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Introdução ao Estudo do Direito Penal | Introdução www.cenes.com.br | 1 DISCIPLINA INTRODUAÇÃO AO ESTUDO DO DIREITO PENAL CONTEÚDO Fontes e Princípios do Direito Penal Introdução ao Estudo do Direito Penal | Introdução www.cenes.com.br | 2 A Faculdade Focus se responsabiliza pelos vícios do produto no que concerne à sua edição (apresentação a fim de possibilitar ao consumidor bem manuseá-lo e lê-lo). A instituição, nem os autores, assumem qualquer responsabilidade por eventuais danos ou perdas a pessoa ou bens, decorrentes do uso da presente obra. É proibida a reprodução total ou parcial de qualquer forma ou por qualquer meio, eletrônico ou mecânico, inclusive através de processos xerográficos, fotocópia e gravação, sem permissão por escrito do autor e do editor. 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Coliseo - Centro Cascavel - PR, 85801-050 Tel: (45) 3040-1010 www.faculdadefocus.com.br Este documento possui recursos de interatividade através da navegação por marcadores. Acesse a barra de marcadores do seu leitor de PDF e navegue de maneira RÁPIDA e DESCOMPLICADA pelo conteúdo. http://www.faculdadefocus.com.br/ mailto:secretaria.ff@faculdadefocus.com.br http://www.faculdadefocus.com.br/ Introdução ao Estudo do Direito Penal | Introdução www.cenes.com.br | 3 Sumário Sumário ------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 3 1 Introdução --------------------------------------------------------------------------------------------------- 4 2 Evolução histórica ----------------------------------------------------------------------------------------- 4 3 Conceito ------------------------------------------------------------------------------------------------------ 6 4 Fontes do Direito Penal ---------------------------------------------------------------------------------- 7 4.1 Fontes materiais ---------------------------------------------------------------------------------------------------------- 7 4.2 Fontes formais ------------------------------------------------------------------------------------------------------------ 8 4.3 Fontes formais a luz da doutrina moderna --------------------------------------------------------------------- 11 5 Intepretação Analógica vs. Analogia --------------------------------------------------------------- 13 5.1 Interpretação Extensiva e Interpretação Analógica ---------------------------------------------------------- 15 6 Princípios gerais do direito ----------------------------------------------------------------------------- 16 6.1 Princípio da Dignidade Humana ----------------------------------------------------------------------------------- 17 6.2 Princípio da Legalidade ----------------------------------------------------------------------------------------------- 18 6.3 Princípio da Reserva Legal ------------------------------------------------------------------------------------------- 19 6.4 Princípio da Irretroatividade da Lei Penal ----------------------------------------------------------------------- 21 6.5 Princípio da Individualização da Pena ---------------------------------------------------------------------------- 22 6.6 Princípio da Intranscendência da Pena -------------------------------------------------------------------------- 23 6.7 Princípio da Humanidade -------------------------------------------------------------------------------------------- 24 6.8 Princípio da Insignificância ou Bagatela ------------------------------------------------------------------------- 24 6.9 Princípio do Non Bis In Idem ---------------------------------------------------------------------------------------- 25 6.10 Princípio da Adequação Social ------------------------------------------------------------------------------------- 26 7 Conclusão --------------------------------------------------------------------------------------------------- 26 8 Referências Bibliográficas ------------------------------------------------------------------------------ 27 Introdução ao Estudo do Direito Penal | Introdução www.cenes.com.br | 4 1 Introdução O crime remonta as épocas mais remotas e antigas da sociedade, pois, o conflito está presente no mundo desde que as primeiras civilizações se formaram. Inclusive, o primeiro homicídio que se tem notícia é registrado nos textos sagrados da bíblia, do qual foram protagonistas Caim e Abel, os filhos de Adão e Eva. O ato descrito no livro de Gênesis apresenta como Caim, movido pela inveja e pelo ciúme, mata seu irmão Abel e, é banido do solo, sendo sentenciado a errância eterna. No entanto, até para aqueles céticos quanto a cultura bíblica, a maioria dos estudiosos da história afirmam que, junto com o homem surge o crime, ainda que não fosse denominado desta forma antigamente. Para o sociólogo Émile Durkheim o crime pode ser entendido como uma espécie de fenômeno social, que mantém aberto o canal de transformações que a sociedade precisa. É justamente neste aspecto que despontam os primeiros estudos a respeito do direito penal, já é a ciência utilizada para controlar e punir o comportamento humano desviante. Assim, nesta unidade vamos trabalhar os aspectos iniciais a respeito do estudo do direito penal, analisando o seu desenvolvimento histórico, as fontes e os princípios norteiam o estudo. 