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UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA JÚLIO DE MESQUITA FILHO 
Instituto de Biociências, Letras e Ciências Exatas 
 
 
PROJETO DE HISTÓRIA DO PORTUGUÊS PAULISTA 
(PHPP - PROJETO CAIPIRA) – 2012-2017 
Projeto Temático de Equipe / FAPESP / Processo 11/51787-5 
 
 
Coordenadora Geral 
Profa. Dra. Clélia Cândida A. Spinardi Jubran (UNESP/São José do Rio Preto) 
Subcoordenador 
Prof. Dr. Manoel Mourivaldo Santiago-Almeida (USP) 
 
 
 
Coordenadores de Grupos Subprojetos 
Prof. Dr. Ataliba Teixeira de Castilho (USP, UNICAMP) 
Dra. Clélia Cândida Abreu Spinardi Jubran (UNESP/S.J. Rio Preto) 
Dr. José da Silva Simões (USP) 
Prof. Dr. Manoel Mourivaldo Santiago Almeida (USP) 
Profa. Dra. Maria Aparecida C. R. Torres Morais (USP) 
Profa. Dra. Maria Célia Lima-Hernandes (USP) 
Dra. Maria Lúcia C. V. Oliveira Andrade (USP) 
Dra. Sanderléia Roberta Longhin (UNESP/S.J. Rio Preto) 
Dr. Sílvio de Almeida Toledo Neto (USP) 
Dra. Verena Kewitz (USP) 
 
 
Consultores 
Prof. Dr. Ian Roberts (Cambridge University-UK) 
Profa. Dra. Ana Maria Martins (Universidade de Lisboa) 
Profa. Dra. Esperança Cardeira (Universidade de Lisboa) 
Prof. Dr. Johannes Kabatek (Zürich Universität, Suiça) 
Prof. Dr. Carlos de Almeida Prado Bacelar (USP) 
Prof. Dr. Augusto Soares da Silva (Universidade Católica Portuguesa) 
Profa. Dra. Mary Kato (UNICAMP) 
Prof. Dr. Rodolfo Ilari (UNICAMP) 
Profa. Dra. Maria Luiza Braga (UFRJ) 
Prof. Dr. Alan Baxter (UFBA) 
 
 
 
 
 
Comissão Científica 
 
Alan Baxter (UFBA) 
Ana Maria Martins (Univ. de Lisboa) 
Augusto Soares da Silva (Univ. Católica 
Portuguesa) 
Áurea Zavam (UFCE) 
Carlos de Almeida P. Bacelar (USP) 
Célia Regina dos Santos Lopes (UFRJ) 
Dinah Callou (UFRJ) 
Edair Maria Görski (UFSC) 
Ediene Pena Ferreira (UFPA) 
Elias Alves de Andrade (UFMT) 
Erotilde Goreti Pezatti (UNESP) 
Esperança Cardeira (Univ. de Lisboa) 
Evani Viotti (USP) 
Fábio Montanheiro (UFOP) 
Hugo Mari (PUC-MG) 
Ian Roberts (Cambridge University-UK) 
Izete Lehmkuhl Coelho (UFSC) 
Janderson Lemos de Souza (UNIFESP) 
Jânia Ramos (UFMG) 
Johannes Kabatek (Zürich Universität) 
Lílian Ferrari (UFRJ) 
Marco Antônio Martins (UFRN) 
Mariângela Rios de Oliveira (UFF) 
Maria Alice Tavares (UFRN) 
Maria Denilda Moura (UFAL) 
Maria Lucia Leitão de Almeida (UFRJ) 
Maria Luiza Braga (UFRJ) 
Mary Kato (UNICAMP) 
Rodolfo Ilari (UNICAMP) 
Roseane Nicolau (UFPB) 
Tânia Lobo (UFBA) 
Valéria Gomes (UFRP) 
Vanderci Aguilera (UEL) 
Viviane de Melo Resende (UnB) 
Viviane S.V. S. Ramalho UnB) 
 
 
 
Comissão de Publicação do PHPP II 
 
Sílvio de Almeida Toledo Neto (Presidente, USP) 
José da Silva Simões (USP) 
Sanderléia Roberta Longhin (UNESP) 
Patrícia de Jesus Carvalhinhos (USP) 
 
 
Revisão dos Abstracts 
Verena Kewitz (USP) 
 
 
Capa: Edifício Martinelli, Centro de São Paulo, primeiro arranha-céu da cidade. 
Foto da Capa: Flávio Morbach Portella (2010) 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Copyright © 2015 LABORATÓRIO EDITORIAL IBILCE 
 
 
Qualquer parte desta publicação pode se reproduzida, desde que citada a fonte. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
História do português paulista : série estudos / organizado por 
 Sanderléia Roberta Longhin, Verena Kewitz. - São José 
 do Rio Preto : UNESP – Câmpus de São José do Rio Preto : 
 Cultura Acadêmica Editora, 2015. 
221 p. ; 21 cm. 
 
ISBN 978-85-7983-639-8 
 
 1. Língua Portuguesa – Estudo e Ensino. 2. Língua 
Portuguesa – Gramática. 3. Língua Portuguesa – Lexicografia. 4. 
Língua Portuguesa – São Paulo (Estado). I. Longhin, Sanderléia 
Roberta. II. Kewitz, Verena. III. Título. 
 
 CDU – 469.0(81) 
 
 
Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca do IBILCE 
Câmpus de São José do Rio Preto – UNESP 
 
 
 
 
 
 
LABORATÓRIO EDITORIAL IBILCE 
labeditorial@ibilce.unesp.br 
Apresentação 
Este volume traz uma coletânea de trabalhos recentemente desenvolvidos no 
âmbito do Projeto História do Português Paulista II (PHPP II), temático de equipe 
financiado pela Fapesp (11/51787-5), sob a coordenação geral da Profa. Dra. Clélia 
Jubran (UNESP/S.J. Rio Preto). O Projeto reúne pesquisadores das três 
universidades paulistas – USP, UNESP e UNICAMP – no propósito maior de 
investigar fenômenos relativos à história do português paulista, nas dimensões 
gramatical, semântica, lexical e textual-discursiva. À semelhança do PHPP I, 
coordenado pelo Prof. Dr. Ataliba Castilho, de 2006 a 2010, o PHPP II é 
constituído por dez subprojetos que se assentam na área de Linguística Histórica, 
centrados nos objetivos de (a) coletar, organizar e disponibilizar corpora 
diacrônicos do português paulista, de modo a apoiar pesquisas sobre essa 
variedade; (b) analisar tais corpora em três eixos: (i) estudo da variação e mudança 
gramatical, das perspectivas funcionalista, cognitivista e gerativista, com ênfase 
nas classes de palavras e nas construções sintáticas; (ii) estudo da formação da 
variedade culta paulista e da difusão da variedade popular na região do Médio 
Tietê, em paralelo ao traçado sócio-histórico do português paulista; (iii) estudo de 
gêneros discursivos e de processos de construção textual, sob as perspectivas 
crítico-discursiva e textual-interativa. 
Para organização deste volume, o quarto da Série Estudos, contamos com 
uma comissão científica que avaliou e indicou a publicação dos textos aqui 
reunidos. Cada um dos textos submetidos à publicação na Série Estudos foi 
avaliado por dois especialistas, que emitiram pareceres de mérito, seguindo as 
normas estabelecidas pela Comissão de Publicação, responsável pelo 
gerenciamento das publicações. O conjunto selecionado, um total de oito textos, 
contempla pesquisas que estão sendo desenvolvidas nos seguintes subprojetos: 
Tipologia e história das construções gramaticais em perspectiva funcional; 
Retrato sociolinguístico da variedade culta paulistana; História e variedade do 
português paulista às margens do Anhembi e Gêneros jornalísticos impressos: 
historicidade, constituição e mudança em uma perspectiva crítico-discursiva. 
 No texto A rede de construções com o verbo ‘agarrar’ em português: 
emergência e relação de herança, Angélica Rodrigues e Carolina M. Coelho 
Marques investigam a relação de herança entre quatro construções formadas com o 
verbo agarrar, e defendem que a semântica básica de agarrar é mapeada 
metaforicamente na semântica das demais construções. As autoras argumentam 
que, embora a teoria da gramaticalização explique as mudanças experimentadas 
por agarrar, em que o verbo passa a integrar construções mais gramaticalizadas, 
não é possível dispô-las num cline unidirecional. Assim, para captar as relações 
entre as construções, propõem uma rede construcional. No texto A construção 
‘quase (que)’ e a codificação sintática de intenções, Priscilla de Almeida Nogueira 
analisa, à luz de princípios funcionalistas, a construção quase (que), estabelecendo 
uma correlação entre etimologia, padrões de uso, expressão da (inter)subjetividade 
e codificação sintática. A autora mostra que os diferentes padrões de quase (que), 
fundados em graus de subjetividade, têm em comum a polaridade negativa e o 
traço irrealis, fundamentais para a mobilização dos mecanismos envolvidos na 
codificação de intenções. 
No texto Vocabulário do samba rural paulista: primeiros resultados, que 
aborda características lexicais do Samba Rural Paulista, num quadro teórico 
lexicológico e discursivo, os autores Mário Santin Frugiuele e Manoel Mourivaldo 
Santiago-Almeida focalizam a produção de sentidos e os registros da memória 
coletiva provenientes da escolha de duas unidades lexicais, sambeiro e sambador, 
em oposição à forma sambista. Evidenciam uma distinção significativa entre a 
escolha lexical feita por participantes de modalidades específicas desamba, sendo 
possível estabelecer oposições entre o samba atualmente desenvolvido em todo 
Brasil à secular prática dos sambadores e sambeiros paulistas de outrora. 
 O texto Precisa-se de “brancos” para trabalhar: um estudo crítico social 
dos anúncios de emprego de São Paulo do século XIX, de Kelly Cristina de 
Oliveira, prioriza os anúncios de emprego veiculados no jornal Correio Paulistano, 
no século XIX, com o objetivo de analisar as escolhas lexicais referentes aos 
requisitos para contratação dos trabalhadores. O estudo revela que os anunciantes 
utilizam-se de critérios subjetivos que denotam relações desiguais de poder entre 
patrões e operários, acentuando a desigualdade social entre brancos e negros. 
 Na sequência, o texto Sistema de transitividade como mecanismo de 
representação de LGBT no discurso da ‘Folha de S. Paulo’, de Iran Ferreira de 
Melo e Maria Lúcia da C. V. de Oliveira Andrade, traz uma investigação, no 
quadro teórico da Linguística Sistêmico-funcional, sobre o modo como o público 
LGBT é representado nos textos do jornal Folha de S. Paulo. Para tanto, os autores 
descrevem os recursos léxico-gramaticais como fonte potencial para as 
representações sociais. Concluem que o jornal contribui para a produção de 
significados que alimentam o tratamento hostil e estigmatizante historicamente 
dirigido a esses atores sociais. 
 Por outro lado, o texto A mobilização da voz do/a leitora/a na imprensa de 
bairro paulistana: uma abordagem introdutória, de Paulo Roberto Gonçalves 
Segundo, privilegia a imprensa de bairro paulistana. Assumindo uma perspectiva 
sistêmico-funcional, o autor enfoca a correlação entre a estrutura retórico-
teleológica e os aspectos concernentes à negociação intersubjetiva entre a voz 
autoral, a comunidade leitora e o periódico. O estudo mostra que os textos 
instanciam, preferencialmente, julgamentos negativos de estima e sanção social, 
por meio de modelos textuais críticos e exortativos, como forma de enquadrar a 
exigência de ações práticas de instituições sociais no que tange à solução dos 
problemas comunitários. 
 O texto Em busca das estratégias discursivas de expressão ideológica dos 
jornais Folha de S. Paulo e Diário de S. Paulo no contexto de movimentos sociais 
atuais, de Paula S. Gonçalves-Morasco, aborda o gênero notícia em dois jornais da 
cidade de São Paulo, com o propósito de examinar comparativamente diferenças 
nas estratégias discursivas, em particular quanto à informação ideologicamente 
marcada. Mediadas por um quadro teórico que alia discurso e ideologia, as 
conclusões apontam para a existência de ideologias preconceituosas em relação às 
minorias. 
 Fecha o livro o texto Retórica e dominação: as eleições retratadas nos 
grandes jornais paulistas, de Fábio Fernando Lima, que analisa as estruturas 
responsáveis pelo estabelecimento das relações interpessoais e as intersecções 
destas com a persuasão, no noticiário de temática eleitoral de jornais paulistas, a 
partir de recorte longitudinal que abarca publicações dos séculos XIX ao XXI. O 
autor aborda, sobretudo, a manifestação de ideologias e a busca por consensos. 
 
