Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CURSO DE LICENCIATURA EM FÍSICA Rannyer dos Santos Soares Equilibrando Orientadora Ligia de Farias Moreira Banca Ligia de Farias Moreira Francisco Artur Brawn Chaves José Eduardo Ramalho Dantas [CEFET, Friburgo] João José Fernandes de Sousa Fevereiro de 2012 I. F. U. F. R. J. B I B L I O T E C A REGíSTR. DATA DEDICATÓRIA Dedico este trabalho primeiramente às duas pessoas mais importantes da minha vida não somente por terem me dado o dom da vida, mas também por terem desde criança me ensinado, com a sabedoria que sempre lhes foram abundante, a importância da educação. Por isso agradeço aos meus pais por terem me apoiado e acreditado em mim em todos os momentos, sobretudo nos mais críticos. Não posso também deixar de dedicar à pessoa que esteve comigo em boa parte desta caminhada, que com seu amor, paciência e incentivo me ajudou a enfrentar todos os percalços ocorridos até aqui. Minha esposa querida, obrigado. AGRADECIMENTOS Agradeço a professora Lígia de Farias Moreira por sua dedicação à formação de professores do curso de Licenciatura em Física desta instituição e por ter pacientemente me ajudado neste trabalho. Ao professor Roberto Pimentel por me fazer enxergar que é possível um ensino de física interessante. Agradeço também ao professor Josevan, pois sem ele este sonho talvez não fosse possível. IV PENSAMENTO "Saber ensinar não é transmitir conhecimento, mas criar possibilidades para a sua própria produção ou a sua construção. Quando entro em sala de aula devo estar sendo um ser aberto a indagações, á curiosidade, às perguntas dos alunos, a suas inibições; um ser crítico e inqueridor, inquieto em face da tarefa que tenho - a de ensinar e não a de transferir conhecimento." Paulo Freire RESUMO O estudo do equilíbrio dos corpos é um dos assuntos mais abordados em física no âmbito do Ensino Fundamental (9° ano) e Ensino Médio, e seu valor se compreende não somente devido à sua grande aplicação no cotidiano (em todos os objetos que estão em repouso e em casos restritos de movimento), mas também por que a discussão dos conceitos abordados aqui permite um entendimento sobre as demais situações em que o equilíbrio não se verifica, pois conhecendo as condições para um corpo estar em equilíbrio fica-se munido de diversos conceitos físicos como força e momento que estarão também relacionados aos demais casos (desequilíbrio). Inclusive outros ramos da física abordam o assunto "equilíbrio" de forma indireta. Pretende-se fazer com que os alunos compreendam o equilíbrio mecânico e consigam enxergá-lo no dia-a-dia, e que tenha condições de perceber as forças e os torques envolvidos e tirar conclusões a respeito destes. Ao final, de posse dos conceitos de: força, centro de gravidade e momento, deseja-se que os educandos compreendam o princípio da alavanca, reconhecendo sua aplicação nos diversos instrumentos (máquinas simples), assim como também os aspectos históricos de sua aplicação com Arquimedes. Diante das inúmeras dificuldades encontradas no ensino de Física procurou-se privilegiar uma prática mais atraente aos alunos, não baseada na memorização de fórmulas, mas sim atenta a discussão dos conceitos, onde o aluno é inserido em situações em que ele reflita e formule explicações a cerca do fenômeno observado, e, portanto, construa seu próprio conhecimento. E para facilitar a aprendizagem permitindo tudo isso que se acabou de dizer foram pensados diversos mini-experimentos com materiais de baixo custo. VI SUMARIO INTRODUÇÃO l CAPITULO l - METODOLOGIA E MATERIAIS 5 1.1 VYGOSTKY 5 1.2 DAVIDAUSUBEL 6 1.3 MATERIAIS 7 13 LEI DE NEWTON: EQUILÍBRIO ESTÁTICO 7 1̂ LEI DE NEWTON: EQUILÍBRIO DINÂMICO 7 CENTRO DE GRAVIDADE: CORPOS HOMOGÊNEOS 8 CENTRO DE GRAVIDADE:CORPOS NÃO-HOMOGÊNEOS 8 DETERMINAÇÃO EXPERIMENTAL DO CENTRO DE GRAVIDADE DE ALGUMAS FIGURAS 8 APOIO E CENTRO DE GRAVIDADE: EXEMPLO l 9 APOIO E CENTRO DE GRAVIDADE: EXEMPLO 2 9 APOIO E CENTRO DE GRAVIDADE: EXEMPLO 3 9 EQUILÍBRIO ESTÁVEL: NA CORDA BAMBA 9 EQUILÍBRIO ESTÁVEL: EQUILIBRANDO GARFOS 10 EQUILÍBRIO ESTÁVEL: SAPO QUILIBRISTA 10 EQUILÍBRIO INSTÁVEL: PIRÂMIDE INVERTIDA 10 EQUILÍBRIO INSTÁVEL: "NO CUME DA MONTANHA" 11 EQUILÍBRIO INSTÁVEL: "DESCENDO A ESCADA" 11 ESTABILIDADE E ALTURA DO CENTRO DE GRAVIDADE 11 EQUILÍBRIO DE ROTAÇÃO 11 VII MOMENTO DE FORÇA 12 ALAVANCA: EXEMPLO l 12 ALAVANCA: EXEMPLO 2 13 CAPITULO 2-NOÇÃO DE FORÇA E INÉRCIA 13 1.l CONHECIMENTOS PRÉVIOS 14 2.2 FUNDAMENTOS TEÓRICOS 15 2.2.1 NOÇÃO DE FORÇA 15 2.2.2 LEI DA INÉRCIA E A 1§ LEI DE NEWTON 19 2.2.3 FORÇA PESO E FORÇA DE APOIO 25 CAPÍTULO 3 - CENTRO DE GRAVIDADE E NOÇÕES DE EQUILÍBRIO 27 1.l CONHECIMENTOS PRÉVIOS 27 3.2 FUNDAMENTOS TEÓRICOS 31 3.2.1 CENTRO DE GRAVIDADE. DEFINIÇÃO E COMO ENCONTRÁ-LO 31 3.2.2 NOÇÕES DE EQUILÍBRIO 37 CAPITULO 4 - EQUILÍBRIO DE TRANSLAÇÃO X EQUILÍBRIO DE ROTAÇÃO..47 4.1 FUNDAMENTOS TEÓRICOS 47 4.1.1 IORQUE OU MOMENTO DE UMA FORÇA 47 4.1.2 CONDIÇÃO DE EQUILÍBRIO 54 4.2.3 EXPLICANDO OS CASOS DE EQUILÍBRIO ANTERIORES 57 4.2.4 APLICAÇÃO DA CONDIÇÃO DE EQUILÍBRIO. PRINCÍPIO DA ALAVANCA 59 VIII CAPÍTULO 5 - CONSIDERAÇÕES FINAIS 62 REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS........ .................64 INTRODUÇÃO O nosso cotidiano está rodeado de situações onde ocorre equilíbrio mecânico. Podemos percebê-lo desde brinquedos simples, como o que veremos neste trabalho, até em grandes construções civis, como pontes e edifícios. Olhando ao seu redor, você seria capaz de identificar situações onde há Equilíbrio Mecânico? Com atenção é possível identificar. O Equilíbrio mecânico de uma partícula ocorre sempre que a resultante das forças atuantes sobre a mesma for nula, fazendo com que a partícula esteja em repouso (Equilíbrio Estático) ou em MRU (Equilíbrio Dinâmico). (É importante que se entenda que Equilíbrio (Mecânico) não é sinônimo de repouso). Em se tratando de corpos extensos esta condição passa a ser insuficiente, ou seja, mesmo a resultante das forças sendo nula o corpo extenso pode não estar em equilíbrio, portanto, para garanti- lo nesses casos, o momento resultante também deve ser nulo, evitando, por exemplo, que um corpo extenso que esteja parado inicie um movimento de rotação. O Equilíbrio estático está presente nas prateleiras dos armários, na mesa, em sua cama, nas apresentações de circo, nos esportes em geral etc. Nas construções civis, de grande ou pequeno porte, engenheiros prezam por ele; nos esportes temos: o Surf, onde o surfista busca-o incessantemente. Nós quando criança, a partir de dois anos de idade somos instigados por nossos pais a caminhar; e manter o equilíbrio torna-se uma das primeiras necessidades do processo de aprendizagem humana. Você já deve ter percebido que ao escorregarmos buscamos o equilíbrio deslocando a parte mais pesada do nosso corpo para baixo fazendo-a ficar mais próxima do chão ou notado que alguns caminhões transportadores de cargas pesadas têm um formato diferenciado, ou ainda percebido a adição de pesos junto à base de andaimes de ferro. Quem não fica impressionado ao olhar para um canteiro de obras e perceber um guindaste suspender cargas pesadas e ainda permanecer em equilíbrio ou "sentir" como fica muito mais fácil carregar um saco de cimento de 50 kg num carrinho de mão do que nas costas. Enfim, poderíamos citar aqui uma enorme quantidade de exemplos do cotidiano onde o equilíbrio se verifica, o que por sua vez, justificam o seu estudo. Este trabalho está direcionando aos alunos do Ensino Fundamental (9° ano) ou 1° ano do Ensino Médio. Apesar de normalmente o conceito de momento não ser visto no ensino fundamental, seu estudo pode ser implementado, pois a abordagem que será feita está mais preocupada com a aprendizagem do conceito do que com a resolução de exercícios mais complexos. Os alunos de uma maneira geral têm seu primeiro contato com a Física no nono ano do ensino fundamental, e infelizmente, alguns professores optam por uma física poucoatraente, carregada de fórmulas, com ênfase na resolução de problemas, envolvendo muito mais matemática do que a discussão de conceitos físicos não promovendo, portanto o desenvolvimento cognitivo do aluno a cerca da Física. Esta constatação foi verificada pelas pesquisadoras Flávia Resende e Fernanda Ostermann, no artigo A prática do professor e a pesquisa em ensino de Física: novos elementos para repensar essa relação (2004), como nota-se no trecho a seguir: "Os professores estão conscientes de que ensinam de forma tradicional, seja pela falta de tempo para planejamento, por não saberem como mudar ou por se sentirem inseguros para tal e demonstram insatisfação com seus métodos de ensino e sua prática pedagógica. O ensino tradicional (de Física) é freqüentemente associado ao excessivo formalismo matemático". (Ostermann e Rezende 2004) Nesse paradigma, o aluno considerado ideal é aquele que não questiona o método de seu professor, mas em silêncio resolve, ou pelo menos tenta resolver todos os problemas que lhe são propostos. Nesta prática educacional, os conhecimentos prévios dos alunos são completamente ignorados, assim como aquele grau de curiosidade que lhe são próprios. Os Parâmetros Curriculares Nacionais, PCNs [Brasil,1999] direcionam o ensino da Física para um caminho que procura romper com o tradicionalismo, buscando a reflexão, introduzindo o conceito de competências e habilidades. As competências são conhecimentos importantes ao homem moderno, que visam uma formação ampla do indivíduo, onde a Física aparece como um instrumento de compreensão do mundo. As competências em Física são: 1. Reconhecer e utilizar adequadamente na forma oral e escrita símbolos, códigos e nomenclatura da linguagem científica. 2. Ler, articular e interpretar símbolos e códigos em diferentes linguagens e representações: sentenças, equações, esquemas, diagramas, tabelas, gráficos e representações geométricas. 