2 Evolução histórica O estudo do Direito Penal pode ser dividido em vários períodos distintos, que culminam no momento atual. Inicialmente, os estudos a respeito da ciência penal surgem com a vingança privada, vingança divina e a vingança pública, posterior a isso, nasce o período chamado “humanitário”, nos séculos XVII e XVIII com a ascensão da burguesia e dos pensamentos iluministas, se encerrando nas escolas penais. Durante a subsistência dos povos antigos, com a santificação de diversas entidades e, até pela própria igreja católica, na Idade Média, com o fomento de seus dogmas, as pessoas, por não compreenderem a maioria dos fenômenos naturais que ocorriam na época, acreditavam ser punições divinas por algum comportamento contrário aos costumes. Nas palavras de Rogério Sanches (2020) “quando membro do grupo social Introdução ao Estudo do Direito Penal | Evolução histórica www.cenes.com.br | 5 descumpria regras, ofendendo os "totens", era punido pelo próprio grupo, que temia ser retaliado pela divindade. Pautando-se na satisfação divina, a pena era cruel, desumana e degradante”. Assim, conforme destaca Bitencourt (2020) o princípio que prevalece na época é a satisfação do Deus ofendido com a conduta criminosa praticada pelo particular. Isto é, os responsáveis punem o criminoso com um rigor mais acentuado, pois, o castigo deve corresponder a grandeza do Deus ofendido, causando grande sofrimento ao indivíduo infrator. Posteriormente, se confundindo com a fase da vingança divina, surge a vingança privada, no qualprevalecia a máxima de quando um indivíduo prejudicasse ou ferisse outra pessoa de alguma forma, a punição não seria imposta pelo Estado ou por alguma divindade superior, mas sim pela própria pessoa prejudicada e, pelo fato de não haver nenhuma regulamentação neste sentido inicialmente, as punições era exageradas e cruéis, transgredindo, muitas vezes, a pessoa do condenado, atingindo seus familiares, parentes ou amigos próximos. É justamente inserido nesse contexto que surge o famoso Código de Hamurabi, com a Lei do Talião que, nas palavras de Rogério Sanches (2020), embora não se distanciasse da finalidade de vingança, representava um avanço para a sociedade. O autor destaca que “o Código de Hamurabi, na Babilônia, traz a regra do talião, onde a punição passou a ser graduada de forma a se igualar à ofensa. Todavia, esse sistema, embora adiantado em relação ao anterior, não evitava penas cruéis e desumanas, fazendo distinção entre homens livres e escravos, prevendo maior rigor para os últimos, ainda tratados como objetos”. Em seguida, diante da crescente interferência estatal na vida privada das pessoas, nasce a vingança pública. Esse é o período que revela uma maior organização da sociedade, de modo que o indivíduo transfere para o Estado, inicialmente representado pelos soberanos, a responsabilidade de punir o delinquente, que, em muitos casos, era castigado de forma desarrazoada. Assim, foi só a partir do século XVIII, diante de várias críticas realizadas por Montesquieu e Beccaria ao sistema penal Introdução ao Estudo do Direito Penal | Conceito www.cenes.com.br | 6 vigente na época, que a situação começa a ficar parecida com a nossa realidade atual. Através de suas obras, os pensadores buscavam a reforma e a separação dos poderes, bem como a proporcionalidade e razoabilidade entre a conduta e a pena imposta ao sujeito. 3 Conceito Como vimos anteriormente, o direito penal passou por grandes transformações ao longo do tempo, assim é possível analisar o conceito apresentado a essa ciência sob diferentes aspectos. Na visão de Cleber Masson (2020) o direito penal nada mais é do que “o conjunto de princípios e regras destinados a combater o crime e a contravenção penal, mediante a imposição de sanção penal”. Por outro lado, de acordo com Bitencourt (2020) o direito penal pode ser analisado, inicialmente, como um “conjunto de normas jurídicas que tem por objeto a determinação de infrações de natureza penal e suas sanções correspondentes”. No entanto, o seu conceito também pode se apresentar como um “conjunto de valorações e princípios que orientam a própria aplicação e interpretação das normas penais”. No mesmo sentido, Rogério Sanches (2020) acredita que o direito penal pode ser examinado sob os aspectos formal, material e sociológico. O primeiro aspecto considera que o direito penal é um “conjunto de normas que qualifica certos comportamentos humanos como infrações penais (crimes ou contravenções)”. Em contrapartida, segundo o aspecto material, o direito penal está associado a comportamentos extremamente reprováveis, que afetam o organismo social e prejudicam os bens jurídicos indisponíveis à sua própria conservação. Por fim, sob o aspecto sociológico, dizemos que o direito penal “é mais um instrumento de controle social de comportamentos desviados” que, tem o intuito de “assegurar a necessária disciplina social” e “a convivência harmônica dos membros do grupo”. Introdução ao Estudo do Direito Penal | Fontes do Direito Penal www.cenes.com.br | 7 4 Fontes do Direito Penal Quando é necessário averiguar a procedência de algo, buscamos sua fonte, algo que indique sua origem e a forma que se manifesta no cenário em que está inserido. Isso não é diferente no estudo do direto penal, pois, é justamente através de suas fontes materiais e formais que buscamos a origem da norma, de onde ela provém e como se apresenta no meio. 4.1 Fontes materiais As fontes materiais, também conhecidas como substanciais ou de produção, são representadas pelos próprios órgãos constitucionalmente encarregados de criar, elaborar e produzir as normas pertinentes para o direito penal. Assim, dispõe o inciso I do art. 22 da Constituição Federal que compete privativamente a União, em regra, legislar sobre as normas de direito penal. Inclusive, é justamente sob esse aspecto que se revela o princípio da reserva legal, ao passo que, o indivíduo só poderá ser responsabilizado por uma conduta tipificada em lei, devidamente aprovada e sancionada, respeitando o procedimento legislativo cabível. Além disso, com relação as medidas provisórias, ainda que o caput do art. 62 da Constituição Federal garanta a possibilidade de que, em caso de relevância e urgência, o Presidente da República adote medidas provisórias, com força de lei, submetendo- as de imediato ao Congresso Nacional, o próprio § 1º do mesmo artigo veda que o Presidente edite medidas provisórias sobre a matéria de direito penal, processual penal e processual civil. Dessa forma, quer dizer que um prefeito não pode legislar a respeito de matéria penal? não! devido ao princípio da reserva legal. Haja vista que isso vai competir apenas a União. Logo, só quem pode legislar, são os deputados, senadores, porque só o Legislativo pode promulgar normas de Direito Penal. Introdução ao Estudo do Direito Penal | Fontes do Direito Penal www.cenes.com.br | 8 Das leis Art. 62. Em caso de relevância e urgência, o Presidente da República poderá adotar medidas