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A Perda Alargada Enquanto Instrumento de Combate às Organizações Criminosas

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11
Cadernos do Ministério Público do Estado do Ceará 
A Perda Alargada Enquanto 
Instrumento de Combate 
às Organizações Criminosas: 
A Atuação do Ministério Público 
Frente ao Crime Organizado
Adna Leonor Deó Vasconcelos1
RESUMO
Verifica-se, atualmente, não somente no contexto nacional 
brasileiro, mas, também, no âmbito internacional, no que se pode 
chamar de aldeia global, a impregnação pela criminalidade organi-
zada e econômica de extensos setores de atividade, atrativos como 
meio de reciclagem e lavagem de enormes receitas produzidas 
pelas atividades criminalmente ilícitas. A problematização da pes-
quisa parte da interrogação: a perda alargada se faz necessária no 
ordenamento jurídico brasileiro para uma resposta efetiva e eficaz 
ao crime organizado? Nesse contexto, a atuação do Ministério Pú-
blico se revela positiva, porque a instituição, de base constitucional, 
apresenta-se como principal enfrentador das estruturas criminais 
organizadas, destacando-se as ações políticas e sociais que está 
desenvolvendo frente àquela forma de criminalidade tão peculiar. 
Para subsidiar a empreitada científica, a natureza metodológica foi a 
qualitativa, documental e teórica. A principal finalidade foi construir 
uma discussão jurídica acerca da perda alargada enquanto meca-
nismo de enfrentamento àquela forma de criminalidade organizada, 
mormente o combate aos lucros decorrentes da atividade criminosa, 
1 Membro do Ministério Público do Estado do Ceará. Promotora de Justiça na Comarca de Hidrolândia-CE. 
E-mail: adna.vasconcelos@mpce.mp.br
12
consciente que os benefícios econômicos advindos da ilicitude tem 
amplitudes bem diversas, uma vez que a ação ministerial consegue 
cercear o infrator dos rendimentos obtidos com as práticas crimi-
nosas, despontando nisto a importância do Ministério Público como 
instituição que detém a missão indelegável de empreender o combate 
à criminalidade, que, organizada como se encontra, compromete a 
própria existência do Estado Democrático.
Palavras-chave: Organizações criminosas. Perda alargada Mi-
nistério Público.
ABSTRACT
It is nowadays not only in the Brazilian national context but in 
the international context, within what can be called the global village, 
the impregnation by organized and economic crime of extensive 
sectors of activity, attractive as a means of recycling and washing 
of enormous revenues produced For criminally illicit activities. The 
questioning of research is based on the question: is the widespread 
loss necessary in the Brazilian legal system for an effective and effective 
response to organized crime? In this context, the Public Prosecutor’s 
Office proves to be positive, since this constitutional base is the main 
contender of organized criminal structures, highlighting the political 
and social actions it is developing in the face of such a peculiar form 
of criminality. To subsidize the scientific endeavor the methodological 
nature was qualitative, documentary and theoretical. The main purpose 
was to construct a juridical discussion about the widespread loss 
as a mechanism to confront that form of organized crime, mainly the 
combat to the profits derived from the criminal activity, conscious that the 
economic benefits from the ilicitude have very diverse amplitudes, since 
this institute Makes it possible to restrain the offender from the proceeds 
obtained through criminal practice, in this, the importance of the Public 
13
Cadernos do Ministério Público do Estado do Ceará 
Prosecutor’s Office as an institution that has the non-delegable mission 
to undertake the fight against crime. Organized crime that compromises 
the very existence of the Democratic State.
Keywords: Criminal organizations. Extended loss. Public Ministry.
SUMÁRIO: 1 – INTRODUÇÃO. 2 – AS ORGANIZAÇÕES CRIMI-
NOSAS. 3 – A PERDA ALARGADA. 4 – A ATUAÇÃO DO MINISTÉRIO 
PÚBLICO NO COMBATE ÀS ORGANIZAÇÕES CRIMINOSAS. 5 – CON-
SIDERAÇÕES FINAIS. REFERÊNCIAS BIBLOGRÁFICAS.
1 INTRODUÇÃO
Nos dias de hoje, verifica-se, não somente no contexto nacional 
brasileiro, mas no âmbito internacional, dentro do que se pode con-
vencionar chamar de aldeia global, a impregnação pela criminalidade 
organizada e econômica de extensos setores de atividades, atrativos 
como meio de reciclagem e lavagem de enormes receitas produzidas 
pelas atividades criminalmente ilícitas, como o tráfico de pessoas, 
de armas, de droga, de metais e pedras preciosas, da corrupção e 
da fraude, para falar apenas dos mais ostensivos, e isto é um fato.
De uma forma incipiente, pode-se apontar uma tentativa de de-
limitação do conceito de criminalidade organizada como as formas 
de aparecimento de fenômenos criminosos dotados de certo grau de 
racionalidade organizativa, com recurso a planos e meios pessoais 
e materiais geralmente sofisticados, com o objetivo de obtenção 
de avultados lucros ilegítimos e com possíveis conexões em mais 
de um Estado, recorrendo quando necessário à violência ou à sua 
iminência, dotados de mecanismos de apagamento ou dissimulação 
dos vestígios dos processos criminosos.
Especialmente no contexto brasileiro, as doutrinas construíram 
suas bases conceituais acerca das organizações criminosas a partir 
14
de características peculiares, tais como a previsão de lucros, hierar-
quia, divisão de trabalho, ligação com órgãos estatais, planejamento 
das atividades e delimitação da área de atuação, sendo destacada, 
infelizmente, um modelo de organização criminosa institucionalizada 
no ambiente do Estado Republicano.
Por sua vez, enquanto mecanismo de enfrentamento àquela for-
ma de criminalidade organizada, mormente o combate aos lucros 
decorrentes da atividade criminosa, consciente que os benefícios eco-
nômicos advindos da ilicitude têm amplitudes bem diversas, a perda 
alargada permite cercear o infrator dos rendimentos obtidos com as 
práticas criminosas. É inquestionável a necessidade da declaração 
de perda dos instrumentos e dos objetos (ou produtos) do fato 
ilícito deva se concretizar no âmbito da criminalidade organizada.
Neste contexto, a atuação do Ministério Público, enquanto ins-
tituição cujas sólidas bases encontram-se alicerçadas na estrutura 
constitucional brasileira, sendo-lhe atribuído o caráter de “instituição 
permanente, essencial à função jurisdicional do Estado, incumbindo-
-lhe a defesa da ordem jurídica, do regime democrático e dos inte-
resses sociais e individuais indisponíveis”, conforme disposição 
do art. 127, caput, da Carta Magna de 1988, frente às organizações 
criminosas se reveste de grande importância e necessidade, pois nos 
dias de hoje o mero tecnicismo legalista do cotidiano das atividades 
ministeriais não é suficiente para a efetivação das disposições consti-
tucionais inerentes às funções do Parquet, devendo este atuar a partir 
de uma dimensão diferenciada e moderna, qual seja, a atuação 
enquanto fomentador de políticas públicas e mobilização social.
A problematização levantada na pesquisa elege a seguinte interro-
gação como ponto de partida para a discussão: “a perda alargada se 
faz necessária no ordenamento jurídico brasileiro para uma resposta 
efetiva e eficaz ao crime organizado?”. Nisto, a presente pesquisa, 
de natureza qualitativa, documental e teórica, tem com finalidade 
levantar uma discussão jurídica acerca das organizações criminosas 
15
Cadernos do Ministério Público do Estado do Ceará 
e a perda alargada como importante e eficaz instrumento de combate 
àquela forma de criminalidade muito bem estruturada, bem como a 
atuação do Ministério Público como instituição garantidora da higidez 
do Estado Democrático de Direito. Para subsidiar a empreitada cien-
tífica, foram realizadas pesquisas junto às referências bibliográficas.
O trabalho foi estruturado em três capítulos. O primeiro momento 
voltou-se para uma análise teórica acerca das organizaçõescrimi-
nosas sendo confrontadas e discutidas as disposições doutrinárias 
e as legislações relacionadas. No segundo momento, buscou-se re-
alizar um debate acerca do instituto jurídico da perda alargada, 
enfocando a sua importância instrumental no direito penal para o 
combate às organizações criminosas. Por fim, no terceiro e último 
momento da pesquisa, procurou-se discorrer sobre a atuação do Mi-
nistério Público como principal enfrentador das estruturas criminais 
organizadas, destacando-se as ações políticas e sociais que está 
desenvolvendo frente àquela forma de criminalidade tão peculiar.
2 AS ORGANIZAÇÕES CRIMINOSAS
Inicialmente, é interessante observar que, ao contrário da possi-
bilidade de elaboração de uma definição normativa de organizações 
criminosas, a exposição de uma base conceitual consoante a dou-
trina se apresenta como uma necessidade para melhor entender 
as disposições jurídicas acerca do assunto. Nesse contexto, é de ser 
lembrado que o presente estudo não toma sobre si a audácia de 
esgotar em numerus clausus o rol de conceitos e caracterizações 
da modalidade criminosa em comento, mas busca destacar uma 
compreensão básica ou comum acerca da temática.
Vale ressaltar que cada organização criminosa assume caracte-
rísticas peculiares e incrível poder variante, amoldadas às suas ne-
cessidades, condições e facilidades encontradas no território no qual 
atuam ao ponto de mudarem de “roupagem” que possibilite a sua 
16
identificação. Visam, assim, à operacionalização dos crimes plane-
jados, com o fim de angariar rendas mediante atividades criminosas.
2.1 ASPECTOS CONCEITUAIS
A reunião de pessoas com a finalidade de cometer ilícitos penais, 
fazendo muitas vezes do crime um meio de vida, não é um fenô-
meno recente na história da humanidade. Ao longo dos anos, 
constata-se que as estruturas criminosas encontram-se cada vez 
mais organizadas em simulacro de verdadeiro modelo empresarial.
Há na doutrina controvérsia acerca da existência ou inexistên-
cia das chamadas organizações criminosas. A referida discussão 
concentra-se basicamente em duas teorias, a saber, a teoria do mito 
e a teoria da conspiração.
