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Conselho Editorial 
 
Sílvia Maria Azevedo (Presidente) 
Karin Adriane H. Pobbe Ramos (Vice-presidente) 
Álvaro Santos Simões Junior 
André Figueiredo Rodrigues 
Carlos Camargo Alberts 
Carlos Eduardo Mendes Moraes 
Cleide Antonia Rapucci 
Danilo Saretta Veríssimo 
Gustavo Henrique Dionísio 
José Luis Bendicho Beired 
Lúcia Helena Oliveira Silva 
Márcio Roberto Pereira 
Maria Luiza Carpi Semeghini 
Matheus Nogueira Schwartzmann 
Miriam Mendonça M. Andrade 
Paulo César Gonçalves 
Ronaldo Cardoso Alves 
Vânia Aparecida Marques Favato 
 
 
Secretário 
 
Eduardo Gomes de Almeida Souza 
Conselho Consultivo 
 
Adilson Odair Citelli (USP) 
Antonio Castelo Filho (USP) 
Carlos Alberto Gasparetto (UNICAMP) 
Durval Muniz Albuquerque Jr (UFRN) 
João Ernesto de Carvalho (UNICAMP) 
José Luiz Fiorin (USP) 
Luiz Cláudio Di Stasi (IBB – UNESP) 
Oswaldo Hajime Yamamoto (UFRN) 
Roberto Acízelo Quelha de Souza (UERJ) 
Sandra Margarida Nitrini (USP) 
Temístocles Cézar (UFRGS) 
 
 
 
 
FICHA CATALOGRÁFICA 
 
 
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) 
Biblioteca da F.C.L. – Assis – Unesp 
 
 
E56a 
Encontro do Cedap (8.:2016:Assis, SP). 
Anais do 8º Encontro do CEDAP: Acervos de intelectuais: 
desafios e perspectivas, Assis, SP, 26 a 38 de abril de 2016 [re-
curso eletrônico] / Sílvia Maria Azevedo (org.). Assis: UNESP 
- Campus de Assis, 2016. 
593 f. : il. 
 
 Vários autores 
 ISBN: 978-85-66060-14-0 
 
 1. Intelectuais. 2. Intelectuais e política. 3. Memória. I. 
Azevedo, Sílvia Maria. II. Título. 
 
 CDD 301.44 
Sílvia Maria Azevedo (Org.) 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Anais do VIII Encontro do Cedap – Acervos de Intelectuais: 
desafios e perspectivas 
 
Período: 26 a 28 de abril de 2016 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Unesp 
Câmpus de Assis 
2016 
 
 
 
Apoio: CAPES 
 
 
 
Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” 
 
Julio Cezar Durigan 
Reitor 
Marilza Vieira Cunha Rudge 
Vice-Reitora 
 
Mariangela Spotti Lopes Fujita 
Pró-Reitora de Extensão Universitária 
 
 
 
 
 
 
Faculdade de Ciências e Letras de Assis 
 
Andrea Lucia Dorini de Oliveira Carvalho Rossi 
Diretora 
 
Catia Inês Negrão Berlini de Andrade 
Vice-diretora 
 
 
 
 
 
 
Centro de Documentação e Apoio à Pesquisa 
Prof.ª Dr.ª Anna Maria Martinez Corrêa – Cedap 
 
Sílvia Maria Azevedo 
Supervisora 
 
Márcio Roberto Pereira 
Vice-supervisor 
 
 
Anais do VIII Encontro do Cedap – Acervos de Intelectuais: desafios e perspectivas 
 
Período: 26 a 28 de abril de 2016 
 
Sílvia Maria Azevedo (Org.) 
 
 
Comissão Organizadora 
Dr. Álvaro Santos Simões Junior - Coordenador do Programa de Pós-graduação em Letras 
Drª. Lúcia Helena Oliveira Silva - Coordenadora do Programa de Pós-graduação em História 
Dr. Márcio Roberto Pereira - Vice-Supervisor do CEDAP 
Profª. Drª. Sílvia Maria Azevedo - Supervisora do CEDAP 
Profª. Drª. Tânia Regina de Luca – Conselho da Revista Patrimônio e Memória 
 
Comissão Científica 
Dr. Álvaro Santos Simões Junior (UNESP, Assis) 
Dr. Benedito Antunes (UNESP, Assis) 
 Dr. Carlos Alberto Sampaio Barbosa (UNESP, Assis) 
Dr. Fabiano Rodrigo da Silva Santos (UNESP, Assis) 
Dr. Francisco Cláudio Alves Marques (UNESP, Assis) 
Dr. Jean Pierre Chauvin (USP) 
Dr. Júlio Cezar Bastoni da Silva (UFSCar) 
Dr. Marcio Roberto Pereira (UNESP, Assis) 
Drª. Maria Leandra Bizello (UNESP, Marília) 
Profª. Drª. Sílvia Maria Azevedo (UNESP, Assis) 
Profª. Drª. Tânia Regina de Luca (UNESP, Assis) 
Profª. Drª. Zélia Lopes da Silva (UNESP, Assis) 
 
Equipe de trabalho 
 
Preparação dos originais 
Renato Crivelli Duarte - Cedap 
 
Capa 
Lucas Lutti 
 
Ilustração de capa 
Fotografia de Barão do Rio Branco em seu gabinete de trabalho. 
Fotógrafo: desconhecido 
Fonte: Observatório de Relações Internacionais. Disponível em: 
<https://neccint.wordpress.com/2009/04/25/a-horizontalizacao-da-politica-externa-brasileira-por-
cassio-franca-e-michelle-ratton-sanchez>. Acesso em: fev. de 2016 
 
Revisão 
Olga Liane Zanotto Manfio Jaschke – Português 
Vivian Aparecida Pereira Pinto – Normas 
 
Unesp Assis 
2016 
 
 
 
 
 
Apresentação 
 
 
Os textos reunidos nestes Anais foram apresentados nos Simpósios Temáticos do 
VIII Encontro do Centro de Documentação e Apoio à Pesquisa Profª. Drª. Anna Maria 
Martinez Corrêa (CEDAP) da UNESP – Câmpus de Assis, realizado entre 26 e 28 de abril de 
2016. O tema do VIII Encontro do CEDAP - “Acervos de Intelectuais: desafios e 
perspectivas” - veio ao encontro do crescente interesse de pesquisadores e arquivistas acerca 
de métodos e abordagens relativos aos arquivos pessoais. Recentemente os arquivos de 
intelectuais passaram a ser observados com interesse pelas diversas ciências brasileiras, em 
especial as denominadas humanidades, a configurar os papéis pessoais à efetiva condição de 
fontes de informação para estudos científicos e acadêmicos. A recente preocupação dos 
pesquisadores pelo universo dos arquivos pessoais, assim como a pouca referência técnica no 
campo da arquivística no Brasil, são fatores que compõem o atual contexto destes conjuntos 
documentais no cenário brasileiro: um campo fértil e pouco explorado. 
Nos últimos 40 anos, diversas instituições criadas com o propósito específico quanto 
a recolha, preservação e disponibilização pública dos documentos de personalidades públicas 
das artes, das ciências e da política, entre outros, têm reafirmado os valores e potencialidades 
dos arquivos pessoais para estudos e pesquisas. A intelectualidade brasileira observada pelo 
ângulo que foge àquele instituído pelos documentos oficiais firmados e reafirmados pela 
lógica institucionalista e burocrática, é o caminho para a exploração dos arquivos de 
personalidades que compõem as ciências, as artes e a política, tal como hoje as conhecemos. 
Um campo responsável por converter figuras públicas, elevadas pela história ao status de 
verdadeiras instituições sociais, em pessoas dotadas de vidas privada e íntima. Identidades 
diversas podem ser descobertas pelo olhar atento aos papéis guardados em pastas e gavetas 
seladas. Cartas, fotografias, registros de viagens, diários, cartões, recortes de jornal, rascunhos 
de textos são exemplos de documentos que espelham as potencialidades dos arquivos pessoais 
de intelectuais. 
Organizado em mesas redondas, conferências e simpósios temáticos, direcionados a 
um público composto de professores, estudantes de graduação e pós-graduação e 
pesquisadores das áreas de História, Letras e Literatura, Sociologia, Antropologia e Ciência 
da Informação, o VIII Encontro do CEDAP mostrou-se como espaço de enfrentamento de 
desafios e estabelecimento de novas perspectivas no que se refere ao recente, e muito fértil, 
campo dos arquivos pessoais de intelectuais. 
 
Profa. Dra. Sílvia Maria Azevedo 
Supervisora do Cedap 
 
 
 
