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i UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO GENILTON ALVES DA SILVA PÃES ENRIQUECIDOS COM FARINHA DE GOIABA COMO FERRAMENTA DE ESTUDO DA INCORPORAÇÃO DE COMPOSTOS FENÓLICOS EM MELANOIDINAS DE PÃO RIO DE JANEIRO 2015 ii GENILTON ALVES DA SILVA PÃES ENRIQUECIDOS COM FARINHA DE GOIABA COMO FERRAMENTA DE ESTUDO DA INCORPORAÇÃO DE COMPOSTOS FENÓLICOS EM MELANOIDINAS DE PÃO Orientador: Daniel Perrone Moreira RIO DE JANEIRO 2015 Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-graduação em Ciência de Alimentos do Instituto de Química, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Mestre em Ciência de Alimentos. iii Silva, Genilton Alves da Pães enriquecidos com farinha de goiaba como ferramenta de estudo da incorporação de compostos fenólicos em melanoidinas de pão / Genilton Alves da Silva -- Rio de Janeiro: UFRJ/IQ, 2015. 79f.; il. Dissertação (Mestrado em Ciências) – Universidade Federal do Rio de Janeiro, Instituto de Química, Programa de Pós-Graduação em Química, Rio de Janeiro, 2015. Orientador: Daniel Perrone Moreira. 1. Capacidade antioxidante. 2. Fabricação de pão. 3. Fermentação. 4. Reação de Maillard. 5. Melanoidinas. 6. Psidium guajava L. I. Perrone, Daniel. (Orient.). III. Universidade Federal do Rio de Janeiro. Instituto de Química. Programa de Pós-graduação em Ciência de Alimentos. IV. Título. iv Genilton Alves da Silva PÃES ENRIQUECIDOS COM FARINHA DE GOIABA COMO FERRAMENTA DE ESTUDO DA INCORPORAÇÃO DE COMPOSTOS FENÓLICOS EM MELANOIDINAS DE PÃO Prof. Dr. Daniel Perrone Moreira Aprovada por: _____________________________________________ Presidente, Prof. Dr. Daniel Perrone Moreira, IQ/UFRJ _____________________________________________ Profa. Dra. Cláudia Moraes de Rezende, IQ/UFRJ _____________________________________________ Profa. Dra. Mariana Costa Monteiro, INJC/UFRJ Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-graduação em Ciência de Alimentos do Instituto de Química, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Mestre em Ciência de Alimentos. v Agradecimentos Como já dizia Anitelli: “Sonho parece verdade quando a gente esquece de acordar”. Hoje, vivo uma realidade que parece um sonho, mas foi preciso muito esforço, determinação, paciência, perseverança, ousadia e maleabilidade para chegar até aqui, e nada disso eu conseguiria sozinho. Minha terna gratidão a todos aqueles que colaboraram para que este sonho pudesse ser concretizado. Grato a Deus pelo dom da vida, pelo seu amor infinito, sem Ele nada sou. Agradeço aos meus pais que são os meus maiores exemplos. Obrigado por cada incentivo e orientação, pelas orações em meu favor, pela preocupação para que estivesse sempre andando pelo caminho correto. Agradeço a eles por todos os sacrifícios feitos pela minha educação e pelo incentivo sempre dado a meus desejos e sonhos. À minha irmã por todo amor, carinho, paciência e compreensão que tem me dedicado. Obrigado por contribuir com tantos ensinamentos, tanto conhecimento, tantas palavras de força e ajuda. Agradeço principalmente por me dar a maior alegria da minha vida que é o meu bochechudo Gabriel. Ao meu cunhado Leandro que sempre acreditou em mim. Obrigado pelos incentivos e pelas palavras de confiança. Também obrigado por ter me dado um sobrinho lindo (rsrs). Ao meu ‘avô’ Aloísio que nos deixou, mas sempre estará vivo em nossos corações. Obrigado por seus conselhos durante toda a minha vida. Ao Professor Daniel que, com muita paciência e atenção, dedicou do seu valioso tempo para me orientar em cada passo deste trabalho. Obrigado pela contribuição na minha vida acadêmica e por tanta influência na minha futura vida profissional. Quero expressar o meu reconhecimento e admiração pela sua competência profissional e minha gratidão por ser um profissional extremamente qualificado e pela forma humana que conduziu minha orientação. vi Ao professor Alexandre pelos conselhos dados durante os seminários e pela orientação nas rotinas de análise e atividades do laboratório. À professora Mariana que no inicio do meu mestrado permitiu a minha participação desenvolvimento do pão de goiaba. Obrigado pelos conselhos, dicas e por disponibilizar a infraestrutura do CCS. Aos meus companheiros de laboratório (e de barzinhos) Emília, Ellen, Fabrício, Kim, Nívea, Suellen, Laís, Nathália, Andressa, André, Beatriz e Mabel. Obrigado pela paciência, pelo sorriso, pelo abraço, pela mão que sempre se estendia quando eu precisava. Esta caminhada não seria a mesma sem vocês. À equipe do LBNA, que direta ou indiretamente me ajudaram nessa caminhada. Obrigado a todos que, mesmo não estando citados aqui, tanto contribuíram para a conclusão desta etapa e para o Genilton que sou hoje. Agradeço a Deus. Agradeço à Vida. vii RESUMO Silva, Genilton Alves. Pães enriquecidos com farinha de goiaba como ferramenta de estudo da incorporação de compostos fenólicos em melanoidinas de pão. Rio de Janeiro, 2015. Dissertação (Mestrado em Ciência de Alimentos) – Instituto de Química, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2015. Melanoidinas constituem uma classe de compostos que são formados durante o processamento térmico dos alimentos através da Reação de Maillard, que ocorre entre açúcares redutores e compostos aminados. Esses compostos contribuem para o sabor, aroma e cor dos alimentos, principalmente no café e em produtos de panificação. A incorporação de compostos fenólicos em melanoidinas de café e a capacidade antioxidante dessas melanoidinas têm sido amplamente estudadas, nenhum estudo investigou as melanoidinas de pão enriquecidas com farinhas ricas em compostos fenólicos. Esse estudo teve como objetivo estudar, pela primeira vez, a incorporação de compostos fenólicos em melanoidinas de pão. Para o desenvolvimento do trabalho foram elaborados diferentes pães: pão controle (100% de farinha de trigo) e pães de goiaba, na qual foram preparados substituindo a farinha de trigo por 10% ou 20% da farinha de trigo por farinha de goiaba, obtida por desidratação do fruto. Os pães foram forneados por diferentes intervalos de tempo (37, 47, 57, 67 ou 77 minutos). As crostas dos pães foram mecanicamente separadas e enzimaticamente digeridas com Pronase E durante 70 h, a 37ºC. O isolamento das melanoidinas foi realizado por ultrafiltração, obtendo-se três frações, as quais foram liofilizadas: fração de peso molecular elevado, fração de peso molecular intermediário e a fração de peso molecular baixo. Amostras da massa dos pães controle e de goiaba foram preparadas com e sem a presença de fermento e liofilizadas antes da fase de forneamento. A capacidade antioxidante das frações isoladas foi medida por meio dos ensaios FRAP e TEAC. A fermentação afetou significativamente o perfil de compostos fenólicos nas massas de pão, na qual seis compostos fenólicos tiveram um incremento no seu teor e seis tiveram um decréscimo. O teor de melanoidinas aumentou, em média, de 24,1 mg/g a 71,9 mg/g durante o forneamento, mas seu peso molecular diminuiu no início do processo e posteriormente aumentou. O enriquecimento do pãobranco com farinha de goiaba aumentou a incorporação de compostos fenólicos em até 2,4 vezes. A maioria dos compostos fenólicos apresentaram maiores taxas de incorporação do que de liberação durante o forneamento, levando a aumentos de 3,3 a 13,3 vezes em fenólicos totais ligados às melanoidinas. Os padrões de incorporação sugeriram que hidroxilas fenólicas, mas viii não ligações glicosídicas de compostos fenólicos são clivadas durante o processamento térmico. A capacidade antioxidante das melanoidinas dos pães aumentou devido ao enriquecimento com farinha de goiaba e a períodos crescentes de forneamento, sendo parcialmente atribuída aos fenólicos ligados às estruturas das melanoidinas. Além disso, o ensaio FRAP foi mais sensível para medir esse parâmetro do que o ensaio TEAC. A incorporação dos compostos fenólicos em melanoidinas de pão foi observado pela primeira vez no presente estudo. A capacidade antioxidante das melanoidina de pão foi parcialmente atribuída aos compostos fenólicos ligados às estruturas das melanoidinas, sugerindo que outras modificações na estrutura das melanoidinas pode desempenhar um papel relevante. Palavras-chave: capacidade antioxidante; fabricação de pão; fermentação; Reação de Maillard; melanoidinas; Psidium guajava L. ix ABSTRACT Silva, Genilton Alves. Breads enriched with guava flour as a tool for studying the incorporation of phenolic compounds in bread melanoidins. Rio de Janeiro, 2015. Dissertação (Mestrado em Ciência de Alimentos) – Instituto de Química, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2015. Melanoidins are end products generated in the Maillard reaction between reducing sugars and compound amino during food thermal processing. These compounds contribute to the flavor, aroma and color of foods such as coffee and bakery products. Antioxidant capacity and the incorporation of bioactive compounds of melanoidins from coffee have been widely studied, but few studies have investigated bread melanoidins, especially in products containing phenolic-rich flours. In the present study we aimed at studying, for the first time, the incorporation of phenolic compounds into bread melanoidins. Control bread was prepared with 100% wheat flour, while guava bread was prepared by partially substituting wheat flour by 10% or 20% guava flour, obtained by dehydration of the fruit. Breads were baked for 37, 47, 57, 67 or 77 minutes. Bread crust were