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Novas tendências em Direito Penal

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1 
 
Disciplina: Novas tendências em Direito Penal 
Autor: Esp. Raíssa Quintino de Paula Xavier 
Revisão de Conteúdos: Esp. Alexandre Kramer Morgenterm 
Designer Instrucional: Esp. Alexandre Kramer Morgenterm 
Revisão Ortográfica: Esp. Lucimara Ota Eshima 
Ano: 2020 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Copyright © - É expressamente proibida a reprodução do conteúdo deste material integral ou de suas 
páginas em qualquer meio de comunicação sem autorização escrita da equipe da Assessoria de 
Marketing da Faculdade UNINA. O não cumprimento destas solicitações poderá acarretar em cobrança 
de direitos autorais. 
 
 
 
2 
 
Raíssa Quintino de Paula Xavier 
 
 
 
 
 
Novas tendências em direito penal 
1ª Edição 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
2020 
Curitiba, PR 
Faculdade UNINA 
 
 
3 
 
Faculdade UNINA 
Rua Cláudio Chatagnier, 112 
Curitiba – Paraná – 82520-590 
Fone: (41) 3123-9000 
 
 
Coordenador Técnico Editorial 
Marcelo Alvino da Silva 
 
Conselho Editorial 
D.r Alex de Britto Rodrigues / D.r Eduardo Soncini Miranda / 
D.r João Paulo de Souza da Silva / D.ra Marli Pereira de Barros Dias / 
D.ra Rosi Terezinha Ferrarini Gevaerd / D.ra Wilma de Lara Bueno / 
D.ra Yara Rodrigues de La Iglesia 
 
Revisão de Conteúdos 
Alexandre Kramer Morgenterm 
 
Designer Instrucional 
Alexandre Kramer Morgenterm 
 
Revisão Ortográfica 
Lucimara Ota Eshima 
 
Desenvolvimento Iconográfico 
Juliana Emy Akiyoshi Eleutério 
 
 
FICHA CATALOGRÁFICA 
 
 
XAVIER, Raíssa Quintino de Paula. 
Novas tendências em direito penal / Raíssa Quintino de Paula Xavier. – Curitiba: 
Faculdade UNINA, 2020. 
66 p. 
ISBN: 978-65-87972-24-4 
1. Crimes. 2. Direito. 3. Lei. 
Material didático da disciplina de Novas tendências em Direito Penal – Faculdade 
UNINA, 2020. 
Natália Figueiredo Martins – CRB 9/1870 
 
 
 
4 
 
PALAVRA DA INSTITUIÇÃO 
 
Caro(a) aluno(a), 
Seja bem-vindo(a) à Faculdade UNINA! 
 
 Nossa faculdade está localizada em Curitiba, na Rua Cláudio Chatagnier, 
nº 112, no Bairro Bacacheri, criada e credenciada pela Portaria nº 299 de 27 de 
dezembro 2012, oferece cursos de Graduação, Pós-Graduação e Extensão 
Universitária. 
 A Faculdade assume o compromisso com seus alunos, professores e 
comunidade de estar sempre sintonizada no objetivo de participar do 
desenvolvimento do País e de formar não somente bons profissionais, mas 
também brasileiros conscientes de sua cidadania. 
 Nossos cursos são desenvolvidos por uma equipe multidisciplinar 
comprometida com a qualidade do conteúdo oferecido, assim como com as 
ferramentas de aprendizagem: interatividades pedagógicas, avaliações, plantão 
de dúvidas via telefone, atendimento via internet, emprego de redes sociais e 
grupos de estudos, o que proporciona excelente integração entre professores e 
estudantes. 
 
 
 Bons estudos e conte sempre conosco! 
 Faculdade UNINA 
 
 
 
 
 
 
 
 
5 
 
Sumário 
Prefácio ..................................................................................................... 07 
Aula 1 – Introdução .................................................................................... 08 
Apresentação da aula 1 ............................................................................. 08 
 1.1 Sociedade de risco ....................................................................... 08 
 1.2 Globalização ................................................................................. 12 
 1.2.1 Criminalidade transnacional ....................................................... 13 
 1.3 Controle social penal ..................................................................... 14 
Conclusão da aula 1 .................................................................................. 17 
Aula 2 – Novas formas de criminalidade .................................................... 19 
Apresentação da aula 2 ............................................................................ 19 
 2.1 Criminalidade organizada ............................................................. 19 
 2.1.1 Conceito ..................................................................................... 20 
 2.1.2 Modelos ..................................................................................... 24 
 2.1.3 Legislação brasileira .................................................................. 24 
 2.1.4 Lei 12.850/13 ............................................................................. 26 
 2.2 Criminalidade econômica .............................................................. 28 
Conclusão da aula 2 .................................................................................. 29 
Aula 3 – Novas formas de criminalidade .................................................... 31 
Apresentação da aula 3 ............................................................................. 31 
 3.1 Crimes contra a ordem tributária ................................................... 31 
 3.1.1 Noções básicas de Direito Tributário .......................................... 31 
 3.1.2 Ordem tributária como bem jurídico ........................................... 32 
 3.1.3 Lançamento x auto de infração .................................................. 32 
 3.1.4 Lei 8.137/90 e demais crimes ..................................................... 33 
 3.1.5 Processo .................................................................................... 36 
 3.2 Crimes contra o sistema financeiro nacional ................................ 38 
 3.2.1 Instituição financeira e equiparada ............................................. 38 
 3.2.2 Crimes da Lei 7.492/86 .............................................................. 39 
 3.2.3 Da lavagem de dinheiro ............................................................. 41 
Conclusão da aula 3 .................................................................................. 42 
Aula 4 – Direito Penal e demais ramos do Direito ..................................... 45 
Apresentação da aula 4 ............................................................................. 45 
 4.1 Direito penal da Lei de Falências e Recuperação de Empresas ... 45 
 4.1.1 Considerações iniciais ............................................................... 45 
 
 
6 
 
 4.1.2 O procedimento penal ............................................................... 46 
 4.1.3 Dos crimes em espécie .............................................................. 47 
 4.2 Crimes contra o meio ambiente .................................................... 50 
 4.2.1 Conceito de meio ambiente ........................................................ 50 
 4.2.2 Princípios ................................................................................... 51 
 4.2.3 Lei dos crimes ambientais ......................................................... 54 
 4.2.4 Considerações sobre o Direito Ambiental ................................. 56 
Conclusão da aula 4 .................................................................................. 57 
Conclusão da disciplina ............................................................................. 58 
Índice Remissivo ........................................................................................ 61 
Referências ............................................................................................... 63 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
7 
 
Prefácio 
 
 O Direito Penal, embora possua sua fundação em diversos conceitos mais 
antigos, também evoluiu ao longo dos anos. A criminalidade é um fenômeno 
dinâmico, razão pela qual o Direito Penal deve se amoldar às novas realidades. 
 O advento datecnologia e da globalização propiciaram à criminalidade a 
possibilidade de atuar de diversas formas anteriormente nunca vistas, como é o 
caso dos cybercrimes, por exemplo. Portanto, é necessário que o Direito Penal 
se modernize para abarcar as novas situações que surgiram e irão surgir ao 
longo da evolução humana. 
 Outro tema moderno, por exemplo, são os crimes ambientais, assunto que 
vem tomando cada vez mais forma tanto em debates doutrinários quanto 
jurisprudenciais e legais. Afinal, o meio ambiente é um direito humano de terceira 
geração, o qual deve ser protegido ao máximo. 
 Verifica-se que com o advento da tecnologia surgiram também novos 
problemas. Nesta disciplina serão abordados os temas de ordem penal, mas é 
importante frisar que a tecnologia não incidiu apenas criminalmente, mas em 
diversos outros ramos do Direito. 
 Para compreensão dos novos temas em matéria de Direito Penal, será 
apresentada uma aula introdutória acerca da sociedade de risco, da globalização 
e do controle social penal. Os referidos assuntos possuem demasiada 
importância quando da análise aprofundada das temáticas, que se seguirão ao 
longo do módulo. 
 Ademais, serão abordadas as novas formas de criminalidade, em 
especial, os crimes organizados, criminalidade econômica, crimes contra a 
ordem tributária e crimes contra o sistema financeiro, temas extremamente em 
alta em razão das diversas operações policiais realizadas nos últimos anos. 
 Por fim, será explanado acerca do Direito Penal na Lei de Falências e 
Recuperação de Empresas e dos crimes contra o meio ambiente, temáticas que 
possuem demasiada importância no contexto atual. 
 Os assuntos aqui em comento possuem a finalidade de possibilitar o 
pensamento crítico e o entendimento acerca das novas tendências em matéria 
penal, visto que elas irão compor o próximo salto evolutivo deste ramo do Direito. 
 
 
 
8 
 
Aula 1 - Introdução 
 
Apresentação da aula 1 
 
 Nesta aula serão abordados temas relacionados às novas tendências em 
Direito Penal, tais como a sociedade de risco, a globalização e o controle social 
penal. A compreensão e o conhecimento desses temas têm por objetivo 
desenvolver base para melhor compreensão dos conteúdos abordados no 
presente módulo. 
 
1.1 Sociedade de risco 
 
 É inegável que o risco se encontra cada dia mais presente na sociedade, 
seja por meio de doenças, desastres naturais, acidentes de trânsito, acidentes 
nucleares e diversos outros exemplos que podem ser citados. Verifica-se, então, 
que é um elemento existente no cotidiano, de natureza e momento incertos, 
cujas consequências podem ser variadas. 
 A noção de risco é deveras complexa, visto que ela diz respeito a uma 
representação de perigo tanto em sua percepção potencial quanto como indica 
uma situação entendida como perigosa, cujos efeitos podem ser sentidos. 
 A temática foi e ainda é muito discutida por diversos sociólogos, mas um 
nome merece destaque: o sociólogo Ulrich Beck, o qual lançou o livro Sociedade 
de risco: rumo a uma outra modernidade, no qual desenvolveu a noção de 
sociedade de risco. 
 
