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Leituras de Economia Política, Campinas, (15): 129-134, jan./dez. 2009. 
R E S E N H A �
 
 
 
ARRIGHI, Giovanni. Adam Smith em Pequim: origens e fundamentos do 
século XXI. São Paulo: Boitempo, 2008. 
 
 
A geoeconomia das nações no início do século XXI 
William Vella Nozaki 1 
 
A atual crise financeira que, partindo do setor imobiliário norte-
americano e passando pelo sistema bancário internacional, atingiu o crédito 
global e desencadeou um conjunto de intervenções por parte dos governos e 
bancos centrais que parece confirmar a derrocada das ondas neoliberal 
(implementada na última década pela restauração monetarista) e 
neoconservadora (sugerida nessa década pelo Projeto para o Novo Século 
Norte-Americano). 
O cenário de incertezas abre um conjunto de questões: Quais serão os 
rumos da globalização? A hegemonia norte-americana está em declínio ou 
ascensão? O dólar pode ser substituído no atual sistema monetário-financeiro 
internacional? O comércio entre os países indica uma nova divisão 
internacional do trabalho? Qual o papel da China no novo cenário 
internacional? Quais os impactos das novas mudanças para as periferias 
latino-americana e asiática? As perguntas são muitas, poucas são as tentativas 
de tentar organizá-las a fim de sugerir respostas capazes de respeitar a 
urgência de novos temas no momento da emergência de transformações 
significativas. 
É nesse esforço de combinar interpretação estrutural de longo prazo e 
explicação conjuntural de curto prazo que se insere o recente livro Adam 
Smith em Pequim, uma obra que ensaia, cada uma a sua maneira, mas sempre 
através da economia política internacional, tentativas de compreender o 
princípio histórico e os princípios teóricos do século XXI. 
Em Adam Smith em Pequim, Arrighi investe em uma releitura da 
economia política clássica a fim de compreender as novas configurações 
 
(1) Bacharel em Ciências Sociais (FFLCH/USP); mestrando em Desenvolvimento Econômico, 
área de concentração: História Econômica (IE/Unicamp). E-mail: willnozaki@gmail.com. 
William Vella Nozaki 
130 Leituras de Economia Política, Campinas, (15): 129-134, jan./dez. 2009. 
geoeconômicas e geopolíticas que têm marcado, sobretudo, as relações entre 
a América do Norte e a Ásia Oriental. 
A tese central do livro leva a cabo uma inquietação polêmica que já 
apareceu em outras análises do autor: a ideia de que, em uma perspectiva 
histórica de longo prazo, o princípio do século XXI só poderá ser 
compreendido à luz das revoltas contra o Ocidente, causadas pelo fim da 
hegemonia norte-americana, e da restauração do Oriente, consequência da 
ascensão chinesa. Vale a pena observar com cuidado o modelo teórico-
histórico desenvolvido pelo autor. 
Para Arrighi importa ressaltar que, na economia política 
internacional, duas civilizações se formaram a um só tempo, mas com 
história e lógica distintas. De um lado, o sistema interestatal europeu-
ocidental; de outro, o sistema interestatal asiático-oriental, ambos 
organizados em torno de relações políticas e econômicas divergentes entre si. 
Enquanto o sistema europeu se conformava com base na competição 
militar e na expansão geográfica externa, o sistema asiático se estabelecia 
com base na cooperação comercial e na expansão geográfica interna; mais 
ainda, enquanto a alta frequência de guerras entre os Estados europeus 
consolidava tendências para a construção de impérios ultramarinos com 
relações de subordinação com suas periferias, a maior concentração no 
comércio de curta distância entre os Estados asiáticos instituía tendências 
para o estabelecimento de impérios terrestres com relações de associação 
com suas periferias. 
