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FOBIAS, TAG (TRANSTORNO DE ANSIEDADE GENERALIZADA), PÂNICO, DOR E HUMOR Faculdade de Minas 2 Sumário INTRODUÇÃO................................................................................................. 4 HIPNOSE NO CONTROLE DA DOR .............................................................. 7 HIPNOSE NO CONTROLE DA ANSIEDADE ................................................ 10 A HIPNOSE NO TRATAMENTO DE DOENÇAS........................................... 18 HIPNOSE NO TRATAMENTO DE FOBIAS .................................................. 21 A PROPOSTA DE ERICKSON PARA O TRATAMENTO DA DOR ............... 25 CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................... 29 REFERÊNCIAS ............................................................................................. 30 Faculdade de Minas 3 NOSSA HISTÓRIA A nossa história inicia com a realização do sonho de um grupo de empresários, em atender à crescente demanda de alunos para cursos de Graduação e Pós- Graduação. Com isso foi criado a nossa instituição, como entidade oferecendo serviços educacionais em nível superior. A instituição tem por objetivo formar diplomados nas diferentes áreas de conhecimento, aptos para a inserção em setores profissionais e para a participação no desenvolvimento da sociedade brasileira, e colaborar na sua formação contínua. Além de promover a divulgação de conhecimentos culturais, científicos e técnicos que constituem patrimônio da humanidade e comunicar o saber através do ensino, de publicação ou outras normas de comunicação. A nossa missão é oferecer qualidade em conhecimento e cultura de forma confiável e eficiente para que o aluno tenha oportunidade de construir uma base profissional e ética. Dessa forma, conquistando o espaço de uma das instituições modelo no país na oferta de cursos, primando sempre pela inovação tecnológica, excelência no atendimento e valor do serviço oferecido. Faculdade de Minas 4 INTRODUÇÃO Ansiedade é um sentimento vago e desagradável de medo, apreensão, caracterizado por tensão ou desconforto derivado de antecipação de perigo, de algo desconhecido ou estranho. Em crianças, o desenvolvimento emocional influi sobre as causas e a maneira como se manifestam os medos e as preocupações tanto normais quanto patológicos. Diferentemente dos adultos, crianças podem não reconhecer seus medos como exagerados ou irracionais, especialmente as menores. A ansiedade e o medo passam a ser reconhecidos como patológicos quando são exagerados, desproporcionais em relação ao estímulo, ou qualitativamente diversos do que se observa como norma naquela faixa etária e interferem com a qualidade de vida, o conforto emocional ou o desempenho diário do indivíduo. Tais reações exageradas ao estímulo ansiogênico se desenvolvem, mais comumente, em indivíduos com uma predisposição neurobiológica herdada. A maneira prática de se diferenciar ansiedade normal de ansiedade patológica é basicamente avaliar se a reação ansiosa é de curta duração, autolimitada e relacionada ao estímulo do momento ou não. Os transtornos ansiosos são quadros clínicos em que esses sintomas são primários, ou seja, não são derivados de outras condições psiquiátricas (depressões, psicoses, transtornos do desenvolvimento, transtorno hipercinético, etc.). Sintomas ansiosos (e não os transtornos propriamente) são frequentes em outros transtornos psiquiátricos. É uma ansiedade que se explica pelos sintomas do transtorno primário (exemplos: a ansiedade do início do surto esquizofrênico; o medo da separação dos pais numa criança com depressão maior) e não constitui um conjunto de sintomas que determina um transtorno ansioso típico (descritos a seguir). Mas podem ocorrer casos em que vários transtornos estão presentes ao mesmo tempo e não se consegue identificar o que é primário e o que não é, sendo mais correto referir que esse paciente apresenta mais de um diagnóstico coexistente Faculdade de Minas 5 (comorbidade). Estima-se que cerca de metade das crianças com transtornos ansiosos tenham também outro transtorno ansioso. Pelos sistemas classificatórios vigentes, o transtorno de ansiedade de separação foi o único transtorno mantido na seção específica da infância e adolescência (CID-10, DSM-IV). O transtorno de ansiedade excessiva da infância e o transtorno de evitação da infância (DSM-III-R), passaram a ser referidos nas classificações atuais, respectivamente, como transtorno de ansiedade generalizada (TAG) e fobia social. Os transtornos ansiosos são os quadros psiquiátricos mais comuns tanto em crianças quanto em adultos, com uma prevalência estimada durante o período de vida de 9% e 15% respectivamente. Nas crianças e adolescentes, os transtornos ansiosos mais frequentes são o transtorno de ansiedade de separação, com prevalência em torno de 4%, o transtorno de ansiedade excessiva ou o atual TAG (2,7% a 4,6%) e as fobias específicas (2,4% a 3,3%). A prevalência de fobia social fica em torno de 1% e a do transtorno de pânico (TP) 0,6%. A distribuição entre os sexos é de modo geral equivalente, exceto fobias específicas, transtorno de estresse pós-traumático e transtorno de pânico com predominância do sexo feminino. A causa dos transtornos ansiosos infantis é muitas vezes desconhecida e provavelmente multifatorial, incluindo fatores hereditários e ambientais diversos. Entre os indivíduos com esses transtornos, o peso relativo dos fatores causais pode variar. De uma maneira geral, os transtornos ansiosos na infância e na adolescência apresentam um curso crônico, embora flutuante ou episódico, se não tratados. Na avaliação e no planejamento terapêutico desses transtornos, é fundamental obter uma história detalhada sobre o início dos sintomas, possíveis fatores desencadeantes (ex. crise conjugal, perda por morte ou separação, doença na família e nascimento de irmãos) e