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Modulo 4 - Curso de Formacao em Psicanalise Clinica

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Prévia do material em texto

VERSÃO ATUALIZADA 2020-2021 - v.3.01 
 
(C) TODOS OS DIREITOS RESERVADOS. USO EXCLUSIVO DOS ALUNOS DO CURSO. 
Introdução 
 
Esta é a apostila base referente ao módulo IV da parte teórica do Curso. 
Nesse módulo, vamos aprofundar alguns conceitos centrais que estruturam a 
clínica psicanalítica, isto é, começaremos a abordar a metapsicologia freudiana 
(ou seja, a psicanálise falando de si mesma, analisando-se enquanto método) e 
da relação entre analista e analisando. 
Para fins de realização de prova, a leitura da apostila de cada módulo é 
suficiente. Na fase final do Curso (Supervisão), isto é, após você concluir os 12 
módulos teóricos, você terá encontros ao vivo por vídeo-conferência 
(transmissões ao vivo por vídeo), em que serão debatidos estudos de casos, a 
dinâmica da clínica psicanalítica e suas técnicas, bem como serão revisados 
alguns conceitos teóricos essenciais à melhor interpretação dos casos. 
Dedique-se ao máximo às leituras e demais materiais. Embora a 
formação on-line possibilite uma autonomia de tempo e andamento para a 
compreensão dos conteúdos, a qualidade da absorção e entendimento das 
temáticas, fundamentais à formação e prática profissional, dependem muito 
mais do comprometimento e seriedade com a qual você irá se dedicar. 
Aproveite bem os materiais e bons estudos! 
 
CURSO DE FORMAÇÃO EM PSICANÁLISE - ​www.psicanaliseclinica.com 
Todos os Direitos Reservados - MÓDULO 4 - O MÉTODO PSICANALÍTICO - ​pág. 1 
http://www.psicanaliseclinica.com/
 
Módulo IV - O Método Psicanalítico 
 
Índice 
1. A técnica da psicanálise para Freud 5 
1.1. Freud e a Técnica da Psicanálise 5 
1.2. A entrevista na psicanálise 7 
2. O início da análise na psicanálise 11 
2.1. Atos falhos para Freud 11 
2.1.1. DEFINIÇÃO DE ATO FALHO 12 
2.1.2. TIPOS DE ATOS FALHOS 14 
2.1.2.1. ATOS FALHOS NA LINGUAGEM 14 
2.1.2.2. ATOS FALHOS DE ESQUECIMENTO 16 
2.1.2.3. ATOS FALHOS NO COMPORTAMENTO 17 
3. Procedimentos de Análise 19 
3.1. O Método da Associação Livre 20 
4. TOPOGRAFIA DO APARELHO PSÍQUICO 26 
4.1. Conceituação da Teoria Topográfica 27 
4.1.1. Como representar a Teoria Topográfica? 29 
4.2.1. O Consciente 29 
4.2.2. O Pré-Consciente 36 
4.2.3. O Inconsciente 39 
4.3. Processo primário e processo secundário 45 
4.4. Processos de funcionamento do Inconsciente 51 
4.5. Topografia de Personalidade 56 
5. Conceituação da Teoria Estrutural 58 
5.1. Em que consiste a Teoria Estrutural? 58 
 
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Todos os Direitos Reservados - MÓDULO 4 - O MÉTODO PSICANALÍTICO - ​pág. 2 
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5.2.1. O Id 60 
5.2.2. O Ego 64 
5.2.3. O Superego 67 
5.4. Uma representação visual para as duas tópicas 69 
5.5.1. O Funcionamento do ID 71 
5.5.2. O Funcionamento do Ego 75 
5.5.3. O Funcionamento do Superego 80 
5.5.4. A personalidade e sua dinâmica na Teoria Estrutural 83 
6. Revisão 85 
 
 
 
 
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Todos os Direitos Reservados - MÓDULO 4 - O MÉTODO PSICANALÍTICO - ​pág. 3 
http://www.psicanaliseclinica.com/
IMPORTANTE 
Estamos constantemente revisando e melhorando nosso material. Você 
está recebendo esta que é a nova versão da apostila do Módulo 4. 
Nossos materiais são revisados e melhorados com certa frequência. 
Recomendamos que, após concluir o Curso, você revise os módulos já 
estudados: servirá para você aprofundar seu aprendizado e para verificar 
novas versões de nossos materiais. 
Este material pertence ao Curso de Formação em Psicanálise Clínica 
(​www.psicanaliseclinica.com​). Sua divulgação paga ou gratuita não é 
permitida sem prévia autorização do nosso Instituto Brasileiro de 
Psicanálise Clínica (CNPJ 28.447.037/0001-81). Informe-nos qualquer uso 
não autorizado, pelo e-mail ​contato@psicanaliseclinica.com​. 
 
 
Este material é parte das aulas do Curso de Formação em Psicanálise. 
Proibida a distribuição onerosa ou gratuita por qualquer meio, para não alunos 
do Curso. Os créditos às obras usadas como referências ou citações constam 
nas ​Referências Bibliográficas​. 
 
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Todos os Direitos Reservados - MÓDULO 4 - O MÉTODO PSICANALÍTICO - ​pág. 4 
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mailto:contato@psicanaliseclinica.com
https://drive.google.com/file/d/0BzB3Lb9sbna2SzVCYmYtbmh1N0k/view?usp=sharing
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1. A técnica da psicanálise para Freud 
 
Embora haja uma modificação dos conceitos teóricos de Freud ao longo 
de sua obra, dois pontos são mantidos no que concerne à sua importância: 
● o papel central da ​sexualidade​, que se origina desde a vida infantil; e 
● o ​inconsciente​. 
No que diz respeito à técnica da Psicanálise, após passar a adotar o 
método da ​associação livre​, Freud não o abandona. Este método é, também, 
uma constante na obra de autores pós-freudianos. 
Ao associar livremente suas ideias, o paciente no decorrer do tratamento 
vai superando as suas resistências e deste modo os conteúdos do inconsciente 
são trazidos para a consciência. 
 
 
1.1. Freud e a Técnica da Psicanálise 
 
O paciente neurótico é aquele no qual o conflito psíquico entre 
consciente e inconsciente é intenso. O recalque incide sobre o neurótico e sua 
satisfação é realizada nas “formações de compromisso”, principalmente por 
meio dos sintomas. 
Segundo Freud, a mola mestra da Psicanálise é a ​transferência​, que é 
ambígua, ou seja, positiva e negativa: amor transferencial e hostilidade. 
 
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A transferência é, então, a “permissão” que o analisando concede para 
que o analista esteja imerso na rede de significados do analisando, permitindo 
ao analista indagar e propor interpretações. 
É através da transferência, da inserção do psicanalista na cadeia de 
representações do paciente que o psicanalista pode, por meio da interpretação 
e construção, dar prosseguimento à análise. 
Como a doença inicial do paciente não é estática, com a transferência 
ela se transforma em ​neurose de transferência​. Segundo Freud, “eliminar 
essa neurose equivale a eliminar a doença inicial”. 
A construção designa a atividade do analista de ​completar aquilo que 
foi esquecido a partir dos traços que foram deixados pelo paciente. A 
interpretação indica o desejo. 
A psicanálise se contrapõe à ​sugestão hipnótica na medida em que 
esta tenta solucionar os sintomas, e por outro lado o seu próprio emprego 
acarreta no encobrimento do recalque. 
A ​psicanálise é uma terapia causal, isto é, busca identificar evidenciar 
as relações entre causa e consequência, sendo: 
● a ​causa​: aquilo que está recalcado; 
● a ​consequência​: os sintomas ou os incômodos que o paciente relata. 
 
A Psicanálise se propõe identificar e remover suas causas; embora a 
Psicanálise não incida só sobre as raízes dos fenômenos, mas possa também 
refletir sobre as consequências (a forma de ver os sintomas, por exemplo). 
Deste modo, a Psicanálise com seu arcabouço teórico se insere no 
campo da ​ética​, e, como tal, se revela a ética do impossível, já que não impõe 
uma determinada moral aos seus pacientes, mas deixa a cargo dos mesmos 
tomar a decisão por si mesmos. 
 
