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1. DEFINIR CAQUEXIA NEOPLÁSICA (RELACIONADA AO CÂNCER E AO TRATAMENTO), ELUCIDANDO DADOS EPIDEMIOLÓGICOS, FISIOPATOLOGIA, QUADRO CLÍNICO, COMPLICAÇÕES, DIAGNÓSTICO E O SEU MANEJO DEFINIÇÃO A caquexia é definida como perda de massa muscular, com ou sem perda de tecido adiposo, frequentemente associada a anorexia, inflamação e resistência à insulina. A perda de tecido adiposo é decorrente do aumento na lipólise, devido à expressão aumentada de lipase hormônio-sensível. A caquexia do câncer é definida clinicamente por anorexia, perda de peso involuntária, perda de massa muscular, alterações da sensibilidade do paladar, saciedade precoce, fraqueza e atrofia de órgãos viscerais. Existem duas formas de caquexia: a primária e a secundária. A caquexia primária é o tipo mais comum e resulta de interações metabólicas entre o tumor e o hospedeiro que levam ao consumo progressivo e frequentemente irreversível de proteína visceral, musculatura esquelética e tecido adiposo, e anorexia. Já a secundária resulta de ingestão e absorção diminuídas, e recorda o jejum não- complicado. Ambos os tipos de caquexia encontram-se presentes simultaneamente em um mesmo paciente. Contudo, este processo caquetizante envolve um severo comprometimento do estado geral e resulta primeiramente de alterações na ingestão e mal absorção de nutrientes, e posteriormente de alterações metabólicas A perda de peso na caquexia é diferente da que ocorre por jejum, na depressão primária, no envelhecimento e na síndrome de má absorção. A caquexia cursa com níveis elevados de citocinas inflamatórias e proteínas de fase aguda e resistência à insulina. Lipólise acelerada, em vez de diminuição na lipogênese, tem sido aceita como o fator mais importante na perda de tecido adiposo do paciente caquético. A caquexia produz uma depleção marcante da musculatura esquelética, com queda de 75% da massa proteica e 30% de perda de peso, sendo que o compartimento de proteínas não musculares permanece relativamente preservado. Os mecanismos que levam à caquexia são obscuros e, provavelmente, multifatoriais. Atrofia muscular decorre da diminuição da síntese proteica, com aumento de sua degradação. Embora pacientes com o câncer muitas vezes se tornam anoréxicos, atualmente, as evidências indicam que a caquexia é resultado da ação de fatores solúveis, como citocinas produzidas pelo tumor e pelo hospedeiro, em vez da redução da ingestão alimentar. Em pacientes com câncer, o gasto calórico permanece elevado e a taxa metabólica basal está aumentada, apesar da reduzida ingestão de alimentos. Isso contrasta com a redução da taxa metabólica que ocorre como uma resposta adaptativa à fome. A base dessas anormalidades metabólicas ainda não foi totalmente compreendida. Suspeita-se que o TNF e outras citocinas produzidas por macrófagos em resposta às células tumorais ou pelas próprias células tumorais sejam os mediadores da caquexia. O TNF suprime o apetite e inibe a ação da lipase lipoproteica, evitando a liberação de ácidos graxos livres das lipoproteínas. Não há tratamento satisfatório para a caquexia do câncer além da remoção da causa subjacente, o tumor. RESUMO: A caquexia no câncer é uma complicação frequentemente observada em pacientes portadores de tumores malignos. Seu mecanismo varia de acordo com o quadro originário, sendo constante a perda de massa muscular, anorexia, perda rápida de tecido gorduroso e atrofia de órgãos viscerais. Suas alterações metabólicas, hormonais e fisiológicas sugerem uma participação importante no desenvolvimento da síndrome da caquexia no câncer, porém, não pode explicar todos os casos, porque possivelmente a ativação da caquexia seja uma combinação de diferentes fatores. EPIDEMIOLOGIA Em torno de 20% de todas as mortes por câncer são causadas por caquexia, devido à imobilidade ou falência cardiorrespiratória. A incidência de caquexia depende do tamanho do tumor, sendo bastante frequente em tumores pulmonares e de trato gastrintestinal. Entretanto, metade de todos os pacientes oncológicos sofre alguma perda de peso, aumentando para 86% tal fato, nas duas últimas semanas de vida do doente. Perda de peso maior do que 2,75% ao mês é um fator independente de mau prognóstico. A prevalência global de caquexia cancerosa oscila entre 40% em pacientes na fase de diagnóstico e de 70-80% na fase avançada da doença. A prevalência segundo a origem primária do tumor é de 83-85% em neoplasias pancreáticas e gástricas, de 54-60% em neoplasias de pulmão, próstata e cólon e de 32-48% em neoplasias de mama, sarcomas, linfomas e leucemias. A sobrevivência ao CA de estômago, pâncreas, próstata, cólon e mama dos enfermos que apresentam quadro de caquexia é significativamente inferior a daqueles pacientes que não a apresentam. Assim, a caquexia pode ser a causa direta do falecimento do enfermo em mais de 20% dos casos As estimativas do ano de 2012, válidas também para o ano de 2013, apontam que os tipos mais incidentes de CA serão os de pele não melanoma, próstata, pulmão, cólon, reto e estômago para o sexo masculino e os cânceres de pele não melanoma, mama, colo do útero, cólon, reto e glândula tireóide para o sexo feminino (Ministério da Saúde, 2011). Anualmente, cerca de 7,1 milhões de pessoas morrem em função dessa doença o que corresponde a cerca de 12,6% das causas globais e esses números incluem um aumento na frequência dos casos tanto em países desenvolvidos quanto em desenvolvimento (Guerra; Gallo; Mendonça, 2005) FISIOPATOLOGIA DA CAQUEXIA NO CÂNCER A origem da SAC é multifatorial. O aumento do consumo energético pelo tumor, a liberação de fatores que agem no centro da saciedade diminuindo o consumo alimentar e as citocinas produzidas pelo hospedeiro e pelo tumor levam às anormalidades metabólicas características da síndrome ALTERAÇÕES METABÓLICA ALTERAÇÕES HORMONAIS CITOCINAS ALTERAÇÕES SENSORIAIS (1) ALTERAÇÕES METABÓLICAS NOS PACIENTES ONCOLÓGICOS Metabolismo Energético: O aumento do gasto energético é um dos determinantes da perda de peso da caquexia do câncer. No indivíduo normal, mesmo que a ingestão calórica esteja diminuída, observa-se uma redução na produção de energia ou na taxa metabólica. Já no paciente oncológico não ocorre esta adaptação fisiológica, pois mesmo com a redução na ingestão calórica, mantém ou aumentam, contribuindo para diminuição da reserva energética, em função do metabolismo das células