 
Sumário 
 
 
ACERVOS DIGITAIS DE POÉTICAS ORAIS AFRO-BRASILEIRAS: UMA VISÃO 
PANORÂMICA 
ALVES-GARBIM, Juliana Franco .......................................................................................... 13 
A PRESENÇA DE OBRAS FICCIONAIS NO CATÁLOGO DE LIVROS DA 
IMPERATRIZ TERESA CRISTINA E EM SEUS DIÁRIOS E CARTAS PESSOAIS 
ASSUMPÇÃO, Larissa de ....................................................................................................... 25 
A ABLC: ESPAÇO DA MEMÓRIA ORAL E ESCRITA 
CAÇÃO, Barbara Lais Falcão da Silva .................................................................................... 38 
FUNDO RENATO KEHL: A TRAJETÓRIA INTELECTUAL DO EUGENISTA 
BRASILEIRO 
CARVALHO, Leonardo Dallacqua de ..................................................................................... 49 
CADÊ MÁRIO MELO: A CONSTRUÇÃO DE MEMÓRIA DE UM INTELECTUAL 
PERNAMBUCANO 
CAVALCANTI, Amanda .........................................................................................................66 
PSEUDO-RETÓRICAS DO SÉCULO XX 
CHAUVIN, Jean Pierre ............................................................................................................ 85 
A IMPORTÂNCIA DO ACERVO DO ESCRITOR JOÃO ANTÔNIO PARA O 
ENTENDIMENTO DO SEU PROJETO LITERÁRIO 
CORRÊA, Luciana Cristina ..................................................................................................... 97 
POR UM FEMINISMO ESTRATÉGICO: JÚLIA LOPES DE ALMEIDA E A 
COLETÂNEA PARADIDÁTICA HISTÓRIAS DA NOSSA TERRA (1907) 
COSTRUBA, Deivid Aparecido ............................................................................................ 120 
“O ESPAÇO DA MEMÓRIA”: A FORMAÇÃO, AS INTER-RELAÇÕES E O 
ACERVO PESSOAL DE FERNANDO AUGUSTO ALBUQUERQUE MOURÃO 
CRUZ, Clauber Ribeiro .......................................................................................................... 131 
A PRESENÇA DA CULTURA POPULAR NO REGIONALISMO DE BERNARDO 
GUIMARÃES E MONTEIRO LOBATO 
DIAS, Letícia Teixeira ........................................................................................................... 151 
PALAVRA E IMAGEM NA POESIA DE ANA CRISTINA CÉSAR: UMA ANÁLISE 
DA CORRESPONDÊNCIA COMPLETA 
DIAS, Luiza M. ...................................................................................................................... 164 
O ACERVO PNBE: UMA REFLEXÃO ACERCA DA OBRA MEU PAI NÃO MORA 
MAIS AQUI, DE CAIO RITER 
DOMINGUES, Cecilia Barchi ............................................................................................... 178 
EÇA DE QUEIRÓS E A GAZETA DE NOTÍCIAS: MEDIADOR ENTRE BRASIL E 
EUROPA 
FEITOSA, Rosane Gazolla Alves .......................................................................................... 191 
O ESPÓLIO LITERÁRIO DE CAROLINA MARIA DE JESUS 
FERNANDEZ, Raffaella Andréa ........................................................................................... 202 
TEXTOS CRÍTICOS NO JORNAL LA PRESSE: ENTRE A AVALIAÇÃO E A 
PUBLICIDADE DE ROMANCES 
GABRIELLI, Beatriz.............................................................................................................. 218 
NELLY NOVAES COELHO E A HISTÓRIA DA LITERATURA INFANTOJUVENIL 
BRASILEIRA 
GALANTE, Camila Pozzi ...................................................................................................... 231 
O ACERVO LITERÁRIO DE MARIO PRATA NO PERIÓDICO A GAZETA DE LINS 
GOMES, Karina de Fátima .................................................................................................... 243 
A TRAJETÓRIA LITERÁRIA DE ALCIENE RIBEIRO LEITE: INFÂNCIA - 
ADOLESCÊNCIA - CASAMENTO - FORMAÇÃO 
GOMES, Karina de Fátima .................................................................................................... 267 
AS PARTICULARIDADES E OS ENTRAVES NA CLASSIFICAÇÃO DA OBRA 
DRAMÁTICA DE QORPO-SANTO 
GONÇALVES, Maria Clara ................................................................................................... 278 
ESQUECIMENTO E CONSTRUÇÃO DE MEMÓRIAS: O CASO ALAN TURING 
LACERDA, Thays ................................................................................................................. 293 
ANÁLISE DAS MARCAS DA ESCRITA FEMININA NO GÊNERO POESIA DO 
ACERVO PNBE 2013 DESTINADO AO ENSINO FUNDAMENTAL: UMA ANÁLISE 
DA OBRA O MAR E OS SONHOS, DE ROSEANA MURRAY 
LONGO, Rafaela Machado .................................................................................................... 307 
O OXÍMORO AUTOR/PRODUTOR: JOÃO ANTÔNIO, O CONTO-REPORTAGEM 
E A INDÚSTRIA CULTURAL 
LOPES, Leandro de Oliveira .................................................................................................. 321 
A CRÍTICA LITERÁRIA NO MERCURE DE FRANCE (1890-1898): NOTAS, 
RESENHAS, PORTRAITS E OUTRAS FACES 
LÓPEZ, Camila Soares .......................................................................................................... 335 
DA IMPORTÂNCIA DA ORGANIZAÇÃO DE UM ACERVO DE POÉTICAS DA 
VOZ NO CAMPUS DA UNESP DE ASSIS/SP 
MARQUES, Francisco Cláudio Alves ................................................................................... 350 
PRESERVAÇÃO DA HISTÓRIA E DA MEMÓRIA DA COMPANHIA AGRÍCOLA 
BARBOSA FERRAZ/PR 
MARTINES, Natália da Silva Madóglio ................................................................................ 366 
ELEMENTOS DA FICÇÃO CONTEMPORÂNEA EM PAULINHO PERNA TORTA 
ORNELLAS, Clara Ávila ....................................................................................................... 378 
POR UMA REVISITAÇÃO NECESSÁRIA: O SEMANÁRIO POLITIKA NO 
CONTEXTO DA IMPRENSA ALTERNATIVA BRASILEIRA (1971-1973) 
PEREIRA, Eder Adriano ........................................................................................................ 391 
CONCEIÇÃO SANTAMARIA NA PERCEPÇÃO DOS EX-INTERNADOS DO 
SANATÓRIO AIMORÉS: DE REGINA MAURA À “MÃE DOS HANSENIANOS” 
(1945-1959) 
PORTO, Carla Lisboa ............................................................................................................ 401 
IMIGRANTES ITALIANOS EM IEPÊ: A SAGA DE UMA FAMÍLIA NO SERTÃO 
ROSA, Paulo Fernando Zaganin ............................................................................................ 418 
OS RISCOS E CAMINHOS DA RECONSTRUÇÃO DE UMA TRAJETÓRIA 
INTELECTUAL: O CASO MÁRIO DE ANDRADE 
SANTOS, Marina Corrêa dos ................................................................................................. 431 
AS ILUSTRAÇÕES DE CHARLES DE VIVALDI: APONTAMENTOS DE UM 
PROJETO DE PESQUISA 
SILVA, Helen de Oliveira ...................................................................................................... 444 
A IMPRENSA ALTERNATIVA E O PROJETO LITERÁRIO DE JOÃO ANTÔNIO 
SILVA, Júlio Cezar Bastoni da .............................................................................................. 457 
DOMINGOS OLÍMPIO E OS ANNAES NA IMPRENSA CARIOCA DO INÍCIO DO 
SÉCULO XX (1904-1906) 
SILVA, Vinicius Carlos da ..................................................................................................... 480 
RETRATOS DA VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER NA IMPRENSA DE ASSIS 
(1935-1939) 
SOUZA, Douglas Henrique de ............................................................................................... 489 
MULHERES EM (SAMBAS) ENREDOS: A PRESENÇA FEMININA NOS 
CARNAVAIS DO RIO DE JANEIRO NOS ANOS 1980 
SOUZA, Ynayan Lyra ............................................................................................................ 510 
A POESIA NA BIBLIOTECA ESCOLAR: UMA ANÁLISE DA OBRA 
ADOLESCENTE POESIA, DE SYLVIA ORTHOF, PERTENCENTE AO ACERVO DO 
PNBE 2013 
STRINGUETTI, Lucas Mateus Vieira de Godoy .................................................................. 523 
IMAGENS NA IMPRENSA: O CASO DE A ILUSTRAÇÃO (1884-1892) 
APONTAMENTOS SOBRE A PESQUISA 
TRESCENTTI, João Lucas Poiani ......................................................................................... 536 
A CONSTITUIÇÃO DO CÂNONE LITERÁRIO INFANTOJUVENIL EM ACERVOS 
VALENTE, Thiago Alves; FERREIRA, Eliane Aparecida Galvão Ribeiro ......................... 550 
A ILLUSTRAÇÃO LUSO-BRAZILEIRA: INTELECTUAIS E DIÁLOGOS 
TRANSOCEÂNICOS ENTRE BRASIL E PORTUGAL NA CONJUNTURA DE 
INÍCIO DA REGENERAÇÃO (1856; 1858-1859) 
VIEIRA, Lucas Schuab .......................................................................................................... 564 
ESPAÇOS DO AUTORITARISMO EM PRIMO LEVI: UMA ANÁLISE NAS 
RELAÇÕES ENTRE O ROMANCE E A TEORIA POLÍTICA 
ZOCARATO, Clayton Alexandre .......................................................................................... 581 
 
 
13 
 
ACERVOS DIGITAIS DE POÉTICAS ORAIS AFRO-
BRASILEIRAS: UMA VISÃO PANORÂMICA 
 
Juliana Franco ALVES-GARBIM 
Doutoranda - UNESP/Assis 
Bolsista Capes 
jufranco_a@yahoo.com.br 
http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?id=K4592408Z6 
 
 
RESUMO 
O presente trabalhovisa pesquisar os potenciais bancos de dados brasileiros no que diz 
respeito ao arquivamento de produções orais afro-brasileiras. Serão realizadas pesquisas 
em sites que contemplem a temática juntamente com a leitura de teóricos que pensem a 
oralidade como uma manifestação artística. A importância de estudar a poética oral num 
contexto de circulação diferente do tradicional chama a atenção de pesquisadores no 
século XXI. Entender como se dá o processo criativo de grupos tradicionais, 
fundamentados em práticas eminentemente oriundas da voz é relevante, de modo que se 
leve a decifrar quais as marcas da memória e da tradição ancestral sobrevivem no 
ciberespaço. Aliado a isso, é preciso pensar e discutir qual a atual situação do país na 
criação de novos acervos digitais, além dos materiais que tenham como escopo as 
poéticas orais afro-brasileiras. É relevante explorar o uso de novos suportes midiáticos e 
as implicações que essa mudança do meio oral para as novas mídias digitais e 
tecnológicas podem influenciar nas produções da voz. 
Palavras-chave: Acervos digitais. Poéticas orais. Afro-brasileira. 
 
À guisa de introdução 
 
Em tempos de evolução tecnológica e digital, uma pungente transformação 
cultural também está em circulação. Os meios de comunicação de massa e a rede 
mundial de computadores têm proporcionado mudanças de pensamento e de 
comportamento em escala antes nunca praticada. A cibercultura – caracterizada como 
prática de interação entre o indivíduo e a tecnologia por meio de ferramentas digitais – 
tem ganhado novos adeptos, inclusive no que diz respeito à criação de acervos virtuais 
que abrigam tradições orais e populares. 
Portanto, ao investigarmos quais são os principais bancos de dados digitais, com 
foco no arquivamento das narrativas orais de vertente afro-brasileira, adentramos em 
dois universos distintos, porém complementares. Para entendermos o processo de 
construção de acervos digitais, seu funcionamento e procedimentos de manutenção, 
14 
 