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INDICAÇÃO DE LEITURA (OPCIONAL) 
Em algumas de nossas apostilas, indicaremos artigos relacionados aos 
assuntos do módulo. A leitura desses artigos é ​opcional ​para fins de prova, 
mas recomendamos que você busque sempre essas (e outras) fontes para 
se aprofundar nos temas abordados. 
● Artigo​: ​O que é o Método Psicanalítico? 
● Artigo​: ​4 Etapas da Terapia Psicanalítica 
 
 
 
1.2. A entrevista na psicanálise 
 
Também a Psicanálise se utiliza das entrevistas em seu método clínico, 
porém o faz com algumas peculiaridades em relação às teorias psicológicas. 
Vejamos alguns pontos centrais. 
Freud, em seus textos técnicos, menciona o hábito de praticar o que 
chamava de ​tratamento de ensaio​. Este ocorria antes da análise propriamente 
dita, e nesta etapa Freud decidia se aceitaria ou não o 
paciente. Posteriormente, Lacan irá falar em ​entrevistas preliminares​, que 
seriam correlatas ao tratamento de ensaio de Freud. Esta fase seria anterior ao 
paciente deitar-se no divã, ou seja, é a fase de estabelecimento do ​contrato 
psicanalítico​. 
 
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https://www.psicanaliseclinica.com/o-que-e-metodo-psicanalitico/
https://www.psicanaliseclinica.com/etapas-terapia/
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O objetivo principal das entrevistas preliminares consiste em 
● direcionar a transferência àquele analista específico​; 
simultaneamente, serve para 
● elaborar uma hipótese diagnóstica​, a produção de um sintoma 
analítico – o qual não é necessariamente aquele do qual o sujeito chega 
se queixando – e a produção de uma demanda de análise propriamente 
(Quinet, 1991; Ariadne, 1998). 
 
As entrevistas preliminares marcam que o início de uma análise não se 
dá com a entrada do paciente no consultório do analista. É o fim das 
entrevistas preliminares que cumpre a função de ​estabelecer um corte, 
marcando a entrada no discurso analítico​. 
Numa primeira vista, essa diferença pode não ser facilmente perceptível, 
pois as entrevistas preliminares seguem as mesmas regras da análise: 
também nas entrevistas preliminares o sujeito deve associar livremente​, 
isto é, mencionar livremente “o que lhe vier à cabeça”. 
Contudo, ​não se interpreta o discurso do paciente durante as 
entrevistas​; neste momento o analista fala o mínimo possível, apenas o 
suficiente para que o sujeito prossiga em seu discurso. Isto porque está em 
jogo a ​questão diagnóstica​: deixa-se o paciente falar para que uma hipótese 
possa ser formulada acerca da estrutura do sujeito (neurose, perversão, 
psicose), e também porque é próprio paciente quem introduz os significantes 
que irão “guiar” sua análise. 
É neste momento que o analista decide se irá ou não acatar aquela 
demanda de análise. “O fato de receber alguém em seu consultório não 
significa que o analista o tenha aceito em análise” (Quinet, 1991, p.15). 
O analista pode recusar-se a autorizar uma análise se, por exemplo, 
percebe uma estrutura psicótica (devido aos riscos de desencadeamento de 
 
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um surto, pelo qual terá que se responsabilizar), ou porque o paciente já se 
encontra num estágio que o analista acha por bem não levar adiante – 
lembremo-nos daquela máxima que ​uma análise só vai até o ponto onde foi 
a análise do analista​. 
Vamos reforçar este aspecto: o analista, após formado, segue em 
análise, isto é, deve ser ele analisando de outro psicanalista. Se o analista não 
enfrenta suas questões e se depara com um paciente cujas demandas vão 
além daquelas que o próprio analista já estudou e analisou em si mesmo (junto 
a outro profissional), dizemos que a análise foi além do ponto de análise do 
analista, este analista não estará apto para aceitar aquele paciente. 
As entrevistas preliminares servem também para que se configure o 
sintoma analítico enquanto tal. O sintoma do qual o sujeito chega ao 
consultório se queixando expressa, geralmente, uma demanda de cura, ou de 
amor (no sentido de “dedicar uma atenção”), ​mas não uma demanda de 
análise​: esta deverá ser produzida através da retificação subjetiva. 
Quando o sujeito procura o analista, ele se apresenta a este através de 
seu sintoma: um significante. Por exemplo, se a demanda do paciente é um 
angústia insuportável, este é o significante a partir do qual a entrevista partirá. 
É este significante que irá representar o paciente, num primeiro 
momento, ao menos, para o analista. O paciente ​é ​esta angústia. O analista, 
por sua vez, é um outro significante, um significante qualquer fabricado pelo 
analisando em sua fantasia. Por exemplo, o analisando pode atribuir ao 
analista um significante de autoridade, ou de alguém que irá resolver suas 
dores, ou de alguém que não levará o paciente a lugar nenhum: essas ideias 
são criadas pelo paciente em decorrência de sua trajetória, de sua formação 
mental e deste contato inicial com o psicanalista. 
Assim, o sujeito, no início do processo, acredita que o analista detém um 
saber ou um poder de cura, e coloca o analista no lugar de autoridade, que 
Lacan denominou de ​Sujeito Suposto Saber​. 
 
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Se no início do processo a demanda do sujeito é a de se desvencilhar, 
de se curar de um sintoma, a ​retificação subjetiva fará com que o sintoma 
inicial passe ao estatuto de ​sintoma analítico (ou seja, um sintoma que agora 
estabelece o vínculo entre analista e analisando), constituindo uma demanda 
de análise propriamente dita, endereçada àquele analista específico. 
Ao mesmo tempo, estabelece-se a ​transferência​, simbólica, em relação 
ao analista, fenômeno fundamental para que se dê uma análise. Ao se 
configurar o sintoma analítico, este passa a ser um enigma a ser decifrado pelo 
sujeito, um enigma que aponta para sua divisão. É o que se chama de 
histericização ​do discurso​. 
É como se a energia afetiva do paciente voltasse menos para o sintoma 
em si e mais para o sintoma analítico e para a forma como ele ajudou a criar o 
vínculo de transferência com o analista. 
Assim, resumidamente, as entrevistas preliminares cumprem as 
seguintes funções: 
● instaurar a transferência num nível simbólico; 
● implicar (isto é, comprometer) o sujeito no sintoma, para que se 
configure um sintoma analítico; 
● retificar a demanda, transformando a demanda de amor ou de cura em 
demanda de análise​; 
● colocar o sujeito a questionar-se sobre seu sintoma, ​histericizando ​seu 
discurso e 
● permitir a elaboração, por parte do analista, de uma hipótese 
diagnóstica. 
 
 
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INDICAÇÃO DE LEITURA (OPCIONAL) 
 
● Artigo​: ​O que é Entrevista Psicanalítica? 
● Artigo​: ​Tipos de entrevistas na Psicanálise 
 
 
 
2. O início da análise na psicanálise 
 
Quando dizemos que uma pessoa está ​fazendo análise​, queremos 
dizer que esta pessoa está fazendo um tratamento clínico com psicanálise, ou 
seja, ela faz terapia com um psicanalista. 
 
Neste texto, você aprenderá como é o ​início de um processo de 
análise​, e falaremos também sobre a ​diferença entre demanda e desejo​. 
Utilizaremos a teoria de Freud e algumas elaborações de Jacques Lacan, 
fazendo referência principalmente a Jacques Alain Miller. 
 
2.1. Atos falhos para Freud 
 
 
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https://www.psicanaliseclinica.com/entrevista-psicanalitica/
https://www.psicanaliseclinica.com/entrevista-na-psicanalise/
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Em 1901, Freud publicou mais uma obra que viria a se tornar 
mundialmente conhecida: ​A Psicopatologia da Vida Cotidiana​. ​Após publicar 
no ano anterior (1900), ​A Interpretação dos Sonhos​, ​o criador da psicanálise 
expandiu as suas teses sobre o inconsciente para englobar comportamentos 
do dia-a-dia. 
Se até então ele havia comprovado a existência do inconsciente, do 
desejo e da repressão (ou recalque) nos sonhos e nos sintomas dos 
neuróticos, o seu objetivo com a obra de 1901 foi mostrar como o inconsciente 
aparece em erros e falhas cotidianas, os chamados ​atos falhos​. 
 
 
2.1.1. DEFINIÇÃO DE ATO FALHO 
 
Segundo a definição de LAPLANCHE & PONTALIS, o ato falho: 
“É o ato em que o resultado explicitamente visado não é atingido, mas se vê 
substituído por outro. Fala-se de atos falhos não para designar o conjunto das 
falhas da palavra, da memória e da ação, mas para as ações que 
habitualmente o sujeito consegue realizar bem, e cujo fracasso ele tende a 
atribuir apenas à sua distração ou ao acaso. Freud demonstrou que os atos 
falhos eram, assim como os sintomas, formações de compromisso* entre a 
intenção consciente do sujeito e o recalcado.” 
 
Observe que Freud dá ao ​erro um valor de ​dado​. Isto é, quando vemos 
o erro como um simples erro ou simples acaso, podemos simplesmente julgá-lo 
como erro, mas não tiramos nenhum aprendizado dele, o que só acontece 
quando atribuímos ao erro uma dignidade científica, isto é, encaramos-o como 
um ​dado​. 
 
