Baixe o app para aproveitar ainda mais
Esta é uma pré-visualização de arquivo. Entre para ver o arquivo original
GEOGRAFIA URBANA Aline Carneiro Silverol Cidade e sustentabilidade Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Identificar os principais aspectos relacionados ao meio ambiente urbano. Comparar os diferentes pontos de vista em relação à privatização dos espaços públicos. Descrever os principais temas envolvendo as cidades inteligentes. Introdução Tanto elementos naturais quanto elementos erigidos por mãos humanas formam o meio ambiente urbano. Com o crescimento desenfreado das cidades, muitos desses elementos foram mal compreendidos ou mesmo desconsiderados. Com os problemas urbanos de sustentabilidade se agra- vando, buscamos atualmente soluções para que as cidades possam se tornar sustentáveis e oferecer uma melhor qualidade de vida aos seus habitantes. Neste capítulo, você vai estudar a relação entre a expansão das cidades e o meio ambiente urbano, avaliando as consequências da ausência de planeja- mento no processo de desenvolvimento das cidades. Além disso, conhecerá os fenômenos relacionados ao crescimento das cidades e a privatização do espaço urbano, e a relação desse movimento com as cidades inteligentes. 1 Meio ambiente urbano Desde a origem dos primeiros núcleos urbanos, o crescimento das cidades e o processo de urbanização ocorrem de maneira constante no espaço geográfi co, sujeitos a variações de ritmo de acordo com os contextos econômico, político, social e cultural de cada época. A urbanização crescente pode ser analisada sob diversos prismas, pois demonstra um dinamismo do espaço, mas ao mesmo tempo constitui-se em um fator de preocupação para os profi ssionais ligados ao planejamento urbano e ao meio ambiente. A expansão dos centros urbanos ignorou os diversos elementos que compõem o espaço natural, como também o próprio crescimento da população e as demandas relacionadas ao funciona- mento das cidades, afetando o meio ambiente urbano. A urbanização e o meio ambiente urbano Os índices de urbanização se aceleraram de forma signifi cativa a partir do século XIX, em decorrência das diversas atividades econômicas que tiveram as cidades como protagonistas, como a indústria e, posteriormente, o setor de serviços. O advento e a expansão das atividades econômicas foram os prin- cipais fatores de atração de movimentos populacionais de outros municípios e também do campo, provocando um adensamento populacional nas cidades e, consequentemente, a necessidade de expansão do espaço urbano. O crescimento demográfico foi e ainda é um dos fatores determinantes relacionados à expansão do espaço urbano. Ou seja, o modo como a população cresceu e se deslocou no território urbano determinou como e quando os espaços seriam ocupados. A urbanização como fenômeno mundial pode ser considerada um fato recente e cres- cente. Em meados do século XIX, a população urbana representava 1,7% da população total do mundo, atingindo, um século depois, 25%; em 1980, 41,1%; e em 1995, 46%. De acordo com a Organização das Nações Unidas (UNITED NATIONS, 2019), em 2019, 55% da população mundial vivem nas cidades. No Brasil, a proporção da população urbana nos últimos 60 anos passou de 26,35% em 1940 para aproximadamente 84% em 2010. Além disso, devemos considerar nesta análise a especulação imobiliária, o empresariado e o sistema político, cujos interesses quanto ao crescimento e à produção do espaço para o consumo são regidos pelo capital. Nesse sentido, o crescimento da população urbana sinalizava a necessidade e determinava a velocidade da expansão geográfica, que passou a ocorrer, na maioria das vezes, de forma desordenada e sem planejamento. Em Cidade e sustentabilidade2 especial, a ocupação das periferias dos espaços urbanos foi realizada sem preocupação com os sistemas naturais envolvidos, tampouco com o próprio crescimento populacional e a modernização das cidades. As cidades cresce- ram, mas não foram planejadas de forma a suportar o aumento populacional e as demandas associadas, como áreas livres, recursos naturais diversos, infraestrutura adequada, entre outros (SANTOS, 2008). Além disso, muitas estruturas já construídas, especialmente nas áreas cen- trais, caíram em desuso em função dos interesses do capital e da especulação imobiliária, que alteraram as regiões de atração de acordo com a dinâmica econômica, política e social. Os setores