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2017-tese-pcpaula

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ 
CENTRO DE CIÊNCIAS 
DEPARTAMENTO DE BIOQUÍMICA E BIOLOGIA MOLECULAR 
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM BIOQUÍMICA 
 
 
 
 
 
 
PAULO CARVALHO DE PAULA 
 
 
 
 
 
 
MORINGA OLEIFERA LAM.: UMA FONTE VEGETAL DE PROTEÍNAS 
HIPOGLICEMIANTES E HIPOLIPEMIANTES 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
FORTALEZA 
2017 
 
 
PAULO CARVALHO DE PAULA 
 
 
 
 
MORINGA OLEIFERA LAM.: UMA FONTE VEGETAL DE PROTEÍNAS 
HIPOGLICEMIANTES E HIPOLIPEMIANTES 
 
 
 
Tese de Doutorado apresentada ao 
Programa de Pós-Graduação em 
Bioquímica da Universidade Federal do 
Ceará, como parte dos requisitos para 
obtenção do título de Doutor em 
Bioquímica. Área de concentração: 
Bioquímica Vegetal. 
 
Orientadora: Profa. Dra. Daniele de 
Oliveira Bezerra de Sousa 
 
Co-orientadora: Profa. Dra. Ilka Maria 
Vasconcelos 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
FORTALEZA 
2017 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
PAULO CARVALHO DE PAULA 
 
 
MORINGA OLEIFERA LAM.: UMA FONTE VEGETAL DE PROTEÍNAS 
HIPOGLICEMIANTES E HIPOLIPEMIANTES 
 
Tese de Doutorado apresentada ao 
Programa de Pós-Graduação em 
Bioquímica da Universidade Federal do 
Ceará, como parte dos requisitos para 
obtenção do título de Doutor em 
Bioquímica. Área de concentração: 
Bioquímica Vegetal. 
 
Aprovada em / / . 
 
BANCA EXAMINADORA 
 
_______________________________________________ 
Profa. Dra. Daniele de Oliveira Bezerra de Sousa (Orientadora) 
Universidade Federal do Ceará (UFC) 
 
_______________________________________________ 
Profa. Dra. Ilka Maria Vasconcelos (Co-orientadora) 
Universidade Federal do Ceará (UFC) 
 
__________________________________________________ 
Profa. Dra. Norma Maria Barros Benevides 
Universidade Federal do Ceará (UFC) 
 
___________________________________________________ 
Profa. Dra. Adriana Rolim Campos Barros 
Universidade de Fortaleza (UNIFOR) 
 
__________________________________________________ 
Dra. Carla Freire Celedônio Fernandes 
Fundação Oswaldo Cruz (FIOCRUZ) 
 
 __________________________________________________ 
Prof. Dr. Ariclécio Cunha de Oliveira 
Universidade Estadual do Ceará (UECE) 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
A Deus. 
À minha mãe, Maria do Socorro. 
 
 
AGRADECIMENTOS 
 
A Deus, pelo dom da vida e por todas as graças a mim concedidas. 
À minha mãe, Maria do Socorro, pessoa que mais amo nesse mundo, a 
quem devo tudo que sou e que tenho. 
À professora Ilka Maria Vasconcelos, mulher que tanto admiro por sua 
competência, profissionalismo, zelo pela ciência, bondade e caráter. Mulher 
guerreira, pesquisadora exemplar, de admirável inteligência, que eu considero a 
maior responsável por essa minha conquista. Meu sincero e eterno agradecimento. 
À minha tia, Jacinta Carvalho, minha tia-mãe, a quem eu tanto amo, e à 
sua filha, Jamilly Carvalho, minha prima-irmã, que mora dentro do meu coração. 
À minha amada, Rochele Batista, por seu amor, sua torcida, incentivo e 
permanência ao meu lado nos momentos alegres e também difíceis. 
À minha orientadora, professora Daniele de Oliveira Bezerra de Sousa, 
pelos ensinamentos, correções e auxílio nesse momento tão importante para mim. 
Aos membros da banca examinadora, Dra. Norma Maria Barros 
Benevides, Dra. Adriana Rolim Campos Barros, Dra. Carla Freire Caledônio 
Fernandes e Dr. Ariclécio Cunha de Oliveira, por terem aceitado participar da 
avaliação do meu trabalho, em meio a tantos compromissos acadêmicos e 
particulares. 
Ao professor José Tadeu Abreu de Oliveira, pelos valiosos ensinamentos, 
pelas maravilhosas aulas e por ter permitido acesso ao seu laboratório para 
realização de experimentos; aos seus estudantes, em especial Thiago Fernandes e 
Pedro Filho. 
À professora Ana de Fátima Fontenele Urano Carvalho, por ter aberto as 
portas de seu laboratório para execução de procedimentos experimentais. 
À aluna Bella Giselly, por suas contribuições experimentais para 
composição desse trabalho. 
Aos meus colegas de trabalho do Laboratório de Proteínas Tóxicas 
(LabTox): Mariana Reis, Tarcymara Garcia, Nadine Monteiro, Ana Paula, Halisson 
Araújo, Yara de Castro e Mayara Melo. Um agradecimento especial a Lucas Dias e 
Helen Costa, pela grande auxílio nos experimentos e aos doutorandos Tiago 
Deiveson e João Xavier, dois grandes amigos que encontrei nesse período de 
Doutorado e cujo vínculo espero manter por toda a vida. 
 
 
À professora e nutricionista Ana Paula Moreira, por sua compreensão em 
determinados momentos, por sua torcida , incentivo, compromisso, auxílio e por tudo 
que fez em meu benefício. 
À Clarissa Rocha, pela torcida, dicas e conselhos. 
A todos os professores e servidores técnico-administrativos que fazem 
parte do Departamento de Bioquímica e Biologia Molecular/Programa de Pós-
Graduação em Bioquímica da UFC. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
AGRADECIMENTOS 
 
Os trabalhos experimentais que compõem esta tese foram realizados com 
o apoio dos seguintes Programas/Instituições: 
UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ - através das atividades de capacitação no 
ensino e pesquisa em Bioquímica realizadas em parceira com o Laboratório de 
Toxinas Vegetais-LABTOX, sob a coordenação da Profa. Dra. Ilka Maria 
Vasconcelos, Laboratório de Bioprospecção de Recursos Regionais - 
BIOPROSPEC, sob a coordenação da Profa. Dra. Ana de Fátima Fontenele Urano 
Carvalho e com o Laboratório de Proteínas Vegetais de Defesa, sob a 
coordenação do Prof. Dr. José Tadeu Abreu de Oliveira. 
UNIVERSIDADE DE FORTALEZA ( UNIFOR) - através de atividades experimentais 
executadas no Laboratório de Análise Proteômica do Núcleo de Biologia 
Experimental (NUBEX), sob coordenação da Profa. Dra. Ana Cristina de Oliveira 
Monteiro-Moreira. 
COORDENAÇÃO DE APERFEIÇOAMENTO DE PESSOAL DE ENSINO 
SUPERIOR (CAPES) – Através da concessão de bolsa de pós-graduação ao autor 
deste trabalho. 
DEMAIS INSTITUIÇÕES DE FOMENTO E APOIO À PESQUISA COMO: CNPq e 
FUNCAP, que contribuiram para a melhoria nas condições experimentais e na 
formação de recursos humanos dentro do Programa de Pós-Graduação em 
Bioquímica da UFC. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
“Dê-me, Senhor, agudeza para entender, 
capacidade para reter, método e 
faculdade para aprender, sutileza para 
interpretar, graça e abundância para falar, 
acerto ao começar, direção ao progredir e 
perfeição ao concluir.” 
(São Tomás de Aquino) 
 
 
RESUMO 
 
O diabetes mellitus é caracterizado por hiperglicemia e complicações vasculares, 
responsáveis por elevada morbimortalidade. Projeções mundiais do aumento no 
número de diabéticos já foram divulgadas. Isso justifica a busca de compostos 
vegetais hipoglicemiantes, para formulação de fármacos para o tratamento do 
diabetes. Nesse contexto, proteínas vegetais são incluídas no arsenal de moléculas 
com potencial hipoglicêmico. O presente trabalho teve como objetivo a obtenção de 
proteínas hipoglicemiantes do tegumento de sementes e das folhas de Moringa 
oleifera, uma planta nativa da Índia. Dessa espécie, uma fração proteica do 
tegumento de sementes (Mo-TEG) e uma proteína das folhas (Mo-S3) foram obtidas, 
ambas com efeito hipoglicemiante. Mo-TEG apresentou rendimento proteico de 
40%, correspondendo a um teor de 0,66 mg de proteína/g de farinha do tegumento. 
Tal fração mostrou reação cruzada com o anticorpo anti-insulina humana. Em 
camundongos com diabetes induzido por aloxano, Mo-TEG mostrou efeito 
hipoglicemiante em curto prazo, após administração intraperitoneal ou oral, com 
efeito mais pronunciado pela primeira via (72,3% vs 39,6%, após 5 h da 
administração). Ainda pela via intraperitoneal, Mo-TEG melhorou a tolerância à 
glucoseadministrada oralmente, gerando redução glicêmica e melhora do perfil 
lipídico sérico quando administrada por 10 dias em camundongos diabéticos. Com 
relação à proteína das folhas de M. oleifera, Mo-S3 foi purificada por cromatografias 
em DEAE-Celulose e Sephacryl S-200, com índice de purificação de 891,53 vezes e 
rendimento proteico de 1,04%. Mo-S3 possui massa molecular de 8,6 kDa, revelada 
por espectrometria de massas sob condições nativas. Além de apresentar epítopos 
antigênicos do tipo insulina, Mo-S3 exerceu efeito hipoglicemiante após 
administração intraperitoneal, em dose única ou doses repetidas. Contrariamente a 
Mo-TEG, Mo-S3 não mostrou efeito hipoglicemiante por via oral. Mo-TEG e Mo-S3 
exerceram efeito hipolipemiante em camundongos diabéticos. Os resultados obtidos 
demonstram que proteínas estão incluídas no arsenal de moléculas hipoglicemiantes 
presentes em M.oleifera, o que possibilita sua inserção na pesquisa voltada à 
produção de drogas para o tratamento do diabetes. 
 
Palavras-chave: Moringa oleifera. Proteínas vegetais hipoglicemiantes. Diabetes 
mellitus. 
 
