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0 1 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 2 2 A IMAGEM ............................................................................................................... 3 3 APRENDENDO A INTERPRETAÇÃO A PARTIR DA IMAGEM ............................. 3 4 TEORIAS DE APRECIAÇÃO ESTÉTICA NA LEITURA DE IMAGENS .................. 9 5 DIFERENTES TEORIAS DE LEITURA DE IMAGENS .......................................... 11 6 OS PRINCIPAIS ELEMENTOS DAS TEORIAS DE APRECIAÇÃO ESTÉTICA ... 13 7 A EDUCAÇÃO DO OLHAR NO ENSINO DA ARTE ............................................. 14 7.1 Leitura de imagem ............................................................................................... 17 7.2 A leitura crítica do mundo .................................................................................... 18 7.3 A leitura da obra de arte ...................................................................................... 19 8 O PAPEL DO PROFESSOR NA APRECIAÇÃO ESTÉTICA ................................ 23 9 A LINGUAGEM VISUAL ........................................................................................ 23 9.1 Os elementos que constituem a linguagem visual ............................................... 24 9.2 Os elementos morfológicos ................................................................................. 25 9.3 Os elementos dinâmicos ..................................................................................... 26 9.4 Os elementos escalares ...................................................................................... 27 9.5 As linguagens visuais da esfera midiática ........................................................... 28 10 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .................................................................... 31 2 1 INTRODUÇÃO O Grupo Educacional FAVENI, esclarece que o material virtual é semelhante ao da sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – quase improvável - um aluno se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor e fazer uma pergunta, para que seja esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado. O comum é que esse aluno faça a pergunta em voz alta para todos ouvirem e todos ouvirão a resposta. No espaço virtual, é a mesma coisa. Não hesite em perguntar, as perguntas poderão ser direcionadas ao protocolo de atendimento que serão respondidas em tempo hábil. Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da nossa disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à execução das avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da semana e a hora que lhe convier para isso. A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser seguida e prazos definidos para as atividades. Bons estudos! 3 2 A IMAGEM A imagem faz parte da sua vida, não é? Seu cotidiano é estruturado por uma civilização de imagens, em referência à expressão de Joly (2007). Assim como a linguagem verbal, a linguagem visual tem uma forte presença na forma como você se comunica. Bem, muito antes de você pronunciar as primeiras palavras, você usava figuras para se expressar. Figura e comunicação, representam, portanto, elementos humanos inseparáveis desde os ancestrais das cavernas, as trajetórias históricas do homem. O que é uma imagem? Compreender este importante elemento de expressão cultural é também uma forma de captar como os homens transmitem e consomem mensagens, ou seja, como comunicam. Nesse sentido, é importante lembrar que a contemporaneidade é uma era gerida por uma variedade de imagens virtuais que oferecem às pessoas novas experiências e relações com o mundo sem sair do computador. Além disso, entender o uso e a produção das figuras permite que o fique mais “consciente” de suas diversas formas de uso e produção. Porque, a maioria das figuras que você tem acesso não são naturais. Assim, essa “consciência” é uma forma de você construir um olhar crítico sobre as ilustrações e sair de uma posição ingênua. Ler imagens é decifrar os costumes, a história, o significado, os valores culturais e morais de uma determinada época e sociedade. 3 APRENDENDO A INTERPRETAÇÃO A PARTIR DA IMAGEM É interessante observar como as imagens participam do nosso cotidiano, ora nos transmitindo ideias, ora nos assediando, tentando nos persuadir a tomar decisões, e até mesmo mudando a forma como pensamos e nos comportamos. Comunica direção Fonte: Brian (2007) 4 Representa lugares Fonte: Sabbia (2006) Registra proibições Fonte: Paladin (2006) Você já pensou que existe uma linguagem visual que afeta suas escolhas e a forma como você constrói sua vida? Dieting woman Closeup of ice cream Fonte: Stepanov (2006) 5 Uma questão importante a ser considerada é o fato de que vivemos em uma época em que as pessoas estão com pressa e só recebem "flashes" dos fatos - mensagens verbais e não verbais - note que é comum ouvir de outras pessoas: "eu ouvi um trecho da notícia...", "acho que vi esse produto em promoção…”, “agora que entendi esse comunicado…”, sem contar que não prestamos atenção aos fatos mais comuns do dia a dia. Uma plantinha que floresce... Fonte: Mettus (2008) O mundo atual tem uma grande variedade de informações que se renovam rapidamente, fazendo com que as máquinas sejam substituídas por outras mais eficientes e a leitura que tínhamos da nossa realidade ganhasse um significado diferente em muito pouco tempo. A informação visual é reformulada com o surgimento de novas necessidades: inclusão social, avanço científico, reciclagem, proteção ambiental e outras. Há algum tempo, o ambiente escolar vem fermentando a “crise da leitura” de textos verbais (baseados em palavras) a que estamos acostumados; como é nossa relação com os textos visuais? Observe que, se olharmos atentamente para esta imagem, veremos algum texto. Um texto sem palavras, mas que faz sentido. Observe que as imagens se tornam mais significativas quando constatamos os detalhes. 6 Fonte: Stepanov (2006) Observe o rótulo do frasco, analise o desenho do sorriso indo de um extremo ao outro com os dentes cerrados; os olhos se estreitam como se estivessem direcionados a algo ou alguém, a linha acima representa uma sobrancelha, típica de uma expressão de raiva, de um tendo prazer em ver o outro errado. Então na garrafa há uma dose de mal, o copo expressa um mal reduzido, uma dose menor. Nesse contexto, são feitas tentativas de persuadir, de seduzir. O que está por trás dessa sedução? Em forma de sombra, então sem provas (escondidas, atrás), é a consequência do consumo da bebida que pode levar à morte. Ler faz parte do nosso dia a dia, lemos o dia todo. Lemos o olhar de um colega, a permissão do motorista para atravessar a rua, uma expressão de desaprovação, a disposição dos móveis em um ambiente, a roupa ou uniforme de alguém e um gesto de dúvida. Passamos a vida treinando nossa capacidade de compreender os códigos que nos cercam; tudo o que é construído por meio da linguagem (verbal, não verbal ou mista) tem significado, foi criado com um propósito e precisa ser comunicado, sejam regras, proibições, informações, advertências, propagandas, instruções e outros. 