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A QUESTÃO INDÍGENA EM MARICÁ: A PESQUISA NO CONTEXTO DO INSTITUTO FEDERAL FLUMINENSE Tássia Gabriele Balbi de Figueiredo e Cordeiro IFFluminense1/tassia.cordeiro@iff.edu.br INTRODUÇÃO Esse artigo tem por objetivo apresentar reflexões sobre o projeto de pesquisa “A questão indígena em Maricá”, vinculado ao Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Fluminense (IFFluminense)/campus Avançado Maricá, avaliando o processo de pesquisa, bem como, sobre suas potencialidades e suas complexidades. Nesse sentido, apresentamos em linhas gerais o contexto da instituição, os objetivos, as metodologias, os referenciais teóricos e os resultados parciais da pesquisa, que encontra-se atualmente em fase de desenvolvimento. A articulação entre ensino, pesquisa e extensão é um dos objetivos do IFFluminense. Compreendemos que essa articulação realiza-se enquanto potencialidade e enquanto desafio. As possibilidades mostram-se extremamente relevantes para o percurso formativo dos estudantes da educação básica, trabalhando a formação para além do ensino. Os desafios dizem respeito, principalmente, as dificuldades infraestruturais2 do campus em questão e das múltiplas atribuições dos estudantes bolsistas no processo de pesquisa, tais como leituras, produção de relatórios, participação em debates e conciliação entre as atividades de ensino e pesquisa. Desafios também são vivenciados pelos docentes. Podemos enfatizar que a formação docente, comumente, não dialoga com movimentos sociais e com a educação popular em geral, assim como, com a educação para as relações étnico-raciais, a educação 1 Professora do Ensino Básico, Técnico e Tecnológico do IFFluminense/campus Avançado Maricá. Mestra em Educação pelo PPG-EDU/FFP/UERJ. Coordenadora do projeto de pesquisa ‘A questão indígena em Maricá’ e do Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros e Indígenas (NEABI/campus Avançado Maricá). 2 Atualmente o campus Avançado Maricá encontra-se em uma sede provisória, uma antiga escola particular desapropriada pela Prefeitura de Maricá, onde convive-se com dificuldades infraestruturais, tais como: rede elétrica inadequada, salas e espaços de estudo insuficientes, laboratórios sem equipamentos para funcionamento, falta de climatização, biblioteca com acervo insuficiente, entre outras questões. A sede permanente está sendo construída pela Prefeitura. especial, a educação do campo, a EJA e a educação indígena em particular. A perspectiva do conhecimento científico enquanto única forma de conhecimento válido e os currículos eurocêntricos, que atualmente têm como contraponto na Educação Básica a Lei n.º 10.639/03 alterada pela Lei nº 11.645/08, igualmente são indícios de que iniciar estudos sobre a questão indígena mostra-se um desafio, mas também um processo formativo enriquecedor. O IFFluminense conta atualmente com catorze campi3 nas regiões Norte Fluminense, Noroeste Fluminense, Baixadas Litorâneas e Metropolitana do estado do Rio de Janeiro. O campus Avançado Maricá foi inaugurado no ano de 2015 no município de Maricá, região metropolitana do estado do Rio de Janeiro, por meio de um convênio firmado entre o Instituto e o município em questão. Contando, no ano de 2016, com um Curso Técnico em Edificações integrado ao Ensino Médio, o campus está em funcionamento em uma sede provisória, enquanto o campus permanente está em construção. O Projeto de Pesquisa A questão indígena em Maricá iniciou suas atividades em julho de 2015 por meio da abertura de processo para inscrição de projetos de pesquisa, com solicitação de bolsas, no programa Jovens Talentos da FAPERJ. Através desse programa obtivemos, ainda em 2015, duas