mechanically separated and enzymatically digested with Pronase E for 70 h at 37ºC. Isolation of melanoidins was performed by ultrafiltration, yielding three fractions, which were freeze dried: high molecular weight fraction, intermediate molecular weight fraction and low molecular weight fraction. Dough samples of control and guava breads were analyzed with and without yeast and freeze-dried before the baking step. The antioxidant capacity of the isolated fractions were measured by FRAP and TEAC assays. Fermentation significantly affected phenolics profile of bread doughs. Melanoidins contents continuously increased from 24.1 mg/g to 71.9 mg/g during baking, but their molecular weight decreased at the beginning of the process and increased thereafter. Enrichment of white wheat bread with guava flour increased the incorporation of phenolic compounds up to 2.4-fold. Most phenolic compounds showed higher incorporation than release rates during baking, leading to increases from 3.3- to 13.3-fold in total melanoidin-bound phenolics. Incorporation patterns suggested that phenolic hydroxyls, but not glycosidic bonds of melanoidin-bound phenolics are cleaved during thermal processing. Antioxidant capacity of bread melanoidins increased due to enrichment with guava flour and increasing baking periods and was partially attributed to bound phenolics. Moreover, FRAP assay was more sensitive to measure this parameter than TEAC assay. The incorporation of phenolic compounds into bread melanoidins was observed for the first time in the present study. The x antioxidant capacity of bread melanoidins was partially attributed to bound-phenolic compounds, suggesting that other modifications in the structure of melanoidins might play a relevant role. Keywords: antioxidant capacity; bread making; fermentation; Maillard Reaction; melanoidins; Psidium guajava L. xi PUBLICAÇÕES Artigo submetido a periódico 1. Alves, G.; Perrone, D. Breads enriched with guava flour as a tool for studying the incorporation of phenolic compounds in bread melanoidins. Food Chemistry. 2015. Resumos publicados em anais de congressos: 1. Alves, G.; Perrone, D. Determinação do método de extração das melanoidinas de pão. Chem Rio 2014 Symposium, Rio de Janeiro, Brasil, 2014. 2. Alves, G.; Perrone, D. Effect of baking on melanoidins contents and their antioxidant capacity in breads incorporated with guava flour. 17th IUFoST World Congress of Food Science and Technology, Montreal, Canadá, 2014. xii LISTA DE FIGURAS Capítulo 1 Figura 1. Esquema da Reação de Maillard proposto por Hodge (1953).................... 19 Figura 2. Estrutura do hidroximetilfurfural (HMF).....................................................20 Figura 3. Estrutura da furosina.....................................................................................20 Figura 4. Estrutura da carboximetilisina (CML) .........................................................21 Figura 5. Via metabólica do ácido chiquímico ........................................................... 28 Figura 6. Estrutura dos principais tipos de flavonoides............................................... 30 Figura 7. Estruturas químicas das principais classes não flavonoides..........................31 Figura 8. Mecanismo de transferência de hidrogênio.................................................. 33 Figura 9. Mecanismo de transferência de elétrons....................................................... 33 Figura 10. Estrutura do ABTS + (2, 2´azinobis 3 etilbenzotiazolino 6 sulfônico)....... 33 Figura 11. Reação do ensaio de FRAP........................................................................ 34 Figura 12. Goiaba vermelha (Psidium guajava L.)...................................................... 35 Figura 13. Distribuição das goiabas nas bandejas da estufa de circulação forçada de ar................................................................................................................................... 38 Figura 14. Pão branco (A) e pão enriquecido com farinha de goiaba (B).................... 39 Capítulo 2 Figure 1. Time-temperature curves from mixing, fermentation and baking steps of bread making. The inner smaller chart shows that the amount of heat transferred to doughs during baking (calculated as AUC of baking step) significantly increased with longer baking periods (ANOVA, p<0.05).................................................................... 57 Figure 2. Incorporation patterns of phenolic compounds (μg/g) in melanoidins of control bread (■), guava bread 10% (GB10) (■) and guava bread 20% (GB20) (■): naringenin incorporation between intermediate (IMWF) and high molecular weight fraction (HMWF) melanoidins (A); incorporation of total phenolic compounds (B); incorporation patterns of rutin and quercetin, showing no cleavage of glycosidic bond (C); two-phase incorporation pattern of ferulic acid (D); incorporation patterns of gallic and 3,4-dihydroxybenzoic acid, showing cleavage of phenolic hydroxyl bond (E); incorporation pattern of 2,4-dihydroxybenzoic acid (F)...................................... 61 xiii Figure 3. Antioxidant capacity measured by FRAPand TEAC assays of intermediate (IMWF) and high molecular weight fraction (HMWF) melanoidins of control bread (■), guava bread 10% (GB10) (■) and guava bread 20% (GB20) (■) baked for 37 to 77 min. Different letters indicate significant difference between types of breads at the same baking time and asterisks indicate significant effect of baking time compared to 37 min for the same type of bread (two-way ANOVA followed by Dunn’s multiple comparison post-hoc test, p<0.05)............................................................................... 64 xiv LISTA DE TABELAS Capítulo 1 Tabela 1. Visão de algumas classes de compostos aromáticos derivados da Reação de Maillard ....................................................................................................................... 22 Tabela 2. Propriedades químicas de melanoidinas investigadas em alimentos.......... 25 Tabela 3. Resumo das atividades biológicas descritas para melanoidinas.................. 26 Tabela 4. Fontes alimentares de compostos fenólicos de plantas................................ 29 Capítulo 2 Table 1. Free and bound phenolic compounds (mg/100g) in wheat and guava flours 1 ........................................................................................................................... 51 Table 2. Phenolic compounds (mg/100g) in control and guava bread (GB) dough formulations................................................................................................................. 52 Table 3. Effect of dough fermentation, guava flour enrichment and baking time on the relative contents (%) of high (HMWF), intermediate (IMWF) and low molecular weight fractions (LMWF)............................................................................................ 53 Table 4. Phenolic compounds (µg/g) in intermediate molecular weight (IMWF) and high molecular weight fractions (HMWF) of control and guava (GB) unfermented and fermented bread doughs 1 .............................................................................................. 55 Table 5. Phenolic compounds (µg/g) in high molecular weight fraction (HMWF) melanoidins of control and guava (GB) bread crusts during baking 1 .......................... 59 Table 6. Phenolic compounds (µg/g) in intermediate molecular weight fraction (IMWF) melanoidins of control and guava (GB) bread crusts during baking 1 ............ 60 xv LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS ABIP Associação Brasileira da Indústria de Panificação e Confeitaria ABTS 2,2’-Azino-bis(3-ethylbenzo-thiazoline-6-sulfonic acid)diammonium salt AC Antioxidant Capacity ANOVA Análise de Variância CADEG Centro de Abastecimento do Estado da Guanabara CLAE Cromatografia Líquida de Alta Eficiência CLAE-DAD Cromatografia Líquida de Alta Eficiência acoplada a Detector de Arranjo de Diodos DAD Detector de Arranjo de Diodos EDTA Ethylenediamine tetraacetic acid FRAP Ferric Reducing Antioxidant Power GB Guava Bread HMF Hidroximetilfurfural HMWF High Molecular Weight Fraction HPLC High Performance Liquid Chromatography IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística IMWF Intermediate Molecular Weight Fraction LMWF Low Molecular Weight Fraction MRPs Maillard Reaction Products MW Molecular Weight ND Not detected PA Produtos de Amadori POF Pesquisa de Orçamento Familiar RM Reação de Maillard TEAC Trolox Equivalent Antioxidant Capacity TPTZ 2,4,6-tripyridyl-S-triazine TROLOX 6-hydroxy-2,5,7,8-tetramethylchroman-2-carboxylic acid UV Ultravioleta xvi SUMÁRIO Capítulo 1 1. Revisão bibliográfica ............................................................................................. 18 1.1. Visão geral da Reação de Maillard .................................................................... 18 1.2. Melanoidinas ..................................................................................................... 23 1.3. Compostos fenólicos.......................................................................................... 27 1.4. Capacidade Antioxidante ................................................................................... 32 1.5. Goiaba (Psidium guajava L.) ............................................................................ 35 1.6. Pão ..................................................................................................................... 