 
ABSTRACT 
 
Diabetes mellitus is characterized by chronic hyperglycemia associated with vascular 
complications, which cause high morbidity and mortality rates. World projections of 
the increase in the diabetic number have already been done. This reinforces the 
search for hypoglycemic plant compounds in the perspective of their use on drug 
formulation for diabetes treatment. In this context, plant proteins have been included 
in the arsenal of molecules with hypoglycemic potential. The aim of the present work 
was to obtain hypoglycemic proteins from the seed coat and leaves of Moringa 
oleifera, a plant native to India. From this species, a protein fraction from the seed 
coat (Mo-TEG) and a protein from the leaves (Mo-S3) were obtained, both with 
hypoglycemic effect. Mo-TEG showed a protein yield of 40%, corresponding to 0.66 
mg protein/g of seed coat flour. Mo-LPI was able to cross-react with human anti-
insulin antibodies. In alloxan-induced diabetic mice, Mo-TEG showed a short-term 
hypoglycemic effect after intraperitoneal or oral administration, with a higher effect 
through the first route (72.3% vs 39.6% 5 h after the administration). Also by the 
intraperitoneal route, Mo-TEG improved the tolerance to orally administered glucose, 
exhibiting hypoglycemic effect and improvement of the serum lipid profile when 
administered along 10 days to alloxan-induced diabetic mice. Regarding to protein 
from M. oleifera leaves, Mo-S3 was purified by DEAE-Cellulose and Sephacryl S-200 
chromatography, with a 891.53-fold purification and 1.04% yield. Mo-S3 is a 8.6 kDa 
protein as revealed by mass spectrometry under native conditions. In addition to the 
presence of insulin epitopes, Mo-S3 showed hypoglycemic effect after intraperitoneal 
administration, in a single dose or repeated doses. Conversely, no significant 
hypoglycemic effect was observed in diabetic mice when Mo-S3 was orally 
administered. Moreover, Mo-TEG and Mo-S3 showed hypolipidemic effect in diabetic 
mice. Altogether, these data demonstrate that proteins belong to the set of 
hypoglycemic molecules of M.oleifera, which allow their insertion in biomedical 
research in order to produce drugs to treat diabetes. 
 
Keywords: Moringa oleifera. Hypoglycemic plant proteins. Diabetes mellitus. 
 
 
 
 
 
LISTA DE FIGURAS 
 
Figura 1 - Pessoas com diabetes ao redor do mundo e por região entre 
2015 e 2040 .................................................................................. 
 
22 
Figura 2 - Sintomas clássicos de diabetes ................................................... 26 
Figura 3 - Evolução dos eventos fisiopatológicos até o estabelecimento 
de diabetes tipo 2 ......................................................................... 
 
29 
Figura 4 - Disfunção endotelial como evento promotor da aterosclerose ..... 31 
Figura 5 - Modificações epigenéticas induzidas pelo diabetes e 
consequente indução e manutenção de disfunção endotelial e 
inflamação vascular....................................................................... 
 
 
33 
Figura 6 - Espécies de plantas que apresentam compostos secundários 
com atividade hipoglicemiante e potencial antidiabético............... 
 
37 
Figura 7 - Plantas com proteínas hipoglicemiantes do tipo insulina ............. 39 
Figura 8 - Moringa oleifera Lam .................................................................... 44 
Figura 9 - Fluxograma de obtenção de Mo-TEG .......................................... 52 
Figura 10 - Sequência de procedimentos executados durante o período 
de adaptação dos animais............................................................. 
 
56 
Figura 11 - Perfil eletroforético em PAGE-SDS de Mo-TEG submetida 
ao tratamento com pepsina .......................................................... 
 
62 
Figura 12 - Perfil eletroforético em PAGE-SDS de Mo-TEG submetida 
ao tratamento com tripsin ............................................................. 
 
63 
Figura 13 - Detecção de proteínas do tipo insulina em Mo-TEG .................... 65 
Figura 14 - Precipitação de proteínas presentes em Mo-TEG induzida 
por zinco ....................................................................................... 
 
66 
Figura 15 - Efeito da administração intraperitoneal de Mo-TEG, em dose 
única, na glicemia de animais diabéticos ..................................... 
 
69 
Figura 16 - Efeito da administração intraperitoneal de Mo-TEG, em dose 
única, na glicemia de animais diabético ....................................... 
 
72 
Figura 17 - Curva glicêmica referente ao teste oral de tolerância à glucose 
em animais diabéticos submetidos à administração 
intraperitoneal de Mo-TEG ........................................................... 
 
 
 
74 
 
 
Figura 18 - Área sob a curva (ASC) referente à curva glicêmica do teste oral 
de tolerância à glucose em animais diabéticos submetidos 
à administração intraperitoneal de Mo-TEG ................................ 
 
 
75 
Figura 19 - Efeito da administração intraperitoneal diária, ao longo de 10 
dias, de Mo-TEG .......................................................................... 
 
77 
Figura 20 - Efeito da administração intraperitoneal diária de Mo-TEG, por 
10 dias, nos níveis séricos de colesterol total .............................. 
 
79 
Figura 21 - Efeito da administração intraperitoneal diária de Mo-TEG, por 
10 dias, nos níveis séricos da fração lipoproteica HDL ................ 
 
80 
Figura 22 - Efeito da administração intraperitoneal diária de Mo-TEG, por 
10 dias, nos níveis séricos de triacilglicerol .................................. 
 
81 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
LISTA DE TABELAS 
Tabela 1 - Critérios para diagnóstico de pré-diabetes e de diabetes, 
segundo American Diabetes Association (2017) .......................... 
 
24 
Tabela 2 - Teor de proteínas e rendimento proteico ao longo das etapas de 
obtenção de Mo-TEG ................................................................... 
 
61 
Tabela 3 - Ocorrências comportamentais durante o período de adaptação 
dos camundongos ........................................................................ 
 
68 
Tabela 4 - Percentual de aumento ou redução glicêmica promovido 
pela administração intraperitoneal de Mo-TEG em 
camundongos diabéticos .............................................................. 
 
 
70 
Tabela 5 - Percentual de aumento ou redução glicêmica promovido 
pela administração por via intrasgástrica de Mo-TEG .................. 
 
73 
Tabela 6 - Glicemia dos camundongos submetidos ao teste de doses 
repetidas nos dias 6 e 9 do experimento,após 
administração de insulina ............................................................ 
 
 
78 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS 
 
AGE Produtos finais de glicosilação avançada 
ASC Área sob a curva 
BCIP 5- bromo-4-cloro-3-indolil-fosfato 
bFGF Fator de crescimento fibroblástico básico 
BSA Albu ina sérica bovina 
DM Diabetes mellitus 
DM 1 Diabetes mellitus tipo 1 
DM 2 Diabetes mellitus tipo 2 
EGF Fator de crescimento epidermal 
eNOS Óxido nítrico sintase endotelial 
EROS Espécies reativas de oxigênio 
GAD65 Isoforma 65 da descarboxilase do ácido glutâmico 
HbA1c Hemoglobina glicada do tipo A1c 
HDL Lipoproteína de alta densidade 
IA-2 Isoforma 2 datirosina fosfatase associada à insulinoma 
IGF-1 Isoforma 1 do fator de crescimento do tipo insulina 
IL-1 Interleucina 1 
IL-6 Interleucina 6 
LDL Lipoproteína de baixa densidade 
MCP-1 Isoforma 1 da proteína quimioatrativa de monócitos 
NBT Azul de nitro tetrazólio 
NF-kB Fator nuclear de transcrição kappa-B 
PAI-1 Inibidor do tipo 1 do ativador do plasminogênio 
PDGF Fator de crescimentoderivado de plaquetas 
 
 
PVDF Fluoreto de polivinilideno 
SDS Dodecil-sulfato de sódio 
SIRT-1 Sirtuína 1 
TGF Fator de crescimento transformante 
TNF-α Fator de necrose tumoral alfa 
TOTG Teste oral de tolerância à glucose 
UH Unidades de hemaglutinação 
VCAM-1 Isoforma 1 da molécula de adesão celular vascular 
ZnT8 Isoforma 8 dotransportador de zinco 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
SUMÁRIO 
1 INTRODUÇÃO .................................................................................... 18 
2 REFERENCIAL TEÓRICO ................................................................. 21 
2.1 Diabetes mellitus: uma doença epidêmica ..................................... 21 
2.2 A busca de fontes naturais para o tratamento do diabetes .......... 32 
2.2.1 Gallega officinalis ............................................................................. 34 
2.2.2 Abelmoschus moschatus ................................................................ 34 
2.2.3 Annona squamosa ............................................................................ 35 
2.2.4 Pinus pinaster ................................................................................... 35 
2.2.5 Salacia oblonga ................................................................................. 35 
2.2.6 Croton cajucara ................................................................................. 35 
2.2.7 Achyrocline satureioides ................................................................. 36 
2.2.8 Outras espécies de plantas com propriedades hipoglicemiantes 36 
2.3 Proteínas vegetais hipoglicemiantes: um potencial pouco 
especulado ........................................................................................ 
 
38 
2.3.1 Canavalia ensiformis ........................................................................ 40 
2.3.2 Vigna unguiculata ............................................................................. 40 
2.3.3 Bauhinia variegata ............................................................................ 40 
2.3.4 Momordica charantia ........................................................................ 41 
2.3.5 Momordica cymbalaria ..................................................................... 41 
2.3.6 Costus igneus ................................................................................... 42 
2.3.7 Urtica pilulifera .................................................................................. 42 
2.4 Moringa oleifera: seu potencial antidiabético e sua inserção na 
pesquisa prospectiva de proteínas hipoglicemiantes .................. 
 
43 
3 CONSIDERAÇÕES GERAIS ............................................................. 47 
4 OBJETIVOS ....................................................................................... 48 
4.1 Geral ................................................................................................... 48 
4.2 Específicos ........................................................................................ 48 
5 MATERIAIS ........................................................................................ 49 
5.1 Material vegetal ................................................................................. 49 
5.2 Animais experimentais ..................................................................... 49 
5.3 Reagentes químicos ......................................................................... 49 
 
 
6 MÉTODOS .......................................................................................... 51 
6.1 Obtenção de proteínas a partir do tegumento de sementes de 
M. oleifera .......................................................................................... 
 
51 
6.2 Quantificação de proteínas .............................................................. 51 
6.3 Caracterização bioquímica de Mo-TEG .......................................... 53 
6.3.1 Avaliação da digestibilidade in vitro ............................................... 53 
6.3.2 Avaliação da atividade hemaglutinante .......................................... 53 
6.3.3 Ensaio de dot blot ............................................................................. 54 
6.3.4 Avaliação da precipitação por zinco ............................................... 54 
6.4 Ensaios in vivo para prospecção do efeito hipoglicemiante de 
Mo-TEG .............................................................................................. 
 
