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Integração Latino-Americana: Análise Comparativa de Furtado e Marini

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Integração latino Americana: Uma análise preliminar comparativa das 
contribuições de Celso Furtado e de Ruy Mauro Marini 
 
GUSTAVO PEREZ PEREIRA ANDRADE1 
 
Resumo 
A partir da década de 60, em torno da Cepal, ocorreram diversos debates e enfrentamentos 
teóricos, nos quais foram discutidos relevantes temas acerca da América Latina. Dentre 
estes, destaca-se aqui a integração regional, abordada por vários autores. Dessa forma, 
pretende-se neste trabalho fazer um balanço bibliográfico a partir de uma breve análise 
comparativa das contribuições de Ruy Mauro Marini e Celso Furtado sobre a questão da 
integração regional. A pesquisa visa, pois, considerar as divergências e/ou convergências 
destes pensadores, buscando compreender como é tratada a questão da integração 
regional no decorrer do desenvolvimento do pensamento destes. Focaremos aqui 
especificamente o estudo das obras dos referidos autores, para o entendimento desta 
questão, as publicadas entre a década de 60 e os anos 1990, problematizando ambos os 
autores durante este período. 
Palavras-chave: Integração regional. Pensamento Latino-americano. Centro-Periferia. 
Abstract 
Since the 1960s, around the ECLAC, there have been several debates and theoretical 
confrontations, in which relevant themes about Latin America were discussed. Among 
these, the regional integration, discussed by several authors, stands out. In this way, this 
paper intends to make a bibliographical review based on a brief comparative analysis of 
the contributions of Ruy Mauro Marini and Celso Furtado on the question of regional 
integration. The research aims, therefore, to consider the divergences and / or 
convergences of these thinkers, trying to understand how is treated the issue of regional 
integration in the course of developing their thinking. We will focus here specifically on 
the study of the works of the aforementioned authors, for the understanding of this 
question, those published between the 1960s and the 1990s, problematizing both authors 
during this period. 
Keywords : Regional integration. Latin American Thinking. Center-Periphery. 
 
 
 
 
1 Graduado em Ciências Sociais pela Faculdade de Filosofia e Ciências do Câmpus de Marília da 
Universidade de Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” - e-mail <gustavoperez8591@gmail.com>. 
 
