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Processo Penal INQUÉRITO POLICIAL 1. Conceito. Função. Finalidade. Prazo Trata-se de um procedimento administrativo inquisitório e preparatório, presidido pelo Delegado de Polícia. Não é processo, com isso, não há contraditório. Conceito doutrinário de inquérito policial: “consiste em um conjunto de diligências realizadas pela polícia investigativa objetivando a identificação das fontes de prova e a colheita de elementos de informação quanto à autoria e materialidade da infração penal, a fim de possibilitar que o titular da ação penal possa ingressar em juízo.”1 Depreende-se que é procedimento preliminar, situado na fase pré-processual da persecução penal e que não premite produção de provas, em regra, visto que o inquérito policial se trata de mera peça informativa e não probatória. Nesse sentido, eventuais vícios dele constantes não têm o condão de contaminar o processo penal a que der origem. Contudo, caso determinada prova tenha sido produzida com violação a normas de direito material, há de ser reconhecida sua ilicitude, conforme previsto na Constituição Federal, com o seu consequente desentranhamento dos autos, bem como de todas as demais provas que com ela guardem certo nexo causal (teoria dos frutos da árvore envenenada). 15 LIMA, Renato Brasileiro de. Manual de Processo Penal. Ed. Juspodivm. 2020. Turma Núcleo Duro – Delegado de Polícia 2023 Revisão Delta 1 Marque seu código: Art. 5º, LVI, CF. O inquérito policial possui dupla função: Preservadora e Prepatória. A primeira contida na ideia que a existência prévia inibiria a instauração de processo infundado, evitando custos desnecessários ao Estado e respeitaria o Direito Fundamental de liberdade do inocente. Depois, sob o aspecto de valor probatório do inquérito policial, fornece elementos de informação para que o titular da ação penal ingresse em juízo, bem como acautelar meios de prova que poderiam desaparecer com o decurso do tempo. Ressalta-se que o IP não se presta sozinho a sustentar eventual condenação, uma vez que o art. 155 do CPP veda ao juiz motivar suas decisões exclusivamente em elementos informativos produzidos na fase investigatória. Dupla finalidade: identificar fontes de prova e colher elementos de informação. O Art. 2º da Lei 12.830/13 dispõe sobre as funções de polícia judiciária e a apuração de infrações penais exercidas e que são de natureza jurídica, essenciais e exclusivas de Estado. O §1º do art. 2º da respectiva lei ressoa que ao delegado de polícia, na qualidade de autoridade policial, cabe a condução da investigação criminal por meio de inquérito policial ou outro procedimento previsto em lei, que tem como objetivo a apuração das circunstâncias, da materialidade e da autoria das infrações penais. O inquérito policial tem como objetivo apurar a autoria, materialidade e as circunstâncias da infração. Quando a infração deixar vestígios, a materialidade é Turma Núcleo Duro – Delegado de Polícia 2023 Revisão Delta 2 demonstrada por exame de corpo de delito. Os crimes que deixam vestígio são chamados de não transeuntes ou intranseuntes. Vestígio é todo objeto ou material bruto, visível ou latente, constatado ou recolhido, que se relaciona à infração penal. Marque seu código: Art.158 e §3º do art. 158-A, ambos do CPP. Quanto ao prazo do inquérito policial, esse pode variar a depender do crime investigado e da condição do investigado: se preso ou solto. Prazo conclusão Preso Solto Justiça Estadual 10 dias (+ 15 dias) 30 dias Justiça Federal 15 dias + 15 dias 30 dias Lei de Drogas 30 dias + 30 dias 90 dias + 90 dias Economia Popular 10 dias 10 dias Prisão Temporário em Crimes Hediondos 30 dias + 30 dias Não se aplica neste caso Justiça Militar 20 dias 40 dias + 20 dias 2. Características do Inquérito Policial As principais características são: a) Procedimento administrativo (caráter investigatório); b) Preparatório e informativo; c) Obrigatório; d) Indisponível (para autoridade policial); e) Dispensável (quanto à persecução penal); f) Escrito; g) Sigiloso; h) Ausência de contraditório (inquisitorial); Turma Núcleo Duro – Delegado de Polícia 2023 Revisão Delta 3 i) Oficiosidade; j) Oficialidade (órgão oficial) k) Procedimento discricionário; l) Temporário; e m) Unidirecional. a) Procedimento