3. Consultar, analisar e interpretar textos e comunicações de C&T veiculados através de diferentes meios. 4. Elaborar comunicações orais ou escritas para relatar, analisar e sistematizar eventos, fenômenos, experimentos, questões, entrevistas, visitas, correspondências. 5. Analisar, argumentar e posicionar-se criticamente em relação a temas de C&T. 6. Identificar em dada situação-problema as informações ou variáveis relevantes e possíveis estratégias para resolvê-la. 7. Identificar fenômenos naturais ou grandezas em dado domínio do conhecimento científico, estabelecer relações; identificar regularidades, invariantes e transformações. 8. Selecionar e utilizar instrumentos de medição e de cálculo, representar dados e utilizar escalas, fazer estimativas, elaborar hipóteses e interpretar resultados. 9. Reconhecer, utilizar, interpretar e propor modelos explicativos para fenômenos ou sistemas naturais ou tecnológicos. 10. Articular, integrar e sistematizar fenômenos e teorias dentro de uma ciência, entre as várias ciências e áreas de conhecimento. 11. Compreender o conhecimento científico e o tecnológico como resultados de uma construção humana, inseridos em um processo histórico e social. 12. Compreender a ciência e a tecnologia como partes integrantes da cultura humana Contemporânea. 13. Reconhecer e avaliar o desenvolvimento tecnológico contemporâneo, suas relações com as ciências, seu papel na vida humana, sua presença no mundo cotidiano e seus impactos na vida social. 14. Reconhecer e avaliar o caráter ético do conhecimento científico e tecnológico e utilizar esses conhecimentos no exercício da cidadania. Como se pode averiguar as competências contidas nos PCNs visam a formação de um indivíduo consciente e crítico, apto a participar das decisões ética e moral da sociedade. Um bom exemplo de inovação da prática do ensino de Física a ser citado é o professor Barry Parker. Em seu livro "À Boleia com Isaac Newton - O automóvel e a Física" ele comenta o enorme sucesso de suas aulas ao fazer os seus alunos aprenderem Física utilizando o automóvel como elemento motivador: "Sempre que usava exemplos tirados do «mundo automóvel» para ilustrar um princípio da física, a atenção deles parecia subir em flecha. Continuei, portanto, a utilizar esse truque sempre que possível". [Parker,2003] O objetivo deste trabalho consiste em propor uma maneira de abordar equilíbrio dos corpos através de experimentos simples com materiais de baixo custo, como por exemplo: madeira, papel, brinquedos etc. Pode-se com experimentos ou materiais simples realizar um ensino eficaz. A adoção de experimentos em sala de aula tem como objetivo resgatar a motivação dos alunos escapando daquelas aulas meramente expositivas e tradicionais fazendo-os perceber a Física presente em seu dia-a-dia. Com isso, também apresentamos ao professor de Física, uma forma de se abordar esse tema utilizando alguns experimentos simples, mas eficazes. Para isto, foi feito um intenso trabalho de pesquisa em livros didáticos, na internet e artigos científicos. Espera-se do aluno a percepção deste tema frente ao cotidiano, e a compreensão dos conceitos físicos de: força, centro de gravidade, ponto de suporte (ou de apoio), e torque, e que saiba a relação existente entre estes conceitos e o equilíbrio mecânico dos corpos, principalmente no que diz respeito às condições de equilíbrio. O Princípio da Alavanca será abordado fazendo-os perceber que este é apenas uma conseqüência direta do equilíbrio de rotação. Sugeri-se a criação de ambientes de interação onde o aluno aprenda interagindo, brincando e/ou manuseando os materiais, formulando suas explicações a cerca do fenômeno, tudo isso sob a supervisão do professor, indispensável ao processo de aprendizagem. O professor aparece como um tutor ou orientador. Ele deverá estar atento aos comentários dos alunos, a qualquer indagação, e de maneira oportuna fazer questionamentos ao educando a cerca daquilo que se observa, com a finalidade de que este reflita sobre alguma situação- problema. CAPITULO 1: METODOLOGIA E MATERIAIS 1.1 VYGOTSKY Para Vygotsky o ambiente social no qual o indivíduo está inserido molda-o de tal maneira que não se pode estudar o desenvolvimento da criança sem prestar atenção ao meio social em que ela vive. A criança nasce num mundo social, e vai formando sua visão deste mundo por meio da interação com os outros integrantes. Neste paradigma a construção acontece do social para o individual, antes de ser internalizada pela criança. Esta foi uma das grandes contribuições de Vygotsky. A interação social deve ser algo almejado pelos professores, e deve promover espaço livre para a discussão e reflexão permitindo que na convivência social a apropriação do patrimônio cultural da humanidade seja adquirida pelos educandos. Entende-se como patrimônio cultural da humanidade os conhecimentos adquiridos pelo Homem ao longo dos séculos. Outro grande feito de Vygotsky refere-se à formação dos conceitos. Ele elaborou a distinção entre significado e sentido, definindo significado como aquilo que é estabelecido pelo social, e sentido como a interpretação do sujeito histórico, situado em um tempo, espaço e contexto social. O significado refere-se ao conceito científico, enquanto que o sentido caracteriza-se pelos conceitos cotidianos elaborados pelos indivíduos, ou seja, o senso comum. Daí a importância do professor ou de um orientador experiente conduzindo o processo de aprendizagem. A grande tarefa do professor (e talvez esse seja o maior desafio) de acordo com Martins (1997) é enriquecer esses conceitos cotidianos dos alunos através do conhecimento científico, desenvolvido historicamente. "Cabe a ele promover a articulação dos conceitos espontâneos da criança com os científicos veiculados na escola, de tal forma que, de um lado, os conceitos espontâneos possam inserir-se em uma visão mais abrangente do real, própria do conceito científico, e, de outro lado, os conceitos científicos tornem-se mais concretos, apoiando-se nos conceitos espontâneos gerados na própria vivência da criança.Criam-se, assim, novas condições para que os alunos compreendam de forma mais ampla a realidade." [Martins, 1997] Na perspectiva Vygotskiana o aluno é um ser dinâmico e como tal participa de sua própria construção do conhecimento, pois ele se posiciona, levanta hipóteses, questiona os demais colegas naquele ambiente interacionista. Para Vygotsky a aprendizagem de determinado conceito somente se consolida quando a criança é capaz de internalizar e pensar sobre ele; a criança deve reconstruir internamente aquilo que foi visto na atividade externa. 1.2 DAVIDAUSUBEL Este trabalho está em concordância com a teoria de David Ausubel sobre aprendizagem significativa. A aprendizagem significativa tem como característica principal a interação entre novo conhecimento e conhecimento prévio dos alunos, conhecidos como subsunçores. Para Ausubel o sucesso da aprendizagem está em justamente ensinar partindo daquilo que os alunos já carregam como bagagem, isto fica evidenciado no trecho a seguir: "...o fator isolado mais importante que influencia a aprendizagem é aquilo que o aprendiz já sabe. Averigue isso e ensine-o de acordo" É bem verdade que normalmente estes conhecimentos prévios são muitas vezes simplistas, sem muitos detalhes, porém o novo conhecimento ancorado a eles trazem significados ao aprendiz como afirma Moreira [1982] a seguir: "Sabemos que a aprendizagem significativa caracteriza-se pela interação cognitiva entre o novo conhecimento e o conhecimento prévio. Nesse processo, que é não-literal e não-arbitrário, o novo conhecimento adquire significados para o aprendiz e o conhecimento prévio fica mais rico, mais diferenciado, mais elaborado em termos de significados, e adquire mais estabilidade". Pode-se dizer então que o processo de ensino-aprendizagem é dinâmico, pois os conhecimentos dos alunos sofrem intensa transformação, seja através da modificação dos conceitos subsunçores velhos ou da construção de novos conceitos. O papel do professor é de crucial importância, interagindo com os alunos ajudando-os. À medida que estes novos conceitos vão sendo recebidos, um intenso processo de assimilação vai ocorrendo nos alunos (Diferenciação progressiva). Para que a aprendizagem ocorra de maneira significativa duas condições precisam ser satisfeitas. Primeiro deve haver disposição do aprendiz em aprender, pois sem isso nada ocorre. E pensando nisso procurou-se então fazer a parte que cabe ao professor, que consiste em buscar materiais que permitem a construção dos conceitos de maneira mais agradável e democrática possível, fazendo com que o aluno tenha condições de chegar à resposta e não ficar somente esperando ela vir do professor como ocorre nas aulas tradicionais (aprendizagem mecânica). Diversos experimentos simples de baixo custo potencialmente significativos podem ser levados para sala de aula, para que os alunos pensem e reflitam sobre os conceitos, o que faz vir à tona os conceitos subsunçores existentes na estrutura cognitiva do educando e com isso o professor tenha capacidade de ajudá-lo na aquisição dos novos conceitos a serem assimilados sem imposição. A idéia é criar o ambiente apropriado para que os alunos possam aprender e construir seu conhecimento de forma eficaz. 1.3 MATERIAIS Levaremos para a sala de aula inúmeras pequenas experiências que podem ser feitas na hora, com material disponível em sala de aula, E de preferência elas serão feitas em grupo. Descreveremos, a seguir, apenas aquelas que necessitaram de maiores cuidados. 1a LEI DE NEWTON: EQUILÍBRIO ESTÁTICO Materiais: - 3 dinamômetros. - 1 argola. A idéia consiste em prender os ganchos dos dinamômetros na argola; um dinamômetro puxa a argola para direita e os outros dois puxam-na para a esquerda, todos na mesma direção. Toma-se nota das indicações destes instrumentos diante de uma situação de equilíbrio da argola. 