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Programa alargado de Vacinação | i República de Moçambique Ministério da Saúde Direção de Recursos Humanos Departamento de Formação Manual de ForMação para Técnicos de Medicina prevenTiva e saúde do Meio proGraMa alarGado de vacinação ii | Programa alargado de Vacinação O presente Manual do Programa Alargado de Vacinação para Técnicos de Medicina Preventiva é uma adaptação do “Manual do Programa Alargado de Vacinação” (PAV), 2009 - MISAU. © 2011. Ministério da Saúde Esta publicação foi realizada com apoio da Agência de Cooperação Internacional do Japão (JICA). É permitida a reprodução total ou parcial desta obra, desde que citada a fonte. 1ª edição - Ano 2011. Elaboração, distribuição e informações: MINISTÉRIO DA SAÚDE Direcção de Recursos Humanos Departamento de Formação Repartição de Planificação e Desenvolvimento Curricular (RPDC) Av. Eduardo Mondlane, 4º andar Maputo – MZ Coordenação Lucy Sayuri Ito (JBPP/DRH - Departamento de Formação) Extra Chadreque (DRH - Departamento de Formação) Elisa Mavili (Direcção Nacional de Saúde Pública - PAV) Colaboradores Fidel Luis Paizone (Direcção Provincial de Saúde - Inhambane) Carlos Bambo (DRH - Departamento de Formação) Lucy Ramirez (DRH - Departamento de Formação) Revisor de português Extra Chadreque (DRH - Departamento de Formação) Programa alargado de Vacinação | iii PREfáCio A vacina é uma das formas de prevenir doenças e com isso garantir saúde para ao Homem e consequentemente o desenvolvimento e bem-estar do povo. Este manual foi elaborado com a perspectiva de ser um instrumento de apoio aos professores e alunos no aprimoramento dos conhecimentos técnicos do Programa Alargado de Vacinação, proporcionando subsídios teóricos e práticos para a formação profissional com fundamentação científica de modo a melhorar a sua capacidade de intervenção. O presente instrumento de ensino é uma adaptação do actual Manual do Programa Nacional de Vacinação para o profissional de Medicina Preven- tiva em uso no MISAU e contou com a colaboração de profissionais desta área, docentes e técnicos do departamento de formação. A sua estrutura teve em conta o plano temático da disciplina do novo currículo de Técni- cos de Medicina Preventiva e Saneamento do Meio, onde cada tópico foi arrolado tendo em consideração a sua complexidade e pertinência numa perspectiva bivalente, isto é, melhoria da qualidade de ensino e o alcance dos Objectivos do Desenvolvimento do Milénio. Assim, esperamos que o presente manual sirva como um suporte para o alcance dos objectivos da disciplina e sem intenção de o tornar o único instrumento de consulta mas sim uma fonte de apoio na qual o docente poderá buscar o fortalecimento do conhecimento de forma a garantir uma dinâmica uniformizada na transmissão da matéria aos alunos, de- vendo, porém, o docente e os alunos procurarem outra bibliografia para aprofundar o conhecimento. O manual foi escrito numa linguagem simples e acessível para que seja de fácil compreensão para o aluno das Instituições de Formação em Saúde. Maputo, Novembro de 2011. Alexandre J. L. Manguele Ministro da Saúde iv | Programa alargado de Vacinação Programa alargado de Vacinação | v Índice 1. introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1 2. introdução À disciPlina . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3 2.1. Introdução ao conceito do PAV e sua generalidade. . . . . . . 4 2.2. Características e especificidade das vacinas. . . . . . . . . . . . . 5 2.3. Grupos-alvo do PAV . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6 2.4. Doenças-alvo do PAV . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7 2.8. Doenças causadas pelo haemophilus influenzae . . . . . . . . 21 3. Vacinação e calendário Vacinal . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25 3.1. Vacinação da criança . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26 3.2. Mulher grávida e mulher em idade fértil (MIF) . . . . . . . . . 30 3.3. Actividades especiais de vacinação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 32 4. Vias de administração de Vacina . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 35 4.1. Vias de administração de vacinas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36 4.2. Seringas e agulhas para a vacinação . . . . . . . . . . . . . . . . . . 38 4.3. Vacina da BCG . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 38 4.4. Vacina da dpt/hepatite b+hib (difteria / pertussis / tétano / hepatite b/ haemophilus influenzae) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41 4.5. Vacina anti-pólio (VAP) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 46 4.6. Vacina anti-sarampo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 48 vi | Programa alargado de Vacinação 4.7. Toxóide tetânico (TT ou VAT) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 51 4.8. Eventos adversos pós-vacinação (EAPV) . . . . . . . . . . . . . . . 53 4.9. Notificação de casos de EAPV . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 60 4.10. Investigação de caso de EAPV . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 60 4.11. Desafios colocados pelos eapv durante os DNV’s . . . . . . 63 4.12. Estratégias para minimizar os casos de EAPV . . . . . . . . . 63 4.13. Vacina Anti Pneumococo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 64 5. cadeia de frio . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 66 5.1. Equipamento da cadeia de frio . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 67 5.2. Refrigeradores (geleiras) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 71 5.3. Caixas isotérmicas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 78 5.4. Acumuladores . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 80 6. monitoria do sistema de cadeia de frio . . . . . . . . . . . . . 81 6.1. Registo de temperatura . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 82 6.2. Cartão monitor . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 82 6.3. Monitor do frasco de vacina (VVM) . . . . . . . . . . . . . . . . . . 85 6.4. Relógio de congelamento (freeze watch) . . . . . . . . . . . . . . 86 6.5. Teste de agitação (shake test) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 86 7. gestão da Vacina . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 89 7.1. Procurement de vacina . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 90 7.2. Requisição de vacina . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 103 7.3. Controle de stock de vacina e materiais . . . . . . . . . . . . . 107 7.4. Teste de potência da vacina . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 109 Programa alargado de Vacinação | vii 8. como organizar uma sessão de Vacinação . . . . . . . . 111 8.1. Organização de uma sessão de vacinação . . . . . . . . . . . . 112 8.2. Fortalecimento dos serviços de vacinação . . . . . . . . . . . . 122 9. Brigadas móVeis . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 126 9.1. Vacinação em áreas distantes e de difícil acesso . . . . . . . 127 9.2. Brigada móvel - situações a considerar . . . . . . . . . . . . . . 130 10. moBilização social . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 132 10.1. Informação básica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 133 10.2. Estratégias a serem usadas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 134 10.3. A quem deve ser dirigida a educação . . . . . . . . . . . . . . . 134 10.4. A que nível a intervenção deve tomar lugar . . . . . . . . . 135 10.5. Quais os canais usar . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 135 10.6. Quem deve comunicar . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 136 10.7. Que método usar para alcançar a audiência pretendida . . 136 10.8. Qual é a melhor altura paraas actividades de educação . . 137 10.9. Como o técnico de saude pode tornar a campanha de vacinação num sucesso . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 137 10.10. Visita porta-a-porta . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 138 11. indicadores do PaV . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 145 11.1 Definição de alguns indicadores úteis para o PAV . . . . . 145 12. sistema de informação de saúde (sis) . . . . . . . . . . . . . . 153 12.1. Conceito . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 155 12.2. Fichas do PAV e o modo de preenchimento . . . . . . . . . . 159 viii | Programa alargado de Vacinação 13. Planificação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 176 13.1 Planificação no contexto da estratégia ACD . . . . . . . . . . 177 13.2. Objectivos da planificação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 185 13.3. Aspectos importantes na planificação do PAV . . . . . . . . 185 13.4. Inventário e requisição de equipamento e material do PAV . 191 14. monitoria e aValiação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 194 14.1. Avaliação da eficácia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 198 14.2. Registo, análise e interpretação de dados da vigilância epidemiológica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 199 14.3. Controle da cobertura vacinal com dados de rotina . . . 201 14.4. Controle através do gráfico cumulativo . . . . . . . . . . . . . 204 14.5. Avaliação por inquéritos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 206 Programa alargado de Vacinação | 1 1. INTRODUÇÃO APRESENTAÇÃo Do PLANo TEMáTiCo Apresentação do tópico, conteúdo e objectivo da aprendizagem Apresentação da estrutura da aula Métodos de avaliação Apresentação da disciplina objECTivoS No final do tempo lectivo desta disciplina, o formando deverá ser capaz de: 1. Conhecer os objectivos do PAV e a importância da vacinação na prevenção das doenças. 2. Calcular os grupos alvo do PAV de acordo com os indicadores. 