precisamos compreender todo o histórico que circunda a prática de manifestações orais 
e sua importância na constituição do ser enquanto indivíduo pertencente a um coletivo. 
O espaço digital tem se tornado um aparato contemporâneo de propagação do 
arcabouço cultural produzido através dos tempos na constituição das diversas instâncias 
socioculturais. A produção poético-oral sinaliza para o fato de que a tradição popular 
ainda é muito presente na cultura brasileira e, que preservá-la, significa não apenas 
garantir a propagação dos costumes tradicionais como também cuidar do patrimônio 
imaterial do Brasil. 
Para tanto precisamos significar alguns conceitos-chaves. Entende-se por poética 
oral afro-brasileira toda a construção estética oriunda das manifestações orais populares 
de vertente afrodescendente. Inicialmente, a poética oral contempla as narrativas orais 
como contos, causos, lendas, fábulas, histórias de magia (maravilhosos) e pode se 
estender às canções, danças e jogos (jongo, maracatu, congada, coco, capoeira, 
embolada...) como parte integrante da tradição popular. Dentro desta proposta incluem-
se as criações míticas de raiz africana como o candomblé e a umbanda, rodeada por 
narrativas de mitos formadores e de ancestralidade. Consideram-se também as 
produções surgidas no seio das favelas brasileiras, ocupadas em sua maioria pela 
população negra, como o samba e o rap. 
É importante lembrar que o texto oral, por meio da figura do contador ou do 
oralista, representa um discurso social que conduz valores e modos de organização 
social como forma de propagar a cultura de determinado grupo. O discurso de formação 
oral promove um apego ao passado, reverenciando a memória do grupo a que pertence, 
de maneira dinâmica na atualização da identidade coletiva. O medievalista Paul 
Zumthor (2005) reitera que voz é amplo discurso a revelar um sujeito com ethos social 
pertencente a um campo discursivo instituído. 
No entanto, a voz tem, em seu aspecto estético, um dos principais pilares que 
explicam a função da literatura oral enquanto manifestação artística. Há alguns aspectos 
estruturantes do enunciado oral que vão além de caracteres verbais. Nas palavras de 
Doralice Xavier Alcoforado (2007, p. 4) alguns elementos extralinguísticos, “[...] 
específicos do discurso oral associam-se à voz para lhe dar mais concretude, como os 
gestos, a dicção entonacional, as pausas, a mímica facial, os movimentos do corpo [...].” 
A este fenômeno damos o nome de performance, que é capaz de promover a interação 
15 
 
da manifestação oral (texto, entonação, voz, ritmo) com o público receptor durante a 
apresentação. 
Embora com o apoio de novos suportes midiáticos, a tradição permanece viva, 
porém movente, em constante atualização. A voz do narrador se manifesta como poética 
no discurso cercado por múltiplas ideologias, identidades, relações de poder e variedade 
sígnica. Retomando Paul Zumthor, “[...] a voz do narrador que vai em direção ao 
ouvinte transmite sentido o tempo todo. Implica em uma sedução da voz e uma 
experiência do corpo no momento da atualização oral.”. (ZUMTHOR, 2005, p. 67). 
Quando procuramos estudar o fenômeno das manifestações orais em meio 
digital, encontramos alguns desafios no que diz respeito à mudança do veículo condutor 
da tradição. Uma das principais preocupações das publicações orais em diálogo com 
outras mídias seria a de não transformar o mito em folclórico ou meramente alegórico. 
Além disso, há a preocupação com as perdas dos índices de oralidade (elementos 
vocais, gestos, entonação, ritmo) que poderiam se perder no processo de transposição de 
um meio a outro. Entretanto, Walter Ong apazigua essa celeuma quando pondera que: 
 
 
Atualmente, a cultura oral primária, no sentido restrito, praticamente 
não existe, uma vez que todas as culturas têm conhecimento da escrita 
e sofreram alguns de seus efeitos. Contudo, em diferentes graus, 
muitas culturas e subculturas, até mesmo num meio de alta tecnologia, 
preservam muito da estrutura mental da oralidade primária. (ONG, 
1998, p. 19). 
 
 
Divulgar os mitos e acolhê-los em acervos digitais implica num processo de 
reapropriação cultural que reconstitui as verdades e histórias construídas dentro do 
universo cultural oral. O conhecimento, antes apenas oralizado, passa a ser constituinte 
de uma cadeia de formação perpetuada pelo jogo poético da relação narrador/ouvinte 
(cibernético), de maneira que esse mesmo conhecimento seja sistematizado pelos meios 
digitais e transformado em patrimônio imaterial. Dessa maneira, o desafio dos acervos 
digitais seria, minimamente, de impedir que a tradição torne-se, no limiar do tempo, em 
mero folclore. 
Consideramos que a oralidade reconstrói e perpetua as experiências e o 
conhecimento do grupo. A poética advinda da tradição oral cumpre a função social das 
literaturas dos grupos iletrados, pois se vincula à dimensão do coletivo, uma vez que o 
artista tem o compromisso de exaltar no discurso elementos culturais que represente o 
16 
 
todo. Ancorado na noção zumthoriana de voz, Frederico Fernandes explica que “[...] a 
voz desempenha um papel fundamental no meio em que atua: é poética, pulsão do ser 
na linguagem, e coletiva, substancia a identidade de um grupo.” (FERNANDES, 2006, 
p. 50). Por isso, inserir a prática de contação de histórias e demais manifestações orais 
no espaço digital ratifica a importância da figura do artista oral na cultura 
contemporânea e tecnológica. 
A oralidade afro-brasileira vai além dos esquemas marcados de construção 
poética, requer novos aparatos extralinguísticos e sensoriais da criação artística, cuja 
estética fica a cabo da capacidade do contador de despertar sensibilidade e emoção no 
ouvinte por meio da maneira como interpreta o mundo. Baseado então, nos preceitos de 
uma arte oral africana, dialógica e cultural, que influenciou a tradiçãooral afro-
brasileira, este estudo visa mapear a poética oral afro-brasileira em meio digital. 
Sabemos que, em tempos de cibercultura, o contador de histórias, o cantador, o 
MC ou demais representantes da cultura oral afro-brasileira acabam por se apropriar dos 
recursos tecnológicos que lhe são servidos para, não apenas consolidar seu público-
ouvinte, como também fidelizar novos seguidores do discurso oral e garantir a 
sobrevivência cultural para a posteridade. Além disso, a internet tornou-se, também, 
espaço de criação e interação, garantindo a efetivação da performance narrativa do 
oralista em contato secundário com o público-ouvinte. 
Problematizar a formação de ouvintes midiáticos remete à intrínseca relação 
entre a palavra e a ética de cada cultura oral ao reviver a identidade e o aspecto 
etnográfico das poéticas orais. O canto, a dança e as histórias afro-brasileiras revelam o 
encantamento que o etnotexto, ou seja, o texto enraizado, voltado para as tradições e 
raízes do grupo, como defende Jean Noel Pellen (2001), pode provocar no enunciatário. 
Temas valorativos e morais complementam o caráter estético do etnotexto, que se vale 
também das demandas de ordem cultural e social para compor a estrutura narrativa do 
corpus literário etnográfico. A poética oral afro-brasileira se constitui com base em um 
discurso que representa o coletivo, mediando os conflitos internos do homem por meio 
de uma reverência ao passado e aos costumes e crenças tradicionais. 
Traduzir a natureza poética e não meramente etnográfica das poéticas orais entre 
os séculos XX e XXI ganha novos contornos e exigências. A incorporação da narrativa 
oral tradicional no suporte digital revela a necessidade do uso de ferramentas 
cibernéticas para a adaptação da contação de histórias às novas gerações, sobretudo 
17 
 
quando consideramos o fácil acesso dos jovens aos meios digitais. Notamos que o 
ciberespaço inaugura um novo modus operandis, legitimador de práticas sociais 
contemporâneas, que abriga múltiplos narradores em seus diferentes lugares de 
enunciação, na tentativa de, por meio digital, legitimar-se enquanto sujeito dono de 
saberes plurais e diversificados. 
Vale considerarmos que a era midiática e informatizada requer novas posturas de 
antigas práticas. Assim sendo, a experiência coletiva, o discurso polifônico, constituído 
no e para o coletivo, cujos enunciados representam o comportamento e o código moral 
do grupo, passam a circular no ciberespaço e promovem um novo contexto de interação 
e recepção de vozes afro-brasileiras. 
A poética oral preservada em acervos digitais chama a atenção para a herança de 
o código verbal perpetuar-se na formação identitária de novas gerações. Inclui um novo 
modelo de educação escolar que acolha o conhecimento midiático de forma que 
promova a diversidade cultural também na plataforma digital. Neste caso, a eficácia 
discursiva se dá por uma voz dinâmica, heterogênea em representações, que convida a 
comunidade a se atualizar em suas fontes orais com vias a um reavivamento de ideias e 
costumes pertencentes a uma tradição, como pontuam Maria Inês de Almeida e Sônia 
Queiroz: 
 
 
A conservação e a recuperação dos saberes tradicionais não devem, 
entretanto, implicar a renúncia ao enriquecimento de suas 
possibilidades técnicas, econômicas e sociais, pelo contrário, devem 
receber os acréscimos trazidos pelo mundo moderno, sobretudo pelas 
ciências. Daí a importância e o valor inquestionável, por parte das 
principais lideranças, da educação escolar, conjugada com uma 
educação tradicional. (QUEIROZ, 2004, p. 229). 
 
 
Ao tentarmos traduzir uma manifestação oral em qualquer meio digital devemos 
pensar, portanto, no processo de transcriação do texto oral, conceito defendido por 
Almeida e Queiroz (2004). Assim, se para os participantes da cultura oral, ler implica 
em escutar, uma escuta do som, ponto de partida para o reconhecimento da cultura e da 
memória coletiva, em razão do contexto de produção poética, os novos suportes 
midiáticos digitais revelam a necessidade de um novo tipo de leitura-escuta. Para ler-
ouvir a transcriação do texto oral em meio cibernético, o leitor-ouvinte precisa da tela 
do computador, de mensagens codificadas digitalmente para que a palavra oral seja 
18 
 
perpetuada, corroborada pela criação de acervos digitais responsáveis pelo 
arquivamento de fontes orais tradicionais que agora requer nova roupagem, 
contemporânea e digital sobre o velho homem. 
Mesmo assim, se fizermos uma linha do tempo sobre a transposição da 
linguagem oral para a escrita e agora para a digitalizada notaremos que a voz não 
deixou de existir em razão dessas outras instâncias de legitimação da linguagem, mesmo 
que essa passagem tenha indicado novas dinâmicas de recepção-emissão da linguagem, 
pois os enunciados ainda continuam dependendo de indivíduos reais para que se 
atualizem e produzam novos sentidos. 
 
