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todos os momentos, envolver os participantes da experiência na realização de um projeto de trabalho coletivo em que ficou claramente posto o valor de cada participação. A desconsideração social imposta aos educadores hoje, representada pelos baixos salários e precárias condições de trabalho, retira-Ihes a motivação para se envolverem num projeto educativo que necessita ser, no mínimo, audacioso. A realização bem sucedida de qualquer projeto s6 será possível se recupe- rarmos a auto-estima, a confiança e a competência de nossos educadores. Para isso, é necessário tirarmos o professor de "entre os parênteses" em que está hoje colocado para que ocupe um papel ativo, e dessa forma mais humano, nas decisões sobre as questões educacionais. REFER(:NCIAS BIBlIOGRAFICAS Almeida, N. V. F. O Psicólogo na Instituição Escolar: um estudo descritivo de sua prática profissional. Dissertação apresentada ao Departamento de Psicologia da Universidade Federal da Paraíba, 1982. Almeida, N. V. 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ABSTRACT The author analvses her book Social Psychology inserting it in the historic-ideologic-methodological contexto A reflection of what was produced in the 60 's related to the ideas and authors that predominated in that decade is part of the proposal of the article. The author cornplernenrs this proposal with a reflection about what is possible to do in the presenr and what is necessary to project to the futura - specially in what concerns methodology. Quando no Congresso da SIP no ano de 1976 em Miami, falava-se sobre a crise da Psicologia Social - (Triandis) - esta era também a que vivíamos no Brasi I. Em 1965 ensinávamos a Psicologia Social de Lewin, de Allport, de Klineberq, de Asch, de Heider, de Newcomb, de Lindzey e Aronson, de Cartwright e Zander. Os temas eram Dinâmica dos grupos, Percepção Social, Atitudes, Mudança de Atitudes, Socialização, Diferenças entre sexos, raças etc . • Trabalho apresentado no XX Congresso Interam&ricano de Psicologia - Caracas - Ju1./1986. Professora da PUC / S. P. Rev. de Psicologia, Fortaleza, 6 (1): 123-127, Jan.jJun., 1988 123 Nossos cursos eram organizados em teóricos (revisão da literatura) e práticos (confronto entre experimentos e pesquisas e pequenos estudos de campo, obser- vações, experimentos). O confronto entre teoria e prática nos mostrava que se podia tanto afirmar quanto negar as teorias e, como dizemos no Brasil, poder-se-ia afirmar o sim e o naõ e muito pelo contrário ... Um artigo de Brunno, Poitou e outros nos chamou a atenção: "Psicologia Social uma Utopia em Crise", publicado em La Nouvelle Critique e, logo depois, um prefácio de Serge Moscovici, fazendo uma análise crítica dos pressupostos da Psicologia Social, nos fizeram rever algumas teorias como a de Lewin e, princi- palmente, a de George Politzer. Também Blêger com sua análise dialética da Psicanálise foi revisto. Nesta direção os trabalhos de Merani foram lidos com avidez, assim como os franceses Poitou, Pecheux e outros. Mas, nosso problema central era fazer pesquisas psicossociais em nossa realidade - e todos estes autores faziam teorias mas sem qualquer indicação de como investigar nossa própria realidade. Em 1979 (SIP) sentimos que o mesmo problema ocorria em outros países da América Latina. Em alguns se buscavam soluções na Sociologia, em outros na literatura indigenista local e, em outros, na História, etc. Mas o problema permanecia. Caminhávamos entre ensaios-e-erros, investigando os temas que considerávamos os mais consistentes: os pequenos grupos sociais, a Psicologia da linguagem, a socialização e a aprendizagem, tentando não fragmentar o ser humano, e sim compreendê-Io em sua inserção social - em seu macro? em sua gestalt? No estudo de pequenos grupos passamos por Lewin, que com sua dinâmica poderia ser promissor, se esta ficasse clara como processo - "é real o que tem efeito". Goffman foi um outro desafio e foi um avanço para nós com sua observação-participante. Foi quando nos propusemos, com nossos estudantes, a fazer observações que envolveriam os grupos, em seu processo histórico e, através de análises, tentar encontrar, no processo, as contradições que movem o grupo. Por outro lado, a linguagem nos parecia algo fundamental para a compreensão das relações sociais. Era para mim uma questão antiga, que