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Domingo, 18 DE DEzEmbro DE 2022 D E S D E 1 9 2 1 UM J O R NA L A S E RV I Ç O D O B R A S I L ANO 102 ┆ Nº 34.227 R$ 9,00 ISSN 1414-5723 9 771414 572018 34227 copa 2022 Ensaio de acordo Saúde online Sobreoarranjoparaman- terasemendasderelator. Acerca da lei que autori- zaa telemedicinanoSUS. editoriais A2 Lula soma entraves políticos a 2 semanas de voltar aoPlanalto Presidente eleito precisa concluirmontagemda Esplanada e garantir, no Congresso, recursos para promessas eleitorais Faltandoduas semanaspa- raaposse,opresidenteelei- to, Luiz Inácio Lula da Silva (PT),terádecorrerparacon- cluir amontagemdogover- noegarantir,noCongresso, fontesderecursosparapro- messas de campanha. En- tre elas, a manutenção dos R$600mensaisdoBolsaFa- míliaeoreajustedomínimo. O principal impasse é a aprovação da PEC da Gas- tança. As negociações pa- tinam em meio a disputas porministérios—serão 37, disseontemofuturominis- troRuiCosta (CasaCivil)— eincertezassobreasemen- dasderelator,sobanálisede constitucionalidadeemjul- gamentono Supremo. Para consolidação da ba- sealiada,opetistaterátam- bémque acomodar emseu ministério legendas como MDB, PSDeUniãoBrasil. Noentanto, eleaindanão encerrouas conversas com apoiadoresdeprimeiraho- ra, como PC do B, PV e até mesmo o PSB de seu vice, GeraldoAlckmin. PolíticaA4 Rodrigo Garcia entrevista Deixei caixa para Tarcísio, e petista vai mal com gastos Últimotucanodeumadi- nastiadequase30anos,o governadordizquedeixa São Paulo com R$ 30 bi- lhões para sucessor, Tar- císio de Freitas (Republi- canos), e que o presiden- teeleitopromove“gastan- çadesenfreada”. PolíticaA15 Croácia (3º) e Marrocos (4º) vão a novo patamar P. 4 Colunistas da Folha elegema seleção do torneio P. 6 Cobertura das eleições pela Folha é aprovada por 83% de seus leitores A10 GustavoPontes, 17, trabalhaemtecelagememMiraestrela (sP); assimcomooutrosalunos, elenão frequentaoensino integraldesuacidade—aúnicaopção—porqueprecisaajudarnas contas de casa e, por isso, viajamais de40 kmpara estudar no período noturno Cotidiano B1 ensino integral empurraalunos paraonoturno Mathilde Missioneiro/Folhapress A. Schwartsman Canto deHaddad até agora não seduziu ninguém Nãoésurpresaqueomer- cado não se encante com aspromessasdofuturomi- nistro.Nãobastaproferir “novo arcabouço fiscal” três vezes a cada discur- so.Atos,nãopalavras,tra- rãocontroledogasto, au- sênciaatéagora. OpiniãoA3 Mbappé e companhia eMessi maradoniano duelam pelo tri EnquantoaFrançasuperadesfalquesecontacomainte- ligênciadeGriezmanneobrilhodeMbappé,aArgentina aposta no incansável De Paul e no inspiradoMessi para a final daCopa. Em jogo, o tricampeonatomundial. P. 1 Antonio Prata Festadeargentinos com ‘abuela’ na rua é das coisasque fazemavida ter graça B2 Marilene Felinto Literatura consiste em inventar um povo que falta C3 Marilene Felinto deixa de escrever sua coluna na ‘Ilustríssima’ Venezuela demanda umBrasil parceiro, diz governoBiden Umdosprincipaisformu- ladoresdepolíticasparao BrasilsobJoeBiden,Ricar- doZúnigadizàFolhaque aeleiçãodeuma“autorida- delegítima”naVenezuela édeinteressemútuoeque éimportanteBrasíliaeWa- shingtontrabalharemjun- tos para isso. Lula anun- ciou que reatará relações comCaracas. MundoA16 KylianMbappé (à esq.), 23, e LionelMessi, 35, durante treino; artilheiros da Copa com 5 gols cada, astros são a esperança de França e argentina para a final Kirill Kudryavtsev/aFP e Paul Childs/reuters dIsPuta dE 3º lugar FINal Cro x Mar 2 1 arG x Fra 12h*, Globo *Horário de Brasília José H.Mariante Folha, Janio e a gastança Colunistaérepórteroude- veria sê-lo em espírito. A Folhatemmuitos,eamai- oria não é. Agora temum amenos. JaniodeFreitas, colunista e repórter sêni- or deste jornal por exce- lência,foidispensadoapós 42anosdecasa. PolíticaA6 Escritora Nélida Piñonmorre aos 85 anos em Lisboa Autora,cujacausadamor- tenãofoi informada, foia primeira mulher a presi- dir a Academia Brasileira deLetras (ABL), em 1996. Premiada, a escritora era um dos nomes mais in- ternacionaisda literatura brasileira. Ilustrada B4 nélida Piñon em junho desteano eduardoanizelli/Folhapress Morre em SP, aos 78, o jornalista Carlos Brickmann Internadodesdeoutubro, o jornalista não resistiu a quadro infeccioso. Em 59 anos de carreira, traba- lhou na Folha por quase 30emtrêsperíodos.Foio primeirorepórteracobrir a campanha das Diretas Já pelo jornal. CotidianoB4 a eee opinião A2 Domingo, 18 DE DEzEmbro DE 2022 UM JORNAL A S ERV I ÇO DO bRAS I L a Publicado desde 1921 – Propriedade da Empresa Folha daManhã S.A. editoriais@grupofolha.com.br editoriais Ensaio de acordo Saúde online Em arranjo de última hora, vota- do numa sexta-feira (16), dia em geralvazioemBrasília,oCongres- soaprovouresoluçãoquevisadar sobrevidaaoinstitutodeemendas definidaspelo relator-geral doOr- çamento, ora sob julgamento do SupremoTribunal Federal. Taisemendascompartilhamde- feitos de outras modalidades de despesascriadasporparlamenta- res,bancadasoucomissõesdoLe- gislativo. Faltamcritérios dedefi- niçãodeprioridadesecontrolede eficiência do gasto. Nas emendas de relator, há o agravante da falta detransparênciaquantoàautoria e acompanhamentoda execução ComodisseaministraRosaWe- ber,presidentedoSupremoTribu- nal Federal, a experiênciamostra que,emvezdedaraoscongressis- tasaoportunidadedeatenderrei- vindicaçõesmais urgentes da po- pulação, emendasparlamentares vêmservindoao“proveitodeinte- ressesdecunhoprivatísticoeelei- toral,muitasvezesenvolvendoes- quemasde corrupção”. Nocasosobjuízo, trata-sedesa- berseasemendasderelatorestão previstaspelaCartade1988(literal- mente, não estão) e se atendema princípiosdetransparência,publi- cidadeeimpessoalidade.ParaRosa Weber, não. A votação do caso foi suspensanaquinta-feira(15),com placarde5a4contraasemendas. AindanãovotaramRicardoLewan- dowski eGilmarMendes. CasooSTFderrubeasemendas de relator, podehaver embaraços ou crises na relação entre Judici- ário e Legislativo, além de trans- tornos na tramitação de projetos deinteressedoExecutivo,prestes a mudar de comando. Há sinais, porém, de acordo implícito entre partedoSupremoe liderançasdo Congresso, doPT inclusive. Ministros aceitariam as emen- das de relator, desde que obede- çam a certos critérios, em parti- cular o de transparência. Lewan- dowskidisseque levaráemconsi- deraçãoaresoluçãodoLegislativo. A nova norma exige, em tese, a nomeaçãodosparlamentaresque requereremasemendas,destinano mínimo50%deseuvalorparasaú- deouassistência, limitaadespesa a 1,2%dareceitacorrentelíquidae especificaadivisãodosquinhões. Ficadefinidoquanto cabe àsdi- reçõesdeSenadoeCâmara,aban- cadaspartidárias, aorelator-geral e aopresidente daComissãoMis- tadeOrçamento.Assim,oacordo de cúpula ficamais claro. Essepodeserumarranjoconve- niente para amaioria do STF, pa- ra o situacionismo do Congresso e para o governo Luiz Inácio Lula daSilva (PT),queassimse livraria dosestilhaçosdeumacrisecausa- da pelo fimdas emendas. Aconveniênciapolíticapodefa- larmaisalto,oquenestemomen- to parece menos danoso do que umimpasseentreostrêsPoderes. ACâmaradosDeputadosaprovou, na última terça-feira (13), o proje- to de lei que autoriza a telemedi- cina. A prática se caracteriza pela relaçãoadistânciaentremédicoe paciente pormeio de tecnologias de comunicação como celulares, tablets e computadores. Não somente consultas sãoper- mitidasmasatéprocedimentosci- rúrgicosremotos,comautilização de equipamento robótico. Amedidaénecessáriae insereo Brasil na longa lista de países que já fazemusoregulardamodalida- de, como Israel, EUA, Reino Uni- do,Noruega, Colômbia e outros. DuranteapandemiadeCovid-19, ficoupatenteanecessidadedeefe- tivaratelemedicina,oquelevoude- putadosaaprovaremaLei 13.989, de 2020, que autorizou a prática emcaráter de urgência. Porsetratardedoençaaltamen- tecontagiosa,diagnósticose tria- gensadistânciacontribuírampa- radesafogarhospitaiseminimizar apropagaçãodovírus—utilidade aindaverificadanotratamentode outras enfermidades infecciosas. Ademais,oprocessodetriagem remotaé fundamental numsiste-mapúblicodesaúdecarentedeins- talações,profissionaiseverbas.Se- lecionarpacientesquedefatopre- cisemdoaparatomaterialdoSUS proporciona otimização da pres- tação de serviços e alocação raci- onal de recursos escassos. Tratando-se deumpaís comdi- mensões continentais, a teleme- dicina também pode auxiliar no atendimento de populações em áreas rurais e ribeirinhas —regi- ões com falta de médicos, enfer- meiros eequipamentosde saúde. Segundo levantamento da Fun- daçãoGetulioVargas,em2019ha- via no país 230milhões de smart- phones (numuniversode209mi- lhõesdehabitantes).Épreciso,po- rém, melhorar a qualidade da re- de (wi-fi,4G,5G)paraquepacien- tesemzonasremotasconsigamse beneficiardamedicinaadistância. A regulamentação e a fiscaliza- ção ficarão a cargo dos conselhos regionais e federal de medicina, quedevemzelarpelaproteçãode pacientesepelaéticaprofissional. Universidades e outros órgãos de saúdetambémprecisampromover capacitaçãodemédicosparaessa modalidadede trabalho. Porfim,atelemedicinanãopode ser usada como subterfúgio para queopoderpúblicodeixedepro- movermelhorias no SUS. Apráti- ca é apenasmais uma alternativa noatendimentoqueoEstadotem odever constitucional deprestar, comeficiência, à população. Congresso e STF insinuam arranjo para emendas de relator, o que deve ser favorável para Lula Serumademocraciaécondiçãone- cessáriamasinsuficienteparaasse- gurar o primado das liberdades ci- vis e o florescimento da investiga- ção científica. Uma boa prova dis- so está em “Salvador Luria”, a nova biografiadessegrandecientistaes- crita porRena Selya. AvidadeLuria(1912-1991),quere- cebeuoNobel deMedicinade 1969 por suas pesquisas em virologia, daria umfilme. Judeu italiano, teve deabandonaropaísnatal em 1938, quandoMussolinieditouasprimei- ras leis antissemitas. Refugiou-se em Paris, de onde teve de fugir em 1940, apósa invasãopelosnazistas. Fê-lodebicicleta, pedalandodaca- pital francesa até Marselha, onde tevedeconseguirumvistodesaída francêsevistosdetrânsitoespanhol eportuguês,naesperançadeobter emLisboaumapermissãoparavia- jaraosEUA.ChegouaNovaYorkem 12desetembrode 1940, comUS$52 nobolso umterno. Joveme ainda sem renome cien- tífico, penou para conseguir em- prego nos EUA, mas foi aos pou- cos construindo sua reputação. Em 1950, obteve a cidadania ame- ricana. Até pela história de perse- guição, era absolutamente leal aos EUA, mas não era assim que o go- vernoamericanoovia.Luria, além de cientista, foi um incansávelmi- litante político e abraçou todas as causas progressistas imagináveis, dosdireitoscivis, aodesarmamen- tonuclear,passandopelaoposição à Guerra do Vietnã. Essas posições não apenas o co- locaram sob vigilância do FBI,mas tambémfizeramcomque, durante algum tempo, ele figurasse na lista negra do NIH, a agência federal de pesquisas em saúde. Nada disso, é claro, fez Luria desistir, nem da ci- êncianemdapolítica.Apesardeser ummilitante,Lurianãoeraum“mi- litonto”.Assimpatiasdasesquerdas pelaURSSnofinaldosanos1940,que incluíamospensamentosdeTrofim Lysenkosobreabiologia, nãoo im- pediramde liderar uma campanha para mostrar os enormes erros ci- entíficos dessas ideias. helio@uol.com.br OSolcompareceu.Bomdiaparato- das as pessoas, as que menstruam e as que nãomenstruam. Comprei umpãoqueachoqueeradeontem, piseinalamalimpa,uminíciodese- mana de sorte. Peguei a van no en- gano, era a pé que eu ia voltar,mas o braço subiu e a mão fez a danci- nha de pedir pra parar. Quando eu era pequena achava que tinha que fazerumdoiscomosdedosparaba- lançar amãopromotorista. Agora me pergunte pra onde es- tou indo? Não sei. Vou comendo o pãodormido,ouvindoasconversas eformandoopiniõesnaminhamen- te.Amoçadoladofoipegarummar- teloemprestadonacasadopai, pe- diu umsacolé demercadopara ser mais discreta na rua, jogoudentro, mas saiu segurando como se segu- ra ummartelo. Disfarçar é mesmo umacoisadifícil.Oratoengoliuuma aliança deixada no sereno por pro- messaemorreu.Issofoinapraia,do lado do brinquedo que as crianças chamamdedesafio, conta o passa- geirodobancodetrás.Minhacasa! Vai descer,motorista! Ageladeira todaenfeitesde ímãs, demasiado,vamosdiminuir.Aideia énãopegarcelularagora,sódepois daprimeiratarefacumprida,émui- tocedoparaomundointeiroentrar naminhacabeça,masnãocumpro. Pensodenovonamenstruação,von- tade de fazer uma plaquinha para botar na sala, ensaio as possibili- dades em voz alta: “Nenhum dire- to básico conquistado derruba ou- tro”. “Não precisa ser cor-de-rosa, nem você, mulher, nem o pacote”. Minha amiga passa de toalha e diz: eu nãomenstruo, então não posso mais dizer que soumulher? Amiga,vocêpode,vocêé,ninguém tádizendoo contrário. “Sevocêémulheremenstruavo- cê está entre aspessoasquemens- truame, ninguémduvida, você se- gue sendomulher,mulher!” (ficou muitogrande,nãofuncionaprapla- ca). Mudo de assunto, emito mais opiniões só na minha mente, que nem na van de meia hora atrás, o leite esborra na fervura, me lem- brando da lama limpa e que essa semana é de sorte. CreedTaylor,umprodutorfonográ- fico americano, morreu há pouco nosEUAe, desde então, esperei ler umartigosobreessacategoriapro- fissional quase invisível, semaqual os discos que amamosnão existiri- am. Espero ainda. Para as massas, quemdecidefazerumdisco,escolhe asmúsicas e grava é o cantor, não? Masnãoéassim.Notempoemque osdiscosdominavamaTerra,eram osprodutoresquedescobriam,ori- entavameaté definiamos artistas. Da cabeça e do coração de Creed Taylor saíram os melhores LPs de bossa nova nos EUA, como “Getz/ Gilberto” e três grandes discos de Tom Jobim: “The Composer of De- safinadoPlays”, “Wave”e“StoneFlo- wer”. Quer mais? Goddard Lieber- son,produtordaColumbia/CBS,foi o primeiro a gravar os musicais da Broadwaycomoselencosoriginais e, sobele, em 1948, aColumbia lan- çounadamenosqueopróprioLP.E quem,durante40anos, tambémna Columbia,descobriuemoldouBen- nyGoodman,CountBasie,HarryJa- mes,BillieHoliday,ArethaFranklin, PeteSeeger,BobDylaneBruceSprin- gsteen?O incrível JohnHammond. Quemproduziuosfamosossong- booksdecompositoresamericanos estrelando,entreoutros,EllaFitzge- rald?NormanGranz,naVerve.Quem lançouopessoaldorhythmandblu- es,começandoporRayCharles?Ne- suhiErtegun,naAtlantic.Quemfez daMotownoberço da soulmusic? BerryGordi Jr. E qual produtor dos Beatleschegouaserchamadode“o 5º Beatle”?GeorgeMartin. NoBrasil,AloysiodeOliveira,Ro- berto Quartin e Armando Pittiglia- ni foram produtores essenciais da bossa nova —e Pittigliani lançou SergioMendes, Jorge Ben Jor e Elis Regina, que tal? Equemdiriaque,comoprodutor nananicaContinentaldosanos1940 e 1950, JoãodeBarro,Braguinha,si- nônimo do Carnaval carioca, lan- çou tanta gente boa? Alguns: Dick Farney, Lucio Alves, Doris Montei- ro, Nora Ney, TitoMadi, Jamelão e, veja só, Tom Jobim. Refugiado, cientista emilitante Vai descer Homens invisíveis - Hélio Schwartsman - Karina Buhr - Ruy Castro “Desgraceira” era o jeito ser- tanejo de qualificar desastres como seca inclemente ou en- chente que arruinava casas e colheitas. Foi a expressãoque Lulausouparaolegadofunes- to dos quatro anos de desgo- verno federal. Melhor não há para sintetizar o diagnóstico daequipedetransiçãosobrea tentativadedestruiçãodoEs- tado:descontroleorçamentá- rioeapagãosistemáticodamá- quina administrativa. Aos olhos de todos, o des- monte vislumbrado no meio ambiente, segurança pública, educação,saúdeeculturanão deixaqualquerdúvidaquanto àquedadaspontes institucio- naisentreoaparatoestatalea sociedade civil. Algo como se deparar com um edifício em escombros após um tremor de terra, encarar demandas e tarefas a serem atendidas, mas ter de levar em conta os miasmas ou a exalação pútri- da das ruínas. Esseaspectodeexalaçãotal- vez escape à busca de solução imediata dos problemas pela equipe de transição, mas é al- go presente na atividade soci- al, aquela que mais espelha a realidade dos fatos. Maior do que a político-administrativa, elaimplicaassimilarementali- zaravida,tantorealcomoima- ginária, para recolocardepéo cidadãofrenteaodesequilíbrio social. Issofoipostoemperigo pelaapropriaçãoneofascistadapolítica,acomeçarpelacorrup- çãododiálogo eda linguagem pública,emquenostalgiasrea- cionáriasseconjugampelogro- tescoescatológico. O cheiro de ferro e plástico queimadoconsequenteaoter- rorismonegacionistanasruas de Brasília é só um sinal, mas grave, da emanação miasmá- tica das ruínas. Tudo obriga a indagar como se chegou a is- so, como foi possível se assis- tirpassivamenteaoataquedes- trutivo contra o edifício insti- tucional.Foicoisadeliberada. Tantoque, logoalteradapelas urnas a liderança política, as elites caladasporquatroanos horripilantes mostram-se su- bitamente ativas em cobran- çasquantoaorostodonovogo- verno. Nada estranho ao jogo da democracia, desde que es- sa“atividade”esteja igualmen- tealertaparaosfumosantide- mocráticos remanescentes. Já nem tanto impressiona o fatodequemilhõesdepessoas tenhamcompartilhadoohor- ror,edelasumnúmeroexpres- sivo, de umamaneira entre o trêfego e o febril. É que cida- dania democrática depende de uma educação não limita- daaritoseleitorais,nemsatis- feitaporpopulismosàesquer- da ou àdireita. Emmeioàsmutaçõesdecisi- vas de comportamentos e va- lores, acontece cavar-se o vá- cuo dos modelos políticos e, mesmo, dos padrões consen- suaisdedignidade.Issosepas- sou entre nós. Daí o desastre que agora se contempla: uma desgraceira, com o persisten- temau cheiro de umamemó- ria intolerável. A exalação das ruínas - Muniz Sodré Professor emérito da UFrJ, autor, entre outros, de “A Sociedade incivil” e “Pensar nagô”. Escreve aos domingos Jean Galvão Telemedicina traz benefícios, mas não exime o poder público de implementar melhorias no SUS PUBLISHER Luiz Frias DIREtoR DE REDação Sérgio Dávila SUPERIntEnDEntES Carlos Ponce de Leon e Judith Brito ConSELHo EDItoRIaL Fernanda Diamant, Hélio Schwartsman, Joel Pinheiro da Fonseca, José Vicente, Luiza Helena Trajano, Patricia Blanco, Patrícia Campos Mello, Persio Arida, Ronaldo Lemos, Thiago Amparo, Luiz Frias e Sérgio Dávila (secretário) DIREtoR DE oPInIão Gustavo Patu DIREtoRIa-ExECUtIva Anderson Demian (mercado leitor e estratégias digitais), Antonio Cavalcanti Junior (financeiro, planejamento e novos negócios), Everton Fonseca (tecnologia) e Marcelo Benez (comercial) Banca do Antfer Telegram: https://t.me/bancadoantfer Issuhub: https://issuhub.com/user/book/1712 Issuhub: https://issuhub.com/user/book/41484 a eee opinião Domingo, 18 DE DEzEmbro DE 2022 A3 Sofri continuamente assédiomo- ral no trabalho e frequentemen- temeafastopordepressão,ansie- dade, transtorno do estresse pós- traumáuticoetc.Comoelesperce- beramquesemprequesofroassé- diomoral,acabomeafastando,re- solveram armar um falso proces- soadministrativoparamedemiti- rem.Oscolegastratamasdoenças psíquicascomofrescuraesãocom- pletamentenegacionistas. André Luís Lima de Paula, 43, bancário (Campinas, SP) * Estoucomburnoutháalgumtem- po,seguidodeinsôniaealgumasdo- resdecabeça.Comenteiissonotra- balho. Um colega riu quando falei que buscaria psiquiatra por causa disso.Memantive relatandooque sentiamesmo coma risada. No fi- naldodia,eleveiopedirdesculpas. Deupara ver que era simplesmen- teignorânciajáque,emseucontex- to,oqueeuvivonãoseriasuficien- teparaficarmal. Pedro Gustavo Silva Ribeiro, 36, servidor federal (Uberlândia, mg) * Relatei ao dentista que estou to- mandomedicamentoparadepres- sãoeeledissequeissoéalgodami- nha cabeça e que eu preciso que- rer paramelhorar. Ana Beatriz da Silva Santos, 24, estudante (natal, rn) * Eumesmasofriporfazertratamen- to psiquiátrico. Olhares e comen- tários maldosos. Na minha área, buscarajudaésertachadacomoa professoraquenãodeuconta.Há umadiscriminaçãomuitogrande. Diana Santos, 40, professora (Ji-Paraná, ro) * Sim. Já ouvi comentários fazendo piadas pejorativas relacionadas a indivíduos que possuem doenças mentais, alémda tentativa demi- nimizar a seriedadedas doenças. Maria Alice Lemos, 22, estudante (natal, rn) Presenciei uma chefe imitando uma secretária que tinha crises de estresse. Emoutras situações, ela riu e imitou outras profissio- nais que demonstravam nervo- sismo. As outras pessoas sempre riam. Eu sentia nojo misturado com raiva. Daniela Augusta Ferraz, 36, professora (São Paulo, SP) * Sim.SoupacientedaRededeAten- ção Psicossocial (RAPS) e conhe- ço pessoas que são estigmatiza- da e rotuladas como “seres” que a qualquerinstantepodem“surtar”. Etenhoamigosartistassoborien- taçãodaneuropsicopedagogiaque nãotêmamesmaacolhidaemati- vidades,exposições, feirasdearte- sanato etc. Antônio Carlos Ferreira da Silva, 51, professor (Delmiro gouveia, AL) * Sim, por meus próprios pais. Quando entrei na faculdade de medicina, por conta da rotina exaustiva e provas, desenvolvi ansiedade, pedi aminhamãe pa- rame consultar compsiquiatra e ela disse que isso era besteira minha, que eu tinha tudo que precisava. Conversei com meus professores e psiquiatria, mar- quei a consulta e hoje me sinto muitomelhor. João Augusto Gonçalves Macêdo, 23, estudante (Campina grande, Pb) * Sim. Sofro de transtorno bipolar leve e as pessoas sempreme cha- maramdedoido. Franklin Maia Scarton, 75 (Vitória, ES) * Em um conselho de classe de uma escola, ouvi de um profes- sor que um determinado aluno era doente mental, que ele não era normal. O aluno em ques- tão tem diagnóstico de TDAH (Transtornododéficitdeatenção comhiperatividade). Adriana Negretti, 51, professora (Campinas, SP) PAINELDO LEITOR folha.com/paineldoleitor leitor@grupofolha.com.br Cartas para al. barão de Limeira, 425, São Paulo, CEP 01202-900. A Folha se reserva o direito de publicar trechos das mensagens. informe seu nome completo e endereço ASSUNTO VOcê jápreSeNciOUAlgUmcASOde diScrimiNAçãOrelAciONAdOàSAúdemeNTAl? Arroz e feijão A agricultura está trocando o tra- dicional “arroz+ feijão”, básicosna culturaalimentardopovobrasilei- ro pela dupla “soja +milho” , basi- camente usados em ração de pro- teína animal. Hámais de 40 anos, quando alunodaUFPR e estudan- doosnovosrumosdaeconomia,eu jáalertavaparaosurgimentodadi- tadura da soja (“Arroz e feijão per- demespaçonaslavourasparagrãos usadosemração”,Mercado, 17/12). Marcos Fernando Dauner (Joinville, SC) Cafona “Jantarcomcelebridadeseummar decocô”(MarcosNogueira,16/12). AdmitoquetodavezquevejooPa- ris 6 citado como exemplo bizar- ro da cafonice brega endinheira- da, me sinto menos sozinha nes- se mundo! Achei bem pertinente aconexãodessetipoderestauran- te comaestupidezdo “Balneário” Camboriú.Nuvemnãodefeca, es- ses somosnós, eachamosquede- poisbastaficarolhandoopanora- ma pela sacada do 51º andar que vai dar tudo certo. Amanda Lorien Freire Visani (São Paulo, SP) Boas-festas AFolhaagradeceeretribuiosvo- tos de boas-festas recebidos de Pierpaolo Bottini e Igor Tama- sauskas, da Bottini & Tamasaus- kas Advogados. Perdão “Toffolipede‘perdão’aLulaporve- tar ida ao velório do irmão quan- do ele estava preso” (Mônica Ber- gamo,16/12).Omáximoquesepo- defazerérelevar.Nomais,essepe- didodeperdão veio tão tardeque mais parece oportunismo. Luciana Conti (rio de Janeiro, rJ) Dívida “MargarethMenezeséacusadade devermaisdeR$ 1milhãoacofres públicos” (Ilustrada, 16/12). Acho que o Lula deveria rever essa in- dicação. Um partido que deixou opodercomumlastrodecorrup- çãonãodeveria iniciarumagestão indicandoumapessoadesse jeito. Filomena Silva (muriaé, mg) Copa2022 (17.dez.,pág. 5) Acoluna “OqueafinalensinaaoBrasil”afir- mavaincorretamentequesóoBra- sil conquistou duas Copas em se- quência.A Itália tambémrealizou esse feito em 1934 e 1938. mundo (17.dez., pág.5) O infográ- fico “Veja como era o aquário que explodiu na Alemanha” afirmava incorretamente que 1 milhão de litros de água pesam uma tonela- da.Opesocorretoémiltoneladas. 306 321 458 Temasmais comentados pelos leitores no site De 9 a 16.dez - Total de comentários: 17.095 Bolsonaristas tentam invadir PF e vandalizam após prisão de indígena por ordem deMoraes (Política) 12.dez Moraes manda, e PF faz buscas contra mais de 80 bolsonaristas por atos antidemocráticos (Política) 15.dez Lula quer alardear ‘cenário caótico’ para evitar cobrança por erros de Bolsonaro(Política) 10.dez Neste domingo (18), a Organização dasNaçõesUnidascelebraoDiaIn- ternacionaldosMigrantes,efeméri- denoqualserefleteassituaçõesno âmbito dos fluxosmigratórios glo- bais.Adatareferendadanoano2000 fazalusãoaoaniversáriodedezanos (1990)daConvençãoInternacional paraProteçãodosDireitosdeTodos os Trabalhadores Migrantes e dos Membros das suas Famílias. Considerando o futuro governo LuizInácioLuladaSilva(PT),oolhar atento para com a temáticamigra- tória nas diversas pastas se faz ne- cessário.Mesmocomoadventoda LeideMigração, em 2017, que reco- nheceimigrantesenquantosujeitos de direitos, há dificuldades na apli- cação. Estima-se que no Brasil há mais de 1milhão de imigrantes de diversasnacionalidadesque, inclu- sive,contribuemcomopagamento de impostos. Há os que possuem a sua documentação e os que estão em situação irregular, com as difi- culdades no pagamento das taxas cobradaspeloEstadobrasileiro,co- moporexemploaobtençãodaCar- teiradeRegistroNacionalMigrató- rio—ao custo deR$ 204,77. Nas décadas anteriores, a pauta da anistia aos imigrantes em situa- ção irregular foi sancionada, sendo aúltimanogovernoLula, em 2009. Háprojetosde lei que tramitamno CongressoNacionalqueversamso- bre a anistia (7.876/2017) e a regu- larização migratória (2.699/2020), propostasfundamentaisparaacon- solidaçãodosdireitosdos imigran- tes,poisterdocumentospossibilita oacessoaosdireitosdeformaquea exploraçãolaboralsejacoibida.Nos faz lembrar do assassinato do con- golêsMoïse Kabagambe,morto no RiodeJaneiro,nesteano,porreivin- dicaroseusalário, vítimadaexplo- ração no trabalho, do racismo e da xenofobia—elementosestruturan- tes da sociedadebrasileira. As políticas migratórias devem considerar a transversalidade em diversas pautas: a feminização das migrações; os imigrantes LGBT- QIA+; o enfrentamento ao racismo eaxenofobia;osquevivemnospré- dios ocupados; os povos originári- os imigrantes; a subnotificaçãonas políticaspúblicas;asaltas taxaspa- raaconcessãodosvistosparaosci- dadãos dos países do Sul Global; a proposta de emenda constitucio- nal que trata do direito ao voto pa- ra imigrantesnopaís, lema, inclusi- ve, da 14ª Marcha das Pessoas Imi- grantes e Refugiadas realizada em SãoPaulo neste ano; a questão dos imigrantes inadmitidos que ficam retidos arbitrariamente em aero- portos brasileiros, deportação etc. É necessário que o novo governo fomente espaços de diálogo com a sociedade civil, reconhecendo a multiplicidade dos atores existen- tesqueatuamcomasmigraçõesno país: associações, ONGs, coletivos e movimentos sociais, em especi- al aquelesquesãoconstituídospor mulheres e homens imigrantes ou emsituaçãoderefúgio,quehádéca- dase,particularmente,nasadversi- dadesdas situaçõesprovocadasno contexto da pandemia de Covid-19 (queresultounamortede imigran- tes infectados), protagonizammo- bilizações sociais ea incidênciapo- lítica a favor dos seus pares para a consolidação da democracia e dos direitos humanosnoBrasil. Uma das frases favoritas de Fábio Barbosa,meuex-chefe,é:“Suasações falamtãoaltoquenãoconsigoescu- tar oque você estádizendo”. Andeirefletindoumbocadoares- peitodelaàluzdedeclaraçõesdofu- turoministrodaFazenda,Fernando Haddad.Ementrevistarecente,afir- mou: “Nãoestamosnummomento emque a expansãofiscal vai ajudar a economia”. Na mesma linha, re- forçou: “Temos que compatibilizar a responsabilidadefiscal coma res- ponsabilidade social”. Ambas as afirmações deveriam soar como música ao mercado fi- nanceiro, aparentemente o públi- co a que foram direcionadas. En- tretanto,quandoobservamosode- sempenhodomercadoderendafi- xa, por suas características omais sensível à política econômica do- méstica, e também o mais impor- tanteparaatrajetória futuradoen- dividamentopúblico,ninguémpa- receparticularmenteseduzidope- lo canto doministro. Nem deveria. As ações do futuro governo,principalmentenoquediz respeitoàpolíticafiscal,estãoemdi- retacontradiçãocomaletradacan- ção.Nas contasdeanalistas respei- táveis comoMarcos Mendes, colu- nistadestaFolha,oaumentodegas- tos relativamente ao orçadopara o ano que vempode atingir perto de R$200bilhões—cercade2%doPIB. Àparteogastoassociadoaoauxílio emergencial eaoutrasmedidasdu- ranteapandemia,trata-sedomaior aumentodedespesas emumúnico ano desde que conseguimos acom- panharascontasdogovernofederal. E isso numcontexto de IPCA ainda acimadameta, coma inflação sub- jacente correndo entre 8,5% e 9% ao ano; atuando, portanto, no sen- tidoopostodaqueleperseguidope- lo Banco Central. Enquanto este se esforça para reduzir o ritmo de ex- pansãodademanda, a proposta do novogovernobusca acelerá-lo. Defato,sabe-sequeamanutenção do Auxílio Brasil (agora rebatizado novoBolsaFamília)nosatuaispata- mares,aindavitaminadopelainclu- sãodoadicionalporcriançasatéseis anos de idade, implicaria gastos da ordem de R$ 70 bilhões adicionais aos já orçados. A que se destinam osdemaisR$ 130bilhões? Apesar da fantasia de queo gasto federal,medidocomoproporçãodo PIB,semanteriaestávelemcompa- raçãoaoobservadoem2022, supos- tamenteneutro (ênfase em“supos- tamente”),portanto,éfatoque,mes- mo sob essa ótica favorável, se ele- varia enãopouco. Asfalasdoministro,portanto,não escondem a predileção da política econômica:mais gastos. E não está sozinhonisso: o indicadopara a se- cretariaexecutivadoministério,Ga- brielGalípolo, jamais escondeu sua inclinaçãopela intervençãoestatal, sejasobaformadegastopúblico,se- japelainterferêncianasrelaçõeseco- nômicas. Emsua tesedemestrado, por exemplo, afirmava que a supe- ração do atraso brasileiro só pode- riaresultar“damediaçãodoEstado naorganizaçãodoprocessoproduti- vo”.EmartigocometidonestaFolha (“Númerosvãoàsruascontratortu- ra de colunista”, 21/11/15), tendo co- mo cúmplice Luiz Gonzaga Belluz- zo,conseguiuaproezadesomardois déficits eobterumsuperávit. Deformacongruente,temosano- meaçãodoex-senadoreex-ministro AloizioMercadanteparaoBNDES. Ohistóricodos governospetistas nagestãodobancojánãoépositivo, marcadopelaconcessãodegenero- sos subsídios creditícios —sabe-se lá por quais critérios— a “campe- ões nacionais”, como a notória JBS, além do uso da instituição para es- timularademanda,achamada“po- líticaparafiscal”—mecanismoque, entreoutrascoisas,reduziaopoder dapolíticamonetária. Nessecontexto, énomínimopre- ocupantequeMercadantetenhare- clamadodaatualtaxareferencialdo banco,aTaxadeLongoPrazo(TLP), dandoaentenderquedefendeore- torno a uma sistemática similar à existentenaqueleperíodo. Não é surpresa, portanto, que o mercado financeiro não se encan- tepelaspromessasdeHaddad.Não bastaproferir“novoarcabouçofiscal” três vezes a cada discurso na espe- rançadequeissoconvençaosagen- tes econômicos da seriedade de in- tenções. Atos, nãopalavras, sãone- cessários,emparticularmedidasque defatotrarãoonecessáriocontrole dogasto,ausêncianotávelatéagora. Ocanto deHaddad Pela participação social e política dosmigrantes TENDêNcIAs/DEBATEs folha.com/tendencias debates@grupofolha.com.br os artigos publicados com assinatura não traduzem a opinião do jornal. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate dos problemas brasileiros emundiais e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo - Alexandre Schwartsman Doutor em economia (Universidade da Califórnia, berkeley), é ex-diretor do banco Central - Alex André Vargem e Patricia Prudencio Torrez Sociólogo, é assessor da Comissão de Direitos Humanos, migrantes e Combate à Xenofobia do Conselho Estadual de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana (Condepe) de São Paulo Advogada boliviana, é membra da rede de mulheres imigrantes, Lésbicas, bissexuais e Pansexuais (rede milbi) Fido Nesti Futuro governo deve fomentar espaços de diálogo ninguém parece seduzido pelo futuro ministro a eee política A4 Domingo, 18 DE DEzEmbro DE 2022 comDanielle Brant e Italo Nogueira OgovernodetransiçãodeLula(PT)avaliaestratégiapa- ra fazercomqueoSistemaS(Senai,Sesc,Sesi,Sebrae) alinhesuaatuaçãoaumplanonacionaldeformaçãode trabalhadores. Ameta foi tratada no grupode discus- sãosobretrabalhoeprevidênciacriadopelopresiden-teeleitoedeverásertocadaporLuizMarinho(PT), fu- turoministro doTrabalho.O atual orçamentodapas- tadestinaR$23milhõesà formaçãoprofissional.Aar- recadaçãodoSistemaSchegaaR$30bilhõesporano. Sinergia plano Aideiaéintegraresco- las técnicas, universidades e asentidadesdoSistemaSem uma estratégia unificada de formação profissional, asso- ciada aos objetivos nacionais dedesenvolvimentoeconômi- co definidos pelo governo fe- deral. Caso um dos objetivos sejaapostaremenergiareno- vável,porexemplo,asinstitu- ições seriamchamadasaofe- recer cursosnaárea. voz Líderes sindicais tam- bém têmapresentado a Lula opleitodeaumentararepre- sentatividade dos trabalha- dores noSistemaS, para que eles participem da definição dasestratégiasdasentidades, especialmentenaáreadefor- maçãoprofissional. histórico A medida pode enfrentar resistência. O atual ministrodaEconomia,Paulo Guedes,foipressionadopordi- rigentesdasentidadesapóssu- gerircortesnosimpostosque sustentam o Sistema S. Uma das ideias era adeusá-los pa- ra criar bolsas para qualifica- çãode jovensdebaixa renda. gangorra Após ensaiar mo- vimentos de saída da reclu- sãoemquemergulhoudesde aderrotaparaLula,JairBolso- naro(PL)afundounovamente na tristeza com a proximida- dedesuasaídadospaláciosda AlvoradaedoPlanalto,dizem aliadosqueestiveramcomele nosúltimosdias.Elesafirmam queBolsonarotemplanejado se afastar da política nos três primeirosmesesde2023. distração Segundorelatam, opresidenteconseguiuseani- maremalmoçocomTarcísio deFreitas(Republicanos-SP) no domingo (11). Eles dizem queafrasedogovernadorelei- to de que nunca foi bolsona- ristaraiznãofoiabordadano encontro e que o presidente nãoaviucomoproblemática. ok OpresidentedoSindicato dos Servidores do Itamaraty, JoãoMelo,afirmanãosepreo- cuparcomostermosdodepo- imentodofuturoministrodas RelaçõesExteriores,MauroVi- eira, no processo que levou à suspensãodoembaixadorJo- ãoCarlosdeSouza-Gomespor assédiomoral e sexual. histórico Como mostrou o Painel, Vieira defendeu Sou- za-Gomesenfaticamente. Se- gundoMelo,foinagestãopas- sadadeVieira(2015-2016)que seiniciouodiálogoparacom- bateaosabusosnoministério. juntos OPSOLdecidiuneste sábado (17) queapoiaráogo- verno Lula e que seus parla- mentares vão compor a base de sustentação do presiden- te eleito noCongresso. Essas posições eram apoiadas pela aladodeputadofederaleleito GuilhermeBoulos(SP).Outro grupo, liderado pela deputa- dafederalreeleitaSâmiaBom- fim(PSOL),defendiaposição de independência. autonomia Aresoluçãoesco- lhidaemeleiçãointernatam- bémdizqueoPSOLnão terá cargosnogoverno.Seaceita- rempostos,osfiliadosnãopo- derão falaremnomedasigla e terão de deixar funções de direçãona legenda. projeto “Umadecisãomadu- radopartido.Venceuaposição de compor abasedeLulapa- rapodercontribuirnaderrota dobolsonarismoenarecons- truçãodoBrasil”, dizBoulos. parceria... A disputa entre deputadosdoRiopeloMinis- tériodoTurismouniuogover- nadorCláudioCastro(PL)ao prefeitoEduardoPaes(PSD). ...estratégica Interlocuto- res de Castro comunicaram aLulaoapoio dogovernador aPedroPaulo(PSD-RJ).Ono- medodeputado,braço-direi- todePaes,foireferendadope- labancadadaCâmaradoPSD. barreira Apasta eraalmeja- dapelodeputadoMarceloFrei- xo(PSB),quetemperdidotra- ção na disputa. Paes e Castro se unem, nesse caso, para li- mitaroespaçodeumadversá- rio localque têmemcomum. parado OProgramaFloresta+ Amazônia, coordenado pelo Ministério do Meio Ambien- te, cumpriu 1,85%dametade preservaçãode 100milhecta- resdeflorestanativaestipula- da para 2022, de acordo com relatório preliminar da CGU (Controladoria-Geral da Uni- ão). Segundo a pasta coman- dadaporJoaquimLeite,1.849 hectares forampreservados. mãofechada Até3deoutubro, oprojetoutilizou 18,5%door- çamentodisponível(US$4,58 milhões, ouR$24,3milhões). acm Oex-governadordaBa- hiaAntonioCarlosMagalhães (1927-2007)seráobjetodedo- cumentáriodeChicoKertész, diretorde“Axé:CantodoPovo deUmLugar”.Ofilmecomeça asergravadonestasemanae ficará pronto emdois anos. painel Guilherme Seto (interino)painel@grupofolha.com.br Assinatura semestral* Todos os dias r$ 827,90 r$ 1.044,90 r$ 1.318,90 r$ 1.420,90 r$ 1.764,90 EDIÇÃO IMPRESSA mg, Pr, rJ, SP DF, SC ES, go, mT, mS, rS AL, bA, PE, SE, To outros estados CIRCULAÇÃO DIÁRIA (IVC) 342.487 exemplares (outubro de 2022) Venda avulsa seg. a sáb. dom. r$ 6 r$ 9 r$ 7 r$ 10 r$ 7,50 r$ 11 r$ 11,50 r$ 14 r$ 12 r$ 15 *À vista com entrega domiciliar diária. Carga tributária 3,65% GRUPO FOLHA Redação São Paulo Al. barão de Limeira, 425 | Campos Elíseos | 01202-900 | (11) 3224-3222 Ombudsman ombudsman@grupofolha.com.br | 0800-015-9000 Atendimento ao assinante (11) 3224-3090 | 0800-775-8080 Assine a Folha assine.folha.com.br | 0800-015-8000 EDIÇÃO DIGITAL PLAno mEnSAL Digital Ilimitado r$ 29,90 Digital Premium r$ 39,90 -Catia Seabra e Victoria Azevedo Brasília A duas semanas de tomar posse, o presidente eleito,LuizInácioLuladaSil- va(PT),teráquecorrercontra otempoparaconcluiramon- tagemdogovernoegarantir, noCongressoNacional, fonte de recursospara suasprinci- paispromessasdecampanha. Entre elas, amanutenção do valor de R$ 600 mensais do Auxílio Brasil (que voltará a se chamar Bolsa Família) e o reajuste do saláriomínimo. Atéagora,Lulaanuncioume- nosdeumterçodosministros quedeverão comporaEspla- nada, frustrandoocronogra- maqueelemesmoapresentou. O principal problema está no impasse para aprovação da chamada PEC da Gastan- ça, que libera R$ 168 bilhões em despesas para o novo go- verno.Asnegociaçõespatinam emmeioadisputasporminis- térioseincertezassobreofutu- rodasemendasderelator,sob análise de constitucionalida- deemumjulgamentonoSTF (SupremoTribunalFederal). O Congresso entra em re- cessonodia23dedezembro. Travada,avotaçãonaCâmara foiremarcadaparaterça(20). Até lá, Lula terá que atuar para evitar que a Câmara al- tere o texto já aprovado pelo Senado,quefixaemdoisanos oprazoparaampliaçãodote- to. A votação é considerada fundamentalparaoiníciodo novogoverno,umavezquea PECpossibilitaopagamento depromessas da campanha. Deputadosameaçamredu- zir para um ano o prazo que constanotexto.Essamudan- ça obrigaria que a proposta voltasse ao Senado. O presi- dente da Casa, Rodrigo Pa- checo(PSD-MG),afirmouque, senecessário,convocariano- vasessão jánanoitedeterça. Masnovavotaçãoreabriria as negociações comos sena- doresàsvésperasdorecesso. Diantedisso,anúnciosdemi- nistros políticos—principal- mente de partidos aliados— deverãoocorrerapósaprova- ção da PEC, numa estratégia paramedira forçadeLulano Congresso e a fidelidade das legendas quedisputamespa- çonapróximaadministração. A transição entre o atual Congresso e o eleito em ou- tubrogeraumproblemaadi- cional paraLula.Os articula- dorespolíticosdopetistapre- cisamnegociarcomosparla- mentaresrecém-eleitosetam- bém comos emfimdeman- dato—que representamcer- ca de 40%daCâmara. Semmandatonapróximale- gislatura,essesparlamentares querem ver suas demandas atendidasagora,antesdapos- se dopresidente diplomado. Por isso,essaestratégiade- finidaporLuladividealiados. Algunsdizemquedeputados quenão se reelegeramsóvo- tariamhoje em favor daPEC com a garantia de cargos no futuro governo. Para consolidação da ba- se de governo, o petista terá também que acomodar em seu ministério legendas co- mo MDB, PSD e União Bra- sil.Noentanto, eleaindanão concluiuasconversascomali- adosdeprimeirahora,como PCdoB,PVeatémesmooPSB deseuvice,GeraldoAlckmin. Neste sábado (17), o futuro ministro da Casa Civil e go- vernadordaBahia,RuiCosta (PT) disse que o governo te- rá37ministérios.Alistacom- pletadepastas,porém,ainda não foi divulgada. Além de Rui Costa, foram anunciadosatéomomentoos nomes de outros cinco futu- rosministrosdogovernoLu- la:FernandoHaddad(Fazen- da), FlávioDino (Justiça eSe- gurançaPública), JoséMúcio Monteiro(Defesa),MauroVi- eira (Itamaraty) eMargareth Menezes (Cultura). O petista foi criticado pe- la falta de representativida- de nos nomes anunciados —apenasumaémulher.Além disso, a governadoradoCea- rá,IzoldaCela,queeratidaco- mocertaparacomandaroMi- nistériodaEducação,deveráchefiarumapastasubordina- da ao ministério. O MEC de- veficar comosenador eleito Camilo Santana (PT). Outranomeaçãoquedeixou deseranunciadaemmeioàs negociaçõesemandamentoé adasociólogaNísiaTrindade Lima, favorita para assumir oMinistériodaSaúde.Apas- ta é alvodedisputa eopresi- dente da Câmara, Arthur Li- ra (PP-AL), reivindica a indi- cação de um aliado para co- mandar a estrutura. Tambémainda está indefi- nido o futuro político de ali- ados da campanha do presi- dente,comoasenadoraSimo- neTebet (MDB-MS). Ela foi a terceiracolocadanaseleições eseengajounacampanhade Luladuranteosegundoturno. A emedebista é cotada pa- Lula acumula entraves políticospara resolver a duas semanasdaposse Petista precisa concluir montagem da Esplanada e garantir, no Congresso, os recursos para promessas de campanha raoDesenvolvimentoSocial, mas parte do PT resiste em entregar o cargo a Tebet. Pe- tistastememofortalecimen- todeumarivalparaadisputa presidencial de 2026. Lulaaindaenfrentouumre- vésnodesenhodoseuprimei- roescalão.OpresidentedaFi- esp(FederaçãodasIndústrias doEstadodeSãoPaulo),Josué Gomes,recusouoconvitefeito pelopetistaparachefiaroMi- nistériodeDesenvolvimento, IndústriaeComércioExterior. Alémdenãoterconcluídoa montagemdoministério, Lu- latemquesedebruçarsobrea estruturadosegundoescalão paragarantirofuncionamento damáquinajáem1ºdejaneiro. Integrantes se queixamdo desmontedaestruturadego- verno que herdaram do pre- sidente Jair Bolsonaro (PL). Temem,por exemplo, a falta de itens básicos comomedi- camentos ematerial escolar. A equipe de transição pre- paraumdocumentoparade- talhar a situação encontrada emáreas como educação, sa- úde,ciênciaetecnologia. “Pa- ra que a sociedade saiba. Por- quesenãoapresentarmosago- ra, seis meses depois estará nasnossascostasosdesman- dosfeitospeloatualgoverno”, disseLulanodia9. OutrodesafiodeLulaseráa retomadadesuarelaçãocom militares,próximosaobolso- narismo,econterriscodein- subordinação nas Forças Ar- madas.Ocenárioéagravado pela presença de apoiadores do atual presidente em fren- te a quartéismilitares. Essasmanifestaçõesculmi- naram nos atos de violência em Brasília no dia 12, horas após a diplomaçãodeLula. Nasexta(16),Lulasereuniu pelaprimeira vez comosofi- ciais que deverão assumir as funções de comandantes do Exército,daAeronáuticaeda Marinha. Umponto considerado co- mo sensível entre aliados de Lulaeraaameaçadeque,ori- entados por Bolsonaro, os atuais comandantes deixas- semoscargosantesdaposse. ComoaFolhamostrou, no entanto,ocomandantedaFAB (ForçaAéreaBrasileira),briga- deiroCarlosdeAlmeidaBap- tista Junior, desistiu da ideia. Aliados de Lula viram o ges- to como positivo e esperam que isso garanta que a trans- missãode cargodas três For- çasocorreráemjaneiro,com opetista já empossado. Luiz Inácio Lula da Silva participa de evento de Natal com catadores emSão Paulo Danilo Verpa - 14.dez.22/Folhapress $ MInISTROS jÁ AnUnCIA- DOS POR LULA • Fernando Haddad (Ministério da Fazenda) • Flávio Dino (Ministério da Justiça e Segurança Pública) • Rui Costa (Casa Civil) • joséMúcio Monteiro (Ministério da Defesa) • MauroVieira (Itamaraty) • Margareth Menezes (Ministério da Cultura) a eee Domingo, 18 DE DEzEmbro DE 2022 A5 Ateliê de produção de conteúdo em todas as plataformas | Capilares linfáticos Capilares sanguíneos Capilares sanguíneosInterstício Células Arteríolas Vênulas Supravascular Epitroclear Inguinal Poplitea Axiliar INTELIGENTE E PRECISO Como funcionam os imuno-oncológicos •Agem no sistema imunológico de modo a preparar as células de defesa do organismo para atacar as células cancerosas •Osmedicamentos são desenvolvidos para atuar em proteínas específicas. Até agora, já foram lançados no Brasil imunoterápicos com ação em duas vias distintas – CTLA-4, PD-1/PDL-16 •Mais precisos, os imunoterápicos são mais eficazes em comparação aos tratamentos convencionais •Os imunoterápicos criam “umamemória” nas células de defesa, o que permite que o sistema imunológico continue a combater o câncer, mesmo quando a terapia é suspensa Como age o primeiro deles, lançado há dez anos Tem ação periférica, ou seja, não atua diretamente no tumor, mas nos gânglios linfáticos –ou linfonodos Sem tratamento Sem o medicamento, os linfócitos T não são ativados, e as células cancerosas conseguem driblar o sistema imune e ficam livres para crescer e se disseminar pelo organismo 2. Quando as células tumorais encontram os linfócitos T, as células de defesa, já ativadas, liberam substâncias que destroem a célula cancerosa O QUE SÃO OS LINFONODOS Concentrados nos gânglios linfáticos, essas pequenas estruturas têm a função de filtrar a linfa, removendo as substâncias estranhas ao organismo. Essa “limpeza” cabe às células do sistema imunológico, encontradas nos linfonodos MECANISMO DE AÇÃO O medicamento age nos linfócitos T, enquanto as células de defesa ainda estão nos linfonodos Tumor proteínas CLTA-4 Linfócitos 1. O anticorpo monoclonal bloqueia a ação da proteína CTLA-4, na superfície dos linfócitos T. As células de defesa já saem dos linfonodos com a CTLA-4 pronta para combater as células tumorais onde o câncer está localizado Capilares linfáticos Capilares sanguíneos Capilares sanguíneosInterstício Células Arteríolas Vênulas Supravascular Epitroclear Inguinal Poplitea Axiliar INTELIGENTE E PRECISO Como funcionam os imuno-oncológicos •Agem no sistema imunológico de modo a preparar as células de defesa do organismo para atacar as células cancerosas •Osmedicamentos são desenvolvidos para atuar em proteínas específicas. Até agora, já foram lançados no Brasil imunoterápicos com ação em duas vias distintas – CTLA-4, PD-1/PDL-16 •Mais precisos, os imunoterápicos são mais eficazes em comparação aos tratamentos convencionais •Os imunoterápicos criam “umamemória” nas células de defesa, o que permite que o sistema imunológico continue a combater o câncer, mesmo quando a terapia é suspensa Como age o primeiro deles, lançado há dez anos Tem ação periférica, ou seja, não atua diretamente no tumor, mas nos gânglios linfáticos –ou linfonodos Sem tratamento Sem o medicamento, os linfócitos T não são ativados, e as células cancerosas conseguem driblar o sistema imune e ficam livres para crescer e se disseminar pelo organismo 2. Quando as células tumorais encontram os linfócitos T, as células de defesa, já ativadas, liberam substâncias que destroem a célula cancerosa O QUE SÃO OS LINFONODOS Concentrados nos gânglios linfáticos, essas pequenas estruturas têm a função de filtrar a linfa, removendo as substâncias estranhas ao organismo. Essa “limpeza” cabe às células do sistema imunológico, encontradas nos linfonodos MECANISMO DE AÇÃO O medicamento age nos linfócitos T, enquanto as células de defesa ainda estão nos linfonodos Tumor proteínasproteínas CLTA-4CLTA-4 1. O anticorpo monoclonal bloqueia a ação da proteína CTLA-4, na superfície dos linfócitos T. As células de defesa já saem dos linfonodos com a CTLA-4 pronta para combater as células tumorais onde o câncer está localizado proteínas CLTA-4 Linfócitos 1. O anticorpo monoclonal bloqueia a ação da proteína CTLA-4, na superfície dos linfócitos T. As células de defesa já saem dos linfonodos com a CTLA-4 pronta para combater as células tumorais onde o câncer está localizado APRESENTA Terapia que estimula o próprio corpo a combater a doença tem sido considerada por médicos primeira linha de tratamento para esse tipo de tumor Imunoterapiacomoprincipalaliada contraocâncergastrointestinal1 A imunoterapiarepresen- ta umamudança de pa- radigma no tratamento do câncer1. Até sua descoberta, todas as outras terapias tinham como alvo o próprio tumor. “Na imunoterapia, o alvo do trata- mento é o sistema imunológi- co do paciente. A imunoterapia restaura e aprimora a capacida- dedo sistema imunede lidarcom o agente agressor (células tumo- rais) e cria uma memória celu- lar que permite que essa respos- ta continuemesmo depois que o paciente termina o tratamento”, afirma Angélica Pavão, DiretoraMédica da BMS no Brasil. A BristolMyers Squibb (BMS) é referência em descobrir e de- senvolvermedicamentos inova- dores na área.A biofarmacêutica global é pioneira2 no lançamento da imunoterapia, classe de me- dicamentos que revolucionou o tratamento de vários tipos de câncer e rendeu a cientistas li- gados à empresa o prêmio Nobel de Medicina de 20182. A grande descoberta des- ses cientistas, de que tumores e células de defesa têm proteínas específicas (PD-L1 e CTL4) en- volvidas na proliferação e inibi- ção tumoral, gerou o desenvolvi- mento de anticorpos específicos que combatem o câncer.3 “Os dois primeiros conse- guem tratar a grande maioria dos cânceres. Mas existem tu- mores com grau alto de ma- lignidade, mais resistentes, e, para isso, foi desenvolvido um terceiro imunoterápico, o anti LAG-3”, explica Angélica. “Atu- almente a BMS é a única com- panhia biofarmacêutica que tem três drogas com meca- nismos de ação distintos para inibir o crescimento tumoral. O anti-LAG-3 ainda não está aprovado localmente.” Segundo o oncologista clí- nico Dr. Gustavo Fernandes, a imunoterapia é considera- da tratamento padrão pa- ra vários tipos de cân- cer: pulmão, cabeça e pescoço, melano- ma, esôfago, estô- mago, fígado, colorretal, bexiga, rim, endométrio, útero, colo do útero e al- guns subtipos de câncer de mama (em especial o triplo ne- gativo)4. É comum que o tratamen- to inclua combinação com outra imunoterapia ou comquimiote- rapia, radioterapia ou terapia- -alvo. É o caso de Rubens Vidi- gal Filho, 71 anos, de São Paulo, que está tratando um câncer de junção gastroesofágica recidiva- do em ossos com imunoterapia e quimioterapia. Em 2019, Rubens operou um câncer no esôfago e estômago. A cirurgia foi bem-sucedida, sem necessidade de tratamento com- plementar, e ele seguiu sendo acompanhado pela equipemédi- ca. “Descobri esse segundo cân- cer meio por acaso, em uma to- mografia para monitoramento do tratamento anterior”, conta. Depois da confirmação da doença por biópsia, os oncolo- gistas prescreveramoito sessões de imunoterapia seguida de qui- mioterapia, feitas a cada 15 dias. “Estou passando bem. Nos dois primeiros dias fico cansa- do, sonolento, sem disposição. A partir do terceiro dia vou vol- tando ao normal. Tenho feito in- clusive atividade física: pilates, caminhada e fisioterapia.” Vidi- gal já completou cinco sessões. Dr. Gustavo afirma que ho- je, há indicação de imunote- rapia para quase todas as pa- tologias, tanto em doenças avançadas como precoces, co- mo tratamento adjuvante (com- plementar à terapia principal) e neoadjuvante (antes da cirur- gia). “É um tratamento que entrou muito fortemente na oncologia com transfor- mações de resultado mui- to claras”, diz. O oncologista, que é especialista em tumores gastrointestinais, desta- ca que a imunoterapia está sendo considerada a primei- ra e segunda linhas de tra- tamento para o câncer gastrointestinal. “No que se refere à oncologia gastrointestinal, os avanços nos últimos cinco anos forammui- to significativos. A imunotera- pia transformou o tratamento para câncer de esôfago5. Ela foi aprovada pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitá- ria) para câncer de estômago e de fígado, tanto para o tu- mormais comum, o carcinoma, como para o colangiocarcino- ma, menos frequente”, afirma. A imunoterapia também foi apro- vada para um subtipo específi- co de tumor do intestino gros- so, que apresenta instabilidade de microssatélites. De acordo com o oncologis- ta, a imunoterapia é considerada tratamento padrão nos seguin- tes casos de tumores gastroin- testinais: para adjuvância de câncer de esôfago e de estôma- go metastático e câncer de fí- gado avançado e de cólon com instabilidade de microssatélite avançado. “Temos muitas pes- quisas em andamento e em bre- ve a imunoterapia deve se tor- nar padrão para o tratamento de câncer de estômago local- mente avançado e para câncer de reto e cólon.” 