administrativo (caráter investigatório) Inexiste rito ou ordem determinada pela lei, impossibilitando o reconhecimento de nulidade procedimental. b) Preparatório e informativo Objetiva apurar indícios de autoria e materialidade para a propositura da ação penal. c) Obrigatório Infração penal de ação penal pública incondicionada é obrigatório instaurar o inquérito. ATENÇÃO A doutrina moderna caminha no sentido que o delegado de polícia possui certa margem de atuação quanto ao controle de excludentes (essenciais) da tipicidade, ilicitude e culpabilidade, ao passo que deixará de lavrar o auto de prisão em flagrante nessas circunstâncias. Sendo Objetivo: O APF2 não será lavrado pela autoridade policial quando constatada existência manifesta de causa de excludente da tipicidade (formal ou material), ilicitude ou culpabilidade, fazendo apenas o registro da ocorrência. 2Auto de Prisão em Flagrante Turma Núcleo Duro – Delegado de Polícia 2023 Revisão Delta 4 A título de exemplo cita-se as Policias Civis do Estados do Paraná, Rio de Janeiro, Minas Gerais e São Paulo. d) Indisponível (para autoridade policial) Referente à impossibilidade do Delegado de Polícia arquivar o IP, com fulcro no art. 17 do CPP. Marque seu código: Art. 17 do CPP. O arquivamento será promovido pelo MP e deferido pelo juízo. Ademais, ressalta-se que o Pacote Anticrime (L.13964/19) alterou a sistemática de arquivamento do inquérito policial, transferindo toda a atribuição para o órgão ministerial. Apesar da mudança, que inclusive está com a eficácia suspensa por prazo indeterminado, o delegado continua impossibilitado de promover o arquivamento do IP. e) Dispensável (quanto à persecução penal) Como já explicado, o inquérito é peça meramente informativa que tem a finalidade de colher elementos quanto à infração penal e a respectiva autoria. Por outro lado, o inquérito será dispensável quando o membro do Ministério Público (titular da ação penal) disponha de substrato mínimo necessário para o oferecimento da peça acusatória. Marque seu código: Artigos 12 e 39, §5º, ambos do CPP. O STF tem decisão no sentido que é possível o oferecimento de ação penal com base em provas colhidas no âmbito de inquérito civil conduzido por membro Turma Núcleo Duro – Delegado de Polícia 2023 Revisão Delta 5 do Ministério Público3. f) Escrito O art. 9º, CPP dispõe que todas as peças do inquérito policial serão, num só processo, reduzidas a escrito (documentado) ou datilografadas (digitais) e, neste caso, rubricadas pela autoridade. Marque seu código: Artigos 09 e §1º, 405, ambos do CPP. g) Sigiloso A Constituição Federal garante o direito à publicidade. Todavia, embora a regra seja que o princípio da publicidade paute a fase judicial da persecução penal, referida regra é flexibilizada na fase investigatória. Marque seu código: IX, art. 93 da CF. EM REGRA, as investigações devem ser conduzidas de maneira sigilosa no inquérito policial, para garantir a eficácia dos trabalhos realizados. Nesse sentido, o art. 20, do CPP dispõe que a autoridade assegurará, no inquérito, o sigilo necessário à elucidação do fato ou exigido pelo interesse da sociedade. Faz-se mister não olvidar que é direito do advogado ter acesso aos autos já documentados e desde que não frustre diligência em andamento. Marque seu código: Art. 20 do CPP A doutrina divide o sigilo do inquérito policial em duas funções: utilitarista e garantista. A primeira assegura a eficácia das investigaçõesao não divulgar a decretação da interceptação telefônica, por exemplo, o que tornaria a prova 3STF. Plenário. AP 565/RO, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 7 e 8/8/2013 (Info 714). Turma Núcleo Duro – Delegado de Polícia 2023 Revisão Delta 6 prejudicada. A outra, a seu turno, objetiva preservar os direitos dos investigados, em virtude da presunção de inocência sob a perspectiva da regra de tratamento.4 As informações do inquérito não serão apontadas na certidão de antecedentes, sendo vedada a utilização de inquéritos policiais e ações penais em curso para agravar a pena-base. Marque seu código: art. 20, §único do CPP e Súmula 444-STJ. O Retrato Falado é exemplo que ressalva a regra do sigilo, visto que a publicidade utilizada auxilia no desenvolvimento das investigações quanto ao desfecho do indiciamento, além de