55 
6.4.1 Adaptação dos animais .................................................................... 55 
6.4.2 Indução de diabetes experimental .................................................. 55 
6.4.3 Prospecção de ação hipoglicemiante - teste de dose única ........ 57 
6.4.4 Teste oral de tolerância à glucose .................................................. 57 
6.4.5 Prospecção de ação hipoglicemiante – teste de doses repetidas 58 
6.4.6 Prospecção de ação hipolipemiante ............................................... 58 
6.5 Toxicidade aguda .............................................................................. 59 
6.6 Análise estatística ............................................................................. 59 
7 RESULTADOS ................................................................................... 60 
7.1 Obtenção de proteínas a partir do tegumento de sementes de 
M. oleifera .......................................................................................... 
 
60 
7.2 Caracterização bioquímica de Mo-TEG .......................................... 60 
7.3 Ensaios in vivo para prospecção de efeito hipoglicemiante de 
Mo-TEG .............................................................................................. 
 
67 
7.4 Toxicidade aguda .............................................................................. 76 
8 DISCUSSÃO ....................................................................................... 82 
9 ARTICLE ............................................................................................ 89 
9.1 Introduction ....................................................................................... 89 
9.2 Materials and Methods ..................................................................... 90 
9.2.1 Plant material .................................................................................... 90 
9.2.2 Animals .............................................................................................. 90 
9.2.3 Purification of the hypoglycemic protein from M. oleifera leaves 91 
 
 
. 
9.2.4 Protein determination ………………………………………………… 91 
9.2.5 Electrophoretic profile ………………………………………………..... 91 
9.2.6 Dot blot assay ……………………………………………………………. 92 
9.2.7 Massspectrometry analysis ………………………………………… 92 
9.2.8 Hemagglutinating activity …………………………………………… 92 
9.2.9 Hemolytic activity ……………………………………………………..... 93 
9.2.10 Induction of experimental diabetes ………………………………….. 93 
9.2.11 Single dose test in alloxan-induced diabetic mice ……………….. 94 
9.2.12 Repeated dose test in alloxan-induced diabetic mice ……………. 94 
9.2.13 Statistical analysis ……………………………………………………… 95 
9.3 Results ……………………………………………………………………. 95 
9.3.1 Purification of Mo-S3 …………………………………………………… 95 
9.3.2 Effect of Mo-S3 on fasting blood glucose in alloxan-induced 
diabetic mice …………………………………………………………….. 
 
102 
9.3.3 Effect of Mo-S3 on signs of chronic hyperglycemia ……………… 102 
9.3.4 Effect of Mo-S3 on serum lipids levels ……………………………… 108 
9.4 Discussion ……………………………………………………………….. 110 
10 CONCLUSÕES ................................................................................... 114 
 
 
REFERÊNCIAS .................................................................................. 115 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
18 
 
1 INTRODUÇÃO 
 
O diabetes mellitus (DM) e suas complicações crônicas representam uma 
causa importante de morbimortalidade no mundo atual. Avançando em proporções 
epidêmicas, tal enfermidade exigirá do sistema de saúde um rigoroso planejamento 
no que se refere às políticas públicas de atendimento e de vigilância de novos 
casos, além de um programa intensivo quanto à disponibilização de verbas 
financeiras para tal empreendimento (INTERNATIONAL DIABETES FEDERATION, 
2015; AMERICAN DIABETES ASSOCIATION, 2017). 
 A morbidade ocasionada pelo DM se deve à hiperglicemia crônica, 
evento que caracteriza essa patologia. O aumento dos níveis glicêmicos é devido à 
redução total ou parcial da secreção de insulina pelo pâncreas e/ou à diminuição na 
ação desse hormônio. Cegueira adquirida, doença renal crônica, neuropatia e 
doença aterosclerótica são algumas das complicações associadas ao estado 
hiperglicêmico crônico do diabetes (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2014). 
Para minimizar ou evitar a ocorrência de complicações crônicas, ou 
mesmo com o intuito de atrasar o aparecimento de tais condições clínicas, faz-se 
necessário uma boa adesão do paciente aos tratamentos farmacológico e 
dietoterápico, além da adoção de um estilo de vida onde o sedentarismo, tabagismo 
e alcoolismo crônico devem ser excluídos (SOCIEDADE BRASILEIRA DE 
DIABETES, 2016). Atualmente, diversos análogos de insulina, produzidos por meio 
da tecnologia do DNA recombinante, são utilizados para o tratamento do diabetes 
mellitus tipo 1 (DM1). A adesão à administração subcutânea diária desses análogos 
é imprescindível para a manutenção do controle glicêmico. Existem também diversas 
classes de hipoglicemiantes orais, disponibilizados para o tratamento do diabetes 
mellitus tipo 2 (DM2) (AMERICAN DIABETES ASSOCIATION, 2017). 
Nesse contexto de tratamento para a manutenção de um bom controle 
glicêmico, alternativas complementares têm sido adotadas por diversas culturas, 
baseando-se, principalmente, na utilização de plantas. Folhas, sementes e raízes 
são utilizadas para consumo direto ou elaboração de chás e produtos naturais que, 
quando consumidos, promovem redução gicêmica. Isso tem sido abordado e 
justificado em estudos etnofarmacológicos, que comprovaram a eficácia de tais 
produtos como agentes hipoglicemiantes, creditando-se tal efeito especialmente aos 
metabólitos secundários (COMAN; RUGINA; SOCACIU, 2012). 
19 
 
Apesar dos compostos derivados do metabolismo secundário vegetal 
terem o maior crédito com relação ao potencial hipoglicemiante, outros metabólitos 
incluem-se no arsenal de moléculas promotoras de redução glicêmica, presentes em 
diversas espécies de plantas. Apesar da menor divulgação na literatura científica, 
em comparação com compostos de outra natureza química, as proteínas 
hipoglicemiantes têm ganhado destaque na prospecção de compostos vegetais no 
contexto da biotecnologia médica Algumas proteínas vegetais hipoglicemiantes 
apresentam, inclusive, características bioquímicas similares às da insulina de 
mamíferos, levantando a hipótese de que moléculas do tipo insulina tem sido 
conservadas ao longo da evolução biológica (PAULA et al., 2016). 
Uma espécie vegetal que se destaca na prospecção de compostos 
hipoglicemiantes é a Moringa oleifera Lam. Nativa do nordeste da índia, essa 
espécie é utilizada como insumo alimentar habitual nessa região e na África, sendo, 
também, usada como alternativa complementar para o tratamento de diversas 
doenças, incluindo o DM (GOYAL et al., 2007). Recentemente, nosso grupo de 
pesquisa relatou a presença de compostos hipoglicemiantes de natureza proteica 
em folhas e tegumento de sementes M. oleifera, o que insere essa espécie no 
conjunto de plantas das quais se tem obtido proteínas hipoglicemiantes (PAULA et 
al., 2016; PAULA et al., 2017). Nesse sentido, a pesquisa científica a ser relatada na 
presente tese é referente a resultados relativos a uma fração proteica obtida do 
tegumento de sementes e à purificação de uma proteína hipoglicemiante de folhas 
de M. oleifera. Para isso, o trabalho foi guiado pelas seguintes perguntas de partida: 
- Além dos efeitos hipoglicemiantes, proteínas do tegumento de sementes 
e de folhas de M. oleifera teriam outras propriedades capazes de 
contribuir para minimização dos efeitos deletérios associados ao DM? 
- A proteína hipoglicemiante purificada de folhas teria características 
bioquímicas similares às da insulina de mamíferos? 
Assim, a proposta deste trabalho é verificar o potencial hipoglicemiante de 
proteínas obtidas do tegumento de sementes e de folhas de M. oleifera, de forma a 
contribuir para a elucidação de suas propriedades e possibilidades de aplicação 
como agentes terapêuticos no tratamento do diabetes. Visando maior clareza na 
abordagem do estudo realizado, a tese foi estruturada da seguinte forma: 
20 
 
 
- Capítulo 1 – Referencial Teórico – Diabetes mellitus e compostos 
hipoglicemiantes de plantas; 
- Capítulo 2 – Proteínas do tegumento de sementes de M. oleifera como 
potenciais agentes hipoglicemiantes e hipolipemiantes; 
- Capítulo 3 – Purificação e caracterização uma proteína hipoglicemiante 
de folhas de M. oleifera. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
21 
 
2 REFERENCIAL TEÓRICO 
 
2.1 Diabetes mellitus: uma doença epidêmica 
 
Um fator de risco cardiovascular bem descrito na literatura; uma 
importante causa de cegueira adquirida, de amputações de membros inferiores e de 
considerável morbidade; traços epidêmicos na contabilização e nas projeções de 
novos casos. Essas são algumas das características de uma patologia que 
impulsiona a pesquisa científica à busca de maior entendimento fisiopatológico: o 
diabetes mellitus (DM) (INTERNATIONAL DIABETES FEDERATION, 2015) 
Por definição, o DM consiste em um grupo de condições clínicas que 
possuem, em comum, a presença de hiperglicemia, resultante de defeitos na 
secreção e/ou ação da insulina. Autoimunidade deflagrada contra as células β 
pancreáticas secretoras de insulina é o evento promovedor do diabetes mellitus tipo 
1 (DM1), que se caracteriza por deficiência absoluta de insulina e, portanto, 
requerendo tratamento com insulina exógena (AMIEL et al., 2015). O outro tipo 
clínico de diabetes, mais conhecido e frequente, o diabetes mellitus tipo 2 (DM2), 
envolve uma interação de eventos (lesão primária das células β e resistência à 
insulina) que regem a deficiência relativa de insulina, ocasionado uma condição 
hiperglicêmica de caráter mais assintomático e, dessa forma, mais devastadora 
(KAHN; COOPER; PRATO, 2014). 
O avanço do DM ocorre em proporções alarmantes e, efetivamente, uma 
epidemia de DM está em curso (Figura 1). Isso se deve ao crescimento e 
envelhecimento populacional, à maior urbanização, ao aumento da prevalência de 
obesidade e sedentarismo e de outros fatores. Estima-seque, atualmente, o número 
de diabéticos no mundo fique em torno de 387 milhões, com projeções de 471 
milhões em 2035. No Brasil, em 2014, foi estimado que existia cerca de 11,9 milhões 
de indivíduos diabéticos, na faixa etária de 20 a 79 anos, com estimativas para 19,2 
milhões em 2035 (SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES, 2016). 
 
