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Bianca Fressato

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Poços de Caldas 
2022 
PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS 
Graduação em Direito 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Cidade 
Ano 
 
 
 
 
 
 
 
BIANCA FRESSATO ROCHA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
PACOTE ANTICRIME: 
ALTERAÇÕES PROMOVIDAS PELA LEI 13.964/2019 NO ARTIGO 75 DO CÓDIGO 
PENAL 
 
Poços de Caldas 
2022 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
PACOTE ANTICRIME: 
ALTERAÇÕES PROMOVIDAS PELA LEI 13.964/2019 NO ARTIGO 75 DO CÓDIGO 
PENAL 
 
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à 
Pontifícia Universidade Católica, como requisito parcial 
para a obtenção do título de graduado em Direito. 
Orientador: Prof. Dr. José Carlos Trinca Zanetti 
 
 
 
BIANCA FRESSATO ROCHA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
BIANCA FRESSATO ROCHA 
 
 
 
PACOTE ANTICRIME: 
ALTERAÇÕES PROMOVIDAS PELA LEI 13.964/2019 NO ARTIGO 75 DO CÓDIGO 
PENAL 
 
 
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado 
à Pontifícia Universidade Católica, como 
requisito parcial para a obtenção do título de 
graduado em Direito. 
 
 
BANCA EXAMINADORA 
 
 
Prof.Dr. José Carlos Trinca Zanetti 
 
 
Prof(a). Titulação Nome do Professor(a) 
 
 
 
 
Poços de Caldas, __de __de 2022. 
 
 
 
 
AGRADECIMENTOS 
 
Primeiramente, agradeço à minha família, especialmente meus pais, 
Guilherme e Claudia que sempre foram meu suporte mesmo nas horas mais difíceis. 
Estendo meu agradecimento a minha parceira de vida Mariana por todo o apoio e 
incentivo. 
Imensamente grata aos meus gatos de estimação considerados por mim 
como membros de minha família. Minha eterna gratidão a todos meus amigos que 
estiveram comigo durante esta jornada, em especial Paloma e Jéssica que me 
deram todo apoio e suporte. Aos meus familiares Antônio, Claudia e Antônio filho por 
todo o auxílio, cuidado e amor. 
Agradeço também ao corpo docente da Pontifícia Universidade Católica de 
Minas Gerais campus Poços de Caldas por legar seus conhecimentos a mim, a fim 
de que eu me torne não apenas uma profissional capacitada, mas também um ser 
humano melhor, especialmente destaco o professor José Carlos Trinca Zanetti, que 
se empenhou em me orientar nesta monografia. 
Estender meus cumprimentos a Dra. Claudia Prado Fressato Rocha que além 
de mãe, também sempre apoiou como advogada nos ensinamentos jurídicos, 
auxiliando e oferecendo todo aparato para que eu pudesse realizar minha 
graduação, me acudindo em todos os momentos. 
Um cumprimento ao meu pai Guilherme que nunca mediu esforços para que 
eu pudesse alcançar todos os objetivos. Igualmente, agradeço à Dr. Pedro Paulo 
Miglioranzi, por todo ensinamento ofertado no estágio. 
Por fim, agradeço aos colegas e amigos que cultivei em Poços de Caldas, 
com os quais compartilhei as boas novas e vicissitudes na academia e na vida, em 
especial Maria Luísa Oliveira Moreira e André Ferreira. 
 
RESUMO 
 
O presente trabalho tem como finalidade a análise crítica acerca de uma das 
mudanças trazidas pela Lei Federal 13.964, de 24 de dezembro de 2019, 
popularmente conhecida como “Pacote Anticrime”, principalmente na redação do 
artigo 75 do Código Penal. Sob essa ótica, o estudo é iniciado abordando o conceito 
e origem da referida Lei, bem como os fatores que influenciaram as alterações, 
abordando o entendimento do tema pelo Instituto Brasileiro de Ciências Criminais, 
bem como a inconstitucionalidade da alteração, discorrendo também sobre os 
entendimentos doutrinários e jurisprudenciais com relação a nova redação do artigo 
75 do Código Penal, que definiu 40 anos como tempo máximo de pena privativa de 
liberdade no Brasil, analisando eficácia dessa mudança. Seguindo os estudos, será 
demonstrado quais garantias foram flexibilizadas, bem como os 
efeitos/consequências das mudanças promovidas no limite da pena privativa de 
liberdade elencando as principais modificações que a nova redação trouxe para o 
direito penal. Com efeito, o objetivo da pesquisa é expor e analisar criticamente, 
inclusive verificando as causas e consequências da alteração do limite da pena 
como um todo. 
 
Palavras-chave: Pacote Anticrime. Lei 13.964/19. Artigo 75. Código Penal. 
Majoração do limite da pena privativa de liberdade. 
 
 
ABSTRACT 
The purpose of this workistocriticallyanalyzeone of thechangesbroughtaboutby 
Federal Law 13,964, of December 24, 2019, popularlyknown as the “Anti-
CrimePackage”, mainly in thewording of article 75 of the Penal Code. From this 
perspective, thestudybeginsbyaddressingtheconcept and origin of thesaid Law, as 
well as thefactorsthatinfluencedthechanges, addressingtheunderstanding of 
thesubjectbytheBrazilianInstitute of Criminal Sciences, as well as 
theunconstitutionality of thechange, alsodiscussingtheunderstandingsdoctrinal and 
jurisprudentialopinionsregardingthe new wording of article 75 of the Penal Code, 
whichdefined 40 years as themaximumperiod of deprivation of liberty in Brazil, 
analyzingtheeffectiveness of this change. Followingthestudies, it 
willbedemonstratedwhichguaranteesweremade more flexible, as well as 
theeffects/consequences of thechangespromoted in thelimit of thedeprivation of 
liberty, listingthemainmodificationsthatthe new wordingbroughttothe criminal law. 
Indeed, theobjective of theresearchistoexpose and criticallyanalyze, 
includingcheckingthe causes and consequences of changingthepenaltylimit as a 
whole. 
 
 
 
 
Keywords:.Anti-Crime Pack. Law 13,964/19. Article 75. Penal Code. Increase of the 
limit of the custodial sentence. 
 
 
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS 
 
 
Art. Artigo 
CP Código Penal 
CPP Código de Processo Penal 
IBCCRIM Instituto Brasileiro de Ciências Criminais 
STF Supremo Tribunal Federal 
STJ Supremo Tribunal de Justiça 
 
 
 
SUMÁRIO 
 
INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 1 
1. O PACOTE ANTICRIME ...................................................................................... 3 
1.1 CONCEITO E ORIGEM DO PACOTE ANTICRIME .......................................... 3 
1.2 FATORES QUE INFLUENCIARAM NA ALTERAÇÃO PROMOVIDA NO 
ARTIGO 75 DO CÓDIGO PENAL ................................................................................ 5 
1.3 ANÁLISE DA ALTERAÇÃO DO ARTIGO 75 DO CÓDIGO PELO INTITUTO 
BRASILEIRO DE CIENCIAS CRIMINAIS (IBCCRIM) .................................................. 7 
1.4 DA INCONSTITUCIONALIDADE DA NOVA REDAÇÃO DO ARTIGO 75 DO 
CÓDIGO PENAL ......................................................................................................... 9 
2. CORRENTES DOUTRINÁRIAS E ENTENDIMENTO JURIPRUDENCIAL ....... 14 
2.1 CORRENTES DOUTRINÁRIAS .......................................................................... 14 
2.2 ENTENDIMENTO JURISPRUDENCIAL .............................................................. 15 
2.3 A EFICÁCIA DA ALTERAÇÃO ............................................................................. 22 
3. A ALTERAÇÃO DO AUMENTO DO LIMITE DE CUMPRIMENTO DE PENA E 
OS RESPECTIVOS IMPACTOS NO DIREITO PENAL ............................................ 24 
3.1 A LEI DOS CRIMES HEDIONDOS E O PACOTE ANTICRIME ............................ 24 
3.2 DAS ALTERAÇÕES NA LEI DOS CRIMES HEDIONDOS ................................... 27 
3.3 DO HOMICÍDIO QUALIFICADO – ARMA DE FOGO DE USO RESTRITO OU 
PROIBIDO ................................................................................................................. 27 
3.4 DO LATROCÍNIO................................................................................................. 28 
3.5 DA EXTORSÃO ................................................................................................... 29 
3.6 DO FURTO .......................................................................................................... 30 
3.7 DO GENOCÍDIO ..................................................................................................31 
3.8 DA ARMA DE FOGO DE USO PROIBIDO E OUTROS ........................................ 31 
3.9 DA ORGANIZAÇÃO CRIMINOSA ....................................................................... 32 
3. 10 OS IMPACTOS DA ALTERAÇÃO ..................................................................... 33 
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................... 37 
REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 39 
 
 
 
 
1 
INTRODUÇÃO 
 
O presente estudo tem como objetivo abordar a eficácia da alteração que 
elevou o limite de pena privativa de liberdade no direito penal de 30 para 40 anos, 
promovida pela Lei 13.964, de 24 de dezembro de 2019, no artigo 75 do Código 
Penal, bem como seus respectivos impactos, analisando como essa alteração 
impactou direito penal no rol dos crimes hediondos. 
Como hipóteses iniciais, temos o conceito, origem e fatores que influenciaram 
o pacote anticrime; análise do Instituto Brasileiro de Ciências Criminais e estudo da 
inconstitucionalidade do artigo 75 do Código Penal; as correntes doutrinárias, 
entendimento jurisprudencial e a eficácia da alteração, levando em conta as 
mudanças ocorridas pelo pacote anticrime tanto no que se refere ao artigo 75 do CP 
quanto no Direito Penal, além de analisar os impactos desta mudança para o direito 
penal. 
Com efeito, o objetivo da pesquisa é expor e analisar criticamente, inclusive 
verificando as quais garantias foram flexibilizadas, bem como os 
efeitos/consequências das mudanças promovidas no limite da pena privativa de 
liberdade, e como isso influenciou o Direito Penal no rol dos crimes hediondos. 
Considerando este fim, a modificação a ser analisada trata-se principalmente 
do artigo 75 do Código Penal, que estipula a elevação de tempo do limite máximo de 
cumprimento de pena de 30 para 40 anos. Tal mudança, tem como pressuposto de 
que essa modificação nas penas privativas de liberdade deveria acompanhar o 
aumento da expectativa de vida dos brasileiros, entrando em vigor com a edição da 
Lei Federal 13.964, de 24 de dezembro de 2019, popularmente conhecida como 
“Pacote Anticrime”. 
 A mudança oferecida pelo Pacote Anticrime, que aumentou o tempo de 
permanência dos indivíduos no cárcere, não encontra amparo em quaisquer dados 
históricos, sociológicos, ou, ao menos, jurídicos como será demonstrado. Mas sim a 
uma vontade popular, que cada vez mais é levada a acreditar na extinção do 
criminoso como solução para a criminalidade, desconsiderando a finalidade da pena 
e aceitando uma medida punitivista, evitando enfrentar a realidade de que o crime 
pode ter raízes sociais e não nas simples escolhas individuais. 
 
