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REPRESENTAÇÕES DO GRUPO SIMÉTRICO E APLICAÇÕES Aluno: João Fernando Schwarz Orientador: Prof. Dr. Plamen Emilov Kochloukov INSTITUTO DE MATEMÁTICA, ESTATÍSTICA E COMPUTAÇÃO CIENTÍFICA Apoio:CNPq Palavras-Chave: Representações de Grupos, Grupo Simétrico, Teoria de Young Introdução Em todas as nossas discussões, K será um corpo. Definição 1 Seja X um conjunto qualquer e seja K〈X〉 a álgebra dos polinômios não- comutativos (mas associativos) nas variáveis em X . Ou seja, K〈X〉 é a álgebra tensorial do espaçoo vetorial livremente gerado por X . Definimos os conceitos de monômios, graus de monômios e polinômios da mesma maneira que para polinômios usuais (comutativos). O polinômio multilinear de grau n se cada um dos seus monômios for uma palavra de compri- mento n contendo exatamente uma das variáveis x1, . . . , xn. Fixemos X um conjunto enumerável. Definição 2 Seja R uma álgebra associativa sobre K. Dizemos que R é uma PI-álgebra se existe um f (x1, . . . , xn)¬0 ∈ K〈X〉 tal que f (r1, . . . , rn) = 0∀r1, . . . , rn ∈ R. O estudo de álgebras ( ou anéis) com identidades polinomiais, as PI-Álgebras(Anéis) há um bom tempo se firmou como uma das áreas mais importantes e ricas da ’álgebra não- comutativa’. Nas últimas décadas, a área passou por varias transformações, e ganhou des- taque o uso de métodos combinatoriais, assintóticos e usando teoria de representações de grupos. Essas tendências recentes são o foco de nossos estudos. Teorema de Shirshov Definição 3 Seja R uma álgebra gerada por r1, . . . , rm. Seja H um conjunto finito de pa- lavras em r1, . . . , rm. Dizemos que R é de comprimento h em relação as palavras de H se h é o menor inteiro com a propriedade que R é gerado, como espaço vetorial, por todos os produtos da forma uk1i1 . . . u kt it , ui1, . . . , uit ∈ H , e t ≤ h. Teorema 1 Teorema de Shirshov Seja R uma PI-Álgebra gerada por m elementos r1, . . . , rm e satisfazendo uma identidade polinomial de grau d > 1. Então R tem peso finito em relação ao conjunto de todas as palavras ri1, . . . , ri2 de comprimento s < d. O Teorema de Shirshov nos permite aplicar a teoria combinatória de palavras para o estudo de PI-Álgebras finitamente geradas. Existe uma versão do famoso Problema de Burnside para álgebras, conhecido como o Problema de Kurosch: seja R uma álgebra associativa fini- tamente gerada, tal que todo elemento de R é algébrico.(1) É R de dimensão finita? (2) Se todo elemento de R é algébrico de grau limitado, R é de dimensão finita? A resposta para (1) é negativa, em função de contra-exemplos dados primeiramente por Go- lod e Shafarevich. Quanto a (2), temos que um resultado de Jacobson que diz que se todo elemento de R é algébrico de grau limitado, então R é uma PI-Álgebra. Para PI-Álgebras algébricas, o problema de Kurosch foi resolvido positivamente por Ka- plansky, usando teoria estrutura de anéis. Dentro do espírito recente de aplicar métodos combinatoriais para a teoria das PI-Álgebras, o Teorema de Shirshov nos permite redemons- trar o resultado positivo obtido por Kaplansky de maneira inteiramente nova; na verdade, se prova um resultado mais forte: ao invés de precisarmos que todo elemento seja algébrico, se R satisfaz uma identidade polinomial de grau d e é gerada por m elementos, precisamos apenas que as palavras de comprimento menor do que d desses geradores sejam algébricos. Representações do Grupo Simétrico Definição 4 Seja G um grupo finito e CG a álgebra do grupo. Uma representação linear de G é um homomorfismo de grupo φ : G → Gl(V ), onde V é um espaço vetorial. Podemos transformar V num CG-módulo definindo ( ∑ g∈Gαgg)v = ∑ g∈Gαgφ(g)v, α ′s ∈ C, v ∈ V . Se V não tiver nenhum sub(CG)módulo além dos triviais, a representação é chamada irredutível. Se V for uma soma direta de submódulos irredutíveis, então a representação é chamada completamente redutível. O caracter associado à representação é a função χ : G→ C, χ(g) = tr(φ(g)); o carácter é constante em cada classe de conjugação. Finalmente, duas representações de G, em Gl(V ) e Gl(W ), são isomórficas, se existir um isomorfismo de CG-módulo entre V e W . A teoria de representações do grupo simétrico é uma área de fértil encontro de álgebra e com- binatória, e além de sua beleza intrínseca, tem tido várias aplicações para identidades polino- miais. Uma observação importante: em todas as considerações envolvendo representações„ assumiremos que estamos trabalhando num corpo algebricamente fechado e de característica 0. Uma boa parte dos nossos resultados valem para casos mais gerais, mas vamos assumir isso por simplicidade. Definição 5 Seja n ≥ 1 qualquer, e seja λ uma partição de n. Escrevemos λ = (λ1, . . . , λr), com os λi decrescentes (com possíveis repetições), não negativos e ∑ λi = n para designá- la. Dada a partição, o diagrama de Férrer de λ é uma malha que tem λ1 nós na linha 1, λ2 nós na linha 2, e assim sucessivamente até a linha r, onde tem λr nós. Chamamos de