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2001-tese-mdcmvieira

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARA
"Faculdade de Farmácia, Odontologia e Enfermagem
Departamento de Enfermagem
VELHICE FEMININA NO ASILO: DO
IMAGINÁRIO AO REAL
Maira Di Ciero Miranda Vieira
Fortaleza
2001
a / r:' i !■ ; ■; ? .v.\ :;'i
■■■■ ■ ■■■■ ■" ■ .......................
UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ
Faculdade de Farmácia, Odontologia e Enfermagem
Departamento de Enfermagem
Velhice Feminina no Asilo: Do Imaginário ao Real
Maira Di Ciero Miranda Vieira
Tese apresentada ao curso de' Pós-Graduação 
em Enfermagem do Departamento de 
Enfermagem da Universidade Federal do 
Ceará para a obtenção do título de Doutor.
Orientadora:
Profa. Dra. The!ma Leite de Araújo
Fortaleza
2001
V7l6v Vieira, Maira Di Clero Miranda
Velhice feminina no asilo: do imaginário ao real / Maira 
Di Ciero Miranda Vieira, - Fortaleza, 2001,
162f,
Orientadora, Profa. Dra, Thelma Leite de Araújo 
Tese (Doutorado), Universidade Federal do Ceará. 
Programa de Pós-Graduação em Enfermagem - Doutorado
1. Asilo. 2. Representação Social. 3. Idoso
I. Título
CDD: 362.16
Tese aprovada pelo Programa de Pós-Graduação em Enfermagem da Faculdade de 
Farmácia, Odontologia e Enfermagem da Universidade Federal do Ceará, como 
requisito parcial para obtenção do título de Doutor em Enfermagem.
.Data da Aprovação: 30/04/2001
BANCA EXAMINADORA
X minha querida avó Isaura que 
aos 89 anos enriquece minha 
vida com sabedoria, amor e a 
alegria de sua convivência.
AGRADECIMENTOS
- À minha orientadora Dra. Thelma Leite de Araújo por acreditai’ em mim e pela 
demonstração de amizade.
- Às professoras Dra. Lorita Freitag Pagliuca e Dra. Raimtmda Magalhães da 
Silva pela compreensão e acolhida neste doutorado, demonstração de grandeza e 
prática humanitária.
- À minha companheira e amiga. Ana Fátima Carvalho Fernandes pelo apoio 
bibliográfico e estímulo ao longo desta jornada.
- Às colegas do doutorado, em especial a Maria Vera Lúcia Leitão Cardoso, pelo 
compartilhamento dos momentos de alegria e desânimo que de forma 
intermitente nos acompanharam ao longo desses anos.
- À minha mãe Candelária, pelo auxílio prestado nas correções ortográficas e pelo 
acompanhamento geral deste trabalho, com quem dividiría o título 
orgulhosamente.
- Aos funcionários da biblioteca que de forma solícita e eficiente colaboraram para 
que a pesquisa pudesse ser concluída.
~ Aos idosos do asilo, em especial às mulheres, fontes de saberes incontestáveis, 
pela participação tão valiosa e produtiva, geradora de uma amizade e confiança 
entre nós, até o dia que Deus quiser.
- A todos que direta ou indiretamente contribuíram para a realização deste 
trabalho.
- À digníssima banca examinadora pela análise e contribuição enriquecedora para 
o aprimoramento desta tese.
RESUMO
O presente estudo teve como objetivo elucidar as representações sociais de 
idosas em relação à sua vida asilar. Buscou-se apreender os mecanismos 
cognitivos e afetivos na elaboração das representações à luz da Teoria das 
Representações Sociais de Moscovici. O corpus da pesquisa foi constituído por 
doze entrevistas com idosas internadas num asilo da cidade de Fortaleza, Os 
dados foram colhidos no primeiro semestre de 2000 através de entrevista e 
observação e analisados tematicamente pela técnica de análise de conteúdo de 
Bardin. A análise das experiências subjetivas, segundo esta teoria, está 
fundamentada na relação com os outros, expressando a consciência 
compartilhada do grupo social ao qual as idosas pertencem. Os resultados 
esclareceram que as idosas têm. uma representação bastante negativa da velhice 
e do asílamento. O ambiente asilai* é um reforço continuo aos atributos de 
abandono, dependência e rejeição que a sociedade relaciona aos idosos. As 
idosas que mantiveram um contato mais próximo com os familiares ao longo de 
sua vida ou que foram obrigadas a ingressarem na instituição, têm mais 
dificuldade de adaptação do que aquelas que viveram de forma mais 
independente e que optaram por essa condição de vida. Para elas, o asilo é 
adequado àqueles idosos completamente dependentes, física ou mentalmente, ou 
em situação de extrema pobreza. Por não conhecerem outras alternativas 
assistenciais de amparo aos idosos, consideram ser da família a total 
responsabilidade de ampará-las até a morte.
ABSTRACT
This study intended to show evidences of elder’s social views within their 
daily lives in a nursing Home. It looked for cognitive and affectionate data 
from this particular context based upon Moscovicfs Social Representation 
Theory. Data collection was conducted by means of interviews and participant 
observation among 12 elder women in a nursing home in Fortaleza between 
January and July in 2000. The process analysis occurred through Bardin’s 
content analysis which themes were produced based on the sharing experience 
and feelings combined with the Moscovicfs theory. The findings showed that 
these women held negative feelings with regards their lives conditions and 
elderhood. For them, the nursing home environment reinforces the feeling of 
loneliness and society’s rejection for the elders. Also, the elder womeij who 
li ve d with their family closely has more difficulties to adapt than those who 
Lived independently and chose such kind of living. For most, the nursing home 
is an appropriate house for those who are in a poverty condition. Indeed, they 
do not know any other way of living or assistance for the elders, thus they 
believe that it is the family’s responsibility to take care of them.
1
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ................................................. ..................... 10
2 RESGATANDO O TEMA NA LITERATURA..................... 14
2.1 Aspectos Demográficos do Envelhecimento ....................... 14
2.2 Considerações sobre Gênero e Envelhecimento ..................20
2.3 Implicações do Envelhecimento nas Esferas Familiar e
Social..................................................................................... 25
2.4 Política e o Envelhecimento Populacional............................36
3 DEFININDO O OBJETO DE ESTUDO................................. 50
4 A TEORIA DAS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS COMO
OPÇÃO TEÓRICA................................................................. 59
5 CAMINHAR METODOLÓGICO........................................... 67
5.1 Local da Pesquisa................................................................. 67
5.2 Caracterização da Amostra................................................... 70
5.3 Coleta e Análise dos dados................................................... 71
6 AS INFORMANTES. QUEM SÃO ELAS?........................... 76
7 A DESCOBERTA DAS REPRESENTAÇÕES...................83
7.1 Representação Social de Velhice......................................... 83
7.1.1 Corpo e mente em decadência.......................................... 84
7.1.2 Decadência psicossocial................................................... 88
7.1.3 Curso cronológico da vida............................................... 92
7.2 Representação Social de “Morar no Asilo”........................94
7.3 Representação Social de Asilo......................................... 107
7.3.1 Espaço de libertação....................................................... 108
7.3.2 Espaço de restrição..........................................................110
7.4 O Cotidiano na Instituição Asilar...................................... 113
7.4.1 Ociosidade...................................................................... 113
7.4.2 Relacionamentos conflituosos........................................ 121
7.4.3 Maus tratos......................................................................132
7.4.4 Atendimento deficiente á saúde.................. ,.................. 136
7.4.5 Má alimentação..................................................... 138
7.4.5 Falta de espaço, privacidade e conforto......................... 140
8 CONCLUSÃO.....................................................................1439 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS................................148
ANEXO 1- Aprovação da Pesquisa pelo Comitê de Ética..... 160
ANEXO 2- Termo de Consentimento...................................... 161
ANEXO 3- Roteiro de Entrevista............................................162
10
VELHICE FEMININA NO ASILO: DO IMAGINÁRIO
AO REAL
L INTRODUÇÃO
Aspectos relacionados ao envelhecimento têm me despertado interesse 
já algum tempo, não apenas de ordem acadêmica como também de ordem pes­
soal, uma vez que pessoas significativas em minha vida estão vivenciando ou se 
aproximando dessa fase específica do curso de vida, tida como a última.
A temática sobre o idoso ern trabalhos de pesquisa começou a ser ex­
plorada, escassamente, na área das ciências sociais na década de 60 e, somente a 
partir dos anos 80 vem atraindo a atenção dos pesquisadores, assumindo maior 
importância nesses últimos anos, como norteadora de políticas públicas a fim de 
obter o bem-estar e justiça social.
A conquista da longevidade é um desejo intrínseco da humanidade ao 
longo de sua evolução. Chegar aos 60 anos era possível apenas para uma peque­
na parcela da população brasileira. Este fato tem se tomado acessível a um núme­
ro crescente de pessoas em nosso país, sobretudo nesses últimos 20 anos.
O desenvolvimento científíco-tecnológico e sanitário alcançados, prin­
cipalmente, ao longo do século XX contribuíram, significativamente, para a me­
lhoria das condições de vida da população que, aliados à queda, da fertilidade 
projetou verticalmente o número de idosos, atingindo notórias proporções num 
processo irreversível de envelhecimento populacional.
Essa transição demográfica, ou seja, a passagem de uma população 
basicamente de jovens para outra de adultos e idosos, configurando o envelheci­
mento populacional brasileiro, representa um grande desafio social e político. 
II
Assim, a experiência de envelhecer vem sendo trilhada em um caminho amplo e 
grupai, antes tido como estreito e individual.
O alcance tão almejado da longevidade, longe de ser uma conquista 
universal, com garantia de ser dignamente vivida, tem sido encarada como um 
desafio, sem precedentes históricos, nas áreas social e de saúde.
