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PROJETO AERODINÂMICO DE AEROGERADORES DO TIPO HAWT ACOPLANDO A TEORIA CLÁSSICA COM A TEORIA DE ASAS 3D Iago D’Andrade Ribeiro da Rocha Projeto de Graduação apresentado ao Curso de Engenharia Mecânica da Escola Politécnica, Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Engenheiro Mecânico. Orientador: Gustavo César Rachid Bodstein Rio de Janeiro Março de 2018 UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO Departamento de Engenharia Mecânica DEM/POLI/UFRJ PROJETO AERODINÂMICO DE AEROGERADORES DO TIPO HAWT ACOPLANDO A TEORIA CLÁSSICA COM A TEORIA DE ASAS 3D Iago D’Andrade Ribeiro da Rocha PROJETO FINAL SUBMETIDO AO CORPO DOCENTE DO DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA MECÂNICA DA ESCOLA POLITÉCNICA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO COMO PARTE DOS REQUISITOS NECESSÁRIOS PARA A OBTENÇÃO DO GRAU DE ENGENHEIRO MECÂNICO. Aprovado por: ________________________________________________ Prof. Gustavo César Rachid Bodstein, PhD (Orientador) ________________________________________________ Prof. Manuel Ernani de Carvalho Cruz, PhD ________________________________________________ Prof. Roney Leon Thompson, DSc RIO DE JANEIRO, RJ - BRASIL MARÇO DE 2018 Rocha, Iago D’Andrade Ribeiro da Projeto aerodinâmico das pás de aerogeradores do tipo HAWT/ Iago D’Andrade Ribeiro da Rocha. – Rio de Janeiro: UFRJ/ Escola Politécnica, 2018. XVI, 96 p.: il.; 29,7 cm. Orientador: Gustavo César Rachid Bodstein Projeto de Graduação – UFRJ/ Escola Politécnica/ Curso de Engenharia Mecânica, 2018. Referências Bibliográficas: p. 95-96. 1. Introdução. 2. O Sistema Eólico. 3. Modelagem Matemática do Aerogerador. 4. Teoria de Elemento de Pá. 5. Escoamento sobre Asas Finitas. 6. Acoplamento da BEMT e da Teoria Clássica de Prandtl. 7. Aerofólios Dedicados a Turbinas Eólicas de Eixo Horizontal. 8. Procedimento de Cálculo e o Aplicativo para o Projeto Preliminar de HAWTs. 9. Resultados e Discussão. 10. Conclusões. I. Bodstein, Gustavo César Rachid. II. Universidade Federal do Rio de Janeiro, Escola Politécnica, Curso de Engenharia Mecânica. III. Projeto aerodinâmico de aerogeradores do tipo HAWT acoplando a teoria clássica com a teoria de asas 3D i Agradecimentos Primeiramente, gostaria de agradecer à toda minha família, em especial a meus pais Lidia e Marcos pelo amor e carinho incondicionais que tem por mim. Sem o apoio de vocês eu não conseguiria concluir este curso. Gostaria de agradecer a meus avós que desde a minha infância me incentivaram a adentrar na área acadêmica. Às minhas primas Rafaela e Manuela, às minhas tias Myrian, Lucila e Rosany agradeço pelo apoio emocional e amor durante toda minha vida. Sem vocês eu não seriam quem eu sou hoje. Obrigado por mostrarem a mim o conceito de família todos os dias. A meu orientador Gustavo agradeço pela oportunidade de cursar a matéria Tópicos Especiais em Mecânica dos Fluidos, com tema sobre aerodinâmica e despertar meu interesse pelo tema desenvolvido neste trabalho. Agradeço também pela paciência e pelo auxílio para solucionar os dilemas encontrados durante a confecção deste projeto. À minha namorada Fernanda agradeço pela paciência e amor durante o desenvolvimento deste projeto. Sem seu apoio nos momentos difíceis para me ajudar a me manter calmo, não seria possível finalizar o texto escrito a seguir. Sei que não foi fácil para você me aturar durante as intermináveis horas de produção deste trabalho. A meus colegas de curso Anna, Bruna, Cadu, Deborah, Felliphe, Iago, Pedro, Lucas, Luma, Rafael, Vinicius, Yuri, entre outros, agradeço pela amizade e companhia ao longo da jornada que enfrentamos juntos, às inúmeras horas de estudo, à todas as partidas de sueca e aos diversos rodízios frequentados. Definitivamente, sem vocês esses 5 anos de faculdade não seriam tão agradáveis e divertidos. Agradeço à equipe da BR2W pelo apoio fornecido para o desenvolvimento deste projeto. A meu chefe Pedro, Leonardo, Adrian e Anderson, só tenho a agradecer pela compreensão e flexibilização do expediente garantida para mim durante o estágio com intuito de que eu finalizasse meu projeto de graduação. Agradeço também ao Victor, que se disponibilizou durante as horas vagas do trabalho para me ouvir falar e discutir sobre meu tema. Não posso deixar de agradecer também a todos os professores do Departamento de Engenharia Mecânica com quem eu tive o prazer de ser lecionado nas disciplinas desse curso, me fazendo a cada semestre gostar ainda mais da minha escolha de profissão. Honrarei o peso deste diploma e deste título a mim conferido, em nome da excelência de educação fornecida a mim por vocês. ii Resumo do Projeto de Graduação apresentado à Escola Politécnica/ UFRJ como parte dos requisitos necessários para a obtenção do grau de Engenheiro Mecânico. Projeto aerodinâmico de aerogeradores do tipo HAWT acoplando a teoria clássica com a teoria de asas 3D Iago D’Andrade Ribeiro da Rocha Março/2018 Orientador: Gustavo César Rachid Bodstein Curso: Engenharia Mecânica O crescimento populacional no último século carregou consigo uma demanda energética crescente. A necessidade do suprimento dessa demanda por meio de fontes limpas renováveis vem ganhando força nas últimas décadas. Em destaque, tem-se a energia dos ventos, que é convertida em energia elétrica principalmente por meio de turbinas eólicas de eixo horizontal. Neste trabalho, buscou-se o desenvolvimento de um modelo de cálculo mais completo para auxiliar no projeto desse tipo de equipamento. O modelo criado parte do acoplamento entre duas teorias clássicas – uma específica para turbinas eólicas, que considera um escoamento bidimensional, e outra específica para asas finitas, que considera efeitos tridimensionais. O projeto aerodinâmico da turbina eólica foi refinado com a utilização de três perfis de aerofólios diferentes nas pás do rotor. O modelo resultante então foi testado usando como base três turbinas comerciais, com dados experimentais. Uma comparação entre os modelos clássicos, o novo modelo e os dados dos fabricantes foi realizada. Os resultados dessa análise são usados para discutir a eficácia e precisão da nova teoria desenvolvida. Palavras-chave: Turbinas eólicas, Teoria de Elemento de pá, HAWT, Aerogeradores, Projeto aerodinâmico, Teoria da Linha de Sustentação de Prandtl. iii Abstract of Undergraduate Project presented to POLI/UFRJ as a partial fulfillment of the requirements for the degree of Mechanical Engineer. Horizontal axis wind turbines’ aerodynamic design coupling the classical theory with the 3D wings theory Iago D’Andrade Ribeiro da Rocha March/2018 Advisor: Gustavo César Rachid Bodstein Course: Mechanical Engineering The population growth within the last century brought an increasing energy demand. The need to supply this demand with renewable and environmentally friendly sources of energy has gained strength in the recent decades. In particular, there is the wind energy, which is mainly converted to electric energy by horizontal axis wind turbines. In this work, a more complete calculation method is sought to assist in the design in this type of machinery. The created model is based on the coupling of two classical theories – one specifically developed for wind turbines, which relies on two-dimensional flows, and one specifically developed for finite wings, which takes into account three-dimensional flow effects. The rotor’s blades design was refined using three airfoils along the blades’ span. The resulting model was then tested based on three different commercial wind turbines with their empiricaldata. A comparison between the classic model, the new model and the manufacturer’s data is provided. This analysis lead to a discussion about the new theory’s efficiency and accuracy. Keywords: Wind turbines, Blade Element Momentum Theory, HAWT, Aerodynamic design, Prandtl’s Lifting Line Theory iv Sumário Lista de Figuras ........................................................................................................................ vii Lista de Tabelas .......................................................................................................................... x Lista de Siglas e Símbolos ....................................................................................................... xiii 1 – Introdução ............................................................................................................................. 1 1.1 – Motivação ...................................................................................................................... 1 1.2 – Histórico ........................................................................................................................ 2 1.3 – Objetivos ........................................................................................................................ 5 2 – O Sistema Eólico .................................................................................................................. 6 2.1 – Rotor Eólico ................................................................................................................... 7 2.2 – Transmissão e Caixa Multiplicadora ............................................................................. 8 2.3 – Gerador .......................................................................................................................... 8 2.4 – Torre .............................................................................................................................. 