provisórias, com força de lei, devendo submetê-las de imediato ao Congresso Nacional. § 1º É vedada a edição de medidas provisórias sobre matéria: [...] b) direito penal, processual penal e processual civil; Ademais, é pertinente destacar que, embora seja competência exclusiva da União, o próprio art. 22 em seu parágrafo único, apresenta uma exceção, propondo que, além da União os Estado, por meio de Lei complementar, também poderão legislar sobre questões específicas pertinentes ao assunto. Neste aspecto, Rogério Sanches (2020) destaca que, se consideram questões específicas para a Magna Carta, somente aquelas questões de “interesse local, jamais temas fundamentais do Direito Penal, como princípio da legalidade, causas de exclusão da ilicitude ou da culpabilidade, configuração do delito”. Isto é, em suma, as fontes materiais do direito penal são, em um primeiro momento a União, por força do art. 22, inciso I da CF, e, em caráter excepcional os Estados, que através de Lei complementar, poderão legislar sobre questões específicas pertinentes ao assunto, nos termos do parágrafo único do mesmo artigo. 4.2 Fontes formais Por outro lado, as fontes formais do direito penal são aquelas que transmitem o Direito Penal em si, são os meios pelos quais as normas se revelam. São as chamadas fontes de conhecimento ou de cognição e podem ser classificadas em imediatas/diretas ou mediatas/indiretas. Assim, para a doutrina clássica, as únicas fontes formais imediatas são as leis, desenvolvidas e propostas pelo Poder Legislativo, nos termos da Constituição Federal, ou seja, as fontes formais diretas serão as leis, na verdade, o Código Penal e, em regra, Introdução ao Estudo do Direito Penal | Fontes do Direito Penal www.cenes.com.br | 9 as leis penais especiais. Inclusive, conforme determina o inciso XXXIX do art. 5º da CF, o único instrumento capaz de tipificar crimes ou contravenções penais e cominar penas é a Lei. Dos direitos e deveres individuais e coletivos Art. 5º [...] XXXIX - não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem prévia cominação legal. Desta forma, considerando que o Direito Penal se revela para a sociedade através das fontes formais, dispensando as discussões morais, você só sabe que você sabe que matar alguém crime, porque de acordocom o art. 121 do Código Penal, essa conduta é considerada ilícita e será punida com reclusão de 06 a 20 anos, se cometido na modalidade simples. Outro exemplo disso é o crime de tráfico de drogas, tipificado no artigo 33 da Lei 11.343 de 2006. A lei é a mais pura expressão do direito penal, por isso, é considerada, a luz da doutrina clássica, como a única fonte formal imediata/direta. Por outro lado, diferente do que ocorre nas fontes imediatas, as fontes formais mediatas possuem um caráter residual, ou seja, tudo aquilo que não for considerado Lei, como a jurisprudência, os costumes, os princípios, a doutrina, os tratados e as convenções internacionais, entre outros, mas que ainda servem como uma fonte para o Direito Penal, serão considerados mediatos ou indiretos. Introdução ao Estudo do Direito Penal | Fontes do Direito Penal www.cenes.com.br | 10 Neste caso, devemos tomar cuidado com duas situações, a primeira é com relação aos princípios, pois, ainda que por si só não sejam considerados fontes imediatas do direito, nada impede que o legislador crie dispositivos legais baseados em alguns princípios, é o que ocorre com o princípio da Legalidade por exemplo, amparado tanto pelo art. 5º, XXXIX da Constituição Federal, quanto pelo art. 1º do Código Penal. O segundo aspecto é com relação aos costumes, ações cotidianas praticadas de forma reiterada por indivíduos de uma mesma sociedade, que, assim como os princípios, podem influenciar na criação de novos dispositivos legais. Diante da prática reiterada de alguma conduta imoral ou que seja punida apenas a título de contravenção penal, o legislador poderá entender por bem transformá-la em crime. É o caso do art. 215-A do Código Penal que, pelo fato de ter havido várias condutas reiteradas, o legislador em setembro de 2018, tipifica como criminosa, a importunação sexual. Violação sexual mediante fraude Art. 215-A. Praticar contra alguém e sem a sua anuência ato libidinoso com o objetivo de satisfazer a própria lascívia ou a de terceiro: Pena - reclusão, de 1 (um) a 5 (cinco) anos, se o ato não constitui crime mais grave. Contudo, tenha em mente que, é absolutamente vedado a hipótese do costume incriminador, conforme falamos anteriormente, o legislador só poderá criar tipos ou contravenções penais através de Lei (princípio da reserva legal). Neste sentido, como bem destaca Rogério Sanches (2020) “o costume, na ausência de lei (praeter legem), não pode dar vida a novas figuras incriminadoras, embora tenha eficácia em outros setores do direito penal, vg., atuando como causa supra legal de exclusão da ilicitude ou mesmo da culpabilidade”. Introdução ao Estudo do Direito Penal | Fontes do Direito Penal www.cenes.com.br | 11 Figura 1 – Fontes do Direito Penal segundo a doutrina clássica. Fonte: Núcleo Editorial Faculdade Focus 4.3 Fontes formais a luz da doutrina moderna A doutrina moderna, sustentada por Rogério Sanches (2020), considera que, embora a doutrina tradicional tenha consolidado a classificação acima apresentada, entendemos que este rol exige uma atualização, fomentada, inclusive, pela EC n° 45 (Reforma do Sistema Judiciário)”. De modo que, o rol das fontes imediatas seria complementado e o das fontes mediatas seriam revistos, da seguinte forma: FONTES DO DIREITO PENAL Fonte material Regra - União (art. 22, I, CF) Exceção - Estados, em assuntos específicos (art. 22, P.