A abrangência do processo de envelhecimento envolve aspectos políti­
cos, sociais, econômicos, éticos e culturais de uma nação. Os escassos recursos 
financeiros até então destinados, basicamente, ao atendimento da população jo­
vem com o seu contingente ainda bastante significativo, passam agora a ser dis­
putados pela população idosa para atender suas necessidades específicas.
Essa problematização do envelhecimento como ameaça a ordem social 
é o que tem aumentado a visibilidade política desse processo que, apoiado ainda 
em estereótipos negativos de ser o idoso improdutivo, dependente, doente e po­
bre remete-o a uma posição hierárquica social menos valorizada.
Intelizmente, as medidas políticas em nosso país tendem a ser tempo­
rárias e raramente sustentadas e continuadas, o que seria indispensável para uma 
efetiva assistência aos idosos, no que tange, principalmente, às áreas críticas de 
responsabilidade do Estado que são: saúde, previdência e assistência social.
Salgado (1982) já ressaltava que o Brasil carece de iniciativas políticas 
que atendam com criatividade às novas demandas da população idosa e enfatiza 
que a saída encontrada de forma imediata foi a multiplicação de asílos.
Todavia, com a falta de recursos sócio-culturais, os idosos indepen­
dentes buscam os asilos e se defrontam com o propósito alienante dessas institui­
ções que foram criadas para prestar assistência às necessidades mais diretas, so­
bretudo abrigo e alimentação. O idoso independente, continua Salgado (1982), 
representa uma clientela com características muito distintas das dos idosos de­
.12
pendentes para os quais o asilo seria mais adequado, e aí se frustam com a falta 
de atendimento das suas carências sociais mais comuns.
O asilamento dos idosos está longe de ser encarado como uma medida 
política promissora,. Urge uma maior sensibilização para com os mais fragiliza­
dos, enfatizando a humanização da prática política e social.
Num país como o Brasil com notáveis diferenças regionais, má distri­
buição de renda, diferenças culturais etc., pode-se pensar em distintas formas de 
viver e, portanto, de envelhecer. A heterogeneidade da experiência de envelhecer 
acontece dentro de iim contexto histórico e o asilamento pode representar uma 
forma comum de condição de vida para os idosos ali confinados que passarão a 
encará-la, distintamente ou não, em consequência da visão de mundo que trazem 
consigo e, portanto, suas representações de velhice.
Minha primeira oportunidade de .investigação científica junto aos ido­
sos se deu durante o desenvolvimento de minha dissertação de mestrado em 
Farmacologia no ano 1991. O trabalho foi desenvolvido dentro da linha positi­
vista, cujo objetivo principal foi a demonstração de alterações no número de re­
ceptores colinérgicos em cérebros de idosos dementes asilados. Esta restrita con­
vivência com os idosos, me remeteu a indagações de cunho existencial, que fo­
ram fortalecidas quando me tomei íntima de alguns deles. Viam em mim a opor­
tunidade de desabafarem suas angústias, decepções e tristezas, chamando-me 
bastante a atenção a confiança em mim depositada para agir em prol do retomo 
aos seus lares, parecendo ser a redenção daquela situação tão sofrida e distante 
de sua realidade.
Por outro lado, naquela ocasião, pude assistir inúmeras vezes a decep­
ção dos familiares que procuravam a instituição e não conseguiam “livrar-se” de 
seus velhos, devido a permanente lotação da casa. Para eles, de modo contrário 
aos velhos que estavam no asilo, a presença do idoso no lar representava trans­
13
tornos e infortúnios. Chocou-me o conhecimento ;de que a grande maioria dos 
idosos-possuíam família ou familiares próximos, além de gozarem de um bom 
estado físico e mental, em outras palavras, capazes de auto-cuidar-se, contrapon­
do o objetivo da instituição que era de amparai; prioritariamente, os desampara­
dos. Não foi o comportamento dos familiares em deixarem seus idosos no asilo 
que me incitou na investigação que agora me proponho a fazer, mas sim o inte­
resse em desvendar junto ao idoso o significado pessoal e grupai de uma condi­
ção de vida de “excluídos da sociedade”, quando ainda encontram-se em perfei­
tas condições para interagirem socialmente.
No campo da enfermagem, o destaque maior tem sido com relação ao 
idoso doente, ou melhor, no atendimento de suas necessidades, com poucos tra­
balhos enfocando com profundidade os aspectos subjetivos do envelhecimento 
que buscassem compreender os sentimentos, desejos e modos de viver dos ido­
sos.
A fim de compreendermos a elaboração cognitiva da condição de asi­
ladas pelas idosas, influenciada tanto por fatores culturais quanto pessoais, obje­
tivamos neste estudo obter as representações sociais sobre a velhice e a vida na 
instituição asilar como também analisar as implicações dessas representações so­
bre a qualidade de vida dessas idosas.
14
2, RESGATANDO O TEMA NA LITERATURA
2.1. Aspectos Demográficos do Envelhecimento:
A mudança demográfica caracterizada pelo envelhecimento 
populacional, vem ocoiTendo universalmente, abrangendo países ricos e pobres, 
tomando-se visível após os anos 50 (Henrard,.1996).
Em 1950, o Brasil era o 16° do mundo, com 2,1 milhões de pessoas 
idosas. Até 2025, estima-se que estará em 6o lugar, com a enorme soma de 31,8 
milhões de idosos, apresentando o maior aumento proporcional dentre os países 
mais populosos do mundo durante esse período (Veras, 1994). No decorrer do 
século em curso, todas as regiões serão semelhantes em relação à estrutura 
etária.
Até 2025, prevê-se que três quartos da população idosa do mundo 
estarão vivendo em países menos desenvolvidos.
Segundo classificação da OrganizaçãoMundial de Saúde (OMS), 
baseada na idade cronológica, o grupo de idosos abrange as pessoas com idade 
igual ou superior a 60 anos e, pode ser subdivido em três categorias com 
diferentes características e necessidades: idoso jovem (60-65/ 74 anos); idoso 
(75 - 84 anos); idoso velho (acima de 85 anos).
No Brasil, nos próximos anos a' população idosa será ' constituída 
característicamente de “idosos jovens”. Isto contrasta com o que acontece nos 
países mais desenvolvidos, nos quais a faixa etária que cresce com maior 
rapidez é a que se situa acima dos 80 anos (Longino,1988).
O aumento de idosos velhos requer atenção especial, uma vez que 
apresentam mais problemas de saúde e são, portanto, mais dependentes, 
tomando-se um desafio na área social, econômica e política (Tauber apud 
Restrepo e Rozental,1994).
15
Embora desde a década de 60 a maior parte da população com mais de 
65 anos vivessem em países do terceiro mundo foi a partir do crescimento 
acelerado dessa parcela populacional que despertou o interesse político para essa 
nova situação social.
No Brasil, o tema do envelhecimento populacional passou, então, a ser 
discutido politicamente, e as ações sociais voltadas para os interesses dos idosos 
estão contempladas em forma de lei.
A esse acelerado processo de aumento do número e proporção da 
população idosa no Brasil como em outros países tidos de população jovem, dá- 
se o nome de transição demográfica (Veras, 1991) que é determinada por uma 
série de eventos:
a) Significativo declínio na mortalidade levando a um aumento da 
população: o acentuado declínio da mortalidade infantil causando um 
crescimento inicial da população infantil com um eventual aumento da 
população idosa;
b) Declínio do índice de fertilidade, levando ao decréscimo da 
população jovem e consequente aumento na proporção de pessoas mais velhas;
c) Aumento na expectativa de vida.
Restrepo e Rozental (1994) defendem que o envelhecimento 
populacional é determinado principalmente pelo declínio da fertilidade sendo 
secundariamente influenciado pelo declínio da mortalidade ou do aumento da 
expectativa de vida.
A velocidade com que se processam as mudanças demográficas tem 
sido muito diferente entre o Brasil e os países desenvolvidos, devido à rapidez 
do declínio das taxas de fecundidade. Por exemplo: na França, deverão 
transcorrer 115 anos para que a proporção de idosos duplique ™ de 7% para 
14%; nos Estados Unidos esse período será de 66 anos e no Brasil esse mesmo 
16
fenômeno durará apenas 30 anos - de 7,7% em 2020 para 14,2% em 2050 
(Chaimowicz, 1997).
No início da década de 90, o número de idosos era de 11,4 milhões, 
isto é 7,9% da população. Atualmente são 14,5 milhões, o que passou a 
representar 9,1% da população brasileira. Apesar do processo de envelhecimento 
recente, a população brasileira pode ser considerada uma das maiores do mundo, 
superior a da França, Itália e Reino Unido. (IBGE,2000)
Situando o Brasil dentro da América Latina, uma análise da 
COMISSÃO ECONÔMICA PARA AMÉRICA LATINA -CEPAL (1999-2000) 
retratou que o processo de transição demográfica tem-se efetuado em 
velocidades diferentes entre os países latinoamericanos que foram, então, assim 
classificados:
1~ Em transição avançada: países com taxa de natalidade e 
mortalidade reduzidas, com crescimento populacional ao ano em cerca de 1% 
(Argentina, Antilhas, Bahamas, Barbados, Chile, Cuba, Guadalupe, Jamaica, 
Martinica, Porto Rico, Trinidade e Tobago e Uruguai);
2- Em transição plena: países com declínio na taxa de natalidade e 
baixa mortalidade. A taxa de crescimento populacional gira em torno de 2% 
(Brasil, Colômbia, Costa Rica, Equador, Guiana, México, Panamá, Peru, 
República Dominicana, Suriname e Venezuela);
3- Em transição moderada: países com taxas de mortalidade em 
rápido declínio e natalidade elevada, com crescimento populacional superior a 
2,5% (Belize, El Salvador, Guatemala, Honduras, Nicarágua e Paraguai);
4- Em transição incipiente: países com níveis altos de natalidade e 
mortalidade, com taxas de crescimento populacional maior que 2% (Bolívia e 
Haiti).
1.7
Como se observa, o processo de transição demográfica vem atingindo 
amplamente a América Latina onde a grande maioria dos países encontra-se nas 
fases de transição avançada ou plena.