36 2. Objetivos ................................................................................................................. 37 3. Materiais e Métodos .............................................................................................. 38 3.1. Preparo da farinha de goiaba ............................................................................. 38 3.2. Pães .................................................................................................................... 38 3.3. Análise de compostos fenólicos livres e conjugados nas farinhas de trigo e goiaba ........................................................................................................................... 39 3.4. Extração e isolamento das melanoidinas das crostas dos pães .......................... 41 3.5. Análise dos compostos fenólicos incorporados nas melanoidinas dos pães ..... 41 3.6. Capacidade antioxidante .................................................................................... 42 3.7.Análise estatística ............................................................................................ 42 Capítulo 1 1. Introduction ........................................................................................................... 18 2. Materials and methods .......................................................................................... 45 2.1. Standards and chemicals .................................................................................... 45 2.2. Breads ................................................................................................................ 45 2.3. Analysis of free and bound phenolic compounds in wheat and guava flours…......................................................................................................................... 46 2.4. Extraction and isolation of bread crust melanoidins ......................................... 41 2.5. Analysis of phenolic compounds incorporated in bread crust melanoidins ...... 41 2.6. Antioxidant capacity .......................................................................................... 42 2.7. Statistical analysis ............................................................................................ 49 3. Results and discussion........................................................................................... 49 3.1. Wheat and guava flours .................................................................................... 49 3.2. Doughs ............................................................................................................. 52 xvii 3.3. Baking............................................................................................................... 56 3.4. Antioxidant capacity......................................................................................... 63 4. Conclusions.............................................................................................................65 5. Referências bibliográficas.......................................................................................6717 Capítulo 1 Revisão Bibliográfica 18 1. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 1.1.Visão geral da Reação de Maillard A Reação de Maillard (RM), também conhecida como o escurecimento não enzimático, é uma rede complexa de reações, inicialmente investigada em 1912, pelo químico francês Louis-Camille Maillard, o qual relatou as reações entre aminoácidos livres com açúcares redutores que ocorrem com o aumento da temperatura ao longo do tempo (Maillard, 1912). No entanto, só em 1953, Hodge apresentou o primeiro esquema de reação global, dividido em três fases, no qual foi demonstrado que a química relacionada à RM é de fato complexa, englobando não uma via de reação, mas toda uma rede de reações (Figura 1) (Hodge, 1953). Na fase inicial ocorre a reação entre um açúcar redutor, como a glicose, que se condensa com um grupamento amino livre, presente em aminoácidos e peptídeos, resultando na formação de um produto de condensação, uma glicosilamina N-substituída. A glicosilamina, por rearranjo, origina a base de Schiff, e, posteriormente, os Produtos de Amadori (PA) (Hodge, 1953). Na fase intermediária, diversos tipos de reações ocorrem, como ciclização, desidratação e retroaldolização. Dependendo do pH reacional, os PA são degradados e geram compostos altamente reativos. Em pH ácido, a reação segue a via 1,2-enominol, que irá gerar hidroximetilfurfural (HMF) ou furfural. Já em pH alcalino, a reação segue a via 2,3-enodiol, na qual uma série de compostos de baixo peso molecular são gerados, tais como acetilas, diacetilas e piruvaldeído (Hodge, 1953). A degradação de Strecker ocorre nessa etapa e gera aldeídos que podem condensar-se com diversos componentes presentes, como fragmentos de açúcar, furfurais ou produtos de desidratação (Finot, 2005). Apesar do caminho da degradação de Strecker não ser a principal reação de geração de cor, essa via é responsável pela origem dos off-flavours geralmente associados com a RM. (Finot, 2005; Morales & Van Boekel, 1997). Na etapa final, os produtos de baixo peso molecular se polimerizam, conduzindo à formação, dentre outros compostos, de moléculas nitrogenadas denominadas melanoidinas (Hodge, 1953). 19 Figura 1: Esquema da Reação de Maillard proposto por Hodge (1953) O desenvolvimento do escurecimento ocorre após um período de indução, caracterizado pela produção de compostos intermediários incolores fluorescentes denominados fluoróforos. Os fluoróforos são considerados precursores do pigmento castanho e permitem detectar o progresso da reação antes de ocorrer qualquer mudança visual (Matiacevich & Buera, 2006). A fluorescência, a partir da RM, é atribuída a estruturas moleculares com ligações complexas entre carbono e nitrogênio, e a contribuição da caramelização do açúcar para fluorescência global é insignificante em sistemas contendo aminoácidos (Rozycki et al., 2010). Além dos compostos fluorescentes outras moléculas são geradas durante a RM, como o hidroximetilfurfural (HMF), furosina e o carboximetilisina (CML). O HMF (Figura 2) é formado pela degradação de hexoses a temperaturas elevadas e em condições ácidas (Arribas- Lorenzo & Morales, 2010). 20 Figura 2: Estrutura do hidroximetilfurfural (HMF) A formação de HMF está diretamente ligada à intensidade do calor aplicado ao alimento, e por não estar normalmente presente em alimentos crus e frescos, esse composto é considerado um marcador de dano térmico para os produtos que contêm altas concentrações de carboidratos (Rufian-Henares & Delgado-Andrade, 2009). Além disso, pode ser utilizado para monitorar o processo térmico aplicado aos vários produtos alimentares, tais como cereais, massas e produtos de panificação (Rufian-Henares et al., 2006). A furosina (ε-N-2-furilmetil-L-lisina) (Figura 3) presente nos alimentos é influenciada pelo tipo de tratamento térmico e/ou o tempo de armazenamento (Friedman, 1996). Níveis de furosina tendem a diminuir depois de um armazenamento prolongado, ou depois de sobreaquecimento para dar origem a outros compostos tais como CML (Delgado-Andrade et al., 2005; Friedman, 1996; Rufian-Henares et al., 2009). Figura 3: Estrutura da furosina (ε-N-2-furilmetil-L-lisina) A furosina é um indicador importante e específico da fase inicial da RM. Esses compostos são formados pela interação do grupo ε-amino da lisina com glicose, lactose ou maltose resultando respectivamente em frutose-lisina, lactulose-lisina e maltose-lisina com consequente perda do grupamento amino no início da RM (Guerra-Hernandez, Corzo & Garcia-Villanova, 1999). Por esta razão, a estimativa do dano das proteínas causada pelo aquecimento é geralmente baseada na determinação da quantidade de furosina formada (Rufian-Henares et al., 2004, Delgado-Andrade, 2005; Guerra-Hernandez et al., 1999). 21 A carboximetilisina (N-ε-carboximetilisina) é um indicador dos produtos finais da RM e da qualidade nutricional de produtos que sofreram intenso tratamento térmico (Charissou et al., 2007) (Figura 4). A CML pode ser formada pela oxidação da furosina, a partir do metilglioxal, da peroxidação lipídica ou pelo glioxal, um produto da autoxidação de açúcares (Ames, 2008). Figura 4. Estrutura da carboximetilisina (CML) A RM pode ocorrer também em sistemas biológicos e os seus produtos finais são denominados produtos de glicação avançada (AGEs). Os AGEs constituem uma grande variedade de substâncias formadas a partir de interações amino-carbonila, de natureza não- enzimática, entre açúcares redutores ou lipídeos oxidados e proteínas, aminofosfolipídeos ou ácidos nucléicos (Goldberg et al., 2004). A via da glicação em organismos vivos está ligada ao metabolismo da glicose e da peroxidação lipídica (Nass et al., 2007). Os AGEs estão implicados em modificações fisiopatológicas que ocorrem na diabetes (Nass et al., 2007), aterosclerose (Xanthis, Hatzitolios, Koliakos & Tatola, 2007) e doenças neurodegenerativas (Munch, Foley, Schinzel & Riederer, 1997). Esses compostos podem causar danos aos tecidos por modificar a função da proteína devido às alterações em sua estrutura (Nass, 2007), modificar o tecido em si, devido às ligações cruzadas (cross-links) inter e intra-molecular (Haslbeck et al., 2004), favorecer a formação de radicais livres e induzir resposta inflamatória após ligarem-se a receptores específicos (Uribarri et al., 2005). Diversos fatores podem interferir na RM. A extensão da RM é proporcional à