8 2.5 – Sistema de Armazenamento de Energia ........................................................................ 9 2.6 – Mecanismos de Controle ............................................................................................... 9 2.6.1 – Controle de Estol .................................................................................................. 10 2.6.2 – Controle de Passo ................................................................................................. 11 3 – Modelagem Matemática do Aerogerador ........................................................................... 13 3.1 – Teoria do Disco Atuador de Rankine-Froude.............................................................. 13 3.2 – Teoria do Disco Rotor ................................................................................................. 16 4 – Teoria de Elemento de Pá ................................................................................................... 22 4.1 – Equações de Conservação para um Elemento de Pá ................................................... 22 4.2 – Teoria de Momento de Elemento de Pá....................................................................... 26 4.3 – Desempenho do Rotor ................................................................................................. 27 4.4 – Perdas devido a um Número Finito de Pás .................................................................. 29 4.5 – Geometria do Rotor para Coeficiente de Potência Máximo ........................................ 31 4.6 – Operação do Rotor com Geometria off-design ............................................................ 33 5 – Escoamento sobre Asas Finitas .......................................................................................... 35 5.1 – Efeito Downwash ......................................................................................................... 35 5.2 – Teoria da Linha de Sustentação de Prandtl ................................................................. 38 5.3 – Determinação de uma Distribuição Geral de Circulação ao longo da Envergadura de uma Asa ................................................................................................................................ 43 5.4 – Coeficiente de Sustentação da Asa .............................................................................. 44 5.5 – O Coeficiente de Arrasto Induzido da Asa .................................................................. 45 v 6 – Acoplamento da BEMT e da Teoria Clássica de Prandtl .................................................... 47 6.1 – Coeficiente de Sustentação Local ................................................................................ 47 6.2 – Coeficiente de Arrasto Local ....................................................................................... 48 6.3 – Divisão da Pá ............................................................................................................... 50 6.4 – Consequências da Divisão Escolhida para a Pá........................................................... 50 7 – Aerofólios Dedicados a Turbinas Eólicas de Eixo Horizontal ........................................... 52 7.1 – Perfis Aerodinâmicos .................................................................................................. 52 7.2 – Perfis Utilizados em Aerogeradores ............................................................................ 53 7.3 – Estrutura da Pá e os Critérios de Projeto de Aerofólios Dedicados ............................ 54 7.4 – A Transição entre as Regiões da Pá ............................................................................ 56 8 – Procedimento de Cálculo e o Aplicativo para o Projeto Preliminar de HAWTs................. 58 8.1 – Estrutura do Programa ................................................................................................. 60 8.2 – Procedimento de Cálculo ............................................................................................. 60 9 – Resultados e Discussão ....................................................................................................... 67 9.1 – Validação do Algoritmo para Asas Finitas .................................................................. 67 9.2 – Validação do Modelo de Cálculo para Turbinas Eólicas ............................................ 69 9.3 – Comparação com a Turbina Nordex N80/2500 kW .................................................... 71 9.4 – Comparação com a Turbina Wobben E-126/7580 kW ............................................... 78 9.5 – Comparação com a Turbina Libellula-60i/60 kW ....................................................... 85 9.6 – Análise dos Resultados ................................................................................................ 92 10 – Conclusões ........................................................................................................................ 93 Referências ............................................................................................................................... 95 Apêndices ................................................................................................................................. 97 A – Fundamentos de Mecânica dos Fluidos ............................................................................. 97 A.1 – Conceitos Gerais de Escoamentos .............................................................................. 97 A.2 – Coeficientes Aerodinâmicos de Forças e Momentos.................................................. 99 B – MATLAB ......................................................................................................................... 102 B.1 – Funções ..................................................................................................................... 102 C – Características dos Aerofólios Dedicados .......................................................................103 C.1 – Resumo ..................................................................................................................... 103 C.2 – Geometrias ................................................................................................................ 104 C.3 – Coeficientes Adimensionais...................................................................................... 126 D – Rotina Numérica Implementada ...................................................................................... 144 D.1 – Algoritmo Principal .................................................................................................. 144 D.2 – Função Asa_Finita .................................................................................................... 159 D.3 – Função InterpAlpha .................................................................................................. 161 D.4 – Função Import_Data ................................................................................................. 179 vi Lista de Figuras Figura 1.1 – Potencial eólico e hidrelétrico do Nordeste (ANEEL, 2005)................................ 2 Figura 1.2 – Evolução das turbinas eólicas de 1985 a 2005 (CEPEL / CRESESB, 2008) ....... 3 Figura 2.1 – Exemplo de uma turbina de eixo horizontal (Nordex SE, 2018) .......................... 6 Figura 2.2 – Modelo Vestas V47-660/200 kW (Vestas, 2018) ................................................. 7 Figura 2.3 – Relação entre diâmetro e altura do rotor de eixo horizontal (Hansen, 2008) ....... 9 Figura 2.4 – Estol em torno de um perfil de pá (CRESESB, 2018) ........................................ 10 Figura 2.5 – Curva de potência de um aerogerador com controle de stall (CRESESB, 2018)11 Figura 2.6 – Perfil aderente em torno de um perfil de pá. (CRESESB, 2018) ........................ 11 Figura 2.7 – Curva de potência de um aerogerador com controle de passo (CRESESB, 2018) .................................................................................................................................................. 12 Figura 3.1 – Modelo para o disco atuador (Moulin, 2005) ..................................................... 13 Figura 3.2 – Formação da rotação na esteira para uma HAWT, visualizada com fumaça (Burton et al, 2011) ................................................................................................................... 16 Figura 3.3 – Modelo do anel circular com rotação de esteira (Manwell, McGowan, & Rogers, 2001) ......................................................................................................................................... 17 Figura 3.4 – Soluções da equação (3.26) ................................................................................. 20 Figura 3.5 – 𝐶𝐶𝐶𝐶𝐶𝐶á𝑥𝑥 em função de 𝜆𝜆 (Manwell, McGowan, & Rogers, 2001) ...................... 21 Figura 4.1 – Elemento anular de pá (Burton et al, 2011) ........................................................ 22 Figura 4.2 – Variáveis geométricas e forças sobre um elemento de pá (Moulin, 2005) ......... 24 Figura 4.3 – Impacto de 𝐶𝐶𝐶𝐶/𝐶𝐶𝐶𝐶 sobre 𝐶𝐶𝐶𝐶𝐶𝐶á𝑥𝑥15T ...................................................................... 29 Figura 4.4 – Soluções da equação (4.41) ................................................................................. 32 Figura 5.1 – Visualização do efeito downwash em uma asa finita (Anderson Jr., 1991) ....... 