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Em português, utilizamos o termo ​ato falho​ para designar: 
● erros na ​linguagem ​(escrita, fala, leitura), 
● erros de ​memória ​(esquecimentos) e 
● erros no ​comportamento ​(tropeçar, cair, quebrar, etc). 
Em inglês, estes erros ficaram conhecidos como ​Freudian Slips ​ou 
parapraxis​. 
Esses erros não seriam por acaso, mas sim sinais das formações de 
compromisso (vínculo) entre o inconsciente e o consciente. É um tipo de “sem 
querer” mas “querendo”: conscientemente, a pessoa julgaria não querer 
cometer tal erro de linguagem, memória ou comportamento; mas, 
inconscientemente, haveria uma explicação causal.​ 
Em alemão, a língua de certa forma traz uma unidade entre esses erros 
através do prefixo ​ver-​. 
● Erros na fala (​versprechen​), 
● Erros na escrita (​verschreiben​), 
● Erros de leitura (​verlesen​), 
● Erros de memória ou esquecimentos (​vergessen​), 
● Erros no comportamento ou ações desastradas (​vergreifen​). 
 
Ainda de acordo com LAPLANCHE & PONTALIS, 
"... disso se deduz que, em outro plano, o chamado ato falho é um ato 
bem-sucedido: o desejo inconsciente realiza-se nele, muitas vezes, de uma 
forma bastante clara. A expressão “ato falho” traduz a palavra alemã 
Fehlleistung, que para Freud engloba não apenas ações stricto sensu, mas 
todo tipo de erros, de lapsos na palavra e no funcionamento psíquico. (...) 
Note-se que antes de Freud o conjunto desses fenômenos marginais da vida 
cotidiana não tinha sido agrupado nem conotado por um mesmo conceito; foi a 
sua teoria que fez surgir a noção". 
 
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Tais erros não são apenas erros, falhas sem significado. Se 
investigarmos o porquê de acontecerem, veremos que – por um outro ponto de 
vista – o erro é um acerto indireto. A famosa frase do pequeno Shakespeare 
(Chespirito), criador do personagem Chaves, expressa muito bem: “Foi sem 
querer, querendo”. 
Um ato falho foi ​sem querer (conscientemente falando) mas também 
foi ​querendo ​(inconscientemente). 
 
 
2.1.2. TIPOS DE ATOS FALHOS 
 
No livro ​A Psicopatologia da Vida Cotidiana (1901)​, ​estudamos os três tipos 
de atos falhos, portanto: 
● 1) Atos falhos na linguagem (fala, escrita, leitura); 
● 2) Atos falhos de esquecimento (falha na memória); 
● 3) Atos falhos no comportamento (cair, quebrar, derrubar, tropeçar, etc), 
enfim, perturbações do controle motor. 
Para ficar claro, vamos exemplificar os 3 tipos abaixo. 
 
 
2.1.2.1. ATOS FALHOS NA LINGUAGEM 
 
São os atos falhos mais conhecidos. Um exemplo seria quando as 
pessoas chamam “ato fálico” (em vez do correto “ato falho”): é como se 
 
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inconscientemente elas soubessem a justificativa fálica/sexual para um 
determinado comportamento. 
De volta à frase “isso foi um ato ​fálico​”, vemos que a pessoa trocou a 
palavra “falho” por “fálico” (pênis). Um erro na fala que se, formos investigar, 
poderemos encontrar um significado inconsciente para ela. 
Cabem aqui duas críticas ao risco de generalizar tal entendimento, 
provas contrárias à aplicação do conceito de ato falho na linguagem. 
As pessoas podem não ter acesso (nem mesmo inconsciente) a esta 
troca de palavras. Pode ser, mesmo, um mero acaso ou erro linguístico: uma 
analogia é com um corretor ortográfico, que propõe trocas de palavras sem 
uma motivação inconsciente. 
Obviamente, dentro do contexto de terapia, e sem impor uma 
interpretação unívoca, o analista pode buscar motivações inconscientes ao 
fenômeno do ato falho. 
Em uma apresentação na faculdade, no primeiro período, uma aluna 
estava falando sobre Freud. 
Ela disse: “Foi assim que o Fraude”… 
Também teríamos que investigar porque a aluna considera o Freud uma 
fraude, mas é obviamente um exemplo de um ato falho. Agora, há que se 
pensar que, se a aluna não conhecia a pronúncia correta do nome de Freud, 
será que ela nutriria por Freud alguma desavença inconsciente, uma recusa de 
sua teoria como se essa recusa fosse um mecanismo de defesa? 
 
 
 
 
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2.1.2.2. ATOS FALHOS DE ESQUECIMENTO 
 
No ​Psicopatologia da Vida Cotidiana, ​Freud dá diversos exemplos dos 
três tipos deatos falhos. Logo no início, ele menciona e analisa um ​ato falho 
de esquecimento​ que aconteceu com ele mesmo. 
Visitando a catedral de Orvieto, ele se esquece do nome do pintor dos 
afrescos. Ele procura buscar em sua memória, os nomes que aparecem são 
Botticelli e Boltraffio, mas ele reconhece que ambos não são o nome correto. 
Uma outra pessoa lhe informa o nome: ​Signorelli, ​e Freud 
imediatamente reconhece-o como o nome correto. Analisando o porquê do 
esquecimento, ele vê que na conversa anterior falavam dos costumes na 
Bósnia e Herzegovina. O tema relacionado era da morte e da sexualidade. As 
palavras Herzegovina e Herr (“senhor” em alemão, “signor” em 
italiano, ​Signorelli​), que estavam na conversa anterior interferiram na cadeia 
associativa e afetaram a sua memória. 
Um exemplo mais simples consiste quando esquecemos de ligar para 
alguém. O esquecimento é um erro, mas se formos investigar a fundo a causa 
do esquecimento, veremos que seria como se “uma parte” de nós não quisesse 
realmente ligar. O ato falho pode sugerir um componente inconsciente do 
desejo. 
Por isso, o ato falho é um erro, mas também um acerto (do ponto de 
vista do desejo inconsciente). 
 
 
 
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2.1.2.3. ATOS FALHOS NO COMPORTAMENTO 
 
O último tipo de ato falho (​vergreifen​) é traduzido para o português como 
equívocos na ação​. Como mencionamos acima, são perturbações do controle 
motor que, se analisados, nos conduzem também a uma formação de 
compromisso entre o inconsciente e o consciente. 
No capítulo VIII da ​Psicopatologia, ​Freud nos dá o seguinte exemplo: 
“Em anos anteriores, quando eu visitava o paciente em domicílio com maior 
frequência que hoje, ocorria-me muitas vezes, ante a porta em que eu deveria 
bater ou tocar a campainha, tirar do bolso as chaves da minha própria casa e, 
logo em seguida, tornar a guardá-las, quase envergonhado. Quando considero 
os pacientes em cujas casas isso acontecia, sou forçado a supor que esse ato 
falho – apanhar minha chave em vez de tocar a campainha – tinha o sentido de 
uma homenagem à casa onde eu cometia esse erro. Era equivalente ao 
pensamento: ‘Aqui me sinto em casa’, pois só ocorria em lugares onde eu me 
havia afeiçoado ao doente” (É óbvio que não toco a campainha da minha 
própria casa). 
 
Um exemplo de uma pessoa dita “desastrada” também por ser um 
exemplo: ela pode não estar fazendo aquilo que inconscientemente ela gostaria 
de fazer, então o inconsciente vai de encontro a obstáculos. 
 
* * * 
 
 
 
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É importante notar que, apesar das diferenças entre os três tipos de atos 
falhos, ele possuem uma unidade na linguagem, pois não só os atos falhos 
linguísticos (fala, escrita, leitura) são erros deste tipo. 
Quando nos esquecemos de um nome ao ter que apresentar uma 
pessoa ou não lembramos de enviar um e-mail, estamos vivenciando um 
conflito entre um traço mnêmico (um representante da pulsão ou um 
significante) e, igualmente, os atos falhos comportamentais são ocasionados 
por uma formação de compromisso entre dois significantes, um do lado do 
desejo e o outro do lado da repressão. 
Quais as implicações dos atos falhos durante a análise? O analista deve 
estar atento a sinais aparentemente casuais que o analisando lhe trouxer. 
Hábitos ditos como errados ou desastrados. Ou mesmo erros que o analisando 
realiza sem saber. E, daí, investigar (por meio de perguntas ao paciente, por 
exemplo) se determinado erro poderia estar sugerindo algum conteúdo 
inconsciente, recalcado, desejado. 
 
