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GEOGRAFIA 
URBANA 
Aline Carneiro Silverol
Cidade e sustentabilidade
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:
  Identificar os principais aspectos relacionados ao meio ambiente 
urbano.
  Comparar os diferentes pontos de vista em relação à privatização 
dos espaços públicos.
  Descrever os principais temas envolvendo as cidades inteligentes.
Introdução
Tanto elementos naturais quanto elementos erigidos por mãos humanas 
formam o meio ambiente urbano. Com o crescimento desenfreado das 
cidades, muitos desses elementos foram mal compreendidos ou mesmo 
desconsiderados. Com os problemas urbanos de sustentabilidade se agra-
vando, buscamos atualmente soluções para que as cidades possam se tornar 
sustentáveis e oferecer uma melhor qualidade de vida aos seus habitantes. 
Neste capítulo, você vai estudar a relação entre a expansão das cidades e 
o meio ambiente urbano, avaliando as consequências da ausência de planeja-
mento no processo de desenvolvimento das cidades. Além disso, conhecerá 
os fenômenos relacionados ao crescimento das cidades e a privatização do 
espaço urbano, e a relação desse movimento com as cidades inteligentes. 
1 Meio ambiente urbano
Desde a origem dos primeiros núcleos urbanos, o crescimento das cidades e o 
processo de urbanização ocorrem de maneira constante no espaço geográfi co, 
sujeitos a variações de ritmo de acordo com os contextos econômico, político, 
social e cultural de cada época. A urbanização crescente pode ser analisada sob 
diversos prismas, pois demonstra um dinamismo do espaço, mas ao mesmo 
tempo constitui-se em um fator de preocupação para os profi ssionais ligados 
ao planejamento urbano e ao meio ambiente. A expansão dos centros urbanos 
ignorou os diversos elementos que compõem o espaço natural, como também 
o próprio crescimento da população e as demandas relacionadas ao funciona-
mento das cidades, afetando o meio ambiente urbano. 
A urbanização e o meio ambiente urbano
Os índices de urbanização se aceleraram de forma signifi cativa a partir do 
século XIX, em decorrência das diversas atividades econômicas que tiveram 
as cidades como protagonistas, como a indústria e, posteriormente, o setor de 
serviços. O advento e a expansão das atividades econômicas foram os prin-
cipais fatores de atração de movimentos populacionais de outros municípios 
e também do campo, provocando um adensamento populacional nas cidades 
e, consequentemente, a necessidade de expansão do espaço urbano. 
O crescimento demográfico foi e ainda é um dos fatores determinantes 
relacionados à expansão do espaço urbano. Ou seja, o modo como a população 
cresceu e se deslocou no território urbano determinou como e quando os 
espaços seriam ocupados. 
A urbanização como fenômeno mundial pode ser considerada um fato recente e cres-
cente. Em meados do século XIX, a população urbana representava 1,7% da população 
total do mundo, atingindo, um século depois, 25%; em 1980, 41,1%; e em 1995, 46%. De 
acordo com a Organização das Nações Unidas (UNITED NATIONS, 2019), em 2019, 55% 
da população mundial vivem nas cidades. No Brasil, a proporção da população urbana 
nos últimos 60 anos passou de 26,35% em 1940 para aproximadamente 84% em 2010. 
Além disso, devemos considerar nesta análise a especulação imobiliária, 
o empresariado e o sistema político, cujos interesses quanto ao crescimento 
e à produção do espaço para o consumo são regidos pelo capital. Nesse 
sentido, o crescimento da população urbana sinalizava a necessidade e 
determinava a velocidade da expansão geográfica, que passou a ocorrer, 
na maioria das vezes, de forma desordenada e sem planejamento. Em 
Cidade e sustentabilidade2
especial, a ocupação das periferias dos espaços urbanos foi realizada sem 
preocupação com os sistemas naturais envolvidos, tampouco com o próprio 
crescimento populacional e a modernização das cidades. As cidades cresce-
ram, mas não foram planejadas de forma a suportar o aumento populacional 
e as demandas associadas, como áreas livres, recursos naturais diversos, 
infraestrutura adequada, entre outros (SANTOS, 2008).