 2 
 
Introdução 
O artigo pretende esboçar uma análise preliminar do pensamento de Marini e 
Furtado acerca da integração latino-americana, é importante ressaltar que a pesquisa em 
questão está em andamento. 
A regionalização tem se tornado objeto de controvérsias e disputas políticas em 
todos setores da sociedade moderna, particularmente na academia, o que fez emergir 
novas questões teóricas sobre este fenômeno nas Ciências Sociais. Portanto a 
compreensão do pensamento destes autores pode trazer novas respostas a estas questões 
e repensar a integração nesta conjuntura, adequando inclusive métodos de analises frente 
às mudanças estruturais que ocorreram na sociedade capitalista desde que o tema foi 
abordado pela academia. 
A originalidade desta pesquisa está em conjugar estes distintos pensadores cujo 
arcabouço teórico se contrapõe com o propósito de refletir sobre as políticas 
macroeconômicas na América Latina. 
A pertinência, pois, deste estudo, é ainda maior quando consideramos os termos 
das relações internacionais estratégicas desenvolvidas pelo Brasil com seus vizinhos, 
ainda que aqui o trabalho não tenha como objetivo analisar diretamente os pormenores 
do Mercosul e da integração regional latino-americana, o fato é que sem a elaboração 
destas questões mais gerais no que concerne à leitura destes fenômenos ficaria difícil 
abordarmos diretamente tais questões, é através deste embasamento teórico e com 
desenvolvimento destas ferramentas de mediação com a realidade que a importância deste 
trabalho é demonstrada. 
A ideia de organizar instrumentos macrorregionais visando a integração 
econômica de um ou mais países surge por volta da década de 50, todavia, isto acentuou-
se com as mudanças estruturais que atingiram o alicerce da economia mundial a partir 
dos anos 1980. 
O aprofundamento das mudanças globais, sobretudo, com a ascensão de Ronald 
Reagan ao governo dos EUA, fez com as teorizações aparentemente distantes da realidade 
acerca da integração política e econômica começassem a se concretizar ganhando 
relevância no cenário político de diversos países. 
 3 
O trabalho não pretende discorrer acerca das várias experiências concretas de 
integração regional realizadas na América Latina, a exemplo do Mercosu12. O objetivo 
em questão é analisar comparativamente as obras de Marini e Furtado a respeito desse 
tema. 
O agrupamento de distintos países em um mesmo bloco comercial, político e ou 
econômico ocasiona, afora força econômica e política, proporciona o crescimento de 
ótimos resultados no comercio exterior o que em termos políticos nas relações 
interacionais pode significar mais força política em fóruns mundiais ou maior peso de 
barganha em assuntos multilaterais. 
Na atual fase do capitalismo mundial é imprescindível ressaltar que a 
multiplicações dos blocos econômicos é sem precedentes, os tratados multilaterais ou 
bilaterais seguiram a mesma tendência. Aumentando em números e tornando-se 
alternativas a expansão das estruturas supranacionais. 
A integração vária conforme os modelos, então podemos falar em integrações para 
denotar pluralidade dos processos, que podem ser agrupados em vários tipos. Podemos 
reunir os projetos regionais cujo os objetivos pontuais são o comércio entre si, ou agrupar 
Estados-nações em que a proposta vai além de uma mera integração comercial 
constituindo um mercado comum e pretendo ser um projeto político mais elaborado com 
órgãos supranacionais. 
A América Latina desenvolveu-se com a participação de significativas inversões 
de capital estrangeiro a partir de meados da década de 1950, que propiciaram um rápido 
 
2 O Tratado lançou a bases para constituição do Mercosul, estabelecendo as bases para uma nova política 
regional na história latino-americana. Em dezembro de 2004, o Mercosul e a Comunidade Andina de 
Nações assinaram um acordo de estatuto recíproco entre os membros associados estabelecendo 
a Declaração de Cuzco, visando criar a Comunidade Sul-Americana de Nações. O nome original da união 
foi alterado para o atual União de Nações Sul-Americanas (UNASUL), em abril de 2007. Havendo diversas 
experiências anteriores tais como a Primeira Conferencia Pan-Americana de 1889 que reuniu 18 países, 
passando a ser denominada em 1910 União das República Americanas. Outros Blocos comerciais também 
sugiram neste período como o Pacto ABC reunindo Brasil, Argentina e Chile em 1915. Em 1947 é 
reconfigurada a União das Repúblicas Americanas sendo estabelecida em seu lugar a OEA (Organização 
dos Estados Americanos). No ano 1960 é constituída a ALALC (Associação Latino-Americana de Livre 
Comércio) os signatários Argentina, Brasil, Chile, México, Paraguai, Peru e Uruguai esperavam criar um 
mercado comum na América Latina. Em 1980 a ALALC passou a denominar-se ALADI (Associação 
Latino-Americana de Integração). Em 1969, o Pacto Andino reuniu Chile, Bolívia, Peru, Equador e 
Colômbia. Em 1973, o pacto ganhou seu sexto membro, a Venezuela. O nome da organização foi alterado 
em 1996 para CAN (Comunidade Andina de Nações). 
 
