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Domingo, 18 DE DEzEmbro DE 2022
D E S D E 1 9 2 1 UM J O R NA L A S E RV I Ç O D O B R A S I L
ANO 102 ┆ Nº 34.227 R$ 9,00
ISSN 1414-5723
9 771414 572018
34227
copa 2022
Ensaio de acordo Saúde online
Sobreoarranjoparaman-
terasemendasderelator.
Acerca da lei que autori-
zaa telemedicinanoSUS.
editoriais A2
Lula soma entraves
políticos a 2 semanas
de voltar aoPlanalto
Presidente eleito precisa concluirmontagemda Esplanada
e garantir, no Congresso, recursos para promessas eleitorais
Faltandoduas semanaspa-
raaposse,opresidenteelei-
to, Luiz Inácio Lula da Silva
(PT),terádecorrerparacon-
cluir amontagemdogover-
noegarantir,noCongresso,
fontesderecursosparapro-
messas de campanha. En-
tre elas, a manutenção dos
R$600mensaisdoBolsaFa-
míliaeoreajustedomínimo.
O principal impasse é a
aprovação da PEC da Gas-
tança. As negociações pa-
tinam em meio a disputas
porministérios—serão 37,
disseontemofuturominis-
troRuiCosta (CasaCivil)—
eincertezassobreasemen-
dasderelator,sobanálisede
constitucionalidadeemjul-
gamentono Supremo.
Para consolidação da ba-
sealiada,opetistaterátam-
bémque acomodar emseu
ministério legendas como
MDB, PSDeUniãoBrasil.
Noentanto, eleaindanão
encerrouas conversas com
apoiadoresdeprimeiraho-
ra, como PC do B, PV e até
mesmo o PSB de seu vice,
GeraldoAlckmin. PolíticaA4
Rodrigo Garcia
entrevista
Deixei caixa para
Tarcísio, e petista
vai mal com gastos
Últimotucanodeumadi-
nastiadequase30anos,o
governadordizquedeixa
São Paulo com R$ 30 bi-
lhões para sucessor, Tar-
císio de Freitas (Republi-
canos), e que o presiden-
teeleitopromove“gastan-
çadesenfreada”. PolíticaA15
Croácia (3º) e
Marrocos (4º) vão
a novo patamar
P. 4
Colunistas da
Folha elegema
seleção do torneio
P. 6
Cobertura das eleições
pela Folha é aprovada por
83% de seus leitores A10
GustavoPontes, 17, trabalhaemtecelagememMiraestrela (sP); assimcomooutrosalunos,
elenão frequentaoensino integraldesuacidade—aúnicaopção—porqueprecisaajudarnas
contas de casa e, por isso, viajamais de40 kmpara estudar no período noturno Cotidiano B1
ensino integral empurraalunos paraonoturno
Mathilde Missioneiro/Folhapress
A. Schwartsman
Canto deHaddad
até agora não
seduziu ninguém
Nãoésurpresaqueomer-
cado não se encante com
aspromessasdofuturomi-
nistro.Nãobastaproferir
“novo arcabouço fiscal”
três vezes a cada discur-
so.Atos,nãopalavras,tra-
rãocontroledogasto, au-
sênciaatéagora. OpiniãoA3
Mbappé e companhia eMessi
maradoniano duelam pelo tri
EnquantoaFrançasuperadesfalquesecontacomainte-
ligênciadeGriezmanneobrilhodeMbappé,aArgentina
aposta no incansável De Paul e no inspiradoMessi para
a final daCopa. Em jogo, o tricampeonatomundial. P. 1
Antonio Prata
Festadeargentinos com ‘abuela’ na rua é
das coisasque fazemavida ter graça B2
Marilene Felinto
Literatura consiste
em inventar um
povo que falta C3
Marilene Felinto deixa de escrever
sua coluna na ‘Ilustríssima’
Venezuela demanda
umBrasil parceiro,
diz governoBiden
Umdosprincipaisformu-
ladoresdepolíticasparao
BrasilsobJoeBiden,Ricar-
doZúnigadizàFolhaque
aeleiçãodeuma“autorida-
delegítima”naVenezuela
édeinteressemútuoeque
éimportanteBrasíliaeWa-
shingtontrabalharemjun-
tos para isso. Lula anun-
ciou que reatará relações
comCaracas. MundoA16
KylianMbappé (à esq.), 23, e LionelMessi, 35, durante treino; artilheiros da Copa com 5 gols cada, astros são a esperança de França e argentina para a final Kirill Kudryavtsev/aFP e Paul Childs/reuters
dIsPuta dE 3º lugar FINal
Cro x Mar
2 1
arG x Fra
12h*, Globo
*Horário de Brasília
José H.Mariante
Folha, Janio
e a gastança
Colunistaérepórteroude-
veria sê-lo em espírito. A
Folhatemmuitos,eamai-
oria não é. Agora temum
amenos. JaniodeFreitas,
colunista e repórter sêni-
or deste jornal por exce-
lência,foidispensadoapós
42anosdecasa. PolíticaA6
Escritora Nélida
Piñonmorre aos
85 anos em Lisboa
Autora,cujacausadamor-
tenãofoi informada, foia
primeira mulher a presi-
dir a Academia Brasileira
deLetras (ABL), em 1996.
Premiada, a escritora era
um dos nomes mais in-
ternacionaisda literatura
brasileira. Ilustrada B4
nélida Piñon em junho
desteano eduardoanizelli/Folhapress
Morre em SP, aos
78, o jornalista
Carlos Brickmann
Internadodesdeoutubro,
o jornalista não resistiu a
quadro infeccioso. Em 59
anos de carreira, traba-
lhou na Folha por quase
30emtrêsperíodos.Foio
primeirorepórteracobrir
a campanha das Diretas
Já pelo jornal. CotidianoB4
a eee
opinião
A2 Domingo, 18 DE DEzEmbro DE 2022
UM JORNAL A S ERV I ÇO DO bRAS I L
a
Publicado desde 1921 – Propriedade da Empresa Folha daManhã S.A.
editoriais@grupofolha.com.br
editoriais
Ensaio de acordo
Saúde online
Em arranjo de última hora, vota-
do numa sexta-feira (16), dia em
geralvazioemBrasília,oCongres-
soaprovouresoluçãoquevisadar
sobrevidaaoinstitutodeemendas
definidaspelo relator-geral doOr-
çamento, ora sob julgamento do
SupremoTribunal Federal.
Taisemendascompartilhamde-
feitos de outras modalidades de
despesascriadasporparlamenta-
res,bancadasoucomissõesdoLe-
gislativo. Faltamcritérios dedefi-
niçãodeprioridadesecontrolede
eficiência do gasto. Nas emendas
de relator, há o agravante da falta
detransparênciaquantoàautoria
e acompanhamentoda execução
ComodisseaministraRosaWe-
ber,presidentedoSupremoTribu-
nal Federal, a experiênciamostra
que,emvezdedaraoscongressis-
tasaoportunidadedeatenderrei-
vindicaçõesmais urgentes da po-
pulação, emendasparlamentares
vêmservindoao“proveitodeinte-
ressesdecunhoprivatísticoeelei-
toral,muitasvezesenvolvendoes-
quemasde corrupção”.
Nocasosobjuízo, trata-sedesa-
berseasemendasderelatorestão
previstaspelaCartade1988(literal-
mente, não estão) e se atendema
princípiosdetransparência,publi-
cidadeeimpessoalidade.ParaRosa
Weber, não. A votação do caso foi
suspensanaquinta-feira(15),com
placarde5a4contraasemendas.
AindanãovotaramRicardoLewan-
dowski eGilmarMendes.
CasooSTFderrubeasemendas
de relator, podehaver embaraços
ou crises na relação entre Judici-
ário e Legislativo, além de trans-
tornos na tramitação de projetos
deinteressedoExecutivo,prestes
a mudar de comando. Há sinais,
porém, de acordo implícito entre
partedoSupremoe liderançasdo
Congresso, doPT inclusive.
Ministros aceitariam as emen-
das de relator, desde que obede-
çam a certos critérios, em parti-
cular o de transparência. Lewan-
dowskidisseque levaráemconsi-
deraçãoaresoluçãodoLegislativo.
A nova norma exige, em tese, a
nomeaçãodosparlamentaresque
requereremasemendas,destinano
mínimo50%deseuvalorparasaú-
deouassistência, limitaadespesa
a 1,2%dareceitacorrentelíquidae
especificaadivisãodosquinhões.
Ficadefinidoquanto cabe àsdi-
reçõesdeSenadoeCâmara,aban-
cadaspartidárias, aorelator-geral
e aopresidente daComissãoMis-
tadeOrçamento.Assim,oacordo
de cúpula ficamais claro.
Essepodeserumarranjoconve-
niente para amaioria do STF, pa-
ra o situacionismo do Congresso
e para o governo Luiz Inácio Lula
daSilva (PT),queassimse livraria
dosestilhaçosdeumacrisecausa-
da pelo fimdas emendas.
Aconveniênciapolíticapodefa-
larmaisalto,oquenestemomen-
to parece menos danoso do que
umimpasseentreostrêsPoderes.
ACâmaradosDeputadosaprovou,
na última terça-feira (13), o proje-
to de lei que autoriza a telemedi-
cina. A prática se caracteriza pela
relaçãoadistânciaentremédicoe
paciente pormeio de tecnologias
de comunicação como celulares,
tablets e computadores.
Não somente consultas sãoper-
mitidasmasatéprocedimentosci-
rúrgicosremotos,comautilização
de equipamento robótico.
Amedidaénecessáriae insereo
Brasil na longa lista de países que
já fazemusoregulardamodalida-
de, como Israel, EUA, Reino Uni-
do,Noruega, Colômbia e outros.
DuranteapandemiadeCovid-19,
ficoupatenteanecessidadedeefe-
tivaratelemedicina,oquelevoude-
putadosaaprovaremaLei 13.989,
de 2020, que autorizou a prática
emcaráter de urgência.
Porsetratardedoençaaltamen-
tecontagiosa,diagnósticose tria-
gensadistânciacontribuírampa-
radesafogarhospitaiseminimizar
apropagaçãodovírus—utilidade
aindaverificadanotratamentode
outras enfermidades infecciosas.
Ademais,oprocessodetriagem
remotaé fundamental numsiste-mapúblicodesaúdecarentedeins-
talações,profissionaiseverbas.Se-
lecionarpacientesquedefatopre-
cisemdoaparatomaterialdoSUS
proporciona otimização da pres-
tação de serviços e alocação raci-
onal de recursos escassos.
Tratando-se deumpaís comdi-
mensões continentais, a teleme-
dicina também pode auxiliar no
atendimento de populações em
áreas rurais e ribeirinhas —regi-
ões com falta de médicos, enfer-
meiros eequipamentosde saúde.
Segundo levantamento da Fun-
daçãoGetulioVargas,em2019ha-
via no país 230milhões de smart-
phones (numuniversode209mi-
lhõesdehabitantes).Épreciso,po-
rém, melhorar a qualidade da re-
de (wi-fi,4G,5G)paraquepacien-
tesemzonasremotasconsigamse
beneficiardamedicinaadistância.
A regulamentação e a fiscaliza-
ção ficarão a cargo dos conselhos
regionais e federal de medicina,
quedevemzelarpelaproteçãode
pacientesepelaéticaprofissional.
Universidades e outros órgãos de
saúdetambémprecisampromover
capacitaçãodemédicosparaessa
modalidadede trabalho.
Porfim,atelemedicinanãopode
ser usada como subterfúgio para
queopoderpúblicodeixedepro-
movermelhorias no SUS. Apráti-
ca é apenasmais uma alternativa
noatendimentoqueoEstadotem
odever constitucional deprestar,
comeficiência, à população.
Congresso e STF insinuam arranjo para emendas
de relator, o que deve ser favorável para Lula
Serumademocraciaécondiçãone-
cessáriamasinsuficienteparaasse-
gurar o primado das liberdades ci-
vis e o florescimento da investiga-
ção científica. Uma boa prova dis-
so está em “Salvador Luria”, a nova
biografiadessegrandecientistaes-
crita porRena Selya.
AvidadeLuria(1912-1991),quere-
cebeuoNobel deMedicinade 1969
por suas pesquisas em virologia,
daria umfilme. Judeu italiano, teve
deabandonaropaísnatal em 1938,
quandoMussolinieditouasprimei-
ras leis antissemitas. Refugiou-se
em Paris, de onde teve de fugir em
1940, apósa invasãopelosnazistas.
Fê-lodebicicleta, pedalandodaca-
pital francesa até Marselha, onde
tevedeconseguirumvistodesaída
francêsevistosdetrânsitoespanhol
eportuguês,naesperançadeobter
emLisboaumapermissãoparavia-
jaraosEUA.ChegouaNovaYorkem
12desetembrode 1940, comUS$52
nobolso umterno.
Joveme ainda sem renome cien-
tífico, penou para conseguir em-
prego nos EUA, mas foi aos pou-
cos construindo sua reputação.
Em 1950, obteve a cidadania ame-
ricana. Até pela história de perse-
guição, era absolutamente leal aos
EUA, mas não era assim que o go-
vernoamericanoovia.Luria, além
de cientista, foi um incansávelmi-
litante político e abraçou todas as
causas progressistas imagináveis,
dosdireitoscivis, aodesarmamen-
tonuclear,passandopelaoposição
à Guerra do Vietnã.
Essas posições não apenas o co-
locaram sob vigilância do FBI,mas
tambémfizeramcomque, durante
algum tempo, ele figurasse na lista
negra do NIH, a agência federal de
pesquisas em saúde. Nada disso, é
claro, fez Luria desistir, nem da ci-
êncianemdapolítica.Apesardeser
ummilitante,Lurianãoeraum“mi-
litonto”.Assimpatiasdasesquerdas
pelaURSSnofinaldosanos1940,que
incluíamospensamentosdeTrofim
Lysenkosobreabiologia, nãoo im-
pediramde liderar uma campanha
para mostrar os enormes erros ci-
entíficos dessas ideias.
helio@uol.com.br
OSolcompareceu.Bomdiaparato-
das as pessoas, as que menstruam
e as que nãomenstruam. Comprei
umpãoqueachoqueeradeontem,
piseinalamalimpa,uminíciodese-
mana de sorte. Peguei a van no en-
gano, era a pé que eu ia voltar,mas
o braço subiu e a mão fez a danci-
nha de pedir pra parar. Quando eu
era pequena achava que tinha que
fazerumdoiscomosdedosparaba-
lançar amãopromotorista.
Agora me pergunte pra onde es-
tou indo? Não sei. Vou comendo o
pãodormido,ouvindoasconversas
eformandoopiniõesnaminhamen-
te.Amoçadoladofoipegarummar-
teloemprestadonacasadopai, pe-
diu umsacolé demercadopara ser
mais discreta na rua, jogoudentro,
mas saiu segurando como se segu-
ra ummartelo. Disfarçar é mesmo
umacoisadifícil.Oratoengoliuuma
aliança deixada no sereno por pro-
messaemorreu.Issofoinapraia,do
lado do brinquedo que as crianças
chamamdedesafio, conta o passa-
geirodobancodetrás.Minhacasa!
Vai descer,motorista!
Ageladeira todaenfeitesde ímãs,
demasiado,vamosdiminuir.Aideia
énãopegarcelularagora,sódepois
daprimeiratarefacumprida,émui-
tocedoparaomundointeiroentrar
naminhacabeça,masnãocumpro.
Pensodenovonamenstruação,von-
tade de fazer uma plaquinha para
botar na sala, ensaio as possibili-
dades em voz alta: “Nenhum dire-
to básico conquistado derruba ou-
tro”. “Não precisa ser cor-de-rosa,
nem você, mulher, nem o pacote”.
Minha amiga passa de toalha e diz:
eu nãomenstruo, então não posso
mais dizer que soumulher?
Amiga,vocêpode,vocêé,ninguém
tádizendoo contrário.
“Sevocêémulheremenstruavo-
cê está entre aspessoasquemens-
truame, ninguémduvida, você se-
gue sendomulher,mulher!” (ficou
muitogrande,nãofuncionaprapla-
ca). Mudo de assunto, emito mais
opiniões só na minha mente, que
nem na van de meia hora atrás, o
leite esborra na fervura, me lem-
brando da lama limpa e que essa
semana é de sorte.
CreedTaylor,umprodutorfonográ-
fico americano, morreu há pouco
nosEUAe, desde então, esperei ler
umartigosobreessacategoriapro-
fissional quase invisível, semaqual
os discos que amamosnão existiri-
am. Espero ainda. Para as massas,
quemdecidefazerumdisco,escolhe
asmúsicas e grava é o cantor, não?
Masnãoéassim.Notempoemque
osdiscosdominavamaTerra,eram
osprodutoresquedescobriam,ori-
entavameaté definiamos artistas.
Da cabeça e do coração de Creed
Taylor saíram os melhores LPs de
bossa nova nos EUA, como “Getz/
Gilberto” e três grandes discos de
Tom Jobim: “The Composer of De-
safinadoPlays”, “Wave”e“StoneFlo-
wer”. Quer mais? Goddard Lieber-
son,produtordaColumbia/CBS,foi
o primeiro a gravar os musicais da
Broadwaycomoselencosoriginais
e, sobele, em 1948, aColumbia lan-
çounadamenosqueopróprioLP.E
quem,durante40anos, tambémna
Columbia,descobriuemoldouBen-
nyGoodman,CountBasie,HarryJa-
mes,BillieHoliday,ArethaFranklin,
PeteSeeger,BobDylaneBruceSprin-
gsteen?O incrível JohnHammond.
Quemproduziuosfamosossong-
booksdecompositoresamericanos
estrelando,entreoutros,EllaFitzge-
rald?NormanGranz,naVerve.Quem
lançouopessoaldorhythmandblu-
es,começandoporRayCharles?Ne-
suhiErtegun,naAtlantic.Quemfez
daMotownoberço da soulmusic?
BerryGordi Jr. E qual produtor dos
Beatleschegouaserchamadode“o
5º Beatle”?GeorgeMartin.
NoBrasil,AloysiodeOliveira,Ro-
berto Quartin e Armando Pittiglia-
ni foram produtores essenciais da
bossa nova —e Pittigliani lançou
SergioMendes, Jorge Ben Jor e Elis
Regina, que tal?
Equemdiriaque,comoprodutor
nananicaContinentaldosanos1940
e 1950, JoãodeBarro,Braguinha,si-
nônimo do Carnaval carioca, lan-
çou tanta gente boa? Alguns: Dick
Farney, Lucio Alves, Doris Montei-
ro, Nora Ney, TitoMadi, Jamelão e,
veja só, Tom Jobim.
Refugiado, cientista emilitante
Vai descer
Homens invisíveis
-
Hélio Schwartsman
-
Karina Buhr
-
Ruy Castro
“Desgraceira” era o jeito ser-
tanejo de qualificar desastres
como seca inclemente ou en-
chente que arruinava casas e
colheitas. Foi a expressãoque
Lulausouparaolegadofunes-
to dos quatro anos de desgo-
verno federal. Melhor não há
para sintetizar o diagnóstico
daequipedetransiçãosobrea
tentativadedestruiçãodoEs-
tado:descontroleorçamentá-
rioeapagãosistemáticodamá-
quina administrativa.
Aos olhos de todos, o des-
monte vislumbrado no meio
ambiente, segurança pública,
educação,saúdeeculturanão
deixaqualquerdúvidaquanto
àquedadaspontes institucio-
naisentreoaparatoestatalea
sociedade civil. Algo como se
deparar com um edifício em
escombros após um tremor
de terra, encarar demandas
e tarefas a serem atendidas,
mas ter de levar em conta os
miasmas ou a exalação pútri-
da das ruínas.
Esseaspectodeexalaçãotal-
vez escape à busca de solução
imediata dos problemas pela
equipe de transição, mas é al-
go presente na atividade soci-
al, aquela que mais espelha a
realidade dos fatos. Maior do
que a político-administrativa,
elaimplicaassimilarementali-
zaravida,tantorealcomoima-
ginária, para recolocardepéo
cidadãofrenteaodesequilíbrio
social. Issofoipostoemperigo
pelaapropriaçãoneofascistadapolítica,acomeçarpelacorrup-
çãododiálogo eda linguagem
pública,emquenostalgiasrea-
cionáriasseconjugampelogro-
tescoescatológico.
O cheiro de ferro e plástico
queimadoconsequenteaoter-
rorismonegacionistanasruas
de Brasília é só um sinal, mas
grave, da emanação miasmá-
tica das ruínas. Tudo obriga a
indagar como se chegou a is-
so, como foi possível se assis-
tirpassivamenteaoataquedes-
trutivo contra o edifício insti-
tucional.Foicoisadeliberada.
Tantoque, logoalteradapelas
urnas a liderança política, as
elites caladasporquatroanos
horripilantes mostram-se su-
bitamente ativas em cobran-
çasquantoaorostodonovogo-
verno. Nada estranho ao jogo
da democracia, desde que es-
sa“atividade”esteja igualmen-
tealertaparaosfumosantide-
mocráticos remanescentes.
Já nem tanto impressiona o
fatodequemilhõesdepessoas
tenhamcompartilhadoohor-
ror,edelasumnúmeroexpres-
sivo, de umamaneira entre o
trêfego e o febril. É que cida-
dania democrática depende
de uma educação não limita-
daaritoseleitorais,nemsatis-
feitaporpopulismosàesquer-
da ou àdireita.
Emmeioàsmutaçõesdecisi-
vas de comportamentos e va-
lores, acontece cavar-se o vá-
cuo dos modelos políticos e,
mesmo, dos padrões consen-
suaisdedignidade.Issosepas-
sou entre nós. Daí o desastre
que agora se contempla: uma
desgraceira, com o persisten-
temau cheiro de umamemó-
ria intolerável.
A exalação
das ruínas
-
Muniz Sodré
Professor emérito da UFrJ, autor,
entre outros, de “A Sociedade incivil” e
“Pensar nagô”. Escreve aos domingos
Jean Galvão
Telemedicina traz benefícios, mas não exime o
poder público de implementar melhorias no SUS
PUBLISHER Luiz Frias
DIREtoR DE REDação Sérgio Dávila
SUPERIntEnDEntES Carlos Ponce de Leon e Judith Brito
ConSELHo EDItoRIaL Fernanda Diamant, Hélio Schwartsman,
Joel Pinheiro da Fonseca, José Vicente, Luiza Helena Trajano,
Patricia Blanco, Patrícia Campos Mello, Persio Arida, Ronaldo Lemos,
Thiago Amparo, Luiz Frias e Sérgio Dávila (secretário)
DIREtoR DE oPInIão Gustavo Patu
DIREtoRIa-ExECUtIva Anderson Demian (mercado leitor e estratégias digitais),
Antonio Cavalcanti Junior (financeiro, planejamento e novos negócios),
Everton Fonseca (tecnologia) e Marcelo Benez (comercial)
Banca do Antfer
Telegram: https://t.me/bancadoantfer
Issuhub: https://issuhub.com/user/book/1712
Issuhub: https://issuhub.com/user/book/41484
a eee
opinião
Domingo, 18 DE DEzEmbro DE 2022 A3
Sofri continuamente assédiomo-
ral no trabalho e frequentemen-
temeafastopordepressão,ansie-
dade, transtorno do estresse pós-
traumáuticoetc.Comoelesperce-
beramquesemprequesofroassé-
diomoral,acabomeafastando,re-
solveram armar um falso proces-
soadministrativoparamedemiti-
rem.Oscolegastratamasdoenças
psíquicascomofrescuraesãocom-
pletamentenegacionistas.
André Luís Lima de Paula, 43,
bancário (Campinas, SP)
*
Estoucomburnoutháalgumtem-
po,seguidodeinsôniaealgumasdo-
resdecabeça.Comenteiissonotra-
balho. Um colega riu quando falei
que buscaria psiquiatra por causa
disso.Memantive relatandooque
sentiamesmo coma risada. No fi-
naldodia,eleveiopedirdesculpas.
Deupara ver que era simplesmen-
teignorânciajáque,emseucontex-
to,oqueeuvivonãoseriasuficien-
teparaficarmal.
Pedro Gustavo Silva Ribeiro, 36,
servidor federal (Uberlândia, mg)
*
Relatei ao dentista que estou to-
mandomedicamentoparadepres-
sãoeeledissequeissoéalgodami-
nha cabeça e que eu preciso que-
rer paramelhorar.
Ana Beatriz da Silva Santos,
24, estudante (natal, rn)
*
Eumesmasofriporfazertratamen-
to psiquiátrico. Olhares e comen-
tários maldosos. Na minha área,
buscarajudaésertachadacomoa
professoraquenãodeuconta.Há
umadiscriminaçãomuitogrande.
Diana Santos, 40, professora
(Ji-Paraná, ro)
*
Sim. Já ouvi comentários fazendo
piadas pejorativas relacionadas a
indivíduos que possuem doenças
mentais, alémda tentativa demi-
nimizar a seriedadedas doenças.
Maria Alice Lemos, 22,
estudante (natal, rn)
Presenciei uma chefe imitando
uma secretária que tinha crises
de estresse. Emoutras situações,
ela riu e imitou outras profissio-
nais que demonstravam nervo-
sismo. As outras pessoas sempre
riam. Eu sentia nojo misturado
com raiva.
Daniela Augusta Ferraz, 36,
professora (São Paulo, SP)
*
Sim.SoupacientedaRededeAten-
ção Psicossocial (RAPS) e conhe-
ço pessoas que são estigmatiza-
da e rotuladas como “seres” que a
qualquerinstantepodem“surtar”.
Etenhoamigosartistassoborien-
taçãodaneuropsicopedagogiaque
nãotêmamesmaacolhidaemati-
vidades,exposições, feirasdearte-
sanato etc.
Antônio Carlos Ferreira da Silva, 51,
professor (Delmiro gouveia, AL)
*
Sim, por meus próprios pais.
Quando entrei na faculdade de
medicina, por conta da rotina
exaustiva e provas, desenvolvi
ansiedade, pedi aminhamãe pa-
rame consultar compsiquiatra e
ela disse que isso era besteira
minha, que eu tinha tudo que
precisava. Conversei com meus
professores e psiquiatria, mar-
quei a consulta e hoje me sinto
muitomelhor.
João Augusto Gonçalves Macêdo, 23,
estudante (Campina grande, Pb)
*
Sim. Sofro de transtorno bipolar
leve e as pessoas sempreme cha-
maramdedoido.
Franklin Maia Scarton, 75 (Vitória, ES)
*
Em um conselho de classe de
uma escola, ouvi de um profes-
sor que um determinado aluno
era doente mental, que ele não
era normal. O aluno em ques-
tão tem diagnóstico de TDAH
(Transtornododéficitdeatenção
comhiperatividade).
Adriana Negretti, 51,
professora (Campinas, SP)
PAINELDO LEITOR
folha.com/paineldoleitor leitor@grupofolha.com.br
Cartas para al. barão de Limeira, 425, São Paulo, CEP 01202-900. A Folha se reserva o
direito de publicar trechos das mensagens. informe seu nome completo e endereço
ASSUNTO VOcê jápreSeNciOUAlgUmcASOde
diScrimiNAçãOrelAciONAdOàSAúdemeNTAl?
Arroz e feijão
A agricultura está trocando o tra-
dicional “arroz+ feijão”, básicosna
culturaalimentardopovobrasilei-
ro pela dupla “soja +milho” , basi-
camente usados em ração de pro-
teína animal. Hámais de 40 anos,
quando alunodaUFPR e estudan-
doosnovosrumosdaeconomia,eu
jáalertavaparaosurgimentodadi-
tadura da soja (“Arroz e feijão per-
demespaçonaslavourasparagrãos
usadosemração”,Mercado, 17/12).
Marcos Fernando Dauner (Joinville, SC)
Cafona
“Jantarcomcelebridadeseummar
decocô”(MarcosNogueira,16/12).
AdmitoquetodavezquevejooPa-
ris 6 citado como exemplo bizar-
ro da cafonice brega endinheira-
da, me sinto menos sozinha nes-
se mundo! Achei bem pertinente
aconexãodessetipoderestauran-
te comaestupidezdo “Balneário”
Camboriú.Nuvemnãodefeca, es-
ses somosnós, eachamosquede-
poisbastaficarolhandoopanora-
ma pela sacada do 51º andar que
vai dar tudo certo.
Amanda Lorien Freire
Visani (São Paulo, SP)
Boas-festas
AFolhaagradeceeretribuiosvo-
tos de boas-festas recebidos de
Pierpaolo Bottini e Igor Tama-
sauskas, da Bottini & Tamasaus-
kas Advogados.
Perdão
“Toffolipede‘perdão’aLulaporve-
tar ida ao velório do irmão quan-
do ele estava preso” (Mônica Ber-
gamo,16/12).Omáximoquesepo-
defazerérelevar.Nomais,essepe-
didodeperdão veio tão tardeque
mais parece oportunismo.
Luciana Conti (rio de Janeiro, rJ)
Dívida
“MargarethMenezeséacusadade
devermaisdeR$ 1milhãoacofres
públicos” (Ilustrada, 16/12). Acho
que o Lula deveria rever essa in-
dicação. Um partido que deixou
opodercomumlastrodecorrup-
çãonãodeveria iniciarumagestão
indicandoumapessoadesse jeito.
Filomena Silva (muriaé, mg)
Copa2022 (17.dez.,pág. 5) Acoluna
“OqueafinalensinaaoBrasil”afir-
mavaincorretamentequesóoBra-
sil conquistou duas Copas em se-
quência.A Itália tambémrealizou
esse feito em 1934 e 1938.
mundo (17.dez., pág.5) O infográ-
fico “Veja como era o aquário que
explodiu na Alemanha” afirmava
incorretamente que 1 milhão de
litros de água pesam uma tonela-
da.Opesocorretoémiltoneladas.
306
321
458
Temasmais comentados pelos leitores no site
De 9 a 16.dez - Total de comentários: 17.095
Bolsonaristas tentam invadir PF e vandalizam após prisão
de indígena por ordem deMoraes (Política) 12.dez
Moraes manda, e PF faz buscas contra mais de 80
bolsonaristas por atos antidemocráticos (Política) 15.dez
Lula quer alardear ‘cenário caótico’ para evitar cobrança
por erros de Bolsonaro(Política) 10.dez
Neste domingo (18), a Organização
dasNaçõesUnidascelebraoDiaIn-
ternacionaldosMigrantes,efeméri-
denoqualserefleteassituaçõesno
âmbito dos fluxosmigratórios glo-
bais.Adatareferendadanoano2000
fazalusãoaoaniversáriodedezanos
(1990)daConvençãoInternacional
paraProteçãodosDireitosdeTodos
os Trabalhadores Migrantes e dos
Membros das suas Famílias.
Considerando o futuro governo
LuizInácioLuladaSilva(PT),oolhar
atento para com a temáticamigra-
tória nas diversas pastas se faz ne-
cessário.Mesmocomoadventoda
LeideMigração, em 2017, que reco-
nheceimigrantesenquantosujeitos
de direitos, há dificuldades na apli-
cação. Estima-se que no Brasil há
mais de 1milhão de imigrantes de
diversasnacionalidadesque, inclu-
sive,contribuemcomopagamento
de impostos. Há os que possuem a
sua documentação e os que estão
em situação irregular, com as difi-
culdades no pagamento das taxas
cobradaspeloEstadobrasileiro,co-
moporexemploaobtençãodaCar-
teiradeRegistroNacionalMigrató-
rio—ao custo deR$ 204,77.
Nas décadas anteriores, a pauta
da anistia aos imigrantes em situa-
ção irregular foi sancionada, sendo
aúltimanogovernoLula, em 2009.
Háprojetosde lei que tramitamno
CongressoNacionalqueversamso-
bre a anistia (7.876/2017) e a regu-
larização migratória (2.699/2020),
propostasfundamentaisparaacon-
solidaçãodosdireitosdos imigran-
tes,poisterdocumentospossibilita
oacessoaosdireitosdeformaquea
exploraçãolaboralsejacoibida.Nos
faz lembrar do assassinato do con-
golêsMoïse Kabagambe,morto no
RiodeJaneiro,nesteano,porreivin-
dicaroseusalário, vítimadaexplo-
ração no trabalho, do racismo e da
xenofobia—elementosestruturan-
tes da sociedadebrasileira.
As políticas migratórias devem
considerar a transversalidade em
diversas pautas: a feminização das
migrações; os imigrantes LGBT-
QIA+; o enfrentamento ao racismo
eaxenofobia;osquevivemnospré-
dios ocupados; os povos originári-
os imigrantes; a subnotificaçãonas
políticaspúblicas;asaltas taxaspa-
raaconcessãodosvistosparaosci-
dadãos dos países do Sul Global; a
proposta de emenda constitucio-
nal que trata do direito ao voto pa-
ra imigrantesnopaís, lema, inclusi-
ve, da 14ª Marcha das Pessoas Imi-
grantes e Refugiadas realizada em
SãoPaulo neste ano; a questão dos
imigrantes inadmitidos que ficam
retidos arbitrariamente em aero-
portos brasileiros, deportação etc.
É necessário que o novo governo
fomente espaços de diálogo com
a sociedade civil, reconhecendo a
multiplicidade dos atores existen-
tesqueatuamcomasmigraçõesno
país: associações, ONGs, coletivos
e movimentos sociais, em especi-
al aquelesquesãoconstituídospor
mulheres e homens imigrantes ou
emsituaçãoderefúgio,quehádéca-
dase,particularmente,nasadversi-
dadesdas situaçõesprovocadasno
contexto da pandemia de Covid-19
(queresultounamortede imigran-
tes infectados), protagonizammo-
bilizações sociais ea incidênciapo-
lítica a favor dos seus pares para a
consolidação da democracia e dos
direitos humanosnoBrasil.
Uma das frases favoritas de Fábio
Barbosa,meuex-chefe,é:“Suasações
falamtãoaltoquenãoconsigoescu-
tar oque você estádizendo”.
Andeirefletindoumbocadoares-
peitodelaàluzdedeclaraçõesdofu-
turoministrodaFazenda,Fernando
Haddad.Ementrevistarecente,afir-
mou: “Nãoestamosnummomento
emque a expansãofiscal vai ajudar
a economia”. Na mesma linha, re-
forçou: “Temos que compatibilizar
a responsabilidadefiscal coma res-
ponsabilidade social”.
Ambas as afirmações deveriam
soar como música ao mercado fi-
nanceiro, aparentemente o públi-
co a que foram direcionadas. En-
tretanto,quandoobservamosode-
sempenhodomercadoderendafi-
xa, por suas características omais
sensível à política econômica do-
méstica, e também o mais impor-
tanteparaatrajetória futuradoen-
dividamentopúblico,ninguémpa-
receparticularmenteseduzidope-
lo canto doministro.
Nem deveria. As ações do futuro
governo,principalmentenoquediz
respeitoàpolíticafiscal,estãoemdi-
retacontradiçãocomaletradacan-
ção.Nas contasdeanalistas respei-
táveis comoMarcos Mendes, colu-
nistadestaFolha,oaumentodegas-
tos relativamente ao orçadopara o
ano que vempode atingir perto de
R$200bilhões—cercade2%doPIB.
Àparteogastoassociadoaoauxílio
emergencial eaoutrasmedidasdu-
ranteapandemia,trata-sedomaior
aumentodedespesas emumúnico
ano desde que conseguimos acom-
panharascontasdogovernofederal.
E isso numcontexto de IPCA ainda
acimadameta, coma inflação sub-
jacente correndo entre 8,5% e 9%
ao ano; atuando, portanto, no sen-
tidoopostodaqueleperseguidope-
lo Banco Central. Enquanto este se
esforça para reduzir o ritmo de ex-
pansãodademanda, a proposta do
novogovernobusca acelerá-lo.
Defato,sabe-sequeamanutenção
do Auxílio Brasil (agora rebatizado
novoBolsaFamília)nosatuaispata-
mares,aindavitaminadopelainclu-
sãodoadicionalporcriançasatéseis
anos de idade, implicaria gastos da
ordem de R$ 70 bilhões adicionais
aos já orçados. A que se destinam
osdemaisR$ 130bilhões?
Apesar da fantasia de queo gasto
federal,medidocomoproporçãodo
PIB,semanteriaestávelemcompa-
raçãoaoobservadoem2022, supos-
tamenteneutro (ênfase em“supos-
tamente”),portanto,éfatoque,mes-
mo sob essa ótica favorável, se ele-
varia enãopouco.
Asfalasdoministro,portanto,não
escondem a predileção da política
econômica:mais gastos. E não está
sozinhonisso: o indicadopara a se-
cretariaexecutivadoministério,Ga-
brielGalípolo, jamais escondeu sua
inclinaçãopela intervençãoestatal,
sejasobaformadegastopúblico,se-
japelainterferêncianasrelaçõeseco-
nômicas. Emsua tesedemestrado,
por exemplo, afirmava que a supe-
ração do atraso brasileiro só pode-
riaresultar“damediaçãodoEstado
naorganizaçãodoprocessoproduti-
vo”.EmartigocometidonestaFolha
(“Númerosvãoàsruascontratortu-
ra de colunista”, 21/11/15), tendo co-
mo cúmplice Luiz Gonzaga Belluz-
zo,conseguiuaproezadesomardois
déficits eobterumsuperávit.
Deformacongruente,temosano-
meaçãodoex-senadoreex-ministro
AloizioMercadanteparaoBNDES.
Ohistóricodos governospetistas
nagestãodobancojánãoépositivo,
marcadopelaconcessãodegenero-
sos subsídios creditícios —sabe-se
lá por quais critérios— a “campe-
ões nacionais”, como a notória JBS,
além do uso da instituição para es-
timularademanda,achamada“po-
líticaparafiscal”—mecanismoque,
entreoutrascoisas,reduziaopoder
dapolíticamonetária.
Nessecontexto, énomínimopre-
ocupantequeMercadantetenhare-
clamadodaatualtaxareferencialdo
banco,aTaxadeLongoPrazo(TLP),
dandoaentenderquedefendeore-
torno a uma sistemática similar à
existentenaqueleperíodo.
Não é surpresa, portanto, que o
mercado financeiro não se encan-
tepelaspromessasdeHaddad.Não
bastaproferir“novoarcabouçofiscal”
três vezes a cada discurso na espe-
rançadequeissoconvençaosagen-
tes econômicos da seriedade de in-
tenções. Atos, nãopalavras, sãone-
cessários,emparticularmedidasque
defatotrarãoonecessáriocontrole
dogasto,ausêncianotávelatéagora.
Ocanto deHaddad
Pela participação social
e política dosmigrantes
TENDêNcIAs/DEBATEs
folha.com/tendencias debates@grupofolha.com.br
os artigos publicados com assinatura não traduzem a opinião do jornal. Sua publicação obedece ao propósito de estimular
o debate dos problemas brasileiros emundiais e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo
-
Alexandre Schwartsman
Doutor em economia (Universidade da Califórnia, berkeley), é ex-diretor do banco Central
-
Alex André Vargem e Patricia Prudencio Torrez
Sociólogo, é assessor da Comissão de Direitos Humanos, migrantes e Combate à Xenofobia do
Conselho Estadual de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana (Condepe) de São Paulo
Advogada boliviana, é membra da rede de mulheres imigrantes,
Lésbicas, bissexuais e Pansexuais (rede milbi)
Fido Nesti
Futuro governo deve fomentar espaços de diálogo
ninguém parece seduzido pelo futuro ministro
a eee
política
A4 Domingo, 18 DE DEzEmbro DE 2022
comDanielle Brant e Italo Nogueira
OgovernodetransiçãodeLula(PT)avaliaestratégiapa-
ra fazercomqueoSistemaS(Senai,Sesc,Sesi,Sebrae)
alinhesuaatuaçãoaumplanonacionaldeformaçãode
trabalhadores. Ameta foi tratada no grupode discus-
sãosobretrabalhoeprevidênciacriadopelopresiden-teeleitoedeverásertocadaporLuizMarinho(PT), fu-
turoministro doTrabalho.O atual orçamentodapas-
tadestinaR$23milhõesà formaçãoprofissional.Aar-
recadaçãodoSistemaSchegaaR$30bilhõesporano.
Sinergia
plano Aideiaéintegraresco-
las técnicas, universidades e
asentidadesdoSistemaSem
uma estratégia unificada de
formação profissional, asso-
ciada aos objetivos nacionais
dedesenvolvimentoeconômi-
co definidos pelo governo fe-
deral. Caso um dos objetivos
sejaapostaremenergiareno-
vável,porexemplo,asinstitu-
ições seriamchamadasaofe-
recer cursosnaárea.
voz Líderes sindicais tam-
bém têmapresentado a Lula
opleitodeaumentararepre-
sentatividade dos trabalha-
dores noSistemaS, para que
eles participem da definição
dasestratégiasdasentidades,
especialmentenaáreadefor-
maçãoprofissional.
histórico A medida pode
enfrentar resistência. O atual
ministrodaEconomia,Paulo
Guedes,foipressionadopordi-
rigentesdasentidadesapóssu-
gerircortesnosimpostosque
sustentam o Sistema S. Uma
das ideias era adeusá-los pa-
ra criar bolsas para qualifica-
çãode jovensdebaixa renda.
gangorra Após ensaiar mo-
vimentos de saída da reclu-
sãoemquemergulhoudesde
aderrotaparaLula,JairBolso-
naro(PL)afundounovamente
na tristeza com a proximida-
dedesuasaídadospaláciosda
AlvoradaedoPlanalto,dizem
aliadosqueestiveramcomele
nosúltimosdias.Elesafirmam
queBolsonarotemplanejado
se afastar da política nos três
primeirosmesesde2023.
distração Segundorelatam,
opresidenteconseguiuseani-
maremalmoçocomTarcísio
deFreitas(Republicanos-SP)
no domingo (11). Eles dizem
queafrasedogovernadorelei-
to de que nunca foi bolsona-
ristaraiznãofoiabordadano
encontro e que o presidente
nãoaviucomoproblemática.
ok OpresidentedoSindicato
dos Servidores do Itamaraty,
JoãoMelo,afirmanãosepreo-
cuparcomostermosdodepo-
imentodofuturoministrodas
RelaçõesExteriores,MauroVi-
eira, no processo que levou à
suspensãodoembaixadorJo-
ãoCarlosdeSouza-Gomespor
assédiomoral e sexual.
histórico Como mostrou o
Painel, Vieira defendeu Sou-
za-Gomesenfaticamente. Se-
gundoMelo,foinagestãopas-
sadadeVieira(2015-2016)que
seiniciouodiálogoparacom-
bateaosabusosnoministério.
juntos OPSOLdecidiuneste
sábado (17) queapoiaráogo-
verno Lula e que seus parla-
mentares vão compor a base
de sustentação do presiden-
te eleito noCongresso. Essas
posições eram apoiadas pela
aladodeputadofederaleleito
GuilhermeBoulos(SP).Outro
grupo, liderado pela deputa-
dafederalreeleitaSâmiaBom-
fim(PSOL),defendiaposição
de independência.
autonomia Aresoluçãoesco-
lhidaemeleiçãointernatam-
bémdizqueoPSOLnão terá
cargosnogoverno.Seaceita-
rempostos,osfiliadosnãopo-
derão falaremnomedasigla
e terão de deixar funções de
direçãona legenda.
projeto “Umadecisãomadu-
radopartido.Venceuaposição
de compor abasedeLulapa-
rapodercontribuirnaderrota
dobolsonarismoenarecons-
truçãodoBrasil”, dizBoulos.
parceria... A disputa entre
deputadosdoRiopeloMinis-
tériodoTurismouniuogover-
nadorCláudioCastro(PL)ao
prefeitoEduardoPaes(PSD).
...estratégica Interlocuto-
res de Castro comunicaram
aLulaoapoio dogovernador
aPedroPaulo(PSD-RJ).Ono-
medodeputado,braço-direi-
todePaes,foireferendadope-
labancadadaCâmaradoPSD.
barreira Apasta eraalmeja-
dapelodeputadoMarceloFrei-
xo(PSB),quetemperdidotra-
ção na disputa. Paes e Castro
se unem, nesse caso, para li-
mitaroespaçodeumadversá-
rio localque têmemcomum.
parado OProgramaFloresta+
Amazônia, coordenado pelo
Ministério do Meio Ambien-
te, cumpriu 1,85%dametade
preservaçãode 100milhecta-
resdeflorestanativaestipula-
da para 2022, de acordo com
relatório preliminar da CGU
(Controladoria-Geral da Uni-
ão). Segundo a pasta coman-
dadaporJoaquimLeite,1.849
hectares forampreservados.
mãofechada Até3deoutubro,
oprojetoutilizou 18,5%door-
çamentodisponível(US$4,58
milhões, ouR$24,3milhões).
acm Oex-governadordaBa-
hiaAntonioCarlosMagalhães
(1927-2007)seráobjetodedo-
cumentáriodeChicoKertész,
diretorde“Axé:CantodoPovo
deUmLugar”.Ofilmecomeça
asergravadonestasemanae
ficará pronto emdois anos.
painel Guilherme Seto (interino)painel@grupofolha.com.br
Assinatura semestral*
Todos os dias
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r$ 1.044,90
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mg, Pr, rJ, SP
DF, SC
ES, go, mT, mS, rS
AL, bA, PE, SE, To
outros estados
CIRCULAÇÃO DIÁRIA (IVC)
342.487 exemplares (outubro de 2022)
Venda avulsa
seg. a sáb. dom.
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r$ 7 r$ 10
r$ 7,50 r$ 11
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*À vista com entrega domiciliar diária. Carga tributária 3,65%
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Digital Ilimitado
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r$ 39,90
-Catia Seabra e
Victoria Azevedo
Brasília A duas semanas de
tomar posse, o presidente
eleito,LuizInácioLuladaSil-
va(PT),teráquecorrercontra
otempoparaconcluiramon-
tagemdogovernoegarantir,
noCongressoNacional, fonte
de recursospara suasprinci-
paispromessasdecampanha.
Entre elas, amanutenção do
valor de R$ 600 mensais do
Auxílio Brasil (que voltará a
se chamar Bolsa Família) e o
reajuste do saláriomínimo.
Atéagora,Lulaanuncioume-
nosdeumterçodosministros
quedeverão comporaEspla-
nada, frustrandoocronogra-
maqueelemesmoapresentou.
O principal problema está
no impasse para aprovação
da chamada PEC da Gastan-
ça, que libera R$ 168 bilhões
em despesas para o novo go-
verno.Asnegociaçõespatinam
emmeioadisputasporminis-
térioseincertezassobreofutu-
rodasemendasderelator,sob
análise de constitucionalida-
deemumjulgamentonoSTF
(SupremoTribunalFederal).
O Congresso entra em re-
cessonodia23dedezembro.
Travada,avotaçãonaCâmara
foiremarcadaparaterça(20).
Até lá, Lula terá que atuar
para evitar que a Câmara al-
tere o texto já aprovado pelo
Senado,quefixaemdoisanos
oprazoparaampliaçãodote-
to. A votação é considerada
fundamentalparaoiníciodo
novogoverno,umavezquea
PECpossibilitaopagamento
depromessas da campanha.
Deputadosameaçamredu-
zir para um ano o prazo que
constanotexto.Essamudan-
ça obrigaria que a proposta
voltasse ao Senado. O presi-
dente da Casa, Rodrigo Pa-
checo(PSD-MG),afirmouque,
senecessário,convocariano-
vasessão jánanoitedeterça.
Masnovavotaçãoreabriria
as negociações comos sena-
doresàsvésperasdorecesso.
Diantedisso,anúnciosdemi-
nistros políticos—principal-
mente de partidos aliados—
deverãoocorrerapósaprova-
ção da PEC, numa estratégia
paramedira forçadeLulano
Congresso e a fidelidade das
legendas quedisputamespa-
çonapróximaadministração.
A transição entre o atual
Congresso e o eleito em ou-
tubrogeraumproblemaadi-
cional paraLula.Os articula-
dorespolíticosdopetistapre-
cisamnegociarcomosparla-
mentaresrecém-eleitosetam-
bém comos emfimdeman-
dato—que representamcer-
ca de 40%daCâmara.
Semmandatonapróximale-
gislatura,essesparlamentares
querem ver suas demandas
atendidasagora,antesdapos-
se dopresidente diplomado.
Por isso,essaestratégiade-
finidaporLuladividealiados.
Algunsdizemquedeputados
quenão se reelegeramsóvo-
tariamhoje em favor daPEC
com a garantia de cargos no
futuro governo.
Para consolidação da ba-
se de governo, o petista terá
também que acomodar em
seu ministério legendas co-
mo MDB, PSD e União Bra-
sil.Noentanto, eleaindanão
concluiuasconversascomali-
adosdeprimeirahora,como
PCdoB,PVeatémesmooPSB
deseuvice,GeraldoAlckmin.
Neste sábado (17), o futuro
ministro da Casa Civil e go-
vernadordaBahia,RuiCosta
(PT) disse que o governo te-
rá37ministérios.Alistacom-
pletadepastas,porém,ainda
não foi divulgada.
Além de Rui Costa, foram
anunciadosatéomomentoos
nomes de outros cinco futu-
rosministrosdogovernoLu-
la:FernandoHaddad(Fazen-
da), FlávioDino (Justiça eSe-
gurançaPública), JoséMúcio
Monteiro(Defesa),MauroVi-
eira (Itamaraty) eMargareth
Menezes (Cultura).
O petista foi criticado pe-
la falta de representativida-
de nos nomes anunciados
—apenasumaémulher.Além
disso, a governadoradoCea-
rá,IzoldaCela,queeratidaco-
mocertaparacomandaroMi-
nistériodaEducação,deveráchefiarumapastasubordina-
da ao ministério. O MEC de-
veficar comosenador eleito
Camilo Santana (PT).
Outranomeaçãoquedeixou
deseranunciadaemmeioàs
negociaçõesemandamentoé
adasociólogaNísiaTrindade
Lima, favorita para assumir
oMinistériodaSaúde.Apas-
ta é alvodedisputa eopresi-
dente da Câmara, Arthur Li-
ra (PP-AL), reivindica a indi-
cação de um aliado para co-
mandar a estrutura.
Tambémainda está indefi-
nido o futuro político de ali-
ados da campanha do presi-
dente,comoasenadoraSimo-
neTebet (MDB-MS). Ela foi a
terceiracolocadanaseleições
eseengajounacampanhade
Luladuranteosegundoturno.
A emedebista é cotada pa-
Lula acumula entraves
políticospara resolver a
duas semanasdaposse
Petista precisa concluir montagem da Esplanada e garantir,
no Congresso, os recursos para promessas de campanha
raoDesenvolvimentoSocial,
mas parte do PT resiste em
entregar o cargo a Tebet. Pe-
tistastememofortalecimen-
todeumarivalparaadisputa
presidencial de 2026.
Lulaaindaenfrentouumre-
vésnodesenhodoseuprimei-
roescalão.OpresidentedaFi-
esp(FederaçãodasIndústrias
doEstadodeSãoPaulo),Josué
Gomes,recusouoconvitefeito
pelopetistaparachefiaroMi-
nistériodeDesenvolvimento,
IndústriaeComércioExterior.
Alémdenãoterconcluídoa
montagemdoministério, Lu-
latemquesedebruçarsobrea
estruturadosegundoescalão
paragarantirofuncionamento
damáquinajáem1ºdejaneiro.
Integrantes se queixamdo
desmontedaestruturadego-
verno que herdaram do pre-
sidente Jair Bolsonaro (PL).
Temem,por exemplo, a falta
de itens básicos comomedi-
camentos ematerial escolar.
A equipe de transição pre-
paraumdocumentoparade-
talhar a situação encontrada
emáreas como educação, sa-
úde,ciênciaetecnologia. “Pa-
ra que a sociedade saiba. Por-
quesenãoapresentarmosago-
ra, seis meses depois estará
nasnossascostasosdesman-
dosfeitospeloatualgoverno”,
disseLulanodia9.
OutrodesafiodeLulaseráa
retomadadesuarelaçãocom
militares,próximosaobolso-
narismo,econterriscodein-
subordinação nas Forças Ar-
madas.Ocenárioéagravado
pela presença de apoiadores
do atual presidente em fren-
te a quartéismilitares.
Essasmanifestaçõesculmi-
naram nos atos de violência
em Brasília no dia 12, horas
após a diplomaçãodeLula.
Nasexta(16),Lulasereuniu
pelaprimeira vez comosofi-
ciais que deverão assumir as
funções de comandantes do
Exército,daAeronáuticaeda
Marinha.
Umponto considerado co-
mo sensível entre aliados de
Lulaeraaameaçadeque,ori-
entados por Bolsonaro, os
atuais comandantes deixas-
semoscargosantesdaposse.
ComoaFolhamostrou, no
entanto,ocomandantedaFAB
(ForçaAéreaBrasileira),briga-
deiroCarlosdeAlmeidaBap-
tista Junior, desistiu da ideia.
Aliados de Lula viram o ges-
to como positivo e esperam
que isso garanta que a trans-
missãode cargodas três For-
çasocorreráemjaneiro,com
opetista já empossado.
Luiz Inácio Lula da Silva participa de evento de Natal com catadores emSão Paulo Danilo Verpa - 14.dez.22/Folhapress
$
MInISTROS
jÁ AnUnCIA-
DOS POR LULA
• Fernando
Haddad
(Ministério
da Fazenda)
• Flávio Dino
(Ministério
da Justiça e
Segurança
Pública)
• Rui Costa
(Casa Civil)
• joséMúcio
Monteiro
(Ministério
da Defesa)
• MauroVieira
(Itamaraty)
• Margareth
Menezes
(Ministério
da Cultura)
a eee Domingo, 18 DE DEzEmbro DE 2022 A5
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Capilares linfáticos
Capilares sanguíneos
Capilares sanguíneosInterstício Células
Arteríolas Vênulas
Supravascular
Epitroclear
Inguinal
Poplitea
Axiliar
INTELIGENTE E PRECISO
Como funcionam os imuno-oncológicos
•Agem no sistema imunológico de modo
a preparar as células de defesa do organismo
para atacar as células cancerosas
•Osmedicamentos são desenvolvidos para atuar
em proteínas específicas. Até agora, já foram lançados
no Brasil imunoterápicos com ação em duas vias
distintas – CTLA-4, PD-1/PDL-16
•Mais precisos, os imunoterápicos são mais eficazes
em comparação aos tratamentos convencionais
•Os imunoterápicos criam “umamemória” nas
células de defesa, o que permite que o sistema
imunológico continue a combater o câncer,
mesmo quando a terapia é suspensa
Como age o primeiro
deles, lançado há dez anos
Tem ação periférica, ou seja, não atua
diretamente no tumor, mas nos
gânglios linfáticos –ou linfonodos
Sem tratamento
Sem o medicamento, os linfócitos
T não são ativados, e as células
cancerosas conseguem driblar o
sistema imune e ficam livres para
crescer e se disseminar pelo organismo
2. Quando as células tumorais
encontram os linfócitos T, as
células de defesa, já ativadas,
liberam substâncias que
destroem a célula cancerosa
O QUE SÃO OS LINFONODOS
Concentrados nos gânglios linfáticos, essas pequenas estruturas
têm a função de filtrar a linfa, removendo as substâncias
estranhas ao organismo. Essa “limpeza” cabe às células do
sistema imunológico, encontradas nos linfonodos
MECANISMO DE AÇÃO
O medicamento age nos linfócitos T, enquanto
as células de defesa ainda estão nos linfonodos
Tumor
proteínas
CLTA-4 Linfócitos
1. O anticorpo monoclonal
bloqueia a ação da proteína
CTLA-4, na superfície dos
linfócitos T. As células de
defesa já saem dos
linfonodos com a CTLA-4
pronta para combater as
células tumorais onde o
câncer está localizado
Capilares linfáticos
Capilares sanguíneos
Capilares sanguíneosInterstício Células
Arteríolas Vênulas
Supravascular
Epitroclear
Inguinal
Poplitea
Axiliar
INTELIGENTE E PRECISO
Como funcionam os imuno-oncológicos
•Agem no sistema imunológico de modo
a preparar as células de defesa do organismo
para atacar as células cancerosas
•Osmedicamentos são desenvolvidos para atuar
em proteínas específicas. Até agora, já foram lançados
no Brasil imunoterápicos com ação em duas vias
distintas – CTLA-4, PD-1/PDL-16
•Mais precisos, os imunoterápicos são mais eficazes
em comparação aos tratamentos convencionais
•Os imunoterápicos criam “umamemória” nas
células de defesa, o que permite que o sistema
imunológico continue a combater o câncer,
mesmo quando a terapia é suspensa
Como age o primeiro
deles, lançado há dez anos
Tem ação periférica, ou seja, não atua
diretamente no tumor, mas nos
gânglios linfáticos –ou linfonodos
Sem tratamento
Sem o medicamento, os linfócitos
T não são ativados, e as células
cancerosas conseguem driblar o
sistema imune e ficam livres para
crescer e se disseminar pelo organismo
2. Quando as células tumorais
encontram os linfócitos T, as
células de defesa, já ativadas,
liberam substâncias que
destroem a célula cancerosa
O QUE SÃO OS LINFONODOS
Concentrados nos gânglios linfáticos, essas pequenas estruturas
têm a função de filtrar a linfa, removendo as substâncias
estranhas ao organismo. Essa “limpeza” cabe às células do
sistema imunológico, encontradas nos linfonodos
MECANISMO DE AÇÃO
O medicamento age nos linfócitos T, enquanto
as células de defesa ainda estão nos linfonodos
Tumor
proteínasproteínas
CLTA-4CLTA-4
1. O anticorpo monoclonal 
bloqueia a ação da proteína 
CTLA-4, na superfície dos 
linfócitos T. As células de 
defesa já saem dos 
linfonodos com a CTLA-4 
pronta para combater as 
células tumorais onde o 
câncer está localizado
proteínas
CLTA-4 Linfócitos
1. O anticorpo monoclonal
bloqueia a ação da proteína
CTLA-4, na superfície dos
linfócitos T. As células de
defesa já saem dos
linfonodos com a CTLA-4
pronta para combater as
células tumorais onde o
câncer está localizado
APRESENTA
Terapia que estimula o próprio corpo a combater a doença tem sido
considerada por médicos primeira linha de tratamento para esse tipo de tumor
Imunoterapiacomoprincipalaliada
contraocâncergastrointestinal1
A
imunoterapiarepresen-
ta umamudança de pa-
radigma no tratamento
do câncer1. Até sua descoberta,
todas as outras terapias tinham
como alvo o próprio tumor. “Na
imunoterapia, o alvo do trata-
mento é o sistema imunológi-
co do paciente. A imunoterapia
restaura e aprimora a capacida-
dedo sistema imunede lidarcom
o agente agressor (células tumo-
rais) e cria uma memória celu-
lar que permite que essa respos-
ta continuemesmo depois que o
paciente termina o tratamento”,
afirma Angélica Pavão, DiretoraMédica da BMS no Brasil.
A BristolMyers Squibb (BMS)
é referência em descobrir e de-
senvolvermedicamentos inova-
dores na área.A biofarmacêutica
global é pioneira2 no lançamento
da imunoterapia, classe de me-
dicamentos que revolucionou o
tratamento de vários tipos de
câncer e rendeu a cientistas li-
gados à empresa o prêmio Nobel
de Medicina de 20182.
A grande descoberta des-
ses cientistas, de que tumores e
células de defesa têm proteínas
específicas (PD-L1 e CTL4) en-
volvidas na proliferação e inibi-
ção tumoral, gerou o desenvolvi-
mento de anticorpos específicos
que combatem o câncer.3
“Os dois primeiros conse-
guem tratar a grande maioria
dos cânceres. Mas existem tu-
mores com grau alto de ma-
lignidade, mais resistentes, e,
para isso, foi desenvolvido um
terceiro imunoterápico, o anti
LAG-3”, explica Angélica. “Atu-
almente a BMS é a única com-
panhia biofarmacêutica que
tem três drogas com meca-
nismos de ação distintos para
inibir o crescimento tumoral.
