Buscar

2006---Longhin-Thomazi---Gramaticalizacao-de-conjuncoes-coordenativas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 400 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 400 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 400 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

GraGoatá
ISSN 1413-9073
 Gragoatá Niterói n. 21 p. 1-400 2. sem. 2006 
n. 154 p. 1-140 2. sem. 2003
n. 21 2o semestre 2006
Política Editorial
a revista Gragoatá tem como objetivo a divulgação nacional e internacional 
de ensaios inéditos, de traduções de ensaios e resenhas de obras que representem 
contribuições relevantes tanto para reflexão teórica mais ampla quanto para a 
análise de questões, procedimentos e métodos específicos nas áreas de Língua e 
Literatura.
Programa de Pós-Graduação em Letras da Universidade Federal Fluminense 
Direitos desta edição reservados à EdUFF – Editora da Universidade Federal Fluminense 
Rua Miguel de Frias, 9 – anexo – sobreloja – Icaraí – Niterói – RJ – CEP 24220-008 
Tel.: (21) 2629-5287 – Telefax: (21)2629-5288 – http://www.eduff.uff.br – E-mail: eduff@vm.uff.br
Projeto gráfico:
Capa:
Revisão:
Normalização:
Editoração:
Supervisão Gráfica
Coordenação editorial:
Periodicidade:
Tiragem:
Reitor:
Vice-Reitor:
Pró-Reitor de Pesquisa e Pós-Graduação:
Diretor da EdUFF:
Conselho Editorial:
Conselho Consultivo:
Estilo & Design Editoração Eletrônica Ltda. ME
rogério Martins
Mariangela Rios de Oliveira e Jussara Abraçado
Caroline Brito de Oliveira
José Luiz Stalleiken Martins
Káthia M. P. Macedo
Ricardo Borges 
Semestral
500 exemplares
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação 
Ana Pizarro (Univ. de Santiago do Chile)
Cleonice Berardinelli (UFRJ)
Eurídice Figueiredo (UFF)
Evanildo Bechara (UERJ)
Hélder Macedo (King’s College)
Lourenço de Rosário (Fundo Bibliográfico de Língua Portuguesa)
Lucia Teixeira (UFF)
Malcolm Coulthard (Univ. de Birmingham)
Maria Luiza Braga (UFRJ)
Marlene Correia (UFRJ)
Michel Laban (Univ. de Paris III)
Mieke Bal (Univ. de Amsterdã)
Nádia Battela Gotlib (USP)
Nélson H. Vieira (Univ. de Brown)
Ria Lemaire (Univ. de Poitiers)
Silviano Santiago (UFF)
Teun van Dijk (Univ. de Amsterdã)
Vilma arêas (UNICAMP)
Walter Moser (Univ. de Montreal)
© 2007 by
É proibida a reprodução total ou parcial desta obra sem autorização expressa da Editora.
APOIO PROPP/CAPES / CNPq
UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE
G737 Gragoatá. Publicação do Programa de Pós-Graduação em Letras da Universidade 
 Federal Fluminense.— n. 1 (jul./dez. 1996) - . — Niterói : EdUFF, 1996 – v.17 : il. ; 
 26 cm.
 Semestral
 ISSN 1413-9073.
 1. Literatura. 2. Lingüística.I. Universidade Federal Fluminense. Programa de 
 Pós-Graduação em Letras.
 CDD 800
Roberto de Souza Salles
Antônio José dos Santos Peçanha
Humberto Machado Fernandes
Mauro Romero Leal Passos
Mariângela Oliveira (UFF) – Presidente
Lívia de Freitas Reis (UFF)
Eneida Maria de Souza (UFMG)
Solange Vereza (UFF)
Silvio Renato Jorge (UFF)
José Luiz Fiorin (USP)
Leila Bárbara (PUC-SP)
Lucia Helena (UFF)
Eurídice Figueiredo (UFF)
Regina Zilberman (PUC-RS)
Laura Padilha (UFF)
Jussara Abraçado (UFF)
Sumário
n.21	 2º	semestre	2006
GraGoatá
Apresentação ................................................................................... 5
ARTIGOS
Ordenação dos advérbios qualitativos em –mente no 
português escrito no Brasil nos séculos XVIII e XIX ...............11
Mário	Eduardo	Martelotta
A estrutura argumental das construções deverbais em -dor ..27
Nubiacira Fernandes de Oliveira 
Correlações função-forma em dois períodos do século XX: 
indícios de especialização funcional ...........................................43
Maria Alice Tavares 
Gramaticalização de conjunções coordenativas: a história de 
uma conclusiva ................................................................................59
Sanderléia Roberta Longhin-Thomazi 
Conjunções lexicais e gramaticais: o caso de por causa de......73
Maria da Conceição Auxiliadora de Paiva e Maria Luiza Braga
Mudança no sistema verbal do português: as variantes do 
futuro do pretérito e a questão da gramaticalização ................87
Ana Lúcia dos Prazeres Costa
Transitividade verbal: uma análise funcional das 
manifestações discursivas do verbo fazer ................................ 101
Célia Maria Medeiros Barbosa da Silva
Estrutura argumental e valência: a relação gramatical objeto 
direto ............................................................................................... 115
Maria Angélica Furtado da Cunha 
“Restrições de ilhas” revisitadas: uma abordagem 
funcionalista à luz da noção de “unidade de informação” ...133
Maria Beatriz Nascimento Decat
Gramaticalização e dessentencialização de construções com 
predicados de atitude proposicional ......................................... 147
Sebastião Carlos Leite Gonçalves
A gradação tipológica das construções de voz ......................... 167
Roberto Gomes Camacho 
Ressonância e graus de transitividade na conversação 
espontânea em português ............................................................191
Maria Elizabeth Fonseca Saraiva 
Aspectos semântico-cognitivos da intensificação ..................201
José	Romerito	Silva	
Usos morfológicos: os processos marginais de formação de 
palavras em português .................................................................219
Carlos Alexandre Gonçalves
Usos do verbo ficar no português do Brasil: classificação e 
análise .............................................................................................243
Ida Rebelo e Paulo Osório
O uso do modo subjuntivo em orações relativas e 
completivas no português afro-brasileiro ................................269
Vívian	Meira
O papel da mesclagem conceptual na construção do 
significado do angulador um tipo de .........................................289
Angelina Aparecida de Pina
Aquisição lingüística sob a ótica dos modelos 
multirepresentacionais ................................................................303
Christina Abreu Gomes, Aline Rodrigues Benayon e Márcia Cristina 
Pontes	Vieira
A construção da referência e do sentido: uma atividade 
sociocognitiva e interativa ........................................................... 319
Cláudia Roncarati e Sílvia Regina Neves da Silva
Identité sociale et identité discursive, le fondement de la 
compétence communicationnelle ...............................................339
Patrick Charaudeau
Representação e intervenção: produção da subjetividade na 
linguagem .......................................................................................355
Décio Rocha
Um ethos para Hércules: considerações sobre a produção dos 
sentidos no tratamento editorial de textos ...............................373
Luciana Salazar Salgado
� Niterói, n. 21, p. �-10, 2. sem. 2006
apresentação
o tema deste número 21 da revista Gragoatá, usos	 lin-
güísticos, contempla reflexões acerca das seguintes questões: 
continuidade, variabilidade e mudança dos usos lingüísticos; 
derivação e estabilidade de sentido e de forma na língua; a ex-
pressão lingüística como história e como atualização; o passado 
e o presente no continuum das línguas; as relações entre língua, 
sociedade e sujeito; e relações interpessoais, tais como: negocia-
ção, polidez e conflito. 
Buscando adequar-se à natureza do tema a que se dedica, 
a Gragoatá	21, no que diz respeito	à ordenação dos artigos que 
reúne, apresenta-se organizada em forma de um continuum: os 
trabalhos voltados para o estudo de unidades lingüísticas me-
nores ou de fenômenos mais específicos antecedem aqueles que 
se detêm na investigação de unidades maiores ou de fenômenos 
de caráter mais abrangente.
De acordo com tal disposição, o primeiro artigo, de autoria 
de Mário Eduardo Martelotta, trata da ordem dos advérbios 
qualitativos em –mente, nos séculos XVIII e XIX. analisando a 
ordenação que caracteriza tais advérbios em cartas escritas no 
Brasil da época, Martelotta se propõe a demonstrar o gradual 
desaparecimento da tendência, já detectada em fases anteriores 
da evolução do português, ao posicionamento desses advérbios 
antes do verbo.
No artigo seguinte, de Nubiacira Fernandes de Oliveira, 
o centro de interesse é a estrutura argumental de construções 
deverbais com o sufixo–dor. Em seu trabalho, a autora busca 
examinar os processos de interação entre propriedades morfos-
sintáticas, semânticas e pragmáticas, visando ao estabelecimento 
de traços gerais de interpretação caracterizadores de tais constru-
ções. Para tanto, investiga a relação entre o sufixo e a estrutura 
temática das bases com as quais o sufixo ocorre, focalizando, em 
particular, as seguintes questões: (1) em que medida a estrutura 
argumental da construção deverbal corresponde à estrutura 
argumental da base? (2) como o caso agente se manifesta nas 
construções derivadas em -dor? 
Partindo da constatação de que, como resultado de seus 
processos de gramaticalização, os conectores e, aí e então pos-
suem funções sobrepostas no português brasileiro, Maria Alice 
Tavares, à luz do suporte teórico da lingüística funcional, estuda 
os padrões de correlação entre e, aí e então	e três dessas funções: 
seqüenciação textual, seqüenciação temporal e introdução	 de	 efeito. 
tavares analisa dados oriundos de As	 vinhas	 da	 ira, romance 
escrito por John Steinbeck em 1939 (cuja tradução brasileira, 
 
6 Niterói, n. 21, p. �-10, 2. sem. 2006
datada de 1940, apresenta marcas do dialeto usado nos anos 
trinta pelas classes populares do estado do rio Grande do Sul) 
e de 48 entrevistas provenientes do Banco de Dados VARSUL, 
que foram coletadas ao longo da última década do século XX. 
a partir dos resultados encontrados, tavares chega às seguin-
tes conclusões: (1) e, aí e então	intercalam-se na codificação da 
seqüenciação textual, da seqüenciação temporal e da introdu-
ção de efeito na primeira e na segunda metade do século XX; e 
(2) houve mudanças nos padrões de correlação função-forma, 
uma vez que, na década de trinta, aí e então são muito menos 
utilizados para codificar algumas das funções em tela do que 
na década de noventa. 
