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Vicente-GuimarAúes

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO 
INSTITUTO DE ECONOMIA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
IMPACTOS DAS INTERAÇÕES E SINERGIAS DO SISTEMA PRODUTIVO E INOVATIVO DE 
CINEMA NO RIO DE JANEIRO SOBRE A INOVATIVIDADE E COMPETITIVIDADE DAS 
EMPRESAS PRODUTORA DE CINEMA LOCAIS. 
 
 
 
 
 
 
 
 
VICENTE GUIMARÃES 
 
 
 
 
Tese de mestrado submetida ao instituto de 
Economia da Universidade Federal do Rio de 
Janeiro, como parte dos requisitos necessários à 
obtenção do título de Doutor em Economia. 
 
 
 
 
Orientador: Prof. Dr. José Eduardo Cassiolato 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Rio de Janeiro, Novembro de 2010 
 
 
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO 
INSTITUTO DE ECONOMIA 
 
 
 
 
 
IMPACTOS DAS INTERAÇÕES E SINERGIAS DO SISTEMA PRODUTIVO E INOVATIVO DE 
CINEMA NO RIO DE JANEIRO SOBRE A INOVATIVIDADE E COMPETITIVIDADE DAS 
EMPRESAS PRODUTORA DE CINEMA LOCAIS. 
 
 
 
 
VICENTE GUIMARÃES 
 
 
 
 
Tese de doutorado submetida ao 
instituto de Economia da Universidade 
Federal do Rio de Janeiro, como parte 
dos requisitos necessários à obtenção 
do título de Doutor em Economia. 
 
 
Banca Examinadora: 
 
_________________________________________ 
Prof. Dr. José Eduardo Cassiolato (Orientador) 
 
_________________________________________ 
Profª Helena M. M. Lastres 
 
_________________________________________ 
Profª Ana Lúcia Tatsch 
 
_________________________________________ 
Prof. Jorge Nogueira de Paiva Britto 
 
_________________________________________ 
Prof. Ary Vieira Barradas 
 
 
 
Rio de Janeiro, Setembro de 2005 
 
 
Resumo 
 
Este trabalho destaca a importância da inovação e conhecimento para o desempenho competitivo 
de empresas, regiões e países. A análise realizada baseia-se em uma visão sistêmica sobre os processos 
locais/territoriais relacionados à geração, uso, difusão, concentração e aprendizado de conhecimentos e 
inovações, destacando-se os conceitos de sistema de inovação nacionais, regionais e locais. O objetivo 
central desta dissertação é analisar o Sistema Produtivo e Inovativo de Cinema no Rio de Janeiro 
buscando, a partir de um enfoque sistêmico sobre a estrutura produtiva, inovativa e institucional local, 
compreender os mecanismos interativos locais de aprendizado e difusão de conhecimentos e quais os 
efeitos destes mecanismos para o potencial competitivo das micro e pequenas empresas da cidade. 
Paralelamente pretende-se demonstrar a importância da aplicação do enfoque em sistemas 
locais/nacionais países periféricos. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Abstract 
 
 This work detaches the importance of innovation and knowledge to the competitive performance 
of enterprises, regions and countries. The analysis is based on local, regional and national innovation 
systems studies, by focusing on a systemic perspective about the local/territorial processes concerning 
generation, use, diffusion and concentration of learning, knowledge and innovation. The aim of this 
dissertation is to analyse the cinema local productive system in Rio de Janeiro. This analysis is made from 
a systemic framework concerning productive, innovative and local institutional structure in order to 
understand local interactive mechanisms of learning and diffusion of knowledge, and its effects to the 
micro and small enterprises competitive potential. In addition to that, this work also intends to 
demonstrate the importance of local/national systems perspective in peripheral countries. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
INTRODUÇÃO 
As duas últimas décadas foram marcadas pela consolidação de um novo paradigma tecnológico, 
este paradigma é caracterizado por uma série de inovações profundas nas tecnologias da informação e 
comunicação, as TICs. Esta avalanche de inovações e novos conhecimento vem gerando mudanças pro-
fundas nos campos tecnológicos, produtivos e econômicos em diversos países. Ao mesmo tempo, ocorreu 
o espraiamento dos processos de “globalização”, motivados por diversos fatores de ordem econômica, 
ideológica e geopolítica. Configura-se uma série de novas oportunidades e desafios para empresas e orga-
nizações, assim como, para o planejamento e execução de políticas públicas dentro desta nova realidade. 
Destaca-se no novo paradigma a importância crescente dos ativos intangíveis da economia como 
conhecimento, aprendizado e capacitação. O domínio e o desenvolvimento destes ativos torna-se, cada 
vez mais, fundamental na nova estrutura competitiva capitalista. Neste quadro cresce a importância de 
políticas que valorizem o local e as relações geradas pela proximidade territorial, a partir do ponto de 
vista que esta proximidade é fundamental para o desenvolvimento dos processos de aprendizado e difusão 
de conhecimentos. Em especial surgem novas linhas de pesquisa que buscam compreender os sistemas de 
inovação, destacando-se nesta dissertação o enfoque em sistemas locais, como os Sistemas Inovativos e 
Produtivos Locais (SPILs) e os Arranjos Produtivos Locais (APLs) 
O objetivo desta tese é analisar como as sinergias do Sistema Produtivo e Inovativo Local de 
Cinema no Rio de Janeiro, buscando, a partir de uma visão sistêmica sobre a estrutura produtiva e 
inovativa local, compreender os mecanismos interativos locais de aprendizado e difusão de 
conhecimentos e quais os efeitos destes mecanismos para o potencial competitivo das micro e pequenas 
empresas da cidade. Paralelamente pretende-se demonstrar a importância do enfoque sistêmico sobre a 
produção, inovação e conhecimento em países periféricos, a partir destas análises, buscar-se-ão uma série 
de argumentos, lições e conclusões sobre inovação, conhecimento e aprendizado objetivando as suas 
aplicações em políticas que visem: desenvolvimento regional/local, inserção e desenvolvimento de 
empresas (ou conjunto de empresas) de países periféricos em indústrias de alta tecnologia e o incremento 
das capacitações produtivas, inovativas e de aprendizado destes países. 
A análise do APL, que será realizada na parte III desta tese (capítulos 6, 7 e 8), será subsidiada 
por duas partes principais. A Parte I é formada pelos capítulo 1 e 2 tem como objetivo construir uma 
arcabouço conceitual que servirá de base para as análises subsequentes. Este base será formada pela 
corrente neo-schumpeteriana, especificamente a sua corrente analítica sobre sistemas de inovação, 
conhecimentos e processos de aprendizagem; combinada com uma releitura do pensamento latino-
americano de Celso Furtado sobre desenvolvimento e inserção internacional das economias periféricas. 
Esta base teórica permite entender as características inovativas e concorrenciais do novo paradigma, 
possibilitando uma compreensão aprofundada sobre os processos de geração, uso e difusão (ou 
concentração) de conhecimentos e a importância do aprendizado a capacitação produtiva e inovativa de 
empresas, regiões e países. Esta base teórica também propicia uma compreensão sobre como estes 
processos impactam nas economias periféricas, principalmente na ampliação das assimetrias existentes 
entre o norte e o sul. 
O capítulo II tem como objetivo os impactos da cultura sobre os processos de desenvolvimento. O 
capítulo III apresenta a estrutura produtiva do cinema, seu principais segmentos e características. Será 
dada atenção especial aos seus diversos segmentos de mercado (que possuem processos produtivos, suas 
característica dinâmicos e concorrenciais distintas) e as oportunidades existentes para as empresas 
periféricas dentro de cada segmento de mercado. No capítulo IV serão descritos o surgimento, o 
desenvolvimento e o estágio atual das indústrias mundial de cinema. O capitulo V apresenta a dinâmica 
do cinema no Brasil seu desenvolvimento historio e o peso da produção cinematográfica do Rio de 
Janeiro. Estes capítulos introdutórios serão fundamentais para a análisedo APL de software de Petrópolis 
principalmente para a auxiliar a compreensão do mecanismos dinâmicos desta indústria e para avaliar o 
potencial competitivo da indústria local e nacional. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
PARTE I – COMPETIVIDADE, INOVAÇÃO E CULTURA UMA ABORDAGEM ALTERNATIVA 
 
CAPÍTULO I – COMPETITIVIDADE E CONCORRÊNCIA 
 
A conceitualização, os modelos e os desdobramentos ligados à inovação, à competitividade e à 
concorrência alimentam um intenso debate acadêmico1. Destacam-se diferentes teorias e abordagens 
metodológicas, com resultados analíticos e normativos diferenciados. Assim este capítulo inicial tem com 
objetivo apresentar ao leitor o referencial teórico conceitual utilizado na pesquisa e na análise da tese. 
Ênfase será dada aos conceitos, abordagens e metodologia de análise sobre a inovação, competitividade e 
concorrência (bem como da interação destes três processo com a dinâmica econômica). 
 
Neste sentido, o capítulo está dividido em três blocos: o primeiro apresenta uma breve revisão de 
conceitos e abordagens sobre a competitividade, a partir deste arcabouço desenvolve-se uma abordagem 
conceitual sobre competitividade considerada mais aderente aos objetivos desta tese; no segundo bloco 
será feita uma breve descrição da visão ortodoxa e tradicional sobre concorrência onde serão apresentadas 
as inconsistências e os limitantes desta abordagem; o terceiro bloco apresenta uma abordagem alternativa 
principalmente no que se refere à inovação e seus impactos sobre a dinâmica concorrencial e sobre o 
desenvolvimento econômico, este enfoque constitui a base teórico-conceitual considerada mais relevante 
para os objetivos analíticos e metodológicos desta tese. 
 