 
 
 
22 
 
Figura 1 – Pessoas com diabetes ao redor do mundo e por região entre 2015 e 2040 
 
Fonte: International Diabetes Federation, 2015. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
23 
 
O DM é uma importante causa de mortalidade. Estimativas mundiais no 
início do século 21 atribuíram cerca de 5,2% dos óbitos ao DM, o que categoriza tal 
doença como a quinta principal causa de morte. Na maioria dos países 
desenvolvidos, essa doença representa entre a quarta e a oitava causa de óbito. 
Dados brasileiros de 2011 indicaram as seguintes taxas de mortalidade por DM 
(número de indivíduos por 100 mil habitantes) para a população geral, homens e 
mulheres, respectivamente: 33,7; 27,2; 32,9 (ROGLIC et al., 2005); BRASIL, 2014). 
Além do impacto na vida dos indivíduos acometidos e dos familiares, o 
DM é uma doença onerosa para tais indivíduos e ao sistema de saúde. Os gastos 
diretos com DM variam entre 2,5 e 15% do orçamento anual da saúde de um país. 
No Brasil, o custo anual referente ao cuidado do paciente diabético é de 
aproximadamente 40,3 milhões, sendo 91% em função de internações hospitalares. 
Limitações no desempenho profissional por conta de complicações e consequente 
perda de produtividade também contribuem para o ônus de gastos desse custo 
social (SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES, 2016). 
Segundo diretrizes atuais, o DM pode ser diagnosticado baseando-se em 
critérios de glicemia plasmática, incluindo a glicemia de jejum e/ou a glicemia 
plasmática mensurada 2 h após um teste oral de tolerância à glucose (TOTG) 
(Tabela 1). A mensuração de hemoglobina glicada (HbA1C) é igualmente apropriada 
para tal diagnóstico, embora exista uma imperfeita correlação entre HbA1C e 
glicemia média em certos indivíduos (AMERICAN DIABETES ASSOCIATION, 2017). 
No caso da glicemia de jejum, o teste deve ser feito após ausência de 
ingestão calórica de no mínimo 8 h. O TOTG é performado por meio da ingestão de 
uma carga de glucose contendo o equivalente a 75 g de glucose anidra dissolvida 
em água. Glicemia de jejum, TOTG e HbA1C também podem diagnosticar indivíduos 
com pré-diabetes e numerosos estudos confirmaram que, comparado com os pontos 
de corte das medidas de glicemia de jejum e de HbA1C, o TOTG diagnostica mais 
pessoas com diabetes (AMERICAN DIABETES ASSOCIATION, 2017). 
 
 
 
 
 
24 
 
Tabela 1 – Critérios para diagnóstico de pré-diabetes e de diabetes, segundo 
American Diabetes Association (2017) 
Parâmetros 
Laboratoriais 
 Diagnóstico 
 Pré-dibetes Diabetes 
Glicemia de jejum 100-125 mg/dL
a
 ≥ 126,0 mg/dL 
Glicemia após 2 h do 
TOTG 
140-199 mg/dL
b
 ≥ 200,0 mg/dL 
HbA1C 5,7-6,4% ≥ 6,5% 
Screening glicêmico na 
presença de sintomas 
clássicos de 
hiperglicemia 
_______ ≥ 200,0 mg/dL 
a
 glicemia de jejum prejudicada 
b
 tolerância à glucose prejudicada 
 
 
 
 
 
 
25 
 
A sintomatologia do estado hiperglicêmico inclui poliúria (aumento no 
volume e frequencia de micção), polidipsia (aumento da sede), polifagia (aumento da 
fome), visão turva, aparecimento de feridas com difícil cicatrização e perda de peso, 
esse último principalmente no que se refere ao DM1 (Figura 2). No caso do DM1, 
tais sintomas tornam-se mais intensos até a procura por auxílio médico e, portanto, 
até o período de diagnóstico, não raramente resultando em internamentos 
hospitalares por conta de cetoacidose diabética (ATKINSON, 2012). Já para o DM2, 
ocorre uma evolução clínica mais assintomática, uma vez que os níveis glicêmicos 
em comparação ao DM1 são menores e, portanto, é frequente, no período de 
diagnóstico, a ocorrência concomitante de complicações (OZOUGWU, 2013). 
A fisiopatologia do DM1 manifesta-se através de eventos autoimunes, 
direcionados contra as células β pancreáticas. A quebra dessa tolerância 
imunológica é gerada por meio de interações entre componentes genéticos e 
ambientais, esses últimos podendo incluir estresse, dieta hipercalórica e 
hiperproteica, ingestão de leite de vaca no período anterior aos 6 meses de idade, 
nascimento pré-termo e infecções. Esse tipo clínico de diabetes acomete, 
usualmente, a faixa etária de crianças e adolescentes, o que justifica a utilização do 
termo "diabetes juvenil" para descrever o DM1 (WALLBERG; COOKE, 2013). 
O levante imunológico contra as células β pancreáticas inclui 
componentes celulares e humorais que, em conjunto, promovem necrose celular. O 
componente celular é composto pelo ataque promovido por macrófagos, linfócitos T 
e células matadoras naturais, os quais interagem na promoção dessa necrose. A 
atividade desse componente celular resulta em um processo inflamatório localizado 
nas ilhotas pancreáticas, denominado insulite, no qual está envolvida a secreção de 
citocinas pró-inflamatórias, como fator de necrose tumoral alfa (TNF-α) e 
interleucina-1 (IL-1). Achados histológicos dessa condição são caracterizada por 
uma infiltração de macrófagos nas ilhotas pancreáticas (WALLBERG; COOKE, 
2013). 
 
 
 
 
26 
 
Figura 2 – Sintomas clássicos de diabetes 
 
 Fonte: http://www.anad.org.br/ 
 
http://www.anad.org.br/
27 
 
O componente humoral é constituído pela presença de autoanticorpos 
direcionados contra componentes antigênicos das células β pancreáticas. Títulos 
desses autoanticorpos podem ser detectados ainda na fase pré-diabética e podem 
constituir-se como potenciais marcadores de lesão dessas células. Alguns exemplos 
desses autoanticorpos são aqueles direcionados contra os seguintes componentes 
presentes nas células β pancreáticas: ácido glutâmico descarboxilase isoforma 65 
(GAD65), tirosina fosfatase associada à insulinoma isoforma 2 (IA-2), transportador 
de zinco isoforma 8 (ZnT8) e insulina. O risco do desenvolvimento clínico da doença, 
com hiperglicemia evidente, cresce com o aumento do número de autoanticorpos 
(KAWASAKI, 2014). 
O tempo necessário para se estabelecer uma taxa de necrose suficiente 
para o aparecimento dos sintomas no DM1 é muito variável, dependendo dos fatores 
ambientais a que se expõe o indivíduo geneticamente predisposto. A perda de 80% 
da massa de células β pancreáticas é o limiar para o estabelecimento de 
hiperglicemia. Assim, perdas celulares inferiores a 80% ainda permitem a 
manutenção de normoglicemia pelas células β pancreáticas residuais ainda não 
lesionadas, salientando-se que, o indivíduo, mesmo normoglicêmico, se encontra em 
um estágio clínico de pré-diabetes tipo 1 (AKIRAV; KUSHNER; HEROLD, 2008). 
O fluxo patológico dos eventos moleculares que direcionam o curso 
clínico do DM2 inclui dois fatores-chave: defeitos primários na secreção de insulina e 
resistência à insulina. Experimentalmente, tem-se verificado que a lesão primária de 
células β pancreáticas é o principal fator envolvido na predisposição genética ao 
DM2. Defeitos primários na função secretória de células β pancreáticas já foram 
identificados em indivíduos normoglicêmicos, mas com história familiar de DM2 
(FONSECA; JOHN-KALARICKAL, 2009; ALSAHLI; GERICH, 2010). 
Defeitos primários na função secretória das células β pancreáticas não 
são os únicos protagonizadores da evolução clínica para o DM2; a resistência à 
insulina também apresenta um papel importante dessa evolução, de forma que ela 
pode intensificar a lesão dessas células. Inicialmente, indivíduos com resistência à 
insulina mantém-se normoglicêmicos através de uma hipersecreção insulínica 
compensatória, o que sobrepuja a própria resistência à ação desse hormônio. Em 
indivíduos com histórico familiar de DM2, já foram identificadosdefeitos primários em 
algum aspecto da função secretória de células β pancreáticas, mesmo nesse estágio 
de hipersecreção (ALSAHLI; GERICH, 2010). 
28 
 
O que explica o papel da resistência à insulina na intensificação da lesão 
de células β pancreáticas é o cenário bioquímico no qual ela se insere: um estado 
inflamatório de baixa intensidade, porém crônico, caracterizado pela liberação de 
citocinas pró-inflamatórias, como TNF-α e IL-1 (Figura 3). A própria hiperinsulinemia 
compensatória é também um fator lesivo adicional às células β pancreáticas. Dessa 
forma, a progressiva lesão dessas células acaba por promover hiperglicemia que 
define o DM2 clinicamente instalado. A obesidade é uma condição que é associada 
a esse estado inflamatório de baixa intensidade e, por isso, o DM2 é muito frequente 
em indivíduos obesos (MCARDLE et al., 2013). 
A hiperglicemia prolongada é o fator-chave da geração de complicações 
de cunho vascular. Tais complicações podem ser agrupadas em complicações micro 
e macrovasculares: as primeiras, correspondendo a comorbidades como retinopatia, 
nefropatia e neuropatia diabética e, as segundas, agrupando o leque de desfechos 
com plano de fundo aterosclerótico, como infarto agudo do miocárdio, doença 
arterial periférica e acidente vascular encefálico. Uma vez que a hiperglicemia é o 
elemento mediador de tais complicações, o tratamento do diabetes visa 
prioritariamente à manutenção de níveis glicêmicos normais, na maior faixa temporal 
possível (FORBES; COOPER, 2013). 
São muitos os mecanismos pelos quais a hiperglicemia causa danos em 
órgãos-alvo, como olhos e rins. Embora diferentes, um fato comum rege o 
mecanismo de lesão dessas vias: o aumento da produção de espécies reativas de 
oxigênio (EROs) induzido pela hiperglicemia. Das vias de lesão celular que são 
ativadas, podem ser citadas: (1) o aumento da atividade da via dos polióis; (2) 
formação de produtos finais de glicação avançada (AGEs); (3) ativação da proteína 
quinase C (PKC) e (4) aumento na atividade da via das hexosaminas (BROWNLEE, 
2005). 
 