O risco não pode ser entendido como sinônimo de catástrofe, 
mas como antecipação de uma catástrofe, pois consiste em 
encenar o futuro no presente, de tal maneira que essa 
antecipação de catástrofes futuras possa vir a ser uma política 
que transforme o mundo. 
 
 De acordo com sua análise, Beck defende que a sociedade moderna ou 
pós-moderna está passando por uma ruptura, tal qual ocorreu quando houve a 
transição do feudalismo para sociedade industrial. Todavia, essa nova transição 
 
 
9 
 
da sociedade moderna não se dará com o fim da modernidade, mas com sua 
reformulação. 
 Para Beck, o mundo está passando por uma transformação da sociedade 
industrial clássica, a qual se caracterizava pela produção e distribuição de 
riquezas, para a sociedade de risco, para a qual a produção dos riscos domina 
a lógica de produção dos bens. 
 Dentro dessa nova perspectiva, haveria, então, a democratização do 
risco, visto que nem as camadas mais ricas e nem as camadas mais pobres 
estariam imunes ao risco. Por óbvio que alguns riscos atingem de maneira mais 
efusiva as classes mais baixas, mas, em linha gerais, as ameaças não são 
situações de classe. 
 Os riscos são produtos, ao mesmo tempo, reais ou irreais, por aliarem 
danos e perigos já ocorridos àqueles calculados. Nesse sentido, o futuro teria 
primazia em relação ao passado, visto a existência de potencialidade de 
projeção dos fatores que conjugam riscos. 
 Nesse novo cenário, o risco poderia representar, então, oportunidade de 
mercado, pois se baseia no conhecimento, em que a ciência atua com papel 
central. Dessa forma, a sociedade de risco também é a sociedade da ciência, da 
mídia e da informação, o conhecimento se converteu na mais importante 
manufatura intelectual da modernidade. 
 Em determinadas situações, o risco pode ser calculado e, até mesmo, 
premeditado, como é o caso de alguns fenômenos naturais, por exemplo. Porém, 
mesmo com essa possibilidade de previsão, a sociedade de risco ainda é 
marcada pela incerteza fabricada, aquela oriunda das inovações tecnológicas e 
das respostas, cada vez se dando de maneira mais imediata. E é por essa razão 
que a sociedade de risco pode simbolizar o descontrole em que os riscos 
civilizatórios escapam à percepção, baseando-se em fórmulas físico-quimícas. 
 Além do conceito de universalidade trazido por Beck, existe também o 
conceito de individualidade, o qual coloca os indivíduos como responsáveis por 
se colocarem em situações de exposição ao risco. Afinal, os indivíduos são 
considerados agentes de escolha, tendo elevado nível de controle e 
responsabilidade quanto à exposição a perigos, sendo produtores e gestores de 
sua carga de risco. 
 
 
10 
 
 Nesse sentido, a individualização passa a ser analisada sob o prisma da 
modernidade reflexiva, a qual deriva de um processo de radicalização da 
modernidade e rompe com a previsibilidade da vida social. 
 A globalização e os avanços tecnológicos são algumas das principais 
características da modernidade, tornando-se ao mesmo tempo tema e problema 
acerca da temática. 
 Em sua obra, Beck guia o leitor a uma reflexão crítica acerca do papel da 
ciência e tecnologia na produção do conhecimento em matéria de riscos. O 
objetivo é de criticar o determinismo da racionalidade científica sobre a 
sociedade na produção de verdades. 
 Importante destacar aqui o momento histórico enfrentado quando da 
formação da teoria de Beck, pois foi um momento marcado pela queda do muro 
de Berlim, crise ambiental e grandes avanços tecnológicos, fatos que 
influenciaram diretamente a teoria elaborada pelo sociólogo. 
 Outro ponto a ser destacado é a ideia de Beck, de que a própria 
modernização acabou por trazer consequências que hoje colocam em risco as 
condições básicas de vida alcançadas por intermédio desse mesmo processo. 
 Com a sociedade de risco surgem também os novos riscos e a 
complexidade da delinquência. A consequência do desenvolvimento é fazer com 
que o Direito Penal se depare com a necessidade de encarar riscos cada vez 
maiores e fatos cada vez mais complexos, tanto no âmbito do esclarecimento de 
delitos quanto na definição do comportamento penal relevante. 
 Em razão de uma prevenção mais reforçada é que coloca o Direito Penal 
perante a alternativa de se adaptar ou deixar as regulamentações pendentes 
para os outros concorrentes ramos do Direito (direito de polícia, de guerra, do 
serviço secreto etc.). Contudo, essa adaptação se encontra de fronte aos limites 
funcionais do Direito Penal, os quais não pairam apenas sobre a garantia de 
proteção à sociedade, como também de proteção aos direitos de liberdade dos 
indivíduos. 
 Os novos riscos e a complexidade dos delitos estão intimamente 
vinculados às mudanças técnicas, econômicas e políticas da sociedade atual.São riscos fortalecidos por novas dependências e vulnerabilidades da 
sociedade, nas possibilidades modificadas de cometer crimes e nas dificuldades 
 
 
11 
 
específicas do esclarecimento desses crimes, como é o caso dos cybercrimes, 
por exemplo. 
 O avanço ocorre em tal velocidade que acaba por dificultar a previsão e o 
controle dos riscos advindos das transformações ocorridas ao longo do 
desenvolvimento social, fazendo surgir, assim, uma sensação de incerteza, 
insegurança e desamparo, trazendo o clamor dos populares por intervenções 
mais radicais por parte do poder público, buscando, desse modo, uma sensação 
de proteção e segurança. 
 Embora o risco seja considerado imprescindível para o impulsionamento 
da evolução social, também é considerado, ao mesmo tempo, seu próprio fator 
de desequilíbrio. 
 É fato que existem riscos considerados como consequências naturais da 
vida em sociedade, os quais devem ser tolerados e permitidos, e que embora 
possam ser objetos de outros ramos do direito, passam desapercebidos pelo 
Direito Penal. Entretanto, existem riscos que colocam em xeque bens jurídicos 
essenciais à sociedade, que quando são atingidos há a interferência da 
dogmática penal tradicional, respeitando sempre seus princípios básicos. 
 O maior problema encontrado atualmente é a atuação penal na proteção 
de bens jurídicos difusos e coletivos, que são atingidos pelos riscos modernos, 
cujos efeitos podem afetar um número indeterminado de pessoas, a sociedade 
como um todo e, até mesmo, futuras gerações, como é o caso dos crimes 
ambientais, por exemplo. 
 O Direito Penal tradicional não possui a capacidade de fornecer respostas 
satisfatórias a essas demandas decorrentes de novos riscos, pairando assim 
uma crise, pois ao mesmo tempo que se almeja e objetiva preservar as garantias 
já conquistadas e que limitam o poder estatal, ele deve expandir no sentido de 
atuar como uma forma de controle social, interferindo na liberdade das pessoas 
e, ao mesmo tempo, garantir a segurança e o bem-estar coletivos. 
 O sentimento de insegurança por parte da sociedade acaba por gerar um 
descrédito na administração pública, a qual acaba por optar por atitudes 
improvisadas na tentativa de acalmar grandes alardes sociais. 
 E em razão desse sentimento de insegurança é que o Direito Penal vem 
assumindo papel emergencial tanto de forma legislativa quanto jurisprudencial, 
fazendo despertar preocupações com relação aos direitos do indivíduo, visto que 
 
 
12 
 
tem sido adotado como um "remédio" e resposta social, o que é inadmissível em 
um Estado Democrático de Direito. 
 Nesse cenário, a ordem pública antes considerada como a razão da tutela 
penal, passou a ser confundida com bem jurídico a ser protegido, prejudicando 
a delimitação da atuação do Direito Penal e alargando o campo dos bens 
jurídicos passíveis de tutela penal. 
 Em assim sendo, o Direito Penal de Emergência acaba apenas por tratar 
dos sintomas das novas formas de criminalidade, apenas dando à sociedade a 
resposta de que a prisão corresponde à justiça, mas deixando de enfrentar 
efetivamente a causa do problema. 
 
1.2 Globalização 
 
 É claro que ao se falar de modernidade é impossível não falar também da 
globalização. Afinal, a globalização é uma das maiores características da 
sociedade moderna. 
 A globalização é um instituto extremamente amplo que possibilita ligar 
localidades distantes de tal maneira a dar visibilidade em acontecimentos 
anteriormente apenas locais. 
 Para o autor Zygmunt Bauman, a globalização acaba por inspirar uma 
situação de desordem, a qual é muito presente na sociedade pós-moderna. Isso 
porque traz consigo um caráter indeterminado, indisciplinado e de autopropulsão 
de assuntos mundiais. Desta forma, haveria então a ausência de um centro, de 
um canal centralizado de administração. 
 Já, Ulrich Beck enxerga a globalização sob a perspectiva do risco global, 
o qual abre espaço para a criação de futuros alternativos, isto é, abre espaço 
para a discussão moral e política, tornando assim capaz o surgimento e 
desenvolvimento de uma cultura civil de responsabilidade globalizada. 
 Nesse sentido, pode-se dizer que o risco atravessa a autossuficiência das 
culturas, idiomas, religiões e sistemas, muitas vezes fazendo com que 
populações antes incomunicáveis ou mais reclusas passem a se abrir e se 
comunicar em prol de um objetivo em comum. 
À medida que um público mundial passa a ter consciência dos riscos 
globais como mudanças climáticas, pandemias, crises econômicas de extensão 
 
 
13 
 
global, por exemplo, riscos que vinculam nações, surge, então, a visão 
cosmopolita na qual as pessoas se veem como parte de um todo, de um mundo 
que se encontra em perigo, um perigo que vai além de suas histórias locais. 
 E é com base nesse raciocínio que se verifica que a sociedade de risco 
também é uma oportunidade social, pois essa nova realidade faz com que 
nenhuma nação consiga extinguir ou mitigar seus problemas sozinha, pois 
aqueles que apenas focam no âmbito nacional acabarão por perecer. 
 A globalização é um processo caracterizado pelo avanço da 
comunicação, interação e organização mundiais. Contudo, esse 
desenvolvimento não acarreta somente problema com as economias nacionais, 
mas também leva ao desenvolvimento de uma nova criminalidade global, a 
modificação do direito penal e a uma crescente política criminal global. 
 
