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06/08/2022 13:06 Transtorno obsessivo-compulsivo e transtornos relacionados https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/03569/index.html# 1/46 Transtorno obsessivo-compulsivo e transtornos relacionados Prof. Diogo Bonioli Alves Pereira Descrição A compreensão das classificações do transtorno obsessivo-compulsivo e dos transtornos relacionados como uma psicopatologia dos transtornos mentais e o desenvolvimento para a saúde. Propósito O conhecimento do transtorno obsessivo-compulsivo e dos transtornos relacionados tem se tornado cada vez mais necessário dada a complexidade dos seus componentes e as perturbações clínicas nos processos mentais, biológicos e do desenvolvimento humano. Objetivos Módulo 1 Transtorno obsessivo-compulsivo e transtorno de acumulação Analisar os conceitos básicos de compulsão e obsessão que baseiam o transtorno obsessivo- compulsivo e os transtornos relacionados. 06/08/2022 13:06 Transtorno obsessivo-compulsivo e transtornos relacionados https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/03569/index.html# 2/46 Módulo 2 TDC, tricotilomania e transtorno de escoriação Identificar as classificações e critérios diagnósticos pelos manuais de classificação para TDC, tricotilomania e transtorno de escoriação. Módulo 3 TOC e transtornos relacionados Identificar as diferenças entre o transtorno obsessivo-compulsivo e os transtornos relacionados induzidos por substâncias, bem como daqueles devido à outra condição médica. Introdução Um transtorno mental é um conceito que difere do de doença por ser um conjunto de sintomas que trazem perturbações para o aparelho cognitivo e para as emoções do paciente, de modo que a sensação de sofrimento e as perturbações da vida social e profissional se tornam clinicamente reconhecíveis, porém carecem de uma etiologia e de um tratamento específicos. Atualmente, o aumento das evidências clínicas do transtorno obsessivo-compulsivo e dos transtornos relacionados fez surgir novos validadores que culminaram no aumento da atenção dada para sua classificação. Dessa forma, os diagnósticos diferenciais fizeram com que não restassem dúvidas sobre a necessidade de se remanejar esses transtornos de sua posição anterior (dentro das classificações de transtornos de ansiedade) e colocá-los à parte, de modo que fosse possível uma melhor identificação e definição das condutas psicoterápicas a serem adotadas. Sendo assim, o transtorno obsessivo-compulsivo e os transtornos relacionados são fontes de diversas demandas ao psicólogo e, nesse sentido, cabe ao profissional adquirir conhecimento para lidar com esse assunto, tornando-se imprescindível para poder gerir as novas demandas e estratégias de intervenções mais atuais e específicas. 06/08/2022 13:06 Transtorno obsessivo-compulsivo e transtornos relacionados https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/03569/index.html# 3/46 1 - Transtorno obsessivo-compulsivo e transtorno de acumulação Ao �nal deste módulo, você será capaz de analisar os conceitos básicos de compulsão e obsessão que baseiam o transtorno obsessivo-compulsivo e os transtornos relacionados. Obsessão, compulsão e neurose obsessiva Segundo a Associação Americana de Psiquiatria (APA, 2014), um transtorno mental é uma síndrome que acarreta perturbações clínicas na cognição, na regulação das emoções ou no comportamento. Ele é capaz de caracterizar uma disfunção nos processos psicológicos, biológicos ou de desenvolvimento que dependem do funcionamento do aparelho mental. É bastante comum que os transtornos mentais estejam associados à sensação de sofrimento ou de incapacidade que afetam a vida social, familiar ou profissional de uma pessoa. O Código Internacional das Doenças (CID) já traz outro detalhe sobre a inexatidão do termo “transtorno”. Este 06/08/2022 13:06 Transtorno obsessivo-compulsivo e transtornos relacionados https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/03569/index.html# 4/46 deve ser utilizado para afastar e evitar tomar como “doença” ou “enfermidade” aquilo que é “um conjunto de sintomas ou comportamentos clinicamente reconhecível, associado a sofrimento e interferência nas funções pessoais” (OMS, 1993, p. 5), buscando também, assim, combater o estigma muitas das vezes associado aos problemas mentais. Comentário O transtorno obsessivo-compulsivo (TOC) e o transtorno de acumulação são complexos na sua definição por três motivos: eles são compostos de diversos elementos conceituais, têm uma larga amplitude de comprometimento das funções mentais dos seus portadores e trazem repercussões psicológicas na vida dos familiares e do seu círculo social mais íntimo. Tanto o transtorno obsessivo-compulsivo (TOC) quanto o transtorno de acumulação são síndromes que alteram o pensamento, a volatilidade e a psicomotricidade do sujeito, de modo que, para entender o grau de sofrimento mental que os sintomas impõem e o seu grau de afetação, devemos conhecer como se formam as bases necessárias para o diagnóstico diferencial e a conduta psicoterapêutica. Vamos rever como podem ser essas alterações: Obsessão É uma alteração do pensamento que compromete o juízo e o raciocínio. Ela é caracterizada pelo predomínio de ideias ou representações com conteúdos considerados absurdos e que deveriam ser afugentados pelo indivíduo. Para serem caracterizados como obsessivos, é necessário que esses conteúdos sejam persistentes, incontroláveis e invasivos. Em outras palavras, essas ideias são impostas à consciência de modo a gerar uma espécie de luta mental constante para que elas não se estabeleçam no foco da atenção e nem se tornem um comportamento ritualístico para aliviar uma angústia. Por vezes, os pensamentos obsessivos podem ser estruturados tal como um pensamento mágico que responde à lógica de que se alguma repetição mental ou comportamental for realizada de forma correta, ela teria o poder de evitar algo muito ruim ou catastrófico, como também acarretar uma corrente de sorte e traços otimistas para aquele dia (DALGALARRONDO, 2019). 06/08/2022 13:06 Transtorno obsessivo-compulsivo e transtornos relacionados https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/03569/index.html# 5/46 Compulsão É uma alteração no comportamento do sujeito, no qual a vontade é alterada de modo a ocorrer uma ação motora simples ou complexa, porém repetitiva e guiada por regras mentais rigorosas que visam evitar consequências negativas associadas a uma ideia obsessiva. A compulsão se diferencia da impulsividade porque existe uma tentativa do indivíduo de impedir o comportamento, que é interpretado como indesejável e inadequado. Portanto, enquanto não existe uma racionalização anterior na impulsividade, é essencial que a compulsão carregue um conflito ou uma luta para iniciar o comportamento estereotipado e ritualizado. Os transtornos mentais predominantemente relacionados com atos compulsivos são: transtorno obsessivo-compulsivo, transtorno dismórfico corporal, transtorno de acumulação, transtorno de tricotilomania e o transtorno de escoriação (DALGALARRONDO, 2019). De modo didático, podemos resumir da seguinte forma: Obsessão Quando não se consegue parar de pensar. Compulsão Quando não se consegue parar de fazer. Antes de a psiquiatria contemporânea aplicar a nomenclatura transtorno obsessivo-compulsivo (TOC), esse transtorno já tinha sido alvo dos estudos de Freud, quando recebeu o nome de neurose obsessiva, no qual o pai da psicanálise desassociou dela o conceito de “loucura lúcida”. Essa revolução estrutural proposta por ele descreveu o fenômeno como uma neuropsicose de defesa e definiu a neurose obsessiva como uma junção nosológica da obsessão com a histeria. Um caso clássico dessa psicopatologia é o icônico O homem dos ratos (1909), texto no qual Freud postula que a neurose obsessiva é uma manifestação dos conflitos inconscientes associados à fase anal (COUTO, 2010). Classi�cação e diagnóstico do transtorno obsessivo 06/08/2022 13:06 Transtorno obsessivo-compulsivo etranstornos relacionados https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/03569/index.html# 6/46 Classi�cação e diagnóstico do transtorno obsessivo- compulsivo Para fazermos uma abrangência maior sobre a condição de classificação e diagnóstico, vamos utilizar os parâmetros da CID-10 e do Manual de Diagnóstico e Estatística de Transtornos Mentais (DSM-5): CID-10 O Código Internacional das Doenças, o CID-10 (OMS, 1993), classifica o transtorno obsessivo-compulsivo sob o código F42 e apresenta como aspecto essencial os pensamentos obsessivos e os atos compulsivos recorrentes. As obsessões podem ser ideias, imagens ou impulsos que entram repentinamente e de modo estereotipado na mente do indivíduo, que tenta resistir-lhes. O ato compulsivo de lavar as mãos, também característico do TOC. Da mesma forma, os atos compulsivos são comportamentos estereotipados, entendidos como desagradáveis, mas que são necessários para prevenir algum evento que possa trazer danos ao paciente ou ser o seu causador. A prevalência é equilibrada entre homens e mulheres, normalmente tem início na infância ou no começo da vida adulta e o curso é variável, sendo que se mostra mais crônico na ausência de depressão. Segundo o CID-10 (OMS, 1993), em um diagnóstico de TOC os sintomas obsessivos-compulsivos devem ter as seguintes características por pelo menos duas semanas consecutivas: 1. A obsessão-compulsão deve ser reconhecida como do próprio indivíduo. 