Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
EXPRESSÃO DO CORPO E MUSICALIDADE UNIASSELVI-PÓS Autoria: Hairlaine Treici Freitas Indaial - 2020 2ª Edição CENTRO UNIVERSITÁRIO LEONARDO DA VINCI Rodovia BR 470, Km 71, no 1.040, Bairro Benedito Cx. P. 191 - 89.130-000 – INDAIAL/SC Fone Fax: (47) 3281-9000/3281-9090 Reitor: Prof. Hermínio Kloch Diretor UNIASSELVI-PÓS: Prof. Carlos Fabiano Fistarol Equipe Multidisciplinar da Pós-Graduação EAD: Carlos Fabiano Fistarol Ilana Gunilda Gerber Cavichioli Jóice Gadotti Consatti Norberto Siegel Julia dos Santos Ariana Monique Dalri Marcelo Bucci Revisão Gramatical: Equipe Produção de Materiais Diagramação e Capa: Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Copyright © UNIASSELVI 2019 Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial. Impresso por: F866e Freitas, Hairlaine Treici Expressão do corpo e musicalidade. / Hairlaine Treici Freitas. – Indaial: UNIASSELVI, 2020. 130 p.; il. ISBN 978-65-5646-028-4 ISBN Digital 978-65-5646-029-1 1. Expressão corporal. - Brasil. 2. Musicalidade. – Brasil. Centro Universitário Leonardo Da Vinci. CDD 792.028 Sumário APRESENTAÇÃO ............................................................................5 CAPÍTULO 1 Expressão e Consciência Corporal ........................................... 7 CAPÍTULO 2 Estudo do Movimento ................................................................. 49 CAPÍTULO 3 Ritmo X Musicalidade .................................................................. 87 APRESENTAÇÃO Ao longo dos nossos estudos, veremos a evolução da prática corporal do movimento em seu contexto histórico, a expressão e a consciência corporal, bem como os processos metodológicos do ensino do movimento. É necessário compreender a diferença entre expressão e consciência corporal para poder entender o quanto a expressão corporal é importante para o estudo do movimento. Enquanto a expressão corporal diz respeito ao gesto, a consciência corporal diz respeito ao entendimento que temos do próprio corpo. Para compreender como nos expressamos corporalmente, é necessário entender a evolução e o processo histórico dentro do movimento corporal. Veremos ao longo deste material, os processos históricos e as modificações que a estrutura de movimentação e a dança construíram ao longo dos anos. Além de ter todo o entendimento a respeito da história e da diferenciação entre expressão e consciência corporal, desenvolveremos a nossa compreensão a respeito de como funciona o processo de ensino do movimento corporal. Teremos, portanto, modelos e exercícios para que, não somente na teoria, mas também com a prática, seja possível compreender um planejamento de aula tendo em vista a expressão corporal. Vamos começar? Bons estudos! CAPÍTULO 1 Expressão e Consciência Corporal A partir da perspectiva do saber-fazer, neste capítulo você terá os seguintes objetivos de aprendizagem: • compreender a prática corporal e a expressão corporal no processo de ensino- aprendizagem; • conhecer a história da dança e sua evolução contextualizando com os períodos históricos; • entender como se dá a dança enquanto prática corporal; • diferenciar expressão corporal de consciência corporal. 8 Expressão do Corpo e Musicalidade 9 Expressão e Consciência CorporalExpressão e Consciência Corporal Capítulo 1 1 EXPRESSÃO E CONSCIÊNCIA CORPORAL Quando utilizamos a expressão consciência corporal, apesar de entendermos que essas palavras juntas já explicam um pouco o sentido, ainda nos perdemos a analisar a dicotomia entre consciência corporal e expressão corporal. Todos compreendemos, mesmo que basicamente, como movimentamos o nosso corpo e dessa forma todos possuímos alguma consciência corporal. Porém vamos nos questionar o seguinte: por que precisamos desenvolver a consciência corporal? A consciência corporal é a linguagem básica humana e, antes de nos comunicarmos através da fala, já a utilizávamos. Através de expressões de choro ou o clássico “fazer beiço” do bebê já são expressas as primeiras necessidades dele, como a fome. Já através do bocejo ou apertar de olhos, o bebê expressa que tem sono. Cada corpo possui seus próprios signos para comunicar sentimentos e emoções. Essa capacidade humana é chamada de expressão corporal. Segundo Brickman (1989), a expressão corporal é o modo natural pelo qual os seres humanos revelam suas peculiaridades. Ainda de acordo com o autor, essa habilidade pode ser ensinada e desenvolvida, sendo reconhecida enquanto uma disciplina. Como disciplina, ela busca resgatar, cuidar e desenvolver as potencialidades humanas inerentes ao movimento corporal. Já a consciência corporal é a consciência que temos do nosso próprio corpo. Não se constitui em uma disciplina, porém, pode ser desenvolvida por meio de técnicas e práticas corporais. Portanto, para desenvolver a consciência corporal, devemos explorar as possibilidades de movimento, como o controle e a expressão corporal. Conhecer um pouco sobre a estrutura corporal anatômica (os músculos, ossos e órgãos) contribui para o desenvolvimento da expressão corporal. Compreendendo assim não somente conceitualmente, mas também sensorialmente através da exploração das possibilidades corporais o que desenvolverá o conhecimento sobre nosso próprio corpo. Não existe um objetivo definido quanto ao modelo que queremos chegar, não existe um “conhecer perfeito” do corpo, inclusive porque temos corpos variados e conhecer essa diversidade e suas especificidades é muito importante dentro desse processo. Assim compreendemos que nosso corpo é único e, portanto, tem suas particularidades. Para desenvolver nosso corpo e sua expressão, necessitamos possuir 10 Expressão do Corpo e Musicalidade algumas habilidades corporais, por isso os trabalhos de alongamento e força são importantes no desenvolvimento da expressão corporal para obtermos mais consciência do corpo. Estas duas qualidades corporais: força e alongamento possibilitarão a realização, de maneira mais eficiente, de gestos e movimentos, porém a expressão não se vincula diretamente à potência muscular. Quando pensamos em gesto, tendemos a pensar muito no movimento de mãos e braços e não lembramos de rosto, pés, coluna, entre outros. O nosso corpo se expressa de muitas maneiras e é importante conheçamos todas as possibilidades expressivas corporais. Está a expressão ligada à emoção? Sim, porém, controlar as emoções é parte do processo de aquisição da consciência corporal. Conhecer nossos limites e possibilidades nos permitirá ampliar a qualidade da nossa comunicação como um todo. Tanto a expressão quanto a consciência corporal são fundamentais para o ser humano. No entanto, enquanto uma permite o relacionamento com o ambiente externo, a outra envolve a nossa relação pessoal com o corpo, portanto, é uma relação interna. As técnicas para desenvolver cada uma são muito diferentes. Na expressão corporal, são desenvolvidas as habilidades comunicativas do movimento por meio de mímica, interpretação, teatro e dança. A consciência corporal, por sua vez, utiliza práticas diversas para o reconhecimento do corpo. É o conhecer a si mesmo, as habilidades que o corpo possui, como ele se movimenta, as potencialidades existentes e suas limitações. Portanto, com a expressão corporal e aulas direcionadas para aprender a se expressar, acabamos conhecendo mais a respeito do nosso próprio corpo. Vamos conhecer as duas em suas singularidades na sequência. 1.1 EXPRESSÃO CORPORAL De onde vem o termo “expressão corporal”? Expressão vem do latim expressiõnis que está associada ao adjetivo exprimere. Pensando nessa palavra, temos o seguinte: o prefixo ex refere-se a colocar para fora, externar; e primere relaciona-se com pressionar. Logo, o significado da expressão seria colocar para fora de maneira pressionada.11 Expressão e Consciência CorporalExpressão e Consciência Corporal Capítulo 1 Você sabia? Muitos países e povos possuem suas regras e normas referentes à linguagem corporal, que muitas vezes, é uma disciplina escolar. Na Itália a linguagem de mãos é chamada de Quirologia. Na cultura italiana existe uma complexa gama de mãos, cada gesto possuindo uma expressão, um “dizer”. Já se catalogou 200 gestos na Itália e acredita-se que esse costume se deu para que os antigos italianos pudessem se comunicar sem que os invasores compreendessem sua linguagem durante a invasão de austríacos e espanhóis. Acredita-se que esse costume já vinha da Grécia Antiga e foi mais desenvolvido pelos italianos no período em que eles tiveram seu país invadido pelos austríacos e espanhóis. Já o termo corporal vem do latim corporãlis que obviamente relaciona-se com corpo do latim corpus. O sufixo al provém do latim ãlis que significa pertencer a. Portanto é aquilo que pertence ao corpo. Então expressão corporal seria colocar para fora aquilo que pertence ao corpo. Pensando na relação com pressionar, seria aquilo que externalizamos do corpo quando algo nos pressiona. Portanto, quando nos sentimos pressionados por uma emoção interna, o nosso corpo se comunica através da expressão corporal. Esclarecendo: o nosso corpo através de gestos e movimentos é capaz de comunicar sentimentos, ideias e emoções sem o uso da fala ou da escrita. Existem algumas expressões que são espontâneas e, claro que com trabalho, podemos desenvolver um controle destes gestos. No teatro é possível desenvolver técnicas expressivas para serem utilizadas no dia a dia. Temos ainda a dança e a mímica como elementos artísticos que nos auxiliam no desenvolvimento da expressão corporal, que torna aquele gesto espontâneo uma técnica para comunicar artisticamente algo. Nos esportes também fazemos uso da expressão corporal como na ginástica rítmica; na patinação artística; em algumas atividades de relaxamento e concentração, como a ioga; ou nas artes marciais, como o tai chi. Muitas vezes ela também é utilizada como meio terapêutico. Na década de 40, nos Estados Unidos, surgiu a dança terapia que rapidamente se alastrou pelo mundo como uma prática muito procurada para aliar relaxamento, expressão e tonicidade. A proposta na qual houve a união entre dança e psicologia, incialmente, foi realizada em pacientes com transtornos mentais que se mostrou muito eficaz. 