 
INDICAÇÃO DE LEITURA (OPCIONAL) 
 
● Artigo​: ​Atos falhos: significado e exemplos 
 
 
 
 
 
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3. Procedimentos de Análise 
 
Os psicanalistas praticam técnicas específicas e que se valem, 
acessoriamente, de vários outros conhecimentos para atuar sobre a dinâmica 
humana definida como Psíquica e que se caracteriza por ser uma realidade 
absoluta de natureza não tangível e idiossincrática (individualizada). 
Falamos do não tangível apenas para, de saída, reforçarmos a 
dificuldade do nosso trabalho, pois se os males a que nos contrapomos são 
reais, tudo o mais que temos de considerar é impalpável e de complexo 
acesso, uma vez que lidamos com o emocional e um emocional, na maioria 
das vezes, desconhecido por ser inconsciente. 
Nós, psicanalistas, não usamos instrumentos e, tratando de pessoas, 
não as tocamos, não lhes ministramos qualquer droga e nem ao menos lhe 
damos conselhos e, no entanto, os procedimentos da psicanálise são capazes 
de provocar melhoras significativas e, para alguns casos, a cura para sintomas 
geradores de mal-estar. 
Daí dizermos que o nosso ofício é uma arte, desafiadora, é verdade, e 
que, por isso mesmo, exige de nós uma total dedicação, o máximo de horas de 
estudo, o máximo de pesquisas, o máximo de trocas com as comunidades de 
trocas entre profissionais. 
Segundo Freud, 
“Os processos psíquicos são, em si mesmos, inconscientes e os processos 
conscientes são atos isolados, frações da vida psíquica total. Os processos da 
vida psíquica inconsciente, são dominados, na maior parte, pelas tendências 
que podem ser qualificadas de sexuais, no sentido restrito ou lato do termo. 
Este último pressuposto é, na realidade, a característica fundamental da 
Psicanálise, que consiste, essencialmente, na tentativa de explicar a vida 
inteira do homem e não só aquela privativa ou individual, mas também a 
 
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pública e a social, recorrendo a uma única força que é o instinto sexual ou 
libido, no sentido técnico deste termo.” 
 
Temos que ter sempre presente que, mesmo sendo dedicadamente 
estudiosos, jamais teremos atingido o grau desejável de conhecimento, pois 
nunca nos firmaremos num diagnóstico a partir do estudo de peças 
anatômicas, nem de filmes radiográficos, nem de exames laboratoriais, nem da 
descoberta de novas drogas, nem de testes psicométricos, uma vez que o 
nosso paciente é um ser humano ímpar, que veio de um ambiente familiar 
ímpar e que se desenvolveu ajustando-se às condições ímpares, influenciadas 
pela maneira ímpar como ele entendeu o que atuou sobre ele de forma 
continuada ou então lhe aconteceu por uma fração de segundo, num abrir e 
fechar de olhos. 
 
 
3.1. O Método da Associação Livre 
 
Teremos oportunidade de aprofundar outros aspectos da clínica 
psicanalítica, como transferência, contratransferência e resistência. Faremos 
isso nos módulos seguintes e nos estudosde casos práticos na etapa de 
Supervisão do nosso Curso. 
Por ora, convém abordar a essência da clínica psicanalítica, que é a 
técnica ou método da associação livre​. 
Vimos nos módulos anteriores que Freud substituiu a primazia da 
sugestão hipnótica em favor da associação livre. Isso significa dizer que ​a 
associação livre passa a ser o método psicanalítico por excelência​, o que 
permanecerá durante toda a trajetória de Freud. Em outras palavras, a 
 
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associação livre é a forma mais notadamente psicanalítica para conduzir uma 
sessão de análise. 
O paciente fala e, falando, já há um alívio psicofísico, pelo simples fato 
da mobilização mecânica descarregar parte da tensão psíquica. Mas, além 
deste aspecto quantitativo, há a dimensão qualitativa, isto é, do conteúdo: 
falando o que lhe vier na cabeça (sem autocensura, sem censuras do 
analista e sem censuras das representações sociais ou morais), o 
paciente “distrai” seus mecanismos de defesa, permitindo aflorar 
aspectos inconscientes​. 
Nesse sentido, não há certo ou errado, não há “perder o foco”. Ou 
melhor, Freud diria que “​perder o foco” é exatamente a chave para ​encontrar 
o inconsciente. Afinal, os sonhos, os atos falhos e os chistes são exemplos 
desses ricos “erros”. 
Nós nos basearemos na contribuição de LAPLANCHE & PONTALIS, 
para aprofundarmos a reflexão sobre a associação livre. 
A associação livre é, portanto, um método que consiste em ​exprimir 
indiscriminadamente todos os pensamentos que ocorrem ao espírito​, quer 
a partir de um elemento dado (palavra, número, imagem de um sonho, 
qualquer representação), quer de forma espontânea. 
O processo de associação livre é constitutivo da técnica psicanalítica. 
Não é possível definir uma data exata de sua descoberta, que se deu de modo 
progressivo entre 1892 e 1898, e por diversos caminhos. 
Como é demonstrado pelos ​Estudos sobre a histeria (Freud, 1895), a 
associação livre emana de métodos pré-analíticos de investigação do 
inconsciente que recorriam à sugestão e à concentração mental do paciente 
em uma determinada representação; ​a procura insistente do elemento 
patogênico desaparece em proveito de uma expressão espontânea do 
paciente (entenda melhor este aspecto lendo os comentários de Freud ao caso 
 
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Emmy Von N., abaixo sintetizado). Os Estudos sobre a histeria põem em 
evidência o papel desempenhado pelos pacientes nesta evolução. 
Paralelamente, Freud utiliza o processo de associação livre na sua 
auto-análise e particularmente na análise dos seus sonhos. Aqui, é um 
elemento do sonho que serve de ponto de partida para a descoberta das 
cadeias associativas que levam aos pensamentos 38 do sonho. 
As experiências anteriores à Freud consistiam no estudo das reações e 
dos tempos de reação (variáveis segundo o estado subjetivo) a palavras 
indutoras. Isto é, o analista sugeria algumas palavras e o analisando respondia 
rapidamente, com o que lhe vinha à cabeça. 
Jung põe em evidência o fato de que as associações que assim se 
produzem são determinadas pela totalidade das idéias em relação a um 
acontecimento particular dotado de uma coloração emocional, totalidade à qual 
dá o nome de ​complexo​. 
Freud, em ​A história do movimento psicanalítico (1914), admite o 
interesse dessas experiências “para se chegar a uma confirmação 
experimental rápida das constatações psicanalíticas e para mostrar 
diretamente ao estudante esta ou aquela conexão que um analista apenas 
pode relatar”. 
Talvez convenha ainda fazer referência a uma fonte que o próprio Freud 
indicou em ​Uma nota sobre a pré-história da técnica analítica (1920): o 
escritor Ludwig Börne, que Freud leu na juventude, recomendava, para alguém 
“se tornar um escritor original em três dias”, ​escrever tudo o que ocorre ao 
espírito, e denunciava os efeitos da autocensura sobre as produções 
intelectuais​. 
Essas ideias, sem dúvidas, influenciaram a livre associação de Freud, 
que, depois, aproveitaria a noção da livre expressão de ideias como forma de 
minimizar a autocensura. Além disso, Freud não focaria no processo de induzir 
o paciente com palavras sugestivas de forma aleatória, mas sim aproveitando 
 
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de conteúdos trazidos pelo próprio analisando (seus sonhos, seus atos falhos, 
seus desejos relatados etc.). No mais das vezes, a iniciativa das escolhas 
sobre o que falar se originavam do próprio analisando, sendo o analista alguém 
que faz apontamentos curtos, em geral na forma de perguntas que provocam 
no analisando o sentido por trás de suas associações. 
Nesse sentido, a título de conclusão, o termo “livre” na expressão 
“associação livre” exige as seguintes observações: 
● Mesmo nos casos em que o ponto de partida é fornecido por uma 
palavra indutora (experiência de Zurique) ou por um elemento do sonho 
(método de Freud em ​A interpretação de sonhos​, 1900), pode-se 
considerar que ​é “livre” o desenrolar das associações, na medida 
em que esse desenrolar não é orientado e controlado por uma 
intenção seletiva; 
● Essa “liberdade” acentua-se no caso de ​não ser fornecido qualquer 
ponto de partida​. É nesse sentido que se fala de regra de associação 
livre como sinônimo de regra fundamental para a Psicanálise. 
● Na verdade, não se deve tomar liberdade no sentido de uma 
indeterminação: a regra de associação livre visa em primeiro lugar 
eliminar a seleção voluntária dos pensamentos​, ou seja, segundo os 
termos da primeira tópica freudiana, pôr fora de jogo a censura dos 
processos secundários (entre o consciente e o pré-consciente). ​A 
associação livre ajudaria a revelar, assim, as defesas 
inconscientes, quer dizer, a ação da primeira censura (entre o 
pré-consciente e o inconsciente), a censura daquilo que está mais 
profundamente recalcado. 
● Por fim, o método das associações livres destina-se a ​pôr em evidência 
uma ordem determinada do inconsciente​: “Quando as 
representações-metas conscientes são abandonadas, são 
 
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representações-metas ocultas que reinam sobre o curso das 
representações”, diz Freud. 
 