Os acervos digitais afro-brasileiros em destaque 
 
Como exemplos de bancos de dados digitais que contemplam produções de 
poéticas orais afro-brasileiras escolhemos três acervos em potencial dentro da vasta rede 
mundial de computadores, a saber: 
 
1 – Portal de Poéticas Orais 
2 – Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) 
3 – Museu afro-digital do Maranhão 
 
O “Portal de Poéticas Orais” consiste em um acervo criado por pesquisadores da 
Universidade Estadual de Londrina (UEL), em Londrina - Paraná, em parceria com 
outras instituições universitárias que pesquisam as poéticas orais com a ajuda de várias 
disciplinas no campo das humanidades e das letras. O site (disponível no endereço: 
http://www.portaldepoeticasorais.com.br/site/?pg=expediente) abriga pesquisas de 
diversas naturezas no campo das poéticas orais no Brasil e visa mapear quais artistas, 
hoje em dia, produzem sistematicamente uma manutenção da cultura e tradição popular 
brasileira por meio da voz, incluindo as produções de vertente afro-brasileira, que vão 
desde contos até letras de rap, ensejando a variada gama de produção poética que a 
oralidade afro-brasileira pode comportar. 
Importante notar, durante a navegação, que o Portal possibilita o acesso a vídeos, 
entrevistas em áudio e transcritas, textos e pesquisas acadêmicas sobre as poéticas e 
culturas orais no Brasil contemporâneo, nas mais diversas regiões do país e, por isso, 
http://www.portaldepoeticasorais.com.br/site/?pg=expediente
19 
 
constitui-se num profícuo banco de dados digitais de narrativas orais afro-brasileiras 
tanto no âmbito criativo quanto no acadêmico. 
Durante a navegação pelo site, identificamos a presença de alguns contos 
gravados por entrevistadores que se prontificaram a imergir Brasil adentro em busca de 
fontes orais legítimas. No link intitulado “áudios”, o internauta pode escolher qual 
gravação e história quer ouvir. Ao selecionar a história mencionada, presencia-se uma 
experiência surpreendente, pois além de ouvir a voz da narradora, temos acesso à 
transcrição literal. Um exemplo instigante, que prova o poder da memória e da palavra 
falada perpetuada entre as gerações é o caso de “A menina que tentou bater na mãe e 
virou pedra”. Segundo a página do Portal de Poéticas Orais, essa história foi narrada na 
entrevista com Mary Maia para o projeto “O Imaginário nas Formas Narrativas Orais 
Populares da Amazônia Paraense” (IFNOPAP) e foi realizada em Belém, no Pará, pela 
pesquisadora Socorro Simões. O tema central da narrativa, de cunho moralizante, narra 
as malcriações da filha contra a mãe, terminando em um castigo que transformou a 
jovem em pedra após ela ter desacatado novamente a figura materna. A história de Maia 
encontra-se no site www.portaldepoeticasorais.com.br, no item “áudios”, como no 
excerto: 
 
 
[...] Aí, a mãe pediu outro favor pra garota; não, foi falar alguma coisa 
pra garota, brigando com ela e a garota levantou a vassourapra bater 
na mãe, nesse momento a garotinha ficou estática, sem nenhum 
movimento mesmo e foi virando pedra e... e... ela, hoje em dia, a 
estátua dela está na torre da igreja, é...lá em Vigia. (Entrevista: MAIA, 
2016, s/p). 
 
 
O dado atraente, neste caso, é que a mesma história encontra alguma correlação 
em um dos contos da obra “Caroço de Dendê: a sabedoria dos terreiros”, narrado pela 
contadora de histórias Mãe Beata de Yemonjá. Intitulado “A filha que ficou muda 
porque fez a mãe passar vergonha”, o conto tem alguns elementos similares aos eventos 
encontrados na primeira narrativa. O ponto central da história também relata sobre uma 
garota muito mimada que sempre desrespeitava a mãe, até que em uma das situações de 
enfrentamento da filha para com a mãe, durante uma missa, a jovem ficou muda por ter 
feito a mãe passar vergonha em público com mais uma de suas afrontas. O trecho final 
da história retrata essa questão: 
 
http://www.portaldepoeticasorais.com.br/
20 
 
 
[...] – Essa não! Você não vai se ajoelhar para sujar o meu vestido de 
seda! Se quiser fique em pé. 
Então a mãe continuou de pé e todos se voltaram para olhar a mulher, 
que estava chorando envergonhada. Quando acabou a missa as duas 
saíram, porém a filha ruim nunca mais falou. O seu castigo veio na 
hora. (YEMONJÁ, 2008, p. 55-56). 
 
 
Interessante ressaltar que, embora haja muitas variações sígnicas, lexicais e 
mesmo espaciais entre as duas histórias, uma vez que uma é narrada na região do Pará e 
a segunda é contada no Rio de Janeiro, ambas remetem ao mesmo conteúdo semântico. 
O mote narrativo permanece, juntamente com a ideia de uma história com moral, cuja 
função inicial seja de imprimir doutrina e ética aos ouvintes e leitores. O fenômeno 
torna-se então prova cabal do quanto a memória e a oralidade são primordiais na 
manutenção de costumes e crenças que compõem a cultura oral afro-brasileira, ainda 
presente no imaginário coletivo de populações mais tradicionais do país. 
Outro importante acervo digital de poéticas orais afro-brasileiras está abrigado 
no site do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), autarquia 
federal criada em 1937, hoje vinculada ao Ministério da Cultura. Atualmente, o IPHAN 
também está presente no ambiente virtual (encontrado no endereço: 
http://portal.iphan.gov.br/pagina/detalhes/872), com várias manifestações de poéticas 
orais disponíveis para acesso. O IPHAN tem como principal objetivo a preservação do 
patrimônio cultural e imaterial do Brasil, de maneira que as gerações futuras tenham 
acesso aos bens culturais que contribuiram para a formação nacional. Segundo 
informações presentes na página do Instituto, os conceitos norteadores de atuação do 
órgão têm evoluído, porém sempre respeitando seus marcos legais e iniciais que 
preconizam a cultura nacional como as formas de expressão, de criar e de viver do povo 
brasileiro. 
Exemplos de material da cultura oral afro-brasileira, salvaguardado pelo acervo 
digital do IPHAN, de acesso livre, encontra-se no link de acervos e vídeos. É possível 
encontrar exemplares de manifestações afro-brasileiras presentes no inconsciente 
coletivo desde os primeiros séculos do país, a exemplo da permanência das práticas de 
Jongo, no Espírito Santo. Vivo até os dias atuais pela memória e pela voz do povo, o 
jongo, também conhecido como caxambu, uma variação de mesma raiz cultural, entre 
outras variações lexicais, é uma dança de origem africana, praticado pelos negros 
http://portal.iphan.gov.br/pagina/detalhes/872
21 
 
escravizados nas terras brasileiras desde o Brasil Colonial. É parecido com a cadência 
do batuque ou do samba, acompanhada por tambores, cantadores e são dotados de 
estrofe e refrão. Normalmente, no passado, tinha um assunto principal que servia como 
comunicação entre os indivíduos que não podiam falar sobre sua condição de sujeitos 
presos. 
Entre muitos vídeos e gravações que o IPHAN abriga, de maneira a salvaguardar 
a cultura oral afro-brasileira, o foco agora é sobre a gravação que revela práticas orais 
de terreiros de candomblé. Ainda na página “Acervos e publicações” do site do Instituto 
encontramos uma amostra das consagradas festas de terreiros. O vídeo, feito para a 
vigésima oitava edição do Prêmio Rodrigo Melo Franco de Andrade, retrata algumas 
ações de preservação da cultura oral do Ilè OmiOjúàrò (Casa das águas dos filhos de 
Oxóssi), localizado em Miguel Couto, baixada fluminense, sob a batuta da então autora 
de livros de contos orais e mãe de santo, Mãe Beata de Yemonjá. 
Assim como o Portal de Poéticas Orais e o IPHAN, outro site construído para ser 
um potencial acervo digital de poéticas orais afro-brasileiras é o “Museu Afrodigital do 
Maranhão”. Aprovado com recursos da CAPES-PROCULTURA, o banco de dados 
(disponível no endereço virtual http://www.museuafro.ufma.br/site/) é uma parceria 
entre a Universidade Federal da Bahia (UFBA), Universidade Federal de Pernambuco 
(UFPE) e Universidade Federal do Maranhão (UFMA) e está associado à rede da 
memória virtual da Biblioteca Nacional, como afirma o próprio site do Museu. A página 
oficial do projeto afirma, ainda, que é um museu sem proprietários, pois, “[...] quando 
se observa que as intensas transformações tecnológicas atuais exigem novas formas de 
narrativas e novos ambientes de circulação de informações, tem-se que um Museu 
Digital é um lugar democratizante.”. (Museu Afrodigital do Maranhão, s/d). 
O intuito do Museu, assim como outros acervos digitais, é o de revelar a cultura 
de grupos minorizados ou marginalizados por meio de instrumentos democráticos, 
como é o caso da internet e que exaltem a memória e a história de coletivos, em 
especial, os negros. Por meio dos projetos de coleta e gravação de memórias 
tradicionais é possível acolher uma vasta história do povo negro na formação do Brasil. 
Uma vez que a regra seja encontrar alguns poucos exemplares da cultura negra em 
acervos materiais bem restritos ao público em geral, a ideia de criar um banco de dados 
vinculado à rede mundial de computadores significa dizer que não há donos para 
guardar uma cultura que é do povo. Tal fato contribui para os projetos e políticas de 
http://www.museuafro.ufma.br/site/
22 
 
ações afirmativas, contemporâneas ao século XXI e que prezam pelo resgate da 
autoestima afrodescendente e pela luta contra o preconceito racial. A página do Museu 
informa, ainda, que entre as atividades do projeto incluem-se a digitalização de acervos 
e documentos das culturas afro-brasileiras; criação de novas tecnologias para a pesquisa 
na área; auxílio aos programas de graduação e pós-graduação que se debrucem aos 
estudos raciais, além da parceria com arquivos e pesquisadores da temática. 
Ao navegar pelo site, assim como nos outros dois bancos de dados aqui 
retratados, tem-se uma gama de opções, mas uma delas, no link “Coleções”, o internauta 
tem acesso a diversos vídeos que tratam das práticas de manifestações orais afro-
brasileiras como o “Tambor de Crioula”, “Festas de Terreiro”, “Grupos de Quilombolas 
e suas práticas culturais”, “Festas do Divino”, entre outros exemplares. 
 
Considerações finais 
 
Convém ressaltar que, nos três casos de acervos digitais estudados neste artigo, a 
memória e a tradição ancestral representam a força vital das manifestações orais 
afrodescendentes. Seja nas danças, nos cantos, na religiosidade, seja na palavra contada 
e recontada, a poética residente da voz afro-brasileira ganha novo alento e entusiasmo 
por meio de códigos binários e indicadores virtuais, pertencentes ao universo da 
cibercultura e da revolução digital do século XXI. 
No recorte aqui apresentado, pudemos perceber a beleza que reside nas 
manifestações afrodescendentes e remanescentes de uma cultura suplantada pela 
tradição clássica e europeia. A poética oriunda de práticas orais negras nos revela um 
horizonte de possibilidadesacerca do resgate cultural da memória ancestral de 
indivíduos que muito contribuíram para a construção do Brasil de hoje e que ainda 
reflete em muito de sua cultura, totens da raiz africana, seja no canto, na dança, na 
linguagem, na alimentação, seja nos modos de comportamento. 
Apesar de ser este estudo apenas um excerto, ressaltamos que outros sites 
possam, porventura, abrigar poéticas da voz. Entretanto, ratificamos desde já a 
dificuldade em encontrar páginas virtuais que tratem desta demanda. Ainda é preciso 
expandir as ideias sobre a proteção de fontes orais e tradicionais em meio digital, uma 
vez que exige maior investimento acadêmico e dos instrumentos de conservação da 
cultura nacional. O reconhecimento da cultura negra como um dos principais pilares 
23 
 
fundadores da sociedade brasileira também ajudaria a sustentar a tese sobre a 
importância de novos projetos que contemplem a temática aqui abordada, no entanto, 
sabemos que ainda há muito a caminhar no sentido de valorização étnico-racial, 
incluindo as poéticas da voz afrodescendente. 
 