Sanderléia Roberta Longhin 
Verena Kewitz 
Organizadoras 
SUMÁRIO 
 
 
Capítulo 1 Angélica Rodrigues; Carolina M. Coelho Marques. A rede de 
construções com o verbo agarrar em português: emergência e 
relação de herança ........................................................................... 09 
 
Capítulo 2 Priscilla de Almeida Nogueira. A construção quase (que) e a 
codificação sintática de intenções.................................................... 33 
 
Capítulo 3 Mário Santin Frugiuele; Manoel Mourivaldo Santiago-Almeida. 
Vocabulário do samba rural paulista: primeiros resultados........... 64 
 
Capítulo 4 Kelly Cristina de Oliveira. Precisa-se de “brancos” para trabalhar: 
um estudo crítico social dos anúncios de emprego de São Paulo 
do século XIX........................................................................... 92 
 
Capítulo 5 Iran Ferreira de Melo; Maria Lúcia da Cunha Victório de Oliveira 
Andrade. Sistema de transitividade como mecanismo de 
representação de LGBT no discurso da Folha de S. Paulo 
......................................................................................................... 112 
 
Capítulo 6 Paulo Roberto Gonçalves Segundo. A mobilização da voz do/a 
leitor/a na imprensa de bairro paulistana: uma abordagem 
introdutória ...................................................................................... 145 
 
Capítulo 7 Paula de Souza Gonçalves-Morasco. Em busca das estratégias 
discursivas de expressão ideológica dos jornais Folha de S. Paulo 
e Diário de S. Paulo no contexto de movimentos sociais atuais 
......................................................................................................... 176 
 
Capítulo 8 Fábio Fernando Lima. Retórica e dominação: as eleições 
retratadas nos grandes jornais paulistas........................................... 192 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
9 
 
A REDE DE CONSTRUÇÕES COM O VERBO AGARRAR EM 
PORTUGUÊS: EMERGÊNCIA E RELAÇÃO DE HERANÇA 
 
 
Angélica RODRIGUES
1
 
Carolina Medeiros Coelho MARQUES
2
 
 
 
ABSTRACT: This paper aims to discuss the inheritance relations among four different types of 
constructions formed by the verb agarrar (to grab) in contemporary Brazilian and European 
Portuguese: the Transitive Construction, the Paratactic Construction and the Inceptive 
Construction. We posit that the occurrence of the verb agarrar in these four constructions is due 
to the movement metaphor, as the basic semantics of agarrar in the Transitive Construction is 
mapped on the semantics of the other constructions. Although grammaticalization can explain 
the changes through which the verb agarrar has undergone in order to be used in more 
grammaticalized constructions, it is not sufficient to elucidate why these constructions interact, 
for we cannot link them to a unidirectional cline. We suggest that the semantics of the movement 
of bringing something closer, inherent to the verb agarrar, interacts with the constructions in 
different ways, which leads us to propose a constructional network in an attempt to capture the 
relationships among these constructions. 
 
KEYWORDS: Inheritance relations, constructions, grammaticalization, Portuguese. 
 
 
Introdução 
Neste capítulo, propomos uma análise de diferentes tipos de construções 
com o verbo agarrar, com o objetivo de compreender o tipo de relação que se 
estabelece entre elas. Partindo incialmente de duas propostas que oferecem, cada 
uma a seu modo, modelos explicativos para a relação inter-construcional, a saber, a 
gramaticalização (HOPPER; TRAUGOTT, 2003) e a relação de herança 
(GOLDBERG, 1995), concluímos, por um lado, que uma trajetória unidirecional 
de mudança, como preconizam os estudos em gramaticalização, não se aplica às 
construções em foco neste capítulo, embora, possamos observar mudança no 
estatuto categorial do verbo agarrar, e, por outro, que a semântica de todas as 
construções com agarrar converge para um sentido básico desse verbo, sendo 
assim motivadas e vinculadas por uma relação metafórica. Serão consideradas, 
neste capítulo, quatro construções, a saber, Construção Transitiva, Construção 
Transitiva Não-canônica, Construção Paratática e Construção Inceptiva, 
formadas a partir do verbo agarrar
3
 em português brasileiro (PB) e europeu (PE). 
 
1
 Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (UNESP), Faculdade de Ciências e Letras de 
Araraquara, Departamento de Linguística, Araraquara, São Paulo, angelica.rodrigues@fclar.unesp.br 
2
 Universidade Federal de Triângulo Mineiro, Instituto de Educação, Letras, Artes, Ciências Humanas e 
Sociais (IELACHS), Uberaba, Minas Gerais, carolinamedeiros@terra.com.br 
3
 Alémde agarrar, os verbos pegar e catar também podem integrar essas construções. 
 
10 
 
Nosso objetivo principal é, por um lado, mostrar como os valores semânticos do 
verbo agarrar interagem com todas as construções em destaque e, por outro, 
propor uma rede construcional representativa das relações de herança entre essas 
construções. A identificação e classificação dessas construções foram feitas a partir 
de uma análise qualitativa dos dados coletados de três corpora, sendo eles o 
Corpus do Português, o corpus organizado por Leosmar A. Silva e a ferramenta de 
busca do Google. Ao trabalhar com esses três tipos de corpora, interessa-nos 
mostrar também a presença dessas construções nas duas variedades do português. 
 Recuperamos, principalmente a partir de Goldberg (1995), as discussões 
sobre relações de herança entre construções e sobre a interação entre verbos e 
construções. Também retomamos as contribuições de Hopper e Traugott (2003 
[1993]), Bybee (2010) e Traugott (2003) acerca da emergência de construções via 
gramaticalização. Mostraremos que, embora as diferentes construções com agarrar 
apresentem graus diferentes de gramaticalização, a relação entre elas não se 
explica apenas por esse processo de mudança unidirecional, podendo ser mais bem 
representada por uma estrutura radial. 
 Em seguida, apresentamos a descrição dos quatro tipos de construções com 
agarrar, destacando suas propriedades estruturais e funcionais, bem como nossa 
proposta de rede construcional para as construções com agarrar. Finalmente 
tecemos nossas considerações finais acerca do estudo empreendido. 
 
