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Autora: Palma Simone Rigolon Língua Inglesa: Transdisciplinaridade e Multimodalidade Re vi sã o: V irg ín ia - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 07 /0 7/ 20 15 Professora conteudista: Palma Simone Rigolon Atua no Ensino Superior desde 1998 e leciona na Universidade Paulista – UniP desde 2008. Ministra várias disciplinas relacionadas à língua inglesa e práticas de ensino. Graduada em Tradução e interpretação pelo Centro Universitário ibero‑Americano – Unibero, com licenciatura plena. Cursou o mestrado na Pontifícia Universidade Católica – PUC/SP (1994–1998), no Departamento de Linguística Aplicada e Estudos da Linguagem. Sempre teve interesse em desvendar os problemas da sala de aula; por isso, o foco de sua dissertação foi em formação de professores, quando pesquisou a importância da utilização de jogos como ferramenta de ensino‑aprendizado para adultos. nesse trabalho, analisou suas próprias aulas no curso de inglês Oral da PUC/SP. A partir de então, teve a certeza de que seu interesse estava mesmo na pesquisa em sala de aula e na formação do professor. no doutorado (2002–2006), dedicou‑se a pesquisar e contribuir para a formação do futuro professor de língua inglesa. Para tanto, investigou o Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) de alunos do último ano do curso de Letras presencial de uma instituição de Ensino Superior de São Paulo. O TCC foi visto como instrumento mediador da reflexão crítica. Também é professora do curso Teacher’s Links: Reflexão e Desenvolvimento de Professores pela Cogeae – PUC/SP, curso para professores de língua inglesa da PUC/SP, e atua como professora in company, trabalhando com business english. © Todos os direitos reservados. nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou quaisquer meios (eletrônico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem permissão escrita da Universidade Paulista. Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Z13 Zacariotto, William Antonio informática: Tecnologias Aplicadas à Educação. / William Antonio Zacariotto ‑ São Paulo: Editora Sol. il. nota: este volume está publicado nos Cadernos de Estudos e Pesquisas da UniP, Série Didática, ano XVii, n. 2‑006/11, iSSn 1517‑9230. 1.informática e tecnologia educacional 2.informática i.Título 681.3 ? Re vi sã o: V irg ín ia - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 07 /0 7/ 20 15 Prof. Dr. João Carlos Di Genio Reitor Prof. Fábio Romeu de Carvalho Vice-Reitor de Planejamento, Administração e Finanças Profa. Melânia Dalla Torre Vice-Reitora de Unidades Universitárias Prof. Dr. Yugo Okida Vice-Reitor de Pós-Graduação e Pesquisa Profa. Dra. Marília Ancona‑Lopez Vice-Reitora de Graduação Unip Interativa – EaD Profa. Elisabete Brihy Prof. Marcelo Souza Prof. Dr. Luiz Felipe Scabar Prof. ivan Daliberto Frugoli Material Didático – EaD Comissão editorial: Dra. Angélica L. Carlini (UniP) Dra. Divane Alves da Silva (UniP) Dr. ivan Dias da Motta (CESUMAR) Dra. Kátia Mosorov Alonso (UFMT) Dra. Valéria de Carvalho (UniP) Apoio: Profa. Cláudia Regina Baptista – EaD Profa. Betisa Malaman – Comissão de Qualificação e Avaliação de Cursos Projeto gráfico: Prof. Alexandre Ponzetto Revisão: Virgínia Bilatto Lucas Ricardi Re vi sã o: V irg ín ia - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 07 /0 7/ 20 15 Sumário Língua Inglesa: Transdisciplinaridade e Multimodalidade inTRODUçãO ...........................................................................................................................................................7 Unidade I 1 LínGUA inGLESA E TRAnSDiSCiPLinARiDADE ......................................................................................9 1.1 O que é transdisciplinaridade? ...........................................................................................................9 1.2 Gêneros textuais ................................................................................................................................... 15 1.3 Tipos de textos ....................................................................................................................................... 18 1.4 Gêneros digitais .................................................................................................................................... 19 1.4.1 Gêneros digitais e transdisciplinaridade........................................................................................ 22 Unidade II 2 MULTiMODALiDADE, TRAnSDiSCiPLinARiDADE E LínGUA inGLESA ........................................ 28 2.1 O que é multimodalidade? ............................................................................................................... 28 2.2 Multimodalidade e a sala de aula de língua inglesa ............................................................. 33 2.3 Multiletramento .................................................................................................................................... 39 2.4 Multimodalidade, transdisciplinaridade e letramento crítico ............................................ 41 2.5 As tecnologias da informação e comunicação (TiC) e a inclusão digital ...................... 44 2.5.1 inclusão digital ........................................................................................................................................ 48 7 Re vi sã o: V irg ín ia - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 07 /0 7/ 20 15 InTRodução Caro aluno(a), nesta disciplina analisaremos a língua inglesa, focando a relação entre linguagem, discurso e contexto social (étnico e globocêntrico), levando em conta as novas mídias e sua relação com o ensino‑aprendizagem da língua inglesa. nosso objetivo geral é levá‑lo a repensar a língua inglesa em relação à multimodalidade e aos gêneros discursivos. Como objetivos específicos temos por meta problematizar as seguintes questões: • O que são gêneros textuais. • Discutir a relação entre os gêneros discursivos e multimodalidade. • Problematizar a questão da inclusão digital no Brasil. • Pensar sobre multimodalidade, transdisciplinaridade e gêneros textuais e sua relação com o ensino de línguas. Esperamos que você aproveite a disciplina. Bom estudo! 