da cidade que se encontram em desuso se transformam em espaços urbanos degradados, muitas vezes associados a pobreza, criminalidade e baixa ocupação populacional. Dessa forma, tornam-se espaços ociosos, dispendiosos e abandonados, com baixa qualidade urbana e sem função no contexto atual das cidades. O aumento da demanda por bens naturais e energéticos, infraestrutura e produtos diversos para o consumo exerce grande pressão sobre os recursos naturais limitados e as estruturas já existentes nas cidades. Como consequência, as cidades entram em um processo que, a médio e longo prazos, podem torná-las insustentáveis. Durante seu desenvolvimento, as cidades sempre buscaram as melhores oportunidades, como a localização e a logística para o atendimento das demandas econômicas, políticas e sociais, deixando em segundo plano as necessidades ambientais. Nos dias atuais, muitas cidades enfrentam problemas relacionados à quantidade e qualidade da água, poluição ambiental, alterações do clima urbano, entre outros (SOUZA, 2016). A sustentabilidade do meio ambiente urbano O crescimento das cidades sem o devido planejamento urbano e ambiental é um dos fatores responsáveis por uma série de problemas que as cidades enfren- tam ao longo do tempo. A elevada densidade populacional e todo o contexto 3Cidade e sustentabilidade necessário para o suprimento de suas demandas promoveram a concentração de áreas construídas em detrimento de vazios populacionais, má pavimen- tação asfáltica, aumento da frota veicular e das áreas industriais e poluição em todas as suas formas (ar, água, solos, visual, sonora, entre outras). Essas interferências, apesar de necessárias, provocaram alterações no clima local, principalmente nos valores da temperatura do ar e também na concentração de poluentes no ambiente urbano, diminuindo a qualidade ambiental. Outro problema relacionado ao meio ambiente urbano é o uso e a ocupação do solo, o que pode ser encarado sob dois aspectos: a ocupação de áreas de risco geológico e geomorfológico e o modo como o capital se apropriou do espaço urbano. Tanto a ocupação de áreas de risco quanto o uso do espaço urbano foram fenômenos motivados pela ação do capital. Ambos estão relacionados com a produção da cidade para determinados grupos sociais. Por sua vez, aqueles inaptos a consumir foram deslo- cados para as periferias e áreas de risco, que eram espaços mais baratos (SANTOS, 2009). No caso da ocupação de áreas de risco geológico e geomorfológico, du- rante a manipulação dessas áreas para a construção das edificações ocorrem modificações que alteram o equilíbrio natural das encostas, sejam rochosas ou cobertas por solos. Além do risco de fenômenos como movimento de massa e processos erosivos em decorrência da ocupação não planejada, há também outros problemas relacionados ao próprio processo de urbanização, como a dificuldade de instalação de infraestruturas essenciais. Por se tratar de uma área de risco, a implantação de estruturas públicas torna-se mais difícil devido às condições técnicas, o que aumenta os custos da urbanização, além de gerar um desconforto ambiental, seja em nível térmico acústico, visual e de circulação (Figura 1). Cidade e sustentabilidade4 Figura 1. Além dos riscos, a ocupação de áreas irregulares, sobretudo nas periferias, traz muitos problemas de ordem econômica e social, pois evidencia a desigualdade social e a segregação espacial. Fonte: Vitoriano Junior/Shutterstock.com. A forma como o capital se apropria do espaço urbano refere-se à lógica de expansão das cidades, que muda de acordo com os interesses econômicos e políticos de uma parcela da sociedade. Nesse contexto, estruturas urbanas são construídas para o atendimento de uma determinada demanda. Contudo, quando ocorre uma mudança na demanda, muitas estruturas urbanas perdem sua funcionalidade ao longo do tempo, sendo substituídas por novas cons- truções em outros setores da cidade. As construções em desuso, quando não adquirem outra função, compõem uma massa para a especulação imobiliária, já que essas unidades permanecem vazias aguardando a movimentação do mercado e de outros interesses econômicos, deixando de ser destinadas a suprir a demanda por moradias. 