35 Figura 5.2 – Visualização esquemática dos Tip Vortices (Anderson Jr., 1991) ...................... 36 Figura 5.3 – Tip Vortices em uma asa retangular (Anderson Jr., 1991) .................................. 36 Figura 5.4 – Efeito do componente de downwash no escoamento em uma seção da pá (Anderson Jr., 1991) ................................................................................................................. 37 Figura 5.5 – Representação esquemática da modelagem dos vórtices ferradura. A asa é substituída pelo vórtice fixo e pelos dois vórtices trilha (Anderson Jr., 1991) ........................ 38 Figura 5.6 – Distribuição da componente de downwash 𝑤𝑤𝑤𝑤 ao longo da envergadura da asa, representada pelo eixo 𝑤𝑤 (Anderson Jr., 1991) ......................................................................... 39 Figura 5.7 – Superposição de 3 vórtices ferradura ao longo da asa (Anderson Jr., 1991) ...... 40 Figura 5.8 – Superposição de infinitos horseshoe vortices ao longo da linha de sustentação (Anderson Jr., 1991) ................................................................................................................. 40 Figura 7.1 – Características de um perfil aerodinâmico (Junior & Rangel, 2012) .................. 52 vii Figura 7.2 – Evolução dos perfis aerodinâmicos (Pereira & Tutida, 2015) ............................ 53 Figura 7.3 – Estrutura da pá e características de projeto (van Rooij & Timmer, 2004).......... 54 Figura 7.4 – Formatos comuns da ponta da pá (Tangler J. L., 2000) ...................................... 56 Figura 8.1 – Esquema de funcionamento do aplicativo .......................................................... 58 Figura 8.2 – Interface gráfica do HAWT Designer .................................................................. 59 Figura 9.1 – Distribuição de 𝐶𝐶𝐶𝐶/𝐶𝐶𝐶𝐶𝐶𝐶𝐶𝐶𝐶𝐶 ao longo do semi-span da asa, gerada a partir do script ‘Asa_finita.m’ ................................................................................................................. 68 Figura 9.2 – Distribuição de 𝐶𝐶𝐶𝐶/𝐶𝐶𝐶𝐶𝐶𝐶𝐶𝐶𝐶𝐶 ao longo do semi-span da asa (Bertin & Smith, 1998) .................................................................................................................................................. 68 Figura 9.3 – Comparação entre 𝑐𝑐 calculado e apresentado por (Burton et al, 2011) .............. 69 Figura 9.4 – Comparação entre 𝛽𝛽 calculado e apresentado por (Burton et al, 2011) .............. 70 Figura 9.5 – Comparação das curvas de performance ............................................................. 72 Figura 9.6 – Comparação das curvas de potência ................................................................... 72 Figura 9.7 – Distribuição de corda ao longo do span .............................................................. 73 Figura 9.8 – Distribuição adimensional de corda ao longo do span ....................................... 74 Figura 9.9 – Distribuição do ângulo de passo (torção) ao longo do span ............................... 74 Figura 9.10 – Distribuição do ângulo de ataque efetivo ao longo do span ............................. 75 Figura 9.11 – Distribuição de 𝐶𝐶𝐶𝐶 (BEMT + TLSP) e de 𝐶𝐶𝐶𝐶 (BEMT) ao longo do span .......... 75 Figura 9.12 – Distribuição de 𝐶𝐶𝐶𝐶 (BEMT + TLSP) e de 𝐶𝐶𝐶𝐶 (BEMT) ao longo do span ........ 76 Figura 9.13 – Distribuição de 𝐶𝐶𝐶𝐶 ao longo do span ................................................................ 76 Figura 9.14 – Comparação das curvas de performance ........................................................... 79 Figura 9.15 – Comparação das curvas de potência ................................................................. 79 Figura 9.16 – Distribuição de corda ao longo do span ............................................................ 80 Figura 9.17 – Distribuição adimensional de corda ao longo do span ..................................... 81 Figura 9.18 – Distribuição do ângulo de passo (torção) ao longo do span ............................. 81 Figura 9.19 – Distribuição do ângulo de ataque efetivo ao longo do span ............................. 82 Figura 9.20 – Distribuição de 𝐶𝐶𝐶𝐶 (BEMT + TLSP) e de 𝐶𝐶𝐶𝐶 (BEMT) ao longo do span .......... 82 Figura 9.21 – Distribuição de 𝐶𝐶𝐶𝐶 (BEMT + TLSP) e de 𝐶𝐶𝐶𝐶 (BEMT) ao longo do span ........ 83 Figura 9.22 – Distribuição de 𝐶𝐶𝐶𝐶 ao longo do span ................................................................83 Figura 9.23 – Comparação das curvas de performance ........................................................... 86 Figura 9.24 – Comparação das curvas de potência ................................................................. 86 Figura 9.25 – Distribuição de corda ao longo do span ............................................................ 87 Figura 9.26 – Distribuição adimensional de corda ao longo do span ..................................... 88 Figura 9.27 – Distribuição do ângulo de passo (torção) ao longo do span ............................. 88 Figura 9.28 – Distribuição do ângulo de ataque efetivo ao longo do span ............................. 89 viii Figura 9.29 – Distribuição de 𝐶𝐶𝐶𝐶 (BEMT + TLSP) e de 𝐶𝐶𝐶𝐶 (BEMT) ao longo do span .......... 89 Figura 9.30 – Distribuição de 𝐶𝐶𝐶𝐶 (BEMT + TLSP) e de 𝐶𝐶𝐶𝐶 (BEMT) ao longo do span ........ 90 Figura 9.31 – Distribuição de 𝐶𝐶𝐶𝐶 ao longo do span ................................................................ 90 Figura A.1 – Razão de Aspecto (Anderson Jr., 1991) ........................................................... 101 ix Lista de Tabelas Tabela 1.1 – Capacidade instalada de geração eólica em MW por país (CRESESB, 2018) ..... 4 Tabela 9.1 – Resultados obtidos pela rotina de cálculo para asas finitas ................................ 67 Tabela 9.2 – Parâmetros de entrada para a simulação da Nordex N80 ................................... 71 Tabela 9.3 – Parâmetros de saída para a simulação da Nordex N80 ....................................... 71 Tabela 9.4 – Comparação entre a BEMT + TLSP e a BEMT para a simulação da N80 .......... 77 Tabela 9.5 – Parâmetros de entrada para a simulação da Wobben E-126 ............................... 78 Tabela 9.6 – Parâmetros de saída para a simulação da Wobben E-126 .................................. 78 Tabela 9.7 – Comparação entre a BEMT + TLSP e a BEMT para a simulação da Wobben E- 126 ............................................................................................................................................ 84 Tabela 9.8 – Parâmetros de entrada para a simulação da Libellula 60-i ................................. 85 Tabela 9.9 – Parâmetros de saída para a simulação da Libellula 60-i ..................................... 85 Tabela 9.10 – Comparação entre a BEMT + TLSP e a BEMT para a simulação da Libellula- 60i ............................................................................................................................................. 91 Tabela 9.11 – Desvios percentuais dos resultados das simulações das turbinas comerciais selecionadas para as duas teorias .............................................................................................. 92 Tabela A.1 – Funções potenciais elementares em coordenadas polares ................................. 99 Tabela A.2 – Coeficientes Adimensionais............................................................................. 100 Tabela A.3 – Parâmetros de asas ........................................................................................... 101 Tabela C.1 – Propriedades dos perfis de aerofólio (Anders, 1990) e (NREL, 2018) ............ 103 Tabela C.2 – Coordenadas geométricas dos aerofólios FFA-W1-128, FFA-W1-152 e FFA- W1-182 (Anders, 1990) .......................................................................................................... 105 Tabela C.3 – Coordenadas geométricas dos aerofólios FFA-W1-211, FFA-W1-242 e FFA- W1-271 (Anders, 1990) .......................................................................................................... 106 Tabela C.4 – Coordenadas geométricas dos aerofólios FFA-W2-152, FFA-W2-210 e FFA- W3-211 (Anders, 1990) .......................................................................................................... 107 Tabela C.5 – Coordenadas geométricas dos aerofólios FFA-W3-241, FFA-W3-270 e FFA- W3-301 (Anders, 1990) .......................................................................................................... 108 Tabela C.6 – Coordenadas geométricas dos aerofólios FFA-W3-332 e FFA-W3-360 (Anders, 1990) ....................................................................................................................................... 109 Tabela C.7 – Coordenadas geométricas dos aerofólios S801 e S803 (NREL, 2018) ........... 110 Tabela C.8 – Coordenadas geométricas dos aerofólios S804 e S805A (NREL, 2018) ........ 111 Tabela C.9 – Coordenadas geométricas dos aerofólios S806A e S807 (NREL, 2018) ........ 112 Tabela C.10 – Coordenadas geométricas dos aerofólios S808 e S809 (NREL, 2018) ......... 113 Tabela C.11 – Coordenadas geométricas dos aerofólios S810 e S812 (NREL, 2018) ......... 114 Tabela C.12 – Coordenadas geométricas dos aerofólios S813 e S814 (NREL, 2018) ......... 115 x Tabela C.13 – Coordenadas geométricas dos aerofólios S815 e S816 (NREL, 2018) ......... 116 Tabela C.14 – Coordenadas geométricas dos aerofólios S817 e S818 (NREL, 2018) ......... 117 Tabela C.15 – Coordenadas geométricas dos aerofólios S819 e S820 (NREL, 2018) ......... 118 Tabela C.16 – Coordenadas geométricas dos aerofólios S821 e S822 (NREL, 2018) ......... 