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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ FACULDADE DE DIREITO DEPARTAMENTO DE DIREITO PROCESSUAL PATRICIA SOUSA BARROS LEAL OS PARÂMETROS DE APLICAÇÃO DA PRISÃO PREVENTIVA E O PRINCÍPIO DA HOMOGENEIDADE NO SISTEMA PROCESSUAL PENAL BRASILEIRO: UMA ANÁLISE COM BASE NA NATUREZA CAUTELAR DO INSTITUTO. FORTALEZA 2018 PATRICIA SOUSA BARROS LEAL OS PARÂMETROS DE APLICAÇÃO DA PRISÃO PREVENTIVA E O PRINCÍPIO DA HOMOGENEIDADE NO SISTEMA PROCESSUAL PENAL BRASILEIRO: UMA ANÁLISE COM BASE NA NATUREZA CAUTELAR DO INSTITUTO. Monografia apresentada ao Curso de Direito da Universidade Federal do Ceará, como requisito parcial para obtenção do Título de Bacharel em Direito. Área de concentração: Direito Processual Penal. Orientador: Prof. Dr. Sérgio Bruno Araújo Rebouças. FORTALEZA 2018 Dados Internacionais de Catalogação na Publicação Universidade Federal do Ceará Biblioteca Universitária Gerada automaticamente pelo módulo Catalog, mediante os dados fornecidos pelo(a) autor(a) B281p Barros Leal, Patricia Sousa. Os parâmetros de aplicação da prisão preventiva e o princípio da homogeneidade no sistema processual penal brasileiro : uma análise com base na natureza cautelar do instituto / Patricia Sousa Barros Leal. – 2018. 79 f. Trabalho de Conclusão de Curso (graduação) – Universidade Federal do Ceará, Faculdade de Direito, Curso de Direito, Fortaleza, 2018. Orientação: Prof. Dr. Sérgio Bruno Araújo Rebouças. 1. Prisão Preventiva. 2. Cautelar. 3. Parâmetros. 4. Proporcionalidade. 5. Homogeneidade. I. Título. CDD 340 PATRICIA SOUSA BARROS LEAL OS PARÂMETROS DE APLICAÇÃO DA PRISÃO PREVENTIVA E O PRINCÍPIO DA HOMOGENEIDADE NO SISTEMA PROCESSUAL PENAL BRASILEIRO: UMA ANÁLISE COM BASE NA NATUREZA CAUTELAR DO INSTITUTO. Monografia apresentada ao Curso de Direito da Universidade Federal do Ceará, como requisito parcial para obtenção do Título de Bacharel em Direito. Área de concentração: Direito Processual Penal. Aprovada em: ____/____/_______. BANCA EXAMINADORA: ____________________________________________ Prof. Dr. Sérgio Bruno Araújo Rebouças (Orientador) Universidade Federal do Ceará (UFC) _________________________________________ Prof. Dr. Alex Xavier Santiago da Silva Universidade Federal do Ceará (UFC) _________________________________________ Tiago Vasconcelos Queiroz Universidade Federal do Ceará (UFC) A Deus, meus pais, Vladson e Raquel, e a minha irmã, Thaís, a quem devo todo meu amor. AGRADECIMENTOS Inicialmente agradeço a Deus e Nossa Senhora pela benção de cada dia e por toda a minha vida. Aos meus pais, Vladson e Raquel, por me criarem em um ambiente de imenso amor, carinho e cumplicidade. Obrigada por me ensinarem o valor da união e da persistência no enfrentamento dos obstáculos diários, além de todo o apoio em cada fase da minha vida. A vocês atribuo todas as minhas conquistas. À minha irmã, Thais, meu exemplo de maturidade e personalidade singular. Sou sua maior admiradora. Cuidamos uma da outra e assim será para sempre. Um dos meus maiores deveres nessa vida é lhe proporcionar tudo aquilo que for necessário para a realização de seus sonhos. Ao meu namorado, Igor, por sempre está disposto a me escutar e a me ajudar nos diversos momentos dessa jornada. Obrigada pela paciência, pelo amor, por tornar os meus dias mais leves, por me fazer sorrir e por me tornar uma pessoa melhor. Você me ensina constantemente a olhar para o lado bom das coisas e a acreditar que tudo sempre terá uma solução. À minha avó Francisca, por ser meu exemplo de força, uma mulher que apesar das inúmeras dificuldades enfrentadas, manteve-se firme, sendo o alicerce de uma família grandiosa e unida. Obrigada por me demonstrar e ensinar o valor da fé. À minha avó Iraci que me ensinou o valor da disciplina e da educação, sendo a grande responsável pelos caminhos acadêmicos que tomei e por todas as conquistas alcançadas nestes. Obrigada pelo exemplo diário de determinação. Ao meu avô Vladimir, meu bacharel, meu colega, que, desde a minha infância, procurou sempre me demonstrar o valor do Direito. Ao meu avô Joaquim, meu anjo da guarda, meu exemplo de luta e de perseverança. Suas poéticas palavras me enchem de rastros de saudade. Aos meus tios e tias paternos por serem meus pais e minhas mães, sou muito agradecida por todo cuidado, proteção e guarida. Eu sei que sempre poderei encontrar em vocês o suporte que necessitar e, do mesmo modo, vocês em mim. À minha família Simão e Sousa, em especial aos meus tios, por me demonstrarem a relevância da luta e da resistência e o apreço das reuniões familiares ímpares. Aos meus amigos pelo companheirismo e momentos inesquecíveis. Em especial ao FOFITAS Larissa, Letícia, Bianca, Ana Beatriz, Maira, Mariana Castro, Mariana Cabral, Geisa, Gisele, Lara, Catharine, Raquel e Jackson pelos mais de dez anos de amizade e construção de laços inquebráveis. Obrigada por fazerem parte da minha vida. Vocês possuem considerável relevância na minha felicidade e na pessoa que sou hoje; aos meus amigos de faculdade por me acompanharem e encararem comigo todas as fases desse ciclo que está se fechando, sem vocês não teria traçado esse caminho da mesma maneira e chegado ao final de forma tão grata; ao 2º andar da DPU, que me acolheu maravilhosamente bem e trouxe ensinamentos e, claro, inúmeras risadas diárias. Obrigada pelas manhãs de conversas, pelos almoços no JP, pelas confraternizações. Vocês foram e são como uma família para mim. Um agradecimento à parte para Karla, Rafa e Fernandinha, que me conquistaram de forma surpreendente. Agradeço o imensurável apoio e carinho. A amizade de vocês é valiosa para mim e a levarei comigo sempre. Não menos importante, um obrigado especial ao Marcus, meu parceiro nas incontáveis fases da vida, meu melhor amigo. Obrigada pela paciência diária em me ouvir às seis da manhã, por sempre me ajudar e por essa amizade tão bonita e rara. À Defensoria Pública da União, em especial aos meus chefes Dra. Thaís e Dr. Alex, pelo exemplo de profissionalismo e comprometimento, por me demonstrarem o valor da humildade e humanidade no trato com as pessoas. Obrigada por toda a aprendizagem. Vocês, certamente, foram significativos para o meu crescimento como estudante e futura profissional do Direito. Ao professor Alex Santiago, que prontamente concordou em participar da banca de avaliação do presente trabalho. O papel desempenhado pelo respeitado professor na Faculdade de Direito é notório e digno de profunda admiração. Do mesmo modo, ao Tiago Queiroz, pessoa admirável e de inteligência incrível, um amigo, que sem hesitação aceitou o meu convite. Suas contribuições a essa faculdade já são evidentes. Ao professor Sérgio Rebouças, pela valiosa orientação e disponibilidade. Possuo imensa admiração pela nítida sabedoria e pelo comprometimento em perpassa-la da melhor forma possível aos seus alunos. “Ah, liberdade! Liberdade de poder ser... de amar... e ser feliz Liberdade de poder voar Ter como espaço a imensidão dos céus.” (Emoção - Joaquim Rodrigues) RESUMO Diante do significativo gravame provocado pela instituição da prisão preventiva sobre os direitos fundamentais do indivíduo, principalmente o seu status libertatis, o presente trabalho monográfico busca analisar a legitimidade e homogeneidade da referida medida cautelar, a partir da identificaçãoe exame dos parâmetros que devem nortear a sua aplicação. Assim, faz- se necessário o estudo baseado em análise bibliográfica, mediante livros, artigos, dissertações de mestrado e teses de doutorado, além da pesquisa jurisprudencial e da legislação atinentes ao tema. Primeiramente, é destacado o conceito do instituto da prisão preventiva, a aferição da sua natureza jurídica e a análise dos seus requisitos, fundamentos e hipóteses de cabimento. Posteriormente, são explorados os princípios constitucionais, como o devido processo legal, a presunção de inocência, a razoável duração do processo, a proporcionalidade e os subprincípios desta (adequação, necessidade e proporcionalidade em sentido estrito), como corolários do princípio da homogeneidade das medidas cautelares e norteadores da aplicação da prisão preventiva. Por fim, busca-se estudar e averiguar a necessidade da incidência do principio da homogeneidade na referida medida, consoante alguns parâmetros, como o provável resultado final do processo, a duração da pena privativa de liberdade eventualmente aplicada e o regime inicial de cumprimento de pena imposto na sentença condenatória. Por fim, conclui-se pela imprescindibilidade da observância dos parâmetros legais e constitucionais, conjugados aos ditames da homogeneidade para a preservação e manutenção da finalidade acautelatória do instituto. Palavras-chave: Prisão Preventiva. Cautelar. Parâmetros. Proporcionalidade. Homogeneidade. ABSTRACT In the light of the huge encumbrance provoked by the institute of the pre-trial detention on the individual fundamentals rights, mainly on yours status libetatis, this monographic work aims to analyses the legitimacy and homogeneity of the referred precautionary order, from parameters identification and examination, which should guide your application. Thereby, it was necessary the study based on a bibliographic review, through books, articles, master's dissertations and doctoral theses, in addition to research precedents and legislation to the topic. First, it is emphasized the concept of the institute of the pre-trial detention, the assessment of your legal nature e and the analysis of yours requirements, fundamentals and application cases. After, constitutionals principles are explored, as the due process of law, the presumption of innocence, the reasonable duration of the process, the proportionality and yours sub-principles (adequacy, necessity and proportionality in the strict sense), as corollaries of the principle of homogeneity of the precautionary measures and as application guidelines of the pre-trial detention. Finally, seeks to study and ascertain the need incidence of the principle of the homogeneity on the referred measure, according to some parameters, as the likely final result of the process, the period of the prison sentence applicable and as the initial prison conditions imposed by the convicting sentence. Lastly, it follows that compliance with legal and constitutionals parameters combined with the homogeneity dictates is essential to the preservation and maintenance of the cautionary finality of the institute. Keywords: Pre-trial detention. Precautionary. Parameters. Proportionality. Homogeneity. LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS Art.: Artigo CP: Código Penal CPP: Código de Processo Penal CF/88: Constituição Federal de 1988 STF: Supremo Tribunal Federal STJ: Superior Tribunal de Justiça SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 13 2 O INSTITUTO DA PRISÃO PREVENTIVA ............................................................................... 15 2.1 Conceito e natureza jurídica ......................................................................................................... 15 2.2 Requisitos e fundamentos da prisão preventiva .......................................................................... 20 2.3 Hipóteses de cabimento .................................................................................................................. 24 3 OS PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS NORTEADORES DA APLICAÇÃO DA PRISÃO PREVENTIVA .................................................................................................................................... 31 3.1 O devido processo legal .................................................................................................................. 31 3.2 A presunção de inocência............................................................................................................... 34 3.3 A razoável duração do processo .................................................................................................... 37 3.4 A proporcionalidade ...................................................................................................................... 42 3.4.1 A adequação ................................................................................................................................ 45 3.4.2 A necessidade ............................................................................................................................... 46 3.4.3 A proporcionalidade em sentido estrito. Princípio da homogeneidade das medidas cautelares ............................................................................................................................................................... 47 4 O PRINCÍPIO DA HOMOGENEIDADE E A PRISÃO PREVENTIVA ................................... 50 4.1 A prisão preventiva X o provável provimento final do processo ............................................... 50 4.2 O prazo da prisão preventiva X a duração da pena privativa de liberdade ............................. 59 4.3 A prisão preventiva X o regime inicial imposto na sentença condenatória .............................. 62 4.3.1 Regime aberto e semiaberto ........................................................................................................ 62 4.3.2 Regime fechado e o efeito da detração ....................................................................................... 67 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS........................................................................................................... 70 REFERÊNCIAS .................................................................................................................................. 73 13 1 INTRODUÇÃO O Estado possui como uma de suas facetas a função de persecutor penal, destinada a prevenir e reprimir condutas delituosas, capazes de afetar a convivência harmônica e pacífica na sociedade. O resultado dessa atuação recai sobre os direitos dos indivíduos, principalmente sobre o seu status libertatis. Contudo, diante da condição da liberdade como direito fundamental e do Estado de Direito como garantidor e protetor desta, a persecução penal deve estar respaldada por um sistema que impeça arbitrariedades. 1 O processo penal é dotado de instrumentalidade, sendo o único meio possível e legítimo de exercício estatal de repressão e penalização dos indivíduos. A sua natureza acusatória compreende estes como sujeitos de direitos, além de presumidamente inocentes, devendo ser asseguradas as suas prerrogativas fundamentais como a liberdade. A privação desta como sanção penal somente é possível quando constatada a culpabilidade do acusado, o que apenas ocorre ao final de todo o trâmite processual. Entretanto, durante o processo, a averiguação dos fatos e a necessidade de busca da verdade mais próxima acerca da realidade daqueles pode tornar o desenvolvimento processual lento, o que promove riscos a sua efetividade e à utilidade de seu provimento final. Dessa forma, há o empregode medidas cautelares, como a prisão preventiva, objeto central de estudo do presente trabalho. O referido instituto é o mais gravoso e privativo de direitos ao atingir o status libertatis do indivíduo, impedindo o exercício da sua liberdade de ir e vir. Assim, a sua aplicabilidade é excepcional e somente destinada a atender a finalidade precípua de acautelar o processo. Diante disso, faz-se necessária a observância de determinados parâmetros para a imposição da prisão preventiva aferidos da legislação penal e processual penal e do próprio sistema constitucional, principalmente o princípio da homogeneidade das medidas cautelares de forma a impedir que o instituto esvazie sua natureza cautelar e importe em penalização antecipada. A identificação e análise desses parâmetros é o objetivo principal do presente trabalho. 1 GRINOVER, Ada Pellegrine. Liberdades públicas e processo penal: as interceptações telefônicas. 2. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1982, p. 1. 14 A metodologia empregada é composta pela análise sistêmica de bibliografia com a leitura de doutrinas gerais sobre Direito Processual Penal e específicas acerca do instituto da prisão preventiva e dos seus parâmetros de aplicação, bem como artigos científicos, dissertações de mestrado e teses de doutorado relacionados ao referido tema. Ademais, tem-se a pesquisa jurisprudencial, com o exame dos julgados do Supremo Tribunal Federal e do Superior Tribunal de Justiça proferidas no que diz respeito à imposição da prisão preventiva. Por fim, é necessário o estudo da legislação atinente, como a Constituição Federal de 1988, o Código de Processo Penal e o Código Penal, os quais conferem substrato ao tema discutido no trabalho monográfico. Assim, no primeiro capitulo, será estudada a prisão preventiva como um todo, a fim de destacar o seu conceito e aferir a sua natureza jurídica. Em seguida, serão analisados os seus requisitos e fundamentos legais, bem como as suas hipóteses de cabimento, tendo sempre como base a cautelaridade do instituto. O segundo capítulo versará sobre os princípios constitucionais, do devido processo legal, da presunção de inocência, da razoável duração do processo e da proporcionalidade como norteadores da aplicação da prisão preventiva. Neste último, serão examinados os seus subprincípios: a adequação, a necessidade e a proporcionalidade em sentindo estrito, como consectários do princípio da homogeneidade das medidas cautelares. No capítulo seguinte, destinado ao final do trabalho, será estudada a conceituação do princípio mencionado acima e realizada uma análise pormenorizada da imposição do instituto da prisão preventiva e a manutenção da sua natureza cautelar conforme a incidência do princípio da homogeneidade. Primeiramente, será examinada a sua aplicação em face do provável provimento final do processo. Posteriormente, a análise se preocupará em averiguar a legitimidade do prazo da medida cautelar consoante à duração da eventual pena privativa de liberdade aplicável. Por fim, a manutenção ou decretação do instituto será conferida de acordo com regime inicial imposto na sentença condenatória, aberto, semiaberto ou fechado. Portanto, diante de tais considerações, pretende-se formalizar um posicionamento crítico acerca dos parâmetros legais e constitucionais de aplicação da prisão preventiva e da imprescindibilidade de observância dos ditames do princípio da homogeneidade das medidas cautelares para a preservação da cautelaridade do referido instituto, impedindo que o seu emprego se revele como punição antecipada de indivíduo presumidamente inocente. 15 2 O INSTITUTO DA PRISÃO PREVENTIVA 2.1 Conceito e natureza jurídica A prisão preventiva compreende a privação de liberdade imposta ao indivíduo, na condição de investigado no inquérito criminal ou de acusado no processo penal, antes do trânsito em julgado de sentença condenatória a fim de tutelar o regular andamento do processo, bem como o provimento final deste. Nas palavras de Gregório Edoardo: A prisão preventiva diz respeito à privação da liberdade pessoal imposta no curso da persecução penal; medida que anterior à sentença definitiva, constitui desvantagem provisória à pessoa humana. Trata-se de anulação temporária do statu libertatis, desde o momento em que decretada até enquanto subsistentes os fundamentos da medida judicial. 2 Cumpre mencionar também a definição estabelecida por Odone Sanguiné, a qual revela a finalidade do dito instituto, estritamente relacionada à sua natureza jurídica. Veja-se: A prisão cautelar pode ser definida como uma medida coativa cautelar pessoal que implica uma provisória limitação da liberdade, em um estabelecimento penitenciário, de uma pessoa contra quem, embora considerada juridicamente inocente, se formula uma imputação de ter cometido um delito de especial gravidade, decretada motivadamente por um órgão jurisdicional, na fase investigatória ou no curso do processo penal, em caráter excepcional e com duração limitada, antes do trânsito em julgado de sentença condenatória penal, para garantir o normal desenvolvimento do processo penal de cognição e de execução e, segundo uma tendência geral da legislação continental, para evitar uma tríade clássica de fatores de risco: (a) de ocultação, alteração ou destruição das fontes de prova ou de colocação em perigo da vítima e outros sujeitos processuais; (b) de fuga; (c) de reiteração delitiva9. 3 Conforme observado nas conceituações acima, a prisão preventiva, assim como a definitiva, constitui medida de segregação do indivíduo, porém com ela não se confunde, uma vez que esta se respalda "na exigência de justiça", bem como na sua utilidade. Já a prisão preventiva revela-se como "instrumento imprescindível para o próprio processo", o que evidencia a sua natureza cautelar. 4 2 GUARDIA, Grogório Edoardo Raphael Selingardi. Prisão Preventiva: Direitos Fundamentais e a Garantia da Ordem Pública. Revista da Faculdade de Direito: Universidade de São Paulo, São Paulo, v. 105, p.1121-1156, jan./dez. 2010. Anual. Disponível em: <https://www.revistas.usp.br/rfdusp/article/view/67928/70536>. Acesso em: 28 fev. 2018. p. 1126. 3 SANGUINÉ, Odone. Prisão cautelar, medidas alternativas e direitos fundamentais. [Versão e-reader]. Rio de Janeiro: Forense, 2014. Disponível em: <https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/978-85-309-5816- 9 Copiar>. Acesso em: 05 mar. 2018. 4 GUARDIA, op. cit., p. 1127. 16 O referido instituto é uma medida cautelar de natureza pessoal, sendo destinada a garantir a efetividade processual 5 , afetando diretamente a pessoa do acusado ou investigado, seus direitos e garantias fundamentais ligados à dignidade da pessoa humana. Diante disso, por constituir significativo gravame, possui caráter instrumental, provisório, judicial, excepcional, urgente e aparente 6 , conforme será explicitado a seguir. A cautelaridade da prisão preventiva revela características como a acessoriedade e a referibilidade. Esta se relaciona com a própria finalidade precípua de uma medida cautelar, a qual seja a tutela do direito material, o que evidencia a sua natureza instrumental. 7 A instrumentalidade das medidas cautelares, como a prisão preventiva, é, segundo afirma Andrey Borges de Mendonça, hipotética, tendo em vista que a decretação daquelas é apoiada em um juízo de probabilidade quanto ao resultado final do processo, o qual poderá ser favorável ou não ao requerente da medida. 8 Ademais, a prisão cautelar é instrumento do instrumento 9 ou, consoante Gustavo Badaró, possui uma dupla instrumentalidade. Isso porque esse caráter é inerente ao próprio processo, o qual “não é um fim em si mesmo, mas um instrumento para a realizaçãodo direito material” 10 . Somente mediante aquele, é possível o exercício da persecução penal pelo Estado e, assim, a aplicação da respectiva sanção. Somada a isto, há a instrumentalidade própria da medida, relativa à garantia da eficácia do provimento final do processo, revelando uma instrumentalidade de segundo grau. 11 O caráter de acessoriedade advém da vinculação da prisão preventiva ao processo penal e, assim como este, não possui um fim em si mesmo 12 , porém exige pressupostos próprios que não se confundem com os requisitos e o procedimento do processo 5 LIMA, Renato Brasileiro de. Manual de processo penal: volume único. 