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GASES DE EFEITO ESTUFA DA VINHAÇA DERIVADA DA PRODUÇÃO DE 
ÁLCOOL DE CANA-DE-AÇÚCAR: EMISSÕES POR ARMAZENAMENTO, 
DISTRIBUIÇÃO E FERTIRRIGAÇÃO 
 
 
 
 
Débora da Silva Paredes 
 
 
 
Tese de Doutorado apresentada ao Programa de 
Pós-graduação em Planejamento Energético, 
COPPE, da Universidade Federal do Rio de 
Janeiro, como parte dos requisitos necessários à 
obtenção do título de Doutor em Planejamento 
Energético. 
Orientadores: Marco Aurélio dos Santos 
 Bruno José Rodrigues Alves 
 
 
 
 
Rio de Janeiro 
Dezembro de 2015
 
 
 
 
 
 
iii 
 
 
 
 
 
 
 
Paredes, Débora da Silva 
Gases de efeito estufa da vinhaça derivada da 
produção de álcool de cana-de-açúcar: emissões por 
armazenamento, distribuição e fertirrigação/ Débora da 
Silva Paredes. – Rio de Janeiro: UFRJ/COPPE, 2015. 
XII, 118 p.: il.; 29,7 cm. 
Orientadores: Marco Aurélio dos Santos 
 Bruno José Rodrigues Alves 
Tese (doutorado) – UFRJ/ COPPE/ Programa de 
Planejamento Energético, 2015. 
 Referências Bibliográficas: p. 99-118. 
1. Mudanças climáticas. 2. Etanol 3. Fertilizantes. I. 
Santos, Marco Aurélio dos. et al. II. Universidade Federal 
do Rio de Janeiro, COPPE, Programa de Planejamento 
Energético. III. Título. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
iv 
 
 
 
“ A persistência é o menor caminho do êxito” 
 
 Charles Chaplin 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Ao meu esposo, pelo amor, carinho, companheirismo e ajuda nos momentos difíceis da 
concretização deste trabalho. 
Aos meus pais e irmã pela dedicação, incentivo e apoio para a realização dos meus 
sonhos ao longo da vida. 
 
 
 
v 
 
AGRADECIMENTOS 
 
A Deus, por não desistir de mim, por caminhar comigo em todos os momentos dessa 
jornada me garantindo a vitória até mesmo quando ela parecia mais distante. 
Aos meus pais, a minha irmã e aos meus familiares por estarem sempre ao meu lado, 
por confiarem no meu potencial até mesmo quando eu não acreditava em mim. 
A Carol, amiga de todos os momentos, pelo apoio recebido em cada etapa do trabalho. 
Ao meu amado marido, Gleyson, parceiro da vida, por me apoiar incondicionalmente. 
A Universidade Federal do Rio de Janeiro, em especial a todos os funcionários do 
Programa de Planejamento Energético, pela atenção e paciência de sempre. 
Aos professores do PPE pelos ensinamentos e por toda dedicação, em especial ao 
professor Marco Aurélio dos Santos pela orientação nesta tese. 
Ao Laboratório de Energias Renováveis e Estudos Ambientais (LEREA) da UFRJ, em 
especial aos amigos Talita e Clauber,pelo apoio nas análises laboratoriais. 
Ao Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas, em especial ao Dr. Geraldo Cernicchiaro, 
pelo empréstimo do equipamento (CAIPORA) e pela atenção de sempre. 
A Estação Experimental do Instituto Agronômico de Campinas (IAC) – Pólo Regional 
Centro-Leste (APTA) em Ribeirão Preto, em especial ao Dr. Denizart Bolonhezi e sua 
equipe, pela atenção que recebi durante o desenvolvimento do experimento de campo. 
A Doutora Magda Lima, da Embrapa Meio Ambiente, pelo apoio e pelo empréstimo do 
material para desenvolvimento do trabalho de campo. 
A Embrapa Agrobiologia pela parceria no desenvolvimento do trabalho. 
Ao Laboratório de Química Agrícola e de Cromatrografia da Embrapa Agrobiologia, 
em especial ao Altiberto, ao Ednelson e a Andréia pelas análises. Aos Pesquisadores 
Robert Michael Boddey, Segundo Urquiaga e em especial ao Dr. Bruno Alves pela 
amizade, apoio, confiança e pelos ensinamentos de sempre. Sem vocês esse trabalho 
não seria possível. 
Aos colegas do grupo de ciclagem de nutrientes, em especial aos amigos Seleno e 
Márcio pelo apoio nas campanhas de campo e em todos os momentos da execução deste 
trabalho. 
Ao CNPQ pela concessão da bolsa de estudo e ao CNPQ e FAPERJ pelo financiamento 
dos projetos. 
E a todos que contribuiram, direta ou indiretamente, para realização deste trabalho. 
Muito Obrigada! 
 
 
 
vi 
 
Resumo da Tese apresentada à COPPE/UFRJ como parte dos requisitos necessários 
para obtenção do graus de Doutor em Ciências (D. Sc.) 
 
GASES DE EFEITO ESTUFA DA VINHAÇA DERIVADA DA PRODUÇÃO DE 
ÁLCOOL DE CANA-DE-AÇÚCAR: EMISSÕES POR ARMAZENAMENTO, 
DISTRIBUIÇÃO E FERTIRRIGAÇÃO 
 
Débora da Silva Paredes 
 
Dezembro/2015 
 
Orientadores: Marco Aurélio dos Santos 
 Bruno José Rodrigues Alves 
 
Programa: Planejamento Energético 
 
A vinhaça, principal subproduto da produção do etanol, possui características 
que podem levar à produção de gases de efeito estufa (GEE). Este estudo teve como 
objetivo avaliar a emissão em lagoas e canais de distribuição da vinhaça, durante a 
aspersão e após aplicação no solo. Os estudos realizados em São Paulo avaliaram o 
sistema de armazenamento e distribuição de vinhaça, com quatro lagoas e sete canais, e 
também as emissões devidas a aspersão em solo plantado com cana-de-açúcar. As 
emissões após aplicação de vinhaça ao solo foram avaliadas em ensaio de campo e de 
casa de vegetação. No ensaio de campo, além da vinhaça, avaliaram-se as emissões pela 
aplicação de sulfato de amônio em combinação com diferentes momentos de aplicação 
de vinhaça (3 e 15 dias após a fertilização). No ensaio de casa de vegetação foi feita 
avaliação da vinhaça pura e diluída. Na distribuição da vinhaça, o CH4 é o principal gás 
emitido, com fluxos de superfície entre 0,06 e 2.978 mg CH4 m
-2
 h
-1
 para lagoas e 162 e 
4.913 mg CH4 m
-2 
h
-1
 para canais. A aspersão representou 27 mg CH4 m
-3
 de vinhaça. 
Após aplicação no solo a vinhaça representou uma perda de N na forma de N2O entre 
1,04% e 2,20%. Quando aplicada após fertilização nitrogenada essa perda foi de 
aproximadamente 0,8%. Não houve diferença das emissões para vinhaça pura e diluída. 
A utilização da vinhaça na fertirrigação representou uma emissão de 1,4 t CO2eq ha
-1 
ano
-1
 no cálculo do balanço de emissões do etanol. 
 
 
 
 
 
 
vii 
 
Abstract of Thesis presented to COPPE/UFRJ as a partial fulfillment of the 
requirements for the degree of Doctor of Science (D.Sc.). 
 
GREENHOUSE GASES FROM VINASSE OF ETHANOL PRODUCTION FROM 
SUGAR CANE: EMISSIONS FROM STORAGE, DISTRIBUTION AND 
FERTIGATION 
 
Débora da Silva Paredes 
 
December/2015 
 
Advisors: Marco Aurélio dos Santos 
 Bruno José Rodrigues Alves 
 
Department: Energy Planning 
 
 The vinasse, the main residue from ethanol production, has characteristics that 
can lead to the production of greenhouse gases (GHG). This study aimed to evaluate 
these emissions from vinasse lagoons and distribution channels, during sprinkling 
irrigation and after application to soil. Experiments in São Paulo evaluated the storage 
and distribution system of vinasse, with four lagoons and seven channels, and also 
emissions due to its spraying to soil planted to sugarcane. The effects from application 
of vinasse to soil were assessed in two experiments, one in the field and another in 
greenhouse conditions. In the field experiment, emissions from fertilization of soil with 
ammonium sulfate in combination with different vinasse application times (3 and 15 
days after fertilization) were also evaluated. Emissions from pure and diluted vinasse 
were evaluated in the greenhouse experiment. Methane was the main GHG emitted 
from vinasse distribution system, with fluxes from lagoons ranging from 0.06 to 2,978 
mg CH4 m
-2
 h
-1
 and fluxes from channels from 162 to 4,913 mg CH4 m
-2
 h
-1
. Sprinkling 
irrigation produced 27 mg CH4 m
-3
 of vinasse. After application in soil, vinasse 
represented 1,04% and 2,20% of N loss as N2O. When applied after nitrogen 
fertilization, that loss was approximately 0.8%. There was no differencein emissions 
for pure and diluted vinasse. The use of vinasse in fertigation represented an emission of 
1.4 Mg CO2 eq ha
-1
 yr
-1
 for the balance of GHG emissions from ethanol from 
sugarcane. 
 