119 Tabela C.17 – Coordenadas geométricas dos aerofólios S823 e S825 (NREL, 2018) ......... 120 Tabela C.18 – Coordenadas geométricas dos aerofólios S826 e S827 (NREL, 2018) ......... 121 Tabela C.19 – Coordenadas geométricas dos aerofólios S828 e S829 (NREL, 2018) ......... 122 Tabela C.20 – Coordenadas geométricas dos aerofólios S830 e S831 (NREL, 2018) ......... 123 Tabela C.21 – Coordenadas geométricas dos aerofólios S832 e S833 (NREL, 2018) ......... 124 Tabela C.22 – Coordenadas geométricas dos aerofólios S834 e S835 (NREL, 2018) ......... 125 Tabela C.23 – Coeficientes adimensionais em função do ângulo de ataque dos aerofólios FFA-W1-128 e FFA-W1-152 (Anders, 1990) ........................................................................ 126 Tabela C.24 – Coeficientes adimensionais em função do ângulo de ataque dos aerofólios FFA-W1-182 e FFA-W1-211 (Anders, 1990) ........................................................................ 127 Tabela C.25 – Coeficientes adimensionais em função do ângulo de ataque dos aerofólios FFA-W1-242 e FFA-W1-271 (Anders, 1990) ........................................................................ 128 Tabela C.26 – Coeficientes adimensionais em função do ângulo de ataque dos aerofólios FFA-W2-152 e FFA-W2-210 (Anders, 1990) ........................................................................ 130 Tabela C.27 – Coeficientes adimensionais em função do ângulo de ataque dos aerofólios FFA-W3-211 e FFA-W3-241 (Anders, 1990) ........................................................................ 131 Tabela C.28 – Coeficientes adimensionais em função do ângulo de ataque dos aerofólios FFA-W3-270 e FFA-W3-301 (Anders, 1990) ........................................................................ 132 Tabela C.29 – Coeficientes adimensionais em função do ângulo de ataque dos aerofólios FFA-W3-332 e FFA-W3-360 (Anders, 1990) ........................................................................ 133 Tabela C.30 – Coeficientes adimensionais em função do ângulo de ataque dos aerofólios S801 e S803 (NREL, 2018) .................................................................................................... 135 Tabela C.31 – Coeficientes adimensionais em função do ângulo de ataque dos aerofólios S804 e S805A (NREL, 2018) ................................................................................................. 135 Tabela C.32 – Coeficientes adimensionais em função do ângulo de ataque dos aerofólios S806A e S807 (NREL, 2018) ................................................................................................. 136 Tabela C.33 – Coeficientes adimensionais em funçãodo ângulo de ataque dos aerofólios S808 e S809 (NREL, 2018) .................................................................................................... 137 Tabela C.34 – Coeficientes adimensionais em função do ângulo de ataque dos aerofólios S810 e S812 (NREL, 2018) .................................................................................................... 137 Tabela C.35 – Coeficientes adimensionais em função do ângulo de ataque dos aerofólios S813 e S814 (NREL, 2018) .................................................................................................... 138 Tabela C.36 – Coeficientes adimensionais em função do ângulo de ataque dos aerofólios S815 e S816 (NREL, 2018) .................................................................................................... 138 xi Tabela C.37 – Coeficientes adimensionais em função do ângulo de ataque dos aerofólios S817 e S818 (NREL, 2018) .................................................................................................... 139 Tabela C.38 – Coeficientes adimensionais em função do ângulo de ataque dos aerofólios S819 e S820 (NREL, 2018) .................................................................................................... 140 Tabela C.39 – Coeficientes adimensionais em função do ângulo de ataque dos aerofólios S821 e S822 (NREL, 2018) .................................................................................................... 140 Tabela C.40 – Coeficientes adimensionais em função do ângulo de ataque dos aerofólios S823 e S825 (NREL, 2018) .................................................................................................... 141 Tabela C.41 – Coeficientes adimensionais em função do ângulo de ataque dos aerofólios S826 e S827 (NREL, 2018) .................................................................................................... 141 Tabela C.42 – Coeficientes adimensionais em função do ângulo de ataque dos aerofólios S828 e S829 (NREL, 2018) .................................................................................................... 142 Tabela C.43 – Coeficientes adimensionais em função do ângulo de ataque dos aerofólios S830 e S831 (NREL, 2018) .................................................................................................... 142 Tabela C.44 – Coeficientes adimensionais em função do ângulo de ataque dos aerofólios S832 e S833 (NREL, 2018) .................................................................................................... 143 Tabela C.45 – Coeficientes adimensionais em função do ângulo de ataque dos aerofólios S834 e S835 (NREL, 2018) .................................................................................................... 143 xii Lista de Siglas e Símbolos 𝐵𝐵𝐵𝐵𝐵𝐵𝐵𝐵 Blade Element Momentum Theory (Teoria de Momento de Elemento de Pá) 𝐹𝐹𝐹𝐹𝐹𝐹 Flygtekniska Försöksanstalten (Instituto de Investigação Aeronáutica) 𝐻𝐻𝐹𝐹𝐻𝐻𝐵𝐵 Horizontal Axis Wind Turbine (Turbina Eólica de Eixo Horizontal) 𝐵𝐵𝐹𝐹𝐵𝐵𝐶𝐶𝐹𝐹𝐵𝐵 Matrix Laboratory 𝑁𝑁𝐹𝐹𝐶𝐶𝐹𝐹 National Advisory Committee for Aeronautics (Comitê Nacional para Aconselhamento sobre Aeronáutica) 𝑁𝑁𝑁𝑁𝐵𝐵𝐶𝐶 National Renewable Energy Laboratory (Laboratório Nacional de Energia Renovável) 𝑆𝑆𝐶𝐶 Superfície de Controle 𝐵𝐵𝐶𝐶𝑆𝑆𝐶𝐶 Teoria da Linha de Sustentação de Prandtl 𝑉𝑉𝐶𝐶 Volume de Controle 𝐹𝐹 Área varrida pelo rotor 𝐶𝐶 Fator de Indução Axial 𝐶𝐶′ Fator de Indução Tangencial ou Rotacional 𝐶𝐶0 Inclinação da curva Cl vs alpha 𝐹𝐹𝑛𝑛 Coeficientes da série de Fourier 𝐹𝐹𝑁𝑁 Razão de aspecto da asa 𝐵𝐵 Número de pás 𝑏𝑏 Envergadura da asa 𝑐𝑐 Corda local 𝑐𝑐̅ Corda média da asa 𝑐𝑐𝑟𝑟 Corda na raiz da pá 𝑐𝑐𝑡𝑡 Corda na ponta da pá 𝐶𝐶𝐷𝐷 Coeficiente de arrasto bidimensional 𝐶𝐶𝐷𝐷𝑎𝑎𝑎𝑎𝑎𝑎 Coeficiente de arrasto tridimensional 𝐶𝐶𝐷𝐷𝑖𝑖 𝑎𝑎𝑎𝑎𝑎𝑎 Coeficiente de arrasto induzido tridimensional 𝐶𝐶𝑑𝑑 Coeficiente de arrasto tridimensional local 𝐶𝐶𝑑𝑑𝑖𝑖 Coeficiente de arrasto induzido tridimensional local 𝐶𝐶𝐿𝐿 Coeficiente de sustentação bidimensional xiii 𝐶𝐶𝐿𝐿𝑎𝑎𝑎𝑎𝑎𝑎 Coeficiente de sustentação tridimensional 𝐶𝐶𝑙𝑙 Coeficiente de sustentação tridimensional local 𝐶𝐶𝑀𝑀 Coeficiente de momento bidimensional 𝐶𝐶𝑀𝑀𝑎𝑎𝑎𝑎𝑎𝑎 Coeficiente de momento tridimensional 𝐶𝐶𝑚𝑚 Coeficiente de momento tridimensional local 𝐶𝐶𝑝𝑝 Coeficiente de Potência 𝐶𝐶𝑇𝑇 Coeficiente de Empuxo 𝐶𝐶𝑥𝑥 Parâmetro local do escoamento 𝐶𝐶𝑦𝑦 Parâmetro local do escoamento 𝐶𝐶 Força de arrasto 𝐶𝐶′ Força de arrasto local 𝐶𝐶𝑖𝑖′ Força de arrasto induzido local 𝐶𝐶 Diâmetro do rotor 𝑒𝑒 Energia específica 𝐹𝐹 Fator de perdas combinadas 𝐹𝐹𝑒𝑒𝑥𝑥𝑡𝑡 Força externa exercida sobre o volume de controle 𝑓𝑓𝑅𝑅 Fator de perdas para raiz de asa 𝑓𝑓𝑇𝑇 Fator de perdas para ponta de asa 𝑔𝑔 Aceleração da gravidade terrestre 𝐺𝐺 Matriz dos coeficientes das incógnitas da equação fundamental da linha de sustentação de Prandtl 𝐻𝐻 Vetor solução da equação fundamental da linha de sustentação de Prandtl 𝐶𝐶 Força de sustentação 𝐶𝐶′ Força de sustentação local 𝐵𝐵 Momento 𝐵𝐵′ Momento local �̇�𝐶 Vazão mássica 𝑁𝑁 Número de divisões ou estações da pá 𝑛𝑛�⃗ Vetor unitário normal ao elemento de área 𝐶𝐶 Pressão 𝐶𝐶 Potência xiv 𝑄𝑄 Torque sobre o rotor �̇�𝑄 Calor trocado entre o volume de controle e o ambiente 𝑞𝑞∞ Pressão dinâmica 𝑁𝑁 Raio do rotor 𝑟𝑟 Raio local 𝑆𝑆 Área planiforme da asa 𝐶𝐶 Span ou comprimento da pá 𝐵𝐵 Empuxo sobre o rotor 𝑡𝑡 Tempo 𝑡𝑡/𝑐𝑐 Razão entre a espessura do aerofólio e a corda local 𝑈𝑈∞ Velocidade do vento não perturbada na direção axial 𝑢𝑢 Componente do campo de velocidades na direção x 𝑢𝑢� Energia interna específica 𝑉𝑉 Velocidade resultante 𝑉𝑉�⃗ Campo de velocidades �̇�𝐻 Trabalho realizado sobre o volume de controle 𝑤𝑤 Componente do escoamento descendente ou downwash local 𝑥𝑥/𝑐𝑐 Abscissa das coordenadas geométricas relativas à corda de um aerofólio 𝑤𝑤 Coordenada que percorre a envergadura 𝑧𝑧 Altura em relação a um referencial inercial arbitrário 𝑧𝑧/𝑐𝑐 Ordenada das coordenadas geométricas relativas à corda de um aerofólio 𝛼𝛼 Ângulo de ataque 𝛼𝛼𝑒𝑒𝑒𝑒𝑒𝑒 Ângulo de ataque efetivo 𝛼𝛼𝑖𝑖 Ângulo de ataque induzido 𝛼𝛼𝐿𝐿=0 Ângulo de ataque para sustentação nula 𝛽𝛽 Ângulo de torção ou de passo local em relação à envergadura da pá 𝛤𝛤 Circulação 𝛤𝛤′ Circulação adimensional 𝜀𝜀𝑚𝑚𝑒𝑒𝑚𝑚 Eficiência mecânica dos acessórios 𝜖𝜖 Fator de eficiência de envergadura de Oswald xv 𝜂𝜂𝐷𝐷 Rendimento do disco atuador 𝜃𝜃 Coordenada que percorre a envergadura 𝜆𝜆 Razão de velocidades 𝜆𝜆𝑟𝑟 Razão de velocidades local 𝜇𝜇 Raio local adimensional 𝜌𝜌∞ Massa específica do ar não perturbado 𝜎𝜎 Solidez local 𝜑𝜑 Ângulo de escoamento local ou ângulo de fluxo local 𝜙𝜙 Função potencial 𝛺𝛺 Velocidade angular do rotor 𝜔𝜔 Velocidade angular local ∀ Volume xvi 1 – Introdução 1.1 – Motivação Atualmente há uma incessante discussão sobre fontes renováveis de energia. Isso porque a população mundial cresce cada vez mais e, consequentemente, a demanda por energia também. Dessa