Ú., CF) Fonte formal Imediata Lei Mediata Doutrina, jurisprudência, costumes, tratados e convenções internacionais, entre outros. Introdução ao Estudo do Direito Penal | Fontes do Direito Penal www.cenes.com.br | 12 Figura 2 – Fontes do Direito Penal a luz da doutrina moderna. Fonte: Núcleo Editorial Faculdade Focus. Em outras palavras, para a doutrina moderna todos os aspectos formais propostos pela doutrina clássica deveriam ser revistos, ou seja, a luz da doutrina moderna considera-se fontes formais imediatas a lei, a Constituição Federal, os tratados e as convenções internacionais que versem sobre direitos humanos, a jurisprudência, os princípios e a analogia da norma, que é representada por eventuais complementos realizados na norma penal em branco. Ao passo que, restariam como fonte formal mediata, a doutrina. Por fim, é importante destacar que, embora sustentada pela doutrina moderna, esse pensamento não é o que prevalece na doutrina majoritária, trazemos no material apenas a título de conhecimento. FONTES DO DIREITO PENAL Fonte material Regra - União (art. 22, I, CF) Exceção - Estados, em assuntos específicos (art. 22, P.Ú., CF) Fonte formal Imediata Lei, Constituição Federal, tratados e convenções internacionais de direitos humanos, jurisprudência, princípios, analogia (complementos da norma) Mediata Doutrina Introdução ao Estudo do Direito Penal | Intepretação Analógica vs. Analogia www.cenes.com.br | 13 5 Intepretação Analógica vs. Analogia Muitas vezes, quando o legislador cria uma norma, não consegue expressar com tanta clareza a real intenção do dispositivo legal ou, em algumas situações, seja por obviedade ou por puro e simples esquecimento, deixa de contemplar algumas situações relevantes para a boa compreensão do interlocutor e, é justamente por isso que surgem as diversas formas de interpretação da norma. De acordo com Rogério Sanches (2020) “interpretar significa buscar o preciso significado de um texto, palavra ou expressão, delimitando o alcance da lei, guiando o operador para a sua correta aplicação”. Ainda, conforme destaca Cleber Masson (2020), é através da interpretação que buscamos a verdadeira vontade da lei, o seu sentido normativo e significado. O autor destaca ainda que “a interpretação sempre é necessária, ainda que a lei se mostre, inicialmente, inteiramente clara, pois podem surgir dúvidas quanto ao seu efetivo alcance. O que ela abrange de modo imediato eventualmente não é tudo quanto pode incidir no seu campo de atuação”. A interpretação da norma pode se manifestar de diversas formas no estudo do direito penal, podendo ser progressiva, endofórica ou analógica; ou ainda voltada ao sujeito, aos meios ou métodos aplicados, ao resultado, entre outros. No entanto, embora tenham nomes parecidos, a forma de interpretação analógica não se confunde com a analogia, trataremos melhor a respeito dessa diferença na sequência. Nas palavras de Rogério Sanches (2020) “na interpretação analógica (ou infra legem) o Código, atendendo ao princípio da legalidade, detalha todas as situações que quer regular e, posteriormente, permite que aquilo que a elas seja semelhante possa também ser abrangido no dispositivo”. Em termos técnicos, a interpretação analógica se faz necessária quando, na norma penal estão compreendidos elementos casuísticos seguidos de elementos genéricos, incluídos para facilitar o enquadramento da norma as diversas situações práticas que se apresentam no direito penal. Assim, conforme destaca Renato Brasileiro de Lima (2020) a interpretação analógica permite que o operador do direito, diante das inúmeras e imprevisíveis possibilidades práticas existentes no direito penal, analise a norma e amplie o seu alcance de forma Introdução ao Estudo do Direito Penal | Intepretação Analógica vs. Analogia www.cenes.com.br | 14 significativa, desde que sempre atento ao princípio da legalidade. Diferente do que ocorre na analogia, que se trata de um método de integração da norma, utilizado com o intuito de suprir eventuais lacunas na lei. Neste sentido, Cleber Masson (2020) afirma que a analogia “não se trata de interpretação da lei penal. De fato, sequer há lei a ser interpretada. Cuida-se, portanto, de integração ou colmatação do ordenamento jurídico. A lei pode ter lacunas, mas não o ordenamento jurídico. Em outras palavras, a analogia“também conhecida como integração analógica ou suplemento analógico, é a aplicação, ao caso não previsto em lei, de lei reguladora de caso semelhante”. Em suma, na interpretação analógica, embora não seja de forma explícita, a norma já apresenta em seu bojo as hipóteses em que a norma poderá ser aplicada e o seu âmbito de incidência, a própria norma autoriza a sua aplicação aos casos semelhantes por ela regulamentado. Já, na analogia, é uma forma de integração da norma, não existe brecha para interpretação no dispositivo legal. A analogia é utilizada para suprir eventuais lacunas na lei, com elementos buscados no próprio ordenamento jurídico. A analogia pode ser dividida em in malam partem e in bonam partem. A primeira possibilidade ocorre quando, a lacuna existente no dispositivo é preenchida com uma norma mais prejudicial, que cause algum malefício para o réu, essa modalidade não é admitida no Direito Penal. Já, a analogia in bonam partem, diferente da outra pode ser aplicada ao direito penal, quando, diante de uma omissão na norma, aplica-se outra mais favorável ao réu. Desta forma, com relação a aplicação da analogia no âmbito do direito penal, a luz do princípio da reserva legal, a doutrina é unânime ao afirmar que, o recurso só será utilizado quando favorável ou réu (in bonam partem) e, quando restar efetivamente comprovado que existe uma lacuna na norma. É o que ocorre, por exemplo, no caso do aborto legal diante de uma gravidez resultante de estupro (art. 128, II, CP) que, embora não mencione a possibilidade de ser realizado nos casos de estupro de vulnerável (art. 217-A, CP), é possível analogia, pois, o fundamento da interrupção da gravidez é evitar que a presença do filho represente para a mãe grandes perturbações Introdução ao Estudo do Direito Penal | Intepretação Analógica vs. Analogia www.cenes.com.br | 15 psicológicas. Por fim, é válido destacar que, a analogia foi colocada muito tempo como sendo uma fonte formal indireta e, hoje, a maioria dos doutrinadores contemporâneos consideram-na como sendo um preceito integrador da norma penal e não simplesmente como algo que serve de supedâneo ou base, para que ela, então, seja aplicada. Ainda, a luz da doutrina contemporânea, a analogia é uma autointegração da norma, porque se é possível valer-se de um outro preceito normativo e aplicar no Direito Penal, especialmente se favorável ao acusado. 