1.2.1 Criminalidade transnacional 
 
 A criminalidade transnacional ocorre em razão das crescentes 
oportunidades de ultrapassagem de fronteiras por pessoas e no intercâmbio 
internacional de mercadorias, serviços e dados na sociedade global. Essas 
possibilidades possuem causas técnicas, econômicas e políticas, assim como 
efeitos correspondentes. 
 As causas técnicas são as modificações técnicas na globalização que 
possibilitam o uso de redes de dados mundiais para a prática de delitos. Tanto 
as redes como a imaterialidade dos dados conduzem a uma comunicação e 
organizações mundiais, as quais muitas vezes são utilizadas para o cometimento 
de delitos. 
 Essas causas permitem que qualquer pessoa, por intermédio de um 
computador, modifique, em segundos, dados de um sistema de computadores 
em outro país, gerando assim sérias consequências. Ademais, os dados 
presentes na internet estão presentes em todo o planeta e podem ser acessados 
de qualquer lugar do mundo simultaneamente com apenas um clique, tornando 
impossível um controle estatal do fluxo de dados nas fronteiras territoriais de um 
país. 
 As causas econômicas são as modificações econômicas decorrentes da 
globalização e geram possibilidades adicionais de prática de delitos 
 
 
14 
 
transnacionais nos mercados mundiais. Um exemplo é a lavagem de dinheiro 
que ocorre em um mercado financeiro mundial, caracterizando-se pelas rápidas 
transformações e que se subtrai do controle individual dos Estados. 
 Outro exemplo é o enorme fluxo consequente do comércio global de 
containers, tornando assim difícil a fiscalização. 
 As causas políticas, por sua vez, são as modificações decorrentes da 
globalização que geram um enfraquecimento das fronteiras do Estado em sua 
função de barreira às transações fronteiriças. Por exemplo, a livre circulação de 
mercadorias, pessoas e serviços na Europa, em especial na União Europeia, 
pode vir a gerar novas oportunidades para o cometimento de delitos de nível 
transnacional. 
 
1.3 Controle social penal 
 
 A partir do momento que o homem deixou de viver no Estado de Natureza 
e passou a viver em sociedade, com a criação do Estado, é que se fez necessária 
a criação de mecanismos de controle social para regular a vida em sociedade. 
 Afinal, deve-se considerar que nem todos os integrantes da sociedade se 
guiam pelas regras, pois a sociedade não é perfeita. Visando estimular os 
membros relutantes a seguirem as regras é que entram em cena osmecanismos 
de prevenção e punição dos desvios, os quais são comumente conhecidos como 
normas coautoras, que atuam como um aparato de controle em que o indivíduo 
é inibido a obedecer, mediante os receios de receber uma penalidade advinda 
por parte do Estado. 
 É nesse cenário e sentido que surge o Direito Penal, o qual tem a 
finalidade de preservar e defender, protegendo os bens jurídicos mais 
importantes para a vida em sociedade. O Direito Penal se diferencia das demais 
instituições sociais em razão do seu caráter normativo e formal, o qual é exercido 
por meio de um conjunto de normas previamente criadas. 
 Nesse sentido, o Direito Penal vem ao mundo para cumprir funções 
concretas dentro de uma sociedade e para uma sociedade que concretamente 
se organizou de determinada maneira, figurando assim como uma parte de um 
todo. 
 
 
15 
 
 Isso porque o sistema de controle penal não se limita ao Direito Penal tão 
somente, pois há outros conjuntos de normas que atuam em mesmo sentido, 
como é o caso das normas processuais penais, a Lei de Execução Penal e etc., 
as quais criam ou subordinam determinadas instituições a auxiliarem na 
proteção dos bens jurídicos elencados pelo legislador como os mais relevantes. 
 O sistema penal engloba também as atividades do Ministério Público, dos 
magistrados e do legislador, sendo o controle punitivo institucionalizado e 
formalmente punitivo. 
 Pode-se, então, dizer que o sistema penal é constituído pela instituição 
policial, pela instituição judiciária e pela instituição penitenciária, as quais, de 
acordo com as normas preestabelecidas, têm por incumbência a realização do 
Direito Penal propriamente dito. 
 O controle social é o conjunto de mecanismos e sanções sociais que tem 
por objetivo submeter os indivíduos a modelos e normas comunitários, ou seja, 
fazê-los enquadrar-se no padrão do que é considerado como comportamento 
adequado e aceitável. 
 O controle social em si pode ser formal ou informal, diferenciando-se em 
relação ao modus operandi e as sanções por eles estabelecidas. As sanções do 
controle social formal são sempre negativas e, por diversas vezes, 
estigmatizantes. 
 O controle formal é aquele realizado por meio de normas legais, ao passo 
que o controle informal é o realizado por intermédio de outras formas, como, por 
exemplo, escola, igreja, trabalho, mídia etc., os quais atuam na manutenção e 
regulação das relações sociais. 
 O controle social penal, por sua vez, somente pode ser acionado quando 
todos os outros meios de controle, seja formais ou informais, mostrarem-se 
insuficientes para a realização do controle de fato. 
 O controle social pode ser realizado por meio de um sistema de normas 
que contemple o modelo de conduta, punindo fatos que coloquem em perigo o 
grupo / sociedade. Este é o controle social penal. 
 Pode-se dizer que o controle social penal é um subsistema do controle 
social formal, em que a infração penal é um fenômeno parcial de todas as 
condutas desviadas e a pena significa a opção por uma das sanções disponíveis. 
 As características do controle social penal são: 
 
 
16 
 
 
 a) Objeto a que se refere: não é toda a conduta desviada que enseja a 
aplicação do controle social penal, apenas as mais juridicamente relevantes 
traduzidas por infração penal; 
 b) Sua finalidade se traduz pela prevenção e precaução; 
 c) Utiliza-se de penas ou medidas de segurança como meio de 
instrumentalização; 
 d) Opera com base no princípio da estrita legalidade, sendo ele um 
princípio limitador. 
 
 A sociedade, geralmente, possui dispositivos de autodefesa, o controle 
social informal, o qual, embora não possua rituais específicos e procedimentos 
formais, possui demasiada eficácia. Contudo, quando o conflito social se reveste 
de especial gravidade, sua solução não pode ser encontrada nas vias informais 
somente, razão pela qual o Estado deverá intervir por meio do controle formal, 
em especial o penal. 
 O controle social penal irá, assim, agir quando o conflito se reveste de 
especial importância, submetendo, dessa forma, os infratores às normas de 
atuação delineadas para assegurar a objetividade da intervenção e o respeito às 
garantias das pessoas envolvidas no conflito. 
 Quando o controle social penal incide na resolução de um conflito, há de 
se considerar dois requisitos: 
 
 a) Os fracassos do mecanismo informal e das demais esferas do direito 
em resolver a demanda; 
 b) A especial relevância da conduta perpetrada pelo indivíduo, a qual não 
pode se tratar de mera banalidade, pois o controle social penal atua somente na 
proteção dos bens jurídicos mais relevantes e importantes da sociedade. 
 
 Dessa forma, verifica-se que o Direito Penal é a ultima ratio, ou seja, 
somente será invocado quando nenhum dos outros meios de controle, seja 
informal ou formal (direito civil, administrativo, de família, ambiental etc.), esteja 
se mostrando suficiente para a resolução da demanda. 
 
 
17 
 
 Entretanto, o caráter puramente repressivo do Direito Penal há de ser 
questionado, visto que embora seja pena, ainda é direito, ou seja, há o castigo, 
mas também há a garantia. 
 Em razão de sua natureza é que muitas são as críticas acerca do controle 
social penal, pois muitos autores defendem que há uma certa discriminação e 
que o Direito Penal vem sendo utilizado para punir de maneira mais severa as 
classes mais baixas e se mostra mais sereno nas punições de agentes 
integrantes das classes mais abastadas. 
 O fato é que, atualmente, o Direito Penal tem ampliado seu alcance, 
conforme verificado anteriormente, e está sendo utilizado em caráter 
emergencial. E com o Direito Penal Emergencial surge também o Direito 
Processual Emergencial, o qual exige do Poder Judiciário respostas cada vez 
mais imediatas, em que o exercício do poder punitivo acaba por deixar de lado 
os direitos e garantias fundamentais do indivíduo, pois abre-se mão do 
formalismo processual em troca da responsabilização a qualquer custo. 
 Contudo, embora essas violações se mostrem, por vezes, eficazes no 
esclarecimento de muitos delitos e respondem satisfatoriamente à sociedade por 
meio da mídia, acaba-se por atribuir ao Direito Penal um papel que não lhe 
pertence, sendo-lhe concedidos poderes ilimitados e incontroláveis que acabam 
sendo legitimados em nome do risco e da emergência. 
 
Conclusão da aula 1 
 
 Nesta aula foi possível concluir que o Direito Penal vem tentando se 
amoldar à nova sociedade de risco, mas que sua utilização vem sendo feita de 
modo emergencial, visando apenas "estancar a ferida", mas não tratar de fato a 
causa do problema. E por essa razão é que a modernização, em especial no 
âmbito legislativo, deve ser feita de maneira prudente, considerando não apenas 
a resposta à sociedade, mas sim os direitos e garantias fundamentais dos 
indivíduos, desvinculando-se da ideia de que esses direitos são empecilhos para 
se alcançar a justiça. 
 Nesta primeira aula foram abordados os temas: sociedade de risco, 
globalização e controle social penal. 
 