forma, a preocupação na utilização da energia em formas diferentes da queima de combustíveis fósseis – como o petróleo – que não são renováveis, vem ganhando cada vez mais espaço no campo de pesquisa em engenharia. Ganham destaque como fontes de energia consideradas renováveis a energia eólica, energia solar, energia geotérmica e a energia hidrelétrica. Com base no contexto contemporâneo da sociedade, que busca meios de suprir essa alta demanda energética global sem agredir o meio ambiente, a energia eólica, assim comoa solar, ganham maior interesse. Apesar da energia eólica ser mais inconstante – com ventos mais variáveis do que a corrente de água de um rio, por exemplo – comparada com a radiação do sol sobre painéis solares ou até com a queima de combustíveis fósseis, estudos mostram que o potencial eólico global excede a demanda por energia. A energia dos ventos provém da radiação solar sobre a Terra, uma vez que esse aquecimento da superfície do planeta não é uniforme e isso causa a movimentação das partículas de ar, gerando os ventos. É estimado que aproximadamente 2% do total da energia da radiação solar no planeta é convertido em energia cinética dos ventos. Esse pequeno percentual na realidade representa centenas de vezes a potência anual instalada no globo. Portanto, a conversão dessa energia cinética em energia elétrica por meio de aerogeradores é muito promissora e, por conta disso, esse foi o tema de estudo escolhido para a confecção deste projeto. No Brasil, é estimado que cerca de 300 𝐺𝐺𝐻𝐻 de potência eólica possam ser aproveitados, enquanto que, no final de 2012, havia apenas aerogeradores suficientes para extrair 2,4 𝐺𝐺𝐻𝐻 de potência, o que representa menos de 1% da capacidade eólica total do país. O Nordeste brasileiro é a região que concentra o maior potencial energético dos ventos, superando inclusive o potencial hidrelétrico durante boa parte do ano, conforme ilustrado na figura 1.1. Os aerogeradores ou turbinas eólicas são equipamentos de interesses quando se trata de energia eólica, pois, em geral, a energia dos ventos é convertida em energia elétrica a partir deles. Com o passar do tempo, estes equipamentos tornam-se cada vez mais complexos e mais interdisciplinares, agregando conhecimentos de diversas áreas de engenharia. Conhecimentos de elétrica, controle, aerodinâmica e mecânica dos fluidos, análise estrutural, vibrações, materiais e elementos de máquinas são algumas das muitas áreas envolvidas num projeto de uma turbina eólica moderna. Neste projeto, o foco será dado à análise da fluidodinâmica desses equipamentos e como se dá a relação entre o escoamento do vento e a extração de energia cinética do mesmo. 1 Figura 1.1 – Potencial eólico e hidrelétrico do Nordeste (ANEEL, 2005) 1.2– Histórico A energia eólica vêm sido utilizada por milhares de anos, sendo um dos primeiros registros referentes ao ano de 2800 A.C., quando a civilização egípcia começou a utilizar do potencial do vento para acelerar a velocidade de seus barcos, que passaram a apresentar velas e deixaram de ser dependentes unicamente da força braçal de escravos. Desde então a força dos ventos foi empregada em diversas ferramentas e tecnologias que buscavam auxiliar as mais variadas tarefas e etapas de trabalho do homem, como os primitivos moinhos de vento, registrados no mundo islâmico durante o império persa (200 AC) e empregados na agricultura para bombeamento de água e moagem de grãos. A percepção das forças da natureza como energia, principalmente da água e vento, permitiu a substituição da força motriz animal e humana nas atividades agrícolas e, consequentemente, proporcionou uma maior facilidade e agilidade para realização das atividades básicas necessárias. A partir do século XI, com o fim das cruzadas, os moinhos de vento foram introduzidos e disseminados na Europa, onde seriam largamente utilizados e suas tecnologias registradas, sendo um dos principais exemplares o moinho de vento de eixo horizontal do tipo “holandês”. Também são deste período as primeiras legislações relacionadas ao “direito do vento”, que proibiam plantações e pomares próximos aos moinhos para garantir um melhor desempenho das forças do vento e segurança na utilização dos equipamentos. Com o desenvolvimento tecnológico das pás de rotação, sistemas de controle, eixos, entre outros; os moinhos proporcionaram a otimização de diversos serviços utilizando-se da 2 força motriz do vento, e passaram a ser utilizados em muitas outras funções, como drenagem do solo, produção de óleos vegetais, acionar serrarias e fabricação de papel. Contudo, no final do século XIX inicia-se a Revolução Industrial da Europa, a energia térmica utilizada nas máquinas à vapor se torna o meio predominante na indústria, e os moinhos de vento perdem espaço, porém não cessam de existir e continuaram se modernizando. Os modelos mais atuais de cata-ventos de múltiplas pás continuam a ser utilizados no meio agrícola por se tratar de um sistema que se adaptou às exigências rurais e que possui fácil manutenção e operação. Com o avanço das pesquisas e utilização de energia elétrica século XX, o americano Charles F. Bruch, industrial especializado em eletrização em campo, desenvolveu na cidade de Cleveland, Ohio, o primeiro cata-vento voltado para a produção de energia elétrica, que fornecia 12 𝑘𝑘𝐻𝐻 em corrente contínua. Em 1931, o aerogerador denominado Balaclava de 100 𝑘𝑘𝐻𝐻 teve a primeira conexão bem sucedida de um aerogerador de corrente alternada com uma usina termelétrica (CEPEL / CRESESB, 2008). O desenvolvimento do modelo Balaclava abriu espaço para projetos mais ambiciosos de 1 𝐵𝐵𝐻𝐻 a 5 𝐵𝐵𝐻𝐻. Esses projetos acabaram sendo abandonados devido à alta concorrência com outras tecnologias, sobretudo a queima de combustíveis fósseis. Contudo, durante a Segunda Guerra Mundial, o desenvolvimento de turbinas eólicas de médio e grande portes ganhou mais espaço, pois os países envolvidos tentavam economizar as fontes fósseis. Após a Segunda Guerra Mundial, o petróleo voltou a tornar-se altamente competitivo economicamente e o desenvolvimento de aerogeradores reduziu-se a fins de pesquisa. O crescimento da população mundial a partir de 1980, bem como a demanda energética que acompanhou esse crescimento, abriram espaço novamente para o estudo da extração da energia cinética dos ventos. Um enorme aumento das capacidades das turbinas desenvolvidas nos últimos 30 anos pode ser vista na figura 1.2. Figura 1.2 – Evolução das turbinas eólicas de 1985 a 2005 (CEPEL / CRESESB, 2008) Atualmente, o cenário da energia eólica do mundo vem conquistando cada vez mais espaço. A evolução das turbinas eólicas é constante e crescente. Em 2015, a empresa 3 dinamarquesa Vestas lançava no mercado o modelo comercial V-164, capaz de produzir até 8 𝐵𝐵𝐻𝐻 de potência. A tabela 1.1 reúne os dados de turbinas eólicas instaladas ao redor do mundo em 2015 e em 2016. Tabela 1.1 – Capacidade instalada de geração eólica em MW por país (CRESESB, 2018) (continua) País Total instalado em 2015 (MW) Novas instalações em 2016 (MW) Total instalado em 2016 (MW) China 145.362 23.328 168.690 Estados Unidos 73.991 8.203 82.184 Alemanha 44.941 5.443 50.018 Índia 25.088 3.612 28.700 Espanha 23.025 49 23.074 Reino Unido 13.809 736 14.543 França 10.505 1.561 12.066 Canadá 11.219 702 11.900 Brasil 8.726 2.014 10.740 Itália 8.975 282 9.257 Suécia 6.029 493 6.520 Turquia 4.694 1.387 6.081 Polônia 5.100 682 5.782 Portugal 5.050 268 5.316 Dinamarca 5.064 220 5.228 Holanda 3.443 887 4.328 Austrália 4.187 140 4.327 México 3.073 454 3.527 Japão 3.038 196 3.234 Romênia 2.976 52 3.028 Irlanda 2.446 384 2.830 Áustria 2.404 228 2.632 Bélgica 2.218 177 2.386 África do Sul 1.053 418 1.471 Chile 911 513 1.424 Uruguai 845 365 1.210 Coreia do Sul 835 201 1.031 Egito 810 - 810 Marrocos 787 - 787 Taiwan 647 35 682 Nova Zelândia 623 - 623 Paquistão 308 282 591 Etiópia 324 - 324 Costa Rica 278 20 298 Argentina 279 - 279 Panamá 270 - 270 Tunísia 245 - 245 4 Tabela 1.1 – Capacidade instalada de geração eólica em MW por país (CRESESB, 2018) (conclusão) País Total instalado em 2015 (MW) Novas instalações em 2016 (MW) Total instalado em 2016 (MW) Peru 148 93 241 Tailândia 223 - 223 Filipinas 216 - 216 Honduras 176 - 176 Caribe 164- 164 República Dominicana 86 50 135 Jordânia 119 - 119 Ilhas do Pacífico 13 - 13 Outros Países 7.958 1.126 9.026 Total 432.681 54.601 486.749 1.3 – Objetivos Este projeto visa o desenvolvimento de um procedimento de cálculo capaz de prever o comportamento e a geometria de turbinas eólicas de eixo horizontal, levando em conta apenas a aerodinâmica do rotor. Com o auxílio deste modelo, espera-se que seja possível a otimização da performance desses rotores, de modo a extrair o máximo de energia possível dos ventos, dada uma condição específica de projeto (por exemplo, as condições de vento na localização em que a turbina projetada será instalada). A fundamentação teórica que suporta essa rotina será baseada na teoria clássica para turbinas eólicas – a chamada Blade Element Theory – juntamente com a Teoria do Disco Atuador de Rankine-Froude. Deseja-se estabelecer uma conexão destas teoria com a teoria da linha de sustentação de Prandtl para asas finitas, de modo que uma nova teoria seja proposta. Para isso, será necessário o desenvolvimento de dois algoritmos diferentes: um para a aplicação da teoria de elemento de pá e outro para os cálculos referentes a asas finitas com base na teoria clássica de Prandtl. Portanto, é importante validar ambos algoritmos antes de acoplá- los. Ambas validações são feitas com base em exemplos de livros texto de energia eólica e de aerodinâmica, respectivamente, e os resultados são comparados. Um objetivo secundário deste trabalho é apresentar essa rotina de cálculo em linguagem MATBLAB, no formato de um aplicativo, possibilitando a rápida e fácil manipulação de gráficos e dos resultados que refletem a geometria ótima e os parâmetros de escoamento ótimos para os aerogeradores de eixo horizontal. Para aplicar a nova teoria, foram escolhidos três modelos de turbinas eólicas de portes diferentes (pequeno, médio e grande). Com auxílio do MATLAB, serão então montadas comparações entre o modelo proposto, a abordagem clássica e os dados de turbinas reais no mercado, com intuito de validar o novo modelo. 