7 Ice cream Fonte: Estacheski (2008) Note que esta figura tem significado. Lembre-se que quando lemos um texto como este sem uma apresentação completa das informações, não estamos deixando a leitura incompleta. Em vez disso, preenchemos as lacunas do texto combinando as informações mundiais que temos com o contexto desse material. Ao estabelecer essa relação mental, certifique-se de que não haja faltade coerência na interpretação. Por exemplo, podemos imaginar que, se a figura estivesse completa, a criança choraria, ficaria assustada ou até sorriria sem jeito, pois essas são reações comuns a uma criança derrubando sorvete. Mas sempre que proferimos, temos uma intenção, um objetivo: ora pronunciamos para buscarmos informações sobre determinado fato e ora para conhecermos as regras do jogo. Portanto, de acordo com a finalidade da leitura, escolhemos o que ler, onde ler, até mesmo como construir sentido para o texto. Além da variação da intencionalidade do leitor, há uma grande variedade de textos e gêneros textuais (compostos por determinados tipos). O texto visual que é foco de nossa atenção está presente nos seguintes gêneros: desenho animado, história em quadrinhos, animação, sinal de trânsito, fotografia, publicidade, caricatura, etiqueta de vestuário e outros. Outro aspecto importante para uma compreensão efetiva são as informações anteriores de que o ledor precisa, tanto o conhecimento de mundo (também chamado conhecimento enciclopédico) quanto as informações comuns: os argumentos presentes, as pistas contidas, as informações e dados contextuais nele implícito muitas vezes relevantes para que o leitor compreenda adequadamente. 8 Quando lemos ativamos diferentes habilidades e esquemas que nos ajudam a construir o sentido da leitura, utilizamos algumas estratégias (consciente ou inconscientemente) que nos auxiliam no processo. Para isso, listamos algumas estratégias que já utilizamos; são práticas flexíveis, que precisa determinar e contextualizar qual se aplica melhor àquele texto ou situação, sem necessariamente ter que seguir uma ordem fixa. Estratégias de leitura: Seleção: nem tudo que está escrito é útil. Ao ler o texto, selecionamos informações relevantes e ignoramos informações menos importantes para a compreensão. Nosso cérebro é responsável por essa tarefa e prestamos mais atenção aos aspectos que nos interessam para poder entender o texto. Criação de hipóteses ou predição: o leitor prevê informações com base nas pistas que percebe no texto. À medida que lemos, percebemos se essa previsão está certa ou errada. Inferência: significa ir além dos limites das palavras ou imagens, é relacionar o que observamos com o que já sabemos; é uma estratégia comum. Os leitores complementam o texto (preenchem os espaços em branco) com base em seu conhecimento anterior. Autocontrole: atitude persistente que ajuda o leitor a conectar as suposições (escolha, desenvolvimento de hipóteses, conclusão) e as respostas obtidas através do texto. Com o autocontrole, é possível confirmar ou excluir previsões e conclusões, garantindo assim uma boa compreensão do texto. Autocorreção: haverá momentos de ceticismo quando uma hipótese proposta não for confirmada. O leitor repensa as suposições anteriores, estabelece novas e retorna às partes anteriores do texto para fazer as correções necessárias. Há uma relação mútua entre o uso de uma estratégia de leitura e a interpretação do texto: quando usamos uma estratégia é porque entendemos o texto, e entendemos o texto porque usamos a estratégia. 9 4 TEORIAS DE APRECIAÇÃO ESTÉTICA NA LEITURA DE IMAGENS O termo "leitura de imagens" começou a ser utilizado nos campos da comunicação e da arte no final da década de 1970, com o contínuo desenvolvimento das artes visuais. Nessa época, as imagens começaram a ser entendidas como símbolos contendo múltiplos códigos, e a leitura passou a ser necessária para compreender esses códigos. Arnheim (1957 apud SARDELICH, 2006) classificou dez categorias visuais necessárias para o entendimento dessas figuras. Fonte: Toledo (2019) De acordo com esse modelo, os espectadores leem as figuras usando várias categorias visuais até descobrirem a configuração que possuem expressividade. No Brasil, as ideias de Arnheim foram difundidas por Fayga Ostrower (SARDELICH, 2006). Outra referência importante para o estabelecimento da corrente formalista de leitura de imagens foi a do designer Dondis (1973 apud SARDELICH, 2006), responsável por introduzir o conceito de “alfabetização visual” e propor um sistema 10 básico para aprender, identificar e criar uma compreensão de mensagens visuais acessíveis a todas as pessoas, não apenas àquelas com formação em artes. Seus trabalhos promoveram práticas de ensino baseadas, no esquema de figuras motivadas em uma sintaxe visual que enfatiza elementos fundamentais como ponto, linha, cor e luz em termos de composição. A proposta da corrente formalista baseia-se em uma racionalidade perceptiva e comunicativa que justifica o uso e desenvolvimento da linguagem visual para facilitar a comunicação. Nas escolas, práticas baseadas na racionalidade foram atribuídas aos professores de arte, mas sem ser hegemonia entre eles. Diferentes formas de racionalidade coexistiram e continuam a coexistir no mesmo espaço e tempo, algumas mais firmemente estabelecidas que outras. Por exemplo, a racionalidade moral entende a prática artística como um auxílio ao desenvolvimento da moralidade e ao cultivo de uma vida espiritual e afetiva. Concerne, a racionalidade expressiva vê a arte como fundamental para a projeção de sentimentos e emoções. A arte é vista nessa perspectiva como um tipo de conhecimento que favorece o desenvolvimento intelectual para a racionalidade cognitiva. Esta é a forma racional presente no parâmetro Currículo Nacional (PCN), "[...] que define os objetos artísticos, neste caso as imagens, como produtos culturais, documentos do imaginário humano, sua historicidade e diversidade [...]” (BRASIL, 1997, p. 45 apud SARDELICH, 2006, p. 455). Em contraste com as abordagens mais racionalistas, surgiram outras que se concentravam mais no aspecto estético da leitura de imagens de obras de arte. Seus principais representantes são Ott, Housen e Parsons. Ott (1984 apud SARDELICH, 2006) desenvolveu uma metodologia com o objetivo de estruturar a relação entre o avaliador e a obra de arte, que se baseia nos desafios que vivenciou como professor responsável pela prática docente e formação do Departamento de Arte e Educação da Universidade da Pensilvânia. Seu sistema de avaliação de obras, intitulado Image Watching, se constitui como um