o desenvolvimento da criança. Sugere-se, também, levar em conta o temperamento da criança (ex. presença de comportamento inibido), o tipo de apego que ela tem com seus pais (ex. seguro ou não) e o estilo de cuidados paternos destes Faculdade de Minas 6 (ex. presença de superproteção), além dos fatores implicados na etiologia dessas patologias. Também deve ser avaliada a presença de comorbidade. De modo geral, o tratamento é constituído por uma abordagem multimodal, que inclui orientação aos pais e à criança, terapia cognitivo-comportamental, psicoterapia dinâmica, uso de psicofármacos e intervenções familiares. Faculdade de Minas 7 HIPNOSE NO CONTROLE DA DOR A hipnose no controle da dor promove alteração do estado de consciência, permitindo um estado mais sugestionáveis, tornando assim mais fácil mudar a percepção. A analgesia hipnótica tem sido utilizada em vários estudos randomizados reduzindo a quantidade de analgésicos utilizados pelos pacientes, assim como os eventos adversos decorrentes da utilização dos mesmos (MONTGOMERY, 2007). Existem diferenças entre dor aguda e crônica que podem ter implicações importantes sobre a maneira pela qual a analgesia hipnótica é realizada, assim como a duração do efeito. Fatores, tais como crenças e enfrentamento de desafios desempenham um papel maior na experiência da dor crônica do que na aguda. (GOLDSTEIN, 2011). Dados científicos citam que pacientes com dor crônica, apresentavam retorno da mesma depois de algum período do término das sessões de hipnose. Diversas pesquisas relatam o uso da hipnose no controle da dor, seja em procedimentos de punção lombar, seja em biópsia de mama ou mastectomia ou ainda no controle da dor crônica em pacientes idosos hospitalizados. No entanto revisões sistemáticas citamo efeito benéfico da hipnose, mas questionam a falta de padronização das intervenções nos ensaios clínicos, bem como diversos víeis em relação a tamanho de amostra, randomização, metodologia de pesquisa. Dentre as teorias que buscam explicar a analgesia hipnótica, pode-se citar à teoria da neodissociação, segundo a qual existe uma redução da percepção consciente da dor que é mascarada por barreiras no cérebro, tipo amnésia. Essa interpretação por dissociação na consciência oferece uma explicação para o paradoxo dos índices de estresse fisiológico permanecer presentes durante o processo hipnótico, embora o indivíduo relate não sentir dor. Outra teoria cita que a sugestão hipnótica produz analgesia pela ativação de um sistema opioide endógeno inibidor de dor, por meio de mecanismos de controle Faculdade de Minas 8 descendente na medula espinhal, prevenindo a transmissão da informação para o cérebro (VANHAUDENHUYSEA et al., 2014). Dados científicos corroboram a ideia de a hipnose promover inibição ao nível da medula espinhal. Tal fato é demonstrado em relatos de bloqueio induzido em reflexos da pele e braço. Especificamente, sugestões de reduções sensoriais da dor resultam na diminuição da atividade no córtex, enquanto sugestões para a redução da dor afetiva, na diminuição da atividade na parte do cérebro que processa informações emocionais. Durante sugestões de emoções positivas e negativas em indivíduos induzidos a imergir durante um minuto as mãos em água quente. As emoções negativas, de tristeza e raiva, produziam aumento na dor, enquanto as positivas reduziam a percepção. A fim de compreender como a hipnose atua no controle desse sintoma, diversos mecanismos de mapeamento são utilizados, tais como: eletroencefalograma (EEG), análise de frequência de ondas, tomografia por emissão de pósitrons (PET), mapeamento cerebral topográfico, exame de potencial evocado e fluxo sanguíneo cerebral regional. A partir desses exames, observou-se que, mesmo em transe, o estímulo doloroso pode continuar presente desencadeando potencial de ação. Dessa forma, a analgesia hipnótica, aparentemente não envolve os receptores periféricos de dor, mas áreas nociceptivas e afetivas da dor no sistema nervoso central. A pesquisa de fluxo sanguíneo em pacientes que experimentaram dor isquêmica sob hipnose relatou atividade aumentada no córtex somatosensorial, invocando processos fisiológicos inibitórios associados a um eficiente sistema frontolímbico de atenção. Isso demonstra que, mesmo em relaxamento físico, os processos cognitivos estão atuando no controle da atenção (CRAWFORD et al., 1993). Exame de PET sustenta que a indução hipnótica provoca alterações na experiência subjetiva da dor, gerando modificações nas estruturas essenciais à regulação dos estados de consciência, autorregulação, autocontrole. Acredita-se que os estados alterados de consciência ocorrem devido à regulação transitória do córtex pré-frontal, com modificação sutil de funções Faculdade de Minas 9 comportamentais e cognitivas (DIETRICH, 2003). Estudos apoiam o papel modulador central da hipnose no tálamo. A ativação talâmica motora em hipnose pode refletir um estado de "atenção focalizada acompanhada por baixa excitação". Especulações sobre os substratos neurais na hipnose sugerem estar focado no hemisfério direito (HD), com base numa correlação com o criativo, intuitivo, não analíticos e processamento holístico. Tal relação implica que danos em tal hemisfério podem prejudicar a capacidade de resposta hipnótica mais do que no esquerdo. No entanto dados científicos demonstram que pacientes que sofreram traumas no hemisfério direito eram hipnotizados, sugerindo que a hipnose pode ser mediada pelo hemisfério esquerdo. Acredita-se então que uma dicotomia dorsoventral é melhor do que a dicotomia esquerdo-direita para organizar a pesquisa neuropsicológica, com o sistema dorsal impulsionado por expectativas e ação de processamento e o sistema ventral impulsionado pela classificação e processamento de percepção. Novas pesquisas sobre os efeitos da hipnose demonstraram que as redes neurais possuem atividade