tumorais. O estado de hipermetabolismo ou catabolismo persistente é comum em estados avançados da doença, isto explica a rapidez das células neoplásicas malignas em captar glicose como fonte de energia. O aumento desta captação está relacionado com o grau de malignidade e poder de invasão celular. As células malignas têm como fonte preferencial a glicose, e por isso alterações secundárias no metabolismo deste carboidrato são observadas em pacientes oncológicos em função da intensa proliferação celular que causa uma maior demanda. As alterações metabólicas descritas em pacientes com caquexia por câncer comprometem tanto o metabolismo de carboidratos, de lipídeos e das proteínas. Estas alterações são importantes para entender o mecanismo da perda de peso e orientar a oferta dietética mais adequada de acordo com as necessidades nutricionais do paciente O fígado é um órgão normalmente consumidor de grande energia e centro de atividade enzimática elevada em cancerosos, sugerindo alta taxa metabólica. Os tumores gástricos e os sarcomas são em geral hipermetabólicos e causam perda de peso importante. Outros tumores, como os melanomas, apesar de hipometabólicos, também provocam perda de peso e caquexia. Metabolismo dos Carboidratos: A célula cancerosa utiliza preferencialmentea glicose como substrato energético, 10 a 50 vezes mais em relação às células normais, o que indica que a presença do tumor aumenta o consumo de glicose. Seria esperado, então, que os níveis plasmáticos de glicose diminuíssem, mas isso não ocorre, pois, há um aumento na gliconeogênese hepática, a partir de substratos, como os aminoácidos musculares e o lactato. O consumo excessivo de glicose pelo tumor aumenta a produção de glicose hepática a partir do lactato (Ciclo de Cori) e de aminoácidos musculares do hospedeiro (gliconeogênese). A conversão de lactato para a glicose envolve consumo de ATP e aparenta ser um processo bioquímico de gasto energético contribuindo para a perda de peso e massa corpórea. Segundo estimativas, o gasto energético no Ciclo de Cori é de aproximadamente 300 calorias por dia Além disso, é comum observar resistência periférica à insulina em pacientes com caquexia, isto determina um estado metabólico semelhante ao diabetes, resultando em uma acentuada gliconeogênese no fígado. A intolerância à glicose e a resistência à ação da insulina são ocasionadas tanto pela diminuição da sensibilidade dos receptores das células beta pancreáticas como pela redução da sensibilidade dos tecidos periféricos. Desse modo, todos esses efeitos contribuem de modo significativo tanto para depleção das fontes de energia como também para destruição de tecidos Metabolismo das Proteínas: O paciente caquético não apresenta capacidade para manter ou reduzir o catabolismo dos músculos em resposta à reduzida ingesta de nitrogênio, levando a depleção de proteína e consequentemente atrofia e miopatia muscular, atrofia visceral e hipoalbuminemia. A hipoalbuminemia ocorre devido à diminuição da síntese proteica no fígado e ao aumento da proliferação celular do tumor. Conforme Murad, no jejum agudo ocorre degradação do músculo esquelético para fornecer ao organismo aminoácidos para a gliconeogênese. No jejum prolongado sem câncer, a degradação muscular diminui e conserva nitrogênio, mantendo-se a massa muscular funcional. Este é um mecanismo de adaptação “poupador de proteínas”. Porém, a capacidade de poupar proteína em resposta ao jejum está ausente no câncer, havendo persistência da proteólise Metabolismo dos Lipídios: O metabolismo lipídico encontra-se alterado, resultando na depleção da reserva de gordura e níveis elevados de lipídios circulantes. A perda de gordura é responsável pela maior parte da perda de peso. Além disso, essa perda está relacionada ao aumento da lipólise associada à diminuição da lipogênese, em consequência à queda da lípase lipoprotéica levando a hiperlipidemia. Segundo Guimarães, o tumor produz moléculas lipolíticas capazes de induzir lipólise e aumentar a oxidação de ácidos graxos. Há uma maior liberação de ácidos graxos e formação de corpos cetônicos, com isso há mobilização e também maior utilização dos ácidos graxos como fonte preferencial de energia, provavelmente secundárias a exacerbação da gliconeogênese e maior resistência à insulina. Em condições normais os teores de glucagon, corticosteroides ou adrenalina são pouco variáveis, já na caquexia do câncer estes hormônios estão todos alterados pela maior degradação lipídica, havendo falha da lipogênese. É interessante observar que a administração de glicose é incapaz de inibir a mobilização e a oxidação das gorduras, como ocorre habitualmente em indivíduos normais (2) ALTERAÇÕES HORMONAIS O hipotálamo, eixo hipotálamo-hipofisário e o sistema autonômico (simpático e parassimpático) são responsáveis pelo controle da ingestão de alimentos. Este controle depende de diversos tipos de neuro- hormônios centrais e gastrintestinais: leptina, neuropeptídeo y, grelina, insulina e melanocortina. Leptina: É um hormônio produzido e secretado pelo tecido adiposo, sendo importante na regulação do peso corpóreo. A leptina regula as taxas de gordura corpórea. A perda de peso leva a diminuição de níveis de leptina e consequentemente à diminuição da gordura corporal. Conforme Waitzberg, a leptina inibe a ingestão e aumento do gasto energético, por meio de uma alça de atuação (feedback), envolvendo o hipotálamo, ativando circuitos catabólicos e reprimindo circuitos anabólicos. Por essa razão, baixos níveis de leptina cerebral estimulam o apetite e diminuem o gasto energético, enquanto níveis elevados de leptina diminuem o apetite e elevam o gasto energético Neuropeptídeo y (NPY): É um peptídeo orexígeno (estimulante do apetite), envolvido no regulamento de funcionamento sexual, ansiedade, resistência vascular e periférico. Está abundantemente distribuído no cérebro e secretado no hipotálamo. Segundo Chemin, os neuropeptídeos parecem promover atividade lipogênica enzimática no tecido adiposo, reduzindo atividade do sistema nervoso simpático e inibindo a lipólise. O NPY age aumentando a ingestão de alimentos, diminuindo o gasto energético e aumentando a lipogênese, originando o balanço energético positivo e aumento de reserva de gordura. Quando ocorrem situações de estresse, como no câncer, citocinas envolvidas na regulação do apetite podem influenciar negativamente na regulação do apetite da ação orexígena do