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0 UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ FACULDADE DE MEDICINA DEPARTAMENTO DE FISIOLOGIA E FARMACOLOGIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM FARMACOLOGIA LAURA LICIA MARCOS DA COSTA TOXICIDADE ORAL AGUDA E AVALIAÇÃO DOS EFEITOS PRESSÓRICOS E RENAIS CAUSADOS PELA QUINONA ONCOCALIXONA A ISOLADA DA Auxemma oncocalyx. FORTALEZA 2016 1 LAURA LICIA MARCOS DA COSTA TOXICIDADE ORAL AGUDA E AVALIAÇÃO DOS EFEITOS PRESSÓRICOS E RENAIS CAUSADOS PELA QUINONA ONCOCALIXONA A ISOLADA DA Auxemma oncocalyx Dissertação apresentada à Coordenação do Programa de Pós-Graduação em Farmacologia do Departamento de Fisiologia e Farmacologia da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Ceará, como requisito parcial para a obtenção do título de mestre em Farmacologia. Orientadora: Prof. Drª. Helena Serra Azul Monteiro Co-orientadora: Prof. Drª. Renata de Sousa Alves Dados Internacionais de Catalogação na Publicação Universidade Federal do Ceará Biblioteca Universitária Gerada automaticamente pelo módulo Catalog, mediante os dados fornecidos pelo(a) autor(a) C873t Costa, Laura Lícia Marcos da. Toxicidade oral aguda e avaliação dos efeitos pressóricos e renais causados pela quinona oncocalixona A isolada da Auxemma oncocalyx / Laura Lícia Marcos da Costa. – 2016. 72 f. : il. color. Dissertação (mestrado) – Universidade Federal do Ceará, Faculdade de Medicina, Programa de Pós- Graduação em Farmacologia, Fortaleza, 2016. Orientação: Profa. Dra. Helena Serra Azul Monteiro. Coorientação: Profa. Dra. Renata de Sousa Alves. 1. Oncocalixona A. 2. Auxemma oncocalyx. 3. Toxicidade aguda. 4. Pressão arterial. 5. Perfusão renal. I. Título. CDD 615.1 2 LAURA LICIA MARCOS DA COSTA TOXICIDADE ORAL AGUDA E AVALIAÇÃO DOS EFEITOS PRESSÓRICOS E RENAIS CAUSADOS PELA QUINONA ONCOCALIXONA A ISOLADA DA Auxemma oncocalyx Dissertação apresentada à Coordenação do Programa de Pós-Graduação em Farmacologia do Departamento de Fisiologia e Farmacologia da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Ceará, como requisito parcial para a obtenção do título de mestre em Farmacologia. Área de concentração: Farmacologia. Orientadora: Prof. Drª. Helena Serra Azul Monteiro Co-orientadora: Prof. Drª. Renata de Sousa Alves Aprovada em: ____/____/____ BANCA EXAMINADORA ________________________________________________ Prof.ª Dr.ª Helena Serra Azul Monteiro (Orientadora) Universidade Federal do Ceará (UFC) ________________________________________________ Prof.ª Dr.ª Renata de Sousa Alves (Co-orientadora) Universidade Federal do Ceará (UFC) ________________________________________________ Prof.ª Dr.ª Daniele Macêdo Gaspar Universidade Federal do Ceará (UFC) ________________________________________________ Prof.ª Dr.ª Alice Maria Costa Martins Universidade Federal do Ceará (UFC) 3 AGRADECIMENTOS Aos meus pais, Liduina e Manoel, meu namorado Paulo, e aos meus familiares e demais amigos pelo apoio e incentivo nos momentos mais difíceis. À Prof.ª Dr.ª Helena Serra Azul Monteiro, pelo meu acolhimento como orientanda, por todos os conhecimentos compartilhados e confiança em mim depositada para a realização do projeto. À minha co-orientadora Prof.ª Dr.ª Renata de Sousa Alves, pelo grande apoio, desde a graduação, grande incentivadora para meu ingresso no mestrado, e pela contribuição direta em todos os momentos deste trabalho. À Prof.ª Dr.ª Otília Deusdênia Loiola Pessoa, que gentilmente cedeu a substância para realização do estudo e que muito colaborou no exame de qualificação com ideias e sugestões para aprimoramento da escrita deste trabalho. À Prof.ª Dr.ª Janaina Serra Azul Monteiro Evangelista, juntamente à equipe do seu laboratório, pela colaboração na realização do processamento histológico, leitura e interpretação das lâminas, bem como pela grande contribuição na avaliação do texto de qualificação. Aos professores integrantes da banca de defesa, Prof.ª Dr.ª Daniele Macêdo Gaspar e Prof.ª Dr.ª Alice Maria Costa Martins, por terem aceitado o convite de prontidão, bem como por todas as sugestões feitas para a melhoria do trabalho. A toda a equipe de professores, pós-graduandos, alunos de iniciação científica do LAFAVET-UFC e agregados, com especial agradecimento aos amigos Pedro, Adelvane, Natacha, Junior, Alejandra, João Alison, Rafinha, Sílvia Helena, Paloma, Dayana e Letícia, pela grande ajuda nos experimentos. À Universidade Federal do Ceará (UFC) e ao Programa de Pós-graduação em Farmacologia, pela oportunidade da realização do trabalho e pelo suporte prestado. 4 RESUMO Auxemma oncocalyx, da família Boraginaceae, é uma árvore característica do nordeste brasileiro conhecida popularmente como "pau branco". A investigação química do extrato hidroalcóolico do caule da planta permitiu o isolamento de várias quinonas, dentre elas a oncocalixona A (onco-A). Estudos farmacológicos para esta quinona apontaram atividade antitumoral, antimitótica, analgésica, antiedematogênica, antiagregante plaquetária e antidiabética. Contudo, assim como outras substâncias oriundas do metabolismo secundário de plantas, as quinonas podem causar consideráveis reações tóxicas. A ausência de dados toxicológicos in vivo da substância e seu potencial para utilização clínica motivaram a execução deste trabalho, o qual objetivou investigar a toxicidade aguda in vivo da onco-A e avaliar os efeitos pressóricos e renais dessa quinona, como possíveis órgãos-alvo de toxicidade. Iniciou- se com o teste de dose limite estabelecido nos protocolos de nº 420, 423 e 425 da OECD, de toxicidade oral aguda, com a administração de onco-A 2000 mg/Kg v.o, em camundongos Swiss fêmeas, para determinação da DL50 e observação quanto a sinais de toxicidade por 14 dias. Dosagens dos níveis plasmáticos de ureia, creatinina e ácido úrico foram realizadas, bem como análise histológica dos principais órgãos (coração, pulmão e rim) após 14 dias. A avaliação dos efeitos da onco-A na pressão arterial média foi realizada em ratos Wistar machos normotensos anestesiados, submetidos a concentrações cumulativas da substância (30, 100, 300 e 1000 µg/Kg) i.v. Os níveis plasmáticos de ureia, creatinina, ácido úrico, TGO, TGP, fosfatase alcalina e CK-Total foram avaliados nesses animais, além da análise histológica de coração e rins. Para avaliação da função renal, ratos Wistar machos foram excisados cirurgicamente e perfundidos com solução de Krebs-Henseleit modificada, em três concentrações de onco-A (1, 3 e 10 µg/mL). Os dados foram comparados estatisticamente considerando p<0,05. A onco-A apresentou uma DL50>2000mg/Kg, indicando ser uma substância de baixa letalidade. A substância reduziu a pressão arterial média de forma significativa nas duas últimas concentrações (300 e 1000 µg/Kg). O tratamento com onco-A não alterou os parâmetros bioquímicos avaliados in vivo. Na perfusão de rim isolado, a onco-A aumentou a Pressão de Perfusão (PP) nas três concentrações estudadas, com aumento proporcional da Resistência Vascular Renal (RVR). O Ritmo de Filtração Glomerular (RFG) apresentou diminuição transitória com onco-A 1 µg/mL, aumento no grupo 3 µg/mL, e redução irreversível com 10 µg/mL. O Fluxo Urinário (FU) aumentou em todos os grupos estudados, ao passo que os percentuais de transporte tubular total de sódio (%TNa), cloreto (%TCl - ) e potássio (%TK + ) apresentaram-se reduzidos. A análise histológica dos órgãos coletadosnos protocolos realizados evidenciou significativa toxicidade da substância. Os resultados encontrados mostraram baixa letalidade da substância em uma exposição aguda, entretanto esta induziu alterações morfológicas indicativas de dano tecidual, redução da pressão arterial e alterações em todos os parâmetros funcionais renais, evidenciando o potencial tóxico desta quinona. Palavras-chaves: Oncocalixona A. Auxemma oncocalyx. Toxicidade aguda. Pressão arterial. Perfusão renal. ABSTRACT ACUTE ORAL TOXICITY AND EVALUATION OF BLOOD PRESSURE AND RENAL EFFECTS INDUCED BY ONCOCALYXONE A, QUINONE ISOLATED FROM Auxemma oncocalyx Auxemma oncocalyx belongs to the Boraginaceae family, which is a characteristic tree of the Brazil northeastern region and popularly known as "pau branco". The chemical investigation of hydroalcoholic heartwood extracts resulted in the isolation of several quinones, including oncocalyxone A (onco-A). Pharmacological studies of this quinone showed antitumor, antimitotic, analgesic, antiedematogenic, antiplatelet and antidiabetic activities. However, such as other substances from plant secondary metabolism, quinones can leads toxic reactions. The absence of in vivo toxicological data and the possibility of the clinical use led to execution of this study. This study aimed to investigate the acute toxicity in vivo of onco-A, blood pressure and renal effects of this quinone as potential target organ for toxicity. The experiments started with limit test, established in OECD guidelines nº 420, 423 and 425, from acute oral toxicity, when onco-A 2000 mg/Kg was administered by gavage in female Swiss mice to determine LD50 and signs of toxicity were observed for 14 days. Biochemical levels of urea, creatinine and uric acid were mensured, even as histological analysis of the main organs (heart, lung and kidney) after 14 days. Effects in mean arterial blood pressure was performed in anesthetized normotensive male Wistar rats, underwent to cumulative concentrations of the substance (30, 100, 300 and 1000 mg/ Kg) i.v. Plasma levels of