 
 
 
 
 
 
 
29 
 
Figura 3 – Evolução dos eventos até o estabelecimento de DM2 clínico 
 
 Fonte: próprio autor. 
 
30 
 
O diabetes é responsável por grande número de óbitos em virtude de 
eventos cardiovasculares, como o infarto agudo do miocárdio. Existem, portanto, 
vias de sinalização induzidas pela hiperglicemia não controlada que sustentam o 
plano de fundo aterosclerótico responsável por tais eventos (SIRACUSE; CHAIKOF, 
2012). Estresse oxidativo e vias de sinalização envolvendo quinases e fatores de 
transcrição interagem na promoção de dano vascular, por intermédio de um 
processo lesivo e progressivo denominado disfunção endotelial (AVOGARO et al., 
2011). As vias de lesão celular descritas anteriormente também têm relação com a 
deflagração do processo inflamatório aterosclerótico (REIS et al., 2008). 
A disfunção endotelial é caracterizada por modificações estruturais e 
funcionais de artérias, resultando em redução da luz arterial e, portanto, do fluxo 
sanguíneo (Figura 4). Tal processo envolve uma série de eventos celulares e 
inflamatórios que, pouco a pouco, obstruem o vaso: redução da produção de óxido 
nítrico endotelial; aumento na produção de moléculas de adesão como a molécula 
de adesão célula vascular (VCAM-1) e de proteína quimioatrativa de monócitos 
(MCP-1); diapedese de monócitos para a camada subendotelial e posterior ativação 
a macrófagos; produção de citocinas pró-inflamatórias pelos macrófagos e 
consequente sustentação do processo inflamatório; produção de fatores de 
crescimento pelo endotélio e por macrófagos que induzem a migração de células 
musculares lisas da camada média para a camada subendotelial (ALTABAS, 2015). 
A hiperglicemia persistente ativa um mecanismo denominado memória 
hiperglicêmica vascular, com mudanças epigenéticas que mantém a lesão vascular 
mesmo após momentos de posterior normalização glicêmica. A modulação de 
eventos epigenéticos como acetilação e metilação pelo ambiente hiperglicêmico 
promove dano vascular por ativar estresse oxidativo e vias inflamatórias (EL-OSTA 
et al., 2008). 
 
 
 
 
 
 
 
 
31 
 
Figura 4 – Disfunção endotelial como evento promotor da aterosclerose 
 
Fonte: (BAYNES; DOMINICZAK, 2010). 
 
32 
 
O estado diabético promove “down-regulation” do gene da desacetilase 
SIRT-1, resultando em aumento da acetilação do promotor do gene para a proteína 
adaptadora p66Shc. Ocorre concomitante hipometilação desse promotor induzida 
também pelo estado hiperglicêmico. Tais mudanças epigenéticas causam aumento 
mitocondrial de espécies reativas de oxigênio que, por sua vez, resulta em redução 
da atividade de óxido nítrico endotelial e, consequentemente, redução na produção 
de óxido nítrico, fator-chave na disfunção endotelial. O aumento de EROs também 
ativa a via do fator nuclear kappa B (NF-kB), o qual induz a produção de moléculas 
de adesão e de citocinas pró-inflamatórias, sustentando, assim, a inflamação 
vascular (Figura 5) (PANENI et al., 2013). 
 
2.2 A busca de fontes naturais para o tratamento do diabetes 
 
Muitas culturas têm utilizado formas alternativas para o tratamento do DM 
e essa abordagem é baseada principalmente na utilização de plantas que exibem 
propriedades hipoglicemiantes (PATIENCE; ESTELLA; PHILIP, 2014). Estudos 
etnofarmacológicos têm sustentado a utilização de tais plantas na medicina 
tradicional para o tratamento do DM, por meio da identificação dos compostos 
hipoglicemiantes presentes nas espécies utilizadas e do uso de modelos animais de 
diabetes (COMAN; RUGINǍ; SOCACIU, 2012). 
Hoje se conhece um vasto arsenal de moléculas isoladas de vegetais que 
são capazes de promover, de alguma forma, a redução dos níveis glicêmicos, 
apresentando, assim, potencial biotecnológico para utilização como agente 
hipoglicemiante. De fato, a existência de alguns fármacos hipoglicemiantes utilizados 
atualmente para o tratamento do DM2 apresenta uma relação com a utilização de 
plantas, como ervas, para tratar o diabetes e com a atividade investigativa de 
elucidação dos compostos vegetais que realizavam tal efeito. Tendo em vista que 
diversos fármacos utilizados na terapêutica do diabetes apresentam mecanismos 
verificados em compostos vegetais de ação hipoglicemiante, percebe-se a estreita 
relação entre a prospecção de tais moléculas e o desenvolvimento de novos 
fármacos (LAMBA et al., 2000; QASEEM et al., 2012). 
 
33 
 
Figura 5 – Modificações epigenéticas induzidas pelo DM e consequente indução e 
manutenção de disfunção endotelial e inflamação vascular 
 
 Fonte: Paneni et al., 2013. 
 
34 
 
Os efeitos hipoglicemiantes de extratos de tecidos de plantas são 
creditados, principalmente, a substâncias derivadas do metabolismo secundário 
vegetal (metabólitos secundários), que constituem moléculas com grande 
diversidade e complexidade estrutural, produzidas em pequena escala e 
apresentando distribuição mais restrita no reino vegetal. Enquanto as moléculas do 
metabolismo primário desempenham funções essenciais no vegetal, tal como 
fornecimento de energia e matéria-prima para biossíntese e crescimento, os 
metabólitos secundários estão relacionados a funções adaptativas, como as 
relacionadas aos mecanismos de defesa química (DORNAS et al., 2009; 
GERSHENZON, 2004; NEGRI, 2005). 
Em sua maioria, os compostos hipoglicemiantes de plantas pertencem à 
classe dos alcalóides e dos flavonoides (PATIENCE; ESTELLA; PHILIP, 2014). 
Componentes hipoglicemiantes naturais derivados de plantas também incluem 
moléculas da classe das cumarinas, glicosídeos cianogênicos, iridóides, 
fenolpropanóides, estilbenos, terpenóides, substâncias sulfúricas e xantonas 
(NEGRI, 2005). 
A seguir, serão exemplificadas espécies de plantas e seus compostos 
hipoglicemiantes. 
 
2.2.1 Galega officinalisA G. officinalis é uma leguminosa da subfamília faboidae, extensivamente 
utilizada com propósitos ornamentais e de adubagem. É uma espécie nativa da 
Europa, Rússia e Irã, onde se desenvolve em solos úmidos. Seu composto ativo 
hipoglicemiante é a galegina, um derivado de guanidina. Historicamente, a 
metiformina, um hipoglicemiante oral largamente utilizado no tratamento do DM2, foi 
desenvolvida por meio de estudos realizados com a galegina (LUKA; OMONIWA, 
2012). Uma fração livre de alcaloide, obtida do extrato de G. officinalis previne 
estresse oxidativo em ratos com diabetes (LUPAK et al., 2015). 
 
2.2.2 Abelmoschus moschatus 
 
A. moschatus é uma planta da Ásia e da América do Sul, da família 
Malvaceae. Seu princípio ativo hipoglicemiante é a miricetina, da classe dos 
35 
 
flavonoides. Estudos in vivo mostraram que a miricetina melhorou a sensibilidade à 
insulina em ratos (LIU et al., 2007). 
 
2.2.3 Annona squamosa 
 
A. squamos (ateira) pertence à família Annonaceae, cujo fruto é chamado 
de fruta-pinha, pinha ou fruta-do-conde. Seu composto hipoglicemiante, a 
quercetina-3-O-glicosídeo, isolada de suas folhas, exerceu efeitos hipoglicemiantes 
em modelos animais (PANDA; KAR, 2008). 
 
2.2.4 Pinus pinaster 
 
Popularmente conhecido como pinheiro-bravo, P. pinaster é uma espécie 
originária de regiões da Europa e Mediterrâneo. Seu tronco é coberto por uma casca 
espessa, da qual são obtidos, proantocianidinas, catequina e epicatequina, com 
propriedades hipoglicemiantes e antioxidantes. Extratos aquosos da casca do tronco 
exerceram efeitos hipoglicemiantes em ratos diabéticos e em humanos com DM2. As 
proantocianidinas de P. pinaster, que são oligômeros de catequinas e epicatequinas, 
possuem atividade inibitória de α-glicosidase, similar ao hipoglicemiante oral 
acarbose (BEDEKAR; SHAH; KOFFAS, 2010; SCHÄFER; HOGGER, 2007). 
 
2.2.5 Salacia oblonga 
 
Planta arbustiva nativa da índia, a S. oblonga é largamente utilizada na 
medicina tradicional para tratar o DM. Seu composto bioativo hipoglicemiante é a 
mangiferina, da classe das xantonas. Estudos mostraram que a mangiferina 
aumentou a expressão de transportadores de glucose e sua translocação até as 
membranas celulares em culturas de células musculares e adiposas, estimulando, 
assim, a captação desse monossacarídeo por tais células (GIRÓN et al., 2009). 
 
2.2.6 Croton cajucara 
 
A euforbiácea C. cajucara é uma espécie da região amazônica, utilizada 
para o tratamento de diversas doenças. A casca de seu tronco apresenta um 
36 
 
composto hipoglicemiante da classe dos diterpenos, a trans-desidrocrotonina, que 
mostrou potencial antidiabético em camundongos (SILVA et al., 2001). 
 
2.2.7 Achyrocline satureioides 
 
 A. satureioides, popularmente conhecida como macela, macela-do-
campo, macelinha ou macela de travesseiro, é uma erva da flora brasileira. Da 
família Asteraceae, tem formação arbustiva e é utilizada na medicina tradicional. O 
aquirofurano, um dibenzofurano prenilatado obtido dessa planta, promoveu 
significantes reduções glicêmicas em modelos animais (CARNEY et al., 2002). 
 