plástica, onde a ativação contínua de dor pode levar a mudanças nessas redes, consolidando e facilitando, assim, o processamento da dor, mesmo independente da ativação neural periférica. Faculdade de Minas 10 HIPNOSE NO CONTROLE DA ANSIEDADE A hipnose tem sido referenciada em diversos estudos para o controle da ansiedade e depressão. Em uma revisão de 22 artigos, observou-se que 19 apresentaram pelo menos algum efeito positivo da hipnose no controle desses sintomas. Uma pesquisa com 236 pacientes submetidos a intervenções vasculares e renais, ao analisar a ansiedade dos pacientes e sua experiência de sofrimento durante procedimentos invasivos, observou-se que a hipnose reduziu o tempo de procedimento e o uso de medicamentos. Tal conclusão é convergente com outros trabalhos que demonstram que hipnose reduz significativamente a ansiedade durante procedimentos médicos dolorosos em crianças e adolescentes com câncer. Em uma revisão sistemática observou-se que a hipnose pode minimizar a depressão, sendo uma opção para pacientes que se recusam a usar medicação antidepressiva, ou nos casos em que possa causar efeitos adversos ou interações desfavoráveis com outros medicamentos. Uma pesquisa com 63 indivíduos divididos em três grupos randomizados, sendo dois experimentais e um controle. O primeiro grupo recebeu o tratamento terapêutico cognitivo-comportamental, o segundo utilizou hipnose e tratamento cognitivo-comportamental e o controle não recebeu qualquer tipo de intervenção. Os pacientes responderam ao inventário de Beck, a Escala Hospitalar de Ansiedade e Depressão e o Perfil de Estado de Humor em dois momentos, antes e depois de quatro meses da participação na terapia de grupo. Os resultados obtidos refletem o fato de que tanto a intervenção com base em métodos cognitivo-comportamentais, assim como em hipnose reduziram a ansiedade e a depressão para os grupos experimentais. Faculdade de Minas 11 Observou-se que as terapias individuais de hipnose, quando comparados com tratamentos de hipnose de grupo, promoveram melhores resultados. Tal relato não quer dizer que as terapias individuais sempre serão melhores que as terapias de grupo, mas sim que, para os resultados de depressão e ansiedade, uma abordagem individual pode ser mais benéfica para o paciente com câncer. Diante de todos os aspectos abordados, fazem-se necessárias novas análises do uso da hipnose como terapia complementar com ensaios clínicos randomizados, correlacionando os sintomas ansiedade, depressão e dor nos resultados. Hipnose para ansiedade funciona? Hipnoterapia realmente ajuda? Essas são perguntas cada vez mais comuns para quem sofre com os efeitos da ansiedade. E a resposta é sim, a hipnose é uma ferramenta eficaz no controle dos transtornos ansiosos. Em muitos casos, a ansiedade é o resultado de um aprendizado inconsciente. Nós nos condicionamos a reagir a situações estressantes de uma Faculdade de Minas 12 maneira específica. Para aqueles que convivem com a ansiedade, esta resposta aprendida é composta por uma ampla gama de reações, desde pensamentos acelerados até respiração ofegante. A hipnoterapia (terapia por hipnose) permite reformular e liberar essas respostas automáticas, substituí-las por maneiras mais positivas de pensar, e como consequência, reduzir a percepção da ansiedade e estresse significativamente. Através do uso da hipnose, você passa a adquirir um maior autocontrole sobre suas reações a situações estressantes, como na detecção e eliminação de gatilhos (situações que disparam reações específicas). Hoje, o uso da hipnose para a ansiedade é cada vezmais considerado como uma forma de terapia extremamente eficaz. No Brasil, os conselhos de medicina e psicologia reconhecem a hipnoterapia como uma ferramenta adequada para o tratamento de diversos tipos de dificuldades emocionais. Se você fica ansioso de uma maneira constante, saiba que não está sozinho. A ansiedade é uma das condições psicológicas mais comuns no mundo. Apenas nos EUA, os transtornos de ansiedade afetam cerca de 40 milhões de pessoas. No entanto, embora muitas opções de tratamento estejam disponíveis, apenas um terço realmente as procuram, de acordo com a Anxiety and Depression Association of America. Em outras palavras, muitos adultos nos EUA e no mundo aprendem a conviver com a ansiedade. Eles podem aprender a administrá-la, mas sem tratamento, muitos nunca se liberam do fardo de ser ansioso. Diversos especialistas atualmente teorizam que a ansiedade é um comportamento aprendido, ou se preferir, um hábito. Em outras palavras, nossa mente possui mecanismos naturais de defesa que normalmente se manifestam por emoções, como medo ou pânico. Com o tempo, a mente inconsciente aprende a amplificar e repetir esses mecanismos de defesa como uma resposta automática para determinadas situações (gatilhos), ao ponto de se tornarem irracionais e incontroláveis. Faculdade de Minas 13 Nós irracionalmente então sentimos medo ou pânico – como em contextos sociais, quando se precisa falar em público, ou em outras situações que a mente considere “desafiadoras”. É por este motivo que muitas vezes nós conhecemos e descrevemos nosso problema emocional, mas simplesmente não conseguimos parar com ele. Geralmente nossos sentimentos ansiosos são baseados em pensamentos inconscientes e automáticos. Podemos ter uma experiência negativa, como ser agredidos em público, e como resposta nosso inconsciente aprende a induzir medo, pânico e ansiedade para nos proteger de ter uma experiência semelhante no futuro. Com a repetição, esses sentimentos se tornam cada vez mais arraigados em nossa mente - a ponto de se tornarem debilitantes. A hipnose capacita as pessoas a examinarem e explorarem esses pensamentos automáticos, reconhecê-los, enfraquece-los, removê-los ou substituí- los. Em outras palavras, a hipnoterapia fornece um método para se chegar até a raiz da ansiedade - o mecanismo