Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
NUTRIÇÃO CLÍNICA Vanessa Cristina de Oliveira Lima Câncer da cavidade oral, faringe e esôfago Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Conhecer a fisiopatologia e os fatores de risco para os cânceres da cavidade oral, da faringe e do esôfago. Identificar as principais alterações nutricionais decorrentes desses cânceres. Definir as condutas dietoterápicas apropriadas para pacientes com câncer na cavidade oral, na faringe e no esôfago. Introdução O câncer da cavidade oral, de faringe e de esôfago estão entre os dez cân- ceres mais comuns do mundo, sendo o câncer de esôfago o 3º do sistema digestivo que mais mata no país. Essas doenças afetam principalmente a população de países em desenvolvimento, e dois dos seus principais fatores de risco são o álcool e o tabagismo. Além disso, esses cânceres alteram as estruturas dos órgãos do sistema digestivo, prejudicando suas funções básicas e afetando a qualidade de vida do paciente. Neste capítulo, você estudará a fisiopatologia, os fatores de risco e as alterações nutricionais de cada um desses cânceres, bem como aprenderá a dietoterapia e o suporte nutricional mais adequados para cada um. Fisiopatologia e os fatores de risco do câncer da cavidade oral, de faringe e de esôfago Câncer da cavidade oral e de faringe O câncer da cavidade oral e o câncer de faringe são problemas graves e crescentes. Juntos, eles são o 6º câncer mais comum do mundo, e sua incidência estimada anual é de aproximadamente 275 mil (câncer da cavidade oral) e mais de 130 mil (câncer de faringe). Com exceção à nasofaringe, dois terços desses casos acontecem em países em desenvolvimento (WARNAKULA- SURIYA, 2009). Segundo o Instituto Nacional do Câncer (BRASIL, 2015), mais de 5 mil pessoas morreram por câncer de boca (de cavidade oral e/ou de faringe) em 2013, sendo 4.223 homens e 1.178 mulheres. Cerca de 94% dos tumores ma- lignos na região oral estão relacionados ao carcinoma de células escamosas oral. Os tipos de câncer presentes nesta área incluem tumores das glândulas salivares, linfomas e sarcomas. O sarcoma é uma neoplasia epitelial maligna agressiva, que atinge principalmente homens de 50 a 80 anos. Entretanto, o número de mulheres com esse tipo de tumor é parecido por causa da maior exposição a agentes carcinogênicos (FREITAS et al., 2016). O câncer que afeta tanto a cavidade oral quanto a faringe (isto é, a porção da faringe que faz parte do sistema digestivo) é chamado de câncer de orofaringe. Esse tipo de câncer é complexo e propenso à invasão e disseminação local. O câncer da cavidade oral envolve a pele dos lábios, as mucosas da boca e a orofaringe. Os tumores na região da boca e na orofaringe são parecidos com lesões esbranquiçadas chamadas de lesões leucoplásicas, e podem causar dor. Nos lábios, as lesões aparecem como descamações, que se transformam em feridas que não cicatrizam (DRUMOND; ARMOND, 2015; COHAN et al., 2009). Câncer de esôfago O câncer de esôfago (também chamado de câncer esofágico) tem um mau prognóstico e um desfecho fatal na maioria dos casos. As taxas de incidência de câncer esofágico variam de acordo com a região do mundo. Por exemplo, na Ásia, na África do Sul, e no norte e leste da França, a mortalidade anual é de aproximadamente 100 a cada 100 mil afetados. Esse câncer é o 8º mais comum no mundo por causa da sua natureza agressiva e sua baixa taxa de sobrevivência. No Brasil, ele é o 6º mais frequente entre os homens e o 13º entre as mulheres, Câncer da cavidade oral, faringe e esôfago 56 além de ser o 3º câncer no sistema digestivo que mais mata no país. Além disso, mais de 10 mil novos casos surgiram no país, sendo aproximadamente 7.770 em homens e 2.650 em mulheres (OLIVEIRA-BORGES et al., 2015). O câncer do esôfago pode aparecer em dois tipos de tumores: carcino- mas de células escamosas (formados no revestimento epitelial escamoso do esôfago) e adenocarcinomas (que atingem as células colunares glandulares responsáveis pela substituição do epitélio escamoso). Sarcomas e carcinomas de células pequenas geralmente