O anti-LAG-3 ainda não está
aprovado localmente.”
Segundo o oncologista clí-
nico Dr. Gustavo Fernandes, a
imunoterapia é considera-
da tratamento padrão pa-
ra vários tipos de cân-
cer: pulmão, cabeça
e pescoço, melano-
ma, esôfago, estô-
mago, fígado, colorretal,
bexiga, rim, endométrio,
útero, colo do útero e al-
guns subtipos de câncer de
mama (em especial o triplo ne-
gativo)4.
É comum que o tratamen-
to inclua combinação com outra
imunoterapia ou comquimiote-
rapia, radioterapia ou terapia-
-alvo. É o caso de Rubens Vidi-
gal Filho, 71 anos, de São Paulo,
que está tratando um câncer de
junção gastroesofágica recidiva-
do em ossos com imunoterapia
e quimioterapia.
Em 2019, Rubens operou um
câncer no esôfago e estômago. A
cirurgia foi bem-sucedida, sem
necessidade de tratamento com-
plementar, e ele seguiu sendo
acompanhado pela equipemédi-
ca. “Descobri esse segundo cân-
cer meio por acaso, em uma to-
mografia para monitoramento
do tratamento anterior”, conta.
Depois da confirmação da
doença por biópsia, os oncolo-
gistas prescreveramoito sessões
de imunoterapia seguida de qui-
mioterapia, feitas a cada 15 dias.
“Estou passando bem. Nos
dois primeiros dias fico cansa-
do, sonolento, sem disposição.
A partir do terceiro dia vou vol-
tando ao normal. Tenho feito in-
clusive atividade física: pilates,
caminhada e fisioterapia.” Vidi-
gal já completou cinco sessões.
Dr. Gustavo afirma que ho-
je, há indicação de imunote-
rapia para quase todas as pa-
tologias, tanto em doenças
avançadas como precoces, co-
mo tratamento adjuvante (com-
plementar à terapia principal)
e neoadjuvante (antes da cirur-
gia). “É um tratamento que
entrou muito fortemente
na oncologia com transfor-
mações de resultado mui-
to claras”, diz.
O oncologista, que é
especialista em tumores
gastrointestinais, desta-
ca que a imunoterapia está
sendo considerada a primei-
ra e segunda linhas de tra-
tamento para o câncer
gastrointestinal.
“No que se refere à oncologia
gastrointestinal, os avanços nos
últimos cinco anos forammui-
to significativos. A imunotera-
pia transformou o tratamento
para câncer de esôfago5. Ela foi
aprovada pela Anvisa (Agência
Nacional de Vigilância Sanitá-
ria) para câncer de estômago
e de fígado, tanto para o tu-
mormais comum, o carcinoma,
como para o colangiocarcino-
ma, menos frequente”, afirma. A
imunoterapia também foi apro-
vada para um subtipo específi-
co de tumor do intestino gros-
so, que apresenta instabilidade
de microssatélites.
De acordo com o oncologis-
ta, a imunoterapia é considerada
tratamento padrão nos seguin-
tes casos de tumores gastroin-
testinais: para adjuvância de
câncer de esôfago e de estôma-
go metastático e câncer de fí-
gado avançado e de cólon com
instabilidade de microssatélite
avançado. “Temos muitas pes-
quisas em andamento e em bre-
ve a imunoterapia deve se tor-
nar padrão para o tratamento
de câncer de estômago local-
mente avançado e para câncer
de reto e cólon.”
1.How Immunotherapy Is Used to Treat Cancer, American Câncer Society www.cancer.org/treatment/treatments-and-side-effects/treatment-types/immunothe-
rapy/what-is-immunotherapy.html; 2.Pioneering paths forward in immunology www.bms.com/life-and-science/science/jonathan-sadeh-on-immunology-re-
search-at-bms.html; 3. ImmuneCheckpoint Inhibitors and Their Side Effects, American Câncer Society www.cancer.org/treatment/treatments-and-side-effects/
treatment-types/immunotherapy/immune-checkpoint-inhibitors.html;4. ImmunotherapyByCancer Type, Cancer Research Institutewww.cancerresearch.org/
immunotherapy-by-cancer-type;5.Anvisa aprova imunoterápico para tratamento de câncer do esôfago, Todos Juntos Contra o Câncer tjcc.com.br/noticias/anvisa-
-aprova-imunoterapico-para-tratamento-de-cancer-de-esofago/ 6. “Inibidores doControle Imunológico para TratamentodoCâncer” (http://www.oncoguia.org.br/
conteudo/inibidores-imunologicos/7962/922/) https://consultas.anvisa.gov.br/#/medicamentos/25351231323201157/?substancia=25169
a eee
política
A6 Domingo, 18 DE DEzEmbro DE 2022
ombudsman folha.com/ombudsmanombudsman@grupofolha.com.br ombudsman temmandato de um ano, compossibilidade de renovação, para criticar o jornal,ouvir os leitores e comentar, aos domingos, o noticiário damídia. Tel.: 0800-015-9000; fax:(11) 3224-3895
“Foi fraudulenta edetermina-
daporcorrupçãoaconcorrên-
ciapública, cujos resultadoso
governodivulgouontemànoi-
te,paraconstruçãodaferrovia
Maranhão-Brasília (ouNorte-
Sul): a Folha publicou os 18
vencedores, disfarçadamente,
hácincodias eantesde serem
abertos,pelaestatalValecepe-
loMinistériodosTransportes,
osenvelopescomaspropostas
concorrentes.”
Umageraçãode leitores tal-
vez se lembredo lideoudo“dis-
farçadamente”. Outras não,
mas sabem que o crédito que
encimavao texto “Concorrên-
cia da ferrovia Norte-Sul foi
uma farsa”, publicado em 13
demaio de 1987, era “Janio de
Freitas, colunista da Folha”.
Colunista é repórter ou deve-
ria sê-lo em espírito. A Folha
tem muitos, e a maioria não
é. Agora tem um amenos. Ja-
nio, o colunista e repórter sê-
nior deste jornal por excelên-
cia, foi dispensadonaquinta-
feira (15), após42anosdecasa.
A estratégia de publicar di-
asanteso resultadodeuma li-
citação no meio das páginas
de classificados é apenas um
demuitos lancesbrilhantesde
umacarreira longeva, celebra-
dapor colegas eadmiradores
nas redes sociais nos últimos
dias. Reformador de jornais e
do jornalismonacional, talvez
apenasumex-correspondente
deF1 se lembraráde reputá-lo
tambémcomoespecialistade
esporte amotor.
O volume das homenagens
equivale ou,melhor, é supera-
do pelo das críticas à Folha.
Para muitos leitores e profis-
sionais da área, Janio foi cor-
tado por razões ideológicas.
Impressão galvanizada pelo
corte simultâneo das colunas
deGregorioDuvivier eMarile-
ne Felinto. Ao lembrar que há
20anos saiu do jornal por de-
cisão própria, a escritora es-
creveu em seu último artigo:
“Agora a decisão é deles, pe-
lo meu rótulo de esquerdista.
Talvez queiram limpar o am-
bienteparaapura ‘neutralida-
de’ deopiniões sobrepolítica”.
Deixaram o jornal também
Atila Iamarino,GersonSalva-
dor, Hélio Beltrão, Henrique
Gomes, JaimeSpitzcovsky,Kar-
laMonteiro, LeandroNarloch
eMariaHomem,segundoaDi-
reção de Redação. Beltrão es-
tá na conta, mas fora substi-
tuído em novembro por Ber-
nardoGuimarães.Narlochera
um dos colunistas mais criti-
cadospelos leitores. Seporum
lado sua saídanãocompensa
em nada a ausência de Janio,
suapermanência seria intole-
rável, deduz-sepelaquantida-
de de reclamações.
Afastadaounãoadiscussão
ideológica,aexplicaçãodo jor-
nal remetida ao ombudsman
sublinhaoutroproblema,ofi-
nanceiro. “Por restriçõesorça-
mentárias para 2023, aFolha
encerra a colaboração de co-
lunistas do jornal, entre eles
JaniodeFreitas, GregorioDu-
vivier e Marilene Felinto. Ja-
nio de Freitas é um dos jor-
nalistasmais importantes do
país, com contribuições à im-
prensa e à Folha que perpas-
samgerações. Gregorio eMa-
rilene estavam em sua segun-
da passagem, a primeira en-
cerrada a pedido dos própri-
os.”Houve dispensas tambémde profissionais da Redação.
AFolhanão foge à regra do
mercado jornalístico do país,
que não foge à regra do mer-
cado jornalístico internacio-
nal. Há uma crise severa no
setor, impactado por uma re-
volução tecnológica sem pre-
cedentes, desinformação ge-
neralizada e uma fábrica de
confusões em torno da liber-
dade de expressão. Discute-se
muitoa liberdade,masépreci-
sodiscutir tambémasobrevi-
vência doofício de expressão.
Janio chegou a ter cinco co-
lunas semanaisnaFolha. Seus
textoseramdimensionadospe-
lo que tinha a dizer, não pe-
lo tamanho do espaço reser-
vado na página. Era o terror
dosredatores,quecorriampa-
ra equilibrar expectativa e re-
alidade a minutos do fecha-
mento. A deferência se esvaiu
comosanos, não sematritos.
As críticas à mídia e ao pró-
prio jornal eram frequentes
em seus textos.
Certamente notaria, como
fezReinaldoAzevedo,queaFo-
lhapadronizou danoite para
odia onome “PECdaGastan-
ça”no lugarde “PECdaTransi-
ção”. Na verdade, da noite pa-
ra a tarde de terça-feira (13),
quandoaalcunha foi lançada
emtítulode reportagemsobre
a negociação da proposta na
Câmara. Como se fosse difícil
convencer alguém a criticar
Lula e o PT nestemomento.
SegundoaSecretariadeRe-
dação, “PEC da Gastança” é
um “termo que refletemelhor
o propósito da emenda, dado
queelaampliaráogasto fede-
ral no novo governo”, compa-
rávelà “PECKamikaze”doatu-
al. Reflete igualmente eviden-
te sensacionalismo, afiança-
doapenasporbolsonaristas e
pelapartehidrofóbicadomer-
cado. Critério bem diferente
do adotado na cobertura das
“emendas de relator”, já que
“orçamento secreto’’, de acor-
do com o jornal, é impreciso.
Pesos e medidas desiguais,
estranhos aos leitores que se
acostumaramaumaFolhaco-
erente comseupapelnos tem-
posemqueessaatitudeeraab-
solutamentenecessária, como
se dela dependesse sua sobre-
vivência. Janio,90, semanteve
coerente com seu papel e seu
tempo, o tempo todo.
-
José Henrique Mariante
Jornal dispensa seu colunista e repórter sênior em atitude que choca leitores
Folha, Janio e a gastança
Carvall
São Paulo O jornalista Janio
de Freitas, 90, deixa de pu-
blicar sua coluna semanal
na Folha a pedido do jornal,
por contençãodedespesas.
Referência no jornalis-
mo brasileiro, nos últimos
anos dedicou-se a denunci-
aremseus textososdesman-
dosdoaindapresidente Jair
Bolsonaro (PL) e a conivên-
cia golpista dosmilitares.
Atuando na área desde
1954, ele acumula feitos em
uma carreira com ampla in-
vestigação, furos de grande
importânciaetextoscomim-
pacto na política brasileira.
Exercendo o jornalismo
numlancedeacaso, Janio fez
curso de aviação civil e pre-
tendia ingressar no ramo,
mas lesionou-seemumapar-
tidadebasquete, o queo fez
recalcularrotae ingressarno
DiárioCarioca—inicialmen-
te como auxiliar de edição e
depois circulando para a di-
agramaçãoeoreportariado.
Migroupara a revistaMan-
chete em 1955e, quatroanos
depois, liderouareformagrá-
fica e jornalística do Jornal
do Brasil, tornando as pági-
nas do periódico mais cla-
ras e modernas, com mai-
or alinhamento de textos,
títulos mais chamativos
emaior fluidezna leitura.
Asalteraçõesmudaramto-
do o mercado editorial, se-
guindo as tendências inau-
guradas pelo jornal carioca.
Após, passou pelo Correio
daManhãeÚltimaHora, em
cargosdedireção,atéadéca-
da de 1970, quando a ditadu-
ramilitar o forçou a deixar o
jornalismo.Comisso,tornou-
sesóciodeumagráfica,dedi-
cada à impressãode livros.
JaniodeFreitas deixa
depublicar colunanaFolha
Jornalista acumula feitos e textos com impacto na política brasileira
O jornalista Janio de Freitas, 90, que deixa de escrever
coluna semanal na Folha Ricardo Borges - 12.jul.17/Folhapress
Dez anos depois, aFolha o
chamou de volta à impren-
sa, e Janio tornou-se colunis-
ta, capaz de embaralhar os
espaços opinativos e infor-
mativoscomavideznaescri-
ta e fatos de grande relevo,
dadosexclusivamenteporele.
Dono de grandes furos,
incomodou os governantes
de plantão.
Em maio de 1987, revelou
que o processo para a cons-
trução da ferrovia Norte-Sul
havia sido fraudulento. Cin-
co dias antes do anúncio ofi-
cial, a Folha tinha publica-
do, de maneira cifrada e em
meioaosanúnciosclassifica-
dos,os18vencedores.Ouseja,
já se conheciamde antemão
os resultados da licitação.
Janio, porém, não con-
sidera essa a sua reporta-
gemmais relevante entre as
publicadas pelo jornal.
Cita uma informação de
junho de 1983 em sua colu-
na: osmédicos dopresiden-
te JoãoBatistaFigueiredoco-
gitavam a hipótese de uma
cirurgia cardíaca.
A saúde do presidente es-
tá “muito boa”, reagiram o
líder do governo na Câma-
ra dos Deputados e o porta-
vozdoPlanalto.“Leveipaude
todos os lados.” Uma sema-
na depois, no entanto, o se-
gredo em torno da cardio-
patia implodiu. “Coração
faz Figueiredo pedir licença”
foi amanchetedaFolha.
Em16dejulho,umdiaapósa
cirurgianosEUA,Janioescre-
veuumacolunaemtomdedes-
forra.Listavaascontestações
à informação publicada por
ele e concluía: “Ao general Fi-
gueiredo,prontarecuperação.
Aosoutroscitados, também”.
Janio Sérgio de Freitas Cunha, 90
nasceu emniterói (RJ) em 9 de junho de 1932. Tornou-se
jornalista profissional em 1954 e passou por veículos como
diário Carioca, Jornal do brasil, Correio da manhã e Última Hora.
Começou em 1980 na Folha, jornal do qual se tornou colunista
em 1983. Recebeu prêmios como Rei da Espanha e Esso
Lula terá 37ministérios com
divisão do Planejamento e
recriação de pasta da Pesca
-Mateus Vargas e
Danielle Brant
BRaSÍlIa Futuroministroda
Casa Civil e governador da
Bahia, Rui Costa (PT) disse
neste sábado (17) que o go-
vernodeLuizInácioLulada
Silva(PT)terá37ministérios.
A listaaindanão foidivul-
gada,mas Costa confirmou
que será criada uma pasta
para a pesca. A Economia
seráfatiadaemFazenda,In-
dústriaeComércio,alémde
Planejamento e uma pasta
específicapara gestão.
JáoatualMinistériodaIn-
fraestrutura será dividido
em duas pastas, uma para
tratardetransporteeoutra
sobre portos e aeroportos.
O futurochefedaCasaCi-
vil disse que a escolha dos
ministros não será afetada
pela votação na Câmara da
PEC da Transição. O presi-
dentedaCâmara,ArthurLi-
ra (PP-AL), teria sinalizado
quepode facilitar a aprova-
çãodapropostaseemplacar
aliadosemcargosdoprimei-
ro escalãodo governoLula.
“O Senado em momen-
to nenhum condicionou [a
aprovação] a uma negocia-
çãodeministériosoudecar-
gos,eagentetemaconfiança,
crença,dequeaCâmarafará
amesmacoisa”,disseCosta.
Ele afirmou que a futura
gestão também terá o Mi-
nistério dos Povos Originá-
rios, outro para esportes e
umapastaparaasmulheres.
AindacitouacriaçãodoMi-
nistério das Cidades, a par-
tir do desdobramento do
DesenvolvimentoRegional.
“Ele[Lula]entendequees-
taéumaquestãomuitoem-
blemáticanãosóparaoBra-
sil,mas para a comunidade
internacional. O Brasil se
desgastou muito ao longo
dos últimos anos com essa
questão simbólica e impor-
tante dos indígenas”, disse.
Segundoofuturoministro,
nãohaveráaumentodedes-
pesas do governo para am-
pliaronúmerodeministéri-
os.Issoporqueoscargosatu-
ais serão reformulados pa-
ra acomodar o plano. Além
disso,algunsministériosvão
compartilhar setores como
de assuntos jurídicos.
Havia 12 pastas em 1990,
sob Fernando Collor, que
dois anos depois elevou o
número para 14. Com Lula
chegou-se a 37ministérios.
Na gestãoDilmaRousseff
(PT)aEsplanadadosMinis-
tériosbateuorecordede39
pastas.OpresidenteJairBol-
sonaro (PL) prometeu que
teria apenas 15, mas come-
çoucom22eterminaoman-
dato com 23pastas.
“A ideia central é repetir o
que a gente está chamando
de Lula 2, a estrutura do se-
gundogovernodeLula”,dis-
se Costa. “Esses ministéri-
os com perfil mais garanti-
dores de políticas transver-
sais,comodasmulheres,ne-
groseindígenas,serãofoca-
doseterãoseuscargosdefi-
nidos para a área-fim, bus-
cando garantir transversa-
lidadeaogoverno”,afirmou.
Rui Costa também está à
frentedasnegociaçõescom
oatualgovernopara liberar
residências oficiais de Bra-
sília para Lula e sua equipe.
Ele afirmou que a Gran-
ja do Torto deve ser visita-
da nos próximos dias pela
equipe de Lula, mas que o
presidente diplomadoain-
da não deve deixar o hotel
emque está hospedado. “O
presidente só mudará para
esteeoutrosespaçosdepois
de feitos os levantamentos
detodasaspendênciaseto-
madas todas asmedidas de
eventuaisreparos”,afirmou.
a eee Domingo, 18 DE DEzEmbro DE 2022 A7
ministro
lewandowski,
o brasil conta
com o senhor.
vote pelo fim do
orçamento secreto!
www.fimdoorcamentosecreto.org
*INFORME PUBLICITÁRIO
www.fimdoorcamentosecreto.org
a eee a eeeA8 Domingo, 18 DE DEzEmbro DE 2022
Estado investe para garantir um transporte mais rápido, seguro e sustentável aos paulistas;
serão mais de 75 quilômetros na capital, Região Metropolitana e Baixada Santista
SP ganhamais mobilidade com
obras de expansão emodernização
O
estadodeSãoPaulonunca
investiu tanto emmobili-
dadeurbana. Sãomaisde
R$15bilhõesdirecionadosaotrans-
porte público metropolitano des-
de 2019, com obras de moderni-
zação e da expansão do Metrô, da
Companhia Paulista de Trens Me-
tropolitanos (CPTM) e daEmpresa
Metropolitana de Transportes Ur-
banos (EMTU).
Osrecursosviabilizamnãoape-
nas a ampliação de novas linhas,
mas também melhorias na infra-
estrutura atual, que chega a aten-
der 10milhões de pessoas por dia.
Tudo para garantir mais rapidez,
conforto,segurançaeacessibilidade
aospassageirose,aomesmotempo,
impactarodesenvolvimentoeconô-
micode todo o estado.
Nototal,asobrasemandamen-
to somarãomais de 75quilômetros
aosistema,beneficiandomilhõesde
pessoas na capital, na Região Me-
tropolitana enaBaixadaSantista.
Com as obras, a periferia se
aproxima cada vez mais do centro
comasnovaslinhaseestaçõespre-
vistas.“Sóvocêvivendoodiaadiade
umacidadecomoanossa paraco-
nhecer o impacto que causa na vi-
dadaspessoasaextensãodenovas
linhas deMetrô”, afirmou o gover-
nador Rodrigo Garcia durante se-
minárioDesafiosdaMobilidadeno
Estado de São Paulo, realizado no
iníciodasemana.Oevento foi uma
parceriadoEstúdioFolhacomogo-
vernode SãoPaulo.
Osmoradoresdasregiõesmais
afastadasdocentrodacapitalpau-
lista serão os principais beneficia-
dos com as obras de expansão do
MetrôedaCPTM–são35novases-
tações e40quilômetros de trilhos.
Asnovaslinhas,planejadasoujá
em construção, irão reduzir signi-
ficamente o tempo emque as pes-
soaslevamparairevoltardotraba-
lho.Issosignificamaisqualidadede
vida àpopulação emais produtivi-
dade às empresas.
ÉocasodequemmoranaBra-
silândia, na zona norte da capital,
e leva mais de 1h30 para chegar à
região central de ônibus. Quando
a Linha 6-Laranja do Metrô esti-
ver concluída, serápossível fazero
mesmo trajeto em pouco mais de
20minutos.
Já quemmora em São Mateus,
nazonalestedeSãoPaulo,vai eco-
nomizar 40 minutos para chegar
ao centro comaextensão daLinha
15-PrataatéaestaçãoJacu-Pêssego.
CONCESSÕESEPPPS
Paraampliararedeatual, ogo-
vernopaulistatemreforçadoabem
sucedida parceria com a iniciativa
privada. ComR$ 18 bilhões em in-
vestimentos e 9.000empregos ge-
rados, a Linha 6-Laranja é amaior
obra do gênero e a maior parceria
público-privada(PPP)demobilida-
dedaAméricaLatina.Serão15,3qui-
lômetrose 15estações.Aexpectati-
vaéde630milpassageirospordia,
comconclusãoprevistapara 2025.
O governo do estado de São
Paulo tem experiência em proces-
sos de concessão, com reconheci-
da competência para realizar es-
sesprocessoscomseriedadeecom
atençãoaoscompromissosestabe-
lecidos.
A Linha 4-Amarela de metrô
foi aprimeiraPPPdoBrasil e conta
com investimentos deUS$450mi-
lhões.Aolongodos30anosdepar-
ceriacomaconcessionáriaViaQua-
tro,osinvestimentosdevemchegar
aUS$ 2 bilhões.
*Usuários dos ônibus gerenciados pela
EMTU, trens doMetrô e da CPTM e
estrada de ferro de Campos do Jordão
Tucuruvi
São Joaquim
Jabaquara
Varginha
Estudantes
Linha 1 Azul
(Metrô)
Linha 19
Celeste
(Metrô)
Linha
13 Jade
(CPTM)
Linha 11
Coral
(CPTM)Linha 3
Vermelha
(Metrô)
Linha 16
Violeta
(Metrô)
Linha 7
Rubi
(CPTM)
Linha 10
Turquesa
(Metrô)
Linha 2
Verde
(Metrô)
Linha 4
Amarela
(Metrô)
Linha 17
Ouro
(Metrô)
Linha 6
Laranja
(Metrô)
Linha 22
Marrom
(Metrô)
Linha 8
Diamante
(Trens
metropolitanos)
Linha 15 Prata
(CPTM)
Linha 9
Esmeralda
(Trens
metropolitanos)
Linha 5 Lilás
(Metrô)
SÃO PAULO
SÃO
CAETANO
SANTO
ANDRÉ
MAUÁ
SÃOBERNARDO
DOCAMPO
DIADEMA
TABOÃO
DASERRA
OSASCO
Aeroporto-Guarulhos
Jundiaí
Itapevi
Vila Prudente
Ipiranga
Tamanduateí
Jardim Colonial
Rio Grande
da Serra
Penha
Jacu-Pêssego
Brasilândia
Corinthians-Itaquera
Osasco
Vila SôniaTaboão
da Serra
Bosque Maia
Cidade
Tiradentes
Jardim Ângela
Cotia
Capão Redondo
Chácara
Klabin
Luz
Brás
Palmeiras-
Barra Funda
Santa
Marina
Santo André
Engenheiro-Goulart
Dutra
Sacomã
Alvarenga
BRT-ABC
(EMTU)
Estação já existente
Estação em obras
Linha já existente
Linha em obras
Linhas previstas
Estações previstas
Júlio Prestes
Anhangabaú
Linha 20
Rosa
(Metrô)
Vila Madalena Sumaré
Oscar
Freire
O sistema fará o
trajeto de ponta a
ponta, do terminal
São Bernardo ao
terminal Sacomã,
em40minutos
Está prevista a
acessibilidade nas
estaçõesMogi das
Cruzes, Braz Cubas,
Jundiapeba e Estudantes
Estão previstas a
modernização e
acessibilidade da estação
Itaquaquecetuba
Calmon
Viana
Linha 12
Safira
(CPTM)
5 km
Congonhas
TRANSPORTE RÁPIDO,
SEGURO E SUSTENTÁVEL
Projetos em andamento irão somar mais de 75,30 quilômetros
10 milhões
de passageiros por dia*
Bruno Covas / Mendes Vila Natal
SANTOS
SÃO
VICENTE
VLT DA BAIXADA Terminal
Valongo
Terminal
Porto
Terminal
Barreiros
Terminal
Samaritá
Linha 1 (EMTU)
Linha 2
(EMTU)
VLT BARREIROS-
SAMARITÁ (EMTU)
1 km
SP
Osdesafiosparaampliararede
atual são inúmeros. Além de altos
investimentos, a dimensão e com-
plexidade das obras demandam
tempo. É preciso elaborar estudos,
analisarademanda,planejareexe-
cutar as desapropriações, além de
licitarecontratarasobras.Namaio-
riadoscasos,todoesseprocessode-
mora cercadedez anos.
Além da expansão das linhas,
uma das prioridades da Secretaria
de Transportes Metropolitanos do
estado de São Paulo (STM) é amo-
dernização de todas as linhas, am-
pliando a velocidade, a segurança
e, principalmente, a acessibilidade
das estações doMetrô e daCPTM.
Paraevitaracidentes,estãosen-
do instaladas portas nas platafor-
masdetodasasestaçõesdaslinhas
1-Azul,2-Verdee3-Vermelha,além
da troca do sistema de sinalização
e controle de trens, que garante
maior regularidade na circulação
dos trens.
O Metrô inaugurou ainda um
centro de controle que usa inteli-
gência artificial para monitorar o
desempenho de diversos equipa-
mentos, o que permite atuar antes
de eventuais falhas. A inteligência
artificial está presente igualmente
emcâmerasqueauxiliamnasegu-
rançaenamelhoriadasoperações.
Os serviços do Metrô têm aprova-
çãodemaisde70%dospassageiros.
CPTM
No caso da CPTM, as obras de
modernização foram intensifica-
dasnaúltimadécada.Houvereno-
vação da frota de trens, todos com
ar-condicionado,eoutrasmedidas
para darmais conforto aos passa-
geiros, modernização da infraes-
trutura,aberturadeestações,além
da implementação da Linha 13-Ja-
de, em 2018, a primeira ligação so-
bre trilhos da capital aoAeroporto
Internacional deGuarulhos.
Em fevereiro de 2019, foi re-
solvido um dos maiores gargalos
do sistema: o fimda baldeação em
Guaianases(zonalestedeSãoPaulo)
paraospassageirosdaLinha11-Co-
raloriundosdaregiãodoAltoTietê,
naGrandeSãoPaulo.Essamudan-
çasignificouumganhode15minu-
tos navidadesses usuários.
Em 2019, foram retomadas as
obras de extensão da Linha 9-Es-
meralda,comaconstruçãodeduas
estações,Mendes-VilaNatal eVar-
ginha, além da nova estação João
Dias, emmais umaparceria com a
iniciativaprivada.
A Linha 10-Turquesa recebeu
melhorias e novos trens entra-
ram em circulação, com um au-
mento de 6% na oferta de luga-
res e redução de cinco minutos
no trajeto. Já a Linha 7-Rubi foi
ampliada até a Estação Brás, re-
duzindo baldeações.
Esses investimentos se refle-
temna avaliação positiva dada pe-
los passageiros: 85% dos usuários
aprovaram os serviços da CPTM,
segundo Pesquisa de Avaliação da
Satisfação e dos Serviços de 2021.
NemmesmoapandemiadeCo-
vid-19,quandoacirculaçãodepas-
sageiroschegouacair80%,emper-rouosplanosdeexpansãodaSTM.
Para que as operações continuas-
sem, o governo do Estado injetou
R$ 1,6 bilhão no sistemaem2020 e
R$ 700milhões em2021.
Além disso, as empresas ado-
taram medidas para reduzir des-
pesas gerais, alémdebuscarnovos
recursoscomageraçãodereceitas
não tarifárias.Também foram am-
pliados os contratos demídia para
exploraçãodeespaçospublicitários
emtrens,estaçõeseterminais;en-
tre outrasmedidas.
Aomesmo tempo em que am-
plia as opções demobilidade à po-
pulação, há uma preocupação em
investir em um transporte mais
sustentável. Em 2021, o Metrô evi-
tou a emissão de 518 mil toneladas
deCO2.Osganhossociaisnomes-
mo ano são estimados em R$ 8,6
bilhões.
A CPTM tem priorizado a ins-
talação de placas solares nas esta-
ções, uso de plantas para o trata-
mentobiológicodeesgoto,alémde
água de reuso para irrigar os jar-
dinsverticais.
Já a EMTU realiza testes com
tecnologias menos poluentes, co-
mo trólebus, ônibus elétricos, e a
retomada da operação de veículos
movidosacéluladecombustívelde
hidrogênio.
EmSantos, estáemoperaçãoo
Veículo Leve Sobre Trilhos da Bai-
xada Santista, o primeiro VLT elé-
trico do Brasil, com zero emissões
e que contempla projetos de com-
pensaçãoambientalcomrestaura-
ção ecológica e plantio de árvores.
Governador Rodrigo Garcia
a eee a eee Domingo, 18 DE DEzEmbro DE 2022 A9
Ateliê de produção de conteúdo em todas as plataformas |
Trem Intercidades irá conectar
São Paulo e Campinas
São Paulo vai ganhar o pri-
meiro trem intermunicipal do
Brasil desde a década de 1970.
Depois de mais de 50 anos sem
investimento nesse tipo demo-
dal entre cidades, começa a ser
viabilizado o projeto do Trem
Intercidades (TIC), que irá li-
gar a Linha 7-Rubi, da CPTM,
à malha ferroviária para che-
gar até Campinas, no interior
do estado. Estão previstos in-
vestimentos de R$ 10,2 bilhões
pelo Poder Público e pela ini-
ciativa privada.
O TIC terá 100 quilôme-
tros de extensão e a previsão é
transportar até 565 mil passa-
geiros por dia. Haverá um ser-
viço expresso entre Campinas,
Jundiaí e São Paulo, e outro en-
tre Campinas e Francisco Mo-
rato com paradas em Louveira,
Valinhos e Vinhedo.
O governo do estado de São
Paulo ressalta que um proje-
to deste porte aumenta a aces-
sibilidade entre metrópoles e
cidades polo, gera oportuni-
dades de negócios e de empre-
gos nos segmentos ferroviário
e tecnológico, e também viabi-
liza a expansão da infraestrutu-
ra de transporte para passagei-
ros e cargas, aliviando rodovias
e vias urbana.
Além do desenvolvimento
econômico de toda a região e o
benefício aos passageiros, um
dos principais objetivos do es-
tado é diminuir o uso do auto-
móvel e, consequentemente, a
emissão de gases de efeito estu-
fa. A depender do trânsito, gas-
ta-se cerca de 90 minutos para
ir de São Paulo a Campinas de
carro. Com o TIC, esse trajeto
deverá levar 60 minutos.
O projeto, é claro, traz enor-
mes desafios. É preciso assi-
nar convênios de cooperação
entre os municípios que serão
beneficiados pela obra, além de
acordos com o governo fede-
ral. Caberá ao estado fiscalizar
as obras, aplicar eventuais pe-
nalidades, providenciar as De-
clarações de Utilidade Pública
(DUPs) para desapropriações,
e coordenar o contato entre as
estações operadas pela CPTM e
outras concessionárias.
A futura concessionária irá
comprar novos trens, adequar o
traçado e a infraestrutura exis-
tentes, construir novas vias, im-
plantar pátios e equipamentos
de manutenção. Terá que pro-
mover também obras especiais,
drenagem e vedação da faixa de
domínio, modernizar sistemas
de sinalização e energia, recu-
perar e implantar estações, in-
cluindo novas estações de inte-
gração da Linha 7-Rubi na Lapa e
Km Estações
17,3
1515,3
8,4 8
8
8
8,3
8
4,4 2
23
Brt-ABC
Linha 6 - Laranja
Linha 2 - Verde
Linha 17 - Ouro
VLT da Baixada Santista
Linha 9 - Esmeralda
Linha 15 - Prata
OBRAS EM ANDAMENTO
SISTEMA ATUAL
Linha 16 – Violeta
Linha 20 – Rosa
Linha 22 – Marrom
Linha 19 - Celeste
VLT Barreiros-Samaritá
Linha 5 – Lilás
Linha 4 – Amarela
CPTM/Metrô
BRT-ABC
VLT da Baixada Santista
(em R$ bilhões)
SP (Média 2017- 2020) Média mundial
TRANSPORTE MAIS SUSTENTÁVEL
Emissões de gases do efeito estufa por
passageiro-km (em gCO2e/pkm)*
Metrô Ônibus Carro a gasolina
7
98
101
110
50
80
Mais de 376
quilômetros
170
estações
32 24
23
19
15
31,5
29
4
21,3
7,5
4,3 2
23,3
OBRAS PREVISTAS
INVESTIMENTO DAS
OBRAS EM ANDAMENTO
32
1,3
0,217
Barra
Funda
VALINHOS
VINHEDO
LOUVEIRA
JUNDIAÍ
CAMPOLIMPO
PAULISTA
FRANCISCO
MORATO
FRANCO
DAROCHA
CAIEIRAS
SÃOPAULO
CAMPINAS
VÁRZEA
PAULISTA
Campinas
10 km
TREM INTERCIDADES
100 km
de extensão
10,2 bilhões
reais de investimentos
64minutos
é o tempo estimado de viagem
565 mil
passageiros por dia
naÁguaBranca, na zona oeste da
capital. A previsão é a de lançar
o edital do Trem Intercidades
no primeiro semestre de 2023.
O projeto compreende tam-
bém a operação, manutenção e
obras, commelhoria do desem-
penho e da qualidade do serviço
da linha 7-Rubi da CPTM, bene-
ficiando diretamente o passa-
geiro, destaca a Secretaria dos
Transportes Metropolitanos.
Uma das propostas que está
em estudo é a do trem “double
decker”, os vagões de dois an-
dares. Com esse modelo, será
possível transportar um núme-
romaior de passageiros e evitar
grandes alterações nas platafor-
mas atuais.
Um dos que mais aguardam
o início das operações do TIC
é o setor de turismo. As cida-
des de Jundiaí, Valinhos, Lou-
veiro e Vinhedo fazem parte do
Circuito das Frutas, que atra-
em milhares de turistas de to-
do o estado.
Obra da linha
6-Laranja do
Metrô
a eee
política
A10 Domingo, 18 DE DEzEmbro DE 2022
-Igor Gielow
São Paulo A cobertura jor-
nalística das eleições gerais
de 2022 pela Folha foi apro-
vada por 83% de seus leito-
res, queaqualificaramcomo
ótima ou boa em pesquisa
conduzida pelo Datafolha.
Outros 12%avaliaramotra-
balho do jornal como regu-
lar, enquanto 3%o viram co-
mo negativo. Não opinaram
2%dosouvidospeloinstituto.
O Datafolha entrevistou
501 leitores da Folha, 412 de-
les assinantes e os restan-
tes, secundários —maiores
de 18 anos quenão sãoos ti-
tulares da assinatura, mas
têm acesso ao jornal. Eles
foramouvidosemtodopaís,
levando em conta a propor-
çãodeassinantespor região.
A pesquisa foi feita de 19 a
23denovembroportelefone,
eosouvidosforamsorteados
nabasedeassinantesimpres-
sos e digitais. A margem de
erro é de quatro pontos per-
centuaisparamaisoumenos.
A aprovação da cobertura
sobe entre os mais jovens,
e chegou a 90% entre quem
tem até 40 anos de idade. O
número vai a 80% entre os
que têm 60 anos oumais.
Segundo o Datafolha, em
resposta espontaneamen-
te sobre pontos positivos da
cobertura, 51%dosentrevis-
tadoscitaramqualidadedas
notícias/cobertura. Dentro
deste grupo, 21% destaca-
ram a veracidade das infor-
mações veiculadas, enquan-
to o acompanhamento do
cotidianodoscandidatos foi
lembradopor 10%dogrupo.
Já9%enaltecerama impar-
cialidadenaconduçãodotra-
balho, enquanto 4% aponta-
ram o senso crítico nas re-
portagens, dois pilares do
ProjetoEditorial do jornal.
Dopontodevistanegativo,
37%disseram não ter nada a
dizer. Para 16%, o jornal foi
parcialnacobertura,enquan-
to 13%a julgaramacrítica.Vi-
ramcomonegativaapublica-
çãodepesquisaseleitorais5%.
Por outro lado, 16% cita-
ram positivamente as aná-
lises dos levantamentos, e
15%, a agilidade na atuali-
zação dos dados.
Questionadossobrequeno-
ta dariam à Folha em diver-
sos quesitos, os leitores con-
sideraram que o equilíbrio
dacoberturamereceuum7,7.
Já o pluralismo, outro item
basilar do Projeto Editorial,
ficoucom7,6,acapacidadede
estimularpolêmicas,com7,4,
e a imparcialidade, com 7,1.
ODatafolha tambémbus-
cou saber qual era a opini-
ão de seus leitores acerca
do governo de Jair Bolso-
naro (PL), presidente que
se despede do poder no dia
1º, após ter perdido a eleição
para Luiz Inácio Lula da Sil-
va (PT) no segundo turno.
Para80%,oatualmandatá-
rio faz um governo ruim ou
péssimo. Já o consideramre-
gular9%eótimooubom,7%.Cobertura das eleições pela Folha é
aprovada por 83%de seus leitores
reprovam o governo bolsonaro 80%, enquanto 7% o veem como ótimo ou bom, mostra o Datafolha
Na população em geral, se-
gundo a última pesquisa do
Datafolhaque trouxe tal per-
gunta antes do segundo tur-
no, 39% o reprovavam, 38%
o aprovavam e 23%, o avali-
avam como regular.
O Datafolha havia feito a
questão aos leitores do jor-
nal em janeiro de 2021, em-
bora aqui o dado seja refe-
rencial porque o universo
era o estado de São Paulo
e as cidades commaior nú-
mero de assinantes.
Ali, 90% dos entrevistados
reprovavam Bolsonaro, ante
7%que o viam como regular
e 3%, queo aprovavam.
Amelhoriaénaturaldopro-
cessoeleitoraledosartifícios
àmãodequemdetémacane-
ta—opresidenteperdeuape-
nasporcercade2milhõesde
votos o pleito para Lula.
Na atual pesquisa, 3 em
cada 4 dos ouvidos afirmam
não confiar no que diz Bol-
sonaro. Dizem confiar às
vezes 15%, sempre 5% e 4%
dizem não saber.
Pesquisa sobre cobertura da Folha nas eleições e no governo Bolsonaro
Avaliação da cobertura da Folha em relação
às eleições presidenciais
Estimulada e única, em %
Ótimo/bom
83
Regular
12
Ruim/
péssimo
3
Não
sabe
2
Fonte: Pesquisa Datafolha por telefone com assinantes e leitores secundários da Folha. Entrevistas realizadas entre os dias 19 e 23 de novembro, com 501 pessoas. A margem de erro é de quatro pontos percentuais para mais ou menos
Avaliação da cobertura da Folha em relação
ao governo Bolsonaro
Estimulada e única, em %
Quais foram os principais pontos positivos da
cobertura da Folha durante as eleições este ano?
Espontânea e múltipla, em %
Não sabe
Têm censo crítico e profundidade
nos materiais divulgados
Procuram ser sempre imparciais
Cobertura sobre o que acontece no
dia a dia dos candidatos
Cobertura da Folha é boa, sempre apresenta
a veracidade dos fatos
Qualidade das notícias/Cobertura
Quais foram os principais pontos negativos da
cobertura da Folha durante as eleições este ano?
Espontânea e múltipla, em %
Não sabe/Não lembra
Manchetes tendenciosas a favor do Lula
Muitas críticas ao candidato Jair Bolsonaro
Cobertura/análise tendenciosa
Falta de imparcialidade
Parcialidade
12
4
9
10
21
51
19
3
5
5
12
16
Ótimo/bom
73
Regular
19
Ruim/
péssimo
6
Não
sabe
1
Prisão de Sérgio Cabral foimarcada por regalias e transferências
São Paulo O ex-governador
do Rio de Janeiro Sérgio Ca-
bral acumulou uma série de
episódiosde regalias e trans-
ferências ao longo dos seis
anosdeprisãopor investiga-
ções daOperaçãoLava Jato.
Nesseperíodo, foramcinco
mandadosdeprisão,37ações
penais (sendoduassemrela-
çãocomaLavaJato)e24con-
denaçõescontraoex-governa-
dor.Aspenas somadasultra-
passaram400anosdeprisão.
Nasexta-feira(16),por3vo-
tos a 2, a Segunda Turma do
STF (Supremo Tribunal Fe-
deral) decidiu revogar o últi-
momandado de prisão con-
tra Cabral. O voto de desem-
patefoiproferidonasexta(16)
peloministroGilmarMendes.
Cabraleraoúnicoacusado
aindaemregimefechadoem
decorrênciadasapuraçõesda
LavaJato.Eleteráqueperma-
necer em prisão domiciliar
com tornozeleira eletrônica.
*
Acusações
Cabral foi preso no dia 17 de
novembro de 2016, na Ope-
ração Calicute. Ele é acusa-
do de cobrar 5% de propina
nosgrandescontratosdeseu
mandatoàfrentedoGoverno
doRiodeJaneiro(2007-2014).
Asinvestigaçõesdescobriram
contas com cerca de R$ 300
milhões no exterior em no-
mede “laranjas”, alémde joi-
asepedraspreciosasusadas,
segundo o Ministério Públi-
co,paralavagemdedinheiro.
Inicialmente,oex-governa-
dornegavaasacusações.Dois
anosdepoisdaprisão,Cabral
decidiuconfessarseuscrimes.
No fim de 2019, ele conse-
guiufecharumacordodede-
laçãopremiadacomaPolícia
Federal,depoisanuladopelo
STF emmaiode 2021.
Em 2020, como parte do
acordo de delação, a defesa
do ex-governador entregou
à Polícia Federal 27 joias que
elemantinhaescondidascom
pessoaspróximas.Apeçamais
valiosa era umbrinco de tur-
malinaparaíbacomdiaman-
tes, deR$612mil.
Transferências
Cabral cumpre pena na Uni-
dade Prisional da PolíciaMi-
litar em Niterói. Em maio,
ele foi transferido para a pe-
nitenciária Laércio da Costa
Pellegrino (Bangu 1) em ra-
zãodesupostasregalias,mas
a 7ª CâmaraCriminal doTri-
bunal de Justiça decidiu que
amudança ocorreu antes de
oex-governador sedefender
das acusações.
Até a decisão que determi-
nou o retorno à Niterói, em
um intervalo de pouco mais
de ummês, Cabral ficou um
dianopresídio de segurança
máximadeBangu1,depoisfoi
transferidoparaoquarteldo
CorpodeBombeirosemHu-
maitá, na zona sul, e, após
duassemanas,paraoGrupa-
mentoPrisionaldoCorpode
Bombeiros,emSãoCristóvão.
Regalias
NaCadeiaPúblicaJoséFrede-
ricoMarques,emBenfica,Ca-
bral instalou um “home the-
ater”, doado por duas igrejas
evangélicas, e tinha conheci-
mento dos pontos cegos do
videomonitoramento da ca-
deia, informação que usava
parareceberencomendasde
restaurantes de luxo.
Uma inspeção do Ministé-
rioPúblicodoRioencontrou
alimentosconsiderados irre-
gularesnaceladoex-governa-
dor, como camarão, bolinho
debacalhau e iogurte.
Por conta disso, Cabral foi
transferidoparaCuritiba,em
janeiro de 2018. Em abril da-
quele ano, apósdecisão limi-
nar doTribunal Regional Fe-
deraldoRio,eleretornoupa-
raBangu8, aprimeiraprisão
onde cumpriupena.
Apósfirmaracordodedela-
ção,emsetembrode2021,por
determinaçãodoministroEd-
sonFachin,Cabralfoitransfe-
ridoparaaUnidadePrisional
daPolíciaMilitar,emNiterói.
Noiníciodesteano,umavis-
toriaencontrounaprisãoes-
tantes com compartimento
paraescondercelulares,mais
deR$4.000emdinheiro,ma-
conha, anabolizantes e lista
decomprasemrestaurantes.
O relatório não indicou ir-
regularidades na cela de Ca-
bral, a não ser uma pratelei-
ra com fundo falso, supos-
tamente para esconder um
aparelho celular. Contudo,
afirmouqueoex-governador
estavanumaárea externade
ondefoi lançadaparaforada
unidade,nomomentodafis-
calização, uma sacola plásti-
ca em que havia três celula-
res, umrelógioAppleWatch,
maisdeR$4.000emespécie,
relógio, cigarros “aparente-
mentedemaconha”eumto-
kendebanco.
Joias apreendidas
Amaioria das joias do ex-go-
vernador Sérgio Cabral e de
sua mulher, Adriana Ancel-
mo, encalhou no leilão reali-
zado pela Justiça Federal em
julhode2021.Apenas12deum
lotede40peçasforamvendi-
das, amaior parte abaixo do
valor de aquisição.
AJustiçaarrecadouR$354,3
mil com a venda de sete re-
lógios, quatro pares de brin-
coseumanel.Somados,esses
itensperderam29%dopreço
decompradoex-governador.
O leilão ocorreu commais
deumanodeatrasoemrazão
de divergências na avaliação
das joias. O juizMarceloBre-
tas, responsávelpelaLava Ja-
to no Rio de Janeiro, adiou o
certame apontando discre-
pância entre as avaliações e
os valores pagos pelos bens.
SegundooMinistérioPúbli-
coFederal,aspeçaseramusa-
das para lavagem do dinhei-
ro obtido com propina. Elas
foramapreendidasquandoo
ex-governador foi preso.
Ex-governador ficará
em prisão domiciliar
em Copacabana
-Nicola Pamplona
RIo DE JaNEIRo O ex-governa-
dor do Rio de Janeiro Sérgio
Cabralvaicumprirprisãodo-
miciliaremumapartamento
da sua família emCopacaba-
na, na zona sul do Rio de Ja-
neiro. A expectativa, porém,
équeelenãodeixeopresídio
antes de segunda-feira (19).
Responsávelpeladefesado
ex-governador, o advogado
DanielBialski, dizque trâmi-
tesburocráticosdevemretar-
darsuasoltura.OSTF(Supre-
moTribunalFederal)precisa
emitirofícioparaaJustiçado
Paraná,quedepoispediráali-
beração à Justiça doRio.
Eleafirmouquenãoháres-
triçõessobrevisitasouconta-
tostelefônicos,masquevaire-
comendar ao ex-governador
que não interaja com outros
investigadosdaOperaçãoLa-
va Jato, para evitar reversão
daprisãodomiciliar—quesó
permitesaídasparatratamen-
tomédico,masmesmoassim
comautorizaçãoda Justiça.
“O que elemais quer é per-
manecer em casa longe do
constrangimentodeterquefi-
carnopresídioematarasau-
dadedafamília. Issoéomais
importante”, afirmou.
Sérgio Cabral no período emque cumpria pena no Complexo Penitenciário de Gericinó, no Rio Tércio Teixeira - 2.ago.21/Folhapress
a eee Domingo, 18 DE DEzEmbro DE 2022 A11
Com parcerias,
investimentose um
corpo clínico altamente
especializado, a
BP - A Beneficência
Portuguesa de
São Paulo obtém
reconhecimento
internacional
Ateliê de produção de conteúdo em todas as plataformas | ESTUDIO.FOLHA.COM.BR
com as mais avançadas técnicas
para o tratamento do câncer no
país”, afirma a CEO.
A área de neurologia/neuro-
cirurgia da instituição ocupa o
primeiro lugar no Brasil, segun-
do o ranking da “Newsweek”, que
também destaca a cardiologia e a
cirurgia cardíaca. Denise Santos
enfatizaqueaáreadecirurgiacar-
díaca, entre as primeiras do país,
é hoje a principal referência em
cardiopatia congênita no Brasil.
O médico Renato Vieira, di-
retor-executivo de Desenvolvi-
mentoMédico, Técnico e Educa-
ção e Pesquisa daBP, ressalta que
a instituição desenvolve vários
projetos, individualmente ou em
parceria, na área de oncologia.
“Uma expansão como essa en-
volvemuito pensamento forados
muros da BP, na busca ativa de
tecnologia e parceiros”, dizVieira.
Um desses projetos irá levar
a todo o país o que há de mais
inovador em prevenção e trata-
mento contra o câncer. A BP, o
GrupoBradesco Seguros e oGru-
po Fleury se uniram para criar
umanova empresa, dedicada ex-
clusivamente à oncologia. “Será
a união de três grandes players
do mercado de saúde, em um
GettyImages
investimento de R$ 678 milhões
nos cinco primeiros anos”, afir-
ma a CEO da BP. A nova empresa
terá uma gestão independente e
autônoma, e as três instituições
serão acionistas empartes iguais.
O objetivo, diz Denise, é oferecer
umserviço de referência em ras-
treamento, prevenção, diagnós-
tico, tratamento e reabilitação.
“Além de proporcionar a me-
lhor assistência, o modelo de ex-
celêncianacoordenaçãodecuida-
do em toda a jornada do paciente
contribuirácomasustentabilida-
dedosistemadesaúdeemfunção
damelhorutilizaçãodos recursos
disponíveis. Para isso usaremos a
expertisedecadaumdossóciosna
suaárea, sendoqueaBPoferecerá
todo o seu know how na área de
oncologia”, diz ela.
MAIS INVESTIMENTOS
As parcerias e investimentos
englobamoutras especialidades e
capacitaçãoprofissional. Emneu-
rologia, a BP, por meio de uma
ParceriaPúblico-Privada, se uniu
à Universidade Federal de São
Paulo (Unifesp) para o desenvol-
vimento de pesquisas científicas.
A cardiologia e a cirurgia car-
díaca também têm ampliado os
investimentos em inovação. “A
primeira cirurgia de colocação
de ponte de safena do Brasil, por
exemplo, foi realizada na BP. As-
sim como,mais recentemente, o
implante domenormarca-passo
do mundo. A instituição foi in-
dicada neste ano como um dos
centros de referência para a te-
rapia Car-T no Brasil, uma das
mais avançadas técnicas para o
tratamento do câncerhematoló-
gico. Esses dois exemplos mais
recentes comprovam que esta-
mos evoluindo cada dia mais”,
diz Denise Santos.
A capacitação profissional de
seu corpo clínico também é uma
das prioridades da BP. Por isso,
a instituição criou umLaborató-
rio Clínico de Impressão 3D para
que osmédicos possam se aper-
feiçoar e ser mais assertivos em
procedimentos complexos, como
uma cirurgia cardíaca pediátrica
ou uma intervenção para tratar
uma má formação craniana. “É
possível imprimir, por meio das
imagens do paciente, ummodelo
em tamanho real que simula os
ossos e as outras partes do corpo.
Processamos a imagem médica
e transformamos numa impres-
são 3D para simulação, isso não
é tão comum e foi um projeto de
sucesso que conduzimos”, conta
Renato Vieira.
As inovações não param por
aí. A projeção de investimentos
para os próximos cinco anos é de
R$ 350milhões, afirma a CEO da
BP. Além das especialidades de
alta complexidade, parte desse
investimento também irá para
prevenção. “Na BP, cuidamos
da saúde. Por isso investimos
muito em ações preventivas: ao
combinar análises preditivas,
tratamentos individualizados
e interações revigorantes, am-
pliamos a visão de saúde para os
nossos clientes”, diz.
Com investimentos demais de R$ 830 milhõesem inovação e pesquisa
e um amplo leque de parcerias e
alianças ao longo dos últimos 13
anos, a BP –A Beneficência Por-
tuguesa de São Paulo consolida
seunome comoumadas institui-
ções de saúde mais respeitadas
do Brasil e foi eleita pela revista
norte-americana “Newsweek”
um dosmelhores centros médi-
cos especializados do país. Além
disso, os hospitais da BP são os
primeiros da América Latina a
receber a certificaçãoHIMSS 7, o
mais alto grau de digitalização de
uma instituição a nível mundial.
A BPvem se consolidando co-
moumhubdesaúdedeexcelência,
comumagestão focadano cresci-
mento sustentável e tendo como
premissas a saúde e o bem-estar
daspessoas.“ABPéumhubdesaú-
deporque tambémconectamédi-
cos,parceiroseclientes.Aevolução
do nosso modelo de negócio está
em sinergia com os comporta-
mentos e tendências e são pilares
fundamentais para seguirmos na
transformação da saúde”, afirma
Denise Santos, CEOdaBP.
São duas unidades hospita-
lares com foco em alta comple-
xidade e que atendemdiferentes
perfis de clientes, oHospital BPe
o BPMirante, e, em outras fren-
tes, a BP Medicina Diagnóstica
e o BP Vital, rede de clínicas de
diversas especialidadesmédicas
integrada a todas as áreas da ins-
tituição, além da BP Educação e
Pesquisa, com foco na formação
e capacitação de profissionais de
saúde, contribuindo para a evo-
luçãodamedicina emtodoopaís.
Foi essa atuação alémde suas
unidadeshospitalares, comcone-
xões entre seusdiversos serviços,
que levaram ao reconhecimento
dentro e fora do Brasil. “A nossa
oncologia está entre as primeiras
do Brasil, com um corpo clínico
altamente especializado, de qua-
se 300 oncologistas, alémdeuma
equipemultidisciplinar que atua
REDE DE CLÍNICAS
BP Vital realiza
atendimento de diversas
especialidades médicas
integrado aos demais
serviços da BP
UNIDADES
HOSPITALARES
Hospital BP e BP Mirante
são referência em casos
de alta complexidade,
pronto-socorro
geral e atendimento
personalizado
DIAGNÓSTICO
Centro de diagnóstico
e de terapias oferece
exames laboratoriais,
de imagem, métodos
gráficos e de todas as
outras especialidades
EQUIPES
ESPECIALIZADAS
BP Educação e Pesquisa
centralizam investimento na
formação e na capacitação
do corpo clínico
PESQUISAS
Parcerias com
universidades e
instituições públicas
e privadas ampliam a
realização de pesquisas
científicas voltadas
ao melhor tratamento
para pacientes
EVOLUÇÃO
CONSTANTE
A BP tem a inovação
em seu DNA e por
isso oferece um
portfólio importante
de saúde digital
APRESENTA
BP TRANSFORMA
A JORNADA DO
PACIENTE
Instituição amplia
atuação além de suas
unidades hospitalares
e se consolida como
um dos principais hubs
de saúde do país
Responsável técnico: dr. Renato
José Vieira – CRM 100594 SP
a eee
política
A12 Domingo, 18 DE DEzEmbro DE 2022
A década de governos petis-
tas produziu políticas públi-
cas exemplares edesastres.Na
educação, conseguiu as duas
coisas. No primeiromandato
deLula, oministroTarsoGen-
ro, coma colaboração de Fer-
nandoHaddad, fez o ProUni.
Pareciamágica. As faculda-
des privadas recebiam isen-
ções tributárias e argumen-
tavam que ofereciam bolsas
de estudo em contrapartida.
Era meia verdade, pois es-
sas bolsas (quando existiam)
eram distribuídas para ami-
gos ou amigos dos amigos. O
ProUni vinculou as bolsas à
renda familiar do estudan-
te e ao seu desempenho no
Enem. Sem qualquer despe-
sa, abriram-se as portas do
ensino superior privado para
jovens do andar de baixo.
Ia tudo bem, quando o mi-
nistro da Educação Fernando
Haddad (2005-2012) resolveu
ressuscitar um programa de
créditopúblicoparaestudantes
de faculdadesprivadas,oFun-
dodeFinanciamentoaoEstu-
dantedoEnsinoSuperior,Fies.
Aospoucosas regrasdocré-
dito forammudadas.Nãoha-
viaexigênciadedesempenhoe
afrouxaram-seas regrasdafi-
ança. O resultado foi uma ex-
plosãodebolsistasdoFies.Em
2012,Haddad, futuroministro
daFazenda, foi substituídono
MECporAloizioMercadante,
futuro presidente do BNDES.
Emdoisanososbolsistaspas-
saram de 224,8 mil para 1,14
milhão em 2014, uma expan-
são demais de 400%.
Conglomerados privados
do setor educacional prospe-
raram. AKroton, com 130uni-
dadesem 19 estados e mais
de 1milhão de alunos, lucrou
R$ 517milhões em 2013, 155%
a mais que no ano anterior.
Seu valor na Bolsa chegou a
R$ 25 bilhões, tornando-a a
maior do mundo no setor.
Em dezembro de 2014, Had-
dad,entãonaPrefeituradeSão
Paulo,dizia:“OBrasiléreconhe-
cidoporterosmaioresgrupos
econômicosnaeducaçãoenão
adianta falar que é mérito do
empresário, porque sem o pa-
no de fundo institucional não
tem quem prospere. O maior
grupoeconômicodeeducação
domundoébrasileiro.”Pudera,
naqueleano,oFiesrendera-lhe
R$ 2 bilhões, cifra inédita até
paraaempreiteiraOdebrecht.
Três meses antes o banco
MorganStanleyhaviaavisado
que a inadimplência poderia
levar auma implosãodoFies.
Não deu outra. De um lado,
ogoverno viu-se obrigadoa fe-
char a porta do cofre e, de ou-
tro,asastúciasdosucessoforam
expostas. Em fevereiro de 2015,
osrepórteresJoséRobertodeTo-
ledo, Paulo Saldaña e Rodrigo
BurgarellimastigaramoFies.
Entre 2010 e 2014 o custo do
programa passou de R$ 1,1
bilhãoparaR$ 13,4bilhõesem
valorescorrigidos.As faculda-
des privadas estimulavam os
alunos a solicitar o financia-
mento, transferindoparaaVi-
úva suas carteiras de inadim-
plência.Mais: seumestudante
compravaamatrícula nobal-
cão, às vezes tinha desconto.
Paraoplantel daViúva, tarifa
cheia. Pior: entre 2012 e 2013a
taxadeevasãodas faculdades
privadas era de 28% e entre os
bolsistas chegava a 88%.
Em2015, apresidenteDilma
Rousseffadmitiuqueogoverno
errouaopassarparaas facul-
dades privadas o controle do
acesso ao Fies. O novo minis-
tro da Educação, Cid Gomes,
pôs alguma ordem na malu-
quice e passou a exigir uma
notamínimade450pontosno
Enem. Tambémnãopodia re-
ceber financiamento quem ti-
rasse zeronaredação.Omun-
do veio abaixo. Exigir desem-
penho seria “limpeza étnica”
eoutromaganodaguildadas
faculdades prenunciou uma
“catástrofe” pois o ministro
não era “do ramo” e levara o
governoa fazer “umacagada”.
AntesdosanosdeHaddade
MercadantenoMEC,ofinanci-
amento público dos estudan-
tes iamal das pernas. Depois,
ficousemelas.Omercadoaco-
modou-se, criando sistemas
próprios, sempre com fiador.
O financiamento público
tenta se reerguer. Em janei-
ro passado, o governodeBol-
sonaro, acompanhandouma
promessa de Lula, concedeu
umaanistia de até 92%do va-
lor devido por estudantes fi-
nanciados até o final de 2017.
Cerca de 1 milhão de jovens
tinham atrasos superiores a
90dias noFies. O espeto pode
chegar a R$ 6,6 bilhões.