intensidade do tratamento térmico durante o processamento dos alimentos, quando as temperaturas podem variar entre 100 e 250 ºC (Gerrard, 2002a). A atividade da água (a reação é favorecida entre 0,5 e 0,8), assim como a presença de metais são outros fatores que afetam a velocidade da RM (Sherwin & Labuza, 2003). Além desses fatores, a composição do alimento também influência na ocorrência da 22 RM. O tipo de açúcar redutor interfere na velocidade de reação com os grupamentos amina, sendo o açúcar redutor mais reativo a xilose, seguida de arabinose, glicose, maltose e frutose, indicando que as pentoses são mais reativas do que as hexoses. Ainda, os açúcares redutores diferem na via de escurecimento, sendo que as cetoses são mais reativas para a formação de produtos de Heyns, enquanto as aldoses o são para a formação de produtos de Amadori (Buera, Chirife, Silva, Resnik & Wetzler, 1987). Além dos açúcares, os tipos de aminoácidos também interferem na velocidade de reação. A lisina é a mais reativa quando comparada aos outros aminoácidos, devido à presença de grupamentos α e ε-amino em sua estrutura. Na sequência, os aminoácidos básicos e não polares (arginina, fenilalanina, leucina, isoleucina e valina) são os mais reativos, seguidos dos aminoácidos ácidos (ácido glutâmico e ácido aspártico) (Kwak & Lim, 2004). É sabido quea RM é uma das principais reações resultantes do processamento térmico dos alimentos. Portanto, seu estudo tem sido um desafio central e importante na indústria de alimentos, uma vez que essa reação está relacionada com o aroma, sabor e cor dos alimentos, principalmente em processos tradicionais, como a torrefação dos grãos de café e do cacau e o forneamento de produtos de panificação e bolos (Gerrard, 2002b). A Tabela 1 apresenta as principais classes de compostos de baixo peso molecular que são gerados na fase intermediária da RM e que são associados ao flavor e sabor dos alimentos. Tabela 1: Classes de compostos aromáticos derivados da Reação de Maillard e relacionados ao sabor e aroma de alimentos processados termicamente. Classe Sabor/aroma Alimentos Pirazinas Cozido, assado, torrado, cereais cozidos. Alimentos cozidos em geral Alquilpirazinas Nozes, torrado Café Alquilpiridinas Amargo, adstringente, queimado. Café, produtos de panificação e malte Acilpiridinas Cracker-like Cereais Pirróis Cereal-like Cereais e café Furanos, furanonas, piranonas Doce, queimado, pungente Alimentos cozidos em geral Oxazóis nozes, doce Cacau, café e carnes Adaptado de Boekel (2006) 23 Alguns compostos produzidos durante a reação, como o metilglioxal, são nocivos devido à sua toxicidade e efeito mutagênico (Nagao, Takahashi, Yamanaka & Sugimura, 1999). Além disso, existem evidências relativas à implicação da RM na formação de compostos carcinogênicos, como a acrilamida (Stadler et al., 2002; Mottram, Wedzicha & Dodson, 2002). Contudo, não existe um consenso sobre a necessidade de estabelecer limites de ingestão de compostos tóxicos gerados na RM. Hufian-Henares et al. (2006) sugerem que o consumo deveria se limitar a em torno de 45 mg/kg de peso do indivíduo. Os efeitos deletérios desses compostos podem ser diminuídos ou prevenidos pela formação de produtos da RM, de natureza antioxidante, como as melanoidinas (Griffith & Johnson, 1957). 1.2. Melanoidinas As melanoidinas são macromoléculas heterogêneas presentes em diversos alimentos termicamente processados como café, malte torrado, cereais matinais e produtos de panificação (Adams, Borrelli, Fogliano & Kimpe, 2005). Um estudo recente estimou que a ingestão de melanoidinas pela população de países ocidentais é de aproximadamente 12,2 g por dia, considerando-se todas as fontes dietéticas (Pastoriza & Rufián-Henares, 2014). Essas moléculas são responsáveis pelo desenvolvimento da cor (Rizzi, 1997), podem contribuir para a textura dos alimentos e desempenhar um papel na ligação de metais nutricionalmente importantes como o zinco e o magnésio (O’Brien & Morrissey, 1997). Muitas pesquisas têm sido realizadas com o objetivo de determinar a estrutura e as propriedades químicas das melanoidinas, mas os dados disponíveis na literatura ainda são escassos (Rufian-Henares & Morales, 2007a). Diferentes hipóteses têm sido propostas para descrever a estrutura-base das melanoidinas. A primeira afirma que o esqueleto das melanoidinas seria constituído, principalmente, a partir de produtos da degradação de açúcares, polimerizados através da condensação de aldopentoses (Kato & Tsuchida, 1981). Já Tressl et al. (1998) propuseram um complexo estrutural macromolecular consistindo de unidades de repetição de furanos e pirróis, ligados por meio de reações de policondensação. Finalmente, Hofmann (1998) identificou cromóforos de baixo peso molecular e postulou que a geração de melanoidinas ocorreria por uma reação de reticulação entre essas substâncias de baixo peso molecular e biopolímeros de elevado peso molecular, tais como proteínas. Uma boa maneira de investigar a reação de escurecimento não enzimático em 24 alimentos é a utilização de sistemas-modelo em que os açúcares e os aminoácidos estão sob condições reacionais simplificadas (Echavarría et al., 2001). Esses estudos procuram entender o desenvolvimento da RM com alteração de uma única variável, tais como o tempo de aquecimento, pH e razão dos reagentes (Oh et al., 2006; Carabasa-Giribet & Ibarz-Ribas, 2000). Esses modelos fornecem informações valiosas sobre a formação das melanoidinas, porém existem razões para que a pesquisa não deva ser limitada aos sistemas-modelo. A principal delas é que esses modelos não assemelham-se à RM em alimentos devido à complexidade da composição dos alimentos que não é levada em consideração (Andriot et al., 2004). Nunes & Coimbra (2007) observaram que a formação das melanoidinas do café durante a torrefação teve o envolvimento de diferentes componentes presentes no grão na RM, como os polissacarídeos (galactomananas e arabinogalactanas), sacarose (após inversão), aminoácidos, proteínas (proteínas da parede celular e de estoque) e ácidos clorogênicos. Um estudo sobre a degradação térmica realizado por Adam et al. (2005) em matrizes alimentares verificou que as frações isoladas das melanoidinas consistia principalmente de compostos gerados a partir de carboidratos e de seus produtos de degradação. Além de proteínas, outros componentes dos alimentos foram incorporados na estrutura das melanoidinas, bem como, produtos de oxidação lipídica no caso de melanoidinas de polpa de tomate processada e compostos fenólicos no caso de melanoidinas de café. O isolamento das melanoidinas pode ser realizado com base no seu peso molecular sendo as principais técnicas a diálise, cromatografia de permeação em gel e ultrafiltração (Fogliano & Morales, 2011). A principal diferença entre os métodos se dá pelo rendimento alcançado. Segundo Hofmann (2001), compostos de baixo peso molecular podem reagir durante a diálise, originando estruturas de peso molecular mais elevado e com isso o teor final de melanoidinas é aumentado. A aplicação de cromatografia de permeação em gel (por exemplo, Shephadex G-25) poderia subestimar os níveis de melanoidinas devido à baixa quantidade de amostra analisada (Hofmann, 2001). Já a técnica de ultrafiltração tem como vantagens ser um método simples, com alto rendimento/taxa da amostra processada e baixa contaminação (Echavarría et al., 2001). O teor de melanoidinas é muitas vezes determinado “por diferença”, sendo equivalente à quantidade que permanece após a subtração dos compostos conhecidos (carboidratos, proteínas, cafeína, etc.), a partir do material inicial. Outra maneira de quantificar esses compostos é avaliando a sua absorbância a 405 nm, um comprimento de onda escolhido arbitrariamente, no qual a intensidade da cor marrom é medida (Bekedam et al., 2006). A 25 maioria dos estudos sobre distribuição das melanoidinas no café relata que as frações de peso molecular alto e intermediário respondem por 59% no café enquanto a de peso molecular baixo representa 41% (Nunes et al., 2007; Bekedam et al., 2007). A solubilidade das melanoidinas depende da natureza dos reagentes e do tamanho do polímero: aquelas moléculas que têm um peso molecular muito elevado são muitas vezes insolúveis (Morales, Somoza & Fogliano, 2012). A Tabela 2 apresenta a solubilidade das melanoidinas presentes em diferentes matrizes alimentares. Tabela 2: Solubilidade das melanoidinas investigados em alimentos Alimentos Solubilidade em água Referências Café Alta Bekedam et al. (2008) Molho de soja Moderada Wang et al. (2007); Homma et al. (1998) Pão Baixa Borrelli et al. (2003) Nozes e sementes Baixa Açar et al. (2009) Cacau Moderada Summa et al. (2008) Leite Moderada Calligaris et al. (2004) Cerveja preta Alta Rivero et al. (2005) Vinagre balsâmico Moderada Falcone & Giudici (2008) Vinho doce Moderada Ortega-Heras & Gonzalez-Sanjosé (2009) Em produtos de panificação, as melanoidinas são formadas por ligações cruzadas entre as proteínas do glúten e produtos coloridos da reação de Maillard, estando presentes apenas na superfície (casca ou crosta) do produto. As melanoidinasde pães são insolúveis em água, sendo eficientemente extraídas em água somente após digestão enzimática (Borrelli & Fogliano, 2005; Lindenmeier et al., 2002). O impacto das melanoidinas na saúde humana foi historicamente negligenciado, uma vez que essas moléculas eram consideradas constituintes alimentares inertes ou anti- nutricionais. Nos últimos anos, entretanto, têm surgido evidências crescentes de propriedades benéficas, tais como a capacidade antioxidante, atividade prebiótica e antimicrobiana (Tabela 3). 