representam menos de 1% ou 2% de todos os cânceres esofágicos (embora o carcinoma esofágico seja encontrado em mais de 450 mil pessoas no mundo e sua incidência não pare de crescer). Os fatores agressores do epitélio escamoso criam alterações inflamatórias que se transformam em displasia e outras alterações malignas. A maioria dos adenocarcinomas surge no esôfago distal e está relacionada ao “Esôfago de Barret”, uma doença na qual o epitélio escamoso sofre metaplasia e se torna colunar por causa do contato com o suco gástrico. A classificação dos tumores é feita de acordo com seu formato e sua loca- lização. O tipo Ⅰ é o adenocarcinoma da parte distal do esôfago. O tipo II é o carcinoma verdadeiro da cárdia, que aparece na junção esofagogástrica. O tipo III é o carcinoma gástrico sub cardiológico, que também atinge a junção esofagogástrica. A cada três adenocarcinomas, quatro são encontrados no esôfago distal. Por sua vez, os carcinomas de células escamosas são distribu- ídos de modo mais regular entre o meio e a parte terceiro inferior do esôfago. O câncer de esôfago geralmente não apresenta sintomas em sua fase inicial. Eles surgem com o progresso da doença, sendo eles: dificuldade na deglutição, dor retroesternal, dor torácica, sensação de obstrução à passagem do alimento, náuseas, vômitos e perda de apetite (ZHANG, 2013). A região oral abrange a cavidade oral e a orofaringe. A cavidade oral é formada por duas partes: o vestíbulo da boca e a cavidade própria da boca (que está conectada com a orofaringe). O vestíbulo é o espaço entre os dentes (ou gengiva) e os lábios (ou bochechas). A cavidade própria da boca é o espaço entre os arcos dentais, que é ocupado pela língua no repouso e delimitado pelo palato. A orofaringe (também conhecida como a parte oral da faringe) fica entre o palato mole e a base da língua, e é delimitada nas laterais pelo arco palatoglosso e pelo arco palatofaríngeo, onde ficam as tonsilas palatinas (também conhecidas como amígdalas). 57 Câncer da cavidade oral, faringe e esôfago Fatores de risco O álcool e o tabaco são os principais fatores de risco do câncer da cavidade da boca, de faringe e de esôfago. A relação entre o ato de fumar e os cânceres da parte superior do aparelho digestório já foi comprovada cientifi camente, e seu fator de risco não altera com seu modo de uso (cigarro, cachimbo ou charuto), pois a temperatura da fumaça aumenta o risco de lesões malignas. A alta temperatura de bebidas muito quentes também pode causar essas lesões, principalmente acima de 65°C. A infecção pelo vírus do papiloma humano (HPV) é outro fator de risco desses cânceres. A exposição ao sol também é um fator de risco de câncer na região dos lábios, principalmente para pessoas brancas. Por sua vez, o câncer de esôfago tem relação com a doença do refluxo gastroesofágico, com casos constantes de refluxo, e com a obesidade, pois ela aumenta a frequência do re- fluxo. Alguns padrões alimentares também são fatores de risco, principalmente se houver um alto consumo de gorduras, e açúcares, e um baixo consumo de frutas e vegetais (LEITE; GUERRA; MELO, 2005; ZHANG, 2013). Alterações nutricionais do câncer da cavidade oral, de faringe e de esôfago O câncer da cavidade oral, de faringe e de esôfago alteram as estruturas desses órgãos e prejudicam suas funções básicas (como fala, deglutição, mastigação e salivação) e afetam signifi cativamente a qualidade de vida do paciente. Uma das consequências mais importantes – e muitas vezes negligenciadas – do câncer da cavidade oral e de orofaringe é a desnutrição. Ela é caracte- rizada pela falta de ingestão (ou de absorção) de nutrientes, que alteram a composição corporal e diminuem a função orgânica do organismo. O risco de desnutrição pode ser duradouro, pois os tratamentos alteram o processo de nutrição.A desnutrição também está relacionada ao aumento da morbidade, da mortalidade pós-operatória precoce, e à redução da sobrevida geral após a cirurgia gastrointestinal (BARRIOS et al., 2014). A desnutrição e a perda de peso devem ser combatidas, principalmente após uma operação e durante