Aspectos relativos à gramaticalização de conjunções co-
ordenativas constituem o foco de atenção do artigo escrito por 
Sanderléia Roberta Longhin-Thomazi. Apoiando-se no pressu-
posto de que fatores de ordem cognitiva e pragmática interagem 
para a criação de novos itens gramaticais, a autora adota uma 
concepção de coordenação fundamentada em critérios semânti-
co-funcionais e busca reconstruir o percurso histórico-evolutivo 
da conjunção conclusiva logo, com base em fontes históricas do 
português.
Maria Luiza Braga e Maria da Conceição Paiva discutem, 
em seu trabalho, os empregos de por causa (de) que, no discurso 
oral, buscando identificar as equivalências e diferenças que 
apresentam os usos dessa locução conjuntiva em relação à con-
junção prototípica porque e ao sintagma preposicional por causa 
de no discurso oral. através de uma análise comparativa de 
algumas propriedades sintáticas e semântico-discursivas dessas 
três construções causais, as autoras destacam as restrições ao 
uso da conjunção perifrástica por causa (de) que e a pertinência 
de distingui-la da conjunção inteiramente gramaticalizada por-
que, apresentando evidências	favoráveis à conclusão de que o 
processo de gramaticalização de uma locução conjuntiva opera 
inicialmente no nível representacional.
Pesquisas recentes têm abordado a gramaticalização do 
verbo ir/movimento em verbo auxiliar. O estudo realizado por 
Ana Lúcia dos Prazeres Costa intenta mostrar: (1) que este au-
xiliar não ocorre somente na expressão do futuro, mas também 
em variação com o futuro do pretérito; (2) que o uso da perí-
frase verbal com ir tem se tornado mais freqüente; (3) que, até 
a primeira metade do século XX, este auxiliar concorria com 
outro, haver	de, no contexto de variação considerado. Visando à 
realização de um estudo de mudança em tempo real de longa 
duração, o material objeto de análise foi extraído de amostra 
constituída por peças teatrais. 
No artigo de Célia Maria Medeiros Barbosa da Silva, 
cumprem-se os seguintes objetivos: analisar a transitividade do 
� Niterói, n. 21, p. �-10, 2. sem. 2006
verbo fazer em dados de textos reais (orais e escritos) e compa-
rar o desencontro entre o conceito de transitividade puramente 
teórico, trabalhado pela gramática tradicional, e aquele que, no 
âmbito da lingüística funcional contemporânea, refere-se ao ato 
discursivo/comunicativo do falante. São também discutidas, com 
base nos resultados encontrados na análise dos dados, diversifi-
cadas possibilidades de se analisar a transitividade a partir da 
manifestação discursiva do verbo. 
Maria Angélica Furtado da Cunha focaliza, em seu texto, a 
relação gramatical objeto direto sob a perspectiva funcionalista 
do estudo da língua. analisa os aspectos sintáticos, semânticos 
e pragmáticos relacionados ao objeto direto, tomando as pro-
priedades sintáticas como derivadas de propriedades semânti-
cas e sintáticas do verbo a que o objeto direto está relacionado. 
os dados empíricos submetidos à análise correspondem a oito 
narrativas conversacionais extraídas do Corpus Discurso & Gra-
mática: a língua falada e escrita na cidade do Natal. . Com base 
nos resultados obtidos, a autora propõe um tratamento gra-
diente da relação gramatical em estudo, através de uma escala 
que ordenaria os objetos diretos de acordo com o seu grau de 
prototipicidade.
O artigo de autoria de Maria Beatriz Nascimento Decat 
apresenta uma análise de cunho funcionalista das estruturas de 
“ilhas” (denominação oriunda da teoria gerativista), objetivando 
demonstrar que as restrições estabelecidas por tais ilhas, em re-
lação à ocorrência de constituintes em determinados lugares da 
estrutura, devem-se ao fato de elas constituírem, funcionalmente, 
“unidades de informação”, não permitindo, portanto, a extração 
ou movimento de constituintes para fora de seus limites.
recorrendo a dois tipos de construção com predicados 
matrizes (parecer e achar/crer), diferentes no estatuto argumen-
tal da completiva (sujeito ou complemento, respectivamente) e 
semelhantes na codificação das atitudes subjetivas do falante 
(evidencial/modal epistêmico), Sebastião Carlos Leite Gon-
çalves mostra, em seu artigo, a tendência a gramaticalização e 
dessentencialização dessas construções que, segundo evidências 
encontradas, desvinculam-se de suas orações encaixadas e reca-
tegorizam-se como satélites atitudinais. Essa alteração sintática, 
observa o autor, afeta a construção complexa, que passa de bi-
clausal para monoclausal.	
Roberto Gomes Camacho ocupa-se, em seu artigo, da 
caracterização tipológica da passiva. Nesse sentido, desenvolve 
análise pautada em dados extraídos do corpus compartilhado 
do Projeto de Gramática do Português Falado, que consiste 
numa amostragem do material coletado pelo Projeto da Norma 
Urbana Culta (NURC)/Brasil, gravados com informantes cultos 
procedentes de Recife, Salvador, Rio de Janeiro, São Paulo e Porto 
Alegre. Baseando-se na noção givoniana _ segundo a qual a mul-
 
� Niterói, n. 21, p. �-10, 2. sem. 2006
tifuncionalidade da voz verbal envolve três domínios funcionais: 
atribuição de um tópico, impessoalização e detransitivização _, 
Camacho estabelece como principal interesse de seu trabalho o 
de fornecer, com base nos referidos domínios, uma caracteriza-
ção escalar e não discreta para as diferentes construções de voz 
disponíveis na gramática do português. 
O artigo de autoria de Maria Elizabeth Fonseca Saraiva 
examina e quantifica o grau de transitividade (segundo a acepção 
de tHoMPSoN & HoPPEr, 2001) de enunciados ressoantes, 
isto é, enunciados proferidos por interlocutores diferentes em 
que se estabelece uma relação de mapeamento tanto estrutural 
quanto lexical. A análise é norteada por princípios da abordagem 
funcionalista, em seu modelo norte-americano, e os dados ana-
lisados foram extraídos de conversações espontâneas que fazem 
parte do banco de dados do Grupo de Estudos Funcionalistas 
da Linguagem (GREF).
José Romerito Silva estuda os processos de intensificação, 
no que diz respeito aos seus aspectos semântico-cognitivos. Para 
tanto, busca subsídios teóricos da Semântica Cognitiva,segundo 
a qual a linguagem codifica os esquemas cognitivos estruturados 
a partir de nossa experiência com a realidade. Essa codificação, 
propõe o autor, reflete combinações metafóricas existentes entre 
domínios de natureza mais “concreta”, adquiridos a partir do 
modo como conceptualizamos nossa relação com o mundo, e 
outros de natureza mais abstrata. A análise e os resultados en-
contrados têm como suporte dados extraídos do Corpus Discurso 
& Gramática, constituído de textos orais e escritos, e de textos 
avulsos coletados, principalmente, de jornais e revistas.
Carlos Alexandre Gonçalves, no artigo “Usos morfológicos: 
os processos marginais de formação de palavras em português”, 
abre uma série de trabalhos que, a partir de perspectivas teórica 
e metodológica diversas, abordam a rica e complexa questão 
dos usos lingüísticos. Em seu texto, com base na morfologia 
prosódica, Gonçalves circunscreve o foco de análise aos proces-
sos não-concatenativos de formação de palavras do português 
brasileiro. Para tanto, o autor propõe que tais operações mor-
fonológicas sejam distribuídas em três grupos de fenômenos: 
afixação não-linear (reduplicação), encurtamento (truncamento 
e hipocorização) e fusão (mesclagem lexical e siglagem).
No texto seguinte, Ida Rebelo e Paulo Osório apresentam 
e analisam distintos usos do verbo ficar na norma brasileira do 
português contemporâneo. os autores, partindo dos postulados 
da gramática funcional de Dik e das variadas acepções de ficar 
articuladas na comunidade lingüística do Brasil, levantam, 
descrevem, classificam e interpretam esses usos, levando em 
consideração os moldes de predicado e os definidores semânticos 
envolvidos nessas articulações. Em análise pautada em parâme-
tros semântico e funcional-pragmático, Rebelo e Osório traçam 
� Niterói, n. 21, p. �-10, 2. sem. 2006
a diversidade de usos de ficar, concluindo ser esta uma forma	
verbal mutacional.
Em “o uso do modo subjuntivo em orações relativas e com-
pletivas no português afro-brasileiro”, Vívian Meira investiga, 
com base no suporte teórico-metodológico da sociolingüística 
variacionista, a expressão do subjuntivo em construções oracio-
nais complexas de quatro comunidades rurais afro-brasileiras 
do interior da Bahia. Em sua pesquisa, diferentemente dos re-
sultados obtidos sobre o estudo desse modo verbal no português 
urbano do Brasil, Meira observa que o subjuntivo ganha espaço 
em relação ao indicativo, revelando um processo de aquisição 
que passa, necessariamente, por fatores de ordem morfológica e 
semântica. Tal condição faz com que a autora confirme a realidade	
bipolarizada do português brasileiro, fruto de duas trajetórias 
históricas diversas – a urbana e a rural, com suas específicas 
realidades lingüísticas.
Angelina Aparecida de Pina, com base na lingüística cog-
nitiva e na teoria dos espaços mentais, trata do papel da mescla-
gem conceptual desempenhada na construção do significado do 
angulador do português um	tipo	de. a autora analisa sentenças 
articuladas por esse angulador, chegando à conclusão de que 
o significado de um	tipo	de depende da mesclagem conceptual 
que a construção incita: um mapeamento entre um espaço input 
(entidade) e um outro espaço input (categoria / membro mais 
prototípico de uma categoria), um espaço genérico, uma projeção 
parcial para o espaço mescla (a entidade, a categoria / membro 
mais prototípico de uma categoria e algumas propriedades 
partilhadas) e uma estrutura emergente (categoria flexível / 
hiperonímia).
No artigo “Aquisição lingüística sob a ótica dos modelos 
multirepresentacionais”, Christina Abreu Gomes, Aline Ro-
drigues Benayon e Márcia Cristina Pontes Vieira apresentam 
os resultados de três pesquisas que focalizam a aquisição da 
variação estruturada de padrões fonológicos por crianças do 
Rio de Janeiro, tendo os modelos baseados no uso como referencial 
teórico. Nessa abordagem, as autoras assumem que a variação 
sociolingüística é representacional, não uma regra, conforme a 
tradição dos estudos sociolingüísticos, e é parte do conhecimento 
lingüístico do falante, que deve ser adquirido. Abreu, Benayon e 
Vieira propõem que distribuições de freqüência das variantes ob-
servadas na produção das crianças por faixa etária sejam vistas 
como reflexos da maneira como as variantes são armazenadas 
e adquiridas, defendendo ainda que gradualidade e efeitos de 
freqüência permeiam o processo de aquisição lingüística.
