema de valores que se traduzem 
por princípios e regras cuja aplicação prática é considerada um dever e, 
logo, a não aplicação, uma transgressão condenável. Nota-se que essa é 
 
15 
 
a definição habitual de moral, seja qual for o seu conteúdo: ser justo, ser 
fiel, ser honesto, defender a própria honra, casar virgem, etc., 
correspondem, para quem legitima tais princípios e regras, a deveres, a 
imperativos. Portanto, a pergunta moral é: “Como devo agir? ”. Do ponto 
de vista psicológico, à moral corresponde um sentimento especial: o da 
obrigatoriedade. 
 
A pergunta da ética será, no presente texto, outra, a saber: “Que vida eu 
quero viver? ”. Reconhece-se aqui o clássico tema da “vida boa”. E verifica-
se também a relação entre ética e a construção de si mesmo, pois a 
resposta à pergunta “que vida eu quero viver? ” Implica também responder 
a essa outra pergunta: “Quem eu quero ser? ”. 
 
Taille (2016) faz o seguinte questionamento ainda: “Uma engloba a outra? 
”, e responde: “A ética engloba a moral porque, como bem lembrado por Comte-
Sponville, decidir que vida viver e quem ser é também escolher que deveres vão ser 
legitimados”. 
Também para a filosofia, a moral vem de dentro da ética, porém, a própria 
ética questiona a moral no que tange agir contra os seus princípios para atender 
algo estabelecido, pois isso não seria uma vontade genuína do indivíduo e, portanto, 
perderia o valor, uma vez que, seria necessário agir com ética – com consciência e 
aceitação – para que este ato se tornasse moral – sincero, não demagógico. 
(PIMENTEL, 2012). 
De acordocom Dussel (1986, p. 63 apud PIMENTEL, 2012, p. 866), “Jesus, 
de fato, se opõe a toda ‘moral’ de dominação. Opõe-se ao vigente ‘moral’ em nome 
do absoluto transcendental e horizonte crítico de toda ‘moral’: o ‘ético’”. O autor faz 
uma breve relação entre a ética e a moral, apontando em que consiste a ética: 
“É a práxis – como ação e relação – para o outro como outro, como pessoa, 
como sagrado, absoluto. O ético não é regido pelas normas morais, pelo 
que o sistema indica como bom; rege-se pelo que o pobre reclama, pelas 
necessidades do oprimido, pela luta contra a dominação, as estruturas, as 
relações estabelecidas pelo “Príncipe deste mundo”. ” (DUSSEL, 1986, 
p.63-64 apud PIMENTEL, 2012). 
 
 
 
 
 
16 
 
E complementa: 
“O ético é assim transcendental ao moral. As morais são relativas: há 
moralidade asteca, hispânica, capitalista. Cada uma justifica a práxis de 
dominação como boa. A ética é uma, é absoluta: vale para toda situação e 
para todas as épocas. ” (DUSSEL, 1986, p. 64 apud PIMENTEL, 2012). 
Destarte, sempre que a ordem moral deixa de atender ao bem comum para 
realizar práticas dominantes, deixa de ser ético porque não representa mais uma 
“ordem futura de libertação, as exigências de justiça com respeito ao pobre, ao 
oprimido, e seu projeto de salvação” (DUSSEL, 1986, p. 40 apud PIMENTEL, 2012), 
bem como sempre que um indivíduo ético deixa de seguir algo que pode ser bom 
para a moral, porque acredita que é ruim para a sua ética, ele passa a ser imoral 
para o meio em que vive. 
Denota-se, assim, que mesmo sendo diferentes em seu sentido final, tanto 
a ética quanto a moral devem estar presentes na vida do indivíduo para que ele 
tenha uma participação satisfatória e ativa em seu meio social, bem como em seu 
relacionamento com seu próximo, pois ainda que cada indivíduo tenha suas próprias 
convicções, jamais conseguirá viver sozinho ignorando o fato de que precisará 
interagir com outros. Desta forma, o indivíduo deve estar ciente de que deve 
respeitar as convicções alheias, tendo em vista que faz parte de um sistema que é 
alimentado por suas escolhas, sendo elas éticas ou não, morais ou não, mas 
sempre determinantes para o desenvolvimento do mundo e para a continuidade da 
espécie humana. (PIMENTEL, 2012). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
17 
 
4 A ÉTICA E SUAS RAMIFICAÇÕES 
Como saber filosófico a ética pode ser dividida em três campos principais 
de estudo: a metaética, a ética normativa e a ética aplicada. (LOPES, 2017) 
O objeto da metaética, na visão de Borges, Dall’agnol e Dutra (2002 apud 
LOPES 2017), se difere daquele da ética normativa, haja vista que ele não pretende 
determinar o que deve ser feito, mas investiga a natureza dos princípios morais, 
levando a indagações sobre o agir correto, se os preceitos defendidos pelas 
diversas teorias da ética são objetivos e absolutos, tais como: liberdade, justiça, 
bem, bondade, felicidade, moralidade, entre outros conceitos. 
Borges, Dall’agnol e Dutra, 2002 (apud LOPES, 2017) afirmam que a 
metaética lida com questões tais como: “qual é o estado motivacional de alguém 
que faz um juízo moral? Que tipo de conexão há entre fazer um juízo moral e agir 
de acordo com as prescrições desse juízo? E assim por diante. ” 
E continuam: 
“[...] As propostas em metaética são diversificadas e tendem tanto para o 
realismo (a ideia de que os valores morais existem objetivamente e não 
dependem de nossas opiniões sobre eles) como para o antirrealismo 
(defende que princípios morais são meras construções humanas, 
convenientes para a convivência em sociedade). ” 
 
Por sua vez, a ética normativa, segundo Mauter (2005 apud LOPES, 2017), 
“tem como objetivo a investigação racional ou uma teoria sobre padrões de 
comportamento, do que é certo ou errado, do bom e do mal”. 
Para Lopes (2017) o tipo de investigação levantada pela ética normativa e 
a teoria que daí resulta não descrevem o modo como as pessoas pensam ou se 
comportam; antes, indica o modo como devem pensar e se comportar. Daí surge 
segundo ele o termo ética normativa, pois a mesma formula normas válidas de 
conduta e avaliação de caráter. 
Já a ética aplicada diz respeito à aplicação de princípios extraídos da ética 
normativa para a solução de problemas do cotidiano, procurando resolver 
 
18 
 
problemas práticos, com os princípios da ética normativa (BORGES; DALL’AGNOL; 
DUTRA, 2002 apud LOPES, 2017). 
4.1 ÉTICA NORMATIVA E SUAS DIVISÕES 
De acordo com Oliveira (2016) as correntes da ética normativa podem ser 
divididas em duas categorias: a ética teleológica e a ética deontológica. A ética 
teleológica preocupa-se em determinar o que é correto de acordo com as finalidades 
que se pretende atingir, já a ética deontológica procura determinar o que é correto, 
não segundo a finalidade, mas sim guiando-se pelas regras e normas em que se 
fundamenta a ação. 
 
 
Éticas deontológicas 
 
Segundo a ética deontológica, a análise das consequências de um ato ou 
comportamento não deve influir no julgamento moral sobre as ações das pessoas 
(BORGES; DALL’AGNOL; DUTRA, 2002 apud LOPES, 2017). 
 
“Uma teoria ética recebe o nome de deontológica (do grego déon, dever) 
quando o valor de uma ação não depende exclusivamente das 
consequências da própria ação ou da regra com a qual se conforma” 
(LEITE, 2010 apud LOPES, 2017). 
Oliveira (2016) destaca que para as éticas deontológicas, algo deve ser feito 
ou não independentemente dos resultados que possam de aí advir, ou seja, na 
expressão de F. von Kutschera (1982 apud OLIVEIRA, 2016), “o valor de uma ação 
se determina somente a partir do valor da maneira de agir, que se realiza com isto”. 
Ato contínuo, o que caracteriza então uma ética deontológica é que o 
correto, que é aqui a categoria fundamental, não depende do bem e tem prioridade 
sobre ele, consequentemente as ações são em si mesmas boas ou más 
independentemente das consequências que provocam. Então, aqui estão em 
primeiro plano prescrições, proibições e permissões. (OLIVEIRA, 2016). 
 