urea, creatinine, uric acid , SGOT, SGPT, alkaline phosphatase and CK-Total were determined in these animals, even as heart and kidney histopathology. To assessment of renal fuction, kidneys from male Wistar rats were surgically excised and perfused with modified Krebs-Henseleit, in three onco-A concentrations (1, 3 and 10 ug / ml). Data were statistically compared considering P<0.05.Onco-A shown LD50> 2000mg / kg, indicating low lethality. The substance reduced mean arterial blood pressure significantly in the last two concentrations. Onco-A treatment didn't affectedthe biochemical parameters analysed in vivo experiments. Histopathological analysis showed significative signs of toxicity in all evaluated organs for each performed protocols. The isolated kidney perfusion showed an increase in perfusion pressure (PP) in all three onco-A concentrations tested (1, 3 and 10 μg / mL), with a proportional increase in renal vascular resistance (RVR). Glomerular Filtration Rate (GFR) showed a transitional decreased in the group 1 μg / mL, increased in 3 μg / mL, and persistent decrease in 10 μg / mL. Urinary Flow (FU) increased in three concentrations tested, while percentage of the total tubular transport of sodium (%TNA) chloride (%TCl - ) and potassium (%TK + ) showed reduction. The results demonstrate that onco-A has low lethality on acute exposure, however, promoted many morphological changes suggesting tecidual damage, hipotension, and modified all parameters assessed in renal perfusion, proving the toxicity potential of this quinone. Keywords: Oncocalyxone A. Auxemma oncocalyx. Acute toxicity. Blood pressure. Renal perfusion. 6 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS AINES Anti-inflamatórios não esteroidais ATC Acute Toxic Classic Method BALT Tecido Linfóide Associado a Mucosa BioPPQ Pirroloquinolina quinona CEPA Comissão de Ética e Pesquisa Animal CK-Total Creatina quinase toal DL50 Dose letal média E.P.M Erro Padrão da Média ECA Enzima Conversora de Angiotensina EROs Espécies Reativas de Oxigênio FDA Food and Drug Administration FDP Fixed Dose Procedure FU Fluxo Urinário GSH Glutationa reduzida HE Hematoxilina-Eosina IRA Insuficiência Renal Aguda IUPAC International Union of Pure and Applied Chemistry LACT Laboratório de análises clínicas e Toxicológicas LAFAVET Laboratório de Farmacologia de Venenos e Toxinas LAFIPLAM II Laboratório de Análise Fitoquímica de Plantas Medicinais II LRA Lesão Renal Aguda MEC Laboratório de Morfologia Experimental e Comparada MitoQ Mitoquinona Q OECD Organization for Economic Cooperation and Development Onco-A Oncocalixona A PP Pressão de Perfusão RFG Ritmo de Filtração Glomerular RVR Resistência Vascular Renal SNC Sistema Nervoso Central TEM Transição epitelial-mesenquimal TGO Transaminase glutâmico-oxalacética TGP Transaminase glutâmico-pirúvica 7 %T Percentual de Transporte Tubular Total UDP Up and Down Procedure UECE Universidade Estadual do Ceará UFC Universidade Federal do Ceará UV-Vis Espectroscopia no ultravioleta visível 8 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ............................................................................................... 10 1.1 Produtos naturais e estudos toxicológicos ....................................................... 10 1.2 Quinonas: classificação e propriedades químicas .......................................... 11 1.2.1 Potencial farmacológico/toxicológico das quinonas ......................................... 12 1.2.2 Oncocalixona A: 1,4-benzoquinona isolada do pau-branco ............................ 13 1.3 Estudos de Toxicidade Oral Aguda ................................................................ 15 1.4 Principais alterações biológicas induzidas por substâncias tóxicas ............... 17 1.4.1 Alterações pressóricas sistêmica ....................................................................... 17 1.4.2 Alterações na fisiologia renal ........................................................................... 19 2 JUSTIFICATIVA ............................................................................................. 22 3 OBJETIVOS ..................................................................................................... 23 3.1 Geral ................................................................................................................. 23 3.2 Específicos ......................................................................................................... 23 4 MATERIAIS E MÉTODOS ............................................................................ 24 4. 1 Substâncias utilizadas ....................................................................................... 24 4.1.1 Onco-A .............................................................................................................. 24 4.2 Animais experimentais ..................................................................................... 24 4.3 Desenho experimental ...................................................................................... 25 4.3.1 Toxicidade oral aguda - Teste da dose limite (2000mg/Kg) ............................... 25 4.3.1.1 Protocolo experimental ...................................................................................... 25 4.3.1.2 Dosagens bioquímicas ........................................................................................26 4.3.2 Efeitos na Pressão Arterial Média de ratos anestesiados ................................... 26 4.3.2.1 Técnica cirúrgica ................................................................................................ 26 4.3.2.2 Protocolo experimental ....................................................................................... 27 4.3.2.3 Dosagens bioquímicas ......................................................................................... 28 4.3.3 Perfusão de Rim Isolado..................................................................................... 28 4.3.3.1 Sistema utilizado e solução perfusora .................................................................. 28 4.3.3.2 Técnica cirúrgica ................................................................................................ 30 9 4.3.3.3 Protocolo experimental ....................................................................................... 31 4.3.3.4 Dosagens bioquímicas ......................................................................................... 32 4.3.3.5 Determinação dos parâmetros funcionais renais ................................................. 32 4.4 Análise histológica ............................................................................................. 34 4.5 Análise estatística .............................................................................................. 34 5 RESULTADOS ................................................................................................. 35 5.1 Toxicidade Oral Aguda da onco-A ................................................................... 35 5.1.1 Observações experimentais, acompanhamento do peso corporal dos animais e mensuração da DL50 ...................................................................................................... 35 5.1.2 Avaliação dos níveis séricos de ureia, creatinina e ácido úrico nos camundongos submetidos ao protocolo de Toxicidade Oral Aguda, após os 14 dias experimentais ................................................................................................................. 36 5.1.3 Análise histológica .............................................................................................. 38 5.1.3.1 Análise histológica do tecido renal (córtex e medula) .......................................... 38 5.1.3.2 Análise histológica do tecido pulmonar ............................................................... 39 5.1.3.3 Análise histológica do tecido cardíaco ................................................................ 40 5.2 Efeitos da onco-A na pressão arterial média de ratos normotensos anestesiados ................................................................................................................... 41 5.2.1 Avaliação dos níveis séricos de ureia, creatinina, ácido úrico, TGO, TGP, fosfatase alcalina e CK-total, após a realização do protocolo de pressão arterial média .............................................................................................................................. 42 5.2.2 Análise histológica.............................................................................................. 46 5.2.2.1 Análise histológica do tecido cardíaco ................................................................ 46 5.2.2.2 Análise histológica do tecido renal (córtex e medula) .......................................... 47 5.3 Efeitos da onco-A na perfusão de rim isolado de ratos ................................... 48 5.3.1 Análise histológica dos rins perfundidos com onco-A ........................................ 56 6 DISCUSSÃO .................................................................................................... 57 7 CONCLUSÃO .................................................................................................. 65 REFERÊNCIAS .............................................................................................. 