 4 
desenvolvimento industrial em alguns países da região. Todavia, esse processo implicou 
no aprofundamento da dependência 
A integração na América Latina tem sido objeto de estudo e debates de inúmeros 
autores que se debruçaram sobre os mais variados temas acerca dos projetos econômicos 
macrorregionais e as novas perspectivas que se abriam a partir da globalização com 
crescimento deorganizações inter-regionais e o fortalecimento dos marcos regulatórios 
supranacionais. 
 Pretende-se assim abordar as distintas perspectivas contidas no pensamento de 
Ruy Mauro Marini e Furtado acerca da integração regional. Isto será feito por meio de 
uma análise comparativa em perspectiva histórica com o objetivo de compreender como 
a questão regional latino-americana é abordada em ambos e sua evolução nas obras desses 
autores. 
 Nos debruçaremos em abarcar as diferenças e as convergências ideológicas, 
políticas, bem como as perspectivas econômicas e históricas entre ambos os autores. 
Vamos analisar num breve estudo a construção das ideias dos dois pensadores, 
destacando as visões e suas alterações ao longo do tempo. Ou seja, apontaremos algumas 
particularidades nos respectivos pensamentos, assim como as divergências conceituais e 
ideológicas e contextualizando cada qual historicamente. Ressaltamos aqui que não há 
como nesta breve introdução expor a totalidade de cada pensamento, mas que 
pontuaremos as bases necessárias e os principais conceitos que norteiam cada pensamento 
para que o leitor possa ter a facilidade para a compreensão de ambos. 
No atual momento histórico se faz necessário resgatar o pensamento Furtado e 
Marini, dois importantes nomes da Cepal e da teoria da dependência nesta discussão, 
sendo de notória relevância a releitura destes autores progressistas com o objetivo de 
pensar novos parâmetros para a modernização dos instrumentos teóricos a fim de 
dinamizar as políticas públicas macrorregionais. 
Na presente conjuntura velhos dilemas econômicos sociais representados pelo 
subdesenvolvimento econômico se apresentam sobre novo paradigma através da 
integração regional, a globalização propiciou a reestruturação produtiva em escala global 
o que teve como uma das consequências o aumento da concorrência comercial entre as 
nações, que acarretou o aumento das desigualdades sociais entre os países 
subdesenvolvidos. 
 5 
O aceleramento deste processo e a expansão da industrialização a nível mundial 
proporcionaram a ampliação das inversões nos países periféricos, estas nações por sua 
vez encontraram dificuldades devido à pouca dilatação dos mercados locais, está 
dificuldade causou entrave à expansão econômica destes países. Neste sentido para 
Furtado, nas obras em que discute a globalização, sugere que a integração econômica 
pode ser uma estratégia para enfrentar as desvantagens dos países periféricos frente à 
ascensão da globalização. 
Furtado ainda reitera que a integração pode ser uma via para fomentar o 
desenvolvimento econômico das nações periféricas, enxergando com positividade 
projetos visando à união econômica e política entre estes países. Vislumbrando nesta 
perspectiva um mecanismo para emancipação política e econômica dos povos dos países 
subdesenvolvidos, salientando que isto deve ser, todavia, feito com planejamento 
adequado às realidades econômicas das distintas nações. 
Um dos principais fatores responsáveis pela baixa de eficácia dos 
investimentos em grande número de países subdesenvolvidos é, 
reconhecidamente, a insuficiência das dimensões dos mercados locais. 
Na medida que os investimentos industriais se diversificam, o problema 
se agrava. [...] o avanço da tecnologia assume de maneira geral a forma 
de aumento das dimensões mínimas econômicas das unidades de 
produção. É, portanto, natural que se tenha pensado em contornar esse 
obstáculo mediante formas diversas de integração de economias 
nacionais. (FURTADO, 1983, p. 231)3 . 
O processo de integração econômica dentro do sistema no capitalista mundial sob 
a perspectiva de Marini significa o aprofundamento das desigualdades para os países da 
periferia em benefício dos grandes centros econômicos, sobretudo, do centro financeiro 
e econômico mundial os Estados Unidos o que por sua vez terá como consequência o 
aumento da influência política estadunidense pelo mundo para assegurar a defesa dos seus 
interesses econômicos. Na visão deste a expansão econômica do capitalismo mundial se 
acentuou com o processo monopolístico com tendências integracionistas que se expressou 
com o aumento das exportações de capitais. Os demais países industrializados foram 
submetidos a penetração de inversões norte-americanas, se tornando centros de 
exportadores de capital. 
La lógica capitalista, que subordina la inversión a la expectativa de 
beneficio, lleva esos capitales a las regiones y sectores que parecen más 
prometedoras. La consecuencia es, a través de la repatriación de 
 