12 Expressão do Corpo e Musicalidade FIGURA 1 – ITALIANO GESTICULANDO FONTE: <https://pt.dreamstime.com/homem-consider%C3%A1vel- novo-que-mostra-o-gesto-italiano-significa-voc%C3%AA-querem-sobre- fundo-branco-image129214821>. Acesso em: 6 nov. 2019. Como podemos desenvolver a expressão corporal? Que tipo de aula é própria para a expressão corporal? De acordo com Ribeiro (2019), desenvolver uma prática rítmica criativa permite que a habilidade seja desenvolvida. Tanto as brincadeiras cantadas como as danças de roda, por exemplo, permitem ao professor explorar e desenvolver a expressão corporal com as crianças dentro das aulas de Educação Física. As práticas constituem uma importante atividade educativa, pois, por meio delas, a criança consegue experimentar movimentos expressivos em um espaço social coletivo. Além disso, explorar com outras crianças permite o desenvolvimento de símbolos corporais que perdurarão pela vida toda. De acordo com Ribeiro (2019), as brincadeiras, as danças populares e a dança acadêmica são exercícios corporais que permitem o desenvolvimento de um corpo expressivo. Dessa forma, podemos entender que a expressão corporal é o início do ato de dançar. Isso porque, desenvolvendo a expressão e criando movimentos, o indivíduo pode experimentar a dança significativa. Para Ribeiro (2019), o corpo é, então, o instrumento de maior comunicação com o mundo. Portanto, mais do que uma prática corporal específica, a expressão corporal está associada a diversas práticas corporais tanto na sua relação com a dança como na comunicação dentro da perspectiva de linguagem não verbal, o que chamamos de linguagem corporal. 13 Expressão e Consciência CorporalExpressão e Consciência Corporal Capítulo 1 Você conhece quem está fotografado na figura a seguir? FIGURA 2 – KLAUSS VIANNA FONTE: A autora Conhecido como o introdutor da expressão corporal no Brasil, Klauss Vianna desenvolveu seu trabalho principalmente na área do teatro brasileiro sendo o preparador corporal de atores para que eles desenvolvam melhor a consciência de seus corpos e para que tenham uma melhor expressão para atuar através da fala e de gestos. Ele escreveu e datilografou um documento chamado expressão corporal no qual desenvolveu o pensamento em relação a esse tema. Para Klauss, ter consciência de suas próprias emoções estava sempre relacionado a ter consciência do seu corpo e, portanto, as nossas emoções ficavam refletidas na imagem do nosso corpo. Foi um grande pesquisador da anatomia humana e vinculava a musculatura, o ar e ações dos estados físicos e psíquicos com a expressão corporal. Escreveu a movimentação corporal que se relaciona com os sentimentos como medo e ameaça, alegando que, toda vez que o indivíduo se sente assim, ele se contrai com 14 Expressão do Corpo e Musicalidade o fim de se proteger. Seu trabalho sempre esteve vinculado à relação física criativa e artística do corpo, proporcionando a expressão do homem. Ele acreditava que através de um método no qual corpo e mente dialogam era possível recuperar atenções físicas e emocionais. Através de sua pesquisa e de outros pesquisadores que seguiram apropriando- se do que ele já havia pesquisado, foi possível compreender melhor a expressão corporal humana relacionando-a com uma prática terapêutica capaz de resolver os problemas do interno humano. 1.2 CONSCIÊNCIA CORPORAL O autoconhecimento corporal é a consciência corporal e a utilizamos para a realização de todo tipo de atividade, seja cotidiana ou para a prática de exercícios físicos. Com a consciência corporal, além de saber o potencial corporal que possui, o indivíduo também aprende a respeito dos limites, ou seja, até onde seu corpo pode ir em um esforço físico. Esse conhecimento é fundamental para os indivíduos em qualquer faixa etária. Conhecer nosso corpo envolve compreender nossos movimentos, nossa relação com o ambiente e com a música. Entender como o corpo funciona evita lesões, traz maior qualidade e funcionalidade ao corpo. Isso porque, com a consciência corporal, melhoramos nossos esquemas corporais. Algumas práticas nos permitem conhecer mais o funcionamento do corpo, como a ioga, o pilates, o RPG, a própria dança e, principalmente, durante aulas de expressão corporal. Contudo, vale ressaltar que toda atividade física realizada com atenção é capaz de desenvolver uma melhor percepção corporal. Em um processo pedagógico de dança, são explorados os aspectos sociais, temporais e expressivos (RIBEIRO, 2019). Assim, uma das melhores formas de explorar o corpo, percebê-lo e desenvolver o autoconhecimento corporal é por meio da dança. Existem atividades que proporcionam um melhor desenvolvimento da consciência corporal. Autoconhecer-se é fundamental para se ter qualidade de vida porque, através desse conhecimento, entendemos também aquilo de que gostamos e não gostamos e, através desse autoconhecimento, ganhamos mais consciência corporal. É, portanto, a habilidade de conhecer o próprio corpo que chamamos de consciência corporal e essa deve ser desenvolvida desde a infância. 15 Expressão e Consciência CorporalExpressão e Consciência Corporal Capítulo 1 Conhecer o próprio corpo nos permite aproveitar melhor suas potencialidades, mantendo, dessa forma, uma boa saúde. Quanto mais consciente realizamos práticas do nosso cotidiano, como sentar, levantar, subir escadas, caminhar e correr, menor será a chancede termos lesões e por isso a consciência corporal é tão fundamental. 1.3 RITMO OU TEMPO Ribeiro (2019) nos explica que o ritmo se refere à capacidade de o ser humano compreender, organizar e interpretar estruturas temporais contidas no movimento. Ele se refere diretamente a uma capacidade do sistema nervoso central, por isso, está classificado como uma capacidade coordenativa. Nesse contexto, temos que o nosso corpo é portador de um ritmo biológico, sendo que os movimentos musculares involuntários o produzem. Assim, nosso corpo é como uma orquestra afinada e em grande sincronia. A menção na morfologia da palavra ritmo origina-se no termo grego rhythmo que significa sucessão regular de tempos fortes e fracos em uma frase musical. É, portanto, o ritmo que define o valor das notas de acordo com a intensidade e o tempo delas. Muitas vezes falamos em ritmo utilizando a denominação cadência, portanto, quando falamos: “somos cadenciados”, estamos falando que a música está no ritmo. Relacionando com a música, vemos que o ritmo está diretamente ligado a ela, porém, muitas vezes, podemos denominar como ritmo outras formas de arte como a poesia declamada, tendo em vista a forma como distribuímos as sílabas e utilizamos tempos fracos e fortes durante o verso da poesia. A palavra ritmo muitas vezes é usada para explicar a velocidade. Quando dizemos que algo está em um ritmo acelerado, estamos escrevendo que está se movendo rápido, agindo rápido. Já ao utilizá-la na seguinte expressão: ele diminuiu seu ritmo no trabalho, denota-se que alguém está trabalhando menos, fazendo então uma relação com quantidade. Podemos classificar o ritmo em: • ritmo musical: quando relacionamos harmonia e melodia de instrumentos musicais; • ritmo sinusal: está diretamente ligado ao primeiro instrumento do homem que é o seu próprio coração e relaciona-se com a frequência cardíaca portanto. 16 Expressão do Corpo e Musicalidade Falando em ritmo, não podemos deixar de relacionar que dentro do ritmo não temos somente som, temos também um silêncio. A relação entre som e silêncio é que dita o ritmo de algo. Ainda dentro de ritmo, constantemente, utilizaremos o conceito de compasso que se relaciona com os assentos que as notas musicais terão durante a composição musical. Vamos analisar uma situação problema: a dança como prática corporal: expressão e consciência corporal. Tanto a expressão corporal quanto a consciência corporal são fundamentais para o ser humano. Todavia, enquanto uma permite ao ser humano se relacionar com o ambiente externo, com as outras pessoas, a outra envolve a nossa relação pessoal com o nosso corpo, portanto, é uma relação interna. As técnicas para desenvolver cada uma são, portanto, muito diferentes. Na expressão corporal são desenvolvidas as habilidades comunicativas do movimento através de mímica, interpretação, teatro e dança; enquanto a consciência corporal utiliza-se de práticas diversas para esse reconhecimento do corpo. É o conhecer a si mesmo, conhecer as habilidades que nosso corpo possui, como ele se movimenta, as potencialidades e limitações existentes nele. A expressão corporal é então uma das práticas corporais para se conquistar maior consciência corporal. Através da expressão corporal e de aulas direcionadas a aprender a se expressar, acabamos conhecendo mais do nosso próprio corpo. Aprendemos como ele pode transmitir aquilo que sentimos e a maneira com que sentimos cada emoção. São, portanto, dois aprendizados diferentes, enquanto a expressão corporal refere-se a aprender a transmitir o que sentimos, consciência corporal refere-se a aprender sobre como nosso corpo funciona em suas capacidades e potencialidades. Vamos praticar: muitas vezes expressão corporal é confundida com consciência corporal. Apesar de parecerem ter a mesma definição, existem diferenças entre elas como você já aprendeu. Vamos imaginar que você é proprietário de uma