2. A obsessão-compulsão deve pelo menos, conseguir ser resistida pelo paciente, mesmo que sem sucesso e desistência de outras. 3. A obsessão-compulsão não pode ser entendida como prazerosa. 4. A obsessão-compulsão deve ser repetitiva e percebida como desagradável. É importante destacar que há duas condições de diagnóstico diferencial: Não podem existir: 06/08/2022 13:06 Transtorno obsessivo-compulsivo e transtornos relacionados https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/03569/index.html# 7/46 1. Não podem existir quadros de esquizofrenia e da síndrome de Gilles de la Tourette; 2. Não podem existir os sintomas TOC. Têm de ser precedido aos sinais de transtorno depressivo. Igualmente importante para a classificação é a predominância dos sinais de obsessão e de compulsão, que podem ser classificados da seguinte forma nas orientações do CID-10: DSM-5 O transtorno obsessivo-compulsivo só angariou um capítulo específico a partir desta quinta versão, e a justificativa é o aumento das evidências desse transtorno e do desenvolvimento dos validadores diagnósticos que o diferenciam do transtorno de ansiedade comum. No que se refere às características essenciais, o DSM-5 apresenta estrita semelhança com a descrição do CID-10, exceto pela atenção ao detalhe de pensamento suicida. Atenção! Segundo o DSM, em pelo menos metade da população com TOC, observamos o registro de tentativa de suicídio quando associado ao transtorno depressivo maior. O DSM-5 (2014) classifica o TOC sob o código 300.3 e apresenta quatro critérios diagnósticos, conforme descritos a seguir: F42.0 Classifica-se como tendo predominantemente pensamentos obsessivos ou ruminações. F42.1 Classifica-se como tendo predominantemente atos compulsivos (rituais obsessivos). F42.2 Classifica-se como tendo pensamentos e atos obsessivos mistos. A Caracterizado pela presença de obsessões, compulsões ou ambas. 06/08/2022 13:06 Transtorno obsessivo-compulsivo e transtornos relacionados https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/03569/index.html# 8/46 Uma especificidade do TOC é a presença de crenças disfuncionais que incluem o aumento de responsabilidade ou supervalorização de uma ameaça, a presença de perfeccionismo e a intolerância à incerteza. Assim, o conteúdo das obsessões e compulsões pode variar entre os diferentes pacientes, sendo comuns os conteúdos relativos à limpeza, à simetria, aos pensamentos proibidos ou tabus, entre outros. Quando o paciente não é tratado, o curso do TOC acaba sendo geralmente crônico, podendo apresentar aumento e diminuição na intensidade dos sintomas. Dessa forma, o indivíduo com TOC pode manifestar em alguns momentos comportamentos de esquiva das pessoas, lugares e coisas que desencadeiam as obsessões e compulsões. B Caracterizado pelas obsessões-compulsões que tomam tempo ou causam sofrimento clínico, afetando o funcionamento em importantes áreas da vida do indivíduo. C Caracterizado por sintomas que não têm causas fisiológicas, ou de uma substância ou outra condição médica. D Caracterizado por não preencher critérios de transtorno de ansiedade generalizada, esquizofrenia, autismo ou depressão. 06/08/2022 13:06 Transtorno obsessivo-compulsivo e transtornos relacionados https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/03569/index.html# 9/46 Agora, vamos acompanhar o diagnóstico diferencial do TOC em relação aos outros transtornos: A diferença em relação ao TOC é que no transtorno de ansiedade os pensamentos recorrentes que são relacionados a preocupações da vida real. A diferença em relação ao TOC é que nesse transtorno, a qualidade da ruminação é congruente e correlata com o humor. A diferença em relação ao TOC nesses transtornos é o de que a obsessão-compulsão está restrita a um objeto que causará algum dano ou alguma tragédia. A diferença em relação ao TOC é que nesses transtornos o foco limita-se à preocupação com o peso e com os alimentos. A dif l ã TOC é ti d i t t ã é h d Transtorno de ansiedade Transtorno depressivo maior Outros transtornos obsessivos-compulsivos e transtornos relacionados Transtornos alimentares Tiques e movimentos estereotipados 06/08/2022 13:06 Transtorno obsessivo-compulsivo e transtornos relacionados https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/03569/index.html# 10/46 A diferença em relação ao TOC é que o tique, sendo um movimento motor, não é acompanhado e associado a um pensamento. A diferença em relação ao TOC é que o psicótico não possui insight e crenças sobre os objetos de delírio. A diferença em relação ao TOC é que, na prática compulsiva, os jogos, comportamentos sexuais e uso de substâncias são vistos como fonte de prazer, mas no TOC, o prazer é resistir a algum prejuízo pelo ritual e existe desprazer na repetição. A diferença em relação ao TOC é que um transtorno de personalidade não inclui pensamentos intrusivos e nem comportamentos repetitivos. A marca definidora é a inadaptação causada pelo perfeccionismo excessivo e o controle rígido. Ainda é importante ressaltar que pesquisas apontam para uma sobrecarga familiar e nas relações diretas com indivíduos que sofrem com o transtorno obsessivo-compulsivo, podendo desenvolver transtornos psicológicos naqueles com os quais eles convivem diariamente e nos cuidadores. Diagnóstico e caracterização do transtorno obsessivo- compulsivo Neste vídeo, será apresentado e explicado os critérios diagnósticos segundo CID-10 e DSM-5 do transtorno obsessivo-compulsivo, destacando elementos para o seu diagnóstico diferencial. Transtornos psicóticos Outros comportamentos compulsivos Transtorno de personalidade obsessivo-compulsiva 06/08/2022 13:06 Transtorno obsessivo-compulsivo e transtornos relacionados https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/03569/index.html# 11/46 Psicoterapia em transtorno obsessivo-compulsivo Uma pesquisa brasileira sobre epidemiologia do transtorno obsessivo-compulsivo demonstrou uma prevalência mundial em torno de 1,0% da população, a maioria do sexo feminino e a maioria tem apenas obsessões. Constatou-se ser mais frequente encontrar o TOC como comorbidade da depressão, de outros transtornos ansiosos e com uso de substâncias, mas a natureza egodistônica do transtorno provoca o efeito de negação ao tratamento de casos “puros”, embora apresente um alto indicador de incapacitação funcional (TORRES; LIMA, 2005). Egodistônica Condição em que a atividade mental (pensamentos, impulsos, comportamentos, sentimentos etc.) não está em conformidadecom o ego ou com a imagem que alguém tem de si próprio (Fonte: Dicionário Online de Português). Vejamos duas sugestões de linha de tratamento para o TOC na técnica comportamental e psicanalítica. A abordagem comportamental sugere aplicação das técnicas de dessensibilização sistemática para esse tipo de transtorno. Abordagem comportamental Sugere aplicação das técnicas de dessensibilização sistemática para esse tipo de transtorno. Em casos mais resistentes de TOC, a técnica da exposição e prevenção de respostas e a avaliação das crenças distorcidas são consideradas as mais eficazes para o manejo dos sistomas obsessivos e compulsivos (COUTO, 2010). Abordagem psicanalítica 06/08/2022 13:06 Transtorno obsessivo-compulsivo e transtornos relacionados https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/03569/index.html# 12/46 Sugere que diante do superego rígido, cobrador e ameaçador, caberia ao analista, como pessoa real, oferecer um ego auxiliar que possibilitasse subistituir o superego “mau” por um superego “bom”. Para isso, poderá se elaborar as demandas perfeccionistas do ideal do eu que não tolera falhas, assim como elaborar as imposições na infância do paciente relativas às críticas que o alienaram da condição de desejante para ser escravo do desejo de ser objeto de desejo do outro ZIMERMAN (2004). Outros pontos importantes a serem considerados: tornar consciente as defesas narcísicas do mundo especular do paciente por meio do ideal do ego do seu analista; perlaborar os espaços de privacidade e suas angústias manifestadas por sintomas de paranoia; tornar consciente o fato de que a hipervigília ocupa o lugar de um olhar obsessivo que prejudica o desempenho do paciente; possibilitar a percepção de que o excesso de “lógica” ou discurso científico é uma técnica de defesa para deixar de analisar a si mesmo como sujeito; evitar a defesa do emprego do “ou” que provoca a postergação ou procrastinação pela disjunção. Durante a psicoterapia, o psicanalista deve tomar alguns cuidados essenciais. O primeiro é para que a vontade do paciente não prevaleça durante a análise. (...) um controle onipotente (tenta deixar o processo analítico estagnado), o deslocamento (para detalhes que se tornam enfadonhos e podem provocar uma esterilizante contratransferência de tédio), a anulação (com o emprego sistemático de um discurso do “é isto, mas também pode ser aquilo, ou não é nada disso...”, a formação reativa (sempre gentil, educado e bem-comportado, o paciente não deixa