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ENG-2016-111

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A QUESTÃO INDÍGENA EM MARICÁ: A PESQUISA NO 
CONTEXTO DO INSTITUTO FEDERAL FLUMINENSE 
 
Tássia Gabriele Balbi de Figueiredo e Cordeiro 
IFFluminense1/tassia.cordeiro@iff.edu.br 
 
INTRODUÇÃO 
 
Esse artigo tem por objetivo apresentar reflexões sobre o projeto de pesquisa “A 
questão indígena em Maricá”, vinculado ao Instituto Federal de Educação, Ciência e 
Tecnologia Fluminense (IFFluminense)/campus Avançado Maricá, avaliando o processo 
de pesquisa, bem como, sobre suas potencialidades e suas complexidades. Nesse sentido, 
apresentamos em linhas gerais o contexto da instituição, os objetivos, as metodologias, 
os referenciais teóricos e os resultados parciais da pesquisa, que encontra-se atualmente 
em fase de desenvolvimento. 
A articulação entre ensino, pesquisa e extensão é um dos objetivos do 
IFFluminense. Compreendemos que essa articulação realiza-se enquanto potencialidade 
e enquanto desafio. As possibilidades mostram-se extremamente relevantes para o 
percurso formativo dos estudantes da educação básica, trabalhando a formação para além 
do ensino. Os desafios dizem respeito, principalmente, as dificuldades infraestruturais2 
do campus em questão e das múltiplas atribuições dos estudantes bolsistas no processo 
de pesquisa, tais como leituras, produção de relatórios, participação em debates e 
conciliação entre as atividades de ensino e pesquisa. 
Desafios também são vivenciados pelos docentes. Podemos enfatizar que a 
formação docente, comumente, não dialoga com movimentos sociais e com a educação 
popular em geral, assim como, com a educação para as relações étnico-raciais, a educação 
 
1 Professora do Ensino Básico, Técnico e Tecnológico do IFFluminense/campus Avançado Maricá. Mestra 
em Educação pelo PPG-EDU/FFP/UERJ. Coordenadora do projeto de pesquisa ‘A questão indígena em 
Maricá’ e do Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros e Indígenas (NEABI/campus Avançado Maricá). 
2 Atualmente o campus Avançado Maricá encontra-se em uma sede provisória, uma antiga escola particular 
desapropriada pela Prefeitura de Maricá, onde convive-se com dificuldades infraestruturais, tais como: rede 
elétrica inadequada, salas e espaços de estudo insuficientes, laboratórios sem equipamentos para 
funcionamento, falta de climatização, biblioteca com acervo insuficiente, entre outras questões. A sede 
permanente está sendo construída pela Prefeitura. 
 
 
especial, a educação do campo, a EJA e a educação indígena em particular. A perspectiva 
do conhecimento científico enquanto única forma de conhecimento válido e os currículos 
eurocêntricos, que atualmente têm como contraponto na Educação Básica a Lei n.º 
10.639/03 alterada pela Lei nº 11.645/08, igualmente são indícios de que iniciar estudos 
sobre a questão indígena mostra-se um desafio, mas também um processo formativo 
enriquecedor. 
O IFFluminense conta atualmente com catorze campi3 nas regiões Norte 
Fluminense, Noroeste Fluminense, Baixadas Litorâneas e Metropolitana do estado do Rio 
de Janeiro. O campus Avançado Maricá foi inaugurado no ano de 2015 no município de 
Maricá, região metropolitana do estado do Rio de Janeiro, por meio de um convênio 
firmado entre o Instituto e o município em questão. Contando, no ano de 2016, com um 
Curso Técnico em Edificações integrado ao Ensino Médio, o campus está em 
funcionamento em uma sede provisória, enquanto o campus permanente está em 
construção. 
O Projeto de Pesquisa A questão indígena em Maricá iniciou suas atividades em 
julho de 2015 por meio da abertura de processo para inscrição de projetos de pesquisa, 
com solicitação de bolsas, no programa Jovens Talentos da FAPERJ. Através desse 
programa obtivemos, ainda em 2015, duas bolsas de 8h semanais para dois estudantes do 
2º ano: Lucas Henrique Ferreira Freitas e Nayara Rany Ferreira Rangel. Em agosto do 
mesmo ano pleiteamos uma terceira bolsa, por meio do programa Iniciação Científica 
Junior do CNPq, para a estudante do 2º ano Mariana Moura Tezolim. No momento 
contamos com dois bolsistas: Lucas Henrique Ferreira Freitas (JT/FAPERJ) e Mariana 
Moura Tezolim (ICJ/CNPq). 
O projeto de pesquisa foi elaborado a partir da constatação de que no município 
de Maricá habitam duas aldeias indígenas da etnia Guarani M’byá, que haviam migrado 
recentemente para a região. A presença e a trajetória desses grupos indígenas eram 
desconhecidas por parte da população de Maricá e dos municípios do entorno. Desse 
modo, a pesquisa tem por objetivo procurar investigar a historicidade e a territorialidade 
dessas aldeias, analisando sua história recente e sua geograficidade, de modo a 
 