automático de defesa - e tratar o medo, o pânico ou o pensamento irracional que alimenta essa mesma ansiedade. Nossa mente é poderosa e complexa. Mas o que geralmente não reconhecemos é que o nosso racional, responsável pelo raciocínio crítico, nem sempre está no controle. Em muitas situações, ele se torna impotente as reações vindas do inconsciente. A mente inconsciente informa e influencia muitos dos nossos pensamentos. Por exemplo, quando você sente frio, seu corpo reage ao estímulo, digamos de uma brisa fria. Não pensamos conscientemente: "Eu sinto frio!". Em vez disso, esse pensamento é criado automaticamente pelo inconsciente e é baseado em toda a nossa experiência de vida, ou seja, o que aprendemos, nossas experiências passadas com o frio, etc. Quando a ansiedade controla nossas vidas, é muito parecido com aquela sensação automática de frio. Nós experimentamos um estímulo - digamos, uma Faculdade de Minas 14 situação social - que desencadeia uma resposta automática, como medo e pânico, e por fim, a ansiedade. Técnicas terapêuticas tradicionais tendem a fornecer estratégias para o gerenciamento desses pensamentos automáticos negativos. Podemos aprender a controlar muitos de nossos medos, mas eles ainda se fazem presentes. É por isso que vários tratamentos tradicionais falham: o medo e o pânico, as causas da sua ansiedade, ainda estão lá inconscientemente. Com a terapia por hipnose, você pode trabalhar essas informações inconscientes, que lhe fazem sentir medo e pânico em certas situações. Digamos, por exemplo, que falar em público provoque ansiedade em alguém. Muitas vezes, a causa latente é o medo do fracasso, de enfrentar os colegas cara a cara, de esquecer o que se vai dizer, etc. Sem remover esse medo, a ansiedade sempre permanecerá no seu lugar, ativa. É claro que isso, como já foi dito, pode se tornar administrável - muitas pessoas que temem falar em público, na verdade, aprendem a falar com confiança diante de multidões. Mas esse medo - que é irracional - permanece. Ele ainda é um fardo, e mesmo que se possa gerencia-lo, pode reaparecer meses ou anos depois. Em um estado de hipnose ou hipnotizado, a mente se encontra altamente concentrada e focada, e o corpo profundamente relaxado. Ignoramos nossos pensamentos críticos e acessamos diretamente nosso inconsciente. E assim percebemos nossos pensamentos automáticos. Neste transe, somos capazes de examinar o porquê de uma brisa gelada nos faz pensar que estamos com frio, ou porque um evento ou situação gera ansiedade. Na verdade, a hipnose para ansiedade pode incluir uma variedade de estratégias, como: Pesquisar e identificar emoções: no início de uma sessão de hipnoterapia, você pode ser solicitado a descrever os sentimentos que desencadeiam sua Faculdade de Minas 15 ansiedade - como medo, pânico, humilhação ou vergonha. A partir deste ponto, você pode começar a isolar e identificar os verdadeiros gatilhos. Você também pode ser estimulado a descobrir onde esses sentimentos se manifestam no corpo - ou seja, secura na garganta ou aperto no estômago. Essas emoções são como aquela sensação de frio, elas são acionadas automaticamente com base em informações e situações anteriormente vivenciadas. Explorar suas experiências com a ansiedade: enquanto em hipnose, você abre uma linha direta para sua mente inconsciente. As situações e informações que desencadeiam sua ansiedade vivem aqui e estão frequentemente relacionadas com eventos passados. O hipnoterapeuta pode pedir para que você fale sobre uma de suas primeiras experiências com ansiedade, por exemplo. Isso ajudará você a chegar ao que realmente está desencadeando o medo irracional e alimentando as emoções que experimenta quando em uma situação ansiosa. Oferecer alívio de experiências passadas: nossas mentes são aprendizes rápidos. Pode-se vivenciar apenas uma experiência negativa, como quando falou em público, para induzir uma vida inteira de medo (fobia) de se apresentar diante de uma plateia. Em estado de hipnose (hipnotizado), temos a oportunidade real de reformular essa reação negativa, superando assim o problema. Uma pessoa pode identificar que uma situação de falar em público na escola primária foi emocionalmente marcante para ela. Uma estratégia de hipnoterapia seria ajudar esta pessoa a reavaliar sua experiência – ressignificar (reinterpretar) as emoções vividas por aquela criança – novamente agora pela sua mente adulta, com resultados bastante positivos. O seu “eu mais jovem” se sente então livre do peso emocional dessa antiga experiência, o que reduz a dependência do adulto em relação ao evento como um quadro de referência. Faculdade de Minas 16 Ao visitar um hipnoterapeuta certificado, este irá entrevistá-lo sobre sua ansiedade e oferecer um tratamento por hipnose sob medida para suas necessidades. Basicamente a terapia por hipnose é composta por 2 etapas: Consulta de avaliação: a hipnose não começa com um relógio balançando. Em vez disso, é necessário que se conduza uma avaliação do seu problema - o que está causando seu desconforto, como ele se manifesta e suas experiências com ele. Ao trabalhar com um hipnoterapeuta, você será entrevistado sobre sua condição atual e histórico do problema. Sessão de hipnose: você seguirá uma série de instruções fornecidas pelo hipnoterapeuta para alcançar um estado mental altamente relaxado e concentrado. Este processo inclui técnicas de respiração, fechamento dos olhos e uso da imaginação.Depois de atingir o transe, você começará a examinar e reestruturar suas reações inconscientes - e há vários métodos para isso, incluindo regressão, ressignificação e dessensibilização. Muitas pessoas percebem resultados positivos após sua primeira sessão de hipnoterapia, embora um trabalho complementar seja normalmente empregado. Durante suas sessões de hipnose, você será cada vez mais capaz de perceber e lidar com seus mecanismos internos de