1.1 Competitividade – Enfoques conceituais 
 
Apesar de muito utilizado o termo “competitividade” possui conceitos, definições e enfoques 
diferenciados cada qual com abordagens analíticas e normativas igualmente distintas. Este item do 
capítulo não pretende realizar uma análise exaustiva sobre conceitos de competitividade, o seu objetivo é 
apresentar uma conceitualização ao qual a investigação possa se referir de maneira não equívoca. Neste 
sentido, me parece precisa a afirmação de [Bryne et al. (1991)]: 
 
O conceito não deve ser visto como uma essência esclerosada; ele só pode conservar 
seu status científico ao preço de um esforço constante de análise e de estruturação dos 
fatos. Os conceitos são concebidos e devem ser postos constantemente à prova, à 
revisão devendo estar abertos a toda uma hierarquia possível de evidências 
[BRUYNE, P.; ET AL. (1991, p.118)]. 
 
Na literatura econômica existem dois grandes grupos de definições de competitividade, 
 
1 Os conceitos e a análise da inovação, da competitividade e da concorrência são centrais para esta tese, visto que esta 
defende a hipótese que a competitividade dos agentes econômicos e sua capacidade de concorrer de forma bem sucedida com outros 
agentes (inclusive daqueles que atuam em atividades intensivas em cultura, como o cinema) está diretamente relacionada à sua 
capacidade inovativa. 
 
identificados por Chudnovsky (1990): O primeiro tem um enfoque microeconômico no qual as definições 
de competitividade estão centradas na empresa, associando a competitividade ao seu desempenho ou 
eficiência em relação aos seus concorrentes. O segundo é o enfoque macroeconômico, onde as definições 
estão centradas nas nações, a competitividade surge como a capacidade das economias nacionais 
apresentarem certos resultados econômicos, principalmente nas exportações. A definição de Fajnzylber 
(1998) se enquadra neste último enfoque: “A competitividade consiste na capacidade de um país para 
manter e expandir sua participação nos mercados internacionais e elevar simultaneamente o nível de 
vida de sua população” [Fajnzylber (1988, p. 13)]. 
 
Cabe aqui uma breve observação. O objetivo de pesquisa desta tese é a competitividade das 
empresas produtoras de cinema no Rio de Janeiro. Evidentemente as questões referente ao enfoque 
microeconômico da competitividade serão discutidas com mais frequência e profundidade. Entretanto, 
sempre que possível esta análise terá como pano de fundo os elementos macroeconômicos que, como 
exposto mais adiante neste capítulo, são relevantes e influenciam fundamentalmente a capacidade 
competitividade e a dinâmica inovativa, produtiva e concorrencial das empresas e sistemas produtivos. 
 
Em relação à competitividade das empresas e dos agentes econômicos o trabalho de Haguenauer 
(1989) organiza os em duas famílias: desempenho e eficiência 
 
Competitividade como desempenho – neste enfoque a competitividade é de alguma forma 
expressa na participação no mercado (market-share, participação nos lucros ou nas exportações). Segundo 
Kupfer (XXXX) na versão desempenho, a competitividade é um fenômeno ex-post, pois é o mercado 
que estará definindo a posição competitiva das empresas, sancionando ou não as ações e estratégias 
empresariais realizadas. Podemos destacar as seguintes definições, convergentes com este enfoque: 
 
“Competitividade é a capacidade da empresa formular e implementar estratégias 
concorrenciais, que lhe permitam ampliar ou conservar, de forma duradoura, uma posição sustentável do 
mercado.” [Ferraz et al. (1997, p.3)]. 
 
“Competitividade é a competência de sobreviver, se sustentar ou crescer nos mercados.” [Jank e 
Nassar (2000)]. 
 
“Competitividade é a habilidade sustentável de obter lucros e manter a participação nos 
mercados” [Duren et al. (1992, p. 2)] 
 
Competitividade como eficiência – nessa versão a competitividade é um grau de capacitação 
detido pelas firmas, que se traduz nas técnicas por elas praticadas e que determina o seu nível de 
eficiência, segundo Kupfer (XXX) neste enfoque a competitividade é um fenômeno ex-ante, ou seja, O 
desempenho no mercado seria uma provável consequência da competitividade e não sua expressão. 
A definição de competitividade de Haguenauer (1989) é convergente com esta visão, a autora 
define competitividade como a capacidade de uma empresa produzir mercadorias com padrões de 
qualidade específicos, requeridos por mercados determinados, utilizando recursos em níveis iguais ou 
inferiores aos que prevalecem em indústrias semelhantes no resto do mundo, durante certo período de 
tempo. 
 
Fajnzylber (1988) apresenta um enfoque sobre a competitividade que combina elementos de 
ambos os enfoques, na medida em que avalia a competitividade como desempenho, mas também atribui 
importância aos fatores que geram a eficiência produtiva e que estariam na origem da capacidade 
competitividade. O autor defende a existência de duas formas de competitividade: competitividade 
autêntica no qual o aumento da eficiência/produtividade ocorre via assimilação de progresso técnico, 
conhecimento e do desenvolvimento do potencial inovativo dos agentes produtivos, este processo tende a 
gerar um padrão sustentável de crescimento da economia associado à elevação da qualidade de vida e 
bem estar social; competitividade espúria que está baseada no aumento da produtividade e na redução 
de custos obtida pela exploração da força de trabalho, taxa de câmbio desvalorizada, subsídios e ações 
protecionistas. Portanto, este forma de competitividade é mantida artificialmente e não teria 
sustentabilidade no longo prazo. 
 
Segundo o autor os fatores determinantes da competitividade autêntica são abrangentes, 
dependendo do sistema educacional, infra-estrutura de PeD, sistema financeiro, aparato institucional 
público e privado e dos sistemas institucionais e da interação com as organizações sociais. 
 
Ainda neste capítulo será aprofundada a análise dos fatores que geram, sustentam e conformam 
competitividade dos agentes econômicos. Antes disso, será apresentado o conceito de competitividadeque será adotado neste trabalho. 
 
1.1.1. Competitividade: uma capacidade do agente econômico. 
 
Este trabalho assume a competitividade como uma capacidade específica de cada agente 
econômico e que permite que este agente participe da dinâmica concorrencial. Esta visão converge com a 
definição de de [Muller, G (2006)] para o qual a competitividade é o conjunto de condições requeridas 
para o exercício da concorrência. 
Neste enfoque a competitividade de um agente é dada por um conjunto de capacidades e/ou 
habilidades do agente econômico, tais como: seu potencial inovativo, seus conhecimentos (tácitos, 
específicos, produtivos, técnicos, etc), seus elementos intangíveis (criatividade, talento, 
aprendizado), sua capacidade produtiva e seu poder de capital/mercado (capacidade de influenciar 
preços e quantidades, de estabelecer/impor parcerias e estratégicas, de criar barreiras à 
entrada/saída, marca, etc.). Estas capacidades combinadas determinam, em ultima instância, o 
potencial de um agente competir e interagir com outros agentes e se diferenciar frete aos seus 
concorrentes no mercado. 
 
E importante salientar que muitas definições e abordagens conceituais da competitividade 
fundem o que é a competitividade (uma capacidade) com a forma como esta se expressa (seus 
indicadores de desempenho). Em outras palavras, competitividade não é “um desempenho frente aos 
demais concorrentes” ou “uma posição de mercado” ou ainda “uma medida de eficiência ligada a uma 
produção de menores custos”. Todos estes são indicadores, números que demonstram como a 
competitividade da empresa se expressa e não inidcam o que ela é, uma capacidade. 
 
Entretanto, é inegável que o conceito de competitividade está intimamente ligado à idéia ou à 
possibilidade de comparabilidade. Neste sentido, é intuitivo imaginar que empresas com maior 
capacidade competitiva podem obter melhores resultados no “jogo concorrencial” dentro dos seus 
respectivos mercados e SPIs, geralmente isso é uma verdade inquestionável. 
 
Por outro lado, também é intuito afirmar que nem sempre uma maior capacidade competitiva de 
um agente se reflete no melhor desempenho frente aos seus concorrentes. Uma simples analogia permite 
uma clara compreensão desta questão. No futebol (ou em qualquer outro esportes) nem sempre a equipe 
melhor e mais preparada (aquela com a maior capacidade de competir) vence uma partida, existem 
elementos de incerteza e fatores exógenos que interferem no resultado do jogo (chuva, erro do juiz, 
contusão do principal jogador do time, falta de sorte nas conclusões, etc.). No caso da empresa, potencial 
inovativo e criativo, conhecimentos de fronteira, acesso a tecnologias avançadas e as best-practices 
empresariais são condições necessárias mas podem não ser suficientes para assegurar o sucesso na 
conquista ou manutenção de mercados. Isso ocorre porque (como no esporte) existem elementos de 
incerteza, sistêmicos e estruturais, que se interpõem (e muitas vezes se sobrepões) à capacidade 
competitiva da empresa. 
 
A incerteza é uma característica inerente e sistêmica do processo concorrencial. Os agentes 
econômicos se deparam com um conjunto imenso de estratégias competitivas possíveis, e “n” 
combinações distintas destas estratégicas em termos de produção, inovação, marketing, P&D, RH, 
capacitação/aprendizado, gestão, etc. Somente no futuro têm-se os resultados que sancionam os acertos 
ou erros das escolhas estratégias adotadas. Pode-se considerar que o desempenho de um agente 
econômico é um fator ex-post dado por uma trajetória de erros e acertos estratégicos ao longo do tempo. 
 
