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GEOGRAFIA 
URBANA 
Aline Carneiro Silverol
A urbanização na 
atualidade
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:
  Identificar as dimensões da produção e consumo dos lugares da 
cidade.
  Descrever o processo de formação da periferia urbana.
  Explicar as questões ambientais nos espaços urbanos.
Introdução
Atualmente, o processo de produção e ocupação do espaço urbano 
está associado a ciclos econômicos e à ampliação das relações capi-
talistas pela globalização. A forma de produção e consumo desses 
locais também ocasionou uma alteração na maneira como as periferias 
passaram a ser vistas pelo capital. Além disso, a expansão da cidade 
e a produção de novos espaços também provocaram uma série de 
impactos ambientais que colocam em xeque o processo de urbani-
zação na atualidade. 
Neste capítulo, você vai conhecer os fatores que levaram ao processo 
de produção e consumo do espaço urbano, bem como o impacto desse 
processo nas periferias urbanas e no meio ambiente das cidades. 
1 Produção e consumo no espaço urbano
O fenômeno da produção e do consumo nos espaços urbanos está associado 
acima de tudo ao movimento de capitais que ocorre nesses espaços ao longo 
do tempo, ou seja, as práticas e atividades econômicas e sociais relacionadas 
ao capitalismo atual que ocorrem nos centros urbanos. 
Quando analisamos a história e a evolução do processo brasileiro de urba-
nização, entendemos que a urbanização foi e ainda é um fenômeno dependente 
da forma como o fluxo de capitais circula no meio urbano. Além disso, não 
basta o capital circular no espaço urbano; é preciso também que os diversos 
grupos sociais tenham, de alguma forma, acesso a ele.
A produção do espaço urbano
A abertura de capital por grande parte das empresas a partir dos anos 2000 
aumentou o interesse fi nanceiro na produção do espaço urbano. Essas ações 
produziram efeitos importantes na composição e na estruturação das cidades.
O espaço urbano é produzido por variadas ações promovidas pela reprodu-
ção da força de trabalho, que envolve desde a compra de imóveis, passando por 
bens de consumo duráveis e não duráveis até serviços como saúde e educação. 
Dessa maneira, a produção do espaço só acontece quando o mesmo é con-
sumido, pois somente assim pode ocorrer a circulação de capitais necessária 
para fomentar todo o processo de urbanização atual.
A produção do espaço urbano fomenta, ao mesmo tempo, o consumo e a 
produção de capital. A utilização do solo urbano, bem como a melhoria em 
estruturas já existentes, constitui uma forma de mobilização e previsão de 
capital. Além disso, há o processo de renovação das estruturas a partir de 
novos interesses imobiliários e de especulação, como o estabelecimento das 
áreas de negócios (central business) nas grandes metrópoles. 
As mudanças que ocorreram e que alteraram a relação do capital com a 
urbanização modificaram a produção do espaço urbano. Associado a isso, as 
ações promovidas pelo Estado brasileiro em função da expansão do capitalismo 
e da abertura econômica transformaram a produção do espaço em uma atividade 
ainda mais mercadológica. As mudanças fomentadas pelo Estado tiveram por 
objetivo a criação de normas que regulamentassem a circulação de capitais 
e seu investimento na urbanização, tornando-a uma atividade mais rentável.
A urbanização na atualidade2
Em 1993, com a aprovação dos fundos de investimento imobiliário pela Lei nº 8.668, 
e em 1997, com a promulgação da Lei nº 9.514, ou Lei do Sistema de Financiamento 
Imobiliário, a segurança jurídica para os credores imobiliários foi garantida no Brasil. 
Além disso, a criação dos fundos de investimento imobiliário garantiu liquidez a esses 
investimentos, ampliando a relação mercadológica e especulativa aos investidores. 
A partir do momento em que todas as condições favoráveis ao capital 
estavam asseguradas, bastava estimular o consumo do espaço urbano pelas 
diversos grupos sociais e atividades econômicas.