processo articulado em cinco momentos: aquecer, descrever, analisar, interpretar e desvendar. O ponto de partida de Housen, é a suposição de que o desenvolvimento em um determinado campo está na direção mais ampla da complexidade do pensamento para definir as etapas da compreensão estética individual. Para ela, a capacidade de 11 entender a estética continua melhorando, cumulativamente, à medida que o leitor passa pelas diferentes etapas: narrativa, construtiva, categórica, interpretativa e divertida. Parsons (1992 apud SARDELICH, 2006) concorda inversamente com Housen, que aponta que um conjunto de temas estéticos (temas, expressões, aspectos formais, julgamentos), são entendidos de maneiras cada vez mais complexas em cada estágio do desenvolvimento. Parsons e Housen também argumentam que nem todos os adultos atingem os estágios mais elevados da compreensão estética. Isso porque o desenvolvimento depende das oportunidades dos indivíduos que devem ser expostas a diferentes experiências artísticas. Ou seja, sujeitos privados desses conhecimentos não foram totalmente desenvolvidos para a sua capacidade de entender a estética. 5 DIFERENTES TEORIAS DE LEITURA DE IMAGENS Embora Housen e Ott estejam entre os autores que desenvolveram sua metodologia, que foca nos aspectos estéticos da leitura de imagens, sua teoria há diferenças para entender. Teorias de leitura de imagens nas perspectivas de Ott e Housen. Perspectivas de Ott: Aquecimento: momento em que o professor prepara as possibilidades de percepção e fruiçãodo aluno. Descrevendo: o tutor faz questionamentos acerca do que o estudante está vendo e percebendo. Analisando: os professores introduzem aspectos conceituais da análise formal. Interpretação: momento em que o aluno expressa suas sensações, emoções e ideias e dá respostas pessoais sobre a obra de arte. Estabelecendo: o professor oferece elementos da história da arte e amplia o conhecimento dos alunos. Revelação: momento da produção artística do aluno em que ele revela todo o processo vivenciado. 12 Perspectivas de Housen: Primeira etapa: momento descritivo, narrativo e enumerativo em que os alunos respondem perguntas sobre o próprio trabalho. Segunda etapa: momento construtivo onde o aluno é estimulado a descobrir como o artista construiu a obra. Terceira etapa: momento qualificativo no qual o aluno procura conhecer o contexto em que a obra foi criada e os materiais utilizados. Quarta etapa: momento interpretativo pelo qual o aluno avalia suas sensações, ideias e imaginação para uma análise interpretativa e perceptiva da obra estudada. Quinta etapa: momento de elaboração artística, em que o aluno coloca em prática todo seu conhecimento e criatividade para a criação de seu trabalho. As diferenças entre as teorias aplicam-se a respeito principalmente à terminologia utilizada pelos respectivos autores. No entanto, ambos propõem uma sequência de ações que ajudam a tornar a apreciação estética um processo de aprendizagem dinâmico, no qual os alunos são convidados a contemplar, analisar e interpretar obras de arte e seus conhecimentos sobre a obra em si, sobre o artista e ampliar o contexto de produção, de modo a incorporar novos elementos em suas produções. As ideias apresentadas pelos dois autores são corroboradas por Michael Parsons e Edmundo Feldman. Em suas teorias, ambos enfatizam a importância da experimentação por meio da apreciação e reflexão das mostras artísticas e da atividade cultural. Parsons (RODRIGUES, 2008) realizou uma pesquisa sobre as formas de apreciação estética de diferentes indivíduos e chegou às seguintes conclusões: o desenvolvimento estético passou por diferentes etapas com graus crescentes de complexidade e autonomia. Cada estágio representa um conjunto de ideias que as pessoas usam para entender e falar sobre a arte: 13 Na primeira fase: preferência; Na segunda fase: tema; Na terceira fase: expressividade; Na quarta fase: forma e estilo; Na quinta fase: juízo. Embora um conjunto de ideias domine em cada etapa, ao ler a imagem, o indivíduo utiliza todos esses conceitos para a compreensão artística. A complexidade do desenvolvimento artístico está no crescimento simultâneo de diferentes habilidades ou parecer, ou seja, o desenvolvimento não ocorre de forma linear, como segue uma ordem estrita, ele se desdobra de múltiplas maneiras. Do ponto de vista de Parsons, as pessoas amplificam inicialmente muitas imaginações para compreender a arte, que ao longo do desenvolvimento estético se sobrepõem e, dependendo do arranjo, levam a diferentes possibilidades de compreensão. A obra deve ser analisada por um método de leitura comparativa, ou seja, a partir de duas ou mais obras visuais, para que o indivíduo possa apontar as diferenças e semelhanças entre elas, após quatro fases de análise: descrição, análise, interpretação e competência. 6 OS PRINCIPAIS ELEMENTOS DAS TEORIAS DE APRECIAÇÃO ESTÉTICA Se a cognição artística é concebida como realização e produção, o elemento fundamental das teorias da apreciação estética é a experiência estética direta da obra de arte. Segundo Castilho e Fernandes: Esse conhecimento caracteriza-se: pela obra de arte situar-se entre o particular e o universal da experiência humana, revela a possibilidade da existência e comunicação para além da realidade e relações habitualmente conhecidos; pela criação artística que distingue-se das outras produções humanas pela qualidade da comunicação que ela propicia por meio das especificidades das linguagens artísticas, onde a forma artística fala por si mesma, indo além das intenções do artista; a percepção estética é a chave da comunicação artística, o processo de conhecimento artístico advém da percepção das qualidades da linha, texturas, cores, sons, movimentos, etc., onde o receptor deixe-se tocar sensivelmente para perceber os significados que emanam dessas qualidades; a personalidade do artista é ingrediente que se transforma em gesto criador; a imaginação criadora transforma a existência humana.(CASTILHO;FERNANDES,2010). A experiência estética direta da obra de arte geralmente requer a consideração de três momentos: observação, reflexão e produção artística. O primeiro momento 14 corresponde às duas primeiras etapas (aquecimento e descrição) propostas por Ott e a primeira etapa (exame) proposta por Housen, em que os alunos entram em contato com as obras, as observam e compartilham suas impressões sobre o que ver. O segundo momento coincide com as três fases seguintes propostas por Ott (analisar, interpretar e raciocinar) e com as duas fases seguintes propostas por Housen, correspondentes ao contato com o artista, seu percurso e o contexto de produção artística, para compreendê-la completamente. A criação artística é o culminar de todo o processo de construção do conhecimento, no qual os alunos podem incorporar elementos aprendidos ao longo de seus estudos em suas obras de arte. Esse momento é chamado de "revelar" por Ott porque é o período em que os alunos se revelam o que foi aprendido. Isso é o que Housen chama "quinto estágio", onde os alunos colocarão em prática todo o seu conhecimento e criatividade para a criação artística. 