irromper a sua agressividade reprimida), o isolamento em narrativas desprovidas de emoções) etc. (ZIMERMAN, 2004, p. 314) Outro cuidado é com a possibilidade de falhas do terapeuta nas irretocáveis pontualidades e assiduidade do sujeito que se esforça para ser “um bom paciente”. As interpretações precisam ser precisas no que o paciente fala e faz, não cabendo perguntas para ampla reflexão. Classi�cação e diagnóstico do transtorno de acumulação 06/08/2022 13:06 Transtorno obsessivo-compulsivo e transtornos relacionados https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/03569/index.html# 13/46 acumulação O transtorno de acumulação (TA) também é um transtorno que conquistou um espaço na quinta edição do DSM, não constando um correspondente no CID-10 e nem no DSM-IV-TR. No DSM-5 (2014), o TA também está sob o código 300.3, e tem como característica essencial a dificuldade persistente de desfazer-se de pertences, quer seja para descarte, venda, doação ou reciclagem, pois existe um medo desproporcional de perder informações importantes, ao mesmo tempo que manifesta um grande apego pelos pertences, independentemente do valor real do objeto. Atenção! Diferentemente do TOC, o transtorno de acumulação não tem a presença das ideias invasivas e nem de comportamentos estereotipados, tampouco pode ser comparado com o hábito de colecionar coisas. No comportamento do colecionador se espera o prazer, a atribuição de valor e a organização, enquanto o acumulador não necessariamente cuida bem das suas posses e o senso valorativo de utilidade e emoção estão ausentes. Para o diagnóstico do TA, precisa-se preencher os seis critérios diagnósticos para avaliação descritos a seguir: A Caracterizado por grande dificuldade em se desfazer de pertences, ignorando o real valor. B Caracterizado pela presença de sofrimento psíquico na possibilidade de descarte e intensa necessidade de guardar, podendo comprometer a organização dos pertences. C Caracterizado pela acumulação de itens que ficicultam a locomoção em áreas importanes de convivência e a remoção só acontece mediante intervenção externa. 06/08/2022 13:06 Transtorno obsessivo-compulsivo e transtornos relacionados https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/03569/index.html# 14/46 Embora não se trate de um critério para o diagnóstico, é uma especificidade comum que aproximadamente 85% dos acumuladores apresentem um comportamento de aquisição excessiva, que não necessariamente é compra (embora este seja o fator mais comum), seguido de acumular itens gratuitos e, raramente, provenientes de furto. Estudos europeus e norte-americanos indicam a existência de uma prevalência de 2% a 6% na sua população e em ambos os sexos, mas os detalhes epidemiológicos relatam uma incidência maior no sexo masculino, principalmente entre 55 e 94 anos. O diagnóstico diferencial entre o transtorno obsessivo-compulsivo e outros transtornos tem os seguintes pontos de atenção: D Caracterizado pelo sofrimento psíquico através da acumulação ou prejuízo em áreas importantes da vida do sujeito. E Caracterizado por não existir associação com lesões cerebrais ou outra condição médica. F Caracterizado pelo sintoma de acumulação que não consegue ser mais bem explicado por outros sintomas de transtorno mental. Outras condições médicas 06/08/2022 13:06 Transtorno obsessivo-compulsivo e transtornos relacionados https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/03569/index.html# 15/46 A diferença em relação ao TA é que nesse caso as lesões cerebrais, infecção do sistema nervoso central, síndrome Prader-Willi e danos no lobo pré-frontal apresentam comportamento de acumulação, mas não demonstram dificuldades em descartar e não apresentavam esses sintomas antes das condições médicas. A diferença em relação ao TA é que, nesse caso, o motivo da acumulação é por um espectro autista ou por deficiência intelectual. No primeiro, a dificuldade de descartar um objeto pode ser causado por uma associação de um objeto transicional com o mundo; no segundo, o sujeito não tem capacidade cognitiva de atribuir utilidade e valor. A diferença em relação ao TA é que a acumulação ou atribuição de valor são associadas ao delírio. A diferença em relação ao TA é que existe a acumulação por consequência direta ao retardo psicomotor, fadiga ou sensação de perda de vontade. A diferença em relação ao TA é que existe a ausência total da obsessão e da compulsão. Outras condições médicas Transtorno do neurodesenvolvimento Transtorno do espectro da esquizofrenia e outros transtornos psicóticos Episódio depressivo maior Transtorno obsessivo-compulsivo Transtornos neurocognitivos 06/08/2022 13:06 Transtorno obsessivo-compulsivo e transtornos relacionados https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/03569/index.html# 16/46 A diferença em relação ao TA é que no caso de Alzheimer, degeneração frontotemporal ou outro comprometimento demencial, a acumulação pode ser observada como tão gradual quanto o comprometimento neurológico e acompanhando os seus progressos. Nesses casos, é comum que a acumulação seja acompanhada por comportamentos de desleixo consigo mesmo e sintomas neuropsiquiátricos. Por fim, precisamos destacar que o transtorno de acumulação pode ter sua base de início para suprir uma necessidade emocional que se disfarça como se fosse o começo de uma coleção. Resumindo Podemos demarcar o início do transtorno quando fica claro que o apego não se dirige maisaos objetos “colecionados”, mas quando o acúmulo se torna o seu próprio objeto de desejo. Psicoterapia em transtorno de acumulação A psicoterapia para o transtorno de acumulação pode ser recomendada em terapia familiar, em grupo e individual. Porém, estudos apontam que o tratamento pode ser longo e a rede de apoio para o tratamento será essencial para o êxito. Vejamos um pouco mais sobre essas formas de psicoterapia. O objetivo da psicoterapia familiar seria o de evidenciar o quanto a condição do transtorno afeta toda a família devido a sua inadequação, bem como facilitar a aproximação ao tratamento individual (uma vez que cada membro pode falar sobre seus motivos e preocupações com o paciente), além de manifestar os sentimentos agradáveis e lembranças dos bons momentos que tiveram sem a necessidade da acumulação. Nesse ponto, a psicoeducação é fundamental. Os familiares devem ser orientados para: 1. Apoiar os acumuladores, reafirmando constantemente que a angústia de se desfazer irá passar e que “está tudo bem”; 2. Ouvir as frustrações da pessoa com TA e ter empatia com as suas justificativas irracionais; 3. Incentivar a busca de ajuda profissional, enfatizando os benefícios do tratamento e a qualidade de vida que teria no final; 4. Oferecer ajuda e apoio nos momentos de limpeza dos cômodos, reforçando o quão importantes são as pequenas vitórias e mudanças, demonstrando a própria resiliência e esperança no processo. Na psicoterapia individual, a dessensibilização do comportamento de descarte deve ser acompanhada por 06/08/2022 13:06 Transtorno obsessivo-compulsivo e transtornos relacionados https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/03569/index.html# 17/46 um processo de aproximação sucessiva, no qual a pessoa se desfaz de itens que oferecem menor sofrimento. Outra conduta terapêutica é possibilitar ao paciente perceber o momento em que acontece o aumento da necessidade extrema de “salvar as posses” do descarte e propor a substituição do descarte pela organização, evitando a evasão do processo pela presença do estímulo aversivo. É importante destacar que antes de aprender a se desfazer é necessário aumentar as habilidades de organização por meio do esclarecimento da tomada de decisão e do relaxamento de tensões que se formam enquanto se organiza ou descarta. Analisar os esquemas iniciais desadaptativos (EID) de desconexão e rejeição, hipervigilância e orientação para o outro, visto serem comuns as crenças de autossacrifício, privação emocional e inibição emocional nesses casos (SCHMIDT; DELLA MÉA, 2017). A psicoterapia em grupo tem outra importância para o paciente com transtorno de acumulação. A utilidade desse processo está em evitar e/ou diminuir o isolamento social a que o acumulador comumente se submete para se manter acumulando sem a adversidade dos seus pares. Dessa forma, esse tipo de terapia se torna útil para diminuir os estigmas, uma vez que o paciente conhecerá outras pessoas com questões semelhantes, o que, consequentemente, reduzirá sua solidão. Outra utilidade é a construção de motivações e o aumento dos cuidados no alívio dos sintomas. Por fim, o trabalho em grupo também serve para reconhecer comportamentos semelhantes e criar habilidades mediante experiências em situações de evidente sucesso, o que diminui a angústia e torna as tomadas de decisões mais eficazes. Vem que eu te explico! Os vídeos a seguir abordam os assuntos mais relevantes do conteúdo que você acabou de estudar. Módulo 1 - Vem que eu te explico! Obsessão e compulsão Módulo 1 - Vem que eu te explico! Classi�cação e diagnóstico do transtorno de acumulação 06/08/2022 13:06 Transtorno obsessivo-compulsivo e transtornos relacionados https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/03569/index.html# 18/46 Todos