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Maria Izabella Damasceno – Turma XV de medicina, Unicap. Semiologia Cardiovascular O sistema cardiovascular é composto pelo coração e pelos vasos sanguíneos. O coração, por sua vez, pode ser dividido em: Coração direito: átrio e ventrículo direito → bombeia para a circulação pulmonar. Coração esquerdo: átrio e ventrículo esquerdo → bombeia para a circulação sistêmica. Observações anatômicas do coração: - O ápice do coração é a parte inferior do órgão, localizado no 5° espaço intercostal, na linha hemiclavicular esquerda, em contato com o gradil costal → é o ventrículo esquerdo. - A base é composta pelos átrios, que estão localizados atrás e acima dos ventrículos; sendo o átrio esquerdo mais posterior. - A face esternocostal (em contato com o esterno), é o ventrículo direito. - Face esquerda: VE - Face diafragmática: VE e VD A posição do coração pode variar conforme existam variações anatômicas ou patológicas. ➢ Exame do Coração I – inspeção e palpação Na anamnese é possível identificar manifestações de patologias cardiovasculares; Obs.: a percussão não é empregada no exame cardíaco, as técnicas semiológicas utilizadas para o exame do coração são: inspeção, palpação e ausculta. - O paciente deve estar em decúbito dorsal, predominantemente. - O médico deve estar do lado direito do paciente, em pé ou sentado. A realização da inspeção e da palpação é simultânea, deve-se avaliar a presença de abaulamentos/retrações, ictus cordis, movimentos/batimentos visíveis ou palpáveis e pesquisa de frêmitos. A grande maioria das deformações de tórax, abaulamentos ou retrações, não apresentam causas cardíacas, mas são resultados de causas osteomusculares. Em crianças é mais comum a presença de abaulamentos, devido a dilatação ou hipertrofia. - A observação deve ser realizada com a visão tangencial e frontal do precórdio. Algumas causas de abaulamentos devido a cardiopatias: aneurisma de aorta, derrame pericárdico, cardiomegalia, alterações da caixa torácica. Ictus cordis: é o choque da ponta do ápice do coração na parede toráxica. → VE, 5° espaço intercostal. Com a avaliação do Ictus cordis é possível avaliar a localização, extensão, frequência, ritmo, intensidade e mobilidade. É comum que não se consiga avaliar o Ictus cordis, visto que pode haver variações anatômicas que impossibilitem o exame; o deslocamento do Ictus também pode ocorrer por causas não cardíacas, como ascite, derrame pleural e deformidade torácicas. Extensão do ictus, são as polpas digitais para que se consiga palpar o ictus, geralmente é possível obter essa medida com 1 ou 2 polpas digitais do profissional que está realizando o exame. Caso essas medidas sejam ultrapassadas, podemos Maria Izabella Damasceno – Turma XV de medicina, Unicap. estar diante de um quadro de cardiopatia relacionada com a dilatação/hipertrofia do coração. É preciso avaliar a intensidade do Ictus, com a palpação; em decúbito dorsal ou decúbito lateral esquerdo. Hipertrofia traz ictus mais intensos (hipertrofia é quando as paredes internas do músculo cardíaco, o miocárdio, crescem em direção ao centro do órgão, ou seja, para dentro). Obs.: É possível visualizar maiores extensões nas dilatações. É possível avaliar o ritmo e a frequência do Ictus. Nosso ritmo cardíaco é regular, ou seja, o que se busca aqui é a similaridade entre as duas características. Pré-cordio: região do tórax onde se projeta o coração Movimentos no tórax podem ser observados e/ou palpados: - Retração sistólica: ao invés do impulso da sístole, há uma retração. → Acontece em hipertrofia direita; - Levantamento em massa do precórdio: é uma impulsão sistólica, aqui há um impulso sistólico que movimenta uma área relativamente grande do tórax próximo ao esterno. → Ocorre em hipertrofia do