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ANAIS DA VI MOSTRA CIENTÍFICA 
 
 
 
NOVOS SEGMENTOS E EMPREENDIMENTOS NO 
TURISMO 
 
 
 
ORGANIZADORES DOS ANAIS: 
Ivanir Azevedo Delvizio 
Rosângela Custodio Cortez Thomaz 
Leonardo Giovane Moreira Gonçalves 
 
 
 
REALIZAÇÃO: 
 
APOIO: 
 
 
 
 
REALIZAÇÃO: 
 
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 COMISSÃO ORGANIZADORA DA IX SEMANA DE TURISMO 
Rosângela Custodio Cortez Thomaz 
(Presidente da Comissão Organizadora) 
 
Ananda C. R. M. dos Santos 
Caio H. Borba 
Gustavo E. Ferreira 
Gabriela B. de Lima 
Jéssica S. C. Lattanzi 
João P. B. de Farias 
Laís R. M. Vieira 
Leonardo G. M. Gonçalves 
Lucas C. Fernandes 
Rafaela S. da Silva 
Victoria de A. B. Tatini 
Victória R. Falcão 
 
COMISSÃO CIENTÍFICA DA VI MOSTRA CIENTÍFICA 
Profa. Ivanir Azevedo Delvizio 
(Presidente da Comissão Científica) 
 
Prof. Ewerton Henrique de Moraes (UNESP - Câmpus de Rosana) 
Prof. Eduardo Romero de Oliveira (UNESP - Câmpus de Rosana) 
Prof. Fábio Luciano Violin (UNESP - Câmpus de Rosana) 
Prof. Fernando Protti Bueno (UNESP - Câmpus de Rosana) 
Prof. Francisco Barbosa Nascimento Filho (UNESP - Câmpus de Rosana) 
Prof. Guilherme Henrique Barros de Souza (UNESP - Câmpus de Rosana) 
Profa. Juliana Maria Vaz Pimentel (UNESP - Câmpus de Rosana) 
Profa. Luciana Codognoto da Silva (UFMS – Câmpus de Nova Andradina) 
Profa. Renata Maria Ribeiro (UNESP - Câmpus de Rosana) 
Prof. Roberson da Rocha Buscioli (UNESP - Câmpus de Rosana) 
Profa. Rosângela Custodio Cortez Thomaz (UNESP - Câmpus de Rosana) 
Prof. Vagner Sérgio Custódio (UNESP - Câmpus de Rosana) 
 
 
 
Anais da IX da Semana de Turismo, VI Mostra Científica, UNESP, Rosana - SP, 18-20 de outubro de 2017. v.1. 4 
 
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 APRESENTAÇÃO 
 
É com satisfação que apresentamos os Anais da VI Mostra Científica e IX Semana 
Acadêmica de Turismo, evento promovido pelo Curso de Turismo da Universidade Estadual 
Paulista (UNESP), entre os dias 18 e 20 de outubro de 2017, no Câmpus Experimental de Rosana. 
Buscando promover um espaço de discussão e reflexão, em sua nona edição, a Semana 
Acadêmica do Turismo teve como tema central os novos segmentos e empreendimentos no turismo, 
promovendo palestras, roda de discussão e conferência sobre turismo LGBT, turismo tecnológico, 
turismo de guerra, turismo e cidades inteligentes, turismo gastronômico e restrição alimentar, 
turismo e acessibilidade, além dos minicursos Bar e Sommelier. 
Além disso, no dia 20 de outubro, foi realizada a VI Mostra Científica, com apresentação de 
trabalhos inseridos em cinco eixos temáticos: Turismo e Cultura; Turismo e Desenvolvimento 
Local; Turismo, Marketing e Serviços; Turismo e Políticas Públicas e Outros Segmentos do 
Turismo, que foram organizados em três grupos de trabalho (GTs). 
No GT1 – Turismo, Marketing e Serviços, coordenado pelo Prof. Me. Roberson da Rocha 
Buscioli, foram apresentados trabalhos sobre a potencialidade do uso de recursos de realidade 
virtual na área do turismo, a importância da atratividade, criatividade e representatividade na 
criação de logotipos, a efetividade no uso das ferramentas mercadológicas no setor de A&B, a 
utilização do meio digital nos hotéis de pequeno porte e a terminologia relativa à hotelaria e aos 
meios de hospedagem. 
No GT2 – Turismo, Cultura e Desenvolvimento Local, coordenado pela Profa. Dra. 
Rosângela Custodio Cortez Thomaz, os trabalhos versaram sobre a questão do lazer nos 
çassentamentos rurais, a contribuição da cultura africana para a formação do samba e sua relevância 
para o turismo no Rio de Janeiro, o impacto da massificação do turismo na identidade mística de 
São Thomé das Letras, o turismo em favelas e a terminologia relativa ao patrimônio cultural. 
No GT3 – Múltiplos Olhares sobre o Turismo, coordenador pelo Prof. Me. Francisco 
Barbosa do Nascimento Filho, foram discutidos temas variados, como o narcoturismo, as gírias 
utilizadas por visitantes de penitenciárias, os fatores motivacionais dos frequentadores do festival 
Atlântida, a importância do Programa de Educação Tutorial para a formação acadêmica, projetos de 
lei dos municípios de interesse turístico e unidades de conservação. 
Os trabalhos apresentados estão organizados de acordo com o eixo temático em que se 
inseriram, dividindo-se em duas categorias: artigos completos e resumos expandidos. 
Agradecemos a todos que colaboraram para o sucesso da VI Mostra Científica e da IX 
Semana Acadêmica de Turismo e esperamos que esta publicação contribua para o desenvolvimento 
dos estudos na área do Turismo. 
 
Ivanir Azevedo Delvizio 
Presidente da Comissão Científica 
 
 
 
Anais da IX da Semana de Turismo, VI Mostra Científica, UNESP, Rosana - SP, 18-20 de outubro de 2017. v.1. 5 
 
 
SUMÁRIO 
Artigos Científicos: Turismo e Cultura 
A trajetória de vida e origem em uma análise reflexiva: o Museu do Assentado no município de Rosana/SP ........ 8 
Leonardo Giovane Moreira Gonçalves; Rosângela Custodio Cortez Thomaz. 
Artigos Científicos: Turismo, Marketing e Serviços 
Análise perceptual dos logotipos de baladas LGBT em São Paulo: um estudo nos atributos atratividade, 
criatividade e representatividade. ................................................................................................................................. 22 
Vagner Sérgio Custódio; Maria Fernanda Sanchez Maturana; Fábio Luciano Violin; Francisco Barbosa do Nascimento 
Filho. 
Sonhos simulados: o potencial da realidade virtual como produto turístico ............................................................. 29 
Fabrício Alvez Martins; Ariel de Carvalho Santos; Fábio Luciano Violin. 
Marketing mix do setor de A&B: análise da efetividade no uso das ferramentas mercadológicas ......................... 35 
Fábio Luciano Violin; Guilherme Henrique Barros de Souza: Renata Maria Ribeiro: Fabrício Alves Martins. 
Artigos Científicos: Turismo e Políticas Públicas 
Análise e perspectivas de lazer para as comunidades rurais dos assentamentos do município de Rosana/SP ....... 46 
Isadora de Oliveira Pinto Barciela; Maria Luiza Carucci Alvez; Mateus Ribeiro de Oliveira. 
Resumos Científicos: Turismo e Desenvolvimento Local 
Turismo de realidade: a turistificação da favela da rocinha com foco na comunidade receptora .......................... 56 
Lara Testoni Rossi; Ewerton Henrique de Moraes. 
Resumos Científicos: Turismo, Marketing e Serviços 
A utilização das mídias sociais nos hotéis de pequeno porte de Rosana/SP ............................................................... 60 
Gabriela Butzer de Lima; Francisco Barbosa do Nascimento Filho. 
Resumos Científicos: Turismo e Políticas Públicas 
Mapa do MIT: identificação do andamento dos projetos de lei ................................................................................. 64 
Ana Paula Marques Gonçalves; Ewerton Henrique Moraes. 
Resumos Científicos: Turismo e Cultura 
Compreender as mudanças na identidade mística esotérica em São Thomé das Letras causadas pela massificação 
do turismo ........................................................................................................................................................................ 68 
Sarah Delamagna Bordonal; Guilherme Henrique Barros de Souza. 
A contribuição da cultura africana para a formação do samba brasileiro e sua relevância no 
desenvolvimento do turismo na cidade do Rio de Janeiro/RJ .................................................................................... 71 
Ismael Muniz Pessoa; Juliana Maria Vaz Pimentel; Bruna Novais Souza. 
Resumos Científicos: Outros Segmentos do Turismo 
Turismo de eventos: análise dos fatores motivacionais dos frequentadores do festival de música eletrônica 
atlântida - Ilha do Paraíso - Ilha Solteira/SP ................................................................................................................76 
Sarah Delamagna Bordonal; Roberson da Rocha Buscioli; Bruna de Souza Novais; Lara Testoni Rossi. 
 