3 O campus Itaboraí, encontra-se em fase de construção, não estando atualmente em funcionamento. 
 
 
compreender os fatores que contribuíram para o estabelecimento e a permanência das 
mesmas em Maricá. Além disso, pretendemos valorizar a cultura e saberes desses povos. 
No ano de 2016, por meio de edital próprio do IFFluminense, implantamos o 
Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros e Indígenas (NEABI) no campus Avançado Maricá, 
integrando dois projetos de pesquisa que dialogam com a temática: o projeto A questão 
indígena em Maricá, aqui apresentado, e o projeto Questões de raça e etnia na 
contemporaneidade, coordenado pela Prof.ª M.ª Aline da Silva Azevedo. 
O NEABI atualmente é coordenado pela Prof.ª M.ª Tássia Cordeiro em parceria 
com a Prof.ª M.ª Aline Azevedo e com a colaboração da Prof.ª Dr.ª Fernanda Rabelo e da 
Pedagoga Rafaela Reis, das bolsistas Vitória Carneiro e Giullia Costa e dos voluntários 
Leonardo Filho e Mariana Tezolim. Nosso objetivo é trabalhar na implementação da Lei 
n.º 10.639/03, alterada pela Lei n.º 11.645/08, com ações que busquem refletir e colocar 
na pauta da instituição as questões étnico-raciais, dialogando, dessa forma, com os 
projetos de pesquisa que integram o núcleo. 
 
A QUESTÃO INDÍGENA EM MARICÁ: REFERÊNCIAS TEÓRICAS E 
METODOLOGIA 
 
 Tanto o projeto de pesquisa A questão indígena em Maricá quanto o 
NEABI/campus Avançado Maricá têm como referência basilar a Lei n.º 11.645/08: 
 
 Art. 26-A. Nos estabelecimentos de ensino fundamental e de 
ensino médio, públicos e privados, torna-se obrigatório o estudo da 
história e cultura afro-brasileira e indígena. 
 § 1o O conteúdo programático a que se refere este artigo incluirá 
diversos aspectos da história e da cultura que caracterizam a 
formação da população brasileira, a partir desses dois grupos 
étnicos, tais como o estudo da história da África e dos africanos, a 
luta dos negros e dos povos indígenas no Brasil, a cultura negra e 
indígena brasileira e o negro e o índio na formação da sociedade 
nacional, resgatando as suas contribuições nas áreas social, 
econômica e política, pertinentes à história do Brasil. 
 § 2o Os conteúdos referentes à história e cultura afro-brasileira e 
dos povos indígenas brasileiros serão ministrados no âmbito de 
todo o currículo escolar, em especial nas áreas de educação artística 
e de literatura e história brasileiras (BRASIL, 2008). 
 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L9394.htm
 