5. ed. Salvador: Juspodivm, 2017. p. 1120. 6 GUARDIA, Grogório Edoardo Raphael Selingardi. Prisão Preventiva: Direitos Fundamentais e a Garantia da Ordem Pública. Revista da Faculdade de Direito: Universidade de São Paulo, São Paulo, v. 105, p.1121-1156, jan./dez. 2010. Anual. Disponível em: <https://www.revistas.usp.br/rfdusp/article/view/67928/70536>. Acesso em: 28 fev. 2018, p. 1122. 7 CASTRO, Pedro Machado de Almeida. As medidas cautelares diversas da prisão à luz da proporcionalidade. 2015. 256 f. Dissertação (Mestrado) - Curso de Direito, Universidade de São Paulo, Faculdade de Direito, São Paulo, 2015. p. 25. 8 MENDONÇA, Andrey Borges de. Prisão e outras Medidas Cautelares Pessoais: de acordo com a Lei 12.403/2011. São Paulo: Método, Grupo Gen, 2011. 496 p. Disponível em: <https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/978-85-309-4233-5>. Acesso em: 25 fev. 2018.p.27. 9 FERNANDES, 2002 apud CALAMANDREI, 1945, p. 44-45. 10 BADARÓ, Gustavo Henrique. Processo Penal. 5. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais Ltda., 2017.Disponívelem:<https://proview.thomsonreuters.com/launchapp/title/rt/monografias/104402244/v5>. Acesso em: 24 fev. 2018. 11 Ibidem., acesso em: 24 fev. 2018. 12 Ibidem., acesso em: 21 fev. 2018. 17 principal. 13 Apesar da utilização desse termo (processo principal), a decretação da referida medida não promove a instituição de um processo cautelar autônomo, formalizando-se de forma incidental. 14 Dessa característica decorre outra qualidade da prisão preventiva: a provisioriedade. A necessidade desse instituto está estritamente vinculada à utilidade da decisão judicial final, uma vez que esta é prolatada, não mais se faz preciso a prisão preventiva. Essa qualidade reforça a diferença entre a prisão cautelar e a prisão definitiva, pois aquela somente se da enquanto for necessária para assegurar a efetividade processual. O art. 316, do Código de Processo Penal (CPP) reflete o caráter provisório da medida ao estabelecer a possibilidade de o juiz revogá-la se, durante o processo, “verificar a falta de motivo para que subsista, bem como de novo decretá-la se sobrevierem razões que a justifiquem”. 15 Outro ponto relevante é a concepção da prisão preventiva como a ultima ratio das medidas cautelares de natureza pessoal. 16 A excepcionalidade de tal instituto decorre da consagração da presunção de inocência na Constituição Federal de 1988 (CF/88), a qual afirmou a adoção do sistema acusatório processual penal. Esse sistema considera o acusado como um sujeito de direitos e durante o processo, a sua liberdade é a regra e o encarceramento a exceção. O tratamento a lhe ser despendido deve ser condizente com a condição de inocente, tendo em vista que o réu não pode ser considerado culpado até o trânsito em julgado da sentença. 17 A relação entre a prisão preventiva e a presunção de inocência será mais bem aclarada posteriormente. No momento, é suficiente a compreensão de que esse instituto não deve ser aplicado ampla e irrestritamente, sendo a última opção do magistrado para tutela do resultado do processo. Esse entendimento é reforçado na legislação processual penal (CPP) no §4º do art. 282, o qual dispõe acerca da imposição da prisão preventiva somente em último caso, diante do descumprimento das obrigações estabelecidas por outras medidas, as quais podem 13 SANGUINÉ, Odone. Prisão cautelar, medidas alternativas e direitos fundamentais. [Versão e-reader]. Rio de Janeiro: Forense, 2014. Disponível em: <https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/978-85-309-5816- 9 Copiar>.Acesso em: 21 fev. 2018. 14 LIMA, Marcellus Polastri. Manual de Processo Penal. 2. ed. Rio de Janeiro: Lumes Juris, 2009. p. 473-474. 15 BRASIL. Decreto-lei nº 3.689, de 03 de outubro de 1941. Código de Processo Penal. Rio de Janeiro, Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del3689Compilado.htm>. Acesso em: 21 fev. 2018. 16 MAZON, Cassiano. A Fundamentação das Decisões Judicias e a Prisão Preventiva. 2012. 167 f. Dissertação (Mestrado) - Curso de Direito, Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 2012. p. 87. 17 FERNANDES, Antonio Scarance. Processo penal constitucional. 3. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2002. p. 301. 18 ser substituídas por demais alternativas que não promovem o encarceramento ou cumuladas com estas. 18 A excepcionalidade da medida em questão constitui orientação jurisprudencial do Supremo Tribunal Federal 19 , baseando-se no art. 282, §6º, do CPP, o qual determina a sua aplicabilidade quando não for cabível a sua substituição por outra medida cautelar de natureza pessoal diversa da prisão. 20 Os dispositivos acima foram introduzidos mediante reforma promovida pela Lei nº 12.403/2011, a qual, dentre diversas modificações, estabeleceu um rol de outras medidas cautelares de natureza pessoal, eficientes quanto à proteção e garantia do processo e de bens jurídicos, sem a necessidade de privação total da liberdade do indivíduo. Dessa forma, pôs fim à bipolaridade cautelar do sistema brasileiro, que somente dispunha de duas opções: a prisão cautelar e a liberdade provisória; e melhor compatibilizou o sistema penal com o Estado Democrático de Direito, consagrado pela Constituição Federal de 1988, ao reforçar a prisão preventiva como medida excepcional. 21 Cumpre destacar que a decretação dessa modalidade de prisão está sujeita à reserva de jurisdição 22 , ou seja, somente pode ocorrer após apreciação e decisão do órgão jurisdicional seja durante a investigação preliminar seja no trâmite do processo penal. Tal característica é evidenciada na Carta Magna de 1988, a qual em seu art. 5º, LXI veda a prisão de qualquer indivíduo, salvo se em caso de “flagrante delito” ou havendo “ordem escrita e fundamentada de autoridade judiciária”. 23 18 BRASIL. Decreto-lei nº 3.689, de 03 de outubro de 1941. Código de Processo Penal. Rio de Janeiro, Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del3689Compilado.htm>. Acesso em: 21 fev. 2018. “Art. 282. As medidas cautelares previstas neste Título deverão ser aplicadas observando-se a: (...) §4º No caso de descumprimento de qualquer das obrigações impostas, o juiz, de ofício ou mediante requerimento do Ministério Público, de seu assistente ou do querelante, poderá substituir a medida, impor outra em cumulação, ou, em último caso, decretar a prisão preventiva (art. 312, parágrafo único).” 19 BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Inq nº 3842, AgR-segundo-AgR. Relator: Ministro Dias Toffoli. Diário da Justiça Eletrônico. Brasilia, 03 fev. 2015. Disponível em: <http://www.stf.jus.br/portal/jurisprudencia/listarJurisprudenciaDetalhe.asp?s1=000258832&base=baseAcordao s>. Acesso em: 12 mar. 2018. “A prisão preventiva é a ultima ratio, a derradeira medida a que se deve recorrer, e somente poderá ser imposta se as outras medidas cautelares dela diversas não se mostrarem adequadas ou suficientes para a contenção do periculum libertatis (art. 282, § 6º, CPP).” 20 BRASIL. Decreto-lei nº 3.689, de 03de outubro de 1941. Código de Processo Penal. Rio de Janeiro, Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del3689Compilado.htm>. Acesso em: 21 fev. 2018. 21 MENDONÇA, Andrey Borges de. Prisão e outras Medidas Cautelares Pessoais: de acordo com a Lei 12.403/2011. São Paulo: Método, Grupo Gen, 2011. 496 p. Disponível em: <https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/978-85-309-4233-5>. Acesso em: 25 fev. 2018, p.25. 22 NICOLITT, André. Manual de processo penal. 6. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais Ltda., 2016.Disponível em:<https://proview.thomsonreuters.com/launchapp/title/rt/monografias/99925223/v6>. Acesso em: 24 fev. 2018. 23 BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, Disponível em:<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm>. Acesso em: 28 fev. 2018. 19 A concepção do referido mandamento e fundamento constitucional da prisão preventiva foi reproduzido no art. 283, do Código de Processo Penal, inserido pela Lei nº 12.403/1124. O regramento da prisão provisória permite a sua imposição a qualquer momento do inquérito policial ou do processo penal, a requerimento do Ministério Público, do querelante ou por representação da autoridade policial, ou até mesmo, de ofício, se a ação penal estiver em curso (art. 311, do CPP). 25 Em todas as hipóteses acima o provimento final advém do órgão jurisdicional. A sujeição à reserva de jurisdição encontra razão na necessidade de tutela dos direitos fundamentais do investigado ou acusado, a fim de evitar arbitrariedades por parte do Estado persecutor penal. Destinada a atingir a finalidade de garantia de direitos, e conjugada à jurisdicionalidade da prisão preventiva está a exigência de devida motivação das decisões judiciais que a decretam, conforme determinação constitucional prevista no art. 93, IX, da CF/88 26 sob pena de nulidade do decisório jurisdicional. 27 O art. 315 do Código de Processo Penal reforça a necessidade de fundamentação ao determinar que “a decisão que decretar, substituir ou denegar a prisão preventiva será sempre motivada” 28 . Ademais, a imposição desse instituto está condicionada ao preenchimento de demais requisitos e fundamentos a serem demonstrados na decisão, os quais autorizam a sua decretação. “Art. 5ºLXI - ninguém será preso senão em flagrante delito ou por ordem escrita e fundamentada de autoridade judiciária competente, salvo nos casos de transgressão militar ou crime propriamente militar, definidos em lei;” 24 BRASIL. Decreto-lei nº 3.689, de 03 de outubro de 1941. Código de Processo Penal. Rio de Janeiro, Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del3689Compilado.htm>. Acesso em: 28 fev. 2018. “Art. 283. Ninguém poderá ser preso senão em flagrante delito ou por ordem escrita e fundamentada da autoridade judiciária competente, em decorrência de sentença condenatória transitada em julgado ou, no curso da investigação ou do processo, em virtude de prisão temporária ou prisão preventiva.” 25 Ibidem, acesso em: 28 fev. 2018. 26 BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, Disponível em:<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm>. Acesso em: 28 fev. 2018. “Art. 93. Lei complementar, de iniciativa do Supremo Tribunal Federal, disporá sobre o Estatuto da Magistratura, observados os seguintes princípios: [...] IX - todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário serão públicos, e fundamentadas todas as decisões, sob pena de nulidade, podendo a lei limitar a presença, em determinados atos, às próprias partes e a seus advogados, ou somente a estes, em casos nos quais a preservação do direito à intimidade do interessado no sigilo não prejudique o interesse público à informação;”. 27 NICOLITT, André. Manual de processo penal. 6. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais Ltda., 2016.Disponível em:<https://proview.thomsonreuters.com/launchapp/title/rt/monografias/99925223/v6>. Acesso em: 28 fev. 2018. 28 BRASIL. Decreto-lei nº 3.689, de 03 de outubro de 1941. Código de Processo Penal. Rio de Janeiro, Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del3689Compilado.htm>. Acesso em: 28 fev. 2018. 20 Por fim, o caráter aparente e o urgente da referida medida cautelar estão relacionados respectivamente ao fumus boni iuris e ao periculum in mora 29 , que serão desenvolvidos a seguir. 2.2 Requisitos e fundamentos da prisão preventiva Inicialmente, para a decretação da prisão preventiva, é necessária a verificação de dois pressupostos, comuns a todas as medidas cautelares de natureza pessoal: o fumus boni Iuri (fumus commissi delict) e o periculum in mora (periculum libertatis). Aury Lopes Jr. critica a utilização dos termos Fumus Boni Iuris e Periculum in Mora como pressupostos para a imposição da privação cautelar, os quais são transportados da doutrina processual civilista. 30 Primeiramente, afirma que há uma incongruência do termo fumus boni iuris com a decretação da prisão preventiva, tendo em vista que não seria adequado fundamentá-la, com base na probabilidade de um direito, que no caso, seria o de acusação, mas sim a probabilidade do cometimento de um delito, revelado na prova da materialidade e nos indícios de autoria. Diante disso, demonstra-se mais adequada a nomenclatura fumus commissi delicti para designar o referido pressuposto. 31 O Periculum in mora advém dos riscos e efeitos deletérios provocados pela demora no trâmite processual até o trânsito em julgado de uma sentença, porém, segundo Aury Lopes Jr. “não é o tempo que leva ao perecimento do objeto” 32 no processo penal. O autor defende a utilização do termo periculum libertatis, isso porque a liberdade do acusado é que cria, eventualmente, uma situação de perigo, sendo um risco à efetividade do processo e ao seu desenvolvimento. 33 O termo acima é mais apropriado para indicar o fundamento da prisão preventiva, pois a liberdade do acusado, a depender do caso concreto, é determinante para a decretação da medida cautelar. Contudo, os eventuais riscos são produzidos a partir de uma conjugação entre o fator liberdade e a demora no trâmite processual. 29 GUARDIA, Grogório Edoardo Raphael Selingardi. Prisão Preventiva: Direitos Fundamentais e a Garantia da Ordem Pública. Revista da Faculdade de Direito: Universidade de São Paulo, São Paulo, v. 105, p.1121-1156, jan./dez. 2010. Anual. Disponível em: <https://www.revistas.usp.br/rfdusp/article/view/67928/70536>. Acesso em: 28 fev. 2018, p. 1126. 30 LOPES JR, Aury. Direito Processual Penal. 11. ed. São Paulo: Saraiva, 2014. p. 573. 31 LOPES JR, loc. cit. 32 Ibidem., p. 574. 33 LOPES JR, loc. cit. 21 O processo penal ao buscar desvendar a realidade dos fatos quanto à autoria e à materialidade do crime cometido, desenvolve-se, geralmente, de forma mais lenta. Assim, estando o acusado solto, há maiores riscos de inutilização de provas, fuga e reiteração criminosa, o que repercute na própria eficácia do processo e do seu resultado final. O fumus comissi delict constitui requisito da prisão preventiva, em razão da necessidade de existência de dois elementos fáticos para a sua aplicação, como a presença de sinais mínimos de que o acusado ou indiciado praticou conduta delituosa e a comprovação da ocorrência efetiva desta. Já o periculum in mora compõe fundamento desse instituto. 34 Ambos os pressupostos estão dispostos no art. 312, do CPP: Art. 312. A prisão preventiva poderá ser decretada como garantia da ordem pública, da ordem econômica, por conveniênciada instrução criminal, ou para assegurar a aplicação da lei penal, quando houver prova da existência do crime e indício suficiente de autoria. 35 É possível identificar o fumus commissi delict na segunda parte do dispositivo acima, quanto à “prova da existência do crime e indício suficiente de autoria”. Marcellus Polastri entende que a prova da existência do crime compreende a certeza da ocorrência do delito, isto é, a sua materialidade. Contudo, quanto à autoria, somente se exige indícios suficientes, devendo aquele analisar a probabilidade de o investigado ou acusado ter cometido o crime. 36 O periculum libertatis consubstancia-se nas quatro hipóteses trazidas no art. 312, do CPP: prisão voltada à garantia da ordem pública, da ordem econômica, à conveniência da instrução criminal ou para assegurar a aplicação da lei penal. 37 Quanto à primeira hipótese, Antônio Scarence comenta que o seu fundamento é o risco de reiteração criminosa por parte do réu, o que enseja em riscos de ofensa à ordem publica. Contudo, afirma a existência de questionamentos em relação à natureza cautelar dessa prisão. Isso porque esta, na verdade, se revelaria como uma antecipação da pena por se tratar de uma medida de segurança. 38 Tal entendimento é corroborado por Gustavo Badaró: 34 LOPES JR, Aury. Prisões Cautelares. 5. ed. São Paulo: Saraiva, 2017. Disponível em: <https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788547218263>. Acesso em: 26 fev. 2018. 35 BRASIL. Decreto-lei nº 3.689, de 03 de outubro de 1941. Código de Processo Penal. Rio de Janeiro, Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del3689Compilado.htm>. Acesso em: 28 fev. 2018. 36 LIMA, Marcellus Polastri. Manual de Processo Penal. 2. ed. Rio de Janeiro: Lumes Juris, 2009, p. 557-558. 37 BRASIL. Decreto-lei nº 3.689, de 03 de outubro de 1941. Código de Processo Penal. Rio de Janeiro, Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del3689Compilado.htm>. Acesso em: 01 mar. 2018. 38 FERNANDES, Antonio Scarance. Processo penal constitucional. 3. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2002, p. 302. 22 Em suma, quando se prende para “garantir a ordem pública” não se está buscando a conservação de uma situação de fato necessária para assegurar a utilidade e a eficácia de um futuro provimento condenatório. Ao contrário, o que se está buscando é a antecipação de alguns efeitos práticos da condenação penal. No caso, priva-se o acusado de sua liberdade, ainda que juridicamente tal situação não seja definitiva, mas provisória, é uma forma de tutela antecipada, que propicia uma execução penal antecipada. 39 Assim, é possível compreender que o autor entende pela natureza de tutela antecipada da prisão preventiva fundamentada na ordem pública, o que descaracteriza a sua função como medida cautelar, restringindo abusivamente a liberdade do indivíduo. Contudo, Andrey Borges de Mendonça defende a finalidade acautelatória do instituto com o referido fundamento, afirmando que a prisão processual possui também como objetivo a pacificação social, sendo esta, inclusive, um dos escopos da jurisdição. A prevenção buscada pela instituição de pena é geral, diferenciando-se da promovida pela custódia cautelar, de natureza concreta, dado que esta visa proteger a sociedade e os seus bens jurídicos de fatos delitivos específicos. Diante disso, o referido instituto é tratado como um mal necessário, em razão da vedação à proteção deficiente da sociedade, a qual é atribuída como a outra faceta da prisão preventiva. 40 Ademais, o termo “ordem pública” não possui conceito definido, podendo resultar na realização de interpretações que ampliem as possibilidades de aplicação da prisão preventiva, o que é vedado diante do princípio da legalidade e da taxatividade, regedores do instituto 41 . Estes decorrem do “princípio da tipicidade processual das normas cautelares penais”, baseado na expressão nulla coactio sine lege. 42 , a qual determina que qualquer restrição a direito, ou seja, qualquer tipo de coação imposta ao indivíduo deva ser precedido de previsão legal. A jurisprudência dos Tribunais Superiores admite a decretação da prisão cautelar com base nesse fundamento, desde que haja a comprovação do risco de reiteração delitiva, 39 BADARÓ, Gustavo Henrique. A Prisão Preventiva e o Princípio da Proporcionalidade: propostas de mudanças legislativas. Revista da Faculdade de Direito: Universidade de São Paulo, São Paulo, v. 103, p.381- 408, já./dez. 2008. Disponível em: <http://www.revistas.usp.br/rfdusp/article/view/67811/70419>. Acesso em: 01 mar. 2018. p. 390-391. 40 MENDONÇA, Andrey Borges de. Prisão e outras Medidas Cautelares Pessoais: de acordo com a Lei 12.403/2011. São Paulo: Método, Grupo Gen, 2011. 496 p. Disponível em: <https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/978-85-309-4233-5>, p. 266-267. 41 TAVARES, Leonardo Ribas. Prisão preventiva ontem e hoje: paradigma e diretrizes pela Lei n.º 12.403/2011. 2011. 122 f. Dissertação (Mestrado) - Curso de Direito, Universidade Federal doParaná,Curitiba,2011.Disponívelem:<http://acervodigital.ufpr.br/bitstream/handle/1884/26510/Dissertacao - versao UFPR.pdf?sequence=1>. Acesso em: 28 fev. 2018. p. 34-35. 42 SANGUINÉ, Odone. Prisão cautelar, medidas alternativas e direitos fundamentais. [Versão e-reader]. Rio de Janeiro: Forense, 2014. Disponível em: <https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/978-85-309-5816- 9 Copiar>, Acesso em: 14 mar. 2018. 23 não sendo idônea a utilização da garantia genérica da ordem pública e a gravidade em abstrato do delito “dissociados de quaisquer elementos concretos e individualizados” para motivar a imposição dessa medida excepcional. 43 A mesma justificativa é utilizada para comprovar a cautelaridade da prisão preventiva com base na garantia da ordem econômica. Apesar disso, parte da doutrina ainda questiona tal natureza jurídica, considerando esse tipo de prisão como uma tutela antecipada, voltada a evitar a prática de delitos que ofendem a referida ordem e, assim, “antecipar alguns efeitos práticos da pena” 44 , não tendo como objetivo precípuo a preservação da efetividade e utilidade da sentença final. Além disso, defendem a desnecessidade de previsão de tal fundamento, tendo em vista que o mesmo estaria incluído na ordem pública. Eugênio Pacelli adota esse entendimento na medida em que a liberdade do acusado traz riscos de reiteração delitiva e provocação de maiores danos, o que seria abrangido pelo primeiro fundamento aqui explicitado (ordem pública). Contudo, defende pela inadequação da prisão preventiva quando o risco à ordem econômica advém da magnitude da lesão ocasionada pela conduta delitiva praticada. Veja-se: Parece-nos, contudo, que a magnitude da lesão não seria amenizada e nem diminuídos os seus efeitos com a simples prisão preventiva de seu suposto autor. Se o risco é contra a ordem econômica, a medida cautelar mais adequada seria o sequestro e a indisponibilidade dos bens dos possíveis responsáveis pela infração. Parece-nos que é dessa maneira que se poderia melhor tutelar a ordem financeira, em que há sempre o risco de perdas econômicas generalizadas. 45 No caso de prisão para a aplicação da lei penal e para a conveniência da instrução criminal a natureza cautelar se mostra evidente. O encarceramento voltado à aplicação da lei penal decorre do risco de desaparecimento do acusado, ou seja, é destinado a evitar a sua fuga e, assim, possibilitar a 43 BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Habeas Corpus nº 419290. Relator: Ministro Reynaldo Soares da Fonseca. Diário da Justiça Eletrônico. Brasília, 27 fev. 2018. Disponível em: <http://www.stj.jus.br/SCON/jurisprudencia/toc.jsp?processo=419290&&b=ACOR&thesaurus=JURIDICO&p=true>. Acesso em: 12 mar. 2018. Nesse sentido: BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Habeas Corpus nº 115.623. Relator: Ministra Rosa Weber. Brasília, 28 de maio de 2013. Diário da Justiça Eletrônica. Brasília, 01 jul. 2013. Disponível em: <http://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=TP&docID=4104946>. Acesso em: 12 mar. 2018. “A jurisprudência do Supremo Tribunal Federal admite a prisão preventiva quando as circunstâncias concretas da prática do crime revelam a periculosidade do agente e o risco à ordem pública. Precedentes.” 44 BADARÓ, Gustavo Henrique. A Prisão Preventiva e o Princípio da Proporcionalidade: propostas de mudanças legislativas. Revista da Faculdade de Direito: Universidade de São Paulo, São Paulo, v. 103, p.381- 408, já./dez. 2008. Disponível em: <http://www.revistas.usp.br/rfdusp/article/view/67811/70419>. Acesso em: 01 mar. 2018, p. 391-392. 45 PACELLI, Eugênio. Curso de Processo Penal. 21. ed. São Paulo: Atlas, 2017. p. 263-264. 