 
 
Anais da IX da Semana de Turismo, VI Mostra Científica, UNESP, Rosana - SP, 18-20 de outubro de 2017. v.1. 6 
 
 
As gírias influentes entre o grupo de visitantes de penitenciárias .............................................................................. 79 
João Paulo Bloch Farias; Juliana Maria Vaz Pimentel; Renata Maria Ribeiro. 
O narcoturismo como segmentação .............................................................................................................................. 82 
Roberson da Rocha Buscioli; Thiago Pedroso Soares. 
A importância do programa de educação tutorial (PET) na formação de membros do projeto universitário ...... 85 
Jéssica Suellen Caetano Lattanzi; Rafaela Santos da Silva; Rosângela Custodio Cortez Thomaz. 
Levantamento de termos relativos ao campo do patrimônio cultural ........................................................................ 88 
Ivanir Azevedo Delvizio; Jéssica Suellen Caetano Lattanzi. 
Terminologia do turismo: hotelaria e meios de hospedagem ...................................................................................... 91 
Dara Cleaver Afonso; Ivanir Azevedo Delvizio; Camila da Silva Dias; Lucaiana Ferreira Gonçalves. 
Dicionário de turismo: proposta de modelo de definição das unidades de conservação .......................................... 94 
Beatriz Sousa Pereira; Ivanir Azevedo Delvizio. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Anais da IX da Semana de Turismo, VI Mostra Científica, UNESP, Rosana - SP, 18-20 de outubro de 2017. v.1. 7 
 
 
ANAIS
 
 
 
Anais da IX da Semana de Turismo, VI Mostra Científica, UNESP, Rosana - SP, 18-20 de outubro de 2017. v.1. 8 
 
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L. G. M. Gonçalves; R. C. C. Thomaz. ISSN 0000-0000 
 
A TRAJETÓRIA DE VIDA E ORIGEM EM UMA ANÁLISE REFLEXIVA: O 
MUSEU DO ASSENTADO NO MUNICÍPIO DE ROSANA/SP ¹ 
 
 
GONÇALVES, Leonardo Giovane Moreira² 
THOMAZ, Rosângela Custodio Cortez³ 
 
Universidade Estadual Paulista - UNESP 
Câmpus de Rosana 
leonardo.giovane@hotmail.com, rocortez@rosana.unesp.br 
 
1 Artigo Científico vinculado à Iniciação Científica: “Patrimônios e Lazeres Turísticos: O Museu do Assentado no município de Rosana/SP”, 
financiada pelo Pibic/CNPq 2015/2016. 
² Graduando em Turismo, Universidade Estadual Paulista (UNESP), Rosana/SP. 
³ Pós-doutorado em Turismo, Universidade de Santiago de Compostela (USC), Espanha, Doutora e Mestre em Arqueologia, Universidade de São 
Paulo (USP), Licenciada e Bacharel em Geografia, Universidade Estadual Paulista (UNESP), Presidente Prudente/SP. 
 
 
 
RESUMO – Ao longo da história da humanidade, pesquisadores e pensadores sempre refletiram sobre as 
transformações das eras e, sobretudo, previam o dia em que o homem se renderia a sua própria criação, ou 
seja, aos meios tecnológicos. No contexto atual, observa-se, a cada dia, a marcha forçada da sociedade 
rumo ao desenvolvimento, obtenção de lucro e expansão das fronteiras, não obstante, essa mesma 
sociedade esvazia-se dos passos do passado e constrói um futuro refletindo somente no presente, 
ocasionando, assim, a marginalização de grupos sociais. Desse modo, o presente trabalho buscou retratar 
a trajetória de vida e origem da assentada Maria de Lurdes, pertencente ao assentamento Nova Pontal, 
situado em Rosana/SP. O recorte da pesquisa busca expor as características de um povo que lutou e luta 
pela posse de terra no extremo oeste de São Paulo. Para isso, utilizou-se de uma pesquisa bibliográfica 
exploratória para contextualizar os fatos coletados por uma entrevista semiestruturada. Desse modo, 
tornou-se possível refletir sobre a história de vida e origem da assentada com os paradigmas existentes no 
meio em que a mesma está, e identificou-se a relação entre os relatos individuais e coletivos, bem como 
de que modo a história individual auxilia no entendimento dos fatos históricos. 
 
Palavras-chave: Trajetória de Vida; Origem; Memória Oral. 
 
ABSTRACT - Throughout the history of humanity researchers and thinkers have always reflected on the 
transformations of the ages and above all, predicted the day when man would surrender his own creation, 
in other words, the technological resources. In the current context, it is observed every day the forced 
march of the society towards development, obtaining profit and expansion of frontiers, nevertheless, this 
same society empties from the footsteps of the past and constructs a future reflecting only in the present, 
thereby causing marginalization of social groups. Thus, the aim of this work is to portray the trajectory of 
life and origin of Maria de Lourdes, belonging to Nova Pontal Settlement, situated in Rosana/SP. The 
research clipping seeks to expose the characteristics of a people which fight and fought for possession of 
land in the West of São Paulo. For this it was used an exploratory bibliographical research to 
contextualize the facts collected by a semi-structured interview. In this way, it has become possible to 
reflect on the history of life and origin of the settled with the paradigms in the midst of which she is, and 
identify the relationship between individual and collective accounts, as well the way individual history 
helps to understand historical facts. 
 
Keywords: Trajectory of Life; Origin; Oral memory. 
 
 
 
mailto:leonardo.giovane@hotmail.com
mailto:rocortez@rosana.unesp.br
 
 
 
Anais da IX da Semana de Turismo, VI Mostra Científica, UNESP, Rosana - SP, 18-20 de outubro de 2017. v.1. 9 
 
 
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L. G. M. Gonçalves; R. C. C. Thomaz. ISSN 0000-0000 
 
1 INTRODUÇÃO 
 
Localizado no extremo Sudoeste do Estado de 
São Paulo, o Pontal do Paranapanema é pertencente à 
região Alta Sorocabana do extremo oeste do Estado de 
São Paulo, delimitada pelos rios Paranapanema, 
fronteira com o Estado do Paraná, e Paraná, fronteira 
com o Estado do Mato Grosso do Sul. A atividade 
econômica predominante na região é a agropecuária, 
dado que sua estrutura fundiária está baseada em 
latifúndios localizados em terras pertencentes ao Estado, 
que foram griladas em anos passados (THOMAZ, 2013, 
p.5). 
A apropriação do Pontal foi marcada por 
inúmeros fatores desumanos e ilegais, como o 
extermínio dos indígenas, grilagem de terras, 
desmatamento, comercialização e ocupação de terras. 
Um dos grandes grilos que aconteceram foi o da 
fazenda Pirapó-Santo Anastácio, tendo preceitos 
empresariais, dando origem a inúmeras outras fazendas 
(SOBREIRO, 2013, p. 52). 
Monbeig (1984) salienta que a marcha capitalista 
para o Oeste Paulista aconteceu em três etapas. A 
primeira tem origem de 1900 a 1905, embalada pela 
conjunta produção de café e a construção das estradas 
de ferro no estado de São Paulo (SOBREIRO, 2013, p. 
53). 
A segunda etapa durou até meados de 1929, que 
foi palco da crise econômica, sobretudo a crise do café 
no contexto mundial. Dessa forma, a vinda de 
imigrantes, as migrações internas e o avanço das 
estradas de ferro se tornaram mais presentes nas zonas 
pioneiras. 
A marcha para o Oeste Paulista foi impulsionada 
pelo modelo capitalista de produção. Dessa forma, 
como existiam inúmeras terras a Oeste do estado, várias 
ações pioneiras se formalizaram para explorar a nova 
área e incorporar esses espaços ainda não utilizados para 
o plantio (SOBREIRO, 2013, p. 54). 
Sobreiro (2013, p. 93) ainda expõe que, devidos 
aos inúmeros ‘grilos1’ que ocorreram, em 21 de 
fevereiro de 1891, o Ministério da Agricultura foi 
favorável à alocação de colonos estrangeiros nas terrasda Fazenda Pirapó-Santo Anastácio (que era uma terra 
grilada posteriormente). Com isso, intensificou-se a 
vinda de migrantes para a região, pois muitos 
consideraram que essa era uma terra devoluta. Dessa 
 
1 A expressão grilagem faz menção a uma antiga prática de 
envelhecer documentos forjados para adquirir a posse de 
terras. Estes documentos eram postos em caixas com grilos, 
que ao defecarem davam um aspecto envelhecido aos 
documentos. 
forma, aconteceu um processo de grilagem dentro de 
uma terra já grilada. 
Contudo, o surgimento das cidades se 
intensificou por volta de 1951, com a Estrada de Ferro 
Sorocabana e a criação de um ramal saindo de 
Presidente Prudente/SP até as barrancas do Rio Paraná 
(LEITE, 1998, p.95). 
Segundo Leite (1998, p. 97), no ponto final dos 
trilhos, a firma Camargo Correia decide fazer uma 
cidade. O município se chamaria Rosana, nome de uma 
das filhas de Sebastião Camargo, e seria cercado por 
lotes rurais, chácaras, sítios e fazendas. Contudo, a 
estrada não foi finalizada até a atualidade. 
É visto que os conflitos pela posse de terra 
sempre foram marcantes no Pontal do Paranapanema e 
só tiveram uma diminuição com a construção das usinas 
hidrelétricas de Porto Primavera/SP, no rio Paraná, e de 
Rosana/SP e Taquaruçu, no rio Paranapanema, e com a 
instalação da Destilaria de Álcool Acídia no município 
de Teodoro Sampaio/SP (PAIÃO, 2001, p.40). 
Segundo Paião (2001, p.39), após o término das 
usinas hidrelétricas de Porto Primavera/SP, Rosana/SP e 
Taquaruçu/MS, que geraram cerca de 30 mil empregos 
para a região, muitos empregados foram demitidos. 
Diante disso, muitos trabalhadores continuaram na 
região sem perspectiva de trabalho. Com o fechamento 
dos estabelecimentos e a crise econômica, muitos se 
viram obrigados a voltar para o campo. 
Surge, nesse período, o Movimento dos 
Trabalhadores Rurais Sem Terra- MST, que começa a 
exercer forte pressão sobre o governo e os fazendeiros, 
pelo fato de as terras da região serem devolutas e 
pertencerem ao Estado, logo deveriam sofrer o processo 
da reforma agrária (PAIÃO, 2001, p.40). 
Em julho de 1990, o MST fez a sua primeira 
ocupação no Pontal, especificamente no município de 
Teodoro Sampaio/SP, iniciando, assim, o quadro de luta 
por terras no oeste paulista (FERNANDES; 
RAMALHO, 2001). 
Diante da instabilidade social e econômica e das 
ocupações e conflitos, sendo a região do Paranapanema 
a mais pobre do Estado de São Paulo, o governo, em 
1995, decide implantar o plano de ação governamental 
para o Pontal. 
Segundo Pimentel (2005, p.125), até o ano de 
2001, a região do Pontal possuía cerca de 88 
assentamentos rurais, distribuídos em 16 municípios. 
Desses, Mirante do Paranapanema/SP era o que mais 
possuía assentamentos, cerca de 33% do total. 
Até meados de 2001, o município de Rosana, que 
está localizado no extremo Oeste do Estado de São 
Paulo, fazendo divisa como os municípios de Euclides 
da Cunha Paulista, Teodoro Sampaio e com os Estados 
de Mato Grosso do Sul e Paraná, possuía três (3) 
 