Um vexame na Fiesp
Houve uma época em que a
Federação das Indústrias de
São Paulo era chamada de “a
poderosa”.Esse tempopassou.
A Fiesp fez fama com um pa-
toamareloplantadodiantede
sua sede, enfeitando asmani-
festações contra Dilma Rous-
seff. Confundiu-sepor 17anos
com a figura de seu ex-presi-
dente, Paulo Skaf, candidato
a tudo e eleito para nada. No
anopassado,aFiespelegeupa-
ra suapresidênciaoempresá-
rio Josué Gomes da Silva.
De uma hora para outra,
surgiu uma rebelião destina-
da a depô-lo. Ganha um fim
de semana de visitas às em-
presas de Skaf quem souber
de um motivo razoável para
o levante. Os grandes sindi-
catos estão fora damanobra,
articulada junto a pequenas
guildas. Poderia ser o caso
de um levante de pequenos
por grandes motivos. Não é.
O fim do mandarinato de
Skaf pareceu um sopro de re-
novação. O doutor foi conhe-
cidopela suadesenvoltura ao
circular por gabinetes deBra-
sília, incapazes de produzir
um prego. Josué Gomes diri-
ge uma rede de 22 indústrias
têxteis, onde trabalham 15mil
pessoas.Herdou-adopai, o ex-
vice-presidente José Alencar,
que começou do nada.
Alencar passou pelo suces-
so empresarial e político sem
um cisco de nódoa. O filho,
seguindo-lhe o caminho, foi
convidado para oMinistério
da Indústria de Lula. O con-
vite deveu-se ao seu desem-
penho como empresário, e
não ao fato de ser presidente
da outrora “poderosa Fiesp”.
Para a instituição do pa-
to amarelo de 2016, ver seu
presidente convidado para
o ministério poderia ser mo-
tivo de satisfação. Depô-lo
por motivos explicáveis, po-
deria ser medida necessária.
Levante por motivos inexpli-
cáveis deixa a impressão de
que os motivos não podiam
ser explicados.
A “poderosa” já teve presi-
dentes com interessesmunici-
pais e já foi dirigida por cam-
peões,mas nunca passou por
vexame deste tamanho.
Estilo do Itamaraty
Em 1964, quandoopresidente
João Goulart foi deposto, seu
chanceler, o embaixador João
Augusto de Araújo Castro, foi
mandado para a embaixada
em Atenas. Quatro anos de-
pois, ele foi para a chefia de
delegação naONU emais tar-
de tornou-se embaixador em
Washington, onde morreu.
Era o espírito da Casa de
Rio Branco,mantido em 1964,
quandoochancelerVascoLei-
tãodaCunhafechouaportada
Casaaoscaçadoresdebruxas.
“Doutor Vasco” foi um ho-
memgentil e elegante. Quem
o via não acreditava que, em
1942, como chefe de gabine-
te do ministro da Justiça te-
ve umbate-boca como pode-
roso chefe de polícia Filinto
Muller e deu-lhe voz de prisão.
Estilo da China
Desde o início de 2020, os
Bolsonaros implicavam pes-
soalmente com o embaixa-
dor da China, Yang Wan-
ming. Chegaram a sugerir
que ele fosse tirado do Brasil.
Yang é um diplomata rom-
budo, mas o governo chinês
fez que não ouviu. Só ago-
ra substituiu-o, a tempo de
que entregasse credenciais
ao novo presidente.
o crédito para estudantes fez fortunas e calotes
AduplaHaddad-Mercadante e o Fies
Juliana Freire
-
Elio Gaspari
Jornalista, autor de cinco volumes sobre a história do regime militar, entre eles “A Ditadura Encurralada”
-RenatoMachado,
Matheus Teixeira e
MariannaHolanda
Brasília Com Jair Bolsonaro
(PL) dando sinais dúbios so-
breofuturoapósdeixaraPre-
sidência, aliados articulam e
defendemque seus filhos te-
nhampapel fundamentalpa-
ra manter o sobrenome e o
movimento bolsonarista re-
levantesnouniversopolítico.
Aliados avaliam que o pri-
mogênito, o senador Flávio
Bolsonaro(PL-RJ),seráoprin-
cipal canal de diálogo de seu
pai com a base bolsonarista
noLegislativo,alémdesetor-
narumareferêncianaoposi-
çãoaofuturogovernopetista.
Seusirmãos,poroutrolado,
devematuarparamanterBol-
sonaroconectadocomadirei-
ta mundial e com a ala mais
radicaldamilitâncianoBrasil.
Aexpectativaéqueodepu-
tadofederalEduardo(PL-SP)
mantenhaainterlocuçãocom
líderesdadireitadeoutrospa-
íses,enquantoovereadorCar-
los(Republicanos-RJ)prossi-
ga como omentor das redes
sociais bolsonaristas.
Jair Bolsonaro tornou-se o
primeiropresidentedaerade-
mocráticaaserderrotadona
buscapelareeleição,mascon-
seguiuelegergrandesbanca-
dasnoCongresso,alémdeco-
locaraliadosnocomandode
alguns dos estados mais im-
portantes dopaís.
Analistaspolíticosepessoas
próximasaBolsonaroavaliam
queumadasdificuldades se-
rámanter fidelizados os 58,2
milhõesdeeleitoresqueoes-
colheram e garantir vigor ao
movimentobolsonarista,den-
troe foradomundopolítico,
comeleforadecargopúblico.
Opresidentedeverá seguir
a partir de janeiro em Brasí-
lia.OPLdevepagarumsalário
deR$39,2mil,alémdealugar
umamansãoemumcondomí-
nio fechado e nomeá-lo pre-
sidentedehonrada legenda.
Aavaliaçãodealiadoséque
caberáaseusfilhosoenfren-
tamento político diário, cer-
randofileirasnaoposiçãoao
governo do presidente Lu-
iz Inácio Lula da Silva (PT),
com espaço nas tribunas do
Congresso, aparecendo com
maisfrequêncianonoticiário.
Flávioganharáprotagonis-
monarepresentaçãoinstitu-
cionalnoParlamento.Embo-
ramenospopularqueseusir-
FilhosdeBolsonaro tentarão
manter relevânciadopai
Aliados veem protagonismo de Flávio no Congresso, enquanto irmãos focam radicais
bolsonarismo raiz não só na
legenda como em siglas ali-
adas. Entre os exemplos, es-
tãoMarcosPontes(PL-SP)ea
ex-ministradaMulher,Famí-
liaeDireitosHumanosDama-
resAlves (Republicanos-DF).
AexpectativaéadequeFlá-
vio desempenhe uma atua-
ção semelhante à que tinha
na Alerj (Assembleia Legis-
lativa do Rio de Janeiro), co-
modeputadoestadual,quan-
do eramais ativo na tribuna
e aparecia mais na impren-
sa.Comosenador,elemante-
ve uma postura mais discre-
tanos seusprimeirosquatro
anosdemandato,paraevitar
contratemposqueprejudicas-
semagestãodopai.
Alémdisso,submergiuapós
as denúncias deque liderava
umesquemade“rachadinha”
em seu gabinete quando era
parlamentarnoRiodeJaneiro.
O caminho para Flávio, no
entanto,podeenfrentarcon-
corrência,mesmodentro do
partido.Osenadoraindanão
deixou claro se a figura de li-
derança que almeja significa
ocuparocargoformaldelíder
da oposição. Esse posto vem
sendocobiçadoealvodearti-
culaçãoporoutrosmembros
dabancadadoPL.Umdelesé
oatuallíderdogovernonoSe-
nado,CarlosPortinho(PL-RJ).
A expectativa em relação a
seus irmãosébemdiferente.
EduardoBolsonarofoireelei-
to,mas nãoobteve omesmo
destaquedeeleiçõesanterio-
res,perdendo 1milhãodevo-
tos.Alémdisso,háaavaliação
de que não semostrou hábil
paraarticulaçõesnaCâmara,
comoFlávio foi no Senado.
Por isso, aliados apontam
que seupapel será diferente.
Ofilho03dopresidentedeve-
ráintensificarsuaatuaçãopa-
ra que ele e seu pai sejam re-
ferênciasdadireitamundial,
emparticularnaAméricaLa-
tina.Ospróximosanosserão
dedicados a viagens, com fo-
co especial nos Estados Uni-
dos, onde o republicano Do-
nald Trump busca ressurgir
após, assim como Bolsona-
ro, tersidoderrotadoemsua
tentativa de reeleição.
Aaliançacomotrumpismo
eseus ideólogos, comoSteve
Bannon, é uma das apostas
paraumeventual retornoao
poder em 2027.
Segundo essa leitura, caso
Trumpsejavencedorem2024,
poderia haver uma nova on-
da conservadoranomundo.
Já o papel político a ser de-
sempenhadoporCarlos Bol-
sonaroémenosexplícito.Ele
deverá seguir como um dos
principaisconselheirosdopai,
responsávelpelasmídiassoci-
aisdeBolsonaro–oprincipal
meiodecomunicaçãodoman-
datáriocomseusapoiadores.
Dessa forma, Carlos é visto
como um “defensor do lega-
do”dopai,emparticularpara
seusmilitantes. Ao contrário
dosdemais,eleteráumdesafio
eleitoraljáem2024,comofim
deseumandatodevereador.
Embora sua reeleição não
sejaconsideradacomplicada,
alguns avaliamque sua vota-
ção será um indicativo ante-
cipadodaforçabolsonarista.
Por issoháatémesmoapos-
sibilidadedequeelenãocon-
corraevenhaadisputaruma
vaganas eleições de 2026.
mãosnasredes,eledevesero
granderesponsávelporman-
ter o sobrenome em evidên-
cia por ter mais trânsito no
mundopolíticoecapacidade
dearticulação.Oprimogênito
foiocoordenadordacampa-
nhapresidencial de seupai.
Alémdisso,Fláviotemman-
dato até 2026 no Senado —
Casa legislativa que deve ser
a pedra no sapato do futuro
governo Lula, uma espécie
de“bunkerbolsonarista”,da-
doograndecrescimentodos
partidosaliadosnaseleições.
BolsonaroajudouoPLafa-
zeramaiorbancada,garantin-
doaeleiçãodepolíticosmais
identificadoscomochamado
Opresidente Bolsonaro comos filhos @BolsonaroSP no Twitter
|dom. ElioGaspari | seg. CelsoR. deBarros |ter. JoelP.daFonseca |qua. ElioGaspari |qui. ConradoH.Mendes |sex. ReinaldoAzevedo,AngelaAlonso |sáB. DemétrioMagnoli
a eee Domingo, 18 DE DEzEmbro DE 2022 A13
a eee
política
A14 Domingo, 18 DE DEzEmbro DE 2022
Envergadura 8,5m
A
lt
ur
a
4,
5
m
Envergadura 8,5m
Armamentos
O Gripen pode usar
praticamente todos os
mísseis e bombas usadas
por caças do inventário
ocidental
Além disso, carrega
tanques externos e
sistema eletro-óptico para
designar alvos
Raio-X do Gripen E
Dimensões
10minutos
é o tempo em solo para rearmar
e reabastecer (missão de defesa
aérea) com 5militares
500m
Distância mínima
para decolar
600m
Distância mínima
para pousar
Comprimento 15,2m
VelocidademáximaMach 2
Altitudemáxima 16mil m
Carga bélica 10 pontos
de carga, 5,3 t em armas
Peso vazio 8 t
Peso máximo de decolagem 16,5 t
1Motor GE F414G (EUA)
2 Antena VHF (comunicação)
3 Visor Head-Up
4 Painel panorâmico
5 IRST (sensor infravermelho)
6 Radar Raven AESA
7 Tubo de pitot do nariz
(para aferir velocidade)
8 Antena VHF/UHF (comunicação)
9 Antena ILS (pouso por instrumento)
10 Sonda retrátril para
reabastecimento em voo
11 10 pontos para carga externa
Gino Marcomini/Saab | Infografia Luciano Veronezi
2
1 3
4 5
6 7
8
9
10
11
Caça Gripen dematrícula 4100 sobrevoa a cidade do Rio de Janeiro como Cristo Redentor ao fundo Sargento Bianca /Divulgação Força Aérea Brasileira
-Igor Gielow
SÃO PAULO A partir desta se-
gunda-feira (19),oBrasilpas-
saaoperarosmaismodernos
caçasdaAméricaLatinacoma
entradaemoperaçãodequa-
tro unidades do sueco Saab
GripenE,queserãoapresen-
tadasnasededoGrupodeDe-
fesaAérea deAnápolis (GO).
Comoalocalizaçãosugere,
eles servirão para prover ca-
pacidadedeinterceptaçãode
aeronaves intrusas no cora-
çãodopoder,Brasília,ameros
150kmdabaseconhecidaco-
moAla2daFAB(ForçaAérea
Brasileira).Hoje,otrabalhoé
decansadosF-5americanos,
comprados nos anos 1970 e
modernizadospelaEmbraer.
“O início das operações é
ummarco, aodotaraFABde
umaplataformamultimissão
de última geração”, afirma o
comandantedaAeronáutica,
brigadeiroCarlosdeAlmeida
Baptista Junior.
Elejáhaviaaceleradoopro-
cessodeaquisiçãodemísseis
paradardentesaoscaças,no
caso os europeus Iris-T (cur-
toalcance)eMeteor(alémdo
campovisual dopiloto).
Com isso, o Brasil começa
adominarascapacidadesaé-
reas na região. OChile opera
versõesmuitocapazesdoF-16
americano e a Venezuela, os
temidos modelos russos Su-
khoi-30, embora neste caso
hajadúvidasacercadadispo-
nibilidadedos armamentos.
OGripen,aindaqueumavi-
ão monomotor de pequeno
porte, é visto como no topo
da chamada quarta geração
decaças—aquintasendode
modelosfurtivosaoradar,co-
moo americanoF-35.
OGripen foi compradoem
sua terceira geração, a E/F.
Custou 39,3 bilhões de co-
roassuecas(R$20bilhõespe-
lo câmbio de hoje), em 2014.
O valor foi financiado em 25
anos,apesardeetapasdede-
sembolsoaseremabatidasde
quaseR$1bilhãoanualmente.
O Brasil adquiriu um pa-
cote completo, com aviões e
transferência de tecnologia,
além de toda a parafernália
de apoio em solo —dois si-
muladoresde voo, umaesta-
çãoqueemulatodosossiste-
mas do avião, ferramentas e
computadores. Já foramtrei-
nadoscercade20pilotose20
técnicos nabase.
Asquatrounidadesqueche-
gamnestasegundaevidenci-
amos riscosde tal empreita-
dadelongoprazo.Naprogra-
mação revisada da FAB, seri-
am seis aviões operacionais
neste ano, além do caça de
matrícula 4100, que chegou
em 2020 e segue como mo-
delo de testes que garantiu o
chamadoCertificadodeTipo
MilitardasAeronáuticasbra-
sileira e sueca.
“Tivemos uma leve discre-
pância, mas sempre traba-
lhamos em sintonia com o
cliente”, relativizou Mikael
Franzén,chefedemarketing
e vendas aeronáuticas da Sa-
ab,afabricantedoGripen.Ele
dizqueoprazofinaldeentre-
ga dos 36 aviões iniciais está
mantidopara2027,equedois
novoscaçasserãodesembar-
cadosno começodo ano.
Éumapeculiaridadedepro-
gramasmilitares brasileiros.
OGripenjátevediversosatra-
sos:mesmosuaescolhaocor-
reuapós 13anosdeidasevin-
dasdogovernobrasileiro, al-
go de resto comum.
Franzénindicaumamudan-
çaimportantenodesenhoda
produção local do caça.
Brasil começaa
operaros caças
mais avançados
daAméricaLatina
Quatro gripen entram em operação
na segunda (19); fabricante espera
comprometimento do novo governo
O Brasil comprou 28 mo-
delosE, deum lugar, e8F, de
dois, que estão sendo dese-
nhados com a Embraer em
GaviãoPeixoto (SP).
A expectativa inicial era de
queessesbipostosseriamfa-
bricadosnoBrasil,atéporque
partesdesuafuselagemjáes-
tão sendo feitas na unidade
daSaabemSãoBernardodo
Campo (SP).
“Vamos concentrar a pro-
duçãode15aviões[dos36]no
Brasil. Mas, de acordo coma
curvadeaprendizadoque ti-
vemos e de forma acordada,
faremos eles com um lugar,
omodeloE”, disse Franzén.
Em relação ao comprome-
timentobrasileirocomopro-
jeto,oexecutivodissenãoes-
tarpreocupadocomamudan-
ça de governo —até porque
oGripen foi comprado, após
longanovela,nogovernope-
tista deDilmaRousseff, e até
mesmo o eleito Luiz Inácio
Lula da Silva foi acusado de
fazer lobbypelo avião.
“Compra de caças são ne-
gócios de Estado, não de go-
vernos.AFABéacliente”,afir-
mou Franzén. Escaldado pe-
la falta de verbas no passa-
do, ele fez o reparo: “Vamos
aguardar e ver.”
“Onãoaportederecursosfi-
nanceiros acaba por obrigar
repactuações emciclosmais
constantes do que o deseja-
do, ocasionando eventuais e
indesejadas extensões na vi-
gência contratual original-
mente estabelecida”,disse o
comandante daFAB.
Comefeito, aForçacortou
parte da encomenda de car-
gueiros KC-390 da Embraer
emfavordemanterofluxofi-
nanceirodoprojetoGripene
outros,oquegeroucertapo-
lêmica nomeiomilitar.
DizBaptista Junior: “OGri-
pen vem a substituir vetores
aéreos que já foram desati-
vados ou que já ingressam
na quinta década de opera-
ção pela Força Aérea, estan-
docomseusrespectivospro-
cessos de desativação plane-
jados ou emcurso”.
O comandante, que deixa-
rá o cargo em janeiro, defen-
desuapropostaparaumadi-
tivode compradequatro ca-
ças no contrato atual, e a re-
alizaçãodeumanovarodada
paraadquirir26novosaviões,
como a Folha revelou em fe-
vereiro. “Estamos negocian-
do”, diz Franzén.
Com 36 aviões do contra-
to inicial, diz Baptista, o país
teria três aeronaves para ca-
damilhãodekmquadradosa
seremdefendidos, incluindo
omarterritorial.Épouco,es-
pecialmente com a falta crô-
nicadeumadefesaantiaérea
estruturada. “ÉcomoseaCo-
lômbiativessesótrêsGripen.”
O país sul-americano, ali-
ás, está no alvo dos negócios
daSaab,comareaberturade
uma disputa afunilada entre
oGripen e o F-16 americano.
Franzén diz que o Peru, que
operaantigoscaçassoviéticos,
tambémdemonstrouinteres-
se—abrindo a possibilidade
deumalinhadeproduçãore-
gionalizadacentradanaEm-
braer,parceiradoprograma.
AnteofatodequeaGuerra
daUcrâniaembaralhoucartas
easredistribuiuparaaindús-
triaamericananocampo,com
orecentesucessodoF-35em
disputas,Franzénrelativizou
lembrandoquehá“demanda
urgente” da Bulgária por ca-
ças, que poderiam ser a ver-
sãoanteriordoGripen,aC/D,
eperspectivadeaumentode
frotas existentes dessa gera-
çãonaHungria e naÁsia (no
caso, Tailândia).
O Gripen chega para subs-
tituir os F-5, caças america-
nosdosanos 1970que foram
modernizadospelaEmbraer
para ficar no lugar dos tradi-
cionaisMiragefrancesesque
operavamemAnápolis,como
umremendonadefesaaérea.
OBrasilopera49dessesavi-
ões, além de 28 aparelhos de
ataqueaosoloAMX,daEmbra-
er,quetambémserãodesaloja-
dospelaplataformamultimis-
sãoqueéoGripen.Omodelo
E está sendo comprado tam-
bém pela Suécia, que tem 96
versões mais antigas —utili-
zadasemoutroscincopaíses.
a eee
política
Domingo, 18 DE DEzEmbro DE 2022 A15
o voto nulo e branco. Por is-
so,nosegundoturno,escolhi.
EntreLulaeBolsonaro,fiquei
comBolsonaro.Issotemcoe-
rência comaminhahistória,
eutenhoumavidacontraoPT
aquiemSãoPauloecontinu-
arei fazendo oposição ao PT
porquenãoacreditonessafor-
made governar. Isso nãome
transforma em alguém que
assina embaixo do governo
Bolsonaro. Temos divergên-
cias com Bolsonaro que fi-
caramevidentes ao longodo
tempo e elas não deixam de
existir. Acho que ele acertou
muitonaáreaeconômica,er-
rouemmuitasdesuaspostu-
rasverbais.EntreeleeLula,fi-
queicomeleeficariadenovo.
Emquepontososr.achaque
o Bolsonaro acertou na eco-
nomia? Previdência, mar-
co regulatóriodosaneamen-
to,autonomiadoBancoCen-
tral.Sãoavançoseconômicos
que temos que creditar a es-
se período demandato. Bol-
naro não quis mexer em leis
de estatais. Esse tipo de coi-
sa me faz ficar mais com es-
se governodoque comLula.
Qual a expectativa do sr. em
relação ao governo Lula pe-
lossinaisdadosatéaqui? Pa-
ramim,começoumuitomal,
numa gastança fiscal desen-
freada, não entendendo que
acontavirámuitorápidonos
próximosmeses.Eampliando
einchandoamáquinapública,
oquesemprefuicontra.Mas
vamos aguardar a instalação
dogoverno.Sesoudeputado
ouestounoSenado,votocon-
traaPECdaGastança.Apon-
to claramentequeogoverno
talvezprecisededinheiropa-
raamanutençãodoBolsaFa-
mília, issoninguémcontesta,
mas é umano de prazo e pe-
dir uma nova regra fiscal pa-
ra o Brasil. Estão dando um
cheque em brancomaior do
queo governoprecisa.
Osr.sabecomooPSDBvairea-
gir? Gosteidaposturado[Jo-
sé]Serra,daposturadoTasso
[Jereissati] apontando erros
na proposta da PEC. Na Câ-
mara,aindanãoouvinenhum
pronunciamento,masespero
queoPSDBfaçaoposiçãores-
ponsável aogovernodoPT.
EemSãoPaulo,oquesepode
esperardaatuaçãodoPSDB?
Vai depender de o governo
eleito querer ou não o PSDB
na suabase.
Comoosr.vêofuturodopar-
tido fora dopoder depois de
tantosanos? OPSDBtemum
passadoglorioso,dereferên-
cia, que tem que servir para
umreposicionamentono fu-
turo–sejamasconquistasdo
governoFernandoHenrique,
as conquistas de SP e de ou-
trosestadosouasdegrandes
cidadesemquemostrouboa
gestão. Issotudofazpartede
uma história bem-sucedida
que o partido precisa contar
para as pessoas, mas não é
suficiente para o futuro. De-
sejo sorte e espero que Edu-
ardo Leite, que vai presidir o
partido, possa conduzir essa
transição para a nova gera-
çãoe reposicionaropartido.
Faria algo diferente do que
fez na campanha? Faria tu-
do de novo. Nessa eleição,
não se analisou a gestão. Foi
umaeleiçãode time, ouLula
ou Bolsonaro. Não se discu-
tiu as questões reais de São
Paulo, e foi assim no Brasil
inteiro. Comocandidato, era
abordadosobremeuposicio-
namento de pauta de costu-
mes, não sobre o que iria fa-
zerparaasegurançapública,
saúdeoumobilidade.Acredi-
tei numa eleição que queria
discutir São Paulo, e a socie-
dadediscutiuoutracoisa,por
issonãovenci.Oresultadode
eunãoteridoaosegundotur-
no foi não ter um candidato
a presidente forte. Declarei
voto a Simone Tebet (MDB),
mas no segundo turno fui
espremidopela polarização.
Obolsonarismopodeforçara
centro-direitaaabraçarmais
apautadecostumes? Apau-
ta de costumes estará, sim,
sempre na agenda da direi-
ta, mas acredito que o que
vai prevalecer nos próximos
anos será adiscussão econô-
mica,porqueteremosumde-
safiomuitograndequefoiadi-
ado, jáquenapandemiative-
mos um adicional de recur-
sos. O Brasil e omundo vive-
ram isso, há demanda infla-
cionária gerada por esse vo-
lume a mais de dinheiro. O
quedevepautar aspróximas
eleições volta a ser a realida-
de:economia,expectativade
emprego,expectativaderen-
da,sevouconseguirmelhorar
minha vida ounão.
A vacina contra a Covid, que
ajudouaimunizaroBrasil,foi
pouco explorada na campa-
nha. Por quê? A Covid pra-
ticamente não foi pauta des-
sa eleição, foi pauta da elei-
ção de 2020, quando estáva-
mos no meio da onda e não
tínhamos vacina. As pesso-
as querem esquecer aquele
momento difícil, todo mun-
doquer apagarumpoucoda
memória.Temosvacina,mas
eofuturo?Nemvacinaenem
asquestõesreaisdeSãoPaulo
foram temade eleição.
O que pretende fazer da sua
carreira política agora? De-
pois de 24 anos, deixo de ter
mandatopopular, saiodeca-
beçaerguida,comasensação
detercolaboradomuitocom
o meu estado. Está cedo pa-
ra pensar no futuro. Voume
dedicaràfamíliaeaquestões
pessoais e depois vou olhar
para o futuro comcalma.
Fica no PSDB ou vai para a
UniãoBrasil? Nãotenhone-
nhum motivo para sair do
PSDB, é especulação.
Comoosr.vêoquadroemSão
Paulo para a eleiçãomunici-
pal de 2024? Pode sair can-
didato a prefeito, vai apoiar
Ricardo Nunes? Vejo como
natural o apoio do PSDB ao
prefeito Ricardo Nunes, vejo
a candidatura dele colocada
e vejo a candidatura de opo-
siçãodoGuilhermeBoulos.
VoltandoaproblemasdeSão
Paulo, emrelaçãoàcracolân-
dia,asaçõesdoestadoquees-
palharamusuáriosdedrogas
coincidemcomofechamento
decomércioseepisódiosdevi-
olência. Qual sua avaliação?
Isso é uma reação de um es-
forçodoestadoedaprefeitu-
raemdiminuirofluxodacra-
colândia,emprocurarprender
traficantes e dar tratamento
a dependentes. Se olharmos
o resultado positivo, hoje há
menosdependentesquímicos
na região do que havia anos
atrás. É só olhar para as foto-
grafias e contagens de 2015 e
2016 e para as de hoje. Como
consequência, a violência au-
mentou.Ocaminhoé insistir
notratamentoenasprisõesde
traficantesparaqueemalgum
momento isso seja resolvido.
Não terá soluçãosimples.
EmviagemaSãoPaulo,opresi-
denteeleitoLuladissequenun-
catinhavistooqueviunarua.
Comorespondeàcrítica? Ésó
pegarumafotografiadacraco-
lândiadequandoHaddadera
prefeito e mostrar para Lula,
paraeleverqueestámelhor.
E o aumento de moradores
de rua? A pandemia au-
mentou a pobreza, o núme-
rodemoradoresde rua,mas
aumentamos os programas
sociais, bolsa trabalho, au-
xílio-moradia. É preciso ter
ummutirão em relação a al-
ternativas de emprego para
moradoresde rua.
Em relação ao futuro gover-
no, como encara o plano de
Tarcísio de privatizar a Sa-
besp? Nãosetratadequerer
venderoumantê-laestatal,se
tratadeolharo resultado.Eu
venderia a Sabesp se tivesse
comprovado que o consumi-
dorganhariacomisso,anteci-
pandoauniversalizaçãodosa-
neamentoou reduzindo a ta-
rifa, essa seria minha lógica.
Tarcísio disse isso na campa-
nhatambém,eagoraprovavel-
mentevaiestabelecerestudos
para tomar suadecisão.
Karime Xavier - 16.dez.22/Folhapress
RodrigoGarcia
Deixodinheiro emcaixa
paraTarcísio, e Lula
começamal comgastança
governador de São Paulo encerra sequência de 28 anos do
PSDb no poder e diz que nãomudaria nada em sua campanha
Rodrigo Garcia, 48
Filiado ao PSDB, foi vice-governador de São Paulo e secretário de Governo de João Doria (PSDB)
até assumir o cargo de chefe do Executivo em abril de 2022. Foi subsecretário de Agricultura aos
21 anos, na gestão de Mário Covas, deputado estadual de São Paulo e deputado federal
“
Está cedo para
pensar no futuro.
Voume dedicar à
família e a questões
pessoais e depois
vou olhar para o
futuro com calma
Paramim, [o governo
Lula] começoumuito
mal, numa gastança
fiscal desenfreada,
não entendendo que
a conta virá muito
rápido nos próximos
meses. E ampliando
e inchando a
máquina pública,
o que sempre fui
contra. Mas vamos
aguardar a instalação
do governo
EntREvista
-Artur Rodrigues
e Paula Soprana
São Paulo Último de umadi-
nastia de tucanos à frentede
São Paulo em três décadas,
Rodrigo Garcia pretende ti-
rarumperíododefériasapós
anos como deputado, secre-
táriodeestado,vice-governa-
dore,finalmente,governador.
Desde abril à frente do Pa-
lácio dos Bandeirantes, após
JoãoDoria (PSDB) renunciar,
Rodrigo diz que deixa umes-
tado com dinheiro em caixa
paraseusucessor,Tarcísiode
Freitas(Republicanos),aquem
apoiounosegundoturnocon-
traFernandoHaddad (PT).
Rodrigoafirmaqueacabou
engolidopelapolarizaçãona
campanha e seguiu seu his-
tórico ao se posicionar con-
tra o PT. Apesar de até agora
o governador eleito ter dei-
xado o PSDB fora do futuro
governo, Rodrigo nega qual-
quer frustração e diz que ca-
beaTarcísiodecidirsequeros
tucanos na sua base aliada.
Ele afirma, inclusive, que
faria tudo de novo –apoi-
ar Jair Bolsonaro (PL) con-
tra Luiz Inácio Lula da Silva
(PT), a quem dirige as críti-
casmaispesadas.ParaRodri-
go, opresidenteeleito come-
çou muito mal ao promover
“gastança desenfreada”.
O atual governador desta-
ca que deixa R$ 30 bilhões
em caixa e o menor endivi-
damento da história. Ques-
tionado sobre problemas
que a administração não
conseguiu resolver, como
grandesobrasdeinfraestrutu-
raeacracolândia,elesusten-
ta que a situaçãomelhorou.
*
Seosr. fossedefinirumlega-
dodosquatroanosdegestão,
oque indicaria? Voudeixar
umestadoondeascoisasfun-
cionam,comserviçosaprova-
dospelapopulaçãoedinhei-
ro em caixa. Temos inúme-
ros exemplos disso. Na área
de infraestrutura, quase 40
km de metrô em obras. No
interior, mais de 11.500 km
de estradas estão sendo fei-
tas.Naáreaambiental, ades-
poluiçãodorioPinheiros.Na
área da saúde, temos vários
hospitais abertos, amplia-
çãodaredeexistente, ampli-
ação da capacidade de aten-
dimento. Saio de cabeça er-
guida e com a tranquilidade
do dever cumprido.
Rodoanel, linhas demetrô e
outras grandes obras estão
atrasadas. Por qual motivo
elas emperraram? Vamos
bater uma fotografia do es-
tadoemjaneirode2019eem
dezembro de 2022. Você não
tinha nenhuma obra deme-
trô em andamento, com pe-
dreirotrabalhando,emjanei-
rode2019.Todasestavampa-
radas.Emdezembrode2022,
todas estão andando: linhas
15, 17, 6, 2, 8 e 9. Qual a gran-
deobraquecontinuaparada?
Rodoanel, que vamos para o
terceiro leilão no começo do
anoquevem.Quandovocêen-
contra uma obra grande pa-
rada, o problema dela não é
aengenharia,nemmuitasve-
zesosrecursos,oproblemaé
a complexidade contratual.
Como secretário de Gover-
nonesta sala, enfrentei uma
umesses desafios.
Algumas dessas obras fica-
rãoparaoTarcísio inaugurar.
Aexpectativaéqueeleentre-
gue35estações[detrem].Es-
tou fazendo uma transição
não só republicana e trans-
parente, mas colaborativa.
Alémdessa colaboração, um
orçamentoondeasvontades
e políticas públicas de gover-
no cabem. Então, vejo como
natural e fico feliz que São
Paulo vá usufruir de muitas
coisas iniciadas nesta gestão
e entregues napróxima.
O sr. declarou apoio a Tarcí-
sioe JairBolsonaro.Háalgu-
mafrustraçãopornãohaver
ninguémdoPSDBna transi-
ção e nas secretarias estadu-
ais? Quandodeclareioapoio
incondicional era sem nada
emtroca,sempedirnenhuma
contrapartida.Nãoexistene-
nhuma frustração da minha
parte. Essa éumadecisãodo
governo eleito, de convidar
o PSDB para fazer parte da
base. É um convite que não
tem de ser dirigido amim já
comoex-governador,masao
partidoeàbancadadedepu-
tados. Eu não mediarei esse
assuntocomonovogoverno.
Então, nenhuma frustração.
Pelaimagemdepolíticomais
moderadoepelosatritosque
a gestão teve com o governo
federal,seuapoioaoBolsona-
roécoerente? Eusoucontra
a eee
mundo
A16 Domingo, 18 DE DEzEmbro DE 2022
-Thiago Amâncio
Washington Os Estados Uni-
dos esperam que o governo
Luiz InácioLuladaSilva(PT)
tenhaumadiplomaciaativae
seenvolvanaquestãodaVene-
zuelapara “melhorar as con-
diçõesdademocracia”nopa-
ís,dizàFolhaRicardoZúniga,
umdosprincipaisformulado-
res de políticas para o Brasil
dentrodagestãodeJoeBiden.
Lula convidou NicolásMa-
duroparasuaposseeanunci-
ouorestabelecimentoderela-
çõesdiplomáticas.Apesardis-
so, Zúniga afirma que o Bra-
sil tambémsebeneficiará da
estabilidade na região e que
há “sobreposição de interes-
sespelaeleiçãodeumaauto-
ridade legítima emCaracas.”
Vice-secretário assistente
no Departamento de Esta-
doeex-cônsul emSãoPaulo,
odiplomataafirmaqueespe-
raumapolítica externaativa
do novo governo Lula, com
envolvimento em questões
globais, de meio ambiente
à segurança internacional.
Ele afirma ainda ter con-
fiança nas instituições por
uma transferência de poder
ordeira,apesardosprotestos
violentos registrados no pa-
ís. “A transição deve ocorrer
de acordo com a vontade do
povoede acordo comas ins-
tituições brasileiras”, afirma.
*
Expectativas para o governo
Umacoisaquedeixamoscla-
ronãosóduranteesseintenso
períododecampanhanoBra-
sil,mas ao longodedécadas,
équetemosumarelaçãocom
o Brasil, não com um gover-
no em particular. Nossa per-
cepçãoéqueexistemmuitos
interesses contínuos que ve-
remos aparecer novamente
no próximo governo. O Bra-
sil é um ator global, espera-
mos ver uma agenda muito
ativaporpartedestegoverno.
Amaisóbviaéaquestãodo
clima,mas não a única, tam-
bémsegurançaalimentar,paz
internacional e uma política
externaativanasNaçõesUni-
dasenasorganizaçõesmulti-
laterais. É algo que vimos no
passado e com o qual esta-
mosansiosospara trabalhar.
[Sobre uma possível no-
va operação da ONU noHai-
ti] Estamos fazendo consul-
tas ao Brasil devido a sua ex-
periência na Minustah. A
creditamos que há um pa-
pel importantepara a comu-
nidade internacional nes-
se momento, com algum ti-
po de apoio multinacional
pelasegurançadoHaiti.OBra-
sil certamente tem um forte
interesse em ver a melhoria
das condições na região.
A situação na Venezuela e a
proximidade comMaduro
Outra área em que acredita-
mosqueoBrasil teminteres-
se é melhorar as condições
dademocracianaVenezuela.
Comopartedacomunidade
internacional,estamosmuito
focadosemvereleiçõeslivres
ejustasquelevemaumgover-
nocomoqualtodaacomuni-
dade internacional trabalhe.
O Brasil também tem inte-
ressenisso;6,5milhõesdeve-
nezuelanos tiveram que dei-
xar o país, há mineração ile-
gal na fronteira, o que afeta
o meio ambiente do Brasil e
trazoutrasatividadesilegais.
Temosuminteresseemco-
mumeacredito que será im-
portantetrabalharmosjuntos
comoobjetivodeumaVene-
zuela democrática e estável.
Não acredito que exista al-
guém em algum país demo-
crático da América do Sul
queacreditequeaVenezuela
represente uma sociedade
bem-sucedida hoje. UmaVe-
nezuela democrática tem
mais chances de ser uma
Venezuela bem-sucedida.
Acreditamos que há uma
sobreposição de interesses
pelaeleiçãodeumaautorida-de legítima emCaracas.
As relações do petista com a
China de Xi Jinping
Nãoénossapolíticadizeraos
países com quem devem ter
boasoumásrelaçõesnemco-
modevemlidarcomaChina.
Todos têmseus interesses.
Nossoobjetivonãoéocon-
flito,mas,emvezdisso,ajudar
a criar uma situação onde a
Chinaapoieaordemmundial.
Masquando falamosdesse
relacionamento entre os Es-
tados Unidos e Brasil, esta-
mos falandodeduasnações,
e nãodedois governos.
O Brasil é importante pa-
raosEstadosUnidosporque
é uma grande democracia,
porque a maioria dos bra-
sileiros quer o mesmo tipo
demundoque amaioria dos
americanos, onde há liber-
dade, onde as pessoas pos-
sam viver em comunidades
seguras, onde possam esco-
lher suas próprias vidas. Em
ummundodeautoritarismo
em ascensão namaior parte
do planeta, ter um parceiro
como Brasil é muito impor-
tanteparaosEstadosUnidos.
EUAqueremajudadeLula coma
Venezuela, diz altooficial deBiden
ricardo zúniga fala sobre expectativas do governo americano para nova gestão do petista
As relações sob Bolsonaro e
mudança de governo
Somos duas democracias
muito complexas, às vezes
turbulentas, mas temos alto
nível de interesses em co-
mum. Fizemos progressos
emmuitasáreas,naparteeco-
nômica,questõesdeseguran-
ça e na segurança alimentar.
Conseguíamoslidartambém
emáreasondenãotínhamos
asmesmas opiniões, porque
temos um alto nível de pro-
fissionalismo entre os diplo-
matas dos dois lados para li-
darcomasnossasdiferenças.
Biden e Bolsonaro tiveram
um encontromuito positivo
em Los Angeles, em junho.
Ao longodaeleição,umpon-
toquedeixamosmuito claro
équeosEUAseriamneutros
independentementedoresul-
tado e que estávamosmuito
confiantesno sistemaeleito-
ral brasileiro, queproduziria
um resultado justo e preciso
dodesejodopovobrasileiro.
A eleição demonstrou mais
uma vez o profissionalismo
e a capacidade da democra-
ciabrasileira,oque,nomun-
dodehoje,nãoépoucacoisa.
Estávamosprontosparatra-
balharcomqualquerlíderque
opovobrasileiro escolhesse.
Neste caso, é um líder com
quem já havíamos trabalha-
do antes, o que certamente
acreditamosquecontribuirá
paranossahabilidadedetra-
balhardemaneiraprodutiva.
Atos antidemocráticos no
Brasil pós-eleições
Rejeitamosousodaviolência
políticaemquaisquercircuns-
tâncias. Acreditamos firme-
mentequehaveráumatrans-
ferênciadepodernoBrasilde
forma ordinária e acredita-
mos que as instituições bra-
sileiras têm plena capacida-
dedeadministraratéumasi-
tuaçãodeconflitocomoessa.
Issonãoéalgoestranhoaos
Estados Unidos, é claro que
experimentamos nossa pró-
pria violência durante uma
transição [a invasãodoCapi-
tólio]. A transição deve ocor-
rer de acordo comavontade
do povo e de acordo com as
instituiçõesbrasileiras.Esta-
mosmuitoconfiantesdeque
oBrasil vai conseguir isso.
O uso de algemas em
imigrantes deportados
Toda a região está pas-
sando pela maior onda de
migraçãoemmassadahistó-
ria das Américas. Tambémo
Brasil, com pessoas entran-
do no país e deixando o país
emnúmeros enormes.
Nóstemostrabalhadomuito
bemcomo governo brasilei-
ro para tentar uma resposta
regional,particularmentepor
meio da Declaração de Los
Angeles sobre Migração e
Proteção, que aborda o tra-
tamentohumanodamigração
tanto quantopossível.
Trabalhamos em estreita
colaboração com as autori-
dadesbrasileirasparagaran-
tir esses voos da formamais
humana possível. São voos
muito longos, e a nossa ex-
periênciamostrouqueémais
importantepreservarasegu-
rançadetodosnessesaviões.
O financiamento para
preservação da Amazônia
Clima e aquecimento global
sãoáreasnasquaisesperamos
negociaçõesediscussõesmui-
toativascomogovernobrasi-
leiro,queesperamosqueserá
umlíderemnívelglobal.Sem-
preesperamosexplorarsolu-
çõescriativas,quepossamre-
almenteproduzir resultados
claros em termos de comba-
teaodesmatamentoedepro-
moçãoda sustentabilidade.
A posse de Lula em 2023
A delegação americana está
em deliberação. O que vere-
mos é uma grande interação
entrenóseanovaequipe.Ejá
houve. [O conselheiro de Se-
gurançaNacional] Jake Sulli-
van não pega avião para ir a
todos os novos governos. É
por causa da natureza desse
relacionamento.OBrasiltam-
bém foi o primeiro país que
Sullivan visitou, no governo
Bolsonaro. Isso faz parte de
umrelacionamentocontínuo.
$
Ricardo Zúniga, 52
Vice-secretário assistente
para Hemisfério Ocidental
no Departamento de Estado
dos EUA, é um dos principais
responsáveis pela formulação
de políticas para o Brasil no
governo Biden. Foi cônsul
em São Paulo de 2015 a 2018.
Antes disso, foi diretor sênior
de Hemisfério Ocidental
no Conselho de Segurança
Nacional no governo Obama.
Nasceu em Tegucigalpa,
em Honduras, e estudou
relações internacionais e
estudos latino-americanos
na Universidade da Virgínia.
Opresidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) durante cerimônia de diplomação emBrasília Ueslei Marcelino - 12.dez.22/Reuters
“
Não existe alguém
em algum país
democrático que
acredite que a
Venezuela represente
uma sociedade
bem-sucedida hoje.
Uma Venezuela
democrática tem
mais chances de
ser bem-sucedida
Ricardo Zúniga
Alto oficial de biden para brasil
a eee
-Diogo Bercito
Washington Javier fugiu da
Venezuelaemmeioaocolap-
soeconômico,àrepressãoeà
pandemiadecoronavírus.Ao
cruzar a fronteira doMéxico
com os Estados Unidos em
2021, foi detido pelas autori-
dadesamericanas,queamea-
çaramexpulsá-loemandá-lo
devoltaaseupaísnatal,onde
elealegacorrerváriosriscos.
Detudoisso,édaprisãoque
elefalacommaisemoçãodu-
rante entrevista à Folha. Ele
choraaomencionarquesen-
tia que sua detenção estava
sendoprolongadaporqueera
rentável.Esseimigrantede28
anos,quenãodizseusobreno-
me para evitar repercussões
legais, passou seismeses em
umaprisãoparticular,queti-
nhafins lucrativos, nosEUA.
Javier é a regra, não a exce-
ção.Dos30milimigrantesde-
tidosnopaís,quase80%estão
emprisõesprivadas—ouse-
ja,quesãopossedeempresas
ousãoadministradasporelas.
Essas instituiçõessãoapenas
supervisionadas pelo ICE, o
órgão do governo america-
no responsável por assuntos
de imigração ede alfândega.
OpresidenteJoeBidenpro-
meteudurantesuacampanha
que encerraria essa prática,
condenadaporativistaseor-
ganizações de defesa dos di-
reitos humanos.Odemocra-
tanãocumpriu.Onúmerode
imigrantesdetidos temcres-
cidodurante seumandato.
Javier conta que foi detido
na fronteira e levado aoMis-
sissippi. Um mês depois, foi
transferido para uma prisão
emLouisiana,no suldopaís.
Dizqueacelatinha46pesso-
as, duas privadas e duas du-
chas. A água saía quente co-
moseestivesse fervendoum
frango,eoleitenocafédama-
nhã estava vencido, afirma.
Não há como confirmar as
informaçõesdovenezuelano,
maselasseencaixamnashis-
tórias de outros imigrantes
quepassaramporessa expe-
riência. A reportagemdaFo-
lhaentrouemcontatocomas
autoridadesamericanas,que
não comentaramoassunto.
UmrelatóriorecentedoSe-
nado americano sugere que
dezenas de mulheres foram
submetidasaexamesgineco-
lógicos invasivosemumade-
tençãoparticularnaGeórgia.
Otextodescreveaindapéssi-
mascondiçõessanitárias, in-
cluindoprocedimentosinade-
quados para lidar com a Co-
vid-19. Javier conta que, no
seucaso, ospoliciaisque tra-
balhavam na prisão privada
serecusaramaservacinados.
“A questão das prisões par-
ticulares é antiga”, diz Susan
Long.ElaécodiretoradoTrac,
um projeto da Universidade
Syracuse que monitora es-
tatísticas relacionadas à imi-
graçãonosEUA.“Nossosiste-
maédependentedasprisões
EUAmantêm imigrantes em
prisõesquevisammais lucro
Quase 80% dos presos estão em unidades privadas acusadas demaus-tratos
privadas,eexisteumimenso
debateepreocupaçãoquanto
às condições de vida dos de-
tentos”,afirmaaespecialista.
Essecenárioestárelaciona-
doaumproblemamaiornos
EstadosUnidos,queéocres-
cimentodesuapopulaçãocar-
cerária—emparte, comore-
sultado da guerra às drogas
travadanasúltimasdécadas.
Hámaisde 2milhõesdepes-
soaspresas. Para lidar como
montante,oEstadotransfere
suas responsabilidades para
a iniciativa privada, contra-
tandoprisões particulares.
Para especialistas ouvidos
pelaFolha,umdosprincipais
problemaséqueosfinslucra-
tivos acabamservindode in-
centivoparaqueosadminis-tradoresdessasprisõesprefi-
ram cortar gastos com segu-
rança, saúde e alimentação.
Outropontosensível éapro-
longação da detenção, que,
naprática, gera lucroparaos
proprietáriosdasinstituições.
Javierdizque seuspedidos
dehabeascorpusforamnega-
dossobajustificativadehaver
riscodefuga.Eleinterpretava
ademoracomoumamaneira
de o sistema ganharmais di-
nheiro. Afirma ainda não ter
superadoo receioque sentia
dequenuncaseria libertado.
Javier fala de colegas de cela
—incluindobrasileiros—que
seguemesperandoasoltura.
“Éumciclovicioso”,explica
Jorge Barón, diretor executi-
vo do Northwest Immigrant
RightsProject, instituiçãoque
trabalha em defesa de direi-
tos de imigrantes. Empresas
entramnoramodadetenção
porqueháincentivofinancei-
roparatal.Paraexpandirone-
gócio,pressionamogoverno.
Legisladores então aprovam
medidas que podem resul-
taremaindamaisdetenções.
Javier diz entender que co-
meteuumainfraçãoaoentrar
nos Estados Unidos sem ter
umvisto,cruzandoafrontei-
rademodoirregular.Eletam-
bémsabiaquepoderiaserde-
tido.Nãoesperava,porém,ser
tratadocomosefosseumde-
linquente. Segundo seu rela-
to,quandoeratransferido,ti-
nhaquecolocar algemasnas
mãos, nos pés e na cintura.
A maior parte dos imigran-
tesdetidospelasautoridades
migratórias cumprempenas
por infrações leves. Segundo
o Trac, 69,1% deles não pos-
suemantecedentescriminais.
“Acreditamos que o gover-
no americano não deve de-
ter pessoas por violações ci-
vis de imigração”, diz Barón.
Caso isso ocorra, a situação
seagravaquandoacabamem
prisões particulares. “Ao ter-
ceirizardetenções,hámenos
fiscalização emais abusos. É
nas instalações privadas que
os detentos recebem o pior
tratamento”,afirmaodiretor.
Construtora de aquário gigante que explodiu
naAlemanha investiga causas do incidente
sãoPaulo AReynoldsPolymer
Technology, empresa ameri-
canaresponsávelporconstru-
ireinstalarajaneladeacrílico
do aquário que explodiu em
Berlimnasexta-feira(16),en-
viou uma equipe de especia-
listasàAlemanhapara inves-
tigar as causas do incidente.
Chamado de AquaDom, o
aquário era considerado a
maiorestruturacilíndricado
tipoindependentedomundo.
Comquase16metrosdealtu-
ra, abrigava 1.500peixesexó-
ticos e ficava no hotel Radis-
son Blu, no centro da capital
alemãepertodeoutrospon-
tosturísticos,comoaCatedral
deBerlim,aAlexanderplatze
oPortãodeBrandemburgo.
Segundo autoridades ale-
mãs, quase todos os pei-
xes morreram após a explo-
são, que espalhou mais de
1 milhão de litros de água
edetritosemumaruanomo-
vimentadodistrito deMitte.
O fator ou fatores que pro-
vocaramaexplosãoaindasão
desconhecidos,masumadas
suspeitas das autoridades é
de que as baixas temperatu-
rastenhamprovocadoracha-
duras na estrutura, que aca-
bou cedendo à pressão das
mil toneladas de água. Há
suspeitasaindadequetenha
havido fadiga dematerial.
Duas pessoas foram feri-
das por estilhaços após a ex-
plosão do aquário, incluin-
do um funcionário do Ra-
disson. Cerca de 350 hóspe-
des do hotel deixaram o lo-
cal a pedido das equipes de
emergência, que temem da-
nos estruturais. Segundo
socorristas, ainda há cinco
centímetros de água na ga-
ragemsubterrâneadohotel.
Em comunicado reprodu-
zido pela imprensa alemã, a
Reynolds Polymer Techno-
logy disse ainda ser cedo pa-
ra determinar o quehouve.
Neste sábado(17), ativistas
em defesa dos direitos dos
animais fizeram uma vigília
emhonraaospeixesmortos.
Cercadedezmanifestantes
se posicionaram na calçada
emfrenteaoRadissonBluno
inícioda tarde, comcartazes
que diziam: “Peixes são ami-
gos, não decoração” e “Des-
canse empaz, família depei-
xes-borboleta”—umadases-
péciesqueviviamnoaquário.
Os participantes ainda puse-
ramvelas acesas na calçada.
A vigília foi organizada pe-
loPartidodaDefesadosAni-
mais. Repórterdo sitedeno-
tíciasalemãoT-online, Julian
Seiferth, 27, afirmaememail
àFolhaque,apesardopeque-
nonúmerodepessoasnoato,
muitospedestrespararampa-
ra interagir com osmanifes-
tantes. “Umamulher que es-
tava com uma menininha e
costumava visitar o aquário
começouachorar”,eleconta.
Seithfert acrescenta que,
emboraasiglanãotenhapla-
nos para realizar novos pro-
testosnospróximosdias, ela
confirmou que pretende lu-
tar contra a reconstruçãodo
aquárioeprojetoslocaisafins.
De acordo com relato do
“
Nosso sistema é
dependente das
prisões privadas,
e existe um
imenso debate
e preocupação
quanto às
condições de vida
dos detentos
Susan Long
codiretora do Trac, um projeto
da Universidade Syracuse
sobre estatísticas de imigração
jornal Berliner Morgenpost,
uma porta-voz do partido
presente no local ainda de-
fendeu mudanças na for-
ma como são concedidas li-
cenças que autorizam pro-
jetos como o do AquaDom.
“Inúmeros animais já mor-
rem só ao serem transporta-
dos.Énecessárioterumreci-
fe de coral artificial no meio
deBerlim?”, ela questionou.
Navéspera,aONGdedefesa
de animais Peta havia anun-
ciado que planejava entrar
comumaaçãojudicialcontra
o hotel que abrigava o aquá-
rio e reivindicou que o local
construaummemorialemho-
menagemaospeixesmortos.
“Animais não existempara
seremexplorados comoam-
bientação”, disse a organiza-
ção em comunicado. “[Esse
acidente]deveriaserumaler-
taparaaspessoasimpedirem
que animais sejam exibidos
como se fossemdecoração.”
Apesar da seriedade da
questão, vários memes rela-
cionadosaoincidenteseespa-
lharampelasredessociaisnas
horas seguintes à explosão.
Umdosqueviralizaramcon-
sistiaemumtuítefalsodoper-
filoficialdopolíciamunicipal
deBerlimmostrandoumace-
nadofilmedeanimação“Pro-
curando Nemo” e a mensa-
gem: “Estes suspeitos estão
sendoprocuradosnaregiãoda
grandeBerlim.Por favor, en-
vie-nosqualquerinformação”.
A cenamostraospeixesde
aquárioquehaviamajudado
Nemo a se reencontrar com
opai,Marlin,noprimeirofil-
medafranquia,emsacosplás-
ticos, flutuandonooceano.
Era uma piada —à qual a
polícia de Berlim optou por
não se associar, chamando
a atenção para o fato de que
a imagem era falsa no Twit-
ter. “Nós nos dissociamos
expressamente dela!”, escre-
veuoórgãonaplataforma.
Colaborou Clara Balbi
mundo
Domingo, 18 DE DEzEmBro DE 2022 A17
Fachada do hotel Radisson Blu parcialmente destruída após explosão do aquário AquaDom, no centro da capital da Alemanha, Berlim Michele Tantussi - 16.dez.22/Reuters
a eee
STJ abre caminho para haitianos entrarem semvisto noBrasil
-Mayara Paixão
SãoPaulo Emdecisãounâni-
me, o Superior Tribunal de
Justiça autorizou que juízes
deprimeirainstânciavoltema
conceder liminaresparaoin-
gressodehaitianosnoBrasil
semanecessidadede visto.
A medida é válida para os
casos de reunião familiar —
emquepartedafamília, jáno
país,tentatrazerparentes.Os
principaiscasosenvolvemme-
noresdeidadecujospaisvie-
ramparaoBrasilembuscade
melhores condições de vida
e tentam transferir os filhos.
Aespiraldecrisesqueviveo
país daAméricaCentral, ori-
gemdeumdosprincipaisflu-
xosmigratóriosemdireçãoao
Brasil,fezcomquesemultipli-
cassemospedidosde ingres-
sodecidadãossemanecessi-
dadede visto humanitário.
O principal argumento,
apresentado à Justiça por
meio de ações individuais e
coletivasnoúltimoanoéode
queosistemahaitianodecon-
cessãodevistosentrouemco-
lapsoe jánãoconsegueaten-
deràdemandadosquedese-
jamemigrar.Desdeabril, de-
cisõesfavoráveisapedidosde
dispensadevistosparahaitia-
nosestavambarradasporde-
cisão anterior do STJ. Mas a
maisrecentedecisãodacorte,
doúltimodia7epublicadana
quinta (15),mudao cenário.
EmnotaàFolha,aministra
MariaTherezadeAssisMoura,
presidente do STJ, disse que
épreciso focar a proteçãode
criançaseadolescentes,além
dodireitodeconvívio famili-
ar, já que muitos dos postu-
lantes sãomenoresde idade.
Adecisãofoi,noentanto,ce-
lebradacomcautelaporespe-
cialistas emmigração, como
JoãoChaves,coordenadorde
MigraçõesdaDefensoriaPú-
blicadaUniãoemSãoPaulo.
Segundoadecisão,requeri-
mentosparasuspenderane-
cessidadedevistoserãoanali-
sados seospostulantesmos-
trarem que foram esgotadas
todasaspossibilidadesdeob-
terumvistoemPortoPrínci-
pe.Tambémmencionaqueju-
ízesdeverãopedirperíciapa-
ra ter certezadequeocasoé
mesmode reunião familiar.
“Muitascriançastêmdificul-
dadedeconseguirdocumen-tos noHaiti, e a via adminis-
trativa foi esgotada”, afirma
Chaves. “É fundamental que
juízes tenham informações
dasituaçãofamiliar,maseles
devem prestar atenção para
nãocriarexigênciasabusivas,
que inviabilizemdecisões.”
O Itamaraty disse à Folha
que150milhaitianosresidem
hojenoBrasil.Segundoomi-
nistério, 6.422 vistos foram
emitidos pela embaixada de
PortoPríncipeem2020,5.368
em 2021 e 3.310, neste ano.
Osefeitosdadecisão já são
observados.Naúltimasema-
nadedezembroenasprimei-
ras de janeiro, dois voos che-
garãocomaomenos 160hai-
tianos sem visto, diz Débora
Pinter Moreira, advogada e
mestreemdireitomigratório.
Eles jáhaviamrecebidoau-
torização para vir ao Brasil
comadispensadodocumen-
to,mas as liminares estavam
suspensas pela decisão de
abril. Pinter, que esteve no
Haitinosúltimosmesespara
acompanharavindadecida-
dãos do país, descreve como
umcalvárioasituaçãodemui-
taspessoasparaobterovisto
e relataquehistóriasdecaos
social que chegam a seu es-
critóriotêmse intensificado.
“Há clientes que, do Bra-
sil, enviam dinheiro para su-
asfamíliascompraremcomi-
da,masosparentesnãocon-
seguemsacarovalor,porque
bancosestãofechados,ouen-
tão,quandoosacam,sãorou-
badosnasruas”,contaaadvo-
gada. “São casos como o de
umacriançade 12anoscujos
pais vieram aoBrasil e agora
estáabandonadanopaísapós
aavómorrer,tentandovirpa-
ra cá”, acrescenta Pinter.
PaísmaispobredasAméri-
casesujeitoàviolênciaeade-
sastresnaturais, oHaiti viu a
situaçãoseagravarapósuma
série de eventos no ano pas-
sado.Primeiro,oassassinato
dopresidente JovenelMoïse,
o que inseriu anação emum
vácuo de poder. Ummês de-
pois, um terremoto matou
mais de 2.000pessoas.
Opaís conviveaindacoma
violência de gangues. Dados
do Alto Comissariado de Di-
reitosHumanosdaOrganiza-
ção das Nações Unidasmos-
tramquemaisde1.400pesso-
as forammortaseoutrasmil
sequestradasnoanode2022.
O alto comissário Volker
Türk,recém-empossado,des-
creveu a situação como uma
crisemultifacetadaeprolon-
gada.“Éumpaísondegangues
armadas,supostamenteapoi-
adas por elites econômicas e
políticas, controlammais de
60%da capital, e 4,7milhões
de pessoas enfrentam fome
aguda”, explica o austríaco.
Bebêsde imigrantes são 14%emPortugal
Brasileiras lideram ranking de nacionalidade de gestantes estrangeiras, atendidas pelo sistema de saúde português
-GiulianaMiranda
liSboa A crescente comuni-
dade imigrante emPortugal,
que aumentou mais de 80%
nos últimos seis anos, já tem
reflexos no perfil dos nasci-
mentosdopaís.Em2021,cerca
de 13,65%dosnascidosvivos,
equivalente a 10.881 bebês,
tinhammães estrangeiras.
A cifra do ano passado re-
presentaomaiorpesona sé-
riehistóricainiciadaem1995.
Em 2015, ano emque o fluxo
migratóriointerrompeuope-
ríododequedaprovocadape-
lacrisefinanceira,bebêscom
mães imigrantes eram 8,4%.
Maiorcomunidadeestran-
geiranopaíseuropeu,asbra-
sileirastambémlideramentre
asmãesinternacionais.Quase
40%dascriançasnascidasde
mães não portuguesas eram
filhas demulheres doBrasil.