Explicando esta última frase de Freud: uma ideia fixa trazida à terapia 
(por exemplo, uma fobia específica) é uma representação consciente, isso 
pode ir se relacionando a outras ideias (livremente associadas), de modo a 
sugerir um sistema de funcionamento psíquico que motivaria a fobia e todo 
aquele ​constructo​, até então oculto. 
Verifique esta ideia sobretudo no que Freud nos relata da sua pacienteEmmy Von N. Respondendo à solicitação insistente de Freud, que busca a 
origem de um sintoma, ela lhe diz “... que não deve ficar sempre perguntando 
de onde vem isto ou aquilo, mas deixá-la contar o que tem para contar” (Estudo 
sobre a histeria, 1895). 
Sobre a mesma doente, Freud nota que ela parece ter-se apropriado do 
seu processo”: 
“As palavras que me dirige [...] não são tão inintencionais como parecem; 
reproduzem antes com fidelidade as recordações e as novas impressões que 
agiram sobre ela desde a nossa última conversa e emanam muitas vezes, de 
modo inteiramente inesperado, de reminiscências patogênicas de que ela se 
liberta espontaneamente pela palavra.” (idem) 
 
 
 
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INDICAÇÃO DE LEITURA (OPCIONAL) 
● Artigo​: ​O Método da Associação Livre em Psicanálise 
● Artigo​: ​Associação Livre para Freud e a Psicanálise 
● Artigo​: ​Freud, Charcot e a Hipnose na paciente Emmy Von N. 
 
 
 
 
 
 
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https://www.psicanaliseclinica.com/metodo-da-associacao-livre-em-psicanalise/
https://www.psicanaliseclinica.com/associacao-livre-freud/
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4. TOPOGRAFIA DO APARELHO PSÍQUICO 
 
A teoria psicanalítica tem a particularidade de não considerar os atos 
psíquicos da mesma maneira que o faz a psicologia clássica. A Psicanálise 
estuda como elementos justapostos e associados. 
A Psicanálise concebe a vida psíquica como evolução incessante de 
forças elementares, antagônicas, compostas ou resultantes, com um ​conceito 
dinâmico do psiquismo​. 
Fala-se de duas tópicas freudianas, sendo 
● a primeira (topográfica) aquela em que a distinção principal é feita entre 
inconsciente, pré-consciente e consciente, e 
● a segunda (estrutural) a que distingue três instâncias: o id, o ego e 
superego. 
O termo “topográfico” significa uma teoria dos lugares, vem do grego 
topos (singular) ou topoi (plural), ​que quer dizer “lugar” / “lugares”. 
A hipótese freudiana de uma tópica psíquica tem origem em todo um 
contexto científico de debates, avaliações, observações que vai de 1891 a 
1900, quando Freud apresenta a primeira concepção tópica do aparelho 
psíquico no capítulo VII de ​A Interpretação de Sonhos​ (1900). 
 
 
 
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4.1. Conceituação da Teoria Topográfica 
 
Em que consiste esta teoria? 
Freud propôs dividir o aparelho psíquico. De acordo com esta Teoria, 
devem existir três partes que fundamentam nosso sistema mental, cada uma 
delas se caracterizando por sua relação com a ​consciência​. 
 Vamos apresentar a caracterização, segundo Freud: 
● Sistema Ics: Inconsciente. 
● Sistema Pcs: Pré-Consciente. 
● Sistema Cs: Consciente. 
 
O primeiro sistema, chamado ​Inconsciente (Ics)​, abrange os elementos 
psíquicos cuja ​acessibilidade à consciência é muito difícil ou impossível​. 
Ou seja, não podemos trazer ao nível racional, “lúcido”, ao nível da nossa 
concentração ativa. 
O segundo sistema, denominado ​Pré-consciente (Pcs)​, compreende os 
elementos mentais prontamente acessíveis à consciência. Como exemplo, as 
coisas em que não estamos pensando agora, mas que podemos pensar assim 
que quisermos. São fatos não conscientes ao momento atual, mas que não 
foram recalcados ou “esquecidos”, e que poderemos levá-los à conciência 
conforme haja uma mobilização mental para isso. 
O terceiro sistema, chamado ​Consciente (Cs)​, inclui tudo que é 
consciente em determinado momento. Entretanto, considera-se que todo 
material que fora consciente, no momento seguinte passa para o 
pré-consciente. Consideramos, também, que certas experiências, conscientes, 
ao serem vencidas, em parte são gravadas no pré-consciente, enquanto outra 
parte é recalcada no inconsciente. 
 
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Entre os sistemas Ics e Pcs, opera uma ​censura intersistêmica que 
faculta ao Pcs excluir elementos indesejáveis do sistema Ics e recusar-lhes o 
ingresso no sistema Cs. 
A idéia central da Teoria Topográfica é de que o aparelho psíquico pode 
ser dividido em sistemas baseando-se na relação entre os mesmos e a 
consciência​. Quando nos perguntamos sobre o nível de consciência que 
temos de certos fatos ou atos, estamos inseridos nas questões freudianas da 
Primeira Tópica. 
 
 
INDICAÇÃO DE LEITURA (OPCIONAL) 
● Artigo​: ​As Três Instâncias do Aparelho Psíquico 
 
 
 
 
 
 
 
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4.1.1. Como representar a Teoria Topográfica? 
 
 
 
Concebemos uma figura única constituída de camadas, sendo a mais 
estreita atribuída ao sistema Cs. Um pouco mais abaixo aparece uma camada 
igualmente estreita, que atribuímos ser o sistema Pcs. O centro da figura, a 
parte maior em termos cúbicos, compreendemos ser o sistema Ics. Assim, o 
inconsciente passa a ser o miolo e a parte mais importante do aparelho mental. 
 
 
4.2.1. O Consciente 
 
O consciente é o sistema de percepção para as impressões que nos 
absorvem no momento e deve ser considerado como um sistema sensorial 
situado no limite entre o interno (da pessoa) e o externo (do mundo), com 
capacidade para perceber processos de uma ou outra procedência. 
 
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Freud, em sua teoria metapsicológica, usa a expressão sistema 
percepção – consciência (Pc – Cs). [Nota: aqui Pc significa Percepção, não 
confundir com Pcs: Pré-Consciente]. 
Do ponto de vista funcional, o ​sistema percepção – consciência 
opõe-se ao ​sistema de traços mnésicos que são o inconsciente e 
pré-consciente. Do ponto de vista econômico, caracteriza-se pelo fato de dispor 
de uma energia livremente móvel. Isto é, a energia consciente (mecanismo do 
foco e da atenção) do indivíduo pode tratar de centenas ou milhares de 
assuntos durante um único dia. 
Para LAPLANCHE & PONTALIS, 
“Segundo a teoria metapsicológica de Freud, a consciência seria função de um 
sistema, o ​sistema percepção-consciência (Pc-Cs)​. Do ponto de vista tópico, o 
sistema percepção-consciência está situado na periferia do aparelho psíquico, 
r​ecebendo ao mesmo tempo as informações do mundo exterior e as 
provenientes do interior​, isto é, as sensações que se inscrevem na série 
desprazer-prazer e as revivescências mnésicas [da memória]. Muitas vezes Freud liga 
a função percepção-consciência ao sistema pré-consciente, então designado como 
sistema pré-consciente-consciente(Pcs-Cs)​. (...) 
 
A teoria psicanalítica se constitui recusando definir o campo do 
psiquismo pela consciência, mas nem por isso considerou a consciência como 
um fenômeno não essencial. 
Freud criticou a psicologia behaviorista (comportamentalista) 
exatamente por ela considerar exclusivamente a dimensão do consciente: 
“Uma tendência extrema, como por exemplo a do behaviorismo, nascida na 
América, pensa poder estabelecer uma psicologia que não tenha em conta este 
fato fundamental!” (FREUD, ​Compêndio da Psicanálise, ​1938). 
 