19 
 
Em outras palavras, tem-se que a teoria deontológica prescreve que o dever 
em cada caso específico deve ser determinado por regras que são válidas 
independentemente das consequências decorrentes de sua aplicação. 
A ética deontológica divide-se em ética intuicionista, ética do discurso, ética 
do dever e contratualismo moral. (OLIVEIRA, 2016). 
 
a) Ética intuicionista 
 
Consoante Lopes (2017) a ética intuicionista crê na possibilidade de o ser 
humano ter conhecimento imediato sobre o que é correto ou não. Afirma que 
intuitivamente o homem possui conhecimento sobre o certo e o errado, sem que 
haja discussões sobre tais princípios, visto que não é pela razão que indivíduos 
justificam suas crenças. 
 
“[...] o intuicionista, segue a ideia de que já temos opiniões bem justificadas 
para utilizarmos nas questões morais tradicionais, faltando apenas 
sistematizá-las coerentemente” (BONELLA, 2010 apud LOPES, 2017). 
 
O intuicionismo moral apresenta um ponto favorável, tendo em vista que 
versa sobre uma teoria fiel ao fato de que as pessoas normalmente possuem um 
senso do que é correto ou errado, instintivamente. Em contrapartida, como ponto 
negativo, tal afirmação impossibilita qualquer argumentação no campo da 
moralidade, visto que apela à intuição e não à razão (BORGES; DALL’ AGNOL; 
DUTRA, 2002 apud LOPES, 2017). 
Intuir algo é apreendê-lo diretamente, sem necessidade de algum processo 
de raciocínio, diferente do processo dedutivo, por exemplo. Portanto, o intuicionismo 
em ética propõe que, por intuição, podemos reconhecer certas proposições morais 
como auto-evidentes. Outra característica das doutrinas intuicionistas é a aceitação 
da autonomia da ética: associada ao realismo moral, a tese da autonomia da ética 
propõe que os fatos morais não podem ser explicados ou reduzidos a termos não 
éticos. (LOPES, 2017). 
 
20 
 
A crítica aointuicionismo pauta-se no fato de que ele pode ser utilizado para 
justificar ações incompatíveis com a concepção coletiva, haja vista que há certo 
subjetivismo em relação à interpretação das intuições. 
 
b) A Ética do discurso 
 
A ética do discurso tem sua origem nos trabalhos teóricos de Karl-Otto Apel 
e Jürgen Habermas, que constituem exemplo único de parceria e de crítica mútua 
no horizonte da filosofia contemporânea. 
A ética do discurso pretende determinar o que é correto a partir de uma 
comunidade ideal de comunicação. Ou seja, deve haver uma sociedade organizada 
de tal modo que possam surgir discussões democráticas a respeito dos conceitos e 
aplicações éticas. (BORGES; DALL’AGNOL; DUTRA, 2002 apud LOPES, 2017). 
Para a ética do discurso o processo de compreensão mútua está ligado a 
uma premissa básica, onde deverá haver o assentimento racional motivado ao 
conteúdo que se deseja proferir. 
 
“O agir comunicativo pode ser compreendido como um processo circular 
no qual o ator é as duas coisas ao mesmo tempo: ele é o iniciador, que 
domina as situações por meio de ações imputáveis; ao mesmo tempo, ele 
é também o produto das tradições nas quais se encontra, dos grupos 
solidários as quais pertence e dos processos de socialização nos quais ele 
cria. ” (HABERMAS, 1989, p.166 apud LOPES, 2017). 
 
No entendimento de Siebeneichler (2018) a ética do discurso caracteriza-
se como “uma posição filosófica que lança mão de um procedimento argumentativo, 
também caracterizado como discurso, a fim de solucionar problemas, dilemas ou 
conflitos morais na atual sociedade complexa, globalizada e multicultural”. Para ele, 
“ela somente entra em ação, por assim dizer, quando há conflitos reais sobre 
normas. Mas não tem como objetivo a criação de princípios éticos ou normas 
morais. Ela apenas estabelece como critério um princípio discursivo ou princípio D”. 
 
21 
 
A ética do discurso introduz uma distinção rígida entre ética e moral. 
Segundo esta linha de pensamento, as questões éticas têm de ser entendidas no 
sentido da ética de Aristóteles, isto é, enquanto questões referentes à felicidade e 
às preferências valorativas de uma pessoa ou de um grupo, ao passo que as 
questões morais envolvem o dever de respeitar a todos os seres humanos sem 
exceção. (SIEBENEICHLER, 2018). 
 
c) Ética do dever 
 
A ética kantiana está centrada na noção de dever; a ideia da vontade e do 
dever estão alicerçadas pela liberdade do homem. Ela passa por um critério de 
universalização, porém a ação “é realizada não apenas conforme um princípio 
objetivo de determinação válido universalmente, mas também pelo dever, com um 
sentimento de respeito pela própria lei moral. ” (TERRA, 2004, p. 13,14 apud 
NASCIMENTO, LOPES, 2015). 
A ideia de dever é central para a compreensão do pensamento kantiano, e 
decorre da possibilidade de agirmos de acordo com leis morais universais, 
absolutas e formais. Universais, porque vigoram para todos os homens e em todos 
os tempos; absolutas, porque não comportam exceções; e formais, porque são 
“puras fórmulas de dever-se”, devendo ser obedecidas não em razão de outras 
consequências ou finalidades, mas sim porque são intrinsecamente valiosas. 
(COMPARATO, 2006, p. 289 apud LAGO, 2014) 
Em outras palavras, pode-se dizer que o dever gera uma obrigação, 
forçando-o a fazer o que talvez não quisesse ou que pelo menos não o agradaria 
porque o homem é imperfeito e carrega em si sentimentos contraditórios. Mas o 
dever, força, obriga a fazer aquilo que favorece a liberdade do homem, exercendo 
sua autonomia, isto é, a sua liberdade, permitindo que seja tomada a melhor atitude, 
a mais racional. (VALLS, 2010 apud LOPES, 2017). 
A ética do dever pretende discriminar o que é certo ou errado moralmente, 
utilizando-se de uma noção chamada de imperativo. 
 
22 
 
Há dois tipos de imperativos: o hipotético e o categórico. O imperativo 
hipotético afirma o seguinte: se quiser atingir determinado fim, age desta ou daquela 
maneira (KENNY, 2010 apud LOPES, 2017). O imperativo hipotético determina 
como deve ser a ação para se chegar a um fim específico. Ele está subordinado a 
uma condição, correspondendo a meios para se evitar algum castigo ou para se 
alcançar alguma recompensa. E de tal forma enuncia um mandamento, enquanto o 
mesmo está subordinado a condições específicas. (COBRA, 2010 apud LOPES, 
2017). 
Em resumo, o imperativo hipotético afirma que, se quisermos atingir 
determinado fim, devemos agir desta ou daquela maneira. (LAGO, 2014). 
O imperativo categórico, por sua vez, diz o seguinte: “[...] a ação é moral, 
se a regra da ação puder ser tomada como regra universal, ou seja, se puder ser 
observada e seguida por todos os seres humanos, sem contradição”. (BORGES; 
DALL’ AGNOL; DUTRA, 2002, p. 12 apud LOPES, 2017). 
A partir da premissa: “Aja de maneira tal que a máxima de tua ação sempre 
possa valer como princípio de uma lei universal” é que de Immanuel Kant criou o 
“imperativo categórico”. Ao buscar fundamentar na razão os princípios gerais da 
ação humana, Kant elaborou as bases de toda a ética moderna. (LOPES, 2017). 
Kant oferece uma formulação complementar do imperativo categórico: ‘age 
de tal modo que trates sempre a humanidade, quer que seja sua pessoa quer na 
dos outros, nunca unicamente como meio, mas sempre ao mesmo tempo como um 
fim’ (KENNY, 2008 apud LOPES, 2017). Em tal formulação é notável a presença da 
dignidade humana, “a pessoa humana não pode ser reduzida à condição de simples 
coisa, utilizável como meio ou instrumento de ação de outro ser humano”. 
(COMPARATO, 2006, p. 501 apud LOPES, 2017). 
Entre as críticas recebidas à doutrina Kantiana, encontra-se o fato de Kant 
apenas dizer o que não deve ser feito e de quais são as finalidades a que a vida 
deve ser dedicada, deste modo não concede nenhum rumo sobre qual seria um 
modo digno de viver. Apenas indicaria qualquer modo que não fosse contrário às 
suas proibições (BORGES, DALL’AGNOLLO, DUTRA, 2002 apud LOPES, 2017). 
 