 
 
 
 
viii 
 
SUMÁRIO 
 
 
1. Introdução.............................................................................................................. 1 
2. Objetivos ............................................................................................................... 5 
3. Revisão de literatura .............................................................................................. 6 
3.1. A cultura da cana-de-açúcar ............................................................................ 6 
3.2. Vinhaça .......................................................................................................... 8 
3.3. Emissões de Gases de Efeito Estufa .............................................................. 15 
3.3.1. Emissões de CO2 ................................................................................... 16 
3.3.2. Emissões de N2O ................................................................................... 17 
3.3.3. Emissões de CH4 ................................................................................... 19 
3.3.4. Emissões de gases de efeito estufa provenientes da vinhaça ................... 19 
4. Metodologia. ........................................................................................................ 22 
4.1. Emissão de CH4, N2O e CO2 em lagoas e canais de distribuição de vinhaça. . 22 
4.1.1. Caracterização da área de estudo ............................................................ 22 
4.1.2. Caracterização da vinhaça ...................................................................... 26 
4.1.3. Fluxos de gases de efeito estufa ............................................................. 28 
4.1.3.1. Fluxo de superfície. ............................................................................ 28 
4.1.3.2. Fluxo ebulitivo. .................................................................................. 29 
4.1.4. Aspersão de vinhaça no solo. ................................................................. 32 
4.2. Emissão de CH4 e N2O proveniente da vinhaça aplicada ao solo em condições 
de campo. ................................................................................................................ 33 
4.2.1. Experimento de campo........................................................................... 33 
4.2.2. Experimento de casa-de-vegetação......................................................... 37 
4.3.Estimativa da emissão total de gases de efeito estufa provenientes da vinhaça. .. 39 
6. Resultados e Discussão ........................................................................................ 41 
6.1. Emissão de CH4, N2O e CO2 em lagoas e canais de distribuição de vinhaça. . 41 
6.1.1. Caracterização da vinhaça ...................................................................... 41 
6.1.1.1. Lâmina/ Vazão da vinhaça nas lagoas e canais ................................... 41 
6.1.1.2. Temperatura média da vinhaça ........................................................... 43 
6.1.1.3. pH na vinhaça .................................................................................... 46 
6.1.1.4. Teor de carbono orgânico na vinhaça ................................................. 48 
6.1.1.5. Potencial redox na vinhaça ................................................................. 53 
 
 
 
ix 
 
6.1.1.6. Teor de nitrogênio e potássio na vinhaça ............................................ 54 
6.1.1.7. Gases dissolvidos ............................................................................... 57 
6.1.2. Fluxo difusivo de superfície ................................................................... 64 
6.1.3. Fluxo ebulitivo....................................................................................... 70 
6.1.4. Aspersão de vinhaça no solo. ................................................................. 73 
6.2. Emissão de CH4 e N2O proveniente da vinhaça aplicada ao solo em condições 
de campo. ................................................................................................................ 74 
6.2.1. Experimento de campo........................................................................... 74 
6.2.2. Experimento de casa-de-vegetação. ........................................................ 88 
6.3.Estimativa da emissão total de gases de efeito estufa provenientes da vinhaça. .. 94 
6. Conclusão ............................................................................................................ 96 
7. Referências Bibliográficas ................................................................................... 99 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
x 
 
LISTA DE FIGURAS 
 
 
Figura 1. Fluxograma simplificado da produção de açúcar e álcool e dos subprodutos 
oriundos dessa produção (PAREDES, 2011). ................................................................ 9 
Figura 2. Ciclo do Nitrogênio (Adaptado de Costa et al., 2009). ................................. 17 
Figura 3. Distribuição das chuvas e a temperatura média ao longo do ano de 2013 
(CIIAGRO, 2014). ...................................................................................................... 23 
Figura 4. Representação dos principais pontos avaliados ao longo do processo de 
distribuição da vinhaça na usina avaliada. ................................................................... 24 
Figura 5. Imagem da distribuição de lagoas e canais de irrigação de vinhaça na área da 
usina (GOOGLE MAPS, 2014). .................................................................................. 26 
Figura 6. Câmara flutuante utilizada para coleta de amostra de gás nas lagoas e canais 
de circulação de vinhaça. ............................................................................................ 29 
Figura 7. Funil utilizado para coleta de amostra de gás nas lagoas de vinhaça (Adaptado 
de Santos et al., 2008). ................................................................................................ 30 
Figura 8. Instalação dos funis na Lagoa 3. .................................................................. 31 
Figura 9. Coleta das amostras de vinhaça para estimativa das emissões de gases de 
efeito estufa durante a aspersão. .................................................................................. 33 
Figura 10. Aplicação de fertilizante nitrogenado e vinhaça, respectivamente, nas 
parcelas e nas câmaras. ............................................................................................... 36 
Figura 11. Experimento de casa-de-vegetação. ........................................................... 38 
Figura 12. Solubilidade do dióxido de carbono em água (Formulado a partir de Duan 
& Sun, 2003)............................................................................................................... 61 
Figura 13. Solubilidade do metano em água (Formulado a partir de Duan & Mao, 
2006). ......................................................................................................................... 62 
Figura 14. Solubilidade do óxido nitroso em água (Formulado a partir de Gevantman, 
2010). ......................................................................................................................... 62 
Figura 15. Relação das emissões de CH4 na Lagoa 3 com a concentração de carbono 
orgânico dissolvido (COD) e o potencial redox da vinhaça (EH) (Transformação dos 
dados para relação: COD/100; LN CH4; EH/10). ......................................................... 66 
Figura 16. Temperatura média diária e precipitação (A) e fluxos de GEE do tratamento 
controledurante o período de monitoramento (B)........................................................ 75 
Figura 17. Espaço poroso saturado por água (EPSA) e N mineral do solo no tratamento 
controle durante o primeiro mês após o início do experimento. ................................... 77 
Figura 18. Fluxo de metano nos tratamentos compostos da combinação de fertilizante 
nitrogenado e vinhaça. ................................................................................................ 79 
Figura 19. Fluxo de óxido nitroso do solo em áreas com a aplicação de sulfato de 
amônio (A), vinhaça (B) e na combinação de fertilizante nitrogenado e vinhaça (C) 
durante o período de monitoramento. .......................................................................... 80 
Figura 20. Espaço poroso saturado por água (EPSA) para as áreas com aplicação de 
fertilizante nitrogenado, vinhaça e a combinação dos dois, medido durante o primeiro 
mês de monitoramento. ............................................................................................... 81 
Figura 21.Amônio (NH4
+
 ) (1) e nitrato no solo (NO3
-
) (2) para as áreas com aplicação 
de sulfato de amônio (A), vinhaça (B) e a combinação de fertilizante nitrogenado e 
vinhaça (C), avaliado durante o primeiro mês após o início do experimento. ............... 82 
Figura 22.Emissões Líquidas de N2O para áreas com aplicação de vinhaça após 3 dias 
(A) e 15 dias (B), sulfato de amonio (C), e vinhaça aos 3 (D) e 15 dias (E) após a 
adubação com sulfato de amônio. ................................................................................ 87 
../Downloads/Tese%20versão%20final%20Bruno.doc#_Toc439800536
../Downloads/Tese%20versão%20final%20Bruno.doc#_Toc439800536
../Downloads/Tese%20versão%20final%20Bruno.doc#_Toc439800540
../Downloads/Tese%20versão%20final%20Bruno.doc#_Toc439800540
../Downloads/Tese%20versão%20final%20Bruno.doc#_Toc439800540
 
 
 
xi 
 
Figura 23. Fluxo de óxido nitroso nos tratamentos controle, vinhaça pura, vinhaça 
diluída no período de monitoramento. ......................................................................... 89 
Figura 24. Fluxo de óxido nitroso do solo nas áreas com a aplicação de sulfato de 
amônio associado a vinhaça pura e a vinhaça diluída durante o período de 
monitoramento. ........................................................................................................... 89 
Figura 25. Amônio (NH4
+
) no solo para o tratamento controle, com aplicação de 
vinhaça pura e vinhaça diluída e a combinação de fertilizante nitrogenado e os dois 
tipos de vinhaça. ......................................................................................................... 90 
Figura 26. Nitrato (NO3
-
) no solo para o tratamento controle, com aplicação de vinhaça 
pura e vinhaça diluída e a combinação de fertilizante nitrogenado e os dois tipos de 
vinhaça. ...................................................................................................................... 91 
Figura 27. Espaço poroso saturado por água (EPSA) para as áreas controle, com 
aplicação de vinhaça pura e vinhaça diluída, isoladamente ou associada ao fertilizante 
nitrogenado. ................................................................................................................ 92 
Figura 28.Fluxo de metano nos tratamentos controle, vinhaça pura e vinhaça diluída, e 
a combinação de fertilizante nitrogenado e os dois tipos de vinhaça. ........................... 94 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
xii 
 
LISTA DE TABELAS 
 
 
Tabela 1. Caracterização química da vinhaça em diversos estudos. ............................. 11 
Tabela 2. Características químicas do solo. ................................................................. 34 
Tabela 3. Análise granulométrica do solo. ................................................................... 34 
Tabela 4. Caracterização química da vinhaça aplicada 3 e 15 dias após a adubação 
nitrogenada. ................................................................................................................ 35 
Tabela 5. Análise química do solo. .............................................................................. 38 
Tabela 6. Lâmina de vinhaça (metros) presente nas lagoas em cada campanha. ........... 41 
Tabela 7. Vazão da vinhaça nos canais avaliados. ....................................................... 42 
Tabela 8.Temperatura média da vinhaça (ºC) na lagoas em cada campanha. ................ 44 
Tabela 9.Temperatura média da vinhaça (ºC) nos canais em cada campanha. .............. 45 
Tabela 10. Valores de pH da vinhaça nas lagoas por campanha. .................................. 46 
Tabela 11.Valores de pH da vinhaça, nos canais, em cada campanha. ......................... 47 
Tabela 12. Dados de carbono orgânico dissolvido (COD), particulado (COP) e 
total(COT) para todas as lagoas em todas as campanhas de avaliação. ......................... 49 
Tabela 13.Dados de carbono orgânico dissolvido (COD), particulado (COP) e total 
(COT) para todos os canais em todas as campanhas de avaliação. ............................... 51 
Tabela 14. Potencial redox da vinhaça (mv) nas lagoas. .............................................. 54 
Tabela 15. Potencial redox da vinhaça (mv) nos canais. .............................................. 54 
Tabela 16. Teor de nitrogênio (mg L
-1
) e potássio (mg L
-1
) da vinhaça nas lagoas. ...... 55 
Tabela 17. Teor de nitrogênio (mg L
-1
) e potássio (mg L
-1
) da vinhaça nos canais. ...... 56 
Tabela 18. Quantidade de CO2, CH4 e N2O dissolvido na vinhaça presente nas lagoas. 58 
Tabela 19. Quantidade de CO2, CH4 e N2O dissolvido na vinhaça presente nos canais.
 ................................................................................................................................... 59 
Tabela 20. Fluxo de CH4 (mg m
-2
h
-1
) de cada lagoa ao longo das campanhas. ............. 64 
Tabela 21. Fluxo de CH4 e de N2O de cada canal ao longo das campanhas. ................ 67 
Tabela 22. Fluxo de N2O (mg m
-2
h
-1
) de cada lagoa ao longo das campanhas. ............. 68 
Tabela 23. Fluxos médios de CH4 e N2O nos canais de terra e nos canais revestidos por 
campanha. ................................................................................................................... 69 
Tabela 24. Emissão de CO2, CH4 e N2O por ebulição. ................................................. 71 
Tabela 25. Estimativa da emissão de CH4 da vinhaça no momento da aspersão ........... 74 
Tabela 26. Estimativa da emissão de N2O da vinhaça no momento da aspersão ........... 74 
Tabela 27. Emissões integradas de N2O para as datas relatadas em cada fonte de N 
aplicada....................................................................................................................... 85 
Tabela 28. Proporção do N aplicado emitido como N2O (211 dias de monitoramento). 88 
Tabela 29. Fluxo acumulado de N2O durante o período de monitoramento de 22 dias. 93 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
1 
 