Segundo a Teoria do Mito, o Estado cria condutas abstratas, mas 
autônomas, impõem-se penas mais altas e rigorosas, bem como 
reduzem-se os benefícios dos acusados de tais práticas. Para os 
defensores dessa teoria não existe organização criminosa, esta 
figura seria fruto do próprio Estado opressor que na tentativa de re-
lativizar direitos e garantias individuais e legalizar a manifestação 
do direito penal do inimigo.
Como seguidores desta teoria podemos citar Zaffaroni (1996, 
p. 46), segundo o qual não existem organizações criminosas, sendo 
seu conceito uma criação ou categoria forjada a partir da história.
Vale frisar que em palestra realizada no dia 11 de janeiro de 
2013, na Universidade de Mar del Plata, o referido professor Ar-
gentino passou a reconhecer a existência do crime de organização 
criminosa, apesar de ser muito citado como defensor da teoria do 
mito no tocante à existência do delito de organização criminosa 
(GOMES, 2014).
Santos (1994) argumenta que “(...) o conceito americano de crime 
organizado é do ponto de vista da realidade, um mito: do ponto de 
17
Cadernos do Ministério Público do Estado do Ceará 
vista da ciência, uma categoria sem conteúdo; e do ponto de vista 
prático, um rotulo desnecessário [...]” (SANTOS, [...]” (SANTOS, 
1994, p. 216). 
Por sua vez, Hireche (2005), também defensor da Teoria do Mito, 
entende que não existe a figura delitiva da organização cri-
minosa. Isso porque a multiplicidade de conceito inviabiliza uma 
definição cientifica da temática, logo há apenas o delito de quadrilha 
e bando (2005).
Em geral, os defensores da teoria do mito são aqueles que pa-
trocinam a defesa para a grandes organizações criminosas. Nesse 
sentido, cabe transcrever as palavras de Baltazar (2010):
O discurso do mito, além de estar presente em estudos 
acadêmicos, consiste em uma antiga estratégia de defesa, 
adotada tanto na Itália, pelos defensores dos líderes mafio-
sos nos megaprocessos, e nos Estados Unidos quanto no 
Brasil. Na Itália, é antiga, e ainda presente a resistência 
ao paradigma associativo, representada pela afirmação 
de que a máfia não seria organização, mas um modo de 
vida ou atitude, caracterizada pela resistência siciliana ao 
poder central ou uma exagerada autoestima [...]. (BALTA-
ZAR, 2010, p. 79).
Em contraposição à teoria do mito surge a teoria da conspiração, 
a qual defende a existência do crime de organização criminosa, bem 
como entende como um verdadeiro risco a própria existência do es-
tado Democrático de Direito, tendo em vista que, devido ao grande 
acumulo de capitais, a criminalidade organizada opera na cooptação 
de agentes públicos por meio da corrupção.
A Teoria da Conspiração concebe as organizações criminosas 
como um risco latente ao Estado de Direito, que seria transformado 
em Estado criminoso. Isso porque com os grandes ganhos finan-
ceiros, conseguem a cooptação de agentes públicos por corrupção 
e intimidação, atingindo os órgãos de persecução penal (GOMES, 
2015, p. 15).
18
As duas teorias são em verdade dois extremos. Contudo, é inegá-
vel a existência de organizações criminosas não apenas em nosso 
território nacional, mas como fenômeno global. As organizações cri-
minosas não são abstratas, irreais como indica a teoria do mito, uma 
criação do Estado para legitimar a supressão de direitos e garantias 
no âmbito criminal. São condutas criminosas de alta complexidade 
que exigem do Estado uma resposta mais enérgica, bem como me-
canismos diferenciados de investigação.
Além disso, a política criminal não deve ser centrada apenas e 
tão somente na observância dos direitos e garantias do réu, mas 
também e igualmente prevista no texto constitucional, na proteção 
do direito à segurança e a vedação à proteção insuficiente, seguindo 
a linha do modelo funcionalista teleológico do professor alemão 
Claus Roxin, mencionado por Gomes (2014).
Como exemplo da existência de verdadeiras organizações crimi-
nosas, podemos citar as normas, enunciados e legislações em vários 
países do mundo que tratam da temática.
2.2 DIMENSÕES E VARIAÇÕES DO CRIME ORGANIZADO
Em uma exposição na Universidade de Tucumã, realizada em 
2012, Luigi Ferrajoli, classificou o crime organizado em três grandes 
grupos. São eles: criminalidade organizada estruturada por poderes 
criminais privados, criminalidade organizada estruturada por pode-
res econômicos privados e criminalidade organizada estruturada 
por agentes públicos (dos poderes públicos, dos políticos, dos parla-
mentares e prefeitos, dos juízes, policiais, fiscais, agentes do estado), 
também denominada de endógena ou criminalidade dos poderosos 
(na doutrina alemã “kriminalität der mächtigen) (GOMES, 2014).
A primeira classificação da criminalidade organizada é denomi-
nada de criminalidade organizada estruturada por poderes criminais 
privados são, em geral, grupos mais agressivos que normalmente 
19
Cadernos do Ministério Público do Estado do Ceará 
utilizam-se da miséria, de pequenos delinquentes (são o corpo, 
braços e pernas da organização), exploram a mão de obra barata 
do miserável, do necessitado, otimizando seus lucros e benefícios 
(exploram jovens desempregados, mulheres, ex-presidiários, pessoas 
dos grandes conjunto habitacionais). Nesse tipo de organização há 
células ostensivas espalhadas, são apenas operacionais, são elas que 
desenvolvem o trabalho de rua, de entrega de organização local e dis-
tribuição de drogas etc. No entanto, esse tipo de organização possui 
o núcleo pensante que não aparece, é camuflado, clandestino, não 
residem nas “favelas”, não estão na linha de frente da criminalidade.
Esse tipo de organização criminosa conta com apreciávelpoder 
econômico, sua infiltração estatal não é tão profunda, mas há a 
presença dos agentes do estado considerando que é impossível a 
existência e manutenção de organização criminosa sem a partici-
pação de agentes estatais, conta, assim, com enorme poder de fogo 
suficiente para intimidar quem surge como obstáculo a suas tarefas. 
Como exemplo desse tipo de organização criminosa em nosso país 
podemos citar o Primeiro Comando da Capital - PCC e o Comando 
Vermelho - CV. 
Por sua vez, a criminalidade organizada estruturada por poderes 
econômicos ou criminalidade de empresa são aquelas que têm como 
característica central a utilização de grandes empresas para pratica 
de crimes. Não fazem uso de violência ou ameaça, mas investem 
em corrupção de agentes públicos para perpetração dos delitos e 
aquisição de poder. Normalmente, essas empresas criminosas nas-
cem fora do Estado, mas passam a corromper agentes públicos, e 
infiltram-se nas mais altas cúpulas dos poderes estatais. Esse ramo 
do crime organizado atua na pratica de crimes ambientais, finan-
ceiros e econômicos, lavagem de capitais, sonegação, evasão 
de dividas, licitações públicas, tráfico de armas, animais e pessoas.
Segundo Mendroni (2012) é a forma empresarial de organização 
criminosa, conceitua o autor:
20
Formada no âmbito de empresa lícitas- licitamente cons-
tituídas. Neste formato, também modernamente chamada 
de organização criminosa, os empresários se aproveitam 
da própria estrutura hierárquica da empresa. Mantém as 
suas atividades primarias lícitas, fabricando, produzindo e 
comercializando bens de consumo para, secundariamente, 
praticar crimes fiscais, crimes ambientais, cartéis, fraudes 
(especialmente em concorrência - licitações, dumping, 
lavagem de dinheiro, falsidades documentais, mate-
riais ideológicos, estelionato etc. (MENDRONI, 2012, p. 32).
A terceira classificação de organização criminosa é denominada 
de criminalidade organizada estruturada por agentes públicos - 
poderes públicos, dos políticos, dos parlamentos, dos prefeitos, 
dos juízes, dos policiais, dos fiscais- intitulada de endógena. Esse 
formato de criminalidade são organizações constituídas por elite 
docolarinho branco, pessoas que estão acima de qualquer sus-
peita. É constituída dentro da própria estrutura do Estado, desviando 
bilhões dos cofres públicos.
É a mais séria ameaça à democracia, por meio dessa criminalidade 
retira-se a possibilidade de realização de diversa políticas publica em 
prol da sociedade. O autor Mendroni (2012), preleciona:
[...] trata-se de uma espécie de organização criminosa 
em que o agente age dentro do próprio Estado, em todas 
as esferas – Federal, Estadual, Municipais, envolvendo, 
conforme a atividade, cada um dos Poderes, Executivo, 
Legislativo ou Judiciário. É formada essencialmente por 
políticos e agentes públicos de todos os escalões, envol-
vendo portanto, necessariamente, crimes praticados por 
funcionários públicos contra a administração pública (cor-
rupção, concussão, prevaricação, etc.) mas também, quase 
que inevitavelmente outras infrações penais como aquelas 
que se relacionam direta ou indiretamente (são exemplos 
conhecidos no Brasil: o caso do mensalão, Sanguessugas, 
dos Correios, Satiagraha, Castelo de Areia, Caso das má-
fias dos Fiscais (SP), etc. (MENDRONI, 2012, pp. 23-24).
Preleciona Silva e Gomes (2015) que
O bem jurídico ultimo que está em jogo, quando se 
21
Cadernos do Ministério Público do Estado do Ceará 
21
trata de crime organizado que envolve o poder público, 
é a própria democracia, ou seja, o Estado de Direito. São 
os fundamentos dos bens públicos que entram em crise, 
nesse caso. A capacidade intimidativa e corruptiva do 
crime organizado afeta, ademais, a própria função pública 
de proteção e de garantia. Ela proscreve a garantia das 
garantias, que é a função protetiva jurisdicional. (SILVA 
e GOMES, 2015, p. 28).
Por fim, os autores acima nominados elencam uma quarta 
classificação das organizações criminosas, que seriam os grupos 
mafiosos, também chamados de tradicionais ou clássicos, sendo 
exemplos as máfias italianas, japonesas, russas etc, e possuem es-
truturas complexas espalhadas quase no mundo inteiro, com nítida 
divisão de tarefa em que se misturam atividade licita e ilícita.