5.1 Interpretação Extensiva e Interpretação Analógica Outra situação que pode se mostrar contraditória são os casos de interpretação extensiva da norma e a analogia. Um exemplo disso, é o art. 176 do Código Penal que traz a previsão do crime de tomar refeições, alojar-se ou utilizar meios de transportes sabendo que não tem recursos para realizar o pagamento. Outras fraudes Art. 176 - Tomar refeição em restaurante, alojar-se em hotel ou utilizar-se de meio de transporte sem dispor de recursos para efetuar o pagamento: Pena - detenção, de quinze dias a dois meses, ou multa. Parágrafo único - Somente se procede mediante representação, e o juiz pode, conforme as circunstâncias, deixar de aplicar a pena. Diante disso, caso o indivíduo deixe de pagar um lanche em uma lanchonete, poderá ser aplicada a norma de forma análoga? não! porque nesse caso não existe uma lacuna na norma, a lei declara expressamente o indivíduo que “tomar refeição em restaurante”. Contudo, nesta hipótese, compreende-se a interpretação extensiva, admitida no ordenamento penal, quando se estende a palavra “restaurante”, para todo o lugar que o sujeito possa, de alguma forma, tomar a sua refeição. Portanto, embora parecidas, uma coisa é a lacuna da norma e outra coisa é estender o preceito interpretativo da norma para que se possa aplicar o dispositivo a casos semelhantes, Introdução ao Estudo do Direito Penal | Princípios gerais do direito www.cenes.com.br | 16 ambas as possibilidades são admitidas no ordenamento jurídico atual. Outro exemplo, refere-se ao artigo 121, § 2º, inciso I, do Código Penal, nota-se a questão do pagamento, no entanto não é possível identificar a que se refere o “motivo torpe”. Homicídio qualificado § 2° Se o homicídio é cometido: I - mediante paga ou promessa de recompensa, ou por outro motivo torpe; [...] IV - à traição, de emboscada, ou mediante dissimulação ou outro recurso que dificulte ou torne impossível a defesa do ofendido; O inciso IV se refere a traição, emboscada, dissimulação, mas quando cita “outro recurso”, não fica claro o entendimento. Dessa forma, para a interpretação do código se faz necessário utilizar uma das várias formas de interpretações. Neste sentido, corroborando com o entendimento, Renato Brasileiro de Lima (2020) destaca que “diferencia-se a analogia da interpretação extensiva porque naquela o caso a ser solucionado não está compreendido na hipótese de incidência da regra a ser aplicada, daí por que se fala em aplicação analógica, e não em interpretação analógica”. 6 Princípios gerais do direito Os princípios gerais do direito são importantes para o Direito Penal, pois, é através deles que consideramos algumas premissas básicas a respeito do crime, da punição e de como ela será aplicada ao sujeito. Nas palavras de Cleber Masson (2020), os princípios gerais do direito são valores fundamentais, que instigam a criação e a preservação do ordenamento jurídico como um todo. Segundo o autor, eles “têm a função de orientar o legislador ordinário, e também o aplicador do Direito Penal, no intuito de limitar o poder punitivo estatal mediante a imposição de garantias aos cidadãos”. Introdução ao Estudo do Direito Penal | Princípios gerais do direito www.cenes.com.br | 17 No mesmo sentido, Guilherme Nucci (2019) afirma que, “os princípios são normas com elevado grau de generalidade, aptos a envolver inúmeras situações conflituosas com o objetivo de solucioná-las. Não possuem a especificidade de uma regra, que contém um comando preciso e determinado, mas constituem proposituras amplas o suficiente para englobar as regras, dando-lhes um rumo, mormente quando há conflito entre elas”. Assim, podemos listar como princípios gerais aplicáveis ao direito penal, dentre outros, o seguinte: a) princípio da dignidade da pessoa humana; b) princípio da legalidade; c) princípio da reserva legal; d) princípio da irretroatividade da lei penal; e) princípio da instranscendência da pena; f) princípio da humanidade; g) princípio da insignificância; h) princípio do non bis in idem; i) princípio da adequação social. Veremos melhor cada uma dessas possibilidades na sequência. 6.1 Princípio da Dignidade Humana Na doutrina o princípio da dignidade da pessoa humana é a máxima do direito, consagrado no inciso III do art. 1º da Constituição Federal, é considerado um valor absoluto na constituição do Estado Democrático de Direito. Portanto, esse valor não deve ser respeitado apenas no direito penal, mas em todas as relações estabelecidas pelo ordenamento jurídico pátrio, tanto na imposição quanto na execução do Direito. No entanto, em que pese tamanha sua importância para o estudo do direito, a doutrina não mantém um consenso a respeito de sua definição. Nas palavras de Guilherme Nucci (2019) “o que se pode encontrar são vários pontos de contato, suficientes para a compreensão universal do que venha a significar e qual deve ser o seu alcance”. Portanto, a luz da doutrina moderna, conforme destaca Bernardo Gonçalves Fernandes (2020), o princípio da dignidade da pessoa humana “seria um superprincípio, como uma norma dotada de maior importância e hierarquia que as demais, que funcionaria como elemento de comunhão entre o Direito e a moral, na qual o primeiro se fundamenta na segunda, encontrando sua base de justificação racional”. Assim, no âmbito do direito penal, o princípio da dignidade da pessoahumana exerce Introdução ao Estudo do Direito Penal | Princípios gerais do direito www.cenes.com.br | 18 um papel fundamental, pois, é em função dele que não se pode aplicar ao indivíduo penas que violem ou ofendam a integridade física da pessoa, ou seja, ainda que esteja recluso em estabelecimento prisional, será garantido ao sujeito condições mínimas para a sua subsistência, com alimentação, higiene, educação e lazer. Além disso, por força do princípio da dignidade da pessoa humana e respeitando os fundamentos básicos dos direitos humanos, no Brasil são vedadas as penas de caráter perpétuo, de morte, de trabalhos forçados, cruéis e de banimento. 