1a LEI DE NEWTON: EQUILÍBRIO DINÂMICO Materiais: - 1 bexiga - 1 seringa 5 ml (sem agulha e embolo) - Massa de modelar -1 CD A bexiga cheia de ar é posta na extremidade no bico da seringa sem necessidade de qualquer tipo de vedação, pois o material adere bem ao diâmetro da seringa que tem a outra extremidade (abertura de maior área) presa com massa de modelar sob a superfície do CD, exatamente em cima do orifício central deste. O aparato é posto em movimento e observado. CENTRO DE GRAVIDADE: CORPOS HOMOGÊNEOS Material: - Régua - Papelão Apóia-se a régua em cima do cavalete feito de papelão até que esta fique em equilíbrio. CENTRO DE GRAVIDADE: CORPOS NÃO - HOMOGÊNEOS Material: - martelo - tábua fina de madeira. Busca-se o equilíbrio do martelo ao apoiá-lo na fina tábua, quanto mais fina for esta superfície mais difícil fica equilibrá-la, porém melhor será o ponto onde se localiza exatamente o ponto de equilíbrio. DETERMINAÇÃO EXPERIMENTAL DO CENTRO DE GRAVIDADE DE ALGUMAS FIGURAS Material: - Papel cartão em diversos formatos (Quadrilátero, triângulo, meia- lua). - Rolha de cortica - Alfinete. - Linha de costura - Espeto de madeira - Massa de modelar Para montar o suporte fixa-se o espeto na massa de modelar (base) com a parte pontiaguda voltada para cima, onde será posto a rolha de cortica. Faz-se um furo na figura (papel-cartão) por onde passará o alfinete que será preso à rolha. No alfinete é posto o fio de costura por onde pende na outra extremidade um peso também feito com massa de modelar, o que funcionará como fio de prumo. APOIO E CENTRO DE GRAVIDADE: EXEMPLO 1 Materiais: - Livros Os livros são colocados um sobre outro com uma pequena defasagem até o momento que a pilha esteja prestes a tombar (Iminência de tombamento) APOIO E CENTRO DE GRAVIDADE: EXEMPLO 2 Material: - Caixa retangular - Superfície plana horizontal A caixa vai sendo levemente empurrada para fora da superfície até que o centro de gravidade localize-se no ponto de apoio e fora da base de apoio. APOIO E CENTRO DE GRAVIDADE: EXEMPLO 3 Materiais: - Uma caixa de papelão - Objeto pesado que caiba no interior da caixa (utilizou-se uma pedra de amolar facas). O peso serve para alterar a posição do centro de gravidade do conjunto e dessa maneira permitir o equilíbrio. EQUILÍBRIO ESTÁVEL: NA CORDA BAMBA Material: - Boneco Lego. - Massa de modelar. -Roldana de ferro pintado. (http ://www.royalmaq uinas.com. br/loja/website/89/784//roldana-de- ferro-pintado-6cm-fbm.html) - Arame Galvanizado n° 24. 10 - Barbante. -Pilha - Esparadrapo O boneco lego é posto em um banco de "massinha" que por sua vez é fixado no parafuso da roldana que se equilibra no barbante. O arame enrolado na roldana sai da mesma em formato circular onde na outra extremidade é posto um peso (pilha) preso com esparadrapo. EQUILÍBRIO ESTÁVEL: EQUILIBRANDO GARFOS Material: - Garrafa de vidro - Rolha de cortiça - Dois garfos idênticos - palito O palito é espetado na rolha de cortiça que também receberá os dois garfos penetrados nela simetricamente e na lateral. O palito é apoiado em uma superfície qualquer. EQUILÍBRIO ESTÁVEL: SAPO EQUILIBRISTA Material: - Desenho do Sapo em papel cartão - Fita adesiva - Duas moedas de 5 ou 10 centavos. Propõe-se aos alunos tentarem equilibrar o sapo na ponta do dedo. Obviamente que isto somente será possível com a adição de duas moedas presas as fitas adesivas que estão coladas nas patas do sapo. EQUILÍBRIO INSTÁVEL: PIRÂMIDE INVERTIDA Material: - Pirâmide de acrílico 11 A mesma pode ser substituída por uma pirâmide de papel cartão ou um chapéu de palhaço. A idéia é tentar manter este objeto em equilíbrio apoiado pela parte pontiaguda. EQUILÍBRIO INSTÁVEL: "NO CUME DA MONTANHA" Material: - Superfície Convexa. - Massa de modelar. A bolinha de massa de modelar é abandonada no ponto mais alto da superfície curva e levemente deslocada desta posição de equilíbrio. EQUILÍBRIO INSTÁVEL: "DESCENDO A ESCADA" Material: - Brinquedo de madeira. - Escada feita com duas madeiras finas -Cola de madeira. - Palitos de sorvete. Os palitos de sorvetesconstituirão os degraus da escada. Estes deverão ser colados e igualmente dispostos ao longo do comprimento das duas madeiras tendo o cuidado de mantê-los na horizontal. O brinquedo de madeira é posto no degrau mais alto da escada e solto em seguida. ESTABILIDADE E ALTURA DO CENTRO DE GRAVIDADE Material: - 1 caixa de papelão de dimensões 7,9 cm x 7,9 cm x 27 cm. - blocos de madeira de dimensões 1,5 cm x 7,5 x 1,5 cm. - 2 Livros - 1 Régua A caixa de papelão vazia é posta em cima da superfície do livro cujo ângulo com a horizontal vai aumentando até o ângulo crítico. Feito isso, repete-se o procedimento adicionando alguns blocos de madeira no fundo da caixa. EQUILÍBRIO DE ROTAÇÃO 12 Material: - Suporte de madeira (Formato de T invertido) constituído por duas madeiras: Base (20 cm x 8 cm x 2,3 cm) e haste vertical (3,7 cm x 1,2 cm x 28,5 cm) - Furadeira. - Parafuso - Régua milimetrada de espessura não muito fina de comprimento 40 cm. - Pesos iguais (2 Clipes idênticos e 2 Rolhas idênticas) O suporte de madeira em formato de T invertido é constituído por duas madeiras e possui um furo central na parte superior da haste vertical onde será posto um parafuso no qual a régua estará apoiada. Por isso deve-se utilizar a mesma broca para fazer a perfuração na régua, que não pode ter espessura muito fina, pois desse modo a mesma poderá quebrar-se facilmente. MOMENTO DE FORÇA Material: - Cabo de vassoura - Sacola plástica contendo peso conhecido (utilizou-se um alimento não perecível de 1kg) Tenta-se equilibrar o peso de 1kg segurando o cabo de vassoura pela extremidade oposta àquela onde está o peso. ALAVANCA: EXEMPLO 1 Material: - Duas varetas (aquelas utilizadas na construção de pipas) - Barbante - Massa de modelar em formato cilíndrico - Estilete - Lápis Os pesos foram feitos com massa de modelar no formato cilíndrico; para termos a proporção exata entre os pesos utilizados foram medidos 13 seus comprimentos, dessa maneira pode-se garantir que a massa de modelar de comprimento duas vezes maior terá duas vezes mais peso. Primeiro deve-se amarrar o barbante à vareta (aquela que receberá os pesos) exatamente sobre o seu centro de gravidade. Com um lápis fez-se marcações igualmente espaçadas sobre a vareta. Os pesos deverão ser colocados nestas marcações convenientemente de modo a conseguir o equilíbrio. ALAVANCA: EXEMPLO 2 Material: - Cabo de vassoura - Como peso utilizou-se muitos livros colocados dentro de uma bolsa. - Apoio (improvisou-se com bancos e madeira) Primeiro deve-se sustentar o peso utilizando diretamente as mãos, e somente depois utilizar o cabo de vassoura da forma como se vê na figura. 14 CAPÍTULO 2: NOÇÃO DE FORÇA E INÉRCIA 2.1 CONHECIMENTOS PRÉVIOS Antes de começarmos a aprender sobre equilíbrio é fundamental, segundo a teoria de aprendizagem de David Ausubel, termos uma idéia do que os alunos entendem, no seu senso comum, por equilíbrio e as questões envolventes. Para tanto, faremos um questionário, que dependendo do tempo pode ser uma conversa informal, no início de cada aula. Selecionamos algumas 7- O que é necessário para um corpo parado se movimentar? Deseja-se com a pergunta 1 saber o que os alunos acham necessário para algo que esteja parado se movimente. Espera-se que os alunos digam algo como um empurrão um puxão ou algo parecido. 2- O que é necessário para manter um movimento? A pergunta 2 tem por objetivo averiguar se os alunos apontam como necessário um agente empurrando ou puxando para que algo permaneça em movimento. 3- Como você explica uma bola de futebol após ter sido chutada continuar seu movimento mesmo após perder contato com os pés do jogador? A pergunta 3 é interessante pois se os alunos apontam na pergunta 2 a necessidade de um agente eles se deparariam com uma situação onde este agente não se verifica, o que poderia gerar respostas contraditórias e um conflito no aluno. 4- Como a lua consegue permanecer movendo-se ao redor da terra? Dificilmente um aluno que nunca teve contato com a física responda de forma satisfatória a esta pergunta de número 4, pois exige um nível de abstração elevado. 15 5- O que é necessário para um veículo realizar uma curva de forma segura? O mesmo talvez ocorra com a pergunta número 5. Em ambos os casos os alunos costumam não citar a resultante centrípeta como responsável pelo movimento curvilíneo. 6- Como uma toalha de mesa pode ser puxada para que uma garrafa situada em cima dela não caia? Pretende-se saber se o aluno conhece algo sobre inércia, e sabe justificar corretamente o fenômeno ocorrido. 7- Se uma nave viajando no espaço distante de tudo tivesse seu sistema de propulsão desligado o que ocorreria com seu movimento? Esta questão exige um poder de abstração muito grande dos alunos, pois ela procura identificar se eles têm conhecimento sobre a inércia dos corpos em movimento. 8- Quando você considera que alguma coisa está em equilíbrio? Esta questão pretende verificar se os alunos entendem em equilíbrio apenas como sendo repouso de um corpo. 9- Quais são as condições para um corpo estar em equilíbrio? Deseja-se saber se os alunos sabem a relação íntima entre força, momento e o equilíbrio. 2.2 FUNDAMENTOS TEÓRICOS Em nosso cotidiano existem inúmeras situações envolvendo o Equilíbrio. Para a compreensão de todas elas faz-se necessário o estudo de alguns conceitos primordiais como: força, ponto de apoio (ou suporte), centro de massa, torque (ou Momento). 