Construções: emergência e relações de herança 
Seja numa perspectiva diacrônica e/ou sincrônica, os estudos de 
gramaticalização oferecem inúmeras evidências de construções que desenvolvem 
funções gramaticais ou, se já gramaticalizadas, se tornam ainda mais gramaticais. 
A definição clássica de gramaticalização oferecida por Hopper e Traugott (2003 
[1993]) e pelos trabalhos mais recentes de Traugott (2009) pressupõe que novas 
construções (com nova função gramatical) na língua podem se desenvolver a partir 
de construções pré-existentes. É consenso entre os estudiosos dos processos de 
gramaticalização que essa relação entre construções menos e mais gramaticalizadas 
pode ser capturada por continuum ou cline, uma vez que se assume que a mudança 
em gramaticalização é unidirecional. Unidirecionalidade, para Hopper e Traugott 
(2003, p. 100), é a forte tendência, verificada translinguisticamente, de que formas 
gramaticalizadas emergem a partir de formas menos gramaticalizadas e não o 
contrário. Todavia, os autores salientam que nem todos os casos de 
gramaticalização envolvem mudança em um único cline. Craig (1991 apud 
HOPPER; TRAUGOTT, 2003, p. 114), por exemplo, propõe o termo 
 
11 
 
“poligramaticalização” para se referir ao processo pelo qual uma única forma 
desenvolve diferentes funções gramaticais em diferentes construções. A proposta 
de poligramaticalização é interessante, mas nunca foi profundamente explorada 
nos trabalhos sobre gramaticalização, que priorizam, na sua grande maioria, a 
elaboração de uma trajetória de gramaticalização que seja unidirecional. 
Ademais, embora vários autores ressaltem a necessidade de rever esse 
pressuposto, a proposição de que formas gramaticalizadas ou em gramaticalização 
sofrem “dessemanticização”, entendida como “perda” de substância semântica, 
pode favorecer a interpretação de que as mudanças em gramaticalização envolvem 
basicamente aspectos sintáticos. A esse respeito, Hopper e Traugott (2003, p. 94) 
declaram que, nos estágios iniciais de gramaticalização, mais do que 
“desbotamento” semântico, o que se observa é um enriquecimento pragmático 
associado às formas em gramaticalização. 
Essas questões acerca do desenvolvimento de construções são retomadas em 
nossa análise das construções com o verbo agarrar, já que reconhecemos 
evidências de um processo de gramaticalização, embora seu desenvolvimento não 
seja compatível com uma trajetória unicamente unidirecional. Compreendemos que 
a semântica do verbo agarrar contribui para a emergência de todas as construções, 
o que, portanto, reforça a hipótese de Hopper e Traugott (2003) acerca do princípio 
de dessemanticização. Nossa conclusão é a de que para entender a relação entre 
essas construções, é preciso considerar que a vinculação entre elas também se dá 
por aspectos semânticos, que envolvem uma motivação metafórica. 
Partindo de uma perspectiva totalmente desvinculada dos estudos sobre 
mudança linguística e, principalmente, sobre gramaticalização, Goldberg (1995, p. 
67) assume, dentro do paradigma da Gramática das Construções, que construções 
estão ligadas por relações de herança, de modo que a construção A motiva a 
construção B sse B herda de A. Ou seja, nas relações de herança, propriedades 
particulares de uma dada construção podem ser motivadas por outra construção. 
Dentre os quatro tipos de ligação de herança propostos, a autora (GOLDBERG, 
1995, p. 81) descreve que numa ligação de extensão metafórica (IM), duas 
construções são relacionadas metaforicamente via correspondência entre domínios 
semânticos, de forma que a semântica da construção dominante é “mapeada” na 
semântica da construção dominada via metáfora. 
 Embora o modelo de Goldberg acerca das relações de herança não tenha 
sido proposto para tratar de fenômenos de mudança, baseamo-nos nas reflexões da 
autora na medida em que apresentam para nós uma possibilidade de análise das 
construções com agarrar e podem complementar nossa análise sobre a emergência 
 
12 
 
e desenvolvimento de construções mais gramaticalizadas a partir de construções 
menos gramaticalizadas. Sustenta nossa perspectiva de análise a percepção de que 
existe uma motivação, no sentido de Lakoff (1987), para a emergência de novas 
construções a partir da semântica básica do verbo agarrar em construções 
transitivas (menos gramaticalizadas). Segundo Lakoff (1987), incorporar a 
motivação à gramática significa dizer que os elementos do sistema influenciam-se 
mutuamente mesmo quando não estão literalmente interagindo. Ou seja, os falantes 
buscam regularidades e modelos e tendem a impor regularidades e modelos quando 
estes não estão prontamente disponíveis. 
 
As construções com agarrar 
Considerando o uso do verbo agarrar nas construções Transitiva, Transitiva 
Não-canônica, Paratática e Inceptiva em português brasileiro (PB) e europeu (PE) 
e as reflexões apresentadas em Coelho (2013), assumimos que essas construções 
estão interligadas numa rede construcional. As construções transitiva, paratática e 
inceptiva, nas quais foi identificada a ocorrência do verbo agarrar, apresentam, 
respectivamente, a seguinte estruturação sintática: [Vagarrar COMPL], [V1agarrar 
(econj) V2fin] e [V1agarrar (aprep) V2inf]. Todas são construções, tal como o termo é 
conceituado por Goldberg (1995), correspondem a um pareamento de forma e 
significado. Essas construções podem ser analisadas em termos de processos de 
gramaticalização, uma vez que o verbo agarrar é usado como verbo pleno na 
Construção Transitiva, mas tem seu estatuto categorical alterado quando usado na 
Construção Transitiva Não-canônica e principalmente nas construções Paratática e 
Inceptiva, em que observamos mudanças relacionadas a decategorização, 
compatíveis com gramaticalização. 
Apresentamos na Figura 1 a rede construcional das construções com 
agarrar: 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
13 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Figura 1: Rede construcional do verbo agarrar 
 
Nossa proposta é de que em todas essas construções está preservado um 
significado de movimento que as conecta em termos de uma relação de herança de 
extensão metafórica. Antes de mostrar mais especificamente a configuração dessas 
relações de herança, exploraremos a semântica do verbo agarrar,para depois 
apresentar as propriedades individuais de cada construção. 
 
Etimologia do verbo agarrar 
 O verbo agarrar tem origem, segundo os dicionários etimológicos de Bueno 
(1963) e Cunha (1982), no vocábulo garra, cujo significado é “unha aguçada e 
curva das feras e aves de rapina”, que, por extensão, assumiu o significado de 
“unhas, dedos, mãos” e, ainda, “ânimo forte, fibra”. 
A extensão de usos do vocábulo garra, da qual resultou sua mudança 
semântica de “unha aguçada e curva das feras e aves de rapina” para “unhas, 
dedos, mãos” e “ânimo forte, fibra”, parece ter influenciado a mudança semântica 
do verbo agarrar, que, a depender do contexto linguístico, pode apresentar o 
significado de prender com a garra, prender com as mãos ou prender com fibra. 
Desse modo, dentre os vários usos do agarrar atualmente, o mais antigo e 
mais básico é o de prender com a garra (unha aguçada e curva das feras e aves de 
rapina). Os demais significados, de prender com as unhas, dedos ou mãos e de 
prender com fibra, surgiram por meio de extensões do significado mais básico. E 
desses é que podem ter surgido aqueles significados ainda mais abstratos, que 
advêm de casos como: agarrar a ideia, agarrar o sonho e agarrar nojo, que 
indicam a metaforização do verbo. 
Esse entendimento pressupõe a aceitação da proposta de Heine et al. (1991) 
Construção 
Transitiva 
[V SN[+CONC]] 
Construção 
Transitiva 
Não-Canônica 
[V SN[+ABST]] 
Construção 
Inceptiva 
[V1 (PREP) 
V2] 
Construção 
Paratática 
[V1 (CONJ) 
V2] 
 
14 
 
que defendem que significados mais abstratos podem ser codificados por termos 
que apresentam significados mais concretos. 
 
A Construção Transitiva com agarrar 
Segundo Goldberg (1995) e Ferreira (2009), a semântica associada à 
Construção Transitiva é X causa mudança em Y, em que há dois papéis 
argumentais, o de agente (X) e o de paciente (Y), especificados sintaticamente, no 
discurso, pelos papéis participantes de sujeito e objeto, tal como é ilustrado no 
Quadro 1 a seguir. 
 Semântica CAUSAR MUDANÇA < agente paciente > 
 
 R: PRED < > 
 
 Sintaxe v SUJEITO OBJETO 
Quadro 1: Representação da construção transitiva 
 
A análise de Ferreira (2009) do esquema da Construção Transitiva Agentiva 
é relevante também para a Construção Transitiva com agarrar: na primeira linha, 
estão “os papéis semânticos dos argumentos na configuração cognitiva evocada 
pela construção”, na segunda está “o lugar para o predicador linguístico que 
instanciará materialmente a construção em um uso comunicativo concreto”, “os 
espaços deixados vagos na terceira e quarta coluna serão preenchidos pelos 
participantes, que a especificação do predicado há de contribuir”, e a última linha 
“determina as funções gramaticais atribuídas à fusão de participantes e argumentos 
na expressão sintática”. 
Quando instanciada pelo verbo agarrar, a construção transitiva apresenta 
dois participantes. O primeiro acumula os papéis de agente e sujeito (quem agarra), 
enquanto o segundo assume, simultaneamente, os papéis de paciente e objeto (o 
que é agarrado), tal como mostra o Quadro 2 abaixo. 
 