bolsas de 8h semanais para dois estudantes do 2º ano: Lucas Henrique Ferreira Freitas e Nayara Rany Ferreira Rangel. Em agosto do mesmo ano pleiteamos uma terceira bolsa, por meio do programa Iniciação Científica Junior do CNPq, para a estudante do 2º ano Mariana Moura Tezolim. No momento contamos com dois bolsistas: Lucas Henrique Ferreira Freitas (JT/FAPERJ) e Mariana Moura Tezolim (ICJ/CNPq). O projeto de pesquisa foi elaborado a partir da constatação de que no município de Maricá habitam duas aldeias indígenas da etnia Guarani M’byá, que haviam migrado recentemente para a região. A presença e a trajetória desses grupos indígenas eram desconhecidas por parte da população de Maricá e dos municípios do entorno. Desse modo, a pesquisa tem por objetivo procurar investigar a historicidade e a territorialidade dessas aldeias, analisando sua história recente e sua geograficidade, de modo a 3 O campus Itaboraí, encontra-se em fase de construção, não estando atualmente em funcionamento. compreender os fatores que contribuíram para o estabelecimento e a permanência das mesmas em Maricá. Além disso, pretendemos valorizar a cultura e saberes desses povos. No ano de 2016, por meio de edital próprio do IFFluminense, implantamos o Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros e Indígenas (NEABI) no campus Avançado Maricá, integrando dois projetos de pesquisa que dialogam com a temática: o projeto A questão indígena em Maricá, aqui apresentado, e o projeto Questões de raça e etnia na contemporaneidade, coordenado pela Prof.ª M.ª Aline da Silva Azevedo. O NEABI atualmente é coordenado pela Prof.ª M.ª Tássia Cordeiro em parceria com a Prof.ª M.ª Aline Azevedo e com a colaboração da Prof.ª Dr.ª Fernanda Rabelo e da Pedagoga Rafaela Reis, das bolsistas Vitória Carneiro e Giullia Costa e dos voluntários Leonardo Filho e Mariana Tezolim. Nosso objetivo é trabalhar na implementação da Lei n.º 10.639/03, alterada pela Lei n.º 11.645/08, com ações que busquem refletir e colocar na pauta da instituição as questões étnico-raciais, dialogando, dessa forma, com os projetos de pesquisa que integram o núcleo. A QUESTÃO INDÍGENA EM MARICÁ: REFERÊNCIAS TEÓRICAS E METODOLOGIA Tanto o projeto de pesquisa A questão indígena em Maricá quanto o NEABI/campus Avançado Maricá têm como referência basilar a Lei n.º 11.645/08: Art. 26-A. Nos estabelecimentos de ensino fundamental e de ensino médio, públicos e privados, torna-se obrigatório o estudo da história e cultura afro-brasileira e indígena. § 1o O conteúdo programático a que se refere este artigo incluirá diversos aspectos da história e da cultura que caracterizam a formação da população brasileira, a partir desses dois grupos étnicos, tais como o estudo da história da África e dos africanos, a luta dos negros e dos povos indígenas no Brasil, a cultura negra e indígena brasileira e o negro e o índio na formação da sociedade nacional, resgatando as suas contribuições nas áreas social, econômica e política, pertinentes à história do Brasil. § 2o Os conteúdos referentes à história e cultura afro-brasileira e dos povos indígenas brasileiros serão ministrados no âmbito de todo o currículo escolar, em especial nas áreas de educação artística e de literatura e história brasileiras (BRASIL, 2008). http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L9394.htm Nesse sentido, a implementação da Lei envolve tanto as atividades do projeto de pesquisa quanto as atividades do NEABI, sendo um dos desafios perpassar também todas as esferas formativas, articulando assim, pesquisa, ensino e extensão. A implementação da Lei faz-se um desafio, uma disputa por um currículo que rompa com uma perspectiva etnocêntrica, com um viés