O desempenho futuro da empresa também envolve um conjunto de incertezas geradas por fatores 
estruturais. Os fatores estruturais2 incluem aspectos que são totalmente externos à atuação estratégico-
 
2 O aspecto macroeconômico apresenta quesitos como taxa de câmbio, carga tributária, taxa de juros, política 
salarial, dentre outros. Já o aspecto político-institucional está ligado à estrutura política e como esta determina as 
políticas governamentais, tais como política cultural, tributária, políticas de incentivos regionais e/ou setoriais e 
outros. Os parâmetros legais-regulatórios são reflexos da estrutura jurídica do Estado, quer seja com leis de proteção 
à propriedade industrial, quer seja com leis de preservação ambiental ou até mesmo de defesa da concorrência. A 
infra-estrutura, por outro lado, pode afetar a competitividade pelos custos extras que podem representar. Desta forma, 
insumos como energia, transportes, telecomunicações e outros são chaves para a análise deste parâmetro dos fatores 
sistêmicos. Dentro dos fatores sociais encontram-se, principalmente, aqueles relativos à mão-deobra, quais sejam: sua 
abundância/escassez, nível de educação, estrutura sindical e seguridade social. Por fim, os aspectos internacionais 
podem afetar tanto o mercado consumidor da empresa, quanto suas fontes de recursos. Assim, o comportamento do 
competitiva das empresas, tais como elementos macroeconômicos, político-institucionais, legais-
regulatórios, infraestruturais, sócio-culturais e internacionais. Estes fatores têm o potencial de afetar a 
dinâmica concorrencial gerando mudanças profundas nos sistemas produtivos e inovativos, impactando 
tanto a competitividade e desempenho futuro de empresas específicas quanto o conjunto de atores e 
estrutura dos SPI. Estes SPI podem ser fortalecidos ou desarticulados dependendo da direção e do 
impacto dos fatores mencionados. 
 
Em suma, dado que os agentes econômicos competem ao longo do tempo, o desempenho de uma 
empresa em particular será determinado pela sua competitividade e pelos fatores sistêmicos que moldam 
a dinâmica concorrencial. Este desempenho futuro (resultado) seria algo convergente ao conceito de 
competitividade revelada, ou aquilo que Kupfer qualificou de competitividade ex-post. 
 
1.1.2. Competitividade Sustentada 
 
Competitividade revelada é um conceito interessante, mas analiticamente complexo, dado que o 
desempenho da empresa depende de elementos sistêmicos e estruturais imprevisíveis. 
 
Portanto, este trabalho adotará como relevante o conceito de Competitividade Sustentada, que 
indica a habilidade do agente econômico sustentar sua capacidade competitiva ao longo do tempo, 
adequando-se à dinâmica concorrencial do sistema produtivo em que interage, moldando suas 
capacidades (inovativas, conhecimentos) estratégias (organizacionais, produtivas, estruturais e 
tecnológicas) e adaptando-se às constantes mudanças e exigências nos aspectos econômicos, sociais, 
culturais e ambientais garantindo assim o seu desempenho no longo prazo. 
 
Veremos adiante que a competitividade (a partir deste ponto quando o termo competitividade 
estará se referindo a competitividade sustentada) está fortemente relacionada a capacidade inovativa do 
agente econômico. 
 
1.2 Concorrência e Dinâmica Econômica 
Como exposto no item anterior a competitividade é um atributo do agente econômico. Por outro 
lado, a concorrência refere-se a um processo ou uma dinâmica que ocorre entre os agentes econômicos. 
Assim, a competitividade deve ser analisada e compreendida como um fenômeno direta e 
indissoluvelmente ligado ao processo de concorrência. 
 
Este item tem como objetivo aprofundar a análise teórico conceitual da concorrência e 
competitividade, contrapondo a abordagem tradicional à abordagem alternativa proposta para esta tese. 
 
 
 
comércio mundial e os fluxos internacionais de capital são fatores que podem afetar a competitividade [Ferraz ET. al. 
(1997)]. 
 
1.2.1 – Concorrência: A visão econômica tradicional 
 
O enfoque tradicional da teoria econômica sobre concorrência surge nas obras de AdamSmith e 
Ricardo e está associada aos pressupostos do liberalismo econômico e no poder equalizador dos 
mercados. 
 
A concorrência seria um processo que se desenrola ao longo do tempo – dada a livre mobilidade 
de capital e fatores produtivos entre diferentes indústrias – onde as indústrias3 com lucros elevados, tidos 
como anormais, atrairiam novas empresas. O contínuo fluxo de capitais e concorrentes para as indústrias 
com alta lucratividade gera uma tendência à igualação das taxas de lucro e o equilíbrio de preços de 
mercado. Assim, qualquer posição privilegiada, de liderança ou que gerasse lucros extraordinários seria 
transitória. 
 
A concepção clássica de concorrência foi extendida e consolidada pela corrente neoclássica, 
tendo como base a noção de concorrência perfeita, associada ao atomismo dos agentes econômicos. As 
empresas são tomadoras de preço e incapazes de afetar o preço de mercado, que seria então determinado 
pelo equilíbrio entre oferta e demanda, com preço de mercado igual ao custo marginal da produção. Os 
teoremas da corrente neoclássica demonstram que a atuação dos mecanismos concorrenciais de mercado, 
sob condições muito específicas (preços flexíveis, market clearing, atomismo dos agentes, racionalidade, 
retornos decrescentes, preferências convexas e insaciáveis) sempre geraria uma situação de equilíbrio 
geral competitivo em preços e quantidades (eficiência alocativa). Estes teoremas demonstram que este 
equilíbrio geral competitivo também seria Eficiente de Pareto4 (ponto de máxima eficiência econômica). 
 
Algumas situações, típicas do sistema econômico real, tais como: como incerteza, rigidez de 
preços, retornos crescentes e assimetrias tecnológicas são exógenas ao modelo. Da mesma forma a 
inovação (encara como estado da técnica) é considerada um elemento exógeno ao modelo. Os efeitos 
destes fatores são considerados desvios, falhas ou imperfeições de mercado, geralmente ignoradas ou 
tratadas como resíduos nos modelos. 
 
As orientações normativas da teoria neoclássica de defesa da livre concorrência e de política 
industrial estão baseadas nos resultados dos seus modelos de equilíbrio geral e de bem-estar. As políticas 
devem proteger o perfeito funcionamento dos mecanismos de mercado evitando que falhas e imperfeições 
comprometam a sua eficiência alocativa e econômica. 
 
Nas aplicações normativas no mundo real (onde os teóricos ortodoxos reconhecem que as 
 
3 Indústria é um termo recorrentemente utilizado pela literatura microeconômica tradicional para designar 
uma atividade produtiva, a partir disso faz-se comum termos como indústria automobilística, indústria do 
petróleo, etc. Assim sendo a utilização deste termo será restrita a esta seção que trata das visões 
microeconômicas tradicionais. No restante desta tese adotar-se-á o conceito de atividade econômica. 
4 Os teoremas neoclássicos do bem-estar demonstram ainda que toda alocação eficiente de Pareto também 
corresponderia a um ponto ótimo de equilíbrio geral competitivo. Desta forma se estabelece uma relação biunívoca 
entre eficiência alocativa e ótimo de Pareto (eficiência econômica) [Varian H.R. (1947 p.623-629)]. 
condições existentes nos modelos não são verificadas) a condição paretiana é buscada por aproximação. 
Por exemplo, são consideradas adequadas (e suficientes) políticas contra o acúmulo assimétrico de 
poder econômico ou com foco no controle de condutas empresariais oportunistas. Alcançar estes 
objetivos propiciaria um aumento de eficiência e competitividade dos mercados e uma atuação, pelos 
menos, próxima as “condições ideais” de livre concorrência. Para obter estes objetivos existiriam um 
conjunto de ações como: o controle ou combate de estruturas concentradas (monopólios e oligopólios), 
criação de pressões competitivas sobre estas estruturas; implantação de ações regulatórias diretas e 
indiretas; legislação (legislação antitruste, antidumping, legislação sobre fusão e aquisição); controle de 
preços e tarifas, etc. [Guimarães (2006)]. 
 
1.2.2. As inconsistências da Visão Tradicional 
 
A elegância científica e matemática dos modelos neoclássicos de equilíbrio geral e bem estar e a 
simplicidade dos seus preceitos normativos conquistaram rapidamente muitos adeptos em todo o mundo. 
Entretanto, esta teoria apresenta limitantes que foram alvo de questionamentos mesmo entre os 
economistas ortodoxos. Principalmente devido a baixa aderência dos modelos a fatos observados na 
dinâmica concorrencial do sistema econômico. 
 
Um grande limitante é o caráter determinístico das condutas competitivas empresariais. Em 
outras palavras, os modelos mainstream postulam a concorrência como um estado no qual as firmas agem 
de forma "bem comportada", cumprindo com exatidão as determinações impostas pelas especificidades 
estruturais de seus mercados de atuação ou por regras de conduta calçadas na busca do equilíbrio [Kupfer 
(XXXX)]. 
 
Como corolário surge outro problema que é a valorização do poder de mercado como 
mecanismo equalizador, vinculando a este o papel quase exclusivo de alocação de um dado conjunto de 
recursos produtivos da economia, que supostamente geraria uma configuração ótima ou de máxima 
eficiência. Os modelos mainstream adotam modelos com uma visão limitada das transformações, 
desequilíbrios e assimetrias inerentes à dinâmica do processo concorrencial, principalmente do papel da 
inovação que é o elemento central dos processos de transformação das estruturas capitalistas. 
 
A dinâmica e complexidade do processo de mudança tecnológica e concorrência não é o objetivo 
de análise em si, privilegia-se os seus efeitos tendenciais ou de longo prazo, associados à teoria da 
determinação dos preços ou do equilíbrio [Possas (2002)]. 
 