NPY, ou seja, em estado de jejum normal o nível ou a liberação de NPY no hipotálamo está aumentado e nos casos de câncer o NPY mantém-se reduzidos Grelina: A grelina é um neuropeptídeo secretado em diversas células endócrinas, principalmente no estômago. É um importante regulador do apetite e do peso corporal. Durante o período de jejum os níveis de grelina aumentam na circulação sanguínea e diminui logo após a ingestão alimentar, ao contrário da leptina e insulina, outros importantes reguladores da massa corporal gordurosa. No entanto, em pacientes caquéticos a grelina pode estar diminuída devido a um bloqueio na resposta adaptada ao jejum, por diminuição da expressão do RNAm da grelina no estômago, diminuindo assim o apetite Melanocortina (MC): Constituem uma família de peptídios regulatórios, que incluem a adrenocorticotrofina (ACTH) e o hormônio melanócito estimulante (MSH), também associados à SAC. Esse grupo de peptídios e seus receptores ajudam a regular o apetite e a temperatura corporal, como também são importantes para memória, bem-estar e imunidade. Apesar da acentuada perda de peso, em que normalmente se esperaria uma regulação negativa dos sistemas anorexígenos relacionados à melanocortina, o sistema permanece ativo, durante a caquexia neoplásica, aumentando ainda mais a taxa metabólica, a anorexia e a perda de peso. Mas, se o receptor central de melanocortina for bloqueado, os processos de anorexia e caquexia são revertidos (3) MEDIADORES – CITOCINAS As citocinas são glicoproteínas solúveis que produzem uma grande variedade de reações fisiológicas. Já foram implicadas por vários estudos recentes como mediadoras da resposta do hospedeiro ao câncer. As citocinas regulam tanto a absorção de energia (isto é, apetite) quanto ao gasto de energia (taxa metabólica) e por isso têm um papel essencial na determinação do estado nutricional do portador de tumor As citocinas que desempenham um papel importante incluem o Fator de Necrose Tumoral (TNF-α), Interleucina 1 (IL-1), Interleucina 6 (IL-6) e interferon- gama (IFN-γ). Estas citocinas têm atividades sobrepostas, as quais tornam provável que nenhuma substância individual seja a única causa da caquexia do câncer Fator de Necrose Tumoral (TNF-α): Também conhecido por caquexina, é uma das citocinas secretadas pelos macrófagos em resposta ao crescimento celular tumoral ou infecções por bactérias gram negativa. Segundo Porth (2002), o TNF-α causa anorexia, suprimindo centros de saciedade e a síntese de lipoproteína lípase, uma enzima que facilita a liberação deácidos graxos pelas lipoproteínas, de modo a poderem ser utilizadas pelos tecidos. O TNF-α induz várias respostas inflamatórias, ativando o sistema de coagulação, atuando nos hepatócitos para aumentar a síntese de proteínas sérica em resposta aos estímulos inflamatórios, e promove o choque endotóxico secundário a trauma, queimaduras e sepse Interleucina 1 (IL-1): A interleucina 1 (IL-1) é outra citocina inflamatória secretada pelos macrófagos, e juntamente com o TNF-α tem a capacidade de iniciar a caquexia. Vale ressaltar que a IL-1 produz os mesmos efeitos do TNF-α, mas não age sobre os músculos, e os efeitos produzidos na caquexia são menos potentesque os induzidos pelo TNF-α. Essa citocina age diretamente sobre centro de regulação do apetite do sistema nervoso central, induzindo saciedade, o que provoca uma menor ingestão de alimentos e de água. A IL-1 pode causar febre e ainda alterar a síntese protéica no fígado Interleucina 6 (IL-6): Uma citocina com várias atividades biológicas, algumas semelhantes ao TNF-α e IL-1. Produzida por macrófagos, monócitos e pelos fibroblastos. De acordo com Gibney, a IL-6 é a principal citocina envolvida na indução das proteínas de fase aguda e síntese de fibrinogênio, e foram relatados níveis elevados em 39% nos pacientes com câncer de pulmão ou câncer de cólon e resposta ativa das proteínas de fase aguda. Alguns estudos têm mostrado que a IL-6 tem pequeno efeito sobre a proteólise muscular, embora seja capaz de estimular a gliconeogênese no fígado. Juntamente com outras citocinas, sozinhas ou combinadas é capaz de reduzir a ingestão alimentar e também interferir no balanço de energia. Todos estes mecanismos vão desencadear a síndrome de anorexia e caquexia Interferon g (IFNg): Citocina produzida por células T ativadas e natural killer (NK). Potencializa o efeito do TNF e aumenta a expressão do RNAm engatilhada pelo TNF nos macrófagos expostos à endotoxina. Segundo Carvalho et al (1992), assim como o TNFa, o IFNg provoca diminuição da ingestão alimentar e inibição da lipase lipoprotéica nos adipócitos. Assim, muitos estudos revelam que a caquexia pode, raramente, ser atribuída a uma citocina, mas a associação de citocinas e outros fatores, como alguns hormônios - cortisol, glucagon, adrenalina - propiciam / intensificam a SAC (4) ALTERAÇÕES SENSORIAIS A diminuição no consumo alimentar e o aumento da perda de peso que ocorrem na SAC são atribuídos a inúmeros fatores64, sejam eles efeitos locais do tumor, como obstruções e sintomas GI, ou anorexia decorrente de causas não mecânicas, como desequilíbrios de neuropeptídios e citocinas. A baixa ingestão pode ocorrer, ainda, por reações adversas do tratamento radical do câncer, como náuseas e vômitos decorrentes da QT, que diminuem o apetite, as mucosites e enterites em função da RT e as mutilações das cirurgias. Muitos pacientes atribuem a diminuição do apetite e da ingestão alimentar a alterações desagradáveis e inaceitáveis do paladar e do olfato. Os fatores que afetam o paladar e o olfato são complexos, sejam eles anatômicos, fisiológicos ou de outra natureza. Os estudos iniciais sobre o paladar alterado de pacientes com câncer utilizaram o método que detecta a menor concentração percebida de soluções de cloreto de sódio (salgado), ácidos hidroclórico e cítrico (azedo), uréia (amargo) e sacarose (doce). Mas, esses estudos de sensibilidade de paladar, em doença maligna, têm mostrado resultados variáveis. Os relatos incluem um limiar de reconhecimento elevado para o doce, limiar diminuído para o amargo e algum aumento em limiares para o azedo e o salgado. O limiar de paladar diminuído para o amargo foi associado à aversão à carne vermelha. Outros trabalhos contestaram as irregularidades no limiar ao paladar. É importante salientar que a supressão do paladar é mais severa após tratamento radioterápico na região de orofaringe e pacientes em