24 produção de efeitos pelo resultado final sobre ele. 46 A decretação da prisão preventiva com esse fundamento, deve suportar-se em evidências reais que demonstrem a pretensão de fuga do agente. A conveniência da instrução criminal é requisito que se relaciona com a hipótese de a liberdade do réu ou investigado oferecer riscos à colheita dos elementos probatórios, seja quanto à possibilidade de aliciamento de testemunhas e eventuais corréus ou de promover o perecimento de outras provas. 47 A cautelaridade da prisão preventiva instituída com base nesse fundamento é clara, uma vez que a finalidade de evitar a obstaculização da instrução criminal, tutela em último grau a efetividade e utilidade do processo. 48 Na verdade, a decretação da custódia cautelar, nesse caso, não se respalda em um juízo de conveniência, isto é, não há uma discricionariedade do magistrado quanto a sua imposição, mas sim a necessidade de verificar a "indispensabilidade da medida a fim de possibilitar o bom andamento da instrução criminal" 49 . Conforme visto acima, a motivação da prisão preventiva com base em algum dos fundamentos explicitados deve basear-se em questões fáticas plausíveis, aptas a demonstrar a imprescindibilidade dessa medida cautelar, não bastando a simples invocação do art. 312, do CPP. 50 2.3 Hipóteses de cabimento Além da observância dos requisitos e fundamentos acima esclarecidos, para a decretação da prisão preventiva é necessário verificar a presença de uma das hipóteses de cabimento, previstas na legislação processual penal. 46 LIMA, Renato Brasileiro de. Manual de processo penal: volume único. 5. ed. Salvador: Juspodivm, 2017. p.. 970. 47 TAVARES, Leonardo Ribas. Prisão preventiva ontem e hoje: paradigma e diretrizes pela Lei n.º 12.403/2011. 2011. 122 f. Dissertação (Mestrado) - Curso de Direito, Universidade Federal doParaná,Curitiba,2011.Disponívelem:<http://acervodigital.ufpr.br/bitstream/handle/1884/26510/Dissertacao - versao UFPR.pdf?sequence=1>. Acesso em: 28 fev. 2018, p.30. 48 Ibidem, p.31. 49 LIMA, op. cit., p.973. 50 BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Habeas Corpus nº 91386. Brasília, 19 de fevereiro de 2008. Diário da Justiça Eletrônico. Brasilia, 16 maio 2008. Disponível em: <http://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=AC&docID=527317>. Acesso em: 12 mar. 2018. “Segundo a jurisprudência do STF, não basta a mera explicitação textual dos requisitos previstos pelo art. 312 do CPP, mas é indispensável a indicação de elementos concretos que demonstrem a necessidade da segregação preventiva.” 25 Como medida cautelar de natureza pessoal que afeta direitos e garantias fundamentais individuais, especialmente a liberdade, o mencionado instituto rege-se pelo princípio da legalidade, o qual possui fim precípuo de promover a segurança jurídica e proteger os indivíduos contra arbitrariedades do Estado. Acerca da aplicabilidade do referido princípio à prisão preventiva, discorre Odone Snaguiné: Destarte, em todas as formas de prisão provisória tem aplicação o princípio da legalidade10. Tal como sucede com qualquer intervenção do poder público no âmbito dos direitos fundamentais e liberdades públicas, a decretação da prisão provisória ao incidir diretamente no direito à liberdade pessoal exige, como primeiro pressuposto de legitimidade, que haja sido autorizada por uma disposição legal e que a norma legal habilitadora da ingerência reúna as condições mínimas suficientes de segurança jurídica, para aportar ao indivíduo uma proteção adequada contra a arbitrariedade. A aplicação desse pressuposto à prisão provisória exige, não só, que esta medida se instaure e se regule mediante uma lei federal, mas também que somente possa ser decretada nos estritos casos previstos que justificam o sacrifício deste direito fundamental11. 51 Portanto, a imposição da prisão preventiva deve atender estritamente aos ditames legais, estando nestes incluído o rol taxativo de situações que autorizam a decretação da referida medida, compreendido no art. 313, do CPP. 52 É possível ainda concluir que diante da excepcionalidade da prisão preventiva no sistema penal, principalmente, como já afirmado, pela regência do princípio da presunção de inocência, não é permitida a utilização da interpretação analógica ou extensiva a fim de abranger as hipóteses de cabimento previstas na lei. Diante disso, somente é cabível a interpretação realizada de forma estrita 53 . 51 SANGUINÉ, Odone. Prisão cautelar, medidas alternativas e direitos fundamentais. [Versão e-reader]. Rio de Janeiro: Forense, 2014. Disponível em: <https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/978-85-309-5816- 9 Copiar>. Acesso em: 04 mar. 2018. 52 BRASIL. Decreto-lei nº 3.689, de 03 de outubro de 1941. Código de Processo Penal. Rio de Janeiro, Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del3689Compilado.htm>. Acesso em: 01 mar. 2018. “Art. 313. Nos termos do art. 312 deste Código, será admitida a decretação da prisão preventiva: I - nos crimes dolosos punidos com pena privativa de liberdade máxima superior a 4 (quatro) anos; II - se tiver sido condenado por outro crime doloso, em sentença transitada em julgado, ressalvado o disposto no inciso I do caput do art. 64 do Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940 - Código Penal; III - se o crime envolver violência doméstica e familiar contra a mulher, criança, adolescente, idoso, enfermo ou pessoa com deficiência, para garantir a execução das medidas protetivas de urgência; IV - (Revogado pela Lei nº 12.403, de 2011). Parágrafo único. Também será admitida a prisão preventiva quando houver dúvida sobre a identidade civil da pessoa ou quando esta não fornecer elementos suficientes para esclarecê-la, devendo o preso ser colocado imediatamente em liberdade após a identificação, salvo se outra hipótese recomendar a manutenção da medida.” 53 SANGUINÉ, Odone. Prisão cautelar, medidas alternativas e direitos fundamentais. [Versão e-reader]. Rio de Janeiro: Forense, 2014. Disponível em: <https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/978-85-309-5816- 9 Copiar>. Acesso em: 04 mar. 2018. 26 O cabimento da prisão preventiva encontra restrição no art. 283, §1º, do CPP, uma vez que esse dispositivo veda a sua instituição nas infrações em que não for cominada pena privativa de liberdade isolada, cumulativa ou alternativamente. 54 A primeira hipótese elencada no art. 313, do CPP é relativa à aplicação da medida no caso de imputação de crime doloso punido com pena máxima superior a 4 (quatro) anos. O estabelecimento desse limite mínimo se justifica diante da regra geral quanto à possibilidade de substituição de pena privativa de liberdade não superior a 4 (quatro) anos por restritiva dedireitos, desde que o crime tenha sido praticado sem violência ou grave ameaça. 55 O autor Renato Brasileiro justifica o limite acima pelo disposto também no art. 33, §2º, c, do Código Penal (CP), o qual determina que "o condenado não reincidente, cuja pena seja igual ou inferior a 4 (quatro) anos, poderá, desde o início, cumpri-la em regime aberto" 56 . Isso porque na prática, o regime aberto não promove a privação de liberdade, não sendo, assim, adequada a imposição de uma prisão preventiva se ao final do processo o agente não se sujeitará a esse nível de privação. 57 A necessidade de realização desse prognóstico é um dos objetos de estudo desse trabalho e será desenvolvido e explicitado ao final. O inciso II do art. 313 do Código de Processo Penal revela a situação de condenação por outro crime doloso por sentença transitada em julgado, desde que não tenha se passado 5 (cinco) anos entre a data do cumprimento ou extinção da pena e a infração posterior. A condição de reincidente por si só não é apta a ensejar na decretação da prisão preventiva, do contrário, segundo Aury Lopes Jr., configuraria inconstitucionalidade em virtude da ausência do caráter cautelar do encarceramento. Além disso, o autor critica a previsão dessa hipótese, pois caracteriza bis in idem, dado que, sendo reincidente, o agente já teria cumprido sua pena e em virtude do mesmo fato, seria prejudicado. 58 A terceira hipótese de cabimento da prisão preventiva, disposta no inciso III do art. 313, do CPP, possui como fundamento a condição da vítima e o meio social em que é cometido ao estabelecer a admissão da decretação da medida nos crimes que envolvem 54 BRASIL. Decreto-lei nº 3.689, de 03 de outubro de 1941. Código de Processo Penal. Rio de Janeiro, Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del3689Compilado.htm>. Acesso em: 01 mar. 2018. 55 LIMA, Renato Brasileiro de. Manual de processo penal: volume único. 5. ed. Salvador: Juspodivm, 2017. p. 974. 56 BRASIL. Decreto-lei nº 2.848, de 07 de dezembro de 1940. Código Penal. Rio de Janeiro, Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del2848compilado.htm>. Acesso em: 05 mar. 2018. 57 LIMA, op. cit., p. 974. 58 LOPES JR, Aury. Direito Processual Penal. 11. ed. São Paulo: Saraiva, 2014. pp. 106-107. 27 violência doméstica e familiar contra a mulher, criança, adolescente, idoso, enfermo ou pessoa com deficiência a fim de garantir a execução das medidas protetivas de urgência. É possível aferir que a prisão preventiva, nesse caso, possui um elemento teleológico 59 , o qual seja a finalidade exposta acima. A decretação desse instituto se respalda no provável ou no efetivo descumprimento das medidas protetivas de urgência na hipótese de prática de violência doméstica. Contudo, assim como ocorre com a situação descrita no parágrafo único do art. 312, posteriormente desenvolvido, é necessária a verificação de elementos no caso concreto que demonstrem a necessidade da prisão preventiva não bastando o simples descumprimento de medida anterior. 60 Os incisos II e III excepcionam a regra geral trazida na primeira hipótese acerca da aplicação da prisão cautelar em crimes dolosos de pena máxima superior a 4 (quatro) anos. Ademais, todos os incisos configuram casos alternativos, ou seja, basta a ocorrência de um para ser possível decretar a referida medida. No parágrafo único do dispositivo em questão, há a previsão de uma quarta situação autorizadora da imposição do instituto, que se constitui na existência de “dúvida sobre a identidade civil da pessoa ou quando esta não fornecer elementos suficientes para esclarecê-la”. Ocorrendo a identificação do preso, este deve ser, imediatamente, posto em liberdade, “salvo se outra hipótese recomendar a manutenção da medida” 61 . Andrey Borges de Mendonça entende que a referida hipótese de cabimento pode ser invocada mesmo na prática de crimes culposos, de forma excepcional, quando a inexistência de informações suficientes ou a recusa do seu fornecimento possa impedir a aplicação da lei penal. Contudo, é imprescindível que antes da decretação dessa medida o magistrado analise a possibilidade de imposição de medida menos severa apta a alcançar o mesmo fim. 62 Ocorre que, consoante defende Aury Lopes Jr., não há o cabimento da prisão preventiva nesse caso, tendo em vista que a pena não enseja na privação de liberdade, 59 BADARÓ, Gustavo Henrique. Processo Penal. 5. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais Ltda., 2017.Disponívelem:<https://proview.thomsonreuters.com/launchapp/title/rt/monografias/104402244/v5>. Acesso em: 05 mar. 2018. 60 NICOLITT, André. Manual de processo penal. 6. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais Ltda., 2016.Disponívelem:<https://proview.thomsonreuters.com/launchapp/title/rt/monografias/99925223/v6>. Acesso em: 05 mar. 2018. 61 BRASIL. Decreto-lei nº 3.689, de 03 de outubro de 1941. Código de Processo Penal. Rio de Janeiro, Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del3689Compilado.htm>. Acesso em: 05 mar. 2018 62 MENDONÇA, Andrey Borges de. Prisão e outras Medidas Cautelares Pessoais: de acordo com a Lei 12.403/2011. São Paulo: Método, Grupo Gen, 2011. 496 p. Disponível em: <https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/978-85-309-4233-5>. pp. 252-253. 28 devendo o referido inciso ser interpretado sistematicamente com o inciso I do art. 313, do CPP, o qual determina a imposição da prisão cautelar em crimes dolosos com pena máxima superior a 4 (quatro) anos. 63 Além das hipóteses acima de cabimento da denominada prisão autônoma ou originária, há também a previsão da prisão substitutiva na legislação processual, especificamente nos arts. 282, §4º e 312, parágrafo único64, aplicada nos casos de descumprimento de medidas cautelares inicialmente impostas, as quais estabelecem obrigações diversas ao encarceramento, estando previstas nos arts. 319 e 320 do CPP 65 . O art. 282, § 4º ressalta a excepcionalidade do instituto ao estabelecer que este somente deva ser aplicado em “último caso”, sendo, assim, necessária a verificação da possibilidade de imposição de outra medida diversa da prisão ante a decisão de privação total de liberdade do indivíduo. Ademais, o mero descumprimento da medida cautelar não é suficiente por si só para a decretação da prisão preventiva, devendo ser analisada, diante das peculiaridades do caso concreto, a sua indispensabilidade. Gustavo Badaró consagra esse entendimento ao declarar a proibição de se determinar o encarceramento diante de uma presunção de existência do periculum libertatis, baseado somente no descumprimento de medida cautelar diversa inicialmente decretada. Considera-se: 63 LOPES JUNIOR, Aury. Direito Processual Penal. 9. ed. São Paulo: Saraiva, 2012, p. 110. 64 BRASIL. Decreto-lei nº 3.689, de 03 de outubro de 1941. Código de Processo Penal. Rio de Janeiro, Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del3689Compilado.htm>. Acesso em: 05 mar. 2018. “Art. 282. § 4º No caso de descumprimento de qualquer das obrigações impostas, o juiz, de ofício ou mediante requerimento do Ministério Público, de seu assistente ou do querelante, poderá substituir a medida, impor outra em cumulação, ou, em último caso, decretar a prisão preventiva (art. 312, parágrafo único). Art. 312. Parágrafo único. A prisão preventiva também poderá ser decretada em caso de descumprimento de qualquer das obrigações impostas por força de outras medidas cautelares (art. 282, § 4o).” 65 Ibidem, acesso em: 05 mar. 2018. “Art. 319. São medidas cautelares diversas da prisão: I - comparecimento periódico em juízo, no prazo e nas condições fixadaspelo juiz, para informar e justificar atividades; II - proibição de acesso ou frequência a determinados lugares quando, por circunstâncias relacionadas ao fato, deva o indiciado ou acusado permanecer distante desses locais para evitar o risco de novas infrações; III - proibição de manter contato com pessoa determinada quando, por circunstâncias relacionadas ao fato, deva o indiciado ou acusado dela permanecer distante; IV - proibição de ausentar-se da Comarca quando a permanência seja conveniente ou necessária para a investigação ou instrução; V - recolhimento domiciliar no período noturno e nos dias de folga quando o investigado ou acusado tenha residência e trabalho fixos; VI - suspensão do exercício de função pública ou de atividade de natureza econômica ou financeira quando houver justo receio de sua utilização para a prática de infrações penais; VII - internação provisória do acusado nas hipóteses de crimes praticados com violência ou grave ameaça, quando os peritos concluírem ser inimputável ou semi-imputável (art. 26 do Código Penal) e houver risco de reiteração; VIII - fiança, nas infrações que a admitem, para assegurar o comparecimento a atos do processo, evitar a obstrução do seu andamento ou em caso de resistência injustificada à ordem judicial; IX - monitoração eletrônica. [...] § 4o A fiança será aplicada de acordo com as disposições do Capítulo VI deste Título, podendo ser cumulada com outras medidas cautelares. Art. 320. A proibição de ausentar-se do País será comunicada pelo juiz às autoridades encarregadas de fiscalizar as saídas do território nacional, intimando-se o indiciado ou acusado para entregar o passaporte, no prazo de 24 (vinte e quatro) horas.” 29 Não é possível aceitar que o simples descumprimento baste para o que juiz possa – ou o que seria pior, deva – decretar a prisão preventiva. Se assim se interpretar o dispositivo, estar-se-á diante de uma hipótese de periculum libertatis abstrato, independentemente da análise do perigo no caso concreto.147 Há uma varida gama de medidas alternativas à prisão, e o descumprimento de uma medida de pouca restrição não parece justificar op lege a imposição da medida excepcional. Pode ser que uma medida intermediária baste para resolver a necessidade cautelar que o caso exige. Por outro lado, há casos de graves descumprimentos e hipóteses de pequenos desvios. Nestes últimos, a cumulação com outra medida ou a sua substituição por outra mais gravosa, ainda que não a prisão, basta! 66 O Código de Processo Penal prevê um terceiro “tipo” de prisão preventiva, resultante de uma situação de flagrância delituosa que ensejou na privação de liberdade do indivíduo, isto é, constitui a hipótese de conversão da prisão em flagrante em prisão preventiva, desde que presentes os termos do art. 312, do CPP e quando não for possível a imposição de medidas cautelares alternativas de natureza pessoal (art. 310, II, do CPP). 67 Conforme explicitado anteriormente, a decretação da prisão preventiva exige o atendimento de pressupostos fáticos e o enquadramento em alguma das hipóteses de admissibilidade. Contudo, é preciso que o magistrado também analise o caso de forma a averiguar a existência ou não de excludentes de ilicitude. Segundo o art. 314, do Código de Processo Penal 68 , é vedada a decretação da prisão preventiva quando constatado pelas provas presentes nos autos que o crime foi cometido por agente amparado pelas justificantes dispostas no art. 23 do Código Penal69, as quais sejam o estado de necessidade, a legítima defesa e o estrito cumprimento de dever legal ou exercício regular de direito. Nesse caso, é evidente que a liberdade do acusado não gerará qualquer risco à efetividade processual. Isso porque as circunstâncias que circundam o crime cometido não revelam a possibilidade de reiteração delitiva, fuga ou de prática de atos por parte do acusado voltada à depreciação de provas, o que demonstra a desnecessidade e justifica a proibição de imposição da prisão preventiva. A despeito da verificação de existência dos requisitos, fundamentos e hipóteses de cabimento, acima esclarecidos, é necessária a observância de determinados princípios 66 BADARÓ, Gustavo Henrique. Processo Penal. 5. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais Ltda., 2017.Disponívelem:<https://proview.thomsonreuters.com/launchapp/title/rt/monografias/104402244/v5>. Acesso em: 05 mar. 2018. 67 BRASIL. Decreto-lei nº 3.689, de 03 de outubro de 1941. Código de Processo Penal. Rio de Janeiro, Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del3689Compilado.htm>. Acesso em: 15 mar. 2018. 68 Ibidem, acesso em: 05 mar. 2018. 69 BRASIL. Decreto-lei nº 2.848, de 07 de dezembro de 1940. Código Penal. Rio de Janeiro, Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del2848compilado.htm>. Acesso em: 05 mar. 2018. “Art. 23. Não há crime quando o agente pratica o fato: I – em estado de necessidade; II – em legítima defesa; III – em estrito cumprimento de dever legal ou no exercício regular de direito.” 30 constitucionais para verificar a possibilidade de aplicação da prisão preventiva, de forma a evitar que o instituto configure instrumento de arbitrariedades do Estado e não se volte ao exercício de seu fim precípuo, o qual seja cautelar a efetividade processual. 31 3 OS PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS NORTEADORES DA APLICAÇÃO DA PRISÃO PREVENTIVA A força normativa da Constituição e a sua supremacia no ordenamento jurídico impõe que as normas processuais sejam interpretadas conforme o que nela é disposto. 70 Os princípios constitucionais são vetores imprescindíveis para a interpretação e aplicação dos institutos de todos os ramos do direito, como os do processo penal. O processo penal em si, como instrumento permissor da persecução penal, deve ser “constituído a partir da Constituição”, sendo caracterizado como democrático e tendo como finalidade precípua a limitação do poder estatal e a “efetivação das garantias constitucionais”, pois somente mediante a observância destas será possível a legitima aplicação da pena. 71 Do mesmo modo, conforme será visto a seguir, a prisão preventiva, como instituto que compõe o processo, deve ser interpretada e aplicada segundo os mandamentos constitucionais, em especial o devido processo legal, a presunção de inocência, a razoável duração do processo e a proporcionalidade, consagradores do direito à liberdade e da dignidade da pessoa humana, de forma a condizer com a função garantista do sistema processual penal afirmado pela Constituição. 72 3.1 O devido processo legal Como visto anteriormente, o processo possui caráter instrumental, sendo uma garantia de proteção a direitos do indivíduo e o único meio possível para a imposição de sanções penais por parte do Estado. Diante disso, o processo deve está “em conformidade com o Direito” 73 , a fim de evitar ações estatais arbitrárias e, assim, promover um procedimento justo e isonômico 74 . 70 FERNANDES, Antonio Scarance. Processo penal constitucional. 3. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2002, pp. 119-121. 71 LOPES JUNIOR, Aury. Fundamentos do processo penal: introdução crítica. 3. ed. São Paulo: Saraiva, 2017, pp. 29-30. 72 REBOUÇAS, Sérgio. Curso de direito processual penal. Salvador: Juspodivm, 2017, pp. 70-72. 73 DIDIER JUNIOR, Fredie. Curso de direito processual civil: Introdução ao direito processual civil, parte geral e processo de conhecimento. 19. ed. Salvador: Jus Podivm, 2017, p. 73. 74 MEDINA, Eduardo Coelho Sauandaj. A aplicação da prisão preventiva em face dos princípios constitucionais do devido processo legal e presunção de inocência. 2010. 78 f. TCC (Graduação) - Curso de Direito, Centro de Ciências Sociais e Jurídicas,Universidade do Vale do Itajaí, Itajaí, 2010, p. 21. 32 Essa concepção advém do princípio do devido processo legal, consagrado na Constituição, no seu art. 5º, LIV: “ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal” 75 . Fred Didier Jr. o conceitua como princípio de conteúdo complexo, do qual se extraem outras normas e direitos fundamentais, estruturantes de um modelo constitucional de processo brasileiro 76 . O desrespeito a algum desses preceitos viola diretamente a construção de um processo justo e devido, bem como a constituição e consecução de um Estado Democrático de Direito, no qual o poder estatal sofre limitações. 77 O referido princípio é direito fundamental e possui duas dimensões, uma substancial e outra formal ou procedimental. Esta corresponde à concepção acerca do devido processo legal como um conjunto de garantias processuais. Já a dimensão substancial relaciona o princípio como um “fundamento constitucional das máximas da proporcionalidade e da razoabilidade” 78 , vedando a elaboração e aplicação de normas injustas e desarrazoadas 79 , bem como atividades estatais arbitrárias. O devido processo legal é de observância obrigatória no sistema penal, tendo em vista que este pode promover interferências mais gravosas na esfera jurídica do indivíduo, como no seu status libertatis. Muitos autores denominam esse princípio de devido processo penal, conceituando-o como fonte das garantias processuais a serem respeitadas e seguidas no exercício da persecução penal 80 . São exemplos de algumas dessas garantias processuais: o tratamento do acusado segundo à presunção de inocência, o direito de defesa (ampla defesa e contraditório), a razoável duração do processo, a garantia do juiz natural e imparcial, o tratamento paritário entre as partes, a publicidade dos atos processuais, a motivação das decisões judiciais, a vedação às provas ilícitas, o direito a não autoincriminação, a legalidade da execução penal, além de outras prerrogativas constitucionais. 