Buscar

CorreioPopular-01042012-pag4

Prévia do material em texto

Luciana Félix
DA AGÊNCIA ANHANGUERA
luciana.felix@rac.com.br
Os prefeitos de Itatiba, Vali-
nhos, Vinhedo e Louveira se
uniram para tentar reverter o
processo de tombamento de
220 km2 da Serra dos Cocais,
aberto no final do ano passado
pelo Conselho de Defesa do Pa-
trimônio Histórico, Arqueológi-
co, Artístico e Turístico (Conde-
phaat). Eles alegam que ela foi
iniciada sem qualquer discus-
são com a população e as pre-
feituras afetadas e querem o ar-
quivamento da proposta.
Desde dezembro de 2011,
qualquer intervenção na
área, seja um grande em-
preendimento imobiliário ou
uma simples reforma de resi-
dência, precisa de aval do Con-
dephaat. O processo, ainda
não concluído, iguala Cocais
às serras do Mar e do Japi.
Ao todo, 25 mil residências
nas quatro cidades estão na
zona de restrição. Em Itatiba,
75% da área urbana estão den-
tro da área de tombamento.
Em Valinhos, a área é de 40%,
e em Vinhedo, de 20%.
O início de processo de
tombamento da área, segun-
do os prefeitos, ameaça enges-
sar as cidades. Para eles, o de-
senvolvimento está em risco.
Em Itatiba e Valinhos, por
exemplo, o tombamento de-
ve reduzir a arrecadação com
o Imposto Predial e Territorial
Urbano (IPTU). É que em
áreas tombadas os proprietá-
rios ficam isentos do pagamen-
to do imposto, segundo legisla-
ção de Itatiba, e têm descontos
variáveis em Valinhos.
Se o processo for finaliza-
do nestes moldes, Itatiba, por
exemplo, corre o risco de per-
der cerca de R$ 16 milhões
por ano em receita com o IP-
TU. O Orçamento da cidade,
de R$ 280 milhões anuais, fica-
ria 6% menor. O prefeito, João
Fattori (PSDB), enviou, há
uma semana, ao Condephaat
um documento contestando o
tombamento. Nele, afirma que
o processo viola o direito de
milhares de proprietários de
imóveis, pois, de acordo com o
artigo 143 do decreto estadual
13.426/79, todos devem ser no-
tificados para poder apresen-
tar contestação em processos
de tombamento. Assim, segun-
do o documento, por não po-
derem exercer o direito do con-
traditório e da defesa, os pro-
prietários “sofrerão unilateral-
mente, e de forma ilegal, limita-
ções no exercício do direito de
propriedade”.
“Fomos surpreendidos em
dezembro. Somos a favor de
proteger a área, mas a forma
como isso está sendo feito é ab-
surda”, afirma Fattori.
Ele reclama que recebeu a
notícia por ofício e que a área
tombada não está delimitada
nem amparada por estudos.
“O projeto diz que a partir do
ribeirão que corta a cidade até
a serra não podem ocorrer alte-
rações sem autorização. Há in-
dústrias, empresas, casas e con-
juntos habitacionais. Ficam
longe da área preservada.”
Para Fattori, o processo de-
veria ser encerrado e iniciado
de novo. “Precisamos ouvir as
pessoas, fazer audiências públi-
cas. Depois, delimitar a área e,
a partir daí, fazer o tombamen-
to. Eles não estão tombando
um prédio, mas mais da meta-
de de uma cidade”, analisou.
Ele diz que vai à Justiça contra
o processo se o Condephaat
não aceitar as argumentações.
Valinhos
A mesma opinião compartilha
o prefeito de Valinhos, Marcos
José da Silva (PMDB). O muni-
cípio está com 40% do territó-
rio comprometido. “A região
que mais cresce foi tombada.
A Vila Santana, onde a cidade
se iniciou, há cem anos. O mu-
nicípio tem leis rigorosas que
protegem a região. Somos a fa-
vor da proteção, mas não da
forma que está ocorrendo. Nin-
guém ouviu as pessoas. Nunca
vi isso”, disse ele. Silva afirma
que está em fase de término a
contestação realizada pelo mu-
nicípio sobre o processo. “Os
técnicos estão terminando de
analisar e vamos enviar o mais
breve possível.”
Moradores
Os moradores da área está em
processo de tombamento es-
tão confusos. Alguns afirmam
que ouviram comentários,
mas não entendem o que está
acontecendo. Outros não es-
tão sabendo de nada. A secretá-
ria Maria de Fátima mora em
frente ao Ribeirão Jacaré, em
Itatiba. “Falam que do ribeirão
até a serra será tombado, mas
ninguém sabe ao certo. Até a
Prefeitura está confusa”, afir-
mou. Maria disse que um vizi-
nho está ampliando a casa des-
de janeiro. “Ele me falou que
pediu autorização só para a
prefeitura”, disse.
220
Processo do Condephaat abrange 220 km2
e ameaça crescimento de quatro cidades
Órgão avalia