Dessa forma, percebe-se que dentre todas as classificações e/
ou modalidades do crime organizado é facilmente constatado a 
presença da criminalidade organizada em nosso país em todas as 
suas formas. Temos vários exemplos de criminalidade endógena, a 
exemplo da operação lava jato, que há mais de três anos apura os 
devastadores delitos denominados de colarinho branco, sendo a 
maior investigação de corrupção e lavagem de dinheiro que o Brasil 
já teve. Avalia- se que o volume de recursos desviados dos cofres da 
Petrobras, maior estatal do país, esteja na casa de bilhões de reais, 
bem como as grandes facções criminosas que atuam, inicialmente, 
no tráfico de substâncias ilícitas, mas que se desdobra em uma série 
de outros delitos, por exemplo, o homicídio muitas vezes decorrente 
da disputa de território para comercialização de drogas, tráfico de 
arma de fogo, branqueamento de capitais, dentro outros delitos.
Além disso, os crimes de empresas que figuram nos procedimen-
tos licitatórios, causando imensuráveis prejuízos à administração 
pública e consequentemente ao interesse público e a toda sociedade. 
Ademais, pode haver a interconexão das diversas formas de crimi-
nalidade organizada conforme detalhado acima.
22
2.3 ORIGEM E EVOLUÇÃO DO CRIME 
DE ORGANIZAÇÃO CRIMINOSA NO BRASIL
O primeiro documento normativo em nosso sistema penal a 
mencionar organização criminosa foi a Lei nº 9.034/94, que em sua 
redação original indicava em sua ementa que a referida legislação 
dispunha “sobre a utilização de meios operacionais para prevenção e 
repressão de ações praticadas por organizações criminosas”.
No entanto, a referida lei não trouxe a definição do delito. Não há 
descrição de conduta formal e materialmente típica denominada de 
organização criminosa, ou seja, não houve a definição de um fato 
típico, ilícito e culpável de uma conduta juridicamente prevista como 
o crime de organização criminosa. No indicado documento legislativo 
há referência ao art. 288 do Código Penal Brasileiro (Decreto- Lei nº 
2.848/1940), que tratava do delito, à época, definido como o delito 
de quadrilha ou bando, bem como houve a definição e regulação 
de alguns dos meios de prova e procedimentos investigatórios que 
versem sobre ilícitos decorrentes de ações praticadas por quadrilha 
ou bando ou organizações ou associações criminosas.
A mencionada lei criada com a finalidade de combater ilícitos 
praticados por organização criminosa, trouxe diversas formas de 
combater a tal organização, meios de prova, indicando inclusive a 
quantidade de pessoas duas para se configurar uma organização 
criminosa, contudo não definiu nos termos legais o que é uma or-
ganização criminosa.
Desse modo, em se tratando de matéria penal, cabe frisar como 
vetor do sistema o Princípio da Reserva Legal previsto no art. 5º, 
inciso XXXIX, da Constituição da República Federativa do Brasil, 
que preceitua que “não há crime sem lei anterior que o defina, nem 
pena sem prévia cominação legal”. Assim, para proibir condutas sob 
a ameaça de sanção é imprescindível que a conduta esteja definida 
previamente em lei.
23
Cadernos do Ministério Público do Estado do Ceará 
23
Todavia, não basta a previsão legal, é necessário, para que a 
conduta se subsuma ao tipo penal, que a lei seja clara na delimita-
ção da conduta intitulada como delito, pois é vedado a lei criar tipos 
penais com conceitos vagos ou imprecisos. Nesse sentido preleciona 
Queiroz (2001):
O princípio da reserva legal implica a máxima determina-
ção e taxatividade dos tipos penais, impondo-se ao Poder 
Legislativo, na elaboração das leis,que redija tipos penais 
com a máxima precisão de seus elementos, bem como 
ao poder judiciário que as interprete restritivamente, de 
modo a preservar a efetividade do princípio. (QUEIROZ, 
2001, p. 23-24)
Verifica-se, assim, que, embora a Lei nº 9.034/95 seja o primeiro 
diploma legislativo a tratar do tema organização criminosa, não 
trouxe a previsão de uma conduta típica, ilícita e culpável como 
delito intitulado de organização criminosa, limitando-se a equiparar 
organização criminosa ao delito de quadrilha ou bando.
Posteriormente, a Lei nº 9.034/95 foi alterada pela Lei nº 
10.270/2001 a qual tentou diferenciar o delito de quadrilha ou bando 
do delito de organização criminosa, porém não trouxe a definição 
legal do que seja organização criminosa para fins penais.
A convenção das Nações Unidas contra o crime organizado trans-
nacional, convenção ratificada pelo Brasil por meio do Decreto-Lei nº 
5.025/2004, em seu art. 2º, conceituou o que seria grupo criminoso 
organizado.
A partir da definição prevista no documento internacional referido 
acima, ratificado pelo Brasil, o qual possui status de lei ordinária na 
ordem jurídica interna, alguns doutrinadores, bem como o Superior 
Tribunal de Justiça2, passaram a aplicar tal conceito em âmbito 
nacional para aproveitamento dos mecanismos de investigação 
previsto na Lei nº 9.034/95, e para reconhecimento do crime 
2 STJ. HC 77.771-SP, Quinta Turma. Rel. Min Laurita Vaz. Julgamento em 30.05.2008.
24
antecedente na hipótese da Lei nº 9.613/98, legislação esta que 
“dispõe sobre os crimes de “lavagem” ou ocultação de bens, direitos 
e valores; a prevenção da utilização do sistema financeiro para os 
ilícitos previstos nesta Lei; cria o Conselho de Controle de Atividades 
Financeiras - COAF, e dá outras providências”.
Contudo, em 31 de maio de 2012, o Supremo Tribunal Federal3 
declarou ser atípico o delito de organização criminosa, sendo in-
viável a utilização do conceito previsto na convenção das Nações 
Unidas contra o crime organizado transnacional, ainda que apenas, 
e tão somente, para aplicar os mecanismos de investigação da Lei 
nº 9.034/95.
Dessa forma, com a finalidade de cumprir os tratados inter-
nacionais firmados pelo Brasil, os quais estabelecem como objetivo 
o combate à crescente criminalidade organizada, o poder legislativo 
promulgou a Lei nº 12.694/2012, a qual passou a tipificar o delito 
de organização criminosa conceituando tal conduta em seu art. 2º 
nos seguintes termos:
Para os efeitos desta Lei, considera-se organização crimi-
nosa a associação, de 3 (três) ou mais pessoas, estrutu-
ralmente ordenada e caracterizada pela divisão de tarefas, 
ainda que informalmente, com objetivo de obter, direta ou 
indiretamente, vantagem de qualquer natureza, me-
diante a prática de crimes cuja pena máxima seja igual 
ou superior a 4 (quatro) anos ou que sejam de caráter 
transnacional. (Lei nº 12.694/2012).
Embora celebrada a tipificação do delito de organização crimino-
sa, a previsão legal trazia restrições quando da sua aplicação, tendo 
em vista que estabelecia que o conceito se restringia às hipóteses 
previstas na própria norma. Assim, surgiu divergências doutrinarias 
quanto à aplicação da norma ao caso concreto. Alguns doutrinado-
res brasileiros defendiam a ampliação do campo de incidência do 
3 STF. HC nº 96.007/SP. Primeira Turma. Rel. Min. Marco Aurélio. Julgamento em 12.06.12.
25
Cadernos do Ministério Público do Estado do Ceará 
conceito de organização criminosa, mesmo que em interpretação 
desfavorável ao acusado, dentre eles podemos citar o Brasileiro 
(2013) e Dupret (2012).
Noutro sentido, defendendo que a aplicação a outras hipóteses, 
fora dos casos previstos na própria norma, configuraria interpretação 
extensiva, vedada no âmbito criminal quando em prejuízo do réu, 
podemos citar o autor Baltazar Júnior (2014).
Em meio à contenda sobre a ampliação ou não do conceito de 
organização criminosas a hipóteses além das previstas na lei de 
referência, é elaborada a Lei nº12.850/2013, que põe fim a referi-
da discussão, revogando expressamente a Lei nº9.034/1995, que 
tratava do combate ao crime organizado, conforme já mencionado 
acima como primeiro diploma legislativo que tratou do tema or-
ganização criminosa, trazendo um novo conceito de organização 
criminosa aplicado para todos os fins penais definição agora não 
passível de dúvidas.
O referido diploma legislativo acaba com a discussão por prever 
um conceito claro e preciso do que seja organização criminosa. 
Nesse sentido dispõe o art. 1º, §1º, da Lei nº 12.850/2013:
Art. 1º. Esta Lei define organização criminosa e dispõe 
sobre a investigação criminal, os meios de obtenção da 
prova, infrações penais correlatas e o procedimento cri-
minal a ser aplicado.
§ 1º. Considera-se organização criminosa a associação 
de 4 (quatro) ou mais pessoas estruturalmente ordenada 
e caracterizada pela divisão de tarefas, ainda que infor-
malmente, com objetivo de obter, direta ou indiretamente, 
vantagem de qualquer natureza, mediante a prática de 
infrações penais cujas penas máximas sejam superiores 
a 4 (quatro) anos, ou que sejam de caráter transnacional.
Em sendo assim, constata-se que apenas em 2012, nosso orde-
namento jurídico passa a prever, expressamente, o delito de 
organização criminosa, mas apenas no ano seguinte, 2013, o 
conceito é aperfeiçoado visando a alcançar todos os fins legais.
26
Desse modo, enquanto no direito comparado estudava-se meca-
nismos mais eficazes no combate à criminalidade organizada, bem 
como instituía-se novos instrumentos processuais penais, dentre 
eles o confisco alargado, tendo em vista que as antigas ferra-
mentas não mais conseguiam dar respostas efetivas a esse novo 
formato de delinquência na tentativa de cumprir o velho adágio de 
que “o crime não compensa”, o Brasil sequer tinha como conduta 
típica definindo o delito de organização criminosa.