QT referem a sensação de gosto metálico na boca. Segundo Ferreira, as alterações do paladar são associadas à diminuição dos níveis séricos de metais como zinco e níquel. Embora estes achados sobre o sabor sejam inconsistentes em relação a um padrão, respostas alteradas ao sabor dos alimentos causam rejeição de alimentos nutritivos, contribuindo para a anorexia e diminuição da ingestão. Essas anormalidades de sensações não se correlacionam consistentemente com a localização tumoral, extensão de envolvimento do tumor, resposta do tumor à terapia ou preferências e ingestões alimentares. Em relação às alterações gerais do paladar, é frequente o desenvolvimento de aversões alimentares específicas, ou seja, o consumo de um alimento particular é associadoa uma reação desagradável durante ou após sua ingestão. O resultado é a abstenção daquele alimento. Portanto, recomenda-se que os pacientes evitem seus alimentos preferidos durante o período da QT, caso contrário poderá ocorrer uma associação de desprazer entre os efeitos da QT e os alimentos oferecidos durante o tratamento do câncer, criando-se uma situação de aversão alimentar Saciedade precoce também é comum no paciente oncológico, presente em aproximadamente 50% dos pacientes, por alterações na motilidade GI e redução da capacidade gástrica. O declínio da capacidade gástrica pode ser causado por uma neuropatia autonômica paraneoplásica, em virtude do tratamento quimioterápico que altera o feedback autonômico do sistema nervoso central. Neoplasias malignas no TGI também podem produzir saciedade precoce CÂNCER: UMA DOENÇA INFLAMATÓRIA A presença de resposta inflamatória sistêmica, evidenciada por níveis elevados de citocinas pró- inflamatórias é frequente em pacientes com câncer. Apesar de sua importância na manutenção da homeostasia, a produção exagerada de citocinas pode levar a efeitos deletérios para o hospedeiro. Idade avançada é o fator de risco mais fortemente relacionado a câncer, com a incidência dessa doença aumentando com o avançar da idade, até atingir um platô aos 90 anos de idade, quando começa a cair vertiginosamente. Sabendo-se que idosos, mesmo saudáveis, apresentam com frequência uma resposta inflamatória sistêmica basal, representada por níveis acima do normal de proteínas de fase aguda e citocinas pró-inflamatórias, tais como interleucina 6 (IL-6), é de se prever que idosos com câncer apresentem repercussões clínicas, devido a níveis elevados de citocinas, com maior frequência do que ocorre em pacientes jovens. Níveis elevados de IL-6, corroborando esse fato, têm sido relacionados a um prognóstico adverso em diversos tipos de câncer. Paralelamente, é interessante observar que, apesar de apresentarem resposta inflamatória sistêmica com certa frequência, representada por níveis acima do normal de citocinas pró-inflamatórias e proteínas de fase aguda, pacientes com câncer são, em geral, imunodeprimidos (Figura 33.1). Tal fato decorre de particularidades da resposta imune no microambiente tumoral, já que o infiltrado celular de células imunes no tumor secreta mediadores importantes para crescimento e proliferação tumoral, enquanto o tumor, propriamente dito, apresenta diversos mecanismos de evasão, por meio dos quais se protege do ataque do sistema imune. Na periferia, contribuindo para o padrão de imunodepressão, ocorre liberação sistêmica de citocinas anti-inflamatórias, tais como IL-10 e TGF- b, concomitantemente à resposta pró- -inflamatória, e se observa diminuição no número absoluto de subgrupos de linfócitos T Cânceres que liberam pouca ou nenhuma citocina induzem resposta inflamatória discreta, que parece ser acompanhada por pouca vascularização e crescimento do tumor. Produção de mediadores inflamatórios induziriam formação vascular e liberação de fatores de crescimento, proporcionandocrescimento do tumor. Por outro lado, resposta inflamatória exagerada com infiltração monocítica está associada com citotoxicidade e regressão/eliminação do tumor. Macrófagos associados a tumores são cruciais na deflagração da resposta inflamatória e produzem diversos fatores de crescimento para células epiteliais e endoteliais, assim como citocinas inflamatórias e quimiocinas que afetam a angiogênese, aumentando a proliferação celular e o crescimento do tumor. Além disso, mediadores anti-inflamatórios liberados pelo tumor inibem a resposta imune antitumoral, facilitando sua progressão MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS A perda de peso significativa tem associação com a anorexia, que é a perda espontânea e não intencional de apetite e é um dos sintomas mais comuns do CA avançado. Ainda, resulta de alterações do paladar e olfato ou mudanças na regulação hipotalâmica Um estudo avaliando o perfil nutricional de pacientes com CA esofágico detectou que a ingestão calórica foi considerada baixa quando comparada as recomendações nutricionais apresentando um consumo médio de 18,53 kcal/kg/dia. Além disso, constatou-se que um dos determinantes da perda de peso e da caquexia no CA é o aumento do gasto energético A anorexia ocorre no CA por incapacidade do hipotálamo para responder apropriadamente a sinais periféricos indicativos de um déficit de energia. Entre as principais razões da perda de peso estão as interações hospedeiro tumorais que aumentam a expressão cerebral de substâncias pró-inflamatórias (IL-1, IL-6 e TNF-α) as quais estão associadas à resistência hipotalâmica a sinais periféricos que informam ao cérebro do estado de consumo e gasto energético O EN de pacientes com CA pode sofrer comprometimentos que levam a consequências negativas como perda de peso, anorexia, disfagia, náuseas, vômitos, xerostomia, saciedade precoce, constipação, disgeusia e dor Um estudo transversal e descritivo realizado com pacientes com CA em tratamento quimioterápico em um Centro de Oncologia no município de Estrela/RS mostrou a porcentagem dos principais desconfortos gastrointestinais. Os mesmos foram descritos por 95% dos pacientes com destaque para náuseas (90%), perda de apetite (70%), vômitos (65%), disgeusia (45%), constipação (15%), xerostomia (15%) e diarréia (10%). Ainda, os pacientes relataram uma aceitação regular da dieta de 45% e ruim de 25% DIAGNÓSTICO DA CAQUEXIA O Estado Nutricional (EN) dos pacientes é usualmente avaliado pela combinação de parâmetros clínicos, antropométricos e laboratoriais. A antropometria constitui-se em um conjunto de técnicas de