66 10 1 INTRODUÇÃO 1.1 Produtos naturais e estudos toxicológicos Os produtos naturais tem sido considerado, ao longo dos tempos, uma importante fonte para o desenvolvimento de novos fármacos. Mesmo com as diversas estratégias e metodologias disponíveis atualmente para a síntese e descoberta de novas moléculas, a química de produtos naturais ainda representa uma área de sucesso, historicamente comprovada (VIEGAS JR et al., 2006). O Brasil, por um dos países com a maior biodiversidade do planeta, não pode abdicar de sua importância no desenvolvimento e pesquisa de novas substâncias isoladas ou sintetizadas a partir de produtos naturais (PINTO et al., 2002). Estima-se que 30% das novas substâncias a serem avaliadas por seu potencial terapêutico são de origem natural ou foram desenvolvidos por síntese química planejada a partir de produtos naturais. Neste contexto, cabe destacar plantas, fungos, insetos, organismos marinhos e bactérias como importantes fontes de substâncias biologicamente ativas (VEIGA-JUNIOR; MELO, 2008). Nesta perspectiva, a química dos produtos naturais tem ganhado grande notoriedade, e se associado à outras áreas da ciência para a descoberta e aplicabilidade desses compostos. Dentre as áreas de essencial interface se encontra a toxicologia, uma vez que, uma substância não se exime de efeitos tóxicos por ser de origem natural. Esse pressuposto tem sido amplamente considerado, principalmente quando se trata de substâncias com potencial terapêutico, na qual esta avaliação é realizada quanto a diferentes critérios, para categorização dos riscos de exposição (PUPO; GALLO; VIEIRA, 2007). A investigação quanto ao potencial tóxico de substâncias é realizada por meio de estudos de toxicidade, nos quais podem ser avaliados, dentre outros aspectos: a relação dose-efeito, estrutura química-efeito e os mecanismos envolvidos no estabelecimento e desenvolvimento destes efeitos. Esses estudos visam garantir segurança para terapêutica, o desenvolvimento de estratégias para redução de toxicidade, a exemplo do melhoramento molecular ou de formulação, bem como alternativas para tratamento e prevenção desses efeitos (LIMA et al., 2014). 11 1.2 Quinonas: classificação e propriedades químicas Quinonas são consideradas uma importante classe de produtos naturais, sendo encontradas abundantemente na natureza em plantas, fungos, bactérias e artrópodes. Esta classe química representa uma variada família de metabólitos secundários envolvidos em diversos processos químicos e biológicos, destacando-se como componentes fundamentais da cadeia de transporte de elétrons e na fotossíntese (MONKS et al., 1992; ABRAHAM et al., 2011). Os compostos desta classe se caracterizam estruturalmente pela presença de sub- estruturas redox acopladas a diversos sistemas cíclicos ou heterocíclicos e radicais substituintes. Sua classificação depende do tipo de anel quinônico, sendo designadas benzoquinonas, naftoquinonas, antraquinonas e fenantraquinonas (Figura 1). Figura 1 - Estrutura química principal do sistema aromático para classificação das quinonas. Fonte: SOUSA, 2012. A atividade biológica das quinonas podem ter influência de sua estrutura química, como do núcleo quinoide, dos seus substituintes e dos diferentes arranjos isoméricos (MONKS; JONES, 2002). As cadeias hidrofóbicas desses compostos permitem sua ligação a membranas celulares e proteínas, e suas estruturas de anéis conjugados precisam ser reduzidas para 12 se tornarem mais estáveis, funcionando como moléculas aceptoras de elétrons (MADEO; ZUBAIR; MARIANNE, 2013). A metabolização das quinonas é catalisada por enzimas redutases e realizadas na presença de oxigênio molecular, levando a formação de EROs,como o anion radical superóxido (O2), peróxido de hidrogênio (H2O2) e radical hidroxila (OH - ) (MADEO; ZUBAIR; MARIANNE, 2013). A produção de EROs pode causar dano celular por meio de reações de alquilação com lipídeos, proteínas e DNA. Os efeitos citotóxicos destas reações dependem do indutor químico, da suscetibilidade do tecido exposto e de outros fatores que influenciam a eletroquímica do ambiente (MADEO; ZUBAIR; MARIANNE, 2013). 1.2.1 Potencial farmacológico/toxicológico das quinonas A exposição humana a quinonas pode ocorrer através da dieta, do uso de medicamentos ou pela poluição atmosférica (MONKS; JONES, 2002). Há registros, desde a antiguidade, de utilização de plantas atualmente conhecidas por conter compostos quinônicos como corantes e na medicina popular (BAYEN, et al. 2007). Substâncias contidas em plantas como o rhubarb e aloe tem sido usadas como purgantes há mais de 4000 anos (BENTLEY; CAMPBELL, 1974). Ao longo da história, vários outros benefícios medicinais foram acrescidos a esta classe química, como propriedades antibiótica, antitumoral, antiparasitária, anticoagulante, dentre outras (ABRAHAM et al., 2011). Assim, o interesse na pesquisa em isolamento e síntese de novos compostos derivados de quinonas vem ganhando impacto científico, pelo seu considerável potencial biológico-toxicológico (YAMAGO; HASHIDUME; YOSHIDA, 2002). Dentre os fármacos com propriedades anticâncer, as quinonas representam uma das maiores classes de agentes antitumorais com fortes candidatos para uso clínico (ASCHE, 2005). Entretanto o grande inconveniente destes compostos, como a maioria dos quimioterápicos, está relacionado a citotoxicidade não ser direcionada apenas às células cancerígenas, o que limita o avanço de muitas pesquisas (COSTA-LOTUFO et al., 2002). Há ainda quinonas com efeito antioxidante. Um exemplo é a co-enzima Q10 e sua forma reduzida, o ubiquinol. Essa quinona é o único antioxidante lipídeo-solúvel sintetizado endogenamente, e atua inibindo a peroxidação lipídica (LITARRU; TIANO, 13 2007). Outras quinonas podem ainda apresentar comportamento dual: pro-oxidante em concentrações micromolares e anti-oxidante quando em doses sub-micromolares, como é o caso da MitoQ e plastoquinonas, as quais apresentam ação específica a nível mitocondrial (SKULACHEV et al., 2009). Em suma, os compostos dessa classe podem ser tóxicos ou protetores em diferentes sistemas biológicos. onde vários fatores devem ser considerados em relação a sua bioatividade, tendo apenas começado a serem explorados (MADATHIL et al., 2012). 1.2.2 Oncocalixona A: 1,4-benzoquinona isolada do pau-branco A Auxemma oncocalyx TAUB. pertencente a família Boraginaceae. Conhecida popularmente como pau branco, a árvore é característica da Caatinga, no nordeste brasileiro, onde apresenta distribuição mais expressiva no estado do Ceará. A madeira é comumente usada para fins de construção, devido à sua alta resistência à decomposição. A casca do caule da árvore tem efeito adstringente e utilizada na medicina popular para o tratamento de cortes e feridas, sendo esta atividade atribuída a alantoína presente em quantidades significativas nas cascas da planta (BRAGA, 2001). Figura 2- A. oncocalyx (Pau-branco). Fonte: BARRETO et al., 2013. 14 A investigação química dos extratos do cerne do caule de A. oncocalyx resultou no isolamento de várias quinonas (PESSOA et al., 1993; 1995), sendo o primeiro componente isolado do extrato etanólico denominado oncocalixona A [rel-8α-Hidroxi- 5-hidroximetil-2-metoxi-8αβ-metil-7, 8, 8, 9-tetrahidro-1,4-antracenadiona], evidenciado na Figura 3. Esta trata-se de um sólido amorfo de coloração vermelho- escuro, responsável pela cor do cerne do caule da planta, tendo sido obtida em quantidades significativas (PESSOA et al., 1995). Figura 3 - Estrutura química da onco-A. Fonte: COSTA et al., 2008. A onco-A é uma 1,4-benzoquinona conjugada a uma dienona e seu anel α,β- bisdienônico a confere propriedade oxirredutora (MALTA, 2000). Esta propriedade a possibilita funcionar como um aceptor nucleofílico de proteínas, se ligando a grupamentos tióis protéicos, conforme evidenciado em experimentos de reação com a N-acetilcisteína, bem como levar a produção de espécies reativas de oxigênio, a conferindo propriedade pró-oxidante (COSTA et al., 2012). Os efeitos biológicos desta quinona tem sido extensivamente estudados, sendo descritas atividades antiedematogênica e analgésica (FERREIRA et al., 2004), antidiabética (SIVAGNANAM; KALAIVANAN; RAJAMANICKAM, 2013) e antiagregante plaquetária (FERREIRA et al., 2008). Os principais estudos desta substância se destacam na área da oncologia, por esta apresentar atividade antiproliferativa em linhagens de células tumorais (LEYVA et al., 2000), no qual a atividade citotóxica está relacionada a dano direto ao DNA e morte celular por apoptose (SBARDELOTTO, 2013). Costa-Lotufo et al. (2002) em um estudo de alterações no desenvolvimento do ouriço do mar, um modelo para detecção de citotoxicidade, teratogenicidade e atividade 15 antineoplásica de novos compostos, encontrou alta toxicidade da onco-A relacionada a sua atividade antimitótica. 