2.4 COMETÁRIOS AO TIPO PENAL 
PREVISTO NA LEI Nº 12.850/2013
O diploma legislativo brasileiro que passou a tipificar o crime 
de organização criminosa de forma clara visando a alcançar o 
conceito de criminalidade organizada para todo os fins foi a Lei nº 
12.850/2013, sancionada em 02 de agosto de 2013.
Assim, como já mencionado, nos termos do art. (?) § 1º da Lei nº 
12.850/2013 são organizações criminosas:
§ 1º. Considera-se organização criminosa a associação 
de 4 (quatro) ou mais pessoas estruturalmente ordenada 
e caracterizada pela divisão de tarefas, ainda que infor-
malmente, com objetivo de obter, direta ou indiretamente, 
vantagem de qualquer natureza, mediante a prática 
de infrações penais cujas penas máximas sejam superiores 
a 4 (quatro) anos, ou que sejam de caráter transnacional.
A lei institui um critério finalístico para definição do aglomerado de 
pessoas como organização criminosa, consistente na obtenção direta 
ou indiretamente de vantagem de qualquer natureza. No tocante a 
esse critério finalístico, por ser uma expressão vaga, surgem críticas 
doutrinarias a respeito da matéria. Nesse sentido, cabe transcrever 
as considerações do autor Baltazar Júnior (2010):
27
Cadernos do Ministério Público do Estado do Ceará 
As organizações criminosas em sua essência visam o lucro. 
A referência a vantagem de qualquer natureza, não apenas 
a econômica, dificulta a distinção entre organizações crimi-
nosas e grupos terroristas, o que é agravado pela expressa 
extensão da aplicação da lei às organizações terroristas 
internacionais”. (BALTAZAR JÚNIOR, 2010, p. 1.269).
Por outro lado, Cabette (2014) defende que a expressão da norma 
em comento visa justamente evitar celeumas que normalmente se 
instalam quando se utiliza a expressão pura e simples da “vantagem”.
A expressão vantagem de qualquer natureza contida na norma 
incriminadora em referência tem por objetivo alcançar todas as si-
tuações em que pessoas reúnem-se parapratica de crimes visando 
a auferir vantagens, expressão que dever balizada pelo julgador ao 
verificar as circunstâncias do caso concreto.
2.4.1 Pluralidade de agentes
O delito em estudo é do tipo plurissubjetivo, plurilateral ou 
de concurso necessário, ou seja, para sua consumação exige-se 
pelo menos quatro agentes. Vale frisar que para caracterização da 
organização criminosa computa-se o número de adolescentes e 
crianças. A própria lei estabelece como causa de aumento fixada 
em 1/6 (um sexto) a 2/3 (dois terços) nas hipóteses em que há 
comprovada participação de crianças e adolescentes na crimina-
lidade organizada.
Além disso, pode ser imputado o delito de organização criminosa 
ainda que não seja possível identificar todos os integrantes, desde 
que exista prova segura de sua existência. A temática é pacifica na 
doutrina e na jurisprudência. Nesse sentido preleciona Greco (2014):
[...] desde que se tenha certeza da existência dos demais 
membros que integravam o grupo, mas que se manti-
veram no anonimato, ou seja, não foram identificados e 
qualificados pela autoridade policial.
O fundamento nessa hipótese, frise-se, é a convicção, a 
28
certeza cabal de que outras pessoas faziam parte do grupo 
criminoso, perfazendo o total mínimo exigido pelo tipo em 
estudo [...]” (GRECO, 2014, p. 914).
Na mesma linha, o Superior Tribunal de Justiça tem posição no 
sentido de que “para a configuração do delito de quadrilha não é 
necessário que todos os integrantes tenham sido identificados. 
Basta a comprovação de que o bando era integrado por quatro ou 
mais pessoas.”4
2.4.2 Associação estruturalmente ordenada e caracterizada 
pela divisão de tarefas, ainda que informalmente
A ideia de estruturalmente organizada pressupõe os elementos 
de estabilidade e permanência, a união não pode, pois, restringir-se 
à pratica de um único crime, porque assim teríamos o concurso de 
pessoas ou até a incidência do delito de associação para prática de 
crimes prevista no art. 288 do Código Penal Brasileiro. Nesse sentido 
ensina Tasse (2014):
Não há, desta feita, como pensar em crime organizado 
sem o predicado da estabilidade. A estabilização das re-
lações, tanto de hierarquia quantos de objetivos, forma o 
elemento que mantém unidos os integrantes do organismo, 
fortalecendo-o enquanto agrupamento paralelo do Estado, 
especializado na atividade criminosa. (TESSE, 2014).
Outra questão importante é que não importa saber qual a atividade 
que cada integrante desenvolve para manutenção e desenvolvimento 
da organização criminosa.
4 STJ. HC 52.989/AC. Quinta Turma. Rel. Ministro Felix Fischer. Julgamento em 23.05.2006.
29
Cadernos do Ministério Público do Estado do Ceará 
2.4.3 Pratica de infrações penais graves ou transnacionais
A reunião de pessoas na forma de organização criminosa 
além dos requisitos indicados acima (estabilidade, permanência 
estruturada mediante a divisão de tarefas, pluralidades de agentes 
com o intuito de obter vantagem), exige ainda que a organização 
tenha por objetivo a pratica de infrações penais cujas penas máximas 
sejam superiores a 04 (quatro) anos ou com caráter de transnacio-
nalidade do crime.
Caso a organização criminosa se dedique à pratica de infração 
penal com caráter transnacional, não será preciso aferir a pena do 
crime praticado, claro se contemplado com os demais requisitos 
necessários para caracterização das organizações criminosas.
A doutrina ensina que são infrações transnacionais aqueles deli-
tos que atravessam fronteiras, são os chamados delitos a distância.
Desse modo, verifica-se que a Lei nº 12.850/13, além de tipificar 
penalmente a conduta descrita como organização criminosa, tratou 
das técnicas especiais para investigação dessa nova forma para 
pratica de infrações penais. Formando, portanto, em um impor-
tante instrumento legal criado a partir do reconhecimento da diferen-
ciação da criminalidade comum da criminalidade organizada. Assim, 
trouxe mecanismos diferenciados de perseguição compatíveis como 
essa nova faceta do mundo do crime, que supera fronteiras e que 
exige medidas transnacionais para sua repressão.
3 A PERDA ALARGADA
Os formatos das atuais organizações criminosas assemelham- se, 
e muito, aos grandes modelos empresarias, os quais possuem estrutu-
ra hierarquizada de poder, com divisão de tarefas, transnacionalidade 
das atividades desenvolvidas, tendo como meta central auferir lucros 
por meio da prática de crimes. Para tanto, assim como nas grandes 
30
empresas, fazem-se necessários vultosas quantias, valores e bens 
para manutenção de todo o sistema organizacional criminoso.
Nesse viés, considerando o número cada vez mais crescente de 
grupos, organizações e/ou facções criminosas, verificou-se que o 
direto penal tradicional baseado tão somente na pena de prisão e 
multa não se mostrava mais eficaz o suficiente no combate às hie-
rarquizadas estruturas de poder que têm como objetivo central a 
pratica de infrações penais.
Assim, com a disseminação dessa nova fase da criminalidade, os 
mecanismos clássicos de repressão ao crime acabaram por fomentar 
ainda mais as práticas ilícitas, haja vista que a pena de prisão, 
não raras vezes, é tratada como “consequência do negócio”, como 
risco das atividades desenvolvidas. Nesse sentido, havia por parte 
do Estado, como aplicação tão somente de mecanismo clássicos de 
repressão, um verdadeiro incentivo, fazendo do crime um meio de 
vida, demonstrando assim que o crime “compensa”.
Surge, então, no direito comparado, vale ressalvar que não há 
previsão legal em nosso País, ainda, e, portanto, o pressente traba-
lho menciona a legislação Portuguesa como referência acerca da 
temática, a denominada perda alargada ou confisco alargado ou 
recuperação de ativos, o qual se busca sair do eixo classicamente 
criado da pena privativa de liberdade para o eixo de privação eco-
nômica dos autores dos crimes, quando há condenação por crimes 
graves elencados previamente em lei. Procura-se fazer com que 
o criminoso além da pena pessoal, tenha verdadeira “quebra” 
financeira, impedindo a retroalimentação no mundo da ilicitude, 
suprimindo os ativos dos autores, para que não possam usufruir do 
produto do delito, mesmo após o cumprimento das demais sanções 
penais impostas em decreto condenatório.
31
Cadernos do Ministério Público do Estado do Ceará 
3.1 ASPECTOS CONCEITUAIS DA PERDA ALARGADA
A perda alargada é uma medida de política criminal aplicada em 
diversos países do mundo, com o objetivo de prevenir e combater 
a crescente criminalidade organizada e a criminalidade econômica 
financeira, atingindo o centro econômico financeiro das grandes 
facções criminosas com a decretação da perda de bens e valores 
em favor do Estado, não só com relação aos bens e valores conexos 
com o delito imputado em sentença, mas, também, alcançando todo 
patrimônio em que não haja comprovação de que foram adquiridos 
por meio de origem lícita.
Há quem denomine de confisco alargado de bens ou simplesmen-
te perda de bens alargada. Seja qual for a capitulação, o conceito 
é sempre o mesmo referindo- se a perda de bens e valores das 
organizações criminosas, não apenas como efeito secundário da 
sentença penal condenatória nas hipóteses fixadas em lei, como por 
exemplo, nos casos de perda dos instrumentos do crime, desde que 
consistam em coisas cujo fabrico, alienação, uso, porte ou detenção 
constitua fato ilícito, ou do produto do crime ou de qualquer bem ou 
valor que constitua proveito auferido pelo agente com a prática do 
fato criminosa, mas, também, atingindo o acúmulo de patrimônio 
em que há presunção de que foram adquiridos por meio de práticas 
ilícitas, práticas criminosas.
A finalidade da perda alargada é fazer com que todo o lucro 
das atividades criminosas, todo acúmulo da riqueza auferido com 
a pratica dos delitos, seja perdido, seja recuperadopelo Estado, 
desestruturando a organização financeiramente, sem prejuízo da 
responsabilização pessoal dos autores dos delitos, na tentativa de 
demonstrar que o crime não compensa.