9 Re vi sã o: V irg ín ia - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 07 /0 7/ 20 15 Língua IngLesa: TransdIscIpLInarIdade e MuLTIModaLIdade Unidade I 1 Língua IngLeSa e TRanSdIScIPLInaRIdade 1.1 o que é transdisciplinaridade? Figura 1 Antes de tratar sobre transdisciplinaridade, é importante trabalhar outros conceitos, tais como: disciplinaridade, interdisciplinaridade e multidisciplinaridade. Começaremos com o conceito de disciplinaridade, que é o mais próximo de todos nós. O termo “disciplinaridade” vem de “disciplina”, forma de se organizar conteúdos. Porém, essa maneira de organização é fragmentada e mecanicista e teve o objetivo de organizar conteúdos relacionados entre si, mas de forma separada, criando‑se padrões e modelos preestabelecidos para este estudo. Essa era uma forma compartimentalizada e, portanto, distante do sujeito social. As disciplinas não tinham relação entre si, eram estanques. Mas temos de pensar que quando a disciplinaridade foi pensada lá na Grécia Antiga, ou quando se pensou no ensino por meio de disciplinas ou temas, foi um grande avanço para o ensino. 10 Re vi sã o: V irg ín ia - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 07 /0 7/ 20 15 Unidade I Com o passar do tempo, do desenvolvimento rápido da tecnologia e da constatação de que o mundo, a realidade e os seres humanos não são fragmentados, emergiu a necessidade da articulação entre as disciplinas. Foi quando apareceram os primeiros estudos sobre interdisciplinaridade e multidisciplinaridade com a intenção de se articular várias disciplinas. O termo “interdisciplinaridade” foi trazido por Japiassú (1976), que discute o conceitoa partir da epistemologia, e por Fazenda (1979), na área pedagógica a partir de sua dissertação de mestrado, que será nosso enfoque. Como o próprio nome já diz, interdisciplinaridade é a relação entre várias disciplinas. Por exemplo, quando se estudam situações do cotidiano, é necessário o envolvimento de várias disciplinas de maneira articulada, com o objetivo de se entender determinada situação de forma mais completa. nicolescu (1999) aponta que a interdisciplinaridade está relacionada à transferência de métodos de uma disciplina para outra. E destaca três exemplos que ilustram bem essa questão: a) um grau de aplicação. Por exemplo, os métodos da física nuclear transferidos para a medicina levam ao aparecimento de novos tratamentos para o câncer; b) um grau epistemológico. Por exemplo, a transferência de métodos da lógica formal para o campo do direito produz análises interessantes na epistemologia do direito; c) um grau de geração de novas disciplinas. Por exemplo, a transferência dos métodos da matemática para o campo da física gerou a física matemática; os da física de partículas para a astrofísica, a cosmologia quântica; os da matemática para os fenômenos meteorológicos ou para os da bolsa, a teoria do caos; os da informática para a arte, a arte informática (niCOLESCU, 1999, p. 55). É claro que os exemplos de nicolescu vão além da sala de aula. Se pensarmos em nosso caso, no ensino de língua inglesa, como um projeto em que se trabalha o bullying que acontece na escola, podemos trabalhar com as disciplinas História, sobre as questões inter‑raciais; Geografia, com a localização dos locais e suas especificidades; Sociologia, com a questão do ser humano no mundo; e a Língua inglesa, com trabalho de compreensão de texto sobre assuntos étnicos e bullying. Dando continuidade à questão da interdisciplinaridade, é possível perceber que há uma busca para se superar a visão fragmentada dos saberes proposta pela disciplinaridade no processo de ensino‑aprendizagem. Fazenda (1979) aponta que a interdisciplinaridade será articuladora do processo ensino‑aprendizagem a partir do momento em que seja produzida como atitude, como componente orientador da formação docente, ou seja, o professor deve ser preparado para trabalhar interdisciplinarmente. Com o objetivo de relacionar essa disciplina com o ensino reflexivo em que se discutiu questões como a formação do professor reflexivo‑crítico, o professor como pesquisador de sua prática, foi apontado ser primordial que o profissional tenha clareza da teoria ou das teorias que embasam suas ações em sala de aula para que tenha um bom resultado e clareza de que tipo de cidadãos está ajudando a formar. isso 11 Re vi sã o: V irg ín ia - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 07 /0 7/ 20 15 Língua IngLesa: TransdIscIpLInarIdade e MuLTIModaLIdade também acontece com o trabalho interdisciplinar, pois é necessário que tanto o docente como os outros profissionais envolvidos no projeto acreditem no trabalho. Segundo Goldman (1979 apud THYESEn, 2008) “um olhar interdisciplinar para a realidade permite que entendamos melhor a relação entre seu todo e as partes que a constituem”. Vamos então relacionar a afirmação de Goldman com o exemplo mencionado anteriormente. Ao envolver as diversas disciplinas para se discutir bullying (História, Geografia, Sociologia, Língua inglesa), os alunos terão a oportunidade de pensar em aspectos muito mais amplos do que se apenas lessem um texto que discute as diferenças e a importância do tratamento igualitário. Por exemplo, tenho certeza de que muitos alunos não sabem da necessidade de maior pigmentação da pele por causa do calor excessivo de algumas regiões, por exemplo. Todas essas informações trazidas pelo trabalho das várias disciplinas associadas ao texto que fornece subsídios para uma discussão acerca do tratamento igualitário proporcionarão razões para que o aluno possa compreender a problemática de forma mais aprofundada, mais ampliada e mais complexa, possibilitando a ele a compreensão de que atualmente não há mais lugar para preconceitos. Você não concorda? Outro conceito que nos propomos a trabalhar é o de multidisciplinaridade. Segundo Fourez (2001), na multidiscipinaridade há a busca pelo agrupamento de diversas disciplinas para se estudar um tema comum, como é o caso das escolas que trabalham com projetos e que envolvem todas as disciplinas para se estudar um único tema. nessa abordagem, não há necessidade de integração entre as disciplinas, porque cada uma delas utiliza conhecimentos específicos para o estudo do tema. Esse conceito é diferente do exemplo que foi dado quando discutimos interdisciplinaridade em que se escolhe algumas disciplinas para trabalhar um tema, disciplinas que caminharão juntas para se discutir um tema. no caso da multidisciplinaridade, são todas as disciplinas do curso envolvidas no trabalho de um tema, porém cada uma delas se desenvolve individualmente. Minayo (2010, p. 436) corrobora essa ideia ao explicar que o conceito “constitui a justaposição de disciplinas, cada uma com suas teorias e metodologias próprias, cada uma no seu quadrado”. A autora ainda explica que geralmente profissionais de várias áreas são chamados para dissertar a respeito de um determinado tema, com o objetivo de se ter visões diferentes de um mesmo assunto. A multidisciplinaridade também desempenha papel importante no processo ensino‑aprendizagem, porém, quando comparada à interdisciplinaridade, acaba sendo mais fechada, já que as disciplinas trabalham de forma individualizada. A transdisciplinaridade, como o prefixo indica, está relacionada às diferentes disciplinas cujo objetivo é a compreensão do mundo real por meio das diversas culturas. Como afirma Mourin (1996), essa abordagem é a saída para lidar com problemas complexos. 