Módulo 1 - Video Diagnóstico e caracterização do transtorno obsessivo-compulsivo Módulo 2 - Video Alternativas psicoterápicas para o TDC, TT e TE Falta pouco para atingir seus objetivos. Vamos praticar alguns conceitos? Todos Módulo 1 Módulo 2 Módulo 3 Questão 1 No transtorno obsessivo-compulsivo (TOC), o pensamento e a vontade do sujeito estão afetados de modo tão singular que eles servirão de base para o psicodiagnóstico. Como se estabelece a alteração específica desse transtorno? A Com pensamentos persistentes, invasivos e incontroláveis e ações motoras estereotipadas e causadas por regras que devem ser seguidas para se evitar uma consequência trágica. B Com delírio de perfeição e sem ação motora específica. C Com ação motora invasiva, persistente e incontrolável, além de pensamentos 06/08/2022 13:06 Transtorno obsessivo-compulsivo e transtornos relacionados https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/03569/index.html# 19/46 C estereotipados com ecos que devem ser evitados para a prevenção de crimes. D Com delírios de infestação e contaminação que obrigam o paciente a ter que lavar as mãos constantemente. E Com pensamentos deprimidos e comportamentos de desistência de cuidados de si, dos outros e das coisas. Parabéns! A alternativa A está correta. Para assegurar a classificação diagnóstica para o transtorno obsessivo-compulsivo é importante compreender de que modo o pensamento, a vontade e a psicomotricidade são afetados. Inicialmente, são descartadas as alterações mentais que tenham base no delírio (espectro esquizofrênico) e na depressão. Em seguida, confirma-se a obsessão pelos pensamentos persistentes, invasivos e incontroláveis e a compulsão, por meio ações estereotipadas e motivadas por regras que devem ser seguidas para se evitar uma consequência trágica. Questão 2 Analise os elementos a seguir: I. Tem dificuldade para se desfazer de objetos, independentemente do seu valor verdadeiro. II. Os objetos dos quais não consegue se desfazer dificultam a locomoção em casa. III. Dificuldade de organizar os pertences. IV. Não apresenta delírio e nem depreciação de si mesmo. Esses critérios preenchem o diagnóstico diferencial para: A Espectro esquizofrênico. B Depressão. C Transtorno obsessivo-compulsivo. 06/08/2022 13:06 Transtorno obsessivo-compulsivo e transtornos relacionados https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/03569/index.html# 20/46 2 - TDC, tricotilomania e transtorno de escoriação Ao �nal deste módulo, você será capaz de denti�car as classi�cações e critérios diagnósticos D Transtorno acumulativo. E Episódio depressivo maior. Parabéns! A alternativa D está correta. O diagnóstico de transtorno acumulativo (TA) precisa excluir o espectro esquizofrênico e qualquer forma de depressão. Além disso, é necessário que seus sintomas tenham surgido antes desses dois, ainda que possam apresentar alguma forma de correlação. O TA também se diferencia do transtorno obsessivo-compulsivo porque, no primeiro, não existem ideias invasivas e nem a presença de comportamentos estereotipados. 06/08/2022 13:06 Transtorno obsessivo-compulsivo e transtornos relacionados https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/03569/index.html# 21/46 p ç g pelos manuais de classi�cação para TDC, tricotilomania e transtorno de escoriação. Transtorno dismór�co corporal É bastante significativa a discussão sobre o transtorno dismórfico corporal, a tricotilomania e o transtorno de escoriação juntamente com o transtorno obsessivo-compulsivo (TOC). Embora essa aproximação na classificação seja exclusiva do DSM-5 (2014), ela é muito relevante, pois é sensível o aumento de evidências da relação desses transtornos entre si pela grande quantidade de validadores diagnósticos que eles têm em comum. Com esse novo agrupamento é possível que aumente o desempenho observacional para psicodiagnósticos e escolhas de abordagens clínica-terapêuticas. Atenção! Um cuidado que o profissional deve ter ao manipular os critérios diagnósticos é redobrar a atenção para as possíveis sobreposições dos sinais, já que, por suas relações íntimas, a ordem do surgimento do sintoma e os detalhes de manifestações comportamentaisserão determinantes. Em linhas gerais, esses transtornos que se relacionam com o TOC apresentam uma diferença na preocupação dos rituais, no surgimento na etapa do desenvolvimento, na presença de sintomas subclínicos, no nível de sofrimento do indivíduo e no prejuízo funcional decorrente. Ao mesmo tempo, esse grupo de transtornos têm em comum seu foco no corpo, mas apresentam divergência nas bases da obsessão e da compulsão. Enquanto o transtorno dismórfico corporal é caracterizado pela prevalência dos sinais de obsessão, o transtorno de tricotilomana (TT) e o transtorno de escoriação (TE) são predominantemente compulsivos. Vamos analisar cada um deles, seus critérios e diferentes abordagens entre o DSM-5 e o CID-10: Dismorfofobia já foi uma antiga classificação para o transtorno dismórfico corporal (TDC). Ele é caraterizado pela prevalência dos sintomas cognitivos relacionados à percepção de defeitos, falhas ou assimetria na aparência física que não são observáveis por outras pessoas, ou que, sendo leves, são hipervalorizadas pelo paciente. Transtorno dismórfico corporal (TDC). Geralmente essas obsessões podem ser pela ideia de que todos estão observando a característica 06/08/2022 13:06 Transtorno obsessivo-compulsivo e transtornos relacionados https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/03569/index.html# 22/46 Geralmente, essas obsessões podem ser pela ideia de que todos estão observando a característica percebida como dismórfica, por repetidas comparações com outras pessoas ou na fixação das suas “falhas”. O sintoma obsessivo também costuma ser acompanhado por sinais compulsivos, tais como olhar- se no espelho repetidamente, arrumar-se exaustivamente, beliscar a pele e/ou autoagressão. As preocupações obsessivas do paciente são intrusivas e indesejadas, difíceis de resistir ou controlar e podem ser bastante diferentes com relação ao seu destino, pois elas podem se dirigir a qualquer parte do corpo, em uma área específica ou mais áreas ao mesmo tempo. Em geral, as obsessões se manifestam durante cerca de três a oito horas por dia. Em tempo, é necessário destacar a presença de uma dismorfia bastante específica que merece um nome especial: a dismorfia muscular. Esse transtorno é caracterizado pela ideia de que a estrutura corporal é percebida como pouco musculosa ou pequena para o sujeito. No DSM-5, o transtorno dismórfico corporal é classificado pelo código de número 300.7 e tem quatro critérios diagnósticos que precisam ser preenchidos: 1. Existe preocupação desproporcional com uma falha ou defeito na aparência física que estão ausentes ou entendidos como leves para os outros. 2. Existe presença de comportamentos compulsivos ou atos obsessivos associados à aparência reclamada. 3. Existe sofrimento psicológico ou prejuízo funcional da vida do paciente. 4. Existe preocupação que não está associada à gordura ou peso corporal que possam indicar transtorno alimentar. Depois de preenchidos os critérios, o TDC precisa ser especificado em duas etapas: (1) se está associado com dismorfia muscular; e (2) a intensidade de insight sobre a verdade da aparência e a relação com a sua percepção. Esse insight é especificado conforme os tipos a seguir: Insight bom ou razoável O paciente compreende que a percepção não é ou pode não ser verdadeira. Insight pobre O paciente acredita que a percepção é verdadeira. Insight ausente/crenças delirantes 06/08/2022 13:06 Transtorno obsessivo-compulsivo e transtornos relacionados https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/03569/index.html# 23/46 Insight ausente/crenças delirantes O paciente está completamente convencido de que a percepção é verdadeira. Como toda obsessão e compulsão, os comportamentos não geram prazer e podem colaborar para o aumento de ansiedade e disforia, o aumento da carga de exercício físico e a busca ostensiva por procedimentos estéticos ou autolesões para aliviar o que é entendido como defeito. Existem características associadas a esse transtorno que auxiliam no diagnóstico: Característica do delírio de referência (ideia prevalente de que outras pessoas prestam atenção ou caçoam do paciente); Característica da ansiedade social; Característica da esquiva social; Característica do humor deprimido; Característica do perfeccionismo; Característica da baixa autoestima; Característica da interpretação das expressões faciais ou cenários sociais de forma negativa e/ou ameaçadoras. Esse transtorno costuma ter início na adolescência e por meio de traços subclínicos, tais como a busca de inúmeras cirurgias e correções estéticas desnecessárias, geralmente na face. Com o passar dos anos, os critérios se tornam ainda mais claros e distintos. Saiba mais O TDC tem incidência equivalente entre os dois gêneros no que diz respeito à prevalência do transtorno e é responsável por tentativas de suicídio. CID-10 No CID-10, esse distúrbio é caracterizado como um transtorno somatoforme, ou seja, os sintomas surgem sem que exista uma condição médica que explique sua origem. O CID chama a atenção para uma característica importante desse transtorno: ele é crônico e flutuante. Dessa forma, o delírio, as ideias obsessivas e a compulsão estão sempre presentes, mas oscilando em sua manifestação clínica, na incapacitação funcional e na intensidade de sofrimento. Para um diagnóstico definitivo o CID-10 estabelece, além das características do DSM-5, dois critérios a mais: 1 06/08/2022 13:06 Transtorno obsessivo-compulsivo e transtornos relacionados https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/03569/index.html# 24/46 1 A ideia de que uma doença foi adquirida ou agravada pela suposta deformidade. 