 
18 
 
 Com relação à sociedade de risco desenvolveu-se a teoria elaborada por 
Ulrich Beck, a qual entende que a sociedade de risco surge na modernidade, 
com o avanço tecnológico e a globalização, os quais criam riscos dentro da 
sociedade. 
 Nesse sentido, os riscos seriam produtos, ao mesmo tempo, reais ou 
irreais, por alinharem danos e perigos já ocorridos àqueles calculados. Nesse 
sentido, o futuro teria primazia em relação ao passado, visto a existência de 
potencialidade de projeção dos fatores que conjugam riscos. 
 Em mesmo tópico discutiu-se a complexidade e modernidade dos novos 
delitos, razão pela qual o esclarecimento deles e a punição de seus autores se 
torna um trabalho deveras complicado. E nesse sentido, comentou-se o uso do 
Direito Penal de Emergência para sanar os conflitos de maneira emergencial. 
 No segundotópico foi discutido acerca da globalização, oportunidade em 
que se mostrou a sua contribuição para a facilitação do cometimento de crimes 
transnacionais, visto que há relativização das fronteiras físicas. 
 Sobre os crimes transnacionais explicou-se quais as modificações 
modernas que vêm a facilitar a ocorrência desses tipos de crime, sendo elas: 
técnicas, econômicas e políticas. 
 Posteriormente, discorreu-se sobre o controle social penal, oportunidade 
em que foi demonstrada a existência do controle informal, representado pelas 
igrejas, escola, famílias etc., e o controle formal, representado pelas instituições 
legislativas e normativas. 
 Nesse sentido, demonstrou-se que o sistema penal vai além do Direito 
Penal em si, mas é formado por um conjunto de elementos voltados à efetivação 
do Direito Penal. 
 Explicou-se que a necessidade de controle social penal se dá em razão 
de que, em sociedade, sempre há indivíduos que não respeitam as regras e que 
desvirtuam a harmonia da convivência, razão pela qual é necessária a existência 
de um sistema repressor, na tentativa de coibir esses desvios. 
 Ao final, fez-se uma breve crítica acerca da utilização do Direito Penal de 
maneira emergencial, a qual abre margens e precedentes para a violação de 
direitos fundamentais dos indivíduos. 
 
 
 
19 
 
Atividade de Aprendizagem 
 
Discorra em breves linhas sobre o controle social penal. 
 
 
 
 
Aula 2 - Novas formas de criminalidade 
 
Apresentação da aula 2 
 
 Nessa aula será dado início ao estudo das novas formas de criminalidade. 
Esta aula se destinará ao desenvolvimento acerca das temáticas: criminalidade 
organizada e criminalidade econômica, apresentando seus conceitos e 
características, bem como a legislação nacional vigente acerca do tema. 
 
2.1 Criminalidade organizada 
 
 A criminalidade organizada, embora seja uma temática cujo estudo é 
considerado moderno, é uma prática que já se observava em sociedades mais 
antigas. Um exemplo de criminalidade organizada que pode ser citado é a 
pirataria do século XVII e XVIII, na qual os piratas já agiam em forma de 
organização estável em que havia forte liderança e hierarquia. 
 Outro exemplo a se considerar são as ações realizadas pelo antigo 
cangaço, as quais ocorreram no Nordeste entre o século XVIII e meados do 
século XX, em que seus membros vagavam em grupos atravessando estados e 
atacando cidades. 
 Contudo, quando se analisa as atividades criminosas atuais, pode-se 
verificar que em termos de organização, elas atingiram níveis de administração 
interna, tecnologia, expansão e lucratividade similares as das grandes 
empresas. 
 Verifica-se também que a criminalidade organizada envolve não somente 
os criminosos mais sofisticados ou normalmente conhecidos por apresentarem-
 
 
20 
 
se como donos de empresas de alta performance, mas que na realidade são 
apenas fachadas para a lavagem de dinheiro e crimes derivados, como também 
na modalidade dos crimes clássicos, mas agora com organização, análise de 
riscos, investimentos, treinamentos e até seleção de pessoal. 
 Um ponto importante a se destacar é que o combate a esses crimes e a 
busca por seus autores demandam imenso esforço policial, visto que se trata de 
criminosos de elite, os quais estão envolvidos com tráfico internacional de 
drogas, tráfico de pessoas e lavagem de dinheiro, o que pode dificultar a 
persecução penal em razão da sofisticação e ousadia das ações delituosas. 
 Dessa forma, enfrentar a criminalidade organizada demanda atuação 
imensamente mais árdua por parte da polícia e da Justiça em geral, a qual não 
mais se dedica apenas à busca de crimes de menor potencial ou sofisticação, 
mas enfrenta cartéis, bandos e quadrilhas altamente organizadas. 
 
2.1.1 Conceito 
 
 A legislação brasileira não trazia o conceito de criminalidade organizada 
propriamente dita, limitando-se a equiparar essa atividade criminosa ao disposto 
no artigo 288 do Código Penal. Desta forma, acabava por equiparar 
erroneamente a criminalidade organizada ao conceito de associação criminosa. 
Erroneamente, pois a associação criminosa nada mais é do que um 
agrupamento sem qualquer tipo de sofisticação, complexidade ou estrutura 
diferenciada. 
 Em razão dessa ausência de conceito pela legislação é que ficou a cargo 
da doutrina e da jurisprudência conceituar o que seria a criminalidade 
organizada. Contudo, há de se verificar que se trata de trabalho árduo e 
praticamente impossível, pois não há como desenvolver uma única definição 
legal que irá abranger todas as modalidades de organizações criminosas. Isto 
se dá em razão da não rigidez de seus modelos, o que não é passível de 
definição, mas apenas de caracterização. 
 Alguns doutrinadores passam a traçar um panorama genérico do que 
caracterizaria as organizações criminosas. Nesse sentido, em uma organização 
criminosas deve haver: 
 
 
 
21 
 
 a) Unidade social, ou seja, identificação de seus componentes com algum 
fator específico capaz de reuni-los em prol de uma meta específica em comum; 
 b) Comportamento social padronizado, demonstrado por meio da criação 
de rituais comportamento diário, condutas permitidas ou proibidas dentro da 
organização etc.; 
 c) Arranjo pessoal, manifestado pela vontade individual de realizar o 
objetivo específico de todos; 
 d) Formação da unidade social em uma estrutura descritível, 
compreendida por meio de funções hierárquicas e específicas de cada membro, 
bem como divisão de tarefas, atribuição de funções e preenchimento de cargos 
específicos visando atingir ao objetivo comum; 
 e) Recursos materiais, seja por meio da mão de obra dos membros como 
por obtenção de recursos financeiros arrecadados dos membros. 
 
 Desta feita, a organização criminosa pode ser entendida como aquela 
organização caracterizada por ser rígida e possuir continuidade, sendo que as 
atividades são exercidas dentro de um sistema hierárquico restrito e controlado 
mediante métodos não convencionais (situações de violência, agressões, 
castigos físicos e psicológicos etc.). 
 A criminalidade organizada transnacional, por sua vez, pode ser 
compreendida como aquela que possui texturas diversas, detendo o poder com 
base em uma estratégia global e estrutura organizada de maneira a potencializar 
sua danosidade, capacidade de penetração e força de expansão. 
 Outra definição que pode ser aqui elencada é a definição desenvolvida 
pelo FBI (Federal Bureau of Investigation), a qual conceitua a criminalidade 
organizada como sendo uma empreitada criminal permanente ou em 
continuidade, que possui uma estrutura organizada alimentada pelo medo e pela 
corrupção, cujo objetivo é obter lucros com a realização de atividades ilícitas. 
 De acordo com a ONU (Organização das Nações Unidas), existem cinco 
tipologias de organizações criminosas, sendo elas: 
 
 a) Hierarquia padrão: é a hierarquia simples dentro de um grupo, 
havendo forte sistema interno de disciplina; 
 
 
22 
 
 b) Hierarquia regional: se traduzem em grupos hierarquicamente 
estruturados em que há forte controle interno e disciplina, mas com autonomia 
para componentes regionais; 
 c) Hierarquia agrupada: ocorre quando uma parte dos grupos criminosos 
estabelece um sistema de coordenação e controle, indo do mais brando ao mais 
forte, em suas várias atividades; 
 d) Grupo central: são grupos relativamente organizados, mas levemente 
desestruturados, os quais são, em muitos casos, auxiliados por uma rede de 
indivíduos engajados em atividades criminosas; 
 e) Rede criminosa: consiste em uma rede esparsa de indivíduos, os 
quais normalmente possuem habilidades especiais para a constante e 
progressiva prática de atividades criminosas. Pode haver situações, inclusive, 
me que muitos dos indivíduos não atuem em proximidade ou sequer se 
conheçam, mas permanecem conectados com outro componente do núcleo 
central. Nessasestruturas a lealdade e os laços de afinidade se tornam 
essenciais para a manutenção da rede, pois sozinhos os componentes não 
teriam a mesma eficiência. 
 
Insta salientar que a rede criminosa é definida por indivíduos 
engajados no crime por meio de alianças parciais, podendo, 
inclusive, não se reconhecerem como membros de um grupo 
criminoso nem assim serem reconhecidos por quem está de fora 
da organização, mesmo que tenham se unido para a realização 
de uma série de ações criminosas. 
 
 Em matéria de conceito, em razão da complexidade e considerando ser o 
Brasil signatário da Convenção de Palermo, a definição adotada pela 
jurisprudência brasileira para conceituar organização criminosa havia sido: grupo 
estruturado de três ou mais pessoas, existente há algum tempo e atuando 
concertadamente com propósito de cometer uma ou mais infrações graves ou 
enunciadas na Convenção, com a intenção de obter, direta ou indiretamente, 
um benefício econômico ou outro benefício material. 
 Somente no ano de 2013 é que foi aprovada pelo Congresso Nacional a 
Lei 12.850, a qual conceitua organização criminosa para a legislação brasileira. 
 