 
 
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L. G. M. Gonçalves; R. C. C. Thomaz. ISSN 0000-0000 
 
assentamentos, que eram os assentamentos: Nova 
Pontal, Bonanza e Gleba XV de Novembro, com 717 
famílias assentadas em uma área de 17.240 hectares, e, 
em 2005, foi instituído o assentamento de reforma 
agrária Porto Maria, para 41 famílias de trabalhadores 
rurais (FERNANDES; RAMALHO, 2001). 
Segundo o Censo 2010, realizado pelo IBGE 
(Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), a 
população do Município era de 19.691 habitantes, 
desses 80% estão na cidade. 
Embasado nos fatos históricos relativos ao uso e 
à apropriação de terras no Pontal do Paranapanema, o 
presente trabalho tem como intuito explanar sobre parte 
dos resultados obtidos pela Iniciação Cientifica 
“Patrimônios e Lazeres Turístico: O Museu do 
Assentado no Município de Rosana/SP”, financiado 
pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico 
e Tecnológico/ CNPq, orientado pela Profa. Dra. 
Rosangela Custodio Cortez Thomaz. 
O presente trabalho busca retratar a trajetória e 
origem da assentada Maria de Lurdes Santos de 
Oliveira, natural do município de Diamante do 
Norte/PR e residente no assentamento de reforma 
agrária Nova Pontal, situado no distrito rural de 
Primavera- Rosana/SP. Assim, busca responder os 
seguintes questionamentos: De que forma a história 
individual auxilia no entendimento da apropriação 
agrária local? De que forma os traços culturais 
individuais interagem com o meio coletivo dos 
assentamentos de reforma agrária? 
 
1.1 Metodologia 
 
Utilizou-se para a realização deste trabalho visita 
in loco ao lote da assentada Maria de Lurdes Santos de 
Oliveira para que fosse possível a realização de uma 
entrevista utilizando a metodologia da história que 
abordou os aspectos origem e trajetória de vida no 
contexto coletivo e individual da entrevistada. As 
entrevistas foram realizadas durante o período de 
vigência do projeto 2015/2016. Os relatos orais da 
entrevistada foram gravados em um aparelho celular e, 
posteriormente, transcritos na íntegra para servir de base 
neste trabalho. 
Quanto à elaboração do roteiro de entrevista, a 
mesma se dividiu em quatro principais partes. Sendo a 
primeira ‘Trajetória de vida e origem’, a qual buscou 
percorrer em uma linha cronológica os fatos que 
ocorreram na vida dos entrevistados até a obtenção do 
lote, assim como de qual modo os mesmos cozinhavam, 
dormiam, viviam e faziam suas atividades cotidianas, 
seja no período do acampamento, ocupações e/ou em 
outras fases de suas vidas; a segunda denominada 
‘Crescimento’, que teve a pretensão de obter 
informações sobre as lendas, mitos, estórias, brinquedos 
e brincadeiras que os entrevistados faziam uso no 
passado. 
A terceira, por sua vez, intitulada ‘Trabalho’, 
buscou relatos sobre os modos de trabalho dos pais e 
dos entrevistados, com o intuito de relacionar esses 
relatos com os anteriores e criar um perfil social dos 
entrevistados, bem como as suas relações com o 
trabalho, lazer, educação, militância e demais áreas. 
Já a quarta e última intitula-se ‘História’ e 
almejou realizar uma espécie de feedback a partir dos 
relatos orais dos entrevistados, em outras palavras, os 
entrevistados respondiam perguntas como “Ao longo de 
sua trajetória de vida houve algo que te marcou?”, pois, 
assim, tornava-se possível identificar os pontos mais 
importantes após dezenas de minutos de entrevista. 
A elaboração desse roteiro de entrevista teve 
como base o modelo de entrevista exposto no livro “A 
voz do passado” (THOMPSON, 1992). No entanto, 
devido ao perfil da entrevistada, objetivo da pesquisa e 
objeto de estudo, houve mudanças significativas na 
supressão e adição de perguntas e apontamentos diante 
do roteiro modelo apresentado pelo autor no livro. 
Além disso, para a elaboração deste artigo 
científico, tendo como intuito aprofundar as discussões 
dos resultados e gerar assim a análise reflexiva dos 
relatos orais, foram utilizados livros, artigos científicos, 
sites, monografias e outros materiais que versam sobre o 
turismo no espaço rural, patrimônio material e imaterial, 
memória, traços culturais e outros temas relacionados ao 
objeto de pesquisa. 
Justifica-se a escolha da entrevistada, Maria de 
Lurdes, devido ao seu rico detalhamento oral prestado 
durante a entrevista a respeito do seu histórico de vida e 
origem. Além da minuciosidade relatada, a entrevistada 
aponta alguns fatos e lembranças que auxiliam no 
entendimento da formação agrária local, identidade 
cultural individual e identidade coletiva do 
assentamento.2. ASSENTAMENTO NOVA PONTAL: 
Constituição 
 
 O assentamento de reforma agrária Nova Pontal 
situa-se no município de Rosana/SP e tem suas origens 
na Fazenda Nova Pontal, antiga propriedade da 
Timboril Agropecuária Ltda., cujos sócios são o Sr. 
Ronaldo Carvalho da Cunha e a Sra. Vera Lucia Rocha 
da Cunha. A fazenda detinha uma área de 2.786,90 
hectares de terras, sendo margeada pela rodovia de 
ligação entre Porto Primavera/SP ao estado do Paraná, 
via Diamante do Norte/PR, e ao sul pelo rio 
Paranapanema (CRUZ, 2008). 
https://www.sinonimos.com.br/minuciosidade/
 
 
 
Anais da IX da Semana de Turismo, VI Mostra Científica, UNESP, Rosana - SP, 18-20 de outubro de 2017. v.1. 11 
 
 
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L. G. M. Gonçalves; R. C. C. Thomaz. ISSN 0000-0000 
 
Utilizando-se de meios legais, a antiga 
proprietária das terras concedeu a posse da fazenda ao 
Estado, em setembro de 1998, e a Fundação do Instituto 
de Terras do Estado de São Paulo-ITESP, por sua vez, 
em novembro do mesmo ano, promoveu uma 
assembleia com as 122 famílias apontadas para ocupar 
as terras (CARNEIRO, 2007). 
Entende-se que dificuldades enfrentadas pelos 
então assentados após o período de reforma agrária não 
diminuíram em relação ao período de acampamento e 
ocupação das fazendas. Carneiro (2007) explana em sua 
pesquisa que, nos primeiros anos de constituição do 
assentamento Nova do Pontal, as famílias não possuíam 
infraestrutura local, bem como: água canalizada, 
estradas, energia elétrica, meios de transportes, 
instituições de ensino entre outros serviços. Além disto, 
os assentados não detinham recursos financeiros para 
investir na terra, ocasionando assim uma busca 
incessante das famílias pelas políticas públicas 
municipais, como discorre a autora: 
[...] Com uma expressiva ajuda da 
Prefeitura no preparo de solo para plantio 
de feijão, perfuração de poços cacimbas, 
ajuda do Estado na construção de 
estradas, implantação de escola rural, 
distribuição de cestas básicas e leite para 
as crianças, as famílias assentadas vencem 
o primeiro ano de luta e de trabalho no 
assentamento, já com muitas esperanças 
de um futuro promissor e de realizações. 
(CERNEIRO, 2007, p. 54) 
Atualmente o assentamento possui escolas, posto 
de saúde, igrejas, centro comunitário, infraestrutura 
básica e outros bens e serviços que facilitam o 
desenvolvimento das práticas agrícolas e comerciais do 
espaço, além de oferecerem maior qualidade de vida à 
população autóctone. 
Quando mencionamos a população autóctone, 
cabe salientar que o Assentamento Nova Pontal é 
constituído de quatro distintos grupos, os militantes do 
Movimento dos Trabalhadores Sem Terra- MST, o 
Movimento dos Agricultores Sem Terra- MAST, os ex-
funcionários da fazenda e os sindicalistas de Porto 
Primavera/SP (CARNEIRO, 2007). 
Deste modo, insere-se inicialmente a concepção 
da heterogeneidade social e cultural existente em ambos 
os assentamentos mencionados, assim como as 
distinções ideológicas existentes entre militantes do 
MST e do MAST em contraponto às ideologias dos ex-
funcionários das fazendas que sofreram o processo de 
reforma agrária. Essas diferenciações iniciais, por si só, 
são elementos plausíveis de serem analisados do ponto 
de vista dos traços culturais existentes em cada um dos 
grupos, bem como as concepções políticas, hábitos e 
costumes. 
Outro ponto a ser elencado no eixo da 
heterogeneidade cultural versa sobre a trajetória de vida 
e origem dos assentados, pois, como mencionado, as 
famílias que compõem os assentamentos, em sua 
maioria, não são residentes de Rosana/SP, ou seja, são 
provenientes de outras regiões do país e do exterior. 
Assim, observa-se a pluralidade dos traços culturais 
existentes nos assentamentos no que se refere ao meio 
coletivo e individual e, mais uma vez, insere-se o papel 
da entrevistada Maria de Lurdes no diálogo entre a 
memória e história coletiva e individual que configura o 
Assentamento Nova Pontal. 
 