Aproximadamente 75% dos idosos do Brasil vivem nas regiões 
sudeste e nordeste. Na região nordeste, a população com 60 anos ou mais era de 
aproximadamente 3% da população total em 1970 (IBGE,1970), passando para 
6% em 1991 (IBGE,1992).
Especificamente, na cidade de Fortaleza, esse percentual chega a 8%, 
sendo, portanto, semelhante ao levantamento realizado na cidade de São Paulo e 
superior à média nacional. Esta transformação do perfil populacional do 
nordeste pode estar atrelada à migração de pessoas em idade produtiva além dos 
declínios das taxas de fecundidade e mortalidade (BEMFAM, 1994 apud 
Macedo Filho e Ramos, 1999).
No estado do Ceará somam-se atualmente em tomo de 600 mil os 
habitantes com idade superior a 60 anos e, o número absoluto no Brasil é de 14 
milhões (IBGE, 1996).
Em países industrializados, a queda das taxas de mortalidade e 
fecundidade foi acompanhada pela ampliação da cobertura dos sistemas de 
proteção social e melhoria das condições de habitação, alimentação, trabalho e 
saneamento básico (Camargo e Saad, 1990; Kalache et ah, 1987).
No Brasil, por outro lado, o declínio da mortalidade foi determinado 
mais pela ação médico-sanitária do Estado que por transformações estruturais 
que pudessem se traduzir em melhoria da qualidade de vida da população. Nas 
primeiras décadas do século XX, através de políticas urbanas de saúde publica 
como a vacinação, higiene pública e outras campanhas sanitárias e, a partir da 
década de 40, pela ampliação da atenção médica na rede pública (Oliveira e 
Felix, 1995).
18
Tal fato ressalta o caráter urgente que as medidas políticas com 
abrangência das áreas social, econômica e de saúde devem ser conduzidas para a 
acomodação dessa nova realidade, sem tempo a perder com ações 
assistencialistas e de curto alcance que, longe de resolverem os problemas da 
sociedade, são fontes de perpetuação das mazelas sociais e a possibilidade de 
um temeroso e incerto futuro para os que envelhecem.
O aumento da expectativa de vida traz consigo reflexo sobre a 
condição de saúde da população. Com o envelhecimento pode-se esperar o 
aumento de doenças e incapacidades, causando elevada demanda dos serviços 
de saúde e de amparo social.
Fries (1980), defende ponto de vista contrário, considerando que o 
aumento na expectativa de vida deve-se, sobretudo, à contínua melhoria das 
condições de saúde, especialmente em retardar a instalação precoce de doenças, 
reduzindo assim, a morbidade e a incapacidade entre os idosos. Contudo, há 
uma modificação da incidência e prevalência de doenças na população 
relacionada ao processo de envelhecimento, despontando um novo perfil 
epidemiológico.
Passa-se a enfrentar, juntamente com a transição demográfica, uma 
transição epidemiológica referente às modificações a longo prazo dos padrões de 
morbidade, invalidez e morte e que engloba três mudanças básicas (Frenk et 
al.,'199'1):
1“ Substituição entre as primeiras causas de morte ...das. doenças 
transmissíveis por doenças não transmissíveis e de causas externas;
2- Deslocamento da maior carga de morbi-mortalidade dos grupos 
mais jovens aos grupos mais idosos; e
3- Transformação de uma situação em que predomina a 
mortalidade para outra de maior morbidade.
19
No Brasil, como assinalam Frenk et al. (1991) essa transformação 
epidemiológica não se dá de forma definida, mas sim como uma espécie de 
coexistência dos aspectos novos com os antigos, cjue distingue o Brasil dos 
países desenvolvidos como:
1- Não há transição mas, superposição entre as etapas onde 
predominam as doenças transmissíveis e crônico-degenerativas;2- A re introdução de doenças como dengue e cólera, ou o 
recrudescimento de outras como malária, hanseníase e leishmaniose indicam 
uma natureza não direcional, denominada “contra transição” ;
3- O processo não se resolve de maneira clara, criando uma situação 
em que a morbi-mortalidade persiste elevada para ambos os padrões, 
caracterizando uma “transição prolongada”. Para o idoso, as questões de 
capacidade funcional e autonomia podem ser mais importantes que a própria 
morbidade pois se relacionam diretamente com a qualidade de vida. ,
4- As situações epidemiológicas de diferentes regiões (desenvolvidas 
e subdesenvolvidas) de um mesmo país tornam-se contrastantes (polarização 
epidemiológica).
Uma vida longa, antes privilégio de poucos, agora é alcançada por 
milhões de pessoas em todo o mundo. O progresso não pode ser medido 
somente em quantidade de anos vividos, mas também em termos de qualidade 
de vida, que implica no direito universal dos cidadãos de viver seus últimos anos 
de vida de forma mais saudável e satisfatória. Somente desta maneira, seria 
justificado o valor da conquista da longevidade tão almejada pela humanidade 
desde os primórdios de sua existência.
Hoje, com o acelerado desenvolvimento científico, os mistérios do 
funcionamento do organismo são desvendados minuciosamente através do 
conhecimento da engenharia genética, com progressos fantásticos, sobretudo nos 
20
aspectos relacionados ao retardamento do processo de envelhecimento e às 
promissoras possibilidades de cura para diversas doenças.
2.2. Considerações sobre Gênero e Envelhecimento:
Diferente da crença popular, a revolução demográfica não é 
essencialmente devido às pessoas viverem mais tempo, mas porque um número 
acentuado de pessoas está atravessando todas as etapas da vida (Henrard, 1996).
Acredita-se, embora não se possa ter como certo, que a 
hereditariedade tenha influência na longevidade. Muitos outros fatores intervém, 
sendo o primeiro deles o sexo: em todas espécies animais, as fêmeas vivem mais 
tempo que os machos. Na França, as mulheres vivem em média sete anos mais 
que os homens. A. seguir, influem as condições de crescimento, de alimentação, 
do meio e as econômicas (Beauvoir, 1990).
Diferenças no gênero em relação à longe vidade são uma-característica 
importante no envelhecimento populacional. Esta diferença foi acentuada 
durante este século devidõ a um forte declínio da mortalidade entre as mulheres. 
A desigualdade de gênero no tocante à mortalidade resulta em um notável 
desequilíbrio, aumentando com a idade. Esse processo foi denominado 
“feminização” cia velhice (Arber e Ginn,1993).
De acordo com o relatório da CEP AL (1999-2000), no Brasil o 
número de mulheres idosas supera o de homens idosos em aproximadamente 
20%, e essa maior sobre vi da feminina tende a ser ainda maior a partir dos 70 
anos de vida.
Alguns argumentos foram levantados por vários autores 
(Waldron,1983; Zhang et al.,1995) tentando explicar a causa da maior 
longevidade entre as mulheres. Uma importante razão é atribuída aos fatores 
comportamentais como o menor consumo de álcool e de fumo e os riscos 
ocupacionais mas, a maior durabilidade do organismo feminino permanece 
insatisfatoriamente respondida.
As principais causas de óbito no sexo masculino estão concentradas 
no sistema coração-pulmão (SidelJ.995) reforçando a participação do fumo na 
diferenciação da mortalidade entre homens e mulheres. Entretanto, homens e 
mulheres morrem basicamente das mesmas causas principais. Fatores de risco 
semelhantes afetam a mortalidade em ambos os sexos (Zhang et al.,1995).
Outros pesquisadores sugerem que os fatores sociais e ambientais são 
bastante importantes .nas .fases mais precoces da vida e os fatores biológicos e 
genéticos mais importantes na fase mais tardia da vida (Gee e Veevers, 1983).
Acredita-se que as diferenças numéricas entre os sexos tendam a 
diminuir pela redução dos riscos ocupacionais evitando mortes prematuras. 
Importante ressaltar que a crescente adoção de estilos de vida similares aos dos 
homens pelas mulheres em termos de trabalho, consumo de fumo e álcool pode 
provocar o aumento das mortes em estágios mais iniciais (Henrard,1996).
Muitos dos estudos que trataram da saúde na fase mais avançada da 
vida mostraram serem as mulheres mais doentes do que os homens da mesma 
idade. Os dados sobre morbidade demonstraram uma maior prevalência de 
condições crônicas entre as mulheres quando comparadas com os homens 
(Verbrugge, 1989; Zhang et af, 1995). As mulheres mais velhas avaliam seu 
estado de saúde menos positivamente que os homens (Verbmgge/1985 e Arber e 
Ginn/1993), referindo mais frequentemente à presença de incapacidades do que 
os homens em numerosos estudos na França (Huet e Gardent,1994), Inglaterra 
(Martin et ah, 1988) e Estados Unidos (Verbrugge/1985; Manton/1988).
.No Brasil, um estudo publicado em 1994 e conduzido por Veras em 
três distritos socioeconomicamente diferentes da cidade do Rio de Janeiro, 
objetivou através da aplicação de um questionário multidimensional, avaliar 
22
inúmeros aspectos da condição de vida dos idosos, dentre eles a saúde e a 
capacidade funcional.
Dos resultados obtidos, a diferença mais importante entre os sexos foi 
relacionada à saúde, onde entre os queixosos 72,3% eram mulheres. Já com 
relação ao desempenho das atividades da vida diária, o dos homens foi melhor 
do que o das mulheres.
A existência de vários tipos de deficiência física e a incapacidade de 
cuidar de si mesmo têm grande importância no planejamento da assistência aos 
idosos. Importa assinalar que a interpretação sobre a saúde e capacidade 
funcional dos idosos do estudo citado anteriormente, foi a partir dos 
sentimentos subjetivos em relação à saúde e não baseado em. urna avaliação 
clínica objetiva de problemas. Mas, essas informações são necessárias para o 
planejamento do atendimento de saúde para os idosos nos próximos anos.