No modelo neoclássico de equilíbrio geral, por exemplo, o atomismo dos agentes – requisito 
fundamental para os resultados do modelo – resulta na inexistência de capacidade de diferenciação 
competitiva entre as empresas (já que estas não poderiam ter possibilidades de influenciar preços e 
quantidades) e o processo de concorrência só se preza a um papel de equalizador das taxas de lucro e dos 
preços. Esta indiferença se retrata com contundência no Dictionary of Economics (2003, p. 65-66) que 
define desta forma a competitividade: 
 
“Um termo vazio popularmente usado para expressar a habilidade de uma nação de 
crescer com sucesso e manter sua parcela de participação no comércio mundial ... o 
termo nunca impressionou os economistas acadêmicos.” (apud. p. 65-66) 
 
Outro limitante, é o caráter estático e atemporal dos modelos. Para garantir os resultados 
matemáticos uma série de fenômenos comuns à dinâmica de um sistema econômico (inovação, 
tecnologia, externalidades, rigidez de preços, barreiras à entrada) assim como fatores não econômicos 
relevantes (cultura, política, história, estrutura social) são considerados variáveis exógenas ao modelo. 
Todos são fatores de difícil mensuração e/ou previsibilidade ao longo do tempo, além de 
"desestabilizadores" por natureza. Assim, obviamente, não poderiam ser incorporados e ter seus 
resultados internalizados em modelos estático-comparativos. Para Furtado (1984) o caráter estático e 
atemporal deixa uma lacuna vital para o entendimento de fatores, ligados ao processo de transformação 
das estruturas econômicas capitalistas. 
Um terceiro limitante está no enfoque político normativo. Os modelos neoliberais reduziram 
a complexidade do debate político econômico à uma agenda simplificadora, centrada na eliminação dos 
obstáculos ao livre funcionamento do mercado. Inversamente a esta visão, diversas correntes do 
pensamento econômico – keynesianos, institucionalistas, estruturalistas latino-americanos, 
neoschumpeterianos, etc. – defendem um papel mais ativo do Estado na condução da economia. 
Os autores do estruturalismo latino-americano denunciaramsistematicamente as políticas 
econômicas subordinadas às diretrizes neoliberais, defendendo o papel do Estado na promoção do 
desenvolvimento econômico e social, principalmente nos países menos desenvolvidos. Celso Furtado, 
um dos principais autores desta corrente, destacou a importância das políticas públicas na construção de 
um sistema econômico capaz de se auto-reproduzir de forma relativamente endógena, através da 
integração das forças produtivas, ao incentivo estatal ao desenvolvimento tecnológico e à criação de um 
sistema econômico nacional que priorizasse o crescimento das forças produtivas [ver Prebisch (1949), 
Furtado (1984) e Fiori (2001)]. 
 
1.3 Competitividade e Dinâmica Econômica – Uma abordagem alternativa 
 
Como exposto no item anterior a abordagem dos modelos tradicionais sobre a competitividade e 
concorrência apresenta uma série de limitantes para os objetivos propostos nesta tese. Por outro lado, 
existe uma longa tradição da abordagem da realidade econômica cujo foco principal é a produção, em vez 
das trocas como nas visões ortodoxas. Esta tradição, cujas raízes podem ser encontradas na Itália 
renascentista, sugere que a riqueza se origina de fontes imateriais – criatividade, conhecimento, cultura, 
etc. – e que o processo de desenvolvimento ocorre mediante a incorporação de inovações e novos 
conhecimentos na dinâmica econômica [Guimarães et al (2006)]. 
 
Com base nesta tradição, este item apresenta uma abordagem alternativa sobre competitividade e 
concorrência e, principalmente, sobre a inovação e os impactos do processo inovativo sobre estes. Esta 
abordagem tem como base a corrente neo-schumpeteriana – especificamente as suas contribuições sobre 
concorrência, inovação e sistemas produtivos e inovativos – associada ao pensamento estruturalista latino 
americano – principalmente as contribuições de Celso Furtado – sobre inserção competitiva, 
desenvolvimento, cultura e política nas economias periféricas. 
O marco analítico fundamental que une ambas visões é a compreensão da dinâmica capitalista 
como um sistema marcado por assimetrias e de desequilíbrios, negando-se a hipótese básica neoclássica 
do poder equalizador do mercado. 
Tanto para corrente neoshumpeteriana quanto para a visão estruturalista furtadiana a dinâmica 
capitalista é caracterizada por profundas mudanças estruturais na economia geradas principalmente pela 
introdução e difusão de inovações. 
Propõem-se a existência quatro pontos de convergência entre a visão estruturalista de Furtado e a 
corrente neoschumpeteriana, que serão importantes para a análise subsequente: (i) a visão da concorrência 
econômica como um processo gerador de assimetrias e diversidade entre os agentes econômicos (ii) o 
papel da inovação como elemento motriz do processo concorrencial e da dinâmica capitalista; (iii) a 
relevância de pensar a dinâmica capitalista a partir de um enfoque sistêmico, uma abordagem que 
possibilite captar fatores tangíveis, intangíves e não-econômicos relevantes; (vi) a ênfase atribuída à 
política como instrumento de fomento da inovação, competitividade e do desenvolvimento econômico. 
1.3.1. Concorrência e diversidade 
Para ambas as correntes (estruturalista e neo-schupmeteriana) a concorrência capitalista é 
entendida como um processo ativo de criação constante de assimetrias competitivas implicando no 
surgimento permanente e endógeno de diversidade no sistema econômico capitalista. Portanto a 
concorrência não gera, como proposto pelas correntes tradicioanais, uma dinâmica que leve a algum 
estado de equilíbrio. 
Na visão neoschumpeteriana o processo de crescimento econômico interage como processo de 
mudança e transformação, alternando-se ao longo do tempo os ciclos de crescimento e adaptação do 
sistema, ambos fatores que determinam a própria dinâmica de acumulação capitalista. O mercado 
funciona como um ambiente de seleção, sancionado (ou não) o esforço competitivo das empresas. Em 
outras palavras, o mercado é o locus da concorrência (e não necessariamente da coordenação econômica 
que gere algum estado de equilíbrio) que leva à geração de assimetrias constantes entre os agentes 
(inovação, conhecimentos, produção, capital) e à crescente variedade tecnológica e diversidade 
comportamental (estratégias competitivas). As assimetrias e heterogeneidades são, ao mesmo tempo, 
tanto o resultado do processo concorrencial quanto elementos fundamentais para a transformação das 
estruturas de mercado. 
As heterogeneidade e assimetrias competitivas entre os agentes econômicos são encaradas como 
um resultado comum do processo da dinâmica concorrencial e não como um desvio ou falha de atuação 
dos mercados. Neste sentido, nem os lucros são “anormais” nem as situações monopolísticas são 
consideradas anticompetitivas, pois constituem o objetivo e, muitas vezes, o resultado esperado do 
processo concorrencial, ainda que de forma temporária e restrita. 
A visão estruturalista latinoamericana também reconhece que o processo concorrencial e a 
dinâmica de acumulação capitalista são marcados por processos de hierarquização, heterogeneidade e 
assimetrias. 
Um dos principais temas da obra de Furtado são os resultados assimétricos e hierarquizados 
característicos da dinâmica concorrencial capitalista. O autor destaca que a sociedade capitalista se 
reproduz em um quadro de extraordinária mutabilidade e de desigualdades na distribuição dos frutos da 
acumulação de capital, do desenvolvimento socioeconômico e do progresso técnico. Esta dinâmica gera 
as profundas assimetrias (econômicas, tecnológicas, produtivas, conhecimento) existentes entre empresas, 
territórios, regiões e países. Estes últimos classificados como economias periféricas (países menos 
desenvolvidos) e centrais (países mais ricos) [Furtado (1983)]. 
Ambas as visões – neoschumpeteria e a de Furtado – entendem a dinâmica econômica como 
específica, única, não linear e não seqüencial. Esta dinâmica - fruto do esforço de busca por diferenciação 
competitiva dos agentes econômicos - é marcada, principalmente, pela introdução e difusão de inovações 
no processo concorrencial. A importância da inovação para a dinâmica capitalista e para a 
competitividade dos agentes econômicos será abordada no próximo item. 
1.3.2. A inovação como principal determinante da competitividade e da dinâmica 
econômica 
As formulações centrais de Celso Furtado e da corrente neoschumpeteriana colocam a inovação 
como o principal determinante da competitividade dos agentes produtivos e da dinâmica do 
desenvolvimento econômico. 
Segundo Furtado a articulação entre inovação e desenvolvimento capitalista é uma das 
características mais fundamentais da civilização contemporânea. O progresso técnico (geração e difusão 
de inovações) assume um papel estratégico na dinâmica de formação da economia industrial. Segundo o 
autor, dada a configuração do primeiro núcleo industrial os fatores que condicionavam o comportamento 
da economia mundial sofreram rápidas e radicais transformações, que se traduziram em uma íntima 
articulação entre tecnologia e o processo de formação do capital. [ver por exemplo Furtado (1961, 1968, 
1978, 1984)]. Em suma, “desenvolvimento e subdesenvolvimento devem ser considerados como dois 
aspectos de um mesmo processo histórico, ligado à criação e à forma de difusão da tecnologia 
moderna”. (Furtado, 2003, p.88). 
 