26 Tabela 3: Resumo das atividades biológicas descritas para melanoidinas Atividade biológica Referências Atividade antioxidante Delgado-Andrade et al. (2005), Rufiàn-Henares & Morales (2007), Borrelli et al. (2002) Atividade desmutagênica e antitumoral Kato et al. (1985), Inibição da conversão da enzima angiotensina I (atividade antihipertensiva) Rufiàn-Henares &Morales (2007a) Atividade antimicrobiana Rufian-Henares & de la Cueva (2009), Rufian-Henares & Morales (2008). Prebiótica e modulação da população colônica Ames et al. (1999), Borrelli & Fogliano (2005) Anticariogênica Daglia et al. (2002) Rufiàn-Henares & Morales (2007a) observaram, a partir de um estudo in vitro, que as melanoidinas presente no café podem inibir a atividade da enzima conversora da angiotensina I, o que está relacionado ao controle da pressão arterial. Essa atividade inibitória é provavelmente devida aos compostos de baixo peso molecular ligados quimicamente à estrutura das melanoidinas. Borrelli & Fogliano (2005) relataram que as melanoidinas presentes na crosta do pão pode ser metabolizadas/fermentadas pela microflora do intestino grosso humano aumentando o crescimento das bifidobactérias, apresentando potencial de atuação prebiótica semelhante a das fibras dietéticas. Rufián-Henares & Morales (2007b) observaram que a simulação da digestão gastrointestinal promoveu a liberação de compostos de baixo peso molecular ligados à estrutura das melanoidinas de café. Tais compostos de baixo peso apresentaram uma maior atividade antioxidante em comparação aos compostos ligados ionicamente às melanoidinas. Outro estudo demonstrou que após 24 h de fermentação in vitro das frações de café de alto peso molecular com microrganismos do intestino, aproximadamente 25% da atividade antioxidante inicial ainda estava presente (Reichardt et al., 2009). Embora a maioria dos mecanismos de ação permaneça obscura, muitas destas atividades têm sido atribuídas aos compostos bioativos incorporados à estrutura das melanoidinas durante a RM (Fogliano & Morales, 2011). Delgado-Andrade et al. (2005a) relataram que compostos fenólicos presentes no café 27 se ligam de forma não covalente (ligação iônica) à estrutura das melanoidinas contribuindo assim, em parte, para o aumento da atividade antioxidante. Em um outro trabalho do mesmo grupo (Delgado-Andrade et al., 2005b) concluiu-se que mais de 50% da atividade antioxidante das melanoidinas de café é devido aos compostos de baixo peso molecular que ligados de forma não-covalente à estrutura das melanoidinas. Além disso, verificou-se que a carga negativa das melanoidinas de café não poderia ser causada somente pelos ácidos urônicos presentes na estrutura das arabinogalactanas, mas também por outros grupos presentes carregados negativamente, como o ácido quínico (Bekedam et al., 2008). Diferentemente de Delgado-Andrade et al. (2005a), Bekedam et al. (2008) observaram a incorporação dos ácidos clorogênicos em melanoidinas de café através de ligações covalentes, clivadas após o processo de saponificação. Nunes & Coimbra (2007) também identificaram e quantificaram compostos fenólicos liberados de frações de alto peso molecular do café após fusão alcalina. Um estudo realizado por Perrone et al. (2012) observou que os compostos fenólicos são incorporados nos estágios iniciais da torrefação do café, sendo parcialmente oxidados e degradados em etapas posteriores. Além disso, esse estudo verificou que, apesar de menos de 1% do teor de ácidos clorogênicos originalmente presente nos grãos de café verde terem sido incorporados nas melanoidinas durante a torrefação, o teor de compostos fenólicos ligados às melanoidinas aumentou durante esse processo, atingindo 29% do total de compostos fenólicos presentes na bebida preparada com grãos de torra escura. Outros estudos relaram a diminuição da incorporação dos compostos fenólicos em função do tempo de torrefação dos grãos do café (Nunes & Coimbra, 2002; Borreli et al., 2002). Pino-García et al. (2012) relataram que a diminuição da atividade antioxidante com o aumento do tempo de torrefação é devido a uma menor incorporação de compostos de baixo peso molecular. 1.3.Compostos fenólicos Os compostos fenólicos são originados do metabolismo secundário das plantas, sendo essenciais para o seu crescimento, reprodução e pigmentação. Formam-se em condições de estresse como, infecções, ferimentos, radiação ultravioleta, dentre outros (Naczk & Shahidi, 2004). São substâncias que possuem pelo menos um anel aromático no qual ao menos um hidrogênio é substituído por um grupamento hidroxila, e são sintetizados a partir da 28 fenilalanina e da tirosina através da via do ácido chiquímico (Figura 5) ( r mer et al., 2003). Figura 5: Via metabólica do ácido chiquímico (Adaptado de r mer et al., 2003). Os compostos fenólicos são responsáveis por importantes características sensoriais dos alimentos e bebidas derivados de plantas, particularmente propriedades de cor e sabor (Tabela 4) (Naczk & Shahidi, 2006). Eles também são relacionados a benefícios à saúde associados ao consumo de dietas ricas em frutas e vegetais ou bebidas de origem vegetal (como chá, café, vinho e sucos naturais) (Rice-Evans, 1996). Uma série de benefícios para a saúde, como a redução do risco de desenvolvimento de doenças cardiovasculares e diabetes tipo 2 (D’Archivio et al., 2010; Ranheim & Halvorsen, 2005), mal de Alzheimer (Arendash et al., 2009), mal de Parkinson (Eriksen, Wszolek & Petrucelli, 2005) têm sido associados com o consumo de alimentos ricos com compostos bioativos. 29 Tabela 4: Fontes alimentares de compostos fenólicos de plantas Compostos fenólicos Fontes alimentares Ácidos fenólicos Ácidos hidroxicinâmicos Café, cenoura, cereais, pêra, cerejas, frutas cítricas, sementes oleaginosas, pêssegos, ameixas, espinafre, tomate e berinjela Ácidos hidroxibenzóicos Cereais e oleaginosas Flavonoides Antocianinas Amoras, cerejas, uvas e morangos Flavonas Frutas cítricas, aipo, salsa e espinafre Flavonóis Maçãs, feijão, amoras, alface, cebola, azeitona, pimentão, tomates e trigo Flavanonas Frutas cítricas Flavanóis Maçãs, uvas, cebola e alface Isoflavonas Soja Xantonas Manga Taninos Condensados Maçãs, uvas, pêssegos e pêra Hidrolisáveis Romã e framboesa Fonte: Naczk & Shahidi (2006) Os compostos fenólicos apresentam, em sua estrutura, vários grupos benzênicos característicos, tendo como substituintes grupamentos hidroxilas (Hernández & Prieto, 1999). Esta classe de compostos apresenta uma grande diversidade e divide-se em flavonoides (polifenóis) e não-flavonoides (fenóis simples ou ácidos fenólicos) (Cheynier, 2005). Os flavonoides possuem uma estrutura básica formada por C6-C3-C6, conhecida como difenil propano, com 15 átomos de carbono arranjados em três anéis, identificados como A, B e C, e ocorrem naturalmente nos alimentos vegetais, sendo, portanto, componentes usuais da dieta humana. Consistem de dois anéis aromáticos interligados por três carbonos que geralmente forma uma estrutura heterocíclica oxigenada. O grau de oxidação e o padrão de substituição do anel heterocíclico C definem as classes de flavonoides (Figura 6) e dentro destas o padrão desubstituição nos anéis A e B determinam os compostos específicos (Rhodes, 1996; Rice-Evans, 1996). 30 Figura 6: Estrutura dos principais tipos de flavonoides A principal forma em que os flavonoides ocorrem na natureza é na forma glicosídica. Quimicamente, os flavonoides são doadores de elétrons, por apresentam estruturas químicas conjugadas em anel, ricas em grupos hidroxilas, que têm potenciais ações antioxidantes por reagirem e inativarem ânions superóxido, peróxido de hidrogênio (H2O2), oxigênio singlete ( 1 O2) e/ou estabilizar radicais livres envolvidos no processo oxidativo através da hidrogenação ou complexação com espécies oxidantes (Jiménez et al., 2009). Os compostos classificados de não flavonoides são moléculas geralmente bastante simples, tais como os ácidos fenólicos (os quais são subdivididos em ácidos benzóicos e ácidos hidroxicinâmicos) e de estilbenos, mas também incluem moléculas complexas derivadas a partir deles (por exemplo, oligômeros de estilbeno, galotaninos, elagitaninos e ligninas) (Figura 7) (Cheynier, 2005). 31 Figura 7: Estruturas químicas das principais classes não flavonoides. Os ácidos fenólicos tem atuação semelhante aos flavonoides, sequestrando radicais livres como principal forma de atuação como antioxidante. Os ácidos hidroxicinâmicos são mais ativos em relação à atividade antioxidante do que os ácidos hidroxibenzóicos. Isso se deve à dupla ligação do radical presente na molécula dos derivados do ácido hidroxicinâmcio, que participa da estabilidade do radical por ressonância do deslocamento do elétron desemparelhado (Angelo & Jorge, 2007). A distribuição de compostos fenólicos nos tecidos das plantas tanto nos níveis celulares quanto sub-celulares não é uniforme. Fenólicos insolúveis são encontrados na parede celular, enquanto que compostos fenólicos solúveis estão presentes dentro dos vacúolos de células de plantas (Cheynier, 2005). As camadas externas de plantas contêm níveis mais elevados de compostos fenólicos que aquelas localizados nas suas partes internas. Compostos fenólicos da parede celular, ligados a diversos componentes celulares, contribuem para a resistência mecânica das paredes das células, bem como desempenhando um papel regulador do crescimento das plantas e morfogênese, na célula, em resposta ao stress, e agentes patogênicos (Martínez et al., 2012). 