3. FASES DA VIDA COLETIVA 
3.1 Origem 
 
A primeira fase de vida da entrevistada, 
atualmente com 55 anos, referiu-se à sua origem, em 
que foi perguntado sobre onde morou e por quanto 
tempo. A entrevistada Lurdes respondeu: 
[...] eu nasci em Diamante do Norte, 
região de Diamante né, que era município 
de Nova Londrina, meu pai era 
madeireiro então eles trabalhavam 
mexendo com madeira, tirando madeira, 
que era tudo mata né, então a gente 
nasceu, eu e meus irmãos, os 4 nascemos 
ali, mas ali foi pouco tempo e a gente foi 
embora pro Mato Grosso, porque pra lá 
que concentrava mais as matas, para 
tirar madeira né. E a gente ficou assim, 
sempre andando, e do Mato Grosso, nois 
viemo embora, quando chegou à época da 
gente começar a estudar. Né, minha irmã 
mais velha que é de 60, então chegou a 
época dela estudar, é a época que a gente 
veio para Euclides da Cunha, para poder 
ir para escola. Ai de Euclides foi, que a 
gente veio ali para fazenda, aonde a gente 
ta assentada hoje. (OLIVEIRA, 2015) 
Percebe-se, então, que a entrevistada levava uma 
vida simples, e que o seu deslocamento dependia do 
trabalho de seu pai e de seus estudos. Em outro 
momento, ela cita que não ficaram acampados, pois 
trabalhavam para a fazenda pelo fato de seu pai ser 
madeireiro. A casa da entrevistada tinha também as 
características rústicas, a mesma relata que “é, aonde a 
gente morava. Tanto aqui no Paraná como no Mato 
Grosso, que é o que a gente consegue lembrar, mas 
alvenaria, madeira, não, isso não tinha né. E de pau-a-
pique fica as varas, pega barro e fazia as parede né, é 
 
 
 
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pau a pique aquilo lá” (OLIVEIRA, 2015). Salienta-se 
que Lurdes e sua família dependiam do trabalho na 
fazenda e, por isso, viviam de objetos e costumes 
simples. 
Sobre a casa de pau-a-pique, conforme 
mencionado pela entrevista, insere-se um dentre vários 
traços culturais pertencentes ao seu individualismo e 
coletivismo. A técnica pau-a-pique no Brasil vem desde 
o período colonial, entre os séculos XVI e XIX, 
segundo Olender (2006, p. 1), “uma das técnicas mais 
encontradas na arquitetura brasileira, à qual é atribuída a 
feitura dos primeiros edifícios construídos pelos 
portugueses no Brasil, é aquela conhecida 
principalmente como pau-a-pique ou taipa de mão”. 
Apesar de a técnica de construção pau-a-pique 
ter se difundido com a chegada dos portugueses, não há 
registros históricos de que esses povos foram os 
pioneiros na técnica. Segundo Vasconcellos (1968, p. 
47): 
[...] embora o pau-a-pique se tenha 
difundido por todo o Brasil, e 
intensamente em Minas Gerais, é ele 
totalmente desconhecido em Portugal. 
Não há, em todo esse país, exemplo de 
sua aplicação. Não há, por sua vez, 
indicações seguras de sua origem africana 
[...]. 
A real origem do pau-a-pique é discutida por 
muitos pesquisadores. Alguns argumentam que 
possivelmente a técnica foi desenvolvida no Brasil, 
resultando de experiências portuguesas, africanas e 
indígenas, uma vez que os portugueses já faziam uso do 
método taipa de pilão (OLENDER, 2006, p.48). 
As “casas de pau-a-pique são casas tradicionais 
construídas geralmente de paus, colmo, capim, cordas 
de cascas de árvores” (DIAS; COSTA; PALHARES, 
2015, p. 12) quando se faz referência às tribos indígenas 
tradicionais. Já quando se refere às construções em meio 
rural ou na área periurbana, as construções, além dos 
materiais anteriores, utilizam barro, argila, bambus e 
cordas, conforme elencado por Maria de Lurdes 
(OLIVEIRA, 2015). 
Quando questionada sobre seus antigos 
costumes, aentrevistada relatou que cozinhavam em 
fogão de lenha e que, naquela época, eles não tinham 
muita fartura comparado ao que têm hoje. Sobre seus 
costumes, Lurdes discorreu: 
Aquela época essas coisas eram difíceis, 
não tinha essas fartura que tinha hoje 
não, né. Tinha não, lá comia, carne que 
comia era de bicho do mato, porque 
morava no mato né, era que tinha era 
isso, a situação não era nada fácil, hoje é 
uma maravilha né, tem riqueza e fartura, 
naquela época não era assim, tinha, 
nascia criança, graças a Deus se a mãe 
tivesse leite, porque se não tivesse era 
uma latinha de leite em pó pro mês 
inteiro, é, a situação não era fácil, ai os 
irmãozinhos mais fácil ficavam olhando 
assim, vinha com aquela vontade de 
tomar um copinho do leitinho, mas não 
tinha jeito, pela situação que a gente 
vivia. (OLIVEIRA, 2015) 
A respeito do local em que dormia, a 
entrevistada disse que as camas eram de madeira, 
porém, o estrado, segundo Lurdes (OLIVEIRA, 2015), 
“ou era capim ou era palha os colchão, ia nos mato na 
beira dos córregos tinha um tipo de capim macio, ou 
era aqueles capins ou era palha de milho nos cochãos, 
ou rede, pegava o saco, e emendava e fazia rede, não é 
essas redes chiques que tem hoje não” (OLIVEIRA, 
2015). E até mesmo os banhos eram bem simples, pois 
tinham que pegar água do poço para tomar o banho. A 
situação de vida de Lurdes era bem simples e, 
consequentemente, a sua educação também foi. A 
entrevistada teve seu primeiro contato com a escola aos 
7 anos, e seus irmãos, com 8 e 9 anos, quando se 
mudaram para Euclides para poder estudar. 
Em entrevista, foi perguntado também sobre os 
costumes culturais, ou seja, se havia danças, festas e 
comidas típicas. A entrevistada respondeu que “era 
difícil, não tinha, era assim, era uma família só em cada 
lugar, não tinha esse negócio de um monte de gente 
perto, não tinha não” (OLIVEIRA, 2015). Em relação 
às festas de padroeiros, eles não tinham o hábito de 
comemorar, devido a calmaria do campo e o pai da 
entrevistada que, como ela mesma disse, “era muito 
calado”. Então, percebe-se que houve essa carência de 
cultura, eles não tinham esses costumes e as 
comemorações populares. A valorização da família se 
baseava mais no trabalho e na educação, quando a 
mesma podia ser prioridade. 
 
3.2 Vinda a Rosana/SP 
 
O principal motivo de a entrevistada ter vindo 
para Euclides da Cunha/SP foi o fato de seu pai ter que 
trabalhar na fazenda e, consequentemente, o seu marido 
também. Foi perguntado a Lurdes, quais eram os 
serviços que seu marido fazia na fazenda, e ela disse 
que ele construía “casa, fazia cocho de sal, essas coisas 
assim, parte de pedreiro e carpinteiro. Pedreiro, 
carpinteiro, encanador, pintor, ele pegava a casa dava 
pronta né” (OLIVEIRA, 2015), ou seja, o marido dela 
 
 
 
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fazia todos os processos na fazenda, fato corriqueiro em 
pequenas propriedades. 
Em questões anteriores, Lurdes já havia dito que 
não teve que acampar, e, assim, foi questionada se tinha 
algum lugar para ficar quando chegaram, e a mesma 
afirmou que já tinham e que seria a fazenda em que 
iriam trabalhar e morar. Antigamente, quando eles 
chegaram a essa fazenda, ela ainda não fazia parte do 
assentamento, era apenas a Fazenda Nova Pontal. 
Porém, atualmente, as propriedades foram 
desapropriadas, e o Estado comprou para assentar as 
pessoas. 
 
3.3 Acampamento 
 
Como a entrevistada nunca ficou acampada, os 
questionamentos foram mais voltados às suas 
experiências trabalhando na fazenda. A Sra. Lurdes 
relatou uma situação, dentre várias que aconteciam no 
local, em que as pessoas invadiam a fazenda por ter 
necessidades, sendo que quem estava na fazenda 
também tinha essas necessidades. Ela relatou que “a 
gente nunca ficou acampado, mas já passou por 
estresse, porque quem tá acampado passa por situações 
e a gente que mora na fazenda e vê ela sendo invadida 
também passa por situações difíceis também, né” 
(OLIVEIRA, 2015). Com essa tentativa de invasão, a 
Lurdes e sua família sentiam muito medo. Sobre esse 
medo, ela relata que: 
Ah muito medo né, a gente tinha medo, 
eles ameaçavam a gente, porque morava 
na fazenda, então a gente tinha muito 
medo. E até muito tempo, a gente não era 
bem visto pelo pessoal do MST né, porque 
o maior movimento é o MST, então não 
era bem visto por eles. Por vontade deles 
a turma da fazenda também não teria 
pegado terra, mas como quem manda é o 
Estado, nós tivemos esse direito 
assegurado. (OLIVEIRA, 2015) 
Além das ordens deliberadas pelo Estado, Lurdes 
também tinha um patrão e esse também dava ordens 
referentes aos “invasores”, a entrevistada cita que uma 
das ordens era, “[...]de não dar água, não deixar eles 
fica entrando, mas era difícil né, porque a gente tando 
ali a pessoa chega lá e pedi uma agua, às vezes, não 
tinha jeito de negar né, meio escondido, mas a gente 
arrumava” (OLIVEIRA, 2015). É perceptível, então, 
que havia diferenças entre o povo da fazenda e do MST 
(Movimento Sem Terra). As pessoas que estavam na 
fazenda não tinham muito respeito pelas pessoas do 
assentamento do MST. Desse modo, surgiam esses 
conflitos, mesmo sendo duas populações que tinham 
uma dificuldade semelhante, que seria a busca por terra 
e por um lugar para morar. 
 