Além disso, muitas estruturas já construídas, especialmente nas áreas cen-
trais, caíram em desuso em função dos interesses do capital e da especulação 
imobiliária, que alteraram as regiões de atração de acordo com a dinâmica 
econômica, política e social. Os setores da cidade que se encontram em desuso 
se transformam em espaços urbanos degradados, muitas vezes associados a 
pobreza, criminalidade e baixa ocupação populacional. Dessa forma, tornam-se 
espaços ociosos, dispendiosos e abandonados, com baixa qualidade urbana e 
sem função no contexto atual das cidades.
O aumento da demanda por bens naturais e energéticos, infraestrutura e 
produtos diversos para o consumo exerce grande pressão sobre os recursos 
naturais limitados e as estruturas já existentes nas cidades. Como consequência, 
as cidades entram em um processo que, a médio e longo prazos, podem torná-las 
insustentáveis.
Durante seu desenvolvimento, as cidades sempre buscaram as melhores oportunidades, 
como a localização e a logística para o atendimento das demandas econômicas, 
políticas e sociais, deixando em segundo plano as necessidades ambientais. Nos dias 
atuais, muitas cidades enfrentam problemas relacionados à quantidade e qualidade 
da água, poluição ambiental, alterações do clima urbano, entre outros (SOUZA, 2016).
A sustentabilidade do meio ambiente urbano
O crescimento das cidades sem o devido planejamento urbano e ambiental é 
um dos fatores responsáveis por uma série de problemas que as cidades enfren-
tam ao longo do tempo. A elevada densidade populacional e todo o contexto 
3Cidade e sustentabilidade
necessário para o suprimento de suas demandas promoveram a concentração 
de áreas construídas em detrimento de vazios populacionais, má pavimen-
tação asfáltica, aumento da frota veicular e das áreas industriais e poluição 
em todas as suas formas (ar, água, solos, visual, sonora, entre outras). Essas 
interferências, apesar de necessárias, provocaram alterações no clima local, 
principalmente nos valores da temperatura do ar e também na concentração 
de poluentes no ambiente urbano, diminuindo a qualidade ambiental. 
Outro problema relacionado ao meio ambiente urbano é o uso e a ocupação 
do solo, o que pode ser encarado sob dois aspectos: a ocupação de áreas de risco 
geológico e geomorfológico e o modo como o capital se apropriou do espaço urbano.
Tanto a ocupação de áreas de risco quanto o uso do espaço urbano foram fenômenos 
motivados pela ação do capital. Ambos estão relacionados com a produção da cidade 
para determinados grupos sociais. Por sua vez, aqueles inaptos a consumir foram deslo-
cados para as periferias e áreas de risco, que eram espaços mais baratos (SANTOS, 2009). 
No caso da ocupação de áreas de risco geológico e geomorfológico, du-
rante a manipulação dessas áreas para a construção das edificações ocorrem 
modificações que alteram o equilíbrio natural das encostas, sejam rochosas ou 
cobertas por solos. Além do risco de fenômenos como movimento de massa e 
processos erosivos em decorrência da ocupação não planejada, há também outros 
problemas relacionados ao próprio processo de urbanização, como a dificuldade 
de instalação de infraestruturas essenciais. Por se tratar de uma área de risco, 
a implantação de estruturas públicas torna-se mais difícil devido às condições 
técnicas, o que aumenta os custos da urbanização, além de gerar um desconforto 
ambiental, seja em nível térmico acústico, visual e de circulação (Figura 1).
