Buscar

Uma-analogia

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 4 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

Uma analogia sherlockiana 
 
Por Vagner Benedicto 
 
 
Em algum momento ouvi Sherlock Holmes em uma de suas inúmeras versões dizer que a dedução é 
como um quebra-cabeças. Onde pacientemente vai-se juntando peças até formar o quadro completo e 
finalmente ter a frente a solução de mais um caso. 
Instigado por essa comparação, procurei traçar um paralelo e criar um passo a passo para a dedução ou 
um modus operandi baseado na forma como os aficionados montam os quebra-cabeças. 
O objetivo aqui foi verificar se a analogia é plausível e aplicável (quem sou eu para questionar 
Sherlock, mas creio que investigar é a melhor homenagem que posso prestar ao ícone). E também dar 
ao texto um caráter didático, considerando que em razão da literatura e principalmente dos seriados de 
TV o interesse por desenvolver a ciência da dedução e os “poderes” de Holmes tem atraído milhares 
de pessoas. Confesso também que para mim serviu como uma forma de organizar as ideias, há anos 
coleciono informações e estudos sobre o assunto, e não há nada mais eficaz para o aprendizado do que 
ensinar. Digo isso com muita humildade. 
Em resumo o método de Sherlock Holmes é baseado em três pontos: observação, dedução e 
conhecimento. Esses três pontos individualmente já bastariam para uma vida inteira de estudos e 
prática. Ao longo da leitura você perceberá que veremos um pouco desses elementos. 
Esse texto não é nem de longe conclusivo, mas seu objetivo é fornecer um breve passo a passo de 
como deduzir parafraseando as técnicas da montagem de quebra-cabeças. Em tese, a pratica de montar 
quebra-cabeças poderia teoricamente desenvolver habilidades dedutivas sob certos aspectos, e o 
contrário também seria verdadeiro. 
Vamos em frente! 
 
 
“Escolher o local de montagem” 
Para quem irá montar o quebra-cabeças, a superfície conta, se irá para um quadro na parede, se será 
desmontado logo depois de finalizado, se é muito grande precisará de espaço. Na dedução creio que a 
analogia seria referente a como se organizar ANTES de começar a deduzir. Imagine que talvez você 
precise saber mais sobre determinado assunto, logo, deverá pesquisar. Aliás, conforme mencionado 
anteriormente conhecimento é fundamental. Veja que isso faz mais sentido quando falamos de casos 
complexos, que permitem desdobramentos, diferentemente daquela dedução do tipo “eu sei onde você 
esteve”. Mas gosto de lembrar de uma frase quando Sherlock diz que “a partir de uma gota de água 
um lógico poderia inferir a possibilidade de um Atlântico ou uma Niágara sem jamais tê-los visto ou 
ouvido falar que existem”. Ou seja, algo que inicia pequeno, pode evoluir em complexidade e exigir 
mais ferramentas de dedução. 
 
 
“Peças” 
Um ponto importantíssimo e que ironicamente é o mais negligenciado é o estouvamento, ou melhor 
dizendo, a precipitação. Nosso herói da literatura tem todas as habilidades necessárias para deduzir em 
segundos ou menos que isso, porem para nós mortais, a probabilidade de errar é muito maior quando 
nos precipitamos. Para chegar-se ao resultado final, temos que juntar as peças gradativamente, e com o 
tempo o processo deverá tornar-se automático, dependendo do nível de aplicação e estudo. 
As peças do jogo precisam ser olhadas e percebidas as suas formas. Quando na junção das peças, se o 
encaixe está errado em pelo menos um dos lados, então aquela peça não pertence a aquele lugar. Na 
dedução, as peças precisam ser colocadas gradualmente respeitando a sua lógica, pois o encaixe 
“lógico” deve ser perfeito. As informações precisam se conectar de forma perfeita, fazerem sentido, 
uma de cada vez, até formar o quadro completo. Como disse no início, a precipitação pode levar a 
conclusões errôneas e a um quadro completamente torto. Para tanto, montar um quebra-cabeça não 
deveria ser encarado como uma corrida, o que importa num primeiro momento é a perfeita conexão 
das peças / informações, até finalmente chegar no quadro final. Mas, por onde começar? 
 