 
 
 
REFERÊNCIAS 
ALCOFORADO, Doralice Fernandes Xavier. Oralidade e Literatura. In: 
FERNANDES, Frederico Augusto Garcia; LEITE, Eudes Fernando (Orgs.). Oralidade 
e Literatura 3: outras veredas da voz. Londrina: EDUEL, 2007. 
FERNANDES, Frederico Augusto Garcia. Vozes da Hélade e das Bordas. In: 
CORRÊA, Regina Helena Machado Aquino (Org.). Nem fruta nem flor. Londrina: Ed. 
Humanidades, 2006. 
INSTITUTO DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO E ARTÍSTICO NACIONAL – IPHAN. 
Disponível em: http://portal.iphan.gov.br/pagina/detalhes/872. Acesso em: 10 mar. 
2016. Foi esse o site citado no texto? (Sim, foi este site.) 
MUSEU AFRO-DIGITAL DO MARANHÃO. Disponível em: 
http://www.museuafro.ufma.br/site/. Acesso em: 11 mar. 2016. 
ONG, Walter. Oralidade e cultura escrita: a tecnologização da palavra. Trad. Enid 
Abreu Dobránszky. Campinas: Papirus, 1998. 
PELLEN, Jean-Noël. Memória da Literatura Oral. A dinâmica discursiva da literatura 
oral: reflexões sobre a noção de etnotexto. Trad. Maria Thereza Sampaio, n. 22, p. 49-
77, jun. 2001. 
PORTAL DE POÉTICAS ORAIS. Disponível em: 
http://www.portaldepoeticasorais.com.br/site/?pg=expediente. Acesso em: 10 mar. 
2016. 
MAIA, Mary. A menina que tentou bater na mãe e virou pedra. Disponível em: 
http://www.portaldepoeticasorais.com.br/site/?pg=escutar&id_audio=77#. Acesso em: 
20 jul. 2016. 
QUEIROZ, Sônia. Um conta, outro aponta: voz, escrita e autoria. In: ALMEIDA, Maria 
Inês de; QUEIROZ, Sônia (Orgs.). Na captura da voz: as edições da narrativa oral no 
Brasil. Belo Horizonte: Autêntica; FALE/UFMG, 2004. 
ZUMTHOR, Paul. Escritura e Nomadismo. Trad. Sonia Queiroz; Jerusa Pires Ferreira. 
São Paulo: Ateliê, 2005. 
http://portal.iphan.gov.br/pagina/detalhes/872
http://www.museuafro.ufma.br/site/
http://www.portaldepoeticasorais.com.br/site/?pg=expediente
http://www.portaldepoeticasorais.com.br/site/?pg=escutar&id_audio=77
24 
 
YEMONJÁ, Mãe Beata de. Caroço de Dendê – A sabedoria dos terreiros: como 
ialorixás e babalorixás passam conhecimentos a seus filhos. 2. ed. Rio de Janeiro: 
Pallas, 2008. 
 
 
 
 
 
 
 
25 
 
A PRESENÇA DE OBRAS FICCIONAIS NO CATÁLOGO DE 
LIVROS DA IMPERATRIZ TERESA CRISTINA E EM SEUS 
DIÁRIOS E CARTAS PESSOAIS 
 
Larissa de ASSUMPÇÃO 
Mestrado em Teoria e História Literária – IEL-UNICAMP 
E-mail: lariassumpcao@hotmail.com 
http://lattes.cnpq.br/6110037699556790 
 
 
RESUMO 
Este trabalho tem por objetivo analisar a presença de romances, gênero de grande 
difusão no século XIX, em documentos pessoais da Imperatriz Teresa Cristina, consorte 
do Imperador Dom Pedro II. O primeiro documento a ser analisado, um catálogo 
manuscrito intitulado “Livros Pertencentes à Sua Majestade a Imperatriz e que se 
Encontram em seu Gabinete”, contém uma lista de 305 obras que pertenceram à 
Imperatriz Teresa Cristina. A análise desse catálogo pode trazer informações sobre as 
preferências literárias da Imperatriz, e sobre os autores, línguas e locais de edição 
predominantes entre os romances presentes em sua biblioteca. Outros documentos 
deixados pela Imperatriz são seus diários, referentes aos anos de 1852 a 1887, e cartas 
pessoais, enviadas à Princesa Isabel entre os anos de 1861 e 1879. Esses documentos 
contêm relatos de leitura e de troca de romances por parte da Família Imperial, servindo 
como indícios do papel que essas obras representavam no cotidiano da mais alta elite 
brasileira do período. Os dados contidos no catálogo e nos documentos pessoais da 
Imperatriz, além de trazerem informações sobre a composição da biblioteca e as práticas 
de leitura da Família Imperial, podem contribuir para os estudos sobre a circulação de 
romances no século XIX. 
Palavras-chave: Família Imperial Brasileira. Documentos Pessoais. Romances. Século 
XIX. 
 
Um dos elementos que podem trazer indícios sobre as práticas de leitura 
realizadas dentro do Brasil do século XIX são os documentos pessoais deixados, em sua 
maioria, por intelectuais e pessoas pertencentes aos estratos mais elevados da sociedade 
da época. Inventários, cartas, diários e catálogos de bibliotecas pessoais podem servir 
como indícios, não apenas dos livros que circularam na sociedade brasileira oitocentista, 
mas também de quais obras foram lidas por membros da população. 
Esse trabalho, que se insere no contexto do Projeto Temático “A Circulação 
Transatlântica dos Impressos: A Globalização da Cultura no Século XIX”, coordenado 
pela Profa. Dra. Márcia Abreu (Universidade Estadual de Campinas) e pelo Prof. Jean-
Yves Mollier (Université de Versailles Saint-Quentin-en-Yvelines), tem por objetivo 
mailto:lariassumpcao@hotmail.com
26 
 
analisar a presença de obras ficcionais em documentos e cartas deixados pela Imperatriz 
Teresa Cristina, consorte do Imperador Dom Pedro II. 
O interesse especial pelas obras ficcionais, que englobavam os romances, contos, 
histórias ou novelas, se deve ao fato de que estas publicações faziam parte de um gênero 
que obteve ampla circulação ao longo do século XIX, mas que, inicialmente, sofreu 
preconceito dos críticos literários que “Desconfiavam de um gênero não previsto pela 
tradição clássica, um gênero que atraía tantos e tão diversos leitores e que, com sua 
linguagem acessível, suscitava interpretações que feriam todo tipo de ortodoxia.” 
(ABREU, 2008, p.11).
 
 Além disso, acreditava-se que havia um “perigo” relacionado à 
leitura desse tipo de obra, pois esta “Fazia com que se perdesse um tempo precioso, com 
que se corrompesse o gosto e com que se tomasse contato com situações moralmente 
condenáveis.” (ABREU et al., s/d). 
Além disso, as obras ficcionais eram comumente relacionadas ao público amplo 
da época, pois eram facilmente acessíveis e circulavam por intermérdio de manuscritos, 
jornais (na forma de folhetins), e por meio de leituras orais (ABREU et al., s/d). 
A análise da presença dessas obras na lista de livros pessoais da Imperatriz 
Teresa Cristina, e nas descrições do cotidiano da Família Imperial feitas em seus diários 
e cartas pode mostrar como esse gênero de grande difusão e acessível ao público amplo 
de diversos países no século XIX, também fazia parte da vida da mais alta elite 
brasileira do período. 
 
A Presença de Obras Ficcionais na “Lista de Livros Pertencentes à Sua Majestade 
a Imperatriz e que se Encontram em seu Gabinete” 
 
Uma das fontes de informações sobre a presença de livros em bibliotecas 
brasileiras e sobre a sua leitura são os documentos deixados pela Família Imperial 
Brasileira. Após a Proclamação da República e o exílio da Família Imperial, em 1889, 
grande parte dos livros e documentos presentes no Palácio de São Cristóvão foi dividida 
entre instituições brasileiras. Por determinação do próprio Dom Pedro II que, em 1891, 
escreveu uma carta ao Procurador Silva Costa, por meio da qual doava os objetos 
pessoais desua família ao Brasil
1
, assim, os 24.270 livros do Palácio foram divididos 
entre o Museu Histórico Nacional, a Biblioteca Nacional e o Instituto Histórico e 
 
1
 Acervo do Museu Imperial (Coleção Silva Costa – I-DAS-08.06.1891-PII.B.c). 
27 
 
Geográfico Brasileiro. No que se refere aos documentos, determinou-se que os 
documentos oficiais fizessem parte do acervo da Fundação Biblioteca Nacional, e os 
documentos de cunho pessoal e privado fossem para o Museu Imperial de Petrópolis, 
onde fazem parte do Arquivo Grão Pará. 
Entre os arquivos pessoais da Família Imperial estão documentos que se referem 
às bibliotecas do Palácio e à saída e entrada de livros dos gabinetes pessoais dos 
membros da Família Imperial. Um desses documentos, intitulado “Livros Pertencentes à 
Sua Majestade a Imperatriz e que se Encontram em Seu Gabinete”, contém uma lista de 
305 obras que pertenceram à Imperatriz Teresa Cristina. A Imperatriz, nascida em 
Nápoles, em 1822, casou-se por procuração com o Imperador Dom Pedro II, em 1843, e 
chegou ao Brasil pouco tempo depois. O catálogo dos livros que pertenceram à 
Imperatriz, no final do século XIX, pode, além de mostrar quais obras literárias estavam 
presentes no Palácio, trazer indícios sobre as práticas de leitura de um membro da mais 
alta elite brasileira do período. 
Entre os 305 livros cujas informações principais estão descritas no catálogo, 60 
(19,6%) são do gênero prosa ficcional. A presença de um número considerável de obras 
desse gênero no gabinete pessoal da Imperatriz Teresa Cristina revela como os livros de 
ficção, que obtiveram grande circulação entre o público amplo do período, também 
estavam presentes no Palácio de São Cristóvão, moradia da mais alta elite brasileira do 
século XIX. 
A análise dos títulos de obras ficcionais e de autores mais recorrentes nesse 
catálogo pode trazer indícios sobre algumas de suas escolhas literárias. Essa suposição 
baseia-se na existência de documentos que controlavam a saída e entrada de livros no 
cômodo da Imperatriz Teresa Cristina e do Imperador Dom Pedro II. Um desses 
documentos, datado do ano de 1864 e intitulado “Saída dos Livros Pertencentes à Sua 
Majestade a Imperatriz”, registra a saída de dois exemplares das obras de Lamartine do 
gabinete da Imperatriz: um deles retirado pela Princesa Isabel, e um pela Princesa 
Leopoldina. O final do documento indica que a saída de livros aconteceu “por ordem da 
mesma Augusta Senhora”
2
. Documentos como esses são indícios de que a Imperatriz 
Teresa Cristina controlava os livros que entravam e saíam do seu gabinete pessoal, 
indicando que as obras ficcionais que lá existiam provavelmente refletiam algumas de 
suas escolhas pessoais. 
 