23 
 
Outra crítica à teoria de Kant, segundo expõe LOPES (2017) é a carência 
de aproximação entre o imperativo (a priori – quando uma ideia não depende e não 
precisa da experiência para se estabelecer) e a realidade concreta. 
 
d) Contratualismo moral 
 
No contratualismo moral as regras da justiça são as que regem as principais 
instituições de uma sociedade. De acordo com esta corrente, as regras da justiça 
que devem reger as principais instituições de uma sociedade decorreriam de um 
contrato hipotético em que os contratantes ignoram previamente a posição que 
ocupam em tal sociedade (BORGES; DALL’AGNOLLO; DUTRA, 2002 apud 
LOPES, 2017). 
O contratualismo moral inspirou-se, em certa medida, na ética kantiana e é 
defendido na teoria de John Rawls, na obra “Uma teoria da justiça”. O pensador 
americano John Rawls evoca a justiça como base de um novo contrato social. “A 
justiça não é nem uma virtude nem um direito, mas sim um princípio fundador de 
uma sociedade bem ordenada” (PEGORATO, 2005, p.68 apud LOPES, 2017). 
A ética política de Rawls é uma tentativa de solução de um conflito básico, 
de ordem social: a disputa dos bens produzidos por uma comunidade política. 
Sendo os bens produzidos quantitativamente limitados e os cidadãos não possuindo 
um apetite moderado, torna-se necessário a intervenção de um princípio que ordene 
a distribuição dos bens (RAWLS, 2000 apud LOPES, 2017). 
A teoria ética de Rawls concentra-se na seguinte questão: 
“[...] Como ter uma sociedade moderna ordenada de acordo com os 
princípios da justiça? Ele elabora duas situações hipotéticas, o que chama 
de “posição original” e “véu da ignorância”. Na posição original, cada um 
dos participantes do contrato social encontra-se inteiramente livre de 
influências de pessoas ou grupos, guardando apenas conhecimento de 
fatos gerais sobre os homens e a sociedade. No “véu da ignorância”,supõe-se que os participantes ignorem todas as diferenças existentes 
entre si, ficam assim esquecidos de sua própria condição social e de seus 
companheiros, são postos também entre parênteses todos os dotes 
naturais que cada um possua, assim como suas concepções próprias de 
bem-estar social e individual. ” (RAWLS, 2000 apud LOPES, 2017). 
 
 
24 
 
Salienta-se que Rawls (2000 apud LOPES, 2017) não examina a justiça em 
geral, a ele interessa a justiça sob o aspecto da distribuição das vantagens e ônus 
sociais, limitando-se aos princípios da justiça, destinados a servir-se de regras para 
uma sociedade bem ordenada. Assim, supõe-se que cada cidadão aja com justiça, 
limitando até mesmo sua liberdade, estabelecendo limites ao seu exercício. 
Para Oliveira (2016) a teoria da justiça se fundamenta através de um 
procedimento de construção que conduz aos dois princípios básicos da justiça 
política, que são precisamente o objeto do acordo original e que, por conseguinte 
regulam todos os outros acordos, pactos, contratos, numa palavra, todas as formas 
de cooperação social. 
Na visão de Apel e Verantwortung (1999 apud OLIVEIRA, 2016), a intenção 
de Rawls é fundamentar a justiça como o resultado de uma escolha livre num 
contrato original, entendendo a liberdade, de acordo com a tradição britânica e no 
sentido da teoria estratégica dos jogos de escolha racional, como liberdade de 
arbítrio do interesse próprio; então, ele se vê obrigado, para poder garantir de 
antemão a equidade da escolha racional, a impor condições de equidade, o que faz 
do procedimento um círculo vicioso. 
 
 
Éticas Teleológicas. 
 
Numa ética teleológica a qualidade moral das ações depende das 
consequências produzidas (daí porque se falar aqui de “consequencialismo”) e seu 
conceito central é o de bem de tal modo que aqui se põe, em primeiro plano, uma 
ordem objetiva de bens e valores. Temos no seio desta, diferentes formas de ética 
e também formas diferenciadas de fundamentação da ética. (OLIVEIRA, 2016). 
Suas principais subdivisões são: a ética consequencialista (supracitada), 
que se baseia nas consequências da ação, e a ética das virtudes, que considera o 
caráter individual ou virtuoso do indivíduo. 
 
 
 
25 
 
a) Ética Consequencialista 
 
A ética consequencialista avalia se uma conduta é correta ou incorreta 
analisando, tão somente, as consequências advindas daquela ação, não fazendo 
juízo de valor a respeito do caráter e da real intenção do agente. As teorias 
consequencialistas desconsideram a importância do caráter moral, preocupando-
se, tão somente, com os efeitos do ato. (SANTOS; FILHO, 2017). 
Para o consequencialismo ético, as consequências de uma ação são 
determinantes para o juízo moral e a responsabilização do sujeito de uma ação. 
Nahra (2014 apud ZAPPELLINI, 2017) considera que o consequencialismo 
se distingue pelo fato de que as propriedades normativas de uma ação dependem 
de suas consequências. O valor moral da ação é extrínseco, pois os seus resultados 
a tornam boas ou más (NAHRA, 2014 apud ZAPPELLINE, 2017). 
Brink (2006 apud ZAPPELLINI, 2017) acrescenta que, no 
consequencialismo, as ações são julgadas moralmente em termos de promoção do 
bem; o dever é julgado por meio de práticas de ações que promovam o bem, e a 
virtude, por meio da disposição de agir de modo a provocar boas consequências. 
O egoísmo ético e o utilitarismo são as duas principais correntes do 
consequencialismo, sendo o utilitarismo a forma de consequencialismo mais 
influente conforme defende Daniel Nery da Cruz (2018). 
Ambas as correntes citadas defendem a ideia de que o ser humano deve 
agir de forma a produzir consequências boas, no entanto a diferença que consiste 
entre as duas é que para o egoísmo ético, o ser humano deve agir para seu próprio 
benefício, enquanto para o utilitarismo, o ser humano deve agir em função do 
interesse comum. 
Com relação ao egoísmo ético, pode-se enumerar três posturas típicas: a) 
o indivíduo entende que as ações de todos devem convir com seu interesse 
individual; b) o indivíduo age apenas segundo seu interesse individual, sem que a 
ação ou o interesse de outros seja objeto de sua preocupação ética; c) o indivíduo 
crê que cada pessoa deve sempre agir de acordo com seu interesse próprio [...] 
(BORGES; DALL’AGNOLLO; DUTRA, 2002, p. 9 apud LOPES, 2017). 
 