1.3 Estudos de Toxicidade Oral Aguda Vários são os fatores que podem influenciar no desenvolvimento de toxicidade por exposição a uma substância. Alguns aspectos dependem do sistema biológico, como idade, peso corpóreo, gênero, genética, estados nutricionais e patológicos são fatores decisivos para a intensidade e manifestação dos sinais tóxicos. Outros fatores estão relacionados a concentração, potência, estado de dispersão das partículas na formulação, e principalmente à frequência da exposição e via de administração. Também exercem influência no grau de toxicidade de substâncias, características de solubilidade nos fluídos orgânicos, afinidade e sensibilidade do tecido ou órgão (MACEDO, 2012). No que se refere à frequência de exposição ao agente tóxico, os estudos de toxicidade podem ser classificados em agudo, sub-agudo, sub-crônico e crônico(PARASURAMAN, 2011). Estudos de toxicidade aguda avaliam uma única exposição a uma substância e o aparecimento de alterações biológicas de forma imediata, em até 14 dias após a exposição (PARASURAMAN, 2011). Para exposições repetidas à uma substância, utilizam-se os estudos de toxicidade sub-aguda e sub-crônica, com duração média de até 28 dias e 90 dias, respectivamente (PARASURAMAN, 2011). Quanto a toxicidade crônica, o aparecimento de efeitos tóxicos ocorrem após um longo período de tempo de exposição à substância. Para tanto, os estudos experimentais de toxicidade crônica tem uma faixa de duração média de 6 a 24 meses (PARASURAMAN, 2011). Os testes de toxicidade aguda utilizam em geral três vias de administração: oral, dérmica e inalatória. A escolha da via de administração depende das características físicas e químicas da substância teste e da via predominante de exposição por humanos. A via oral é a mais utilizada para avaliação pré-clinica de novos agentes terapêuticos, por ser a via mais comumente utilizada para a administração de fármacos (PARASURAMAN, 2011). Em geral, os testes de toxicidade oral aguda são realizados com uma única dose administrada no animal, geralmente roedores, por ser o modelo experimental mais 16 amplamente difundido, sendo recomendado a utilização de fêmeas, em virtude da maior susceptibilidade a efeitos tóxicos no gênero decorrente de suas alterações hormonais fisiológicas (HAYES, 2007). Nestes testes, o efeito da dose da substância administrada é observado quanto à manifestação de sinais patológicos no animal. Ademais,estes estudos permitem a investigação da dose letal média tóxica de uma substância (DL50), que é a dose de um agente tóxico, obtida estatisticamente, capaz de produzir a morte de 50% dos animais de um grupo experimental (HAYES, 2007). Assim, um agente será tanto mais tóxico, quanto menor for sua DL 50. O teste da DL50 foi realizado pela primeira vez em 1927 por Trevan para avaliar substâncias que seriam utilizadas por seres humanos como a Digitallis e a insulina. Na década de 70, este teste começou a ser empregado amplamente como base de comparação e classificação da toxicidade de substâncias, chegando a tornar-se pré- requisito para a aprovação de novos fármacos, aditivos alimentares, ingredientes, cosméticos, produtos domésticos, químicos industriais e pesticidas por grandes agências reguladoras, como o FDA (do inglês " Food and Drugs Administration") (STAMMATI et al., 2005). A limitação dos estudos para testes de DL50 nesta época se referia ao alto número de animais experimentais necessários para a sua realização, o que esbarrava em questões bioéticas polêmicas (BOTHAM, 2002). Alternativas à esses métodos foram desenvolvidas e estabelecidos protocolos para a minimização da utilização de animais. Os atuais protocolos de toxicidade oral aguda compreendem as diretrizes da Organização para Cooperação Econômica e Desenvolvimento (OECD, do inglês Organization for Economic Cooperation and Development): diretriz 420 - Teste de doses fixas (FDP, do inglês "Fixed Dose Procedure") (OECD, 2001), diretriz 423 - Toxicidade aguda de classe (ATC, do inglês "Acute Toxic Classic Method" ) (OECD, 2001) e a diretriz 425 - Método "Up and Down" (UDP, do inglês "Up and Down Procedure") (OECD, 2008). O teste de dose fixa (OECD, 2001) é utilizado para identificar a menor dose que causa toxicidade evidente. Neste teste são estabelecidas doses fixas de 5, 50, 300 e 2000 mg/Kg, 5 animais por dose, e o animal experimental é observado por 14 dias, quanto a sua sobrevivência e aparecimento de efeitos tóxicos. Estas doses foram fixadas de forma que sejam moderadamente tóxicas, e que doses letais sejam evitadas. 17 O método de toxicidade aguda de classe (OECD, 2001) é similar ao anterior, sendo utilizadas as mesmas doses, entretanto contam com apenas 3 animais por dose, sendo necessário 2 a 4 doses para a determinação da toxicidade aguda da substância. Da mesma forma que o FDP, o ATC é utilizado para identificar a menor dose que causa toxicidade evidente. Desta forma, os testes FDP e ATC determinam apenas a faixa estimada da DL50, mas não mensuram o valor exato desta. Quanto ao teste "Up and Down"(OECD, 2008), este é assim dominado por conta da progressão de doses estabelecidas para o teste. É estabelecido uma dose inicial de 175 mg/Kg e observado o padrão de sobrevivência do animal em 48 h, e a escolha da dose para o próximo animal é feita com base na sobrevivência ou morte do primeiro, na qual a dose é aumentada ou diminuída em um fator de 3,2. Este método é o mais indicado pelas agências reguladoras por utilizar um menor número de animais. bem como por permitir estimar de forma precisa a DL50. Nestes protocolos de toxicidade, está também estabelecido a possibilidade de realização do teste de dose limite, no qual se inicia com a maior dose permitida, geralmente 2000 mg/Kg, ou excepcionalmente, 5000 mg/Kg. Se o primeiro animal morre em 48 h, realiza-se o teste principal. Se o animal sobrevive, continua-se com a mesma dose para o próximo animal, sendo o teste finalizado com a sobrevivência de 3 animais consecutivos na dose limite. A escolha do método deve ser feita com base do entendimento claro da proposta e quanto a resposta que se quer ser obtida. 1.4 Principais alterações biológicas induzidas por substâncias tóxicas 1.4.1 Alterações pressóricas sistêmicas A pressão arterial é de extrema importância para uma avaliação inicial e estimativa útil do estado cardiovascular (KOEPPEN; STANTON, 2009). Algumas classes de fármacos atualmente no mercado, como alguns agentes quimioterápicos, apresentam cardiotoxicidade como efeito adverso, e por vezes, seu uso tem restrição em pacientes com desordens pressóricas (KALIL FILHO et al., 2011). A pressão arterial é definida como a força que o fluxo sanguíneo exerce sobre as paredes dos vasos, sendo determinada diretamente pelo volume sanguíneo e pela 18 complacência arterial, os quais são afetados pelo débito cardíaco (frequência cardíaca x débito sistólico) e a resistência periférica (KOEPPEN; STANTON, 2009). O ciclo cardíaco conta com dois extremos na pressão arterial: a pressão arterial sistólica, e a pressão arterial diastólica, em decorrência de contração e relaxamento ventricular, respectivamente. A diferença entre a pressão sistólica e a pressão diastólica é denominada pressão de pulso. Outro parâmetro derivado é a pressão arterial média, a qual representa a razão entre a área sobre a curva da pressão arterial e a duração do ciclo cardíaco. Quando o débito cardíaco se mantém constante, o aumento da resistência periférica leva ao aumento da pressão arterial média. Quando a complacência arterial é constante, o aumento da resistência periférica leva a aumentos proporcionais da pressão sistólica e diastólica, de forma que a pressão de pulso não se altera. Entretanto este comportamento linear não existe para a complacência arterial. O aumento da pressão arterial média implica na diminuição da complacência arterial e elevação da pressão de pulso (KOEPPEN; STANTON, 2009). Alterações na pressão arterial são frequentemente detectadas durante as intoxicações agudas. A hipotensão está relacionada à substâncias depressoras do SNC, bem como em situações de reação anafiláticas, já a hipertensão pode ser resultado do efeito de substâncias vasoativas diretas ou indiretas (SCHNELLMANN, 2008). Muitos xenobióticos com ação pro oxidante estão relacionados ao desenvolvimento de toxicidade sistêmica por dano direto às células musculares lisas da estrutura vascular, comprometendo a resistência dos vasos, por redução da capacitância venosa, destruição de capilares teciduais e angiogênese compensatória (SCHNELLMANN, 2008). Para a manutenção da pressão em seus níveis fisiológicos o organismo dispõe de mecanismos regulatórios de curto, médio e longo prazos (MOHRMAN; HELLER, 2011). A ativação de barorreceptores são reflexos rápidos à variação de pressão. Os barorreceptores arteriais, receptores de alta pressão, que se localizam no arco aórtico e seios carotídeos, ao serem estimulados ativam o núcleo do trato solitário, no bulbo, levam a redução da pressão arterial média através do sistema nervoso autônomo. Outros receptores periféricos e centrais, assim como os dos centros altos do SNC, como hipotálamo e córtex atuam sobre os centros medulares cardiovasculares para a regulação da pressão arterial média (MOHRMAN; HELLER, 2011). 19 Como mecanismo compensatório a médio prazo, nos casos de redução dos níveis pressóricos tem-se o papel da liberação de renina pelas células justaglomerulares renais. A renina está relacionada à conversão do angiotensinogênio em angiotensina I, a qual sofre ação da enzima conversora de angiotensina (ECA) para a formação de angiotensina II, potente vasoconstrictor que reforça as ações do barorreflexo (KOEPPEN; STANTON, 2009). A autorregulação da pressão arterial promovida pelos vasos sanguíneos compreendem ajustes a longo prazo e ocorrem a nível endotelial, metabólico e miogênico (CONSTANZO, 2014). A resposta do endotélio se dá através de substâncias liberadas por este, o óxido nítrico e outros fatores de relaxamento derivado do endotélio, as quais modulam o músculo liso vascular, ajustando o tônus vascular de acordo com as mudanças na pressão arterial, adaptando os vasos sanguíneos às mudanças na demanda de perfusãodeste (MONCADA, 2006). O controle metabólico é alterado conforme a demanda e /ou necessidade de um órgão, ou seja, respostas vasodilatadoras ou vasoconstritoras são efetuadas conforme o catabolismo ou anabolismo dos tecidos corporais. Como exemplos de metabólitos vasodilatadores produzidos nos tecidos podem ser citados CO2, H + , K + , lactato e adenosina (CONSTANZO, 2014). Por último, tem-se o controle miogênico. Este controle se baseia na propriedade que o músculo liso vascular tem de se contrair ou relaxar, de acordo com as alterações na pressão transmural. Esta função é atribuída à células altamente especializadas contendo canais iônicos e proteínas contráteis e reguladoras. O músculo liso vascular controla a resistência periférica total, o tônus arterial e venoso, além do fluxo sanguíneo (CONSTANZO, 2014). Interferências nesses processos fisiológicos de autoajuste podem decorrer de efeitos tóxicos ocasionados por fármacos, levando a alterações pressóricas agudas, redução da eficácia das drogas anti-hipertensivas ou o agravamento de uma hipertensão preexistente ( SCHNELLMANN, 2008). 