mensuração do corpo humano ou de suas várias partes, avaliando o efeito do estresse da doença89. Medidas antropométricas são frequentemente utilizadas na determinação dos compartimentos corporais: tecido adiposo, muscular, ósseo, água extracelular O peso corpóreo é o parâmetro nutricional mais utilizado na avaliação do paciente. Segundo Ferreira, variação de 2% em um mês, 3,5% em três meses e 5% em um período de seis meses é aceitável em indivíduos adultos. Qualquer variação, além desses parâmetros, deve ser considerada anormal. A suspeita da caquexia ocorre diante de uma perda involuntária de 5% em relação ao peso habitual, em um período de 6 meses. Uma perda de 10% indica depleção severa, e é considerada o parâmetro utilizado para estabelecer o início da síndrome da anorexiacaquexia (SAC) no paciente obeso. É importante destacar, que a perda de peso diminui a resposta do paciente ao tratamento quimioterápico e aumenta a toxicidade da droga no organismo. Além do peso, a prega cutânea de tríceps (PCT), a circunferência muscular do braço (CMB), o perímetro de pulso e o índice de massa corpórea (IMC) são outras medidas antropométricas utilizadas Os testes laboratoriais mais comuns na avaliação do EN são a dosagem plasmática de transferrina, proteína transportadora de retinol, e creatinina urinária, embora tenham valor limitado em pacientes com câncer, ante o aspecto crônico da desnutrição. A albumina sérica é, então, o parâmetro mais utilizado, frente ao baixo custo e a alta acurácia (na ausência de disfunção hepática e/ ou renal), seguida da pré- albumina e dos linfócitos. Em pacientes com câncer, podem haver dificuldades na interpretação desses parâmetros em virtude de alterações fisiológicas, retenção hídrica, aumento da massa tumoral, alterações hormonais devido ao tratamento ou síndromes paraneoplásicas, efeitos do tratamento antineoplásico e da doença sobre o metabolismo e composição corporal. Assim, ainda não existe método de avaliação nutricional considerado "padrão ouro", em razão de suas limitações e influências de fatores independentes do EN. O diagnóstico nutricional de um paciente com câncer gastrointestinal deve envolver história clínica e dietética, exame clíniconutricional, antropometria, parâmetros bioquímicos, considerando-se as vantagens, desvantagens e indicações de cada método TRATAMENTO O tratamento do câncer envolve várias fases e diferentes objetivos, podendo ser curativo, paliativo ou de suporte. No paciente oncológico, especialmente com doença avançada, é muito importante compreender, em conjunto com a equipe médica responsável, com o paciente e a família, os objetivos do tratamento e, discutir, quando possível, a sobrevida do paciente. A equipe de saúde responsável deverá preocupar-se com questões éticas, considerando o real benefício do tratamento e o custo. Para tal, deve-se considerar as limitações sócio-econômicas e a vontade do paciente e da sua família em enfrentar o tratamento Nutricional: A alimentação merece atenção especial em qualquer fase do ciclo vital, sendo fator essencial à sobrevivência do indivíduo. Nenhuma outra atividade será tão permanente na história humana como a alimentação. A alimentação é um ato social, carregado de representações sociais e emocionais que são construídas. A Terapia Nutricional (TN) em oncologia deve contemplar inúmeras variáveis, relacionadas com o próprio tumor, com o impacto desse no metabolismo do doente e com as características individuais de cada paciente. A indicação da TN em pacientes com câncer avançado permanece controversa. A TN em pacientes fora de possibilidades terapêuticas é uma questão a ser discutida e decidida pelo paciente e familiares / acompanhantes, com a assistência de uma equipe multidisciplinar, na qual o nutricionista deve ter participação indispensável. Segundo Argilés et al (2003), estratégias nutricionais não são suficientes para reverter a caquexia; para Younes&Noguchi (2000), o suporte nutricional pode reverter a maioria, mas não todas as alterações. A TN deverá ser planejada conforme o estado nutricional do paciente e a quantidade e a qualidade da aceitação alimentar. Se a aceitação da dieta via oral não for suficiente, ou seja, menor que 60% das necessidades calóricas, é conveniente introduzir TN via oral de início, com acréscimo de alimentos calóricos e nutritivos ou mesmo utilizando suplementos alimentares industrializados para aumentar o aporte protéico- calórico da dieta. Ácidos Graxos Poliinsaturados (PUFAs) - Ácido Eicosapentaenóico (EPA) e Ácido Docosahexaenóico (DHA) são PUFAs essenciais, ou seja, não produzidos no nosso organismo e que necessitam ser incorporados através da alimentação. Pertencem à família Ômega-3 (ω3) e têm sido associados à diminuição do volume tumoral, melhora do peso corporal e diminuição da anorexia, devido sua ação antiinflamatória107. O ω3 é capaz de suprimir a produção de citocinas próinflamatórias, aumentar a ação da insulina, aumentar a síntese de óxido nítrico e a concentração de acetilcolina no cérebro e proteger os neurônios das ações tóxicas do TNFa Glutamina e Arginina - Os aminoácidosGlutamina (GLN) e Arginina (ARG) são classificados como aminoácidos condicionalmente essenciais, pois podem ser necessários em maiores quantidades em pacientes sofrendo de um insulto catabólico, como trauma, infecções graves e câncer. Fórmulas suplementadas com GLN têm resultado em uma maior preservação do músculo esquelético, devido aumento da síntese protéica e diminuição da proteólise muscular. Além disso, a GLN melhora o balanço nitrogenado em pacientes graves aumenta a função das células imunes não aumentando a produção de citocinas préinflamatórias. É, ainda, precursor da glutationa, um importante antioxidante intracelular Nucleotídeos - Representados pelas purinas e pirimidinas. São os precursores do Ácido Desoxirribonucléico (DNA) e Ácido Ribonucléico (RNA). Não há estudos clínicos disponíveis usando nucleotídeos como imunomoduladores isolados em pacientes com câncer. Portanto, a imunonutrição, em combinação com a ARG, ω3 e os nucleotídeos, tem sido testada. Farmacológico - Estimulantes do Apetite: O FDA (FoodandDrugAdministration), dos Estados Unidos da América, aprovou fármacos para o tratamento da caquexia associada ao câncer. Os estimulantes de apetite mais estudados atualmente são o Acetato de Megestrol e os Corticosteróides, além do Dronabinol e a Melatonina Acetato de Megestrol (AM) - É um