26 
 
Resumidamente, Pereira (2017) explica que, “o egoísmo racional 
estabelece que todo agente deve, racionalmente, fazer aquilo que é do seu 
interesse”. 
Com as afirmações acima enunciadas, Lopes (2017) faz as seguintes 
ponderações: 
 
“[...] percebe-se que a principal vantagem do egoísmo ético é a facilidade 
em determinar o próprio interesse, comparando-se com a dificuldade de se 
determinar o interesse coletivo, ou aquilo que traria maior benefício a 
todos. O problema que surge com a primeira e a segunda versão é que 
ambas são benéficas apenas para um indivíduo ou para um grupo de 
indivíduos, não podendo ser aplicada à humanidade em geral. 
O problema com a terceira forma é que, se a mesma estivesse vigente, 
não comportaria normas ou ações com validade universal, visto que muitas 
vezes as pessoas têm interesses excludentes. 
Se o egoísmo ético assinala que o indivíduo deva agir de acordo com seus 
interesses próprios, o utilitarismo assinala que cada indivíduo deve agir de 
forma a proporcionar o maior bem ou a maior felicidade para todos que o 
circunda. ” 
 
No que se refere ao utilitarismo, tem-se que este apresenta pelo menos 
cinco traços básicos (BORGES; DALL’AGNOLLO; DUTRA, 2002 apud LOPES, 
2017): 
 
“[...] a) considera as consequências das ações para assim estabelecer se 
as mesmas são corretas ou não; b) apresenta uma função maximizadora 
daquilo que é considerado valioso em si mesmo; c) apresenta uma visão 
igualitária dos agentes morais; d) apresenta uma tentativa de 
universalização na distribuição de bens; e) apresenta uma concepção 
natural sobre o bem-estar”. 
 
Certamente um dos méritos do utilitarismo é levar em conta as 
consequências da ação, pois as mesmas constituem o que entendemos por 
responsabilidade moral. Quando alguém é responsabilizado por algo, não se 
considera apenas o ato praticado, mas também o resultado do mesmo. (LOPES, 
2017). 
 
27 
 
O utilitarismo está comprometido com a tese de que deve sempre ser feito 
o melhor possível, partindo da pressuposição de que se algo é bom, não seria 
razoável produzi-lo em pequenas porções, pois quanto mais se tiver do que é bom, 
melhor pra todos. Deve-se lembrar de o que deve ser maximizado não é o nosso 
próprio bem, mas a maior felicidade para o maior número possível. Tal função 
maximizadora do utilitarismo o torna uma teoria ética com certa tendência 
perfeccionista. (LOPES, 2017). 
Outro elemento fundamental da teoria ética utilitarista é a sua efetiva 
preocupação com o bem-estar dos agentes. A diminuição extrema do sofrimento é 
um ideal do mais alto valor, por isso o utilitarismo é uma teoria ética que prima pela 
qualidade de vida e bem-estar dos agentes. (LOPES, 2017). 
 
b) Ética das Virtudes 
 
A filósofa britânica Julia Annas (1946 - apud ZAPPELLINI, 2017) afirma que 
“a ética das virtudes, cuja formulação inicial se deve a Aristóteles, foi o principal 
padrão adotado pelos filósofos morais até o século XVIII, quando as formulações 
consequencialista (a partir de Jeremy Bentham) e deontológica (de Immanuel Kant) 
se tornam conhecidas (ANNAS, 2006) ”. 
Ela apresenta uma bela definição da virtude, afirmando tratar-se de uma 
disposição para agir de uma determinada maneira; essa disposição é informada ou 
guiada pela razão e é construída pelas escolhas feitas pelo agente. Em outras 
palavras, a virtude consiste numa disposição de fazer as coisas certas pela razão 
certa e da maneira apropriada, tornando-se aquilo que um agente moral consciente 
sabe ser o que é certo fazer (ANNAS, 2006 apud ZAPPELLINI, 2017).As virtudes, de acordo com Sousa (2009 apud ZAPPELLINI, 2017), definem 
a vontade do agente e fazem com que ele atinja o bem; elas são, dessa forma, 
essenciais para uma vida bem-sucedida, uma vez que fazem parte do caráter (que 
é uma virtude) e ajudam a pessoa a alcançar a excelência. 
É preciso ter em mente que o bem só será alcançado se as ações forem 
praticadas de acordo com a razão informada pela virtude em praticar atos baseados 
 
28 
 
na virtude (SOLOMON, 2006 apud ZAPPELLINI, 2017): Paviani e Sangalli (2014 
apud ZAPPELLINI, 2017) afirmam categoricamente que a pergunta central da ética 
da virtude é como devo agir. 
A resposta a essa pergunta, por sua vez, consiste em agir bem, agir de 
acordo com uma lei moral fundamentada em obrigações ou no maior bem possível, 
tendo sempre em mente que esse bem é próprio do ser humano (PAVIANI; 
SANGALLI, 2014 apud ZAPPELLINI, 2017). 
Solomon (2006 apud ZAPPELLINI, 2017) defende a ética das virtudes com 
base na ideia de que ela não apenas define o que é certo, mas também o que é 
bom. 
Essas visões modernas da virtude possuem fundamento em Aristóteles, a 
partir de sua obra Ética a Nicômaco. Para ele (1985, p. 11 apud LOPES, 2017), “[...] 
o objetivo da ética seria então determinar qual é o bem supremo para as criaturas 
humanas (a felicidade) e qual a finalidade da vida humana [...]”. 
Assim, a noção aristotélica de virtude, conforme Sangalli e Stefani (2012 
apud ZAPPELLINI, 2017), “é a de uma disposição humana em realizar coisas boas, 
atualizada pela prática constante e capaz de formar o caráter e controlar as paixões 
humanas”. 
No entanto, Zappelini (2017) ressalta que a prática da virtude não é 
exatamente simples: 
“[...] ela se equilibra entre dois tipos de vícios, um deles causado pelo 
excesso e outro pela falta, e, embora Aristóteles use a expressão justo 
meio para designar essa posição de equilíbrio, ela não é equidistante do 
excesso e da escassez; assim, o homem virtuoso precisa da razão, pois 
precisa calcular o que é a virtude em cada situação, e a razão é auxiliada 
pelo hábito (é preciso praticar a virtude para solucionar os problemas de 
como agir, bem como desenvolver a capacidade de ação)m fazendo com 
que uma ação virtuosa em determinado contexto não o seja em outro – 
mas o homem virtuoso sabe como agir (SANGALLI; STEFANI, 2012). 
 
Solomon (2006 apud ZAPPELLINI, 2017) apresenta, então, a lista de 
virtudes que um ser humano deve possuir: “a coragem, a temperança, a 
liberalidade, a magnificência, o orgulho, o bom temperamento, a amizade, o amor à 
verdade, a sabedoria, a vergonha e a justiça”. 
 
29 
 
Referida lista, segundo Solomon (2006 apud ZAPPELLINI, 2017), “é muito 
calcada no modelo do bom cidadão ateniense contemporâneo de Aristóteles, e 
precisa de atualização. Além disso, ela desconsidera as virtudes cardeais cristãs, 
como a fé, a esperança e a caridade”. 
Inobstante não poder mensurar as incontáveis tentativas de modernizar a 
lista de Aristóteles, cabe-nos apenas mencionar uma formulação muito 
interessante, feita pelo filósofo francês André Comte-Sponville (1952 – ). Ele 
considera as virtudes como: 
 
“[...] forças ou disposições para agir, que, em seu uso moral, conduzem o 
ser humano à excelência, e afirma que, embora seja necessária a reflexão 
para o verdadeiro uso da virtude, o aspecto fundamental reside na prática: 
para aprender o que é a virtude, é preciso materializá-la em atos” 
(COMTESPONVILLE, 2001 apud ZAPPELLINI, 2017). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
30 
 