No artigo seguinte, Cláudia Roncarati e Sílvia Regina Ne-
ves da Silva ampliam o foco de abordagem dos usos lingüísticos, 
ao tratarem da noção de cadeia referencial na progressão textual 
e da questão dos usos referenciais e atributivos no processo de 
 
10 Niterói, n. 21, p. �-10, 2. sem. 2006
construção do objeto-de-discurso. Em “A construção da referên-
cia e do sentido: uma atividade sociocognitiva e interativa”, as 
autoras adotam enfoque metateórico, pautando-se na teoria da 
referenciação de base sócio-cognitiva interativa, para identificar 
cadeias referenciais na progressão de três textos de gêneros 
diversos, na demonstração de que a construção da referência e 
seus mecanismos de articulação é traço constitutivo de todos os 
objetos-de-discurso.
os usos discursivos, na perspectiva dos sujeitos comuni-
cantes e interpretantes, são também objeto de investigação de 
Patrick Charaudeau em “Identité sociale et indetité discursive, 
le fondement de la compétence communicationnelle”. Aqui o 
autor destaca a complexidade de que se reveste a questão da 
identidade, tanto a social quanto a discursiva, que resulta do 
entrecruzamento de uma série de fatores ou motivações. A par 
da diversidade apontada, Charaudeau destaca a tensão entre o 
caráter multifacetado da identidade e a tentativa de fazê-la una 
e essencial.
A complexidade e a subjetividade dos usos lingüísticos é 
abordada por Décio rocha no artigo “representação e interven-
ção: produção de subjetividade na linguagem”. o autor, a partir 
do conceito de cenografia de Maingueneau, analisa declarações 
concedidas pelo presidente Bush imediatamente após o 11 de 
setembro de 2001. Com base no duplo papel da linguagem – re-
presentação e intervenção, rocha levanta, descreve e interpreta 
as marcas lingüísticas do discurso presidencial norte-americano 
em sua articulação relacional entre o sujeito e o mundo, proble-
matizando ainda as conexões entre identidade e alteridade.
No último artigo, “Um ethos para Hércules – considera-
ções sobre a produção dos sentidos no tratamento editorial de 
textos”, Luciana Salazar Salgado aborda o tema dos usos lin-
güísticos numa feição distinta dos demais. A autora, com base 
em Maingueneau, discute a questão da autoria e seu processo 
de constituição, analisando excertos de tratamento editorial de 
uma versão dos Doze Trabalhos de Hércules, nos quais alterações 
sutis da cenografia discursiva alteram o ethos que dela participa, 
matizando o mito. Salgado enfatiza que, para a reflexão sobre 
a produção editorial e para uma prática de edição proveitosa, 
é necessário compreender a maneira pela qual os diferentes 
atores envolvidos com a publicação dão sentido aos textos que 
transmitem, imprimem e lêem.
Jussara Abraçado e Mariangela Rios de Oliveira
Gragoatá	 Niterói, n. 21, p. 11-26, 2. sem. 2006
ordenação dos advérbios qualitativos 
em –mente no português escrito no 
Brasil nos séculos XVIII e XIX
Mario	Eduardo	Martelotta
Recebido 20, jun. 2006/Aprovado 15, ago. 2006 
Resumo
Este trabalho consiste em uma análise da ordena-
ção que caracteriza os advérbios qualitativos em 
-mente, em cartas escritas no Brasil nos séculos 
XVIII e XIX. O objetivo é demonstrar o gradual 
desaparecimento, que se dá do século XVIII para 
o século XIX, da tendência que esses advérbios 
possuem de se colocar antes do verbo, já detectada 
em fases anteriores da evolução do português.
Palavras-chave: advérbio, ordenação, gramati-
calização, mudança lingüística.
Gragoatá	 Mario	Eduardo	Martelotta
Niterói, n. 21, p. 11-26,2. sem. 200612
O objetivo do presente trabalho é fazer uma análise das 
tendências de ordenação dos advérbios qualitativos1 derivados 
em -mente em textos escritos nos séculos XVIII e XIX. Busca-se 
observar, sobretudo, os advérbios referentes a verbos, já que os 
qualitativos em -mente que modificam adjetivos, particípios e 
outros advérbios não apresentam mudanças em suas tendências 
de ordenação no período de tempo analisado.
Para que se tenha uma noção mais precisa dos objetivos 
deste trabalho, é importante ressaltar que, embora o foco esteja 
nos séculos XVIII e XIX, o que se busca aqui é observar um pro-
cesso de mudança mais amplo. Em outras palavras, esta pesquisa 
é parte de uma análise mais geral, que observa a mudança nas 
tendências de ordenação dos advérbios qualitativos do latim ao 
português atual (MORAES PINTO, 2002; MARTELOTTA; BAR-
BOSA; LEITÃO, 2002; MARTELOTTA, 2004; MARTELOTTA; 
PROCESSY, 2006).
Em Martelotta e Processy (2006), observa-se um levanta-
mento de ocorrência de advérbios qualitativos, temporais e es-
paciais em textos do latim clássico. Os resultados dessa pesquisa 
apontam para o fato de que, no latim clássico, os advérbios, de 
um modo geral, tendem fortemente a ocorrer antes do verbo,2 
tendência já mencionada em Marouzeau (1949) para os qualita-
tivos bem e mal e os intensificadores muito e pouco. 
Analisando textos escritos em língua portuguesa, Marte-
lotta (2004) apresenta uma comparação entre as tendências de 
ordenação dos advérbios qualitativos bem e mal nas fases arcai-
ca e atual, que demonstrou características distintas para esses 
dois períodos da evolução de nossa língua. Esses advérbios, 
na fase arcaica, podem aparecer não apenas depois do verbo, 
como ocorre atualmente, mas também antes do verbo. o mesmo 
ocorre com advérbios qualitativos em -mente, como se observa 
nos exemplos abaixo:
(1) [...] nos daram com a graça de nosso senhor deus e de 
nosa senhora santa marya grande auantajem pêra bem 
e folgadamente	desenbargarmos [...] (DIAS, 1982)
(2) Creo uerdadeyrame~ te que Jhesu Christo he uerdadeyro 
Deus [...] (MALER, 1956)
Nota-se que, no exemplo (1), o advérbio folgadamente	apa-
rece antes do verbo (desenbargarmos) e, no exemplo (2), depois 
do verbo (creo). Entretanto é nas cláusulas com altos graus de 
gramaticalização3 que se encontra a grande maioria das ocor-
rências pré-verbais de qualitativos no português arcaico:
(3) [...] que Deus faça dyno pera por uos dignamente orar 
[...] (DIAS, 1982)
Os textos do português atual, diferentemente, demonstra-
ram uma propensão, que se manifesta quase categoricamente, de 
esses advérbios4 ocorrerem após o verbo, em cláusulas gramati-
calizadas (reduzidas de infinitivo) ou não. Eis um exemplo:
1 Estamos aqui chaman-
do de qualitativos os vo-
cábulos tradicionalmen-
te classificados como 
advérbios de modo.
2 Essa tendência se man-
tém mesmo em casos em 
que a frase não termina 
com o verbo.
3 De acordo com Hopper 
e traugott (2003) as cláu-
sulas hipotáticas (tradi-
cionalmente chamadas 
de adverbiais) e as su-
bordinadas, sobretudo 
as reduzidas, apresen-
tam níveis maiores de 
gramaticalização.
4 Essa propensão se ma-
nifesta mais fortemente 
com os advérbios qua-
litativos bem e mal do 
que com os terminados 
em -mente, que parecem 
ter mais mobilidade na 
cláusula. Isso, provavel-
mente, se dá pelo fato de 
bem e mal serem monos-
sílabos, tendendo a se 
fixar junto aos verbos a 
que se referem, chegan-
do, em alguns casos, a 
se tornarem prefixos 
(bendizer, maldizer).
Ordenação dos advérbios qualitativos em –mente no português escrito no Brasil nos séculos xViii	e	xix
Niterói, n. 21, p. 11-26, 2. sem. 2006 13
(4) As festas de família, os aniversários, os batizados, os ca-
samentos, as doenças e a morte estreitam calorosamente 
os laços. (BOFF, 1998)
No que se refere ao século XIX, Martelotta e Vlček (2006), 
em uma pesquisa sobre os advérbios qualitativos em -mente 
em cartas de leitores e de redatores, escritas em três fases, ou 
períodos de tempo, do século XIX, apontaram uma tendência 
de as ocorrências pré-verbais desses advérbios desaparecem 
gradualmente com o passar do tempo. Na primeira fase (de 1808 
a 1840), há mais ocorrências de posições pré-verbais do que na 
segunda (1841 a 1870), que, por sua vez, apresenta maior tendên-
cia à pré-posição do que a terceira (1871 a 1900). Isso aponta para 
uma mudança, no século XIX, da ordenação desses advérbios 
em direção à pós-posição, característica desses elementos no 
português atual.
Nesse sentido, trabalha-se aqui com a hipótese de que há 
uma trajetória de mudança gradual a partir do latim, segundo 
a qual os advérbios qualitativos passam progressivamente da 
posição pré-verbal para a pós-verbal. Essa mudança se inicia nas 
cláusulas menos gramaticalizadas5 e vai passando, em seguida, 
para as mais gramaticalizadas.
a posição pré-verbal latina começa a desaparecer nas cláu-
sulas justapostas ou coordenadas, ficando ainda perceptível, do 
português arcaico ao português do século XIX, nas cláusulas 
hipotáticas e subordinadas, sobretudo, na formas reduzidas, que 
apresentam maiores graus de encaixamento ou gramaticalização. 
Isso ocorre porque as mais gramaticalizadas apresentam graus 
maiores de cristalização e, conseqüentemente, graus maiores 
de pressuposicionalidade (GIVÓN, 1979). Com o tempo, essa 
tendência vai desaparecendo também nas cláusulas encaixadas 
e o século XIX parece ser o período em que essa mudança se 
efetivou.
Com base nesses dados, este trabalho partiu das seguintes 
hipóteses:
a) Serão encontradas mais ocorrências de qualitativos em 
-mente em posição pré-verbal no século XVIII do que no 
século XIX, já que a mudança nas tendências de ordena-
ção desses elementos se dá de modo gradual.
b) as ocorrências de qualitativos em -mente em posição pré-
verbal tenderão a aparecer em cláusulas com graus maio-
res de gramaticalização em ambos os séculos analisados. 
Na base dessa hipótese, está a proposta de Givón (1979), 
segundo a qual essas cláusulas são mais conservadoras 
em termos de ordenação, o que significa que elas tendem 
a preservar a antiga colocação pré-verbal latina.
c) a distribuição das ocorrências pré-verbais se apresentará 
de modo diferente nos dois séculos analisados. A tendên-
cia é o desaparecimento dessas ocorrências em cláusulas 
5 Entre as menos gra-
maticalizadas estão as 
cláusulas justapostas e 
coordenadas, que Ho-
pper e traugott (1993) 
caracterizam como ca-
sos de parataxe.