O consumo do espaço urbano
A inserção de novos atores fi nanceiros na produção do espaço urbano, além de 
alterar a composição e a estruturação das cidades, também precisaria alterar 
o padrão do consumo espaço urbano. Para a viabilização e a continuidade da 
produção do espaço urbano, era preciso que ele fosse consumido de forma 
contínua, mantendo as engrenagens do sistema produção–consumo em cons-
tante movimento. Nesse sentido, foi necessária uma grande reformulação da 
estrutura de crédito capitalista, com o aumento do crédito pessoal.
A reformulação do sistema de crédito foi necessária em decorrência das medidas 
impostas pelo liberalismo econômico, que alterou as ações capitalistas a partir da 
década de 1980, o que promoveu o aumento da concentração de recursos controlados 
por investidores institucionais. As empresas passaram a financiar os investimentos de 
forma direta, mediante a emissão de debêntures e ações. Essa situação representou um 
grande prejuízo aos bancos comerciais, pois se tratavam dos principais responsáveis 
pelo financiamento produtivo. Assim, os bancos foram forçados a procurar novas alter-
nativas de investimentos, surgindo então o crédito pessoal como alternativa de lucro. 
3A urbanização na atualidade
A partir dos anos 2000, com a estabilização da economia brasileira, as-
sociada a ações do Estado, houve um crescimento exponencial do crédito 
imobiliário. Ao mesmo tempo, também cresceu a emissão de instrumentos 
financeiros diversos, cujo rendimento está relacionado à produção e ao consumo 
do ambiente urbano construído.
Esse cenário propiciou uma grande expansão da atividade imobiliária 
por todo o país, multiplicando os lançamentos imobiliários e a diversidade 
de empreendimentos. Entretanto, é importante salientar que a aceleração do 
consumo do espaço urbano ocorreu a partir do momento em que o crédito 
habitacional também foi disponibilizado para as classes média e baixa, que 
tinham acesso restrito a esses créditos.
A oferta de crédito para as classes média e baixa ocasionou um crescimento 
exponencial na urbanização, especialmente nas periferias das cidades. Em 
muitas cidades do Brasil, as construções típicas das áreas periféricas foram 
substituídas por empreendimentos imobiliários de baixo custo, como conjuntos 
de edifícios e casas (Figura 1).
Figura 1. A expansão da periferia urbana em Curitiba, Paraná, a partir da oferta de 
crédito para as classes médias e baixas, alterando a paisagem urbana da cidade.
Fonte: Wirestock Images/Shutterstock.com. 
A urbanização na atualidade4
Além disso, cabe ressaltar que o processo de concessão de crédito para 
as classes mais baixas foi provocado pela necessidade de aumento dos lucros 
das grandes incorporadoras. Essas empresas precisavam ampliar seu mercado 
consumidor e, para que uma grande parcela da sociedade pudesse consumir o 
espaço urbano, era preciso a adoção de incentivos financeiros. 
Nesse sentido, para que os produtos urbanos fossem consumidos, foram 
necessárias algumas mudanças, como a atuação das empresas em áreas distan-
tes das regiões centrais. As áreas periféricas ganharam destaque no processo 
de urbanização atual, fato este que alterou a forma como as periferias são 
vistas pelo capital.
2 Periferia urbana
O processo brasileiro de urbanização é resultado de um modelo de desenvol-
vimento econômico que teve início no período colonial, quando os primeiros 
entrepostos para o despacho de mercadorias extraídas do Brasil Colônia passaram 
a atrair pessoas que foram se estabelecendo nesses lugares. Esse processo foi 
intensifi cado a partir da década de 1930, com o início da industrialização brasi-
leira, que também foi um importante fator de atração populacional para as áreas 
centrais. Nesse sentido, a confi guração espacial refl etida ao longo das últimas 
cinco décadas demonstra as diferentes etapas do desenvolvimento econômico. 