A maior incapacidade das mulheres implica numa necessidade mais 
acentuada dos serviços formais e informais de saúde, além do que não podem 
ser beneficiadas como os homens (com a ajuda do esposo) e frequentemente 
dispõem de poucos recursos financeiros.
Numa investigação transversal realizada por Macedo Filho e Ramos 
(1999) na cidade de Fortaleza com idosos de estratos sociais diferenciados que 
residiam na região central, intermediária e periférica de Fortaleza, revelou-se de 
modo similar aos estudos em outras capitais brasileiras ( Rio de Janeiro e 
São Paulo), que além da predominância do sexo feminino entre os idosos 
(66%), havia uma elevada coexistência de cinco ou mais doenças crônicas no 
sexo feminino (18,7%), chegando a representar mais de três vezes a apresentada 
pelo sexo masculino (5,8%).
O grau de autonomia dos idosos incluídos nesse estudo foi maior nas 
áreas cujo poder aquisitivo da população era maior, sendo considerados 
autônomos, 67,9% dos idosos da região central, 43,8% da região intermediária e 
23
44,6% da área periférica de Fortaleza. Esses dados, dentre outros, caracterizam 
a precariedade das condições de vida dos idosos mais pobres e a necessidade de 
serem assistidos por outras pessoas.
Portanto, a maior longevidade entre as mulheres está atrelada também 
ao aumento da dependência. Com frequência as idosas deverão mudar-se para a 
casa de um de seus filhos, geralmente após a viuvez, como também serão 
candidatas a morar em instituições asilares quando outro aparato familiar não for 
capaz de atendê-las nas suas necessidades. Mesmo nas famílias extensas, o 
amparo aos idosos é um problema a mais somando-se ao desemprego, pobreza, 
disputa por herança entre seus membros, mães solteiras sem renda para sustentar 
sua prole e, que são de difícil solução.
O problema de viver só assume diferentes dimensões ao se considerar 
o sexo feminino e masculino. O homem torna-se mais isolado dos parentes após 
a morteda esposa. Recebendo menos cuidados pessoais do que ã mulher de 
seus familiares e amigos, apresentam maiores dificuldades em se ajustarem à 
vida sozinhos tomando-se um grupo vulnerável (Arber e Ginn ,1993).
.4**
Metade das mulheres incapacitadas vivem sozinhas e são dependentes 
de cuidados não remunerados de seus familiares. Esse contexto as toma privadas 
de sua independência e identidade própria. Entretanto, essas diferenças no 
modelo de sociabilidade proporciona á mulher um estado mais avantajado em 
relação ao homem de uma melhor estrutura social na velhice, ou seja, dispõe de 
um sistema informal para a sua assistência (Henrard,1996).
Diferenças importantes relacionadas ao nível de assistência social 
baseada no gênero e classe social foram também relatadas por Arber e Ginn 
(1993) onde, de um modo geral, 2/3 dos homens idosos recebem cuidados 
pessoais e domésticos da esposa, enquanto as mulheres idosas recebem, um 
pouco mais de um quarto, cuidados pessoais do marido.
24
Essa informação foi apoiada também pelos dados encontrados por 
Macedo Filho e Ramos (1999) na cidade de Fortaleza, onde os idosos do sexo 
feminino viviam em sua maioria (67,2%) sem cônjuge (separados, solteiros ou 
viúvos), ocorrendo o contrário com os do sexo masculino onde 77,5% viviam 
com a esposa ou com uma companheira.
A mulher é a principal cuidadora dos inválidos, das crianças e dos 
idosos. Assume, muitas vezes, o papel de cuidadora em idade bastante jovem e 
por toda a vida, sendo o principal ator da economia local, pertencente ao mundo 
privado de um trabalho não remunerado. Historicamente, a mulher exerce um 
trabalho invisível e tem sido remunerada insatisfatoriamente ao longo de sua 
vida devido a estrutura social, que a isola do processo de crescimento e 
desenvolvimento. Isso contribui para torná-la mais fragilizada, abandonada e 
com risco mais alto de adoecer (Neysmith,1990).
O marco da velhice assume significado distinto para o homem e para 
a mulher, surgindo um padrão duplo de envelhecimento. Para o homem, o
■I» 
envelhecimento é definido como a cessação do trabalho produtivo e para a 
mulher com o término do ciclo reprodutivo. Devido ao fato das mulheres serem 
valorizadas por sua juventude e beleza física, a idade avançada é tida como um 
desafio, uma vez que diminui a fonte de auto-estima, trazendo uma 
desvalorização social (Arber e Ginn, 1991).
A experiência feminina da velhice é considerada, na maioria das 
vezes, como uma continuidade porque não há ruptura com o ambiente de 
trabalho e os relacionamentos tradicionais, cujo desempenho dos papéis está 
ligado ao sexo pode ser um meio de alimentar sua auto-estima (Beauvoir apud 
Henrard, 1996).
Noutra perspectiva, tomando como exemplo as mulheres idosas de 
hoje, um grande número delas não trabalhava, não ocorrendo, portanto, a perda 
25
das relações tradicionais e influência dentro família pela manutenção de seu 
papel na esfera doméstica, o que delineia um s tatus de superioridade persistente.
Os idosos têm consciência dessa troca de papéis. No caso do homem 
que se aposenta e passa de uma vida publica para a privada exigindo uma 
adaptação que embora possa lhe trazer algumas vantagens como o descanso e o 
lazer, depara-se também com graves desvantagens como o empobrecimento e a 
desqualificaçao (Beauvoir, 1990).
O envelhecimento feminino pode ser encarado de forma negativa por 
estarem as mulheres vivenciando uma situação de dupla vulnerabilidade através 
de dois tipos de discriminação - como mulher e como idosa. E, apesar de 
considerar o lado positivo de não se afastarem do lar, na velhice, as mulheres 
defrontam-se, mesmo dentro de seu mundo domiciliar mais restrito, com 
inúmeras perdas como o abandono dos filhos adultos, viuvez ou o conjunto de 
transformações físicas inerentes ao processo de envelhecimento.
Nas sociedades ocidentais contemporâneas, a esse conjunto de perdas 
deve-se somar o subemprego, os baixos salários, o isolamento e a dependência 
que caracterizam a condição das mulheres com idade avançada (Streib, 1975; 
Rodhes, 1982 apud Debert, 1999).
Os padrões sociais e culturais necessitam ser remodelados sobretudo, 
no aspecto discriminatório amplo que sofrem os idosos, a fim de protegê-los do 
isolamento, através da colaboração entre os vários setores da sociedade 
incluindo os governantes, os profissionais, voluntários e familiares que direta ou 
indiretamente estão envolvidos com o modo de vida reservado aos idosos.
2.3, Implicações do Envelhecimento nas Esferas Familiar e Social:
26
A interação cios aspectos biológicos e sociais é essencial para analisar 
as repercussões do envelhecimento, uma vez que os fatores sócio-psico- 
biológicos são constituintes inseparáveis desse processo geral.
O envelhecimento é considerado como a última etapa da vida 
biológica, quando os sinais de deterioração física inevitavelmente são aparentes, 
terminando com a morte. É tido também como o último estágio da vida social do 
indivíduo, o resultado final da experiência social coletiva e pessoal do indivíduo. 
Podemos dizer que o seu processo é determinado e determina as sociedades nas 
quais vivemos (Beauvoir,1990), ou seja, é um fato cultural.
Ao longo da história, o velho assumiu diferentes gradações cie valor de 
acordo com o tipo de sociedade em questão. Como por exemplo, nas sociedades 
mais primitivas, incapazes sequer de constituir uma tradição oral e sendo sua 
única opção de vida, a sobrevivência, o velho era sacrificado, uma vez que 
encontrava-se fisicamente debilitado, e, portanto, incapaz de automanter-se, 
requerendo cuidado e alimento. Em contrapartida, com o uso da tradição oral 
pelas sociedades iletradas, os velhos assumiram a responsabilidade de perpetuá- 
la, pois detinham a memória, a história do grupo e passaram a gozar de prestígio 
social (Silva, 1981).
No Brasil, não há a valorização da história, da memória e da tradição, 
onde tudo passa a ser encarado como velho e ultrapassado pela rápida e 
constante aquisição de novos conhecimentos e costumes, e .que, .diante dessa 
cultura volatilizada, o idoso é tido como um elemento a parte, sem 
reconhecimento social. Essa consciência é reforçada pelos interesses capitalistas 
que visam o lucro e a produtividade, em que o velho por não constituir mão de 
obra apta para o trabalho, é desvalorizado e abandonado pelo Estado e pela 
sociedade.
A miséria e exclusão que atingem considerável parcela da população 
brasileira seriam potencializadas com a velhice.
27
Conforme retrata Sá (1991, p.19), o velho brasileiro, sobretudo 
quando petencente à classe social menos favorecida, é vítima do sofrimento, 
pois é visto como:
(um ser humano) discriminado, inativo, vivendo em 
condições precárias e em situações de perda do status, do 
prestígio e das relações funcionais decorren tes do trabalho 
(...) Consequentemente temos um idoso em crise; crise de 
identidade, que o leva na maioria das vezes, à retração, à 
volta a si mesmo, à sínclrome da pós-aposentadoria 
caracterizada pelo isolamento, pela solidão, pelo 
desinteresse pela vida, alcoolismo, divórcio, decrepitude, 
senilidade, morte social e morte física.
Vischer, citado por Bastos (1993) considera a velhice como a “idade 
das perdas”. Essas perdas são representadas por diversos tipos de luto: pela 
perda da beleza física, da libido, do trabalho, do prestígio, dos filhos que se 
tomaram adultos, da prefiguração da própria morte, etc.
Esses estereótipos negativos associados à velhice são evidenciados a 
partir da segunda metade do século XIX, sendo encarada como um processo 
contínuo de perdas e dependência o que traduz o significado de ser velho na 
sociedade moderna.