 
2 
 Será demonstrado que as consequências dessas modificações estão 
diretamente ligadas ao poder que o Estado tem de exercer a punição de pena 
privativa de liberdade, e que, em realidade, a finalidade elementar da prisão, que é a 
ressocialização, não vem sendo garantida. 
Será abordada, também, uma análise desta ampliação da pena pelo IBCCRIM, que 
entende a mudança ocorrida como uma alteração para privilegiar somente alguns 
grupos da sociedade. 
 Ademais, restará demonstrado, a inconstitucionalidade dessas modificações, 
considerando a entre a ADPF 347 e a ampliação do tempo máximo para o 
cumprimento de pena privativa de liberdade, por entender que tal medida apenas 
fortaleceu o Estado de Coisas Inconstitucional reconhecido pelo STF. 
Ante o exposto, será demonstrado a mudança ocorrida no artigo 75 do Código 
de Penal (CP) que previa que o tempo de cumprimento das penas privativas de 
liberdade não poderia ser superior a 30 anos, e que com o advento da Lei 
13.964/2019, este prazo foi ampliado para 40 anos, além de uma análise sobre e 
seus respectivos impactos considerando a eficácia da alteração promovida tecendo 
uma análise do que essa alteração causou no rol dos crimes hediondos, tecendo 
entendimentos de especialistas sobre o assunto e institutos sobre o assunto, 
abordando inclusive aspectos inconstitucionais da referida mudança. 
 
 
 
 
3 
1. O PACOTE ANTICRIME 
1.1 CONCEITO E ORIGEM DO PACOTE ANTICRIME 
 O chamado “Pacote Anticrime” do Governo Federal surgiu regulamentado 
pela Lei nº 13.964 de 24 de dezembro de 2019, atendendo a um desejo do povo, e 
pode ser definido como o conjunto de mudanças na legislação penal brasileira que 
visa aumentar a eficácia no combate ao crime organizado, aos crimes violentos e em 
especial à corrupção, reduzindo os atrasos no sistema judicial criminal brasileiro. 
Como prova disto, discorre Renato Brasileiro: 
 
O denominado projeto Anticrime foi apresentado ao Congresso Nacional no 
dia 31 de janeiro de 2019 (PL 882-2019), tendo como principal meta o 
estabelecimento de medidas que realmente se demonstrassem efetivos 
contra a corrupção, o crime organizado e os delitos praticados com grave 
violência à pessoa, sistematizando as mudanças em uma perspectiva mais 
rigorosa no enfrentamento à criminalidade, totalmente em consonância com 
o anseio popular expressado nas eleições de 2018 (BRASIL, 2020, p.18). 
 
 As modificações ocorridas na legislação criminal e em no mínimo 17 leis já 
vigoradas, dentre estas se destacam o Código Penal Brasileiro (Decreto Lei nº 
2.848/40), Lei da Improbidade Administrativa (Lei nº 8.429/92), Código de Processo 
Penal (Decreto Lei nº 3.689/41), Lei de Drogas (Lei nº 11.343/06), Lei de Lavagem 
de Capitais (Lei nº 9.613/98), Lei de Interceptações Telefônicas (Lei nº 9.296/96), Lei 
de Execução Penal (Lei nº 7.210/84), Estabelecimentos Penais Federais de 
Segurança Máxima (Lei nº 11.671/08), Identificação Criminal (Lei 12.037/09), 
Colegiado em Primeiro Grau (Lei nº 12.694/12), Lei do “Disque-denúncia” (Lei nº 
13.608/18), dando uma nova vertente ao procedimento investigatório e às instruções 
judiciais nos processos criminais no Brasil. 
 Mais especificamente, o presente trabalho intenta analisar as mudanças 
trazidas pela lei, no artigo 75 do código penal. Estas alterações no cumprimento de 
pena surgiram com o novo projeto de Lei nº 13.964/2019, conforme acima 
detalhado, modificando o tempo que o condenado permanece em cárcere privado, 
ficando estabelecido que, em decorrência do aumento da expectativa de vida da 
sociedade, houvesse um aumento de 30 para 40 anos o tempo máximo de pena 
privativa de liberdade. Bem como preceitua Renato Brasil: 
 
 
 
4 
Atento, porém, ao sensível aumento da expectativa de vida dos brasileiros – 
em 1940, esta era, em média, de 45,5 anos, ao passo que, em 2018, pulou 
para 76,3 anos, segundo dados do IBGE, o Pacote Anticrime alterou a 
redação do referido dispositivo para dispor que o tempo de cumprimento 
das penas privativas de liberdade não pode ser superior a 40 (quarenta) 
anos (BRASIL, 2020, p. 29). 
 
 O pacote anticrime foi instituído pela Lei Nº. 13.964/2019, e tinha como 
objetivo alterar a Legislação Penal e Processual Penal, com a finalidade de 
modernizá-las, combatendo a criminalidade organizada, crimes violentos e outros 
crimes de grande repulsa social. 
 De acordo com o ordenamento jurídico brasileiro, quando alguém é 
condenado por um período superior, deve-se adequar a pena para que esta não 
ultrapasse período determinado pelo Código Penal. Desse modo, isso só ocorre com 
a soma de penas, vez que individualmente a legislação previa penas máximas de 
até 30 anos de penas para diversos crimes, fazendo com que a alteração permitisse 
o aumento de pena para vários crimes. 
 A fim de ilustrar a nova regra, tem-se que os condenados não cumprem mais 
somente um sexto da pena, até que esses estejam aptos à progressão de regime. 
Com a nova mudança, os réus primários que tiverem cometido crimes sem violência, 
terão direito de serem transferidos após cumprirem uma porcentagem de 16% de 
sua pena. Para os considerados reincidentesem crimes hediondos, só poderão 
requerer progressão de regime depois do cumprimento de 70% da sua pena. 
 Outras situações a serem consideradas, no que tange o cumprimento de pena 
para a progressão são: 20%, se o apenado for reincidente em crime cometido sem 
violência ou grave ameaça; 30%, se o apenado for reincidente em crime cometido 
com violência ou grave ameaça e 40%, se o apenado for condenado pela prática de 
crime hediondo ou equiparado, caso seja primário. 
 Antes qualquer pena que o indivíduo fosse cumprir não poderia ultrapassar 30 
anos, em cumprimento desta pena ou mesmo se houvesse a somatória destas 
penas, seja ela em regime fechado, semiaberto ou aberto, se limitando a um teto de 
trinta anos. A mudança que ocorreu é que este teto subiu para 40 anos, mas apesar 
de ter aumentado o tempo para o cumprimento de pena, não significa que os crimes 
previstos com pena máxima de 30 anos, como por exemplo, latrocínio, passou a ser 
de 40 anos, a pena para o crime de latrocínio continua a ser de trinta anos. 
 
 
5 
 No caso prático, é possível que alguém sofra condenações de 200 anos, e 
isso ocorre porque o condenado poderá cumprir diretamente os 40 anos, não 
podendo cumprir um tempo superior a este teto, e o resto da pena a qual foi 
condenado servirá para a contagem de alguns benefícios que eventualmente a 
pessoa poderia ter, como é o caso do livramento condicional e progressão de 
regime. 
 Temos, portanto houve um endurecimento da pena, que no caso do crime de 
latrocínio conforme acima citado, o indivíduo até pode ter uma condenação com um 
tempo superior a 30 anos na terceira fase de aplicação da pena, podendo ter uma 
causa de aumento, mas só poderá ficar preso diretamente por 40 anos, mas para 
efeitos de qualquer benefício a ser aplicado, utiliza-se a pena máxima, ou seja, a 
pena efetiva aplicada pelo juiz. Tem-se, portanto, que na prática, não é porque um 
condenado ficou preso por 40 anos que estará livre. Essa foi uma alteração mais 
motivada em dar uma satisfação à sociedade punitiva, do que ter alguma efetividade 
e consequentemente ser eficaz. 
 A título de exemplificação, é como se os cidadãos em conflito com a lei 
tivessem efetiva oportunidade de ser ressocializados dentro do estabelecimento 
prisional, vez que atualmente o sistema prisional comporta o triplo de condenados do 
que teria capacidade de comportar, restando evidente que colocar um indivíduo mais 
tempo em regime fechado não o auxilia em ressocializar, vez que esse condenado 
vai retornar para a sociedade e essa em contrapartida precisa compreender que no 
Brasil não existem penas perpétuas, e que o que se faz necessário é que se saiba 
lidar com esse indivíduo quando o mesmo voltar para a sociedade. 
 
1.2 FATORES QUE INFLUENCIARAM NA ALTERAÇÃO PROMOVIDA NO 
ARTIGO 75 DO CÓDIGO PENAL 
 Esse novo jeito de pensar o direito penal tem influência direta um modo de 
aplicação de sanção penal privativa de liberdade que visa acompanhar o aumento 
da expectativa de vida do brasileiro. Esse aumento de 10 anos ao tempo máximo de 
cumprimento de pena privativa de liberdade no Brasil surgiu em decorrência do 
crescimento da expectativa de vida e do clamor popular para o combate a corrupção. 
 
