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todos os momentos, envolver os participantes da experiência na realização de um
projeto de trabalho coletivo em que ficou claramente posto o valor de cada
participação.
A desconsideração social imposta aos educadores hoje, representada pelos
baixos salários e precárias condições de trabalho, retira-Ihes a motivação para se
envolverem num projeto educativo que necessita ser, no mínimo, audacioso.
A realização bem sucedida de qualquer projeto s6 será possível se recupe-
rarmos a auto-estima, a confiança e a competência de nossos educadores. Para
isso, é necessário tirarmos o professor de "entre os parênteses" em que está
hoje colocado para que ocupe um papel ativo, e dessa forma mais humano, nas
decisões sobre as questões educacionais.
REFER(:NCIAS BIBlIOGRAFICAS
Almeida, N. V. F. O Psicólogo na Instituição Escolar: um estudo descritivo de sua prática
profissional. Dissertação apresentada ao Departamento de Psicologia da Universidade
Federal da Paraíba, 1982.
Almeida, N. V. F. e Wanderley, L. M. A formaçaõ do educador: realimentando a discussão.
(mimeo).
Arrovo, M. (org.l Da Escola Carente à Escola Possível. São Paulo, Ed. Lovola, 1986.
Balzan, N. C. Perfil do Supervisor Necessário. Cadernosdo CEDES, n.o 7, 1985.
Freitag, B. Escola, Estado e Sociedade. São Paulo, Ed. Moraes, 1984.
Garcia, R. L. Orientação Educacional - afinal, a quem serve? Cadernos do CEDES, n.o 6,
1985.
Lapassade, G. Grupos, Organizações e Instituições. Rio de Janeiro, Ed. Francisco Alves,
1977.
Libâneo, J. C. Democratização da Escola Pública: a pedagogia crítico-social dos conteúdos.
São Paulo, Ed. Loyola, 1985.
Mello, G. N. Magistério de Primeiro Grau: da competência técnica ao compromisso político.
São Paulo, Cortez: Autores Associados, 1984.
Nosella, P. Compromisso político como horizonte da competência técnica. Educaçaõ e
Sociedade, 14, 1983.
Pimenta, S. G. Orientador educacional como trabalhador intelectual. Cadernos fio CEDES,
n.o 6,1985.
Rasia, J. M. Pedagogia e educação ou de como falar sobre o óbvio. Cadernos do CEDES,
ano 1, n.o 2, 1980.
Saviani, D. Escola e Democracia. São Paulo, éortez / Autores Associados, São Paulo, 1984.
Silva, T. R. N. Especialistas do ensino em questão. Cadernosdo CEDES, n.? 6; 1985.
122 Rev. de Psicologia, Fortaleza, 6 (1): 111-122, Jan.jJun., 1988
UMA REVISÃO DA LITERATURA - PSICOLOGIA SOCIAL *
S(LVIA T. M. LANE**
RESUMO
A autora faz uma análise de seu livro Psicologia Social, inse-
rindo-o no contexto histórico-ideológico-metodológico. Uma
reflexão sobre o que se fazia, nos anos sessenta, em função das idéias
e autores que predominavam naquela década, é parte da sua
proposta de trabalho, complementando-o com o que é possrveí
fazer nos dias atuais e o que é necessário projetar para o futuro _
principalmente em termos metodológicos.
ABSTRACT
The author analvses her book Social Psychology inserting it in
the historic-ideologic-methodological contexto A reflection of what
was produced in the 60 's related to the ideas and authors that
predominated in that decade is part of the proposal of the article.
The author cornplernenrs this proposal with a reflection about what
is possible to do in the presenr and what is necessary to project to
the futura - specially in what concerns methodology.
Quando no Congresso da SIP no ano de 1976 em Miami, falava-se sobre a
crise da Psicologia Social - (Triandis) - esta era também a que vivíamos
no Brasi I.
Em 1965 ensinávamos a Psicologia Social de Lewin, de Allport, de
Klineberq, de Asch, de Heider, de Newcomb, de Lindzey e Aronson, de
Cartwright e Zander. Os temas eram Dinâmica dos grupos, Percepção Social,
Atitudes, Mudança de Atitudes, Socialização, Diferenças entre sexos, raças etc .
• Trabalho apresentado no XX Congresso Interam&ricano de Psicologia - Caracas -
Ju1./1986.
Professora da PUC / S. P.
Rev. de Psicologia, Fortaleza, 6 (1): 123-127, Jan.jJun., 1988 123
Nossos cursos eram organizados em teóricos (revisão da literatura) e práticos
(confronto entre experimentos e pesquisas e pequenos estudos de campo, obser-
vações, experimentos).
O confronto entre teoria e prática nos mostrava que se podia tanto afirmar
quanto negar as teorias e, como dizemos no Brasil, poder-se-ia afirmar o sim e o
naõ e muito pelo contrário ...
