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NUTRIÇÃO CLÍNICA Luciana Gibber Esofagite Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Conhecer a � siopatologia da esofagite. Identi� car as principais doenças que levam ao desenvolvimento da esofagite. Indicar os principais pontos da dietoterapia na esofagite. Introdução A esofagite é uma das alterações mais comuns do aparelho digestório. É uma doença multifatorial, e as causas são as mais variadas, como reações de hipersensibilidade, variações anatômicas e infecções. O tratamento é longo e consiste em mudança de hábitos de vida, entre eles a alimentação. Neste capítulo, você vai conhecer melhor a esofagite, as doenças que levam ao seu desenvolvimento e como a alimentação pode ajudar no controle da doença. Fisiopatologia da esofagite O esôfago é um tubo muscular que liga a faringe ao estômago. Possui aproxi- madamente 23 cm de comprimento e é revestido internamente por uma camada mucosa. O esôfago está posicionado atrás da traqueia e à frente da coluna vertebral, passando ao lado do coração. Pouco antes de entrar no estômago, o esôfago passa pelo diafragma. O fl uxo do bolo alimentar que passa pelo esôfago é controlado por dois esfíncteres. O esfíncter esofágico superior é um feixe muscular localizado na parte superior do esôfago. Os músculos desse esfíncter estão sob controle consciente e são utilizados na respiração, alimentação, em eructações e vômitos. Eles controlam a descida dos alimentos e das secreções, evitando a sua entrada na traqueia. O esfíncter esofágico inferior é um feixe de músculos no extremo inferior do esôfago, onde este encontra o estômago. Quando o esfíncter esofágico inferior está fechado, evita que o ácido clorídrico e o conteúdo do estômago retornem. Os músculos do esfíncter esofágico inferior não estão sob controle voluntário. No intermédio dos esfíncteres, estão presentes feixes musculares circulares internos e longitudinais externos. O terço superior é constituído por músculo esquelético; o terço médio, por musculatura lisa e esquelética; e o terço inferior, apenas por músculo liso. A constituição tecidual se assemelha às demais camadas que constituem o sistema digestivo. Na submucosa, estão presentes as glândulas esofágicas, responsáveis pela produção de muco, que ajuda no deslizamento do alimento pelo tubo, reduzindo os atritos com a mucosa (GUYTON; HALL, 2006). O epitélio da mucosa é do tipo pavimentoso estratificado não cornifi- cado. A camada de células basais é predominantemente composta de células com citoplasma pequeno em relação ao núcleo, sendo local de proliferação celular, representando em geral cerca de 15% da espessura epitelial total. Na junção escamoso-colunar, a camada basal celular está em continuidade com as células colunares do estômago. Externamente, o esôfago não possui uma camada serosa consistente, de modo que esse órgão se torna mais suscetível a perfurações, formação de fístulas e metástases tumorais. O conteúdo do refluxo (ácido, pepsina e ácidos biliares) é tóxico para a mucosa esofágica. O dano da mucosa, identificado como quebra distal da mucosa esofágica, na endoscopia, é encontrado em 20% a 40% dos pacientes com esofagite. Nesses casos, os achados histológicos incluem lesão epitelial severa, com infiltração neutrofílica e eosinofílica. Essas mudanças são confinadas à mucosa, à lâmina própria e à mucosa muscular. O processo de tentativa de regeneração tecidual do esôfago pode levar a complicações como estenose péptica, metaplasia de Barrett e pólipos inflamatórios (JUNQUEIRA; CARNEIRO, 2008). Esse processo inflamatório no esôfago, podendo gerar alterações estruturais na mucosa, é chamado de esofagite, resultante do ataque crônico da mucosa, causado pelas mais variadas condições. Essas mudanças incluem alongamento das papilas, proliferação de células basais e espaços intercelulares dilatados dentro do epitélio escamoso. Uma das principais causas da esofagite é o con- tato do epitélio com o ácido clorídrico do suco gástrico, sendo essa condição responsiva a terapia supressora de ácido. Esse contato é comum em pacientes portadores de doença do refluxo gastroesofágico (DRGE). A inflamação eosinofílica também pode ocorrer na esofagite. Essa inflamação é importante em vista do reconhecimento recente da esofagite eosinofílica como um distúr- bio aparentemente distinto. Alguns autores sugeriram que os eosinófilos