3.4 Reforma Agrária 
 
Logo com esse processo de ocupação, a fazenda 
em que Lurdes morava foi vendida, para que fizessem o 
assentamento para o MST. Assim, a entrevistada 
comenta sobre como foi o processo de conseguir um 
lote. Foi perguntado se demorou muito para conseguir. 
Lurdes comentou que: 
Não, logo que já negociou já, todo mundo 
que tava lá, pegou né, tanto os 
funcionários, como os que tavam 
acampado, foi feito a seleção e conseguiu, 
até esse povo aqui do cinturão verde, a 
maioria era dali, desse cinturão verde, aí 
tirou, deu lote lá para eles, ele foram, 
teve muitos que vendeu o lote, porque era 
muito grande para trabalhar voltar pra 
cá de novo. (OLIVEIRA, 2015) 
Segundo Paião (2001, p.68), os assentamentos 
rurais têm a finalidade de aproveitar os recursos 
fundiários do Estado, ou seja, atribuir uma nova 
finalidade às terras tidas como devolutas ou 
improdutivas. Cabe à União tanto arrecadar terras tidas 
como devolutas quanto desapropriar terras particulares. 
 
3.5 Atualmente 
 
Atualmente a entrevistada mora com a sua 
família, que é composta por cinco pessoas. E estão em 
uma casa de sete cômodos. A entrevistada comenta 
sobre sua mudança de casa e sobre o material da 
mesma, assim como a sua filha que mora em sua antiga 
casa (Figura 1). Lurdes explica então essa mudança: 
[...] essa de madeira que a gente tinha lá 
em Euclides, é onde a filha tá morando 
agora, agora tem um banheirinho 
sanitário, porque ela lá construiu, porque 
na nossa época não tinha, nós entramos 
lá na casinha, era quase pau-a-pique, 
tinha as paredes de madeira, não tinha 
mata junta, a telha não tava terminada a 
cobertura direito, não tinha porta nem 
janela, só os vão, ai botava os foião pra 
tampá de noite e beleza, porque a gente 
tinha que trabalhar né, porque tinha terra 
e tinha que mudar, então não deu tempo 
de fazer casa assim não. (OLIVEIRA, 
2015) 
 
 
 
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Mesmo com essa mudança da casa, eles ainda 
dependem de uma boa parte de seus cultivos. 
Atualmente a renda da família é “o leite é uma, né, o 
gado que vendebezerro e a feirinha também tem uma 
boa ajuda, que a gente vende os produtos também lá, 
né” (OLIVEIRA, 2015). Porém, alguns hábitos e 
dificuldades que passavam antes, hoje em dia, já são 
mais diferentes para eles. 
 
Figura 1- Primeira Residência da Sra. Lurdes. 
Fonte: Acervo pessoal da entrevistada. 
 
A entrevistada comenta sobre como atualmente 
essas dificuldades, principalmente de escolarização, são 
diferentes agora. Lurdes comenta também sobre a 
facilidade do transporte: 
[...] hoje a coisa ta é boa né, hoje tá boa, 
hoje tá boa as coisas, hoje a gente tem 
bastante transporte, tanto na rodovia, 
assim das empresas, como para as 
crianças irem para escola, tudo tem 
transporte, tanto para escola, como para 
gente vir para cidade, então hoje as 
coisas estão uma beleza. (OLIVEIRA, 
2015) 
 Sendo assim, é possível ver que, atualmente, as 
dificuldades que ela tinha antes, junto de sua família, 
agora não são mais as mesmas. 
Os costumes e hábitos da entrevistada foram se 
alterando com o tempo, e hoje ela pode dizer que teve 
uma participação no processo da criação do 
assentamento da região. E, assim, ainda vivendo na área 
rural, a dona Lurdes consegue compreender toda essa 
mudança e tudo que interferiu no seu cotidiano. Mas ela 
ainda vive de seus hábitos básicos de plantar e cultivar, 
assim como de criar gados. Sendo assim, sua cultura 
não foi miscigenada no atual presente. 
 
4. CICLO DE VIDA INDIVIDUAL E COLETIVA 
4.1 Infância 
 
No decorrer da entrevista, foi perguntado à 
entrevistada se existe alguma crença, dança ou comida 
típica atualmente, bem como algum padroeiro, ou 
alguém que faz arte, poesia e etc. Dessa maneira, Lurdes 
(OLIVEIRA, 2015) respondeu: 
Não tinha assim comida típica, dança 
assim, padroeiro não tinha só que o povo 
era animado. Não tinha celular, não tinha 
computador, não tinha televisão. Pensa 
em uma infância feliz, esses hoje, sabe o 
que é infância? Não sabe não. Esses de 
hoje não sabe mais o que é infância. Nós 
tivemos infância, porque na nossa época 
de pequeno, juntava as crianças e os 
adulto: pai, mãe, avó e tios, juntava assim 
de noite no terreirão, a lua clara, porque 
não tinha energia, então a gente sentava 
ali, eles iam contá história, contá piada, 
brincá de passar anel, bimborão da cruz, 
eu minha infância, tinha um campo de 
futebol em frente à casa que eu morava, 
eu brincava, jogava bola, brincava de 
queima, brincava e muito, eita que tempo 
bom [...]. 
Por meio dos relatos da entrevistada, é possível 
observar um devaneio feliz da sua época de infância e, 
além disso, é possível analisar a referência aos meios 
tecnológicos como elementos que, pelo fato de não 
existirem, fizeram sua infância feliz. Desse modo, é 
possível considerar que os relatos feitos por Lurdes 
refletem a esfera folclórica de sua infância, que, 
segundo Mônica (2001, p.22), entende-se que “o 
fenômeno folclórico existe em todos os níveis sociais, 
sofrendo processos de aculturação. É a representação 
máxima da maneira de sentir, pensar, agir e reagir da 
nossa gente”. 
Por meio do relato sobre os seus costumes, é 
possível observar a menção à inúmeras brincadeiras que 
fizeram parte de sua infância. Dessa maneira, foram 
abordados, de modo especial, os momentos de sua 
infância e questionou-se sobre as estórias e lendas desse 
período. Logo de início, a entrevistada menciona o mito 
do Lobisomem e, em seguida, discorre que: 
O lobisomem que comia principalmente 
essas crianças que não eram batizadas, aí 
quando a criançada começava a ficar 
bem impossível e querer a andar, eles 
inventavam que tinha um velho que 
matava as crianças e comia o fígado e 
falava que era o papa fígado, e a gente 
ficava com medo, quem que abria a porta 
 
 
 
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de noite? Saía ninguém para fora né. 
(OLIVEIRA, 2015) 
Sem dúvida, as lendas e mitos inventados no 
passado tinham como objetivo, além do entretenimento, 
buscar respostas para coisas que aconteciam no dia a 
dia. Almeida (1965, p.167) explica que “a lenda é uma 
narrativa em torno de um fato real, com uma explicação 
ou interpretação de uma figura, uma realidade ou um 
acontecimento histórico, em torno da qual a fantasia cria 
uma série de coisas irreais e até mesmo inverossímil”. 
Assim, observou-se também a menção a uma 
brincadeira, pela entrevista, da qual não se possui 
registros acadêmicos plausíveis para interpretar. 
Destarte, foi perguntado de que forma se realiza a 
brincadeira bimborão da cruz. De início, a entrevistada 
relatou que a brincadeira se assemelha à dança de 
quadrilha, pois são feitas duas filas e, logo após, disse 
que “faz aquela, e vai passar, aí chega lá, e dava um 
tapa na bunda, e passava naquele bimborão da cruz, 
brincava bastante, era as crianças e os adultos, tudo 
junto que brincava” (OLIVEIRA, 2015). Por meio do 
relato da entrevistada, não é possível compreender a 
brincadeira. Contudo, ressalta-se a importância deste 
trabalho para evocar a memória desta brincadeira, bem 
como o seu futuro aprofundamento teórico. 
Continuando com a entrevista, perguntou-se à 
entrevistada, novamente, sobre a possível existência de 
um prato que lhe remeta à infância e, também, se havia 
festas e danças referentes ao mesmo período. Segundo a 
entrevistada: 
Doce de feijão cozinhava aqueles feijão 
bem escuro, cozinha até ele derreter, 
passava ele na peneira, e ponhava leite 
açúcar e apurava, ponhava uma 
canelinha, pensa num doce gostoso. Ali 
comia aquele doce, mas o bom mesmo era 
o forrozão, que corri froxo. Aquilo saia e 
a poeira levantava. (OLIVEIRA, 2015) 
A entrevistada menciona o doce de feijão como 
um insumo típico das comemorações de aniversário, em 
especial em sua época de infância, quando a mesma 
residia no Mato Grosso do Sul. Observa-se a relação da 
memória com a localidade, uma vez que a memória da 
entrevistada está estritamente ligada ao local onde viveu 
sua infância, ou seja, o fato de a memória existir está de 
acordo com os aspectos culturais da região. Além disso, 
o aspecto da memória de outras pessoas suscita a 
memória coletiva sobre o fato, assim como afirma 
Funari e Pinsky (2003, p. 18): 
Por caminhos diversos encruzam-se as 
memórias particular e coletiva. De sua 
confluência nasce a possibilidade de 
identidade individual e coletiva, uma vez 
que a memória é uma forma de os 
indivíduos e as sociedades recomporem a 
relação entre o presente e o passado, para 
manter o equilíbrio emocional. 
Assim, observa-se que o individual compõe o 
patrimônio cultural coletivo e o coletivo interfere nos 
traços culturais individuais simultaneamente e que 
ambos são indissociáveis, uma vez que o ser é fruto da 
sociedade e a sociedade é o reflexo daqueles que a 
habitam. 
 