Cidade e sustentabilidade4
Figura 1. Além dos riscos, a ocupação de áreas irregulares, sobretudo nas 
periferias, traz muitos problemas de ordem econômica e social, pois evidencia 
a desigualdade social e a segregação espacial. 
Fonte: Vitoriano Junior/Shutterstock.com.
A forma como o capital se apropria do espaço urbano refere-se à lógica 
de expansão das cidades, que
muda de acordo com os interesses econômicos 
e políticos de uma parcela da sociedade. Nesse contexto, estruturas urbanas 
são construídas para o atendimento de uma determinada demanda. Contudo, 
quando ocorre uma mudança na demanda, muitas estruturas urbanas perdem 
sua funcionalidade ao longo do tempo, sendo substituídas por novas cons-
truções em outros setores da cidade. As construções em desuso, quando não 
adquirem outra função, compõem uma massa para a especulação imobiliária, 
já que essas unidades permanecem vazias aguardando a movimentação do 
mercado e de outros interesses econômicos, deixando de ser destinadas a 
suprir a demanda por moradias.
5Cidade e sustentabilidade
No link disponível a seguir, você tem acesso a um vídeo da série USP Talks, em que a 
professora Raquel Rolnik comenta sobre os problemas que ameaçam a sustentabilidade 
dos espaços urbanos, cuja análise usa a cidade de São Paulo como exemplo.
https://qrgo.page.link/9jM2T
Todos esses problemas elencados contribuem para a diminuição da qualidade 
ambiental dos espaços urbanos, o que interfere de forma direta e indireta na susten-
tabilidade urbana e na qualidade de vida da população. A sustentabilidade urbana 
pode ser definida como a capacidade de uma área urbana atender adequadamente 
as necessidades das populações presentes e futuras, mediante atividades de plane-
jamento, desenvolvimento e gestão ambiental, econômica e social. Nesse sentido, a 
sustentabilidade busca assegurar condições urbanas desejáveis, que devem persistir 
ao longo do tempo, como a equidade, a proteção do ambiente natural, o uso mínimo 
de recursos não renováveis, a diversidade econômica, o bem-estar individual e 
coletivo e a satisfação das necessidades humanas básicas (SOUZA, 2016). 
O sistema urbano sustentável é aquele que, de forma planejada, permite que a sua 
população tenha suas próprias necessidades atendidas e aumente seu estado de 
bem-estar sem prejudicar os sistemas naturais e o meio ambiente urbano, assegurando 
também as condições de vida de outras pessoas, seja no presente ou no futuro.
Apesar do processo de urbanização ser apontado como o causador dos 
problemas e do desequilíbrio do meio ambiente urbano, ele, ao mesmo tempo, 
também se configura em solução dos problemas da cidade. Ou seja, a própria 
urbanização deve ser considerada como parte da busca por alternativas sus-
tentáveis a curto, médio e longo prazos.
Cidade e sustentabilidade6
A sustentabilidade urbana não depende somente da mudança de compor-
tamento da população citadina, mas também de processos nacionais, em nível 
urbano e rural, e de políticas adotadas em todas as esferas: federal, estadual 
e municipal, pública ou privada. O território urbano tem sido cada vez mais 
dominado pelo capital privado, que determina quais são os reais interesses 
de uma época, alterando a dinâmica urbana e diminuindo a sustentabilidade 
de algumas porções da cidade.
Entretanto, as políticas adotadas pelas esferas governamentais não são 
suficientes para evitar a degradação do ambiente urbano. A falta de inves-
timentos nas áreas urbanas degradadas ou o excesso dos mesmos em áreas 
que são consideradas prioritárias, especialmente pelo capital, leva o poder 
público a ceder diversos fragmentos do espaço para o sistema privado. Seja 
pela implantação de novas estruturas ou para a atribuição de novas funções 
às estruturas já construídas, o poder público, cada vez mais, tem permitido a 
atuação do capital e a privatização do espaço urbano.