5 ORIGENS DA ÉTICA CRISTÃ: O ÉTHOS BÍBLICO 
Fonte: misericordia.org.br 
 
Antes de falar numa ética cristã é preciso falar de um éthos bíblico, já que 
é sobre ele que está sistematizada a ética cristã. Não é um éthos racionalmente 
demonstrável. É, isso sim, uma moralidade fundada na obediência à Palavra de 
Deus e sujeita (essa moralidade) à fé. No dizer de Schelkle, “é uma moralidade 
construída sobre o risco da fé, de cujo caráter ela participa”. (RINCON ORDUÑA, 
1983 apud ADRIANO, 2007). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
https://misericordia.org.br/
 
31 
 
5.1 As fontes do éthos bíblico 
Segundo José Adriano (2007) a primeira coisa é constatar que a Aliança 
tem caráter essencialmente moral. Ela constitui o fundamento mais importante da 
moral bíblica. Em segundo lugar, ele aponta que devesse destacar a Teologia da 
Criação por ter criado todo o mundo e todos os povos. Iahweh exerce seu domínio 
sobre toda a história e sobre todas as nações, daí a consequência de tipo moral. 
O autor explica que na composição do éthos bíblico veterotestamentário 
entram outras três fontes éticas: natural, sociológica e popular. Essas fontes eram 
constituídas tanto pelo ambiente beduíno e a vida sedentária dos cultivadores como 
a vida religiosa dos povos vizinhos. 
José Adriano (2007) ainda comenta que: 
 
“O éthos do AT, no entanto, acrescenta um elemento novo e predominante: 
a opção por Iahweh e pela fidelidade à Aliança. Essa opção traz em seu 
bojo um princípio unificador que assegura o nascimento e a sobrevivência 
do Povo da Aliança; um princípio seletivo que promove a consciência 
recíproca entre as tribos, marginalizando e excluindo tudo o que era 
contrário à Aliança; princípio de sistematização do éthos reduzindo todas 
as exigências morais ao princípio ético último do amor a Deus e ao próximo 
(Dt 6, 4-5; Lv 19,18). ” 
 
Deve-se entender, pois, que o éthos tradicional das tribos foi submetido à 
autoridade legitimadora de Deus e da assimilação do patrimônio ético da 
humanidade contemporânea nos marcos da experiência histórico-salvífica de Israel. 
A fé presente em Israel operou uma seleção e uma interpretação religiosa dos 
receitos já conhecidos e reconheceu no comportamento moral o valor de um ato de 
obediência ao Deus da Aliança. (ADRIANO, 2007). 
Por fim, José Adriano destaca os postulados do Éthos veterotestamentário, 
quais sejam: 
 
 
 
 
32 
 
“a) Acatamento do domínio absoluto e transcendente de Deus sobre o 
mundo, sobre os homens e sobre o Povo de Israel; 
b) Convicção de que a norma máxima de conduta para o israelita era a 
vontade de Iahweh manifestada na Lei; 
c) os códigos legais se situam no contexto da Aliança do Sinai, adquirindo, 
por isso mesmo, um caráter de credo ético; 
d) O conceito de comunidade que deriva não só da solidariedade (como 
fator sociológico), mas especialmente do fato de que os israelitas, ao 
selarem a Aliança com Iahweh no Sinai, adquiriram a consciência de que 
formavam o Povo de Deus; e) o interesse pelo indivíduo considerado como 
membro da comunidade (concepção antropocêntrica do mundo: o homem 
foi colocado no centro da criação e feito imagem e semelhança de Deus. 
Desse modo, qualquer que fosse sua categoria social, o homem era 
considerado como membro de Israel). ” 
6 ÉTICA CRISTÃ 
 
 
Fonte: www.gospelprime.com.br 
 
Segundo Pallister (1985, p. 2 apud Cavalcanti, 2016) a Ética Cristã pode ser 
conceituada como “o estudo dos deveres humanos, de acordo com a vida e os 
ensinos de Jesus”. Jesus Cristo, através do seu modo de vida e exemplo, é a 
autoridade suprema da ética cristã, cujos ensinamentos devem ser ensinados e 
vividos. (PALLISTER, 1985, p. 15 apud CAVALCANTI, 2016). 
http://www.gospelprime.com.br/
 
33 
 
Andrade (2015), a sua vez, a define como “a ciência que tem por objetivo 
orientar não apenas o cristão, mas também o não cristão, quanto às reivindicações 
da Bíblia Sagrada acerca de sua conduta pessoal, familiar e pública”. 
A Ética Cristã é considerada ciência por apresentar de maneira clara, 
metódica e racional, as verdades absolutas da Bíblia Sagrada à sociedade. Logo, 
não é uma mera reflexão acerca das reivindicações morais da Bíblia Sagrada. 
(ANDRADE, 2015). 
Assim, pode-se afirmar que, o que da base e consistência à Ética Cristã é 
a Bíblia Sagrada, de padrão infalível, imutável e inerrante. (LIMA, 2006 apud 
CAVALCANTI, 2016). “São osvalores absolutos, provenientes do ser divino, criador 
de todas as coisas, presentes nas Escrituras, que dão solidez e atemporalidade aos 
princípios cristãos éticos que podem e devem ser aplicados a qualquer época da 
história da humanidade” (CAVALCANTI, 2016). 
Nos comentários de Pimentel (2012): 
“Na ética cristã, os princípios e valores do indivíduo são norteados pelo 
cristianismo, tendo a fé e a aceitação da palavra de Deus através do Cristo 
como princípio para que o cidadão tome suas decisões de forma ética 
dentro da comunidade, simplesmente pela consciência de que graça e 
ação estão associadas uma a outra, entendendo que não existe fé sem 
boas obras, assim como não existem boas obras sem fé”. 
 
“Somente quem crê obedece”: a fé exige como consequência a obediência 
(à palavra de Deus). Mas, ao mesmo tempo e dialeticamente, “só quem 
obedece crê”: a fé só existe na obediência e nutre-se da obediência à 
palavra de Deus. Jesus chama ao segmento, e o segmento não é somente 
fé, mas fé e obediência, obediência e fé”. (GIBELLINI, 2002 apud 
PIMENTEL, 2012). 
 
Prosseguindo, Dietrich Bonhoeffer, teólogo polonês que desenvolveu uma 
teologia mais ética do que dogmática, trabalhou na redação de uma obra 
sistemática publicada postumamente por Eberhard Bethge16 em 1949, intitulada 
como Ética, faz a seguinte ponderação sobre a ética cristã (GIBELLINI, 2002 apud 
PIMENTEL, 2012): 
 
“A ética não pode ser uma ética dos princípios ou das normas, que é 
preciso primeiro formular e fixar para depois aplicar e estender à realidade. 
 
34 
 
O objetivo da ética não é o conhecimento do bem e do mal, baseado em 
princípios e normas [...] e sim o discernimento da vontade de Deus em vista 
da ação concreta. ” (GIBELLINI, 2002, p. 111 apud PIMENTEL, 2012). 
 
E complementa: 
 
“A ética dos princípios é abstrata e desvinculada da realidade: ela fixa uma 
vez por todas o que é bem e o que é mal; a ética que guia os cristãos é 
concreta e interroga-se sobre o mandamento concreto de Deus “hoje”, 
“aqui”, “entre nós”, “para nós”. ” (GIBELLINI, 2002, p. 111 apud PIMENTEL, 
2012). 
 
