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See discussions, stats, and author profiles for this publication at: https://www.researchgate.net/publication/338518465 AQUISIÇÃO DE LÍNGUA DE SINAIS POR CRIANÇAS SURDAS E SUA RELAÇÃO COM O BILINGUISMO Article · July 2014 CITATIONS 0 READS 348 1 author: Some of the authors of this publication are also working on these related projects: Avaliação do ensino de L2/Ln a Surdos utilizando a Libras na interação View project Avaliando o ensino do português a surdos através do contraste entre línguas View project Elidea Lúcia Almeida Bernardino Federal University of Minas Gerais 19 PUBLICATIONS 78 CITATIONS SEE PROFILE All content following this page was uploaded by Elidea Lúcia Almeida Bernardino on 10 January 2020. The user has requested enhancement of the downloaded file. https://www.researchgate.net/publication/338518465_AQUISICAO_DE_LINGUA_DE_SINAIS_POR_CRIANCAS_SURDAS_E_SUA_RELACAO_COM_O_BILINGUISMO?enrichId=rgreq-8031b114940463874d17ebe5512362eb-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzMzODUxODQ2NTtBUzo4NDU5Mjk2NDkyNzg5NzZAMTU3ODY5Njc1MzYzNQ%3D%3D&el=1_x_2&_esc=publicationCoverPdf https://www.researchgate.net/publication/338518465_AQUISICAO_DE_LINGUA_DE_SINAIS_POR_CRIANCAS_SURDAS_E_SUA_RELACAO_COM_O_BILINGUISMO?enrichId=rgreq-8031b114940463874d17ebe5512362eb-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzMzODUxODQ2NTtBUzo4NDU5Mjk2NDkyNzg5NzZAMTU3ODY5Njc1MzYzNQ%3D%3D&el=1_x_3&_esc=publicationCoverPdf https://www.researchgate.net/project/Avaliacao-do-ensino-de-L2-Ln-a-Surdos-utilizando-a-Libras-na-interacao?enrichId=rgreq-8031b114940463874d17ebe5512362eb-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzMzODUxODQ2NTtBUzo4NDU5Mjk2NDkyNzg5NzZAMTU3ODY5Njc1MzYzNQ%3D%3D&el=1_x_9&_esc=publicationCoverPdf https://www.researchgate.net/project/Avaliando-o-ensino-do-portugues-a-surdos-atraves-do-contraste-entre-linguas?enrichId=rgreq-8031b114940463874d17ebe5512362eb-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzMzODUxODQ2NTtBUzo4NDU5Mjk2NDkyNzg5NzZAMTU3ODY5Njc1MzYzNQ%3D%3D&el=1_x_9&_esc=publicationCoverPdf https://www.researchgate.net/?enrichId=rgreq-8031b114940463874d17ebe5512362eb-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzMzODUxODQ2NTtBUzo4NDU5Mjk2NDkyNzg5NzZAMTU3ODY5Njc1MzYzNQ%3D%3D&el=1_x_1&_esc=publicationCoverPdf https://www.researchgate.net/profile/Elidea-Bernardino?enrichId=rgreq-8031b114940463874d17ebe5512362eb-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzMzODUxODQ2NTtBUzo4NDU5Mjk2NDkyNzg5NzZAMTU3ODY5Njc1MzYzNQ%3D%3D&el=1_x_4&_esc=publicationCoverPdf https://www.researchgate.net/profile/Elidea-Bernardino?enrichId=rgreq-8031b114940463874d17ebe5512362eb-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzMzODUxODQ2NTtBUzo4NDU5Mjk2NDkyNzg5NzZAMTU3ODY5Njc1MzYzNQ%3D%3D&el=1_x_5&_esc=publicationCoverPdf https://www.researchgate.net/institution/Federal-University-of-Minas-Gerais?enrichId=rgreq-8031b114940463874d17ebe5512362eb-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzMzODUxODQ2NTtBUzo4NDU5Mjk2NDkyNzg5NzZAMTU3ODY5Njc1MzYzNQ%3D%3D&el=1_x_6&_esc=publicationCoverPdf https://www.researchgate.net/profile/Elidea-Bernardino?enrichId=rgreq-8031b114940463874d17ebe5512362eb-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzMzODUxODQ2NTtBUzo4NDU5Mjk2NDkyNzg5NzZAMTU3ODY5Njc1MzYzNQ%3D%3D&el=1_x_7&_esc=publicationCoverPdf https://www.researchgate.net/profile/Elidea-Bernardino?enrichId=rgreq-8031b114940463874d17ebe5512362eb-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzMzODUxODQ2NTtBUzo4NDU5Mjk2NDkyNzg5NzZAMTU3ODY5Njc1MzYzNQ%3D%3D&el=1_x_10&_esc=publicationCoverPdf 1 Artigo publicado na Revista Educação em Foco (ISSN 0104-3293) Vol. 19, n° 2, Jul 2014/out 2014, pag. 71-100. AQUISIÇÃO DE LÍNGUA DE SINAIS POR CRIANÇAS SURDAS E SUA RELAÇÃO COM O BILINGUISMO1 Resumo: Este estudo busca mostrar que é possível a uma criança surda adquirir a língua de sinais e se tornar um sinalizador proficiente, desde que tenha um interlocutor constante com o qual possa interagir. A partir daí, procura-se apontar a importância do domínio da língua de sinais para o bilinguismo dos surdos e para a aprendizagem do português escrito. Foram avaliadas cinco crianças surdas da mesma faixa etária, sendo uma filha de surdos e os outros quatro filhos de ouvintes. Desses últimos, dois eram gêmeos univitelinos. Através de uma tarefa de interação com surdos adultos, buscou-se avaliar a produção linguística desses sujeitos. Observou-se que os gêmeos produziram resultados semelhantes aos da criança que tem pais surdos, o que aponta para a importância da interação constante com pares surdos, ainda que esses, a princípio, não sejam sinalizadores proficientes. Com base nesse resultado, busca-se apontar a importância do domínio da língua de sinais para o bilinguismo dos surdos e para a aprendizagem do português escrito. Palavras-chave: Aquisição de língua de sinais, surdos gêmeos, crianças surdas de pais surdos, crianças surdas de pais ouvintes, bilinguismo. Abstract: This study aims to show that it is possible for a deaf child to acquire sign language and become a proficient signer, inasmuch as she has a steady partner to interact with. Since then, we want to show the importance of mastering the use of sign language for deaf bilingualism and for learning written Portuguese. Five deaf children of the same age were evaluated: one of them has deaf parents and the other four have hearing parents. Two of the latter were identical twins. We sought to assess the linguistic production of these subjects through interaction in a task with deaf adults. It was observed that the twins have produced similar results to the child who has deaf parents, pointing towards the importance of constant interaction with deaf peers, 1 Parte da pesquisa relatada neste artigo foi apresentada no Congresso Internacional da Abralin, em João Pessoa, 2009. Este artigo é uma versão ampliada do trabalho apresentado naquele congresso. 