 
23 
 
LEI Nº 12.850, DE 2 DE AGOSTO DE 2013 
 
 
Define organização criminosa e dispõe sobre a investigação criminal, os meios de 
obtenção da prova, infrações penais correlatas e o procedimento criminal; altera o Decreto-
Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal); revoga a Lei nº 9.034, de 3 de maio 
de 1995; e dá outras providências. 
 A PRESIDENTA DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Nacional decreta 
e eu sanciono a seguinte Lei: 
CAPÍTULO I 
DA ORGANIZAÇÃO CRIMINOSA 
Art. 1º Esta Lei define organização criminosa e dispõe sobre a investigação criminal, os 
meios de obtenção da prova, infrações penais correlatas e o procedimento criminal a ser 
aplicado. 
§ 1º Considera-se organização criminosa a associação de 4 (quatro) ou mais pessoas 
estruturalmente ordenada e caracterizada pela divisão de tarefas, ainda que informalmente, 
com objetivo de obter, direta ou indiretamente, vantagem de qualquer natureza, mediante a 
prática de infrações penais cujas penas máximas sejam superiores a 4 (quatro) anos, ou que 
sejam de caráter transnacional. 
Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2013/lei/l12850.h 
tm 
 
 Portanto, verifica-se que a legislação brasileira conceituou as 
organizações criminosas com base em quatro características: 
 
a) Associação de quatro ou mais pessoas; 
b) Estrutura ordenada e caracterizada pela divisão de tarefas, mesmo que 
informalmente; 
c) Objetivo de obter vantagem de qualquer natureza; 
d) Prática de infrações penais cujas penas máximas sejam superiores a 
quatro anos ou sejam de caráter transnacional. 
 
Em linha gerais, as organizações criminosas irão possuir determinadas 
características que irão diferenciá-las das meras associações, visto que nas 
organizações criminosas há o caráter permanente, a estrutura empresarial, o 
padrão hierárquico e a divisão de tarefas e o uso de instrumentos e sofisticação 
tecnológica. 
 
 
24 
 
2.1.2 Modelos 
 
 Dentro do estudo das organizações criminosas, alguns modelos podem 
ser encontrados, sendo eles: tradicional, rede, empresarial e endógena. 
 O modelo tradicional é aquele representado pela Máfia, em que há 
profunda força intimidatória, que atua de forma autônoma, difusa e permanente. 
 O modelo de rede, por sua vez, tem como principal característica a 
globalização. Via de regra constitui-se por um grupo de experts sem a existência 
de ritos, vínculos, bases ou critérios mais rígidos de formação hierárquica. Possui 
natureza provisória e se aproveita das diversas oportunidades que venham a 
surgir em determinados setores ou locais, forma-se por meio de contatos ou 
indicações que existem no ambiente criminal, sem, contudo, haver compromisso 
de vinculação ou permanência. 
 Em linhas gerais estabelecem suas atividades e sua atuação em espaços 
que favorecem os delitos a que se destinam, agindo por um curto período até 
virem a diluir-se. Com a diluição, seus integrantes passam a se unir a outros 
agentes formando novas células criminosas. 
 O modelo empresarial é aquele vinculado à atividade empresarial 
fraudulenta, com a existência das famosas "empresas de fachada", ou com a 
prática primária de atividades lícitas para encobrir a prática secundária em que 
se verificam as atividades ilícitas, como crimes fiscais, ambientais, econômicos 
etc. 
 Já o modelo de organização criminosa endógena é aquele que se instala 
dentro do próprio Estado, sendo composta basicamente por políticos e agentes 
públicos, podendo até mesmo envolver os Três Poderes. Em geral há a prática 
de crimes de funcionários em desfavor da administração pública, como a 
corrupção ativa, por exemplo. 
 
2.1.3 Legislação brasileira 
 
 Embora a Lei 12.850/13 seja mais atual em matéria de conceito de 
organização criminosa, muitos juristas defendem que a Lei 12.684/12, a qual 
também conceituava organização criminosa, continuaria em vigor. 
 
 
 
25 
 
 
 De acordo com a Lei 12.684/12, organização criminosa seria, então, a 
associação de três ou mais pessoas, estruturalmente ordenadas e caracterizada 
pela divisão de tarefas, ainda que informalmente, com objetivo de obter, direta 
ou indiretamente, vantagem de qualquer natureza, mediante a prática de crimes 
cuja pena máxima seja igual ou superior a quatro anos ou que sejam de caráter 
transnacional. 
 Desta forma, existem duas correntes: a dos juristas que acreditam que a 
definição da Lei 12.684/12 continua em vigor, e outros que acreditam que a Lei 
12.850/13 revogou tacitamente de maneira parcial a lei anterior. 
 Para a parte da doutrina que entende pela revogação parcial, manter as 
duas definições de organização criminosa é criar insegurança jurídica, além de 
uma discriminação injustificada, o que seria incompatível com o Estado 
Democrático de Direito. 
 Para melhor compreensão do posicionamento pode-se citar aqui o 
parágrafo 1° do artigo 2° da Lei de Introdução às normas do Direito Brasileiro, a 
qual preceitua que a lei nova irá revogar a anterior quando expressamente o 
declara, quando seja com ela incompatível ou quando regule inteiramente a 
matéria que tratava a lei anterior. 
 Nesse sentido, interpretando a Lei 12.850/13, verifica-se que ela acaba 
por revogar o conceito apresentado pela Lei 12.684/12 em razão de regular 
inteiramente o conteúdo acerca do conceito de organização criminosa. Afinal, a 
Lei 12.684/12 definia o conceito de organização criminosa para seus próprios 
efeitos. 
 Ademais, a lei posterior disciplina acerca da organização criminosa de 
maneira mais abrangente, completa e para todos os efeitos, não sendo restrita. 
Dessa forma, o procedimento da lei 12.684/12 deverá considerar a definição de 
organização criminosa presente na Lei posterior, pois esta revogou seu conceito. 
 A única distinção entre o conceito anterior e o conceito atual repousa 
sobre o número mínimo de integrantes da organização e mínimo penal deverá 
ser superior a quatro anos. A utilização do termo "infração penal" acaba por 
expandir às atividades consideradas contravenções, e não apenas a prática de 
crimes propriamente, como ditava a legislação anterior. 
 
 
 
26 
 
 
 Outra inovação trazida pela Lei 12.850/13 foi prever a organização 
criminosa como crime, possibilitando assim que os réus sejam condenados pela 
prática de crime organizado sem que haja prejuízo às demais infrações 
perpetradas. 
 A lei 12.850/13 também prevê qualificadores nas situações em que houver 
emprego de arma de fogo, participação de criança ou adolescente, funcionário 
público, relação com outra organização criminosa, o produto do crime for 
destinado à exportação e/ou se houver caráter transnacional da organização. 
Curiosidade 
Com relação ao envolvimento de criança, adolescente e 
funcionáriopúblico paira a discussão se para a aplicação 
dessa qualificadora os indivíduos deveriam tão somente 
participar da organização criminosa ou das infrações penais 
por ela perpetradas. Devido à técnica legislativa, verifica-se 
que se um desses indivíduos for utilizado pela organização, 
a partir do momento que para ela colaborou com o escopo 
dela, estaria, então, integrando essa organização. 
 
2.1.4 Lei 12.850/13 
 
 Este tópico se destina à análise do conteúdo da Lei 12.850, visto que além 
de conceituar organização criminosa, trouxe também alguns novos aspectos. 
 O primeiro deles é a figura do instituto da delação premiada, muito 
conhecido por intermédio da Operação Lava Jato. Segundo esse instituto, o juiz, 
a requerimento das partes e na observância dos requisitos legais, poderá 
conceder perdão judicial, redução da pena ou substituição por pena restritiva de 
direitos, se houver colaboração efetiva e voluntária do réu para com a 
investigação e o processo penal. 
 Com relação à eficácia da colaboração, ela se traduz pela identificação 
dos demais coautores e partícipes da organização e das infrações por eles 
praticadas, revelação da estrutura hierárquica e da divisão de tarefas, prevenção 
de infrações penais decorrentes da organização criminosa, a recuperação total 
 
 
27 
 
ou parcial do produto ou do proveito das infrações penais, a localização de 
eventual vítima com sua integridade física preservada. 
 
As declarações proferidas a título de delação não constituem 
renúncia ao direito de silêncio que o réu possui. Afinal, as 
declarações, além de necessárias, são realizadas de maneira 
voluntária, o que afastaria a renúncia do direito ao silêncio, pois 
ao réu delator pressupõe-se tratamento de forma de testemunha 
em relação às informações prestadas. 
 
 Outra inovação diz respeito à ação controlada. Via de regra, a ação 
controlada ocorre quando há retarde da intervenção policial ou administrativa 
relativa à ação praticada por organização criminosa ou a ela vinculada, desde 
que seja mantida sua observação e acompanhamento para que a medida legal 
venha a se concretizar no momento mais eficaz para a formação das provas e 
obtenção de informações. 
 A legislação acaba por inovar ao dispensar a autorização judicial para que 
o agente policial competente possa agir de forma controlada na formação de um 
flagrante retardado. Embora a Lei determine que a autoridade deverá informar 
ao magistrado e este possa definir limites ouvindo o Ministério Público, o agente 
não depende da autorização judicial para executar a ação. 
 A legislação também inovou acerca da ação controlada quando expandiu 
sua utilização para os agentes administrativos, permitindo que estes, assim 
como os agentes policiais, possam acumular informações e consolidar linhas 
investigatórias, definindo assim o melhor momento para a intervenção. 
 A Lei 12.850/13 também trouxe em seu texto a figura do agente infiltrado, 
o qual necessariamente deverá possuir autorização judicial prévia para executar 
o trabalho durante o processo investigatório. É um meio investigativo subsidiário, 
ou seja, somente poderá ser utilizado quando a prova não puder ser de outra 
forma produzida. 
 Com relação à regulamentação de interceptações de comunicações, 
quebra de sigilo financeiro, bancário e fiscal, a Lei 12.850/13 acabou por deixá-
la a cargo da legislação específica. 
 