Desse modo, diferentemente da previsão da perda de bens e 
valores em favor da União, como efeito automático da senten-
ça penal condenatória, com previsão expressa no Código Penal 
32
Brasileiro, precisamente no art. 91, inciso II, alíneas “a” e “b”5, a 
perda alargada visa justamente a alcançar bens e valores que não 
têm relação com delito imputado no decreto criminal. Ou seja, obje-
tiva alargar as consequências da decisão condenatória para atingir 
o acúmulo de patrimônio da organização ou do criminoso em que 
não foi possível vincular ao fato descrito da sentença, mas que por 
presunção e diante da não comprovação de sua origem licita, bem 
como em decorrência da desproporcionalidade em relação ao seu 
rendimento lícito, requisitos estes variáveis a depender da legislação 
adotada, utilizando-se no presente trabalho, conforme menciona-
do, a legislação portuguesa acerca da matéria, faz-se concluir que 
provêm de comportamento criminoso.
Assim, a perda alargada surge no direito comparado exatamente 
para suprir essa lacuna no tocante aos bens da organização crimi-
nosa ou dos criminosos não alcançados pelo efeito secundário da 
sentença penal condenatória, surge como medida mais enérgica 
na prevenção e repressão às grandes estruturas criminosas que se 
espalham e desenvolvem de maneira desenfreada em todo o mundo.
3.2 A PERDA ALARGADA NOS PAÍSES EUROPEUS
No âmbito do direito comparado, várias legislações vêm adotando 
o mecanismo jurídico da perda alargada. A repercussão internacional 
de novas medidas para o enfrentamento da criminalidade or-
ganizada é verificada em reiteradas convenções mundiais. Nesse 
sentido, temos como exemplo, a Convenção das Nações Unidas 
contra o Tráfico Ilícito de Estupefacientes e Substâncias Psicotró-
picas, de Viena de 1988, convenção está aprovada pelo Congresso 
5 Art. 91. São efeitos da condenação: […] II - a perda em favor da União, ressalvado o direito 
do lesado ou de terceiro de boa-fé: a) dos instrumentos do crime, desde que consistam em coisas 
cujo fabrico, alienação, uso, porte ou detenção constitua fato ilícito; dos produtos ou instrumentos 
do crime ou de qualquer valor auferido em decorrência da prática de um fato criminoso, um dos 
efeitos da sentença penal condenatória, que a doutrina clássica denomina de efeito automático 
da sentença penal.
33
Cadernos do Ministério Público do Estado do Ceará 
Nacional Brasileiro por meio do Decreto Legislativo n° 162, de 14 de 
junho de 1991, logo possuindo força de lei no território brasileiro, 
a qual destaca:
[...] Reconhecendo a necessidade de reforçar e comple-
mentar as medidas previstas na Convenção Única de 
1961 sobre os Estupefacientes e nesta Convenção tal 
como modificada pelo Protocolo de 1972 Emendando a 
Convenção Única de 1961 sobre os Estupefacientes e na 
Convenção sobre as Substâncias Psicotrópicas de 1971, 
a fim de fazer face à amplitude e difusão do tráfico ilícito 
e suas graves consequências;
Reconhecendo igualmente que é necessário reforçar e 
intensificar os meios jurídicos eficazes de cooperação in-
ternacional em matéria penal para eliminar as actividades 
criminosas internacionais de tráfico ilícito;
[...] Artigo 5º
PERDA
1 - As Partes adoptam as medidas que se mostrem 
necessárias para permitir a perda:
a) De produtos provenientes de infracções estabelecidas 
de acordo com o n.º 1 do artigo 3.º ou de bens cujo valor 
corresponda ao valor desses produtos;
b) De estupefacientes, substâncias psicotrópicas, materiais 
e equipamentos ou outros instrumentos utilizados ou des-
tinados a serem utilizados, por qualquer forma, na prática 
das infracções estabelecidas de acordo com o n.º
1 do artigo 3.º
2 - As Partes adoptam igualmente as medidas que se 
mostrem necessárias para permitir às suas autoridades 
competentes identificar, detectar, congelar ou apreender 
produtos, bens, instrumentos ou quaisquer outras coisas 
a que se refere o n.º 1 deste artigo, para efeitos de eventual 
perda. [...]
7 - As Partes podem considerar a possibilidade de inverter 
o ónus da prova no que diz respeito à origem lícita dos pre-
sumíveis produtos ou outros bens que possam ser objecto 
de perda, na medida em que os princípios do respectivo 
direito interno e a natureza dos procedimentos judiciais 
e outros o permitam.
Outro exemplo em âmbito internacional a ser indicado é também 
oriundo da Organizações das Nações Unidas - ONU, e trata-se da 
Convenção das Nações Unidas Contra a Criminalidade Organizada 
34
Transnacional, concluída em Nova Iorque, em 15 de novembro 
de 2000, também aprovada pelo Congresso Nacional por meio do 
Decreto Legislativo nº 231, de 29 de maio de 2003, cujo artigo 12.º, 
sob a epígrafe, dispõe:
[...] Perda e apreensão, estabelece no n.º 1 que Os 
Estados Partes adotarão, na medida em que o seu ordena-
mento jurídico interno o permita, as medidas necessárias 
para permitir a perda:
a) Do produto das infrações previstas na presente Conven-
ção ou de bens cujo valor corresponda ao desse produto;
b) Dos bens, equipamentos e outros instrumentos utilizados 
ou destinados a ser utilizados na prática das infrações pre-
vistas na presente Convenção [...], acrescentando no n.º 7 
que os Estados Partes poderão considerar a possibilidade 
de exigir que o autor de uma infração demonstre a prove-
niência lícita do presumido produto do crime ou de outros 
bens que possam ser objeto de perda, na medida em que 
esta exigência esteja em conformidade com os princípios 
do seu direito interno e com a natureza do processo ou 
outros procedimentos judiciais [...].
Vislumbra-se, assim, nos documentos internacionais acima in-
dicados, alguns instrumentos que apontam no mesmo sentido da 
perda alargada, sem, contudo, tratar expressamente da temática.
Todavia, em 2014 a expressão perda alargada, objeto de estudo do 
presente trabalho de pesquisa, apareceu de maneira explicita, em se 
tratando de documento com grande alcance no cenário internacional, 
na Diretiva 2014/42/UE do Parlamento Europeu e do Conselho, de 
03 de abril de 2014, que trata sobre o congelamento e a perda dos 
instrumentos e produtos do crime, que entrou em vigor no vigésimo 
dia seguinte ao da sua publicação, veio estabelecer regras mínimas 
sobre o congelamento de bens tendo em vista a eventual perda 
subsequente e para a perda dos produtos do crime. Desse modo, os 
Estados-Membros ficaram vinculados a proceder à transposição 
da aludida Diretiva, devendo colocar em vigor as disposições 
legislativas, regulamentares e administrativas necessárias ao seu 
cumprimento até 4 de outubro de 2015.
35
Cadernos do Ministério Público do Estado do Ceará 
Assim, no aludido diploma estrangeiro houve expressamente 
menção à perda alargada, a Diretiva começa por referir, no consi-
derando 11 e 19, o seguinte:
11 - É necessário clarificar a atual definição de produtos 
do crime de modo a incluir não só o produto direto das 
atividades criminosas, mas também todos os seus ganhos 
indiretos, incluindo o reinvestimento ou a transformação 
posterior de produtos diretos. Assim, o produto pode incluir 
quaisquer bens, inclusive os que tenham sido transforma-
dos ou convertidos, no todo ou em parte, noutros bens, 
e os que tenham sido misturados com bens adquiridos 
de fonte legítima, no montante correspondente ao valor 
estimado do produto do crime que entrou na mistura. 
Pode igualmente incluir o rendimento ou outros ganhos 
derivados do produto do crime, ou dos bens em que esse 
produto tenha sido transformado, convertido ou misturado.
[...]
19 - Para combater eficazmente a atividade criminosa 
organizada, pode haver situações em que seja conve-
niente que a uma condenação penal se siga a perda não 
apenas dos bensassociados ao crime em questão, mas 
também de bens que o tribunal apure serem produto de 
outros crimes. Esta abordagem corresponde à noção de 
perda alargada. A Decisão-Quadro 2005/212/JAI prevê 
três conjuntos diferentes de exigências mínimas que os 
Estados-Membros podem escolher para decidir a perda 
alargada. Em consequência, no processo de transposição 
dessa decisão-quadro, os Estados-Membros optaram por 
diferentes alternativas, o que deu origem a conceitos di-
vergentes de perda alargada nas jurisdições nacionais. 
Essas divergências dificultam a cooperação transfron-
teiriça em casos de perda. Por conseguinte, afigura-se 
necessário aprofundar a harmonização das disposições 
em matéria de perda alargada, estabelecendo uma norma 
mínima única [...].
Prevê a Diretiva da União Europeia em seus artigos:
Artigo 4º
Perda
1. Os Estados-Membros tomam as medidas necessárias 
para permitir a perda, total ou parcial, dos instrumentos 
e produtos ou dos bens cujo valor corresponda a tais 
36
instrumentos ou produtos, sob reserva de uma condena-
ção definitiva por uma infração penal, que também pode 
resultar de processo à revelia.
2. Se não for possível a perda com base no n.o 1, e pelo 
menos se tal impossibilidade resultar de doença ou de fuga 
do suspeito ou arguido, os Estados-Membros tomam as 
medidas necessárias para permitir a perda dos instrumen-
tos ou produtos nos casos em que foi instaurado processo 
penal por uma infração penal que possa ocasionar direta 
ou indiretamente um benefício económico, e em que tal 
processo possa conduzir a uma condenação penal se o 
suspeito ou arguido tivesse podido comparecer em juízo.
Artigo 5º Perda alargada.
1. Os Estados-Membros tomam as medidas necessárias 
para permitir a perda, total ou parcial, dos bens perten-
centes a pessoas condenadas por uma infração penal que 
possa ocasionar direta ou indiretamente um benefício 
económico, caso um tribunal, com base nas circunstâncias 
do caso, inclusive em factos concretos e provas disponíveis, 
como as de que o valor dos bens é desproporcionado em 
relação ao rendimento legítimo da pessoa condenada, 
conclua que os bens em causa provêm de comportamento 
criminoso.