a radioterapia e a quimioterapia. Além das suas consequências físicas, a desnutrição afeta a força dos pacientes em lidar com a doença e o tratamento. Por exemplo, os pacientes com perda de peso severa têm seus prognósticos e suas chances de sobrevivências piores se comparadas a de outros pacientes. Um dos principais motivos da desnutrição são as deficiências Câncer da cavidade oral, faringe e esôfago 58 funcionais,a redução da força nos músculos faciais, e o mal funcionamento do aparelho mastigatório. A deficiência funcional dos músculos faciais, (por exemplo, a língua e a articulação temporomandibular) torna mais difícil morder e engolir. A perda de dentes e os problemas com as próteses dentárias também dificultam a recuperação do paciente. A perda de 10 ou mais dentes exige a aplicação de uma dieta pastosa ou líquida. No entanto, essas dietas têm baixa densidade calórica e aumentam o risco de desnutrição. Embora essas dietas possam ser aprimoradas com suplementos ou módulos de nutrientes, a falta de aconselhamento nutricional do paciente ou do cuidador dificulta a aplicação desse tipo de dieta (GELLRICH et al., 2015). Mastigar e engolir são importantes para manter o estado nutricional e o peso do paciente, especialmente em tratamentos com radioterapia. A dis- fagia é uma alteração que dificulta a deglutição e afeta desde a introdução do alimento na boca até sua chegada ao estômago. A disfagia também não permite a ingestão e absorção adequada dos alimentos, causando desnutrição e deficiências nutricionais. Essa anormalidade é classificada de 1 a 6 em uma escala decrescente de comprometimento funcional. Por exemplo, um paciente com disfagia nível 6 a 5 (ou nível 5 a 4) conseguem se alimentar via oral. No entanto, os pacientes com disfagia nível 3 a 2 (ou nível 2 a 1) precisam de terapia enteral e espessamento dos líquidos. A deglutição é um processo complexo que envolve músculos faciais e nervos encefálicos para funcionar apropriadamente. Alguns tumores danificam essas estruturas, aumentando o risco de engasgos, broncoaspirações, e causando infecções respiratórias (OLIVEIRA et al., 2008). Embora os problemas de deglutição estejam presentes antes do tratamento desses cânceres, eles são mais graves durante e após o tratamento por causa da mucosite induzida por radiação, e da pouca mobilidade da língua. A mucosite oral é uma inflamação causada pela radioterapia e quimioterapia. A mucosite também causa lesões ulcerativas na mucosa oral, na garganta e esôfago, além de originar desnutrição predominantemente durante e depois do tratamento. Para reduzir o risco de desnutrição, recomendamos fazer o rastreio de rotina para identificar problemas de deglutição e desnutrição nesses pacientes (JAGER- -WITTENAAR et al., 2011). 59 Câncer da cavidade oral, faringe e esôfago A cirurgia é um recurso terapêutico comum em pacientes com câncer da cavidade oral, de faringe e de esôfago. Em casos de cirurgias oncológicas (principalmente no aparelho digestivo), a imunonutrição pré-cirúrgica ajuda na recuperação pós-cirúrgica, na manutenção e na recuperação do estado nutricional. Os imunonutrientes são: arginina, nucleotídeos, ácidos graxos (por exemplo, o ômega 3). Os ácidos graxos poli-insaturados ômega 3 (AGPIs n-3) melhoram a imunidade dos portadores de câncer gastrointestinal, diminuindo as chances de resposta inflamatória depois da cirurgia. Algumas investigações indicam que os AGPIs n-3 têm um papel importante na resposta imune do paciente, pois diminuem o nível de citocinas inflamatórias (como IL-2, IL-6 e TNF-α), além de aumentarem os efeitos anti-inflamatórios sistêmicos. As AGPIs n-3 também diminuem a proteína C reativa, um marcador bioquímico de inflamação em pacientes que realizaram a cirurgia para identificar neoplasias gastrointestinais. A alta ingestão do ácido eicosapentaenoico (EPA) e docosahexaenoico (DHA)– isto é, dois tipos de AGPIs n-3 – está relacionada à redução de proteína C reativa e de albumina sérica, melhorando o prognóstico desses pacientes. Dietoterapia para o câncer da cavidade oral, de faringe e de esôfago O objetivo