32 1.4.Capacidade Antioxidante Nos últimos anos, pesquisadores e fabricantes de alimentos tornaram-se cada vez mais interessados nos compostos fenólicos (Chavan, 2012). A principal razão para este interesse, como já foi citado no tópico anterior, é o reconhecimento das propriedades antioxidantes desses compostos na prevenção de diversos tipos de doenças. Muitos autores têm demonstrado correlação entre a concentração destes compostos e a sua capacidade antioxidante (Manach et al., 2004; Zuleta et al., 2007). As metodologias para a determinação da capacidade antioxidante em alimentos são numerosas e podem estar sujeitas a interferências, como a presença de compostos quelantes (Huang, et al., 2005), por isso, atualmente preconiza-se a utilização de duas ou mais técnicas, já que nenhum ensaio usado isoladamente para determinar a capacidade antioxidante irá refletir exatamente a “capacidade antioxidante total” de uma amostra (Prior, Wu & Schaich, 2005). Devido aos diferentes tipos de radicais livres e as suas diferentes formas de atuação nos organismos vivos, dificilmente existirá um método simples e universal pelo qual a atividade antioxidante possa ser medida precisa e quantitativamente. Assim, a busca por testes mais rápidos e eficientes tem gerado um grande número de métodos para avaliar a atividade de antioxidantes naturais pelo uso de uma grande variedade de sistemas geradores de radicais livres. (Alves et al., 2010). A escolha de um método depende de uma serie de fatores, incluindo a natureza da amostra oxidada, o tipo de informação desejada, o tempo disponível para análise e as condições do teste (Gray, 1978). Segundo Prior et al. (2005), um método de medição da capacidade antioxidante validado deveria: (1) medir a reação que realmente está ocorrendo; (2) utilizar uma fonte de radicais de relevância biológica; (3) ser simples; (4) utilizar uma metodologia de ponto final com mecanismo definido; (5) possuir instrumentação amplamente disponível; (6) apresentar boa repetitividade intra-ensaio e inter-dia; (7) ser adaptável para medir antioxidantes hidrofílicos e lipofílicos e utilizar diferentes fontes de radicais livres; (8) ser adaptável para a análises de “alto rendimento”. Os antioxidantes podem reagir com os radicais livres por dois mecanismos principais: por transferência de hidrogênio (por exemplo, o ensaio de ORAC – Oxygen Radical Absorbance Capacity) ou por transferência de elétrons (por exemplo, o ensaio de FRAP – Ferric Reducing Antioxidant Power). Existem também ensaios em que ambos mecanismos ocorrem como o ensaio de TEAC (Trolox Equivalent Antioxidant Capacity). O resultado final 33 é o mesmo, independentemente do mecanismo, porém a cinética reacional e a potencial ocorrência de reações paralelas são diferentes (Prior et al., 2005; Firuzi et al., 2005). Os métodos baseados no mecanismo de transferência de hidrogênio medem a capacidade de um antioxidante sequestrar os radicais livres através da doação de um átomo de hidrogênio (Figura 8). Muitos cientistas acreditam que essa seja a reação através da qual muitos antioxidantes atuam (Prior et al., 2005). X • + AH XH + A • Figura 8. Mecanismo de transferência de hidrogênio. Os métodos baseados no mecanismo de transferência de elétrons detectam a capacidade do antioxidante em transferir um elétron para reduzir um composto, incluindo metais, compostos carbonilados e radicais livres (Figura 9) (Prior et al., 2005; Lemanska et al., 2001). X • + AH X - + AH • + (1) AH • + H2O A • + H3O + (2) X - + H3O + XH + H2O (3) M(III) + AH AH + + M(II) (4) Figura 9. Mecanismo de transferência de elétrons. O método TEAC (Trolox Equivalent Antioxidant Capacity) baseia-se em uma reação de transferência de elétrons ou átomos de hidrogênio, no qual se avalia a capacidade do antioxidante em sequestrar o radical ABTS + (ácido 2,2’-azinobis-3-etilbenzotiazolino-6- sulfônico) (Figura 10). Essa captura produz um decréscimo na absorbância a 734 nm (Rufino, 2008). É utilizado o reagente Trolox (6-hidroxi-2,5,7,8-tetrametilcromo-2-ácido carboxílico) como antioxidante de referência (análogo hidrossolúvel sintético à vitamina E). (Lemanska et al., 2001). Figura 10: Estrutura do ABTS + (2, 2´azinobis 3 etilbenzotiazolino 6 sulfônico) Embora o ensaio de TEAC seja geralmente classificado como uma reação de H2O 34 transferência de elétrons, o radical ABTS + pode ser neutralizado tanto por redução direta (via transferência de elétrons) ou por eliminação do radical (via transferência de átomos de hidrogênio) (Prior et al., 2005). O método FRAP (Ferric Reducing Antioxidant Power) baseia-se no mecanismo de transferência de elétrons, sendo o complexo férrico-tripiridiltriazina (Fe 3+ -TPTZ), de cor amarelada, reduzido ao complexo ferroso (Fe 2+ -TPTZ), na presença de um antioxidante e em condições ácidas (pH 3,6), para manter a solubilidade do ferro (Figura 11). O complexo formado por esta reação possui uma coloração azul intensa, com absorbância máxima a 593 nm (Benzie & Strain, 1996). Em comparação com outros ensaios de atividade antioxidante, o ensaio FRAP é simples, rápido, barato e não requer equipamentos especializados (Prior et al., 2005). Figura 11. Reação do ensaio de FRAP A capacidade antioxidante dos alimentos é relatada por diversos estudos na literatura. Lim et al. (2007), analisou propriedades antioxidantes de váriasfrutas tropicais, na qual foi demonstrado que a goiaba e o mamão papaia possuem os maiores teores de antioxidantes, em comparação com as 72 frutas investigadas do estudo. Daglia et al. (2000) observaram que os compostos de alto peso molecular da bebida do café apresentaram elevada AA e que os compostos de baixo peso molecular exibiram elevada atividade protetora ex vivo contra a peroxidação lipídica. Moreira et al. (2005) utilizando o método de FRAP, observaram uma forte correlação entre os teores de ácidos clorogênicos presentes nas bebidas de café e a capacidade antioxidante das mesmas. Fe 3+ - TPTZ + antioxidante redutor Fe 2+ - TPTZ 35 1.5.Goiaba (Psidium guajava L.) Psidium guajava L. é uma cultura da família Myrtaceae pertencente ao gênero Psidium. P.guajava (Figura 12), originária das zonas tropicais e subtropicais e é considerada uma espécie invasora em algumas áreas (Joseph & Priya, 2011). Figura 12. Goiaba vermelha (Psidium guajava L) A goiaba é um fruto muito cultivado no Brasil, que está entre os principais produtores mundiais (Gonzaga, 2012). O seu cultivo no Brasil está concentrado nos estados de São Paulo, Pernambuco, Goiás, Rio de Janeiro e Minas Gerais, sendo o cultivar “Paluma” o mais plantado (Gouveia et al., 2004). A goiaba é muito popular devido à sua disponibilidade durante todo o ano, rico valor nutricional e medicinal, preço acessível, adequação para o transporte, manuseio e preferências dos consumidores (Nimisha et al., 2013). Entretanto, sua vida útil é curta e seus frutos amadurecem rapidamente, sendo de suma importância o desenvolvimento de produtos industrializados para garantir o consumo desta fruta nos meses de entressafra. O fruto apresenta variações no seu teor de umidade (77 – 86%), fibra bruta (2,8 – 5,5%), proteína (0,9 – 1,0%), gordura (0,1 – 0,5%), cinzas (0,43 – 0,7%) e carboidratos (9,5 – 10%) (Mandal et al., 2009). A composição nutricional da goiaba pode variar de acordo com alguns fatores, entre eles estão à fertilidade do solo, a época do ano, as condições climáticas, a posição do fruto na árvore, a variedade e o estádio de maturação (Siqueira, 2006). Estudos sobre a composição dos compostos fenólicos presentes tanto na folha da goiabeira quanto no fruto vem sendo relatados pela literatura. Os principais compostos fenólicos encontrados na folha da goiabeira são catequina, rutina, quercetina e rutina (Chen et al., 2009). Já no fruto, os compostos majoritários são o ácido gálico, catequina, quercetina e ácido ferúlico (Wu, Hsieh, Wang, & Chen, 2009). 36 1.6.Pão O pão é um alimento tradicionalmente consumido pela população mundial, sendo uma das principais fontes energéticas da população. Na América Latina, o Brasil fica na quinta colocação no que se refere ao consumo de produtos de panificação (ABIP, 2013). Segundo os dados da Pesquisa de Orçamento Familiar (POF, 2008 – 2009), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o consumo per capita de pão de sal foi de 53 g/dia. O pão é o produto obtido pelo forneamento, em condições tecnologicamente adequadas, de uma massa fermentada ou não, preparada com farinha de trigo e/ou outras farinhas que contenham naturalmente proteínas formadoras de glúten ou adicionadas das mesmas e água, podendo também conter outros ingredientes (Brasil, 2000). A combinação de alimentos ricos em carboidratos refinados com doenças associadas ao estilo de vida sublinhou a necessidade de alteração de diversas formulações de alimentos para combinar todas as necessidades do dia (Hao & Beta, 2012). O uso de sementes, farinha de frutas e fibras alimentares individualmente ou em combinações buscam desempenhar um papel importante na elevação do perfil nutricional (Mastromatteo et al., 2015). Os ingredientes utilizados na fabricação de pães tradicionais não contêm teores relevantes de compostos fenólicos logo não se espera que as melanoidinas desses produtos possuam compostos fenólicos incorporados às suas estruturas e que, consequentemente, apresentem atividade antioxidante. Em contrapartida, pães enriquecidos com farinhas de frutas, como a farinha de goiaba, ricas em compostos fenólicos, em substituição a parte da farinha de trigo, com objetivo de agregar valor nutricional, são produtos cujas melanoidinas podem possuir compostos fenólicos incorporados. A incorporação de compostos fenólicos às melanoidinas do café já é descrita na literatura (Borrelli et al.,2002; Bekedam et al 2007; Nunes e Coimbra et al., 2007; Perrone et al., 2012; Delgado-Andrade et al., 2005), mas não existem relatos de estudos de incorporação de compostos fenólicos em melanoidinas de pão. Esse trabalho de investigação é promissor, tanto do ponto de vista do entendimento da incorporação de compostos fenólicos às estruturas das melanoidinas, quanto do ponto de vista biológico, visto que essas macromoléculas estão presentes em grande quantidade em produtos de panificação e apresentam elevado potencial de bioatividade. 