delimitações;
prefeitos vão
ser notificados
Sugestões de pautas, críticas e elogios:
cidades@rac.com.br ou
pelos telefones 3772-8116 e 3772-8162
Atendimento ao assinante:
3736-3200 ou pelo
e-mail saa@rac.com.br
Editores: Adriana Villar, Claudio Liza Junior, Jorge Massarolo e Ricardo Alécio Chefe de reportagem: Guilherme Busch
Serra dos Cocais: região
tenta reverter tombamento
Serra é considerada como
santuário verde no Interior
Funcionária pública
ASerra dos Cocais é umaespécie de santuárioverde no Interior de
São Paulo. Nela nascem
diversos córregos e ribeirões
que ajudam a formar os Rio
Atibaia e Capivari e o
Ribeirão Pinheiros — cursos
d’água fundamentais para o
abastecimento de água das
regiões metropolitanas de
Campinas e São Paulo. Por
esse motivo, a Serra dos
Cocais é de grande
importância como bacia de
recarga. Seu subsolo possui
um conjunto de cavernas
granitoides, algumas
consideradas como as
maiores do Brasil. Sua
vegetação é uma transição
entre Mata Atlântica e
cerrado, abriga também um
pequeno mostruário de flora
seca da caatinga, um
remanescente de vegetação
da última fase seca da época
da glaciação, de mais de 10
mil anos. Nela habitam
vários animais em extinção,
como a onça-parda, o veado
campeiro e a jaguatirica.
Com a urbanização, a serra
deixará de ser fornecedora
de água do Rio Atibaia para
ser consumidora,
debilitando ainda mais sua
capacidade. Ela é também
situada na bacia
hidrográfica do Rio
Piracicaba, atualmente
considerada com um quadro
crítico pelo Comitê de Bacias
Hidrográficas. (LF/AAN)
O Condeplhaat afirmou, por
meio de sua assessoria de im-
prensa, que está aberto a con-
versas com as prefeituras e po-
pulação das cidades atingidas.
Porém, informou que o proces-
so de tombamento não será in-
terrompido. O órgão diz que é
normal a delimitação de uma
área maior do que a necessá-
ria e que, no momento, técni-
cos estão realizando estudos
para as delimitações. Não há
uma previsão para o término
das análises — realizadas por
26 conselheiros. Após essa fa-
se, as prefeituras serão notifica-
das com as delimitações e te-
rão 15 dias para contestações.
Uma tentativa de conter o
avanço da urbanização e das
atividades agrícolas e indus-
triais nessa região fez a ONG
Elo Ambiental e o arquiteto Gil-
berto Othoniel Toni ingressa-
rem com a proposta de tomba-
mento em dezembro de 2009.
Segundo o arquiteto, o pro-
cesso de tombamento seria a
melhor forma de impedir o
que chama de “barbárie” no lo-
cal. Para Toni, o poder público
não está realmente empenha-
do em preservar a região. Ele
também afirma que o Conde-
phaat possui técnicos qualifica-
dos para avaliar se uma obra
vai causar danos ambientais.
Na época, o pedido de tom-
bamento foi avaliado pelo as-
sistente técnico Dalmo José
Rosalém, já falecido. Ele reco-
mendou que a área deveria ser
protegida por meio de manejo
criterioso, porém recusou a
proposta de tombamento. Ele
afirmou que a área deveria ser
transformada em uma Área de
Proteção Ambiental (APA).
“Após a primeira avaliação
do corpo técnico, recebi a pro-
posta para outra análise.
Achei necessário o tombamen-
to. Essa não é uma questão
pontual como parece. O tom-
bamento foi feito para criar
medidas que impeçam a agres-
são ao ambiente. Mas creio
que cabe discussão para uma
delimitação mais criteriosa e
correta do local”, afirmou Ma-
ria Tereza Paes, relatora do
processo, que deu parecer fa-
vorável ao tombamento. Ela é
ex-conselheira do órgão, geó-
grafa e professora da Universi-
dade Estadual de Campinas
(Unicamp). (LF/AAN)
Fotos:Dominique Torquato/AAN
E.N.S.
“Sou a favor da
preservação,
mas e o meu
patrimônio?
Quem vai querer
comprar um
imóvel em área
tombada? Vai
desvalorizar.” É o tamanho da área propostade tombamento na Serra dos
Cocais pelo Condephaat
Cidades
PRESERVAÇÃO ||| MEIO AMBIENTE
Casas em bairro de Itatibaque está inserido na área de 220 km quadrados que passam por processo de tombamento aberto pelo Condephaat: pedido de arquivamento
O prefeito de Itatiba, João Fattori, com mapa da cidade: chefe do Executivo pede que novo processo seja aberto depois de audiências públicas
KM2
Proposta é abrir novo
processo ouvindo
antes os moradores
A4 CORREIO POPULAR
Campinas, domingo, 1º de abril de 2012

Continue navegando

Outros materiais