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1 SEMIOLOGIA DO SISTEMA NERVOSO E LOCOMOTOR Profa. Ms. Giovanna Sarri Silva RESUMO Sistema Nervoso O sistema nervoso é dividido em central e periférico. O sistema nervoso central (SNC) é subdividido em encéfalo e medula espinhal. E o periférico em nervos cranianos (12 pares) e espinhais (36 pares) e gânglios e terminações nervosas. A medula espinhal está situada dentro do canal vertebral e é dividida em regiões: cervical (das vértebras C1-C5), cervicotorácica (C6-T2) corresponde ao plexo braquial, toracolombar (T3-L3), lombossacral (L4-S2) que é a região de plexo lombossacral e sacrococcígea (S3 até o último segmento vertebral). A medula não possui calibre uniforme, apresenta duas dilatações denominadas intumescências, sendo uma a cervical e a outra a lombar. Correspondem a áreas de conexão da medula com grossas raízes nervosas, que formam os plexos braquial e lombossacro, destinados a inervar membros torácicos e pélvicos. As meninges são três membranas conjuntivas que recobrem o sistema nervoso. A dura-máter é a mais superficial e a pia-máter a mais interna, essa última dá resistência aos órgãos nervosos. A aracnoide e a pia-máter são separadas pelo espaço subaracnoide, que contém o líquido cefalorraquidiano (liquor). O espaço epidural separa a dura- máter do periósteo. O espaço subdural é entre a dura-máter e aracnoide. O líquido cefalorraquidiano é um fluido aquoso e incolor, que ocupa o espaço subaracnoide e as cavidades ventriculares, sua função primordial é conferir proteção mecânica ao SNC, também confere proteção biológica contra agentes infecciosos e participa da regulação da pressão intracraniana. O sistema nervoso periférico possui neurônios sensitivos e efetores. A associação entre neurônios sensitivos e motores permite a realização de arco- reflexos, que é uma resposta básica após realização de um estímulo, gera resposta motora involuntária. O neurônio sensitivo irá captar informação e conduzi-la até a medula, depois fará a conexão com um interneurônio que será 2 responsável pela transmissão desta informação para um neurônio motor, o qual, por sua vez, efetuará estimulação de um músculo. O neurônio motor é dividido em superior e inferior. O axônio do neurônio motor superior (NMS) termina em interneurônios que fazem sinapse com o neurônio motor inferior, é responsável pelo início dos movimentos voluntários e manutenção do tônus muscular. O neurônio motor inferior (NMI) é um neurônio eferente que liga o SNC ao órgão efetor (músculo ou glândula). Seus axônios deixam a medula através de raízes nervosas ventrais, em dois pontos, no plexo braquial e no lombossacro. O NMS exerce modulação sobre o NMI. Quando o NMS é lesado, ocorre aumento do tônus e dos reflexos, demonstrando hiperatividade do NMI. Também pode ocorrer paresia ou paralisia, já que as informações geradas nos núcleos motores não chegam aos músculos. As paresias normalmente são espásticas e com hiperreflexia. Quando o NMI é lesado, ocorre paresia ou paralisia com diminuição ou ausência dos reflexos e diminuição do tônus muscular, isso ocorre porque as informações elétricas não estão sendo encaminhadas. A resenha é importante, pois certas doenças apresentam predisposição racial, a idade também pode estar relacionada a malformações congênitas (animais jovens) ou a processos neoplásicos (animais mais velhos). É preciso investigar como ocorreu o início da doença, se foi súbito (relacionado com traumatismos, intoxicações e acidente vascular cerebral) ou crônico, cujos sinais se desenvolvem em meses ou anos (associado com distúrbios nutricionais, doenças degenerativas e neoplasias). Perguntar ao tutor sobre os antecedentes: se houve queda, atropelamento, exposição a substâncias tóxicas; se houve alteração de comportamento ou ocorrência de convulsões. As vezes o quadro neurológico é secundário, como nos casos de encefalopatia hepática, urêmica, infecções da orelha média, doenças infecciosas (cinomose, toxoplasmose). As convulsões são um importante distúrbio do sistema nervoso. São desencadeadas por uma descarga elétrica neuronal anormal e excessiva, há presença de movimentos motores e fenômenos viscerais, sensoriais e psíquicos. Podem ser generalizadas (descarga difusa pelo córtex) ou focais (originam-se de uma área focal no córtex). É dividida em fases: prodrômica (período que antecede a crise, é marcado por nervosismo e ansiedade, dura minutos a dias), aura (início da convulsão), icto (é a convulsão propriamente dita, onde há perda 3 da consciência, queda do animal, convulsões tônico-clônicas, movimentos de pedalar, relaxamento de esfíncteres, salivação excessiva e movimentos mastigatórios) e pós-icto (marcado por exaustão, temor, cegueira transitória e desorientação. A frequência das crises convulsivas irá determinar se o tratamento deve ser instituído. A seguir, serão descritos os parâmetros a serem avaliados no exame neurológico. O nível de consciência é avaliado pela resposta do animal a estímulos externos (classificado em alerta, depressão, estupor e coma). Deve- se observar postura e locomoção, determinar se há head tilt (cabeça inclinada para o lado), capacidade de se manter em estação, ataxia. Os nervos cranianos devem ser testados bilateralmente, verificando a existência de assimetrias. 