81 75 BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, Disponível em:<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm>. Acesso em: 10 mar. 2018. 76 DIDIER JUNIOR, Fredie. op cit., pp. 74-77. 77 NAKAHARADA, Carlos Eduardo Mitsuo. Prisão preventiva: direito à razoável duração e necessidade de prazo legal máximo. 2015. 152 f. Dissertação (Mestrado) - Curso de Direito, Faculdade de Direito, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2015, p.24. 78 DIDIER JUNIOR, op cit., p. 78. 79 FERNANDES, Antonio Scarance. Processo penal constitucional. 3. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2002, p. 43. 80 FERNANDES, Antonio Scarance. Processo penal constitucional. 3. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2002, p. 42. No mesmo sentido: TUCCI, Rogério Lauria. Direitos e garantias individuais no processo penal brasileiro. 4. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2011 p. 79. 81 TUCCI, Rogério Lauria. Direitos e garantias individuais no processo penal brasileiro. 4. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2011, pp. 65-73. 33 Cumpre afirmar que o mencionado princípio, como fonte de mandamentos constitucionais garantidores, em especial da presunção de inocência, da razoável duração do processo e da proporcionalidade, este na sua concepção substancial, está intimamente relacionado à garantia do direito de liberdade de um indivíduo, cuja interferência não deve ocorrer de forma desmedida e abusiva. Nessa concepção, Rogério Lauria Tucci defende a existência de três postulados básicos do devido processo penal: E tudo isso, com pleno vigor de três postulados básicos, quais sejam os atinentes à inadmissibilidade de sujeição à persecutio criminis sem que tenha ocorrido a prática de fato típico, antijurídico e culpável, e haja, correlatamente, indícios de autoria (nulla informatio delicti sine crimen et culpa); à jurisdicionalização da imposição de pena ou de medida de segurança (nulla poena sine iudicio); e à vedação de realização satisfativa do ius puniendi, provisória ou definitivamente, antes de transitada em julgado sentença condenatória (nulla executio sine titulo). 82 O último postulado explicitado demonstra a vedação da antecipação da pena antes do trânsito em julgado da sentença em razão da observância do devido processo legal. A privação de liberdade do indivíduo durante o trâmite processual não pode ocorrer sem o respeito aos direitos e garantias fundamentais, o que repercute na natureza e finalidade da prisão preventiva. Consoante já analisado no capítulo anterior, esse instituto somente é permitido quando determinado por autoridade judiciária competente mediante decisão escrita e motivada e nos casos estritamente definidos em lei (art.5º, LXI, da CF/88 83 ). Além disso, a lei e a Constituição impõem a sua funcionalidade destinada à tutela da efetividade processual, tendo em vista o próprio postulado da presunção de inocência (Art. 5º, LVII, da CF/88 84 ), o qual será desenvolvido a seguir, vedando a antecipação da "realização satisfativa do ius puniende". O instituto se revelaria inconstitucional no momento em que se voltasse à finalidade retributiva. 85 Dessa forma, segundo entende Odone Sanguiné, a prisão preventiva não é ilegítima frente ao devido processo legal, não configurando este um "obstáculo constitucional" à imposição daquela, conquanto que atendido os "pressupostos e finalidades constitucionalmente legítimas" do referido princípio. Isso porque, a determinação de medidas 82 TUCCI, loc cit. 83 BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, Disponível em:<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm>. Acesso em: 02 maio. 2018. 84 Ibidem, acesso em: 02 maio 2018. 85 SANGUINÉ, Odone. Prisão cautelar, medidas alternativas e direitos fundamentais. [Versão e-reader]. Rio de Janeiro: Forense, 2014. Disponível em: <https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/978-85-309-5816- 9 Copiar>. Acesso em: 29 mar. 2018. 34 cautelares é, a depender do caso concreto, imprescindível à tutela da eficácia do processo, assim, a prisão provisória deve ser voltada a atender apenas a este fim, não podendo configurar em antecipação de pena. 86 3.2 A presunção de inocência O princípio da presunção de inocência ou da não-culpabilidade decorre do devido processo legal, configurando garantia fundamental do acusado indispensável no sistema processual penal acusatório. O referido princípio tem papel imprescindível de garantia da dignidade da pessoa humana do indivíduo. Ademais, alguns autores preferem denominá-lo como um estado de inocência, integrante da natureza humana e, por isso, se afirma que há uma presunção desse estado, considerado natural, sendo a culpa uma situação de excepcionalidade. 87 A Constituição Federal no seu art. 5º, LVII prevê a presunção de inocência ao dispor que “ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória” 88 . A incidência dessa determinação impõe um regime de tratamento ao acusado no trâmite do processo, assegurando-lhe, nas palavras de Tucci, “o direito de ser considerado inocente até que sentença penal condenatória venha a transitar formalmente em julgado, sobrevindo, então, a coisa julgada de autoridade relativa” 89 . Diante disso, durante o andamento do processo, devem ser respeitados os direitos e garantias individuais do acusado, já especificadas ao longo deste trabalho, o que inclui assegurar o seu status libertatis, vedando a antecipação da pena antes da condenação, observado o devido processo legal. 90 Outrossim, decorre desse regime regras de distribuição probatóriae de julgamento. A primeira estabelece que o ônus de prova no processo penal é exclusivamente da acusação, ou seja, esta deve comprovar a autoria e materialidade imputada ao acusado, o qual 86 SANGUINÉ, Odone. Prisão cautelar, medidas alternativas e direitos fundamentais. [Versão e-reader]. Rio de Janeiro: Forense, 2014. Disponível em: <https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/978-85-309-5816- 9 Copiar>. Acesso em: 02 maio 2018 87 NUCCI, Guilherme de Souza. Princípios constitucionais penais e processuais penais. 3. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2013, pp. 285-286. 88 BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, Disponível em:<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm>. Acesso em: 30 abril. 2018. 89 TUCCI, Rogério Lauria. Direitos e garantias individuais no processo penal brasileiro. 4. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2011, p. 321. 90 GONÇALVES, Marianna Moura. Prisão e outras medidas cautelares pessoais à luz da proporcionalidade. 2011. 496 f. Dissertação (Mestrado) - Curso de Direito, Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, São Paulo, 2011, p. 129. 35 não possui o dever de provar sua inocência. Isto impõe a observância da segunda regra, uma vez que é necessário um juízo de certeza para a condenação do indivíduo. A existência de dúvida razoável determina a sua absolvição, diante do princípio do in dubio pro reo. 91 Contudo, cumpre afirmar que o presente trabalho se focalizará na presunção de inocência quanto à regra de tratamento relacionada ao status libertatis do acusado, durante o processo, e a sua compatibilidade com a prisão preventiva. O referido tema é objeto de controvérsia doutrinária. 92 Isso porque o instituto em questão enseja no cerceamento da liberdade do indivíduo antes da constatação da culpabilidade do acusado, o qual, segundo a Constituição Federal de 1988, se dá somente com o trânsito em julgado da sentença condenatória, assim, de forma aparente, a prisão preventiva contradiz o disposto na presunção de inocência. Luigi Ferrajoli, defensor do garantismo penal, apresenta o princípio como "fruto de uma opção garantista a favor da tutela da imunidade dos inocentes, ainda que ao custo da impunidade de algum culpado" 93 e defende a sua incompatibilidade com a prisão preventiva. Segundo o autor, o cerceamento cautelar da liberdade é feito sem um prévio julgamento, ofendendo "o sentimento comum de justiça" 94 , revelando-se como uma arbitrariedade, além de afetar a eficácia das demais garantias e direitos do acusado. Critica, também, os fundamentos autorizadores da sua decretação, como a "prevenção" e "defesa social", próprios da aplicação de uma pena definitiva, ensejando em uma “presunção de culpabilidade” 95 . Quanto ao “perigo de fuga e de deterioração das provas” 96 , Ferrajoli entende pela desproporcionalidade da prisão cautelar frente a esses fundamentos, evidenciando-se um gravame desnecessário. A primeira hipótese seria resolvida com a simples condução coercitiva do indivíduo perante o magistrado por tempo necessário para seu interrogatório. Já a fuga do acusado, o autor entende que esta é decorrente do medo referente à pena e não à prisão, questionando o próprio sistema penal, a fim de defender a redução das penas, o que repercutiria no desaparecimento da prisão preventiva. 97 91 LOPES JUNIOR, Aury. Prisões Cautelares. 5. ed. São Paulo: Saraiva, 2017. Disponível em: <https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788547218263>. Acesso em: 29 abril. 2018. 92 GONÇALVES, op cit., pp. 128-129. 93 FERRAJOLI, Luigi. Direito e razão: teoria do garantismo penal. 3. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2002. Tradução: Ana Paula Zomer, Fauzi Hassan Choukr, Juarez Tavares e Luiz Flávio Gomes, p. 441. 94 Ibidem, p. 446. 95 FERRAJOLI, Luigi. Direito e razão: teoria do garantismo penal. 3. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2002. Tradução: Ana Paula Zomer, Fauzi Hassan Choukr, Juarez Tavares e Luiz Flávio Gomes, p. 444. 96 Ibidem, p. 445. 97 Ibidem, pp. 446-448. 36 Por fim, para o autor, a liberdade do acusado deve ser preservada dada a presunção de inocência mesmo que isto traga custos ao sistema de persecução penal. 98 Apesar do aparente embate entre os institutos, a supressão da prisão preventiva levaria à renúncia do próprio processo. Ademais, a própria Constituição Federal de 1988 promoveu a coexistência de ambos ao tratá-los no rol de direitos fundamentais de forma coordenada (arts. 5º, LVII e LXI, CF/88 99 ). 100 Considerando-se que a lei maior deve ser interpretada como um todo harmônico, é devido concluir pela possível compatibilidade entre ambos os institutos. Contudo, é importante frisar que a liberdade do acusado, consectária da presunção de inocência, é a regra, e a constrição cautelar a exceção no sistema processual penal. Gustavo Badaró defende o entendimento acima explicitado, desde que a privação de liberdade possua natureza estritamente cautelar e não importe em "execução penal provisória ou antecipada" 101 . Nesse sentido, também é o entendimento de Odone Sanguiné: Destarte, se a presunção de inocência não chega a ser totalmente incompatível com o instituto da prisão preventiva, contém uma regra de tratamento do imputado que desempenha a função de limite teleológico da prisão preventiva: a legitimidade da prisão provisória depende da legitimidade dos fins que lhe são atribuídos. Somente há incompatibilidade quando essa medida cautelar for aplicada com autonomia em relação ao processo, isto é, com a finalidade de antecipação da pena. A presunção de inocência proíbe a utilização da prisão provisória com a finalidade de antecipar a pena ou medida de segurança, sem o devido processo legal, isto é, fins de retribuição ou de prevenção geral ou especial33. 102 A presunção de inocência constrange a prisão preventiva à observância de certos limites, os quais a caracterizam como medida excepcional, provisória, instrumental e 98 FERRAJOLI, Luigi. Direito e razão: teoria do garantismo penal. 3. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2002. Tradução: Ana Paula Zomer, Fauzi Hassan Choukr, Juarez Tavares e Luiz Flávio Gomes, p. 449. 99 BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, Disponível em:<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm>. Acesso em: 27 abril. 2018. “Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: LVII - ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória; LXI - ninguém será preso senão em flagrante delito ou por ordem escrita e fundamentada de autoridade judiciária competente, salvo nos casos de transgressão militar ou crime propriamente militar, definidos em lei;” 100 SANGUINÉ, Odone. Prisão cautelar, medidas alternativas e direitos fundamentais. [Versão e-reader]. Rio de Janeiro: Forense, 2014. Disponível em: <https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/978-85-309- 5816-9 Copiar>. Acesso em: 27 abril. 2018. 101 BADARÓ, Gustavo Henrique. Processo Penal. 5. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais Ltda., 2017.Disponívelem:<https://proview.thomsonreuters.com/launchapp/title/rt/monografias/104402244/v5>. Acesso em: 22 abril 2018. 102 SANGUINÉ, op cit., acesso em: 22 abr. 2018. 37 dependente de decisão judicial motivada, como desenvolvido no primeiro capítulo deste trabalho. Na visão de Aury Lopes Jr., o referido princípio érelativizado, de forma a possibilitar a coexistência com a prisão cautelar, porém esta somente é possível quando respeitada o que o autor denomina de base principiológica da prisão preventiva, constituída pelos limites acima mencionados: “jurisdicionalidade e motivação, contraditório quando possível, excepcionalidade, proporcionalidade, provisoriedade e provisionalidade”. 103 O Supremo Tribunal Federal (STF) desde o advento da Constituição de 1988 afirmou entendimento quanto à conformidade entre a prisão preventiva e a presunção de inocência 104 , desde que aquela não importe em punição antecipada, tendo em vista a prevalência do princípio da liberdade no sistema processual penal, baseado no Estado Democrático de Direito. O instituto jurídico deve se restringir a sua função cautelar de tutela da efetividade do processo. 105 Dessa forma, a finalidade acautelatória da prisão preventiva, marcada pela observância das condicionantes legais e constitucionais e do estrito cumprimento dos requisitos, fundamentos e hipóteses de cabimento legais (tratados no tópico 1.2 e 1.3), em observância à presunção de inocência, deve ser a única justificante da privação de liberdade do indivíduo antes de sentença condenatória transitada em julgado, sob pena de configurar antecipação punitiva e, assim, violar o mandamento constitucional norteador do sistema processual penal acusatório (art. 5º, LVII, da CF/88 106 ). 3.3 A razoável duração do processo O trâmite do processo penal ao envolver a solução e o esclarecimento dos fatos ocorridos, muitas vezes, complexos, desenvolve-se de forma mais prolongada, a qual pode 103 LOPES JUNIOR, Aury. Prisões Cautelares. 5. ed. São Paulo: Saraiva, 2017. Disponível em: <https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788547218263>. Acesso em: 26 abr. 2018. 104 BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Habeas Corpus nº 104139. Relator: Ministro Luiz Fux. Diário da Justiça Eletrônico. Brasília, 06 set. 2011. Disponível em: <http://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=AC&docID=627126>. Acesso em: 27 abr. 2018. Nesse sentido: STF, 1ª Turma, HC 94.156/SP, Relator Min. Menezes Direito, Julgamento em 03.03.2009; STF, 1ª Turma, HC 70.486/PB, Relator Min. Moreira Alves, Julgamento em 03.05.1994; STF, 2ª Turma, HC 81.468/SP, Relator Min. Carlos Velloso, Julgamento em 29.10.2002. 105 BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Habeas Corpus nº 100948. Relator: Ministro Celso de Mello. Diário da Justiça Eletrônico. Brasília, 18 dez. 2013. Disponível em: <http://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=TP&docID=5059025>. Acesso em: 27 abr. 2018. 106 BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, Disponível em:<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm>. Acesso em: 28 abr. 2018. 38 por em risco a própria efetividade processual e, por isso, se faz necessária a utilização de medidas cautelares como a prisão preventiva. Ocorre que a simples invocação de uma medida cautelar voltada à tutela final do processo não permite nem legitima que o desenrolar deste ocorra por prazo irrazoável. É direito fundamental constitucionalmente previsto a razoável duração do processo. O art. 5º, LXXVIII da Carta Magna determina que “a todos, no âmbito judicial e administrativo, são assegurados a razoável duração do processo e os meios que garantam a celeridade de sua tramitação” 107 . Esse princípio é proporcionado mediante um equilíbrio entre a celeridade processual e a observância das garantias processuais, como o contraditório, a ampla defesa e outros decorrentes do devido processo legal. 108 O procedimento judicial deve se desenvolver sem dilações indevidas, de forma que este se desdobre e finalize em um prazo considerado razoável. 109 Tal entendimento deve repercutir no tempo de duração da prisão preventiva, não podendo esta se estender de forma desmedida em função apenas da lentidão processual. A provisoriedade desse instituto, relacionada ao surgimento da decisão final, pressupõe mesmo que de forma indireta a sua transitoriedade, do contrário, o instituto se transmuda em uma medida de caráter definitivo, perdendo a sua finalidade acautelatória e afetando as garantias processuais do acusado, como o devido processo legal e a presunção de inocência. O Código de Processo Penal não prevê prazo máximo para a prisão preventiva. A jurisprudência diante dessa indeterminação procurou estipular limite temporal a fim de averiguar o excesso de prazo, uma vez que este configura constrangimento ilegal. Essa condição deve ser imediatamente cessada com a liberação do preso, assim determina a Constituição Federal no seu art. 5º, LXV: "a prisão ilegal será imediatamente relaxada pela autoridade judiciária" 110 . O Código de Processo Penal também qualifica como indevida a coação quando alguém se encontra preso por mais tempo do que determina a lei (art. 648, II 111 ). 112 107 BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, Disponível em:<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm>. Acesso em: 28 abr. 2018. 108 NAKAHARADA, Carlos Eduardo Mitsuo. Prisão preventiva: direito à razoável duração e necessidade de prazo legal máximo. 2015. 152 f. Dissertação (Mestrado) - Curso de Direito, Faculdade de Direito, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2015, p. 17. 109 TUCCI, Rogério Lauria. Direitos e garantias individuais no processo penal brasileiro. 4. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2011 p. 216-220. 110 BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, Disponível em:<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm>. Acesso em: 28 abr. 2018. 111 BRASIL. Decreto-lei nº 3.689, de 03 de outubro de 1941. Código de Processo Penal. Rio de Janeiro, Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del3689Compilado.htm>. Acesso em: 07 mar. 2018. 39 Inicialmente, o limite de prazo era de 81 (oitenta e um) dias para a conclusão do processo penal, resultante do somatório dos prazos dos atos processuais decorrentes do antigo procedimento ordinário aplicado aos crimes com pena de reclusão. Posteriormente o entendimento modificou-se quanto ao termo final do prazo, o qual passou da sentença para a instrução criminal. Os oitenta e um dias deveriam ocorrer entre a prisão e a conclusão daquela, conforme foi consolidado nas súmulas nº 21 e nº 52 do Superior Tribunal de Justiça (STJ) 113 : Súmula nº. 21. Pronunciado o réu, fica superada a alegação de constrangimento ilegal por excesso de prazo na instrução. 114 Súmula nº. 52. Encerrada a instrução criminal, fica superada a alegação de constrangimento por excesso de prazo. 115 Antônio Scarance disserta que prevaleceu, na época, a doutrina que defendia a verificação do tempo de forma global, contando todos os prazos dos atos processuais, não configurando excesso a inobservância da duração legal de um ato isolado, o que poderia ser compensado no decorrer do processo. Além disso, afirma que o excesso a esse limite não configurava automaticamente o constrangimento ilegal, admitindo prorrogações conforme a razoabilidade e as peculiaridades do caso concreto. 116 A identificação do excesso de prazo na prisão preventiva, adotou outros parâmetros, como o limite temporal para a conclusão do inquérito policial em 10 (dez) dias, no caso de indiciado preso, bem como o prazo de 5 (cinco) dias para o oferecimento da denúncia a partir o recebimento dos autos pelo Ministério Público 117 . As leis extravagantes também previram prazos diversos quanto a esses casos, como a lei que trata dos crimes112 LIMA, Renato Brasileiro de. Manual de processo penal: volume único. 5. ed. Salvador: Juspodivm, 2017, p. 982 113 LIMA, op cit., pp. 982-983. 114 BRASL. Superior Tribunal de Justiça. Súmula nº 21. Diário da Justiça. Brasília, 11 dez. 1990. Disponível em: <http://www.stj.jus.br/SCON/SearchBRS?b=SUMU&livre=@docn='000000021'>. Acesso em: 25 abr. 2018. 115 BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Súmula nº 52. Diário da Justiça. Brasília, 24 set. 1992. Disponível em: <http://www.stj.jus.br/SCON/SearchBRS?b=SUMU&livre=@docn='000000052'>. Acesso em: 25 abr. 2018. 116 FERNANDES, Antonio Scarance. Processo penal constitucional. 3. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2002, pp. 119-121. 117 BRASIL. Decreto-lei nº 3.689, de 03 de outubro de 1941. Código de Processo Penal. Rio de Janeiro, Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del3689Compilado.htm>. Acesso em: 25 abr. 2018. “Art. 10. O inquérito deverá terminar no prazo de 10 dias, se o indiciado tiver sido preso em flagrante, ou estiver preso preventivamente, contado o prazo, nesta hipótese, a partir do dia em que se executar a ordem de prisão, ou no prazo de 30 dias, quando estiver solto, mediante fiança ou sem ela; Art. 46. O prazo para oferecimento da denúncia, estando o réu preso, será de 5 dias, contado da data em que o órgão do Ministério Público receber os autos do inquérito policial, e de 15 dias, se o réu estiver solto ou afiançado. No último caso, se houver devolução do inquérito à autoridade policial (art. 16), contar-se-á o prazo da data em que o órgão do Ministério Público receber novamente os autos.” 40 cometidos por organizações criminosas, lei nº 12.850/13, que prevê o prazo de 120 (cento e vinte) dias prorrogáveis por igual período mediante decisão fundamentada para a conclusão da instrução criminal quando preso o réu 118 . 