1.How Immunotherapy Is Used to Treat Cancer, American Câncer Society www.cancer.org/treatment/treatments-and-side-effects/treatment-types/immunothe- rapy/what-is-immunotherapy.html; 2.Pioneering paths forward in immunology www.bms.com/life-and-science/science/jonathan-sadeh-on-immunology-re- search-at-bms.html; 3. ImmuneCheckpoint Inhibitors and Their Side Effects, American Câncer Society www.cancer.org/treatment/treatments-and-side-effects/ treatment-types/immunotherapy/immune-checkpoint-inhibitors.html;4. ImmunotherapyByCancer Type, Cancer Research Institutewww.cancerresearch.org/ immunotherapy-by-cancer-type;5.Anvisa aprova imunoterápico para tratamento de câncer do esôfago, Todos Juntos Contra o Câncer tjcc.com.br/noticias/anvisa- -aprova-imunoterapico-para-tratamento-de-cancer-de-esofago/ 6. “Inibidores doControle Imunológico para TratamentodoCâncer” (http://www.oncoguia.org.br/ conteudo/inibidores-imunologicos/7962/922/) https://consultas.anvisa.gov.br/#/medicamentos/25351231323201157/?substancia=25169 a eee política A6 Domingo, 18 DE DEzEmbro DE 2022 ombudsman folha.com/ombudsmanombudsman@grupofolha.com.br ombudsman temmandato de um ano, compossibilidade de renovação, para criticar o jornal,ouvir os leitores e comentar, aos domingos, o noticiário damídia. Tel.: 0800-015-9000; fax:(11) 3224-3895 “Foi fraudulenta edetermina- daporcorrupçãoaconcorrên- ciapública, cujos resultadoso governodivulgouontemànoi- te,paraconstruçãodaferrovia Maranhão-Brasília (ouNorte- Sul): a Folha publicou os 18 vencedores, disfarçadamente, hácincodias eantesde serem abertos,pelaestatalValecepe- loMinistériodosTransportes, osenvelopescomaspropostas concorrentes.” Umageraçãode leitores tal- vez se lembredo lideoudo“dis- farçadamente”. Outras não, mas sabem que o crédito que encimavao texto “Concorrên- cia da ferrovia Norte-Sul foi uma farsa”, publicado em 13 demaio de 1987, era “Janio de Freitas, colunista da Folha”. Colunista é repórter ou deve- ria sê-lo em espírito. A Folha tem muitos, e a maioria não é. Agora tem um amenos. Ja- nio, o colunista e repórter sê- nior deste jornal por excelên- cia, foi dispensadonaquinta- feira (15), após42anosdecasa. A estratégia de publicar di- asanteso resultadodeuma li- citação no meio das páginas de classificados é apenas um demuitos lancesbrilhantesde umacarreira longeva, celebra- dapor colegas eadmiradores nas redes sociais nos últimos dias. Reformador de jornais e do jornalismonacional, talvez apenasumex-correspondente deF1 se lembraráde reputá-lo tambémcomoespecialistade esporte amotor. O volume das homenagens equivale ou,melhor, é supera- do pelo das críticas à Folha. Para muitos leitores e profis- sionais da área, Janio foi cor- tado por razões ideológicas. Impressão galvanizada pelo corte simultâneo das colunas deGregorioDuvivier eMarile- ne Felinto. Ao lembrar que há 20anos saiu do jornal por de- cisão própria, a escritora es- creveu em seu último artigo: “Agora a decisão é deles, pe- lo meu rótulo de esquerdista. Talvez queiram limpar o am- bienteparaapura ‘neutralida- de’ deopiniões sobrepolítica”. Deixaram o jornal também Atila Iamarino,GersonSalva- dor, Hélio Beltrão, Henrique Gomes, JaimeSpitzcovsky,Kar- laMonteiro, LeandroNarloch eMariaHomem,segundoaDi- reção de Redação. Beltrão es- tá na conta, mas fora substi- tuído em novembro por Ber- nardoGuimarães.Narlochera um dos colunistas mais criti- cadospelos leitores. Seporum lado sua saídanãocompensa em nada a ausência de Janio, suapermanência seria intole- rável, deduz-sepelaquantida- de de reclamações. Afastadaounãoadiscussão ideológica,aexplicaçãodo jor- nal remetida ao ombudsman sublinhaoutroproblema,ofi- nanceiro. “Por restriçõesorça- mentárias para 2023, aFolha encerra a colaboração de co- lunistas do jornal, entre eles JaniodeFreitas, GregorioDu- vivier e Marilene Felinto. Ja- nio de Freitas é um dos jor- nalistasmais importantes do país, com contribuições à im- prensa e à Folha que perpas- samgerações. Gregorio eMa- rilene estavam em sua segun- da passagem, a primeira en- cerrada a pedido dos própri- os.”Houve dispensas tambémde profissionais da Redação. AFolhanão foge à regra do mercado jornalístico do país, que não foge à regra do mer- cado jornalístico internacio- nal. Há uma crise severa no setor, impactado por uma re- volução tecnológica sem pre- cedentes, desinformação ge- neralizada e uma fábrica de confusões em torno da liber- dade de expressão. Discute-se muitoa liberdade,masépreci- sodiscutir tambémasobrevi- vência doofício de expressão. Janio chegou a ter cinco co- lunas semanaisnaFolha. Seus textoseramdimensionadospe- lo que tinha a dizer, não pe- lo tamanho do espaço reser- vado na página. Era o terror dosredatores,quecorriampa- ra equilibrar expectativa e re- alidade a minutos do fecha- mento. A deferência se esvaiu comosanos, não sematritos. As críticas à mídia e ao pró- prio jornal eram frequentes em seus textos. Certamente notaria, como fezReinaldoAzevedo,queaFo- lhapadronizou danoite para odia onome “PECdaGastan- ça”no lugarde “PECdaTransi- ção”. Na verdade, da noite pa- ra a tarde de terça-feira (13), quandoaalcunha foi lançada emtítulode reportagemsobre a negociação da proposta na Câmara. Como se fosse difícil convencer alguém a criticar Lula e o PT nestemomento. SegundoaSecretariadeRe- dação, “PEC da Gastança” é um “termo que refletemelhor o propósito da emenda, dado queelaampliaráogasto fede- ral no novo governo”, compa- rávelà “PECKamikaze”doatu- al. Reflete igualmente eviden- te sensacionalismo, afiança- doapenasporbolsonaristas e pelapartehidrofóbicadomer- cado. Critério bem diferente do adotado na cobertura das “emendas de relator”, já que “orçamento secreto’’, de acor- do com o jornal, é impreciso. Pesos e medidas desiguais, estranhos aos leitores que se acostumaramaumaFolhaco- erente comseupapelnos tem- posemqueessaatitudeeraab- solutamentenecessária, como se dela dependesse sua sobre- vivência. Janio,90, semanteve coerente com seu papel e seu tempo, o tempo todo. - José Henrique Mariante Jornal dispensa seu colunista e repórter sênior em atitude que choca leitores Folha, Janio e a gastança Carvall São Paulo O jornalista Janio de Freitas, 90, deixa de pu- blicar sua coluna semanal na Folha a pedido do jornal, por contençãodedespesas. Referência no jornalis- mo brasileiro, nos últimos anos dedicou-se a denunci- aremseus textososdesman- dosdoaindapresidente Jair Bolsonaro (PL) e a conivên- cia golpista dosmilitares. Atuando na área desde 1954, ele acumula feitos em uma carreira com ampla in- vestigação, furos de grande importânciaetextoscomim- pacto na política brasileira. Exercendo o jornalismo numlancedeacaso, Janio fez curso de aviação civil e pre- tendia ingressar no ramo, mas lesionou-seemumapar- tidadebasquete, o queo fez recalcularrotae ingressarno DiárioCarioca—inicialmen- te como auxiliar de edição e depois circulando para a di- agramaçãoeoreportariado. Migroupara a revistaMan- chete em 1955e, quatroanos depois, liderouareformagrá- fica e jornalística do Jornal do Brasil, tornando as pági- nas do periódico mais cla- ras e modernas, com mai- or alinhamento de textos, títulos mais chamativos emaior fluidezna leitura. Asalteraçõesmudaramto- do o mercado editorial, se- guindo as tendências inau- guradas pelo jornal carioca. Após, passou pelo Correio daManhãeÚltimaHora, em cargosdedireção,atéadéca- da de 1970, quando a ditadu- ramilitar o forçou a deixar o jornalismo.Comisso,tornou- sesóciodeumagráfica,dedi- cada à impressãode livros. JaniodeFreitas deixa depublicar colunanaFolha Jornalista acumula feitos e textos com impacto na política brasileira O jornalista Janio de Freitas, 90, que deixa de escrever coluna semanal na Folha Ricardo Borges - 12.jul.17/Folhapress Dez anos depois, aFolha o chamou de volta à impren- sa, e Janio tornou-se colunis- ta, capaz de embaralhar os espaços opinativos e infor- mativoscomavideznaescri- ta e fatos de grande relevo, dadosexclusivamenteporele. Dono de grandes furos, incomodou os governantes de plantão. Em maio de 1987, revelou que o processo para a cons- trução da ferrovia Norte-Sul havia sido fraudulento. Cin- co dias antes do anúncio ofi- cial, a Folha tinha publica- do, de maneira cifrada e em meioaosanúnciosclassifica- dos,os18vencedores.Ouseja, já se conheciamde antemão os resultados da licitação. Janio, porém, não con- sidera essa a sua reporta- gemmais relevante entre as publicadas pelo jornal. Cita uma informação de junho de 1983 em sua colu- na: osmédicos dopresiden- te JoãoBatistaFigueiredoco- gitavam a hipótese de uma cirurgia cardíaca. A saúde do presidente es- tá “muito boa”, reagiram o líder do governo na Câma- ra dos Deputados e o porta- vozdoPlanalto.“Leveipaude todos os lados.” Uma sema- na depois, no entanto, o se- gredo em torno da cardio- patia implodiu. “Coração faz Figueiredo pedir licença” foi amanchetedaFolha. Em16dejulho,umdiaapósa cirurgianosEUA,Janioescre- veuumacolunaemtomdedes- forra.Listavaascontestações à informação publicada por ele e concluía: “Ao general Fi- gueiredo,prontarecuperação. Aosoutroscitados, também”. Janio Sérgio de Freitas Cunha, 90 nasceu emniterói (RJ) em 9 de junho de 1932. Tornou-se jornalista profissional em 1954 e passou por veículos como diário Carioca, Jornal do brasil, Correio da manhã e Última Hora. Começou em 1980 na Folha, jornal do qual se tornou colunista em 1983. Recebeu prêmios como Rei da Espanha e Esso Lula terá 37ministérios com divisão do Planejamento e recriação de pasta da Pesca -Mateus Vargas e Danielle Brant BRaSÍlIa Futuroministroda Casa Civil e governador da Bahia, Rui Costa (PT) disse neste sábado (17) que o go- vernodeLuizInácioLulada Silva(PT)terá37ministérios. A listaaindanão foidivul- gada,mas Costa confirmou que será criada uma pasta para a pesca. A Economia seráfatiadaemFazenda,In- dústriaeComércio,alémde Planejamento e uma pasta específicapara gestão. JáoatualMinistériodaIn- fraestrutura será dividido em duas pastas, uma para tratardetransporteeoutra sobre portos e aeroportos. O futurochefedaCasaCi- vil disse que a escolha dos ministros não será afetada pela votação na Câmara da PEC da Transição. O presi- dentedaCâmara,ArthurLi- ra (PP-AL), teria sinalizado quepode facilitar a aprova- çãodapropostaseemplacar aliadosemcargosdoprimei- ro escalãodo governoLula. “O Senado em momen- to nenhum condicionou [a aprovação] a uma negocia- çãodeministériosoudecar- gos,eagentetemaconfiança, crença,dequeaCâmarafará amesmacoisa”,disseCosta. Ele afirmou que a futura gestão também terá o Mi- nistério dos Povos Originá- rios, outro para esportes e umapastaparaasmulheres. AindacitouacriaçãodoMi- nistério das Cidades, a par- tir do desdobramento do DesenvolvimentoRegional. “Ele[Lula]entendequees- taéumaquestãomuitoem- blemáticanãosóparaoBra- sil,mas para a comunidade internacional. O Brasil se desgastou muito ao longo dos últimos anos com essa questão simbólica e impor- tante dos indígenas”, disse. Segundoofuturoministro, nãohaveráaumentodedes- pesas do governo para am- pliaronúmerodeministéri- os.Issoporqueoscargosatu- ais serão reformulados pa- ra acomodar o plano. Além disso,algunsministériosvão compartilhar setores como de assuntos jurídicos. Havia 12 pastas em 1990, sob Fernando Collor, que dois anos depois elevou o número para 14. Com Lula chegou-se a 37ministérios. Na gestãoDilmaRousseff (PT)aEsplanadadosMinis- tériosbateuorecordede39 pastas.OpresidenteJairBol- sonaro (PL) prometeu que teria apenas 15, mas come- çoucom22eterminaoman- dato com 23pastas. “A ideia central é repetir o que a gente está chamando de Lula 2, a estrutura do se- gundogovernodeLula”,dis- se Costa. “Esses ministéri- os com perfil mais garanti- dores de políticas transver- sais,comodasmulheres,ne- groseindígenas,serãofoca- doseterãoseuscargosdefi- nidos para a área-fim, bus- cando garantir transversa- lidadeaogoverno”,afirmou. Rui Costa também está à frentedasnegociaçõescom oatualgovernopara liberar residências oficiais de Bra- sília para Lula e sua equipe. Ele afirmou que a Gran- ja do Torto deve ser visita- da nos próximos dias pela equipe de Lula, mas que o presidente diplomadoain- da não deve deixar o hotel emque está hospedado. “O presidente só mudará para esteeoutrosespaçosdepois de feitos os levantamentos detodasaspendênciaseto- madas todas asmedidas de eventuaisreparos”,afirmou. a eee Domingo, 18 DE DEzEmbro DE 2022 A7 ministro lewandowski, o brasil conta com o senhor. vote pelo fim do orçamento secreto! www.fimdoorcamentosecreto.org *INFORME PUBLICITÁRIO www.fimdoorcamentosecreto.org a eee a eeeA8 Domingo, 18 DE DEzEmbro DE 2022 Estado investe para garantir um transporte mais rápido, seguro e sustentável aos paulistas; serão mais de 75 quilômetros na capital, Região Metropolitana e Baixada Santista SP ganhamais mobilidade com obras de expansão emodernização O estadodeSãoPaulonunca investiu tanto emmobili- dadeurbana. Sãomaisde R$15bilhõesdirecionadosaotrans- porte público metropolitano des- de 2019, com obras de moderni- zação e da expansão do Metrô, da Companhia Paulista de Trens Me- tropolitanos (CPTM) e daEmpresa Metropolitana de Transportes Ur- banos (EMTU). Osrecursosviabilizamnãoape- nas a ampliação de novas linhas, mas também melhorias na infra- estrutura atual, que chega a aten- der 10milhões de pessoas por dia. Tudo para garantir mais rapidez, conforto,segurançaeacessibilidade aospassageirose,aomesmotempo, impactarodesenvolvimentoeconô- micode todo o estado. Nototal,asobrasemandamen- to somarãomais de 75quilômetros aosistema,beneficiandomilhõesde pessoas na capital, na Região Me- tropolitana enaBaixadaSantista. Com as obras, a periferia se aproxima cada vez mais do centro comasnovaslinhaseestaçõespre- vistas.“Sóvocêvivendoodiaadiade umacidadecomoanossa paraco- nhecer o impacto que causa na vi- dadaspessoasaextensãodenovas linhas deMetrô”, afirmou o gover- nador Rodrigo Garcia durante se- minárioDesafiosdaMobilidadeno Estado de São Paulo, realizado no iníciodasemana.Oevento foi uma parceriadoEstúdioFolhacomogo- vernode SãoPaulo. Osmoradoresdasregiõesmais afastadasdocentrodacapitalpau- lista serão os principais beneficia- dos com as obras de expansão do MetrôedaCPTM–são35novases- tações e40quilômetros de trilhos. Asnovaslinhas,planejadasoujá em construção, irão reduzir signi- ficamente o tempo emque as pes- soaslevamparairevoltardotraba- lho.Issosignificamaisqualidadede vida àpopulação emais produtivi- dade às empresas. ÉocasodequemmoranaBra- silândia, na zona norte da capital, e leva mais de 1h30 para chegar à região central de ônibus. Quando a Linha 6-Laranja do Metrô esti- ver concluída, serápossível fazero mesmo trajeto em pouco mais de 20minutos. Já quemmora em São Mateus, nazonalestedeSãoPaulo,vai eco- nomizar 40 minutos para chegar ao centro comaextensão daLinha 15-PrataatéaestaçãoJacu-Pêssego. CONCESSÕESEPPPS Paraampliararedeatual, ogo- vernopaulistatemreforçadoabem sucedida parceria com a iniciativa privada. ComR$ 18 bilhões em in- vestimentos e 9.000empregos ge- rados, a Linha 6-Laranja é amaior obra do gênero e a maior parceria público-privada(PPP)demobilida- dedaAméricaLatina.Serão15,3qui- lômetrose 15estações.Aexpectati- vaéde630milpassageirospordia, comconclusãoprevistapara 2025. O governo do estado de São Paulo tem experiência em proces- sos de concessão, com reconheci- da competência para realizar es- sesprocessoscomseriedadeecom atençãoaoscompromissosestabe- lecidos. A Linha 4-Amarela de metrô foi aprimeiraPPPdoBrasil e conta com investimentos deUS$450mi- lhões.Aolongodos30anosdepar- ceriacomaconcessionáriaViaQua- tro,osinvestimentosdevemchegar aUS$ 2 bilhões. *Usuários dos ônibus gerenciados pela EMTU, trens doMetrô e da CPTM e estrada de ferro de Campos do Jordão Tucuruvi São Joaquim Jabaquara Varginha Estudantes Linha 1 Azul (Metrô) Linha 19 Celeste (Metrô) Linha 13 Jade (CPTM) Linha 11 Coral (CPTM)Linha 3 Vermelha (Metrô) Linha 16 Violeta (Metrô) Linha 7 Rubi (CPTM) Linha 10 Turquesa (Metrô) Linha 2 Verde (Metrô) Linha 4 Amarela (Metrô) Linha 17 Ouro (Metrô) Linha 6 Laranja (Metrô) Linha 22 Marrom (Metrô) Linha 8 Diamante (Trens metropolitanos) Linha 15 Prata (CPTM) Linha 9 Esmeralda (Trens metropolitanos) Linha 5 Lilás (Metrô) SÃO PAULO SÃO CAETANO SANTO ANDRÉ MAUÁ SÃOBERNARDO DOCAMPO DIADEMA TABOÃO DASERRA OSASCO Aeroporto-Guarulhos Jundiaí Itapevi Vila Prudente Ipiranga Tamanduateí Jardim Colonial Rio Grande da Serra Penha Jacu-Pêssego Brasilândia Corinthians-Itaquera Osasco Vila SôniaTaboão da Serra Bosque Maia Cidade Tiradentes Jardim Ângela Cotia Capão Redondo Chácara Klabin Luz Brás Palmeiras- Barra Funda Santa Marina Santo André Engenheiro-Goulart Dutra Sacomã Alvarenga BRT-ABC (EMTU) Estação já existente Estação em obras Linha já existente Linha em obras Linhas previstas Estações previstas Júlio Prestes Anhangabaú Linha 20 Rosa (Metrô) Vila Madalena Sumaré Oscar Freire O sistema fará o trajeto de ponta a ponta, do terminal São Bernardo ao terminal Sacomã, em40minutos Está prevista a acessibilidade nas estaçõesMogi das Cruzes, Braz Cubas, Jundiapeba e Estudantes Estão previstas a modernização e acessibilidade da estação Itaquaquecetuba Calmon Viana Linha 12 Safira (CPTM) 5 km Congonhas TRANSPORTE RÁPIDO, SEGURO E SUSTENTÁVEL Projetos em andamento irão somar mais de 75,30 quilômetros 10 milhões de passageiros por dia* Bruno Covas / Mendes Vila Natal SANTOS SÃO VICENTE VLT DA BAIXADA Terminal Valongo Terminal Porto Terminal Barreiros Terminal Samaritá Linha 1 (EMTU) Linha 2 (EMTU) VLT BARREIROS- SAMARITÁ (EMTU) 1 km SP Osdesafiosparaampliararede atual são inúmeros. Além de altos investimentos, a dimensão e com- plexidade das obras demandam tempo. É preciso elaborar estudos, analisarademanda,planejareexe- cutar as desapropriações, além de licitarecontratarasobras.Namaio- riadoscasos,todoesseprocessode- mora cercadedez anos. Além da expansão das linhas, uma das prioridades da Secretaria de Transportes Metropolitanos do estado de São Paulo (STM) é amo- dernização de todas as linhas, am- pliando a velocidade, a segurança e, principalmente, a acessibilidade das estações doMetrô e daCPTM. Paraevitaracidentes,estãosen- do instaladas portas nas platafor- masdetodasasestaçõesdaslinhas 1-Azul,2-Verdee3-Vermelha,além da troca do sistema de sinalização e controle de trens, que garante maior regularidade na circulação dos trens. O Metrô inaugurou ainda um centro de controle que usa inteli- gência artificial para monitorar o desempenho de diversos equipa- mentos, o que permite atuar antes de eventuais falhas. A inteligência artificial está presente igualmente emcâmerasqueauxiliamnasegu- rançaenamelhoriadasoperações. Os serviços do Metrô têm aprova- çãodemaisde70%dospassageiros. CPTM No caso da CPTM, as obras de modernização foram intensifica- dasnaúltimadécada.Houvereno- vação da frota de trens, todos com ar-condicionado,eoutrasmedidas para darmais conforto aos passa- geiros, modernização da infraes- trutura,aberturadeestações,além da implementação da Linha 13-Ja- de, em 2018, a primeira ligação so- bre trilhos da capital aoAeroporto Internacional deGuarulhos. Em fevereiro de 2019, foi re- solvido um dos maiores gargalos do sistema: o fimda baldeação em Guaianases(zonalestedeSãoPaulo) paraospassageirosdaLinha11-Co- raloriundosdaregiãodoAltoTietê, naGrandeSãoPaulo.Essamudan- çasignificouumganhode15minu- tos navidadesses usuários. Em 2019, foram retomadas as obras de extensão da Linha 9-Es- meralda,comaconstruçãodeduas estações,Mendes-VilaNatal eVar- ginha, além da nova estação João Dias, emmais umaparceria com a iniciativaprivada. A Linha 10-Turquesa recebeu melhorias e novos trens entra- ram em circulação, com um au- mento de 6% na oferta de luga- res e redução de cinco minutos no trajeto. Já a Linha 7-Rubi foi ampliada até a Estação Brás, re- duzindo baldeações. Esses investimentos se refle- temna avaliação positiva dada pe- los passageiros: 85% dos usuários aprovaram os serviços da CPTM, segundo Pesquisa de Avaliação da Satisfação e dos Serviços de 2021. NemmesmoapandemiadeCo- vid-19,quandoacirculaçãodepas- sageiroschegouacair80%,emper-rouosplanosdeexpansãodaSTM. Para que as operações continuas- sem, o governo do Estado injetou R$ 1,6 bilhão no sistemaem2020 e R$ 700milhões em2021. Além disso, as empresas ado- taram medidas para reduzir des- pesas gerais, alémdebuscarnovos recursoscomageraçãodereceitas não tarifárias.Também foram am- pliados os contratos demídia para exploraçãodeespaçospublicitários emtrens,estaçõeseterminais;en- tre outrasmedidas. Aomesmo tempo em que am- plia as opções demobilidade à po- pulação, há uma preocupação em investir em um transporte mais sustentável. Em 2021, o Metrô evi- tou a emissão de 518 mil toneladas deCO2.Osganhossociaisnomes- mo ano são estimados em R$ 8,6 bilhões. A CPTM tem priorizado a ins- talação de placas solares nas esta- ções, uso de plantas para o trata- mentobiológicodeesgoto,alémde água de reuso para irrigar os jar- dinsverticais. Já a EMTU realiza testes com tecnologias menos poluentes, co- mo trólebus, ônibus elétricos, e a retomada da operação de veículos movidosacéluladecombustívelde hidrogênio. EmSantos, estáemoperaçãoo Veículo Leve Sobre Trilhos da Bai- xada Santista, o primeiro VLT elé- trico do Brasil, com zero emissões e que contempla projetos de com- pensaçãoambientalcomrestaura- ção ecológica e plantio de árvores. Governador Rodrigo Garcia a eee a eee Domingo, 18 DE DEzEmbro DE 2022 A9 Ateliê de produção de conteúdo em todas as plataformas | Trem Intercidades irá conectar São Paulo e Campinas São Paulo vai ganhar o pri- meiro trem intermunicipal do Brasil desde a década de 1970. Depois de mais de 50 anos sem investimento nesse tipo demo- dal entre cidades, começa a ser viabilizado o projeto do Trem Intercidades (TIC), que irá li- gar a Linha 7-Rubi, da CPTM, à malha ferroviária para che- gar até Campinas, no interior do estado. Estão previstos in- vestimentos de R$ 10,2 bilhões pelo Poder Público e pela ini- ciativa privada. O TIC terá 100 quilôme- tros de extensão e a previsão é transportar até 565 mil passa- geiros por dia. Haverá um ser- viço expresso entre Campinas, Jundiaí e São Paulo, e outro en- tre Campinas e Francisco Mo- rato com paradas em Louveira, Valinhos e Vinhedo. O governo do estado de São Paulo ressalta que um proje- to deste porte aumenta a aces- sibilidade entre metrópoles e cidades polo, gera oportuni- dades de negócios e de empre- gos nos segmentos ferroviário e tecnológico, e também viabi- liza a expansão da infraestrutu- ra de transporte para passagei- ros e cargas, aliviando rodovias e vias urbana. Além do desenvolvimento econômico de toda a região e o benefício aos passageiros, um dos principais objetivos do es- tado é diminuir o uso do auto- móvel e, consequentemente, a emissão de gases de efeito estu- fa. A depender do trânsito, gas- ta-se cerca de 90 minutos para ir de São Paulo a Campinas de carro. Com o TIC, esse trajeto deverá levar 60 minutos. O projeto, é claro, traz enor- mes desafios. É preciso assi- nar convênios de cooperação entre os municípios que serão beneficiados pela obra, além de acordos com o governo fede- ral. Caberá ao estado fiscalizar as obras, aplicar eventuais pe- nalidades, providenciar as De- clarações de Utilidade Pública (DUPs) para desapropriações, e coordenar o contato entre as estações operadas pela CPTM e outras concessionárias. A futura concessionária irá comprar novos trens, adequar o traçado e a infraestrutura exis- tentes, construir novas vias, im- plantar pátios e equipamentos de manutenção. Terá que pro- mover também obras especiais, drenagem e vedação da faixa de domínio, modernizar sistemas de sinalização e energia, recu- perar e implantar estações, in- cluindo novas estações de inte- gração da Linha 7-Rubi na Lapa e Km Estações 17,3 1515,3 8,4 8 8 8 8,3 8 4,4 2 23 Brt-ABC Linha 6 - Laranja Linha 2 - Verde Linha 17 - Ouro VLT da Baixada Santista Linha 9 - Esmeralda Linha 15 - Prata OBRAS EM ANDAMENTO SISTEMA ATUAL Linha 16 – Violeta Linha 20 – Rosa Linha 22 – Marrom Linha 19 - Celeste VLT Barreiros-Samaritá Linha 5 – Lilás Linha 4 – Amarela CPTM/Metrô BRT-ABC VLT da Baixada Santista (em R$ bilhões) SP (Média 2017- 2020) Média mundial TRANSPORTE MAIS SUSTENTÁVEL Emissões de gases do efeito estufa por passageiro-km (em gCO2e/pkm)* Metrô Ônibus Carro a gasolina 7 98 101 110 50 80 Mais de 376 quilômetros 170 estações 32 24 23 19 15 31,5 29 4 21,3 7,5 4,3 2 23,3 OBRAS PREVISTAS INVESTIMENTO DAS OBRAS EM ANDAMENTO 32 1,3 0,217 Barra Funda VALINHOS VINHEDO LOUVEIRA JUNDIAÍ CAMPOLIMPO PAULISTA FRANCISCO MORATO FRANCO DAROCHA CAIEIRAS SÃOPAULO CAMPINAS VÁRZEA PAULISTA Campinas 10 km TREM INTERCIDADES 100 km de extensão 10,2 bilhões reais de investimentos 64minutos é o tempo estimado de viagem 565 mil passageiros por dia naÁguaBranca, na zona oeste da capital. A previsão é a de lançar o edital do Trem Intercidades no primeiro semestre de 2023. O projeto compreende tam- bém a operação, manutenção e obras, commelhoria do desem- penho e da qualidade do serviço da linha 7-Rubi da CPTM, bene- ficiando diretamente o passa- geiro, destaca a Secretaria dos Transportes Metropolitanos. Uma das propostas que está em estudo é a do trem “double decker”, os vagões de dois an- dares. Com esse modelo, será possível transportar um núme- romaior de passageiros e evitar grandes alterações nas platafor- mas atuais. Um dos que mais aguardam o início das operações do TIC é o setor de turismo. As cida- des de Jundiaí, Valinhos, Lou- veiro e Vinhedo fazem parte do Circuito das Frutas, que atra- em milhares de turistas de to- do o estado. Obra da linha 6-Laranja do Metrô a eee política A10 Domingo, 18 DE DEzEmbro DE 2022 -Igor Gielow São Paulo A cobertura jor- nalística das eleições gerais de 2022 pela Folha foi apro- vada por 83% de seus leito- res, queaqualificaramcomo ótima ou boa em pesquisa conduzida pelo Datafolha. Outros 12%avaliaramotra- balho do jornal como regu- lar, enquanto 3%o viram co- mo negativo. Não opinaram 2%dosouvidospeloinstituto. O Datafolha entrevistou 501 leitores da Folha, 412 de- les assinantes e os restan- tes, secundários —maiores de 18 anos quenão sãoos ti- tulares da assinatura, mas têm acesso ao jornal. Eles foramouvidosemtodopaís, levando em conta a propor- çãodeassinantespor região. A pesquisa foi feita de 19 a 23denovembroportelefone, eosouvidosforamsorteados nabasedeassinantesimpres- sos e digitais. A margem de erro é de quatro pontos per- centuaisparamaisoumenos. A aprovação da cobertura sobe entre os mais jovens, e chegou a 90% entre quem tem até 40 anos de idade. O número vai a 80% entre os que têm 60 anos oumais. Segundo o Datafolha, em resposta espontaneamen- te sobre pontos positivos da cobertura, 51%dosentrevis- tadoscitaramqualidadedas notícias/cobertura. Dentro deste grupo, 21% destaca- ram a veracidade das infor- mações veiculadas, enquan- to o acompanhamento do cotidianodoscandidatos foi lembradopor 10%dogrupo. Já9%enaltecerama impar- cialidadenaconduçãodotra- balho, enquanto 4% aponta- ram o senso crítico nas re- portagens, dois pilares do ProjetoEditorial do jornal. Dopontodevistanegativo, 37%disseram não ter nada a dizer. Para 16%, o jornal foi parcialnacobertura,enquan- to 13%a julgaramacrítica.Vi- ramcomonegativaapublica- çãodepesquisaseleitorais5%. Por outro lado, 16% cita- ram positivamente as aná- lises dos levantamentos, e 15%, a agilidade na atuali- zação dos dados. Questionadossobrequeno- ta dariam à Folha em diver- sos quesitos, os leitores con- sideraram que o equilíbrio dacoberturamereceuum7,7. Já o pluralismo, outro item basilar do Projeto Editorial, ficoucom7,6,acapacidadede estimularpolêmicas,com7,4, e a imparcialidade, com 7,1. ODatafolha tambémbus- cou saber qual era a opini- ão de seus leitores acerca do governo de Jair Bolso- naro (PL), presidente que se despede do poder no dia 1º, após ter perdido a eleição para Luiz Inácio Lula da Sil- va (PT) no segundo turno. Para80%,oatualmandatá- rio faz um governo ruim ou péssimo. Já o consideramre- gular9%eótimooubom,7%.Cobertura das eleições pela Folha é aprovada por 83%de seus leitores reprovam o governo bolsonaro 80%, enquanto 7% o veem como ótimo ou bom, mostra o Datafolha Na população em geral, se- gundo a última pesquisa do Datafolhaque trouxe tal per- gunta antes do segundo tur- no, 39% o reprovavam, 38% o aprovavam e 23%, o avali- avam como regular. O Datafolha havia feito a questão aos leitores do jor- nal em janeiro de 2021, em- bora aqui o dado seja refe- rencial porque o universo era o estado de São Paulo e as cidades commaior nú- mero de assinantes. Ali, 90% dos entrevistados reprovavam Bolsonaro, ante 7%que o viam como regular e 3%, queo aprovavam. Amelhoriaénaturaldopro- cessoeleitoraledosartifícios àmãodequemdetémacane- ta—opresidenteperdeuape- nasporcercade2milhõesde votos o pleito para Lula. Na atual pesquisa, 3 em cada 4 dos ouvidos afirmam não confiar no que diz Bol- sonaro. Dizem confiar às vezes 15%, sempre 5% e 4% dizem não saber. Pesquisa sobre cobertura da Folha nas eleições e no governo Bolsonaro Avaliação da cobertura da Folha em relação às eleições presidenciais Estimulada e única, em % Ótimo/bom 83 Regular 12 Ruim/ péssimo 3 Não sabe 2 Fonte: Pesquisa Datafolha por telefone com assinantes e leitores secundários da Folha. Entrevistas realizadas entre os dias 19 e 23 de novembro, com 501 pessoas. A margem de erro é de quatro pontos percentuais para mais ou menos Avaliação da cobertura da Folha em relação ao governo Bolsonaro Estimulada e única, em % Quais foram os principais pontos positivos da cobertura da Folha durante as eleições este ano? Espontânea e múltipla, em % Não sabe Têm censo crítico e profundidade nos materiais divulgados Procuram ser sempre imparciais Cobertura sobre o que acontece no dia a dia dos candidatos Cobertura da Folha é boa, sempre apresenta a veracidade dos fatos Qualidade das notícias/Cobertura Quais foram os principais pontos negativos da cobertura da Folha durante as eleições este ano? Espontânea e múltipla, em % Não sabe/Não lembra Manchetes tendenciosas a favor do Lula Muitas críticas ao candidato Jair Bolsonaro Cobertura/análise tendenciosa Falta de imparcialidade Parcialidade 12 4 9 10 21 51 19 3 5 5 12 16 Ótimo/bom 73 Regular 19 Ruim/ péssimo 6 Não sabe 1 Prisão de Sérgio Cabral foimarcada por regalias e transferências São Paulo O ex-governador do Rio de Janeiro Sérgio Ca- bral acumulou uma série de episódiosde regalias e trans- ferências ao longo dos seis anosdeprisãopor investiga- ções daOperaçãoLava Jato. Nesseperíodo, foramcinco mandadosdeprisão,37ações penais (sendoduassemrela- çãocomaLavaJato)e24con- denaçõescontraoex-governa- dor.Aspenas somadasultra- passaram400anosdeprisão. Nasexta-feira(16),por3vo- tos a 2, a Segunda Turma do STF (Supremo Tribunal Fe- deral) decidiu revogar o últi- momandado de prisão con- tra Cabral. O voto de desem- patefoiproferidonasexta(16) peloministroGilmarMendes. Cabraleraoúnicoacusado aindaemregimefechadoem decorrênciadasapuraçõesda LavaJato.Eleteráqueperma- necer em prisão domiciliar com tornozeleira eletrônica. * Acusações Cabral foi preso no dia 17 de novembro de 2016, na Ope- ração Calicute. Ele é acusa- do de cobrar 5% de propina nosgrandescontratosdeseu mandatoàfrentedoGoverno doRiodeJaneiro(2007-2014). Asinvestigaçõesdescobriram contas com cerca de R$ 300 milhões no exterior em no- mede “laranjas”, alémde joi- asepedraspreciosasusadas, segundo o Ministério Públi- co,paralavagemdedinheiro. Inicialmente,oex-governa- dornegavaasacusações.Dois anosdepoisdaprisão,Cabral decidiuconfessarseuscrimes. No fim de 2019, ele conse- guiufecharumacordodede- laçãopremiadacomaPolícia Federal,depoisanuladopelo STF emmaiode 2021. Em 2020, como parte do acordo de delação, a defesa do ex-governador entregou à Polícia Federal 27 joias que elemantinhaescondidascom pessoaspróximas.Apeçamais valiosa era umbrinco de tur- malinaparaíbacomdiaman- tes, deR$612mil. Transferências Cabral cumpre pena na Uni- dade Prisional da PolíciaMi- litar em Niterói. Em maio, ele foi transferido para a pe- nitenciária Laércio da Costa Pellegrino (Bangu 1) em ra- zãodesupostasregalias,mas a 7ª CâmaraCriminal doTri- bunal de Justiça decidiu que amudança ocorreu antes de oex-governador sedefender das acusações. Até a decisão que determi- nou o retorno à Niterói, em um intervalo de pouco mais de ummês, Cabral ficou um dianopresídio de segurança máximadeBangu1,depoisfoi transferidoparaoquarteldo CorpodeBombeirosemHu- maitá, na zona sul, e, após duassemanas,paraoGrupa- mentoPrisionaldoCorpode Bombeiros,emSãoCristóvão. Regalias NaCadeiaPúblicaJoséFrede- ricoMarques,emBenfica,Ca- bral instalou um “home the- ater”, doado por duas igrejas evangélicas, e tinha conheci- mento dos pontos cegos do videomonitoramento da ca- deia, informação que usava parareceberencomendasde restaurantes de luxo. Uma inspeção do Ministé- rioPúblicodoRioencontrou alimentosconsiderados irre- gularesnaceladoex-governa- dor, como camarão, bolinho debacalhau e iogurte. Por conta disso, Cabral foi transferidoparaCuritiba,em janeiro de 2018. Em abril da- quele ano, apósdecisão limi- nar doTribunal Regional Fe- deraldoRio,eleretornoupa- raBangu8, aprimeiraprisão onde cumpriupena. Apósfirmaracordodedela- ção,emsetembrode2021,por determinaçãodoministroEd- sonFachin,Cabralfoitransfe- ridoparaaUnidadePrisional daPolíciaMilitar,emNiterói. Noiníciodesteano,umavis- toriaencontrounaprisãoes- tantes com compartimento paraescondercelulares,mais deR$4.000emdinheiro,ma- conha, anabolizantes e lista decomprasemrestaurantes. O relatório não indicou ir- regularidades na cela de Ca- bral, a não ser uma pratelei- ra com fundo falso, supos- tamente para esconder um aparelho celular. Contudo, afirmouqueoex-governador estavanumaárea externade ondefoi lançadaparaforada unidade,nomomentodafis- calização, uma sacola plásti- ca em que havia três celula- res, umrelógioAppleWatch, maisdeR$4.000emespécie, relógio, cigarros “aparente- mentedemaconha”eumto- kendebanco. Joias apreendidas Amaioria das joias do ex-go- vernador Sérgio Cabral e de sua mulher, Adriana Ancel- mo, encalhou no leilão reali- zado pela Justiça Federal em julhode2021.Apenas12deum lotede40peçasforamvendi- das, amaior parte abaixo do valor de aquisição. AJustiçaarrecadouR$354,3 mil com a venda de sete re- lógios, quatro pares de brin- coseumanel.Somados,esses itensperderam29%dopreço decompradoex-governador. O leilão ocorreu commais deumanodeatrasoemrazão de divergências na avaliação das joias. O juizMarceloBre- tas, responsávelpelaLava Ja- to no Rio de Janeiro, adiou o certame apontando discre- pância entre as avaliações e os valores pagos pelos bens. SegundooMinistérioPúbli- coFederal,aspeçaseramusa- das para lavagem do dinhei- ro obtido com propina. Elas foramapreendidasquandoo ex-governador foi preso. Ex-governador ficará em prisão domiciliar em Copacabana -Nicola Pamplona RIo DE JaNEIRo O ex-governa- dor do Rio de Janeiro Sérgio Cabralvaicumprirprisãodo- miciliaremumapartamento da sua família emCopacaba- na, na zona sul do Rio de Ja- neiro. A expectativa, porém, équeelenãodeixeopresídio antes de segunda-feira (19). Responsávelpeladefesado ex-governador, o advogado DanielBialski, dizque trâmi- tesburocráticosdevemretar- darsuasoltura.OSTF(Supre- moTribunalFederal)precisa emitirofícioparaaJustiçado Paraná,quedepoispediráali- beração à Justiça doRio. Eleafirmouquenãoháres- triçõessobrevisitasouconta- tostelefônicos,masquevaire- comendar ao ex-governador que não interaja com outros investigadosdaOperaçãoLa- va Jato, para evitar reversão daprisãodomiciliar—quesó permitesaídasparatratamen- tomédico,masmesmoassim comautorizaçãoda Justiça. “O que elemais quer é per- manecer em casa longe do constrangimentodeterquefi- carnopresídioematarasau- dadedafamília. Issoéomais importante”, afirmou. Sérgio Cabral no período emque cumpria pena no Complexo Penitenciário de Gericinó, no Rio Tércio Teixeira - 2.ago.21/Folhapress a eee Domingo, 18 DE DEzEmbro DE 2022 A11 Com parcerias, investimentose um corpo clínico altamente especializado, a BP - A Beneficência Portuguesa de São Paulo obtém reconhecimento internacional Ateliê de produção de conteúdo em todas as plataformas | ESTUDIO.FOLHA.COM.BR com as mais avançadas técnicas para o tratamento do câncer no país”, afirma a CEO. A área de neurologia/neuro- cirurgia da instituição ocupa o primeiro lugar no Brasil, segun- do o ranking da “Newsweek”, que também destaca a cardiologia e a cirurgia cardíaca. Denise Santos enfatizaqueaáreadecirurgiacar- díaca, entre as primeiras do país, é hoje a principal referência em cardiopatia congênita no Brasil. O médico Renato Vieira, di- retor-executivo de Desenvolvi- mentoMédico, Técnico e Educa- ção e Pesquisa daBP, ressalta que a instituição desenvolve vários projetos, individualmente ou em parceria, na área de oncologia. “Uma expansão como essa en- volvemuito pensamento forados muros da BP, na busca ativa de tecnologia e parceiros”, dizVieira. Um desses projetos irá levar a todo o país o que há de mais inovador em prevenção e trata- mento contra o câncer. A BP, o GrupoBradesco Seguros e oGru- po Fleury se uniram para criar umanova empresa, dedicada ex- clusivamente à oncologia. “Será a união de três grandes players do mercado de saúde, em um GettyImages investimento de R$ 678 milhões nos cinco primeiros anos”, afir- ma a CEO da BP. A nova empresa terá uma gestão independente e autônoma, e as três instituições serão acionistas empartes iguais. O objetivo, diz Denise, é oferecer umserviço de referência em ras- treamento, prevenção, diagnós- tico, tratamento e reabilitação. “Além de proporcionar a me- lhor assistência, o modelo de ex- celêncianacoordenaçãodecuida- do em toda a jornada do paciente contribuirácomasustentabilida- dedosistemadesaúdeemfunção damelhorutilizaçãodos recursos disponíveis. Para isso usaremos a expertisedecadaumdossóciosna suaárea, sendoqueaBPoferecerá todo o seu know how na área de oncologia”, diz ela. MAIS INVESTIMENTOS As parcerias e investimentos englobamoutras especialidades e capacitaçãoprofissional. Emneu- rologia, a BP, por meio de uma ParceriaPúblico-Privada, se uniu à Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) para o desenvol- vimento de pesquisas científicas. A cardiologia e a cirurgia car- díaca também têm ampliado os investimentos em inovação. “A primeira cirurgia de colocação de ponte de safena do Brasil, por exemplo, foi realizada na BP. As- sim como,mais recentemente, o implante domenormarca-passo do mundo. A instituição foi in- dicada neste ano como um dos centros de referência para a te- rapia Car-T no Brasil, uma das mais avançadas técnicas para o tratamento do câncerhematoló- gico. Esses dois exemplos mais recentes comprovam que esta- mos evoluindo cada dia mais”, diz Denise Santos. A capacitação profissional de seu corpo clínico também é uma das prioridades da BP. Por isso, a instituição criou umLaborató- rio Clínico de Impressão 3D para que osmédicos possam se aper- feiçoar e ser mais assertivos em procedimentos complexos, como uma cirurgia cardíaca pediátrica ou uma intervenção para tratar uma má formação craniana. “É possível imprimir, por meio das imagens do paciente, ummodelo em tamanho real que simula os ossos e as outras partes do corpo. Processamos a imagem médica e transformamos numa impres- são 3D para simulação, isso não é tão comum e foi um projeto de sucesso que conduzimos”, conta Renato Vieira. As inovações não param por aí. A projeção de investimentos para os próximos cinco anos é de R$ 350milhões, afirma a CEO da BP. Além das especialidades de alta complexidade, parte desse investimento também irá para prevenção. “Na BP, cuidamos da saúde. Por isso investimos muito em ações preventivas: ao combinar análises preditivas, tratamentos individualizados e interações revigorantes, am- pliamos a visão de saúde para os nossos clientes”, diz. Com investimentos demais de R$ 830 milhõesem inovação e pesquisa e um amplo leque de parcerias e alianças ao longo dos últimos 13 anos, a BP –A Beneficência Por- tuguesa de São Paulo consolida seunome comoumadas institui- ções de saúde mais respeitadas do Brasil e foi eleita pela revista norte-americana “Newsweek” um dosmelhores centros médi- cos especializados do país. Além disso, os hospitais da BP são os primeiros da América Latina a receber a certificaçãoHIMSS 7, o mais alto grau de digitalização de uma instituição a nível mundial. A BPvem se consolidando co- moumhubdesaúdedeexcelência, comumagestão focadano cresci- mento sustentável e tendo como premissas a saúde e o bem-estar daspessoas.