2 although these at first, were not proficient signers. Based on this result, we seek to highlight the importance of mastering a sign language for deaf bilingualism and for learning written Portuguese. Key words: Sign Language acquisition, Deaf Twins, Deaf children of hearing parentes, Deaf children of Deaf parentes, Bilingualism. Autor: Elidéa Lúcia Almeida Bernardino Doutora em Linguística Aplicada pela Boston University E-mail: elideabernardino@gmail.com / elidea@ufmg.br Introdução Qual a importância do domínio e uso de uma língua de sinais para o bilinguismo dos surdos? É possível uma criança surda de pais ouvintes, que só tem acesso tardio à língua de sinais, alcançar proficiência nessa língua? Que fatores podem influenciar positivamente na aquisição de uma língua de sinais, ainda que o contato com falantes proficientes seja tardio? Este estudo busca mostrar que é possível a uma criança surda adquirir a língua de sinais e se tornar um sinalizador proficiente, desde que tenha um interlocutor constante com o qual possa interagir. Outro ponto a ser mostrado diz respeito à criança surda que não tem um interlocutor nem tampouco acesso a uma língua de sinais na primeira infância, o que retrata a situação da maioria das crianças surdas brasileiras. A partir daí, procura-se apontar a importância do domínio da língua de sinais para o bilinguismo dos surdos e para a aprendizagem do português escrito. Várias pesquisas já apontaram que crianças surdas expostas a bons modelos de uma linguagem à qual elas podem entender e processar, como a uma Língua de Sinais, desenvolvem habilidades linguísticas no mesmo tempo e padrão que crianças ouvintes em condições similares (EMMOREY, 2002; LILLO-MARTIN, 1999, HOFFMEISTER, 1990; MEIER; NEWPORT, 1990). Sabe-se também que crianças surdas expostas somente à língua oral, que não ouvem e por isso não entendem, não têm o mesmo desenvolvimento linguístico, tanto em termos de época de aquisição quanto em termos de padrões de aquisição de linguagem (EMMOREY, 2002; MAYBERRY, 1994; MAYBERRY & EICHEN, 1991). 3 Além da exposição a um bom modelo de linguagem, o que mais possibilitaria a uma criança surda um desenvolvimentolinguístico adequado, semelhante ao desenvolvimento das que são expostas à língua de sinais desde cedo? Seria possível que a interação compensasse a falta de um modelo, ou mesmo fizesse com que o seu desempenho parecesse normal, ou típico de uma criança exposta a uma língua desde o nascimento, quando eles fossem expostos a bons modelos de língua? Neste artigo, apresentamos um estudo piloto que compara o desempenho em Libras de surdos profundos, gêmeos, filhos de pais ouvintes (GM1 e GM22) com outras três crianças surdas profundas, não-irmãs, na mesma faixa etária, todas matriculadas em escolas especiais para surdos, sendo duas filhas de pais ouvintes (PO1 e PO2) e uma filha de pais surdos (PS). A minha hipótese é que mesmo estímulos gestuais ou de sinais, ainda que muito pobres, podem auxiliar a construção da linguagem infantil, estabelecendo parâmetros para sua comunicação, desde que ela tenha um parceiro de interações constante. Essa situação seria possível, mesmo na ausência de um modelo de linguagem proficiente, desde que a criança tenha um parceiro que compartilhe o mesmo código gestual doméstico, ainda que este seja bastante limitado. Essa criança, ao entrar na escola e ao ter contato com outras crianças surdas e com adultos usuários de uma língua de sinais, terá melhores condições de adquirir essa língua e de tornar-se um usuário proficiente dela. Entretanto, no que respeita às crianças que não têm condições propícias à criação de um código gestual doméstico ou que, ainda que consigam fazê-lo, não têm um parceiro de interações constante, como seria esse quadro? Esse é o caso da maioria das crianças surdas brasileiras, que chegam à escola sem o domínio de uma língua e sem condições de compreender as relações sociais próprias do ambiente escolar. Se uma criança surda que não tem nenhum contato com uma língua natural como a Libras, entra na escola trazendo em sua bagagem apenas gestos caseiros, que muitas vezes não são entendidos nem pela família, como esperar que ela tenha o mesmo desempenho de crianças que chegam à escola já com o domínio de uma língua? Neste artigo, procuramos partir da definição da aquisição de linguagem na presença de um modelo – como é o caso das crianças surdas filhas de surdos – para buscarmos compreender a aquisição na ausência de um modelo – como nas crianças surdas que têm pais 2 Neste artigo, as crianças participantes serão identificadas por meio das siglas: “GM”, relativa aos gêmeos, não identificando, entretanto, qual dos dois nasceu primeiro; “PO”, relativa às duas outras crianças surdas que têm pais ouvintes e “PS”, que identifica a criança surda que possui pais também surdos. 4 ouvintes; a partir daí, buscamos entender o valor da interação na aquisição da linguagem e discutir a relação entre a aquisição de linguagem e o bilingüismo. Após essas considerações, procuraremos encontrar algumas pistas sobre a importância da interação nos estudos sobre o desenvolvimento de linguagem em gêmeos, apresentando, em seguida, os dados relativos à nossa pesquisa. Desenvolvimento de linguagem na presença de um modelo O cérebro humano está neurologicamente equipado para adquirir uma língua, não necessariamente a fala (oral) (EMMOREY, 2002). A linguagem encontra-se ligada à natureza humana, tanto no aspecto biológico quanto no psicossocial. Normalmente toda criança, no convívio com uma comunidade linguística, aprende a falar3 a língua da comunidade até os cinco anos de idade. Emmorey (2002) cita vários estudos que mostram que assim como bebês ouvintes balbuciam antes de produzirem as primeiras palavras, bebês surdos também “balbuciam” com suas mãos antes de produzirem os primeiros sinais. Ela sugere que o desenvolvimento desse balbucio manual relaciona-se ao significado que os bebês surdos descobrem, nos primeiros movimentos com as mãos, que são capazes de produzir. O estímulo linguístico é um fator importante na aquisição da linguagem pelo bebê, surdo ou ouvinte. As etapas de desenvolvimento são semelhantes para ambos, mas há outros aspectos do sistema linguístico que dependem de amadurecimento para que sejam adquiridos (BOYES-BRAEM, 1981). Algumas estruturas das línguas de sinais são adquiridas mais cedo, enquanto outras necessitam de um amadurecimento, da mesma forma que ocorre com a aquisição de línguas orais. O sistema de classificadores, a datilologia4, o uso dos pronomes, assim como alguns recursos narrativos e conversacionais são adquiridos mais tarde, justamente por serem mais complexos e necessitarem de um melhor desempenho no uso do espaço de sinalização (EMMOREY, 2002). As crianças surdas de pais surdos (CSPS) normalmente apresentam um desenvolvimento de linguagem típico, principalmente porque são expostas a uma língua de sinais desde cedo e interagem regularmente com pessoas fluentes nessa língua. Elas apresentam vantagens consistentes em relação às crianças surdas de pais ouvintes (CSPO) em 3 Neste trabalho, o termo “fala” e seus correlatos são utilizados no sentido de produção oral ou produção sinalizada de uma enunciação, em qualquer língua, seja uma língua oral-auditiva ou uma língua espaço-visual. 