escola e os futuros alunos/clientes têm questionado a secretaria da escola a respeito de aulas de expressão OU consciência corporal. Como excelente diretor que é, você montará um folder explicativo para que os alunos compreendam as diferenças entre as definições de expressão e consciência corporal, além de uma explicação sobre em que consiste uma aula de expressão corporal e como pode ser desenvolvida a consciência corporal. Faça esse folder em Word e compartilhe no fórum. Sugestão da proposta: dança como prática corporal: expressão e consciência. Enquanto expressão corporal é a linguagem corporal por meio da qual 17 Expressão e Consciência CorporalExpressão e Consciência Corporal Capítulo 1 demonstramos nossas emoções, consciência corporal é o conhecimento do seu próprio corpo. Uma aula de expressão corporal é, portanto, uma aula que aborda as possibilidades corporais para transmitir o que sentimos. Já para desenvolvermos consciência corporal, diversas práticas podem contribuir com esse aprendizado, tais como: ioga, pilates, ginásticas e dança. Para criar um folder eficiente, deve-se levar em consideração que sua estrutura é mais complexa que um panfleto, pois envolve mais conteúdo. Ele é, usualmente, escolhido quando temos maior volume de informações para transmitir, uma vez que as dobras facilitam a organização do fluxo de textos e imagens. Assim, no folder não há limitação de tamanho, fator flexível em função da quantidade de conteúdo. Temos, então, que o folder é dividido em três partes: • texto explicativo sobre que se pretende apresentar, que, no caso, seria a proposta de aula; • imagem atrativa que represente o que se pretende divulgar; • informações como local, hora e nome do professor e da escola. Como qualquer outro impresso, ele pode ter caráter institucional ou promocional. Muitas vezes, unimos as informações em um único material. No entanto, é indicado sempre tomar cuidado para não deixar seu folder muito carregado e/ou desviar do objetivo da divulgação. Lembre-se de que o folder é o item de captação, por isso, quanto mais o seu público sente que as informações atendem as suas expectativas, mais conseguirá conquistá-lo. Veja na figura a seguir um modelo de folder. FIGURA 3 – FOLDER FONTE: <https://www.shutterstock.com/pt/image-vector/stationary-a4-folder- branding-identity-mockup-1326733103>. Acesso em: 6 nov. 2019. 18 Expressão do Corpo e Musicalidade Você sabia? Nosso coração é um órgão ritmado, sendo esse observado e corrigido, caso saia do padrão, pelo marca-passo. Cada pessoa tem um marca-passo natural, o qual contém um gerador de impulsos elétricos com até três eletrodos. Esses são fios elétricos que conduzem o impulso gerado pelo marca-passo até o coração. Caso haja algum problema com esse sistema, arritmias ou bradicardias podem se instalar. Disponível em: <https://mundoeducacao.bol.uol. com.br/saude-bem-estar/marcapasso-artificial.htm>. Acesso em: 6 nov. 2019. FIGURA – CORPO HUMANO COM MARCA-PASSO FONTE: <https://www.shutterstock.com/pt/image-illustration/medical-illustration- permanent-pacemaker-implant-3d-1487085152>. Acesso em: 6 nov. 2019. 19 Expressão e Consciência CorporalExpressão e Consciência Corporal Capítulo 1 De acordo com Ribeiro (2019), o ritmo faz parte da natureza comunicativa humana, por isso, ritmo e movimento estão diretamente relacionados. Já a intenção, conforme Ribeiro (2019), refere-se ao exercício da expressão corporal. Essa, por sua vez, diz respeito à linguagem do ser humano na expressão de sentimentos, na comunicação e na consciência do próprio corpo. 1.4 PLANOS E DIREÇÃO NA DANÇA A direção, o plano e a dimensão são pontos fundamentais nas estruturas da dança. Essas constituem o que chamamos de estruturas espaciais. Para Ribeiro (2019), o espaço na dança é compreendido pelo domínio dessas estruturas. A direção se refere ao percurso do corpo no espaço. Seu ponto de início é no centro do corpo, sendo que as direções podemser para frente, para trás, para a esquerda, para a direita, para as diagonais e para cima ou para baixo. FIGURA 4 – VARIAÇÕES DAS DIMENSÕES RELACIONADAS ÀS DIREÇÕES DOS MOVIMENTOS NA DANÇA FONTE: Ribeiro (2019, p. 128) Os planos, por sua vez, são os níveis de altura nos quais o movimento é realizado, tendo como referência a linha média da cintura. Eles podem ser altos, médios e baixos. Já a dimensão está relacionada à extensão que o corpo adquire durante o movimento. Ela é determinada por forças de oposição, quando o movimento recebe altura e profundidade. Dentro desses conceitos, temos, portanto, a kinesfera, que é tudo aquilo que podemos alcançar com todas as partes do corpo, tendo em vista uma esfera que envolve o corpo humano. E, dentro do conceito de movimento em relação à esfera que envolve o corpo, temos: Largura Larfo/Estreito Altura Alto/Baixo Profundidade Frente/Atrás 20 Expressão do Corpo e Musicalidade • a relação de fluxo que se refere às tensões musculares com a qual o movimento é realizado; • a fluência do movimento e seus graus de atenção; • os movimentos de giro que são os movimentos de suspensão para voltar o corpo no próprio eixo, utilizando equilíbrio e desequilíbrio; • os autos que utilizam os eixos verticais e horizontais, movimentando o corpo sem uso de apoio em que o corpo fica suspenso no ar, podendo ser realizado com um pé, dois pés ou com apoio de uma outra pessoa; • o conceito de eixo que parte, principalmente, do centro do corpo como estes de movimentação, sustentação e equilíbrio; • a relação de peso que envolve as forças utilizadas para movimentar o corpo. Ainda pensando em movimento, temos o conceito de espaço que é a relação entre o corpo e o meio em relação ao seu próprio corpo ou em relação a outro corpo ou objeto. No conceito de espaço, veremos também o conceito de níveis que relaciona-se com as alturas utilizadas para se realizar os movimentos, por exemplo, ao realizar um movimento de salto, utilizamos o nível alto acima da cabeça ou, quando utilizamos o movimento rastejar pelo chão, utilizamos o nível baixo, pois estamos trabalhando abaixo do nível da cintura. Dentro das possibilidades de movimento, temos a dimensão e a direção. A dimensão relaciona-se com a orientação no espaço e os planos que são: plano da mesa, plano da porta e plano da roda. Já a direção relaciona-se com a trajetória na qual nos movimentamos no espaço. É, portanto, o termo que utilizamos para explicar o sentido para onde vamos nos movimentar. As seis direções dimensionais são os elementos mais básicos para a orientação espacial, elas são: frente; trás; direita; esquerda; cima e baixo. Já as doze direções diametrais são: direita-alta; esquerda-baixa; esquerda-alta; direita- baixa; direita-frente; esquerda-trás; esquerda-frente; direita-trás; frente-alta; trás-baixa; trás-alta; frente-baixa. Temos ainda as oito direções diagonais: alto- direita-frente; baixo-esquerda-trás; alto-esquerda-frente; baixo-direita-trás; alto- esquerda-trás; baixo-direita-frente; alto-direita-trás; baixo-esquerda-frente. Referente ao conceito de movimento, ainda temos deslocamento que é o ponto para o qual você se desloca na dança, que pode ser realizada de diversas formas, como andando, correndo ou sendo arrastado e pode ter várias linhas, ser reto, curvo, individual ou em grupo. Por fim, temos o tempo que está relacionado com a velocidade com que são executados os movimentos, podendo ser rápido, moderado e lento. Muitas vezes o tempo é chamado de qualidade do movimento. 21 Expressão e Consciência CorporalExpressão e Consciência Corporal Capítulo 1 1.5 CORPO NA DANÇA O corpo é o instrumento principal na orquestra da dança. Sem ele, o bailarino não possui o item fundamental para transmitir as mensagens que deseja. Para uma execução de dança, é imprescindível que conheçamos esse instrumento, o que inclui aspectos anatômicos e cinesiológicos. Você sabe explicar, por exemplo, como um corpo, com seus ossos rígidos, pode se movimentar? Para que isso ocorra, as protagonistas da função são as articulações. De acordo com Haas (2011), elas são conexões entre dois ossos. QUADRO 1 – MOVIMENTOS ARTICULARES Ação Movimento Exemplo Flexão Dobrar uma articulação Flexão do quadril: a região an- terior do quadril se dobra no grand battemente devant Extensão Retificar uma articulação Cotovelo se estende na posição de flexão no solo Abdução Afastar do centro Braços à la seconde: movi- mento a partir dos lados do corpo para a segunda posição Adução Aproximar do centro Assemblé: aproximação dos membros inferiores Rotação lateral Rodar para fora Turnout: grand plié em segun- da posição Rotação medial Rodar para dentro Articulação do ombro roda me- dialmente para apoiar a mão no quadril 22 Expressão do Corpo e Musicalidade Flexão plantar Abaixar a planta do pé Relevê na ponta Dorsiflexão Levantar o dorso do pé Apoio do calcanhar no solo, le- vantando-se o ante pé FONTE: Haas (2011, p. 2) Dividindo o corpo em regiões, temos a cabeça, o tronco, os membros superiores e inferiores. Vamos entender melhor cada uma delas? Vejamos! • Cabeça: os movimentos são realizados pela articulação do pescoço e coluna cervical. Os movimentos são de flexão/extensão, flexão lateral, rotação e circundução. • Tronco: suas articulações são as vértebras, que compõem a coluna vertebral. Os movimentos realizados são de flexão/extensão, flexão lateral, rotação, circundução e translação. • Membros superiores: muitas são as articulações envolvidas aqui. O ombro e a cintura escapular realizam os movimentos de elevação/ depressão, retração/protração, adução/abdução, flexão/extensão, rotação interna/externa e circundução. Já os cotovelos realizam os movimentos de flexão/extensão e supinação/pronação. Temos, ainda, o punho, com movimentos de flexão/extensão, inclinação ulnar/radial e circundução. Por fim, há os artelhos das mãos, com movimentos de flexão/extensão, adução/abdução e circundução. • Membros inferiores: entre as articulações envolvidas aqui, temos o quadril e a pelve. Os movimentos executados são de anteversão/ retroversão, flexão/extensão, rotação interna/externa, abdução/adução, inclinação lateral e circundução. Ainda temos os joelhos com flexão/ extensão e tornozelos com movimentos de dorsiflexão, flexão plantar, adução/abdução e circundução. Assim como nos membros superiores, há os artelhos, porém dos pés, com movimentos de flexão/extensão, abdução/adução e circundução. 