5Cidade e sustentabilidade No link disponível a seguir, você tem acesso a um vídeo da série USP Talks, em que a professora Raquel Rolnik comenta sobre os problemas que ameaçam a sustentabilidade dos espaços urbanos, cuja análise usa a cidade de São Paulo como exemplo. https://qrgo.page.link/9jM2T Todos esses problemas elencados contribuem para a diminuição da qualidade ambiental dos espaços urbanos, o que interfere de forma direta e indireta na susten- tabilidade urbana e na qualidade de vida da população. A sustentabilidade urbana pode ser definida como a capacidade de uma área urbana atender adequadamente as necessidades das populações presentes e futuras, mediante atividades de plane- jamento, desenvolvimento e gestão ambiental, econômica e social. Nesse sentido, a sustentabilidade busca assegurar condições urbanas desejáveis, que devem persistir ao longo do tempo, como a equidade, a proteção do ambiente natural, o uso mínimo de recursos não renováveis, a diversidade econômica, o bem-estar individual e coletivo e a satisfação das necessidades humanas básicas (SOUZA, 2016). O sistema urbano sustentável é aquele que, de forma planejada, permite que a sua população tenha suas próprias necessidades atendidas e aumente seu estado de bem-estar sem prejudicar os sistemas naturais e o meio ambiente urbano, assegurando também as condições de vida de outras pessoas, seja no presente ou no futuro. Apesar do processo de urbanização ser apontado como o causador dos problemas e do desequilíbrio do meio ambiente urbano, ele, ao mesmo tempo, também se configura em solução dos problemas da cidade. Ou seja, a própria urbanização deve ser considerada como parte da busca por alternativas sus- tentáveis a curto, médio e longo prazos. Cidade e sustentabilidade6 A sustentabilidade urbana não depende somente da mudança de compor- tamento da população citadina, mas também de processos nacionais, em nível urbano e rural, e de políticas adotadas em todas as esferas: federal, estadual e municipal, pública ou privada. O território urbano tem sido cada vez mais dominado pelo capital privado, que determina quais são os reais interesses de uma época, alterando a dinâmica urbana e diminuindo a sustentabilidade de algumas porções da cidade. Entretanto, as políticas adotadas pelas esferas governamentais não são suficientes para evitar a degradação do ambiente urbano. A falta de inves- timentos nas áreas urbanas degradadas ou o excesso dos mesmos em áreas que são consideradas prioritárias, especialmente pelo capital, leva o poder público a ceder diversos fragmentos do espaço para o sistema privado. Seja pela implantação de novas estruturas ou para a atribuição de novas funções às estruturas já construídas, o poder público, cada vez mais, tem permitido a atuação do capital e a privatização do espaço urbano. 2 Privatização dos espaços urbanos A apropriação do espaço geográfi co pelo capital não é algo novo. Desde a origem das cidades, durante a consolidação dos núcleos urbanos, as atividades econômicas sempre infl uenciaram, de alguma forma, os rumos das cidades. Podemos dizer, portanto, que a privatização dos espaços urbanos consiste no domínio da cidade pelos interesses do capital. A determinação dos rumos da cidade pelo capital ainda continuou durante o desenvolvimento do espaço urbano, a partir do estabelecimento das áreas centrais. As infraestruturas iniciais implantadas pelo poder público, como os sistemas de transporte responsáveis pelos fluxos indispensáveis para o pro- gresso do sistema econômico, tornaram-se os núcleos centrais de investimento por parte do capital privado. Nesse sentido, as construções eram voltadas para o atendimento de alguns grupos sociais que dispunham de capital, constituindo-se nas primeiras formas de privatização do espaço urbano, já que a urbanização era segmentada e segregada. Dessa forma, o processo de privatização do espaço urbano ocorreu por meio da intervenção do capital privado associado aos investimentos em infraestrutura por parte do poder público (SANTOS, 2010). 