possibilitar conhecer outras eventuais vítimas do investigado. O sigilo do Iquérito Policial pode ser interno ou externo. O primeiro dispõe que não é possível opor sigilo ao juiz, membros do Ministério Público e ao causídico do indiciado. O segundo se opõe a terceiros estranhos aos autos. Ademais, ressalta-se que o STF entendeu que a negativa de acesso ao investigado a peças que digam respeito a dados sigilosos de terceiros, que não possuem relação com seu direito de defesa, não ofende a Súmula Vinculante 145 Não haverá nulidade dos atos processuais caso não haja intimação prévia da defesa do investigado para a relização de depoimentos orais na fase pré- processual. h) Ausência de contraditório (inquisitorial) Enquanto no sistema acusatório é imperativo observar os princípios do contraditório e ampla defesa, no inquérito policial esses institutos são dispensáveis. 4 Exposição midiática do investigado, por exemplo. 5 Referida súmula dispõe que o advogado tem o direito de acessar as informações que digam respeito ao direito de defesa, desde que já documentadas nos autos, para que não haja risco ao comprometimento da eficácia das diligências em curso. Turma Núcleo Duro – Delegado de Polícia 2023 Revisão Delta 7 O Inquérito para a expulsão do estrangeiro é execeção à regra, pois nesse caso serão garantidos o contraditório e a ampla defesa. i) Oficiosidade A autoridade policial atuará de ofício, independentemente de provocação, quando os crimes praticados sejam de ação penal pública incondicionada. Por outro lado, nas ações condicionadas à representação ou de iniciativa privada, deve o Delegado de Polícia aguardar a respectiva representação para presidir o procedimento administrativo. Jurisprudência: O STJ decidiu que é possível deflagrar investigação criminal com base em matéria jornalística. A presidência da investigação não é privativa da Autoridade Policial. Com isso, outras autoridades podem presidir investigação. Por outro lado, a presidência do Inquérito Policial é privativa do Delegado de Polícia, conforme dispõe a Lei 12.830/13. Não confundir a presidência do IP com outras formas de investigação6. j) Procedimento discricionário A Autoridade Policial conduz o inquérito com margem de conveniência e oportunidade, adaptando o inquérito às necessidades do crime e do caso investigado. Atua com certa liberdade dentro dos parâmetros legais. Ademais, não existe rito procedimental rígido que deve ser observado pelo Delegado, trata-se de rol exemplificativo. Desta forma, embora o ofendido (ou seu representante legal), e o indiciado requeiram diligência, esta será realizada, ou não, a cargo da liberdade de atuação 6 Exemplo: a) Inquérito para apurar crime praticado por Juiz de Direito ou Promotor de Justiça (TJ e PGJ, respectivamente); b) CPI - Inquérito parlamentar, etc. Turma Núcleo Duro – Delegado de Polícia 2023 Revisão Delta 8 da autoridade policial. Importante destacar que a discricionariedade não tem caráter absoluto, de modo que existem diligências que são de realização obrigatória. Em resumo, neste caso, o delegado não poderia negar a sua realização, como na hipótese do exame de corpo de delito. Nesse sentido, o artigo 158, CPP dispõe que quando a infração deixar vestígios, o exame de corpo de delito é imprescindível, não podendo supri-lo a confissão do acusado. k) Temporário O delegado deve atender a prazos pré-fixados em lei diante da razoável duração da investigação (Art. 10 c/c Art. 3º-B, VIII e §2º). Sob o primsma do direito à razoável duração do processo na Constituição Federal (art. 5º, LXXVIII), o inquérito policial não pode ter seu prazo de conclusão prorrogado indefinidamente. O Inquérito Policial deverá terminar no prazo de 10 dias, se o indiciado tiver sido PRESO em flagrante, ou estiver preso preventivamente, contado o prazo, nesta hipótese, a partir do dia em que se executar a ordem de prisão, ou no prazo de 30 dias, quando estiver SOLTO, mediante fiança ou sem ela. Destaca-se que o pacotece anticrime dispos no §2º do art. 3º-B do CPP que se o investigado estiver preso, o juiz das garantias poderá, mediante representação da autoridade policial e ouvido o Ministério Público, PRORROGAR, uma única vez, a duração do inquérito por até 15 dias, após o que, se ainda assim a investigação não for concluída, a