23 Expressão e Consciência CorporalExpressão e Consciência Corporal Capítulo 1 FIGURA 5 – REGIÕES DO CORPO E SEUS MOVIMENTOS FONTE: Ribeiro (2019, p. 154) 24 Expressão do Corpo e Musicalidade 1 De acordo com Ribeiro (2019), o ritmo faz parte da natureza comunicativa humana. Por isso, não se pode dizer que uma pessoa não tem ritmo. Inclusive, no corpo humano, há um órgão com ritmo próprio. Sendo assim, um exemplo de órgão humano que possui ritmo é o: a) ( ) Útero. b) ( ) Fígado. c) ( ) Pâncreas. d) ( ) Cérebro. e) ( ) Coração. 2 Na dança, a direção, o plano e a dimensão são pontos fundamentais. Esses componentes constituem o que chamamos de estruturas espaciais. Para Ribeiro (2019), o espaço na dança é compreendido pelo domínio dessas estruturas. A direção, como sabemos, refere-se ao percurso do corpo no espaço. Seu início se dá no centro do corpo, sendo que as direções podem ser: a) ( ) Para cima e para baixo. b) ( ) Para frente, para trás e para as diagonais. c) ( ) Para a esquerda e para a direita. d) ( ) Para frente, para trás, para a esquerda, para a direita, para as diagonais, para cima ou para baixo. e) ( ) Para frente, para trás, para a esquerda, para a direita, para as diagonais e para os vértices. 3 De acordo com nossos estudos, o corpo é divido em cabeça, tronco, membros superiores e inferiores. Os movimentos da cabeça são realizadospela articulação do pescoço e coluna cervical. Seus movimentos são de: I. Flexão/extensão. II. Flexão lateral. III. Circundução e rotação. IV. Retração/protação. V. Translação. 25 Expressão e Consciência CorporalExpressão e Consciência Corporal Capítulo 1 Está correto o que se afirma em: a) ( ) I, II, IV e V, apenas. b) ( ) III, IV e V, apenas. c) ( ) II, IV e V, apenas. d) ( ) I, II e III, apenas. e) ( ) II, III e IV, apenas. 2 A HISTÓRIA DA EXPRESSÃO E MOVIMENTAÇÃO CORPORAL A dança possui caráter comunicativo expressivo que permite ao homem se relacionar com a natureza, sua religiosidade, seu meio social e com ele mesmo. Por meio dela, o homem externaliza suas emoções e se encontra enquanto indivíduo único e complexo. A dança é, portanto, uma representação da alma, pois seu ritual e sua manifestação são carregados de mensagens. História, dança, expressão e comunicação se relacionam e se entrelaçam, sendo, talvez, impossível explicar uma sem mencionar a outra. Com o passar do tempo, a dança se transformou e evoluiu, segundo Brickman (1989) apesar de se transformar, a dança não perdeu seu poder de transcender o homem de Homens Sapiens a anjo, permitindo-o relacionar-se com sua religiosidade e emoção. 2.1 A EVOLUÇÃO DA DANÇA NO CONTEXTO HISTÓRICO Diversas danças foram criadas e transformadas em relação ao contexto histórico. Ainda hoje, em diversos ritos, elas são utilizadas como ato principal. Casamentos, formaturas e festas de 15 anos marcam os processos de desenvolvimento humano e a dança é utilizada para que a comunicação ou apresentação social ocorra. 26 Expressão do Corpo e Musicalidade FIGURA 6 – LINHA DO TEMPO DA HISTÓRIA DA DANÇA FONTE: Ribeiro (2019, p. 70) A partir de agora, compreenderemos a evolução da dança em seu contexto histórico. Aliás, você sabia que a dança e a história se relacionam em períodos? Muitas vezes, a dança teve sua evolução diretamente conduzida pela história humana. Vamos entender isso melhor. Acompanhe! 2.1.1 Dança na Era Primitiva Desde o início dos tempos, o homem utiliza a dança como forma de comunicação. De acordo com Ribeiro (2019), a dança foi uma das primeiras manifestações artísticas do ser humano e nasceu da sua relação com a natureza. A Era Primitiva remonta ao início dos primeiros homens na terra. Sua data inicia em 4000 anos antes de Cristo. Nessa era, deu-se as primeiras invenções, como o fogo e a roda. Nesse momento histórico, o homem dançava para sanar suas necessidades básicas: alimento, condição climática e acasalamento. 27 Expressão e Consciência CorporalExpressão e Consciência Corporal Capítulo 1 Inicialmente, a dança era individual, característica daquele que era tido como nômade. De acordo com Ribeiro (2019), em várias partes do mundo, esses registros foram encontrados, relacionando a dança a um fator comum entre os povos. Com a Arqueologia, foi possível verificar rituais religiosos que tinham a dança como atividade central. As pinturas rupestres foram fundamentais para se chegar a essa conclusão. Isso porque diversos movimentos de dança foram encontrados em rochas e no interior de cavernas. Essa descoberta, inclusive, permitiu aos estudiosos definirem que a dança foi a primeira linguagem humana. 2.1.2 Dança na Idade Antiga A Idade Antiga vai de 4000 anos antes de Cristo ao ano de 476, depois de Cristo. Nessa época, o homem, que antes era nômade, passou a viver em grupos e aldeias. Com o desenvolvimento da agricultura, três civilizações de grande representatividade histórica surgiram: os egípcios, os gregos e os romanos. No Egito, a dança era tida como um ritual sagrado. Ribeiro (2019) nos explica que, nesse período, o homem acreditava que a dança poderia interferir em fenômenos da natureza, portanto, era fundamental para o bom desenvolvimento da agricultura. Além disso, foi com a dança que o homem compreendeu as estações do ano. Já na civilização grega, a dança teve muito mais representatividade, pois para esse povo, a dança era um dom dos imortais e usada como forma de comunicação dos mortais com os deuses. Dessa forma, o ato de dançar tinha caráter religioso e místico. Com a ideia de corpo e mente sãos, o homem grego elevou a dança ao apogeu. Para essa civilização, a dança preparava o corpo para as batalhas, tornando- se essencial para o bom preparo físico. Grandes filósofos tratavam a dança como a arte relacionada à educação, fator muito importante para se formar um bom cidadão, de acordo com Brickman (1989). Os gregos incluíam a dança em ritos, festividades, educação e, inclusive, como ato para alegrar o homem, ou seja, como uma forma de lazer. Ela era considerada uma prática esportiva e estava presente, também, no teatro, nas apresentações cênicas. Muitos dos movimentos utilizados na dança grega, 28 Expressão do Corpo e Musicalidade incluindo os movimentos realizados com os pés, permaneceram presentes, influenciando o balé da Corte e, futuramente, a dança clássica. Você quer ver? A dança é muito comum em peças de teatro. A prática começou com o povo grego e permanece até os dias de hoje. Para assistir a uma peça assim, indicamos que acesse o vídeo intitulado “Dualidade – Cia. Corpo em Cena Dança/Teatro”, da companhia de dança Corpo em Cena, disponível em: <https://www.youtube.com/ watch?v=XTyCFLBwEzw>. Acesso em: 6 nov. 2019. Por fim, na civilização romana, a dança teve seu declínio e iniciou um processo de desvalorização. Para Ribeiro (2019), foi com o povo romano que a repressão da prática da dança começou. 2.1.3 Dança na Idade Média Durante o período da Idade Média, a Igreja Católica teve grande poder. A religião, então, virou centro das ações humanas, cabendo aos padres definirem o que o homem podia ou não fazer. De acordo com Ribeiro (2019), isso, logicamente, atingiu o ato de dançar. Com os Imperadores Romanos Cristãos, a dança passou a ser condenada, inclusive porque tinha em sua história a característica de ritual politeísta, uma ode aos deuses da antiguidade, considerada assim “dança profana”, diferente da visão monoteísta cristã. Mesmo com a repressão, as classes populares continuaram a praticar a dança. Os camponeses mantiveram, em suas festividades, o ritual de dança, representando alegria e comunhão. Foi por conta dessas pessoas que a dança e a sua linguagem mantiveram-se vivas. 2.1.4 Dança na Idade Moderna Na Idade Moderna, as navegações tinham como objetivo dominar regiões da América e da África. Com elas, o homem expandiu suas fronteiras, conheceu 29 Expressão e Consciência CorporalExpressão e Consciência Corporal Capítulo 1 novos lugares e transformou sua tecnologia. Com a Reforma Protestante, a igreja cristã foi dividida entre católicos e protestantes, perdendo seu poder político. De acordo com Ribeiro (2019), a ideia de corpo como uma máquina predominou no período, refletindo na expressão corporal. Já com a valorização da ciência, a dança buscou a perfeição das formas nos movimentos corporais. Surgiu, assim, a dança erudita, voltada para as classes abastadas, com métricas corporais e movimento mais organizado. Nessa época, assim como outras artes, a dança se transformou em símbolo de riqueza e poder, sendo muito apreciada pelos nobres. Iniciaram-se, com isso, os balés da Corte de Luís XIII, na França, seguindo a prática com o filho, Luís XIV, que aprimorou as apresentações, pedindo mais qualidade e requinte. Isso deu início ao balé clássico de acordo com Bourcier (2001). Grandes coreógrafos de balé e dança de teatro surgiram nesse período, como Beauchamp, Lulli e Noverre. Além disso, formaram-se as primeiras companhias de dança e as atividades de professor de dança, coreógrafo e bailarino passaram a ser consideradas profissões. Dessa maneira, os bailarinos passaram a ser pagos com salário definido por classes e terem contrato de funcionários dos teatros. 