2 A recusa constante de aceitar informações da ausência da anormalidade ou doença. Diagnóstico diferencial Para concluir um diagnóstico diferencial o CID-10 apresenta, de forma mais sucinta que o DSM-5, que esse transtorno exclui ou é anterior ao: 1. Transtorno de somatização, ou seja, não existe evidência de uma doença; 2. Transtorno delirante associado ao espectro da esquizofrenia; 3. Transtorno de ansiedade e de pânico, pois os pacientes conseguem ser tranquilizados por explicações fisiológicas; 4. Transtornos depressivos, pois embora sejam recorrentes, não são os causadores do transtorno hipocondríaco, mas sua comorbidade. Tricotilomania Esse é o transtorno que possui maior diferença epistemológica entre o CID-10 e o DSM-5. Enquanto o CID considera que o transtorno de tricotilomania (F63.3) está classificado como um transtorno de hábito e impulso, o DSM-5 insiste na associação dele como decorrente do transtornos obsessivo-compulsivo (312.39). Relembrando A impulsividade é um ato involuntário, portanto, não invasivo e sem um pensamento, reflexão, ponderação ou decisão prévia que oriente essa ação. Sua característica principal é a incapacidade de interromper o início da ação, embora possa ser controlada quando está em andamento. As pessoas impulsivas são do tipo instantâneas e explosivas, tendem a perceber seu comportamento como incontrolável, mas não têm a ideia de que são indesejadas. A seguir veremos as características da tricotilomania em ambos os sistemas de classificação. DSM 5 06/08/2022 13:06 Transtorno obsessivo-compulsivo e transtornos relacionados https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/03569/index.html# 25/46 DSM-5 A tricotilomania é o transtorno que consiste no comportamento de arrancar os próprios cabelos de qualquer parte do corpo, de forma recorrente, tendo como consequência a perda significativa de uma região e incontáveis tentativas fracassadas para reduzir ou interromper a ação. Os locais onde incide o sintoma podem variar conforme o tempo ou a degradação, porém, os mais comuns são o couro cabeludo, as sobrancelhas e os cílios; e os menos comuns são as axilas, a face, o púbis e a região perirretal. A dificuldade de perceber esse transtorno na fase inicial está no fato de ele ser distribuído em breves episódios ao longo do dia, variandona intensidade e na continuidade. Para um diagnóstico se faz necessário preencher cinco critérios, conforme descrevemos a seguir: 1. Critério de arrancar recorrentemente o próprio cabelo de modo que resulte em perda significativa. 2. Critério das tentativas de reduzir ou parar o comportamento de extração dos pelos. 3. Critério da presença de sofrimento mental ou prejuízo na funcionalidade do indivíduo. 4. Critério do comportamento não pode estar associado a condições médicas e causas dermatológicas. 5. Critério que exclui a possibilidade de espectro esquizofrênico, ideias delirantes e transtorno dismórfico corporal. O ato de arrancar o cabelo pode estar associado a rituais, tais como a busca por certos tipos de pelos diferenciados por sua textura ou cor, e até mesmo pela técnica de extração ou manipulação oral do cabelo depois de arrancado, podendo ser engolido ou não. Também podem aparecer sentimentos de ansiedade ou tédio, de modo que o comportamento alivie a tensão por meio de uma “coceira” ou formigamento no couro cabeludo. O início desse transtorno é mais comum no começo da puberdade. Ele é crônico e tende a se manifestar mais agressivamente no sexo feminino, principalmente nos períodos de alterações hormonais. CID-10 Segundo o CID-10, a tricotilomania é caracterizada por um fracasso recorrente de resistir a impulsos de arrancar os próprios cabelos: 06/08/2022 13:06 Transtorno obsessivo-compulsivo e transtornos relacionados https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/03569/index.html# 26/46 (...) usualmente precedido por tensão crescente e seguido por uma sensação de alívio ou satisfação. (OMS, 1993, p. 210) Transtorno de escoriação O transtorno de escoriação ou skin picking “é caracterizado por beliscar a própria pele de forma recorrente, resultando em lesões cutâneas, e tentativas repetidas de reduzir ou parar o comportamento de beliscá-la” (APA, 2014, p. 236). Tal como a tricotilomania, esse transtorno não é desencadeado por obsessões, mas sim por estados emocionais, sendo o mais comum a ansiedade. Os pacientes com esse transtorno não têm consciência do quanto praticam esse comportamento nem da sua variação. Os locais que mais frequentemente sofrem com a ocorrência desse transtorno são o rosto, os braços e as mãos, sendo possível atacar várias partes do corpo ao mesmo tempo e incluir os comportamentos de esfregar, espremer ou morder. Esse transtorno só pode ser caracterizado se o comportamento for a causa de lesões cutâneas ou outros danos significativos ao tecido e que resultem em cicatrizes. Transtorno de escoriação. Nesse caso, também existem as tentativas de reduzir ou parar os atos. Para o DSM-5 (APA, 2014) o 06/08/2022 13:06 Transtorno obsessivo-compulsivo e transtornos relacionados https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/03569/index.html# 27/46 transtorno de escoriação está classificado sob o código de número 698.4 e registra cinco critérios de diagnósticos: 1. Critério de esfregar, beliscar, espremer ou morder de forma recorrente a pele, resultando em lesões. 2. Critério da tentativa de reduzir ou cessar o comportamento patológico. 3. Critério da presença de sofrimento mental ou prejuízo funcional do sujeito. 4. Critério do comportamento não pode ser causado por efeitos de substâncias ou condição médica. 5. Critério do comportamento exclui a possibilidade de transtornos psicóticos, transtorno dismórfico corporal, transtorno de movimento estereotipado e autolesão suicida. O transtorno de escoriação pode incluir rituais que envolvem a pele ou cascas de feridas com fins de exames sem efeitos técnicos, brincar ou colocar na boca (podendo engolir ou não). O comportamento pode ser iniciado por estados emocionais e sentimento ansiosos, no qual a escoriação proporcionaria prazer ou um alívio quando a pele fosse arrancada. O diagnóstico precoce ou antes de um agravamento são dificultados porque os atos de escoriação acontecem de modo isolado, o que torna complicada a identificação por alguém para que se possa apontar caminhos de ajuda. Segundo a APA (2014), a prevalência é três de quartos para o sexo feminino e tende a iniciar após uma condição dermatológica, geralmente a acne. Estima-se que 15% da população mundial já tenha eliciado esse tipo de transtorno. Para um diagnóstico diferencial eficaz é necessário excluir: 1. Os transtornos psicóticos; 2. Os transtornos obsessivo-compulsivo; 3. Os transtornos do neurodesenvolvimento como a síndrome de Prader-Willi ou Tourette; 4. Os transtornos somatoformes; 5. Os atos de ferir-se no desejo de ferir alguém; 6. Outras condições médicas; 7. Os transtornos induzidos por substâncias ou medicamentos. Neste caso específico, esse transtorno não é classificado na seção de transtornos mentais e de comportamento do CID-10, mas sob o código L98.1, que é reservado para as doenças da pele. Psicoterapias Retornemos às psicoterapias humanistas, comportamentais e psicanalítica para expor possíveis metodologias de intervenção. 06/08/2022 13:06 Transtorno obsessivo-compulsivo e transtornos relacionados https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/03569/index.html# 28/46 A psicoterapia cognitivo-comportamental A literatura da psicoterapia cognitivo-comportamental adota diversas condutas para a intervenção e estratégias de reversão de hábito e compromisso para intervir nos pensamentos de impulsividade, perfeccionismo e planejamento. As mais comuns são as que envolvem treino de consciência; treino de resposta concorrente; treino de resposta concorrente com uso de controle de estímulos antecedentes e consequentes; treino de relaxamento; treino de suporte social; treino de generalização (RICHARTZ; GON; ZAZULA, 2018). Em linhas gerais, todas as formas de intervenções trabalham com etapas similares a esta que descrevemos a seguir: Descrição das situações de risco da aparição do comportamento. Autoconhecimento de interações com essas situações. Conhecer as estratégias aplicadas em baixo risco para manejar as de alto risco. Modelar os comportamentos diante de situações de alto risco. Estratégias de flexibilidade diante do perfeccionismo. 