 
6 
 Desse modo, pode-se entender que as mudanças foram influenciadas por três 
fatores, quais sejam: históricos, estruturais e sociais. Os fatores históricos nos 
mostram registros de corrupção no Brasil desde os tempos remotos. Na atual 
conjuntura brasileira, é possível verificar a existência de uma crise político-social, 
causada pela falta de representatividade na política e pela desigualdade social. 
 Tem-se uma busca pelos interesses pessoais dos representantes eleitos, em 
vez de buscarem atender às demandas da sociedade que sofre cada vez mais com 
a corrupção. Ademais, justiça criminal brasileira reflete a desigualdade social 
existente no país e também atende aos desejos de uma sociedade clama por 
mudanças na legislação penal e processual penal, vez que o atual estado das coisas 
não se mostra eficaz, gerando o sentimento de impunidade. 
 Em relação ao fator estrutural temos que o nítido emparelhamento do Estado 
em prol da corrupção, vez que conforme acima narrado, tem-se que a corrupção é 
um fenômeno atemporal, recorrente e generalizado nas instituições, que se juntam 
com o objetivo de viabilizar a corrupção. 
 Diante disso, surgiu o pacote anticrime, que visava repelir crimes desta 
natureza, como por exemplo, os crimes de colarinho branco, praticados por 
membros que ocupam cargo de poder, para que pudessem ser aplicadas as devidas 
penas, independente do cargo que ocupa. O pacote anticrime foi o marco inicial para 
erradicar a distância existente entre a impunidade e a justiça, a correta aplicação da 
lei e a devida sanção aplicada a quem venha transgredi-la. 
 Os fatores sociais estão diretamente ligados a corrupção que assola o Brasil, 
vez quanto maiores as desigualdades sociais, menor são os investimentos em 
saúde, educação, segurança, habitação, infraestrutura. O fator social é o maior 
causador da corrupção no Brasil, ele é trazido por fatores externos, tais como a 
desigualdade social e a inversão de valores. Ademais, conforme disposto alhures, tal 
mudança ocorreu sobre o pretexto da elevação da expectativa de vida do brasileiro. 
Nesse sentido, Renato Brasil: 
Atento, porém, ao sensível aumento da expectativa de vida dos brasileiros – 
em 1940, esta era, em média, de 45,5 anos, ao passo que, em 2018, pulou 
para 76,3 anos, segundo dados do IBGE, o Pacote Anticrime alterou a 
redação do referido dispositivo para dispor que o tempo de cumprimento 
das penas privativas de liberdade não pode ser superior a 40 (quarenta) 
anos (BRASIL, 2020, p. 29). 
 
 
 
7 
 Este aumento de teto refletiu também, na unificação de penas, para fins de 
composição do quantum de 40anos, quando há condenações sucessivas, bem como 
em relação à superveniência de condenação por crime havido após o início da 
execução penal, excluindo do cômputo o período de pena já cumprido. A nova 
redação do art. 75, CP restou estabelecido da seguinte forma com as modificações 
no caput e no parágrafo primeiro, in verbis: 
 
Art. 75. O tempo de cumprimento das penas privativas de liberdade não 
pode ser superior a 40 (quarenta) anos. 
1º Quando o agente for condenado a penas privativas de liberdade cuja 
soma seja superior a 40 (quarenta) anos, devem elas ser unificadas para 
atender ao limite máximo deste artigo. 
2º Sobrevindo condenação por fato posterior ao início do cumprimento da 
pena, far-se-á nova unificação, desprezando-se, para esse fim, o período de 
pena já cumprido. 
 
1.3 ANÁLISE DA ALTERAÇÃO DO ARTIGO 75 DO CÓDIGO PELO INTITUTO 
BRASILEIRO DE CIENCIAS CRIMINAIS (IBCCRIM) 
 Fundando em 1992, o Instituto Brasileiro de ciências criminais (IBCCRIM)1, é 
uma organização não governamental brasileira, ligada à Justiça e aos direitos 
humanos. Acerca do tema abordado, realizou algumas considerações, explicando 
que Lei 13.964/2019, erroneamente conhecida como pacote anticrime, alterou o 
Código Penal, e que uma das principais mudanças ocorridas dói a redação do art. 
75, que aumentou o tempo máximo de cumprimento das penas privativas de 
liberdade de 30 para 40 anos. 
 Essa mudança reflete uma luta irrompida no Congresso Nacional (1) e teve 
como consequência um modo de “contenção de danos” (2) do excesso de 
criminalidade. Em uma tentativa de atender a uma medida populista, o governo 
coordenou os projetos de aumento do poder punitivo do Estado e propôs a mudança 
 
1Reconhecido nacional e internacionalmente por sua atuação na área de produção científica -- 
incluindo o acervo de sua Biblioteca, a mais completa em Ciências ininais da América Latina -- o 
IBCCRIM realiza cursos, eventos, debates e iniciativas de extensão universitária e iniciação científica. 
Aspublicações produzidas pelo Instituto, além das notas técnicas e pareceres sobre projetos de lei e 
ações judiciais de grande repercussão, são referências para pesquisadores, profissionais, jornalistas 
e estudantes. 
 
 
 
8 
sem qualquer promover o diálogo com as vozes dissonantes e divergentes as 
mudanças. 
 É válido ressaltar que ao propor essa alteração, nem mesmo os defensores 
dos direitos humanos, os movimentos sociais e os juristas garantistas, que são 
contra a “banalização do mal”, foram convidados a discutir e juntos encontrarem as 
dificuldades para, nos locais oficiais, demonstrar os pontos negativos do projeto. 
 O Instituto ainda relatou que afirma: 
 
o projeto demonstrou traços autoritários, pois, desconsiderando a práxis 
republicana e o compromisso com a transparência, não expôs suas 
justificativas, inclusive tornando cinzenta as intenções do governo e as 
razões fundantes para a aprovação do projeto pelo Legislativo” Em que 
pese o importante trabalho cumprido pelos parlamentares progressistas, 
refletindo as contribuições da sociedade civil, da academia e da advocacia 
criminal, a lei aprovada (mesmo que nutrida de alguns - raros - pontos 
positivos, como a indicação do juiz de garantias, requisito fundamental ao 
sistema acusatório), não conseguiu barrar o animus punitivista do 
projeto(BCCRIM, 2019). 
 
 Nesse mesmo diapasão, relata que esse aumento no tempo de cumprimento 
de pena privativa de liberdade afronta a CF, e que uma de suas consequências seria 
a ampliação do poder punitivo às periferias, visto que o Direito Penal, desde os 
tempos remotos, vem se estabelecendo de modo a punir os mais fracos e oprimidos, 
conhecido como as minorias, como caso dos pretos e favelados. 
 Esse mesmo Instituto analisa as mudanças ocorridas no Direito Penal e suas 
consequências. Na ótica das teorias críticas, entende que não há construção de 
pensamento imparcial e neutro, vez que o ser humano é um indivíduo situado e, por 
conta disso, deve se colocar dos grupos mais vulneráveis e comprometidos com a 
emancipação daqueles que até hoje não tiveram voz, onde de acordo com Nilo 
Batista: 
 
para a grande maioria dos brasileiros - do escravismo colonial ao 
capitalismo selvagem contemporâneo - a punição é um fato cotidiano. Essa 
punição se apresenta implacavelmente sempre que pobres, negros ou 
quaisquer outros marginalizados vivem a conjuntura de serem acusados da 
prática de crimes interindividuais. (BATISTA, 1990, p. 38). 
 
 Continuando a análise, afirmando que Penal, o Direito tem servido para 
proteger apenas uma parte da população e combater outra. No Estado Democrático 
de Direito Brasileiro, todas as normas são feitas para beneficiar apenas uma parcela 
da sociedade, conforme afirma Thula Pires: 
 
 
9 
 
partindo da premissa de que a construção normativa (tanto teórico quanto 
jurisprudencialmente) se produz a partir da experiência da zona do ser, 
busca-se uma narrativa que reposicione o papel dos direitos humanos sobre 
os processos de violência sobre a zona do não ser. Tomar a realidade da 
zona do ser como o parâmetro para pensar processos de proteção e 
promoção de direitos humanos produziu um aparato normativo incapaz de 
perceber e responder às violências que se manifestam na zona do não ser e 
fez da afirmação do não-ser a condição de possibilidade que sustenta a 
humanidade como atributo exclusivo da zona do ser.” (PIRES, 2019, p. 66). 
 
 Finalizando sua abordagem sobre o tema, esclarece que não há erros de 
interpretação quando a real intenção da alteração, estabelecendo que as mesmas 
pessoas que estão tendo seus direitos sociais serão as que mais sofrerão com as 
alterações explicando que, em suas palavras: “a mesma mão que impede a 
aposentadoria, a educação e a saúde pública é aquela que aumenta a pena privativa 
de liberdade de 30 para 40 anos”. 
 A atual conjuntura política do Brasil indica mostra que ficará a encargo das 
agências judiciais a diminuição do exercício do poder punitivo irracional e a 
contenção da seletividade na criminalização secundária para diminuir os efeitos 
adversos da alteração do art. 75 do CP. 
 
1.4 DA INCONSTITUCIONALIDADE DA NOVA REDAÇÃO DO ARTIGO 75 DO 
CÓDIGO PENAL 
 O aumento do tempo da pena privativa de liberdade, fará com que sistema 
prisional fique mais sobrecarregado do que já está, e que como consequência disso, 
faltarão vagas para atender o aumento da população carcerária, ocorrendo uma 
superlotação nos presídios, e como resultado, trará sérios impactos aos direitos 
fundamentais, bem como infringirá aos princípios fundamentais da Constituição 
Federal de 1988, que estabelece que todo o sistema prisional brasileiro terá sua 
função inconstitucional, de acordo com o Ministro do Supremo Tribunal Federal, 
Marco Aurélio, vejamos no julgado a seguir: 
 
CUSTODIADO – INTEGRIDADE FÍSICA E MORAL – SISTEMA 
PENITENCI-ÁRIO – ARGUIÇÃO DE DESCUMPRIMENTO DE PRECEITO 
FUNDAMEN-TAL – ADEQUAÇÃO. Cabível é a arguição de 
descumprimento de preceito fundamental considerada a situação 
degradante das penitenciárias no Brasil. SISTEMA PENITENCIÁRIO 
 
 
10 
NACIONAL – SUPERLOTAÇÃO CARCERÁ-RIA – CONDIÇÕES 
DESUMANAS DE CUSTÓDIA – VIOLAÇÃO MASSIVA DE DIREITOS 
FUNDAMENTAIS – FALHAS ESTRUTURAIS – ESTADO DE COISAS 
INCONSTITUCIONAL – CONFIGURAÇÃO. Presente quadro de violação 
massiva e persistente de direitos fundamentais, decorrente de falhas 
estruturais e falência de políticas públicas e cuja modificação depende de 
medidas abrangentes de natureza normativa, administrativa e orçamentária, 
deve o sistema penitenciário nacional ser caraterizado como “estado de 
coisas inconstitucional”. FUNDO PENITENCIÁRIO NACIONAL – VERBAS – 
CONTINGENCIAMENTO. Ante a situação precária das penitenciárias, o 
interesse público direciona à liberação das verbas do Fundo Penitenciário 
Nacional. AUDIÊNCIA DE CUSTÓDIA – OBSERVÂNCIA OBRIGATÓRIA. 
Estão obrigados juízes e tribunais, observados os artigos 9.3 do Pacto dos 
Direitos Civis e Políticos e 7.5 da Convenção Interamericana de Direitos 
Humanos, a realizarem, em até noventa dias, audiências de custódia, 
viabilizando o comparecimento do preso perante a autoridade judiciária no 
prazo máximo de 24 horas, contado do momento da prisão. (ADPF,2016) 
 
 Nesse contexto, resta evidente que a alteração do art. 75 do Código Penal, 
vários princípios fundamentais constitucionais, tais como o Estado de Coisas 
Inconstitucional, visto que tendo em vista que aumentar o limite máximo da pena de 
privativa de liberdade terá como consequência a superlotação do sistema prisional, 
vai de encontro com a Convenção Americana de Direitos Humanos (Pacto São José 
da Costa Rica), na qual o Brasil é signatário. 
 Segundo o Instituto Brasileiro de Ciências Criminais (IBCCRIM): 
 
no retrospecto das avaliações feitas sobre os problemas estruturais e 
desumanizantes que cercam o nosso sistema prisional, sucedâneo do 
pelourinho de outrora, é importante relembrarmos o diagnóstico realizado 
pelo STF na ADPF 347 que reconheceu no Brasil, por inspiração da 
atuação da Corte Constitucional da Colômbia, o Estado de Coisas 
Inconstitucional do sistema prisional pátrio(BCCRIM, 2019). 
 