Os 4.310 bebês com mães
brasileiras nascidos em Por-
tugalem2021sãomaisdoque
o dobro dos 2.150 de 2017, de
acordo com dados do Insti-
tuto Nacional de Estatística
(INE)fornecidosàFolha.Co-
moasbrasileirasquetêmdu-
placidadaniadePortugalen-
tramparaasestatísticascomo
mães portuguesas, o núme-
ro de bebês luso-brasileiros
éprovavelmenteaindamaior.
EmPortugalhá5anosapós
passarumatemporadana Ir-
landa, a empresária gaúcha
Luciana Borba, 38, deu à luz
em Lisboa em fevereiro de
2021,emplenoconfinamento
geraldevidoàcriseCovid-19.
“Além de ser a minha pri-
meira gestação e de todas as
coisas relacionadasà imigra-
ção, tambémhaviaasmuitas
limitaçõesdapandemia”,con-
taBorba.Aempresáriarelata
quesededicouaaprenderso-
bre o funcionamento do sis-
temadesaúdeportuguês.Se-
gundo ela, o domínio sobre
informações como regras e
direitos permitiu diminuir o
númerodecontratemposao
longo da gravidez e, princi-
palmente, nahora doparto.
“Eubusqueimuitainforma-
çãoefizumplanodepartopa-
rachegarmaisconfiantepara
lidar comalgumascoisasne-
gativasquepoderiamaconte-
cer. Achoque, por estar bem
informada, tive alguns direi-
tosmais assegurados”, diz.
Embora Portugal garan-
ta às gestantes estrangeiras
residentes no país, incluin-
do aquelas em situação ir-
regular, o direito a acompa-
nhamentomédicoeaoparto
na rede pública, associações
de imigrantes e grupos de
apoionasredessociaiscoleci-
onamrelatosdexenofobiaem
hospitais e centrosdesaúde.
Háaindaáaspróprias limi-
taçõesdoServiçoNacionalde
Saúde,oSUSportuguês,pres-
sionadoporfaltadepessoale
aumentodademanda.Neste
ano,afaltadepediatraseobs-
tetras provocou fechamen-
tos e redução de atendimen-
tos emalgumas instituições.
“Eutenhoummédicodefa-
mílianaredepúblicadequem
gostomuitoequemedeumui-
to suporte na gravidez, mas
opteiporterumacompanha-
mento no sistema privado”,
conta a empresária carioca
Herica Marmo. “Ouvi alguns
relatos sobre induçãode tra-
balho de parto que ultrapas-
saram limites e não resulta-
ram em experiências positi-
vas.Eeuqueriateraseguran-
çadequeteriaoprocedimen-
to que fosse omais indicado
paramimeparaomeubebê.”
Na avaliação da empresá-
ria,queviveemPortugaldes-
de 2016, a falta de uma rede
de apoiopara ajudar na cria-
çãodofilhoéomaiordesafio
damaternidadeno exterior.
“Avidadeimigranteédifícil,
estamos longedasnossas re-
ferênciasedosnossosafetos,
masquandonasceumbebêa
necessidade de apoio se tor-
namaior”,afirmaMarmo.“No
puerpério,agentesentefalta
dacompreensãoquetalvezsó
quemteconheceumavidato-
da podedar. Fora a exaustão
de ter de criar sozinha, ou,
como no meu caso, apenas
comopaiumbebêqueexige
muitos cuidados e atenção.”
Ainda que as brasileiras li-
deremsimultaneamentealis-
tademaiorcomunidadeimi-
granteedemãesestrangeiras
emPortugal, as demais posi-
ções do ranking de naciona-
lidades no país não seguem
amesma lógicaenãocorres-
pondem à liderança de es-
trangeirosresidentesnopaís.
Reino Unido e França, res-
pectivamente em segundo
e em oitavo lugar entre os
imigrantes emPortugal, não
aparecemnasprimeirasposi-
çõesda listadenascimentos.
Depois doBrasil estãoAngo-
la, Cabo Verde, Nepal, Índia,
SãoTomé,Guiné eUcrânia.
A explicação está na idade
dos estrangeiros. Enquanto
há uma grande quantidade
de aposentados franceses e
britânicosemPortugal,atra-
ídos sobretudo por benefíci-
os fiscais, a maior parte dos
migrantes de antigas colôni-
asportuguesasedepaísesda
África estão em idade ativa.
A diversidade cultural e de
idiomasimpõemdesafiosadi-
cionais às equipes médicas.
Emváriasinstituições,sobre-
tudo nas regiões commaior
presençadeimigrantes, jáhá
umarededetradutores,além
de adaptações aos planos
nutricionais das pacientes.
Enquanto todos os bebês
nascidos no Brasil têm auto-
maticamentedireitoànacio-
nalidade brasileira, isso não
aconteceemPortugal.Filhos
deestrangeiros têmdireito à
cidadania lusa, mas é preci-
so cumprir alguns critérios.
No começo de 2022, o país
alteroualeieampliouoaces-
sodosbebêsfilhosdeimigran-
tes à cidadania. Atualmente,
crianças nascidas em Portu-
gal são consideradas portu-
guesascasoumdospais resi-
danopaíshápelomenosum
ano.Amedidaéválidamesmo
para aquelas pessoas que es-
tejamcomstatusmigratório
consideradoirregularnopaís.
Desde2015,odireitoànaci-
onalidade lusa para os filhos
de estrangeiros vem sendo
progressivamenteampliado.
Aúltimanovidade legislativa
criou a possibilidade de que
paisdecriançasnascidas em
Portugal e consideradas por-
tuguesaspossamtambémre-
querer a nacionalidade por
meiodosfilhos.Anaturaliza-
ção,nessescasosespecíficos,
podesersolicitadadepoisde
cincoanosderesidência,regu-
larounão,emterritórioluso.
Nosprocessostradicionais
de naturalização por tempo
deresidência,apenasoperío-
docomautorização legal em
Portugal é contabilizado for-
malmentepelasautoridades.
Grupos de haitianos fogemde suas casas durante ataque de gangues armadas na capital do país, Porto Príncipe Richard Pierrin - 10.nov.22/AFP
mundo
A18 Domingo, 18 DE DEzEmBro DE 2022
mercado a eeeDomingo, 18 DE DEzEmbro DE 2022 A19
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-Idiana Tomazelli
e Alexa Salomão
Brasília Emumasemanade-
cisivaparaonovogoverno, a
equipedeLuizInácioLulada
Silva(PT)buscaresolveroim-
passe que travou na Câmara
dos Deputados a votação da
PEC (proposta de emenda à
Constituição) que permite a
expansãodegastos em 2023.
Deumlado,asnegociações
começaramapatinaremmeio
adisputasporministérioseà
esperadovereditofinaldoSu-
premo sobre as emendas de
relator,instrumentousadoco-
momoedadetrocanasnego-
ciações doCongresso.
Deoutro,parlamentaresdo
centrãoreclamamdaresistên-
ciadoPTemnegociarmudan-
çasnotextoquecontemplem
demandas dessas bancadas,
como a redução dos valores
extrasedoprazodeduração
dasmedidas.
Uma nova tentativa de vo-
tação será feita na terça (20),
data já muito próxima do li-
mitepararesolveraindaneste
ano o buraco no Orçamento
de 2023, dando mais confor-
to a Lula para iniciar seu ter-
ceiromandato.
Apesar do prazo apertado,
interlocutores do presiden-
te eleito dizem acreditar na
aprovação da PEC, que se-
gue sendoaprincipal aposta
dopartido.
Ameta do PT é aprovar na
Câmara o mesmo texto vali-
PTbusca vencer barreirasnaCâmara
eaprovarPECemsemanadecisiva
negociações travaram emmeio a disputa por ministérios e queixa de resistência do PT a ceder no texto
base de Lula para chegar a
ummeio-termo.Odiscursoé
queacontagemdosvotosvai
dependerdotextoacordado.
A mudança no valor e no
prazotornarianecessáriauma
nova votação no Senado. O
presidente da Casa, Rodrigo
Pacheco (PSD-MG), já sinali-
zou que essa opção é viável,
masoPTaindaresisteaacei-
tar esses termos.
Oclimaquejáestavapesado
azedou de vez com uma fala
dodeputadoJoséGuimarães
(PT-CE),vice-líderdaminoria
naCâmara,naquinta(15).Ele
disseque,seotextonãofosse
votadonaqueledia, “nãotem
maisproposta”.Adeclaração
foi interpretadacomoumul-
timato a Lira, atrapalhando
aindamais as negociações.
A queda de braço, porém,
não envolve só o conteúdo
da PEC e tem também com-
ponentespolíticosrelaciona-
dosàcomposiçãodoprimei-
ro escalãodeLula.
Segundo relatos, Lira quer
emplacaraliadosemministé-
rios,alémdemanteropoder
obtidocomagestãodosrecur-
sosdasemendas—quechega-
rãoaR$ 19,4bilhõesem2023.
Um integrante do PT que
acompanha as negociações
diz queLira chegouamenci-
onar que seria preciso fazer
umaescolha: ou reduzir pra-
zo,oureduzirovalordaPEC,
ounegociar umministério.
OpresidentedaCâmarane-
gaqueestejabarganhandocar-
gosnonovogoverno.Mas,se-
gundorelatoscolhidospelaFo-
lha, ele quer indicar um alia-
dodoPPparaoMinistérioda
Saúde, acenandocom 20 a 25
votosdabancadaemfavorda
PEC, e apoia o nomedo líder
doUniãoBrasilnaCâmara,El-
marNascimento (BA), parao
MinistériodeMinaseEnergia
(MME).Cargosembancospú-
blicostambémestãonamira.
dadopeloSenado,queamplia
o tetodegastosemR$ 145bi-
lhõeseautorizaoutrosR$ 23
bilhõeseminvestimentosfora
dolimitededespesas,tudois-
soporumprazodedoisanos.
OfuturoministrodaFazen-
da, Fernando Haddad, che-
gouaseenvolverdiretamen-
tenasconversascomopresi-
dente da Câmara, Arthur Li-
ra (PP-AL), para tentar apro-
varapropostapreservandoos
mesmos termos já chancela-
dos pelos senadores.
Assim,aPECpoderiaseguir
parapromulgação,encerran-
doodesgastedeumnovogo-
vernoquenemsequertomou
posse, mas já precisou ir a
camponegociarumamudan-
ça legislativa de grande por-
te. Supressões de trechos ti-
dos como acessórios, como
autorização para repasses a
organismosmultilaterais fo-
ra do teto de gastos, não afe-
tariamessa estratégia.
Semmudançasmaisprofun-
das,porém,membrosdocen-
trãotêmaavaliaçãodequedi-
ficilmenteonovogovernocon-
seguiráreuniros308votosne-
cessários para aprovar uma
mudança constitucional na
Câmara.Aprincipaldemanda
é cortar o valor autorizado e
limitaravigênciadasmedidas
a umúnico ano. O prazome-
nor obriga o novo governo a
costurar logoumasaídadefi-
nitivaparaasfinançasdopaís
comonovoCongressoqueas-
sumeem 1ºde fevereiro.
Parlamentaresafirmamre-
servadamente que falta um
“diálogo objetivo” sobre a
PEC, com algum aceno da
“
Omelhor caminho
é aprovar [a PEC]
na terça [20] e
votar meu relatório
[do Orçamento]
na quarta [21]
Marcelo Castro (MDB-PI)
senador, relator-geral do
orçamento de 2023 Continua na pág. A20
Lula, o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e o do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG) Ueslei Marcelino - 12.dez.22/Reuters
a eee
mercado
A20 Domingo, 18 DE DEzEmbro DE 2022
Brasília Braçodireitodofun-
dador da Azul, David Neele-
man, há mais de duas déca-
das, John Rodgerson é um
gringo—expressão que gos-
ta de usar para definir os es-
trangeiros— muito brasilei-
ro. Ele está no país há quase
15 anos, fala um português
cheio de gírias, é brincalhão,
e aprendeu, como ninguém,
o que édar um jeitinho.
Amigosafirmamquesuavi-
da semistura comada com-
panhia. Em entrevista, qua-
se só usou verbos na primei-
rapessoaparasereferiràpró-
pria companhia.
Em 2023, a Azul começará
a operar commais força em
Congonhas. O executivo de-
fendequeosetordiscutacom
onovogovernoaformaçãode
preçodocombustívelpelaPe-
trobras,umdositensquepe-
samsobre as passagens.
*
Por que as passagens aéreas
ficaram tão caras? O com-
bustíveldobrouporcausada
Guerra[daUcrânia].Seeledo-
bra,oimpostotambémdobra.
Temocâmbio,quedesvalori-
zounosúltimosdoisanos. Is-
so impactaopreçofinal.Mas
sópossocobrarpreçoalto se
houveralguémdispostoapa-
gar. E a demanda está forte,
comonunca vimos.
Mas não é só por isso que as
passagensestãotãocaras,é?
Depende do combustível e o
problemaestánaparidadein-
ternacional. Porqueeupago
40%mais que o gringo paga
emMiami [EUA]?
PorqueémaiscaronoBrasil?
Há impostos. Nos EUA, não.
Umestrangeiroquandoabas-
tece suaaeronavepara retor-
naraMiaminãopaga impos-
to.Eu[Azul]abasteçoparavi-
ajaraoRecifeepagoimposto.
Voo internacional não paga.
Émais barato ir paraMiami.
Isso é só uma questão tribu-
tária? Não.Temaformaco-
mosomos[aéreas]cobrados.
APetrobrasdizque,seelanão
existisse, teríamosde impor-
tar [combustível], e aí paga-
ríamos impostos e encargos
—o que daria 40% acima da
paridade internacional. Por
quemecobramamaisemci-
ma de umproduto que já es-
tá aqui, que não está sendo
transportado?Edepois inci-
deaindaoICMS.Oproblema
aquiécomoseformaopreço.
Consideraqueháaberturano
novogovernoparadiscutiris-
so? OgovernoBolsonaroco-
meçoua estudar. Achoqueo
novo governo vai querer es-
timularmaisviajantesnopa-
ís. A classe A sempre vai via-
jar,mas as classes B eC, não.
É uma vergonha que o chile-
no,ocolombianoeomexica-
no viajemmais que os brasi-
leiros porque nesses lugares
o combustível émais barato.
Alémdisso,quandosevoaSão
Paulo-Rioe,porvontadedivi-
na, o aeroporto fecha, eu te-
nho de pagar hotel, comida,
transporteeaindacorrooris-
codesofrerprocessos judici-
ais. Como é possível vender
uma ponte aérea por R$ 40
seeutiverdebancarR$2.500
comcadapassageiro[quenão
voar por razões climáticas]?
Éporissoquenenhumacom-
panhialow-cost[baixocusto]
vempara cá.
Seresolver isso,então,opre-
ço da passagem cai? Sim. E
isso vai gerar emprego eme-
lhorar a economia.Cadavoo
daAzulajudaocaraqueven-
dequeijonoNordeste.Eomo-
toristadoUber,quetranspor-
tamais turistas.
Porqueosetornãoteveredu-
çãodoICMSsobrecombustí-
veis? Precisaperguntarpara
o governo. Nós pleiteamos.
Aliás, diferentedeoutrospa-
íses, as companhias brasilei-
rasnãoreceberamsubsídiona
pandemia. Os EUA concede-
ram US$ 100 bilhões para as
aéreasnãoquebrarem.AEu-
ropa também ajudou. Aqui,
só os aeroportos receberam.
AgoraaAzulvaidisputarcom
GoleLatamgrandescapitais
apartirdeCongonhas.Oque
vaimudar? Cadavezqueum
voodaGoledaLatamdecola,
achanceéde92%quevápou-
sar noRio, SãoPaulo ouBra-
sília. Eu estou voando o [cli-
entedo] agronegócio, o inte-
rior de Amazonas, Pernam-
buco, Bahia.Há cidades que
só são servidas pela Azul. A
GoleaLatamatendemcerca
de52cidades,cadauma.Mas
sãoasmesmas—juntasaten-
dem 58. Chego a 160.
No ano que vem, teremos
Congonhas. Vamos voar de
láparaBrasília,Curitiba,Con-
fins, Recife, e a ponte aérea
(Rio-SP).Nosúltimos14anos,
construímosumaempresasu-
per-rentável, semo subsídio,
vamosdizer,deCongonhas.É
fácil ganhar dinheiro emum
aeroporto em que você che-
gaaocentrodeSP,maiorPIB
do país. Esta é a última peça
donossoquebra-cabeça.Afo-
to vai sermais lindadepois.
Oquelevaacrerquecontinu-
arãosendodiferentessemre-
produzir o negócio da Gol e
Latam? Nossamalha édife-
rente e operamos com aero-
naves menores. Quando en-
trarmos emCongonhas, vou
voar para Porto Alegre, por
exemplo, e, de lá, conectar
commais dez cidades.
PorquealguémvaitrocarGol
eLatampelaAzulsóporcau-
sa da conectividade? Você
pode comprar Gol até Curi-
tiba,mas suamala pode não
chegar, você fará dois check-
in,passaránoraioXdenovo.
Quandovocêcompraa coisa
completa,não.ParaCaruaru
(PE), você voará de Congo-
nhasaoRecife, trocarádeae-
ronave, e seguirá até o desti-
no.Aexperiênciaeospreços
serãomelhores.
AAzul jáplanejousefundirà
JetBlueeàTAP.Nãofariasenti-
doretomaresseplanohojepa-
racompensaropesodocâm-
bio na operação? É sempre
bom ter parceiros, mas uma
coisasocietáriaécomplexae
não está nos planos.
Comoestãoasmargensdelu-
crodevidoàpandemia? Esta-
mosmelhorandoagora,mas
aindaqueimando caixa.
JohnRodgerson
Redução do bilhete aéreo
envolve revisão da política
de preço da Petrobras
painels.a.
Raio-X
Foi um dos principais
executivos da americana
JetBlue e entrou na azul em
2008. Mas atuoumuito antes,
quando ela ainda era uma
ideia de David neeleman,
seu fundador, na busca de
investidores para viabilizá-
la. em 2017, foi alçado à
presidência da companhia
e, neste ano, se tornou CeO.
Hoje cuida da estratégia.
JulioWiziack (interino)
painelsa@grupofolha.com.br
Para a Saúde, porém, Lula
tem semostrado irredutí-
vel na indicação de Nísia
Trindade,ex-presidenteda
Fiocruz(FundaçãoOswal-
doCruz).Porisso,Liratam-
bém colocou como opção
uma indicação para o Mi-
nistério das Cidades —de
preferência, com uma es-
trutura que abrigue a Co-
devasf (CompanhiadeDe-
senvolvimentodosValesdo
SãoFranciscoedoParnaí-
ba), estatal que toca diver-
sas obras em estados es-
tratégicos para o centrão.
AlgunsintegrantesdoPT,
noentanto,acreditamque
asexigênciasdeLirapodem
se tornar intransponíveis,
convertendo a aprovação
daPECaindanesteanoem
umaincógnita.Alémdeter
ampliadoa fatura—opre-
sidente da Câmara já ha-
via obtidoapoiodoPTpa-
ra se reeleger aocomando
daCasa—,onovogoverno
precisacomporcomoutros
partidos que também rei-
vindicamum lugar nopri-
meiro escalão.
Se o impasse não for re-
solvido, membros do PT
começam a cogitar a ne-
cessidadedeacionaraúlti-
madasalternativas: recor-
rer ao STFou aoTCU (Tri-
bunaldeContasdaUnião)
para garantir ao menos a
continuidadedobenefício
mínimo de R$ 600 do Bol-
sa Família.
OpresidentedoTCU,mi-
nistroBrunoDantas,decla-
rounaquinta(15)queacor-
te de contas já firmoupre-
cedentesquepodemservir
debaseaonovogovernona
aberturadeumcréditoex-
traordinário (fora do teto
degastos)parabancardes-
pesasadicionaisdoprogra-
masocialnaviradadoano.
A via do crédito extraor-
dinário,porém,nãoresolve
todasaspromessasdecam-
panhadeLula,comoacria-
çãodobenefíciodeR$ 150
por criança ou a correção
dosaláriomínimoacimada
inflação.Alémdisso,esseti-
podecréditoficaforadote-
to,masécontabilizadoem
outrasregrasfiscais,como
ametafiscal—quelimitao
déficitaR$65,9bilhõesno
anoque vem.
O chamado “plano B” já
foi citado como alternati-
vaemcasoextremopordi-
ferentesintegrantesdono-
vogoverno, incluindoovi-
ce-presidenteeleito,Geral-
doAlckmin(PSB),eosena-
dor eleitoWellington Dias
(PT-PI),designadoparane-
gociaraPECnoLegislativo.
Mas o discurso é o de que
Lula preferiu adotar a saí-
da pela política, dialogan-
docomoCongressoatual.
Poroutrolado,aexistên-
ciadoplanoBtambémtem
sido usada pelos petistas
comoumaferramentapa-
ra tentar reduzir o senso
de urgência da PEC—que
temdadoaopresidenteda
Câmarapoderdebarganha
nas tratativas.
Na avaliação do relator-
geral do Orçamento de
2023, senadorMarceloCas-
tro(MDB-PI),osparlamen-
taresdevemcolocarnaba-
lançatambémoscustosde
nãovotaraPECaindaneste
ano.Elelembraqueotexto
busca garantir a continui-
dade de pagamentos a fa-
mílias em situação de po-
breza e extrema pobreza,
além de recompor recur-
sos para áreas de educa-
ção e saúde.
“Tudo pode acontecer,
maséopiorcaminho[não
votaraPEC].Omelhorca-
minho é aprovar na terça
[20] e votar meu relatório
[doOrçamento]naquarta
[21].Prazotem,agorapreci-
satambémteracompreen-
são [dos parlamentares].”
PT busca vencer
barreiras na
Câmara e
aprovar PEC em
semana decisiva
Continuação da pág. A19
-Fábio Pupo e
Idiana Tomazelli
Brasília A proposta em dis-
cussãonoCongressoparare-
comporgastosnoOrçamento
de2023,primeiroanodanova
gestãodeLuiz InácioLulada
Silva (PT), pode elevar a des-
pesaematé0,6pontopercen-
tualdoPIBemrelaçãoaoob-
servado neste ano, segundo
cálculos da FGV (Fundação
GetulioVargas).
A estimativa para a PEC
(propostadeemendaàCons-
tituição)—jáaprovadanoSe-
nado e agora emanálise pela
Câmara— indica que o valor
acertado pelos parlamenta-
res está acima do que seria o
chamado“gastoneutro”,istoé,
aquelequemanteriaomesmo
patamardedespesas doúlti-
moanodeJairBolsonaro(PL).
Aneutralidadefoiabandei-
ra levantadapeloseconomis-
tasdatransiçãoerapidamen-
teincorporadapelaalapolíti-
ca,para tentaraplacarascrí-
ticasdomercado—quevêco-
mo aceitável um valor mais
próximodosR$ 100bilhões.
PEC,porsuavez,abrecami-
nho para gastos acima desse
patamar.Adespesaextraanu-
al é estimada emR$ 169,1 bi-
lhõespeloTesouroNacional,
maspodechegaraatéR$193,7
bilhões em 2023 caso o novo
governo use todos os recur-
sosesquecidosnoPIS/Pasep
(R$ 24,6 bilhões) de uma só
vez. No entanto, essa última
parcela pode ficar diluída ao
longodos anos.
PesquisadoresdoIbre(Ins-
titutoBrasileirodeEconomia)
daFGV,oseconomistasMano-
el Pires (ex-secretário doMi-
nistériodaFazenda)eGilber-
to Borça consideraram uma
série de variáveis para che-
gar à conclusão de que, para
manter as despesas no mes-
monívelde2022 (emrelação
ao PIB), a fatura extra deve-
ria ficar entre R$ 102 bilhões
eR$ 152bilhões em 2023.
Ointervaloéamploporque
dependedediferentesfatores:
crescimento real do PIB no
ano que vem e a variação de
preçosdosbenseserviçospro-
duzidosnopaís (odeflator).
Mesmoassim,épossíveltra-
çar uma espécie de interva-
lo mais provável, que ficaria
numintervaloentreR$120bi-
lhõeseR$ 140bilhões,segun-
doBorça.Essecenárioconsi-
deraumaexpansãodaecono-
mia de 1,5%noanoque vem.
Borçadizque,casoosgastos
extrasem2023fiquempróxi-
mosaopisodeR$169,1bilhões
previstopelaPEC,aaltanoin-
dicadordespesa/PIBseráem
torno de 0,4 ponto em 2023.
Se alcançaro tetodeR$ 193,7
bilhões, diz ele, o avanço se
aproximaráde 0,6ponto.
Embora reconheça que a
versãoatualdaPECrepresen-
te ampliação no patamar de
despesas, Borça ressalta que
isso não necessariamente é
um problema. Em sua avali-
ação, o valor do gasto neutro
apresentado pela transição é
maisumbalizadorparaasdis-
cussões,dadoquehaviapedi-
dosexageradosdaalapolítica
eaomesmotempopressãodo
mercadoparaumenxugamen-
tomaisdrásticodaproposta.
“Omuitooupoucosempre
vai ser relativo. Dado que a
economia tende a se desace-
lerarnoanoquevem,esseau-
mento eu não considero tão
preocupante”, diz. Para ele, a
Estudo contraria
tesede ‘PECneutra’
e vê alta de gastode
até0,6pontodoPIB
PT sustenta que propostamanteria patamar de
gastos de bolsonaro; situação não preocupa, mas é
necessário compensação, diz pesquisador da FgV
desaceleração da atividade
confere aos gastos um certo
componente contracíclico,
isto é, capaz de amenizar os
efeitosnegativosesperadose
sustentar a economia.
“Porumlado, a recomposi-
ção dos gastos é necessária,
porque estamos com o Esta-
do na iminência de um shut-
down [apagão orçamentário
que afeta seu funcionamen-
to]”,diz.“Aperguntalegítimaé
comoessegastovaiserfinan-
ciado,porquevocêvaiprecisar
dealgumafontepermanente.”Paraospesquisadores,aau-
sência de fontes de financi-
amento claras e bem defini-
dasgerariaumadeterioração
do resultadofiscal e uma tra-
jetória crescenteparaoendi-
vidamentopúblico.Borçacita
comosaídas cortesdeoutras
despesas ou aumento de car-
ga tributária.
Aincertezasobreocaminho
da dívida pública nos próxi-
mosanostemalarmadoana-
listasepressionadotaxasco-
bradas doTesouropelomer-
cado.ParaBorça, issosódeve
começaraseacomodarquan-
do o governo apresentar seu
desenho de nova regra fiscal
—oqueprecisaserfeitoatéo
fimdeagostode2023, embo-
ra o governo eleito queira se
anteciparaessecronograma.
“Oqueuma regra fiscal de-
veriaabraçar?Eladeveriaper-
mitir uma flexibilidade e al-
gum caráter anticíclico, mas
ser rígida o suficiente para
umatrajetóriasustentávelda
relaçãodívida/PIBamédio e
longo prazo. Calibrar isso é
importante”, afirmaBorça.
O argumentode que a PEC
não traz expansão foi usado
inclusivepelofuturoministro
da Fazenda, Fernando Had-
dad. “Qual o Orçamento de
2023quetemqueseraprova-
doparaqueopresidenteLula
tenhaemseuprimeiroanode
governoomesmovalorqueo
Bolsonarotevenoúltimoano
de governo, [em termos de]
despesa emrelação aoPIB?”,
questionou em sua primeira
entrevista coletiva após ser
anunciadoparao cargo.
Haddad citou que o valor
emquestãoseriadeR$150bi-
lhões,mas em seguida ouviu
deumjornalistaqueaPECge-
ra uma expansão sobre 2022
mais forte que a comenta-
da.“ComoproporçãodoPIB,
não”, respondeu, para emse-
guida complementar: “Bom,
0,1[pontopercentual]talvez”.
Oscálculosdospesquisado-
res apontamque a expansão
podeficaracimadisso,embo-
raoutrosfatorespossamcom-
pensar essemovimento. Por
exemplo,adinâmicafiscalde
estados e municípios —que
também afeta a dívida bruta
(quecondensanãosóospas-
sivosdogoverno federalmas
tambémdosentesregionais).
Eminíciodemandatoecom
perdas significativasnaarre-
cadaçãodevidoàmudançano
ICMSsobrecombustíveis, os
estadospodemenxugar gas-
tos e começar 2023 fazendo
um ajuste em suas contas. A
mesmapráticadeveserincor-
porada pelosmunicípios pa-
rapreservarseuscaixas,pre-
veemos economistas.
Seessecenáriodeajustenos
estados emunicípios se con-
cretizar, a redução de despe-
sas nesses governos poderia
contrabalançar parte ou to-
da a expansão fiscal pratica-
da pelo governo federal.
“
Por um lado,
a recompo-
sição dos
gastos é
necessária,
porque
estamos com
oEstado na
iminência de
umshutdown
[apagão orça-
mentário que
afeta seu fun-
cionamento].
A pergunta
legítima é
como esse
gasto vai ser
financiado,
porque
você vai
precisar de
alguma fonte
permanente
Gilberto Borça
pesquisador
do ibre
(instituto
brasileiro
de Economia)
da FgV
$
RelAção
despesA/pIB
2022
18,5%
2023 (proposta
enviada por
Bolsonaro)
17,1%
2023
(considerando
efeitos da PEC)
18,9%a 19,1%
Fontes: Tesouro
nacional, manoel
Pires e gilberto
borça (ibre FgV).
a eee Domingo, 18 DE DEzEmbro DE 2022 A21
a eee
mercado
A22 Domingo, 18 DE DEzEmbro DE 2022
Riode JaneiRo,Maceió, SalvadoR
eSãoPaulo Aida,63,noRiode
Janeiro, prefere dormir a en-
cararamesavaziananoitedo
Natal.Elaine,39,deSalvador,
chegaaodiadaceiaracionan-
docomidaparaafamília.Ro-
sali, 47, de Maceió, mora em
nova casa demadeira,mas a
geladeira deverá seguir sem
nadaneste fimde ano.
AFolharevisitounestemês
pessoasemsituaçãovulnerá-
velemquatroregiõesmetro-
politanas e constatou que a
insegurança alimentar ain-
daafetaos laresmaispobres.
AidaHerminiodosSantos,
63, temumplanopara a noi-
te de Natal: dormir. A mora-
dora deNova Iguaçu, na Bai-
xadaFluminense,afirmaque
estárecebendooAuxílioBra-
sil,masandacomoorçamen-
to apertado, o que impede o
preparodeumaceiaparaafa-
mília na data festiva.
“OmeuNatal vai serassim:
voupassardormindo.Infeliz-
mente, não tenho condições
demontar umamesa e rece-
berminha família aqui. Esse
tempo já se foi”, dizAida,que
vive comocompanheiro.
Emmarçodesteano,elafoi
entrevistadapelaFolhapara
uma reportagem sobre de-
semprego de longa duração.
Àépoca,estavasemtrabalho
haviadoisanos.Apósapubli-
caçãodareportagem,Aidare-
cebeu doações e conseguiu
voltaracozinharcombotijão
de gás, um itemquehavia si-
dotrocadopelofogãoalenha.
AmoradoradaBaixadaFlu-
minense, contudo, continua
sem um emprego fixo. O pa-
gamento do Auxílio Brasil
—ampliadopelo governo fe-
deralemagostoparaR$600—
ajudounasdespesas,masela
diz que ainda busca doações
para o sustentoda casa.
Ao longodoano,Aida tam-
bémpassou a cuidar de dois
netos. Seu desejo é retornar
para omercado de trabalho,
mas a idade é considerada
um obstáculo adicional pa-
ra a conquista deumavaga.
RosaliAlexandredeSouza,
47, de Maceió, recebeu a Fo-
lhaemsuanovacasa, feitade
madeiraapósaquedadaante-
riornoperíododechuvaque
atingiu o Nordeste. Livrar-se
do aluguel foi a conquista de
2022, embora considere este
o seu anomais sofrido.
Apesar do imóvel próprio,
a geladeira continua vazia.
“Não tenhovergonhadedi-
zerquehojevoucomerumar-
roz,umpoucodefeijãoevou
fritarumamortadelaparato-
do o mundo. No jantar, cus-
cuz com leite de caixa. É as-
simmesmo.Essefoimeuano
maisdifícil,quechegoevejoa
geladeiravaziapraticamente
todos os dias”, diz ela.
Por causa da filha Yasmin,
18, e da neta Jasmin, 7, a casa
foidecoradaparaoNatal.Na
porta,umamensagemde“Fe-
lizNatal”, lumináriaseumcha-
péu,assimcomoalgunspou-
cos detalhes espalhados nos
cômodos,todosfeitosdema-
terial reciclável.
“De vez em quando, já es-
tamos conseguindo carne e
frango,masnãovamos fazer
uma ceia daquelas nesse fim
de ano. Arroz e alguma coisa
que conseguirmos com doa-
ção.Erameucostume juntar
todo o mundo, comer bem,
mas émuitodifícil. Você vê a
geladeira vazia, como foi da
outra vez que vieram, e não
éumasurpresa.Nemnapan-
demiaeradessejeito”,afirma.
EmSalvador,noiníciodeca-
damês,adespensanacasada
ambulanteElaineCostaSilva,
39, está, namedidadopossí-
vel,abastecidaparaalimentar
as cincopessoas quemoram
no local: ela, as filhas Elaiza,
18, e Evelyn, 13, e as duas so-
brinhas,Mileide,17,eIlana,4.
Apartirdaterceirasemana,
éprecisoracionaratéreceber
o Auxílio Brasil, única renda
fixa da família. Nestemês de
Natal,oarrochoprometeser
maior, já que não tem sobra-
do dinheiro para Elaine pro-
duzirosmateriaisdelimpeza
quecostumavendernasruas.
OsR$600dobenefício vão
sóparaalimentação.Casoes-
tivessecomasvendasemdia,
eladiz,a famíliateriaumadi-
cional de atéR$ 200.
Apesardasdificuldadesco-
tidianas,Elaineprefereconti-
nuarcomasvendasincertasa
terumtrabalhocomoempre-
gada doméstica. “Como não
tenho estudo, sempre traba-
lhavaemcasadefamília,mas
eramuita humilhação.”
Elainenãoprecisausaroau-
xílioemdespesascommora-
dia,aexemplodoaluguel,pois
vivecomafamíliaemumbar-
racodemadeiranobairrode
Vista Alegre, no subúrbio da
capital baiana.
Poroutro lado,ogásdeco-
zinha, cujo botijão de 13 kg
emSalvadorcustaapartirde
R$120,consomequase25%da
rendadacasa.“Quandoacaba
o gás, se a gente não tiver di-
nheiro, precisamoscozinhar
com lenha”, afirma.
Silva nem cogita preparar
algo especial para passar a
noite deNatal coma família.
“Para a gente, será como
um dia comum como qual-
quer outro, de luta pela so-
brevivência.Nadaplanejado.”
Elatambémdiznãotermo-
tivos para comemorar, des-
de que o filho Yan Barros foi
assassinado aos 19 anos, em
abril de 2021. O jovem foi en-
contradomortoapóssuspeita
defurtarcarneemumsuper-
mercado emSalvador.
“A última vez que celebra-
mosoNatal,quedecoramosa
casa,foiem2020,quandomeu
filhoestavavivo.Depoisquefi-
zeramaquelabarbaridadecom
ele, que era a alegria da casa,
fimdeanoaquié só tristeza.”
JánamesadePriscillaRibei-
ro,42,moradoradeHeliópo-
lis,maiorfaveladeSãoPaulo,
ochestervai voltarnesteNa-
tal.Asituaçãodadonadecasa
melhorou em relação a 2021,
quando a celebração passou
como “umdia normal”.
Desempregadadesde2020,
Priscillaviuasuarendasere-
duziraovalordoAuxílioBra-
sil ao longodessesdois anos.
Eventuaisaumentossedevem
a vendas informais, na sua
própriacasa,deaçaíepicolé.
Priscilla temsetefilhos, eo
orçamentoprecisasustentar
cinco deles. Em alguns mo-
mentos, a contanão fechou.
Quandofoientrevistadape-
laFolha emabril de 2021, ha-
viatrocadoacarnequeacom-
panhavaopratodearrozcomfeijão por ovo e salsicha.Ho-
je, o alimento voltou,mas só
duas vezes pormês.
“Domeiodo anopara cá, o
preço dasmisturas deu uma
caidinha”, afirma.
Apesardaleverecuperação
financeira,afamíliaaindapas-
sa por dificuldades. Salsicha
econgeladosdefrangoainda
entramnocardápioquandoas
Semdinheiro,
famílias pobres
ficamsema
ceiadeNatal
reportagem revisita grupos em
situação vulnerável; ‘vou passar
dormindo’, diz moradora de Salvador
Rafaela Araújo/Folhapress
Itawi Albuquerque/Folhapress
1
2
3
4
a eee
mercado
Domingo, 18 DE DEzEmbro DE 2022 A23
0
50
100
150
200
250
300
Oscilação na produção de grãos
Produção de arroz e feijão estanca, demilho e soja, sobe
Produto/safra, em mil toneladas
*Considerando todas as safras. **Previsão em dez.2022
2022 a
2023**
0
50
100
150
200
1976 a
1977
1986 a
1987
1996 a
1997
2006 a
2007
2016 a
2017
2021 a
2022
2022 a
2023**
0
10
20
30
40
50
1976 a
1977
1986 a
1987
1996 a
1997
2006 a
2007
2016 a
2017
2021 a
2022
12.145
19.256
8.993
2.066
2.215
Soja
153.478
Milho*
125.827
Arroz
10.378
Trigo
9.550
Feijão*
2.894
Área plantada
Produto/safra, em mil hectares
Soja
43.407
11.797
Milho*
22.337
6.949
Trigo
3.056
3.153
Feijão*
2.792
4.539
Arroz
1.464
5.992
Menos produção e mais exportação deixam preços internos mais
vulneráveis a oscilações
Índice geral
Alimentação no domicílio
Arroz
Feijão-carioca
Feijão-preto
Millho em grão
Fubá
Flocos de milho
Óleo de soja
Farinha de trigo
Inflação em 12meses
Em%
Em R$/saca
Inflação em nov.
5,9 0,41
0,58
1,46
-1,18
1,19
4,63
-0,04
2,19
0,33
-0,56
13,32
0,32
15,84
-10,94
32,4
5,99
16,69
5,14
34,76
Soja e milho são os principais grãos exportados pelo Brasil
De jan. a nov.
Emmil toneladas
Variação ante 2021
Em%
Variação no preço
Em%
Participação no total de exportações
Em%
Milho
Soja
Arroz
37.193
77.000
820
118,5
-7,6
371,2
39,6
32
1,4
3,4
14,7
0,1
Preços ao produtor*
*Segundo a cotação do indicador Cepea no último dia de novembro dos últimos cinco anos
**Cotação média; em 2022, refere-se ao mês de outubro
Fontes: Cepea, Ibrafe, IBGE, Conab e Secex
Feijão preto**
Soja
Milho
Arroz
205,68
Feijão-carioca**269,09
184,38
86,20
87,25
82,78
37,81
40,68
131,78
99,58
2018 2019 2020 2021 2022
-Fernanda Brigatti
SãoPaulo Aduplaarrozefei-
jão é uma das preferidas da
mesa brasileira, mas tem ca-
da vez menos espaço nas la-
vouras.Perde,anoaano,área
paraoutrosgrãoscomoaso-
ja e omilho, duas das princi-
pais commodities agrícolas
brasileiras para exportação.
Com o avanço, o Brasil re-
duz a produção de alimen-
tos para pessoas e aumenta
a produção daquilo que será
transformadoemraçãopara
animais, especialmente por-
cos e aves, e emóleo de cozi-
nhaemindústriasdealimen-
toslocalizadasprincipalmen-
tenaChina,nocasodasoja,e
no Irã, comomilho.
A China foi o destino, até
novembro de 2022, de 68,3%
das exportações de soja. As
vendasexternasdemilhono
mesmo período, segundo a
Secex (Secretaria de Comér-
cio Exterior) do Ministério
daEconomia, forampara Irã
(17%do total), Japão (11,8%),
Espanha(11%)eEgito(10,4%).
O resultado, para omerca-
do interno, é inflacionário.
Alémdeperderemárea,fei-
jão e arroz para consumo in-
terno sofrem também com
o aumento das exportações
dessesgrãos.Boasparaquem
produzeestánegociandoem
dólar, as vendasexternaspo-
dem ser ruins para quemvai
aovarejocomprarseuspaco-
tes de 1, 3ou 5quilos.
Oprofessordeeconomiain-
ternacional da FEA-USP (Fa-
culdadedeEconomia,Admi-
nistraçãoeContabilidadeda
UniversidadedeSãoPaulo)Si-
mão Silber diz que esses ali-
mentos tambémenfrentam,
desde 2015, a redução na de-
manda como consequência
de surtos inflacionários.
“Semdinheiro, o consumi-
dor migrou para outros ali-
mentos,comomacarrão.Ele
teve que mudar a dieta por
questões de orçamento, por-
quenarendadelepassaanão
caberopratoderesistência,o
arroz, feijãoealgumacarne.”
A POF (Pesquisa de Orça-
mentoFamiliar)doIBGE,que
medeoqueosbrasileiros es-
tãoconsumindoeservedere-
ferênciaparaacestada infla-
ção,mostrouquedanoconsu-
modearrozefeijãoem2017e
2018nacomparaçãocom2008
e2009.Oconsumofrequente
de arroz passou de 84%para
76,1%, e o de feijão, de 72,8%
para60%.
Essareduçãotambémarre-
feceointeressedequempro-
duz.NoRioGrandedoSul,on-
decercade70%daprodução
dearrozestáconcentrada,pe-
lomenos500milhectarespas-
saramaserdestinadosàsoja
nosúltimosdoisanos.Háain-
daosquepassaramaplantar
milhoou trigoea criar gado.
“Soja temmercado futuro.
O produtor planta já saben-
do por quanto vai vender, e
ocustoporhectareéameta-
de do arroz. De R$ 6.000 por
hectare com a soja, ele gas-
ta R$ 12mil como arroz”, diz
Alexandre Velho, presidente
daFederarroz(Federaçãodas
AssociaçõesdeArrozeirosdo
RioGrandedo Sul).
Nesteano,aproduçãogaú-
chadearrozdeveráser100mil
hectares menor do que a do
anopassado (de950mil hec-
tares para 850mil hectares),
justamente pela maior atra-
tividade de culturas destina-
das à exportação.
As vendas externas de ar-
roz também subiram. De ja-
neiro a novembro, o aumen-
to é de 371% na comparação
comomesmoperíododoano
passado.Segundoorepresen-
tantedosarrozeiros,ocâmbio
favoreceu o Brasil, deixando
o arroz brasileiromais bara-
to do que aquele produzido
Arroz e feijãoperdemespaço
para grãosusados emração
Alimentos básicos são substituídos nas lavouras brasileiras por soja e milho
nos Estados Unidos, e que é
vendido principalmente pa-
ra o México e demais países
daAméricaCentral.
Emoutubro,30mil tonela-
das de arroz com casca (que
ainda não passou pelo bene-
ficiamento na indústria) fo-
ramcompradospeloMéxico.
Velho admite que a combi-
naçãode fatorescomoades-
tinação de áreas para soja e
para pecuária e as exporta-
ções pode gerar pressão de
preços,ouseja, subiroquan-
to paga o consumidor final.
Eledefende, noentanto, que
oarrozbrasileiroébaratona
comparaçãocomaprodução
de outros países e temquali-
dade superior.
“Pode trazer uma pressão
depreços,masaindaébarato.
Sehouverumrealinhamento
depreços,vaiserpequeno,vai
passardeR$4porquilopara
R$ 4,40”, diz. Segundo o IEA
(InstitutodeEconomiaAgrí-
cola), ligado à Secretaria de
Agricultura e Abastecimen-
to do governo de São Paulo,
o quilo do arroz acumula al-
ta de 5,44%aténovembrode
2022 e custavaR$ 4,94.
Ocasodofeijãoéaindamais
complicado, especialmente
para quem faz questão do ti-
po carioca. Semmercadoex-
ternoparaessavariedade,os
produtoresplantamcadavez
menos um dos favoritos do
consumidorlocal.De janeiro
a novembro de 2022, o feijão
carioca acumula alta de 19%.
Em 12meses, o aumento es-
tá em 15,84%.
Em São Paulo, no dia 8 de
dezembro, a saca de feijão-
carioca chegava a R$ 415, se-
gundooIbrafe(InstitutoBra-
sileirodeFeijãoePulses).No
mesmodia,o feijãopretoem
MinasGerais custavaR$290.
MarceloLüders,presidente
doinstituto,nãovêmuitasaí-
daparaodilemadotipocari-
oca.Ojeito,naavaliaçãodele,
éoconsumidor seabrirpara
outras variações, como o ra-
jado (que parece o carioca).
Cerca de 60% do consumo
domercado internobrasilei-
ro ainda é do feijão-carioca.
E essa variedade enfrenta
aindaumasegundadesvanta-
gem, a perda de área para as
commodities e que afeta to-
dos os tipos de feijão. A área
plantadatotalnoBrasilnasa-
fra2022/2023, somadastodas
as variedades, será, segundo
projeção na Conab (Compa-
nhia Nacional de Abasteci-
mento), amenordesde 1976.
Aestimativadacompanhia
é de 2,7milhões de hectares
destinadosaosfeijões;46anos
antes,eramde4,5milhõesde
hectares.Nomesmoperíodo,
aprodutividademelhoroue,
porisso,aperdadeáreaplan-
tada não chegou a represen-
tarumareduçãonaprodução.
Porém,aevolução,emquase
50anos,équase insignifican-
te. De 2,2milhões de tonela-
das na safra de 1976 para 2,8
milhões na safra de 2022.
OIbrafeprojetaqueonúme-
rofinaldassafrasdesteanofi-
cará abaixo das projeções da
Conab. O resultado tem ori-
gemsimilaraoquevemacon-
tecendo com o arroz: o mer-
cadode commodities émais
estável e rentável doque tra-
balhar comos feijões.
Ocomércioexteriordecom-
modities é o que Silber, da
FEA-USP,consideraum“mer-
cadomuitobemestabelecido”,
quevemseestruturandodes-deofimda 2ªGuerraMundi-
al,comaltoníveltecnológico.
“Vocêtrazparaopresentea
perspectivadesafrasfuturas,
algoquedámuitaestabilidade
paracompradorevendedor,e
isso a gente não tem nas cul-
turastradicionais”,diz.Ofluxo
comercial, segundo o profes-
sor, tambémrepresentauma
escolha feita pelo agronegó-
ciohámuitosanos, adeprio-
rizarocomérciointernacional.
Na tentativa de melhorar
as condições do mercado e
incentivar a produção de va-
riedades com boa receptivi-
dade internacional, o insti-
tuto dos feijões definiu uma
série de estratégias para es-
te e o próximo ano. A possi-
bilidade de exportar, diz Lü-
ders, dá uma salvaguarda ao
produtordequemesmoque
oconsumo internodiminua,
há possibilidade de escoar a
produção.
Entre as apostas do setor
está a receptividade do cres-
centemercadoveganoevege-
tariano, no qual feijões e ou-
trospulses,comosãochama-
dos lentilha, ervilha e grão-
de-bico,sãoconsideradosim-
portantesfontesdeproteína.
A entidade queria realizar
nesteanoumeventonalinha
doRallydosSertões—batiza-
dodeRallydosFeijões—du-
rante o qual promoveria ro-
dadas de negócios, palestras
e discussões sobre o merca-
doemcidadesdo interiorde
MatoGrosso, importantepo-
lo produtor. Marcado para o
iníciodenovembro,precisou
adiar o evento.
Naépoca,contouLüders,o
agro mato-grossense estava
parado, com medo de plan-
tar, emobilizadoematosan-
tidemocráticos contra o re-
sultadodas eleiçõesde 30de
outubro.
SegundoaConab,embole-
timdenovembro,aáreaplan-
tadadefeijãoemMatoGrosso
foireduzidapelametade,“em
detrimentoprincipalmenteà
culturadomilho”.Em2021, o
Brasilregistrourecordenaex-
portaçãodefeijãocaupi(tam-
bémconhecidocomomacás-
sar, fradinhooufeijão-de-cor-
da),osegundomaisproduzi-
donopaís.
contasapertam,eopernil
deNatal,quePriscillaque-
riaparaanoitedefesta,vai
ficar para o anoque vem.
Entrevistada pela Folha
em 2021, Samantha Silva,
34, continua a morar em
umaocupaçãoeafirmaque
asdificuldadeseconômicas
persistem.
“Ainda estamos passan-
doaperto,principalmente
coma chuva que teve nes-
tesdias.Tivequeusarofo-
gãoegastargás.Mastemos
que dar graças a Deus por
termosumteto. Tenho re-
cebidooAuxílioBrasil, é o
que estámeajudando.”
Háseisanosforadomer-
cado de trabalho, ela tem
dificuldadeparaconseguir
umemprego,mesmoseins-
crevendoemcursosgratui-
tosderecolocaçãoprofissi-
onal. Neste ano, ela conta
queenfrentamaisumpro-
blema: a dificuldade para
retomar o tratamento de
lúpus. Embora relatando
muitocansaçoedesânimo
por causa das manchas e
dores do lúpus, Samantha
tem fé em 2023.
“Se Deus quiser, o ano
quevemvai serumanode
vitórias.”LeonardoVieceli,
Josué Seixas, Franco Adail-
ton, Daniela Arcanjo e Ana
Paula Branco
1 Aida dos Santos, 63, de
Nova Iguaçu (RJ), diz que
vai passar a noite de Natal
dormindo; 2 emHeliópolis
(SP), Priscilla Ribeiro, 42, e
os filhos não terão pernil;
3 emSalvador, Elaine
Silva, 39, afirma que será
umdia normal; 4 ‘nemna
pandemia era desse jeito’,
diz Rosali de Souza, 47, ao
lado da neta, emMaceió
Karime Xavier/Folhapress
Eduardo Anizelli/Folhapress
a eee
mercado
A24 Domingo, 18 DE DEzEmbro DE 2022
2ªVara Judicial de
CasaBranca/SP
1ª Praça
Leilão
Judicial
www.maisativojudicial.superbid.net
(11) 4210-3084
cac@majudicial.com.br
LeiloeiroOficial - RenatoSchlobachMoysés - JUCESPnº654
A.T. 260m²
Encerramento:02/02/2023
apartir das 14h00
Loc.:MonteVerde /MG
ID: 224651
Imóvel Residencial
28ªVaraCível doForo
Central daCapital/SP
2ªPraça
Leilão
Judicial
www.maisativojudicial.superbid.net
(11) 4395-3239
cac@majudicial.com.br
LeiloeiroOficial - RenatoSchlobachMoysés - JUCESPnº654
A.T 1.068m², A.C. 663m², 6Suítes,
Churrasqueira, Piscina, Vagas
Loc.: Butantã, SãoPaulo/SP
Encerramento: 26/01/2023
apartir das 14h00
ID: 223983
CasaAssobradadae
Respectivo Terreno
2ªVaraCível de
Guaratinguetá/SP
2ªPraça
Leilão
Judicial
www.maisativojudicial.superbid.net
(11) 4395-3239
cac@majudicial.com.br
LeiloeiroOficial - RenatoSchlobachMoysés - JUCESPnº654
A.T.C. 125m²
Encerramento: 31/01/2023
apartir das 14h00
Loc.: Ubatuba, SãoPaulo/SP
ID: 224476
Apartamento-Cond.CostaAzul
4ªVaraCível de
Itapetininga/SP
1ª Praça
Leilão
Judicial
www.maisativojudicial.superbid.net
(11) 4395-3239
cac@majudicial.com.br
LeiloeiroOficial - RenatoSchlobachMoysés - JUCESPnº654
A.T.G. 530m², A.C. 274m²
Encerramento: 27/01/2023
apartir das 14h00
Loc.: Jd. Brasil, Itapetininga/SP
ID: 225019
50%do Imóvel Residencial
Compostode2 Terrenos
4ªVaraCível doForo
Regional daCapital/SP
2ªPraça
Leilão
Judicial
www.maisativojudicial.superbid.net
(11) 4395-3239
cac@majudicial.com.br
LeiloeiroOficial - RenatoSchlobachMoysés - JUCESPnº654
A.T. 400m²
Loc.: SãoPaulo/SP
Encerramento: 25/01/2023
apartir das 14h00
ID: 223818
SobradoComl. eRespectivo Terreno
Umguiapara
amicro,
apequena
eamédia
empresa.
-Sarah AlvesMoura
SãoPaulo Agricultoresfami-
liaresepequenosprodutores
rurais estão entre os líderes
nos índices de fome no Bra-
sil.Dadosdomaisrecentele-
vantamentodaRedePenssan
(RedeBrasileiradePesquisa
em Soberania e Segurança
AlimentareNutricional),di-
vulgadoemjunho,mostram
queainsegurançaalimentar
grave,quandoháfaltadeali-
mentose fome,atinge21,8%
dosdomicíliosdogrupo—a
média nacional é de 15,5%.
Desde o início da pande-
mia,oQuilomboEngenhoda
Ponte, no município de Ca-
choeira (BA), lida com esse
cenário.As49 famíliasdaco-
munidade,quevivemdapes-
caedaproduçãodeazeitede
dendê,defrutasedehortali-
çasorgânicas,relatamdificul-
dadepara obter alimentos.
“Semprenosalimentamos
do que produzimos e colhe-
mos. A gente já sofria coma
insegurança alimentar, e a
pandemiaveioparaagravar”,
dizMariaAbade,45, coorde-
nadoradaFrenteQuilombo-
ladoMovimentodosPeque-
nosAgricultores daBahia.
Comacrisesanitária,apro-
duçãodeixoudeserescoada,
earendasumiu.Afometam-
bémcresceunas comunida-
desvizinhas,queconcentram
mais 150 famílias de agricul-
tores. Doações e feiras soli-
dárias ajudaramo grupo no
picodaepidemia,mas asdi-
ficuldades permanecem até
hoje. Maria afirma que to-
dososdiasrecebepedidosde
quemnão temoque comer.
“Não conseguimos ter qua-
lidade de vida sem a garan-
tiadetodasasrefeições”,diz.
ONordesteéasegundaregi-
ãocommaioríndicedeinse-
gurança alimentar grave en-
tre agricultores familiares e
pequenosprodutores(22,6%),
atrás daNorte (40,2%).
Agricultoresfamiliarestêm
mãodeobrapredominante-
mente composta pelos inte-
grantesdacasaeproprieda-
des de até quatro módulos
fiscais —unidade de medi-
da agrária diferente em ca-
damunicípio, que varia de 5
a 110hectares. Extrativistas,
silvicultores, aquicultores,
povosindígenasequilombo-
las rurais também integram
ogrupopor lei.
Em2017,77%dosestabele-
cimentos agrários no Brasil
eramdeagriculturafamiliar,
segundooCensoAgropecuá-
rio. Já pequenos produtores
ruraispodemcontratarfun-
cionários e devem ter renda
anual de atéR$ 500mil.
Entre os agricultores que
passam fome no Brasil, só
16,7%retomaramaprodução
nos níveis anteriores à pan-
demiae6,4%recuperaramos
preços de venda. Esse cená-
rio é descrito como um cír-
culo vicioso pelo pesquisa-
dor Mauro Del Grossi: com
o poder aquisitivo da socie-
dadeprejudicadoeaaltados
alimentos,aescolhadocon-
sumidormigraparaprodutos
mais baratos, o que desesti-
mula a agricultura familiar.
“Aquelesquepoderiampro-
duzir alimentos saudáveis
não conseguem e também
passam fome. Devido à cri-
seeconômica,a saídadapo-
pulaçãoécomprarprodutos
demenorcustoepreparorá-
pido,masdebaixovalornu-
tricional”, afirmaDelGrossi,
professor daUnB.
As escolhas nos domicíli-
os rurais seguem o mesmo
padrão. A galinha caipira é
vendida para comprar a de
granja, mais barata. Cresce
a utilização de ultraproces-
sados —produtos que pas-
sampormuitastransforma-
ções e usam conservantes,
corantes e saborizantes pa-
ra ganhar atratividade e du-
rarmaistemponaprateleira.
Essassubstituições jácon-
figuraminsegurançaalimen-
tar leve.Depoisdela,existea
insegurança alimentar mo-
derada, quando a quantida-
dedealimentoséinsuficien-
te para todos, e a inseguran-
ça grave, de privação severa
quechegaàfome.“Ospeque-
nosagricultoresnãotêmali-
mentosdemelhorqualidadeouporquenãotêmrendaou
porquenãotêmcondiçãode
produzir para si. Então, op-
tampelosnãosaudáveis,que
podem levar à desnutrição
ou ao excesso de peso”, afir-
ma anutricionista LuizaVe-
losoDutra,professoradaUFV
(UniversidadeFederaldeVi-
çosa), emMinasGerais.
MariaAbadedizqueacons-
cientizaçãosobreasescolhas
alimentares no quilombo é
umaprioridade,masodebate
nãoésimplesquandohárisco
defome.“Comidadeverdade
tem valor nutricional muito
mais alto,mas você temque
escolher.SevocêtemR$50e
precisaalimentardezpesso-
as, vai comprar umproduto
quepodeagrediranatureza,
seu corpo, adoecer a sua fa-
mília,masencher abarriga.”
Esta reportagem foi produzida como
parte do 7º Programa de Jornalismo
de Ciência e Saúde da Folha, que teve
apoio do instituto Serrapilheira, do
Laboratório roche e da Sociedade
beneficente Albert Einstein.
Faltadealimentoatinge22%
dospequenosagricultores
Há dificuldade de vender produção, e famílias optam por comida barata
Confira 7 dicas para economizar
na ceia de Natal sem se endividar
-Ana Paula Branco
SãoPaulo Aaltadosalimen-
tos obriga o brasileiro a ser
criativo para garantir uma
ceia completa de Natal sem
seendividarparaopróximo
ano.Oplanejamentodeveser
feito o quanto antes.
Servirosprodutos tradici-
onaisficoucercade10%mais
caronesteanoemcompara-
ção a 2021.
Emmédia,éprecisogastar
R$294,75para levaravesna-
talinas,azeite,caixadebom-
bom,espumante, lombo,pa-
netone, pernil, peru, sidra e
tender neste mês, segundo
levantamento da Abras (As-
sociaçãoBrasileiradeSuper-
mercados).
Para quem já está no limi-
tedoorçamento,apressãoé
aindamaior.
“Pormaisquesejagrandea
vontadedeconfraternizar,é
importante controlar os ex-
cessoseestaratentoaosgas-
tosnocartãodecrédito, evi-
tandoodescontrolefinancei-
ro jánosprimeirosmesesdo
próximoano”,orientaReinal-
doDomingos,presidenteda
Abefin(AssociaçãoBrasileira
deEducadoresFinanceiros).
Umcaminhoéutilizaruma
parteda segundaparcelado
13º salário,pagaaquemtem
carteiraassinadaatéodia20
destemês, comparcimônia.
A recomendação é deixar a
maiorpartedorecursopara
negociar ou quitar dívidas e
investir, se possível.
Antesdeiniciarascompras,
é fundamental somar todos
os gastos previstos para de-
zembroejaneiro,quandohá
cobrança de IPTU (Imposto
PredialeTerritorialUrbano),
IPVA (Imposto sobre a Pro-
priedade de Veículos Auto-
motores), seguros e matrí-
culas escolares.
“Cairnodescontrolefinan-
ceironofimdoanoéumrisco
iminente, ainda mais neste,
com comemorações da Co-
padoMundo”,dizDomingos.
Veja mais orientações pa-
ra organizar a ceia.
*
Definaquantosconvidados
Apartirdessadefiniçãoserá
possívelcalcularaquantida-
de idealdepratosparaquea
“mesafarta”nãovireumfes-
tivaldesobrasedesperdício
Estabeleçaumvalor
A ceia deve obedecer ao pa-
drão de vida da família. Os
itens da ceia natalina repre-
sentamumcusto alto no or-
çamentonãosóporcausada
inflação mas também pela
maiordemandanestaépoca
doano.Sairdecasacomum
teto, evita o endividamento.