defesa e suas reações, como medo e pânico, de uma maneira completamente diferente. Isso o ajudará a se libertar do ciclo repetitivo e inconsciente, até que o mesmo não mais afete negativamente sua vida. Este é o poder da hipnose - com o tempo, você pode abrandar e até eliminar completamente suas configurações negativas, reprogramando sua mente para responder melhor as situações que outrora eram extremamente estressantes e ansiosas. Faculdade de Minas 17 Se você olhar para a medicina, a resposta é sim. Uma variedade de associações médicas e organizações de saúde pelo mundo reconhecem a hipnose como uma opção de tratamento válida para várias condições clínicas. A Associação Médica Americana aprovou a hipnose como terapia em 1958, e a Associação Americana de Psiquiatria a seguiu em 1961. Desde então, diversos estudos forneceram cada vez mais evidências sobre como essa ferramenta é realmente eficaz. A hipnose ajuda a aliviar a ansiedade. Estudos relatam que a hipnose reduziu os níveis de ansiedade e da pressão arterial em pacientes antes de se submeterem a processos cirúrgicos, bem como os auxiliou no período de recuperação, encurtando internações e reduzindo complicações como náuseas e vômitos. Em um estudo de 2006, por exemplo, pacientes submetidos a hipnose receberam sugestões de bem-estar antes da cirurgia. Ao entrar na sala de cirurgia, eles relataram níveis de ansiedade 56% inferiores aos níveis de ansiedade anteriores ao processo de hipnose. Pacientes de um grupo de controle, que receberam o pré- operatório convencional, relataram um aumento de 47% no seu estado de ansiedade. Esses dados foram publicados em artigo da Harvard Health Publishing, pertencente a Harvard Medical School. Através da sugestão, a hipnoterapia visa acessar o inconsciente e promover mudanças positivas. Essas sugestões auxiliam na percepção do que realmente desencadeia a ansiedade, além de alterar a forma como se reage a ela. A hipnose auxilia no aumento do sentimento de autoconfiança, reduzindo a sensação de medo e preocupação intensa. Ela permite alcançar o estado mental necessário para se superar as emoções muitas vezes avassaladoras que acompanham a ansiedade, permitindo resgatar o prazer de viver plenamente a vida. Faculdade de Minas 18 A HIPNOSE NO TRATAMENTO DE DOENÇAS A terapia com hipnose (hipnoterapia) é baseada em um conjunto de técnicas que objetivam ampliar a consciência do indivíduo por meio de concentração focada e relaxamento. Pode ser útil para o tratamento de fobias, dores crônicas, estresse, angústia, depressão e insônia (BRASIL, 2018). Ferreira (2003) destaca que as técnicas de hipnose podem variar de acordo com as escolas/vertentes às quais pertencem, isto é, hipnose clássica ou hipnose ericksoniana. Na hipnose clássica, a partir de uma série de técnicas, o sujeito recebe sugestões diretas para adentrar em um estado diferenciado de consciência/percepção e experimentar alterações sensoriais e mudanças cognitivo/comportamentais. A firme crença de que a hipnose funciona por parte do sujeito a ser hipnotizado, além do prestígio do hipnotizador, são fatores primordiais para a eficiência da hipnose clássica, conforme aponta Weissman (1958). A Hipnose Ericksoniana foi desenvolvida por Milton H. Erickson, um psiquiatra americano que viveu entre 1901 e 1980 e que revolucionou a hipnologia do Século XX. Diferentemente dos autores da hipnose clássica, M. Erickson utilizava a indução indireta, interativa, partindo da observação do/a paciente (comunicação verbal e não verbal) para tratar seus/suas pacientes. Comumente se utilizam contos, histórias e metáforas com sugestões embutidas e delineadas a partir de cada paciente (sob medida) no tratamento com hipnose Ericksoniana. Ademais, na escola ericksoniana acredita-se que todas as pessoas podem ser hipnotizadas, sendo tarefa de o/a terapeuta encontrar o caminho natural de cada uma, para que assim o/a paciente possa acessar seus recursos internos (inconscientes) para obter resultados terapêuticos. Atualmente a comunidade científica tem reconhecido o valor da hipnose em vários contextos de saúde, como pode ser observado em um estudo realizado com Faculdade de Minas 19 12 pacientes diagnosticados com câncer de próstata, nos quais, após a realização de entrevistas individuais para conhecer a singularidades de cada, bem como, o significado do câncer e expectativas frente à hipnoterapia, foram realizados procedimentos de hipnose ericksoniana. Os resultados indicam que todos pacientes (100%) referiram certeza de cura, melhora na saúde e humor, além do acréscimo de estratégias de enfrentamento diante de situações estressógenas (CAIRE, 2010). Em outro momento, Nogueira, Lauretti e Costa (2005) concluíram que a hipnose mostrou-se uma alternativa eficaz para o tratamento da dor em pacientes que padecem de fibromialgia refratária ao tratamento com antidepressivos e anti- inflamatórios não esteroides. Ademais, ainda nesta pesquisa os autores destacam que as técnicas da hipnose ericksoniana apresentaram mais vantagens quando comparadas as técnicas clássicas de hipnose. O’Hanlon e Martin (1995) também descrevem como a hipnose ericksoniana pode ser útil para o tratamento da dor do membro fantasma. Neubern (2012), a partir de um estudo de caso com uma paciente que vivenciara depressão consequente de luto intenso, concluiu que após sete sessões de hipnose ericksoniana e uma de follow-up houve progresso em seu quadro clínico, observando-se retorno da autonomia e ânimo, maior interesse pelos afazeres da família, retomada de contatos sociais, melhora do autocuidado e maior fluidez nos movimentos corporais. O autor reforça a importância da utilização de histórias e metáforas construídas a partir da fala e comportamentos não verbais trazidos pela paciente para a reconstrução de sua experiência, corroborando com as informações de Adler (2017), Bauer (2015) e Ferreira (2003) expostas