 É evidente que existe a inconstitucionalidade da alteração promovida diante 
da falta de um amplo estudo sobre o impacto financeiro e orçamentário que será 
causado aos estados em decorrência do aumento da população carcerária que 
necessita de assistência material e que sofrerá com a falta de vagas para comportar 
o crescimento populacional, fazendo com que o estado tivesse que investir no 
aumento dos estabelecimentos prisionais. 
 A nova redação do art. 75 do CP utilizou-se do clamor popular para empregar 
uma tentativa de reparo para os problemas sociais, fazendo com que a legislação 
penal se tornasse simbólica e emergencial, porém sem nenhuma eficácia, além de 
violar direitos e garantias fundamentais. 
Segundo o Ministro Ricardo Lewandowski:11 
 
um quadro insuportável e permanente de violação massiva de direitos 
fundamentais, que não poderia subsistir e que exigia, sem dúvida nenhuma, 
uma intervenção do Poder Judiciário de caráter estrutural e que demandava, 
inclusive, medidas de natureza orçamentária. [...] Neste mesmo sentido, o 
Ministro Luís Roberto Barroso assentou que: “mandar uma pessoa para o 
sistema é submetê-la a uma pena mais grave do que a que lhe foi 
efetivamente imposta, em razão da violência física, sexual e do alto grau de 
insalubridade das carceragens, notadamente devido ao grave problema da 
superlotação (BRASIL, 2020). 
 
 O então Ministro Teori Zavascki consignou que “em nossas prisões as 
condições de vida são intoleráveis” e, na prática, “os presos não têm 
direitos”(BRASIL, 2020), demonstrando que o sistema prisional não se coaduna com 
sistema de direitos e garantias previstos na Constituição de 1988(BCCRIM, 2019). 
 Analisando os casos práticos, onde a aplicabilidade da referida Lei 
13.964/2019, fica claro que no sistema prisional brasileiro, existe uma grande 
violação generalizada de direitos fundamentais dos presos no tocante à dignidade, 
higidez física e integridade psíquica, infringindo a Constituição Federal. O sistema 
carcerário brasileiro sofre com uma superlotação carcerária e a uma enorme 
precariedade das instalações das delegacias e presídios. 
 Além disso é nítido que existe uma inobservância, por parte do Estado, da 
ordem jurídica correspondente, que geram um degradante, ultrajante e indigno a 
pessoas que encontram sob custódia, e que la deveriam estar cumprindo suas 
penas para serem ressocializadas. 
 As penas privativas de liberdade aplicada, cumpridas nos presídios, por 
terem, essa característica de descaso com a referida instituição e estar em 
condições precárias, acabam se tornando cruéis e desumanas. Os condenados 
acabam sendo destratados e humilhados, exposto a situações degradantes que de 
nada o auxiliam a encarar seus erros e vislumbrar uma nova oportunidade de 
reintegrar a sociedade. 
 Ademais, o próprio SFT entende o Estado de Coisas Inconstitucional, 
conforme já tratado, sendo, portanto, uma controvérsia aumentar o tempo máximo 
das penas privativas de liberdade, sem antes se preocupar em modificar o cenário e 
a realidade desumana e insalubre do sistema carcerário brasileiro. 
 Se este cenário já existe é reconhecido, é insustentável que se alega a 
constitucionalidade de uma alteração, ou no caso, de uma Lei que aumente o tempo 
que os condenados fiquem presos. Ainda há de se ressaltar que, mesmo diante de 
 
 
12 
várias violações aos constitucionais, esse cenário deplorável é uma realidade em 
todas as unidades da Federação, restando concluído que deve ser reconhecida a 
inequívoca falência do sistema prisional. 
 Restado demonstrado a inconstitucionalidade, podendo ser fundamentada na 
ADPF 347 em conjunto com o art. 5º, inc. XLVII, “b”, da CF/88, que proíbe penas 
perpétuas A proteção constitucional existente é para impedir que as medidas 
legislativas não afastem ao direito de liberdade, e afaste das penas perpétuas, e que 
reforce a importância da dignidade humana e da ressocialização do indivíduo. Desse 
modo, é evidente que não existe ligação entre função ressocializadora da pena e o 
seu cumprimento, e que cada vez mais e diante das mudanças ocorridas, afasta um 
cenário ideal para o desenvolvimento de um relacionamento entre o criminoso e a 
criminalidade. 
 O descaso da sociedade para com o condenado é outra questão que dificulta 
a ressocialização, vez que esses devem demonstrar que é possível voltar a confiar, 
e que isso deve ser constantemente demonstrado. Portando, é notório que o 
Estado, ao unir suas forças na criação de leis mais repressivas retratando um 
endurecimento penal, está se utilizando da matéria punitiva para mascarar os 
verdadeiros problemas sociais que afligem a sociedade brasileira. 
 Assim, nunca irá se superar este ciclo vicioso, em que a sociedade, 
apavorada pelo alto índice de criminalidade, obriga o Poder Público a tomar 
providências, se baseando no Direito Penal, para reafirmar a atuação do Estado, 
bem como, ganhar prestígio político. 
 Mesmo que essa mudança tenha se estruturado na necessidade de 
readaptação da Lei a uma realidade de expectativa de vida maior dos brasileiros, 
conforme já tratado, um aumento de 10 anos de pena para aqueles que possuem 
uma expectativa de vida muito menor em vista dos indivíduos que estão em 
liberdade, é o mesmo que introduzir um sistema de pena perpétuo. 
 O Brasil é um país que possui muitas desigualdades sociais, não podendo ser 
utilizado o mesmo peso e a mesma medida para todos para realizar uma alteração, 
sem considerar o fator principal de que a expectativa de vida do sistema carcerário, 
é afrontar a Constituição Federal. Além disso, o aumento de 10 anos é 
desproporcional, vez que somente foi considerada a expectativa de vida dos 
indivíduos em liberdade e não do sistema carcerário, e as desigualdades sociais. 
 
 
13 
 Desse modo, é cada vez mais claro que não é aumentando o limite do 
cumprimento da pena privativa de liberdade que a sociedade se encontrará livre do 
crime. Ao contrário, esse tende somente a aumentar, vez que enquanto não for 
superado a ideia de realizar mudanças que não afrontem a constituição, levando em 
consideração e que as penas têm sua função, e que o Direito Penal só deve ser 
utilizado em último caso, não estará a comunidade afastada da criminalidade. 
 É necessário que medidas sejam tomadas no sentido de humanização das 
penas e da ressocialização do infrator. A segurança pública não será revitalizada 
com o endurecimento das penas, ao contrário, usar da cultura do medo e do uso de 
medidas penais mais rígidas, faz com que haja a expansão penal em casos que o 
direito penal deverias estar mais afastado, vez que o aumento não corrigi o fato da 
finalidade da pena não ser cumprida. 
 Todos os esforços deveriam ser direcionados para alteração de medidas 
alternativas à prisão, uma vez que o sistema carcerário brasileiro está falido e 
sofrendo com superlotação. Ainda há a incoerência da ADPF 347 e o aumento do 
tempo máximo para o cumprimento de pena privativa de liberdade, medida que 
deixa mais forte o Estado de Coisas Inconstitucional reconhecido pelo STF. 
 Ante o exposto, é necessário que para que haja uma mudança de realidade, 
seria a redução da pena, e políticas públicas de ressocialização, com a real 
fiscalização para o cumprimento da verdadeira finalidade da pena, necessitando 
também da diminuição do poder punitivo irracional, seguindo sempre uma vertente 
constitucional e jus humanista, visando arbitrar o direito penal. 
 
 
 
 
 
14 
2. CORRENTES DOUTRINÁRIAS E ENTENDIMENTO JURIPRUDENCIAL 
 
 Este capítulo trará uma breve análise sobre as principais correntes 
doutrinárias de do direito penal, chamado Guilherme de Souza Nucci e Cezar 
Roberto Bitencourt, acerca das interpretações destes juristas sobre a alteração nos 
limites das penas privativas de liberdade. 
2.1 CORRENTES DOUTRINÁRIAS 
 Existem várias correntes doutrinárias sobre o tema, mas as mais 
reconhecidas são a do jurista Guilherme de Souza Nucci, que justifica a majoração 
dos limites da pena se baseando nos argumentos de que a mudança não é 
inconstitucional, por considerar que a alteração promoveu justiça uma vez que a 
elevação acompanhou o aumento da expectativa de vida, não entendendo como 
cruel o aumento da pena de 30 para 40 anos. 
 O jurista Guilherme de Souza Nucci (2020) argumenta positivamente sobre a 
majoração do limite de tempo de cárcere tecendo seus comentários baseado em 
quatro argumentos. O primeiro deles é de que essa majoração corrigiu uma injustiça 
existente há décadas, pelo fato de o limite de cumprimento de pena não ter 
acompanhado o aumento da expectativa de vida do brasileiro. O segundo por 
entender que essa modificaçãonão pode ser considerada inconstitucional por 
entender que não fere a vedação da pena perpétua. 
 Outro argumento é que não entende como dura e cruel um encarceramento 
de 40 anos, vez que aqueles indivíduos condenados ao teto máximo de tempo 
cometeram inúmeras barbaridades, necessitando ficar recluso, e por fim, demonstra 
que na prática como no caso do Bandido da Luz Vermelha, que cometeu vários 
homicídios, latrocínios e estupros, tendo cumprido menos de 10% de uma 
condenação de 326 anos. 
 Do outro lado, o doutrinador Cezar Roberto Bitencourt, que aduz que as 
prisões causam muitos efeitos negativos e na prática não cumprem sua real função 
ressocializadora, não sendo eficaz a alteração promovida no artigo 75 do Código 
Penal. Ademais, além destes efeitos negativos, o endurecimento da pena não 
contribui para que o indivíduo seja ressocializado, na verdade só contribui para sua 
permanência na criminalidade, vez que o réu posto em liberdade, se depara com um 
 