12 Re vi sã o: V irg ín ia - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 07 /0 7/ 20 15 Unidade I Segundo nicolescu (1994 apud WEiLL, 1993, p. 30) a palavra “transdisciplinaridade” foi enunciada pela primeira vez por Jean Piaget em 1970, em suas palavras: [...] enfim, no estágio das relações interdisciplinares, podemos esperar o aparecimento de um estágio superior que seria “transdisciplinar”, que não se contentaria em atingir as interações ou reciprocidades entre pesquisas especializadas, mas situaria essas ligações no interior de um sistema total sem fraturas estáveis entre as disciplinas. Severino Antônio (2002) afirma que a transdisciplinaridade é um emaranhado de múltiplas interações que transpõe os limites antes impostos, chegando ao verdadeiro sentido do conhecimento, que é infinito. Fourez (2001) discute que uma abordagem transdisciplinar ocorre quando se utiliza noções, métodos, competências e abordagens próprios de uma disciplina dentro da estrutura de uma outra, em um contexto novo. Já Minayo (2010, p. 437) faz uma afirmação bastante pertinente ao apontar que a transdisciplinaridade é: a resultante da capacidade que nós temos de ultrapassar as fronteiras das disciplinas pelo investimento articulado e a contribuição das diferentes disciplinas em jogo, num processo de investigação que inclui articulação de teorias e conceitos, métodos e técnicas e, não menos importante, do diálogo entre as pessoas. Depois de todas essas definições sobre o conceito de transdiciplinaridade, pensamos ser importante observar a definição proposta na Carta da Transdisciplinaridade (1994): Artigo 3. [...] A Transdisciplinaridade não procura a dominação de várias disciplinas, mas a abertura de todas as disciplinas ao que as atravessa e as ultrapassa. Artigo 7. A transdisciplinaridade não constitui nem uma nova religião, nem uma nova filosofia, nem uma nova metafísica, nem uma ciência das ciências (niCOLESCU et al., 1994). Essas discussões nos levam a entender que essa abordagem tem por objetivo a unidade do conhecimento, procurando estimular a compreensão da realidade, articulando elementos que perpassampelas disciplinas em busca da compreensão da complexidade. 13 Re vi sã o: V irg ín ia - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 07 /0 7/ 20 15 Língua IngLesa: TransdIscIpLInarIdade e MuLTIModaLIdade Crenças Frustrações Texto Leitor Autor Contexto social Contexto histórico Conhecimento linguístico Conhecimento de mundo Expectativas intenções imagens Hiperlinks Leitura Figura 2 – Fluxo de informação multidimensional em um sistema de leitura Há uma teoria chamada Teoria da Complexidade, que vale a pena abordar. A discussão sobre o conceito de transdisciplinaridade nos leva a essa teoria que tentaremos abordar rapidamente para seu conhecimento. Minayo (2010) afirma que o pressuposto da Teoria da Complexidade é que os seres vivos são constituídos de sistemas autônomos, isto é, são únicos e, portanto, não podem ser confundidos com outros. Porém, esses seres vivos já nascem em uma rede social, familiar e comunitária que, por causa disso, apresentam uma capacidade de auto‑organização que pode ser aumentada de acordo com essa capacidade auto‑organizacional. A autora ainda afirma que esse sistema é hierárquico e só pode ser compreendido partindo‑se do nível mais complexo para o menos complexo. Morin (1999/2006 apud D’ESPÓSiTO, 2013, p. 121) afirma que a Teoria da Complexidade entende que o “conhecimento está relacionado às informações e inserido em seu contexto, sendo necessário que aprendamos a articular, organizar, contextualizar e integrar”. D’Esposito (2013) ainda aponta que o conhecimento é gerado individualmente, porém só ocorre a partir do momento que for partilhado. D’Espósito (2013) mostra que Morin (1999, 2006a) propõe três princípios com o objetivo de simplificar o entendimento da complexidade. O primeiro é o hologramático, que entende a relação de enriquecimento mútuo entre parte e todo, isto é, a parte está no todo e o todo está na parte. Esse princípio rompe com algumas ideias 14 Re vi sã o: V irg ín ia - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 07 /0 7/ 20 15 Unidade I lineares, como causa e efeito, produto e produtor, porque, segundo Morin (1999, 2006a), tudo o que é produzido volta‑se sobre o que produz em um movimento cíclico de construção de conhecimento, que é autoconstitutivo, autoprodutor e auto‑organizador. O segundo princípio é o recursivo, que se refere à causa agir sobre o efeito e o efeito sobre a causa, estabelecendo que produtos e seus efeitos produzem e causam aquilo que produzem. Por fim, há o princípio dialógico, que permite que o ser humano assuma de maneira racional sua dualidade e inseparabilidade de noções que parecem contraditórias, como ordem ou desordem; razão e emoção; certo ou errado, mas que na realidade podem ser complementares ou indissociáveis. Esses princípios nos levam a pensar que, para preparamos nossos cursos, nossas aulas, é importante levarmos em conta aspectos relacionados às experiências de nossos alunos, suas emoções, realidades, contradições. Então, vamos tentar refletir um pouco sobre a questão da transdisciplinaridade, da Teoria da Complexidade que começamos a discutir e com a globalização que foi nossa primeira disciplina do curso. Discutimos a importância de ser ter clareza de que vivemos em um mundo globalizado, repleto de tecnologias, em que temos informações do mundo todo com apenas um click, independentemente do lugar que estejamos. Também foi debatida a importância