7Cidade e sustentabilidade A expansão das áreas centrais levou ao aumento da relevância desta região em de- trimento das áreas periféricas. Esse fenômeno promoveu a elevação da demanda por imóveis na área central, incentivando a especulação imobiliária. As classes sociais que não tinham condições de consumir esse espaço, ou que não eram o público-alvo desses produtos com maior valor agregado, deslocaram-se para os locais onde sua renda era suficiente. A globalização e a privatização das cidades Com a expansão do processo de globalização, houve diversas mudanças no cenário espacial urbano, com o objetivo de adequação do espaço aos modelos de cidades globais. A estrutura das áreas centrais, antes de base industrial, foi sendo substituída por uma estrutura de serviços altamente especializados, aumentando a polarização entre segmentos pobres e ricos, o que acirrou ainda mais confi guração do espaço urbano entre o centro e a periferia. As mudanças nas áreas centrais da base industrial para a área de serviços promoveram uma nova estrutura espacial, em que o contingente de trabalhadores ocupados em serviços de pouca qualificação, baixa remuneração e trabalho informal foram substitu- ídos pelos novos profissionais associados ao setor de serviços, altamente qualificados e bem remunerados. Isso resultou na alteração da classe média, dualizando a estrutura social entre ricos e pobres e aumentando a desigualdade social. Devido aos interesses do capital, os espaços urbanos foram e são privatiza- dos para atenderem as novas exigências do mundo globalizado, constituindo-se em centros de negócios e serviços, e recebendo investimentos maciços em infraestrutura, especialmente de cunho imobiliário e de telecomunicações. Por outro lado, as demais áreas da cidade tornam-se decadentes em decorrência da diminuição do interesse e dos investimentos. Cidade e sustentabilidade8 Esses investimentos no espaço público para fins privados também são ob- servados nas áreas residenciais. A ausência de políticas públicas relacionadas aos bairros, como a instalação de infraestruturas de lazer e cênicas, além de segurança, ruas amplas e arborizadas, entre outros elementos, tem incentivado uma parte da população a adquirir parcelas de solo ou imóveis em loteamentos e condomínios fechados. Ao mesmo tempo em que as pessoas têm o direito de aquisição de moradias em qualquer lugar, essa forma de privatização do espaço pode impedir a parcela da população que não tem acesso a esse tipo de produto de usufruir dos elementos que foram “privatizados” na criação desses espaços, como acessos, ruas e elementos naturais como praias, represas e montanhas. Teoricamente, quando ocorre a delimitação de condomínios, deve ser assegurado o acesso a elementos como praias, rios, represas, entre outros, a qualquer cidadão. Entretanto, na maioria das vezes esse acesso ocorre pelo corpo d’água ou por trilhas na mata, sendo a população impedida de usar as vias terrestres (que pertencem ao condomínio) para alcançar essas áreas de interesse público. Outro processo referente à privatização do espaço urbano está relacionado à reno- vação urbana, ou seja, a atribuição de novas funções às infraestruturas já existentes, como as antigas áreas centrais comerciais e industriais e os patrimônios históricos e culturais. A renovação urbana também pode ser analisada sob dois aspectos: a importância da recuperação e da revitalização dos espaços públicos pela iniciativa privada e a privatização de espaços públicos em benefício exclusivo do capital. A recuperação dos espaços públicos mais antigos, como as áreas centrais e os patrimônios históricos e culturais, é de grande importância para a preser- vação da memória e da história de um povo. Entretanto, apesar de existirem diretrizes e políticas governamentais voltadas à preservação do patrimônio, elas não atendem todas as demandas, devido a restrições de orçamento go- vernamental para esse tipo de iniciativa. Para muitos, a renovação urbana constitui uma forma de valorização e preservação das áreas mais antigas, e a sua revitalização possibilita o acesso da sociedade a essas áreas. Nesse contexto, existe uma série de incentivos para que o capital privado possa recuperar e preservar esse tipo de construção sem com isso restringir o acesso público (Figura 2). 9Cidade e sustentabilidade Figura 2. Os patrimônios históricos, bem como as infraestruturas de outros pe- ríodos, auxiliam na apuração dos fatos relacionados a uma determinada época. Fonte: Theatro Municipal de São Paulo (2008, documento on-line). Contudo, é comum também ocorrer a privatização dos espaços públicos, a partir de projetos de recuperação e revitalização de espaços em desuso e patrimônios culturais e históricos com vistas a exploração econômica. No vídeo disponível no link a seguir, produzido pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), você aprenderá sobre a relação entre a preservação do patrimônio histórico e cultural e o desenvolvimento urbano. https://qrgo.page.link/wW6oX