O desenvolvimento econômico transformou o espaço urbano e as áreas 
centrais em fragmentos,
cada qual apresentando certo valor, de acordo com 
seu potencial de gerar capital, determinado pela proximidade às áreas centrais 
e aos sistemas de transporte e outras infraestruturas. Com isso, houve uma 
valorização dessas áreas e um aumento da especulação imobiliária, excluindo 
parte da população do processo de integração econômica e social.
Entre os anos de 1945 e 1980, o Brasil conheceu um intenso processo de 
urbanização, favorecido pela economia aquecida. Isso provocou um grande 
deslocamento populacional, alterando de forma importante a estrutura de-
mográfica das cidades. A expansão urbana foi responsável pela criação de 
muitos empregos, com uma complexa divisão social do trabalho, integrando 
boa parte da população à dinâmica urbana. 
5A urbanização na atualidade
Nesse período, houve uma grande oferta de trabalho nas áreas urbanas, 
transformando boa parte dos moradores em trabalhadores assalariados, o 
que possibilitou a integração desses grupos sociais à sociedade urbana já 
consolidada. 
A multiplicação dos postos de trabalho atraia cada vez mais grandes con-
tingentes populacionais, que passaram a se concentrar nas áreas centrais, 
além de conferir às cidades um grande dinamismo, dando surgimento a redes 
e fluxos urbanos entre as cidades.
Entretanto, apesar da expansão do mercado de trabalho e da inserção dessa 
parcela da população à dinâmica da cidade, o modelo econômico apresentava 
características concentradoras, tanto de renda quanto de população. Além 
disso, esse modelo se caracterizava por ser ao mesmo tempo excludente, já 
que o espaço urbano não apresentava os mesmos elementos e oportunidades 
para todos. 
As diferenças de renda entre a população trabalhadora e os responsáveis 
pelos meios de produção eram enormes, originando uma sociedade urbana com 
uma estrutura social complexa e fragmentada. A fragmentação da sociedade 
urbana refletiu-se no espaço urbano, com a segregação dos espaços de acordo 
com a renda e a atividade econômica. Se não havia espaço passível de ser 
consumido pela classe trabalhadora, era preciso encontrar locais que pudessem 
acomodar essa população e, ao mesmo tempo, mantê-las a serviço do capital 
nos centros urbanos. As periferias urbanas passaram então a representar o 
espaço urbano destinado e acessível ao consumo da classe trabalhadora urbana, 
graças à especulação imobiliária e aos interesses empresariais e políticos na 
gestão das áreas centrais.
As áreas periféricas eram caracterizadas como locais desorganizados, 
onde o parcelamento do solo era feito de qualquer forma, sem a menor 
preocupação com o planejamento urbano e com a futura instalação de 
infraestruturas. Além disso, qualquer área era passível de ocupação e 
loteamento por parte de algumas incorporadoras, ou mesmo de ocupação 
irregular pela população. Assim, a ocupação de morros, encostas e margens 
de rios avançava de forma indiscriminada, sendo essas áreas comercia-
lizadas a preços acessíveis, para que todos pudessem garantir o direito à 
casa própria (Figura 2).
A urbanização na atualidade6
Figura 2. A ocupação das áreas periféricas de forma irregular e sem 
planejamento causaram e ainda causam graves problemas de ordem 
estrutural, já que a instalação de infraestruturas básicas, como redes 
elétricas e cloacais, não foram previstas.
Fonte: Campanato (2008, documento on-line).
A partir da década de 1980, a economia brasileira sofreu uma desaceleração, 
perdendo seu dinamismo. Uma das principais consequências da diminuição 
do ritmo econômico foi a precarização dos empregos e a redução dos postos 
de trabalho, o que fez diminuir a renda da população trabalhadora e também 
a circulação de capital nos centros urbanos. 
Como consequência, houve um deslocamento populacional para áreas pró-
ximas aos centros urbanos e para as franjas das regiões metropolitanas, em 
função dos altos custos de vida. Esse movimento promoveu o crescimento das 
áreas periféricas de maneira geral, já que houve queda de renda por boa parte 
da população. Além disso, também estimulou o crescimento dos municípios em 
torno do município central, acentuando a formação de periferias metropolitanas.