3 Estou trabalhando com a edição de 1985, mas a primeira edição é de 1967 
 6 
capitales um aumento del execedente, [...]. Se amplían así 
incessantemente las fronteras econômicas norteamericanas, 
intensificándose el amalgamiento de intreses em los países en ellas 
contenidos y se vuelve cada vez más necessário que, bajo distintas 
maneras, el gobierno de Washintgon extienda más allá de los limites 
territoriales la protección que dispensa a su nacionales. 
[....] la expansion del capitalismo mundial y la acentuación del processo 
monopolístico mantivueron constante la tendência integracionista, que 
se expressa hoy, de manera más evidente, em la intensificación de la 
exportación de capitales. [...]. 
Los demás países industrializados, quienes sometidos a la penetración 
de las inversiones norteamericanas, se volvieron em centros de la 
exportación de capitales [...] (MARINI, 1966, não paginado). 
 
Furtado destoa de Marini sendo otimista com as vantagens econômicas que 
poderiam ser obtidas com o desenvolvimento de um projeto que macroeconômico 
envolvendo um conjunto de países subdesenvolvidos, pois com a melhoria da 
infraestrutura, redução dos custos e os ganhos de escala que serem obtidos pelas empresas 
através da integração econômica, também levariam estes benefícios ao conjunto da 
população, 
As economias externas criadas pela aglomeração [...] podem realizar-
se em benefícios da empresa, em cujo caso acarretam redução dos 
custos. Outras vezes elas revertem diretamente em benefício da 
coletividade, não sendo visíveis nos custos industriais. [...] a criação de 
uma infraestrutura de serviços de transportes, de energia, de serviços 
bancários, de meios de comunicação e informação [...] (FURTADO, 
1983, p. 232). 
Segundo Marini (1972), a exportação de capitais dos grandes centros capitalistas 
para os países da periferia terá como consequência a expansão industrial acirrando as lutas 
de classes e aumentando as contradições internas do sistema capitalista. Neste processo 
países com importante relevância regional, atuam como subcentros irradiadores do 
imperialismo, servindo de entrepostos políticos e econômicos entre as grandes potencias 
e os demais países da periferia, este imperialismo amplia as desigualdades sociais entre 
os países latino americanos. A solução para Marini está na irradiação do processo 
revolucionário através dos países latino-americanos, na união das massas latino-
americanas frente as suas respectivas burguesias nacionais. 
Para Marini (1966) o processo revolucionário não pode se restringir a um só país, 
mas, deve ser continental o que, por sua vez, teria como consequência a própria integração 
latino-americana. O processo revolucionário se confunde com a própria integração. 
 7 
Enquanto na sua interpretação a integração no capitalismo induziria a forma de 
subimperialismo. 
[...] las relaciones entre los países industrializados que el processo de 
integración imperialista alienta su própria negación. [...] 
principalmente, al nível de las relaciones entre esos países y los pueblos 
colonizados, [...] . La exportación de capitales em dirección a essas 
naciones impulsa, [..] el desarrollo de su sector industrial, 
contribuyendo a crear nuevas situaciones de conflito, desde dos puntos 
de vista –internoy externo- y a propiciar una crisis que altera las 
condicones em que se procesa esa industrialización 
[...] la industrialización se traduce, em um país rezagado, en la 
agudizacíon de contradicciones de vários tipos: entre los grupos 
industriales y los latifundiários-exportadores; entre la indústria y la 
agricultura de mercado interno; entre los grandes proprietários ruralesy 
el campesinato; y entre los grupos empresariales y la classe obrera, [...] 
[...] una expansión imperialista de Brasil en Latinoamérica, que 
corresponde [...] a um subimperialismo o la extensión del imperialismo 
norteamericano [..] Es en la perspectiva de esa integración econômica 
e militar de Latinoamérica, comandada por el imperialismo 
norteamericano apoyada en el Brasil, que se há de considerar la 
evolución ulterior de la política interamericana. 
[...] La conjunción de los movimientos populares de Brasil y los demás 
países latino-americanos, es decir la internalición de la revolución 
lationamericana, es, pues, la contrapartida del proceso de integración 
imperialista, [...] (MARINI, 1966, não paginado). 
 