2,2.1 NOÇÃO DE FORÇA Utilizando a idéia de Ausubel sobre aprendizagem significativa é interessante saber os que os alunos pensam (ou não) sobre este conceito 16 de força, averiguar se utilizam esta palavra para explicar as situações propostas no questionário, e se em caso positivo, ainda o fazem de maneira correta. O objetivo consiste em chegarmos ao conceito científico partindo de suas concepções prévias, corrigindo-as, aperfeiçoando-as, levando-os a refletirem sobre alguns detalhes. Por isso o levantamento sob a forma de questionário, entregue aos alunos no início da aula. No cotidiano é comum vermos a conceituação de força em termos da capacidade de uma pessoa em erguer ou empurrar (ou puxar) algum objeto. Uma das interpretações que as pessoas costumam fazer de alguém que seja "forte" é de que tal indivíduo consiga através de esforço muscular puxar ou erguer objetos pesados. No desenho animado "He- Man" o personagem principal ao tomar a espada na mão dizia: "Pelos Poderes Greyskul, eu tenho a força!". Será mesmo? A definição de força como vigor físico é encontrada no dicionário; é compreensível, porém, a noção de força vista acima não corresponde à forma como definimos do ponto de vista científico. Hewitt admite que, de maneira simples, um corpo está sob ação de alguma força quando recebe um empurrão ou um puxão (Hewitt, 2000 p.49). Imagens como as vistas nas figuras 1.a e 1.b a seguir podem ser entregues aos alunos para ajudá-los na construção do conceito de força. O objetivo a princípio seria fazê-los perceber a idéia de força como empurrão ou puxão. 17 FiGURA 1 a - Uma pessoa exercendo uma Força sobre um carro. Figura 1b - Uma pessoa exercendo uma Força sobre outra. Na figura 2 a seguir vê-se o exemplo de força como um puxão, onde as cordas de aço que se engancham em um cabo de aço preso ao avião fazem-no frear. Figura 2 Um cabo de aço retardam o avião, ajudando-o na aterrissagem. Veja mais fotos no porta-aviões (Foto: Alicia Uchoa /G1) Como podemos notar, onde há força há interação entre corpos, o que sugere a presença de pelo menos dois corpos (interagindo). Por isso o problema com a fala do personagem "He-Man". Quando ele levanta sua espada e grita "... eu tenho a força", esta ainda não se manifestou, pois até então não houve interação dele com algo, por enquanto, temos apenas uma capacidade em fazer algo, a força feita por ele para erguer a 18 espada não requer um esforço sobre-humano, e definitivamentenão é desta força que o personagem trata. O problema de sua frase é que ninguém pode afirmar que possui força, pois esta é fruto de interação; a peculiaridade de He-Man consiste, entre outras coisas, a de conseguir realizar grandes proezas como erguer um rochedo de muitas toneladas e lançá-lo a grandes distâncias ou coisas do gênero, ou seja, o personagem consegue exercer força de grande intensidade sobre os corpos. Aprofundando um pouco mais: Na figura 1.b, o homem que foi empurrado passa a se movimentar saindo do repouso; e na figura 2 a frenagem do avião é conseguida graças aos cabos de aço que exercem uma força contrária ao sentido do movimento da aeronave. Em ambos os casos vemos uma interação entre os corpos causando a modificação na rapidez dos corpos. A partir disso podemos evoluir para uma conceituação mais elegante. Vejamos algumas definições vistas em alguns livros de ensino médio: "Força, para Newton, é a ação que produz aceleração, isto é variação de velocidade". (CALÇADA, 1998) "Força é o agente físico que provoca variação de velocidade, ou seja, aceleração". (PENTEADO, 1998) É importante perceber que quando se fala em força modificando velocidade deve-se pensar não somente na variação do valor da velocidade, como ocorrido nos casos das figuras 1 e 2, mas também na alteração de sua direção, o que explica todos os movimentos curvilíneos; desde uma simples curva realizada por um carro, até o movimento de translação dos planetas em torno do Sol ocorrem devido uma força. Neste último caso, a tendência do planeta a cada instante seria seguir em linha reta saindo pela tangente, porém, a força gravitacional exercida pela estrela puxa-o, impedindo-o de sair nessa direção, fazendo com que a velocidade (sua direção) se modifique a cada instante mantendo o planeta em órbita em torno do Sol. No caso do carro ao realizar uma curva, se não fosse o atrito contribuindo com uma força de direção radial atuando nos pneus, seria impossível realizá-la, pois o carro sairia pela tangente. 19 Nestes dois últimos casos, vemos a força agindo a cada instante exclusivamente na modificação da velocidade no que diz respeito à direção. Dificilmente sobre um corpo qualquer atua apenas uma única força. Por isso é necessário prever o efeito criado por um conjunto delas. A ação resultante de duas ou mais forças é chamada de força resultante (ou Resultante das forças). Quando as forças de mesma direção atuam no mesmo sentido elas se somam produzindo, portanto, uma força ainda maior; e quando atuam em sentidos opostos se subtraem, e ainda neste caso, se tiverem mesma intensidade, se aniquilam (a força resultante será nula). Mas as forças podem possuir direções distintas e nestes casos podemos aplicar algumas regras para obtermos a resultante. A força resultante por definição, como o próprio nome sugere, é a ação ou efeito de todas as forças atuantes em um corpo; sua discussão e entendimento possibilitarão o aluno compreender a relação existente entre a força (resultante) e o equilíbrio. 2.2.2 LEI DA INÉRCIA E A PRIMEIRA LEI DE NEWTON. O que acontecerá a um corpo em repouso se a força resultante sobre ele for nula? Nas duas situações a seguir vemos a disposição de forças sobre a argola que permanece em repouso, sem transladar. Figura 3: Uma força de intensidade 5 unidades puxa a argola pra direita cujo efeito é compensado pelas duas forças, de mesma 20 direção e sentidos opostos, de intensidades 2 e 3 unidades. Note que 2+3=5. Como se pode ver a força resultante é nula, o que implica no equilíbrio de translação da argola. Vem da observação do cotidiano de que se o resultado da ação de todas as forças atuantes em um corpo for nulo, estando ele em repouso, continuará em repouso, pois sem a interação desse corpo com algo, não haverá motivos para o mesmo se movimentar (transladar). Portanto, está claro que para um corpo permanecer parado a força resultante deve ser nula, concepção bastante intuitiva. Em se tratando de um corpo que seja levado a mover-se, o que acontecerá com seu movimento se a força (resultante) deixar de existir? Para entendermos isso podemos recorrer a diversas situações do cotidiano. Quando se empurra uma caixa sobre uma superfície comum, vemos que seu movimento cessa quando a força que era aplicada deixa de atuar levando-nos a uma idéia bastante aceita, porém, equivocada de que sem força não há movimento e cujo principal defensor foi Aristóteles. De acordo com a concepção aristotélica movimentos como de uma pedra lançada para cima ou de uma caixa ao ser arrastada somente eram possíveis devido a um agente externo (força). Essa noção é compartilhada por muitos alunos e leigos de maneira geral. Aristóteles agrupava os movimentos terrestres* em duas categorias: movimento natural - que não necessitava de um agente externo para ocorrer, pois era espontâneo e de acordo com a natureza do material (a pedra cai, pois sendo formada pelo elemento terra tende a ir para o seu lugar natural), e o movimento violento - que ao contrário do anterior, dependia de forças externas para ocorrer (uma caixa somente se movimenta se houver uma força). "Aristóteles pensava que todos os movimentos ocorressem ou devido à natureza do objeto movido ou devido a empurrões ou puxões mantidos. Uma vez que o objeto se encontra em seu lugar apropriado, ele não mais se moverá a não se que seja obrigado por uma força. Com 21 exceção dos corpos celestes, o estado normal é o de repouso." Hewitt (2002, p.45). As idéias aristotélicas perduraram por vinte séculos; elas conseguiam explicar a maioria dos movimentos, mas Galileu mostrou-nos uma nova maneira e mais abrangente de ver as coisas. De fato uma caixa em cima de uma superfície apenas se movimenta se for empurrada, o problema é que Aristóteles ignorava o atrito. Para Galileu, não era o fato da força deixar de existir que fazia a caixa parar, mas sim o atrito existente provocando uma força contrária ao seu movimento que diminuía sua rapidez. Por meio de uma experiência de pensamento, ele deduziu que se pudéssemos eliminar todo atrito resistente ao movimento em linha reta de um corpo, o mesmo permaneceria assim indefinidamente, sem qualquer alteração em sua velocidade e sem a necessidade de uma força atuando constantemente. (Talvez seja interessante discutir estas idéias com bolinhas de vidro abandonadas e lançadas por sobre uma rampa (superfície inclinada) de madeira ou simplesmente superfície de um livro). Para compreender o que se acabou de dizer sobre força e movimento constrói-se em aula o objeto visto na figura a seguir que será impulsionando em cima de uma superfície horizontal comum. 