2.1.5 Dança na contemporaneidadeA Era Contemporânea é marcada pela necessidade de expressão, novas formas de organização social e mudanças de pensamentos e valores. Nesse momento surgiram novas danças, como a moderna, em oposição à estrutura tradicional e rígida do balé clássico. Como um dos grandes nomes desse período, podemos citar Isadora Duncan, principal nome da dança moderna. Seus movimentos tinham como intuito se aproximar dos naturais, buscando a liberdade de expressão por meio da dança. 30 Expressão do Corpo e Musicalidade Você a conhece? Isadora Duncan descrevia que, quando menina, havia dançado a alegria espontânea do crescimento. Já quando adolescente, a alegria se transformou em apreensão das correntes que estavam por vir. A bailarina não trouxe novas técnicas à tona, mas uma nova concepção quanto ao conceito da dança: mais leve, fluída e natural. Para Isadora, a dança devia ser não apenas uma arte expressiva, mas uma concepção de vida harmoniosa e flexível. Em sua análise, a dança não devia ser um mero conjunto de movimentos, nem a combinação mecânica de passos (DANTAS, 2007). FIGURA 7 – ISADORA DUNCAN FONTE: Brickman (1989, p. 55) A dança moderna, geralmente, era dançada de pés descalços, com roupas leves, utilizando movimentos com técnicas de tensão e relaxamento. O fato de dançar descalço conferiu ao bailarino a possibilidade de explorar mais movimentos, como torções e desencaixes. 31 Expressão e Consciência CorporalExpressão e Consciência Corporal Capítulo 1 Você quer ler? A zumba é uma modalidade de dança que invadiu as academias e tem sido tema de muitas discussões referentes à dança como cultura e arte e a dança como cultura esportiva. Dentro dos ritmos trabalhados na zumba, temos a salsa, o reggaeton, o zouk e a bachata. Outras danças surgiram nesse período, como a dança do jazz, influenciada pelo movimento musical do jazz norte-americano. Essa utiliza técnicas do balé clássico e de estruturas desenvolvidas na dança moderna. Logo após a Primeira Guerra Mundial, a dança passou por uma nova transformação: o homem pós-guerra sentiu a necessidade de descobrir uma nova linguagem, nova forma de expressar suas necessidades. Segundo Brickman (1989), surgiu com isso a dança pós-moderna ou contemporânea, caracterizada pela experimentação e criação de novas estruturas. Na pós-moderna, os pés, que passaram das sapatilhas para descalços, começaram a calçar tênis. Os lugares de apresentação deixaram de ser somente os teatros, incluindo locais públicos, com roupas semelhantes às usadas comumente. A dança contemporânea veio com a proposta de pesquisa de movimento. Deu-se destaque a novas estruturas, técnicas somáticas, contato e improvisação. Buscou-se, além disso, novas formas de interação com o público. Para Brickman (1989), assim a relação do bailarino com o chão, o palco e o local de dança são explorados. Outras manifestações artísticas somaram-se à dança nessa nova proposta, fazendo com que as artes se entrelaçassem e se relacionassem. Para Ribeiro (2019), vídeos, músicas, fotografias, artes plásticas e cultura digital são incorporadas à prática. Mesmo sem técnica ou padrão, a pesquisa do movimento ganhou foco, permitindo ao bailarino desenvolver novas expressões, privilegiando a consciência de movimento em detrimento à dança por meio do mero processo repetitivo. 32 Expressão do Corpo e Musicalidade 1 Conforme vimos em nossos estudos, a dança foi uma das primeiras manifestações artísticas do homem. Na Era Primitiva, por exemplo, a dança envolvia objetivos específicos, fazendo com que se tornasse necessária para o período. Sendo assim, com quais objetivos o homem dançava? a) ( ) Para sanar suas necessidades básicas. b) ( ) Para compreender as estações do ano. c) ( ) Para se aproximar dos movimentos naturais, buscando a liberdade de expressão. d) ( ) Para descobrir uma nova linguagem, nova forma de expressar suas necessidades. Você conhece algo sobre a Zumba? Leia um artigo que trata desse tema enquanto prática corporal. Disponível em: <http:// www.revistaintellectus.com.br/DownloadArtigo.ashx?codigo=556>. Acesso em: 6 nov. 2019. FIGURA - PESSOAS FAZENDO ZUMBA FONTE: <https://br.freepik.com/fotos-premium/zumba-ou-jazzdance-jovens-dancando- no-estudio_5534508.htm#page=1&query=zumba&position=0>. Acesso em: 6 nov. 2019. 33 Expressão e Consciência CorporalExpressão e Consciência Corporal Capítulo 1 e) ( ) Para buscar uma nova consciência de movimento em detrimento da dança. 2 Na civilização grega, a dança teve muita representatividade, pois, para esse povo, a dança era um dom dos imortais, usada como forma de comunicação com os deuses. Nesse período, o ato de dançar, tinha, portanto, caráter religioso, místico, uma vez que os gregos acreditavam que corpo e mente sã era uma premissa para a vida. Sendo assim, a respeito da dança na cultura do povo grego, em quais momentos a civilização incluía essa prática? a) ( ) Apenas em festividades, sem simbolismos. b) ( ) Para invocar a chuva, por exemplo. c) ( ) Em ritos, festividades, na educação e como ato para alegrar o homem. d) ( ) Em locais públicos, com roupas semelhantes às usadas comumente. e) ( ) Como forma de comunicação entre as tribos. 3 Na Idade Antiga, o homem, que antes era nômade, passa a viver em grupos. Com isso, três civilizações de grande representatividade histórica surgiram. A respeito desse assunto, em qual civilização teve início a repressão da prática da dança? a) ( ) Egípcia. b) ( ) Grega. c) ( ) Romana. d) ( ) Turca. e) ( ) Protestante. 4 Foi nos balés da Corte de Luís XIII e no reinado de seu filho, Luís XIV, que as apresentações de dança foram aprimoradas com mais qualidade e requinte, dando início ao balé clássico como conhecemos hoje. Nesse contexto surgiram grandes profissionais de balé, dança e teatro. Quem são eles? a) ( ) Beauchamp, Isadora Duncan e Luís XV. b) ( ) Isadora Duncan, Lulli e Noverre. c) ( ) Lulli, Noverre e Luís XV. d) ( ) Beauchamp, Lulli e Noverre. e) ( ) Noverre, Lulli e Luís XVI. 34 Expressão do Corpo e Musicalidade 5 A dança contemporânea tem uma proposta de pesquisa de movimento. Nela, o destaque se dá a novas estruturas, técnicas, contato e improvisação. Busca-se novas formas de interação com o público e a relação do bailarino com o chão, o palco e o local de dança são explorados. Além disso, no período contemporâneo, outras manifestações podem ser encontradas. Sendo assim, conforme nossos estudos, quais são as outras manifestações artísticas da contemporaneidade? a) ( ) Televisão, 3D, fotografias, artes plásticas e cultura digital. b) ( ) Vídeos, músicas, fotografias, artes plásticas e cultura digital. c) ( ) Vídeos, músicas, fotografias e técnicas em terceira dimensão. d) ( ) Músicas eletrônicas, 3D e cultura digital. e) ( ) Técnicas rupestres, cultura digital e tecnologias de distorção de imagem. 3 PRINCÍPIOS METODOLÓGICOS DO ENSINO DA DANÇA E DO MOVIMENTO Dançar é uma prática muito envolvente, porém, para dançarmos, precisamos entender a dança. O professor de dança deve desenvolver técnicas e processos que permitam transmitir ao aluno os elementos estruturantes da prática. Segundo Ribeiro (2019), os elementos estruturantes da dança são as ações corporais, os tempos rítmicos e os espaços determinados com o objetivo de transmitir uma intenção. Ribeiro (2019) define os elementos estruturantes da dança como sendo: • as ações corporais: pesquisa das possibilidades dos movimentos articulares; • o tempo: reconhecimento do ritmo individual e coletivo; • o espaço: possibilidades do corpo de se expressar em direções, planos e trajetórias; • a intenção: linguagem da dança por meio da qual as mensagens são transmitidas. 35 Expressão e Consciência CorporalExpressão e Consciência Corporal Capítulo 1 FIGURA 8 –ELEMENTOS ESTRUTURANTES DA DANÇA FONTE: Ribeiro (2019, p. 114) É por meio desses elementos que o planejamento de aula deve ocorrer. O processo pedagógico deve levar em consideração o desenvolvimento humano em cada uma de suas fases. Assim, nessa proposta, o corpo deve ser considerado uma unidade que envolve o biológico, o cognitivo, o social, o político e o emocional. FIGURA 9 – OS FUNDAMENTOS DA DANÇA DEVEM SER ESTUDADOS COM ATENÇÃO FONTE: Ribeiro (2019, p. 110) 36 Expressão do Corpo e Musicalidade Exemplo Imagine que você é um professor de dança e pretende ensinar a dança de roda do estilo Coco. A aula será dada no pátio da escola e você levará em torno de 50 minutos para realizar o ensino. Além disso, uma caixa de som será utilizada para a música “Magalenha”. Segue o link da música: <https://www.youtube.com/ watch?v=stYJkLlNmsY>. Acesso em: 6 nov. 2020. A ação pretendida é propiciar a vivência da dança popular, com o ritmo sincopado da dança Coco, por meio da música escolhida. As dimensões utilizadas serão a linha, a roda e a coluna, com as direções de frente, traz e Considerando a dança enquanto uma arte comunicativa, é fundamental compreender que os signos e símbolos ensinados por meio dela permitirão maior repertório para se expressar. Portanto, quanto mais dançarmos, mais ampla será nossa comunicação externa. Além disso, melhor desenvolveremos nossa capacidade de percepção corporal interna. 3.1 FUNDAMENTOS PEDAGÓGICOS PARA O ENSINO DA DANÇA O professor que abordará a dança em sua aula nem sempre precisa saber dançar com maestria, pois, por meio de técnicas pedagógicas, ele conseguirá propiciar ao aluno a prática e o desenvolvimento das estruturas expressivas da dança. Por isso, é muito importante preparar e fundamentar pedagogicamente a aula, para que, mesmo sem dominar os fundamentos, seja possível realizar a prática rítmica (RIBEIRO, 2019). Vamos comparar com outra prática física: para ensinar os fundamentos da ginástica artística, como reversão ou arco, o professor precisa vivenciar a prática e conhecer como se dá os fundamentos técnicos envolvidos, porém, não é necessário que ele seja um atleta. Dentro desse contexto, vamos construir a seguinte estrutura: o que queremos ensinar, onde ensinaremos, quanto tempo levaremos para ensinar e com que música. Além disso, precisamos pensar qual é a ação que pretendemos, com que tempo/ritmo, quais dimensões serão utilizadas e com qual intenção realizaremos a prática. 