Para Furtado o progresso técnico é uma expressão, que em seu uso corrente, cobre o conjunto de 
inovações que tornam possível a persistência do processo de acumulação e, por conseguinte da 
reprodução da sociedade capitalista. O autor observa que acumular é simplesmente adiar para o futuro o 
uso final de recursos já disponíveis para o consumo. A sociedade capitalista, para preservar suas 
características essenciais, necessita unir a capacidade de postergar o uso de uma parte dos recursos que 
dispõe, com a capacidade de transformaro que acumula em capital, quer dizer, em recursos remunerados. 
Isso somente ocorre se, dentro do horizonte de possibilidades técnicas abertas à aplicação dos recursos 
que se estão acumulando, surgem respostas com respeito ao uso final do investimento. Na ausência de 
modificações na disponibilidade de recursos naturais, técnicos e de composição da demanda final, a 
acumulação, como formação de capital, tende necessariamente a um ponto de saturação. Neste caso 
configura-se um quadro caracterizado pela tendência a rendimentos decrescentes, na medida que os 
investimentos sejam redundantes. O progresso técnico, enquanto conjunto de fatores que modificam este 
quadro básico, possibilitando a acumulação, é visto como à serviço da reprodução da sociedade capitalista 
e de suas assimetrias [Furtado (1983)]. 
A centralidade da relação inovação e a dinâmica econômica é um dos pilares da corrente neo-
schumpeteriana. A corrente neoshumpeteriana tem como base a obra de Joseph Schumpeter5 que 
representou um importante marco evolutivo na teoria econômica no século XX. A principal contribuição 
de Schumpeter foi a teorização sobre a relação existente entre inovação e o desenvolvimento econômico. 
Segundo o autor os ciclos de desenvolvimento econômico de longo prazo são gerados por ondas 
de revoluções tecnológicas. O empresário ao introduzir as inovações cria desafios concorrenciais para as 
empresas existentes. O sucesso dos empresários inovadores tende a ser imitado pelos demais, gerando 
uma onda de investimentos que estimula toda a economia. Portanto, o crescimento da economia é um 
processo dinâmico que depende tanto da geração e difusão de inovações [Schumpeter (1911), ver ainda 
Cassiolato e Schmitz (1992), Tigre (1997) e Possas (2002)] 
A corrente neoschumpeteriana vem resgatando e aprimorando nos últimos 30 anos as 
contribuições originais de Schumpeter. Estas modificações possibilitam uma melhor caracterização sobre 
as formas/tipos de inovação e sobre o processo inovativo (geração, uso e difusão), bem como sobre os 
efeitos da inovação sobre a competitividade, concorrência e dinâmica econômica. [ver, dentre outros, 
Dosi (1982, 1984), Nelson e Winter (1982), Freeman (1984), Lundvall (1992), Cassiolato e Schmitz 
(1992)]. 
1.3.2.1. As diferentes formas de inovar 
Uma das mais relevantes contribuições da corrente neo-schumpeteriana se deu sobre a 
conceitualização da inovação. Em Schumpeter o conceito de inovação assemelha-se ao conceito de 
invenção ou de inovação radical (proposta pelos neo-schumpeterianos) e que se refere ao 
desenvolvimento de um produto, processo ou método de organização empresarial completamente novos 
para todas os mercados e sistemas produtivos (Redesist, 2004, p.15). As inovações na visão de 
Schumpeter estão quase sempre associadas à emergência de novos ciclos que geram grandes 
descontinuidades no processo econômico (ex: máquina a vapor, ferrovias, motor à combustão, 
eletricidade). Estas inovações dependeriam quase que exclusivamente do espírito empreendedor dos 
empresários inovadores. 
O conceito de inovação de Schumpeter foi ampliado e melhor contextualizado pela literatura 
 
5
 O essencial da teoria de Schumpeter encontra-se em três trabalhos – Teoria do Desenvolvimento 
Econômico (1912), Business Cycle (1939) e Capitalismo, Socialismo e Democracia (1942) em sua obra 
The Theory of Economy Development (1912). 
neoschumpeteriana. A visão de Schumpeter subestima os esforços necessários para realização de outras 
formas de inovação como as inovações incrementais e os esforços imitativos de reengenharia. Muitas 
destas inovações, podem ser imperceptíveis ao mercado e não captáveis pelos indicadores de inovação 
tradicionais, como investimentos em P&D e patentes, mas nem por isso deixam de ser importantes para a 
competitividade e para desempenho concorrencial das empresas6 [ver, por exemplo, Lemos (1999), 
Redesist (2004)]. 
Cabe aqui uma breve descrição conceitual da inovação e das distintas formas de inovar. O 
conceito geral de inovação adotado nesta tese refere-se ao uso efetivo e criativo de novos conhecimentos 
pelo agente econômico no que se refere à introdução de novos ou melhores produtos, serviços, processos 
produtivos, tecnologia, estrutura organizacional/gerencial. Conforme exposto no Quadro 1, uma 
inovação se refere a um produto (inovação de produto), serviço (inovação de serviço), processo 
(inovação de processo) ou método organizacional (inovação organizacional) que são novos para os 
mercados (inovação radical), ou para a empresa (mesmo que não sejam novos para o mercado de atuação 
desta empresa) ou substancialmente melhorados, (mesmo que não sejam novos para a empresa), estes 
dois últimos são qualificados como inovações incrementais. 
Quadro 1 
Tipologia das Formas de Inovação
Inovações Forma de inovar Tipologias de Inovação
Produto Novo para todos os mercados Inovação Radical de Produto
Novo para os mercados de atuação da empresa Inovação de Produto
Novo para a empresa mas já existente no mercado Inovação de Produto
Melhoria substancial em produto já ofertado pela 
empresa
Inovação Incremental de Produto
Serviço Novo para todos os mercados Inovação Radical de Serviço
Novo para os mercados de atuação da empresa Inovação de Serviço
Novo para a empresa mas já existente no mercado Inovação de Serviço
Melhoria substancial em serviço já ofertado pela da 
empresa
Inovação Incremental de Serviço
Processo Novo para todos os mercados Inovação Radical de processo produtivo
Novo para os mercados de atuação da empresa Inovação de processo produtivo
Novo para a empresa mas já existente no mercado Inovação de processo produtivo
Melhoria substancial em processo produtivo já 
desenvolvido pela da empresa
Inovação Incremental de processo produtivo
Organizacional Novo para todos os mercados Inovação Radical de processo produtivo
Novo para os mercados de atuação da empresa Inovação de processo produtivo
Novo para a empresa mas já existente no mercado Inovação de processo produtivo
Melhoria substancial em processo produtivo já 
desenvolvido pela da empresa
Inovação Incremental de processo produtivo
Elaboração Própria
(processo produtivo, 
organização da produção, 
insumos, matérias primas, 
tecnologias, máquinas, 
softwares, infraestrutura, etc.)
(método de gestão, 
estratégias, estrutura 
administrativa, vendas, 
logística, marketing, vendas)
 
Esta tese irá adotar outro conceito de inovação que é fundamental para a compreensão da 
competitividade na atividade cinematográfica. É o conceito de inovação artística e estética que se refere 
a produtos (obras) ou serviços culturais/artísticos novos ou melhorados significativamente no âmbito do 
seu processo de criação artística e de seus condicionantes cognitivos e/ou sensoriais, ou seja, do seu 
padrão: artístico, estético, harmônico, interativo ou sinérgico. 
Estas formas de inovar são responsáveis por grandes mudanças paradigmáticas no fazer artístico 
ao longo dos séculos alterando a o produto artístico/cultural, os seus processos de criação e as suas formas 
 
6 Estas inovações são particularmente importantes para a análise dos processos de inovação em países periféricos, 
onde diversos estudos empíricos comprovam a predominância deste tipo de inovação. 
de difusão, exposição, interação com o público e/ou consumo. Uma inovação artística pode ser 
considerada bem sucedida quanto amplia a capacidade de sensibilização, impacto ou comunicação da 
obra com seu público. 
As inovações artísticas e estéticas são tão importantes para o cinema quanto as demais formas de 
inovação tradicionalmente analisadas. O cinema é uma forma de expressão relativamente nova, sua 
gênese ocorre no final do século XIX a partir de um conjunto de inovações tecnológicas que permitiram 
captar, gravar e exibir imagens. Entretanto, foram as interações entreinovações artísticas (criação, 
direção, linguagem, estética) e de processo produtivo (sonorização, cores, novos equipamentos) que, 
verdadeiramente, tornaram o cinema um forma de arte e entretenimento atrativa (e acessível) ao grande 
público. Esta relação fundamental entre inovações e a competitividade no cinema será retomada mais 
adiante nesta tese. 
1.3.2.2. O processo inovativo 
A corrente neo-schumpeteriana primou por se aprofundar no estudo do processo inovativo, 
tratando principalmente de aspectos relacionados à geração e difusão de inovações e seus efeitos sobre a 
competitividade dos agentes. Um das mais importantes contribuições se dá na análise do processo 
inovativo. Este ao invés de ser entendido como um ato isolado do empresário (como na visão de 
Schumpeter) passa a ser compreendido como um processo interativo, de múltiplas fontes e, portanto, 
complexo e não linear. Em outras palavras, neste enfoque a inovação consiste em um fenômeno gerado e 
sustentado por relações inter-firmas e por uma complexa rede de relações inter-institucionais, sendo 
considerada como o resultado de trajetórias que são cumulativas e construídas historicamente, de acordo 
com as especificidades institucionais e padrões de especialização econômica inerentes a um determinado 
país, região ou setor. Portanto, a inovação não é vista como um ato pontual, isolado ou linear, mais sim 
sistêmico7. [Schmitz &Cassiolato (1992)]. 
Outra relevante contribuição neo-schumpeteriana foi a ênfase conferida à incerteza como uma 
característica do processo inovativo, que perpassa a geração, uso e difusão de inovações. Conforme 
destacado por Dosi (1988) os impactos e as transformações gerados pelo progresso técnico dependem, de 
modo complexo e imprevisível, de decisões alocativas tomadas no presente por um conjunto 
relativamente grande de agentes não colusivos. A incerteza associada à inovação é tanto mais não 
calculável e não eliminável quanto mais autônomas e individuais forem as condutas de um conjunto de 
agentes que, em geral, são assimétricos em termos de suas competências, expectativas, etc. 
 