Gragoatá	 Mario	Eduardo	Martelotta
Niterói, n. 21, p. 11-26, 2. sem. 200614
menos gramaticalizadas durante século XIX, já que essas 
cláusulas são afetadas inicialmente pela mudança. Isso 
significa que o século XVIII tenderá a exibir mais quali-
tativos em -mente pré-verbais em cláusulas justapostas e 
coordenadas do que o século XIX.
d) os qualitativos em -mente tenderão a aparecer próximos 
ao verbo. Subjacente a essa hipótese está o subprincípio 
icônico da proximidade (GIVON, 1990), que propõe uma 
relação entre proximidade semântica e proximidade sin-
tática. Segundo esse subprincípio, entidades que estão 
próximas funcionalmente, conceptualmente ou cogni-
tivamente ocorrerão próximas no nível da codificação. 
ou seja, os qualitativos, que indicam o modo como se 
dá a ação verbal, interferindo substancialmente em seu 
sentido, tendem a ocorrer próximos ao verbo.
Metodologia
Este trabalho visa a apontar as tendências de ordenação 
dos advérbios qualitativos em -mente em textos escritos nos sé-
culos XVIII e XIX. Para que um trabalho comparativo entre estes 
dois séculos pudesse ser feito, foram analisadas as ocorrências 
destes advérbios em cartas escritas no Rio de Janeiro nos dois 
períodos. 
o material analisado do séc. XVIII é constituído de cartas 
oficiais e de comércio, bem como de documentos particulares e 
cartas comuns; pertencentes ao acervo do PHPB-RJ (BARBOSA; 
LOPES, 2003). Foram também analisadas duas cartas de adminis-
tração pública, representações oficiais do Rio deJaneiro, obtidas 
no corpus do Museu da Língua Portuguesa - Estação da Luz.6 
Embora as ocorrências de qualitativos em -mente,	nesses textos, 
seja muito reduzida, será feita uma leitura das tendências gerais 
de ordenação neste século.
Os textos do séc. XIX englobam, na medida do possível, 
documentos de natureza semelhante aos do século XIX: cartas 
oficiais e cartas escritas no Rio de Janeiro. Foram também obser-
vadas cartas pessoais, como as cartas a Rui Barbosa, bem como 
cartas de leitores e redatores publicadas em jornais cariocas. 
Todo o material referente a este período foi obtido a partir do 
corpus do PHPB-RJ (BARBOSA; LOPES, 2003).
Buscou-se observar as ocorrências dos advérbios com base 
em duas variáveis: posição na cláusula e grau de gramaticalização da 
cláusula. A partir de agora será feita uma exposição acerca dessas 
variáveis, começando pelas posições na cláusula:
Posições pré-verbais
a) advérbio + Verbo (aV)
(5) ... porem nossa consciencia tranquilla nos affiança de 
| não termos offendido o melindre, e nosso correspondente | 
6 D i s p o n í v e l e m : 
<http://estacaodaluz.
org.br >.
Ordenação dos advérbios qualitativos em –mente no português escrito no Brasil nos séculos xViii	e	xix
Niterói, n. 21, p. 11-26, 2. sem. 2006 15
a quem cordialmente respeitamos. (PHPB - Carta de Redator 
no 8, 1a Fase)
Posições pós-verbais
a) Verbo + advérbio (aV):
(6) O futuro te espera grandioso: - prepara-te dignamente 
para êle. (séc. XVIII, Carta a Rui Barbosa, no 217.1.(2)) 
b) Verbo + X7 + advérbio (VXa)
(7) ... atiram-se sedentes de sangue como | féras, sobre a 
pobre victima que desprevenida | assistia ao espetaculo impu-
nemente, de que elles | proprios se tinham tornado actores na 
noite de | 13 do corrente: e o povo ainda teve de sujar as | mãos, 
medindo n’aquella occasião, a sua força | com a espada de um 
sicario. (PHPB - Carta de Leitor no 6, 3a Fase)
além dessas posições, encontramos alguns casos em que o 
advérbio se relaciona a em locuções verbais (ex: hão	de	judiciosa-
mente convir, deve	surprehender inteiramente). Foram encontrados 
casos em que o advérbio ocorre ao final e no meio da locução. 
Por apresentar características sintáticas distintas, optou-se por 
não levar em conta esses dados na análise quantitativa.
Grau de gramaticalização das cláusulas
De acordo com Hopper e traugott (2003), os períodos 
complexos baseiam-se em uma trajetória com três pontos de 
aglomeração, como se segue:
1 - Parataxe ou independência relativa, exceto como restrin-
gida pela pragmática de fazer sentido e relevância.
2 - Hipotaxe ou interdependência, em que há um núcleo e 
uma ou mais cláusulas que não podem ficar sozinhas 
e que são, por conseguinte, relativamente dependentes. 
Entretanto elas não se incluem completamente em qual-
quer constituinte do núcleo.8
3 - Subordinação, ou, em sua forma extrema, encaixamento; 
em outras palavras, dependência completa, em que uma 
margem está completamente incluída no núcleo.
Esses pontos de aglomeração podem ser caracterizados 
pela seguinte trajetória de gramaticalização em direção a es-
truturas mais encaixadas, ou, em outras palavras, mais grama-
ticalizadas:
parataxe > hipotaxe > subordinação
-dependente +dependente +dependente
-encaixada -encaixada +encaixada
Isso significa que as cláusulas subordinadas são mais gra-
maticalizadas do que as hipotáticas, por apresentarem níveis 
maiores de dependência e encaixamento. Do mesmo modo, 
7 X é qualquer elemento 
lingüístico que ocorra 
entre o advérbio e o ver-
bo, como um elemento 
de natureza argumental 
ou outro advérbio.
8 as hipotáticas incluem 
as tradicionalmente cha-
madas subordinadas 
adverbiais e adjetivas 
explicativas.
Gragoatá	 Mario	Eduardo	Martelotta
Niterói, n. 21, p. 11-26, 2. sem. 200616
as cláusulas hipotáticas são mais gramaticalizadas do que as 
paratáticas.
No que se refere às cláusulas reduzidas, partiremos, com 
Givón (1990), da proposta de que a redução da subordinada 
reflete graus maiores de integração. O autor propõe ainda que 
a existência de diferentes graus de encaixamento ou integração 
entre a cláusula principal e sua subordinada com função de obje-
to relaciona-se ao conceito de iconicidade, mais especificamente 
ao subprincípio da proximidade. Segundo essa proposta, há um 
isomorfismo entre a semântica e a sintaxe da complementação 
verbal, no sentido de que os graus de integração sintática entre 
as cláusulas não refletem aspectos arbitrários, sendo, ao contrá-
rio, a expressão gramatical dos níveis de vinculação semântica 
entre o evento expresso pela cláusula principal e o expresso 
pela subordinada. 
Givón (1990) propõe os seguintes princípios de iconicidade 
para a sintaxe da complementação:
a) Quanto mais integrados são dois eventos, mais integra-
dos são os verbos que os exprimem. Uma das principais 
manifestações da vinculação semântica é o nível de 
controle do sujeito da principal sobre o sujeito da subor-
dinada: em João	fez	Maria	sair, por exemplo, o controle do 
sujeito da principal sobre o da subordinada é maior do 
que em João pediu que Maria saísse, em que não há garantia 
de que Maria, de fato, tenha saído.
b) Quanto mais integrados são dois eventos, menor a proba-
bilidade de eles serem separados por um subordinador, 
ou mesmo por uma pausa física. 
c) Dada uma hierarquia de graus de agentividade, AG	>	
DAT > ACC > OUTROS, quanto mais integrados são os 
dois eventos, menos agentivo será o sujeito da cláusula 
complemento. 
d) Dada uma hierarquia de graus de finitude (em oposição 
a graus de nominalidade), da forma verbal, os mais in-
tegrados são os casos que apresentam o verbo da subor-
dinada com características mais nominais e com menos 
morfologia verbal. 
Gramaticalização e estrutura sintática
De acordo com Givón (1979), a maior liberdade e variedade 
de elementos significativos tende a ocorrer na cláusula principal, 
declarativa, afirmativa, ativa. Por outro lado, tanto no que se refere 
a itens lexicais quanto a construções sintáticas, a distribuição dos 
elementos significativos, em todos os outros tipos de cláusula, 
é sempre mais restrita. 
Isso ocorre em função do fenômeno da pressuposição dis-
cursiva, ou seja, o grau de pressuposicionalidade no qual uma 
sentença é usada. Esse fenômeno está relacionado ao nível de 
Ordenação dos advérbios qualitativos em –mente no português escrito no Brasil nos séculos xViii	e	xix
Niterói, n. 21, p. 11-26, 2. sem. 2006 17
dificuldade que o falante acha que o ouvinte terá em determinar 
uma única referência para um referente no discurso. E, segundo 
Givón (1979), a cláusula principal, declarativa, afirmativa, ativa apre-
senta a complexidade pressuposicional mais baixa no discurso, 
se comparada a todos as outras variantes sintáticas. 
Givón (1979) apresenta várias propriedades formais dessas 
variantes sintáticas, em relação ao seu grau de pressuposicio-
nalidade:
1- Variantes mais pressuposicionais exibem maior	comple-
xidade sintática.
2- Variantes mais pressuposicionais apresentam maiores 
restrições distribucionais do que os padrões neutros.
3- Variantes mais pressuposicionais são gramaticalizadas 
mais tarde por crianças, ou pelo menos sua sintaxe é 
adquirida mais tarde do que as variantes menos pressu-
posicionais.
4- Variantes mais pressuposicionais freqüentemente ten-
dem a exibir grande conservadorismo sintático, mais 
comumente na área da mudança de ordenação.
5- a cláusula principal declarativa, afirmativa, ativa, neutra e 
menos pressuposicional é também a mais freqüente no 
discurso.
Dentre essas propriedades, são especialmente interessantes 
para este trabalho as de número 1, 2 e 4, já que se propõe aqui 
que as cláusulas gramaticalizadas, e, portanto, mais restritas 
distribucionalmente e mais complexas sintaticamente, tendem 
a ser mais conservadoras, apresentando as tendências de distri-
buição dos advérbios	em -mente mais antigas.
As pressuposições discursivas das construções sintáticas
a noção de pressuposição é entendidaaqui como um con-
junto de informações que estão fora da sentença e que são assu-
midas pelo falante como evidentes ou indiscutíveis. Em outras 
palavras, aquilo que é pressuposto tende a refletir conhecimentos 
compartilhados, crenças comuns ou conhecimento presumido 
como conhecido.