22 Figura 4 O objeto da figura ao ser impulsionado contraria a idéia de que para haver movimento precisamos de força. O interessante é perceber como o conjunto move-se deslizando praticamente sem resistência após a impulsão. Pode-se repetir o procedimento impulsionando o objeto sem o balão e nada disso acontecerá. A explicação para o balão após ser empurrado seguir movimentando-se é a mesma para entender o porque uma pessoa cavalgando sente-se lançada para frente no sentido do movimento após o cavalo frear abruptamente. Isto acontece porque mesmo sem ação de força (resultante) corpos em movimento possuem uma tendência natural de movimento! Foi assim que Galileu Galilei (1554-1642) explicou os movimentos rompendo com a visão aristotélica. Segundo Galileu, o movimento de um corpo a velocidade constante é tão natural quanto o estado de repouso. Essa tendência dos corpos em permanecer como se encontram foi denominada de Inércia. De acordo com este princípio um corpo que esteja em repouso tende a ficar parado, assim como um que esteja em movimento tende a permanecer em movimento sem qualquer alteração de velocidade, ou seja, em MRU (Movimento Retilíneo Uniforme). O termo "tendência" é apropriado uma vez que isso somente ocorrerá se não existirem agentes externos (força resultante)pra mudar 23 isso. Aqui está o grande mérito de Isaac Newton: explicar por meio de forças o princípio da inércia. O que ficou conhecida como Primeira Lei de Newton. Todo objeto permanece em seu estado de repouso ou de movimento uniforme em uma linha reta, a menos que seja obrigado a mudar aquele estado por forças imprimidas sobre ele. (Gonzatti, 2008) Com isso podemos dizer que a inércia é uma propriedade dos corpos no qual eles por si só não podem alterar de seu estado de repouso ou de movimento. Toda vez que a velocidade de um corpo se modifica existe aceleração. Define-se aceleração como a rapidez com que a velocidade de um corpo varia (para mais ou para menos). Por exemplo, um corpo que varia sua velocidade em 2 m/s a cada segundo possui uma aceleração dada por Av 2 m / s 2a = — = = 2 m / s . At l s A fim de se compreender a relação existente entre aceleração e massa pode-se realizar uma atividade com uma cédula posta entre os gargalos de duas garrafas de vidro e de plástico. O objetivo é tentar retirar a cédula sem derrubar as garrafas e identificar os princípios físicos envolvidos e diferenciar as dificuldades de realizar a tarefa com a massa das garrafas. A inércia é proporcional a massa de um corpo, de tal modo que, quanto maior for a sua massa maior será a inércia, ou seja, a resistência a variação de seu estado de movimento ou de repouso será maior. No caso do experimento com a cédula ao substituir a garrafa de vidro pela de plástico estamos diminuindo a massa, e com isso a resistência ao movimento e por isso é mais fácil movimentar, acelerar a garrafa mais leve. Portanto, a relação entre aceleração e massa é inversamente proporcional ( a o c — ) m É fácil perceber que quanto maior for a intensidade da força resultante sobre um mesmo corpo, maior será a aceleração adquirida pelo mesmo, o que se reflete em um aumento da rapidez com que a 24 velocidade variará. Logo, esta relação é diretamente proporcional (accFR), pois ao dobramos a força resultante a aceleração ficará duas vezes maior, e assim sucessivamente. Essas duas importantes conclusões estão contidas na Segunda Lei de Newton, que pode ser resumida na forma matemática por: P a = — , ou FR = m - a m No sistema Internacional de Pesos e Medidas (SI) a unidade de medida para a massa é o quilograma (símbolo: kg), e para a aceleração é o metro por segundo ao quadrado (símbolo: m/s2). Utilizando a relação acima, nota-se que para acelerar em 1 m/s2 uma massa de 1 kg é necessário aplicar uma força resultante de FR = 1 (kg) x 1(m/s2) = 1 newton (N) (Esta é a unidade de força no SI). É importante perceber que a Segunda Lei de Newton está em plena consonância com a Primeira, uma vez que se a força resultante for nula, isso implicará em uma aceleração nula, e não havendo aceleração a velocidade não irá variar. Existe algo importante e que está presente em todos os momentos em que vemos a ação de forças sobre algo. Por exemplo, quando empurramos a traseira de um carro, aplica-se uma força sobre ela da mesma maneira que a traseira do carro aplica em nós uma força. Quando esmurramos uma parede com o punho exercemos força sobre ela da mesma maneira que ela exerce sobre nossos punhos uma força; isso explica porque é doloroso fazer isso. De acordo com a Terceira Lei de Newton: "Toda ação está sujeita a uma reação de mesma intensidade, mesma direção e sentidos opostos. Mas há algo mais por trás deste princípio que pouco se comenta e precisa ser discutido. A primeira informação que precisa ser bem trabalhada é aquela sobre a ação e reação. Realmente a ação tem mesmo valor da reação, porém nem tudo (força) que se faz é transformada em ação. Vejamos uma situação cotidiana em que um boxeador golpeia um saco de areia com a mesma força que golpeia uma folha de papel. É notório que ao golpear o saco de areia o impacto sofrido pelo punho do boxeador é muito superior aquele sofrido sobre a folha de 25 papel. Isto ocorre porque o tamanho da ação que se consegue transferir a um corpo só pode ter o mesmo tamanho da reação que este é capaz de oferecer. Em outras palavras, sendo a reação exercida pela folha de papel inferior a reação exercida pelo saco de areia então ação sobre estes dois corpos não será a mesma. Tudo isto nos remete a idéia de que nem tudo que se faz transforma-se em ação. Em ambos os casos aplicou- se a mesma força, porém a ação (ou reação) foi maior sobre o saco de areia. Ao esmurrar uma parede e um saco de areia com a mesma força, machuca-se mais os punhos no primeiro caso do que no segundo. Isto ocorre porque no segundo caso diferentemente do primeiro, parte da força feita é aproveitada para deformar e movimentar o saco, fazendo com que apenas uma parte, virasse "ação" sobre o mesmo. Outro detalhe consiste no fato de a força ser fruto da interação entre corpos. Ao mesmo tempo que um homem esbofeteia o saco de areia, ele sofre a reação deste sobre seus punhos. Punho e saco interagem entre si simultaneamente. O mesmo ocorre quando andamos - nossos pés empurram o chão para trás, e de forma simultânea estes nos empurram para frente provocando nosso movimento, (é claro que sem o atrito entre os nossos pés e o chão, nada disso seria possível!). Vemos aqui a interação entre chão e pés. Os foguetes também estão baseados neste princípio. Para ascender, o foguete expeli os gases da combustão para baixo, e com isso recebe simultaneamente uma força de mesmo valor no sentido oposto, ou seja, para cima. Um erro muito comum aqui adotado é atribuir ao movimento do foguete o fato deste empurrar o ar em sua volta para baixo e este empurrá-lo para cima. Se isto fosse verdade não se poderia movimentar foguetes no espaço, uma vez que lá não existe matéria. Neste caso, a interação está acontecendo entre as partes internas do foguete e o combustível arremessado. Esses exemplos são melhores entendidos nas aulas sobre conservação de quantidade de movimento, pois o aluno tem a tendência de ver apenas um corpo: o foguete. Isso significa que na natureza as forças aparecem sempre aos pares, pois ela é fruto da interação entre corpos e que neste par (ação e reação) uma força não existe sem a outra. 26 2.2.3 FORÇA PESO E A FORÇA DE APOIO A terra atrai os corpos com uma força gravitacional chamada comumente de força Peso. Sua intensidade é dada, de acordo com a segunda lei de Newton, por: P = m.g, onde g é aceleração da gravidade naquele local. A direção da força peso é vertical e seu sentido está sempre orientado para o centro da terra. A força de apoio ocorre quando há um contato entre superfícies, e atua sempre na direção perpendicular às mesmas, num sentido apontando para fora do objeto. Vejamos uma situação corriqueira de um livro apoiado em cima de uma mesa horizontal. O livro encontra-se amparado pela superfície da mesa, exercendo sobre ela uma força de compressão com sentido de cima para baixo; de acordo com a 3a Lei de Newton, a mesa fará sobre o livro uma força de mesma intensidade, direção, mas sentido oposto; esta última é chamada Força Normal (N). Estas duas forças (N e -N) formam o que chamamos de par ação e reação. Além da força Normal, atua sobre o livro a força peso P. Como o livro encontra-se em repouso, através das leis de Newton podemos concluir que a força resultante atuante sobre ele deve ser nula implicando emÍNl=i PL 27 CAPÍTULO 3: CENTRO DE GRAVIDADE E NOÇÕES DE EQUILÍBRIO. 3.1 CONHECIMENTOS PRÉVIOS Pretende-se ao final desta aula que os alunos tenham condições de responder as seguintes perguntas sobre equilíbrio: 1- Onde atua a força Peso definida como a força gravitacional com que a Terra exerce em um corpo? 2- Um garçom está carregando uma bandeja. Como ele costuma equilibrá-la ? As questões 1 e 2 tratam da mesma coisa, mas mesmo assim na maioria dos casos o aluno não vê ligação entre elas; se o garçom procura equilibrar a bandeja apoiando-na no centro é porque a força gravitacional atua exatamentenaquele ponto, conhecido como centro de gravidade, pois de acordo com a condição de equilíbrio apresentada na aula 1 a força de apoio deve "anular" a força peso, 3- Porque uma caixa comum tomba quando mais da metade de seu comprimento pende para fora da base de apoio? Base de apoio Figura 5: Caixa homogênea tombando. Com esta pergunta deseja-se saber se o aluno conhece o motivo do porque a caixa tomba. É interessante saber o que eles dizem aqui, sobretudo por ser essa uma pergunta de resposta pouco trivial. 4- Uma caixa encontra-se em repouso, apoiada em menos da metade de sua superfície. Como isso é possível? 28 Figura 6.a: visão lateral da caixa de papelão em equilíbrio. Figura 6.b: visão de cima da caixa de papelão em equilíbrio. Este experimento pretende causar um impacto nos alunos, pois é de se esperar que uma caixa com sua massa uniformemente distribuída não fique em equilíbrio como se viu na questão anterior. Mas esta é a questão! O equilíbrio somente foi possível porque a caixa não é simétrica do ponto de vista da massa, isto é, em seu interior foi colocado um peso que desloca o centro de gravidade do conjunto. A expectaiva quanto a respostas corretas dos alunos é pequena. 5- Se formos colocando livros na borda da mesa, o de cima sempre um pouco deslocado, até que ponto pode-se adicionar mais livros? Figura 7 - Livros idênticos são empilhados um sobre os outros com certa defasagem e de forma gradual até quando o conjunto estiver prestes a tombar. 29 6- Explique por que uma pessoa que consegue curvar-se para tocar seus pés como na figura abaixo, não consegue ao tentar fazê-lo encostada em uma parede? Figura 8: http://www.seara.ufc.br/sugestoes/fisica/grav3.gif 7- Por que é mais fácil manter-se equilibrado em pé dentro de um veículo com os dois pés distanciados do que juntos? 