do manejo nutricional é manter o peso corporal, minimizar a perda de peso (especialmente do tecido muscular) e prevenir as defi ciências nutricionais. A terapia nutricional deve diminuir os impactos nutricionais causados pela doença, sendo eles: diminuição do apetite, náuseas e função intestinal alterada. Há várias ferramentas disponíveis para avaliar o estado nutricional e realizar o planeja- mento dietoterápico. Por exemplo, o histórico da doença e o exame físico do paciente são os métodos mais rápidos e utilizados nessa avaliação. Os componentes que devem ser pesquisados no histórico do paciente são: perda de peso recente não intencional, perda de apetite e mudanças na disposição física. O exame físico deve procurar sinais de sarcopenia ou perda de massa nas regiões do quadríceps femoral e dos músculos deltoides. A presença de queilose, estomatite e pele seca indicam falta de vitaminas e outros micronutrientes. Além disso, é possível identificar um alto risco de desnutrição Câncer da cavidade oral, faringe e esôfago 60 Os efeitos colaterais do tratamento oncológico estão relacionados com a disfunção gastrointestinal. Essa disfunção altera a ingestão de alimentos e causa a perda de peso adicional. A ingestão dietética adequada diminui esses efeitos colaterais (por exemplo, saciedade precoce, fadiga e anorexia). O aconselhamento nutricional ao paciente deve começar antes do aparecimento dos sinais de depleção nutricional, pois o risco de desnutrição em portadores desses cânceres é alto. Algumas pesquisas científicas indicam que há mais chances de prevenir a desnutrição do que revertê-la. A avaliação nutricional deve ser feita antes do tratamento por meio de uma ferramenta válida e con- fiável para orientar a intervenção nutricional e monitorar os resultados. O manejo nutricional adequado deve ser aplicado antes, durante e depois dos tratamentos para gerar conforto e qualidade de vida, além de alcançar as metas terapêuticas (NAMRATHA PAI; UROOJ, 2014). A oferta calórica deve manter (ou recuperar) o peso do paciente, além de considerar possíveis complicações causadas pela doença. Alguns estudos científicos sugerem que a redução de carboidratos dietéticos diminui a proli- feração das células tumorais (embora esses achados ainda não sejam aplicados na dieta dos pacientes). Essas células dependem da glicose no sangue para se multiplicar, pois não são capazes de metabolizar ácidos graxos (ou corpos de cetona) o suficiente por causa da sua disfunção mitocondrial. A necessidade diária de proteína para os portadores desses cânceres varia entre 1,0-1,2 gramas a cada quilograma (para pacientes com baixo estresse metabólico), 1,2-1,6 gramas a cada quilograma (para pacientes com hipercatabolismo), e 1,5-2,5 gramas a cada quilograma (para pacientes com estresse metabólico severo). Embora não haja recomendações dietéticas para lipídios, recomenda-se a ingestão dos ácidos graxos poli-insaturados (conhecidos como ômega-3) e do ácido eicosapentaenoico, pois previnem a perda de peso e melhoram a imuni- dade. Além da desnutrição proteica e da desnutrição energética, os pacientes se perda de peso do paciente for maior que 10% do IMC relacionado a sua perda de músculo. No entanto, o peso do paciente não deve ser o único marcador isolado do estado nutricional, pois ele pode não indicar mudanças no estado nutricional. Outros parâmetros utilizados na avaliação nutricional são medidas antropométricas (por exemplo, a dobra cutânea do tríceps e o diâmetro do braço) e marcadores bio- químicos. A albumina,a préalbumina e a transferrina são proteínas séricas utilizadas para definir a depleção do estado nutricional. Dentre elas, a albumina é o melhor marcador de soro para identificar a taxa de mortalidade em pacientes hospitalizados (ALSHADWI et al., 2013). 