Seguindo Givón (1979), esta pesquisa não adota a distinção 
entre pressuposição lógica e pressuposição pragmática, já que 
parte do princípio de que todo fenômeno pressuposicional nas 
línguas naturais é pragmático. Nas palavras de Givón (1979), o 
fenômeno da pressuposição, tem a ver com: “as hipóteses que 
o falante assume acerca da habilidade do ouvinte de identificar 
unificadamente (‘estabelecer uma única referência para’) um 
argumento-referente.” (p. 50)
Nesse sentido, Givón (1979) apresenta as variantes sintá-
ticas que se caracterizam por maior grau de pressuposiciona-
lidade:
1. Construções estritamente pressuposicionais. Cláusulas rela-
Gragoatá	 Mario	Eduardo	Martelotta
Niterói, n. 21, p. 11-26, 2. sem. 200618
tivas, clivadas, pseudo-clivadas e perguntas QU. 
2. Cláusulas encaixadas.
3. Outros atos de fala. Imperativo, interrogativo e negativo.
4. Construções envolvendo graus de definitude-topica-
lidade dos argumentos. Mudança de tópico, passiva, 
pronomes anafóricos, etc. 
De acordo com o autor, essas construções apresentam or-
denação mais conservadora dos elementos argumentais. Mas 
esse raciocínio pode ser estendido para as características de 
ordenação de elementos adverbiais. De fato, como já foi mencio-
nado, o nível de encaixamento ou gramaticalização da cláusula 
tem influência sobre as tendências de ordenação de advérbios 
qualitativos. 
O português arcaico caracteriza-se por uma variação na 
colocação dos advérbios, ou seja, apresenta advérbios qualitativos 
nas posições pré e pós-verbais em todos os tipos de cláusulas, 
apresentando uma pequena predominância de anteposição 
nas cláusulas mais gramaticalizadas. Por outro lado, textos de 
épocas posteriores à fase arcaica – pelo menos até o século XIX 
- apresentam cada vez menos anteposições de advérbios, que 
vão ficando cada vez mais restritas a cláusulas com altos graus 
de gramaticalização. Isso sugere que, de fato, esses parâmetros 
de pressuposicionalidade podem ajudar a descrever mudanças 
no comportamento diacrônico desses elementos, no que diz 
respeito à sua ordenação.
Análise dos dados referentes ao século XVIII
A análise dos dados será feita separadamente. Primeiro 
serão observados os textos do século XVIII e, em seguida os do 
século XIX. A tabela abaixo apresenta a distribuição das ocor-
rências dos qualitativos em -mente pelas diferentes posições ob-
servadas, sempre levando em conta o grau de gramaticalização 
das cláusulas que contêm essas ocorrências:
XVIII -gramatical. +Gramatical.
Hipotaxe Hipot. rel. Subordinação Subord. rel
Nr Nr r Nr Nr total
aV 2 2 5 1 - 3 13
Va 4 - 2 2 2 - 10
VXa - - 1 3 1 - 5
total 6 2 8 6 3 3 28
Tabela 1: Ocorrência de advérbios no séc. XVIII
Cabe registrar logo de início a quantidade extremamente 
pequena de dados de ocorrências dos advérbios em estudo. 
Isso, obviamente, impede qualquer conclusão mais definitiva 
acerca de suas tendências de ordenação nos textos observados 
Ordenação dos advérbios qualitativos em –mente no português escrito no Brasil nos séculos xViii	e	xix
Niterói, n. 21, p. 11-26, 2. sem. 2006 19
durante o século XVIII. Entretanto, é possível observar algumas 
regularidades interessantes, sobretudo quando se comparam 
esses resultados com outras pesquisas referentes à ordenação 
de qualitativos, feitas com base em outros corpora e em outros 
estágios da evolução do português (SILVA E SILVA, 2001; Mo-
RAES PINTO, 2002; MARTELOTTA; BARBOSA; LEITÃO, 2002; 
MARTELOTTA, 2004; MARTELOTTA; VLČEK, 2006). 
Era de se esperar, por exemplo, uma predominância não 
muito acentuada das posições pós-verbais. De fato, a tabela apre-
senta 15 ocorrências (distribuídas por Va e VXa), ou 53,6% do 
total 28 advérbios. Essa tendência já se manifesta desde a fase 
arcaica do português, como observam trabalhos desenvolvidos 
não apenas acerca da ordenação de qualitativos em -mente, mas 
também sobre os qualitativos bem e mal, que demonstram não ser 
incomum a ocorrência de qualitativos pré-verbais no português 
arcaico (MORAES PINTO, 2002; MARTELOTTA, 2004). Esses tra-
balhos também registram que, no português atual, a pós-posição 
dos advérbios qualitativos é praticamente categórica.
Por outro lado, 13 ocorrências pré-verbais (46,4% do total) 
constituem uma quantidade bastante significativa, se comparada 
aos resultados do século XIX, que serão apresentados adiante.9 
Isso é importante, porque pode apontar para o fato de que, até 
o século XVIII, era mais forte a inclinação que os qualitativos 
apresentavam de ocorrer antes do verbo, reforçando os resulta-
dos obtidos em Martelotta e Vlček (2006), segundo os quais essa 
tendência começa a enfraquecer no início do século XIX e acaba 
por desaparecer na virada para o século XX.10
outro resultado interessante se apresenta quando se 
relacionam as posições dos advérbios com o grau de gramati-
calização da cláusula em que ele ocorre. Do total de 13 casos 
de advérbios pré-verbais, 11, ou 84,6% ocorreram em cláusulas 
mais gramaticalizadas (hipotáticas e subordinadas). Isso aponta 
para a tendência já detectada no português arcaico, segundo a 
qual a anteposição do advérbio em relação ao verbo, caracterís-
tica do latim, se mantém em cláusulas com graus mais altos de 
gramaticalização, que são mais conservadoras em termos de 
ordenação (GIVÓN, 1979).
É claro que se pode alegar que esse resultado perde signi-
ficância, quando se leva em conta o fato de que há também mais 
casos de ocorrência pós-verbal em cláusulas com altos graus 
de gramaticalização (11, ou 73,3% do total de 16 ocorrências de 
posições pós-verbais Va e VaX). Em outras palavras, pode-se 
concluir que essa diferença se dá simplesmente pelo fato de que 
existem mais cláusulas com altos níveis de gramaticalização 
nesses textos e que, somente por isso, os números referentes aos 
advérbios pré-verbais são mais altos nessas cláusulas.
Contra essa análise, podem se apresentados dois tipos de 
argumentos. o primeiro pondera que, comparando-se a distri-
9 apenas 21,6% do total 
de advérbios no século 
XIX ocorreu em posição 
pré-verbal.
10 No português con-
temporâneo, ainda po-
dem ser encontradas 
algumas raras ocorrên-
cias de qualitativos pré-
verbais em construções 
cristalizadas ou em tex-
tos altamente conserva-
dores. Esses casos não 
ref letem a tendência 
atual de ordenação des-
ses advérbios.
Gragoatá	 Mario	Eduardo	Martelotta
Niterói, n. 21, p. 11-26, 2. sem. 200620
buição das posições pré e pós-verbais pelos tipos de cláusulas, 
percebe-se uma superioridade na percentagem da posição pré-
verbal nas cláusulas gramaticalizadas: 84,6% das ocorrências 
na posição aV, contra 73,3% de ocorrências distribuídas pelas 
posições pós-verbais Va e VXa. ou seja, a ordenação pré-verbal 
parece ser numericamente mais significativa do que a pós-verbal 
em cláusulas com altos graus de gramaticalização.
o segundo argumento, que também visa a atenuar as limi-
tações referentes à pequena quantidade de dados, se relaciona 
ao fato de que outros trabalhos de natureza histórica, referentes 
à ordenação de qualitativos, demonstraram essa tendência das 
ocorrências pré-verbais para as cláusulas mais gramaticalizadas. 
Essa tendência se dá, como já foi mencionado, pelo fato de que 
essas cláusulas, mais conservadoras em termos de ordenação, 
mantêm mais fortemente a ordenação pré-verbal, tipicamente 
latina.
resta apenas comentar o predomínio da posição pós-verbal 
VA sobre a VXA, fato que não pode deixar de ser relacionado 
à não ocorrência de uma posição pré-verbal aXV, que é muito 
comum, por exemplo, na fase arcaica do português (MARTE-
LOTTA, 2004). Parece haver uma forte tendência de os advérbios 
qualitativos ocorrerem imediatamente próximos ao verbo, ao 
contráriodos temporais e dos locativos, por exemplo, que apre-
sentam uma mobilidade maior na cláusula. 
Martelotta (2004) atribui isso ao subprincípio icônico da 
proximidade (GIVON, 1990), que propõe uma relação entre 
proximidade semântica e proximidade sintática. Segundo esse 
subprincípio, entidades que estão próximas funcionalmente, 
conceptualmente ou cognitivamente ocorrerão próximas no 
nível da codificação, isto é, temporal e espacialmente. Ou seja, 
os qualitativos, que indicam o modo como se dá a ação verbal, 
interferindo substancialmente em seu sentido, tendem a ocorrer 
próximos ao verbo, ao passo que os temporais e os locativos, que 
nada dizem acerca da natureza da ação e se limitam a localizá-la 
no tempo ou no espaço, podem se afastar do verbo.11
Análise dos dados referentes ao século XIX
Foi encontrado um número bem maior de dados no século 
XIX em função de dois fatos distintos. O primeiro – e menos 
importante – refere-se à maior quantidade de material do século 
XIX disponível para análise. O segundo – e mais interessante – é 
conseqüente de haver menos quantidade de advérbios qualita-
tivos em -mente no século XVIII do que no XIX.
Para se ter uma idéia dessa diferença quantitativa entre 
os dois séculos analisados, é interessante observar que foram 
encontradas 28 ocorrências de advérbios qualitativos em -mente 
nos textos do século XVIII, que, juntos, apresentam um total de 
21.512 palavras. Isso significa um percentual de 0,13% desses 
11 Isso, é claro, não se 
limita aos qualitativos. 
o mesmo subprincípio 
pode atuar, por exem-
plo, de modo a impelir 
um advérbio locativo a 
se posicionar próximo 
a um verbo de movi-
mento.
Ordenação dos advérbios qualitativos em –mente no português escrito no Brasil nos séculos xViii	e	xix
Niterói, n. 21, p. 11-26, 2. sem. 2006 21
advérbios em relação ao total de palavras que compõem o corpus 
referente a esse século. Por outro lado, ocorreram 88 qualitati-
vos em -mente nos textos do século XIX, que, ao todo, reúnem a 
quantidade de 42.281 palavras, o que dá um percentual de 0,21% 
desses advérbios em relação ao total de palavras que compõem 
o corpus. Nota-se, então, uma superioridade numérica de usos 
de qualitativos em -mente no século XIX. 