VD; - Choque valvar palpável: quando as bulhar cardíacas se tornam hiperfonéticas e podem ser percebidas como pela mão como um choque rápido; - Pulsações epigástricas: quando a pulsação da aorta é transmitida a parede abdominal, pode ser vista e palpada; - Pulsação supra esternal ou de fúcula: depende da pulsação da aorta, pode ser considerada normal ou pode indicar algumas patologias, como hipertensão arterial e insuficiência aórtica; - Frêmito cardiovascular: os frêmitos, são as vibrações produzidas no coração ou nos vasos. O turbilhonamento do sangue causa uma vibração na parede dos vasos e é isso que é possível sentir no exame da palpação. ➢ Exame do coração II – Ausculta do coração - É necessário um ambiente silencioso. - O paciente deve estar em decúbito dorsal, mas, se necessário, outras posições podem ser adotadas. Ex.: o paciente deitado em decúbito lateral esquerdo com a mão esquerda na cabeça, pode ser uma posição mais favorável para o médico realizar a ausculta do foco mitral. - Deve ser feita a escolha e aplicação adequada do receptor do estetoscópio. (receptor é a porção de aparelho que encosta no paciente). O diafragma é utilizado para auscultar ruídos de maior timbre e maior frequência; A campânula é a porção menor do receptor, nem sempre está presente nos diversos modelos de estetoscópios, é utilizada para escutar os ruídos de menor frequência. Focos ou áreas de ausculta: os sons nessa região são mais audíveis, não quer dizer, necessariamente, que as valvas cardíacas estão topograficamente nessa região. Maria Izabella Damasceno – Turma XV de medicina, Unicap. Aórtico: 2° EID Pulmonar: 2° EIE Tricúspide: 5° EIE Mitral: 5° EIE na linha hemiclavicular É fundamental conhecer o Ciclo Cardíaco para compreender os fenômenos estetoacústicos. Os estímulos cardíacos são formados no nodo sinoatrial, depois percorrem as fibras até atingirem o nó atrioventricular. Os átrios se contraem milésimos de segundos antes da contração dos ventrículos; quando há a contração atrial, as valvas se abrem, e o sangue vai em direção ao ventrículo, que se contraí, fazendo com que as valvas atrioventriculares se fechem. B1: corresponde ao fechamento das valvas atrioventriculares. O pulso carotídeo e o ictus cordis coincidem com B1, é o início da sístole ventricular, quando o sangue começa a passar para a aorta. B1 = TUM. Sua intensidade maior é no foco mitral, mas pode ser ouvido em qualquer região do precórdio. As valvas se fecham para que o sangue siga em direção à artéria aorta e a artéria pulmonar. Quando o ventrículo está relaxando ele está entrando em diástole. B2: ocorre quando há a ejeção dos ventrículos (VE para a circulação sistêmica e VD para a circulação pulmonar), quando as valvas aórtica e pulmonar se fecham. B2 = TÁ. Há maior intensidade de B2 nos focos da base, considerando que o ruído provocado pelo fechamento da valva aórtica é maior ele pode ser ouvido em todo o precórdio, mas o ruído provocado pelo fechamento da valva pulmonar só é audível no foco pulmonar. A inspiração pode retardar o componente pulmonar, porque aumenta o retorno venoso, e isso leva a um desdobramento fisiológico de B2, passando a se ouvir um TLÁ, ao invés do TÁ comumente auscultado. Isso acontece pois quando nós inspiramos causamos uma pressão negativa no tórax, o que aumenta o retorno venoso para o coração (aumenta o volume de sangue que chega ao átrio direito e, consequentemente, muito mais sangue passará para o ventrículo direito. O VD, por sua vez, demorará mais para se esvaziar quando fizer sua sístole). → Enquanto a valva aórtica já está fechando, a valva pulmonar ainda vai começar a fechar e esse atraso vai causar o desdobramento de B2. Desdobramentos de B2: - Bloqueio do ramo direito / constante e variável: o indivíduo já tem o TLÁ constante, só que