 
15 
 
 Semântica CAUSAR MUDANÇA < agente paciente > 
 
 R: agarrar < quem agarra agarrado > 
 
 Sintaxe v SUJEITO OBJETO 
Quadro 2: Representação da construção transitiva com o verbo agarrar 
 
De acordo com Martelotta e Areas (2003, p. 38), no que diz respeito ao 
sentido da Construção Transitiva, a transitividade parece estar relacionada “ao 
evento causal prototípico, que é definido como um evento em que um agente 
animado intencionalmente causa uma mudança física e perceptível de estado ou 
locação em um objeto”. 
Tratando-se, mais especificamente, da Construção Transitiva com o verbo 
agarrar, o sentido decorre de uma mudança de locação do objeto, que pode ser 
física ou metafórica, indicando o movimento a favor do centro dêitico, já que o ato 
de agarrar pressupõe o movimento de trazer para si. 
Tendo em vista os aspectos sintático e semântico da Construção Transitiva 
do português, aquelas atualizadas com o verbo agarrar, como as ilustradas em (1) 
e (2), mantêm, do ponto de vista sintático, a configuração Suj V Obj na maioria 
dos casos, e do ponto de vista semântico, projetam uma mudança de locação dos 
objetos peixe e ideia, ainda que de modos diferentes. 
Na ocorrência (1), retirada de um texto ficcional do PB, narra-se o fato de 
alguns homens estarem tentando agarrar um peixe que estava no rio, ao 
conseguirem fazê-lo, o peixe, que estava longe, sofre uma mudança de lugar, 
passando de distante para próximo dos homens que o agarraram. Em (2), 
ocorrência extraída de um texto ficcional, dessa vez do PE, o complemento verbal 
tem um valor semântico abstrato, desse modo, não pode ser fisicamente agarrado, 
porém, ainda assim, há uma mudança de locação, dessa vez metafórica, já que a 
ideia de casar-se, que estava distante do sujeito, passa a ser cogitada, tornando-se 
próxima, possível. 
(1) Talvez também que, indefeso e doente, o houvessem beliscado outros peixes. Quando o 
agarraram, ainda tentou fugir às mãos que o seguravam e que, rápidas, o tiraram fora d' água, 
ligando-o entre duas talas de madeira. (Título: Chamada Geral: Contos, de Francisco Inácio 
Peixoto. Texto ficcional: PB) 
 
(2) Havia uma grande lacuna na sua vida, e sentia-se apartado do resto do mundo, como se 
tivesse crescido a maré e ele ficasse no mar em cima de um rochedo sem ligação com a terra. Ele 
estava efectivamente na idade de juntar-se. Ia muito seguro no que pensava e bem atento, por 
 
16 
 
isso soube agarrar uma ideia feliz que lhe veio de repente: - A mulher! (Título: Nome de 
Guerra, de José de Almada Negreiros. Texto ficcional: PE) 
 
Dados como esses mostram que, independentemente da natureza semântica 
do objeto, seja ela abstrata ou concreta, a construção transitiva formada pelo 
agarrar codifica uma mudança de locação, que pode ser concretamente (1) ou 
mentalmente (2) realizada. Considerando essa diferença entre as ocorrências (1) e 
(2), propomos classificá-las de Construção Transitiva e Construção Transitiva 
Não-canônica, respectivamente. 
A extensão de usos do verbo agarrar, da qual resultam construções como (2) 
agarrar uma ideia, indicam a metaforização do verbo. O agarrar, que se originou 
do vocábulo garra, parece ter seguido um caminho progressivo de metaforização. 
A extensão de sentidos do vocábulo garra para “unhas, dedos, mãos” e “força, 
fibra” parece ter influenciado a emergência de outros usos do agarrar: prender 
com unhas, dedos e mãos (3) e prender com fibra, com força (4). 
(3) Há-de rir-se ao ver a sua mãe entrar no palco imenso, chamar-me, dar-me uma beijo na testa, 
tirar da carteira um elástico negro, agarrar com ambas as mãos o meu cabelo. (Título: O filho 
perdido de Catherine. Texto jornalístico: PE) 
 
(4) O Jonas agarrava-a vigorosamente, muito desvanecido com o elogio, e erguia-a sempre que 
uma curva mais ampla se proporcionava. (Título: Fatal Dilema, de Abel Botelho. Texto 
ficcional: PE) 
 
Desses casos, em que há um sujeito que “agarra” fisicamente algo ou 
alguém, surgem ocorrências como (5), (6) e (7), em que o verbo passa a selecionar 
complementos mais abstratos, o que indica sua própria metaforização. Por essa 
razão, surgem extensões de sentido, como os casos apresentados abaixo, nos quais 
a experiência física de agarrar é transferida a uma esfera conceptual, em que a 
ação de agarrar não pode ser entendida a não ser metaforicamente. 
(5) No momento em que Maria Cândida buscava o refúgio cômododa hostilidade desabrida para 
deixar de encarar de frente os argumentos para os quais não tinha resposta, a questionadora 
também se desmandava. Ocorria então que, mesmo furiosa, a mae espertamente agarrava a 
chance para dizer o que desejava. (Título: Ano de Romances. Texto jornalístico: PB) 
 
(6) Me vali de Nossa Senhora das Dores pra não morrer de parto. Não sei se você sabe, mas 
quase me matou. Eu me encolhi e ela insistiu: - No medo da morte, me agarrei com a santa e 
fui atendida. (Título: A Muralha, de Dinah Silveira de Queiroz. Texto ficcional: PB) 
 
(7) 0 Dr. Rodrigo, homem mais do espaço do que do tempo, agarrou a vida a unha com 
coragem e, certo ou errado (quem poderá dizer), fêz alguma coisa com ela. E aqui estás tu a 
simplificar o problema, a olhar apenas um de seus múltiplos aspectos. Pensa bem no que vou te 
 
17 
 
dizer. É um erro subordinar a existência à função. (Título: O Tempo e o Vento, de Eric 
Verissimo. Texto ficcional: PB) 
 
Tendo em vista as nuances semânticas entre as construções transitivas com 
agarrar, aquelas identificadas como Construção Transitiva apresentam um sujeito 
[+agente] e [+animado], que age intencionalmente de modo a agarrar um objeto 
[+concreto], trazendo-o para si, ou seja, causando sua mudança física de locação. 
Por outro lado, as Construções Transitivas Não-Canônicas são aquelas em que há 
um sujeito também [+agente] e [+animado], mas que age intencionalmente 
trazendo metaforicamente para si um objeto [+abstrato]. 
O complemento de agarrar na Construção Transitiva parece ser mais bem 
especificado, no nível construcional, como objeto afetado e não como paciente, já 
que, nessa construção, os complementos do verbo sofrem um afetamento direto 
pela ação denotada por ele, ou seja, são concretamente agarrados e, por isso, 
passam por uma mudança física de locação. Portanto, nos referimos ao papel 
argumental dos sintagmas nominais em posição de complemento, na Construção 
Transitiva com agarrar, como objetos afetados. O papel argumental dos sintagmas 
nominais em posição de complemento na Construção Transitiva Não-canônica, por 
outro lado, é denominado aqui de objeto afetado não-canônico, já que ele não é 
fisicamente afetado pela ação codificada pelo verbo agarrar. 
A Construção Transitiva Não-canônica com agarrar 
A Construção Transitiva Não-canônica mantém a mesma estrutura 
argumental da Construção Transitiva, selecionando agente e objeto afetado não-
canônico, que correspondem aos papéis de sujeito e objeto no nível sintático. 
Algumas variações dessa estrutura foram identificadas, o que revela que a 
transitividade do verbo agarrar sofre alteração, já que o complemento tem uma 
natureza semântica mais abstrata. A Construção Transitiva Não-canônica apresenta 
três diferentes configurações sintáticas que estão descritas abaixo. As ocorrências 
(8)-(10) correspondem a cada uma dessas configurações, respectivamente: 
1) [SUJ V OBJdireto] 
2) [SUJ V OBL] 
3) [SUJ V OBJdireto ADJUNTO] 
(8) Eu expliquei pra ele que tinha feito justamente pra usar daquele jeito e ele falou que não e tal 
e eu falei pra deixar que eu ia fazer de novo. E refiz as 11 páginas da história. Porque eu queria 
agarrar a chance. Ele gostou e eu peguei a história. (Título: Mike Deodato. Texto oral: PB) 
 
(9) O rápido sucesso alcançado leva-o a desenvolver um projecto ainda mais ambicioso: a 
 
18 
 
criação de um verdadeiro universo de lazer, a que não chega assistir porque desaparece. Mas o 
seu irmão Roy e a sua equipa agarram no sonho e abrem, em 1971, a Walt Disney World 
Resort na Florida, um conceito que, em 1992, é exportado para a Europa com o Disneyland 
Paris. (Título: Waltter Elias Disney. Texto acadêmico: PE) 
 
(10) Os homens não têm tempo para pensar. Embebeda-os a esperança de chegar à altura de 
António de Sousa e agarram-se ao sonho com febre e com força. Divididos não vêem o que 
para eles, no mundo, se cria. Não sabem que as casas onde moram são impossíveis à vida, não 
vêem que é preciso lutar para que o mundo possa cair--lhes nas mãos. (Título: O Aço Mudou de 
Têmpera, de Manuel do Nascimento. Texto ficcional: PE) 
 
Nos dados supracitados, a interpretação semântica de agarrar é distinta, já 
que chance e sonho não são objetos do mundo físico que podem ser agarrados. 
Casos como esses só podem ser interpretados se transferirmos a experiência física 
que temos da ação de agarrar a uma esfera conceptual, em que a construção 
agarrar no sonho, por exemplo, codifique a ação de que Roy e sua equipe tenham 
tomado a abertura da Walt Disney Word na Flórida como uma meta a ser 
cumprida. Dessa forma, ao trazer o sonho, que é comumente visto como algo 
distante, de difícil concretização, para próximo de si, codifica-se a possibilidade de 
efetivação do mesmo. 
A partir dos dados coletados, verificamos diferentes significados associados 
à Construção Transitiva Não-canônica, a saber: acreditar perseverantemente em 
algo, aproveitar a chance, socorrer-se, tomar atitude e adquirir hábito. 
 