3. Executar actividades de vacinação. 4. Fazer a gestão adequada de cadeia de frio (desde o nível central ao consumidor). 5. Fazer a manutenção do equipamento de conservação de vacinas (geleira a pe- tróleo, a gás, solar e eléctrica, etc.). 6. Reconhecer a importância de envolver os ACSs e autoridades locais na mobiliza- ção das famílias e as comunidades para aderirem ao PAV. 2 | Programa alargado de Vacinação 7. Planificar e implementar actividades de brigadas móveis. 8. Fazer a supervisão e a monitoria das actividades do PAV. 9. Fazer avaliação das actividades do PAV (Inquérito à saída, de 75 casas e segundo outras metodologias da OMS). Programa alargado de Vacinação | 3 2. INTRODUÇÃO À DISCIPLINA objECTivoS No final do tema, os alunos devem ser capazes de: 1. Definir o PAV e sua generalidade 2. Conhecer os objectivos do PAV e doenças preveníveis por vacina 3. Conhecer os grupos alvos do PAV 4. Conhecer as doenças alvos do PAV 5. Explicar a importância da vacinação na prevenção das doenças 6. Definir vacina 7. Conhecer as várias vacinas do PAV 8. Caracterizar as vacinas do PAV 4 | Programa alargado de Vacinação RELACIONANDO CONTEUDO, OBJECTIVOS DA APRENDIZAGEM E ESTRATÉGIA DE ENSINO/ APRENDIZAGEM Conteúdo Objectivos da Aprendizagem Ensino/Aprendizagem Actividades Conceito do PAV e sua generalidade Definir o PAV é sua generalidade Conhecer os objectivos do PAV e doenças preveníveis por vacina As aulas consistirão em breves exposições dialogadas sobre o conceito do PAV e sua generalidade e atraves de discussões o docente irá fazer uma avaliação diagnóstico do conhecimento dos alunos em relação a matéria.Importância e seus objectivos Explicar a importância da vacinação na prevenção das doenças Características e especificidade das vacinas Definir vacina Listar as várias vacinas do programa Caracterizar vacinas do PAV As aulas consistirão em breve exposição dialogada sobre o conceito da vacina e em seguida aplicar-se-á o método de discussão em grupo, apresentação em plenária ou debates sobre as caraterística das vacinas, sua importância, grupos alvo e as doenças cobertas pelo PAV. Os recursos didáticos a serem utilizados constarão de projetor multimídia (datashow), quadro e canetas de filtro. Grupos Alvo do PAV Conhecer os GA prioritários do PAV Doenças alvos do PAV Listar as doenças alvos do PAV 2.1. iNTRoDUÇÃo Ao CoNCEiTo Do PAv E SUA GENERALiDADE O Programa Alargado de Vacinação (PAV) é um programa nacional e gratuito, lançado em Moçambique em 1979. O PAV contribuiu, ao longo dos anos, para a redução da morbilidade e da mortalidade pelas doenças infecciosas alvos da vacinação. Entretanto, apesar do êxito do PAV, ainda verifica- -se a existência de níveis de assimetrias geográficas na sua aplicação e a presença de grupos populacionais com níveis de protecção inferiores ao desejável. Neste contexto, compete aos profissionais de saúde divulgar o programa, motivar as famílias e aproveitar todas as oportunidades de proteger mais pessoas contra um número cada vez maior de doenças e extender os serviços de vacinação para alcançar todas as pessoas elegíveis. Programa alargado de Vacinação | 5 Assim, o objectivo é elevar os níveis actuais de cobertura vacinal, estender a vacinação aos que são actualmente subservidos, aos grupos etários para além da infância, introduzir novas vacinas e tecnologias e integrar a vacinação com a prestação de outras intervenções prioritárias de saúde, de modo a acelerar o alcance dos objectivos do desenvolvimento do milénio, no que concerne á redução da mortalidade infantil, melhoria da saúde materna e combate às doenças, eventualmente incluindo a Malária e o HIV/SIDA. Para que os objectivos sejam atingidos, é fundamental garantir a formação e permanente actualização de todos os que trabalham na área da vacinação de modo a cumprirem a sua função e melhor compreenderem a importância do sentido humano em que assentam es- ses objectivos. 2.2. CARACTERÍSTiCAS E ESPECifiCiDADE DAS vACiNAS Definição: Vacinar é o acto de inocular ou administrar substâncias biológicas no organismo de forma a criar, artificialmente e sem risco, um estado de protecção contra determinadas doenças transmissíveis. De um modo muito simples, podemos descrever o processo da seguinte maneira: 9 As vacinas são substâncias biológicas preparadas a partir de micro-organismos cau- sadores de doenças - bactérias ou vírus. 9 Esses micro-organismos, depois de submetidos a um tratamento laboratorial, per- dem o poder de causar doença, pelo que não mais representam perigo quando entram na constituição da vacina e, através dela, são inoculados no organismo hu- mano. Exemplo: 9 A vacina da BCG contém bactérias que causam a Tuberculose. Contudo, essas bac- térias, modificadas por um processo laboratorial, estão tão enfraquecidas que não conseguem provocar doença. 9 A vacina contra o Sarampo contém vírus respectivos. Porém, esses vírus, também estão modificados e não conseguem desenvolver doença. 6 | Programa alargado de Vacinação Esses preparados de bactérias ou vírus (vacinas), quando introduzidos no organismo, esti- mulam-no, depois de algum tempo, à criação de anticorpos contra aquela bactéria ou vírus. Os anticorpos são os defensores do nosso organismo e têm a capacidade de eliminar a acção dos vírus e das bactérias que, sem essa defesa, seriam capazes de causar a doença. Os anticorpos são, assim, os elementos responsáveis pela defesa do organismo contra as doenças. Quando o organismo de uma pessoa já vacinada entra em contacto com o vírus ou bactéria de outra pessoa doente, o organismo reage e defende-se através dos anticorpos produzi- dos pela vacina, eliminando a acção dos vírus ou bactérias invasores. Os anticorpos são específicos, isto é, protegemcontra uma determinada doença para a qual é feita a vacinação. Por exemplo: Os anticorpos contra o vírus do Sarampo protegem apenas contra esta doen- ça. Por isso, a vacina deve ser administrada à criança ANTES do seu contacto com o vírus do Sarampo, para que dê tempo à formação de anticorpos. 2.3. GRUPOS-ALVO DO PAV O grupo-alvo do PAV é um determinado grupo específico de pessoas que está em risco comum de contrair determinadas doenças. Para se obter o grupo-alvo é relevante que seja conhecido o número da população de cada área gerida por uma Unidade Sanitária. os grupos-alvo do PAv prioritários são: 9 Menores de 1 ano (0 - 11 meses) 9 Mulheres grávidas Também constituem os grupos-alvo do PAV: 9 Mulheres em idade fértil (15-49 anos) 9 Alunos das escolas (primeiras e segundas classes) Programa alargado de Vacinação | 7 9 Trabalhadores de empresas cuja actividade profissional os torna vulneráveis ao ris- co de contrair o tétano. As crianças, que não tenham recebido todas as vacinas completamente antes de completar um ano de vida, deverão ser vacinadas até aos 23 meses, mas devem ser registadas como crianças fora do grupo-alvo. Estas crianças não são incluídas na avaliação do PAV. 2.4. DOENÇAS-ALVO DO PAV As doenças-alvo do PAV são as que se podem evitar com a aplicação de vacinas específicas incluídas no Programa. Uma vez que cada país tem a sua política em relação às vacinas a serem usadas nos seus respectivos programas, as doenças-alvo do PAV devem ser bem defi- nidas de modo a facilitar a sua detecção e seguimento a todos os níveis, através do sistema da vigilância epidemiológica. A seguir são enumeradas, de forma detalhada, as doenças preveníveis pela vacinação em Moçambique. 2.4.1. SARAMPo O sarampo é uma doença altamente infecciosa causada por um vírus. A doença é frequente em algumas populações e frequentemente ocorre em proporções epidé- micas. O sarampo epidêmico é particularmente comum em condições de hiperpo- voamento e pobreza, onde elevado número de pessoas não imunizadas vivem em contacto muito próximo. O sarampo é uma doença de notificação obrigatória, e é a mais letal nas crianças dentre as doenças preveníveis pela vacinação. Definição de caso Presença ou história de rash cutâneo generalizado, febre e qualquer um dos seguin- tes sinais: constipação, corrimento nasal ou vermelhidão nos olhos. Epidemiologia A epidemiologia do sarampo é dinâmica, mudando com o tempo à medida que os serviços de vacinação alteram o “pool” de indivíduos susceptíveis (OMS, 1996). As epidemias continuam a ocorrer mesmo quando as coberturas vacinais se situam aci- 8 | Programa alargado de Vacinação ma dos 90%. Contudo, elas são de muito pequena magnitude e são separadas por intervalos muito longos. Isto se deve ao acúmulo de indivíduos susceptíveis (os indi- víduos não vacinados e os que falham em fazer a seroconversão) associado ao facto do sarampo ser uma doença altamente infecciosa. Em condições de alta densidade populacional, é muito provável que o sarampo ocor- ra ao longo de todo o ano, às vezes com picos sazonais. Em áreas de pouca densi- dade populacional, a cada dois ou três anos. Nos casos em que um grande “pool” populacional de crianças é susceptível, um único caso de sarampo pode provocar epidemias. As pessoas que se recuperam do sarampo são imunes por toda a vida, e crianças que nascem de mães que tiveram sarampo, geralmente são imunes por 6 a 8 meses. A vacinação é a intervenção mais efectiva que existe em saúde pública, para proteger uma criança contra o Sarampo. A vacina contra o Sarampo dada aos 9 meses, protege 85% das crianças vacinadas. Se crianças menores de 9 meses forem vacinadas em resposta a surtos epidêmicos, elas devem ser revacinadas aos 9 meses, pois algumas podem não estar protegidas. Prevenir o sarampo através da imunização terá influências profundas na morbidade e mortalidade pela doença e trará outros benefícios através da prevenção de outras con- dições tais como a desidratação, infecções respiratórias, cegueira, malnutrição severa e deficiência de Vitamina A. O vírus do sarampo é transmitido através de gotículas respiratórias libertadas por pes- soas infectadas ao tossir ou espirrar. Os casos são infecciosos um a três dias antes do aparecimento do rash cutâneo até 7 dias depois. O período de incubação vai de 7 a 18 dias. A doença propaga-se rapidamente nos locais onde as crianças e adolescentes se juntam, tais como, hospitais, casas, escolas, mercados, centros de refugiados e locais de convívio. Programa alargado de Vacinação | 9 Crianças entre os 9 e 12 meses, não vacinadas, tem uma grande probabilidade de serem infectadas pelo vírus do sarampo. O sarampo severo é também muito provável de ocorrer nos seguintes casos: 9 Crianças malnutridas, especialmente aquelas com deficiência de Vitamina A. 9 Crianças vivendo em ambiente superlotados. 