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INTRODUÇÃO À EPIDEMIOLOGIA DINÂMICA: MICROPARASITAS E MACROPARASITAS Fernando Portela Câmara Prof. Associado, UFRJ Patógenos invasores são diferenciados segundo o modelo de interação com seus hospedeiros. Estes podem ser de dois tipos: 1. modelo de compartimentos e 2. modelo de fluxo. Com base nesta observação, May e Anderson propuseram diferenciar os patógenos invasores em dois tipos básicos: microparasitas e macroparasitas. Os primeiros são microscópicos, multiplicam-se no hospedeiro e cumprem seu estágio infeccioso no mesmo, causam doença de duração limitada e curta, e o hospedeiro comumente adquire imunidade ao patógeno, que pode ser duradoura (ex.: sarampo) ou temporária (ex.: tétano). Nesta classe temos os vírus, as bactérias, os fungos e muitos protozoários. Os microparasitas seguem um modelo compartimental exemplificado abaixo: Onde α é a taxa de virulência (relacionada à mortalidade pela infecção), β a taxa com que um susceptível é infectado por um outro infectado após contato, ν é a taxa de remoção por imunidade, γ é a taxa de perda da imunidade e b é a taxa de mortalidade por outras causas. Infecção e doença causada por microparasitas cumprem uma seqüência típica de fenômenos. Desde o momento da exposição até o aparecimento dos primeiros sintomas, temos o período de incubação da doença, e depois o período da doença propriamente dito, que termina com a recuperação completa do doente, ou então ele morre ou sobrevive com seqüelas. Durante período e incubação, há um período de latência antes de o hospedeiro tornar-se transmissor do patógeno. Este período de latência algumas vezes é muito curto, tal que podemos considerar o hospedeiro como transmissor a partir do momento em que foi infectado (ex.: febre tifóide), mas na maioria das vezes observa-se um período de latência seguido por um período de transmissibilidade que pode se manifestar tardiamente no período de incubação e parte inicial do período da doença, ou todo este período. Os macroparasitas são, em sua maioria, visíveis a olho nu (a maioria são vermes), muitos têm um período de vida longo comparável ao do hospedeiro. Sua distribuição é assimétrica entre os hospedeiros, ou seja, a carga parasitária é desproporcionalmente maior em uma parcela da população, cuja intensidade depende da resistência do hospedeiro. Via de regra, seu estágio infeccioso cumpre um ciclo fora do hospedeiro (ovos, larvas). Os macroparasitas não induzem imunidade eficiente, e por isso o hospedeiro pode se re-infestar sempre que exposto ao parasita. A imunidade nesses casos funciona enquanto o parasita está no hospedeiro e depende da carga parasitária, deste modo controlando a população de hospedeiro. Os macroparasitas seguem o modelo geral de fluxo exemplificado abaixo: Onde A é a taxa de infestação ou de nascimento de parasitas, B é a taxa de mortalidade dos parasitas, n(0), n(1), n(i), n(x), são os índices de infestação. Uma característica da infestação por macroparasitas é sua agregação, isto é, grande parte dos parasitas infestam uma pequena parte da população de hospedeiros, semelhante à uma distribuição de Pareto. Estes modelos não são mutuamente exclusivos. De fato, muitos fungos e alguns tipos de protozoários comportam-se segundo modelos que se superpõem entre um e outro. Para mais informações consulte Anderson, RM e May, RM. Population biology of infectious diseases: Part I. Nature, 280: 361-367, 1979. Número de reprodução de infecção (Ro) do patógeno Quando se trata de um macroparasita, definimos Ro como o número médio de ovos que um verme adulto é capaz de produzir para gerar outros adultos a cada geração. Desde que se saiba quantos vermes estão presentes numa amostra de hospedeiros e se conheça quantos ovos eles eliminam nas fezes, Ro pode ser calculado com boa aproximação. No caso de um microparasita, Ro é definido como o número médio de infecções secundárias produzidas quando um indivíduo infectado é introduzido numa população de hospedeiros onde todos são susceptíveis. Na prática, Ro não é homogêneo, variando segundo a faixa etária e outros fatores (por exemplo, nas áreas rurais Ro tende a ser menor que nas áreas urbanas). Entretanto, consideramos como sendo homogêneos para simplificar o raciocínio das conclusões gerais. Ro é um número positivo que caracteriza o poder epidêmico de um patógeno. Na prática, determinamos um valor próximo de Ro, chamado valor efetivo R, que se calcula pela taxa de ataque no inicio de uma epidemia. A condição R = 1 caracteriza a persistência do patógeno na população, ou seja, cada caso infeccioso que deixa a população (por recuperação, imunidade ou morte) é substituído por um novo caso infeccioso (proveniente do pool de susceptíveis), ou seja, a transmissão está em um equilíbrio estacionário. Este equilíbrio, contudo, é instável, pois, um aumento mínimo na fração de susceptíveis fará R > 1 e o patógeno se espalhará, ou se for uma redução mínima ele desaparecerá da população. Portanto, quando R = 1 temos uma fração crítica X* de susceptíveis, e como o valor efetivo de R pode ser definido como R = RoX*, e no caso, RoX* = 1, deduzimos que X* = 1/Ro.
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