1. Introdução 
 
 Nas últimas décadas, o aumento da preocupação com o aquecimento global tem 
feito com que pesquisas, nas mais diversas áreas, incluam entre os objetivos questões 
associadas às emissões de gases de efeito estufa (GEE). Dados do boletim da 
Organização Meteorológica Mundial (WMO) mostraram que as emissões de GEE 
alcançaram valores recordes no ano de 2013 (WMO, 2014), o que torna cada vez mais 
necessária a busca por alternativas mais sustentáveis de produção de energia e 
alimentos. 
Um dos focos das pesquisas está na redução das emissões derivadas dos 
combustíveis fósseis que, junto com os processos indutriais, foram responsáveis por 
78% do aumento das emissões de GEE entre 1970 e 2010 (IPCC, 2014). No Brasil, no 
entanto, a atenção está voltada para a mudançade uso do solo e para a agropecuária, que 
juntas representam mais da metade das emissões totais do país (MCTI, 2014). 
 Nesse cenário, a cana-de-açúcar tem ocupado um papel de destaque, uma vez 
que a área ocupada por esta cultura no país de 5,2 milhões de hectares em 2002 dobrou 
para 10,4 milhões de hectares plantados em 2015 (IBGE, 2015). Um dos principais 
fatores responsáveis por esta ampliação é o aumento da demanda por etanol para 
substituição dos combustíveis fósseis, já que o primeiro é considerado uma fonte mais 
limpa, com menores emissões de GEE quando comparado com o segundo (BODDEY et 
al, 2008). 
 Essa expansão, no entanto, apesar de ocorrer principalmente em áreas que antes 
eram ocupadas por outras culturas agrícolas ou por pastagens, ainda avança sobre áreas 
ocupadas por florestas, o que pode resultar num balanço desfavorável de emissões de 
GEE (AGUIAR, 2009). Além disso, em todas as fases do cultivo da cana-de-açúcar 
ocorrem emissões de GEE, como por exemplo, no uso de combustíveis fósseis por 
tratores, máquinas agrícolas e na produção e disposição dos subprodutos como a 
vinhaça e o bagaço, sendo os principais gases emitidos o dióxido de carbono (CO2), o 
metano (CH4) e o óxido nitroso (N2O) (OLIVEIRA et al., 2009). 
 O Brasil é líder mundial na produção de cana-de-açúcar, tendo processado cerca 
de 658,8 milhões de toneladas na safra 2013/2014, sendo que, 91,4% do total da 
produção ocorreu na principal região produtora do país, a Centro-Sul, e somente 8,6% 
na região Norte/Nordeste. Do total de cana processada nesta safra, 45,2% foi destinada 
 
 
 
2 
 
a produção de açúcar e 54,8% a produção de etanol (CONAB, 2014). Esse cenário 
comprova que apesar de inicialmente a cultura de cana-de-açúcar ter sido utilizada 
quase exclusivamente para a produção de açúcar, nas últimas décadas se tornou uma 
alternativa de energia limpa e renovável. 
A utilização do etanol como biocombustível no Brasil deve aumentar ainda mais 
nas próximas décadas. De acordo com a Agência Internacional de Energia (AIE, 2014), 
o consumo brasileiro de biocombustíveis terá um aumento de 200 mil barris de óleo 
equivalente (BOE) entre 2012 e 2020. E as projeções indicam que alcançará 800 mil 
BOE/dia em 2040. Essa tendência também é observada mundialmente, onde a demanda 
por bioenergia chegará a 2 bilhões de toneladas de óleo equivalente em 2040, ante 1,344 
bilhão de toneladas em 2012. 
 É preciso considerar, no entanto, que o aumento significativo da produção de 
álcool no país acarretará também na geração de grande quantidade de subprodutos, 
dentre os quais se destaca a vinhaça, a qual é produzida a uma taxa média de 13 litros 
para cada litro de álcool produzido. Sendo considerada, portanto, o principal subproduto 
da indústria sucroalcooleira, principalmente nas agroindústrias brasileiras. 
De acordo com dados da Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB, 
2014), na safra 2013/2014 foram produzidos 27,96 bilhões de litros de etanol, o que 
resultou em uma produção de vinhaça em torno de 363,5 bilhões de litros no mesmo 
período. 
A vinhaça é produzida durante o processo de separação do etanol do mosto 
fermentado e, apesar de apresentar uma composição variável,consiste em sua maioria de 
93% de água e 7% de sólidos. Da parcela de sólidos, 75% correspondem à matéria 
orgânica particulada, o que possibilita sua utilização na fertirrigação da cana-de-açúcar 
(MARQUES, 2006). 
Uma vez produzida, a vinhaça percorre um sistema de armazenamento 
composto por lagoas e um sistema de distribuição, normalmente a base de canais, onde 
a vinhaça é levada até o local de aplicação no campo. A aplicação no solo já é um 
processo bem estabelecido, chamado de fertirrigação, promovendo melhorias na 
produtividade agrícola da cana, benefícios químicos, biológicos e físicos ao solo, além 
de gerar uma economia com a aquisição de fertilizantes. 
No entanto, características químicas da vinhaça como pH próximo de 4, cerca de 
6,6 g L
-1
 de sólidos dissolvidos voláteis (SDV), 356 mg L
-1
 de N e 0,9 % de carbono 
 
 
 
3 
 
total, podem levar a produção de N2O, CH4 e CO2. Os sólidos voláteis, como por 
exemplo, o acetato, são precursores de CH4. O N pode proporcionar emissões de N2O e, 
o carbono adicionado com a vinhaça estimula o crescimento de microorganismos que o 
consome, emitindo CO2 (ELIA NETO & NAKAHONDO, 1995; SILVA et al., 2010). 
Além disso, o elevado teor de sólidos presente na vinhaça pode favorecer a formação de 
uma camada de materiais orgânicos e microorganismos no fundo dos canais e lagoas de 
distribuição, o que pode aumentar ainda mais a emissão de CH4 nesse sistema, onde 
prevalecem condições anaeróbicas (OLIVEIRA et al., 2015). 
Ainda segundo Oliveira et al.(2015), 78% das emissões de gases de efeito estufa 
provenientes da vinhaça ocorre no percurso do canal condutor onde cada m
3
 de vinhaça 
seria responsável por uma emissão de 1,43 kg de CO2 eq. Porém, pouco ainda se sabe 
sobre as emissões provenientes desse sistema de distribuição, principalmente no que diz 
respeito às lagoas de armazenamento. 
Após a aplicação da vinhaça no solo, estudos feitos por Carmo et al. (2012), 
Oliveira et al. (2013), Paredes et al. (2014) e Neto et al. (2015) demonstraram a 
importância dos fluxos de N2O quando aplicada nos solos brasileiros. Apesar disso, 
muitos questionamentos ainda persistem no que se refere ao efeito que a vinhaça tem no 
cálculo do balanço de emissões provenientes do etanol. 
Além desses aspectos, é preciso considerar ainda que na cultura da cana-de-
açúcar a adubação com fertilizantes nitrogenados também é uma prática comum, 
principalmente para a cana-soca, com valores variando entre 60 e 120 kg N ha
-1
 para a 
cana-planta e cana-soca, respectivamente. Apesar de ser uma fonte já conhecida de 
N2O, ainda são necessários mais estudos nas condições de clima e solo brasileiros para 
que se possa estabelecer um fator de emissão mais específico. 
Outro fator importante é que no manejo da cana-de-açúcar os procedimentos que 
devem ser feitos após a colheita para o próximo ciclo de cana-soca, como a aplicação de 
fertilizantes nitrogenados e da vinhaça, normalmente são feitos em sequência, porém 
sem uma ordem definida e com intervalos que podem variar de dias até uma ou duas 
semanas entre as aplicações. 
Paredes et al. (2014) avaliando os efeitos da aplicação de fertilizantes 
nitrogenados e de vinhaça em sequência, com diferentes ordens de aplicação, mostrou 
que a aplicação de vinhaça após a adubação nitrogenada amplia as emissões de N2O, o 
que não ocorre quando a ordem de fertilização é alterada. Apesar disso, ainda é 
 
 
 
4 
 
necessário que se conheçam os efeitos que os diferentes intervalos de aplicação podem 
apresentar para as emissões de GEE, bem como os possíveis efeitos que esse processo 
pode apresentar nas emissões de CH4, uma vez que o aumento da concentração de 
amônio na solução do solo é considerado um inibidor das atividades metanotróficas em 
solos aeróbicos (LE MER & ROGER, 2001). 
De acordo com dados do IPCC (2007), 1 kg de CH4 na atmosfera tem um 
potencial de aquecimento global 25 vezes maior do que a de CO2, enquanto que 1 kg de 
N2O apresenta potencial 298 vezes maior que o CO2. Se forem considerados os dados 
mais recentes, do quinto relatório de avaliação do IPCC, de 2013, o potencial de 
aquecimento global passa a ser 28 para o CH4 e 265 para o N2O, se as mesmas 
suposições do relatório de 2007 fossem mantidas, ou seja, ignorando todas as 
retroalimentações. 
Independentemente do valor que seja utilizado, fica evidente que uma emissão 
aparentemente pequena de CH4 durante o processo de fermentação da vinhaça pode ter 
efeito significativo em termos de potencial de aquecimento global, e, portanto, elevar a 
pegada de carbono do etanol. 
A sustentabilidade de biocombustíveis, como o etanol, pressupõe emissões de 
gases de efeitoestufa (GEE) reduzidas em comparação aos combustíveis fósseis que 
eles substituem. 
De acordo com Macedo et al. (2008) e Seabra et al. (2011) a utilização de etanol 
em substituição a gasolina pode resultar numa emissão 80% menor de GEE. Para 
considerar o etanol uma fonte de energia “limpa”, com menor emissão de gases de 
efeito estufa, é preciso, no entanto, avaliar todas as etapas envolvidas na sua produção, 
inclusive no que diz respeito aos subprodutos originados na cadeia produtiva, como a 
vinhaça. 
A existência de poucos dados sobre a emissão de GEE da vinhaça, faz com que 
na maioria dos estudos o balanço final de GEEs seja estimado apenas com base nos 
fatores de emissão propostos pelo IPCC, ou até mesmo desprezados, o que pode levar a 
um erro no cálculo desse balanço. 
 O aumento programado da produção de etanol, previsto para alcançar 68,3 
bilhões de litros em 2021 (MME/EPE, 2012), ampliará consideravelmente o volume de 
vinhaça produzido, tornando indispensável o desenvolvimento de pesquisas sobre a real 
 
 
 
5 
 
contribuição desse subproduto para o efeito estufa, além do desenvolvimento de 
alternativas de disposição e aproveitamento desse efluente. 
 Assim, as hipóteses deste estudo são: 
1. Durante o armazenamento, distribuição e aplicação da vinhaça na lavoura de 
cana, ocorrem emissões de metano e óxido nitroso. 
2. A fração do N da vinhaça emitida como óxido nitroso é superior a 1%, fator 
utilizado para estimar emissões de resíduos orgânicos pelo IPCC. 
3. Por ser uma fonte rica em carbono, a aplicação de vinhaça ao solo também 
representa uma fonte de emissão de metano. 
 