2 Privatização dos espaços urbanos
A apropriação do espaço geográfi co pelo capital não é algo novo. Desde a 
origem das cidades, durante a consolidação dos núcleos urbanos, as atividades 
econômicas sempre infl uenciaram, de alguma forma, os rumos das cidades. 
Podemos dizer, portanto, que a privatização dos espaços urbanos consiste no 
domínio da cidade pelos interesses do capital.
A determinação dos rumos da cidade pelo capital ainda continuou durante 
o desenvolvimento do espaço urbano, a partir do estabelecimento das áreas 
centrais. As infraestruturas iniciais implantadas pelo poder público, como os 
sistemas de transporte responsáveis pelos fluxos indispensáveis para o pro-
gresso do sistema econômico, tornaram-se os núcleos centrais de investimento 
por parte do capital privado. 
Nesse sentido, as construções eram voltadas para o atendimento de alguns 
grupos sociais que dispunham de capital, constituindo-se nas primeiras formas 
de privatização do espaço urbano, já que a urbanização era segmentada e 
segregada. Dessa forma, o processo de privatização do espaço urbano ocorreu 
por meio da intervenção do capital privado associado aos investimentos em 
infraestrutura por parte do poder público (SANTOS, 2010). 
7Cidade e sustentabilidade
A expansão das áreas centrais levou ao aumento da relevância desta região em de-
trimento das áreas periféricas. Esse fenômeno promoveu a elevação da demanda 
por imóveis na área central, incentivando a especulação imobiliária. As classes sociais 
que não tinham condições de consumir esse espaço, ou que não eram o público-alvo 
desses produtos com maior valor agregado, deslocaram-se para os locais onde sua 
renda era suficiente. 
A globalização e a privatização das cidades
Com a expansão do processo de globalização, houve diversas mudanças no 
cenário espacial urbano, com o objetivo de adequação do espaço aos modelos 
de cidades globais. A estrutura das áreas centrais, antes de base industrial, 
foi sendo substituída por uma estrutura de serviços altamente especializados, 
aumentando a polarização entre segmentos pobres e ricos, o que acirrou ainda 
mais confi guração do espaço urbano entre o centro e a periferia. 
As mudanças nas áreas centrais da base industrial para a área de serviços promoveram 
uma nova estrutura espacial, em que o contingente de trabalhadores ocupados em 
serviços de pouca qualificação, baixa remuneração e trabalho informal foram substitu-
ídos pelos novos profissionais associados ao setor de serviços, altamente qualificados 
e bem remunerados. Isso resultou na alteração da classe média, dualizando a estrutura 
social entre ricos e pobres e aumentando a desigualdade social. 
Devido aos interesses do capital, os espaços urbanos foram e são privatiza-
dos para atenderem as novas exigências do mundo globalizado, constituindo-se 
em centros de negócios e serviços, e recebendo investimentos maciços em 
infraestrutura, especialmente de cunho imobiliário e de telecomunicações. Por 
outro lado, as demais áreas da cidade tornam-se decadentes em decorrência 
da diminuição do interesse e dos investimentos. 
Cidade e sustentabilidade8
Esses investimentos no espaço público para fins privados também são ob-
servados nas áreas residenciais. A ausência de políticas públicas relacionadas 
aos bairros, como a instalação de infraestruturas de lazer e cênicas, além de 
segurança, ruas amplas e arborizadas, entre outros elementos, tem incentivado 
uma parte da população a adquirir parcelas de solo ou imóveis em loteamentos 
e condomínios fechados. Ao mesmo tempo em que as pessoas têm o direito de 
aquisição de moradias em qualquer lugar, essa forma de privatização do espaço 
pode impedir a parcela da população que não tem acesso a esse tipo de produto 
de usufruir dos elementos que foram “privatizados” na criação desses espaços, 
como acessos, ruas e elementos naturais como praias, represas e montanhas.