6.2 Princípio da Legalidade Muitas são as teorias que remontam o surgimento do princípio da legalidade, uma parcela da doutrina diz que a legalidade começa a ser cogitada ainda no Direito Romano, outros afirmam que o conceito surge na Carta do Rei João Sem Terra. No entanto, a posição que prevalece no direito é de que o princípio da legalidade surgiu no contrato social, formulado no século XVIII durante o período iluminista, sendo, posteriormente, aceito e difundido na Revolução Francesa (SANCHES, 2020). Além disso, o princípio da legalidade é expresso na obra Direito e Razão de Luigi Ferrajoli que, representa em 10 axiomas os valores, garantias e princípios básicos que devem ser observados no direito penal e no processo penal, bem como, assegurados a todo e qualquer acusado que venha a responder criminalmente por determinada conduta. Cada axioma expressa um valor fundamental, dispondo sobre a liberdade pessoal do indivíduo, a igualdade perante a lei e sobre a legalidade do julgamento. Segundo o autor, a legalidade é o ponto central do garantismo penal. No Brasil não é diferente, previsto no rol de direitos e garantias fundamentais da Constituição Federal, dispõe o art. 5º em seus incisos II e XXXIX que, “ninguém será Introdução ao Estudo do Direito Penal | Princípios gerais do direito www.cenes.com.br | 19 obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei”, ou, voltado ao direito penal, “não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem prévia cominação legal”. Essa última reproduzida no art. 1º do Código Penal, para representar a supremacia dos princípios da legalidade e da anterioridade da lei. Nas palavras de Rogério Sanches (2020) o princípio da legalidade “trata-se de real limitação ao poder estatal de interferir na esfera de liberdades individuais, daí sua inclusão na Constituição entre os direitos e garantias fundamentais”. Além disso, outra perspectiva levantada por esse princípio, está associada a elaboração das normas incriminadores que, conforme destaca Bitencourt (2020) “é função exclusiva da lei, isto é, nenhum fato pode ser considerado crime e nenhuma pena criminal pode ser aplicada sem que antes da ocorrência desse fato exista uma lei definindo-o como crime e cominando-lhe a sanção correspondente”. Por isso, muitas vezes, encontramos o princípio da legalidade relacionado ao princípio da reserva legal. Assim, é possível afirmar que, o princípio da legalidade surge como uma forma de limitar o poder estatal, garantindo que o indivíduo só seja acusado por algo que esteja tipificado como crime por uma lei devidamente constituída, ou que seja punido de forma diversa daquela estabelecida em lei. Isto é, por exemplo, ninguém poderá ser responsabilizado por uma ação praticada em 2010 que só passou a ser considerada criminosa em 2015. Esse entendimento se desdobra em dois outros princípios o da anterioridade e o já citado princípio da reserva legal. 6.3 Princípio da Reserva Legal O princípio da reserva legal, como falamos a pouco, é um desdobramento do princípio da legalidade, pois, assim como ele, encontra fundamento legal no art. 5º, incisos II e XXXIX da Constituição Federal. Art. 5º [...] II - ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei; [...] Introdução ao Estudo do Direito Penal | Princípios gerais do direito www.cenes.com.br | 20 XXXIX – não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem prévia cominação legal. De acordo com Rogério Sanches (2020) o princípio da reserva legal se traduz no entendimento de que “a infração penal somente pode ser criada por lei em sentido estrito, ou seja, lei complementar ou lei ordinária, aprovadas e sancionadas de acordo com o processo legislativo respectivo, previsto na CF/88 e nos regimes internos da Câmara dos Deputados e Senado Federal”. Além disso, voltado para a matéria penal, dispõe o inciso I do art. 22 da Constituição Federal que, compete privativamente a União legislar sobre a matéria penal. Em outras palavras, no que diz respeito a matéria penal, esta, só poderá ser disciplinada através de lei ordinária ou de lei complementar, sendo inclusive vedada sua apreciação por meio de medidas provisórias (art. 62, §1º, I, “b”). Art. 62. Em caso de relevância e urgência, o Presidente da República poderá adotar medidas provisórias, com força de Lei, devendo submetê-las de imediato ao Congresso Nacional. § 1º É vedada a edição de medidas provisórias sobre matéria: [...] b) direito penal, processual penal e processual civil. Assim, embora o artigo 62 autorize que o Presidente da República, em caso de relevância e urgência, adote medidas provisórias com força de lei, para a tratar de determinados assuntos, será vedado a este, editar Medidas Provisórias que versem sobre a matéria de direito penal, processual penal e processual civil. Por fim, é pertinente destacar que, embora seja competência exclusiva da União, o próprio art. 22 em seu parágrafo único, apresenta uma exceção, propondo que, além da União os Estado, por meio de Lei complementar, também poderão legislar sobre questões específicas pertinentes ao assunto. Introdução ao Estudo do Direito Penal | Princípios gerais do direito www.cenes.com.br | 21 6.4 Princípio da Irretroatividade da Lei Penal O princípio da irretroatividade da lei penal, também conhecido como princípio da anterioridade, está expresso no art. 5º, inciso XL da Constituição Federal, o qual declara que “a lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar o réu”. A irretroatividade, como princípio geral do Direito Penal moderno, embora de origem mais antiga, é consequência das ideias consagradas pelo Iluminismo, insculpida na Declaração Francesa dos Direitos do Homem e do Cidadão, de 1789” (BITENCOURT, 2020). Assim como o princípio da reserva legal, trata-se de uma vertente do princípio da legalidade, pois, em regra a lei penal só começa a produzir efeitos a partir da data em que entra em vigor no ordenamento jurídico, depois de superado o período de vacatio legis, não atingindo, em regra, as situações que ocorreram antes disso. Contudo, de forma excepcional, conforme destaca o referido artigo, é possível que a Lei retroaja no tempo para beneficiar o réu e, até mesmo, aquele indivíduo já condenado. Em outras palavras, toda vez que se tem