“ABPéumhubdesaú- deporque tambémconectamédi- cos,parceiroseclientes.Aevolução do nosso modelo de negócio está em sinergia com os comporta- mentos e tendências e são pilares fundamentais para seguirmos na transformação da saúde”, afirma Denise Santos, CEOdaBP. São duas unidades hospita- lares com foco em alta comple- xidade e que atendemdiferentes perfis de clientes, oHospital BPe o BPMirante, e, em outras fren- tes, a BP Medicina Diagnóstica e o BP Vital, rede de clínicas de diversas especialidadesmédicas integrada a todas as áreas da ins- tituição, além da BP Educação e Pesquisa, com foco na formação e capacitação de profissionais de saúde, contribuindo para a evo- luçãodamedicina emtodoopaís. Foi essa atuação alémde suas unidadeshospitalares, comcone- xões entre seusdiversos serviços, que levaram ao reconhecimento dentro e fora do Brasil. “A nossa oncologia está entre as primeiras do Brasil, com um corpo clínico altamente especializado, de qua- se 300 oncologistas, alémdeuma equipemultidisciplinar que atua REDE DE CLÍNICAS BP Vital realiza atendimento de diversas especialidades médicas integrado aos demais serviços da BP UNIDADES HOSPITALARES Hospital BP e BP Mirante são referência em casos de alta complexidade, pronto-socorro geral e atendimento personalizado DIAGNÓSTICO Centro de diagnóstico e de terapias oferece exames laboratoriais, de imagem, métodos gráficos e de todas as outras especialidades EQUIPES ESPECIALIZADAS BP Educação e Pesquisa centralizam investimento na formação e na capacitação do corpo clínico PESQUISAS Parcerias com universidades e instituições públicas e privadas ampliam a realização de pesquisas científicas voltadas ao melhor tratamento para pacientes EVOLUÇÃO CONSTANTE A BP tem a inovação em seu DNA e por isso oferece um portfólio importante de saúde digital APRESENTA BP TRANSFORMA A JORNADA DO PACIENTE Instituição amplia atuação além de suas unidades hospitalares e se consolida como um dos principais hubs de saúde do país Responsável técnico: dr. Renato José Vieira – CRM 100594 SP a eee política A12 Domingo, 18 DE DEzEmbro DE 2022 A década de governos petis- tas produziu políticas públi- cas exemplares edesastres.Na educação, conseguiu as duas coisas. No primeiromandato deLula, oministroTarsoGen- ro, coma colaboração de Fer- nandoHaddad, fez o ProUni. Pareciamágica. As faculda- des privadas recebiam isen- ções tributárias e argumen- tavam que ofereciam bolsas de estudo em contrapartida. Era meia verdade, pois es- sas bolsas (quando existiam) eram distribuídas para ami- gos ou amigos dos amigos. O ProUni vinculou as bolsas à renda familiar do estudan- te e ao seu desempenho no Enem. Sem qualquer despe- sa, abriram-se as portas do ensino superior privado para jovens do andar de baixo. Ia tudo bem, quando o mi- nistro da Educação Fernando Haddad (2005-2012) resolveu ressuscitar um programa de créditopúblicoparaestudantes de faculdadesprivadas,oFun- dodeFinanciamentoaoEstu- dantedoEnsinoSuperior,Fies. Aospoucosas regrasdocré- dito forammudadas.Nãoha- viaexigênciadedesempenhoe afrouxaram-seas regrasdafi- ança. O resultado foi uma ex- plosãodebolsistasdoFies.Em 2012,Haddad, futuroministro daFazenda, foi substituídono MECporAloizioMercadante, futuro presidente do BNDES. Emdoisanososbolsistaspas- saram de 224,8 mil para 1,14 milhão em 2014, uma expan- são demais de 400%. Conglomerados privados do setor educacional prospe- raram. AKroton, com 130uni- dadesem 19 estados e mais de 1milhão de alunos, lucrou R$ 517milhões em 2013, 155% a mais que no ano anterior. Seu valor na Bolsa chegou a R$ 25 bilhões, tornando-a a maior do mundo no setor. Em dezembro de 2014, Had- dad,entãonaPrefeituradeSão Paulo,dizia:“OBrasiléreconhe- cidoporterosmaioresgrupos econômicosnaeducaçãoenão adianta falar que é mérito do empresário, porque sem o pa- no de fundo institucional não tem quem prospere. O maior grupoeconômicodeeducação domundoébrasileiro.”Pudera, naqueleano,oFiesrendera-lhe R$ 2 bilhões, cifra inédita até paraaempreiteiraOdebrecht. Três meses antes o banco MorganStanleyhaviaavisado que a inadimplência poderia levar auma implosãodoFies. Não deu outra. De um lado, ogoverno viu-se obrigadoa fe- char a porta do cofre e, de ou- tro,asastúciasdosucessoforam expostas. Em fevereiro de 2015, osrepórteresJoséRobertodeTo- ledo, Paulo Saldaña e Rodrigo BurgarellimastigaramoFies. Entre 2010 e 2014 o custo do programa passou de R$ 1,1 bilhãoparaR$ 13,4bilhõesem valorescorrigidos.As faculda- des privadas estimulavam os alunos a solicitar o financia- mento, transferindoparaaVi- úva suas carteiras de inadim- plência.Mais: seumestudante compravaamatrícula nobal- cão, às vezes tinha desconto. Paraoplantel daViúva, tarifa cheia. Pior: entre 2012 e 2013a taxadeevasãodas faculdades privadas era de 28% e entre os bolsistas chegava a 88%. Em2015, apresidenteDilma Rousseffadmitiuqueogoverno errouaopassarparaas facul- dades privadas o controle do acesso ao Fies. O novo minis- tro da Educação, Cid Gomes, pôs alguma ordem na malu- quice e passou a exigir uma notamínimade450pontosno Enem. Tambémnãopodia re- ceber financiamento quem ti- rasse zeronaredação.Omun- do veio abaixo. Exigir desem- penho seria “limpeza étnica” eoutromaganodaguildadas faculdades prenunciou uma “catástrofe” pois o ministro não era “do ramo” e levara o governoa fazer “umacagada”. AntesdosanosdeHaddade MercadantenoMEC,ofinanci- amento público dos estudan- tes iamal das pernas. Depois, ficousemelas.Omercadoaco- modou-se, criando sistemas próprios, sempre com fiador. O financiamento público tenta se reerguer. Em janei- ro passado, o governodeBol- sonaro, acompanhandouma promessa de Lula, concedeu umaanistia de até 92%do va- lor devido por estudantes fi- nanciados até o final de 2017. Cerca de 1 milhão de jovens tinham atrasos superiores a 90dias noFies. O espeto pode chegar a R$ 6,6 bilhões. Um vexame na Fiesp Houve uma época em que a Federação das Indústrias de São Paulo era chamada de “a poderosa”.Esse tempopassou. A Fiesp fez fama com um pa- toamareloplantadodiantede sua sede, enfeitando asmani- festações contra Dilma Rous- seff. Confundiu-sepor 17anos com a figura de seu ex-presi- dente, Paulo Skaf, candidato a tudo e eleito para nada. No anopassado,aFiespelegeupa- ra suapresidênciaoempresá- rio Josué Gomes da Silva. De uma hora para outra, surgiu uma rebelião destina- da a depô-lo. Ganha um fim de semana de visitas às em- presas de Skaf quem souber de um motivo razoável para o levante. Os grandes sindi- catos estão fora damanobra, articulada junto a pequenas guildas. Poderia ser o caso de um levante de pequenos por grandes motivos. Não é. O fim do mandarinato de Skaf pareceu um sopro de re- novação. O doutor foi conhe- cidopela suadesenvoltura ao circular por gabinetes deBra- sília, incapazes de produzir um prego. Josué Gomes diri- ge uma rede de 22 indústrias têxteis, onde trabalham 15mil pessoas.Herdou-adopai, o ex- vice-presidente José Alencar, que começou do nada. Alencar passou pelo suces- so empresarial e político sem um cisco de nódoa. O filho, seguindo-lhe o caminho, foi convidado para oMinistério da Indústria de Lula. O con- vite deveu-se ao seu desem- penho como empresário, e não ao fato de ser presidente da outrora “poderosa Fiesp”. Para a instituição do pa- to amarelo de 2016, ver seu presidente convidado para o ministério poderia ser mo- tivo de satisfação. Depô-lo por motivos explicáveis, po- deria ser medida necessária. Levante por motivos inexpli- cáveis deixa a impressão de que os motivos não podiam ser explicados. A “poderosa” já teve presi- dentes com interessesmunici- pais e já foi dirigida por cam- peões,mas nunca passou por vexame deste tamanho. Estilo do Itamaraty Em 1964, quandoopresidente João Goulart foi deposto, seu chanceler, o embaixador João Augusto de Araújo Castro, foi mandado para a embaixada em Atenas. Quatro anos de- pois, ele foi para a chefia de delegação naONU emais tar- de tornou-se embaixador em Washington, onde morreu. Era o espírito da Casa de Rio Branco,mantido em 1964, quandoochancelerVascoLei- tãodaCunhafechouaportada Casaaoscaçadoresdebruxas. “Doutor Vasco” foi um ho- memgentil e elegante. Quem o via não acreditava que, em 1942, como chefe de gabine- te do ministro da Justiça te- ve umbate-boca como pode- roso chefe de polícia Filinto Muller e deu-lhe voz de prisão. Estilo da China Desde o início de 2020, os Bolsonaros implicavam pes- soalmente com o embaixa- dor da China, Yang Wan- ming. Chegaram a sugerir que ele fosse tirado do Brasil. Yang é um diplomata rom- budo, mas o governo chinês fez que não ouviu. Só ago- ra substituiu-o, a tempo de que entregasse credenciais ao novo presidente. o crédito para estudantes fez fortunas e calotes AduplaHaddad-Mercadante e o Fies Juliana Freire - Elio Gaspari Jornalista, autor de cinco volumes sobre a história do regime militar, entre eles “A Ditadura Encurralada” -RenatoMachado, Matheus Teixeira e MariannaHolanda Brasília Com Jair Bolsonaro (PL) dando sinais dúbios so- breofuturoapósdeixaraPre- sidência, aliados articulam e defendemque seus filhos te- nhampapel fundamentalpa- ra manter o sobrenome e o movimento bolsonarista re- levantesnouniversopolítico. Aliados avaliam que o pri- mogênito, o senador Flávio Bolsonaro(PL-RJ),seráoprin- cipal canal de diálogo de seu pai com a base bolsonarista noLegislativo,alémdesetor- narumareferêncianaoposi- çãoaofuturogovernopetista. Seusirmãos,poroutrolado, devematuarparamanterBol- sonaroconectadocomadirei- ta mundial e com a ala mais radicaldamilitâncianoBrasil. Aexpectativaéqueodepu- tadofederalEduardo(PL-SP) mantenhaainterlocuçãocom líderesdadireitadeoutrospa- íses,enquantoovereadorCar- los(Republicanos-RJ)prossi- ga como omentor das redes sociais bolsonaristas. Jair Bolsonaro tornou-se o primeiropresidentedaerade- mocráticaaserderrotadona buscapelareeleição,mascon- seguiuelegergrandesbanca- dasnoCongresso,alémdeco- locaraliadosnocomandode alguns dos estados mais im- portantes dopaís. Analistaspolíticosepessoas próximasaBolsonaroavaliam queumadasdificuldades se- rámanter fidelizados os 58,2 milhõesdeeleitoresqueoes- colheram e garantir vigor ao movimentobolsonarista,den- troe foradomundopolítico, comeleforadecargopúblico. Opresidentedeverá seguir a partir de janeiro em Brasí- lia.OPLdevepagarumsalário deR$39,2mil,alémdealugar umamansãoemumcondomí- nio fechado e nomeá-lo pre- sidentedehonrada legenda. Aavaliaçãodealiadoséque caberáaseusfilhosoenfren- tamento político diário, cer- randofileirasnaoposiçãoao governo do presidente Lu- iz Inácio Lula da Silva (PT), com espaço nas tribunas do Congresso, aparecendo com maisfrequêncianonoticiário. Flávioganharáprotagonis- monarepresentaçãoinstitu- cionalnoParlamento.Embo- ramenospopularqueseusir- FilhosdeBolsonaro tentarão manter relevânciadopai Aliados veem protagonismo de Flávio no Congresso, enquanto irmãos focam radicais bolsonarismo raiz não só na legenda como em siglas ali- adas. Entre os exemplos, es- tãoMarcosPontes(PL-SP)ea ex-ministradaMulher,Famí- liaeDireitosHumanosDama- resAlves (Republicanos-DF). AexpectativaéadequeFlá- vio desempenhe uma atua- ção semelhante à que tinha na Alerj (Assembleia Legis- lativa do Rio de Janeiro), co- modeputadoestadual,quan- do eramais ativo na tribuna e aparecia mais na impren- sa.Comosenador,elemante- ve uma postura mais discre- tanos seusprimeirosquatro anosdemandato,paraevitar contratemposqueprejudicas- semagestãodopai. Alémdisso,submergiuapós as denúncias deque liderava umesquemade“rachadinha” em seu gabinete quando era parlamentarnoRiodeJaneiro. O caminho para Flávio, no entanto,podeenfrentarcon- corrência,mesmodentro do partido.Osenadoraindanão deixou claro se a figura de li- derança que almeja significa ocuparocargoformaldelíder da oposição. Esse posto vem sendocobiçadoealvodearti- culaçãoporoutrosmembros dabancadadoPL.Umdelesé oatuallíderdogovernonoSe- nado,CarlosPortinho(PL-RJ). A expectativa em relação a seus irmãosébemdiferente. EduardoBolsonarofoireelei- to,mas nãoobteve omesmo destaquedeeleiçõesanterio- res,perdendo 1milhãodevo- tos.Alémdisso,háaavaliação de que não semostrou hábil paraarticulaçõesnaCâmara, comoFlávio foi no Senado. Por isso, aliados apontam que seupapel será diferente. Ofilho03dopresidentedeve- ráintensificarsuaatuaçãopa- ra que ele e seu pai sejam re- ferênciasdadireitamundial, emparticularnaAméricaLa- tina.Ospróximosanosserão dedicados a viagens, com fo- co especial nos Estados Uni- dos, onde o republicano Do- nald Trump busca ressurgir após, assim como Bolsona- ro, tersidoderrotadoemsua tentativa de reeleição. Aaliançacomotrumpismo eseus ideólogos, comoSteve Bannon, é uma das apostas paraumeventual retornoao poder em 2027. Segundo essa leitura, caso Trumpsejavencedorem2024, poderia haver uma nova on- da conservadoranomundo. Já o papel político a ser de- sempenhadoporCarlos Bol- sonaroémenosexplícito.Ele deverá seguir como um dos principaisconselheirosdopai, responsávelpelasmídiassoci- aisdeBolsonaro–oprincipal meiodecomunicaçãodoman- datáriocomseusapoiadores. Dessa forma, Carlos é visto como um “defensor do lega- do”dopai,emparticularpara seusmilitantes. Ao contrário dosdemais,eleteráumdesafio eleitoraljáem2024,comofim deseumandatodevereador. Embora sua reeleição não sejaconsideradacomplicada, alguns avaliamque sua vota- ção será um indicativo ante- cipadodaforçabolsonarista. Por issoháatémesmoapos- sibilidadedequeelenãocon- corraevenhaadisputaruma vaganas eleições de 2026. mãosnasredes,eledevesero granderesponsávelporman- ter o sobrenome em evidên- cia por ter mais trânsito no mundopolíticoecapacidade dearticulação.Oprimogênito foiocoordenadordacampa- nhapresidencial de seupai. Alémdisso,Fláviotemman- dato até 2026 no Senado — Casa legislativa que deve ser a pedra no sapato do futuro governo Lula, uma espécie de“bunkerbolsonarista”,da- doograndecrescimentodos partidosaliadosnaseleições. BolsonaroajudouoPLafa- zeramaiorbancada,garantin- doaeleiçãodepolíticosmais identificadoscomochamado Opresidente Bolsonaro comos filhos @BolsonaroSP no Twitter |dom. ElioGaspari | seg. CelsoR. deBarros |ter. JoelP.daFonseca |qua. ElioGaspari |qui. ConradoH.Mendes |sex. ReinaldoAzevedo,AngelaAlonso |sáB. DemétrioMagnoli a eee Domingo, 18 DE DEzEmbro DE 2022 A13 a eee política A14 Domingo, 18 DE DEzEmbro DE 2022 Envergadura 8,5m A lt ur a 4, 5 m Envergadura 8,5m Armamentos O Gripen pode usar praticamente todos os mísseis e bombas usadas por caças do inventário ocidental Além disso, carrega tanques externos e sistema eletro-óptico para designar alvos Raio-X do Gripen E Dimensões 10minutos é o tempo em solo para rearmar e reabastecer (missão de defesa aérea) com 5militares 500m Distância mínima para decolar 600m Distância mínima para pousar Comprimento 15,2m VelocidademáximaMach 2 Altitudemáxima 16mil m Carga bélica 10 pontos de carga, 5,3 t em armas Peso vazio 8 t Peso máximo de decolagem 16,5 t 1Motor GE F414G (EUA) 2 Antena VHF (comunicação) 3 Visor Head-Up 4 Painel panorâmico 5 IRST (sensor infravermelho) 6 Radar Raven AESA 7 Tubo de pitot do nariz (para aferir velocidade) 8 Antena VHF/UHF (comunicação) 9 Antena ILS (pouso por instrumento) 10 Sonda retrátril para reabastecimento em voo 11 10 pontos para carga externa Gino Marcomini/Saab | Infografia Luciano Veronezi 2 1 3 4 5 6 7 8 9 10 11 Caça Gripen dematrícula 4100 sobrevoa a cidade do Rio de Janeiro como Cristo Redentor ao fundo Sargento Bianca /Divulgação Força Aérea Brasileira -Igor Gielow SÃO PAULO A partir desta se- gunda-feira (19),oBrasilpas- saaoperarosmaismodernos caçasdaAméricaLatinacoma entradaemoperaçãodequa- tro unidades do sueco Saab GripenE,queserãoapresen- tadasnasededoGrupodeDe- fesaAérea deAnápolis (GO). Comoalocalizaçãosugere, eles servirão para prover ca- pacidadedeinterceptaçãode aeronaves intrusas no cora- çãodopoder,Brasília,ameros 150kmdabaseconhecidaco- moAla2daFAB(ForçaAérea Brasileira).Hoje,otrabalhoé decansadosF-5americanos, comprados nos anos 1970 e modernizadospelaEmbraer. “O início das operações é ummarco, aodotaraFABde umaplataformamultimissão de última geração”, afirma o comandantedaAeronáutica, brigadeiroCarlosdeAlmeida Baptista Junior. Elejáhaviaaceleradoopro- cessodeaquisiçãodemísseis paradardentesaoscaças,no caso os europeus Iris-T (cur- toalcance)eMeteor(alémdo campovisual dopiloto). Com isso, o Brasil começa adominarascapacidadesaé- reas na região. OChile opera versõesmuitocapazesdoF-16 americano e a Venezuela, os temidos modelos russos Su- khoi-30, embora neste caso hajadúvidasacercadadispo- nibilidadedos armamentos. OGripen,aindaqueumavi- ão monomotor de pequeno porte, é visto como no topo da chamada quarta geração decaças—aquintasendode modelosfurtivosaoradar,co- moo americanoF-35. OGripen foi compradoem sua terceira geração, a E/F. Custou 39,3 bilhões de co- roassuecas(R$20bilhõespe- lo câmbio de hoje), em 2014. O valor foi financiado em 25 anos,apesardeetapasdede- sembolsoaseremabatidasde quaseR$1bilhãoanualmente. O Brasil adquiriu um pa- cote completo, com aviões e transferência de tecnologia, além de toda a parafernália de apoio em solo —dois si- muladoresde voo, umaesta- çãoqueemulatodosossiste- mas do avião, ferramentas e computadores. Já foramtrei- nadoscercade20pilotose20 técnicos nabase. Asquatrounidadesqueche- gamnestasegundaevidenci- amos riscosde tal empreita- dadelongoprazo.Naprogra- mação revisada da FAB, seri- am seis aviões operacionais neste ano, além do caça de matrícula 4100, que chegou em 2020 e segue como mo- delo de testes que garantiu o chamadoCertificadodeTipo MilitardasAeronáuticasbra- sileira e sueca. “Tivemos uma leve discre- pância, mas sempre traba- lhamos em sintonia com o cliente”, relativizou Mikael Franzén,chefedemarketing e vendas aeronáuticas da Sa- ab,afabricantedoGripen.Ele dizqueoprazofinaldeentre- ga dos 36 aviões iniciais está mantidopara2027,equedois novoscaçasserãodesembar- cadosno começodo ano. Éumapeculiaridadedepro- gramasmilitares brasileiros. OGripenjátevediversosatra- sos:mesmosuaescolhaocor- reuapós 13anosdeidasevin- dasdogovernobrasileiro, al- go de resto comum. Franzénindicaumamudan- çaimportantenodesenhoda produção local do caça. Brasil começaa operaros caças mais avançados daAméricaLatina Quatro gripen entram em operação na segunda (19); fabricante espera comprometimento do novo governo O Brasil comprou 28 mo- delosE, deum lugar, e8F, de dois, que estão sendo dese- nhados com a Embraer em GaviãoPeixoto (SP). A expectativa inicial era de queessesbipostosseriamfa- bricadosnoBrasil,atéporque partesdesuafuselagemjáes- tão sendo feitas na unidade daSaabemSãoBernardodo Campo (SP). “Vamos concentrar a pro- duçãode15aviões[dos36]no Brasil. Mas, de acordo coma curvadeaprendizadoque ti- vemos e de forma acordada, faremos eles com um lugar, omodeloE”, disse Franzén. Em relação ao comprome- timentobrasileirocomopro- jeto,oexecutivodissenãoes- tarpreocupadocomamudan- ça de governo —até porque oGripen foi comprado, após longanovela,nogovernope- tista deDilmaRousseff, e até mesmo o eleito Luiz Inácio Lula da Silva foi acusado de fazer lobbypelo avião. “Compra de caças são ne- gócios de Estado, não de go- vernos.AFABéacliente”,afir- mou Franzén. Escaldado pe- la falta de verbas no passa- do, ele fez o reparo: “Vamos aguardar e ver.” “Onãoaportederecursosfi- nanceiros acaba por obrigar repactuações emciclosmais constantes do que o deseja- do, ocasionando eventuais e indesejadas extensões na vi- gência contratual original- mente estabelecida”,disse o comandante daFAB. Comefeito, aForçacortou parte da encomenda de car- gueiros KC-390 da Embraer emfavordemanterofluxofi- nanceirodoprojetoGripene outros,oquegeroucertapo- lêmica nomeiomilitar. DizBaptista Junior: “OGri- pen vem a substituir vetores aéreos que já foram desati- vados ou que já ingressam na quinta década de opera- ção pela Força Aérea, estan- docomseusrespectivospro- cessos de desativação plane- jados ou emcurso”. O comandante, que deixa- rá o cargo em janeiro, defen- desuapropostaparaumadi- tivode compradequatro ca- ças no contrato atual, e a re- alizaçãodeumanovarodada paraadquirir26novosaviões, como a Folha revelou em fe- vereiro. “Estamos negocian- do”, diz Franzén. Com 36 aviões do contra- to inicial, diz Baptista, o país teria três aeronaves para ca- damilhãodekmquadradosa seremdefendidos, incluindo omarterritorial.Épouco,es- pecialmente com a falta crô- nicadeumadefesaantiaérea estruturada. “ÉcomoseaCo- lômbiativessesótrêsGripen.” O país sul-americano, ali- ás, está no alvo dos negócios daSaab,comareaberturade uma disputa afunilada entre oGripen e o F-16 americano. Franzén diz que o Peru, que operaantigoscaçassoviéticos, tambémdemonstrouinteres- se—abrindo a possibilidade deumalinhadeproduçãore- gionalizadacentradanaEm- braer,parceiradoprograma. AnteofatodequeaGuerra daUcrâniaembaralhoucartas easredistribuiuparaaindús- triaamericananocampo,com orecentesucessodoF-35em disputas,Franzénrelativizou lembrandoquehá“demanda urgente” da Bulgária por ca- ças, que poderiam ser a ver- sãoanteriordoGripen,aC/D, eperspectivadeaumentode frotas existentes dessa gera- çãonaHungria e naÁsia (no caso, Tailândia). O Gripen chega para subs- tituir os F-5, caças america- nosdosanos 1970que foram modernizadospelaEmbraer para ficar no lugar dos tradi- cionaisMiragefrancesesque operavamemAnápolis,como umremendonadefesaaérea. OBrasilopera49dessesavi- ões, além de 28 aparelhos de ataqueaosoloAMX,daEmbra- er,quetambémserãodesaloja- dospelaplataformamultimis- sãoqueéoGripen.Omodelo E está sendo comprado tam- bém pela Suécia, que tem 96 versões mais antigas —utili- zadasemoutroscincopaíses. a eee política Domingo, 18 DE DEzEmbro DE 2022 A15 o voto nulo e branco. Por is- so,nosegundoturno,escolhi. EntreLulaeBolsonaro,fiquei comBolsonaro.Issotemcoe- rência comaminhahistória, eutenhoumavidacontraoPT aquiemSãoPauloecontinu- arei fazendo oposição ao PT porquenãoacreditonessafor- made governar. Isso nãome transforma em alguém que assina embaixo do governo Bolsonaro. Temos divergên- cias com Bolsonaro que fi- caramevidentes ao longodo tempo e elas não deixam de existir. Acho que ele acertou muitonaáreaeconômica,er- rouemmuitasdesuaspostu- rasverbais.EntreeleeLula,fi- queicomeleeficariadenovo. Emquepontososr.achaque o Bolsonaro acertou na eco- nomia? Previdência, mar- co regulatóriodosaneamen- to,autonomiadoBancoCen- tral.Sãoavançoseconômicos que temos que creditar a es- se período demandato. Bol- naro não quis mexer em leis de estatais. Esse tipo de coi- sa me faz ficar mais com es- se governodoque comLula. Qual a expectativa do sr. em relação ao governo Lula pe- lossinaisdadosatéaqui? Pa- ramim,começoumuitomal, numa gastança fiscal desen- freada, não entendendo que acontavirámuitorápidonos próximosmeses.Eampliando einchandoamáquinapública, oquesemprefuicontra.Mas vamos aguardar a instalação dogoverno.Sesoudeputado ouestounoSenado,votocon- traaPECdaGastança.Apon- to claramentequeogoverno talvezprecisededinheiropa- raamanutençãodoBolsaFa- mília, issoninguémcontesta, mas é umano de prazo e pe- dir uma nova regra fiscal pa- ra o Brasil. Estão dando um cheque em brancomaior do queo governoprecisa. Osr.sabecomooPSDBvairea- gir? Gosteidaposturado[Jo- sé]Serra,daposturadoTasso [Jereissati] apontando erros na proposta da PEC. Na Câ- mara,aindanãoouvinenhum pronunciamento,masespero queoPSDBfaçaoposiçãores- ponsável aogovernodoPT. EemSãoPaulo,oquesepode esperardaatuaçãodoPSDB? Vai depender de o governo eleito querer ou não o PSDB na suabase. Comoosr.vêofuturodopar- tido fora dopoder depois de tantosanos? OPSDBtemum passadoglorioso,dereferên- cia, que tem que servir para umreposicionamentono fu- turo–sejamasconquistasdo governoFernandoHenrique, as conquistas de SP e de ou- trosestadosouasdegrandes cidadesemquemostrouboa gestão. Issotudofazpartede uma história bem-sucedida que o partido precisa contar para as pessoas, mas não é suficiente para o futuro. De- sejo sorte e espero que Edu- ardo Leite, que vai presidir o partido, possa conduzir essa transição para a nova gera- çãoe reposicionaropartido. Faria algo diferente do que fez na campanha? Faria tu- do de novo. Nessa eleição, não se analisou a gestão. Foi umaeleiçãode time, ouLula ou Bolsonaro. Não se discu- tiu as questões reais de São Paulo, e foi assim no Brasil inteiro. Comocandidato, era abordadosobremeuposicio- namento de pauta de costu- mes, não sobre o que iria fa- zerparaasegurançapública, saúdeoumobilidade.Acredi- tei numa eleição que queria discutir São Paulo, e a socie- dadediscutiuoutracoisa,por issonãovenci.Oresultadode eunãoteridoaosegundotur- no foi não ter um candidato a presidente forte. Declarei voto a Simone Tebet (MDB), mas no segundo turno fui espremidopela polarização. Obolsonarismopodeforçara centro-direitaaabraçarmais apautadecostumes? Apau- ta de costumes estará, sim, sempre na agenda da direi- ta, mas acredito que o que vai prevalecer nos próximos anos será adiscussão econô- mica,porqueteremosumde- safiomuitograndequefoiadi- ado, jáquenapandemiative- mos um adicional de recur- sos. O Brasil e omundo vive- ram isso, há demanda infla- cionária gerada por esse vo- lume a mais de dinheiro. O quedevepautar aspróximas eleições volta a ser a realida- de:economia,expectativade emprego,expectativaderen- da,sevouconseguirmelhorar minha vida ounão. A vacina contra a Covid, que ajudouaimunizaroBrasil,foi pouco explorada na campa- nha. Por quê? A Covid pra- ticamente não foi pauta des- sa eleição, foi pauta da elei- ção de 2020, quando estáva- mos no meio da onda e não tínhamos vacina. As pesso- as querem esquecer aquele momento difícil, todo mun- doquer apagarumpoucoda memória.Temosvacina,mas eofuturo?Nemvacinaenem asquestõesreaisdeSãoPaulo foram temade eleição. O que pretende fazer da sua carreira política agora? De- pois de 24 anos, deixo de ter mandatopopular, saiodeca- beçaerguida,comasensação detercolaboradomuitocom o meu estado. Está cedo pa- ra pensar no futuro. Voume dedicaràfamíliaeaquestões pessoais e depois vou olhar para o futuro comcalma. Fica no PSDB ou vai para a UniãoBrasil? Nãotenhone- nhum motivo para sair do PSDB, é especulação. Comoosr.vêoquadroemSão Paulo para a eleiçãomunici- pal de 2024? Pode sair can- didato a prefeito, vai apoiar Ricardo Nunes? Vejo como natural o apoio do PSDB ao prefeito Ricardo Nunes, vejo a candidatura dele colocada e vejo a candidatura de opo- siçãodoGuilhermeBoulos. VoltandoaproblemasdeSão Paulo, emrelaçãoàcracolân- dia,asaçõesdoestadoquees- palharamusuáriosdedrogas coincidemcomofechamento decomércioseepisódiosdevi- olência. Qual sua avaliação? Isso é uma reação de um es- forçodoestadoedaprefeitu- raemdiminuirofluxodacra- colândia,emprocurarprender traficantes e dar tratamento a dependentes. Se olharmos o resultado positivo, hoje há menosdependentesquímicos na região do que havia anos atrás. É só olhar para as foto- grafias e contagens de 2015 e 2016 e para as de hoje. Como consequência, a violência au- mentou.Ocaminhoé insistir notratamentoenasprisõesde traficantesparaqueemalgum momento isso seja resolvido. Não terá soluçãosimples. EmviagemaSãoPaulo,opresi- denteeleitoLuladissequenun- catinhavistooqueviunarua. Comorespondeàcrítica? Ésó pegarumafotografiadacraco- lândiadequandoHaddadera prefeito e mostrar para Lula, paraeleverqueestámelhor. E o aumento de moradores de rua? A pandemia au- mentou a pobreza, o núme- rodemoradoresde rua,mas aumentamos os programas sociais, bolsa trabalho, au- xílio-moradia. É preciso ter ummutirão em relação a al- ternativas de emprego para moradoresde rua. Em relação ao futuro gover- no, como encara o plano de Tarcísio de privatizar a Sa- besp? Nãosetratadequerer venderoumantê-laestatal,se tratadeolharo resultado.Eu venderia a Sabesp se tivesse comprovado que o consumi- dorganhariacomisso,anteci- pandoauniversalizaçãodosa- neamentoou reduzindo a ta- rifa, essa seria minha lógica. Tarcísio disse isso na campa- nhatambém,eagoraprovavel- mentevaiestabelecerestudos para tomar suadecisão. Karime Xavier - 16.dez.22/Folhapress RodrigoGarcia Deixodinheiro emcaixa paraTarcísio, e Lula começamal comgastança governador de São Paulo encerra sequência de 28 anos do PSDb no poder e diz que nãomudaria nada em sua campanha Rodrigo Garcia, 48 Filiado ao PSDB, foi vice-governador de São Paulo e secretário de Governo de João Doria (PSDB) até assumir o cargo de chefe do Executivo em abril de 2022. Foi subsecretário de Agricultura aos 21 anos, na gestão de Mário Covas, deputado estadual de São Paulo e deputado federal “ Está cedo para pensar no futuro. Voume dedicar à família e a questões pessoais e depois vou olhar para o futuro com calma Paramim, [o governo Lula] começoumuito mal, numa gastança fiscal desenfreada, não entendendo que a conta virá muito rápido nos próximos meses. E ampliando e inchando a máquina pública, o que sempre fui contra. Mas vamos aguardar a instalação do governo EntREvista -Artur Rodrigues e Paula Soprana São Paulo Último de umadi- nastia de tucanos à frentede São Paulo em três décadas, Rodrigo Garcia pretende ti- rarumperíododefériasapós anos como deputado, secre- táriodeestado,vice-governa- dore,finalmente,governador. Desde abril à frente do Pa- lácio dos Bandeirantes, após JoãoDoria (PSDB) renunciar, Rodrigo diz que deixa umes- tado com dinheiro em caixa paraseusucessor,Tarcísiode Freitas(Republicanos),aquem apoiounosegundoturnocon- traFernandoHaddad (PT). Rodrigoafirmaqueacabou engolidopelapolarizaçãona campanha e seguiu seu his- tórico ao se posicionar con- tra o PT. Apesar de até agora o governador eleito ter dei- xado o PSDB fora do futuro governo, Rodrigo nega qual- quer frustração e diz que ca- beaTarcísiodecidirsequeros tucanos na sua base aliada. Ele afirma, inclusive, que faria tudo de novo –apoi- ar Jair Bolsonaro (PL) con- tra Luiz Inácio Lula da Silva (PT), a quem dirige as críti- casmaispesadas.ParaRodri- go, opresidenteeleito come- çou muito mal ao promover “gastança desenfreada”. O atual governador desta- ca que deixa R$ 30 bilhões em caixa e o menor endivi- damento da história. Ques- tionado sobre problemas que a administração não conseguiu resolver, como grandesobrasdeinfraestrutu- raeacracolândia,elesusten- ta que a situaçãomelhorou. * Seosr. fossedefinirumlega- dodosquatroanosdegestão, oque indicaria? Voudeixar umestadoondeascoisasfun- cionam,comserviçosaprova- dospelapopulaçãoedinhei- ro em caixa. Temos inúme- ros exemplos disso. Na área de infraestrutura, quase 40 km de metrô em obras. No interior, mais de 11.500 km de estradas estão sendo fei- tas.Naáreaambiental, ades- poluiçãodorioPinheiros.Na área da saúde, temos vários hospitais abertos, amplia- çãodaredeexistente, ampli- ação da capacidade de aten- dimento. Saio de cabeça er- guida e com a tranquilidade do dever cumprido. Rodoanel, linhas demetrô e outras grandes obras estão atrasadas. Por qual motivo elas emperraram? Vamos bater uma fotografia do es- tadoemjaneirode2019eem dezembro de 2022. Você não tinha nenhuma obra deme- trô em andamento, com pe- dreirotrabalhando,emjanei- rode2019.Todasestavampa- radas.Emdezembrode2022, todas estão andando: linhas 15, 17, 6, 2, 8 e 9. Qual a gran- deobraquecontinuaparada? Rodoanel, que vamos para o terceiro leilão no começo do anoquevem.Quandovocêen- contra uma obra grande pa- rada, o problema dela não é aengenharia,nemmuitasve- zesosrecursos,oproblemaé a complexidade contratual. Como secretário de Gover- nonesta sala, enfrentei uma umesses desafios. Algumas dessas obras fica- rãoparaoTarcísio inaugurar. Aexpectativaéqueeleentre- gue35estações[detrem].Es- tou fazendo uma transição não só republicana e trans- parente, mas colaborativa. Alémdessa colaboração, um orçamentoondeasvontades e políticas públicas de gover- no cabem. Então, vejo como natural e fico feliz que São Paulo vá usufruir de muitas coisas iniciadas nesta gestão e entregues napróxima. O sr. declarou apoio a Tarcí- sioe JairBolsonaro.Háalgu- mafrustraçãopornãohaver ninguémdoPSDBna transi- ção e nas secretarias estadu- ais? Quandodeclareioapoio incondicional era sem nada emtroca,sempedirnenhuma contrapartida.Nãoexistene- nhuma frustração da minha parte. Essa éumadecisãodo governo eleito, de convidar o PSDB para fazer parte da base. É um convite que não tem de ser dirigido amim já comoex-governador,masao partidoeàbancadadedepu- tados. Eu não mediarei esse assuntocomonovogoverno. Então, nenhuma frustração. Pelaimagemdepolíticomais moderadoepelosatritosque a gestão teve com o governo federal,seuapoioaoBolsona- roécoerente? Eusoucontra a eee mundo A16 Domingo, 18 DE DEzEmbro DE 2022 -Thiago Amâncio Washington Os Estados Uni- dos esperam que o governo Luiz InácioLuladaSilva(PT) tenhaumadiplomaciaativae seenvolvanaquestãodaVene- zuelapara “melhorar as con- diçõesdademocracia”nopa- ís,dizàFolhaRicardoZúniga, umdosprincipaisformulado- res de políticas para o Brasil dentrodagestãodeJoeBiden. Lula convidou NicolásMa- duroparasuaposseeanunci- ouorestabelecimentoderela- çõesdiplomáticas.Apesardis- so, Zúniga afirma que o Bra- sil tambémsebeneficiará da estabilidade na região e que há “sobreposição de interes- sespelaeleiçãodeumaauto- ridade legítima emCaracas.” Vice-secretário assistente no Departamento de Esta- doeex-cônsul emSãoPaulo, odiplomataafirmaqueespe- raumapolítica externaativa do novo governo Lula, com envolvimento em questões globais, de meio ambiente à segurança internacional. Ele afirma ainda ter con- fiança nas instituições por uma transferência de poder ordeira,apesardosprotestos violentos registrados no pa- ís. “A transição deve ocorrer de acordo com a vontade do povoede acordo comas ins- tituições brasileiras”, afirma. * Expectativas para o governo Umacoisaquedeixamoscla- ronãosóduranteesseintenso períododecampanhanoBra- sil,mas ao longodedécadas, équetemosumarelaçãocom o Brasil, não com um gover- no em particular. Nossa per- cepçãoéqueexistemmuitos interesses contínuos que ve- remos aparecer novamente no próximo governo. O Bra- sil é um ator global, espera- mos ver uma agenda muito ativaporpartedestegoverno. Amaisóbviaéaquestãodo clima,mas não a única, tam- bémsegurançaalimentar,paz internacional e uma política externaativanasNaçõesUni- dasenasorganizaçõesmulti- laterais. É algo que vimos no passado e com o qual esta- mosansiosospara trabalhar. [Sobre uma possível no- va operação da ONU noHai- ti] Estamos fazendo consul- tas ao Brasil devido a sua ex- periência na Minustah. A creditamos que há um pa- pel importantepara a comu- nidade internacional nes- se momento, com algum ti- po de apoio multinacional pelasegurançadoHaiti.OBra- sil certamente tem um forte interesse em ver a melhoria das condições na região. A situação na Venezuela e a proximidade comMaduro Outra área em que acredita- mosqueoBrasil teminteres- se é melhorar as condições dademocracianaVenezuela. Comopartedacomunidade internacional,estamosmuito focadosemvereleiçõeslivres ejustasquelevemaumgover- nocomoqualtodaacomuni- dade internacional trabalhe. O Brasil também tem inte- ressenisso;6,5milhõesdeve- nezuelanos tiveram que dei- xar o país, há mineração ile- gal na fronteira, o que afeta o meio ambiente do Brasil e trazoutrasatividadesilegais. Temosuminteresseemco- mumeacredito que será im- portantetrabalharmosjuntos comoobjetivodeumaVene- zuela democrática e estável. Não acredito que exista al- guém em algum país demo- crático da América do Sul queacreditequeaVenezuela represente uma sociedade bem-sucedida hoje. UmaVe- nezuela democrática tem mais chances de ser uma Venezuela bem-sucedida. Acreditamos que há uma sobreposição de interesses pelaeleiçãodeumaautorida-de legítima emCaracas. As relações do petista com a China de Xi Jinping Nãoénossapolíticadizeraos países com quem devem ter boasoumásrelaçõesnemco- modevemlidarcomaChina. Todos têmseus interesses. Nossoobjetivonãoéocon- flito,mas,emvezdisso,ajudar a criar uma situação onde a Chinaapoieaordemmundial. Masquando falamosdesse relacionamento entre os Es- tados Unidos e Brasil, esta- mos falandodeduasnações, e nãodedois governos. O Brasil é importante pa- raosEstadosUnidosporque é uma grande democracia, porque a maioria dos bra- sileiros quer o mesmo tipo demundoque amaioria dos americanos, onde há liber- dade, onde as pessoas pos- sam viver em comunidades seguras, onde possam esco- lher suas próprias vidas. Em ummundodeautoritarismo em ascensão namaior parte do planeta, ter um parceiro como Brasil é muito impor- tanteparaosEstadosUnidos. EUAqueremajudadeLula coma Venezuela, diz altooficial deBiden ricardo zúniga fala sobre expectativas do governo americano para nova gestão do petista As relações sob Bolsonaro e mudança de governo Somos duas democracias muito complexas, às vezes turbulentas, mas temos alto nível de interesses em co- mum. Fizemos progressos emmuitasáreas,naparteeco- nômica,questõesdeseguran- ça e na segurança alimentar. Conseguíamoslidartambém emáreasondenãotínhamos asmesmas opiniões, porque temos um alto nível de pro- fissionalismo entre os diplo- matas dos dois lados para li- darcomasnossasdiferenças. Biden e Bolsonaro tiveram um encontromuito positivo em Los Angeles, em junho. Ao longodaeleição,umpon- toquedeixamosmuito claro équeosEUAseriamneutros independentementedoresul- tado e que estávamosmuito confiantesno sistemaeleito- ral brasileiro, queproduziria um resultado justo e preciso dodesejodopovobrasileiro. A eleição demonstrou mais uma vez o profissionalismo e a capacidade da democra- ciabrasileira,oque,nomun- dodehoje,nãoépoucacoisa. Estávamosprontosparatra- balharcomqualquerlíderque opovobrasileiro escolhesse. Neste caso, é um líder com quem já havíamos trabalha- do antes, o que certamente acreditamosquecontribuirá paranossahabilidadedetra- balhardemaneiraprodutiva. Atos antidemocráticos no Brasil pós-eleições Rejeitamosousodaviolência políticaemquaisquercircuns- tâncias. Acreditamos firme- mentequehaveráumatrans- ferênciadepodernoBrasilde forma ordinária e acredita- mos que as instituições bra- sileiras têm plena capacida- dedeadministraratéumasi- tuaçãodeconflitocomoessa. Issonãoéalgoestranhoaos Estados Unidos, é claro que experimentamos nossa pró- pria violência durante uma transição [a invasãodoCapi- tólio]. A transição deve ocor- rer de acordo comavontade do povo e de acordo com as instituiçõesbrasileiras.Esta- mosmuitoconfiantesdeque oBrasil vai conseguir isso. O uso de algemas em imigrantes deportados Toda a região está pas- sando pela maior onda de migraçãoemmassadahistó- ria das Américas. Tambémo Brasil, com pessoas entran- do no país e deixando o país emnúmeros enormes. Nóstemostrabalhadomuito bemcomo governo brasilei- ro para tentar uma resposta regional,particularmentepor meio da Declaração de Los Angeles sobre Migração e Proteção, que aborda o tra- tamentohumanodamigração tanto quantopossível. Trabalhamos em estreita colaboração com as autori- dadesbrasileirasparagaran- tir esses voos da formamais humana possível. São voos muito longos, e a nossa ex- periênciamostrouqueémais importantepreservarasegu- rançadetodosnessesaviões. O financiamento para preservação da Amazônia Clima e aquecimento global sãoáreasnasquaisesperamos negociaçõesediscussõesmui- toativascomogovernobrasi- leiro,queesperamosqueserá umlíderemnívelglobal.Sem- preesperamosexplorarsolu- çõescriativas,quepossamre- almenteproduzir resultados claros em termos de comba- teaodesmatamentoedepro- moçãoda sustentabilidade. A posse de Lula em 2023 A delegação americana está em deliberação. O que vere- mos é uma grande interação entrenóseanovaequipe.Ejá houve. [O conselheiro de Se- gurançaNacional] Jake Sulli- van não pega avião para ir a todos os novos governos. É por causa da natureza desse relacionamento.OBrasiltam- bém foi o primeiro país que Sullivan visitou, no governo Bolsonaro. Isso faz parte de umrelacionamentocontínuo. $ Ricardo Zúniga, 52 Vice-secretário assistente para Hemisfério Ocidental no Departamento de Estado dos EUA, é um dos principais responsáveis pela formulação de políticas para o Brasil no governo Biden. Foi cônsul em São Paulo de 2015 a 2018. Antes disso, foi diretor sênior de Hemisfério Ocidental no Conselho de Segurança Nacional no governo Obama. Nasceu em Tegucigalpa, em Honduras, e estudou relações internacionais e estudos latino-americanos na Universidade da Virgínia. Opresidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) durante cerimônia de diplomação emBrasília Ueslei Marcelino - 12.dez.22/Reuters “ Não existe alguém em algum país democrático que acredite que a Venezuela represente uma sociedade bem-sucedida hoje. Uma Venezuela democrática tem mais chances de ser bem-sucedida Ricardo Zúniga Alto oficial de biden para brasil a eee -Diogo Bercito Washington Javier fugiu da Venezuelaemmeioaocolap- soeconômico,àrepressãoeà pandemiadecoronavírus.Ao cruzar a fronteira doMéxico com os Estados Unidos em 2021, foi detido pelas autori- dadesamericanas,queamea- çaramexpulsá-loemandá-lo devoltaaseupaísnatal,onde elealegacorrerváriosriscos. Detudoisso,édaprisãoque elefalacommaisemoçãodu- rante entrevista à Folha. Ele choraaomencionarquesen- tia que sua detenção estava sendoprolongadaporqueera rentável.Esseimigrantede28 anos,quenãodizseusobreno- me para evitar repercussões legais, passou seismeses em umaprisãoparticular,queti- nhafins lucrativos, nosEUA. Javier é a regra, não a exce- ção.Dos30milimigrantesde- tidosnopaís,quase80%estão emprisõesprivadas—ouse- ja,quesãopossedeempresas ousãoadministradasporelas. Essas instituiçõessãoapenas supervisionadas pelo ICE, o órgão do governo america- no responsável por assuntos de imigração ede alfândega. OpresidenteJoeBidenpro- meteudurantesuacampanha que encerraria essa prática, condenadaporativistaseor- ganizações de defesa dos di- reitos humanos.Odemocra- tanãocumpriu.Onúmerode imigrantesdetidos temcres- cidodurante seumandato. Javier conta que foi detido na fronteira e levado aoMis- sissippi. Um mês depois, foi transferido para uma prisão emLouisiana,no suldopaís. Dizqueacelatinha46pesso- as, duas privadas e duas du- chas. A água saía quente co- moseestivesse fervendoum frango,eoleitenocafédama- nhã estava vencido, afirma. Não há como confirmar as informaçõesdovenezuelano, maselasseencaixamnashis- tórias de outros imigrantes quepassaramporessa expe- riência. A reportagemdaFo- lhaentrouemcontatocomas autoridadesamericanas,que não comentaramoassunto. UmrelatóriorecentedoSe- nado americano sugere que dezenas de mulheres foram submetidasaexamesgineco- lógicos invasivosemumade- tençãoparticularnaGeórgia. Otextodescreveaindapéssi- mascondiçõessanitárias, in- cluindoprocedimentosinade- quados para lidar com a Co- vid-19. Javier conta que, no seucaso, ospoliciaisque tra- balhavam na prisão privada serecusaramaservacinados. “A questão das prisões par- ticulares é antiga”, diz Susan Long.ElaécodiretoradoTrac, um projeto da Universidade Syracuse que monitora es- tatísticas relacionadas à imi- graçãonosEUA.“Nossosiste- maédependentedasprisões EUAmantêm imigrantes em prisõesquevisammais lucro Quase 80% dos presos estão em unidades privadas acusadas demaus-tratos privadas,eexisteumimenso debateepreocupaçãoquanto às condições de vida dos de- tentos”,afirmaaespecialista. Essecenárioestárelaciona- doaumproblemamaiornos EstadosUnidos,queéocres- cimentodesuapopulaçãocar- cerária—emparte, comore- sultado da guerra às drogas travadanasúltimasdécadas. Hámaisde 2milhõesdepes- soaspresas. Para lidar como montante,oEstadotransfere suas responsabilidades para a iniciativa privada, contra- tandoprisões particulares. Para especialistas ouvidos pelaFolha,umdosprincipais problemaséqueosfinslucra- tivos acabamservindode in- centivoparaqueosadminis-tradoresdessasprisõesprefi- ram cortar gastos com segu- rança, saúde e alimentação. Outropontosensível éapro- longação da detenção, que, naprática, gera lucroparaos proprietáriosdasinstituições. Javierdizque seuspedidos dehabeascorpusforamnega- dossobajustificativadehaver riscodefuga.Eleinterpretava ademoracomoumamaneira de o sistema ganharmais di- nheiro. Afirma ainda não ter superadoo receioque sentia dequenuncaseria libertado. Javier fala de colegas de cela —incluindobrasileiros—que seguemesperandoasoltura. “Éumciclovicioso”,explica Jorge Barón, diretor executi- vo do Northwest Immigrant RightsProject, instituiçãoque trabalha em defesa de direi- tos de imigrantes. Empresas entramnoramodadetenção porqueháincentivofinancei- roparatal.Paraexpandirone- gócio,pressionamogoverno. Legisladores então aprovam medidas que podem resul- taremaindamaisdetenções. Javier diz entender que co- meteuumainfraçãoaoentrar nos Estados Unidos sem ter umvisto,cruzandoafrontei- rademodoirregular.Eletam- bémsabiaquepoderiaserde- tido.Nãoesperava,porém,ser tratadocomosefosseumde- linquente. Segundo seu rela- to,quandoeratransferido,ti- nhaquecolocar algemasnas mãos, nos pés e na cintura. A maior parte dos imigran- tesdetidospelasautoridades migratórias cumprempenas por infrações leves. Segundo o Trac, 69,1% deles não pos- suemantecedentescriminais. “Acreditamos que o gover- no americano não deve de- ter pessoas por violações ci- vis de imigração”, diz Barón. Caso isso ocorra, a situação seagravaquandoacabamem prisões particulares. “Ao ter- ceirizardetenções,hámenos fiscalização emais abusos. É nas instalações privadas que os detentos recebem o pior tratamento”,afirmaodiretor. Construtora de aquário gigante que explodiu naAlemanha investiga causas do incidente sãoPaulo AReynoldsPolymer Technology, empresa ameri- canaresponsávelporconstru- ireinstalarajaneladeacrílico do aquário que explodiu em Berlimnasexta-feira(16),en- viou uma equipe de especia- listasàAlemanhapara inves- tigar as causas do incidente. Chamado de AquaDom, o aquário era considerado a maiorestruturacilíndricado tipoindependentedomundo. Comquase16metrosdealtu- ra, abrigava 1.500peixesexó- ticos e ficava no hotel Radis- son Blu, no centro da capital alemãepertodeoutrospon- tosturísticos,comoaCatedral deBerlim,aAlexanderplatze oPortãodeBrandemburgo. Segundo autoridades ale- mãs, quase todos os pei- xes morreram após a explo- são, que espalhou mais de 1 milhão de litros de água edetritosemumaruanomo- vimentadodistrito deMitte. O fator ou fatores que pro- vocaramaexplosãoaindasão desconhecidos,masumadas suspeitas das autoridades é de que as baixas temperatu- rastenhamprovocadoracha- duras na estrutura, que aca- bou cedendo à pressão das mil toneladas de água. Há suspeitasaindadequetenha havido fadiga dematerial. Duas pessoas foram feri- das por estilhaços após a ex- plosão do aquário, incluin- do um funcionário do Ra- disson. Cerca de 350 hóspe- des do hotel deixaram o lo- cal a pedido das equipes de emergência, que temem da- nos estruturais. Segundo socorristas, ainda há cinco centímetros de água na ga- ragemsubterrâneadohotel. Em comunicado reprodu- zido pela imprensa alemã, a Reynolds Polymer Techno- logy disse ainda ser cedo pa- ra determinar o quehouve. Neste sábado(17), ativistas em defesa dos direitos dos animais fizeram uma vigília emhonraaospeixesmortos. Cercadedezmanifestantes se posicionaram na calçada emfrenteaoRadissonBluno inícioda tarde, comcartazes que diziam: “Peixes são ami- gos, não decoração” e “Des- canse empaz, família depei- xes-borboleta”—umadases- péciesqueviviamnoaquário. Os participantes ainda puse- ramvelas acesas na calçada. A vigília foi organizada pe- loPartidodaDefesadosAni- mais. Repórterdo sitedeno- tíciasalemãoT-online, Julian Seiferth, 27, afirmaememail àFolhaque,apesardopeque- nonúmerodepessoasnoato, muitospedestrespararampa- ra interagir com osmanifes- tantes. “Umamulher que es- tava com uma menininha e costumava visitar o aquário começouachorar”,eleconta. Seithfert acrescenta que, emboraasiglanãotenhapla- nos para realizar novos pro- testosnospróximosdias, ela confirmou que pretende lu- tar contra a reconstruçãodo aquárioeprojetoslocaisafins. De acordo com relato do “ Nosso sistema é dependente das prisões privadas, e existe um imenso debate e preocupação quanto às condições de vida dos detentos Susan Long codiretora do Trac, um projeto da Universidade Syracuse sobre estatísticas de imigração jornal Berliner Morgenpost, uma porta-voz do partido presente no local ainda de- fendeu mudanças na for- ma como são concedidas li- cenças que autorizam pro- jetos como o do AquaDom. “Inúmeros animais já mor- rem só ao serem transporta- dos.Énecessárioterumreci- fe de coral artificial no meio deBerlim?”, ela questionou. Navéspera,aONGdedefesa de animais Peta havia anun- ciado que planejava entrar comumaaçãojudicialcontra o hotel que abrigava o aquá- rio e reivindicou que o local construaummemorialemho- menagemaospeixesmortos. “Animais não existempara seremexplorados comoam- bientação”, disse a organiza- ção em comunicado. “[Esse acidente]deveriaserumaler- taparaaspessoasimpedirem que animais sejam exibidos como se fossemdecoração.” Apesar da seriedade da questão, vários memes rela- cionadosaoincidenteseespa- lharampelasredessociaisnas horas seguintes à explosão. Umdosqueviralizaramcon- sistiaemumtuítefalsodoper- filoficialdopolíciamunicipal deBerlimmostrandoumace- nadofilmedeanimação“Pro- curando Nemo” e a mensa- gem: “Estes suspeitos estão sendoprocuradosnaregiãoda grandeBerlim.Por favor, en- vie-nosqualquerinformação”. A cenamostraospeixesde aquárioquehaviamajudado Nemo a se reencontrar com opai,Marlin,noprimeirofil- medafranquia,emsacosplás- ticos, flutuandonooceano. Era uma piada —à qual a polícia de Berlim optou por não se associar, chamando a atenção para o fato de que a imagem era falsa no Twit- ter. “Nós nos dissociamos expressamente dela!”, escre- veuoórgãonaplataforma. Colaborou Clara Balbi mundo Domingo, 18 DE DEzEmBro DE 2022 A17 Fachada do hotel Radisson Blu parcialmente destruída após explosão do aquário AquaDom, no centro da capital da Alemanha, Berlim Michele Tantussi - 16.dez.22/Reuters a eee STJ abre caminho para haitianos entrarem semvisto noBrasil -Mayara Paixão SãoPaulo Emdecisãounâni- me, o Superior Tribunal de Justiça autorizou que juízes deprimeirainstânciavoltema conceder liminaresparaoin- gressodehaitianosnoBrasil semanecessidadede visto. A medida é válida para os casos de reunião familiar — emquepartedafamília, jáno país,tentatrazerparentes.Os principaiscasosenvolvemme- noresdeidadecujospaisvie- ramparaoBrasilembuscade melhores condições de vida e tentam transferir os filhos. Aespiraldecrisesqueviveo país daAméricaCentral, ori- gemdeumdosprincipaisflu- xosmigratóriosemdireçãoao Brasil,fezcomquesemultipli- cassemospedidosde ingres- sodecidadãossemanecessi- dadede visto humanitário. O principal argumento, apresentado à Justiça por meio de ações individuais e coletivasnoúltimoanoéode queosistemahaitianodecon- cessãodevistosentrouemco- lapsoe jánãoconsegueaten- deràdemandadosquedese- jamemigrar.Desdeabril, de- cisõesfavoráveisapedidosde dispensadevistosparahaitia- nosestavambarradasporde- cisão anterior do STJ. Mas a maisrecentedecisãodacorte, doúltimodia7epublicadana quinta (15),mudao cenário. EmnotaàFolha,aministra MariaTherezadeAssisMoura, presidente do STJ, disse que épreciso focar a proteçãode criançaseadolescentes,além dodireitodeconvívio famili- ar, já que muitos dos postu- lantes sãomenoresde idade. Adecisãofoi,noentanto,ce- lebradacomcautelaporespe- cialistas emmigração, como JoãoChaves,coordenadorde MigraçõesdaDefensoriaPú- blicadaUniãoemSãoPaulo. Segundoadecisão,requeri- mentosparasuspenderane- cessidadedevistoserãoanali- sados seospostulantesmos- trarem que foram esgotadas todasaspossibilidadesdeob- terumvistoemPortoPrínci- pe.Tambémmencionaqueju- ízesdeverãopedirperíciapa- ra ter certezadequeocasoé mesmode reunião familiar. “Muitascriançastêmdificul- dadedeconseguirdocumen-tos noHaiti, e a via adminis- trativa foi esgotada”, afirma Chaves. “É fundamental que juízes tenham informações dasituaçãofamiliar,maseles devem prestar atenção para nãocriarexigênciasabusivas, que inviabilizemdecisões.” O Itamaraty disse à Folha que150milhaitianosresidem hojenoBrasil.Segundoomi- nistério, 6.422 vistos foram emitidos pela embaixada de PortoPríncipeem2020,5.368 em 2021 e 3.310, neste ano. Osefeitosdadecisão já são observados.Naúltimasema- nadedezembroenasprimei- ras de janeiro, dois voos che- garãocomaomenos 160hai- tianos sem visto, diz Débora Pinter Moreira, advogada e mestreemdireitomigratório. Eles jáhaviamrecebidoau- torização para vir ao Brasil comadispensadodocumen- to,mas as liminares estavam suspensas pela decisão de abril. Pinter, que esteve no Haitinosúltimosmesespara acompanharavindadecida- dãos do país, descreve como umcalvárioasituaçãodemui- taspessoasparaobterovisto e relataquehistóriasdecaos social que chegam a seu es- critóriotêmse intensificado. “Há clientes que, do Bra- sil, enviam dinheiro para su- asfamíliascompraremcomi- da,masosparentesnãocon- seguemsacarovalor,porque bancosestãofechados,ouen- tão,quandoosacam,sãorou- badosnasruas”,contaaadvo- gada. “São casos como o de umacriançade 12anoscujos pais vieram aoBrasil e agora estáabandonadanopaísapós aavómorrer,tentandovirpa- ra cá”, acrescenta Pinter. PaísmaispobredasAméri- casesujeitoàviolênciaeade- sastresnaturais, oHaiti viu a situaçãoseagravarapósuma série de eventos no ano pas- sado.Primeiro,oassassinato dopresidente JovenelMoïse, o que inseriu anação emum vácuo de poder. Ummês de- pois, um terremoto matou mais de 2.000pessoas. Opaís conviveaindacoma violência de gangues. Dados do Alto Comissariado de Di- reitosHumanosdaOrganiza- ção das Nações Unidasmos- tramquemaisde1.400pesso- as forammortaseoutrasmil sequestradasnoanode2022. O alto comissário Volker Türk,recém-empossado,des- creveu a situação como uma crisemultifacetadaeprolon- gada.“Éumpaísondegangues armadas,supostamenteapoi- adas por elites econômicas e políticas, controlammais de 60%da capital, e 4,7milhões de pessoas enfrentam fome aguda”, explica o austríaco. Bebêsde imigrantes são 14%emPortugal Brasileiras lideram ranking de nacionalidade de gestantes estrangeiras, atendidas pelo sistema de saúde português -GiulianaMiranda liSboa A crescente comuni- dade imigrante emPortugal, que aumentou mais de 80% nos últimos seis anos, já tem reflexos no perfil dos nasci- mentosdopaís.Em2021,cerca de 13,65%dosnascidosvivos, equivalente a 10.881 bebês, tinhammães estrangeiras. A cifra do ano passado re- presentaomaiorpesona sé- riehistóricainiciadaem1995. Em 2015, ano emque o fluxo migratóriointerrompeuope- ríododequedaprovocadape- lacrisefinanceira,bebêscom mães imigrantes eram 8,4%. Maiorcomunidadeestran- geiranopaíseuropeu,asbra- sileirastambémlideramentre asmãesinternacionais.Quase 40%dascriançasnascidasde mães não portuguesas eram filhas demulheres doBrasil. Os 4.310 bebês com mães brasileiras nascidos em Por- tugalem2021sãomaisdoque o dobro dos 2.150 de 2017, de acordo com dados do Insti- tuto Nacional de Estatística (INE)fornecidosàFolha.Co- moasbrasileirasquetêmdu- placidadaniadePortugalen- tramparaasestatísticascomo mães portuguesas, o núme- ro de bebês luso-brasileiros éprovavelmenteaindamaior. EmPortugalhá5anosapós passarumatemporadana Ir- landa, a empresária gaúcha Luciana Borba, 38, deu à luz em Lisboa em fevereiro de 2021,emplenoconfinamento geraldevidoàcriseCovid-19. “Além de ser a minha pri- meira gestação e de todas as coisas relacionadasà imigra- ção, tambémhaviaasmuitas limitaçõesdapandemia”,con- taBorba.Aempresáriarelata quesededicouaaprenderso- bre o funcionamento do sis- temadesaúdeportuguês.Se- gundo ela, o domínio sobre informações como regras e direitos permitiu diminuir o númerodecontratemposao longo da gravidez e, princi- palmente, nahora doparto. “Eubusqueimuitainforma- çãoefizumplanodepartopa- rachegarmaisconfiantepara lidar comalgumascoisasne- gativasquepoderiamaconte- cer. Achoque, por estar bem informada, tive alguns direi- tosmais assegurados”, diz. Embora Portugal garan- ta às gestantes estrangeiras residentes no país, incluin- do aquelas em situação ir- regular, o direito a acompa- nhamentomédicoeaoparto na rede pública, associações de imigrantes e grupos de apoionasredessociaiscoleci- onamrelatosdexenofobiaem hospitais e centrosdesaúde. Háaindaáaspróprias limi- taçõesdoServiçoNacionalde Saúde,oSUSportuguês,pres- sionadoporfaltadepessoale aumentodademanda.Neste ano,afaltadepediatraseobs- tetras provocou fechamen- tos e redução de atendimen- tos emalgumas instituições. “Eutenhoummédicodefa- mílianaredepúblicadequem gostomuitoequemedeumui- to suporte na gravidez, mas opteiporterumacompanha- mento no sistema privado”, conta a empresária carioca Herica Marmo. “Ouvi alguns relatos sobre induçãode tra- balho de parto que ultrapas- saram limites e não resulta- ram em experiências positi- vas.Eeuqueriateraseguran- çadequeteriaoprocedimen- to que fosse omais indicado paramimeparaomeubebê.” Na avaliação da empresá- ria,queviveemPortugaldes- de 2016, a falta de uma rede de apoiopara ajudar na cria- çãodofilhoéomaiordesafio damaternidadeno exterior. “Avidadeimigranteédifícil, estamos longedasnossas re- ferênciasedosnossosafetos, masquandonasceumbebêa necessidade de apoio se tor- namaior”,afirmaMarmo.