9 Crianças com fraco sistema imune devido, por exemplo, ao HIV/SIDA. Quadro Clínico A erupção característica que é acompanhada de inflamação da mucosa ocorre no momento em que a imunidade para o vírus se desenvolve. A febre, constipação e diarréia precedem a erupção. Pode haver uma erupção na boca que se apresenta como “manchas de koplik”. A erupção cutânea usualmente aparece primeiro por detrás das orelhas e se espalha pela face e parte superior do tronco e depois se estende para o resto do corpo. A erupção é macular ou mais frequentemente maculo-papular e de cor mais escura do que a pele normal. As seguintes complicações podem ocorrer especialmente em crianças menores de 5 anos: 9 Infecções respiratórias agudas, principalmente pneumonia, que é a doenças mais comum associada a mortalidade por sarampo 9 Infecções do ouvido (otites) 9 Diarréia 9 Lesões da córnea (Keratomalácia) que podem provocar cegueira 9 Encefalite, entre outras complicações 10 | Programa alargado de Vacinação O Sarampo mata muitos infantes e crianças; assim, a vacinação contra o sarampo fará grande diferença na redução da morbilidade e mortalidade. Tratamento Uma vez que trata-se de infecção viral, não existe tratamento específico. No entanto, o tratamento sintomático é importante e deve ser feito em casa nos casos ligeiros. O tratamento caseiro deve incluir: 9 Tratamento da febre (antitérmico, arrefecimento corporal), alimentação e cuidados oculares (limpeza com água morna, sem usar medicamentos tradicionais). 9 Reconhecimento dos sinais de complicação, especialmente dispnéia, desidratação e convulsões, os quais requerem que o paciente seja referido com urgência para a unidade sanitária mais próxima. Cuidados na unidade sanitária incluem: 9 Vitamina A, (100.000 unidades para crianças entre os 6 e 12 meses e 200.000 uni- dades para maiores de 1 ano) a todos os casos e uma segunda dose no dia seguinte. Se houver xeroftalmia ou keratomalácia, dar uma terceira dose uma semana mais tarde. 9 Tratamento com antibióticos para as infecções (pneumonia, otites, etc.). 9 Tratamento da desidratação com SRO ou líquidos intravenosos. 9 Alimentação extra se houver perda de peso. Não existe tratamento específico para o sarampo, mas a vitamina A, dada em dois dias consecutivos, reduz drasticamente a taxa de letalidade por sarampo. Programa alargado de Vacinação | 11 2.4.2. PoLioMiELiTE É uma infecção viral aguda que se propaga pela via fecal-oral. Consequentemente, a transmissão é mais alta em áreas de pobre saneamento e água contaminada. A pa- ralisia flácida aguda (PFA) que é a condição clínica para se suspeitar da poliomielite, é uma doença notificável. Definição de caso de suspeita de pólio ou paralisia flácida aguda Qualquer caso de início súbito de paralisia flácida de um ou mais membros em crian- ças menores de 15 anos de idade. Epidemiologia O vírus propaga-se pela via fecal-oral. Quase todas as crianças que vivem numa casa onde alguém esteja infectado pelo vírus, serão infectadas. As pessoas infectadas são muito susceptíveisde propagar o vírus 7 a 10 dias depois de manifestarem os primei- ros sintomas da doença. Pessoas infectadas assintomáticas também podem propa- gar a infecção. Durante uma epidemia, somente uma pequena proporção de indivíduos manifes- ta a doença. No entanto, embora este seja o caso, a incapacidade severa (a qual é prevenível) torna a pólio numa doença muito séria. É a causa mais importante de incapacidade física em crianças. A poliomielite é causada por uma das três estirpes de poliovirus (1, 2 ou 3), e tem um período de incubação até ao início da paralisia de 2 – 3 semanas. A infecção pode ser assintomática ou causar uma doença febril com mal-estar, cefa- léias, náuseas, vômitos e dores musculares. Depois de alguns dias começa a paralisia dos membros, geralmente de distribuição assimétrica. Às vezes há envolvimento dos músculos respiratórios (nestes casos o doente pode morrer por dificuldades de res- pirar) e da deglutição. É possível haver recuperação completa espontânea, mas mais frequentemente ocorre paralisia residual, a qual se não for bem tratada com fisio- terapia, pode levar à deformidade marcada do(s) membro(s) e incapacidade física. 12 | Programa alargado de Vacinação Tratamento Não existe tratamento para esta doença. No entanto, os sintomas podem ser alivia- dos com tratamento sintomático. Às vezes o paciente necessita de respiração assisti- da, quando ocorre paralisia dos músculos respiratórios. A polio é uma doença séria, sem tratamento e que deixa sequelas graves. No entanto é facilmente prevenível pela vacinação. 2.4.3. TÉTANo NEoNATAL O tétano é uma doença neurológica aguda causada pela exotoxina (toxina) do bacilo do tétano (Clostridium tetani), o qual cresce em tecidos mortos na ausência de oxigê- nio, como por exemplo, em feridas profundas e sujas, ou no coto do cordão umbilical do bebé. O bacilo forma esporos que podem sobreviver no ambiente, particularmen- te na superfície de metais enferrujados. A toxina que produzem, intoxica os nervos que controlam os músculos e causa rigidez. Os recém-nascidos podem sofrer de tétano neonatal (TNN), que ocorre via cordão umbilical se o parto ou cuidados pós-parto não tiverem sido assépticos (limpos). A infecção ocorre como resultado do uso de instrumentos contaminados. Qualquer pessoa pode apanhar tétano. O tétano neonatal é uma doença notificável. Definição de caso Doença caracterizada por início entre o 3o e o 28o dias de idade e história de incapaci- dade de sugar, seguida de rigidez e ou espasmo muscular, e frequentemente, morte. Epidemiologia O reservatório do bacilo é o meio ambiente em locais com poeira e lixo. É uma doença co- mum com uma taxa de letalidade muito alta. Os que trabalham nas machambas, recém- nascidos ou qualquer pessoa com ferida suja tem um risco maior de ter a doença. Está também associada à convivência com animais, falta de vacinação ou vacinação incomple- ta e aplicação de remédios tradicionais como cinzas ou outro tipo de sujidade nas feridas. Programa alargado de Vacinação | 13 A magnitude do tétano neonatal não é conhecida porque muitas das mortes ocor- rem em casa e são poucas vezes reportadas pela comunidade. Os recém-nascidos tornam-se infectados se: 9 faca, lâmina ou outro instrumento usado para cortar o cordão umbilical estiver sujo. 9 fezes ou cinza são usadas para esfregar no cordão ou se a areia entrar no cordão umbilical do bebé. 9 as mãos da pessoa que faz o parto não estiverem limpas. Bebés e crianças também podem contrair o tétano quando instrumentos sujos são usados para circuncisão, para perfurar a pele ou quando carvão, sujidade ou outras substâncias desconhecidas são usadas para esfregar na ferida. Quadro clínico A doença é caracterizada por espasmo doloroso e involuntário dos músculos volun- tários. O recém-nascido nasce normal, mas pára de sugar 3 a 10 dias mais tarde. O bebé fica irritável e chora muito. Em seguida ocorre rigidez generalizada, convulsões e espasmos musculares severos por estímulos como tocar na criança, barulho ou luz. A morte segue-se em muitos casos. Os músculos da mandíbula são frequentemente os primeiros a serem afectados pela contração espástica, dando o característico “riso sardônico”. Mais tarde são cada vez mais envolvidos outros grupos musculares resultando no quadro característico de rigidez da nuca, rigidez abdominal (opistótonus) e dificuldades em respirar e deglutir. Prevenção Indivíduos imunizados com TT (toxóide tetânico) desenvolvem anticorpos contra o tétano. Mulheres grávidas com vacinação anti-tetánica em dia passam os anticorpos para seus bebés, assim, garantindo sua protecção contra o tétano à nascença, mas por período limitado. Por isso, a VAT correcta às mulheres em idade fértil (incluindo grávidas) protege a mãe e ao bebé contra o tétano. 14 | Programa alargado de Vacinação O tétano neonatal também pode ser prevenido se forem observadas as condições de assepsia em todos os momentos do parto. Adicionalmente, o manejo adequado das feridas também previne o tétano. As feri- das devem ser completamente limpas e todo o tecido morto removido. Pessoas com feridas sujas e que não estejam completamente protegidas contra o tétano, devem receber imunoglobulina tetânica para neutralizar os efeitos da toxina. 2.4.4. TUbERCULoSE A tuberculose (TB) é causada pelo Mycobacterium tuberculosis, um bacilo gram po- sitivo também conhecido por Bacilo de Koch. Afecta primariamente os pulmões, mas outras partes do corpo podem ser atingidas, tais como, os ossos, as articulações, os rins e o cérebro. Casos suspeitos de tuberculose Qualquer criança doente com história de contacto com um caso suspeito ou confir- mado de tuberculose pulmonar. Qualquer criança com as seguintes características: 9 Perda de peso, tosse e expectoração, que não respondem ao tratamento antibiótico para doenças respiratórias agudas. 