61 Câncer da cavidade oral, faringe e esôfago podem ter deficiências de vitaminas e minerais, pois o estresse oxidativo, a inflamação e a toxicidade causada pela quimioterapia reduzem os níveis de micronutrientes no organismo (NAMRATHA PAI; UROOJ, 2014). Suporte nutricional O aconselhamento nutricional intensivo e os suplementos nutricionais orais devem ser usados para aumentar a ingestão dietética, além de prevenir a perda de peso e continuar a radioterapia ou quimioterapia. A escolha da via de alimentação dependerá das condições de cada paciente. Entretanto, devemos fazer as seguintes considerações clínicas antes de escolher a via: local do tumor, plano (e intenção) do tratamento, duração da alimentação enteral e conforto do paciente. As sondas nasogástricas, nasojejunais e orogástricas devem ser usadas a curto prazo (isto é, menos de quatro semanas). Se a alimentação enteral durar mais de quatro semanas, recomendamos a gastrostomia. O tipo e o volume da dieta variam com os sintomas dos pacientes e a quantidade de nutrientes ingerida, mudando durante e depois do tratamento. No entanto, não há dados científi cos indicando como as fórmulas entéricas e os alimentos poliméricos devem ser usados (TALWAR, 2016). A via enteral deve ser utili- zada em pacientes com câncer na parte superior do aparelho gastrointestinal, pois prejudicam a deglutição. Para os pacientes disfágicos que se alimentam exclusivamente via oral (ou que recebem complementação por sonda), é pre- ciso adaptar a consistência da dieta para evitar a desnutrição, a desidratação, o risco de aspiração e complicações pulmonares. Para isso, recomendamos o uso de espessantes, pois alteram a viscosidade de líquidos sem modifi car a cor e o sabor. O Quadro 1 mostra as consistências recomendadas para cada nível de disfunção da deglutição (BOSSOLA, 2015; OLIVEIRA et al., 2008; SCHIRMER; FERRARI; TRINDADE, 2012). Fonte: Adaptado de Oliveira et al. (2008). Nível da disfagia Dieta indicada Nível 1-2 Cremosa Nível 2-3 Pastosa Nível 4-5 Leve Nível 5-6 Geral Quadro 1. Consistência do alimento de acordo com o nível de disfagia. Câncer da cavidade oral, faringe e esôfago 62 Devemos observar o desenvolvimento de mucosite no paciente. A mucosite interfere na qualidade de vida por meio de alguns sintomas, sendo eles: presença de infecções oportunistas, dor intensa, e dificuldade na alimentação, na fala e na higiene oral. Essa inflamação também causa xerostomia, aumentando a predisposição do paciente para infecções secundárias (principalmente às causadas por fungos), originando desidratação, desnutrição, baixa ingestão hídrica e baixa ingestão alimentar por meio da alteração do paladar. O pro- cesso inflamatório da mucosite também pode causar dor, que atinge todo o trato digestivo e aumenta o risco de infecção local e infecção sistêmica. Os sangramentos surgem no estágio mais avançado dessa inflamação. Os casos mais severos são internados para receber suporte nutricional, suporte enteral ou suporte parenteral, podendo adiar (ou suspender) o tratamento antineoplásico. A alimentação do paciente com mucosite deve ter uma textura abrandada, que não cause irritação e evite temperaturas extremas. Alimentos frios ou em temperatura ambiente (como gelatinas e sorvetes de frutas não ácidas) amenizam os sintomas. Deve-se evitar alimentos que irritam a mucosa oral, como temperos, alimentos ácidos ou quentes. Em outras palavras, a dieta deve ter alimentos fáceis de mastigar e engolir, (isto é, na textura de purês e cremes), como bananas e outras frutas moles, que devem ser cozidas até ficar macias e suaves (LOPES et al., 2016). 63 Câncer da cavidade oral, faringe e esôfago ALSHADWI, A. et al. Nutritional considerations for head and neck cancer patients: a review of the literature. Journal of Oral and Maxillofacial Surgery, Filadélfia, v. 71, n. 11, p. 1853-1860, 2013. BARRIOS, R. et al. Oral health-related quality of life and malnutrition in patients tre- ated for oral cancer. Supportive Care in Cancer, Berlim, v. 22, n. 11, p. 2927-2933, 2014. BOSSOLA, M. Nutritional interventions in head and neck cancer patients undergoing chemoradiotherapy: a narrative review. Nutrients, New Zealand, v. 7, n. 1, p. 265-276, 2015. BRASIL. Ministério da Saúde. Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva. Consenso Nacional de Nutrição Oncológica. 