119 Ressalta-se que esses limites temporais não possuem caráter absoluto, sendo constantemente relativizados pela jurisprudência e doutrina. Tal entendimento decorre da adoção pelo sistema processual penal da chamada “Doutrina do Não-Prazo”, que, conforme Aury Lopes Jr., compreende a “ausência de prazos processuais com uma sanção pelo descumprimento” 120 . Edilson Mougenot entende que o desrespeito a esses prazos, com a sua consequente prorrogação, somente seria possível em virtude da complexidade da causa ou por atos protelatórios praticados pelo próprio imputado. Quanto a isto, o Superior Tribunal de Justiça formulou súmula de nº 64, firmando tal entendimento ao dispor que "não constitui constrangimento ilegal o excesso de prazo na instrução, provocado pela defesa". 121 Cumpre observar que a referida súmula não especifica que a provocação da defesa deva ser de forma protelatória, o que, segundo Renato Brasileiro, abriu espaço para que a jurisprudência entendesse pela ausência de constrangimento ilegal, em virtude do mero exercício do direito de defesa do acusado, o que pode ser fator “inibidor das faculdades processuais do defensor” 122 . Nesse sentido, o autor discorre: Sem embargo desse entendimento, parece-nos que da utilização dos meios legais postos à disposição do acusado e de seu defensor não lhes pode resultar qualquer gravame. Ninguém pode sofrer qualquer espécie de punição simplesmente por fazer uso de um recurso previsto em lei, sob pena de obrigarmos a defesa a não recorrer, a não arrolar testemunhas, a fim de que possa arguir eventual excesso de prazo. Impõe-se diferenciar, portanto, o uso normal do direito de defesa, com o exercício das suas faculdades procedimentais decorrentes do pleno contraditório judicial, seja 118 BRASIL. Lei nº 12.850, de 02 de agosto de 2013. Brasília, DF, Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2013/lei/l12850.htm>. Acesso em: 02 maio 2018. “Art. 22. Os crimes previstos nesta Lei e as infrações penais conexas serão apurados mediante procedimento ordinário previsto no Decreto-Lei nº 3.689, de 3 de outubro de 1941 (Código de Processo Penal), observado o disposto no parágrafo único deste artigo. Parágrafo único. A instrução criminal deverá ser encerrada em prazo razoável, o qual não poderá exceder a 120 (cento e vinte) dias quando o réu estiver preso, prorrogáveis em até igual período, por decisão fundamentada, devidamente motivada pela complexidade da causa ou por fato procrastinatório atribuível ao réu.” 119 BONFIM, Edilson Mougenot. Curso de processo penal. 12. ed. São Paulo: Saraiva, 2017, pp. 607. 120 LOPES JUNIOR, Aury. Direito Processual Penal. 11. ed. São Paulo: Saraiva, 2014, p. 126. 121 BOMFIM, op cit., p. 607. 122 LIMA, Renato Brasileiro de. Manual de processo penal: volume único. 5. ed. Salvador: Juspodivm, 2017, pp. 989-990. Nesse sentido: BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Recurso Ordinário em Habeas Corpus nº 71390. Relator: Ministro Ribeiro Dantas. Diário da Justiça Eletrônico. Brasília, 12 maio 2017. Disponível em: <http://www.stj.jus.br/SCON/SearchBRS?b=ACOR&livre=@docn='000029734'>. Acesso em: 28 abr. 2018. “Nos moldes da Súmula 64 desta Corte, não constitui constrangimento ilegal o excesso de prazo na instrução provocado pela defesa. Consta dos autos que o prolongamento da instrução decorreu em virtude do deferimento do pleito defensivo de acareação das testemunhas ouvidas.” 41 arrolando testemunhas residentes em outra comarca para comprovar eventual álibi, seja interpondo recursos previstos em lei, do uso abusivo do direito de defesa. 123 Dessa forma, a atuação da defesa que configura demora processual e consequente excesso de prazo é somente aquela que se desenrola de forma protelatória 124 , não sendo decorrente efetivamente do direito à ampla defesa e ao contraditório. Ademais, o excesso de prazo também é identificado pelos tribunais superiores (STF e STJ) quando a demora no processo é causada pela acusação ou inércia do poder judiciário. 125 As referências adotadas pelos referidos tribunais para a averiguação do constrangimento ilegal, ocasionado pelo excesso de prazo da prisão preventiva, decorrem da importação da “Teoria dos três critérios”, instituída nos julgamentos proferidos pelo Tribunal Europeu de Direitos Humanos e adotada pela Corte Interamericana de Direitos Humanos, os quais sejam a complexidade da causa, aferindo as peculiaridades do caso concreto, o comportamento das partes e a conduta das autoridades judiciárias na condução do trâmite processual. 126 A jurisprudência por não adotar uma limitação temporal definida para a prisão preventiva conjuga a utilização dos critérios expostos acima com os fundamentos da razoabilidade e proporcionalidade 127 , de forma a evitar a prática de condutas arbitrárias por parte do Estado, relacionadas ao encarceramento preventivo do acusado, que, em muitos casos, permanece nessa situação por tempo maior do qual estaria submetido com a sua eventual condenação, comprometendo a finalidade cautelar da prisão preventiva. Em recente julgado, o Superior Tribunal de Justiça proferiu acordão proclamando esse entendimento: (...) o constrangimento ilegal por excesso de prazo não resulta de um critério aritmético, mas de uma aferição realizada pelo julgador, à luz dos princípios da razoabilidade e proporcionalidade, levando em conta as peculiaridades do caso 123 LIMA, Renato Brasileiro de. Manual de processo penal: volume único. 5. ed. Salvador: Juspodivm, 2017, pp. 989-990. 124 LACAVA, Thaís Aroca Datcho. A garantia da razoável duração da persecução penal. 2009. 211 f. Dissertação (Mestrado) - Curso de Direito, Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, São Paulo, 2009, p. 155. 125 BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Recurso Ordinário em Habeas Corpus nº 73249. Relator: Ministro Ribeiro Dantas. Diárioda Justiça Eletrônico. Brasília, 05 abr. 2017. Disponível em: <http://www.stj.jus.br/SCON/SearchBRS?b=ACOR&livre=@docn='000034806'>. Acesso em: 28 abr. 2018. “(...) Para ser considerado injustificado o excesso na custódia cautelar, deve a demora ser de responsabilidade da acusação ou do Poder Judiciário, situação em que o constrangimento ilegal pode ensejar o relaxamento da segregação antecipada.” 126 LACAVA, op.cit.,pp. 148 e 154. 127 LOPES JUNIOR, Aury. Direito Processual Penal. 11. ed. São Paulo: Saraiva, 2014, p.127. 42 concreto, de modo a evitar retardo abusivo e injustificado na prestação jurisdicional. 128 Dessa forma, afere-se a importância da adoção da Teoria dos três critérios ante a indeterminação de prazo máximo para a prisão preventiva. Contudo, a complexidade da causa, o comportamento das partes e a atuação do poder judiciário não se mostram suficientes para a garantia de uma razoável duração desse instituto, bem como da preservação da sua natureza cautelar, devendo haver o estabelecimento de demais limites, os quais são extraídos do princípio da proporcionalidade e da homogeneidade, explicados a seguir. 3.4 A proporcionalidade Como averiguado nos tópicos anteriores, o devido processo legal, a presunção de inocência e a razoável duração do processo constituem identificadores dos limites que separam a prisão preventiva de natureza cautelar de base constitucional e a privação de liberdade abusiva, caracterizadora de antecipação de pena. Ocorre que a identificação dessa divisão tênue exige a aplicação e incidência de um quarto mandamento constitucional: a proporcionalidade. Nas palavras de Sérgio Rebouças, “proporcionalidade é uma noção genérica essencial ao dimensionamento da cautelaridade processual” 129 , sendo importante instrumento de controle de arbitrariedades e abusividades estatais na aplicação da prisão preventiva, de forma a evitar a banalização do instituto, o qual somente deve ser imposto quando estritamente necessário, adequado e idôneo para a sua finalidade precípua. 130 Conforme Aury Lopes Jr., o mencionado princípio possui papel imprescindível de promover o "difícil equilíbrio entre dois interesses opostos, sobre os quais gira o processo penal: o respeito ao direito de liberdade e a eficácia na repressão dos delitos" 131 128 BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Recurso Ordinário em Habeas Corpus nº 94033. Relator: Ministro Reynaldo Soares da Fonseca. Diário da Justiça Eletrônico. Brasília, 02 abr. 2018. Disponível em: < http://www.stj.jus.br/SCON/SearchBRS?b=ACOR&livre=@docn=%27000671592%27>. Acesso em: 28 abr. 2018. Nesse sentido: BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Habeas Corpus nº 134312. Relator: Ministra Nancy Andrighi. Diário da Justiça Eletrônico. Brasília, 09 mai. 2017. Disponível em: < http://www.stj.jus.br/SCON/jurisprudencia/toc.jsp?processo=134312&&b=ACOR&thesaurus=JURIDICO&p=tr ue>. Acesso em: 28 abr. 2018. "(...) os prazos indicados para a conclusão dos feitos criminais servem como necessário parâmetro geral, a fim de se evitarem situações abusivas. Entretanto, devem ser consideradas, a fim de se verificar constrangimento ilegal, as peculiaridades de cada caso concreto, pela qual a jurisprudência admite a mitigação dos referidos prazos, à luz do Princípio da Razoabilidade." 129 REBOUÇAS, Sérgio. Curso de direito processual penal. Salvador: Juspodivm, 2017, P. 837. 130 LOPES JUNIOR, Aury. Prisões Cautelares. 5. ed. São Paulo: Saraiva, 2017. Disponível em: <https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788547218263>. Acesso em: 01 mai. 2018. 131 Ibidem, acesso em: 01 mai. 2018. 43 O principio da proporcionalidade não é previsto expressamente na Constituição, porém é possível aferi-lo a partir da concepção ampla e substancial do devido processo legal, bem como de demais mandamentos constitucionais dele decorrentes. 132 O seu fundamento advém do próprio sistema consagrado pelo Estado Democrático de Direito. 133 Odone Sanguiné entende que o principio se trata de uma garantia fundamental, voltada à proteção dos direitos fundamentais quanto à ingerência de medidas limitadoras propagadas pelo poder estatal. 134 Nesse sentido, o autor justifica a natureza constitucional da proporcionalidade: O princípio de proporcionalidade tem status constitucional, pois deriva da força normativa dos direitos fundamentais, e, portanto, o legislador deve observá-lo na regulação das medidas limitadoras desses direitos, restringindo-os unicamente quando as ingerências sejam idôneas, necessárias e proporcionais em relação à busca de fins constitucionalmente legítimos17. 135 De natureza constitucional, o mencionado princípio possui duas funções no ordenamento jurídico, as quais sejam a atuação como instrumento de "proibição de excesso" com a busca da "máxima efetividade dos direitos fundamentais" e como critério de juízo de ponderação entre interesses ou normas constitucionais. Consoante Eugênio Pacceli a proporcionalidade atua como um "controle de validade e do alcance das normas". 136 Dessa forma, a violação do princípio da proporcionalidade por uma norma, poderia levar a sua declaração de inconstitucionalidade. 137 Para o exercício dessas funções, principalmente como limitador de abusos estatais, a doutrina elenca um pressuposto formal e um material, ditos essenciais, da proporcionalidade. 138 O primeiro compreende o princípio da legalidade, o qual impõe a necessidade de previsão legal das medidas limitadoras de direitos, isto é, um direito não pode ser restringido sem lei que determine, a qual, segundo, Antonio Scarance, deve ser interpretada de forma 132 GONÇALVES, Marianna Moura. Prisão e outras medidas cautelares pessoais à luz da proporcionalidade. 2011. 496 f. Dissertação (Mestrado) - Curso de Direito, Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, São Paulo, 2011, p. 63. 133 Ibidem, p. 58. 134 SANGUINÉ, Odone. Prisão cautelar, medidas alternativas e direitos fundamentais. [Versão e-reader]. Rio de Janeiro: Forense, 2014. Disponível em: <https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/978-85-309-5816-9 Copiar>. Acesso em: 27 abr. 2018. 135 Ibidem, acesso em: 27 abr. 2018. 136 PACELLI, Eugênio. Curso de Processo Penal. 21. ed. São Paulo: Atlas, 2017, p. 237. 137 FERNANDES, Antonio Scarance. Processo penal constitucional. 3. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2002, p. 57. 138 Ibidem, p. 53. 44 estrita. 139 A Constituição Federal consagrou tal princípio ao dispor no seu art. 5º, II que “ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei” 140 . Consoante foi desenvolvido no primeiro capítulo, a prisão preventiva, como medida cautelar de natureza pessoal que impõe gravame à liberdade do indivíduo, é regida pelo preceito nulla coertio sine lege 141 , devendo ser prevista em lei, assim como as suas hipóteses de cabimento, não sendo possível a interpretação extensiva ou analógica destas. O pressuposto material diz respeito à justificação teleológica da proporcionalidade, a qual se relaciona com a legitimidade da finalidade a ser alcançada pela medida estatal limitadora (prisão preventiva), devendo ser baseada em valores constitucionais. 142 Além disso, Renato Brasileiro defende a necessidade de o fim almejado possuir relevância social. 143 É possível aferir uma finalidade social e legítima da prisão preventiva, o qual seja promover a efetividade da persecução penal, mediante a tutela do processo e a garantia de um resultado útil. Conjugado a isso, há requisitos extrínsecos e intrínsecos do princípio em questão, os quais reforçam o seu importante papel na proteção dos direitos e garantias fundamentais diante da imposição da prisão preventiva.Os requisitos extrínsecos, já expostos no presente trabalho (tópico 2.1), compreendem a jurisdicionalidade e a motivação da decisão que impõe a medida restritiva. Foi analisado que a constitucionalidade e legalidade da prisão preventiva estabelecida dependem de determinação judicial prévia devidamente motivada. 144 Os requisitos intrínsecos abrangem os subprincípios da proporcionalidade, os quais sejam a adequação, a necessidade e a proporcionalidade em sentido estrito. O primeiro requisito incide sobre a relação entre meio e fim, devendo aquele ser idôneo para o alcance deste. A necessidade está relacionada à escolha da medida menos gravosa para o alcance da finalidade almejada. Já a proporcionalidade em sentido estrito vincula-se à ponderação entre valores em conflitos relacionados à medida restritiva e ao indivíduo destinatário dela. A 139 . FERNANDES, Antonio Scarance. Processo penal constitucional. 3. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2002, p. 53 140 BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, Disponível em:<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm>. Acesso em: 27 abr. 2018. 141 LIMA, Renato Brasileiro de. Manual de processo penal: volume único. 5. ed. Salvador: Juspodivm, 2017. p. 84. 142 FERNANDES, op cit. , p. 53. 143 LIMA, op cit., p. 86. 144 FERNANDES, op cit., p. 54. Nesse sentido: “Art. 5º. (...) – LXI - ninguém será preso senão em flagrante delito ou por ordem escrita e fundamentada de autoridade judiciária competente, salvo nos casos de transgressão militar ou crime propriamente militar, definidos em lei;” 45 legitimidade da prisão preventiva se sujeita a observância desses subprincípios 145 , que serão mais bem desenvolvidos a seguir. 3.4.1 A adequação A idoneidade da medida restritiva de direitos fundamentais baseia-se no exame de dois fatores: a sua aptidão para efetivar a consecução da finalidade almejada e a legitimidade constitucional desta, isto é, o fim buscado não poder ser vedado na Constituição. No âmbito da prisão preventiva, esta deve ser adequada para promover a efetividade processual e o resultado útil do processo, quando presentes riscos a sua frustração. 146 Antônio Scarance defende que o subprincípio da adequação possui três aspectos: qualitativo, quantitativo e subjetivo. 147 O primeiro relaciona-se com a qualidade que a medida deve conter para atingir o fim desejado. Diante disso, por exemplo, a prisão preventiva seria medida capaz de impedir a reiteração de crimes pelo indivíduo, ao contrário de uma proibição a este de se evadir da Comarca, conforme trazido no art. 319, IV, do CPP. 148 Já o segundo aspecto é relativo à duração segregação cautelar que também deve ser idônea para a sua finalidade. Analisando tal aspecto, Andrey Borges de Mendonça compreende que a medida deve possuir prazo ou intensidade aptos a possibilitar a consecução do fim almejado. 149 Contudo, é necessário entender a sujeição da medida, como a prisão preventiva, a uma razoável duração, não devendo se estender por tempo que ponha em risco a sua natureza cautelar. Por fim, o aspecto subjetivo diz respeito ao sujeito passivo destinatário da medida, cuja condição deve estar vinculada a circunstâncias que autorizem a sua incidência. 150 O Código de Processo Penal impõe a observância de demais fatores para a aplicação das medidas cautelares de natureza pessoal, o que inclui a prisão preventiva. Veja- se: 145 SANGUINÉ, Odone. Prisão cautelar, medidas alternativas e direitos fundamentais. [Versão e-reader]. Rio de Janeiro: Forense, 2014. Disponível em: <https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/978-85-309- 5816-9 Copiar>. Acesso em: 30 abr. 2018. 146 Ibidem, acesso em: 30 abr. 2018. 147 FERNANDES, Antonio Scarance. Processo penal constitucional. 3. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2002, p. 54. 148 REBOUÇAS, Sérgio. Curso de direito processual penal. Salvador: Juspodivm, 2017, p. 842. 149 MENDONÇA, Andrey Borges de. Prisão e outras Medidas Cautelares Pessoais: de acordo com a Lei 12.403/2011. São Paulo: Método, Grupo Gen, 2011. 496 p. Disponível em: <https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/978-85-309-4233-5>. Acesso em: 30 abr. 2018, p. 41 150 FERNANDES, op cit, p. 54. 46 Art. 282. As medidas cautelares previstas neste Título deverão ser aplicadas observando-se a: II - adequação da medida à gravidade do crime, circunstâncias do fato e condições pessoais do indiciado ou acusado. 151 O dispositivo acima exige que a adequação da prisão cautelar seja averiguada conforme a gravidade do crime, as circunstâncias do fato e as condições pessoais do indiciado ou acusado. Os dois primeiros fatores estão relacionados à "gravidade concreta do fato delitivo", ou seja, o magistrado deve verificar o grau da sanção penal imposta ao crime e o modo de sua execução. Por exemplo, o art. 313, I, do CPP 152 compreende um limite quantitativo mínimo vinculado ao prazo da pena privativa de liberdade máxima cominada em abstrato, o qual deve ser observado na aplicação da prisão preventiva, por se tratar de hipótese autorizadora desta. O modus operandi do delito implica na verificação dos meios e instrumentos empregados, bem como o comportamento da vítima e do acusado. 153 As condições pessoais do acusado se inserem no aspecto subjetivo da adequação afirmado por Antônio Scarance e compreende condições de natureza social, econômica, laborativa, bem como as relativas a antecedentes criminais e reincidências. 154 Dessa forma, o subprincípio da adequação incidente sobre a prisão preventiva vincula-se à análise da relação meio-fim, da idoneidade da medida para o alcance da finalidade buscada, a qual seja a tutela do processo, seu desenvolvimento e resultado efetivo. 3.4.2 A necessidade 151 BRASIL. Decreto-lei nº 3.689, de 03 de outubro de 1941. Código de Processo Penal. Rio de Janeiro, Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del3689Compilado.htm>. Acesso em: 01 ma1. 2018. 152 Ibidem, acesso em: 01 mai. 2018. “Art. 313. Nos termos do art. 312 deste Código, será admitida a decretação da prisão preventiva: I - nos crimes dolosos punidos com pena privativa de liberdade máxima superior a 4 (quatro) anos;” 153 MENDONÇA, Andrey Borges de. Prisão e outras Medidas Cautelares Pessoais: de acordo com a Lei 12.403/2011. São Paulo: Método, Grupo Gen, 2011. 496 p. Disponível em: <https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/978-85-309-4233-5>. Acesso em: 01 mai. 2018. 154 Ibidem, acesso em: 01 mai. 2018. Nesse sentido: BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Recurso Ordinário em Habeas Corpus nº 63855. Relator: Ministro Nefi Cordeiro, Relator para acórdão: Rogério Schietti Cruz. Diário da Justiça Eletrônico. Brasília, 13 jun. 2016. Disponível em: < http://www.stj.jus.br/SCON/jurisprudencia/toc.jsp?processo=63855&&b=ACOR&thesaurus=JURIDICO&p=tru e>. Acesso em: 29 abr. 2018 “ (...) Os registros sobre o passado de uma pessoa, seja ela quem for, não podem ser desconsiderados para fins cautelares. A avaliação sobre a periculosidade de alguém impõe que se perscrute todo o seu histórico de vida, em especial o seu comportamento perante a comunidade, em atos exteriores, cujas consequências tenham sido sentidas no âmbito social.” 47 O subprincípio da necessidade está relacionado à ideia de que a medida limitadora de direito fundamental não deve ser somente idônea para alcançar a finalidade pretendida, mas também a menos gravosa possível. Na concepção de Odone sanguiné, "significa que uma medida para ser admissível não há de exceder os limites indispensáveis à conservação do fim legítimoque se almeja" 155 , isto é, a restrição aos direitos fundamentais do indivíduo não deve superar a limitação necessária para atingir o objetivo desejado. A exigência da necessidade se vincula à concepção da prisão preventiva como ultima ratio das medidas cautelares de natureza pessoal, dado que implica intenso gravame ao indivíduo, afetando seu status libertatis em maior grau. A excepcionalidade e subsidiariedade da prisão preventiva devem ser observadas. 156 O Código de Processo Penal, como já desenvolvido neste trabalho, reforçou esse entendimento ao prever medidas alternativas a prisão (art. 319 e art. 320, do CPP 157 ), devendo ser consideradas precipuamente antes de se optar pela imposição da privação de liberdade do acusado, o que somente ocorrerá caso àquelas não se mostrem suficientes e efetivas para atingir os fins almejados (art. 282, §6º, do CPP 158 ) dispostos no art. 282, I, do CPP (necessidade para aplicação da lei penal, para a investigação ou a instrução criminal e, nos casos expressamente previstos, para evitar a prática de infrações penais) 159 . Dessa forma, a necessidade da prisão preventiva se dará somente nos casos em que esta for imprescindível e crucial para o alcance dos fins legais, como os dispostos no art. 312, do CPP, segundo as circunstâncias do caso concreto, diante da deficiência da eficácia de medidas cautelares menos gravosas. 160 3.4.3 A proporcionalidade em sentido estrito. Princípio da homogeneidade das medidas cautelares 155 SANGUINÉ, Odone. Prisão cautelar, medidas alternativas e direitos fundamentais. [Versão e-reader]. Rio de Janeiro: Forense, 2014. Disponível em: <https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/978-85-309- 5816-9 Copiar>. Acesso em: 30 abr. 2018. 156 Ibidem, acesso em: 30 abr. 2018. 157 BRASIL. Decreto-lei nº 3.689, de 03 de outubro de 1941. Código de Processo Penal. Rio de Janeiro, Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del3689Compilado.htm>. Acesso em: 30 abr. 2018 158 Ibidem, acesso em: 30 abr. 2018. 159 Ibidem, acesso em: 30 abr. 2018. “Art. 282. As medidas cautelares previstas neste Título deverão ser aplicadas observando-se a: I - necessidade para aplicação da lei penal, para a investigação ou a instrução criminal e, nos casos expressamente previstos, para evitar a prática de infrações penais;” 160 REBOUÇAS, Sérgio. Curso de direito processual penal. Salvador: Juspodivm, 2017, pp. 840-841. 