Desta forma, não existem meios termos ou uma obrigação ditadora em 
relação a ética cristã, uma vez que os mandamentos divinos são claros e serão 
atendidos de forma plena apenas se o indivíduo tiver consciência que deve aplicá-
lo por convicção, por amor e respeito a Deus, tendo a palavra como valor em sua 
vida e não porque alguém ou algum grupo está lhe dizendo que deve ser dessa 
maneira. (PIMENTEL, 2012). 
Assim, “o ponto de partida da ética cristã, não é um princípio ou uma norma, 
mas o fato da reconciliação do mundo com Deus realizada em Cristo” (GIBELLINI, 
2002, p. 111 apud PIMENTEL, 2012), já que Cristo não veio ao mundo 
simplesmente para entregar aos homens programas éticos ou religiosos com a 
finalidade de que o mundo seja configurado nessas bases, “mas configura a si e a 
Igreja, e na Igreja os cristãos, como uma nova humanidade, a fim de que por meio 
deles aconteça a configuração do mundo a Cristo”. (GIBELLINI, 2002, p. 112 apud 
PIMENTEL, 2012). 
“A ética cristã não é nem uma ética vitalista, que vive só o “sim” ao mundo; 
nem uma ética da renúncia, que vive somente o “não”, e sim uma ética da 
responsabilidade, que vive a tensão, a unidade polêmica entre o sim e o 
não: “A vida que encontramos em Jesus Cristo sob forma do ‘sim’ e do 
‘não’ pronunciado para a nossa existência exige como resposta uma vida 
que acolha e unifique aquele ‘sim’ e aquele ‘não’”. (GIBELLINI, 2002, p. 
114 apud PIMENTEL, 2012) 
 
 
35 
 
Em vista disso, ainda que amparados pelo livre arbítrio concedido por Deus 
aos homens, não quer dizer que eles têm direito ao “sim” absoluto que atenderá a 
todas as suas vontades como se fosse influenciar apenas em suas próprias vidas, 
ignorando o fato de que cada “sim” deve ser consciente e amparado nos propósitos 
designados por Deus, visto que o “sim” deve trazer em sua base o desejo divino, 
não o desejo estritamente do homem objetivado a satisfazer ao seu ego e vontades. 
Do mesmo modo, deve vir a consciência para a escolha pelo “não”, amparada pelo 
discernimento entre o que é bom para Deus ou não, e não para o acomodo e 
omissão do homem. (PIMENTEL, 2012). 
Fato é que, a ética cristã tende a enraizar-se dentro do íntimo do indivíduo 
se tornando uma lei própria que irá orientar as suas escolhas e guiar a sua vida. 
Destarte, levando em consideração que uma das orientações do cristianismo é amar 
ao próximo da mesma forma e com a mesma intensidade que ama a si mesmo, 
seguindo esta ideia, é possível deixar todos os homens em posição de igualdade e 
colocar de lado a obsessão desenfreada pelo poder e superioridade sobre o outro, 
que tanto corrompe e faz mal ao homem e à sociedade, dividindo-os em grupos e 
até mesmo individualizando-os, impossibilitando assim, a convivência entre eles 
como irmãos. (PIMENTEL, 2012). 
Por todo o exposto, pode-se concluir que a ética cristã estuda de forma 
sistemática a vivência prática moral do homem, baseado em seus valores cristãos 
revelados na Bíblia Sagrada. (REIFLER, 2007 apud CAVALCANTI, 2016). 
 
“Neste ínterim, observa-se que a nascente da ética cristã não está voltada 
para o próprio eu, muito menos para a realidade a sua volta, mas para a 
realidade divina com base em sua revelação presente nas Escrituras e com 
ápice na pessoa e obra de Jesus Cristo. BONHOEFFER, 2009 apud 
CAVALCANTI, 2016). 
A Ética Cristã, em sua conjectura geral, portanto, tem viés antropocêntrico, 
ou seja, o ser humano é base, já a ética de caráter cristão é de perspectiva 
teocêntrica, tendo Deus na origem. (CAVALCANTI, 2016). 
Por fim, entende-se a importância da ética em sua conjectura de caráter 
geral para benefício da sociedade, porém, visualiza-se em termos de importância e 
 
36 
 
profundidade, a ética cristã como melhor estruturada, organizada, coerente e com 
a presença de valores permanentes para contribuir com a transformação social de 
maneira mais contundente. (CAVALCANTI, 2016). 
Ao fazer a diferenciação dos tipos éticos, Bonhoeffer (2009, p. 125 apud 
CAVALCANTI, 2016) diferencia ambas de maneira mais drástica ao relatar que a 
ética cristã é “divina, santa, sobrenatural”; enquanto que a ética geral é “mundana, 
profana, natural, não cristã”. Já Stanley Grenz (GRENZ, 2006 p. 257 apud 
CAVALCANTI, 2016) apresenta a ética cristã como marco evolutivo e 
transformacional para a ética natural. “A ética cristã marca a redenção da ética 
natural; melhor dizendo, sua transformação”. (GRENZ, 2006, p. 257 apud 
CAVALCANTI, 2016). 
6.1 Os fundamentos da Ética Cristã 
Para Cavalcanti (2016) pensar a revelação presente nas Escrituras 
Sagradas de Deus ao seu povo desde os primórdios, de maneira dinâmica e 
crescente, facilitará o entendimento da construção do alicerce ético cristão para 
aplicabilidade na sociedade. Uma revelação progressiva permite a visualização do 
lançamento de bases sólidas de valores e princípios para o bem viver. 
Neste entendimento, compreende-se que o fundamento da ética cristã, 
segundo referido autor, encontra-se presente no Antigo Testamento (GRENZ, 2006, 
p. 69 apud CAVALCANTI, 2016), ou seja, onde o processo de imitação de valores 
permanentes e imutáveis presentes no ser divino, como santidade, 
responsabilidade, amor, fé, honestidade, são disseminados entre o povo modelo de 
Israel, com o intuito de alcançar outras nações, e com isso trazer transformação a 
nível globalizado. 
Já para Quintela (2016), a ética cristã, ao contrário da secular (que tem sua 
origem na filosofia grega), é a ética pautada nas Escrituras Sagradas, afetando não 
somente os costumes, mas também a definição de bem e mal. Desta forma, a ética 
cristã não deixa espaços para o relativismo ético, o egoísmo ético, ou para 
utilitarismo. 
 
37 
 
Consoante Quintela (2016) a ética cristã tem como pressuposto a 
metafísica, pois acredita em um Deus único criador, sustentadore direcionador do 
universo. Por ter caráter teísta, ela se encontra no campo da ética normativa, que, 
de acordo com Moreland e Craig (2005, p. 486 apud QUINTELA, 2016), “procura 
oferecer orientação para determinar se ações, atitudes e motivações certas ou 
erradas”. Para Costa (2016, p. 5 apud QUINTELA, 2016), “a missão dada por Deus 
ao homem para ser cumprida aqui na terra é o assunto especial da ética cristã”. 
Com uma visão mais abrangente que os autores anteriores, Andrade 
(2015), assevera que “como toda ciência que se preza, a Ética Cristã possui bases 
bem sólidas; [...] e, têm como “fundamentos: a Bíblia Sagrada, a tradição da Igreja, 
as leis humanas e os costumes”. 
 
“a) A Bíblia Sagrada. Sendo a Bíblia Sagrada a nossa única regra infalível 
de fé e prática, constitui-se ela no principal fundamento da Ética Cristão. 
Portanto, todas as nossas decisões têm de ser orientadas por suas 
ordenanças e prescrições. Caso contrário, jamais seremos reconhecidos 
como filhos de Deus. Não basta portar um exemplar da Palavra de Deus, 
nem jurar com a mão sobre o Livro Santo. É urgente que lhe sigamos as 
recomendações e cumpramos-lhes todas as demandas. (Grifo nosso). 
 
b) Tradição da Igreja. Se, por um lado, não podemos escravizar-nos à 
tradição, por outro, não devemos desprezá-la. Sem o legado dos que nos 
precederam, jamais teríamos conseguido estruturar nosso edifício 
teológico, moral e ético. Logo, é-nos permitido eleger a tradição 
eclesiástica como o segundo fundamento da Ética Cristã. ” (Grifo nosso). 
Para Andrade (2015), pois, é possível ter outros cânones da ética cristã 
além da Bíblia Sagrada. Ele afirma que é permitido tê-los desde que não contrariem 
a Palavra de Deus. Contudo, ressalva que somente a Bíblia (Livro dos livros) pode 
e deve ser aceita irrestritamente, ao passo que as outras normas e proposições têm 
de passar pelo crivo dos santos profetas e apóstolos. 
Ele destaca que a tradição, quando bem utilizada, assessora a igreja nos 
dilemas teológicos, morais e éticos. Segundo ele, o apóstolo Paulo reconhece-lhe 
a importância: “Nós vos ordenamos, irmãos, em nome do Senhor Jesus Cristo, que 
vos aparteis de todo irmão que ande desordenadamente e não segundo a tradição 
que de nós recebestes? ” (2 Ts 3.6). O que não se pode fazer, Andrade (2015) 
alerta, é colocá-la (a tradição) em pé de igualdade com a Bíblia. 
 