Teoricamente, quando ocorre a delimitação de condomínios, deve ser assegurado 
o acesso a elementos como praias, rios, represas, entre outros, a qualquer cidadão. 
Entretanto, na maioria das vezes esse acesso ocorre pelo corpo d’água ou por trilhas 
na mata, sendo a população impedida de usar as vias terrestres (que pertencem ao 
condomínio) para alcançar essas áreas de interesse público. 
Outro processo referente à privatização do espaço urbano está relacionado à reno-
vação urbana, ou seja, a atribuição de novas funções às infraestruturas já existentes, 
como as antigas áreas
centrais comerciais e industriais e os patrimônios históricos 
e culturais. A renovação urbana também pode ser analisada sob dois aspectos: a 
importância da recuperação e da revitalização dos espaços públicos pela iniciativa 
privada e a privatização de espaços públicos em benefício exclusivo do capital.
A recuperação dos espaços públicos mais antigos, como as áreas centrais 
e os patrimônios históricos e culturais, é de grande importância para a preser-
vação da memória e da história de um povo. Entretanto, apesar de existirem 
diretrizes e políticas governamentais voltadas à preservação do patrimônio, 
elas não atendem todas as demandas, devido a restrições de orçamento go-
vernamental para esse tipo de iniciativa.
Para muitos, a renovação urbana constitui uma forma de valorização e 
preservação das áreas mais antigas, e a sua revitalização possibilita o acesso 
da sociedade a essas áreas. Nesse contexto, existe uma série de incentivos para 
que o capital privado possa recuperar e preservar esse tipo de construção sem 
com isso restringir o acesso público (Figura 2).
9Cidade e sustentabilidade
Figura 2. Os patrimônios históricos, bem como as infraestruturas de outros pe-
ríodos, auxiliam na apuração dos fatos relacionados a uma determinada época.
Fonte: Theatro Municipal de São Paulo (2008, documento on-line).
Contudo, é comum também ocorrer a privatização dos espaços públicos, 
a partir de projetos de recuperação e revitalização de espaços em desuso e 
patrimônios culturais e históricos com vistas a exploração econômica.
No vídeo disponível no link a seguir, produzido pelo Instituto Brasileiro de Geografia e 
Estatística (IBGE), você aprenderá sobre a relação entre a preservação do patrimônio 
histórico e cultural e o desenvolvimento urbano.
https://qrgo.page.link/wW6oX
Essas ações, apesar de contribuírem para a recuperação das edificações histó-
ricas, estão muitas vezes desvinculadas das práticas culturais e do sentimento de 
pertencimento das comunidades locais mais pobres. Dessa forma, a preservação 
e a revitalização dos espaços em desuso e históricos passa a apresentar um novo 
sentido, associado ao consumo cultural, como a utilização das estruturas para 
atividades econômicas diversas franqueadas ao consumo de toda a sociedade.
Cidade e sustentabilidade10
A recuperação dos centros históricos por todo o mundo, com o objetivo de atribuir 
novas funções, especialmente em cidades industriais, é uma tendência da urbanização 
contemporânea. As cidades de Barcelona e Bilbao, na Espanha, são uma referência nesse 
tipo de recuperação. Os projetos são elaborados em forma de parceria entre o Estado 
— que investe em infraestruturas e programas não rentáveis —, o setor privado — que 
é estimulado a investir via empreendimentos comerciais — e a sociedade, mediante 
o consumo de bens e serviços oferecidos por esses empreendimentos, reintegrando 
essas áreas ao tecido urbano.
Dessa forma, percebemos que a privatização do espaço público é uma temática 
complexa e conflituosa. Ao mesmo tempo em que é importante que projetos sejam 
realizados com o objetivo de preservar e valorizar as áreas mais antigas das cidades, 
há outras questões envolvidas que afetam toda a sociedade, como a segmentação e 
a segregação social desses espaços revitalizados. Além disso, percebe-se cada vez 
que as políticas urbanas têm sido implementadas em função do capital privado, 
oferecendo infraestrutura e condições necessárias para o desenvolvimento do 
espaço urbano onde poucos grupos sociais podem consumir o espaço. 