no esôfago proximal são mais sugestivos de EoE do que de DRGE. No entanto, as recentes recomendações de consenso sobre esofagite eosinofílica não res- tringiram o seu diagnóstico à inflamação eosinofílica proximal. Claramente, Esofagite 30 existe uma sobreposição entre EoE e DRGE. Além dos exames histológicos de biópsias esofágicas, técnicas avançadas de endoscopia foram aplicadas para caracterizar a esofagite usando imagens de banda estreita, ampliação e endoscopia de alta resolução, cromoendoscopia e endomicroscopia confocal (KATZ; GERSON; VELA, 2013). Entre os fatores de risco, podemos destacar o sexo. Apesar de ser igualmente prevalente entre homens e mulheres, há uma preponderância masculina de esofagite. Porém, a gravidez leva a uma inversão do quadro, de modo que entre metade e dois terços das mulheres grávidas se queixam de sintomas típicos de DRGE. A incidência de esofagite aumenta com a idade, à medida que esta avança; a partir dos 70 anos, essa alteração em função da idade diminui. Como possui forte relação com o estilo de vida, a esofagite é uma afecção mais comum em países ocidentais do que nos asiáticos. A obesidade, princi- palmente a visceral, assim como o sobrepeso, são fortes fatores de risco para o desenvolvimento de esofagite. Isso ocorre devido ao aumento da pressão na cavidade abdominal, favorecendo o desenvolvimento de refluxo. A presença de infecção por Helicobacter pylori no trato gastrintestinal pode constituir um importante fator de risco para a esofagite, uma vez que, em pacientes infectados pela bactéria, a incidência de refluxo é maior, principalmente em pacientes com úlceras duodenais, que levam ao aumento da secreção de ácido clorídrico. Por fim, muitos medicamentos foram relatados por aumentar a ocorrência de esofagite, como nitratos, bloqueadores de canais de cálcio, anticolinérgicos, agonistas α-adrenérgicos, teofilina, morfina, benzodiazepinas e sumatriptano. O mecanismo de risco se dá pela redução do tônus do esfíncter esofagiano inferior (NESS-JENSEN et al., 2016). Doenças que levam ao desenvolvimento de esofagite Esofagite eosinofílica Entre as causas da esofagite, pode-se destacar a doença do refl uxo gastreso- fágico e a esofagite eosinofílica. A EoE é uma doença infl amatória primária crônica, de patogênese não esclarecida, que evolui com períodos de exacer- bação, com intensa infi ltração anormal de eosinófi los no epitélio esofágico. É caracterizada pela combinação de sintomas gastrintestinais superiores, em associação com achados histológicos de infi ltração eosinofílica, encontrados 31Esofagite em amostras de biópsia endoscópica de tecido esofágico. Há associação im- portante com doenças alérgicas e história familiar. O eosinófilo é um granulócito da linhagem celular mieloide. Atua tanto na defesa contra patógenos, como nas respostas alérgicas. Após ser formado na medula óssea, o eosinófilo migra para os tecidos, entre eles os do trato gastrintestinal. Lá fica por volta de uma semana, até que inicie seu processo de apostose. Sendo o esôfago desprovido de eosinófilos, a sua presença nessa porção do tubo digestivo é sempre indicativa de patologia subjacente. Muitas doenças levam à infiltração eosinofílica e, consequentemente, à esofagite: DRGE, infecções parasitárias e fúngicas, doença inflamatória intestinal, gastroenterite eosinofílica ou reação de hipersensibilidade a fármacos (RO- THENBERG; FURUTA, 2016). A etiologia da esofagite eosinofílica ainda não está totalmente esclarecida, mas parece estar relacionadaa fatores genéticos e ambientais. A partir de um estímulo antigênico respiratório ou gastrintestinal, ocorre síntese, adesão e diapedese de eosinófilos. Inicia-se então uma cascata de reações, que resul- tam na ativação de células The helper 2 (Th2) e na consequente liberação de citocinas inflamatórias, incluindo as interleucinas IL1, IL3, IL4, IL5, IL13, e mediadores inflamatórios, como leucotrienos, fator de ativação plaquetária, eotaxinas, substância P e polipeptídeo intestinal vasoativo. O papel central no recrutamento de eosinófilos mediados por antígenos ocorre especificamente por ação do fator de necrose tumoral alfa (TNF-alfa) às eotaxinas e à IL5. Essas moléculas agem induzindo crescimento, diferenciação e ativação de eosinófilos na medula, levando a um aumento da concentração periférica dessas células, com sua posterior migração para o esôfago. Isso causa