5 2 – O Sistema Eólico As HAWT – Horizontal Axis Wind Turbine, ou Turbinas eólicas de eixo Horizontal, são as turbinas que possuem o eixo em torno do qual o rotor gira na posição horizontal. Este tipo é o mais comum de aplicações de geração de energia elétrica via extração da energia cinética dos ventos, e o estudo e análise realizados neste trabalho estão concentrados neste tipo de turbina. Um exemplo usual deste equipamento é mostrado na figura 2.1. Figura 2.1 – Exemplo de uma turbina de eixo horizontal (Nordex SE, 2018) As turbinas de eixo horizontal podem ser divididas em alguns subsistemas principais: • Rotor: composto pelas pás e pelo nariz ou hub, que as suporta, é o subsistema que efetivamente transforma a energia cinética do vento em energia mecânica de rotação; • Transmissão e caixa multiplicadora: transmite a energia mecânica entregue pelo eixo do rotor até o gerador. Dependendo da velocidade do eixo do rotor, algumas turbinas não utilizam este componente, sendo o eixo do rotor diretamente acoplado ao gerador; • Gerador elétrico: responsável pela conversão da energia mecânica em energia elétrica; • Mecanismos de controle: responsáveis pela orientação do rotor, controle de velocidade, controle do gerador, etc.; • Torre: responsável por sustentar e posicionar todo o conjunto aerogerador em uma altura especificada; • Sistema de armazenamento: armazena a energia para situações em que o potencial de geração não tem condições de suprir toda a demanda em um determinado momento; • Transformador: responsável pelo acoplamento elétrico entre o aerogerador e a rede elétrica; 6 • Acessórios: são os componentes periféricos (ex.: transmissões, freios, embreagens, eixos, acoplamentos e mancais). A figura 2.2 mostra uma Turbina HAWT de um fabricante, indicando cada um dos principais componentes da turbina para uma melhor visualização. Figura 2.2 – Modelo Vestas V47-660/200 kW (Vestas, 2018) 2.1– Rotor Eólico O rotor é o componente da turbina responsável por extrair a energia cinética dos ventos e transformá-la em energia mecânica de rotação. É o componente mais característico de um sistema eólico. Por este motivo, a geometria do rotor influencia diretamente no rendimento global do sistema, ou seja, o quanto de energia se consegue extrair dos ventos. Os rotores podem possuir diferentes números de pás. Em geral, quanto menor for o número de pás, menor a inércia do conjunto e portanto mais rápido o rotor gira. O parâmetro adimensional que quantifica a velocidade de rotação do rotor é chamado razão de velocidade (𝜆𝜆), que é definida como a velocidade da ponta do rotor dividida pela velocidade do vento (ver 7 capítulo 3). Se 𝜆𝜆 for igual a 1, isto significa que a velocidade da ponta da pá é igual à velocidade do vento. A grande aplicação dos aerogeradores é a geração de eletricidade e, para este fim, os rotores acionam geradores elétricos que, normalmente, trabalha com rotações elevadas. Portanto, os rotores, nesses casos, devem ter rotações tão altas quanto possível, a fim de reduzir a relação de transmissão de multiplicação da caixa multiplicadora e consequentemente a massa destas e dos geradores. Assim, o número de pás do rotor em geral é pequeno e não superior a três. Para situações em que um torque elevado se faz necessário, rotores multipás, como o conhecido Western Type Windmills, utilizam 12 a 20 pás ou até mais. 2.2 – Transmissão e Caixa Multiplicadora A transmissão, que engloba a caixa multiplicadora, possui a finalidade de transmitir a energia mecânica entregue pelo eixo do rotor até o gerador. Ela é composta por eixos, mancais, engrenagens de transmissão e acoplamentos. A caixa multiplicadora em uma turbina eólica tem o objetivo de multiplicar a baixa velocidade do rotor (geralmente na faixa de 10 a 120 𝑟𝑟𝐶𝐶𝐶𝐶), de modo a atingir uma velocidade de rotação mais elevada no eixo para acionar os geradores (sobretudo geradores síncronos) que trabalham com rotações muito mais elevadas (em geral, entre 1200 a 1800 𝑟𝑟𝐶𝐶𝐶𝐶). Na última década, alguns fabricantes desenvolveram com sucesso aerogeradores sem a necessidade da caixa multiplicadora. Para isso, a rotação de acionamento dos geradores foi diminuída com a utilização de maiores geradores multipolos de baixa velocidade. 2.3 – Gerador O gerador elétrico tem como função transformar a energia mecânica entregue pela caixa multiplicadora em energia elétrica. As grandes adversidades desse subsistema encontram-se na sua integração com os sistemas de conversão eólica. Esses pontos são principalmente: • Variações na velocidade do vento, o que induz o rotor a girar em uma vasta faixa de velocidades (em vez de girar a uma rotação constante); • Variações do torque de entrada, uma vez que variações na velocidade do vento induzem variações de potência no eixo; • Demandas constantes de frequência e tensão na energia final produzida; • Pouca facilidade de instalação, operação e manutenção devido ao isolamento geográfico de tais sistemas, sobretudo no caso de sistemas de pequeno porte para geração de energia em pequena escala, o que requer sistemas de alta confiabilidade. Atualmente, existem várias alternativas de conjuntos moto-geradores, entre eles: geradores de corrente contínua, geradores síncronos, geradores assíncronos, geradores de comutador de corrente alternada. 2.4 – Torre As torres tem a função de sustentar e posicionar todo o conjunto aerogerador, a uma altura conveniente para o seu funcionamento. É um item estrutural de grande porte e que 8 contribui bastante no custo inicial do sistema. Em geral, as torres são fabricadas de metal (treliça ou tubular) ou de concreto, podendo ou não ser sustentadas por cabos tensores. Porém, a altura da torre implica custos de fabricação e instalação maiores assim como comportamentosdinâmicos diferentes. Usualmente, a relação entre diâmetro do rotor e altura da torre é de um para um para (𝐻𝐻 𝐶𝐶⁄ = 1) turbinas de grande porte, como pode ser visto na figura 2.3. Figura 2.3 – Relação entre diâmetro e altura do rotor de eixo horizontal (Hansen, 2008) 2.5 – Sistema de Armazenamento de Energia Devido às flutuações na velocidade do vento com o tempo, clima, etc. pode ser necessária a utilização de um sistema de armazenamento de energia, garantindo o abastecimento de energia para o local. Nos casos em que a energia eólica é considerada uma fonte primária de energia para uma região, uma forma de armazenamento se faz necessária para adaptar o perfil aleatório de produção energética ao perfil de consumo. O excedente de energia é guardado durante os regimes de ventos de alta velocidade para ser usado quando o consumo não puder ser atendido por insuficiência de vento. As formas mais conhecidas de armazenamento de energia eólica são através de baterias e sob a forma de energia gravitacional. 2.6 – Mecanismos de Controle As forças aerodinâmicas geradas ao longo das pás do rotor necessitam ser controladas de maneira eficiente, em virtude da variação da velocidade do vento. As forças de sustentação variam com a segunda potência da velocidade do vento, enquanto que a energia extraída da turbina varia com a terceira potência da velocidade do vento. Mecanismos de controle de potência do rotor são utilizados a fim de evitar sobrecarregamento elétrico e mecânico no sistema de transmissão de energia da turbina. 9 Os mecanismos de controle de uma turbina eólica destinam-se à orientação do rotor, ao controle de velocidade, ao controle de carga, dentre outros. Pela variedade de tipos de controles, existe uma enorme variedade de mecanismos, que podem ser mecânicos (velocidade, passo, freio), aerodinâmicos (posicionamento do rotor) ou eletrônicos (controle da carga). Em geral, o sistema de controle de um rotor eólico consiste de sensores, atuadores, hardware e softwares que processam os sinais de entrada dos sensores e geram os sinais de saída para os atuadores. Os sensores incluem anemômetros, sensor de posição de passo, sensor de temperatura, sensor de vibração etc. Softwares que controlam, por exemplo, o ângulo de passo, geralmente necessitam de respostas rápidas para manter a turbina numa faixa de operação. Em aerogeradores modernos se utilizam, principalmente, dois princípios de controle aerodinâmico para limitar a extração de energia cinética dos ventos. São eles o Controle de Estol e o Controle de Passo. 