4 Datilologia é o elo entre as línguas de sinais e as línguas orais, pois consiste na “soletração” de certas palavras da língua oral do país em que é utilizada (no nosso caso, em português), usando-se configurações de mãos que foram definidas como o “alfabeto manual”. Nas línguas de sinais, usa-se a datilologia para identificar nomes próprios ou para explicar conceitos que ainda não têm um sinal específico correspondente. 5 várias áreas: CSPS alcançam níveis mais elevados de educação formal, apresentam habilidades na leitura e na escrita que são superiores às das CSPO, têm um vocabulário da língua oral maior e alcançam melhores notas acadêmicas que CSPO (HOFFMEISTER, 1990; PADDEN & RAMSEY, 2000; NEWPORT & MEIER, 1985). Desenvolvimento de linguagem na ausência de um modelo A maioria das CSPO não tem acesso a uma língua desde o nascimento, por causa da surdez e devido ao fato de que mais de 90% das crianças surdas tem pais ouvintes que não conhecem nenhuma língua de sinais (EMMOREY, 2002; GOLDIN-MEADOW, 2003; MAYBERRY & EICHEN, 1991). Ao contrário das CSPS, as CSPO são expostas a uma língua efetiva bem tarde, algumas após a adolescência. Em muitos casos, os pais não querem que seus filhos aprendam a sinalizar por causa da falsa ideia de que, se elas aprenderem os sinais, não serão capazes de adquirir a fala. Essa ideia é muitas vezes compartilhada por profissionais da área da saúde, que, embora sejam os primeiros a terem contato com os pais no momento da descoberta da surdez, não conhecem a importância da língua de sinais na educação de crianças surdas5. Na ausência de um estímulo linguístico, muitas crianças “inventam” o seu próprio sistema comunicativo gestual. Goldin-Meadow e seus colegas (GOLDIN-MEADOW, 2003; GOLDIN-MEADOW; MYLANDER, 1984) acompanharam o desenvolvimento de dez CSPO que inventaram o seu próprio sistema comunicativo gestual. Os pais ouvintes haviam decidido que educariam seus filhos usando apenas a fala e leitura labial. Dos treze meses de idade até os quatro anos, essas crianças não haviam mostrado nenhum progresso significativo em Inglês. Ainda bem cedo, essas crianças começaram criando gestos isolados, como apontar e usar outros sinais que indicariam objetos ou eventos aos quais se referiam. Após algum tempo, os gestos foram sendo combinados para formar sentenças bem simples, numa ordem tipicamente paciente-ação. Goldin-Meadow e seus colegas notaram que esses gestos não eram simples produto de influência do ambiente, ou mesmo cópia de gestos das pessoas com as quais conviviam, mas eles eram resilientes. Essa autora define resiliência como a capacidade que uma criança tem de inventar algumas propriedades de linguagem sem nenhum estímulo linguístico.5 Com a criação da Lei 10.436 (24/04/2002) que reconhece a Libras como a língua utilizada pela comunidade surda brasileira, e do Decreto 5.626 (22/12/2005), que regulamenta essa Lei, tornando obrigatório o ensino da Libras a todas as licenciaturas, aos cursos de Pedagogia e Fonoaudiologia, esse quadro tende a mudar. 6 Muitos estudos têm demonstrado que o quanto antes uma criança surda é exposta a uma língua de sinais, mais chances ela terá de alcançar melhor desenvolvimento, comparável a falantes nativos de línguas orais. As pesquisas de Singleton (1989) e de Singleton e Newport (2004) relatam o caso de um menino surdo, Simon, que superou os seus modelos. Os seus pais, apesar de serem surdos, não eram proficientes em ASL, já que a tinham adquirido tardiamente. Além disso, ele estudava em uma escola cujos professores usavam uma modalidade do Inglês Sinalizado, o que não era um modelo adequado de língua, já que se trata de um pidgin. Apesar de não ter contato com a ASL, ele desenvolveu estruturas linguísticas muito similares às que são usadas por falantes nativos de ASL. Esses estudos sugerem que mesmo a sinalização de pais não-proficientes leva a criança a uma habilidade de nativo, desde que ela seja exposta a essa língua bem cedo. O valor da interação na aquisição da linguagem Crianças surdas de pais surdos (CSPS) normalmente apresentam um desenvolvimento linguístico típico porque são expostas a uma língua de sinais desde o nascimento e interagem regularmente com pessoas fluentes nessa língua. De acordo com Vygotsky “A consciência individual é construída ‘de fora para dentro’, através da interação com outros, visto que o comportamento social e a consciência partilham o mesmo mecanismo” (2000, p. 94). O fato é que a criança precisa desenvolver suas habilidades sociais através de interações linguísticas para desenvolver sua consciência individual, assim como sua capacidade lógica. Vygotsky também argumenta que a direção do pensamento é do social para o individual, e não do individual para o social (2000, p. 36). Assim, as crianças que não têm acesso a uma forma linguística que lhes possibilite interagir com outros indivíduos terão seu crescimento intelectual comprometido. Consequentemente, a linguagem seria tão importante para o desenvolvimento do pensamento quanto este seria importante para o desenvolvimento da linguagem. A interação social tornaria possível à criança alcançar o melhor do seu potencial. Crianças educadas em um ambiente linguístico acessivelmente rico têm plenas oportunidades de interação com pais e irmãos. O mesmo não ocorre com a maioria das crianças surdas de pais ouvintes. Vários estudos confirmam que os pais surdos alteram seus sinais