9 Massa anormal no corpo, dura, não dolorosa e livremente móvel debaixo da pele. 9 Nódulos linfáticos aumentados, firmes e não dolorosos. Epidemiologia A TB é endêmica em Moçambique, tanto nas áreas rurais como nas urbanas, e afecta todas as idades. O HIV/SIDA e a falência terapêutica são factores contribuintes para o agravamento do impacto da doença. A fonte de infecção é uma pessoa com tuberculose pulmonar com baciloscopia posi- tiva e que transmite a doença através da tosse. O período de incubação é de 4 – 12 semanas, mas a infecção pode persistir por me- Programa alargado de Vacinação | 15 ses ou anos antes da doença se tornar sintomática. os factores de risco para a tuberculose incluem: 9 Imunodeficiência 9 Malnutrição 9 Alcoolismo 9 Diabetes 9 Superlotação (superpovoamento) 9 Locais com ventilação inadequada e contacto próximo com pessoa infectada Quadro clínico História de tosse há mais de 4 semanas. Quadro de sudação nocturna, fraqueza geral e perda de peso. Prevenção A BCG protege principalmente contra as formas infantis severas de TB, que são a tuberculose miliar e a meningites tuberculosa. Não protege efectivamente contra a forma adulta da tuberculose. Tratamento Pessoas com tuberculose devem completar o curso da terapia curativa, o qual usual- mente inclui duas ou mais drogas antituberculosas por pelo menos 6 meses. Infeliz- mente, algumas pessoas não tomam a medicação como prescrito ou não completam o curso de terapia. Isto pode levar a formação de estirpes resistentes às drogas da TB, que podem ser propagadas às outras pessoas. 2.4.5. DifTERiA É uma infecção aguda causada por estirpes de Corynebacterium diphtheria que pro- duzem a toxina diftérica. A toxina pode lesar ou destruir os tecidos do corpo humano 16 | Programa alargado de Vacinação e órgãos. Há dois tipos: 9 Forma tóxica: com falência cardíaca, contrações miocárdiacas fracas, pulso rápido, fraco e pressão arterial baixa. 9 Forma obstructiva: na qual as membranas necróticas podem propagar-se a partir da garganta e obstruir a laringe. A difteria afecta pessoasde todas as idades, mas principalmente crianças não-imuni- zadas menores de 15 anos. Definição de caso Dor de garganta, febre e membrana esbranquiçada aderente às amígdalas, faringe e ou passagens nasais. Epidemiologia A difteria propaga-se quer por contacto directo pessoa-a-pessoa, ou através de go- tículas quando um portador tosse. O portador pode ser assintomático e imune. A propagação da doença é favorecida em locais superpovoados e com baixas condi- ções de vida. O período de incubação é de 1 – 7 dias. As pessoas infectadas podem propagar a do- ença até 4 semanas. Raramente, podem continuar infectantes até 6 meses. Durante os surtos e epidemias, algumas crianças podem ser portadoras assintomáticas, mas ainda podem espalhar a doença às outras pessoas. Quadro clínico Quando a difteria afecta a garganta e as amígdalas, os sintomas precoces são a dor de garganta, perda de apetite e febre ligeira. Dentro de 2 ou 3 dias, aparece uma membrana esbranquiçada ou acinzentada na garganta e amígdalas e os gânglios do pescoço aumentam de volume. Os pacientes podem recuperar ou desenvolver fra- queza severa e morrer dentro de 6 a 10 dias. Programa alargado de Vacinação | 17 Tratamento Casos de difteria devem ser tratados com toxina anti-diftérica e antibióticos, e de- vem ser isolados para evitar exposição às outras pessoas. Culturas das secreções da garganta devem ser feitas para confirmar o diagnóstico. Os pacientes tornam-se não infecciosos dois dias depois de iniciarem o tratamento antibiótico. 2.4.6. PERTUSSIS (TOSSE CONVULSA) É uma doença bacteriana causada pelo Bordatella pertussis, que vive na boca, nariz e garganta. A doença é extremamente contagiosa, especialmente em ambientes de su- perpovoamento e má nutrição. Muitas crianças com pertussis apresentam quadros de tosse que duram 4 a 8 semanas. A doença é comum em crianças não imunizadas. A tosse convulsa tem uma mortalidade elevada quando afecta crianças com menos de 1 ano de idade. Devido à tosse com vómitos constantes, o estado nutricional da criança doente tende a complicar-se. Definição de caso Tosse há pelo menos duas semanas e caracterizada por, pelo menos, um dos seguin- tes sinas: tosse, inspiração em guincho ou vômito a seguir à tosse sem outra causa aparente. Epidemiologia A pertussis propaga-se muito facilmente de pessoa-para-pessoa através de gotículas produzidas pela tosse ou espirro. Muitas pessoas expostas ao germe tornam-se in- fectadas. A doença é transmitida a partir de 7 dias depois da exposição até 3 sema- nas depois do início da tosse. O período de infecção pode ir até 21 dias. Ocorre pouca ou nenhuma transferência de imunidade da mãe para o filho. Infantes e crianças pequenas são muito susceptíveis de se tornar infectadas, desenvolver complicações sérias e morrer. Popularmente, a tosse convulsa é chamada “doença dos seis meses” e figura em segundo lugar, depois do sarampo, entre as doenças causadoras de com- plicações sérias em crianças. 18 | Programa alargado de Vacinação Quadro clínico Descrevem-se 3 estágios no caso típico de tosse convulsa. Eles são: 9 Estágio 1: inicialmente, por volta da primeira semana, há um estágio catarral, com sintomas respiratórios superiores semelhantes aos de um resfriado comum. A criança parece ter um resfriado comum com corrimento nasal, olhos lacrimejantes, febre e tosse. A tosse piora gradualmente. 9 Estágio 2: envolve acessos de tosse rápida. No fim destes acessos, a criança inspira com um guincho. A criança pode ficar cianótica devido à falta de oxigênio durante os acessos de tosse. Vômito e exaustão frequentemente ocorrem a seguir aos ata- ques de tosse, que são particularmente frequentes à noite. Este estágio dura uma a seis semanas, mas pode ir até 10 semanas. Os ataques tornam-se menos severos com o passar do tempo. 9 Estágio 3: a tosse gradualmente torna-se menos intensa e pára em 2 a 3 semanas. Geralmente há febre alta durante o curso da doença. As complicações são mais prováveis em crianças menores e incluem a pneumonia, que é a complicação mais comum e causa mais comum de morte, convulsões, perda de apetite, otite e desidratação. Tratamento Os antibióticos ajudam a reduzir os episódios de tosse e no tratamento de com- plicações como pneumonia e otite média. Deve-se também dar muito líquido para prevenir a desidratação. A eritromicina é usada para a profilaxia dos contactos (reduz a propagação secundá- ria entre os contactos) especialmente quando administrada poucos dias depois do início dos sintomas. 2.4.7. HEPATiTE b A hepatite B é o maior problema de saúde pública no mundo. Aproximadamente 30% da população mundial tem evidências serológicas de infecção pelo vírus da he- Programa alargado de Vacinação | 19 patite B (VHB). É uma doença viral altamente infecciosa e que afecta o fígado. Muitas das consequências sérias da infecção pelo virus da hepatite B (VHB) ocorre entre pessoas que se tornam cronicamente infectadas. Pessoas com infecção crônica geralmente são assintomáticas durante décadas depois da infecção e 15-25% destas pessoas desenvolvem cancro do fígado ou cirrose. Estes portadores crônicos tam- bém são um reservatório importante para a transmissão de novas infecções. Diagnóstico O vírus da hepatite B é um dos 5 vírus causadores da hepatite no homem. A doença aguda causada por todos estes vírus é similar e é necessário fazer testes laboratoriais específicos para determinar o vírus causador numa pessoa com sinais e ou sintomas de hepatite aguda. As crianças geralmente são assintomáticas quando são infectadas pelo VHB, mas fre- quentemente desenvolvem infecção crônica. Assim, os casos reportados de hepatite B subestimam a magnitude da doença, particularmente em países com alta endemi- cidade da infecção pelo VHB, onde a maioria das infecções crônicas são adquiridas na infância. Epidemiologia A doença é altamente endêmica em África. 60 – 90% são infectadas até à idade adul- ta, dos quais 5 – 25% são portadores crônicos. A transmissão do VHB pode ocorrer com a exposição percutânea ou da mucosa, de sangue ou fluídos corporais de porta- dores. O vírus é encontrado em altas concentrações no sangue e exudatos serosos, moderada no sêmen e fluído vaginal, e baixa na saliva. As vias primárias de transmissão são: 9 Perinatal (da mãe para o filho) 9 De criança para criança 9 De injecções e transfusões contaminados 9 Contacto sexual 20 | Programa alargado de Vacinação A transmissão perinatal geralmente ocorre desde a exposição ao sangue materno, ao líquido amniótico e ou fluído vaginal na altura do parto. A transmissão pessoa para pessoa (criança para criança), responde pela maioria das infecções pelo VHB á nível mundial. Ocorre em contactos interpessoais através de feridas e ulcerações. Muitas crianças se infectam nos primeiros anos de vida. Nas unidades sanitárias, a infecção pelo VHB pode ser transmitida através de agulhas e seringas usadas e outro equipamento que não tenha sido devidamente esteriliza- do, e através de transfusão de sangue contaminado e que não tenha sido testado para o antígeno do VHB (AgHbs). A transmissão sexual pode contribuir para uma alta proporção de casos de hepatite B entre os adolescentes e adultos em países com uma baixa prevalência da hepatite B. Em países com alta prevalência a maioria das pessoas já terá sido infectada durante a infância. Quadro clínico Quando uma pessoa é infectada pela primeira vez com o VHB pode apresentar do- ença sintomática (hepatite B aguda) ou pode ter uma infecção assintomática, sem sinais nem sintomas da doença. Independentemente de serem sintomáticos ou as- sintomáticos, podem em ambos os casos se recuperar da infecção e desenvolver uma imunidade duradoura, ou desenvolver uma infecção crônica que usualmente permanece pelo resto da vida. Em pessoas com hepatite B aguda, o período de incubação é usualmente de 3 – 4 meses, com uma variação de 6 semanas a 6 meses. Os sintomas e sinais da doença geralmenteduram várias semanas e incluem perda de apetite, fraqueza, náuseas, vômitos, dor abdominal, icterícia (pele e olhos amarelados), urina carregada, rash cutâneo e dor nas articulações. Cerca de 1 – 2 % de pessoas com hepatite B morrem de hepatite fulminante. Prevenção Existe uma vacina segura e eficaz contra a hepatite B há aproximadamente 30 anos. A vacina da hepatite B é eficaz na prevenção da infecção pelo VHB quando é aplicada Programa alargado de Vacinação | 21 quer antes ou pouco depois da exposição ao vírus. A OMS recomenda a inclusão da vacina da hepatite B em todos os programas de vacinação de rotina de todos os paí- ses. Moçambique introduziu a vacina contra a hepatite B no programa de vacinação em Julho de 2001, sob a forma combinada de DPT/Hepatite B. O objectivo primário da vacinação contra a hepatite B é prevenir a infecção crônica que ocorre na infância, a qual pode resultar em doença crônica do fígado mais tarde na vida. Tratamento Não existe tratamento específico para o vírus da hepatite B. Geralmente, recomen- da-se dieta com baixo teor de gorduras e não consumo de álcool. 