7 A EDUCAÇÃO DO OLHAR NO ENSINO DA ARTE A arte-educação no Brasil, tradicionalmente focada em atividades práticas como o desenho geométrico, ganha novas perspectivas ao estimular novas pesquisas no campo da arte. Além de trabalhar com as produções dos alunos, havia a necessidade de incluir a leitura de imagens na educação de crianças e jovens, uma proposta inovadora e necessária para conectar o conhecimento com a realidade. (PILLAR, 2006). Há múltiplas definições de imagem. A imagem é hoje, um componente central da comunicação. Com sua multiplicação e ampla difusão, com sua repetitividade infinita, estes dispositivos fazem com que, por intermédio da sua materialidade, uma imagem prolongue a sua existência no tempo (BARBOSA, 2008, p. 75). Uma imagem pode adquirir inúmeros significados devido ao poder comunicativo de suas formas e cores, presentes em diferentes contextos socioculturais no tempo e no espaço. Desta forma, deriva-se uma nova leitura visual para a apropriação da mensagem propagada. A necessidade da educação visual confirmou a importância do papel da arte na escola. A leitura do discurso visual não se limita à análise da forma, cor, linha, volume, equilíbrio, movimento, ritmo, mas gira principalmente em torno dos significados 15 conferidos por esses atributos em diferentes contextos. A imagem é um requisito inevitável da contemporaneidade. Não se trata mais de perguntar o que o artista quis dizer em sua obra, mas o que a obra está nos dizendo aqui e agora em nosso contexto e o que está dizendo a outros leitores em outros contextos históricos. A leitura do discurso visual não se limita, à materialidade, ao corpo da obra e da imagem. No entanto, para compreender o discurso, é necessária uma análise profunda do contexto imaterial da obra. Segundo Barbosa: A educação estética tem como lugar privilegiado o ensino de Arte, entendendo por educação estética as várias formas de leitura, de fruição que podem ser possibilitadas às crianças, tanto a partir do seu cotidiano como de obras de Arte. Compreender o contexto dos materiais utilizados, das propostas, das pesquisasdos artistas é poder conceber a Arte não só como um fazer, mas também como uma forma de pensar em e sobre Arte. (BARBOSA, 2008, p. 71-72). Refletir sobre a arte é constituir um pensamento, uma opinião sobre determinado assunto. É testemunhar uma atuação artística ou qualquer tipo de estampa e se posicionar criticamente as ideias transmitidas. As aulas de arte podem facilitar a realização dessas produções artísticas por meio da leitura visual. Assim, “as pessoas aprendem com as imagens e também se emocionam com elas”. Na escola o objetivo primordial é formar o aluno: conhecedor, apreciador e decifrador da obra. Nesse sentido, o professor, como facilitador da aprendizagem, deve estimular a criança, o adolescente, a desenvolver habilidades estéticas e explorar o universo infinito de imagens. Incentivando-os a mergulhar no mundo das artes visuais para possibilitar a descoberta e a experiência por meio da leitura de figuras. No entanto, estimular a valorização da obra significa compartilhar as experiências culturais que os alunos já trazem consigo do seu cotidiano. Dessa forma, utilizar esse conhecimento será fundamental para a construção da linguagem visual. No Livro Cultura Visual, Fernando Hernández (2000) questiona a forma como os professores têm utilizado as teorias da apreciação estética sem nunca (pelo menos desde o início) propor um questionamento da imagem ou da obra apresentada: sempre assume que o trabalho é inegavelmente importante e, portanto, precisa ser analisado. Ele critica a falta de questões que desafiam o conhecimento constituído. 16 Hernández acredita que o docente não deve tratar ou considerar as obras como objetos sempre legítimos e que sua validade nunca pode ser questionada. Pensar em um campo de conhecimento requer questioná-lo. Uma atitude crítica em relação aos sistemas culturais deve ser estimulada desde cedo, para que as crianças se acostumem com essa prática e se sintam capazes de tomar suas próprias decisões culturais. Nessa análise do pensamento, vemos a importância do professor em permitir aos alunos liberdade para estudar as imagens e criar um ambiente propício à construção do conhecimento que os leve a pensar criticamente, a examinar o contexto cultural, os artistas, os materiais, a técnica utilizada, para que a partir de sua própria percepção descubra o sentido da obra no contexto cultural em que se encontram. Tendo em vista que o conhecimento é construído em um ambiente de interação e troca mútua, não é correto estabelecê-lo o como único e verdadeiro, principalmente quando uma imagem é vista e analisada. Bem, todo mundo vê de uma certa maneira e atribui significados diferentes a ela. Apreciar, instruir os sentidos e calcular a variedade das imagens produzidas pelos artistas é um desenvolvimento necessário à livre-expressão. Através da estimativa e da descodificação de tarefas artísticas, desenvolvemos fluência, flexibilidade, preparo e originalidade – os processos básicos da criatividade. No entanto, é importante que a escola prepare os alunos para apreciar e compreender a arte, para que se sintam capacitados para dialogar com as obras de artistas e produzir sua própria arte. Dessa forma, ampliamos a percepção por meio da leitura e análise, sejam essas imagens obras de arte ou ilustrativas do cotidiano. A formação do olhar se tornará, sem dúvida, necessária para o ensino e aprendizagem de crianças e adolescentes em fase de desenvolvimento cognitivo em tempos de disseminação e integração da vida cotidiana. As aulas de artes visuais, bem aproveitadas pelos professores, podem estimular a aquisição desse conhecimento que tanto precisamos para compreender a nossa cultura e a cultura do outro. A imagem figurativa ou abstrata, é um reino da realidade, não apenas um objeto. Embutida em um humanismo baseado no domínio de objetos, era difícil para os educadores compreender o significado da imagem, a reflexão sobre ela, a percepção de seu significado, sua produção estética através da arte e sua dedução 17 sobre meios de comunicação. A reflexão sobre a imagem ocorre em pouquíssimas escolas e tem consequências devastadoras não apenas para a compreensão da obra de arte, mas também para a observação crítica da televisão. A prática de ler imagens na escola nos permite ver e entender o mundo ao nosso redor. Os professores são responsáveis por transmitir esse aprendizado, é importante que eles saibam apresentar aos alunos bons exercícios de apreciação estética para que a exposição da figura em sala seja produtiva, satisfatória e construtiva. "A arte-educação numa perspectiva contemporânea busca proporcionar às crianças atividades interessantes e compreensíveis, adequadas ao seu processo de leitura" (BARBOSA, 2008). Portanto, é inegável a importância da formação visual no ensino - aprendizagem das artes visuais, treinar o olhar, humanizar os alunos para que compreendam as produções humanas, capacitando-os para a vida em sociedade. 