colonizador civilizatório, que silencia, apaga e invisibiliza memórias, identidades, culturas, histórias e saberes de povos subalternizados. Ao pesquisarmos sobre a questão indígena procuramos inicialmente questionar a “historiografia oficial” e, em certa medida, a própria geografia tradicional, tensionado o caráter violento do projeto civilizatório posto em prática pelas potênciaseuropeias, a partir das Grandes Navegações. Porto-Gonçalves, ao refletir sobre a tríade modernidade-colonialidade- racionalidade, aponta que “A modernidade é inseparável da colonialidade” (PORTO- GONÇALVES, 2015, p. 49), ou seja, o padrão moderno baseia-se no pressuposto colonial e racial. Segundo o autor, A expansão do capitalismo revestia-se de uma aura de missão civilizatória e, dessa forma, absolvia o étnocidio e o genocídio que se cometiam contra os povos da África, da Ásia e da América Latina, considerados primitivos e atrasados e, portanto, assimilados à natureza – selvagens (da selva) e bárbaros (para os romanos os que falam como se fossem aves) -, estava justificada a sua dominação. A burguesia estaria cumprindo uma missão civilizatória ao destruir povos atrasados (PORTO-GONÇALVES, 2015, p. 13). Tendo por base essas questões, nos parece essencial romper com práticas e metodologias de ensino, pesquisa e extensão que vão ao encontro, de algum modo, com o pensamento eurocêntrico e com as perspectivas tanto do conhecimento científico como o único válido quanto de uma história pretensamente universal. Valorizar conhecimentos outros, histórias e memórias subterrâneas (POLLAK, 1989), bem como, atuar na construção de uma educação antirracista são, portanto, desafios. Especificamente em relação à questão indígena, concordamos com D’Angelis que é um desafio fundamental “Não reificar e folclorizar a ‘cultura’ ou ‘conhecimento popular’” (D’ANGELIS, 2010, p. 227). Para o autor, “De fato, a folclorização é o caminho mais rápido para o descrédito e perda da autenticidade das manifestações culturais de uma comunidade” (D’ANGELIS, 2010, p. 228). Assim, refletir sobre a forma de inserção dos povos indígenas nos currículos e nos processos de ensino, pesquisa e extensão nos parece essencial. Metodologicamente, o projeto de pesquisa tem por base uma abordagem qualitativa e está estruturado por meio do estudo de caso das duas aldeias. Para tanto, optamos por realizar um levantamento de dados sobre as aldeias na mídia local do município de Maricá, principalmente do site da prefeitura e de revistas/jornais, além de uma revisão de literatura sobre a temática. Formamos um grupo de estudos para a discussão de textos, iniciando com a legislação vigente, artigos e, posteriormente, trabalhando com a leitura e análise de capítulos de livros e uma dissertação. No grupo de estudos realizamos as seguintes leituras: Lei n.º 10.639/03 e Lei n.º 11.645/08; Os índios e o golpe na constituição: por que você deve ler essa coluna ‘apesar’ da palavra índio (BRUM, 2015); O ‘desenvolvimento’ versus os povos indígenas – Clóvis Antônio Brighenti (CIMI, 2015); Racismo: desejo de exterminar os povos e omissão em fazer valer seus direitos – Iara Tatiana Bonin (CIMI, 2015); Lei nº 6.001/73 – Estatuto do Índio; Constituição Federal de 1988 – Capítulo VIII Dos Índios; Introdução a uma história indígena (História dos índios no Brasil) – (CUNHA, 1992); Uma aldeia indígena urbana – dissertação de Mestrado em Geografia/PUC RJ – (FIGUEIREDO, 2012). Outra etapa da pesquisa são os trabalhos de campo nas aldeias, primeiramente para conhecê-las, estabelecendo uma relação respeitosa, para posteriormente realizarmos entrevistas semiestruturadas. O cuidado na inserção na aldeia, procurando não apenas marcar um dia e