37 Expressão e Consciência CorporalExpressão e Consciência Corporal Capítulo 1 diagonal, direita e esquerda, explorando os níveis médio e alto. Por meio dessa aula, os alunos poderão conhecer essa forma expressiva e conseguirão se relacionar com ela, transmitindo o histórico que envolve as danças populares. No entanto, antes de realizarmos a prática expressiva rítmica, é preciso, segundo Miller (2012), levar em consideração outro aspecto: o desenvolvimento humano em cada fase. 3.2 DESENVOLVENDO A AULA DE ACORDO COM A FAIXA ETÁRIA Para elaborar a aula de dança, é necessário pensar na faixa etária que será atendida, visto que, em cada etapa, aprendemos de determinada forma. Portanto, é fundamental ter consciência dessa singularidade. Dentro dessa perspectiva, Miller (2012) sugere que levemos em consideração os desenvolvimentos cognitivos, motor, afetivo e social. O desenvolvimento cognitivo se refere a como aprendemos; o motor está relacionado aos aspectos motores, físicos de desenvolvimento; o afetivo envolve o que sentimos; e o social a forma como nos relacionamos. Você já escutou alguém dizer que “dança desde que estava ainda na barriga da mãe”? Na verdade, todos nós dançamos desde sempre, pois é natural do homem se comunicar por meio do gesto. Assim, a ação motora é a primeira linguagem realizada pelo ser humano. Na primeira infância, temos as seguintes etapas do desenvolvimento motor: • movimentos reflexos (até um ano); • movimentos rudimentares (até dois anos); • movimentos fundamentais (até sete anos). Nessas etapas, a relação da criança com o ambiente que a cerca é fundamental para o desenvolvimento dela, sendo que, ao final dos movimentos fundamentais, inicia-se a fase de socialização e, portanto, da sua relação com o outro. Porém, é nesse momento que as músicas e as brincadeiras cantadas de roda são essenciais para se explorar os fundamentos estruturantes das atividades 38 Expressão do Corpo e Musicalidade Vamos saber mais? O uso do vídeo então como uma proposta de ensino de dança educação Muitos artistas já têm usado o vídeo como recurso didático para ensinar a dança. Qualquer profissão pode utilizar-se dessa ferramenta, basta que seja feita alguma formação direcionada para isso. No artigo de Ida Mara Freire intitulado Dança-Educação: o corpo e o movimento no espaço do conhecimento, a autora desenvolve a proposta de vídeo educação. O artigo tem como objetivo refletir sobre a Dança-Educação, tendo como cenário uma experiência intercultural envolvendo professores e pesquisadores do Brasil e da Inglaterra. Segundo Freire (2001) ela apresenta a dança como área de conhecimento, comparando o ensino e a formação de professores nos dois países. A partir disso explicita a relação entre criar, executar e observar como meta para apreciação da dança, discutindo o uso do vídeo como uma estratégia para o ensino de Dança-Educação e reconhecendo seus espaços de aprendizagem como possibilidades de trocas culturais e ressignificação do corpo singular e múltiplo, a partir de abordagens da dança contemporânea. Freire (2001) apresenta que uso de vídeo dança sobre um trabalho de dança profissional tem uma ampla aplicação no ensino de dança. No entanto não como algo para se copiar, mas para as crianças terem novas ideias de movimentos. Ela exemplifica que durante a exibição de um vídeo, por exemplo, pode se identificar muitos tipos de saltos em dança e isso pode ser observado e expressivas. Segundo Ribeiro (2019), uma gama de ações inicia a partir de então, a criança experimenta o mundo, explora a afetividade, os toques corporais e os sons. Já na segunda infância, fase de transição da fase motora fundamental para a fase motora especializada, devemos levar em consideração o passado expressivo rítmico da criança. É nesse momento que as habilidades motoras devem ser acrescentadas no planejamento. Além disso, é nesse momento que o indivíduo se torna social, descentralizando e se tornando parte de grupos de convivência. Danças de equipe e criações coletivas são muito importantes nesse período. 39 Expressão e Consciência CorporalExpressão e Consciência Corporal Capítulo 1 discutido, abrindo novas possibilidades de saltar em diferentes formas, algumas das quais não poderiam ser imaginadas sem ter o vídeo como ponto de partida. Para a pesquisadora, as crianças podem ser encorajadas a tentar realizar o movimento para elas mesmas, adaptá-los e refiná-los, de modo que ampliassem seu próprio vocabulário de movimentos. Em sua pesquisa, ela demonstra que para mostrar como se dança samba e capoeira no Brasil, por exemplo, foi verificado que o vídeo dança em sala de aula capacitava seus alunos para observarem e discutirem os estilos da dança e conhecerem mais sobre o contexto em que essas manifestações culturais podem ser encontradas. Através do estudo de algumas partes selecionadas do vídeo, os estudantes, após as aulas, foram capazes de: · Identificar os movimentos presentes no samba e na capoeira, por exemplo: quais são as ações, eles se movem rápido ou lento? Os movimentos são amplos ou restritos, e como é usado o espaço para dançar? Em quais níveis e direções? · Descrever as caraterísticas e estilos de cada dança. · Descobrir sobre as tradições e origens do samba e da capoeira, o que foi ouvido por meio do vídeo, comentando e discutindo as informações. · Copiar algumas ações e padrões rítmicos domovimento observados e colocar em suas próprias coreografias. · Usar a imaginação para adaptar e/ou alterar os movimentos observados, como também manter as caraterísticas dos respectivos estilos de dança. · Apreciar as similaridades e diferenças entre os movimentos de samba e capoeira. · Apreciar o tipo de música e dos instrumentos usados para dançar samba e acompanhar a capoeira (FREIRE, 2001, p. 23). Segundo a pesquisadora, o vídeo selecionado para trabalhar com os estudantes mostrou os modos informais de dançar samba e capoeira na comunidade brasileira. Ela ainda alega que usar vídeos de companhias de dança pode demonstrar exemplos de dança excelentes que o professor pode não conseguir demonstrar ou realizar. No entanto, Freire (2001) ressalva que eles servem como modelo, estimulando-nos a elevar o padrão e a qualidade da dança em educação, mas não deve substituir o papel do professor como mediador dessa interação. 40 Expressão do Corpo e Musicalidade 3.3 MONTAGEM DO PLANO DE AULA A partir de tudo que aprendemos até aqui, é necessário entender como montar uma aula de dança, levando em consideração a proposta, a faixa etária envolvida, a música que será utilizada, os objetivos a serem alcançados com a prática e como avaliaremos o resultado da aula. O primeiro momento deverá utilizar, em média, 5% a 10% da duração da aula para a introdução e a preparação da prática. Nesse momento, o professor deve explicar como será o procedimento prático, apresentar um resumo do que será realizado e contextualizar a prática em seu histórico e sua importância. Além disso, também pode preparar o corpo dos alunos com aquecimento e alongamento para os segmentos corporais que serão utilizados. Algumas sequências simples com movimentos globais podem ser apresentadas durante o aquecimento. No segundo momento, na fase de desenvolvimento, o professor utilizará de 35% a 40% da aula. Será a parte principal, em que o desenvolvimento das técnicas necessárias e os movimentos para a realização da dança serão ensinados e praticados. A exploração de temáticas, dimensões de prática, níveis e planos é aconselhável nesse momento. É interessante, também, utilizar posicionamentos diversos, como círculo, fila, coluna, linha e triângulos. O terceiro momento, por fim, tem a duração de 5% a 10% da aula. Esse será o momento avaliativo, utilizado para criações coreográficas e improvisações, em que os alunos apresentarão o que foi adquirido do conteúdo apresentado. É fundamental que seja considerado no programa de aulas de dança o fato de que o programa deve desenvolver a educação através da dança e não ter os movimentos como objetivos finais ou como meta. O professor deve levar em consideração as seguintes habilidades para desenvolver em suas aulas: • desenvolver por meio do movimento a consciência de um indivíduo integral: corpo, mente e emoção centralizados; • ampliação do repertório de movimento; • autoconhecimento corporal por meio da interação social; • observação e análise do movimento; • formação estética; • análise crítica da dança. Na aula deve-se levar em consideração a necessidade de feedback, pois através dele será possível perceber a necessidade de reforço e mais motivação para dar continuidade ao trabalho. Além disso, o feedback é fundamental para 41 Expressão e Consciência CorporalExpressão e Consciência Corporal Capítulo 1 Vamos praticar Imagine que você possui uma turma do quarto ano e precisa desenvolver uma aula de expressão corporal com a temática “natureza”. Utilizando o quadro a seguir, monte uma aula levando em consideração a faixa etária com que vai trabalhar e os conhecimentos adquiridos ao longo dos nossos estudos. acompanhar o desenvolvimento do aluno, de suas emoções e ações relacionadas à aula. Os tópicos a seguir podem ser selecionados pelo professor para desenvolver esse feedback: • conhecimento pleno da habilidade motora proposta; • ser capaz de descrever e relembrar (mentalmente) a atividade realizada; • identificar os aspectos corretos e os incorretos da atividade desempenhada; • observar o desempenho do aluno naquela atividade antes e depois de uma nova prática; • descrição do aluno do que foi feito; • estabilidade emocional; • capacidade de relacionar/respeitar o aluno com necessidades educacionais especiais; • senso de humor e habilidade para jogar/brincar; • franqueza e honestidade; • resistência e vigor. Sugere-se que os professores repensem suas práticas de dança de expressão corporal tendo em vista alunos com necessidades educacionais especiais para que eles desenvolvam essas habilidades também. 