06/08/2022 13:06 Transtorno obsessivo-compulsivo e transtornos relacionados https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/03569/index.html# 29/46 A psicoterapia psicanalítica Podem ser duas as hipóteses de trabalho da clínica psicanalítica: a melancolia e o masoquismo. Enquanto na melancolia a autoestima está afetada e existe uma inibição em direção às atividades porque o ego se empobreceu; no masoquismo, o ego se encontra dependente e sequioso de prazer, via pulsão de morte. No quadro de melancolia, o paciente apresenta sintomas de autorrecriminação e autoenvelhecimento que costumam se direcionar para uma expectativa delirante de punição, que, neste caso, pode ser visto na tricotilomania, no transtorno de escoriação e no transtorno dimórfico corporal. Psicoterapia. O ego pobre e vazio espera ser punido enquanto se repreende, por isso se degrada diante de todos e se culpa pelas pessoas que se ligam a um ser “tão desprezível”. A psicoterapia consiste em interromper o trabalho desse ego que se divide e volta suas partes uma contra a outra, passando a se consumir em autocrítica e insatisfação. A escuta paciente de um melancólico atesta que não existe uma contradição ao instinto de autopreservação, mas ao contrário, esse desejo recriminatório é feito a um objeto que ama, amou ou deveria amar. Desse modo, todas as punições são recriminações feitas a um objeto amado, mas deslocadas para o ego do paciente. Sob o ponto de vista do masoquismo, Freud demonstrou como a pulsão de morte é aquilo que nos move para a estabilização e estagnação. Para isso, tomou como exemplo o nirvana como pulsão de morte, uma vez que é um fenômeno de equilibração no qual não existiriam mais as necessidades, razão de conflitos e Planos de ação. 06/08/2022 13:06 Transtorno obsessivo-compulsivo e transtornos relacionados https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/03569/index.html#30/46 signo de imperfeição/limitação. Dessa forma, as exigências de perfeição e as críticas às partes imperfeitas do corpo de um paciente com transtorno dismórfico podem ser configurações de desejos inconscientes de diminuição das imperfeições e que se realizam via traços de imposição de normas de comportamento estéticos que propiciam um sentimento de culpa inconsciente. Como uma criança travessa, ou como os masoquistas, precisam ser punidas em seu corpo para substituir a realização da fantasia de uma potência sobre a castração que a culpa uma inadequação (FREUD, 1996). A psicoterapia humanista A psicoterapia humanista identifica nesses transtornos o sentimento de inadequação que aponta para crenças e emoções de desigualdade ou indiferença em relação a outras pessoas ou situações. A atenção do psicoterapeuta se volta para a relação do sujeito e o seu contexto sociocultural para compreender o fenômeno de se sentir inadequado e avaliar os possíveis desdobramentos desse sofrimento psíquico. Comentário É comum que pessoas com esse sofrimento descrevam seu sentimento de inadequação por meio do autoquestionamento, do isolamento e da tentativa ostensiva de se modificar para se adequar às exigências sociais ou do seu grupo e, com isso, mostrarem-se agressivos. O psicoterapeuta pode basear-se no método fenomenológico de Merleau-Ponty (1908-1961) para aplicar alguma forma de trânsito entre o aplainamento da subjetividade (provocado pela solidão e os pensamentos obsessivos) e a criação de um senso de inadequação que seja capaz de fazer o sujeito assimilar, de forma reflexiva e criativa, as relações significativas. Preferencialmente, esse tratamento deve acontecer com base no caráter lúdico ou ensaístico da existência e deve ser amplamente permeado pela empatia do analista (TORRES, 2008). Alternativas psicoterápicas para o TDC, TT e TE Neste vídeo, o especialista reflete sobre alternativas de psicoterapia e hipóteses no transtorno dismófico corporal, tricotilomania e transtorno de escoriação. 06/08/2022 13:06 Transtorno obsessivo-compulsivo e transtornos relacionados https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/03569/index.html# 31/46 Vem que eu te explico! Os vídeos a seguir abordam os assuntos mais relevantes do conteúdo que você acabou de estudar. Módulo 2 - Vem que eu te explico! O transtorno dismór�co corporal Módulo 2 - Vem que eu te explico! Tricotilomania Todos Módulo 1 - Video Diagnóstico e caracterização do transtorno obsessivo-compulsivo Módulo 2 - Video Alternativas psicoterápicas para o TDC, TT e TE Todos Módulo 1 Módulo 2 Módulo 3 06/08/2022 13:06 Transtorno obsessivo-compulsivo e transtornos relacionados https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/03569/index.html# 32/46 Falta pouco para atingir seus objetivos. Vamos praticar alguns conceitos? Questão 1 Tanto a tricotilomania quanto o transtorno de escoriação não são desencadeados por obsessões e isso torna mais difícil a consciência da prática do comportamento e de suas variações. Dessa forma, segundo o DSM-5, o que desencadeia o transtorno são: A Os pensamentos invasivos. B Os estados emocionais, mais comumente a ansiedade. C Os delírios do espectro da esquizofrenia. D As compulsões. E As crises de identidade. Parabéns! A alternativa B está correta. Para assegurar a classificação diagnóstica para a tricotilomania e o transtorno de escoriação é importante ter em vista que eles não são desencadeados pela obsessão, isto é, pelos pensamentos invasivos, tal como no transtorno obsessivo-compulsivo, mas pelos estados emocionais, fundamentando sua natureza impulsiva e não compulsiva. Questão 2 O CID-10 apresenta de forma mais sucinta o diagnóstico diferencial do transtorno dismórfico corporal. Analise as afirmativas a seguir para identificar os critérios diferenciais: I. Exclui transtorno de somatização II. Exclui delírio III. Exclui comportamentos compulsivos Assinale a alternativa verdadeira: 06/08/2022 13:06 Transtorno obsessivo-compulsivo e transtornos relacionados https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/03569/index.html# 33/46 A Todas as afirmativas são critérios diferenciais. B Apenas a afirmativa II é um critério diferencial. C Apenas a afirmativa I é um critério diferencial. D Apenas as afirmativas I e II são critérios diferenciais. E Apenas as afirmativas II e III são critérios diferenciais. Parabéns! A alternativa D está correta. Para assegurar a classificação diagnóstica diferencial para o transtorno dismórfico corporal temos quatro critérios. São eles: exclusão de transtorno de somatização; exclusão de delírio; exclusão de transtorno de ansiedade e pânico; e exclusão de transtorno depressivo anterior. Nesse caso, se mantém a característica compulsiva que pode consistir em se olhar constantemente no espelho ou se arrumar exaustivamente. 06/08/2022 13:06 Transtorno obsessivo-compulsivo e transtornos relacionados https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/03569/index.html# 34/46 3 - TOC e transtornos relacionados Ao �nal deste módulo, você será capaz de identi�car as diferenças entre o transtorno obsessivo-compulsivo e os transtornos relacionados induzidos por substâncias, bem como daqueles devido à outra condição médica. TOC e transtorno relacionado induzido por substância A seguir, iremos nos dedicar aos estudos dos transtornos relacionados ao transtorno obsessivo-compulsivo, que se dispõem em quatro tipos: Essas classes de transtornos possuem duas características em comum: preenchem os critérios para Grupo daqueles que são induzidos por substâncias ou medicamento. Grupo daqueles que são relacionados por decorrência de outra condição médica. Grupo daqueles que apresentam razão específica e plausível para sustentar a obsessão e a compulsão (esses recebem o nome de transtorno relacionado especificado. 06/08/2022 13:06 Transtorno obsessivo-compulsivo e transtornos relacionados https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/03569/index.html# 35/46 transtorno obsessivo-compulsivo e possuem uma causa fisiológica que origine ou sustente os sintomas. Atenção! Existe a possibilidade de os sintomas obsessivos e compulsivos serem induzidos por uso de substâncias ou medicamentos. Nesse caso, esses sintomas, não têm origem psicológica, pois são de natureza fisiopatológica, oriundos de intoxicação ou abstinência. Embora o DSM-5 não apresente um código específico para esse transtorno, ele orienta seus usuários a utilizarem a classificação de “transtornos relacionados a estimulantes” e aplicarem a numeração de acordo com a substância utilizada para desencadear o transtorno, grau de comprometimento no aparelho cognitivo e intensidade de uso. Após referenciar o código – que pode ser 304, 305 e 202 –, utiliza-se nominalmente, após a informação da substância, a presença do “transtorno relacionado por substância/medicamento” como nota clínica do sintoma. Vamos exemplificar os procedimentos para registro do DSM-5 em dois casos diferentes: O paciente já possui o diagnóstico para transtorno obsessivo-compulsivo anterior e apresentou como comorbidade o uso de substância após o diagnóstico do TOC, sem a presença anterior do uso de drogas: Nesse caso, devemos começar descrevendo “transtorno obsessivo compulsivo com transtorno relacionado induzido por substância” (anotar o nome da substância, o grau de uso e o comprometimento mental). O paciente só passou a demonstrar os sintomas de transtorno obsessivo compulsivo após o uso da substância ou durante sua abstinência. Aqui se aplica o termo “transtorno relacionado a” (descrever em seguida o nome da substância) com transtorno obsessivo-compulsivo. Espera-se que o transtorno obsessivo-compulsivo, quando advindo com o uso da substância, melhore ou cesse no intervalo de dias, semanas e até um mês mediante a suspensão da substância/medicamento que insidiou o caso. Os critérios diagnósticos propostos pelo DSM-5 são (2014): 1. Critério de um ou váriosdos sintomas: obsessões, compulsões, beliscar a pele, arrancar o cabelo, CASO 1 CASO 2 06/08/2022 13:06 Transtorno obsessivo-compulsivo e transtornos relacionados https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/03569/index.html# 36/46 outros comportamentos repetitivos focados no corpo ou outro sintoma característico do TOC. 2. Critério de evidências de que os sintomas obsessivos-compulsivos apenas surgiram após a intoxicação ou abstinência por uma substância que, de fato, possa causar esses efeitos. 