 
“Procure por cores parecidas e outras nuances” 
Ao olhar as peças do jogo, há naturalmente semelhanças e conexões a serem feitas. Num primeiro 
momento a dica é essa, veja o obvio. Aceite o obvio. Aparentemente é tarefa fácil, mas não é bem 
assim. Por incrível que pareça, as vezes temos a tendência de complicar o que é simples, de 
imaginarmos soluções complexas onde o simples é a melhor alternativa. Mas a dica ironicamente 
também é simples, como disse Louise Blackwood em seu livro The Deduction Guide, “quando ouvir 
cavalgadas pense em cavalos, não zebras”. 
 Separe o que é igual: mesmas cores, mesmas texturas, etc. O seu poder de observação será 
grandemente desenvolvido a medida em que montar quebra-cabeças mais complexos. Notará também, 
que outras coisas ao seu redor estarão na mira dessa sua nova habilidade desenvolvida, ou seja, você 
“enxergará” muito mais detalhes do que antes. A observação é um capítulo à parte. Merece uma 
atenção e prática tanto quanto os dois outros elementos do método: dedução e conhecimento. 
Para finalizar esse tópico, vamos dar um exemplo. Sempre comparando as peças do jogo com fatos, 
que são a base para a dedução, ou como disse Sherlock, é o barro necessário para fazer tijolos. 
Imagine que o fato seja: o assassinato aconteceu numa biblioteca. Essa é a sua peça inicial. Quais 
outras peças combinariam? Tipo de arma utilizada não poderia fazer barulho, logo, talvez tenha sido 
uma faca, um garrote, envenenamento, ou até mesmo arma sofisticada com silenciador. O horário 
deve ter sido ao final do expediente quando há menos pessoas no local. Mas se ocorreu em outros 
horários provavelmente há cumplices. O local do assassinato pode ter sido escolhido por ser um lugar 
habitual da vítima, nesse caso ela foi seguida e vigiada por algum tempo. O assassino deve ter 
observado a rotina da vítima. Quando a peça é colocada na mesa, a pergunta é: o que combina com 
essa peça? Daí a nossa analogia a dedução. Agora tente responder, qual peça (palavra) seria comum a 
essas: ardente, viva, cargas, doce? 
 
 
“Procure por padrões” 
Mesmo nos quebra-cabeças há padrões. Quando a imagem é muito grande, é comum o corte das peças 
(feito pela fábrica) seguirem um padrão em algum ponto do quadro. Ao analisarmos Sherlock Holmes, 
veremos que o mesmo possui um vasto conhecimento sobre criminalidade como dito anteriormente, 
mesmo que tenha vindo através de meios sensacionalistas como os jornais da época ou in loco quando 
acionado pela polícia de Londres, mas o fato é que ele conhece os padrões do comportamento 
criminoso. Sabe o que procurar. Uma de suas frases geniais é “eu só encontrei porque estava 
procurando”. 
Procure padrões nos lugares menos prováveis. Uma das importâncias de conhecer os padrões é que 
podemos prever certos comportamentos, ou perceber que algo fora do normal está acontecendo. A dica 
é básica, mas é um mantra para quem deseja desenvolver a ciência da dedução: observe os padrões e 
fique atento a qualquer alteração deles, como disse Jo-Ellan Dimitrius em seu livro “Como decifrar 
pessoas”. 
 
 
“Comece pelas bordas” 
Uma dica comum é iniciar pelas bordas, pois as linhas retas das peças seriam evidentes e assim 
facilitariam a sua montagem. Creio que “linhas retas” na dedução, seriam a certeza dos fatos, a 
veracidade dos fatos. Uma peça disforme poderia ser de qualquer parte no meio do jogo, mas uma 
peça com linhas retas CERTAMENTE seria das bordas. Ou seja, na dedução é primordial distinguir 
corretamente o que é fato, aplicar o filtro, e ir nessa direção. Apenas uma observação necessária: em se 
tratando de pessoas, nada é garantido, a lógica de comportamento para um é diferente da lógica do 
outro, então, cuidado com suposições. Atenha-se sempre ao fato: eu sei que o fulano esteve aqui 
porque a câmera de segurança o filmou, e não porque pela minha lógica ele deveria ter vindo. Fato. 
Diz-se que na dedução, deve haver isenção total depreconceitos, para qualquer situação deve-se 
verificar o que o objeto da dedução tem a dizer por si só e compará-lo a outros fatos, nunca a 
julgamentos. Aliás, muito cuidado com julgamentos. Nós somos muito fáceis de enganar. 
 