Essas ações, apesar de contribuírem para a recuperação das edificações histó- ricas, estão muitas vezes desvinculadas das práticas culturais e do sentimento de pertencimento das comunidades locais mais pobres. Dessa forma, a preservação e a revitalização dos espaços em desuso e históricos passa a apresentar um novo sentido, associado ao consumo cultural, como a utilização das estruturas para atividades econômicas diversas franqueadas ao consumo de toda a sociedade. Cidade e sustentabilidade10 A recuperação dos centros históricos por todo o mundo, com o objetivo de atribuir novas funções, especialmente em cidades industriais, é uma tendência da urbanização contemporânea. As cidades de Barcelona e Bilbao, na Espanha, são uma referência nesse tipo de recuperação. Os projetos são elaborados em forma de parceria entre o Estado — que investe em infraestruturas e programas não rentáveis —, o setor privado — que é estimulado a investir via empreendimentos comerciais — e a sociedade, mediante o consumo de bens e serviços oferecidos por esses empreendimentos, reintegrando essas áreas ao tecido urbano. Dessa forma, percebemos que a privatização do espaço público é uma temática complexa e conflituosa. Ao mesmo tempo em que é importante que projetos sejam realizados com o objetivo de preservar e valorizar as áreas mais antigas das cidades, há outras questões envolvidas que afetam toda a sociedade, como a segmentação e a segregação social desses espaços revitalizados. Além disso, percebe-se cada vez que as políticas urbanas têm sido implementadas em função do capital privado, oferecendo infraestrutura e condições necessárias para o desenvolvimento do espaço urbano onde poucos grupos sociais podem consumir o espaço. No entanto, a cidade é um grande centro de inteligência, criatividade e poder. Apesar dos problemas relacionados ao meio ambiente urbano — associados ao crescimento demográfico desordenado, às cidades não planejadas e à ação massiva do capital privado, que aumentam a pressão sobre os recursos naturais (drenam as fontes de recursos, interferem nos serviços naturais, poluem o ambiente) e sobre as infraestruturas já existentes — e apesar das questões relativas à privatização dos espaços públicos sob diversas formas, as cidades continuam se expandido, tornando- -se grandes centros de desenvolvimento, seja tecnológico, humano ou de inovação. Por isso, para que as cidades possam se tornar sustentáveis para esta e para as próximas gerações, é preciso minimizar e evitar uma série de problemas envolvendo o meio ambiente urbano, por meio de estudos e desenvolvimento de políticas em prol das cidades inteligentes. 3 Cidades inteligentes A evolução da população urbana gera uma intensa pressão sobre os recursos naturais e os recursos urbanos. Com as previsões de que em 2050 a população urbana mundial pode atingir 70% da população total, é preciso repensar a 11Cidade e sustentabilidade cidade para garantir sua sustentabilidade e atender todas as necessidades da sociedade, de forma a garantir sua boa qualidade de vida. Muitas vezes, quando nos referimos às cidades modernas, os termos “cida- des globais” ou “cidades inovadoras” costumam surgir e nos levar à reflexão sobre a nova forma como o espaço urbano se organiza para atender as exigências do capitalismo e da globalização. Entretanto, esses termos também aparecem quando pensamos nos problemas referentes à nova ordem mundial, os quais exigem soluções para garantir a qualidade de vida da população urbana. Nesse contexto, surge o conceito de cidade inteligente. Das cidades analógicas às cidades digitais Sabemos que os primeiros núcleos urbanos surgiram em função de diversos elementos, dentre eles as atividades econômicas. Cada atividade, de acordo com sua especifi cidade, era implantada ou se desenvolvia em áreas próximas aos insumos necessários para sua operação, como fontes de energia, matéria- -prima, sistemas de transporte e mão-de-obra. À medida que as tecnologias foram se desenvolvendo e se expandindo pelo território, a necessidade de proximidade dos meios de produção aos insumos foi diminuindo. As indústrias, com o tempo, se deslocaram para as periferias e para outras cidades fora dos grandes centros metropolitanos, a fim de reduzir seus custos de operação, já que tais centros se tornavam cada vez mais especializados e, consequentemente, mais caros. Esse fenômeno de deslocamento de atividades econômicas