λ′j o comprimento da sua j-ésima coluna. Usamos a notação (1 n) para a partição de n λ = (1, . . . , 1). Também podemos visualizar os diagramas de Férrer como constituídos por quadrados e não por nós, então ao invés de escrever os números nos nós, teremos de escrevê-los dentro dos quadrados. Neste caso por tradição usa-se o nome de tabelas, diagramas de Young. Definição 6 Para uma partição λ = (λ1, . . . , λk) de n, nós chamamos de λ-tableau t de conteúdo α = (α1, . . . , αm), onde ∑ iαi = n, o diagrama de Young cujos quadrados são preenchidos com αi números 1, α2 números 2, ..., e assim por diante.. Um tableau é semis- tandard se as suas entradas não decrescem da esquerda para a direita nas linhas e se elas aumentam de cima para baixo nas colunas. Um tableau é standard se ele é semistandard e de conteúdo (1, . . . , 1). Definição 7 Dados dois λ-tableaux t e s, definimos t ≡ s no caso eles terem exatamente os mesmos números nas mesmas linhas (mas não necessariamente na mesma ordem). É fácil ver que≡ e uma relação de equivalência. Denotamos a classe de equivalência de um tableau t por {t}. Tais classes de equivalência são chamadas de λ-tablóides. Existe uma ação natural de Sn no conjunto dos λ-tablóides (λ uma permutação de n). Sendo π um elemento do grupo e {t} um tablóides, definimos π{t} como sendo o tablóide que tem na linha i a imagem por π dos números na linha i de {t}. Sendo M(λ) o espaço vetorial constituído pelas combinações lineares formais dos λ-tablóides, podemos estender a ação de Sn por linearidade e assim obter um Sn-módulo. Os M(λ) são chamados de módulos de permutação. Definição 8 Seja t um λ-tableau. Chamamos Rt e Ct os subgrupos de Sn que mantém os elementos de t nas mesmas linhas e colunas, respectivamente. Seja H um subgrupo qualquer de Sn. Definimos H+ = ∑ π∈H π e H − = ∑ π∈H(sgnπ)π. kt = C − t e et = kt{t}. Os elementos et de CSn com t percorrendo todos os λ-tableau constituem os politablóides, e os sub-módulos de M(λ) gerados pelos politablóides são chamados de módulos de Specht e denotados por S(λ). Definição 9 O gancho (i, j) de um diagrama de uma partição λ = (λ1, . . . , λk) consiste do j- ésimo quadrado (ou nó) da i-ésima linha do diagrama, juntamente com os λ1−j quadrados a sua direita e os λ′j−i quadrados abaixo. O comprimento do gancho é igual a λi+λ ′ j−i−j+1. Teorema 2 A dimensão dλ do Sn-módulo irredutivel M(λ) é igual ao número de λ-tableaux standards. Temos também a fórmula do gancho: dλ = n!∏ (λi + λ ′ j − i− j + 1) , onde o produto percorre todas as posições (i,j) isto é, dλ e igual a n! dividido pelo produto de todos os comprimentos de gancho. Aplicações Para poder aplicar os resultados anteriores no contexto de identidades polinomiais, precisa- mos que o grupo Sn haja de alguma forma nos polinômios de K〈X〉, X um conjunto. Temos uma ação em Pn, o conjunto dos polinômios multilineares de grau n, que é um sub-espaço de K〈x1, . . . , xn〉: σ( ∑ aixi1 . . . xin) = ∑ aixσ(i1) . . . xσ(in), σ ∈ Sn. Mais: identificando σ com xσ(i1) . . . xσ(in), temos um isomorfismo de Sn-módulosentre KSn e Pn. Denotamos ι : KSn → Pn tal isomorfismo. Uma observação simples mais extremamente importante para o que segue é que, se U for um T-ideal de K〈x1, x2 . . .〉, então U ∩Pn é um sub-módulo de Pn, e U ∩ (K〈Vm〉), U ∩ (K〈Vm〉)n são sub-módulos de (K〈Vm〉). Um dos primeiros teoremas provados usando as técnicas das representações de grupos foi o Teorema de Regev sobre o produto tensorial de duas PI-álgebras: Teorema 3 Se A e B são duas algébras sobre um corpo K e satisfazem uma identidade polinomial não-trivial, então A⊗B também satisfaz uma identidade polinomial não-trivial. O ponto central na demonstração desse teorema, de natureza qualitativa à respeito das PI- álgebras, é um resultado quantitativo e combinatorial, que é por onde entra o grupo simétrico: Teorema 4 Regev Se uma álgebra satisfaz uma identidade de grau d, então temos a seguinde desigualdade para a sua sequência de codimensões: cm ≤ (d− 1)2n. Um outro resultado importante que tem uma demonstração conceitualmente bastante clara usando essas idéias (inclusive o resultado acima sobre codimensões) é o teorema de Amitsur que diz que toda PI-álgebra satisfaz uma potência de uma identidade standard. A prova origi- nal de Amitsur usava idéias de teoria de anéis; a prova que estudamos, devida a Regev, é mais um exemplo da tendência atual de aplicar métodos combinatoriais (no caso, representações do grupo simétrico) e assintóticos no estudo de identidades polinomiais. Teorema 5 Toda PI-álgebra satisfaz a identidade smk para algum k,m ≥ 1. Referências [1] V. Drensky, Springer, Free Algebras and PI-Algebras. [2] B. E. Sagan, Springer, The Symmetric Group: Repre- sentations, Combinatorial Algorihms, and Symmetric Functions, 2a edição. [3] G. James e A. Kerber, Cambridge University Press, The Representation Theory of the Symmetric Group, Encyclopedia of Mathematics and Its Applications 16.
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