2
 Seção de manuscritos da Fundação Biblioteca Nacional. 
28 
 
Um dos primeiros fatores que chamam a atenção no catálogo de livros da 
Imperatriz é a atualidade de seu acervo, que pode ser visualizada com mais clareza, a 
seguir, por meio do Gráfico 1, expresso em décadas. 
 
 
Gráfico 1: Obras ficcionais, por década, no Gabinete da Imperatriz Teresa Cristina 
Fonte: Elaborado pela autora. 
 
Com base no Gráfico 1, é possível perceber que grande parte das obras 
ficcionais que pertenciam ao gabinete da Imperatriz Teresa Cristina eram 
contemporâneas a ela, e grande parte foi editada a partir da década de 1840, período em 
que ela veio para o Brasil e passou a morar no Palácio de São Cristóvão. Esse fato pode 
indicar que várias das obras que a Imperatriz escolheu para que fizessem parte da sua 
coleção pessoal foram adquiridas em terras brasileiras. Isso não significa, porém, que a 
lista de livros da Imperatriz contivesse apenas livros cujas primeiras edições lhe são 
contemporâneas. Muitas obras, como Histoire de Gil Blas de Santillane, de Lesage e 
Rosamonde, de Maria Edgeworth, têm suas primeiras edições datadas ainda do século 
XVIII: Gil Blas foi publicado originalmente em 1715 e está presente na lista de livros 
em uma edição parisiense de 1864, e Rosamonde foi publicada em 1796, mas consta no 
catálogo da Imperatriz em edição de 1836. Esses dados revelam como reedições de 
romances antigos circulavam no Brasil do século XIX, permitindo que a Imperatriz 
mantivesse um acervo com obras publicadas em seu período de vida. 
7 
11 
24 
5 5 5 
0
5
10
15
20
25
30
1830 1840 1850 1860 1870 1880
Obras ficcionais por década no Gabinete da 
Imperatriz Teresa Cristina 
Obras ficcionais por década no Gabinete da Imperatriz Teresa Cristina
29 
 
A compra de livros por membros da Família Imperial no Brasil pode ser 
comprovada por meio da existência de documentos que controlavam os gastos da 
Família Imperial com a aquisição de obras literárias, e que hoje fazem parte do acervo 
do Museu Imperial de Petrópolis. Um desses documentos contém recibos da livraria 
Garnier, expedidos entre os anos de 1872 e 1886, que registram a compra de livros para 
o Palácio, entre os quais estão obras ficcionais, tais como Manon Lescaut, do Abbé 
Prévost, Tronco do Ipê e Pata da Gazela, de José de Alencar, Le Reigne des 
Champignons, de Alphonse Karr e L’Antiquário, de Walter Scott. 
Esses dados indicam como as obras ficcionais circulavam e podiam ser 
adquiridas no Brasil, em diversas línguas, traduções e edições. Apenas esses recibos 
mostram como era possível adquirir, em terras brasileiras, obras do romancista de 
língua inglesa Walter Scott, traduzidas para o italiano; e obras dos romancistas 
franceses Prévost e Alphonse Karr, em língua original. Essa facilidade permitiu que a 
Imperatriz compusesse uma biblioteca com obras ficcionais em diversas línguas, fossem 
elas originais ou traduzidas, o que pode ser mais bem observado, a seguir, por meio do 
Gráfico 2. 
 
 
Gráfico 2: Quantidade de obras, por língua, no Gabinete da Imperatriz Teresa Cristina 
Fonte: Elaborado pela autora. 
 
Valendo-se do Gráfico 2, é possível perceber que, entre as obras ficcionais do 
catálogo dos livros da Imperatriz, há uma predominância de obras em francês, que é a 
32 
11 
6 
9 
1 0 
0
5
10
15
20
25
30
35
Francês Italiano Inglês
Quantidade de Obras por Língua no Gabinete da 
Imperatriz Teresa Cristina 
Quantidade de obras em língua original Quantidade de obras traduzidas
30 
 
língua de edição de 41 (68,3%) obras. A língua francesa também possui o maior número 
de obras em língua original do catálogo. Essa predominância francesa provavelmente é 
reflexo do grande papel que a França exerceu no cenário literário do século XIX, no 
Brasil, onde exerceu papel decisivo como mediadora de produtos culturais e produtora 
original de romances (ABREU, et al., s/d). Além disso, estudos sobre os pedidos de 
autorização da entrada de livros no Rio de Janeiro submetidos à Censura Portuguesa 
mostram que as obras francesas já tinham grande circulação no Brasil desde meados do 
século XVIII (ABREU, 2000). 
A predominância francesa no catálogo também pode ser observada ao se separar 
as obras ficcionais da lista por local de edição, conforme expressa o Gráfico 3. 
 
 
Gráfico 3: Número de obras ficcionais editadas por cidade 
Fonte: Elaborado pela autora. 
 
A Itália também se destaca no catálogo, tanto como língua de edição de 20% do 
total de obras ficcionais, quanto como local de edição: Milão e Florença são as cidades 
com o maior número de obras após Paris e Bruxelas. A preferência por obras em língua 
italiana por parte da Imperatriz Teresa Cristina provavelmente se deva ao fato de que 
essa era a sua língua materna e, portanto, a língua com a qual a Imperatriz tinha grande 
familiaridade. Além disso, parece haver uma preferência por obras que tenham o 
italiano como língua original. 
40 
6 
4 4 
6 
0
5
10
15
20
25
30
35
40
45
Paris Bruxelas Milão Florença Outra
Número de obras ficcionais editadas por cidade 
Númerode obras ficcionais editadas por cidade
31 
 
As obras em inglês, todas em língua original, representam cerca de 10% do 
catálogo, e possivelmente refletem a formação cultural elevada que a Imperatriz teve 
durante a juventude, a qual envolvia o estudo de diversas línguas. A “Lista de Livros 
Pertencentes à Sua Majestade a Imperatriz” contém espaços reservados a obras em 
língua portuguesa e espanhola, mas estes não foram preenchidos com dados sobre 
nenhuma obra, talvez pelo fato do catálogo conter o ano de 1885 como data de edição 
de sua obra mais recente, o que pode indicar que ele não foi finalizado em virtude da 
Proclamação da República e exílio da Família Imperial do Brasil. 
Outros dados que podem trazer indícios sobre as escolhas literárias da Imperatriz 
são os autores mais presentes no catálogo de seu gabinete. Um dos autores de maior 
destaque é o escocês Walter Scott, que aparece com uma edição de 1848 de The Abbot, 
editado em inglês, e uma tradução francesa de 1838 de Ivanhoé. Além disso, a lista de 
livros da Imperatriz contém três edições das obras completas em francês desse escritor, 
editadas em Paris, e publicadas nos anos de 1840, 1844 e 1848. Talvez a grande 
presença desse escritor no catálogo se deva ao fato de que Walter Scott foi um dos 
autores de grande circulação no século XIX, tendo sido um dos responsáveis pela 
aceitabilidade do gênero romance na Grã-Bretanha, onde obteve grande sucesso de 
público e de crítica. Seu sucesso logo chegou ao Brasil e, na década de 1820, suas obras 
já eram anunciadas no Jornal do Commercio (VASCONCELOS, 2008, p. 362). 
Outra escritora de língua inglesa de romances históricos que se destaca no 
catálogo de livros da Imperatriz Teresa Cristina é a inglesa Maria Edgeworth. 
Considerada uma das mais importantes romancistas irlandesas, Maria Edgeworth possui 
quatro de seus romances no catálogo: Rosamond, Frank e Harry and Lucy, editados em 
inglês no ano de 1836, e Demain, tradução francesa de seu romance Tomorrow, 
publicada em 1856, em Paris. 
É interessante notar como, apesar de grande parte das obras do catálogo terem 
sido publicadas em francês, são os autores de língua inglesa os que mais se destacam. 
Esse fato reflete a grande circulação que os autores dessa língua tiveram no Brasil, ao 
longo do século XIX, especialmente por intermédio de traduções para o francês 
(VASCONCELOS, s/d). 
Também existem autores franceses de grande destaque no catálogo: o 
romancista francês Eugène Sue, por exemplo, está na lista de livros da Imperatriz 
Teresa Cristina com quatro de seus romances, todos em língua original e editados em 
32 
 
Bruxelas: Mathilde, em edição de 1843; L’Orgueil e L’Envie, em edições de 1848; e Le 
Colère, em edição de 1849. Outro escritor francês de grande destaque é Alexandre 
Dumas fils, que aparece com várias de suas obras, todas editadas em francês e 
publicadas em Paris: Antonine, em edição de 1857; Le Docteur Servant e Tristan le 
Roux, em edições de 1856; e uma edição com as obras Diane de Lys, Ce qu’on ne Sait 
Pas, Grangette e Une Loge à Camille, publicadas no ano de 1856. 
Entre os autores de língua italiana presentes no catálogo estão Alessandro 
Manzoni, com I Promessi Sposi, em edição de 1873; Giacinto de Belmonte, com duas 
edições de Quatro Santi ed un Beato, datadas de 1882; e Cesare Cantù, com Margherita 
Pusterla. 
 