“No puerpério,agentesentefalta dacompreensãoquetalvezsó quemteconheceumavidato- da podedar. Fora a exaustão de ter de criar sozinha, ou, como no meu caso, apenas comopaiumbebêqueexige muitos cuidados e atenção.” Ainda que as brasileiras li- deremsimultaneamentealis- tademaiorcomunidadeimi- granteedemãesestrangeiras emPortugal, as demais posi- ções do ranking de naciona- lidades no país não seguem amesma lógicaenãocorres- pondem à liderança de es- trangeirosresidentesnopaís. Reino Unido e França, res- pectivamente em segundo e em oitavo lugar entre os imigrantes emPortugal, não aparecemnasprimeirasposi- çõesda listadenascimentos. Depois doBrasil estãoAngo- la, Cabo Verde, Nepal, Índia, SãoTomé,Guiné eUcrânia. A explicação está na idade dos estrangeiros. Enquanto há uma grande quantidade de aposentados franceses e britânicosemPortugal,atra- ídos sobretudo por benefíci- os fiscais, a maior parte dos migrantes de antigas colôni- asportuguesasedepaísesda África estão em idade ativa. A diversidade cultural e de idiomasimpõemdesafiosadi- cionais às equipes médicas. Emváriasinstituições,sobre- tudo nas regiões commaior presençadeimigrantes, jáhá umarededetradutores,além de adaptações aos planos nutricionais das pacientes. Enquanto todos os bebês nascidos no Brasil têm auto- maticamentedireitoànacio- nalidade brasileira, isso não aconteceemPortugal.Filhos deestrangeiros têmdireito à cidadania lusa, mas é preci- so cumprir alguns critérios. No começo de 2022, o país alteroualeieampliouoaces- sodosbebêsfilhosdeimigran- tes à cidadania. Atualmente, crianças nascidas em Portu- gal são consideradas portu- guesascasoumdospais resi- danopaíshápelomenosum ano.Amedidaéválidamesmo para aquelas pessoas que es- tejamcomstatusmigratório consideradoirregularnopaís. Desde2015,odireitoànaci- onalidade lusa para os filhos de estrangeiros vem sendo progressivamenteampliado. Aúltimanovidade legislativa criou a possibilidade de que paisdecriançasnascidas em Portugal e consideradas por- tuguesaspossamtambémre- querer a nacionalidade por meiodosfilhos.Anaturaliza- ção,nessescasosespecíficos, podesersolicitadadepoisde cincoanosderesidência,regu- larounão,emterritórioluso. Nosprocessostradicionais de naturalização por tempo deresidência,apenasoperío- docomautorização legal em Portugal é contabilizado for- malmentepelasautoridades. Grupos de haitianos fogemde suas casas durante ataque de gangues armadas na capital do país, Porto Príncipe Richard Pierrin - 10.nov.22/AFP mundo A18 Domingo, 18 DE DEzEmBro DE 2022 mercado a eeeDomingo, 18 DE DEzEmbro DE 2022 A19 Siga a Lorenzetti nas redes sociais 0800 016 02 11 www.lorenzetti.com.brlorenzettioficial Uma premiação democrática, com critérios rigorosos de seleção e com a participação do consumidor, que elege as empresas que realmente prestam um bom atendimento por meio de voto popular. O SEU RECONHECIMENTO É NOSSA MAIOR CONQUISTA! A MAIOR PREMIAÇÃO DO ATENDIMENTO BRASILEIRO 1ºlugar1ºlugar CATEGORIA CASA E CONSTRUÇÃO: “LOUÇAS E METAIS SANITÁRIOS” CATEGORIA CASA E CONSTRUÇÃO: “CHUVEIROS E AQUECEDORES” -Idiana Tomazelli e Alexa Salomão Brasília Emumasemanade- cisivaparaonovogoverno, a equipedeLuizInácioLulada Silva(PT)buscaresolveroim- passe que travou na Câmara dos Deputados a votação da PEC (proposta de emenda à Constituição) que permite a expansãodegastos em 2023. Deumlado,asnegociações começaramapatinaremmeio adisputasporministérioseà esperadovereditofinaldoSu- premo sobre as emendas de relator,instrumentousadoco- momoedadetrocanasnego- ciações doCongresso. Deoutro,parlamentaresdo centrãoreclamamdaresistên- ciadoPTemnegociarmudan- çasnotextoquecontemplem demandas dessas bancadas, como a redução dos valores extrasedoprazodeduração dasmedidas. Uma nova tentativa de vo- tação será feita na terça (20), data já muito próxima do li- mitepararesolveraindaneste ano o buraco no Orçamento de 2023, dando mais confor- to a Lula para iniciar seu ter- ceiromandato. Apesar do prazo apertado, interlocutores do presiden- te eleito dizem acreditar na aprovação da PEC, que se- gue sendoaprincipal aposta dopartido. Ameta do PT é aprovar na Câmara o mesmo texto vali- PTbusca vencer barreirasnaCâmara eaprovarPECemsemanadecisiva negociações travaram emmeio a disputa por ministérios e queixa de resistência do PT a ceder no texto base de Lula para chegar a ummeio-termo.Odiscursoé queacontagemdosvotosvai dependerdotextoacordado. A mudança no valor e no prazotornarianecessáriauma nova votação no Senado. O presidente da Casa, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), já sinali- zou que essa opção é viável, masoPTaindaresisteaacei- tar esses termos. Oclimaquejáestavapesado azedou de vez com uma fala dodeputadoJoséGuimarães (PT-CE),vice-líderdaminoria naCâmara,naquinta(15).Ele disseque,seotextonãofosse votadonaqueledia, “nãotem maisproposta”.Adeclaração foi interpretadacomoumul- timato a Lira, atrapalhando aindamais as negociações. A queda de braço, porém, não envolve só o conteúdo da PEC e tem também com- ponentespolíticosrelaciona- dosàcomposiçãodoprimei- ro escalãodeLula. Segundo relatos, Lira quer emplacaraliadosemministé- rios,alémdemanteropoder obtidocomagestãodosrecur- sosdasemendas—quechega- rãoaR$ 19,4bilhõesem2023. Um integrante do PT que acompanha as negociações diz queLira chegouamenci- onar que seria preciso fazer umaescolha: ou reduzir pra- zo,oureduzirovalordaPEC, ounegociar umministério. OpresidentedaCâmarane- gaqueestejabarganhandocar- gosnonovogoverno.Mas,se- gundorelatoscolhidospelaFo- lha, ele quer indicar um alia- dodoPPparaoMinistérioda Saúde, acenandocom 20 a 25 votosdabancadaemfavorda PEC, e apoia o nomedo líder doUniãoBrasilnaCâmara,El- marNascimento (BA), parao MinistériodeMinaseEnergia (MME).Cargosembancospú- blicostambémestãonamira. dadopeloSenado,queamplia o tetodegastosemR$ 145bi- lhõeseautorizaoutrosR$ 23 bilhõeseminvestimentosfora dolimitededespesas,tudois- soporumprazodedoisanos. OfuturoministrodaFazen- da, Fernando Haddad, che- gouaseenvolverdiretamen- tenasconversascomopresi- dente da Câmara, Arthur Li- ra (PP-AL), para tentar apro- varapropostapreservandoos mesmos termos já chancela- dos pelos senadores. Assim,aPECpoderiaseguir parapromulgação,encerran- doodesgastedeumnovogo- vernoquenemsequertomou posse, mas já precisou ir a camponegociarumamudan- ça legislativa de grande por- te. Supressões de trechos ti- dos como acessórios, como autorização para repasses a organismosmultilaterais fo- ra do teto de gastos, não afe- tariamessa estratégia. Semmudançasmaisprofun- das,porém,membrosdocen- trãotêmaavaliaçãodequedi- ficilmenteonovogovernocon- seguiráreuniros308votosne- cessários para aprovar uma mudança constitucional na Câmara.Aprincipaldemanda é cortar o valor autorizado e limitaravigênciadasmedidas a umúnico ano. O prazome- nor obriga o novo governo a costurar logoumasaídadefi- nitivaparaasfinançasdopaís comonovoCongressoqueas- sumeem 1ºde fevereiro. Parlamentaresafirmamre- servadamente que falta um “diálogo objetivo” sobre a PEC, com algum aceno da “ Omelhor caminho é aprovar [a PEC] na terça [20] e votar meu relatório [do Orçamento] na quarta [21] Marcelo Castro (MDB-PI) senador, relator-geral do orçamento de 2023 Continua na pág. A20 Lula, o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e o do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG) Ueslei Marcelino - 12.dez.22/Reuters a eee mercado A20 Domingo, 18 DE DEzEmbro DE 2022 Brasília Braçodireitodofun- dador da Azul, David Neele- man, há mais de duas déca- das, John Rodgerson é um gringo—expressão que gos- ta de usar para definir os es- trangeiros— muito brasilei- ro. Ele está no país há quase 15 anos, fala um português cheio de gírias, é brincalhão, e aprendeu, como ninguém, o que édar um jeitinho. Amigosafirmamquesuavi- da semistura comada com- panhia. Em entrevista, qua- se só usou verbos na primei- rapessoaparasereferiràpró- pria companhia. Em 2023, a Azul começará a operar commais força em Congonhas. O executivo de- fendequeosetordiscutacom onovogovernoaformaçãode preçodocombustívelpelaPe- trobras,umdositensquepe- samsobre as passagens. * Por que as passagens aéreas ficaram tão caras? O com- bustíveldobrouporcausada Guerra[daUcrânia].Seeledo- bra,oimpostotambémdobra. Temocâmbio,quedesvalori- zounosúltimosdoisanos. Is- so impactaopreçofinal.Mas sópossocobrarpreçoalto se houveralguémdispostoapa- gar. E a demanda está forte, comonunca vimos. Mas não é só por isso que as passagensestãotãocaras,é? Depende do combustível e o problemaestánaparidadein- ternacional. Porqueeupago 40%mais que o gringo paga emMiami [EUA]? PorqueémaiscaronoBrasil? Há impostos. Nos EUA, não. Umestrangeiroquandoabas- tece suaaeronavepara retor- naraMiaminãopaga impos- to.Eu[Azul]abasteçoparavi- ajaraoRecifeepagoimposto. Voo internacional não paga. Émais barato ir paraMiami. Isso é só uma questão tribu- tária? Não.Temaformaco- mosomos[aéreas]cobrados. APetrobrasdizque,seelanão existisse, teríamosde impor- tar [combustível], e aí paga- ríamos impostos e encargos —o que daria 40% acima da paridade internacional. Por quemecobramamaisemci- ma de umproduto que já es- tá aqui, que não está sendo transportado?Edepois inci- deaindaoICMS.Oproblema aquiécomoseformaopreço. Consideraqueháaberturano novogovernoparadiscutiris- so? OgovernoBolsonaroco- meçoua estudar. Achoqueo novo governo vai querer es- timularmaisviajantesnopa- ís. A classe A sempre vai via- jar,mas as classes B eC, não. É uma vergonha que o chile- no,ocolombianoeomexica- no viajemmais que os brasi- leiros porque nesses lugares o combustível émais barato. Alémdisso,quandosevoaSão Paulo-Rioe,porvontadedivi- na, o aeroporto fecha, eu te- nho de pagar hotel, comida, transporteeaindacorrooris- codesofrerprocessos judici- ais. Como é possível vender uma ponte aérea por R$ 40 seeutiverdebancarR$2.500 comcadapassageiro[quenão voar por razões climáticas]? Éporissoquenenhumacom- panhialow-cost[baixocusto] vempara cá. Seresolver isso,então,opre- ço da passagem cai? Sim. E isso vai gerar emprego eme- lhorar a economia.Cadavoo daAzulajudaocaraqueven- dequeijonoNordeste.Eomo- toristadoUber,quetranspor- tamais turistas. Porqueosetornãoteveredu- çãodoICMSsobrecombustí- veis? Precisaperguntarpara o governo. Nós pleiteamos. Aliás, diferentedeoutrospa- íses, as companhias brasilei- rasnãoreceberamsubsídiona pandemia. Os EUA concede- ram US$ 100 bilhões para as aéreasnãoquebrarem.AEu- ropa também ajudou. Aqui, só os aeroportos receberam. AgoraaAzulvaidisputarcom GoleLatamgrandescapitais apartirdeCongonhas.Oque vaimudar? Cadavezqueum voodaGoledaLatamdecola, achanceéde92%quevápou- sar noRio, SãoPaulo ouBra- sília. Eu estou voando o [cli- entedo] agronegócio, o inte- rior de Amazonas, Pernam- buco, Bahia.Há cidades que só são servidas pela Azul. A GoleaLatamatendemcerca de52cidades,cadauma.Mas sãoasmesmas—juntasaten- dem 58. Chego a 160. No ano que vem, teremos Congonhas. Vamos voar de láparaBrasília,Curitiba,Con- fins, Recife, e a ponte aérea (Rio-SP).Nosúltimos14anos, construímosumaempresasu- per-rentável, semo subsídio, vamosdizer,deCongonhas.É fácil ganhar dinheiro emum aeroporto em que você che- gaaocentrodeSP,maiorPIB do país. Esta é a última peça donossoquebra-cabeça.Afo- to vai sermais lindadepois. Oquelevaacrerquecontinu- arãosendodiferentessemre- produzir o negócio da Gol e Latam? Nossamalha édife- rente e operamos com aero- naves menores. Quando en- trarmos emCongonhas, vou voar para Porto Alegre, por exemplo, e, de lá, conectar commais dez cidades. PorquealguémvaitrocarGol eLatampelaAzulsóporcau- sa da conectividade? Você pode comprar Gol até Curi- tiba,mas suamala pode não chegar, você fará dois check- in,passaránoraioXdenovo. Quandovocêcompraa coisa completa,não.ParaCaruaru (PE), você voará de Congo- nhasaoRecife, trocarádeae- ronave, e seguirá até o desti- no.Aexperiênciaeospreços serãomelhores. AAzul jáplanejousefundirà JetBlueeàTAP.Nãofariasenti- doretomaresseplanohojepa- racompensaropesodocâm- bio na operação? É sempre bom ter parceiros, mas uma coisasocietáriaécomplexae não está nos planos. Comoestãoasmargensdelu- crodevidoàpandemia? Esta- mosmelhorandoagora,mas aindaqueimando caixa. JohnRodgerson Redução do bilhete aéreo envolve revisão da política de preço da Petrobras painels.a. Raio-X Foi um dos principais executivos da americana JetBlue e entrou na azul em 2008. Mas atuoumuito antes, quando ela ainda era uma ideia de David neeleman, seu fundador, na busca de investidores para viabilizá- la. em 2017, foi alçado à presidência da companhia e, neste ano, se tornou CeO. Hoje cuida da estratégia. JulioWiziack (interino) painelsa@grupofolha.com.br Para a Saúde, porém, Lula tem semostrado irredutí- vel na indicação de Nísia Trindade,ex-presidenteda Fiocruz(FundaçãoOswal- doCruz).Porisso,Liratam- bém colocou como opção uma indicação para o Mi- nistério das Cidades —de preferência, com uma es- trutura que abrigue a Co- devasf (CompanhiadeDe- senvolvimentodosValesdo SãoFranciscoedoParnaí- ba), estatal que toca diver- sas obras em estados es- tratégicos para o centrão. AlgunsintegrantesdoPT, noentanto,acreditamque asexigênciasdeLirapodem se tornar intransponíveis, convertendo a aprovação daPECaindanesteanoem umaincógnita.Alémdeter ampliadoa fatura—opre- sidente da Câmara já ha- via obtidoapoiodoPTpa- ra se reeleger aocomando daCasa—,onovogoverno precisacomporcomoutros partidos que também rei- vindicamum lugar nopri- meiro escalão. Se o impasse não for re- solvido, membros do PT começam a cogitar a ne- cessidadedeacionaraúlti- madasalternativas: recor- rer ao STFou aoTCU (Tri- bunaldeContasdaUnião) para garantir ao menos a continuidadedobenefício mínimo de R$ 600 do Bol- sa Família. OpresidentedoTCU,mi- nistroBrunoDantas,decla- rounaquinta(15)queacor- te de contas já firmoupre- cedentesquepodemservir debaseaonovogovernona aberturadeumcréditoex- traordinário (fora do teto degastos)parabancardes- pesasadicionaisdoprogra- masocialnaviradadoano. A via do crédito extraor- dinário,porém,nãoresolve todasaspromessasdecam- panhadeLula,comoacria- çãodobenefíciodeR$ 150 por criança ou a correção dosaláriomínimoacimada inflação.Alémdisso,esseti- podecréditoficaforadote- to,masécontabilizadoem outrasregrasfiscais,como ametafiscal—quelimitao déficitaR$65,9bilhõesno anoque vem. O chamado “plano B” já foi citado como alternati- vaemcasoextremopordi- ferentesintegrantesdono- vogoverno, incluindoovi- ce-presidenteeleito,Geral- doAlckmin(PSB),eosena- dor eleitoWellington Dias (PT-PI),designadoparane- gociaraPECnoLegislativo. Mas o discurso é o de que Lula preferiu adotar a saí- da pela política, dialogan- docomoCongressoatual. Poroutrolado,aexistên- ciadoplanoBtambémtem sido usada pelos petistas comoumaferramentapa- ra tentar reduzir o senso de urgência da PEC—que temdadoaopresidenteda Câmarapoderdebarganha nas tratativas. Na avaliação do relator- geral do Orçamento de 2023, senadorMarceloCas- tro(MDB-PI),osparlamen- taresdevemcolocarnaba- lançatambémoscustosde nãovotaraPECaindaneste ano.Elelembraqueotexto busca garantir a continui- dade de pagamentos a fa- mílias em situação de po- breza e extrema pobreza, além de recompor recur- sos para áreas de educa- ção e saúde. “Tudo pode acontecer, maséopiorcaminho[não votaraPEC].Omelhorca- minho é aprovar na terça [20] e votar meu relatório [doOrçamento]naquarta [21].Prazotem,agorapreci- satambémteracompreen- são [dos parlamentares].” PT busca vencer barreiras na Câmara e aprovar PEC em semana decisiva Continuação da pág. A19 -Fábio Pupo e Idiana Tomazelli Brasília A proposta em dis- cussãonoCongressoparare- comporgastosnoOrçamento de2023,primeiroanodanova gestãodeLuiz InácioLulada Silva (PT), pode elevar a des- pesaematé0,6pontopercen- tualdoPIBemrelaçãoaoob- servado neste ano, segundo cálculos da FGV (Fundação GetulioVargas). A estimativa para a PEC (propostadeemendaàCons- tituição)—jáaprovadanoSe- nado e agora emanálise pela Câmara— indica que o valor acertado pelos parlamenta- res está acima do que seria o chamado“gastoneutro”,istoé, aquelequemanteriaomesmo patamardedespesas doúlti- moanodeJairBolsonaro(PL). Aneutralidadefoiabandei- ra levantadapeloseconomis- tasdatransiçãoerapidamen- teincorporadapelaalapolíti- ca,para tentaraplacarascrí- ticasdomercado—quevêco- mo aceitável um valor mais próximodosR$ 100bilhões. PEC,porsuavez,abrecami- nho para gastos acima desse patamar.Adespesaextraanu- al é estimada emR$ 169,1 bi- lhõespeloTesouroNacional, maspodechegaraatéR$193,7 bilhões em 2023 caso o novo governo use todos os recur- sosesquecidosnoPIS/Pasep (R$ 24,6 bilhões) de uma só vez. No entanto, essa última parcela pode ficar diluída ao longodos anos. PesquisadoresdoIbre(Ins- titutoBrasileirodeEconomia) daFGV,oseconomistasMano- el Pires (ex-secretário doMi- nistériodaFazenda)eGilber- to Borça consideraram uma série de variáveis para che- gar à conclusão de que, para manter as despesas no mes- monívelde2022 (emrelação ao PIB), a fatura extra deve- ria ficar entre R$ 102 bilhões eR$ 152bilhões em 2023. Ointervaloéamploporque dependedediferentesfatores: crescimento real do PIB no ano que vem e a variação de preçosdosbenseserviçospro- duzidosnopaís (odeflator). Mesmoassim,épossíveltra- çar uma espécie de interva- lo mais provável, que ficaria numintervaloentreR$120bi- lhõeseR$ 140bilhões,segun- doBorça.Essecenárioconsi- deraumaexpansãodaecono- mia de 1,5%noanoque vem. Borçadizque,casoosgastos extrasem2023fiquempróxi- mosaopisodeR$169,1bilhões previstopelaPEC,aaltanoin- dicadordespesa/PIBseráem torno de 0,4 ponto em 2023. Se alcançaro tetodeR$ 193,7 bilhões, diz ele, o avanço se aproximaráde 0,6ponto. Embora reconheça que a versãoatualdaPECrepresen- te ampliação no patamar de despesas, Borça ressalta que isso não necessariamente é um problema. Em sua avali- ação, o valor do gasto neutro apresentado pela transição é maisumbalizadorparaasdis- cussões,dadoquehaviapedi- dosexageradosdaalapolítica eaomesmotempopressãodo mercadoparaumenxugamen- tomaisdrásticodaproposta. “Omuitooupoucosempre vai ser relativo. Dado que a economia tende a se desace- lerarnoanoquevem,esseau- mento eu não considero tão preocupante”, diz. Para ele, a Estudo contraria tesede ‘PECneutra’ e vê alta de gastode até0,6pontodoPIB PT sustenta que propostamanteria patamar de gastos de bolsonaro; situação não preocupa, mas é necessário compensação, diz pesquisador da FgV desaceleração da atividade confere aos gastos um certo componente contracíclico, isto é, capaz de amenizar os efeitosnegativosesperadose sustentar a economia. “Porumlado, a recomposi- ção dos gastos é necessária, porque estamos com o Esta- do na iminência de um shut- down [apagão orçamentário que afeta seu funcionamen- to]”,diz.“Aperguntalegítimaé comoessegastovaiserfinan- ciado,porquevocêvaiprecisar dealgumafontepermanente.”Paraospesquisadores,aau- sência de fontes de financi- amento claras e bem defini- dasgerariaumadeterioração do resultadofiscal e uma tra- jetória crescenteparaoendi- vidamentopúblico.Borçacita comosaídas cortesdeoutras despesas ou aumento de car- ga tributária. Aincertezasobreocaminho da dívida pública nos próxi- mosanostemalarmadoana- listasepressionadotaxasco- bradas doTesouropelomer- cado.ParaBorça, issosódeve começaraseacomodarquan- do o governo apresentar seu desenho de nova regra fiscal —oqueprecisaserfeitoatéo fimdeagostode2023, embo- ra o governo eleito queira se anteciparaessecronograma. “Oqueuma regra fiscal de- veriaabraçar?Eladeveriaper- mitir uma flexibilidade e al- gum caráter anticíclico, mas ser rígida o suficiente para umatrajetóriasustentávelda relaçãodívida/PIBamédio e longo prazo. Calibrar isso é importante”, afirmaBorça. O argumentode que a PEC não traz expansão foi usado inclusivepelofuturoministro da Fazenda, Fernando Had- dad. “Qual o Orçamento de 2023quetemqueseraprova- doparaqueopresidenteLula tenhaemseuprimeiroanode governoomesmovalorqueo Bolsonarotevenoúltimoano de governo, [em termos de] despesa emrelação aoPIB?”, questionou em sua primeira entrevista coletiva após ser anunciadoparao cargo. Haddad citou que o valor emquestãoseriadeR$150bi- lhões,mas em seguida ouviu deumjornalistaqueaPECge- ra uma expansão sobre 2022 mais forte que a comenta- da.“ComoproporçãodoPIB, não”, respondeu, para emse- guida complementar: “Bom, 0,1[pontopercentual]talvez”. Oscálculosdospesquisado- res apontamque a expansão podeficaracimadisso,embo- raoutrosfatorespossamcom- pensar essemovimento. Por exemplo,adinâmicafiscalde estados e municípios —que também afeta a dívida bruta (quecondensanãosóospas- sivosdogoverno federalmas tambémdosentesregionais). Eminíciodemandatoecom perdas significativasnaarre- cadaçãodevidoàmudançano ICMSsobrecombustíveis, os estadospodemenxugar gas- tos e começar 2023 fazendo um ajuste em suas contas. A mesmapráticadeveserincor- porada pelosmunicípios pa- rapreservarseuscaixas,pre- veemos economistas. Seessecenáriodeajustenos estados emunicípios se con- cretizar, a redução de despe- sas nesses governos poderia contrabalançar parte ou to- da a expansão fiscal pratica- da pelo governo federal. “ Por um lado, a recompo- sição dos gastos é necessária, porque estamos com oEstado na iminência de umshutdown [apagão orça- mentário que afeta seu fun- cionamento]. A pergunta legítima é como esse gasto vai ser financiado, porque você vai precisar de alguma fonte permanente Gilberto Borça pesquisador do ibre (instituto brasileiro de Economia) da FgV $ RelAção despesA/pIB 2022 18,5% 2023 (proposta enviada por Bolsonaro) 17,1% 2023 (considerando efeitos da PEC) 18,9%a 19,1% Fontes: Tesouro nacional, manoel Pires e gilberto borça (ibre FgV). a eee Domingo, 18 DE DEzEmbro DE 2022 A21 a eee mercado A22 Domingo, 18 DE DEzEmbro DE 2022 Riode JaneiRo,Maceió, SalvadoR eSãoPaulo Aida,63,noRiode Janeiro, prefere dormir a en- cararamesavaziananoitedo Natal.Elaine,39,deSalvador, chegaaodiadaceiaracionan- docomidaparaafamília.Ro- sali, 47, de Maceió, mora em nova casa demadeira,mas a geladeira deverá seguir sem nadaneste fimde ano. AFolharevisitounestemês pessoasemsituaçãovulnerá- velemquatroregiõesmetro- politanas e constatou que a insegurança alimentar ain- daafetaos laresmaispobres. AidaHerminiodosSantos, 63, temumplanopara a noi- te de Natal: dormir. A mora- dora deNova Iguaçu, na Bai- xadaFluminense,afirmaque estárecebendooAuxílioBra- sil,masandacomoorçamen- to apertado, o que impede o preparodeumaceiaparaafa- mília na data festiva. “OmeuNatal vai serassim: voupassardormindo.Infeliz- mente, não tenho condições demontar umamesa e rece- berminha família aqui. Esse tempo já se foi”, dizAida,que vive comocompanheiro. Emmarçodesteano,elafoi entrevistadapelaFolhapara uma reportagem sobre de- semprego de longa duração. Àépoca,estavasemtrabalho haviadoisanos.Apósapubli- caçãodareportagem,Aidare- cebeu doações e conseguiu voltaracozinharcombotijão de gás, um itemquehavia si- dotrocadopelofogãoalenha. AmoradoradaBaixadaFlu- minense, contudo, continua sem um emprego fixo. O pa- gamento do Auxílio Brasil —ampliadopelo governo fe- deralemagostoparaR$600— ajudounasdespesas,masela diz que ainda busca doações para o sustentoda casa. Ao longodoano,Aida tam- bémpassou a cuidar de dois netos. Seu desejo é retornar para omercado de trabalho, mas a idade é considerada um obstáculo adicional pa- ra a conquista deumavaga. RosaliAlexandredeSouza, 47, de Maceió, recebeu a Fo- lhaemsuanovacasa, feitade madeiraapósaquedadaante- riornoperíododechuvaque atingiu o Nordeste. Livrar-se do aluguel foi a conquista de 2022, embora considere este o seu anomais sofrido. Apesar do imóvel próprio, a geladeira continua vazia. “Não tenhovergonhadedi- zerquehojevoucomerumar- roz,umpoucodefeijãoevou fritarumamortadelaparato- do o mundo. No jantar, cus- cuz com leite de caixa. É as- simmesmo.Essefoimeuano maisdifícil,quechegoevejoa geladeiravaziapraticamente todos os dias”, diz ela. Por causa da filha Yasmin, 18, e da neta Jasmin, 7, a casa foidecoradaparaoNatal.Na porta,umamensagemde“Fe- lizNatal”, lumináriaseumcha- péu,assimcomoalgunspou- cos detalhes espalhados nos cômodos,todosfeitosdema- terial reciclável. “De vez em quando, já es- tamos conseguindo carne e frango,masnãovamos fazer uma ceia daquelas nesse fim de ano. Arroz e alguma coisa que conseguirmos com doa- ção.Erameucostume juntar todo o mundo, comer bem, mas émuitodifícil. Você vê a geladeira vazia, como foi da outra vez que vieram, e não éumasurpresa.Nemnapan- demiaeradessejeito”,afirma. EmSalvador,noiníciodeca- damês,adespensanacasada ambulanteElaineCostaSilva, 39, está, namedidadopossí- vel,abastecidaparaalimentar as cincopessoas quemoram no local: ela, as filhas Elaiza, 18, e Evelyn, 13, e as duas so- brinhas,Mileide,17,eIlana,4. Apartirdaterceirasemana, éprecisoracionaratéreceber o Auxílio Brasil, única renda fixa da família. Nestemês de Natal,oarrochoprometeser maior, já que não tem sobra- do dinheiro para Elaine pro- duzirosmateriaisdelimpeza quecostumavendernasruas. OsR$600dobenefício vão sóparaalimentação.Casoes- tivessecomasvendasemdia, eladiz,a famíliateriaumadi- cional de atéR$ 200. Apesardasdificuldadesco- tidianas,Elaineprefereconti- nuarcomasvendasincertasa terumtrabalhocomoempre- gada doméstica. “Como não tenho estudo, sempre traba- lhavaemcasadefamília,mas eramuita humilhação.” Elainenãoprecisausaroau- xílioemdespesascommora- dia,aexemplodoaluguel,pois vivecomafamíliaemumbar- racodemadeiranobairrode Vista Alegre, no subúrbio da capital baiana. Poroutro lado,ogásdeco- zinha, cujo botijão de 13 kg emSalvadorcustaapartirde R$120,consomequase25%da rendadacasa.“Quandoacaba o gás, se a gente não tiver di- nheiro, precisamoscozinhar com lenha”, afirma. Silva nem cogita preparar algo especial para passar a noite deNatal coma família. “Para a gente, será como um dia comum como qual- quer outro, de luta pela so- brevivência.Nadaplanejado.” Elatambémdiznãotermo- tivos para comemorar, des- de que o filho Yan Barros foi assassinado aos 19 anos, em abril de 2021. O jovem foi en- contradomortoapóssuspeita defurtarcarneemumsuper- mercado emSalvador. “A última vez que celebra- mosoNatal,quedecoramosa casa,foiem2020,quandomeu filhoestavavivo.Depoisquefi- zeramaquelabarbaridadecom ele, que era a alegria da casa, fimdeanoaquié só tristeza.” JánamesadePriscillaRibei- ro,42,moradoradeHeliópo- lis,maiorfaveladeSãoPaulo, ochestervai voltarnesteNa- tal.Asituaçãodadonadecasa melhorou em relação a 2021, quando a celebração passou como “umdia normal”. Desempregadadesde2020, Priscillaviuasuarendasere- duziraovalordoAuxílioBra- sil ao longodessesdois anos. Eventuaisaumentossedevem a vendas informais, na sua própriacasa,deaçaíepicolé. Priscilla temsetefilhos, eo orçamentoprecisasustentar cinco deles. Em alguns mo- mentos, a contanão fechou. Quandofoientrevistadape- laFolha emabril de 2021, ha- viatrocadoacarnequeacom- panhavaopratodearrozcomfeijão por ovo e salsicha.Ho- je, o alimento voltou,mas só duas vezes pormês. “Domeiodo anopara cá, o preço dasmisturas deu uma caidinha”, afirma. Apesardaleverecuperação financeira,afamíliaaindapas- sa por dificuldades. Salsicha econgeladosdefrangoainda entramnocardápioquandoas Semdinheiro, famílias pobres ficamsema ceiadeNatal reportagem revisita grupos em situação vulnerável; ‘vou passar dormindo’, diz moradora de Salvador Rafaela Araújo/Folhapress Itawi Albuquerque/Folhapress 1 2 3 4 a eee mercado Domingo, 18 DE DEzEmbro DE 2022 A23 0 50 100 150 200 250 300 Oscilação na produção de grãos Produção de arroz e feijão estanca, demilho e soja, sobe Produto/safra, em mil toneladas *Considerando todas as safras. **Previsão em dez.2022 2022 a 2023** 0 50 100 150 200 1976 a 1977 1986 a 1987 1996 a 1997 2006 a 2007 2016 a 2017 2021 a 2022 2022 a 2023** 0 10 20 30 40 50 1976 a 1977 1986 a 1987 1996 a 1997 2006 a 2007 2016 a 2017 2021 a 2022 12.145 19.256 8.993 2.066 2.215 Soja 153.478 Milho* 125.827 Arroz 10.378 Trigo 9.550 Feijão* 2.894 Área plantada Produto/safra, em mil hectares Soja 43.407 11.797 Milho* 22.337 6.949 Trigo 3.056 3.153 Feijão* 2.792 4.539 Arroz 1.464 5.992 Menos produção e mais exportação deixam preços internos mais vulneráveis a oscilações Índice geral Alimentação no domicílio Arroz Feijão-carioca Feijão-preto Millho em grão Fubá Flocos de milho Óleo de soja Farinha de trigo Inflação em 12meses Em% Em R$/saca Inflação em nov. 5,9 0,41 0,58 1,46 -1,18 1,19 4,63 -0,04 2,19 0,33 -0,56 13,32 0,32 15,84 -10,94 32,4 5,99 16,69 5,14 34,76 Soja e milho são os principais grãos exportados pelo Brasil De jan. a nov. Emmil toneladas Variação ante 2021 Em% Variação no preço Em% Participação no total de exportações Em% Milho Soja Arroz 37.193 77.000 820 118,5 -7,6 371,2 39,6 32 1,4 3,4 14,7 0,1 Preços ao produtor* *Segundo a cotação do indicador Cepea no último dia de novembro dos últimos cinco anos **Cotação média; em 2022, refere-se ao mês de outubro Fontes: Cepea, Ibrafe, IBGE, Conab e Secex Feijão preto** Soja Milho Arroz 205,68 Feijão-carioca**269,09 184,38 86,20 87,25 82,78 37,81 40,68 131,78 99,58 2018 2019 2020 2021 2022 -Fernanda Brigatti SãoPaulo Aduplaarrozefei- jão é uma das preferidas da mesa brasileira, mas tem ca- da vez menos espaço nas la- vouras.Perde,anoaano,área paraoutrosgrãoscomoaso- ja e omilho, duas das princi- pais commodities agrícolas brasileiras para exportação. Com o avanço, o Brasil re- duz a produção de alimen- tos para pessoas e aumenta a produção daquilo que será transformadoemraçãopara animais, especialmente por- cos e aves, e emóleo de cozi- nhaemindústriasdealimen- toslocalizadasprincipalmen- tenaChina,nocasodasoja,e no Irã, comomilho. A China foi o destino, até novembro de 2022, de 68,3% das exportações de soja. As vendasexternasdemilhono mesmo período, segundo a Secex (Secretaria de Comér- cio Exterior) do Ministério daEconomia, forampara Irã (17%do total), Japão (11,8%), Espanha(11%)eEgito(10,4%). O resultado, para omerca- do interno, é inflacionário. Alémdeperderemárea,fei- jão e arroz para consumo in- terno sofrem também com o aumento das exportações dessesgrãos.Boasparaquem produzeestánegociandoem dólar, as vendasexternaspo- dem ser ruins para quemvai aovarejocomprarseuspaco- tes de 1, 3ou 5quilos. Oprofessordeeconomiain- ternacional da FEA-USP (Fa- culdadedeEconomia,Admi- nistraçãoeContabilidadeda UniversidadedeSãoPaulo)Si- mão Silber diz que esses ali- mentos tambémenfrentam, desde 2015, a redução na de- manda como consequência de surtos inflacionários. “Semdinheiro, o consumi- dor migrou para outros ali- mentos,comomacarrão.Ele teve que mudar a dieta por questões de orçamento, por- quenarendadelepassaanão caberopratoderesistência,o arroz, feijãoealgumacarne.” A POF (Pesquisa de Orça- mentoFamiliar)doIBGE,que medeoqueosbrasileiros es- tãoconsumindoeservedere- ferênciaparaacestada infla- ção,mostrouquedanoconsu- modearrozefeijãoem2017e 2018nacomparaçãocom2008 e2009.Oconsumofrequente de arroz passou de 84%para 76,1%, e o de feijão, de 72,8% para60%. Essareduçãotambémarre- feceointeressedequempro- duz.NoRioGrandedoSul,on- decercade70%daprodução dearrozestáconcentrada,pe- lomenos500milhectarespas- saramaserdestinadosàsoja nosúltimosdoisanos.Háain- daosquepassaramaplantar milhoou trigoea criar gado. “Soja temmercado futuro. O produtor planta já saben- do por quanto vai vender, e ocustoporhectareéameta- de do arroz. De R$ 6.000 por hectare com a soja, ele gas- ta R$ 12mil como arroz”, diz Alexandre Velho, presidente daFederarroz(Federaçãodas AssociaçõesdeArrozeirosdo RioGrandedo Sul). Nesteano,aproduçãogaú- chadearrozdeveráser100mil hectares menor do que a do anopassado (de950mil hec- tares para 850mil hectares), justamente pela maior atra- tividade de culturas destina- das à exportação. As vendas externas de ar- roz também subiram. De ja- neiro a novembro, o aumen- to é de 371% na comparação comomesmoperíododoano passado.Segundoorepresen- tantedosarrozeiros,ocâmbio favoreceu o Brasil, deixando o arroz brasileiromais bara- to do que aquele produzido Arroz e feijãoperdemespaço para grãosusados emração Alimentos básicos são substituídos nas lavouras brasileiras por soja e milho nos Estados Unidos, e que é vendido principalmente pa- ra o México e demais países daAméricaCentral. Emoutubro,30mil tonela- das de arroz com casca (que ainda não passou pelo bene- ficiamento na indústria) fo- ramcompradospeloMéxico. Velho admite que a combi- naçãode fatorescomoades- tinação de áreas para soja e para pecuária e as exporta- ções pode gerar pressão de preços,ouseja, subiroquan- to paga o consumidor final. Eledefende, noentanto, que oarrozbrasileiroébaratona comparaçãocomaprodução de outros países e temquali- dade superior. “Pode trazer uma pressão depreços,masaindaébarato. Sehouverumrealinhamento depreços,vaiserpequeno,vai passardeR$4porquilopara R$ 4,40”, diz. Segundo o IEA (InstitutodeEconomiaAgrí- cola), ligado à Secretaria de Agricultura e Abastecimen- to do governo de São Paulo, o quilo do arroz acumula al- ta de 5,44%aténovembrode 2022 e custavaR$ 4,94. Ocasodofeijãoéaindamais complicado, especialmente para quem faz questão do ti- po carioca. Semmercadoex- ternoparaessavariedade,os produtoresplantamcadavez menos um dos favoritos do consumidorlocal.De janeiro a novembro de 2022, o feijão carioca acumula alta de 19%. Em 12meses, o aumento es- tá em 15,84%. Em São Paulo, no dia 8 de dezembro, a saca de feijão- carioca chegava a R$ 415, se- gundooIbrafe(InstitutoBra- sileirodeFeijãoePulses).No mesmodia,o feijãopretoem MinasGerais custavaR$290. MarceloLüders,presidente doinstituto,nãovêmuitasaí- daparaodilemadotipocari- oca.Ojeito,naavaliaçãodele, éoconsumidor seabrirpara outras variações, como o ra- jado (que parece o carioca). Cerca de 60% do consumo domercado internobrasilei- ro ainda é do feijão-carioca. E essa variedade enfrenta aindaumasegundadesvanta- gem, a perda de área para as commodities e que afeta to- dos os tipos de feijão. A área plantadatotalnoBrasilnasa- fra2022/2023, somadastodas as variedades, será, segundo projeção na Conab (Compa- nhia Nacional de Abasteci- mento), amenordesde 1976. Aestimativadacompanhia é de 2,7milhões de hectares destinadosaosfeijões;46anos antes,eramde4,5milhõesde hectares.Nomesmoperíodo, aprodutividademelhoroue, porisso,aperdadeáreaplan- tada não chegou a represen- tarumareduçãonaprodução. Porém,aevolução,emquase 50anos,équase insignifican- te. De 2,2milhões de tonela- das na safra de 1976 para 2,8 milhões na safra de 2022. OIbrafeprojetaqueonúme- rofinaldassafrasdesteanofi- cará abaixo das projeções da Conab. O resultado tem ori- gemsimilaraoquevemacon- tecendo com o arroz: o mer- cadode commodities émais estável e rentável doque tra- balhar comos feijões. Ocomércioexteriordecom- modities é o que Silber, da FEA-USP,consideraum“mer- cadomuitobemestabelecido”, quevemseestruturandodes-deofimda 2ªGuerraMundi- al,comaltoníveltecnológico. “Vocêtrazparaopresentea perspectivadesafrasfuturas, algoquedámuitaestabilidade paracompradorevendedor,e isso a gente não tem nas cul- turastradicionais”,diz.Ofluxo comercial, segundo o profes- sor, tambémrepresentauma escolha feita pelo agronegó- ciohámuitosanos, adeprio- rizarocomérciointernacional. Na tentativa de melhorar as condições do mercado e incentivar a produção de va- riedades com boa receptivi- dade internacional, o insti- tuto dos feijões definiu uma série de estratégias para es- te e o próximo ano. A possi- bilidade de exportar, diz Lü- ders, dá uma salvaguarda ao produtordequemesmoque oconsumo internodiminua, há possibilidade de escoar a produção. Entre as apostas do setor está a receptividade do cres- centemercadoveganoevege- tariano, no qual feijões e ou- trospulses,comosãochama- dos lentilha, ervilha e grão- de-bico,sãoconsideradosim- portantesfontesdeproteína. A entidade queria realizar nesteanoumeventonalinha doRallydosSertões—batiza- dodeRallydosFeijões—du- rante o qual promoveria ro- dadas de negócios, palestras e discussões sobre o merca- doemcidadesdo interiorde MatoGrosso, importantepo- lo produtor. Marcado para o iníciodenovembro,precisou adiar o evento. Naépoca,contouLüders,o agro mato-grossense estava parado, com medo de plan- tar, emobilizadoematosan- tidemocráticos contra o re- sultadodas eleiçõesde 30de outubro. SegundoaConab,embole- timdenovembro,aáreaplan- tadadefeijãoemMatoGrosso foireduzidapelametade,“em detrimentoprincipalmenteà culturadomilho”.Em2021, o Brasilregistrourecordenaex- portaçãodefeijãocaupi(tam- bémconhecidocomomacás- sar, fradinhooufeijão-de-cor- da),osegundomaisproduzi- donopaís. contasapertam,eopernil deNatal,quePriscillaque- riaparaanoitedefesta,vai ficar para o anoque vem. Entrevistada pela Folha em 2021, Samantha Silva, 34, continua a morar em umaocupaçãoeafirmaque asdificuldadeseconômicas persistem. “Ainda estamos passan- doaperto,principalmente coma chuva que teve nes- tesdias.Tivequeusarofo- gãoegastargás.Mastemos que dar graças a Deus por termosumteto. Tenho re- cebidooAuxílioBrasil, é o que estámeajudando.” Háseisanosforadomer- cado de trabalho, ela tem dificuldadeparaconseguir umemprego,mesmoseins- crevendoemcursosgratui- tosderecolocaçãoprofissi- onal. Neste ano, ela conta queenfrentamaisumpro- blema: a dificuldade para retomar o tratamento de lúpus. Embora relatando muitocansaçoedesânimo por causa das manchas e dores do lúpus, Samantha tem fé em 2023. “Se Deus quiser, o ano quevemvai serumanode vitórias.”LeonardoVieceli, Josué Seixas, Franco Adail- ton, Daniela Arcanjo e Ana Paula Branco 1 Aida dos Santos, 63, de Nova Iguaçu (RJ), diz que vai passar a noite de Natal dormindo; 2 emHeliópolis (SP), Priscilla Ribeiro, 42, e os filhos não terão pernil; 3 emSalvador, Elaine Silva, 39, afirma que será umdia normal; 4 ‘nemna pandemia era desse jeito’, diz Rosali de Souza, 47, ao lado da neta, emMaceió Karime Xavier/Folhapress Eduardo Anizelli/Folhapress a eee mercado A24 Domingo, 18 DE DEzEmbro DE 2022 2ªVara Judicial de CasaBranca/SP 1ª Praça Leilão Judicial www.maisativojudicial.superbid.net (11) 4210-3084 cac@majudicial.com.br LeiloeiroOficial - RenatoSchlobachMoysés - JUCESPnº654 A.T. 260m² Encerramento:02/02/2023 apartir das 14h00 Loc.:MonteVerde /MG ID: 224651 Imóvel Residencial 28ªVaraCível doForo Central daCapital/SP 2ªPraça Leilão Judicial www.maisativojudicial.superbid.net (11) 4395-3239 cac@majudicial.com.br LeiloeiroOficial - RenatoSchlobachMoysés - JUCESPnº654 A.T 1.068m², A.C. 663m², 6Suítes, Churrasqueira, Piscina, Vagas Loc.: Butantã, SãoPaulo/SP Encerramento: 26/01/2023 apartir das 14h00 ID: 223983 CasaAssobradadae Respectivo Terreno 2ªVaraCível de Guaratinguetá/SP 2ªPraça Leilão Judicial www.maisativojudicial.superbid.net (11) 4395-3239 cac@majudicial.com.br LeiloeiroOficial - RenatoSchlobachMoysés - JUCESPnº654 A.T.C. 125m² Encerramento: 31/01/2023 apartir das 14h00 Loc.: Ubatuba, SãoPaulo/SP ID: 224476 Apartamento-Cond.CostaAzul 4ªVaraCível de Itapetininga/SP 1ª Praça Leilão Judicial www.maisativojudicial.superbid.net (11) 4395-3239 cac@majudicial.com.br LeiloeiroOficial - RenatoSchlobachMoysés - JUCESPnº654 A.T.G. 530m², A.C. 274m² Encerramento: 27/01/2023 apartir das 14h00 Loc.: Jd. Brasil, Itapetininga/SP ID: 225019 50%do Imóvel Residencial Compostode2 Terrenos 4ªVaraCível doForo Regional daCapital/SP 2ªPraça Leilão Judicial www.maisativojudicial.superbid.net (11) 4395-3239 cac@majudicial.com.br LeiloeiroOficial - RenatoSchlobachMoysés - JUCESPnº654 A.T. 400m² Loc.: SãoPaulo/SP Encerramento: 25/01/2023 apartir das 14h00 ID: 223818 SobradoComl. eRespectivo Terreno Umguiapara amicro, apequena eamédia empresa. -Sarah AlvesMoura SãoPaulo Agricultoresfami- liaresepequenosprodutores rurais estão entre os líderes nos índices de fome no Bra- sil.Dadosdomaisrecentele- vantamentodaRedePenssan (RedeBrasileiradePesquisa em Soberania e Segurança AlimentareNutricional),di- vulgadoemjunho,mostram queainsegurançaalimentar grave,quandoháfaltadeali- mentose fome,atinge21,8% dosdomicíliosdogrupo—a média nacional é de 15,5%. Desde o início da pande- mia,oQuilomboEngenhoda Ponte, no município de Ca- choeira (BA), lida com esse cenário.As49 famíliasdaco- munidade,quevivemdapes- caedaproduçãodeazeitede dendê,defrutasedehortali- çasorgânicas,relatamdificul- dadepara obter alimentos. “Semprenosalimentamos do que produzimos e colhe- mos. A gente já sofria coma insegurança alimentar, e a pandemiaveioparaagravar”, dizMariaAbade,45, coorde- nadoradaFrenteQuilombo- ladoMovimentodosPeque- nosAgricultores daBahia. Comacrisesanitária,apro- duçãodeixoudeserescoada, earendasumiu.Afometam- bémcresceunas comunida- desvizinhas,queconcentram mais 150 famílias de agricul- tores. Doações e feiras soli- dárias ajudaramo grupo no picodaepidemia,mas asdi- ficuldades permanecem até hoje. Maria afirma que to- dososdiasrecebepedidosde quemnão temoque comer. “Não conseguimos ter qua- lidade de vida sem a garan- tiadetodasasrefeições”,diz. ONordesteéasegundaregi- ãocommaioríndicedeinse- gurança alimentar grave en- tre agricultores familiares e pequenosprodutores(22,6%), atrás daNorte (40,2%). Agricultoresfamiliarestêm mãodeobrapredominante- mente composta pelos inte- grantesdacasaeproprieda- des de até quatro módulos fiscais —unidade de medi- da agrária diferente em ca- damunicípio, que varia de 5 a 110hectares. Extrativistas, silvicultores, aquicultores, povosindígenasequilombo- las rurais também integram ogrupopor lei. Em2017,77%dosestabele- cimentos agrários no Brasil eramdeagriculturafamiliar, segundooCensoAgropecuá- rio. Já pequenos produtores ruraispodemcontratarfun- cionários e devem ter renda anual de atéR$ 500mil. Entre os agricultores que passam fome no Brasil, só 16,7%retomaramaprodução nos níveis anteriores à pan- demiae6,4%recuperaramos preços de venda. Esse cená- rio é descrito como um cír- culo vicioso pelo pesquisa- dor Mauro Del Grossi: com o poder aquisitivo da socie- dadeprejudicadoeaaltados alimentos,aescolhadocon- sumidormigraparaprodutos mais baratos, o que desesti- mula a agricultura familiar. “Aquelesquepoderiampro- duzir alimentos saudáveis não conseguem e também passam fome. Devido à cri- seeconômica,a saídadapo- pulaçãoécomprarprodutos demenorcustoepreparorá- pido,masdebaixovalornu- tricional”, afirmaDelGrossi, professor daUnB. As escolhas nos domicíli- os rurais seguem o mesmo padrão. A galinha caipira é vendida para comprar a de granja, mais barata. Cresce a utilização de ultraproces- sados —produtos que pas- sampormuitastransforma- ções e usam conservantes, corantes e saborizantes pa- ra ganhar atratividade e du- rarmaistemponaprateleira. Essassubstituições jácon- figuraminsegurançaalimen- tar leve.Depoisdela,existea insegurança alimentar mo- derada, quando a quantida- dedealimentoséinsuficien- te para todos, e a inseguran- ça grave, de privação severa quechegaàfome.“Ospeque- nosagricultoresnãotêmali- mentosdemelhorqualidadeouporquenãotêmrendaou porquenãotêmcondiçãode produzir para si. Então, op- tampelosnãosaudáveis,que podem levar à desnutrição ou ao excesso de peso”, afir- ma anutricionista LuizaVe- losoDutra,professoradaUFV (UniversidadeFederaldeVi- çosa), emMinasGerais. MariaAbadedizqueacons- cientizaçãosobreasescolhas alimentares no quilombo é umaprioridade,masodebate nãoésimplesquandohárisco defome.