prisão será imediatamente relaxada. (LEI 13964/19) Marque seu código: artigos Art. 3º-B e 10 do CPP Turma Núcleo Duro – Delegado de Polícia 2023 Revisão Delta 9 l) Unidirecional O inquérito tem como destinatário o titular da ação, não cabendo à autoridade policial emitir juízo de valor ao apurar os fatos. Os autos do IP devem ser direcionados ao MP após sua finalização, pois ele é o titular da ação penal. Enviar os autos do IP ao juiz violaria o sistema acusatório e a imparcialidade do juízo, conforme dispõe o CPP e a doutrina majoritária. Esta linha poderá ser desenvolvida em prova discursiva. Contudo, sendo visando prova objetiva, deve-se considerar que o IP é encaminhado ao juízo (juiz de garantias) nos termos do art. 19 do CPP. 2. Atuação do Delegado As requisições emanadas do MP ou do Juiz devem ser cumpridas, salvo diante de manifesta ilegalidade (Art. 13, II do CPP). Os requerimentos apresentados pela vítima ou pelo suspeito, podem ser negados diante da análise de impertinência (Art. 14 do CPP), com execeção, conforme já visto, do exame de corpo de delito quando a infração deixar vestígios (Arts. 158 e 184 do CPP). Outra situação trazida pelo pacote anticrime, consoante se infere do art. 14- A do CPP, é quanto ao DEVER do delegado de “citar” (notificar) o integrante das forças policiais (Art. 144 da CF) para que constitua advogado no prazo de 48 horas, quando investigado pelo emprego de força letal no desempenho das suas funções. Se o investigado for omisso, a instituição a qual ele pertencia à época do fato será intimada e dispõe de 48 horas para nomear advogado. Essa mesma prerrogativa é aplicada aos membros das forças armadas que empreguem força letal na operação GLO (garantia da lei e da ordem). Turma Núcleo Duro – Delegado de Polícia 2023 Revisão Delta 10 Não é possível o delegado deixar de instaurar inquérito sob alegação de que a infração penal é insignificante (posição majoritária). gado em 23/10/2018.20 3. Inquérito Ministerial (Procedimento Investigativo Criminal - PIC) O STF adotou a teoria dos poderes implícitos, legitimidando o órgão do Ministério Público para promover a colheita de determinados elementos de prova que demonstrem a existência da autoria e da materialidade de determinado delito. Não significa retirar da Polícia Judiciária as atribuições previstas constitucionalmente, mas apenas harmonizar as normas constitucionais de modo a compatibilizá-las para permitir não apenas a correta e regular apuração dos fatos supostamentedelituosos, mas também a formação da opinio delicti. Marque seu código: art. 129, inciso I, da Constituição Federal. Foram modulados alguns parâmetros pelo STF: - Respeitados os direitos e garantias fundamentais dos investigados; - Atos investigatórios devem ser necessariamente documentados e praticados por membros do MP; - Observadas as hipóteses de reserva constitucional de jurisdição, ou seja, determinadas diligências somente podem ser autorizadas pelo Poder Judiciário nos casos em que a CF/88 assim exigir (ex: interceptação telefônica, quebra de sigilo bancário etc); - Respeitadas as prerrogativas profissionais asseguradas por lei aos advogados; - Assegurada a garantia prevista na Súmula vinculante 14 do STF7; - Investigação deve ser realizada dentro de prazo razoável; - Atos de investigação conduzidos pelo MP estão sujeitos ao 7 É direito do defensor, no interesse do representado, ter acesso amplo aos elementos de prova que, já documentados em procedimento investigatório realizado por órgão com competência de polícia judiciária, digam respeito ao exercício do direito de defesa” Turma Núcleo Duro – Delegado de Polícia 2023 Revisão Delta 11 permanente controle do Poder Judiciário. O promotor que atue investigando na fase preliminar não estará impedido de oferecer denúncia (Súmula 234 STJ). 