8- Por que é praticamente impossível equilibrar um objeto em formato piramidal apoiado pela parte pontiaguda como se vê na tentativa da figura 11? Figura 9: Objeto em formato em pirâmide numa tentativa de equilíbrio apoiada pela parte pontiaguda. Com as questões de 5 a 8 pretende-se discutir a mesma idéia: De que um corpo para estar em equilíbrio precisa ter o seu centro de gravidade apoiado por uma base de apoio. É por este motivo que a pilha de livros da figura 7 tomba quando se adiciona mais livros do que o 30 máximo possível, e que é impossível uma pessoa tocar seus pés sem tombar para frente quando tenta fazer isto com seu corpo de costas rente à parede (ver figura 8 da questão 6); assim como também ser praticamente impossível manter a pirâmide da figura 9 equilibrada apoiando-na pela parte pontiaguda. 9- Por que no carro de fórmula 1 a carroceria fica bem rente ao chão? Esta questão envolve o conhecimento sobre a estabilidade de um corpo. Quanto mais próximo o centro de gravidade estiver da base de apoio mais estável aquele corpo está. Isto é muito desejado nos veículos de alta velocidade. Pode-se discutir o perigo nos transportes alternativos (vans e kombis) que ao superlotarem seus veículos (muitas pessoas em pé) provocam uma instabilidade com aumento da altura do centro de gravidade. 10- Como é possível manter o sapo da figura em equilíbrio? Figura 10: Sapo apresenta-se em equilíbrio apoiado pela boca. Esta questão refere-se a uma situação de equilíbrio estável com o centro de gravidade abaixo do ponto de apoio. Propõe-se aos alunos a explicação do fenômeno e se eles identificam o que torna isso possível. 31 Antes de se discutir todas essas questões, constata-se como fundamental a compreensão de alguns conceitos. 3.2 FUNDAMENTOS TEÓRICOS 3.2.1 CENTRO DE GRAVIDADE. DEFINIÇÃO E COMO ENCONTRÁ-LO? O conceito de centro de gravidade é bastante antigo e foi discutido principalmente por Arquimedes. Sua importância é tamanha, pois o entendimento a cerca do equilíbrio dos corpos não pode ser atingida, de forma plena, sem seu domínio. Este conceito tal qual fora definido por Arquimedes pode ser facilmente compreendido ao se realizar diversos experimentos simples como, por exemplo, equilibrar um corpo rígido em cima de um suporte. (Corpo rígido é aquele que possui todas as suas partes (partículas) à mesma distância entre si em qualquer instante de tempo). Nos três experimentos a seguir apoiou-se uma régua, um martelo, e um objeto em formato triangular num suporte de tal maneira que os corpos ficassem em equilíbrio. Vale ressaltar que ambos encontravam-se livres para girar. Figura 11.a: A régua de 20 cm somente permanece em equilíbrio quando apoiada sobre um ponto situado a 10 cm das extremidades. Figura 11.b: Régua em equilíbrio vista de cima. 32 Figura 12.a: Martelo em equilíbrio. Figura 12.b: o martelo fica em equilíbrio quando suportado por um ponto mais próximo da cabeça (a esquerda do ponto médio) Figura 13: o triângulo também possui um ponto específico no qual o equilíbrio persiste. Percebe-se que estes corpos somente ficam em repouso quando apoiados em pontos específicos. Se em ambos os casos deslocarmos os corpos Qá equilibrados) pra qualquer lado, estes cairão em direção a terra. Portanto, este ponto no qual os corpos equilibram-se é chamado de centro de gravidade. Outra maneira possível de identificar o centro de gravidade dos corpos consiste em suspendê-los por um ponto deixando-os livres para oscilar em torno do mesmo. Ao se fazer isto os corpos tendem ao equilíbrio, com o centro de gravidade e o ponto de suspensão, alinhados verticalmente. Deve-se notar também que neste instante as forças de sustentação (força de apoio) e gravitacional estão verticalmente alinhadas. 33 Utilizando este conhecimento podemos determinar o centro de gravidade dos corpos dos mais variados formatos possíveis. Determinaremos o C.G de apenas três figuras. São elas: o quadrilátero, triângulo e a meia-lua. O procedimento para sua obtenção será o mesmo. O objeto é suspenso por um alfinete horizontal que passa por um orifício feito no objeto previamente e cujo tamanho seja ligeiramente maior do que a área do alfinete para com isso diminuir o atrito. Um fio de prumo será posto no mesmo alfinete citado anteriormente a fim de que tenhamos a indicação da direção vertical. Observa-se que ao soltar o objeto, este gira em torno do ponto de suspensão parando após algum tempo - quando o centro de gravidade e o ponto de suspensão estão alinhados verticalmente. Nesse momento traça-se a reta vertical dada pelo fio de prumo; tal reta contém o ponto de suspensão e o centro de gravidade. O procedimento deve ser repetido para outro ponto de suspensão distinto e que não esteja sobre a reta anteriormente traçada. Nas figuras abaixo estão as imagens do experimento: Quadrilátero Figura 14 a figura 14 b Na figura 15a o quadrilátero foi suspenso por um ponto qualquer. Após o equilíbrio traçou-se a reta vertical dada pelo fio de prumo, e posteriormente suspendeu-se o mesmo objeto por outro ponto (figura 14b). 34 Repetiu-se o procedimento para um terceiro ponto de suspensão, onde foi obtido a figura 14c e 14d (ampliação da anterior). Meia-lua Figura 15b: Figura 15a Na figura 15.a suspendeu-se a meia-lua por um ponto qualquer e traçou-se, no equilíbrio, a reta vertical dada pelo fio de prumo. Na figura 15.b, repetiu-se o procedimento para outro ponto da figura. 35 Figura 15c: Ampliação da figura 15b. Note que a interseção das retas que contém o centro de gravidade está fora do corpo. Como já foi dito, no equilíbrio, o centro de gravidade e o ponto de suspensão estão alinhados na vertical, portanto, ao traçamos a reta dada pelo fio de prumo estaremos restringindo a localização do centro de gravidade, que deverá estar posicionado em algum lugar da reta obtida; ao repetirmos o procedimento para outros pontos de suspensão serão obtidas outras retas. Como o centro de gravidade deve pertencer a todas estas retas, então tal ponto deve estar situação exatamente sobre a interseção das mesmas. Percebe-se no casodo quadrilátero que o centro de gravidade coincide com o centro geométrico* do corpo, cuja localização é obtida pelo encontro das diagonais. Este procedimento constitui uma importante ferramenta de obtenção do centro de gravidade de figuras simétricas e homogêneas como: paralelepípedos e cubos. Outro detalhe importante aqui é mostrar que existem corpos onde o centro de gravidade está situado fora de si, no vazio. É exatamente por isso, que há controversas sobre a definição do centro gravidade como o local onde se concentra o peso do corpo. É o que ocorre com a meia lua. Ao traçarmos as duas retas a fim de obtermos a interseção entre elas, e consequentemente o centro de gravidade, nota-se que este encontro ocorre fora da superfície do objeto. O mesmo ocorre com objetos em formato anelar ou ocos. [*Centro geométrico de uma figura é o ponto no qual a reta que liga este e qualquer outro ponto do objeto, divide o objeto em parte iguais]. 36 Depois de compreendido o conceito de centro de gravidade o aluno poderá explicar como foram possíveis as situações de equilíbrio das figuras 5, 6 e 7 das perguntas de 3 a 5. Tanto a caixa quanto a pilha de livros permaneceram em equilíbrio porque o centro de gravidade encontrava-se amparado por uma base de apoio. Obviamente, a caixa da figura 6 não se encontrava vazia, pois se assim estivesse seu centro de gravidade estaria na metade de seu comprimento, e consequentemente fora da base de apoio, fazendo com que a mesma viesse a tombar. Para que o centro de gravidade ficasse mais próximo da extremidade esquerda foi posto no interior da caixa um objeto pesado fazendo com que assim o centro de gravidade do sistema caixa+pedra estivesse dentro da base de apoio. À medida que caixa for sendo empurrada para fora da mesa, o equilíbrio persistirá até o momento em que o centro de gravidade do sistema estiver exatamente sobre a quina da mesa, onde novamente nota-se o alinhamento entre força de apoio e força peso. O mesmo ocorre à pilha de livros da figura 7. À medida que os livros vão sendo colocados uns sobre os outros com certa defasagem entre eles o centro de gravidade vai sendo deslocado também, para fora do apoio. Dessa maneira, a quantidade máxima de livros que pode ser adicionada para que o conjunto não tombe deve ser tal que o centro de gravidade ainda permaneça dentro da região de apoio limitada pela área do livro que está em contato com o solo. Com relação à pessoa da figura 8, a mesma consegue realizar o feito de tocar seus pés com as mãos apenas se tiver condições de ajeitar- se para que o centro de gravidade de seu corpo fique convenientemente dentro da região de seus pés, sua base de apoio, o que é impossível de se conseguir quando encostada na parede. Pelo mesmo motivo é mais difícil manter-se em pé no interior de um ônibus em movimento com os pés juntos do que com os pés separados, pois pequenas inclinações poderiam fazer com que o centro de gravidade ficasse fora da base de apoio. 37 3.2.2 NOÇÕES DE EQUILÍBRIO Dentro de uma situação de equilíbrio podemos ainda diferenciar três tipos. São eles: o equilíbrio Estável, Instável, e o Indiferente. Uma maneira simples para reconhecer o tipo de equilíbrio que estamos lidando seria deslocar o corpo daquela posição. Na imagem a seguir vemos um boneco equilibrando-se em cima de um barbante. É interessante ver como o boneco mesmo quando empurrado levemente, oscila, mas não cai. Figura 16: arranjo em equilíbrio em cima de um barbante. O mesmo acontece com o pássaro de decoração a seguir: 38 Figura 17: Pássaro mantém-se equilibrado apoiado através do bico. http://www.pet.dfi.uem.br/index.php?frame=ludofisica&paqe=passaro equilibrista.html Nesta outra montagem abaixo, vemos a mesma situação intrigante. A disposição do garfo é determinante para haver equilíbrio. Mesmo quando se provoca uma leve oscilação, o sistema permanece equilibrado. Figura 18a: arranjo em equilíbrio apoiado na "boca" da garrafa. 