7.1 Leitura de imagem Analice Dutra Pillar (2006) comenta: "em geral, todas as definições de leitura, implica a existência de um leitor, um código (objeto/linguagem) e um autor". Assim podemos entender que a leitura só acontece quando o leitor consegue decifrar e compreender os códigos culturais expressos na imagem. A leitura é como um processo de compreensão de expressões formais e simbólicas, independentemente da linguagem utilizada. Ao mesmo tempo, ler significa atribuir sentido a uma imagem ou a um texto. Quando lemos, tentamos entender o significado das palavras, das frases; ligando as ideias, é possível compreender a mensagem e atribuir significado ao que nos foi mostrado. Para ilustrar o que o autor está nos dizendo, podemos dizer que a expressão formal é o texto expresso por meio da linguagem escrita e a expressão simbólica é a imagem. É necessário entender os dois idiomas para que o processo de leitura ocorra. Pois bem, olhar é o ponto de partida para realizar um ato de leitura, mas olhar não significa que vemos. Porque ver é compreender e atribuir significado ao objeto. Em nosso cotidiano estamos expostos a uma infinidade de imagens, é comum contemplarmos essas imagens sem vê-las, por isso é importante observá-las 18 e analisá-las mais profundamente para absorver os valores simbólicos expressos através dessa linguagem. Como explica Ana Mae, “significado se refere ao sentido dado à situação, ou seja, às relações que estabelecemos entre nossas experiências e o que vemos” (BARBOSA, 2008). Desta forma, para entender como acontece o processo de leitura é necessário conhecer o sujeito, suas particularidades, considerando as aprendizagens e experiências que cada pessoa já traz de seu ambiente social e cultural. O observável sempre traz a marca do conhecimento, da imaginação do observador, ou seja, depende da coordenação do sujeito, das estruturas mentais que ele tem naquele momento que podem modificar os dados. Assim, duas pessoas podem ler a mesma realidade e chegar a conclusões muito diferentes. Isso porque o que o sujeito compreende em relação ao objeto depende dos instrumentos de registro, estruturas mentais, estruturas orgânicas específicas para o ato de cognição que estão disponíveis naquele momento. Portanto, é óbvio que a maneira de ver ou ler uma imagem está relacionada ao nível de compreensão do espectador, de modo que o processo de leitura dependa das suas perceptivas habilidades. À medida que lemos, tecemos informações sobre o objeto, suas propriedades formais, coloridas, suas conclusões e sua imaginação. Então a leitura depende do que está na frente e atrás dos nossos olhos. O estudo do processo de leitura de figuras não pretende apresentar o ou definir um método a ser seguido, mas compreender como a pessoa constrói conhecimento e aprendizado por meio da leitura visual. 7.2 A leitura críticado mundo A alfabetização visual visa estimular o aluno por meio da leitura de figuras a aprender a ler, interpretar o mundo ao seu redor e assumir uma postura crítica sobre sua realidade. Paulo Freire (1995) sustenta que aprender a ler, escrever e alfabetizar é compreender o seu contexto, não numa manipulação mecânica das palavras, mas numa relação dinâmica que liga a linguagem e a realidade. 19 Se transferirmos as ideias de Paulo Freire para o campo da arte, podemos entender que para ler uma imagem é preciso estudar o contexto em que a obra está inserida e construir nosso próprio conhecimento a partir dela. Nesse sentido, o primeiro mundo que tentamos compreender é o da família, a casa em que moramos, o pátio em que brincamos, a praça, o bairro em que residimos, a cidade, o estado e o país. Tudo isso é fortemente influenciado por nossa localização social e nossa origem. A leitura inserida em um contexto social e econômico tem caráter educativo e político, pois nossa visão de mundo é moldada por questões de poder e pontos ideológicos. Então, quando tentamos entender uma imagem ou um texto através da leitura, estamos tentando rotular o mundo ao nosso redor, a maneira como vivemos, agimos e pensamos. Compreender uma imagem significa ver construtivamente a clareza de seus elementos, tons, linhas e volumes. Por fim, aprecie seus múltiplos significados, sejam imagens de arte erudita, popular, internacional ou local; sejam trabalhos de estudantes; ambientes naturais ou construídos; imagens de televisão; mensagens visuais que existem no cotidiano (BARBOSA, 2008). A educação visual trata de preparar o aluno para processar a leitura, ou seja, ler, interpretar, dar sentido a figuras ou obras de arte, agregando informações extraídas das imagens à sua realidade. “Na realidade, não podemos entender o mundo como ele é, construímos mediações, filtros, sistemas simbólicos para entender nosso entorno e compreender a nós mesmos”. 7.3 A leitura da obra de arte Para iniciar o estudo da leitura de obras de arte, refletiremos sobre o pensamento de Bourdieu e também apreciaremos a obra de Tarsila do Amaral, o Abaporu. Bourdieu enfatiza a importância da compreensão da obra de arte, tanto por parte do criador quanto do espectador. Dessa forma, para ser compreendido, o artista deve dar sentido à sua criação para que seu trabalho seja reconhecido e admirado pelo público. O pensamento de Bourdieu nos dá a dimensão da arte e sua compreensão, ou seja, o artista que efetua e exercita a compreensão de suas imagens, assim como nós 20 que as olhamos, vemos e tentamos compreender o artista e todo o contexto antropológico, social, político e cultural, visível em suas pinturas. Segundo Marcel Duchamp, a obra só se completa na presença do espectador, e para Hélio Oiticica só se completa quando compreendida por outros, inclusive pelo artista, que confronta a angústia que surge de seu próprio trabalho ao reencontrá-lo (fora de da área de produção). (BARBOSA, 2008). O Abaporu é uma das telas mais conhecidas de Tarsila do Amaral, para aprendermos a significação dessa atuação, é essencial uma abordagem sobre a vida da artista, ver a situação em que a atuação foi criada, os fatos históricos, culturais e sociais que estão por de trás da imagem, para que possamos entendê-la e interpretá- la. Tarsila do Amaral. Abaporu.