4. Identificação Criminal O civilmente identificado não será submetido a identificação criminal, salvo nas hipóteses previstas em lei. A identificação criminal é o ato de exceção, sendo a regra a identificação civil, pelo qual uma pessoa é perfeitamente identificada para fins penais. Marque no seu código: Art. 5º, LVIII da CF A identificação criminal é gênero do qual são espécies a identificação: a) datiloscópica; b) fotográfica; e, c) do perfil genético. O art. 3º da Lei nº 12.037/09 dispõe que apresentado o documento de identificação, poderá ocorrer identificação criminal, enumerando as hipotéses. Marque no seu código: art. 3º da Lei nº 12.037/09: Referida lei preve, ainda, a coleta de perfil genético como forma de identificação criminal e, por meio da Lei nº 13964/19, da criação do Banco Nacional Multibiométrico e de Impressões Digitais. No que tange à identificação de perfil genético, a Lei nº 13.964/19 também inseriu o art. 9º-A na Lei de Execuções Penais, o qual entendeu recentemente o STJ Turma Núcleo Duro – Delegado de Polícia 2023 Revisão Delta 12 não se tratar de violação ao princípio da autoincriminação. Marque seu código: Art. 9º-A da Lei de Execuções Penais. 5. Indiciamento Indiciamento é o ato fundamentado de “apontar” determinada pessoa como provável autora ou partícipe de uma infração penal. A Autoridade Policial profere despacho motivado, em análise técnico-jurídica, contendo autoria, materialidade e circunstâncias fáticas do fato criminoso. O indiciamento é ato privativo do delegado de polícia. Com isso, tanto o magistrado quanto o membro do MP não podem requisitar o indiciamento em investigação criminal. Contudo, prevalece o entendimento que a requisição deve ser atendida, mesmo inexistindo vínculo de hierarquia. Poderá ocorrer em qualquer momento durante o curso das investigações, sendo possível realizar o indiciamento desde a instauração do inquérito até a elaboração do relatório final. Contudo, não será cabível o indiciamento após iniciada a ação penal. Assim, àquele que já é réu em processo criminal não será indiciado pelo mesmo fato. Falta, nessa hipotése, justa causa para o IP, que será trancado pelo manejo de Habeas Corpus. O indiciamento poderá ser Direito e Indireto. O primeiro é aquele promovido perante o investigado, enquanto o segundo é realizado na ausência do suspeito. No que tange ao indiciamento do funcionário público que se utiliza da função para lavar dinheiro, o STF decidiu que é inconstitucional determinação de afastamento automático de servidor público indiciado em inquérito policial Turma Núcleo Duro – Delegado de Polícia 2023 Revisão Delta 13 instaurado para apuração de crimes de lavagem ou ocultação de bens, direitos e valores. O art 17-D da Lei 9613/98 é inconstitucional – afastamento automático do servidor na situação descrita. Outro tema cobrado nas provas é o instituto do desindiciamento, o qual se dá quando não se tem indícios de autoria, materialidade e suas circunstâncias. Segundo o STF, o trancamento do inquérito policial deve ser reservado apenas para situações excepcionalíssimas, nas quais não seja possível, sequer em tese, vislumbrar a ocorrência de delito a partir dos fatos investigados. Para o STJ, o desindiciamento deve restar demonstrada, categórica e inequivocamente, a atipicidade da conduta, a presença de causa extintiva da punibilidade ou a existência de outra situação comprovável de plano, apta a justificar o desindiciamento. Por outro lado, a doutrina majoritária ressalta as hipóteses excepcionais de cabimento do desindiciamento, sendo quando há: (i) a manifesta atipicidade formal ou material da conduta delituosa; (ii) a presença de causa extintiva da punibilidade; e, (iii) a instauração de inquérito policial em crime de ação penal de iniciativa privada ou de ação penal pública condicionada à representação, sem prévio requerimento do ofendido ou de seu representante legal. Por fim, faz-se mister não olvidar do desindiciamento coacto que é aquele obtido em razão da procedência do HC impetrado para trancar o IP. 6. Elementos migratórios do inquérito São os elementos extraídos do IP e transportados ao processo, os quais Turma Núcleo Duro – Delegado de Polícia 2023 Revisão Delta 14 podem servir de base para eventual condenação. São as provas Cautelares, irrepetíveis e incidente de produção antecipada de provas. Provas Cautelares: São justificadas pelo binômio necessidade e urgência. Ex. Captação ambiental. Irrepetíveis: São de fácil perecimento e que dificilmente podem ser refeitas na fase processual. Ex. bafômetro. Obs.: Ao migrarem, serão submetidos a contraditório diferido ou postergado e à ampla defesa. Incidente de produção antecipada de provas: Instaurado perante o juiz, caso tenha intervenção as partes na fase processual. Ex. depoimento