48 A proporcionalidade em sentido estrito é instrumento de verificação da prevalência de valores em conflitos, relacionados à legitimidade da finalidade da medida restritiva e ao direito fundamental do indivíduo a ser violado por esta. 161 As vantagens obtidas mediante a intervenção promovida devem superar as desvantagens relativas ao destinatário daquela, isto é, os sacrifícios sofridos por este devem ser compensados pelas razões da limitação, as quais não podem exaurir por completo o “'conteúdo essencial' do direito fundamental” 162 afetado. A regra de sopesamento, decorrente da lei de colisão de Robert Alexy, busca justamente evitar o esvaziamento de um princípio ou direito quando conflitante com outro. Nesse método, há a preponderância de um em relação aos demais diante de um caso concreto, denominada pelo autor de "precedência condicionada" 163 . Isso porque, no plano abstrato, esses princípios ou direitos possuem um mesmo peso, os quais somente se diferenciam frente a uma colisão em situação específica, caracterizada pela presença de determinadas condições. A ponderação permite que àqueles se mantenham válidos e otimizados, porém o seu grau de realização será diverso, devendo a afetação de um ocorrer na medida da precedência do outro. 164 Aplicando esse entendimento à prisão preventiva, discorre Aury Lopes Jr.: A proporcionalidade em sentido estrito significa o sopesamento dos bens em jogo, cabendo ao juiz utilizar a lógica da ponderação. De um lado, o imenso custo de submeter alguém que é presumidamente inocente a uma pena de prisão, sem processo e sem sentença, e de outro lado, a necessidade da prisão e os elementos probatórios existentes. 165 Esse juízo de ponderação, segundo Andrey Borges de Mendonça, implica na averiguação do caráter justo da medida restritiva imposta (prisão preventiva). 166 Diante disso, se o valor ou direito do indivíduo possui peso maior que aquele protegido pela intervenção estatal, esta se demonstra desproporcional. 167 Os proveitos a serem alcançados com a 161 FERNANDES, Antonio Scarance. Processo penal constitucional. 3. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2002, p. 55. 162 SANGUINÉ, Odone. Prisão cautelar, medidas alternativas e direitos fundamentais. [Versão e-reader]. Rio de Janeiro: Forense, 2014. Disponível em: <https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/978-85-309- 5816-9 Copiar>. Acesso em: 01 mai. 2018. 163 ALEXY, Robert. Teoria dos direitos fundamentais. 2. ed. São Paulo: Malheiros, 2015. Tradução de: Virgílio Afonso da Silva, p. 96. 164 Ibidem, p. 95-96. 165 LOPES JUNIOR, Aury. Direito Processual Penal. 9. ed. São Paulo: Saraiva, 2012, p. 795. 166 MENDONÇA, Andrey Borges de. Prisão e outras Medidas Cautelares Pessoais: de acordo com a Lei 12.403/2011. São Paulo: Método, Grupo Gen, 2011. 496 p. Disponível em: <https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/978-85-309-4233-5>. Acesso em: 01 mai. 2018, p. 52. 167 ALEXY, Robert. Teoria dos direitos fundamentais. 2. ed. São Paulo: Malheiros, 2015. Tradução de: Virgílio Afonso da Silva, p. 95. 49 imposição da prisão preventiva não podem ser inferiores aos prejuízos sofridos pelo acusado com a privação da sua liberdade e a relativização da presunção de inocência. O subprincípio em questão busca analisar a proporcionalidade na relação meio- fim. Nesse sentido entende Sérgio Rebouças que essa ponderação está sujeita à observância de determinados critérios estabelecidos pela jurisprudência alemã, os quais sejam a consequência jurídica, a importância da causa, o grau de imputação e o êxito possível da medida. 168 Dessa forma, afere-se que a medida cautelar determinada deve ser proporcional ao provimento final do processo que se busca tutelar, não podendo ser mais gravosa do que este. 169 Sob essa concepção a proporcionalidade em sentido estrito ganhou a denominação de princípio da homogeneidade das medidas cautelares. A referida nomenclatura foi estabelecida por Luiz Flávio Gomes, o qual prevê a necessidade de realização de um prognóstico quanto à pena possivelmente aplicada no final do processo, a fim de promover a escolha de medida cautelar homogenia àquela, isto é, que não supere o seu eventual ônus. 170 A incidência do princípio tem como objetivo precípuo preservar a instrumentalidade da prisão preventiva, a sua finalidade acautelatória, evitando que se transmude para medida de punição do acusado. 168 REBOUÇAS, Sérgio. Curso de direito processual penal. Salvador: Juspodivm, 2017, p. 843. 169 SANGUINÉ, Odone. Prisão cautelar, medidas alternativas e direitos fundamentais. [Versão e-reader]. Rio de Janeiro: Forense, 2014. Disponível em: <https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/978-85-309- 5816-9 Copiar> Acesso em: 01 mai. 2018. 170 NICOLITT, André. Manual de processo penal. 6. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais Ltda., 2016.Disponívelem:<https://proview.thomsonreuters.com/launchapp/title/rt/monografias/99925223/v6>. Acesso em: 01 mai. 2018. Apud GOMES, Luiz Flávio; MARQUES, Ivan Luís (Coo.). Prisão e medidas cautelares: comentários à Lei 12.403, de 4 de maio de 2011. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2011, p. 55. 50 4 O PRINCÍPIO DA HOMOGENEIDADE E A PRISÃO PREVENTIVAA necessidade de se atentar pela homogeneidade entre a prisão preventiva e o provável provimento final do processo ou o regime inicial imposto na sentença condenatória decorre dos ditames do devido processo legal, da presunção de inocência, da razoável duração do processo e da proporcionalidade, os quais, como já visto, devem nortear a aplicação do instituto e o desenvolvimento processual, a fim de assegurar os direitos e garantias do acusado, objeto de persecução penal do Estado. A prisão preventiva como instituto de maior gravame ao acusado deve se submeter a tal análise, de homogeneidade, segundo parâmetros diversos como o provável resultado final do processo, a duração da pena privativa de liberdade a ser aplicada e o regime inicial imposto na sentença condenatória, identificadores dos limites que separam uma privação cautelar legítima de uma antecipação de pena ou arbitrariedade, conforme será defendido em seguida. 4.1 A prisão preventiva X o provável provimento final do processo Originalmente, o princípio da homogeneidade das medidas cautelares aplica-se aos casos de instituição destas antes do provimento de sentença em juízo de primeiro grau, ou seja, antes de qualquer imposição de pena. Assim sendo, a aplicação do referido princípio depende de um prognóstico realizado pelo magistrado, a fim de averiguar o provável resultado do processo, quantificado na pena a ser aplicada. Isso porque, conforme discorre Luiz Flávio Gomes, a medida cautelar instituída durante o trâmite processual não pode ser mais gravosa do que o possível resultado do processo, sob pena de se configurar desarrazoada e desproporcional. 171 Nesse sentido, disserta Paulo Rangel: (...) a medida cautelar a ser adotada deve ser proporcional a eventual resultado favorável ao pedido do autor, não sendo admissível que a restrição à liberdade, durante o curso do processo, seja mais severa que a sanção que será aplicada caso o pedido seja julgado procedente. A homogeneidade da medida é exatamente a proporcionalidade que deve existir entre o que está sendo dado e o que será concedido. 172 171 GOMES, Luiz Flávio; MARQUES, Ivan Luís (Coo.). Prisão e medidas cautelares: comentários à Lei 12.403, de 4 de maio de 2011. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2011, p. 55. 172 RANGEL, Paulo. Direito Processual Penal. 23. ed. São Paulo: Atlas, 2015, p. 769. 51 O princípio da homogeneidade decorre do juízo de ponderação entre a garantia da liberdade de um indivíduo presumidamente inocente e a necessidade de tutela do resultado final do processo, exigido pelo princípio da proporcionalidade, especificamente, pela proporcionalidade em sentido estrito. 173 Assim, a imposição da prisão preventiva advém da prevalência da finalidade de assegurar a efetividade processual. No entanto, o referido juízo de ponderação determina que esse resultado a ser garantido compense os prejuízos sofridos com a mencionada medida cautelar. Dessa forma, no âmbito da prisão preventiva o juízo de prognose do magistrado deve ser voltado a visualizar se o provimento final resultará em privação da liberdade do indivíduo, posto que este constitui o gravame provocado. O fim que se pretende tutelar e obter com a sua imposição não pode ensejar em sacrifício à liberdade inferior à privação total desta. O próprio Código de Processo Penal estabelece a necessidade de o magistrado efetuar um juízo de prognose antes da aplicação de uma medida cautelar, principalmente a prisão preventiva. Conforme analisado no primeiro capítulo (tópico 1.3), o art. 283, §1º determina que as medidas cautelares de natureza pessoal em geral somente poderão ser impostas em relação a acusados pela prática de infrações em que for isolada, cumulativa ou alternativamente cominada pena privativa de liberdade. 174 Especificamente quanto à prisão preventiva, o art. 313, I, do CPP, restringe a aplicação do instituto para os casos de “crimes dolosos punidos com pena privativa de liberdade máxima superior a 4 (quatro) anos” 175 tendo em vista, a possibilidade, na hipótese de delitos cometidos sem violência ou grave ameaça, de mudança da sanção para restritiva de direitos, o que não afeta de forma tão gravosa o status libertatis do indivíduo. Essa conversão também é possível nos casos de crimes culposos, qualquer que seja a pena aplicada (art. 44, I, do CP 176 ). Diante disso, o magistrado deve vislumbrar se há a possibilidade de conversão da pena de privação de liberdade quando optar pela imposição da prisão preventiva, pois caso haja essa possibilidade, a mencionada medida não poderá ser decretada. 173 OLIVEIRA, Eugênio Pacelli de. Processo e hermenêutica na tutela penal dos direitos fundamentais. Belo Horizonte: Del Rey, 2004, p. 164. 174 BRASIL. Decreto-lei nº 3.689, de 03 de outubro de 1941. Código de Processo Penal. Rio de Janeiro, Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del3689Compilado.htm>. Acesso em: 10 mai. 2018. 175 Ibidem, acesso em 10 mai. 2018. 176 BRASIL. Decreto-lei nº 2.848, de 07 de dezembro de 1940. Código Penal. Rio de Janeiro, Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del2848compilado.htm>. Acesso em: 10 mai. 2018. “Art. 44. As penas restritivas de direitos são autônomas e substituem as privativas de liberdade, quando: I – aplicada pena privativa de liberdade não superior a quatro anos e o crime não for cometido com violência ou grave ameaça à pessoa ou, qualquer que seja a pena aplicada, se o crime for culposo;” 52 A legislação processual penal prevê exceções à observância da homogeneidade entre a prisão cautelar e o provável resultado final do processo, também já explicitadas no presente trabalho, as quais devem ser interpretadas de forma restrita por infringirem direitos e garantias fundamentais, como as hipóteses de cabimentos do inciso II (reincidência em crime doloso) e do inciso III (crime que envolve violência doméstica ou familiar, a fim de garantir a execução das medidas protetivas de urgência) do art. 313, do CPP 177 e no caso da prisão substitutiva, decorrente do descumprimento de medidas cautelares alternativas (art. 282, §4º e art. 312, parágrafo único, do CPP 178 ). Cumpre ressaltar que nas hipóteses acima, a escolha de decretação da prisão preventiva deve ocorrer em último caso, diante da impossibilidade de determinação de medidas cautelares menos gravosas. Outros prováveis resultados finais do processo podem inviabilizar a instituição da privação cautelar da liberdade por afetarem de forma mais branda o status libertatis do eventual condenado. Havendo a conjectura de que ao final, com a possível condenação do acusado, será aplicada pena que permite o seu cumprimento em regime aberto ou semiaberto, a imposição da prisão cautelar durante o trâmite processual se mostrará desproporcional e desarrazoada. Isso porque, ambos os regimes restringem a liberdade do indivíduo, porém não a privam totalmente como ocorre na prisão preventiva, constituindo esta, mecanismo mais gravoso. Assim, é possível concluir pela inaplicabilidade da prisão preventiva na hipótese de prática de contravenção penal. Segundo o Decreto-Lei nº 3.688 de 1941, as contravenções penais resultam na aplicação de duas penas principais: multa e prisão simples. A imposição daquela impede a prisão preventiva por não ensejar em qualquer tipo de privação de liberdade. Igualmente, a prisão simples de acordo com a norma acima deve ser cumprida "sem rigor penitenciário, em estabelecimento especial ou seção especial de prisão comum, em 177 Ibidem, acesso em 10mai. 2018. “Art. 313. Nos termos do art. 312 deste Código, será admitida a decretação da prisão preventiva: (...) II - setiver sido condenado por outro crime doloso, em sentença transitada em julgado, ressalvado o disposto no inciso I do caput do art. 64 do Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940 - Código Penal; III - se o crime envolver violência doméstica e familiar contra a mulher, criança, adolescente, idoso, enfermo ou pessoa com deficiência, para garantir a execução das medidas protetivas de urgência;” 178 Ibidem, acesso em 10 mai. 2018. “Art. 282. As medidas cautelares previstas neste Título deverão ser aplicadas observando-se a: (...) § 4o No caso de descumprimento de qualquer das obrigações impostas, o juiz, de ofício ou mediante requerimento do Ministério Público, de seu assistente ou do querelante, poderá substituir a medida, impor outra em cumulação, ou, em último caso, decretar a prisão preventiva (art. 312, parágrafo único). Art. 312. (...) Parágrafo único. A prisão preventiva também poderá ser decretada em caso de descumprimento de qualquer das obrigações impostas por força de outras medidas cautelares (art. 282, § 4o).” 53 regime semi-aberto ou aberto" 179 , o que pressupõe o cumprimento da pena em condições diversas das estabelecidas no regime fechado. A vedação de imposição da referida medida cautelar também se revela nos crimes punidos com pena de detenção, dado que o art. 33, caput, do Código Penal, determina que esta deva ser executada inicialmente em regime aberto ou semiaberto. A possibilidade de cumprimento de pena em regime fechado somente ocorre em casos de regressão e não logo de início. 180 Rogério Schietti discorre que os referidos parâmetros legais vedam a decretação da prisão preventiva, por exemplo, no caso de cometimento do crime de furto simples, dado que a pena máxima cominada é inferior ou igual a 4 (quatro) anos, conforme o art. 155, caput, do CP. 181 Assim, o respectivo delito não se enquadra na hipótese do art. 313, I, que exige pena máxima superior à imposta. Ademais, o regime inicial provável de cumprimento da sanção é o aberto, o qual não enseja em privação total da liberdade do eventual condenado. A instituição da prisão preventiva somente seria possível no caso de reincidência dolosa, que, como analisado anteriormente, compreende exceção ao princípio da homogeneidade. O Superior Tribunal de Justiça (STJ) possui entendimento contrário ao exposto, não admitindo a prática do juízo de prognose destinado a aferir a homogeneidade da prisão preventiva, sob a fundamentação de que somente a conclusão da instrução criminal 182 e a consequente cognição exauriente do juízo de origem acerca das provas e fatos 183 seriam capazes de revelar a eventual pena ou regime inicial de cumprimento desta a serem aplicados no caso concreto. 179 BRASIL. Decreto-lei nº 3688, de 03 de outubro de 1941. Lei das Contravenções Penais. Rio de Janeiro, Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del3688.htm>. Acesso em: 21 maio 2018. “Art. 5º As penas principais são: I – prisão simples. II – multa. Art. 6º A pena de prisão simples deve ser cumprida, sem rigor penitenciário, em estabelecimento especial ou seção especial de prisão comum, em regime semi-aberto ou aberto.” 180 BRASIL. Decreto-lei nº 2.848, de 07 de dezembro de 1940. Código Penal. Rio de Janeiro, Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del2848compilado.htm>. Acesso em: 21 mai. 2018. “Art. 33 - A pena de reclusão deve ser cumprida em regime fechado, semi-aberto ou aberto. A de detenção, em regime semi-aberto, ou aberto, salvo necessidade de transferência a regime fechado.” 181 CRUZ, Rogério Schietti. Prisão cautelar: dramas, princípios e alternativas. 4. ed. Salvador: Juspodivm, 2018, p. 248. 182 BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Habeas Corpus nº 187669. Relator: Ministro Napoleão Nunes Maia Filho. Diário da Justiça Eletrônico. Brasília, 27 jun. 2011. Disponível em: <http://www.stj.jus.br/SCON/jurisprudencia/toc.jsp?processo=187669&&b=ACOR&thesaurus=JURIDICO&p= true>. Acesso em: 11 maio 2018. 183 BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Habeas Corpus nº 430061. Relator: Ministro Félix Fischer. Diário da Justiça Eletrônico. Brasília, 09 maio 2018. Disponível em: <http://www.stj.jus.br/SCON/jurisprudencia/toc.jsp?livre=pris�o+prox+preventiva+desproporcionalidade+instr u��o+prox+criminal&&b=ACOR&thesaurus=JURIDICO&p=true>. Acesso em: 21 maio 2018. 54 Entretanto, do mesmo modo que o magistrado se utiliza de uma cognição sumária sobre os elementos da conjuntura constantes no momento, decorrentes do processo e da investigação policial, para analisar a presença do fumus commissi delict e do periculum in libertatis, deve assim proceder com o intuito de estimar a pena provável a ser aplicada no caso concreto e averiguar a homogeneidade da medida cautelar. 184 Nesse sentido, acerca da possibilidade realização do prognóstico pelo magistrado, entende Rogério Schietti Cruz: Decerto que não se defende a elaboração de prognóstico irresponsável e subjetivo sobre a qualidade e a quantidade da pena a ser eventualmente imposta ao acusado, e muito menos se cuida de antecipar o mérito da pretensão punitiva, o que, se ocorresse, poderia efetivamente comprometer a imparcialidade do magistrado e criar uma expectativa punitiva que somente o encerramento da instrução criminal pode proporcionar, com certo grau de probabilidade, aos sujeitos processuais. Mas, é de convir-se que, pela sedimentação da jurisprudência e da doutrina acerca da individualização judicial da pena cominada, e ressalvada alguma margem de erro, pode o juiz natural da causa trabalhar com certa previsão sobre o desfecho da ação penal em relação ao provável apenamento do acusado. 185 À vista disso, não se demonstra cabível impossibilitar o exame da homogeneidade da prisão preventiva por ausência de recursos probatórios suficientes, somente coletados com o desfecho da instrução criminal. As circunstâncias do caso concreto capazes de embasar a decretação da prisão preventiva devem permitir a efetuação da previsão de penalidade aplicável. O mencionado Tribunal Superior também não admite o juízo de prognose, fundamentando os seus julgados na inexistência de regulamentação para tanto. Considera-se trecho de ementa de julgado que invoca tal fundamento: [...] A alegação de desproporcionalidade da medida somente poderá ser aferível após a prolação de sentença, não cabendo, na via eleita, a antecipação da análise quanto a possibilidade de cumprimento de pena em regime menos gravoso, caso seja prolatado édito condenatório, sob pena de exercício de adivinhação e futurologia, sem qualquer previsão legal. [...] 186 O exame da homogeneidade da prisão preventiva em relação ao provável provimento final do processo, conforme já foi aclarado no capítulo anterior, decorre do 184 BADARÓ, Gustavo Henrique Righi Ivahy. A Prisão Preventiva e o Princípio da Proporcionalidade: propostas de mudanças legislativas. Revista da Faculdade de Direito: Universidade de São Paulo, São Paulo, v. 103, p.381-408, já./dez. 2008. Disponível em: <http://www.revistas.usp.br/rfdusp/article/view/67811/70419>. Acesso em: 17 mai. 2018, p. 399. 185 CRUZ, Rogério Schietti. Prisão cautelar: dramas, princípios e alternativas. 4. ed. Salvador: Juspodivm, 2018, p. 131. 186 BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Habeas Corpus nº 79041. Relator: Ministro Nefi Cordeiro. Diário da Justiça Eletrônico. Brasília, 04 abr. 2017. Disponível em: <http://www.stj.jus.br/SCON/jurisprudencia/toc.jsp?processo=79041&&b=ACOR&thesaurus=JURIDICO&p=tr ue>. Acesso em: 11 maio 2018. 55 princípio da proporcionalidade, o qual conjugado com o devido processo legal, a presunção de inocência e a razoável duração do processo constituem parâmetro indispensável de aplicação do instituto.Os referidos parâmetros consistem em mandamentos constitucionais, os quais devem incidir sobre todo o sistema processual penal, não sendo necessária a previsão legal da sua utilização para serem invocados. Ademais, a realização do juízo de prognose advém da própria necessidade de preservação da natureza cautelar do instituto. A finalidade acautelatória deste é fator determinante para a sua compatibilidade e possível coexistência com o precípuo ditame da presunção de inocência. Nesse seguimento, Gustavo Badaró disserta sobre a desnecessidade de previsão normativa do preceito da proporcionalidade incidente na aplicação da prisão preventiva, compreendendo o princípio da homogeneidade, tendo em vista a natureza constitucional do referido preceito e o seu papel como instrumento de controle e legitimação da atuação estatal implicadora de restrições a direitos fundamentais. A imperiosa observância da homogeneidade do instituto advém, segundo o autor, da garantia e proteção do direito à liberdade impostas constitucionalmente e da cautelaridade da prisão preventiva 187 , consoante exposto anteriormente. Os demais julgados do Tribunal Superior se restringem a negar a ofensa ao princípio da homogeneidade, com base na impossibilidade de averiguação do provável provimento final do processo em sede de habeas corpus, marcado por ser uma via estreita, a qual não admite dilação probatória. 188 O referido remédio constitucional possui como finalidade precípua afastar e fazer cessar, de forma imediata, medida que provoque ilegal constrangimento ao status libertatis do indivíduo. Assim, a esquiva de apreciação da proporcionalidade daquela, como a prisão preventiva, não se mostra condizente com o sistema constitucional e com a garantia 187 BADARÓ, Gustavo Henrique Righi Ivahy. A Prisão Preventiva e o Princípio da Proporcionalidade: propostas de mudanças legislativas. Revista da Faculdade de Direito: Universidade de São Paulo, São Paulo, v. 103, p.381-408, já./dez. 2008. Disponível em: <http://www.revistas.usp.br/rfdusp/article/view/67811/70419>. Acesso em: 11 mai. 2018, p. 398. 188 BRASIL. Superior Tribunal de Justia. Recurso Ordinário em Habeas Corpus nº 74203. Relator: Ministro Sebastião Reis Júnior. Diário da Justiça Eletrônico. Brasília, 27 set. 2016. Disponível em: <http://www.stj.jus.br/SCON/jurisprudencia/toc.jsp?processo=74203&&b=ACOR&thesaurus=JURIDICO&p=tr ue>. Acesso em: 12 maio 2018. “Impossível asseverar ofensa ao "princípio da homogeneidade das medidas cautelares" em relação à possível condenação que o paciente experimentará, findo o processo que a prisão visa resguardar. Em habeas corpus, não há como concluir a quantidade de pena que eventualmente poderá ser imposta, menos ainda se iniciará o cumprimento da reprimenda em regime diverso do fechado.” 