2.2.8 Outras espécies de plantas com propriedades hipoglicemiantes 
 
Muitas outras espécies vegetais foram listadas na literatura como 
apresentando potencial antidiabético. Extratos das folhas de Averrhoa bilimbi e de 
Biophytum sensitivum exerceram efeito hipoglicemiante pronunciado em ratos e 
coelhos diabéticos, respectivamente (PURI, 2001; PUSHPARAJ; TAN; TAN, 2001). 
Extratos ricos em antocianinas obtidos de blueberries foram eficientes na promoção 
de redução glicêmica em camundongos diabéticos, apresentando um efeito 
secretagogo de insulina em culturas de células β pancreáticas de roedores (GRACE 
et al., 2009; JAYAPRAKASAM et al., 2005). A Figura 6 mostra algumas das plantas 
aqui descritas. 
 
 
 
 
 
 
 
37 
 
Figura 6 – Espécies de plantas que apresentam compostos secundários com 
atividade hipoglicemiante e potencial antidiabético 
 
 Fonte: www.plantamed.com.br 
 A - Gallega officinalis; B - Abelmoschus moschatus; C - Annona squamosa; D - Pinus pinaster; 
E - Salacia oblonga; F - Croton cajucara. 
 
http://www.plantamed.com.br/
38 
 
2.3 Proteínas vegetais hipoglicemiantes: um potencial pouco especulado 
 
Embora se tenha dado muito crédito aos metabólitos secundários no 
protagonismo da ação hipoglicemiante verificada pela ingestão de extratos vegetais, 
pouco se tem discutido sobre observações e dados da literatura que relacionam 
ainda mais as plantas ao contexto biotecnológico de utilização no campo da 
diabetologia: dados que mostram a existência de proteínas do tipo insulina em 
vegetais (XAVIER-FILHO et al., 2003). 
Em 1923, logo após a descoberta da insulina em extratos etanólicos de 
pâncreas de cães (descoberta da qual Collip participou como um dos 
desenvolvedores do método de extração de insulina a partir de pâncreas de cães), 
autores reportaram a presença de materiais do tipo insulina em folhas de feijão 
verde, alface, cebola verde e folhas de trigo, cujos extratos promoveram reduções 
glicêmicas significantes em coelhos normais e em cães pancreatectomizados, após 
administração subcutânea (BANTING et al., 1922; COLLIP, 1923). 
Nos anos 70, um grupo indiano reportou a presença de insulina em 
plantas, patenteando o processo de obtenção de tal material, que se baseava em 
extração etanólica-acídica de frutos e sementes da cucurbitácea Momordica 
charantia (KHANNA et al., 1976). O produto obtido, que foi denominado 
polipeptídeo-p, mostrou atividade hipoglicemiante em gerbos da espécie Meriones 
hurrinae, em macacos langures da espécie Presbytis entellus e em humanos com 
diabetes. Apesar de tais efeitos insulinomiméticos in vivo, o polipeptídeo-p 
apresentou certas propriedades bioquímicas que diferiram das propriedades 
presentes na insulina bovina, como massa molecular de cerca de 11 kDa, presença 
do aminoácido metionina e ausência de imunoreatividade contra anticorpos anti-
insulina bovina (KHANNA et al.,1981). A partir de então, dava-se início a um novo 
período de prospecções acerca de compostos do tipo insulina em vegetais. 
A seguir, serão descritas espécies de plantas das quais foram obtidas 
proteínas hipoglicemiantes e/ou com características similares às da insulina de 
mamíferos (Figura 7). 
 
 
 
 
39 
 
Figura 7 – Plantas com proteínas hipoglicemiantes do tipo insulina 
 
Fonte: www.plantamed.com.br 
A – Canavalia ensiformis; B – Vigna unguiculata; C – Bauhinia variegata; D – Momordica charantia; E 
– Momordica cymbalaria; F – Costus igneus; G – Urtica pilulifera. 
 
http://www.plantamed.com.br/
40 
 
2.3.1 Canavalia ensiformis 
 
Em 1999, foi reportada a presença de uma proteína do tipo insulina no 
tegumento de sementes de C. ensiformis, popularmente conhecida como Jack bean 
(OLIVEIRA et al., 1999). Quatro ensaios permitiram sugerir que a proteína em 
questão era do tipo insulina: (1) a proteína apresentou mobilidade eletroforética em 
tricina-PAGE-SDS similar à da insulina bovina; (2) reagiu com anticorpo antisulina 
em ensaio de Western blotting; (3) promoveu redução glicêmica significante em 
camundongos com diabetes aloxânico, após injeção intravenosa e (4) apresentou 
duas cadeias, idênticas em termos de sequência amino-terminal às cadeias α e β da 
insulina bovina. Esse trabalho foi o primeiro a mostrar a presença de uma proteína 
do tipo insulina especificamente no tegumento de uma semente. 
 
2.3.2 Vigna unguiculata 
 
Quatro anos após a publicação da presença de uma proteína do tipo 
insulina no tegumento de sementes de C. ensiformis, foi reportada a presença do 
mesmo tipo de molécula no tegumento de sementes de V. unguiculata, também uma 
leguminosa (VENÂNCIO et al., 2003). A presença de epítopos antigênicos do tipo 
insulina também foi observada nos frutos sem sementes, mas não no embrião. 
Considerandoa expressão de insulina vegetal nos frutos inteiros em função do 
tempo após a polinização, os autores verificaram um aumento na concentração até o 
16º dia após o evento e uma redução acentuada em 20 dias após a polinização (fase 
de abertura do fruto). A partir dessa observação, foi hipotetizado que uma maior 
concentração da proteína do tipo insulina nas fases mais iniciais do desenvolvimento 
e, portanto, no período em que o fruto se encontrava mais metabolicamente ativo, 
poderia ser um indício do papel dessa molécula nesse órgão vegetal. 
 
2.3.3 Bauhinia variegata 
 
A fabacea B. variegata é largamente utilizada na medicina tradicional para 
o tratamento do DM. É popularmente conhecida como pata-de-vaca, originária da 
Índia e China e muito cultivada no sudeste do Brasil (DUARTE et al., 2007). Além de 
41 
 
promover o controle glicêmico, o chá das folhas dessa espécie é utilizado também 
para outras propostas medicinais (POKHREL; ADHIKARI; BARAL, 2002; 
RAJKAPOOR et al., 2006). 
Uma proteína, com massa molecular similar à da insulina bovina foi 
purificada a partir de extrato de folhas dessa planta (AZEVEDO et al., 2006). A 
proteína, além de ter apresentado reação com anticorpo anti-insulina humana, 
promoveu também redução significativa da glicemia em camundongos com diabetes 
quimicamente induzido por aloxano. Análises microscópicas mostraram que essa 
proteína está localizada nos cloroplastos das células parenquimatosas. 
 
2.3.4 Momordica charantia 
 
Yinchok-Anun et al. (2006) obtiveram uma fração proteica dos frutos de 
M. charantia que promoveu o aumento da captação de glucose por miócitos C2C12 e 
adipócitos 3T3-L1 e a redução significativa dos níveis glicêmicos de ratos com 
diabetes quimicamente induzido por estreptozotocina, após administração 
subcutânea. 
Também de M. charantia, uma única fração peptídica semipurificada, 
denominada MC2-1, promoveu redução glicêmica significativa em camundongos 
com diabetes quimicamente induzido por aloxano, após administração por via oral. 
Essa fração continha como principais peptídeos aqueles com massas moleculares 
entre 1,3 e 6,0 kDa. Posteriormente, um peptídeo hipoglicemiante, denominado 
MC2-1-5, com massa molecular de aproximadamente 3,4 kDa, determinada por 
MALDI-TOF-MS, foi purificado a partir de MC2-1 (YUAN; GU; TANG, 2008). MC2-1-
5 promoveu importante redução glicêmica em camundongos com diabetes 
quimicamente induzido por aloxano, após administração por via oral. 
 
2.3.5 Momordica cymbalaria 
 
A cucurbitácea M. cymbalaria representa outra espécie do gênero 
Momordica, utilizada em algumas culturas como erva medicinal para o tratamento do 
diabetes (RAO et al., 1999). Uma proteína hipoglicemiante, que foi denominda M.Cy 
protein, com massa molecular de 17 kDa, foi purificada a partir de um extrato 
hipoglicemiante de frutos dessa planta e apresentou ponto isoelétrico de 5,0, 
42 
 
próximo ao da insulina, que é de 5,4 (RAJASEKHAR et al., 2010). Além disso, M.Cy 
protein promoveu redução glicêmica somente quando administrada por via 
parenteral e não por via oral. 
 
2.3.6 Costus igneus 
 
Uma proteína isolada das folhas de C. igneus (família Zingiberaceae) 
apresentou reatividade com anticorpo anti-insulina. A massa molecular da proteína 
do tipo insulina purificada, determinada por MALDI-TOFF, foi de 5,7 kDa. Além 
disso, a proteína purificada de C. igneus promoveu atividade hipoglicemiante em 
camundongos normais e naqueles com diabetes quimicamente induzido por 
estreptozotocina, quando administrada por via oral ou intraperitoneal, e induziu 
captação de glucose por cultura de células RIN5f responsivas à insulina. Contudo, 
um conjunto de propriedades biofísicas indicou que essa proteína é estruturalmente 
diferente da insulina recombinante humana (JOSHI et al., 2013). Posteriormente, 
ensaio de imunoblot revelou aumento nos substratos de receptor de insulina (IRS-1) 
e na translocação de transportadores de glucose dependentes de insulina (GLUT-4) 
em direção à membrana de células musculares em cultura, sugerindo que essa 
proteína elicita vias de sinalização insulinomiméticas (HARDIKAR et al., 2016). 
 
2.3.7 Urtica pilulifera 
 
Lectinas de plantas são exemplos de proteínas vegetais que já tiveram 
efeitos antidiabéticos documentados. Em ratos diabetizados por estreptozotocina, 
uma dose de 100 mg/Kg de lectina isolada de semente de U. pilulifera, administrada 
por via intraperitoneal, reduziu a glicemia ao longo de 4 semanas de tratamento, 
com injeções diárias da proteína. Por outro lado, nos ratos diabéticos não tratados, 
foi verificada uma elevação da glicemia ao longo das 4 semanas de estudo 
(KAVALALI et al., 2003). 
Não se sabe ao certo qual o papel das proteínas do tipo insulina no 
vegetal. Outros dados experimentais reforçam a efetiva existência de antígenos do 
tipo insulina e de vias de sinalização relacionadas à insulina em vegetais e seu 
possível papel na promoção da germinação e desenvolvimento da semente e na 
fotossíntese em folhas. É possível que insulina em vegetais tenha um papel 
43 
 
anabólico, de desenvolvimento, analogamente ao estímulo anabólico exercido pela 
insulina em humanos (PAULA et al., 2016). 
 