1. Acreditar perseverantemente em algo 
(11) Os rebeldes haviam dado uma " pausa " até domingo para Mobutu, esperando que ele, com 
seu Exército em debandada, renunciasse. Mas o presidente ainda parece agarrar-se à esperança 
de conseguir um possível acordo com os adversários, ou então apenas busca ganhar tempo.. 
(Título: Rebeldes zairenses iniciam avanço final. Texto jornalístico: PB) 
 
2. Aproveitar a chance 
(12) Bons apontamentos de um futebol bem jogado, virilidade na procura da bola e a maior 
determinação na sorte do jogo, caracterizaram o desafio do Restelo em que o Belenenses acabou 
por justificar plenamente a sua permanência da segunda grande prova do futebol nacional e o 
árbitro Bento Marques também "agarrou" a oportunidade para mostrar a sua boa forma.. 
(Título: Taça de Portugal. Texto jornalístico: PE) 
 
3. Socorrer-se, valer-se 
(13) Me vali de Nossa Senhora das Dores pra não morrer de parto. Não sei se você sabe, mas 
quase me matou. Eu me encolhi e ela insistiu: - No medo da morte, me agarrei com a santa e 
fui atendida. (Título: A Muralha, de Dinah Silveira de Queiroz. Texto ficcional: PB) 
 
4. Tomar atitude 
(14) 0 Dr. Rodrigo, homem mais do espaço do que do tempo, agarrou a vida a unha com 
 
19 
 
coragem e, certo ou errado (quem poderá dizer), fêz alguma coisa com ela. E aqui estás tu a 
simplificar o problema, a olhar apenas um de seus múltiplos aspectos. Pensa bem no que vou te 
dizer. É um erro subordinar a existência à função. (Título: O Tempo e o Vento , de Eric 
Verissimo. Texto ficcional: PB) 
 
5. Adquirir hábito
4
 
(15) A gente torce, a gente se empolga, e o time joga toscamente contra o Avaí quinta (sem 
contar a operação do juiz), além de não ter feito os gols, quando mais precisou contra os Bambis. 
Garrei nojo de blogs de futebol, garrei NOJO
5
! 
 
(16) Já garrei birra dessa loira do filme
6
. 
 
(17) Mas em compensação garrei ódio já por 3 tipos! E quando garro ódio, menina, é difícil me 
fazer mudar de opinião
7
! 
 
Vê-se, nesses dados, que os significados: acreditar perseverantemente em 
algo, aproveitar a chance, socorrer-se, tomar atitude e adquirir hábito não são 
acepções do verbo agarrar, mas sim o resultado da interação dos significados dos 
elementos lexicais com o significado da construção transitiva. 
Em acordo com o que Goldberg (1995, p. 29) propõe, assumimos que não é 
necessário estabelecer um novo significado ao verbo a cada nova construção em 
que ocorra, bastando considerar que o seu sentido básico se adéqua ao significado 
da construção. No caso da Transitiva Não-canônica com agarrar, propomos que é 
a partir da interação do sentido básico de agarrar de prender com a garra, 
habilitado na Construção Transitiva, codificadora de um evento causal prototípico, 
que surgiram os significados de acreditar perseverantemente em algo, aproveitar a 
chance, socorrer-se, tomar atitude e adquirir hábito.Cumpre ressaltar que nas ocorrências (11) a (14), o complemento de agarrar 
é dotado de uma carga semântica positiva, assim, agarrar a esperança, a 
oportunidade, a santa, a vida implica trazê-los para si, passando de um estado ruim 
para outro melhor. Em (15) a (17), no entanto, ocorre o contrário, já que agarrar 
nojo, birra e ódio, implica trazer para si sentimentos de carga negativa, que não 
são de interesse do sujeito. Salientamos que, nesses últimos sentidos, o sujeito da 
Construção Transitiva Não-canônica é experienciador e não agente, pois não tem 
total controle sobre a ação. 
Verificamos, na Construção Transitiva Não-canônica, uma maior coesão 
entre o verbo e seus complementos, principalmente nos casos cujo significado é 
 
4
 Os dados de (16) a (18) foram coletados por meio do mecanismo de busca do Google. 
5
 Retirado de http://espacosrtaindependente1001.wordpress.com/category/geral-sobre-mim/. 
6
 Retirado de http://twitter.com/AVENAoficial/statuses/197141233230032896. 
7
 Retirado de http://bigviciobbb.blogspot.com.br/2011/01/garrei-odio.html. 
 
20 
 
adquirir hábito. As construções agarrar nojo, agarrar birra, agarrar ódio 
parecem ter, em todos os contextos, o mesmo significado, o que favorece sua 
classificação como construções idiomáticas (CROFT, 2001, p. 15). 
É preciso acrescentar que nas construções do tipo agarrou nojo e agarrou 
birra, por exemplo, o verbo agarrar sofre alteração categorial, sinalizando um 
processo de gramaticalização. Nessas construções, agarrar não é mais usado como 
um verbo pleno, mas apresenta propriedades de verbo-suporte. Segundo Neves 
(2000, p.54), os verbos-suporte apresentam as seguintes propriedades: 
i. forma “com seu complemento (objeto direto), um significado global, geralmente 
correspondente ao que tem um outro verbo na língua”; 
ii. funciona “como instrumento morfológico e sintático na construção do predicado”; 
iii. “funciona, em outros contextos, como verbo pleno”; 
iv. “reduz a valência de um predicado, já que é mais fácil deixar de se exprimir o 
complemento de um nome do que o complemento de um verbo”; 
v. “o uso da construção sintática verbo-suporte + objeto permite obter-se maior adequação 
comunicativa”; 
vi. pode “configurar um aspecto verbal particular”. 
 
Essas propriedades são compatíveis com o verbo agarrar em construções 
como (15)-(17), principalmente por, nesse contexto, formar, com o objeto, um 
“significado global”. É interessante, ainda, retratar uma propriedade, em especial, 
listada por Neves (2000), a de que o verbo-suporte pode “configurar um aspecto 
verbal particular”. De fato, observamos que a Construção Transitiva Não-canônica 
cujo significado é adquirir hábito, apresenta uma função aspectual, indicando o 
início de uma ação. Apesar de as construções agarrar nojo, agarrar birra e 
agarrar ódio seguirem a estrutura formal das construções transitivas, [V COMPL], 
apresentam uma função aspectual inceptiva, indicando o início das ações de enojar, 
embirrar e odiar. Tendo isso em vista, essas ocorrências parecem estar, de alguma 
forma, relacionadas às Construções Inceptivas, que, como veremos adiante, são 
responsáveis pela marcação de aspecto inceptivo. 
 
A Construção Paratática com agarrar 
As construções paratáticas são construções que apresentam a configuração 
sintática do tipo [V1fin (econj) V2fin], representada em (18): 
(18) A gente aqui não usava isso, de pedra. Era um comedouro, tinha uma divisão ao meio, uma 
tábua: desta parte aqui era a água e daqui era o comer. E despois eles já começavam (..) a roer 
aquilo e a coisa, a gente agarrava, fazia em cimento, para eles beberem a água. (Título: 
Cordial: ALC30. Texto oral: PE) 
 
 
21 
 
Segundo Rodrigues (2006), construções desse tipo são recorrentes em várias 
línguas e os verbos que ocupam a posição V1 são sempre os verbos ir, vir, chegar 
e pegar (e seus cognatos). 
Encontramos, em Bechara (2006), Travaglia (2003) e nos dicionários Aulete 
(1980), Aurélio (2010) e Houaiss (2004), referências ao verbo agarrar em 
construções paratáticas, embora elas não sejam assim denominadas pelos autores. 
Bechara (2006) e Travaglia (2003) defendem posições diferentes acerca da 
classificação do verbo em casos como (19), apresentado por Bechara (2006) e (20), 
apresentado por Travaglia (2003). Apesar de não afirmá-lo categoricamente, para o 
primeiro, trata-se de um verbo auxiliar, já para o segundo, trata-se de um verbo 
serial. 
(19) agarro e escrevo 
(20) Aí ele (a)garrou e começou me xingar sem razão 
 
Nos dicionários Aulete (1980), Aurélio (2010) e Houaiss (2004), apresenta-
se, em comum, a informação de que o agarrar indica uma tomada de decisão 
súbita, assunção, portanto, que parece ir de acordo com a concepção de que o V1 
seja um verbo auxiliar de aspecto inceptivo, tal como Bechara (2006) propõe. 
Contudo, de acordo com Rodrigues (2006), as construções paratáticas 
apresentam “propriedades sintáticas que extrapolam os limites da auxiliarização” e, 
além disso, não são responsáveis pela marcação de informação aspectual. Por isso, 
em outra direção, assumimos, com Longhin-Thomazi e Rodrigues (2011), que a 
Construção Paratática possui uma função pragmática, sendo responsável pela 
marcação de foco. 
Em (21), um senhor conta que, quando criança, sua mãe havia feito uma 
calça de linho para que ele pudesse sair em companhia da vizinha, porém, diz que 
esse tecido incomodava-o demais e, por isso, voltou para casa. Vê-se que a 
Construção Paratática introduz uma informação, expressa semanticamente em V2, 
que contrasta com a informação e a pressuposição instauradas previamente no 
discurso. 
(21) INF2 E havia outra, que está lá em baixo agora a mãe - até coitada não está muito bem -, 
chamam-lhe Ana. E aquela (..) mandava-me assim duma certa maneira; e eu começava logo 
a mandar vir com ela e não ia. Mas um dia fui então. E a minha mãe falecida preparou-me 
as tais calças. Mas o raio das calças, aquilo picava-me como tudo! 
 INF1 (..) 
 INF2 E eu agarrei e vim de lá.. E que é que eu fiz? Dei-lhe umas facadas às calças; e atirei 
com elas trás do arcaz, como se dizia naquele tempo. Agora é uma caixa, mas era o arcaz. 
 