2.8. DoENÇAS CAUSADAS PELo HAEMoPHiLUS iNfLUENzAE introdução Infecções causadas pelo Haemophilus influenzae (Hib) são uma das principais causas de morbidade e mortalidade em crianças menores de 5 anos no mundo. As manifestações mais importantes causadas pelo Hib são pneumonia, meningite e outras patologias como a epiglotite, septicemia, celulite, artrite, osteomielite, pericardite devido a metástases sép- ticas à distância. O Haemophilus influenzae é um cocobacilo Gram-negativo, aeróbio. Estirpes não-capsula- das são menos virulentas do que as capsuladas. Estirpes capsuladas podem ser classificadas em seis serotipos (tipo a,b,c,d,e,f), a partir da diferença antigênica da cápsula polissacarídi- ca. São conhecidas por causar doença mas, o tipo b é o mais virulento e é responsável pelos quadros clínicos mais graves. idade A infecção é mais comum em crianças menores de 5 anos e as crianças entre 4 à 18 meses estão em maior risco. Nos recém nascidos, os anticorpos maternos protegem da infecção mas por volta dos 2 à 3 meses esta protecção entra em queda e a incidência da infecção aumenta. 22 | Programa alargado de Vacinação Epidemiologia O Haemophilus influenzae, incluindo Haemophilus influenzae tipo b, são comensais da na- sofaringe das crianças. Portanto, as bactérias são passadas de criança para criança através de gotículas e secreções nasofaringeas quando uma criança infectada tosse ou espirra. A transmissão pode ainda ocorrer quando partilham brinquedos ou outros objectos que le- vam a boca. O reservatório do H. influenzae é o homem doente ou portador . Nos países em desenvolvimento 3% à 20% dos casos são fatais. Das crianças que sobrevi- vem 30 a 40% ficam com deficiência neurológica permanente como paralisia, atraso mental e/ou perda auditiva. Geralmente o período de incubação é de 2 a 4 dias e a transmissão é interrompida após 48h de antibioterapia eficaz. A OMS recomenda que a vacina Hib seja incluída na rotina dos programas de imunização. Diagnóstico O diagnóstico é clínico e laboratorial, sendo o principal exame laboratorial a amostra do liquido cefaloraquídeo. Controlo dos contactos A quimioprofilaxia é feita com Rifampicina e só é importante se o contacto tem menos de 4 anos, não esta imunizado e teve contacto com o doente há menos de 4 dias. Neste caso a dosagem é a seguinte: 9 Crianças com menos de 1 mês: 5mg/kg em cada toma 9 Outras crianças e adultos: 10mg/kg em cada toma, até um máximo de 600mg Prevenção Vacina Programa alargado de Vacinação | 23 Meningite por Haemophilus influenzae É a infecção da membrana que cobre a medula espinal e o cérebro, provocando inflamação da mesma. Diagnóstico A. Clínico: caracterizado por febre, calafrios, cefaléia intensa, náuseas, vômitos, irritabilidade ou agitação, abaulamento da fontanela, convulsões, alteração do estado de consciência, sinais meníngeos (sonolência, rigidez da nuca, sinais de Kerning e Brudzinski presentes), prostração, opistótonus e hipotonia. b. Laboratorial: o exame bacteriológico, esfregaço corado com Gram, cultura e tes- te de sensibilidade a antibióticos, é feito com amostra do líquido cefalo-raquí- deo (LCR). Tratamento 9 Isolamento nas primeiras 48 horas de antibioterapia. 9 Antibioterapia com ampicilina e cloranfenicol ou cefalosporina da 3ª geração. Pneumonia por Haemophilus influenzae Nos países em desenvolvimento é a maior causa de infecção pulmonar baixa na faixa etária dos 2 meses até 5 anos. Diagnóstico A. Clínico: Caracteriza-se por início agudo de febre e tosse. Os achados do exame físico podem ser: dispnéia com ou sem tiragem, expansibilidade torácica diminuída, macicez e murmúrio vesicular diminuído, estertores crepitantes, sopro tubárico. B. Radiológico: o Rx do tórax pode apresentar padrão lobar, bronco-alveolar ou intersticial. O derrame pleural pode estar associado. C. Laboratorial: o hemograma pode revelar leucocitose com neutrofilia ou leucopénia. As- pirado traqueal ou lavado bronco-alveolar para a baciloscopia e cultura. Hemocultura. 24 | Programa alargado de Vacinação Tratamento 9 Isolamento nas primeiras 48 horas de antibioterapia. 9 Antibioterapia com ampicilina e cloranfenicol, ou cefalosporina de 3ª geração. Programa alargado de Vacinação | 25 3. VACINAÇÃO E CALENDÁRIO VACINAL objECTivoS No final do tema, os alunos devem ser capazes de: 1. Conhecer os diferentes calendários vacinal em uso no Pais; RELACIONANDO CONTEUDO, OBJECTIVOS DA APRENDIZAGEM E ESTRATÉGIA DE ENSINO/ APRENDIZAGEM Conteúdo Objectivos da Aprendizagem Ensino/Aprendizagem Actividades Calendário Vacinal Conhecer o calendário vacinal em uso no Pais Conhecer o intervalo mínimo de separação de uma dose para outra. As aulas práticas serão desenvolvidas com a demostracao passo a passo dos procedimentos de preenchimento do calendário vacinal e utilizando o método de estudo de caso onde os estudantes serão divididos em grupos. Cada grupo será atribuído um caso para apresentação em plenária. O objectivo da vacinação no país é garantir que todas as crianças recebam todas as doses de todos os antígenos antes do seu primeiro aniversário, embora crianças até aos 23 meses permaneçam elegíveis para a vacinação de rotina. Uma criança completamente vacinada é aquela que tenha recebido a BCG, Sarampo, VAP3 e DPT/Hepatite B3 até ao seu primeiro ano de vida. As crianças que abandonam – isto é, as que não completam o ciclo vacinal – devem ser identificadas e seguidas. 26 | Programa alargado de Vacinação O MISAU adoptou a política de oferecer os serviços de vacinação de rotina às crianças e mulheres de uma idade específica para satisfazer as necessidades do país. Os serviços de vacinação devem ser integrados com outros aspectos de promoção da saúde, tais como, educação para a saúde e aconselhamento, suplementação em micronutrientes, planea- mento familiar, cuidados pré-natais e pós-natais. Adicionalmente ao esquema de rotina, em caso de necessidade, são também organizadas campanhas especiais de vacinação. 3.1. vACiNAÇÃo DA CRiANÇA 3.1.1. CALENDáRio vACiNAL Cada criança deve receber uma dose de BCG, quatro de VAP, três de DPT/Hepatite B+Hib e uma dose de Sarampo antes do seu primeiro aniversário. Se a criança é vista na unidade sanitária ou se ela se apresenta no posto de vacinação da brigada móvel nas primeiras duas semanas de vida (até 13 dias de idade) deve receber a VAP0 ao mesmo tempo que a BCG. Para as vacinas de doses múltiplas como a VAP e a DPT/Hepatite B+Hib, é enfatizado que o intervalo entre as doses deve ser de pelo menos 4 (quatro) semanas. Dar doses de uma vacina com um intervalo menor do que as 4 semanas recomendadas pode reduzir a resposta da produção dos anticorpos. No entanto, um intervalo entre as doses maior do que o recomendado, não reduz a concentração final dos anticorpos. Quando uma criançaestá atrasada, inicie as doses o mais cedo possível. Se uma dose de DPT/Hepatite B+Hib ou VAP é perdida (oportunidade perdida), a vacinação na ocasião seguinte deve continuar como se o intervalo usual tivesse passado, e não é necessário dar uma dose extra. A vacina (Hib) contra o Haemophilus influenzae protege as crianças a partir dos 2 meses de vida. É segura e altamente eficaz, 90-99% das crianças desenvolvem an- ticorpos depois de três doses de aplicação. A vacina contra Haemophilus influenzae do tipo b está indicada para a imunização de rotina nos programas de vacinação, de crianças entre 2 meses e 5 anos de idade. Programa alargado de Vacinação | 27 Tabela 1. Calendário Vacinal da Criança VACINA IDADE IDADE MÍNIMA BCG À nascença ou ao 1o contacto À nascença VAP0 (Pólio Primária) À nascença ou ao 1o contacto antes das 6 semanas de vida À nascença VAP1 e DPT/Hepatite B1+Hib À 6a semana de vida ou ao 1o contacto depois das 6 semanas 6 semanas VAP2 e DPT/Hepatite B2+Hib À 10a semana ou 4 semanas depois da VAP1 e DPT/Hepatite B1+Hib 10 semanas VAP3 e DPT/Hepatite B3+Hib À 14a semana ou 4 semanas depois da VAP2 e DPT/Hepatite B2+Hib 14 semanas Sarampo Ao 9o mês ou 1o contacto depois dos 9 meses 8,5 meses 3.1.2. ADMiNiSTRAÇÃo SiMULTâNEA DE vACiNAS Múltiplas vacinas podem ser dadas ao mesmo tempo. Por exemplo, a BCG, VAP0, ou a VAP1 e a DPT/Hepatite B1+Hib, devem ser dadas ao mesmo tempo se a criança for elegível para tal. Isto reduz o número de contactos necessários para completar o calendário vacinal. É importante que a criança receba as vacinas antes de ser exposta às doenças, mas depois da perda suficiente de anticorpos maternos, dado que eles influenciam a efi- cácia das vacinas. Em alguns casos a vacinação antes das idades recomendadas pode ser eficaz. No entanto, crianças mais novas do que a idade recomendada não devem ser vacinadas, excepto em circunstâncias excepcionais autorizadas pelas autoridades sanitárias á nível nacional. Crianças vacinadas em idade precoce do que a recomen- dada, podem não manter a protecção necessária contra as doenças sem doses de reforço. 