 
Nesse sentido, a implementação da Lei envolve tanto as atividades do projeto de 
pesquisa quanto as atividades do NEABI, sendo um dos desafios perpassar também todas 
as esferas formativas, articulando assim, pesquisa, ensino e extensão. A implementação 
da Lei faz-se um desafio, uma disputa por um currículo que rompa com uma perspectiva 
etnocêntrica, com um viés colonizador civilizatório, que silencia, apaga e invisibiliza 
memórias, identidades, culturas, histórias e saberes de povos subalternizados. 
Ao pesquisarmos sobre a questão indígena procuramos inicialmente questionar a 
“historiografia oficial” e, em certa medida, a própria geografia tradicional, tensionado o 
caráter violento do projeto civilizatório posto em prática pelas potênciaseuropeias, a 
partir das Grandes Navegações. 
Porto-Gonçalves, ao refletir sobre a tríade modernidade-colonialidade-
racionalidade, aponta que “A modernidade é inseparável da colonialidade” (PORTO-
GONÇALVES, 2015, p. 49), ou seja, o padrão moderno baseia-se no pressuposto colonial 
e racial. Segundo o autor, 
 
A expansão do capitalismo revestia-se de uma aura de missão 
civilizatória e, dessa forma, absolvia o étnocidio e o genocídio que se 
cometiam contra os povos da África, da Ásia e da América Latina, 
considerados primitivos e atrasados e, portanto, assimilados à natureza 
– selvagens (da selva) e bárbaros (para os romanos os que falam como 
se fossem aves) -, estava justificada a sua dominação. A burguesia 
estaria cumprindo uma missão civilizatória ao destruir povos atrasados 
(PORTO-GONÇALVES, 2015, p. 13). 
 
 
Tendo por base essas questões, nos parece essencial romper com práticas e 
metodologias de ensino, pesquisa e extensão que vão ao encontro, de algum modo, com 
o pensamento eurocêntrico e com as perspectivas tanto do conhecimento científico como 
o único válido quanto de uma história pretensamente universal. Valorizar conhecimentos 
outros, histórias e memórias subterrâneas (POLLAK, 1989), bem como, atuar na 
construção de uma educação antirracista são, portanto, desafios. 
Especificamente em relação à questão indígena, concordamos com D’Angelis que 
é um desafio fundamental “Não reificar e folclorizar a ‘cultura’ ou ‘conhecimento 
popular’” (D’ANGELIS, 2010, p. 227). Para o autor, “De fato, a folclorização é o 
caminho mais rápido para o descrédito e perda da autenticidade das manifestações 
 
 
culturais de uma comunidade” (D’ANGELIS, 2010, p. 228). Assim, refletir sobre a 
forma de inserção dos povos indígenas nos currículos e nos processos de ensino, pesquisa 
e extensão nos parece essencial. 
Metodologicamente, o projeto de pesquisa tem por base uma abordagem 
qualitativa e está estruturado por meio do estudo de caso das duas aldeias. Para tanto, 
optamos por realizar um levantamento de dados sobre as aldeias na mídia local do 
município de Maricá, principalmente do site da prefeitura e de revistas/jornais, além de 
uma revisão de literatura sobre a temática. Formamos um grupo de estudos para a 
discussão de textos, iniciando com a legislação vigente, artigos e, posteriormente, 
trabalhando com a leitura e análise de capítulos de livros e uma dissertação. 
No grupo de estudos realizamos as seguintes leituras: Lei n.º 10.639/03 e Lei n.º 
11.645/08; Os índios e o golpe na constituição: por que você deve ler essa coluna ‘apesar’ 
da palavra índio (BRUM, 2015); O ‘desenvolvimento’ versus os povos indígenas – Clóvis 
Antônio Brighenti (CIMI, 2015); Racismo: desejo de exterminar os povos e omissão em 
fazer valer seus direitos – Iara Tatiana Bonin (CIMI, 2015); Lei nº 6.001/73 – Estatuto do 
Índio; Constituição Federal de 1988 – Capítulo VIII Dos Índios; Introdução a uma história 
indígena (História dos índios no Brasil) – (CUNHA, 1992); Uma aldeia indígena urbana 
– dissertação de Mestrado em Geografia/PUC RJ – (FIGUEIREDO, 2012). 
Outra etapa da pesquisa são os trabalhos de campo nas aldeias, primeiramente 
para conhecê-las, estabelecendo uma relação respeitosa, para posteriormente realizarmos 
entrevistas semiestruturadas. O cuidado na inserção na aldeia, procurando não apenas 
marcar um dia e horário para realizar as entrevistas, mas sim estabelecer um entendimento 
sobre a pesquisa e seus objetivos conformando um diálogo, baseia-se no respeito e 
valorização desses povos para a construção de uma parceria. “Enfim, valorizamos o saber 
com, e não, simplesmente, o saber sobre, que, sempre, se quer universal e assim se 
desloca das especificidades do contato com a vida” (PORTO-GONÇALVES, 2015, p. 
256). 
 