anteriormente. Em uma pesquisa realizada com pacientes que sofrem com o transtorno de fobia específica do tipo situacional (claustrofobia), foi evidenciado que após a utilização de técnicas de hipnose clássica (técnica de Braid) os pacientes suscetíveis conseguiram se submeter ao exame radiológico de ressonância magnética sem a utilização de drogas sedativas (VELLOSO et al., 2010). Faculdade de Minas 20 Outras pesquisas também evidenciam resultados promissores quanto à utilização da hipnose associada à terapia cognitivo-comportamental (TCC), sobretudo como estratégia coadjuvante às técnicas imagéticas empregadas por esta abordagem psicológica (SILBERFARB, 2015), mas também como auxílio no tratamento da insônia (DINI,2015), obesidade (LIMA, 2015) e de outros transtornos relacionados à alimentação, como a anorexia nervosa (SILBERFARB, 2015). A escola estratégica da Terapia Familiar Sistêmica também recebeu influências da hipnose, particularmente das técnicas de Milton H. Erickson. O foco desta escola está no pragmatismo e agilidade para resolução de problemas de indivíduos e famílias. Além de estudos comprovando mudanças nos aspectos psicológicos e físicos através do uso terapêutico da hipnose, outras pesquisas também destacam sobre como as funções cerebrais podem ser alteradas com a sua utilização. Para tanto, Mello e Arruda (2000) constataram que durante a indução hipnótica praticamentetodo hemisfério cerebral esquerdo é ativado com visível ativação do giro anterior do cíngulo a direita, além disso, as alucinações durante a hipnose e a imaginação em estado de vigília são eventos que para ocorrerem utilizam circuitos cerebrais diferentes. Por fim, os autores salientam que é possível alterar substancialmente as funções do sistema nervoso autônomo por meio da hipnose. Faculdade de Minas 21 HIPNOSE NO TRATAMENTO DE FOBIAS Apesar do que muita gente pensa, fobias são extremamente comuns e atingem cerca de 20% da população em geral. Pode-se dizer que fobia é um medo paralisante. Algo que pode comprometer seriamente a vida social e profissional de um indivíduo. A boa notícia é que é possível tratar e uma das formas mais eficazes é por meio da hipnose. O tratamento de fobias com hipnose ajuda o paciente a focar e descobrir em si mesmo sentimentos e memórias, o que auxilia a encontrar a verdadeira cura. Na verdade, seja qual for a forma de tratamento, é imprescindível que ela leve a pessoa a encontrar a raiz do seu medo e aprender a lidar com ele. Assim como diversas doenças psiquiátricas, as fobias costumam ser bastante incompreendidas. Muita gente usa o termo casualmente para caracterizar o medo, mas isso está longe de ser fobia. Tratam-se, na verdade, de medos irracionais e persistentes, além de muito difíceis de controlar. As fobias podem ser tratadas, mas muitos pacientes acabam tentando se curar sozinhos. Esse comportamento pode levar ao agravamento da doença, por isso, recomenda-se buscar ajuda profissional e técnicas eficazes, como a hipnose. Do contrário, o quadro poderá evoluir para crises de pânico, insônia, depressão e até mesmo a pensamentos suicidas. Isso acontece porque, quando se trata de distúrbios psiquiátricos, a maioria dele se interligam. Desse modo, a sensação de pavor experimentada por um paciente com fobia pode ser o gatilho para outros problemas. A fobia é um problema, inclusive merece mais atenção da sociedade, já que muitas pessoas apresentam os sinais da doença não buscam tratamento correto. Sem contar que, por se tratar de um pavor irracional e persistente, a pessoa se sente incapaz de controlá-lo. Isso faz com que ela faça qualquer coisa para evitar entrar em contato com seu medo. Faculdade de Minas 22 Sem tratamento, as fobias levam à perda de qualidade de vida e de oportunidade nas mais diversas áreas. Existem, inclusive, casos de pessoas que se demitiram de seus empregos ou que se afastaram totalmente da vida social. Quando se trata de pessoas que já possuem outros distúrbios emocionais ou psicológicos, o problema pode ser ainda maior. As fobias podem ser divididas em 3 tipos. Os mais comuns são: Fobia social: um grande medo de atividades ou situações específicas, como falar em público; Agorafobia: medo de ficar sozinho em um grande espaço aberto; Fobias simples: medo irracional de algum tipo de objeto. Faculdade de Minas 23 Também existem casos de transtornos fóbico-ansiosos. Eles acontecem quando o paciente apresenta pavor, desconforto e medo irracional, combinados com sintomas de distúrbios de ansiedade. O indivíduo com esse transtorno pode desenvolver ansiedade antecipatória e manifestar sintomas antes de se deparar com o objeto ou situação temida. A cultura popular, por meio de personagens de filmes e livros, fizeram das fobias motivo de piada. Por esse motivo, muita gente não leva o assunto a sério. Sendo assim, o conhecimento é fundamental para ajudar quem possui fobias a se conscientizar e a buscar ajuda. Inclusive, esse é o primeiro passo para tratar a doença: admitir que seu medo é irracional. Quando procurar um profissional? Tão logo a pessoa identifique seu medo como irracional, ela deve buscar ajuda. Geralmente, isso só acontece quando o problema começa a afetar sua vida pessoal ou profissional. Ou, quando reconhece que está perdendo algo por um medo que é anormal. Como a fobia pode ser tratada, o paciente consegue superar os traumas que levaram ao desenvolvimento do medo e, a partir de então, levar uma vida normal. Ao buscar ajuda profissional, o indivíduo inicialmente passar por uma entrevista complementar ao diagnóstico. Depois disso, ele começa a fazer o tratamento em si. Faculdade de Minas 24 O psiquiatra pode recomendar medicamentos para controlar os sintomas como ansiedade e pavor. Mas, é importante saber que os medicamentos são incapazes de resolver o problema sozinho. Eles apenas ajudam a controlar os sintomas enquanto o tratamento completo