infiltrado inflamatório e edema, podendo levar a uma fibrose e subsequente alteração da arquitetura do órgão em alguns pacientes (REDDY; GHAFFARI, 2013). A esofagite eosinofílica apresenta sintomas que variam de acordo com a idade. Geralmente se apresenta com disfagia, dor epigástrica e impactação de bolo alimentar, podendo ocorrer também pirose. Em crianças, é comum que ocorra redução do crescimento, vômitos e recusa em alimentar-se. É uma doença com tendência a variações sazonais, e o aparecimento dos sintomas pode ser dependente da exposição aos possíveis alérgenos. O processo de diagnóstico pode ser realizado por meio de exame de imagem, associado com biópsia da mucosa do esôfago. Os achados endoscópicos podem estar ausentes em uma minoria dos casos (7 a 18%). Porém, na maioria dos pacientes, é possível observar a formação de anéis ou sulcos transversais, erosões, edemas, presença de placas esbranquiçadas, estreitamento (estenose) e desenvolvi- mento de pólipos esofágicos. A biópsia da mucosa esofágica deverá cobrir os Esofagite 32 três terços do esôfago, independentemente da presença ou não de alterações macroscópicas. A contagem de eosinófilos pode ser normal (< 350/mm3), levemente elevada (350–1.500/mm3), moderadamente elevada (> 1.500–5.000/ mm3) ou gravemente elevada (> 5.000/mm3). Além da elevada contagem de eosinófilos, outras características histológicas apoiam o diagnóstico, como presença de microabcessos, hiperplasia da camada basal, alongamento papilar, inflamação e fibrose da lâmina própria (ARIAS et al., 2014). Devido à possível participação de alérgenos, os pacientes suspeitos devem ser avaliados em busca de doenças associadas, com a realização de testes alér- gicos. Esses testes objetivam identificar alérgenos alimentares potencialmente relacionados à patogenia. O nível de IgE total surge aumentado na maioria dos doentes, mas o doseamento sérico de IgE específicas para alimentos não parece correlacionar-se suficientemente bem com o resultado histológico. Os testes cutâneos com alimentos são capazes de refletir as reações alérgicas mediadas por IgE por antígenos alimentares. Já os testes epicutâneos com alimentos, de leitura às 48 h e às 72 h, avaliam e refletem as reações não me- diadas por IgE e tardias. A combinação desses dois tipos de teste é uma forma eficaz de diagnóstico, com alto valor preditivo. Os alimentos que apresentam resultados positivos com maior frequência nos testes são leite de vaca, ovos, soja, trigo, peixe, fava, frutos do mar e centeio. Mais recentemente, pode ser realizada a dosagem de citocinas, sendo comum, em pacientes com esofagite eosinofílica, o aumento da IL13 e eotaxina-3. Exames gerais, como proteína C reativa, proteínas totais, albumina, enzimas hepáticas e amilase, em geral são normais. Por não ter no cerne de sua fisiopatologia a lesão tecidual, devido à presença de ácido clorídrico, o tratamento com supressão ácida não faz parte do manejo primário da esofagite eosinofílica, sendo o uso de corticoides a primeira linha de escolha (ARIAS et al., 2014). Doença do refluxo gastresofágico O refl uxo gastresofágico é o movimento retrógrado do conteúdo gástrico para o esôfago, independentemente da sua etiologia. Esse fenômeno fi sioló- gico torna-se patológico quando está associado a sintomas ou alterações da mucosa, podendo ocorrer em circunstâncias fi siológicas ou patológicas, e em qualquer indivíduo (criança ou adulto). Quando não está associado a doenças ou complicações, é denominado refl uxo gastresofágico fi siológico. O refl uxo gastresofágico patológico, ou DRGE, possui prognóstico mais grave. Entre as complicações, a esofagite de refl uxo é a lesão da mucosa esofágica mais comum, evidenciada por quebras mucosas ou erosões na mucosa esofágica. 