uma norma penal mais gravosa, não se aplica, porque é preciso levar em consideração a norma que estava vigente durante a prática do crime. No entanto, conforme destaca Rogério Sanches (2020) a “esta retroatividade da lei benéfica é determinada por razões de política criminal, autorizando que a lei nova – que deveria produzir efeitos a partir da sua entrada em vigor – produza efeitos sobre as ações ou omissões realizadas antes de sua existência no mundo jurídico”. Isto é, em regra, a lei penal não retroage, especialmente se prejudicial ao acusado, além de que ela só passa a produzir efeitos a partir do período de vacatio legis. Entretanto, quando se tratar de uma novatio leis in melius ou de uma lei penal mais favorável, a regra é excepcionada, de modo que a norma retroagirá no tempo, alcançando fatosanteriores a sua promulgação. Além disso, também aproveitará da retroatividade penal o abolitio criminis, ou seja, quando uma conduta deixa ser considerada crime no ordenamento jurídico, nenhum sujeito, ainda que já condenado pela prática abolida, será obrigado a responder por ela. Por fim, é válido destacar o entendimento de Cleber Masson (2020) a respeito da retroatividade da lei penal. O autor afirma que o fenômeno jurídico da novatio leis in Introdução ao Estudo do Direito Penal | Princípios gerais do direito www.cenes.com.br | 22 melius pode ser verificado quando, “ocorrendo sucessão de leis penais no tempo, o fato previsto como crime ou contravenção penal tenha sido praticado na vigência da lei anterior, e o novel instrumento legislativo seja mais vantajoso ao agente, favorecendo-o de qualquer modo”. Assim, considerando caso a caso, deve-se aplicar a situação em concreto a lei que representar um resultado mais vantajoso (benéfico) ao agente. 6.5 Princípio da Individualização da Pena Existem alguns princípios que são atrelados as penas, por exemplo, quando o sujeito comete um ilícito penal, o Estado deve analisar a conduta e aplicar a sanção cabível a situação praticada de forma individual, examinando a condição de cada um. É a máxima expressa no art. 5º, inciso XLVI da Constituição Federal que, além de fixar a individualização, elenca os tipos penais que podem ser utilizados no direito penal. Art. 5º [...] XLVI - a lei regulará a individualização da pena e adotará, entre outras, as seguintes: a) privação ou restrição da liberdade; b) perda de bens; c) multa; d) prestação social alternativa; e) suspensão ou interdição de direitos. Na prática, o tipo penal é composto por duas premissas a primária e a secundária. O preceito primário é a descrição do fato considerado criminoso, por exemplo, no crime de furto (art. 155 do CP) o preceito primário é “subtrair, para si ou para outrem, coisa alheia móvel”. Já o preceito secundário é a pena imposta ao delito em questão, no caso do nosso exemplo “Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa”. Observe que, inicialmente a conduta recebe uma sanção genérica, mas isso não quer dizer que todo e qualquer indivíduo que praticá-la será, necessariamente, submetido a essa pena, o mínimo e o máximo estabelecidos servem apenas para balizar o magistrado na aplicação individual da pena. Introdução ao Estudo do Direito Penal | Princípios gerais do direito www.cenes.com.br | 23 No Brasil adotamos o sistema trifásico para a dosimetria da pena, ou seja, para que o magistrado consiga respeitar o princípio da individualização da pena e aplicar uma sanção específica para cada indivíduo com base na conduta realizada, deve fragmentar o cálculo em três momentos. Assim, além da pena mínima e máxima cominada ao delito, na 1ª fase, para a fixação da pena base, o juiz deve fase uma análise subjetiva, considerando os fatores do art. 59 do CP. Já, na a 2ª fase, o magistrado deve considerar a existência de circunstâncias atenuantes ou agravantes (arts. 61 e 62, CP). Por fim, na 3ª e última fase, o juiz deve analisar a presença de eventuais causas de aumento ou diminuição de pena. Todo esse processo faz com que cada indivíduo receba exatamente a sanção que merece pela prática de determinada conduta. 6.6 Princípio da Intranscendência da Pena Antigamente era comum que as penas passassem da pessoa do condenado, em diversas situações, na falta do infrator condenado, a pena que lhe foi imposta passava aos seus herdeiros. No entanto, essa prática já não é mais vista com bons olhos, na realidade desde 1824 com o advento da Constituição do Império, o princípio da intranscendência da pena veda essa prática no ordenamento jurídico. Na Constituição de 1988, o princípio da intranscendência, está previsto no artigo 5º, inciso XLV da Constituição Federal e, de acordo com ele, “nenhuma pena passará da pessoa do condenado, podendo a obrigação de reparar o dano e a decretação do perdimento de bens ser, nos termos da Lei, estendidas aos sucessores e contra eles executadas, até o limite do valor do patrimônio transferido”. Assim, considerando o disposto no art. 32 do Código Penal, são espécies de penas, as privativas de liberdade, as restritivas de direito e as de multa. Essas penas são restritas ao indivíduo infrator e ficarão restritas a ele, não atingindo outras pessoas, inclusive, se o acusado ou o condenado vier a falecer antes de cumprir ou durante o cumprimento da pena, sua punibilidade é extinta, nos termos do art. 107, inciso I do Código Penal. Extinção da punibilidade Art. 107 – Extingue-se a punibilidade: Introdução ao Estudo do Direito Penal | Princípios gerais do direito www.cenes.com.br | 24 I – pela morte do agente. No entanto, como no direito são poucas as coisas que não comportam exceção, o princípio da intranscendência não é absoluto e, o próprio inciso XLV do artigo 5º da Constituição Federal aponta uma ressalva a regra, no que diz respeito a obrigação de reparar o dano e a decretação de perdimento de bens. Isto é, nos termos do art. 91 do Código Penal, quando a vítima sofre algum prejuízo material ou moral com a prática ilícita, é obrigação do indivíduo indenizar o dano causado pelo crime, podendo inclusive, ser decretada a perda de bens e valores. Assim, nesses casos, além das penas privativas de liberdade, restritivas de direito ou multa, o autor do crime também pode ser condenado a reparação de eventuais danos, podendo esta última, no caso de falecimento do condenado, passar aos seus sucessores, sendo o montante, por obvio, limitado ao valor do patrimônio transferido como herança. 