Por estar o termo “velho” carregado de sentido pejorativo foi 
substituído na França na década de 70 pelo termo “ terceira idade” menos 
preconceituoso, com a implantação das “Universités du Troisième Age”. 
Atualmente esse termo está amplamente difundidopopularmente no mundo 
ocidental (Stucchi, 1994).
Para Debert (1999), existe uma tendência na sociedade 
contemporânea, em procurar reverter a visão negativa ligada ao processo de 
envelhecimento para outra de uma fase de realizações até então não 
conquistadas. A valorização dos idosos a partir das experiências vividas e os 
saberes acumulados são encarados como ganhos, garantindo-lhes desfrutar de 
28
uma relação harmoniosa com os mais jovens, somada à busca de novos 
objetivos na vida.
Iniciativas sociais estão surgindo atualmente, com interesse de obter 
a afirmação da identidade e da busca da dignidade do idoso, como as 
universidades para a terceira idade, as escolas abertas e os grupos de 
convivência (Debert, 1999).
Vale salientar que, as oportunidades de participação das novas formas 
de sociabilidade na velhice não são igualmente acessíveis ao conjunto da 
população, considerando a heterogeneidade da sociedade brasileira, sobretudo 
com acentuados desníveis sociais. Portanto, é falso pensar que o avanço da 
idade por si só dissolvería distinções socioculturaís que marcaram as etapas 
anteriores da vida.
A multiplicidade das experiências do envelhecimento está 
sedimentada na história de vida que tem como elementos formadores as relações 
sociais e familiares, os diversos modos de vida e as características individuais de 
enfrentamento dos problemas vivenciados.
Segundo Laslef{1987) para que a velhice seja uma etapa da vida 
propícia à realização e satisfação pessoal, é necessária a existência de uma 
“comunidade de aposentados” com peso suficiente na sociedade, demonstrando 
dispor de saúde, independência financeira e outros meios apropriados para 
atingir suas expectativas.
Tal argumento parece distante da realidade brasileira, cujos idosos, 
apesar do número expressivo, não se encontram suficientemente organizados 
para causar o reconhecimento político de seus direitos e, nem tão pouco 
conscientes de sua condição de cidadãos sociais ativos e participantes, e não 
meramente expectadores passivos e carentes à espera da caridade de terceiros 
ou do Estado.
29
A falta de credibilidade e empenho da sociedade civil em organizar-se, 
seja de forma ampla ou em grupos de interesses específicos, na conquista ou 
garantia do cumprimento dos seus direitos, necessita ser trabalhada e exercitada 
pelos cidadãos brasileiros como poderoso instrumento de força para a mudança 
do quadro social deplorável do nosso país.
Os fracos indícios de uma maior sensibilização da sociedade 
brasileira para com os idosos, não conseguiram ainda, gerar o impacto suficiente 
para mudar a representação da velhice em direção a uma existência livre de 
preconceitos e com melhor qualidade de vida.
Podemos identificar duas visões antagônicas de velhice: a tradicional, 
tida como uma fase de dependência e perdas e outra que vem despontando, 
como uma fase promissora, com ganhos e realizações pessoais.
A mídia possui notável influência como transformadora e divulgadora 
de opiniões e imagens. Com relação à velhice, observa-se um emergente 
mercado de turismo e lazer, e produtos como os cosméticos e farmacêuticos, 
voltados para uma velhice mais saudável e, potencialmente adiável.
Os idosos em especial os de maior renda, podem ser influenciados a 
tornarem-se consumidores desenfreados, caindo na ciranda da especulação 
comercial, sem contudo, terem eqliitativamente dentre os membros da 
sociedade, seu valor existencial reconhecido.
A divulgação da adoção de estilos de vida saudáveis, onde compete a 
todos a responsabilidade de manterem-se jovens, denota a própria negação ou 
rejeição da velhice na nossa sociedade (Debert, 1999).
É, pois, diante desse cenário de desvalorização da velhice que o 
inegável processo de envelhecimento populacional está inserido, e que, antes de 
urna análise social mais ampla, perpassa primariamente pelas inúmeras formas 
de organização das famílias e que irão influenciar na capacidade em assistir os 
seus idosos.
30
Por tradição, a segurança da população idosa tem sido garantida 
dentro da estrutura familiar extensa ou ampliada. Contudo, no Brasil, o padrão 
de famílias ampliadas está declinando, e existem indícios de que os sistemas de 
apoio tradicionais estão sendo desfeitos pelas mudanças sociais (Berquó e Mota, 
1988).
A família continua a ser o principal meio de apoio social, emocional 
e econômico. Os valores sociais que concorrem para a percepção social sobre os 
idosos e o seu papel na sociedade, dentro das mais variadas estruturas familiares, 
foram influenciados ao longo dos anos pela migração urbana, pelo processo de 
industrialização, mudança no papel feminino, transformação da força de 
trabalho, pobreza e marginalização da população, expansão do setor informal 
dentre outros fenômenos que ocorreram nesse contexto global (Restrepo e 
Rozental, 1994).
A precariedade das políticas públicas faz com que o peso da situação 
do idoso recaia sobre a família que também encontra-se despreparada para essa 
nova situação.
Devido a maior longevidade de seus integrantes, as famílias devem 
assumir esse desafio apoiada na resolução, a nível privado, dos problemas 
assistenciais das pessoas idosas (CEPAL, 1999-2000).
Para as classes menos favorecidas economicamente, amparar o idoso 
pode significar a desestabilização da estrutura econômica e funcional da família.
Uma das consequências mais visível do envelhecimento populacional 
dá-se em termos dos arranjos familiares como: idosos morando sozinhos ou com 
parentes, mulheres chefiando a família ou morando com os filhos e, em alguns 
casos, obviamente, uma pequena parcela dos idosos terá como única opção para 
a sua sobrevivência, o asilo (Berquó,1999).
Contrariamente, em alguns casos, a figura do idoso assume importante 
destaque quando passa a ser a fonte de sustento de filhos e netos desempregados 
31
que voltam a residir com o idoso e que vêem na aposentadoria irrisória, a 
garantia da sobrevivência familiar.
Outro papel positivo assumido pelos idosos em boas condições de 
saúde, ao invés de ser considerado uma carga, é a contribuição com o cuidado 
dos mais jovens da família, por exemplo, quando a mãe tem que se ausentar para 
trabalhai’. Isto ocorre, basicamente, no caso específico das mulheres idosas, cuja 
capacidade de executarem os afazeres domésticos e serem responsáveis pelo 
cuidado dos netos, tidos como tarefas femininas na nossa sociedade, lhes garante 
um papel definido e indispensável para que os adultos possam ter condições de 
trabalhar sem contudo apelar para medidas desconfortáveis como deixar os 
filhos sem a guarda de um adulto por período integral.
Com relação aos idosos com problemas de saúde e, portanto, com 
necessidade de serem assistidos, Yasaki et al.(1991) lembram que para os idosos 
pobres com comprometimentos físicos e cognitivos, residentes nas grandes áreas 
metropolitanas, as relações com a família configuram-se como mais
* 
problemáticas intensificadas com a carência de instituições de amparo e suporte 
ao idoso. Porém, mesmo fíesses casos de dependência, o asilamento geralmente 
é visto como negativo, com significado de abandono e refúgio.
Nesse sentido, vê-se na família o último e porque não o único recurso 
com que o indivíduo pode contar, quando os países não investiram nos sistemas 
de proteção institucional específicos para as pessoas em condição de 
dependência seja econômica ou por motivos de saúde (CEPAL, 1999-2000).
Consta na Constituição Federal de 1988, que o encargo para com os 
idosos não deve estar unicamente sob a responsabilidade familiar quando dispõe 
em seu artigo 230: “A família, a sociedade e o Estado têm o dever de amparar as 
pessoas idosas, assegurando sua participação na comunidade, defendendo sua 
dignidade e bem estar, garantindo-lhes direito à vida”.
32
O relevante suporte informal de parentes e amigos destinado aos 
idosos, pode ser explicado, sob a óticasociológica, da ajuda entre as pessoas 
estai' fundamentada nas normas sociais de reciprocidade, igualdade e 
responsabilidade social. A primeira denota o pagamento das ações recebidas no 
passado de alguma pessoa, no caso, agora corno idosa. A equidade focaliza a 
importância do custo e da recompensa de um relacionamento. E a última, aponta 
que a ajuda prestada a quem necessita é um dever e não pode ser omitido 
(Henrard, 1996).
A existência de normas sociais por si não justifica por que as pessoas 
as seguem. Elas contribuem para nossas crenças sobre o quanto e como devemos 
ajudar os outros e sobre quem é responsável pela solução dos problemas da 
pessoa necessitada.
Evandrou e Victor (1989) mencionaram que o fato dos idosos 
viverem com os filhos não é garantia da presença de afeto, prestígio ou respeito, 
nem da ausência de maus tratos. As denúncias de violência física contra idosos 
aparecem nos casos em que diferentes gerações convivem numa mesma unidade 
doméstica. Assim sendo, a persistência de unidades domésticas plurigeraciouais 
não pode ser vista, necessariamente, como garantia de uma velhice bem 
sucedida, nem o fato de morarem juntos, um sinal de relações mais amistosas 
entre os idosos e seus filhos.
No levantamento realizado na cidade de Fortaleza por Macedo Filho e 
Ramos (1999), dos idosos investigados, 75% .residiam em • lares 
multigeracionais, sendo predominante na área periférica embora bastante 
expressiva na área central constituída de pessoas com maior poder 
socioeconômico.
Porém, o idoso que mora só não é, necessariamente, o reflexo do 
abandono de seus familiares. Pode significar uma nova forma de família 
extensa, na qual a troca e a assistência ocorrem de maneira intensa (Cohler, 
33
1983), com suporte familiar adequado seja na esfera das necessidades físicas ou 
emocionais, não implicando numa mudança qualitativa nas relações entre 
familiares.