me levou a fazer minha tese de doutorado com o Diferencial Semântico de Osgood, dado seu caráter afetivo, pleno de valores presentes nas palavras enquanto significantes (o denotativo era o de um dado código social). Por outro lado, os estudos sobre Representações Sociais mostravam-se ricos para a compreensão de como os indivíduos, em suas posições particu lares, orga- nizavam e atuavam em seu mundo social. Na teoria de Representação havia lugar para a ideologia, para os valores sociais-individuais. A questão da ideologia necessariamente passava pela lingua- gem e pelas representações sociais - portanto, eram mediações fundamentadas para a compreensão do indivíduo, compreendido no conjunto de suas relações sociais. 124 Rev. de Psicologia, Fortaleza, 6 (1): 123-127, Jan.jJun., 1988 Estudando o problema de linguagem revimos Piaget e Vigotski, este último nos indicando a questão da consciência, produto da interação da linguagem e pensamento. E teríamos então a possibilidade de uma análise da con~ciência alienada, fragmentada (onde a ideologia se apresentava concretizada no discurso, individual) então, a consciência clara, produto de um pensamento crítico, onde as significações traz idas pela linguagem se confrontam com a realidade em si. Da escola de Genebra, Malrieu propõe uma análise da formação das repre- sentações sociais em crianças, demonstrando a mediaçaõ social necessária para seu desenvolvimento. Uma outra vertente de pesquisas que também surgia como fundamental foi a questão da identidade social. Questão formu lada por George Mead, que apontava para o caráter essencial do grupo social e de suas intersções simbólicas para a constituição da identidade individual. Retomam-se as teorias de Sarbin, Scheibe, Goffman e outros, procurando esclarecer a questão central da psicologia da individualização, a unidade de cada pessoa. Tínhamos, também, o problema do comportamento - ou seja da, conduta,da acão. da atuação. Caminhávamos desde comportamentos "micro"-fragmen- tário~, para algo tão amplo como a noção de campos de forças (Lewin), para o drama de Politzer, e, de qual seria a dimensão necessária da ação humana para se compreender o mais essencial do homem, suas ações concretas que transformam a natureza, as relações sociais, e, que o transformam também. Ao mesmo tempo em que estas questões teóricas eram analisadas, deba- tiam-se os problemas metodológicos - admitíamos a validade de estudos esta- tísticos, dos "survevs", enquanto eram pesquisas que nos descreviam uma reali- dade, e ao fazê-to, tornava-a estática; o que queríamos era o processo, a história dos fatos - o movimento que os gerava e que os transformava. Negávamos a neutralidade científica, mas era necessário registrar o empírico para que a análise pudesse, partindo dele (do ernpfrico}, chegar ao movimento histórico e retornar a ele com uma nova dimensão do empírico. Do positivismo tínhamos que resgatar o respeito ao empírico, ao seu regis- tro, porém sem fragmentá-Io. A questão da unidade do evento era central - o sujeito tinha que ser caracterizado no conjunto de suas relações sociais, na história de seus grupos sociais, de sua classe, de sua sociedade (e neste aspecto recorríamos aos estudos sociológicos, econômico-políticos, antropológicos). A estratégia de pesquisa mudava seu eixo dos procedimentos experimentais e de registro para o da análise do empt'rico a fim de se aproximar do concreto- histórico. Com todos estes desafios diante de nós, nos defrontamos com a obra de Alex Leontiev: primeiro "O desenvolvimento do psiquisrno" e depois "Consciência, Atividade e Personalidade". Com sua obra se esclareceu a questão epistemológica das categorias do conhecimento psicológico - e não seria por coincidência que ele proporia para a Psicologia três categorias fundamentais - a consciência e suas mediações pela Rev. de Psicologia, Fortaleza, 6 (1): 123-127, Jan.jJun., 1988 125 linguagem e o pensamento, a atividade, constitu ída por ações e operações, rela- cionada com necessidades, motivos e objetivos finais; e a personalidade, como características dinâmicas, próprias da individualidade. Além disto, Leontiev embasava sua teoria em pesquisas empíricas e siste- rnáticas, No entanto, estas categorias se apresentavam como estruturas vazias que só teriam substâncias se localizassem o indivíduo em sua realidade histórico- social. Deste modo se tornava, mais