horário para realizar as entrevistas, mas sim estabelecer um entendimento sobre a pesquisa e seus objetivos conformando um diálogo, baseia-se no respeito e valorização desses povos para a construção de uma parceria. “Enfim, valorizamos o saber com, e não, simplesmente, o saber sobre, que, sempre, se quer universal e assim se desloca das especificidades do contato com a vida” (PORTO-GONÇALVES, 2015, p. 256). AS ALDEIAS TEKOA KA’AGUY HOVY PORÃ E ARA OWY RE: RESULTADOS PRELIMINARES Por meio do levantamento de dados na mídia local e de algumas visitas à Tekoa Ka’aguy Hovy Porã foi possível coletar dados preliminares sobre as trajetórias destas aldeias, apresentadas a seguir. Entretanto, é importante refletirmos brevemente sobre a relação dos Guaranis com o território. Por meio da leitura de Figueiredo (2012), compreendemos que a territorialidade dos Guaranis é marcada pelas migrações, historicamente de viés espiritual, a busca pela ‘Ivi Marae’ a Terra sem Mal, e mais recentemente pelas visitas de parentes. Porém, segundo a autora, novas territorialidade emergem como estratégias de sobrevivência. Por meio de entrevista com o vice-cacique da aldeia, Miguel Vera Mirim Cáceres, realizada na aldeia no dia 25 de junho de 2016, coletamos a maior parte dos dados sobre a Tekoa Ka’aguy Hovy Porã, em português Aldeia Mata Verde Bonita. O trabalho de campo na aldeia ocorreu a partir de uma atividade do Projeto Integrador4 Casa – Memória e Disputa, que tinha por objetivo aprender sobre a relação dos povos indígenas com a casa e a aldeia. Desse modo, aproveitamos essa visita para um trabalho em conjunto com o projeto A questão indígena em Maricá, com a participação da coordenadora e dos bolsistas. Esse diálogo possibilitou o entendimento de muitas questões que não foram respondidas por meio do levantamento de dados na mídia. Atualmente, segundo informações passadas pelo vice-cacique, a aldeia conta com 70 habitantes de 14 famílias. A trajetória da aldeia parte do munícipio de Paraty/RJ, localizado no litoral sul fluminense. A decisão sobre a saída desse grupo de Paraty teria se dado por conta da falta de espaço na antiga aldeia que, apesar de extensa, possui muitas áreas de morros que dificultariam a ocupação, não havendo mais espaço para a construção de novas moradias, isto é, para a expansão da aldeia. Assim, decidiram migrar para Camboinhas, região litorânea do município de Niterói/RJ, altamente valorizada. A escolha por Camboinhas deveu-se a existência de um Sambaqui milenar que comprovaria que a região seria uma terra indígena. Em 2008, os indígenas se estabelecem em Camboinhas com a Tekoa Mbo’yty, em português Aldeia das Sementes (FIGUEIREDO, 2012). Entretanto, a ocupação desse espaço gerou algumas controvérsias 4 O Projeto Integrador é uma experiência que busca problematizar a perspectiva tradicional de disciplina, trabalhando a relação entre a teoria e a prática interdisciplinarmente. e resistências de parte da população local, tendo a aldeia sofrido inclusive um incêndio criminoso nesse mesmo ano. A Soprecam, Sociedade Pró Preservação Ecológica de Camboinhas, se posicionou contra a permanência dos indígenas na região, alegando inclusive que os mesmos estariam destruindo uma área de preservação ambiental (GLOBO.COM, 2008). Nesse contexto, o prefeito de Maricá Washington Quaquá (PT) oferece uma área no município para o estabelecimento da aldeia. A área escolhida pelos indígenas foi na restinga de Maricá, no bairro São José do Imbassaí. Entretanto, após o estabelecimento dos indígenas e da aldeia Tekoa Ka’aguy Hovy Porã no ano de 2013, a empresa multinacional IDB Brasil contesta a ocupação por ser a proprietária do terreno. A empresa possui um projeto