Independentemente da forma de moradia do idoso, sozinho ou em 
família, o importante é a possibilidade de se obter uma velhice bem sucedida, 
que não é decorrente apenas do nível de renda ou saúde, mas aspectos mais 
subjetivos são de extrema importância, como a qualidade do apoio, satisfação 
com a vida, bom relacionamento familiar, segurança e tranquilidade.
Outra forma de arranjo residencial já praticada com resultados 
favoráveis nos países desenvolvidos, é a segregação espacial dos idosos, o que 
permite a ampliação de sua rede de relações sociais, aumenta o número de 
atividades desenvolvidas e a satisfação na velhice. Essa nova abordagem, 
baseia-se na idéia de que o bem estar na velhice não está arraigado às relações 
familiares intensas nem ao convívio intergeracional (Debert, 1999). -
Para os estudiosos, os conjuntos residenciais ou condomínios fechados 
para idosos, além do aparato necessário para a comodidade, favorece uma rede 
de solidariedade, de troeis, de afeto, de reencontro com os papéis sociais 
perdidos, promovendo uma experiência positiva da velhice mesmo para aqueles 
com pouca proximidade com os familiares. As diferenças de gênero 
desaparecem ou, quando mantidas, ganham outros significados, uns ajudam os 
outros de modo que, amparados mutuamente, a institucionalização seja evitada 
(Debert, 1999).
Essa constatação positiva de uma vida segregada não é regra geral, 
Jacob ciptid Debert (1999) em seu trabalho de cunho antropológico, mostrou 
que os idosos segregados não se sentiam satisfeitos e demostravam apatia, 
passividade e sentiam-se solitários.
Como afirma Debert (1999, p. 86 ), deve-se ter em mente que:
34
Os novos arranjos residenciais que surgem em resposta às 
demandas dos idosos não devem funcionar como substitutos 
das relações familiares. Devem, no entanto, representar 
locais distintos de convivência, embora em ambos seja 
absolutamente necessário o compartilhamento de 
sentimentos de amizade, solidariedade e honestidade.
No caso específico do Brasil, cabe salientai' que as novas 
comunidades para idosos que oferecem conforto e comodidade são de iniciativa 
privada com custo inacessível a um contingente expressivo da sociedade que 
vive em condições precárias e por vezes de miserabilidade.
O pobres, quando sem condições de residirem com os familiares ou 
sós, deparam-se com a alta probabilidade de serem internados em asilos públicos 
ou filantrópicos, cujas condições de atendimento condizem com a constante 
crise financeira que enfrentam. Por isso, a qualidade da assistência prestada aos 
idosos institucionalizados, torna-se dependente da provisão instável de recursos, 
seja da iniciativa privada ou governamental.
Diante do exposto, vemos a falta de perspectiva para uma velhice 
amparada seja pela família, sociedade ou Estado que possam garantir a 
dignidade individual e coletiva, além de uma vida com qualidade.
Os estudos da Organização Mundial de Saúde (OMS) sobre as 
necessidades dos idosos, demonstraram ser o problema principal o bem-estar 
econômico, com falta de recursos para satisfazer as necessidades mais básicas, 
como por exemplo o acesso aos serviços de saude. O maior desafio para os 
políticos de países em desenvolvimento é, portanto, conseguir prover ura 
cuidado a longo prazo a esse elevado número de idosos pobres, ou seja, um 
gmpo vulnerável a adoecer ou a tornar-se incapacitado.
O fardo social gerado pela rápida expansão da população idosa é 
partícul anuente preocupante para os países em desenvolvimento, uma vez que 
35
esses novos problemas sociais e de saúde despontam sem ainda terem 
conseguido resolver os problemas relacionados à população jovem.
Essa situação requer a iniciativa política para:
1- Reduzir o peso do envelhecimento sobre a economia e sobre a 
sociedade;
2- Assegurar serviços sociais e de saúde para a população idosa, 
promovendo sua participação na sociedade e uma vida economicamente 
produtiva.
O impacto social do envelhecimento afeta a dinâmica do mercado, 
guiado pela troca de valores. Os idosos encontram-se em desvantagens nas 
sociedades voltadas para o lucro e a economia, que tendem a desumanizar o 
processo social de envelhecimento. O indivíduo é valorizado pelo seu poder 
aquisitivo e pela sua capacidade produtiva de trabalho. Este comportamento 
social tende a desprezar as necessidades dos idosos ou não proporcionai' a 
integração dos mesmos no mercado de trabalho para voltarem a assumir o papel 
de produtores e consumidores (Restrepo e Rozental,1994).
No entanto, a qualidade de vida, oportunidades e perspectivas futuras 
para a maior parte dos idosos são a pobreza, marginalidade e a dependência 
econômica (Restrepo e Rozental,1994).
O impacto do envelhecimento populacional tem grande repercussão 
sobre o sistema de saúde e é de difícil superação, pelo aumento dos custos dos 
serviços.
O sistema biomédico vigente de atendimento à saúde tem direcionado 
a provisão dos serviços de saúde a um nível operacional. O resultado é o uso 
exagerado de tecnologias caras, responsáveis pela inflação dos gastos com 
saúde,
Para Henrard (1996), o modelo biomédico contribui para medicar 
problemas sociais, mas, negligencia o impacto dos determinantes sociais na 
36
saúde individual e do ambiente coletivo. Prioridades dadas às soluções 
médicas/técnicas são responsáveis pelo uso inapropriado de hospitais, por 
exemplo, pela ignorância de alternativas mais' efetivas e eficientes para 
satisfazer a demanda desse grupo particular da população.
Segundo as pesquisas feitas pela ORGANIZAÇÃO
PANAMERICANA AS SAÚDE-OPS/ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE 
SAÚDE-OMS em .1989, os idosos fazem mais uso dos serviços de saúde e 
causam mais gastos com a saúde do que a população em geral, devido, 
principalmente, à natureza crônica da maioria de suas doenças,
Na Conferência Internacional sobre envelhecimento populacional 
ocorrida em 1992 em San Diego (USA), foi recomendável que a definição aceita 
para a saúde seja revista para tomá-la mais apropriada aos idosos,através da 
incorporação de conceitos como estado funcional de saúde, independência, 
cronícidade, autonomia, auto-percepção de saúde e o estado ambiental físico e 
social.
*
Portanto, a solução para as sociedades contemporâneas no 
atendimento aos idosos deverá se apoiar em mudanças políticas e econômicas, 
objetivando o fortalecimento do apoio familiar no atendimento aos idosos, como 
também um incremento nos investimentos sociais garantindo sistemas de apoio 
na área social e de saúde.
2.4. Política e o Envelhecimento Populacional;
O recente processo de envelhecimento populacional traz novas 
demandas de serviços na área social: assistência social, de saúde e 
previdenciária, constituindo um desafio para os governantes e para a sociedade.
Ao mesmo tempo em que ainda se faz necessária a pressão pela 
ampliação de direitos universais básicos - educação, saúde, alimentação, 
37
moradia, aumentam, também as demandas fragmentadas de cidadãos em 
condições insatisfatórias de vida e que se manifestam individual ou 
coletivamente (famílias, grupos etários, moradores de uma região).As dimensões 
da política social devem cobrir os programas universais formadores da 
cidadania, independentes da forma específica de inserção social e das ações 
focalizadas em espaços e em grupos socialmente vulneráveis como por exemplo, 
o de idosos.
O poder público, cujas metas e ações não atingem seus fins devido às 
graves crises econômicas e falta de- reordenação de suas prioridades sociais, 
atua através do controle temporário de situações tidas como emergenciais, sem 
contudo, contar com um planejamento encadeado e harmonioso entre as 
diversas áreas envolvidas, para lidar com os problemas provenientes do aumento 
da população idosa.
Sobre a desorganização e inadequação das medidas políticas Silva e 
Neri (1993, p.233) afirmam:
Se cís intervenções forem planejadas a partir de 
diagnósticos das necessidades e interesses (...) no plano 
mais amplo, possivelmente auxiliariam a implementação de 
mudanças familiares, institucionais e socioculturais em 
relação ao suporte familiar e social, bem como em relação 
às políticas sociais para o idoso e a família no Brasil.
Outro agravante da situação brasileira são os acentuados desníveis 
sociais, onde a minoria tudo tem e a grande maioria nada tem, vivendo numa 
situação de completa ausência dos direitos básicos de cidadão.
A pobreza e a miséria para muitos é perpetuada ao longo da vida uma 
vez que a melhoria das condições de vida está atrelada à acessibilidade da 
população a uma educação de qualidade, serviços sanitários e de saúde e 
condições de emprego e aposentadoria dignas, as quais ainda encontram-se 
distantes de nossa realidade.
38
O trabalho informal passa a ser a única opção de sobrevivência para os 
pobres (adultos e velhos), cuja desqualifícação profissional os impede de serem 
absorvidos pela rede formal de emprego que não atende a demanda de 
trabalhadores considerados aptos para o trabalho.
Trabalhar no mercado informal significa a falta de. garantia de direitos 
como a aposentadoria, auxílio-doença, férias, fundo de garantia por tempo de 
serviço ( FGTS), dentre outros.
O impacto da política previdenciária na vida das famílias é cruel, 
pois tanto a aposentadoria como o auxílio doença não se traduzem em formas 
eficazes de sobrevivência. Sobre isso Cartaxo (1995, p. 169-170) relata:
... a política previdenciária, mediante estratégia do 
segurado em “auxílio-doença” permite-nos deduzir que se 
aproxima mais de um modelo assistencial do que, 
propriamente, de seguridade social (...) Não há como 
pensar em objetivcição dos direitos sociais.
A seguridade social, por meio da assistência social, deveria ter uma 
política voltada para o atendimento da população excluída. O benefício da Lei 
Orgânica da Assistência Social (LOAS) é bastante restritivo: destina-se apenas 
aos idosos com setenta anos ou mais, cuja renda familiar seja um quarto do 
salário mínimo vigente. Sabe-se que a expectativa de vida acima de setenta anos, 
em geral, contempla aqueles que vivem com mais de cinco salários e em regiões 
mais desenvolvidas. Verifica-se que o idoso de baixa renda não tem 
reconhecimento dos direitos mínimos de cidadão caracterizando sua condição de 
excluído socialmente (Silva, 1998).