39 Figura 18b: arranjo em equilíbrio estável apoiado na Figura 18c: arranjo em equilíbrio na ponta do dedo. ponta de um palito. Como explicar todas essas situações? Perceba que quando tais objetos são levemente deslocados desta posição de equilíbrio, estes tendem a retornar a tal posição. Quando isto ocorre é porque estamos diante de um equilíbrio do tipo Estável. Talvez você não tenha percebido, mas existe algo em comum nos três exemplos acima citados e que está relacionado com a posição do centro de gravidade do conjunto. Em todos os exemplos o centro de gravidade do sistema encontrava-se abaixo do ponto de apoio. No primeiro caso, utilizou-se uma pilha presa ao arame o que abaixou o centro de gravidade; no segundo caso, as duas asas do pássaro "equilibrista" continham pesos adicionais escondidos em seu interior o que provocava o abaixamento do centro de gravidade; e no terceiro e último caso, a maior parte da massa do garfo (Cabo do garfo) encontrava-se abaixo do centro de suporte ocasionando a mesma situação. Além desses exemplos temos o sapo "equilibrista" da questão 10 figura 10, que fica em repouso apoiado pela cabeça somente quando se adiciona pesos (moedas) em suas patas. Sempre quando o centro de gravidade estiver abaixo do ponto de apoio o equilíbrio daquele corpo será Estável. Mas, seria possível um equilíbrio estável com o centro de gravidade acima do ponto de apoio? Considere um objeto em formato piramidal como o da figura abaixo: 40 Figura 19: Pirâmide apoiada pela base. Ao se tentar equilibrar este objeto pela base circular (figura 19) apoiando-o em uma superfície retilínea horizontal, não encontraremos dificuldade; o que não se verifica quando se deseja fazer o mesmo numa posição invertida, apoiando-o pela parte pontiaguda. A explicação disso está novamente no conceito de centro de gravidade e base de apoio. Quando o objeto em formato piramidal é posto em uma superfície, apoiado pela base maior o centro de gravidade encontrar-se-á amparado pela base de apoio. Veja a projeção do centro de gravidade na figura a seguir: Base de apoio Figura 20: A o centro de gravidade da pirâmide encontra-se amparada pela base de apoio. 41 Ainda que o objeto fosse levemente inclinado para qualquer lado (mantendo-se em contato com a superfície) este, ao ser solto, retornaria a posição (de equilíbrio) denotando assim um Equilíbrio Estável. Para que este tipo de equilíbrio Sempre OCOrra Figura 21: Ao deslocar levemente a pirâmide de sua posição de equilíbrio ela tende a retornar pra em situações com centro de tai configuração. gravidade acima da região de suporte, o centro de gravidade, ou melhor, sua projeção necessariamente deverá estar compreendida pela base de apoio. A estabilidade de um corpo pode ser aumentada. No automobilismo, por exemplo, devido as altas velocidades e os conseqüentes riscos de tombamento, é interessante aumentar a estabilidade dos veículos. Para entendermos como isso pode ser conseguido, precisamos compreender a relação entre altura do centro de gravidade e base de apoio. Façamos uma experiência simples utilizando uma caixa de papelão, que devido a sua simetria seu centro de gravidade deverá localizar-se no centro geométrico do sólido. Figura 22a: Centro de gravidade da caixa encontra-se no interior da caixa em algum lugar da reta horizontal que passa pela interseção das diagonais. 42 Na figura 22b, observa-se a caixa em equilíbrio, inclinada sob um dado ângulo. Ângulo este que vai sendo aumentado até a situação da figura 22c, quando o centro de gravidade está prestes a sair da base de apoio. Esta caixa é posta em cima de uma superfície cuja inclinação vai sendo aumentada gradativamente até o momento em que a caixa estiver prestes a tombar (Figura 22c); neste momento o ângulo de inclinação da superfície com respeito a horizontal é dito ângulo crítico. Se, a partir da situação da figura 22c, aumentarmos a inclinação da superfície com a horizontal a caixa tomba, pois ocentro de gravidade estaria fora da base de apoio. Isto pode ser evitado se adicionarmos mais "peso" ao fundo da caixa abaixando com isso o centro de gravidade do conjunto que volta a estar dentro da base de apoio fazendo com que o equilíbrio seja restabelecido. 43 k*,:,- Nas figuras 23a e 23b a caixa não tomba, pois foi adicionado em seu interior pesos a fim de que seu centro de gravidade abaixasse ficando novamente dentro da base de apoio. Sem a adição desses pesos o centro de gravidade estaria fora da base de apoio ocasionando a rotação da caixa. Situação 1: Centro de gravidade elevado Situação 2: Centro de gravidade bem rente a base de apoio os Estável MHifc Eslave' Figura 24: O centro gravidade do corpo na situação 2 está mais baixo do que na situação 1, o que proporciona mais estabilidade. De acordo com a noção de equilíbrio estudada anteriormente, o objeto cujo centro de gravidade está amparado pela base (ou ponto) de apoio está em equilíbrio. Vimos que ao abaixar o centro de gravidade aumentamos ainda mais estabilidade dos corpos. Com o C.G mais baixo o corpo pode sofrer uma inclinação máxima para não tombar maior do que em situações com CG elevado; na figura 24 o risco de tombamento será menor na situação 2 do que na situação 1. 44 A aplicação deste conceito pode ser visto nos automóveis transportadores de cargas, cujo formato deixa o centro de gravidade mais baixo do que nos modelos tradicionais. Esta medida também pode ser vista nos carros de fórmula 1, onde a carroceria fica rente ao chão, e nas construções civis quando adiciona-se pesos (sacos com areia) na base dos andaimes de ferro de passarelas provisórias. Retomando o caso da tentativa de equilíbrio da pirâmide, mas agora em uma posição invertida; para que seja possível equilibrar a pirâmide vimos que a projeção de seu centro de gravidade deverá estar dentro de uma base de apoio. Como neste caso o apoio está restrito a um único ponto apenas, o centro de gravidade deverá estar alinhado verticalmente com este ponto. Acontece que isto na prática é extremante difícil de ser conseguido, pois um desvio, ainda que mínimo, faz com que o centro de gravidade fique fora do centro de apoio, provocando, portanto, a rotação (Desequilíbrio). Então ao imaginar o equilíbrio da pirâmide invertida, este será instável, pois ao ser levemente deslocada a pirâmide não retornaria a posição de equilíbrio. O mesmo ocorre a uma esfera colocada cuidadosamente em cima de uma superfície convexa. Ao deslocá-la levemente para qualquer um dos lados, a esfera não tenderá a voltar para posição de equilíbrio anterior, pelo contrário, se afastará daquele ponto de forma indefinida. Portanto, naquele momento em que se encontrava imóvel no ponto mais alto, tínhamos uma situação de Equilíbrio Instável. Figura 25a: Esfera em equilíbrio instável no alto de uma superfície convexa. 45 Figura 25b: Esfera sendo levemente deslocada da posição de equilíbrio. Figura 25c: Esfera em movimento acelerado. Outro exemplo consiste em um boneco que é disposto de cabeça para baixo numa escada feita de palitos de sorvete. O centro de gravidade do mesmo encontra-se acima do ponto de apoio e qualquer desvio faz com que o boneco gire em torno do ponto de apoio indo para o degrau inferior, onde a mesma situação é verificada. Figura 26.a: Figura 26.b Boneco de madeira (Vista Frontal) Boneco de madeira (Vista Lateral) 46 Figura 26.c: Figura 26.d Boneco no momento do abandono. Boneco descendo a escada. 47 CAPITULO 4 - EQUILÍBRIO DE TRANSLAÇÃO X EQUILÍBRIO DE ROTAÇÃO O fato da força resultante atuante em um corpo ser nula é condição suficiente para ocorrer equilíbrio? Para termos condições de responder a esta pergunta precisamos entender o conceito que estudaremos a seguir. 4.1 FUNDAMENTOS TEÓRICOS 4.1.1 TORQUE OU MOMENTO DE UMA FORÇA Vimos até aqui que corpos suspensos por um único ponto ficam em equilíbrio com o centro de gravidade e o ponto de suspensão, alinhados verticalmente. Portanto, para manter em repouso na horizontal a régua, devemos suspendê-la pelo seu centro de gravidade. Figura 27: Régua em equilíbrio suspensa pelo centro de gravidade 48 Utilizando este experimento poderemos evoluir no que diz respeito as condições de equilíbrio dos corpos. É importante perceber que neste caso existem duas forças atuantes. São elas: a força peso, atuante no centro de gravidade; e a força de sustentação (força de apoio), aplicada no ponto de suspensão. De acordo com a Primeira Lei de Newton, para haver equilíbrio a força resultante sobre ela deve ser nula; a força de apoio naquele ponto contrabalanceará a força peso. Dois "pesos" idênticos são colocados em ambos os lados do ponto de suspensão e à mesma distância do mesmo. Figura 28: Sistema em equilíbrio quando os pesos idênticos estão situados a distâncias iguais. 49 Figura 29: note que o ponto de suspensão está na posição 15 cm da régua, o peso da esquerda na posição 5 cm e o da direita na posição 25 cm. Verificando a persistência do equilíbrio da régua, somos tentados a pensar que isto ocorre pelo fato da força resultante continuar sendo nula. Mas, seria essa condição suficiente para garantir o equilíbrio? Para testar isso podemos mudar a posição de um dos pesos adicionados. Ao afastar o peso da direita do ponto de apoio a régua entrará em rotação no sentido horário (ver figura 30.b). Figura 30a: Peso da direita foi deslocado. 