2.4 Moringa oleifera: seu potencial antidiabético e sua inserção na pesquisa 
prospectiva de proteínas hipoglicemiantes 
 
Nesse contexto de discussão de plantas com potencial antidiabético, a 
espécie M. oleifera apresenta um destaque no que diz respeito à presença de uma 
diversidade de moléculas hipoglicemiantes: desde metabólitos secundários até 
proteínas. Conhecida como a “árvore da vida”, várias partes dessa espécie têm sido 
utilizadas no tratamento complementar do diabetes por muitas culturas (PAULA et 
al., 2016). 
M. oleifera é uma espécie nativa da Índia, popularmente chamada de 
moringa, acácia-branca, árvore-rabanete-de-cavalo, cedro, moringueiro e quiabo de 
quina. Da família Moringaceae, possui folhas compostas e cresce principalmente em 
áreas semi-áridas tropicais e subtropicais (Figura 8). A M. oleifera apresenta de 
pequeno a médio porte, com crescimento rápido, sendo capaz de suportar longos 
períodos de estiagem e de sobreviver em solos pobres e adaptando-se a uma ampla 
faixa de solos, com melhor desenvolvimento em solos neutros ou levemente ácidos 
(GOPALAKRISHNAN; DORIYA; KUMAR, 2016). 
M. oleifera tem importante valor nutricional, de forma que todas as suas 
partes são ricas em tocoferóis, carotenóides, ácido ascórbico e compostos fenólicos, 
além de cálcio e potássio. Essa espécie apresenta elevado conteúdo de proteínas 
de boa qualidade e de óleos. Folhas e sementes são os seus órgãos com maior 
conteúdo de proteínas. Folhas in natura apresentam teor proteico em torno de 6,4-
6,7%. A proteína é o composto encontrado em maior quantidade nas sementes, com 
um teor médio de 40% (GALLÃO; DAMASCENO; BRITO, 2006; FERREIRA et al., 
2008; MOURA et al., 2009). 
 
 
44 
 
Figura 8 – Moringa oleifera Lam. 
 
 Fonte: http://moringamaisvida.com.br/ 
 A – Árvore; B – Folhas; C – Frutos; D – Sementes E – Flores. 
 
http://moringamaisvida.com.br/
45 
 
Muitas propriedades farmacológicas são atribuídas à M. oleifera: ações 
anti-inflamatória, hepatoprotetora, antimicrobiana, protetora contra estresse 
oxidativo, hipolipidêmica e antidiabética. Tais propriedades embasam a utilização da 
M. oleifera na medicina popular para o tratamento de diversas patologias, muitas 
delas associadas ao diabetes (GOYAL et al., 2007). 
Vários compostos bioativos estão presentes nas folhas de M. oleifera, 
incluindo vitaminas, carotenoides, polifenóis, ácidos fenólicos, flavonoides, 
alcaloides, glucosinolatos, isotiocianatos, taninos, saponinas, oxalatos e fitatos. 
Como já descrito anteriormente, algumas dessas classes de compostos, presentes 
em outras espécies vegetais, apresentam propriedades hipoglicemiantes e, assim,parte do potencial que a M. oleifera possui, com relação ao uso no tratamento 
complementar do diabetes, deve-se à presença de tais compostos, em especial 
alcaloides, polifenóis, isotiocianatos e ácidos fenólicos (LEONE et al., 2015). 
São muitos os estudos que discriminam a M. oleifera no que se refere a 
propriedades hipoglicemiantes. Extratos aquosos de suas folhas foram efetivos em 
reduzir os níveis glicêmicos de ratos diabéticos durante o TOTG. As doses 
administradas promoveram reduções significativas após 3 h da administração 
intragástrica de solução de glucose, tanto em animais subdiabéticos, como nos 
moderadamente diabéticos. O extrato das folhas também promoveu reduções 
significativas na glicemia de jejum e na glicemia pós-prandial de ratos severamente 
diabéticos, porém com tratamento crônico (JAISWAL et al., 2009). 
Isotiocianatos presentes nos frutos da M. oleifera mostraram importante 
potencial antidiabético. A incubação de linhagens celulares de células β pancreáticas 
com 100 ppm de N-benzil tiocarbamatos, N-benzil carbamatos, benzil nitrilas e benzil 
éster, isolados de extratos dos frutos, resultou na liberação de 15-33 ng insulina/mg 
proteína, enquanto que a incubação dessas células com 4 mM de glucose (o 
principal indutor de secreção de insulina em sistemas vivos) promoveu a liberação 
de 4-6 ng insulina/mg proteína (FRANCIS et al., 2004). 
Extratos metanólicos dos frutos de M. oleifera sem sementes reduziram a 
progressão do diabetes em ratos com diabetes induzido por estreptozotocina, 
havendo reduções significativas nos níveis de glucose sérica e concomitantes 
aumentos nos níveis insulinêmicos. Desses extratos, foram isolados os fitoquímicos 
quercetina e kampferol (GUPTA et al., 2012). Extrato aquoso de folhas de M. oleifera 
protegeram ratos normais e diabéticos contra o dano oxidativo induzido pelo estado 
46 
 
diabético (JAISWAL et al., 2013). Ainda, extratos das folhas de M. oleifera foram 
capazes de reverter de forma considerável danos histopatológicos nas ilhotas 
pancreáticas de ratos com diabetes quimicamente induzido (YASSA; TOHAMY, 
2014). 
Mais recentemente, nosso grupo de pesquisa verificou que proteínas 
também estão incluídas no arsenal bioquímico hipoglicemiante presente nos órgãos 
de M. oleifera. Um protocolo de obtenção de proteínas do tipo insulina a partir de 
tecidos vegetais, baseado em extração etanólica-acídica e subsequente precipitação 
das proteínas com acetona, foi utilizado no tegumento das sementes. A fração 
proteica obtida, nomeada Mo-SC (M. oleifera seed coat), após administração 
intraperitoneal e oral em camundongos com diabetes quimicamente induzido, 
promoveu significante redução glicêmica em 5 h após o tratamento e melhorou a 
tolerância à glucose administrada por via oral além de ter causado redução 
glicêmica ao longo de dez dias de tratamento intraperitoneal. Além disso, por meio 
de dot blot utilizando anticorpo anti-insulina humana, Mo-SC mostrou epítopos 
antigênicos do tipo insulina (PAULA et al., 2016). 
Adicionalmente, nosso grupo de pesquisa verificou em um isolado 
proteico obtido de folhas de M. oleifera, nomeado Mo-LPI (M. oleifera leaf protein 
isolate), efeito hipoglicemiante e antioxidante em camundongos diabéticos induzidos 
por aloxano. Administração intraperitoneal em dose única, na dose de 500 mg/kg, 
reduziu a glicemia em 66,4% após 5 h e em 56,2% no sétimo dia ao longo de sete 
dias de tratamento intraperitoneal diário, não tendo relação com efeito secretagogo 
de insulina. Assim como observado para Mo-SC, Mo-LPI apresentou também reação 
com anticorpo anti-insulina (PAULA et al., 2017). 
Assim, M. oleifera constitui uma espécie vegetal com importante potencial 
para a prospecção de novos fármacos hipoglicemiantes. 
 
 
 
 
 
 
 
 
47 
 
3 CONSIDERAÇÕES GERAIS 
 
 Proteínas vegetais hipoglicemiantes representam uma importante 
classe de moléculas que requerem estudos mais pormenorizados. Presentes em 
diferentes espécies e diversos tecidos vegetais, a existência de tais moléculas 
evidencia a importância da conservação evolutiva de vias metabólicas associadas 
ao metabolismo da glucose e, mais propriamente, ao papel de proteínas com 
funções similares à insulina (CHAN; STEINER, 2000). A relevância dessa 
conservação durante a evolução pode ser inferida pela presença de tais proteínas 
no tegumento de sementes de algumas plantas, o que pode estar associado a 
mecanismos de transporte de glucose que auxiliam na germinação (PAULA et al., 
2016). É o caso de proteínas do tipo insulina encontradas no tegumento de 
sementes de C. ensiformis (OLIVEIRA et al., 1999) e V. unguiculata (VENÂNCIO et 
al., 2003). De fato, insulina humana acelera a germinação de sementes vegetais 
(OLIVEIRA et al., 2004). 
 O presente capítulo trata da obtenção de uma fração proteica obtida do 
tegumento de sementes de M. oleifera, denomida Mo-TEG. Aqui serão discutidos os 
métodos empregados para sua obtenção, os resultados acerca de sua 
caracterização bioquímica e a abordagem experimental que permitiu avaliar seu 
potencial hipoglicemiante. Além de apresentar indícios da presença de proteínas do 
tipo insulina, Mo-TEG mostrou ter um significativo efeito hipoglicemiante em um 
modelo animal (camundongos) com diabetes quimicamente induzido por aloxano. 
Tais efeitos foram verificados por administrações em dose única, em doses repetidas 
e por meio da análise da tolerância oral à glucose. Soma-se a esse potencial 
hipoglicemiante, a propriedade que Mo-TEG apresentou em modificar níveis séricos 
de lipídeos em camundongos, inferindo um efeito de atenuação do risco de 
aparecimento de complicações cardiovasculares associadas à hiperglicemia crônica. 
Estes resultados sugerem o significativo potencial de utilização de Mo-TEG na 
pesquisa biomédica voltada para a prospecção e formulação de fármacos a serem 
empregados no tratamento do diabetes. 
 
 
48 
 
4 OBJETIVOS 
 
4.1 Geral 
 
Caracterizar bioquimicamente uma fração proteica obtida do tegumento 
de sementes de M. oleifera, denominada Mo-TEG (Mo: M. oleifera, TEG: tegumento 
das sementes), e avaliar seus efeitos sobre parâmetros séricos em camundongos 
com diabetes quimicamente induzido por aloxano. 
 
4.2 Específicos 
 
Caracterizar Mo-TEG através da determinação do perfil eletroforético, da 
digestibilidade in vitro por proteases gastrointestinais, do potencial de atividade 
hemaglutinante, da presença de epítopos antigênicos do tipo insulina e do potencial 
para precipitação por zinco; 
Prospectar a atividade hipoglicemiante de Mo-TEG a curto e longo prazo 
através de ensaios biológicos in vivo usando camundongos com diabetes 
quimicamente induzido por aloxano; 
Verificar a influência da administração crônica de Mo-TEG nos níveis 
séricos de lipídeos de camundongos com diabetes quimicamente induzido por 
aloxano; 
Avaliar a toxicidade aguda de Mo-TEG para camundongos. 
 