2. Para efeitos do nº 1 do presente artigo, o conceito de 
infração penal inclui pelo menos os seguintes elementos:
a) A corrupção ativa e passiva no setor privado, conforme 
disposto no artigo 2º da Decisão-Quadro 2003/568/JAI, 
bem como a corrupção ativa e passiva em que estejam 
implicados funcionários das instituições da União ou dos 
Estados-Membros, conforme disposto respectivamente 
nos artigos 2º e 3º da Convenção relativa à luta contra a 
corrupção em que estejam implicados funcionários;
b) As infrações relativas à participação em organização 
criminosa, conforme disposto no artigo 2º da Decisão-
-Quadro 2008/841/JAI, pelo menos nos casos em que a 
infração ocasionou um benefício económico;
c) O aliciamento ou o recrutamento de uma criança para 
participar em espetáculos pornográficos ou explorar 
uma criança para tais fins, como fonte de rendimento 
ou de qualquer outra forma, se a criança tiver atingido a 
maioridade sexual, conforme disposto no artigo 4º, 
nº 2, da Diretiva 2011/93/UE; a distribuição, difusão ou 
transmissão de pornografia infantil, conforme disposto no 
artigo 5º, nº 4, dessa diretiva; a oferta, fornecimento ou 
disponibilização de pornografia infantil, conforme disposto 
no artigo 5º, nº 5, dessa diretiva; a produção de pornografia 
infantil, conforme disposto no artigo 5º, nº 6, dessa diretiva;
d) A interferência ilegal em sistemas e a interferência 
37
Cadernos do Ministério Público do Estado do Ceará 
ilegal nos dados, conforme disposto respectivamente nos 
artigos 4º e 5º da Diretiva 2013/40/UE, quando um nú-
mero significativo de sistemas de informação for afetado 
mediante o uso de um dos meios previstos no artigo 7º 
dessa diretiva, concebido ou adaptado essencialmente para 
esse fim; a intencional produção, venda, aquisição para 
uso, importação, distribuição ou qualquer outra forma de 
disponibilização dos instrumentos utilizados para cometer 
infrações, pelo menos em casos de alguma gravidade, 
conforme disposto no artigo 7º dessa diretiva;
e) As infrações penais puníveis nos termos de um dos atos 
aplicáveis indicados no artigo 3º ou, se esse ato não esta-
belecer um limiar, nos termos do direito nacional aplicável, 
por uma pena privativa de liberdade cujo máximo não pode 
ser inferior a quatro anos. [...].
Em geral, os países europeus aplicam os mesmos requisitos legais 
para concretização da perda alargada, e isso se deve também pela 
vinculação da diretiva, devendo-se ter em conta que “diretiva é um 
ato jurídico legislativo da União Europeia o qual vincula os Esta-
dos- Membros destinatários um, vários ou o conjunto dos mesmos, 
quanto ao resultado a alcançar, mas deixa às instâncias nacionais a 
competência quanto à forma e aos meios” oriunda da União Europeia, 
citada acima. Os requisitos comuns são: 1) uma condenação criminal; 
2) a condenação referir-se a delitos previamente estabelecidos em 
lei; 3) não comprovação da origem ilícita do acumulo patrimonial; e 
4) a desproporcionalidade do patrimônio com os rendimentos lícitos 
do condenado.
Dessa forma, tomando por base a referida diretiva vários países 
que compõem o bloco econômico, político e social, legislaram 
acerca da matéria. Verifica-se no direito espanhol, no artigo 127º, 
nº 1, do Código Penal a previsão da perda alargada.
No tocante à matéria, recentemente, este artigo 127º foi sujeito a 
alterações mediante a Lei Orgânica 1/2015, de 30 de março, que 
ampliou o catálogo de crimes e sujeito a diferentes pressupostos 
de aplicação nas hipóteses da perda alargada.
Assim, há previsão de que apenas determinados crimes indicados 
38
na lei sujeitar-se-ão à medida da perda alargada , entre os delitos 
arrolados, art. 127, a, podemos citar, como exemplo, o tráfico de 
seres humanos, crimes relativos à prostituição, à exploração sexual e 
à corrupção de menores e de abusos e agressões sexuais a menores 
de dezesseis anos, crimes contra a propriedade intelectual ou indus-
trial, branqueamento de capitais, crimes contra a Fazenda Pública e 
a Segurança Social, crimes contra os direitos de cidadãos estrangei-
ros, crimes de falsificação de moeda, crimes de terrorismo, crimes 
cometidos no seio de uma organização ou grupo criminoso, etc.,.
Exigem-se indícios objetivos fundados que tais bens ou rendi-
mentos sejam provenientes de uma atividade criminosa e não se 
comprove a sua origem lícita, bem como sempre que constatado 
que há: 
art. 127,a - 2º ocultação de propriedade ou qualquer direito 
de dispor dos bens ou efeitos usando pessoas singula-
res ou colectivas ou entidades sem personalidade jurídica 
arquivado ou paraísos fiscais ou territórios de nenhuma 
tributação que se escondem ou dificultam a determinação 
do verdadeira propriedade dos bens”.
A lei considera, ainda, a possibilidade de em caso de nova con-
denação pela pratica dos crimes indicados ser novamente aplicada 
a perda alargada, verificando- se o alcance da antiga apreensão 
para decidir se é o caso nova declaração de perda de bens. O artigo 
131-21 do Código Penal francês (na redação dada pela Lei n.º 
2013-1117, de 6 de dezembro de 2013), prevê a perda de bens 
moveis e imóveis que tenham servido ou destinado ao cometimento 
de crimes, assemelhado ao efeito secundário da sentença condena-
tória prevista em nossa legislação. Contudo, com relação a perda 
alargada o critério não é a condenação pela pratica de determina-
dos delitos para incidir a perda alargada, mas sim o preceito 
primário estabelecido, sendo possível nas infrações com pena não 
inferior a 5(cinco) anos, bem como que o delito tenha proporcio-
39
Cadernos do Ministério Público do Estado do Ceará 
nado acúmulo de riqueza direta ou indireta o confisco de bens 
alcançará os que pertençam ao condenado ou de queele tenha a 
livre disposição, sempre que nem o condenado, nem o proprietário 
consigam justificar a origem de tais bens.
No ordenamento jurídico Italiano há previsão muito assemelhada 
à legislação portuguesa. Assim, o artigo 12.º, sexies, prevê a perda 
alargada na hipótese de desproporcionado e injustificada os bens de 
titularidade ou posse de pessoas condenadas por crimes previamente 
elencados na lei.
Por sua vez, a Alemanha prevê a possibilidade da perda alargada 
(erweiterte Verfall em seu no § 73d do Código Penal), em 1992, norma 
inclusive declarada constitucional pelo Supremo Tribunal Federal, 
também elenca quais os crimes que podem ser abrangidos pelo re-
gime da perda alargada, podendo a perda incidir sobre os bens 
que estejam na titularidade ou na posse do autor ou participante, 
sempre que as circunstâncias justifiquem a suposição de que estes 
foram obtidos por meio ou para a prática de outros fatos ilícitos.
No Reino Unido, o Proceeds of Crime Act, de 2002, a perda do 
acúmulo de riqueza oriunda da atividade criminosa pode se dar 
mediante o confisco penal ou civil. O confisco penal há também se 
refere aos delitos para quais se aplicará o regime da perda alargada, 
exigindo-se que o agente tenha se beneficiado com pratica delitiva no 
montante não inferior a 5.000 euros, e que reste caracterizado, 
regras bem delimitadas na legislação, indicando inclusive os núme-
ros de condenações, que o agente fez do crime um meio de vida. 
Exige-se mais requisitos para decretação da perda alargada, mas 
quando aplicada tem efeito retroativo alcançando bens anteriores 
ao processo. Há a possibilidade de o réu afastar a regre, desde que 
comprove a origem lícita dos bens, mas ainda assim, o órgão 
julgador poderá afastar as provas produzidas, desconsiderando-as 
sempre que houver risco de injustiça.
40
Já o confisco administrativo alcança os bens obtidos por meio de 
atividade criminosa, de valor superior a 10.000 euros, ou os bens que 
se sub-rogam no lugar deles, fixando-se, previamente, os delitos em 
que se permiti o regime da perda alargada.
3.3 A NATUREZA JURÍDICA DA PERDA ALARGADA
Não há na doutrina consenso no tocante à natureza jurídica da 
perda alargada ou confisco alargado como denominam alguns 
doutrinadores. Vale frisar que a depender da natureza jurídica 
do instituto todas as normas de regência mudam, variando de 
acordo com a classificação elencada. Há quem entenda se tratar 
de um instituto de origem no direito penal, e sendo assim, todas os 
princípios e normas jurídicas regentes a este seriam automatica-
mente aplicáveis ao instituto da perda alargada.
Já outros enxergam a medida como um procedimento autônomo 
decorrente de sentença penal condenatória. Por fim, há quem entenda 
a perda alargada como procedimento administrativo decorrente de 
sentença penal condenatória, não possuindo, portanto, caráter de 
procedimento penal, mas pena autônoma.
Em geral a discussão concentra-se em duas frentes, a saber, ter 
a medida caráter penal ou ser apenas um confisco administrativo.
Com efeito, defendendo ser uma medida penal podemos citar 
como exemplo o escritor português Dias (2010), que assim define:
[...] confisco de bens [...] cumpre finalidades político-cri-
minais idênticas à da perda de bens e vantagens relacio-
nadas com a prática do crime, sendo a sua natureza [...], 
pois, eminentemente penal, constituindo [...] um efeito da 
pena. Uma vez que o confisco ampliado pressupõe uma 
condenação e que enquanto medida excecional deve ter 
pressupostos mais apertados do que a perda das vanta-
gens do crime, nomeadamente quanto a terceiros, mais 
adequado seria considerá-lo um efeito da pena, inaplicável 
por isso em caso de absolvição. (DIAS, 2010, p. 23).