6.7 Princípio da Humanidade O princípio da humanidade se refere às penas e traz a forma como elas devem ser cumpridas. Influenciado pelos eventos pós-guerra e pela Declaração Universal dos Direitos Humanos, o princípio da humanidade veda a aplicação de penas que violem a dignidade da pessoa humana ou que lesionem, de qualquer forma, a constituição físico-psíquica dos condenados, garantindo um tratamento digno a todas as pessoas, independente se estiver encarcerado ou não. De acordo com Bitencourt (2020) a princípio da humanidade defende “a proscrição de penas cruéis e infamantes, a proibição de tortura e maus-tratos nos interrogatórios policiais e a obrigação imposta ao Estado de dotar sua infraestrutura carcerária de meios e recursos que impeçam a degradação e a dessocialização dos condenados são corolários do princípio de humanidade”. 6.8 Princípio da Insignificância ou Bagatela Conforme destaca Rogério Sanches (2020) “sob o aspecto hermenêutico, o princípio da insignificância pode ser entendido como um instrumento de interpretação restritiva do tipo penal”. Assim, embora não tenha previsão legal no ordenamento Introdução ao Estudo do Direito Penal | Princípios gerais do direito www.cenes.com.br | 25 jurídico, o princípio da insignificância surge através de uma construção doutrinária e jurisprudencial, de modo que para a sua aplicação o jurista deve considerar alguns aspectos. Figura 3 – Elementos do princípio da insignificância. Fonte: Núcleo Editorial Faculdade Focus. Desta forma, é importante destacar que, o princípio da bagatela não está unicamente atrelado ao valor da coisa, ao passo que também devem ser considerados a ausência de periculosidade da ação, o baixo grau de reprovabilidade e a mínima ofensividade. Portanto, conforme destaca Bitencourt (2020) “a insignificância reside na desproporcional lesão ou ofensa produzida ao bem jurídico tutelado, com a gravidade da sanção cominada. A insignificância situa-se no abismo que separa o grau da ofensa produzida (mínima) ao bem jurídico tutelado e a gravidade da sanção que lhe é cominada”. 6.9 Princípio do Non Bis In Idem O princípio do non bis in idem, assim comovários outros, é uma vertente do princípio da dignidade da pessoa humana e, embora não esteja consagrado de forma expressa na nossa Constituição Federal de 1988, é manifestado no Pacto de São José da Costa Rica, do qual o Brasil é signatário. Introdução ao Estudo do Direito Penal | Conclusão www.cenes.com.br | 26 Assim, conforme destaca Rogério Sanches (2020) o princípio do non bis in idem pode ser analisado sob três perspectivas: a processual, que impede o sujeito de ser processado duas vezes pela mesma conduta; a material, onde ninguém pode ser condenado pelo mesmo crime duas vezes; e a execucional que, veda a dupla execução do sujeito por condenações relacionadas ao mesmo fato criminoso. 6.10 Princípio da Adequação Social Idealizado pelo jurista Hans Welzel, o princípio da adequação social estabelece que, determinado comportamento, embora ilícito nos termos da lei, se estiver em conformidade com o meio social estabelecido, será considerado atípico. De acordo com Bitencourt (2020) “segundo esta teoria, as condutas que se consideram “socialmente adequadas” não se revestem de tipicidade e, por isso, não podem constituir delitos”. Nas palavras de Rogério Sanches (2020), o princípio da adequação social presa por duas funções básicas, a primeira é com relação ao âmbito de abrangência do direito penal, de modo que ele não precisa mais se preocupar com as condutas “aceitas” pela sociedade. A segunda função está atrelada aos bens jurídicos tutelados pela matéria penal, de modo que o princípio atua no processo de descriminalização de condutas. 7 Conclusão Nesta unidade, falamos a respeito das fontes materiais e formais do direito penal, inclusive sob a perspectiva da doutrina moderna, abordamos a ideia de interpretação analógica distinguindo-a da analogia e da interpretação extensiva da norma, pois, embora sejam semelhantes na prática, tratam-se de situações distintas. Por fim, relacionamos alguns princípios gerais do direito, pontuando seus aspectos mais importantes e destacando sua importância na esfera penal. Introdução ao Estudo do Direito Penal | Referências Bibliográficas www.cenes.com.br | 27 8 Referências Bibliográficas BITENCOURT, Cezar Roberto. Parte geral: coleção tratado de direito penal volume 1. 26 ed. São Paulo: Saraiva Educação, 2020. CUNHA, Rogério Sanches. Manual de direito penal: parte geral (arts. 1° ao 120). 8 ed. rev., ampl. e atual. Salvador: JusPODIVM, 2020. FERNANDES, Bernardo Gonçalves. Curso de Direito Constitucional. 12 ed. rev., atual, e ampl. Salvador: JusPodivm, 2020. LIMA, Renato Brasileiro de. Manual de processo penal: volume único. 8 ed. rev., ampl. e atual. Salvador: Ed. JusPodivm, 2020. MASSON, Cleber. Direito Penal: parte geral (arts. 1º a 120). 14 ed. Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: Método, 2020. NUCCI. Guilherme de Souza. Curso de Direito Penal: parte geral: arts. 1º a 120 do Código Penal. 3 ed. Rio de Janeiro: Forense, 2019. Introdução ao Estudo do Direito Penal | Referências Bibliográficas www.cenes.com.br | 28 Sumário 1 Introdução 2 Evolução histórica 3 Conceito 4 Fontes do Direito Penal 4.1 Fontes materiais 4.2 Fontes formais 4.3 Fontes formais a luz da doutrina moderna 5 Intepretação Analógica vs. Analogia 5.1 Interpretação Extensiva e Interpretação Analógica 6 Princípios gerais do direito 6.1 Princípio da Dignidade Humana 6.2 Princípio da Legalidade 6.3 Princípio da Reserva Legal 6.4 Princípio da Irretroatividade da Lei Penal 6.5 Princípio da Individualização da Pena 6.6 Princípio da Intranscendência da Pena 6.7 Princípio da Humanidade 6.8 Princípio da Insignificância ou Bagatela 6.9 Princípio do Non Bis In Idem 6.10 Princípio da Adequação Social 7 Conclusão 8 Referências Bibliográficas
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