2. Objetivos 
 
 O presente estudo tem como objetivo mensurar as emissões dos principais gases 
de efeito estufa em lagoas e canais de distribuição de vinhaça, assim como, as emissões 
resultantes da aplicação da vinhaça no solo. Isso possibilitará a geração de fatores de 
emissão e a realização de um balanço geral das emissões de GEE oriundos da vinhaça, 
desde o canal de distribuição até a aplicação no solo. Para tal, foram estabelecidos os 
seguintes objetivos específicos: 
 
 Quantificar as emissões de N2O e CH4 provenientes do transporte da vinhaça no 
campo em lagoas de armazenamento e nos canais de distribuição; 
 Avaliar a relação dos gases emitidos com as características dos sistemas de 
armazenamento (lagoas e canais) e com as características do efluente; 
 Quantificar as emissões de N2O e CH4 durante a aspersão de vinhaça no campo; 
 Quantificar as emissões de N2O e CH4 provenientes da aplicação de vinhaça no 
solo; 
 Avaliar o efeito da aplicação de vinhaça em áreas previamente fertilizadas com 
nitrogênio em diferentes intervalos de tempo entre as aplicações; 
 Entender o efeito que a diluição da vinhaça com água residuária pode causar nas 
emissões de N2O e CH4 após a aplicação no solo; 
 Calcular o balanço geral das emissões de GEE oriundos da vinhaça, desde o 
armazenamento até a aplicação da vinhaça no solo; 
 
 
 
 
6 
 
3. Revisão de literatura 
 
3.1. A cultura da cana-de-açúcar 
 
 A cana-de-açúcar (Saccharum spp.) é uma planta semiperene, pertencente à 
família Poaceae, originária do sudeste da Ásia. Essa cultura se destaca pelo seu elevado 
potencial de transformar energia solar em energia química representada, principalmente, 
pela sacarose acumulada no caldo existente nos colmos. 
É cultivada em uma extensa área territorial, compreendida entre os paralelos 35º 
de latitudes Norte e Sul, apresentando um melhor rendimento em regiões clima tropical. 
A cana-de-açúcar está presente em quase todos os estados brasileiros (MAPA, 2007). 
O clima ideal para sua produção é aquele que apresenta duas estações distintas: 
uma quente e úmida para proporcionar a germinação, perfilhamento e desenvolvimento 
vegetativo; seguida de outra estação fria e seca, para promover a maturação e o acúmulo 
de sacarose (MAPA, 2007). 
 A importância desta cultura pode ser atribuída à sua múltipla utilização, já que a 
mesma pode ser empregada in natura, sob a forma de forragem para alimentação animal 
ou como matéria prima para a fabricação de rapadura, melado, aguardente, açúcar e 
álcool (AMARAL et al., 2001). 
 Introduzida no Brasil pelos portugueses, tornou-se, já no período colonial, uma 
das principais fontes de geração de recursos financeiros devido ao grande valor do 
açúcar no mercado internacional, fazendo com que sua produção fosse cada vez mais 
incentivada pela Coroa Portuguesa (IVO et al., 2008). 
No início de seu estabelecimento nas terras brasileiras, seu desenvolvimento foi 
maior no Nordeste, nos Estados de Pernambuco, da Bahia e de Alagoas, deslocando-se 
mais tarde para o Rio de Janeiro e outros Estados do Centro-Sul do País 
(FIGUEIREDO, 2011). 
Ao longo da sua história no país, a cultura da cana-de-açúcar passou por 
momentos de glória e apogeu. Alguns dos fatores responsáveis por essa oscilação são: 
os fatores políticos externos e internos; as circunstâncias de guerras; a descoberta de 
ouro e de outras atividades mais lucrativas que deixava a agricultura com pouca mão-
de-obra; a abertura dos portos que alavancou o comércio; a concorrência com o açúcar 
estrangeiro e; o crescimento da cultura do café no século XIX (FIGUEIREDO, 2008). 
 
 
 
7 
 
Um dos momentos de glória desta cultura no país ocorreu com a crise do 
petróleo em 1975. Nesse período foi criado o Programa Nacional do Álcool (Proálcool), 
que visava à substituição em larga escala dos combustíveis veiculares derivados de 
petróleo por álcool. Esse programa, que teve seu auge entre 1983 e 1988, levou ao 
aumento expressivo da venda de carros movidos a álcool, além da expansão da área de 
produção de cana-de-açúcar e da indústria alcooleira (IVO et al., 2008). 
A aplicação de substanciais incentivos advindos deste programa possibilitou a 
conversão de áreas agrícolas e pecuárias da região sudeste, em especial do estado de 
São Paulo, à monocultura de cana-de-açúcar, possibilitando que este estado viesse a se 
tornar o líder nacional no setor sucroalcooleiro (CASTRO, 2010). 
Nesta época, a região centro-oeste, em especial o estado de Goiás, estava sendo 
alvo dos prolongamentos da fronteira agrícola, com ênfase em grãos, algodão, arroz e 
gado, o que fez com que a mesma não apresentasse um desenvolvimento notável no que 
se refere à produção alcooleira. Apenas no final da década de 1990 essa expansão se 
tornou notável e o crescimento intensificou-se ainda mais no início do presente século, 
em razão da grande necessidade de diversificação na matriz energética, motivada pelos 
impactos ambientais decorrentes do modelo adotado anteriormente, baseado em 
combustíveis fósseis (CASTRO, 2010). 
O Brasil é o maior produtor de cana-de-açúcar do mundo, tendo processado 
cerca de 658,8 milhões de toneladas na safra 2013/2014. O país também é o maior 
produtor e exportador de açúcar, sendo responsável, em termos mundiais, por 
aproximadamente 20% da produção e 40% das exportações. A produção de açúcar no 
Brasil na safra 2013/2014 atingiu cerca de 37,7 milhões de toneladas, dos quais cerca de 
26,6 milhões foram destinados à exportação. Já com relação à produção de etanol, o 
país ocupa a segunda posição no ranking mundial, com uma produção de 
aproximadamente 27 bilhões de litros na safra 2013/2014, sendo ultrapassado apenas 
pelos Estados Unidos (MAPA, 2010; UNICA, 2014). 
Nos últimos anos, o principal foco da cultura da cana-de-açúcar vem sendo a 
produção de energia limpa, uma vez que a segurança energética é considerada um dos 
principais desafios deste século (MAPA, 2009). Em 2013, a cana-de-açúcar e seus 
derivados foram a segunda principal fonte de energia primária da matriz energética 
nacional, representando 19,1% dos 46,4% de energias renováveis, o que demonstra a 
importância desta cultura no cenário nacional (MME, 2014 a). 
 
 
 
8 
 
Os impactos ambientais causadospor essa cultura, no entanto, ainda são alvos 
de grandes questionamentos. Apesar dos avanços obtidos, como a eliminação da prática 
de queima da palhada no Estado de São Paulo nos próximos anos estabelecida na Lei 
Estadual nº 11.241, aprovada em 2002 e no Protocolo Agroambiental do Setor 
Sucroalcooleiro de 2007, e da utilização no próprio processo de produção dos 
subprodutos como o bagaço, a torta de filtro e a vinhaça, o etanol da cana-de-açúcar 
ainda precisa ser comprovadamente avaliado como um combustível sustentável como, 
por exemplo, a real contribuição das emissões de GEE provenientes da distribuição e 
aplicação da vinhaça no campo. 
 
3.2. Vinhaça 
 
A vinhaça, também conhecida no Brasil como vinhoto, calda, tiborna, restilo, 
garapão, vinhote, caxixi, mosto, e no mundo como still bottoms, slops, vinasse, dunder, 
stillage, cachaza, entre outras definições, é o subproduto líquido gerado pelas destilarias 
de álcool ao se efetuar a separação do etanol do mosto fermentado (Figura 1), 
caracterizada principalmente pela alta demanda biológica de oxigênio (DBO). 
A produção de vinhaça está na faixa de 13 litros para cada litro de álcool 
produzido, o que faz com que a vinhaça seja considerada o principal subproduto da 
indústria sucroalcooleira (FREIRE & CORTEZ, 2000). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
9 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Figura 1. Fluxograma simplificado da produção de açúcar e álcool e dos subprodutos 
oriundos dessa produção (PAREDES, 2011). 
 