da língua inglesa como língua da comunicação, que é a porta para o mundo globalizado. Diante de todo esse contexto, é notório que o docente não pode mais pensar em usar estratégias e métodos ultrapassados que não contemplem as questões da atualidade. Por isso, a necessidade de termos hoje o professor reflexivo‑crítico, que é pesquisador de sua prática, que pensa, reflete, transforma a si mesmo e contribui para a transformação de seus alunos e da comunidade. Esse nosso aluno, que pertence à geração denominada geração Y, está sempre com o celular na mão, sabe de tudo o que acontece (mesmo que muitas vezes de forma superficial), tem a informação literalmente em suas mãos, é alvo fácil para a distração. Sendo assim, as aulas não podem ser monótonas, elas têm de contemplar suas necessidades e anseios. Vejam só que desafiador! Por conta de todas essas questões postas, teorias críticas mostram que o professor precisa dar uma aula dinâmica, que utilize as novas tecnologias a seu favor, que tenha clareza de sua prática em sala de aula, isso é primordial no mundo globalizado de hoje. A Teoria da Complexidade vem mostrar que as incongruências fazem parte da vida, do ser humano. O ser humano é incompleto, inacabado, como já dizia Freire (2010), e, portanto, todos esses aspectos devem ser levados em consideração. Esse é um dos desafios da prática pedagógica. 15 Re vi sã o: V irg ín ia - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 07 /0 7/ 20 15 Língua IngLesa: TransdIscIpLInarIdade e MuLTIModaLIdade Saiba mais Para saber mais sobre a Teoria da Complexidade, leia os artigos nos links a seguir: SiLVA, B. P. L. A teoria da complexidade e o seu princípio educativo: as ideias educacionais de Edgar Morin. Revista Polyphonía, v. 22, n. 2, Goiânia: UFG, 2011. Disponível em: <http://www.revistas.ufg.br/index.php/sv/article/ view/26682/15277>. Acesso em: 2 jul. 2015. PADERES, A. M.; RODRiGUES, R. B.; GiUSTi, S. R. Teoria da complexidade: percursos e desafios para a pesquisa em educação. Revista de Educação, Santa Maria: UFSM, [s.d.]. Disponível em: <http://sites.multiweb.ufsm.br/ residencia/images/Disciplinas/pesquisa%20metodo%20complexidade. pdf>. Acesso em: 2 jul. 2015. 1.2 gêneros textuais Há bastante tempo, tem‑se discutido a importância de se trabalhar com gêneros textuais. Tenho certeza de que você, se nunca trabalhou ou estudos com gêneros, deve ter pelo menos ouvido algo a respeito. De qualquer forma, apesar de essa prática estar bastante “popular”, muitas pessoas ainda fazem confusão com relação a tipos de texto e gêneros textuais. Sendo assim, achei importante começar nossa discussão com essa diferença. E você, lembra qual é a diferença entre esses dois conceitos? Vamos começar com a definição de gênero e, para isto, não podemos deixar de citar Bakhtin (1953/1979), que aponta que os gêneros são tipos relativamente estáveis de enunciados e que são constituídos socialmente. Então, entendemos que os gêneros são textos materializados que encontramos em nosso dia a dia e que representam características sociocomunicativas. Esses textos podem ser orais ou escritos e são socialmente reconhecidos; são estruturas relativamente estáveis, com características comuns, podendo ser formais ou informais, e são inúmeros. Como exemplos, podemos citar: telefonema, carta comercial, e‑mail, bilhete, reportagem jornalística, receita culinária, resenha, conferência, aulas virtuais etc. Bakhtin (1953/1979) ainda aponta três elementos que caracterizam os gêneros, que são: conteúdo temático, estilo e construção composicional. Entendemos que os gêneros se definem por sua função social, por uma necessidade da sociedade, em uma situação comunicativa, ou seja, em um contexto específico. 16 Re vi sã o: V irg ín ia - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 07 /0 7/ 20 15 Unidade I A escolha de um gênero acontece por causa de uma necessidade e em função de uma situação; além disso, deve seguir algumas características específicas do gênero. Os gêneros são considerados mutáveis e, de certa forma, flexíveis, mas têm uma certa estabilidade, pois têm uma composição, isto é, estrutura gramatical e lexical definida, um público específico. A situação comunicacional é extremamente importante – por exemplo, se o texto é uma carta ou uma palestra. Cada tipo de texto apresentará suas especificidades, com um propósito comunicativo específico. Outro fator importante são os participantes da situação, por exemplo, o produtor e o receptor (aquele para quem o texto foi escrito). Se estivermosescrevendo um artigo para um jornal, para o público de uma cidade que está com surto de dengue, explicando como evitar contrair a doença, usaremos uma linguagem comum, não técnica, com o objetivo de atingir nosso público, assim atingiremos nosso propósito comunicacional. Todas essas questões sobre os gêneros devem ser trabalhadas em sala de aula ao trabalharmos as quatro habilidades, pois dessa maneira os alunos terão clareza sobre as características que compõem o texto e poderão entender e/ou produzi‑lo. Dolz (2000), ao discutir compreensão de texto, aponta ser necessário que o leitor estabeleça relações significativas entre o que sabe, o que experimentou, a informação trazida pelo texto e o contexto em que a leitura está sendo realizada. Dessa forma, o leitor será capaz de selecionar, de mobilizar esquemas de conhecimento e de valorizar a plausibilidade das informações do texto e integrá‑las às informações novas nos esquemas preexistentes que são, consequentemente, modificados. Schneuwly e Dolz (2004, p. 78) afirmam que a melhor maneira de se trabalhar com o ensino de gêneros é envolver os alunos em situações concretas de uso da língua. Os autores asseveram que a escola é um autêntico local de comunicação, e as situações escolares oferecem momentos de produção e recepção de textos. A seguir, apresentamos um quadro que o ajudará a trabalhar com seus alunos com o objetivo de mostrar os aspectos a serem observados: 17 Re vi sã o: V irg ín ia - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 07 /0 7/ 20 15 Língua IngLesa: TransdIscIpLInarIdade e MuLTIModaLIdade Quadro 1 Análise do gênero: situação da ação (contexto) • Participante • Local/tempo • Objetivos • Conteúdo Esta coluna deverá ser preenchida pelo aluno Organização textual • Narrativas • Descritivas • Argumentativas • Descritivas de ação • Explicativas • Dialogais Principais aspectos linguísticos • Escolhas lexicais • Escolhas de tempos verbais • Escolhas de palavras de ligação • Pessoas do discurso • Marcas de avaliação Saiba mais Os textos apresentados nos links a seguir são sobre o ensino de gêneros em sala de aula. Aproveitem! COSCARELLi, C. V. Gêneros textuais na escola. Veredas On‑line, n. 2, p. 78‑86, Juiz de Fora: PPG Linguística/UFJF, 2007. Disponível em: <http://www.ufjf.br/revistaveredas/files/2009/12/artigo051.pdf>. Acesso em: 2 jul. 2015. SAnTOS, M. dos A. Ensino de língua inglesa, gêneros textuais e inclusão social: algumas contribuições para a educação. Revista Afroatitude, v. 2, Londrina: UEL, jul./dez. 2007. Disponível em: <http:// www.uel.br/revistas/afroatitudeanas/volume‑2‑2007/Artigo%20Lucas. pdf>. Acesso em: 2 jul 2015. PAULinO, S. F. A abordagem dos gêneros textuais nos livros didáticos de língua inglesa. in: V SiMPÓSiO inTERnACiOnAL DE ESTUDOS DE GÊnEROS TEXTUAiS. Anais... Caxias do Sul, ago. 2009. Disponível em: <http://www.ucs.br/ucs/tplSiget/extensao/ agenda/eventos/vsiget/portugues/anais/textos_autor/arquivos/a_ abordagem_dos_generos_textuais_nos_l ivros_didat icos_de_ lingua_inglesa.pdf>. Acesso em: 2 jul. 2015. 18 Re vi sã o: V irg ín ia - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 07 /0 7/ 20 15 Unidade I CRiSTÓVãO, V. Como trabalhar gêneros textuais em aulas de língua estrangeira (entrevista). UEL, [s.d.]. Disponível em: <http://revistaescola. abril.com.br/lingua‑estrangeira/pratica‑pedagogica/como‑trabalhar‑ generos‑aulas‑lingua‑estrangeira‑vera‑cristovao‑557786.shtml>. Acesso em: 2 jul. 2015. 1.3 Tipos de textos Os tipos de texto geralmente são classificados de acordo com sua composição, isto é, aspectos lexicais, sintáticos, tempos verbais, relações lógicas etc., e também por seu objetivo. Marcuschi (2002, p. 27) define tipos textuais como: • propriedades linguísticas intrínsecas, identificadas por meio de elementos sintáticos e lexicais, por exemplo; • constituem sequências linguísticas ou sequências de enunciados e não são textos empíricos, encontrados na prática comunicativa real; • sua nomeação abrange um conjunto limitado de categorias teóricas determinadas por aspectos lexicais, sintáticos e formas verbais; • pertencem às designações teóricas dos tipos: narração, argumentação, descrição, injunção e exposição. Marcuschi (2002, p. 27) aponta que “quando se nomeia um certo texto como ‘narrativo’, ‘descritivo’ ou ‘argumentativo’, não está nomeando o gênero, e sim o predomínio de um tipo de sequência de base”. Em geral, as categorias da tipologia textual são as seguintes: narração, argumentação, descrição e injunção. Vamos ver cada uma delas. narração é um texto marcado pela temporalidade, desenvolve‑se em uma linha de tempo e em um determinado espaço. Pode‑se contar um fato fictício ou não, que ocorreu em determinado tempo e lugar e que envolve personagens. Há o predomínio do tempo passado, uso de advérbios de tempo e lugar. Como exemplos, podemos citar: relato, crônica, conto de fada, romance, fábula, depoimento. A sequência descritiva é um relato minucioso de um local, pessoa, objeto ou situação. nesse texto encontramos o uso de frases nominais, formas verbais no presente ou no imperfeito. Para exemplificar os gêneros que apresentam a tipologia descritiva citamos: folheto turístico, anúncio classificado, retrato falado etc. 19 Re vi sã o: V irg ín ia - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 07 /0 7/ 20 15 Língua IngLesa: TransdIscIpLInarIdade e MuLTIModaLIdade na argumentação sempre haverá a defesa de um ponto de vista, de uma ideia, de uma tese com o objetivo de persuadir o interlocutor. Caracteriza‑se pela progressão lógica de ideias, a linguagem é denotativa e, geralmente, mais formal. Os gêneros que apresentam essa tipologia são: sermão, monografia, ensaio, editoriais de revistas e/ou jornais. Já o texto injuntivo apresenta como realizar uma ação, por isso encontraremos muitos verbos no imperativo e infinitivo. Essa tipologia será encontrada nos seguintes gêneros textuais: receita culinária, manual de instruções, livros de autoajuda e textos de orientação em geral. Marcuschi (2002, p. 22) apresenta um quadro bastante útil com as diferenças entre tipos e gêneros textuais. Veja a seguir: Quadro 2 Tipos textuais Gêneros textuais 1. Constructos teóricos definidos por propriedades linguísticas intrínsecas. 1. Realizações linguísticas concretas definidas por propriedades sociocomunicativas. 2. Constituem sequências linguísticas ou sequências de enunciados no interior dos gêneros e não são textos empíricos. 2. Constituem textos empiricamente realizados, cumprindo funções em situações comunicativas. 3. Sua nomeação abrange um conjunto limitado de categorias teóricas determinadas por aspectos lexicais, sintáticos, relações lógicas, tempo verbal. 3. Sua nomeação abrange um conjunto aberto e praticamente ilimitado de designações concretas determinadas pelo canal, estilo, conteúdo, composição e função. 4. Designações teóricas dos tipos: narração, argumentação, descrição, injunção e exposição. 4. Exemplos de gêneros: telefonema, sermão, carta comercial, carta pessoal, aula expositiva, romance, reunião de condomínio, lista de compras, conversa espontânea, cardápio, receita culinária, inquérito policial etc. Agora que já discutimos as diferenças entre gêneros textuais e tipologia textual, vamos abordar a questão do gênero digital tal em voga hoje. Você sabe definir gênero digital? Já pensou sobre isso? 1.4 gêneros digitais Figura 3 20 Re vi sã o: V irg ín ia - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 07 /0 7/ 20 15 Unidade I Desde o início do nosso curso, temos discutido a questão da globalização cada vez mais forte, trazida pelas novas tecnologias que têm permeado as nossas vidas. Por isso, não podemos deixar de discutir os gêneros digitais que envolvem processos cognitivos diferentes. Se pensarmos no processo de leitura há algum tempo atrás, quando o livro estava mais presente em nossas vidas do que hoje, o processoera diferente. Atualmente, claro que ainda temos o nosso bom e velho livro, porém, mais do que nunca, lemos na tela do computador, do tablet, do smartphone, enfim, o processo está diferente e, portanto, as pessoas se comportam de maneira diferente frente a essa nova realidade. Além disso, a leitura pelo computador, a leitura por meio de sites, nos proporciona contato com outros sentidos e formas de leitura, como a figura, o áudio