1º. par - Olfatório: avaliado observando o animal farejando o local. 2°. par - Óptico: observar se o animal consegue acompanhar um chumaço de algodão caindo, fazer reflexo da ameaça em ambos olhos (o animal deve responder piscando). Testar reflexo pupilar a luz (no outro olho deve ocorrer reflexo consensual). Avaliar se o animal consegue desviar de obstáculos no consultório. 3°. par- Oculomotor, 4°. par - Troclear e 6°. par – Abducente: são testados avaliando o posicionamento e mobilidade do globo ocular. Lesões nesses nervos pode causar estrabismo. 5°. par-Trigêmio: avalia-se usando uma pinça, estimulando a parte interior de pavilhão auditivo, canto medial do olho, canto do lábio, outros locais da face, após estimuladas, essas regiões devem se mover. Lesão na sua parte motora leva a atrofia dos músculos mastigatórios, diminuição do tônus mandibular e incapacidade de fechar a boca e apreender alimentos. 7°. par - Facial: avaliado por meio da observação da simetria facial e do reflexo palpebral. 8°. par - Vestibulococlear: a audição pode ser testada de forma grosseira batendo palmas e assoviando, observar presença de nistagmo e ataxia. Nos distúrbios vestibulares há diminuição do tônus extensor do lado afetado e aumento do lado oposto, portanto o animal se inclina para o lado da lesão, há desorientação, podendo apresentar um rolar contínuo. 4 9°. par- Glossofaríngeo: responsável pela deglutição, pode ser testado pela compressão externa da faringe, envolvido com o reflexo do vômito. Lesões nesse nervo causam ausência de reflexo de vômito, diminuição do tônus faringeano, disfagia e regurgitação. 10°. par - Vago: é testado conjuntamente com o glossofaríngeo. 11°. par - Acessório: não há uma maneira de testar. Lesões podem causar atrofia da musculatura do pescoço. 12°. par - Hipoglosso: observar o animal usar a língua e ver se há algum desvio. Através das reações posturais o animal é avaliado pela sua capacidade de corrigir a alteração de postura. A seguir são descritos os principais testes realizados: Propriocepção consciente: avalia a habilidade do sistema aferente em reconhecer uma posição alterada e a capacidade do sistema eferente em retornar o membro a posição normal. A extremidade do membro é fletida, de modo que a sua superfície dorsal toque a mesa. Um animal normal reposiciona o membro rapidamente. Hemiestação: os membros de um lado do corpo são erguidos do chão, e o paciente é forçado a se manter parado sobre os dois membros. Hemilocomoção:como os dois membros de um lado do corpo suspensos, o animal tenta caminhar com os outros. O animal normalmente não apresenta dificuldade nesses testes. Animal com lesões neurológicas podem apresentar incapacidade em sustentar o peso do corpo, apresentar tropeços (cerebelo), hipermetria (cerebelo), queda (sistema vestibular) ou respostas lentas (cerebelo). Saltitamento: o clínico eleva três membros e deixa um apoiado, fazendo o animal saltar em um membro só, em várias direções. Carrinho de mão: segura-se o animal pelo abdômen, de modo que ele não apoie os membros pélvicos no chão, sendo forçado a caminhar com os torácicos. 5 Colocação tátil: o animal é suspenso no ar, é movido em direção a uma borda de superfície horizontal (uma mesa por exemplo), deve conseguir colocar as patas sobre a mesa. Colocação visual: deve conseguir executar a mesma ação, mas agora vendado, para eliminar a compensação visual. Propulsão extensora: o animal é suspenso pelo tórax e abaixado até os membros pélvicos tocarem o solo, deve haver contração dos músculos extensores, para suportar o peso. Os reflexos medulares são testados para determinar se a lesão está localizada em NMS ou NMI, são chamados de reflexos miotáticos. Reflexos miotáticos dos membros torácicos são difíceis de se obter, por isso não são muito realizados. Abaixo são descritos cada um deles: Biceptal: bate-se com o martelo entre o dedo e a região do tendão de inserção do bíceps; Triciptal: bate-se com o martelo entre o dedo e a região do tendão de inserção do tríceps; Extensor carporradial: bate-se com o martelo sobre o músculo extensor radial do carpo, logo abaixo do cotovelo. Reflexos miotáticos dos membros pélvicos: Reflexo patelar: bate-se com o martelo sobre o ligamento patelar, é o reflexo mais fácil de testar. Se hiper-reativo há lesão em NMS. Diminuído ou ausente há lesões em segmentos medulares L4 e L5. Reflexo gastrocêmio: bate-se em cima do músculo gastrocnêmio; Reflexo tibialcranial: bate-se sobre músculo tibialcranial. Outros reflexos testados são: Reflexo flexor ou de retirada: com uma pinça hemostática comprime-se o espaço interdigital. O normal é a retirada do membro. A presença desse reflexo indica que as raízes nervosas dos membros torácicos e pélvicos estão normais. Não indica que o animal sentiu conscientemente o beliscão. 