Com a crise associada às consequências da desaceleração econômica e 
da urbanização, os índices de pobreza aumentaram e se generalizaram nas 
periferias, evidenciando a grande desigualdade social existente no país. A 
partir da década de 1990, a implantação de reformas para a inserção do Brasil 
no processo de globalização, mediante a adoção de políticas neoliberais, 
promoveu a abertura do mercado brasileiro aos investimentos e a instalação 
de atividades econômicas multinacionais.
7A urbanização na atualidade
Você pode estudar aspectos do processo de inserção do Brasil na economia global 
durante os anos 1990 acessando, no link a seguir, o artigo “Abertura econômica, em-
presariado e política: os planos doméstico e internacional”, de autoria dos professores 
da Universidade de São Paulo (USP) Wagner Mancuso e Amâncio de Oliveira.
https://qrgo.page.link/KX9By
A nova ordem econômica que nascia no Brasil promoveu uma mudança no 
mercado de trabalho, pois a classe trabalhadora não estava preparada para ingressar 
nesse novo contexto trabalhista, que exigia conhecimentos técnicos e escolaridade 
acima das que eram solicitadas para a execução dos serviços até a década de 1980. 
Assim, muitos trabalhadores perderam suas posições no mercado, aumentando a 
parcela pobre e de trabalhadores informais nas periferias e as desigualdades sociais.
A partir da abertura de capital, muitas empresas passaram a investir no setor 
imobiliário e a buscá-lo como mais uma forma de obtenção de lucros. A produção 
do espaço urbano das grandes cidades passou a integrar o sistema financeiro de 
acumulação, alterando a dinâmica e a velocidade dos processos envolvidos na 
valorização imobiliária. Com a valorização cada vez maior dos espaços urbanos 
próximos às regiões centrais, a periferia urbana cresceu ainda mais. 
Para atender à demanda residencial das classes mais pobres, a ocupação das áreas 
periféricas ocorreu sem compromisso com o sistema de regulação do uso do solo e 
áreas de risco, entre outros, além de intensificar a fragmentação e segregação do espaço 
urbano. O mercado imobiliário ilegal também ganhou destaque, com a conivência do 
poder público, em benefício dos empresários do ramo imobiliário, que comercializaram 
muitas áreas de risco, causando prejuízos aos indivíduos e ao próprio Estado.
Entretanto, as mesmas mudanças econômicas e políticas que ocorreram a 
partir da década de 1980, bem como a expansão do capitalismo, promoveram 
outras modificações importantes no cenário urbano. A necessidade de novas 
A urbanização na atualidade8
fontes de lucro e a potencialização do consumo do espaço urbano provocaram 
um processo de urbanização das periferias para atender ao capital investidor. 
As periferias, que antes constituíam locais de pouco interesse por parte dos 
investidores, passaram, a partir dos anos 2000, a serem áreas muito interes-
santes do ponto de vista habitacional e de especulação imobiliária.
A facilitação de aquisição de crédito pessoal e de subsídios governamentais, 
associada à busca por novos mercados consumidores, estimulou a produção 
imobiliária voltada às classes média e baixa. Esse fenômeno promoveu um 
aumento substancial na comercialização de unidades voltadas para essa faixa 
de renda. Contudo, é importante salientar que, apesar do interesse das incor-
poradoras e da melhoria no aspecto do tecido urbano das periferias, tais locais 
não foram integrados aos outros sistemas urbanos existentes, permanecendo 
a segregação e a segmentação do espaço urbano.
A visão da sociedade urbana periférica como um mercado consumidor em 
potencial tem alterado a ocupação dos novos espaços urbanos da periferia. 
A implantação de conjuntos residenciais de edifícios e casas populares 
passu a ocorrer mediante um parcelamento mais adequado de solo, com 
previsão de instalação das estruturas
de responsabilidade governamental. 
Além disso, essas obras vêm alterando o visual das periferias, que antes 
eram conhecidas pelas casas muito simples e paupérrimas, sem nenhum 
acabamento externo, mas que agora apresenta conjuntos prediais e casas 
organizadas de maneira estética.