4.2 Adolescência 
 
A história de vida da entrevistada divide-se em 
várias cidades. Em especial, na adolescência, foi 
perguntado à entrevistada se existiam festas, 
comemorações e brincadeiras nesse período e, segundo 
a mesma: 
Na adolescência não, eu tava em 
Euclides, mas aí essa época já tinha 
energia, o povo já tem televisão, já parou 
as brincadeira, né, aí juntou a televisão, 
ai meu Deus que novidade era a televisão 
preto e branco, não era aquela colorida 
aquela grandona lá não, né, era aquela 
preto e branco lá, que o tempo dava um 
ventinho a bichina vish sumia, mais 
aquilo quem tinha tava vidrado, quem 
não tinha ia para janela do vizinho para 
assistir, que era novidade, aí já foi 
perdendo aquele encanto das 
reuniõezinhas, das brincadeiras [...]. 
(OLIVEIRA, 2015) 
Por meio dos relatos da entrevistada, é possível 
averiguar elementos importantes noprocesso de 
transição da infância para a adolescência e, sobretudo, 
no advento da tecnologia, assim como relatado que a 
atração da época era a televisão e, conforme relatado, 
ter um aparelho em casa não era algo tão acessível, e 
quem não detinha poder aquisitivo para comprar uma ia 
assistir na janela do vizinho. 
Em outro trecho, Lurdes ressalta que, após o 
surgimento da televisão, as outras atividades que a 
mesma executava, bem como reuniões e brincadeiras, 
foram perdendo o encanto. Dessa maneira, observa-se a 
transformação dos hábitos culturais em consequência da 
televisão, bem como é relatado: 
As transmissões de televisão no Brasil 
começaram em 18 de setembro de 1950. 
O aparelho chegou ao país trazido por 
Assis Chateaubriand, que fundou o 
 
 
 
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primeiro canal de televisão, a TV Tupi. 
Desde então, a televisão cresceu e hoje 
representa um fator importante na cultura 
popular moderna das pessoas e tornou-se 
parte da identidade cultural do brasileiro. 
A TV lança moda, inspira 
comportamentos e cria vínculos entre 
quem está do lado de cá da tela. 
(MINICOM, 2012) 
Assim, é possível observar aspectos 
significativos que marcam a transição entre duas fases 
da vida da entrevistada, assim como a televisão, que 
pode ser considerada um monumento que enfatiza a 
recordação da entrevista, pois, segundo Le Goff (1990, 
p. 535) “[...] o monumento é tudo aquilo que pode 
evocar o passado, perpetuar a recordação, por exemplo, 
os atos escritos [...].” Outro fato que marca esta 
transição é o início das atividades de trabalho por 
Lurdes, dadas as dificuldades da época e das condições 
financeiras da família, segundo ela: 
[...] as dificuldades que a gente passava, 
tinha na, nos arredores lá de Euclides 
tinha um povo que plantava roça, então 
tinha algodão, aí na época de algodão a 
gente ia ajuda a colher algodão, tinha 
uma casa de farinha que a gente ia ajudar 
o senhorzinho que era arrancar a 
mandioca, raspar né, para fazer a 
farinha, e a gente ganhava a farinha para 
comer e um bijuzinho para comer. Porque 
não tinha essas riquezas que nois tem 
hoje. (OLIVEIRA, 2015) 
Ressalta-se, utilizando as descrições de Lurdes, 
que o pagamento pelos seus trabalhos era resumido na 
obtenção de farinha e “bijuzinho” para consumo, ou 
seja, a remuneração, nesse período, em relação à 
entrevistada, não era feita por meio de dinheiro, mas 
sim por alimento. 
 
5. SENTIMENTOS DE VIDA 
 
Com o intuito de encerrar a entrevista, o presente 
trabalho adotou uma metodologia que detinha perguntas 
que, quando dirigidas à entrevistada, oportunizaram a 
sua reflexão sobre todas as fases da vida. A primeira 
pergunta faz referência ao que mais marcou a 
entrevistada durante sua trajetória de vida, que segundo 
ela: 
[...] o que marca muito a gente é a falta 
de união que tem, entre os povos né, 
porque às vezes a gente luta querendo 
melhoria, mas não tem união assim do 
povo, essa é uma parte assim que marca 
muito, que por mais que a gente luta, por 
mais que quer ajeitar não consegue, 
mexer, lidar com as pessoas. (OLIVEIRA, 
2015) 
Torna-se possível considerar que a entrevistada 
relata com clareza a carência da união das pessoas, 
realizando uma alusão ao passado, tentando, assim, 
espelhar no contexto atual os aspectos que pode 
observar em outrora. Seguindo esse pensamento, foi 
perguntado à entrevistada se ela se arrepende de algum 
fato de sua vida, segundo ela: 
Ah tem não, hoje, eu já arrependo pelo o 
que eu não fiz, que às vezes eu falo pro 
marido, é nós pegamo o lote já meio 
tarde, nós estamos mais velhos, cansados, 
se fosse tempo de mais novo a gente teria 
trabalhado um pouquinho mais, coisa que 
hoje a gente tem vontade mas o corpo já 
não ajuda, mas arrepender não, o lote, 
tem que trabalhar muito, mas é um lugar 
bom para se viver, para morar, para 
viver. (OLIVEIRA, 2015) 
O relato da entrevistada nos permite observar o 
caráter singelo do cuidado com o patrimônio, que pode 
ser representado pelo cuidado com a posse de terra, que, 
conforme relatado, a dedicação limita-se aos aspectos 
físicos do corpo. Contudo, quando questionada sobre a 
principal lição que a vinda lhe ensinou, a entrevistada 
relata que “a vida é boa para se viver e você teno 
disposição, a terra te dá o que você precisa a 
sobrevivência, e a fé, Deus dá, é só a gente procurar a 
força de Deus” (OLIVEIRA, 2015). Além disso, foi 
notória a força de vontade da entrevistada frente às 
adversidades da vida, obtendo destaque essa observação 
à resposta ao questionamento sobre se a entrevistada 
faria novamente tudo o que já fez e que, segundo ela, 
“tem dia que eu tô assim meio cansada, assim, mas se 
fosse para começar eu começava tudo de novo, sem 
água, sem, sem energia, sem uma casa boa, mas a gente 
começava tudo de novo” (OLIVEIRA, 2015). 
Como pergunta conclusiva, foi questionado à 
entrevistada qual a sua principal frustração atual e, 
segundo ela: 
[...] A frustração que os jovens hoje não 
têm a infância que a gente teve né, hoje 
quanto mais eles têm, mais eles acham 
pouco e não sabe agradecer o que têm, 
né, essa é uma grande... Se é uma 
frustração essa é uma grande, eu falo 
para eles mesmo, né, que tem de tudo, 
porque a gente teve assim muitas 
 
 
 
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dificuldades não tinha direito nem o que 
comê e hoje graças a Deus tem fartura, 
tem leite, tem carne, mandioca, bastante 
coisa que a gente produz. (OLIVEIRA, 
2015) 
A frustração da entrevistada é possível ser 
visualizada pelo contexto dinâmico da cultura, ou seja, 
as características e hábitos culturais que se alteram de 
geração em geração, de cidade para cidade, país por país 
e assim por diante. Bem como é retratado por Horta 
(2004, p.5), que enfatiza: 
[...] percebe-se, sem medo de errar, que o 
folclore é existencial. Mesmo que 
inconscientemente, vive-se folclore o 
tempo inteiro, com as pessoas praticando, 
ao longo de sua existência, ações 
herdadas de sua cultura. Antes mesmo de 
nascer, o homem já se insere no universo 
folclórico através das crenças e costumes, 
ainda que supersticioso, sobre 
procedimentos e ações relativas a esse 
período. 
Desse modo, observa-se uma ruptura dos traços 
culturais entre a sua geração e a geração de seus filhos. 
Assim, enfatiza-se a necessidade do resgate dessa 
memória e posteriormente a transmissão da memória 
oral para que a mesma não acabe soterrada pelo avanço 
da tecnologia e do tempo. 
Por fim, a entrevistada relata que seu principal 
orgulho é a posse da terra e, quando comentado sobre a 
permanência do homem no campo, bem como se tudo o 
que a entrevistada conquistou será retomado pelos seus 
filhos, a mesma expõe que: 
Ah isso é normal, eles só esperam dar 18 
anos para ir embora. Não é uma 
frustração, porque a gente já sabe disso, 
que os sonhos deles é emprego, é um 
mundo diferente [...] Não, eles não ficam. 
Já tenho um perto de Manaus, o mais 
velho é aquele ali, esse dos filhos irem 
embora é realidade, porque o Sonho da 
terra fica sendo nosso, não é o sonho 
deles não. (OLIVEIRA, 2015) 
Portanto, enfatiza-se a descontinuação dos traços 
culturais pelas presentes e futuras gerações dos 
assentados, em especial da Dona Lurdes, ao expor a 
saída de seus filhos do campo. Assim, refletimos sobre a 
última frase da entrevistada que, ao dizer que os sonhos 
dela são diferentes dos sonhos dos filhos, enalteceainda 
mais a discrepância entre passado e presente, o antigo e 
o novo, o arcaico e o globalizado, o rural e o urbano e, 
sobretudo, a diferenciação entre pais e filhos. 
 