22 
 
(Cordial: CTL06. Texto oral: PE) 
 
A função dessa construção é, portanto, introduzir uma informação que, por 
um lado, é contrastiva, se consideramos o discurso precedente, e, por outro, é mais 
saliente, se consideramos que a Construção Paratática veicula uma informação 
nova, que cancela as pressuposições habilitadas anteriormente no contexto 
discursivo. Desse modo, entendemos que a Construção Paratática possui uma 
função pragmática. Segundo Longhin-Thomazi e Rodrigues (2011, p. 126), as 
Construções Paratáticas “são parcialmente motivadas, uma vez que refletem a 
separação de pressuposição (Suj + V1) e foco (V2) em uma estrutura bi-clausal, 
aparentemente de coordenação” e “alocam a expressão do foco, e nenhum outro 
elemento, na segunda parte da construção [...], colocando o foco, pois, na sua 
posição sintática canônica para informação nova ou contrastiva”. 
Nesse sentido, V1 e V2 constituem uma unidade semântica, pois, apesar de 
estarem morfologicamente separados, codificam um único evento, que é sempre 
descrito pelo segundo verbo. Assim, V1, no contexto da Construção Paratática, não 
exerce a função de verbo lexical pleno, perdendo sua autonomia sintático-
semântica e passando a constituir, com V2, uma unidade de forma e sentido 
utilizada em situações discursivo-pragmáticas específicas. 
Como parte integrante da Construção Paratática, o verbo agarrar sofre 
alterações de suas propriedades semânticas e sintáticas. No que tange à primeira, 
agarrar não é mais usado no seu sentido básico de trazer para si, desenvolvendo, 
no contexto da construção, uma função pragmática de introduzir uma informação 
nova ou contrastiva. Todavia,argumentaremos mais adiante que o valor semântico 
de agarrar não é irrelevante para a Construção Paratática. Agarrar também sofre 
decategorização, que, conforme proposto por Hopper (1991), consiste na perda ou 
neutralização das marcas morfológicas ou dos privilégios sintáticos da forma fonte. 
Portanto, na Construção Paratática, agarrar perde transitividade, já que deixa de 
subcategorizar complemento, e oferece restrições quanto à negação, pois a 
negação, nessa construção, é sempre adjacente a V2, como se vê em (22). 
(22) O madeirense emigrava para o novo mundo (América, Africa, Austrália) e fazia o 
raciocínio: " eu vou para um lugar onde um dia possa ser patrão e não para continuar a ser 
empregado dos outros ". Isto fez com que muita gente se agarrasse e não tivese uma filosofia de 
regresso. (Título: Alberto Joao Jardim. Texto oral: PE) 
 
A Construção Paratática com agarrar mostrara-se mais frequente na 
variedade europeia do português se comparado com a variedade brasileira, 
 
23 
 
contudo, parecem ocorrer em menor número em contraste com as construções com 
os verbos ir e pegar. Coelho (2010) mostra que, no PE, enquanto as paratáticas 
formadas pelo verbo ir representam 65,3% das ocorrências, os casos com agarrar 
constituem 6,9% das ocorrências. Em PB foi identificado um único caso de 
Construção Paratática com agarrar, ilustrado em (23). 
(23) Inf. Aí eu fui lá e embarguei a… a cerca… qu/eu já tinha feita a metade p/esse tii meu fazê a 
outra… 
 Doc. Sei 
 Inf. Qui ( ) aí ele:::… ele num feis… ele vendeu… quem comprô dele ia fazê né… época de 
ano tinha passado da metade… tomano metade do meu terreno 
 Doc. Nossa… 
 Inf. Aí eu num dexei… ( ) falei qui:::… i vortô lá… não tem que/cê reto… falei então cê 
sorta um pedaço do qu/é seu… memo tanto… i pra podê… 
 Doc. Compensá né? 
 Inf. Pudê pegá o mesmo tanto do meu… aonde dé… a linha… mais… aí… aí o mió era 
retificá que tinha os mapa tudo certim né… registrado? 
 Doc. É 
 Inf. É… mais aí num… na lei aí… não achei froxo qu/ele não… que todo lugar qu/ele ia… 
qu/eu ia tava conversado… qu/ele era rico né… e eu era pobre aí eu garrei vendi lá… 
vendi lá e mudei pra/qui… eu já tinha casado… já tava… já tinha meus fii… já foi em 
sessen… sessenta e treis qu/eu vendi…aí comprei outro terreno lá no cavalo quemado… 
mais naquele tempo era custoso dimais meu sogro mudô pra lá era difici da gente::: transitá 
NE? (Inquérito nº 12) 
 
A marcação de informação focal ou remática está, geralmente, vinculada à 
ideia de novidade informativa, assim, a informação considerada nova tende a ser 
focalizada ou por estruturas gramaticais específicas, como a Construção Clivada e 
a Paratática, ou por contornos prosódicos. No dado (23), por exemplo, o enunciado 
eu garrei vendi lá introduz uma informação que contraria a expectativa gerada pelo 
discurso anterior de que mesmo com os problemas para estabelecer os limites das 
suas terras com as do vizinho, o senhor não iria deixá-lo tomar parte de seu terreno, 
desse modo, sua intenção parecia ser a de manter suas terras, não a de vendê-las. A 
Paratática garrei vendi, portanto, introduz uma informação nova (venda das terras), 
que é focalizada pelo falante por contrastar com o discurso anterior. 
Apesar de o foco ser frequentemente vinculado à novidade informativa, 
alguns autores, como Lambrecht (1996) e Ilari (1992), propõem que uma 
informação dada/velha também pode ser focal. Para Lambrecht (1996), a estrutura 
informacional de uma sentença revela como o conteúdo das proposições é 
articulado pelo falante, que organiza a informação tendo em vista as hipóteses por 
ele criadas sobre o conhecimento do seu ouvinte. Segundo o autor estão em jogo, 
no momento da enunciação, dois tipos de proposições: a pressuposição e a 
asserção, que correspondem à proposição que o falante considera que seu ouvinte 
 
24 
 
já conhece e à proposição que o ouvinte passa a conhecer, respectivamente. 
Para Lambrecht (1996, p 207), foco é “a porção da proposição que não pode 
ser tomada como certa no momento da fala”, isto é, “o elemento imprevisível ou 
pragmaticamente não recuperável na sentença”. A partir do conceito de Lambrecht 
(1996), portanto, o foco só pode ser apreendido no discurso, pois só no contexto 
discursivo é possível verificar quais informações são pressupostas e quais são 
novas/contrastivas. 
Para Ilari (1992), mesmo que uma informação tenha sido introduzida por 
meio de uma expressão remática, não quer dizer que ela se manterá ativa 
indefinidamente. Desse modo, uma informação dada pode ser reintroduzida no 
discurso como remática. Dentre os dados de construções paratáticas com agarrar, 
(24), abaixo, funciona como uma evidência da possibilidade levantada por 
Lambrecht (1996) e por Ilari (1992). 
Nessa ocorrência, o falante conta que, em pagamento à ajuda que recebeu de 
uma mulher, entregou-lhe sete contos de réis e disse que voltaria mais tarde para 
dar-lhe mais dinheiro. Ele reintroduz, por meio da construção paratática agarrei e 
digo, a informação de ter dito que voltaria para dar mais dinheiro, dessa vez para o 
jantar. Sua intenção, ao retomar essa informação, parece ser destacar sua atitude 
generosa de ter dado uma quantia alta de dinheiro à mulher e que ainda voltaria 
com mais, para pagar-lhe o jantar. 
(24) Fiquei só com um conto de réis, agarrei em sete contos e dei-lhos. Ela não queria pegar mas 
eu meti-lho na mão e disse: "Olhe, isto é para o almoço. Para o jantar ainda cá estou. Isto é 
só para o almoço". Naquele tempo, era muito dinheiro! 
 INQ1 Pois. 
 INQ2 Pois. 
 INF Agarrei e digo assim: "Olhe, isto é para o almoço, que para o jantar ainda eu cá estou". 
(Título: Cordial: COV12. Texto oral: PE) 
 
No que diz respeito às propriedades formais, as construções paratáticas com 
o verbo agarrar são formadas por, no mínimo, dois verbos, V1 e V2, que 
partilham o mesmo sujeito, cujos traços são [+ animado] e [+ agente]; e as mesmas 
flexões modo-temporais e número-pessoais. Contudo, o dado (24), em que V1 e 
V2 estão flexionados em tempos diferentes, evidencia uma propriedade específica 
das construções paratáticas do PE, já que em PB casos como esse não foram 
identificados. Nesse dado, os verbos agarrar e dizer compartilham as flexões de 
modo (indicativo), número (singular) e pessoa (1ª), mas não a de tempo, o V1 está 
no pretérito perfeito e o V2 no presente. 
 