Isso pode remeter a uma maior produtividade desses 
advérbios no século XIX, e deixa a curiosidade de observar, 
ao longo dos anos, a quantidade de advérbios em -mente com 
outros valores, distintos do valor qualitativo, como o valor mo-
dalizador, por exemplo. Fica também o interesse em observar a 
produtividade dos qualitativos em -mente, nas fases anteriores 
do português. Seria possível afirmar que os advérbios em -mente 
se tornariam progressivamente mais produtivos ao longo dos 
anos? Tendo essa formação de advérbios se concretizado no latim 
vulgar (CÂMARA JR., 1976), ou seja, constituindo um processo 
de gramaticalização relativamente recente, essa hipótese não 
seria inteiramente absurda.
as ocorrências de qualitativos em -mente no século XIX, 
relacionadas às variáveis posição	na	sentença e grau de gramatica-
lização da cláusula, podem ser vistas na tabela abaixo:
XIX -gramatical. +Gramatical.
Hipotaxe Hipot. rel. Subordinação Subord. rel
r Nr r Nr r Nr r Nr total
aV 1 1 4 1 3 2 1 1 5 19
Va 20 4 10 3 1 10 10 - 7 65
VXa 1 - - - 2 - 1 - - 4
total 22 5 14 4 6 12 12 1 12 88
tabela 2: ocorrência de advérbios no séc. XVIII
No caso do século XIX, há uma quantidade maior de ocor-
rências de qualitativos em -mente, embora essas 88 ocorrências 
estejam longe de constituir a quantidade necessária para se che-
gar a conclusões mais precisas. Como foi mencionado na análise 
das ocorrências do século XVIII, acredita-se ser possível, apesar 
dos poucos dados, observar regularidades interessantes, que 
se tornam significativas, quando comparadas com tendências 
detectadas em outras pesquisas referentes à ordenação de qua-
litativos, feitas com base em outros corpora e em outros estágios 
da evolução do português.
assim como aconteceu com o século XVIII, era de se espe-
rar que o século XIX apresentasse uma relativa predominância 
das posições pós-verbais. Isso de fato ocorreu: a tabela apresenta 
69 ocorrências nessa posição, ou 78,4% do total 88 advérbios. 
Esses dados refletem a tendência, já mencionada anteriormente, 
que vem se delineando desde a fase arcaica do português (MO-
Gragoatá	 Mario	Eduardo	Martelotta
Niterói, n. 21, p. 11-26, 2. sem. 200622
RAES PINTO, 2002; MARTELOTTA, 2004). Mas, é importante 
registrar aqui que a quantidade de advérbios nessa posição 
cresceu de 53,6% no século XVIII para 78,4% no XIX: isso reflete 
um enfraquecimento da propensão desses advérbios para as 
posições pré-verbais no século XIX.
Por outro lado, a tabela apresenta 19 ocorrências pré-ver-
bais (21,6% do total de 88 dados), o que é significativo, uma vez 
que houve um decréscimo, em termos percentuais, de ocorrên-
cias pré-verbais do século XVIII para o XIX (de 46,4% para 21,6%). 
Isso, como foi dito anteriormente, pode apontar para o fato de 
que, até o século XVIII, ainda era relativamente forte a vocação 
dos qualitativos para a ocorrerem antes o verbo, reforçando os 
resultados obtidos em Martelotta e Vlček (2006) para o século 
XIX.
outro resultado interessante se apresenta quando se re-
lacionam as posições dos advérbios com o grau de gramatica-
lização da cláusula em que ele ocorre. Do total de 19 casos de 
advérbios pré-verbais, 18, ou 95% ocorreram em cláusulas mais 
gramaticalizadas (hipotáticas e subordinadas). Cabe ressaltar 
aqui o aumento percentual que ocorreu em relação aos 84,6% 
encontrados de anteposições em cláusulas mais gramaticali-
zadas no século XVIII. Mais uma vez se evidencia a mudança 
desses advérbios para as posições pós-verbais, já que eles ficam 
praticamente restritos às cláusulas com alto grau de gramatica-
lização, mais conservadoras em termos de ordenação. 
Comparando o resultado acima, referente à posição pré-
verbal, com a distribuição das posições pós-verbais pelos diferen-
tes graus de gramaticalização das cláusulas, percebe-se a maior 
tendência das ocorrências pré-verbais para as cláusulas com 
níveis mais latos de gramaticalização: 18 ou 95% contra 48 ocor-
rências (de Va e VXa), ou 69,6% do total de casos de advérbios 
pós-verbais, apareceram em cláusulas mais gramaticalizadas. 
Mais uma vez nota-se uma distribuição maior – agora no século 
XIX – das ocorrências pós-verbais pelos tipos de cláusulas.
Com relação à proximidade do advérbio qualitativo em 
relação ao verbo, nota-se, também nos dados do século XIX, a 
forte predominância da posição VA, com 65 casos, que represen-
tam 94,2% do total de 69 ocorrências de qualitativos em posição 
pós-verbal, contra apenas 4 casos de VXA, ou 5,8% do total. Por 
hipótese, entra em ação, nesses casos, o subprincípio icônico da 
proximidade, que, como já foi mencionado na análise referente 
ao século XVIII, prevê que entidades que estão próximas funcio-
nalmente, conceptualmente ou cognitivamente ocorrerão pró-
ximas no nível da codificação, isto é, temporal e espacialmente. 
assim, os advérbios qualitativos, indicadores do modo como se 
dá a ação verbal, interferindo substancialmente em seu sentido, 
tendem a ocorrer próximos ao verbo.
Ordenação dos advérbios qualitativos em –mente no português escrito no Brasil nos séculos xViii	e	xix
Niterói, n. 21, p. 11-26, 2. sem. 2006 23
Conclusão
Foram muito poucos os dados encontrados nos corpora ana-
lisados, em função do fato de que, de um modo geral, advérbios 
qualitativos são, de fato, pouco usados no discurso escrito – as-
sim como no falado. Isso, obviamente, impede que se chegue a 
conclusões mais definitivas acerca das tendências de ordenação 
dos qualitativos em -mente nos textos observados. Entretanto, é 
possível vislumbrar, entre esses poucos dados, algumas regu-
laridades interessantes, sobretudo quando essas regularidades 
são localizadas dentro de um processo de mudança mais geral, 
observado em outras pesquisas referentes à ordenação de qua-litativos, feitas com base em outros corpora e em outros estágios 
da evolução do português.
Como foi dito anteriormente, embora este trabalho focalize 
os séculos XVIII e XIX, busca-se aqui observar um processo de 
mudança mais amplo, que compreende o período de tempo en-
tre o latim e o português atual. Durante esse período de tempo, 
ocorreu uma trajetória de mudança gradual, através da qual 
os advérbios qualitativos passam progressivamente da posição 
pré-verbal para a pós-verbal. tudo indica que essa mudança se 
inicia nas cláusulas menos gramaticalizadas e vai passando, 
em seguida, para as mais gramaticalizadas, que são mais con-
servadoras, por apresentarem graus maiores de cristalização 
e, conseqüentemente, graus maiores de pressuposicionalidade 
(GIVÓN, 1979).
Os poucos dados coletados nos textos dos XVIII e XIX, 
que estão no meio desse processo, ratificaram essa hipótese. 
Nos dois séculos observados foi encontrada, por exemplo, uma 
quantidade maior de ocorrências pré-verbais do que é comum 
nos português atual, em que a pós-posição é praticamente cate-
górica. além disso, nota-se que o século XVIII apresentou mais 
essas ocorrências do que o XIX, o que aponta para essa mudança 
gradual.
Outro resultado interessante pode ser visto no fato de que 
as ocorrências de qualitativos em -mente em posição pré-verbal 
tenderão a aparecer em cláusulas com graus maiores de grama-
ticalização em ambos os séculos analisados. Isso era esperado 
com base na proposta de Givón (1979), segundo a qual essas 
cláusulas são mais conservadoras em termos de ordenação, o 
que significa que elas tendem a preservar a antiga colocação 
pré-verbal latina.
Cabe ressaltar também o aumento percentual do século 
XVIII para o XIX das ocorrências pré-verbais em cláusulas gra-
maticalizadas. Isso evidencia a mudança desses advérbios para 
as posições pós-verbais, já que a anteposição fica praticamente 
restrita, no século XIX, às cláusulas com alto grau de gramati-
calização, mais conservadoras em termos de ordenação.
Gragoatá	 Mario	Eduardo	Martelotta
Niterói, n. 21, p. 11-26, 2. sem. 200624
resta apenas comentar o predomínio, nos dois períodos 
de tempo analisados, da posição pós-verbal Va sobre a VXa, 
assim como a inexistência da posição AXV, detectada no por-
tuguês arcaico (MARTELOTTA, 2004). Isso, por hipótese, está 
relacionado ao subprincípio icônico da proximidade (GIVON, 
1990), que propõe uma relação entre proximidade semântica 
e proximidade sintática. Segundo esse subprincípio, entidades 
que estão próximas funcionalmente, conceptualmente ou cogni-
tivamente ocorrerão próximas no nível da codificação. Ou seja, 
os qualitativos, que indicam o modo como se dá a ação verbal, 
interferindo substancialmente em seu sentido, tendem a ocorrer 
próximos ao verbo. 
Abstract
This paper consists of an analysis of the word or-
der change that characterizes the uses of manner 
adverbs formed with the suffix -mente in letters 
written in Brazil in the 18th century and in the 
19th century. The analysis aims to show, within 
this period of time, the gradual disappearance of 
the tendency of these adverbs of occurring in pre-
verbal positions, which had already been detected 
in the early historical evolution of Portuguese.
Keywords: adverb, word order, grammaticali-
zation, linguistic change.
Referências
BARBOSA, Afrânio; LOPES, Célia Regina et al. Corpus diacrôni-
co do Rio de Janeiro: cartas pessoais – séculos XVIII-XIX. Rio de 
Janeiro: UFRJ, 2003. Versão eletrônica.
BENEDITO, Luciano Sebastião B. Ordenação do advérbio qualita-
tivos bem no português escrito no século XIX e no português atual. 
Rio de Janeiro: UFRJ, 2004. Mimeo.
BOFF, Leonardo. O despertar da águia: o diabólico e o simbólico na 
construção da realidade. Petrópolis: Vozes, 1998.
DIAS, João José Alves (Ed.). Livro dos conselhos de El-Rei D. Duarte 
(Livro da Cartuxa). Lisboa: Editorial Estampa, 1982.
CÂMARA JR, Joaquim Mattoso. História e estrutura da língua 
portuguesa. Rio de Janeiro: Padrão, 1976.