A Presença de Obras Ficcionais em Cartas e Documentos Pessoais da Imperatriz 
Teresa Cristina 
 
Além do catálogo dos seus livros, outros documentos que podem trazer indícios 
sobre as escolhas literárias da Imperatriz Teresa Cristina e sobre as práticas de leitura da 
Família Imperial Brasileira são seus diários e cartas pessoais, que, atualmente, fazem 
parte do Arquivo Grão Pará do Museu Imperial de Petrópolis. 
Em seu diário pessoal, escrito em língua italiana entre os anos de 1852 e 1887, a 
Imperatriz Teresa Cristina relata seus hábitos pessoais, tais como as viagens do Palácio 
de São Cristóvão, no Rio de Janeiro, ao Palácio de verão em Petrópolis, suas idas ao 
teatro e a eventos religiosos, sua rotina diária, os acontecimentos principais na vida das 
filhas, suas viagens, etc. Entre as descrições de suas atividades diárias encontram-se, 
também, os relatos de algumas práticas de leitura. A descrição dessas práticas traz 
indícios sobre como eram os hábitos de leitura da Família Imperial Brasileira dentro do 
Palácio e de como os membros dessa família se relacionavam com os livros e, em 
especial, com as obras de ficção. 
A Imperatriz descreve, várias vezes, ao longo dos diários, as práticas de leitura 
de outros membros da Família Imperial. No dia 25 de agosto de 1864, ela escreve: “[...] 
chegando em Petrópolis fomos ao jardim, depois o Imperador leu [...]”
3
. No dia 10 de 
maio de 1867, ela escreve: “O Imperador hoje leu das 3 às 4 [...]”
4
 e, nos dias 24 de 
 
3
 No original: “Arrivando in Petropolis siamo andati al giardino, dopo l’Imperatore lessa”. Tradução 
nossa. Museu Imperial/Instituto Brasileiro de Museus/MinC – Requerimento de autorização nº12/2014. 
4
 No original: “L’Imperatore oggi lesse dale 3 alle 4”. Tradução nossa. Museu Imperial/Instituto 
Brasileiro de Museus/MinC – Requerimento de autorização nº12/2014. 
33 
 
julho e 23 de dezembro de 1867, a Imperatriz escreve em seu diário a frase: “o 
Imperador veio ler”
5
. A Imperatriz também fala sobre as leituras realizadas por outros 
membros da família, como seu genro, o Conde d’Eu, sobre quem ela escreve, no dia 25 
de novembro de 1866: “Gaston ficou conosco e leu um livro que Taunay lhe emprestou 
[...]”
6
. Esses trechos do diário mostram como a leitura fazia parte do cotidiano da 
Família Imperial brasileira, que tinha hábitos frequentes de leitura e aparentemente 
transmitia esses hábitos aos membros mais jovens da família. Exemplo disso é a 
descrição que a Imperatriz faz, no dia 26 de julho de 1872, sobre a visita de seus netos e 
suas leituras com o avô: “Toda manhã estiveram meus netos comigo. Leram com o 
Imperador em português.”
7
 
Além dos hábitos de leitura, a Imperatriz também dá indícios, em seus diários, 
sobre as relações que a Família Imperial mantinha com escritores do período. No dia 23 
de outubro de 1879, por exemplo, ela escreve: “Fomos na conferência de Mr. Gustave 
Aimard, conhecido romancista, na escola de S. José [...]”
8
. Gustave Aimard é um 
pseudônimo de Olivier Gloux, romancista francês, que escrevia obras de aventuras 
geográficas (LETOURNEUX, 2007). 
Além de descrever os hábitos de leitura dos outros membros da Família 
Imperial, a Imperatriz Teresa Cristina também escreve, em seu diário, sobre suas 
próprias práticas de leitura. No dia 23 de janeiro de 1877, por exemplo, quando ocorre 
um acidente com D. Josefina, ela escreve: “Estando eu tranquilamente lendo fui 
chamada encontrando-se D. Josefina doente, quase asfixiada com fumaça [...]”
9
. E nos 
dias 1, 6, 12, 19 de janeiro e 9 de fevereiro de 1868 ela escreve a palavra “leitura” após 
falar sobre o seu dia. 
Além das descrições gerais das práticas de leitura da Família Imperial, a 
Imperatriz também fala sobre leituras específicas realizadas por ela. A primeira 
referência à leitura de obras ficcionais no diário da Imperatriz ocorre no ano de 1863 
quando, no dia 8 de abril, ela escreve que o Senhor Pacheco, diretor do Colégio Pedro 
 
5
 No original: “Venne l’Imperatore leggere”. Tradução nossa. Museu Imperial/Instituto Brasileiro de 
Museus/MinC – Requerimento de autorização nº12/2014. 
6
 No original: “Gaston resto com noi e lesse un libro che il Taunay c’imprestò”. Tradução nossa. Museu 
Imperial/Instituto Brasileiro de Museus/MinC – Requerimento de autorização nº12/2014. 
7
 Museu Imperial/Instituto Brasileiro de Museus/MinC – Requerimento de autorização nº12/2014. 
8
 No original: ““Andammo alla conferenzadi Mr. Gustave Aimard conosciuto romansista, nella escola de 
S. José”. Museu Imperial/Instituto Brasileiro de Museus/MinC – Requerimento de autorização nº12/2014. 
9
 No original: “Stando eu tranquilamente legendo fù chamada trovandosi D. Josefina ammalata quase 
asfiziata col fume”. Tradução minha. Museu Imperial/Instituto Brasileiro de Museus/MinC – 
Requerimento de autorização nº12/2014. 
34 
 
II, lhe emprestou o livro Fabiola o la Chiesa dele Catacombe, do Cardinal Nicholas 
Wiseman
10
. Alguns dias depois, em 27 de abril, ela escreve, após relatar as atividades 
do seu dia, que terminou de ler Fabiola
11
. A obra Fabiola o la Chiesa dele Catacombe é 
uma tradução para o italiano do romance inglês Fabiola or the Church of the 
Catacombes, publicado pela primeira vez em 1854. Esse romance moral está presente 
na lista de livros da Imperatriz, em tradução italiana publicada em Milão no ano de 
1856. É possível que a edição existente no catálogo de obras do gabinete da Imperatriz, 
escrito no final do século, seja a mesma que ela pegou emprestado do diretor do Colégio 
Pedro II, em 1863. Esse exemplo mostra como os livros que faziam parte do acervo 
pessoal da Família Imperial Brasileira eram adquiridos por diversas formas: compra 
direta, trocas, empréstimos, doações, entre outros; e que a data de edição do romance 
nem sempre corresponde à data em que ele foi adquirido pelos membros da Família 
Imperial. 
A Imperatriz faz outra referência à leitura de uma obra ficcional no dia 27 de 
abril de 1863, quando diz que começou a ler Capitão Paulo, romance de Alexandre 
Dumas. Essa obra é uma tradução para o português de Le Capitaine Paul, publicado 
pela primeira vez em 1838, na França, em formato de folhetim. Essa obra também 
circulou em folhetim no Brasil, no Jornal do Commercio, pouco tempo após sua 
publicação na França (HOHLFELDT, 2004). A publicação dessa obra no jornal sugere 
que ela atingiu um público amplo da época e revela como a Imperatriz Teresa Cristina, 
membro da mais alta elite brasileira do século XIX e com uma formação cultural 
elevada, lia as mesmas obras que foram de fácil acesso para o público mais amplo do 
período. 
As cartas da Imperatriz, enviadas à sua filha, a Princesa Isabel, entre os anos de 
1861 e 1879, também revelam muito das práticas de leitura da Família Imperial 
Brasileira e das trocas de livros e experiências literárias pelos seus membros. Em 
algumas das cartas, a Imperatriz fala sobre o hábito que tinha de ler com o Imperador. 
Em dezembro de 1864, ela escreve: “Seu pai vem ler às 4 até às 5 que é a hora de jantar, 
o que me alivia as saudades que tenho de vós todos [...]”
12
, e em 5 de junho de 1866: 
 
10
 No original: “In casa il Se. Pacheco direttore del Colleggio di Pedro II m’impresto il libbero della 
Fabiola o la Chiesa delle Catacombe de Cardinale Nicola Wiseman”. Museu Imperial/Instituto Brasileiro 
de Museus/MinC – Requerimento de autorização nº12/2014. 
11
 No original: “Ho finito di leggere Fabiola”. Museu Imperial/Instituto Brasileiro de Museus/MinC – 
Requerimento de autorização nº12/2014. 
12
 Arquivo Grão Pará. Museu Imperial/Instituto Brasileiro de Museus/MinC. 
35 
 
“Temos essa noite a conclusão da leitura das viagens ao interior da África pelo capitão 
B.”
13
. A Imperatriz escreve, ainda, em dezembro de 1867: “Isabel, o teu pai veio às 3 
ler-me La Storia Universale de Cesare Cantù até às 4, que fomos jantar [...]”
14
. Esses 
trechos de cartas da Imperatriz mostram que a leitura não era vista apenas como uma 
prática individual pelos membros da Família Imperial Brasileira, mas também como 
algo a ser compartilhado por meio de leituras orais. 
As cartas escritas pela Imperatriz Teresa Cristina revelam, ainda, que não apenas 
a leitura era compartilhada no cotidiano da Família Imperial, mas também os livros. É 
muito comum que a Imperatriz escreva à Princesa Isabel que está lhe enviando livros. 
No dia 16 de janeiro de 1857, por exemplo, a Imperatriz escreve: “Já achei o livro que 
eu te levarei eu mesma domingo [...]”
15
; e no dia 7 de fevereiro de 1859: “Papai manda 
dizer que já achou o livro que lhe pediste [...]”
16
. Em alguns casos, as cartas incluem 
referências a opiniões pessoais de leitura, como a carta do dia 17 de janeiro de 1868, em 
que a Imperatriz escreve: “Lerei com mais prazer o livro que te falei sabendo que gastou 
teu tempo lendo e é muito bom [...]”
17
. Esses trechos mostram como a Família Imperial 
trocava livros e indicações de leituras entre si e opiniões pessoais sobre as obras, o que 
ajudava na construção de um repertório em comum de leituras entre essa família. 
As cartas da Imperatriz também contêm referências explícitas à troca de obras 
ficcionais pela Família Imperial e de indicações de leitura de livros desse gênero. No dia 
5 de novembro de 1864, por exemplo, a Imperatriz relata: “Vejo daquilo que me disse 
que Ivanhoé te interessa muito [...]”
18
. Ivanhoé, romance histórico de Walter Scott, foi 
publicado pela primeira vez em 1820, e é uma das obras desse escritor presentes no 
catálogo da Imperatriz, em edição francesa de 1838. É interessante notar como o gosto 
pelos romances de Walter Scott parecia ser compartilhado por mãe e filha, nesse 
período: o romancista escocês é o autor de maior destaque no catálogo da Imperatriz, e a 
Princesa Isabel afirma que se interessou muito por seu romance. 
No dia 01 de setembro de 1866, a Imperatriz faz menção a um romance que está 
enviando para a filha: “O Borges te deve entregar o Romance de Waterloo que achei e te 
 