derivado sintético do hormônio progesterona. Sua administração oral é frequentemente utilizada no tratamento de tumores avançados, tumores responsivos à hormonioterapia e no tratamento de pacientes portadores de SAC. Esquemas posológicos de 160mg/dia (40mg, 4 vezes/ dia) a 1600mg/dia têm sido relacionados ao aumento do apetite, maior captação de calorias, ganho de peso corporal e sensação de bem-estar. Tais respostas foram obtidas com doses de 800mg/dia, notando-se que não se obteve aumento da resposta acima desse limite posológico Corticosteróides (Glicocorticóides) - Têm sido utilizados como paliativo nos sintomas associados ao câncer. Melhoram, em curto prazo, o apetite, a ingestão alimentar, a performance e a qualidade de vida, mas não asseguram o ganho de peso. O tratamento prolongado pode levar à fraqueza, delírios, osteoporose e imunossupressão, comumente presente em pacientes com câncer avançado. Devem ser administrado, de preferência, no horário da manhã ou começo da tarde, para evitar insônias noturnas Dronabinol - É um derivado sintético da maconha na forma oral de tetrahidrocannabinol (THC). Tem sido utilizado como antiemético no tratamento quimioterápico. Muitos estudos associam a utilização de THC em pacientes com câncer com a melhora do humor e apetite, além de melhora do peso corpóreo. Os efeitos adversos mais comuns são euforia, confusão mental e sonolência. Seu mecanismo de ação ainda não está totalmente claro, postula-se que tem ação nos receptores de endorfina, inibindo a síntese de prostaglandinas ou a secreção de IL-1 Melatonina - Hormônio da glândula pineal capaz de reduzir os níveis circulantes de TNFα em pacientes com câncer avançado. Associado à redução da mielossupressão, neuropatia e caquexia em pacientes com condições clínicas precárias, portadores de câncer de pulmão 2. EXPLICAR OS PRINCIPAIS SINTOMAS E EXAMES A SEREM SOLICITADOS FRENTE A UM QUADRO DE NEOPLASIA MALIGNA Apesar de o câncer poder manifestar sintomas diferentes por conta do tipo e da localização, alguns indícios são mais frequentes e merecem atenção: Cansaço extremo sem causa aparente; Dor contínua; Febre; Hematomas; Surgimento de manchas ou pintas na pele que mudam de cor, de forma e de tamanho; Sangramento fora do normal (sangramento nas fezes, na urina, ao tossir); Caroços ou volume anormal no abdome, na mama, no pescoço ou em outros locais do corpo; Vômito e dor de cabeça; Perda de peso; Mudanças na visão de forma inesperada; Perda de apetite; Alteração do hábito intestinal; Tosse persistente e falta de ar. Os testes são exames de imagem, marcadores tumorais séricos e biópsia; um ou mais pode ser indicado para pacientes com história sugestiva ou achados físicos ou laboratoriais. Exames de imagem com frequência incluem radiografia simples, ultrassonografia, TC, PET e RM. Esses exames ajudam a identificar alterações, determinar a qualidade da massa (sólida ou cística), mensurar as dimensões e determinar relação com as estruturas adjacentes, o que pode ser importantes se houver indicação de cirurgia ou biópsia. Ecografia: Também conhecida por ultrassonografia, que é um exame que permite detectar lesões em órgãos como fígado, pâncreas, baço, rins, próstata, mama, tireoide, útero e ovários; Radiografia: É um exame realizado através de Raio X, que ajuda a identificar alterações no pulmão, na coluna e ossos; Ressonância magnética: É um exame de imagem que deteta alterações em órgãos como mama, vasos sanguíneos, fígado, pâncreas, baço, rins e supra-renais. Tomografia Computadorizada: É realizada quando se verificam alterações no Raio X e normalmente é solicitada para avaliar os pulmões, fígado, baço, pâncreas, articulações e faringe, por exemplo. Na maioria dos casos, a confirmação do diagnóstico é feito através da combinação de vários exames, como observação do paciente, exame de sangue, ressonância magnética e biopsia, por exemplo. Marcadores tumorais séricos podem oferecer evidências confirmando a neoplasia específica em pacientes com achados sugestivos. A maioria não é utilizada como testes de triagem de rotina, exceto em pacientes de alto risco. Exemplos úteis incluem: Alfa-fetoproteína (carcinoma hepatocelular, carcinoma testicular) Antígeno carcinoembriônico (câncer de cólon) Gonadotropina coriônica beta-humana (coriocarcinoma, carcinoma testicular) Imunoglobulinas séricas (mieloma múltiplo) Testes moleculares como BCR-ABL1 (leucemia mielóide crônica) CA 125 (câncer de ovário) CA 27-29 (câncer de mama) PSA (câncer de próstata) Antígeno carcinogênico (CEA) é um complexo proteína-polissacarídio presente em carcinomas de cólon e em intestinos, pâncreas e fígados fetais. Os níveis do sangue estão elevados em pacientes com carcinoma de colón, mas a especificidade é relativamente baixa, pois os resultados positivos também ocorrem em pessoas que fumam muito e em pacientes com cirrose, colite ulcerativa e outros cânceres (p. ex., mama, pâncreas, bexiga, ovário, colo do útero). CA 19-9: foi originalmente desenvolvido para detectar câncer colorretal, mas provou ser mais sensível para o câncer pancreático. É primariamente usado para julgar a resposta ao tratamento em pacientes com cânceres pancreáticos avançados. O CA 19-9 pode também estar elevado em outros tipos de câncer gastrintestinal, em particular no câncer dos ductos biliares e alguns distúrbios benignos dos ductos biliares e colestáticos. CA 15-3 e CA 27-29: estão elevados em muitos pacientes com câncer metastático de mama. Também podem estar elevados em outras condições. Esses marcadores são primariamente usados para monitorar a resposta à terapia. TA-90: é uma subunidade altamente imunogênica de um antígeno associado a tumor urinário presente em 70% dos melanomas, nos sarcomas de tecidos moles e nos carcinomas de mama, cólon e pulmões. Alguns desses marcadores tumorais séricos podem ser mais úteis para monitorar a resposta ao tratamento, em vez de detectar os tumores. Biópsia para confirmar o diagnóstico e o tecido primário é quase sempre necessária quando há suspeita de câncer. A escolha do local da biópsia é normalmente determinada pela facilidade de acesso e grau de invasividade. Se houver linfadenopatia, biópsia com agulha fina ou de núcleo pode revelar o tipo de tumor. Recomendam-se biópsias denúcleo ou excisão de linfonodos para o diagnóstico de linfomas, porque a preservação da arquitetura linfonodal é importante para o diagnóstico preciso. Algumas vezes, é necessária