O conceito de exclusão social está mais próximo ao oposto de coesão 
social ou como ruptura de vínculo social. O excluído não necessita cometer 
nenhum ato de transgressão, como o desviante. Tornar-se excluído é uma 
39
condição imposta do exterior, sem que para tal tenha contribuído direta ou 
indiretamente (Nascimento, 1994).
Dentro de uma concepção sociológica ampla, a exclusão social refere- 
se a um processo de não reconhecimento do outro, ou de rejeição, ou ainda 
intolerância. Trata-se de uma representação que tem dificuldades de reconhecer 
no outro direitos que lhe são próprios e que, o excluído, sem vínculo societário, 
desenvolve vínculos comunitários particulares, como forma de sobrevivência 
social. Caso contrário, está condenado ao completo abandono e esquecimento. 
Nesse sentido, aproxima-se do conceito de discriminação, como podemos 
visualizar nos negros, homossexuais e idosos (Nascimento, 1994).
Uma outra abordagem de exclusão social, refere-se aos que não 
fazem parte do mundo do trabalho, não possuindo, em decorrência, condições 
mínimas de vida. Por vezes, o fato de não trabalhar produz efeitos de não 
inserção social e exclusão do mundo de direitos. A incapacidade da sociedade 
em criar empregos ou a eles atribuir uma renda mínima, atinge jovens e os 
velhos mais frequentemente.
Nascimento (1994) denomina de "desnecessários economicamente” ao 
expressivo contingente de pessoas que, além de desempregadas não têm 
capacidade de gerar renda suficiente, pela desqualificação profissional, para 
entrar no mercado de trabalho. Esses indivíduos perdem qualquer função 
produtiva e passam a constituir um peso econômico para a sociedade e para o 
governo.
A especificidade da exclusão social no Brasil está fortemente 
relacionada com a desigualdade social e com a pobreza. Como pobreza, 
entende-se "a situação em que se encontram membros de uma determinada 
sociedade despossuídos de recursos suficientes para viver dignamente, ou que 
não têm as condições mínimas para suprir as suas necessidades” (Nascimento, 
1994, p.29),
40
Uma reforma que fosse útil socialmente e com largo alcance na área 
previdenciária deveria estabelecer mecanismos financeiros que garantissem a 
manutenção do poder aquisitivo e das pensões e também proporcionassem 
proteção social à crescente população de idosos (Laurell, 1996).
Os problemas relacionados à seguridade social não serão resolvidos 
sem uma política ativa e sustentada de criação de emprego e recuperação salarial 
como forma de atingir o bem-estar social.
Aposentarias e pensões constituem a principal fonte de rendimento da 
população idosa. Se, por um lado,, o número de benefícios é crescente a cada 
ano, por outro, as despesas médias com o pagamento desses benefícios pela 
Previdência vêm apresentando, com raras exceções, variações negativas. Em 
1988, quase 90% dos idosos aposentados no Brasil recebiam contribuições de 
até 2,5 salários mínimos (Chaimowicz, 1997), o que retrata o empobrecimento e 
a perda do poder aquisitivo com a aposentadoria.
Debert (1999, p.188) declara que a “história política brasileira foi um 
verdadeiro assalto às condições de aposentadoria, transformando o idoso um 
peso para a família e em objeto de desdém da sociedade como um todo”. E, nos 
deparamos com uma perda do poder aquisitivo dos idosos cujos salários são 
corroídos pelos elevados índices de inflação da economia nacional, sem contudo 
contarem com a certeza das reposições que todos os trabalhadores fariam juv.
O estado de pobreza dos idosos está relacionado a graves problemas 
do sistema previdenciário: falhas na organização da burocracia,descontrole 
sobre a receita e as despesas, sonegação de contribuição, incompetência na 
gestão de recursos e fraudes na concessão dos benefícios, levando o trabalhador 
idoso a receber quantias irrisórias, causando um crescente empobrecimento e 
comprometendo seriamente uma qualidade de vida desejável e justa.
Apesar dos reduzidos valores das aposentadorias, no Brasil, em 1996, 
os dados indicavam que três em quatro idosos possuíam cobertura 
4.1
previdenciária. A percentagem dos que não recebem aposentadoria ou pensão 
está abaixo de 25% (CEP AL, 1999-2000). Poucos países da América Latina, 
além fio Brasil, conseguiram uma ampla cobertura como: Uruguai, Argentina e 
Chile
Andrade (1999) revelou que muitos municípios de economia precária 
e de população majoritariamente pobre, os benefícios da Previdência 
representavam 20,3% da renda monetária das famílias nos municípios com até 
5.000 habitantes. Em todo país a média é de 7,2%. Neste caso específico, 
paradoxalmente, a aposentadoria significava um passaporte para a ascensão 
social dos idosos, garantindo-lhes poder de compra e credibilidade no comércio 
local. Em alguns casos, a renda dos familiares chegava a triplicar com o 
pagamento do salário mínimo da aposentadoria. Isso porque a maioria 
trabalhava no campo e ganhava em média R$ 40,00 por mês. Conclui-se, que os 
idosos movimentam a economia de muitas pequenas cidades brasileiras.
O custo das aposentadorias é visto, pelos experts em contabilidade, 
como uma catástrofe para a economia nacional em decorrência da grande soma 
de recursos necessária pargt uma população de inativos e que põe em risco a 
reprodução da vida social, e, a esse prognóstico assustador denominaram de 
“crônica da crise anunciada”. Esse mesmo argumento também tem sido utilizado 
para a legitimação de uma preocupação teórico-acadêinica com a velhice ou 
propor ações concretas, visando alcançar um envelhecimento bem sucedido 
(Simões cipud Debert,1999).
Mesmo em países onde o envelhecimento e a velhice são motivos de 
atenção e planejamento especial, a sociedade encontra-se despreparada para 
oferecer a curto ou médio prazos uma solução para o problema.
Chama-nos a atenção a carência de recursos financeiros peculiar aos 
países mais pobres e que representa um agravante para a situação dos idosos. O 
42
problema não se resume simplesmente ao plano econômico, mas ao social, com 
implicações bastante complexas mesmo nos países ricos.
A tecnologia avançada e o progresso científico não deram conta dos 
flagelos sociais que os governos, de forma insensível, não têm se preocupado.
Para a velhice ser encarada como um problema social não basta 
apenas sua projeção numérica, más de quatro aspectos que, segundo a visão de 
Remi e Lenoir citados por Debert (1998) são:
a) o reconhecimento: implica tomar visível publicamente uma 
situação particular através da ação de grupos socialmente interessados em 
produzir uma nova percepção do mundo social a fim de agir sobre ele (ex: 
gerontólogos, sociólogos, etc.)
b) a legitimação: não é consequência automática do 
reconhecimento público do problema. Ao contrário, supõe o esforço para 
promovê-lo e inseri-lo no campo das preocupações sociais do momento,
c) a pressão: refere-se à capacidade de conseguir jynto às 
autoridades competentes, o atendimento de suas reinvindicações, seja através 
das ações de grupos específicos ou por seus representantes.
Um exemplo de pressão dos idosos movido junto ao poder público 
que obteve êxito, foi o movimento dos aposentados, conhecido como a 
mobilização pelos 147% ocorrido em setembro de 1991 no Brasil. Nessa época, 
os aposentados se rebelaram contra o aumento concebido para os beneficiários 
da Previdência Social que foi apenas de 54,6%, quando o salário mínimo 
recebeu um aumento de 147%, conseguindo a equiparação dos índices de 
aumento.
Essa atitude do governo em dar um aumento diferenciado dos salários, 
mostra o desinteresse com as causas relacionadas aos idosos, através de medidas 
claramente discriminatórias.
43
Muitas vezes, o reconhecí mento/legitirnaç ao do direito vem 
conj untamente com a pressão da sociedade civil j unto aos políticos. 
Infelizmente, os direitos não são obedecidos na forma da lei, sendo 
imprescindível a pressão ou negociação política para o cumprimento dos direitos 
já assegurados legalmente.
d) a expressão: engloba o surgimento de novos termos que no caso 
específico da velhice procuram amenizar os estereótipos negativos a ela 
relacionados na nossa sociedade, como a expressão “terceira idade”.
Para tratar dos direitos dos idosos foi promulgada em 1994 a Lei n° 
8842 que dispõe sobre a Política Nacional do Idoso e cria o Conselho Nacional 
do Idoso e o Decreto N° 1948/96 que a regulamentou.
Infelizmente no Brasil, a existência de leis, decretos e portarias não 
garante os direitos dos cidadãos, nem tão pouco direciona os caminhos 
políticos a serem trilhados em busca de uma distribuição mais' eficiente e 
igualitária dos recursos públicos.
O artigo 3o da referida lei, diz que “ a família, a sociedade e o Estado 
têm o dever de asseguraNao idoso os direitos da cidadania, garantindo sua 
participação na comunidade, defendendo sua dignidade, bem-estar e o direito à 
vida”.
O atendimento da população idosa requer esforços conjugados nas três 
instâncias: familiar, social e estatal a fim de garantir uma melhor qualidade de 
vida.
A família deve amparar seus idosos assegurando-lhes a sobrevivência 
e um convívio harmonioso e participativo, tratando-os com respeito.
À sociedade cabe não discriminar nem excluir os idosos de direitos 
comuns a todo cidadão, como a oportunidade de trabalho, ao lazer, ao 
transporte. Fala-se muito em reinserir o idoso na sociedade o que significa 
reconhecer que ele se encontra excluído. A reinserção pode ser obtida através 
44
do trabalho que não implica, obrigatoriamente, que o mesmo seja forçado a 
acompanhar as exigências mais modernas e avançadas do mercado de trabalho, 
mas de aproveitar suas potencialidades e experiências anteriores, mantendo-o 
atuante e economicamente ativo.