37 2. OBJETIVOS 2.1.Geral Investigar a incorporação de compostos fenólicos presentes na farinha de goiaba na estrutura de melanoidinas de pães e correlacionar com a capacidade antioxidante. 2.2.Específicos a) Determinar os teores de compostos fenólicos na farinha de trigo e de goiaba; b) Investigar o efeito do processo fermentativo sobre o teor dos compostos fenólicos presente na massa do pão; c) Investigar a participação dos compostos fenólicos presentes nas farinhas de trigo e goiaba na Reação de Maillard; d) Investigar a incorporação dos compostos fenólicos à estrutura das melanoidinas de pão em diferentes intervalos de tempo; e) Investigar a contribuição da incorporação dos compostos fenólicos na capacidade antioxidante das melanoidinas. 38 3. MATERIAIS E MÉTODOS 3.1.Preparo da farinha de goiaba Amostras de goiaba vermelha (Psidium guajava L.) foram adquiridas no Centro de Abastecimento do Estado da Guanabara (CADEG, Rio de Janeiro/RJ) no mês de janeiro de 2013. As frutas selecionadas de acordo com o grau de maturação ótimo para o consumo foram lavadas e sanitizadas em solução de hipoclorito de sódio 100ppm durante 20 minutos. Logo após esse período, as frutas foram fracionadas em cubos de 1 cm, dispersas em bandejas e alocadas em estufa com circulação forçada de ar (330 drier, FANEM ® ) a 55ºC, durante 22 horas para completa desidratação (Figura 13). Figura 13. Distribuição das goiabas nas bandejas da estufa de circulação forçada de ar. Posteriormente a desidratação, os frutos secos foram moídos num moinho de laboratório (MF 10 de base, IKA ® Werke, Staufen, Alemanha) e peneirados para produzir farinha com um tamanho de partículas de 20 mesh e armazenadas em sacos plásticos estéreis selados a vácuo a -20°C até a sua utilização. 3.2.Pães O pão controle (100% farinha de trigo) foi produzido numa máquina automática de pão (BK2000B, Breadman ® , Middleton, WI) onde foram adicionados os ingredientes na 39 seguinte ordem: 171 ml de água filtrada, 12 g de açúcar, 6 g de sal (NaCl), 12 g de manteiga sem sal, 300 g de farinha de trigo branca e 3 g de levedura seca (Saccharomyces cerevisiae). O processo de preparo do pão na máquina consistiu em três etapas: mistura (30 min), fermentação (116 min) e panificação (37, 47, 57, 67 ou 77 minutos) . A temperatura foi monitorizada durante todo o processo com um termômetro digital. Pães de goiaba (GB) foram preparados seguindo as etapas de preparação do pão controle, mas substituindo parcialmente a farinha de trigo com 10% (GB10) ou 20% (GB20) de farinha de goiaba (Figura 13). Figura 14. (A) Pão branco e (B) pão enriquecido com farinha de goiaba. Após a etapa do forneamento, cascasdos pães foram removidas com o auxílio de uma faca de cozinha, liofilizadas (Labconco, Kansas City, MO) e moídas em moinho (A11 Basic, IKA® Werke, Staufen, Alemanha). Amostras das massas dos pães controle e GB foram preparados com e sem levedura e foram submetidas as etapas de mistura e fermentação. Após essa etapa, as massas foram liofilizadas. Todas as amostras foram preparadas em triplicata e homogeneizadas. 3.3.Análise de compostos fenólicos livres e conjugados nas farinhas de trigo e goiaba A extração de compostos fenólicos livres e conjugados das farinhas de trigo e de goiaba seguiram a metodologia descrita por Dinelli et al. (2011) com modificações. Resumidamente, 20 mL de etanol: solução gelada de água (80:20, v/v) foram adicionados a 1 g de amostra para a extração de compostos fenólicos livres. A solução foi agitada em vórtex durante 10 min, centrifugada (2500g, 10 min, 10°C, Sorvall ST 16R, Thermo Scientific™, A B 40 Osterode, Alemanha) e o sobrenadante foi colocado num balão de fundo redondo. O resíduo sólido foi extraído novamente seguindo o mesmo procedimento e os sobrenadantes reunidos foram evaporados em rotaevaporador (R-215, Büchi®, Flawil, Suíça). O resíduo seco foi reconstituído em 10 ml de água e armazenado a -20°C até à análise. A extração de compostos conjugados foi realizada utilizando o resíduo sólido remanescente, após a extração de compostos fenólicos livres. Em primeiro lugar, realizou-se uma hidrólise alcalina com adição de 12 mL de água e 5 mL de NaOH 10 M e manteve esta solução sob agitação num agitador orbital (IKA 4000i controlo KS, Staufen, Alemanha) no escuro durante 16 h. Após este período, o pH foi ajustado para 2 com HCl concentrado e foram adicionados 15 mL de acetato de etila. Após a agitação durante 30s, a mistura foi centrifugada (2500g, 5 min, 10°C) e o sobrenadante foi colocado num balão de fundo redondo. O procedimento de extração foi repetido duas vezes e os sobrenadantes reunidos foram evaporados em rotaevaporador. O resíduo seco foi reconstituído em 10 mL de metanol: solução de água (80:20, v/v) e armazenadas a -20°C até à análise. A hidrólise ácida foi realizada no resíduo sólido remanescente, após a hidrólise alcalina por adição de 2,5 mL de HCl concentrado e incubação num banho de água a 85°C durante 30 min. O mesmo procedimento de extração com acetato de etila previamente descrito para a hidrólise alcalina foi realizada. O processo inteiro de extração (fenólicos livres, alcalinas e de hidrólise ácida) foi realizado em duplicata. Antes da injeção no CLAE, todos os extratos foram filtrados através de uma unidade de filtro de 0,45 mm de PTFE (Millipore, Barueri, Brasil). Os compostos fenólicos foram analisados por CLAE-DAD. O sistema LC (Shimadzu, Kyoto, Japão), composto por uma bomba quaternária LC-10ADvp, um forno de coluna CTO- 10ASvp, um 8125 injetor manual (Rheodyne) com um loop de 20 µL e um detector por arranjo de diodos SPD-M10Avp (DAD). As separações cromatográficas foram realizadas utilizando uma coluna Kromasil ® C18 (5 m, 250 mm x 4,6 mm) acoplado a um grupo C-18 pré-coluna Kromasil ® (5 um, 10 milímetros x 3 mm) mantida a uma temperatura constante de 40°C. O sistema LC móvel consistiu de um gradiente de água com 0,3% de ácido fórmico (eluente A), metanol (eluente B) e acetonitrila (eluente C, mantida a 1% durante todo o funcionamento), com uma taxa de fluxo constante de 1,0 mL/min. Antes da injeção, a coluna foi equilibrada com 81% A. Após a injeção da amostra, esta percentagem diminuiu para 79% A em 1 min, 56% em 18 min e 14% em 23 minutos e mantida constante até ao final do 30 min. Entre as injeções, intervalos de 10 min foram utilizadas para reequilibrar a coluna com 81% de eluente A. Os compostos fenólicos foram monitorizadas por DAD entre 190-370 nm 41 e identificados por comparação dos seus tempos de retenção e espectros de UV com as de padrões comerciais. A quantificação foi realizada por calibração externa. Os dados foram adquiridos por um software CLAE (Shimadzu Corp., versão 2.00, 2000). Os resultados foram expressos em mg de composto por 100 g. 3.4.Extração e isolamento das melanoidinas das crostas dos pães Extração de melanoidinas crosta do pão seguido o procedimento descrito por Borrelli et al. (2003). Resumidamente, 1 g de crosta do pão ou massa liofilizadas foi misturada com 12 ml de tampão 0,2 M Tris-HCl (pH 8,0) contendo 0,35 U/mL de pronase E. A solução foi incubada a 37°C durante 70 h. Após centrifugação (3000g, 10 min, 25°C), o sobrenadante contendo os produtos hidrolisados foi submetido à ultrafiltração tal como descrito por Delgado-Andrade & Morales (2005). Foram utilizados sequencialmente unidades de ultrafiltração Amicon com membrana cut-offs 3 kDa e 10 kDa (Millipore, Cork, Irlanda), dando origem a três frações, todos os quais foram liofilizadas: fração de alto peso molecular (HMWF; MW> 10 kDa), peso molecular intermediário fração (IMWF; 3 kDa <MW <10 kDa) e fração de baixo peso molecular (LMWF; MW <3 kDa). 3.5.Análise dos compostos fenólicos incorporados nas melanoidinas dos pães A hidrólise alcalina nas melanoidinas das crostas dos pães de HMWF e IMWF seguiu a metodologia descrita por Perrone, Farah, & Donangelo (2012). 