etc. Cope & Kalantzis (2000) apontam que “o textual está também relacionado ao visual, ao áudio, ao espacial, ao comportamental, e assim por diante, o que é particularmente importante na hipermídia”. Diante disso, o professor tem de pensar na maneira pela qual usará essas tecnologias e o gênero digital em sala de aula, mas para isso é preciso entender esse “novo” gênero. Marcuschi (2002) estabelece doze novos gêneros digitais: e‑mail, chat aberto, chat reservado, chat iCQ (agendado), chat em salas privadas, entrevista com convidado, e‑mail educacional, aula chat, videoconferência, lista de discussão, endereço eletrônico, jornal digital. Esses gêneros digitais apontados por Marcuschi (2002) ainda permanecem, mas há outros ainda, como o programa DOCs oferecido pelo Google, que permite que os alunos façam trabalhos em grupos de forma colaborativa sem saírem de suas casas; ou ainda a web 2.0, em que o leitor contribui diretamente, pois após ler assume o papel de autor e deixa registrado seu comentário a respeito do que leu e pode ainda deixar outros links para que outros leitores possam ler e relacionar aos textos ali publicados. O new London Group (2000, p. 30) aponta que gêneros digitais são formas altamente dinâmicas geralmente caracterizadas por hibridismo, que envolvem a articulação de “práticas estabelecidas e convenções dentro e entre os diferentes modos de significado”. no entanto, como Santini (2008) assevera, no ambiente digital, o gênero híbrido (que se articula na combinação de múltiplos gêneros em um único documento da Web, por exemplo) está relacionado à individualização, que é por sua vez refletida na existência de um grande número de gêneros emergentes, ou seja, gêneros ainda em formação, não totalmente padronizados. Em meio a tantas ferramentas e gêneros novos e à disposição de nossos alunos, qual será então o papel do professor? Podemos começar pensando que o professor de línguas ensina as formas de comunicação, Braga (2013, p. 49) faz a seguinte afirmação com relação ao papel do professor: “O professor de língua portuguesa (ou mesmo de língua estrangeira) pode ser um aliado importante nesse processo, já que trabalha também com a adequação das escolhas linguísticas a determinados gêneros discursivos”. 21 Re vi sã o: V irg ín ia - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 07 /0 7/ 20 15 Língua IngLesa: TransdIscIpLInarIdade e MuLTIModaLIdade Entendemos que o nosso papel então continua a ser o de instrumentalizar nossos alunos para que sejam capazes de se comunicar nos diferentes contextos. Para isso, pensando no contexto digital, é necessário que o professor conheça os diferentes gêneros para que seja capaz de trabalhar com a linguagem adequada em sala de aula. O aluno tem de saber que, ao escrever no Facebook, por exemplo, ele pode utilizar uma linguagem mais informal, com algumas abreviações; no chat o uso de abreviações e a informalidade são ainda maiores, porém, ao escrever na web 2.0, em que terá seu texto lido por muitas pessoas, ele terá de usar a língua padrão. O professor pode utilizar exemplos práticos por meio das ferramentas efetivamente em sala de aula e pode ainda contar com a participação de outros professores de diversas disciplinas. Warschauer (1999, p. 2000) também salienta a necessidade de os alunos serem envolvidos nessas novas comunidades discursivas e aprenderem “os tipos de gêneros e estruturas retóricas utilizados nessas mídias”, para que sejam capazes de utilizar a linguagem mais adequada a cada uma delas. Frente a toda a tecnologia disponível e rodeados pela hipermídia, pela multimodalidade, não podemos ficar à margem, devemos marcar nosso papel de educador e contribuir para a construção do conhecimento dessa nova geração, a geração Y. Saiba mais Para saber mais sobre gêneros digitais, leia os artigos acessando os links a seguir: SAnTini, M. Cross‑testing a genre classification model. in: ii SWEDiSH LAnGUAGE TECHnOLOGY COnFEREnCE. Estocolmo: KTH/Uppsala University, 20‑21 nov. 2008. Disponível em: <http://www.speech.kth.se/sltc2008/abstracts/ Cross‑Testing_a_Genre_Classification_Model.pdf>. Acesso em: 2 jul. 2015. WiLLiAMS, L.; GUiKEMA, J. P. (Ed.). Digital literacies in foreign and second language education. Calico, v. 2, San Marcos, TX: Texas State University, 2004. Disponível em: <https://calico.org/bookfiles/pdfs/DigitalLiteracies. pdf>. Acesso em: 2 jul. 2015. CHAnDLER‑OLCOTT, K.; MAHAR, D. Considering genre in the digital literacy classroom. Reading On‑line, v. 5, n. 4, nov. 2001. Disponível em: <http://www. readingon‑line.org/electronic/chandler/>. Acesso em: 2 jul. 2015. COnnETCTED learning and digital literacy. BEC‑Spink: Knowledge network & Digital innovation, 25 mar. 2014. Disponível em: <http://thinkspace.csu. edu.au/becspink/2014/03/25/connected‑learning‑and‑digital‑literacy/>. Acesso em: 2 jul. 2015. 22 Re vi sã o: V irg ín ia - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 07 /0 7/ 20 15 Unidade I 1.4.1 Gêneros digitais e transdisciplinaridade Figura 4 Discutimos gêneros digitais e você deve ter percebido que tem bastante relação com o conceito de transdisciplinaridade analisado anteriormente, não é mesmo? Então, vamos retomar alguns aspectos da transdisciplinaridade e relacioná‑los aos gêneros digitais. Hoje nossos alunos têm acesso aos mais variados textos e às mais variadas informações, eles interagem com diversas produções multimídias que integram sons, imagens, vídeos etc. Pensando em nosso aluno de língua inglesa, mesmo o aluno que não tem uma proficiência muito boa no idioma tem contato com textos de complexidade variada, são textos autênticos que estão no mundo, disponíveis na rede para quem quiser ler. Essa facilidade não existia há algum tempo, o contato que tínhamos com textos autênticos eram os textos impressos, por meio de jornais e revistas que comprávamos em algumas bancas de revistas. Muitas vezes era até mesmo necessário fazer encomenda de algum material mais específico. Vamos voltar um pouco no tempo, e nem é preciso voltar tanto assim, cerca de 30 anos é suficiente. nessa época não tínhamos TV a cabo, internet ou acesso a filmes legendados em inglês. Lembro‑me que, quando era estudante de uma escola de idiomas, tínhamos de ir à escola para ter a oportunidade de assistir aos filmes com legenda em língua inglesa, coisa que é extremamente banal hoje em dia, basta clicarmos no controle remoto da TV a cabo, não é mesmo? A