de construção de um resort na área, o Complexo Turístico-Residencial Fazenda São Bento da Lagoa (IDB, 2016). Para complexificar ainda mais a questão, a área do empreendimento fica dentro da Área de Proteção Ambiental (APA) de Maricá. A efetivação do mesmo acabou sendo contestada na justiça. Nesse impasse, houve um entendimento entre a Prefeitura Municipal de Maricá, a IDB Brasil e a Tekoa Ka’aguy Hovy Porã de que a aldeia comporia o complexo turístico. Segundo Vera Mirim, a regularização da situação dos indígenas na região estaria em processo que envolveria a FUNAI, o INEIA, a Prefeitura e a IDB Brasil. Em nota oficial, disponibilizada no site da Prefeitura de Maricá, temos as seguintes considerações sobrea questão: Com relação aos índios tupi-guaranis que ocuparam uma área na restinga de Maricá onde está sendo licenciado um grande Complexo Hoteleiro e Turístico, a prefeitura de Maricá informa: 1 – Os índios serão bem acolhidos no município e terão todo apoio da prefeitura para organizar em Maricá sua aldeia, dando a ela, inclusive, uma característica cultural e turística; 2 – Ao mesmo tempo é prioritária para o desenvolvimento da cidade a implantação do Complexo Hoteleiro e Turístico das praias da restinga de Maricá; 3 – Sendo assim, a prefeitura propõe que uma boa solução seja encontrada, com base em uma negociação com apoio da Funai, para garantir aos índios a conquista da sua aldeia, e ao mesmo tempo, a construção do complexo turístico e a tranquilidade da vila de pescadores de Zacarias; 4 – Para isso, a prefeitura disponibilizará uma área pública e irá viabilizar, junto aos empreendedores, a estrutura para o estabelecimento da aldeia indígena com viés cultural e turístico; 5 – Com isso, a Prefeitura Municipal de Maricá garante uma vida digna aos índios com a manutenção das suas tradições e costumes, através de um projeto cultural e turístico (ZARÔR, 2013). Atualmente a aldeia continua na área de restinga, tendo como fonte de renda a venda de artesanato e uma ‘barraca’ de venda de bebidas, e possui uma escola, a Escola Municipal Indígena Guarani Para Poty Nhe E Já, que oferta a primeira etapa do Ensino fundamental, em uma turma multisseriada. Já a Aldeia Ara Owy Re é formada atualmente por 26 indígenas de uma mesma família. Segundo dados coletados na mídia, os indígenas Guaranis M’byás migraram de Porto Alegre no ano de 2000 com o objetivo de visitar parentes em Aracruz/ES. Em 2013 chegaram em Maricá e se estabeleceram em Morada das Águias, em área do Parque Estadual Serra da Tiririca. O Prefeito Washington Quaquá comprometeu-se a comprar um terreno para “abrigar” os indígenas (ZARÔR, 2015). De acordo com reportagem do Jornal O Dia (PEDREIRA; MAGALHÃES, 2015), a aldeia vive de forma precária, sem acesso à energia elétrica e à água encanada. Além disso, de acordo com o cacique Félix Karaí Brisuela, a aldeia fica distante do centro da cidade, não tem transporte nem boas condições de plantio. A aldeia tem como fonte de renda a venda de artesanato, bijuterias e animais talhados em madeira, assim como, duas indígenas, filhas do cacique, teriam acesso ao Bolsa Família. Outra questão preocupante apresentada é a falta de oferta escolar. Ainda não foi possível realizar trabalhos de campo na Aldeia Ara Owy Re, por isso as informações coletadas são exclusivamente de reportagens do site da Prefeitura de Maricá e de jornais. Nesse sentido, se faz necessário dialogar com os membros da aldeia para verificar os dados e conhecer com mais detalhes as motivações para as migrações e para o estabelecimento em Maricá. Na próxima etapa da pesquisa pretendemos realizar ao menos mais um trabalho de campo na Tekoa Ka’augy Hovy Porã, entrar em contato com a