Óleo sobre tela, 1928. Fonte:tarsiladoamaral.com Ao olharmos superficialmente a obra o Abaporu, esteticamente, vemos uma forma com características humanas, imperfeição com algumas deformações, pé grande, rosto indefinido, perna e braço grande. Uma forma estranha e assustadora, que expressa à imaginação e a imaginação da artista. Tarsila pintou o quadro como presente para o escritor Oswald de Andrade, seu marido na época. Observar a tela o assustou, então ele ligou para o seu amigo, o autor Raul Bopp. Eles olharam para essa figura estranha e pensaram que representava algo extraordinário. Então, Tarsila lembrou-se de seu dicionário tupi- guarani e batizou a pintura de Abaporu (o homem que come). 21 Lá Oswald escreveu o Manifesto Antropófago e fundou o Movimento Antropofágico, com a intenção de "engolir" a cultura europeia e transformá-la em algo muito brasileiro. Esse movimento, embora radical, foi muito importante para a arte brasileira e significou uma síntese do movimento modernista que queria modernizar nossa cultura, mas de uma forma bem brasileira. A leitura de uma obra de arte pode se tornar uma atividade muito prazerosa e dinâmica na aula de artes visuais, para isso o professor deve habituar o aluno à leitura e deixar-lhe a liberdade de observar, analisar e questionar; para que juntos possam construir grandes aprendizados e descobertas. No entanto, a leitura de obras de arte é uma ação que, para ser realizada, envolve necessariamente o campo da crítica e da estética. Ler uma obra de arte significa questionar, pesquisar, descobrir e despertar a capacidade crítica dos alunos. As interpretações que resultam desse processo de leitura se referem a assuntos/obras/contexto que não estão sujeitas à redução de certo/errado. Podem ser avaliados de acordo com critérios como: relevância, coerência, possibilidade, esclarecimento, completude e inclusão. É importante ressaltar que o objeto de interpretação é a obra e não o artista, o que não justifica suposições para descobrir as intenções do artista. Ao treinar o olhar do aluno para compreender e conhecer as produções artísticas, o professor promove a prática da leitura e contribui significativamente para a conscientização da avaliação da obra de arte. Segundo o PCN: “diante de uma obra de arte, o espectador pode fazer interpretações que têm dimensões subjetivas e objetivas. Isso ocorre durante um processo em que as imagens da obra do artista se relacionam com a experiência do espectador” (BRASIL, 1998). Portanto, é importante desenvolver estratégias de leitura que sejam relevantes para os alunos, levando em consideração as experiências que os aprendizes já têm de seu ambiente cultural e a criatividade de cada indivíduo. Com isso em mente, todos nós temos maneiras especiais de ver e perceber o mundo. Conforme Analice Dutra, ler uma obra seria, então, perceber, compreender, interpretar a trama de cores, texturas, volumes, formas, linhas que constituem uma imagem. Perceber objetivamente os elementos presentes na imagem, sua temática, sua estrutura. No entanto, tal imagem foi produzida por um sujeito num determinado contexto, numa determinada época, segundo sua visão de mundo. E esta leitura, esta percepção, esta compreensão, esta atribuição de significados vai ser feita por um sujeito que tem uma história de 22 vida, em que objetividade e subjetividade organizam sua forma de apreensão e de apropriação do mundo (PILLAR, 2006, p. 15). Como promotora de conhecimento, a escola deve estimular crianças e jovens a apreciar obras de arte e avaliar as produções de artistas brasileiros, locais e internacionais. Pois não devemos limitar o conhecimento dos alunos a apenas uma forma de produção, a um artista, a uma determinada técnica ou um determinado material. Por isso é importante ter diferentes abordagens, diferentes leituras, comparações, análises, obras de diferentes autores, em diferentes épocas e contextos socioculturais. Para ancorar nossas ideias, Analice Dutra (2006) menciona, há uma variedade de modos de produção de sentido, como abordagens biográficas, estéticas, formais, iconológicas e semióticas. Cada uma dessas leituras, tentam de maneiras diferentes, edificarem significados. O PCN, a intuição, o raciocínio e a imaginação atuam tanto no artista quanto no espectador quando confrontados com uma obra de arte. A experiência perceptiva domina o processo de conhecimento da arte, ou seja, a compreensão estética e artística. O processode cognição advém, assim, dos significados que emanam da percepção, das qualidades das linhas, texturas, cores, sons, movimentos, temas, objetos apresentados e/ou construídos na relação entre obra e destinatário. No entanto, ler uma obra de arte significa atribuir significados e valores através da visão. Essa leitura, no entanto, vai além das características formais do quadro e aprofunda a natureza subjetiva do artista. Essas leituras mostram a variedade de significados, o contexto, as informações, as experiências de cada leitor presente ao tentar dar sentido à imagem. No entanto, é importante lembrar que a maior característica das obras de arte é o desejo de dizer o "indizível", ou seja, não é um discurso verbal, é um diálogo entre formas e cores. Em suma, partindo das ideias de Pillar, Barbosa e dos PCNs de Arte do Ensino Fundamental II, fica evidente que a leitura da obra no contexto escolar merece um lugar privilegiado na prática pedagógica das artes visuais, diante da necessidade de compreender a cultura e conhecer a nós mesmos. “Portanto, ler uma obra de arte é uma aventura em que cognição e consciência são interpretadas em busca de sentido” (PILLAR, 2006). 23 No entanto, como explica o PCN, a arte escolar pode desempenhar um papel importante, posicionar a obra do aluno como um fato humano, cultural e histórico que caracteriza a arte no ponto de interação entre as obras. 8 O PAPEL DO PROFESSOR NA APRECIAÇÃO ESTÉTICA A educação estética proporciona uma experiência "[...] que sintetiza um conjunto de relações importantes e universais; oportuniza a interpretação de elementos da linguagem artística e prepara as crianças para a ruptura das fronteiras de sua vida cotidiana [...]” (Castillo; Fernandez, 2010). Como tal, é a base sobre a qual as crianças se formam e deve ser realizada através da exposição a diversas expressões artísticas, como texto, imagens, sons e movimentos, dentro e fora da escola. Esse contato intenso permite que as pessoas compreendam uma linguagem artística completa e um apreço por diferentes expressões artísticas. Nesse caso, o papel do educador é muito importante, pois é sua responsabilidade proporcionar à criança um diálogo intenso e profundo, ampliando seu repertório cultural, pois quanto mais os educadores conhecem as criações artísticas e os ambientes em que são produzidas, melhor podem ajudar os alunos. Outro papel do professor é o de avultar o recolhimento das produções artísticas. É importante notar que embora no caminho da apreciação estética proposta pelos teóricos, o momento da produção seja um momento pensado a partir de uma obra estudada, o que se deve esperar não é uma cópia da obra, mas um remake lido onde deve haver um processo autoral. 