biópsia a céu aberto. Outro tipo de biópsia inclui a broncoscopia para fácil acesso a tumores pulmonares centrais ou mediastinais, biópsia percutânea do fígado, se houver lesões no fígado e TC ou biópsia guiada por ultrassonografia do pulmão ou massas teciduais moles. Graduação é uma medida histolótica da agressividade do tumor e fornece informação prognóstica importante. Ela é determinada pela amostragem de tecido. O grau baseia-se na aparência morfológica das células tumorais, incluindo a aparência do núcleo, citoplasma e nucléolos; frequência de mitoses; e quantidade de necrose. Escalas de graduação foram desenvolvidas para muitos tipos de câncer. Exames moleculares como análogos cromossômicos, hibridização fluorescente in situ (FISH), PCR e antígenos de superfície celular (p. ex., em linfomas, leucemias, cânceres de pulmão e gastrintestinal) ajudam a delinear a origem dos cânceres metastáticos, especialmente cânceres de origem primária desconhecida, e podem ser úteis ao selecionar a terapia. 3. DEFINIR CUIDADOS PALIATIVOS, ABORDANDO SUAS INDICAÇÕES E MANEJO DO PACIENTE COM NEOPLASIA APRESENTANDO DISPNEIA, DOR, CONSTIPAÇÃO Cuidados Paliativos não se baseiam em protocolos, mas sim em princípios: Promover o alívio da dor e de outros sintomas desagradáveis. Afirmar a vida e considerar a morte como um processo normal da vida. Não acelerar nem adiar a morte. Integrar os aspectos psicológicos e espirituais no cuidado do paciente. Oferecer um sistema de suporte que possibilite ao paciente viver tão ativamente quanto possível até o momento da morte. Oferecer sistema de suporte para auxiliar os familiares durante a doença do paciente e a enfrentar o luto. Garantir abordagem multiprofissional para focar as necessidades dos pacientes e seus familiares, incluindo acompanhamento no luto. Melhorar a qualidade de vida e influenciar positivamente o curso da doença. Iniciar o mais precocemente possível, juntamente com outras medidas terapêuticas. Destaca-se que os Cuidados Paliativos resgatam a possibilidade da morte como um evento natural e esperado na presença de doença ameaçadora da vida, focando o cuidado na pessoa e não na doença, centrado na biografia e no respeito à autonomia, com ênfase na vida que ainda pode ser vivida. Além disso, considera-se mais adequado falar em doença que ameaça a vida, em vez de doença terminal. Também é mais adequado dizer possibilidade ou não de tratamento modificador da doença e não impossibilidade de cura, afastando a ideia de “não ter mais nada a fazer”, uma vez que sempre há um tratamento a ser oferecido para controlar os sintomas e o sofrimento do paciente e de seus familiares. Cuidados Paliativos estão indicados para todos os pacientes (e familiares) com doença ameaçadora da continuidade da vida, em concomitância com os cuidados curativos, por qualquer diagnóstico, com qualquer prognóstico, seja qual for a idade, e a qualquer momento da doença em que eles tenham expectativas ou necessidades não atendidas. Sendo assim, Cuidados Paliativos podem complementar e ampliar os tratamentos modificadores da doença ou podem tornar-se o foco do cuidado, de acordo com os desejos e as necessidades individuais de cada paciente. Nesse contexto, indicam-se Cuidados Paliativos em ambientes intensivos a todos os pacientes com risco de morte e com sintomas que comprometam a qualidade de vida. Sintomas Respiratórios A abordagem dos sintomas respiratórios em Cuidados Paliativos é complexa e pode envolver desde os sintomas mais comuns: dispnéia, tosse, hipersecreção de vias aéreas (broncorreia) e hemoptise, até outras doenças como: doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC), insuficiência cardíaca congestiva (ICC), câncer, além de aspectos emocionais que transtornam pacientes e familiares, além de toda a equipe de saúde. Todos diminuem de algum modo sua qualidade de vida, merecendo, portanto, a atenção dos profissionais de saúde. À medida que a doença progride, maior é a necessidade de Cuidados Paliativos. DISPNEIA A American Thoracic Society define a dispnéia como uma experiência subjetiva de desconforto respiratório que consiste de sensações qualitativamente distintas que variam na intensidade. A dispnéia é um dos sintomas mais frequentes no fim da vida e que causa mais angústia, tanto no paciente como na família e na equipe. A frequência e a gravidade desse sintoma aumentam com a progressão da doença, de 20% a 80% em pacientes com câncer. É importante ter em mente que 24% dos pacientes que apresentam dispnéia não possuem nenhuma moléstia cardiopulmonar. Do ponto de vista fisiopatológico, a dispnéia é resultado de três alterações principais: aumento no esforço respiratório para vencer algum problema mecânico (isto é, doença pulmonar obstrutiva ou restritiva, derrame pleural); um aumento da proporção de fibras musculares para manter o funcionamento normal (fraqueza neuromuscular, caquexia por câncer, etc.), e um aumento na necessidade ventilatória (hipoxemia, hipercapnia, acidose metabólica, anemia, etc.). Não existe uma forma padronizada de abordar a dispnéia em todos os seus aspectos: físico, emocional, comportamental e circunstancial; é necessária a percepção de toda a equipe. Trinta e três escalas diferentes avaliam esse sintoma, mas nenhuma delas é adequada para uso isolado, pois todas levam em consideração apenas parâmetros unidimensionais. É fundamental que se avalie não só a intensidade, mas também suas demais características, como desencadeantes, ritmo da evolução, fatores de melhora e piora, além da doença que leva ao sintoma. Havendo causas corrigíveis, é possível controlar a dispnéia de forma mais fácil e rápida. Quando há derrame pleural, por exemplo, punção, drenagem e eventualmente pleurodese (em caso de derrame pleural de repetição) podem ser condutas extremamente úteis. Além disso, pode-se lançar mão de anticoagulação no caso de tromboembolismo pulmonar, radioterapia, laser, stents de vias aéreas no caso de obstrução mecânica não-removível, corticosteróides no caso de linfangite carcinomatosa, diuréticos em caso de edema pulmonar etc. Também são de grande ajuda a fisioterapia, acupuntura, massagem, terapias psicológicas e comportamentais e psicanálise. CONSTIPAÇÃO Alterações do hábito intestinal são queixas comuns entre pacientes sob Cuidados Paliativos, seja por causa da doença de base ou devido ao tratamento. Cerca de 50% dos pacientes admitidos em Hospedarias são obstipados, sendo que