Sigaalistadosingredientes
O excesso de variedades é
uma das grandes causas do
desperdício.Omelhorépen-
sarempratosqueagradema
todos.Apostaremumasala-
da bem colorida e com fru-
tas da época ajuda a saciar
o apetite.
Seafamília forgrande,du-
ascarnescomopratoprinci-
pal são suficiente. Chester,
tender e peru tendem a ser
mais caros por serem tradi-
cionais nesta época.
Háreceitascomcarnessuí-
nasefrangorecheado,deme-
nor custo, que rendemboas
opções.
Varie o local das compras
Feiras livrespodemter itens
mais frescos e baratos. Fru-
tassecasecastanhaspodem
ser compradas emestabele-
cimentosquevendamagra-
nel. Para comprar itens em
grande quantidade, como
carnes e bebidas, há osmer-
cados atacadistas.
Encomendaralgunspratos
empadarias,restaurantesou
supermercadospodeajudar
aeconomizaradependerdo
númerode convidados.
Trocar alimentos e bebi-
dasimportadosporitensna-
cionais emaisbaratos ajuda
a se manter no orçamento
sem perder no sabor ou na
qualidade.
Nãodeixeparaaúltimahora
Ir a mercado cheio e movi-
mentado sem tempoe tran-
quilidadeprovocaestressee
pressa,oquepodemte levar
apegarosprodutosmaisca-
ros e desnecessários. Em ci-
mada hora, os preços ficam
mais ainda caros por causa
da alta procura.
Eviteo cartãode crédito
Pagar alimentos de forma
parceladapodeapertaroor-
çamento do início de 2023,
afinal há outras despesas tí-
picas,comoIPTU,IPVAema-
terial escolar.
Oacúmulodeparcelaspo-
delevaraodescontrolefinan-
ceiro. Entre os principais ti-
pos de dívida estão o cartão
decrédito,quelideradispara-
do,com86,2%emoutubrode
2022,calculaaCNC(confede-
raçãonacionaldocomércio).
Divida a comprae a ceia
Éumaformadecadaumser
um pouco responsável pela
noiteeninguémseendividar.
Deformaorganizadaecom-
provando os gastos, não ha-
verá problemas.
Catarina Pignato
a eee
mercado
Domingo, 18 DE DEzEmbro DE 2022 A25
“PIB” da indústria, comércio e construção
segue abaixo do nível de 2014
Agropecuária e serviços já completaram recuperação
Média de 1995 = 100
Média de 1995 = 100
50
100
150
200
150
200
250
Comércio
Indústria de
transformação
Construção
163,2
116,9
149,1
3ºtri.
2022
1º.tri.
2018
3ºtri.
2022
1º.tri.
2018
Agropecuária
Serviços
232,8
189,9
Fonte: Contas Nacionais Trimestrais/IBGE. Série com ajuste sazonal.
Valor agregado pelos setores e subsetores
-Eduardo Cucolo
SãoPaulo Trêssetoresrepre-
sentativos da economia bra-
sileira e que se destacaram
nos governos anteriores do
PTaindaseguemproduzindo
abaixodoverificadoem2014,
quandoopaísentrouemuma
dasmaioresrecessõesdasua
história: indústriamanufatu-
reira,comércioeconstrução.
Essas atividades eram res-
ponsáveis por 33% do valor
adicionado ao PIB (Produto
Interno Bruto) no início da
décadapassada.Nosúltimos
trêsanos,essaparticipaçãofi-
cou em 29%.
Nas Contas Nacionais do
IBGE, a indústria manufatu-
reiraeaconstruçãoestãoden-
trodograndesetorindustrial,
juntocomosegmentoextra-
tivistaeatividadescomoele-
tricidade, água e esgoto. Já o
comércioécontabilizadoco-
moparte do grupo serviços.
Oníveldeproduçãodama-
nufaturabrasileiraestácerca
de 15% abaixo do pico da sé-
riehistórica, que foi alcança-
do em 2013. O declínio do se-
tor, portanto, começou an-
tes da recessãode 2014-2016.
A construção e o comércio
tiveram seus picos no início
de 2014. A primeira ainda es-
támaisde20%abaixodaque-
le patamar. O segundoman-
témumadefasagemde 5%.
Esses resultados contras-
tam com o comportamento
da agropecuária, setor que
maiscresceudesdeoinícioda
sériehistóricadoIBGE, inici-
ada em 1995, e foi tambémo
primeiroaserecuperardare-
cessão.Osserviçoscomoum
todotiveramsuatrajetóriade
recuperação adiada por cau-
sa da pandemia, mas volta-
ramaopatamarpré-criseno
segundo semestre de 2022.
Construção
Entreostrêssetoresqueainda
nãovoltaram,aconstruçãoé
aquesofreuamaiorperdade
participaçãonoPIBnahistó-
ria recente, de 6,4% em 2013
para3,3%em2021.Acrisefis-
calqueresultouemcortesem
programasde investimentos
edehabitaçãopopular invia-
bilizouamanutençãodoalto
níveldeproduçãodosetoral-
cançadoháumadécada.
José Carlos Martins, presi-
dente da CBIC (Câmara Bra-
sileira da Indústria da Cons-
trução), afirma que o Brasil
tem hoje grandes projetos
de infraestrutura em anda-
mento,masquedemorampa-
radar resultado, eobrasque
demandambaixos recursos,
como construção de praças
e asfaltamento de avenidas.
“Faltainvestimentonacoisa
média.Aestradaquedáaces-
soàDutra, a vicinal, aponte,
oconjuntohabitacional”,afir-
ma Martins. “Para isso, pre-
cisa voltar a ter investimen-
to público. Mas não adianta
ter investimentopúblicosem
responsabilidade fiscal.”
PIBde indústria, construçãoe
comércio segueabaixode2014
Setores não devem zerar perdas em 2023; agro e serviços já se recuperaram
Nosúltimosdoisanos,ose-
torcresceuodobrodoPIB.Po-
decrescerotriploem2023,se-
gundoprojeçãodaentidade.
Martins diz que o setor che-
gou a 3milhões de trabalha-
dores com carteira assinada
nopico.Asvagascaírampara
2milhões nomomentomais
agudo e agora estão em 2,5
milhões.
Indústria
Outro segmento ainda sem
perspectivadevoltaraopico
é a indústria de transforma-
ção ou manufatureira, que
chegouarepresentarmaisde20% do PIB brasileiro na dé-
cadade 1970.Em 1980, foi ini-
ciado umprocesso de desin-
dustrializaçãoquereduziues-
saparticipaçãopraticamente
pelametade.
Trabalho dos economistas
AndréNassifePauloMorceiro
mostra que essa desindustri-
alizaçãonãoéumatendência
mundial.Ataxadecrescimen-
todovaloradicionadopelose-
torcaiunadécadapassadano
Brasil,masavançounamédia
daseconomiasmaisrepresen-
tativas, resultadopuxadope-
losemergentesChinaeÍndia.
Emalgunspaíses desenvolvi-
dos, comoEUAeJapão,elafi-
coupraticamenteestável.
“OBrasiléumcasoparticu-
lar. A participação da indús-
triadetransformaçãonoPIB
mundial não tem uma traje-
tória de queda. Está relativa-
menteestável.Sevocêexcluia
China,temumareduçãomui-
to pequena. Não há um pro-
cesso[global]dedesindustria-
lização”,afirmaRafaelCagnin,
economistadoIedi(Instituto
de Estudos para o Desenvol-
vimento Industrial).
Eleafirmaqueoutrospaíses
quetambémtiveramumará-
pidadesindustrialização,co-
mo Reino Unido e Austrália,
já haviamalcançadoumalto
níveldedesenvolvimentoan-
tesqueissoocorresse.Nãoéo
casodoBrasil.Naquelasduas
economias,a indústriaenco-
lheu, mas se tornoumais in-
tensiva em tecnologia e com
mais capacidade de agrega-
çãode valor.
“OBrasil temopiorcasode
desindustrializaçãoprematu-
ra.Umprocessodosmais in-
tensos do mundo, que ocor-
reuantesdeopaísenriquecer
equeefetuouossetoresmais
intensivos tecnologicamen-
te, que hoje são os que estão
na base da indústria 4.0”, diz
o economista do Iedi.
Para ele, o governo eleito
pode seguir os passos de ou-
traseconomiasquebuscama
reindustrialização,oquepas-
saporumEstadocomcapaci-
dadedearticulaçãoecoorde-
naçãojuntoaosetorprivado.
Comércio
Ocomércioéoutrosetorque
tem demoradomais a se re-
cuperardarecessãode2014-
2016, emboraestejapróximo
dealcançaropatamardaépo-
ca.Desde 2012, temumpeso
naeconomiaquesuperaoda
indústria de transformação
—cerca de 14%do valor adi-
cionadoaoPIBe20%depar-
ticipação no grupo serviços
como um todo.
ACNC(confederaçãonaci-
onaldocomércio)estimaque
osetordevafechar2022com
crescimentopróximode1,2%,
praticamenteomesmoresul-
tadodosdoisanosanteriores,
em um cenário de juros ele-
vados e inflação ainda alta.
Ovalorébeminferioraode-
sempenho do PIB brasileiro,
cujocrescimentonesteanoé
estimadoem3,1%edeveficar
em 1,6%namédia2020-2022.
Segundo a CNC, passados
quase dois anos e meio des-
deo inícioda crise sanitária,
ovolumedevendasseguecer-
cade 1%acimadoobservado
em fevereiro de 2020.
a eee
mercado
A26 Domingo, 18 DE DEzEmbro DE 2022
As histórias e as
brincadeiras da sua
infância reunidas na
estante do seu filho.
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Já nas bancas
Lula da Silva tem ainda seis
ministérios gordos para dis-
tribuirentrecandidatosaalia-
dosdogoverno.Quantoaesta-
tais, têmpoucacoisanobolso,
anãoserqueresolvafazerpica-
dinhodaLei das Estatais e jo-
gara imundícienoventilador.
Não temmais a Eletrobras,
históricocabidão.APetrobras
talvez não dê nem para o PT.
Bancos públicos maiores po-
demrenderalgumadiretoria,
mesmo assim com restrições
“técnicas”. RestamumaCode-
vasf, empresa de escoamento
orçamentário,porassimdizer,
fundações/fundosnaSaúde e
naEducação (grande riscode
roubançaaí),algumadiretoria
debancoregional, estataisme-
nores, masmeio falidas.
Osministériosmais vistosos
em disputa são Saúde, Infra-
estrutura,MinaseEnergia,Ci-
dades, Integração Regional e
Desenvolvimento Social (Bol-
sa Família).
NogovernoDilma 1, a Saúde
ficou com o PT, Infraestrutu-
ra, comoPL,Minas eEnergia,
comoMDB,Cidades, comoPP,
e Integração Regional, com o
PSB, na verdade com Fernan-
doBezerraCoelho,oranoMDB
e ex-líder de Jair Bolsonaro. O
Desenvolvimento Social ficou
com o PT.
Nasegundadivisão,oDesen-
volvimento (MDIC) tambémfi-
cou com o PT, a Agricultura,
comoMDB (Kátia Abreu), e a
Previdência, com oMDB.
Mesmodando fatiasgordas
doboloparaacoalizão,Dilma
Rousseff sofreunoCongresso,
queacabouporcortar suaca-
beça.Naprimeira levadogabi-
nete, de resto, haviaministros
cheiosde rolos, gentequeaca-
bou caindo na então chama-
da “faxina” dilmiana.
NoCongressoeleitoem2010,
oPTeraomaiorpartidodaCâ-
mara (68 deputados). O alia-
do ou inimigo íntimoMDB ti-
nha65, e aoposiçãomaior era
o PSDB, com 54 (o DEM tinha
21). O resto quase todo erane-
gociável.Emnúmeros,a situa-
ção de Lula é pior.
OmaiorpartidoagoraéoPL
bolsonarista-negocista duro,
com 99 deputados (o PT tem
68). PP, bolsonarista-negocis-
ta maleável, mas com muito
antipetista,UniãoBrasil, PSD,
MDB e Republicanos juntam
231 deputados. É uma mistu-
ra adúltera de tudo, mas é aí,
commuitasdefecçõesdireitis-
tas, que Lula pode buscar um
bloco de apoio, por ora instá-
vel, para juntar à pequena es-
querda parlamentar.
UniãoBrasil,MDBePPque-
remmeiadúziadeministérios
gordos.Nãovaidarpara todo
omundo.
Se a Saúde ficar com uma
nomeaçãodeLula (NísiaTrin-
dade,daFiocruz), sobraainda
menos, a não ser que um ali-
ado receba um presentão co-
mo a Funasa, o que transfor-
mariaoministério emumpa-
to manco. Além do mais, de-
pois do desastre de Bolsona-
ro e generais, entregar a Saú-
deaqualquerumseriaum in-
sulto nacional.
SeLula jogaraomarSimone
Tebet, tirando-lheoDesenvol-
vimentoSocial (queoPT tam-
bémquer), vai acabar comas
ilusões de “frente ampla”.
Turismo pode ser um prê-
mio menor, que deve ir para
o PSD. Agricultura deve ficar
com o PP. Dá para acomodar
MDB,outroPPeumUniãoBra-
sil emInfraestrutura,Cidades,
MinaseEnergiaeInfraestrutu-
ra,masLulavaiarrumardesa-
fetos no Senado ou na Câma-
ra (cada partido quer ummi-
nistro de cada Casa). Dispu-
tas regionaisdificultamainda
a composição. E o Republica-
nos, da Universal, leva o quê?
ComoJosuéGomes,daFiesp,
recusouoMDIC, sobraumaca-
deira menor. Mas Lula vai jo-
gar um estranho no ninho da
economia, toda arrebentada
e sobdesconfiançados donos
do dinheiro?
Lulavai terdeentregarmais
ministériosdoqueDilma.Tem
maisoposição,menosestatais
para regatear, adireita émui-
to forte, nãohádinheiropara
nada (o que permitiria fazer
outrosarranjos) eoPTparece
estar com escassa inclinação
para “união nacional”.
Lula temuma semanapara
conseguir tirar as meias sem
descalçar os sapatos.
vinicius.torres@grupofolha.com.br
Presidente tem pouco presente para satisfazer Congresso de direita, a 12 dias da posse
-
Vinicius Torres Freire
Jornalista, foi secretário de redação da Folha. É mestre em administração pública pela Universidade Harvard (EUA)
Lula e omilagre doNatal dos cargos
Mulheres vendemsexoparapagar as contas
Com aumento cada vez maior do custo de vida no reino Unido, muitas assumem riscos maiores e cobrammenos
-AlexandraHeal e AnnaGross
LondresesheffieLd |financiaL
Times Tiffany alisou seus ca-
belos, seolhandonoespelho
dobanheiro,e tirouaaliança
decasamentododedo,sentin-
doum frio tensonabarriga.
Aantiga funcionáriapúbli-
ca entrou no carro dirigido
porseumarido,queadeixou
perto de um hotel confortá-
vel emCardiff. Ela entrouno
bardohotel, tentandoidenti-
ficarohomemcomquemvi-
nhatrocandomensagens,em
meioaozumbidodasconver-
saseàmúsicadepiano.Quan-
do ela o avistou, ele também
parecia nervoso.
Tiffanydeixouohotelalgu-
mashorasmaistarde,sesen-
tindoaliviada.“Sintoorgulho
porpoderajeitarnossasitua-
ção e manter um teto sobre
nossas cabeças”, diz. “Estou
fazendoissoporminhafamí-
lia,minhacasaemeumarido.”
Tiffany é parte de uma on-
dademulheresque, impulsi-
onadas em parte pelo pano-
ramaeconômicosombriodo
ReinoUnido,decidiramneste
ano começarno, ou retornar
ao,trabalhosexual,umacons-
tatação extraída de entrevis-
tasdoFinancialTimescom23
profissionaisdosexoecom14
organizaçõesassistenciaisede
defesadasmulheresemcida-
descomoManchester,Sheffi-
eld,Liverpool,Leicester,Wol-
verhamptoneLondres.Hámuitas razões para que
as pessoas comecem a ven-
dersexo,eelasvariamdode-
sejo de garantir a indepen-
dência financeira à explora-
ção por quadrilhas de crimi-
nosos. Mas há também uma
explicação mais direta: com
a inflação chegando aos 11%
anuais, o Reino Unido pare-
ceestarentrandoemumare-
cessão prolongada, o que ci-
mentaumacrise de custode
vidaqueestálevandoasfamí-
lias a se prepararempara se-
veras dificuldades.
Em um momento em que
maismulheresparecemestar
vendendosexo,asituaçãoeco-
nômicadopaís tambémestá
reduzindo ademanda, o que
cria um ambientemais peri-
gosopara aquelas que traba-
lhamnosetor, jáqueelaspre-
cisam correr mais riscos pa-
raconseguirpagarascontas.
É algo que afeta tanto as
mulheres que trabalhamem
domicílioouemhotéis,mui-
tas vezes atendendo a clien-
tes mais ricos, quanto aque-
las que recorrem à prostitu-
içãode rua.
O aumento no número de
mulheres que recorrem ao
trabalho sexual vem tornan-
domaisurgenteodebatepolí-
ticosobreamaneirapelaqual
esse tipo de atividade é poli-
ciadonoReinoUnido.
Ativistas dizem que émais
importantedoquenuncare-
ver as leis que regemo setor,
emborahajaumadivisãoen-
tre aqueles que querem des-
criminalizarcompletamente
aatividadeeaquelesqueque-
rem proibir o sexo pago. To-
dos argumentam que o tra-
balho sexual é uma parte da
sociedade que não pode ser
silenciosamente ignorada: o
ServiçoNacionaldeEstatísti-
cas(ONS)doReinoUnidoes-
timaque ele tenha contribu-
ído com £ 4,7 bilhões para o
Produto Interno Bruto (PIB)
do país em 2021, e 1 em cada
10homensnoReinoUnidodiz
já ter pagopor sexo.
Tiffanycomeçouafazertra-
balhossexuaisocasionaisseis
anos atrás, para pagar uma
fatura de cartão de crédito.
Quando ela foi demitida do
serviço público, mais tarde,
sobreviveucomosganhosde
seu marido até que os lock-
downs da pandemia resulta-
ram no fechamento da ofici-
na dele.
Umagravedeterioraçãona
saúdemental de seumarido,
nesteano,significaqueelenão
temmaiscondiçõesdetraba-
lhar.Tiffany,queestánacasa
dos30anos,precisacuidardo
marido emtempo integral.
O aumento nas contas de
energiaenocustodosalimen-
tos,combinadoapagamentos
dedívidas, émais altoqueos
benefícioscombinadosqueo
casalrecebe,eladiz.E,comas
taxas de juros em alta, Tiffa-
nyestáansiosaparaconcluir
omaisrápidopossívelopaga-
mentodahipotecado casal.
Em setembro, Tiffany sen-
tiuqueotrabalhosexualeraa
únicamaneiradeobterrenda
suficienteparacobrirseusgas-
toseaomesmotempomanter
aflexibilidadenecessáriapara
cumprirsuasresponsabilida-
des comocuidadora.
Ela ganha cerca de £ 1.000
por semana, uma renda que
ela diz declarar à Receita bri-
tânica, o que significa que os
pagamentos de assistência
aocasaldevempararembre-
ve.Otrabalhosexualnãoé“o
trabalho dos sonhos de nin-
guém”, ela afirma, acrescen-
tando: “Estou felizporpoder
fazer isso para nos apoiar fi-
nanceiramente, mas depois
vouparar”.
Das 23 profissionais do se-
xoentrevistadas,5dizemque
voltaramaosetorem2022,de-
pois de anos afastadas dele,
e queoaumentodocustode
vidadeterminououpelome-
nos influenciou suadecisão.
Éamplamenteaceitoquea
maioriadostrabalhadoresdo
sexosãomulheres,emborao
trabalhosexualmasculinote-
nha aumentado nos últimos
anos, com o crescimento da
venda casual de serviços em
plataformascomooGrindre
o Instagram.
UmaanálisepeloFinancial
Timesdosperfisdetodosos21
milacompanhantesregistra-
dosnositeAdultwork.comno
ReinoUnido sugere que nes-
te ano o número de adesões
foi três vezesmais alto que o
de2019.Nãoestáclaroseisso
refleteumatransiçãodostra-
balhadoresdosexoexistentes
para a publicidade online ou
umaumentoemseunúmero
geral,queem2015 foiestima-
do emcerca de 73mil.
Tradução de Paulomigliacci
Profissionais do sexo e seus apoiadores durantemanifestação em Londres Justin Tallis - 9.out.13/AFP
a eee
mercado
Domingo, 18 DE DEzEmbro DE 2022 A27
UmaversãodopareceràPEC
32 de 2022, do senador Ale-
xandreSilveira (PSD-MG), fa-
ziamençãoà teoriamonetá-
riamoderna (TMM).Posteri-
ormente, a pedido do futuro
ministrodaFazenda,Fernan-
doHaddad,amençãoàTMM
foi retirada do parecer.
Aversãocomamençãopo-
de ser baixada diretamente
dositedoSenado(3HN5ZoB).
O tema é polêmico emere-
ceu cuidadosa reportagem
de Alexa Salomão, publica-
da nestaFolhana edição do
dia 12.
ATMMapresentaduaspro-
posiçõespolêmicas.Aprimei-
ra é que a relação de causa-
lidade entre gasto público e
receita de impostos é inver-
sa.Gasta-seprimeiro.Ogas-
tomovimenta a economia, e
a receita é consequênciades-
se movimento.
Asegundaproposiçãoéque
Estadoquesefinanciaemitin-
dodívidaque serápagacom
a própria moeda não que-
bra. O motivo é contratual.
No vencimento da dívida, o
BancoCentral, umórgãodo
Estado, sempre pode emitir
moedae recompraradívida.
Aprimeiraproposiçãopo-
deserverdadeira.Asuaverifi-
caçãodemandaumcuidado-
so estudo econométrico pa-
raestabelecer seacausalida-
deédosgastosparaareceita
ouvice-versa.Emgeral, nesse
tipo de exercício com dados
macroeconômicos, a causa-
lidade ébilateral. A segunda
proposiçãoécorreta e trivial
(maisdetalhes emminhaco-
lunade3/5/2020, folha.com/
r4uja2lw).
A questão central, portan-
to, não é a parte monetária
da teoria. Não há grandes
reparosaqui, como também
nãohágrandesnovidades.O
tema é a restrição de recur-
sos.Qual éo risco inflacioná-
riodeumfinanciamentopor
expansãomonetáriadodéfi-
cit público?
Para essa questão, é útil
acompanharoargumentodo
parecer: “Vale lembrarque,a
despeitoda recentemelhora
nomercadodetrabalho, com
a taxa de desemprego apre-
sentandoumatrajetóriacon-
sistente dequeda, atingindo
8,3%emnovembrodesteano,
seu nível encontra-se muito
acimadoquepode ser consi-
deradoumasituaçãodeple-
no emprego. Apesar de não
haver consenso sobre qual
seria a taxa de desemprego
quandoaeconomiaseencon-
tra em pleno emprego, mes-
mo estimativasmais conser-
vadorasapontamparavalo-
res inferiores a 5%”.
Abaixo está a fonte maior
da discordância. O quadro
apresentaaevoluçãodataxa
de desempregomedida pela
PesquisaNacionalporAmos-
tra de Domicílios Contínua
(PnadC)do IBGEdesde 1996.
ComoaPnadC iniciou-se em
2012, osdados foramrecons-
truídospeloFGVIbreapartir
da Pesquisa Mensal do Em-
prego (PME) e da Pnad anu-
al. Odado referente aoquar-
to trimestre de 2022, desem-
prego de 8%, é a estimativa
do FGV Ibre.
Omenorvaloratingidope-
la taxadedesempregonosúl-
timos 26 anos foi de 6,7% no
2º trimestre de 2014. O de-
semprego situou-se abaixo
de 8%do 4º trimestre de 2011
atéo 1º trimestrede2015. To-
das as evidências que temos
é que nesse período a políti-
ca econômica era não sus-
tentável. Em particular, nes-
se período os salários subi-
ram permanentemente aci-
madaprodutividadedo tra-
balho e a inflação ficou aci-
ma da meta, apesar do re-
presamento de diversos pre-
çosadministrados, inclusive
dos combustíveis.
Ou seja, taxadedesempre-
go de pleno emprego abaixo
de 5% trata-se, no Brasil, de
umaficção.A economiabra-
sileira já opera a plena car-
ga. O impulso fiscal promo-
vido pela PEC da Transição
dificultarámuito o trabalho
doBCde trazera inflaçãopa-
ra ameta.
Qual é o risco inflacionário de
um financiamento por expansão
monetária do déficit público?
-
Samuel Pessôa
Pesquisador do instituto brasileiro de Economia (FgV) e da
Julius baer Family office (JbFo). É doutor em economia pela USP
Restrição
de recursos
|dom. SamuelPessôa | seg.MarcosVasconcellos, RonaldoLemos |
ter.MichaelFrança,CeciliaMachado |qua. BernardoGuimarães |qui.
SolangeSrour |sáb.MarcosMendes,RodrigoZeidan
-JohnYooneDaisuke
Wakabayashi
seongnam (Coreia do sul) | tHe
neWYorKtimes Osnovosfunci-
onárioscorriampeloescritório
realizando tarefasbanais, co-
mobuscarcafé,entregarrefei-
çõesedistribuirpacotes.Eles
não atrapalharam ninguém
nem violaram o espaço pes-
soal.Eesperarampeloseleva-
dorescomtotalpolidez.E,tal-
vezomaisatraente,nãorecla-
maram.Éporqueeramrobôs.
ANaver,umconglomerado
de internet da Coreia do Sul,
vem experimentando a inte-
gração de robôs na vida dos
escritórios há vários meses.
Dentro de um edifício futu-
rista e totalmente industrial
de 36 andares nos arredores
deSeul,umafrotadecercade
cem robôs navega porconta
própria, movendo-se de an-
dar emandar emelevadores
apenas para robôs e às vezes
ao ladodehumanos,passan-
doporportõesdesegurançae
entrandoemsalasdereunião.
Arededeserviçosdawebda
Naver,queincluiummecanis-
mo de busca,mapas, email e
agregação de notícias, é pre-
dominante na Coreia do Sul,
masseualcancenoexterioré
limitado,semorenomeglobal
deumamarcacomooGoogle.
Aempresabuscanovoscami-
nhos para crescer. Em outu-
bro,concordouemadquirira
Poshmark, umavarejista on-
linederoupaseobjetosdese-
gundamão,porUS$1,2bilhão.
Agora, a Naver vê o software
quemove os robôs em escri-
tórioscorporativoscomoum
produtoqueoutrasempresas
podemeventualmentequerer.
Os robôs encontraram um
laremoutros locaisde traba-
lho,comofábricas,comércioe
hotéis,masestãoausentesdo
mundodecubículosesalasde
conferênciadosescritórios.Há
questõesdeprivacidadeespi-
nhosas:umamáquinarepleta
decâmerasesensoresqueper-
corremos corredores da em-
presapodeserumaferramen-
ta distópica de vigilância cor-
porativaseusadacomabuso,
dizem especialistas. Projetar
umespaçoondeasmáquinas
possam semover livremente
sem incomodar os funcioná-
rios também representa um
desafiocomplicado.
MasaNaverfezumaexten-
sapesquisaparagarantirque
seusrobôs—queseparecem
comumalatadelixorolante—
tenhamaparência,movimen-
toecomportamentoquedei-
xemosfuncionáriosàvonta-
de.E,enquantodesenvolvesu-
asprópriasregrasdeprivaci-
dade de robôs, espera escre-
NaCoreiadoSul, robô
‘semcérebro’ é onovo
colegade escritório
Empresa tenta levar máquinas aomundo dos
cubículos sem deixar os funcionários desconfortáveis
veroprojetoparaosrobôsde
escritório do futuro.
“Nossoesforçoagoraémini-
mizarodesconfortoqueeles
causam aos seres humanos”,
disseKangSang-chul,executi-
vodaNaverLabs,umasubsidi-
áriaquedesenvolveosrobôs.
Yeo Jiwon, que trabalha na
equipe de impacto social da
empresa,pediurecentemen-
teumcafénoaplicativointer-
nodaNaver.Minutosdepois,
o“Rookie”saiudoelevadorno
23º andar, passou pelos por-
tões de segurança e se apro-
ximou de suamesa. Quando
chegouperto,orobôabriuseu
compartimentodearmazena-
mentocomumaxícaradeca-
fé gelado que havia sido pre-
parado emumStarbucks no
segundo andar.
Os robôs nem sempre são
perfeitos, disse Yeo. Às vezes
se movem mais devagar do
queoesperadoouocasional-
menteparammuito longede
onde ela está sentada.
“Às vezes eles parecemum
lançamento beta”, disse ela,
usandoo jargão técnicopara
softwareaindaemdesenvol-
vimento.Masasentregaseco-
nomizam seu tempo e a aju-
dam a se concentrar no tra-
balho, eliminando a distra-
çãode caminhar até umaca-
feteria, disse ela.
Asempresasdetecnologiage-
ralmente incentivamos fun-
cionáriosatestarseusprópri-
osprodutos,mascomseusro-
bôs a Naver transformou to-
dooescritórioemumlabora-
tóriodepesquisaedesenvol-
vimento,colocandoosfunci-
onárioscomosujeitosdetes-
teparafuturastecnologiasno
local de trabalho.
Quandoosfuncionáriosda
Naver vãode carroparao es-
critório, cuja construção ter-
minouesteano,aempresaen-
viaautomaticamentelembre-
tesdeondeestacionaramno
aplicativo do local de traba-
lho. Os funcionários passam
porportõesdesegurançaque
usamreconhecimentofacial,
mesmomascaradosparaevi-
tarapropagaçãodocoronaví-
rus.Naclínicadesaúdeinter-
nadaNaver,osoftwaredeinte-
ligênciaartificialsugereáreas
defocoparaoexameanualde
saúdedos funcionários.
Depoisháosrobôs.ANaver
projetouoescritóriodesdeo
iníciocomosrobôsemmen-
te, iniciandoaconstruçãoem
2016.Todasasportassãopro-
gramadasparaabrir quando
umrobôseaproxima.Nãohá
corredoresapertadosouobs-
truções no chão.
Tradução de Luiz robertom. gonçalves
Robô dos escritórios da Naver, empresa de tecnologia sul-coreana ChangW. Lee/The New York Times
Taxa de desemprego com ajuste sazonal
Por trimestre, em %
0
2,5
5
7,5
10
12,5
15
17,5
20
1º.tri 1996 4º.tri 2022
8
Fonte: ibGE
Musk restaura contas
de jornalistas no Twitter
nova YorK | reuters Elon
Musk reativou as contas de
jornalistasnoTwitterquees-
tavam suspensas por causa
deumapolêmicasobreapu-
blicação de dados públicos
sobreoaviãodoempresário.
OTwitter fora alvode crí-
ticas segundoasquais esta-
va colocando em risco a li-
berdadede imprensa.
Musk organizou uma en-
queteperguntandoaosusu-
áriossedeveriareporascon-
tas agora ou emuma sema-
na.De3,69milhõesdeparti-
cipantes, 59%votarampela
restauração imediata.
a eee
mercado
A28 Domingo, 18 DE DEzEmbro DE 2022
UmafábuladeEsopo, traduzi-
daeadaptadaemdiversas lín-
guas e culturas desde a Anti-
guidade, narra o desafio lan-
çado ao sol, pelo vento, para
determinarquemseriaomais
forte. Definem entre si que o
vencedor será aquele que lo-
grar despir de seu manto um
viajante que caminha solitá-
rio por uma estrada.
Ovento inicia soprandocom
intensidade crescente, mas
seus esforços obtêm apenas
queoandarilho se envolvaca-
davezmais emseumanto, ter-
minandopordeitar-sedebru-
ços, para evitar que o manto
e ele sejam levadospelosares.
Quando o vento exausto de-
siste, o sol sai detrás das nu-
vens onde se recolhera, aque-
cendo lentamentea terracom
seusraios.Oviajantedespeen-
tãoespontaneamenteomanto
e prossegue sua caminhada.
Eu era criançaquandoouvi
ahistóriapelaprimeiravez, ea
suamoral tornou-seumarefe-
rênciapermanenteparamim,
atéporqueavi semprepratica-
da por meu pai. Para obter a
cooperação das pessoas, vale
muitomais compreender seus
objetivos eprocurarcombiná-
los aos nossos do que impor-
se pela força.
Com o passar dos anos, a
fábula ajudou a moldar meu
caráter conciliador, que me
faz atribuir os conflitos qua-
se sempreà faltadeaplicação
nabuscade soluçõesnegocia-
das, faltade criatividade, pre-
potência ou açodamento. As-
sim,a revolta easatitudes im-
positivasficaramassociadasà
adolescência, enquantoodiá-
logoeaconcórdia surgemco-
mocomportamentosmaduros.
Foi, portanto, com surpre-
sa que, já sexagenário,me dei
conta da intensidade do sen-
timentode frustraçãoe indig-
naçãoquedespertou emmim
a ausência, mais uma vez, de
resultados palpáveis em uma
conferência global do clima,
no caso aCOP27 emSharmEl
Sheikh, no Egito.
Após duas semanas de dis-
cussões, osdocumentosfinais
nãotrazemcompromissoscon-
cretos de redução de investi-
mentos em combustíveis fós-
seisepregamodesenvolvimen-
to acelerado de sistemas de
energia de “baixa emissão”, o
que se teme possa ser usado
para justificar a expansão de
projetosdegásnatural. Como
parcacompensação,obteve-se
apenas um acordo em princí-
pioparaoestabelecimentode
umfundodestinadoacompen-
sar as naçõesmais pobres pe-
lasperdas causadaspor even-
tos climáticos extremos.
Essa seria uma tentativa de
atenuaro fatoperversodeque
a riquezadomundo—gerada
em grande parte através da
queima de combustíveis fós-
seis—esteja concentradanos
paísesdesenvolvidosdonorte
global, enquantoosmaisgra-
ves reflexosdosgasesdeefeito
estufa (GEE) resultantes des-
sesprocessosocorramnospa-
ísespobres e emergentesmais
próximosà linhadoEquador.
Talvez envenenado por uma
bilenegra,ouporumarecaída
adolescente,nãoconsigodeixar
de ver no comportamentodas
nações desenvolvidas uma re-
corrênciadaposturaaltaneira
com que os ricos muitas vezes
ouvem os pedidos dos pobres.
Deve ser por isso que me vol-
tou à mente a frase de Bertolt
Brecht, que tantome fascinou
na juventude: “Do rio que tu-
do arrasta, diz-se que é violen-
to.Masninguémchamaviolen-
tasàsmargensqueooprimem”.
Acompensaçãopelosdanos
decorrentes do aquecimento
global em si mesma é umme-
ropaliativo, queemnadacon-
tribui para reduzir as emis-
sões de GEE que o provocam.
A esse respeito, a percepção
dominante ao final da COP27
é a de que a meta de conter
o aquecimento global a 1,5ºC
sobre a temperatura da épo-
ca pré-industrial já não é rea-
lista. É nesse ponto que iden-
tifico a fonte principal de mi-
nha indignação: enquanto as
nações pobres e emergentes
veem-se dependentes da “be-
nevolência” domundo desen-
volvido, osmaiores emissores
—que são também as nações
mais ricas— continuam ocu-
pando a atmosfera com seus
GEE, sempagarnadapor isso.
Pode-se argumentar que,
na ausência de uma lei esta-
belecendo a incidência de ta-
xas sobre essas emissões, se-
riainjusta a cobrança retroa-
tiva,quandosóagoraseconhe-
cem os efeitos deletérios des-
ses gases. (A matéria é passí-
vel de discussão, uma vez que
hácasos emqueas leispodem
ter efeito retroativo, comonas
compensações de guerra, por
exemplo).Dequalquer forma,
esse argumento não se pode-
riaaplicaràs emissõesdosúl-
timos20anos, queocorrem já
com pleno conhecimento dos
danos a elas associados.
A cobrança pelas emissões
correntes de GEE não apenas
geraria recursos para atenuar
os efeitos doaquecimento glo-
bal mas teria ainda um pode-
roso efeito catalisador na su-
peração definitiva do proble-
ma namedida emque desesti-
mulariaaqueimadecombustí-
veisfósseisetornariaautomati-
camentemaiscompetitivasto-
dasasnovastecnologiasdesti-
nadasàsuasubstituição.Aisso
sesomaopapeldecisivoquees-
sesrecursosteriamparaacon-
servaçãoearecuperaçãodeflo-
restas emtodooglobo, especi-
almente nos países tropicais.
ParaoBrasil, quenaCOP27
assumiudiantedomundoode-
safiodereduzirazeroodesma-
tamento ilegal na Amazônia,
os recursospagospelospaíses
emissores serão fundamentais
paraconferir sustentabilidade
àspolíticaspreservacionistas.
Entreelas,deverá terpriorida-
de o combate à grilagem de
terras públicas, que é respon-
sável por pelo menos 30% do
desmatamentonaregião.Esse
éoprocessopeloqual ogrilei-
ro invadeedegradaumaterra
quepertencea todosnós, com
o objetivo de firmar sua pos-
se sobre ela, causando prejuí-
zosdiretos e indiretosa todos.
Seria injusto, açodado ou
imaturo associar a grilagem
aoprocessopeloqualalgumas
nações ricasocupamcomseus
gasesaatmosferaqueperten-
cea todosnós semnadapagar
por isso, deixando ao mundo
as graves consequências cli-
máticas daí resultantes?
Paranossonovogoverno,do
qual seesperauma“grandevi-
rada”emtermosdepolíticaam-
biental, soma-se ao desafio de
preservaçãodaflorestaoobje-
tivo,aindamaiscomplexo,deli-
derarosesforçosdiplomáticos
paraaarticulaçãodeumago-
vernançaclimáticaglobal,que
nãopoderáprescindirdoesta-
belecimentodeumpreçomun-
dialparaocarbono,aserpago
pelas nações emissoras. Temo
quevenhaasernecessáriobem
mais que o exercício de um es-
pírito conciliador para alcan-
çar êxito nessa tarefa.
-
Candido Bracher
Administrador de Empresas formado pela FgV. Foi executivo do setor financeiro por 40 anos.
Fracasso da CoP27 aponta os desafios diplomáticos de nossa política ambiental
Grileiros da atmosfera
Luciano Salles
|dom. AnaPaulaVescovi,MarcosLisboa,CandidoBracher,ArminioFraga
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folhamais a eeeDomingo, 18 DE DEzEmbro DE 2022 A29
ciência
# Para voltar a pousar naLua,Nasa
cria plano commúltiplasmissões p. 1
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mundo
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tec
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opinião
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terra vegana
# Arrase noNatal comquichede
‘queijo’ e cebola caramelizada p. 6
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Ma i s i n f o rM a ç ã o , M a i s o p i n i ã o , t o d o s o s d i a s , à s 2 3 h 1 5 n a E d i ç ã o f o l h a
homemmostra folha de cânabis, cujo usomedicinal é tema de debate no Brasil Karime Xavier - 16.jun.22/folhapress
a eeeA30 Domingo, 18 DE DEzEmbro DE 2022
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cotidiano a eeeDomingo, 18 DE DEzEmbro DE 2022 B1
38%das cidades têm jornada estendida em todas as escolas
MiraEstrEla (sP) Aumentara
oferta do ensino integral na
rede pública é uma das de-
terminações do PNE (Plano
Nacional de Educação), um
documentodoMinistérioda
Educação aprovado em 2013
que estipuloumetas, diretri-
zeseestratégiasparaapolíti-
ca educacional dopaís.
Apesardessaprevisãocom-
pletarumadécada,ogoverno
paulistainvestiunamaioram-
pliação do modelo nos últi-
mosquatrosanos—eram417
escolasdetempointegralem
2019 e, em 2023, serão 2.311,
mais queoquíntuplo.
Paraespecialistas,apesarde
necessária,apressanaimple-
mentaçãonãolevouemconta
oscuidadosnecessáriospara
evitar prejuízos e a exclusão
de estudantes vulneráveis.
“Foi feita uma expansão
muito rápida, sem que fos-
sem apresentados os critéri-
os para a escolhadas escolas
que teriam o modelo. Tam-
bém não há nenhum acom-
panhamentosobreosimpac-
tos e as consequências dessa
mudançaparaos jovens”, diz
opesquisador JoãoVictorde
Oliveira.
Segundolevantamentofei-
to pelo Lemadi (Laboratório
deEnsinoeMaterialDidático)
daUSP, emcolaboraçãocom
aRepu(RedeEscolaPúblicae
Universidade),246municípi-
ospaulistas—38%dototal—
ofertamomodeloemtodasas
suas escolas estaduais.
A pesquisa identificou que
amaioriadessascidadesépe-
quenaedo interior.Adireto-
ria de ensino de Fernandó-
polis, que abrange 16 muni-
cípios, é a primeira do esta-
do a ter todas as escolas es-
taduais com omodelo. A se-
gunda commaior abrangên-
cia é a diretoria de ensino de
Piracicaba, em que 86% das
unidades já adotaramotem-
po integral.
A expansão tem sido mais
lenta em regiõesmais popu-
losas,comonacapitalpaulista
eemmunicípiosdoentorno.
Na cidade de São Paulo, por
exemplo, a diretoria de ensi-
noSul3,queficanaregiãoda
CidadeDutra, temsó 13%das
escolas comomodelo.
“O país precisa aumentar
a oferta do ensino integral e
precisafazer issorapidamen-
te,masatransiçãoprecisaser
bem pensada para que seja
justa com todos os estudan-
tes”, diz Ricardo Henriques,
superintendente do Institu-
toUnibanco.
Paraele,aampliaçãodomo-
delode tempo integral passa
porgarantirapoiofinanceiro
aos alunos para que possam
se dedicar apenas aos estu-
dos. E também envolve uma
mudançaculturalnapopula-
ção, jáqueemmuitasregiões
écomumqueospaisqueiram
queos filhos comecema tra-
balhar na adolescência.
“Não adianta impor o mo-
delo.Opaísestáacostumado
comescolasdetempoparcial,
os pais estudaram por meio
períodoeentendemqueisso
éonatural.Paraqueatransi-
çãodêcerto,éprecisorespei-
taressaculturaatéqueospais
percebameseconvençamde
queévantajoso terofilhona
escola por mais tempo”, diz
Henriques,quefoiumdosco-
ordenadoresdaimplementa-
ção inicial doBolsa Família.
Os especialistas defendem
queéprecisogarantiràsfamí-
lias a opção de manter os fi-
lhosemescolasdetempopar-
cial e tambémassegurar que
essas unidades não fiquem
aindamais precarizadas.
“Asvontadesenecessidades
dasfamíliasprecisamserres-
peitadas na implementação
de qualquer política educa-
cional. A imposição das es-
colas de tempo integral tem
ampliado as desigualdades,
já que os alunos mais vulne-
ráveissãoempurradosparaas
escolasparciaisquerecebem
menos recursos”, diz Eduar-
do Girotto, coordenador do
Lemadi. IP
Expansão do Programa de Ensino Integral
% de escolas com o modelo
A diretoria de ensino de Fernandópolis foi a
primeira do estado a ter 100% das escolas no modelo
A região sul da
capital possui a
menor porcenta-
gem do estado,
com apenas 13%
A diretoria de ensino
de Mauá tem a
menor proporção de
escolas com o
modelo, 16%
Fonte: SecretariaEstadual de Educação de São Paulo/ Repu
(Rede Escola Pública e Universidade)
0 - 20
20,1 - 40
40,1 - 60
60,1 - 80
80,1 - 100
Desde 2020, estado tem apostado no rápido aumento
das escolas de ensino integral
Número de escolas
0
500
1.000
1.500
2.000
2.500 2.311
16
2012 2023
-Isabela Palhares e
MathildeMissioneiro
MiraEstrEla (sP) Paranãoter
que abandonar os estudos,
Gustavo Pontes, 17, teve nes-
teanocomoúnicaopçãofre-
quentar uma escola emuma
cidade vizinha a mais de 40
quilômetros de ondemora.
Ele precisa trabalhar para
ajudar com as contas em ca-
sa, e a única escola estadual
da sua cidade, Mira Estrela,
no interiordeSãoPaulo,ofe-
rece apenas turmas em tem-
po integral.Omodeloampli-
ouo tempode aula de 5para
7horas por dia e levou a uni-
dadeanãoofertarturmasno
períodonoturno.
“As aulas na escola são das
7h às 14h, e eu preciso traba-
lhar.Ninguémvaimedarum
empregoparatrabalharsóde-
poisdessehorário.Então, te-
nho que ir para outra cidade
ondeaindaexiste aopçãode
estudarànoite”, contaoado-
lescente, que está no 2º ano
do ensinomédio.
MiraEstrela,municípiocom
poucomaisde3.000habitan-
tes, fica na regiãodeFernan-
dópolis,aprimeiracidadedo
estado a ter todas as suas 25
escolas estaduais comomo-
delodeensinointegral,políti-
caeducacionalpriorizadape-
losgovernosJoãoDoriaeRo-
drigoGarcia (PSDB)nosúlti-
mos quatro anos.
Agestãotucanaapostouna
expansão acelerada do PEI
(Programa de Ensino Inte-
gral)paratentarsolucionara
baixaqualidadedaeducação
paulista.Em2018,364escolas
estaduais ofertavama jorna-
daestendida (cercade6%do
total). Para o próximo ano,
serão 2.311 comomodelo, al-
cançando45%detodaarede.
A expansão é há anos uma
das principaismetas do país
na área da educação, já que
experiênciasinternacionaise
locaisdemonstraramumasé-
rie de benefícios emmanter
os estudantes pormais tem-
po emsala de aula.
Especialistas, no entanto,
afirmam que a implementa-
çãoprecisaserfeitadeforma
cuidadosa para que omode-
lo não acabe excluindo jus-
tamente os alunos mais vul-
neráveis.
A rápida expansão em São
Paulo já fez com que regiões
emunicípiospequenosdoes-
tado, como é o caso de Mira
Estrela, tenham todas as es-
colas com a oferta de tempo
integral, sem dar a opção de
períodoparcialparaosjovens
queprecisam trabalhar.
Gustavo mora na zona ru-
raldacidadecomamãe,que
é pescadora no rio Grande.
Ele conseguiu um emprego
em uma fábrica de panos de
chão,comumajornadadetra-
balhodeoitohoraspordia,e
setornouaprincipal fontede
rendada casa.
Paraconseguirconciliartra-
balho e estudo, Gustavo en-
frenta uma rotina de 18 ho-
ras de atividades por dia. Ele
sai de casa às 5h30 para che-
gar à fábrica às 7h. Lá, passa
todo o tempo em pé, já que
sua função é fazer a limpeza
Avançodoensino integral emSP
empurra alunosparaperíodonoturno
Sem escola em tempo parcial, jovens precisam até viajar para estudar; secretaria nega relação
e a manutenção das máqui-
nas de tecelagem.
Quandooexpedienteseen-
cerra,às17h,elepegaumôni-
busparaFernandópolisqueo
deixa na porta da escola em
queestuda—umadasquatro
da região quemantiveram o
turno da noite. As aulas co-
meçam às 19h e terminam
às 22h. Ele volta em um ôni-
bus da prefeitura, que é usa-
do por alunos de uma facul-
dade, e chegaemcasaapósa
meia-noite.
“É cansativo,mas eu preci-
soterminaraescola.Chegao
fimdesemanaeeusódurmo
pra aguentar os outros dias”,
conta o adolescente, que so-
nha em abrir uma barbearia
depois de se formar.
A rotina de Gustavo não é
uma exceção entre os jovens
da região. Jenifer Soares, 18,
também trabalha na fábrica
emMiraEstrela e viaja todos
os dias para estudar à noite
emFernandópolis.
“Agente tentadar contade
tudo, ajudar em casa, traba-
lhar e estudar.Mas é cansati-
vo,muitas vezes eu chegona
escola e durmo na aula por
causadocansaço”,contaa jo-
vem, que tambémestá no 2º
anodo ensinomédio.
Osdoisdizemque,seainda
houvesse aopçãodeestudar
emmeio período, poderiam
arrumarumempregoemou-
trohorárioeassimnãopreci-
sariam ir para a escola à noi-
te e emoutra cidade.
Aimplantaçãodotempoin-
tegral semmudançanoensi-
no tambémtem levadoestu-
dantesquenãoprecisamtra-
balharaprocurarempregopa-
ra “fugir” domodelo. A legis-
laçãonacionalprevêqueado-
lescentes com contrato em-
pregatício tenham o direito
de estudar à noite.
Lívia Santana Dias, 16, cur-
souo 1ºanodoensinomédio
emtempointegralnesteano,
na escola estadual Joaquim
Antonio Pereira, emFernan-
dópolis. Ela conta não ter se
adaptado a tanto tempo de
aula edizqueestáprocuran-
do emprego.
“As aulas são todas iguais,
não sinto que estou apren-
dendomais.Mesintoperden-
do tempodeficar tanto tem-
potrancadanaescola, fazen-
doamesmacoisa.Prefirotra-
balhar”, afirma.
Ajovemtemoapoiodamãe.
“Elaficoumuitodesanimada
comaescolaesseano,prefiro
queelavátrabalhar,aprenda
outras coisas. Tenho atéme-
do que ela desista completa-
mentedeestudarsetiverque
continuar nessemodelo nos
próximosdoisanos”,dizVivi-
ane Santana, 39, auxiliar ad-
ministrativa.
DadosdaprópriaSecretaria
de Educaçãomostramque o
númerodealunosquepassa-
ramaestudarnoperíodono-
turnonesteanocresceu41%.
Em 2021, a região de Fernan-
dópolis tinha 386 matricu-
lados à noite. Neste ano, fo-
ram 546.
Aindaassim,asecretariadiz
queospedidosdetransferên-
cia não são consequência do
período integral, mas da ne-
cessidadedosjovensdetraba-
lhar.Questionada,apastanão
respondeusobreasdificulda-
desdos alunosqueprecisam
viajar para estudar.
Jenifer Soares trabalha durante o dia em fábrica emMira Estrela e estuda à noite em escola de Fernandópolis (SP) Mathilde Missioneiro/Folhapress
“
As aulas na escola
são das 7h às 14h, e
eu preciso trabalhar.
Ninguém vai me dar
um emprego para
trabalhar só depois
desse horário. Tenho
que ir para outra
cidade onde ainda
existe a opção de
estudar à noite
Gustavo Pontes
estudante de 17 anos
“
As aulas são todas
iguais, não sinto que
estou aprendendo
mais. Me sinto
perdendo tempo
de ficar tanto
tempo trancada
na escola, fazendo
amesma coisa.
Prefiro trabalhar
Lívia Santana Dias
estudante de 16 anos
a eee
cotidiano
B2 Domingo, 18 DE DEzEmbro DE 2022
De quatro em quatro anos
tem Copa: de quatro em qua-
tro anos vemum idiotadaob-
jetividadedizer: “Ai,nãoenten-
doqualagraçade22marman-
jos correndoatrás deumabo-
ladecouro”. Imaginoessemes-
mo pobre diabo num concer-
to do Beethoven, indagando
“qual a graça de ver um ho-
memdeslizandodezdedos so-
bre 88 teclas?”.
“Ah, mas do piano sai músi-
ca”,diráemsuadefesaodesal-
mado inimigo do Ludopédio.
Uai,meu amigo, e dos grama-
dos,nãosai?Quemnãoenten-
dequeumarranquedoMbap-
pé é um solo do Slash e que os
dribles do Messi são as idas e
vindasdofoledeumbandone-
onnãomereceasortedeestar
nestemundo.
Sabequemmereceasortede
estar neste mundo? Os argen-
tinos da “abuela”. Se você ain-
danãosabequeméa“abuela”,
para de ler agora, joga noGo-
ogle “Copa +Argentina +Abu-
ela” e assista ao vídeo, que já
temmilhõesdevisualizaçõesno
TikTok,Twitter eoutrasbode-
gas. Na vitória da seleção cis-
platina sobre a Polônia, uma
meia dúzia de marmanjos es-
tava comemorando numa es-
quinadeBuenosAiresquando
surgiuumasenhora,animada,
chacoalhandoumabandeira.
Oscarasacercarampulandoe
começaramacantar“Lalala la
laabuela!Lala la la laabuela!”.
No jogoseguinte,namesma
esquina, em torno da “avó” já
haviaumas20pessoas.Nopró-
ximo, umas cem, rojões, spray
de espuma. (A “abuela” até
botou um vestidinho tomara
que caia). A coisa foi crescen-
do, crescendo e na semifinal
eram milhares de torcedores,
câmeras de televisão, holofo-
tes, confete, serpentina, vuvu-
zela, vendedoresambulantese
odiaboaquatro.Todossempre
emtornodamulher,pulandoe
cantandoestabreveodesurre-
alistaàvidanaTerra: “La la la
laabuela!Lala la la laabuela!”.
Ao contrário do que apre-
goampor aí, vida não temne-
nhum sentido, objetivo ou ra-
zão de ser. Somos serragens
pensantes do Big Bang. Por
obra de quinquilhões de mis-
teriosos acasos fomos aben-
çoados com dois olhos, nariz,
orelhas,bocaeumquiloemeio
de massa cinzenta que deve-
ríamos usar, neste brevíssimo
tempo que nos foi concedido,
para tentar ser feliz. Aconteceque acabamos gastando nos-
sospreciososdiascomtarefas
bemmenosdignas,tipomontar
planilhas de Excel, fazer o Im-
posto de Renda, meter a mão
na buzina se o carro da fren-
te demora dois segundos pra
avançar quando o sinal mu-
da pro verde.
Aquela multidão cantando
“la la la la laabuela”éumaper-
formance orgânica, um flash
mob espontâneo de milhares
de pessoas se unindo com o
único intuito de se divertir. No
primeiro dia, a senhora ouviu
a comemoração, saiude casa,
juntou-se aos foliões. Alguém
jogou na internet ou mandou
pro grupo de bairro do zap.
Mais vizinhos apareceram no
próximo jogo.Osvídeos virali-
zaram. Até que o obscuro cru-
zamentodobairrodeVillaLu-
rovirouumaespéciedeAnhan-
gabaú,deavenidaPaulistados
hermanos—ou, deveria dizer,
“de los nietos”?
Se a Argentina vencer neste
domingo (18), vai ter gente in-
do de outra cidade até aquela
esquinaprapularemtornoda
“abuela”, comemorandoofato
deos11marmanjosnascidosao
suldocontinenteamericanote-
rem conseguido colocar a bo-
lamais vezes sobas travesdos
11marmanjosvindosdooutro
lado do Atlântico.
Sei que não pega bem a um
cronista terarroubosdegran-
diloquência nem dar lição de
moral,massãoacontecimentos
comooda “abuela”que fazem
avidatergraça—e,pensando
bem,umsentido.Pronto.Chega
de palestrinha. Vamos ao que
interessa: força, Lionel. Fecha
sua carreira comtaçadeouro
ebotaaVilla Luropra cantar:
“La la la la la abuela! La la la
la la abuela!”.
-
Antonio Prata
Escritor e roteirista, autor de “nu, de botas”
São acontecimentos como esse que fazem a vida ter graça
‘La la la la la abuela!’
Adams Carvalho
|dom.AntonioPrata |seg.�MarciaCastro,MariaHomem |ter.Vera Iaconelli |qua. IlonaSzabódeCarvalho, JairoMarques |qui. JulianoSpyer,SérgioRodrigues |sex. TatiBernardi |sáb.OscarVilhenaVieira,LuísFranciscoCarvalhoFilho
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ênfase em Nutrição. Lato sensu (MBA, Especialização e Pós- Graduação)
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Brasileira de Nutrição Parenteral Enteral. Desejável conhecs. hospitalar
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Auxiliar de Serviços Gerais – Engenharia Predial
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ou Pacote Office Básico. Desejável conh. Em materiais e peças de
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(previsão de término até julho/2023) ou concluída em Administração
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Curso Técnico concluido em Equipamentos Médicos, Eletrônica,
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médico-hospitalares em Diagnóstico por Imagem e C.C.
Os candidatos interessados deverão inscrever-se de 18/12 a
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rhvagas@grupofolha.com.br, sob a sigla “vagas”
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maria (Cirurgia Cardíaca); Médicos Cardiologistas e Intensivistas para atuação emUnidade
Coronariana; Médico Emergencista para acompanhamento de pacientes na Hemodinâmi-
ca e Ressonância Magnética; Médico especialista em Análise de Eletrocardiograma Dinâ-
mica de 24 h (Holter) e Leitura de MAPA; Médico especialista em Análise e Emissão de
Laudos Radiológicos com acompanhamento; Médico especialista em Assistência Médica
nos Setores Críticos (Pronto Socorro); Médico especialista em Cirurgia Cardíaca; Médico
especialista em Cirurgia Cardiovascular; Médico especialista em Cirurgia Gástrica (PS e
Centro Cirúrgico); Médico especialista em Ecocardiografia Transtorácica Adulto e Infantil
e Transesofágica Adulto; Médico especialista em Eletroencefalografia; Médico especialista
em execução de procedimentos de Punção Aspirativa por Agulha fina (PAAF) e CORE
bióspsia; Médico especialista em Hematologia com habilidade para execução de biópsia
de medula; Médico especialista em Laudos de Anatomopatológicos e Imunohistoquímicos;
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especialista emOftalmologia; Médico especialista emOtorrinolaringologia; Médico especia-
lista emprocedimentos deUSGGeral e Doppler; Médico especialista emprocedimentos na
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lista em Radioterapia; Médico especialista em realização de exames Broncoscopia e para
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alização de exames de Angiografia Vascular Periférica com ou sem procedimento; Médico
especialista em realização de exames Prova de Função Pulmonar (Espirometria); Médico
especialista em Terapia Intensiva Adulto; Médico especialista em Terapia Intensiva Infantil;
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cialista Pneumologista; Médico Hemodinamicista – Cardiologia; Médico Nefrologista Adulto
e Infantil para atendimento ambulatorial, acompanhamento de pacientes nas Unidades de
Internação e em procedimentos de diálise; Médico Neurologista para execução de exames
de Eletroneuromiografia; Médico Neurocirurgião para execução de cirurgias, visitas em
Pronto Socorro e atendimento Ambulatorial; Médico Ortopedista e Coordenador na Espe-
cialidade; Médico plantonista em Cirurgia Geral para atendimento no Pronto Socorro, Am-
bulatório e execução de procedimentos; Médico plantonista em Clínica Médica no Pronto
Socorro e Enfermaria; Médico Emergencista para atendimento em Urgência e Emergência
e Retaguarda da Emergência. Médico plantonista em Pediatria Clínica no Pronto Socorro
Infantil; Médico plantonista em Pediatria Clínica para Enfermaria Pediátrica e Médico espe-
cialista em Colangiopancreatografia retrógrada endoscópica – CPRE, Médico especialista
emCirurgia Plástica para Atendimento Ambulatorial e Procedimentos Cirúrgicos
inclusive Reconstrução Mamária; Médico especialista em Hemoterapia para
Coordenação da Agência Transfusional; Médico especialista em Hematologia
para Atendimento Ambulatorial, de Interconsultas e Efetividade de Punções,
Médico Infectologista para Atendimento Ambulatorial e Médico especialista em
Hematologia para gerenciamento da Agência Transfusional. Os interessados
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a eee
cotidiano
Domingo, 18 DE DEzEmbro DE 2022 B3
‘Sóhaviaohoje’, dizmãe sobremortedebebê
Crianças têm síndrome rara que limita dias de vida; mulheres contam como foi a gravidez e o processo de despedida
Ao lado domarido, TamirisMartinez segura o filho Daniel, que nasceu com a Síndrome de Patau Arquivo pessoal
-Isabella Menon
SãoPaulo “Estougrávida”era
omantraqueguiavaamédica
MariaAngélicaAlonso,38, to-
dos os dias ao acordar. A nu-
tricionistaTamirisMartinez,
35,mentalizavaalgoparecido.