9 A LINGUAGEM VISUAL Desde os primórdios da existência humana, nos comunicamos através da linguagem visual. Não são apenas as chamadas imagens famosas sobre cavernas pré-históricas: poses corporais e pantomimas também fazem parte da visão. Portanto, é preciso enfocar o que significa a terminologia da linguagem visual, já que muitos a limitam ao âmbito midiático, embora este seja um importante divulgador; e outros ainda a opõem à linguagem verbal, o que é um falso contraste, 24 como explica Joly (2007), pois a escrita está envolvida na construção do visual, ou seja, verbal e visual são linguagens interconectadas. Em geral, pode-se dizer que no universo visual, a maior parte do que se fala é sobre imagens. No entanto, isso tem muitos significados e também pode acontecer de inúmeras maneiras: você pode se referir ao filme "Alien" de Steven Spielberg, a Mafalda, a marca Nike; da pintura Mona Lisa de Leonardo da Vinci, às fotografias humanísticas de crianças de Sebastian Salgado, às imagens mentais concebidas que consistem em um tema, bem como muitas outras formas visuais. Em outras palavras, existem muitas produções imaginativas que fazem parte do visual e/ou mental. O interessante nesse sentido é que, por causa dessa caracterização, é mais fácil constatar a existência de uma variedade de imagens diferentes, como as do domínio midiático (como fotografia e filme), as do domínio científico (como representações visuais do corpo humano), aquelas da esfera psíquica (como visões e fantasias pertencentes à esfera mental) etc. Portanto, é preciso antecipar a variedade de imagens que existem e circulam na sociedade. Dependendo do meio em que ocorre e da finalidade a que está associada, apresenta propriedades e operações específicas. Além disso, ao fazer isso, não veremos a imagem como uma ferramenta de comunicação, mas como uma linguagem específica que possui valores "próprios"; e, portanto, merece ser reconhecido como tal. É nesse sentido que a reflexão sobre os termos da linguagem visual precisa ser repensada e ressignificada. Nesse contexto, o campo da semiótica é relevante para essa tarefa, pois representa uma imagem, um signo, pois é produtora e mediadora de sentido. 9.1 Os elementos que constituem a linguagem visual Com a nossa imersão no mundo digital surge a necessidade de uma inevitável aprendizagem da ferramenta internet, o que requer a alfabetização digital e a alfabetização visual? É preciso aprender a analisar as mensagens visuais; e também educar para que as pessoas possam compor mensagens mistas com diferentes idiomas (por exemplo, o áudio com imagem representando uma mensagem audiovisual). 25 Há, portanto, uma gramática da imagem que representa as leis e clama pela alfabetização (LENCASTRE; CHAVES, 2007). A este respeito, Lencastre e Chaves (2007) referem-se aos estudos de Dondis (1999 [1973]) e Vilafañe (1985). A primeira apresenta a constituição da linguagem visual em termos de elementos considerados essenciais para a formação, que são: ponto, linha, forma, direção, tom, cor, textura, escala, dimensão e movimento. O segundo acrescenta alguns outros elementos básicos da linguagem visual além daqueles citados por Dondis (1999 [1973]), e então os reúne em três grandes grupos: os elementos morfológicos; os elementos dinâmicos; os elementos escalares. Compreender esses elementos é essencial para obter informações sobre o potencial simbólico, a funcionalidade e a composição da linguagem visual. 9.2 Os elementos morfológicos Os elementos morfológicos têm um caráter espacial. Eles formam a estruturação do espaço plástico ao serem capazes de criar diferentes relações plásticas. Assim, ponto, linha, plano, textura, cor, forma e tom são caracterizados como morfológicos. O ponto se caracteriza por ser o elemento icônico mais simples do visual. No entanto, pode ser representado de várias maneiras, ou seja, pode aparecer na comunicação visual como um círculo muito pequeno, como um círculo de pontas, como uma forma circular mais próxima de um quadrado, e assim por diante. Em geral, no entanto, parece que temos mais facilidade para determiná-lo por ser circular. A linha aparece quando os pontos estão próximos, dificultando a identificação de cada um. Assim, com essa proximidade entre os pontos, constrói-se um sentido de direção. A linha também pode ter muitas formas: reta e precisa, ondulada, linear, grossa, fina e delicada, etc. O próprio plano é espacial. Ele suporta a imagem e molda o espaço da imagem composicional. Os elementos morfológicos, além dos elementos dinâmicos e escalares, são organizados e representados bidimensionalmente. 26 A textura é o elemento que, estando relacionado ao tato, o substitui. Ela ocorre quando o traço feito no plano tem alguma constância (por exemplo, se o traço é repetido para caber no inteiro ou varia sistematicamente). Tal característica pode ser cruzada, pontilhada, descontínua, sólida, imprecisa, etc. O relevo dado aos objetos representados no plano é construído pela textura. A cor é caracterizadacomo uma manifestação visível da energia luminosa. Embora a cor seja um processo físico-químico, no sentido de que afeta as células da retina do olho. Ela faz parte de uma de nossas experiências sensoriais e teve vários significados simbólicos ao longo da história. Além disso, sua mistura e composição na apresentação é um importante elemento informativo e de grande valor visual. A forma é construída por linha. Ela é extraordinária porque afeta não apenas a forma do objeto, mas também suas características, que podem variar dependendo da posição em que se encontra e da posição que o sujeito assume ao olhar para o mesmo objeto. O tom refere-se à luz e a escuridão das coisas. Em outras palavras, o tom está relacionado a mudanças na luz, porque não se espalha e irradia da mesma maneira no mesmo espaço e na frente do mesmo objeto. Este elemento é frequentemente usado para criar uma ilusão de "realidade". 9.3 Os elementos dinâmicos Os elementos dinâmicos, como os elementos morfológicos, são de natureza espacial. Em geral, são mais perceptíveis em relação às imagens em movimento, mas podem ser exploradas diferentemente nas imagens estáticas. Dessa forma, movimento, tensão, ritmo e direção são caracterizados como dinâmicos. Cada um deles é brevemente discutido: O movimento corresponde a um dos elementos que ajudam a criar o dinamismo de uma imagem. Em imagens estáticas, a ilusão de movimento pode ser criada arrastando todos os objetos presentes no plano da imagem; e a perspectiva panorâmica que ocorre ao focalizar um objeto em movimento coloca outros objetos na perspectiva de arrastamento. 