50 Figura 30b: Registrou-se a rotação da régua. Mas se a força resultante é nula, porque o sistema tomba? Porque o sistema tomba? Note que ao deslocarmos o peso acima, não se alterou a força sobre o sistema, ou seja, a força resultante continuou sendo nula, mas mesmo assim a régua pendeu para um dos lados. Acabou-se de mostrar empiricamente que o fato da força resultante ser nula não é uma condição suficiente para a ocorrência do equilíbrio. O que podemos tirar disso tudo é que para haver equilíbrio outra condição deve ser necessária; outro conceito deve ser importante nesta discussão. Tal conceito é chamado de momento ou torque de uma força e está por trás de qualquer máquina simples, que estudaremos mais adiante. Quando desejamos produzir a rotação de algo ou até mesmo evitá- la, devemos aplicar um torque (ou momento) - e por traz disso está a força. Uma força poderá ou não gerar um torque e isso é claro, irá depender da maneira como a mesma for aplicada ao corpo. Por exemplo, ao tentar abrir uma porta, não adianta exercer força de maneira paralela à porta como se vê na imagem abaixo. Tal força não será capaz de realizar rotação, significando que seu torque é nulo. 51 Figura 31: Força sendo aplicada paralelamente à porta De maneira geral, uma força aplicada em um ponto cuja direção contém o ponto de apoio (no caso da porta, onde se encontra a dobradiça) não causará rotação em torno do mesmo (seu momento será nulo). Mantendo-se fixo o valor da força aplicada e o ponto de aplicação, o método mais eficiente para produzir rotação da porta seria exercer uma força perpendicular à mesma. Isto pode ser verificado ao se girar uma porta puxando-a por um barbante preso à maçaneta. Ao realizar esta simples tarefa você perceberá que quando o barbante estiver esticado perpendicularmente à superfície da porta, o esforço despendido para girá- la será menor do que para outros ângulos; levando a crer que se a intensidade da força fosse mantida constante (ao variar apenas a direção do barbante) seu giro seria mais fácil à medida que o ângulo entre o barbante e a superfície da porta fosse aumentando até 90°. Isto se explica quando se decompõe a força F nas direções paralela (direção x) e perpendicular à porta (direção y). 52 NI O Figura 32: Aplicação de uma força F na porta (visão de cima) formando um ângulo a com a mesma. Vê-se também a decomposição de F em termos das componentes Fx e Fy. Como já se discutiu anteriormente, a componente Fx não causa rotação, que ficará ao encargo da componenteFy. Em outras palavras, o torque ou momento, depende apenas da componente da força que é perpendicular à porta, por isso quando se aumenta o ângulo 6, a intensidade de Fy também aumenta, o mesmo ocorrendo com o torque. Podemos resumir tudo isso na seguinte frase: torque é proporcional a intensidade da força perpendicular (M « F ). Mas não é somente da intensidade da força que depende o torque. A distância de aplicação da força ao ponto de apoio também tem importância. A relação entre torque e distância esta presente em diversas ferramentas que minimizam o nosso esforço na realização de algumas tarefas como, torcer uma porca, abrir uma lata, girar um parafuso de Figura 33: Abrindo uma lata com ajuda de uma ferramenta de comprimento longo. Figura 34: Torção em um parafuso fica extremamente facilitada com o auxílio da chave de roda. http://blogdodudesoares.blogspot.com/20 10 04 01 archive.html 53 Para poder perceber a relação existente entre torque e distância, pode-se desafiar os alunos e escolher uma pessoa para manter suspenso uma sacola de 1kg de massa que será posta num cabo de vassoura a uma distância de suas mãos igual ao comprimento do cabo da vassoura. Figura 35a: Figura 35b: A sacola da figura 35a está mantida em equilíbrio com a ajuda do apoio. Ao ser retirado o sistema inicia a rotação no sentido horário (Figura 35b). Esta experiência causa bastante impacto. Os alunos normalmente desprezam a distância do peso para o ponto de apoio. Quando eles percebem o grande esforço que a pessoa tenta fazer para manter o equilíbrio fica bem clara a relação direta entre torque e distância. Algumas ferramentas têm em comum o fato de possuírem um comprimento longo, proporcionando grande vantagem mecânica, que pode ser percebida na facilidade com que o objetivo (torção) é atingido. O torque também é proporcional a distância entre linha de ação da força e o ponto de apoio ou ponto que se toma como referência, isto é, quanto mais distante a reta que contém a força F estiver do ponto de apoio maior será o torque causado por ela (Mocd). Foi por isso que a pessoa da figura 35 não conseguiu manter o peso de 1kgf em equilíbrio. Costuma-se chamar essa distância d como sendo o braço da força e o ponto de apoio como fulcro. Diante disso, podemos então deduzir a relação para o torque realizado por uma força de intensidade F aplicada a um ponto situado a uma distância d do ponto de apoio O como sendo o produto entre a força 54 que causa rotação (Fy) e a distância d, ou seja, M"=Fy.do que se desdobra em F.d.sena=F.J,, onde dL é definida como a distância do ponto de apoio à direção da reta suporte de F. (O símbolo l indica a distância perpendicular entre a linha de ação da força e o ponto de apoio). Figura 36: O momento da força F é causado essencialmente pela componente Fy, e poderá ser calculado pelo produto Fy.d d_L\ - r-vy F d Figura 37: O momento da força F também pode dado pelo produtoFd± d \ X r- " É por isso que o modo mais eficiente de abrir uma porta é aplicando uma força perpendicular na maçaneta, pois para outros ângulos, o braço da força é menor. Em outras palavras, do ponto de vista de uma força, seu momento será maior quanto maior for a distância da linha de ação da força até o ponto de apoio. A aplicação deste conceito (Momento de uma força) está presente em nosso cotidiano nas ferramentas como: martelo, chave inglesa, chave de roda, etc. 4.1.2 CONDIÇÃO DE EQUILÍBRIO Retomando o caso na figura 28, é importante ressaltar que os pesos adicionados eram idênticos (P}=P2=P), e eles estavam à mesma distância do fulcro. Note que a força peso do objeto situado à direita do ponto de apoio tende a fazer com que a vareta gire no sentido horário, enquanto que o outro tende a fazer à mesma girar no sentido anti-horário, ou seja, cada força cria um torque que tende a promover rotação em sentidos contrários. Considerando o primeiro como negativo e o segundo 55 como positivo, e denotando os momentos causados pelas forças PI e P2 como MPI e Mp2, temos: Sendo o momento resultante (M^em/taate) a soma algébrica de todos os momentos existentes, então o momento resultante nesta situação será nulo. Veja: .,,,,lan,, n Agora temos subsídios para explicar porque na situação da figura 30a e 30b apesar da força resultante continuar sendo nula ocorreu desequilíbrio do sistema quando se deslocou o peso 2. O que aconteceu foi que as distâncias não eram mais as mesmas (d'>d), e consequentemente, a intensidade do momento da força da direita (P - d ' ) será superior ao momento da força da esquerda (P - d ) , fazendo com que agora o momento resultante não seja mais nulo. M FAPOIO d' Centro de apoio I ou , - Fulcro P í] Figura 38: O fato da força resultante ser nula não garante o equilíbrio estático, é necessário que o momento resultante também seja. Uma força tende a produzir torque, o que tende a produzir rotação. Se tais torques não forem compensados inevitavelmente o corpo deixará o equilíbrio estático. Vejamos um problema que poderá ser proposto aos alunos e que constitui uma aplicação direta da condição de equilíbrio: 56 "Um guindaste como aquele encontrado em canteiro de obras pode ser dividido em duas partes: a longa de comprimento máximo 70 m onde se localiza a carga que por meio de um sistema de polias pode variar a posição x da carga, e a curta onde se localiza o contrapeso de 20 toneladas situado uma distância fixa y = 15 metros do mastro (centro de apoio). Sabendo-se que sem o contrapeso e a carga a haste encontra-se equilibrada, para uma distância da carga de 30 m do apoio, qual o máximo valor da carga que pode ser suspensa? Se quiséssemos sustentar uma carga maior do que esta, devemos aproximá-la do mastro ou afastá-la?" Apoio Contra-peso Figura 39: Guindaste em equilíbrio http://ciencia.hsw.uol.com.br/quindastes-de-torre.htm Para que haja equilíbrio do guindaste, de acordo com a condição vista anteriormente, ã carga erguida deve produzir um torque de mesmo valor daquele produzido pelo contra-peso. Então, Carga.x = contra-peso.y Do enunciado temos: x=30m, Contrapeso=20t e y=15m, logo O valor para carga será de 10t. 57 Como o contra-peso é fixo o torque produzido por ele no sentido horário também será constante, então carga.x=constante Isto significa que se o desejo é aumentar a carga deve-se diminuir a distância dela para o mastro. 4.2.3 EXPLICANDO OS CASOS DE EQUILÍBRIO ANTERIORES À luz da condição de equilíbrio dos corpos pode-se retomar os casos estudados anteriormente e entendê-los de maneira mais abrangente. A pilha de livros da figura 7 tomba quando a partir daquela situação crítica (iminência de tombamento) adiciona-se mais um livro, pois a força peso do conjunto passa a criar um momento (torque) em relação ao ponto de apoio que não é compensado, o que é claro está ligado ao fato do centro de gravidade do corpo estar fora da base de apoio. 58 Risco de Tombar = Zero Iminência do Tombar Tombando CM CM Superfície /p- Superfície Figura 40: Uma caixa sendo arrastada para fora da superfície atinge a iminência de tombamento quando a força peso P e de apoio f estão alinhadas verticalmente. A partir disso ocorre desequilíbrio, pois o torque resultante deixa de ser nulo. Pelo mesmo motivo a pessoa da figura 8 não consegue ficar de pé quando tenta tocar seus com o corpo encostado na parede pois dessa maneira o centro de gravidade ficaria fora da base de apoio (área encoberta pelos seus pés). 59 4.2.4 APLICAÇÃO DA CONDIÇÃO DE EQUILÍBRIO. PRINCÍPIO DA ALAVANCA. Através do princípio da alavanca pode-se ampliar o efeito de uma força, o que permite realizar grandes feitos com pouco esforço. Este princípio pode ser visto em diversas situações do cotidiano, como por exemplo: uma criança que consegue erguer um adulto do outro lado da gangorra, um carro de 0,5 tonelada que pode ser erguido por uma pessoa com a simples força de seus músculos por meio, obviamente, de uma máquina simples conhecida
Compartilhar