 
25 
 
A Construção Inceptiva com agarrar 
A Construção Inceptiva apresenta a seguinte configuração sintática: [V1fin 
(aprep) V2inf]. Essa construção também apresenta, assim como as paratáticas, dois 
verbos, V1 e V2, contudo, nesse caso, o primeiro verbo, na forma finita, é um 
verbo auxiliar e o segundo, no infinitivo, é o verbo principal, que podem estar 
ligados pela preposição a (tipo não encontrado em nosso corpus, mas registrado na 
literatura) ou justapostos, conforme (25). Trata-se, portanto, de uma construção 
que envolve um processo de auxiliarização que veicula valores aspectuais, sendo, 
desse modo, responsável pela marcação do aspecto inceptivo, como já descrito por 
Castilho (1967), Travaglia (2003) e Sigiliano (2008, 2013). 
(25) Todo mundo ficô apavorado né… qu/eu fiquei muito ruim chorei demais… num sabia 
que/tinha contecido… as meninada tudo garrô gritá:::… minha ficô pavoradinha… que… 
machuquei né? Nossa Senhora dor mais triste que tem… ai::: credo… (Inquérito nº 3. Góias, PB) 
 
A presença/ausência da preposição a parece não interferir no significado 
aspectual da construção, uma vez que ambas codificam o início da ação expressa 
pelo V2. Casos como (26), inclusive, em que há a ocorrência da preposição de ao 
invés da preposição a, também mantêm o aspecto inceptivo. Sigiliano (2013) 
afirma que o uso da preposição de associada a um V1 em construções inceptivas 
corresponde a um uso mais arcaico,já que não é observado atualmente. 
(26) Este G. é um rapazola de que já falei, e não tem nada de louco. Simplesmente sujeito a 
ataques. A Esse tempo, agarrou de aborrecer-me muito, tenho feito muitos obséquios. Este 
pequeno tem de sair daqui, por força; é muito moço e não tem cura; mas terá um mau destino. 
(Título: O cemitério dos vivos, de Lima Barreto. Texto ficcional: PB) 
 
Algumas gramáticas do português, como Said Ali (1964) e Cunha e Cintra 
(1988), destacam como auxiliares os verbos ter, haver, ser e estar, apenas em 
Castilho (2010) encontramos referência a outros verbos, dentre os quais 
destacamos o agarrar. 
Merlan (1999), no que se refere ao PE, trata de casos como os ilustrados em 
(27) e (28), chamados por ela de perífrases hipotáticas com valor ingressivo
8
, e, 
sobre eles, diz que sua estrutura corresponde a um verbo auxiliar de aspecto + 
preposição + verbo básico no infinitivo. A autora exemplifica esses casos com os 
seguintes dados: 
(27) Não vou lá, que eu pego-me a rir.
9
 
 
8
 Usaremos neste capítulo os rótulos “inceptivo” e “ingressivo” como sinônimos. 
9
 Merlan (1999) informa que os exemplos apresentados em seu texto foram “construídos – 
espontaneamente ou a solicitação – por falantes nativos do português, de várias idades, nível social e 
cultural”, enquanto outros “foram recolhidos de duas colectâneas de contos populares portugueses”. 
 
26 
 
(28) Eles entraram no meu quarto e pegaram a conversar. 
 
Embora Merlan (1999) proponha que somente o verbo pegar pode funcionar 
como auxiliar de aspecto ingressivo em PE, a ocorrência (25) mostra que, no PB, o 
verbo agarrar pode instanciar construções auxiliares de valor aspectual. 
O aspecto verbal, para Castilho (2010, p. 417), é “uma propriedade da 
predicação que consiste em representar os graus do desenvolvimento do estado de 
coisas aí codificado, ou seja, as fases que ele pode compreender.” Dentre as fases 
que o aspecto verbal pode codificar, encontra-se o que Castilho denomina 
imperfectivo inceptivo, que, segundo o autor, “expressa uma duração de que se 
destacam os momentos iniciais.” (CASTILHO, 2010, p. 421). O autor exemplifica 
esses casos a partir dos verbos começar e principiar: 
(29) Começou a falar mal de mim. 
(30) Principiou a falar mal de mim. 
 
Nesses exemplos, contudo, a significação inceptiva decorre não só da 
estrutura sintática da construção, mas também do significado dos verbos auxiliares 
começar e principiar, cujos significados já codificam o início de uma ação. Por 
outro lado, em casos com os verbos pegar e agarrar, também lembrados pelo 
autor, não se verifica o mesmo. Em (31), (32) e (33), segundo Castilho (2010), o 
significado inceptivo já não advém do significado lexical dos verbos que 
preenchem a posição V1, uma vez que os verbos pegar e agarrar não indicam, em 
seus significados básicos de segurar e prender com a garra, o início de uma ação, 
desse modo, o autor defende que a significação inceptiva, nesses casos, decorre da 
associação de pegar e agarrar a verbos no infinitivo. 
(31) Pegou a falar. 
(32) Garrou a criar uma coisa assim, parecia uma verruga. 
(33) Garrou a atacar. 
 
Contudo, acreditamos que a associação de um verbo finito (V1) a outro na 
forma nominal infinitivo (V2) não é a responsável pela emergência do significado 
inceptivo, pois, se assim fosse, qualquer verbo, teoricamente, poderia figurar na 
construção inceptiva. 
Seguindo Goldberg (1995), para quem os verbos não são utilizados em 
construções aleatoriamente, compreendemos que a restrição de verbos que podem 
instanciar essa construção tem a ver com o seu significado perfilado. Por isso, só 
podem instanciá-la verbos cujo significado se adéque ao significado inceptivo da 
 
27 
 
construção. Nesse sentido, defendemos que a ocorrência do agarrar na Construção 
Inceptiva é licenciada por meio da noção de movimento que o verbo codifica, que 
é compatível com o significado inceptivo, que também codifica um movimento, do 
qual resulta o início de uma ação. 
Nesse contexto linguístico, agarrar tem alterados os traços semânticos e 
sintáticos característicos de seu uso como verbo pleno e passa a integrar uma 
construção gramatical que exerce uma função gramatical de marcador de aspecto 
inceptivo. O desenvolvimento de um verbo pleno [+ lexical] para um verbo 
auxiliar [+ gramatical], como é o caso do agarrar, envolve, primeiramente, 
segundo Heine (1993), o mecanismo da extensão, por meio do qual o verbo passa a 
ser usado em um novo contexto. Além desse, são próprios da gramaticalização os 
mecanismos de dessemantização e decategorização. A alteração de traços 
semânticos (dessemantização) e a perda das propriedades morfossintáticas do item 
em gramaticalização (decategorização) são os mecanismos que licenciam a 
possibilidade do verbo agarrar ocorrer em contextos como o da Construção 
Inceptiva. 
Apesar de sofrer alterações semânticas como resultado da sua 
gramaticalização, na Construção Inceptiva com agarrar, a noção de movimento, 
inerente ao significado do verbo, se mantém. Esse fato indica, por um lado, a 
atuação do princípio da persistência (HOPPER, 1991, p. 28) que prevê que, quando 
uma forma lexical sofre gramaticalização, a forma gramaticalizada preserva alguns 
dos valores da forma original, o que pode explicar certas restrições semânticas ou 
sintáticas. Por outro lado, todavia, a correlação semântica entre a Construção 
Transitiva Não-canônica e a Construção Inceptiva indica que o significado de uma 
construção pode ser mapeado em outra, revelando uma transferência metafórica 
entre o domínio das duas construções. 
 
Relação entre as construções 
A partir da análise das construções transitiva, transitiva não-canônica, 
paratática e inceptiva, concluímos que a metáfora do movimento habilita o uso do 
verbo agarrar nessas construções, embora o movimento seja codificado de modo 
diferente em cada uma delas. 
Na Construção Transitiva, há o movimento prototípico, do qual decorre a 
mudança física e perceptível de locação de um objeto. Na Construção Transitiva 
Não-canônica, o movimento de trazer para si é metafórico e implica outra 
mudança, a do papel semântico, que passa de agente a experienciador. 
 
28 
 
No que diz respeito à Construção Paratática, vemos que, ao contrário da 
Construção Transitiva, na qual o sujeito age intencionalmente agarrando um objeto 
de modo a trazê-lo para próximo de si, o sujeito não agarra um objeto, pois o V1, 
nessa construção, não codifica uma ação separada da expressa pelo V2. Portanto, a 
leitura de movimento, da qual resulta a mudança de locação (física ou metafórica) 
de um objeto é bloqueada. Nossa interpretação é que, na Construção Paratática, o 
movimento é de deslocamento da atenção, ou seja, V1 orienta a atenção do 
interlocutor, levando-o a considerar V2 como a informação mais 
relevante/contrastiva. O que licencia, portanto, o uso do verbo agarrar nas 
construções paratáticas é o movimento inerente a ele, que, nessa construção, 
interage com o deslocamento da atenção próprio de sua estrutura. 
Na Construção Inceptiva, por sua vez, a noção de movimento também é 
codificada, porém de modo diferente do que se vê nas construções transitiva e 
paratática. Nessa construção, o movimento que subjaz ao verbo não implica a ação 
de trazer um objeto para próximo de si. O movimento, inerente a agarrar, interage 
com o significado inceptivo da construção, que codifica o início da ação expressa 
no V2. 
Na Construção Inceptiva, ainda, verifica-se que o movimento de iniciar uma 
ação implica outro, o de mudança de estado do sujeito, que passa de um estado de 
[- ação] para outro de [+ ação], que pode envolver processos dinâmicos ou 
mentais
10
. 
Essa mudança de estado do sujeito também é vista na Construção Transitiva 
Não-canônica do tipo agarrou a ideia, agarrou a santa, agarrou birrae agarrou 
ódio, o que parece habilitar uma relação entre a semântica das duas construções, já 
que ambas codificam o início de uma ação. 
 
Rede de herança entre as construções com agarrar 
Na análise dos quatro tipos de construções formadas pelo verbo agarrar em 
foco neste capítulo, apontamos que é possível estabelecer uma vinculação 
semântica entre elas. Não nos parece viável propor, a partir de uma abordagem de 
gramaticalização como fenômeno unidirecional (HOPPER; TRAUGOTT, 2003 
[1993]), um cline que seja suficientemente fiel ao tipo de relação que estamos 
lidando neste capítulo. Embora compreendamos que essas construções distinguem-
se quanto ao grau de gramaticalização, suas configurações estruturais dificultam 
sua alocação numa trajetória unidirecional. Estamos entendendo que a Construção 
 
10
 Por processos dinâmicos e mentais entendemos construções como “agarrei a correr” e “agarrei a 
pensar”, respectivamente. 
 