Além de estimular a aquisição de imóveis por parte das classes de menor 
poder aquisitivo, as linhas de crédito também estimularam a reforma de muitos 
imóveis já existentes, tornando a periferia um lugar mais alegre e digno de 
viver, apesar das desigualdades sociais impostas pelo sistema capitalista. 
3 As cidades e o meio ambiente
Toda e qualquer cidade é um sistema complexo, que envolve indivíduos 
e grupos sociais e econômicos com interesses e objetivos distintos e que 
envolve também o meio ambiente. Assim, as interações na cidade ocorrem 
entre os diversos atores sociais e entre esses atores e o meio ambiente. 
Se a cidade é um sistema, a sociedade de forma geral e o meio ambiente 
também podem ser considerados sistemas que se inter-relacionam. A 
forma como interagem é determinante em uma série de comportamentos 
desses elementos. 
9A urbanização na atualidade
Para que isso ocorra, deve existir uma harmonia entre os sistemas. Ou seja, 
as cidades precisam de sistemas integrativos, que forneçam todas as regras 
e regulamentos, sistemas sociais e incentivos econômicos com um conjunto 
comum de metas e objetivos para a preservação e a integração da sociedade 
e da natureza à urbanização.
As questões ambientais que enfrentamos desde o início da expansão dos 
centros urbanos estão relacionadas à ausência de planejamento adequado para 
o desenvolvimento das cidades e também para comportar o aumento popula-
cional e as novas exigências da sociedade e da economia. O crescimento das 
cidades está relacionado a uma demanda cada vez maior por recursos naturais. 
Por sua vez, o aumento da demanda por infraestrutura, relações de consumo 
e energia exerce uma grande pressão sobre os recursos naturais limitados. 
Como consequência, as cidades entram em um processo que, a médio e longo 
prazos, pode se tornar insustentável.
Apesar dos males potenciais do crescimento demográfico desordenado, a urbanização 
pode na verdade ser uma das chaves para um projeto humano mais sustentável no 
planeta Terra. Na TEDTalk disponível no link a seguir, intitulada “Como as megacidades 
estão mudando o mapa do mundo”, Parag Khanna fala sobre como a civilização de 
redes urbanas globais em ascensão promete reduzir a poluição e a desigualdade — e 
até mesmo superar rivalidades geográficas.
https://qrgo.page.link/XoAXD
Problemas ambientais urbanos
As questões ambientais urbanas estão relacionadas aos impactos causados 
ao meio ambiente em função da implantação e crescimento das cidades ao 
longo do tempo. De certa forma, a maioria dos problemas ambientais urbanos 
A urbanização na atualidade10
está associada à maneira como ocorreu o processo de ocupação do território 
e a formação das primeiras cidades. Entre os principais problemas urbanos, 
destacam-se o saneamento básico, a ocupação de áreas de risco, o clima 
urbano, a poluição do ar, da água e do solo e as modifi cações da paisagem.
Sustentabilidade urbana
Um sistema urbano sustentável é aquele que, de forma planejada, permite 
que sua população tenha suas próprias necessidades atendidas e aumente 
seu bem-estar sem prejudicar o mundo natural nem colocar em risco as 
condições de vida de outras pessoas, seja no presente ou no futuro. A 
sustentabilidade urbana pode ser defi nida, então, como um estado desejável 
de condições urbanas que persistem ao longo do tempo, caracterizado 
por equidade, proteção do ambiente natural, uso mínimo de recursos 
não renováveis, vitalidade e diversidade econômica, autoconfi ança das 
comunidades, bem-estar individual e satisfação das necessidades básicas 
humanas (SOUZA, 2016). 
Além disso, a sustentabilidade urbana pode ser considerada como a capaci-
dade dinâmica de um espaço urbano atender adequadamente às necessidades 
das populações presentes e futuras por meio de atividades de planejamento, 
desenvolvimento e gestão ambiental, econômica e social. No contexto da 
sustentabilidade urbana, a dimensão econômica propõe a maximização social e 
ambiental dos recursos humanos, energéticos e materiais por meio do fomento 
do desenvolvimento econômico a eles associados. 