38 
 
Sobre o terceiro e quarto fundamento da Ética Cristã, Andrade (2015) 
explica: 
 
“C) as leis humanas e os costumes. As leis romanas, segundo Tertuliano 
(160-220), formavam uma barreira contra a ascensão do Anticristo, que já 
naquela época, deixava os cristãos bastante apreensivos. Embora haja 
sido elaborada por legisladores alheios à comunidade de Israel, 
espelhavam o cuidado divino em manter a ordem entre as nações. Além 
do mais, segundo Paulo, “não há autoridade que não proceda de Deus; e 
as autoridades que existem foram por ele instituídas”. [...] Mais adiante, 
reafirma o apóstolo: “De modo que aquele que se opõe à autoridade resiste 
à ordenação de Deus; e os que resistem trarão sobre si mesma 
condenação. Porque os magistrados não são para temor, quando se faz o 
bem, e sim quando se faz o mal. Queres tu não temer a autoridade? Faze 
o bem e terás louvor dela, visto que a autoridade é ministro de Deus para 
teu bem. Entretanto, se fizeres o mal, teme; porque não é sem motivo que 
ela traz a espada; pois é ministro de Deus, vingador, para castigar o que 
pratica o mal” (Rm 13.2-4). 
 
Logo, segundo Andrade (2015), a Ética Cristã pode fundamentar-se 
também nas legislações humanas. É claro que estas nem sempre refletem a justiça 
divina. Nesse caso, deve-se, para ele, ignorá-las e ficar apenas com a Bíblia 
Sagrada, já que, por exemplo, “um cristão consciente jamais acataria, por exemplo, 
as Leis de Nuremberg que, decretadas pelos nazistas em 1935, privaram os judeo-
alemães de sua cidadania, tornando-os descartáveis no estado hitlerista”. 
Se as leis humanas não contrariam as divinas, obedeçamo-las, afinal, Deus 
também se utiliza das legislações temporais para fazer cumprir seus decretos 
eternos. Os cristãos, de acordo com a Epístola a Diogneto, antigo documento do 
século II, “vivem na sua pátria, mas como forasteiros; participam de tudo como 
cristãos e suportam tudo como estrangeiros. Toda pátria estrangeira é pátria deles, 
e cada pátria é estrangeira. Obedecem às leis estabelecidas, mas com sua vida 
ultrapassam as leis”. (ANDRADE, 2015). 
 
 
 
39 
 
6.2 Princípios Éticos Cristãos 
De acordo com Almada (2015) não há na literatura muitas obras que 
sistematizem princípios cristãos de forma ordenada, mas, há, sim, uma ou outra 
inferência de maneira solta, ratificando segundo ele a ideia de não sistematização 
dos princípios éticos cristãos. Nesse sentido, o teólogo luterano Bonhoeffer (2009, 
p.48 apud ALMADA, 2015, p. 37) na obra “Ética”, diz que: 
 
“O inteligente sabe que a realidade tem limitada receptividade para 
princípios, pois sabe que ela não se estrutura por princípios, mas repousa 
no Deus vivo e criador. Sabe, portanto, também que não se pode acudir a 
realidade como os mais puros princípios nem com a melhor das vontades, 
mas somente com o Deus vivo. Princípios são apenas instrumentos na 
mão de Deus, e que logo são jogados fora como imprestáveis. O olhar 
liberto para Deus e para a realidade tal qual subsiste somente em Deus 
conjuga simplicidade e inteligência. Não há verdadeira simplicidade sem 
inteligência, como não há inteligência sem simplicidade”. 
 
O autor Wolfgang Schrage (1994, p. 14 apud ALMADA, 2015) fez sua 
observação a respeito de uma falta de sistemática da ética cristã no Novo 
Testamento, dizendo que: 
 
“Portanto, embora o NT não tenha desenvolvido uma ética sistemática, 
também não se deve conceber o agir da cristandade primitiva de modo 
excessivamente puntiforme e ativista e a ética neotestamentária 
exageradamente em termos de ética situacional ou decisionista. Mesmo 
que não se encontre nenhum sistema fechado de reflexões éticas e 
nenhuma ética concebida racionalmente, não se pode deixar de ver a 
grande valorização da razão e do conhecimento racional justamente dentro 
da ética neotestamentária. ” 
 
Assim, como primeira análise na busca pelos princípios éticos cristãos tem-
se à Bíblia, pilar para a sustentabilidade da religião cristã, a qual, dentre as muitas 
regras morais, traz os Dez Mandamentos. (ALMADA, 2015). 
O livro sagrado encerra condutas que, a princípio, deveriam ser seguidas 
por todas as pessoas cristãs: 
 
40 
 
 
“Fidelidade, humildade e sinceridade são coisas que, a priori, todo cristão 
deseja desenvolver ao lado de Deus. Porém, as coisas que realmente 
desenvolve-se na grande maioria após o conhecimento de. Seus ensinos, 
são: desânimo, incredulidade, avareza, orgulho, etc.; comportamentos que 
tornam a parábola do semeador cada vez mais atuante (Mateus 13:1-23 
cf. João 6:60-66). No geral, isso ocorre quando a lei de Deus é rejeitada 
(Romanos 8:5-8); outros cambaleiam por manterem ideias equivocadas 
sobre ela (cf. Tito 1:13-14). ” (IASD ON LINE, 2014 apud ANDRADE, 2015). 
 
Também é verdade que não há a necessidade de ser uma pessoa cristã e 
muito menos ser um excelente observador para verificar essas regras morais que a 
Bíblia encerra. Da mesma forma identifica-se nas escrituras, mesmo que de forma 
implícita, princípios éticos que são a base para essas regras de condutas que 
agradem a Deus. Portanto, é necessário distinguir entre regras e princípios, veja-
se, pois: 
“Uma regra define-se por sua especificidade, por ser uma ação particular 
numa situação dada (ou em toda situação). O princípio e a norma 
assinalam o que está por trás da regra, isto é, as razões e o fundamento 
da regra. O princípio tem sentido de “fonte”, ao passo que a norma tem 
sentido de “pauta” ou “modelo”. [...] Os princípios e as normas assinalam a 
orientação e a qualidade da ação humana. Surgem de umarelação viva 
com Deus e o próximo, cimentada no que Deus Fez no passado e no que 
está fazendo no presente. ” (DEIROS, 2002, p. 14 apud ALMADA, 2015). 
As abordagens éticas contemporâneas, dos mais diversos códigos 
profissionais podem ser estudadas pelos cristãos como forma de se avaliar a 
conduta a ser seguida, entretanto, nas palavras do teólogo evangélico Elinaldo Lima 
(apud ALMADA, 2015), “é na Bíblia que se encontram os referenciais éticos 
indispensáveis para um viver santo e digno, em meio a uma sociedade que é vista 
por Deus como reprovável e corrompida”. 
A partir deste ponto se passa a discorrer sobre os princípios éticos cristãos 
que emanam da Bíblia Sagrada. 
 