“Comidadeverdade tem valor nutricional muito mais alto,mas você temque escolher.SevocêtemR$50e precisaalimentardezpesso- as, vai comprar umproduto quepodeagrediranatureza, seu corpo, adoecer a sua fa- mília,masencher abarriga.” Esta reportagem foi produzida como parte do 7º Programa de Jornalismo de Ciência e Saúde da Folha, que teve apoio do instituto Serrapilheira, do Laboratório roche e da Sociedade beneficente Albert Einstein. Faltadealimentoatinge22% dospequenosagricultores Há dificuldade de vender produção, e famílias optam por comida barata Confira 7 dicas para economizar na ceia de Natal sem se endividar -Ana Paula Branco SãoPaulo Aaltadosalimen- tos obriga o brasileiro a ser criativo para garantir uma ceia completa de Natal sem seendividarparaopróximo ano.Oplanejamentodeveser feito o quanto antes. Servirosprodutos tradici- onaisficoucercade10%mais caronesteanoemcompara- ção a 2021. Emmédia,éprecisogastar R$294,75para levaravesna- talinas,azeite,caixadebom- bom,espumante, lombo,pa- netone, pernil, peru, sidra e tender neste mês, segundo levantamento da Abras (As- sociaçãoBrasileiradeSuper- mercados). Para quem já está no limi- tedoorçamento,apressãoé aindamaior. “Pormaisquesejagrandea vontadedeconfraternizar,é importante controlar os ex- cessoseestaratentoaosgas- tosnocartãodecrédito, evi- tandoodescontrolefinancei- ro jánosprimeirosmesesdo próximoano”,orientaReinal- doDomingos,presidenteda Abefin(AssociaçãoBrasileira deEducadoresFinanceiros). Umcaminhoéutilizaruma parteda segundaparcelado 13º salário,pagaaquemtem carteiraassinadaatéodia20 destemês, comparcimônia. A recomendação é deixar a maiorpartedorecursopara negociar ou quitar dívidas e investir, se possível. Antesdeiniciarascompras, é fundamental somar todos os gastos previstos para de- zembroejaneiro,quandohá cobrança de IPTU (Imposto PredialeTerritorialUrbano), IPVA (Imposto sobre a Pro- priedade de Veículos Auto- motores), seguros e matrí- culas escolares. “Cairnodescontrolefinan- ceironofimdoanoéumrisco iminente, ainda mais neste, com comemorações da Co- padoMundo”,dizDomingos. Veja mais orientações pa- ra organizar a ceia. * Definaquantosconvidados Apartirdessadefiniçãoserá possívelcalcularaquantida- de idealdepratosparaquea “mesafarta”nãovireumfes- tivaldesobrasedesperdício Estabeleçaumvalor A ceia deve obedecer ao pa- drão de vida da família. Os itens da ceia natalina repre- sentamumcusto alto no or- çamentonãosóporcausada inflação mas também pela maiordemandanestaépoca doano.Sairdecasacomum teto, evita o endividamento. Sigaalistadosingredientes O excesso de variedades é uma das grandes causas do desperdício.Omelhorépen- sarempratosqueagradema todos.Apostaremumasala- da bem colorida e com fru- tas da época ajuda a saciar o apetite. Seafamília forgrande,du- ascarnescomopratoprinci- pal são suficiente. Chester, tender e peru tendem a ser mais caros por serem tradi- cionais nesta época. Háreceitascomcarnessuí- nasefrangorecheado,deme- nor custo, que rendemboas opções. Varie o local das compras Feiras livrespodemter itens mais frescos e baratos. Fru- tassecasecastanhaspodem ser compradas emestabele- cimentosquevendamagra- nel. Para comprar itens em grande quantidade, como carnes e bebidas, há osmer- cados atacadistas. Encomendaralgunspratos empadarias,restaurantesou supermercadospodeajudar aeconomizaradependerdo númerode convidados. Trocar alimentos e bebi- dasimportadosporitensna- cionais emaisbaratos ajuda a se manter no orçamento sem perder no sabor ou na qualidade. Nãodeixeparaaúltimahora Ir a mercado cheio e movi- mentado sem tempoe tran- quilidadeprovocaestressee pressa,oquepodemte levar apegarosprodutosmaisca- ros e desnecessários. Em ci- mada hora, os preços ficam mais ainda caros por causa da alta procura. Eviteo cartãode crédito Pagar alimentos de forma parceladapodeapertaroor- çamento do início de 2023, afinal há outras despesas tí- picas,comoIPTU,IPVAema- terial escolar. Oacúmulodeparcelaspo- delevaraodescontrolefinan- ceiro. Entre os principais ti- pos de dívida estão o cartão decrédito,quelideradispara- do,com86,2%emoutubrode 2022,calculaaCNC(confede- raçãonacionaldocomércio). Divida a comprae a ceia Éumaformadecadaumser um pouco responsável pela noiteeninguémseendividar. Deformaorganizadaecom- provando os gastos, não ha- verá problemas. Catarina Pignato a eee mercado Domingo, 18 DE DEzEmbro DE 2022 A25 “PIB” da indústria, comércio e construção segue abaixo do nível de 2014 Agropecuária e serviços já completaram recuperação Média de 1995 = 100 Média de 1995 = 100 50 100 150 200 150 200 250 Comércio Indústria de transformação Construção 163,2 116,9 149,1 3ºtri. 2022 1º.tri. 2018 3ºtri. 2022 1º.tri. 2018 Agropecuária Serviços 232,8 189,9 Fonte: Contas Nacionais Trimestrais/IBGE. Série com ajuste sazonal. Valor agregado pelos setores e subsetores -Eduardo Cucolo SãoPaulo Trêssetoresrepre- sentativos da economia bra- sileira e que se destacaram nos governos anteriores do PTaindaseguemproduzindo abaixodoverificadoem2014, quandoopaísentrouemuma dasmaioresrecessõesdasua história: indústriamanufatu- reira,comércioeconstrução. Essas atividades eram res- ponsáveis por 33% do valor adicionado ao PIB (Produto Interno Bruto) no início da décadapassada.Nosúltimos trêsanos,essaparticipaçãofi- cou em 29%. Nas Contas Nacionais do IBGE, a indústria manufatu- reiraeaconstruçãoestãoden- trodograndesetorindustrial, juntocomosegmentoextra- tivistaeatividadescomoele- tricidade, água e esgoto. Já o comércioécontabilizadoco- moparte do grupo serviços. Oníveldeproduçãodama- nufaturabrasileiraestácerca de 15% abaixo do pico da sé- riehistórica, que foi alcança- do em 2013. O declínio do se- tor, portanto, começou an- tes da recessãode 2014-2016. A construção e o comércio tiveram seus picos no início de 2014. A primeira ainda es- támaisde20%abaixodaque- le patamar. O segundoman- témumadefasagemde 5%. Esses resultados contras- tam com o comportamento da agropecuária, setor que maiscresceudesdeoinícioda sériehistóricadoIBGE, inici- ada em 1995, e foi tambémo primeiroaserecuperardare- cessão.Osserviçoscomoum todotiveramsuatrajetóriade recuperação adiada por cau- sa da pandemia, mas volta- ramaopatamarpré-criseno segundo semestre de 2022. Construção Entreostrêssetoresqueainda nãovoltaram,aconstruçãoé aquesofreuamaiorperdade participaçãonoPIBnahistó- ria recente, de 6,4% em 2013 para3,3%em2021.Acrisefis- calqueresultouemcortesem programasde investimentos edehabitaçãopopular invia- bilizouamanutençãodoalto níveldeproduçãodosetoral- cançadoháumadécada. José Carlos Martins, presi- dente da CBIC (Câmara Bra- sileira da Indústria da Cons- trução), afirma que o Brasil tem hoje grandes projetos de infraestrutura em anda- mento,masquedemorampa- radar resultado, eobrasque demandambaixos recursos, como construção de praças e asfaltamento de avenidas. “Faltainvestimentonacoisa média.Aestradaquedáaces- soàDutra, a vicinal, aponte, oconjuntohabitacional”,afir- ma Martins. “Para isso, pre- cisa voltar a ter investimen- to público. Mas não adianta ter investimentopúblicosem responsabilidade fiscal.” PIBde indústria, construçãoe comércio segueabaixode2014 Setores não devem zerar perdas em 2023; agro e serviços já se recuperaram Nosúltimosdoisanos,ose- torcresceuodobrodoPIB.Po- decrescerotriploem2023,se- gundoprojeçãodaentidade. Martins diz que o setor che- gou a 3milhões de trabalha- dores com carteira assinada nopico.Asvagascaírampara 2milhões nomomentomais agudo e agora estão em 2,5 milhões. Indústria Outro segmento ainda sem perspectivadevoltaraopico é a indústria de transforma- ção ou manufatureira, que chegouarepresentarmaisde20% do PIB brasileiro na dé- cadade 1970.Em 1980, foi ini- ciado umprocesso de desin- dustrializaçãoquereduziues- saparticipaçãopraticamente pelametade. Trabalho dos economistas AndréNassifePauloMorceiro mostra que essa desindustri- alizaçãonãoéumatendência mundial.Ataxadecrescimen- todovaloradicionadopelose- torcaiunadécadapassadano Brasil,masavançounamédia daseconomiasmaisrepresen- tativas, resultadopuxadope- losemergentesChinaeÍndia. Emalgunspaíses desenvolvi- dos, comoEUAeJapão,elafi- coupraticamenteestável. “OBrasiléumcasoparticu- lar. A participação da indús- triadetransformaçãonoPIB mundial não tem uma traje- tória de queda. Está relativa- menteestável.Sevocêexcluia China,temumareduçãomui- to pequena. Não há um pro- cesso[global]dedesindustria- lização”,afirmaRafaelCagnin, economistadoIedi(Instituto de Estudos para o Desenvol- vimento Industrial). Eleafirmaqueoutrospaíses quetambémtiveramumará- pidadesindustrialização,co- mo Reino Unido e Austrália, já haviamalcançadoumalto níveldedesenvolvimentoan- tesqueissoocorresse.Nãoéo casodoBrasil.Naquelasduas economias,a indústriaenco- lheu, mas se tornoumais in- tensiva em tecnologia e com mais capacidade de agrega- çãode valor. “OBrasil temopiorcasode desindustrializaçãoprematu- ra.Umprocessodosmais in- tensos do mundo, que ocor- reuantesdeopaísenriquecer equeefetuouossetoresmais intensivos tecnologicamen- te, que hoje são os que estão na base da indústria 4.0”, diz o economista do Iedi. Para ele, o governo eleito pode seguir os passos de ou- traseconomiasquebuscama reindustrialização,oquepas- saporumEstadocomcapaci- dadedearticulaçãoecoorde- naçãojuntoaosetorprivado. Comércio Ocomércioéoutrosetorque tem demoradomais a se re- cuperardarecessãode2014- 2016, emboraestejapróximo dealcançaropatamardaépo- ca.Desde 2012, temumpeso naeconomiaquesuperaoda indústria de transformação —cerca de 14%do valor adi- cionadoaoPIBe20%depar- ticipação no grupo serviços como um todo. ACNC(confederaçãonaci- onaldocomércio)estimaque osetordevafechar2022com crescimentopróximode1,2%, praticamenteomesmoresul- tadodosdoisanosanteriores, em um cenário de juros ele- vados e inflação ainda alta. Ovalorébeminferioraode- sempenho do PIB brasileiro, cujocrescimentonesteanoé estimadoem3,1%edeveficar em 1,6%namédia2020-2022. Segundo a CNC, passados quase dois anos e meio des- deo inícioda crise sanitária, ovolumedevendasseguecer- cade 1%acimadoobservado em fevereiro de 2020. a eee mercado A26 Domingo, 18 DE DEzEmbro DE 2022 As histórias e as brincadeiras da sua infância reunidas na estante do seu filho. folha.com/folcloreparacriancas 22R$ CADA LIVRO* APENAS ,90 Próximo Domingo *DISPONÍVEL NAS BANCAS DE SP, RJ, MG, PR, SC E DF. PARA DEMAIS ESTADOS, AVENDA SERÁVIA SITE OUTELEFONE. FRETE GRÁTIS VÁLIDO PARA OS ESTADOS DE SP, RJ, MG E PR. PARA OUTRAS LOCALIDADES, CONSULTE FOLHA.COM/FOLCLOREPARACRIANCAS. CONFIRA AS DATAS DE ENTREGA NO SITE. PARCELAMENTOVÁLIDO PARATODOS OS ITENS DESTA COLEÇÃO. Compre por aqui ESCANEIE O QR CODE Já nas bancas Lula da Silva tem ainda seis ministérios gordos para dis- tribuirentrecandidatosaalia- dosdogoverno.Quantoaesta- tais, têmpoucacoisanobolso, anãoserqueresolvafazerpica- dinhodaLei das Estatais e jo- gara imundícienoventilador. Não temmais a Eletrobras, históricocabidão.APetrobras talvez não dê nem para o PT. Bancos públicos maiores po- demrenderalgumadiretoria, mesmo assim com restrições “técnicas”. RestamumaCode- vasf, empresa de escoamento orçamentário,porassimdizer, fundações/fundosnaSaúde e naEducação (grande riscode roubançaaí),algumadiretoria debancoregional, estataisme- nores, masmeio falidas. Osministériosmais vistosos em disputa são Saúde, Infra- estrutura,MinaseEnergia,Ci- dades, Integração Regional e Desenvolvimento Social (Bol- sa Família). NogovernoDilma 1, a Saúde ficou com o PT, Infraestrutu- ra, comoPL,Minas eEnergia, comoMDB,Cidades, comoPP, e Integração Regional, com o PSB, na verdade com Fernan- doBezerraCoelho,oranoMDB e ex-líder de Jair Bolsonaro. O Desenvolvimento Social ficou com o PT. Nasegundadivisão,oDesen- volvimento (MDIC) tambémfi- cou com o PT, a Agricultura, comoMDB (Kátia Abreu), e a Previdência, com oMDB. Mesmodando fatiasgordas doboloparaacoalizão,Dilma Rousseff sofreunoCongresso, queacabouporcortar suaca- beça.Naprimeira levadogabi- nete, de resto, haviaministros cheiosde rolos, gentequeaca- bou caindo na então chama- da “faxina” dilmiana. NoCongressoeleitoem2010, oPTeraomaiorpartidodaCâ- mara (68 deputados). O alia- do ou inimigo íntimoMDB ti- nha65, e aoposiçãomaior era o PSDB, com 54 (o DEM tinha 21). O resto quase todo erane- gociável.Emnúmeros,a situa- ção de Lula é pior. OmaiorpartidoagoraéoPL bolsonarista-negocista duro, com 99 deputados (o PT tem 68). PP, bolsonarista-negocis- ta maleável, mas com muito antipetista,UniãoBrasil, PSD, MDB e Republicanos juntam 231 deputados. É uma mistu- ra adúltera de tudo, mas é aí, commuitasdefecçõesdireitis- tas, que Lula pode buscar um bloco de apoio, por ora instá- vel, para juntar à pequena es- querda parlamentar. UniãoBrasil,MDBePPque- remmeiadúziadeministérios gordos.Nãovaidarpara todo omundo. Se a Saúde ficar com uma nomeaçãodeLula (NísiaTrin- dade,daFiocruz), sobraainda menos, a não ser que um ali- ado receba um presentão co- mo a Funasa, o que transfor- mariaoministério emumpa- to manco. Além do mais, de- pois do desastre de Bolsona- ro e generais, entregar a Saú- deaqualquerumseriaum in- sulto nacional. SeLula jogaraomarSimone Tebet, tirando-lheoDesenvol- vimentoSocial (queoPT tam- bémquer), vai acabar comas ilusões de “frente ampla”. Turismo pode ser um prê- mio menor, que deve ir para o PSD. Agricultura deve ficar com o PP. Dá para acomodar MDB,outroPPeumUniãoBra- sil emInfraestrutura,Cidades, MinaseEnergiaeInfraestrutu- ra,masLulavaiarrumardesa- fetos no Senado ou na Câma- ra (cada partido quer ummi- nistro de cada Casa). Dispu- tas regionaisdificultamainda a composição. E o Republica- nos, da Universal, leva o quê? ComoJosuéGomes,daFiesp, recusouoMDIC, sobraumaca- deira menor. Mas Lula vai jo- gar um estranho no ninho da economia, toda arrebentada e sobdesconfiançados donos do dinheiro? Lulavai terdeentregarmais ministériosdoqueDilma.Tem maisoposição,menosestatais para regatear, adireita émui- to forte, nãohádinheiropara nada (o que permitiria fazer outrosarranjos) eoPTparece estar com escassa inclinação para “união nacional”. Lula temuma semanapara conseguir tirar as meias sem descalçar os sapatos. vinicius.torres@grupofolha.com.br Presidente tem pouco presente para satisfazer Congresso de direita, a 12 dias da posse - Vinicius Torres Freire Jornalista, foi secretário de redação da Folha. É mestre em administração pública pela Universidade Harvard (EUA) Lula e omilagre doNatal dos cargos Mulheres vendemsexoparapagar as contas Com aumento cada vez maior do custo de vida no reino Unido, muitas assumem riscos maiores e cobrammenos -AlexandraHeal e AnnaGross LondresesheffieLd |financiaL Times Tiffany alisou seus ca- belos, seolhandonoespelho dobanheiro,e tirouaaliança decasamentododedo,sentin- doum frio tensonabarriga. Aantiga funcionáriapúbli- ca entrou no carro dirigido porseumarido,queadeixou perto de um hotel confortá- vel emCardiff. Ela entrouno bardohotel, tentandoidenti- ficarohomemcomquemvi- nhatrocandomensagens,em meioaozumbidodasconver- saseàmúsicadepiano.Quan- do ela o avistou, ele também parecia nervoso. Tiffanydeixouohotelalgu- mashorasmaistarde,sesen- tindoaliviada.“Sintoorgulho porpoderajeitarnossasitua- ção e manter um teto sobre nossas cabeças”, diz. “Estou fazendoissoporminhafamí- lia,minhacasaemeumarido.” Tiffany é parte de uma on- dademulheresque, impulsi- onadas em parte pelo pano- ramaeconômicosombriodo ReinoUnido,decidiramneste ano começarno, ou retornar ao,trabalhosexual,umacons- tatação extraída de entrevis- tasdoFinancialTimescom23 profissionaisdosexoecom14 organizaçõesassistenciaisede defesadasmulheresemcida- descomoManchester,Sheffi- eld,Liverpool,Leicester,Wol- verhamptoneLondres.Hámuitas razões para que as pessoas comecem a ven- dersexo,eelasvariamdode- sejo de garantir a indepen- dência financeira à explora- ção por quadrilhas de crimi- nosos. Mas há também uma explicação mais direta: com a inflação chegando aos 11% anuais, o Reino Unido pare- ceestarentrandoemumare- cessão prolongada, o que ci- mentaumacrise de custode vidaqueestálevandoasfamí- lias a se prepararempara se- veras dificuldades. Em um momento em que maismulheresparecemestar vendendosexo,asituaçãoeco- nômicadopaís tambémestá reduzindo ademanda, o que cria um ambientemais peri- gosopara aquelas que traba- lhamnosetor, jáqueelaspre- cisam correr mais riscos pa- raconseguirpagarascontas. É algo que afeta tanto as mulheres que trabalhamem domicílioouemhotéis,mui- tas vezes atendendo a clien- tes mais ricos, quanto aque- las que recorrem à prostitu- içãode rua. O aumento no número de mulheres que recorrem ao trabalho sexual vem tornan- domaisurgenteodebatepolí- ticosobreamaneirapelaqual esse tipo de atividade é poli- ciadonoReinoUnido. Ativistas dizem que émais importantedoquenuncare- ver as leis que regemo setor, emborahajaumadivisãoen- tre aqueles que querem des- criminalizarcompletamente aatividadeeaquelesqueque- rem proibir o sexo pago. To- dos argumentam que o tra- balho sexual é uma parte da sociedade que não pode ser silenciosamente ignorada: o ServiçoNacionaldeEstatísti- cas(ONS)doReinoUnidoes- timaque ele tenha contribu- ído com £ 4,7 bilhões para o Produto Interno Bruto (PIB) do país em 2021, e 1 em cada 10homensnoReinoUnidodiz já ter pagopor sexo. Tiffanycomeçouafazertra- balhossexuaisocasionaisseis anos atrás, para pagar uma fatura de cartão de crédito. Quando ela foi demitida do serviço público, mais tarde, sobreviveucomosganhosde seu marido até que os lock- downs da pandemia resulta- ram no fechamento da ofici- na dele. Umagravedeterioraçãona saúdemental de seumarido, nesteano,significaqueelenão temmaiscondiçõesdetraba- lhar.Tiffany,queestánacasa dos30anos,precisacuidardo marido emtempo integral. O aumento nas contas de energiaenocustodosalimen- tos,combinadoapagamentos dedívidas, émais altoqueos benefícioscombinadosqueo casalrecebe,eladiz.E,comas taxas de juros em alta, Tiffa- nyestáansiosaparaconcluir omaisrápidopossívelopaga- mentodahipotecado casal. Em setembro, Tiffany sen- tiuqueotrabalhosexualeraa únicamaneiradeobterrenda suficienteparacobrirseusgas- toseaomesmotempomanter aflexibilidadenecessáriapara cumprirsuasresponsabilida- des comocuidadora. Ela ganha cerca de £ 1.000 por semana, uma renda que ela diz declarar à Receita bri- tânica, o que significa que os pagamentos de assistência aocasaldevempararembre- ve.Otrabalhosexualnãoé“o trabalho dos sonhos de nin- guém”, ela afirma, acrescen- tando: “Estou felizporpoder fazer isso para nos apoiar fi- nanceiramente, mas depois vouparar”. Das 23 profissionais do se- xoentrevistadas,5dizemque voltaramaosetorem2022,de- pois de anos afastadas dele, e queoaumentodocustode vidadeterminououpelome- nos influenciou suadecisão. Éamplamenteaceitoquea maioriadostrabalhadoresdo sexosãomulheres,emborao trabalhosexualmasculinote- nha aumentado nos últimos anos, com o crescimento da venda casual de serviços em plataformascomooGrindre o Instagram. UmaanálisepeloFinancial Timesdosperfisdetodosos21 milacompanhantesregistra- dosnositeAdultwork.comno ReinoUnido sugere que nes- te ano o número de adesões foi três vezesmais alto que o de2019.Nãoestáclaroseisso refleteumatransiçãodostra- balhadoresdosexoexistentes para a publicidade online ou umaumentoemseunúmero geral,queem2015 foiestima- do emcerca de 73mil. Tradução de Paulomigliacci Profissionais do sexo e seus apoiadores durantemanifestação em Londres Justin Tallis - 9.out.13/AFP a eee mercado Domingo, 18 DE DEzEmbro DE 2022 A27 UmaversãodopareceràPEC 32 de 2022, do senador Ale- xandreSilveira (PSD-MG), fa- ziamençãoà teoriamonetá- riamoderna (TMM).Posteri- ormente, a pedido do futuro ministrodaFazenda,Fernan- doHaddad,amençãoàTMM foi retirada do parecer. Aversãocomamençãopo- de ser baixada diretamente dositedoSenado(3HN5ZoB). O tema é polêmico emere- ceu cuidadosa reportagem de Alexa Salomão, publica- da nestaFolhana edição do dia 12. ATMMapresentaduaspro- posiçõespolêmicas.Aprimei- ra é que a relação de causa- lidade entre gasto público e receita de impostos é inver- sa.Gasta-seprimeiro.Ogas- tomovimenta a economia, e a receita é consequênciades- se movimento. Asegundaproposiçãoéque Estadoquesefinanciaemitin- dodívidaque serápagacom a própria moeda não que- bra. O motivo é contratual. No vencimento da dívida, o BancoCentral, umórgãodo Estado, sempre pode emitir moedae recompraradívida. Aprimeiraproposiçãopo- deserverdadeira.Asuaverifi- caçãodemandaumcuidado- so estudo econométrico pa- raestabelecer seacausalida- deédosgastosparaareceita ouvice-versa.Emgeral, nesse tipo de exercício com dados macroeconômicos, a causa- lidade ébilateral. A segunda proposiçãoécorreta e trivial (maisdetalhes emminhaco- lunade3/5/2020, folha.com/ r4uja2lw). A questão central, portan- to, não é a parte monetária da teoria. Não há grandes reparosaqui, como também nãohágrandesnovidades.O tema é a restrição de recur- sos.Qual éo risco inflacioná- riodeumfinanciamentopor expansãomonetáriadodéfi- cit público? Para essa questão, é útil acompanharoargumentodo parecer: “Vale lembrarque,a despeitoda recentemelhora nomercadodetrabalho, com a taxa de desemprego apre- sentandoumatrajetóriacon- sistente dequeda, atingindo 8,3%emnovembrodesteano, seu nível encontra-se muito acimadoquepode ser consi- deradoumasituaçãodeple- no emprego. Apesar de não haver consenso sobre qual seria a taxa de desemprego quandoaeconomiaseencon- tra em pleno emprego, mes- mo estimativasmais conser- vadorasapontamparavalo- res inferiores a 5%”. Abaixo está a fonte maior da discordância. O quadro apresentaaevoluçãodataxa de desempregomedida pela PesquisaNacionalporAmos- tra de Domicílios Contínua (PnadC)do IBGEdesde 1996. ComoaPnadC iniciou-se em 2012, osdados foramrecons- truídospeloFGVIbreapartir da Pesquisa Mensal do Em- prego (PME) e da Pnad anu- al. Odado referente aoquar- to trimestre de 2022, desem- prego de 8%, é a estimativa do FGV Ibre. Omenorvaloratingidope- la taxadedesempregonosúl- timos 26 anos foi de 6,7% no 2º trimestre de 2014. O de- semprego situou-se abaixo de 8%do 4º trimestre de 2011 atéo 1º trimestrede2015. To- das as evidências que temos é que nesse período a políti- ca econômica era não sus- tentável. Em particular, nes- se período os salários subi- ram permanentemente aci- madaprodutividadedo tra- balho e a inflação ficou aci- ma da meta, apesar do re- presamento de diversos pre- çosadministrados, inclusive dos combustíveis. Ou seja, taxadedesempre- go de pleno emprego abaixo de 5% trata-se, no Brasil, de umaficção.A economiabra- sileira já opera a plena car- ga. O impulso fiscal promo- vido pela PEC da Transição dificultarámuito o trabalho doBCde trazera inflaçãopa- ra ameta. Qual é o risco inflacionário de um financiamento por expansão monetária do déficit público? - Samuel Pessôa Pesquisador do instituto brasileiro de Economia (FgV) e da Julius baer Family office (JbFo). É doutor em economia pela USP Restrição de recursos |dom. SamuelPessôa | seg.MarcosVasconcellos, RonaldoLemos | ter.MichaelFrança,CeciliaMachado |qua. BernardoGuimarães |qui. SolangeSrour |sáb.MarcosMendes,RodrigoZeidan -JohnYooneDaisuke Wakabayashi seongnam (Coreia do sul) | tHe neWYorKtimes Osnovosfunci- onárioscorriampeloescritório realizando tarefasbanais, co- mobuscarcafé,entregarrefei- çõesedistribuirpacotes.Eles não atrapalharam ninguém nem violaram o espaço pes- soal.Eesperarampeloseleva- dorescomtotalpolidez.E,tal- vezomaisatraente,nãorecla- maram.Éporqueeramrobôs. ANaver,umconglomerado de internet da Coreia do Sul, vem experimentando a inte- gração de robôs na vida dos escritórios há vários meses. Dentro de um edifício futu- rista e totalmente industrial de 36 andares nos arredores deSeul,umafrotadecercade cem robôs navega porconta própria, movendo-se de an- dar emandar emelevadores apenas para robôs e às vezes ao ladodehumanos,passan- doporportõesdesegurançae entrandoemsalasdereunião. Arededeserviçosdawebda Naver,queincluiummecanis- mo de busca,mapas, email e agregação de notícias, é pre- dominante na Coreia do Sul, masseualcancenoexterioré limitado,semorenomeglobal deumamarcacomooGoogle. Aempresabuscanovoscami- nhos para crescer. Em outu- bro,concordouemadquirira Poshmark, umavarejista on- linederoupaseobjetosdese- gundamão,porUS$1,2bilhão. Agora, a Naver vê o software quemove os robôs em escri- tórioscorporativoscomoum produtoqueoutrasempresas podemeventualmentequerer. Os robôs encontraram um laremoutros locaisde traba- lho,comofábricas,comércioe hotéis,masestãoausentesdo mundodecubículosesalasde conferênciadosescritórios.Há questõesdeprivacidadeespi- nhosas:umamáquinarepleta decâmerasesensoresqueper- corremos corredores da em- presapodeserumaferramen- ta distópica de vigilância cor- porativaseusadacomabuso, dizem especialistas. Projetar umespaçoondeasmáquinas possam semover livremente sem incomodar os funcioná- rios também representa um desafiocomplicado. MasaNaverfezumaexten- sapesquisaparagarantirque seusrobôs—queseparecem comumalatadelixorolante— tenhamaparência,movimen- toecomportamentoquedei- xemosfuncionáriosàvonta- de.E,enquantodesenvolvesu- asprópriasregrasdeprivaci- dade de robôs, espera escre- NaCoreiadoSul, robô ‘semcérebro’ é onovo colegade escritório Empresa tenta levar máquinas aomundo dos cubículos sem deixar os funcionários desconfortáveis veroprojetoparaosrobôsde escritório do futuro. “Nossoesforçoagoraémini- mizarodesconfortoqueeles causam aos seres humanos”, disseKangSang-chul,executi- vodaNaverLabs,umasubsidi- áriaquedesenvolveosrobôs. Yeo Jiwon, que trabalha na equipe de impacto social da empresa,pediurecentemen- teumcafénoaplicativointer- nodaNaver.Minutosdepois, o“Rookie”saiudoelevadorno 23º andar, passou pelos por- tões de segurança e se apro- ximou de suamesa. Quando chegouperto,orobôabriuseu compartimentodearmazena- mentocomumaxícaradeca- fé gelado que havia sido pre- parado emumStarbucks no segundo andar. Os robôs nem sempre são perfeitos, disse Yeo. Às vezes se movem mais devagar do queoesperadoouocasional- menteparammuito longede onde ela está sentada. “Às vezes eles parecemum lançamento beta”, disse ela, usandoo jargão técnicopara softwareaindaemdesenvol- vimento.Masasentregaseco- nomizam seu tempo e a aju- dam a se concentrar no tra- balho, eliminando a distra- çãode caminhar até umaca- feteria, disse ela. Asempresasdetecnologiage- ralmente incentivamos fun- cionáriosatestarseusprópri- osprodutos,mascomseusro- bôs a Naver transformou to- dooescritórioemumlabora- tóriodepesquisaedesenvol- vimento,colocandoosfunci- onárioscomosujeitosdetes- teparafuturastecnologiasno local de trabalho. Quandoosfuncionáriosda Naver vãode carroparao es- critório, cuja construção ter- minouesteano,aempresaen- viaautomaticamentelembre- tesdeondeestacionaramno aplicativo do local de traba- lho. Os funcionários passam porportõesdesegurançaque usamreconhecimentofacial, mesmomascaradosparaevi- tarapropagaçãodocoronaví- rus.Naclínicadesaúdeinter- nadaNaver,osoftwaredeinte- ligênciaartificialsugereáreas defocoparaoexameanualde saúdedos funcionários. Depoisháosrobôs.ANaver projetouoescritóriodesdeo iníciocomosrobôsemmen- te, iniciandoaconstruçãoem 2016.Todasasportassãopro- gramadasparaabrir quando umrobôseaproxima.Nãohá corredoresapertadosouobs- truções no chão. Tradução de Luiz robertom. gonçalves Robô dos escritórios da Naver, empresa de tecnologia sul-coreana ChangW. Lee/The New York Times Taxa de desemprego com ajuste sazonal Por trimestre, em % 0 2,5 5 7,5 10 12,5 15 17,5 20 1º.tri 1996 4º.tri 2022 8 Fonte: ibGE Musk restaura contas de jornalistas no Twitter nova YorK | reuters Elon Musk reativou as contas de jornalistasnoTwitterquees- tavam suspensas por causa deumapolêmicasobreapu- blicação de dados públicos sobreoaviãodoempresário. OTwitter fora alvode crí- ticas segundoasquais esta- va colocando em risco a li- berdadede imprensa. Musk organizou uma en- queteperguntandoaosusu- áriossedeveriareporascon- tas agora ou emuma sema- na.De3,69milhõesdeparti- cipantes, 59%votarampela restauração imediata. a eee mercado A28 Domingo, 18 DE DEzEmbro DE 2022 UmafábuladeEsopo, traduzi- daeadaptadaemdiversas lín- guas e culturas desde a Anti- guidade, narra o desafio lan- çado ao sol, pelo vento, para determinarquemseriaomais forte. Definem entre si que o vencedor será aquele que lo- grar despir de seu manto um viajante que caminha solitá- rio por uma estrada. Ovento inicia soprandocom intensidade crescente, mas seus esforços obtêm apenas queoandarilho se envolvaca- davezmais emseumanto, ter- minandopordeitar-sedebru- ços, para evitar que o manto e ele sejam levadospelosares. Quando o vento exausto de- siste, o sol sai detrás das nu- vens onde se recolhera, aque- cendo lentamentea terracom seusraios.Oviajantedespeen- tãoespontaneamenteomanto e prossegue sua caminhada. Eu era criançaquandoouvi ahistóriapelaprimeiravez, ea suamoral tornou-seumarefe- rênciapermanenteparamim, atéporqueavi semprepratica- da por meu pai. Para obter a cooperação das pessoas, vale muitomais compreender seus objetivos eprocurarcombiná- los aos nossos do que impor- se pela força. Com o passar dos anos, a fábula ajudou a moldar meu caráter conciliador, que me faz atribuir os conflitos qua- se sempreà faltadeaplicação nabuscade soluçõesnegocia- das, faltade criatividade, pre- potência ou açodamento. As- sim,a revolta easatitudes im- positivasficaramassociadasà adolescência, enquantoodiá- logoeaconcórdia surgemco- mocomportamentosmaduros. Foi, portanto, com surpre- sa que, já sexagenário,me dei conta da intensidade do sen- timentode frustraçãoe indig- naçãoquedespertou emmim a ausência, mais uma vez, de resultados palpáveis em uma conferência global do clima, no caso aCOP27 emSharmEl Sheikh, no Egito. Após duas semanas de dis- cussões, osdocumentosfinais nãotrazemcompromissoscon- cretos de redução de investi- mentos em combustíveis fós- seisepregamodesenvolvimen- to acelerado de sistemas de energia de “baixa emissão”, o que se teme possa ser usado para justificar a expansão de projetosdegásnatural. Como parcacompensação,obteve-se apenas um acordo em princí- pioparaoestabelecimentode umfundodestinadoacompen- sar as naçõesmais pobres pe- lasperdas causadaspor even- tos climáticos extremos. Essa seria uma tentativa de atenuaro fatoperversodeque a riquezadomundo—gerada em grande parte através da queima de combustíveis fós- seis—esteja concentradanos paísesdesenvolvidosdonorte global, enquantoosmaisgra- ves reflexosdosgasesdeefeito estufa (GEE) resultantes des- sesprocessosocorramnospa- ísespobres e emergentesmais próximosà linhadoEquador. Talvez envenenado por uma bilenegra,ouporumarecaída adolescente,nãoconsigodeixar de ver no comportamentodas nações desenvolvidas uma re- corrênciadaposturaaltaneira com que os ricos muitas vezes ouvem os pedidos dos pobres. Deve ser por isso que me vol- tou à mente a frase de Bertolt Brecht, que tantome fascinou na juventude: “Do rio que tu- do arrasta, diz-se que é violen- to.Masninguémchamaviolen- tasàsmargensqueooprimem”. Acompensaçãopelosdanos decorrentes do aquecimento global em si mesma é umme- ropaliativo, queemnadacon- tribui para reduzir as emis- sões de GEE que o provocam. A esse respeito, a percepção dominante ao final da COP27 é a de que a meta de conter o aquecimento global a 1,5ºC sobre a temperatura da épo- ca pré-industrial já não é rea- lista. É nesse ponto que iden- tifico a fonte principal de mi- nha indignação: enquanto as nações pobres e emergentes veem-se dependentes da “be- nevolência” domundo desen- volvido, osmaiores emissores —que são também as nações mais ricas— continuam ocu- pando a atmosfera com seus GEE, sempagarnadapor isso. Pode-se argumentar que, na ausência de uma lei esta- belecendo a incidência de ta- xas sobre essas emissões, se- riainjusta a cobrança retroa- tiva,quandosóagoraseconhe- cem os efeitos deletérios des- ses gases. (A matéria é passí- vel de discussão, uma vez que hácasos emqueas leispodem ter efeito retroativo, comonas compensações de guerra, por exemplo).Dequalquer forma, esse argumento não se pode- riaaplicaràs emissõesdosúl- timos20anos, queocorrem já com pleno conhecimento dos danos a elas associados. A cobrança pelas emissões correntes de GEE não apenas geraria recursos para atenuar os efeitos doaquecimento glo- bal mas teria ainda um pode- roso efeito catalisador na su- peração definitiva do proble- ma namedida emque desesti- mulariaaqueimadecombustí- veisfósseisetornariaautomati- camentemaiscompetitivasto- dasasnovastecnologiasdesti- nadasàsuasubstituição.Aisso sesomaopapeldecisivoquees- sesrecursosteriamparaacon- servaçãoearecuperaçãodeflo- restas emtodooglobo, especi- almente nos países tropicais. ParaoBrasil, quenaCOP27 assumiudiantedomundoode- safiodereduzirazeroodesma- tamento ilegal na Amazônia, os recursospagospelospaíses emissores serão fundamentais paraconferir sustentabilidade àspolíticaspreservacionistas. Entreelas,deverá terpriorida- de o combate à grilagem de terras públicas, que é respon- sável por pelo menos 30% do desmatamentonaregião.Esse éoprocessopeloqual ogrilei- ro invadeedegradaumaterra quepertencea todosnós, com o objetivo de firmar sua pos- se sobre ela, causando prejuí- zosdiretos e indiretosa todos. Seria injusto, açodado ou imaturo associar a grilagem aoprocessopeloqualalgumas nações ricasocupamcomseus gasesaatmosferaqueperten- cea todosnós semnadapagar por isso, deixando ao mundo as graves consequências cli- máticas daí resultantes? Paranossonovogoverno,do qual seesperauma“grandevi- rada”emtermosdepolíticaam- biental, soma-se ao desafio de preservaçãodaflorestaoobje- tivo,aindamaiscomplexo,deli- derarosesforçosdiplomáticos paraaarticulaçãodeumago- vernançaclimáticaglobal,que nãopoderáprescindirdoesta- belecimentodeumpreçomun- dialparaocarbono,aserpago pelas nações emissoras. Temo quevenhaasernecessáriobem mais que o exercício de um es- pírito conciliador para alcan- çar êxito nessa tarefa. - Candido Bracher Administrador de Empresas formado pela FgV. Foi executivo do setor financeiro por 40 anos. Fracasso da CoP27 aponta os desafios diplomáticos de nossa política ambiental Grileiros da atmosfera Luciano Salles |dom. AnaPaulaVescovi,MarcosLisboa,CandidoBracher,ArminioFraga Dê o play no que émais relevante e comece o dia bem informado No site da Folha ou na sua plataforma de áudio favorita folhamais a eeeDomingo, 18 DE DEzEmbro DE 2022 A29 ciência # Para voltar a pousar naLua,Nasa cria plano commúltiplasmissões p. 1 papo de responsa # Brasil precisa discutir, sem preconceitos, cânabismedicinal p. 2 mundo # Americana convida jornalista para retratar seus últimosdias de vida p. 3 tec # Big techs se aproximamdasBolsas pormais dinheiro e contatos p. 4 opinião # Obrade IrisMurdochpodenos ajudar a encarar a realidade p. 5 terra vegana # Arrase noNatal comquichede ‘queijo’ e cebola caramelizada p. 6 +OFolhaMais é exclusivo para assinantesDigitalPremium; faça seuupgrade Ma i s i n f o rM a ç ã o , M a i s o p i n i ã o , t o d o s o s d i a s , à s 2 3 h 1 5 n a E d i ç ã o f o l h a homemmostra folha de cânabis, cujo usomedicinal é tema de debate no Brasil Karime Xavier - 16.jun.22/folhapress a eeeA30 Domingo, 18 DE DEzEmbro DE 2022 domingo, 18 dE dEzEmbro dE 2022 3a eee Conheça nossa campanha UOL. Um universo de possibilidades. 8 horas diárias de programação ao vivo, podcasts, streaming, muito conteúdo para se informar, entreter, além de produtos para facilitar o seu negócio e a sua vida. Seu universo online UOL é programação ao vivo, podcast, entrevistas, debates, produtos, serviços e muito mais. UOL.COM.BR UOL News • UOL Meu Negócio • Universinho • UOL News Esporte • Bate-Papo UOL • Splash Show • UOL Ads • UOL Play NOSSOS CANAIS: 4 domingo, 18 dE dEzEmbro dE 2022 a eee Conheça nossa campanha UOL. Um universo de possibilidades. 8 horas diárias de programação ao vivo, podcasts, streaming, muito conteúdo para se informar, entreter, além de produtos para facilitar o seu negócio e a sua vida. Seu universo online UOL é programação ao vivo, podcast, entrevistas, debates, produtos, serviços e muito mais. UOL.COM.BR UOL News • UOL Meu Negócio • Universinho • UOL News Esporte • Bate-Papo UOL • Splash Show • UOL Ads • UOL Play NOSSOS CANAIS: cotidiano a eeeDomingo, 18 DE DEzEmbro DE 2022 B1 38%das cidades têm jornada estendida em todas as escolas MiraEstrEla (sP) Aumentara oferta do ensino integral na rede pública é uma das de- terminações do PNE (Plano Nacional de Educação), um documentodoMinistérioda Educação aprovado em 2013 que estipuloumetas, diretri- zeseestratégiasparaapolíti- ca educacional dopaís. Apesardessaprevisãocom- pletarumadécada,ogoverno paulistainvestiunamaioram- pliação do modelo nos últi- mosquatrosanos—eram417 escolasdetempointegralem 2019 e, em 2023, serão 2.311, mais queoquíntuplo. Paraespecialistas,apesarde necessária,apressanaimple- mentaçãonãolevouemconta oscuidadosnecessáriospara evitar prejuízos e a exclusão de estudantes vulneráveis. “Foi feita uma expansão muito rápida, sem que fos- sem apresentados os critéri- os para a escolhadas escolas que teriam o modelo. Tam- bém não há nenhum acom- panhamentosobreosimpac- tos e as consequências dessa mudançaparaos jovens”, diz opesquisador JoãoVictorde Oliveira. Segundolevantamentofei- to pelo Lemadi (Laboratório deEnsinoeMaterialDidático) daUSP, emcolaboraçãocom aRepu(RedeEscolaPúblicae Universidade),246municípi- ospaulistas—38%dototal— ofertamomodeloemtodasas suas escolas estaduais. A pesquisa identificou que amaioriadessascidadesépe- quenaedo interior.Adireto- ria de ensino de Fernandó- polis, que abrange 16 muni- cípios, é a primeira do esta- do a ter todas as escolas es- taduais com omodelo. A se- gunda commaior abrangên- cia é a diretoria de ensino de Piracicaba, em que 86% das unidades já adotaramotem- po integral. A expansão tem sido mais lenta em regiõesmais popu- losas,comonacapitalpaulista eemmunicípiosdoentorno. Na cidade de São Paulo, por exemplo, a diretoria de ensi- noSul3,queficanaregiãoda CidadeDutra, temsó 13%das escolas comomodelo. “O país precisa aumentar a oferta do ensino integral e precisafazer issorapidamen- te,masatransiçãoprecisaser bem pensada para que seja justa com todos os estudan- tes”, diz Ricardo Henriques, superintendente do Institu- toUnibanco. Paraele,aampliaçãodomo- delode tempo integral passa porgarantirapoiofinanceiro aos alunos para que possam se dedicar apenas aos estu- dos. E também envolve uma mudançaculturalnapopula- ção, jáqueemmuitasregiões écomumqueospaisqueiram queos filhos comecema tra- balhar na adolescência. “Não adianta impor o mo- delo.Opaísestáacostumado comescolasdetempoparcial, os pais estudaram por meio períodoeentendemqueisso éonatural.Paraqueatransi- çãodêcerto,éprecisorespei- taressaculturaatéqueospais percebameseconvençamde queévantajoso terofilhona escola por mais tempo”, diz Henriques,quefoiumdosco- ordenadoresdaimplementa- ção inicial doBolsa Família. Os especialistas defendem queéprecisogarantiràsfamí- lias a opção de manter os fi- lhosemescolasdetempopar- cial e tambémassegurar que essas unidades não fiquem aindamais precarizadas. “Asvontadesenecessidades dasfamíliasprecisamserres- peitadas na implementação de qualquer política educa- cional. A imposição das es- colas de tempo integral tem ampliado as desigualdades, já que os alunos mais vulne- ráveissãoempurradosparaas escolasparciaisquerecebem menos recursos”, diz Eduar- do Girotto, coordenador do Lemadi. IP Expansão do Programa de Ensino Integral % de escolas com o modelo A diretoria de ensino de Fernandópolis foi a primeira do estado a ter 100% das escolas no modelo A região sul da capital possui a menor porcenta- gem do estado, com apenas 13% A diretoria de ensino de Mauá tem a menor proporção de escolas com o modelo, 16% Fonte: SecretariaEstadual de Educação de São Paulo/ Repu (Rede Escola Pública e Universidade) 0 - 20 20,1 - 40 40,1 - 60 60,1 - 80 80,1 - 100 Desde 2020, estado tem apostado no rápido aumento das escolas de ensino integral Número de escolas 0 500 1.000 1.500 2.000 2.500 2.311 16 2012 2023 -Isabela Palhares e MathildeMissioneiro MiraEstrEla (sP) Paranãoter que abandonar os estudos, Gustavo Pontes, 17, teve nes- teanocomoúnicaopçãofre- quentar uma escola emuma cidade vizinha a mais de 40 quilômetros de ondemora. Ele precisa trabalhar para ajudar com as contas em ca- sa, e a única escola estadual da sua cidade, Mira Estrela, no interiordeSãoPaulo,ofe- rece apenas turmas em tem- po integral.Omodeloampli- ouo tempode aula de 5para 7horas por dia e levou a uni- dadeanãoofertarturmasno períodonoturno. “As aulas na escola são das 7h às 14h, e eu preciso traba- lhar.Ninguémvaimedarum empregoparatrabalharsóde- poisdessehorário.Então, te- nho que ir para outra cidade ondeaindaexiste aopçãode estudarànoite”, contaoado- lescente, que está no 2º ano do ensinomédio. MiraEstrela,municípiocom poucomaisde3.000habitan- tes, fica na regiãodeFernan- dópolis,aprimeiracidadedo estado a ter todas as suas 25 escolas estaduais comomo- delodeensinointegral,políti- caeducacionalpriorizadape- losgovernosJoãoDoriaeRo- drigoGarcia (PSDB)nosúlti- mos quatro anos. Agestãotucanaapostouna expansão acelerada do PEI (Programa de Ensino Inte- gral)paratentarsolucionara baixaqualidadedaeducação paulista.Em2018,364escolas estaduais ofertavama jorna- daestendida (cercade6%do total). Para o próximo ano, serão 2.311 comomodelo, al- cançando45%detodaarede. A expansão é há anos uma das principaismetas do país na área da educação, já que experiênciasinternacionaise locaisdemonstraramumasé- rie de benefícios emmanter os estudantes pormais tem- po emsala de aula. Especialistas, no entanto, afirmam que a implementa- çãoprecisaserfeitadeforma cuidadosa para que omode- lo não acabe excluindo jus- tamente os alunos mais vul- neráveis. A rápida expansão em São Paulo já fez com que regiões emunicípiospequenosdoes- tado, como é o caso de Mira Estrela, tenham todas as es- colas com a oferta de tempo integral, sem dar a opção de períodoparcialparaosjovens queprecisam trabalhar. Gustavo mora na zona ru- raldacidadecomamãe,que é pescadora no rio Grande. Ele conseguiu um emprego em uma fábrica de panos de chão,comumajornadadetra- balhodeoitohoraspordia,e setornouaprincipal fontede rendada casa. Paraconseguirconciliartra- balho e estudo, Gustavo en- frenta uma rotina de 18 ho- ras de atividades por dia. Ele sai de casa às 5h30 para che- gar à fábrica às 7h. Lá, passa todo o tempo em pé, já que sua função é fazer a limpeza Avançodoensino integral emSP empurra alunosparaperíodonoturno Sem escola em tempo parcial, jovens precisam até viajar para estudar; secretaria nega relação e a manutenção das máqui- nas de tecelagem. Quandooexpedienteseen- cerra,às17h,elepegaumôni- busparaFernandópolisqueo deixa na porta da escola em queestuda—umadasquatro da região quemantiveram o turno da noite. As aulas co- meçam às 19h e terminam às 22h. Ele volta em um ôni- bus da prefeitura, que é usa- do por alunos de uma facul- dade, e chegaemcasaapósa meia-noite. “É cansativo,mas eu preci- soterminaraescola.Chegao fimdesemanaeeusódurmo pra aguentar os outros dias”, conta o adolescente, que so- nha em abrir uma barbearia depois de se formar. A rotina de Gustavo não é uma exceção entre os jovens da região. Jenifer Soares, 18, também trabalha na fábrica emMiraEstrela e viaja todos os dias para estudar à noite emFernandópolis. “Agente tentadar contade tudo, ajudar em casa, traba- lhar e estudar.Mas é cansati- vo,muitas vezes eu chegona escola e durmo na aula por causadocansaço”,contaa jo- vem, que tambémestá no 2º anodo ensinomédio. Osdoisdizemque,seainda houvesse aopçãodeestudar emmeio período, poderiam arrumarumempregoemou- trohorárioeassimnãopreci- sariam ir para a escola à noi- te e emoutra cidade. Aimplantaçãodotempoin- tegral semmudançanoensi- no tambémtem levadoestu- dantesquenãoprecisamtra- balharaprocurarempregopa- ra “fugir” domodelo. A legis- laçãonacionalprevêqueado- lescentes com contrato em- pregatício tenham o direito de estudar à noite. Lívia Santana Dias, 16, cur- souo 1ºanodoensinomédio emtempointegralnesteano, na escola estadual Joaquim Antonio Pereira, emFernan- dópolis. Ela conta não ter se adaptado a tanto tempo de aula edizqueestáprocuran- do emprego. “As aulas são todas iguais, não sinto que estou apren- dendomais.Mesintoperden- do tempodeficar tanto tem- potrancadanaescola, fazen- doamesmacoisa.Prefirotra- balhar”, afirma. Ajovemtemoapoiodamãe. “Elaficoumuitodesanimada comaescolaesseano,prefiro queelavátrabalhar,aprenda outras coisas. Tenho atéme- do que ela desista completa- mentedeestudarsetiverque continuar nessemodelo nos próximosdoisanos”,dizVivi- ane Santana, 39, auxiliar ad- ministrativa. DadosdaprópriaSecretaria de Educaçãomostramque o númerodealunosquepassa- ramaestudarnoperíodono- turnonesteanocresceu41%. Em 2021, a região de Fernan- dópolis tinha 386 matricu- lados à noite. Neste ano, fo- ram 546. Aindaassim,asecretariadiz queospedidosdetransferên- cia não são consequência do período integral, mas da ne- cessidadedosjovensdetraba- lhar.Questionada,apastanão respondeusobreasdificulda- desdos alunosqueprecisam viajar para estudar. Jenifer Soares trabalha durante o dia em fábrica emMira Estrela e estuda à noite em escola de Fernandópolis (SP) Mathilde Missioneiro/Folhapress “ As aulas na escola são das 7h às 14h, e eu preciso trabalhar. Ninguém vai me dar um emprego para trabalhar só depois desse horário. Tenho que ir para outra cidade onde ainda existe a opção de estudar à noite Gustavo Pontes estudante de 17 anos “ As aulas são todas iguais, não sinto que estou aprendendo mais. Me sinto perdendo tempo de ficar tanto tempo trancada na escola, fazendo amesma coisa. Prefiro trabalhar Lívia Santana Dias estudante de 16 anos a eee cotidiano B2 Domingo, 18 DE DEzEmbro DE 2022 De quatro em quatro anos tem Copa: de quatro em qua- tro anos vemum idiotadaob- jetividadedizer: “Ai,nãoenten- doqualagraçade22marman- jos correndoatrás deumabo- ladecouro”. Imaginoessemes- mo pobre diabo num concer- to do Beethoven, indagando “qual a graça de ver um ho- memdeslizandodezdedos so- bre 88 teclas?”. “Ah, mas do piano sai músi- ca”,diráemsuadefesaodesal- mado inimigo do Ludopédio. Uai,meu amigo, e dos grama- dos,nãosai?Quemnãoenten- dequeumarranquedoMbap- pé é um solo do Slash e que os dribles do Messi são as idas e vindasdofoledeumbandone- onnãomereceasortedeestar nestemundo. Sabequemmereceasortede estar neste mundo? Os argen- tinos da “abuela”. Se você ain- danãosabequeméa“abuela”, para de ler agora, joga noGo- ogle “Copa +Argentina +Abu- ela” e assista ao vídeo, que já temmilhõesdevisualizaçõesno TikTok,Twitter eoutrasbode- gas. Na vitória da seleção cis- platina sobre a Polônia, uma meia dúzia de marmanjos es- tava comemorando numa es- quinadeBuenosAiresquando surgiuumasenhora,animada, chacoalhandoumabandeira. Oscarasacercarampulandoe começaramacantar“Lalala la laabuela!Lala la la laabuela!”. No jogoseguinte,namesma esquina, em torno da “avó” já haviaumas20pessoas.Nopró- ximo, umas cem, rojões, spray de espuma. (A “abuela” até botou um vestidinho tomara que caia). A coisa foi crescen- do, crescendo e na semifinal eram milhares de torcedores, câmeras de televisão, holofo- tes, confete, serpentina, vuvu- zela, vendedoresambulantese odiaboaquatro.Todossempre emtornodamulher,pulandoe cantandoestabreveodesurre- alistaàvidanaTerra: “La la la laabuela!Lala la la laabuela!”. Ao contrário do que apre- goampor aí, vida não temne- nhum sentido, objetivo ou ra- zão de ser. Somos serragens pensantes do Big Bang. Por obra de quinquilhões de mis- teriosos acasos fomos aben- çoados com dois olhos, nariz, orelhas,bocaeumquiloemeio de massa cinzenta que deve- ríamos usar, neste brevíssimo tempo que nos foi concedido, para tentar ser feliz. Aconteceque acabamos gastando nos- sospreciososdiascomtarefas bemmenosdignas,tipomontar planilhas de Excel, fazer o Im- posto de Renda, meter a mão na buzina se o carro da fren- te demora dois segundos pra avançar quando o sinal mu- da pro verde. Aquela multidão cantando “la la la la laabuela”éumaper- formance orgânica, um flash mob espontâneo de milhares de pessoas se unindo com o único intuito de se divertir. No primeiro dia, a senhora ouviu a comemoração, saiude casa, juntou-se aos foliões. Alguém jogou na internet ou mandou pro grupo de bairro do zap. Mais vizinhos apareceram no próximo jogo.Osvídeos virali- zaram. Até que o obscuro cru- zamentodobairrodeVillaLu- rovirouumaespéciedeAnhan- gabaú,deavenidaPaulistados hermanos—ou, deveria dizer, “de los nietos”? Se a Argentina vencer neste domingo (18), vai ter gente in- do de outra cidade até aquela esquinaprapularemtornoda “abuela”, comemorandoofato deos11marmanjosnascidosao suldocontinenteamericanote- rem conseguido colocar a bo- lamais vezes sobas travesdos 11marmanjosvindosdooutro lado do Atlântico. Sei que não pega bem a um cronista terarroubosdegran- diloquência nem dar lição de moral,massãoacontecimentos comooda “abuela”que fazem avidatergraça—e,pensando bem,umsentido.Pronto.Chega de palestrinha. Vamos ao que interessa: força, Lionel. Fecha sua carreira comtaçadeouro ebotaaVilla Luropra cantar: “La la la la la abuela! La la la la la abuela!”. - Antonio Prata Escritor e roteirista, autor de “nu, de botas” São acontecimentos como esse que fazem a vida ter graça ‘La la la la la abuela!’ Adams Carvalho |dom.AntonioPrata |seg.�MarciaCastro,MariaHomem |ter.Vera Iaconelli |qua. IlonaSzabódeCarvalho, JairoMarques |qui. JulianoSpyer,SérgioRodrigues |sex. TatiBernardi |sáb.OscarVilhenaVieira,LuísFranciscoCarvalhoFilho EMPREGOS A AUXILIARDE CONTABILIDADE M/FPrecisa-sec/práticae conhecimentoprogramaGosoft. CurrriculumVitaeePretensão Salarial. Enviop/E-Mail: adm1@pereiraleite.imb.br M MOTORISTA M/FComun.Visual(p/acomp. obras)c/CNHapartirCat.C, exp. caminhãocomprov. c/CV/ CTPS.Comp.R.Edgarde Souza,1202MetrôV.Matildedas 15às16hs. P PESSOASCOM DEFICIÊNCIA(PCD)E/OU MOBILIDADEREDUZIDA EmpresaViaçãoCampoBeloLtda estáadmitindopessoascomDefici- ênciae/ouMobilidadeReduzida, comosbenefícios: cestabásica, valerefeição,convênioecrachá, os interessadosdeverãoenviar curriculumparaEstradadeItape- cerica,1290-ViladasBelezas, SãoPauloSP-cep:05835-002 NEGÓCIOS EMPRESAS COMPRA/VENDA VENDOREFORMADORADE ÔNIBUSETAMBÉM... 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Informações: (55)11- 3887-3224/95040-7337/ 95040-8970.LeiloeiroOficial:Luiz FernandoMoreira Dutra -JUCESP:329. ACOMPANHANTES AFADA/BONECA30 22doteligue:1195483-3875 ANA Furacão+amigas.tx30Av.Jabaqua- ra2604.Mt.S.judasaccartões seg.sáb.àSábado.11-2362-8122 HÉRCULES- 11-5575-4052 22dotep/Homens. HÉRCULES- 11-5575-4052 ATIVOp/Homens PARA ANUNCIAR NOS CLASSIFICADOS FOLHA 11/3224-4000 PARA ANUNCIAR NOS CLASSIFICADOS FOLHA LIGUE AGORA 11/3224-4000 AOSS/SPDM - HOSPITAL DAS CLÍNICAS LUZIA DE PINHO MELO Seleciona: Pessoas com Deficiência para vagas de: Os interessados devem se cadastrar no site www.gupy.io ou através da leitura do QRCode. Auxiliar Administrativo, Aprendiz, Recepcionista, Copeira, Auxiliar de Cozinha, Auxiliar de Enfermagem, Técnico de Enfermagem, Auxiliar de Farmácia, Escriturário entre outras. AFundação Faculdade de Medicina, entidade sem fins lucrativos, seleciona profissionais para exercer os cargos de: Analista Contábil JR – Custos - ICESP: Graduação em Ciências Contábeis ou Administração de Empresas concluída. Desejável conhecimentos em Sistema Integrado, Microsoft Office, Contabilidade de Custos Hospitalares. Nutricionista - ICESP - Graduação concluída em Nutrição. Pós-Graduação/ Especialização concluída ou com término para Março/2023, numa das áreas: Nutrição Clínica; Multiprofissional em Oncologia, Nutrição Hospitalar; Terapia Nutricional; Multidisciplinar; Unidade de Alimentação/Coletiva; Nutrição e Saúde Pública; Qualidade em Serviços Nutrição ou Residência concluída ou com término para até março/2023 em Multiprofissional em Oncologia ou Programas com ênfase em Nutrição. Lato sensu (MBA, Especialização e Pós- Graduação) e/ou Stricto Sensu (Mestrado, Doutorado, Pós-Doutorado) e/ou título de especialista pela Associação Brasileira de Nutrição ou Sociedade Brasileira de Nutrição Parenteral Enteral. Desejável conhecs. hospitalar nas áreas de nutrição clínica, ambulatorial ou produção. CRN ativo. Auxiliar de Serviços Gerais – Engenharia Predial – ICESP: Ensino Médio Completo com Curso de Excel e Word Básico ou Pacote Office Básico. Desejável conh. Em materiais e peças de manutenção. Comprador Jr – ICESP: Graduação cursando o último semestre (previsão de término até julho/2023) ou concluída em Administração Empresas ou Ciências Contábeis ou Economia ou Logística. Pacote Office concluído. Conhecimentos desejáveis em compras hospitalares. Técnico em Equipamentos Médicos – ICESP: Curso Técnico concluido em Equipamentos Médicos, Eletrônica, Mecatrônica ou Automação. Curso complementar concluído em Equip. de Diagnóstico por Imagem (Tomo, Raio-X, Ressonância ou correlatos). Registro ativo no CFT. Desejáveis conhec. em equipamentos médico-hospitalares em Diagnóstico por Imagem e C.C. Os candidatos interessados deverão inscrever-se de 18/12 a 23/12/2022 no site www.ffm.br, no link Trabalhe Conosco. AFundação Faculdade de Medicina, entidade sem fins lucrativos, seleciona profissionais para exercer os cargos de: Analista Programador de Sistema Pleno. Requisitos: Graduação em Sistemas de Informação/ Ciências da Computação/ Análise e Desenvolvimento de Sistemas e curso concluído de ADVPL básico e Configurador Protheus. Conhec. em diferentes linguagens de programação, sistemas operacionais (como Linux ou Windows) e plataformas de hardwares. Inglês básico. Enfermeiro (Estomaterapia). Requisitos: Graduação em Enfermagem. COREN ativo. Residência ou Espec. em Estomaterapia. Conhec. em atendimento a pacientes com lesões de pele, ostomias, fístulas e prevenção de lesões, atividades assistenciais com pacientes de alta dependência, semi-intensivo e intensivo. Engenheiro (Eletricista). Requisitos: Graduação em Engenharia Elétrica. CREA Ativo. Conhec. em gestão de projetos, acompanhamento e fiscalização de obras/ manutenção predial, gestão de contratos, gestão de custos de manutenção, Excel avançado. Médico (Radiologia Mamária). Requisitos: Graduação em Medicina com Espec. em Radiologia e em Radiologia Mamária. Título de especialista em Radiologia. CRM Ativo, Conhecimentos em Radiologia Mamária. Técnico de Enfermagem (Ressonância Magnética). Requisitos: Curso Técnico de Enfermagem concluído, curso de Segurança em Ressonância Magnética concluído. COREN ativo. Conhec. em Técnicas e Procedimentos de Enfermagem. Médico (Cuidados Paliativos). Requisitos: Residência Médica completa em Clínica Médica, Geriatria, Medicina de Família, Oncologia, Hematologia, Infectologia, Pneumologia, Cardiologia, Neurologia, Nefrologia, Gastroenterologia e UTI (reconhecidas pela CNRM)ou de Estágio na área. Residência médica em Medicina Paliativa ou Complementação especializada em Medicina Paliativa (carga horária superior a 900 horas práticas) ou - Curso de especialização lato sensu em Cuidados Paliativos. Título de área de atuação em Medicina Paliativa. Conhec. em rotinas de Medicina Paliativa. Os candidatos interessados deverão inscrever-se de 18/12/2022 a 24/12/2022 no site www.ffm.br, no link Trabalhe Conosco. PARA ANUNCIAR NOS CLASSIFICADOS FOLHA 11/3224-4000 A Folha, empresa líder de mercado, oferece vagas para PESSOAS COM DEFICIÊNCIAS em diversas áreas. Os interessados deverão enviar currículo para o e-mail rhvagas@grupofolha.com.br, sob a sigla “vagas” Médico anestesista; Médico Cardiologista para Atendimento Ambulatorial e Visita na Enfer- maria (Cirurgia Cardíaca); Médicos Cardiologistas e Intensivistas para atuação emUnidade Coronariana; Médico Emergencista para acompanhamento de pacientes na Hemodinâmi- ca e Ressonância Magnética; Médico especialista em Análise de Eletrocardiograma Dinâ- mica de 24 h (Holter) e Leitura de MAPA; Médico especialista em Análise e Emissão de Laudos Radiológicos com acompanhamento; Médico especialista em Assistência Médica nos Setores Críticos (Pronto Socorro); Médico especialista em Cirurgia Cardíaca; Médico especialista em Cirurgia Cardiovascular; Médico especialista em Cirurgia Gástrica (PS e Centro Cirúrgico); Médico especialista em Ecocardiografia Transtorácica Adulto e Infantil e Transesofágica Adulto; Médico especialista em Eletroencefalografia; Médico especialista em execução de procedimentos de Punção Aspirativa por Agulha fina (PAAF) e CORE bióspsia; Médico especialista em Hematologia com habilidade para execução de biópsia de medula; Médico especialista em Laudos de Anatomopatológicos e Imunohistoquímicos; Médico especialista emMedicina do Trabalho; Médico especialista emNeurologia (Adulto e Infantil); Médico especialista em Nutrologia; Médico especialista em Reumatologia; Médico especialista emOftalmologia; Médico especialista emOtorrinolaringologia; Médico especia- lista emprocedimentos deUSGGeral e Doppler; Médico especialista emprocedimentos na área de Exames de Endoscopia, Colonoscopia e Retossigmoidoscopia; Médico especia- lista em Radioterapia; Médico especialista em realização de exames Broncoscopia e para atuação em ambulatório na especialidade de Cirurgia Torácica; Médico especialista em re- alização de exames de Angiografia Vascular Periférica com ou sem procedimento; Médico especialista em realização de exames Prova de Função Pulmonar (Espirometria); Médico especialista em Terapia Intensiva Adulto; Médico especialista em Terapia Intensiva Infantil; Médico especialista em Ultrassonografia; Médico especialista emOncologia; Médico espe- cialista Pneumologista; Médico Hemodinamicista – Cardiologia; Médico Nefrologista Adulto e Infantil para atendimento ambulatorial, acompanhamento de pacientes nas Unidades de Internação e em procedimentos de diálise; Médico Neurologista para execução de exames de Eletroneuromiografia; Médico Neurocirurgião para execução de cirurgias, visitas em Pronto Socorro e atendimento Ambulatorial; Médico Ortopedista e Coordenador na Espe- cialidade; Médico plantonista em Cirurgia Geral para atendimento no Pronto Socorro, Am- bulatório e execução de procedimentos; Médico plantonista em Clínica Médica no Pronto Socorro e Enfermaria; Médico Emergencista para atendimento em Urgência e Emergência e Retaguarda da Emergência. Médico plantonista em Pediatria Clínica no Pronto Socorro Infantil; Médico plantonista em Pediatria Clínica para Enfermaria Pediátrica e Médico espe- cialista em Colangiopancreatografia retrógrada endoscópica – CPRE, Médico especialista emCirurgia Plástica para Atendimento Ambulatorial e Procedimentos Cirúrgicos inclusive Reconstrução Mamária; Médico especialista em Hemoterapia para Coordenação da Agência Transfusional; Médico especialista em Hematologia para Atendimento Ambulatorial, de Interconsultas e Efetividade de Punções, Médico Infectologista para Atendimento Ambulatorial e Médico especialista em Hematologia para gerenciamento da Agência Transfusional. Os interessados devem se cadastrar no site www.gupy.io ou através da leitura do QRCode. AOSS – Hospital das Clínicas Luzia de Pinho Melo, recruta currículos demédicos nas seguintes especializadas: A S S I N E A folha.com/assine c a eee cotidiano Domingo, 18 DE DEzEmbro DE 2022 B3 ‘Sóhaviaohoje’, dizmãe sobremortedebebê Crianças têm síndrome rara que limita dias de vida; mulheres contam como foi a gravidez e o processo de despedida Ao lado domarido, TamirisMartinez segura o filho Daniel, que nasceu com a Síndrome de Patau Arquivo pessoal -Isabella Menon SãoPaulo “Estougrávida”era omantraqueguiavaamédica MariaAngélicaAlonso,38, to- dos os dias ao acordar. A nu- tricionistaTamirisMartinez, 35,mentalizavaalgoparecido. Duranteagestação,tentouvi- verumdiadecadavezepen- sava:“Estougrávidadeumbe- bê chamadoDaniel”. Por volta do sexto mês de gestação, ambas receberam a notícia de que as crianças quegeravam,DavieDaniel,ti- nhamumacondiçãoraracha- madaSíndromedePatau.Ofi- lhodeMariaAngélicanasceu emoutubro,eodeTamiris,em setembro,masosdoismorre- rampoucosdiasapósoparto. Ao falarem com a reporta- gem, elas choram ao recor- daronascimentodosfilhose asaudade,porémnegamque tenhamtidoumagestaçãode luto e dizem se surpreender comaprópriaforça.Afirmam quesuastrajetóriasnãosere- sumem a sofrimento e que conseguemenxergaroamor, aféeafelicidadenaexperiên- cia que tiveram. As duas representam uma pequenaparceladoscasosda síndrome em que a gravidez avança.Deacordocomogine- cologista Ricardo Porto, que integra a Comissão do Abor- tamento, Parto e Puerpério da Febrasgo (FederaçãoBra- sileiradasAssociaçõesdeGi- necologiaeObstetrícia),me- nosde 3%das gestaçõesdes- ses casos vão adiante. A maioria dos bebês com essacondiçãomorrenospri- meiros dez dias. Em raríssi- mos casos, a criança chega aosdezanos.Asíndromecau- sa limitaçõesno sistemaner- voso central e alterações car- díacas e renais, além da má- formaçãodeorelhas, olhose pescoço.