13
 Idem. 
14
 Idem. 
15
 Idem. 
16
 Idem. 
17
 Idem. 
18
 Idem. 
36 
 
peço de aceitar. Este romance poderá entreter-te e também a Gaston [...]”
19
. Talvez por 
algum problema na entrega do livro a Imperatriz o menciona novamente em uma carta 
datada de 3 de outubro de 1866: “Te mando o romance de Waterloo que gostei muito de 
ler [...]”
20
. Waterloo, romance dos escritores franceses Erckman-Chatrian, teve sua 
primeira edição em 1865, o que mostra que a Imperatriz estava enviando à filha e ao 
genro uma obra relativamente recente. As menções feitas a esses romances nas cartas da 
Imperatriz revelam alguns aspectos sobre a relação da Família Imperial com as obras 
ficcionais, como a visão que a Imperatriz parece ter sobre esse tipo de obra. Na carta, 
ela diz que o objetivo do livro que ela enviava seria o de entreter a filha e o seu genro, o 
Conde d’Eu. Esse fato indica que as obras ficcionais eram vistas como algo ligado ao 
entretenimento pela Família Imperial. 
Além disso, as cartas apresentam opiniões de leitura da Imperatriz, manifestando 
que gostou muito de ler o romance e por isso o está enviando à filha. Essa troca de 
livros e experiências de leituras aparece frequentemente nos documentos da Imperatriz. 
Um exemplo de troca de livros por vários membros da Família Imperial acontece em 
relação ao romance Família Inglesa, de Julio Dinis. Em uma carta datada de 20 de 
outubro de 1868, a Imperatriz diz: “Ontem recebi o livro da Família Inglesa, que 
entreguei a teu pai [...]”
21
, e no dia 28 do mesmo mês: “Minha queria filha Isabel, 
aproveito do capelão que vai amanhã para as Águas Virtuosas para escrever-te estas 
duas linhas e mandar-te o livro que tua Mana acabou, que é Uma Família Inglesa, que 
teu Pai lhe emprestou e agora a ti.”
22
. Nesse caso, a troca de obras ficcionais pelos 
membros da Família Imperial é clara: a Imperatriz recebeu um livro, que entregou ao 
Imperador. Este, por sua vez, ao terminar a leitura, empresta a obra à sua filha, a 
Princesa Leopoldina e depois o envia, novamente por intermédio da Imperatriz, para a 
Princesa Isabel. 
O romance Família Inglesa teve sua primeira edição em 1867, o que mostra que 
a Família Imperial estava, mais uma vez, lendo uma obra recente.Essa obra, que retrata 
a sociedade portuguesa do século XIX foi, como Capitão Paulo, publicada 
originalmente em folhetim, no Jornal do Porto, o que mostra tratar-se de uma obra que 
atingiu um público amplo. 
 
19
 Idem. 
20
 Idem. 
21
 Idem. 
22
 Idem. 
37 
 
Os dados retirados das cartas e diários da Imperatriz Teresa Cristina mostram 
que as obras ficcionais não apenas estavam presentes em grande quantidade na coleção 
de livros particular da Imperatriz Teresa Cristina, mas eram lidas por ela e por outros 
membros da Família Imperial que, além de praticarem constantemente a leitura como 
atividade individual e privada, também compartilhavam leituras em voz alta e 
indicações de livros, que eram constantemente enviados de uma pessoa a outra da 
família com recomendações de leitura. Dados como esses revelam como sua leitura de 
obras ficcionais era realizada tanto pelas pessoas pertencentes aos estratos mais baixos 
da sociedade da época quanto pelos membros da Família Imperial Brasileira. 
Além disso, os dados apresentados expressam como o gênero romance circulava 
entre diversos países no século XIX, possibilitando que obras publicadas, editadas ou 
traduzidas em diversos locais da Europa estivessem acessíveis a leitores brasileiros. 
 
 
REFERÊNCIAS 
 
ABREU, Márcia. Literatura e História: Presença, Leitura e Escrita de Romances. In: ABREU, 
Márcia (Org.). Trajetórias do Romance: Circulação, leitura e escrita nos séculos XVIII e XIX. 
Campinas: Mercado de Letras, 2008. p. 11-19. 
______. Rei e o Sujeito – considerações sobre a leitura no Brasil colonial. Brasil e Portugal: 500 
anos de enlaces e desenlaces. Revista Convergência Lusíada, nº 17, Real Gabinete Português de 
Leitura, Rio de Janeiro, 2000, p. 189-201. 
ABREU, Márcia; VASCONCELOS, Sandra; VILLALTA, Luiz Carlos; SCHAPOCHNIK, 
Nelson. Caminhosdo Romance no Brasil: séculos XVIII e XIX. Disponível em: 
<http://www.caminhosdoromance.iel.unicamp.br/estudos/ensaios/caminhos.pdf> 
HOHLFELDT, Antonio. Le roman-feuilleton et la presse dans le sud du Brésil. Sociétés, v. 83, 
p. 35-39, jan. 2004. 
LETOURNEUX, Matthieu. Paris, terre d’aventures ; La construction d’un espace exotique dans 
les récits de mystères urbains. RITM, 2007, p.147-161 
VASCONCELOS, Sandra Guardini. Cruzando o atlântico: notas sobre a recepção de Walter 
Scott. In: ABREU, Márcia (Org.). Trajetórias do Romance: Circulação, leitura e escrita nos 
séculos XVIII e XIX. Campinas: Mercado de Letras, 2008. p. 351-374 
VASCONCELOS, Sandra Guardini. Formação do Romance Brasileiro: 1808-1860 (Vertentes 
Inglesas. Disponível em: http://www.unicamp.br/iel/memoria/Ensaios/Sandra/sandra.htm. 
Acesso em: 19 maio 2016.
http://www.caminhosdoromance.iel.unicamp.br/estudos/ensaios/caminhos.pdf
http://www.unicamp.br/iel/memoria/Ensaios/Sandra/sandra.htm
38 
 
A ABLC: ESPAÇO DA MEMÓRIA ORAL E ESCRITA 
 
Barbara Lais Falcão da Silva CAÇÃO 
Mestra em Literatura e Vida Social 
Unesp/Assis 
barbarafalcaoc@hotmail.com 
http://lattes.cnpq.br/5888113151541041 
 
 
RESUMO 
O presente trabalho tem como objetivo demonstrar o papel ocupado pela ABLC 
(Academia Brasileira de Literatura de Cordel), localizada no bairro de Santa Teresa, no 
Rio de Janeiro, na prática de registro e conservação das poéticas populares e de tradição 
oral, mais especificamente da literatura de cordel. A entidade é um local de difusão 
dessa produção popular não só por contar com um acervo riquíssimo de poetas 
pioneiros e contemporâneos, mas também por ser presidida por Gonçalo Ferreira da 
Silva, cordelista cearense radicado no Rio de Janeiro, que escreve um cordel 
revitalizado sem desvincular-se da tradição, levando em consideração não somente a 
oralidade, mas também assumindo a responsabilidade de divulgar essa forma de 
expressão artística com o ofício de poeta e declamador de sua própria produção. Além 
disso, vale ressaltar que a academia também publica os folhetos de Gonçalo e de outros 
poetas, além de disponibilizar uma pequena parte de seu acervo em meio digital, o que 
permite refletir sobre a experiência de recepção do folheto de cordel em diferentes 
contextos: pela voz do poeta, pela leitura do folheto físico e pela leitura no formato 
digital. 
Palavras-chave: Acervo ABLC. Gonçalo Ferreira da Silva. Tradição Oral. Rio de 
Janeiro. 
 
1 A ABLC: Espaço físico e um pouco de sua história 
 
A Academia Brasileira de Literatura de Cordel foi fundada no dia 07 de 
setembro de 1988 e idealizada por um grupo de poetas populares residentes no Rio de 
Janeiro que achou conveniente estabelecer um local onde pudessem realizar reuniões e 
encontros, que antes ocorriam em lugares públicos, como bares e restaurantes. 
 A Academia está localizada no bairro de Santa Teresa, o que acabou 
sendo bastante propício, pois, pelo fato de estar situada em um dos bairros mais 
visitados por turistas, acabou ganhando mais visibilidade. Até antes do desastre 
envolvendo o famoso bondinho de Santa Teresa, era muito comum que as pessoas 
chegassem ao famoso bairro utilizando aquele meio de transporte e, assim, em razão da 
localização privilegiada da ABLC, os turistas facilmente se deparavam com o local, 
mailto:barbarafalcaoc@hotmail.com
39 
 
visitavam e adquiriam diversos folhetos, não raramente, vendidos por Gonçalo Ferreira 
da Silva, um de seus fundadores. 
 
 
Figura 1: Bondinho de Santa Teresa 
Fonte: Elaborada pela autora, 2010. 
 
Depois de criada a Academia, foi estabelecido o número de cadeiras, que 
atualmente são mais de 40, e nem todas são destinadas a poetas populares radicados no 
Rio de Janeiro, ao contrário, 25% delas é destinada a poetas que residem em outros 
cantos do Brasil. Com a organização da ABLC e a conquista de seu espaço físico, no 
bairro de Santa Teresa, Umberto Peregrino, diretor da Casa de Cultura São Saruê, 
concede o acervo da casa à academia. 
No que se refere a este feito, dois poetas exercem um papel importantíssimo na 
criação da ABLC: Apolônio Alves dos Santos e Gonçalo Ferreira da Silva (poeta 
cearense radicado no Rio de Janeiro), além, é claro, de outros nomes, mas com destaque 
especial para Gonçalo, que trabalha consideravelmente na divulgação da literatura de 
cordel, não somente dos seus títulos, mas também dos pertencentes a poetas que lhe são 
anteriores. 
Os folhetos são vendidos na loja, que é a parte visível do prédio da academia, na 
qual são expostos em suportes plásticos acomodados na parede, e é muito relevante 
sinalizar que eles não pertencem somente a Gonçalo, mas a diversos poetas de cordel da 
40 
 
cena carioca; traz, ainda, muitas reedições de folhetos antigos de grandes poetas como 
Leandro Gomes de Barros, por exemplo. 
O cordel contemporâneo passou por diversas modificações para que chegasse ao 
formato que conhecemos hoje, e isso se deu pela capacidade desta produção de se 
reinventar, atendendo aos interesses e às expectativas de um novo público, hoje em dia 
muito mais urbano que no pioneirismo; e, é claro, com a atenção dividida com as 
opções de entretenimento rápido oferecidas pelos grandes meios de comunicação. Mas o 
cordel passou por um processo de revitalização e hoje é encontrado não só com 
diferentes temáticas, mas também em diferentes formatos. 
Vale ainda ressaltar que, em virtude das próprias modificações enfrentadas pela 
literatura de cordel, os folhetos no formato livro podem ser encontrados não somente 
em algumas livrarias, mas também na própria ABLC, como a coleção de Gonçalo 
Ferreira da Silva sobre Lendas Brasileiras (composta por vários folhetos que versam 
sobre algumas das lendas de nosso folclore); além de uma publicação muito 
interessante, intitulada Cem cordéis históricos segundo a Academia Brasileira de 
Literatura de Cordel, em que alguns poetas falecidos e de bastante relevância foram 
escolhidos para integrar essa “antologia” – composta por folhetos

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