42 Expressão do Corpo e Musicalidade Planejamento de aula Tema: Data: Série: Professor: Disciplina: Escola: Conteúdo Objetivos Desenvolvimen- to Materiais Avaliação Duração Descrever o conteúdo a ser aborda- do Objetivo ou i n t e n ç ã o que se deseja alca- nçar com a aula Roteiro passo a passo de como será realizada a aula M a t e r i a i s necessários para a re- alização da aula Método a ser utilizado para avaliar se o aluno aprendeu o conteúdo Tempo de duração da aula FONTE: A autora Com esses conceitos teóricos e com a prática realizada, é possível contextualizar prática e teoria e montar seus próprios planos de aula. O planejamento na docência é fundamental e faz parte do processo de preparação de aula. 43 Expressão e Consciência CorporalExpressão e Consciência Corporal Capítulo 1 Vamos relacionar os conteúdos com a prática docente? Ao longo da Capítulo 1, aprendemos algumas questões relacionadas aos fundamentos da dança. Conhecemos a dança através da história, diferenciamos consciência e expressão corporal e aprendemos a planejar e montar uma aula de dança, levando em consideração os princípios aprendidos sobre desenvolvimento humano, escolha musical, escolha de tema e estrutura da aula. Na primeira infância temos, portanto, as seguintes etapas do desenvolvimento motor: a etapa dos movimentos reflexo (até um ano), a etapa dos movimentos rudimentares (até dois anos) e fundamentais (até 7 anos). Nessas fases a relação da criança com o ambiente que a cerca é fundamental para seu desenvolvimento. Ao final dessa fase, inicia a fase de socialização e, portanto, da sua relação com o outro. Segundo Ribeiro (2019), a criança inicia uma gama grande de ações nesse momento, ela experimenta o mundo, bate palmas, ri, chora, explora a afetividade, os toques corporais, os sons, entre outras. Levando em consideração o texto acima, elabore uma proposta de aula que permita o desenvolvimento rítmico expressivo na primeira infância. Referência RIBEIRO, S. R. Atividades rítmicas e expressivas: a dança na educação física. Curitiba: InterSaberes, 2019. 44 Expressão do Corpo e Musicalidade Modelo: Plano de aula Tema: Poses Objetivos: Os alunos praticarão habilidades de concentração e conceitos de movimento. Será trabalhado também equilíbrio e coordenação. Duração: 25 minutos de aula. Local: • Grande área aberta para as crianças se movimentarem. Materiais utilizados: • Aparelho de som. Introdução com duração de 5 minutos. A temática pose será debatida. Como deve ser uma pose? Quando ficamos parados no dia a dia? Será pedido aos alunos que iniciem uma corrida no local e com uma voz de comando será dito que eles precisam parar e não se moverem. Várias poses de diferentes temáticas devem ser exploradas, por exemplo: dormindo, congelado, de cimento etc. Desenvolvimento com duração de 15 minutos •Os alunos devem se espalhar. •Será explicado que uma vez que a música comece, eles devem começar a se mover ou dançar. •Eles devem continuar a dançar e se mover até que a música pare completamente. •Se a música parar, eles devem fazer a pose em qualquer posição em que estejam no momento e mantê-la até que a música seja iniciada novamente. Avaliação com duração de 5 minutos. Cada alunomostrará para a turma a pose que mais gostou. A avaliação será baseada na participação, seguindo instruções e simplesobservação. 45 Expressão e Consciência CorporalExpressão e Consciência Corporal Capítulo 1 1 Para ensinar os fundamentos da ginástica artística, como reversão ou arco, o professor precisa vivenciar a prática e conhecer como se dão os fundamentos técnicos envolvidos. Conforme vimos, é importante entender que o ensino, no entanto, difere-se da necessidade de o professor ser um bailarino profissional. Dessa forma, qual estrutura deve ser utilizada para ensinar a dança? Analise as afirmativas a seguir. I. O que queremos ensinar. II. Onde ensinaremos. III. Quanto tempo levaremos para ensinar. IV. Qual música será utilizada. V. O domínio que temos dos movimentos que pretendemos ensinar. Está correto o que se afirma em: a) ( ) II e III, apenas. b) ( ) I, III, IV e V, apenas. c) ( ) I e IV, apenas. d) ( ) III e IV, apenas. e) ( ) I, II, III e IV, apenas. 2 Para elaborarmos uma aula de dança, é necessário levar em consideração a faixa etária escolhida para o público a ser atendido. Isso porque, em cada etapa, aprendemos e nos desenvolvemos de alguma maneira. Nessa perspectiva de desenvolvimento humano, ao preparar uma aula de dança, é preciso levar em consideração: a) ( ) Os desenvolvimentos cognitivos, motor, afetivo e social. b) ( ) Os aspectos de crescimento físico e biológico. c) ( ) Os desenvolvimentos cognitivo e psicomotor. d) ( ) Os aspectos afetivo e emocional. e) ( ) Os aspectos psicológico e pedagógico. 3 Como visto ao longo do Capítulo 1, na primeira infância, a relação da criança com o ambiente que a cerca é fundamental para seu desenvolvimento. Já, ao final dessa fase, inicia-se a fase de socialização e, portanto, é nesse período que desenvolvemos nossa relação com o outro. Temos, portanto, as seguintes etapas do desenvolvimento motor: 46 Expressão do Corpo e Musicalidade a) ( ) Dos movimentos reflexo (até dois anos), dos movimentos rudimentares (até três anos) e dos movimentos fundamentais (até sete anos). b) ( ) Dos movimentos reflexo (até um ano), dos movimentos rudimentares (até quatro anos) e dos movimentos fundamentais (até sete anos). c) ( ) A etapa dos movimentos reflexo (até um ano), a etapa dos movimentos rudimentares (até um ano e meio) e fundamentais (até 2 anos). d) ( ) A etapa dos movimentos reflexo (até um ano), a etapa dos movimentos rudimentares (até quatro anos) e fundamentais (até 6 anos). e) ( ) A etapa dos movimentos reflexo (até um ano), a etapa dos movimentos rudimentares (até dois anos) e fundamentais (até 7 anos). REFERÊNCIAS BOURCIER, P. História da dança no Ocidente. 2. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2001. BRICKMAN, L. A linguagem corporal do movimento. Rio de Janeiro: Summus, 1989. CORPO EM CENA. Dualidade: Cia. Corpo em Cena Dança/Teatro. 4 abr. 2012. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=XTyCFLBwEzw>. Acesso em: 6 nov. 2019. DANTAS, M. O corpo natural de Isadora Duncan e o natural do corpo em educação somática: apontamentos para uma história do “corpo natural” em dança. 2007. In: GOELLNER, S. V.; JAEGER, A. A. (Org.). Garimpando memórias: esporte, Educação Física, lazer e dança. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2007. Disponível em: <https://www.academia. edu/3441241/O_Corpo_Natural_de_Isadora_Duncan_eo_Natural_no_Corpo_ em_Educa%C3%A7%C3%A3o_Som%C3%A1tica_apontamentos_para_uma_ hist%C3%B3ria_do_corpo_natural_em_dan%C3%A7a>. Acesso em: 6 nov. 2019. 47 Expressão e Consciência CorporalExpressão e Consciência Corporal Capítulo 1 FREIRE, I. M. Dança-Educação: o corpo e o movimento no espaço do conhecimento. Cad. CEDES. v. 21. n. 53. Campinas, 2001. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_ arttext&pid=S0101-32622001000100003>. Acesso em: 15 fev. 2020. FREIRE, Ana Vitória. Angel Vianna, uma biografia da dança contemporânea. Rio de Janeiro: Dublin, 2005. FREIRE, I. M. Compasso ou descompasso: o corpo diferente no mundo da Dança. Ponto de Vista. v. 1. Florianópolis: UFSC/NUP-CED, 1999. FREIRE, I. M.; ROLFE, L. Dançando também se aprende: o ensino da dança no Brasil e na Inglaterra. 1999. In: CABRAL, B. (Org.). O ensino de teatro: experiências interculturais. Santa Catarina: UFSC, 1999. HAAS, J. G. Anatomia da dança. São Paulo: Manole, 2011. KALMAR, Déborah. Qué es la expresión corporal: a partir de la corriente de trabajo creada por Patricia Stokoe. Buenos Aires: Lúmen, 2005. KLAITR, D.; UGHETTI, M. A.; PEREIRA, P. R. A dança como fator influente na qualidade de vida do idoso: um foco na zumba. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Educação Física) – Faculdade Max Planck de Indaiatuba, Indaiatuba, 2015. Disponível em: <http://www.revistaintellectus.com.br/ DownloadArtigo.ashx?codigo=556>. Acesso em: 6 nov. 2019. LABAN, Rudolf. Domínio do movimento. 5. ed. São Paulo: Editora Summus, 1978. MARQUES, I. A. Ensino da dança hoje: textos e contextos. São Paulo: Cortez, 1999. MILLER, J. Qual é o corpo que dança? Dança e educação somática para adultos e crianças. São Paulo: Summus, 2012. RIBEIRO, S. R. Atividades rítmicas e expressivas: a dança na Educação Física. Curitiba: InterSaberes, 2019. 48 Expressão do Corpo e Musicalidade CAPÍTULO 2 Estudo do Movimento A partir da perspectiva do saber-fazer, neste capítulo você terá os seguintes objetivos de aprendizagem: • conhecer quem foi Rudolf Laban; • analisar os trabalhos conduzidos por Laban e a importância de suas pesquisas para o universo da dança; • conhecer os temas do movimento e seus fatores; • aprender a desenvolver um plano de aula de dança. 