Duranteagestação,tentouvi-
verumdiadecadavezepen-
sava:“Estougrávidadeumbe-
bê chamadoDaniel”.
Por volta do sexto mês de
gestação, ambas receberam
a notícia de que as crianças
quegeravam,DavieDaniel,ti-
nhamumacondiçãoraracha-
madaSíndromedePatau.Ofi-
lhodeMariaAngélicanasceu
emoutubro,eodeTamiris,em
setembro,masosdoismorre-
rampoucosdiasapósoparto.
Ao falarem com a reporta-
gem, elas choram ao recor-
daronascimentodosfilhose
asaudade,porémnegamque
tenhamtidoumagestaçãode
luto e dizem se surpreender
comaprópriaforça.Afirmam
quesuastrajetóriasnãosere-
sumem a sofrimento e que
conseguemenxergaroamor,
aféeafelicidadenaexperiên-
cia que tiveram.
As duas representam uma
pequenaparceladoscasosda
síndrome em que a gravidez
avança.Deacordocomogine-
cologista Ricardo Porto, que
integra a Comissão do Abor-
tamento, Parto e Puerpério
da Febrasgo (FederaçãoBra-
sileiradasAssociaçõesdeGi-
necologiaeObstetrícia),me-
nosde 3%das gestaçõesdes-
ses casos vão adiante.
A maioria dos bebês com
essacondiçãomorrenospri-
meiros dez dias. Em raríssi-
mos casos, a criança chega
aosdezanos.Asíndromecau-
sa limitaçõesno sistemaner-
voso central e alterações car-
díacas e renais, além da má-
formaçãodeorelhas, olhose
pescoço.“Ocasalnãodeveter
expectativas”, diz omédico.
Aindaassim,“esperança”foi
umapalavraqueMariaAngé-
licaouviacomfrequênciadu-
rantesuagestação.“Seufilho
vai nascer e não vai ter nada
disso”eraumadasfrasescor-
riqueiras. Porém, ela, que é
médica,sabiadasconsequên-
cias dodiagnóstico.
Já Tamiris descobriu uma
contadoInstagram(@sindro
medepataubrasil) que mos-
tra crianças coma síndrome
queviveramporanos.Apági-
naescrevequeumdiagnósti-
co “pode ser desencorajador
para osmédicos, mas nunca
parapaisdispostosalutarpor
umfilho”. Assim, com os pés
nochão,anutricionistaenten-
deuquenadaera impossível.
Apreparaçãoparaachega-
da dos bebês foi cercada de
dúvidas,comocontarounão
paraosfamiliaresasituaçãoe
sobremontar ounãoumen-
xoval e umquartinho.
MariaAngélica lembraque
esse foi um dos momentos
maisdifíceis.Elamontouum
quarto para o filho no fim
da gestação e demorou para
comprarroupinhas.“Eraime-
diatopensar:euvoucomprar,
vouguardar,vaificaraqui,mas
ele vai vir para casa?”
Quandoganhoualgunspa-
resderoupasdeamigos,olha-
va a etiqueta e pensava “seis
meses,euachoqueelenãovai
estarmaisaqui”.Emseguida,
pegava outra roupinha com
a etiqueta de três meses e aí
pensava, “acho que três me-
ses ele vai estar”, e guardava.
“Foi a pior parte.”
Tamiris já tinha roupas
guardadas de Miguel, seu fi-
lhomaisvelhodecincoanos,
e decidiumontar umquarto
paraocaçula. “Fizemostudo
pararecebê-loporquenãoti-
nhaumfinalpredestinado.Es-
tavapreparadaparapassar e
enfrentar tudo.”
Ela e o marido decidiram
dar a notícia do diagnóstico
do filho para pouquíssimas
pessoas próximas, mas dei-
xaramMiguelapardoirmão-
zinho. “Pode ser que a gen-
“
Não tem
como
sair dessa
experiência
damesma
formaque
entrou. As
pessoas têm
necessidade
do amanhã,
e issomudou
paramim
namarra
Maria Angélica
Alonso
médica
“
Fizemos
tudo para
recebê-lo
porque não
tinha um
final predes-
tinado. Esta-
va preparada
para passar
e enfrentar
tudo
Tamiris
Martinez
nutricionistate fique com ele um pouqui-
nhomenosde tempodoque
gostaria”,disseramàcriança.
Ospartos foramdiferentes
para cadauma.
MariaAngélicateveumace-
sáreaedizquetinhamedodo
parto, mas queria muito co-
nhecerofilho.“Queriaver, in-
teragir umpouquinho.”
Tamiris teve umparto nor-
mal.Ela lembracomfelicida-
dequeofilhomaisvelhocon-
seguiu conhecer o irmãozi-
nho e que o bebê foi batiza-
donohospital.Mas logopre-
cisouserlevadoparaaUTIde-
vido a umahipoglicemia.No
dia seguinte, o bebêmorreu.
O de Maria Angélica viveu
seis dias.
Elasnãoestavampresentes
nomomento,masdizemacre-
ditarque,talvez,tenhamsido
poupadas. “Ele foi recebido
comtodoocarinhoeamore
recebeuassistência,massem-
pre achamos que podemos
fazermais”, afirmaTamiris.
Amédicaestevecomofilho
na véspera damorte. Ela e o
marido,queformamumduo,
cantaramparaobebê.Amédi-
caachouquenãodariaconta,
poisestavanervosa,masdeu
tão certo que afirma que de-
pois se sentia até “entorpeci-
da”, assim como o filho, que
ficou “calmíssimo”.
Dias depois da partida, em
ummomentodetristeza,Ma-
riaAngélicaresolveucompar-
tilhar a cena no Instagram.
Hoje, o vídeoacumulaquase
120 mil reproduções, e a re-
percussãoasurpreendeu. “O
Davi tá tocando as pessoas e
dando autógrafo lá do céu.”
Depoisdonascimentoeda
morte do filho, Tamiris tam-
bém fez um relato do parto
nasredessociais,escrevendo
que“agoraeleestácomDeus”,
semdar detalhes.
Experiências como as de
MariaAngélicaeTamirismos-
tramaimportânciadevalidar
oluto,avaliaMariaHelenaPe-
reiraFranco,professoradepsi-
cologiadaPUC-SPeautorado
livro“OLutonoSéculo21:uma
CompreensãoAbrangentedo
Fenômeno”.“Éimportanteque
alguémsesenteaoseu ladoe
diga ‘Tá doendo? Posso ficar
aqui comvocê?’”, explica.
Noprocessoemocionaldes-
sasmães,diz,podemestaren-
volvidosdiferentessentimen-
tosalémdatristezaedaraiva
causadas pela perda.
“Ela pode entender que o
bebê não teria a possibilida-
dedevivere ser igual aosou-
tros epodeaté se recriminar
por isso. Ou pode ficar pen-
sandooqueelapodeterfeito
deerradoeterumsentimento
de culpa. É algomuito forte.”
No caso de Tamiris, no co-
meço ela sentia que não da-
ria conta do processo. “A for-
çachegaaospoucos,diaapós
dia, commuita fé emDeus e
confiança de que tudo será
comoprecisa ser.”
Maria Angélica define que
suavidaécomoumpêndulo,
emqueemalgunsmomentos
está beme, emoutros, sente
umadorprofunda. “Nãotem
como sair dessa experiên-
cia damesma forma que en-
trou.Aspessoastêmnecessi-
dade do amanhã, e isso mu-
douparamimnamarra.Eusó
tinha ohoje, não sabia o que
viria depois.”
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a eee
ilustradacotidiano
B4 Domingo, 18 DE DEzEmbro DE 2022
A escritora
Nélida Piñon
em sua casa,
no Rio de
Janeiro,
em junho
deste ano
Eduardo Anizelli/
Folhapress
coluna.obituario@grupofolha.com.br
MORTES
-Fábio Pescarini
SÃO PAULO A pernambucana
EdinaldaLuziaVelosoSantos,
aEdina,gostavadeassistirao
filme“Grease,nosTemposda
Brilhantina”etinhaatéodis-
codolongade1978,quepode-
ria ser parte da trilha sonora
desua juventude,pela seme-
lhançadepartedashistórias.
NascidanoRecife,chegoua
São Paulo aos 15 anos com a
mãe e cinco irmãosmais no-
vos.Afamíliamoroudefavor
em cortiço até a compra de
umacasanoGrajaú,zonasul.
Edina precisou trabalhar e
arrumou emprego como au-
xiliar emum salão de beleza
nos Jardins, zonaoeste.
Ali perto, em uma lancho-
netedaAugusta, onde toma-
varefrigerantecomumaami-
ga, conheceu o estudante de
ciências sociais André Aron,
que havia ido até a badalada
ruaparaestrearocarronovo.
Nascia ali o relacionamen-
toentreorapazquefoiexibir
oseucarrãoeamocinha,co-
monoclássicoestreladopor
John Travolta e Olivia New-
ton-John (1948-2022).
AndréeEdinamantiveram
umalongaamizade,atéenga-
tarem um namoro rápido e
decidirem morar juntos. Os
doissósecasaramquandoos
filhosMariana e Bernardo já
estavam indopara a escola.
O casamento não durou
muito, apenas quatro anos,
mas eles ainda manteriam
uma relação cordial.
Com os ensinamentos da-
dos pelas clientes dos salões
debelezaondetrabalhou,Edi-
na aprendeu a administrar
bemaprópriavida.Umades-
sasmulheres,aapresentado-
raHebeCamargo(1929-2012),
quedeuoenxovalquandoela
estava grávidadafilha.
Foram viagens quinzenais
durantemaisde20anosaoPa-
raguai,deondetraziaprodu-
tos importados para vender,
queajudaramamulheracriar
os filhos quando se separou.
E também a sustentar sua
maiorpaixão:oCarnavalper-
nambucano. Praticamente
todosos anos ia aoRecife e a
Olinda, onde saía no tradici-
onalGalodaMadrugadaeem
outros blocos.
Em2011,elaaposentouoba-
teevoltaaopaísvizinho.Mas
foicomodinheirojuntadonas
longas jornadasdeônibusao
Paraguaiqueconseguiufazer
viagensmaisprazerosas.Nes-
semesmoano,foicomafilha
àEuropa.
Navolta,semudousozinha
para Maceió. Retornou para
SãoPaulocincoanosdepois.
Edina realizou o sonho de
ser avó em abril passado,
quando nasceu Noah, filho
de seu caçula.
Em 15denovembro,sentiu
falta de ar durante amadru-
gada e foi assistir TV em seu
apartamentono Jaguaré, zo-
naoeste.Morreuaos75anos,
emcasa, de causas naturais.
EdinaldaLuziaVelosoSan-
tos deixou os filhos Mariana
Luzia Aron, 45, e Bernardo
Henrique Aron, 44, além do
netoNoah, de 7meses.
7º DIA
JOSÉ CARLO SPADOTTO
Domingo (18/12) às 10h, Santuário
nossa Senhora de Lourdes, Centro,
botucatu (SP)
Procure o Serviço Funerário Municipal de
São Paulo:
tel. (11) 3396-3800 e central 156;
prefeitura.sp.gov.br/servicofunerario.
Anúncio pago na Folha: tel. (11)
3224-4000. Seg. a sex.: 10h às
20h. Sáb. e dom.: 12h às 17h.
Aviso gratuito na seção: folha.com/
mortes até as 18h para publicação no dia
seguinte (19h de sexta para publicação
aos domingos) ou pelo telefone (11)
3224-3305 das 16h às 18h em dias
úteis. informe um número de telefone
para checagem das informações.
Pernambucana
adorava dançar
frevo e viajar
EDInAlDA luzIA VEloso
sAntos (1946-2022)
SÃO PAULO A escritora Nélida
Piñonmorreu neste sábado,
emLisboa, aos 85 anos. A in-
formaçãofoiconfirmadapor
RodrigoLacerda,editornaRe-
cord, que publicou livros de-
la.Acausanãofoi informada.
Nascida no Rio de Janeiro,
aautoraocupavaa30ªcadei-
ra da Academia Brasileira de
Letras,em 1990.Seisanosde-
pois,viroupresidentedainsti-
tuição,tornando-seaprimei-
ramulher a assumir oposto.
A autoraé um dos nomes
maisconhecidosdaliteratura
brasileiranoexterior.Alémde
ter sido aúnica representan-
te deste país a fazer parte do
boomlatino-americano,que
revelouaomundonomesco-
mo Gabriel García Márquez,
Mario Vargas Llosa e Carlos
Fuentes, a escritora rompeu
fronteiras e abriu caminhos
paraoutrosautoresnacionais.
Foiaprimeiraautoradose-
xo feminino a ganhar o prê-
mio Juan Rulfo, o Nobel da
América Latina, e foi funda-
mental na promoção da li-
teratura brasileira no exte-
rior, apresentando nomes
como Machado de Assis a
autoras comoSusan Sontag.
Nélida Piñon estreou com
“Guia-MapadeGabrielArcan-
jo”, lançadoem1961equerece-
beucríticasduras.“Tivecam-
panhasdeescritoresque sis-
tematicamentemeatacavam.
Mas eu nunca desisti. Nunca
fizdissomatéria de ressenti-
mento”, disse em sua última
entrevistaàFolha,emjunho.
Seusegundolivro,“Madeira
FeitoCruz”,saiuem1963.Nos
anos1970 foipublicado“ACa-
sa da Paixão”, livro que mar-
couumageraçãocomsuavi-
são sobre a condição femini-
naeque foi vencedordoprê-
mio Mário de Andrade com
sua trama sobre o despertar
da sexualidadedeumaórfã.
Issonãosignificaqueaque-
les anos tivessem sido fáceis
para a escritora. Os convites
para aulas e palestras no ex-
terior eram um jeito de pa-
garascontas,comocontoua
este jornal. Nos jantares, ela
diz que se sentava na cadei-
ra mais distante dos princi-
pais nomes da época. A cada
vez que o microfone caía na
sua mão, via uma oportuni-
dadede fazer sua voz ser no-
tada—eampliar seuespaço.
Nos anos 1980 publicou “A
República dos Sonhos”, saga
inspirada na história de sua
Morre a escritoraNélidaPiñon, primeira
mulher apresidir aAcademiadeLetras
Causa damorte da única brasileira a integrar o boom latino-americano não foi divulgada
família, quedeixou aGalícia,
naEspanha,paraviraoBrasil.
Ela acabaria tendoumvín-
culo duradouro com o pa-
ís de onde tinham vindo os
seusantepassados.Doisanos
atrás,recebeudaquelegover-
noanacionalidadeespanho-
la,amesmadoseuavôDaniel.
Para retribuir, a escritora
doounesteano8.000volumes
desuabibliotecapessoalpara
o InstitutoCervantes, noRio
deJaneiro,quepromoveoen-
sinode línguaeculturaespa-
nhola. Foi umdos seus gran-
des últimos feitos emvida.
Acoleçãotinhaexemplares
autografadosporJorgeAma-
do, Toni Morrison, Gabriel
GarcíaMárquezeoutrosque
cruzaramsua vida dePiñon.
Em 2005, pelo conjunto de
suaobra,recebeuPríncipede
Astúrias,maiorprêmioespa-
nhol de literatura. Foi a pri-
meira brasileira a conseguir
o feito, derrotando o israe-
lense AmosOz e os america-
nosPaulAusterePhilipRoth.
Apesar das conquistas, Pi-
ñonacreditavaque seu reco-
nhecimento dentro de seu
própriopaíseraaquémaoque
tinhaforadoBrasil. “Euacho
que sou respeitada. Se eu ti-
vesse ganhadohoje o Prínci-
pe das Astúrias, a reação te-
ria sidodiferente”, afirmou.
Aescritoraeradoutoraho-
noris causa pelas universi-
dades de Poitiers, Santia-
go de Compostela, Rutgers,
Florida Atlantic, Montreal e
Unam,alémdeembaixadora
ibero-americanada cultura.
Ela não deixa filhos. A ABL
anunciou que seu sepulta-
mento se dará no mausoléu
e que a instituição fará uma
SessãodaSaudadenodia2de
março,emhomenagemaela.
Aindanãoháinformaçõesso-
bre o trasladode seu corpo.
Carlos Brickmann, que cobriu asDiretas,morre aos 78
-Patrícia Pasquini
SÃO PAULO O jornalista Car-
losBrickmannmorreuneste
sábado (17), aos 78 anos. Em
outubro,ele foi internadono
HospitalSírio-Libanês,naca-
pitalpaulista,enãoresistiua
umquadro infeccioso.
NaturaldeFranca(a400km
deSãoPaulo),Brickmannera
filhodemédicos.Emprestou
ao jornalismo59anosde sua
história—muitosdedicadosà
Folha,ondeiniciouacarreira,
em 1963,aos 18anos,nocopi-
desque.Trabalhounaempre-
sa durante três períodos ao
longodequase 30 anos.
Em 1983, foi o primeiro re-
pórter a cobrir a campanha
das Diretas, pela Folha e co-
mo editor interino de Eco-
nomia. Brickmann ampliou
a seção deMercado para du-
as páginas e lançou a coluna
DinheiroVivo,deLuísNassif.
Na Folha da Tarde, atuou
como colunista, editor-che-
fe e editor responsável. Foi
diretor de telejornalismo da
Rede Bandeirantes, período
emqueconquistouosprêmi-
osdaAPCA(AssociaçãoPau-
lista de Críticos de Arte), em
1978 e 1979.
NoJornaldaTarde,partici-
pou das reportagens que de-
ram quatro Prêmios Esso ao
veículo.
Em 1992, começouageren-
ciar a Brickmann & Associ-
ados Comunicação, em São
Paulo. A empresa atuano ra-
mo de consultoria, comuni-
caçãopolítica, gerenciamen-
to de crise, relações públicas
e assessoria de imprensa.
Brickmanntambémpassou
pelasucursaldeSãoPaulodo
Jornal do Brasil; pela revista
Visão, comoeditore secretá-
rioderedação;epelaassesso-
riadeImprensadacampanha
dePauloMaluf àPresidência
daRepública (1989).
Eraautordos livros “AVida
éumPalanque–Segredosda
Comunicação Política” (edi-
tora Globo) e “1º Guia Básico
das Eleições/1998” (editora
Voice)ecoautordolivro“Co-
monãoserenganadonaselei-
ções”(editoraÁtica),coorde-
nadoporGilbertoDimenstein
(1956-2020).
Carlos Brickmann deixa a
mulher, dois filhos, amigos e
muitashistórias. Serávelado
nestedomingo (18), às 11h30,
noCemitérioIsraelitadoBu-
tantã.O enterro será às 13h.
O jornalista Carlos Brickmann Acervo Pessoal
a eee Domingo, 18 DE DEzEmbro DE 2022 B5
ciência
-Reinaldo José Lopes
São CarloS (SP) A fama de ca-
çadora solitária e antissocial
da onça-pintada (Panthera
onca)precisaserrevisada, in-
dicaestudofeitonoPantanal
e na Venezuela. Omonitora-
mentodelongoprazodosma-
chosdaespécieindicaque,na
verdade, eles são capazes de
forjar alianças entre si, dor-
mindoe sealimentando jun-
tos,enfrentandoadversários
e talvez até colaborando pa-
ra monopolizar juntos as fê-
measdedeterminadaregião.
As observações sugerem
quehámaisemcomumentre
asonçaseosleões,maisfamo-
sos felinos sociais, do que se
imaginavaatéagora.Haveria
aindaalgunsparalelosentreo
superpredadordasAméricas
eosguepardos,velocíssimos
felinosafricanosquetambém
registramcolaboraçõesentre
machos adultos.
A grande diferença é que,
por enquanto, as parcerias
entreosmachosdeonça-pin-
tada só foramregistradasno
caso de duplas, enquanto o
processoenvolvemais indiví-
duos no caso de leões e gue-
pardos. Até onde se sabe, as
outras espécies de grandes
felinos, como tigres, leopar-
dos e suçuaranas, têmestru-
turasocialecomportamento
mais solitários.
Osresultadosacabamdeser
publicados na revista cientí-
fica Behavioral Ecology and
Sociobiology por uma equi-
pe internacional de cientis-
tas,que incluidiversosbrasi-
leirosetambémespecialistas
da Polônia, dos EUA, doMé-
xico e daVenezuela.
Para identificar as alianças
de longoprazodasduplasde
machos, o grupo se baseou
em informações de armadi-
lhas fotográficas (que obtêm
imagens automaticamente
quandooanimalchegaperto
delas),monitoramentodosin-
divíduosporcolarescomGPS
erádio,avaliaçõesgenéticase
avistamentos emcampo.
Os dados foram coletados
noPantanalbrasileiroenare-
giãovenezuelanadosLlanos.
Essasáreaspossuempopula-
çõesrelativamenteabundan-
tesdeonças-pintadas,graças
àriquezaderecursosparaos
animais (comaltadensidade
depresasnaturaiseintroduzi-
Companheirismoentreonças-
pintadasé raro,masduradouro
Estudomostra que felino não é tão solitário e antissocial como se pensava
das)etambémsãoambientes
parecidosentresi,cominun-
dações sazonais emosaicos
de vegetação relativamente
aberta ematas ciliares.
Issofacilitaacoordenação
entre indivíduosdacoalizão
eomonitoramentoporpar-
te dos pesquisadores. Além
disso, acredita-se que a co-
laboração entre grandes fe-
linos adultos seja mais co-
mumnesse tipodeambien-
te aberto, levandoemconta
queocorrenas savanas afri-
canascomleõeseguepardos.
Aprimeiraconstataçãodo
estudo é que as alianças en-
tredoismachos adultos são
bastante raras. De um total
demaisde7.000registrosde
onças-pintadasdosexomas-
culino na pesquisa, apenas
70 são exemplos de coope-
raçãoentreeles (oconjunto
inclui também 18 casos de
agressãoenovede “tolerân-
cia”,ouseja,nosquaisosma-
chos não se agridem, mas
tambémnão cooperam).
Nocasoemqueasduplasse
formam,noentanto,ocom-
panheirismopodedurarvá-
rios anos.Nos Llanos daVe-
nezuela, por exemplo, dois
machosforamflagradosjun-tos 40 vezes, de 2013 a 2018.
Costumavam viajar pelo
território em dupla e mar-
cá-lo (para demonstrar sua
posse dele diante de outros
machos) em conjunto. Em
algumas ocasiões, um de-
les acasalava com uma fê-
mea enquanto o outro fica-
va por perto. Ambos expan-
diramseusdomínios expul-
sandooutrosmachosaolon-
godo tempo.
Já no norte do Pantanal
umadessas parcerias foi re-
gistrada entre 2015 e 2018.
Alémdeviajaremarcaroter-
ritório juntos,elescostuma-
vamcheiraracaraumdoou-
troe foramvistoscomparti-
lhandodoiscadáveresdega-
do e expulsando juntos um
jovemmacho invasor.
Umdadointeressanteéque
ospesquisadoresnãochega-
ram a identificar, por meio
deanálisesgenéticas,algum
parentesco entre os aliados
—em outras espécies, ma-
chosadultosquesãoirmãos,
porexemplo,podemacabar
formando coalizões.
Diferentemente do que
acontece com os leões, as
duplasdealiadosnãocaçam
juntasenãoparecemformar
colaboraçõescomasfêmeas.
Há indícios deque asparce-
rias tendem a se formar em
locais onde há abundância
de fêmeas, cada uma delas
com territórios pequenos e
vizinhos,oqueindicariaque
os machos estão se aliando
paragarantiroacessoàspar-
ceiras e excluir outros ma-
chosdacompetiçãoporelas.
Um detalhe intrigante é
queasonças-pintadasdeho-
je,mesmoasquehabitamos
ambientesmaisricosemre-
cursos,comooPantanal,têm
àsuadisposiçãorelativamen-
te poucas presas de grande
porte —mas essa é uma si-
tuação recente na história
evolutiva delas.
No fim da Era do Gelo, há
cercade 10mil anos, aAmé-
ricadoSul estava repletade
herbívorosdegrandeporte,
comocavalos,preguiçaseta-
tusgigantes,espéciesdelha-
masquepovoavamboaparte
doBrasil e “supercapivaras”.
Seria algo muito mais pare-
cido com a África atual, on-
deosleõescaçamembando.
“Pode ser que, nessa épo-
ca, as onças-pintadas fos-
sem maiores e formassem
coalizões para capturar es-
sesgrandesherbívoros.Tam-
bém havia outros grandes
predadores para competir
comelas, comoursoseden-
tes-de-sabre”,disseàFolhao
pesquisadorvenezuelanoRa-
faelHoogesteijn,umdosco-
autoresdonovoestudo,que
trabalhanaONGconservaci-
onista Panthera.
“Com a extinção desses
grandes herbívoros da sa-
vana, as onças diminuíram
de tamanho e se tornaram
mais especializadas na cap-
tura de grandes répteis tro-
picais,comosucuris, jacarés
e tartarugas,oqueexplicao
fatodeteremamordidamais
fortedetodososgrandesfe-
linos”, explica.
Dupla de onças-pintadas repousa lado a lado na Fazenda San Francisco, emMS Fotos Reprodução Behavioral Ecology and Sociobiology
Machos em coalizão invadem território de outrosmachos na região de Llanos, na Venezuela
Brasil, pátriadasprioridades
invertidas. Só se fala em “gas-
tança”, enquanto eclodeoovo
da serpente terrorista. Todos
se preocupam com a Amazô-
nia,quandodeveriamestarde
olho no cerrado.
ConfiraoProdes, sistemapa-
ra monitorar desmatamento
do Inpe (Instituto Nacional
de Pesquisas Espaciais), que
agora abarca todo o territó-
rio. E se espante: 3milhões de
km²devegetaçãonativa foram
derrubadosem522anosdeco-
lonização. Paraquemnão faz
ideiadequanto isso represen-
ta, são 36%do território naci-
onal, que tem 8,5 milhões de
km². Ou quase uma Índia (3,3
milhões de km²), onde vivem
1,4 bilhão de pessoas, 6,5 ve-
zes mais gente que por aqui.
Émuita terra. Talvez por is-
soaparcelamenosbrucutudo
agronegóciodigaháanosque
não é preciso derrubar mais
florestasparaalimentaroBra-
sil e o mundo. Por que então
ruralistas no Congresso que-
rem impedir novas demarca-
ções de terras indígenas?
Porque todos se beneficiam
comagrilagemnaAmazônia,
paranão falardogarimpocri-
minosodeminériosemadeiras
nobres.Há justificativasdeso-
bra para preocupar-se com o
crime organizado no Norte e
adevastaçãodamaiorflores-
ta tropicaldoplaneta,masnú-
meros servemparapôras coi-
sas em perspectiva.
É amata atlântica o bioma
brasileiromaisdestruído, res-
tando-lhe só 28% da cobertu-
ra inicial, pelo Prodes. Ia di-
zer coberturaoriginal,mases-
sa cifra engloba áreas em re-
generação, que tão cedo não
exibirão a incrível biodiversi-
dade da floresta tropical que
deu a vida para parir o Brasil
como o conhecemos.
A segunda pior situação es-
tá nos pampas, com 34% de
remanescentes. Assim como
amata atlântica, uma paisa-
gemantropizada (explorada)
hámuito tempo,quenosacos-
tumamosadesmerecer, vicia-
dosnoconformismoenaaco-
modação.
Em situação melhor se
acham a caatinga, com 57%
de vegetação sobrevivente, o
Pantanal (77%) e a Amazônia
(80%). No ponto médio, entre
a vida e a morte, se equilibra
ocerrado,ondepereceu jáme-
tade da ultrabiodiversa sava-
na brasileira.
Atente para dados do Inpe:
o cerrado perdeu 10.689 km²
de agosto de 2021 até julho de
2022.Menosqueos 11.568km²
decepados na Amazônia, ver-
dade,masproporcionalmente
muitomais—afinal, a savana
brasileira corresponde a me-
nos da metade da área (2mi-
lhõesdekm²) daflorestaama-
zônica (4,2milhões de km²).
Pior:nocerrado,odesmata-
mento deu salto de 25%no úl-
timo anodo governo Jair Bol-
sonaro (PL). Emcontraste, na
Amazônia observou-se recuo
de 11%nocorte raso,aindaque
não deixe de ser lamentável a
devastação anual por lá esta-
bilizar-senacasadecincodígi-
tos, patamargalgadopelopi-
or presidente do Brasil.
São 13as unidades daFede-
raçãocomáreasnobiomacer-
rado:BA,DF,GO,MA,MT,MS,
MG, PA, PR, PI, RO, SP e TO.
Entretanto, a destruição em
larga escala, acima de 1.000
km² anuais, campeia em ape-
nas quatro delas: Maranhão
(2.834 km² neste ano), Tocan-
tins (2.128 km²), Bahia (1.428
km²) e Piauí (1.189 km²).
Numa palavra, Matopiba
(MA, TO, PI, BA). Na região
ocorre forte expansãoda fron-
teiraagrícola, comaabertura
de terrenosparaplantaçõesde
soja, milho, algodão e até tri-
go. Tambémhámuitoboi por
lá. Além de bandeiras do Bra-
sil em cada porteira e clubes
de tiro aosmontes.
A praga atual do Brasil não
sãoas saúvas,nemosapouca-
dosdesenvolvimentistasdoPT.
Sãoos latifundiários epecua-
ristas de extrema direita que
mandam empregados e refei-
çõespara sustentarachusma
degolpistasnaportadequar-
téis a adular os de dentro.
Oriundos do Sul, os patri-
otas de caminhão vieram de
longeparadestruirprimeiroo
cerrado.Ali fica suacabeçade
ponte, à volta do Planalto, de
onde atacam a Amazônia e a
débil democracianacional em
conluio com a bandidagem.
monitoramento do inpe aponta
degradação galopante à volta do Planalto
-
Marcelo Leite
Jornalista de ciência e ambiente, autor de “Psiconautas - Viagens com a Ciência
Psicodélica brasileira” (ed. Fósforo)
ChegadeAmazônia,
vejamo cerrado
|dom. Reinaldo JoséLopes,�MarceloLeite
EDITAL PARA CONHECIMENTO DE TERCEIROS INTERESSADOS,
COM PRAZO DE 10 (DEZ) DIAS, expedido nos autos
do Processo Nº 0022018-80.2005.8.26.0053
O MM. Juiz de Direito da 14ª Vara da Fazenda Pública, do Foro Central - Fazenda Pública/Acidentes, Estado de São Paulo.
Faz Saber a Terceiros Interessados na Lide que a Prefeitura do Município de São Paulo move uma Desapropriação
- Desapropriação por Utilidade Pública/ DL 3.365/1941 - contra João Leão de Souza, Wilma Cotting Souza e Décio
Cotting Souza, objetivando a área de 85,10 m², concernente à área total do imóvel, situado à Rua Giácomo Lauri-Volpi,
sem número, nesta capital, contribuinte nº 172.101.0278-64, declarada de utilidade pública conforme Decreto
nº 45.224 de 01.09.2004. Para o levantamento dos depósitos efetuados, foi determinada a expedição de edital com
prazo de 10 (dez) dias a contar da publicação no Órgão Oficial, nos termos e para os fins de Dec. Lei nº 3.365/41, o
qual, por extrato, será afixado e publicado na forma da lei. Nada Mais. Dado e passado nesta cidade de São Paulo,
aos 16 de dezembro de 2022.
PROCURADORIA
GERAL
DE LEILÃO DE ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA
1º LEILÃO: 03 de janeiro de 2023, a partir das 12h00min*.
2º LEILÃO: 05 de janeiro de 2023, a partir das 15h30min*.
*(horário de Brasília)
ALEXANDRE TRAVASSOS, Leiloeiro Oficial, JUCESP nº 951, com escritório naAv. Engenheiro Luís Carlos Berrini, nº 105, 4º
andar, Edifício Berrini One - Brooklin Paulista - CEP: 04571-010, FAZ SABER a todos quanto o presente EDITAL virem ou dele
conhecimento tiver, que levará a PÚBLICO LEILÃO demodo PRESENCIAL E/OU ON-LINE, nos termos da Lei nº 9.514/97,
artigo 27 e parágrafos, autorizada pelo Credor Fiduciário BANCO SANTANDER (BRASIL) S/A - CNPJ n° 90.400.888/0001-42,
nos termos da Escritura Particular datada em 04/02/2020, firmada com o Fiduciante FELIPE AGUIAR FREIRE, RG nº
411943686-SSP/SP, inscrito no CPF/MF nº 353.184.128-90, residente em São Paulo/SP, em PRIMEIRO LEILÃO (data/horário
acima), com lancemínimo igual ou superior a R$ 448.551,98 (quatrocentos e quarenta e oito mil e quinhentos e cinquenta e um
reais e noventa e oito centavos - atualizado conforme disposições contratuais), o imóvel constituído por: ''Apartamento n° 13 -
Tipo 4 da Torre F - Edifício Júpiter no Condomínio Parque do Sol, situado na Rua Cabo João Teruel Fregoni, nº 124,
Guarulhos/SP, com a área privativa de 61,9700m², área comum de 55,7272m², perfazendo a área construída total de
117,6972m², já incluída 01 vaga indeterminada na garagem coletiva'', melhor descrito na matrícula nº 98.766 do 1º Oficial de
Registro de Imóveis de Guarulhos/SP. Cadastrado na Prefeitura sob o nº 113.43.18.0360.06.005. Imóvel ocupado. Venda em
caráter “ad corpus” e no estado de conservação em que se encontra. Caso não haja licitante em primeiro leilão, fica desde já
designado o SEGUNDO LEILÃO (data/horário acima), com lance mínimo igual ou superior a R$ 256.005,00 (duzentos e
cinquenta e seis mil e cinco reais – nos termos do art. 27, §2º da Lei 9.514/97). Se o caso, o leilão presencial ocorrerá no
escritório do Leiloeiro. Os interessados em participar do leilão de modo on-line, deverão se cadastrar na Loja SOLD LEILÕES
(www.sold.superbid.net) e no SUPERBID EXCHANGE (www.superbid.net), e se habilitar com antecedência de 24 horas úteis
do início do leilão. Em virtude da pandemia da COVID-19 o evento será realizado exclusivamente on line através da Loja SOLD
LEILÕES (www.sold.superbid.net) e doSUPERBIDEXCHANGE (www.superbid.net) Formadepagamento e demais condições
de venda, VEJAAINTEGRADESTEEDITALNALOJASOLDLEILÕES (www.sold.superbid.net) ENOSUPERBIDEXCHANGE
(www.superbid.net). Informações:11- 4950-9602 / imoveis.sac@superbid.net (18678 –Dossiê). K-16,17e18/12
folhacorrida a eeeDomingo, 18 DE DEzEmbro DE 2022 B6
frases da semana
SUDOKU
texto.art.br/fsp
O Sudoku é um tipo de desafio
lógico comorigemeuropeia e
aprimorado pelos EUA e pelo
Japão. As regras são simples:
o jogador deve preencher o
quadradomaior, que está di-
vidido emnove grids, comno-
ve lacunas cada um, de forma
que todos os espaços em
branco contenhamnúmeros
de 1 a 9. Os algarismos não
podem se repetir namesma
coluna, linha ou grid
SO
LU
ÇÃ
O
CRUZADAS
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
12
13
1 2 3 4 5 6 7 8 9
HorizontAis:1.Raiva,Cam,2.Étnico,SE,3.Estourar,4.Porra-
da,5.Overdose,6.Metiê,GLP,7.Broa,Mata,8.Abr,Mudar,9.Da,
Fado,10.Bike,FL,11.Belezura,12.Pitéu,Fem,13.Spa,Praia.
verticAis:1.Ré,Lombada,PS,2.Até,Verba,Bip,3.Inspetor,
Beta,4.Vitória,Filé,5.Acorde,Make-up,6.Ouro,Mudez,7.
Rasgado,Ufa,8.Asa-delta,Frei,9.Mera,Para-lama.
HorizontAis
1.Hidrofobia / O quemuda de pista para campista 2. Próprio,
característico de determinado povo ou raça / Sigla do estado
nordestino que só faz divisa com a Bahia e Alagoas 3. Explodir
4. (Pop.) Grande quantidade 5.Quantidade excessiva ingeri-
da, em especial de tóxico 6.Ofício, função, trabalho / Gás de
cozinha 7. Pãozinho doce de fubá e ovos / (Vanessa da) Cantora
e compositora de “Ainda Bem” 8. Começo de abril / Trocar, subs-
tituir 9.Diretório Acadêmico / Um estilo de canção portuguesa
10. (Pop., ingl.) Bicicleta / As iniciais da modelo e apresentadora
Lima 11. (Pop.) Boniteza 12. Iguaria saborosa / (Abrev.) O con-
trário de masculino 13. Clínica para tratamento da saúde e da
beleza / A do Cassino, no Rio Grande do Sul, é a mais extensa do
mundo, com 220 km.
verticAis
1.Amarcha menos usada pelos carros / Relevo ou concavidade
no piso que faz com que omotorista diminua a velocidade /
Pronto-socorro 2. Inclusive / Quantia destinada a um fim espe-
cífico / Sinal eletrônico de aviso 3. Funcionário que fiscaliza as
condições e o andamento de alguma coisa / A letra do alfabeto
grego que segue alfa 4.Ato de triunfar sobre um inimigo ou
antagonista / Corte de carne que pode ser servido a milanesa
ou a cavalo 5. Som resultante da emissão simultânea de vários
sons diferentes / (Ingl.) Maquiagem 6.O elemento químico Au /
Estado de quem não tem o dom da fala 7.Roto / Até que enfim!
8. Equipamento usado no voo livre / Precede o nome do frade
9. Sem complexidade, sem importância (fem.) / A parte da car-
roceria que protege contra respingos de água e detritos.
difÍcil
Asmãos de Ana ficaram tão
úmidasqueelaastevedepas-
sarnacalça jeansquandofoi
aumencontronumanoitede
sexta recente. Ela já conhe-
cia bem o seu date, mas, no
seupeito enas glândulas su-
doríparas, eracomose fosse
a primeira vez que ia vê-lo.
“Eu fiquei tão nervosa
quando abri o manuscrito
que não conseguia segurar
a caneta. Escorregavano su-
or”, ela ri.OencontrodeAna
eracomseuprimeiroroman-
ce de fantasia, que pretende
lançar em 2023, após cinco
anos de períodos de escrita
febril, seguido pormeses de
ascoabsolutopeloquetinha
colocado na folha pautada.
Ana é arromântica. Quem
define é o site do Coletivo
AbrAce, que une pessoas
hétero, bi e homossexuais,
masquesentempoucooune-
nhumamorromântico.“Arro-
manticidadeéummovimen-
todepessoasquenãosentem,
seja de forma total ou parci-
al,atraçãoromânticaporou-
tras pessoas.”Depois dedois
namoricos e umquase casa-
mentodeseisanos,elasedeu
contaquepreferiaestarsozi-
nha, porque não correspon-
dia ao afeto dos parceiros. E
descobriu na internet o no-
mepara pessoas como ela.
“Essaentrevistanãovaime
tratar que nem uma pessoa
com deficiência, né?”, per-
gunta Ana no primeiro mi-
nuto de ligação. Não, Ana.
“Porque as pessoas veem al-
guém como eu e acham que
falta alguma coisa, como se
faltasseumaperna.Masnão
faltanada.Eusoucompleta.
Só não sou do seu jeito.”
Ana evita dizer empúblico
que é arromântica, e por is-
so prefere sair num jornal só
comseuprimeironome. Faz
dezanosqueostentasuasol-
teirice, que já considerauma
conquista para o resto da vi-
da.Massóduasamigassabem.
“Já me chamaram de tiazo-
naencalhada,maseuprefiro
aguentarumababaquiceque
dura um segundo do que ter
queexplicarquemeusoupa-
ra alguémquemal conheço.”
Ana está cansada de ter
dedefinir, como se fosse um
verbete de dicionário. “Daí
as pessoas começam a per-
guntar: ‘Ah,masvocêsenteo
quequandovêumhomem?’.
E não tem resposta. É como
perguntar para um cego o
queeleachadacorvermelha.
Simplesmentenãodá,porque
nãoexiste.Eunãotenhoopi-
nião sobreoquenãoexiste.”
Ana diz que até tem uma
vida sexual, mas que prefe-
redeixarnoprivado. “Eunão
pergunto da sua e você não
pergunta daminha”, ela ri.
O que leva Ana a falar com
umrepórterqueésóseuami-
godeInstagraméumavonta-
demaior.Avontadedequeo
mundoentendaquealgumas
pessoasnãoamam,pelome-
nosnãoamamoutraspesso-
ascomumfulgorromântico.
“Não tem corpo certo, não
temcorcerta,nãotemgênero
certo. Essasdiscussões já es-
tãobemadiantadasem2022.
Masninguémnuncafaçaque
nãotemcoraçãocerto.Cora-
ção,não,né,porqueissoéum
clichêromântico.Eusóacho
quemeu cérebro é diferente
do seu. E eu tenhodireito de
serassim,demedeixaremem
pazsemprecisarfingirqueeu
não consigohomem, ounão
consigomulher.”
Enquantoadiscussãoaafli-
ge no plano teórico, ela tem
oplanoprático bem resolvi-
do, e na palma da mão. Tra-
balhadecasa, traduzindofil-
mes, cercadadeseusdoisga-
tos,desériesede livros—um
deles é ummanuscrito que,
se tudo der certo, vai ser o
seu primeiro livro.
“Omaiorprazerqueeusin-
to na vida é escrever. Mas is-
so não quer dizer que eu se-
jaumciborgue, eucurtosair,
curtovermeusamigos,sósou
umapessoamaiscaseirames-
mo,e issonãotemnadaaver
comser arromântica, acho.”
Para a vida melhorar, diz
Ana, só falta as pessoas dei-
xarem gente como ela ser
feliz do seu jeito, em vez de
dar conselhos e até recei-
tar benzedeiras ou psiquia-
tras. “Não é amor românti-
co, mas é amor. As pessoas
precisamparardeacharque
é uma passagem pra ser fe-
liz.Eu sinto amor. Amo mi-
nhamãe.Amomeusgatos.E
amomeu livro. Euamo, tá?”
nossoestranhoamor | Chico Felittifolha.com/nossoestranhoamor
Ana não ama pessoas.
Mas ama seu livro
finAlistAs noQAtAr
Messi
Capitão da Argentina comemorou a
classificação para a final da Copa
“A primeira partida [per-
dida para a Arábia Sau-
dita por 2 a 1] foi um golpe
muito duro para todos.
Cada partida passou a ser
uma final. [...] Estávamos
confiantes de até onde
poderíamos chegar. Esta-
mos emuma final e vamos
desfrutar disso.”
Griezmann
Atacante da França espera levantar a
taça, como já feito na rússia-2018
“Um time como Leo
[Messi] dentro é diferente.
Também temum time
atrás que émuito bom, e
eles têm a torcida da parte
deles. Vamos pensar em
comoprejudicá-los, como
nos defender e nos prepa-
rar para esta final.”
Atos GolpistAs
lula
Presidente eleito acusou Jair bolsonaro
de estar por trás dos atos de violência
que paralisaram brasília nesta semana
“Esse cidadão até agora não
reconheceu a sua derrota,
continua incentivando os
ativistas fascistas que estão
nas ruas semovimentando.
[...] Ele segue o rito que
todos os fascistas seguem
nomundo. É importante a
gente saber que eles fazem
parte de uma organização
de extrema direita que não
existe apenas no Brasil.”
Alexandre deMoraes
ministro do STF e presidente do TSE
prometeu punir responsáveis
“Ainda temmuita gente
para prender emuitamulta
para aplicar. Garanto que
serão responsabilizados.
Para que isso não retorne
nas próximas eleições.”
cAos nA crAcolândiA
Marilda cristina rodrigues
moradora da região da Cracolândia, na
capital paulista, relatou as dificuldades
de conseguir acessar serviços de entrega
após a dispersão de usuários de droga
“A dispersão transformou a
nossa vida emum inferno.
[Um entregador]me disse:
‘Prefiro perder R$ 10 da
entrega do que perder
minhamoto,meu celular.”
evitAr A extinção
AiltonKrenak
Escritor e líder indígenas falou à Folha
sobre os desafios da humanidade diante
da crise do clima.
“OHomo sapiens, a espé-
cie, está entrando em extin-
ção. Eu não estou salvando
os índios. Estou dando um
toque de que, se a gente
não se cuidar, vamos todos
para ametástase.”
fAz frio no front
valeri zalujni
Comandante das Forças Armadas da
Ucrânia falou à Economist sobre as
dificuldades enfrentadas pelas
tropas ante a invasão russa
“Parece que estamos no
limite. Aí é quandomulhe-
res e filhos dos soldados
começam a congelar. Qual
será o ânimo deles?”
expurGono twitter
elonMusk
Dono da rede social justificou a decisão
de suspender da plataforma jornalistas
que haviam compartilhado informações
de voos do bilionário
“Eles postaramminha loca-
lização exata em tempo
real, basicamente coorde-
nadas de assassinato. [...]
Você revela informações
privadas de uma pessoa
online, você é suspenso.”
imagens do ano Como os fotógrafos da Folha retrataram 2022
Alta da conta de luz emsorocaba
provoca reações da população
A concessionária do ser-
viço de iluminação elé-
trica de Sorocaba (SP), a
Light, usou um expedi-
enteparaaumentarcon-
sideravelmente o preço
da luz. Essa açãoexaspe-
rou a população da cida-
de, composta emgrande
parte de operários.
Nosábado(16), foi rea-
lizada uma segundama-
nifestação de protesto
contra o aumento, e um
oradordiscursouperan-
tecercade3.000pessoas.
Um recurso deve ser
dirigido ao Senado so-
bre o caso.
ACErvo FolhA
Há 100 anos 18.dez.1922
h leiAMAis eM
acervo.folha.com.br
Escolas de samba voltaram a desfilar; em SP, a Rosas de Ouro transformou o presidente em jacaré Rubens Cavallari - 23.abr.22/Folhapress
abril
copa2022 a eee
Domingo, 18 DE DEzEmbro DE 2022 1
Mbappé tenta arrancar possível única Copa deMessi em final que consagra novo tricampeão
Duelo no Olimpo
Messi (no topo) durante treino da Argentina na Qatar University, emDoha, prepara-se para enfrentarMbappé (abaixo) na decisão da Copa doMundo doQatar Dylan Martinez/Reuters e Franck Fife/AFP
a eee
copa 2022
2 Domingo, 18 DE DEzEmbro DE 2022
A decisão da Copa 2022
Melhor(es) Copa(s)
1º lugar em
1998 e 2018
1º lugar em
1978 e 1986
Ranking Fifa
4º lugar3º lugar
IDH (2021)
28º lugar (0,90)47º lugar (0,84)
Expectativa de vida
83 anos75,3 anos
Bola de Ouro
7
Messi
(2009, 2010,
2011, 2012,
2015, 2019
e 2021)
6
Raymond Kopa
(1958),Michel
Platini (1983,
1984 e 1985),
Jean-Pierre
Papin (1991) e
Zidane (1998)
Moeda
1 euro
equivale a
r$ 6,50
1 peso argentino
equivale a
r$ 0,03
PIB (2021)
US$ 2,9 triUS$ 491,5 bi
No Qatar
CAFWorld Giving
(Ranking de Solidariedade)
100º21º
Artilheiro
5 gols
mbappé
5 gols
messi
Oscar*
3
"A História
oficial" (1986),
"o Filho da
noiva" (2001) e
"o Segredo dos
Seus olhos"
(2010)
12
"o Capelão das
galeras" (1949),
"Três Dias de Amor"
(1951), "brinquedo
Proibido" (1953),
"meu Tio" (1959),
"orfeu do Carnaval"
(1960), "Sempre aos
Domingos" (1963),
"Um Homem, uma
mulher" (1967), "o
Discreto Charme da
burguesia" (1973),
"A noite Americana"
(1974), "madame
rosa - A Vida à Sua
Frente" (1978),
"Preparem seus
Lenços" (1979) e
"indochina" (1993)
Gols feitos
1312
Arg FrAx
*melhor filme estrangeiro
Em Copas
Jogos
7287
Vitórias
3947
Empates
1316
Derrotas
2024
1930
1978
2018
Argentina
Argentina
França
1 x 0
2 x 1
4 x 3
França
França
Argentina
Retrospecto contra rival
(geral)
Vitórias
36
Empates
33
Desempenho do país
em disputas de pênaltis
em Copas
Vitórias
25
Derrotas
21
Derrotas
63
Gols feitos
1115
Gols sofridos
1511
Finalizações
9286
Finalizações para marcar
7,17,2
Gols sofridos
55
Média de gols sofridos
0,80,8
Retrospecto contra
o rival em Copas
Vitórias
12
Empates
00
Derrotas
21
2022 Holanda
2006 itália
2 x 2
(3) (4)
1 x 1
(5) (3)
Argentina
França
Quartas de final
Final
Última disputa
Doha Nas seis partidas da
Argentina antes da Copa,
Rodrigo De Paul, 28, só fi-
couos90minutosemcam-
po no amistoso contra os
Emirados Árabes Unidos,
em 16denovembro.
Pode parecer um dado
banal porque, à exceção
da primeira final Conme-
bol-Uefa, quando a sele-
ção sul-americana bateu
a Itália por 3 a 0, todos os
outros jogos eram testes.
Para dirigentes da AFA
(Associação de Futebol
Argentina) e pessoas pró-
ximas à seleção, era um
recado dado por Lionel
Scaloni ao seu jogador.
Otécnicocontava(emui-
to)comacapacidadeincan-
sável do volante do Atléti-
codeMadriddecorrerem
campo e se desdobrar pe-
la causa. Mas estava preo-
cupado com sua queda de
rendimentoeosproblemas
fora de campo.
Nocomeçodoano,opró-
prio presidente da AFA,
Claudio “Chiqui” Tapia,
aventou a chance de De
PaulperderaCopaporcau-
sadeumprocessojudicial.
“Para ir ao Qatar, o que
nãopodeteréumadenún-
ciapenalcomcondenação
pendente, um temade gê-
nerooualgosimilar”,disse
o cartola, em entrevista a
umarádiodeBuenosAires.
De Paul estava nomeio de
um processo de divisão de
bens e pagamento de pen-
são alimentícia aberto por
suaex-mulher,CamilaHoms,
enquanto jánamoravaacan-
tora Tini Stoessel. Ele de-
pois foi fotografado saindo
deboates antes departidas.
Scaloni nunca tocouno as-
sunto, mas não ter De Pa-
ul, apesar de sua inconstân-
cia técnica, seria uma perda
sentida. Isso porque ele faz
um papel de carregar o pia-
no por 90minutos para que
Lionel Messi possa se deslo-
caremcampoporondequer.
Umdosmotivospelosquaisa
Argentinavai decidir o título
mundial nestedomingo (18),
contra a França, às 12h.
“Rodrigodesempenhauma
funçãoqueédifícilencontrar
outro jogador que faça hoje
emdia”,definiuScaloniantes
da viagempara oQatar.
Em todas as partidas no
Qatar, foi elequemmais cor-
reu (média de 12 km por jo-
go).Naestreia, contra aArá-
biaSaudita, foimaleaArgen-
tinaperdeu.Quandomelho-
rou, apartirdo jogocontrao
México, o time cresceu jun-
to. Embora o mérito maior
seja deMessi, claro.
Na fase de grupos, De Pa-
ul foio jogadorquemais ten-
tou passes na seleção (384),
com 88% de acerto, e o ter-
ceiroquemaisrecuperoubo-
las (21).Mais importante, é o
principal elo para fazer a bo-
lachegaraMessiequemmais
recebepasses do camisa 10.
DePaul éumdos símbolos
daeraScaloni e a imagemda
renovação pela qual passou
a Argentina a partir do fra-
cassonoMundial de 2018.
No ano seguinte, o volan-
te recebeu aprimeira convo-
cação. E, para ele, ocupar a
função em que outros falha-
ram no passado, a de “sócio
deMessi na seleção”, é papel
que assume comgosto.
“Sempre quis ter um tra-
balho importante nas equi-
pes, nunca fui desses depas-
sar despercebido.Masna se-
leção temos um líder que é
muito grande, uma figura
muito importante, alguém
que, alémde jogar como jo-
ga, comapalavra simplifica
tudo”, afirmou.
Foi responsável também
pela única contrariedade de
Scaloni com a imprensa Ar-
gentina durante a Copa. Al-
guns veículos publicaram
que, por uma lesão, ele não
sóficaria foradasquartasde
final, contraaHolandacomo
nãoatuariamaisno torneio.
“Não sei de onde saem es-
sas coisas.O treino foi fecha-
do, e Rodrigo participou de-
le. Vamos ver se vai jogar”,
desafiou o técnico. De Paul
foi titular, assim como deve
ser nafinal.AS
O volante Rodrigo de Paul,
umdos destaques da seleção
argentina Dylan Martinez/Reuters
DePaul carrega piano para camisa 10 jogar
livre e seleção conquistar o tricampeonato
Torcida argentina canta, vibra e faz bandeiraço com imagemdeMessi emDoha durante a Copa Gabriela Biló - 8.dez.22/Folhapress
-Alex Sabino
Doha No túnel de acesso ao
gramadodoMaracanã,em11
de julhode2021, LionelMes-
si reuniu os demais jogado-
res para fazer o discurso an-
tesdadecisãodaCopaAmé-
rica.Anosantes,aquilolhese-
riadifícileeletropeçarianas
palavras.Daquelavez,não.“O
caminho é mais importan-
tedoqueo resultado”, disse.
Talvez por não focar ape-
nas o placar final, naque-
la tarde ele conquistou seu
primeiro título importante
coma seleção.
Oobjetivo seguinte seria o
maisvalioso.Segundoogolei-
ro EmilianoMartínez, antes
de iniciar a competição con-
tinental,Messihaviaavisado
todoo elenco que aCopado
Qatar seria suaúltima.
AArgentinaestánafinalda
Copa do Mundo em grande
parteporcausadofutebolde
seucapitãoecamisa10.Neste
domingo(18),aequipedecideo
títulocontraaFrança,noestá-
dioLusail,às12h(deBrasília).
AmensagemdeMessificou
tãomarcada para jogadores
e comissão técnica que con-
tinuou a ser repetida mes-
mo após derrota na estreia
para aArábia Saudita.
“Oimportanteéocaminho,
o objetivo que traçamos até
agora. Estou convencido de
que, quando se desfruta, as
coisas saemdiferentes”, afir-
mouotécnicoLionelScaloni.
O caminhodeMessi até se
aproximardotítuloem2022
é diferente de todos os que
trilhou no passado. Mesmo
em 2014, quando foi vice e
eleito o melhor da Copa do
Mundo, não feznenhumgol
a partir das oitavas. O ata-
cante jamais havia anotado
empartidas eliminatórias.
NoQatar,marcounasoitavas
(Austrália),quartas(Holanda)
e semifinal (Croácia). Fez jo-
gadas e deu assistências que
jáestãonahistóriadasCopas.
“VejoLeofeliz.Viumgran-
de LeonaCopaAmérica [de
2021], um dosmelhores que
vinavida.Mas,nesteMundi-
al,eledeuumpassomaisadi-
ante.Édifícil superaroMes-
si da Copa América. Isso ge-
ra muita energia à equipe”,
completouMartínez.
A trajetória transformou o
craque, referênciade futebol
argentino.SuaCopaatéagora
émaradonianadentroe fora
decampo.Sónãoé igualpor-
quenãohouvejogocontraaIn-
glaterraeatéagoranãohouve
título,comoocorreuem1986.
Messi nunca havia toma-
do tantas atitudes capazes
de unir o elenco. Desde es-
colher trilha sonora da sele-
ção (o “Muchachos” da ban-
da LaMosca de Tsé-Tsé), até
tirarsatisfaçõescomtécnicos
e atletas adversários (Louis
vanGaal eWoutWeghorst).
Comcincogols (ao ladode
Mbappé), ele chega à final
comoartilheiro doMundial.
Em 2018, na Rússia, ele ano-
touapenasumavez.NaÁfrica
doSul,em2010,nemisso.Ele
chegou a 11marcados, o que
o torna omaior goleador ar-
gentinonahistóriadotorneio.
Ocaminhoemocionouaté
Scaloni, que chegou à bei-
ra das lágrimas em entre-
vista neste sábado (17), ao
falar do grupo que formou
desde que assumiu o cargo,
em 2018, e dos atletas que
receberam oportunidades,
masnão estãonoQatar.
Umaemoçãoquecontraria
oqueelemesmodisseapósa
vitórianafasedegruposcon-
tra o México. Ao ser questi-
onado sobre o choro de seu
auxiliar Pablo Aimar após o
gol deMessi, falou que o fu-
tebol não poderia ser vivido
daquelamaneira, comtanta
Messimaradoniano inspira
Argentinacomoummessias
Craque fixou na seleção que ‘o caminho émais importante que o resultado’
paixão. Era apenas um jogo.
A invasão argentina a Do-
ha, comcerca de 40mil pes-
soaseestádios lotados,o fez
conceder que sim, há uma
emoçãoenvolvidaquetorna
esta jornada aindamelhor.
“Estar emocionado é par-
te da cultura argentina, de
como se vive o jogo. Temos
amelhor torcidadomundo,
ela estava necessitada desta
alegria. As imagens [de Bue-
nos Aires] chegam, e como
não te vão emocionar? Na
Argentina,mesmo que você
não vá entender, é mais do
queofutebol,éalgoquefazas
pessoas felizes”, afirmou.
Émaisumdiscursorouba-
do de Messi, o líder inques-
tionável da seleção e do fu-
tebol dopaís finalistadaCo-
pa. A cada contato com a
imprensa, ele é convidado a
mandarumamensagemaos
que estão emseupaís natal.
“Com o seu futebol, ele
mostra onde podemos che-
gar.Leoéumfenômeno”,con-
cedeuAlexisMacAllister.Uma
declaraçãodiscretapertoda
que deu Martínez após o tí-
tulodaCopaAméricadoano
passado, quando disse que
“morreria porMessi.”
Emboraparaocraqueajor-
nada seja o mais importan-
te, seesta terminarcomotí-
tulo, vai coroar o caminho
mais bonito de todos.
Scaloni ensaia equipe
com três zagueiros
Lionel Scaloni não
quis confirmar, em sua
conferência de imprensa
neste sábado (17), qual
time vai escalar para a final
da Copa, contra a França.
“Daqui a pouco vamos
treinar e vocês vão ver.
Se não conseguirem
ver, alguém vai contar”,
brincou, fazendo
referência os vazamentos
de informações sobre
o que acontece nos
bastidores da Argentina.
No treino, Scaloni testou
duas formações. A principal
indefinição é quanto à
presença de Ángel Di María
entre os titulares. Ele não
está 100% fisicamente e
tem ficado no banco.
O técnico quer conter a
velocidade de Mbappé
e impedir que a bola
chegue a ele.
A atividade começou com
três zagueiros: Martínez;
Romero, Otamendi e
Llisandro Martínez;
Molina, De Paul, Enzo
Fernández, MacAllister e
Acuña; Messi e Álvarez.
Na segunda parte, Di
María entrou no lugar
de Lisandro Martínez,
passando para o 4-3-3.
ARGENTINA
FRANÇA
12h, estádio Lusail
na TV: globo, globoplay, SporTV,
Fifa+ e CazéTV (Youtube)
“
Rodrigo [de Paul]
desempenha uma
função que é difícil
encontrar outro
jogador que faça
hoje em dia
Lionel Scaloni
técnico da Argentina
a eee
copa 2022
Domingo, 18 DE DEzEmbro DE 2022 3
Seleção da
final da Copa
doMundo teria
7 franceses
e 4 argentinos
Análise
-SandroMacedo
FrançaeArgentinachegamà
final da Copa após lidar com
váriosobstáculosnotorneio.
Desdeaestreia,LionelSca-
lonitevediferentesformações
argentinas.Emesmoquando
manteve o esquema, trocou
peças.Tagliafico,PapuGomez
eLautaroMartínezperderam
lugar. Enzo Fernández e Juli-
ánÁlvarezviraramintocáveis.