 
 
28 
 
2.2 Criminalidade econômica 
 
 Pode-se dizer que a construção do Direito Penal Econômico ocorreu no 
fim do século XX, após a crise do liberalismo. Surgiu com o intuito de coibir 
abusos na economia por meio de normas reguladoras das atividades 
econômicas. 
 A criminalidade econômica, normalmente conhecida como crimes do 
colarinho branco, não possui um conceito concreto e imutável, mas pode ser 
entendida como um comportamento com resultado danoso social que lesiona 
diretamente a ordem econômica, entendendo-a como um bem supraindividual 
ou coletivo, cabendo tanto o que se encontra na legislação como as 
desaprovações sociais que reclamam sua tipificação. 
 Verifica-se então que os efeitos da criminalidade econômica afetam a 
sociedade como um todo, alcançando, inclusive, proporções mundiais. 
 Os crimes contra a ordem econômica estão presentes na Lei 8.137/90 e 
estão voltados à proteção do regular andamento do mercado econômico, da leal 
concorrência e de proteção ao consumidor. Por exemplo, a lei criminaliza a 
conduta de formação de acordo, convênio, ajuste ou aliança entre ofertantes 
quando estas visam ao congelamento de preços, controle regionalizado de 
mercado ou controle em detrimento da concorrência. 
 Dessa forma, a criminalização das condutas trazidas pela lei tem como 
objetivo evitar que haja abuso do poder econômico das grandes empresas, as 
quais passariam a dominar o mercado, em detrimento das menores, 
prejudicando assim não só as pequenas empresas como também o consumidor 
final. 
 Em razão de sua complexidade é que surgiu a necessidade da regulação 
por meio de um ramo específico do Direito, o Direito Penal Econômico. 
 O Direito Penal Econômico é, em sentido estrito, o conjunto de normas 
jurídico-penais que protege a ordem socioeconômica. Caracteriza-se pela 
intervenção estatal na economia e visa à proteção da atividade econômica 
presente e desenvolvida na economia de livre mercado. 
 Os danos causados pela criminalidade econômica são de natureza 
financeira, e a criminalização de condutas encontra-se esparsa, podendo ser 
 
 
29 
 
encontrada em diversas leis diferentes, como a Lei dos Crimes Contra o Sistema 
Financeiro Nacional, a qual será estudada na próxima aula. 
 Dessa forma, os crimes econômicos podem ser considerados como uma 
categoria delitiva autônoma, podendo ser dividido em crimes econômicos em 
sentido amplo e crimes econômicos em sentido restrito. 
 Tendo em vista que o Brasil adota o sistema capitalista de produção, os 
crimes contra o sistema financeiro, contra a economia popular, de ocultação de 
bens, direitos e valores, de concorrência desleal, dentre os ligados diretamente 
à manutenção do sistema capitalista, podem ser classificados como delitos 
econômicos em sentido estrito. 
 Já os crimes contra a administração pública em geral, os crimes 
ambientais, os crimes contra a organização do trabalho, dentre outros que 
afetam indiretamente o modo de produção capitalista, podem ser classificados 
como delitos econômicos em sentido amplo. 
 Portanto, ao conceber os crimes econômicos como uma modalidade 
autônoma de crimes, é compreender a proteção dada pelo Direito Penal aos 
bens jurídicos de natureza supraindividual, ligados ao equilíbrio mercadológico 
inserido no modo de produção capitalista, o qual também engloba o mercado 
financeiro, ensejando assim a repressão aos crimes contra o sistema financeiro 
nacional. 
 
Conclusão da aula 2 
 
 Com base no apresentado em aula é possível concluir que a legislação 
penal brasileira vem se modernizando no tocante às novas formas de 
criminalidade, possibilitando assim um alcance punitivo cada vez maior àqueles 
que vem a causar danos de grande monta a sociedade. 
 A criminalidade organizada é um assunto que, embora não seja 
propriamente novo, traz consigo a discussão dos limites de atuação da polícia 
quando da investigação de grupos voltados à criminalidade, discussão esta que 
esbarra com direitos fundamentais como a privacidade. 
 Nesta aula foi dado início à temática referente às novas formas de 
criminalidade, oportunidade em que foram apresentadas a criminalidade 
organizada e a criminalidade econômica. 
 
 
30 
 
 O primeiro tópico se destinou a desenvolver acerca da criminalidade 
organizada, em que foi demonstrado o conceito de organização criminosa. Em 
mesmo tópico destacou-se a dificuldade de elaborar um conceito amplo o 
suficiente para abarcar todas as modalidades de organizações criminais 
existentes. 
 Forammencionados os conceitos adotados pelo FBI, pela ONU, pela 
Convenção de Palermo, até o conceito elaborado pela Lei 12.850/2013, a mais 
atual acerca da temática. 
 Posteriormente, destacou-se a problemática acerca da vigência ou não da 
Lei 12.864/12, a qual trazia em seu texto a definição de organização criminosa 
para fins da própria lei. Foram apresentadas as duas correntes acerca da 
vigência da lei: a daqueles que acreditam ainda estar vigente o conceito dado 
pela lei e a daqueles que defendem que o conceito trazido pela lei anterior foi 
tacitamente revogado pela lei posterior. 
 Após, discutiu-se sobre as inovações trazidas pela Lei 12.850/13, sendo 
elas: a positivação da delação premiada, a não obrigatoriedade de autorização 
judicial para realização de ação controlada, a extensão da prática de ação 
controlada pelos agentes administrativos e a normatização da figura do agente 
infiltrado. 
 Em próximo tópico foi dada introdução à criminalidade econômica, a qual 
pode ser entendida como atividade lesiva para bens jurídicos supraindividuais, 
cujos efeitos atingem a atividade econômica, as normas de mercado, o sistema 
financeiro em geral. 
 Ao final, em mesmo tópico, também foi conceituado o Direito Penal 
Econômico e demonstrada sua importância e necessidade de existência. 
Atividade de Aprendizagem 
Discorra sobre os elementos do conceito de organização 
criminosa elaborado pela Lei 12.850/13. 
 
 
 
 
 
 
31 
 
Aula 3 - Novas formas de criminalidade 
 
Apresentação da aula 3 
 
 Nesta aula serão abordados dois novos temas referentes às novas formas 
de criminalidade, sendo eles: crimes contra a ordem tributária e crimes contra o 
sistema financeiro nacional. 
 
3.1 Crimes contra a ordem tributária 
 
 Para melhor compreensão acerca do tema é necessário, primeiramente, 
entender breves noções acerca do Direito Tributário, razão pela qual será 
destinada uma pequena parte do tópico para essa explicação. 
 
3.1.1 Noções básicas de Direito Tributário 
 
 O Direito Tributário é o ramo do Direito destinado ao estudo dos princípios 
e normas que disciplinam e orientam a ação estatal na ação de exigir tributos. 
 O conceito de tributo encontra-se previsto no Código Tributário Nacional. 
De acordo com o artigo 3° deste Diploma Legal, tributo é toda prestação 
pecuniária compulsória, em moeda ou cujo valor nela se possa exprimir, que não 
constitua sanção de ato ilícito, instituída em lei e cobrada mediante atividade 
administrativa plenamente vinculada. 
 Em outras palavras, o tributo é uma obrigação que decorre de lei, deve 
ser prestada em moeda, não se tratando de sanção em razão de ato ilícito e é 
cobrado mediante atividade administrativa vinculada. 
 Via de regra o credor é uma pessoa política, e o devedor pode ser 
qualquer pessoa. 
 A função do tributo pode ser considerada híbrida, pois além de ser a 
principal fonte de captação de recursos para o Estado, funciona também com o 
intuito de interferir no domínio econômico, visando, assim, à promoção da 
estabilidade. A primeira função é a função fiscal e a segunda é a função 
extrafiscal. 
 
 
 
32 
 
 
Insta salientar que embora existam crimes envolvendo matéria 
tributária, o tributo em si não constitui penalidade decorrente da 
prática de ato ilícito, afinal, o fato gerador descrito pela lei que 
gera a obrigação sempre será um ato lícito. 
 
 
 A sanção de caráter monetário é a multa, a qual é exigida em face a 
prática de alguma ilicitude, não importando a capacidade contributiva do agente, 
isto é, havendo a prática de um ato ilícito já há base suficiente para a cobrança 
da multa prevista como sanção. 
 O tributo possui, de acordo com o entendimento do Supremo Tribunal 
Federal, uma classificação composta por cinco espécies: impostos, taxas, 
contribuição de melhoria, contribuições especiais e empréstimo compulsório. 
 Logo, verifica-se que o tributo é o gênero do qual se extrai as espécies 
acima citadas. 
 
3.1.2 Ordem tributária como bem jurídico 
 
 A ordem tributária é vista como um conjunto de normas que vem a limitar 
o poder de instituir e cobrar tributos. Nesse sentido, o bem jurídico protegido 
seria a função arrecadadora do Estado, ou o Erário Público, o qual está 
diretamente vinculado com a atividade institucional de arrecadação de tributo em 
razão do interesse estatal de recolher os valores. 
 Em razão da importância da arrecadação, pois ela possibilita que sejam 
levantados recursos para que o Estado exerça suas atividades, é que a ordem 
tributária constitui um bem jurídico cuja proteção penal se faz necessária, seja 
por sua relevância social como pela ineficácia das sanções de caráter civil. 
 