3. Critério que exclui a origem do TOC não induzido por substância e anteriores ao quadro analisado. 4. Critério do transtorno não ocorre exclusivamente no curso de delirium. 5. Critério de que existe um sofrimento mental e prejuízo psicossocial por causa do transtorno. Delirium Desordem flutuante da consciência que está associada a uma mudança na cognição ou perturbação perceptual e que pode ser causada por qualquer condição médica geral. (Fonte: pebmed.com.br). Se for oportuno e necessário, exames toxicológicos laboratoriais podem ser associados para apoiar o diagnóstico. De modo um pouco mais conservador, o CID-10 não apresenta classificação para transtornos relacionados com o transtorno obsessivo-compulsivo. Isso quer dizer que além de caracterizar a substância utilizada, que variam entre dez opções, os números seguidos da substância designariam condições clínicas comportamentais decorrentes do uso químico. É comum a classificação de F1x.03 (delirium), F1x.04 (com distorções perceptuais), F1x.40 (estado de abstinência sem convulsões), F1x.61 (com transtorno psicótico predominantemente delirante), F1x.71 (com transtorno psicótico residual e de início tardio com sintomas de transtorno de personalidade e de comportamento) e F1x.74 (com transtorno psicótico residual e de início tardio com outro comprometimento cognitivo persistente). Vamos entender melhor essa caracterização do CID-10? Exemplo Observe: F1x.5. Esse F designa que se trata da área de transtornos mentais e do comportamento do CID-10; o 1 representa a casa decimal que vai de F10 até F19, logo, este x pode ser substituído por números que variam de 0 a 9, representando cada substância. Veja a tabela de classificação da substância para você compreender melhor: 0 (F10) Uso de álcool. 1 (F11) Uso de opioides. 2 (F12) Uso de canabinoides. 06/08/2022 13:06 Transtorno obsessivo-compulsivo e transtornos relacionados https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/03569/index.html# 37/46 Em caso de abuso de substâncias que não são psicoativas, utiliza-se o código F55 – Abuso de substâncias que não produzem dependência. Essas incluem: antidepressivos, laxativos, analgésicos, antiácidos, vitaminas, esteroides ou hormônios, ervas ou remédios folclóricos populares específicos e diuréticos. Transtorno obsessivo-compulsivo e transtorno relacionado induzido por substância/medicamento Neste vídeo, o especialista reflete sobre o transtorno obsessivo-compulsivo e transtorno relacionado induzido por substância/medicamento, apresentando as diferenças entre a compreensão segundo o DSM-5 e o CID-10 e a forma de caracterizar de cada um. TOC e transtorno relacionado devido a outra condição médica No DSM-5, esta classificação tem o código 294.8 para caracterizar todos os sintomas obsessivos- compulsivos e sintomas relacionados clinicamente significativos que são mais bem explicados por uma consequência fisiopatológica direta de outra condição médica. Os sintomas podem ser predominantemente obsessivos ou compulsivos desde que preencham os seguintes critérios: De que todos os comportamentos repetitivos sejam focados no corpo. De que haja evidências na anamnese do paciente, no exame físico ou de achados laboratoriais que justifiquem outra patologia médica que seja a natureza dos sintomas repetitivos. De que seja excluída a presença de uma psicopatologia ou outro transtorno mental (tal como ansiedade ou transtorno de humor). De que os sintomas de TOC ocorrem apenas durante o curso do delirium. Para a codificação, além do diagnóstico de “transtorno obsessivo-compulsivo e transtorno relacionado 06/08/2022 13:06 Transtorno obsessivo-compulsivo e transtornos relacionados https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/03569/index.html# 38/46 devido a outra condição médica”, se faz necessário incluir o nome dessa outra condição médica na descrição do transtorno, como, por exemplo, um infarto cerebral. Nesse caso, o trecho “outra condição médica” seria ocultado. Saiba mais No CID-10, “as outras condições médicas” são relacionadas nos grupos F05 e F06, que reúnem transtornos mentais cuja doença cerebral e transtornos endócrinos são primários. Nesse diagnóstico, as disfunções cerebrais estão presentes, embora se assemelhem muito aos transtornos mentais. Outros TOCs e transtorno relacionado especi�cado Essa classificação é exclusiva do DSM-5 e está sob o código 300.3. No CID-10, pode ser adaptado pelo uso da primeira classificação residual, o F42.8 – Outros transtornos obsessivos-compulsivos. Os critérios diagnósticos para esse transtorno possuem a mesma lógica dos transtornos relacionados, isto é, presença de sintomas de um transtorno obsessivo-compulsivo, prejuízo na rede psicossocial, mas que não pode apresentar uso de substância/medicação causando os sintomas de TOC e nem uma condição médica associada à gênese das ideias obsessivas e os comportamentos compulsivos. A principal diferença que faz merecer esse diagnóstico está na necessidade de: (...) comunicar a razão especí�ca pela qual a apresentação não satisfaz os critérios para qualquer transtorno obsessivo-compulsivo e transtorno relacionado especí�co. (APA, 2014, p. 263) Existem seis classificações específicas para designação mais detalhada desse transtorno: Se caracteriza por preencher os critérios para o transtorno dismórfico corporal, exceto que os defeitos ou imperfeições são claramente observáveis pelos outros, fazendo aumentar significativamente o sofrimento mental do paciente. Transtorno tipo dismórfico corporal com defeitos reais Transtorno tipo dismórfico corporal sem comportamentos repetitivos 06/08/2022 13:06 Transtorno obsessivo-compulsivo e transtornos relacionados https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/03569/index.html# 39/46 Se caracteriza por preencher os critérios para o transtorno dismórfico corporal, exceto pelo fato de o paciente não apresentar preocupações com a aparência em arrumação excessiva. Se caracteriza por outros comportamentos repetitivos focados no corpo que não atendem às especificidades dos outros transtornos obsessivos-compulsivos. Incluem roer as unhas, morder os lábios e mastigar a bochecha. Se caracteriza pela preocupação não delirante com a infidelidade do parceiro, que leva a pensamentos invasivos e comportamentos repetitivos de vigilância. Exclui: transtorno delirante – tipo ciumento ou transtorno de personalidade paranoide. Se caracteriza pelo medo excessivo de ter uma deformidade corporal e que leva aos sintomas obsessivos-compulsivos relacionados. Se caracteriza pelo medo excessivo, abrupto e intenso de que os órgãos sexuais (pênis, vulva ou mamilos) recuem para dentro do corpo podendo levar ao óbito. Transtorno tipo dismórfico corporal sem comportamentos repetitivos Transtorno de comportamento repetitivo focado no corpo Ciúme obsessivo Shubo-kyofu Koro Jikoshu-kyofu 06/08/2022 13:06 Transtorno obsessivo-compulsivo e transtornos relacionados https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/03569/index.html# 40/46 É caracterizado pelo medo de ter um odor corporal desagradável, também conhecido como síndrome de referência olfativa. TOC e transtorno relacionado não especi�cado Integrando o mesmo código 300.3 do DSM-5, esse transtorno se aplica quando os sintomas apresentados pelo paciente em comparação com os sintomas característicos do transtorno obsessivo-compulsivo e transtorno relacionado não satisfazem todos os critériospara nenhum transtorno das classes anteriores. Trata-se de uma categoria residual e pode também ser usado quando o clínico não deseja especificar a razão pela qual os critérios não são satisfeitos ou quando o diagnóstico acontece sem muitas informações para um diagnóstico mais específico. No CID-10, essa categoria é classificada sob o código F42.9 – Transtorno obsessivo-compulsivo não especificado. Transtorno obsessivo-compulsivo não especificado. Vem que eu te explico! Os vídeos a seguir abordam os assuntos mais relevantes do conteúdo que você acabou de estudar. Módulo 3 - Vem que eu te explico! Transtorno obssessivo-compulsivo e transtorno relacionado devido a outra condição médica Módulo 3 - Vem que eu te explico! Outros transtornos obsessivos-compulsivos e transtorno relacionado especi�cado 06/08/2022 13:06 Transtorno obsessivo-compulsivo e transtornos relacionados https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/03569/index.html# 41/46 Todos Módulo 1 - Video Diagnóstico e caracterização do transtorno obsessivo-compulsivo Módulo 2 - Video Falta pouco para atingir seus objetivos. Vamos praticar alguns conceitos? Todos Módulo 1 Módulo 2 Módulo 3 Questão 1 Os transtornos que apresentam os componentes obsessivos e os comportamentos compulsivos como decorrência de uma causa fisiopatológica são denominados de transtornos relacionados ao transtorno obsessivo-compulsivo. Dentre eles, podemos citar: A Transtorno obsessivo-compulsivo e transtorno relacionado induzido por dismorfia corporal. B Transtorno obsessivo-compulsivo e transtorno relacionado induzido por tricotilomania. C Transtorno obsessivo-compulsivo e transtorno relacionado induzido transtorno de escoriação. 