29 
 
Transitiva representa o tipo de construção menos gramaticalizado, sendo todas as 
outras instâncias mais gramaticalizadas de construções, já que observamos, por um 
lado, alteração das propriedades categoriais e semânticas de agarrar, e, por outro, 
um aumento da dependência do contexto sintático. 
Hopper e Traugott (2003, p. 176) propõem, seguindo Givón (1979) que os 
processos de combinação de cláusulas integram o domínio da gramaticalização e 
que relações sintáticas mais frouxas são indicativas de menor grau de 
gramaticalização e relação sintáticas mais fortes refletem um maior grau de 
gramaticalização. Uma vez que as construções com agarrar exibem diferentes 
configurações sintáticas, que pressupõem uma gradiência de integração sintática, é 
possível pensar que as construções com agarrar poderiam ser dispostas em um 
continuum tendo em vista os graus de integração de cláusulas. Nesse sentido, a 
Construção Inceptiva apresenta um grau de integração mais forte e seria, portanto, 
a mais gramaticalizada. A Construção Paratática, que apresenta uma configuração 
sintática próxima à coordenação, apresenta um grau mais fraco de integração e, 
desse modo, um grau mais baixo de gramaticalização. 
 
Construção Transitiva > Construção Paratática > Construção Inceptiva 
 
Apesar de ser possível propor um continuum para as construções com o 
verbo agarrar em português, percebemos que com ele podemos captar apenas um 
aspecto das construções em análise, isto é, o aspecto sintático, basicamente. Esse 
continuum é insuficiente para dar conta da complexa relação de motivação e 
herança que essas construções parecem estabelecer entre si. Por isso, dispô-las em 
uma estrutura radial parece-nos ser mais adequado, uma vez que vemos que essas 
construções inter-relacionam-se de diferentes modos, mas em todas elas 
depreendemos uma semântica residual do verbo agarrar. 
Essa relação é licenciada por meio da metáfora do movimento. O 
movimento, inerente ao verbo agarrar, interage com as construções e é codificado 
de modos diferentes em cada uma delas, como mostramos no tópico anterior. 
Todavia, verificamos que a relação de herança entre a Construção Transitiva e a 
Construção Paratática, e a relação entre a Construção Transitiva e a Construção 
Inceptiva são de naturezas diferentes. Por isso, representá-las numa estrutura radial 
parece ser mais coerente do que dispô-las linearmente. 
A relação entre a Construção Transitiva e a Construção Paratática 
fundamenta-se, basicamente, na metáfora do movimento. Assim, o movimento 
 
30 
 
subjacente ao verbo agarrar, que na Transitiva corresponde à mudança física de 
um objeto, corresponde, na Paratática, ao movimento metafórico de 
direcionamento da atenção do interlocutor. 
Já entre a Construção Transitiva e a Construção Inceptiva, a relação não se 
constitui apenas devido à noção de movimento codificada em ambas, mas também 
porque há, entre elas, uma motivação sintática e semântica. Do ponto de vista 
sintático, a natureza do complemento do verbo agarrar é diversa. Na Construção 
Transitiva, o complemento de agarrar é um SN. Já na Construção Inceptiva, o 
complemento de agarrar é um SV. Em relação à semântica das construções, a 
Construção Transitiva Não-canônica aproxima-se da Construção Inceptiva, pois 
em ambas há uma mudança de estado do sujeito, que passa de um estado de [- 
ação] para outro de [+ ação]. Além disso, a Construção Transitiva Não-canônica 
cujo significado é adquirir hábito, mais especificamente, e a Construção Inceptiva 
apresentam mais uma aproximação, já que ambas codificam o início de uma ação, 
que, nas duas construções, demanda certa duração temporal. 
A rede construcional apresentada no início deste capítulo e repetida aqui 
representa uma tentativa de capturar as relações entre os quatro tipos de construção 
analisadas. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Figura 2: Rede construcional do verbo agarrar 
 
As construções Paratática e Inceptiva ligam-se às transitivas por meio de 
uma herança metafórica, já que a metáfora do movimento parece licenciar o uso do 
agarrar em todas elas. 
 
Construção 
Transitiva 
[V SN[+CONC]] 
Construção 
Transitiva 
Não-Canônica 
[V SN[+ABST]] 
Construção 
Inceptiva 
[V1 (PREP) V2] 
Construção 
Paratática 
[V1 (CONJ) V2] 
 
31 
 
 
Considerações finais 
 Tendo em vista a relação existente entre as construções Transitiva, 
Transitiva Não-canônica, Paratática e Inceptiva com o verbo agarrar, mostramos 
como a semântica da Construção Transitiva foi mapeada em termos das 
construções Paratática e Inceptivas. Mostramos que apesar de ser possível 
estabelecer um continuum de gramaticalização das construções, tendo em vista a 
abordagem de Hopper e Traugott (2003), uma estrutura radial parece ser mais 
adequada para capturar a relação entre elas. 
 
RESUMO: Neste trabalho, nosso objetivo é discutir a relação de herança entre quatro diferentes 
tipos de construções formadas com o verbo agarrar em dados sincrônicos do português 
brasileiro e europeu, as construções transitiva, paratática e inceptiva. Mostramos que a 
ocorrência do verbo agarrar nessas quatro construções deve-se à metáfora do movimento, já que 
a semântica básica de agarrar na Construção Transitiva é mapeada na semântica das demais 
construções. Embora a gramaticalização explique as mudanças sofridas por agarrar de modo que 
esse verbo passe a integrar construções mais gramaticalizadas, não é suficiente para compreender 
o modo como essas construções interagem, uma vez que não é possível dispô-las num cline 
unidirecional. Consideramos que o significado de movimento de trazer para si, inerente ao verbo 
agarrar, interage com as construções de formas diferentes, o que nos leva a propor uma rede 
construcional na tentativa de captar as relações entre essas construções. 
 
PALAVRAS-CHAVE: Relações de herança, construções, gramaticalização, Português. 
 
 
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 33 
A CONSTRUÇÃO QUASE (QUE) 
E A CODIFICAÇÃO SINTÁTICA DE INTENÇÕES 
 
 
Priscilla de Almeida NOGUEIRA
1
 
 
 
ABSTRACT: The present chapter makes reference to a research that aims at investigating the 
“quase que” construction in the Brazilian Portuguese Language. In order to do that, the following 
steps were accomplished: (i) investigation of the etymology of the construction and analysis of 
its negative polarity together with its irrealis trace; (ii) tracking of data within which the 
construction can be found; (iii) analysis of the different roles this construction may take on and 
the recognition of the manifestation of subjectivity and intersubjectivity in them; (iv) description 
of the data based on functionalist principles, including that of iconicity (GIVÓN, 1990). In this 
chapter I analyze the roles taken on by the “quase que” construction. I focused on its 
particularities and on how its etymology influences specific performed roles, as well as the 
intentions syntactically encoded in it. 
 
KEYWORDS: grammaticalization, (inter)subjectivity, syntactic encoding of intentions. 
 
Introdução 
Este capítulo vincula-se à pesquisa de mestrado a qual estuda a construção 
quase (que) à luz de princípios funcionalistas, procurando identificar os 
mecanismos deflagradores de seu possível processo de gramaticalização. 
Dado o interesse da pesquisa pela incorporação de usos inovadores na escrita 
formal, selecionamos como corpus as dissertações mais bem pontuadas
2
 e as de 
pior pontuação redigidas por candidatos ao vestibular da Fuvest (Fundação para o 
Vestibular da USP), referente aos anos de 2003 a 2011, no caso das primeiras, e 
aos anos de 2004 a 2011, no caso das segundas. Por não termos conseguido um 
maior acesso às redações de pior pontuação, que incluísse o ano de 2003, 
trabalhamos com as redações melhor pontuadas de um ano a mais. Entretanto, 
mantivemos um número aproximado entre os dois conjuntos: 381 bem pontuadas e 
377 mal pontuadas. 
A situação de produção desses textos (concursos vestibulares) somada aos 
objetivos do escrevente (adesão ao padrão culto e aprovação no vestibular) seria 
suficiente para que usos inovadores ou vinculados à escrita informal fossem 
elididos dos textos. Contudo, se considerarmos que, quanto maior a complexidade 
do pensamento, maior a complexidade da codificação linguística, ou, de outro 
 
1
 Universidade de São Paulo, Departamento de Filologia e Língua Portuguesa, São Paulo, SP, 
priscillanogueira27@gmail.com. Bolsista Fapesp. 
2
 As notas são derivadas de critérios atribuídos pela banca examinadora da Fuvest. É necessário ressaltar 
que, muitas vezes, uma nota pior pode significar fuga ao tema e não necessariamente mau uso gramatical 
ou da norma culta. 
mailto:priscillanogueira27@gmail.com
 34 
modo, quanto maior a quantidade de informações, maior a quantidade de forma 
linguística, então a diferença entre o item aproximativo quase e a construção quase 
que poderá advir justamente de uma informação mais complexa e mais abstrata 
que o escrevente pretende codificar. Esta é nossa hipótese: uma nova função 
orientada pelo princípio de iconicidade, principalmente em seu subprincípio de 
quantidade, deve ter guiado a mudança gramatical do item quase em sua nova 
configuração quase que. 
O subprincípio da quantidade, segundo o qual, quanto maior, mais relevante 
– o que, muitas vezes, está relacionado à previsibilidade – for a quantidade de 
informação a ser transmitida ao interlocutor, maior será a quantidade de forma a 
ser utilizada em sua codificação morfossintática favorece lidar com forças de 
orientação da atenção de interlocutores. Desse

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