A eliminação da grande quantidade de vinhaça gerada sempre foi, no entanto, 
motivo de grande preocupação para as indústrias, dado o elevado poder poluidor que 
este subproduto apresenta. 
Inicialmente, nos anos 50, a vinhaça era despejada diretamente nos rios, o que 
levava a uma intensa mortandade de peixes. A partir de 1967 esta prática passou a ser 
proibida por meio do Decreto-Lei nº 303, de 28 de fevereiro. Após essa proibição, a 
primeira solução encontrada foi a aplicação da vinhaça nas chamadas áreas de 
sacrifício, que ficavam muito próximas das destilarias e recebiam grande quantidade de 
Cana-de-açúcar 
Preparo 
Extração Bagaço 
Caldo 
Aquecimento 
Decantação Lodo Filtração 
Torta de Filtro Caldo Clarificado 
Evaporação 
Cozimento 
Cristalização/ 
Centrifugação 
Açúcar 
Mosto 
Fermentação 
Destilação 
Álcool Vinhaça 
 
 
 
10 
 
vinhaça, ano após ano. Estas áreas ficavam praticamente inutilizadas para a agricultura, 
principalmente pelo efeito de salinidade do solo, tornando-o improdutivo e de difícil 
remediação. 
Com o advento do Proálcool na década de 70 e, consequente expansão da 
indústria alcooleira do país, ocorreu um aumento significativo da produção de álcool e 
também da geração de vinhaça, o que levou ao desenvolvimento de pesquisas para 
viabilizar a técnica de utilização deste subproduto como fonte de nutrientes para as 
lavouras de cana-de-açúcar (MORO, 2011). 
Esse sistema de aproveitamento da vinhaça foi chamado de Amatos (derivado do 
nome do inventor Aníbal Mattos) e teve como pioneira, na utilização da vinhaça como 
adubo para o canavial, a Usina Catende, em Pernambuco na década de 1940. No 
entanto, a maioria das pequenas usinas, devido ao custo, ainda optava por manter 
tanques de despejo para conter este material (VIERA, 1986 apud MORO, 2011). 
Características como o elevado teor de potássio e matéria orgânica e a presença 
de nutrientes como o nitrogênio, cálcio, magnésio, fósforo, além dos micronutrientes, 
fizeram com que a utilização da vinhaça na adubação fosse cada vez mais adotada. 
Assim, a fertirrigação com vinhaça tornou-se uma prática muito difundida entre as 
usinas e destilarias brasileiras, representando, atualmente, a principal destinação da 
vinhaça (LUZ, 2005; PREVITALI, 2011). 
De modo geral, o uso da vinhaça na fertirrigação promove melhorias na 
produtividade agrícola da cana, benefícios químicos, biológicos e físicos ao solo, além 
de proporcionar uma economia na aquisição de fertilizantes minerais. Entretanto, 
quando a mesma é aplicada em excesso, pode causar sérias alterações na qualidade da 
matéria-prima para a indústria, como a diminuição da qualidade tecnológica do caldo, 
além de grandes danos ambientais (IVO et al., 2008). 
Outro problema relacionado com a fertirrigação com vinhaça está na dificuldade 
de se recomendar uma dosagem fixa a ser aplicada, uma vez que este subproduto 
apresenta uma composição muito heterogênea (Tabela 1). Na prática, o monitoramento 
é feito a partir de análises periódicas da vinhaça para que as doses sejam estabelecidas 
em função da legislação existente. 
 
 
 
 
 
 
11 
 
 
 
 Tabela 1. Caracterização química da vinhaça em diversos estudos. 
Parâmetros 
Elia Neto 
& 
Nakahondo 
(1995)*
1
 
Prada et al. 
(1998) 
Ribas (2006) 
Santos 
(2010) 
Xavier 
(2012) 
Ueno et al. 
(2013) 
pH 4,15 3,7 - 5,0 4,4 – 4,8 4,11 4,41 6,5 
Potássio 
Total 
(mg/L 
K2O) 
2.034 
1.200 – 
7.830 
1.682 – 
12.500 
- 
 
2.200 3.927 
Nitrogênio 
(mg/L N) 
356 150 – 1.610 587 – 6.000 506 230 2.380 
Carbono 
(mg/L) 
- 
5.700 – 
22.900 
- 
- 
 
7.726 14.730 
Sólidos 
voláteis 
(mg/L) 
10.211*
2
 
20.000 – 
60.000 
22.500 – 
27.000 
22.300 - 
- 
 
*
1
 Valores médios para vinhaça. 
*
2
Soma dos valores de sólidos suspensos voláteis e sólidos dissolvidos voláteis. 
 
 
Segundo Ivo et al. (2008), um dos motivos pelo qual a composição da vinhaça é 
bastante variável, diz respeito a sua origem. Quando se utiliza o caldo de cana para a 
fermentação, a vinhaça resultante é sempre menos concentrada que a vinhaça 
proveniente de mosto de melaço ou de mosto misto (PRADA et al., 1998). Além disso, 
a concentração da vinhaça varia de usina para usina e, dentro de cada usina, existe ainda 
variações nos diversos dias da safra, e até num mesmo dia, em decorrência da moagem 
de diferentes cultivares, provenientes de variados solos, com diferentes níveis de 
fertilidade. 
Outro ponto importante que precisa ser destacado refere-se a utilização de 
vinhaça pura ou vinhaça diluída com água residuária no processo de fertirrigação do 
canavial. Normalmente, como as áreas próximas as usinas estão com elevados teores de 
potássio, a vinhaça é aplicada diluída com água residuária, sendo a vinhaça pura 
aplicada em áreas mais distantes com o auxílio de caminhões, por exemplo. No entanto, 
apesar da possibilidade de haver os dois tipos de vinhaça circulando na usina, a maioria 
dos estudos não evidenciam qual o tipo de vinhaça que está sendo aplicada em cada 
situação, dificultando ainda mais a determinação de um parâmetro para sua aplicação. 
 
 
 
12 
 
Por essa razão, torna-se necessário que se realize uma análise química da 
vinhaça a ser aplicada no solo para que se conheça o equivalente em fertilizante. Em 
alguns casos, como no Estado de São Paulo, essa aplicação é regulamentada por 
normas, como a Norma Técnica CETESB P4.231 (CETESB, 2006), que determina 
todos os critérios e procedimentos para o armazenamento, transporte e aplicação de 
vinhaça no solo. 
A aplicação de vinhaça no solo para fins de fertilidade começou a ser realizada 
através de gravidade em sulcos, o que ocorreu até o início da década de 70. 
Posteriormente verificou-se que se a vinhaça poderia ser aplicada em menores 
quantidades através de caminhões–tanques, tornando os resultados mais satisfatórios, 
passando-se então a adotar essa técnica. 
Na tentativa de diminuir custos e melhorar a eficiência de aplicação, começou a 
ser testada, a aplicação por aspersão, inicialmente com aspersores semifixos, onde a 
vinhaça era bombeada dos canais principais por motos-bomba, alimentando tubulações 
laterais, onde eram acoplados os aspersores. De aspersores semifixos, o sistema evoluiu 
para aspersão com canhão hidráulico. 
De qualquer modo, a aspersão foi implantada graçasa testes realizados por 
várias usinas, onde se comprovou a eficiência da aplicação a custo mais baixo que a 
aplicação por caminhão. Dentre as limitações do caminhão-tanque, destacava-se a 
compactação do solo, dificuldade de aplicação em dias de chuva, a aplicação em 
grandes distâncias, o elevado custo operacional, pequeno rendimento diário e a vazão 
desuniforme (MUTTON et al., 2007; FREIRE & CORTEZ, 2000). 
 Apesar das inovações tecnológicas na aplicação de vinhaça por fertirrigação 
ainda estarem em andamento, como por exemplo, a utilização de equipamentos de pivô 
central rebocável. Pesquisa realizada por Nunes Júnior et al. (2005) em 54 usinas do 
país, verificou que a vinhaça é distribuída, preferencialmente, por canais e aplicada por 
aspersão. De acordo com o estudo, a aplicação via canais representou em média 82,5%, 
chegando a 100% na região Norte/Nordeste, enquanto que via caminhão a média foi de 
apenas 17,5%. 
 A vinhaça apresenta características químicas favoráveis a emissão de GEE como 
o nitrogênio, o carbono e os sólidos voláteis (Tabela 1). O transporte por canais a céu 
aberto pode, entretanto aumentar ainda mais a emissão desses gases para atmosfera. De 
acordo com Oliveira et al. (2015), o processo de transporte da vinhaça nos canais resulta 
 
 
 
13 
 
em emissão média de 1,43 kg CO2 eq m
3 
ano
-1
 vinhaça transportada, de modo que na 
contabilização das emissões totais de GEE oriundas da vinhaça, as emissões resultantes 
do canal de distribuição representaram cerca de 78% do total emitido, evidenciando 
assim a importância de se realizar mais avaliações sobre o impacto que esse sistema de 
transporte causa nas emissões de GEE. 
Além disso, é preciso considerar que apesar da vinhaça ser uma importante fonte 
de nutrientes para a cultura de cana-de-açúcar, normalmente não possui elevados teores 
de nitrogênio, o que faz com que seja necessária uma complementação com adubo 
mineral, uma vez que o nitrogênio é um dos nutrientes mais requeridos por essa cultura, 
com valores de recomendação próximos a 120 kg N ha
-1
 para cana soca com 
produtividade superior a 100 t ha
-1
 (ROSSETO & DIAS, 2005). 
No Brasil, as culturas de cana e milho consomem mais de 1 milhão de toneladas 
de N por ano, ou algo próximo a 50% do total de fertilizantes nitrogenados consumidos 
no País, com base nos números do ano de 2008 (ANDA, 2008). Das diversas fontes de 
N presentes na agricultura brasileira, as mais utilizadas na cultura da cana são a uréia, o 
sulfato de amônio e o nitrato de amônio. 
Estudo realizado por Schultz (2009) mostrou que a adubação com vinhaça 
associada à 80 kg de N ha
-1
 na forma de uréia incorporada ao solo, proporcionou maior 
rendimento de colmos, quando comparado a aplicação de vinhaça ou uréia pura para 
cana de primeira soca. Isso indicou melhor aproveitamento pela planta do N-fertilizante 
quando ambos são aplicados no solo. 
Contudo, pouco se conhece sobre os efeitos dessa mistura na dinâmica de 
nitrogênio no solo, principalmente no que diz respeito às emissões de N2O, um dos 
gases de efeito estufa produzidos de materiais contendo N aplicados ao solo. Muitos 
estudos sobre os efeitos da vinhaça no solo, ao longo do tempo, concluíram que: a 
vinhaça eleva o pH dos solos, aumenta a capacidade de troca catiônica (CTC), fornece 
e aumenta a disponibilidade de alguns nutrientes, como K e N, melhora a estrutura do 
solo, aumenta a retenção de água e melhora a atividade biológica (LIMA, 1980; NEVES 
et al. 1983; GLÓRIA & ORLANDO FILHO, 1984; ROSSETO, 1987; IVO et al. 2008; 
BRITO et al., 2009; SILVA et al., 2014). 
A ocorrência de eventuais efeitos negativos causados aos solos e as plantas são 
relacionados, geralmente, a doses excessivas (IVO et al., 2008). Porém, também são 
 