Marini (1972), salienta que a integração econômica dentro do capital tem uma 
propensão ao imperialismo sendo controlada pelos centros econômicos em benefício da 
manutenção sistema econômico e apoiando a reprodução do capital bem como da 
concentração e centralização das forças políticas, econômicas e militares. 
 Segundo a sua percepção este fenômeno no capitalismo é em parte 
desdobramento das forças políticas-econômicas engendradas no centro do capitalismo 
que unifica as forças produtivas dos países latino-americanos, caracterizando-se por ser 
um movimento imperialista que representa a superexploração do trabalho, cuja lógica 
política é a dominação dos países periféricos mediante a repressão e a destruição dos 
movimentos populares de resistência, ao mesmo tempo que as contradições deste sistema 
político e macroeconômico tem como consequência inevitável irradiação da revolução 
latino-americana e sua própria ruína. 
La superexplotación del trabajo em que se funda el imperialismo, bajo 
cuyo signo se pretende integrar a los países de la región, estabelece una 
arritma entre evoulución de las fuerzas prouctivas y las relaciones de 
 8 
producción que no deja el pever sino el derrocamento del sistema en su 
conjunto, com todo lo que él representa en explotación, destrucción y 
degradación. [...] 
[...] el proceso de integración imperialista4 de los sistemas de 
producción en América Latina [...] se la represión que aqui se realice 
contra los movimientos revolucionários, más condiciones tenderá el 
imperialismo para prolongar su existencia a contracorriente de la 
historia. Inversamente, la generalización de la revolución 
latioamericana tiende a destruir los suportes pricipales que lo apoyan y 
su victoria representrá pra él el golpe de muerte. (MARINI, 1972, p. 
23). 
Essas diferenças marcantes entre os dois autores se mantiveram ao longo dos anos 
80. Contudo, indícios sugerem uma paulatina convergência entre Furtado e Marini a partir 
dos anos 90. As leituras acerca da obra de Marini mostram que com o decorrer dos anos 
o autor passou de uma postura absoluta divergência em relação ao pensamento de Furtado 
para uma aproximação deste. Conforme demonstra o trecho a seguir, o pensamento do 
autor enfatiza a importância crescente da América Latina integrada e solidária a partir do 
novo contexto político dos anos 90, que se expressam por meio da reconfiguração 
política-econômica global decorrente do processo financeirização. 
Llegamos así nuestra terceira cuestíon, que se refere a la possiblidade 
de existência de una América Latina integrada e solidaria ante los 
campos de fuerzas que configura el nuevo orden mundial. No nos 
preocupa sólo la emergência de grandes bloques económicos em 
Europa, em América del Norte, em Asia. Nos preocupan sobre todo las 
tedencias a la transformación del orden estatal, que presentes a nível 
mundial, que presentes a nível mundial, pueden balcanizar 
definitivamente a la región, si ella no las encauza hacia uma integración 
superior. (MARINI, 1991, não paginado). 
As formulações de Marini apresentam uma nova etapa de desenvolvimento 
histórico nos anos 90. A análise de o fragmento a seguir também corrobora para a hipótese 
de uma aproximação entre ambos os autores. Para Marini o Mercosul assume grande 
relevância como um bloco político e econômico que se contrapõe cuja proposta busca ser 
uma alternativa a uma política direta de colaboração com os centros hegemônicos. Além 
de ressaltar a importância de assume os projetos regionais desenvolvidos pelos países da 
América central, citando, as inciativas da Caricon e do Pacto Andino. 
[...] o Mercosul assume importância crescente no plano latino-
americano, contrapondo-se a política entendimento direto com os 
 