 
15 
mundo que não está apto a sua readaptação não o oferecendo o suporte necessário 
para conduzi-lo a uma vida digna. Neste sentido Cezar Roberto Bitencourt: 
 
As graves deficiências das prisões não se limitam a narrações de alguns 
países; ao contrário, existem centros penitenciários em que a ofensa à 
dignidade humana é rotineira, tanto em nações desenvolvidas como em 
subdesenvolvidas. As mazelas da prisão não são privilégios apenas de 
países do terceiro mundo. De um modo geral, as deficiências prisionais 
compendiadas na literatura especializada apresentam muitas características 
semelhantes: maus tratos verbais ( insultos, grosserias etc.) ou de fato ( 
castigos sádicos, crueldades injustificadas e vários métodos sutis de fazer o 
recluso sofrer sem incorrer em evidente violação do ordenamento etc.); 
superlotação carcerária, o que também leva a uma drástica redução do 
aproveitamento de outras atividades que o centro penal deve proporcionar 
[...] ( BITENCOURT, 2011, p. 163, 164). 
 
 Dessa forma, as duas correntes estabelecem uma discrepância quanto a 
eficácia da alteração promovida, sendo que a corrente do jurista Guilherme de 
Souza Nucci não se sustenta diante de uma análise pontual feita pelo jurista Cezar 
Roberto Bitencourt, vez que todos os argumentos tratados para justificar a 
majoração além de serem eivados de incongruências devidamente satisfeitas pela 
corrente de Bitencourt, não servem para justificar uma majoração que não tem 
eficácia e que possui mais um caráter de atendimento a um anseio popular do que 
uma tentativa de reparar erros do sistema penal brasileiro. 
 
2.2 ENTENDIMENTO JURISPRUDENCIAL 
 Inicialmente cumpre discorrer sobre os entendimentos do Superior Tribunal de 
Justiça (STJ) e do Supremo Tribunal Federal (STF) sobre os limites do cumprimento 
das penas privativas de liberdade. Ambos os tribunais superiores brasileiros já se 
posicionaram sobre o assunto, porém seus entendimentos não são o mesmo. Para 
melhor ilustrar o entendimento, o STF entende que o limite da medida de segurança 
é o mesmo da pena, portanto, 40 anos, de acordo com a súmula 715 do STF. 
A Súmula 715 do STF consagra este entendimento: 
 
A pena unificada paraatender ao limite de trinta anos de cumprimento, 
determinado pelo art. 75 do Código Penal, não é considerada para a 
concessão de outros benefícios, como o livramento condicional ou regime 
mais favorável de execução” (BRASIL, 2003). 
 
 
16 
 Desse modo, este limite de 40 anos é tão-somente para o cumprimento de 
pena, não sendo aplicável para outros benefícios, conforme já discorrido. Já o 
Superior Tribunal de Justiça (STJ) editou a Súmula 527 que diz que “O tempo de 
duração da medida de segurança não deve ultrapassar o máximo da pena 
abstratamente cominada ao delito praticado”. (BRASIL, 2015) 
 Isso significa que o prazo máximo de duração da medida de segurança não 
pode ultrapassar o máximo fixado para a pena abstratamente cominada ao delito.É 
válido ressaltar que a pena unificada a fim de atender ao limite de quarenta anos de 
cumprimento, determinado pelo art. 75 do Código Penal, não é considerada para a 
concessão de outros benefícios como, por exemplo, a progressão de regime. 
 Com feito, com a edição da Lei 13.964/2019, houve uma alteração 
significativa na aplicação penal no Brasil, salientando que se deu em plena 
pandemia mundial do Covid -19, vejamos em então, o cenário nacional e a 
repercussão das decisões do STJ, principalmente no primeiro ano que passou a 
vigorar, vejamos. 
 O STJ ressalta qual o cenário se encontrava o país em 2019: 
 
Em meio à pandemia da Covid-19, o número de assassinatos voltou a 
crescer no Brasil, depois de dois anos seguidos de queda. Segundo o 
Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), o primeiro semestre de 
2020 teve alta de 7,1% no volume de mortes violentas intencionais, em 
comparação com o mesmo período do ano anterior. Nos seis primeiros 
meses de 2020, foram registradas 25.712 ocorrências de homicídio doloso, 
latrocínio, lesão corporal seguida de morte e óbitos decorrentes de 
intervenção policial, o que equivale a uma pessoa morta a cada dez 
minutos. De acordo com o 14º Anuário Brasileiro de Segurança Pública do 
FBSP, houve crescimento também no quantitativo de casos de violência 
contra a mulher, com uma agressão física de dois em dois minutos e um 
estupro a cada oito minutos. Conforme o levantamento, o número de 
denúncias de violência de gênero levadas às polícias militares aumentou em 
3,8% no comparativo entre o primeiro semestre de 2019 e os seis primeiros 
meses do ano passado, com um total de 147.379 chamados em todo o país. 
[...]As estatísticas da violência urbana no Brasil são traduzidas em uma 
sensação generalizada de insegurança, que resulta em uma cobrança da 
sociedade por medidas de endurecimento do combate à criminalidade. 
Pesquisas do Instituto Datafolha realizadas em 2018 e 2019 revelam, por 
exemplo, o apoio majoritário da população brasileira à aprovação da pena 
de morte e da redução da maioridade penal de 18 para 16 anos (STF, 
2020). 
 
 Havendo, portanto, a necessidade de endurecimento penal, das leis, como 
“resposta da justiça”, aos apelos da sociedade como medida de coibir o aumento da 
 
 
17 
violência e o povo necessitava com veemência isso na prática. O STJ, deixa bem 
claro nesse sentido, que ele mesmo salienta: 
 
Foi no embalo do clamor popular por maior repressão aos criminosos que o 
Congresso aprovou a Lei 13.964/2019, conhecida como Pacote ou Lei 
Anticrime. Em vigor desde janeiro do ano passado, o pacote alterou 
dispositivos de 17 leis penais, a exemplo do Código Penal (CP), do Código 
de Processo Penal (CPP) e da Lei de Execução Penal (LEP). 
Entre as novidades, a Lei Anticrime elevou de 30 para 40 anos o tempo 
máximo da pena de reclusão, ampliou o rol de crimes considerados 
hediondos – foram incluídos delitos como genocídio, roubo com restrição de 
liberdade da vítima e furto com uso de explosivo – e limitou as hipóteses de 
progressão de regime e de livramento condicional.” 
“Somente duas regras ainda não entraram em vigor. Uma delas é a criação 
do juiz das garantias, com o acréscimo dos artigos 3ª-A a 3º-F no CPP. A 
outra é a exigência de realização de audiências de custódia no prazo 
máximo de 24 horas após a prisão em flagrante, conforme nova redação 
dada ao artigo 310 do CPP. Ambas as normas estão suspensas por liminar 
do presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Luiz Fux, relator das 
ações diretas de inconstitucionalidade (ADIs) 6.298, 6.299, 6.300 e 6.305. 
Durante o primeiro ano de vigência da Lei 13.964/2019, o Superior Tribunal 
de Justiça (STJ) vem uniformizando a interpretação de seus dispositivos. 
Acórdãos sobre o Pacote Anticrime foram divulgados em seis edições do 
Informativo de Jurisprudência, publicação periódica produzida pela 
Secretaria de Jurisprudência do tribunal (STF, 2020). 
 
 Ainda sob a ótica da aplicabilidade da Lei 13.964/2019, em relaçãoa sua 
contemporaneidade, junto ao STJ, menciona: 
 
As novas regras da prisão preventiva são o tema mais frequente na 
jurisprudência do STJ em torno da Lei Anticrime. Em uma série de julgados, 
as turmas penais vêm consolidando o entendimento de que a Lei 
13.964/2019 – nos termos da redação conferida ao artigo 315 do CPP – 
exige expressamente que a imposição de preventiva ou de qualquer outra 
cautelar deve estar fundamentada em motivação concreta relacionada a 
fatos novos ou contemporâneos e na demonstração da imprescindibilidade 
da medida restritiva. O princípio da contemporaneidade foi aplicado pela 
Sexta Turma para conceder, por unanimidade, habeas corpus (HC 553.310) 
relatado pela ministra Laurita Vaz a uma então vereadora de Bertioga (SP), 
denunciada pela suposta prática do crime de concussão no seu gabinete 
parlamentar. Segundo o Ministério Público de São Paulo, entre 2013 e 
2014, ela teria exigido de dois assessores parte de sua remuneração 
mensal, totalizando cerca de R$ 42 mil. Em razão da denúncia, a ex-
vereadora foi afastada do cargo pelo juízo de primeiro grau (STF, 2020). 
 
 Nesse diapasão, continuamos a analisar alguns casos práticos da aplicação 
da nova lei junto ao STJ: 
a Sexta Turma revogou a suspensão do exercício da função pública. De 
acordo com a ministra Laurita Vaz, não houve fatos recentes que 
justificassem a implementação da cautelar. Como destacou a ministra, o 
afastamento do cargo foi determinado mais de cinco anos depois dos 
episódios narrados na denúncia, Em que pese, de fato, a gravidade e a 
reprovabilidade das condutas imputadas à paciente, verifica-se que não foi 
 
 
18 
demonstrada, na espécie, a indispensabilidade atual da restrição, nos 
termos do parágrafo 1º do artigo 315 do Código de Processo Penal, incluído 
pela Lei 13.964/2019 (STF, 2019) 
 
 Outro tema que não é consensual entre os membros do STJ sobre a 
aplicabilidade da norma “Ex ofício”; assim posiciona: 
 
Ao contrário do reconhecimento do princípio da contemporaneidade, um 
tema não consensual na corte superior é a conversão, de ofício, da prisão 
em flagrante em preventiva, à luz da redação dada ao artigo 311 do CPP 
pelo Pacote Anticrime. Ao longo de 2020, a Quinta Turma alterou o próprio 
entendimento a respeito da matéria.O colegiado compreendia que a nova 
legislação mantém no ordenamento jurídico a autorização para o juiz 
converter o flagrante em segregação provisória sem prévio requerimento. 
Como registrado pela edição 679 do Informativo de Jurisprudência, a turma 
penal referendou, por unanimidade, a decisão que indeferiu habeas corpus 
(AgRg no HC 611.940) impetrado por um suspeito de praticar, em Santa 
Catarina, os delitos de organização criminosa, receptação e adulteração de 
sinal identificador de veículo.Ao votar pela manutenção da custódia cautelar 
do acusado, o relator do HC, ministro Reynaldo Soares da Fonseca, 
ressaltou que a Lei Anticrime excluiu apenas a possibilidade da imposição, 
de ofício, de prisão preventiva."Embora a Lei 13.964/2019 tenha retirado a 
possibilidade de decretação da prisão preventiva, de ofício, do artigo 311 do 
Código de Processo Penal, no caso, trata-se da conversão da prisão em 
flagrante, hipótese distinta e amparada pela regra específica do artigo 310, 
II, do CPP (STF, 2020). 
 