GUEDES, Marymarcia; BERLINK, Rosane de Andrade. E	 os	
preços eram commodos...: anúncios de jornais brasileiros do século 
XIX. São Paulo: Humanitas, 2000.
Ordenação dos advérbios qualitativos em –mente no português escrito no Brasil nos séculos xViii	e	xix
Niterói, n. 21, p. 11-26, 2. sem. 2006 25
GIVÓN, Talmy. On understanding grammar. New York: Academic 
Press, 1979.
. Syntax:	a functional-typological introduction. Amster-
dam: John Benjamins, 1990
. Markedness in grammar: distributional, communicative 
and cognitive correlates of syntactic structure. [S.l.: s.n.], 1990. 
Technical Report, n. 90-8.
HOPPER, Paul J.; TRAUGOTT, Elizabeth-Closs. Grammaticaliza-
tion.	Cambridge: Cambridge University Press, 2003.
MALER, Bertil (Ed.). Orto do esposo. Texto inédito do fim do século 
XIV ou começo do XV. Edição crítica com introdução, anotações 
e glossário. Rio de Janeiro: INL, 1956.
MAROUZEAU, J. L’ordre des mots dans la phrase latine. tome III: 
les articulations de l’énoncé. Paris: Société d’Édition Les Belles 
Letres, 1949.
MARTELOTTA, Mário E.; BARBOSA, Afrânio; LEITÃO, Márcio 
M. Ordenação de advérbios intensificadores e qualitativos em 
-mente em cartas de jornais do séc. XIX: bases para uma análise 
diacrônica. In: DUARTE, Maria Eugênia L.; CALLOU, Dinah. 
(org.). Para a história do português brasileiro. v. IV: notícias de cor-
pora e outros estudos. Rio de Janeiro: Faculdade de Letras de 
UFRJ: FAPERJ, 2002.
. Ordenação dos advérbios bem e mal no português escrito: 
uma abordagem histórica. Rio de Janeiro: UFRJ, 2004. Relatório 
final apresentado ao CNPq.
. Advérbios qualitativos em cartas familiares do século 
XIX. In: LOPES, Célia Regina dos S. (Org.). A norma brasileira em 
construção: fatos lingüísticos em cartas pessoais do século XIX. 
Rio de Janeiro: UFRJ: FAPERJ, 2005.
.; PROCESSY, Wendel. Os advérbios em latim. Rio de Ja-
neiro: UFRJ, 2006. Mimeo.
.; VLČEK, Nathalie. Advérbios qualitativos em -mente 
em cartas de jornais do século XIX. Lingüística: revista do Progra-
ma de Pós-Graduação em Lingüística da Universidade Federal 
do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2006. No prelo.
MATTOS E SILVA, Rosa Virgínia. A	mais	antiga	versão	portuguesa	
dos quatro livros dos diálogos de São Gregório. tese (Doutorado em 
Letras)-Universidade de São Paulo, São Paulo, 1971. 244p. v. II: 
leitura crítica.
MoraES PINto, Deise Cristina de. Os advérbios qualitativos e 
modalizadores em -mente e sua ordenação: uma abordagem diacrô-
nica. Dissertação (Mestrado em Letras), Universidade Federal 
do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2002.
SILVA e SILVA, Edna Inácio da. As tendências de ordenação do 
advérbio mal: uma abordagem diacrônica. Dissertação (Mestra-
Gragoatá	 Mario	Eduardo	Martelotta
Niterói, n. 21, p. 11-26, 2. sem. 200626
do em Letras) Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de 
Janeiro, 2001.
OLIVEIRA, Mariangela Rios de; VOTRE, Sebastião (Org.). A	
língua falada e escrita na cidade do Rio de Janeiro: materiais para seu 
estudo. Rio de Janeiro: UFRJ, 1995. Inédito.
PIEL, Joseph M. (Ed.). Livro da ensinança de bem cavalgar toda sela: 
que fez El-Rey Dom Eduarte de Portugal e do Algarve e Senhoe 
de Ceuta. Lisboa: Livraria Bertrand, 1944.
Gragoatá	 Niterói, n. 21, p. 2�- 42, 2. sem. 2006
a estrutura argumental das 
construções deverbais em -dor
Nubiacira Fernandes de Oliveira
Recebido 25, jun. 2006/Aprovado 28, ago. 2006 
Resumo
análise da estrutura argumental de construções 
deverbais com o sufixo -dor, com o objetivo de 
depreender em que medida o caso ‘Agente’ nelas 
se manifesta, considerando a interação entre as 
propriedades morfossintáticas, semânticas e prag-
máticas dessas formações derivadas. Assume-se 
como pressuposto que há um paralelismo entre a 
categorização conceptual e a categorização lingüís-
tica. A análise se baseia na utilização concreta da 
língua	pelo	falante.
Palavras-chave: construções deverbais; estrutu-
ra argumental; agentividade.
Gragoatá Nubiacira Fernandes de Oliveira
Niterói, n. 21,p. 2�-42, 2. sem. 200628
1. Introdução
Este trabalho, inserido no domínio da lingüística funcional 
norte-americana, segue a linha de investigação que vem sendo 
desenvolvida por Givón, Hopper, Thompson, Bybee, Goldberg, 
Du Bois, entre outros. Apresenta resultados preliminares de uma 
pesquisa, cujo objetivo é examinar os processos de interação 
entre propriedades morfossintáticas, semânticas e pragmáticas, 
visando ao estabelecimento de traços gerais de interpretação 
caracterizadores da estrutura argumental de construções dever-
bais com o sufixo –dor. Examinando a relação entre o sufixo e a 
estrutura temática das bases com as quais ele ocorre, focaliza, em 
particular, as seguintes questões: (1) em que medida a estrutura 
argumental da construção deverbal corresponde à estrutura 
argumental da base? e (2) como o caso Agente se manifesta nas 
construções derivadas em -dor? A principal fonte de pesquisa 
empírica é o Corpus Discurso & Gramática: a língua falada escrita 
na cidade do Natal (FURTADO DA CUNHA, 1998), constituído 
de textos falados e escritos de tipos diversos: narrativa expe-
riencial, narrativa recontada, descrição de local, relato de proce-
dimento e relato de opinião. Dados adicionais foram coletados 
da Revista VEJA - anos 2004-2006. A análise se processa à luz 
do conceito de Estrutura Argumental (DU BOIS, 2003) e das 
noções de Transitividade (HOPPER; THOMPSON, 1980) e de 
categorização prototípica, tal como proposta por Taylor (1995). 
Nesse modelo, as análises lingüísticas se baseiam na utilização 
concreta da língua pelo falante e assume-se como pressuposto 
que há um paralelismo entre a categorização conceptual e a 
categorização lingüística.
2. Sobre o conceito de estrutura argumental
A noção de Estrutura Argumental provém da filosofia, em 
que era concebida, de acordo com Frege, como um instrumento 
para a formulação do ‘pensamento puro’, usado precisamente 
para descrever os significados proposicionais em termos lógicos. 
Os lingüistas se apropriaram do conceito para seus propósitos 
e, em vista de seu interesse intrínseco pela linguagem, o ponto 
focal é a relação da estrutura argumental com a organização da 
expressão lingüística. 
Em princípio, a noção de estrutura argumental diz respeito 
às relações semântico-gramaticais que se estabelecem entre um 
predicado – tradicionalmente o Verbo – e seus complementos ou 
argumentos – o Sujeito e o Objeto. Mais recentemente, a comple-
xidade da estrutura argumental vem sendo posta em evidência 
em vários modelos da teoria lingüística. 
Segundo Du Bois (2003, p. 17), a estrutura argumental 
implica uma estrutura organizacional que estabelece relações 
combinatórias entre elementos, em pelo menos duas dimensões 
A estrutura argumental das construções deverbais em -dor
Niterói, n. 21, p. 2�-42, 2. sem. 2006 29
paralelas – a gramatical e a semântica. Ao longo das dimensões 
combinatórias, gramaticalmente, os nomes se relacionam aos 
verbos, desempenhando funções como sujeito, objeto, etc. e, se-
manticamente (e/ou conceptualmente), entidades conceituais se 
relacionam a eventos conceituais, assumindo papéis como agente, 
paciente, etc. Entre esses dois níveis, há um mapeamento siste-
mático entre o conjunto das relações semânticas (ou temáticas) 
co-presentes e o conjunto das relações gramaticais co-presentes. 
o processo (ou princípios) de mapeamento tem sido caracteri-
zado de modo variável como alinhamento, ligação, seleção de 
argumento, etc.
os tipos de orações básicas (compostas de um predicado) 
de uma língua como o português, por exemplo, são conside-
rados como construções de estrutura argumental, nas quais o 
verbo, tomado como elemento central ou predicador, mantém 
uma relação abstrata (relação valencial) com os termos que dele 
dependem – seus argumentos. Em outras palavras, o verbo tem 
a capacidade de abrir determinados lugares na oração e de se-
lecionar os argumentos para preenchê-los. Assim, por exemplo, 
tomando-se uma oração básica como Pedro	feriu	José, diz-se que 
temos um predicado de dois lugares. o verbo ferir – núcleo do 
predicado ou predicador – seleciona obrigatoriamente dois argu-
mentos SNs: Pedro e José. trata-se de uma construção transitiva 
prototípica, que descreve um evento no qual um agente exerce 
uma ação que afeta um paciente. O agente é realizado no papel 
de sujeito transitivo (A), expresso na posição pré-verbal pelo 
SN – Pedro, e o paciente é realizado no papel de objeto direto 
(O), na posição pós-verbal, expresso pelo SN José.
Do ponto de vista semântico, o evento transitivo prototí-
pico é definido pelas propriedades do agente, do paciente e do 
verbo envolvidos na oração que codifica esse evento. Em prin-
cípio, a delimitação das propriedades desses três elementos é 
uma questão de grau. Do ponto de vista sintático, as orações – e 
verbos – que têm um objeto direto são, em geral, consideradas 
transitivas; as que não o têm são intransitivas. Segundo Givón 
(2001), embora as caracterizações semânticas e sintáticas da 
transitividade pareçam independentes, elas normalmente se 
sobrepõem: a maioria das orações que são semanticamente 
transitivas também são sintaticamente transitivas. Desse modo, 
se uma oração codifica um evento semanticamente transitivo, 
o agente e o paciente do evento são, via de regra, respectiva-
mente, o sujeito e o objeto direto dessa oração. Na prática, essa 
sobreposição não é, contudo, categórica, devido à possibilidade 
de elipse. No nível semântico, um dos argumentos nucleares de 
comer, por exemplo, diz respeito à substância colocada na boca 
e engolida: não é possível pensar em comer sem pensar em algo 
que é comido. Mas, é perfeitamente normal dizer Ele tem comido, 
sem mencionar o que é consumido (ausência do objeto). Por outro 
Gragoatá Nubiacira Fernandes de Oliveira
Niterói, n. 21, p. 2�-42, 2. sem. 200630
lado, certos aspectos, tais como a chamada dimensão afetamento, 
pertencem à transitividade semântica e não à sintática. assim, 
numa oração como João correu cinco milhas, a presença de um 
objeto direto (cinco milhas) não implica que o SN sujeito (João) 
é CAUSA + afetamento; nem a ausência de um objeto direto 
implica que o sujeito é CAUSA – afetamento, como se pode ver 
no exemplo, Mário escreve para ‘O Times’, em que não há objeto 
direto, porém há afetamento, pois, pode-se dizer que O Times é, 
de algum modo, enriquecido pela contribuição de Mário.