 
“Gire ao redor da mesa” 
Lugares intrigantes, becos sem saída... esses são momentos para aproveitarmos essa dica. Andar ao 
redor da mesa olhando e observando por outros ângulos. Na dedução, utiliza-se também da 
criatividade quando somente uma visão não-convencional sobre o assunto pode solucionar um 
problema. Quando usamos a criatividade damos à lógica novas possibilidades, novos horizontes, e 
utilizando o nosso jogo em questão: novas peças para comporem o quadro. Isso é algo fascinante na 
dedução, o uso único da lógica fria poderia tornar a compreensão limitada, e por assim dizer, 
deficiente na solução de problemas. Mas a lógica e a criatividade juntas tornam o cérebro a maravilha 
que é! 
Apenas para exemplificar, no xadrez o cheque mate é o golpe final, o momento em que a lógica nos 
diz que o jogo acabou. Mas, e se o rei pudesse blefar como num jogo de cartas? Se pudesse dizer ao 
oponente “eu tenho aqui muito mais poder de fogo do que você imagina, não me teste! ”. O ponto aqui 
é: a criatividade pode mostrar caminhos que a lógica ainda desconhece. É o girar em volta da mesa 
mostrando outro ponto de vista, uma nova abordagem. 
Em muitos de seus casos, Sherlock Holmes se entregava a momentos de completa abstração. Parecia 
sair do corpo e passava noites conjecturando situações e possibilidades, tendo como companhia 
somente o seu cachimbo. Imagino que esses eram os momentos em que o detetive consultor girava ao 
redor de sua mesa mental, tentando desvendar os mais intrincados mistérios. 
 
 
“Tenha um alvo claro” 
Dizem que é bom ver o quadro pronto antes para se nortear ao montar o seu quebra-cabeças. Na 
dedução, talvez você deva ter as perguntas muito bem definidas: o que, quem, como, quando, por que, 
e para que. Quando se define o que quer saber, tudo torna-se mais claro. É a sua abordagem objetiva. 
Sherlock olha para uma pessoa e busca informações de sua ocupação, de sua vida particular, por 
exemplo. Ele sabe o que procurar, já tem suas perguntas prontas. Ele sabe o que é importante observar 
para determinado fim. No caso dele, sempre é solucionar crimes. Dedicou sua vida a isso. Esse é o seu 
objetivo. 
Porém, essa não é a única abordagem, há também a abordagem digamos, exploratória, onde você 
observa a tudo e procura extrair informações ao máximo para depois fazer as conexões. Em outras 
palavras, olhar para alguém ou para um lugar e simplesmente “ler” o que está sendo dito sem palavras. 
Apenas com o objetivo de conhecer e entender melhor o alvo da dedução. 
Voltando ao quebra-cabeças, seria como você montar o quadro sem ao menos ter visto o resultado 
final. Surpreender-se no final. Esse seria um ótimo exercício para desenvolver a abordagem 
exploratória. Um exercício mais apurado seria montar o quebra-cabeças com a face virada para baixo, 
observando somente o formato das peças. Tremendo exercício. 
Na prática, porém, nada nos impede de usar as DUAS abordagens: objetiva e exploratória, quando 
necessário. 
 
 
“Fundo azul” 
A dica no quebra-cabeças é colocar uma cartolina azul abaixo das peças para descansar os olhos 
durante a montagem. Essa seria a melhor maneira para não prejudicar a visão. Comparando, as vezes o 
cérebro precisa descansar. Nessas horas podem até surgir as ideias que fazem a diferença. Grandes 
insights ocorrem em momentos de descontração, logo, relaxar um pouco durante a montagem / 
dedução pode ajudar. Lembre-se, só existe um Sherlock Holmes! 
 
 
Dicas finais e fundamentais aos novos holmesianos: 
Paciência, estude muito, trata-se de uma maratona, e não 100 metros rasos. 
Comece com pequenos desafios, vá devagar. Não pule etapas. As vezes um quebra-cabeças / dedução 
é na verdade parte de algo muito maior, um quebra-cabeças dentro do outro. 
Utilize o conhecimento para fazer as coisas melhores do que são, não para se exibir tal qual um 
energúmeno arrogante. Lembre-se que o aprendizado muitas vezes exige humildade. 
Atente-se ao fato de que o cérebro necessita de prática constante, para não “perder o corte” como 
poderiam dizer. Faça testes, enigmas, seja curioso! 
 
Espero que tendo lido esse texto, você saiba alguns passos para começar a deduzir e que também 
nunca mais veja um quebra-cabeças da mesma forma. 
 
The game is on! 
 
 
 
Vagner Benedicto, nascido no século passado, holmesiano, dedicado a desenvolver a Ciência da 
Dedução ainda nessa vida.

Continue navegando