 
 
 
 
 
 
 
49 
 
5 MATERIAIS 
 
5.1 Material vegetal 
 
Sementes de M. oleifera foram coletadas de plantas localizadas no 
campus do Pici da Universidade Federal do Ceará (UFC), Fortaleza, Ceará. As 
sementes foram manualmente destegumentadas e o tegumento usado para 
obtenção do extrato. A coleta das sementes foi realizada entre os anos de 2013 e 
2016, sempre nos meses de setembro a janeiro, período no qual ocorre a frutificação 
dessa espécie. 
 
5.2 Animais experimentais 
 
Camundongos albinos Swiss (Mus musculus) machos, pesando entre 30 
e 50 g, foram fornecidos pelo Biotério Central da UFC. Os animais foram mantidos 
no biotério do Departamento de Bioquímica e Biologia Molecular, em caixas de 
polipropileno, a 22 C, fotoperíodo de 12 h, com água e ração ad libitum. 
Coelho (Oryctolagus cuniculus) albino adulto (linhagem Nova Zelândia) e 
ratos (Rattus norvegicus) albino Wistar, mantidos no Biotério do Departamento de 
Bioquímica e Biologia Molecularda UFC, foram usados para obtenção de sangue. 
Os ensaios envolvendo animais foram aprovados pela Comissão de Ética 
em Pesquisa Animal (CEPA) da UFC, com o protocolo de número 55/2012. Todos 
os procedimentos foram realizados de acordo com as diretrizes para o cuidado de 
animais de laboratório preconizadas por essa Comissão. 
 
5.3 Reagentes químicos 
 
Acrilamida, 2-mercaptoetanol, albumina sérica bovina (BSA), aloxano 
monohidratado, anticorpo anti-insulina humana produzido em coelho, azul brilhante 
de Coomassie G e R, azul de bromofenol, dodecil sulfato de sódio (SDS), ácido 
etileno diamino tetraacético, fenilmetanosulfonilfluoreto, N,N’-metileno bisacrilamida, 
N,N,N’,N’-tetrametiletilenodiamina, pepsina, polivinilpirrolidona e tripsina foram 
obtidos da Sigma Chemical Co., St Louis, EUA. Persulfato de amônio e marcadores 
50 
 
de massas moleculares foram obtidos da GE Healthcare, USA. Insulina e demais 
reagentes usados foram de grau analítico e obtidos comercialmente. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
51 
 
6 MÉTODOS 
 
6.1 Obtenção de proteínas a partir do tegumento de sementes de M. oleifera 
 
Após a destegumentação das sementes, os tegumentos foram 
pulverizados com auxílio de moinho de facas. A farinha obtida foi submetida à 
extração sob agitação com solução de etanol 60% e ácido sulfúrico 0,05 M, durante 
1 h, a 4 ºC. Ao término da extração, o material obtido foi filtrado em pano de trama 
fina e o filtrado centrifugado a 15.000 x g, por 30 min, a 4 ºC. O sobrenadante foi 
coletado, novamente filtrado em pano de trama fina e seu pH ajustado para 3,0, com 
hidróxido de amônio. Em seguida, foram adicionados 4 volumes de acetona gelada 
para cada volume de extrato total, deixando-se a mistura em repouso por 18 h, a 4 
ºC, de modo que ocorresse a precipitação das proteínas (YIBCHOK–ANUN et al., 
2006). O material precipitado foi coletado por centrifugação sob as mesmas 
condições acima, submetido à lavagem com acetona, dialisado (cut-off 2 kDa) 
exaustivamente contra água destilada e liofilizado. O material liofilizado consiste na 
fração Mo-TEG, denominada anteriormente no item 2.1, deste Capítulo (Figura 9). 
 
6.2 Quantificação de proteínas 
 
A dosagem de proteínas solúveis foi feita pelo método de Bradford (1976). 
A uma alíquota de 100 µL do material a ser quantificado, foram adicionados 2,5 mL 
do reagente de Bradford. A mistura foi levemente agitada e, após 10 min, foram 
realizadas leituras das absorbâncias a 595 nm em espectrofotômetro. A 
concentração proteica foi estimada em relação a uma curva padrão, obtida com 
diferentes concentrações de BSA. 
 
 
 
 
 
 
 
 
52 
 
Figura 9 - Fluxograma de obtenção de Mo-TEG 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Fonte: próprio autor. 
 
Tegumento de semente de M. 
oleifera 
Obtenção da farinha dos tegumentos 
Etanol 60% contendo ácido sulfúrico 0,05 M 
1 h de agitação 
Filtração em pano de trama fina 
Filtrado 
Centrifugação 15.000 x g, por 30 min, a 4 ºC 
 
Resíduo Sobrenadante 
Filtração em pano de trama fina 
 
Extrato etanólico total 
Ajuste do pH para 3,0 com NH4OH 
 
 
 
Adição de acetona 
Repouso por 18 h, a 4 ºC 
Centrifugação 15.000 x g, por 30 
min, a 4 ºC 
 
 
 
 
Sobrenadante Material precipitado 
Lavagem com acetona 
Diálise exaustiva contra água destilada 
Liofilização 
 
 
 
 
 
 Mo-TEG 
 
53 
 
6.3 Caracterização bioquímica de Mo-TEG 
 
6.3.1 Avaliação da digestibilidade in vitro 
 
A digestibilidade in vitro de Mo-TEG por proteases comumente 
encontradas no trato gastrintestinal de mamíferos foi realizada conforme ensaio 
protocolado por Sathe et al. (1997). Para digestão, tanto por tripsina como por 
pepsina, a fração proteica foi incubada com a respectiva enzima (proporção de 
enzima:substrato de 1:10). O meio reacional consistiu de tampão Tris-HCl 0,1 M, pH 
8,1, para digestão por tripsina, e de HCl 0,001 M, no caso da digestão por pepsina. 
BSA foi utilizada como proteína controle do processo de digestão. Alíquotas 
correspondendo aos tempos de 2 e 4 h de digestão foram tomadas, prontamente 
diluídas em tampão de amostra para eletroforese e imediatamente submetidas à 
fervura, por 10 min, a fim de parar a reação de digestão. Eletroforese em gel de 
poliacrilamida contendo SDS (17%) (LAEMMLI, 1970) foi realizada para averiguação 
da ocorrência de digestão enzimática. 
 
6.3.2 Avaliação da atividade hemaglutinante 
 
Mo-TEG (6 mg/mL) foi submetida a diluições seriadas em tubos de 
ensaio, na presença de NaCl 0,15 M. A 200 µL de cada diluição, foi adicionado igual 
volume de uma suspensão de hemácias 2%, tratadas ou não com tripsina, obtidas 
de coelho, rato e camundongo. Os tubos foram incubados a 37 ºC, por 30 min, e 
deixados em repouso por mais 30 min, à temperatura ambiente. Em seguida, os 
tubos foram centrifugados a 3.000 x g, por 30 seg, à temperatura ambiente. A 
visualização de aglutinados foi feita a olho nu e os resultados expressos em unidade 
de hemaglutinação (UH), definida como o inverso da maior diluição da amostra 
ainda capaz de aglutinar hemácias (MOREIRA; PERRONE, 1997). 
Também foi analisada a influência da adição de tripsina na atividade 
hemaglutinante. Inicialmente, amostras contendo 1 mL de sangue foram lavadas três 
vezes com NaCl 0,15 M e, em seguida, tripsina foi adicionada na proporção de 1 mg 
de enzima para 10 mL da suspensão de hemácias 2%. Essa suspensão foi incubada 
por 1 h, a 4 ºC, sob agitação ocasional e centrifugada a 3.000 x g, por 5 min. As 
hemácias tripsinizadas foram lavadas novamente com NaCl 0,15 M (6 vezes) e o 
54 
 
pélete de células resultantes foi suspenso em NaCl 0,15 M para obtenção de 
hemácias a 2% (LIS; SHARON, 1972). 
 
6.3.3 Ensaio de dot blot 
 
Mo-TEG foi avaliada quanto à presença de proteina(s) capaz(es) de 
ser(em) reconhecida(s) pelo anticorpo anti-insulina, através do ensaio de dot blot 
(TOWBIN; STAEHELIN; GORDON, 1979). Vinte microlitros de Mo-TEG (10 mg/mL) 
foram aplicados em membrana de fluoreto de polivinilideno (PVDF). Após secagem 
da amostra, os sítios livres de ligação com proteínas foram bloqueados pela 
incubação da membrana com solução de bloqueio, consistindo de tampão TBS-T 
(tampão Tris-salina contendo Tween-20 0,05%) contendo leite desnatado 5%, por 12 
h. Após bloqueio, as membranas foram lavadas com TBS-T e, então, incubadas, 
com a solução de anticorpo primário anti-insulina (diluído 250 vezes em TBS-T 
contendo leite desnatado 1%), por 3 h, sob leve agitação. Em seguida, as 
membranas foram lavadas 5 vezes com tampão TBS-T e, após, incubadas com 
solução do anticorpo secundário anti-IgG de coelho conjugado com fosfatase 
alcalina (diluído 2000 vezes em TBS-T contendo leite desnatado 1%), por 2 h, à 
temperatura ambiente. Após lavagem com TBS-T, as membranas foram incubadas 
com a solução de revelação 4-nitro-azul de tetrazolio/5-bromo-4-cloro-3-indolil 
fosfato (NBT/BCIP) até o surgimento de coloração, com a reação interrompida pela 
lavagem com água deionizada. Foram utilizados como controles positivo e negativo, 
respectivamente, insulina recombinante humana e BSA. 
 
6.3.4 Avaliação da precipitação por zinco 
 
A precipitação de Mo-TEG quando em contato com zinco foi avaliada 
como anteriormente (HALLAS-MOLLER; PETERSEN; SCHLICHTKRULL, 1952). 
Para isso, Mo-TEG dissolvida em etanol 20% (5 mg/mL) foi misturada com solução 
de cloreto de zinco 1 M, nas proporções 1:1; 1:4; 1:8; 1:16 e 1:32, e incubada por 24 
h, à temperatura ambiente. O mesmo procedimento foi realizado com insulina 
recombinante humana livre de zinco. 
 
55 
 
6.4 Ensaios in vivo para prospecção do efeito hipoglicemiante de Mo-TEG 
 
6.4.1 Adaptação dos animais 
 
Camundongos foram previamente submetidos a um período de adaptação 
(10 dias), os quais passaram pela

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