Este contexto impossibilitaria ao agente econômico planejar e implementar qualquer estratégia 
inovativa8 já que qualquer previsão sobre os resultados do esforço inovativo estaria blindada por um 
contexto de profunda incerteza. Com base nisso se dá outra importante contribuição da corrente neo-
shumpeteriana que indica uma série de regularidades que “guiam” o processo inovativo. Estas 
regularidades podem, resumidademente, ser expressas nos conceitos de rotinas, paradigmas e trajetórias 
 
7 Sistêmico pois inclui a análise de um conjunto de fatores econômicos, institucionais sociais, políticos e 
organizacionais que influenciam o desenvolvimento, difusão e uso das inovações. 
8 A estratégia inovativa faz parte da estratégia competitiva da empresa, conforme destacado anteriormente 
neste capitulo. 
tecnológicas, que cumprem um papel extremamente importante na viabilização da possibilidade de 
teorizar sobre a dinâmica do processo inovativo [Nelson e Winter (1977,1982), Dosi (1984)]. 
 
As empresas diante da incerteza nas decisões sobre sua estratégia inovativa adotam um 
comportamento expresso em procedimentos de rotinas tecnológicas [Dosi (1982, 1984)]. As rotinas 
tecnológicas incorporam as heurísticas e as normas de comportamento, experiência e habilidades da 
empresa, expressando uma forma costumeira de adoção de estratégias inovativas frente ao padrão 
concorrencial de seus sistemas produtivo. As rotinas constituem um referencial que orienta o 
funcionamento e as atitudes a serem tomadas diante das incertezas do ambiente concorrencial. Em outras 
palavras, representam regularidades de ação que contribuem para a redução da incerteza em relação ao 
processo inovativo e na tomada de decisão relativa ao esforço inovativo e tecnológico da empresa. As 
rotinas tecnológicas são atualizadas e revistas continuamente em processos de busca e seleção. Estes 
processos sintetizam as mudanças nas rotinas de comportamento de acordo com as transformações nos 
paradigmas e trajetórias tecnologias, nos padrões competitivos e, consequentemente nas estruturas de 
mercado. Assim novas rotinas são introduzidas continuamente ao cotidiano das empresas e outras passam 
a não servir mais de referência. 
 
O paradigma tecnológico age como uma espécie de direcionador do progresso técnico 
antecipando as oportunidades a serem perseguidas e aquelas a serem abandonadas por todas as empresas 
de um sistema produtivo. O paradigma tecnológico é específico de cada tecnologia, definida pela base de 
informações resultante do conhecimento formal (científico) ou tácito e da acumulação de capacitações 
pelos inovadores através de experiências anteriores que são obviamente idiossincráticos a cada tecnologia 
e a cada institucionalidade setorial [Dosi (1982)]. Assim, segundo Dosi (1984), o conceito é dotado de um 
"poderoso efeito de exclusão" ao permitir a redução apriorística do número de possibilidades de 
desenvolvimento tecnológico. 
 
Admitindo-se a existência dos paradigmas tecnológicos, a noção de trajetória tecnológica9 
surge como um corolário: é um padrão "normal"10 de atividades de "problem solving", circunscrito aos 
limites do paradigma tecnológico [Dosi (1982)]. Uma trajetória tecnológica é definida como um padrão 
de progresso através de soluções incrementais dos "trade-off's" explicitados por um paradigma 
tecnológico (o desenvolvimento "normal" de uma matriz de problemas e soluções tecnológicas). 
 
Estas regularidades criam algum tipo de padronização para o processo de desenvolvimento 
tecnológico. Pode-se estimar que no curto prazo certas trajetórias tecnológicas e, principalmente, o 
paradigma tecnológico padrão deve se manter de certa forma estável. As mudanças tecnológicas não 
ocorrem abruptamente, o fim de um paradigma tecnológico ou trajetória não é imediato, o que ocorre é o 
 
9 Este conceito é bastante similar ao de trajetória natural apresentado por Nelson e Winter (1977). 
10 "Normal" aqui deve ser entendido com o sentido "normativo" – como um conjunto de regras que direcionam 
procedimentos e critérios de validação, regras essas definidas pelo paradigma vigente; e não no sentido estatístico – 
de procedimentos mais freqüentes, embora a trajetória também o seja mas como conseqüência ex-post de sua 
normatividade ex-ante. 
convívio de trajetórias/paradigmas emergentes com trajetórias/paradigmas ultrapassados. Este processo 
por ser lento permite uma certa adaptação dos agentes e instituições. 
Em suma, estas regularidades permitem que o agente de posse de certas rotinas tecnológicas bem 
sucedidas e conhecendo o padrão tecnológico do sistema produtivo em que atua consegue adotar 
estratégias com maior precisão e menor incerteza. 
Ainda com base nos conceitos de trajetória e paradigma é que Freeman e Perez [1988] apontam 
importantes fenômenos de mudança tecnológica com grande impacto sobre os sistemas produtivos (e que 
vão além das inovações radicais de Schumpeter), são eles: os novos sistemas tecnológicos e as mudanças 
no paradigma tecnológico ou técnico-econômico. 
Os novos sistemas tecnológicos consistem em combinações de inovações que possuem grandes 
ramificações e impactos sobre diversos setores produtivos e que, geralmente, geram o surgimento de 
novas trajetórias tecnológicas e de novos setores na economia. No caso do cinema pode-se cita o 
advento da fotografia e das primeiras câmeras filmadoras, estas possibilitaram o surgimento do cinema 
como arte e como entretenimento. 
As mudanças no paradigma técnico-econômico ocorrem com o desenvolvimento e difusão de 
inovações radiais e/ou novos sistemas tecnológicos que possuem um grande e genérico conjunto de 
aplicações que impactam diretamente sobre as condições estruturais de produçãoem praticamente 
todos os setores da economia. Como exemplo, pode-se citar o motor a vapor, o advento da eletricidade e 
o da microeletrônica. No caso do cinema os equipamentos e tecnologias associadas à produção 
cinematográfica e audiovisual foram fortemente impactados pela recente evolução da microeletrônica e 
das tecnologias da informação e comunicação. Pode-se destacar as profundas modificações produtivas 
possibilitadas pelas novas tecnologias digitais, a redução dos custos de captura e tratamento das imagens, 
o barateamento e maior qualidade de equipamentos e o desenvolvimento de novos e poderosos softwares 
(edição, sonorização, 3D, efeitos visuais, etc.). O domínio destas inovações é central para a compreensão 
da competitividade no cinema, conforme exposto no próximo item. Este tema tecnologia x cinema x 
competitividade, vital para a análise da tese, será recuperado em um capítulo posterior. 
1.3.2.3. A inovação e os diferenciais competitivos entre os agentes 
A relação entre inovação e competitividade dos agentes econômicos está presente tanto na visão 
neoschupeteriana quanto na estruturalista furtadiana. Em termos simples, para ambos os enfoques os 
agentes que se colocam à frente do processo inovativo tendem a ser mais competitivos e obter melhor 
desempenho na dinâmica concorrencial. 
 
Mais do que convergir nesta premissa básica as visões se complementam. A atenção da corrente 
neoschumpeteriana recai sobre a dinâmica dos processos inovativos e sobre os fatores que geram o 
potencial competitivo (conhecimento, aprendizado, etc.), bem como os efeitos destes processos para o 
desempenho dos agentes econômicos. A perspectiva estruturalista estabelece uma perspectiva mais 
histórica e geopolítica sobre os efeitos da difusão do progresso técnico sobre os diferencias de 
competitividade dos agentes (e das economias) de países do centro e periferia. 
Na visão dos principais autores estruturalistas o processo de difusão de inovações está na origem 
das concentrações dos benefícios econômicos nos países centrais (ou desenvolvidos). Nesta linha é que 
Fiori (2001) assinala que: 
“As colocações dos principais estruturalistas possuem conotações fortemente schumpeterianas 
na medida em que, a inovação e a difusão tecnológica ocupam o lugar central na periodização da 
história capitalista e na determinação, em última instância, do processo histórico de hierarquização ou 
dualização do sistema capitalista” [ibid. p.46)]. 
Furtado aponta que a onda de inovações tecnológicas originada na Revolução Industrial 
beneficiou os agentes econômicos dos países da Europa Ocidental que primeiro se industrializaram: 
“Existe uma íntima interdependência entre a evolução da tecnologia nos países industrializados e as 
condições históricas do seu desenvolvimento econômico” [Furtado, C. (1961, p.84)]. Os efeitos do 
progresso tecnológico para a dualização Centro-Periferia já havia sido destacada por Prebisch, um dos 
principais autores estruturalistas latino-americanos, no final dos anos 1940. Segundo o autor a propagação 
do progresso técnico foi irregular possibilitando a formação dos grandes centros industriais e, em torno 
destes, da periferia do novo sistema [Prebisch (1949)]. 
Segundo Furtado estas assimetrias tendem a perdurar e se intensificar com o tempo já que, uma 
vez estabelecido o padrão de apropriação dos benefícios do progresso técnico, o comportamento dos 
agentes dominantes orienta-se no sentido de preservá-lo [ibid. (1983)]. “O controle da tecnologia 
constitui a trava mestra da estrutura de concorrência e poder mundial. [ibid. (1978, p.151)] com o passar 
dos anos “a concorrência fundada nos preços cedeu definitivamente lugar à competição baseada na 
inovação” [ibid. (1978, p.124)]. Este comportamento tende a ampliar as fronteiras entre os agentes que 
estão capacitados a promover ou participar ativamente da dinâmica da inovação e aqueles que foram, ou 
tendem a ser, deslocados e marginalizados deste processo. 
Na visão estruturalista, principalmente na obra de Celso Furtado, as assimetrias econômicas e 
tecnológicas são também amplificadas pela disseminação de padrões e valores culturais estrangeiros nos 
setores dominantes e elites dos países menos desenvolvidos. Este tema será abordado no próximo 
capítulo, onde será abordada a relação existe entre cultura, competitividade e 
desenvolvimento/subdesenvolvimento econômico. 
Entre os autores neo-shumpeterianos a inovação é um fator fundamental para a diferenciação 
competitiva dos agentes econômicos. As “assimetrias inovativas” (caracterizadas por diferentes 
capacidades de inovar), agem, ao mesmo tempo, como uma barreira dinâmica ao acesso às novas 
tecnologias e como um novo incentivo à inovação para aqueles que estão liderando o processo 
tecnológico. 
Freeman (1988) aponta que a existência de um o hiato temporal11 entre os agentes que assumem 
a liderança do processo inovativo (inovadores) e os que buscam se adaptar a este processo (seguidores, 
imitadores ou agentes periféricos) está positivamente relacionado à sustentação do fluxo de inovações 
pelos inovadores e à fragilidade das condições necessárias para inovar dos agentes periféricos. Este 
processo de dualização não é alimentado apenas por este hiato temporal mas, principalmente, pela 
 