Trata-se, pois, de trajetórias distintas que resultam na conformação 
de dois modelos diferentes de desenvolvimento econômico: o primeiro, 
marcado pela priorização do comércio exterior que culmina na formação do 
capitalismo, tal como teorizado por Karl Marx; e o segundo, marcado pela 
priorização do mercado interno, como que exemplificando a formação da 
economia de mercado tal qual descrita por Adam Smith, donde o passeio 
cruzado sugerido pelo título do livro: Adam Smith na China, Karl Marx nos 
EUA. 
Ao iniciar a análise, o autor repassa de maneira estilizada a histórica 
secular europeia e asiática, aportando no século XVIII, momento em que a 
trajetória paralela das duas civilizações se cruza, desaguando num efetivo 
antagonismo, e em que Adam Smith formula suas proposições sobre o 
desenvolvimento “natural” da China e o desenvolvimento “antinatural” das 
colônias norte-americanas. Com isso compõe aquilo que a bibliografia 
convencionou denominar de “a grande divergência”, ou seja, a bifurcação de 
Resenha – Adam Smith em Pequim: origens e fundamentos do século XXI 
Leituras de Economia Política, Campinas, (15): 129-134, jan./dez. 2009. 131 
um sistema europeu baseado na divisão técnica do trabalho (resultado da 
Revolução Industrial) e um sistema asiático, comparativamente, centrado 
mais na divisão regional do trabalho (resultante da proliferação de unidades 
produtivas domésticas, comunitárias). 
Uma leitura mais atenta denuncia como Arrighi parece buscar uma 
justificativa ancestral e improvável para os atuais modelos de organização da 
produção e do trabalho taylorista-fordista (ocidental) e toyotista de 
acumulação flexível (oriental). Entretanto, mais interessantes do que suas 
sugestões sobre o mundo do trabalho são suas provocações sobre o mundo do 
capital. Para Arrighi o que chama a atenção é a maneira como a leitura 
contemporânea de Smith torna evidente a distinção fundamental entre o 
modelo europeu, caracterizado pelo uso intensivo de capital e energia, e o 
modelo asiático, caracterizado pelo uso intensivo de mão-de-obra e poupador 
de energia. Por trás desse achado analítico, incita o autor, é que se pode 
ensaiar uma explicação para a ascensão europeia daquele período e para a 
restauração asiática atual. Vejamos. 
Enquanto a Europa partia da agricultura para o comércio exterior via 
Revolução Industrial, a Ásia partia da agricultura para a manufatura via 
mercado interno. O que salta à vista nesse encadeamento é a conclusão a que 
nos conduz Arrighi: a falta de dinâmica do capitalismo não está na produção 
agrícola; do mesmo modo, a estrutura do capitalismo é causa, e não 
consequência, da industrialização. Afinal, a riqueza e o poder da burguesia 
europeia emergem, sobretudo, do comércio de longa distância; dessa riqueza 
é que deriva o poder do capital. 
Assim sendo, o que permite o avanço incontestável do modelo 
ocidental a partir do século XIX com a Inglaterra e sua consolidação durante 
o século XX com os EUA é a combinação entre capitalismo (comércio 
exterior de longa distância), militarismo (competição bélica interestatal) e 
industrialismo (produção em escala e de escopo); e a amálgama desses 
elementos é o que o autor chama de financeirização, ou dominação pelas 
altas finanças. 
Para comprovar seu desencadeamento lógico, Arrighi lança mão de 
mais uma comparação histórica, dessa vez no interior do próprio sistema 
interestatal europeu, entre a “grande depressão”, que de 1873 a 1896 acabou 
conduzindo à hegemonia do padrão ouro-libra, e a “estagnação persistente”, 
que entre 1973 e 1993 legitimou o padrão dólar-flexível. Para o autor trata-se 
de duas crises causadas por corridas que levam países retardatários a alcançar 
países hegemônicos, o que desencadeia uma superprodução que perturba as 
William Vella Nozaki 
132 Leituras de Economia Política, Campinas, (15): 129-134, jan./dez. 2009. 
taxas de lucratividade e desloca as estratégias de dominação da esfera 
produtiva para a monetária. 