3.1.3 Lançamento x auto de infração 
 
 O auto de infração constitui uma sanção tributária, portanto há um fato 
delituoso caracterizado pelo descumprimento de um dever. É um ato 
administrativo que corresponde a uma manifestação objetiva da vontade do 
Estado. 
 
 
33 
 
 O lançamento, por sua vez, pressupõe um fato lícito em que não há 
qualquer preceito, apenas uma alteração no mundo social a que o direito atribuiu 
valoração positiva. 
 
3.1.4 Lei 8.137/90 e demais crimes 
 
 A evasão e a elisão fiscal diferenciam-se ao passo que a elisão diz 
respeito à prática dos atos lícitos, antes da incidência do tributo, que visam obter 
legítima economia de tributos por meio do impedimento do fato gerador, da 
exclusão do contribuinte do âmbito de incidência da norma ou por meio de 
redução do valor de tributo a pagar. 
 A evasão fiscal, por sua vez, diz respeito à prática, durante ou posterior à 
incidência do tributo, que utiliza meios ilícitos como fraude, simulação ou 
omissão, visando não pagar tributos. 
 Os crimes contra a ordem tributária estão previstos na Lei 8.137/90, a qual 
disciplina não só os crimes contra a ordem tributária, mas também os crimes 
contra a ordem econômica e contra as relações de consumo. 
 Segundo a referida lei constitui crime contra a ordem tributária suprimir ou 
reduzir tributo ou contribuição social e qualquer acessório, mediante as 
seguintes condutas: 
 
 a) omitir informação ou prestar informação falsa às autoridades 
fazendárias; 
 b) fraudar a fiscalização tributária, inserindo elementos inexatos ou 
omitindo operação de qualquer natureza, em documento ou livro exigido pela lei 
fiscal; 
 c) falsificar ou alterar nota fiscal, fatura, duplicata, nota de venda ou 
qualquer outro documento relativo à operação tributável; 
 d) elaborar, distribuir, fornecer, emitir ou utilizar documento que saiba ou 
deva saber ser falso ou inexato; 
 e) negar ou deixar de fornecer, quando obrigatório, nota fiscal ou 
documento equivalente relativo à venda de mercadoria ou prestação de serviço, 
efetivamente realizada, ou fornecê-la em desacordo com a legislação. 
 
 
 
34 
 
 As penas cominadas para a prática dessas condutas são de reclusão de 
dois a cinco anos e multa. 
 Também constitui crime de mesma natureza: 
 
 a) fazer declaração falsa ou omitir declaração sobre renda, bens ou fatos, 
ou empregar outra fraude para eximir-se, total ou parcialmente, de pagar tributo; 
 b) deixar de recolher, no prazo legal, valor de tributo ou contribuição 
social, descontado ou cobrado, na qualidade de sujeito passivo de obrigação e 
que deveria recolher aos cofres públicos; 
 c) exigir, pagar ou receber, para si ou para o contribuinte beneficiário, 
qualquer percentagem sobre a parcela dedutível ou deduzida de imposto ou de 
contribuição como incentivo fiscal; 
 d) deixar de aplicar, ou aplicar em desacordo com o estatuído, incentivo 
fiscal ou parcela de imposto liberadas por órgão ou entidade de 
desenvolvimento; 
 e) utilizar ou divulgar programa de processamento de dados que permita 
ao sujeito passivo da obrigação tributária possuir informação contábil diversa 
daquela que é, por lei, fornecida à Fazenda Pública. 
 
 A pena para a realização dessascondutas é de detenção de seis meses 
a dois anos e multa. 
 Outra modalidade de sonegação fiscal é aquela praticada por funcionário 
público, a qual se caracteriza pela prática das seguintes condutas: 
 
 a) extraviar livro oficial, processo fiscal ou qualquer outro documento de 
que tenha guarda em razão da função, sonegá-lo ou inutilizá-lo, total ou 
parcialmente, acarretando pagamento indevido ou inexato de tributo ou 
contribuição social; 
 b) exigir, solicitar ou receber, para si ou para outrem, direta ou 
indiretamente, ainda que fora da função ou antes de iniciar seu exercício, mas 
em razão dela, vantagem indevida; ou aceitar promessa de tal vantagem para 
deixar de lançar ou cobrar tributo ou contribuição social, ou cobrá-lo 
parcialmente; 
 
 
35 
 
 c) patrocinar, direta ou indiretamente, interesse privado perante a 
administração fazendária valendo-se da qualidade de funcionário público. 
 
 Os tipos penais definidos no artigo 1° da Lei são crimes de resultado, ou 
seja, exige um resultado para que o crime tributário possa vir a existir. Já o artigo 
2° irá dizer respeito a situações em que há omissão por parte do contribuinte, 
conforme se comprova da análise do inciso II do referido artigo. 
 A sonegação fiscal se difere da inadimplência quando da análise da 
subjetividade, visto que a sonegação enseja má-fé na conduta. Por exemplo, 
quando uma nota fiscal é emitida, escriturada e devidamente informada ao fisco, 
mas não há o recolhimento do tributo, exclui-se a pretensão punitiva, pois trata-
se de mero inadimplemento e não crime. 
 Alguns exemplos podem ser citados acerca de modalidades utilizadas 
para a prática da sonegação fiscal, como, por exemplo: a meia nota (emissão de 
nota com valores reduzidos); nota calçada (geração de documentos fiscais 
adulterados seja no preço como na descrição); acréscimo patrimonial a 
descoberto (não declarar corretamente o aumento de patrimônio visando pagar 
menos impostos); e uso de laranjas (ocorre quando uma pessoa cede seu nome 
ou conta bancária para intermediar uma negociação fraudulenta, ocultando 
assim a identidade de um terceiro beneficiário). 
 Os crimes contra a ordem tributária elencados na Lei 8.137/90 englobam, 
dentre outras condutas, a supressão ou redução de tributos por meio de fraude, 
omissão, falsificação, não fornecimento de documentos obrigatórios, bem como 
apresentação de declarações falsas, não recolhimento de tributo ou contribuição 
social descontado etc. 
 Um crime contra o sistema tributário que não consta na Lei 8.137/90 é o 
de apropriação indébita, em que há o recolhimento na fonte, mas não há o 
repasse dos valores para o ente respectivo. Por exemplo: há o recolhimento do 
valor correspondente ao pagamento do INSS, o qual é descontado do 
trabalhador, mas não há o repasse desse valor para a União. 
 Outro crime que também não é encontrado na lei, mas sim no Código 
Penal, é o crime de descaminho, previsto no artigo 334, que consiste em iludir, 
em todo ou em parte, o pagamento de direito ou imposto devido pela entrada, 
 
 
36 
 
pela saída ou pelo consumo de mercadoria. A pena para esse tipo de crime é de 
reclusão de um a quatro anos. 
 Incorrerá nas mesmas penas quem praticar navegação de cabotagem, 
praticar fato assimilado ao descaminho, vende, expõe à venda, mantém em 
depósito ou, de qualquer forma, utiliza em proveito próprio ou alheio, no exercício 
de atividade comercial ou industrial, mercadoria de procedência estrangeira que 
introduziu clandestinamente no País ou importou fraudulentamente ou que sabe 
ser produto de introdução clandestina no território nacional ou de importação 
fraudulenta por parte de outrem; ou adquire, recebe ou oculta, em proveito 
próprio ou alheio, no exercício de atividade comercial ou industrial, mercadoria 
de procedência estrangeira desacompanhada de documentação legal ou 
acompanhada de documentos que sabe serem falsos. 
 De acordo com a jurisprudência, tanto os crimes elencados na Lei 
8.137/90 quanto o descaminho são passíveis de aplicação do princípio da 
insignificância, havendo um limite de R$20.000,00 (vinte mil reais), que é o valor 
de referência para que a Fazenda Pública possa requerer o arquivamento e não 
ajuizar a ação fiscal. 
 Muito se discutiu acerca do teto máximo limitante para a aplicação do 
princípio da insignificância, visto que o Supremo Tribunal Federal havia proferido 
alguns julgados considerando que o limite seria de R$10.000,00 (dez mil reais). 
Contudo, em 2018 o Supremo Tribunal Federal revisou seu posicionamento 
acerca da matéria, adotando o entendimento de que incide a insignificância aos 
crimes tributários federais e descaminho quando o débito tributário verificado não 
ultrapassar o limite de R$20.000,00 (vinte mil reais) a teor do disposto no artigo 
20 da Lei10.522/2002, com as alterações efetivadas pelas portarias 75 e 130 do 
Ministério da Fazenda. 
 
3.1.5 Processo 
 
 A responsabilidade e investigação irá depender da natureza do tributo, 
mas geralmente o processo se inicia quando o auditor fiscal identifica atos ou 
fatos que constituem crime contra o sistema financeiro ou a Previdência Social. 
 A partir desse ato é que será apurado e constituído o crédito tributário, 
isto é, refazer o cálculo e lançar o valor que deixou de ser recolhido. 
 