“Ocasalnãodeveter expectativas”, diz omédico. Aindaassim,“esperança”foi umapalavraqueMariaAngé- licaouviacomfrequênciadu- rantesuagestação.“Seufilho vai nascer e não vai ter nada disso”eraumadasfrasescor- riqueiras. Porém, ela, que é médica,sabiadasconsequên- cias dodiagnóstico. Já Tamiris descobriu uma contadoInstagram(@sindro medepataubrasil) que mos- tra crianças coma síndrome queviveramporanos.Apági- naescrevequeumdiagnósti- co “pode ser desencorajador para osmédicos, mas nunca parapaisdispostosalutarpor umfilho”. Assim, com os pés nochão,anutricionistaenten- deuquenadaera impossível. Apreparaçãoparaachega- da dos bebês foi cercada de dúvidas,comocontarounão paraosfamiliaresasituaçãoe sobremontar ounãoumen- xoval e umquartinho. MariaAngélica lembraque esse foi um dos momentos maisdifíceis.Elamontouum quarto para o filho no fim da gestação e demorou para comprarroupinhas.“Eraime- diatopensar:euvoucomprar, vouguardar,vaificaraqui,mas ele vai vir para casa?” Quandoganhoualgunspa- resderoupasdeamigos,olha- va a etiqueta e pensava “seis meses,euachoqueelenãovai estarmaisaqui”.Emseguida, pegava outra roupinha com a etiqueta de três meses e aí pensava, “acho que três me- ses ele vai estar”, e guardava. “Foi a pior parte.” Tamiris já tinha roupas guardadas de Miguel, seu fi- lhomaisvelhodecincoanos, e decidiumontar umquarto paraocaçula. “Fizemostudo pararecebê-loporquenãoti- nhaumfinalpredestinado.Es- tavapreparadaparapassar e enfrentar tudo.” Ela e o marido decidiram dar a notícia do diagnóstico do filho para pouquíssimas pessoas próximas, mas dei- xaramMiguelapardoirmão- zinho. “Pode ser que a gen- “ Não tem como sair dessa experiência damesma formaque entrou. As pessoas têm necessidade do amanhã, e issomudou paramim namarra Maria Angélica Alonso médica “ Fizemos tudo para recebê-lo porque não tinha um final predes- tinado. Esta- va preparada para passar e enfrentar tudo Tamiris Martinez nutricionistate fique com ele um pouqui- nhomenosde tempodoque gostaria”,disseramàcriança. Ospartos foramdiferentes para cadauma. MariaAngélicateveumace- sáreaedizquetinhamedodo parto, mas queria muito co- nhecerofilho.“Queriaver, in- teragir umpouquinho.” Tamiris teve umparto nor- mal.Ela lembracomfelicida- dequeofilhomaisvelhocon- seguiu conhecer o irmãozi- nho e que o bebê foi batiza- donohospital.Mas logopre- cisouserlevadoparaaUTIde- vido a umahipoglicemia.No dia seguinte, o bebêmorreu. O de Maria Angélica viveu seis dias. Elasnãoestavampresentes nomomento,masdizemacre- ditarque,talvez,tenhamsido poupadas. “Ele foi recebido comtodoocarinhoeamore recebeuassistência,massem- pre achamos que podemos fazermais”, afirmaTamiris. Amédicaestevecomofilho na véspera damorte. Ela e o marido,queformamumduo, cantaramparaobebê.Amédi- caachouquenãodariaconta, poisestavanervosa,masdeu tão certo que afirma que de- pois se sentia até “entorpeci- da”, assim como o filho, que ficou “calmíssimo”. Dias depois da partida, em ummomentodetristeza,Ma- riaAngélicaresolveucompar- tilhar a cena no Instagram. Hoje, o vídeoacumulaquase 120 mil reproduções, e a re- percussãoasurpreendeu. “O Davi tá tocando as pessoas e dando autógrafo lá do céu.” Depoisdonascimentoeda morte do filho, Tamiris tam- bém fez um relato do parto nasredessociais,escrevendo que“agoraeleestácomDeus”, semdar detalhes. Experiências como as de MariaAngélicaeTamirismos- tramaimportânciadevalidar oluto,avaliaMariaHelenaPe- reiraFranco,professoradepsi- cologiadaPUC-SPeautorado livro“OLutonoSéculo21:uma CompreensãoAbrangentedo Fenômeno”.“Éimportanteque alguémsesenteaoseu ladoe diga ‘Tá doendo? Posso ficar aqui comvocê?’”, explica. Noprocessoemocionaldes- sasmães,diz,podemestaren- volvidosdiferentessentimen- tosalémdatristezaedaraiva causadas pela perda. “Ela pode entender que o bebê não teria a possibilida- dedevivere ser igual aosou- tros epodeaté se recriminar por isso. Ou pode ficar pen- sandooqueelapodeterfeito deerradoeterumsentimento de culpa. É algomuito forte.” No caso de Tamiris, no co- meço ela sentia que não da- ria conta do processo. “A for- çachegaaospoucos,diaapós dia, commuita fé emDeus e confiança de que tudo será comoprecisa ser.” Maria Angélica define que suavidaécomoumpêndulo, emqueemalgunsmomentos está beme, emoutros, sente umadorprofunda. “Nãotem como sair dessa experiên- cia damesma forma que en- trou.Aspessoastêmnecessi- dade do amanhã, e isso mu- douparamimnamarra.Eusó tinha ohoje, não sabia o que viria depois.” Central de atendimento (11) 3340-9190 - (11) 97599-7028 - (11) 2361-0463 www.orientaudio.com.br/orient_audio *R $ 13 ,00 po rc ar te la co m pr an do at é3 ca rte las ** ve rif iqu ec on diç õe s ** - Rua Galvão Bueno, 412 cj 29Liberdade - Rua Voluntários da Pátria, 3744 cj 13Santana - Rua Faustolo, 1656Lapa Penha - Rua General Sócrates, 216 - cj 12 - Rua Arlindo Colaço, 328 - Cj 34São Miguel - Rua Oscar Freire, 1560Oscar Freire - R. Cônego Afonso, 53Osasco COMO ESTÁ SUA AUDIÇÃO? Aproveite! 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C/ 2,35m2 Cód.: 11867 De R$ 31,90/m2 Por R$24, 90/m 2 a eee ilustradacotidiano B4 Domingo, 18 DE DEzEmbro DE 2022 A escritora Nélida Piñon em sua casa, no Rio de Janeiro, em junho deste ano Eduardo Anizelli/ Folhapress coluna.obituario@grupofolha.com.br MORTES -Fábio Pescarini SÃO PAULO A pernambucana EdinaldaLuziaVelosoSantos, aEdina,gostavadeassistirao filme“Grease,nosTemposda Brilhantina”etinhaatéodis- codolongade1978,quepode- ria ser parte da trilha sonora desua juventude,pela seme- lhançadepartedashistórias. NascidanoRecife,chegoua São Paulo aos 15 anos com a mãe e cinco irmãosmais no- vos.Afamíliamoroudefavor em cortiço até a compra de umacasanoGrajaú,zonasul. Edina precisou trabalhar e arrumou emprego como au- xiliar emum salão de beleza nos Jardins, zonaoeste. Ali perto, em uma lancho- netedaAugusta, onde toma- varefrigerantecomumaami- ga, conheceu o estudante de ciências sociais André Aron, que havia ido até a badalada ruaparaestrearocarronovo. Nascia ali o relacionamen- toentreorapazquefoiexibir oseucarrãoeamocinha,co- monoclássicoestreladopor John Travolta e Olivia New- ton-John (1948-2022). AndréeEdinamantiveram umalongaamizade,atéenga- tarem um namoro rápido e decidirem morar juntos. Os doissósecasaramquandoos filhosMariana e Bernardo já estavam indopara a escola. O casamento não durou muito, apenas quatro anos, mas eles ainda manteriam uma relação cordial. Com os ensinamentos da- dos pelas clientes dos salões debelezaondetrabalhou,Edi- na aprendeu a administrar bemaprópriavida.Umades- sasmulheres,aapresentado- raHebeCamargo(1929-2012), quedeuoenxovalquandoela estava grávidadafilha. Foram viagens quinzenais durantemaisde20anosaoPa- raguai,deondetraziaprodu- tos importados para vender, queajudaramamulheracriar os filhos quando se separou. E também a sustentar sua maiorpaixão:oCarnavalper- nambucano. Praticamente todosos anos ia aoRecife e a Olinda, onde saía no tradici- onalGalodaMadrugadaeem outros blocos. Em2011,elaaposentouoba- teevoltaaopaísvizinho.Mas foicomodinheirojuntadonas longas jornadasdeônibusao Paraguaiqueconseguiufazer viagensmaisprazerosas.Nes- semesmoano,foicomafilha àEuropa. Navolta,semudousozinha para Maceió. Retornou para SãoPaulocincoanosdepois. Edina realizou o sonho de ser avó em abril passado, quando nasceu Noah, filho de seu caçula. Em 15denovembro,sentiu falta de ar durante amadru- gada e foi assistir TV em seu apartamentono Jaguaré, zo- naoeste.Morreuaos75anos, emcasa, de causas naturais. EdinaldaLuziaVelosoSan- tos deixou os filhos Mariana Luzia Aron, 45, e Bernardo Henrique Aron, 44, além do netoNoah, de 7meses. 7º DIA JOSÉ CARLO SPADOTTO Domingo (18/12) às 10h, Santuário nossa Senhora de Lourdes, Centro, botucatu (SP) Procure o Serviço Funerário Municipal de São Paulo: tel. (11) 3396-3800 e central 156; prefeitura.sp.gov.br/servicofunerario. Anúncio pago na Folha: tel. (11) 3224-4000. Seg. a sex.: 10h às 20h. Sáb. e dom.: 12h às 17h. Aviso gratuito na seção: folha.com/ mortes até as 18h para publicação no dia seguinte (19h de sexta para publicação aos domingos) ou pelo telefone (11) 3224-3305 das 16h às 18h em dias úteis. informe um número de telefone para checagem das informações. Pernambucana adorava dançar frevo e viajar EDInAlDA luzIA VEloso sAntos (1946-2022) SÃO PAULO A escritora Nélida Piñonmorreu neste sábado, emLisboa, aos 85 anos. A in- formaçãofoiconfirmadapor RodrigoLacerda,editornaRe- cord, que publicou livros de- la.Acausanãofoi informada. Nascida no Rio de Janeiro, aautoraocupavaa30ªcadei- ra da Academia Brasileira de Letras,em 1990.Seisanosde- pois,viroupresidentedainsti- tuição,tornando-seaprimei- ramulher a assumir oposto. A autoraé um dos nomes maisconhecidosdaliteratura brasileiranoexterior.Alémde ter sido aúnica representan- te deste país a fazer parte do boomlatino-americano,que revelouaomundonomesco- mo Gabriel García Márquez, Mario Vargas Llosa e Carlos Fuentes, a escritora rompeu fronteiras e abriu caminhos paraoutrosautoresnacionais. Foiaprimeiraautoradose- xo feminino a ganhar o prê- mio Juan Rulfo, o Nobel da América Latina, e foi funda- mental na promoção da li- teratura brasileira no exte- rior, apresentando nomes como Machado de Assis a autoras comoSusan Sontag. Nélida Piñon estreou com “Guia-MapadeGabrielArcan- jo”, lançadoem1961equerece- beucríticasduras.“Tivecam- panhasdeescritoresque sis- tematicamentemeatacavam. Mas eu nunca desisti. Nunca fizdissomatéria de ressenti- mento”, disse em sua última entrevistaàFolha,emjunho. Seusegundolivro,“Madeira FeitoCruz”,saiuem1963.Nos anos1970 foipublicado“ACa- sa da Paixão”, livro que mar- couumageraçãocomsuavi- são sobre a condição femini- naeque foi vencedordoprê- mio Mário de Andrade com sua trama sobre o despertar da sexualidadedeumaórfã. Issonãosignificaqueaque- les anos tivessem sido fáceis para a escritora. Os convites para aulas e palestras no ex- terior eram um jeito de pa- garascontas,comocontoua este jornal. Nos jantares, ela diz que se sentava na cadei- ra mais distante dos princi- pais nomes da época. A cada vez que o microfone caía na sua mão, via uma oportuni- dadede fazer sua voz ser no- tada—eampliar seuespaço. Nos anos 1980 publicou “A República dos Sonhos”, saga inspirada na história de sua Morre a escritoraNélidaPiñon, primeira mulher apresidir aAcademiadeLetras Causa damorte da única brasileira a integrar o boom latino-americano não foi divulgada família, quedeixou aGalícia, naEspanha,paraviraoBrasil. Ela acabaria tendoumvín- culo duradouro com o pa- ís de onde tinham vindo os seusantepassados.Doisanos atrás,recebeudaquelegover- noanacionalidadeespanho- la,amesmadoseuavôDaniel. Para retribuir, a escritora doounesteano8.000volumes desuabibliotecapessoalpara o InstitutoCervantes, noRio deJaneiro,quepromoveoen- sinode línguaeculturaespa- nhola. Foi umdos seus gran- des últimos feitos emvida. Acoleçãotinhaexemplares autografadosporJorgeAma- do, Toni Morrison, Gabriel GarcíaMárquezeoutrosque cruzaramsua vida dePiñon. Em 2005, pelo conjunto de suaobra,recebeuPríncipede Astúrias,maiorprêmioespa- nhol de literatura. Foi a pri- meira brasileira a conseguir o feito, derrotando o israe- lense AmosOz e os america- nosPaulAusterePhilipRoth. Apesar das conquistas, Pi- ñonacreditavaque seu reco- nhecimento dentro de seu própriopaíseraaquémaoque tinhaforadoBrasil. “Euacho que sou respeitada. Se eu ti- vesse ganhadohoje o Prínci- pe das Astúrias, a reação te- ria sidodiferente”, afirmou. Aescritoraeradoutoraho- noris causa pelas universi- dades de Poitiers, Santia- go de Compostela, Rutgers, Florida Atlantic, Montreal e Unam,alémdeembaixadora ibero-americanada cultura. Ela não deixa filhos. A ABL anunciou que seu sepulta- mento se dará no mausoléu e que a instituição fará uma SessãodaSaudadenodia2de março,emhomenagemaela. Aindanãoháinformaçõesso- bre o trasladode seu corpo. Carlos Brickmann, que cobriu asDiretas,morre aos 78 -Patrícia Pasquini SÃO PAULO O jornalista Car- losBrickmannmorreuneste sábado (17), aos 78 anos. Em outubro,ele foi internadono HospitalSírio-Libanês,naca- pitalpaulista,enãoresistiua umquadro infeccioso. NaturaldeFranca(a400km deSãoPaulo),Brickmannera filhodemédicos.Emprestou ao jornalismo59anosde sua história—muitosdedicadosà Folha,ondeiniciouacarreira, em 1963,aos 18anos,nocopi- desque.Trabalhounaempre- sa durante três períodos ao longodequase 30 anos. Em 1983, foi o primeiro re- pórter a cobrir a campanha das Diretas, pela Folha e co- mo editor interino de Eco- nomia. Brickmann ampliou a seção deMercado para du- as páginas e lançou a coluna DinheiroVivo,deLuísNassif. Na Folha da Tarde, atuou como colunista, editor-che- fe e editor responsável. Foi diretor de telejornalismo da Rede Bandeirantes, período emqueconquistouosprêmi- osdaAPCA(AssociaçãoPau- lista de Críticos de Arte), em 1978 e 1979. NoJornaldaTarde,partici- pou das reportagens que de- ram quatro Prêmios Esso ao veículo. Em 1992, começouageren- ciar a Brickmann & Associ- ados Comunicação, em São Paulo. A empresa atuano ra- mo de consultoria, comuni- caçãopolítica, gerenciamen- to de crise, relações públicas e assessoria de imprensa. Brickmanntambémpassou pelasucursaldeSãoPaulodo Jornal do Brasil; pela revista Visão, comoeditore secretá- rioderedação;epelaassesso- riadeImprensadacampanha dePauloMaluf àPresidência daRepública (1989). Eraautordos livros “AVida éumPalanque–Segredosda Comunicação Política” (edi- tora Globo) e “1º Guia Básico das Eleições/1998” (editora Voice)ecoautordolivro“Co- monãoserenganadonaselei- ções”(editoraÁtica),coorde- nadoporGilbertoDimenstein (1956-2020). Carlos Brickmann deixa a mulher, dois filhos, amigos e muitashistórias. Serávelado nestedomingo (18), às 11h30, noCemitérioIsraelitadoBu- tantã.O enterro será às 13h. O jornalista Carlos Brickmann Acervo Pessoal a eee Domingo, 18 DE DEzEmbro DE 2022 B5 ciência -Reinaldo José Lopes São CarloS (SP) A fama de ca- çadora solitária e antissocial da onça-pintada (Panthera onca)precisaserrevisada, in- dicaestudofeitonoPantanal e na Venezuela. Omonitora- mentodelongoprazodosma- chosdaespécieindicaque,na verdade, eles são capazes de forjar alianças entre si, dor- mindoe sealimentando jun- tos,enfrentandoadversários e talvez até colaborando pa- ra monopolizar juntos as fê- measdedeterminadaregião. As observações sugerem quehámaisemcomumentre asonçaseosleões,maisfamo- sos felinos sociais, do que se imaginavaatéagora.Haveria aindaalgunsparalelosentreo superpredadordasAméricas eosguepardos,velocíssimos felinosafricanosquetambém registramcolaboraçõesentre machos adultos. A grande diferença é que, por enquanto, as parcerias entreosmachosdeonça-pin- tada só foramregistradasno caso de duplas, enquanto o processoenvolvemais indiví- duos no caso de leões e gue- pardos. Até onde se sabe, as outras espécies de grandes felinos, como tigres, leopar- dos e suçuaranas, têmestru- turasocialecomportamento mais solitários. Osresultadosacabamdeser publicados na revista cientí- fica Behavioral Ecology and Sociobiology por uma equi- pe internacional de cientis- tas,que incluidiversosbrasi- leirosetambémespecialistas da Polônia, dos EUA, doMé- xico e daVenezuela. Para identificar as alianças de longoprazodasduplasde machos, o grupo se baseou em informações de armadi- lhas fotográficas (que obtêm imagens automaticamente quandooanimalchegaperto delas),monitoramentodosin- divíduosporcolarescomGPS erádio,avaliaçõesgenéticase avistamentos emcampo. Os dados foram coletados noPantanalbrasileiroenare- giãovenezuelanadosLlanos. Essasáreaspossuempopula- çõesrelativamenteabundan- tesdeonças-pintadas,graças àriquezaderecursosparaos animais (comaltadensidade depresasnaturaiseintroduzi- Companheirismoentreonças- pintadasé raro,masduradouro Estudomostra que felino não é tão solitário e antissocial como se pensava das)etambémsãoambientes parecidosentresi,cominun- dações sazonais emosaicos de vegetação relativamente aberta ematas ciliares. Issofacilitaacoordenação entre indivíduosdacoalizão eomonitoramentoporpar- te dos pesquisadores. Além disso, acredita-se que a co- laboração entre grandes fe- linos adultos seja mais co- mumnesse tipodeambien- te aberto, levandoemconta queocorrenas savanas afri- canascomleõeseguepardos. Aprimeiraconstataçãodo estudo é que as alianças en- tredoismachos adultos são bastante raras. De um total demaisde7.000registrosde onças-pintadasdosexomas- culino na pesquisa, apenas 70 são exemplos de coope- raçãoentreeles (oconjunto inclui também 18 casos de agressãoenovede “tolerân- cia”,ouseja,nosquaisosma- chos não se agridem, mas tambémnão cooperam). Nocasoemqueasduplasse formam,noentanto,ocom- panheirismopodedurarvá- rios anos.Nos Llanos daVe- nezuela, por exemplo, dois machosforamflagradosjun-tos 40 vezes, de 2013 a 2018. Costumavam viajar pelo território em dupla e mar- cá-lo (para demonstrar sua posse dele diante de outros machos) em conjunto. Em algumas ocasiões, um de- les acasalava com uma fê- mea enquanto o outro fica- va por perto. Ambos expan- diramseusdomínios expul- sandooutrosmachosaolon- godo tempo. Já no norte do Pantanal umadessas parcerias foi re- gistrada entre 2015 e 2018. Alémdeviajaremarcaroter- ritório juntos,elescostuma- vamcheiraracaraumdoou- troe foramvistoscomparti- lhandodoiscadáveresdega- do e expulsando juntos um jovemmacho invasor. Umdadointeressanteéque ospesquisadoresnãochega- ram a identificar, por meio deanálisesgenéticas,algum parentesco entre os aliados —em outras espécies, ma- chosadultosquesãoirmãos, porexemplo,podemacabar formando coalizões. Diferentemente do que acontece com os leões, as duplasdealiadosnãocaçam juntasenãoparecemformar colaboraçõescomasfêmeas. Há indícios deque asparce- rias tendem a se formar em locais onde há abundância de fêmeas, cada uma delas com territórios pequenos e vizinhos,oqueindicariaque os machos estão se aliando paragarantiroacessoàspar- ceiras e excluir outros ma- chosdacompetiçãoporelas. Um detalhe intrigante é queasonças-pintadasdeho- je,mesmoasquehabitamos ambientesmaisricosemre- cursos,comooPantanal,têm àsuadisposiçãorelativamen- te poucas presas de grande porte —mas essa é uma si- tuação recente na história evolutiva delas. No fim da Era do Gelo, há cercade 10mil anos, aAmé- ricadoSul estava repletade herbívorosdegrandeporte, comocavalos,preguiçaseta- tusgigantes,espéciesdelha- masquepovoavamboaparte doBrasil e “supercapivaras”. Seria algo muito mais pare- cido com a África atual, on- deosleõescaçamembando. “Pode ser que, nessa épo- ca, as onças-pintadas fos- sem maiores e formassem coalizões para capturar es- sesgrandesherbívoros.Tam- bém havia outros grandes predadores para competir comelas, comoursoseden- tes-de-sabre”,disseàFolhao pesquisadorvenezuelanoRa- faelHoogesteijn,umdosco- autoresdonovoestudo,que trabalhanaONGconservaci- onista Panthera. “Com a extinção desses grandes herbívoros da sa- vana, as onças diminuíram de tamanho e se tornaram mais especializadas na cap- tura de grandes répteis tro- picais,comosucuris, jacarés e tartarugas,oqueexplicao fatodeteremamordidamais fortedetodososgrandesfe- linos”, explica. Dupla de onças-pintadas repousa lado a lado na Fazenda San Francisco, emMS Fotos Reprodução Behavioral Ecology and Sociobiology Machos em coalizão invadem território de outrosmachos na região de Llanos, na Venezuela Brasil, pátriadasprioridades invertidas. Só se fala em “gas- tança”, enquanto eclodeoovo da serpente terrorista. Todos se preocupam com a Amazô- nia,quandodeveriamestarde olho no cerrado. ConfiraoProdes, sistemapa- ra monitorar desmatamento do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), que agora abarca todo o territó- rio. E se espante: 3milhões de km²devegetaçãonativa foram derrubadosem522anosdeco- lonização. Paraquemnão faz ideiadequanto isso represen- ta, são 36%do território naci- onal, que tem 8,5 milhões de km². Ou quase uma Índia (3,3 milhões de km²), onde vivem 1,4 bilhão de pessoas, 6,5 ve- zes mais gente que por aqui. Émuita terra. Talvez por is- soaparcelamenosbrucutudo agronegóciodigaháanosque não é preciso derrubar mais florestasparaalimentaroBra- sil e o mundo. Por que então ruralistas no Congresso que- rem impedir novas demarca- ções de terras indígenas? Porque todos se beneficiam comagrilagemnaAmazônia, paranão falardogarimpocri- minosodeminériosemadeiras nobres.Há justificativasdeso- bra para preocupar-se com o crime organizado no Norte e adevastaçãodamaiorflores- ta tropicaldoplaneta,masnú- meros servemparapôras coi- sas em perspectiva. É amata atlântica o bioma brasileiromaisdestruído, res- tando-lhe só 28% da cobertu- ra inicial, pelo Prodes. Ia di- zer coberturaoriginal,mases- sa cifra engloba áreas em re- generação, que tão cedo não exibirão a incrível biodiversi- dade da floresta tropical que deu a vida para parir o Brasil como o conhecemos. A segunda pior situação es- tá nos pampas, com 34% de remanescentes. Assim como amata atlântica, uma paisa- gemantropizada (explorada) hámuito tempo,quenosacos- tumamosadesmerecer, vicia- dosnoconformismoenaaco- modação. Em situação melhor se acham a caatinga, com 57% de vegetação sobrevivente, o Pantanal (77%) e a Amazônia (80%). No ponto médio, entre a vida e a morte, se equilibra ocerrado,ondepereceu jáme- tade da ultrabiodiversa sava- na brasileira. Atente para dados do Inpe: o cerrado perdeu 10.689 km² de agosto de 2021 até julho de 2022.Menosqueos 11.568km² decepados na Amazônia, ver- dade,masproporcionalmente muitomais—afinal, a savana brasileira corresponde a me- nos da metade da área (2mi- lhõesdekm²) daflorestaama- zônica (4,2milhões de km²). Pior:nocerrado,odesmata- mento deu salto de 25%no úl- timo anodo governo Jair Bol- sonaro (PL). Emcontraste, na Amazônia observou-se recuo de 11%nocorte raso,aindaque não deixe de ser lamentável a devastação anual por lá esta- bilizar-senacasadecincodígi- tos, patamargalgadopelopi- or presidente do Brasil. São 13as unidades daFede- raçãocomáreasnobiomacer- rado:BA,DF,GO,MA,MT,MS, MG, PA, PR, PI, RO, SP e TO. Entretanto, a destruição em larga escala, acima de 1.000 km² anuais, campeia em ape- nas quatro delas: Maranhão (2.834 km² neste ano), Tocan- tins (2.128 km²), Bahia (1.428 km²) e Piauí (1.189 km²). Numa palavra, Matopiba (MA, TO, PI, BA). Na região ocorre forte expansãoda fron- teiraagrícola, comaabertura de terrenosparaplantaçõesde soja, milho, algodão e até tri- go. Tambémhámuitoboi por lá. Além de bandeiras do Bra- sil em cada porteira e clubes de tiro aosmontes. A praga atual do Brasil não sãoas saúvas,nemosapouca- dosdesenvolvimentistasdoPT. Sãoos latifundiários epecua- ristas de extrema direita que mandam empregados e refei- çõespara sustentarachusma degolpistasnaportadequar- téis a adular os de dentro. Oriundos do Sul, os patri- otas de caminhão vieram de longeparadestruirprimeiroo cerrado.Ali fica suacabeçade ponte, à volta do Planalto, de onde atacam a Amazônia e a débil democracianacional em conluio com a bandidagem. monitoramento do inpe aponta degradação galopante à volta do Planalto - Marcelo Leite Jornalista de ciência e ambiente, autor de “Psiconautas - Viagens com a Ciência Psicodélica brasileira” (ed. Fósforo) ChegadeAmazônia, vejamo cerrado |dom. Reinaldo JoséLopes,�MarceloLeite EDITAL PARA CONHECIMENTO DE TERCEIROS INTERESSADOS, COM PRAZO DE 10 (DEZ) DIAS, expedido nos autos do Processo Nº 0022018-80.2005.8.26.0053 O MM. Juiz de Direito da 14ª Vara da Fazenda Pública, do Foro Central - Fazenda Pública/Acidentes, Estado de São Paulo. Faz Saber a Terceiros Interessados na Lide que a Prefeitura do Município de São Paulo move uma Desapropriação - Desapropriação por Utilidade Pública/ DL 3.365/1941 - contra João Leão de Souza, Wilma Cotting Souza e Décio Cotting Souza, objetivando a área de 85,10 m², concernente à área total do imóvel, situado à Rua Giácomo Lauri-Volpi, sem número, nesta capital, contribuinte nº 172.101.0278-64, declarada de utilidade pública conforme Decreto nº 45.224 de 01.09.2004. Para o levantamento dos depósitos efetuados, foi determinada a expedição de edital com prazo de 10 (dez) dias a contar da publicação no Órgão Oficial, nos termos e para os fins de Dec. Lei nº 3.365/41, o qual, por extrato, será afixado e publicado na forma da lei. Nada Mais. Dado e passado nesta cidade de São Paulo, aos 16 de dezembro de 2022. PROCURADORIA GERAL DE LEILÃO DE ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA 1º LEILÃO: 03 de janeiro de 2023, a partir das 12h00min*. 2º LEILÃO: 05 de janeiro de 2023, a partir das 15h30min*. *(horário de Brasília) ALEXANDRE TRAVASSOS, Leiloeiro Oficial, JUCESP nº 951, com escritório naAv. Engenheiro Luís Carlos Berrini, nº 105, 4º andar, Edifício Berrini One - Brooklin Paulista - CEP: 04571-010, FAZ SABER a todos quanto o presente EDITAL virem ou dele conhecimento tiver, que levará a PÚBLICO LEILÃO demodo PRESENCIAL E/OU ON-LINE, nos termos da Lei nº 9.514/97, artigo 27 e parágrafos, autorizada pelo Credor Fiduciário BANCO SANTANDER (BRASIL) S/A - CNPJ n° 90.400.888/0001-42, nos termos da Escritura Particular datada em 04/02/2020, firmada com o Fiduciante FELIPE AGUIAR FREIRE, RG nº 411943686-SSP/SP, inscrito no CPF/MF nº 353.184.128-90, residente em São Paulo/SP, em PRIMEIRO LEILÃO (data/horário acima), com lancemínimo igual ou superior a R$ 448.551,98 (quatrocentos e quarenta e oito mil e quinhentos e cinquenta e um reais e noventa e oito centavos - atualizado conforme disposições contratuais), o imóvel constituído por: ''Apartamento n° 13 - Tipo 4 da Torre F - Edifício Júpiter no Condomínio Parque do Sol, situado na Rua Cabo João Teruel Fregoni, nº 124, Guarulhos/SP, com a área privativa de 61,9700m², área comum de 55,7272m², perfazendo a área construída total de 117,6972m², já incluída 01 vaga indeterminada na garagem coletiva'', melhor descrito na matrícula nº 98.766 do 1º Oficial de Registro de Imóveis de Guarulhos/SP. Cadastrado na Prefeitura sob o nº 113.43.18.0360.06.005. Imóvel ocupado. Venda em caráter “ad corpus” e no estado de conservação em que se encontra. Caso não haja licitante em primeiro leilão, fica desde já designado o SEGUNDO LEILÃO (data/horário acima), com lance mínimo igual ou superior a R$ 256.005,00 (duzentos e cinquenta e seis mil e cinco reais – nos termos do art. 27, §2º da Lei 9.514/97). Se o caso, o leilão presencial ocorrerá no escritório do Leiloeiro. Os interessados em participar do leilão de modo on-line, deverão se cadastrar na Loja SOLD LEILÕES (www.sold.superbid.net) e no SUPERBID EXCHANGE (www.superbid.net), e se habilitar com antecedência de 24 horas úteis do início do leilão. Em virtude da pandemia da COVID-19 o evento será realizado exclusivamente on line através da Loja SOLD LEILÕES (www.sold.superbid.net) e doSUPERBIDEXCHANGE (www.superbid.net) Formadepagamento e demais condições de venda, VEJAAINTEGRADESTEEDITALNALOJASOLDLEILÕES (www.sold.superbid.net) ENOSUPERBIDEXCHANGE (www.superbid.net). Informações:11- 4950-9602 / imoveis.sac@superbid.net (18678 –Dossiê). K-16,17e18/12 folhacorrida a eeeDomingo, 18 DE DEzEmbro DE 2022 B6 frases da semana SUDOKU texto.art.br/fsp O Sudoku é um tipo de desafio lógico comorigemeuropeia e aprimorado pelos EUA e pelo Japão. As regras são simples: o jogador deve preencher o quadradomaior, que está di- vidido emnove grids, comno- ve lacunas cada um, de forma que todos os espaços em branco contenhamnúmeros de 1 a 9. Os algarismos não podem se repetir namesma coluna, linha ou grid SO LU Çà O CRUZADAS 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 1 2 3 4 5 6 7 8 9 HorizontAis:1.Raiva,Cam,2.Étnico,SE,3.Estourar,4.Porra- da,5.Overdose,6.Metiê,GLP,7.Broa,Mata,8.Abr,Mudar,9.Da, Fado,10.Bike,FL,11.Belezura,12.Pitéu,Fem,13.Spa,Praia. verticAis:1.Ré,Lombada,PS,2.Até,Verba,Bip,3.Inspetor, Beta,4.Vitória,Filé,5.Acorde,Make-up,6.Ouro,Mudez,7. Rasgado,Ufa,8.Asa-delta,Frei,9.Mera,Para-lama. HorizontAis 1.Hidrofobia / O quemuda de pista para campista 2. Próprio, característico de determinado povo ou raça / Sigla do estado nordestino que só faz divisa com a Bahia e Alagoas 3. Explodir 4. (Pop.) Grande quantidade 5.Quantidade excessiva ingeri- da, em especial de tóxico 6.Ofício, função, trabalho / Gás de cozinha 7. Pãozinho doce de fubá e ovos / (Vanessa da) Cantora e compositora de “Ainda Bem” 8. Começo de abril / Trocar, subs- tituir 9.Diretório Acadêmico / Um estilo de canção portuguesa 10. (Pop., ingl.) Bicicleta / As iniciais da modelo e apresentadora Lima 11. (Pop.) Boniteza 12. Iguaria saborosa / (Abrev.) O con- trário de masculino 13. Clínica para tratamento da saúde e da beleza / A do Cassino, no Rio Grande do Sul, é a mais extensa do mundo, com 220 km. verticAis 1.Amarcha menos usada pelos carros / Relevo ou concavidade no piso que faz com que omotorista diminua a velocidade / Pronto-socorro 2. Inclusive / Quantia destinada a um fim espe- cífico / Sinal eletrônico de aviso 3. Funcionário que fiscaliza as condições e o andamento de alguma coisa / A letra do alfabeto grego que segue alfa 4.Ato de triunfar sobre um inimigo ou antagonista / Corte de carne que pode ser servido a milanesa ou a cavalo 5. Som resultante da emissão simultânea de vários sons diferentes / (Ingl.) Maquiagem 6.O elemento químico Au / Estado de quem não tem o dom da fala 7.Roto / Até que enfim! 8. Equipamento usado no voo livre / Precede o nome do frade 9. Sem complexidade, sem importância (fem.) / A parte da car- roceria que protege contra respingos de água e detritos. difÍcil Asmãos de Ana ficaram tão úmidasqueelaastevedepas- sarnacalça jeansquandofoi aumencontronumanoitede sexta recente. Ela já conhe- cia bem o seu date, mas, no seupeito enas glândulas su- doríparas, eracomose fosse a primeira vez que ia vê-lo. “Eu fiquei tão nervosa quando abri o manuscrito que não conseguia segurar a caneta. Escorregavano su- or”, ela ri.OencontrodeAna eracomseuprimeiroroman- ce de fantasia, que pretende lançar em 2023, após cinco anos de períodos de escrita febril, seguido pormeses de ascoabsolutopeloquetinha colocado na folha pautada. Ana é arromântica. Quem define é o site do Coletivo AbrAce, que une pessoas hétero, bi e homossexuais, masquesentempoucooune- nhumamorromântico.“Arro- manticidadeéummovimen- todepessoasquenãosentem, seja de forma total ou parci- al,atraçãoromânticaporou- tras pessoas.”Depois dedois namoricos e umquase casa- mentodeseisanos,elasedeu contaquepreferiaestarsozi- nha, porque não correspon- dia ao afeto dos parceiros. E descobriu na internet o no- mepara pessoas como ela. “Essaentrevistanãovaime tratar que nem uma pessoa com deficiência, né?”, per- gunta Ana no primeiro mi- nuto de ligação. Não, Ana. “Porque as pessoas veem al- guém como eu e acham que falta alguma coisa, como se faltasseumaperna.Masnão faltanada.Eusoucompleta. Só não sou do seu jeito.” Ana evita dizer empúblico que é arromântica, e por is- so prefere sair num jornal só comseuprimeironome. Faz dezanosqueostentasuasol- teirice, que já considerauma conquista para o resto da vi- da.Massóduasamigassabem. “Já me chamaram de tiazo- naencalhada,maseuprefiro aguentarumababaquiceque dura um segundo do que ter queexplicarquemeusoupa- ra alguémquemal conheço.” Ana está cansada de ter dedefinir, como se fosse um verbete de dicionário. “Daí as pessoas começam a per- guntar: ‘Ah,masvocêsenteo quequandovêumhomem?’. E não tem resposta. É como perguntar para um cego o queeleachadacorvermelha. Simplesmentenãodá,porque nãoexiste.Eunãotenhoopi- nião sobreoquenãoexiste.” Ana diz que até tem uma vida sexual, mas que prefe- redeixarnoprivado. “Eunão pergunto da sua e você não pergunta daminha”, ela ri. O que leva Ana a falar com umrepórterqueésóseuami- godeInstagraméumavonta- demaior.Avontadedequeo mundoentendaquealgumas pessoasnãoamam,pelome- nosnãoamamoutraspesso- ascomumfulgorromântico. “Não tem corpo certo, não temcorcerta,nãotemgênero certo. Essasdiscussões já es- tãobemadiantadasem2022. Masninguémnuncafaçaque nãotemcoraçãocerto.Cora- ção,não,né,porqueissoéum clichêromântico.Eusóacho quemeu cérebro é diferente do seu. E eu tenhodireito de serassim,demedeixaremem pazsemprecisarfingirqueeu não consigohomem, ounão consigomulher.” Enquantoadiscussãoaafli- ge no plano teórico, ela tem oplanoprático bem resolvi- do, e na palma da mão. Tra- balhadecasa, traduzindofil- mes, cercadadeseusdoisga- tos,desériesede livros—um deles é ummanuscrito que, se tudo der certo, vai ser o seu primeiro livro. “Omaiorprazerqueeusin- to na vida é escrever. Mas is- so não quer dizer que eu se- jaumciborgue, eucurtosair, curtovermeusamigos,sósou umapessoamaiscaseirames- mo,e issonãotemnadaaver comser arromântica, acho.” Para a vida melhorar, diz Ana, só falta as pessoas dei- xarem gente como ela ser feliz do seu jeito, em vez de dar conselhos e até recei- tar benzedeiras ou psiquia- tras. “Não é amor românti- co, mas é amor. As pessoas precisamparardeacharque é uma passagem pra ser fe- liz.Eu sinto amor. Amo mi- nhamãe.Amomeusgatos.E amomeu livro. Euamo, tá?” nossoestranhoamor | Chico Felittifolha.com/nossoestranhoamor Ana não ama pessoas. Mas ama seu livro finAlistAs noQAtAr Messi Capitão da Argentina comemorou a classificação para a final da Copa “A primeira partida [per- dida para a Arábia Sau- dita por 2 a 1] foi um golpe muito duro para todos. Cada partida passou a ser uma final. [...] Estávamos confiantes de até onde poderíamos chegar. Esta- mos emuma final e vamos desfrutar disso.” Griezmann Atacante da França espera levantar a taça, como já feito na rússia-2018 “Um time como Leo [Messi] dentro é diferente. Também temum time atrás que émuito bom, e eles têm a torcida da parte deles. Vamos pensar em comoprejudicá-los, como nos defender e nos prepa- rar para esta final.” Atos GolpistAs lula Presidente eleito acusou Jair bolsonaro de estar por trás dos atos de violência que paralisaram brasília nesta semana “Esse cidadão até agora não reconheceu a sua derrota, continua incentivando os ativistas fascistas que estão nas ruas semovimentando. [...] Ele segue o rito que todos os fascistas seguem nomundo. É importante a gente saber que eles fazem parte de uma organização de extrema direita que não existe apenas no Brasil.” Alexandre deMoraes ministro do STF e presidente do TSE prometeu punir responsáveis “Ainda temmuita gente para prender emuitamulta para aplicar. Garanto que serão responsabilizados. Para que isso não retorne nas próximas eleições.” cAos nA crAcolândiA Marilda cristina rodrigues moradora da região da Cracolândia, na capital paulista, relatou as dificuldades de conseguir acessar serviços de entrega após a dispersão de usuários de droga “A dispersão transformou a nossa vida emum inferno. [Um entregador]me disse: ‘Prefiro perder R$ 10 da entrega do que perder minhamoto,meu celular.” evitAr A extinção AiltonKrenak Escritor e líder indígenas falou à Folha sobre os desafios da humanidade diante da crise do clima. “OHomo sapiens, a espé- cie, está entrando em extin- ção. Eu não estou salvando os índios. Estou dando um toque de que, se a gente não se cuidar, vamos todos para ametástase.” fAz frio no front valeri zalujni Comandante das Forças Armadas da Ucrânia falou à Economist sobre as dificuldades enfrentadas pelas tropas ante a invasão russa “Parece que estamos no limite. Aí é quandomulhe- res e filhos dos soldados começam a congelar. Qual será o ânimo deles?” expurGono twitter elonMusk Dono da rede social justificou a decisão de suspender da plataforma jornalistas que haviam compartilhado informações de voos do bilionário “Eles postaramminha loca- lização exata em tempo real, basicamente coorde- nadas de assassinato. [...] Você revela informações privadas de uma pessoa online, você é suspenso.” imagens do ano Como os fotógrafos da Folha retrataram 2022 Alta da conta de luz emsorocaba provoca reações da população A concessionária do ser- viço de iluminação elé- trica de Sorocaba (SP), a Light, usou um expedi- enteparaaumentarcon- sideravelmente o preço da luz. Essa açãoexaspe- rou a população da cida- de, composta emgrande parte de operários. Nosábado(16), foi rea- lizada uma segundama- nifestação de protesto contra o aumento, e um oradordiscursouperan- tecercade3.000pessoas. Um recurso deve ser dirigido ao Senado so- bre o caso. ACErvo FolhA Há 100 anos 18.dez.1922 h leiAMAis eM acervo.folha.com.br Escolas de samba voltaram a desfilar; em SP, a Rosas de Ouro transformou o presidente em jacaré Rubens Cavallari - 23.abr.22/Folhapress abril copa2022 a eee Domingo, 18 DE DEzEmbro DE 2022 1 Mbappé tenta arrancar possível única Copa deMessi em final que consagra novo tricampeão Duelo no Olimpo Messi (no topo) durante treino da Argentina na Qatar University, emDoha, prepara-se para enfrentarMbappé (abaixo) na decisão da Copa doMundo doQatar Dylan Martinez/Reuters e Franck Fife/AFP a eee copa 2022 2 Domingo, 18 DE DEzEmbro DE 2022 A decisão da Copa 2022 Melhor(es) Copa(s) 1º lugar em 1998 e 2018 1º lugar em 1978 e 1986 Ranking Fifa 4º lugar3º lugar IDH (2021) 28º lugar (0,90)47º lugar (0,84) Expectativa de vida 83 anos75,3 anos Bola de Ouro 7 Messi (2009, 2010, 2011, 2012, 2015, 2019 e 2021) 6 Raymond Kopa (1958),Michel Platini (1983, 1984 e 1985), Jean-Pierre Papin (1991) e Zidane (1998) Moeda 1 euro equivale a r$ 6,50 1 peso argentino equivale a r$ 0,03 PIB (2021) US$ 2,9 triUS$ 491,5 bi No Qatar CAFWorld Giving (Ranking de Solidariedade) 100º21º Artilheiro 5 gols mbappé 5 gols messi Oscar* 3 "A História oficial" (1986), "o Filho da noiva" (2001) e "o Segredo dos Seus olhos" (2010) 12 "o Capelão das galeras" (1949), "Três Dias de Amor" (1951), "brinquedo Proibido" (1953), "meu Tio" (1959), "orfeu do Carnaval" (1960), "Sempre aos Domingos" (1963), "Um Homem, uma mulher" (1967), "o Discreto Charme da burguesia" (1973), "A noite Americana" (1974), "madame rosa - A Vida à Sua Frente" (1978), "Preparem seus Lenços" (1979) e "indochina" (1993) Gols feitos 1312 Arg FrAx *melhor filme estrangeiro Em Copas Jogos 7287 Vitórias 3947 Empates 1316 Derrotas 2024 1930 1978 2018 Argentina Argentina França 1 x 0 2 x 1 4 x 3 França França Argentina Retrospecto contra rival (geral) Vitórias 36 Empates 33 Desempenho do país em disputas de pênaltis em Copas Vitórias 25 Derrotas 21 Derrotas 63 Gols feitos 1115 Gols sofridos 1511 Finalizações 9286 Finalizações para marcar 7,17,2 Gols sofridos 55 Média de gols sofridos 0,80,8 Retrospecto contra o rival em Copas Vitórias 12 Empates 00 Derrotas 21 2022 Holanda 2006 itália 2 x 2 (3) (4) 1 x 1 (5) (3) Argentina França Quartas de final Final Última disputa Doha Nas seis partidas da Argentina antes da Copa, Rodrigo De Paul, 28, só fi- couos90minutosemcam- po no amistoso contra os Emirados Árabes Unidos, em 16denovembro. Pode parecer um dado banal porque, à exceção da primeira final Conme- bol-Uefa, quando a sele- ção sul-americana bateu a Itália por 3 a 0, todos os outros jogos eram testes. Para dirigentes da AFA (Associação de Futebol Argentina) e pessoas pró- ximas à seleção, era um recado dado por Lionel Scaloni ao seu jogador. Otécnicocontava(emui- to)comacapacidadeincan- sável do volante do Atléti- codeMadriddecorrerem campo e se desdobrar pe- la causa. Mas estava preo- cupado com sua queda de rendimentoeosproblemas fora de campo. Nocomeçodoano,opró- prio presidente da AFA, Claudio “Chiqui” Tapia, aventou a chance de De PaulperderaCopaporcau- sadeumprocessojudicial. “Para ir ao Qatar, o que nãopodeteréumadenún- ciapenalcomcondenação pendente, um temade gê- nerooualgosimilar”,disse o cartola, em entrevista a umarádiodeBuenosAires. De Paul estava nomeio de um processo de divisão de bens e pagamento de pen- são alimentícia aberto por suaex-mulher,CamilaHoms, enquanto jánamoravaacan- tora Tini Stoessel. Ele de- pois foi fotografado saindo deboates antes departidas. Scaloni nunca tocouno as- sunto, mas não ter De Pa- ul, apesar de sua inconstân- cia técnica, seria uma perda sentida. Isso porque ele faz um papel de carregar o pia- no por 90minutos para que Lionel Messi possa se deslo- caremcampoporondequer. Umdosmotivospelosquaisa Argentinavai decidir o título mundial nestedomingo (18), contra a França, às 12h. “Rodrigodesempenhauma funçãoqueédifícilencontrar outro jogador que faça hoje emdia”,definiuScaloniantes da viagempara oQatar. Em todas as partidas no Qatar, foi elequemmais cor- reu (média de 12 km por jo- go).Naestreia, contra aArá- biaSaudita, foimaleaArgen- tinaperdeu.Quandomelho- rou, apartirdo jogocontrao México, o time cresceu jun- to. Embora o mérito maior seja deMessi, claro. Na fase de grupos, De Pa- ul foio jogadorquemais ten- tou passes na seleção (384), com 88% de acerto, e o ter- ceiroquemaisrecuperoubo- las (21).Mais importante, é o principal elo para fazer a bo- lachegaraMessiequemmais recebepasses do camisa 10. DePaul éumdos símbolos daeraScaloni e a imagemda renovação pela qual passou a Argentina a partir do fra- cassonoMundial de 2018. No ano seguinte, o volan- te recebeu aprimeira convo- cação. E, para ele, ocupar a função em que outros falha- ram no passado, a de “sócio deMessi na seleção”, é papel que assume comgosto. “Sempre quis ter um tra- balho importante nas equi- pes, nunca fui desses depas- sar despercebido.Masna se- leção temos um líder que é muito grande, uma figura muito importante, alguém que, alémde jogar como jo- ga, comapalavra simplifica tudo”, afirmou. Foi responsável também pela única contrariedade de Scaloni com a imprensa Ar- gentina durante a Copa. Al- guns veículos publicaram que, por uma lesão, ele não sóficaria foradasquartasde final, contraaHolandacomo nãoatuariamaisno torneio. “Não sei de onde saem es- sas coisas.O treino foi fecha- do, e Rodrigo participou de- le. Vamos ver se vai jogar”, desafiou o técnico. De Paul foi titular, assim como deve ser nafinal.AS O volante Rodrigo de Paul, umdos destaques da seleção argentina Dylan Martinez/Reuters DePaul carrega piano para camisa 10 jogar livre e seleção conquistar o tricampeonato Torcida argentina canta, vibra e faz bandeiraço com imagemdeMessi emDoha durante a Copa Gabriela Biló - 8.dez.22/Folhapress -Alex Sabino Doha No túnel de acesso ao gramadodoMaracanã,em11 de julhode2021, LionelMes- si reuniu os demais jogado- res para fazer o discurso an- tesdadecisãodaCopaAmé- rica.Anosantes,aquilolhese- riadifícileeletropeçarianas palavras.Daquelavez,não.“O caminho é mais importan- tedoqueo resultado”, disse. Talvez por não focar ape- nas o placar final, naque- la tarde ele conquistou seu primeiro título importante coma seleção. Oobjetivo seguinte seria o maisvalioso.Segundoogolei- ro EmilianoMartínez, antes de iniciar a competição con- tinental,Messihaviaavisado todoo elenco que aCopado Qatar seria suaúltima. AArgentinaestánafinalda Copa do Mundo em grande parteporcausadofutebolde seucapitãoecamisa10.Neste domingo(18),aequipedecideo títulocontraaFrança,noestá- dioLusail,às12h(deBrasília). AmensagemdeMessificou tãomarcada para jogadores e comissão técnica que con- tinuou a ser repetida mes- mo após derrota na estreia para aArábia Saudita. “Oimportanteéocaminho, o objetivo que traçamos até agora. Estou convencido de que, quando se desfruta, as coisas saemdiferentes”, afir- mouotécnicoLionelScaloni. O caminhodeMessi até se aproximardotítuloem2022 é diferente de todos os que trilhou no passado. Mesmo em 2014, quando foi vice e eleito o melhor da Copa do Mundo, não feznenhumgol a partir das oitavas. O ata- cante jamais havia anotado empartidas eliminatórias. NoQatar,marcounasoitavas (Austrália),quartas(Holanda) e semifinal (Croácia). Fez jo- gadas e deu assistências que jáestãonahistóriadasCopas. “VejoLeofeliz.Viumgran- de LeonaCopaAmérica [de 2021], um dosmelhores que vinavida.Mas,nesteMundi- al,eledeuumpassomaisadi- ante.