50 Expressão do Corpo e Musicalidade 51 Estudo do MovimentoEstudo do Movimento Capítulo 2 1 CONTEXTUALIZAÇÃO Você sabia que, antigamente, as tribos se comunicavam por meio de batidas de tambores? Essa comunicação se dava por longos percursos, sendo que as pessoas não utilizavam a mesma língua, mas a informação era transmitida, não apenas pelo ritmo, mas pelo movimento corporal também. Dessa forma, a sensibilidade para a observação do movimento se tornou uma espécie de linguagem que foi se desenvolvendo naturalmente pelo instinto rítmico do homem, embora tenhamos perdido a habilidade com o passar do tempo. Aliás, você consegue entender o porquê de a observação do movimento ser uma ferramenta útil para o trabalho do ator e/ou bailarino, assim como o controle e o desenvolvimento de seus hábitos, de modo a desvendar o significado do movimento? Os movimentos internos, do sentimento e do pensamento, refletem- se nos olhos do homem e na expressão do seu rosto e de suas mãos. Para compreendermos melhor a respeito de todos os pontos, neste capítulo, vamos nos aprofundar no estudo do movimento. Veremos os fatores do movimento, a importância dos estudos e métodos desenvolvidos por Rudolf Laban, e a criação de um plano de aula de dança eficiente para o entendimento dos movimentos. Vamos começar! 2 RUDOLF LABAN Rudolf Von Laban nasceu na Bratislava em 1879. Ele criou diversos centros de pesquisa, sempre buscando se aprofundar nos movimentos naturais, principalmente, com relação à espontaneidade e riqueza. Com isso, podia desenvolver a consciência no bailarino. Além disso, o pesquisador desenvolveu uma notação de movimento conhecido como labanotação (LABAN, 1978). A história dele se mistura ao período europeu da Segunda Guerra Mundial e a relação dele com Hitler é muito comentada em obras literárias que versam sobre o tema. Suas pesquisas e metodologias sobre o movimento humano, devido à profundidade e extensão, são utilizadas ainda hoje como base para uma melhor compreensão do homem e seus movimentos. Galante e conquistador, Laban sempre teve diversas bailarinas ao seu redor. 52 Expressão do Corpo e Musicalidade Era descrito como elegantee de um carisma inigualável. Além disso, era um excelente coreógrafo, tinha uma inteligência notável e dominava muitas línguas (MELINA, 2017). Para entendermos um pouco mais a história de vida de Rudolf Laban e como ele pensava a respeito da pesquisa do movimento, leia a seguir um trecho do livro de sua autoria em que relaciona arte e ciência. É essencial àqueles que estudam o movimento no palco cultivarem a faculdade de observação, o que é de muito mais fácil consecução do que geralmente se acredita. Os atores, bailarinos e professores de dança usualmente possuem tal capacidade como dom natural, a qual, no entanto, pode ser refinada a tal ponto que se torne inestimável para os objetivos da representação artística. É obvio que o procedimento do artista ao observar e analisar o movimento e depois ao aplicar seu conhecimento difere em vários aspectos do procedimento do cientista. Mas é muitíssimo desejável que se dê uma síntese das observações artística e científica do movimento já que, de outro modo, a pesquisa sobre o movimento do artista tende a especializar-se tanto numa só direção quanto a do cientista em outra. Somente quando o cientista aprender com o artista o modo de adquirir a necessária sensibilidade para o significado do movimento, e quando o artista aprender com o cientista como organizar sua própria percepção visionária do significado interno no movimento, é que haverá condições de ser criado um todo equilibrado (LABAN, 1978, p. 154). Nesse trecho podemos ver como Laban pensava a análise de observação do movimento. Para o autor, o artista era como um cientista que deveria observar e analisar para depois registrar. As pesquisas dele na área da educação foram fundamentais para o estudo do movimento e continuaram sendo realizadas posteriormente por discípulos dele. Para duas de suas discípulas que descreveram sua obra, a análise de movimento de Laban consistia em um sistema de estudo que reconhecia o movimento como a primeira linguagem do homem. Essa análise era proporcionada através de símbolos e uma terminologia padronizada, que ajudava a definir e identificar os aspectos efêmeros da linguagem não verbal. Para as pesquisadoras, o sistema definia quatro aspectos do movimento que são interrelacionados – corpo, esforço, espaço e relações – e que serviam como lentes pelas quais se observava o foco da experiência do movimento (SCOTT, 1996; NORTH, 1990). A observação e a análise do movimento de Laban, segundo North (1990), era pautada em quatro aspectos: I- O corpo, relacionando com a parte do corpo que se move. Fluência centrípeta/ 53 Estudo do MovimentoEstudo do Movimento Capítulo 2 centrífuga ou uso do corpo de maneira ampla, restrita ou ampla; consciência de qual parte do corpo está se movendo; unidade entre as partes superiores e inferiores do corpo; unidade entre o centro e as extremidades do corpo; movimentos do tronco iniciados em diferentes partes; formas do corpo e destreza manual. II- A qualidade ou "esforço": relaciona-se com como o corpo se move. Fases: habilidades rítmicas, movimento mecânico ou métrico; resistência; reações imediatas ou demoradas; frases crescentes e decrescentes. Elementos do movimento: 1. atitude da pessoa frente ao peso do seu corpo; 2. atitude da pessoa frente ao tempo; 3. atitude da pessoa frente à fluência do movimento; 4. atitude da pessoa frente ao espaço. habilidade para alternar entre atitudes opostas; Combinações de três elementos apresentados ao mesmo tempo: (a) peso, tempo e fluência; (b) peso, espaço e fluência; (c) espaço, tempo e fluência. Combinações de dois elementos apresentados ao mesmo tempo: (1) fluência/ tempo; (2) peso/fluência; (3) peso/tempo; (4) peso/espaço; (5) tempo/ espaço; (6) espaço/fluência. III- O espaço ou onde o corpo se move – gestos (shaping); localização das formas; planos do movimento; níveis do espaço que são utilizados pelo indivíduo. IV- Relações: com o que ou quem o corpo se move. As relações da pessoa em movimento com os objetos ou com os outros indivíduos são notadas em associação com um particular movimento que está sendo observado. Laban construiu diversos referenciais teóricos metodológicos que foram seguidos e desenvolvidos por diversos estudantes seus. Dentro desse sistema, foram apresentados os seguintes sistemas: Body-Mind-Centering e Contact- Improvisation. Vamos ver um pouco mais sobre o sistema exposto por Laban? O Body-Mind Centering é definido por Cohen (1997) como uma jornada experiencial dentro do vivo e cambiante território do corpo. O explorador é a mente, nossos pensamentos, sentimentos, alma e espírito. É através dessa jornada que caminhamos para o entendimento de como a mente é expressa por meio do corpo em seus movimentos. Segundo Cohen (1997), nosso corpo se move como nossa mente se move. As qualidades de qualquer movimento são as manifestações de como a mente é expressa através do corpo que está em movimento e as mudanças nas qualidades do movimento indicam que a mente mudou o foco sobre o corpo. O movimento, portanto, pode ser um modo de observarmos a expressão da mente por meio do corpo. O estudo Body-Mind Centering inclui a aprendizagem tanto experiencial como cognitiva dos sistemas do corpo humano como, por exemplo, esqueleto, ligamentos, músculos, nervos, gordura, pele, órgãos, glândulas endócrinas, 54 Expressão do Corpo e Musicalidade fluidos, respiração e vocalização; os sentidos e a dinâmica da percepção e o desenvolvimento do movimento tanto ontogenético como filogenético; a arte do tocar e a responsividade. Conforme apresenta Cohen (1997), essa técnica tem sido aplicada por pessoas de diferentes áreas, como dança, atletismo, trabalho corporal, educação física, terapias da fala, do movimento ocupacional, psicoterapia, medicina, desenvolvimento infantil, educação, arte visual e musical, yoga, artes marciais, meditação e outras disciplinas. Esse trabalho foi fundamental para o ensino da dança possibilitando um conhecimento mais cognitivo da escrita do próprio corpo e foi desenvolvido e aportado na dança contemporânea por diversos professores e bailarinos. Além do Body-Mind Centering, temos o seguinte conjunto de técnicas desenvolvidas a partir desse sistema: o Contact-Improvisation, criado por Steve Paxton. Definido como um processo criativo que ocorre quando duas ou mais pessoas se movimentam com apoio mútuo e trabalham com a mudança de equilíbrio coletivo. Influenciado por técnicas da dança moderna, por componentes de acrobacia e pilates, ele tem seus próprios princípios característicos de movimento. O Contact-Improvisation também promove interações do corpo perceptivo com o organismo corpo-mente e baseia-se no toque e no equilíbrio entre duas pessoas. Os parceiros, em duplas, tocam um ao outro e, por meio do toque, a informação sobre o movimento de cada um é transmitida. O treinamento dessas técnicas do sistema pauta-se em seis aspectos apresentados a seguir: • atitude; • senso de tempo; • orientação do espaço; • orientação do parceiro; • expansão da visão periférica; • desenvolvimento muscular. Você quer ler? Para saber ainda mais sobre o coreógrafo e pesquisador Rudolf Laban, suas ideias e metodologias aplicadas até hoje nas teorias do movimento, sugerimos a leitura do livro Domínio do movimento, organizado por Lisa Ulmann. Na obra, é possível compreender a genealogia da práxis do autor. Vale a pena pesquisar e ler o livro! 55 Estudo do MovimentoEstudo do Movimento Capítulo 2 3 FATORES DO MOVIMENTO: FLUÊNCIA, ESPAÇO, PESO E TEMPO A mímica é a origem da dança e do drama, sendo que suas raízes são o trabalho e a oração. O trabalho garantiu nossa existência material, enquanto a prece desenvolveu nossa espiritualidade. Dessa forma, a mímica é o movimento corporal que pode, muitas vezes, ser traduzida em palavras, diferentemente da dança ou da música, que são mais difíceis de serem descritas e estão relacionadas
Compartilhar