6 Reflexo de dor profunda: feito pinçando um dígito, onde o estímulo doloroso é aumentado, e então observa-se a reação comportamental, como choro, tentativa de morder ou arranhar. Quando há perda da dor profunda, isso lesão em porção sensitiva dos nervos periféricos ou dos segmentos medulares do plexo braquial e lombossacro. Reflexo perineal: estimula-se essa região com uma pinça. Reflete a integridade de medula sacral. Reflexo cutâneo ou panículo: avalia integridade da inervação subcutânea. É realizado estímulo da pele na linha dorsal do tronco, com uma pinça hemostática, da região lombossacra até a vértebra T2. A resposta normal é contração reflexa da musculatura. Pode haver resposta exagerada a nível da lesão ou um pouco a cima. Na lesão medular há ausência de resposta caudalmente ao local do estímulo e resposta normal acima da lesão. Os principais exames complementares para avaliação do sistema nervoso são colheita de liquor, mielografia, tomografia e ressonância magnética. Sistema Locomotor O sistema locomotor é composto pelos músculos, nervos, tendões e ligamentos, ossos e articulações. Tem função de movimento e sustentação do corpo. Durante o exame ortopédico avaliar se há alterações de postura e marcha. É importante diferenciar claudicação de impotência funcional. A claudicação é o apoio parcial e cuidadoso do membro. Deve-se verificar evolução (aguda é associada a contusões musculares, processos inflamatórios tendíneos ou ligamentosos; ou intermitente/crônico, nesse caso suspeitar de problemas articulares). A impotência funcional é indicativa de processo doloroso intenso e se caracteriza pela incapacidade de apoio de um ou mais membros. É a apresentação mais comum nos casos de fratura, luxação, entorse, neoplasia óssea e de doença articular degenerativa. Quando se manifesta em mais membros, investigar doença do disco intervertebral, processo tóxicos ou infecciosos (como botulismo) e doenças como miastenia grave. 7 Na inspeção observar presença de feridas e hematomas, que podem indicar mordedura ou atropelamento. Onicogrifose em algum membro pode indicar que o animal está “poupando” esse membro. Marcha tipo “bamboleio” é comum nos casos de dor articular coxofemoral. A palpação deve ser feita no exame ortopédico, cuja principal finalidade é auxiliar na localização da dor, avaliação de inchaços, mobilidade óssea e instabilidade articular. Sempre importante realizar exame físico do membro contralateral. Deve ser realizada de preferência sem sedação ou anestesia, pois pode mascarar a manifestação de dor e dificultar a localização exata da lesão. Observar região palmar e plantar, palpar dígitos, palpar proeminências ósseas e ossos longos. Nos segmentos toracolombares deve-se palpar o processo espinhoso de cada vértebra. A coluna cervical é avaliada através de extensão, flexão, lateralização. As articulações devem ser avaliadas explorando o movimento (flexão e extensão). Na articulação umeroradioulnar (cotovelo) é preciso investigar displasia de cotovelo (em que ocorre fragmentação do processo coronoide medial da ulna), e também ocorrência de não união do processo ancôneo da ulna, palpação logo acima do olécrano revela dor, escápulo-umeral. O joelho é a articulação onde podemos realizar alguns exames específicos. Para avaliar a luxação de patela, o examinador deve segurar com uma das mãos na extremidade do membro (próximo ao tornozelo) e com a outra abraçar o fêmur distalmente, fazendo flexão e extensão da articulação do joelho. Ao fazer uma rotação interna e externa da extremidade do membro e com uma leve compressão da patela medialmente e lateralmente, é possível observar se há algum grau de luxação. O Teste de gaveta destina-se a diagnosticar instabilidade (distensão ou ruptura) dos ligamentos cruzados cranial e caudal. No teste uma das mãos do examinador é posicionada lateralmente ao fêmur e a outra sobre a tíbia, são realizados movimentos antero-posteriores da tíbia em relação ao fêmur, se houver deslocamento cranial (há alteração no ligamento cruzado cranial, se ocorre no sentido posterior há anormalidade no ligamento cruzado caudal. Além do exame clínico, exames de imagem são de fundamental importância na investigação de problemas ortopédicos.
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