750 uL de solução de NaOH 2 M contendo 2% (w/w) de ácido ascórbico e 20 mM de ácido etilenodiaminotetracético (EDTA) foi adicionado a 750 ul de soluções de HMWF ou IMWF em água (10 mg/mL). Após incubação durante 1 h a 30 ° C, a mistura foi neutralizada a aproximadamente pH 1 com 330 mL de HCl 5 M e 20 uL de soluções de cada Carrez e 130 mL de água foram adicionados, totalizando um volume total de 2 mL. Após centrifugação (Microspin, Eppendorf AG, Hamburgo, Alemanha), o sobrenadante foi analisado por CLAE-DAD, conforme descrito no item 3.3. Os resultados foram expressos como ug de composto por g. 42 3.6.Capacidade antioxidante O capacidade antioxidante das soluções em água das frações de HMWF e IMWF (1 a 2 mg/mL) foram determinadas pelos ensaios de FRAP e TEAC . O ensaio de FRAP foi realizado de acordo Benzie & Strain (1996) com pequenas modificações. O reagente de FRAP foi preparado misturando 2 mL de solução TPTZ 10 mM em HCl 6 M com 2 mL de solução de FeCl3 20 mM e 20 mL de tampão de acetato (pH 3,6) 300 mM e aquecido a 37°C antes da análise. Vinte microlitros do extrato foram pipetados em microplaca de 96 poços, o qual foi colocado no Victor 3 1420 multilabel contador (Perkin Elmer, Turku, Finlândia) com injetor automático. Cento e oitenta microlitros do reagente de FRAP foram adicionados automaticamente em cada poço, a placa foi agitada e deixada em repouso a 37 °C durante 6 min. A absorbância foi, em seguida, lida a 595 nm. A quantificação foi realizada usando uma curva de calibração preparada com FeSO4. Os resultados foram expressos como µmol de Fe + 2 por grama. Cada amostra foi analisada em triplicata. O ensaio TEAC foi realizado de acordo Re, et al (1999) com pequenas modificações. A solução estoque do radical ABTS foi gerado por reação de K2S2O8 e ABTS durante 12 h a 16 h antes da utilização. Solução estoque de ABTS foi diluída em água (1:50) a uma absorbância de 0,7 ± 0,02 a 720 nm. Dez microlitros do extrato foram pipetados para uma microplaca de 96 poços, o qual foi colocado na Victor 3 1420 contador multilabel com injetor automático. 190 µL de solução ABTS foram adicionados automaticamente em cada poço, a placa foi agitada e deixada em repouso a 37°C durante 6 min. Amostra absorbância foi lida a 720 nm e subtraído de absorção em branco solvente. A quantificação foi realizada usando uma curva de calibração preparada com Trolox. Os resultados foram expressos como µmol de equivalentes de Trolox por grama. Cada amostra foi analisada em triplicata. 3.7.Análise estatística Os dados são expressos como média ± desvio padrão. A análise de variância (two-way ANOVA) seguida doteste post de comparação múltipla de Dunn foi utilizado para investigar os efeitos do enriquecimento da farinha da goiaba, peso molecular e tempo de forneamento na incorporação dos compostos fenólicos e AC das melanoidinas das crostas dos pães. As análises estatísticas foram realizadas utilizando o software GraphPad Prism para Windows (versão 6.01, GraphPad Software, San Diego, CA). As diferenças foram consideradas 43 significativas quando p<0,05. Os coeficientes de correlação de Pearson entre os compostos fenólicos incorporados e AC foram calculados com o software Statistica (versão 7.0, StatSoft Inc., Tulsa, OK). As diferenças foram consideradas significativas quando p <0,05. 44 Capítulo 2 Breads enriched with guava flour as a tool for studying the incorporation of phenolic compounds in bread melanoidins Artigo submetido a periódico Alves, G.; Perrone, D. Breads enriched with guava flour as a tool for studying the incorporation of phenolic compounds in bread melanoidins. Food Chemistry. 2015. 45 1. INTRODUCTION During the cooking and thermal processing of food products, a whole range of browning reactions occurs. The most important of these is the Maillard Reaction, which is initiated by the reaction of a reducing sugar with a compound possessing a free amino group. As this reaction progresses, a wide variety of Maillard Reaction Products (MRPs) are formed by a complex network of simultaneous reactions (Borrelli et al., 2003). MRPs are a mix of various compounds of different molecular weights including aldehydes, ketones, dicarbonyls, acrylamides, heterocyclic amines (all of which contribute to flavor) and melanoidins (Wang, Qian, & Yao, 2011). Melanoidins are defined as intermediate to high molecular weight nitrogenous brown colored compounds (Hodge, 1953; Lindenmeier, Faist, & Hofmann, 2002), found mainly in baking products and coffee. Considering all dietary sources, it is estimated that Western populations consume up to 12.2 g of melanoidins per day (Fogliano & Morales, 2011; Pastoriza & Rufián-Henares, 2014). Although the impact of melanoidins consumption on human health has been historically overlooked, recent evidence suggests that these molecules are not inert and may exert some physiological action (Fogliano & Morales, 2011). Studies on the characterization and possible biological action of melanoidins have increased over the last years (Borrelli & Fogliano, 2005; Langner et al., 2013; Rufián-Henares & Morales, 2007). Many of these activities have been assigned to bioactive compounds incorporated into the structure of the melanoidins. Delgado-Andrade & Morales (2005) reported that over 50% of the antioxidant capacity (AC) of coffee melanoidins was due to low molecular weight compounds linked to the melanoidins. In fact, later studies have shown that chlorogenic acids present in green coffee are incorporated into the melanoidins backbones during roasting (Bekedam, Schols, Van Boekel, & Smit, 2008a; Coelho et al., 2014; Nunes, Cruz, & Coimbra, 2012) and that these melanoidin-bound phenolic compounds contribute with up to 47% of the AC of coffee brews (Perrone, Farah, & Donangelo, 2012). Coffee has been the main subject of studies in the field of melanoidins, probably due to its high content of melanoidins and contribution to dietary intake, but mostly due to their solubility in water. Bread melanoidins, on the other hand, have been less investigated because they are water insoluble and therefore must be extracted with organic solvents (Lindenmeier et al., 2002) or by the action of specific enzymes (Borrelli et al., 2003) prior to analysis. Moreover, to the best of our knowledge, the incorporation of phenolic compounds has never been investigated in bread melanoidins. Even though whole cereals contain relevant levels of 46 phenolic compounds, most of the bread consumed worldwide is produced with refined flours, which contain low levels of these bioactive compounds (Adom, Sorrells, & Liu, 2005). Thus, differently from coffee melanoidins, one should not expect white bread melanoidins to contain phenolic compounds bound to their structure and therefore to exhibit high AC. In recent years, some research has been conducted in the field of wheat bread enrichment with plant materials, with the aim of increasing the nutritional value and the potential bioactivity of bread products (Dziki, Różyło, Gawlik-Dziki, & Świeca, 2014). Contrarily to white bread, it is expected to find phenolic compounds incorporated into the melanoidins of these plant-enriched products. In this context, in the present study we developed white wheat breads enriched with flour produced from guava (Psidium guajava), a tropical fruit rich in phenolic compounds. These guava breads (GB) were used as a tool for studying, for the first time, the incorporation of phenolic compounds into bread melanoidins and the effect of this incorporation on their AC. 2. MATERIALS AND METHODS 2.1.Standards and chemicals 2,2’-azino-bis(2-ethylbenzothiazoline-6-sulfonic acid) diammonium salt (ABTS), 2,4,6-tris(2-pyridyl)-S-triazine (TPTZ), potassium persulfate, (±)-6-hydroxy-2,5,7,8- tetramethyl-chromane-2-carboxylic acid (Trolox®), pronase E, naringenin, quercetin, rutin and 2,4-dihydroxybenzoic, 3,4-dihydroxybenzoic 3,4-dihydroxyphenylacetic, 4- hydroxyphenyl-acetic, 5-caffeoylquinic, benzoic, caffeic, m-coumaric, p-coumaric, ferulic, gallic, rosmarinic, salicylic, syringic and vanillic acids were purchased from Sigma-Aldrich Chemical Co. (St. Louis, MO). Sodium carbonate was purchased from Spectrum Chemical Manufacturing Corp. (Gardena, CA). Iron (II) sulfate was purchased from Merck KGaA (Darmstadt, Germany). All solvents were HPLC grade from Tedia (Fairfield, OH). HPLC grade water (Milli-Q system, Millipore, Bedford, MA) was used throughout the experiments. 2.2.Breads Control bread (white wheat bread) was produced in a domestic bread machine (BK2000B, Breadman®, Middleton, WI) by adding in the following order: 171 mL of tap water, 12 g of sugar, 6 g of salt (NaCl), 12 g of unsalted butter, 300 g of white wheat flour 47 and 3 g of dry yeast (Saccharomyces cerevisiae). The bread making process consisted of three stages: mixing (30 min), fermentation (116 min) and baking (for 37, 47, 57, 67 or 77 minutes). The temperature was monitored during the whole process with a digital thermometer probe. Guava breads (GB) were prepared following the control bread preparation steps, but partially substituting wheat flour with 10% (GB10) or 20% (GB20) of guava flour. For the production of guava flour, fruits acquired at Rio de Janeiro’s agricultural central trading were washed, sanitized, fractionated in 1 cm cubes and placed in an oven with forced air circulation (330 drier, FANEM ® , Brazil) at 55°C for 22 hours until complete dehydration. Then, dried fruits were ground in a laboratory mill (MF 10 Basic, IKA® Werke, Staufen, Germany) and sieved to give flour with a particle size of 20 mesh. Bread crusts were removed with a kitchen knife, freeze-dried (Labconco, Kansas City, MO) and ground in a mill (A11 Basic, IKA ® Werke, Staufen, Germany). Dough samples of control and GB were prepared with and without yeast and freeze-dried before the baking step (after the mixing and fermentations steps). All samples were prepared in triplicate and pooled. 2.3.Analysis of free and bound phenolic compounds in wheat and guava flours Extraction of free and conjugated phenolic compounds in wheat and guava flours followed the methodology described by Dinelli et al. (2011) with modifications. Briefly, 20 mL of chilled ethanol: water solution (80:20, v/v) were added to 1 g of sample
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