No entanto, a cidade é um grande centro de inteligência, criatividade e poder. 
Apesar dos problemas relacionados ao meio ambiente urbano — associados ao 
crescimento demográfico desordenado, às cidades não planejadas e à ação massiva 
do capital privado, que aumentam a pressão sobre os recursos naturais (drenam as 
fontes de recursos, interferem nos serviços naturais, poluem o ambiente) e sobre as 
infraestruturas já existentes — e apesar das questões relativas à privatização dos 
espaços públicos sob diversas formas, as cidades continuam se expandido, tornando-
-se grandes centros de desenvolvimento, seja tecnológico, humano ou de inovação.
Por isso, para que as cidades possam se tornar sustentáveis para esta e para 
as próximas gerações, é preciso minimizar e evitar uma série de problemas 
envolvendo o meio ambiente urbano, por meio de estudos e desenvolvimento 
de políticas em prol das cidades inteligentes. 
3 Cidades inteligentes
A evolução da população urbana gera uma intensa pressão sobre os recursos 
naturais e os recursos urbanos. Com as previsões de que em 2050 a população 
urbana mundial pode atingir 70% da população total, é preciso repensar a 
11Cidade e sustentabilidade
cidade para garantir sua sustentabilidade e atender todas as necessidades da 
sociedade, de forma a garantir sua boa qualidade de vida.
Muitas vezes, quando nos referimos às cidades modernas, os termos “cida-
des globais” ou “cidades inovadoras” costumam surgir e nos levar à reflexão 
sobre a nova forma como o espaço urbano se organiza para atender as exigências 
do capitalismo e da globalização. Entretanto, esses termos também aparecem 
quando pensamos nos problemas referentes à nova ordem mundial, os quais 
exigem soluções para garantir a qualidade de vida da população urbana. Nesse 
contexto, surge o conceito de cidade inteligente.
Das cidades analógicas às cidades digitais
Sabemos que os primeiros núcleos urbanos surgiram em função de diversos 
elementos, dentre eles as atividades econômicas. Cada atividade, de acordo 
com sua especifi cidade, era implantada ou se desenvolvia em áreas próximas 
aos insumos necessários para sua operação, como fontes de energia, matéria-
-prima, sistemas de transporte e mão-de-obra. 
À medida que as tecnologias foram se desenvolvendo e se expandindo 
pelo território, a necessidade de proximidade dos meios de produção aos 
insumos foi diminuindo. As indústrias, com o tempo, se deslocaram para as 
periferias e para outras cidades fora dos grandes centros metropolitanos, a 
fim de reduzir seus custos de operação, já que tais centros se tornavam cada 
vez mais especializados e, consequentemente, mais caros.
Esse fenômeno de deslocamento de atividades econômicas pode ser observado na 
cidade de São Paulo. O início de sua urbanização esteve associado à industrialização, 
cujas fábricas, décadas depois, deslocaram-se para locais fora da área da central, como 
a região metropolitana de São Paulo e municípios do interior.
Nesse contexto, as áreas centrais passaram a abrigar atividades relacionadas a 
serviços, que possuíam outras exigências, como circulação, mobilidade e tecnolo-
gia. Por isso, muitas áreas centrais foram abandonadas ou entraram em decadência, 
pois esses espaços não atendiam às novas demandas da era da informação. 
Cidade e sustentabilidade12
Dessa forma, os novos negócios, com uma base informacional, tornaram 
as atividades econômicas mais independentes com relação à proximidade dos 
insumos e da mão-de-obra, mas dependentes de fluxos eficientes de merca-
dorias, pessoas e informações. Ou seja, a cidade passou de uma operação 
analógica, que dependia de insumos mais fixos e próximos, para uma operação 
digital, onde através dos fluxos de informação é possível controlar e resolver 
boa parte das demandas, comprar e receber insumos de qualquer lugar do 
mundo e ainda possuir trabalhadores espalhados por toda parte.