 
 
14 
 
poucos os estudos que avaliaram o real potencial poluidor da vinhaça, principalmente 
com relação à emissão de gases de efeito estufa provenientes deste subproduto. 
A falta de dados mais específicos sobre a emissão desses gases, tanto na fase de 
distribuição, quanto na fase de aplicação da vinhaça no solo, podem levar a erros no 
cálculo do balanço total de emissões no processo de produção do etanol (LISBOA et al 
2011). 
Estudo realizado por Seabra (2008) considerou o impacto que a vinhaça pode 
causar no balanço total das emissões de GEE, no entanto, devido à ausência de dados 
mais específicos, utilizaram-se valores de emissão estimados com base nos índices 
sugeridos pelo IPCC para resíduos orgânicos, os quais não necessariamente representam 
a realidade do cultivo da cana, demonstrando assim a importância da obtenção de 
valores reais para novas estimativas. 
De acordo com os dados encontrados por Oliveira (2010), as emissões de N-N2O 
provenientes da aplicação de nitrogênio na forma de vinhaça no solo resultaram em 
fatores de emissão de 0,68 e 0,44% (kg N-N2O/kg N), respectivamente para cana 
queimada e crua. Esses valores foram próximos aos encontrados por Neto et al. (2015), 
os quais variaram entre 0,54 e 0,77%. 
No entanto, Paredes et al. (2014) avaliando as emissões de N-N2O provenientes 
da aplicação de vinhaça em condições de campo encontrou fatores de emissão que 
variaram de 0,6 a 2,5%, o que confirma que ainda existe uma grande incerteza no que se 
refere às emissões de GEE provenientes da vinhaça e que a utilização do fator de 
emissão proposto pelo IPCC (1%) pode levar a erros nas estimativas. 
 Dessa forma, com o maior volume de etanol que será produzido nos próximos 
anos, podendo chegar a 45,4 bilhões de litros já em 2016 (MME/EPE, 2012), e a 
consequente ampliação do volume de vinhaça produzido, torna-se indispensável o 
desenvolvimento de pesquisas sobre a real contribuição desse subproduto para o efeito 
estufa, além do desenvolvimento de novas tecnologias para o tratamento, redução na 
geração e alternativas de disposição e aproveitamento desse efluente de modo 
sustentável, uma vez que a elevada quantidade de vinhaça que será gerada não 
comportará apenas uma forma de destinação. 
 
 
 
 
 
15 
 
3.3. Emissões de Gases de Efeito Estufa 
 
A energia que chega à superfície do planeta Terra pelos raios solares é 
parcialmente refletida para o espaço, no entanto, cerca de 70% desta energia atravessa a 
atmosfera provocando o aquecimento da superfície do planeta. Para manter o equilíbrio 
termodinâmico, a radiação infravermelha é emitida de volta para o espaço, porém, 
alguns gases presentes na atmosfera absorvem esta radiação e a reemitem para voltar ao 
estado de equilíbrio, aprisionando o calor na atmosfera, regulando o clima do planeta e 
tornando a temperatura ideal para a vida que conhecemos. 
Como consequência das atividades antrópicas na biosfera, no entanto, o nível de 
concentração de alguns desses gases, como CO2, CH4 e N2O, vem aumentando na 
atmosfera. A concentração de CO2 passou dos 280 ppm no período pré-industrial para 
mais de 396 ppm em 2013 (WMO, 2014). Já as concentrações de N2O e CH4 
aumentaram de 270 ppb no período pré-industrial para 325,9 ppb em 2013 e de 715 ppb 
para 1824ppb em 2013, respectivamente (IPCC, 2007; WMO, 2014). 
 Mundialmente, a queima de combustíveis fósseis é a principal responsável pelo 
aumento da concentração desses gases na atmosfera. No Brasil, entretanto, a proporção 
entre as contribuições dos GEE provenientes da queima de combustíveis fósseis, 
agricultura e mudanças do uso do solo apresentam padrões diferentes daqueles 
observados globalmente. No país, a contribuição da mudança de uso do solo e da 
agropecuária é de mais da metade das emissões totais (MCTI, 2014). 
 É preciso considerar, entretanto, que apesar do setor agrícola ser uma importante 
fonte de GEE para atmosfera, este setor pode se comportar como sumidouro de GEE, 
dependendo das práticas de manejo aplicadas. O desenvolvimento de sistemas de 
manejo do solo e a utilização de resíduos ou co-produtos, podemmitigar 
significativamente as emissões de GEE da agricultura, sobretudo do setor 
sucroenergético (GOMES, 2006; CERRI et al., 2010). 
É possível reduzir a emissão desses GEE em praticamente todas as fases da 
produção do etanol de cana-de-açúcar. Em alguns casos, as mudanças se restringem à 
simples adequações, enquanto que outras requerem interferências radicais, com 
alteração do processo produtivo. Porém, para tal redução é necessário o conhecimento 
do impacto das emissões de GEE provenientes de todo setor produtivo, inclusive 
durante o transporte e a aplicação da vinhaça no solo (OLIVEIRA, 2010). 
 
 
 
16 
 
3.3.1. Emissões de CO2 
 
 O armazenamento de C no globo terrestre é dividido, principalmente, em cinco 
compartimentos: oceânico, geológico, pedológico (solo), biótico (biomassa vegetal e 
animal) e atmosférico. Todos esses compartimentos estão interconectados, e o C circula 
entre eles (LAL, 2004). 
 A maior transferência global do elemento ocorre entre os compartimentos 
terrestre (pedológico e biótico) e atmosférico. De acordo com Johnson (1995), cerca de 
120 Pg ano
-1
 de carbono são fixados nas plantas, dos quais 40 a 60 Pg são liberados 
através da respiração e 50 a 60 Pg passam pelo solo e pela decomposição, sendo emitido 
para a atmosfera. 
 A produção de CO2 no solo ocorre por meio de processos biológicos, como a 
decomposição de resíduos orgânicos e a respiração dos organismos e do solo. O CO2 
produzido fica sujeito a trocas gasosas com a atmosfera, que são governadas por um 
fluxo de massa, isto é, pelo movimento de um gás de uma zona de maior concentração 
para outra de menor concentração , que ocorre quando o gás se move junto com o ar que 
está misturado, em resposta a um gradiente de pressão. A concentração de CO2 nos 
poros do solo é significativamente maior do que na atmosfera, devido à presença de 
raízes e organismos, o que origina um fluxo ascendente do gás das camadas mais 
profundas até a superfície do solo (BALL & SMITH, 1991 apud D’ANDRÉA, 2004). 
 As variáveis climáticas também influenciam diretamente o fluxo de CO2 para a 
atmosfera, e seus principais condicionantes são a temperatura (solo e atmosfera) e a 
umidade do solo (DUIKER & LAL, 2000). 
 Além disso, a adição de matéria orgânica à superfície do solo também é um fator 
que influencia nas emissões de CO2, ocasionando um aumento do CO2 produzido por 
aumentar a taxa de respiração, em decorrência do fornecimento de substrato para 
degradação por microorganismos (BALL & SMITH, 1991 apud D’ANDRÉA, 2004). 
Com isso, a adição de fertilizantes orgânicos ao solo, como a vinhaça, pode favorecer 
maiores emissões de CO2 para atmosfera. 
É preciso ressaltar, no entanto, que as trocas de CO2 só resultam em impactos 
significativos quando os reservatórios permanentes são alterados, ou seja, quando o 
estoque de carbono do solo, da biomassa e dos reservatórios fósseis são afetados, uma 
vez que nos demais casos, o CO2 estará participando apenas de um ciclo de perda e 
 
 
 
17 
 
reabsorção que não resultam em aumento significativo desse gás na atmosfera 
(MACHADO, 2005). 
 
3.3.2. Emissões de N2O 
 
 A produção de N2O ocorre pelos processos microbiológicos de nitrificação e 
desnitrificação, principalmente (Figura 2). A nitrificação é o processo de oxidação 
aeróbica de amônio (NH4
+
) a nitrato (NO3
-
) realizado por bactérias quimioautotróficas 
em duas etapas: nitritação, em que o NH4
+
 é oxidado a nitrito (NO2
-
) e nitratação, onde 
o NO2
-
 é oxidado a nitrato (NO3
-
). Já a desnitrificação é o processo de oxidação do NO3
- 
até N2, mediado por bactérias anaeróbicas facultativas, as quais representam de 0,1 a 
5% da população total de bactérias no solo (MOREIRA & SIQUEIRA, 2006). 
 
 
 
 
 
Figura 2. Ciclo do Nitrogênio (Adaptado de Costa et al., 2009). 
NO3
- NO2
- NO N2O N2 
NH4
+ + 3/2 O2 NO2
- +H2O + 2H
+ 
 
NO2
- + ½ O2 NO3
- 
 
NH4
+ + 2 O2 NO3
- + H2O + 2H
+ 
Nitrossomonas 
Nitrobacter 
 
 
 
18 
 
 No solo, diversos são os fatores que determinam a formação e emissão do N2O 
para atmosfera. Dentre os principais fatores estão a temperatura, o pH do solo, a 
presença de NH4
+
 e NO3
-
, a matéria orgânica, a porosidade e a umidade. Destes, o fator 
dominante que regula a formação de N2O é o espaço poroso saturado por água (EPSA) 
aliado à temperatura (BUTTERBACH-BAHL et al., 2013). Assim, solos aerados, que 
apresentem um EPSA de 35 a 60%, têm formação de N2O como um subproduto 
principalmente da nitrificação. Por outro lado, solos com o EPSA acima de 70%, 
ocorrem condições que facilitam as reações de desnitrificação (JANTALIA et al., 2006; 
DENEGA, 2009; DOBBIE &SMITH, 2001). Em ambos os processos, a formação de 
N2O somente ocorre se houver substrato e presença de bactérias específicas. 
 É importante ressaltar que grande parte das emissões totais de N2O estão 
relacionadas às atividades antrópicas, sendo o setor agropecuário responsável por mais 
de 90% dessas emissões no Brasil. Em 2012, as emissões provenientes de solos 
agrícolas foram estimadas em 517 Gg de N2O (MCTI, 2014). 
 Dentre as principais fontes antrópicas de N2O está a aplicação de fertilizantes 
nitrogenados, a utilização de dejetos animais em solos agrícolas, a aplicação de 
fertilizantes orgânicos ricos em nitrogênio, a queima da biomassa vegetal e de 
combustíveis fósseis (CERRI et al, 2009). Além da decomposição de resíduos agrícolas 
que na cultura da soja, por exemplo, representa a principal fonte de emissão de N2O 
(RACCI et al., 2014). 
 É preciso considerar, no entanto, que as emissões provenientes dos resíduos 
orgânicos que são computadas nos inventários são aquelas provenientes de dejetos 
manejados, sendo, portanto, desconsideradas as emissões provenientes da vinhaça, que 
é um subproduto importante, porém ainda pouco conhecido. 
 Na agricultura brasileira, a vinhaça de cana-de-açúcar vem sendo cada vez mais 
utilizada como fertilizante, sendo assim, é preciso que se conheça o real impacto que 
esta atividade pode causar nas emissões de gases de efeito estufa tanto no que se refere 
às emissões totais provenientes da agricultura quanto as provenientes do processo 
produtivo do etanol. Nesse sentido, é preciso considerar que as maiores emissões de 
N2O devem ocorrer após a fertirrigação com vinhaça, uma vez que nos canais e lagoas 
de irrigação as condições de anaerobiose irão favorecer uma maior produção de N2. 
 