11 Este hiato temporal refere-se ao tempo entre a geração de uma inovação (novo produto ou processo) 
pelo agente inovador e a assimilação e uso desta inovação pelos agentes seguidores. 
dificuldade de acesso ao conhecimento pelos “agentes menos inovadores” e pela ampliação constante dos 
limites das fronteira do conhecimento tecnológico, conhecimento este dominado pelos “agentes mais 
inovadores”. Em suma, devido à natureza do processo inovativo, deve-se esperar a existência de um 
"gap" de conhecimento (uma determinada inovação é colocada com sucesso no mercado, é de se esperar 
que o conhecimento necessário para a sua duplicação não esteja facilmente disponível sem um custo 
elevado) e um "gap" de aprendizado (dado que existem limitações na capacidade de acessar, absorver e 
usar conhecimentos e de utilizá-los para implementar inovações). 
Assim, tão graves quanto as assimetrias tecnológicas são as assimetrias de conhecimento e de 
aprendizado. Arocena e Sutz (2004, p.8) argumentam que, neste aspecto, há uma clara separação entre 
Norte e Sul, as assimetrias de aprendizado são na opinião dos autores o aspecto maior da problemática 
atual do subdesenvolvimento. [ver maios detalhes em Cassiolato (1999) Lastres e Albagli (1999), 
Maldonado (1999), Lastres (2004); Lastres, Cassiolato e Arroio (2005)]. 
 
1.3.2.4 O conhecimento: ativo fundamental para a capacidade inovativa e para a 
competitividade 
Dada a centralidade da inovação para a competitividade dos agentes econômicos, esta tese 
assume como premissa que qualquer forma de inovação tem como base um conjunto de conhecimentos 
utilizados de forma criativa e eficaz pelo agente econômico. Portanto, a compreensão da importância e 
centralidade da inovação para a competitividade e desempenho dos agentes econômicos, perpassa a 
compreensão da importância dos fenômenos relacionados ao conhecimento e seus processos de 
aprendizado como fonte seminal da capacidade inovativa e competitiva dos agentes econômicos. 
Neste ponto, cabe apresentar algumas observações de caráter conceitual sobre as formas de 
conhecimento e os seus distintos processos de aprendizado. 
Este trabalho considera que o conhecimento é um ativo próprio do ser humano, caracterizando-
se por um conjunto de saberes e códigos cognitivos, criativos e sensoriais que permitem ao homem 
desenvolver modelos mentais para analisar, racionalizar e agir em relação tanto às questões do seu dia a 
dia quanto sobre os problemas e desafios relacionados à sua existência e sobrevivência. 
O conhecimento é um ativo com características interessantes e únicas.Algumas destas são 
particularmente relevantes para este trabalho: 
Intangibilidade – o conhecimento é um ativo intangível, seu valor é determinado por seu 
conjunto de saberes, ou seja, por seu conteúdo imaterial. O valor de um conhecimento pode ser dado, por 
exemplo, por sua capacidade de solucionar determinados problemas ou gerar inovações. 
Divisibilidade – o uso do conhecimento por um agente não elimina a possibilidade de uso deste 
conhecimento por outro agente; 
Compartilhamento - o conhecimento pode ser compartilhado entre dois ou mais agentes sem ter 
seu “conteúdo” prejudicado ou seu “valor” reduzido. Por outro lado, geralmente se espera que durante o 
processo de compartilhamento de conhecimentos entre pessoas e/ou empresas originem-se novos 
conhecimentos com valor ou utilidade para ambos agentes. Ou seja, o aprendizado interativo gera 
rendimentos crescentes de escala como fruto do compartilhamento dos conhecimentos. 
Cumulatividade - os conhecimentos podem ser acumulados durante certo tempo por indivíduos e 
empresas. Nas empresas os conhecimentos acumulados podem são caracterizados como um estoque ou 
repositório de conhecimentos. 
Vale a pena aprofundar um pouco este tópico já que nas empresas e demais agentes econômicos 
seu estoque de conhecimentos é dado pelo somatório dos conhecimentos acumulados de todas as pessoas 
que nela interagem (sócios, funcionários próprios e pessoal terceirizado). Estes conhecimentos tendem a 
agir sinergicamente criando novos conjuntos de conhecimentos que formam os códigos, procedimentos, 
rotinas e estratégias específicas de cada agente econômico. Isso é de fundamental importância para a 
análise desta tese, já que estes elementos constituem os elos da capacidade inovativa e competitiva de 
uma empresa. Em outras palavras, a capacidade competitiva de uma empresa é dada pela interação das 
capacitações individuais (conhecimentos acumulados) por todas as pessoas que nela interagem. 
Dada a definição e as principais características do conhecimento, cabe agora apresentar os tipos 
de conhecimentos e os processos de aprendizado relacionado a estas formas de conhecimento. 
O conhecimento pode ser dividido em natural e adquirido. Os conhecimentos naturais (ou 
latentes) incluem aqueles saberes natos a cada ser humano, como os conhecimentos instintivos 
(reprodutivos, sensoriais, de sobrevivência e de sociabilização) e aqueles mais específicos e 
individualizados como os talentos e capacidades individuais (artísticos, esportivos, cognitivos, analíticos, 
etc.). Os conhecimentos adquiridos incluem os saberes absorvidos pelas pessoas durante a sua 
existência. Assim, todo conhecimento adquirido é fruto de um processo de aprendizado formal ou 
informal, implícito ou explícito, individual ou interativo. 
Os conhecimentos adquiridos subdividem-se em codificados e tácitos. O conhecimento codifi-
cado é aquele tipo de conhecimento que pode ser expresso em códigos e gravados em um suporte físico 
qualquer (escritos, numéricos, gráficos, sonoros, etc.) sendo formalizado e estruturado, podendo ser ma-
nipulado como informação. A codificação do conhecimento é basicamente um processo de redução e 
conversão que implica na transformação do conhecimento em informação. 
O conhecimento tácito por sua vez refere-se aos conhecimentos adquiridos mas que não podem 
ser facilmente codificados, explicitados ou formalmente transferidos. Incluem, por exemplo, os saberes 
sobre o processo produtivo que não estão disponíveis em manuais como a experiência profissional, os 
saberes gerais comportamentais, a capacidade para resolução de problemas não codificados e a capacida-
de para estabelecer vínculos entre situações e interagir com outras pessoas. Geralmente os conhecimentos 
tácitos se constituem em saberes altamente complexos e específicos. Nas empresas são ativos estratégicos 
fundamentais para a conformação de sua capacidade inovativa e competitiva [Lemos (1999), Redesist 
(2004)]. 
A difusão do conhecimento ocorre a partir de processos de aprendizado. Este trabalho considera 
o aprendizado como o processo de absorção e domínio de conhecimentos que possibilitam o 
desenvolvimento de capacitações (em nível intelectual, técnico, analítico, cognitivo, criativo, lógico), a 
utilização (em situações rotineiras do dia a dia ou complexas como na introdução de inovações) e a 
cumulatividade destes conhecimentos por um indivíduo ou por uma organização. 
O aprendizado empresarial ocorre por ações estratégicas coletivas e/ou individuais específicas 
que resultam na geração de habilidades tanto em nível organizacional quanto individual (dos seus 
colaboradores), possibilitando a aquisição e construção de diferentes tipos de conhecimentos, habilidades 
e competências. Na empresa o aprendizado possibilita o desenvolvimento das capacitações produtivas, 
inovativas e organizacionais. [ver, por exemplo, Lundvall (1992), Carlsson e Eliasson (1994), Lundvall e 
Johnson (2001), Campos et al. (2003), Redesist (2004)]. 
O processo aprendizado se distingue de acordo com o tipo de conhecimento em questão: 
Os conhecimentos latentes ou naturais. Este tipo de conhecimento não pode ser compartilhado 
nem ser fruto de um processo de aprendizado. Veremos que esta forma de conhecimento se constitui em 
um ativo competitivo valioso para as atividades intensivas em cultura – como o cinema. O dom artístico, 
o talento e o carisma pessoal são fatores chaves de sucesso nesta atividade. 
O conhecimento codificado teoricamente é o mais facilmente adquirido, devido a sua maior a-
cessibilidade e disponibilidade como informação (livros, revistas técnicas, manuais, etc.), esta disponibi-
lidade se ampliou exponencialmente após a difusão das tecnologias digitais e da consolida-
ção/massificação da internet. No entanto, a simples busca e acesso à informação (código) não é garantia 
de acesso ao conhecimento. A decodificação (análise, compreensão e assimilação) das informações exige 
um “estoque” prévio de conhecimentos e capacitações que disponibilizem ao indivíduo (ou empresa) os 
meios necessários para compreender e absorver esta informação, acumulando-a e usando-a como conhe-
cimento [Lundvall (1988)]. 
O conhecimento tácito, por sua vez, só pode ser transmitido e compartilhado através da 
interação pessoal. As possibilidades de transferência e aprendizado do conhecimento tácito estão 
relacionadas à demonstração e à experiência, como na clássica relação mestre aprendiz, na qual o 
processo de aprendizagem depende da observação, imitação, prática e correção12. [Gertler (2002)]. Este 
processo de amplia a necessidade da proximidade territorial entre os agentes e a influência do contexto 
social, cultural e da proximidade institucional13 sobre a forma e a intensidade dos processos de 
 