 
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É muito importante que o psicanalista perceba este aspecto essencial da 
Teoria e Prática Clínica da Psicanálise. 
● Para muitas escolas da psicologia, das ciências humanas e das ciências 
naturais, o ser humano é ​uma única coisa, uma coisa só, indivíduo, 
indivisível​, dono de suas vontades e responsável por todos os seus 
atos. Para essas correntes teóricas, o sujeito seria unicamente 
consciente​. 
● Para a Psicanálise, o sujeito é ​dividido, cindido​. A ideia de haver um 
inconsciente é a ideia discordar do sujeito unívoco das escolas que 
mencionamos no parágrafo anterior. O sujeito não é senhor de si. É, ao 
mesmo tempo, sujeito e sujeitado: por suas memórias, por sua trajetória, 
pelas imposições sociais, por seus relacionamentos, por suas 
experiências durante o desenvolvimento psicossexual, por seus desejos 
etc. Mas, ainda assim, não é possível dizer que o sujeito é puramente 
inconsciente, já que a Psicanálise considera ​também ​a dimensão 
consciente. 
 
Se você tem alguma dúvida de que o ser humano é um sujeito dividido, 
propomos uma experiência empírica, pela qual você certamente já passou. 
Você está estudando e, paralelamente, surge o desejo pelo prazer (de estar 
descansando ou passeando ou fazendo qualquer outra atividade que lhe dê 
mais prazer). O seu “eu” agora está dividido, correto? Mentalmente, você 
formaliza uma frase imperativa: “Continue estudando!”. Ora, se você não fosse 
dividido, precisaria lhe dar esta ordem? Claro que não, pois o seu desejo 
coincidiria exatamente com o que você estaria fazendo. Mas, ao dar uma 
ordem a si mesmo, na verdade você já se tornou dois: um “eu” racional/moral 
que demanda o estudo, um “eu” pulsional que demanda o prazer. 
A escolha teórica entre um ​sujeito indivíduo ou um ​sujeito dividido tem 
implicações em vários campos: nas artes, no direito, nas relações sociais, no 
mundo trabalho, no convívio interpessoal, nos processos de 
 
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ensino-aprendizagem (educação), na política e, obviamente, no tipo de terapia 
e suas técnicas. 
Freud considera a consciência como uma função do ​sistema Pc-Cs e 
um dado da experiência individual que se oferece à intuição imediata, e não 
renova sua descrição. 
Quando se fala de consciência, todos sabem, imediatamente, por 
experiência, do que se trata. 
Para que um ato psíquico seja consciente, é necessário que percorra 
todos os níveis do sistema psíquico. O sonho, por exemplo, as representações 
de objetos pertencentes ao inconsciente devem associar-se às representações 
pré-conscientes correspondentes. Só depois de vencer a estrutura instalada 
entre os dois campos, entram em contato com esse sistema e chegam ao 
conhecimento do indivíduo. 
 O sujeito não reage a todo estímulo. Tem-se impressão de que o 
sistema consciente conta com um dispositivo especial, capaz de protegê-lo de 
certas excitações que poderiam perturbar seu equilíbrio, que Freud chamou de 
detector ou amortecedor de estímulos​. Se um estímulo externo é 
excessivamente intenso para o psiquismo, ele é captado pelo aparelho protetor 
amortecido e transmitido de forma econômica e gradual. 
Em síntese, o aparelho protetor recebe o estímulo do exterior, 
amortece-o e transmite-o gradualmente, evitando que o equilíbrio psíquico do 
organismo se perturbe. O amortecedor de excitações é o que capacita o sujeito 
regular sua vida psíquica, mediante uma distribuição econômica das cargas 
energéticas, o que lhe permite conservar o repouso e manter em equilíbrio 
adequado sua tensão energética. 
 
Apesar de não ser a instância única a escolher o que será recalcado, a 
consciência desempenha um papel importante na dinâmica: 
 
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● do ​conflito​: evitação consciente do desagradável, regulação mais 
discriminadora do princípio de prazer; e 
● do ​tratamento​: função e limite da tomada de consciência. 
 
Observe que, para Freud, há duas visões principais sobre o consciente, 
e isso demandará a necessidade da formulação de uma teoria que inclua 
também o consciente: 
● o Cs é ​apenas parte de nossos processos psíquicos​, sendo que 
nossa vida mental é, de maioria, inconsciente; 
● o Cs não é irrelevante, também ​não é irrelevante o fato de algo ser 
consciente ou não​, já que a consciência marca o indivíduo e é preciso 
estudar porque algumas coisas são conscientes enquanto outras não. 
 
A ideia de que o Cs é a porta de entrada da percepção e é a conexão 
entre o universo interior e o universo exterior de um sujeito será mantida por 
Freud no decorrer de toda a sua obra. 
No fenômeno da consciência essa tese dá uma prioridade à percepção, 
e principalmente à percepção do mundo exterior: “O acesso à consciência está 
antes de mais nada ligado às percepções que os nossos órgãos sensoriais 
recebem do mundo exterior”, escreveu Freud. 
A questão se complexifica quando relacionamos a consciência com a 
memória e os processos de representações. Aí, são mobilizados elementos 
pré-conscientes e inconscientes que interferem a forma atual como a pessoa 
vê e recebe uma percepção. 
“Para que seja conferida uma qualidade [aos processos de pensamento], estes 
são associados, no homem, às recordações verbais, cujos restos qualitativos 
são suficientes para atrair a atenção da consciência; a partir daí um novo 
 
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investimento móvel se dirige para o pensamento.” (FREUD, Estudos sobre a 
histeria) 
 
Ou seja, o “órgão” (como Freud chamava) do consciente percebe a 
realidade externa, mas essa precisa ser simbolizada, não pode ser apenas 
uma coisa. São as memórias (representadas por restos de palavras) 
pré-existentes que absorvem a percepção ao sistema psíquico do sujeito. 
Afirma Freud: “A regra biológica da atenção enuncia-se assim para o 
ego: quando aparece um indicador de realidade, o investimento de uma 
percepção que está simultaneamente presente deve ser sobre-investido”. 
Na segunda tópica, Freud vai relacionar o sistema Pc-Cs como sendo 
uma tarefa do ego. O egoprecisa investir ao máximo sua energia para novos 
fatos relevantes do mundo, como um mecanismo de sobrevivência (“regra 
biológica”). 
Podemos entender como duas ações principais do ego: 
1) perceber de forma vívida (como vimos no parágrafo anterior); 
2) amortecer o excesso de informações, como vimos quando falamos do 
sistema detector e amortecedor de estímulos. 
No início da obra freudiana, era possível supor que o consciente fazia o 
trabalho de “esquecer” o que seria insuportável lembrar, ou seja, que era o 
consciente (e somente ele) quem promovia o recalcamento. Mas, depois, 
houve uma “ênfase cada vez maior dada ao caráter pelo menos parcialmente 
inconsciente das defesas e da resistência que se exprimem no tratamento” 
(LAPLANCHE & PONTALIS). 
Na teoria do tratamento, a problemática da tomada de consciência e da 
sua eficácia permaneceu um tema primordial de reflexão na obra freudiana. Ou 
seja, mesmo tendo modificado muitas de suas ideias, permaneceu em Freud a 
 
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noção de que a terapia deve permitir ao analisando “tomar consciência” de uma 
causa, e essa tomada de consciência promoveria a cura de seus sintomas. 
Porém, a passagem à consciência não implica por si só uma cura, pode 
não haver uma verdadeira integração do recalcado no sistema pré-consciente. 
Ou seja, não basta o psicanalista “contar” ao analisando que o sintoma Y é 
causado pelo fato X, que fora recalcado. É preciso que isso seja ​construído ​e 
que faça sentido ao analisando, por isso é preciso “todo um trabalho que 
dissipe as resistências que impedem a comunicação entre os sistemas 
inconsciente e pré-consciente, e capaz de estabelecer uma ligação cada vez 
mais estreita entre os traços mnésicos [memórias] inconscientes e a sua 
verbalização” (L&P). 
Este tempo para o analisando derrubar as resistências, incorporar o 
“aprendizado” ao seu pré-consciente para, só depois, verbalizar isso como uma 
tomada de consciência própria dele (analisando) é chamado por Freud de 
perlaboração​. ​Sem este tempo, uma mera revelação interpretativa do analista 
ao analisando poderá ser um ato de prepotência do analista e (ainda que 
“verdadeira”) não será verdadeira ao analisando, porque não terá sido 
amadurecida enquanto tal pelo analisando. 
 