1.4.2 Alterações na fisiologia renal A integridade funcional do sistema renal é vital para a homeostasia do organismo, uma vez que os rins constituem a principal rota de excreção de metabólitos, 20 regulação do volume de líquido extracelular, composição eletrolítica, manutenção do equilíbrio ácido-base, síntese e liberação de hormônios, e metabolismo de substâncias (FERGUSON; VAIDYA; BONVENTRE, 2008). Os rins, mais especificamente os néfrons, suas unidades morfofuncionais, são responsáveis por filtrar diariamente cerca de 150-180 litros de plasma circulante, recebendo aproximadamente 25% do débito cardíaco (BONVENTRE et al., 2011). Este fato o faz ser um órgão que entra em contato direto com xenobióticos substâncias químicas ou seus metabólitos carreados pela circulação sistêmica e livremente filtrados, em quantidades relativamente altas (PERAZELLA, 2009). Cada segmento do néfron pode ser alvo específico de agentes tóxicos, em virtude de características anatômicas e funcionais particulares de cada segmento. Dentre essas particularidades podem ser citadas diferenças quanto ao fluxo sanguíneo, transporte e acúmulo de substâncias, propriedades físico-químicas do epitélio, sítios de reatividade celular ou molecular, balanço entre reações de bioativação e detoxificação, energética celular e mecanismos de reparo celular (SCHNELLMANN, 2008). Uma das manifestações mais comuns de dano nefrotóxico é a Insuficiência Renal Aguda (IRA), caracterizada por um abrupto declínio da função renal por redução da taxa de filtração glomerular (TFG), levando a um aumento dos níveis séricos de compostos nitrogenados, como ureia e creatinina, e de resíduos de hidrogênio (SCHNELLMANN, 2008). Há ainda novos marcadores preditores de nefrotoxidade aguda, como a dosagem de KIM-1 na urina, entretanto ainda com utilização restrita em estudos pré-clínicos. Classificada de acordo com a localização da lesão, a IRA pode ser dividida em pré-renal quando a lesão ocorre em um sistema anterior aos rins; intrarrenal quando a lesão ocorre no próprio rim, afetando os vasos sanguíneos, glomérulos ou túbulos; e pós-renal: quando ocorre obstrução do sistema coletor de urina (EATON; POOLER, 2006). O termo Lesão Renal Aguda (LRA) tem uma abordagem mais ampla, uma vez que abrange desde pequenas alterações na função renal secundárias ao dano, até situações que necessitam de terapia de substituição renal. Felizmente, na maior parte dos casos são danos reversíveis, uma vez que os rins possuem sistemas compensatórios e de reparo (SCHNELLMANN, 2008). 21 Mecanismos compensatórios são necessários em virtude da perda de massa renal funcional. Como exemplo pode ser citado o aumento da TFG e do fluxo sanguíneo glomerular nos néfrons remanescentes não lesados, com proporcional aumento da reabsorção tubular de água e solutos, para que o equilíbrio seja mantido e a função renal global permaneça normal até que ocorra a reversão do dano (SCHNELLMANN, 2008). Associado a esses mecanismos compensatórios, as células dos néfrons lesados podem sofrer morte celular, por necrose ou apoptose, ou serem subletalmente atingidas e submetidas a mecanismos de reparo e adaptação. A perda de néfrons pode resultar em aumentos adaptativos nas pressões e nos fluxos glomerulares dos néfrons funcionais com vistas ao aumento da TFG de todo o rim. Essas alterações podem ocasionar ao longo do tempo glomérulo-esclerose focal e ocasionar atrofia tubular e fibrose intersticial, bem como ocasionar danos mecânicos aos capilares, afetando sua permeabilidade. (SCHNELLMANN, 2008). A perda de polaridade celular e integridade da junção oclusiva, causada por dano direto às proteínas de membrana das células tubulares, gerando o desprendimento de células viáveis e nãoviáveis no lúmem tubular pode resultar em formação de cálculo e obstrução tubular. Quanto aos principais mecanismos de reparo celular, estes estão relacionados com processos de desdiferenciação, proliferação, migração e diferenciação celular. A agressão tóxica ao néfron pode induzir desdiferenciação/rediferenciação de células epiteliais dos túbulos renais e fibroblastos intersticiais, transformando-os em miofibroblastos, num processo caracterizado por deposição de colágeno intersticial e recrutamento temporário de macrófagos para regulação da resposta imune e resolução do dano. Esse processo tem sido denominado transição epitelial-mesenquimal (TEM) (SCHNELLMANN, 2008; PERAZELLA, REILLY JR, 2015). Entre os atores de risco que contribuem com a incidência ou severidade da lesão renal podem ser destacados fatores genéticos e hereditários, idade, depleção de volume sanguíneo, choque séptico, hipotensão e doença renal preexistente. Uma lesão não reversível pode levar a necessidade de implantação de terapia dialítica e transplante renal (ZIMNER-RAPUCH et al., 2013). Outros fatores também envolvidos no agravamento da lesão renal incluem inibição ou ativação de fatores de crescimento, aumento da deposição de matriz extracelular, geração de espécies reativas de oxigênio (EROs), e acúmulo de lipídios na membrana (SCHNELLMANN, 2008). 22 2 JUSTIFICATIVA Estudos de screening toxicológico tem grande importância para o desenvolvimento de novos fármacos e para a extensão da investigação do potencial terapêutico para moléculas já existentes (PARASURAMAN, 2011). Apesar dos avanços de metodologias alternativas in vitro, como cultura de células, os estudos de toxicidade substâncias em modelo animal ainda não puderam ser completamente abolidos, tendo em vista a complexidade da resposta um sistema biológico (VALADARES, 2006). Compostos da classe química das quinonas apresentam como grande inconveniente o desenvolvimento de toxicidade, relacionadas a efeitos adversos sistêmicos e sítio específicos, o que limita o avanço de pesquisas e a restrição de sua utilização clínica (MONKS; JONES, 2002; ABRAHAM et al., 2011; MADATHIL et al., 2012; BOLTON et al, 2000). Neste sentido, as promissoras possibilidades de utilização da onco-A na terapêutica, o conhecimento sobre a toxicidade das quinonas e a ausência de dados toxicológicos in vivo para a substância, foram os principais fatores motivadores para a execução deste trabalho. 23 3. OBJETIVOS 3.1 Geral Avaliar toxicidade oral aguda e os efeitos pressóricos e renais da onco-A em modelos animais in vivo e ex vivo. 3.2 Específicos Investigar a toxicidade oral aguda da onco-A por meio da determinação da DL50 pelo Teste da dose limite; Estudar os efeitos da onco-A na pressão arterial média de ratos anestesiados; Identificar possíveis alterações em parâmetros bioquímicos séricos(ureia, creatinina, ácido úrico, TGO, TGP, fosfatase alcalina e CK-Total) dos animais submetidos protocolos de tratamento in vivo com a substância; Avaliar os efeitos da onco-A sobre os parâmetros funcionais renais em um modelo ex vivo de perfusão de rim isolado de rato; Caracterizar as alterações histológicas promovidas pela onco-A nos órgãos coletados nos protocolos experimentais: rins, coração e pulmão. 24 4 MATERIAIS E MÉTODOS 4. 1 Substâncias utilizadas 4.1.1 Onco-A A onco-A foi isolada por cromatografia em gel de sílica a partir do extrato etanólico do cerne do caule da A. oncocalyx coletada em Pentecoste - Ceará (COSTA et al., 2012). A espécie foi identificada pelo prof. Edson P. Nunes e uma exsicata se encontra depositada no Herbário Prisco Bezerra do Departamento de Biologia da Universidade Federal do Ceará (Nº. 18459). A preparação do extrato, o método de isolamento e a caracterização química foram descritas por Pessoa et al. (1993, 1995). A estrutura deste composto foi determinada por meio de técnicas espectrométricas como UV-Vis, infravermelho, espectometria de massa e combinação de métodos 1D e 2D de ressonância magnética nuclear. A substância foi gentilmente cedida pelo Laboratório de Análise Fitoquímica de Plantas Medicinais II (LAFIPLAM II) sob a supervisão da Profª. Dra. Otília Deusdênia Loiola Pessoa, para investigação farmacológica. 4.2 Animais experimentais Todos os nossos experimentos foram realizados de acordo com as recomendações do Comitê de Ética em Pesquisa com Animais (CEPA) da Universidade Federal do Ceará, sob o número 32/15. Foram utilizados ratos Wistar machos para os experimentos de pressão arterial média e perfusão renal, enquanto que para o teste de toxicidade oral aguda foram utilizados camundongos Swiss fêmeas, ambos provenientes do Biotério do Departamento de Fisiologia e Farmacologia da UFC. Os animais foram acondicionados em caixa de polipropileno, mantidos em ambiente com temperatura controlada de 22±2°C, luminosidade (ciclo claro/escuro 12/12 horas), umidade e circulação de ar controlados, acesso a ração padrão e água “ad libitum”, com jejum prévio de 8h para ratos e 2h para camundongos antes do inicio dos protocolos experimentais. 