Um artigo de Brunno, Poitou e outros nos chamou a atenção: "Psicologia
Social uma Utopia em Crise", publicado em La Nouvelle Critique e, logo depois,
um prefácio de Serge Moscovici, fazendo uma análise crítica dos pressupostos da
Psicologia Social, nos fizeram rever algumas teorias como a de Lewin e, princi-
palmente, a de George Politzer. Também Blêger com sua análise dialética da
Psicanálise foi revisto. Nesta direção os trabalhos de Merani foram lidos com
avidez, assim como os franceses Poitou, Pecheux e outros.
Mas, nosso problema central era fazer pesquisas psicossociais em nossa
realidade - e todos estes autores faziam teorias mas sem qualquer indicação
de como investigar nossa própria realidade.
Em 1979 (SIP) sentimos que o mesmo problema ocorria em outros países
da América Latina. Em alguns se buscavam soluções na Sociologia, em outros
na literatura indigenista local e, em outros, na História, etc. Mas o problema
permanecia. Caminhávamos entre ensaios-e-erros, investigando os temas que
considerávamos os mais consistentes: os pequenos grupos sociais, a Psicologia da
linguagem, a socialização e a aprendizagem, tentando não fragmentar o ser
humano, e sim compreendê-Io em sua inserção social - em seu macro? em sua
gestalt?
No estudo de pequenos grupos passamos por Lewin, que com sua dinâmica
poderia ser promissor, se esta ficasse clara como processo - "é real o que tem
efeito". Goffman foi um outro desafio e foi um avanço para nós com sua
observação-participante. Foi quando nos propusemos, com nossos estudantes,
a fazer observações que envolveriam os grupos, em seu processo histórico e,
através de análises, tentar encontrar, no processo, as contradições que movem
o grupo.
Por outro lado, a linguagem nos parecia algo fundamental para a
compreensão das relações sociais. Era para mim uma questão antiga, que me
levou a fazer minha tese de doutorado com o Diferencial Semântico de Osgood,
dado seu caráter afetivo, pleno de valores presentes nas palavras enquanto
significantes (o denotativo era o de um dado código social).
Por outro lado, os estudos sobre Representações Sociais mostravam-se ricos
para a compreensão de como os indivíduos, em suas posições particu lares, orga-
nizavam e atuavam em seu mundo social.
Na teoria de Representação havia lugar para a ideologia, para os valores
sociais-individuais. A questão da ideologia necessariamente passava pela lingua-
gem e pelas representações sociais - portanto, eram mediações fundamentadas
para a compreensão do indivíduo, compreendido no conjunto de suas relações
sociais.
124 Rev. de Psicologia, Fortaleza, 6 (1): 123-127, Jan.jJun., 1988
Estudando o problema de linguagem revimos Piaget e Vigotski, este último
nos indicando a questão da consciência, produto da interação da linguagem e
pensamento. E teríamos então a possibilidade de uma análise da con~ciência
alienada, fragmentada (onde a ideologia se apresentava concretizada no discurso,
individual) então, a consciência clara, produto de um pensamento crítico, onde
as significações traz idas pela linguagem se confrontam com a realidade em si.
Da escola de Genebra, Malrieu propõe uma análise da formação das repre-
sentações sociais em crianças, demonstrando a mediaçaõ social necessária para
seu desenvolvimento.
Uma outra vertente de pesquisas que também surgia como fundamental foi
a questão da identidade social. Questão formu lada por George Mead, que
apontava para o caráter essencial do grupo social e de suas intersções simbólicas
para a constituição da identidade individual.
Retomam-se as teorias de Sarbin, Scheibe, Goffman e outros, procurando
esclarecer a questão central da psicologia da individualização, a unidade de
cada pessoa.
Tínhamos, também, o problema do comportamento - ou seja da, conduta,da acão. da atuação. Caminhávamos desde comportamentos "micro"-fragmen-
tário~, para algo tão amplo como a noção de campos de forças (Lewin), para o
drama de Politzer, e, de qual seria a dimensão necessária da ação humana para se
compreender o mais essencial do homem, suas ações concretas que transformam
a natureza, as relações sociais, e, que o transformam também.
Ao mesmo tempo em que estas questões teóricas eram analisadas, deba-
tiam-se os problemas metodológicos - admitíamos a validade de estudos esta-
tísticos, dos "survevs", enquanto eram pesquisas que nos descreviam uma reali-
dade, e ao fazê-to, tornava-a estática; o que queríamos era o processo, a história
dos fatos - o movimento que os gerava e que os transformava. Negávamos a
neutralidade científica, mas era necessário registrar o empírico para que a
análise pudesse, partindo dele (do ernpfrico}, chegar ao movimento histórico e
retornar a ele com uma nova dimensão do empírico.
Do positivismo tínhamos que resgatar o respeito ao empírico, ao seu regis-
tro, porém sem fragmentá-Io. A questão da unidade do evento era central - o
sujeito tinha que ser caracterizado no conjunto de suas relações sociais, na
história de seus grupos sociais, de sua classe, de sua sociedade (e neste aspecto
recorríamos aos estudos sociológicos, econômico-políticos, antropológicos).
A estratégia de pesquisa mudava seu eixo dos procedimentos experimentais
e de registro para o da análise do empt'rico a fim de se aproximar do concreto-
histórico.