muitos deles já usam medidas laxativas. O número de doentes que sofrem com diarréia é menor, cerca de 7% a 10% de quem tem câncer e 27% daqueles HIV positivos. Não há uma definição única e totalmente aceita no mundo, concernente ao diagnóstico de constipação. Para muitos médicos, os pacientes referem-se à constipação como uma desordem com vários sintomas, caracterizando-a pela presença de distensão abdominal e fezes endurecidas, obtidas através de um esforço evacuatório maior, muitas vezes após o qual se mantém a sensação de evacuação incompleta. Poucos indicam diminuição da frequência das evacuações como um sintoma primário. Dentre todas as causas de constipação em pacientes com câncer avançado em Cuidados Paliativos, as mais comuns relacionam-se aos efeitos colaterais dos opióides e aos efeitos da progressão da doença. O manuseio efetivo da obstipação em Cuidados Paliativos exige procedimento atento: antecipar-se a esse problema comum; questionar o paciente sobre sua função intestinal habitual; iniciarlaxantes profiláticos em concomitância ao início do uso de opióides; dar preferência a laxantes orais aos retais; combinar laxantes, se necessário; titular o tratamento visando atingir evacuações confortáveis; considerar, sempre que possível, medidas não- farmacológicas, como aumento da ingestão de líquidos e fibras na dieta, atividade física e respeito à privacidade do paciente no uso do toalete, evitando, por exemplo, o uso de fraldas. A escolha do laxante deve levar em conta a preferência do paciente e os efeitos do remédio. Podem ser feitas várias combinações com os diferentes efeitos desses medicamentos. DOR O controle da dor deve basear-se em avaliação cuidadosa com elucidação de suas possíveis causas e seus efeitos na vida do paciente, investigando fatores desencadeantes e atenuantes, além dos psicossociais, que possam influenciar o seu impacto. Nesse sentido, as equipes multiprofissionais dedicadas aos Cuidados Paliativos devem estabelecer precocemente vias de comunicação claras para assistência. O familiar é um pilar fundamental para incentivar a adesão ao tratamento, já que uma analgesia insuficiente se traduz em sobrecargas físicas e psicológicas para o paciente e sua família. A estratégia de base científica para o controle adequado da dor e de outros sintomas resume-se, segundo Twycross, na sigla “EEMMA”: evolução da dor; explicação da causa; manejo terapêutico; monitorização do tratamento; atenção aos detalhes. Evolução da dor: A doença terminal é progressiva, com grande variabilidade individual associada a múltiplos sintomas intensos e oscilantes. Cada indivíduo tem suas próprias vivências, as quais induzem respostas subjetivas diante da expressão de dor, envolvendo respostas afetivas e cognitivas. Portanto é necessário reconhecer o termo “dor total” introduzido por Cicely Saunders. Esse conceito mostra a importância de todas as dimensões do sofrimento humano (físico, mental, social e espiritual). Portanto, o alívio adequado da dor não é alcançado sem se dar atenção a essas dimensões indissociáveis. Estrategicamente, devem-se identificar quatro aspectos básicos na evolução: a causa da dor; o mecanismo da dor; os fatores não-físicos envolvidos com a expressão de dor; a discriminação detalhada da dor – localização, duração, irradiação, fatores temporais, de agravamento e alívio, impactos no sono e na capacidade funcional e intensidade. Explicação da causa: As explicações da causa, dos mecanismos da dor e dos fatores que podem modificar a sua intensidade, como o resgate do padrão de sono, a diminuição do cansaço e a melhora do humor, tudo isto por meio de uma linguagem simples para o paciente e sua família, habitualmente contribuem para confiança e adesão ao tratamento. O tumor como causa mais frequente de dor nos pacientes oncológicos é o acontecimento mais comum, porém em muitos casos a dor está relacionada com o tratamento anti-tumoral. Manejo terapêutico: Implica na consideração de três aspectos, que podem estar combinados: identificar e tratar a causa da dor quando possível, usar de medidas nãofarmacológicas e de medidas farmacológicas. Tratamentos paliativos modificadores da causa de base da dor podem ser indicados para controle. Por exemplo, em pacientes com dor localizada por fratura patológica, a fixação cirúrgica dessa fratura controla satisfatoriamente os sintomas dolorosos. Na paliação de doenças não-oncológicas, esses princípios são igualmente aplicados. Tratamento não-farmacológico Terapia física por aplicação de calor: usada em casos de espasmos musculares e artralgias. Terapia física por aplicação de frio: usada em casos de dor musculoesquelética, contusão e torção. Acupuntura: usada em casos de dor devida a espasmos musculares, disestesias e nevralgias. Massoterapia: usada nos casos em que se desejam relaxamento muscular e sensação de conforto. Neuroestimulação elétrica transcutânea (TENS): usada em casos de dor por compressão tumoral nervosa, óssea e em região de cabeça e pescoço. Tratamento farmacológico Refere-se à arte e à ciência no uso combinado de três grupos farmacológicos: analgésicos não-opióides, analgésicos opióides, e drogas adjuvantes. Nesse sentido, a Organização Mundial da Saúde (OMS) publicou, em 1986, um modelo clínico eficaz para o tratamento da dor oncológica que serve até os dias atuais, validado e aceito mundialmente, com base em seis princípios básicos: pela boca – usar a via oral sempre que possível; pelo relógio – administrar a medicação em horário regular, e não apenas em doses “se necessário”; para cada indivíduo – medicar de acordo com as necessidades específicas do doente; usar sempre coanalgésicos ou adjuvantes o prestar atenção a todos os atenção aos detalhes; medicar pela “escada analgésica”. Segundo esse algoritmo, a dor deve ser tratada de acordo com uma escala ascendente de potência medicamentosa, relacionada com a intensidade da dor. As drogas analgésicas aumentam sua potência, começando com os analgésicos leves e antipiréticos (dipirona, paracetamol) e os antiinflamatórios não- hormonais (AINHs) na dor leve, passando pelos opióides fracos na dor moderada e opióides fortes, como a morfina, nas dores severas, sempre em conjunto com os adjuvantes. Atenção para o fato de que, ao se progredir na escada analgésica, nunca se devem associar opióides (retira-se o opióide fraco antes da introdução do opióide forte).
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