internet nos oferece muitas oportunidades, desde os mais diversos sites de ensino‑aprendizagem de língua, em que os alunos podem escolher em aprender fonética, tópicos gramaticais, fazer exercícios de compreensão oral e até mesmo exercitar a habilidade oral conversando com pessoas de vários lugares do mundo, sem sair de sua casa. Todas essas informações deixam claro que o aluno de hoje é diferente do aluno de 30 anos atrás, os tempos são outros e, portanto, os papéis da escola e do professor têm de ser diferentes também. Percebemos que os papéis da escola e do professor vêm mudando com uma certa rapidez, pelo menos tem se discutido muito a necessidade de mudança e de adequação aos novos tempos. Braga (2013, p. 53) assevera que “cabe à escola o papel de expandir as referências linguísticas e culturais do 23 Re vi sã o: V irg ín ia - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 07 /0 7/ 20 15 Língua IngLesa: TransdIscIpLInarIdade e MuLTIModaLIdade aprendiz em diferentes direções e favorecer a aquisição da variedade e dos gêneros que circulam nas práticas sociais hegemônicas”.O professor tem papel fundamental nesse cenário, pois cabe a ele familiarizar os alunos aos gêneros que lhes são desconhecidos e instrumentalizá‑los para que sejam capazes de utilizar a linguagem adequada a cada gênero discursivo e/ou digital. A transdisciplinaridade tem o papel de fazer com que as diversas disciplinas trabalhem assuntos que permitam que os alunos sejam capazes de compreender o mundo real por meio das diferentes culturas, que é o que as novas tecnologias e os mais variados gêneros digitais promovem, ou seja, é a compreensão global do mundo. Morin (2002) afirma que a transdisciplinaridade apresenta uma relação dialógica que pode resultar em atitude, ou seja, em um modo de ver, de pensar e de agir no mundo. Todo esse processo faz com que o aluno repense sua realidade e sua própria condição pessoal. O autor vai ainda mais além ao afirmar que a transdisciplinaridade pode mudar a história do pensamento, do conhecimento e até mesmo do mundo. Então, para trabalharmos com nossos alunos nesse mundo globalizado de hoje, é necessário que se adote uma abordagem transdisciplinar e que a Teoria de Ensino‑Aprendizagem que embasa a prática do professor seja uma teoria que vá ao encontro dos princípios transdisciplinares, como letramento crítico, Teoria Crítica, Sócio‑histórico‑cultural e Teoria da Complexidade. Essas teorias mencionadas têm como objetivo a transformação do ser humano e de sua comunidade. Saiba mais Para saber mais sobre transdisciplinaridade, leia os artigos por meio dos links apresentados a seguir: ROCHA, C. H. O ensino de LE (inglês) para crianças do ensino fundamental público na transdisciplinaridade da linguística aplicada. in: SEMinÁRiO DE TESES EM AnDAMEnTO – SETA. Anais... v. 2, Campinas: Unicamp, 2008. <http:// revistas.iel.unicamp.br/index.php/seta/article/view/327>. Acesso em: 2 jul. 2015. KRAUSZ, M. Onde as disciplinas se encontram. Revista Educação, set. 2011. Disponível em: <http://revistaeducacao.uol.com.br/textos/132/ artigo234363‑1.asp>. Acesso em: 2 jul. 2015. FREiTAS, C. C. de. O caráter transdisciplinar do Artslit no ensino de língua inglesa. in: Vi SiMPÓSiO inTERnACiOnAL DE ESTUDOS DE GÊnEROS TEXTUAiS. Anais... natal: UFRn, 16‑19 ago. 2011. Disponível em: <http:// www.cchla.ufrn.br/visiget/pgs/pt/anais/Artigos/Carla%20Conti%20de%20 Freitas%20%28UEG%29.pdf>. Acesso em: 2 jul. 2015. 24 Re vi sã o: V irg ín ia - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 07 /0 7/ 20 15 Unidade I Para terminarmos esta unidade, deixamos um texto para que vocês leiam, associem com as informações discutidas aqui, reflitam acerca da situação da educação no Brasil neste contexto sócio‑histórico que estamos vivenciando e pensem sobre a possibilidade de adotarmos uma educação semelhante aqui. Será que funcionaria? O que realmente precisamos para termos uma melhora na educação brasileira? Será esse o caminho? Finland schools: subjects scrapped and replaced with ‘topics’ as country reforms its education system For years, Finland has been the by‑word for a successful education system, perched at the top of international league tables for literacy and numeracy. Only far eastern countries such as Singapore and China outperform the nordic nation in the influential Programme for international Student Assessment (PiSA) rankings. Politicians and education experts from around the world – including the UK – have made pilgrimages to Helsinki in the hope of identifying and replicating the secret of its success. Which makes it all the more remarkable that Finland is about to embark on one of the most radical education reform programmes ever undertaken by a nation state – scrapping traditional “teaching by subject” in favour of “teaching by topic”. “This is going to be a big change in education in Finland that we’re just beginning,” said Liisa Pohjolainen, who is in charge of youth and adult education in Helsinki – the capital city at the forefront of the reform programme. Pasi Silander, the city’s development manager, explained: “What we need now is a different kind of education to prepare people for working life. “Young people use quite advanced computers. in the past the banks had lots of bank clerks totting up figures but now that has totally changed. “We therefore have to make the changes in education that are necessary for industry and modern society.” Subject‑specific lessons – an hour of history in the morning, an hour of geography in the afternoon – are already being phased out for 16‑year‑olds in the city’s upper schools. They are being replaced by what the Finns call “phenomenon” teaching – or teaching by topic. For instance, a teenager studying a vocational course might take “cafeteria services” lessons, which would include elements of maths, languages (to help serve foreign customers), writing skills and communication skills. More academic pupils would be taught cross‑subject topics such as the European Union – which would merge elements of economics, history (of the countries involved), languages and geography. 