33Esofagite Além da doença caracterizada por lesão da mucosa esofágica, a DRGE pode ser defi nida unicamente com base em sintomas típicos de esôfago. A DRGE apresenta sintomas semelhantes à esofagite eosinofílica, podendo o paciente desenvolver, além dos sintomas citados, dor torácica não cardíaca. O tratamento medicamentoso mais utilizado é com inibidores da bomba de prótons, seguido dos bloqueadores do receptor H2 de histamina, empregados dependendo do grau da esofagite (HARNIK, 2015). A patogênese de GERD foi estudada extensivamente, em especial em relação aos mecanismos que promovem sintomas e lesões do esôfago. A anormalidade fundamental é a exposição excessiva da mucosa esofágica ao conteúdo gástrico, mas esse é um processo multifatorial, que necessita de um número excessivo de eventos de refluxo, exposição prolongada à mucosa ao refluxo, integridade mucosa prejudicada ou hipersensibilidade. Certo grau de refluxo gastresofágico é assintomático e “normal”; entretanto, por definição, a DRGE ocorre quando o refluxo provoca lesões nos tecidos ou sintomas problemáticos. O refluxo do conteúdo gástrico no esôfago normalmente é impedido pelo esfíncter esofágico inferior, tornando essencial a integridade anatômica e funcional dessa região muscular. Foram observados três me- canismos dominantes (embora às vezes sobrepostos), que levam à falha na função desse esfíncter: doenças de distorção anatômica, incluindo hérnia hiatal; esfíncter esofágico inferior hipotensivo; relaxações transitórias do esfíncter esofágico inferior. Os dois últimos mecanismos podem ocorrer com ou sem anormalidades anatômicas. Os mecanismos de refluxo também podem diferir de um paciente para outro (POLICY et al., 2014). Esofagite 34 Esôfago de Barret O esôfago de Barrett é uma alteração da mucosa do esôfago que se caracteriza pela substituição do epitélio escamoso estratificado por tecido colunar especializado, contendo células caliciformes. Essa alteração é resultado do estágio avançado da doença do refluxo gastresofágico, uma vez que 5% a 15% de seus portadores possuem essa alteração, e é considerado o principal fator de risco para o desenvolvimento de adenocarcinoma de esôfago. A exposição ácida prolongada sofrida pelo esôfago distal, devido ao refluxo gastre- sofágico, a idade avançada, o tabagismo, a obesidade, bem como a predileção pelo sexo masculino e a tendência familiar são fatores de risco bem estabelecidos para o desenvolvimento do esôfago de Barret. Sabe-se, porém, que não apenas o estímulo ácido é responsável pelo surgimento da metaplasia, mas a alternância entre os estímulos ácido e básico. O diagnóstico do esôfago de Barrett é baseado em exame de imagem endoscópico, com presença de mucosa hiperemiada com aspecto aveludado a partir da junção gastroesofágica. Isso caracteriza a metaplasia intestinal distal, conferindo à área afetada uma coloração mais pálida. A confirmação histológica é realizada por meio de biópsias seriadas, colhidas durante a endoscopia digestiva alta. Dietoterapia na esofagite A dietoterapia na esofagite busca controlar a doença e reduzir seus sintomas, além de favorecer a recuperação da mucosa, evitando sua exposição aos agentes infl amatórios. Em função de o tratamento ser longo e envolver alte- rações no estilode vida, são necessárias a adesão e a dedicação por parte de quem o faz. A conduta dietoterápica deve ser traçada a partir de avaliação e estabelecimento de um diagnóstico específi co e individualizado, que considere aspectos funcionais, como os dados clínicos, bioquímicos, antropométricos e alimentares. De maneira geral, a dieta para tratamento da esofagite consiste numa oferta calórica que seja adequada à necessidade do indivíduo, seja ela de manutenção, ganho ou perda de peso. No manejo dos macronutrientes, os lipídios merecem uma atenção especial. Dietas hipolipídicas, com menos de 20% do valor calórico total (VCT) vindo desses nutrientes, são adequadas para pacientes com o processo inflamatório ativo. A gordura é um importante estimulador da liberação do hormônio co- 35Esofagite lecistoquinina, produzido nas células I do intestino. A colecistoquinina reduz o trânsito do bolo alimentar do estômago para o intestino, aumentando assim a pressão intragástrica e reduzindo a pressão do esfíncter esofágico inferior. Outra estratégia para reduzir a pressão é aumentando o fracionamento da dieta, e consequentemente, reduzindo o volume ofertado a cada refeição. Na fase aguda da inflamação, uma alimentação de consistência líquida a pastosa, em temperaturas amenas e isenta de agentes irritantes, como o excesso de sal ou açúcar, alimentos ácidos ou condimentos picantes, pode ajudar no processo de recuperação e prover melhor conforto ao paciente (GONÇALVES et al., 2017). Há uma crença comum de que alguns alimentos podem induzir ou piorar os sintomas da esofagite; de fato, na prática clínica diária, essa crença leva os profissionais a aconselharem pacientes a evitar alimentos suspeitos. Além disso, uma vez que os sintomas são relatados com mais