6. CONCLUSÃO 
 
Conclui-se, assim, que as pessoas que viveram 
em fazendas no período do MST sofreram certo 
preconceito por não terem passado pelo processo de 
acampamento e por serem assim julgados, pois os 
acampados acreditavam que quem estava na fazenda 
não passava por dificuldades, sendo que eles passavam 
e ainda recebiam ordens para tratá-los mal contra a sua 
vontade. Com isso, afastaram-se dois povos que 
lutavam pelo mesmo objetivo, que foi o direito de ter 
terra. 
E no que diz a respeito ao passado da 
entrevistada, é possível perceber que eles viviam das 
coisas básicas e simples, e tudo era feito de maneira 
natural, com objetos e elementos encontrados na 
natureza. E, além da simplicidade dos objetos, eles 
também viviam uma tradição de acompanhar o pai por 
onde ele conseguia emprego. Assim, as crianças 
frequentaram a escola apenas quando já tinham mais 
idade. 
Por meio desse processo de mudança e de 
adaptação, é possível enxergar que essas pessoas que 
vivem em assentamentos não são invasores ou 
desocupados, na realidade, elas estão lutando por algo 
bem maior, que é o direito de ter um lugar para viver e 
para criar sua família. A própria entrevistada se orgulha 
de ter continuado o caminho de seus pais e de hoje 
cultivar e cuidar de gado e, assim, poder viver desse tipo 
de renda. E o fato de ela vender seus produtos na 
feirinha, que está localizada no centro de 
Primavera/Rosana-SP, só mostra o quanto ela está 
batalhando por seus direitos e objetivos. 
Respondendo o primeiro questionamento: De 
que forma a história individual auxilia no entendimento 
da apropriação agrária local? Torna-se nítida a relação 
entre o indivíduo com a história coletiva, pelos relatos 
orais de Lurdes se observou a reafirmação da 
apropriação fundiária local, seja pela compra da 
fazenda, na qual a entrevistada trabalhava, ou pelos 
conflitos entre militantes e fazendeiros, até pelo período 
de disponibilização de recursos para compra de gado e 
construção de casas e outros eventos. Os fatos 
cotidianos se mesclam com os fatos históricos, pois, 
afinal, são os indivíduos atores ou protagonistas de suas 
histórias, pessoas que criam a trama social. 
Entender as histórias individuais em sua essência 
é obter mais detalhes sobre a história coletiva, ou seja, 
auxilia no entendimento de eventos pessoais que não 
estão expostos nos livros de história, mas que são 
triviais para a compreensão do contexto geral. 
 
 
 
Anais da IX da Semana de Turismo, VI Mostra Científica, UNESP, Rosana - SP, 18-20 de outubro de 2017. v.1. 18 
 
 
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L. G. M. Gonçalves; R. C. C. Thomaz. ISSN 0000-0000 
 
 A respeito do segundo questionamento: De que 
forma os traços culturais individuais interagem no meio 
coletivo dos assentamentos de reforma agrária? 
Conforme relatado no parágrafo anterior e discorrido 
neste trabalho, os traços culturais pessoais são mutáveis 
e a cultura como um todo se adapta às diferentes 
situações. 
E, assim como menciona Mônica (2001, p.21), o 
“elemento dinâmico da cultura, modifica-se e se 
transforma de região a região, de acordo com os meios e 
sua funcionalidade. De aceitação coletiva, não perde seu 
caráter, seu valor, sua autenticidade”. É desse modo que 
a essência cultural individual interage, em específico, 
nos assentamentos de reforma agrária, pois as pessoas 
que ali vivem são provenientes de inúmeras regiões do 
Brasil, cada região detém seu caráter cultural. Além 
disso, as trajetórias individuais, até a chegada ao lote, 
dão aos assentados e assentadas marcas na memória e 
traços culturais que carregam consigo até a constituição 
de seus assentamentos. Assim, seus traços culturais 
rurais, origem e trajetória se fundem, gerando, dessa 
forma, o conceito intercultural, transmitido pela 
oralidade, objetos, fotos, insumos e outros meios. 
 
7. REFERENCIAL BIBLIOGRÁFICO 
 
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;ARTIGOS CIENTÍFICOS 
TURISMO, MARKETING E SERVIÇOS 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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V. S. Custódio; M. F. S. Maturana; F. L. Violin; F. B. do Nascimento Filho. ISSN 0000-0000 
 
ANÁLISE PERCEPTUAL DOS LOGOTIPOS DE BALADAS LGBT EM SÃO 
PAULO: UM ESTUDO NOS ATRIBUTOS ATRATIVIDADE, CRIATIVIDADE 
E REPRESENTATIVIDADE. 
 
 
CUSTODIO, Vagner Sérgio¹ 
MATURANA, Maria Fernanda Sanchez² 
VIOLIN, Fábio Luciano³ 
 NASCIMENTO FILHO, Francisco Barbosa do4 
 
Universidade Estadual Paulista - UNESP 
Câmpus de Rosana 
vagner@rosana.unesp.br, ma.fersanchez@hotmail.com, violin@rosana.unesp.br, francisco@rosana.unesp.br 
 
1 Doutor em Educação Física, Universidade Estadual Paulista (Unesp), Rosana, São Paulo. 
2 Mestranda em Educação Sexual, Universidade Estadual Paulista (Unesp), Araraquara, São Paulo. 
3 Doutor em Administração, Universidade Estadual Paulista (Unesp), Rosana, São Paulo. 
4 Doutorando em Turismo, Universidade Estadual Paulista (Unesp), Rosana, São Paulo. 
 
 
 
RESUMO - O objetivo desse estudo foi o de realizar uma análise perceptual dos logotipos das Baladas 
LGBT da cidade de São Paulo ranqueados em 2017 pelo website especializado 
http://www.baressp.com.br. Para isso, foram realizados 2 testes perceptuais sendo o de ranking e o de 
magnitude nos atributos atratividade, criatividade e representatividade. Esses testes foram aplicados em 
28 pessoas, sendo 14 homossexuais e 14 heterossexuais, todos alunos da área do Turismo. Os logotipos 
foram extraídos do website supracitado e conseguiram-se 8 logotipos (Hot Hot, Lions night club, The L 
Club, A loca, The Week, Cantho Club, Bubu Lounge, Club Yacht). E pode-se demonstrar que na média 
dos 3 atributos o logotipo do Hot Hot foi o que obteve a melhor posição no ranqueamento entre os 
homossexuais com média 2,85 e média 3,4 nos heterossexuais. Nos testes de magnitude na média geral 
dos atributos, a Hot Hot ficou em primeiro entre os homossexuais com 34,13 de média e 39,25 entre os 
heterossexuais. Esses resultados apontam que alguns logotipos conseguiram alcançar os objetivos de 
serem atrativos, sedutores e discretos, e também demonstrou que alguns logotipos como os do club yacht 
e Lions night club não conseguiram. 
 
Palavras chave: Logotipos; Percepção; baladas LGBT. 
 
ABSTRACT - The objective of this study was to perform a perceptual analysis of the LGBT nightclub 
logos of the city of São Paulo ranked in 2017 by the specialized website http: //www.baressp.com.br. For 
this, 2 perceptual tests were performed, the ranking and the magnitude of attributes attractiveness, 
creativity and representativeness. These tests were applied to 28 people, 14 homosexuals and 14 
heterosexuals, all students in the area of Tourism. The logos were extracted from the website mentioned 
above, and 8 logos (Hot Hot, Lions night club, The L Club, The Week, The Club, Bubu Lounge, Club 
Yacht) were taken into account. It can be demonstrated that in the average of the 3 attributes the Hot Hot 
logo was the one that obtained the best position in the rank among homosexuals with an average of 2.85, 
and an average of 3.4 in the group of heterosexuals. In the tests of magnitude in the general mean of the 
attributes, Hot Hot ranked first among homosexuals with 34.13 average and 39.25, among heterosexuals. 
These results indicate that some logos have achieved the goals of being attractive, seductive and discreet, 
and also demonstrated that some logos such as the club yacht and Lions night club have not. 
 
Keywords: Logotypes; Perception; Gay clubs. 
 
mailto:vagner@rosana.unesp.br
mailto:violin@rosana.unesp.br
 
 
 
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V. S. Custódio; M. F. S. Maturana; F. L. Violin; F. B. do Nascimento Filho. ISSN 0000-0000 
 