25 4.3 Desenho experimental Inicialmente foi realizado o teste de toxicidade oral aguda para estimação da DL50 e identificação de órgãos-alvo, segundo o teste da Dose Limite descrita nos protocolos de de Toxicidade oral aguda nº 420, 423 e 425 da OECD. Para avaliação da atividade pressórica in vivo da substância, foram realizados experimentos de pressão arterial média em ratos anestesiados, com a administração de onco-A in bolus por via intravenosa, em concentrações cumulativas da substância. Os ensaios in vivo contaram com análise bioquímica de plasma e histopatologia dos principais órgãos. Para a avaliação dos efeitos renais, foram realizados experimentos de perfusão de rim isolado de rato, a fim de avaliar possíveis alterações nos parâmetros funcionais renais após a adição da substância no sistema de perfusão ex vivo. Para todos os experimentos, os grupos experimentais tratados com onco-A foram comparados a um grupo controle não tratado. As concentrações utilizadas obedeceram a intervalos de meia escala logarítmica e foram estabelecidas com base em dados da literatura de estudos com substâncias isoladas (SILVA NETO, 2012; OECD, 2008). 4.3.1 Toxicidade oral aguda - Teste da dose limite (2000mg/Kg) 4.3.1.1 Protocolo experimental Para a realização do Teste da Dose Limite (2000mg/Kg) foram utilizados camundongos swiss fêmeas, pesando entre 20 a 25g, submetidos a um jejum prévio de 2h. A onco-A foi administrada na dose de 2000mg/Kg por uma cânula de gavagem em um volume de 2mL/Kg. Com a sobrevivência do primeiro animal em 48h, esta dose foi repetida em três animais consecutivos. A interpretação realizada para o teste é que a DL50 será maior que 2000mg/Kg se três animais ou mais sobrevivem. Se três animais morrem, é realizado o teste principal. Após a administração de cada dose, os animais foram observados por 15, 30 e 60 minutos bem como após 24 horas e diariamente por um total de 14 dias, quanto a presença de sinais indicativos de toxicidade, como alterações físicas ou comportamentais que pudesse sugerir que os animais apresentavam um quadro de dor ou estresse. 26 A variação de peso corporal foi registrada. Ao final do experimento os animais sobreviventes foram anestesiados com cetamina (100mg/Kg) e xilasina (10mg/Kg) para coleta de sangue venoso para posteriores análises bioquímicas; bem como a retirada dos órgãos (rim, coração e pulmão) para análise histológica. 4.3.1.2 Dosagens bioquímicas Em decorrência de limitações quanto ao volume de plasma de camundongos, foram realizadas apenas as dosagens de três parâmetros bioquímicos (ureia, creatinina e ácido úrico). As dosagens foram realizadas no Laboratório de Análises Clínicas e Toxicológicas (LACT) da Instituição, com kits de reagentes da marca Bioclin, em equipamento Mindray BS120. 4.3.2 Efeitos na Pressão Arterial Média de ratos anestesiados 4.3.2.1 Técnica cirúrgica Ratos Wistar machos, pesando entre 250-300 g, foram submetidos a um jejum prévio de 8h e anestesiados com cetamina (100mg/Kg) e xilazina (10mg/Kg) para a realização do procedimento cirúrgico. O primeiro passo do procedimento consistiu na traqueostomia, na qual a traqueia foi isolada e uma curta cânula de polietileno (PE 120) inserida, permitindo um fluxo respiratório espontâneo e evitando a fácil aspiração de eventuais secreções brônquicas. Após a traqueostomia, um cateter de polietileno (PE10 conectado a PE50) preenchido com heparina (500 UI.mL -1 em salina) foi implantado na aorta abdominal para registro da Pressão Arterial Média. Outro também preenchido com heparina (500 UI.mL -1 em salina) foi implantado na veia cava inferior (para administração de drogas), ambos 1 cm abaixo da artéria renal, conforme técnica descrita previamente (LAHLOU et al., 1999; SIQUEIRA, 2005), ilustrada na Figura 4. O cateter aórtico foi então acoplado a um transdutor de pressão piezo-elétrico (Braile BXSN) que é acoplado a um sistema de amplificação de sinal com interface USB (DATAQ DI-148U), utilizando o software de aquisição de dados WinDaq/Lite para o cálculo direto da pressão arterial média. 27 Figura 4 - (A) Traqueostomia. (B) Localização anatômica da artéria e veia femural e posicionamento dos cateteres arterial (vermelho) e venoso (azul).(C) Implantação do cateter na artéria e veia femural. (D) Registro da pressão arterial média no sistema de aquisição de dados. Fonte: Adaptado de Jersepen, Knupp, Northcott (2012). 4.3.2.2 Protocolo experimental Após o acoplamento do cateter da aorta abdominal ao sistema foi permitida a estabilização da pressão arterial média por um período de 15 a 20 minutos, o qual foi considerado como controle interno, para avaliação da pressão basal do animal, após o qual se iniciou o período teste. A onco-A foi injetada manualmente in bolus no volume de 0,1 mL, seguido de injeção de 0,2 mL de solução salina. Cada animal recebeu uma série crescente de doses da onco-A (30, 100, 300 e 1000 µg/Kg) através do cateter intravenoso em intervalos de 5 minutos cada, e o curso temporal das alterações de pressão arterial média foi registrado. (B) (A) (C) (D) 28 Após o período experimental foi realizado eutanasia do animal por exsanguinação e laparotomia transversal e longitudinal para coleta de sangue e órgãos (coração e rim). O protocolo utilizado encontra-se resumido na Figura 5. Figura 5 - Representação esquemática do experimento de pressão arterial média. 4.3.2.3 Dosagens bioquímicas Alíquotas de sangue venoso foramcoletadas para a realização de dosagens bioquímicas de creatinina, ureia, ácido úrico, TGO (transaminase glutâmico- oxalacética), TGP (transaminase glutâmico-pirúvica) e creatina quinase (CK-Total). As dosagens foram realizadas no Laboratório de Análises Clínicas e Toxicológicas (LACT) da Instituição, com kits de reagentes da marca Bioclin, em equipamento Mindray BS120. 4.3.3 Perfusão de Rim Isolado 4.3.3.1 Sistema utilizado e solução perfusora A técnica da perfusão de rim isolado tem o objetivo de subsidiar um maior entendimento dos mecanismos de controle da função renal, de modo a avaliá-lo sem a interferência sistêmica (NIZET, 1975). O sistema utilizado consiste em perfusão com recirculação em dois subsistemas, inicialmente in situ, e logo em seguida em circuito fechado para perfusão in vitro, mantidos em temperatura de 37 ºC (FONTELES et al., 1983; MONTEIRO; FONTELES, 1999). Este sistema permite a manutenção constante de parâmetros funcionais renais com utilização de albumina bovina a 6% na solução perfusora. A solução perfusora empregada nos experimentos de perfusão renal foi a de Krebs-Henseleit modificada concentrada 20x contendo as seguintes substâncias com 29 suas respectivas concentrações: 114.0 mM de NaCl; 4.96mM de KCl; 1.24 mM de KH2PO4; 0.5 mM de MgSO4.7H2O; 24.99 mM de NaHCO3; 2.10 mM de CaCl2.2H2O; 3.60 mM de glicose e albumina bovina a 6% peso por volume (FONTELES, 1998). Esta solução foi dialisada com albumina, com o objetivo de retirar substâncias contaminantes como piruvatos, citratos e lactatos (HANSON; BALLAR, 1968; COHEN; KOOK; LITTLE,1977; ROSS, 1978). Após 48 horas de diálise, a solução perfusora foi acrescida com 0,15g de inulina. O pH da solução foi ainda ajustado entre os valores de 7,3 e 7,4. As substâncias dialisáveis foram mantidas constantes, com oxigenação adaptada ao próprio sistema, a qual consiste em mistura carbogênica com 95% de oxigênio e 5% de CO2. A inulina presente na solução perfusora é utillizada para medida do ritmo de filtração glomerular. Figura 6 - Desenho esquemático do sistema de perfusão de rim isolado. Fonte: Adaptado de LAFAVET-UFC. 30 A calibração do sistema foi realizada antes de cada experimento com uma solução de cloreto de sódio a 0,9% mantida a 37°C. Foram observados para cada unidade da bomba de perfusão (1, 2, 3, 4 e 5) a pressão de perfusão (mmHg), o fluxo da solução no sistema (L/min) e o volume de solução coletado em um minuto (mL/min). 4.3.3.2 Técnica cirúrgica A técnica cirúrgica utilizada seguiu o método descrito por Balhlmann et al. (1967), Nishiitsutji-Uwo et al. (1967), Ross (1978) e Fonteles et al. (1983). Ratos Wistar machos (n=6) pesando entre 250-300g foram anestesiados com tiopental sódico na dose de 50mg/Kg de peso corporal. A veia femoral foi isolada para a administração de manitol (100mg/mL – 3 mL independentemente do peso) a fim de facilitar a visualização e a fixação da cânula ao ureter. Após assepsia da parede abdominal, procedeu-se a uma laparotomia longitudinal e transversal no abdome para uma melhor observação das estruturas anatômicas. As vísceras foram rebatidas e as gorduras foram divulsionadas para identificação do ureter, o qual foi dissecado para inserção de uma cânula de polietileno PE-30. A artéria mesentérica superior, artéria renal e a aorta foram identificadas e dissecadas. O rim direito foi descapsulado, e o fluxo sanguíneo local da artéria renal e aorta foram interrompidos para introdução de uma cânula metálica na artéria mesentérica superior até a artéria renal, onde foi fixada. Durante o procedimento cirúrgico, uma parte da solução já oxigenada (40mL) foi desviada para o sistema de perfusão in situ, com o intuito de perfundir o rim ainda in vivo, evitando qualquer isquemia ao órgão. Logo após, o rim foi transportado para o sistema de perfusão in vitro, sem a interrupção do fluxo. 