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DIMORFISMO SEXUAL SECUNDÁRIO EM FÊMEAS DE Cichla kelberi (TELEOSTEI, PERCIFORMES, CICHLIDAE). Siqueira-Silva, D.H.1, *; Costa, R. S.2; Silva, A.P.S.2;Ninhaus-Silveira, A.2; Vicentini, C. A.3; Veríssimo-Silveira, R.2 1Pós-Graduando - Biologia Animal; Inst. de Biociências, Letras e C. Exatas - IBILCE; Unesp, São José do Rio Preto; 2L.I.NEO. Laboratório de Ictiologia Neotropical, Dep. Biologia e Zootecnia, Unesp, Ilha Solteira, SP. 3Dep. Biologia, Faculdade de Ciências de Bauru e CAUNESP – UNESP. siqueira.diogenes@gmail.com> Introdução As características sexuais secundárias que geralmente se expressam na morfologia externa do indivíduo, sendo consideradas como caracteres acessórios à desova ou reprodução (Lagler et al., 1962), são essenciais quando se inicia um processo de separação e determinação de um táxon, uma vez que em algumas espécies a característica dimórfica é tão marcante que indivíduos podem ser classificados como pertencentes a espécies diferentes (Cameron,1992; Rapp Py-Daniel & Cox Fernandes, 2005). Portanto, é fundamental que se identifique a presença (ou não) de dimorfismo sexual secundário antes que decisões anatômicas sejam tomadas (Andersson, 1994; Rapp Py-Daniel & Cox Fernandes, 2005). Entre os peixes, diversas espécies são conhecidas por apresentar características morfológicas que permitem a diferenciação entre indivíduos machos e fêmeas durante o período reprodutivo, sem a necessidade de um exame mais minucioso de suas gônadas. Dentre estas características, a variação do tamanho corporal, a variação da morfologia da cabeça, a forma dos dentes e a presença de órgãos acessórios envolvidos na reprodução, possivelmente sejam as categorias de dimorfismo mais encontradas, entretanto, outras estruturas podem sofrer modificações morfológicas relacionadas ao período reprodutivo (Böhlke, 1997; Gramitto & Coen, 1997; Fletcher, 1999; McMillan, 1999). Um exemplo é o que acontece no gênero Cichla, onde machos adultos e maduros, aptos à reprodução apresentam uma gibosidade ou protuberância cefálica pós-occipital, que desaparece imediatamente após a liberação dos espermatozóides para fertilização dos óvulos no meio externo circundante (Câmara et al., 2002; Chellapa et al., 2003; Kullander & Ferreira, 2006)(Fig. 1). Esta estrutura, presente apenas durante o período reprodutivo, alcança aproximadamente 1,0 cm de altura e está cheia de gotículas de lipídio (Câmara et al., 2002; Chellapa et al., 2003). O presente trabalho tem como objetivo verificar a presença de dimorfismo sexual secundário em fêmeas e machos de Cichla kelberi, no Reservatório de Jupiá, rio Paraná, Ilha Solteira, SP, e relacionar a presença dessa característica ao estágio reprodutivo gonadal dos espécimes. 1 mailto:siqueira.diogenes@gmail.com Material e Métodos Estudos foram conduzidos no reservatório de Jupiá, rio Paraná com o intuito de verificar a presença de gibosidade em machos e fêmeas de C. kelberi, relacionando-a, quando presente, ao estado de maturação gonadal que se encontra o espécime. Nas coletas mensais realizadas entre abril e junho de 2009, foram capturados com auxílio de anzol (carretilha), 23 exemplares fêmeas e 22 exemplares machos de C. kelberi . Após capturados os exemplares foram anestesiados com solução de benzocaína (1µg/ml), e foram verificados (análise macroscópica), os seguintes parâmetros morfológicos: presença ou não de gibosidade (dimorfismo sexual secundário) e estágio do desenvolvimento gonadal. As gônadas inicialmente foram classificadas com base em aspectos macroscópicos, em cinco classes ou estágios de maturação testicular para o ciclo reprodutivo da espécie (imaturo, maturação inicial, maturação intermediária, maturação final, maduro), sendo, posteriormente, removidas, fragmentadas e fixadas em solução de Karnovisk, para processamento histológico de rotina, no Laboratório de Ictiologia Neotropical do Departamento de Biologia e Zootecnia da UNESP de Ilha Solteira – SP. Resultados Dos 22 machos capturados, 15 apresentaram gibosidade ou protuberância cefálica pós-occipital (Figs. 1, 2), estando todos eles com os testículos em estágios de maturação final e/ou maduro. Naqueles machos em que esta característica não estava presente, os testículos apresentavam estágios imaturo, maturação inicial e maturação intermediária. Já para as fêmeas, das 23 capturadas, cinco apresentavam uma gibosidade (protuberância cefálica) (Fig.3, 4) e estavam nos estágios de maturação final e/ou maduro. Nas demais fêmeas que não apresentavam essa protuberância, a observação das gônadas evidenciou os vários estágios do ciclo reprodutivo (imaturo, maturação inicial, maturação intermediária e maturação final) com exceção do estágio maduro. Discussão e Conclusões A presença dessa gibosidade ou protuberância cefálica é um dimorfismo sexual secundário descrito até o momento somente para os indivíduos machos de tucunaré que estejam em época reprodutiva (Câmara et al., 2002; Chellapa et al., 2003; Kullander & Ferreira, 2006; Souza et al., 2008), a exemplo do C. kelberi, sendo, portanto, um padrão novo para as fêmeas desta espécie. A presença de gibosidade em fêmeas de C. kelberi, assim como nos machos, está associada aos estágios avançados do ciclo reprodutivo gonadal. Todavia, análises microscópicas dos ovários dos exemplares capturados, estão sendo realizadas a fim de confirmar esta definição. Deste modo, a presença de uma gibosidade em exemplares de Cichla 2 kelberi, não deve mais ser utilizada para diferenciar os machos desta espécie em período reprodutivo, pois se trata de uma característica nova também presente em fêmeas. Agradecimentos CAPES e GRUPO LINEO Referências ANDERSSON, M. 1994. Sexual selection. Princeton, NJ: PrincetonUniv. Press. 599pp. BOHLKE, E. Gymnothorax robinsi (Anguilliformes, Muraenidae), a new dwarf moray with sexually dimorphic dentition from the Indo-Pacific. Bulletin of Marine Science, v.60. p. 648-655. 1997. CÂMARA, M. R., CHELLAPPA, N. T. & CHELLAPPA, S. Ecologia reprodutiva do Cichla monoculus, um ciclídeo amazônico no semi-árido do Rio Grande do Norte. 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