12 Os conhecimentos tácitos podem ter diferentes graus de complexidade e especificidade, quanto mais 
complexo e específico for o conhecimento, maior será a dificuldade no processo de aprendizagem e a 
necessidade de conhecimentos prévios. Como consequência muitos conhecimentos não podem ser 
facilmente transferidos, mesmo que exista contato pessoal. Isso ocorre porque o processo de aprendizado, 
principalmente dos conhecimentos do tipo tácito, está diretamente relacionado à cumulatividade de 
conhecimentos. Esta cumulatividade depende de uma trajetória anterior de conhecimentos que foram 
adquiridos, usados e difundidos formando o “repositório de conhecimentos”12 dos indivíduos e/ou 
empresas. Neste sentido, cumulatividade e aprendizagem são variáveis positivamente relacionadas, 
quanto mais conhecimento for acumulado por um determinado indivíduo mais fácil será para este 
indivíduo: acessar, compreender, adquirir, acumular e usar novos conhecimentos; e, portanto, mais fácil 
será o aprendizado. Portanto, é necessário aprender para aprender. 
13 Proximidade institucional refere-se ao compartilhamentode normas, convenções, valores, expectativas 
e rotinas que nascem da experiência comum emoldurada pelas instituições. Considera-se ainda que o 
contexto político e a proximidade cultural e linguística também condicionam a transferência de 
conhecimentos e o incremento do potencial inovativo das organizações locais. [Gertler (2001) apud. 
Campos (2003, p.53)] 
aprendizado [ver, por exemplo, Vargas (2002) e Campos et alii. (2003)]. 
Destaca-se a importância da cultura (compartilhamento de valores, simbolismos, costumes, 
idiomas, história, religião, etc.) como elemento agregador e gerador de sinergias que conformam as 
relações de aprendizado interativo envolvendo o conhecimento tácito. 
Portanto, apesar de sua importância para a empresa, os conhecimentos tácitos não são facilmente 
adquiridos ou obtidos. O repositório de conhecimentos tácitos de uma empresa é construído ao longo do 
tempo. Constituído principalmente por processos de aprendizado a partir de fontes internas e externas. As 
formas de aprendizado a partir de fontes internas à empresa incluem o aprendizado com experiência 
própria no processo de produção (learning-by-doing), comercialização e uso de conhecimentos ou 
tecnologias (learning-by-using) e na busca por soluções/inovações para questões ligadas ao dia-adia da 
empresa e a suas práticas inovativas e concorrenciais (learning-by-searching). O aprendizado relacionado 
com as fontes externas inclui as relações com fornecedores, concorrentes, clientes, usuários, consultores, 
organismos de apoio, universidades e centros de pesquisa (learning-by-interacting and cooperating); 
aprendizado por imitação, gerado na reprodução de inovações introduzidas por outras organizações em 
processos de engenharia reversa, contratação de pessoal especializado, etc. (learning-by-imitating) 
[Lundvall (1992), Johnson e Lundvall (2003), RedeSist (2004, p.5), Campos et.al (2003)]. 
Dadas as características do seu processo de aprendizado e a sua importância estratégica, a 
difusão do conhecimento tácito tende a ocorrer de forma assimétrica e concentrada (em determinados 
agentes produtivos e/ou territórios). Estas características do aprendizado e da difusão do conhecimento 
tácito estão na gênese das assimetrias de conhecimento e de aprendizado supracitadas. Em suma, pode-se 
afirmar que as assimetrias de conhecimento envolvem, quase exclusivamente, as dificuldades de 
aprendizado e uso do conhecimento tácito (ja que estes são complexos e não estão facilmente 
disponíveis). Estas assimetrias constituem barreiras competitivas poderosas. 
As assimetrias de aprendizado são um dos fatores que estão na gênese dos diferenciais de 
competitividade e desempenho entre os agentes econômicos. Em suma, quanto maiores as assimetrias de 
conhecimento (diferencial entre conhecimentos e capacitações já adquiridos) e de aprendizado 
(diferencial na capacidade de obter e acumular novos conhecimentos) mais distantes da fronteira 
tecnológica estão os empresas periféricas e maiores serão as barreiras para uma atuação competitiva nos 
sistemas produtivos em que interagem e que concorrem [Ver, por exemplo, Lastres (2004), Lastres, 
Cassiolato e Arroio (2005), Arocena e Sutz (2003)]. 
 
1.3.3. Uma visão sistêmica sobre os processos inovativos e concorrenciais 
 
Como exposto ao longo do capítulo, a concorrência envolve a interação de agentes econômicos 
com diferentes capacidades competitivas. A competitividade destes agentes depende, em grande medida, 
do seu potencial inovativo posto que estratégias inovativas bem sucedidas são fundamentais para o 
desempenho concorrencial. Por sua vez, o potencial inovativo é gerado a partir de conhecimentos 
adquiridos e acumulados (principalmente conhecimentos tácitos) por esta empresa, em processos de 
aprendizado realizados ao longo do tempo. Assim, competitividade, inovação e aprendizado são 
fenômenos que convergem e se moldam, “interagindo” sistemicamente. 
Mais ainda, competitividade, inovação e aprendizado podem ser considerados fenômenos 
sistêmicos, sendo caracterizados por sua dinâmica (pois ocorrem ao longo do tempo), complexidade (não 
lineares, não modeláveis, e cumulativos), incerteza (por um lado são afetados pela incerteza do sistema 
econômico, por outro são elementos que estão na gênese das transformações e mutações das estruturas 
econômicas que geram estas incertezas) e conformados em diferentes ambientes culturais, sociais e 
políticos. 
Neste sentido, as visões da corrente neoschumpeteria e da estruturalista de Furtado convergem 
em um ponto fundamental para esta tese: para ambas, a análise e a compreensão da dinâmica de 
transformação econômica (que envolve necessariamente a concorrência, competitividade, inovação) não 
se dá com base em modelos estáticos ou de caráter matemático/reducionista. Ambas as visões 
desenvolveram metodologias mais complexas, que reforçam o empirismo e a análise dinâmica 
considerando, por exemplo, a interação sistêmica entre estes fatores e a influência de fatores não 
econômicos sobre os fenômenos econômicos 
Furtado em sua obra enfatizou a importância de compreender os fenômenos relacionados ao 
avanço tecnológico, dinâmica concorrencial e acumulação capitalista a partir de uma perspectiva mais 
ampla e sistêmica. Segundo o autor, muitas das manifestações da economia somente podem ser 
plenamente captadas através de uma visão global do sistema nacional, que inclua a percepção das 
relações deste sistema com o ambiente (cultural, social e político) que o controla e influencia [Furtado 
(1983)]. Em linha semelhante Fajnzylber (1988) aponta que a concorrência no sistema econômico 
também vai além da competição entre empresas. No processo concorrencial “confrontam-se também 
sistemas produtivos, esquemas institucionais e organizacionais, nos quais a empresa constitui um 
elemento importante, mas integrado à esta rede de vinculações” [apud. (1988 p.22-23)]. 
As contribuições da literatura neoschumpeteriana sobre sistemas de inovação (SI) representam 
uma importante contribuição para a análise sistêmica dos processos envolvendo difusão de 
conhecimentos, inovação e competitividade [ver, por exemplo: Nelson e Winter (1982), Freeman (1984), 
Lundvall (1992)]. 
A idéia básica do conceito de sistemas de inovação é que o desempenho inovativo e competitivo 
de um agente não depende apenas do desempenho das empresas, mas também de como elas interagem 
entre si e com vários agentes em contextos sociais, políticos, institucionais e culturais distintos. Logo, 
diferentes trajetórias históricas e dinâmicas de desenvolvimento contribuem para a configuração de 
sistemas produtivos e inovativos distintos com características diversas, possibilitando a conceitualização 
de sistemas nacionais, setoriais, regionais e locais [Cassiolato (1992); Redesist (2004, p.21)]. 
Particularmente relevantes para os propósitos desta tese são as contribuições da Redesist do 
Instituto de Economia da UFRJ sobre Sistemas Produtivos e Inovativos Locais (SPIL) e Arranjos 
Produtivos Locais (APL). Este enfoque se sustenta em uma abordagem sistêmica que combina, em muitos 
aspectos, as contribuições da corrente estruturalista latino-americana com a visão neo-schumpeteriana de 
sistemas de inovação. O argumento básico do enfoque conceitual e analítico adotado pela Redesist é que 
onde houver produção de qualquer bem ou serviço haverá sempre um arranjo ou sistema em torno da 
mesma, envolvendo atividades relacionados a produção, distribuição, comercialização, prestação de 
serviços, aprendizado, pesquisa, etc. Tais arranjos variam desde os mais rudimentares (APLs) àqueles 
mais complexos e articulados, chamados de sistemas produtivos e inovativos locais (SPILs) 14. Parte-se do 
pressuposto de que a capacidade de aprendizado, inovação e, consequentemente, capacidade competitiva 
é potencializada nestes arranjos e/ou sistemas produtivos [Guimarães et al (2006, p.229)]. 
A formação

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