 Posteriormente, a Quinta Turma fixou tese em sentido contrário. No HC 
590.039, impetrado pela Defensoria Pública de Goiás, o colegiado, por unanimidade, 
concedeu a ordem para anular duas prisões cautelares impostas sem prévia 
manifestação das partes, do Ministério Público ou da autoridade policial, em razão 
de flagrante da prática do crime de receptação. Segundo o relator do processo, 
ministro Ribeiro Dantas, o Pacote Anticrime modificou a redação do parágrafo 2º do 
artigo 282 do CPP, de modo a definir que qualquer medida cautelar somente será 
decretada pelo magistrado mediante provocação. 
 
Parece evidente a intenção legislativa de buscar a efetivação do sistema 
penal acusatório, vontade explicitada, inclusive, quando da inclusão do 
artigo 3º-A no Código de Processo Penal, que dispõe que o processo penal 
terá estrutura acusatória, vedadas a iniciativa do juiz na fase de 
investigação e a substituição da atuação probatória do órgão de acusação", 
complementou. A fim de pacificar a interpretação do tema, a Quinta Turma 
afetou para a Terceira Seção o julgamento do recurso em habeas corpus 
(RHC 131.263) no qual um acusado pelo crime de tráfico de drogas foi 
detido preventivamente, de ofício, após o flagrante em Goiás. O ministro 
Sebastião Reis Júnior é o relator do caso, que teve a análise interrompida 
por um pedido de vista do ministro Joel Ilan Paciornik (STF, 2020). 
 
 
 
19 
 O STJ salientou que a norma trouxe inovações, como a necessidade de 
revisão da segregação cautelar pelo juiz ou Tribunal que for responsável pela prisão, 
sem dúvida uma novidade a mais que atinge diretamente a vida do segregado, do 
réu preso. Vejamos o posicionamento do STJ: 
Ainda em matéria de prisão preventiva, o STJ firmou entendimento sobre a 
norma inscrita no parágrafo único do artigo 316 do CPP, nos termos da Lei 
Anticrime. O dispositivo inovou ao estabelecer a necessidade de revisão da 
segregação cautelar a cada 90 dias. De acordo com a edição 680 do 
Informativo de Jurisprudência, uma das teses delimitadas é a de que a 
obrigação de rever a preventiva de três em três meses vale apenas para o 
juiz ou o tribunal que impuser a custódia provisória. [...]“No caso concreto, a 
Sexta Turma, por unanimidade, negou habeas corpus (HC 589.544) em que 
um homem condenado em primeira e segunda instâncias pelo cometimento 
do crime de extorsão questionava o fato de o Tribunal de Justiça de Santa 
Catarina não ter revisado a prisão preventiva decretada pelo juízo de 
primeiro grau.A relatora do habeas corpus, ministra Laurita Vaz, enfatizou 
que o Pacote Anticrime é literal ao atribuir exclusivamente ao órgão emissor 
da decisão o dever de reavaliar a prisão cautelar. "A inovação legislativa se 
apresenta como uma forma de evitar o prolongamento da medida cautelar 
extrema, por prazo indeterminado, sem formação da culpa (STF, 2020). 
 
 Também no tocante à regra da revisão da preventiva a cada 90 dias – 
inserida no artigo 316 do CPP –, o STJ vem compreendendo que a inovação 
processual da Lei 13.964/2019 não resulta em soltura automática em caso de 
eventual atraso na reavaliação da conveniência da segregação provisória. 
 
Esse posicionamento das turmas de direito penal foi reforçado por 
precedente do Plenário do Supremo Tribunal Federal (STF) no julgamento 
da Suspensão de Liminar 1.395. Em outubro passado, por maioria, a corte 
manteve a suspensão da eficácia de liminar que havia colocado em 
liberdade André Oliveira Macedo, apontado como um dos líderes da facção 
criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC). André do Rap, como é 
conhecido, está foragido.Antes do julgado do STF, a Quinta Turma do STJ, 
por unanimidade, adotou a mesma interpretação ao manter a custódia 
cautelar contra um homem condenado na Justiça Federal da 1ª Região por 
tráfico internacional de entorpecentes e organização criminosa, depois de 
ter sido apreendido na posse de 257 quilos de cocaína. Ele permanecia 
preso provisoriamente desde dezembro de 2017, sem que a medida fosse 
revista, como prevê o Pacote Anticrime. Relator do HC 605.590, o ministro 
Reynaldo Soares da Fonseca afirmou – ao julgar agravo contra sua decisão 
monocrática que negou o relaxamento da prisão ao paciente – que o 
descumprimento do prazo nonagesimal para a rediscussão da preventiva 
"não implica automático reconhecimento da ilegalidade da prisão, tampouco 
a imediata colocação do custodiado cautelar em liberdade (STF, 2020). 
 
 Ainda sob as decisões do STJ, agora com foco na progressão prisional, dos 
presos já em cumprimento de pena (Lei de Execução Penal), também trouxe 
alterações vejamos algumas decisões nesse sentido: 
 
 
 
20 
Em relaçãoaos condenados, a Lei Anticrime promoveu nova disciplina no 
artigo 112 da Lei de Execução Penal, por meio de uma escala com 
percentuais de observância da pena para a progressão de regime, a 
depender da natureza da sanção e do perfil do apenado. Contudo, conforme 
a jurisprudência das turmas penais, resta uma lacuna legal no caso de 
quem cumpre pena por crime hediondo e possui condenação anterior pela 
prática de delito comum. [...] A matéria foi examinada pela Sexta Turma, por 
exemplo, em habeas corpus (HC 607.190) no qual a Defensoria Pública de 
São Paulo pleiteava que um condenado em regime fechado por tráfico de 
drogas e furto qualificado, reincidente simples, tivesse direito à progressão 
com base em prazo mais vantajoso previsto na Lei 13.964/2019. Na origem, 
o Tribunal de Justiça paulista manteve o patamar inicial de 60% da pena, 
destinado aos que cometem crime hediondo e são reincidentes em igual 
modalidade delitiva, nos termos do Pacote Anticrime. A Sexta Turma, por 
unanimidade, deferiu o pedido de habeas corpus, determinando que a 
progressão ocorra quando for atingido o percentual de 40% da sanção, 
reservado aos apenados primários na prática de crime hediondo.Segundo o 
relator do processo, ministro Nefi Cordeiro, diante da ausência de previsão 
legal, o magistrado deve buscar a solução mais favorável ao réu por meio 
da analogia in bonam partem. "Desse modo, forçoso reconhecer que, diante 
de duas situações, em obediência ao princípio do favor rei, ao paciente se 
deve aplicar a norma penal mais benéfica (STF, 2020). 
 
 Outra novação trazida foi sobre o livramento condicional, na seara da 
execução penal, é os aumentos dos requisitos para a sua obtenção, de acordo com 
artigo 83 do Código Penal, nesse sentido: 
 
Nas turmas de direito penal, houve reorientação jurisprudencial a partir da 
nova exigência legal de não cometimento de falta disciplinar grave nos 12 
meses anteriores para a concessão do benefício (a Súmula 441 do STJ 
reconhece que a falta grave não interrompe o prazo para a obtenção de 
livramento condicional). Os julgados do tribunal vêm asseverando ainda 
que, além do período de um ano sem falta grave, a Lei 13.964/2019 
demanda a existência de circunstâncias pessoais favoráveis para se 
autorizar o benefício. Exemplo de tal posição foi o julgamento em que, por 
unanimidade, a Quinta Turma não conheceu de habeas corpus (HC 
616.951) no qual a Defensoria Pública de São Paulo contestava a exigência 
de exame criminológico para a concessão de livramento condicional a um 
homem apenado por cinco roubos qualificados e que cometeu nove faltas 
graves durante o cumprimento da pena. [...] A última falta grave havia sido 
cometida há mais de dois anos. Mas, de acordo com o relator, ministro Felix 
Fischer, além das faltas, o réu apresentou indicativos desfavoráveis no 
exame criminológico anterior, o que levou à determinação da nova prova 
técnica. Fischer citou trecho do Pacote Anticrime segundo o qual as 
condições subjetivas necessárias a quem requer o benefício são 
"comportamento satisfatório durante a execução da pena, bom desempenho 
no trabalho que lhe foi atribuído e aptidão para prover a própria subsistência 
mediante trabalho honesto. A Quinta Turma recomendou celeridade na 
realização do exame (STF, 2020). 
 
 A norma também trouxe alteração sobre o tráfico privilegiado, vejamos: 
 
A Lei Anticrime também tratou do regime de cumprimento da pena para 
condenados por tráfico privilegiado, modalidade elencada no parágrafo 4º 
 
 
21 
do artigo 33 da Lei de Drogas (Lei 11.343/2006). Esse dispositivo permite a 
redução da pena em até dois terços – chegando ao mínimo legal de um ano 
e oito meses – quando a quantidade de material apreendido não é elevada, 
o agente é primário, de bons antecedentes e não se dedica a delitos nem 
integra organização criminosa. 
Normatizando jurisprudência consolidada no STF e no STJ, a Lei 
13.964/2019 alterou a redação do parágrafo 5º do artigo 112 da LEP para 
retirar o caráter hediondo do tráfico privilegiado. Como registra a edição 683 
do Informativo de Jurisprudência, a novidade fundamentou a decisão 
unânime da Sexta Turma de conceder habeas corpus coletivo (HC 
596.603), pedido pela Defensoria Pública de São Paulo, para fixar o regime 
aberto a todas as pessoas condenadas no estado por tráfico privilegiado, 
com pena de um ano e oito meses. 
Segundo dados da Secretaria de Administração Penitenciária de São Paulo 
listados no processo, 1.018 homens e 82 mulheres cumpriam, em março 
passado, a pena mínima por tráfico em regime fechado. De maneira 
preventiva, eventuais novos apenados nas mesmas condições deverão ser 
igualmente contemplados pela decisão do STJ, impedindo-se a decretação 
de regime fechado pela Justiça paulista.No voto, o relator do habeas 
corpus, ministro Rogerio Schietti Cruz, criticou a insistente desconsideração 
das diretrizes derivadas das cortes superiores relativas ao tema, por parte 
das demais instâncias: "Produz um desgaste permanente da função 
jurisdicional, com anulação e/ou repetição de atos, e implica inevitável lesão 
financeira ao erário, bem como gera insegurança jurídica e clara ausência 
de isonomia na aplicação da lei aos jurisdicionados" (STF, 2020). 
 