na interação com seus bebês, da mesma forma que pais ouvintes alteram a entonação da fala. Emmorey (2002) observa que a mudança sistemática na forma de linguagem que o adulto usa com bebês parece ser um universal linguístico que não é limitado à fala. Ela cita alguns estudos que mostram 7 que a fala direcionada às crianças nas línguas de sinais tem o objetivo de atrair a atenção do bebê – os sinais têm maior duração, mais repetições, e as mães posicionam suas mãos de forma a tornar os sinais mais visíveis aos bebês. Nessa interação da mãe com o bebê, a criança adquire não só as propriedades da linguagem, mas também os padrões discursivos, como a troca de turnos, por exemplo. Ao imaginarmos uma criança surda que não tenha uma linguagem efetiva com seus pais ouvintes, que tenha o seu primeiro contato com uma língua de sinais apenas na escola, não estará preparada para os desafios que todas as crianças enfrentam no ambiente escolar. Ela precisará de um tempo para processar e compreender o que está acontecendo no ambiente, ao mesmo tempo em que tentará extrair significado das interações com as professoras e com as outras crianças. Ninguém usará uma fala direcionada a ela, de forma que ela possa adquirir e processar as informações no seu próprio ritmo. As interações de linguagem através da fala direcionada possibilitam à criança processar as informações a uma velocidade que seja facilitadora para a compreensão tanto do significado quanto da estrutura da língua a ser processada (MORFORD; MAYBERRY, 2000, p. 123). Qualquer criança privada dessa fase normal da aquisição terá maiores dificuldades no processamento de linguagem que outras que foram expostas a essa fala direcionada na infância. Portanto, o desenvolvimento normal de uma criança depende das interações bem sucedidas que ela experimentará na família, na comunidade e também com os amigos. O crescimento intelectual da criança depende das interações discursivas que ela terá desde a primeira infância até quando for mais velha. Para uma criança surda, uma interação discursiva será possível se mediada por uma língua à qual ela tenha acesso, como uma língua de sinais. Uma criança isolada, como as descritas por Goldin-Meadow (2003), não poderá ter interações discursivas se ela não tiver um parceiro, mesmo se ela for capaz de criar sua própria linguagem. Entretanto, nem todas as crianças surdas criam uma linguagem – algumas conseguem criar gestos isolados, difíceis de serem compreendidos mesmo pelos familiares ou cuidadores. Não há como uma criança desenvolver uma linguagem sem um interlocutor. Aquisição de linguagem e sua relação com o bilinguismo Como vimos até aqui, a aquisição da língua de sinais pelo sujeito surdo pode ser dificultada pela falta de um modelo, embora alguns tenham demonstrado serem capazes de inventar o seu próprio código. Entretanto, a maioria das crianças surdas tem pais ouvintes e só vão aprender a língua de sinais na escola. Elas chegam à escola sem uma língua com a qual 8 possam se expressar e compreender os conteúdos a serem trabalhados pelos professores. Se não forem tomadas providências eficazes para suprirem essa carência linguística, os surdos correm o risco de se tornarem deficientes na linguagem, ou de terem seu desenvolvimento cognitivo comprometido (SACKS, 1990: 24). Conforme Pereira (2008), até a década de 1980, o objetivo das escolas brasileiras para surdos era oralizar6 os alunos. Para isso, o professor expunha seus alunos às palavras, geralmente com apoio de figuras ou outros elementos concretos, e as utilizava em frases, substituindo uma palavra por outra em exercícios, esperando que os alunos as memorizassem pela repetição oral. A língua escrita era trabalhada da mesma forma, após o trabalho com a língua oral, quando o professor propunha atividades de produção de frases escritas, geralmente com base em estruturas frasais já trabalhadas. Com isso, embora muitos alunos surdos chegassem a usar frases com estrutura gramatical correta, essas eram geralmente estereotipadas, usadas em contextos muito previsíveis. Segundo essa autora, “era como se a língua tivesse sido aprendida mecanicamente, de fora para dentro, sem uma reflexão sobre o seu funcionamento” (PEREIRA, 2008, p.15). Esse é um quadro característico do modelo clínico-terapêutico que serviu – e ainda serve – de base para o ensino de surdos. Esse modelo vê o sujeito como um ser patológico – falta-lhe a audição e, consequentemente a fala. Até mesmo o termo utilizado na definição do sujeito – deficiente auditivo – aponta para a questão da deficiência, o que é amplamente rejeitado pela Comunidade surda. As práticas pedagógicas desse modelo são reabilitadoras e o seu objetivo é a “ortopedia da fala” (SKLIAR, 1997). Opostamente a esse modelo, surge a visão sócio-antropológica da surdez. Começando pela definição do sujeito – que passa a ser tratado como “surdo” – e que, independente do grau da perda auditiva, reconhece-se e é reconhecido pela Comunidade surda na medida em que valoriza a experiência visual e se apropria da língua de sinais como meio de comunicação e expressão. Esse sujeito valoriza o estar junto– principalmente com seus pares surdos – partilhando com eles seu modo de ser e pensar, assim como uma identidade cultural comum (RODRIGUES, 2008). A partir da difusão dessa visão, nas últimas décadas, vários educadores de surdos apropriaram-se dessa nova forma de pensar e propuseram estratégias de ensino utilizando a língua de sinais, entendendo que o português deve ser ensinado como segunda língua 6 “Oralizar uma criança surda” significa ensinar-lhe a língua oral, articulada, tarefa que compete aos profissionais que trabalham especificamente nessa área, ou seja, aos fonoaudiólogos. Não entendemos que seja responsabilidade da escola trabalhar especificamente o ensino da língua oral, em detrimento do ensino da grade curricular que é ensinada às outras crianças por serem ouvintes. 