Ao Estado, a função prioritária está na provisão de uma justa 
aposentadoria, assistência à saúde e outros serviços formais de atendimento à 
população idosa como: asilo, centros de convivência, centros de cuidados 
diurnos, casas-lares, oficinas abrigadas de trabalho e atendimento domiciliar.
Tais modalidades de assistência são explicitadas de acordo com o 
artigo 4o do Decreto N° 1948/96:
I- Centro de Convivência: local destinado à permanência diurna do 
idoso, onde são desenvolvidas atividades físicas, laborativas, recreativas, 
culturais, associativas e de educação para a cidadania;
II- Centro de Cuidados Diurno: Hospital-Dia e Centro-Dia- local 
destinado à permanência diurna do idoso dependente ou que possua deficiência 
temporária e necessite de assistência médica ou de assistência multiprofissional;
III- Casa-Lar: residência, em sistema participativo, cedida por 
instituições públicas ou privadas, destinada a idosos detentores de renda 
insuficiente para sua manutenção e sem família;
IV- Ofícina Abrigada de Trabalho: local destinado ao 
desenvolvimento, pelo idoso, de atividades ■ produtivas, proporcionando-lhe 
oportunidade de elevar sua renda, sendo regida por mornas-específicas;
V~ Atendimento domiciliar: é o serviço prestado ao idoso que vive só 
e seja dependente, a fim de suprir as suas necessidades da vida diária. Esse 
serviço é prestado em seu próprio lar, por profissionais da área de saúde ou por 
pessoas da própria comunidade;
45
VI- Outras formas de atendimento: iniciativas surgidas na própria 
comunidade, que visem a promoção e à integração da pessoa idosa na família e 
na comunidade.
O artigo 3° do Decreto 1948/96 dispõe que “o atendimento asilar é em 
regime de internato que deve ser oferecido ao idoso sem vínculo familiar ou 
sem condições de prover a própria subsistência,de modo a satisfazer as suas 
necessidades de moradia, alimentação, saúde e convivência social”.
O inciso IV do artigo 2o do mesmo Decreto reforça que Cié 
responsabilidade do Ministério da Previdência e Assistência Social estimular a 
criação de formas alternativas de atendimento não-asilar”.
Pelo exposto, podemos perceber que as alternativas para o 
atendimento ao idoso nas suas mais variadas formas não são praticadas em 
nosso país, restando ainda como o único recurso para o atendimento da 
população idosa, o asilo.
O asilo constitui a forma mais comum em nossa sociedade de amparo 
aos idosos carentes ou não (asilos particulares- as conhecidas casas de repouso) 
que, embora mesmo se encontrando em número crescente em nossa sociedade, 
não satisfaz plenamente aos preceitos explicitados pela lei.
Dentre as inúmeras abordagens contidas na Lei 8842/94, o artigo 17 
em seu parágrafo único afirma que “o idoso que não tenha meios de prover à sua 
própria subsistência, que não tenha família, ou cuja família não tenha condições 
de prover a sua manutenção, terá assegurada a assistência asilar, pela União, 
peíos Estados, pelo Distrito Federal e pelos Municípios, na forma da lei”.
No artigo 18 do mesmo decreto está explicitado o seguinte: “fica 
proibida a permanência em instituições asilares, de caráter social, de idosos 
portadores de doenças que exijam assistência médica permanente ou de 
assistência de enfermagem intensiva, cuja falta possa agravai' ou por em risco 
sua vida ou a vida de terceiros”.
46
A fiscalização frequente das instituições asilares podería garantir o 
cumprimento do seu papel social e assistência! aos idosos desamparados ou 
dependentes física e economicamente. O funcionamento arbitrário de 
instituições asilares, sem exigência das condições necessárias para a 
institucionalização do idoso, traduz o pensamento social de que .a segregação do 
idoso é algo natural e inevitável, anulando o sentido da vida anterior.
Segundo a avaliação de Beauvoir (1990, p.339) “não são apenas os 
hospitais e os asilos: é toda a sociedade que constitui para os velhos, um grande 
morredor”.
O idoso deve, sempre que possível, ser mantido em regime de 
externato de modo a não perder o contato com a realidade do mundo externo.
O artigo 9o do decreto n° 1948/96 diz que compete ao Ministério da 
Saúde por intermédio da Secretaria de Assistência à Saúde, em articulação com 
as Secretarias de Saúde dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios:
“Garantir ao idoso a assistência integral à saúde,-entendida como o 
conjunto articulado e continuo de ações e serviços preventivos e curativos, nos 
diversos níveis de atendimento do Sistema Único de Saúde ~ SUS”.
O sistema de saúde de modo geral, seja o federal, estadual ou 
municipal encontra-se incapacitado de atender as demandas da população, 
oferecendo serviços de má qualidade e com baixa resolutividade.
Nos hospitais e postos de saúde, as filas são intermináveis dificultando 
a realização da consulta, seja na área emergencial ou ambulatorial e, não são 
raras as noticias de falecimento de pessoas que estavam à espera de 
atendimento.
É diante dessa situação que o idoso se depara, e , como não existe um 
espaço reconhecido dentro da saúde destinado exclusivamente para o 
atendimento do idoso, ocorre uma espécie de disputa enfie as pessoas das mais 
diferentes faixas etárias, onde os mais jovens e menos comprometidos, levam 
47
vantagem ao se disporem a permanecer horas na fila a fim de disputar uma vaga 
para ser atendido.
Devido à aparente ineficiência do sistema de saúde, o idoso doente e 
pobre, fica sujeito a procurar o atendimento, como destacam Macedo Filho e 
Ramos (1999), em situações agudas ou de morbidade extrema, que nesse último 
caso, obriga o idoso a inúmeras idas ao serviço de saúde frente à complexidade 
de seus problemas.
Apesar de claramente contido na lei o direito do idoso à saúde, seja na 
área preventiva ou curativa, o mesmo encontra-se completamente bloqueado, 
devido sobretudo, à inacessibilidade aos serviços de saúde, que funcionam 
precariamente frente às necessidades da população como um todo e, no caso 
particular dos idosos, demonstram incapacidade em atendê-los de forma 
sistemática, ou seja, não contam com um necessário acompanhamento médico 
regular da sua condição de saúde para o alcance de um estado funcional mais 
saudável na velhice.
Ainda relacionado ao tema saúde, o inciso VIII do artigo 9° do 
decreto anteriormente referido, delineia a abrangência desse direito e da 
responsabilidade do governo quando afirma a necessidade de “desenvolver e 
apoiar programas de prevenção, educação e promoção da saúde do idoso de 
forma a:
a) estimular a permanência do idoso na comunidade, junto à família, 
desempenhando papel social ativo, com a autonomia e independência que lhe for 
própria;
b) estimular o auto-cuidado e o cuidado informal;
c) envolver a população nas ações de promoção da saúde do idoso;
d) estimular a formação de grupos de auto-ajuda, de grupos de 
convivência, em integração com outras instituições que atuam no campo social;
e) produzir e difundir material educativo sobre a saúde do idoso.”
A manutenção da saúde do idoso requer o envolvimento da família e 
da comunidade, a partir da divulgação dos conhecimentos relacionados ao 
envelhecimento, no sentido da adoção de medidas preventivas em saúde. A 
valorização de práticas de convivência, de auto-ajuda, buscam o resgate da auto- 
estima do idoso aliada a uma maior participação social e autonomia do mesmo, 
fatores importantes na obtenção de uma qualidade de vida desejável.
Outro ponto polêmico referente aos direitos da pessoa idosa está 
expresso no artigo 11 do mesmo decreto, quando determina que compete “ao 
.Ministério do Trabalho, por meio de seus órgãos garantir mecanismos que 
impeçam a discriminação do idoso quanto à sua participação no mercado de 
trabalho”.
A intensa discriminação sofrida pelos idosos no mercado de trabalho é 
alarmante, e, somada à situação calamitosa de desemprego na qual a sociedade 
brasileira está mergulhada, toma praticamente impossível a sua inserção no 
mercado de trabalho como uma forma de complementar a renda mensal, que, em 
muitos casos, inexiste.
Ressalta-se ainda que grande soma dos idosos se mantiveram, quando 
ainda tinham a força física, ao longo da vida, às custas do trabalho informal ou 
do subemprego, cujo sustento diário, seu e de seus familiares, dependia 
exclusivamente do dia trabalhado.
Sobre o desemprego, Forrester (1997, p.125) se posiciona de forma 
realista embora bastante preocupante, pois:
o desemprego não atinge basicamente os mais velhos mas, 
invade hoje todos os níveis de todas as classes sociais, 
acarretando miséria, insegurança, sentimento de vergonha 
em razão essencialmente dos descaminhos de uma 
sociedade que o considera uma exceção à regra geral 
estabelecida para sempre.
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A economia cie mercado tende a focalizar um grupo isolado ou área de 
interesse momentâneo. As soluções políticas estão voltadas para resultados 
imediatos de grupos particulares às custas de outros, gerando desigualdades 
entre os grupos.
A melhoria das condições de vida dos idosos estaria ligada à posição 
que alcançassem na sociedade e que lhes permitisse oferecer e obter vantagens 
econômicas, seja como produtores ou consumidores de bens e serviços. A sua 
visibilidade política e social, seu lugar na sociedade, os recursos disponíveis e 
condições gerais de vida são determinados pela sociedade que atualmente tem 
marginalizado essa população, particularmente nos países menos desenvolvidos, 
onde os recursos são escassos e a competição entre os grupos é acirrada 
(Restrepo e Rozental, 1994).
Enfim, refletindo sobre a Lei e o seu Decreto de Assistência Social ao 
Idoso, podemos concluir que o idoso, como todo cidadão, deve ter resguardado 
seu direito à cidadania e não ser visto como uma categoria a

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