28 | Programa alargado de Vacinação 3.1.3. vACiNAÇÃo DE RECUPERAÇÃo Crianças mais velhas que não estejam completamente vacinadas devem receber as doses perdidas. Todas as outras doses em falta devem ser dadas a intervalos de tem- po normais, de acordo com o calendário. 3.1.4. CONTRA-INDICAÇõES PARA A VACINAÇãO Existem poucas contra-indicações absolutas para a vacinação. O risco de adiar uma vacinação por causa de uma doença intercorrente, é que a criança pode não voltar e perder-se a oportunidade. Em todo o mundo, oportunidades perdidas por causa de falsas contra-indicações, são a principal causa do atraso em completar a vacinação ou da não vacinação. Em geral, o PAV recomenda que todos os trabalhadores da saúde devem usar todas as oportunidades para vacinar as crianças elegíveis; a vacina deve ser dada à todas as criança elegíveis que frequentam todos os estabelecimentos de saúde, mesmo em regime ambulatório. Crianças hospitalizadas devem ser vacinadas logo que a sua condição clínica melhore, pelo menos antes de terem alta do hospital. A vacina anti- sarampo deve, preferencialmente, ser administrada na admissão, devido ao risco de transmissão nosocomial do sarampo. 9 Contra-indicação absoluta Indivíduos com doenças imuno-deficientes, ou sob terapia com agentes imunossu- pessores, ou radiação, geralmente, não devem receber vacinas vivas. No entanto, todos os antígenos excepto a BCG, devem ser dados à todas as crianças com HIV/ SIDA sintomático. Um efeito adverso severo a seguir à aplicação de uma dose de vacina (anafilaxia ou alergia a qualquer um dos componentes da vacina por exemplo toxóide da Difteria para o caso de Hib, colapso ou shock, convulsões não febris) constitui uma verdadei- ra contra-indicação à vacinação. A mãe e o trabalhador de saúde podem facilmente reconhecer tais efeitos. Uma segunda ou terceira dose de DPT/Hepatite B+Hib não deve ser administrada a uma criança que tenha sofrido tais reacções adversas à uma dose prévia. Programa alargado de Vacinação | 29 9 falsas contra-indicações É particularmente importante vacinar crianças sofrendo de mal-nutrição. Febre bai- xa, infecções respiratórias médias e outras doenças menores não devem ser consi- deradas como uma contra-indicação para a vacinação. A diarréia não deve ser consi- derada contra-indicação para a VAP. Algumas condições que não são contra-indicação para a vacinação são: 9 Doenças menores tais como, infecções respiratórias superiores ou diarréia, febre < 38.5oC. 9 Alergia, asma ou outra manifestação atípica, febre do feno 9 Malnutrição 9 Amamentação 9 História familiar de convulsões 9 Tratamento com antibióticos, dose baixa de corticosteróides 9 Dermatoses, eczema ou infecção localizada na pele 9 Doença crônica do coração, pulmões ou fígado 9 História de icterícia logo depois do nascimento As mães ou outros responsáveis pelas crianças, devem ser encorajados a conservar o cartão de registo de peso e vacinas das suas crianças mesmo depois da infância para referência futura. 3.1.5. EfEiToS CoLATERAiS Não foram reportados efeitos secundários graves. No entanto, pode ocorrer febre e irritabilidade, dor no local e um pequeno inchaço avermelhado dentro de 3 dias. Neste caso a criança pode ser tratada com Paracetamol. 30 | Programa alargado de Vacinação 3.2. MULHER GRÁVIDA E MULHER EM IDADE FÉRTIL (MIF) Todos os contactos com mulheres em idade fértil devem ser usados para verificar se a sua vacinação está em dia e dar o conselho apropriado. Isto deve levar a uma redução de oportunidades perdidas de vacinar com VAT e melhorar as coberturas com esta vacina. Cada dose de VAT deve ser registada no cartão de VAT da mulher. Doses recebidas durante a gravidez devem ser registadas tanto na fica pré-natal assim como no cartão de VAT. Doses recebidas antes da gravidez actual devem ser transferidas do cartão de VAT para a ficha pré-natal. A política em Moçambique é que cada grávida deve ser protegida contra o tétano neonatal, aderindo ao esquema da tabela 2 abaixo. As doses de tétano recebidas durante a infância podem contar para o esquema da VAT e a DPT3 conta como VAT2. Se uma mulher tiver uma história documentada de cinco (5) injecções de VAT, ela não precisa fazer doses adicionais de VAT, dado que cinco (5) doses dão uma protecção completa durante os anos de idade fértil como mostrado na tabela 3. Tabela 2. Calendário Vacinal da Mulher Grávida/MIF DOSE DE VAT CONTACTO VAT 1 VAT 2 VAT 3 VAT 4 VAT 5 Ao primeiro contacto ou o mais cedo possível durante a gravidez , incluindo o primeiro trimestre Pelo menos quatro (4) semanas depois de VAT 1 Pelo menos 6 meses depois da VAT 2 ou durante a gravidez subsequente Pelo menos 1 ano depois da VAT 3 ou durante a gravidez subsequente Pelo menos 1 ano depois de VAT 4 ou durante a gravidez subsequente Este é o calendário ideal. Se não fôr possível segui-lo exactamente, deve-se adaptá-lo às condições locais. Programa alargado de Vacinação | 31 Tabela 3. Duração esperada da imunidade depois da aplicação de diferentes doses de VAT em Mulheres em Idade Fértil (15 – 49 anos) DOSES INTERVALO MÍNIMO PROTECÇÃO DURAÇÃO DA PROTECÇÃO VAT1 1o CoNTACTo 0 0 VAT2 4 SEMANAS 80% 3 ANOS VAT3 6 MESES 95% 5 ANOS VAT4 1 ANO 99% 10 ANOS VAT5 1 ANO 99% TODA A VIDA No esquema vacinal do PAV de rotina, os grupos visados pela VAT compreendem as grávi- das, as mulheres em idade fértil, os alunos do 1º ingresso e os trabalhadores. É necessário, no entanto, ter presente que as vacinas antitetânicas anteriormente recebi- das, isto é, na infância, idade escolar etc, são contadas para o cumprimento do calendário, desde que entre elas tenham sido respeitados os intervalos mínimos. Não há intervalo má- ximo entre as doses. A comprovação de vacinações anteriores exige a apresentação de um documento válido das UnidadesSanitárias onde foram efectuadas (cartão de saúde da criança, ficha de con- sulta pré-natal, etc). Na falta de comprovação nas condições referidas, a mulher deve iniciar e completar o ca- lendário de 5 doses. Neste caso, se a mulher estiver grávida, deve fazer 2 doses durante a gestação (Consulta Pré-Natal), uma 3.ª dose quando o filho fôr vacinado contra o sarampo, ficando a 4.ª dose para além de um ano e a 5.ª dose, passado também um outro ano. O quadro seguinte indica a conduta a seguir em algumas situações que se podem apresen- tar comprovadas. 32 | Programa alargado de Vacinação Tabela 4. Situações a considerar na vacina antitetânica (MIF’s) DOSES JÁ RECEBIDAS DOSES A RECEBER NA INFÂNCIA NA ESCOLA NA IDADE ADULTA VACINA-DOSES Doses válidas VACINA - DOSES Doses válidas VACINA - DOSES Doses válidas DPT0 ou 1 Dose 0 VAT0 ou 1 Dose 0 Iniciar calendário 5 DPT0 ou 1 Dose 0 VAT - 2 Doses 2 fazer 3.ª,4.e 5.ª Doses 3 DPT2 ou 3 Doses 2 VAT - 0 Doses 0 fazer 3.ª,4.e 5.ª Doses 3 DPT2 ou 3 Doses 2 2 doses com um inter- valo mínimo de 1 Ano 2 Completa a 5 Dose 1 A última hipótese - 2 doses na infância e 2 doses na escola - só é válida se o intervalo entre as duas doses recebidas na escola for superior a um ano (1.ª e 2.ª classes). Se o intervalo for inferior (4 semanas por exemplo) deve-se contar apenas uma dose, anu- lando a segunda por não corresponder ao intervalo entre a 3.ª e 4.ª doses do calendário. As vacinas recebidas na infância, na escola ou noutras situações, só po- derão ser consideradas válidas quando comprovadas por um documento oficial e reconhecido pelo MISAU. Não há intervalo máximo entre as doses 3.3. ACTiviDADES ESPECiAiS DE vACiNAÇÃo Moçambique também adoptou as políticas e princípios da OMS em relacção à eliminação Programa alargado de Vacinação | 33 do sarampo, eliminação do tétano neonatal e erradicação da poliomielite. Estas políticas incluem campanhas de vacinação especiais, direccionadas a grupos de idade diferentes daqueles da vacinação de rotina. 3.3.1. ELiMiNAÇÃo Do SARAMPo As estratégias para a eliminação do sarampo incluem: 9 Atingir coberturas de vacinação de rotina iguais ou superiores a 95% com uma dose de vacina anti-sarampo dada aos 9 meses de idade. 9 Realizar uma vez a nível nacional, uma campanha de vacinação de ataque para in- terromper a transmissão. 9 Fazer á nível nacional, campanhas periódicas de seguimento para manter a inter- rupção da transmissão do sarampo. 9 Estabelecer a vigilância baseada no caso com confirmação laboratorial. A eliminação do sarampo requer uma vigilância intensiva a todos os níveis. Qualquer caso de suspeita de sarampo deve ser investigado. Isto implica preencher a ficha de investigação de caso, colher amostra de sangue entre 0 – 30 dias depois do início do rash e amostras de urina dos casos detectados somente durante 0 – 7 dias depois do início. 3.3.2. ERRADiCAÇÃo DA PóLio As seguintes 4 actividades são necessárias no processo de erradicação da Pólio: 9 Vacinação de rotina: atingir e manter altos níveis de cobertura com VAP3 (pelo me- nos 80% em todos os distritos). 9 Vigilância Epidemiológica: focalizar na vigilância da paralisia flácida aguda (PFA), um sistema para detectar todos os casos de paralisia flácida aguda e confirmar se são ou não pólio. 9 DNV`s (Dias Nacionais de Vacinação): dar doses suplementares de VAP a todas as crianças dos 0 – 59 meses. 34 | Programa alargado de Vacinação 9 Actividades de limpeza: campanhas sub-nacionais de vacinação antipólio, somente numa área focal, quando nela se suspeite da circulação do vírus da pólio. Moçambique está comprometido com os esforços globais de erradicação da pólio e tem le- vado a cabo com sucesso, campanhas dos DNV`s em 1996, 1997, 1998 e 1999. A vigilância da PFA é parte integral dos esforços para a erradicação da Pólio. Qualquer caso de PFA em crian- ças menores de 15 anos de idade deve ser notificado. As investigações devem ser iniciadas o mais cedo quanto possível incluindo a colecta de duas (2) amostras de fezes, de preferência dentro dos primeiros 14 dias depois do início da paralisia. As amostras de fezes podem ainda ser colhidas até 60 dias depois do início da paralisia. Um exame de seguimento para definir a paralisia residual deve ser feito pelo menos 60 dias depois do início da paralisia. 