9 (RODRIGUES, 2008). O que antes era feito com base na língua oral, passa a ser feito com base na utilização de duas línguas de modalidades diferentes – a língua de sinais assume a função de ser a língua da interação face a face e o português, a língua da escrita. No que respeita ao bilinguismo, Pust e Weinmeister (2006) afirmam que existem atualmente de 5000 a 6000 línguas no mundo, distribuídas em cerca de 200 estados e que a maioria da população mundial utiliza duas ou mais línguas no dia-a-dia. A escolha dos sujeitos por uma língua ou outra vai depender de diversos fatores, entre eles o conhecimento das línguas, a situação, o assunto da conversa e a função da interação linguística. No caso dos sinalizadores bilíngues, a escolha da língua de sinais pode ser condicionada pelas limitações na percepção e produção da língua oral. Alguns autores postulam que as dificuldades encontradas pelos alunos surdos na leitura e na escrita não são decorrentes da surdez, mas do pouco conhecimento de língua que têm – tanto da língua portuguesa quanto da língua de sinais – o que resulta do processo escolar inadequado a que foram submetidos (FERNANDES, 2003; PEREIRA, 2000, 2009). Por outro lado, outros autores apontam para os efeitos positivos da exposição à língua de sinais ainda na infância para a aquisição do letramento (PUST; WEINMEISTER, 2006; HOFFMEISTER, 2000; STRONG; PRINZ, 2000). Essas proposições nos levam a pensar na criança surda típica, ou seja, aquela que nasce em uma família onde não se usa a língua de sinais e que só vem a ter contato com essa língua após o ingresso na escola, ou muitas vezes somente na adolescência ou na fase adulta. Falaremos um pouco mais sobre esse assunto na discussão dos resultados encontrados nesta pesquisa. Estudos sobre desenvolvimento de linguagem em gêmeos Gêmeos são bons exemplos de interação, uma vez que eles têm um parceiro para interação desde o nascimento. Entretanto, estudos sobre desenvolvimento de linguagem em gêmeos sugerem que a maioria deles tem mostrado um desenvolvimento inferior de suas habilidades linguísticas em comparação com não-gêmeos (DEUTSCH et al., 2001; MCMAHON; DODD, 1997; GAINES; HELPERN-FELSHER, 1995; GAUSTAD, 1995; MOGFORD, 1993; SCHAVE; CIRIELO, 1983). McMahon e Dodd (1997) afirmam que tanto gêmeos quanto trigêmeos apresentam desenvolvimento fonológico atrasado em relação a não- gêmeos. Existem muitas razões para esse atraso linguístico: as pessoas que cuidam de gêmeos têm mais tarefas a fazer e menos tempo para interagir com eles; pais normalmente tratam gêmeos como uma unidade em termos de comportamento comunicativo; e também, na 10 maioria das vezes, os gêmeos idênticos têm menos estímulos para aprenderem a falar porque eles conseguem compreender um ao outro através de uma comunicação não-verbal. Esses e outros fatores são descritos na literatura especializada como “situação de gêmeos”, característica da criação que é dada à maioria dos gêmeos. É comum gêmeos desenvolverem uma linguagem particular, o que é visto como algo que complica e retarda a aquisição da linguagem (MCMAHON; DODD, 1997; MOGFORD, 1993). Alguns gêmeos adultos lembram-se de serem capazes de criar sua própria linguagem por volta dos quatro a cinco anos de idade. Muitos reportaram uma habilidade de se comunicarem de forma não-verbal quando crianças e ainda como adultos. Alguns descreveram que sua forma de comunicação não-verbal era baseada em uma língua de sinais inventada e alguns gestos com o corpo. Gaines e Helpern-Felsher (1995) observaram o desenvolvimento de um par de gêmeas monozigóticas de pais ouvintes dos treze aos trinta e seis meses de idade. Uma delas era surda, e a outra era ouvinte. A irmã mais velha interagia durante muito tempo com ambas, e ela tinha um bom vocabulário de Inglês Sinalizado, como os autores observaram. Entretanto, não eram todos os membros da família que eram capazes de se comunicarem com as gêmeas. A comunicação entre as duas era rara, e normalmente elas tendiam a comunicar-se com os adultos presentes no ambiente. A gêmea ouvinte aprendeu e usava o Inglês Sinalizado, mas ela preferia a linguagem oral ao comunicar-se com adultos ouvintes. Já a gêmea surda preferia gestos e sinais. Ela raramente usava os sinais e a língua oral ao mesmo tempo, o que é usual nas modalidades como o Inglês Sinalizado. Nessa pesquisa não foi observada nenhuma linguagem secreta entre as duas meninas. Outro estudo enfoca o desenvolvimento de outro par de gêmeos, um surdo e um ouvinte, educados com a ASL e o inglês oral, dos dezesseis aos vinte e quatro meses de idade (GAUSTAD, 1995). Os pais, embora surdos, adquiriram ASL tardiamente, mas a mãe preferia ASL e o pai usava tanto ASL quanto inglês oral. Esses gêmeos também raramente interagiam um com o outro, e os pais interagiam muito pouco com ambos. Gaustad observou que, aos dois anos de idade, os gêmeos produziam muito menos proposições que o esperado. Nesse caso também não foi encontrada uma linguagem secreta entre os gêmeos. Siple e Akamatsu (1991) também observaram o desenvolvimento de um casal de gêmeos fraternos. A menina era ouvinte e o menino, surdo, mas os pais surdos decidiram que ambos deveriam aprender ASL como sua língua materna, e ambos foram expostos à ASL. A menina só tinha acesso ao inglês pela TV e fitas cassete, o que não a estimulou a adquirir a 11 língua oral. Como o ambiente linguístico era uma língua de sinais, acessível a ambos, os gêmeos tiveram oportunidade de desenvolver uma relação mais próxima e uma linguagem secreta, mas isso não ocorreu, como nos outros casos. Os autores concluíram que os gêmeos estudados não apresentaram atraso no seu desenvolvimento de linguagem, e apesar de haver diferenças pelo fato de um deles ser ouvinte e o outro surdo, o desenvolvimento linguístico de ambos foi similar. A expansão foi gradual dos doze aos dezesseis meses de idade, e aos dezessete meses o vocabulário de ambos mostrava-se consistente com os estudos sobre aquisição de linguagem de crianças não-gêmeas. Os três estudos apresentados, em que um dos gêmeos era surdo e o outro ouvinte não apresentaram uma verdadeira “situação de gêmeos”, uma vez que os gêmeos não se identificavam um com o outro. Entendemos como uma verdadeira situação de gêmeos, conforme a literatura, um ambiente em que os gêmeos nascem, são educados e partilham as mesmas experiências no ambiente. Em nenhum dos casos, os gêmeos tinham uma relação muito próxima, como ocorre com os gêmeos ouvintes que a literatura apresenta. O ambiente interativo variou de uma