frequência pós-prandialmente, o papel dos componentes da dieta na indução de sintomas é sustentado. No en- tanto, existem resultados diferentes e conflitantes na literatura para identificar os alimentos mais “refluxogênicos”. Apesar de serem rotineiramente reduzidos, na dita de pacientes com esofagite, o papel dos condimentos na exacerbação de sintomas não está bem esclarecido. Vários estudos experimentais e clínicos mostraram diminuição da pressão do esfíncter esofágico inferior e aumento da exposição do esôfago a ácido em resposta à ingestão de alimentos ricos em gorduras, chocolate, café e carminativos, como mentol e hortelã. As bebidas alcoólicas, principalmente as fermentadas, estimulam a secreção ácida e podem reduzir os mecanismos protetores da mucosa (KUBO et al., 2014). Algumas orientações em relação a hábitos diários podem ser importantes aliadas na terapia nutricional: evitar o consumo de líquidos durante a refeição; comer pelo menos 2 horas antes de deitar; elevar a cabeceira da cama em um ângulo de pelo menos 30°; evitar usar roupas apertadas, principalmente no momento da alimentação; comer sempre em posição ereta; não se deitar logo após as refeições; suspender o uso de tabaco. Esofagite eosinofílica Além das recomendações gerais para esofagite, na presença de possível re- ação de hipersensibilidade a antígeno, alguns cuidados adicionais devem ser tomados. Uma opção alternatva para o tratamento dietético da EoE é Esofagite 36 a eliminação de seis alimentos específi cos, que são considerados os mais alergênicos: proteína do leite de vaca, soja, ovos, trigo, amendoim / nozes e frutos do mar – a chamada dieta de eliminação de seis alimentos. Pacientes em dieta de eliminação dos principais antígenos demonstram melhora em ambos os sintomas, como disfagia e azia, bem como uma diminuição nas contagens máximas de eosinófi los para pós-dietas. Porém, após a reintrodução dos alimentos, é comum o reaparecimento da infi ltração eosinofílica e dos sintomas. Em geral, esse regime não é tão efi caz como uma dieta elementar na redução ou na melhora dos sintomas, e ainda corre o risco de prejudicar a qualidade de vida. Praticidade e defi ciências nutricionais são outras limitações dessa intervenção dietética (ROTHENBERG; FURUTA, 2016). O ideal é que as dietas de eliminação sejam baseadas em testes alérgicos, como o teste cutâneo. Essa opção dietética envolve a eliminação de alimentos específicos que provocam essas reações alérgicas. Pacientes com esofagite eosinoílica frequentemente apresentam história de alergias alimentares, bem como sensibilização a alimentos em testes cutâneos. Em casos mais severos de alergia, a proteína alimentar deve ser substituída por proteínas hidrolisadas ou fórmulas elementares. Uma dieta elementar consiste em uma fórmula composta de aminoácidos e água. Essa dieta é re- comendada principalmente em crianças. Uma vez que haja resposta clínica e histológica, um novo alimento é reintroduzido por semana, a partir do menos alergênico, como frutas e vegetais, para os mais alergênicos, como leites, soja, amendoim e trigo. Embora uma dieta elementar tenha se provado efetiva na redução dos sintomas em vários estudos, apresenta grandes desvantagens: a fórmula não é apenas cara, mas também desagradável. A dieta elementar é superior na indução de remissão histológica, definida como 15 eosinófilos/ HPF; todavia, apesar das vantagens na redução de sintomas, bem como na inflamação eosinofílica mostrada pelo uso de uma dieta elementar, esse tra- tamento não ganhou popularidade. O custo, a qualidade de vida prejudicada e a praticidade geral são os principais fatores limitantes para o tratamento com uma dieta elementar (GONSALVES et al., 2012). 37Esofagite 1. Nos últimos anos, ocorreu um aumento significativo de doença do refluxo gastresofágico (DRGE), e a estimativa é que cerca de 12% da população brasileira apresente a doença. A DRGE é conhecida como uma afecção digestiva crônica, que ocorre quando o conteúdo do estômago (ácido ou não) volta para o esôfago e provoca diversos sintomas locais (no próprio esôfago) ou em outros órgãos. Existem vários fatores que podem estar relacionados a essa doença. Entres eles, podemos citar: a) a elevação média da idade da população, bons hábitos alimentares, obesidade ou sobrepeso, e a osteoporose. b) a elevação média da idade da população, maus hábitos alimentares, obesidade e sobrepeso, fatores genéticos e estresse. c) a elevação média da idade da população, bons hábitos alimentares e o estresse. d) a diminuição média da idade da população, maus hábitos alimentares, obesidade e sobrepeso, fatores genéticos e estresse. e) a diminuição média da idade da população, bons hábitos alimentares, obesidade e sobrepeso, fatores genéticos e estresse. 