31 Figura 7 - (A) Identificação das artérias mesentérica e renal. Rim extirpado com artéria renal e ureter canulados. (B) Transferência para o sistema de perfusão. Fonte: LAFAVET – UFC. 4.3.3.3 Protocolo experimental Os experimentos foram iniciados após a estabilização e adaptação do órgão às novas condições. Após os 30 minutos iniciais, considerados como controle interno, foi adicionada a onco-A à solução perfusora no sistema, em três diferentes concentrações, e observadas as mudanças nos parâmetros renais até os 120 minutos. Para tal monitorização, foram registrados a pressão de perfusão e o fluxo de perfusão em manômetro e fluxômetro, respectivamente, simultaneamente as coletas de amostras de urina e perfusato de forma intercaladas a cada cinco minutos em um período total de 120 min, conforme esquematizado na Figura 8. Amostras de urina e perfusato foram congeladas a -20 °C para posterior dosagem de sódio, potássio, cloreto, inulina e osmolaridade, importantes no cálculo dos parâmetros da função renal. (B) (A) 32 Figura 9 - Representação esquemática do experimento de perfusão renal. 4.3.3.4 Dosagens bioquímicas Com as amostras de urina e perfusato foram realizadas dosagens de sódio, potássio e cloreto por meio do dosador de eletrólitos 9180 (Roche, Brasil). A inulina do perfusato e da urina foi determinada por hidrólise direta, conforme Walser et al. (1955) e Fonteles et al. (1983), com modificações que reduziram as quantidades de amostras e reagentes utilizados. A osmolaridade das amostras de urina e perfusato foram medidas utilizando um osmômetro (Osmômetro de Pressão a Vapor - modelo WESCOR® Vapro 5520). 4.3.3.5 Determinação dos parâmetros funcionais renais Em posse de todos os dados obtidos, permitiu-se avaliar nos três grupos tratados com concentrações em escala logarítmica, os efeitos da substância sobre a pressão de perfusão (PP), resistência vascular renal (RVR), ritmo de filtração glomerular (RFG), fluxo urinário (FU) e transporte de eletrólitos (Na + , K + e Cl - ), frente ao grupo controle. Os cálculos para os parâmetros funcionais renais estão descritos no Quadro 1. 33 Quadro 1 - Cálculos para determinação dos parâmetros funcionais renais. 1. FU (mL.g -1 . min -1 ) = Fluxo urinário FU = (Peso do volume urinário / Peso do rim esquerdo) x 10 2. PP (mmHg) = Pressão de perfusão. Leitura em manômetro 3. RFG (mL.g -1 .min -1 ) = Ritmo de filtração glomerular RFG = (DOU in / DOP in x FU) sendo DOU in = densidade ótica da inulina na urina e DOP in = densidade ótica da inulina no perfusato 4. FPR (mL.g -1 .min -1 ) = Fluxo de perfusão renal (registrado a cada 10 min/peso do rim/intervalo de tempo) 5. RVR (mmHg/mL.g -1 .min -1 ) = Resistência vascular renal RVR = PP (mmHg) / FPR 6. FNa + (μEq.g-1. min-1) = Sódio filtrado FNa+ = RFG x PNa+ (PNa+ = Concentração de sódio no perfusato) 7. ENa + (μEq.g-1. min-1) = Sódio excretado ENa+ = FU x UNa+ (UNa+ = Concentração de sódio na urina) 8. TNa + (μEq.g-1. min-1) = Sódio transportado TNa+ = FNa+ - ENa+ 9. %TNa + = Percentual de sódio transportado %TNa+ = TNa+ x 100 / FNa+ 10. FK + (μEq.g-1. min-1) = Potássio filtrado FK+ = RFG x PK+ (PK+ = concentração de potássio no perfusato) 11. EK + (μEq.g-1. min-1) = Potássio excretado EK+ = FU x UK+ (UK+ = Concentração de potássio na urina) 12. TK + (μEq.g-1. min-1) = Potássio transportado TK+ = FK+ - EK+ 13.TK + = Percentual de potássio transportado %TK+ = TK+ x 100 / FK+ 14. TCl- (μEq.g-1. min-1) = Cloreto transportado TCl – = FCl – - ECl – 15. % TCl - = Percentual de cloreto transportado % TCl – = TCl – x 100 / F TCl – Fonte: MARTINEZ-MALDONADO; OPVA-STITZER, 1978. 34 4.4 Análise histológica Após cada protocolo experimental, os órgãos coletados nos experimentos de toxicidade oral aguda (rins, pulmões e coração), pressão arterialmédia (coração e rins), e perfusão renal (rins perfundidos e não perfundidos) foram armazenados inicialmente em formol tamponado a 10% por 24 h, seguido de armazenamento em álcool 70% até o posterior exame histológico. Os fragmentos obtidos foram submetidos ao processamento histológico convencional: desidratação, diafanização, e, em seguida, cortados em uma espessura de 3-5μm. Foi realizada coloração de hematoxilina-eosina (HE) e as lâminas analisadas através de um microscópio óptico Nikon Eclipse Ni, Software Nis 4.0. Todas as lâminas dos órgãos analisados foram confeccionadas e avaliadas pela Profa. Dra. Janaina Serra Azul Monteiro Evangelista, no Laboratório de Morfologia Experimental e Comparada (MEC), da Faculdade de Veterinária da Universidade Estadual do Ceará. 4.5 Análise estatística Para análise de dados foi utilizado o software estatístico GraphPad® Prism v6.0. O nível de significância utilizado foi *p<0,05. Os resultados dos experimentos de Pressão Arterial Média em ratos anestesiados foram analisados através dos testes estatísticos (ANOVA e Teste t de Student). Para as dosagens bioquímicas realizadas nos experimentos de Toxicidade Oral Aguda e de Pressão arterial média, os resultados foram analisados utilizando Teste t de Student. Nos ensaios de perfusão renal, todas as tabelas e gráficos que avaliaram os parâmetros renais foram estudados de acordo com a variável tempo e os dados compilados em intervalos de 30min (30, 60, 90 e 120). As diferenças entre os tempos de um mesmo grupo foram comparadas utilizando teste t de Student. Já as diferenças entre tempos iguais entre os grupos foram comparadas por Análise de Variância Fator Duplo (Two-Way ANOVA), seguida de pós-teste de Bonferroni. 35 5 RESULTADOS 5.1 Toxicidade Oral Aguda da onco-A 5.1.1 Observações experimentais, acompanhamento do peso corporal dos animais e mensuração da DL50 Foi realizado o teste de dose limite estabelecido nos protocolos de nº 420, 423 e 425 da OECD, de toxicidade oral aguda. Onco-A na dose de 2000mg/Kg foi administrada por gavagem no primeiro animal, e após 48h foi verificado a sobrevivência deste (Animal 1). Diante deste resultado, foram testados consecutivamente 3 animais. Os Animais 2 e 3 sobreviveram aos 14 dias da administração, ao passo que o Animal 4 morreu cerca de 2h e 30 min depois da gavagem. Destacando-se que três animais consecutivos sobreviveram no teste da dose limite, de 2000mg/Kg, estima-se uma DL50 ˃ 2000 mg/Kg (Tabela 1). Tabela 1 - Dados brutos dos experimentos realizados utilizando o Teste da Dose Limite (2000mg/Kg) Nº Animal Morte/Sobrevivência 1 o 2 o 3 o 4 x * X = morreu, o = sobreviveu Durante o período de experimentação, foi observado que nas primeiras 24 h todos os animais tratados com a substância apresentaram urina com a coloração vermelho- escuro, característica da onco-A, inclusive o animal que morreu. Conforme descrito no protocolo experimental, as observações foram realizadas em 15, 30, 60 min e 24h após a administração da substância. Entretanto a morte do animal 4 foi detectada 2h e 30 min depois, ou seja, após as observações de 60 min, e até este tempo não havia sido detectada nenhuma alteração comportamental no animal que indicasse toxicidade. Os animais que sobreviveram não manifestaram nenhuma outra alteração durante os 14 dias experimentais. 36 Os animais sobreviventes foram acompanhados quanto ao peso corporal durante os 14 dias de tratamento, conforme evidenciado na Figura 10, apresentando variação ponderal compatível com o considerado normal para fêmeas de mesma idade: 21g a 26,5g de peso médio para 3,5 e 6 semanas de vida, respectivamente (Biotério FCF- IQ/USP, 2013). Quadro 2 - Acompanhamento do peso corporal (g) dos camundongos submetidos ao teste de toxicidade oral aguda - Teste da Dose Limite (onco-A 2000 mg/Kg) 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 18 20 22 24 26 28 30 Animal 1 Animal 2 Animal 3 Dias P es o d o s an im ai s (g ) 5.1.2 Avaliação dos níveis séricos de ureia, creatinina e ácido úrico nos camundongos submetidos ao protocolo de Toxicidade Oral Aguda, após os 14 dias experimentais Os níveis plasmáticos de ureia, creatinina e ácido úrico foram avaliados após 14 dias. Conforme se verifica nas Figuras 11, 12 e 13, o tratamento com onco-A não provocou alterações estatisticamente significativas em nenhum dos parâmetros avaliados. Figura 11 - Níveis plasmáticos de ureia em camundongos tratados com onco-A 2000 mg/kg, ou tratados com salina (controle), submetidos ao protocolo de toxicidade oral aguda. Dados expressos como média ± E.P.M. e analisados por Teste t não pareado. Média do valor de normalidade (mg/dL): 53 ± 2,1 (PINHEIRO et al., 1998). UREIA SA LI NA O NC O -A 0 20 40 60 m g /d L 37 Figura 12 - Níveis plasmáticos de creatinina em camundongos tratados com onco-A 2000 mg/kg, ou tratados com salina (controle), submetidos ao protocolo de toxicidade oral aguda. Dados expressos como média ± E.P.M. e analisados por Teste t não pareado. Média do valor de normalidade (mg/dL): 1,2 ± 0,08 (PINHEIRO et al., 1998). CREATININA S A LI N A O N C O -A 0.0 0.5 1.0 1.5 m g /d L Figura 13 - Níveis plasmáticos de ácido úrico em camundongos tratados com onco-A 2000 mg/kg, ou tratados com salina (controle), submetidos ao protocolo de toxicidade oral aguda. Dados expressos como média ± E.P.M. e analisados por Teste t não pareado. Média do valor de normalidade (mg/dL): 1,8 ± 0,33 (DINIZ et al., 2006). ACIDO URICO S A LI N A O N C O -A 0 1 2 3 4 m g /d L 38 5.1.3 Análise histológica 5.1.3.1 Análise histológica do tecido renal (córtex e medula) Figura 14 - Fotomicrografias das alterações no tecido