3.3.3. ELiMiNAÇÃo Do TÉTANo NEoNATAL Para reduzir a incidência do tétano neonatal para menos do que 1caso em cada 1000 nacidos vivos, Moçambique propõe-se a: 9 Elevar a cobertura de VAT em mulheres em idade fértil através da redução de oportunidades perdidas; 9 Intensificar a mobilização social e informação, educação e comunicação (IEC) a todos os con- tactos e; 9 Melhorar a vigilância epidemiológica. Dando ênfase as actividades especiais em áreas de alto risco. Outra estratégia de suporte à vacinação na eliminação do tétano neonatal é a observância dos “cinco aspectos” de assépsia durante o parto: 9 limpar o local de parto; 9 lavar bem as mãos; 9 usar fios limpos para laquear o cordão umbilical; 9 usar lâmina ou tesoura limpa para cortar o cordão e; 9 limpar bem o coto umbilical. Programa alargado de Vacinação | 35 4. VIAS DE ADMINISTRAÇÃO DE VACINA objECTivoS No final do tema, os alunos devem ser capazes de: 1. Conhecer as vias de administração de cada tipo de vacina 2. Diferenciar os tipos de seringas usadas para cada tipo de vacina 3. Identificar as contra-indicações e efeitos colaterais de cada vacina 36 | Programa alargado de Vacinação RELACIONANDO CONTEUDO, OBJECTIVOS DA APRENDIZAGEM E ESTRATÉGIA DE ENSINO/ APRENDIZAGEM Conteúdo Objectivos da Aprendizagem Ensino/Aprendizagem Actividades Vias de administração Conhecer as vias de administração de cada tipo de vacina Conhecer os procedimentos para aplicação da vacina Identificar as contra-indicações e efeitos colaterais As aulas consistirão em exposições dialogadas das técnicas de vacinação auxiliado pelo método de demonstração com recursos didáticos como é o caso de projetor multimídia (datashow), quadro e canetas de filtro. Demonstrações prática serão desenvolvidas nas Unidades Sanitárias durante uma sessão de vacinação, onde os alunos, divididos em grupos e distribuídos em diferentes US com posto fixo de vacinação irão praticar as diferentes actividades inerentes ao processo de vacinação. Para minimizar o risco de falhas resultantes de um manuseamento e administração inade- quados de vacina durante as sessões de vacinação, os trabalhadores da saúde devem estar conscientes dos requisitos para cada vacina, os quais diferem em relacção a quando e como são administradas e como devem ser manuseadas. Outros princípios gerais, os quais se aplicam igualmente quando se faz a triagem das crianças para a vacinação são: 9 É seguro e imunologicamente eficaz administrar todas as vacinas no mesmo dia em diferentes locais do corpo. 9 Febre moderada, malnutrição, infecções respiratórias moderadas, tosse, diarreia e vómitos não são contra-indicações para a vacinação. 4.1. viAS DE ADMiNiSTRAÇÃo DE vACiNAS A tabela 5 apresenta um sumário do calendário vacinal, das vias e doses de administração de vacinas. Programa alargado de Vacinação | 37 Tabela 5. Calendário vacinal, vias e doses de administração de vacinas VACINA IDADE IDEAL IDADE MÍNIMA IDADE MÁXIMA DOSE VIA DE APLICAÇÃO BCG à nascença à nascença 23 meses < 1 ano 0,05 ml > 1 ano 0,1 ml Intradérmica Pólio Zero à nascença à nascença 5 semanas 2 gotas Oral Pólio 1 2 meses 6 semanas 23 meses 0,5 ml Intramuscular Pólio 2 3 meses 10 semanas idem idem Idem Pólio 3 4 meses 14 semanas idem idem Idem DPT/HepB 1 2 meses 6 semanas 23 meses 0,5 ml Intramuscular DPT/HepB 2 3 meses 10 semanas idem idem Idem DPT/HepB 3 4 meses 14 semanas idem idem Idem Sarampo 9 meses 8.5 meses 23 meses (4 anos na população deslocada) 0,5 ml Subcutânea Figura 1. Vias de administração da vacina 38 | Programa alargado de Vacinação4.2. SERiNGAS E AGULHAS PARA A vACiNAÇÃo Com a introdução de seringas auto-destrutíveis (seringas AD) em julho de 2001, já não se justifica o uso de seringas e agulhas esterilizáveis. As seringas AD são desenhadas para pre- venir a reutilização por mecanismo interno que bloqueia o êmbolo depois de usada uma vez. As seringas AD devem estar disponíveis em todas as unidades sanitárias do país. 4.3. vACiNA DA bCG A BCG protege contra a tuberculose. É feita de uma microbactéria atenuada, desenvolvida por Calmette e Guerin, daí o nome de BCG (Bacilo de Calmette e Guerin). É uma vacina liofilizada congelada e se apresenta em pó num frasco. É reconstituída com um diluente esterilizado antes de ser injectada. Somente o diluente particular pertencente ao mesmo lote de uma dada vacina deve ser usado. 4.3.1. CoNSERvAÇÃo DA vACiNA DE bCG 9 A BCG pode ser com segurança conservada e transportada a temperaturas entre -15oC e -25oC e entre +2oC e +8oC. 9 o diluente não deve ser congelado, mas deve estar à mesma temperatura que a vacina no ponto de utilização. Isto significa que o diluente deve ser colocado na geleira a temperaturas entre +2oC e +8oC pelo menos 24 horas antes de ser usado. 9 A BCG nunca deve ser exposta à luz do sol. A BCG é mais estável ao calor do que a pólio antes da reconstituição, mas menos estável depois da reconstituição. 9 A vacina reconstituída deve ser usada dentro de 6 horas ou descartada ao fim desse tempo. Programa alargado de Vacinação | 39 4.3.2. APLiCAÇÃo DA vACiNA bCG Tabela 6. Idade: à nascença ou a qualquer momento até aos 23 meses de idade Dose: 0.05 ml, para crianças < de 1 ano. 0.1 ml, para crianças > = 1 ano. Via: injecção intradérmica, na parte superior do ombro direito. No de doses: uma Se não aparecer cicatriz no local de injecção seis (6) semanas depois da vacinação com BCG, a injecção deve ser repetida. 4.3.3. CoMo ADMiNiSTRAR A bCG Preparar a bCG 9 Verificar a data de expiração da vacina e do diluente. 9 Verificar se é o diluente apropriado (da mesma fábrica e mesmo lote que a vacina). 9 Verificar se o diluente está frio. 9 Retirar todo o diluente para uma seringa de diluição (reconstituição). 9 Misturar a vacina com o diluente. 9 Não agitar a vacina, pois isto pode estragá-la. Posição do bebé e enchimento da seringa 9 Preparar a seringa apropriadamente. 9 Inserir a agulha no frasco da vacina e retire 0.05 ml do frasco para uma criança me- nor de 1 ano de idade, e 0.1 ml para crianças com 1 ano ou mais. 9 Deixar a mãe segurar a criança firmemente ou ajude-a. 9 Segurar o braço direito do bebé com a palma virada para cima com a sua mão es- querda, enquanto injectas com a mão direita. 40 | Programa alargado de Vacinação Aplicar a vacina por via intradérmica 9 Inserir a ponta da agulha na pele com o bisel virado para cima – apenas o bisel e um pouco mais. 9 Manter a agulha paralela à parte superficial da pele, de modo que ela avance ape- nas na camada superficial da pele. 9 Não pressionar muito e não apontar para baixo (senão a injecção será profunda demais, portanto, subcutânea). 9 Pressionar o êmbolo com o polegar, enquanto seguras a seringa entre o indicador e os dedos médios. Figura 2. Administração intradérmica da vacina BCG Capa subcutânea Músculo Derm e 4.3.4. o QUE ACoNTECE DEPoiS DA iNjECÇÃo 9 Reacção normal Deve aparecer um pequeno inchaço na pele no local de injecção semelhante ao da picada de mosquito, com buracos muito pequenos. Isto geralmente desaparece den- tro de 30 minutos. Depois de aproximadamente duas semanas, aparece uma ferida vermelha com cerca de 10 mm de diâmetro. A ferida permanece por mais duas se- manas e depois cura. Uma pequena cicatriz de cerca de 5 mm permanece. Este é um sinal de que a criança foi eficazmente vacinada com a BCG. Programa alargado de Vacinação | 41 A mãe deve ser informada de que isto vai acontecer, e que desde que a lesão não aumente ou cause dor, não é motivo para preocupação. Aconselhe a mãe a não es- fregar ou pôr qualquer medicamento na ferida. Se por engano a injecção for muito mais profunda, aparecerá um inchaço redondo debaixo da pele (efeitos colaterais, tais como, abcesso ou gânglios aumentados são mais prováveis se a BCG tiver sido subcutânea). 9 Reacção severa Às vezes ocorre inflamação local com reacção severa, inchaço na região axilar ou perto do cotovelo, ou abcesso profundo. Isto pode acontecer porque: 9 A seringa e agulhas usadas não eram esterilizadas. 9 A injecção tenha sido demasiado profunda debaixo da pele. 9 Dose demasiado grande de vacina tenha sido administrada. 9 A estirpe usada pelo fabricante na produção da vacina. Se a reacção permanecer localmente, não é necessário nenhum tratamento. Para úlceras muito grandes, o tratamento antibiótico é efectivo. Tipicamente, linfonodos supurativos podem necessitar de excisão total, em vez de incisão e drenagem. 4.3.5 CONTRA-INDICAÇõES A única contra-indicação para a BCG é a infecção sintomática por HIV/SIDA. Estas crianças não devem ser administradas BCG. Suspeita de infecção com HIV, baixo peso á nascença ou prematuridade não são contra-indicações para a BCG. 4.4. VACINA DA DPT/HEPATITE B+HIB (DIFTERIA / PERTUSSIS / TÉTANO / HEPATITE B/ HAEMOPHILUS INFLUENZAE) A vacina DPT/Hepatite B+Hib contém a bactéria diftérica enfraquecida, o toxóide tetánico, a bactéria pertussis morta e o antígeno de superfície do Virus da Hepatite B (HBsAg). A vacina DPT/Hepatite B é uma vacina líquida mas a Hib esta disponível nas formas líquida ou liofi- lizada, em frascos de dose única ou multidoses e como monovalente ou combinadas com 42 | Programa alargado de Vacinação outras vacinas por exemplo DTP, Hepatite B (Hep B), DTP-Hepatite B. A vacina Hib liofilizada deve ser diluída com solução salina. A vacina do Hib é preparada com o polissacarídeo capsular purificado do Haemophilus in- fluenzae tipo b, ou seja, um polímero de ribose, ribitol e fosfato poliribosil, conjugado com a proteína tetânica (PRP-T) ou toxina diftérica ( PRP-CRM197) ou proteína da membrana externa do meningococo (PRP-OMP). Esta bactéria é revestida com uma cápsula polissa- carídica que a torna resistente ao ataque dos leucócitos. Neste caso a vacina estimula a resposta imunitária dos linfócitos B T-dependentes contra o polissacarídeo. 