Doladofrancês,DidierDes-
champs perdeu o lateral es-
querdotitularnoiníciodaes-
treia,masTheoHernández,ir-
mãodocontundidoLucas,to-
moucontadaposição.Otrei-
nador francês chegouaoQa-
tarcolecionandodesfalques.
Goleiro
O francês Hugo Lloris e o ar-
gentinoEmilianoMartínezjo-
gamnaPremierLeague—res-
pectivamentenoTottenham
enoAstonVilla.Apareceram
bemquando exigidos naCo-
pa.Masficamoscomoargen-
tino,essencialnaclassificação
contra a Holanda, ao defen-
derdoispênaltis.Escolhido:
Martínez (Argentina).
Laterais
Emboraolateraldireitoargen-
tinoMolina tenha se recupe-
radodeum início ruim,oes-
colhidoéofrancêsKoundé,
que também atua como za-
gueiro. Ele entrou no lugar
dePavardnofimdodueloda
estreia. Mas já foi titular da
posiçãono segundo jogo.
Na lateral esquerda, ne-
nhum dos jogadores da po-
sição começou em campo.
O argentino Acuña ganhou
avaganasegundapartida. Já
o francês Theo Hernández
(escolhido) era reserva do ir-
mão, Lucas. Virou titular lo-
gonaestreia,quandooirmão
semachucouno lancedogol
australiano.Tomoucontada
posiçãoemarcougolnasemi.
Zaga
O experiente argentino Ota-
mendi, 34, é o único dos za-
gueiros na final que partici-
pou de todos os minutos desua seleção. Scaloni chegou
a escalar Romero ou Martí-
nez para acompanhá-lo —e
contraaHolanda,colocouos
trêsnazaga.Noesquemafran-
cês,VaraneeUpamecanofor-
mam a zaga titular. Escolhi-
dos:Otamendi (Argentina)
eVarane (França).
Meio-campo
Scalonitemmudadoaforma-
çãoadependerdorival.Nase-
mifinal,contraaCroácia,oti-
mepovoouomeio-campocom
Paredes,MacAllister,DePaul
e Enzo Fernández, o grande
achadodo técnicoargentino.
Com ausências de Kanté
e Pogba Didier Deschamps
montou o meio com Rabiot
eTchouaméni, ecadaumfez
um gol na Copa. Mas a gran-
de diferença da França 2018
para a 2022 é a função táti-
ca de Griezmann,mais recu-
ado, e fundamental tanto na
marcaçãocomonodesarme.
Escolhidos:EnzoFernández
(Argentina),Rabiot(França)
eGriezmann (França).
Ataque
Mbappé,camisa10daFrança,
artilheirocom5gols e candi-
datoamelhor jogadordaCo-
pa.Messi,camisa10daArgen-
tina, artilheiro com 5 gols e
candidatoamelhorjogadorda
Copa.AdiferençaéqueaFran-
ça já venceu sem precisar de
Mbappé(contraaInglaterra).
Osdoisastrostêmbonsco-
adjuvantes no comando do
ataque: Giroud, da França,
e o jovem Julián Álvarez, da
Argentina, somam 4 gols ca-
daum.Escolhidos:Mbappé
(França),Messi(Argentina)
eGiroud (França).
ComArgentina,
América do Sul tenta
quebrar sequência
de títulos europeus
Desde que o Brasil
conquistou o penta em
2002, apenas seleções
europeias comemoraram,
fazendo com que a Europa
disparasse na frente da
América do Sul em títulos.
Ganharam, na sequência:
Itália (2006), Espanha
(2010), Alemanha (2014) e
França (2018), totalizando
12 títulos, contra 9
dos sul-americanos.
Historicamente, o
duelo sempre foi muito
equilibrado, mas tudo
mudou depois de 2006.
Torcedores franceses seguram cartazes com imagemdeMbappé e Giroud antes do jogo entre França e Dinamarca, no início da Copa Natalia Kolesnikova - 26.nov.22/AFP
Onipresente, Griezmann troca gols por jogo
de equipe, desarma comoKanté e vira garçom
Doha Quando a França per-
deu Kanté e Pogba, ambos
fora da Copa por lesões, pa-
recia improvável que a cha-
ve para reestruturar omeio
de campo estivesse nos pés
do terceiro maior artilheiro
dahistória da seleção.
Mas poucos jogadores po-
deriamseadaptartãobema
umamudançagrandedeesti-
locomoAntoineGriezmann,
31.Autorde42golspelaFran-
ça,elepossuitécnicaeinteli-
gênciaqueotornamcapazde
fazerváriasfunções.Eprovou
isso emcada jogonoQatar.
DiantedeMarrocos,segun-
dodadosdaFifa,eletocouna
bola em todos os setores do
campo. Foram 48 participa-
ções, de tentativas de finali-
zação a chutões na defesa.
Eleito o melhor da parti-
da, foi peça importante na
construçãodoprimeiro gol,
de Theo Hernández. E de-
pois ajudou o time a segu-
rar a vantagem com desar-
mes, dribles e passes, até
Kolo Muani sacramentar
a vitória por 2 a 0.
“Ele tem tanto prazer em
desarmar quanto em fazer
umpasse.Semprepensouco-
letivamente, temumagene-
rosidadeacimadamédia”,diz
otécnicoDidierDeschamps.
Nasredessociais,atéopró-
prio Pogba brincou com o
amigo.Postouumafotoena
legenda juntou o nomedele
como de seu também com-
panheiro de seleção Kanté:
“Griezmannkante”,escreveu.
Comassistênciasparagols
deMbappé,GiroudeTchou-
améni, Griezmann lidera o
rankingdoquesito,empata-
docomoutrosquatrojogado-
res, umdeles, LionelMessi.
“É muito libertador es-
tar presente na relação en-
tre defesa e ataque, ligado
defensivamente e ajudan-
do meus companheiros de
equipe ofensivamente”, afir-
mou Griezmann. Sua poli-
valência será novamente
fundamental para a Fran-
ça neste domingo (18), na
final contra a Argentina,
às 12h, no estádio Lusail.
Será também a derradei-
ra chance de elemarcar um
golnestaCopa. Em 2018, fez
quatro, incluindo na deci-
são contra aCroácia.Mbap-
pé também deixou a mar-
ca dele naquele confron-
to. Os dois, agora, têm a
chance de repetir um feito
raro emMundiais.
Em 92 anos, só quatro jo-
gadores marcaram gols em
duas finais de Copa. E o ata-
cante Vavá, bicampeão com
o Brasil (1958 e 1962), foi o
único que marcou em duas
edições consecutivas.
Pelé também marcou na
final de 1958, mas não na de
1962, e voltou a marcar na
decisão de 1970. O alemão
“
Ele tem tanto prazer
em desarmar quanto
em fazer um passe.
Sempre pensou
coletivamente, tem
uma generosidade
acima damédia
Didier Deschamps
técnico da França
Breitner,fezgolsnasfinaisde
1974e 1982.Omais recentea
entrarparaessegrupofoiZi-
nédineZidane(1998e2006).
Griezmann,porém,nãopa-
rece se importar com isso.
Desde que Deschamps mu-
dousuafunção,amaiorpreo-
cupaçãoécumprirseupapel.
Para isso, pede conselhos
atépara atletasmais jovens,
como Youssouf Fofana, 23,
que temdadodicas ao com-
panheirosobrecomopreen-
cher os espaços semabola.
Asboas críticasqueGriez-
mann ele tem recebido re-
fletem bem a metamorfose
pela qual passou desde seu
primeiro Mundial, em 2014,
jogando pela direita do ata-
que.Quatroanosdepois, foi
peça-chavenacampanhado
título jogandodooutrolado.
Desta vez, atua mais pelas
zonas centrais do campo.
A leitura que ele faz do jo-
go também mostra um tra-
çodesuapersonalidade.Ele
nãotemavaidade,porexem-
plo, de Mbappé. Também
não chega a ser um líder co-
mo o goleiro e capitão, Llo-
ris,35,maséalguémcapazde
unir umgrupo formadopor
diferentes personalidades.
Único jogador que esteve
emcampoemtodasasparti-
dasdaFrançanasúltimastrês
Copas,ele teránestedomin-
goachancedeaumentaroca-
rinhoque já conquistou.LT
Antoine Griezmann, um
dos destaques da seleção
francesa Dylan Martinez/Reuters
-Luciano Trindade
Doha A França chega à final
daCopadoMundoprovando
que experiência faz diferen-
ça nosmomentos decisivos.
Mesmoquandonãofoi su-
perior tecnicamente aos ad-
versários, comonasquartas
definal contraa Inglaterra e
na semifinal diante do time
deMarrocos, os atuais cam-
peões tiveram disciplina e
concentraçãosuficientespa-
ra alcançar as vitórias.
A França de 2022 é uma
“equipeestranha”,escreveuo
jornal L’Équipeaodescrever
como “un exploit venu des
tréfonds” (uma façanha das
profundezas) aclassificação
do país para a decisão com
a Argentina, neste domingo
(18), às 12h (deBrasília).
NãoéoBrasil1970,pois“fal-
tamiluminações,magiaemui-
ta luz”,nemaFrançade2018,
pela“faltadecontroleacertos
níveis”,mas aFrançade 2022
é equipe com “ambição ínti-
macultivadanaadversidade”
eemcurtoespaçodetempo.
Nemo técnicoDidier Des-
champs discorda. “A França
nãofoiperfeita”,elereconhe-
ceu, repetindo como um re-
frão, apósos triunfoscontra
ingleses emarroquinos.
Foramosjogosmaisdifíceis
daequipenoQatar.Também
foramnosquaisKylianMbap-
pé tevemenosespaço,oque
ajudaaentenderadificulda-
de francesa para se impor.
Emsuastrêsprimeiraspar-
tidasnoMundial,ocamisa10
foiacionado39vezesnaárea
adversária, umamédiade 13
por partida, segundo dados
da Fifa. Contra Inglaterra e
Marrocos, ele se viu nessa
situaçãoapenas 12vezes, so-
mandoos dois confrontos.
A despeito dos números,
nãoétãosimplesafirmarque
elefoimenosdecisivo,embo-
ra tenhapassadoembranco
nessas partidas —ainda é o
artilheiro da Copa, com cin-
co gols, ao ladodeMessi.
Aos 23 anos e já emsua se-
gundafinaldeCopaseguida,
elemostrououtrotipodein-
fluêncianosúltimosdoisdu-
elos.Seelenãotinhaespaço,
eraporqueamarcação,mui-
tasvezes,eradobrada.Situa-
çãoque,poroutrolado,abria
brechasparacompanheiros.
Foi assim que a muralha
marroquina começou a ser
destruída.Enquantoeleesta-
vacercadoporseteadversári-
osemesmoassimachouum
jeitodefinalizarparaogol,a
sobraacaboucaindolivrepa-
ra TheoHernández.
Isoladocomoemumoásis
nomeiododeserto,elesóte-
veotrabalhodefinalizarpara
ogol, logoaoscincominutos.
Issodesmontoua estratégia
desefecharebuscarcontra-
ataques e obrigou o time de
Marrocos a sair para o jogo.
Era tudo o que Mbappé
queria, pois assim ele pode-
riausar justamenteaprinci-
pal arma marroquina para
explorar a força de seus ar-
ranques pelas laterais.
Nem seu amigo e compa-
nheirodeclubeHakimiesca-
poudesertiradoparadançar,
dribladoedeixadopara trás
emcampo.Setinhadificulda-
deparafinalizar,aomenoso
camisa10 francêsesgotavaas
forçasdosdefensores.Eles já
estavamextenuadosquando
Muani fechou a conta.
Adespeitodetodosospro-
blemasfísicosanteseduran-te o torneio, a França ain-
da tinha fôlego. Pogba, Kan-
té, Benzema, Kimpembe e
NkunkunemjogaramnoQa-
tar.LucasHernandezsema-
chucou já na Copa. Upame-
canoeRabiotnão jogarama
semifinal, abatidos por algo
que Deschamps chamou de
EnquantoMbappébrilha,
elenco francês seadapta
‘Equipe estranha’ usa disciplina e concentração para chegar à batalha final
“umadoença que está acon-
tecendo emDoha”.
Emesmocomasbaixasde
peçasqueforamimportantes
em2018eoutrosderrubados
jánaediçãode2022,aFrança
mostrou tambémque ainda
temmuitasreservasdaquela
experiência vitoriosa.
Muitomais do que apenas
os cinco remanescentes da-
quela conquista que inicia-
ram o duelo com os marro-
quinos (Lloris, Varane, Gri-
ezmann, Giroud eMbappé).
Há,também,amesmafrieza.
Mesmo na goleada sobre
a Croácia, por 4 a 2, quando
ficou com o caneco, o time
francêscometeualgunserros
que poderiam ter lhe custa-
doavitória.Comoaconteceu
tambémdiantedaInglaterra
e deMarrocos nesta edição.
Nosdoiscasos,nadaabaloua
máquinafrancesadevitórias.
O desafio agora é saber o
quantoissopoderáfazeradi-
ferençadiantedaArgentina.
Quantopodecustarumerro
contra LionelMessi?
“Sempreacontecemcoisas
emumapartidaparaasquais
vocênãoestápreparado”,dis-
se o capitão Hugo Lloris. “É
aí que você precisa mostrar
umbomespírito de equipe”,
acrescentou.“Somosbonsco-
mo equipe porque sabemos
comonosadaptar adiferen-
tes cenários.”
Europa dispara
à frente dos
sul-americanos no
número deMundiais
a partir de 2006
0
2
4
6
8
10
12
9
América
do Sul
9
9
12
Europa
201820061930
a eee
copa 2022
4 Domingo, 18 DE DEzEmbro DE 2022
Disputa de 3º lugar
Final
mATA-mATA
SÁB 17 • 12h
DOM 18 • 12h
CAMPEÃO
2º LUGAR
3º LUGAR
4º LUGAR
ARGENTINA
FRANÇA
CROÁCIA
MARROCOS
Jogos no horário de brasília
2
1
CROÁCIA
MARROCOS
Fifa respira aliviada com
ofinal do ciclo polêmico
doMundial doQatar
-Alex Sabino
DOHA Logo após a Copa do
Mundo de 2018, uma pia-
da comumentre dirigentes
sul-americanos era que, se
pudesse, a Fifa faria todos
os seus torneios naRússia.
Apesardosproblemaspo-
líticosefaltadeliberdadede
expressão, o país havia rea-
lizadoummundialdeorga-
nização impecável; Por um
mês, o governo do país fez
vistas grossas para o com-
portamento de milhões de
turistas quenão condiziam
comos costumes russos.
OtorneiosediadopeloQa-
tar termina neste domingo
comafinal entreArgentina
e França. O final de um ci-
clode 12anosdepolêmicas,
questionamentos,mudança
de data, denúncias e acusa-
ções contra a Fifa.
Emparteporcausadaes-
colhadopaísdoOrienteMé-
dio, a entidade viveu seu
mais traumático momen-
to na história: o Fifagate,
em2015,processodaJustiça
americanaque resultouem
banimentos,condenaçõese
prisõesdedirigentes.Entre
eles,oex-presidentedaCBF
(ConfederaçãoBrasileirade
Futebol), JoséMariaMarin.
“Eu não tenho que defen-
der o Qatar. Estou defen-
dendo o futebol e [lutando
contra] injustiças. Nós ve-
mos aqui muitos represen-
tantes vindo para o Qatar”,
disse o presidente da Fifa,
Gianni Infantino, em apoio
à primeira Copa emumpa-
ís islâmico.
Comodefesadacompeti-
ção,eleusouváriashipérbo-
les.DissequeaCopade2022
teve a “melhor fase de gru-
posdahistória”,foia“melhor
CopadoMundodetodosos
tempos”,deixou“umlegado
transformador”.
Seuantecessor,SeppBlat-
ter,haviaditoquedarasede
para o Qatar havia sido um
equívoco. Ele renunciou ao
cargoporcausadedenúnci-
as de corrupção.
FoiumaestratégiaqueIn-
fantino já havia utilizado
quando, adoisdiasdaaber-
tura, o Supremo Comitê da
Entrega e Legado, respon-
sável pela organização do
Mundial,seguiuadecisãoda
monarquia e proibiu a ven-
da de cervejas nos estádios
da Copa. A permissão esta-
va acertada em contrato. A
48 horas do primeiro jogo,
não havia nada que a Fifa
pudesse fazer.
Em vez de criticar os an-
fitriões, Infantino falou de
preconceitos dos europeus
einiciouumdiscursodeque
naqueledia“sesentiaárabe”.
Os números apresenta-
dos pelo Qatar pouco an-
tes e durante oMundial pa-
recembrigar comoque ve-
emaquelesqueestãonopa-
ís para o torneio.
Foidivulgadoque98%dos
ingressos foram vendidos
e que a capacidade dos es-
tádios acabou preenchida
em praticamente todos os
jogos. Mas algumas parti-
das da fase de grupos acon-
teceram com pelomenos a
metadedosassentosvazios.
CamarõesxSérviaeAustrá-
lia x Dinamarca, por exem-
plo,tinhamgrandesespaços
desocupadosnasarquiban-
cadas.Mesmoassim, quan-
doopúblicofoidivulgado,o
númerocorrespondiaamais
de90%da lotaçãomáxima.
A estimativa era que 1,4
milhão de pessoas viajari-
am ao Qatar para acompa-
nhar as partidas. Mas o cli-
madeCopadoMundo,anão
serempoucoslugaresturís-
ticosouemlinhasdemetrô
que iamaosestádios emdi-
as de jogos, foi inexistente.
OQatarganhou,deforma
surpreendente, o direito de
sediaraCopadoMundoem
eleição realizada pela Fifa
emdezembro de 2010. Des-
deentão,opaíseaFifacon-
viveramcomumapolêmica
quaseconstante.Asdenún-
cias quanto à falta de direi-
tos da massa de trabalha-
dores imigrantes,asmortes
emobrasdeestádios,afalta
de liberdadedeexpressãoe
as restrições à comunidade
LGBTQIA+aconteceramem
looping.Quandoumaacaba-
va, outra começava.
ParafugirdoverãodoQa-
tar e suas temperaturas su-
perioresda50ºC, aFifamu-
douadatadaCopadoMun-
dopelaprimeira veznahis-
tória. Levou-a de junho pa-
ra novembro.
“Podemos fazer outros
Mundiaisno inverno [euro-
peu]”, disse Infantino, con-
siderando, claro, que a ex-
periência no Qatar foi um
sucesso.
É uma declaração que dá
esperança para outros paí-
ses ricos da região, como a
Arábia Saudita, ainda mais
restritivos que o Qatar nas
questões sociais, de sedia-
remo torneio.
Apartirdestasegunda-fei-
ra,aFifarespiraaliviadapor-
que o próximo ciclo mun-
dialistapromete trazerme-
nos problemas e publicida-
denegativa.ACopade2026
serárealizada,emconjunto,
porEstadosUnidos,Canadá
eMéxico.
“
Eu não tenho que
defender o Qatar.
Estou defendendo
o futebol e
[lutando contra]
injustiças. Nós
vemos aqui muitos
representantes
vindo para o Qatar
Gianni Infantino
presidente da Fifa
CROÁCIA 2
MARROCOS 1
-Luciano Trindade
DOHA Croácia e Marrocos
não serão mais vistas como
as mesmas equipes após a
Copa doMundonoQatar.
Paraoscroatas,otorneiofoi
achancedereafirmarseuno-
vostatusnocenáriomundial,
provandoque o vice-campe-
onato em 2018, omelhor de-
sempenhodageraçãolidera-
da por Luka Modric, 37, não
foi sorte ou obra do acaso.
Desde1991,comodesmem-
bramento da antiga Iugoslá-
via, é a terceira vez que eles
ficamentreasquatromelho-
resseleçõesdomundo.Apri-
meirafoiem 1998,naFrança.
Para os marroquinos, foi
umpoucomais. Eles sãodo-
nos, agora, damelhor cam-
panha de uma nação afri-
cana e de língua árabe na
história da competição.
Omáximo alcançado por
um africano havia sido as
quartas de final: Camarões,
em 1990, Senegal, em 2002,
e Gana, em 2010.
O fato de a Croácia ter ven-
cido neste sábado (17) a dis-
putaentreosdoispaísespelo
terceiro lugar, por2a 1, noes-
tádioKhalifa,ficouapenasco-
mopanodefundoemtrajetó-
rias das quais as torcidas dos
doispaísespodemseorgulhar.
Mesmo assim, eles ainda
fizeramumgrande jogo.
Disputas de terceiro lugar
costumamterjogosfrios,com
asequipessemmuitoânimo,
como se jogar fosse apenas
umaobrigação.Nãofoiocaso
deCroáciaeMarrocos,ambas
determinadasavencerdesde
o primeirominuto.
Os croatas desde o início
buscaramocuparocampode
ataque.Aindaqueumpouco
mais distante da área, quase
comoumvolante,Modric se
deslocava de um lado para
outro, cavandoespaçospara
seus companheiros infiltrar
a defesa. Em sua despedida
das Copas, ele quis mostrar
todo seu repertório.
Depois de se ver forçado
a mudar seu estilo contra a
França, na semifinal, quan-
dotomouumgol logocedo,o
timedeMarrocosretomouo
seufutebolpragmático,apos-
tando nos contra-ataques.
Nem quando sofreu um gol
logocedo,emumalindajoga-
daensaiadadoscroatas, eles
mudaramapostura.
Parecia até uma dança co-
reografada, algo que o técni-
coZlatkoDalicnãoédosmais
fãs.Pelomenos,nãoemcam-
po. Mas a cobrança de falta
que abriu o placar, aos 7mi-
nutos,foiorquestradaporele.
Apóscruzamentoàesquer-
dadagrandeárea,Perisicdeu
umaassistênciadecabeçapa-
raGvardiol,tambémpeloalto,testar para o fundoda rede.
Comofezemtodososjogos
destaCopa, a torcidamarro-
quinacresceu justamenteno
momento em que a equipe
maisprecisava.Desta vez, os
jogadores não demoraram a
reagir.Aos8,elesdevolveram
o gol com omesmo veneno.
Ziyech cruzouna área eDari
cabeceoupara o gol.
Quando o empate parecia
que se estenderia até o in-
tervalo,mesmo comos cro-
atas rondando mais a área
adversária, Orsic surpreen-
deuobomgoleiroBonocom
um chute de curva, que ba-
teu na trave antes de mor-
rerno fundoda rede, aos42.
Depois do intervalo, foi a
vezdeMarrocossermaispre-
sentenoataque,embuscado
empate,masoscroatasprova-
ramnovamentequesãobons
deaplicaçãotáticadefensiva.
ElestrancaramoBrasildessa
formanasquartasdefinal.Só
nãoconseguiramfazeromes-
mocomaArgentinanasemi.
Aos 32minutos, os marro-
quinosaindareclamaramde
um pênalti. Revoltada com
a não marcação do pênalti,
a torcida gritou “Fifamáfia.”
A derrota não apaga o
grande feito de Marrocos,
que alcançou nesta edição
amelhor campanhadeuma
equipeafricanaemCopasdo
Mundo. Um resultado que
encheudeorgulho, também,
asnações árabes, justamen-
te na primeira edição reali-
zada no Oriente Médio.
Desdequepassoudafasede
grupos,eliminandoaBélgica,
os marroquinos passaram a
ser tratados como a grande
surpresadaCopadoMundo.
O rótulo incomodava Walid
Regragui.Paraotécnicomar-
roquino, os resultados eram
frutodeum“trabalhoduro”.
Foram anos para montar
a seleção que conquistou fãs
noQatar e ao redor domun-
do.Aformaçãocomeçoucom
ogarimpode atletas quepu-
dessemdefenderopaís,mas
queatéalgumtempoatráses-
tavam fora do radar.
Eram os filhos e netos de
migrantes que, na maioria
das vezes, optavam por de-
fenderseleçõesdepaíseseu-
ropeus onde seus familiares
seestabeleciamnabuscapor
uma vidamelhor.
Reverter essefluxoe incor-
poraràseleçãomarroquinao
talentodeatletascomDNAda
naçãofoiotrabalhoqueteve
comoresultadoaformaçãode
um elenco com atletas nas-
cidos no Velho Continente.
Eles fizeramadiferença.
O franco-marroquino Ro-
mainSaiss,porexemplo,mar-
counavitóriasobreaBélgica.
Nascido na Holanda, Ziyech
deixousuamarcacontraoCa-
nadá.Emumdosmomentos
mais emocionantes na com-
petição,coubeaAchrafHaki-
mi,nascidoemMadri,conver-
teroúltimopênaltinavitória
sobreaEspanha,nasoitavas.
DepoisdepassarporBélgi-
ca, Espanha e Portugal,Mar-
rocos só caiudiantedaFran-
ça,atualcampeã.Masvendeu
caroaderrotapor2a0nase-
mifinal, mostrando que não
estava ali por acaso.
ComoRegragui orgulha-se
dedizer,tudofrutodeumduro
trabalho,agora,reconhecido.
Algoqueoscroatas jáestão
maisacostumados,principal-
menteModric,quede forma
honrosadisputousuaúltima
CopadoMundo.
Em quarto, marrocos faz melhor campanha da história de uma equipe africana
Jogadores croatas comemoram após vencerMarrocos na disputa pelo terceiro lugar da Copa Peter Cziborra/Reuters
Croácia terminaem3º lugar
e reafirmagrandezado time
a eee
copa 2022
Domingo, 18 DE DEzEmbro DE 2022 5
DasdezCopasdoMundoemqueestive,dei-
xei de ver, no estádio, duas decisões: a de
1986,noMéxico,eade2006,naAlemanha.
Explico:aentreArgentinaeAlemanhadei-
xeideladoporque,vítimadochamadoMal
deMontezumaantesdaeliminaçãodoBrasil
pelaFrança,nospênaltis,estavafracofísica
epsicologicamente.PreferivoltarevernaTV.
Em2006, entre Itália eFrança,nãocon-
segui ingresso e vi no hotel.
Ade1982,quandoaItáliaganhoudaAle-
manha,eviroutricampeã,viaindalamen-
tando por Sarriá. A festa era dos outros.
Em 1990, emRoma, quemcomemorou
foramosalemães, frutodepênalti inexis-
tente contra a Argentina.
Jáem1994,noprimeirotetraemjogo,deu
Brasil,emjogohorrorosoecobrançasdepê-
nalti não menos dos italianos, na Califór-
nia.Enfim,decorpopresente, comemorei.
Como estava no Stade de France, em
1998, para testemunharomassacre fran-
cês ao som da Marselhesa sobre a trau-
matizada seleção brasileira.
Em2002,quandooBrasilvoltouaganhar
evirarpentacampeão, vi emcasamesmo,
porquepreferi sentir aCopanoBrasil, de
madrugada,dadososhoráriosasiáticos.
Até então, tirante, é claro, as três deci-
sões com brasileiros, não tive preferên-
cia nem torci para ninguém.
Por compaixão, em 2010, na África do
Sul,desejei veraHolandasercampeãpela
primeira vez,masaEspanha levouame-
lhor.Tudobem, IniestaeXavimereceram.
No Maracanã, em 2014, queria muito
ver a Argentina campeã,mesmo que ou-
visse de todos o alerta sobre a gozação
doshermanossevencessememplenoRio.
Ora, não padeço da Síndrome de Ber-
lim, nem da de Estocolmo, para torcer
por quem nos havia enfiado 7 a 1 e nos
submetido amaior humilhação esporti-
va de todos os tempos.
Em vão, deu Alemanha.
Finalmente, em2018, emMoscou, entre
FrançaeCroáciafiquei comomais fraco
eme dei mal, de novo.
Acho que torcerei pela França, neste
domingo (18), porque… quero ver Lionel
Messi levantar a taça…
NãoqueMpabbéeGriezmannnãome-
reçamporquemerecemémuito.Masnin-
guém comoMessi.
Primeiramenteporqueosdois franceses
já foram,quatroanosatrás, eMessiainda
não, além de ter sua derradeira chance.
KylianMpabbé,23anos,tem,nomínimo,
maisduasCopas,senãotrês,com34anos,
umamenosdoqueoargentino temhoje.
Alémdomais, ninguémcometeráahe-
resiadebotaremdúvidaacapacidadeex-
traordináriado franco-camaronês, oque
provavelmente alguém fará em relação
a Lionel Messi caso não ganhe o título.
Respeitemos, pois, a ordem natural das
coisas,emboraofutebolnãosejaexatamen-
teumesportechegadoatalracionalidade.
O jogo no estádio Lusail é de fato im-
previsível e tem tudo para ser sensacio-
nal, dueloaocairda tarde, ouaosubirda
noite, nesteQatarondeo sol sepõeantes
das 17 horas em dezembro.
Semaconcorrênciadoastro-rei, quem
brilharámais, Messi ouMpabbé?
Enfim, emminhaoitavafinalpresenci-
al, é triste constatar que só por duas ve-
zes vi oBrasil emdecisões, umacomvitó-
ria depois de 120minutos terríveis e sem
gols, eoutranaacachapantederrotapor
3 a 0 para os franceses.
Arrentina, Arrentina!
Janio de Freitas
Já contei aqui e repito: quando vimpara
esta Folha, em 1995, seu Frias pesou no
vaticínio: “Será o nosso Janio de Freitas
no esporte”.
Não fui, não sou, não serei.
Quem nasceu para ser eu jamais será
Janio de Freitas.
Nomais, écomoescreveuCristinaSerra.
Estranhei, emumprimeiromomento, ao
percebermuitosbrasileiros torcendope-
la Argentina na semifinal. Com a chega-
dadagrandedecisãodestedomingo (18),
a torcida por uma vitória dos vizinhos
parece ter aumentado aindamais.
Esse estranhamento ocorreu a partir
da ideia de que os argentinos são nossos
arquirrivais no futebol. Seja na Liber-
tadores, na Copa América ou no amis-
toso. Convencionou-se dizer que existe
um gosto especial em vencê-los.
Não sei, confesso, qual a origemdessa
rivalidade. Se nasceu depois de muitos
confrontos nos torneios de clubes e se-
leções. Talvez tenha relação com a pro-
ximidade geográfica entre os dois pa-
íses. Se existem questões históricas ou
sociais. Isso tudo, de repente.
Bem, é uma final contra a França,
seleção carrasca do Brasil. Já bateu a
seleção brasileira três vezes noMundi-
al, incluindo a final de 1998. Pode es-
tar aí uma explicação para a torcida
para o rival local.
Pode ser uma birra com seleções eu-
ropeias de forma geral. O que teria
despertado um “bairrismo”. Por isso,
comemorações efusivas após gols ou
jogadas de Lionel Messi.
É, tem oMessi. O argentino é um dos
maiores jogadores da história do es-
porte. Ele assombrou os apaixonados
por futebol repetidamente com sua ge-
nialidade, inclusive na Copa do Qatar.
Muitas vezes escolhidomelhor jogador
domundo, inúmeros títulos comoBarce-
lona, jogadas,gols, enfim...Desnecessário
enumeraros feitos da carreiradeLionel.
Masnostorneiosdeseleçõespareciaque
acoisanãoengrenava.Atéqueeleganhou
aCopaAmérica, recentemente. Chorou.
Foram cinco Copas nas quais ele par-
ticipou. No Brasil, em 2014, Messi jogou
muitobem,eaArgentina foi vice-campeã.
Em 2022, Messi teve atuações de
Messi. Comandou uma seleção a bei-
ra de um desastre (após a derrota pa-
ra a Arábia Saudita) e transformou
a equipe em uma finalista de Copa.
E ele foi brilhante quando precisou ser.
Ele tem cinco gols no torneio e três
assistências. Além dos númerosfrios é
possível perceber como silenciosamen-
te Messi comanda seus companheiros
em campo. Eles o procuram, ou com a
bola, ou com o olhar.
TemumacoisaengraçadasobreoMessi:
é dificílimo conseguir entender paraque
ladoele vaiduranteuma jogada.Ele é im-
previsível, não cria umpadrão. Paranós
é engraçada, mas aposto que os zaguei-
rosnãoconcordariamcomessapalavra.
A impressão que tenho ao vê-lo jogar
é que se Lionel Messi acorda com von-
tade de jogar, não há o que se possa fa-
zer para pará-lo.
Exageros a parte, seria bastante in-
justo, pela carreira que construiu e pe-
lo bemque fez ao futebol coma suaarte,
queMessi se despedisse de sua provável
última Copa doMundo sem um título.
Sim, muitos outros gênios da bola
não conquistaram um Mundial de fu-
tebol. Fato.Mas aqui estamos diante de
um craque contemporâneo. E ele dian-
te de uma final de Copa. Talvez aí uma
das razões por que alguns brasileiros
torcem pela Argentina. Futebol arte,
mesmo que seja de um rival.
Não estou defendendo que se deva
torcer pelos argentinos.
Mas digo que faria bem para o fute-
bol que o esporte mais popular do pla-
neta parasse de cometer injustiças e de
produzir gênios sem Copa.
Craquesaparecemesomem, eacomparaçãoé
semprecomoomaiorde todos;Messi eMbappé
têmachancede seaproximaremdo intocável.
Mbappé saltou nos ombros de Giroud e le-
vantou o braço esquerdo, com o punho cer-
rado, enquanto passava o direito em torno
do pescoço do centroavante.
Tinha acabado de marcar, nos 3 a 1 con-
tra a Polônia.
A imagem é igual à de Pelé comemorando o
primeirogoldafinalde 1970 saltandosobre Jair-
zinho. Únicas diferenças: o Rei tinha o punho
direito fechado e sua festa foi na finalíssima.
A primeira página do jornal francês L’E-
quipe, deste sábado (17), tem os dois retra-
tos, lado a lado.
Messi tem outra foto,muito parecida, feste-
jando umdos quatro gols do Barcelona sobre
oSevilla, triunfopor 4a 2, em 2019. O gênioar-
gentino saltou sobreo francêsDembelé, seu ri-
val na decisão deste domingo (18), emDoha.
A fotografia original da comemoração do
Rei com Jairzinho, do centésimo gol do Brasil
em Copas, o primeiro da final contra a Itá-
lia, é do alemão Sven Simon. Dizem que não
foi um repórter-fotográfico,mas um escultor.
Mbappé eMessi têm suas obras de arte nes-
ta Copa do Mundo. A maneira como o fran-
cês observou o posicionamento do goleiro
polonês Szczesny, esperou o que faria e jo-
gou a bola no ângulo, nas oitavas-de-final.
OuMessi, ao levar o zagueiro croata Gvar-
diol até a linha de fundo, como Al Pacino
conduzindo Gabrielle Anwar ao dançar o
tango “Por una cabeza”, no filme “Perfume
de Mulher”. O fim da dança foi o passe para
Julián Álvarez marcar o 3 a 0.
O zagueiro Diallo, com quem Mbappé jo-
gou no Monaco e no Paris Saint-Germain,
contou ter escutado do camisa 10 da Fran-
ça elogios rasgados a Cristiano Ronaldo, a
quem considera o melhor de todos os tem-
pos. Há uma imagem belíssima de Mbappé
com expressão de choro, ao receber a cami-
sa de Cristiano, depois do empate por 2 a 2
entre franceses e portugueses, na Eurocopa.
Mbappénão conseguirá espalhar sua certe-
za sobre a superioridade de Cristiano Ronal-
do se não vencerMessi. Se ganhar, será o pri-
meiro jogador, desde Pelé, bicampeão mun-
dial antes dos 24 anos—o Rei fez isso aos 21.
As comparações não param. Aos 23 anos,
Mbappé marcou 9 gols em 12 jogos de Co-
pas, mais do que Pelé na mesma idade. Só
que o brasileiro produziu suas sete escultu-
ras em apenas seis partidas. Messi tem oito
assistências e está empatado com Marado-
na, recordistas emMundiais, neste critério.
Acontece que esta estatística só está dis-
ponível a partir de 1966 e Pelé deu dois pas-
ses para gols de Vavá, na Suécia, em 1958.
A realeza esteve presente em quase tudo
nesta Copa. Seu estado de saúde preocupou
a Fifa e os torcedores, que levaram homena-
gens aos estádios. O desempenho impressio-
nante de Messi e Mbappé desperta até ago-
ra as comparações, a ponto da reprodução
de imagens quase idênticas do camisa 10 da
França, festejando comGiroud, namesmapo-
sição emque oRei comemorou com Jairzinho.
Ser Rei é completar 82 anos de vida e ou-
vir, por 64 deles, que Di Stéfano pode ter si-
do melhor, Cristiano Ronaldo mais golea-
dor, Cruyff mais cerebral, Maradona mais
genial, Messi, Mbappé e...
E a comparação é sempre com Pelé.
Isto é ser rei.
De tudo o que se transforma, só o que não
perdeo sentidoéaqualidade.Não temTiktok,
nembate-bocacaça-cliqueemredessociaisque
substitua o protagonismode três gênios, cap-
turadosporumacriaçãode 1826: a fotografia.
As três imagensquase iguais, comossorrisos
pós-goldeMessi,MbappéePelé, serãoeternas.
Final reúne dois
candidatos a Pelé
-
Paulo Vinicius Coelho
Jornalista, autor de ‘Escola brasileira de Futebol’,
cobriu sete Copas e oito finais de Champions
Mais umafinal de Copa
-
Juca Kfouri
Jornalista, autor de “Confesso que Perdi”. É formado em ciências sociais pela USP
TítulodeMessi faria
bemao futebol
-
Tayguara Ribeiro
na Folha desde 2019, é repórter de Política. Já trabalhou em Economia e no jornal Agora
Diferentemente da França, que usou o
mesmo esquema tático durante todo o
Mundial, a não ser nos últimos 20 mi-
nutos da partida contra Marrocos, a
Argentina utilizou várias estratégias,
de acordo com o adversário.
O jovem treinador Scaloni, de 44 anos,
viveumdilemasobre comoexploraro la-
do esquerdo defensivo da França, mais
frágil, e, ao mesmo tempo, marcar me-
lhor Mbappé, pelo mesmo lado do cam-
po. O técnico temaopçãode usar ames-
ma formação do início da Copa, com Di
María e com um lateral mais marcador
peladireitaouadeescalar três zagueiros
e dois alas, sem Di María. Ou, ainda re-
petir a formação que usou contra a Cro-
ácia, com uma linha de quatro nomeio-
campo, com De Paul mais pela direita,
para dar o primeiro combate aMbappé.
Contra a Croácia, o desenho tático da
Argentinaeraidênticoaodaseleçãoingle-
sa,campeãmundialem 1966, quando,pe-
laprimeiravez,umaequipe jogoucomdu-
as linhas de quatro e com dois atacantes
(4-4-2). Nos dois times, os quatronomeio
marcavam, construíam e se alternavam
nas chegadas ao ataque. Não havia pon-
tasnemseparaçãoentrevolantesemeias.
O experiente Deschamps também vi-
ve um dilema, sobre comomanter a for-
mação tática e reforçar a marcação so-
bre Messi. Como o meio-campista Rabi-
ot se desloca para a esquerda para pro-
teger o lateral, já que Mbappé não vol-
ta para marcar, abrem-se espaços pe-
lo meio. Griezmann tem jogado demais,
feito o papel de meio-campista, de uma
intermediária à outra, mas nem sem-
pre dá para ele voltar e se posicionar
ao lado de Rabiot e Tchouaméni.
Se a França fizer um gol primeiro e for
pressionada, o técnico poderá repetir a
mudançafeitacontraMarrocos, comaen-
tradadeumjogadorpela esquerda,para
atacar edefender, edeslocarMbappépa-
ra o centro, saindo Giroud. Outra opção
é, em vez de um atacante pela esquerda,
Thuram,podeentrarumoutromeio-cam-
pista (Fofana),parareforçaramarcação.
Será uma disputa técnica, tática e de
detalhes imprevisíveis e psicológicos. De
um lado, a França, experiente, segura,
fria, racional. Mbappé quer mostrar ao
mundo e ao PSG que ele é o maior cra-
que. Do outro lado, a Argentina, apaixo-
nada,heroica,quevai jogarpor suasam-
bições, pelo país e porMessi, emumges-
to de profunda admiração, de gratidão
e de solidariedade humana.
Não querendo ser repetitivo, mas sen-
do, a presença de meio-campistas com
qualidade para ter mais o domínio da
bola e trocar mais passes não significa
ser menos objetivo, como alguns “sábi-
os” dizem. A posse de bola é o início e o
meiopara se chegaraogol comvelocida-
de e eficiência. Posse de bola não é o fim.
SeaEspanha tivessemelhoresatacantes,
poderia estar na final. Grandes equipes
possuemasduasvirtudes.Omeio-campo
é a alma e o cérebro de um time.
SeaArgentina for campeã, ressurgirão
asdiscussões sobrequemémelhor,Messi
ouMaradona.Maradonatevemomentos
mais espetaculares,masMessi émais re-
gular,maiscompleto,alémdeterumacar-
reira mais longa e commais conquistas
individuais e coletivas.Maradonaémais
show,mais artista. Messi é mais craque.
SeaFrança for campeã, seráo terceiro
títulonosúltimos24anos, emseteedições
deCopadoMundo. Seráahegemoniada
França no futebol mundial.
Alguém já disse que o símbolo é a pre-
sençadaausência.Apesardasúltimaseli-
minações, oBrasil aindaéumdos símbo-
los do futebol, antes que os aventureiros
e incompetentes destruam esse fascínio.
Apresençadaausência
-
Tostão
Cronistas esportivo, participou como jogador das Copas de 1966 e 1970. É formado emmedicina
| dom. Tostão, Juca Kfouri | seg. Paulo Vinícius
Coelho, Juca Kfouri, Nelson de Sá, Luís Curro
| ter. RenataMendonça,Walter Casagrande Jr.
| qua. Tostão, Marcelo Damato | qui. Juca Kfouri,
Marcelo Damato | sex. Paulo Vinícius Coelho, Sandro
Macedo | sáb. Marina Izidro,Walter Casagrande Jr.
[
Aos 23 anos, Mbappémarcou
9 gols em 12 jogos de Copas,
mais do que Pelé namesma
idade. Só que o brasileiro
produziu suas sete esculturas
em apenas seis partidas
a eee
copa 2022
6 Domingo, 18 DE DEzEmbro DE 2022
Colunistas escalamsuas seleções daCopa
messi, mbappé e Theo Hernández foram as únicas unanimidades elencadas, junto de decepções e surpresas do torneio
-EduardoMarini
SãoPaulo Navésperadafinal
daCopadoMundode2022,a
Folhaconvocoucolunistasde
Esporteparaanalisarosprin-
cipais jogadores e aconteci-
mentosdotorneio.Cadaum
montou sua seleção e desta-
cou a decepção e a surpresa
desta edição, além de fatos
marcantesdoeventonoQatar.
Três jogadores foramuna-
nimidadenasseleções:Mes-
si,MbappéeTheoHernán-
dez. Veja a seleçãodaCopa
de cada colunista.
Os companheiros dePSG
e artilheiros da Copa, com
cinco gols cada, sãonomes
previsíveis entre osmelho-
res da competição.
Mas a presença do late-
ral esquerdo francês pode
ser considerada uma sur-
presa: Theo fez ótima tem-
porada pelo Milan, mas é
pouco conhecido quando
comparadoaosdoiscraques.
Até as semifinais, ele deu
duas assistências emarcou
umgol—oprimeiro contra
Marrocos, na quarta (14).
Revelado pelo Atlético de
Madri, foiumdosdestaques
da campanhamilanesa pe-
lo título da Serie A italia-
na na temporada passada.
É lateral veloz e ofensivo.
Para a maioria dos colu-
nistas, a grande decepção
destaediçãodeCopaesteve
relacionadaàdesclassifica-
çãobrasileira precoce. Tro-
peços de outras potências
e polêmicas sobre direitos
humanosnoQatar também
figuraram na lista.
Esta edição foi recheada
de surpresas: teve queda de
potênciasezebrasnafasede
grupos,tropeçosdeEspanha
e Brasil nomata-mata,Mar-
rocos alçando voo eAustrá-
liaclassificada,alémdeDina-
marcalanternadeseugrupo.
Livakovic CRO
gvardiol CRO
Saiss MAR
bellingham
ING
Enzo
Fernández ARG
modric CRO
griezmann
FRA
mbappé FRA
messi ARG
Hakimi MAR
Theo Hernández FRA
Szczesny POL
Van Dijk HOL
Saiss MAR messi ARG
Tchouaméni FRA
modric CRO
bruno
Fernandes POR
mbappé FRA
Dembelé FRA
Dumfries HOL
Theo Hernández FRA
bono MAR
otamendi ARG
gvardiol CRO
modric CRO
Tchouaméni FRA
griezmann FRA
giroud FRA
messi ARG
mbappé FRA
Theo Hernández FRA
Koundé FRA
bono MAR
otamendi ARG
gvardiol CRO
griezmann FRA
Amrabat MAR
Enzo Fernández ARG
mbappé FRA
Saka ING
messi ARG
Theo Hernández FRA
Hakimi MAR
Dibu martínez ARG
Van Dijk HOL
Thiago Silva BRA
bruno Fernandes POR
modric CRO
griezmann FRA
Kane ING
messi ARG
mbappé FRA
Theo Hernández FRA
Hakimi MAR
Livakovic CRO
gvardiol CRO
romero ARG
brozovic CRO
Enzo
Fernández ARG
modric CRO
Julián
Álvarez ARG
mbappé FRA
messi ARG
Hakimi MAR
Theo Hernández FRA
bono MAR
otamendi ARG
gvardiol CRO
Amrabat MAR
bellingham ING
griezmann FRA
Julián Álvarez ARG
messi ARG
mbappé FRATheo Hernández FRA
Hakimi MAR
bono MAR
Varane FRA
marquinhos BRA
giroud FRA
Amrabat MAR
bellingham ING
messi ARG
mbappé FRA
Saka ING
Theo Hernández FRA
Hakimi MAR
Dominik
Livakovic CRO
Thiago
Silva BRA
Upamecano FRA
Amrabat
MAR
Tchouaméni
FRA
griezmann
FRA
Julián
Álvarez ARG
mbappé FRA
messi ARG
Hakimi MAR
Theo Hernández FRA
Livakovic CRO
gvardiol CRO
Upamecano FRA
griezmann
FRA
Enzo
Fernández ARG
modric CRO
Julián
Álvarez ARG
mbappé FRA
messi ARG
Hakimi MAR
Theo Hernández FRA
Decepção da Copa: Thiago Silva, 38, não sabe o que
é ser capitão. A faixa não é uma vaidade. O capitão
é quem põe o dever acima da vontade. Deveria ter
se apresentado para bater o primeiro pênalti
Surpresa: A ida de Marrocos às semifinais não deve se
repetir logo, mas muda o horizonte das equipes africanas.
Coreia do Sul e Japão tambémmostraram novidades
Decepção da Copa: A desclassificação da seleção
brasileira nas quartas de final, diante da Croácia
Surpresa: Amaravilhosa torcida marroquina
Decepção da Copa: Alemanha, do ponto de vista
técnico, e Brasil, do ponto de vista emocional
Oquemarcou oMundial? A TVmostrava o presidente da
Fifa, Infantino, sempre sentado sozinho durante os jogos. Em
França x Marrocos, ele teve a companhia de Macron. Mesmo
assim, continuou namesma posição, calado, como se o francês
não existisse. Será ele o dono da Fifa, do futebol e domundo?
Decepção da Copa: Dinamarca, que chegou com status de
força alternativa, e Bélgica, 3º em 2018, e teve a decepção dos
ingleses com a qual me solidarizo, Wilton Pereira Sampaio
Surpresa: Saindo da obviedade de apontar Marrocos,
Tite deixando a turminha chorando sozinha no gramado
após a eliminação; e a torcida da Argentina, que invadiu o
Qatar e abraçou a seleção como poucas vezes me lembro
Decepção da Copa: Alemanha (segunda eliminação
seguida na fase de grupos), Bélgica (e seus craques De
Bruyne e Lukaku), Brasil (outra queda nas quartas como
favorito) e Cristiano Ronaldo (implicante e ineficiente)
Surpresa: Marrocos, primeira seleção africana a chegar a uma
semifinal de Copa, derrubando, com força coletiva, Bélgica
na fase de grupos e Espanha e Portugal nos mata-matas
Decepção da Copa: Saber que fiquei ummês num país
que não respeita os direitos humanos, trata mulheres
como seres inferiores e é altamente homofóbico
Surpresa: A campanha de Marrocos, primeira
seleção africana a chegar às semis, e a queda
da Alemanha ainda na fase de grupos
Decepção da Copa: O gol tomado pelo Brasil. Tomar
em um contra-ataque, ganhando uma prorrogação
e faltando apenas quatro minutos para terminar
o jogo. Não tem como não se decepcionar
Surpresa: Julián Álvarez, jovem centroavante da Argentina
Decepção da Copa: Alemanha, apesar de boas
atuações, perdeumuitas oportunidades de
gol, não foi eficiente e acabou eliminada pela
segunda Copa consecutiva na primeira fase
Surpresa: Brasil não chegar às semifinais
Decepção da Copa: A forma como a talentosa seleção
brasileira foi eliminada precocemente. Os quatro minutos
finais da prorrogação contra a Croácia e a ordem de cobrança
de pênaltis não sairão nunca mais de nossa memória
Surpresa: Marrocos, primeira seleção africana a chegar
à semifinal, vencendo Bélgica, Espanha e Portugal
Decepção da Copa: Alemanha. Duas Copas
seguidas caindo na fase de grupos. Assustador
Surpresa: Marrocos. Ninguém esperava
Torcedores deMarrocos na partida de disputa do terceiro
lugar da Copa, contra a Croácia HamadMohammed/Reutres
Técnico: Deschamps (França)
Técnico: Walid regragui (marrocos)
Técnico: Walid regragui (marrocos)
Técnico: Scaloni (Argentina)
Técnico: Walid regragui (marrocos)
Técnico: Walid regragui (marrocos)
Técnico: Walid regragui (marrocos)
Técnico: Scaloni (Argentina)
Técnico: Walid regragui (marrocos)
Técnico: Scaloni (Argentina)
PVC
MarceloDamato
JucaKfouri
Tostão
SandroMacedo
Luis Curro (OMundoÉumaBola)
Casagrande
TayguaraRibeiro
RenataMendonça
Marina Izidro
aeee
Domingo, 18 DE DEzEmbro DE 2022 C1
# Lista demelhores filmesmais famosa domundo expressa ideologia de cada época C8
# Bolsa internet pode ser instrumento poderoso de combate à pobreza C12
Papéis
picados
Ilustração
Daniel
Lannes
Emclima golpista
após as eleições,
derrota na Copa
doQatarmantém
brasileiros longe
da seleção C4 e C5
a eee
ilustrada ilustríssima
C2 Domingo, 18 DE DEzEmbro DE 2022
Se a história de Alessandra
Montagnefossecontadanum
longa-metragem, eracapaz
de o roteirista ser demitido
por tercarregadodemaisno
drama. Mas a vida real não
precisaserverossímil,e,mui-
tas vezes, não é.
*
Quem a conhece —mesmo
por Zoom, como foi o caso
desta entrevista— também
não imaginaquepor trásda-
quelapresençaleve,calorosa
edosorrisolargoqueelaabre
com frequência exista uma
trajetória tão cheia de dor.
*
Aos45anos,Alessandraédona
detrêsrestaurantesemParis.
Elaéchefdecozinhaemestre
confeiteira,elevaparaospra-
tos que prepara tanto o que
aprendeu na escola quanto o
quecolheudemelhordavida.
*
“Minhacozinhatemzerodes-
perdício. Só trabalho com
produtores que conheço, só
uso produtos da estação e
nãocompronadaquevemde
muito longe”, afirma. “Cres-
ci emcidade pequena e sei o
valordascoisas,dos legumes
que são plantados para ali-
mentar as galinhas, que vão
botar os ovos que vão servir
de alimento.”
*
Alessandranasceucomoutro
sobrenome,filhadeumaem-
pregadadomésticanoVidigal,
noRiodeJaneiro.Aosoitodi-
as de vida, foi entregue para
osavósmaternos, queacria-
ramna cidadezinha de Poté,
no interior de Minas Gerais.
Não tinhanemágua encana-
da nem luz elétrica emPoté.
Telefone,então,muitomenos.
*
Alessandra passou toda a in-
fâncialá,brincandonarua,de
pénochão.NodiadeFinados,
ela e sua avó acendiam uma
vela para a mãe, que acredi-
tavamque já tinhamorrido.
*
Mas,umdia,quandotinha 12
anos, um carro preto e cha-
mativo estacionou na porta
da casa de seus avós. Carro
em Poté era coisa rara, a ci-
dade inteira parou para ver
quem era. O motorista des-
ceu e abriu a porta de trás.
“Eu só vi umapernaque saiu
assimdocarro,elatavadebo-
ta,me lembro como se fosse
hoje.Meucoraçãodisparou”,
contouAlessandra.
*
“Eu não lembrava do rosto,
massabiaqueeraela.Efiquei
commuita vergonha, eu era
umameninamagrela,desca-
belada, todasujadepoeira.E
elaaquelamulherarrumada,
cheirosa, bem-vestida.”
*
Alessandra se emociona
quando me conta que nun-
ca teve coragem de pergun-
taràmãeporondeelaandou
eoque ela fez durante aque-
les 12 anos. Amãe jámorava
emParisquandoreapareceu.
*
Era casada com um francês
e tinha ido a Poté para reen-
contrarafilhaeavaliar seela
estaria educada o suficiente
parasemudarparaaFrança.
*
Concluiu que não. Matricu-
lou Alessandra em um inter-
nato em Campinas, chama-
do Colégio Adventista Bra-
sil Central. “Lá eu vivi as pio-
ressituaçõesderacismo”,diz
Alessandra. “As meninas me
perguntavampor queomeu
nariz era tão largo, porqueo
meucabeloeradessejeito,di-
ziamque eu eramuito feia.”
*
E,aocontráriodoscolegas,de
famíliasricas,Alessandranão
tinhaninguémqueabuscas-
se nos feriados prolongados
ounas férias. Ficavanaesco-
la.Muitas vezes sozinha. “Eu
ligava para a minha mãe pe-
dindopeloamordeDeus,dei-
xa eu voltar para você. Mas
ela não queria que eu voltas-
se,eeunãosabiaoquefazer.”
*
Numfinaldeano,Alessandra
pegouumônibusefoiparaPo-
AlessandraMontagne
Chef nascidanoVidigal
leva a coxinhaaParis
mÔNICABERGAmO | monica.bergamo@grupofolha.com.br
[RESUMO] Ela passou os primeiros 22 anos de vida no Brasil, em situações de
sofrimento. Dada aos avós comoito dias, cresceu sem saber que suamãe estava
viva. Engravidou adolescente e passou por um casamento abusivo. Agora, à
frente de três restaurantes emParis, temAlain Ducasse na sua lista de fãs
Por Teté Ribeiro
té.Tinha 16anos,eravirgem.
Na cidade de dois mil habi-
tantes onde passou a infân-
cia, nesse verão, teve suapri-
meirarelaçãosexual.Eengra-
vidou.OsavósforçaramAles-
sandraasecasarcomopaido
bebê,umhomemquesereve-
lou cruel e violento.
*
Alessandrateveofilho,André,
quehoje tem 29 anos emora
com ela em Paris. “O André
foi o motor que eu precisa-
va, sabe? Ele salvou aminha
vida, omeu filho. Émeume-
lhor amigo”, afirma.
*
Depoisdonascimentodobe-
bê,Alessandrapercebeuque
precisavadarumjeitodepro-
duzirdinheiro,e,maisquetu-
donavida,traçarumplanode
fuga. “Vocênão temvontade
deabraçar,debeijar,umapes-
soa que temachuca.”
*
Então, foiparaacozinha,coi-
sa que fazia desde pequena
junto da avó. Começou a fa-
zer coxinhas para vender na
porta da escola.
*
“Os alunos sentiam o cheiro
daminhacoxinhaepulavam
o muro pra comprar”, lem-
bra. O diretor da escola aca-
bou dando autorização para
que ela vendesse os salgadi-
nhosdo ladodedentro, para
evitar acidentes.
*
Odinheiroqueganhava,guar-
dava. Demorouquatro anos,
mas Alessandra conseguiu
fugir daquela situação. “Pe-
gueiumônibusparaSãoPau-
lo, onde uma tia minha mo-
rava, em Itaquera. Foram 22
horas,eu,meufilho,umagar-
rafinhadeáguaparaele,odi-
nheirinho da coxinha e uma
mochila nas costas.”
*
DeSãoPaulo,fezcontatocom
amãe,ejuntasresolveramque
Alessandra iriaparaaFrança
arrumarumempregoeapren-
deralínguaparadepois levar
o filho. “Deixei o André com
minhatiaeentreiemumavi-
ãopelaprimeiraveznavida.”
*
QuandodesembarcouemPa-
ris,opadrastofrancêsfoibus-
cá-lanoaeroportoe,antesde
levá-laparacasa,parouocar-
ro pertinho da Torre Eiffel e
disse: “Alessandra, olha para
cima”. Sem sabermuito bem
o que esperar, mas sem que-
rer correr o risco de parecer
antipática,Alessandrafezco-
moopadrasto pediu.
*
“E assim que vi aquela torre
de baixo, o céu azul lá em ci-
ma,ficouclaroparamimque
essaeraacidadeondeeu iria
morar, esse era o meu desti-
no.” Precisava trabalhar, es-
tudar e trazer o filho. “Só ti-
nha isso na cabeça, tudoque
eu fiz dali pra frente foi com
o objetivo de trazer o André
paramorar comigo.”
*
Mas Paris tem lá suas distra-
ções. Alessandra começou a
sentir cheiros que nunca ti-
nha sentido antes, perceber
sabores quenão conhecia.
*
“Comeceiadescobrirogosto,
oaromadasfrutasvermelhas
naépocadacolheita,étãodi-
ferente colher uma frambo-
esa ou um morango na ho-
ra certa. Há quatro ou cinco
variedades de morango, ca-
daumacomumcheiro eum
gosto diferente.”
*
Efoiexperimentandomistu-
ras, testando receitas, com-
prando panelas e livros de
culinária. Trabalhava o dia
inteiro em uma empresa de
insumosmédicoscomoassis-
tente,abrindopacotes,confe-
rindocorrespondência,aten-
dendo telefones.
*
NaFrança,existeumapolítica
deaperfeiçoamentoprofissio-
nalbemdiferentedoqueháno
Brasil. Lá, se um funcionário
foraceitoemumaescolacon-
corrida, e o chefe concordar,
ele tira uma licença para es-
tudaroquequiserecontinua
recebendoo salário integral.
*
E Alessandra foi aceita no
curso de culinária da escola
Médéric, em que se dedicou
de corpo e alma. No final do
ano, a escola ofereceu a ela
umcursodeconfeitaria, que
elatambémfez.Seuprimeiro
emprego em restaurante foi
como chef confeiteira.
*
Demorouatéconseguirtrazer
ofilhoparaParis,masconse-
guiu.QuandoAndré chegou,
Alessandrajámoravacomum
francês que conheceu e por
quem se apaixonou, e com
quem, em 2006, teve sua se-
gundafilha, Thaís.
*
Em 2012, com algum dinhei-
ro guardado e a vida pessoal
mais tranquila, decidiu abrir
seuprópriorestaurante.“Que-
riaumlugarondetodomundo
pudesse comer bem. Um lu-
garsimples,mascomcomida
boa,dequalidade.Eumacozi-
nhaaberta,paraoclientever
o que eu estivesse fazendo.”
*
O restaurante se chamava
Tempero,eficavaemumbair-
ro longe da rota turística da
cidade. A ideia de Alessan-
dra era ficar fora do radar
dos críticos gastronômicos
enquanto pegava traquejo e
experiêncianonegócio.Mas
não deu tempo.
*
“Tinha fila na porta no pri-
meiro dia. Não tinha comida
suficiente para todomundo.