As cidades inteligentes, portanto, consistem nos locais onde as diversas 
operações relacionadas à infraestrutura urbana crítica são monitoradas e 
integradas, atuando de forma preventiva para a continuidade de suas ativida-
des fundamentais. Além disso, as cidades inteligentes possuem uma visão de 
futuro, buscando combinar elementos econômicos, sociais, de governança, de 
mobilidade, de meio ambiente e de qualidade de vida, em busca de atitudes as-
sertivas, independentes e conscientes de todos que vivem nos espaços urbanos.
A mesma base
operacional também pode ser utilizada para equacionar 
os problemas do meio ambiente urbano. Com a rápida urbanização, muitas 
questões relacionadas ao planejamento urbano e à circulação de bens, serviços 
e pessoas foram prejudicadas. Nesse sentido, as cidades inteligentes também 
se apropriam da tecnologia para resolver e viabilizar o funcionamento urbano 
diante dos obstáculos impostos pela falta de planejamento. 
Na palestra do TEDx USP disponível no link a seguir, o conceito e a importância das 
cidades inteligentes são analisados, além dos fatores interdisciplinares que devem ser 
pensados na análise das cidades.
https://qrgo.page.link/NtDsj
Para que o meio ambiente urbano possa operar de maneira a atender todas as 
classes sociais, as cidades devem ser pensadas de forma abrangente, inovadora e 
urgente. Para isso, devem ser desenvolvidas soluções que atendam de forma plena 
as crescentes demandas de todos os setores que atuam na cidade, utilizando-se as 
mais diversas tecnologias de informação e comunicação como ferramentas para 
que a dinâmica global contemporânea possa operar em toda a sua completude.
13Cidade e sustentabilidade
SANTOS, M. Ensaios sobre a urbanização latino-americana. 2. ed. São Paulo: EDUSP, 2010.
SANTOS, M. Manual de geografia urbana. 3. ed. São Paulo: EDUSP, 2008.
SANTOS, M. Urbanização brasileira. 5. ed. São Paulo: EDUSP, 2009.
SOUZA, C. S. Sustentabilidade urbana: conceitualização e aplicabilidade. 2016. 66 f. Disser-
tação (Mestrado) — Programa de Pós-Graduação em Tecnologias para o Desenvolvi-
mento Sustentável, Universidade Federal de São João Del Rey, Ouro Branco, MG, 2016.
THEATRO Municipal de São Paulo. Wikiwand, 2008. Disponível em: https://www.wi-
kiwand.com/pt/Theatro_Municipal_de_S%C3%A3o_Paulo. Acesso em: 27 fev. 2020.
UNITED NATIONS. Population Division: World Population Prospects 2019. Disponível 
em: https://population.un.org/wpp/. Acesso em: 27 fev. 2020.
Leituras recomendadas
CARLOS, A. F. A.; SANTOS, C. S.; ALVAREZ, I. P. (Org.). Geografia urbana crítica: teoria e 
método. São Paulo: Contexto, 2018.
LEFEBVRE, H. A revolução urbana. Belo Horizonte: UFMG, 1999. 
LEITE, C. Cidades sustentáveis cidades inteligentes: desenvolvimento sustentável num 
planeta urbano. Porto Alegre: Bookman, 2012.
Os links para sites da web fornecidos neste capítulo foram todos testados, e seu fun-
cionamento foi comprovado no momento da publicação do material. No entanto, a 
rede é extremamente dinâmica; suas páginas estão constantemente mudando de 
local e conteúdo. Assim, os editores declaram não ter qualquer responsabilidade 
sobre qualidade, precisão ou integralidade das informações referidas em tais links.
Cidade e sustentabilidade14

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