 Ainda continuando sobre as inovações trazidas pela Lei 13.964/2019, sobre o 
estelionato: 
Outra mudança promovida pelo Pacote Anticrime é a obrigatoriedade da 
representação da vítima no crime de estelionato, salvo se praticado contra a 
administração pública, crianças e adolescentes, pessoas com deficiência 
mental, maiores de 70 anos ou incapazes. Há divergência entre as turmas 
penais quanto ao alcance da retroatividade da nova regra, ponto em torno 
do qual permanece omissão legal. 
Para a Quinta Turma – edição 674 do Informativo de Jurisprudência –, o 
parágrafo 5º do artigo 171 do Código Penal, inserido pela Lei 13.964/2019, 
não pode ser aplicado aos processos em que o Ministério Público já 
ofereceu denúncia. Esse foi o posicionamento unânime do colegiado no 
julgamento de habeas corpus (HC 573.093) em que a Defensoria Pública de 
Santa Catarina pleiteava a anulação do processo de um homem condenado 
por estelionato, sem que a vítima houvesse se pronunciado a respeito da 
persecução penal. 
De acordo com o relator do caso, ministro Reynaldo Soares da Fonseca, as 
denúncias de estelionato já ofertadas estão protegidas pelo princípio do ato 
jurídico perfeito. "As condições de procedibilidade, que alguns autores 
chamam de condições de admissibilidade do processo penal ou, ainda, de 
pressupostos processuais, não se confundem com as condições de 
prosseguibilida-de", afirmou o ministro ao explicar que a representação é 
requisito para o início, e não para a continuidade de uma ação penal. 
Já no HC 583.837 – edição 677 do Informativo de Jurisprudência –, a Sexta 
Turma decidiu, por unanimidade, pela retroatividade da exigência de 
representação da vítima em todos os processos por estelionato ainda não 
transitados em julgado, mas sem a extinção automática da punibilidade 
naqueles em que o ofendido não tenha se manifestado favoravelmente à 
persecução penal. 
 
 
22 
A decisão do colegiado se deu no julgamento de habeas corpus impetrado 
contra acórdão do Tribunal de Justiça de Santa Catarina que manteve o réu 
condenado à pena de reclusão por estelionato, apesar da ausência de 
representação da vítima. No voto, o ministro relator, Sebastião Reis Júnior, 
disse que as normas regulamentadoras da ação penal são regidas pelos 
princípios da retroatividade e da ultratividade benéficas, pois disciplinam o 
exercício da pretensão punitiva. 
"Parece notório que o parágrafo 5º do artigo 171 do Código Penal, inserido 
pela Lei 13.694/2019, é norma mais benéfica em relação ao regime anterior. 
E, pelo caráter misto, alcança casos anteriores à sua vigência”, declarou 
(STF, 2020). 
 
 Continuando a análise das inovações, vejamos o entendimento do STJ sobre 
a não persecução penal: 
 
O STJ também buscauniformizar a interpretação em relação à 
retroatividade do instituto do acordo de não persecução penal. Ao criar o 
artigo 28-A do CPP, a Lei 13.964/2019 abriu a possibilidade de que o 
Ministério Público proponha ao acusado acordo para a não abertura de 
ação penal, desde que preenchidos os requisitos legais de confissão de 
crime sem violência ou grave ameaça, de pena mínima inferior a quatro 
anos, e mediante o cumprimento de obrigações como a prestação de 
serviços comunitários. 
A Sexta Turma afetou a matéria para julgamento na Terceira Seção. O 
habeas corpus (HC 596.340) em análise foi impetrado pela defesa de um 
homem denunciado pelo crime de furto qualificado, que confessou o delito, 
mas teve negado o pedido para negociar um acordo de não persecução 
penal após parecer contrário do Ministério Público do Tocantins. Em liminar, 
o relator do processo, ministro Rogerio Schietti Cruz, suspendeu a ação 
penal até o exame de mérito do caso. 
A Quinta Turma, por sua vez, vem firmando a tese de que a retroatividade 
do acordo de não persecução penal só é válida se a denúncia não tiver sido 
recebida. Esse entendimento embasou a decisão do colegiado que, por 
unanimidade, manteve o desprovimento de recurso especial (AgRg no REsp 
1.886.717) interposto contra acórdão do Tribunal Regional Federal da 4ª 
Região contrário à retroatividade do acordo. 
O caso concreto envolvia um condenado por contrabando de medicamentos 
importados. Segundo o relator do recurso, ministro Felix Fischer, o artigo 2º 
do Código de Processo Penal dispõe que as normas processuais penais 
não possuem efeito retroativo."Da simples leitura do artigo 28-A do CPP se 
verifica a ausência dos requisitos para a sua aplicação, porquanto o 
recorrente, em momento algum, confessou formal e circunstancialmente a 
prática de infração penal, pressuposto básico para a possibilidade de 
oferecimento de acordo de não persecução penal", complementou” (STF, 
2020). 
 
2.3 A EFICÁCIA DA ALTERAÇÃO 
 Para o doutrinador Cezar Roberto Bitencourt, as prisões causam muitos 
efeitos negativos e na prática não cumprem sua real função ressocializadora, não 
sendo eficaz a alteração promovida no artigo 75 do Código Penal. Nesse mesmo 
 
 
23 
diapasão, tem se que tal mudança não foi eficaz, vez que as penas não estão 
cumprindo sua função, além de que o tempo de duração da medida de segurança 
não deve ser superior ao limite máximo da pena abstratamente cominada ao delito 
praticado. 
 As garantias que foram flexibilizadas foram no sentido de limitar direitos e 
liberdades individuais em nome de uma suposta maior eficácia e proteção social. O 
princípio da humanidade das penas atua como elemento para coibir a irracionalidade 
da violência criminal, manifestada na proibição da tortura e dos tratamentos cruéis e 
degradantes (art. 5º, III, CF/88), o legislador ignorou a mesma individualização que 
pena (art. 5º, XLVI) e a proibição da pena de morte, prisão perpétua ou prisão 
perpétua (art. 5º, XLVIII). 
 Posto isso, ao invés de cercear direitos, a falta de recursos públicos deveria 
ser mais um motivo para o Estado reservar a prisão para casos excepcionais, 
deixando de banalizá-la e utilizá-la como instrumento de segregação e 
neutralização. O aumento injustificado em uma década do limite da pena privativa de 
liberdade encobre, na verdade, sob um argumento higienista e securitário, um 
projeto de institucionalização, estigmatizando a diferenciação e o desprezo pela 
humanidade. 
 Em realidade, trata-se de um atentado à integridade física, psíquica e moral 
dos indivíduos que foram presos, infringindo tanto o texto constitucional quanto as 
normas internacionais de direitos humanos. Desse modo, a lógica legal razoável é 
reduzir a pena e não a prolongar. Consequentemente, a lei que eleve o limite da 
pena para 40 anos no Brasil é um instrumento inconstitucional mascarado de 
convencionalidade. 
 
 
 
24 
3. A ALTERAÇÃO DO AUMENTO DO LIMITE DE CUMPRIMENTO DE PENA E OS 
RESPECTIVOS IMPACTOS NO DIREITO PENAL 
 
 Este capítulo trará uma breve análise da nova redação do artigo 75 do Código 
Penal, que conforme já mencionado alhures, em decorrência da Lei 13.964/2019, 
trouxe uma série de modificações no Direito Penal, mais especificamente da 
alteração que aumentou o tempo máximo de cumprimento das penas privativas de 
liberdade de 30 para 40 anos, e como isso influenciou o direito Penal. 
 Conforme já tratado, as alterações promovidas pela Lei n° 13.964/2019, 
modificou a redação do artigo 75 do Código Penal Brasileiro, qual seja, que alterou a 
pena 30 anos: Art. 75 – O tempo de cumprimento das penas privativas de liberdade 
não pode ser superior a 30 (trinta) anos. 
 Desse modo, com a recente mudança na legislação em decorrência da nova 
lei, o limite fixado de reclusão e detenção passou a ser 40 anos, ocorrendo, portanto, 
um aumento de 10 anos no cumprimento de pena no Brasil: Art. 75. O tempo de 
cumprimento das penas privativas de liberdade não pode ser superior a 40 
(quarenta) anos. 
 Tal modificação na redação do artigo, tem o intuito fazer com que a sanção 
penal privativa de liberdade possa acompanhar o aumento da expectativa de vida 
dos brasileiros, tendo entrado em vigor com a edição da Lei Federal 13.964, de 24 
de dezembro de 2019, que ficou popularmente conhecida como “Pacote Anticrime”, 
conforme dito alhures. 
 Tal elevação no tempo de encarceramento tem um cunho de punibilidade do 
agente condenado, sob a argumentação de reduzir a incidência criminal e o combate 
às organizações criminosas. Desse modo, entende-se que o que se baseia para 
justificar a alteração da legislação penal de torná-la mais punitiva, possui, na prática, 
eficácia. 
 