quando ele inspira isso piora. Ocorre quando a porção direita do ramo de Hiss apresentaalgum distúrbio de condução, o que leva com que o VE se contraia primeiro que o VD. → aqui se o paciente inspirar, a intensidade do TLÁ piora. - Bloqueio do ramo esquerdo / paradoxal ou invertido (é fixo): aqui o problema é no ramo esquerdo. O que ocorre é que o VD se contrai primeiro que o VE, ou seja, a valva pulmonar está se fechando antes da valva aórtica. → se o paciente inspirar, consegue-se atrasar o componente pulmonar e as duas valvas irão se fechar ao mesmo tempo, e não será possível mais escutar o desdobramento. - Constante e fixo: o grau de desdobramento é o mesmo na inspiração e na expiração, pois as alterações da pressão intratoráxica durante a respiração não influem no enchimento do ventrículo direito pois os átrios estão se comunicando, devido ao não fechamento do Maria Izabella Damasceno – Turma XV de medicina, Unicap. forame oval. O individuo vai ter sempre um TLÁ, expirando ou inspirando. Entre B1 e B2 é sístole, entre B2 e o próximo B1 é diástole B3 e B4 são ruídos diastólicos As bulhas 3 e 4 não tem relação com o fechamento das valvas; B3 pode ser fisiologia em crianças e adolescentes, mas B4 é sempre patológica. Quem tem comunicação interatrial (quando o forame não fecha) tem o TLÁ constante B3 – ruído de baixa frequência, audível melhor com a campanula, é um ruído diastólico, produzido pela vibração da parede ventricular, durante o enchimento rápido do ventrículo. B3 está associada a dilatação cardíaca – o choque do sangue que passa rapidamente do átrio para o ventrículo, durante o enchimento ventricular, provoca um ruido = TU. Está no início da diástole ventricular. É mais audível no foco mitral, com a campanula, o paciente estando em decúbito lateral esquerdo. TUM TÁ TU. ➢ Não há diferença acústica entre a B3 fisiológica ou a patológica. O reconhecimento da patologia depende de outras alterações indicativas de lesões cardíacas, como cardiomegalia, sopros e sinais de insuficiência cardíaca. B4 – é um ruido débil do final da diástole, ocorre no final do enchimento ventricular (o ventrículo já está cheio, porém ainda vem mais sangue do átrio para o ventrículo, essas massas de sangue se chocam e produzem B4). Esse ruido é associado a hipertrofia. TU TUM TÁ. Ele está no final da diástole, quase na sístole. ➢ As condições que originam uma 4 a bulha patológica são as lesões estenóticas das valvas semilunares (aórtica e pulmonar), a hipertensão arterial, a doença arterial coronariana e as miocardiopatias hipertróficas, ou seja, todas as situações em que há diminuição da complacência ventricular. ➢ Sopros São sons produzidos por vibrações decorrentes de alterações do fluxo sanguíneo. Em condições normais o sangue flui de forma laminar, sem provocar ruídos. Porém, quando o fluxo sanguíneo deixa de ser laminar, devido a alguma alteração no sangue, na parede dos vasos ou nas câmaras cardíacas, ele passa a ser um fluxo de turbilhonamento, produzindo ruídos. - Esses ruídos podem ser frêmitos ou sopros. O frêmito é algo palpável, já o sopro é audível. → qualquer obstáculo ao fluxo laminar vai produzir frêmito ou sopros. - Estenose deixa o fluxo turbulento, e isso pode produzir sopro. É fundamental, ao auscultar um sopro, saber a situação/posição desse sopro no ciclo cardíaco (sístole e diástole): - Identificar se o sopro é sistólico ou diastólico; - Identificar qual a localização do sopro: qual o foco cardíaco ele é mais audível; - Saber se ele irradia para outra região do tórax ou se é concentrado na região da ausculta; - Identificar a intensidade: o quão audível é aquele sopro (graduação em cruzes no prontuário); - Identificar o timbre do sopro; - Identificar se o sopro se modifica com a respiração, com a posição do paciente e com o