Édifícil superaroMes- si da Copa América. Isso ge- ra muita energia à equipe”, completouMartínez. A trajetória transformou o craque, referênciade futebol argentino.SuaCopaatéagora émaradonianadentroe fora decampo.Sónãoé igualpor- quenãohouvejogocontraaIn- glaterraeatéagoranãohouve título,comoocorreuem1986. Messi nunca havia toma- do tantas atitudes capazes de unir o elenco. Desde es- colher trilha sonora da sele- ção (o “Muchachos” da ban- da LaMosca de Tsé-Tsé), até tirarsatisfaçõescomtécnicos e atletas adversários (Louis vanGaal eWoutWeghorst). Comcincogols (ao ladode Mbappé), ele chega à final comoartilheiro doMundial. Em 2018, na Rússia, ele ano- touapenasumavez.NaÁfrica doSul,em2010,nemisso.Ele chegou a 11marcados, o que o torna omaior goleador ar- gentinonahistóriadotorneio. Ocaminhoemocionouaté Scaloni, que chegou à bei- ra das lágrimas em entre- vista neste sábado (17), ao falar do grupo que formou desde que assumiu o cargo, em 2018, e dos atletas que receberam oportunidades, masnão estãonoQatar. Umaemoçãoquecontraria oqueelemesmodisseapósa vitórianafasedegruposcon- tra o México. Ao ser questi- onado sobre o choro de seu auxiliar Pablo Aimar após o gol deMessi, falou que o fu- tebol não poderia ser vivido daquelamaneira, comtanta Messimaradoniano inspira Argentinacomoummessias Craque fixou na seleção que ‘o caminho émais importante que o resultado’ paixão. Era apenas um jogo. A invasão argentina a Do- ha, comcerca de 40mil pes- soaseestádios lotados,o fez conceder que sim, há uma emoçãoenvolvidaquetorna esta jornada aindamelhor. “Estar emocionado é par- te da cultura argentina, de como se vive o jogo. Temos amelhor torcidadomundo, ela estava necessitada desta alegria. As imagens [de Bue- nos Aires] chegam, e como não te vão emocionar? Na Argentina,mesmo que você não vá entender, é mais do queofutebol,éalgoquefazas pessoas felizes”, afirmou. Émaisumdiscursorouba- do de Messi, o líder inques- tionável da seleção e do fu- tebol dopaís finalistadaCo- pa. A cada contato com a imprensa, ele é convidado a mandarumamensagemaos que estão emseupaís natal. “Com o seu futebol, ele mostra onde podemos che- gar.Leoéumfenômeno”,con- cedeuAlexisMacAllister.Uma declaraçãodiscretapertoda que deu Martínez após o tí- tulodaCopaAméricadoano passado, quando disse que “morreria porMessi.” Emboraparaocraqueajor- nada seja o mais importan- te, seesta terminarcomotí- tulo, vai coroar o caminho mais bonito de todos. Scaloni ensaia equipe com três zagueiros Lionel Scaloni não quis confirmar, em sua conferência de imprensa neste sábado (17), qual time vai escalar para a final da Copa, contra a França. “Daqui a pouco vamos treinar e vocês vão ver. Se não conseguirem ver, alguém vai contar”, brincou, fazendo referência os vazamentos de informações sobre o que acontece nos bastidores da Argentina. No treino, Scaloni testou duas formações. A principal indefinição é quanto à presença de Ángel Di María entre os titulares. Ele não está 100% fisicamente e tem ficado no banco. O técnico quer conter a velocidade de Mbappé e impedir que a bola chegue a ele. A atividade começou com três zagueiros: Martínez; Romero, Otamendi e Llisandro Martínez; Molina, De Paul, Enzo Fernández, MacAllister e Acuña; Messi e Álvarez. Na segunda parte, Di María entrou no lugar de Lisandro Martínez, passando para o 4-3-3. ARGENTINA FRANÇA 12h, estádio Lusail na TV: globo, globoplay, SporTV, Fifa+ e CazéTV (Youtube) “ Rodrigo [de Paul] desempenha uma função que é difícil encontrar outro jogador que faça hoje em dia Lionel Scaloni técnico da Argentina a eee copa 2022 Domingo, 18 DE DEzEmbro DE 2022 3 Seleção da final da Copa doMundo teria 7 franceses e 4 argentinos Análise -SandroMacedo FrançaeArgentinachegamà final da Copa após lidar com váriosobstáculosnotorneio. Desdeaestreia,LionelSca- lonitevediferentesformações argentinas.Emesmoquando manteve o esquema, trocou peças.Tagliafico,PapuGomez eLautaroMartínezperderam lugar. Enzo Fernández e Juli- ánÁlvarezviraramintocáveis. Doladofrancês,DidierDes- champs perdeu o lateral es- querdotitularnoiníciodaes- treia,masTheoHernández,ir- mãodocontundidoLucas,to- moucontadaposição.Otrei- nador francês chegouaoQa- tarcolecionandodesfalques. Goleiro O francês Hugo Lloris e o ar- gentinoEmilianoMartínezjo- gamnaPremierLeague—res- pectivamentenoTottenham enoAstonVilla.Apareceram bemquando exigidos naCo- pa.Masficamoscomoargen- tino,essencialnaclassificação contra a Holanda, ao defen- derdoispênaltis.Escolhido: Martínez (Argentina). Laterais Emboraolateraldireitoargen- tinoMolina tenha se recupe- radodeum início ruim,oes- colhidoéofrancêsKoundé, que também atua como za- gueiro. Ele entrou no lugar dePavardnofimdodueloda estreia. Mas já foi titular da posiçãono segundo jogo. Na lateral esquerda, ne- nhum dos jogadores da po- sição começou em campo. O argentino Acuña ganhou avaganasegundapartida. Já o francês Theo Hernández (escolhido) era reserva do ir- mão, Lucas. Virou titular lo- gonaestreia,quandooirmão semachucouno lancedogol australiano.Tomoucontada posiçãoemarcougolnasemi. Zaga O experiente argentino Ota- mendi, 34, é o único dos za- gueiros na final que partici- pou de todos os minutos desua seleção. Scaloni chegou a escalar Romero ou Martí- nez para acompanhá-lo —e contraaHolanda,colocouos trêsnazaga.Noesquemafran- cês,VaraneeUpamecanofor- mam a zaga titular. Escolhi- dos:Otamendi (Argentina) eVarane (França). Meio-campo Scalonitemmudadoaforma- çãoadependerdorival.Nase- mifinal,contraaCroácia,oti- mepovoouomeio-campocom Paredes,MacAllister,DePaul e Enzo Fernández, o grande achadodo técnicoargentino. Com ausências de Kanté e Pogba Didier Deschamps montou o meio com Rabiot eTchouaméni, ecadaumfez um gol na Copa. Mas a gran- de diferença da França 2018 para a 2022 é a função táti- ca de Griezmann,mais recu- ado, e fundamental tanto na marcaçãocomonodesarme. Escolhidos:EnzoFernández (Argentina),Rabiot(França) eGriezmann (França). Ataque Mbappé,camisa10daFrança, artilheirocom5gols e candi- datoamelhor jogadordaCo- pa.Messi,camisa10daArgen- tina, artilheiro com 5 gols e candidatoamelhorjogadorda Copa.AdiferençaéqueaFran- ça já venceu sem precisar de Mbappé(contraaInglaterra). Osdoisastrostêmbonsco- adjuvantes no comando do ataque: Giroud, da França, e o jovem Julián Álvarez, da Argentina, somam 4 gols ca- daum.Escolhidos:Mbappé (França),Messi(Argentina) eGiroud (França). ComArgentina, América do Sul tenta quebrar sequência de títulos europeus Desde que o Brasil conquistou o penta em 2002, apenas seleções europeias comemoraram, fazendo com que a Europa disparasse na frente da América do Sul em títulos. Ganharam, na sequência: Itália (2006), Espanha (2010), Alemanha (2014) e França (2018), totalizando 12 títulos, contra 9 dos sul-americanos. Historicamente, o duelo sempre foi muito equilibrado, mas tudo mudou depois de 2006. Torcedores franceses seguram cartazes com imagemdeMbappé e Giroud antes do jogo entre França e Dinamarca, no início da Copa Natalia Kolesnikova - 26.nov.22/AFP Onipresente, Griezmann troca gols por jogo de equipe, desarma comoKanté e vira garçom Doha Quando a França per- deu Kanté e Pogba, ambos fora da Copa por lesões, pa- recia improvável que a cha- ve para reestruturar omeio de campo estivesse nos pés do terceiro maior artilheiro dahistória da seleção. Mas poucos jogadores po- deriamseadaptartãobema umamudançagrandedeesti- locomoAntoineGriezmann, 31.Autorde42golspelaFran- ça,elepossuitécnicaeinteli- gênciaqueotornamcapazde fazerváriasfunções.Eprovou isso emcada jogonoQatar. DiantedeMarrocos,segun- dodadosdaFifa,eletocouna bola em todos os setores do campo. Foram 48 participa- ções, de tentativas de finali- zação a chutões na defesa. Eleito o melhor da parti- da, foi peça importante na construçãodoprimeiro gol, de Theo Hernández. E de- pois ajudou o time a segu- rar a vantagem com desar- mes, dribles e passes, até Kolo Muani sacramentar a vitória por 2 a 0. “Ele tem tanto prazer em desarmar quanto em fazer umpasse.Semprepensouco- letivamente, temumagene- rosidadeacimadamédia”,diz otécnicoDidierDeschamps. Nasredessociais,atéopró- prio Pogba brincou com o amigo.Postouumafotoena legenda juntou o nomedele como de seu também com- panheiro de seleção Kanté: “Griezmannkante”,escreveu. Comassistênciasparagols deMbappé,GiroudeTchou- améni, Griezmann lidera o rankingdoquesito,empata- docomoutrosquatrojogado- res, umdeles, LionelMessi. “É muito libertador es- tar presente na relação en- tre defesa e ataque, ligado defensivamente e ajudan- do meus companheiros de equipe ofensivamente”, afir- mou Griezmann. Sua poli- valência será novamente fundamental para a Fran- ça neste domingo (18), na final contra a Argentina, às 12h, no estádio Lusail. Será também a derradei- ra chance de elemarcar um golnestaCopa. Em 2018, fez quatro, incluindo na deci- são contra aCroácia.Mbap- pé também deixou a mar- ca dele naquele confron- to. Os dois, agora, têm a chance de repetir um feito raro emMundiais. Em 92 anos, só quatro jo- gadores marcaram gols em duas finais de Copa. E o ata- cante Vavá, bicampeão com o Brasil (1958 e 1962), foi o único que marcou em duas edições consecutivas. Pelé também marcou na final de 1958, mas não na de 1962, e voltou a marcar na decisão de 1970. O alemão “ Ele tem tanto prazer em desarmar quanto em fazer um passe. Sempre pensou coletivamente, tem uma generosidade acima damédia Didier Deschamps técnico da França Breitner,fezgolsnasfinaisde 1974e 1982.Omais recentea entrarparaessegrupofoiZi- nédineZidane(1998e2006). Griezmann,porém,nãopa- rece se importar com isso. Desde que Deschamps mu- dousuafunção,amaiorpreo- cupaçãoécumprirseupapel. Para isso, pede conselhos atépara atletasmais jovens, como Youssouf Fofana, 23, que temdadodicas ao com- panheirosobrecomopreen- cher os espaços semabola. Asboas críticasqueGriez- mann ele tem recebido re- fletem bem a metamorfose pela qual passou desde seu primeiro Mundial, em 2014, jogando pela direita do ata- que.Quatroanosdepois, foi peça-chavenacampanhado título jogandodooutrolado. Desta vez, atua mais pelas zonas centrais do campo. A leitura que ele faz do jo- go também mostra um tra- çodesuapersonalidade.Ele nãotemavaidade,porexem- plo, de Mbappé. Também não chega a ser um líder co- mo o goleiro e capitão, Llo- ris,35,maséalguémcapazde unir umgrupo formadopor diferentes personalidades. Único jogador que esteve emcampoemtodasasparti- dasdaFrançanasúltimastrês Copas,ele teránestedomin- goachancedeaumentaroca- rinhoque já conquistou.LT Antoine Griezmann, um dos destaques da seleção francesa Dylan Martinez/Reuters -Luciano Trindade Doha A França chega à final daCopadoMundoprovando que experiência faz diferen- ça nosmomentos decisivos. Mesmoquandonãofoi su- perior tecnicamente aos ad- versários, comonasquartas definal contraa Inglaterra e na semifinal diante do time deMarrocos, os atuais cam- peões tiveram disciplina e concentraçãosuficientespa- ra alcançar as vitórias. A França de 2022 é uma “equipeestranha”,escreveuo jornal L’Équipeaodescrever como “un exploit venu des tréfonds” (uma façanha das profundezas) aclassificação do país para a decisão com a Argentina, neste domingo (18), às 12h (deBrasília). NãoéoBrasil1970,pois“fal- tamiluminações,magiaemui- ta luz”,nemaFrançade2018, pela“faltadecontroleacertos níveis”,mas aFrançade 2022 é equipe com “ambição ínti- macultivadanaadversidade” eemcurtoespaçodetempo. Nemo técnicoDidier Des- champs discorda. “A França nãofoiperfeita”,elereconhe- ceu, repetindo como um re- frão, apósos triunfoscontra ingleses emarroquinos. Foramosjogosmaisdifíceis daequipenoQatar.Também foramnosquaisKylianMbap- pé tevemenosespaço,oque ajudaaentenderadificulda- de francesa para se impor. Emsuastrêsprimeiraspar- tidasnoMundial,ocamisa10 foiacionado39vezesnaárea adversária, umamédiade 13 por partida, segundo dados da Fifa. Contra Inglaterra e Marrocos, ele se viu nessa situaçãoapenas 12vezes, so- mandoos dois confrontos. A despeito dos números, nãoétãosimplesafirmarque elefoimenosdecisivo,embo- ra tenhapassadoembranco nessas partidas —ainda é o artilheiro da Copa, com cin- co gols, ao ladodeMessi. Aos 23 anos e já emsua se- gundafinaldeCopaseguida, elemostrououtrotipodein- fluêncianosúltimosdoisdu- elos.Seelenãotinhaespaço, eraporqueamarcação,mui- tasvezes,eradobrada.Situa- çãoque,poroutrolado,abria brechasparacompanheiros. Foi assim que a muralha marroquina começou a ser destruída.Enquantoeleesta- vacercadoporseteadversári- osemesmoassimachouum jeitodefinalizarparaogol,a sobraacaboucaindolivrepa- ra TheoHernández. Isoladocomoemumoásis nomeiododeserto,elesóte- veotrabalhodefinalizarpara ogol, logoaoscincominutos. Issodesmontoua estratégia desefecharebuscarcontra- ataques e obrigou o time de Marrocos a sair para o jogo. Era tudo o que Mbappé queria, pois assim ele pode- riausar justamenteaprinci- pal arma marroquina para explorar a força de seus ar- ranques pelas laterais. Nem seu amigo e compa- nheirodeclubeHakimiesca- poudesertiradoparadançar, dribladoedeixadopara trás emcampo.Setinhadificulda- deparafinalizar,aomenoso camisa10 francêsesgotavaas forçasdosdefensores.Eles já estavamextenuadosquando Muani fechou a conta. Adespeitodetodosospro- blemasfísicosanteseduran-te o torneio, a França ain- da tinha fôlego. Pogba, Kan- té, Benzema, Kimpembe e NkunkunemjogaramnoQa- tar.LucasHernandezsema- chucou já na Copa. Upame- canoeRabiotnão jogarama semifinal, abatidos por algo que Deschamps chamou de EnquantoMbappébrilha, elenco francês seadapta ‘Equipe estranha’ usa disciplina e concentração para chegar à batalha final “umadoença que está acon- tecendo emDoha”. Emesmocomasbaixasde peçasqueforamimportantes em2018eoutrosderrubados jánaediçãode2022,aFrança mostrou tambémque ainda temmuitasreservasdaquela experiência vitoriosa. Muitomais do que apenas os cinco remanescentes da- quela conquista que inicia- ram o duelo com os marro- quinos (Lloris, Varane, Gri- ezmann, Giroud eMbappé). Há,também,amesmafrieza. Mesmo na goleada sobre a Croácia, por 4 a 2, quando ficou com o caneco, o time francêscometeualgunserros que poderiam ter lhe custa- doavitória.Comoaconteceu tambémdiantedaInglaterra e deMarrocos nesta edição. Nosdoiscasos,nadaabaloua máquinafrancesadevitórias. O desafio agora é saber o quantoissopoderáfazeradi- ferençadiantedaArgentina. Quantopodecustarumerro contra LionelMessi? “Sempreacontecemcoisas emumapartidaparaasquais vocênãoestápreparado”,dis- se o capitão Hugo Lloris. “É aí que você precisa mostrar umbomespírito de equipe”, acrescentou.“Somosbonsco- mo equipe porque sabemos comonosadaptar adiferen- tes cenários.” Europa dispara à frente dos sul-americanos no número deMundiais a partir de 2006 0 2 4 6 8 10 12 9 América do Sul 9 9 12 Europa 201820061930 a eee copa 2022 4 Domingo, 18 DE DEzEmbro DE 2022 Disputa de 3º lugar Final mATA-mATA SÁB 17 • 12h DOM 18 • 12h CAMPEÃO 2º LUGAR 3º LUGAR 4º LUGAR ARGENTINA FRANÇA CROÁCIA MARROCOS Jogos no horário de brasília 2 1 CROÁCIA MARROCOS Fifa respira aliviada com ofinal do ciclo polêmico doMundial doQatar -Alex Sabino DOHA Logo após a Copa do Mundo de 2018, uma pia- da comumentre dirigentes sul-americanos era que, se pudesse, a Fifa faria todos os seus torneios naRússia. Apesardosproblemaspo- líticosefaltadeliberdadede expressão, o país havia rea- lizadoummundialdeorga- nização impecável; Por um mês, o governo do país fez vistas grossas para o com- portamento de milhões de turistas quenão condiziam comos costumes russos. OtorneiosediadopeloQa- tar termina neste domingo comafinal entreArgentina e França. O final de um ci- clode 12anosdepolêmicas, questionamentos,mudança de data, denúncias e acusa- ções contra a Fifa. Emparteporcausadaes- colhadopaísdoOrienteMé- dio, a entidade viveu seu mais traumático momen- to na história: o Fifagate, em2015,processodaJustiça americanaque resultouem banimentos,condenaçõese prisõesdedirigentes.Entre eles,oex-presidentedaCBF (ConfederaçãoBrasileirade Futebol), JoséMariaMarin. “Eu não tenho que defen- der o Qatar. Estou defen- dendo o futebol e [lutando contra] injustiças. Nós ve- mos aqui muitos represen- tantes vindo para o Qatar”, disse o presidente da Fifa, Gianni Infantino, em apoio à primeira Copa emumpa- ís islâmico. Comodefesadacompeti- ção,eleusouváriashipérbo- les.DissequeaCopade2022 teve a “melhor fase de gru- posdahistória”,foia“melhor CopadoMundodetodosos tempos”,deixou“umlegado transformador”. Seuantecessor,SeppBlat- ter,haviaditoquedarasede para o Qatar havia sido um equívoco. Ele renunciou ao cargoporcausadedenúnci- as de corrupção. FoiumaestratégiaqueIn- fantino já havia utilizado quando, adoisdiasdaaber- tura, o Supremo Comitê da Entrega e Legado, respon- sável pela organização do Mundial,seguiuadecisãoda monarquia e proibiu a ven- da de cervejas nos estádios da Copa. A permissão esta- va acertada em contrato. A 48 horas do primeiro jogo, não havia nada que a Fifa pudesse fazer. Em vez de criticar os an- fitriões, Infantino falou de preconceitos dos europeus einiciouumdiscursodeque naqueledia“sesentiaárabe”. Os números apresenta- dos pelo Qatar pouco an- tes e durante oMundial pa- recembrigar comoque ve- emaquelesqueestãonopa- ís para o torneio. Foidivulgadoque98%dos ingressos foram vendidos e que a capacidade dos es- tádios acabou preenchida em praticamente todos os jogos. Mas algumas parti- das da fase de grupos acon- teceram com pelomenos a metadedosassentosvazios. CamarõesxSérviaeAustrá- lia x Dinamarca, por exem- plo,tinhamgrandesespaços desocupadosnasarquiban- cadas.Mesmoassim, quan- doopúblicofoidivulgado,o númerocorrespondiaamais de90%da lotaçãomáxima. A estimativa era que 1,4 milhão de pessoas viajari- am ao Qatar para acompa- nhar as partidas. Mas o cli- madeCopadoMundo,anão serempoucoslugaresturís- ticosouemlinhasdemetrô que iamaosestádios emdi- as de jogos, foi inexistente. OQatarganhou,deforma surpreendente, o direito de sediaraCopadoMundoem eleição realizada pela Fifa emdezembro de 2010. Des- deentão,opaíseaFifacon- viveramcomumapolêmica quaseconstante.Asdenún- cias quanto à falta de direi- tos da massa de trabalha- dores imigrantes,asmortes emobrasdeestádios,afalta de liberdadedeexpressãoe as restrições à comunidade LGBTQIA+aconteceramem looping.Quandoumaacaba- va, outra começava. ParafugirdoverãodoQa- tar e suas temperaturas su- perioresda50ºC, aFifamu- douadatadaCopadoMun- dopelaprimeira veznahis- tória. Levou-a de junho pa- ra novembro. “Podemos fazer outros Mundiaisno inverno [euro- peu]”, disse Infantino, con- siderando, claro, que a ex- periência no Qatar foi um sucesso. É uma declaração que dá esperança para outros paí- ses ricos da região, como a Arábia Saudita, ainda mais restritivos que o Qatar nas questões sociais, de sedia- remo torneio. Apartirdestasegunda-fei- ra,aFifarespiraaliviadapor- que o próximo ciclo mun- dialistapromete trazerme- nos problemas e publicida- denegativa.ACopade2026 serárealizada,emconjunto, porEstadosUnidos,Canadá eMéxico. “ Eu não tenho que defender o Qatar. Estou defendendo o futebol e [lutando contra] injustiças. Nós vemos aqui muitos representantes vindo para o Qatar Gianni Infantino presidente da Fifa CROÁCIA 2 MARROCOS 1 -Luciano Trindade DOHA Croácia e Marrocos não serão mais vistas como as mesmas equipes após a Copa doMundonoQatar. Paraoscroatas,otorneiofoi achancedereafirmarseuno- vostatusnocenáriomundial, provandoque o vice-campe- onato em 2018, omelhor de- sempenhodageraçãolidera- da por Luka Modric, 37, não foi sorte ou obra do acaso. Desde1991,comodesmem- bramento da antiga Iugoslá- via, é a terceira vez que eles ficamentreasquatromelho- resseleçõesdomundo.Apri- meirafoiem 1998,naFrança. Para os marroquinos, foi umpoucomais. Eles sãodo- nos, agora, damelhor cam- panha de uma nação afri- cana e de língua árabe na história da competição. Omáximo alcançado por um africano havia sido as quartas de final: Camarões, em 1990, Senegal, em 2002, e Gana, em 2010. O fato de a Croácia ter ven- cido neste sábado (17) a dis- putaentreosdoispaísespelo terceiro lugar, por2a 1, noes- tádioKhalifa,ficouapenasco- mopanodefundoemtrajetó- rias das quais as torcidas dos doispaísespodemseorgulhar. Mesmo assim, eles ainda fizeramumgrande jogo. Disputas de terceiro lugar costumamterjogosfrios,com asequipessemmuitoânimo, como se jogar fosse apenas umaobrigação.Nãofoiocaso deCroáciaeMarrocos,ambas determinadasavencerdesde o primeirominuto. Os croatas desde o início buscaramocuparocampode ataque.Aindaqueumpouco mais distante da área, quase comoumvolante,Modric se deslocava de um lado para outro, cavandoespaçospara seus companheiros infiltrar a defesa. Em sua despedida das Copas, ele quis mostrar todo seu repertório. Depois de se ver forçado a mudar seu estilo contra a França, na semifinal, quan- dotomouumgol logocedo,o timedeMarrocosretomouo seufutebolpragmático,apos- tando nos contra-ataques. Nem quando sofreu um gol logocedo,emumalindajoga- daensaiadadoscroatas, eles mudaramapostura. Parecia até uma dança co- reografada, algo que o técni- coZlatkoDalicnãoédosmais fãs.Pelomenos,nãoemcam- po. Mas a cobrança de falta que abriu o placar, aos 7mi- nutos,foiorquestradaporele. Apóscruzamentoàesquer- dadagrandeárea,Perisicdeu umaassistênciadecabeçapa- raGvardiol,tambémpeloalto,testar para o fundoda rede. Comofezemtodososjogos destaCopa, a torcidamarro- quinacresceu justamenteno momento em que a equipe maisprecisava.Desta vez, os jogadores não demoraram a reagir.Aos8,elesdevolveram o gol com omesmo veneno. Ziyech cruzouna área eDari cabeceoupara o gol. Quando o empate parecia que se estenderia até o in- tervalo,mesmo comos cro- atas rondando mais a área adversária, Orsic surpreen- deuobomgoleiroBonocom um chute de curva, que ba- teu na trave antes de mor- rerno fundoda rede, aos42. Depois do intervalo, foi a vezdeMarrocossermaispre- sentenoataque,embuscado empate,masoscroatasprova- ramnovamentequesãobons deaplicaçãotáticadefensiva. ElestrancaramoBrasildessa formanasquartasdefinal.Só nãoconseguiramfazeromes- mocomaArgentinanasemi. Aos 32minutos, os marro- quinosaindareclamaramde um pênalti. Revoltada com a não marcação do pênalti, a torcida gritou “Fifamáfia.” A derrota não apaga o grande feito de Marrocos, que alcançou nesta edição amelhor campanhadeuma equipeafricanaemCopasdo Mundo. Um resultado que encheudeorgulho, também, asnações árabes, justamen- te na primeira edição reali- zada no Oriente Médio. Desdequepassoudafasede grupos,eliminandoaBélgica, os marroquinos passaram a ser tratados como a grande surpresadaCopadoMundo. O rótulo incomodava Walid Regragui.Paraotécnicomar- roquino, os resultados eram frutodeum“trabalhoduro”. Foram anos para montar a seleção que conquistou fãs noQatar e ao redor domun- do.Aformaçãocomeçoucom ogarimpode atletas quepu- dessemdefenderopaís,mas queatéalgumtempoatráses- tavam fora do radar. Eram os filhos e netos de migrantes que, na maioria das vezes, optavam por de- fenderseleçõesdepaíseseu- ropeus onde seus familiares seestabeleciamnabuscapor uma vidamelhor. Reverter essefluxoe incor- poraràseleçãomarroquinao talentodeatletascomDNAda naçãofoiotrabalhoqueteve comoresultadoaformaçãode um elenco com atletas nas- cidos no Velho Continente. Eles fizeramadiferença. O franco-marroquino Ro- mainSaiss,porexemplo,mar- counavitóriasobreaBélgica. Nascido na Holanda, Ziyech deixousuamarcacontraoCa- nadá.Emumdosmomentos mais emocionantes na com- petição,coubeaAchrafHaki- mi,nascidoemMadri,conver- teroúltimopênaltinavitória sobreaEspanha,nasoitavas. DepoisdepassarporBélgi- ca, Espanha e Portugal,Mar- rocos só caiudiantedaFran- ça,atualcampeã.Masvendeu caroaderrotapor2a0nase- mifinal, mostrando que não estava ali por acaso. ComoRegragui orgulha-se dedizer,tudofrutodeumduro trabalho,agora,reconhecido. Algoqueoscroatas jáestão maisacostumados,principal- menteModric,quede forma honrosadisputousuaúltima CopadoMundo. Em quarto, marrocos faz melhor campanha da história de uma equipe africana Jogadores croatas comemoram após vencerMarrocos na disputa pelo terceiro lugar da Copa Peter Cziborra/Reuters Croácia terminaem3º lugar e reafirmagrandezado time a eee copa 2022 Domingo, 18 DE DEzEmbro DE 2022 5 DasdezCopasdoMundoemqueestive,dei- xei de ver, no estádio, duas decisões: a de 1986,noMéxico,eade2006,naAlemanha. Explico:aentreArgentinaeAlemanhadei- xeideladoporque,vítimadochamadoMal deMontezumaantesdaeliminaçãodoBrasil pelaFrança,nospênaltis,estavafracofísica epsicologicamente.PreferivoltarevernaTV. Em2006, entre Itália eFrança,nãocon- segui ingresso e vi no hotel. Ade1982,quandoaItáliaganhoudaAle- manha,eviroutricampeã,viaindalamen- tando por Sarriá. A festa era dos outros. Em 1990, emRoma, quemcomemorou foramosalemães, frutodepênalti inexis- tente contra a Argentina. Jáem1994,noprimeirotetraemjogo,deu Brasil,emjogohorrorosoecobrançasdepê- nalti não menos dos italianos, na Califór- nia.Enfim,decorpopresente, comemorei. Como estava no Stade de France, em 1998, para testemunharomassacre fran- cês ao som da Marselhesa sobre a trau- matizada seleção brasileira. Em2002,quandooBrasilvoltouaganhar evirarpentacampeão, vi emcasamesmo, porquepreferi sentir aCopanoBrasil, de madrugada,dadososhoráriosasiáticos. Até então, tirante, é claro, as três deci- sões com brasileiros, não tive preferên- cia nem torci para ninguém. Por compaixão, em 2010, na África do Sul,desejei veraHolandasercampeãpela primeira vez,masaEspanha levouame- lhor.Tudobem, IniestaeXavimereceram. No Maracanã, em 2014, queria muito ver a Argentina campeã,mesmo que ou- visse de todos o alerta sobre a gozação doshermanossevencessememplenoRio. Ora, não padeço da Síndrome de Ber- lim, nem da de Estocolmo, para torcer por quem nos havia enfiado 7 a 1 e nos submetido amaior humilhação esporti- va de todos os tempos. Em vão, deu Alemanha. Finalmente, em2018, emMoscou, entre FrançaeCroáciafiquei comomais fraco eme dei mal, de novo. Acho que torcerei pela França, neste domingo (18), porque… quero ver Lionel Messi levantar a taça… NãoqueMpabbéeGriezmannnãome- reçamporquemerecemémuito.Masnin- guém comoMessi. Primeiramenteporqueosdois franceses já foram,quatroanosatrás, eMessiainda não, além de ter sua derradeira chance. KylianMpabbé,23anos,tem,nomínimo, maisduasCopas,senãotrês,com34anos, umamenosdoqueoargentino temhoje. Alémdomais, ninguémcometeráahe- resiadebotaremdúvidaacapacidadeex- traordináriado franco-camaronês, oque provavelmente alguém fará em relação a Lionel Messi caso não ganhe o título. Respeitemos, pois, a ordem natural das coisas,emboraofutebolnãosejaexatamen- teumesportechegadoatalracionalidade. O jogo no estádio Lusail é de fato im- previsível e tem tudo para ser sensacio- nal, dueloaocairda tarde, ouaosubirda noite, nesteQatarondeo sol sepõeantes das 17 horas em dezembro. Semaconcorrênciadoastro-rei, quem brilharámais, Messi ouMpabbé? Enfim, emminhaoitavafinalpresenci- al, é triste constatar que só por duas ve- zes vi oBrasil emdecisões, umacomvitó- ria depois de 120minutos terríveis e sem gols, eoutranaacachapantederrotapor 3 a 0 para os franceses. Arrentina, Arrentina! Janio de Freitas Já contei aqui e repito: quando vimpara esta Folha, em 1995, seu Frias pesou no vaticínio: “Será o nosso Janio de Freitas no esporte”. Não fui, não sou, não serei. Quem nasceu para ser eu jamais será Janio de Freitas. Nomais, écomoescreveuCristinaSerra. Estranhei, emumprimeiromomento, ao percebermuitosbrasileiros torcendope- la Argentina na semifinal. Com a chega- dadagrandedecisãodestedomingo (18), a torcida por uma vitória dos vizinhos parece ter aumentado aindamais. Esse estranhamento ocorreu a partir da ideia de que os argentinos são nossos arquirrivais no futebol. Seja na Liber- tadores, na Copa América ou no amis- toso. Convencionou-se dizer que existe um gosto especial em vencê-los. Não sei, confesso, qual a origemdessa rivalidade. Se nasceu depois de muitos confrontos nos torneios de clubes e se- leções. Talvez tenha relação com a pro- ximidade geográfica entre os dois pa- íses. Se existem questões históricas ou sociais. Isso tudo, de repente. Bem, é uma final contra a França, seleção carrasca do Brasil. Já bateu a seleção brasileira três vezes noMundi- al, incluindo a final de 1998. Pode es- tar aí uma explicação para a torcida para o rival local. Pode ser uma birra com seleções eu- ropeias de forma geral. O que teria despertado um “bairrismo”. Por isso, comemorações efusivas após gols ou jogadas de Lionel Messi. É, tem oMessi. O argentino é um dos maiores jogadores da história do es- porte. Ele assombrou os apaixonados por futebol repetidamente com sua ge- nialidade, inclusive na Copa do Qatar. Muitas vezes escolhidomelhor jogador domundo, inúmeros títulos comoBarce- lona, jogadas,gols, enfim...Desnecessário enumeraros feitos da carreiradeLionel. Masnostorneiosdeseleçõespareciaque acoisanãoengrenava.Atéqueeleganhou aCopaAmérica, recentemente. Chorou. Foram cinco Copas nas quais ele par- ticipou. No Brasil, em 2014, Messi jogou muitobem,eaArgentina foi vice-campeã. Em 2022, Messi teve atuações de Messi. Comandou uma seleção a bei- ra de um desastre (após a derrota pa- ra a Arábia Saudita) e transformou a equipe em uma finalista de Copa. E ele foi brilhante quando precisou ser. Ele tem cinco gols no torneio e três assistências. Além dos númerosfrios é possível perceber como silenciosamen- te Messi comanda seus companheiros em campo. Eles o procuram, ou com a bola, ou com o olhar. TemumacoisaengraçadasobreoMessi: é dificílimo conseguir entender paraque ladoele vaiduranteuma jogada.Ele é im- previsível, não cria umpadrão. Paranós é engraçada, mas aposto que os zaguei- rosnãoconcordariamcomessapalavra. A impressão que tenho ao vê-lo jogar é que se Lionel Messi acorda com von- tade de jogar, não há o que se possa fa- zer para pará-lo. Exageros a parte, seria bastante in- justo, pela carreira que construiu e pe- lo bemque fez ao futebol coma suaarte, queMessi se despedisse de sua provável última Copa doMundo sem um título. Sim, muitos outros gênios da bola não conquistaram um Mundial de fu- tebol. Fato.Mas aqui estamos diante de um craque contemporâneo. E ele dian- te de uma final de Copa. Talvez aí uma das razões por que alguns brasileiros torcem pela Argentina. Futebol arte, mesmo que seja de um rival. Não estou defendendo que se deva torcer pelos argentinos. Mas digo que faria bem para o fute- bol que o esporte mais popular do pla- neta parasse de cometer injustiças e de produzir gênios sem Copa. Craquesaparecemesomem, eacomparaçãoé semprecomoomaiorde todos;Messi eMbappé têmachancede seaproximaremdo intocável. Mbappé saltou nos ombros de Giroud e le- vantou o braço esquerdo, com o punho cer- rado, enquanto passava o direito em torno do pescoço do centroavante. Tinha acabado de marcar, nos 3 a 1 con- tra a Polônia. A imagem é igual à de Pelé comemorando o primeirogoldafinalde 1970 saltandosobre Jair- zinho. Únicas diferenças: o Rei tinha o punho direito fechado e sua festa foi na finalíssima. A primeira página do jornal francês L’E- quipe, deste sábado (17), tem os dois retra- tos, lado a lado. Messi tem outra foto,muito parecida, feste- jando umdos quatro gols do Barcelona sobre oSevilla, triunfopor 4a 2, em 2019. O gênioar- gentino saltou sobreo francêsDembelé, seu ri- val na decisão deste domingo (18), emDoha. A fotografia original da comemoração do Rei com Jairzinho, do centésimo gol do Brasil em Copas, o primeiro da final contra a Itá- lia, é do alemão Sven Simon. Dizem que não foi um repórter-fotográfico,mas um escultor. Mbappé eMessi têm suas obras de arte nes- ta Copa do Mundo. A maneira como o fran- cês observou o posicionamento do goleiro polonês Szczesny, esperou o que faria e jo- gou a bola no ângulo, nas oitavas-de-final. OuMessi, ao levar o zagueiro croata Gvar- diol até a linha de fundo, como Al Pacino conduzindo Gabrielle Anwar ao dançar o tango “Por una cabeza”, no filme “Perfume de Mulher”. O fim da dança foi o passe para Julián Álvarez marcar o 3 a 0. O zagueiro Diallo, com quem Mbappé jo- gou no Monaco e no Paris Saint-Germain, contou ter escutado do camisa 10 da Fran- ça elogios rasgados a Cristiano Ronaldo, a quem considera o melhor de todos os tem- pos. Há uma imagem belíssima de Mbappé com expressão de choro, ao receber a cami- sa de Cristiano, depois do empate por 2 a 2 entre franceses e portugueses, na Eurocopa. Mbappénão conseguirá espalhar sua certe- za sobre a superioridade de Cristiano Ronal- do se não vencerMessi. Se ganhar, será o pri- meiro jogador, desde Pelé, bicampeão mun- dial antes dos 24 anos—o Rei fez isso aos 21. As comparações não param. Aos 23 anos, Mbappé marcou 9 gols em 12 jogos de Co- pas, mais do que Pelé na mesma idade. Só que o brasileiro produziu suas sete escultu- ras em apenas seis partidas. Messi tem oito assistências e está empatado com Marado- na, recordistas emMundiais, neste critério. Acontece que esta estatística só está dis- ponível a partir de 1966 e Pelé deu dois pas- ses para gols de Vavá, na Suécia, em 1958. A realeza esteve presente em quase tudo nesta Copa. Seu estado de saúde preocupou a Fifa e os torcedores, que levaram homena- gens aos estádios. O desempenho impressio- nante de Messi e Mbappé desperta até ago- ra as comparações, a ponto da reprodução de imagens quase idênticas do camisa 10 da França, festejando comGiroud, namesmapo- sição emque oRei comemorou com Jairzinho. Ser Rei é completar 82 anos de vida e ou- vir, por 64 deles, que Di Stéfano pode ter si- do melhor, Cristiano Ronaldo mais golea- dor, Cruyff mais cerebral, Maradona mais genial, Messi, Mbappé e... E a comparação é sempre com Pelé. Isto é ser rei. De tudo o que se transforma, só o que não perdeo sentidoéaqualidade.Não temTiktok, nembate-bocacaça-cliqueemredessociaisque substitua o protagonismode três gênios, cap- turadosporumacriaçãode 1826: a fotografia. As três imagensquase iguais, comossorrisos pós-goldeMessi,MbappéePelé, serãoeternas. Final reúne dois candidatos a Pelé - Paulo Vinicius Coelho Jornalista, autor de ‘Escola brasileira de Futebol’, cobriu sete Copas e oito finais de Champions Mais umafinal de Copa - Juca Kfouri Jornalista, autor de “Confesso que Perdi”. É formado em ciências sociais pela USP TítulodeMessi faria bemao futebol - Tayguara Ribeiro na Folha desde 2019, é repórter de Política. Já trabalhou em Economia e no jornal Agora Diferentemente da França, que usou o mesmo esquema tático durante todo o Mundial, a não ser nos últimos 20 mi- nutos da partida contra Marrocos, a Argentina utilizou várias estratégias, de acordo com o adversário. O jovem treinador Scaloni, de 44 anos, viveumdilemasobre comoexploraro la- do esquerdo defensivo da França, mais frágil, e, ao mesmo tempo, marcar me- lhor Mbappé, pelo mesmo lado do cam- po. O técnico temaopçãode usar ames- ma formação do início da Copa, com Di María e com um lateral mais marcador peladireitaouadeescalar três zagueiros e dois alas, sem Di María. Ou, ainda re- petir a formação que usou contra a Cro- ácia, com uma linha de quatro nomeio- campo, com De Paul mais pela direita, para dar o primeiro combate aMbappé. Contra a Croácia, o desenho tático da Argentinaeraidênticoaodaseleçãoingle- sa,campeãmundialem 1966, quando,pe- laprimeiravez,umaequipe jogoucomdu- as linhas de quatro e com dois atacantes (4-4-2). Nos dois times, os quatronomeio marcavam, construíam e se alternavam nas chegadas ao ataque. Não havia pon- tasnemseparaçãoentrevolantesemeias. O experiente Deschamps também vi- ve um dilema, sobre comomanter a for- mação tática e reforçar a marcação so- bre Messi. Como o meio-campista Rabi- ot se desloca para a esquerda para pro- teger o lateral, já que Mbappé não vol- ta para marcar, abrem-se espaços pe- lo meio. Griezmann tem jogado demais, feito o papel de meio-campista, de uma intermediária à outra, mas nem sem- pre dá para ele voltar e se posicionar ao lado de Rabiot e Tchouaméni. Se a França fizer um gol primeiro e for pressionada, o técnico poderá repetir a mudançafeitacontraMarrocos, comaen- tradadeumjogadorpela esquerda,para atacar edefender, edeslocarMbappépa- ra o centro, saindo Giroud. Outra opção é, em vez de um atacante pela esquerda, Thuram,podeentrarumoutromeio-cam- pista (Fofana),parareforçaramarcação. Será uma disputa técnica, tática e de detalhes imprevisíveis e psicológicos. De um lado, a França, experiente, segura, fria, racional. Mbappé quer mostrar ao mundo e ao PSG que ele é o maior cra- que. Do outro lado, a Argentina, apaixo- nada,heroica,quevai jogarpor suasam- bições, pelo país e porMessi, emumges- to de profunda admiração, de gratidão e de solidariedade humana. Não querendo ser repetitivo, mas sen- do, a presença de meio-campistas com qualidade para ter mais o domínio da bola e trocar mais passes não significa ser menos objetivo, como alguns “sábi- os” dizem. A posse de bola é o início e o meiopara se chegaraogol comvelocida- de e eficiência. Posse de bola não é o fim. SeaEspanha tivessemelhoresatacantes, poderia estar na final. Grandes equipes possuemasduasvirtudes.Omeio-campo é a alma e o cérebro de um time. SeaArgentina for campeã, ressurgirão asdiscussões sobrequemémelhor,Messi ouMaradona.Maradonatevemomentos mais espetaculares,masMessi émais re- gular,maiscompleto,alémdeterumacar- reira mais longa e commais conquistas individuais e coletivas.Maradonaémais show,mais artista. Messi é mais craque. SeaFrança for campeã, seráo terceiro títulonosúltimos24anos, emseteedições deCopadoMundo. Seráahegemoniada França no futebol mundial. Alguém já disse que o símbolo é a pre- sençadaausência.Apesardasúltimaseli- minações, oBrasil aindaéumdos símbo- los do futebol, antes que os aventureiros e incompetentes destruam esse fascínio. Apresençadaausência - Tostão Cronistas esportivo, participou como jogador das Copas de 1966 e 1970. É formado emmedicina | dom. Tostão, Juca Kfouri | seg. Paulo Vinícius Coelho, Juca Kfouri, Nelson de Sá, Luís Curro | ter. RenataMendonça,Walter Casagrande Jr. | qua. Tostão, Marcelo Damato | qui. Juca Kfouri, Marcelo Damato | sex. Paulo Vinícius Coelho, Sandro Macedo | sáb. Marina Izidro,Walter Casagrande Jr. [ Aos 23 anos, Mbappémarcou 9 gols em 12 jogos de Copas, mais do que Pelé namesma idade. Só que o brasileiro produziu suas sete esculturas em apenas seis partidas a eee copa 2022 6 Domingo, 18 DE DEzEmbro DE 2022 Colunistas escalamsuas seleções daCopa messi, mbappé e Theo Hernández foram as únicas unanimidades elencadas, junto de decepções e surpresas do torneio -EduardoMarini SãoPaulo Navésperadafinal daCopadoMundode2022,a Folhaconvocoucolunistasde Esporteparaanalisarosprin- cipais jogadores e aconteci- mentosdotorneio.Cadaum montou sua seleção e desta- cou a decepção e a surpresa desta edição, além de fatos marcantesdoeventonoQatar. Três jogadores foramuna- nimidadenasseleções:Mes- si,MbappéeTheoHernán- dez. Veja a seleçãodaCopa de cada colunista. Os companheiros dePSG e artilheiros da Copa, com cinco gols cada, sãonomes previsíveis entre osmelho- res da competição. Mas a presença do late- ral esquerdo francês pode ser considerada uma sur- presa: Theo fez ótima tem- porada pelo Milan, mas é pouco conhecido quando comparadoaosdoiscraques. Até as semifinais, ele deu duas assistências emarcou umgol—oprimeiro contra Marrocos, na quarta (14). Revelado pelo Atlético de Madri, foiumdosdestaques da campanhamilanesa pe- lo título da Serie A italia- na na temporada passada. É lateral veloz e ofensivo. Para a maioria dos colu- nistas, a grande decepção destaediçãodeCopaesteve relacionadaàdesclassifica- çãobrasileira precoce. Tro- peços de outras potências e polêmicas sobre direitos humanosnoQatar também figuraram na lista. Esta edição foi recheada de surpresas: teve queda de potênciasezebrasnafasede grupos,tropeçosdeEspanha e Brasil nomata-mata,Mar- rocos alçando voo eAustrá- liaclassificada,alémdeDina- marcalanternadeseugrupo. Livakovic CRO gvardiol CRO Saiss MAR bellingham ING Enzo Fernández ARG modric CRO griezmann FRA mbappé FRA messi ARG Hakimi MAR Theo Hernández FRA Szczesny POL Van Dijk HOL Saiss MAR messi ARG Tchouaméni FRA modric CRO bruno Fernandes POR mbappé FRA Dembelé FRA Dumfries HOL Theo Hernández FRA bono MAR otamendi ARG gvardiol CRO modric CRO Tchouaméni FRA griezmann FRA giroud FRA messi ARG mbappé FRA Theo Hernández FRA Koundé FRA bono MAR otamendi ARG gvardiol CRO griezmann FRA Amrabat MAR Enzo Fernández ARG mbappé FRA Saka ING messi ARG Theo Hernández FRA Hakimi MAR Dibu martínez ARG Van Dijk HOL Thiago Silva BRA bruno Fernandes POR modric CRO griezmann FRA Kane ING messi ARG mbappé FRA Theo Hernández FRA Hakimi MAR Livakovic CRO gvardiol CRO romero ARG brozovic CRO Enzo Fernández ARG modric CRO Julián Álvarez ARG mbappé FRA messi ARG Hakimi MAR Theo Hernández FRA bono MAR otamendi ARG gvardiol CRO Amrabat MAR bellingham ING griezmann FRA Julián Álvarez ARG messi ARG mbappé FRATheo Hernández FRA Hakimi MAR bono MAR Varane FRA marquinhos BRA giroud FRA Amrabat MAR bellingham ING messi ARG mbappé FRA Saka ING Theo Hernández FRA Hakimi MAR Dominik Livakovic CRO Thiago Silva BRA Upamecano FRA Amrabat MAR Tchouaméni FRA griezmann FRA Julián Álvarez ARG mbappé FRA messi ARG Hakimi MAR Theo Hernández FRA Livakovic CRO gvardiol CRO Upamecano FRA griezmann FRA Enzo Fernández ARG modric CRO Julián Álvarez ARG mbappé FRA messi ARG Hakimi MAR Theo Hernández FRA Decepção da Copa: Thiago Silva, 38, não sabe o que é ser capitão. A faixa não é uma vaidade. O capitão é quem põe o dever acima da vontade. Deveria ter se apresentado para bater o primeiro pênalti Surpresa: A ida de Marrocos às semifinais não deve se repetir logo, mas muda o horizonte das equipes africanas. Coreia do Sul e Japão tambémmostraram novidades Decepção da Copa: A desclassificação da seleção brasileira nas quartas de final, diante da Croácia Surpresa: Amaravilhosa torcida marroquina Decepção da Copa: Alemanha, do ponto de vista técnico, e Brasil, do ponto de vista emocional Oquemarcou oMundial? A TVmostrava o presidente da Fifa, Infantino, sempre sentado sozinho durante os jogos. Em França x Marrocos, ele teve a companhia de Macron. Mesmo assim, continuou namesma posição, calado, como se o francês não existisse. Será ele o dono da Fifa, do futebol e domundo? Decepção da Copa: Dinamarca, que chegou com status de força alternativa, e Bélgica, 3º em 2018, e teve a decepção dos ingleses com a qual me solidarizo, Wilton Pereira Sampaio Surpresa: Saindo da obviedade de apontar Marrocos, Tite deixando a turminha chorando sozinha no gramado após a eliminação; e a torcida da Argentina, que invadiu o Qatar e abraçou a seleção como poucas vezes me lembro Decepção da Copa: Alemanha (segunda eliminação seguida na fase de grupos), Bélgica (e seus craques De Bruyne e Lukaku), Brasil (outra queda nas quartas como favorito) e Cristiano Ronaldo (implicante e ineficiente) Surpresa: Marrocos, primeira seleção africana a chegar a uma semifinal de Copa, derrubando, com força coletiva, Bélgica na fase de grupos e Espanha e Portugal nos mata-matas Decepção da Copa: Saber que fiquei ummês num país que não respeita os direitos humanos, trata mulheres como seres inferiores e é altamente homofóbico Surpresa: A campanha de Marrocos, primeira seleção africana a chegar às semis, e a queda da Alemanha ainda na fase de grupos Decepção da Copa: O gol tomado pelo Brasil. Tomar em um contra-ataque, ganhando uma prorrogação e faltando apenas quatro minutos para terminar o jogo. Não tem como não se decepcionar Surpresa: Julián Álvarez, jovem centroavante da Argentina Decepção da Copa: Alemanha, apesar de boas atuações, perdeumuitas oportunidades de gol, não foi eficiente e acabou eliminada pela segunda Copa consecutiva na primeira fase Surpresa: Brasil não chegar às semifinais Decepção da Copa: A forma como a talentosa seleção brasileira foi eliminada precocemente. Os quatro minutos finais da prorrogação contra a Croácia e a ordem de cobrança de pênaltis não sairão nunca mais de nossa memória Surpresa: Marrocos, primeira seleção africana a chegar à semifinal, vencendo Bélgica, Espanha e Portugal Decepção da Copa: Alemanha. Duas Copas seguidas caindo na fase de grupos. Assustador Surpresa: Marrocos. Ninguém esperava Torcedores deMarrocos na partida de disputa do terceiro lugar da Copa, contra a Croácia HamadMohammed/Reutres Técnico: Deschamps (França) Técnico: Walid regragui (marrocos) Técnico: Walid regragui (marrocos) Técnico: Scaloni (Argentina) Técnico: Walid regragui (marrocos) Técnico: Walid regragui (marrocos) Técnico: Walid regragui (marrocos) Técnico: Scaloni (Argentina) Técnico: Walid regragui (marrocos) Técnico: Scaloni (Argentina) PVC MarceloDamato JucaKfouri Tostão SandroMacedo Luis Curro (OMundoÉumaBola) Casagrande TayguaraRibeiro RenataMendonça Marina Izidro aeee Domingo, 18 DE DEzEmbro DE 2022 C1 # Lista demelhores filmesmais famosa domundo expressa ideologia de cada época C8 # Bolsa internet pode ser instrumento poderoso de combate à pobreza C12 Papéis picados Ilustração Daniel Lannes Emclima golpista após as eleições, derrota na Copa doQatarmantém brasileiros longe da seleção C4 e C5 a eee ilustrada ilustríssima C2 Domingo, 18 DE DEzEmbro DE 2022 Se a história de Alessandra Montagnefossecontadanum longa-metragem, eracapaz de o roteirista ser demitido por tercarregadodemaisno drama. Mas a vida real não precisaserverossímil,e,mui- tas vezes, não é. * Quem a conhece —mesmo por Zoom, como foi o caso desta entrevista— também não imaginaquepor trásda- quelapresençaleve,calorosa edosorrisolargoqueelaabre com frequência exista uma trajetória tão cheia de dor. * Aos45anos,Alessandraédona detrêsrestaurantesemParis. Elaéchefdecozinhaemestre confeiteira,elevaparaospra- tos que prepara tanto o que aprendeu na escola quanto o quecolheudemelhordavida. * “Minhacozinhatemzerodes- perdício. Só trabalho com produtores que conheço, só uso produtos da estação e nãocompronadaquevemde muito longe”, afirma. “Cres- ci emcidade pequena e sei o valordascoisas,dos legumes que são plantados para ali- mentar as galinhas, que vão botar os ovos que vão servir de alimento.” * Alessandranasceucomoutro sobrenome,filhadeumaem- pregadadomésticanoVidigal, noRiodeJaneiro.Aosoitodi- as de vida, foi entregue para osavósmaternos, queacria- ramna cidadezinha de Poté, no interior de Minas Gerais. Não tinhanemágua encana- da nem luz elétrica emPoté. Telefone,então,muitomenos. * Alessandra passou toda a in- fâncialá,brincandonarua,de pénochão.NodiadeFinados, ela e sua avó acendiam uma vela para a mãe, que acredi- tavamque já tinhamorrido. * Mas,umdia,quandotinha 12 anos, um carro preto e cha- mativo estacionou na porta da casa de seus avós. Carro em Poté era coisa rara, a ci- dade inteira parou para ver quem era. O motorista des- ceu e abriu a porta de trás. “Eu só vi umapernaque saiu assimdocarro,elatavadebo- ta,me lembro como se fosse hoje.Meucoraçãodisparou”, contouAlessandra. * “Eu não lembrava do rosto, massabiaqueeraela.Efiquei commuita vergonha, eu era umameninamagrela,desca- belada, todasujadepoeira.E elaaquelamulherarrumada, cheirosa, bem-vestida.” * Alessandra se emociona quando me conta que nun- ca teve coragem de pergun- taràmãeporondeelaandou eoque ela fez durante aque- les 12 anos. Amãe jámorava emParisquandoreapareceu. * Era casada com um francês e tinha ido a Poté para reen- contrarafilhaeavaliar seela estaria educada o suficiente parasemudarparaaFrança. * Concluiu que não. Matricu- lou Alessandra em um inter- nato em Campinas, chama- do Colégio Adventista Bra- sil Central. “Lá eu vivi as pio- ressituaçõesderacismo”,diz Alessandra. “As meninas me perguntavampor queomeu nariz era tão largo, porqueo meucabeloeradessejeito,di- ziamque eu eramuito feia.” * E,aocontráriodoscolegas,de famíliasricas,Alessandranão tinhaninguémqueabuscas- se nos feriados prolongados ounas férias. Ficavanaesco- la.Muitas vezes sozinha. “Eu ligava para a minha mãe pe- dindopeloamordeDeus,dei- xa eu voltar para você. Mas ela não queria que eu voltas- se,eeunãosabiaoquefazer.” * Numfinaldeano,Alessandra pegouumônibusefoiparaPo- AlessandraMontagne Chef nascidanoVidigal leva a coxinhaaParis mÔNICABERGAmO | monica.bergamo@grupofolha.com.br [RESUMO] Ela passou os primeiros 22 anos de vida no Brasil, em situações de sofrimento. Dada aos avós comoito dias, cresceu sem saber que suamãe estava viva. Engravidou adolescente e passou por um casamento abusivo. Agora, à frente de três restaurantes emParis, temAlain Ducasse na sua lista de fãs Por Teté Ribeiro té.Tinha 16anos,eravirgem. Na cidade de dois mil habi- tantes onde passou a infân- cia, nesse verão, teve suapri- meirarelaçãosexual.Eengra- vidou.OsavósforçaramAles- sandraasecasarcomopaido bebê,umhomemquesereve- lou cruel e violento. * Alessandrateveofilho,André, quehoje tem 29 anos emora com ela em Paris. “O André foi o motor que eu precisa- va, sabe? Ele salvou aminha vida, omeu filho. Émeume- lhor amigo”, afirma. * Depoisdonascimentodobe- bê,Alessandrapercebeuque precisavadarumjeitodepro- duzirdinheiro,e,maisquetu- donavida,traçarumplanode fuga. “Vocênão temvontade deabraçar,debeijar,umapes- soa que temachuca.” * Então, foiparaacozinha,coi- sa que fazia desde pequena junto da avó. Começou a fa- zer coxinhas para vender na porta da escola. * “Os alunos sentiam o cheiro daminhacoxinhaepulavam o muro pra comprar”, lem- bra. O diretor da escola aca- bou dando autorização para que ela vendesse os salgadi- nhosdo ladodedentro, para evitar acidentes. * Odinheiroqueganhava,guar- dava. Demorouquatro anos, mas Alessandra conseguiu fugir daquela situação. “Pe- gueiumônibusparaSãoPau- lo, onde uma tia minha mo- rava, em Itaquera. Foram 22 horas,eu,meufilho,umagar- rafinhadeáguaparaele,odi- nheirinho da coxinha e uma mochila nas costas.” * DeSãoPaulo,fezcontatocom amãe,ejuntasresolveramque Alessandra iriaparaaFrança arrumarumempregoeapren- deralínguaparadepois levar o filho. “Deixei o André com minhatiaeentreiemumavi- ãopelaprimeiraveznavida.” * QuandodesembarcouemPa- ris,opadrastofrancêsfoibus- cá-lanoaeroportoe,antesde levá-laparacasa,parouocar- ro pertinho da Torre Eiffel e disse: “Alessandra, olha para cima”. Sem sabermuito bem o que esperar, mas sem que- rer correr o risco de parecer antipática,Alessandrafezco- moopadrasto pediu. * “E assim que vi aquela torre de baixo, o céu azul lá em ci- ma,ficouclaroparamimque essaeraacidadeondeeu iria morar, esse era o meu desti- no.” Precisava trabalhar, es- tudar e trazer o filho. “Só ti- nha isso na cabeça, tudoque eu fiz dali pra frente foi com o objetivo de trazer o André paramorar comigo.” * Mas Paris tem lá suas distra- ções. Alessandra começou a sentir cheiros que nunca ti- nha sentido antes, perceber sabores quenão conhecia. * “Comeceiadescobrirogosto, oaromadasfrutasvermelhas naépocadacolheita,étãodi- ferente colher uma frambo- esa ou um morango na ho- ra certa. Há quatro ou cinco variedades de morango, ca- daumacomumcheiro eum gosto diferente.” * Efoiexperimentandomistu- ras, testando receitas, com- prando panelas e livros de culinária. Trabalhava o dia inteiro em uma empresa de insumosmédicoscomoassis- tente,abrindopacotes,confe- rindocorrespondência,aten- dendo telefones. * NaFrança,existeumapolítica deaperfeiçoamentoprofissio- nalbemdiferentedoqueháno Brasil. Lá, se um funcionário foraceitoemumaescolacon- corrida, e o chefe concordar, ele tira uma licença para es- tudaroquequiserecontinua recebendoo salário integral. * E Alessandra foi aceita no curso de culinária da escola Médéric, em que se dedicou de corpo e alma. No final do ano, a escola ofereceu a ela umcursodeconfeitaria, que elatambémfez.Seuprimeiro emprego em restaurante foi como chef confeiteira. * Demorouatéconseguirtrazer ofilhoparaParis,masconse- guiu.QuandoAndré chegou, Alessandrajámoravacomum francês que conheceu e por quem se apaixonou, e com quem, em 2006, teve sua se- gundafilha, Thaís. * Em 2012, com algum dinhei- ro guardado e a vida pessoal mais tranquila, decidiu abrir seuprópriorestaurante.