pode ser observado na cidade de São Paulo. O início de sua urbanização esteve associado à industrialização, cujas fábricas, décadas depois, deslocaram-se para locais fora da área da central, como a região metropolitana de São Paulo e municípios do interior. Nesse contexto, as áreas centrais passaram a abrigar atividades relacionadas a serviços, que possuíam outras exigências, como circulação, mobilidade e tecnolo- gia. Por isso, muitas áreas centrais foram abandonadas ou entraram em decadência, pois esses espaços não atendiam às novas demandas da era da informação. Cidade e sustentabilidade12 Dessa forma, os novos negócios, com uma base informacional, tornaram as atividades econômicas mais independentes com relação à proximidade dos insumos e da mão-de-obra, mas dependentes de fluxos eficientes de merca- dorias, pessoas e informações. Ou seja, a cidade passou de uma operação analógica, que dependia de insumos mais fixos e próximos, para uma operação digital, onde através dos fluxos de informação é possível controlar e resolver boa parte das demandas, comprar e receber insumos de qualquer lugar do mundo e ainda possuir trabalhadores espalhados por toda parte. As cidades inteligentes, portanto, consistem nos locais onde as diversas operações relacionadas à infraestrutura urbana crítica são monitoradas e integradas, atuando de forma preventiva para a continuidade de suas ativida- des fundamentais. Além disso, as cidades inteligentes possuem uma visão de futuro, buscando combinar elementos econômicos, sociais, de governança, de mobilidade, de meio ambiente e de qualidade de vida, em busca de atitudes as- sertivas, independentes e conscientes de todos que vivem nos espaços urbanos. A mesma base operacional também pode ser utilizada para equacionar os problemas do meio ambiente urbano. Com a rápida urbanização, muitas questões relacionadas ao planejamento urbano e à circulação de bens, serviços e pessoas foram prejudicadas. Nesse sentido, as cidades inteligentes também se apropriam da tecnologia para resolver e viabilizar o funcionamento urbano diante dos obstáculos impostos pela falta de planejamento. Na palestra do TEDx USP disponível no link a seguir, o conceito e a importância das cidades inteligentes são analisados, além dos fatores interdisciplinares que devem ser pensados na análise das cidades. https://qrgo.page.link/NtDsj Para que o meio ambiente urbano possa operar de maneira a atender todas as classes sociais, as cidades devem ser pensadas de forma abrangente, inovadora e urgente. Para isso, devem ser desenvolvidas soluções que atendam de forma plena as crescentes demandas de todos os setores que atuam na cidade, utilizando-se as mais diversas tecnologias de informação e comunicação como ferramentas para que a dinâmica global contemporânea possa operar em toda a sua completude. 13Cidade e sustentabilidade SANTOS, M. Ensaios sobre a urbanização latino-americana. 2. ed. São Paulo: EDUSP, 2010. SANTOS, M. Manual de geografia urbana. 3. ed. São Paulo: EDUSP, 2008. SANTOS, M. Urbanização brasileira. 5. ed. São Paulo: EDUSP, 2009. SOUZA, C. S. Sustentabilidade urbana: conceitualização e aplicabilidade. 2016. 66 f. Disser- tação (Mestrado) — Programa de Pós-Graduação em Tecnologias para o Desenvolvi- mento Sustentável, Universidade Federal de São João Del Rey, Ouro Branco, MG, 2016. THEATRO Municipal de São Paulo. Wikiwand, 2008. Disponível em: https://www.wi- kiwand.com/pt/Theatro_Municipal_de_S%C3%A3o_Paulo. Acesso em: 27 fev. 2020. UNITED NATIONS. Population Division: World Population Prospects 2019. Disponível em: https://population.un.org/wpp/. Acesso em: 27 fev. 2020. Leituras recomendadas CARLOS, A. F. A.; SANTOS, C. S.; ALVAREZ, I. P. (Org.). Geografia urbana crítica: teoria e método. São Paulo: Contexto, 2018. LEFEBVRE, H. A revolução urbana. Belo Horizonte: UFMG, 1999. LEITE, C. Cidades sustentáveis cidades inteligentes: desenvolvimento sustentável num planeta urbano. Porto Alegre: Bookman, 2012. Os links para sites da web fornecidos neste capítulo foram todos testados, e seu fun- cionamento foi comprovado no momento da publicação do material. No entanto, a rede é extremamente dinâmica; suas páginas estão constantemente mudando de local e conteúdo. Assim, os editores declaram não ter qualquer responsabilidade sobre qualidade, precisão ou integralidade das informações referidas em tais links. Cidade e sustentabilidade14
Compartilhar