A anatomia dessa sequência pode ser encontrada nas próprias etapas 
de formação, desenvolvimento e, segundo o autor, declínio da hegemonia 
norte-americana. 
Para Arrighi, a hegemonia norte-americana pode ser dividida em três 
grandes períodos: em um primeiromomento (1945-1968), o que se observa é 
o predomínio do keynesianismo militar e social, em que a competição 
interestatal entre dois Estados beligerantes (EUA e URSS) é empreendida 
através de uma estratégia de mão dupla: por um lado, a corrida armamentista, 
por outro, o estímulo à concorrência interempresarial na esfera da produção 
com a reconstrução das indústrias, sobretudo alemã e japonesa, e a 
construção da industrialização, principalmente latino-americana. 
Em um segundo momento (1968-2001), o que impera é o 
neoliberalismo alavancado pela contrarrevolução monetarista. Agora, as 
políticas monetária e fiscal são tornadas mais rígidas, já que o aumento da 
competição interempresarial do período anterior converte-se na intensificação 
da competição interestatal. O objetivo norte-americano passa a ser melhorar 
sua inserção geopolítica em relação aos países produtores de petróleo (dada a 
dependência energética e a fragilidade expressa pelos petrodólares) e 
reconquistar a posição geoeconômica do dólar (em face da desestruturação 
das bases monetárias internacionais manifesta no surgimento do eurodólar e 
de outros mercados financeiros extraterritoriais). 
Por fim, há um terceiro momento, ainda em aberto, caracterizado 
pelo neoconservadorismo, ou hegemonia sem dominação, instante em que a 
Guerra contra o Terror sepulta, definitivamente, o projeto de globalização e 
as iniciativas econômicas multilaterais norte-americanas das décadas 
anteriores, que são substituídas pelas investidas militares unilaterais da era 
Bush. Seguindo seu ímpeto sintetizador, a equação final do autor é: quanto 
menor a concorrência interempresarial pelos preços, maior a presença da 
lucratividade pelas finanças e mais intensa a competição interestatal. 
 Do ponto de vista da política econômica norte-americana, o que 
chama a atenção do autor é o conhecido vaivém de desvalorizações e 
revalorizações do dólar como instrumento do governo para arbitrar a 
concorrência interempresarial e a competição interestatal. Mais ainda, no 
torvelinho desse poder monetário é que se pode observar um desdobramento 
estrutural contraditório: um país que se sustenta pela moeda, mas a mantém 
com base em empréstimos e importações. 
Resenha – Adam Smith em Pequim: origens e fundamentos do século XXI 
Leituras de Economia Política, Campinas, (15): 129-134, jan./dez. 2009. 133 
Para Arrighi, essa lógica manifesta a insustentabilidade da 
hegemonia norte-americana e seus indícios podem ser encontrados nas 
transições dos três momentos anteriormente descritos. Assim, a Guerra do 
Vietnã marcaria a crise sinalizadora do desarranjo por que passa os EUA, 
enquanto a Guerra contra o Terror seria a explicitação da crise terminal da 
hegemonia desse país; sintomaticamente, ambas acabam tendo como 
finalidade refazer a geografia política da Ásia Ocidental (manifestando a 
incapacidade norte-americana de enfrentar os acontecimentos decisivos que 
vão se desfechando na Ásia Oriental). 
Se, na primeira metade do século XX, o modelo asiático se 
aproximava do europeu, na segunda metade se dá o contrário: o modelo 
europeu é que se aproxima do asiático. Arrighi aponta e usa para o endosso 
de sua tese a retomada de formas empresariais mais descentralizadas, 
baseadas mais na divisão social do trabalho entre unidades de produção do 
que na divisão técnica do trabalho dentro das unidades. 