 
INDICAÇÃO DE LEITURA (OPCIONAL) 
● Artigo​: ​Consciente, Pré-Consciente e Inconsciente 
 
 
 
 
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4.2.2. O Pré-Consciente 
 
Termo utilizado por Freud no quadro da sua primeira tópica. Como 
substantivo, designa um sistema do aparelho psíquico nitidamente distinto do 
sistema inconsciente (Ics); como adjetivo, qualifica as operações e conteúdos 
desse sistema pré-consciente (Pcs). 
Estes não estão presente no campo atual da consciência e, portanto, 
são inconsciente no sentido “descritivo” do termo, mas distingue-se dos 
conteúdos do sistema inconsciente na medida em que permanecem de direito 
acessíveis à consciência (conhecimento e recordações não atualizados por 
exemplo). 
Ou seja, os conteúdos pré-conscientes estão disponíveis ao consciente, 
só não estão conscientes ​agora​. Um exemplo: você se esqueceu do nome de 
uma pessoa, mas você tem certeza de você sabe o nome, apenas não se 
lembra dele agora. Quando o nome lhe é revelado por outra pessoa, você 
sabia que o nome existia na sua mente. 
O pré-consciente está localizado ​entre o consciente e o inconsciente​, 
e nele ficam as idéias, os pensamentos, experiências passadas e outras 
impressões que podem, com algum grau de esforço, ser trazidos à consciência. 
As impressões do mundo exterior também são radicadas no Pcs, em forma de 
representações fonéticas e verbais. 
É o sistema pré-consciente que leva as tendências e representações 
objetivas inconscientes à consciência, só que nesta função, associa-se em 
forma de representações verbais, adquiridos na realidade. Como o 
pré-consciente se relaciona com a realidade externa e também com o 
 
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inconsciente, no decorrer do sonho, são usados fatos reais, uma idéia 
concebida em estado de vigília, a fim de expressar um desejo inconsciente. 
 
Enquanto o sistema inconsciente é regido pelo processo primário 
(inconsciente), o pré-consciente (também com suas leis próprias) é regido pelo 
processo secundário, que compreende: 
● A elaboração de sucessão cronológica nas representações; 
● A descoberta de uma relação lógica; 
● O preenchimento de lacunas existentes entre idéias isoladas; 
● A introdução do fator causal, ou seja, relação de coexistência e 
sucessão entre os fenômenos: relação causa-efeito. 
 
Durante o sono, essa tarefa se cumpre no pré-consciente, tal como 
acontece nos estados de vigília, em que a atividade se constitui o ato de 
pensar. 
Afirma NUMBERG: 
“As idéias pré-conscientes aparecem enxertadas nos impulsos 
inconscientes, e daí surge a necessidade de distinguir a essência da 
enfermidade daquilo que é o resultado da elaboração secundária”. 
 Do ponto de vista metapsicológico, o sistema Pcs difere do Ics pelo fator 
da censura: 
● Enquanto o Ics é inacessível ao Cs, não está construído sobre ideias 
lógicas do ponto de vista espacial e temporal, restando interditado ao Cs 
em função do recalque; 
● O Pcs é acessível ao Cs, é construído sob a lógico espácio-temporal. 
● O Ics pode passar para o Pcs, porém após processos de transformação. 
 
 
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Enquanto na Primeira Tópica este conceito tem o ​status de um dos três 
pilares da psique humana, na Segunda Tópica Freud falará de “pré-consciente” 
apenas como adjetivo, para qualificar o que escapa à consciência atual mas 
que não se tornou inconsciente no sentido estrito do termo. 
Por ser um sistema psíquico, só é possível entender Pcs, Ics e Cs 
quando os comparamos entre si. Nesse sentido, o ​Pré-Consciente tem uma 
semelhança: 
● do ponto de vista ​descritivo​, com o ​Inconsciente​: tanto o Pcs quanto o 
Ics não estão presentes na nossa consciência atual; 
● do ponto de vista ​funcional​, com o ​Consciente​: tanto o Pcs quanto o Cs 
representam memórias que podem ser postas em palavras e que não 
foram recalcadas. 
 
Uma outra forma bastante interessante de entender o Pcs é 
identificarmos a diferença entre os ​dois tipos de censura​: 
● Primeira Censura ou Censura propriamente dita​: barreira existente 
entre o Ics e Pcs​, é uma transição complexa, porque há transformações 
que precisam ser feitas (o Ics não se revela tal como é, por ter suas leis 
e linguagens próprias); baseia-se no ​princípio da transformação(“deformando” os conteúdos que escapam do Ics); 
● Segunda Censura​: barreira existente ​entre o Pcs e Cs​, é uma 
transição mais simples, sem transformações significativas, já que há 
coincidências entre a lógica Pcs e a lógica Cs; baseia-se no princípio da 
seleção (isto é, o Cs precisa atender suas necessidades atuais e vai 
buscar informações necessárias no Pcs). 
 
Quando a Psicanálise falar apenas “censura”, é a primeira censura que 
provavelmente estará sendo abordada (por isso é chamada de “censura 
 
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propriamente dita”). Apesar disso, Freud diferenciou esses dois tipos de 
censura, exatamente para a melhor compreensão da dinâmica Ics - Pcs - Cs. 
 
 
 
INDICAÇÃO DE LEITURA (OPCIONAL) 
● Artigo​: ​Recalque, Repressão e Censura 
 
 
 
 
4.2.3. O Inconsciente 
 
O conceito de o inconsciente é empregado no sentido daquilo que 
nunca foi observado diretamente​. Mas ao mesmo tempo é um conceito 
empírico (da experiência), pelo fato de representar uma indiferença 
imprescindível para explicar, de maneira lógica e sistemática, um grande 
número de observações. 
Será difícil, portanto, dar uma definição categórica de algo cuja a 
natureza só se desconhece intimamente e cujo conhecimento ​só se pode 
obter de forma indireta​, mediante os dados que nos são fornecidos pelos 
sonhos, os atos falhos, os chistes, a associação livre, os testes projetivos e a 
história de sintomas neuróticos e psicóticos. 
 
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Praticamente se conhece o inconsciente em expressão do pouco que 
chega (e chega distorcido) ao pré-consciente e ao consciente. 
Os psicanalistas não são os únicos que admitem a existência de um 
inconsciente: filósofos e os psicólogos admitem a existência de um 
inconsciente, mas muitos o fazem de modo negativo: aquilo que não é 
consciente e não é racionalizável, por isso ficando de fora do campo de saber 
de inúmeras ciências. 
Mas, para a Psicanálise, o inconsciente é psiquicamente positivo, ou 
seja, é algo em relação ao qual a teoria pode afirma o que é, e não só o que 
não é. 
Nesse sentido, o Ics é um sistema em constante evolução e investido de 
energia psíquica. Segundo o conceito de Freud, é simplista definir o 
inconsciente somente como o contrário do consciente, como dizia Lipps. 
Também é errôneo definir o Ics como o degradé ou o latente, como afirmam os 
filósofos da introspecção e da intuição. Pelo contrário, o Ics é o grau 
preparatório do consciente e, ainda mais exatamente, é ​o verdadeiro 
psiquismo, o psiquismo real (Freud), a maior parte da nossa vida psíquica é 
pertinente à instância Ics. 
Para LAPLANCHE & PONTALIS, 
“Se fosse preciso concentrar numa palavra a descoberta freudiana, seria 
incontestavelmente na palavra inconsciente, pois em psicanálise é a estrutura 
psíquica que compreende os impulsos e sentimentos dos quais o indivíduo não 
tem consciência; é a pedra do fecho de toda teoria da psicanálise, em alemão é 
o não sabido​.” 
 
O inconsciente é desconhecido para o indivíduo, mas partes de seu 
conteúdo podem, às vezes, passar à pré-consciência e daí virem manifestar no 
 
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consciente. A maior parte dos textos freudianos anteriores à Segunda tópica 
associam o inconsciente àquilo que é recalcado (Ics = recalcado)​. 
 Ao modo de atuar no inconsciente dá-se o nome de ​processo primário 
por ser a primeira forma de atuação, a mais primitiva do psiquismo. A teoria 
psicanalítica considera os processos psíquicos essencialmente inconscientes e 
que antes de chegarem a ser conscientes devem sofrer um complicado 
processo, que tem suas leis determinantes, regras de gramática especial e 
lógica primitiva que regem esse sistema, e que neste caso são as do processo 
primário. 
No processo primário devem-se considerar os elementos que atuam, 
levando-se em conta que no aparelho psíquico o que chega a ser consciente 
provém do inconsciente. Ou seja, existe uma dinâmica que, como tal, deve ser 
regras que a regem. 
No sentido 'tópico' ou funcional, isto é, como parte da estrutura psíquica 
da Primeira Tópica, o conceito de ​inconsciente ​designa um dos sistemas 
definidos por Freud no quadro desta 1a Tópica (modelo topográfico). 
É constituído por conteúdos recalcados aos quais foi recusado o acesso 
ao sistema pré-consciente e consciente pela ação do ​recalque​. Não haveria 
inconsciente sem recalque, como só faz sentido dizer que haja recalque se 
houver um “lugar” (Ics) para onde recalcar. 
Podemos resumir do seguinte modo as características essenciais do 
Inconsciente como sistema (ou Ics): 
a) os seus 'conteúdos' são ​'representantes' das pulsões​, ou seja, 
estão em contato direto com energias psíquicas primitivas; 
b) estes 'conteúdos' são regidos por mecanismos específicos do 
processo primário​, principalmente a condensação e o deslocamento 
(abordaremos esta temática no capítulo seguinte, neste Módulo); 
 