especial/ depoimento sem dano. 7. Irregularidades Inicialmente, ressalta-se que eventuais irregularidades ocorridas na fase investigatória, dada a natureza inquisitiva do inquérito policial, não contaminam a ação penal. Todavia, deve-se considerar que os atos praticados no bojo do inquérito policial, ainda que seu procedimento seja flexível, devem ser exercidos consoante as diretrizes Legais e Constitucionais, sob pena de nulidade ou invalidação em decorrência dos defeitos e vícios constatados. Fixem o seguinte raciocínio: Pode haver ilegalidade nos atos praticos durante os trabalhos realizados no IP. Contudo, deverá ser feita avaliação se a irregularidade tem força de contaminar ou ser mantida na ação penal. Turma Núcleo Duro – Delegado de Polícia 2023 Revisão Delta 15 Com isso, quando o IP é integralmente viciado e tenha servido de base para denúncia, cabe ao juiz rejeitar a inicial, por ausência de justa causa. Marque o código: Art. 395, I, CPP Na situação de ter sido a inicial recebida, resta ao processo a nulidade. 8. Procedimento O IP pode instaurado de (i) ofício, por (ii) requisição do Juiz ou MP e por (iii) Representação do ofendido ou de quem tiver qualidade para representá-lo nas ações penais públicas condicionadas. A Representação é condição para iniciar o IP nos crimes de ação pública condicionada. Esse conhecimento foi exigido em prova, responda a seguir: (V/F) Considerando as hipóteses de requerimento do ofendido para a abertura de inquérito policial em crimes de ação pública, o inquérito, nos crimes em que a ação pública depender de representação, poderásem ela ser iniciado. Responda mentalmente (mesmo raciocínio do aplicativo AnkiApp) e depois confira na nota de roda pé.8 Na hipótese de ter sido instaurado de ofício, o procedimento poderá ser por meio de (i) Portaria9, (ii) Autos de Prisão em Flagrante (APF) e (iii) Termo Circunstanciado no Juizado Especial Criminal (JECRIM), sendo este último nos casos de infração de Menor Potencial Ofensivo (IMPO). A Portaria é peça escrita e hipótese que pode demarcar o início do trabalho 8 Resposta: Falsa. Afirmativa extraída da prova de Delegado de Polícia da PCMG (2021/FUMARC/PCMG) – Questão completa no Caderno de questões que acompanha o Curso Revisão Delta. 9 Importante familiarizar o procedimento correto, visto as provas de segunda fase que podem exigir a Portaria, por exemplo. Turma Núcleo Duro – Delegado de Polícia 2023 Revisão Delta 16 investigativo. A portaria poderá ser dispensada, por exemplo, quando lavrado o Auto de Prisão em Flagrante, sendo, neste caso, o ato que inaura o IP. Marque seu código: art 5º do CPP. Como se trata de tema importante para as carreiras policiais e para o cargo de Delegado de Polícia, esmiuçaremos as fomas de instauração do inquérito policial, conforme se extrai a seguir: a) de ofício (portaria): Situação que a autoridade policial toma conhecimento do fato; b) requisição da autoridade judiciária ou do ministério público: Nesta situação, a palavara “requisição” não deve ser interpretada como “ordem”, tendo em vista que o Magistrado e o Membro do parquet não guardam posição de superioridade hierarquica com o Delegado de Polícia. Destaca-se que se trata de requerimento previsto em lei; c) requerimento do ofendido ou de seu representante legal10: Conterá sempre que possível: a) narração do fato, com todas as circunstâncias; b) a individualização do indiciado ou seus sinais característicos e as razões de convicção ou de presunção de ser ele o autor da infração, ou os motivos de impossibilidade de o fazer; c) a nomeação das testemunhas, com indicação de sua profissão e residência. d) oferecida por qualquer um do povo: : É a comunicação à autoridade policial sobre o conhecimento da existência de infração pena11; e, f) auto de prisão em flagrante: Espécie de peça inicial de investigação. Marque seu código: Art. 5º do CPP. Os artigos 6º e 7º do CPP exemplificam diligências a serem tomadas pela autoridade policial. Ademais, pontua-se a Lei nº 13.344/16 inseriu os arts. 13-A e 13-B ao CPP, acrescentando ao texto legal outras diligências a serem realizadas em crimes específicos12. 10 Conhecida também como já explicado como “Delatio criminis postulatória”. 11 Igualmente denominada de “delatio criminis simples”. 