27 A tensão também é um elemento dinâmico porque mesmo em imagens fixas ou estáticas pode ser obtida através de escala, orientação objeto/plano, contraste de cores, construção de profundidade etc. O ritmo também é um elemento dinâmico porque surge da percepção da composição da estrutura e da repetição de elementos contidos na imagem. A direção, que pode ser horizontal, vertical, diagonal, curvilínea, oblíqua, etc., é um elemento importante que faz muito sentido no discurso visual: por exemplo, uma imagem representando uma direção horizontal e vertical pode ser construída e relacionada, refere-se à estabilidade e equilíbrio (referência humana primária). No caso de uma direção diagonal, a imagem pode referir-se à noção de instabilidade. Já direções curvas geralmente se referem à repetição. 9.4 Os elementos escalares Os elementos escalares dizem respeito ao aspecto quantitativo e à natureza relacional da imagem. Desta forma escala, proporção, formato e dimensão são caracterizados como escalares. Cada um deles é brevemente discutido: A escala estabelece uma relação entre os objetos na imagem e os chamados "reais". Este elemento permite aumentar ou diminuir um objeto sem alterar suas propriedades estruturais. A escala estabelece, assim, uma relação entre o tamanho da imagem e seu objeto referenciado no "real" (por exemplo, as plantas de um arquiteto projetado um edifício). A proporção estabelece a relação entre a parte e o "todo". A função mais importante deste elemento é estabelecer ritmo na imagem estática, pois "é uma expressão da ordem interna da composição". A dimensão estabelece uma relação entre o tamanho a ser representado e a legibilidade da imagem a ser estabelecida. Para imagens bidimensionais, a dimensão depende da ilusão. Isso significa que a extensão do objeto pode nos dar pistas sobre a profundidade, já que o objeto que está mais próximo do nosso olho parece maior do que o objeto que está mais distante. 28 9.5 As linguagens visuais da esfera midiática Não existe apenas um único tipo de linguagem visual. Embora interajamos cotidianamente mais com a fotografia e a televisão, há numerosos tipos de linguagens visuais, tais como: o desenho, a pintura, a escultura entre muitas outras. Nesse sentido, é importante notar que o campo da ciência da imagem se expandiu a partir do desenvolvimento da linguagem imagética fotográfica e de vídeo. Além disso, o desenvolvimento da tecnologia digital também ampliou as possibilidades de análise de imagens, não apenas em termos de fotografia e vídeo digital (tecnologia), linguagens que estão cada vez mais presentes em nossas vidas; esta área também se expandiu devido ao seu impacto na sociedade. Independentemente do tipo de linguagem visual, todas são de interesse comum no campo da semiótica. Assim, vários trabalhos sobre a imagem nos campos da publicidade, do jornalismo, do cinema e da televisão foram e vêm sendo realizados sob o ponto de vista da semiótica. Cerca desses estudos, têm três ressalvas. Primeiro, podem ter as mais diversas finalidades e resultados, pois a análise de uma mesma foto na capa de um jornal e de uma revista impressa pode ter significados diferentes, quer em termos de apoio (que não é o mesmo) quer em termos de público-alvo e objetivos a atingir. A segunda diz respeito ao seguinte: quando falamos da linguagem visual produzida e comunicada no domínio midiático, não nos referimos apenas à expressão visual trazida pelo meio televisivo ou à expressão visual produzida pelo conteúdo publicitário. Conforme discutido por Joly (2007 [1994]), as imagens não são o mesmo que televisão ou publicidade. Devemos, portanto, tomar medidas contra esta amálgama. A amálgama dessas expressões figurativas também coloca dificuldades para uma interpretação do próprio signo figurativo. A terceira, também introduzida pela perspectiva teórica de Joly (2007 [1994]), diz respeito à confusão entre imagem fixa e animada; muitos entendem que a imagem atual é apenas a da mídia, e que a da mídia é principalmente a da televisão e/ou vídeo. No entanto, tais afirmações não devem ter lugar na leitura crítica da mídia e da imagem em geral; pois na própria mídia circulam várias formas de construção visual, como a pintura, a gravura, o desenho e a própria fotografia. 29 A linguagem visual dos vídeos de câmeras digitais abre novos caminhos de investigação para o campo da semiótica, pois abre novas maneiras para o sujeito interagir com o conteúdo gravado e transmitido instantaneamente. Isso também serve para processamento jornalístico, distribuição de produtos em redes sociais etc. Fonte: rzoze19/Shutterstock.com Existem outras linguagens ou formas visuais de expressão que podem, e muitas vezes circulam, no campo midiático: é o caso do teatro, onde os atores criam personagens por meio de atuação, figurino, interpretação, som, voz e/ ou postura. Devemos lembrar que as novelas foram influenciadas pelo teatro. Existem outras linguagens ou formas de expressão visual que muitas vezes circulam no campo midiático: é o caso do teatro, onde os atores representam personagens por meio de atuação, vestimenta, interpretação e tom de voz e/ou postura. Devemos lembrar que as novelas foram influenciadas pelo teatro. Isso vale também para a moda, pois as roupas que vestimos são elementos que nos ajudam a formar nossa identidade e imagem. Ainda possamos citar o visagismo como uma forma do imaginário individualizado que surgiu e se tornou uma forte tendência hoje. Essa linguagem visual caracteriza-se como uma forma de construir a imagem visual de cada sujeito utilizando técnicas que exploram o potencial de beleza de cada indivíduo. Por isso, a valorização e construção de uma imagem personalizada aumentou, assim como a moda, e se espalhou nas redes sociais. 30 O mesmo assunto baseado no jornal impresso e no telejornal nunca é o mesmo: as imagens utilizadas em sua cobertura constroem significados diferentes, considerando que a própria composição visual além do objetivo que o meio impresso altera com a comunicação. O conteúdo visual criado pela publicidade é, inclusive, um assunto de grande interesse dasemiótica, por estar ligado à maquinaria econômica do capitalismo, é explorado por meio de inúmeras estratégias para atingir seus objetivos, atrair os consumidores e convencê-los a comprar o produto ou o serviço. 31 10 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ABBAGNANO, N. Escolástica. In: ABBAGNANO, N. Dicionário de filosofia. 5. ed. 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São Paulo: Cultrix, 2006. 1 INTRODUÇÃO 2 A IMAGEM 3 APRENDENDO A INTERPRETAÇÃO A PARTIR DA IMAGEM 4 TEORIAS DE APRECIAÇÃO ESTÉTICA NA LEITURA DE IMAGENS 5 DIFERENTES TEORIAS DE LEITURA DE IMAGENS 6 OS PRINCIPAIS ELEMENTOS DAS TEORIAS DE APRECIAÇÃO ESTÉTICA 7 A EDUCAÇÃO DO OLHAR NO ENSINO DA ARTE 7.1 Leitura de imagem 7.2 A leitura crítica do mundo 7.3 A leitura da obra de arte 8 O PAPEL DO PROFESSOR NA APRECIAÇÃO ESTÉTICA 9 A LINGUAGEM VISUAL 9.1 Os elementos que constituem a linguagem visual 9.2 Os elementos morfológicos 9.3 Os elementos dinâmicos 9.4 Os elementos escalares 9.5 As linguagens visuais da esfera midiática 10 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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