2. Relatos da literatura apontam que a obesidade está diretamente relacionada com a doença do refluxo gastresofágico. As diretrizes para Diagnóstico e Tratamento da DRGE indicam que um IMC acima de 25 kg/altura é considerado fator de risco para a doença. Por que obesos apresentam maior prevalência dessa patologia? a) A elevação da pressão abdominal decorrente da obesidade não é responsável pelo aumento da exposição do esôfago à acidez. b) A baixa pressão abdominal decorrente da obesidade é responsável pela diminuição da exposição do esôfago à acidez. c) A elevação da pressão abdominal decorrente da obesidade é responsável pela diminuição da exposição do esôfago à acidez. d) A elevação da pressão abdominal decorrente da obesidade é responsável pelo aumento da exposição do esôfago à acidez. e) A baixa pressão abdominal decorrente da obesidade é responsável pela diminuição da exposição do esôfago à acidez. 3. O termo hérnia de hiato surgiu do sueco Ake Akerlund, em 1926. É conhecida como uma complicação causada pelo refluxo constante de ácido, que irrita o revestimento interno do esôfago. Existem algumas situações que aumentam a ocorrência da hérnia de hiato, entre elas: a) fraqueza do diafragma, se o indivíduo já nascer com um hiato demasiado curto, devido a algum traumatismo torácico Esofagite 38 ou abdominal;pressão excessiva dos músculos adjacentes. b) fraqueza do diafragma, se o indivíduo já nascer com um hiato demasiado largo, devido a algum traumatismo torácico ou abdominal; pressão excessiva dos músculos distantes. c) diafragma fortalecido, se o indivíduo nascer com um hiato demasiado largo, devido a algum traumatismo torácico ou abdominal; pressão excessiva dos músculos adjacentes. d) fraqueza do diafragma, se o indivíduo já nascer com um hiato demasiado largo, devido a algum traumatismo torácico ou abdominal; pressão excessiva dos músculos adjacentes. e) fraqueza do diafragma, se o indivíduo já nascer com um hiato demasiado largo, devido a algum traumatismo craniano; pressão excessiva dos músculos adjacentes. 4. A doença do refluxo gastresofágico (DRGE) é caracterizada por uma agressão crônica na mucosa, causada principalmente pelo retorno do suco gástrico. Essa condição pode ser gerada por alterações anatômicas. Quais as principais alterações que favorecem o desenvolvimento de DRGE? a) Hérnia de hiato, baixa pressão e relaxamento transitório do esfíncter esofagiano superior. b) Hérnia de hiato, baixa pressão e relaxamento transitório do esfíncter esofagiano inferior. c) Hérnia umbilical, alta pressão e contração tetânica do esfíncter esofagiano inferior. d) Hérnia umbilical, alta pressão e contração tetânica do esfíncter esofagiano superior. e) Hérnia de hiato, alta pressão e contração tetânica do esfíncter esofagiano inferior. 5. Alguns alimentos derivados de compostos como cafeína, temperos fortes e carminativos devem ser evitados, quando o paciente está em tratamento para hérnia de hiato. Entre os alimentos pertencentes a esses compostos, podemos citar, respectivamente: a) café solúvel, coentro e camomila. b) café solúvel, pimenta e hortelã c) chá verde, pimenta e erva doce. d) chá verde, orégano e canela. e) chá verde, pimenta e funcho. 39Esofagite ARIAS, Á. et al. Efficacy of dietary interventions for inducing histologic remission in patients with eosinophilic esophagitis: a systematic review and meta-analysis. Gastroenterology, Baltimore, v. 146, n. 7, p. 1639-1648, 2014. GONÇALVES, T. S. A. et al. A conduta dietoterápica no tratamento da doença do refluxo gastroesofágico: relato de caso. Arquivos de Ciências da Saúde da UNIPAR, Umuarama, v. 20, n. 3, p. 199-203, 2017. GONSALVES, N. et al. Elimination diet effectively treats eosinophilic esophagitis in adults; food reintroduction identifies causative factors. Gastroenterology, Baltimore, v. 142, n. 7, p. 1451-1459, 2012. GUYTON, A. C.; HALL, J. E. Tratado de fisiologia médica. 10. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2006. 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