56 fundamental da inafastabilidade da jurisdição diante de lesão ou ameaça à direito (art. 5º, XXXV, da CF/88 189 ). A delimitação objetiva do processo é promovida pelo conteúdo da acusação, a qual, conjugada à análise das condições objetivas do acusado, deve possibilitar o juízo de prognose, a fim de averiguar a homogeneidade da prisão preventiva em relação ao provável provimento final. Somente nos casos em que o revolvimento probatório for indispensável para o conhecimento da causa e para a realização dessa análise é que se demonstra a inviabilidade do habeas corpus. Cumpre afirmar que os posicionamentos apresentados do STJ não eram anteriormente adotados por esta Corte. Em julgamento proferido no Habeas Corpus n°. 182.750, o tribunal afirmou o caráter excepcional da prisão preventiva, a qual somente deve ser aplicada quando atendidos os critérios de adequação, necessidade e proporcionalidade em sentido estrito, conjuntamente à demonstração concreta do preenchimento dos requisitos e das hipóteses autorizadoras do instituto (fumus comissi delicti e periculum libertatis), além de este não poder exceder o mal eventualmente “causado pela imposição da pena que poderá vir a ser aplicada ao agente, em caso de eventual condenação, por sentença definitiva" 190 . O julgado se fundamenta no princípio da homogeneidade: É o que se defende com a aplicação do princípio da homogeneidade, corolário do princípio da proporcionalidade, que leva a concluir pela ilegitimidade da prisão provisória quando a medida for mais gravosa que a própria sanção a ser possivelmente aplicada na hipótese de condenação, pois não se mostraria razoável manter-se alguém preso cautelarmente em "regime" muito mais rigoroso do que aquele que ao final eventualmente será imposto. 191 Nesse seguimento, o Supremo Tribunal Federal (STF) proferiu decisão afirmando o entendimento acerca da necessidade do juízo de prognose baseado no princípio da homogeneidade das medidas cautelares, porém se utilizando da denominação “princípio da proporcionalidade” e mesmo que de ofício diante da inviabilidade da via eleita (habeas corpus), conforme segue: [...] Não se pode admitir a manutenção de medida cautelar que apresenta maior força do que a esperada pelo resultado final da própria persecução penal, caso, após toda a regular instrução, fosse o réu declarado culpado. Sendo assim, é imperioso reconhecer a violação ao princípio da proporcionalidade quando a custódia cautelar 189 BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, Disponível em:<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm>. Acesso em: 12 mai. 2018. “Art. 5º. (...) XXXV - a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito;”. 190 BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Habeas Corpus nº 182750. Relator: Ministro Jorge Mussi. Diário da Justiça Eletrônico. Brasília, 24 maio 2013. Disponível em: <http://www.stj.jus.br/SCON/jurisprudencia/toc.jsp?processo=182750&&b=ACOR&thesaurus=JURIDICO&p= true>. Acesso em: 13 maio 2018. 191 Ibidem, acesso em: 13 mai. 2018. 57 se apresenta como medida mais gravosa do que a própria sanção a ser aplicada no caso de eventual condenação. [...] 192 A aplicação da prisão preventiva nos casos em que o resultado final do processo não configure privação de liberdade promove uma inversão da lógica do instituto. Isso porque, em vez de atuar como instrumento para efetivação daquele, constituirá como uma medida autônoma de repressão do indivíduo. 193 Dessa forma, a ausência de um juízo de prognose quanto à homogeneidade da prisão preventiva, afeta as suas características identificadoras da natureza cautelar, como a referibilidade, instrumentalidade, acessoriedade e provisoriedade, as quais vinculam a existência da medida à eficácia do provimento final do processo. Em complementação a essa concepção, cumpre mencionar o entendimento de Gustavo Badaró: (...) Se a medida cautelar for mais gravosa que o provimento final a ser proferido, além de desproporcional, também não será dotada do caráter de instrumentalidade e acessoriedade inerentes à tutela cautelar. O instrumento não pode ir além do fim ao qual ele serve. O assessório segue o principal, mas não pode superá-lo ou ultrapassá- lo. Por outro lado, mesmo no que diz respeito à provisoriedade, não se pode admitir que a medida provisória seja mais severa que a medida definitiva que irá substituí-la e a qual ela deve preservar. 194 À vista dessas características, compreende-se que a prisão preventiva não possui um fim em si mesmo. Segundo Renato Brasileiro, essa condição, associada ao fato do instituto ser cumprido em regime fechado, impõe ao magistrado a consideração da pena cominada em abstrato como "elemento de valoração" ao apreciar o caso para a determinação da medida cautelar. 195 A decretação da segregação cautelar, mesmoapós ser vislumbrada pelo julgador a liberdade do réu quando da execução da pena definitiva, poderá ensejar no que o autor denomina de "periculum in mora inverso", ou seja, o dano irreparável a ser evitado pela imposição da prisão cautelar em relação ao processo se volta contra o réu, dado que o gravame por este sofrido será maior que àquele que se busca impedir. 196 192 BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Habeas Corpus nº 126704. Relator: Ministro Gilmar Mendes. Diário da Justiça Eletrônico. Brasília, 18 maio 2016. Disponível em: <http://www.stf.jus.br/portal/jurisprudencia/listarJurisprudencia.asp?s1=(126704.NUME.+OU+126704.ACMS.) &base=baseAcordaos&url=http://tinyurl.com/hfspl2v>. Acesso em: 15 maio 2018. 193 MENDONÇA, Andrey Borges de. Prisão e outras Medidas Cautelares Pessoais: de acordo com a Lei 12.403/2011. São Paulo: Método, Grupo Gen, 2011. 496 p. Disponível em: <https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/978-85-309-4233-5>. Acesso em: 09 mai. 2018, p. 53. 194 BADARÓ, Gustavo Henrique. Processo Penal. 5. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais Ltda., 2017.Disponívelem:<https://proview.thomsonreuters.com/launchapp/title/rt/monografias/104402244/v5>.Acesso em: 09 mai. 2018. 195 LIMA, Renato Brasileiro de. Manual de processo penal: volume único. 5. ed. Salvador: Juspodivm, 2017, p. 1134. 196 Ibidem, p. 1135. 58 Diante disso, não se demonstra compatível com essa sistemática que a medida cautelar afete de maneira mais onerosa ao acusado do que a sanção penal imputada ao final do processo incidente sobre o agora condenado. Tal situação flagrantemente viola a presunção de inocência. A incidência do referido princípio pressupõe que o tratamento disposto ao indivíduo que responde a um processual criminal deva ser mais benéfico do que daquele sobre o qual recai sentença condenatória. Ademais, como examinado, a compatibilidade entre a presunção de inocência e a prisão preventiva somente ocorre na medida em que esse instituto atenda às determinações legais e constitucionais e preserve a sua natureza cautelar. Eugênio Pacelli, ao discorrer sobre o tema, afirma que a privação de liberdade por ser dotada de elevada gravidade deve incidir somente sobre o condenado. Quando o seu destinatário compreende indivíduo presumidamente inocente, deve constituir medida excepcional, aplicada mediante prévia ponderação quanto à necessidade da prisão preventiva e da proporcionalidade em sentido estrito do dito instituto, conforme a gradação e o tipo da pena cominada ao crime. 197 No caso da prisão preventiva, o único provimento final que autoriza a sua instituição durante o trâmite processual é a privação efetiva da liberdade, promovida em regime fechado. A perspectiva pelo acusado de aplicação de pena diversa da privação de liberdade e a imputação da prisão preventiva durante o trâmite processual implica num temor maior daquele em relação ao processo em si do que à sanção eventualmente instituída ao final deste. Antônio Vieira compreende que, nesse caso, ocorre uma "inversão de valores", a qual poderá acarretar em "uma renúncia forçada ao direito de defesa e de resistência à pretensão punitiva" 198 , uma vez que o processo, no qual deve prevalecer o seu tratamento como inocente, torna-se mais sacrificante do que a própria condenação e a sujeição à imposição de uma pena definitiva. O acusado pode preferir a finalização mais célere do trâmite processual e a sua eventual condenação, do que exercer o seu direito à ampla defesa e ao contraditório para refutar as imputações que lhe são feitas, por vislumbrar que isso possa prolongar o andamento do processo e consequentemente o gravame sobre ele imposto. 197 OLIVEIRA, Eugênio Pacelli de. Processo e hermenêutica na tutela penal dos direitos fundamentais. Belo Horizonte: Del Rey, 2004, p. 175. 198 VIEIRA, Antônio. Princípio da proporcionalidade e prisão preventiva. Disponível em: <http://www.ibadpp.com.br/wpcontent/uploads/2013/01/Artigo_Principio_Proporcionalidade_Antonio_Vieira.p df>. Acesso em: 17 mai. 2018, p. 7. 59 Assim, a inobservância do princípio da homogeneidade das medidas cautelares na aplicação da prisão preventiva repercute negativamente no exercício dos direitos e garantias, a serem assegurados ao acusado durante o andamento processual. 4.2 O prazo da prisão preventiva X a duração da pena privativa de liberdade O princípio da homogeneidade das medidas cautelares, no âmbito da prisão preventiva, possui como finalidade principal evitar a imposição de privação de liberdade cautelar ilegítima e arbitrária, não condizente com os ditames da proporcionalidade, do devido processo legal, da presunção de inocência e da razoável duração do processo. Diante disso, o referido princípio deve incidir não somente no momento de aplicação da medida cautelar, mas também durante a sua vigência, quanto ao seu prazo, tendo como parâmetro a duração da pena privativa de liberdade do delito objeto do processo. 199 A incidência do mandamento constitucional da razoável duração do processo na custódia cautelar é imprescindível para a sua legitimidade, preservação da sua natureza e para evitar o chamado excesso de prazo, o qual implica na ilegalidade da medida por configurar caráter punitivo, diante do esvaziamento da finalidade acautelatória. Assim, a doutrina e a jurisprudência adotaram critérios que vão além de uma aferição meramente aritmética, como a complexidade da causa, o comportamento das partes e da autoridade judiciária no processo, já explicitados no capítulo anterior (tópico 3.3). Contudo, observaram a necessidade de conjugá-los aos ditames da razoabilidade e da proporcionalidade. À vista desses ditames decorre a necessidade de uma análise de ponderação entre o prazo da prisão preventiva e a duração da provável pena imposta ao final. O Superior Tribunal de Justiça no julgamento do Habeas Corpus nº 53.734, a fim de identificar a existência ou não de constrangimento ilegal da prisão preventiva, analisou as peculiaridades do caso concreto, como a quantidade numerosa de réus e a complexidade da instrução criminal, constatando a regularidade na tramitação desta. Contudo, foi constatada que a medida cautelar aplicada ao acusado da causa mostrava-se ilegítima diante do período sujeito a essa custódia e a sua proporcionalidade quanto à pena provavelmente aplicada ao final do processo. Veja-se: 199 MENDONÇA, Andrey Borges de. Prisão e outras Medidas Cautelares Pessoais: de acordo com a Lei 12.403/2011. São Paulo: Método, Grupo Gen, 2011. 496 p. Disponível em: <https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/978-85-309-4233-5>. Acesso em: 25 fev. 2018 p. 55. 60 De outro lado, dada a quantidade de pena prevista para o delito de furto (de um a quatro anos) e de formação de quadrilha (de um a três anos), aliada, ainda, ao período de mais de quatro anos em que permanece preso o paciente, não se revela proporcional a manutenção da custódia cautelar. 200 O referido parâmetro possui relevante importância para averiguar excesso de prazo e ilegalidade da prisão preventiva, uma vez que a sua não utilização pode possibilitar que uma eventual privação cautelar dure por tempo aproximado ou equivalente àquele relativo à pena privativa de liberdade cominada. Assim, o acusado já teria cumprido a penalidade que seria provavelmente imposta, porém na condição de inocente presumidamente. Diante disso, a natureza cautelar da medida suportada pela sua instrumentalidade se restaria comprometida, em razão da sua desproporcionalidade. 201 Quando o prazo da prisão cautelar supera o relativo à pena privativa de liberdade, impõe-se ao acusado, não culpável, gravame maior do que o atribuído ao já condenado.Nesse sentido, Renato Brasileiro discorre, citando Julio B. Maier: Como observa Maier, "parece racional o desejo de impedir que, mesmo nos casos em que a prisão seja admissível, a persecução penal inflija a quem a suporta um mal maior, irremediável, que a própria reação legítima do Estado em caso de condenação. Já numa apreciação vulgar, se apresenta como um contrassenso o fato de que, por uma infração penal hipotética, o imputado sofra mais durante o processo que com a pena que eventualmente lhe será aplicada, em caso de condenação, pelo fato punível que lhe é atribuído". 202 Guilherme Nucci disserta que a prisão preventiva deve ter vigência por prazo razoável, porém essa razoabilidade deve ser averiguada conforme as determinações da proporcionalidade. Além disso, o autor adota parâmetro mais restrito para essa análise, a qual seja a pena mínima privativa de liberdade cominada. 203 O mencionado critério foi utilizado em decisão proferida em sede de habeas corpus pelo Superior Tribunal de Justiça para o reconhecimento da ilegitimidade da privação cautelar: Todavia, é de se reconhecer o excesso de prazo quando a custódia cautelar ultrapassa a pena mínima cominada e não há previsão do encerramento da instrução, 200 BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Habeas Corpus nº 53734. Relator: Ministro Arnal Esteves Lima. Diário da Justiça. Brasília, 05 nov. 2007. p. 298-298. Disponível em: <http://www.stj.jus.br/SCON/jurisprudencia/toc.jsp?processo=53734&&b=ACOR&thesaurus=JURIDICO&p=tr ue>. Acesso em: 17 maio 2018. 201 LACAVA, Thaís Aroca Datcho. A garantia da razoável duração da persecução penal. 2009. 211 f. Dissertação (Mestrado) - Curso de Direito, Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, São Paulo, 2009. pp. 142-143 202 LIMA, Renato Brasileiro de. Manual de processo penal: volume único. 5. ed. Salvador: Juspodivm, 2017, p. 840 Apud MAIER, Julio B. J. Derecho Procesol Penal. Tomo f: Fundamentos. 3~ ed. Buenos Aires: Editores dei Puerto, 2004, p. 526 (tradução livre). 203 NUCCI, Guilherme de Souza. Princípios constitucionais penais e processuais penais. 3. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2013.p. 397 61 sob pena de o Paciente permanecer mais tempo preso provisoriamente, em regime fechado, do que ficaria se fosse efetivamente condenado. 204 No mesmo sentido, Odone Sanguiné comenta que a simples superação do limite mínimo da sanção penal relativa ao delito pelo tempo de sujeição à custódia cautelar torna esta desmedida, violando a concepção do subprincípio da proporcionalidade em sentido estrito, responsável pelo juízo de ponderação entre o fim pretendido e o meio utilizado para o seu alcance. 205 Isso porque o indivíduo destinatário da privação cautelar, como explicitado acima, sofreria imposição mais onerosa à sua liberdade e aos demais direitos fundamentais, cujo exercício pleno dela depende, do que quando estivesse submetido à execução definitiva da pena aplicada. Assim, o meio escolhido, no caso a prisão preventiva, para efetivar o atingimento do objetivo buscado, o qual seja a efetividade do resultado final do processo, implicaria em sacrifício elevado, não compensado pelos proveitos eventualmente promovidos por aquele. Nesse seguimento, o Supremo Tribunal Federal no julgamento do Habeas Corpus nº 101.146, declarou a desproporcionalidade da prisão preventiva em face da pena aplicada na sentença condenatória, uma vez que o réu já teria cumprido quase a "metade da pena imposta, sem que tivesse direito à eventual progressão de regime prisional" e, assim, concedeu a ordem para revogar a medida cautelar e permitir o gozo pleno da liberdade pelo indivíduo. 206 Portanto, a medida cautelar de privação de liberdade deve ser interrompida de forma imediata quando o seu prazo de duração for significativo se comparado ao tempo da provável pena a ser aplicada na eventual condenação 207 ou, até mesmo, quando superar o limite mínimo de sanção penal relativo ao delito objeto do processo por configurar restrição abusiva e violadora do princípio da homogeneidade. 204 BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Habeas Corpus nº 110286. Relator: Ministra Laurita Vaz. Diário da Justiça Eletrônico. Brasília, 01 dez. 2008. Disponível em: <http://www.stj.jus.br/SCON/jurisprudencia/toc.jsp?processo=110286&&b=ACOR&thesaurus=JURIDICO&p= true>. Acesso em: 18 maio 2018. 205 SANGUINÉ, Odone. Prisão cautelar, medidas alternativas e direitos fundamentais. [Versão e-reader]. Rio de Janeiro: Forense, 2014. Disponível em: <https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/978-85-309- 5816-9 Copiar>. Acesso em: 18 mai. 2018. 206 BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Habeas Corpus nº 101146. Relator: Ministro Ricardo Lewandowisk. Diário da Justiça Eletrônico. Brasília, 20 ago. 2010. Disponível em: <http://www.stf.jus.br/portal/jurisprudencia/listarJurisprudencia.asp?s1=(101146.NUME.+OU+101146.ACMS.) &base=baseAcordaos&url=http://tinyurl.com/yccvz5ba>. Acesso em: 18 maio 2018. 207 CRUZ, Rogério Schietti. Prisão cautelar: dramas, princípios e alternativas. 4. ed. Salvador: Juspodivm, 2018, p. 130. 62 4.3 A prisão preventiva X o regime inicial imposto na sentença condenatória A aferição da proporcionalidade e homogeneidade da prisão preventiva, conforme já afirmado deve ocorrer também durante a sua constância. Gustavo Badaró discorre que a provisoriedade da medida cautelar caracteriza a sua revogabilidade diante de mudanças no estado de fato e direito que autorizaram a sua decretação. 208 A prisão preventiva mesmo que inicialmente legítima, tendo atendido aos ditames legais e constitucionais ao tempo da sua determinação, pode transmudar-se à medida abusiva, caso as condições iniciais da sua imposição sejam alteradas e não mais permitam a privação cautelar da liberdade. O magistrado deve estar sempre atento a essas circunstâncias, de forma a evitar o encarceramento desnecessário e desproporcional do acusado. A hipótese estudada a seguir é relativa à superveniência de sentença condenatória em face da manutenção da prisão preventiva, devendo se averiguar a compatibilidade entre esta e o regime inicial imposto para o cumprimento da pena. 4.3.1 Regime aberto e semiaberto A manutenção ou decretação da prisão preventiva mediante sentença condenatória repercute na vedação do exercício do direito de recorrer em liberdade, porém não é necessária para o conhecimento da eventual apelação interposta (art. 387, § 1, do CPP 209 ). 210 Ressalta-se que, em face do princípio da presunção de inocência, a referida medida deve ter natureza exclusivamente cautelar, sustentada nos fundamentos do art. 312, do CPP 211 , requisitos e demais pressupostos legais, sendo imprescindível a observância dos ditames da proporcionalidade e homogeneidade, tendo em vista o regime inicial imposto na sentença. O regime aberto ou semiaberto impõe tratamento mais brando, não ocasionando a privação total da liberdade do réu. 208 BADARÓ, Gustavo Henrique. A Prisão Preventiva e o Princípio da Proporcionalidade: propostas de mudanças legislativas. Revista da Faculdade de Direito: Universidade de São Paulo, São Paulo, v. 103, p.381- 408, já./dez. 2008. Disponível em: <http://www.revistas.usp.br/rfdusp/article/view/67811/70419>. Acesso em: 18 mai. 2018, p. 399. 209 BRASIL. Decreto-lei nº 3.689, de 03 de outubro de 1941. Código de Processo Penal. Rio de Janeiro, Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del3689Compilado.htm>. Acesso em: 18 mai. 2018. “Art. 387. (...)§ 1o O juiz decidirá, fundamentadamente, sobre a manutenção ou, se for o caso, a imposição de prisão preventiva ou de outra medida cautelar, sem prejuízo do conhecimento deapelação que vier a ser interposta.” 210 REBOUÇAS, Sérgio. Curso de direito processual penal. Salvador: Juspodivm, 2017, p. 952-953. 211 Ibidem, p. 952-953. 63 O primeiro regime decreta o cumprimento da sanção penal em colônias agrícolas, industriais ou em estabelecimento similar (art. 91, LEP 212 ), nos quais é permitido o trabalho em comum no período diurno, bem como atividade laboral externa, exercidos sob vigilância. O condenado pode ainda frequentar curso de ensino regular ou profissionalizante. No regime aberto, o cumprimento da pena ocorre na Casa de Albergado (art. 93, LEP 213 ), sendo exigido o trabalho externo ou a frequência a curso ou exercício de outra atividade autorizada, sem qualquer tipo de vigília, devendo o indivíduo se recolher ao estabelecimento no período noturno e nos dias de folga (art. 36, §1, CP 214 ). 215 Tendo em vista a condição desses regimes, demonstra-se desmedida a continuidade ou imposição da privação cautelar, por configurar pior ofensa ao status libertatis do indivíduo. Andrey Borges de Mendonça discorre sobre o tema, afirmando que essa situação também se identifica como contraditória não havendo razão para a manutenção da prisão preventiva, cuja desproporcionalidade é mais evidente quando ocorre o trânsito em julgado para a acusação, uma vez que o recurso interposto pelo réu não é capaz de piorar a situação deste, em razão da vedação da reformatio in pejus 216 e, assim, certamente, a execução da pena definitiva ocorrerá em regime diverso do fechado. A proporcionalidade, consoante André Nicolitt, constitui limite de identificação da legitimidade da prisão cautelar, não podendo esta ser mais onerosa do que o provimento final, sob pena de configurar uma situação incongruente: o condenado com sentença transitada em julgado submete-se a tratamento mais vantajoso do que o individuo com condenação ainda pendente de recurso. 217 212 BRASIL. Lei nº 7210, de 11 de julho de 1984. Institui a Lei de Execução Penal. Brasília, Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l7210.htm>. Acesso em: 19 maio 2018. “Art. 91. A Colônia Agrícola, Industrial ou Similar destina-se ao cumprimento da pena em regime semi-aberto.” 213 BRASIL. Lei nº 7210, de 11 de julho de 1984. Institui a Lei de Execução Penal. Brasília, Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l7210.htm>. Acesso em: 19 maio 2018. “Art. 93. A Casa do Albergado destina-se ao cumprimento de pena privativa de liberdade, em regime aberto, e da pena de limitação de fim de semana.” 214 BRASIL. Decreto-lei nº 2.848, de 07 de dezembro de 1940. Código Penal. Rio de Janeiro, Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del2848compilado.htm>. Acesso em: 19 mai. 2018. “Art. 36 - O regime aberto baseia-se na autodisciplina e senso de responsabilidade do condenado. (...)§ 1º - O condenado deverá, fora do estabelecimento e sem vigilância, trabalhar, freqüentar curso ou exercer outra atividade autorizada, permanecendo recolhido durante o período noturno e nos dias de folga.” 215 GRECO FILHO, Vicente. Manual de processo penal. 11. ed. São Paulo: Saraiva, 2015, p. 503. 216 MENDONÇA, Andrey Borges de. Prisão e outras Medidas Cautelares Pessoais: de acordo com a Lei 12.403/2011. São Paulo: Método, Grupo Gen, 2011. 