 
37 
 
Posteriormente, o auditor irá formalizar a representação para fins penais, em que 
deverá constar toda a investigação que culminou no convencimento de que um 
crime foi cometido. 
 Em assim sendo, o contribuindo ficará então notificado acerca do 
lançamento do crédito tributário, para que, então, proceda com o pagamento ou 
requeira o parcelamento do valor do tributo. Ainda nesta fase ocorre a 
possibilidade de realizar a defesa administrativa que versará sobre a discussão 
acerca do débito. 
 Caso haja o pagamento do débito há, consequentemente, a extinção da 
punibilidade e o arquivamento do inquérito fiscal. Se o devedor requerer 
parcelamento, a punibilidade fica suspensa até o pagamento integral da dívida. 
Ele irá ocorrer se houver oferecimento de defesa fiscal na esfera administrativa, 
pois o débito e o procedimento fiscal ficarão suspensos até que seja proferida a 
decisão administrativa final. 
 Se não ocorrer nenhuma causa suspensiva e não houve extinção da 
punibilidade pelo pagamento, prescrição ou decadência, a autoridade 
responsável pela repartição fiscal irá enviar representação para o Ministério 
Público, o qual é responsável por promover a ação penal por meio do 
oferecimento de denúncia, dando início à fase judicial. 
 Contudo, antes do recebimento da denúncia, o devedor pode realizar o 
pagamento integral da dívida ou propor o parcelamento desta, novamente, 
eliminando assim a possibilidade de ajuizamento de ação penal. Se optar pelo 
parcelamento, a denúncia não poderá ser recebida enquanto estiverem sendo 
pagas as parcelas. 
 Portanto, é facultado ao devedor duas oportunidades para a quitação do 
débito sem que haja ajuizamento de ação penal e ele passe a responder por 
crimes fiscais. Nesse sentido, verifica-se um afrouxamento da lei, pois permite 
que a punibilidade seja extinta nessa modalidade de crime com o mero 
pagamento ou suspensa com o parcelamento da dívida. 
 Havendo o recebimento da denúncia, a ação penal passa a tramitar, 
sendo ela uma ação penal pública incondicionada, em que será discutido não o 
valor crédito tributário, mas a ocorrência ou não de crime e demais teses 
defensivas correlatas. 
 
 
 
38 
 
3.2 Crimes contra o sistema financeiro nacional 
 
 Compreender os crimes contra o sistema financeiro nacional enseja o 
prévio conhecimento acerca do conceito de instituição financeira e instituições 
equiparadas a instituições financeiras. Para melhor compreensão do tema e em 
razão de sua complexidade é que o estudo será feito em etapas. 
 
3.2.1 Instituição financeira e equiparada 
 
 A própriaLei 7.492/86 em seu texto conceituou instituição financeira, em 
seu artigo 1°, como sendo a pessoa jurídica de direito público ou privado, que 
tenha como atividade principal ou acessória, cumulativamente ou não, a 
captação, intermediação ou aplicação de recursos financeiros de terceiros, em 
moeda nacional ou estrangeira, ou a custódia, emissão, distribuição, 
negociação, intermediação ou negociação de valores mobiliários. 
 Em mesmo artigo, mas no parágrafo único, a Lei conceitua como sendo 
equiparadas a instituições financeiras: 
 
 a) a pessoa jurídica que capte ou administre seguros, câmbio, consórcio, 
capitalização ou qualquer tipo de poupança ou recurso de terceiros; 
 b) a pessoa natural que exerça qualquer das atividades referidas no artigo 
1° da Lei, ainda que de forma eventual. 
 
 As instituições financeiras e equiparadas desempenham papel 
indispensável na interligação entre os diferentes polos de negociação existentes 
no mercado. 
 As instituições financeira, em suma, são aquelas existentes no Sistema 
Financeiro Nacional, as quais são definidas pelo Banco Central como sendo: 
bancos comerciais, bancos múltiplos; bancos de investimento, bancos de 
desenvolvimento; caixas econômicas; sociedades de crédito, financiamento e 
investimento (financeiras); sociedades corretoras de títulos e valores mobiliárias 
que são constituídas sob forma de sociedade anônima ou por quotas de 
responsabilidade limitada; sociedades distribuidoras de títulos e valores 
mobiliários; sociedades de arrendamento mercantil; cooperativas de crédito; 
 
 
39 
 
agências de fomento; associações de poupança e empréstimo; e bancos de 
câmbio. 
 
3.2.2 Crimes da Lei 7.492/86 
 
 A Lei 7.492/86 também trouxe em seu conteúdo as tipificações penais de 
condutas consideradas como crimes contra o sistema financeiro nacional. São 
eles: impressão ou publicação não autorizadas; divulgação falsa ou incompleta 
de informação; gestão fraudulenta e temerária; apropriação indébita e desvio de 
recursos; sonegação de informação; emissão, oferecimento ou negociação 
irregular de títulos e valores mobiliários; exigência de remuneração acima da 
legalmente permitida; fraude à fiscalização ou ao investidor; documentos 
contábeis falsos ou incompletos; contabilidade paralela; omissão de 
informações; desvio de bem disponível; apresentação de declaração ou 
reclamação falsa; manifestação falsa; operação desautorizada de operação 
financeira; empréstimo a administradores ou parentes e distribuição disfarçada 
de lucros; violação do sigilo bancário; obtenção fraudulenta de financiamento; 
aplicação irregular de financiamento; falsa identidade; evasão de divisas; 
prevaricação financeira. 
 Alguns desses crimes possuem penalidades mais severas e ensejam 
destaque, como é o caso dos títulos irregulares e o de divulgação de informação 
falsa ou prejudicial. 
 O artigo 2° dedica-se a tratar acerca dos títulos irregulares, tipificando 
como crime a conduta de imprimir, reproduzir ou, de qualquer modo, fabricar ou 
pôr em circulação, sem autorização escrita da sociedade emissora, certificado, 
cautela ou outro documento representativo de título ou valor mobiliário. 
 O bem jurídico tutelado por esse tipo penal é a regularidade formal do 
processo de emissão e negociação de valores mobiliários e, por extensão, a 
credibilidade e estabilidade do sistema financeiro nacional. 
 O tipo objetivo se concretiza com a realização dos verbos descritos no tipo 
penal, e o tipo subjetivo repousa no dolo, o qual é representado pela vontade 
consciente de realizar qualquer uma das condutas descritas pelo tipo penal. 
 A pena cominada para essa modalidade criminosa é de reclusão de dois 
a oito anos e multa. Nessas mesmas penas incorre quem imprime, fabrica, 
 
 
40 
 
divulga ou faz distribuir prospecto ou material de propaganda relativo aos papéis 
referidos no artigo 1°. 
 O artigo 3°, por sua vez, dedica-se a tratar acerca da divulgação de 
informação falsa ou prejudicial, a qual consiste em: divulgar informação falsa ou 
prejudicialmente incompleta sobre instituições financeiras. 
 Nesse tipo penal há mais de um bem jurídico a ser tutelado, pois protege 
não só a instituição financeira contra a qual é divulgada a informação falsa, como 
também protege os interesses dos investidores em geral, os quais foram ou 
seriam privados das informações corretas ou incorrerem em erro em razão de 
informações inverídicas. 
 Por óbvio que a tutela penal também se estende ao sistema financeiro 
como um todo, pois este é o destinatário geral da proteção de toda a Lei 
7.492/86, e ao Estado em seu papel de guardião e detentor do monopólio do 
sistema financeiro nacional. 
 As penas cominadas para esse crime são de reclusão de dois a seis anos, 
e multa. Note-se que são penas cumulativas e não alternativas, portanto, serão 
aplicadas ambas as penas, tanto a privativa de liberdade como a pecuniária. 
 Os crimes dos artigos 8°, 9°, 10, 11, 12, 1618, 21 e 23 são crimes 
passíveis de suspensão condicional do processo, desde que preenchidos os 
requisitos da Lei 9.099/95, visto que a pena mínima cominada para esses crimes 
é de um ano. 
 A Lei prevê a possibilidade de redução de pena em um a dois terços nas 
situações em que o crime é cometido por meio de associação criminosa ou 
coautoria se houver, por meio de confissão espontânea, revelação, à autoridade 
policial ou judicial, toda a trama delituosa. Há, então, a previsão de delação 
premiada para essas modalidades de crime. 
 O mesmo Diploma Legal estabelece que são penalmente responsáveis o 
controlador e os administradores da instituição financeira, assim compreendidos 
os diretores e gerentes. Equiparam-se aos administradores o liquidante ou o 
síndico. 
 A competência para o julgamento desses tipos de crime é da Justiça 
Federal, sendo do Ministério Público Federal a competência para promover a 
ação penal, que será pública e incondicionada. 
 
 
41 
 
 Importante ressaltar que tanto o Banco Central quanto a Comissão de 
Valores Mobiliários (CVM) ao tomarem ciência ou verificarem a ocorrência de 
algum dos crimes previstos na Lei 7.492/86 deverão, então, informar ao 
Ministério Público Federal, enviando, inclusive, documentos comprobatórios 
acerca dos fatos. 
 
3.2.3 Da lavagem de dinheiro 
 
 A lavagem de dinheiro pode ser entendida como um conjunto complexo 
de operações, integrado pelas etapas de conversão, dissimulação e integração 
de bens, direitos e valores, que tem por finalidade tornar legítimos ativos 
oriundos da prática de atos ilícitos penais, mascarando esta origem para que os 
responsáveis possam furtar-se da ação repressiva da Justiça. 
 Na primeira fase da lavagem de dinheiro, conhecida como conversão ou 
placement, ocorre a ocultação inicial dos valores, ou seja, o indivíduo que obteve 
valores por meio de práticas ilícitas antecedentes, aplica os recursos em diversos 
locais, com a participação, geralmente involuntária, de instituições financeiras 
tradicionais ou não tradicionais. 
 Ainda nesta fase pode ocorrer a aquisição de bens móveis ou imóveis ou 
até de negócios, de preferência com intenso fluxo de caixa, pretendendo-se 
assim separar fisicamente os criminosos dos produtos de seus crimes. 
 
Insta salientar que a participação involuntária das instituições 
financeiras não implica, com base na legislação brasileira vigente 
sobre o tema, participação penalmente punível no crime de 
lavagem de dinheiro. 
 
 A segunda etapa da lavagem de dinheiro é a da dissimulação ou layering. 
É a fase em que os grandes volumes inseridos no mercado financeiro na fase 
anterior serão diluídos, disseminados por meio de operações e transações 
variadas e sucessivas, seja em âmbito nacional ou internacional, envolvendo a 
multiplicidade de contas e titulares. 
 Essa é a fase da "lavagem" propriamente dita, pois é nela que se pretende 
estruturar nova origem para o dinheiro

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