41
Cadernos do Ministério Público do Estado do Ceará 
Noutro sentido, argumentando ser a perda alargada uma medida 
administrativa, e, portanto, simples de ser solucionada, é o pen-
samento de Cunha (2004):
[...] trata-se, pois, de uma medida de caráter não penal (no 
sentido de que nada tem a ver com um crime), de caráter 
análogo a uma medida de segurança (uma sanção de 
suspeita, condicionada à prova de um crime). No fundo, 
uma sanção administrativa prejudicada por uma anterior 
condenação penal. (CUNHA, 2004, p. 121).
Assim, a natureza jurídica implicará, a depender do entendimento 
adotado, em uma série de restrições ou aplicação simplificada do 
regime da perda alargada. Contudo, seja qual for a natureza jurídica 
adotada em um Estado Democrático de Direito, é necessário cumprir 
os requisitos legais para tal restrição do direito. A perda alargada não 
pode ficar ao arbítrio do legislador ou apenas do executor da medida 
como ocorria outrora.
3.4 A LEGISLAÇÃO LUISTANA E A 
APLICAÇÃO DA PERDA ALARGADA
Conforme já indicado o presente trabalho usou como referência 
a legislação portuguesa acerca da perda alargada, haja vista que 
não há , ainda, lei vigente no nosso País tratando da temática, bem 
como em razão da lei lusitana, não ela, ter sido utilizada como 
parâmetro para a apresentação de projeto de lei de iniciativa do 
Ministério Público Federal que tramita no Congresso Nacional, 
tendo sido incluída no “pacote” intitulado como “dez medidas 
contra a corrupção” que causou verdadeiro alvoroço nas Casas 
Legislativas do nosso País. Inicialmente cumpre transcrever a 
exposição de motivos da Lei lusitana nº 5/2002, a justificativa 
para norma criada:
42
Este propósito do legislador encontra-se expressamente 
assumido na exposição de motivos constante da Proposta 
de Lei n.º 94/VIII (que esteve na origem da referida Lei n.º 
5/2002 de 11 de janeiro), onde se refere, a esse respeito, 
que […] a eficácia dos mecanismos repressivos será insufi-
ciente se, havendo uma condenação criminal por um destes 
crimes [identificados no artigo 1.º], o condenado puder, 
ainda assim, conservar, no todo ou em parte, os proventos 
acumulados no decurso de uma carreira criminosa. Ora, 
o que pode acontecer é que, tratando-se de uma atividade 
continuada, não se prove no processo a conexão entre os 
fatos criminosos e a totalidade dos respectivos proventos, 
criando-se, assim, uma situação em que as fortunas de 
origem ilícita continuam nas mãos dos criminosos, não 
sendo estes atingidos naquilo que constituiu, por um lado, 
o móbil do crime, e que pode constituir, por outro, o meio 
de retomar essa atividade criminosa», acrescentando-se 
ainda que, com este regime, se prevê que […] em caso de 
condenação por um dos crimes previstos no seu artigo 1.º, 
se aprecia a congruência entre o patrimônio do arguido e os 
seus rendimentos lícitos. O valor do patrimônio do arguido 
que seja excessivo em relação aos seus rendimentos cuja 
licitude fique provada no processo são declarados perdidos 
em favor do Estado.
Desse modo, utilizando-se dos fundamentos indicados na ex-
posição de motivos ora transcritos, bem como considerando os 
documentos internacionais que tratam da perda alargada a legisla-
ção portuguesa prevê como pressupostos para o regime da perda 
alargada; 1) condenação em razão da pratica de um dos crimes 
previamente estabelecidos em lei, art. 1 da Lei nº 5/2002; 2) a 
existência de patrimônio do condenado; 3) a incompatibilidade do 
patrimônio do condenado com seus rendimentos lícitos.
Assim, nos termos da Lei nº 5/2002, art. 1º, a condenação deve 
ter ocorrido em razão da prática dos seguintes crimes: a) Tráfico de 
estupefacientes) Terrorismo, organizações terroristas, terrorismo 
internacional e financiamento do terrorismo; c) Tráfico de armas; 
d) Tráfico de influência; e) Recebimento indevido de vantagem; f) 
Corrupção ativa e passiva, incluindo a praticada nos setores públi-
co e privado e no comércio internacional, bem como na atividade 
43
Cadernos do Ministério Público do Estado do Ceará 
desportiva; g) Peculato; h) Participação económica em negócio; i) 
Branqueamento de capitais; j) Associaçãocriminosa; l) Pornografia 
infantil e lenocínio de menores; m) Dano relativo a programas ou 
outros dados informáticos e a sabotagem informática, nos termos 
dos artigos 4.º e 5.º da Lei n.º 109/2009, de 15 de setembro, e, ainda, 
o acesso ilegítimo a sistema informático, se tiver produzido um dos 
resultados previstos no n.º 4 do artigo 6.º daquela lei, for realizado 
com recurso a um dos instrumentos referidos ou integrar uma das 
condutas tipificadas no n.º 2 do mesmo artigo; n) Tráfico de pesso-
as; o) Contrafação de moeda e de títulos equiparados a moeda; p) 
Lenocínio; q) Contrabando; r) Tráfico e viciação de veículos furtados.
Vislumbra-se, assim, a taxatividade, em razão do princípio da 
legalidade, do elenco de delitos para os quais é possível aplicar o 
regime da perda alargada. Ou seja, não havendo condenação 
pela pratica dos crimes indicados, ainda que demonstrado que 
o criminoso acumulou riqueza em decorrência da prática penal, ain-
da que o fato seja grave, repugnante socialmente, esse mecanismo 
processual não será desencadeado.
Da analise acerca dos delitos descritos verifica-se, em geral, 
que são praticados por organizações criminosas, bem como tem 
como objetivo central uferir lucros.
Cumpre esclarecer que é necessária a condenação penal transita-
da em julgado para aplicação da perda alargada, não se exigindo 
que a decisão seja oriunda de tribunal coletivo ou de juiz singular 
e muito menos que siga rito especial.
No tocante ao requisito patrimônio do condenado cumpre frisar 
que se faz imprescindível a existência de patrimônio do conde-
nado. Assim, para efeitos de perda alargada constitui o patrimônio 
do condenado:
Para efeitos desta lei, entende-se por «patrimônio do 
arguido» o conjunto dos bens:
a) Que estejam na titularidade do arguido, ou em relação 
aos quais ele tenha o domínio e o benefício, à data da 
44
constituição como arguido ou posteriormente;
b) Transferidos para terceiros a título gratuito ou median-
te contraprestação irrisória, nos cinco anos anteriores à 
constituição como arguido;
c) Recebidos pelo arguido nos cinco anos anteriores 
à constituição como arguido, ainda que não se consiga 
determinar o seu destino.
3 - Consideram-se sempre como vantagens de atividade 
criminosa os juros, lucros e outros benefícios obtidos com 
bens que estejam nas condições previstas no artigo 111.º 
do Código Penal.
Constata-se que o conceito de propriedade, para fins do me-
canismo da perda alargada, atinge não só os bens de titularidade do 
condenado, mas, também, os bens em relação aos quais ele tenha 
disponibilidade e benefício. Alcança ainda os bens e transferência 
de valores irrisórios, presunção de fraude, ocorridas nos últimos 
5 (cinco) anos. O momento da fixação do valor é o da liquidação 
realizada pelo Ministério Público, nos termos estabelecidos no art. 
8º da lei lusitana.
Por fim, o último requisito exigido em lei para concretização da 
perda alargada é a desproporcionalidade do patrimônio do acusado 
com seus rendimentos lícitos.
Assim, se o condenado tem bens relacionados à prática do 
crime, nesse caso incidirá a chamada perda clássica, comumente 
tratada com efeito secundário da sentença condenatória, ou os bens 
são compatíveis com seus rendimentos lícitos, não há então que 
se falar em perda alargada de bens ainda que os demais requisitos 
se façam presentes na decisão condenatória. É necessário aferir o 
montante incongruente, o que é feito, segundo a lei portuguesa, pelo 
Ministério Público nos prazos estabelecidos.
Conde (2012) indica que na doutrina portuguesa há autores que 
defendem a existência de mais um requisito, qual seja, a prova a ser 
produzida pela acusação, da carreira criminosa do condenado. Nesse 
sentido o autor menciona que:
45
Cadernos do Ministério Público do Estado do Ceará 
Para além destes pressupostos legais do confisco, a genera-
lidade da doutrina nacional tem acrescentado que o Minis-
tério Público deverá ainda demonstrar uma carreira crimi-
nosa anterior. Segundo esta concessão restritiva, compete 
ao Ministério Público «demonstrar a probabilidade de uma 
máxime criminosa, de uma máxime criminosa da mesma 
espécie dos crimes previstos no catálogo, por tal forma que 
se possa dizer que o patrimônio incongruente tem uma 
fonte substancialmente análoga. Só depois disso é que 
deveria verificar-se a inversão do ônus da prova» 229. Esta 
exigência suplementar, imposta apenas por via exegética, 
não tem em nosso entender grande justificação, acabando 
por redundar numa espécie de revogação interpretativa do 
novo regime legal. No fundo, significa repristinar a prova 
da relação entre o crime pressuposto e o patrimônio que 
com este regime inovador se quis dispensar. Exigir esse 
pressuposto adicional, será impor ao Ministério Público 
uma máxime probatio: é quase impossível demonstrar 
- ainda que com base em padrões probatórios menos 
exigentes - a probabilidade de uma atividade criminosa, 
máxime de um crime do catálogo, quando se investigou 
e não se recolheram indícios suficientes da sua prática. 
(CONDE, 2012, p. 99).
Desse modo, o instituto da perda alargada consiste em moderno 
mecanismo de recuperação de ativos obtidos por meio criminoso, o 
qual exige uma série de requisitos para seu desencadeamento, sempre 
respeitando o contraditório, isto é, a possibilidade de o réu fazer prova 
em contrário da presunção de aquisição lícita dos bens indicados, 
sistema diferenciado e muito do confisco praticado em estados ab-
solutistas, os quais eram utilizados com fins econômicos e políticos, 
sem qualquer possibilidade de defesa ou oitiva do condenado.