496 p. Disponível em: <https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/978-85-309-4233-5>. Acesso em: 19 mai. 2018, p. 54. 217 NICOLITT, André. Manual de processo penal. 6. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais Ltda., 2016.Disponívelem:<https://proview.thomsonreuters.com/launchapp/title/rt/monografias/99925223/v6>. Acesso em: 14 mai. 2018. 64 Tal incongruência repercute negativamente no próprio exercício de defesa do réu. Isso porque, determinada ou mantida a prisão preventiva, a interposição de recurso prolonga a sujeição do indivíduo à referida medida, a qual é mais onerosa ao seu status libertatis do que o cumprimento imediato da pena definitiva imposta na sentença, iniciado em regime aberto ou semiaberto. A concretização do direito de recorrer, decorrente da ampla defesa e do contraditório promove mais sofrimento ao réu do que a renúncia a esses direitos. Destarte, o processo, cuja finalidade precípua seria assegurar os direitos e garantias do acusado diante de um Estado Pesecutor e, assim, evitar arbitrariedades, torna-se um inibidor do exercício dessas prerrogativas, indo de encontro a sua natureza "constitucional-garantidora" 218 formalizada por um sistema penal norteado pela presunção de inocência. Nesse caso, o processo configuraria a própria penalização de um indivíduo ainda não considerado culpado e não um instrumento legítimo para a imposição daquela 219 , que somente poderia ocorrer após a constatação da culpabilidade do réu. Pelos fundamentos demonstrados, verifica-se a evidente incompatibilidade entre a prisão preventiva e o regime aberto ou semiaberto imposto na sentença condenatória para cumprimento de pena. O Supremo Tribunal Federal adota o entendimento exposto, afirmando a necessidade de imediata revogação da referida medida cautelar quando mantida em face de fixação de regime menos severo que o fechado no decisório jurisdicional condenatório, sob pena de violação ao postulado da proporcionalidade. 220 A mencionada Corte compreende pela incoerência na hipótese acima, afetando a natureza essencial da prisão preventiva. A sujeição do indivíduo ao encarceramento, mesmo que condenado à execução de pena em regime mais brando simboliza a desvinculação da finalidade acautelatória inerente ao instituto e a legitimação da “execução provisória da pena em regime mais gravoso do que aquele fixado na própria sentença condenatória (= semiaberto)” 221 . 218 LOPES JUNIOR, Aury. Fundamentos do processo penal: introdução crítica. 3. ed. São Paulo: Saraiva, 2017, p. 65. 219 Ibidem, p. 60. 220 BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Habeas Corpus nº 138122. Relator: Ministro Ricardo Lewandowisk. Diário da Justiça Eletrônico. Brasília, 22 maio 2005. Disponível em: <http://www.stf.jus.br/portal/jurisprudencia/listarJurisprudencia.asp?s1=(138122.NUME.+OU+138122.ACMS.) &base=baseAcordaos&url=http://tinyurl.com/lqjag4v>. Acesso em: 19 maio 2018. 221 BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Habeas Corpus nº 118257. Relator: Ministro Teori Zavascki. Diário da Justiça Eletrônico. Brasília, 06 mar. 2014. Disponível em: <http://www.stf.jus.br/portal/jurisprudencia/listarJurisprudencia.asp?s1=%28118257%2ENUME%2E+OU+1182 57%2EACMS%2E%29&base=baseAcordaos&url=http://tinyurl.com/zspoz8z>. Acesso em: 19 maio 2018. 65 Ademais, complementa o entendimento ao dispor que a prisão preventiva não admite temperamento. No julgamento do Habeas Corpus nº 130.773, a Primeira Turma do STF entendeu pela impossibilidade de se conceder ao réu sujeito à privação cautelar, mas condenado a regime semiaberto, o gozo de benefícios inerentes a este, como o trabalho externo e as saídas temporárias, uma vez que representa antecipação indevida de pena e não condiz com a natureza própria de regime fechado da prisão preventiva. 222 O mencionado instituto, consoante afirma Guilherme de Souza Nucci, tolhe o direito de ir e vir do indivíduo, recolhendo-o ao encarceramento 223 , o que pressupõe a privação total da liberdade de locomoção daquele. Dessa forma, afere-se que a prisão preventiva é cumprida em sistema de regime fechado e o seu abrandamento, a fim de coadunar-se com regimes menos severos, promove a sua desconstituição. Ao contrário, Rogério Schietti Cruz entende pela compatibilidade entre a prisão preventiva e o regime semiaberto fixado na sentença condenatória, ante a razão de que este promove o encarceramento do réu em estabelecimento prisional e os eventuais benefícios de trabalhoexterno e saídas temporárias somente são concedidos posteriormente à análise do atendimento dos requisitos legais. Assim, afirma a desnecessidade de adaptação da medida cautelar ao sistema do regime de pena imposto, uma vez que ambos possuem fundamentos diversos e objetivam tutelar bens jurídicos diferentes. 224 O referido entendimento foi reproduzido no julgamento do Recurso Ordinário em Habeas Corpus nº 46.604 proferido pelo então Ministro do Superior Tribunal de Justiça: [...] Não há incompatibilidade entre o regime fixado e a prisão cautelar, visto que, a par das diferenças de fundamento de uma e outra prisão, o regime semiaberto inicia- se com o recolhimento do condenado a um estabelecimento prisional, que somente passa a gozar de benefícios extra-muros (saídas temporárias, trabalho externo, etc), com a análise objetiva e subjetiva dos requisitos previstos na LEP, em decisão do Juízo da Execução Penal. [...] Assim, mantida a prisão preventiva do sentenciado, para vedar o recurso em liberdade, não há que se falar em adaptação da cautelaridade da custódia ao regime semiaberto e tampouco aos benefícios a ele inerentes, pois instrumentos que visam tutelar bens jurídicos totalmente distintos.[...] 225 222 BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Habeas Corpus nº 130773. Relator: Ministra Rosa Weber. Diário da Justiça Eletrônico. Brasília, 31 nov. 2011. Disponível em: <http://www.stf.jus.br/portal/jurisprudencia/listarJurisprudencia.asp?s1=%28130773%2ENUME%2E+OU+1307 73%2EACMS%2E%29&base=baseAcordaos&url=http://tinyurl.com/jcvmlnb>. Acesso em: 19 maio 2018. 223 NUCCI, Guilherme de Souza. Manual de processo penal e execução penal. 11. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2014, p. 445. 224 CRUZ, Rogério Schietti. Prisão cautelar: dramas, princípios e alternativas. 4. ed. Salvador: Juspodivm, 2018, p. 135. 225 BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Recurso Ordinário em Habeas Corpus nº 46604. Relator p/ Acórdão: Ministro Rogério Schietti Cruz. Diário da Justiça Eletrônico. Brasília, 09 set. 2014. Disponível em:<http://www.stj.jus.br/SCON/jurisprudencia/toc.jsp?processo=46604&&b=ACOR&thesaurus=JURIDICO& p=true>. Acesso em: 19 maio 2018. Nesse sentido: BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Habeas Corpus nº 66 O mencionado Tribunal Superior adota, atualmente, a compreensão pela legitimidade da manutenção da prisão preventiva, presentes os seus pressupostos e comprovada a sua necessidade concreta, mesmo diante da imposição de regime aberto ou semiaberto na sentença condenatória. Contudo, em julgados recentes, vem impondo que o sequestro cautelar deve se coadunar com as condições de cumprimento de pena determinados nos referidos regimes, indo de encontro ao disposto acima. 226 Como analisado, o regime aberto e o semiaberto estabelecem sobre o status libertatis do indivíduo gravame mais leve, restringindo a liberdade deste e não a privando e, por isso, não correspondem ao encarceramento promovido pela prisão preventiva. Segundo Gustavo Badaró, os efeitos práticos da custódia cautelar, exercida em "cadeia pública ou num centro de detenção provisória” se assemelham aos da prisão destinada ao cumprimento de pena privativa de liberdade em regime fechado. 227 Além disso, a hodierna concepção do STJ de adequação da prisão cautelar a esses regimes afeta e compromete a própria essência da prisão preventiva. Cumpre afirmar a existência de medidas cautelares diversas da prisão (art. 319, do CPP), as quais podem ser aplicadas isoladas ou cumulativamente promovendo um melhor atendimento das necessidades do caso concreto e, assim, tutelar a efetividade processual sem impor gravame excessivo ao indivíduo. 228 As restrições ao status libertatis daquele se coadunam com o cumprimento de pena imposto pelo regime aberto ou semiaberto. Por exemplo, no caso de imposição desse regime último, havendo riscos à eficácia da aplicação da lei penal e de reiteração da prática de novos delitos, o magistrado, a fim de garantir o resultado útil do processo, poderá impor ao 89773. Relator p/ Acórdão: Ministro Paulo Gallotti. Diário da Justiça Eletrônico. Brasília, 28 out. 2010. Disponível em: <http://www.stj.jus.br/SCON/jurisprudencia/toc.jsp?processo=89773&&b=ACOR&thesaurus=JURIDICO&p=tr ue>. Acesso em: 19 maio 2018. "Não há incompatibilidade entre a fixação do regime semi-aberto e a manutenção da custódia provisória, desde que presentes os requisitos do art. 312 do Código de Processo Penal." 226 BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Recurso Ordinário em Habeas Corpus nº 76484. Relator: Ministro Jorge Mussi. Diário da Justiça Eletrônico. Brasília, 17 maio 2017. Disponível em: <http://www.stj.jus.br/SCON/jurisprudencia/toc.jsp?processo=76484&&b=ACOR&thesaurus=JURIDICO&p=tr ue>. Acesso em: 19 maio 2018. “Não há incompatibilidade na fixação do modo semiaberto de cumprimento da pena e o instituto da prisão preventiva, bastando a adequação da constrição ao modo de execução estabelecido, o que já foi observado pelo Juízo da Execução.” 227 BADARÓ, Gustavo Henrique. A Prisão Preventiva e o Princípio da Proporcionalidade: propostas de mudanças legislativas. Revista da Faculdade de Direito: Universidade de São Paulo, São Paulo, v. 103, p.381- 408, já./dez. 2008. Disponível em: <http://www.revistas.usp.br/rfdusp/article/view/67811/70419>. Acesso em: 19 mai. 2018, p. 388. 228 MENDONÇA, Andrey Borges de. Prisão e outras Medidas Cautelares Pessoais: de acordo com a Lei 12.403/2011. São Paulo: Método, Grupo Gen, 2011. 496 p. Disponível em: <https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/978-85-309-4233-5>. Acesso em: 19 mai. 2018. Ver a pagina 67 réu o recolhimento domiciliar no período noturno e nos dias de folga (art. 319, V, do CPP 229 ) conjugado ao monitoramento mediante uso da tornozeleira eletrônica (art. 319, IX, do CPP 230 ). Observa-se que a determinação da Corte Superior acerca da adequação da prisão preventiva aos regimes mais brandos, promove a sua descaracterização para assemelhar-se às medidas cautelares alternativas, mostrando-se incompatível e desnecessária a decretação ou manutenção da privação cautelar. Dessa forma, havendo a decretação de regime inicial aberto ou semiaberto na sentença condenatória, não é possível a manutenção ou instituição do referido instituto, sob pena de constituir-se medida arbitrária e abusiva por ser mais gravosa. A revogação da prisão preventiva diante da referida vedação não impede o estabelecimento das medidas diversas tratadas no art. 319, do CPP, as quais podem ser suficientes e adequadas para a tutela do processo. 4.3.2 Regime fechado e o efeito da detração O instituto da prisão preventiva geralmente é imposto antes da prolação da sentença condenatória. O período de sujeição a tal privação de liberdade deve ser computado para fins de determinação do regime inicial de cumprimento de pena (art. 387, §2º, do CPP 231 ). Esse fenômeno denomina-se detração, o qual é previsto originalmente no art. 42, do Código Penal 232 . 233 229 BRASIL. Decreto-lei nº 3.689, de 03 de outubro de 1941. Código de Processo Penal. Rio de Janeiro, Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del3689Compilado.htm>. Acesso em: 19 mai. 2018. “Art. 319. São medidas cautelares diversas da prisão: (...)V - recolhimento domiciliar no período noturno e nos dias de folga quando o investigado ou acusado tenha residência e trabalho fixos.” 230 Ibidem, acesso em: 19 mai. 2018. “Art. 319. São medidas cautelares diversas da prisão: (...) IX - monitoração eletrônica.” 231 BRASIL. Decreto-lei nº 3.689, de 03 de outubro de 1941. Códigode Processo Penal. Rio de Janeiro, Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del3689Compilado.htm>. Acesso em: 19 mai. 2018. “Art. 387. (...) § 2o O tempo de prisão provisória, de prisão administrativa ou de internação, no Brasil ou no estrangeiro, será computado para fins de determinação do regime inicial de pena privativa de liberdade.” 232 BRASIL. Decreto-lei nº 2.848, de 07 de dezembro de 1940. Código Penal. Rio de Janeiro, Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del2848compilado.htm>. Acesso em: 17 mai. 2018. “Art. 42 - Computam-se, na pena privativa de liberdade e na medida de segurança, o tempo de prisão provisória, no Brasil ou no estrangeiro, o de prisão administrativa e o de internação em qualquer dos estabelecimentos referidos no artigo anterior.” 233 REBOUÇAS, Sérgio. Curso de direito processual penal. Salvador: Juspodivm, 2017, p. 1028. 68 Consoante Guilherme Nucci, a detração é instrumento de compensação do prazo de privação de liberdade sofrida cautelarmente pelo indivíduo quando ainda não condenado e a prisão a ser imposta decorrente da aplicação da pena. 234 André Nicollit compreende que o §2º do art. 387, do CPP, permite o que ele denomina de progressão cautelar de regime, cuja finalidade é "manter a proporcionalidade concreta da prisão cautelar". Para o autor, a detração somente implicaria na fixação de regime menos severo, caso o prazo de sujeição à custódia cautelar fosse igual ou superior a um sexto da pena. 235 A referida progressão exige apenas o atendimento desse requisito objetivo, uma vez que se diferencia da progressão processada na execução definitiva da pena após o trânsito em julgado e incide sobre indivíduo presumidamente inocente, não sendo considerados os aspectos subjetivos. Cumpre afirmar que a referida progressão repercutiria na própria prisão cautelar e no seu modo de cumprimento. Segundo Andre Nicollit, a lei promoveu inovação no “sistema cautelar, exigindo que o juiz ao proferir a sentença fundamente o decreto de prisão ou sua manutenção e em seguida, proceda à adequação da medida cautelar à proporcionalidade concreta da reprimenda”.236 Ocorre que, como já defendido no tópico anterior, a prisão preventiva é instituto, cuja natureza da custódia é própria do regime fechado e o seu abrandamento ocasiona a desconstituição da medida, não havendo a possibilidade de adequação desse instituto ao sistema de cumprimento de pena determinado no regime aberto ou semiaberto. Ademais, o fenômeno da detração, segundo a jurisprudência do STJ, não está vinculado à progressão de regime, o qual impõe a análise de critérios objetivos e subjetivos, como o lapso temporal e o comportamento carcerário respectivamente, além de que a determinação da progressão é de competência do Juízo das Execuções Penais. 237 Na verdade, consoante afirmado, a detração importa, na fase da sentença condenatória, como permissor da fixação de regime menos gravoso para o cumprimento inicial da pena. 234 NUCCI, Guilherme de Souza. Manual de processo penal e execução penal. 11. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2014, p. 484. 235 NICOLITT, André. Manual de processo penal. 6. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais Ltda., 2016.Disponívelem:<https://proview.thomsonreuters.com/launchapp/title/rt/monografias/99925223/v6>. Acesso em: 18 mai. 2018. 236 Ibidem, acesso em: 18 mai. 2018. 237 BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Habeas Corpus nº 325174. Relator: Ministra Maria Thereza de Assis Moura. Diário da Justiça Eletrônico. Brasília, 30 set. 2018. Disponível em: <http://www.stj.jus.br/SCON/jurisprudencia/toc.jsp?processo=325174&&b=ACOR&thesaurus=JURIDICO&p= true>. Acesso em: 19 maio 2018. 69 A repercussão de tal fenômeno no instituto da prisão preventiva se dá no momento em que, mediante a detração, a pena é reduzida a ponto de permitir que o seu cumprimento, originalmente a ser realizado em regime fechado, passe a ocorrer em regime mais brando. Assim, a fixação deste, na sentença, impossibilita a manutenção ou decretação da prisão preventiva por violação ao princípio da homogeneidade, tornando-se a medida desproporcional e consequentemente de natureza abusiva. 70 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS No processo penal, a instituição da prisão preventiva decorre da necessidade de tutela da sua efetividade e utilidade do seu resultado final, caracterizando-se como medida cautelar de natureza pessoal. Contudo, por se assemelhar à prisão-pena, constitui intenso gravame ao indivíduo, afetando seu status libertatis, sendo este indispensável para o exercício pleno de demais direitos fundamentais. Nesse contexto, o presente trabalho buscou identificar e analisar os parâmetros de aplicação desse instituto, não somente os estabelecidos na legislação, mas também os decorrentes dos mandamentos constitucionais, os quais permitem aferir o princípio da homogeneidade das medidas cautelares, e, assim, demonstrar a imprescindibilidade de observância deste, conjugado aos demais para a manutenção e preservação da natureza cautelar da prisão preventiva, uma vez que essa condição é a única que legitima a sua imposição durante o trâmite processual. Destarte, foi fundamental averiguar a conceituação do instituto, de forma a diferenciá-lo de uma prisão definitiva após condenação penal, sendo necessária a constatação da sua natureza jurídica. A partir disso, traçaram-se as características próprias e identificadoras da finalidade acautelatória da prisão preventiva, como a instrumentalidade, a referibilidade, a acessoriedade e a provisoriedade, demonstrando a estreita e conecta relação entre o meio utilizado e o fim que se busca tutelar. Após isso, os primeiros parâmetros de aplicação do instituto foram analisados, como os estabelecidos na legislação penal e processual penal (fumus comissi delict, periculum in libertatis e hipóteses de cabimento), porém restou-se demonstrada a insuficiência destes para evitar aplicação abusiva da prisão preventiva e preservar a sua natureza cautelar, quando não interpretados e norteados conforme os mandamentos constitucionais do devido processo legal, da presunção de inocência, da razoável duração do processo e da proporcionalidade. Contatou-se ainda que os referidos ditames constitucionais promovem de forma conjunta a necessidade de se considerar o acusado como um sujeito de direitos, devendo ser assegurado o exercício das suas prerrogativas e garantias fundamentais, o que repercute no tratamento despendido àquele como presumidamente inocente. Assim, as restrições e privações aos direitos do acusado, principalmente da sua liberdade, devem ocorrer de forma excepcional e atendendo apenas ao fim de tutela do processo, observando também à razoável duração do processo e à proporcionalidade, este, segundo os seus subprincípios (adequação, 71 necessidade e proporcionalidade em sentido estrito), como limitadores da atuação estatal, impedindo arbitrariedades na instituição da privação cautelar. Por fim, foi examinada a relação direta entre os mencionados preceitos constitucionais, principalmente a proporcionalidade em sentido estrito e o princípio da homogeneidade, uma vez que esta impõe a necessidade de proporção entre o meio empregado e o fim que se busca tutelar, averiguada segundo um juízo de ponderação, não podendo àquele constituir medida mais gravosa, sob pena de tornar-se ilegítima e abusiva. Dessa forma, na hipótese de imposição da prisão preventiva, o juiz deve analisar se o resultado final do processo que visa, promoverá gravame equivalente à medida, no contrário, os prejuízos sofridos com esta não serão compensados pelos proveitos, cuja busca pelo seu alcance ensejaram na instituição da prisão cautelar. A realização desse prognóstico deve ocorrer conforme a provável pena estabelecidana eventual sentença condenatória, bem como o regime inicial de cumprimento daquela. Isso porque, a partir desses parâmetros é possível aferir se o resultado final do processo constituíra em privação total da liberdade ou não. A possibilidade de conversão da pena privativa de liberdade para restritiva de direitos e de determinação na sentença de regime aberto ou semiaberto impedem a imposição de prisão cautelar por serem menos onerosas ao indivíduo. Além disso, a averiguação da homogeneidade do instituto deve ocorrer durante a vigência da prisão preventiva, a partir da relação entre o seu prazo e a duração da pena de privação de liberdade, conforme também os mandamentos da razoável duração do processo, de forma a impedir que aquela compreenda o cumprimento significativo da provável sanção penal aplicada, na condição de não culpado. Além disso, essa análise deve ser realizada na hipótese de manutenção da medida cautelar e superveniência de sentença condenatória que imponha regime aberto ou semiaberto em decorrência da pena originalmente aplicada ou do fenômeno da detração. A compatibilidade do mencionado instituto com a concepção de um sistema processual penal acusatório, do qual decorrem os parâmetros legais e constitucionais expostos acima, depende da manutenção da sua natureza cautelar. Portanto, o princípio da homogeneidade das medidas cautelares é imprescindível para a observância dos mandamentos decorrentes dos referidos princípios constitucionais, bem como das determinações legais relativas à aplicação da prisão preventiva. O não atendimento desse conjunto de parâmetros, principalmente da homogeneidade da medida, acarreta no esvaziamento da finalidade acautelatória da prisão preventiva, a qual como 72 instrumento de tutela de um resultado útil, não pode configurar em medida autônoma de repressão e antecipação de pena, sendo mais gravosa que aquele, sob pena de implicar na renúncia de direitos fundamentais do acusado, como o direito de defesa e violar os ditames da presunção de inocência, uma vez que despende tratamento mais gravoso ao acusado do que ao condenado. 73 REFERÊNCIAS ALEXY, Robert. Teoria dos direitos fundamentais. 2. ed. São Paulo: Malheiros, 2015. Tradução de: Virgílio Afonso da Silva. BADARÓ, Gustavo Henrique. A Prisão Preventiva e o Princípio da Proporcionalidade: propostas de mudanças legislativas. Revista da Faculdade de Direito: Universidade de São Paulo, São Paulo, v. 103, p.381-408, já./dez. 2008. Disponível em: <http://www.revistas.usp.br/rfdusp/article/view/67811/70419>. Acesso em: 25 fev. 2018. ______. Processo Penal. 5. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais Ltda., 2017.Disponívelem:<https://proview.thomsonreuters.com/launchapp/title/rt/monografias/104 402244/v5>. Acesso em: 24 fev. 2018. BRASIL. Decreto-lei nº 2.848, de 07 de dezembro de 1940. Código Penal. Rio de Janeiro, Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del2848compilado.htm>. Acesso em: 05 mar. 2018. ______. Decreto-lei nº 3.689, de 03 de outubro de 1941. Código de Processo Penal. Rio de Janeiro, Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto- lei/Del3689Compilado.htm>. Acesso em: 07 mar. 2018. ______. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, Disponívelem:<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm >. Acesso em: 28 fev. 2018. ______. Decreto-lei nº 3688, de 03 de outubro de 1941. Lei das Contravenções Penais. 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