2.6.1 – Controle de Estol O controle de estol é um sistema passivo, ou seja, não se utiliza de atuadores. Este controle reage à velocidade do vento. As pás do rotor são fixas em seu ângulo de passo (ver capítulo 4) e não podem girar em torno de seu eixo longitudinal. Este ângulo de passo é devidamente escolhido de forma que para velocidades de vento superiores à velocidade de projeto, o escoamento em torno da pá do rotor se separa (descolamento da camada limite - figura 2.4), reduzindo as forças de sustentação e aumentando as forças de arrasto. Para condições de ventos superiores à velocidade de projeto, as menores forças de sustentação e maiores forças de arrasto atuarão diminuindo a potência do rotor. Figura 2.4 – Estol em torno de um perfil de pá (CRESESB, 2018) Em comparação com os aerogeradores com controle de passo, os aerogeradores com controle de estol possuem as seguintes vantagens: 1. inexistência de sistema de controle de passo; 2. estrutura do cubo do rotor simples; 3. menor manutenção devido a um número menor de peças móveis; 4. auto-confiabilidade do controle de potência. Este sistema de controle é bastante utilizado, dada a sua simplicidade para controlar a potência gerada. Contudo, o controle de estol tem como requerimento para seu funcionamento uma velocidade constante do rotor. Em geral, essa velocidade é dada pelo gerador de indução 10 diretamente acoplado à rede. Uma curva típica de potência de uma turbina regulada por stall é mostrada na figura 2.5. Figura 2.5 – Curva de potência de um aerogerador com controle de stall (CRESESB, 2018) 2.6.2 – Controle de Passo O controle de passo é um sistema ativo que normalmente necessita de informações vindas de sensores ligados aos controles do sistema. Se a potência nominal do gerador é ultrapassada devido a um aumento da velocidade do vento, por exemplo, as pás do rotor giram em torno do seu eixo longitudinal para mudar o seu ângulo de passo e reduzir o ângulo de ataque da asa em relação ao escoamento do vento. A redução do ângulo de ataque diminui as forças aerodinâmicas atuantes e, consequentemente, a potência. Dessa maneira, para velocidades de vento superiores à velocidade de projeto, o ângulo é escolhido de forma a manter a potência nominal. Figura 2.6 – Perfil aderente em torno de um perfil de pá. (CRESESB, 2018) Devido a essa adequação constante às diversas condições de vento, o escoamento ao redor das pás é sempre bem aderente, conforme ilustrado na figura 2.6, e com isso a sustentação aerodinâmica gerada nas pás é acompanhada de baixa produção de arrasto, o que irá otimizar a geração de potência em. A contribuição de cada tipo de esforço no cálculo da potência será vista em detalhes no capítulo 4. Turbinas com controle de passo são mais sofisticadas do que as de passo fixo (controladas por estol), pois estas necessitam de um sistema para variar o passo das pás. Por outro lado, elas possuem certas vantagens: 11 1. Permitem controle de potência ativo sob todas as condições de vento, inclusive para potências parciais; 2. Alcançam a potência nominal mesmo sob condições de baixa massa específica do ar (grandes altitudes dos sítios, altas temperaturas); 3. Maior produção de energia sob as mesmas condições (sem diminuição da eficiência na adaptação ao estol da pá); 4. Partida simples do rotor pela mudança do passo; 5. Fortes freios são desnecessários para paradas de emergência do rotor; 6. Cargas das pás do rotor decrescentes com ventos aumentando acima da potência nominal; 7. As massas das pás do rotor são menores, levando a massas menores dos aerogeradores. Por se tratar de um sistema mais preciso, a curva de potência de uma turbina com controle de passo é mais estável em ventos com velocidades próximas à velocidade de projeto, como indica a figura 2.6: Figura 2.7 – Curva de potência de um aerogerador com controle de passo (CRESESB, 2018) 12 3 – Modelagem Matemática do Aerogerador Neste capítulo, serão apresentados e discutidos os conceitos básicos para o desenvolvimento do modelo aerodinâmico de cálculo das pás de um aerogerador tipo HAWT. A discussão aqui proposta visa analisar de forma idealizada a performance de uma turbina eólica, explorando seus limites teóricos de geração de potência e dando base para o cálculo e avaliação do comportamento real de uma HAWT. 3.1 – Teoria do Disco Atuador de Rankine-Froude A teoria do Disco Atuador, desenvolvida por Rankine (1865), W.Froude (1878) e R.Froude(1889), é um modelo simples e de grande utilidade para hélices. A hipótese básica deste modelo é a ideia de que o rotor de uma HAWT se comporta como um disco homogêneo que remove energia do fluido. Apesar de não descrever completamente o que acontece com a energia extraída, o modelo do disco atuador pode ser usado considerando apenas o mecanismo de extração de energia. Considere o volume de controle da figura 3.1, cujas fronteiras são a superfície do tubo de corrente e as duas seções transversais. Figura 3.1 – Modelo para o disco atuador (Moulin, 2005) Para o volume de controle da figura anterior, as seguintes equações de conservação podem ser escritas: 13 • Continuidade: 𝜕𝜕 𝜕𝜕𝑡𝑡 �𝜌𝜌∞ 𝐶𝐶∀ 𝑉𝑉𝑉𝑉 + �𝜌𝜌∞𝑉𝑉�⃗ .𝐶𝐶𝐹𝐹𝑆𝑆𝑉𝑉 = 0 (3.1a) • Quantidade de movimento na direção x: �𝐹𝐹𝑒𝑒𝑥𝑥𝑡𝑡 = 𝜕𝜕 𝜕𝜕𝑡𝑡 �𝜌𝜌∞𝑢𝑢 𝐶𝐶∀ 𝑉𝑉𝑉𝑉 + �𝜌𝜌∞𝑢𝑢𝑉𝑉�⃗ .𝐶𝐶𝐹𝐹 𝑆𝑆𝑉𝑉 (3.1b) • 1° Lei da Termodinâmica: �̇�𝑄 − �̇�𝐻 = 𝜕𝜕 𝜕𝜕𝑡𝑡 �𝜌𝜌∞𝑒𝑒 𝐶𝐶∀ 𝑉𝑉𝑉𝑉 + ��𝑢𝑢� + 𝐶𝐶 𝜌𝜌∞ + 𝑉𝑉2 2 + 𝑔𝑔𝑧𝑧� 𝜌𝜌∞𝑉𝑉�⃗ .𝐶𝐶𝐹𝐹 𝑆𝑆𝑉𝑉 (3.1c) A estas equações, pode-se aplicar duas hipóteses: (1) regime permanente; (2) processo adiabático. Desta forma, os termos com variação no tempo são zerados, bem como o calor �̇�𝑄 trocado no processo. Além disso, força externa 𝐹𝐹𝑒𝑒𝑥𝑥𝑡𝑡 atuante é o empuxo sofrido pelo rotor e o termo do trabalho da 1ª Lei da Termodinâmica é o trabalho realizado pelo volume de controle para girar o rotor. Com este conjunto de hipóteses e as variáveis indicadas na figura 3.1, as equações de conservação, agora podem ser escritas como: �̇�𝐶 = 𝜌𝜌∞𝑉𝑉1𝐹𝐹1 = 𝜌𝜌∞𝑉𝑉2𝐹𝐹2 = 𝜌𝜌∞𝑉𝑉3𝐹𝐹3 (3.2a) 𝐹𝐹𝑥𝑥𝑒𝑒𝑥𝑥𝑡𝑡 = −𝑉𝑉1𝜌𝜌∞𝑉𝑉1𝐹𝐹1 + 𝑉𝑉3𝜌𝜌∞𝑉𝑉3𝐹𝐹3 = �̇�𝐶(𝑉𝑉3 − 𝑉𝑉1) (3.2b) 𝐻𝐻𝑅𝑅̇ = 1 2 𝜌𝜌∞𝑉𝑉2𝐹𝐹2(𝑉𝑉12 − 𝑉𝑉32) (3.2c) Aplicando a equação de Bernoulli (ver Apêndice A) às seções 2𝐶𝐶 e 2𝑏𝑏 (segundo a figura 3.1), imediatamente antes e depois do rotor, temos: Para os pontos 1 e 2a: 𝐶𝐶2𝑎𝑎 = 1 2 (𝑉𝑉12 − 𝑉𝑉2𝑎𝑎2 ) [Manométrica] (3.3a) Para os pontos 2b e 3: 𝐶𝐶2𝑏𝑏 = 1 2 (𝑉𝑉32 − 𝑉𝑉2𝑏𝑏2 ) (3.3b) Considerando-se 𝑉𝑉2𝑎𝑎 = 𝑉𝑉2𝑏𝑏 = 𝑉𝑉2, e calculando o empuxo no rotor, obtemos 𝐵𝐵 = (𝐶𝐶2𝑎𝑎 − 𝐶𝐶2𝑏𝑏)𝐹𝐹2 = 1 2 𝜌𝜌∞𝐹𝐹2(𝑉𝑉32 − 𝑉𝑉12) (3.4) 14 Como a força de empuxo realizada sobre o rotor mesmo módulo que força realizada sobre o volume de controle e sentido oposto: 𝐵𝐵 = −𝐹𝐹𝑥𝑥 (3.5) Substituindo as equações (3.4) e (3.5) na equação (3.2b) obtém-se que 𝑉𝑉2 = 𝑉𝑉1 + 𝑉𝑉3 2 (3.6) Define-se agora o chamado Fator de Indução Axial 𝐶𝐶 ≡ 𝑉𝑉1−𝑉𝑉2 𝑉𝑉1 . Este parâmetro é definido de tal forma que a velocidade do vento após passar pelo disco atuador seja decrementada por 𝐶𝐶 vezes a velocidade de escoamento de vento. Ou seja: 𝑉𝑉1 = 𝑈𝑈∞ (3.7a) 𝑉𝑉2 = 𝑈𝑈∞(1− 𝐶𝐶) (3.7b) 𝑉𝑉3 = 𝑈𝑈∞(1− 2𝐶𝐶) (3.7c) Fica claro, portanto, que o valor de 𝐶𝐶 fica limitado ao intervalo [0,1), já que valores negativos implicariam em uma aceleração do escoamento à jusante do rotor, enquanto que 𝐶𝐶 ≥ 1 implicaria no escoamento parar totalmente após passar pelo rotor ou que o mesmo adquirisse uma velocidade com sentido oposto à montante do rotor. Substituindo (3.6) e (3.7) em (3.2c), o trabalho útil pode ser expressado em função de 𝑈𝑈∞, 𝐹𝐹 e 𝐶𝐶: 𝐻𝐻𝑅𝑅̇ = 𝐶𝐶 = 2𝜌𝜌∞𝐹𝐹𝑈𝑈∞3 𝐶𝐶(1 − 𝐶𝐶)2 (3.8) Utilizando a definição do fator de indução axial na equação (3.4) assim como os resultados de (3.7), o empuxo sobre o rotor é dado por: 𝐵𝐵 = 2𝜌𝜌∞𝑈𝑈∞2 𝐹𝐹𝐶𝐶(1 − 𝐶𝐶) (3.9) A potência desenvolvida pelo rotor pode ser relacionada com a potência total disponível em um tubo de corrente de área igual à do rotor. Ou seja, define-se o Coeficiente de Potência (ou power coefficient) como sendo: 𝐶𝐶𝑃𝑃 ≡ 𝐶𝐶 1 2 𝜌𝜌∞𝐹𝐹𝑈𝑈∞ 3 = 4𝐶𝐶(1 − 𝐶𝐶)2 (3.10) De forma similar, um Coeficiente de Empuxo (ou thrust coefficient) pode ser definido. Relacionando o empuxo total com a força total que pode ser exercida pelo escoamento: 𝐶𝐶𝑇𝑇 ≡ 𝐵𝐵 1 2𝜌𝜌∞𝐹𝐹𝑈𝑈∞ 2 = 4𝐶𝐶(1 − 𝐶𝐶) (3.11) 15 Nota-se que a equação (3.10) é um polinômio do terceiro grau de coeficientes reais em função de 𝐶𝐶. Desta forma, é possível encontrar um valor máximo para 𝐶𝐶𝑃𝑃, derivando a equação (3.10) e igualando a zero. O resultado desta operação indica que 𝐶𝐶𝑃𝑃 é máximo quando 𝐶𝐶 = 1/3. O valor máximo de 𝐶𝐶𝑃𝑃 é, portanto 𝐶𝐶𝑃𝑃𝑚𝑚á𝑥𝑥 = 16/27 ≅ 0,593. Esse resultado é conhecido como Limite de Betz, obtido para uma velocidade no rotor 𝑉𝑉2 equivalente a 2/3 da velocidade do vento não perturbado 𝑉𝑉1 = 𝑈𝑈∞. Entretanto, o vento que efetivamente chega ao disco atuador possui velocidade de escoamento 𝑉𝑉2. Dessa forma, pode-se definir ainda um outro coeficiente de rendimento, o chamado coeficiente de rendimento do disco atuador 𝜂𝜂𝐷𝐷: 𝜂𝜂𝐷𝐷 ≡ 𝐶𝐶 1 2𝜌𝜌∞𝐹𝐹𝑈𝑈∞ 3 (1 − 𝐶𝐶) = 𝐶𝐶𝑃𝑃 1 − 𝐶𝐶 = 4𝐶𝐶(1 − 𝐶𝐶)2 1 − 𝐶𝐶 (3.12) Na situação de 𝐶𝐶𝑃𝑃 máximo, pode-se substituir o valor correspondente de 𝐶𝐶 na equação (3.12). Com isso, a eficiência máxima do disco atuador será 𝜂𝜂𝐷𝐷,𝑉𝑉𝑃𝑃𝑚𝑚á𝑥𝑥 = 0,889. Desconsiderando outros efeitos importantes do escoamento, tais como a rotação da esteira discutida na seção seguinte, pode-se concluir que cerca de 60% da energia do vento, ou equivalentemente, 89% da energia do vento que chega ao rotor pode ser aproveitada. 3.2 – Teoria do Disco Rotor Na análise anterior, usando a teoria clássica de momento linear, não foi considerado nenhum movimento de rotação imposto ao escoamento de ar pelo rotor. Entretanto, o torque exercido pelo ar sobre o disco do rotor exige que uma reação de mesma intensidade e sentido oposto seja gerada, a fim de satisfazer a hipótese de regime permanente. Como consequência, o escoamento de ar logo após o rotor adquire uma componente tangencial. Este efeito pode ser visualizado pela figura 3.2. Figura 3.2 – Formação da rotação na esteira para uma HAWT, visualizada com fumaça (Burton et al, 2011) Portanto, a análise antes abordada pode ser estendida para o caso em que a rotação do rotor gera momento angular, o que pode ser relacionado com o torque do rotor. A geração de energia cinética rotacional na esteira é compensada por uma queda de pressão estática do escoamento na esteira e, com isso, deve ser considerada como perda adicional que não foi relevada no modelo anterior. 