“Que- riaumlugarondetodomundo pudesse comer bem. Um lu- garsimples,mascomcomida boa,dequalidade.Eumacozi- nhaaberta,paraoclientever o que eu estivesse fazendo.” * O restaurante se chamava Tempero,eficavaemumbair- ro longe da rota turística da cidade. A ideia de Alessan- dra era ficar fora do radar dos críticos gastronômicos enquanto pegava traquejo e experiêncianonegócio.Mas não deu tempo. * “Tinha fila na porta no pri- meiro dia. Não tinha comida suficiente para todomundo. Eu não fiz uma publicidade, até hoje não sei de onde saiu toda aquela gente. E nunca esvaziou, foi sempre assim”, lembra. “Eachoquenãoteve umjornalistafrancêsquenão entrou ali noprimeiromês.” * Não só jornalistas. Alain Du- casse,umdoschefsfranceses mais renomados domundo, foi conheceroTempero logo no começo, aprovou a comi- da e incentivouAlessandra a se estabelecer em uma área demais prestígio. * Hoje,abrasileiratemtrêsres- taurantes emParis e está es- crevendo um livro sobre sua vida.OTemperocontinua lá, desde que nasceu, 10 anos atrás, mas virou uma épice- rie,ummercadodeprodutos de alta qualidade e uma ade- ga de vinhos naturais. * AítemoDana,umbistrôden- tro de um prédio comercial luxuosoquemais parece um hotel cinco estrelas, onde os executivos alugam suítes pa- ra trabalhar e onde ela serve almoçossuper caprichados. * E,em2020, inaugurouoNos- so, sua casamais autoral, em que, no jantar, faz ummenu degustação que conta parte da suahistória. * “Aprimeiracoisaquevocêco- meéumacoxinha,claro,por- que foi a primeira coisa que eu vendi e o que me fez per- ceber que eu podia ter orgu- lhodemim.” * “Coxinha é uma partemuito importantedaminhahistória. Foi a primeira pedrinha que eu botei para fazer o edifício que construí depois.” A chef Alessandra Montagne no restaurante Nosso, em Paris, na França Anne Claire Heraud/ Divulgação a eee ilustrada ilustríssima Domingo, 18 DE DEzEmbro DE 2022 C3 (Estousendoconvidada,diga- mosassim,a interromperesta colunade jornal.Deve serpor- queescrevihápoucotemposo- breBarackObama—naverda- de, sobremeu pai. Oumelhor, deve ter sido porque associei Lula a Obama e aminha pró- pria loucura. Isso já aconte- ceuantes, pordecisãominha, 20anosatrás. Saí. Agoraade- cisão é deles, pelomeu rótulo deesquerdista.Talvezqueiram limpar o ambiente para a pu- ra “neutralidade” de opiniões sobrepolítica.Nadadenovo!) Mundovirado. Circular por aí, ir e voltar, viajar tantoenão chegara lugarnenhum... Via- jare,dealgummodo,arrepen- der-se, todavez. “Teriasidome- lhorficar emcasa,/ ondequer que isso seja?”, perguntava-se a poeta norte-americana Eli- zabeth Bishop. Estranhos continentes, paí- ses, cidades e sociedades lan- çam perguntas cansativas, a que faltamrespostas. “Será fal- tade imaginaçãooquenos faz procurar/lugares imaginados tão longedo lar?”,diziaBishop. Nenhumaresposta.Emuma de minhas viagens recentes, uma interrogação armou-se naminha cabeça quando um professor universitário de li- teratura brasileira contou de suadificuldadedeensinarGui- marães Rosa nos dias de ho- je, texto que soa “rebuscado” para umaluno de 19 anos, se- gundo ele. “Aquela busca interna à lin- guagem” requer tempo para explicar, eledisse, “paraqueos alunos entendam a grandeza daquelaescrita, enquanto tem tantacoisaque fala imediata- menteaeles, queprecisa ser li- da, equeauniversidadeconti- nua a se recusar a ler”. O professor, da mais abso- luta confiança como intelec- tual e leitor críticode literatu- ra, admirável por sua sensibi- lidade e seu olhar atento aos mais complexos processos de criação literária, me surpre- endeu. Porque disse, inclusi- ve, que, fosse ele umprofessor negro, teria legitimidade pa- ra dar Rosa aos alunos. Sen- do branco, não tem. O que sei (sobre “tanta coi- sa que fala imediatamente a eles”) équepartedos estudan- tes daquela universidade é de origem pobre, vem de comu- nidades periféricas e tempele preta, mas não só. O alunado é tambémmuitoricoebranco. “MasnemoscontosdeRosa?”, pensei em perguntar. Mas nem mesmoum“Sorôco,suaMãe,sua Filha”? Afinal, o devir louco de Rosa é tão de todomundo, um elogiocoletivoesolidárioàlou- curade todosnós. Fatoéqueoprofessor,diante da “falta de sintonia” dos alu- noscomotexto rosiano—edi- ante da acomodação da aca- demia a seu cânone seleto—, optou por livro de um escri- tor jovem, com presença e di- vulgaçãonamídia, umdesses supervalorizados,masquesão apenasmedianos. Para mim, literatura surge e se constitui de atmosferas, não énarração enfadonhade fatos, sempersonalidade, sem alma. Escrever, afinal, e como afirmouDeleuze em “ALitera- turaeaVida”, “nãoécontaras próprias lembranças, suasvia- gens, seusamorese lutos (...). É um caso de devir, sempre ina- cabado, sempre em via de fa- zer-se, e que extravasa qual- quermatériavivívelouvivida”. O tal escritor contemporâ- neo e que, conforme o profes- sor, respondia de imediato à demanda do alunado, é da- queles que peca pelo excesso de realidade ou de imagina- ção (o que é a mesma coisa, segundo Deleuze), e cujo tex- to li aos bocejos. Ademandadoalunadoseria porquais temasoumodos, es- tilosde escrever?Lembrocom alegria do quanto ler Guima- rães Rosa aos 19 anos fez de mimumaescritoramenospior. Daqueles tempos para cá, o que teria mudado tanto? O apelo fácil da internet, das re- des sociais, talvez, que consa- gra literaturas semconsistên- cia real à categoriade espetá- culos, como se fossem obras? Se sãoos temas imediatos o que falta, Rosa trata de todos eles, comgenialidade:pobreza, negritude, desigualdade etc., que ele chamade “pobrepérri- ma” no livro “Primeiras Estó- rias”: “Nisto, o visto: a que ia com feixinho de lenha, e com aescarrapachadacriança, de lado,amulher,pobrepérrima”. Eele enxerga todosos indiví- duos insignificantes (os “laga- Literatura surge e se constitui de atmosferas, não é narração enfadonha de fatos, sem personalidade - Marilene Felinto Autora de “mulher Feita e outros Contos” e “As mulheres de Tijucopapo”. mantém o site marilenefelinto.com.br Inventar umpovo |dom.�Bernardo Carvalho, Itamar Vieira Junior, Marilene Felinto,WilsonGomes lhés” ou “leguelhés”), na mes- macoletânea: “Eisque eis: um lagalhépacíficoehonesto... fô- ra [sic] quem enviara Damas- tor Dagobé, para o sem-fim dos mortos”; “entre seus mui- tos descalços servos pretos, brancos, mulatos, pardos, le- guelhés, prequetés, enxadei- ros, vaqueiros e camaradas... Tio Man’Antônio doou e dis- tribuiu terras”. Mas quem se importa se o professor é preto ou branco? Quemse importa comGuima- rãesRosa?Nadamaismecho- ca: viajar e viajar e voltar pa- ra lugar nenhum, apenas um tanto mais pobre do que an- tes, é meu destino. A saúdecomo literatura, co- moescrita, consiste em inven- tar um povo que falta. Não se escreve com as pró- prias lembranças,amenosque delasse façaaorigemouades- tinação coletivas de um povo porvir, aindaenterradoemsu- as traições e renegações (Gil- les Deleuze). Eisqueeis: quefiquemosba- juladores,osmedíocres,osme- dianos,oscomportados,os su- balternos. Eis que eis. [ Se são os temas imediatos o que falta, Rosa trata de todos eles, com genialidade: pobreza, negritude, desigualdade etc., que ele chama de ‘pobrepérrima’ em ‘Primeiras Estórias’ a eee ilustrada ilustríssima C4 Domingo, 18 DE DEzEmbro DE 2022 As chuteiras da pátria [resumo] Poemas e crônicas de Carlos Drummond de Andrade que exaltam o futebol como espetáculo estético e político voltam às prateleiras num Brasil de clima golpista pós-eleições, mas tambémmelancólico após a derrota na Copa do Qatar. A seleção, símbolo nacional, se afasta então do público e ecoa o ufanismo do regimemilitar sob os topetes de novos craques Por Gustavo Zeitel repórter da ilustrada Ilustração Daniel Lannes Artista plástico Foi,então,aos28minutosdosegun- do tempo, no fimda tarde daquele 24 de novembro, que, pela lateral esquerda, a seleção avançava para o ataque. Das cadeiras do estádio Lusail,noQatar,quase89milpesso- asfitavamatrajetóriadabola, sain- dodatriveladeViniciusJr.paraopé esquerdodeRicharlison, que, num voleio,afundouasredesdaSérviapa- ragarantiravitóriadoBrasilpordois a zero, na estreiadaCopadoQatar. OPombonoar—levitae logode- cai. “São voos de estátuas súbitas,/ desenhosfeéricos,bailados/depés e troncos entrançados./ Instantes lúdicos: flutua/ o jogador, gravado no ar”, diz o poema “Futebol”, de CarlosDrummonddeAndrade,que completaria 120 anos neste 2022. Erasobretudoarte,comoindicam os versosdeDrummond, incluídos no livro “QuandoÉDiadeFutebol”. Organizadoem2002pelosnetosdo autor,LuisMauricioePedroAugus- to Graña Drummond, a coletânea, agora relançada pela editora Re- cord, reúne poemas e crônicas que documentam as campanhas da se- leção emCopas, entre 1954 e 1986. “Gauche”, Drummond mostrou coerência ao torcer para o Vasco da Gama, mas seu entusiasmo pe- lo esporte apareciamesmodequa- tro em quatro anos. Na visão do poeta, o futebol era uma realida- de incognoscível. “Confesso que o futebol me aturde, porque não sei chegaratéoseumistério”,eleescre- veuna crônica “Mistério daBola”. Drummondsugerea ideiade ilu- são como força estruturante da imprevisibilidade do esporte. Os dribles de Garrincha e de Pelé, os dois ídolos do poeta, eram tão ilu- sórios quanto o voleio de Richarli- son, queagoraparece semsentido —uma escultura desmantelada. “Drummond admirava o espe- táculo do ponto de vista artístico, como se estivesseassistindo a um balé”, diz Edmílson Caminha, que estuda a obra do escritor há 40anoseassinaoprefáciodo livro. Nãoporacaso,asegundapartedo poema “Copa do Mundo de 1970” fala emuma “geometria astuciosa/ aérea,musical, de corpos sábios/ a se entenderem,membrospolifôni- cos/ de umcorpo só, belo e suado”. Como espectador, Drummond re- sumiu a recepção estética do fute- bol ao escrever o verso “é longe e em mim”. Em diferentes escalas, a eliminação do Brasil depois da dis- putadepênaltiscontraaCroáciafoi sentidademaneirasimilarpelotor- cedor que estava no estádio Cida- dedaEducaçãoouna frente daTV. Anterioràdevoçãodatorcida,es- tá a centralidade do futebol na cul- turabrasileira.Porconsequência,a ‘Se o Brasil tivesse vencido a Copa, acho queBolsonaro usaria o título paramotivar o golpe. O título seria usadopelo governo comoem 1970’, diz Walter Casagrande Jr. Para o comentarista, Neymar é influência negativa para as novas gerações, exercendo seu poder na estética— descolorir o cabelo, usar brincos e fazer dancinhas a cada gol seleçãoreuniutodoosentimentode identificaçãodopovo comoespor- te. É a paixão una, acima dos amo- res clubistas, Vasco ouFlamengo. Por isso, a Copa é uma festa na- cional, calcada na expectativa do triunfo. Nesse sentido, vislumbra- mos nas partidas duas ambiva- lências, uma em decorrência da outra. Em primeiro lugar, o fute- bol é,pordefinição,umesportede emoçõesextremas.Nãoà toa, a se- gunda fase daCopa é apelidada de mata-mata —é vencer ou perder, matar oumorrer. Depois, a plasticidade do jogo se articula em sentidos opostos. De início, há a dimensão ilusória do encantamento, comoospasses açucarados de Messi, da Argenti- na,ouasarrancadasdetiraro fôle- go do francêsMbappé.Numoutro extremo, está a rispidez do fute- bol, refletida nas disputas de bola deModric,daCroácia, enoscortes do zagueiroMarquinhos. Opovobrasileiropoucasvezesse entregoutantoaumaCopaquanto em 1982, quando a seleção de Zico eSócratesencantouomundo,mas foi eliminada pela Itália. Na crôni- ca“RioEnfeitado”,Drummondsau- douas ruasdacidade, “umaflores- ta de faixas e bandeiras”. Aolongodosanos,osentimentode identificaçãocomo timebrasileiro diminuiu. Depois do sete a um, tal- vez nunca tenha alcançado umpa- tamar tão baixo. Nesta Copa mes- mo,osenfeites emverdeeamarelo não tomaramcontade tantas ruas. “Os pentacampeões, que não fo- ram à homenagem ao Pelé no Qa- tar, sentaram no camarote com o presidentedaFifa,enquantoosído- losdaArgentinaestavamnatorcida deles”, diz o ex-jogador e colunista deste jornalWalter Casagrande Jr. Continua na pág. C5 ‘Abraçaço’, de 2018, pintura de Daniel Lannes feita emóleo sobre linho Reprodução a eee [resumo] Do ‘jogador terminal’ ao ‘externo desequilibrante’, expressões do ‘titês’ desafiaram jornalistas e torcedores Afeita à gourmetização, a Fifa ten- tadescaracterizarofuteboldequa- troemquatroanos.SediarumaCo- pa doMundo noQatar, umdos lu- gares mais cafonas do planeta, já não é prova da elegância dos car- tolas. Pior ainda é promover show de luzes e transformar os estádios emboates, comumDJcomandan- doamicaretanomaisaltovolume, impedindo a festa das torcidas. Acontece que alguns protago- nistas do futebol contribuempara modernidades indesejadas. É o casodeTite, quedeixaocomando da seleção brasileira, depois de er- rartudooquetentoufazernoQatar. No momento, não há nenhum treinador brasileiro à altura da seleção.NaausênciadePepeGuar- diola, o todo-poderoso, não custa sonhar em Carlo Ancelotti. Seria, então, um lampejo de boa vonta- de, umaatitude redentora, dopre- sidenteda CBF,EdnaldoRodrigues. ApósaeliminaçãodoBrasil,apa- receram agora as viúvas do “ciclo” daseleção, louvandovitóriascontra Peru eBolívia nasEliminatórias. É uma tentativa de esconder o paté- ticodesempenhodotreinadorbra- sileironasduasCopasemqueeste- veà frentedoBrasil.NoQatar,Tite talveztenhatidoàdisposiçãoome- lhorelencoentretodasasequipes. Numachavefacílima, iratéasemi- finaleraumimperativoparaasele- ção. Emdadomomento, qualquer crítica ao treinador parecia desca- bida, diante de sua invencibilida- de.LáestáaArgentinana decisão. Parecendoumcoachmotivacio- nal,Titesevaleudosconceitosmais rasos da autoajuda para gerir seu elenco e afagar o ego das estrelas —antes do jogo contra Camarões, disse queDaniel Alves, de 39 anos, “transcendeofutebol”, justificando a escalação do jogador. Era, quem sabe,umamençãoaotalentodeDa- niel Alves comopandeirista, cargo damaior importânciaparaanimar avalorosaequipenaconcentração. De início, a escolha dos atletas se mostrou desequilibrada, tanto que o time sofreu para encontrar alternativas no sistema defensivo, depoisdaslesões.OBrasil tevelam- pejosduranteaCopa,ouseja,o se- gundotempocontraaSérviaeopri- meirotempocontraaCoreiadoSul. Nasquartasdefinal,ficouaboba- donoprimeirotempocomaCroá- cia.Pareciaqueotreinadordasele- ção brasileira jamais poderia ima- ginar que o adversário povoaria o meio-campo, por onde Luka Mo- dric —de 37 anos e sem habilida- des comopandeiro—desfilou até ofimdaprorrogaçãodaquele jogo. Nãoporacaso,Tite recebeuuma chuva de cartinhas, depois da eli- minaçãocontra aCroácia. Era, afi- nal,umreflexodarelaçãopaterna- listaquemantevecomseusconvo- cados —e o compromisso com fi- gurascomoNeymareDanielAlves, quesónãoentrounatitulargraças àderrotaparaCamarões,naúltima rodadada fase de gruposdaCopa. Passadosseisanos,Titedeixaco- mo legado as longas explanações ementrevistascoletivas,quedesa- fiaramainteligênciadosjornalistas eaindaconfundiramostorcedores. Comafalaescandida,otreinador enfatizou cadapalavra e, todoem- polado, apresentou novos termos dofutebolmodernoemsuaprópria linguagem,ochamado“Titês”,sen- doagoranecessáriaaediçãodeum glossário do técnicodoBrasil para dar vazãoaonovo léxico. Segundo Tite,centroavanteé“jogadortermi- nal”—nãoconfundir,naturalmente, comomórbidopaciente terminal. No caso do time do Brasil, a ex- pressão pode se referir ao que Ga- briel Jesus, reservadeRicharlison, deveriaterfeito,maspassou499mi- nutos,contandoasCopasde2018e 2022, semfazer—gol.Machucado, Gabriel Jesus foi cortado do Mun- dial.Assim,Pedro,doFlamengo,se tornoureservaimediatodoPombo. Titetambémcunhouaexpressão “externos desequilibrantes”. Ele se referia aos que atuam pelas extre- midades do campo, as pontas. Ao contrário do terminal, o externo desequilibrante não está encarre- gadopela finalizaçãodas jogadas. Sua tarefa é quebrar as linhas da defesa adversária, seja caindo pelomeiooupelaslaterais.Vinicius Jr. éumbomexemplodeumexter- no desequilibrante, que deve ali- ar técnica e velocidade para achar os espaços, deixando o terminal bemna cara do goleiro. NavisãodeTite, todososatacan- tesatuamno“últimoterço”,ouseja, a fase que corresponde ao ataque. Depois,os jogadoresprecisamatu- arem“REC5”, istoé,recuperarabo- laperdidaemcincosegundosapós perdê-la.Afalaempoladaatingiuo ápice com “treinabilidade”, termo quedesignaacapacidadedeevoluir durante os treinos. Eraumcomportamentoarrogan- te,queemulavaumestudofutebo- lístico inexistente. Nofim,o técni- co acabou mesmo abandonando os jogadores, alguns deles da nova geração, chorandonogramado.  Oglossário do professor Tite Continuação da pág. C4 “Não tivemos nem torcida, era um grupo de pessoas disfarçado de tor- cedores, querendoaumentar segui- dores nas redes sociais, então não temidentificaçãonenhuma,nãohá respeitocomotorcedorbrasileiro.” Enquanto a camisa amarela ves- tiaos jogadoresnosestádiosdoQa- tar,gruposdebrasileirossereuniam comomesmouniformeparapedir, nas portas dos quartéis, uma inter- vençãomilitar, depoisdas eleições. Na coletânea, Drummond ante- viuarelaçãoentrepolíticaefutebol, sobretudo antes da Copa de 1970, quando o Brasil vivia sob a ditadu- ra de Emílio Médici. Sempre irôni- co, o poeta sugeriu, na crônica “Se- leção, Eleição”, dar a cada jogador da Copa umministério. Agora, Ca- sagrandepensaqueobolsonarismo estápresentenotime,sobretudona figuradeNeymar, que cria umaan- tipatia como torcedor brasileiro. “SeoBrasiltivessevencidoaCopa, acho que Bolsonaro usaria o título paramotivar o golpe.O título seria usadopelogovernocomoem 1970”, dizCasagrande.Paraocomentaris- ta,Neymaréumainfluêncianegati- vaparaasnovasgerações,exercendo seu poder também na perspectiva estética—descolorirocabelo,usar brincosefazerdancinhasacadagol. Emborajogadoresdeoutrostimes adotemestilosimilar,Casagrandevê ocasodoBrasilcomoummodismo, ditadopelo craqueda equipe. “Neymarapoiaumpresidenteque quer dar golpe, diz que está triste pelaeliminação,masfazfestaquan- do chega aoBrasil”, afirma. “Então, não seriam alguns jogos que fari- am a camisa amarela voltar a ser respeitada, até porque o time não jogoubememnenhumjogo.Acami- saamarelaestánumlimbo.Foimui- to forte essa ondabolsonarista.” [resumo] Versátil, locutor driblou momentos de baixa popularidade e virou um showman sem igual “Ainda dá, dá para chegar no gol, claro que dá”, disse Galvão Bueno, segundos antes denarrar o gol que daria a vitória ao Brasil contra a Suíça,nasegundarodadadafasede gruposdaCopadoMundodoQatar. Espremido na posição de trans- missão—quenoMundial substitui ascabines,dandoumaraindamais emocionanteàspartidas—onarra- dor cornetava a teimosia de Tite e a lentidão do ataque brasileiro. Ele reatava, deste modo, a poderosa identificação que construiu com os telespectadores de todoopaís. Em sua última Copa do Mun- do, Galvão é o principal persona- gemdo Brasil noQatar. Sua voz é a memória dos principais aconteci- mentosdoesportebrasileiro—dos recordesolímpicosaoseteaum,em 2014.Depoisdaseleiçõespresidenci- ais, ele ainda tenta unir oBrasil, di- zendoque“nãoexistemdoispaíses”. Entre as suas principais cobertu- ras, está a transmissão dos Jogos OlímpicosdeLosAngeles,em 1984, quandonarrouachegadadamara- tonista suíça Gabrielle Andersen. Trôpega de exaustão, ela foi aplau- dida de pé pela torcida, numa pro- vadeseunotávelespíritoolímpico. ComaFórmula 1, cobriudoisdos três títulos de Nelson Piquet, além dos três campeonatos de Ayrton Senna. Foi a voz do tetra, em 1994 —ano da cobertura da morte de Senna—, edopenta, em 2002. Dois anosantes,narrouamedalhadepra- ta do atletismo brasileiro, no reve- zamentodasOlimpíadasdeSidney. EmAtenas, Galvão entoou o bor- dão “Giba neles!” no ouro da se- leção masculina de vôlei contra a Itália. Quatro anos depois, em Pe- quim,testemunhouamedalhadou- rada de César Cielo nos 50metros livre e o recorde deMichael Phelps naprovadoscemmetrosborboleta. No Rio, se emocionou com a ce- rimônia de abertura e foi às pistas, assistindoaUsainBolt, da Jamaica, voarpelaúltimavez.Naqueleano,o narradorficariaenlouquecidocom oouroolímpiconofutebolmasculi- noedesempenhariapapelcentralna coberturadoacidenteaéreoquevi- timouosjogadoresdaChapecoense. Com o tempo, Galvão criou um personagemde si, encarnandoafi- guradeumshowman,combordões que entrarampara a cultura popu- lar. Sua voz rasgada o transformou em um mestre de cerimônias do drama, desvelandoumafigura qui- mérica —incontornável para a televisão e acumulando muitas controvérsias ao longoda carreira. Vaidoso,o locutorsofreucomcrí- ticas pelo comportamento egoico, peloufanismoepelaexcessivapro- ximidade com as fontes. Em dado momento, o público amou detes- tarojornalista,numódiodesmesu- rado.Oestopimdacampanha“cala boca, Galvão!” ocorreu na Copa de 2010, naÁfricadoSul, quandooas- suntosealastrounas redese foipa- raraténoNewYorkTimes.Naquela época,olocutorsofriaparatransmi- tir as partidas dos estádios do Bra- sil. Pelo áudio, o telespectador ou- via a torcida xingandoo jornalista. Emtemposmaisrecentes, Galvão virou influenciadordigital e desco- briu que sua fortuna poderia ser aindamaior. Bastavausar seusbor- dõesparavenderosprodutosdesua vinícola no Rio Grande do Sul. Nas redes, passouaostentar, semtanta elegância, seupadrãode vida luxu- oso.Agora,seurostoestáaténatra- seira dos ônibus, em propagandas desitesdeapostas.NasOlimpíadas de Tóquio, a linguagemda influên- cia chegou às transmissões. Como emcenasdoYouTube, o locutor fa- zia caras e bocas nos estúdios para aumentar a audiência na internet. O tempopassou, ea imprensaes- portiva, fagocitada pelo entrete- nimento, já não é mais a mesma. Tampouco a TV aberta terá prima- zia nas transmissões. Mas, duran- te a carreira, o locutor ditou um novopadrãodecoberturaesportiva. Porisso,nãohásubstitutoparaele, como a própria Globo admite. Gal- vãoBuenoequiparouaatividadedo narrador à deumgrande artista. Galvão Bueno, artista dramático ilustrada ilustríssima Domingo, 18 DE DEzEmbro DE 2022 C5 a eee a eeeC6 Domingo, 18 DE DEzEmbro DE 2022 a eee a eee Domingo, 18 DE DEzEmbro DE 2022 C7 a eee ilustrada ilustríssima C8 Domingo, 18 DE DEzEmbro DE 2022 Essa lista dava umfilme [resumo] Nova lista de melhores filmes do cinema da revista Sight and Sound traz as mudanças mais drásticas da história da tradicional votação. Pela primeira vez um filme dirigido por umamulher, Chantal Akerman, chega ao topo, obras experimentais e mais recentes ganham espaço enquanto a produção comercial dos EUA pré-1970 perde posições, o que reflete as demandas dos tempos atuais por mais inclusão e uma nova leitura do cânone cinematográfico Por Filipe Furtado Crítico de cinema, fundador da revista Abismu e do blog Anotações de um Cinéfilo No início deste mês, a tradi- cional revistabritânica Sight andSoundpublicousuamais recentepesquisasobreoscem melhoresfilmesdahistóriado cinema. Não é uma pesqui- sa qualquer: a revista realiza umanova versão dela a cada dez anos, desde 1952. A abrangência e a regulari- dadeconferiramàlistaumpe- sodeautoridadequeadistin- guemdeoutrosesforçossimi- lares,mesmoquesejasaudá- vel suspeitar de eventos des- se tipo. É natural, portanto, que a cada nova divulgação dapesquisasejamretomados debates acercademudanças no cânone cinematográfico. Nãofoidiferentenesteano. Das oito listas já produzidas pela revista, talvez esta de 2022 tenha despertado mais polêmica, uma vez que ne- nhuma anterior trouxe mu- dançastãodrásticas.Acome- çarpeloprimeirolugar,“Jean- neDielman,23QuaiduCom- merce, 1080Bruxelas”(1975), filmedacineastabelgaChan- tal Akerman. Trata-se de um grande fil- me, porém bemmais desco- nhecidoqueos três clássicos que lideraramapesquisa em ediçõesanteriores—“Ladrões deBicicletas”(1948)em 1952, “CidadãoKane”(1941)de1962 a 2002 e “UmCorpo queCai” (1958) em 2012. Naatualizaçãorecém-divul- gada, “UmCorpoqueCai” foi paraasegundaposição,e“Ci- dadãoKane”, para a terceira. Completamotop10“Erauma VezemTóquio” (1953),deYa- sujirôOzu,“AmoràFlordaPe- le” (2000), de Wong Kar-Wai, “2001:UmaOdisséianoEspa- ço”(1968),deStanleyKubrick, “Bom Trabalho” (1998), de ClaireDenis, “CidadedosSo- nhos”(2001),deDavidLynch, “UmHomemcomumaCâme- ra” (1929), de Dziga Vertov, e “CantandonaChuva” (1952), de Gene Kelly e Stanley Do- nen, nesta ordem. Metadedelesnãoconstava notopodalistade2012,como os três lançados nos últimos 25 anos.No geral, umquarto dos cemfilmes foi renovado. Simbolicamente, “ARegrado Jogo”(1939),deJeanRenoir,o únicofilmequesemanteveno top10emtodasasediçõesan- teriores, ficou agora em 13º. Emvistadesseresultado,so- braramcomentários sobre a lista ser modista ou política, ou que o primeiro colocado seriamuito elitista, ou ainda arespeitodaausênciademes- tresdopassado.Reclamou-se também que os editores da revistaexpandiramdemaiso universode votantes. Foram neste ano 1.639 críticos, pro- gramadores, curadores, ar- quivistaseacadêmicosparti- cipantes,númerorecordena história da lista, cadaumen- viandoseusdezfilmesprefe- ridos—contribuíparaasdu- as últimas edições. Elegerosmaioresfilmesde todos os tempos será, neces- sariamente,umgestoincom- pleto. O cinema émuito rico paraserresumidoemcemtí- tulos.Desconfiardecânones, portanto,é inevitável,embo- ra eles sejam úteis, nem que seja para tentar derrubá-los. Cânones são conservadores. UmapesquisacomoadaSight andSoundserásempreaafir- maçãodeuma tradição. Listas individuaisoferecem umprazermaiordadescober- ta e do exercício lúdico, en- quanto ao cânone cabe este papel pesado da afirmação e dos questionamentos. O seu valor institucional é coloca- do emquestãopelas reações afavor e contra. Listas como ada Sight and Soundtêmduasgrandesfun- ções. No lado prático, ofere- cem um agrupamento fértil de filmes para quem deseja traçarumcaminhopelahistó- riadocinema.Independente de minhas preferências pes- soais, posso afirmar que um leitordaFolhaqueresolvesse passarospróximosdoisanos assistindoaumfilmedapes- quisa por semana teria uma experiência rica. Osmais cínicosdiriamque éumaboapeçadepromoção; comootimista,prefiroenxer- gá-lapeloseuvalorpedagógi- co, mas no fundo se trata de ambas as coisas. Por outro lado, listas são úteis para um mapeamento detendênciaseolhares.A in- tersecção entre gosto indivi- dualeamãodomercadoévi- sível,masdifícil deaferirpor completo.Umdossinaismais notáveisdapesquisadaSight andSoundéumareduçãodo cinemaamericanoproduzido pelos grandes estúdios. Podemosespecularqueisso decorredosefeitosdosservi- çosdestreamingedodescaso dosestúdiosamericanoscom a suaprópriahistória, em fa- vordeproduçõesrecentes.Os filmes americanos demédio ou grande orçamento pare- cem existir hojemenos den- trodeumcontínuodahistó- riadoqueemoutrostempos. O cinema comercial ameri- canodosanos1970,porexem- plo, perdeu espaçona lista— vários títulos famosos, como “OPoderosoChefão2” (1974), “Nashville” (1975) ou “China- town” (1974) foram trocados porconterrâneosdeforadain- dústria,como“Wanda”(1970), 48º,e“OMatadordeOvelhas” (1977), 43º. Pela primeira vez esses filmes americanos não sugeremummomentoáureo ase retornar,masumaexten- são do cinema dito clássico dentrodestecânone. É uma tendência que tam- bémapontaumapreferência porcineastasdeforadaindús- tria emenos ligados ao cine- ma comercial. A ideia popu- larizada pela crítica france- sa dos anos 1950, do cineas- ta que consegue impor sua visão de mundo por dentro do sistema, parece em desu- so.HowardHawks—ogrande exemplodapolíticadosauto- res ao lado deHitchcock, foi umadasausênciasmaismen- cionadas. Nogeral, a lista fezummo- vimento na direção de títu- los mais novos. Todas as dé- cadas até 1970 tiveram o nú- mero de títulos reduzidos, enquanto todas a partir dos anos 1980 aumentaram sua representação. A presença excessiva de fil- mesmuitorecentes,comodois vencedoresdoOscardaúltima década, “Parasita” (2019), em 90º, e “Moonlight” (2016), em 60º,parece-meumdospontos fracos,umacorreçãoexagera- daemrelaçãoa2012,cujalista foiacusadadedarascostasao contemporâneo. A mão forte do mercado é notável principalmente na predominânciadefilmesque circularamemcópiasdigitais restauradasnosúltimosanos ou lançados em Blu-ray. Em suma, as chances de um fil- mesereduzemdrasticamen- te semuma cópia de alta de- finição.Minutosapósadivul- gaçãodapesquisa,aCriterion Collection, selo de home vi- deomaisprestigiosodomun- do,anuncioucompompanas suasredessociaisquetemdi- reitos sobre cercademetade dosfilmes,umacentralidade bastante incômoda. Questõesideológicasimpac- tam o resultado desde sem- pre. Não fossem os traumas causadospelaSegundaGuer- ra, a lista de 1952, a primeira darevista,nãoteria“Ladrões deBicicleta”,comseuaparen- te realismo, em 1º lugar, en- quanto “CidadãoKane”, com seus excessos efeitos visuais, figurava em 11º. Em 1962, a presença do recém-lançado “AAventura” (1960) em 2º lu- gar indicavaumgestodeafir- mação aos cinemasnovos. Discussõessobrediversida- de foram muito recorrentes nosmeios da crítica de cine- ma dos últimos anos, e a lis- tada revistabritânica reflete estedesejoporbuscarumcâ- nonemais plural. Continua na pág. C9 Cenas de ‘Ladrões de Bicicleta’ (1948), ‘Cidadão Kane’ (1941), ‘Um Corpo que Cai’ (1958) e ‘Jeanne Dielman’ (1975), os 4 filmes já eleitos osmelhores domundo pela Sight and Sound Divulgação a eee Continuação da pág. C8 Opesodoscuradoresdefesti- vais, a quemcom frequência édepositadoodever de con- duziresteprocesso,ébemvi- sível,muitasvezesmaiorque oda crítica tradicional. Defensores de um cânone mais clássico por vezes ig- noram as forças ideológicas que ajudaram a formar suas preferências. Os partidários de umnovo cânone sãobem maisconscientesde taispro- cessos, mas nem sempre re- conhecemopapeldomerca- do sobre ele. Sealgomeparecedecepcio- nantenalistade2022écomoo chamadosulglobalpermanece ignorado.Há somenteumfil- medaTailândia(“MaldosTró- picos”,95º),Índia(“ACançãoda Estrada”, 35º), Irã (“CloseUp”, 17º) e dois do Senegal (“Tou- kiBouki”,66º,e“ANegrade...”, 95º).Émuitopouco. Um cânone que se deseja plural não pode excluir por completo o cinema latino- americanooudar tãopouco espaçoaosuldaÁsiaouaoci- nema africano. A falta de in- teresse empromover um ci- nemaforadosgrandeseixos deproduçãoresultaemuma falta de curiosidade por ele. A presença de “Jeanne Di- elman” em primeiro lugar é, comcerteza,amaiornovida- de da lista. Assim como “Ka- ne” ou “Um Corpo que Cai”, o filme de Akerman está en- treosmaiores já feitos, e tra- ta-se de uma escolha crível entremuitos candidatos jus- tos, aindamais em uma pes- quisa que reforçou a presen- ça de um cinemamais expe- rimental. “LadrõesdeBicicleta”apon- tava para o triunfo de um ci- nemanobreehumanista,en- quanto“CidadãoKane”e“Um Corpo que Cai” representa- vamavitóriadapersonalida- dedoartistadentrodaindús- tria,semdeixardeafirmaras possibilidadesdosistema in- dustrial. Já “JeanneDielman” é um filme estrutural, dirigi- doporumamulher eque es- tabeleceoutrarelaçãocomo espectador. Acompanha-se trêsdiasna vidadeumadonadecasaque se prostitui de noite. O filme narraeventosrotineiros,mas é tão deliberadamente cons- truído quanto “Cidadão Ka- ne”. “Jeanne Dielman” tem uma reputação realista, mas se trata de um realismo arti- ficial, comamãoda cineasta sempremuito visível. A dona de casa é interpre- tadaporDelphineSeyrig, es- trela do cinema francês do período, e os sentidos do fil- me surgem de sua presença em cena. Não se propõe de- saparecer o artifício do cine- ma em uma ilusão de realis- mo,masseposicionardiante dele. É o oposto de “Ladrões deBicicleta”. Trata-sedeumfilmecriado partirdasaçõesemcena.Não hápsicologia,etudoexistena superfíciedegestosporvezes contraditórios.Ofinal impac- tantemenosofereceumaca- tarse do que a oportunidade de repensar esses atos. Críticos são atraídos por filmes sobre oolhar e o cine- ma. “Jeanne Dielman”, assim como“UmCorpoqueCai”,re- flete a respeito de olhar para umamulher e as relações de poderinerentesaisso.Ambos colocam em primeiro plano um espelho sobre a própria atividadecinematográfica.O ato defilmar e ode ver. O clássico de Hitchcock é umfilmesobreasprerrogati- vas perversas do olhar do ci- neasta para a mulher obser- vadaedesejada. JáodeAker- ilustrada ilustríssima Domingo, 18 DE DEzEmbro DE 2022 C9 man coloca a ênfase na in- terrogação da relação que o espectador desenvolve com as imagens daquela mulher emação. Além da lista da crítica, a SightandSoundconduz,des- de 1992, umavotaçãoapenas comcineastas,daqualparti- ciparam 480 artistas. Nesta pesquisa paralela, o filme de Akerman terminou em 4º lugar, reforçando sua posição sedimentada no câ- none,cominfluênciacadavez mais crescente. O campeão neste ano foi “2001”. É possível observar nos re- sultados da pesquisa britâ- nica uma afirmação da cul- tura cinematográficadesen- volvida na internet, com um pé no formalismo e o outro na sociologia. Traz com ela vantagens como ecletismo e curiosidade,mas também li- mitações,comoumaatenção curtaeausênciadeinterroga- çõesmaiores. A despeito das discussões sobre grandesmudanças e o caráter revisionista da lista, ela ainda é uma afirmação deumcânone reconhecível. AlfredHitchcock,ocinema clássico de Hollywood, e Je- an-LucGodard, omodernis- modosanos 1960, seguemos nomesmais lembradoscom quatro filmes cada, embo- ra em média com posições mais baixas do que em pes- quisas realizadas nos anos anteriores. Apontam-se mudanças de paradigma geracionais e de formasde assistir e de sepo- sicionar diante do cinema, mas apenas até certo ponto. Trata-semenosdeumarevo- luçãodoquedeumacorreção docânone.Comoquasetoda modernização conservado- ra,muda-se para preservar a simesmo. $ Os 10melhores filmes do cinema pela lista daSight and Sound de 2022 1º ‘JeanneDielman’ (1975) Direção: Chantal Akerman Bélgica/França 2º ‘UmCorpo que Cai’ (1958) Direção: Alfred Hitchcock EUA 3º ‘CidadãoKane’ (1941) Direção: OrsonWelles EUA 4º ‘Era umaVez emTóquio’ Direção: Yasujirô Ozu Japão 5º ‘Amor à Flor da Pele’ (2000) Direção: Wong KarWai Hong Kong/França 6º ‘2001: UmaOdisseia no Espaço’ (1968) Direção: Stanley Kubrick EUA 7º ‘BomTrabalho’ (1998) Direção: Claire Denis França 8º ‘Cidade dos Sonhos’ (2001) Direção: David Lynch EUA 9º ‘UmHomemcom umaCâmera’ (1929) Direção: Dziga Vertov Rússia 10º ‘Cantandona Chuva’ (1952) Direção: Gene Kelly e Stanley Donen EUA a eee ilustrada ilustríssima C10 Domingo, 18 DE DEzEmbro DE 2022 Quando, em 1962, Philip K. Dick publicou o livro “O Ho- mem do Castelo Alto”, mui- ta gente ficou impressionada com a imaginação do autor. Ele,afinal, conceberaummun- do emqueos nazistas tinham saído vencedores da Segunda GuerraMundial. MetadedosEstadosUnidos era controlada pelo império japonês; a outra metade, pe- la Alemanha nazista. A obra ganhou o prestigiado Prêmio Hugo, que distingue todos os anos os melhores trabalhos de ficção científica, mas ape- nasporqueo júrinãosabiana altura que criatividade a sé- rionãoeracriaraquelahistó- ria,mas inventarKanyeWest. Isso sim, seria prodigioso. Claro que a melhor ficção é a que não deixa de ser vero- símil, e teria sido difícil con- vencer o público de que um rapper negro poderia ser ad- mirador de Hitler, e talvez te- nha sido por isso que Dick se contentou com uma América dominada por nazistas. OproblemaéqueKanyeWest também não merece crédito por ter inventadoKanyeWest. Na verdade, KanyeWest é um plágiodeumesquetehumorís- ticodeDaveChappelle, quehá quase 20 anos inventou Clay- tonBigsby,umnegrocegoque era supremacista branco. Marx disse que todas as ocorrências e figuras histó- ricas surgem duas vezes: pri- meiro como tragédia edepois como farsa. É agora evidente que ele estava enganado. As coisas se repetem, sim, mas primeiro como farsa e depois como KanyeWest. Há dias, West foi entrevis- tado pelo famoso energúme- no Alex Jones. Jones achou-o umpoucoextremista,aconteci- mentoquenuncateriaaconte- cidoantes.Naentrevista,West declarouqueamavaHitler, em quem detecta várias qualida- des.Edeucomoexemploso fa- to de o ditador ter inventado as rodovias e osmicrofones. Tendo em conta que eu in- ventei as rodovias e osmicro- fones tantocomoHitler, épos- sível queWestmeadmire tam- bém.Muitagente fantasiacom a hipótese de voltar atrás no tempoematarHitlernoberço, quandoele eraaindacriança, porqueassimomundonunca conheceria o Holocausto. Pessoalmente, tenho uma fantasia parecida, mas ape- sar de tudo diferente: gosta- ria que Kanye West pudesse voltar atrás no tempo para ir àAlemanhadosanos 1930ma- nifestarpessoalmenteaHitler toda a sua admiração. E assim omundo, provavel- mente, nunca conheceria os discos de KanyeWest. - Ricardo Araújo Pereira Humorista, é membro do coletivo português gato Fedorento. É autor de ‘boca do inferno’ KanyeWest deveria poder ir à Alemanha de Hitler paramostrar sua admiração KKKanye Luiza Pannunzio |dom. RicardoAraújoPereira | seg. BiaBraune� |ter.ManuelaCantuária |qua. GregorioDuvivier |qui. FláviaBoggio |sex. RenatoTerra |sáb. JoséSimão Moonage�Daydre�am Para compra ou aluguel na Amazon Prime Video, Apple TV+, google Play, now e YouTube, 12 anos O popstar mais inovador da história,queencarnoudiver- saspersonasartísticasaolon- godequase50anosdecarrei- ra, ganha um documentário à alturade seu talento.Oale- mão Brett Morgen reúne cli- pes,entrevistas,shows,víde- os privados e locuções para recriar a trajetória de David Bowie. Sem datas precisas oudepoimentosdeterceiros, ofilme éumdelírio visual. Re�is Contra Papai Noe�l Amazon Prime Video, 12 anos Natradiçãoespanhola,ostrês ReisMagoslevampresentesde Natal para as crianças. Mas, cansados do protagonismo crescentedePapaiNoel,Mel- chior,GaspareBaltazardecla- ramguerraaobomvelhinho. The�Handmaid’s Tale� – O Conto da Aia Star+, 16 anos Asquatroprimeirastempora- dasdasériechegaramaoser- viço.Aquinta,porenquanto, só pode ser vista no serviço de streaming Paramount+. OsMistérios de�Maria History, 18h10, livre O canal exibe os dois episó- dios destadocussérie que le- vanta tudo o que se sabe so- bre a mãe de Jesus Cristo — apesar de ser a mulher mais veneradadahistória,Mariaé pouco citadanaBíblia. Café Filosófico CPFL Cultura e YouTube do Café, 19h, 14 anos Sobotema“Temporalidades”, ohistoriadoreprofessorRo- drigo Turin confronta os fa- tos históricos de 1822, 1922 e 2022, e mostra como a ex- periência do tempo varia de acordocomolugargeográfi- co, social e econômico. Entre�Mundos Cnn brasil e YouTube da Cnn, 22h30, 14 anos PedroAndradevaiàHungria e mostra como a comunida- de LGBTQIA+ de Budapeste resiste à perseguição do go- vernodeViktorOrbán. Canal Livre� band, 2h, livre Oex-ministrodaDefesa e re- latordoCódigoFlorestalBra- sileiro Aldo Rebelo e a advo- gada especialista em direito ambiental Samanta Pineda debatem os avanços e retro- cessos da COP 27, realizada emnovembronoEgito. David Bowie� te�m vida re�vista e�m docume�ntário pouco tradicional tonygoes@uol.com.br - Tony Goes éhoje |dom. JanLimpens, LuizGê,RicardoCoimbra,Ange�li, Laerte quadrão Ricardo Coimbra Atores daRecord podemnão ter mais contrato fixo sãoPaulo ARecordvaiado- taramesmaposturaquea Globoe,apartirdoanoque vem,começaráatrabalhar com contratos por obra. Com isso, muitos atores têmsidoavisadosquenão terão vínculos renovados. Dentre eles está Emílio Orciollo Netto, que con- firmou a este jornal que agora está livre nomerca- do. Atriz das mais presti- giadas da Record, Adriana Garambone,há 17anosno canal, tambémdá adeus à emissora emdezembro. Galã denovelas bíblicas, Fernando Pavão não teve contrato renovado, assim comoBethGoulart.Procu- radapelareportagem,aRe- cordnãocomentouasmu- danças na emissora. IMS terá Evandro Teixeira e Iole de Freitas em2023 são Paulo O Instituto Mo- reiraSallesdeSãoPaulovai exibir,em2023,mostrasde Evandro Teixeira, impor- tante fotojornalista, Hele- na Almeida, artista portu- guesaqueinvestigaemsua obra as relações entre cor- poeimagem,eIoledeFrei- tas, escultoramultimídia. AmostradeTeixeira, re- alizada entre março e ju- lho, terá imagens que ele produziu no Chile após o golpe militar de 1973. Já a deFreitas vai reunir, entre maio e setembro, uma sé- riedetrabalhosproduzidos por ela nadécadade 1970. Entre junhoe setembro, a instituição exibirá obras de Helena Almeida sobre interrogaçãodos gêneros. Pulseiras com luz vão fazer o festival The Townbrilhar são Paulo O festival The Town, que acontecerá em SãoPaulonoanoquevem, teráumespetáculoemque 100mil pulseiras, 1.000m² de telões de LED, mais de 6.300 holofotes e fogos de artifício serão acionados simultaneamente. Oevento,feitopelosmes- mos criadores do Rock in Rio, estreia em setembro, no Autódromo de Interla- gos.OTheTownvaidispo- nibilizar as pulseiras bri- lhantes para opúblico. Aspulseirasserãoaciona- dasno intervalodosegun- doparaoterceiroshowde um dos palcos, o Skyline, comduraçãodedezminu- tos.Aexperiênciaéinspira- danos showsdoColdplay, queveioaoBrasilem2022. a eee Domingo, 18 DE DEzEmbro DE 2022 C11 a eee ilustrada ilustríssima C12 Domingo, 18 DE DEzEmbro DE 2022 Inclusão digital contra a pobreza [resumo] Proposta de grupo de trabalho de Lula de baratear o acesso de famílias de baixa renda à internet pode ter efeito positivo no combate à desigualdade e na geração de renda, avaliam pesquisadores. Uma inclusão digital efetiva, contudo, demandará projetos mais ambiciosos, que promovam também capacitação da população e uso de equipamentos e de velocidade de dados adequados Por Fabio Senne e Marta Arretche Senne, doutor em ciência política pela USP, é coordenador de pesquisas TiC do Centro regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da informação. Arretche é professora titular do Departamento de Ciência Política da USP e pesquisadora do Centro de Estudos da metrópole A equipe de Lulaanunciou proposta de criação de uma bolsa para apoiar o acesso à internet entre os inscritos no Cadastro Único do gover- no federal. A sinalização do grupo de trabalho recoloca na agenda um aspecto ainda pouco ex- ploradonocampodaspolíti- cas sociais: o acesso à inter- net pode ser um instrumen- toparaenfrentarapobrezae promover a inclusão social? Arespostaésim.Háumnú- merocrescentedeevidências indicandoqueastecnologias digitaisdesempenhamumpa- pel crítico em programas de inclusão social. Aconcessãodebolsaséum auspiciosocomeço,masapro- moçãodainclusãodigitalpo- de e deve ser aindamais am- biciosa. O combate às desi- gualdadesdigitais exigepolí- ticasqueavancemparaalém doprovimentodeacesso,pro- movendo oportunidades de uso da rede e a formação de habilidades digitais no con- junto dapopulação. O enfrentamento das desi- gualdadesdigitaisestánocen- trodasagendasglobaisdede- senvolvimento,comoaAgen- da2030daONU.Maisrecente- mente,osecretário-geraldas Nações Unidas, António Gu- terres, deu início a umdeba- teparaacriaçãodeumpacto global para promover os be- nefíciosemitigarosriscosda transformaçãodigital(“Global Digital Compact”), iniciativa quereconheceanecessidade deconectar todasaspessoas e escolas à internet. Aagendafoiexponenciada pela experiência com a pan- demia da Covid-19, que pro- duziu intensaaceleraçãonos processosdedigitalizaçãoda vida econômica e social. As pesquisas na área demons- traram umamigração na re- alizaçãodeserviçospúblicos etransaçõesfinanceiraspara o ambiente online. NoBrasil,aadoção,sempre- cedentes, de aplicativos pa- ra a solicitação e movimen- tação do auxílio emergenci- al foi um exemplo marcante deusodetecnologiasdigitais napolíticadeassistênciasoci- al,mastambémdasdesigual- dades e limitações que estas podemproduzir. Se é certo que houve avan- ços na direção da expansão da digitalização, as desigual- dades digitais permanecem restringindooaproveitamen- to equitativo de oportunida- des online. Uma conectividade precá- riatambémafetaarealização deatividadesessenciais, tais comooacessoaoportunida- desdeempregoerenda, tele- trabalho,ensinoremotoete- lemedicina,paranãomenci- onarprogramasdegoverno. Aassociaçãoentreafaltade internet e a pobreza no Bra- sil é conhecida. Não é possí- vel,contudo,determinarcom certeza a direção da causali- dade, seapobrezadificultao acessoà internetouseafalta deacessogerapobreza.O fa- toéqueosdoisfenômenosse reforçammutuamente. Oelevadonúmerodeusuá- riosdeinternetnoBrasilmas- cara enorme desigualdade. A rápidaexpansãodoacesso nosúltimos20anosbenefici- ou os estratos de maior ren- da e escolaridade. O avanço daredetambémfoitardioem áreasqueconcentramapopu- lação em situação de pobre- za, como é o caso das áreas rurais e das regiões Norte e Nordeste. Do ponto de vista do uso, temos ainda uma “elite digi- tal”, com acesso a computa- dor e banda larga fixa, e usu- áriosde“segundaclasse”,que dependemdouso do celular ecompacotesdedados limi- tados. Atualmente, um aces- sosignificativoàinternetestá menospresenteentreos ido- sos, indivíduosdebaixarenda edebaixaescolaridade,bem comoentremulheresnegras. A popularização, e quase universalização,dostelefones celularesésimultaneamente umaboaeumamánotícia.A pesquisarecentenocampoin- dica umacontribuição signi- ficativa do acesso à internet para a manutenção de pata- mares de renda entre popu- laçõesmais vulneráveis. Na crise econômica inicia- daem2015,amaiorresiliência frenteàpobrezaentreaqueles quepuderamfazerusodain- ternet ocorreu especialmen- tenarendadotrabalho,oque indicaqueaconexãopodeter impactorelevantenoacessoa fontesde renda, emummer- cado caracterizado por alta informalidade. Em períodos de crise eco- nômica,acombinaçãodeme- didas de estímulo à conecti- vidade, associadas a progra- mas de combate à pobreza e detransferênciaderenda,po- deserumatrilhapromissora. Por outro lado, quando o telefonecelularéoúnicodis- positivo para o acesso à rede (realidadevivenciadapor89% dosusuáriosdasclassesDeE, segundoapesquisaTICDomi- cíliosdoCGI.br), osusuários ficam impedidos de realizar atividadesmais sofisticadas, incluindo o preenchimento de formulários, a emissãode documentoseoutrastransa- ções eletrônicas. Na prática, embora o tele- fonecelularpermitaque tra- balhadores informais epres- tadores de serviço se conec- tem com clientes via aplica- tivos de mensagens instan- tâneas,essesusuáriospossu- emmenos recursos para um usoplenodas tecnologiasdi- gitais, o que é central emum debatepúblicomarcadopela desinformação. Apopularizaçãodocelulare dosaplicativosdemensagens no Brasil (o envio demensa- gensinstantâneaséatividade realizadapor93%dosusuári- os)contrastacomumainser- ção ainda tímida da internet nomundodotrabalho(36%) e para a realização de tran- sações financeiras (46%).Há muito a ser feito nessa área. Por essa razão, para que a conectividadesejasignificati- va parao aproveitamentode oportunidades online, é cru- cial verificar a frequência e a autonomia no uso da inter- net, pormeiodeumdisposi- tivoapropriadoedeumaco- nexãocomvelocidadeequan- tidade de dados suficientes. Semisso, a internet temefei- tolimitadonoacessodosmais pobresaprogramasdegover- noeoportunidadesdetraba- lho e renda. Assim, posicionar a inclu- são digital no centro da pro- dução das políticas de trans- ferência de renda e combate àpobrezapodeafetarpositi- vamenteosresultadosdetais estratégias,contribuindopa- ra romperumcicloperverso de manutenção ou mesmo dereforçodasdesigualdades. Nos últimos anos, propos- tas de subsídios específicos para custear a internet de beneficiários de programas sociais fizeram parte do de- batepúblico.Nocontextoda pandemia,propostas legisla- tivassobreotemavoltarama emergir(comoéocasodoPL 4.242/2020, apresentado no SenadoFederal). Comacrisesanitária,ode- bate foi ainda mais intenso nocampodaeducação, com a aprovação demedidas pa- raofornecimentodepacotes dedados edispositivos para professores e estudantes (é ocasoda lei 14.172/2021, que dispõe sobre a garantia de acesso à internet, comobje- tivos educacionais, a alunos e a professores da educação básica pública). No contexto atual, parece inevitável atribuir ao aces- soà internetomesmostatus de outros bens coletivos co- moenergia, água e esgoto. mpme a eeeDomingo, 18 DE DEzEmbro DE 2022 1 Comoplanejarasfinançasdaempresa paraenfrentarumcenáriode incertezas Fim do ano é tempo de rever metas e estudar opções de crédito para contornar inflação e juros altos Adobe Stock a eee -Andrea Vialli São Paulo Micro, pequenas e médias empresas devem se prepararparaum2023 instá- vel, comprojeções de cresci- mentomodestodoPIB (Pro- duto InternoBruto) e expec- tativadeinflaçãoelevada.Por isso, é imprescindível se pla- nejar aindaem2022, aconse- lhamespecialistas. Segundooúltimorelatório demercadoFocus, doBanco Central, o PIB deve crescer 0,75%em2023,enquantoaSe- licdevecairdosatuais 13,75% para 11,75%. A inflaçãomedi- dapeloIPCA(ÍndiceNacional dePreçosaoConsumidorAm- plo)deveserde5,08%,eUS$1 deve valer R$ 5,25. “Comumasituaçãomacroe- conômicadesafiadora,peque- nas empresas devem buscar proverparaaeconomiaregi- onal,ondeelasconseguemse diferenciar”,dizCibelePestil- lo, consultora do Sebrae. A tendência de queda da Selic traz oportunidades no acesso a crédito para as pe- quenas, já que o custo efeti- vo das operações tende a ser menor. Já o câmbio no pata- mar acima de R$ 5 favorece as exportações das indústri- asdepequenoemédioporte, alémdeserumabarreirapara aentradadeprodutos impor- tados, afirmaPestillo. De acordo como Sebrae, é importante que as pequenas empresasiniciemoanofazen- doseusinventárioseumages- tão dos estoques. “Os estoques são, ao mes- motempo,a forçaeafraque- zadessesnegócios.Afaltade gestão impacta o custo, por- que muitas vezes acabam fi- cando matérias-primas ou produtos acumulados”, afir- ma a consultora. Dezembroejaneirosãome- ses ideais para as empresas iniciaremoplanejamentodos orçamentos para o ano que começa. A orientação é que os empreendedores tracem três cenários: um otimista, um conservador e um pessi-