acontece. Normalmente, os tratamentos mais comuns são as terapias de aconselhamento, já que o indivíduo pode levar a ter fobias por diversos traumas. No entanto, outros métodos podem ser ainda mais eficazes, como é o caso do tratamento de fobias com hipnose. Em especial, a Hipnose Ericksoniana, que tem como objetivo central a comunicação com a mente inconsciente de forma não invasiva e totalmente sem contraindicações. Por meio dessa técnica, o hipnoterapeuta ajuda o paciente a reconhecer a causa do medo, compreendendo o fato que levou a esse quadro. Além de ajudar a reconhecer a causa da questão, auxilia na dissociação. Ao compreender o fato gerador desse quadro, o hipnoterapeuta utiliza técnicas que ajudam o paciente a fazer associações diferentes sobre a causa a fobia. Tratamento com Hipnose Pesquisas indicam que 94,4% dos pacientes com medo de dentista sentiram melhora nos sintomas — como tensão — após o uso da hipnose. A técnica auxilia o paciente a conectar-se com a verdadeira fonte do seu medo, entrando em um estado de relaxamento para enfrentá-lo. O estado hipnótico auxilia o paciente a realizar uma conexão neural mais eficiente. Dessa maneira, ele consegue ver como resolver problemas que não compreendia antes. Sendo assim, o tratamento de fobias com hipnose se revela uma forma segura e eficaz para lidar com os mais diversos tipos de fobias. Faculdade de Minas 25 No tratamento de fobias com hipnose, o papel do hipnoterapeuta é fundamental. Ele deve induzir o estado hipnótico por meio de técnicas de comunicação personalizadas para cada paciente. Por meio da sua atuação, o paciente pode alcançar bons resultados de maneira rápida e assertiva. Por isso, o tratamento de fobias com hipnose se revela uma ótima ferramenta e pode ajudar muitas pessoas a recuperar a saúde e qualidade de vida. Estima-se que, dependendo de cada situação, o tratamento leve de algumas semanas a alguns meses. A ferramenta hipnótica deve ser utilizada para que o paciente foque no problema, buscando encontrar a melhor solução. Um bom hipnoterapeuta consegue encontrar os pontos que causam travamento nas reações do paciente, auxiliando-o. Isso inclui lidar com memórias de traumas que serviram de gatilho para a condição patológica. A PROPOSTA DE ERICKSON PARA O TRATAMENTO DA DOR A proposta de hipnose de Milton H. Erickson trouxe contribuições de grande relevância para o tratamento psicoterápico da dor, apesar de suas perspectivas resultarem em numerosas rupturas com o projeto moderno de ciência. Nesse sentido, ao invés de ceder à tendência comum de sua época, Erickson concebeu uma forma de tratamento a-teórica, posto que nunca demonstrou interesse ou preocupação em desenvolver uma teoria para explicar a psique humana. Sua perspectiva era a de valorização da singularidade dos sujeitos que, devido a suas complexidades e processos únicos, não poderiam ser restritos a uma estrutura geral de pensamento, como as teorias. Portanto, diante de um paciente que Faculdade de Minas 26 apresentasse demandas ligadas a dores físicas, Erickson colocava-se atento a seus aspectos singulares como também trazia importantes noçõesque deveriam perpassar de forma pragmática a relação terapêutica, o que o aproximou do pensamento de William James. Uma das primeiras noções importantes nesse sentido era a de inconsciente, que implicava num conjunto autorregulado e independente de processos aprendidos além da consciência ordinária que poderia ser ativado em seu potencial sábio e terapêutico caso houvesse um contexto relacional adequado. Nesse sentido, ao invés de uma ideia standard sobre o transe, em que certos sujeitos seriam mais ou menos propícios para experimentá-lo, Erickson o concebia como um fenômeno cotidiano e natural em que cada sujeito experimentaria de forma particular. Sendo assim, em uma situação envolvendo dor, o terapeuta deveria estar atento aos vários tipos de aprendizado, geralmente além da consciência, desenvolvidos para lidar com ela e também às formas como o sujeito poderia acessar seu inconsciente a fim de potencializar seus recursos. Além da individualização do tratamento, com sugestões traçadas de acordo com a particularidade dos sujeitos, a hipnose seria uma forma de evocar as tendências autocorretivas naturais do inconsciente que todos possuiriam, tal como se dava na natureza sábia de Puységur em que o próprio sujeito encontrava em si os recursos para gerir seu problema. Entretanto, essa ideia naturalista não se restringia à situação de transe, mas também implicava uma forma distinta da participação do sujeito. Para que este fosse envolvido de forma mais produtiva no processo terapêutico, cabia ao terapeuta adaptar suas intervenções às expressões do sujeito, e não buscar enquadrá-lo em um setting universal. Mais especificamente, as técnicas por ele desenvolvidas aproveitavam aprendizados já trazidos pelo paciente de maneira que suas expressões, sintomáticas ou não, eram utilizadas a favor do tratamento. Com isso, um sintoma, uma relação quanto ao tempo, uma crença, um estilo metafórico de comunicação, ou mesmo um comportamento poderiam ser redefinidos e utilizados a favor do processo terapêutico. É assim que técnicas como Faculdade de Minas 27 deslocamento, anestesia, analgesia, dissociação, amnésia e outras poderiam ser utilizadas de forma produtiva e eficiente no tratamento da dor porque estavam, de alguma forma, presentes na experiência cotidiana dos sujeitos diante de suas próprias dores. A essa altura é possível perceber que Erickson apresentou muitos paralelos com as perspectivas anteriores, principalmente no que se refere a um contexto relacional que favorecesse a autonomia dos sujeitos. Nesse sentido, ao mesmo tempo em que guardou similaridades com os autores de Nancy, ao conceber a hipnose como uma forma de comunicação de ideias, também parece fazer uma referência longínqua aos magnetizadores ao destacar o