mistura de sinais e fala (ou Manual Communication English – MCE), ASL e inglês oral e somente ASL. Os gêmeos raramente interagiam um com o outro, o que talvez possa ter acontecido pelo fato de um ser surdo e o outro ouvinte. Como não encontramos nenhum estudo sobre surdos gêmeos, em que houvesse uma “situação de gêmeos”, temos de basear nosso estudo tanto nos estudos sobre gêmeos ouvintes quanto nestes últimos, em que um dos dois é surdo e o outro ouvinte. Então, examinaremos um par de gêmeos univitelinosem que ambos são surdos, cujos pais são ouvintes e não têm nenhum conhecimento de línguas de sinais, que são educados num ambiente que favorece a situação de gêmeos (principalmente pelo fato de que eles têm a oportunidade de desenvolverem uma relação mais próxima, tanto comunicativa quanto afetiva). Um dos fatores adicionais é que ambos não têm acesso à língua usada no ambiente familiar, já que ambos não podem escutar os pais ou os irmãos. Tendo em vista a situação desses gêmeos, as questões específicas sobre sua aquisição de linguagem apresentadas neste estudo são: 1. A interação na ausência de um modelo de linguagem poderia fazer surgir um sistema comunicativo entre surdos gêmeos? 2. Seria possível que o uso de uma linguagem primitiva, como uma linguagem secreta criada por gêmeos, possa fazer com que surdos gêmeos apresentem um desempenho 12 linguístico que pareça típico de um desenvolvimento normal a partir do momento em que eles são expostos a um modelo de uma língua estruturada? E na avaliação das outras crianças que não tiveram oportunidade de interação como os gêmeos, como o caso das outras crianças que têm pais ouvintes: 3. Quais seriam as características da língua de sinais por elas adquirida? 4. Em que essas características poderiam influenciar a aquisição do português escrito por essas crianças, e de que forma? As respostas a estas questões podem nos levar a uma melhor compreensão do papel da interação na aquisição de uma língua de sinais, ou de forma mais abrangente, na aquisição de uma língua. A partir dessas repostas, avaliaremos também a questão referente à aquisição de linguagem e sua relação com o bilinguismo. Metodologia 1. Procedimento: Foi realizado um teste onde dois surdos adultos contam histórias para as crianças individualmente, usando animais de brinquedo e Libras. Todos os testes foram filmados. 2. Participantes: Os participantes da pesquisa são um par de gêmeos univitelinos surdos (GM1 e GM2), filhos de pais ouvintes, que tiveram o primeiro contato com a Libras aos cinco anos e dois meses, numa escola especial para surdos; duas outras crianças surdas, não irmãs, ambas com pais ouvintes, sendo que uma delas teve contato com a Libras aos quatro anos e a outra aos cinco anos e onze meses; e uma criança surda de pais surdos, que teve contato com a Libras desde o nascimento. A Tabela 1 abaixo apresenta uma descrição mais detalhada dos participantes. Tabela 1: Descrição dos participantes Sujeitos PS PO1 PO2 GM1 GM2 Pais Surdos Ouvintes Ouvintes Ouvintes Ouvintes Gênero Feminino Masculino Feminino Masculino Masculino Idade 7,3 anos 7,1 anos 7,4 anos 7,11 anos 7,11 anos Idade que entrou na escola p/ surdos 1 ano 4 anos 5 anos e 11 meses 5 anos e 2 meses 5 anos e 2 meses Tempo de contato com a Libras Desde o nascimento 3 anos e 1 mês 1 ano e 5 meses 2 anos e 9 meses 2 anos e 9 meses Proficiência dos pais Bons Nenhuma Nenhuma Nenhuma Nenhuma 13 em Libras sinalizadores 3. Tarefa: As crianças teriam de recontar algumas historinhas dramatizadas com animais de brinquedo por um surdo adulto, a outro surdo adulto que fica de costas para a mesa com os brinquedos e, (conforme foi dito à criança) nunca foi à escola e não entende o que o examinador contou. Ex: (O examinador encena com animais de plástico e usa Libras) Mamãe elefante e seus dois filhotes passam andando por um lago. Os três bebem água e a mãe segue com um dos filhotes. Ela olha para trás e, quando vê o outro filhote parado, ela o chama. Ele responde que quer tomar mais água, que ainda está com sede. O examinador surdo faz perguntas à criança sobre a compreensão da história, pede a ela que reconte a história ao outro surdo, que algumas vezes finge não entender e pergunta detalhes à criança. Análise dos resultados 1. Produção lexical: No percentual das respostas dadas por PO1 e PO2 não se percebe muita diferença em relação aos gêmeos e PS, pois, apesar de produzirem menos itens lexicais que os demais, essa diferença não é tão grande proporcionalmente (Gráfico 1.a.). Gráfico 1.a. Produção lexical dos sujeitos (em Porcentagem) Porcentagem de itens lexicais produzidos nas respostas 0,92 0,8 0,73 0,91 0,9 0 0,2 0,4 0,6 0,8 1 PS PO1 PO2 GM1 GM2 Sujeitos Porcentagem itens lexicais produzidos Observe que 73% das respostas produzidas por PO2 e 80% das respostas de PO1 eram compostas por itens lexicais, comparadas aos 90% das respostas dos gêmeos e de PS. Porém, ao observarmos a quantidade de respostas aos estímulos (Gráfico 1.b.), vemos que enquanto 14 PS e um dos gêmeos produziram cerca de 170 itens lexicais, e o outro gêmeo mais de 100, PO1 e PO2 utilizaram 50 itens lexicais ou menos em suas respostas, demonstrando terem um inventário lexical muito inferior aos outros três. Gráfico 1.b. Produção lexical dos sujeitos (em Quantidade de itens lexicais) Quantidade de itens lexicais produzidos nas respostas 168 51 33 172 116 0 50 100 150 200 PS PO1 PO2 GM1 GM2 Sujeitos Itens lexicais produzidos Os gêmeos produziram número de respostas similar a PS (filha de surdos), tanto proporcionalmente quanto na quantidade de respostas. Isso mostra que, apesar de terem pouco tempo de contato com a Libras, o inventário lexical dos gêmeos é comparável ao de uma criança que tem acesso à língua desde o nascimento. 2. Complexidade das respostas: A complexidade das respostas diz respeito à elaboração de frases (simples ou mais elaboradas), ou respostas completas às perguntas feitas pelos examinadores surdos. Por exemplo, se o examinador, no exemplo acima, perguntasse à criança “Por que o bebê elefante não seguiu a mamãe, como o irmão dele?” – a resposta esperada seria algo como “Porque ele estava com sede”, ou “Porque ele queria beber (mais) água”. As respostas dos gêmeos foram tão complexas quanto às de PS (“respostas expandidas”, ou os blocos das bases das colunas do Gráfico 2), enquanto algumas de PO1 e PO2 foram extremamente simples (sim/não, mesmo quando respostas completas eram necessárias – ver os blocos cinza das colunas de respostas). 