Numa referência a Levin e Rappaport Hovav (1995), Du Bois 
(2003) chama atenção para o fato de que, se o papel semântico de 
um argumento (agente, paciente, etc.) é, em parte, determinado 
pelo significado do verbo que o seleciona e se argumentos que 
dão suporte a certos papéis semânticos regularmente se associam 
a expressões sintáticas particulares, essa regularidade de associa-
ção reforçaria a idéia de que o significado do verbo é um fator na 
determinação da estrutura sintática das orações. Estudiosos da 
estrutura argumental e da gramática de construção, entre eles o 
próprio Du Bois e Goldberg (1995), questionam parcialmente essa 
idéia com base no conceito de construção. Segundo Goldberg, as 
orações básicas de uma língua, como o inglês, por exemplo, são 
instâncias de construções, entendidas como correspondências de 
forma e significado que existem independentemente dos verbos 
particulares. ou seja, uma construção carrega em si mesma um 
significado independente das palavras que a compõem. A des-
peito de sua importância, uma discussão detalhada sobre esse 
ponto ultrapassa os limites do presente trabalho.
A propósito da relação entre verbos e nomes de ‘atividade’, 
a pesquisa morfológica confirma a existência de SNs que exibem 
uma estrutura de predicado similar à de um SV: o núcleo do SN 
(o Nome) determina argumentos, do mesmo modo que o núcleo 
do SV (o Verbo) o faz. Além disso, a própria categorização dos 
argumentos em externo (sujeito) e interno(s) (complemento(s)) 
é mantida nesse paralelismo. Comparem-se, por exemplo, as 
construções em (1) abaixo:
(1) a.O MLST invadiu o parlamento brasileiro.
 b. A invasão do parlamento brasileiro pelo MLST.
o verbo invadir, em (1) a, exige a presença de um argumen-
to externo (sujeito), representado na oração pelo SN O MLST, e 
um argumento externo (complemento - objeto direto), repre-
sentado pelo SN o parlamento brasileiro. De modo semelhante, na 
construção (1) b, o nome invasão determina a presença de um 
argumento interno (correspondente ao complemento - objeto 
direto), que se manifesta através do SP do parlamento brasileiro, e 
de um argumento externo (correspondente ao sujeito), expresso 
através do SP pelo MLST. Com efeito, SNs tais como ‘A	invasão’	
teriam o estatuto de construções de estrutura argumental, assim 
como o SV. Citando Demonte (1985), Neves (1996) lembra que, 
A estrutura argumental das construções deverbais em -dor
Niterói, n. 21, p. 2�-42, 2. sem. 2006 31
para esse autor, o SN, no que diz respeito “a sua natureza for-
mal, compartilha características dos sintagmas verbais e pode 
ser concebido também, em certo sentido, como uma estrutura 
similar à oração”. Do ponto de vista semântico, diz ela, o SN é 
“uma entidade paradoxal porque, tomada em seu conjunto [...], 
é um argumento, porém internamente, deve distinguir-se entre 
elementos receptores e atribuidores de papel temático”.
Essas observações vêm reforçar a idéia comum à teoria da 
Gramática de Construção segundo a qual não há divisão estrita 
entre o léxico e a sintaxe (GOLDBERG, 1995). Construções lexi-
cais e construções sintáticas diferem em complexidade interna 
e na especificidade da forma fonológica, mas ambas constituem 
essencialmente o mesmo tipo de estrutura de dado declarativa-
mente representada: ambas são pares de forma e significado. A 
esse propósito, Croft; Cruse (2004, p. 254) afirmam que, assim 
como a sintaxe, a morfologia representa unidades gramaticais 
complexas, no caso, compostas de morfemas. De um ponto de 
vista estrutural, a única diferença entre morfologia e sintaxe é 
que os morfemas são limitados no interior da palavra, enquan-
to as palavras são morfologicamente livres no interior de um 
sintagma ou oração. os autores argumentam que muitas são as 
palavras a que se podem chamar de ‘palavras idiomaticamente 
combinadas’, em que o significado de um morfema é específico 
para a raiz com a qual ele se combina (ou uma subclasse de raí-
zes). Por exemplo, em inglês, o sufixo derivacional –er refere-se 
ao agente do evento denotado pela raiz do verbo, quando esta 
pertence a uma classe que inclui write, run (escrever, correr) e 
assim por diante, mas se refere a um instrumento, se a raiz do 
verbo é clip (cortar, tosquiar), staple (grampear) e semelhantes, 
ou a um paciente se a raiz do verbo é fry (fritar), broil (assar). a 
observação parece ser igualmente válida para as construções 
deverbais com o sufixo –dor, em português. Ou seja, o significado 
do sufixo -dor depende da raiz verbal com a qual ele se combina 
(ou da subclasse de raízes), mas, seguindo a proposta da teoria da 
gramática de construção, as propriedades semânticas de ambas 
as partes interagem para produzir o significado construcional, 
de tal forma que o significado da construção é dado unicamente 
pelo todo.
tudo que essas observações sugerem é que, realmente, a 
morfologia é muito parecida com a sintaxe e que uma represen-
tação construcional é motivada para a morfologia também.
alguns nomes de ação-processo, tais como repressão, cassa-
ção, por exemplo, de fato, remetem a um evento que facilmente 
prevê uma configuração envolvendo um argumento subjetivo 
(a1) e um argumento objetivo (a2), este último, em muitos casos, 
afetado pela ação-processo. Sob essa ótica, no exemplo (2) abaixo, 
o nome cassação (em destaque) é um predicado de dois lugares, 
cuja estrutura argumental comporta um argumento objetivo 
Gragoatá Nubiacira Fernandes de Oliveira
Niterói, n. 21, p. 2�-42, 2. sem. 200632
(A2), expresso pelo SP de direitos políticos, e um argumento sub-
jetivo (a1), aqui representado pelo SN uma	proposta, recuperável 
no contexto imediatamente anterior.
(2) “A lei precisa ser aperfeiçoada para acabar com essa farra”, 
protesta o deputado orlando Desconsi, do Pt gaúcho, autor de 
uma proposta que prevê a cassação de direitos políticos para o 
culpado em qualquer momento, com ou sem renúncia. (VEJA, 
26.10.05, p. 53).
observe-se que, se por um lado, o SN a cassação de direitos 
políticos é, em si mesmo, uma estrutura predicado-argumen-
to – uma predicação -, em que o nome cassação é o núcleo do 
predicado e o SP de direitos políticos é o argumento objetivo (a2), 
por outro lado, esse mesmo SN constitui o argumento objetivo 
(a2) do predicado sintático, cujo núcleo é prevê. ou seja, predi-
cações encaixadas funcionam como termos dentro de outras 
predicações. trata-se de nomes (resultantes ou não de processos 
de nominalização) que ativam no interior do SN o sistema de 
transitividade. Os derivados deverbais em –dor exibem nitida-
mente essa propriedade.
a observação dos dados indica que a base verbal envolvida 
na produção de derivados com o sufixo –dor é geralmente do 
mesmo tipo daquela que codifica o predicado que se denomina 
de ação-processo: evento com afetamento de y, controlado por 
x, sendo x o agente-prototípico. assim, em princípio, uma ora-
ção transitiva prototípica (cf. Hopper; Thompson, 1980) e uma 
construção deverbal em -dor	se assemelhariam em dois pontos: 
classe semântica do predicado (verbo de ação-processo) e papéis 
semânticos relacionados (agente ou causativo e paciente afetado). 
Em vista desse fato, poder-se-ía admitir, como pressuposto, que 
os deverbais são construções de estrutura argumental que, em 
princípio instalam, numa estrutura menor, o esquema temático 
da base (ou do verbo primitivo). os dados, no entanto, revelam 
que, ao assumir o seu status nominal, alguns derivados passam 
a ter características sintático-semânticas próprias, controlando a 
manifestação de sua estrutura argumental. Assim, por exemplo, 
quando se observa a relação verbo-nome deverbal, a correspon-
dência entre a estrutura argumental do verbo e a do derivado 
nominal nem sempre é perfeita, podendo ocorrer uma limitação 
no número de papéis temáticos da estrutura nominal em relação 
à verbal. No caso, sugere-se que, ao se avaliar o problema da não 
expressão dos argumentos dos deverbais, é preciso considerar 
o contexto maior do que o sintagma. Em nosso corpus, para al-
guns dos derivados sob análise, não foi preenchida totalmente 
a estrutura argumental dentro do próprio SN. a hipótese é que, 
se a estrutura sintática da oração já fornece informação sobre o 
(s) argumento (s) do nome deverbal, dispensa-se sua expressão 
sob a forma canônica de sintagma preposicional. O argumento 
A estrutura argumental das construções deverbais em -dor
Niterói, n. 21, p. 2�-42, 2. sem. 2006 33
não vem, então, expresso, mas pode ser depreendido do contexto 
maior, isto é, da organização sintático-semântica do texto, em 
qualquer ponto dele, dentro ou fora da oração. Pode-se supor que, 
muitas vezes, a saturação informativa da estrutura argumental 
dispensa, e até bloqueia, a expressão de argumentos, como se 
verifica em (3) abaixo:
(3) ... saí feito uma louca ... na escola ... procurando o diretor ... 
procurando o supervisor... (Corpus D&G, p. 52)
Nesse exemplo, diretor constitui, em tese, o núcleo de um 
predicado de dois argumentos, correspondente a ‘x dirige y’ 
ou ‘x diretor de y’. Nota-se, porém, que a estrutura argumental 
do predicado não está totalmente preenchida, ou seja, diretor 
aparece desacompanhado de seus argumentos. acontece que, 
como substantivo, diretor traz implicitamente a representação 
do papel semântico Agente no sufixo –tor, de modo que diretor 
equivale a ‘aquele que dirige’. Por sua vez, o argumento-objeto, 
que deveria figurar na forma do SP ‘da escola’, pode ser depre-
endido do quadro geral em que se realiza a predicação (situação 
de enunciação e enunciado maior), o que torna desnecessária a 
sua

Continue navegando

Outros materiais