Eu não fiz uma publicidade,
até hoje não sei de onde saiu
toda aquela gente. E nunca
esvaziou, foi sempre assim”,
lembra. “Eachoquenãoteve
umjornalistafrancêsquenão
entrou ali noprimeiromês.”
*
Não só jornalistas. Alain Du-
casse,umdoschefsfranceses
mais renomados domundo,
foi conheceroTempero logo
no começo, aprovou a comi-
da e incentivouAlessandra a
se estabelecer em uma área
demais prestígio.
*
Hoje,abrasileiratemtrêsres-
taurantes emParis e está es-
crevendo um livro sobre sua
vida.OTemperocontinua lá,
desde que nasceu, 10 anos
atrás, mas virou uma épice-
rie,ummercadodeprodutos
de alta qualidade e uma ade-
ga de vinhos naturais.
*
AítemoDana,umbistrôden-
tro de um prédio comercial
luxuosoquemais parece um
hotel cinco estrelas, onde os
executivos alugam suítes pa-
ra trabalhar e onde ela serve
almoçossuper caprichados.
*
E,em2020, inaugurouoNos-
so, sua casamais autoral, em
que, no jantar, faz ummenu
degustação que conta parte
da suahistória.
*
“Aprimeiracoisaquevocêco-
meéumacoxinha,claro,por-
que foi a primeira coisa que
eu vendi e o que me fez per-
ceber que eu podia ter orgu-
lhodemim.”
*
“Coxinha é uma partemuito
importantedaminhahistória.
Foi a primeira pedrinha que
eu botei para fazer o edifício
que construí depois.”
A chef
Alessandra
Montagne no
restaurante
Nosso, em
Paris, na
França
Anne Claire Heraud/
Divulgação
a eee
ilustrada ilustríssima
Domingo, 18 DE DEzEmbro DE 2022 C3
(Estousendoconvidada,diga-
mosassim,a interromperesta
colunade jornal.Deve serpor-
queescrevihápoucotemposo-
breBarackObama—naverda-
de, sobremeu pai. Oumelhor,
deve ter sido porque associei
Lula a Obama e aminha pró-
pria loucura. Isso já aconte-
ceuantes, pordecisãominha,
20anosatrás. Saí. Agoraade-
cisão é deles, pelomeu rótulo
deesquerdista.Talvezqueiram
limpar o ambiente para a pu-
ra “neutralidade” de opiniões
sobrepolítica.Nadadenovo!)
Mundovirado. Circular por
aí, ir e voltar, viajar tantoenão
chegara lugarnenhum... Via-
jare,dealgummodo,arrepen-
der-se, todavez. “Teriasidome-
lhorficar emcasa,/ ondequer
que isso seja?”, perguntava-se
a poeta norte-americana Eli-
zabeth Bishop.
Estranhos continentes, paí-
ses, cidades e sociedades lan-
çam perguntas cansativas, a
que faltamrespostas. “Será fal-
tade imaginaçãooquenos faz
procurar/lugares imaginados
tão longedo lar?”,diziaBishop.
Nenhumaresposta.Emuma
de minhas viagens recentes,
uma interrogação armou-se
naminha cabeça quando um
professor universitário de li-
teratura brasileira contou de
suadificuldadedeensinarGui-
marães Rosa nos dias de ho-
je, texto que soa “rebuscado”
para umaluno de 19 anos, se-
gundo ele.
“Aquela busca interna à lin-
guagem” requer tempo para
explicar, eledisse, “paraqueos
alunos entendam a grandeza
daquelaescrita, enquanto tem
tantacoisaque fala imediata-
menteaeles, queprecisa ser li-
da, equeauniversidadeconti-
nua a se recusar a ler”.
O professor, da mais abso-
luta confiança como intelec-
tual e leitor críticode literatu-
ra, admirável por sua sensibi-
lidade e seu olhar atento aos
mais complexos processos de
criação literária, me surpre-
endeu. Porque disse, inclusi-
ve, que, fosse ele umprofessor
negro, teria legitimidade pa-
ra dar Rosa aos alunos. Sen-
do branco, não tem.
O que sei (sobre “tanta coi-
sa que fala imediatamente a
eles”) équepartedos estudan-
tes daquela universidade é de
origem pobre, vem de comu-
nidades periféricas e tempele
preta, mas não só. O alunado
é tambémmuitoricoebranco.
“MasnemoscontosdeRosa?”,
pensei em perguntar. Mas nem
mesmoum“Sorôco,suaMãe,sua
Filha”? Afinal, o devir louco de
Rosa é tão de todomundo, um
elogiocoletivoesolidárioàlou-
curade todosnós.
Fatoéqueoprofessor,diante
da “falta de sintonia” dos alu-
noscomotexto rosiano—edi-
ante da acomodação da aca-
demia a seu cânone seleto—,
optou por livro de um escri-
tor jovem, com presença e di-
vulgaçãonamídia, umdesses
supervalorizados,masquesão
apenasmedianos.
Para mim, literatura surge
e se constitui de atmosferas,
não énarração enfadonhade
fatos, sempersonalidade, sem
alma. Escrever, afinal, e como
afirmouDeleuze em “ALitera-
turaeaVida”, “nãoécontaras
próprias lembranças, suasvia-
gens, seusamorese lutos (...). É
um caso de devir, sempre ina-
cabado, sempre em via de fa-
zer-se, e que extravasa qual-
quermatériavivívelouvivida”.
O tal escritor contemporâ-
neo e que, conforme o profes-
sor, respondia de imediato à
demanda do alunado, é da-
queles que peca pelo excesso
de realidade ou de imagina-
ção (o que é a mesma coisa,
segundo Deleuze), e cujo tex-
to li aos bocejos.
Ademandadoalunadoseria
porquais temasoumodos, es-
tilosde escrever?Lembrocom
alegria do quanto ler Guima-
rães Rosa aos 19 anos fez de
mimumaescritoramenospior.
Daqueles tempos para cá,
o que teria mudado tanto? O
apelo fácil da internet, das re-
des sociais, talvez, que consa-
gra literaturas semconsistên-
cia real à categoriade espetá-
culos, como se fossem obras?
Se sãoos temas imediatos o
que falta, Rosa trata de todos
eles, comgenialidade:pobreza,
negritude, desigualdade etc.,
que ele chamade “pobrepérri-
ma” no livro “Primeiras Estó-
rias”: “Nisto, o visto: a que ia
com feixinho de lenha, e com
aescarrapachadacriança, de
lado,amulher,pobrepérrima”.
Eele enxerga todosos indiví-
duos insignificantes (os “laga-
Literatura surge e se constitui de atmosferas, não é narração enfadonha de fatos, sem personalidade
-
Marilene Felinto
Autora de “mulher Feita e outros Contos” e “As mulheres de Tijucopapo”. mantém o site marilenefelinto.com.br
Inventar umpovo
|dom.�Bernardo Carvalho, Itamar Vieira Junior, Marilene Felinto,WilsonGomes
lhés” ou “leguelhés”), na mes-
macoletânea: “Eisque eis: um
lagalhépacíficoehonesto... fô-
ra [sic] quem enviara Damas-
tor Dagobé, para o sem-fim
dos mortos”; “entre seus mui-
tos descalços servos pretos,
brancos, mulatos, pardos, le-
guelhés, prequetés, enxadei-
ros, vaqueiros e camaradas...
Tio Man’Antônio doou e dis-
tribuiu terras”.
Mas quem se importa se o
professor é preto ou branco?
Quemse importa comGuima-
rãesRosa?Nadamaismecho-
ca: viajar e viajar e voltar pa-
ra lugar nenhum, apenas um
tanto mais pobre do que an-
tes, é meu destino.
A saúdecomo literatura, co-
moescrita, consiste em inven-
tar um povo que falta.
Não se escreve com as pró-
prias lembranças,amenosque
delasse façaaorigemouades-
tinação coletivas de um povo
porvir, aindaenterradoemsu-
as traições e renegações (Gil-
les Deleuze).
Eisqueeis: quefiquemosba-
juladores,osmedíocres,osme-
dianos,oscomportados,os su-
balternos. Eis que eis.
[
Se são os temas
imediatos o que
falta, Rosa trata
de todos eles,
com genialidade:
pobreza, negritude,
desigualdade etc.,
que ele chama de
‘pobrepérrima’ em
‘Primeiras Estórias’
a eee
ilustrada ilustríssima
C4 Domingo, 18 DE DEzEmbro DE 2022
As chuteiras da pátria
[resumo] Poemas e crônicas de Carlos Drummond de Andrade que exaltam o futebol como
espetáculo estético e político voltam às prateleiras num Brasil de clima golpista pós-eleições,
mas tambémmelancólico após a derrota na Copa do Qatar. A seleção, símbolo nacional, se
afasta então do público e ecoa o ufanismo do regimemilitar sob os topetes de novos craques
Por Gustavo Zeitel
repórter da ilustrada
Ilustração Daniel Lannes
Artista plástico
Foi,então,aos28minutosdosegun-
do tempo, no fimda tarde daquele
24 de novembro, que, pela lateral
esquerda, a seleção avançava para
o ataque. Das cadeiras do estádio
Lusail,noQatar,quase89milpesso-
asfitavamatrajetóriadabola, sain-
dodatriveladeViniciusJr.paraopé
esquerdodeRicharlison, que, num
voleio,afundouasredesdaSérviapa-
ragarantiravitóriadoBrasilpordois
a zero, na estreiadaCopadoQatar.
OPombonoar—levitae logode-
cai. “São voos de estátuas súbitas,/
desenhosfeéricos,bailados/depés
e troncos entrançados./ Instantes
lúdicos: flutua/ o jogador, gravado
no ar”, diz o poema “Futebol”, de
CarlosDrummonddeAndrade,que
completaria 120 anos neste 2022.
Erasobretudoarte,comoindicam
os versosdeDrummond, incluídos
no livro “QuandoÉDiadeFutebol”.
Organizadoem2002pelosnetosdo
autor,LuisMauricioePedroAugus-
to Graña Drummond, a coletânea,
agora relançada pela editora Re-
cord, reúne poemas e crônicas que
documentam as campanhas da se-
leção emCopas, entre 1954 e 1986.
“Gauche”, Drummond mostrou
coerência ao torcer para o Vasco
da Gama, mas seu entusiasmo pe-
lo esporte apareciamesmodequa-
tro em quatro anos. Na visão do
poeta, o futebol era uma realida-
de incognoscível. “Confesso que o
futebol me aturde, porque não sei
chegaratéoseumistério”,eleescre-
veuna crônica “Mistério daBola”.
Drummondsugerea ideiade ilu-
são como força estruturante da
imprevisibilidade do esporte. Os
dribles de Garrincha e de Pelé, os
dois ídolos do poeta, eram tão ilu-
sórios quanto o voleio de Richarli-
son, queagoraparece semsentido
—uma escultura desmantelada.
“Drummond admirava o espe-
táculo do ponto de vista artístico,
como se estivesseassistindo a
um balé”, diz Edmílson Caminha,
que estuda a obra do escritor há
40anoseassinaoprefáciodo livro.
Nãoporacaso,asegundapartedo
poema “Copa do Mundo de 1970”
fala emuma “geometria astuciosa/
aérea,musical, de corpos sábios/ a
se entenderem,membrospolifôni-
cos/ de umcorpo só, belo e suado”.
Como espectador, Drummond re-
sumiu a recepção estética do fute-
bol ao escrever o verso “é longe e
em mim”. Em diferentes escalas, a
eliminação do Brasil depois da dis-
putadepênaltiscontraaCroáciafoi
sentidademaneirasimilarpelotor-
cedor que estava no estádio Cida-
dedaEducaçãoouna frente daTV.
Anterioràdevoçãodatorcida,es-
tá a centralidade do futebol na cul-
turabrasileira.Porconsequência,a
‘Se o Brasil tivesse
vencido a Copa, acho
queBolsonaro usaria
o título paramotivar
o golpe. O título seria
usadopelo governo
comoem 1970’, diz
Walter Casagrande Jr.
Para o comentarista,
Neymar é influência
negativa para as
novas gerações,
exercendo seu
poder na estética—
descolorir o cabelo,
usar brincos e fazer
dancinhas a cada gol
seleçãoreuniutodoosentimentode
identificaçãodopovo comoespor-
te. É a paixão una, acima dos amo-
res clubistas, Vasco ouFlamengo.
Por isso, a Copa é uma festa na-
cional, calcada na expectativa do
triunfo. Nesse sentido, vislumbra-
mos nas partidas duas ambiva-
lências, uma em decorrência da
outra. Em primeiro lugar, o fute-
bol é,pordefinição,umesportede
emoçõesextremas.Nãoà toa, a se-
gunda fase daCopa é apelidada de
mata-mata —é vencer ou perder,
matar oumorrer.
Depois, a plasticidade do jogo
se articula em sentidos opostos.
De início, há a dimensão ilusória
do encantamento, comoospasses
açucarados de Messi, da Argenti-
na,ouasarrancadasdetiraro fôle-
go do francêsMbappé.Numoutro
extremo, está a rispidez do fute-
bol, refletida nas disputas de bola
deModric,daCroácia, enoscortes
do zagueiroMarquinhos.
Opovobrasileiropoucasvezesse
entregoutantoaumaCopaquanto
em 1982, quando a seleção de Zico
eSócratesencantouomundo,mas
foi eliminada pela Itália. Na crôni-
ca“RioEnfeitado”,Drummondsau-
douas ruasdacidade, “umaflores-
ta de faixas e bandeiras”.
Aolongodosanos,osentimentode
identificaçãocomo timebrasileiro
diminuiu. Depois do sete a um, tal-
vez nunca tenha alcançado umpa-
tamar tão baixo. Nesta Copa mes-
mo,osenfeites emverdeeamarelo
não tomaramcontade tantas ruas.
“Os pentacampeões, que não fo-
ram à homenagem ao Pelé no Qa-
tar, sentaram no camarote com o
presidentedaFifa,enquantoosído-
losdaArgentinaestavamnatorcida
deles”, diz o ex-jogador e colunista
deste jornalWalter Casagrande Jr.
Continua na pág. C5
‘Abraçaço’, de 2018, pintura de Daniel Lannes feita emóleo sobre linho Reprodução
a eee
[resumo] Do ‘jogador terminal’ ao ‘externo desequilibrante’,
expressões do ‘titês’ desafiaram jornalistas e torcedores
Afeita à gourmetização, a Fifa ten-
tadescaracterizarofuteboldequa-
troemquatroanos.SediarumaCo-
pa doMundo noQatar, umdos lu-
gares mais cafonas do planeta, já
não é prova da elegância dos car-
tolas. Pior ainda é promover show
de luzes e transformar os estádios
emboates, comumDJcomandan-
doamicaretanomaisaltovolume,
impedindo a festa das torcidas.
Acontece que alguns protago-
nistas do futebol contribuempara
modernidades indesejadas. É o
casodeTite, quedeixaocomando
da seleção brasileira, depois de er-
rartudooquetentoufazernoQatar.
No momento, não há nenhum
treinador brasileiro à altura da
seleção.NaausênciadePepeGuar-
diola, o todo-poderoso, não custa
sonhar em Carlo Ancelotti. Seria,
então, um lampejo de boa vonta-
de, umaatitude redentora, dopre-
sidenteda CBF,EdnaldoRodrigues.
ApósaeliminaçãodoBrasil,apa-
receram agora as viúvas do “ciclo”
daseleção, louvandovitóriascontra
Peru eBolívia nasEliminatórias. É
uma tentativa de esconder o paté-
ticodesempenhodotreinadorbra-
sileironasduasCopasemqueeste-
veà frentedoBrasil.NoQatar,Tite
talveztenhatidoàdisposiçãoome-
lhorelencoentretodasasequipes.
Numachavefacílima, iratéasemi-
finaleraumimperativoparaasele-
ção. Emdadomomento, qualquer
crítica ao treinador parecia desca-
bida, diante de sua invencibilida-
de.LáestáaArgentinana decisão.
Parecendoumcoachmotivacio-
nal,Titesevaleudosconceitosmais
rasos da autoajuda para gerir seu
elenco e afagar o ego das estrelas
—antes do jogo contra Camarões,
disse queDaniel Alves, de 39 anos,
“transcendeofutebol”, justificando
a escalação do jogador. Era, quem
sabe,umamençãoaotalentodeDa-
niel Alves comopandeirista, cargo
damaior importânciaparaanimar
avalorosaequipenaconcentração.
De início, a escolha dos atletas
se mostrou desequilibrada, tanto
que o time sofreu para encontrar
alternativas no sistema defensivo,
depoisdaslesões.OBrasil tevelam-
pejosduranteaCopa,ouseja,o se-
gundotempocontraaSérviaeopri-
meirotempocontraaCoreiadoSul.
Nasquartasdefinal,ficouaboba-
donoprimeirotempocomaCroá-
cia.Pareciaqueotreinadordasele-
ção brasileira jamais poderia ima-
ginar que o adversário povoaria o
meio-campo, por onde Luka Mo-
dric —de 37 anos e sem habilida-
des comopandeiro—desfilou até
ofimdaprorrogaçãodaquele jogo.
Nãoporacaso,Tite recebeuuma
chuva de cartinhas, depois da eli-
minaçãocontra aCroácia. Era, afi-
nal,umreflexodarelaçãopaterna-
listaquemantevecomseusconvo-
cados —e o compromisso com fi-
gurascomoNeymareDanielAlves,
quesónãoentrounatitulargraças
àderrotaparaCamarões,naúltima
rodadada fase de gruposdaCopa.
Passadosseisanos,Titedeixaco-
mo legado as longas explanações
ementrevistascoletivas,quedesa-
fiaramainteligênciadosjornalistas
eaindaconfundiramostorcedores.
Comafalaescandida,otreinador
enfatizou cadapalavra e, todoem-
polado, apresentou novos termos
dofutebolmodernoemsuaprópria
linguagem,ochamado“Titês”,sen-
doagoranecessáriaaediçãodeum
glossário do técnicodoBrasil para
dar vazãoaonovo léxico. Segundo
Tite,centroavanteé“jogadortermi-
nal”—nãoconfundir,naturalmente,
comomórbidopaciente terminal.
No caso do time do Brasil, a ex-
pressão pode se referir ao que Ga-
briel Jesus, reservadeRicharlison,
deveriaterfeito,maspassou499mi-
nutos,contandoasCopasde2018e
2022, semfazer—gol.Machucado,
Gabriel Jesus foi cortado do Mun-
dial.Assim,Pedro,doFlamengo,se
tornoureservaimediatodoPombo.
Titetambémcunhouaexpressão
“externos desequilibrantes”. Ele se
referia aos que atuam pelas extre-
midades do campo, as pontas. Ao
contrário do terminal, o externo
desequilibrante não está encarre-
gadopela finalizaçãodas jogadas.
Sua tarefa é quebrar as linhas
da defesa adversária, seja caindo
pelomeiooupelaslaterais.Vinicius
Jr. éumbomexemplodeumexter-
no desequilibrante, que deve ali-
ar técnica e velocidade para achar
os espaços, deixando o terminal
bemna cara do goleiro.
NavisãodeTite, todososatacan-
tesatuamno“últimoterço”,ouseja,
a fase que corresponde ao ataque.
Depois,os jogadoresprecisamatu-
arem“REC5”, istoé,recuperarabo-
laperdidaemcincosegundosapós
perdê-la.Afalaempoladaatingiuo
ápice com “treinabilidade”, termo
quedesignaacapacidadedeevoluir
durante os treinos.
Eraumcomportamentoarrogan-
te,queemulavaumestudofutebo-
lístico inexistente. Nofim,o técni-
co acabou mesmo abandonando
os jogadores, alguns deles da nova
geração, chorandonogramado. Â
Oglossário do
professor Tite
Continuação da pág. C4
“Não tivemos nem torcida, era um
grupo de pessoas disfarçado de tor-
cedores, querendoaumentar segui-
dores nas redes sociais, então não
temidentificaçãonenhuma,nãohá
respeitocomotorcedorbrasileiro.”
Enquanto a camisa amarela ves-
tiaos jogadoresnosestádiosdoQa-
tar,gruposdebrasileirossereuniam
comomesmouniformeparapedir,
nas portas dos quartéis, uma inter-
vençãomilitar, depoisdas eleições.
Na coletânea, Drummond ante-
viuarelaçãoentrepolíticaefutebol,
sobretudo antes da Copa de 1970,
quando o Brasil vivia sob a ditadu-
ra de Emílio Médici. Sempre irôni-
co, o poeta sugeriu, na crônica “Se-
leção, Eleição”, dar a cada jogador
da Copa umministério. Agora, Ca-
sagrandepensaqueobolsonarismo
estápresentenotime,sobretudona
figuradeNeymar, que cria umaan-
tipatia como torcedor brasileiro.
“SeoBrasiltivessevencidoaCopa,
acho que Bolsonaro usaria o título
paramotivar o golpe.O título seria
usadopelogovernocomoem 1970”,
dizCasagrande.Paraocomentaris-
ta,Neymaréumainfluêncianegati-
vaparaasnovasgerações,exercendo
seu poder também na perspectiva
estética—descolorirocabelo,usar
brincosefazerdancinhasacadagol.
Emborajogadoresdeoutrostimes
adotemestilosimilar,Casagrandevê
ocasodoBrasilcomoummodismo,
ditadopelo craqueda equipe.
“Neymarapoiaumpresidenteque
quer dar golpe, diz que está triste
pelaeliminação,masfazfestaquan-
do chega aoBrasil”, afirma. “Então,
não seriam alguns jogos que fari-
am a camisa amarela voltar a ser
respeitada, até porque o time não
jogoubememnenhumjogo.Acami-
saamarelaestánumlimbo.Foimui-
to forte essa ondabolsonarista.”Â
[resumo] Versátil, locutor driblou momentos de
baixa popularidade e virou um showman sem igual
“Ainda dá, dá para chegar no gol,
claro que dá”, disse Galvão Bueno,
segundos antes denarrar o gol que
daria a vitória ao Brasil contra a
Suíça,nasegundarodadadafasede
gruposdaCopadoMundodoQatar.
Espremido na posição de trans-
missão—quenoMundial substitui
ascabines,dandoumaraindamais
emocionanteàspartidas—onarra-
dor cornetava a teimosia de Tite e
a lentidão do ataque brasileiro. Ele
reatava, deste modo, a poderosa
identificação que construiu com
os telespectadores de todoopaís.
Em sua última Copa do Mun-
do, Galvão é o principal persona-
gemdo Brasil noQatar. Sua voz é a
memória dos principais aconteci-
mentosdoesportebrasileiro—dos
recordesolímpicosaoseteaum,em
2014.Depoisdaseleiçõespresidenci-
ais, ele ainda tenta unir oBrasil, di-
zendoque“nãoexistemdoispaíses”.
Entre as suas principais cobertu-
ras, está a transmissão dos Jogos
OlímpicosdeLosAngeles,em 1984,
quandonarrouachegadadamara-
tonista suíça Gabrielle Andersen.
Trôpega de exaustão, ela foi aplau-
dida de pé pela torcida, numa pro-
vadeseunotávelespíritoolímpico.
ComaFórmula 1, cobriudoisdos
três títulos de Nelson Piquet, além
dos três campeonatos de Ayrton
Senna. Foi a voz do tetra, em 1994
—ano da cobertura da morte de
Senna—, edopenta, em 2002. Dois
anosantes,narrouamedalhadepra-
ta do atletismo brasileiro, no reve-
zamentodasOlimpíadasdeSidney.
EmAtenas, Galvão entoou o bor-
dão “Giba neles!” no ouro da se-
leção masculina de vôlei contra a
Itália. Quatro anos depois, em Pe-
quim,testemunhouamedalhadou-
rada de César Cielo nos 50metros
livre e o recorde deMichael Phelps
naprovadoscemmetrosborboleta.
No Rio, se emocionou com a ce-
rimônia de abertura e foi às pistas,
assistindoaUsainBolt, da Jamaica,
voarpelaúltimavez.Naqueleano,o
narradorficariaenlouquecidocom
oouroolímpiconofutebolmasculi-
noedesempenhariapapelcentralna
coberturadoacidenteaéreoquevi-
timouosjogadoresdaChapecoense.
Com o tempo, Galvão criou um
personagemde si, encarnandoafi-
guradeumshowman,combordões
que entrarampara a cultura popu-
lar. Sua voz rasgada o transformou
em um mestre de cerimônias do
drama, desvelandoumafigura qui-
mérica —incontornável para a
televisão e acumulando muitas
controvérsias ao longoda carreira.
Vaidoso,o locutorsofreucomcrí-
ticas pelo comportamento egoico,
peloufanismoepelaexcessivapro-
ximidade com as fontes. Em dado
momento, o público amou detes-
tarojornalista,numódiodesmesu-
rado.Oestopimdacampanha“cala
boca, Galvão!” ocorreu na Copa de
2010, naÁfricadoSul, quandooas-
suntosealastrounas redese foipa-
raraténoNewYorkTimes.Naquela
época,olocutorsofriaparatransmi-
tir as partidas dos estádios do Bra-
sil. Pelo áudio, o telespectador ou-
via a torcida xingandoo jornalista.
Emtemposmaisrecentes, Galvão
virou influenciadordigital e desco-
briu que sua fortuna poderia ser
aindamaior. Bastavausar seusbor-
dõesparavenderosprodutosdesua
vinícola no Rio Grande do Sul. Nas
redes, passouaostentar, semtanta
elegância, seupadrãode vida luxu-
oso.Agora,seurostoestáaténatra-
seira dos ônibus, em propagandas
desitesdeapostas.NasOlimpíadas
de Tóquio, a linguagemda influên-
cia chegou às transmissões. Como
emcenasdoYouTube, o locutor fa-
zia caras e bocas nos estúdios para
aumentar a audiência na internet.
O tempopassou, ea imprensaes-
portiva, fagocitada pelo entrete-
nimento, já não é mais a mesma.
Tampouco a TV aberta terá prima-
zia nas transmissões. Mas, duran-
te a carreira, o locutor ditou um
novopadrãodecoberturaesportiva.
Porisso,nãohásubstitutoparaele,
como a própria Globo admite. Gal-
vãoBuenoequiparouaatividadedo
narrador à deumgrande artista.Â
Galvão Bueno,
artista dramático
ilustrada ilustríssima
Domingo, 18 DE DEzEmbro DE 2022 C5
a eee a eeeC6 Domingo, 18 DE DEzEmbro DE 2022
a eee a eee Domingo, 18 DE DEzEmbro DE 2022 C7
a eee
ilustrada ilustríssima
C8 Domingo, 18 DE DEzEmbro DE 2022
Essa lista dava umfilme
[resumo] Nova lista de melhores filmes do cinema da revista Sight and Sound traz as mudanças
mais drásticas da história da tradicional votação. Pela primeira vez um filme dirigido por
umamulher, Chantal Akerman, chega ao topo, obras experimentais e mais recentes ganham
espaço enquanto a produção comercial dos EUA pré-1970 perde posições, o que reflete as
demandas dos tempos atuais por mais inclusão e uma nova leitura do cânone cinematográfico
Por Filipe Furtado
Crítico de cinema, fundador da revista Abismu e do blog Anotações de um Cinéfilo
No início deste mês, a tradi-
cional revistabritânica Sight
andSoundpublicousuamais
recentepesquisasobreoscem
melhoresfilmesdahistóriado
cinema. Não é uma pesqui-
sa qualquer: a revista realiza
umanova versão dela a cada
dez anos, desde 1952.
A abrangência e a regulari-
dadeconferiramàlistaumpe-
sodeautoridadequeadistin-
guemdeoutrosesforçossimi-
lares,mesmoquesejasaudá-
vel suspeitar de eventos des-
se tipo. É natural, portanto,
que a cada nova divulgação
dapesquisasejamretomados
debates acercademudanças
no cânone cinematográfico.
Nãofoidiferentenesteano.
Das oito listas já produzidas
pela revista, talvez esta de
2022 tenha despertado mais
polêmica, uma vez que ne-
nhuma anterior trouxe mu-
dançastãodrásticas.Acome-
çarpeloprimeirolugar,“Jean-
neDielman,23QuaiduCom-
merce, 1080Bruxelas”(1975),
filmedacineastabelgaChan-
tal Akerman.
Trata-se de um grande fil-
me, porém bemmais desco-
nhecidoqueos três clássicos
que lideraramapesquisa em
ediçõesanteriores—“Ladrões
deBicicletas”(1948)em 1952,
“CidadãoKane”(1941)de1962
a 2002 e “UmCorpo queCai”
(1958) em 2012.
Naatualizaçãorecém-divul-
gada, “UmCorpoqueCai” foi
paraasegundaposição,e“Ci-
dadãoKane”, para a terceira.
Completamotop10“Erauma
VezemTóquio” (1953),deYa-
sujirôOzu,“AmoràFlordaPe-
le” (2000), de Wong Kar-Wai,
“2001:UmaOdisséianoEspa-
ço”(1968),deStanleyKubrick,
“Bom Trabalho” (1998), de
ClaireDenis, “CidadedosSo-
nhos”(2001),deDavidLynch,
“UmHomemcomumaCâme-
ra” (1929), de Dziga Vertov, e
“CantandonaChuva” (1952),
de Gene Kelly e Stanley Do-
nen, nesta ordem.
Metadedelesnãoconstava
notopodalistade2012,como
os três lançados nos últimos
25 anos.No geral, umquarto
dos cemfilmes foi renovado.
Simbolicamente, “ARegrado
Jogo”(1939),deJeanRenoir,o
únicofilmequesemanteveno
top10emtodasasediçõesan-
teriores, ficou agora em 13º.
Emvistadesseresultado,so-
braramcomentários sobre a
lista ser modista ou política,
ou que o primeiro colocado
seriamuito elitista, ou ainda
arespeitodaausênciademes-
tresdopassado.Reclamou-se
também que os editores da
revistaexpandiramdemaiso
universode votantes. Foram
neste ano 1.639 críticos, pro-
gramadores, curadores, ar-
quivistaseacadêmicosparti-
cipantes,númerorecordena
história da lista, cadaumen-
viandoseusdezfilmesprefe-
ridos—contribuíparaasdu-
as últimas edições.
Elegerosmaioresfilmesde
todos os tempos será, neces-
sariamente,umgestoincom-
pleto. O cinema émuito rico
paraserresumidoemcemtí-
tulos.Desconfiardecânones,
portanto,é inevitável,embo-
ra eles sejam úteis, nem que
seja para tentar derrubá-los.
Cânones são conservadores.
UmapesquisacomoadaSight
andSoundserásempreaafir-
maçãodeuma tradição.
Listas individuaisoferecem
umprazermaiordadescober-
ta e do exercício lúdico, en-
quanto ao cânone cabe este
papel pesado da afirmação e
dos questionamentos. O seu
valor institucional é coloca-
do emquestãopelas reações
afavor e contra.
Listas como ada Sight and
Soundtêmduasgrandesfun-
ções. No lado prático, ofere-
cem um agrupamento fértil
de filmes para quem deseja
traçarumcaminhopelahistó-
riadocinema.Independente
de minhas preferências pes-
soais, posso afirmar que um
leitordaFolhaqueresolvesse
passarospróximosdoisanos
assistindoaumfilmedapes-
quisa por semana teria uma
experiência rica.
Osmais cínicosdiriamque
éumaboapeçadepromoção;
comootimista,prefiroenxer-
gá-lapeloseuvalorpedagógi-
co, mas no fundo se trata de
ambas as coisas.
Por outro lado, listas são
úteis para um mapeamento
detendênciaseolhares.A in-
tersecção entre gosto indivi-
dualeamãodomercadoévi-
sível,masdifícil deaferirpor
completo.Umdossinaismais
notáveisdapesquisadaSight
andSoundéumareduçãodo
cinemaamericanoproduzido
pelos grandes estúdios.
Podemosespecularqueisso
decorredosefeitosdosservi-
çosdestreamingedodescaso
dosestúdiosamericanoscom
a suaprópriahistória, em fa-
vordeproduçõesrecentes.Os
filmes americanos demédio
ou grande orçamento pare-
cem existir hojemenos den-
trodeumcontínuodahistó-
riadoqueemoutrostempos.
O cinema comercial ameri-
canodosanos1970,porexem-
plo, perdeu espaçona lista—
vários títulos famosos, como
“OPoderosoChefão2” (1974),
“Nashville” (1975) ou “China-
town” (1974) foram trocados
porconterrâneosdeforadain-
dústria,como“Wanda”(1970),
48º,e“OMatadordeOvelhas”
(1977), 43º. Pela primeira vez
esses filmes americanos não
sugeremummomentoáureo
ase retornar,masumaexten-
são do cinema dito clássico
dentrodestecânone.
É uma tendência que tam-
bémapontaumapreferência
porcineastasdeforadaindús-
tria emenos ligados ao cine-
ma comercial. A ideia popu-
larizada pela crítica france-
sa dos anos 1950, do cineas-
ta que consegue impor sua
visão de mundo por dentro
do sistema, parece em desu-
so.HowardHawks—ogrande
exemplodapolíticadosauto-
res ao lado deHitchcock, foi
umadasausênciasmaismen-
cionadas.
Nogeral, a lista fezummo-
vimento na direção de títu-
los mais novos. Todas as dé-
cadas até 1970 tiveram o nú-
mero de títulos reduzidos,
enquanto todas a partir dos
anos 1980 aumentaram sua
representação.
A presença excessiva de fil-
mesmuitorecentes,comodois
vencedoresdoOscardaúltima
década, “Parasita” (2019), em
90º, e “Moonlight” (2016), em
60º,parece-meumdospontos
fracos,umacorreçãoexagera-
daemrelaçãoa2012,cujalista
foiacusadadedarascostasao
contemporâneo.
A mão forte do mercado é
notável principalmente na
predominânciadefilmesque
circularamemcópiasdigitais
restauradasnosúltimosanos
ou lançados em Blu-ray. Em
suma, as chances de um fil-
mesereduzemdrasticamen-
te semuma cópia de alta de-
finição.Minutosapósadivul-
gaçãodapesquisa,aCriterion
Collection, selo de home vi-
deomaisprestigiosodomun-
do,anuncioucompompanas
suasredessociaisquetemdi-
reitos sobre cercademetade
dosfilmes,umacentralidade
bastante incômoda.
Questõesideológicasimpac-
tam o resultado desde sem-
pre. Não fossem os traumas
causadospelaSegundaGuer-
ra, a lista de 1952, a primeira
darevista,nãoteria“Ladrões
deBicicleta”,comseuaparen-
te realismo, em 1º lugar, en-
quanto “CidadãoKane”, com
seus excessos efeitos visuais,
figurava em 11º. Em 1962, a
presença do recém-lançado
“AAventura” (1960) em 2º lu-
gar indicavaumgestodeafir-
mação aos cinemasnovos.
Discussõessobrediversida-
de foram muito recorrentes
nosmeios da crítica de cine-
ma dos últimos anos, e a lis-
tada revistabritânica reflete
estedesejoporbuscarumcâ-
nonemais plural.
Continua na pág. C9
Cenas de ‘Ladrões de Bicicleta’ (1948), ‘Cidadão Kane’ (1941), ‘Um Corpo que Cai’ (1958) e ‘Jeanne Dielman’ (1975), os 4 filmes já eleitos osmelhores domundo pela Sight and Sound Divulgação
a eee
Continuação da pág. C8
Opesodoscuradoresdefesti-
vais, a quemcom frequência
édepositadoodever de con-
duziresteprocesso,ébemvi-
sível,muitasvezesmaiorque
oda crítica tradicional.
Defensores de um cânone
mais clássico por vezes ig-
noram as forças ideológicas
que ajudaram a formar suas
preferências. Os partidários
de umnovo cânone sãobem
maisconscientesde taispro-
cessos, mas nem sempre re-
conhecemopapeldomerca-
do sobre ele.
Sealgomeparecedecepcio-
nantenalistade2022écomoo
chamadosulglobalpermanece
ignorado.Há somenteumfil-
medaTailândia(“MaldosTró-
picos”,95º),Índia(“ACançãoda
Estrada”, 35º), Irã (“CloseUp”,
17º) e dois do Senegal (“Tou-
kiBouki”,66º,e“ANegrade...”,
95º).Émuitopouco.
Um cânone que se deseja
plural não pode excluir por
completo o cinema latino-
americanooudar tãopouco
espaçoaosuldaÁsiaouaoci-
nema africano. A falta de in-
teresse empromover um ci-
nemaforadosgrandeseixos
deproduçãoresultaemuma
falta de curiosidade por ele.
A presença de “Jeanne Di-
elman” em primeiro lugar é,
comcerteza,amaiornovida-
de da lista. Assim como “Ka-
ne” ou “Um Corpo que Cai”,
o filme de Akerman está en-
treosmaiores já feitos, e tra-
ta-se de uma escolha crível
entremuitos candidatos jus-
tos, aindamais em uma pes-
quisa que reforçou a presen-
ça de um cinemamais expe-
rimental.
“LadrõesdeBicicleta”apon-
tava para o triunfo de um ci-
nemanobreehumanista,en-
quanto“CidadãoKane”e“Um
Corpo que Cai” representa-
vamavitóriadapersonalida-
dedoartistadentrodaindús-
tria,semdeixardeafirmaras
possibilidadesdosistema in-
dustrial. Já “JeanneDielman”
é um filme estrutural, dirigi-
doporumamulher eque es-
tabeleceoutrarelaçãocomo
espectador.
Acompanha-se trêsdiasna
vidadeumadonadecasaque
se prostitui de noite. O filme
narraeventosrotineiros,mas
é tão deliberadamente cons-
truído quanto “Cidadão Ka-
ne”. “Jeanne Dielman” tem
uma reputação realista, mas
se trata de um realismo arti-
ficial, comamãoda cineasta
sempremuito visível.
A dona de casa é interpre-
tadaporDelphineSeyrig, es-
trela do cinema francês do
período, e os sentidos do fil-
me surgem de sua presença
em cena. Não se propõe de-
saparecer o artifício do cine-
ma em uma ilusão de realis-
mo,masseposicionardiante
dele. É o oposto de “Ladrões
deBicicleta”.
Trata-sedeumfilmecriado
partirdasaçõesemcena.Não
hápsicologia,etudoexistena
superfíciedegestosporvezes
contraditórios.Ofinal impac-
tantemenosofereceumaca-
tarse do que a oportunidade
de repensar esses atos.
Críticos são atraídos por
filmes sobre oolhar e o cine-
ma. “Jeanne Dielman”, assim
como“UmCorpoqueCai”,re-
flete a respeito de olhar para
umamulher e as relações de
poderinerentesaisso.Ambos
colocam em primeiro plano
um espelho sobre a própria
atividadecinematográfica.O
ato defilmar e ode ver.
O clássico de Hitchcock é
umfilmesobreasprerrogati-
vas perversas do olhar do ci-
neasta para a mulher obser-
vadaedesejada. JáodeAker-
ilustrada ilustríssima
Domingo, 18 DE DEzEmbro DE 2022 C9
man coloca a ênfase na in-
terrogação da relação que o
espectador desenvolve com
as imagens daquela mulher
emação.
Além da lista da crítica, a
SightandSoundconduz,des-
de 1992, umavotaçãoapenas
comcineastas,daqualparti-
ciparam 480 artistas.
Nesta pesquisa paralela, o
filme de Akerman terminou
em 4º lugar, reforçando sua
posição sedimentada no câ-
none,cominfluênciacadavez
mais crescente. O campeão
neste ano foi “2001”.
É possível observar nos re-
sultados da pesquisa britâ-
nica uma afirmação da cul-
tura cinematográficadesen-
volvida na internet, com um
pé no formalismo e o outro
na sociologia. Traz com ela
vantagens como ecletismo e
curiosidade,mas também li-
mitações,comoumaatenção
curtaeausênciadeinterroga-
çõesmaiores.
A despeito das discussões
sobre grandesmudanças e o
caráter revisionista da lista,
ela ainda é uma afirmação
deumcânone reconhecível.
AlfredHitchcock,ocinema
clássico de Hollywood, e Je-
an-LucGodard, omodernis-
modosanos 1960, seguemos
nomesmais lembradoscom
quatro filmes cada, embo-
ra em média com posições
mais baixas do que em pes-
quisas realizadas nos anos
anteriores.
Apontam-se mudanças de
paradigma geracionais e de
formasde assistir e de sepo-
sicionar diante do cinema,
mas apenas até certo ponto.
Trata-semenosdeumarevo-
luçãodoquedeumacorreção
docânone.Comoquasetoda
modernização conservado-
ra,muda-se para preservar a
simesmo.Â
$
Os 10melhores
filmes do cinema
pela lista daSight
and Sound de 2022
1º ‘JeanneDielman’ (1975)
Direção: Chantal Akerman
Bélgica/França
2º ‘UmCorpo que
Cai’ (1958)
Direção: Alfred Hitchcock
EUA
3º ‘CidadãoKane’ (1941)
Direção: OrsonWelles
EUA
4º ‘Era umaVez
emTóquio’
Direção: Yasujirô Ozu
Japão
5º ‘Amor à Flor
da Pele’ (2000)
Direção: Wong KarWai
Hong Kong/França
6º ‘2001: UmaOdisseia
no Espaço’ (1968)
Direção: Stanley Kubrick
EUA
7º ‘BomTrabalho’ (1998)
Direção: Claire Denis
França
8º ‘Cidade dos
Sonhos’ (2001)
Direção: David Lynch
EUA
9º ‘UmHomemcom
umaCâmera’ (1929)
Direção: Dziga Vertov
Rússia
10º ‘Cantandona
Chuva’ (1952)
Direção: Gene Kelly
e Stanley Donen
EUA
a eee
ilustrada ilustríssima
C10 Domingo, 18 DE DEzEmbro DE 2022
Quando, em 1962, Philip K.
Dick publicou o livro “O Ho-
mem do Castelo Alto”, mui-
ta gente ficou impressionada
com a imaginação do autor.
Ele,afinal, conceberaummun-
do emqueos nazistas tinham
saído vencedores da Segunda
GuerraMundial.
MetadedosEstadosUnidos
era controlada pelo império
japonês; a outra metade, pe-
la Alemanha nazista. A obra
ganhou o prestigiado Prêmio
Hugo, que distingue todos os
anos os melhores trabalhos
de ficção científica, mas ape-
nasporqueo júrinãosabiana
altura que criatividade a sé-
rionãoeracriaraquelahistó-
ria,mas inventarKanyeWest.
Isso sim, seria prodigioso.
Claro que a melhor ficção
é a que não deixa de ser vero-
símil, e teria sido difícil con-
vencer o público de que um
rapper negro poderia ser ad-
mirador de Hitler, e talvez te-
nha sido por isso que Dick se
contentou com uma América
dominada por nazistas.
OproblemaéqueKanyeWest
também não merece crédito
por ter inventadoKanyeWest.
Na verdade, KanyeWest é um
plágiodeumesquetehumorís-
ticodeDaveChappelle, quehá
quase 20 anos inventou Clay-
tonBigsby,umnegrocegoque
era supremacista branco.
Marx disse que todas as
ocorrências e figuras histó-
ricas surgem duas vezes: pri-
meiro como tragédia edepois
como farsa. É agora evidente
que ele estava enganado. As
coisas se repetem, sim, mas
primeiro como farsa e depois
como KanyeWest.
Há dias, West foi entrevis-
tado pelo famoso energúme-
no Alex Jones. Jones achou-o
umpoucoextremista,aconteci-
mentoquenuncateriaaconte-
cidoantes.Naentrevista,West
declarouqueamavaHitler, em
quem detecta várias qualida-
des.Edeucomoexemploso fa-
to de o ditador ter inventado
as rodovias e osmicrofones.
Tendo em conta que eu in-
ventei as rodovias e osmicro-
fones tantocomoHitler, épos-
sível queWestmeadmire tam-
bém.Muitagente fantasiacom
a hipótese de voltar atrás no
tempoematarHitlernoberço,
quandoele eraaindacriança,
porqueassimomundonunca
conheceria o Holocausto.
Pessoalmente, tenho uma
fantasia parecida, mas ape-
sar de tudo diferente: gosta-
ria que Kanye West pudesse
voltar atrás no tempo para ir
àAlemanhadosanos 1930ma-
nifestarpessoalmenteaHitler
toda a sua admiração.
E assim omundo, provavel-
mente, nunca conheceria os
discos de KanyeWest.
-
Ricardo Araújo Pereira
Humorista, é membro do coletivo português gato Fedorento. É autor de ‘boca do inferno’
KanyeWest deveria poder ir à Alemanha de Hitler paramostrar sua admiração
KKKanye
Luiza Pannunzio
|dom. RicardoAraújoPereira | seg. BiaBraune� |ter.ManuelaCantuária |qua. GregorioDuvivier |qui. FláviaBoggio |sex. RenatoTerra |sáb. JoséSimão
Moonage�Daydre�am
Para compra ou aluguel na Amazon
Prime Video, Apple TV+, google
Play, now e YouTube, 12 anos
O popstar mais inovador da
história,queencarnoudiver-
saspersonasartísticasaolon-
godequase50anosdecarrei-
ra, ganha um documentário
à alturade seu talento.Oale-
mão Brett Morgen reúne cli-
pes,entrevistas,shows,víde-
os privados e locuções para
recriar a trajetória de David
Bowie. Sem datas precisas
oudepoimentosdeterceiros,
ofilme éumdelírio visual.
Re�is Contra Papai Noe�l
Amazon Prime Video, 12 anos
Natradiçãoespanhola,ostrês
ReisMagoslevampresentesde
Natal para as crianças. Mas,
cansados do protagonismo
crescentedePapaiNoel,Mel-
chior,GaspareBaltazardecla-
ramguerraaobomvelhinho.
The�Handmaid’s Tale� –
O Conto da Aia
Star+, 16 anos
Asquatroprimeirastempora-
dasdasériechegaramaoser-
viço.Aquinta,porenquanto,
só pode ser vista no serviço
de streaming Paramount+.
OsMistérios de�Maria
History, 18h10, livre
O canal exibe os dois episó-
dios destadocussérie que le-
vanta tudo o que se sabe so-
bre a mãe de Jesus Cristo —
apesar de ser a mulher mais
veneradadahistória,Mariaé
pouco citadanaBíblia.
Café Filosófico CPFL
Cultura e YouTube do Café, 19h, 14 anos
Sobotema“Temporalidades”,
ohistoriadoreprofessorRo-
drigo Turin confronta os fa-
tos históricos de 1822, 1922
e 2022, e mostra como a ex-
periência do tempo varia de
acordocomolugargeográfi-
co, social e econômico.
Entre�Mundos
Cnn brasil e YouTube
da Cnn, 22h30, 14 anos
PedroAndradevaiàHungria
e mostra como a comunida-
de LGBTQIA+ de Budapeste
resiste à perseguição do go-
vernodeViktorOrbán.
Canal Livre�
band, 2h, livre
Oex-ministrodaDefesa e re-
latordoCódigoFlorestalBra-
sileiro Aldo Rebelo e a advo-
gada especialista em direito
ambiental Samanta Pineda
debatem os avanços e retro-
cessos da COP 27, realizada
emnovembronoEgito.
David Bowie� te�m
vida re�vista e�m
docume�ntário
pouco tradicional
tonygoes@uol.com.br
-
Tony Goes
éhoje
|dom. JanLimpens, LuizGê,RicardoCoimbra,Ange�li, Laerte
quadrão Ricardo Coimbra
Atores daRecord
podemnão ter
mais contrato fixo
sãoPaulo ARecordvaiado-
taramesmaposturaquea
Globoe,apartirdoanoque
vem,começaráatrabalhar
com contratos por obra.
Com isso, muitos atores
têmsidoavisadosquenão
terão vínculos renovados.
Dentre eles está Emílio
Orciollo Netto, que con-
firmou a este jornal que
agora está livre nomerca-
do. Atriz das mais presti-
giadas da Record, Adriana
Garambone,há 17anosno
canal, tambémdá adeus à
emissora emdezembro.
Galã denovelas bíblicas,
Fernando Pavão não teve
contrato renovado, assim
comoBethGoulart.Procu-
radapelareportagem,aRe-
cordnãocomentouasmu-
danças na emissora.
IMS terá Evandro
Teixeira e Iole de
Freitas em2023
são Paulo O Instituto Mo-
reiraSallesdeSãoPaulovai
exibir,em2023,mostrasde
Evandro Teixeira, impor-
tante fotojornalista, Hele-
na Almeida, artista portu-
guesaqueinvestigaemsua
obra as relações entre cor-
poeimagem,eIoledeFrei-
tas, escultoramultimídia.
AmostradeTeixeira, re-
alizada entre março e ju-
lho, terá imagens que ele
produziu no Chile após o
golpe militar de 1973. Já a
deFreitas vai reunir, entre
maio e setembro, uma sé-
riedetrabalhosproduzidos
por ela nadécadade 1970.
Entre junhoe setembro,
a instituição exibirá obras
de Helena Almeida sobre
interrogaçãodos gêneros.
Pulseiras com luz
vão fazer o festival
The Townbrilhar
são Paulo O festival The
Town, que acontecerá em
SãoPaulonoanoquevem,
teráumespetáculoemque
100mil pulseiras, 1.000m²
de telões de LED, mais de
6.300 holofotes e fogos de
artifício serão acionados
simultaneamente.
Oevento,feitopelosmes-
mos criadores do Rock in
Rio, estreia em setembro,
no Autódromo de Interla-
gos.OTheTownvaidispo-
nibilizar as pulseiras bri-
lhantes para opúblico.
Aspulseirasserãoaciona-
dasno intervalodosegun-
doparaoterceiroshowde
um dos palcos, o Skyline,
comduraçãodedezminu-
tos.Aexperiênciaéinspira-
danos showsdoColdplay,
queveioaoBrasilem2022.
a eee Domingo, 18 DE DEzEmbro DE 2022 C11
a eee
ilustrada ilustríssima
C12 Domingo, 18 DE DEzEmbro DE 2022
Inclusão digital
contra a pobreza
[resumo] Proposta de grupo de trabalho de Lula de baratear o acesso de famílias
de baixa renda à internet pode ter efeito positivo no combate à desigualdade e na
geração de renda, avaliam pesquisadores. Uma inclusão digital efetiva, contudo,
demandará projetos mais ambiciosos, que promovam também capacitação da
população e uso de equipamentos e de velocidade de dados adequados
Por Fabio Senne e Marta Arretche
Senne, doutor em ciência política pela USP, é coordenador de pesquisas TiC do Centro regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da informação.
Arretche é professora titular do Departamento de Ciência Política da USP e pesquisadora do Centro de Estudos da metrópole
A equipe de Lulaanunciou
proposta de criação de uma
bolsa para apoiar o acesso
à internet entre os inscritos
no Cadastro Único do gover-
no federal.
A sinalização do grupo de
trabalho recoloca na agenda
um aspecto ainda pouco ex-
ploradonocampodaspolíti-
cas sociais: o acesso à inter-
net pode ser um instrumen-
toparaenfrentarapobrezae
promover a inclusão social?
Arespostaésim.Háumnú-
merocrescentedeevidências
indicandoqueastecnologias
digitaisdesempenhamumpa-
pel crítico em programas de
inclusão social.
Aconcessãodebolsaséum
auspiciosocomeço,masapro-
moçãodainclusãodigitalpo-
de e deve ser aindamais am-
biciosa. O combate às desi-
gualdadesdigitais exigepolí-
ticasqueavancemparaalém
doprovimentodeacesso,pro-
movendo oportunidades de
uso da rede e a formação de
habilidades digitais no con-
junto dapopulação.
O enfrentamento das desi-
gualdadesdigitaisestánocen-
trodasagendasglobaisdede-
senvolvimento,comoaAgen-
da2030daONU.Maisrecente-
mente,osecretário-geraldas
Nações Unidas, António Gu-
terres, deu início a umdeba-
teparaacriaçãodeumpacto
global para promover os be-
nefíciosemitigarosriscosda
transformaçãodigital(“Global
Digital Compact”), iniciativa
quereconheceanecessidade
deconectar todasaspessoas
e escolas à internet.
Aagendafoiexponenciada
pela experiência com a pan-
demia da Covid-19, que pro-
duziu intensaaceleraçãonos
processosdedigitalizaçãoda
vida econômica e social. As
pesquisas na área demons-
traram umamigração na re-
alizaçãodeserviçospúblicos
etransaçõesfinanceiraspara
o ambiente online.
NoBrasil,aadoção,sempre-
cedentes, de aplicativos pa-
ra a solicitação e movimen-
tação do auxílio emergenci-
al foi um exemplo marcante
deusodetecnologiasdigitais
napolíticadeassistênciasoci-
al,mastambémdasdesigual-
dades e limitações que estas
podemproduzir.
Se é certo que houve avan-
ços na direção da expansão
da digitalização, as desigual-
dades digitais permanecem
restringindooaproveitamen-
to equitativo de oportunida-
des online.
Uma conectividade precá-
riatambémafetaarealização
deatividadesessenciais, tais
comooacessoaoportunida-
desdeempregoerenda, tele-
trabalho,ensinoremotoete-
lemedicina,paranãomenci-
onarprogramasdegoverno.
Aassociaçãoentreafaltade
internet e a pobreza no Bra-
sil é conhecida. Não é possí-
vel,contudo,determinarcom
certeza a direção da causali-
dade, seapobrezadificultao
acessoà internetouseafalta
deacessogerapobreza.O fa-
toéqueosdoisfenômenosse
reforçammutuamente.
Oelevadonúmerodeusuá-
riosdeinternetnoBrasilmas-
cara enorme desigualdade.
A rápidaexpansãodoacesso
nosúltimos20anosbenefici-
ou os estratos de maior ren-
da e escolaridade. O avanço
daredetambémfoitardioem
áreasqueconcentramapopu-
lação em situação de pobre-
za, como é o caso das áreas
rurais e das regiões Norte e
Nordeste.
Do ponto de vista do uso,
temos ainda uma “elite digi-
tal”, com acesso a computa-
dor e banda larga fixa, e usu-
áriosde“segundaclasse”,que
dependemdouso do celular
ecompacotesdedados limi-
tados. Atualmente, um aces-
sosignificativoàinternetestá
menospresenteentreos ido-
sos, indivíduosdebaixarenda
edebaixaescolaridade,bem
comoentremulheresnegras.
A popularização, e quase
universalização,dostelefones
celularesésimultaneamente
umaboaeumamánotícia.A
pesquisarecentenocampoin-
dica umacontribuição signi-
ficativa do acesso à internet
para a manutenção de pata-
mares de renda entre popu-
laçõesmais vulneráveis.
Na crise econômica inicia-
daem2015,amaiorresiliência
frenteàpobrezaentreaqueles
quepuderamfazerusodain-
ternet ocorreu especialmen-
tenarendadotrabalho,oque
indicaqueaconexãopodeter
impactorelevantenoacessoa
fontesde renda, emummer-
cado caracterizado por alta
informalidade.
Em períodos de crise eco-
nômica,acombinaçãodeme-
didas de estímulo à conecti-
vidade, associadas a progra-
mas de combate à pobreza e
detransferênciaderenda,po-
deserumatrilhapromissora.
Por outro lado, quando o
telefonecelularéoúnicodis-
positivo para o acesso à rede
(realidadevivenciadapor89%
dosusuáriosdasclassesDeE,
segundoapesquisaTICDomi-
cíliosdoCGI.br), osusuários
ficam impedidos de realizar
atividadesmais sofisticadas,
incluindo o preenchimento
de formulários, a emissãode
documentoseoutrastransa-
ções eletrônicas.
Na prática, embora o tele-
fonecelularpermitaque tra-
balhadores informais epres-
tadores de serviço se conec-
tem com clientes via aplica-
tivos de mensagens instan-
tâneas,essesusuáriospossu-
emmenos recursos para um
usoplenodas tecnologiasdi-
gitais, o que é central emum
debatepúblicomarcadopela
desinformação.
Apopularizaçãodocelulare
dosaplicativosdemensagens
no Brasil (o envio demensa-
gensinstantâneaséatividade
realizadapor93%dosusuári-
os)contrastacomumainser-
ção ainda tímida da internet
nomundodotrabalho(36%)
e para a realização de tran-
sações financeiras (46%).Há
muito a ser feito nessa área.
Por essa razão, para que a
conectividadesejasignificati-
va parao aproveitamentode
oportunidades online, é cru-
cial verificar a frequência e a
autonomia no uso da inter-
net, pormeiodeumdisposi-
tivoapropriadoedeumaco-
nexãocomvelocidadeequan-
tidade de dados suficientes.
Semisso, a internet temefei-
tolimitadonoacessodosmais
pobresaprogramasdegover-
noeoportunidadesdetraba-
lho e renda.
Assim, posicionar a inclu-
são digital no centro da pro-
dução das políticas de trans-
ferência de renda e combate
àpobrezapodeafetarpositi-
vamenteosresultadosdetais
estratégias,contribuindopa-
ra romperumcicloperverso
de manutenção ou mesmo
dereforçodasdesigualdades.
Nos últimos anos, propos-
tas de subsídios específicos
para custear a internet de
beneficiários de programas
sociais fizeram parte do de-
batepúblico.Nocontextoda
pandemia,propostas legisla-
tivassobreotemavoltarama
emergir(comoéocasodoPL
4.242/2020, apresentado no
SenadoFederal).
Comacrisesanitária,ode-
bate foi ainda mais intenso
nocampodaeducação, com
a aprovação demedidas pa-
raofornecimentodepacotes
dedados edispositivos para
professores e estudantes (é
ocasoda lei 14.172/2021, que
dispõe sobre a garantia de
acesso à internet, comobje-
tivos educacionais, a alunos
e a professores da educação
básica pública).
No contexto atual, parece
inevitável atribuir ao aces-
soà internetomesmostatus
de outros bens coletivos co-
moenergia, água e esgoto.Â
mpme a eeeDomingo, 18 DE DEzEmbro DE 2022 1
Comoplanejarasfinançasdaempresa
paraenfrentarumcenáriode incertezas
Fim do ano é tempo de rever metas e estudar opções de crédito para contornar inflação e juros altos
Adobe Stock
a eee
-Andrea Vialli
São Paulo Micro, pequenas e
médias empresas devem se
prepararparaum2023 instá-
vel, comprojeções de cresci-
mentomodestodoPIB (Pro-
duto InternoBruto) e expec-
tativadeinflaçãoelevada.Por
isso, é imprescindível se pla-
nejar aindaem2022, aconse-
lhamespecialistas.
Segundooúltimorelatório
demercadoFocus, doBanco
Central, o PIB deve crescer
0,75%em2023,enquantoaSe-
licdevecairdosatuais 13,75%
para 11,75%. A inflaçãomedi-
dapeloIPCA(ÍndiceNacional
dePreçosaoConsumidorAm-
plo)deveserde5,08%,eUS$1
deve valer R$ 5,25.
“Comumasituaçãomacroe-
conômicadesafiadora,peque-
nas empresas devem buscar
proverparaaeconomiaregi-
onal,ondeelasconseguemse
diferenciar”,dizCibelePestil-
lo, consultora do Sebrae.
A tendência de queda da
Selic traz oportunidades no
acesso a crédito para as pe-
quenas, já que o custo efeti-
vo das operações tende a ser
menor. Já o câmbio no pata-
mar acima de R$ 5 favorece
as exportações das indústri-
asdepequenoemédioporte,
alémdeserumabarreirapara
aentradadeprodutos impor-
tados, afirmaPestillo.
De acordo como Sebrae, é
importante que as pequenas
empresasiniciemoanofazen-
doseusinventárioseumages-
tão dos estoques.
“Os estoques são, ao mes-
motempo,a forçaeafraque-
zadessesnegócios.Afaltade
gestão impacta o custo, por-
que muitas vezes acabam fi-
cando matérias-primas ou
produtos acumulados”, afir-
ma a consultora.
Dezembroejaneirosãome-
ses ideais para as empresas
iniciaremoplanejamentodos
orçamentos para o ano que
começa. A orientação é que
os empreendedores tracem
três cenários: um otimista,
um conservador e um pessi-

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