Em uma política de sustentabilidade urbana, os processos devem ir além 
da mitigação de impactos; deve-se eliminar os impactos negativos e reverter 
as situações de insustentabilidade. Isso nos leva a reconhecer que existem 
limites que não devem ser violados, tanto sociais quanto naturais, o que 
instiga a dimensão econômica a encontrar novas oportunidades de inovação. 
A dimensão ambiental em um sistema urbano tem por objetivo manter a 
funcionalidade dos sistemas que dependem da natureza, além de controlar e 
minimizar os impactos sobre o meio ambiente e o espaço, visando a restauração 
e a manutenção dos ciclos naturais (Figura 3).
11A urbanização na atualidade
Figura 3. Um sistema ambiental equilibrado garante uma melhor 
qualidade de vida aos habitantes das cidades. Na imagem, o 
Parque Ecológico do Cocó, em Fortaleza, Ceará.
Fonte: Fortaleza (2008, documento on-line).
A natureza, assim como o ser humano, não é algo fixo e imutável. A socie-
dade e o meio ambiente encontram-se em um fluxo constante, e as alterações 
no modo de vida da sociedade muitas vezes são tão significativas que afetam 
a própria natureza da vida na Terra. O meio ambiente possui uma grande 
capacidade de adaptação às mudanças, mesmo em situações em que a alteração 
é muito brusca e violenta. Compreender essa capacidade de adaptação, bem 
como adotar ações de preservação, é essencial para identificar como as nossas 
cidades podem ser sistemas urbanos sustentáveis.
Para que o meio ambiente possa funcionar em equilíbrio e em harmonia 
com os centros urbanos, diversas medidas podem ser tomadas com relação ao 
uso e à preservação dos recursos, garantindo-os de forma igualitária para as 
gerações atuais e futuras. Entre elas, podemos citar: cuidados na seleção de 
matérias-primas para o desenvolvimento de produtos, avaliando a capacidade 
de regeneração desses recursos; a preservação da biodiversidade; o uso de 
energias renováveis; investimento em políticas que incentivem o aumento do 
A urbanização na atualidade12
ciclo de vida dos produtos; reutilização e reciclagem de produtos; redefinição 
de programas de manufaturas; utilização de meios de transporte de baixo 
impacto ambiental, entre outros.
O ciclo de vida de um produto refere-se às etapas de sua produção, desde a extração 
da matéria-prima para a sua produção até seu descarte. Para cada etapa, observa-se 
quanto foi consumido de recursos e de energia e quais foram os impactos causados ao 
meio ambiente. Ou seja, quando pensamos em um produto e em sua sustentabilidade, 
todas as etapas e recursos despendidos para sua a produção devem ser avaliados.
A dimensão social em um sistema urbano está associada às melhorias e à 
manutenção da qualidade de vida da sociedade. Para a sustentabilidade urbana, 
é necessário que a dimensão social esteja em equilíbrio com os progressos 
alcançados pelo desenvolvimento econômico e que foram proporcionados 
pelo uso dos recursos naturais. 
A sociedade é composta por seres humanos, que são animais sociais que 
consideram não só a felicidade e o bem-estar individual, mas também o da 
coletividade. O comportamento da coletividade reflete o desejo de difusão 
de prosperidade, segurança, saúde, educação, conectividade social, eficácia 
coletiva e de distribuição igualitária desses benefícios, todos os quais dão 
origem a um estado de bem-estar (ROSE, 2019). 
A sustentabilidade urbana, quando consideramos a dimensão social, tam-
bém envolve o reconhecimento das relações e das interdependências entre o 
meio ambiente e sociedade. A existência humana depende da qualidade do meio 
ambiente, ou seja, de ar
puro, temperaturas adequadas, solos aptos à produção 
agrícola e à ocupação urbana e segurança no abastecimento de água potável. 