 
 
 
 
19 
 
3.3.3. Emissões de CH4 
 
 O CH4 é o produto final da decomposição anaeróbica de compostos orgânicos. 
Sua produção ocorre pelo processo de metanogênese e é realizado por Archaea 
anaeróbicas, as quais possuem alta especificidade, com habilidade apenas em usar 
compostos carbônicos de baixo peso molecular para a produção de energia, como o 
acetato, o metanol, o etanol, dentre outros. Características como teor de matéria 
orgânica, teor de água no solo, potencial de redução, pH e temperatura determinam sua 
formação e emissão para a atmosfera (AGOSTINETTO et al., 2002; 
PONNAMPERUMA, 1972). 
 Cerca de 70 a 80% do CH4 presente na atmosfera é originário de fontes 
biológicas e, é produzido através da oxidação anaeróbia da matéria orgânica por 
microorganismos. A formação desse gás se dá através da completa mineralização da 
matéria orgânica em ambientes anaeróbios, onde as concentrações de sulfato (SO4
-
) e 
nitrato (NO3
-
) são baixas e ocorre através da fermentação metanogênica, a qual tem 
como produto final CH4 e CO2 (LE MER & ROGER, 2001). 
 No que se refere à vinhaça, a produção de CH4 deve ocorrer nas lagoas de 
armazenamento, canais de irrigação, na aplicação no solo (aspersão) e no próprio solo, 
desde que haja condições anaeróbicas por período suficiente para a produção dogás. 
Posteriormente, a transferência deste gás do solo para a atmosfera poderá ocorrer 
através de difusão e ebulição. 
Porém, pouco se conhece sobre a formação e emissão de CH4 para a atmosfera 
desses reservatórios de vinhaça, apesar das características químicas e das condições de 
armazenamento sugerirem alto potencial, como o lodo que se deposita e se acumula no 
fundo dos canais e lagoas de irrigação e, pode ser fonte de material orgânico e 
microorganismos, os quais no processo de decomposição da matéria orgânica podem 
levar a produção de CH4. 
 
3.3.4. Emissões de gases de efeito estufa provenientes da vinhaça 
 
 O CO2 é o GEE que mais contribui para o efeito estufa, devido à grande 
quantidade que é emitida, em torno de 55% do total. Por outro lado, apesar da 
quantidade de CH4 presente na atmosfera ser bem menor, 1 kg de CH4 na atmosfera tem 
 
 
 
20 
 
um potencial de efeito estufa 28 vezes maior do que a mesma massa de CO2, enquanto 
que 1 kg de N2O apresenta potencial 265 vezes maior (IPCC, 2013). 
 Dessa forma, emissões de CH4 e N2O, mesmo que pequenas, durante o processo 
de distribuição e aplicação de vinhaça no solo pode ter efeito significativo em termos de 
potencial de aquecimento global, afetando assim o balanço total de GEE do etanol. 
 De modo generalizado, as doses de vinhaça aplicadas no campo variam de 80 a 
150m
3
 ha
-1
ano
-1
, podendo chegar até valores de 300m
3
 ha
-1
, as quais carregam consigo 
significativa quantidade de material orgânico e de nutrientes que podem afetar a 
dinâmica de N no solo. Além disso, de acordo com Soares et al. (2009), como a vinhaça 
frequentemente contém ao redor de 1 a 2% de carbono total e a água da lavagem da 
cana também é contaminada com um pequeno percentual de açúcar, isto poderia resultar 
em emissões de CH4 e N2O. 
 Atualmente, a vinhaça produzida em usinas é distribuída nas lavouras de cana-
de-açúcar por fertirrigação, chegando até os locais de aplicação, na maioria das vezes, 
por canais abertos. 
A temperatura da vinhaça recém produzida se aproxima dos 100 ºC, no entanto, 
em algumas usinas, essa vinhaça passa por um processo de resfriamento antes de ser 
armazenada nas lagoas, chegando nesse reservatório com temperaturas próximas a 
40ºC, sendo posteriormente distribuídas para os canais de distribuição, onde o processo 
de esfriamento continua, chegando aos locais mais distantes com temperaturas próximas 
a 25º C. Dessa forma, como a temperatura é favorável ao desenvolvimento dos 
microorganismos, espera-se que ocorra emissão de GEE durante todo o percurso de 
distribuição da vinhaça. 
 Com relação às emissões de N2O, essas têm sido constantemente estimadas com 
base na metodologia do IPCC (2006) uma vez que dados disponíveis sobre o processo 
no Brasil passaram a ser produzidos somente nos últimos anos. De acordo com a 
metodologia do IPCC, cerca de 1% do N aplicado é emitido como N2O. Considerando-
se que se aplicam 80m
3
 de vinhaça no campo, contendo 20 kg N ha
-1
, são perdidos 
anualmente 314 g ha
-1
 de N2O, ou 97,3 kg ha
-1
 de CO2 eq. (SOARES et al., 2009). 
 Estudo realizado por Amaral Sobrinho et al. (1983) em solo da região canavieira 
de Campos dos Goytacazes, Norte do Estado do Rio de Janeiro, avaliou o potencial de 
desnitrificação e imobilização de nitrogênio a partir da aplicação de vinhaça em 
diferentes doses (0, 100, 200, 400 e 800 m
3
 ha
-1
), misturada com nitrato (300 mg N-
 
 
 
21 
 
NO3
-
 kg
-1
 de solo). Os resultados obtidos mostraram que quanto maior a dose de 
vinhaça aplicada maior a emissão de N2O, sendo os maiores valores obtidos na segunda 
semana para a dose de 800 m
3
 ha
-1
 (24 μg g
-1
 solo), o que correspondeu a um teor de 
N2O quatro vezes maior que o nível observado na dose de 400 m
3
 ha
-1
 (6 μg g
-1
 solo) na 
primeira semana. As perdas de N-NO3
-
 total do sistema sob a forma de N2O oscilaram 
entre 1 e 18% para as doses de 0 e 800 m
3
 ha
-1
, respectivamente. Esses resultados, 
segundo o autor, confirmam que a adição de fontes de carbono prontamente 
metabolizáveis estimula as taxas de desnitrificação do solo, uma vez que aumenta a 
atividade microbiana, interferindo na dinâmica do nitrogênio. 
 Estudo realizado por Oliveira (2010) na usina São Martinho no nordeste do 
Estado de São Paulo, avaliando as emissões provenientes da aplicação da vinhaça no 
solo em área de cana crua e cana queimada, mostrou que a aplicação de vinhaça no solo 
influencia significativamente as emissões de CO2 e N2O. Por outro lado, os fluxos de 
CH4 foram negativos na maioria dos dias avaliados, evidenciando o consumo desse gás 
pelo solo. De modo geral, a aplicação de 200 m
3
 de vinhaça aumentou as emissões de 
GEE em 47,0 e 30,9 kg de CO2eq ha
-1
, respectivamente, para a área onde a cana era 
queimada para a colheita e para área de cana crua. 
Nesse mesmo estudo, a autora também mostrou o efeito favorável da vinhaça 
nas emissões de CO2, CH4 e N2O ao avaliar a emissão em seis pontos do canal de 
distribuição da vinhaça, encontrando emissões médias de CO2 que variaram de 834 a 
2396 mg m
-2
 h
-1
, para CH4 que variaram de 386 a 1.431 mg m
-2
 h
-1
, e de 0,12 a 0,57 mg 
m
-2 
h
-1
 para N2O. Os maiores valores encontrados para CH4 em relação ao N2O seriam 
decorrentes, provavelmente, da presença dos microrganismos metanogênicos devido às 
condições de anaerobiose, proporcionadas pela vinhaça. 
 Ainda segundo Oliveira (2010), a variação na emissão entre os pontos na lagoa 
e canais mostra a necessidade de amostragem mais representativa em todo o canal de 
distribuição de vinhaça, além de um melhor acompanhamento das emissões de GEE 
derivadas da vinhaça ao longo do ano agrícola, no percurso da usina até o campo. 
 Carmo et al. (2012) avaliando as emissões de GEE provenientes da aplicação da 
vinhaça e fertilizantes minerais em área de cana planta e cana soca também verificaram 
que a adição de vinhaça ao solo não representa uma fonte significativa de CH4. Já para 
as emissões de N2O, esses autores encontraram fatores de emissão mais de duas vezes o 
valor proposto pelo IPCC de 1%, em ambas as situações de estudo. 
 