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c) fortemente investidos pela energia pulsional, os conteúdos Ics 
procuram retornar à consciência e à ação; mas ​só podem ter acesso ao 
sistema Pcs-Cs nas formações de compromisso​, depois de terem sido 
submetidos às deformações da censura. [formações de compromisso: quando 
se forma o vínculo entre um conteúdo recalcado no Ics e um sintoma 
perceptível no nível Pcs-Ics] 
d) os conteúdos Ics são, mais especialmente, ​desejos da infância que 
conhecem uma fixação no inconsciente​. 
No quadro da Segunda tópica freudiana, o termo inconsciente é usado 
sobretudo na sua forma ​adjetiva​: efetivamente, inconsciente deixa de ser o que 
é próprio de uma instância especial (como ocorre na 1a Tópica). 
Na Segunda tópica, “inconsciente” qualifica o id (principalmente) e o ego 
e o superego (em partes). 
Mas convém notar, conforme propõem LAPLANCHE & PONTALIS: 
● as características atribuídas ao ​sistema Ics na primeira tópica são de 
um modo geral atribuídas ao id na segunda tópica​; 
● o bloco relativo a ​Pcs e Cs terá uma parte consciente e uma parte 
inconsciente na segunda tópica​. 
 
O inconsciente freudiano brotou da experiência do tratamento. Este 
mostrou que o psiquismo não é redutível ao consciente e que certos 
'conteúdos' só se tornam acessíveis à consciência depois de superadas certas 
resistências. 
Freud revelou que a vida psíquica era “... cheia de pensamentos 
eficientes embora inconscientes, e que era destes que emanavam os 
sintomas”, o que o levou a supor a existência de 'grupos psíquicos separados' 
(em três partes,como vimos) e, de modo mais geral, a admitir o inconsciente 
como um 'lugar psíquico' particular que deve ser concebido não como uma 
 
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Segunda consciência, mas como um sistema que possui conteúdos, 
mecanismos e, talvez, uma 'energia' específica. 
Mas, quais serão esses conteúdos inconscientes, que tipo de 
“informação” há lá? 
No artigo ​O Inconsciente​, Freud denomina-os 'representantes da 
pulsão'. A pulsão está fronteira entre corpo e mente, é o inconsciente que traz a 
energia da pulsão de fato para dentro da psique ou da mente. 
As representações inconscientes são dispostas em fantasias, histórias 
imaginárias em que a pulsão se fixa e que podemos conceber como 
verdadeiras encenações do desejo. 
Outro aspecto classicamente reconhecido é o do ​inconsciente 
relacionado àquilo que é infantil em nós​, mas também aqui se impõe uma 
reserva. Nem todas as experiências infantis estão destinadas ao Ics. Para 
Freud, é pela ação do recalque infantil que se opera a primeira clivagem 
(separação) entre o inconsciente e o sistema Pcs-Cs. 
Sabe-se que o sonho foi para Freud o caminho por excelência da 
descoberta do inconsciente. Os mecanismos do sonho (deslocamento, 
condensação, simbolismo) evidenciados em ​A Interpretação de Sonhos 
(1900) são também constitutivos do processo primário e do Ics em geral e das 
formações que revelam o Ics (atos falhos, chistes, lapsos, sintomas etc.). 
Quando Freud procura definir o inconsciente como sistema, resume 
assim as suas característica específicas: 
● é um ​processo primário e que é móvel (não se fixa a um objeto claro 
de desejo, característica de uma energia livre); 
● tem ​ausência de negação ou de dúvida​, por possuir um elevado de 
grau de certeza; 
● é ​indiferente perante a realidade​ (tem sua própria realidade), e 
 
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● tem sua regulação exclusivamente pelo ​princípio de desprazer-prazer​, 
não se baseia por preceitos morais (certo-errado). 
 
As considerações tópicas (isto é, do Ics, Pcs e Cs cada qual em seu 
lugar) não devem fazer-nos perder de vista o ​valor dinâmico do inconsciente 
freudiano​, que o seu autor tantas vezes sublinhou. Devemos nas distinções 
tópicas o meio de explicar o conflito fenômenos do nosso aparelho psíquico, 
não vermos essas partes de uma forma dogmática e estanque. 
Sabe-se que, a partir de 1920, a teoria freudiana do aparelho psíquico 
foi profundamente remodelada. Foram introduzidas novas distinções tópicas 
que já não coincidiam com as do inconsciente, pré-consciente e consciente. 
Com efeito, se é verdade que reencontramos na instância do id as principais 
características do sistema Ics, também nas outras instâncias - ego e superego - 
há uma parte inconsciente. 
 
 
INDICAÇÃO DE LEITURA (OPCIONAL) 
● Artigo​: ​O lado oculto da mente 
● Artigo​: ​Freud e o Inconsciente: um guia 
 
 
 
 
 
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4.3. Processo primário e processo secundário 
 
São os dois modos de funcionamento do aparelho psíquico, tais como 
foram definidos por Freud. Podemos distingui-los radicalmente: 
 
a) ​do ponto de vista tópico (ou seja, do ponto de vista das partes que 
integram o modelo topográfico): 
● o ​processo primário caracteriza o sistema inconsciente​ e 
● o ​processo secundário caracteriza o sistema pré-consciente-consciente; 
 
b) ​do ponto de vista econômico-dinâmico​: 
● no ​processo primário​, a energia psíquica escoa-se livremente, passando 
sem barreiras de uma representação para outra, segundo os 
mecanismos de deslocamento e condensação; tende a reinvestir 
plenamente as representações ligadas às vivências de satisfação 
constitutivas do desejo (alucinação primitiva); 
● no ​processo secundário​, a energia começa por estar “ligada” antes de se 
escoar de forma controlada; as representações são investidas de uma 
maneira mais estável, a satisfação é adiada, permitindo assim 
experiências mentais que põem à prova os diferentes caminhos 
possíveis da satisfação. 
 
c)​ do ponto de vista do princípio que rege​ cada processo: 
 
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● o ​processo primário rege-se pelo princípio do prazer, buscando 
satisfação imediata e evitar o desprazer; 
● o ​processo secundário ​rege-se pelo princípio da realidade, buscando a 
sobrevivência (que é uma forma de satisfação no médio e longo prazo). 
 
Associe assim: 
Processos primários Processos secundários 
Instância Ics Instâncias Pcs e Cs 
Energia livre: passa de uma 
representação a outra, por meio de 
mecanismos de condensação e 
deslocamento. 
Energia ligada a representações mais 
fixas (estáveis). 
Busca a satisfação imediata, só se 
guia pelo mecanismo do prazer e de 
evitar o desprazer. 
Permite adiar a satisfação com base 
em critérios sociais/morais, buscando 
caminhos de compensação da 
satisfação (ex.: a segurança social é 
compensação para o sujeito abrir 
mão de fazer tudo o que deseja, pois, 
se o fizesse, seria socialmente 
punido). 
Princípio do prazer Princípio da realidade 
 
Os termos “primário” e “secundário” têm implicações ​temporais ​(o 
primário vem antes), e mesmo ​genéticas ​(o primário está mais ligado ao 
organismo, enquanto o secundário está ligado às experiências de vida). 
Estas implicações acentuam-se em Freud no quadro da segunda tópica, 
em que o ​ego ​é definido como resultado de uma diferenciação progressiva do 
id. Ou seja, o ego é um desenvolvimento tardio do id. Como o id (relacionado 
ao Ics) antecede o ego, os processos inconscientes são chamados de 
primários​. 
 
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A questão, no entanto, está presente desde a primeira tópica. É assim 
que os dois tipos de processos parecem corresponder não apenas a modos de 
funcionamento ao nível das representações, mas a ​duas etapas na 
diferenciação do aparelho neurônico (formação física da mente) e mesmo 
na evolução do organismo​. 
O processo primário é assim designado por ser o primeiro dos dois 
padrões de funcionamento mental no quadro da Teoria Topográfica. 
Desde os primeiros momentos da vida, quando o sistema Ics 
compreende praticamente a totalidade do aparelho psíquico, sua maneira de 
funcionar é, também, a única maneira de funcionar da mente. Um pouco mais 
tarde, começa a aparecer um meio de funcionamento diferente, a que se dá o 
nome de processo secundário. 
Para muitos intérpretes de Freud, os qualificativos ​primário e ​secundário​, 
exprimem, apenas, uma conotação temporal e biológica, pelo que não se deve 
considerar

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