4 A ATUAÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO NO 
COMBATE ÀS ORGANIZAÇÕES CRIMINOSAS
No moderno mundo globalizado, praticamente já não mais há 
fronteiras. Se essa interconexão global possui, inegavelmente, incon-
táveis benefícios, por outro lado, propicia facilidades à criminalidade 
46
econômica organizada, que movimenta, atualmente, significativos 
recursos financeiros em todo o mundo e, assim, representa 
um complexo desafio a ser enfrentado pelos Estados.
Essa nova forma de delinquência em muito se diferencia da crimi-
nalidade clássica, mormente pela massiva movimentação financeira 
que promove e por não conhecer qualquer forma de fronteiras, bem 
como por se revelar pouco sensível às ainda hegemônicas penas 
privativas de liberdade - muito por conta da “fungibilidade” dos in-
tegrantes das organizações criminosas, facilmente substituíveis por 
novos agentes. Nesse contexto, os tradicionais institutos penais de 
combate ao crime - incluído, destacadamente, as próprias penas 
privativas de liberdade - revelam-se vetustos e pouco eficientes 
no combate à criminalidade econômica organizada, de modo que o 
moderno Direito Criminal vê-se compelido a cunhar novos institutos 
voltados àquele fim.
Nesse cenário, a perda alargada afigura-se como necessária alter-
nativa aos tradicionais - e, hoje, pouco eficientes - instrumentos de 
que se serve o Direito Penal clássico. Trata-se de instituto semelhante 
à perda clássica e à perda por equivalente, previstas no art. 91, inc. 
II, “b”, e § 2º, do Código Penal Brasileiro, mas que se diferencia de 
tais efeitos secundários da condenação, por permitir que se decrete 
o confisco de bens para além daqueles estritamente vinculados ao 
crime em razão do qual houve condenação, conquanto se satisfaça 
uma gama de requisitos necessários para tanto.
A ameaça que as organizações criminosas representam para a 
democracia brasileira causam a erosão da legitimidade dos meca-
nismos de representação e da credibilidade dos seus representantes, 
bem como das instituições públicas.
A promoção da Ação Penal Pública constitui função institucional 
exclusiva do Ministério Público, conforme o art. 129, inc. I, da 
Constituição Federal Brasileira e, nisto, tal atribuição faz com que 
recaia sobrea instituição ministerial tamanha responsabilidade no 
47
Cadernos do Ministério Público do Estado do Ceará 
dever de zelar pela sociedade como um todo, sendo certo que o 
dano social provocado pelas organizações criminosas contribui 
com a descrença em toda a estrutura democrática de direito 
brasileira, mormente na sistemática judicial diante dos crimes pra-
ticados por aquelas criminosas.
Por outro lado, considerando os princípios institucionais do 
Ministério Público, uma atuação voltada para a prevenção e a re-
pressão eficaz às atividades de organizações criminosas exigem do 
Parquet ações, não somente legalistas e formais, mas, sobretudo, 
a partir de iniciativas de políticas públicas mobilizadoras de todos 
os sujeitos da sociedade de forma a alcançar a transformação da 
realidade social.
4.1 BREVE EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO MINISTÉRIO 
PÚBLICO BRASILEIRO NAS CONSTITUIÇÕES
A Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 conferiu 
à instituição Ministério Público uma posição de destaque ao inseri-
-lo no capítulo IV, que trata das funções essenciais à Justiça, dedi-
cando uma seção inteira ao órgão, atribuindo a importante missão 
de defesa “da ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses 
sociais e individuais indisponíveis”, art. 127 da Carta Magna, além 
de menciona-lo em outros artigos esparsos no texto constitucional.
A doutrina discute acerca da posição da instituição Ministério 
Público no quadro da organização dos poderes da República Fede-
rativa do Brasil estabelecido na atual Constituição.
A partir da análise da evolução histórica de todas as nossas Cartas 
Constitucionais vislumbra-se que a Carta de 1988 conferiu um papel 
de destaque ao Ministério Público, desvinculando-o, propositalmente, 
de todos os poderes constituídos da República.
A Constituição de 1824 sequer fazia referência a instituição, 
mencionado apenas a figura do Procurador da Coroa como órgão 
48
de acusação no juízo do crime. Na Carta de 1891 havia a figura do 
Procurador Geral da República como membro do Supremo Tribunal 
Federal, sendo este indicado pelo Presidente da República. Como 
a promulgação da Constituição de 1934 houve de forma expressa 
menção à instituição que era órgão de cooperação do governo. A 
Carta Magna de 1937 representou um enorme retrocesso para a Ins-
tituição do Ministério Público. Isso porque houve apenas algumas 
referências esparsas ao P a r q u e t no decorrer do texto.
Todavia, em 1946, a instituição retoma o seu triunfo. Conforme 
preleciona Sauwen Filho (1999) com o “[...] advento da Constituição 
Federal de 1946 viria a consolidar a independência do parquet, em 
relação aos demais órgãos governamentais, apartando-o da esfera de 
abrangência de qualquer dos poderes do Estado”. (SAUWEN FILHO, 
1999, p. 148). Em 1967 o Ministério Público aparece como órgão do 
Poder Judiciário, e, posteriormente, em 1969, é incluído no capitulo 
pertinente ao Poder Executivo. A carta de 1988 representou um ver-
dadeiro avanço em termos de garantias e independência conferidas 
ao órgão ministerial.
Contudo, apesar do destaque conferido pela atual constituição 
brasileira, a doutrina ainda discute acerca da posição do Ministério 
Público no quadro da organização dos Poderes.
Há quem defenda que o Ministério Público estaria vinculado ao 
Poder Executivo, mesmo possuindo autonomia. Por sua vez, outros 
entendem ser a instituição um quarto poder da república, tendo em 
vista a gama de garantias e prerrogativas conferidas ao órgão.
E por fim, há quem enxergue na Instituição um órgão dotado de 
autonomia, participante do sistema de freios e contrapesos, sem 
integrar nenhum dos poderes constituídos da república.
Para Bastos e Martins (1988), o Ministério Público só se torna a 
instituição por nós conhecida a partir do Estado de Direito, e somente
A partir de então, fixada a sua posição de órgão defensor 
da sociedade e não do Rei, o Ministério Público começa a 
49
Cadernos do Ministério Público do Estado do Ceará 
sofrer as consequências das vicissitudes por que passa o 
próprio Estado, liberal no século XIX, parcialmente inter-
vencionista no século XX, até o momento atual, marcado 
pelo recuo do Welfare State em benefício de políticas 
mais liberais no campo econômico e social. De qualquer 
sorte o Estado remanesce uma entidade tão complexa que, 
mesmo dele se abstraindo a atividade econômica - que 
melhor cabe nas mãos dos particulares –, a ele incumbem 
funções extremamente acrescidas em razão, inclusive, 
do próprio crescimento da interferência recíproca dos 
problemas de um Estado em outro. O crime demanda um 
combate internacionalmente organizado. O terrorismo 
idem. O mesmo acontece com a defesa da ecologia. Nes-
ses, e em muitos outros pontos, o Estado não pode olhar 
somente para o limite do seu território, mas é obrigado a 
perscrutar o caminho por que segue o próprio mundo, não 
perdendo oportunidade de insinuar-se nas grandes corren-
tes do comércio internacional, assim como fazer escolhas 
corretas no que diz respeito à sua integração em blocos 
econômicos. Não se quer com isso dizer que o Ministério 
Público tenha por função interferir em todos esses as-
suntos, mas sim deixar certo que a própria sociedade se 
tornou mais complexa, fato ao qual a ordem jurídica 
não se pode manter indiferente, daí o surgimento dos 
direitos difusos, dos direitos coletivos, esferas nas quais o 
Ministério Público ganha, sem dúvida, dimensões que não 
tinha no passado. (BATOS e MARTINS, 1988, p. 03).
Neste contexto, a Carta Magna de 1988, no tocante às atribuições 
ministeriais estabelece, no art. 129 que as funções institucionais são:
Art. 129. São funções institucionais do Ministério Público:
I - promover, privativamente, a ação penal pública, na 
forma da lei;
II - zelar pelo efetivo respeito dos Poderes Públicos e dos 
serviços de relevância pública aos direitos assegurados 
nesta Constituição, promovendo as medidas necessárias 
a sua garantia;
III - promover o inquérito civil e a ação civil pública, para a 
proteção do patrimônio público e social, do meio ambiente 
e de outros interesses difusos e coletivos;
IV - promover a ação de inconstitucionalidade ou represen-
tação para fins de intervenção da União e dos Estados, 
nos casos previstos nesta Constituição;
V - defender judicialmente os direitos e interesses das 
populações indígenas;
50
VI - expedir notificações nos procedimentos adminis-
trativos de sua Competência, requisitando informações e 
documentos para instruí-los, na forma da lei complementar 
respectiva;
VII - exercer o controle externo da atividade policial, na 
forma da lei complementar mencionada no artigo anterior;
VIII - requisitar diligências investigatórias e a instauração 
de inquérito Policial, indicados os fundamentos jurídicos 
de suas manifestações processuais;
IX - exercer outras funções que lhe forem conferidas, 
desde que compatíveis com sua finalidade, sendo-lhe 
vedada a representação judicial e a consultoria jurídica de 
entidades públicas.
Trata-se de rol meramente exemplificativo, uma vez que o inc. 
IX daquele dispositivo constitucional (art. 129, da CF/88) possibilita 
ao Ministério Público exercer outras funções que lhe forem confe-
ridas, desde que compatível com sua finalidade, ou seja, desde que 
na defesa da sociedade. Consagra Fontes (2006) que:
[...] na Constituição de 1988, nenhuma instituição do Es-
tado saiu tão fortalecida e prestigiada como o Ministério 
Público, em relação aos nossos textos constitucionais an-
teriores. A instituição foi, com efeito, consideravelmente 
transformada pelo constituinte de 1988, que desejou fazer 
dela uma garantia geral da ordem jurídica, independente 
dos três Poderes da República. Essa independência (orgâ-
nica, administrativa e funcional) pode ser analisada em 
relação aos três Poderes (§1º). [...] (FONTES, 2006, p. 18).
Vislumbra-se que o

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