25 Re vi sã o: V irg ín ia - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 07 /0 7/ 20 15 Língua IngLesa: TransdIscIpLInarIdade e MuLTIModaLIdade There are other changes too, not least to the traditional format that sees rows of pupils sitting passively in front of their teacher, listening to lessons or waiting to be questioned. instead there will be a more collaborative approach, with pupils working in smaller groups to solve problems while improving their communication skills. Marjo Kyllonen, Helsinki’s education manager – who will be presenting her blueprint for change to the council at the end of this month, said: “it is not only Helsinki but the whole of Finland who will be embracing change. “We really need a rethinking of education and a redesigning of our system, so it prepares our children for the future with the skills that are needed for today and tomorrow. “There are schools that are teaching in the old fashioned way which was of benefit in the beginnings of the 1900s – but the needs are not the same and we need something fit for the 21st century.” The reforms reflect growing calls in the UK – not least from the Confederation of British industry and Labour’s Shadow Education Secretary Tristram Hunt – for education to promote character, resilience and communication skills, rather than just pushing children through “exam factories”. But there would currently be little appetite in the UK for going as far as ditching traditional subjects. Even in Finland, the reforms have met objections from teachers and heads – many of whom have spent their lives focusing on a particular subject only to be told to change their approach. Ms Kyllonen has been advocating a “co‑teaching” approach to lesson planning, with input from more than one subject specialist. Teachers who embrace this new system can receive a small top‑up in salary. About 70 per cent of the city’s high school teachers have now been trained in adopting the new approach, according to Mr Silander. “We have really changed the mindset,” he said. “it is quite difficult to get teachers to start and take the first step… but teachers who have taken to the new approach say they can’t go back.” Early data shows that students are benefiting too. in the two years since the new teaching methods first began being introduced, pupil “outcomes” – they prefer that word to standards – have improved. Finnish schools are obliged to introduce a period of “phenomenon‑based teaching” at least once a year. These projects can last several weeks. in Helsinki, they are pushing the 26 Re vi sã o: V irg ín ia - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 07 /0 7/ 20 15 Unidade I reforms at a faster pace with schools encouraged to set aside two periods during the year for adopting the new approach. Ms Kyllonen’s blueprint, to be published later this month, envisages the reforms will be in place across all Finnish schools by 2020.Meanwhile, the pre‑school sector is also embracing change through an innovative project, the Playful Learning Centre, which is engaged in discussions with the computer games industry about how it could help introduce a more “playful” learning approach to younger children. “We would like to make Finland the leading country in terms of playful solutions to children’s learning,” said Olavi Mentanen, director of the PLC project, The eyes of the education world will be upon Finland as it opts for change: will it be able to retain or improve its showing in the PiSA league tables published by the Organisation for Economic Co‑operation and Development. if it does, how will the rest of the education world react? Case study: Finnish approach it is an English lesson, but there is a map of continental Europe on the whiteboard. The children must combine weather conditions with the different countries displayed on the board. For instance, today it is sunny in Finland and foggy in Denmark. This means the pupils combine the learning of English with geography. Welcome to Siltamaki primary school in Helsinki – a school with 240 seven‑ to 12‑year‑olds – which has embraced Finland’s new learning style. its principal, Anne‑Mari Jaatinen, explains the school’s philosophy: “We want the pupils to learn in a safe, happy, relaxed and inspired atmosphere.” We come across children playing chess in a corridor and a game being played whereby children rush around the corridors collecting information about different parts of Africa. Ms Jaatinen describes what is going on as “joyful learning”. She wants more collaboration and communication between pupils to allow them to develop their creative thinking skills. Fonte: Garner (2015). 27 Re vi sã o: V irg ín ia - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 07 /0 7/ 20 15 Língua IngLesa: TransdIscIpLInarIdade e MuLTIModaLIdade Saiba mais Caso queira ler o artigo em português, acesse: CARVALHO, R. Finlândia será o primeiro país do mundo a adotar transdisciplinaridade em todas as escolas. Rescola, 23 mar. 2015. Disponível em: <http://rescola.com.br/ finlandia‑sera‑o‑primeiro‑pais‑do‑mundo‑a‑abolir‑a‑divisao‑do‑ conteudo‑escolar‑em‑materias>. Acesso em: 2 jul. 2015. Resumo nesta unidade discutimos questões importantes, como disciplinaridade e multidisciplinaridade, para entendermos o conceito de transdisciplinaridade, que é um dos focos de nossa disciplina. Atrelado a esse conceito, apontamos e discutimos brevemente as teorias relacionadas, ou seja, as teorias que podem ser utilizadas pelo professor que acredita ser importante trabalhar transdisciplinarmente, tais como: Teoria da Complexidade, Teoria Crítica e a Sócio‑histórico‑cultural. Essas teorias têm como objetivo a transformação não só do aprendiz, mas também da comunidade em que os atores do processo ensino‑aprendizagem estão inseridos. Também foi trabalhada a importância do ensino por meio de gêneros textuais, discutimos o conceito de gêneros e de tipos de textos até chegarmos aos gêneros digitais e sua relação com a transdisciplinaridade. Por fim, foi apresentado um texto sobre o sistema educacional na Finlândia que, embora sempre tenha sido um modelo educacional, está mudando para um sistema transdisciplinar com o objetivo de preparar os alunos para o mundo do trabalho. A intenção desse texto foi fazer com que você reflita sobre a mudança de um sistema educacional de sucesso, que pense em nosso contexto e reflita acerta da possibilidade de mudança, para que possamos ter também, um dia, um sistema educacional de qualidade. Espero que, depois de toda nossa discussão sobre ensino‑aprendizagem nesse nosso mundo globalizado, você tenha ideias inovadoras e faça parte de uma mudança educacional para o nosso país.
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