12 Crimes de Sequestro e Cárcere Privado (art 148 do CP); redução a condição análoga à de escravo (art. 149 do CP), tráfico de pessoas (art. 149-A), etc. Turma Núcleo Duro – Delegado de Polícia 2023 Revisão Delta 17 Marque seu código: arts. 6º, 7º, 13-A e 13-B do CPP Termos que são cobrados em prova: a) Notícia-crime direta (notícia-crime de cognição imediata): é inerente à atribuição da polícia ou da imprensa. b) Notícia apócrifa (inqualificada): é a “notícia anônima”. Estudo ativo: É possível instaurar IP baseado em notícia apócrifica (anônima)? Segundo o STF, não se pode, de imediato, instaurar o IP diante de uma notícia inqualificada (anônima). É necessário que inicialmente se verifique o substrato da notícia, após investigações preliminares para confirmar a credibilidade da “denúncia”. O termo “soprador de apito”13, refere-se à pessoa que informa às autoridades a existência de um crime, normalmente atrelado à prática de corrupção. A figura do “informante do bem” ainda é pouco debatida no ordenamento jurídico pátrio. Temos, ainda, os seguintes termos que os examinadores utilizam: a) notícia-crime indireta (cognição mediata ou qualificada): é apresentada por pessoa identificada que não integra a polícia14. b) delatio criminis com força coercitiva: é a notícia extraída da prisão em flagrante, podendo ser direta ou indireta a depender de quem realize a captura (art. 301, cpp). c) delatio criminis postulatória: É a representação do ofendido ou seu representante legal, autorizando ao Estado que instaure o IP. 13 Do inglês whistleblowing 14 (i) Vítima ou representante legal (incapacidade); (ii) Juiz/ MP; (iii) Qualquer pessoa do povo. Turma Núcleo Duro – Delegado de Polícia 2023 Revisão Delta 18 Assim que instaurada a investigação, deverá a autoridade policial comunicar ao juiz das garantias, visto que este exercerá o controle da legalidade da investigação criminal, visando a proteção e garantia dos direitos individuais. Marque seu código: Art. 3º-B, CPP. A autoridade policial fará minucioso relatório do que tiver sido apurado e enviará os autos ao juiz competente. Trata-se de peça que descreve as diligências realizadas. Outrossim, serve para fundamentar a ausência de procedimentos que não foram utilizados no desfecho do IP. Em outras palavras, o IP é concluído com a elaboração de relatório detalhado, descritivo e minucioso das atividades realizadas sob a presidência do Delegado de Polícia. Marque seu código: Art. 10 e respectivos parágrafos do CPP. Quanto ao arquimento do IP, deve-se ter atenção para duas situações: Antes e depois do pacote anticrime. Regra anterior ao pacote anticrime: O membro do Ministério Público pugnava ao magistrado o arquivamento, culminando no seguinte procedimento: 1. No caso de concordância do magistrado, o pedido de arquivamento será homologado, cabendo ao juiz o arquivamento .15 pedido será homologado havia homologação do respctivo pedido. Infere-se que ao juiz cabe o papel de promover o arquivamentoarquivar, diante do requerimento do MP, o que caracteriza o ato como complexo. 2. Se o juiz discordar, remeterá os autos ao Procurador-Geral, consoante o princípio da devolução. 15 Ato complexo, visto a participação do Membro do MP e do Magistrado Turma Núcleo Duro – Delegado de Polícia 2023 Revisão Delta 19 Caso os autos sejam encaminhados ao Procurador-Geral, este poderá oferecer a denúncia, designar outro membro do MP para denunciar16 ou insistir no arquivamento, cabendo ao juiz nesse caso homologar. Após o pacote anticrime: É atribuição do MP ordenar o arquivamento, devendo comunicar ao delegado, ao ofendido e ao investigado. Ressalta-se, contudo, que essa inovação legislativa se encontra suspensa pelo STF. Anote em seu código: Art. 28 do CPP (ainda suspensa por deliberação do STF) O procedimento a ser seguido: 1. O arquivamento é submetido a homologação por uma instância de revisão. 2. O ofendido poderá impugnar o arquivamento provocando a instância revisional, dispondo do prazo de 30 dias. 3. Quando a união, o Estado ou o Município são atingidos pela conduta criminosa, a chefia do ente jurídico responsável por sua representação poderá provocar a instância revisional. Estudo Ativo: É possível desarquivar o IP? A fim de proporcionar resposta objetiva e didática, segue tabela retirada do site “dizer o direito”: MOTIVO DO ARQUIVAMENTO É POSSÍVEL DESARQUIVAR? 