15 Gráfico 2. Complexidade das respostas produzidas pelos sujeitos (porcentagem) 0,62 0,09 0,06 0,40 0,36 0,20 0,32 0,48 0,20 0,61 0,00 0,22 0,64 0,04 0,28 0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 100% PS PO1 PO2 GM1 GM2 Sujeitos Outras Sim / Não Questiona Expandidas Os tipos de respostas produzidos foram: sim/não, frases expandidas ou uso de gestos (outras respostas). Um exemplo de gesto, em resposta à pergunta do exemplo anterior seria quando a criança, ao querer responder que o elefantinho queria beber água, apenas fizesse o gesto de “lamber” (com a própria língua, lambendo o ar). Nesse caso, apesar de a resposta ser correta, não foi considerada uma resposta complexa, sendo incluída em “outras respostas”. Alguns questionaram o examinador em vez de responder à pergunta feita por ele. Entretanto, observe que tanto os gêmeos quanto os sujeitos PO1 e PO2 produziram mais gestos que PS (Outras respostas – blocos superiores das colunas). Analisando ainda as respostas de PO1 e PO2, é interessante observar a quantidade de respostas “sim/não” produzidas por eles, mesmo em face de questões como a exemplificada acima. Por várias vezes, o examinador surdo encenava uma história e em seguida pedia à criança para chamar o gato (outro examinador surdo), que estava de costas para a mesa. A criança chamava o gato e simplesmente apontava para a cena. O gato perguntava: “O que (aconteceu)?”, e a criança somente acenava “sim”, com a cabeça. Por várias vezes os dois examinadores surdos pediam à criança para contarem o que haviam visto e o máximo que ela fazia era apontar para um dos animais da cena e repetir algum dos sinais que o contador da história havia feito (como fugir, esconder) ou usavam gestos para exemplificara cena (lamber), na sequência APONTAR-animal + sinal ou gesto. 3. Proporção de respostas corretas: Observando o Gráfico 3, nota-se que GM1 e GM2 alcançaram um índice de respostas corretas superior ao de PS (GM1, 77,8%; GM2, 84,6% e PS 69,7%), enquanto PO1 e PO2 responderam respectivamente a 46,2% e 24,2% das 16 perguntas corretamente. A proporção de respostas incorretas dos gêmeos (2,8% e 0%) também foi bem inferior ao de PS (9,1%). Estes resultados mostram que os gêmeos chegaram mesmo a superar o desempenho de PS, sendo que GM2 se saiu ainda melhor que o irmão, o que talvez indicaria que um dos dois usufrui mais da situação de gêmeos, conseguindo aproveitar-se mais dos benefícios dessa relação que o outro. Gráfico 3. Proporção de respostas corretas na interação com os examinadores surdos Com relação às respostas incorretas, observa-se que PO1 e PO2 produziram uma proporção muito maior que as outras crianças (26,9% e 36,4% respectivamente). Além de possuírem um inventário lexical reduzido, essas crianças ainda devem ter problemas para compreender as proposições dos surdos adultos, dificultando o processo comunicativo. Observe-se que PO2 ainda apresentou um índice muito alto de interações sem resposta ou de respostas sem sentido às questões/interações propostas pelos examinadores surdos (39,4%). O índice de interações sem resposta ou com respostas sem sentido de PO1 também foi bem elevado (19,2%), em comparação com PS (12%) ou os gêmeos (11%). Na interação com adultos, é normal que haja incompreensões ou mesmo que as crianças sejam influenciadas pela fala dos adultos. No teste apresentado, houve uma situação em que o examinador apresentou uma história onde a mamãe elefante e um dos filhotes se encontram com o outro filhote e esse segundo passa a seguir os outros dois. Em seguida, o examinador pede à criança que chame o “gato” e reconte a história. Não importando se a criança reconte a história corretamente ou não, quando o examinador pergunta ao gato o que aconteceu este responde que a mãe e o bebê foram para um lado e o outro elefantinho foi para o outro lado, incorretamente. O esperado era que as crianças corrigissem o gato. Entretanto, 69,7 9,1 12,1 46,2 26,9 19,2 24,2 36,4 39,4 77,8 2,8 11,1 84,6 0 11,5 0% 20% 40% 60% 80% 100% PS PO1 PO2 GM1 GM2 Sem resp./sem sentido Resp. incorretas Comentários Resp. corretas 17 somente GM2 discordou da resposta do gato. Até mesmo PS concordou com a proposição incorreta. Apenas quando foi novamente questionada pelo examinador é que PS reconsiderou sua resposta e recontou a história corretamente (entretanto, ela não disse que o gato estava errado). Ainda com base no Gráfico 3, observa-se que PO2, que em todos os resultados apresentou um desempenho bem inferior às outras crianças, não respondeu a cerca de 40% das perguntas que lhe foram feitas. Voltando ao Gráfico 1.b, que indica a quantidade de itens lexicais produzidos pelas crianças (em números absolutos), observa-se que enquanto PS produziu 168 itens lexicais em resposta aos estímulos propostos, PO2 produziu apenas 33 itens em resposta aos mesmos estímulos. Esse resultado aponta para o fato de que a menina, após um ano e cinco meses de contato com a Libras, não possui um inventário lexical que lhe dê segurança para responder à interação, e com isso evita responder às perguntas; ela até mesmo evita tecer comentários sobre a interação, diferentemente de todos os outros. Quanto a PO1, os resultados, tanto na proporção de respostas corretas, quanto na quantidade de itens lexicais produzidos (Gráfico 1.b) sugerem que ele está adquirindo a língua de sinais gradativamente, mas ainda possui um inventário lexical muito inferior ao dos gêmeos (GM1 = 172 itens lexicais e GM2 = 116 itens lexicais; PO1 = 51 itens lexicais produzidos), ou seja, duas ou três vezes menor que o dos gêmeos. Discussão Os resultados dos gêmeos se mostraram bem semelhantes aos resultados de PS, e bem superiores aos de ambos PO. Isto confirma e reforça nossa hipótese de que ambos os gêmeos teriam desempenho como o de PS, apesar de não terem oportunidade de interação linguística com adultos desde o nascimento, como PS teve. O tempo de exposição à língua de sinais de PO1 difere muito pouco do