papel dos mínimos sinais, de uma comunicação pré-verbal entre inconscientes e da importância de processos de imaginação. Entretanto, também apresentou inovações de grande relevância ao destacar as formas de comunicação e os significados desenvolvidos pelos pacientes. A dor de um paciente não se restringia a um processo auto sugestivo, mas possuía significados enraizados em sua história e nas tramas sociais e cotidianas em que tomava parte, de maneira que caberia ao terapeuta compreender tais processos de geração de sentido de modo a buscar modificá-los dentro do possível. Foi assim que Erickson interpretou as dolorosas cólicas pré-menstruais de uma jovem como uma experiência que estava associada ao sangue de seu pai e muitos outros mortos na guerra em seu país, ao fato de não apenas já estar em idade de ser mãe e não conseguir sequer casar, e à percepção de si mesma como uma pessoa defeituosa. Na mesma perspectiva, Erickson conferiu grande importância à forma de construir as sugestões hipnóticas, concebendo que as prescrições diretas, mais comuns na hipnose clássica de Bernheim, poderiam facilmente ativar as resistências dos sujeitos e provocar uma verdadeira queda de braço com os sintomas. Assim, as analogias, metáforas e contos de histórias poderiam acessar o inconsciente de forma simbólica e indireta, sem ativar indevidamente as resistências, permitindo ao próprio Faculdade de Minas 28 paciente a construção das associações capazes de criar soluções que atendessem às suas necessidades. O papel do terapeuta não seria o de levar o cliente a decifrar os significados das sugestões, mas o de proporcionar a reorganização dos processos inconscientes capazes de ativar recursos terapêuticos para a demanda do sujeito. Diante do famoso caso de Joe, o florista, que estava acometido de um câncer terminal e padecia de muitas dores, Erickson induziu-lhe um transe contando-lhe a história sobre o crescimento de um pé de tomate, entremeada com sugestões de segurança, conforto e suavidade, que acabou por induzir o paciente a processos dissociativos e anestésicos que lhe propiciaram viver com mais qualidade seus últimos momentos junto à família. Desse modo, o conto da metáfora associava de forma subliminar a figura do pé de tomate, em seu desenvolvimento suave, confortável e natural ao próprio corpo do paciente evocando recursos e aprendizados ligados a esses comandos já desenvolvidos em sua história. Em síntese, é possível considerar que Erickson manteve uma continuidade com relação a seus antecessores do magnetismo e da hipnose, mas também implementou uma série de inovações de grande relevância para o estudo da dor. Mesmo sem desenvolver uma teoria, seu trabalho reconheceu uma série de processos subjetivos ligados à experiência de dor, até então pouco explorados na hipnose, que se relacionavam à construção de sentido, a emoções e história de vida do sujeito, suas tramas e acontecimentos sociais. Nesse sentido, o papel do terapeuta não se restringiu a uma visão reducionista sugestão-cérebro, mas à construção de uma linguagem que integrasse tais processos e, ao mesmo tempo, oferecesse aos sujeitos possibilidades de mudança. Faculdade de Minas 29 CONSIDERAÇÕES FINAIS A hipnose mostrou-se como uma ferramenta (aliada terapêutica) útil para o tratamento de dores crônicas (fibromialgia e dor do membro fantasma), depressão, fobia específica, e de forma associada à TCC para o tratamento de obesidade, anorexia nervosa e insônia. Diante do exposto, podemos concluir que hipnose pode servir como uma estratégia muito útil na prática de profissionais da psicologia, sobretudo porque estes/estas podem compor equipes interdisciplinares (multiprofissionais) em diversos contextos de saúde. Ademais, vale destacar que a hipnose também contribuiu para a criação da escola estratégica da Terapia Familiar Sistêmica, uma importante abordagem psicológica que atua no tratamento de indivíduos e famílias. Tendo em vista o potencial terapêutico da hipnose, futuras pesquisas também poderão contemplar sua utilização para o tratamento de outros transtornos mentais além dos expostos neste trabalho, bem como, endossar e/ou aperfeiçoar os resultados aqui demonstrados. Os achados sobre as alterações provocadas pela hipnose no sistema nervoso podem ser úteis para fomentar pesquisas que venham a relacionar hipnose e neuropsicologia. A hipnoterapia, como ferramenta nesse processo terapêutico, facilita o sujeito assumir rapidamente o controle de sua vida. Ao trabalhar o nível emocional com hipnoterapia, consegue-se baixar os níveis de ansiedade. O indivíduo, ao se desligar dos pensamentos ansiosos, passa a dar lugar a pensamentos e imagens que dão sossego e, indo à origem da emoção que originou a patologia, encontra soluções. Nesse momento, é que acontece a tomada de consciência sobre o medo e a ansiedade deixa de se manifestar. E todo esse processo de conscientização é acelerado pela hipnose. Faculdade de Minas 30 REFERÊNCIAS BRASIL. Ministérioda Saúde. Altera a Portaria de Consolidação nº 2/GM/MS, de 28 de setembro de 2017, para incluir novas práticas na Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares - PNPIC. Portaria n. 702, de 21 de março de 2018. Disponível em: < Disponível em: < http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2018/prt0702_22_03_2018.html> Acesso em: Acesso em 28 de março de 2020. CAIRE, L. Hipnose ericksoniana em pacientes oncológicos: um estudo psicossomático em pacientes com câncer de próstata. Psico-USF, v. 17, n.1, p. 153- 162, 2010. Disponível em: < http://www.scielo.br/pdf/pusf/v17n1/a16v17n1.pdf>. Acesso em: 30 de março de 2019. CONSELHO FEDERAL DE FISIOTERAPIA E TERAPIA OCUPACIONAL. Regulamenta o uso pelo Fisioterapeuta das Práticas Integrativas e Complementares de Saúde e dá outras providências. Resolução n. 380/2010, de 30 de novembro de 2010. 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