3.1 A LEI DOS CRIMES HEDIONDOS E O PACOTE ANTICRIME 
 Segundo Capriolli (2020), a análise das alterações feitas à “Lei dos Crimes de 
Hediondos” pelo Pacote Anticrime, que realizou alterações importantes no que diz 
respeito a punibilidade, se baseando na interpretação da “Lei dos Crimes 
 
 
25 
Hediondos”, publicada no Diário das Nações Unidas em 26 de julho de 1990. Além 
de lidar com vários outros crimes horríveis na época, a sociedade também estava 
sofrendo com os crimes de sequestro. O caso em questão foi o assassinato do 
empresário Ablio Diniz em 11 de novembro de 1989, seis (seis) dias antes do 
segundo turno da eleição presidencial, que elegeu Fernando Collor de Melo. 
 Diante disso, o estado procurou combater a violência, se baseando na Lei dos 
crimes Hediondos, como forma de satisfação popular, endurecendo a punição para 
piores e mais graves crimes. (CAPRIOLLI, 2020). A Lei em comento regulamenta o 
artigo 5º, inciso XLIII da Constituição da República Federativa do Brasil. De acordo 
com o disposto no art. 2º, I, da Lei n. 8.070/90, os crimes hediondos e os 
equiparados são insuscetíveis de anistia, graça e indulto (STF, 2006). 
 Os crimes considerados hediondos são o de extorsão qualificada pela morte, 
latrocínio, estupro, extorsão mediante sequestro e na forma qualificada, epidemia 
com resultado morte, atentado violento ao pudor, envenenamento de água potável 
ou de substância alimentícia ou medicinal, qualificado pela morte, todos do Código 
Penal, e os crimes de genocídio, tentados ou consumados. 
 O parágrafo 1º do artigo 2º da referida lei, discorre sobre os autores destes 
crimes não terem direito a progressão de regime e devendo cumprir sua pena em 
regime integralmente fechado, fato este que deu origem a declaração de 
inconstitucionalidade por parte do STF, partindo da premissa de que esta previsão 
feria os princípios da individualização e humanização da pena, além dos princípios 
da igualdade e do devido processo legal. 
 Tal entendimento foi o precursor da Súmula Vinculante 26, que estabeleceu a 
progressão de regime no cumprimento de pena por crime hediondo, ou equiparado, 
observando que o juízo da execução declarará a inconstitucionalidade do art. 2º daLei 8.072, de 25 de julho de 1990, sem considerar se o condenado preenche, ou 
não, os requisitos objetivos e subjetivos do benefício, podendo estabelecer de 
maneira fundamentada, para essa finalidade, a realização de exame criminológico. 
 A critério de demonstração disso surgiu o precedente representativo emitido 
por aquele Órgão Supremo: 
 
PENA — REGIME DE CUMPRIMENTO — PRO-GRESSÃO — RAZÃO DE 
SER. A progressão no regime de cumprimento da pena, nas espécies 
fechado, semiaberto e aberto, tem como razão maior a ressocialização do 
preso, que, mais dia ou menos dia, voltará ao convívio social. PENA — 
 
 
26 
CRIMES HEDIONDOS — REGIME DE CUMPRIMENTO — PROGRESSÃO 
— ÓBICE — ART. 2º, § 1º, DA LEI 8.072/1990 — 
INCONSTITUCIONALIDADE — EVOLUÇÃO JURISPRUDENCIAL. Conflita 
com a garantia da individualização da pena — art. 5º, inciso XLVI, da 
Constituição Federal — a imposição, mediante norma, do cumprimento da 
pena em regime integralmente fechado. Nova inteligência do princípio da 
individualização da pena, em evolução jurisprudencial, assentada a 
inconstitucionalidade do art. 2º, § 1º, da Lei 8.072/1990. [HC 82.959, rel. 
min. Marco Aurélio, P, j. 23-2-2006, DJ de 1º-9-2006.]” (STF, 2006). 
 
 Com o advento da Lei 11.464/2007, parágrafo 1º do artigo 2º da Lei dos 
crimes Hediondos, ficou estabelecido que a pena dos crimes hediondos seria 
cumprida em regime fechado, inicialmente. Em todo caso, o atual entendimento 
jurisprudencial é de que cabe ao juiz sentenciante a definição de qual será o regime 
de cumprimento de pena a ser aplicado ao condenado, levando em consideração o 
princípio da individualização da pena, como se observa em Teses de Repercussão 
Geral do Supremo Tribunal Federal: “É inconstitucional a fixação ex lege, com base 
no art. 2º, § 1º, da Lei 8.072/1990, do regime inicial fechado, devendo o julgador, 
quando da condenação, ater-se aos parâmetros previstos no artigo 33 do Código 
Penal”. 
 Vale ressaltar que esta lei passou por muitas reformas legislativas, tais como: 
Lei 8.930/1994; 9.695/1998; 11.464/2007; 12.015/2009; 12.978/2004; 13.104/2015; 
13.142/2015; 13.497/2017; 13.769/2018. Na maioria das vezes, lei tem sido utilizada 
de maneira eleitoreira por aqueles que inundam o público com o argumento de que a 
segurança pública se torna mais eficaz com o endurecimento das leis, e em outras 
circunstâncias, a mesma lei tem sido utilizada apenas para acalmar o anseio 
popular, tendo uma vertente muito mais emergencial e simbólica do que efetivo e 
eficaz em sua finalidade. 
 Superado isso, no momento em que o Brasil adota um critério legal, taxativo 
ou enumerativo, para definir os crimes hediondos, é o momento em que o juiz deixa 
de possuir discricionariedade para afastar a hediondez, ou até mesmo aplicá-la em 
casos que não os previstos na lei. 
 No que se refere a esta taxatividade, o legislador tem feito inúmeras 
alterações na tipificação dos crimes, o que em certo ponto atinge também aqueles 
previstos na Lei dos Crimes Hediondos. A título de exemplificação disto, são as 
recentes modificações realizadas pelo Pacote Anticrime, que em seu artigo 5º traz a 
possibilidade de alterar da redação do artigo 1º da Lei 8.072/1990, principalmente 
 
 
27 
em seus incisos I (homicídio), II (roubo), III (extorsão qualificada) e IX (furto 
qualificado pelo emprego de explosivo). 
 
3.2 DAS ALTERAÇÕES NA LEI DOS CRIMES HEDIONDOS 
 No que se refere as mudanças ocorridas na Lei dos Crimes Hediondos, 
alterada pelo Pacote Anticrime, Lei n. 13.964/2019, foram realizadas mudanças 
muito importantes quanto a punibilidade dos crimes hediondos. Vale ressaltar que o 
Pacote Anticrime, na Lei dos Crimes Hediondos, alterou apenas o rol de crimes 
hediondos, vez que as alterações ligadas à progressão de regime, liberdade 
condicional e outras características de cumprimento de pena foram incluídas na Lei 
de Execuções Penais. 
 
3.3 DO HOMICÍDIO QUALIFICADO – ARMA DE FOGO DE USO RESTRITO OU 
PROIBIDO 
 Dentre a alteração ocorrida, a mais criticada é o fato de o Pacote Anticrime 
tentar incluir no Código Penal o inciso VIII do parágrafo 2º, no artigo 121, a 
qualificadora do homicídio quando cometido com uso de arma de fogo de uso 
restrito ou proibido, e ainda considerou este ato qualificado de homicídio como crime 
hediondo. 
 Ocorre que a inclusão deste inciso VIII, § 2º, 121 do CP, foi vetada pela 
Presidência da República, sob o pretexto de que sua aprovação poderia causar 
danos aos agentes de segurança pública, como se percebe na Mensagem 726, de 
24 de dezembro de 2019, da Presidência da República (BRASIL, 2019). Inciso VIII 
do § 2º do art. 121 do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de1940, alterado pelo 
art. 2º do projeto de lei.: “VIII – com emprego de arma de fogo de uso restrito ou 
proibido: ”Sendo que as razões do veto são: 
 
A propositura legislativa, ao prever como qualificadora do crime de 
homicídio o emprego de arma de fogo de uso restrito ou proibido, sem 
qualquer ressalva, viola o princípio da proporcionalidade entre o tipo penal 
descrito e a pena cominada, além de gerar insegurança jurídica, 
notadamente aos agentes de segurança pública, tendo em vista que esses 
 
 
28 
servidores poderão ser severamente processados ou condenados 
criminalmente por utilizarem suas armas, que são de uso restrito, no 
exercício de suas funções para defesa pessoal ou de terceiros ou, ainda, 
em situações extremas para a garantia da ordem pública, a exemplo de 
conflito armado contra facções criminosas. 
 
 No entanto, mesmo a alteração legislativa constando como vetada no Código 
Penal, ainda é citada no rol de crimes hediondos da Lei 8.072/1990, ou seja, 
restando demonstrada a falta de empenho do legislativo na publicação de nossas 
leis, conforme a integra do texto legal já com a redação dada pelo Pacote Anticrime, 
na Lei nº 8.072, de 25 de julho de 1990. “Art. 1º.I - homicídio (art. 121), quando 
praticado em atividade típica de grupo de extermínio, ainda que cometido por um só 
agente, e homicídio qualificado (art. 121, § 2º, incisos I, II, III, IV, V, VI, VII e VIII) 
(BRASIL, 1990). 
 
3.4 DO LATROCÍNIO 
 A Lei dos Crimes Hediondos apresentava em seu texto, tanto na redação 
original, quanto na alteração promovida pela Lei 8.930/1994, a expressão “latrocínio” 
como sinônimo de roubo acompanhado de morte da vítima. Trata-se de crime contra 
o patrimônio, e de acordo com a Súmula 603 do Supremo Tribunal Federal, “A 
competência para o processo e julgamento de latrocínio é do Juiz singular e não do 
Tribunal do Júri” (BRASIL, 1988). 
 As hipóteses que isso era possível são na de roubo consumado e homicídio 
tentado que seria a tentativa de latrocínio, a de roubo consumado e homicídio 
consumado, que seria latrocínio consumado, a de roubo tentado e homicídio tentado 
que seria a tentativa de latrocínio, e por fim o roubo tentado e homicídio consumado 
que seria o latrocínio consumado. 
 Dentre as mudanças trazidas pelo Pacote Anticrime, é notória a alteração que 
retirou a palavra “latrocínio” da Lei dos Crimes Hediondos, sendo substituída pela 
expressão “roubo”, de acordo com o método de nomenclatura utilizada no artigo 157 
do Código Penal. A Lei dos Crimes Hediondos prevê as hipóteses em que o “roubo” 
será considerado hediondo. O inciso II do artigo 1º desta Lei passa a prever três 
alíneas que narram as situações em que o roubo será considerado crime hediondo. 
 Nas alíneas “a” e “b” verifica-se as ocorrências descritas como roubo 
 
 
29 
circunstanciado, como no caso da restrição de liberdade da vítima, ou até mesmo, 
no emprego de arma de fogo “de uso permitido”, arma de fogo de uso proibido e 
arma de fogo de uso restrito. Já na alínea “c” existem duas hipóteses descritas como 
roubo qualificado, tais como: quando ocorre lesão corporal de natureza grave (ou 
gravíssima), e ainda, quando ocorre o resultado morte. 
 Em síntese, o roubo com resultado

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