4.4.1. CoNSERvAÇÃo DA vACiNA DPT/HEPATiTE b+Hib A temperatura de armazenamento da vacina conjugada contra Hib é a mesma da DTP-Hep B entre +2°C e +8°C. A vacina líquida do Hib não deve ser congelada mas a vacina liofilizada deve ser congelada até a sua reconstituição. O diluente mais co- mum do Hib é o DTP-Hep B. Portanto, A DPT/Hepatite B deve ser conservada a tem- peraturas positivas. Nunca se deve congelar esta vacina. 4.4.2. APLiCAÇÃo DA DPT/HEPATiTE b+Hib Tabela 7. Idade: comece à 6a semana de vida, depois na 10a e 14a semanas. Dose: 0.5 ml Via: Injectável intramuscular ou subcutânea, na face antero lateral da coxa esquerda (latentes) ou no músculo Deltóide (crianças maiores). Nr. de Doses: 3 com intervalo mínimo de 4 semanas entre as doses. Espere pelo menos 4 semanas entre as doses. Se o intervalo for maior, não precisa recomeçar o calendário. Continue com as doses seguintes normalmente. O Hib pode ser administrada de forma segura com DTP, DPT-Hepatite B, Pólio, Hepa- tite B, Sarampo, Febre Amarela ou BCG. Se a administração for em simultâneo com DTP a injecção deve ser intramuscular com a mesma seringa. Programa alargado de Vacinação | 43 Crianças maiores de 12 meses que não foram vacinadas uma dose da vacina é sufi- ciente para a imunização. Crianças que foram vacinadas podem receber um reforço entre os 12 à 18 meses. 4.4.3. CoMo ADMiNiSTRAR DPT/HEPATiTE b+Hib Preparar a vacina 9 Verificar a data de expiração da vacina 9 Agitar para se assegurar que a vacina não congelou 9 Verificar o monitor de vacina se o frasco o tiver 9 Remover o centro da tampa do frasco 9 Agitar bem o frasco 9Retirar a quantidade de vacina necessária, 0.5 ml 9 Expelir o ar ou excesso de vacina Posicionar o bebê 9 Peça a mãe para sentar o bebé nas coxas 9 O braço esquerdo da mãe passa à volta do bebé para suportar a cabeça, o pescoço, o ombro e seu braço esquerdo. 9 O braço direito do bebé fica em repouso para trás 9 O braço direito da mãe segura firmemente as pernas do bebé Aplicar a vacina 9 O melhor local para injectar é a porção central da face externa da coxa do bebé. 9 Dividir através de uma linha imaginária a coxa em 3 partes iguais entre o joelho e a espinha ilíaca. 44 | Programa alargado de Vacinação 9 Limpar a pele se estiver suja com bola de algodão húmida e deixe secar. 9 Colocar seu polegar e indicador em cada um dos lados do local aonde vai injectar e esticar a pele suavemente. 9 Introduzir a agulha profundamente para dentro do músculo. 9 Pressionar o êmbolo com o polegar para injectar a vacina e depois retirar a agulha. 9 Esfregar o local de injecção rapidamente com uma bola de algodão. A vacina líquida é usada directamente do frasco. A vacina liofilizada deve ser diluída antes da administração, quer com diluente (solução salina) ou com outra vacina que tenha sido identificada ou indicada para esse efeito pelo fabricante, como a DTPhe- pB. No entanto, se for utilizada como uma vacina monovalente, não deve ser injecta- da no mesmo local que as outras vacinas. Não injecte nas nádegas, pois a injecção pode lesar o nervo ciático e provocar paralisia da perna da criança. Figura 3. Administação da vacina DPT/Hepatite B+Hib Dermis (skin) Subcutaneous layer Muscle Capa Subcutânea ˙˙˙ (pele) Programa alargado de Vacinação | 45 4.4.4. CONTRA-INDICAÇõES No geral, não há contra-indicações para a vacinação com a DPT/Hepatite B+Hib ex- cepto se houver história de hipersensibilidade (alergia) a qualquer um dos compo- nentes da vacina (por exemplo, o tétano ou toxóide da difteria). Em crianças com febre alta a vacinação pode ser feita mais tarde quando esta estiver controlada. 4.4.5. EfEiToS CoLATERAiS 9 Febre: advirta a mãe de que muitas crianças experimentam febre e ficam irritáveis depois de receber a vacina da DPT/Hepatite B+Hib, e que isto desaparece dentro de 24 horas. A criança pode ser tratada com antitérmico para resolver este problema. 9 Dor local: informe à mãe que a criança pode ter um pequeno inchaço avermelhado e doloroso no local de injecção. Isto não é sério e não necessita de tratamento. No entanto, se aparecer pus no local de injecção, uma semana ou mais depois da injec- ção, a mãe deve levar a criança à unidade sanitária mais próxima. 9 Abcesso: se a dor e o inchaço começarem tarde (uma semana ou mais depois da injecção), pode ser devido a um abcesso. Os abcessos podem ocorrer: 9 Se a agulha não for esterilizada 9 Se se tiver tocado com os dedos 9 Se se tiver pousado a seringa em local não esterilizado 9 Se o topo do frasco tiver sido tocado ou tiver estado em contacto com su- perfícies sujas 9 Se não se injectar a vacina com a profundidade suficiente Se a criança desenvolver um abcesso, aplicar compressas mornas no inchaço e tratar com antibióticos. Se o abcesso não resolver, referir a criança para a unidade sanitária de referência mais próxima para incisão e drenagem. 9 Convulsões: esta é uma complicação rara que ocorre em cerca 1/1.200 a 1/1.600 crianças e está frequentemente relaccionado com a febre. Isto é devido à compo- 46 | Programa alargado de Vacinação nente pertussis da vacina. NoTA Se uma criança que tenha recebido a vacina DPT/Hepatite B tiver convul- sões ou choque nos três dias seguintes, essa criança não deve receber mais doses de DPT/Hepatite B. 4.5. VACINA ANTI-PÓLIO (VAP) A vacina contém um vírus vivo atenuado. É mais facilmente estragada pelo calor do que as outras vacinas. Pode ser armazenada e transportada á temperaturas negativas até ao nível da unidade sanitária. Entretanto, a este nível, deve sempre ser conservada a temperaturas positivas, entre + 2oC e + 8oC. A VAP apresenta-se quer em plásticos com conta-gotas ou em frasco de vidro com conta- gotas separado. É importante usar o conta-gotas apropriado para a vacina a fim de evitar que esta jorre. 4.5.1. CoNSERvAÇÃo DA vACiNA DA PóLio Deve ser conservada entre -15oC e -25oC. Os monitores do frasco da VAP indicam se a vacina foi estragada pelo calor. Se o quadrado é mais claro do que o círculo circun- dante, a vacina pode ser usada. 4.5.2. APLICAÇãO DA VACINA DA PÓLIO ORAL (VAP) Idade: dentro das primeiras 6 semanas depois do nascimento, à 6a , 10a e 14a semanas Dose: 2 a 3 gotas, dependendo do fornecedor (verificar sempre as instruções do fornecedor) Nr de doses: 4 com intervalo mínimo de 4 semanas entre as doses Via: Oral Programa alargado de Vacinação | 47 4.5.3. CoMo ADMiNiSTRAR A vAP Preparar a vacina 9 Verificar a data de expiração. 9 Verificar o monitor do frasco de vacina para se certificar de que a vacina pode ser usada. 9 Verificar se é a vacina certa. 9 Verificar o número de gotas necessárias para uma dose de vacina do frasco. Posicionar o bebé 9 Peça à mãe para segurar o bebé firmemente, sentando-o de forma a que não aspire a vacina. Aplicar a vacina 9 Abra a boca da criança apertando-a suavemente entre os dedos. 9 Dar duas ou três gotas (depende das instruções do fabricante) na língua da criança, usando o conta-gotas. 9 Assegurar que a criança engole a vacina. 9 Se ela cuspir, repetir a dose. O conta-gotas nunca deve entrar em contacto com a boca ou língua do bebé. 48 | Programa alargado de Vacinação Figura 4. Administração da vacina anti-pólio 4.5.4. CONTRA-INDICAÇõES Não há contra-indicações. Se a criança tiver diarréia, administrar a vacina mesmo assim. 4.5.5. EfEiToS CoLATERAiS Geralmente não existem efeitos colaterais Os intervalos entre as doses de DPT/Hepatite B e OPV devem ser de pelo menos 4 semanas. intervalos maiores de 4 semanas não prejudicam a criança e não implicam recomeçar o calendário 4.6. VACINA ANTI-SARAMPO A vacina contém o vírus do sarampo atenuado. A vacina é liofilizada congelada e deve ser reconstituída (misturada com diluente) antes de ser usada. Use SoMENTE o diluente que é fornecido pelo mesmo fabricante da vacina, para fazer a reconstituição desta. Programa alargado de Vacinação | 49 História de suspeita de sarampo não constitui contra-indicação para a vacinação. vacine todas as crianças elegíveis. 4.6.1 CONSERVAÇãO DA VACINA ANTI-SARAMPO Nos níveis central e provincial, a vacina deve ser conservada a temperaturas entre - 15oC e -25oC. No nível distrital e de unidade sanitária, entre +2oC e +8oC. O diluente não deve ser congelado, mas resfriado antes de ser usado para não neutralizar a vacina. A vacina do sarampo é muito sensível à luz. Assim, as seringas nunca devem ser preenchidas e deixadas sobre a mesa fora da caixa isotérmica. 4.6.2. APLICAÇãO DA VACINA ANTI-SARAMPO Os anticorpos maternos contra o sarampo permanecem mais tempo do que outros anticorpos. Assim, a vacinação contra o sarampo não é eficaz antes dos 9 meses de idade. idade: aos 9 meses; no entanto pode- se vacinar a partir dos 8.5 meses. Dose: 0.5 ml via: Injecção subcutânea, na face lateral do braço. Nr de doses: uma 4.6.3. COMO ADMINISTRAR A VACINA ANTI-SARAMPO Preparar a vacina 9 Verificar a data de expiração da vacina e do diluente. 9 Verificar se é o diluente correcto (mesmo fabricante). 9 Verificar se o diluente está frio. 9 Retirar o diluente para a seringa de diluição. 9 Misturar a vacina e o diluente. 50 | Programa alargado de Vacinação 9 Não agitar a vacina, pois pode estragar. Aplicar a vacina A dose é de 0.5 ml, dada por via subcutânea na parte lateral externa superior do braço esquerdo. 1. O local de injecção deve ser limpo com algodão mergulhado em água limpa para remover qualquer sujidade visível. 2. Segurar o braço da criança pela parte inferior, seus dedos devem estar a volta do braço
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