1. Insuficiência de provas SIM (Súmula 524-STF31) 2. Ausência de pressuposto processual ou de condição da ação penal SIM 3. Falta de justa causa para a ação penal (não há indícios de autoria ou prova da materialidade) SIM 4. Atipicidade (fato narrado não é crime) NÃO 5. Existência manifesta de causa excludente de ilicitude STJ: NÃO (REsp 791471/RJ) STF: SIM (HC 125101/SP) 16 Prevalece que o membro designado deve agir, atuando por delegação do Procurador-Geral. Turma Núcleo Duro – Delegado de Polícia 2023 Revisão Delta 20 6. Existência manifesta de causa excludente de culpabilidade NÃO (Posição da doutrina) 7.Existência manifesta de causa extintiva da punibilidade NÃO (STJ HC 307.562/RS) (STF Pet 3943) Exceção: certidão de óbito falsa Outrossim, pontua-se de forma doutrinária sobre a possibilidade do arquivamento implícito, situação proveniente da omissão, por parte do titular da ação penal, de fato investigado ou de um dos indiciados sem qualquer alusão ou justificativa. Este arquivamento se consuma quando o juiz não se pronuncia na forma do art. 28 do CPP com relação ao que foi omitido na peça acusatória. Faz-se mister não olvidar que a maioria da doutrina e da jurisprudência não admitem essa modalidade de arquivamento, visto a necessidade de fundamentação da decisão que promove o arquivamento. Por outro lado, temos o arquivamento indireto que ocorre na hipotése do juiz, em virtude do não oferecimento de denúncia pelo Ministério Público, fundamentado em razões de incompetência da autoridade jurisdicional, recebe tal manifestação como se tratasse de um pedido de arquivamento. Sendo objetivo: A decisão judicial que declina da competência constitui arquivamento indireto do inquérito naquele Juízo. Assim, não pode o membro do Ministério Público, atuante no novo foro, suscitar conflito de atribuições ou declinar diretamente de sua competência, o que somente pode ocorrer por decisão do novo Juízo. 9. Demais Temas Turma Núcleo Duro – Delegado de Polícia 2023 Revisão Delta 21 Incomunicabilidade Acerca da incomunicabilidade, consoante o art. 136, §3º, IV, CF, o qual inadmite a incomunicabilidade, ainda que no Estado de Defesa, infere-se a não recepção do art. 21, CPP. Ademais, inexiste incomunicabilidade no Regime Disciplinar Diferenciado (RDD). Marque seu código: Art. 52, LEP. Termo circunstanciado de ocorrência (TCO) Nos crimes de menor potencial ofensivo, com pena máxima de até 2 anos e contravenções penais é possível que se realize simples investigação no cometimento de infrações. É possível instaurar IP por infração de menor potencial ofensivo17. Inaplicável nos casos de violência doméstica e na seara militar. Marque seu código: Art. 69 da Lei n. 9099/95. Pescaria Probatória18 Segundo Alexandre Morais da Rosa, Fishing Expedition ou Pescaria Probatória é a procura especulativa indiscriminada, sem objetivo certo ou claro, que lança suas redes na esperança de “pescar” qualquer prova, a fim de subsidiar futura acusação. Imagine agentes de polícia ao cumprirem mandado de busca e apreensão fundado em busca genérica e encontram drogas no local indicado. 17 Ex.: autoria desconhecida. 18 Também chamada pela expressão “Circunfishing Expedition” Turma Núcleo Duro – Delegado de Polícia 2023 Revisão Delta 22 O termo se refere à incerteza própria das expedições de pesca, em que não se sabe, antecipadamente, se haverá peixe, nem os espécimes que podem ser fisgados, muito menos a quantidade. Os Tribunais Superiores entendem que os indícios de autoria antecedem as medidas invasivas, não se admitindo em um Estado Democrático de Direito que primeiro sejam violadas as garantias constitucionais para só então, em um segundo momento, e, eventualmente, se justificar a medida anterior. Nesse sentido, admitir a entrada na residência especificamente para efetuar uma prisão não significa conceder um salvo-conduto para que todo o seu interior seja vasculhado indistintamente, em verdadeira pescaria probatória (fishing expedition), sob pena de nulidade das provas colhidas por desvio de finalidade. Futuros Deltas, não deixem de responder nossas questões no “caderno de questões”. Bons estudos, amigos! Turma Núcleo Duro – Delegado de Polícia 2023 Revisão Delta 23
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