aldeia Ara Owy Re para realização de trabalhos de campo e entrevistas na aldeia e, por fim, concluir o levantamento de dados na mídia, preparando um material para consulta dos estudantes do campus Avançado Maricá. CONSIDERAÇÕES PARCIAIS Com a pesquisa sobre a territorialidade dos Guaranis foi possível compreender que as migrações fazem parte de sua historicidade. Se a busca pela Terra Sem Mal foi, inicialmente, a principal motivação dessa mobilidade, atualmente as visitas aos parentes em diferentes aldeias e a luta por território parecem demarcar novas territorialidades, que conformam-se também como resistências. A partir das informações coletadas, ainda preliminares, percebemos que o movimento de territorialização da Tekoa Ka’aguy Hovy Porã vem sofrendo diversos e complexos conflitos, desde sua saída de Paraty/RJ. Tanto a tentativa de territorialização em Camboinhas/Niterói-RJ quanto a em Maricá foram alvos de disputa e contradições. Entretanto, em que pese as tensões, o apoio do poder público municipal em Maricá parece ser um ponto de fortalecimento da luta territorial dos indígenas, nas reflexões apresentadas pelo Cacique em algumas mídias e no diálogo com o vice-cacique Vedra Mirim. Por meio das reflexões apresentadas pelo vice-cacique, consideramos que os indígenas da Tekoa Ka’aguy Hovy Porã parecem reivindicar um território de paz, para além da lógica do capital. A situação da Aldeia Ara Owy Re, segundo o levantamento de dados, gera graves preocupações, indicando que, além das tensões referentes à ocupação do território, essa aldeia passa por situações de precariedade. O diálogo com os sujeitos indígenas da Aldeia Ara Owy Re mostra-se fundamental para compreendermos a questão. Por fim, trabalhar a questão indígena no contexto do campus Avançado Maricá do IFFluminense faz-se urgente e necessário, tanto pela persistência da violência (CIMI, 2015) contra esses povos no Brasil quanto pela presença de duas aldeias no município de Maricá, proximidade que pode, através do diálogo e da parceria, enriquecer nossas experiências formativas. A articulação entre ensino, pesquisa e extensão, no âmbito da implementação da Lei n.º 11.645/08, é um desafio complexo e potencialmente transformador. Cabe a nós tensionar, provocar e vivenciar esses desafios, construindo coletivamente outras possibilidades. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BRASIL. Lei 10.639/2003, de 9 de janeiro de 2003. Altera a Lei nº 9. 394, de 20 de dezembro de 1996. Diário Oficial da União, Poder Executivo, Brasília/DF: MEC, 2003. ______. Lei 11.645/08 de 10 de Março de 2008. Diário Oficial da União, Poder Executivo, Brasília/DF: MEC, 2008. ______. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Senado Federal, 1988. BRASIL, Senado Federal. Estatuto do índio: nº 6001/73. Brasília:1973. BRUM, E. Os índios e o golpe na constituição: por que você deve ler essa coluna ‘apesar’ da palavra índio. El País. 15 de abr. 2015. Disponível em < http://brasil.elpais.com/brasil/2015/04/13/opinion/1428933225_013931.html>. Acesso em 15 jul. 2015. CIMI. Relatório Violência contra os povos indígenas no Brasil – Dados de 2014. CIMI, 2015. CUNHA, M. C. História dos índios no Brasil. RJ: Companhia das letras, 1992. D’ANGELIS, W. R. Educação popular: desafios frente aos processos de ensino/currículo e escolarização. In: SANTOS, R. E. et al (orgs.) Educação popular, movimentos sociais e formação de professores: diálogos entre saberes e experiências brasileiras. Petrópolis/RJ: DP et Alii: Rio de Janeiro: FAPERJ, 2010. FIGUEIREDO, F. Uma aldeia indígena urbana: um movimento de resistência visto sob a ótica de diferentes atores sociais. 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