4 Na Teoria da Dependência existe a Integração Superior que é meio a que todas nações dependentes são 
dominadas economicamente pelo alto, este conceito de integração difere da Integração por blocos 
econômicos. 
 9 
grandes centros que desenvolvem o Chile e o México tendo levado, 
no caso deste último a um processo que deve terminar com a 
assinatura de um acordo de livre-comércio com o bloco constituído 
pelos Estados unidos e Canadá. A Venezuela, por sua vez, caminha 
no sentido de uma maior integração com os países centro-
americanos, aos quais propôs já a formação de uma zona de livre 
comercio, que se constituirá, sem dúvida , em ponto de atração para 
a comunidade caribenha ( Caricon), além de buscar a revitalização 
do pacto andino e aproximação com Mercosul. [...]. (MARINI, 
1992, p. 143). 
Como a analise anterior indicou com o decorrer dos anos Marini muda de posição, 
se antes, o imperativo para a integração latino-americana é a realização do processo 
revolucionário, agora a mesma pode se realizar dentro dos limites do capitalismo. Se 
antes a integração era enxergada apenas como aprofundamento das contradições do 
sistema capitalista, agora Marini faz uma releitura ao considerar que mesmo no 
capitalismo a integração pode se dar de diversas formas, em outras palavras, se a mesma 
for pensada a partir dos próprios países dependes como forma de se contrapor ao crescente 
assédio econômico e aos projetos de integração econômica que se realizam a partir dos 
centros hegemônicos. Embora é preciso ressaltar que em nenhum momento Marini 
abandona a premissa revolucionária e de suplantação do sistema capitalista, mesmo 
quando considera viável determinado modelo de integração entre os países latinos- a 
americanos no âmbito do capitalismo. 
Conclusão 
Enfim a análise preliminar realizada indicou que o pensamento de Marini evoluiu 
para uma posição mais favorável no que concerne à integração regional. Evidente que 
tem que se considerar o fato da pesquisa estar ainda em andamento. Todavia ressalta-se 
que em diversos fragmentos analisados da obra de ambos os autores, como demostramos 
ao longo do texto, Marini muda sua posição, convergindo com a de Furtado. Também é 
importante salientar que Marini considera que o processo de integração ao ser realizado 
no âmbito do capitalismo entre os países, deve envolver, os partidos políticos, os 
movimentos sociais, as organizações sindicais tendo a maior participação popular 
possível, ao destacar a importância da sociedade para que a integração não seja uma mera 
integração entre mercados, mas antes de tudo um projeto político que abarque o conjunto 
da sociedade. Além disso deve se ressalvar que apesar de considerar possível a integração 
dentro dos marcos do capitalismo, em nenhum momento o autor exclui a suplantação 
 10 
deste sistema, pelo contrário a revolução continua sendo o caminho para suplantação das 
contradições existentes na sociedade burguesa. 
Referências 
FURTADO,C. Teoria e política do desenvolvimento econômico. São Paulo: Abril 
Cultural, 1983. 
 
MARINI, M. R. Subdesarrollo y Revolución. 4.ed. México: Litoarte, 1972. 
 
MARINI, R. M. América Latina: dependência e integração. São Paulo: Brasil Urgente, 
1992. 
 
MARINI, R. M. La “interdependencia” brasileña y la integración imperialista. Monthy 
Review: selecciones en castellano, Buenos Aires, v. 3, n. 30, mar. 1966. Disponível 
em: < http://www.marini-escritos.unam.mx/357_brasil_integracion_imperialista.html>. 
Acesso em: 12 abr. 2017. 
 
MARINI, R. M. Acerca del Estado en América Latina. Archivo de Ruy Mauro 
Marini, com la anotación “ Intervenção no Congresso de Alas, Havana, 1991. Versão 
definitiva, publicada en Memoria del Congreso, N. Sociedad” Tambíen, aparece en el 
archivo como “Tres observaciones sobre el Estado em América Latina”. Disponível em: 
<http://www.marini-escritos.unam.mx/070_estado_america_latina.html>. Acesso em: 
12 abr. 2017.

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