16 Seja 𝛺𝛺 a velocidade angular do rotor, 𝜌𝜌∞ a massa específica do ar e 𝑟𝑟 a distância entre o ponto estudado (ou raio local) e o centro do rotor. Considerando que a esteira nesta posição gira a uma velocidade 𝜔𝜔, e aplicando a equação de Bernoulli em um referencial fixo no rotor, pode-se achar a diferença de pressão entre as seções 2𝐶𝐶 e 2𝑏𝑏 para um anel de raio 𝑟𝑟 e espessura 𝐶𝐶𝑟𝑟 como: 𝐶𝐶2𝑎𝑎 − 𝐶𝐶2𝑏𝑏 = 𝜌𝜌∞ �𝛺𝛺 + 1 2 𝜔𝜔�𝜔𝜔𝑟𝑟2 (3.13) A figura 3.3 ilustra este anel de raio 𝑟𝑟 e espessura 𝐶𝐶𝑟𝑟, que representa a trajetória de uma seção da pá a uma distância 𝑟𝑟 do centro do rotor. Vale lembrar que 𝑟𝑟, portanto, obedece os limites 0 ≤ 𝑟𝑟 ≤ 𝑁𝑁. Figura 3.3 – Modelo do anel circular com rotação de esteira (Manwell, McGowan, & Rogers, 2001) Após calcular a diferença de pressão, a força de empuxo resultante sobre o rotor pode ser calculada: 𝐶𝐶𝐵𝐵 = (𝐶𝐶2𝑎𝑎 − 𝐶𝐶2𝑏𝑏)𝐶𝐶𝐹𝐹 = 𝜌𝜌∞ �𝛺𝛺 + 1 2 𝜔𝜔�𝜔𝜔𝑟𝑟22𝜋𝜋𝑟𝑟𝐶𝐶𝑟𝑟 (3.14) O Fator de Indução Rotacional ou Fator de Indução Tangencial 𝐶𝐶′ pode ser definido relacionando a velocidade angular do rotor com a velocidade angular induzida na esteira 𝐶𝐶′ ≡ 𝜔𝜔 2𝛺𝛺 . Esta definição pode ser inserida na equação (3.14), o que resulta na expressão: 𝐶𝐶𝐵𝐵 = 4𝐶𝐶′(1 + 𝐶𝐶′) 1 2 𝜌𝜌∞𝑈𝑈∞2 𝑟𝑟22𝜋𝜋𝑟𝑟𝐶𝐶𝑟𝑟 (3.15) O empuxo infinitesimal escrito na equação (3.15) deve ser o mesmo daquele calculado pela expressão utilizando a teoria anterior de momento linear. Repetindo este processo para a teoria anterior, chega-se a: 𝐶𝐶𝐵𝐵 = 4𝐶𝐶(1 − 𝐶𝐶) 1 2 𝜌𝜌∞𝑈𝑈∞2 2𝜋𝜋𝑟𝑟𝐶𝐶𝑟𝑟 (3.16) Podemos definir ainda o importante parâmetro adimensional 𝜆𝜆, chamado razão de velocidades da turbina eólica. Este parâmetro é simplesmente a razão entre a velocidade de 17 rotação na ponta da turbina e a velocidade livre de escoamento do vento. Pode-se estender o conceito de 𝜆𝜆 para qualquer posição do rotor, ou seja, pode-se definir 𝜆𝜆𝑟𝑟 como sendo a razão de velocidades local. O subscrito 𝑟𝑟 referencia uma posição arbitrária 𝑟𝑟 do rotor. Estes dois parâmetrospodem, portanto, ser escritos como: 𝜆𝜆 = 𝑁𝑁𝛺𝛺 𝑈𝑈∞ (3.17) 𝜆𝜆𝑟𝑟 = 𝑟𝑟𝛺𝛺 𝑈𝑈∞ (3.18) Igualando as equações (3.15) e (3.16), obtém-se a seguinte expressão: 𝐶𝐶(1 − 𝐶𝐶) 𝐶𝐶′(1 + 𝐶𝐶′) = 𝛺𝛺2𝑟𝑟2 𝑈𝑈∞2 = 𝜆𝜆𝑟𝑟2 (3.19) Para obter o torque 𝑄𝑄 gerado no rotor, aplica-se o princípio de conservação de momento angular em um elemento anular infinitesimal, igualando então o torque resultante no rotor com a variação de momento angular sofrida pelo ar. Esse princípio resulta em: 𝐶𝐶𝑄𝑄 = 𝐶𝐶�̇�𝐶(𝜔𝜔𝑟𝑟)𝑟𝑟 = (𝜌𝜌∞𝑉𝑉22𝜋𝜋𝑟𝑟𝐶𝐶𝑟𝑟)(𝜔𝜔𝑟𝑟)𝑟𝑟 (3.20) Utilizando os resultados obtidos nas equações (3.7a), (3.7b) e (3.7c), a expressão acima reduz-se a: 𝐶𝐶𝑄𝑄 = 4𝐶𝐶′(1 − 𝐶𝐶) 1 2 𝜌𝜌∞𝑈𝑈∞𝛺𝛺𝑟𝑟22𝜋𝜋𝑟𝑟𝐶𝐶𝑟𝑟 (3.21) O incremento de potência devido a essa variação no momento angular é, portanto: 𝐶𝐶𝐶𝐶 = 𝛺𝛺𝐶𝐶𝑄𝑄 = 4𝐶𝐶′(1 − 𝐶𝐶) 1 2 𝜌𝜌∞𝑈𝑈∞𝛺𝛺2𝑟𝑟22𝜋𝜋𝑟𝑟𝐶𝐶𝑟𝑟 (3.22) Por meio da definição da razão de velocidades nas equações (3.17) e (3.18), e substituindo a expressão do torque 𝐶𝐶𝑄𝑄 na equação de potência, obtém-se que: 𝐶𝐶𝐶𝐶 = 1 2 𝜌𝜌∞𝐹𝐹𝑈𝑈∞3 𝐶𝐶′(1 − 𝐶𝐶) 8 𝜆𝜆2 𝜆𝜆𝑟𝑟3𝐶𝐶𝜆𝜆𝑟𝑟 (3.23) Com a definição do coeficiente de potência 𝐶𝐶𝑃𝑃, dada pela equação (3.10), pode-se ainda escrever: 𝐶𝐶𝑃𝑃 = � 𝐶𝐶𝐶𝐶 1 2𝜌𝜌∞𝐹𝐹𝑈𝑈∞ 3 𝜆𝜆 0 = � 1 2𝜌𝜌∞𝐹𝐹𝑈𝑈∞ 3 𝐶𝐶′(1 − 𝐶𝐶) 8𝜆𝜆2 𝜆𝜆𝑟𝑟 3𝐶𝐶𝜆𝜆𝑟𝑟 1 2𝜌𝜌∞𝐹𝐹𝑈𝑈∞ 3 𝜆𝜆 0 = 8 𝜆𝜆2 �𝐶𝐶′(1 − 𝐶𝐶)𝜆𝜆𝑟𝑟3𝐶𝐶𝜆𝜆𝑟𝑟 𝜆𝜆 0 (3.24) 18 A fim de calcular o valor máximo de 𝐶𝐶𝑃𝑃, essa integral pode ser resolvida analiticamente, bastando apenas relacionar as variáveis 𝐶𝐶, 𝐶𝐶′ e 𝜆𝜆𝑟𝑟. A partir da equação (3.19), o valor de 𝐶𝐶′ pode ser reescrito na seguinte forma: 𝐶𝐶′ = 1 2 ��1 + 4 𝜆𝜆𝑟𝑟2 𝐶𝐶(1 − 𝐶𝐶) − 1� (3.25) Nota-se que o valor máximo de 𝐶𝐶𝑃𝑃 é obtido quando o termo 𝐶𝐶′(1 − 𝐶𝐶) no integrando da equação (3.24) for máximo. Substituindo o resultado da equação (3.25) no termo 𝐶𝐶′(1 − 𝐶𝐶), derivando a expressão resultante em relação a 𝐶𝐶 e igualando a zero, consegue-se determinar a seguinte expressão: 𝜆𝜆𝑟𝑟2 = (1 − 𝐶𝐶)(4𝐶𝐶 − 1)2 1 − 3𝐶𝐶 (3.26) A equação (3.26) determina o valor de 𝜆𝜆𝑟𝑟 para 𝐶𝐶𝑃𝑃 máximo em função dos valores dos fatores de indução axial e tangencial, para cada elemento anular. Substituindo esse resultado na equação (3.19), pode-se encontrar uma expressão explícita para 𝐶𝐶′ em função somente de 𝐶𝐶, para a condição de máxima potência: 𝐶𝐶′ = 1 − 3𝐶𝐶 4𝐶𝐶 − 1 (3.27) Diferenciando a equação (3.26), obtém-se a seguinte relação: 𝜆𝜆𝑟𝑟𝐶𝐶𝜆𝜆𝑟𝑟 = 3(4𝐶𝐶 − 1)(1 − 2𝐶𝐶)2 (1 − 3𝐶𝐶)2 𝐶𝐶𝐶𝐶 (3.28) Pode-se, finalmente, escrever o coeficiente de potência 𝐶𝐶𝑃𝑃 em função de apenas uma variável. Substituindo as equações (3.26) e (3.27) na equação (3.24) e adequando os limites de integração, chega-se a: 𝐶𝐶𝑃𝑃 = 24 𝜆𝜆2 � � (1 − 𝐶𝐶)(1 − 2𝐶𝐶)(1 − 4𝐶𝐶) 1 − 3𝐶𝐶 � 2 𝐶𝐶𝐶𝐶 𝑎𝑎∗ 0,25 (3.29) O limite inferior de 𝐶𝐶 = 1/4 é obtido igualando a equação (3.26) a 0 e o limite superior, 𝐶𝐶∗, é obtido resolvendo a equação (3.26) quando 𝜆𝜆𝑟𝑟 = 𝜆𝜆 (ou, 𝑟𝑟 = 𝑁𝑁). É importante notar que essa equação possui 3 raízes e que se deve descartar sempre as raízes fora do intervalo �1 4 , 1 3 �. Isso se deve ao fato de que quando 𝜆𝜆 → ∞ (ou seja, quando o rotor gira muito mais rápido do que o escoamento de vento), o denominador da equação (3.26) deve tender a 0, ou seja, 𝐶𝐶 → 1/3. Fisicamente, limitar os valores de 𝐶𝐶 ao intervalo �1 4 , 1 3 � significa que todos os valores de 0 ≤ 𝜆𝜆𝑟𝑟 < ∞ serão contemplados pela equação (3.26). Dessa maneira, deve-se descartar a menor e a maior raiz desta função para qualquer que seja o valor de 𝜆𝜆𝑟𝑟. A figura 3.4 plota as três raízes citadas em função de 𝜆𝜆𝑟𝑟, para uma melhor visualização. 19 Figura 3.4 – Soluções da equação (3.26) A partir da figura 3.4, pode-se notar que para alguns 𝜆𝜆𝑟𝑟, uma das raízes 𝐶𝐶 (denominada 𝐶𝐶2) está contida no intervalo �0, 1 4 �. Entretanto, essa raiz, se considerada, induz a uma descontinuidade da solução, já que 𝐶𝐶2 assume valores negativos quando 𝜆𝜆𝑟𝑟 aumenta. Esse resultado pode ser analisado da seguinte forma: se a turbina estiver operando com valores de 𝐶𝐶 fora do intervalo �1 4 , 1 3 �, então ela não está operando na condição de máxima potência. Essa observação importante será vista novamente mais adiante, durante a descrição do procedimento de cálculo dos fatores de indução 𝐶𝐶 e 𝐶𝐶′. Fazendo a seguinte mudança de variáveis 𝑥𝑥 = 1 − 3𝐶𝐶 ⇒ 𝐶𝐶 = 1 − 𝑥𝑥 3 𝐶𝐶𝐶𝐶 = − 1 3 𝐶𝐶𝑥𝑥 pode-se integrar a equação (3.29) para se calcular o valor de 𝐶𝐶𝑃𝑃 na condição de máxima potência: 𝐶𝐶𝑃𝑃𝑚𝑚á𝑥𝑥 = 8 729𝜆𝜆2 � 64 5 𝑥𝑥5 + 72𝑥𝑥4 + 124𝑥𝑥3 + 38𝑥𝑥2 − 63𝑥𝑥 − 12 ln(𝑥𝑥) − 4 𝑥𝑥 � 𝑥𝑥=(1−3𝑎𝑎∗) 𝑥𝑥=0,25 (3.30) 20 A equação (3.30) permite calcular, portanto, o valor de 𝐶𝐶𝑃𝑃𝑚𝑚á𝑥𝑥 para diversos valores de 𝜆𝜆, lembrando que 𝐶𝐶∗ deve ser calculado a partir da equação (3.26), respeitando os limites já discutidos, para cada 𝜆𝜆 desejado. Essa variação de 𝐶𝐶𝑃𝑃𝑚𝑚á𝑥𝑥 com 𝜆𝜆 pode ser visualizada na figura 3.5. Figura 3.5 – 𝐶𝐶𝑃𝑃𝑚𝑚á𝑥𝑥 em função de 𝜆𝜆 (Manwell, McGowan, & Rogers, 2001) A partir da teoria descrita nesta seção, chega-se à conclusão de que conforme a razão de velocidades 𝜆𝜆 aumenta, menor é o efeito de rotação na esteira; como consequência, há uma perda menor de energia cinética de rotação devido a este efeito, ou seja, menor é a velocidade induzida na esteira, o que aumenta o 𝐶𝐶𝑃𝑃𝑚𝑚á𝑥𝑥 da turbina. Quando 𝜆𝜆 → ∞, essa perda tende a 0 e portanto o valor de 𝐶𝐶𝑃𝑃𝑚𝑚á𝑥𝑥 tende ao Limite de Betz, conforme indica a figura 3.5. 21 4 – Teoria de Elemento de Pá Este capítulo tem finalidade de descrever um modelo de cálculo apropriado para o projeto aerodinâmico das pás do rotor de turbinas do tipo HAWT. A Teoria de Elemento de Pá (ou Blade Element Theory) consiste em dividir as pás do rotor em diversas seções bidimensionais e assumir que as forças exercidas sobre essas seções podem ser calculadas a partir das características de um aerofólio em duas dimensões. A sustentação e o arrasto resultante, portanto, são calculados a partir do somatório das contribuições de cada seção de pá. Vale ressaltar que nesta teoria, os efeitos tridimensionais do escoamento são ignorados, ou seja, a velocidade do escoamento na direção do comprimento da pá (ou span) não será considerada. Neste trabalho, foi aberta a possibilidade de uma mesma pá de um rotor possuir diversos aerofólios diferentes ao longo do span. Mais detalhes serão vistos no capítulo 7. Isto implica que, neste capítulo, as características do aerofólio, tais como os coeficientes de sustentação e de arrasto (𝐶𝐶𝐿𝐿 e 𝐶𝐶𝐷𝐷) não são necessariamente constantes ao longo do span. 4.1 – Equações de Conservação para um Elemento de Pá As forças exercidas sobre um elemento de pá da turbina podem ser expressas em função dos coeficientes de sustentação 𝐶𝐶𝐿𝐿, de arrasto 𝐶𝐶𝐷𝐷 a partir do ângulo de ataque 𝛼𝛼 do aerofólio daquele elemento. Para esta análise, a pá é dividida em 𝑁𝑁 seções (também denominadas estações), cada uma delas localizada a uma determinada distância 𝑟𝑟 do centro do rotor e possuindo uma corda 𝑐𝑐 e largura 𝐶𝐶𝑟𝑟, conforme ilustra a figura 4.1. Figura 4.1 – Elemento anular de pá (Burton et al, 2011) As forças de sustentação e arrasto sobre um aerofólio são definidas sempre perpendicular e tangente, respectivamente, em relação à velocidade de incidência do vento. Lembrando que a velocidade tangencial induzida num elemento anular a uma distância 𝑟𝑟 do centro rotor, calculada pela conservação de momento angular, é de 𝜔𝜔𝑟𝑟 2
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