Entretanto, essa sobreposição do modelo asiático sobre o europeu, na 
visão do autor, faz-se num momento de fragilidade da hegemonia ocidental, 
para ser mais preciso: a Guerra contra o Terror teria acelerado a dependência 
norte-americana de crédito e de mercadorias estrangeiras baratas, 
fortalecendo a inserção externa chinesa, ao que se soma o fato de que parte 
significativa do déficit comercial dos EUA é financiado pela venda de títulos 
do Tesouro para a China. O conjunto desse quadro seria agravado pela 
ausência de uma política norte-americana para a China, pela própria 
dificuldade de se definir o interesse nacional norte-americano e por uma 
profunda dificuldade de se perceber as tendências atuais e futuras da 
economia chinesa. 
A essa altura a tese central de Arrighi já se tornou evidente: o grande 
problema das relações sino-americanas é o fato de que o crescimento da 
economia chinesa segue ocupando cada espaço deixado pelo vacilo das 
tentativas de expansão da política norte-americana. 
O desconhecimento sobre a origem e a dinâmica da ascensão chinesa 
torna-se evidente na tentativa de enquadrá-la como mais um caso de adoção 
do modelo neoliberal. Assim se ofuscam as características mais importantes 
capazes de elucidar o sucesso econômico desse país. Para Arrighi, há que se 
considerar que a China passou sim por um grande processo de abertura 
comercial e liberalização financeira, mas, se o país acolheu bem o 
investimento externo direto, o fez de maneira seletiva, atraindo capital 
produtivo e estimulando a criação de joint ventures; do mesmo modo, se é 
William Vella Nozaki 
134 Leituras de Economia Política, Campinas, (15): 129-134, jan./dez. 2009. 
verdade que a China se tornou atraente por sua grande reserva de mão-de-
obra barata, é preciso ressaltar que se trata de uma reserva de elevada 
qualidade em termos de saúde, educação e capacidade de autogerenciamento. 
Além disso, em vez de privatização intensa, destaca o autor, os chineses 
optaram por expor suas empresas estatais à concorrência (interna e externa, 
pública e privada), e o papel do governo na promoção do desenvolvimento 
tem aumentado, tanto com o incentivo às Zonas de Processamento para 
Exportação (ZPEs) em regiões urbanas quanto com o estímulo às Empresas 
de Aldeias e Municípios em regiões rurais (EAMs). Atualmente, o governo 
chinês é o que mais intervém diretamente para promover a colaboração entre 
empresas, bancos e universidades no desenvolvimento de novas tecnologias. 
Em suma, para Arrighi, trata-se de subordinar os interesses do poder 
capitalista aos interesses do mercado nacional. 
Ao ressaltar esse conjunto de aspectos, Arrighi ajuda a avançar na 
compreensão da economia de mercado socialista. Sem se perder nas 
discussões dualistas sobre a natureza capitalista ou socialista da economia 
chinesa, o autor oferece uma sugestiva possibilidade de explicação teórico-
histórica. 
Entretanto, ele comete dois equívocos fundamentais: por um lado, 
demonstra um excessivo otimismo com a possibilidade de universalização do 
modelo asiático-oriental difundido a partir da China; por outro lado, 
demonstra uma excessiva pressa em encontrar o declínio e a queda do poder 
norte-americano. Desconsidera, portanto, que atualmente parece haver mais 
complementaridades do que contradições entre esses dois países; afinal, se os 
EUA não sobrevivem sem os produtos chineses, a China não sobrevive sem a 
moeda norte-americana. Ou seja, apesar de lançar mão de meios analíticos 
próprios à crítica da economia política, Arrighi repete uma esperança baseada 
na economia política smithiana: a crença numa improvável justiça entre as 
nações promovida pela intensificação da concorrência e do comércio, quando 
na realidade nosso sistema econômico parece funcionar melhor ao sabor das 
guerras e dos monopólios. 
Mas, sem discordâncias apressadas ou concordâncias passivas, o 
livro tem o mérito de reunir as principais inquietações sobre o capitalismo 
contemporâneo (o que não é pouco). As escolhas teóricas que o informam, 
suas teses centrais, assim como a composição das partes e o alinhavo do 
conjunto merecem leitura atenta e debate sério, uma tarefa que não se realiza 
sem bons conhecimentos da economia política e da história econômica dessas 
duas civilizações.

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