As ações humanas que prejudicam o meio ambiente revertem-se em con-
sequências negativas à própria sociedade, demonstrando a complexidade dos 
sistemas naturais e a necessidade de estudar a fundo seu funcionamento. Além 
disso, por serem sistemas abertos, não há como prever o tipo de resultado após 
uma determinada interferência humana. 
As dimensões econômicas, sociais e ambientais também possuem alguns 
subsistemas, que interferem no sistema urbano, como as questões políticas e 
culturais. Tais questões fazem parte do processo coletivo, uma vez que também 
13A urbanização na atualidade
regem os princípios da convivência humana. A questão política interfere nos 
aspectos financeiros, na relação do Estado com o capital privado e especial-
mente na ética e honestidade na governabilidade urbana. Muitas vezes, a 
sustentabilidade urbana é quase impraticável devido a práticas corruptas nas 
esferas governamentais e da iniciativa privada. 
Já a questão cultural refere-se ao modo como as pessoas encaram a susten-
tabilidade urbana. Atitudes simples da sociedade, como descartar o lixo nos 
locais corretos, economizar água, não fazer ligações clandestinas de esgotos, 
entre outras, não se refletem no comportamento-padrão de todos os cidadãos. 
Para que haja uma mudança nesse tipo de comportamento, são necessários 
investimentos em uma educação ambiental efetiva nas escolas, universidades 
e até mesmo no mundo corporativo, seja ele público ou privado. 
Dessa forma, para se atingir a sustentabilidade urbana, é fundamental 
adotar novas formas de observar e relacionar as dimensões econômica, social e 
ambiental, juntamente com seus subsistemas. Isso significa que a compreensão 
do sistema urbano como uma relação sistêmica é de grande importância para 
avaliar e planejar os cenários futuros do desenvolvimento das cidades. Tais 
perspectivas requerem a identificação e avaliação de oportunidades e ameaças 
capazes de contribuir ou atrapalhar no avanço da sustentabilidade urbana a 
médio e longo prazos, bem como sua inserção nas pautas de discussão das 
políticas públicas e privadas e em processos de gestão associados.
CAMPANATO, V. 22 de março de 2008. Agência Brasil, 2008. Disponível em: http://
memoria.ebc.com.br/agenciabrasil/galeria/2008-03-22/22-de-marco-de-2008. Acesso 
em: 17 fev. 2020.
FORTALEZA. Wikiwand, 2008. Disponível em: https://www.wikiwand.com/pt/Fortaleza. 
Acesso em: 17 fev. 2020.
ROSE, J. F. P. A cidade em harmonia: o que a ciência moderna, civilizações antigas e a natu-
reza humana nos ensinam sobre o futuro da vida urbana. Porto Alegre: Bookman, 2019.
SOUZA, C. S. Sustentabilidade urbana: conceitualização e aplicabilidade. 2016. 66 f. Dis-
sertação (Mestrado) — Programa de Pós-Graduação em Tecnologias para o Desenvol-
vimento Sustentável, Universidade Federal de São João Del Rey, Ouro Branco, MG, 2016. 
A urbanização na atualidade14
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Leituras recomendadas
CARLOS, A. F. A.; SANTOS, C. S.; ALVAREZ, I. P. (Org.). Geografia urbana crítica: teoria e 
método. São Paulo: Contexto, 2018.
LEFEBVRE, H. A revolução urbana. Belo Horizonte: UFMG, 1999. 
LEITE, C. Cidades sustentáveis cidades inteligentes: desenvolvimento sustentável num 
planeta urbano. Porto Alegre: Bookman, 2012.
SANTOS, M. Ensaios sobre a urbanização latino-americana. 2. ed. São Paulo: EDUSP, 2010.
SANTOS, M. Manual de geografia urbana. 3. ed. São Paulo: EDUSP, 2008.
SANTOS, M. Urbanização brasileira. 5. ed. São Paulo: EDUSP, 2009.
15A urbanização na atualidade

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