 
 
22 
 
Paredes et al. (2014) avaliando os efeitos da aplicação da vinhaça ao solo, antes 
ou depois da fertilização nitrogenada com adubos minerais, nas emissões provenientes 
do solo, verificou que a utilização de vinhaça, logo após a adubação, favorece maiores 
perdas de N2O e que a utilização de um único fator de emissão conforme proposto pelo 
IPCC pode levar a erros de estimativas das emissões (sub ou superestimativas). Esses 
autores compilaram dados medidos em seu estudo com os publicados em literatura e 
estimaram um fator de emissão de N2O médio para vinhaça de 1,96%, porém com uma 
incerteza muito alta. 
Neto et al. (2015), ao avaliar o efeito da mistura de fertilizantes nitrogenados e 
vinhaça, encontrou um fator de emissão de 0,59%, enquanto que para vinhaça pura, nas 
doses de 150 m
3
 ha
-1
 e 300 m
3
 ha
-1
 os fatores de emissão foram de 0,54 e 0,77%, em 
todos os casos valores menores que o proprosto pelo IPCC de 1%. 
 Tais resultados comprovam que o uso do fator proposto pelo IPCC no cálculo do 
balanço de emissões de etanol pode estar acarretando em erros na estimativa, para cima 
ou para baixo. No entanto, apesar disso, é preciso evidenciar que ainda são poucos os 
estudos que avaliaram as emissões provenientes deste subproduto, o que demonstra a 
importância de estudos mais abrangentes, que caracterizem essas emissões em 
diferentes condições ao redor do país, para que se determine um fator de emissão mais 
específico. 
 
4. Metodologia 
 
4.1. Emissão de CH4, N2O e CO2 em lagoas e canais de distribuição de vinhaça 
 
4.1.1. Caracterização da área de estudo 
 
A avaliação foi conduzida em uma usina da região Centro-Leste do Estado de 
São Paulo, em seis campanhas mensais, de junho a novembrode 2013, com duração de 
5 dias para cada campanha e uma campanha extra em julho de 2014 para avaliar as 
emissões provenientes da aspersão. 
A região se caracteriza por apresentar um clima tropical. As temperaturas 
máxima e mínima absolutas, no ano de 2013, foram de 38,4 ºC e 1,2ºC, 
 
 
 
23 
 
respectivamente. A precipitação neste ano foi de 903 mm, um pouco abaixo da média 
anual de 1.500 mm (Figura 3). 
JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT NOV DEZ
P
re
c
ip
it
a
ç
ã
o
 (
m
m
)
0
50
100
150
200
250
T
e
m
p
e
ra
tu
ra
 m
é
d
ia
 (
ºC
)
0
5
10
15
20
25
30
Período com circulação de vinhaça
 
Figura 3. Distribuição das chuvas e a temperatura média ao longo do ano de 2013 
(CIIAGRO, 2014). 
 
A área cultivada com cana-de-açúcar controlada pela usina é de 37.000 ha, 
sendo parte da cana colhida destinada para a produção de açúcar e parte para a produção 
de álcool. Esse tipo de usina, denominada mista, é predominante no Brasil, 
representando 64% do total de usinas presentes no país e 65% do total de usinas da 
região Centro-Sul (CONAB, 2013). 
O corte da cana na usina foi de abril a dezembro de 2013, compreendendo 
aproximadamente 250 dias. Esse período, no entanto, pode variar de ano para ano em 
função do clima, da oferta de produto e da usina em questão. 
As lagoas e canais de vinhaça avaliados variaram entre as campanhas de 
amostragem em função da área da Usina a ser fertirrigada na ocasião de cada visita. 
A figura 4 apresenta um esquema indicando, de modo geral, o manejo da 
vinhaça. Primeiramente a vinhaça produzida é liberada em um canal revestido com lona 
de borracha de etileno-propileno-dieno (EPDM), onde a vinhaça tem temperatura 
próxima de 70ºC. Esse canal libera a vinhaça em uma primeira lagoa revestida com a 
mesma borracha EPDM, chamada nesse estudo de “Lagoa 1” (53m x 17 m – 2,5 m de 
 
 
 
24 
 
profundidade), de onde sai a vinhaça para o abastecimento de caminhões que irão levá-
la para pontos mais distantes para irrigação. 
Ao lado da “Lagoa 1” existe uma segunda lagoa chamada nesse estudo de 
“Lagoa 2” (53m x 17 m – 2,5 m de profundidade), que apresenta vinhaça diluída com 
água proveniente das operações de lavagem na usina, como a lavagem da cana, 
chamada de água residuária. Desse ponto, a vinhaça segue para uma terceira lagoa, 
denominada “Lagoa 3” (180 x 55 m – 3 a 4 m de profundidade) por meio de canais 
predominantemente subterrâneos. 
Da “Lagoa 3” a vinhaça pode ser liberada para os canais a céu aberto que 
seguem até o local da aspersão. Quando a “Lagoa 3” encontra-se em manutenção, ou a 
produção de vinhaça excede o limite dessa lagoa, a vinhaça produzida passa a ser 
liberada pela “Lagoa 2” para uma outra lagoa denominada “Lagoa 4”, que se encontra 
ao lado da “Lagoa 3” e possui dimensões semelhantes a esta, completando o quadro de 
lagoas presentes na usina (Figura 2). 
 
1. 
2. 
3. 
4. 
5. 
6. 
7. 
8. 
 
 
 
Figura 4. Representação dos principais pontos avaliados ao longo do processo de 
distribuição da vinhaça na usina avaliada. 
 
Assim, como no caso das lagoas, as avaliações dos canais foram realizadas de 
acordo com o manejo da vinhaça feito pela usina no momento da amostragem. No total, 
foram analisados sete diferentes canais, os quais, quando necessário, foram subdivididos 
em seções, de acordo com a distância que a vinhaça percorria. Os canais a céu aberto 
foram denominados Canal 1 (revestido), Canal 2 (terra), Canal 3 (terra), Canal 4 (terra), 
 
Lagoa 1 Lagoa 2 
Lagoa 3 Lagoa 4 
Canal 
Tubulação 
Aspersão 
Abastecimento 
de caminhão 
 
 
 
25 
 
Canal 5 (revestido), Canal 6 (terra) e Canal 7 (terra) (Quadro 1). De acordo com a usina, 
os canais revestidos representavam 76% do total de canais utilizados para o manejo da 
vinhaça. Assim como as lagoas, alguns canais foram avaliados em mais de uma 
campanha (Quadro 2). A Figura 5 mostra a distribuição das lagoas e dos canais na 
usina, sendo o Canal 7 o único que não aparece na imagem, pois se trata de um canal 
temporário, aberto no dia da avaliação para irrigar uma área localizada abaixo do canal 
6. 
 
 
 
Quadro 1. Caracterização das seções de canais avaliadas. 
Canal Tipo 
Comprimento* 
(m) 
Largura 
(m) 
Área média 
avaliada (m
2
) 
Profundidade 
 (m) 
1 Revestido 875 (± 25) 0,75 (± 0,05) 656 0,35 (± 0,05) 
2 Terra 4000 0,99 (± 0,08) 3960 0,41 (± 0,07) 
3 Terra 613 (± 97) 0,93 (± 0,06) 570 0,24 (± 0,02) 
4 Terra 920 1,22 (± 0,04) 1122 0,48 (± 0,09) 
5 Revestido 650 (± 350) 0,70 (± 0,01) 455 0,30 (± 0,04) 
6 Terra 675(± 515) 1,15 (± 0,02) 776 0,33 (± 0,01) 
7 Terra 2250 0,75 (± 0,05) 1687 0,31 (± 0,03) 
* distância avaliada do canal. 
 
Quadro 2. Lagoas e canais avaliados em cada campanha. 
Campanha 
Local 
L.1 L. 2 L. 3 L. 4 C.1 C.2 C.3 C. 4 C.5 C.6 C.7 
1 X X X X X 
2 X X X X X X X 
3 X X X X 
4 X X X X X 
5 X X X X X X X 
6 X X X X X 
 
 
 
26 
 
 
Figura 5. Imagem da distribuição de lagoas e canais de irrigação de vinhaça na área da 
usina (GOOGLE MAPS, 2016). 
 
4.1.2. Caracterização da vinhaça 
 
Em todas as avaliações amostras de vinhaça foram retiradas de cada lagoa e da 
seção de canal, para caracterização físico-química. Os parâmetros avaliados foram: 
temperatura, pH, potencial redox, nitrogênio total, potássio, carbono orgânico - 
dissolvido e particulado - e gases dissolvidos - CO2, N2O e CH4. 
Para a determinação da temperatura, pH e potencial redox no campo foi utilizado 
um equipamento desenvolvido pelo Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas e o Instituto 
Nacional de Tecnologia, em um Projeto denominado Caipora (INT, 2015). Esse 
equipamento consiste em um aparelho capaz de se conectar a variados tipos de sensores 
que coletam informações sobre águas e efluentes, tais como a temperatura, o potencial 
redox e acidez das águas, além de diversos dados sobre o solo e inúmeras outras 
possibilidades. Todos os dados coletados são registrados em um cartão de memória para 
posterior análise (RIBEIRO, 2013). 
As análises de nitrogênio total e de potássio foram realizadas no Laboratório de 
Química Agrícola da Embrapa Agrobiologia utilizando o Método Kjeldhal e a digestão 
nitro-perclórica, respectivamente. 
O método Kjeldhal é um método clássico surgido na metade do século 20 e é 
baseado na decomposição da matéria orgânica através da digestão da amostra a 400°C 
com ácido sulfúrico concentrado, em presença de sulfato de cobre como catalisador que 
 
 
 
27 
 
acelera a oxidação da matéria orgânica. O nitrogênio presente na solução ácida 
resultante é determinado por destilação por arraste de vapor, seguida de titulação com 
ácido diluído (NOGUEIRA & SOUZA, 2005). 
A digestão nitro-perclórica, por outro lado, consiste na aplicação de uma solução 
concentrada de ácidos oxidantes (nítro-perclórica − HNO3 + HCLO4 −, na proporção de 
4:1, v.v
-1
) que faz com que a matéria orgânica da amostra seja totalmente oxidada. Os 
elementos a serem determinados são solubilizados em meio ácido, em formas 
inorgânicas simples e adequadas para análise (NOGUEIRA E SOUZA, 2005). A 
determinação do potássio é feita então por meio de fotometria de chama. 
O carbono orgânico total foi determinado através da soma de carbono orgânico 
dissolvido (COD) e carbono orgânico particulado (COP), os quais são diferenciados, 
basicamente, pelo tamanho de suas partículas. O material particulado corresponde à 
fração retida no filtro de fibra de vidro com porosidade de 0,45µm e o que o atravessa 
corresponde à fração dissolvida (ESTEVES, 1998). Para determinação do teor de 
carbono nessas frações utilizou-se o equipamento TOC-500 da Shimadzu, no 
Laboratório de Limnologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Nesse 
equipamento, todo o material orgânico da amostra é oxidado por meio do método de 
oxidação catalítica por combustão a 680 ºC. Todo

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