 
 
41 
 
6.3 Princípio da ternura e do vigor 
Leonardo Boff (2012, p. 31 apud ALMADA, 2015), ao construir este princípio 
disse que: “a paixão é um caudal fantástico de energia que, como águas de um rio, 
precisa de margens, de limites e da justa medida”. Tal referência reporta à 
Aristóteles que na obra “Ética a Nicomaco” tece considerações sobre essa 
temperança, conforme se colaciona a seguir: 
 
“Está, pois, suficientemente esclarecido que a virtude moral é um meio-
termo, e em que sentido devemos entender esta expressão; e que é um 
meio-termo entre dois vícios, um dos quais envolve excesso e o outra 
deficiência, e isso porque a sua natureza é visar à mediania nas paixões e 
nos atos. Do que acabamos de dizer segue-se que não é fácil ser bom, 
pois em todas as coisas é difícil encontrar o meio-termo. ” (ARISTÓTELES, 
1991 apud ALMADA, 2015). 
E Boff (2012, p.31 apud ALMADA, 2015), continua: “[...] se vigorar a justa 
medida, e a paixão se servir da razão para um autodesenvolvimento regrado, então 
emergem as duas forças que sustentam uma ética promissora: a ternura e o vigor”. 
A ternura tem a ver com a preocupação e o zelo com as outras pessoas, já o vigor, 
de acordo com dito autor, suplanta qualquer dificuldade e assim esclareceu: 
 
“O vigor abre caminho, supera obstáculos e transforma sonhos em 
realidade. É a contenção sem a dominação, a direção sem a intolerância. 
Ternura e vigor, ou também “animus” e “anima”, constroem uma 
personalidade integrada, capaz de manter unidas as contradições e 
enriquecer com elas. São dois princípios capazes de sustentar um 
humanismo sustentável, fundado na materialidade da história e na 
espiritualização das práticas humanas. Destas premissas pode nascer 
uma ética, capaz de incluir a todos na família humana. Essa ética se 
estrutura ao redor dos valores fundamentais ligados à vida, ao seu 
cuidado, ao trabalho, às relações cooperativas e à cultura da não violência 
e da paz. É um ethos que ama, cuida se responsabiliza, se solidariza e se 
compadece. ” (BOFF, 2012, p. 21-32 apud ALMADA, 2015). 
 
Nesse contexto, escrevendo aos Filipenses, o apóstolo Paulo exorta, 
dizendo que: “seja a vossa moderação conhecida de todos os homens. Perto está 
o senhor. ” (Fl 4,5). O termo moderação tem o significado de autocontrole e 
 
42 
 
ponderação. A exortação parece ter o intuito de combater posições obstinadas e 
demonstrações de severidade demasiada sobre qualquer coisa. (ALMADA, 2015). 
 
 
6.4 Princípio da conduta de amor a todas as pessoas 
Conforme Almada (2015), “por este princípio o amor é fundamento para 
qualquer relacionamento, seja com Deus ou com outro ser humano”. Neste mesmo 
sentido o teólogo e pastor evangélico João Arantes (2015 apud ALMADA, 2015) 
relata que: 
 
“Paulo começa a seção ética de sua carta aos Romanos com a excelência 
do “culto racional” e da diversidade dos dons espirituais que devem estar 
a serviço da igreja. Entre os dons espirituais e os degraus do 
comportamento cristão, exatamente no começo de Romanos 12.9, ele 
coloca a pedra angular da ética cristã: “o amor seja sem hipocrisia”. O 
amor, que é realmente o princípio governante da vida cristã, é mais do que 
uma emoção, e é de natureza mais firme do que mero sentimentalismo ou 
pura filantropia. Salomão poetiza esse amor sem hipocrisia, dizendo: “Põe-
me como selo sobre o teu coração, como selo sobre o teu braço, porque o 
amor é forte como a morte, e duro como a sepultura, o ciúme; as suas 
brasas são brasas de fogo, são veementes labaredas. As muitas águas 
não poderiam apagar o amor, nem os rios, afogá-lo; ainda que alguém 
desse todos os bens da sua casa pelo amor seriam de todo desprezado” 
(Ct 8.6-7). ” 
 
E para sustentar tal assertiva recorre-se mais uma vez às escrituras e às 
palavras de Paulo (apud ALMADA, 2015), veja-se, pois: 
 
“13:1 Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não 
tivesse amor, seria como o metal que soa ou como o címbalo que retine; 
13:2 E ainda que tivesse o dom de profecia, e conhecesse todos os 
mistérios e toda a ciência, e ainda que tivesse toda fé, de maneira tal que 
transportasse os montes, e não tivesse amor, nada seria; 13:3 E ainda que 
distribuísse todos os meus bens para sustento dos pobres, e ainda que 
entregasse o meu corpo para ser queimado, e não tivesse amor, nada 
disso me aproveitaria; 13:4 O amor é sofredor, é benigno; o amor não é 
invejoso; o amor não se vangloria, não se ensoberbece; 13:5 não se porta 
inconvenientemente, não busca os seus próprios interesses, não se irrita, 
 
43 
 
não suspeita mal; 13:6 não se regozija com a injustiça, mas se regozija 
com a verdade; (1Cor 13,1-6).” 
 
Do versículo supracitado, se depreende a importância do amor e de seus 
desdobramentos. 
Em outras palavras, Paulo (2001, p. 1227 apud Almada, 2015) explica que 
se não houver amor ao próximo, amor à sua profissão e se não colocar amor ao 
que está fazendo, não haverá sentido na vida. Mas, se ao contrário, colocar o amor 
como o carro chefe de tudo serão pessoas melhores e profissionais mais 
promissores. 
As palavras do teólogo, por sua vez, católico Boff (2012 apud ALMADA, 
2015), anunciam que: 
 
“O ethos que ama funda um novo sentido de viver. Amar o outro é darlhe 
razão de existir. Não há razão para existir. O existir é pura gratuidade. 
Amar o outro é querer que ele exista, porque o amor faz o outro importante. 
“Amar uma pessoa é dizer-lhe: tu não morrerás jamais. (G.Marcel), tu 
deves existir, tu não podes morrer”. Quando alguém ou alguma coisa se 
fazem importantes para o outro, nasce um valor que mobiliza todas as 
energias vitais. É por isso que, quando alguém ama, rejuvenesce e tem a 
sensação de começar a vida de novo. O amor é a fonte dos valores. ” 
 
Neste mesmo sentido, o teólogo luterano Bonhoeffer (2009, p. 35 apud 
ALMADA, 2015) exprime que “o amor seria, então, um ethos superior de ordem 
pessoal, que entra como complementação e aperfeiçoamento ao lado dos ethos 
inferior a questões de ordem e objetividade”. Ou seja, a ética superior advém da 
proximidade do ser humano com Deus. 
 
 
 
 
44 
 
6.5 Princípio da licitude e da conveniência 
 
Por este princípio a liberdade de escolha do cristão é exortada pelo apóstolo 
Paulo (2001, p. 1219 apud ALMADA, 2015) com os seguintes termos: “todas as 
coisas me são lícitas, mas nem todas as coisas convêm. Todas as coisas me são 
lícitas; mas eu não me deixarei dominar por nenhuma delas”. (Cor 6,12). 
A ideia do versículo em questão é de que a pessoa crente não deve fazer 
as coisas simplesmente porque são lícitas, mas porque lhe convém perante Deus. 
A conveniência trata das virtudes, valores e responsabilidades cristãs. Neste 
diapasão, tem-se que: 
 
“Aprendemos que o senso moral pode nos ajudar a separar o certo do 
errado, o falso do verdadeiro, o que deve e o que não deve, do que convém 
ou não convém. A flexibilização das Normas não significa uma abertura 
doutrinária que venha ferir os princípios éticos morais no viver cristão. Não 
podemos, em hipótese alguma, nos deixar dominar pelos costumes do 
mundo, para não sofrer as consequências espirituais”. (FERREIRA, 2015 
apud ALMADA, 2015). 
 
Na epístola de Paulo aos Gálatas (2001, p. 1250 apud ALMADA, 2015), 
exortou: “Não erreis:

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