renal, induzidas pela onco-A (2000mg/Kg), após 14 dias, nos camundongos submetidos ao teste de toxicidade oral aguda. Grupo controle sem alterações: córtex (A) e medula (B) normais, objetiva 20x. Nos animais tratados com onco-A, observou-se: (C) Degeneração glomerular (seta preta) e degeneração tubular hidrópica, com tumefação das células tubulares (setas cinzas), objetiva 40x. (D) Atrofia glomerular (seta preta), objetiva 60x. (E) degeneração tubular hidrópica (seta preta) e depósito de proteína de Tamm-Horsfall na luz tubular (seta cinza), objetiva 40x. (F) Infiltração gordurosa (seta preta) e infiltrado inflamatório discreto (seta cinza), objetiva 10x. Coloração HE. Microscópio Nikon Eclipse Nis, Software Nis 4.0. . A B C D E F 39 5.1.3.2 Análise histológica do tecido pulmonar Figura 15 - Fotomicrografias das alterações no tecido pulmonar, induzidas pela onco-A (2000mg/Kg), após 14 dias, nos camundongos submetidos ao teste de toxicidade oral aguda. (A) Grupo controle sem alterações, objetiva 20x. Nos animais tratados com onco-A, observou-se: (B) Hemorragia discreta (seta branca), infiltrado inflamatório(seta preta) e edema (seta cinza), nos álveolos pulmonares, objetiva 40x (C) Destaque para a hemorragia intra-alveolar (setas pretas), objetiva 60x. (D) Hiperplasia do tecido linfóide associado aos brônquios (BALT) (setas pretas), objetiva 10x. (E) Vaso congesto (seta branca), hemorragia (seta preta) e atelectasia alveolar (seta cinza), objetiva 20x. Coloração HE. Microscópio Nikon Eclipse Nis, Software Nis 4.0. A a B C D E 40 5.1.3.3 Análise histológica do tecido cardíaco Figura 16 - Fotomicrografias das alterações no tecido cardíaco, induzidas pela onco-A (2000mg/Kg), após 14 dias, nos camundongos submetidos ao teste de toxicidade oral aguda. (A) Grupo controle sem alterações, objetiva 20x. Nos animais tratados com onco-A, observou-se: (B) Presença de vasos sanguíneos congestos (seta preta), objetiva 40x (C) Área de necrose mais eosinofílica (setas pretas),objetiva 10x. (D) Área de necrose, com destaque para as células anucleadas e eosinofílicas (setas pretas), objetiva 40x. (E) Presença de infiltrado inflamatório (seta branca), edema (seta preta) e necrose (seta cinza), objetiva 20x. (F) Destaque para o infiltrado inflamatório (seta branca), edema (seta preta) e células necróticas (seta cinza), objetiva 40x. Coloração HE. Microscópio Nikon Eclipse Nis, Software Nis 4.0. A B C D E F 41 5.2 Efeitos da onco-A na pressão arterial média de ratos normotensos anestesiados Administrações consecutivas in bolus de doses crescentes de onco-A (30 µg/Kg, 100 µg/Kg, 300 µg/Kg, 1000 µg/Kg,) ocasionaram redução significativa da pressão arterial média em ratos anestesiados, nas últimas duas doses (300 µg/Kg, 1000 µg/Kg), em comparação ao grupo controle, tratado com salina, bem como às médias pressóricas antes do tratamento com onco-A e na dose de 30 µg/Kg, conforme ilustrado na Figura 17. As médias dos grupos controle (n=6) foram (93,01 ± 8,75; 93,18 ± 8,56; 92,32 ± 9,23; 91,72 ± 9,97; 90,92 ± 10,41) e tratados com onco-A (n=6) nas doses de 30 µg/Kg, 100 µg/Kg, 300 µg/Kg, 1000 µg/Kg, respectivamente: 87,17 ± 11,60; 83,22 ± 12,62; 77,24 ± 15,03; 66,66* ± 22,79; 56,46** ± 26,06 (*p<0,05; **p<0,01) Figura 17 - Efeitos da administração de onco-A, in bolus, na pressão arterial média de ratos normotensos anestesiados. Dados expressos como média ± E.P.M. e analisados por ANOVA e Teste t de Student, com *p < 0,05 e **p<0,01. 0 30 10 0 30 0 10 00 50 60 70 80 90 100 Controle Onco-A * ** Dose (g/Kg) P re s s ã o A rt e ri a l m é d ia ( m m g H ) 42 5.2.1 Avaliação dos níveis séricos de ureia, creatinina, ácido úrico, TGO, TGP, fosfatase alcalina e CK-total, após a realização do protocolo de pressão arterial média Os níveis plasmáticos de ureia, creatinina, ácido úrico, TGO (transaminase glutâmico-oxalacética), TGP (transaminase glutâmico-pirúvica), fosfatase alcalina e CK-Total (Figuras 18, 19, 20, 21, 22, 23 e 24, respectivamente) foram avaliados após os experimentos de pressão arterial média, não sendo detectado nenhuma alteração significativa nestes parâmetros, quando em comparação com o grupo controle (salina) e/ou com a média do valor de normalidade para a espécie. Figura 18 - Níveis plasmáticos de ureia em ratos tratados com onco-A administrada in bolus, ou salina (controle), após os experimentos de pressão arterial média. Dados expressos como média ± E.P.M. e analisados por Teste t não pareado. Média do valor de normalidade (mg/dL): 61,7 ± 1,65 (PINHEIRO et al., 1998). UREIA S A LI N A O N C O -A 0 20 40 60 m g /d L 43 Figura 19 - Níveis plasmáticos de creatinina em ratos tratados com onco-A administrada in bolus, ou salina (controle), após os experimentos de pressão arterial média. Dados expressos como média ± E.P.M. e analisados por Teste t não pareado com *p < 0,05 em comparação ao grupo controle (salina). Média do valor de normalidade (mg/dL): 0,7 ± 0,04 (DINIZ et al., 2006). CREATININA S A LI N A O N C O -A 0.0 0.2 0.4 0.6 0.8 * m g /d L Figura 20 - Níveis plasmáticos de ácido úrico em ratos tratados com onco-A administrada in bolus, ou salina (controle), após os experimentos de pressão arterial média. Dados expressos como média ± E.P.M. e analisados por Teste t não pareado. Média do valor de normalidade (mg/dL): 1,6 ± 0,1 (DINIZ et al., 2006). ACIDO URICO S A LI N A O N C O -A 0.0 0.5 1.0 1.5 2.0 m g /d L 44 Figura 21 - Níveis plasmáticos de TGO (transaminase glutâmico-oxalacética) em ratos tratados com onco-A administrada in bolus, ou salina (controle), após os experimentos de pressão arterial média. Dados expressos como média ± E.P.M. e analisados por Teste t não pareado. Média do valor de normalidade (U/L): 78,2 ± 2,62 (DINIZ et al., 2006). TGO S A LI N A O N C O -A 0 50 100 150 U /L Figura 22 - Níveis plasmáticos de TGP (transaminase glutâmico-pirúvica) em ratos tratados com onco-A administrada in bolus, ou salina (controle), após os experimentos de pressão arterial média. Dados expressos como média ± E.P.M. e analisados por Teste t não pareado. Média do valor de normalidade (U/L): 59 ± 4,47 (DINIZ et al., 2006). TGP S A LI N A O N C O -A 0 20 40 60 U /L 45 Figura 23 - Níveis plasmáticos de fosfatase alcalina em ratos tratados com onco-A administrada in bolus, ou salina (controle), após os experimentos de pressão arterial média. Dados expressos como média ± E.P.M. e analisados por Teste t não pareado. Média do valor de normalidade (U/L): 166 ± 7,06 (DINIZ et al., 2006). FOSFATASE ALCALINA S A LI N A O N C O -A 0 50 100 150 200 U /L Figura 24 - Níveis plasmáticos de creatina quinase (CK Total) em ratos tratados com onco-A administrada in bolus, ou salina (controle), após os experimentos de pressão arterial média. Dados expressos como média ± E.P.M. e analisados por Teste t não pareado. Média do valor de normalidade (U/L): 571,7 ± 325,8 (HOOPER et al., 2007). CKTOTAL S A LI N A O N C O -A 0 200 400 600 800 U /L 46 5.2.2 Análise histológica 5.2.2.1 Análise histológica do tecido cardíaco Figura 25 - Fotomicrografias das alterações no tecido cardíaco, induzidas pela onco-A em ratos submetidos ao protocolo experimental de pressão arterial média. (A) Grupo controle sem alterações, corte longitudinal e transversal, objetiva 10x. No grupo tratado com onco-A, observou-se: (B) Presença de hemorragia (seta preta) e infiltrado inflamatório no pericárdio (setas cinzas), objetiva 20x. (C) Área de necrose (setas pretas) e infiltrado inflamatório discreto(seta cinza), objetiva 20x. (D) Área de necrose, com destaque para as células anucleadas das fibras cardíacas (setas pretas), objetiva 40x. (E) Presença de vasos sanguíneos congestos (seta preta) e infiltrado inflamatório no pericárdio (seta cinza), objetiva 20x. (F) Presença de matriz extracelular e fibroblastos (seta preta), objetiva 20x. Coloração HE. Microscópio Nikon Eclipse Nis, Software Nis 4.0. A E F D C B 47 5.2.2.2 Análise histológica do tecido renal (córtex e medula) Figura 26 - Fotomicrografias das alterações no tecido renal, induzidas pela onco-A em ratos submetidos ao protocolo experimental de pressão arterial média. (A) Grupo controle sem alterações, córtex renal, objetiva 20x. No grupo tratado com onco-A, observou-se: (B) Degeneração tubular hidrópica tubular (seta cinza) e depósito de material proteináceo na luz tubular (seta preta), objetiva 40x. (C) Presença de vaso sanguíneo congesto (seta cinza), edema intersticial (seta preta) e degeneração tubular (seta branca), objetiva 40x. (D) Infiltrado inflamatório moderado na região periglomerular (seta preta), objetiva 40x. (E) Fibrose intersticial (seta branca) e hemorragia (seta preta), objetiva 40x. Coloração HE. Microscópio Nikon Eclipse Nis, Software Nis 4.0. A B C D E 48 5.3 Efeitos da onco-A na perfusão de rim isolado de rato Após a administração da onco-A foram observadas alterações na fisiologia renal nos parâmetros avaliados. Considerou-se como controle interno o tempo 30min do grupo tratado, por ser um período em que ainda não havia sido administrada a onco-A, e controle externo o grupo perfundido durante todo protocolo experimental apenas com a solução de Krebs-Henseleit modificada. Pode-se observar um aumento na pressão de perfusão (PP) aos 60, 90 e 120min nos três grupos estudados (onco-A nas concentrações 1 µg/mL, 3µg/mL e 10µg/mL) quando comparados ao controle interno destes grupos, e aumento significativo para os tempos 90 e 120min quando comparados ao grupo controle
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