do que nunca, necessário fazer mais e mais pesquisas, com dados e análises que se acumulassem, para um conhecimento das propriedades categoriais de nossos sujeitos. Tudo nos indicava que estávamos na direção certa - nossas pesquisas resul- tavam em intervenções, de início involuntárias ou indiretas para, em seguida, privilegiar a pesquisa - ação, a pesquisa - intervenção. Por outro lado, tornava-se necessária uma sistematização teórica, que teria que partir de uma explicitação de nossa concepção do Homem. O indivíduo que estudávamos só existe em suas relações com os outros. Toda sua existência ocorre em grupos sociais como a família, os pares, os grupos de trabalho, de lazer. Só poderíamos entender seu comportamento se entendida sua inserção nos grupos que formavam sua história pessoal e com os quais desen- volvia suas atividades e se transformava enquanto indivíduo. Como ser biológico, ele é dotado de sentimentos, de potencial para ação e de pensamentos - mas sua concretização só ocorre através de suas relações com os demais indivíduos em um contexto histórico-social, onde a linguagem tem uma função primordial como mediação histórica - que permite uma visão de mundo, a subjetivação da realidade social. A partir deste ponto torna-se necessário comunicar o que produzíamos - foi assim que editamos nossa "Psicologia Social - o Homem em Movimento" - produto de um grupo -de trabalho com as mesmas preocupações e objetivos. Chamamos o livro de Psicologia Social, mas de fato era nossa intenção propor uma revisão de toda a Psicologia - fragmentá-Ia também poderia ser tão ideológico tanto quanto a fragmentação das ciências humanas e sociais. Assim era necessário, ao propor nossa concepção de Homem, esclarecer também nossa posição epistemológica de como compreendíamos a dialética materialista histórica como uma metodologia de pesquisa :::ientífica. Na segunda parte, discutimos os estudos em relação às categorias funda- mentais: a questão da linguagem, do pensamento e das representações; sua mediação em relação à questão da consciência/alienação; o fazer e sua embri- cação com a consciência e a produção da identidade. Na terceira parte, analisamos o indivíduo em sua inserção social: o processo grupal enquanto atividade e movimento da consciência; a família e os aspectos emocionais e ideológicos; a escola no processo de socialização e, por fim, as relações de trabalho e a transformação social. A quarta parte é dedicada à praxis do psicólogo é provocativa, questiona- dora, repensando se o que faz o psicólogo educacional, o clínico, o psicólogo do trabalho e, por último, o que consideramos o maior desafio - o psicólogo na comunidade. 126 Rev. de Psicologia, Fortaleza, 6 (1): 123-127, Jan.jJun., 1988 Depois de mais de 20 anos de estudos e pesquisas em Psicologia Social, hoje me sinto segura, assim como meus companheiros, de que estamos fazendo uma ciência que não apenas responde à questão de quem é o homem - sujeito de sua história, como também dá sua contribuição à sociologia, à antropologia, à história constituindo-se no núcleo essencial das ciências humanas. Entretanto, é necessário continuar pesquisando, mais e mais, encontrando e aperfeiçoando técnicas de registro e de análise, definindo-se as categorias - das mais gerais às mais específicas de cada situação onde atua o psiquismo humano. Portanto, nosso próximo desafio é a problemática metodológica e as soluções e entraves que estamos encontrando. REFERI:NCIAS BIBLlOGRAF ICAS Allport, F. H. - Social Psvcholoqv, Houghton Miffin, Boston, 1924. Asch, S. E. - Social Psvcholoqv. Prentice - Hall, N. York, 1952. Bleger, J. - Psicoanalisis y dialectica materialista, Paidos, Buenos Aires, 1958. Bruno, Poitou e outros - Psychologie Sociale: Une Utopie en Crise in La Nouvelle Critique, 1973, n.os 62-63. Cartwright, D. e Zander, A. (Eds) - Group dynamics: research and rheorv, Row Peterson, Illinois, 1953. Goffman, E. - The presentation of Self in everyday life. Doubledav, N. York, 1959. Heider, F. - The psychology of interpersonat relations. Wiley, N. York, 1958. Klineberg, O. - Social Psychology. Henry Halt, N. York, 1940. Lane, S. T. M. e Codo, W. (Orgs) - Psicologia Social - O Homem em Movimento. Ed. Brasiliense, S. Paulo, 1984. Leontiev, A. - Actividad, Conciencia y Personalidad, Editorial Ciencias dei Hombre, B. 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