1. INTRODUÇÃO 
 
Segundo Braga e Guimarães (2014), a partir da 
década de 1960, ocorreu uma intensificação de ações 
coletivas homossexuais organizadas com o objetivo de 
afirmar suas identidades. 
Nesse contexto, surge o mercado segmentado, 
que passa a dedicar mais atenção ao potencial 
consumidor homossexual, fornecendo serviços e 
produtos destinados a homossexuais, como agências de 
namoro, boates, bares e baladas, dentre outros. 
Um dos acontecimentos mais marcantes 
ocorreu, segundo Carrara (2006), em 28 de junho de 
1969, no Stonewall Inn, considerado um bar gay, onde 
um grupo de clientes se recusou a pagar propina a 
policiais, que frequentemente os atacavam e realizavam 
prisões ilegais, além de extorsões. Os homossexuais 
reagiram violentamente à presença dos policiais, e o 
conflito durou três dias, estendendo-se a outras ruas. 
Mais tarde, o dia 28 de junho tornou-se o "Dia Mundial 
do Orgulho Gay". 
No Brasil, segundo Carrara (2006), a primeira 
balada Gay surgiu em 1964, chamada La Cueva, 
localizada em Copacabana, no Rio de Janeiro, no 
mesmo ano em que a ditadura militar se instaurou no 
Brasil. Na época, era rotineiramente fechada sendo que 
os proprietários tinham muito trabalho para reabri-la. 
Mas, segundo Carrara (2006), foi na década de 1990, 
provavelmente devido à administração da Prefeita 
Marta Suplicy na prefeitura de São Paulo, que se 
autodeclarava simpatizante ao movimento LGBT, em 
que houve no Brasil e principalmente em São Paulo um 
aumento significativo de serviços destinados ao 
público LGBT, que promoveu a maior Parada Gay do 
Mundo com cerca de 2 milhões de participantes. 
Nesse cenário surge a maioria das casas 
noturnas destinadas a esse publico, dentre elas algumas 
que foram objetos desta pesquisa, ocorrendo uma 
grande concorrência no setor, o que fez com que essas 
empresas investissem em propaganda e marketing para 
poder se diferenciar da concorrência e ser atuante no 
mercado. 
Dentre as variadas estratégias de marketing, 
surgiram os logotipos dessas empresas, para serem a 
principal imagem visual da casa noturna e fornecerem 
aos seus clientes boas percepções sobre o 
estabelecimento. 
Nessa perspectiva, a utilização desses 
logotipos, muitas vezes, tem tido o objetivo de fornecer 
uma identidade a esses locais. Para que essa identidade 
traga resultados positivos, faz-se necessário que o 
logotipo seja visualmente atraente e que, de certa 
forma, represente o local, fornecendo características 
próprias que lhe deem significado. 
Muitas vezes, os logotipos são desenvolvidos 
por profissionais do marketing que utilizam 
informações previamente selecionadas para a criação 
artística do produto visual. Segundo Gândara (2008), a 
imagem é o conjunto das informações e das ações 
comunicativas. 
Quando se promove uma imagem mental do 
local, Barbosa (2001) explica que é uma transposição 
do real ao imaginário criando um mundo metafórico. 
Mas o problema é que geralmente os logotipos 
de estabelecimentos comerciais não são submetidos a 
testes perceptuais no público alvo antes de serem 
divulgados. Isso ocorre devido à maioria dos 
profissionais envolvidos no processo criativo não 
dominarem as técnicas metodológicas de análise de 
percepção. 
A falta de aplicação desses testes faz com que 
se corra o risco de alguns logotipos não conseguirem 
atrair o seu público alvo e também serem figuras não 
representativas, e isso pode se tornar um problema, 
pois os logotipos podem ser, nas ações de marketing, 
um importante instrumento de divulgação. 
Tendo como base essa argumentação, surge a 
seguinte pergunta: Será que os logotipos das principais 
baladas LGBT da Cidade de São Paulo ranqueadas 
pelo site http://www.baressp.com.br são atrativos, 
criativos e representativos?E quais os atributos necessários para se ter um 
bom logotipo? 
Por meio de um estudo piloto realizado pelos 
autores, tendo como participantes 10 pessoas 
homossexuais acadêmicas do curso de Turismo, onde 
foi perguntado de forma livre, ou seja, sem oferecer 
opções “quais as qualidades que um logotipo de uma 
balada LGBT tem que ter pra ser bom?” 8 participantes 
disseram que deveria ser atrativo e 2 disseram que 
deveria ser criativo. 
Mediante essas respostas, utilizaram-se os 
atributos atratividade, criatividade e representatividade 
para relacionar a qualidade e eficácia desses logotipos 
e como metodologia a psicologia experimental, mais 
especificamente a psicofísica escalar embasada em 
Stevens (1975), que elaborou testes perceptuais para 
diagnosticar as percepções subjetivas e que podem ser 
aplicadas em diversas situações, dentre elas, as casas 
noturnas, que, apesar de comercializarem percepções 
subjetivas, utilizam muito pouco esse método. 
Para atender os objetivos deste estudo, dentre 
os inúmeros testes possíveis, foi escolhido o teste de 
categoria, que é feito por meio de uma escala ordinal, 
que possibilita a categorização e classificação dos 
objetos, no caso os logotipos de eventos LGBT, bem 
como ordená-los de acordo com o atributo avaliado. 
Ferraz (2005) ressalta que esse tipo de escala não 
 
 
 
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apenas diferencia subjetivamente os objetos, mas 
também demonstra se o objeto tem mais ou menos 
qualidade em um determinado atributo. 
Outro teste utilizado nesse estudo foi o de 
estimação de magnitude que, segundo Ferraz (2005), é 
um processo de julgamento em que os observadores 
emparelham números a diferentes níveis de sua própria 
impressão perceptiva e, dessa forma, expressam uma 
razão à sensação atribuída. 
Dessa forma, essa pesquisa pretendeu 
diagnosticar qual é a balada LGBT de São Paulo que 
melhor conseguiu desenvolver um logotipo que atraia e 
fidelize seu público alvo e mostrar uma proposta 
metodológica viável em diversas situações na qual 
necessite analisar a percepção visual nas ações e 
atividades de divulgação de estabelecimentos 
comerciais. 
1.1 Metodologia 
 Esta pesquisa buscou analisar a percepção das 
pessoas em relação aos logotipos de baladas LGBT na 
cidade de São Paulo nos atributos atratividade, 
criatividade e representatividade. Para isso, usou-se o 
website http://www.baressp.com.br/noticias/confira-as-
9melhores-baladas-gls-em-sao-paulo, verificando os 
logotipos até se esgotarem todas as ocorrências. 
Conseguiram-se 8 logotipos, que estão apresentados na 
Figura 1, seguindo a sequência de ocorrência no site de 
pesquisa: 
 
Figura 1 – Cartazes das Baladas LGBT e suas 
respectivas informações. 
Fonte: Autores (2017) 
A partir das imagens da figura 1, foi 
selecionado o público alvo para aplicação dos testes e 
foram escolhidas pessoas que academicamente 
estivessem envolvidas com lazer e turismo. Essa 
escolha ocorreu devido a esses indivíduos poderem ser 
uma amostra mais fidedigna para o julgamento dos 
atributos, pois se pressupõe que possuam informações 
relevantes sobre estratégias de marketing e lazer. 
Nessa perspectiva, decidiu-se utilizar alunos que 
se autodeclarem homossexuais ou heterossexuais do 
curso de bacharelado em Turismo pertencentes à 
UNESP – Câmpus Experimental de Rosana. 
A escolha específica dessa população ocorreu 
devido à conveniência de serem as pessoas 
qualificáveis mais próximas aos pesquisadores, o que 
gerou a viabilidade do estudo. 
Optou-se por utilizar uma amostragem aleatória 
de sujeitos, sendo que foi convencionada pelos 
pesquisadores como sendo uma amostra relevante 28 
alunos num universo de 120 e que se sujeitaram à 
realização do estudo. Todos os participantes foram 
voluntários não pagos e consentiram verbalmente a se 
submeter aos testes. 
Para aplicação dos testes, foram levadas duas 
folhas A4, a primeira a ser mostrada possuía a 
impressão dos 8 logotipos das baladas LGBT, 
conforme a figura 1, coloridas e identificadas cada uma 
com um número de 1 a 8. 
Numa segunda folha, havia uma ficha de 
aplicação dos testes onde constava o nome do sujeito 
para o controle dos pesquisadores, a idade para a 
caracterização da faixa etária da amostra e a orientação 
sexual para diferenciar quem era homossexual e quem 
era heterossexual. 
Na ficha também constou um quadro que 
deveria ser preenchido pelo sujeito da seguinte forma: 
com as imagens dos 8 logotipos lateralmente dispostas 
sobre uma mesa e a ficha de aplicação abaixo das 
imagens, foi perguntado ao sujeito qual dos logotipos 
era o mais atraente, ou seja, dava mais vontade de 
visitar o local? Após o apontamento do primeiro, se 
perguntou-se qual era o segundo mais atrativo e assim 
por diante até chegar à oitava posição. 
A situação supracitada configura o teste de 
categoria, que ranqueou todos os logotipos conforme a 
sua atratividade. Após os sujeitos categorizarem, foi 
perguntado o seguinte: Quanto que o primeiro que você 
apontou é mais atrativo do que o segundo? Respondido 
isso, perguntou-se quanto é mais atrativo o segundo do 
terceiro? E assim por diante até se chegar do sexto para 
o sétimo, sendo que a esse último foi designado o valor 
0. 
Essas perguntas configuram o teste de 
magnitude, que visou quantificar subjetivamente a 
 
 
 
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intensidade da percepção de atratividade entre os 
logotipos. 
Após essa aplicação, o mesmo procedimento foi 
realizado, mas agora perguntando sobre a criatividade, 
ou seja, qual é o mais criativo e o quanto é mais 
criativo? 
O mesmo procedimento foi realizado no 
atributo representatividade, em que se perguntou qual é 
mais representativo? E o quanto é mais representativo? 
Essas perguntas estão na ficha utilizada, 
disposta a seguir: 
 
 
 
Figura 2 – Ficha utilizada para realização dos testes 
perceptuais. 
Fonte: Autores (2017) 
 
 Após a aplicação dos testes nos sujeitos 
participantes, todas as informações numéricas foram 
repassadas para o software Excel for Windows da 
seguinte forma: 
 Nas colunas horizontais, foram inseridos em cada 
coluna os sujeitos tanto para o grupo homossexual 
quanto para o grupo heterossexual. 
 Cada sujeito foi representado por um número, 
sendo 1 a 14 para ambos os grupos. 
 Nas linhas verticais, foram inseridos os logotipos, 
sendo que cada um ocupou uma linha. E os logotipos 
foram representados pelos mesmos números utilizados 
na aplicação dos testes descritos acima. 
 No teste de categorias, no qual ocorreu um 
ranqueamento, foi disposta a posição de cada logotipo 
apontada pelo sujeito, por exemplo, o logotipo 1 foi 
ranqueado em 2º lugar pelo sujeito 7, então, na linha 
referente ao logotipo 1 e na coluna referente ao sujeito 
7 foi atribuído o número 2, que equivale à segunda 
posição no ranque. 
 Após esse procedimento ter sido realizado, foram 
selecionadas todas as posições dispostas 
horizontalmente de cada logotipo e utilizou-se a 
ferramenta média para se calcular a média de posição 
de cada logotipo e se chegar ao resultado de qual 
logotipo foi considerado mais atraente, criativo e 
representativo pelos grupos, sendo que os logotipos 
que obtiveram o menor valor na média foram 
considerados os melhores ranqueados. Para melhor 
analisar os resultados, também se utilizou a ferramenta 
DESVPAD do Excel

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