exercício físico: saber se existe algum fator que modifique o sopro. Situação no ciclo cardíaco = saber se o sopro é sistólico ou diastólico O sopro sistólico: é subdividido em dois grupos, os sopros sistólicos de ejeção e os sopros sistólicos de regurgitação. Ocorrem durante a sístole ventricular. Quando o ventrículo esquerdo começa a se contrair, a valva mitral tem que se fechar, se ela não se fecha de forma adequada, tem-se uma valva mitral insuficiente. Quando houver a contração Maria Izabella Damasceno – Turma XV de medicina, Unicap. do VE o sangue vai voltar pra o AE, causando uma regurgitação (um ruído) = sopro sistólico de regurgitação, por insuficiência mitral. Da mesma forma isso pode acontecer no VD, logo haverá um sopro sistólico de regurgitação tricúspide. (insuficiência mitral ou tricúspide) Quando o ventrículo esquerdo começar a se contrair, o sangue deve passar para a aorta. Porém se a valva aórtica estiver com alguma patologia que impeça sua abertura de forma adequada, haverá uma resistência ao fluxo sanguíneo, produzindo um sopro sistólico de ejeção de estenose aórtica. Isso também pode acontecer na valva pulmonar, causando um sopro sistólico de ejeção de estenose pulmonar. (estenose aórtica ou pulmonar) Sopros diastólicos Causados por estenose mitral ou tricúspide e por insuficiência aórtica ou pulmonar. Esses sopros estão após B2, na diástole. Quando o VE entra em diástole a valva aórtica precisa se fechar, para que o sangue não retorne a câmara. Caso a valva não feche, tem-se um sopro diastólico de insuficiência aórtica. Quando o sangue está passando do átrio para o ventrículo, mas a valva AV não se abre direito há a produção de um sopro, o sopro diastólico por estenose mitral ou tricúspide. - Pondo o paciente em decúbito lateral esquerdo há melhora da audibilidade do sopro diastólico de estenose mitral. Existem muitos outros sopros relacionados as cardiopatias congênitas. Geralmente, o sopro é mais audível onde a valva está comprometida, mas isso não é absoluto. Localização do sopro no ciclo cardíaco: Se o sopro está em B1 e B2 é um sopro sistólico Estenose da valva aórtica, sopro de sístole de ejeção – é comum que esses sopros irradiem para a região da fúrcula, do pescoço. Insuficiência mitral, sopro sistólico de regurgitação, aqui o sangue retorna do VE para o AE - o sopro pode irradiar pra região da axila e do dorso. Se o sopro estiver após B2 é um sopro diastólico. - Insuficiência aórtica, sopro diastólico de regurgitação aórtica, aqui o sangue, durante a diástole do VE, está retornando pela valva aórtica. - Estenose mitral, sopro diastólico de ejeção - durante o enchimento do VE o sangue está passando do AE para o VE com dificuldade, isso provoca ruido e frêmito. Alguns sopros podem sofrer modificações, de acordo com a respiração, a posição do paciente e exercícios físicos: - Manobra de Rivero-Carvalho: quando se está em dúvida se o sopro é de insuficiência mitral ou tricúspide. Você pede para o paciente inspirar, e a inspiração profunda aumenta o retorno venoso para o coração, esse aumento sobrecarrega as câmaras direitas, então, todos os fenômenos que acontecem na câmara direita ficarão mais audíveis. - Se o sopro aumentar de intensidade com a inspiração é uma insuficiência tricúspide. - Se não se modificar, é um sopro de insuficiência mitral. - Sopros da base: qualquer sopro produzido na valva aórtica ou pulmonar. Se o paciente estiver sentado com o tórax inclinado para frente, porque essa posição aproxima mais a base do coração do tórax e os sopros nessas valvas podem se tornar mais audíveis com essa manobra. - O sopro decorrente de estenose mitral, também chamado de Ruflar diastólico, é mais audível quando o paciente está em decúbito lateral esquerdo.
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