06/08/2022 13:06 Transtorno obsessivo-compulsivo e transtornos relacionados https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/03569/index.html# 42/46 D Transtorno obsessivo-compulsivo e transtorno relacionado induzido por substância/medicamento. E Transtorno obsessivo-compulsivo e transtorno relacionado induzido por acumulação. Parabéns! A alternativa D está correta. Para que um distúrbio seja classificado como um transtorno relacionado ao transtorno obsessivo- compulsivo, além de preencher os critérios das ideias obsessivas e os comportamentos repetitivos, se faz necessário uma causa fisiopatológica que sustente o diagnóstico. Nesse caso, ele pode ser “induzido por substância/medicamento”, “devido a outra condição médica” ou “especificado”. Questão 2 Embora os transtornos relacionados especificados tenham os mesmos critérios de classificação de um transtorno obsessivo-compulsivo, quando se faz necessário explicitar a razão do diagnóstico, pode-se usar seis classificações específicas para a designação desse transtorno. Relacione essa classificação com as suas características: (A) Transtorno de comportamento repetitivo focado no corpo (B) Shubo-kyofu (C) Koro (D) Jikoshu-kyofu ( ) Roer unhas, morder os lábios e mastigar a bochecha ( ) Medo de ter uma deformidade corporal. ( ) Medo de morrer por um recuo para dentro dos órgãos sexuais. ( ) Medo de ter um odor corporal desagradável. Assinale a alternativa que apresenta a ordem das relações corretas: A A – D – C – B B A – B – C – D 06/08/2022 13:06 Transtorno obsessivo-compulsivo e transtornos relacionados https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/03569/index.html# 43/46 Considerações �nais As perturbações mentais e comportamentais podem ser consideradas como entidades. Dessa forma, dentro do significado clínico elas se originam de alterações na capacidade cognitiva, no humor (emoções) e podem provocar comportamentos que impedem ou dificultam o desempenho das funções pessoais e sociais do indivíduo, de forma sustentada ou recorrente. Como vimos, o transtorno mental se difere do conceito de doença. A definição nos leva a um entendimento de um conjunto de sintomas que trazem perturbações e carecem de uma etiologia e de um tratamento específicos. Realmente, o aumento das evidências clínicas dos TOCs e dos transtornos relacionados aumentam a C A – C – B – D D D – B – C – A E D – C – B – A Parabéns! A alternativa B está correta. O transtorno de comportamento repetitivo focado no corpo se diferencia da ansiedade e do transtorno de escoriação porque não é impulsivo e possui as qualidades obsessivas presentes. Os outros termos são oriundos do Glossário de conceitos culturais de sofrimento, no anexo do DSM-5, sendo o shubo-kyofu uma variante do taijin kyofusho relacionado ao medo de ter o corpo deformado; o koro, como uma variante da síndrome de dhat, que é o medo da inversão dos órgão sexuais podendo levar à morte; e o jikoshu-kyofu, também uma variante do taijin kyofusho, mas que se refere ao medo de ter um odor corporal desagradável. 06/08/2022 13:06 Transtorno obsessivo-compulsivo e transtornos relacionados https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/03569/index.html# 44/46 atenção dada para sua classificação e diagnóstico. Ainda assim, os diagnósticos diferenciais fazem com que não tenhamos dúvida sobre a opção de remanejar esse transtorno, retirando-o das classificações dos transtornos de ansiedade e colocando-os à parte para melhor identificar e definir as condutas psicoterápicas. Sendo assim, vimos como os transtornos obsessivos-compulsivos e transtornos relacionados são fonte de diversas demandas ao psicólogo. Todos os temas e conceitos abordados são importantes para que qualquer profissional em Psicologia possa adquirir conhecimento para lidar com esse tema, um campo imprescindível na formação clínica. Com esse conhecimento, podemos, sim, gerir novas demandas e estratégias de intervenções em pesquisas, mais atuais que daquelas recomendadas. Podcast Neste podcast, o especialista falará sobre o transtorno obsessivo-compulsivo e outros transtornos relacionados. Referências APA. Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais: DSM-5. Tradução: Maria Inês Corrêa Nascimento. 5. ed. Porto Alegre: Artmed, 2014. COUTO, L. A heterogeneidade do transtorno obsessivo-compulsivo (TOC): uma revisão seletiva da literatura. Contextos clínicos, v. 3, n. 2, p. 132-140, 30 nov. 2010. Consultado na internet em: 8 jun. 2022. DALGALARRONDO, P. Psicopatologia e semiologia dos transtornos mentais. 3. ed. Porto Alegre: Artmed, 2019. FIGUEIRÊDO, F. M. et al. Repercussões psicológicas em familiares de pacientes com transtorno obsessivo- 06/08/2022 13:06 Transtorno obsessivo-compulsivo e transtornos relacionados https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/03569/index.html# 45/46 compulsivo: uma revisão integrativa da literatura. Temas em Saúde - Edição Especial, v. 1, n. 1, p. 402-418, 2020. Consultado na internet em: 8 jun. 2022. FREUD, S. O problema econômico do masoquismo [1924]. In: Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago, 1996. v. XIX (1923-1925). OMS (ED.). Classificação de transtornos mentais e de comportamento da CID-10: descrições clínicas e diretrizes diagnósticas. Porto Alegre: Artes Médicas, 1993. RICHARTZ, M.; GON, M. C. C.; ZAZULA, R. Intervenções comportamentais para o transtorno de escoriação: revisão de artigos publicados em periódicos de saúde. Revista Brasileira de Análise do Comportamento, v. 13, n. 2, 6 jul. 2018. Publicado em: 6 jul. 2018. SCHMIDT, D. R.; DELLA MÉA, C. P. Avaliação de sintomas psicológicos no transtorno da acumulação: um estudo de caso. Revista Avaliação Psicológica, v. 16, n. 3, p. 268-277, 15 jul. 2017. Publicado em: 15 jul. 2017. TORRES, A. R. R. Sentimento de inadequação: estudo fenomenológico-existencial. 2008. Publicado em: 15 fev. 2008. TORRES, A. R.; LIMA, M. C. P. Epidemiologia do transtorno obsessivo-compulsivo: uma revisão. Revista Brasileira de Psiquiatria, v. 27, n. 3, p. 237-242, 2005. Consultado na internet em: 8 jun. 2022. ZIMERMAN, D. E. Manual de técnica psicanalítica: uma revisão. Porto Alegre: Artmed, 2004. Explore + Existem vários filmesque pretendem descrever como é a mente de uma pessoa com transtorno obsessivo- compulsivo. Pesquise nas suas plataformas de streaming e tente encontrar as características diagnósticas no DSM-5. São eles: I. Os vigaristas (Matchstick men) – Ridley Scott, 2003. II. Melhor é impossível (As good as it gets) – James L. Brooks, 1997. III. A menina no País das Maravilhas (Phoebe in Wonderland) – Daniel Barnz, 2009. IV. TOC: Transtornada obsessiva compulsiva – Caruso; Poppvick, 2017. V O aviador (The aviator) – Martin Scorcese 2004 06/08/2022 13:06 Transtorno obsessivo-compulsivo e transtornos relacionados https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/03569/index.html# 46/46 V. O aviador (The aviator) Martin Scorcese, 2004. VI. Monk: um detetive diferente (Monk) – Andy Breckman, 2002. VII. Toc Toc: uma comédia obsessivamente divertida – Vicente Villanueva, 2020. Não deixe de assistir ao vídeo Acumuladores, com Christian Dunker, no canal Falando nIsso 353, no YouTube. Nesse vídeo, esse famoso autor da Psicanálise demonstra a psicodinâmica dos transtornos de acumulação e como o paciente se torna o “rei do lixo”. Os conceitos de repetição e o manejo do sintoma são explicados como formas de compreender os isolamentos, as solidões e o trabalho da escuta para reposicionar o sujeito diante do sintoma. Leia o livro da psiquiatra Ana Beatriz Barbosa Silva. Mentes e manias – TOC: transtorno obsessivo- compulsivo. Considerado um best-seller com mais de 2 milhões de cópias, a autora percorre de modo didático e com uma linguagem acessível os conceitos, os comportamentos característicos e vários exemplos da diversidade dentro desse transtorno. O tratamento dos transtornos obsessivos-compulsivos normalmente demanda intervenção farmacológica. Leia o artigo de Cicarini, W. B. e colaboradores intitulado Tratamento farmacológico do transtorno obsessivo-compulsivo (TOC), publicado em 2022 na Revista de Trabalhos Acadêmicos – Universo Belo Horizonte, 1(5). Esse artigo contém uma rica revisão bibliográfica sobre o assunto e aponta as medicações e as condutas que melhor repondem às expectativas de cura. Baixar conteúdo javascript:CriaPDF()
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