Com todos estes desafios diante de nós, nos defrontamos com a obra de
Alex Leontiev: primeiro "O desenvolvimento do psiquisrno" e depois
"Consciência, Atividade e Personalidade".
Com sua obra se esclareceu a questão epistemológica das categorias do
conhecimento psicológico - e não seria por coincidência que ele proporia para
a Psicologia três categorias fundamentais - a consciência e suas mediações pela
Rev. de Psicologia, Fortaleza, 6 (1): 123-127, Jan.jJun., 1988 125
linguagem e o pensamento, a atividade, constitu ída por ações e operações, rela-
cionada com necessidades, motivos e objetivos finais; e a personalidade, como
características dinâmicas, próprias da individualidade.
Além disto, Leontiev embasava sua teoria em pesquisas empíricas e siste-
rnáticas, No entanto, estas categorias se apresentavam como estruturas vazias que
só teriam substâncias se localizassem o indivíduo em sua realidade histórico-
social. Deste modo se tornava, mais do que nunca, necessário fazer mais e mais
pesquisas, com dados e análises que se acumulassem, para um conhecimento das
propriedades categoriais de nossos sujeitos.
Tudo nos indicava que estávamos na direção certa - nossas pesquisas resul-
tavam em intervenções, de início involuntárias ou indiretas para, em seguida,
privilegiar a pesquisa - ação, a pesquisa - intervenção. Por outro lado,
tornava-se necessária uma sistematização teórica, que teria que partir de uma
explicitação de nossa concepção do Homem.
O indivíduo que estudávamos só existe em suas relações com os outros.
Toda sua existência ocorre em grupos sociais como a família, os pares, os grupos
de trabalho, de lazer. Só poderíamos entender seu comportamento se entendida
sua inserção nos grupos que formavam sua história pessoal e com os quais desen-
volvia suas atividades e se transformava enquanto indivíduo.
Como ser biológico, ele é dotado de sentimentos, de potencial para ação e
de pensamentos - mas sua concretização só ocorre através de suas relações com
os demais indivíduos em um contexto histórico-social, onde a linguagem tem
uma função primordial como mediação histórica - que permite uma visão de
mundo, a subjetivação da realidade social.
A partir deste ponto torna-se necessário comunicar o que produzíamos -
foi assim que editamos nossa "Psicologia Social - o Homem em Movimento"
- produto de um grupo -de trabalho com as mesmas preocupações e objetivos.
Chamamos o livro de Psicologia Social, mas de fato era nossa intenção
propor uma revisão de toda a Psicologia - fragmentá-Ia também poderia ser tão
ideológico tanto quanto a fragmentação das ciências humanas e sociais.
Assim era necessário, ao propor nossa concepção de Homem, esclarecer
também nossa posição epistemológica de como compreendíamos a dialética
materialista histórica como uma metodologia de pesquisa :::ientífica.
Na segunda parte, discutimos os estudos em relação às categorias funda-
mentais: a questão da linguagem, do pensamento e das representações; sua
mediação em relação à questão da consciência/alienação; o fazer e sua embri-
cação com a consciência e a produção da identidade.
Na terceira parte, analisamos o indivíduo em sua inserção social: o processo
grupal enquanto atividade e movimento da consciência; a família e os aspectos
emocionais e ideológicos; a escola no processo de socialização e, por fim, as
relações de trabalho e a transformação social.
A quarta parte é dedicada à praxis do psicólogo é provocativa, questiona-
dora, repensando se o que faz o psicólogo educacional, o clínico, o psicólogo do
trabalho e, por último, o que consideramos o maior desafio - o psicólogo na
comunidade.
126 Rev. de Psicologia, Fortaleza, 6 (1): 123-127, Jan.jJun., 1988
Depois de mais de 20 anos de estudos e pesquisas em Psicologia Social, hoje
me sinto segura, assim como meus companheiros, de que estamos fazendo uma
ciência que não apenas responde à questão de quem é o homem - sujeito de sua
história, como também dá sua contribuição à sociologia, à antropologia, à
história constituindo-se no núcleo essencial das ciências humanas.
Entretanto, é necessário continuar pesquisando, mais e mais, encontrando
e aperfeiçoando técnicas de registro e de análise, definindo-se as categorias - das
mais gerais às mais específicas de cada situação onde atua o psiquismo humano.
Portanto, nosso próximo desafio é a problemática metodológica e as
soluções e entraves que estamos encontrando.
REFERI:NCIAS BIBLlOGRAF ICAS
Allport, F. H. - Social Psvcholoqv, Houghton Miffin, Boston, 1924.
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Sarbin, T. R., Scheibe, K. - Role Theory in G. Lindzey + E. Aronson - The Handbookof Social Psychology, 2nd Ed., Addison-Wesley Pub. Co., Londres, 1969.
Vigostki, l. S. - Pensamento e Linguagem. Ed. Antídoto, Lisboa, 1979.
Rev, de Psicologia, Fortaleza, 6 (1): 123-127, Jan.jJun., 1988 127

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