2. ed. rev. ampl. atual. Rio de Janeiro: INCA, 2015. Disponível em: <http://www1.inca.gov.br/inca/Arquivos/consensonacional- de-nutricao-oncologica-2-edicao_2015_completo.pdf>. Acesso em: 31 jan. 2018. COHAN, D. M. et al. Oropharyngeal cancer: current understanding and management. Current opinion in otolaryngology & head and neck surgery, Filadélfia, v. 17, n. 2, p. 88- 94, 2009. DRUMOND, J. P. N.; ARMOND, J. E. Incidência do câncer oral na cidade de São Paulo: Estudo retrospectivo de 6 anos. Revista Brasileira de Cirurgia de Cabeça e Pescoço, São Paulo, v. 44, n. 1, p. 1-6, 2015. FREITAS, R. M. et al. Fatores de risco e principais alterações citopatológicas do câncer bucal: uma revisão de literatura. RBAC, Brasília, DF, v. 48, n. 1, p. 13-18, 2016. GELLRICH, N. C. et al. Oral cancer malnutrition impacts weight and quality of life. Nutrients, New Zealand, v. 7, n. 4, p. 2145-2160, 2015. JAGER-WITTENAAR, H. et al. Malnutrition in patients treated for oral or oropharyn- geal cancer–prevalence and relationship with oral symptoms: an explorative study. Supportive care in cancer, Berlim, v. 19, n. 10, p. 1675-1683, 2011. LEITE, A. C. E.; GUERRA, E. N. S.; MELO, N. S. Fatores de risco relacionados com o de- senvolvimento do câncer bucal: revisão. Revista de Clínica e Pesquisa Odontológica, Curitiba, v. 1, n. 3, p. 31-36, 2005. 64 Câncer da cavidade oral, faringe e esôfago http://www1.inca.gov.br/inca/Arquivos/consensonacional- LOPES, L. D. et al. Prevenção e tratamento da mucosite em ambulatório de Oncologia: uma construção coletiva. Texto & Contexto Enfermagem, Florianópolis, n. 25, v. 1, p. 1-9, 2016. NAMRATHA PAI, K.; UROOJ, A. Nutritional implications in head and neck cancer-a review. Indian Journal of Nutrition, Coimbatore, v. 1, n. 1, p. 1-11, 2014. OLIVEIRA, M. M. G. et al. Terapia nutricional em disfagia: a importância do acompa- nhamento nutricional. Revista de Atenção à Saúde, São Caetano do Sul, v. 6, n. 16, p. 71-76, 2008. OLIVEIRA-BORGES, E. C. et al. O câncer de esôfago: uma revisão. Revista da Universidade Vale do Rio Verde, Betim, v. 13, n. 1, p. 773-790, 2015. SCHIRMER, E. M.; FERRARI, A.; TRINDADE, L. C. T. Evolução da mucosite oral após in- tervenção nutricional em pacientes oncológicos no serviço de cuidados paliativos. Revista Dor: Pesquisa, Clínica e Terapêutica, São Paulo, v. 13, n. 2, p. 141-146, 2012. TALWAR, B. et al. Nutritional management in head and neck cancer: United Kingdom National Multidisciplinary Guidelines. The Journal of Laryngology & Otology, Ashford, v. 130, supl. S2, p. S32-S40, 2016. WARNAKULASURIYA, S. Global epidemiology of oral and oropharyngeal cancer. Oral oncology, Oxford, v. 45, n. 4, p. 309-316, 2009. ZHANG, Y. Epidemiology of esophageal cancer. World Journal of Gastroenterology: WJG, Pleasanton, v. 19, n. 34, p. 5598, 2013. Leituras recomendadas CUPPARI, L. Guias de medicina ambulatorial e hospitalar: nutrição clínica no adulto. 3. ed. São Paulo: Escola Paulista de Medicina da UNIFESP; Barueri, SP: Manole, 2013. GORENC, M.; KOZJEK, N. R.; STROJAN, P. Malnutrition and cachexia in patients with head and neck cancer treated with (chemo) radiotherapy. Reports of Practical Oncology & Radiotherapy, New York, v. 20, n. 4, p. 249-258, 2015. MAHAN, L. K.; ESCOTT-STUMP, S.; RAYMOND, J. L. Krause: alimento nutrição e dieto- terapia.13. ed. São Paulo: Elsevier, 2013. PAIVA, M. D. E. B. et al. Complicações orais decorrentes da terapia antineoplásica. Arquivos em Odontologia, Belo Horizonte, v. 46, n. 1, p. 48-55, 2010. VAN DER SCHAAF, M. K. et al. The influence of preoperative weight loss on the pos- toperative course after esophageal cancer resection. The Journal of Thoracic and Cardiovascular Surgery, New York, v. 147, n. 1, p. 490-495, 2014. YU, J. et al. Effects of omega-3 fatty acids on patients undergoing surgery for gas- trointestinal malignancy: a systematic review and meta-analysis. BMC Cancer, London, v. 17, n. 1, p. 271-291, 2017. Câncer da cavidade oral, faringe e esôfago 65 Encerra aqui o trecho do livro disponibilizado para esta Unidade de Aprendizagem. Na Biblioteca Virtual da Instituição, você encontra a obra na íntegra. Conteúdo:
Compartilhar