tempo de exposição dos gêmeos à língua (apenas quatro meses a mais que eles), porém, os seus resultados apontam para um desenvolvimento linguístico mais lento em relação a eles. Já o tempo de exposição de PO2 à língua de sinais é bem inferior ao tempo das outras crianças (um ano e quatro meses a menos que os gêmeos e um ano e oito meses a menos que PO1). Isso se reflete tanto na quantidade de itens lexicais produzidos (33), quanto na complexidade das respostas dadas (48% apenas sim/não, 20% de gestos e apenas 32% de respostas um pouco mais complexas). Em nossa tarefa de interação linguística, os gêmeos foram capazes de ter um desempenho linguístico comparável ao de falantes nativos após menos de três anos de contato 18 com a Libras (ver Tabela 1). Isso foi conseguido apesar de muitas variáveis que poderiam ter influenciado negativamente o seu desempenho linguístico: pais ouvintes não-sinalizadores; entrada tardia na escola – após os cinco anos de idade –; consequentemente acesso tardio à Libras; professores não-proficientes na escola; e a falta de um programa educacional para o desenvolvimento do uso da Libras, entre outros fatores. Os surdos gêmeos tinham um código linguístico um pouco diferenciado de PS (o que foi confirmado também ao apresentar os vídeos de ambos a um falante nativo de Libras, que avaliou a sinalização dos dois como “diferente, mas fácil de entender”). Pela quantidade de gestos utilizados por eles nas respostas (GM1, 22%; GM2 28%), similar à quantidade usada por PO1 e PO2 (ambos 20%) e bem diferente de PS (0,6%), supõe-se que eles teriam uma linguagem ainda caracterizada por grande quantidade de gestos caseiros. Estes estariam sendo substituídos pelos elementos lexicais da Libras aos poucos, durante os dois anos e nove meses de contato com a língua. Em entrevista com a mãe deles, ela também informou já ter percebido um código secreto entre eles, ao qual ela não tinha acesso. Esse código secreto parece ter servido de base para a aquisição da Libras. Ao que parece, eles adaptaram sua “linguagem primitiva” ao padrão da Libras e “reinternalizaram” sua linguagem, um padrão chamado de “desnativização” por Andersen (1983). A partir dos resultados obtidos acima, podemos considerar: - Apesar de não terem um modelo adulto de linguagem, os gêmeos puderam construir um sistema comunicativo gestual resiliente, que, embora primitivo, era funcional ou cumpria o papel de garantir-lhes a compreensão de relações interpessoais – ainda que restrita aos dois ou, ainda, à família ou a alguns membros dela – assim como a expressão do pensamento, nos primeiros anos de vida; - Através da interação um com o outro, esse sistema gestual mostrou-se forte o bastante, ou resiliente, para facilitar-lhes o acesso a uma língua, assim que tiveram contato com usuários da Libras (ou do português sinalizado) na escola; - À medida que foram adquirindo o inventário lexical e a estrutura da Libras, esses foram substituindo essa linguagem rudimentar pela língua estruturada, num processo de desnativização (ANDERSEN, 1983); - A duas outras crianças surdas (PO1 e PO2), não possuíam um interlocutor com o qual interagir, como os gêmeos, e, caso tenham desenvolvido um sistema gestual, esse não era forte o bastante para garantir-lhes um acesso rápido à língua de sinais. Apesar disso, eles parecem estar adquirindo a língua de sinais gradativamente, através da interação na escola (já 19 que a maioria dos familiares de surdos não sabe Libras e não apresentam uma comunicação efetiva com as crianças surdas. Por esse motivo, as criançasnormalmente só têm contato com a língua na escola). - Assim como as crianças ouvintes constroem o sentido dos textos escritos com base em sua oralidade, assim também as crianças surdas constroem o sentido dos textos escritos em português com base na sua “oralidade” em língua de sinais, ou seja, a construção de sentidos é mediada pela Libras (PEREIRA, 2009). Se uma criança surda não domina nenhuma língua e, aos sete anos ainda está adquirindo uma língua para compreender as relações interpessoais e construir a sua linguagem interior (VYGOTSKY, 2000), como essa criança pode aprender a ler a modalidade de uma língua oral à qual ela não tem acesso? E o que talvez ainda seja pior: se não houver um programa de ensino de português como segunda língua, essa criança não terá acesso à escrita, já que o ensino de português é voltado para falantes nativos de português. Conclusão Gêmeos ouvintes reduzem suas interações sociais por usarem sua “linguagem secreta” e parecem limitar seu desenvolvimento linguístico um ao outro, apesar de terem o potencial de uma interação linguística com outros modelos de linguagem em seu ambiente, o que difere das crianças surdas de pais ouvintes. Surdos gêmeos que não têm acesso a uma língua estruturada desde o nascimento também têm a capacidade de criar sua própria linguagem, como vimos no estudo apresentado. Porém, esse processo não serve para isolá-los, ou mesmo reduzir suas interações sociais, mas pode facilitar o seu acesso a outros contatos em seu mundo. Por esses resultados, podemos concluir que as interações sociais são muito benéficas à aquisição e ao desenvolvimento da linguagem infantil. No caso de crianças surdas, mesmo que elas não tenham um bom modelo de língua de sinais em seu ambiente familiar ou mesmo na escola, elas devem ser expostas o quanto antes a outros usuários de Libras e principalmente a outras crianças surdas, com as quais elas possam se identificar e interagir. Por esse motivo, é importante que as crianças surdas, filhas de ouvintes, tenham acesso o quanto antes a uma escola bilíngue: onde a língua de sinais seja a língua de instrução, as práticas de leitura sejam direcionadas para as necessidades do aluno surdo; surdos adultos possam fazer parte do corpo docente das escolas, não só como instrutores de língua de sinais, mas como modelo lingüístico, como profissionais que interagem com o aluno surdo 20 diariamente e, principalmente, como contadores de histórias. Mais importante ainda: que nos primeiros anos de escolarização seja dada ênfase à aquisição da língua de sinais para só então iniciar-se o ensino do português escrito. 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