AS ALDEIAS TEKOA KA’AGUY HOVY PORÃ E ARA OWY RE: 
RESULTADOS PRELIMINARES 
 
 
 
 Por meio do levantamento de dados na mídia local e de algumas visitas à Tekoa 
Ka’aguy Hovy Porã foi possível coletar dados preliminares sobre as trajetórias destas 
aldeias, apresentadas a seguir. Entretanto, é importante refletirmos brevemente sobre a 
relação dos Guaranis com o território. 
Por meio da leitura de Figueiredo (2012), compreendemos que a territorialidade 
dos Guaranis é marcada pelas migrações, historicamente de viés espiritual, a busca pela 
‘Ivi Marae’ a Terra sem Mal, e mais recentemente pelas visitas de parentes. Porém, 
segundo a autora, novas territorialidade emergem como estratégias de sobrevivência. 
 Por meio de entrevista com o vice-cacique da aldeia, Miguel Vera Mirim Cáceres, 
realizada na aldeia no dia 25 de junho de 2016, coletamos a maior parte dos dados sobre 
a Tekoa Ka’aguy Hovy Porã, em português Aldeia Mata Verde Bonita. 
O trabalho de campo na aldeia ocorreu a partir de uma atividade do Projeto 
Integrador4 Casa – Memória e Disputa, que tinha por objetivo aprender sobre a relação 
dos povos indígenas com a casa e a aldeia. Desse modo, aproveitamos essa visita para um 
trabalho em conjunto com o projeto A questão indígena em Maricá, com a participação 
da coordenadora e dos bolsistas. 
Esse diálogo possibilitou o entendimento de muitas questões que não foram 
respondidas por meio do levantamento de dados na mídia. Atualmente, segundo 
informações passadas pelo vice-cacique, a aldeia conta com 70 habitantes de 14 famílias. 
A trajetória da aldeia parte do munícipio de Paraty/RJ, localizado no litoral sul 
fluminense. A decisão sobre a saída desse grupo de Paraty teria se dado por conta da falta 
de espaço na antiga aldeia que, apesar de extensa, possui muitas áreas de morros que 
dificultariam a ocupação, não havendo mais espaço para a construção de novas moradias, 
isto é, para a expansão da aldeia. Assim, decidiram migrar para Camboinhas, região 
litorânea do município de Niterói/RJ, altamente valorizada. 
A escolha por Camboinhas deveu-se a existência de um Sambaqui milenar que 
comprovaria que a região seria uma terra indígena. Em 2008, os indígenas se estabelecem 
em Camboinhas com a Tekoa Mbo’yty, em português Aldeia das Sementes 
(FIGUEIREDO, 2012). Entretanto, a ocupação desse espaço gerou algumas controvérsias 
 
4 O Projeto Integrador é uma experiência que busca problematizar a perspectiva tradicional de disciplina, 
trabalhando a relação entre a teoria e a prática interdisciplinarmente. 
 
 
e resistências de parte da população local, tendo a aldeia sofrido inclusive um incêndio 
criminoso nesse mesmo ano. A Soprecam, Sociedade Pró Preservação Ecológica de 
Camboinhas, se posicionou contra a permanência dos indígenas na região, alegando 
inclusive que os mesmos estariam destruindo uma área de preservação ambiental 
(GLOBO.COM, 2008). 
Nesse contexto, o prefeito de Maricá Washington Quaquá (PT) oferece uma área 
no município para o estabelecimento da aldeia. A área escolhida pelos indígenas foi na 
restinga de Maricá, no bairro São José do Imbassaí. Entretanto, após o estabelecimento 
dos indígenas e da aldeia Tekoa Ka’aguy Hovy Porã no ano de 2013, a empresa 
multinacional IDB Brasil contesta a ocupação por ser a proprietária do terreno. 
A empresa possui um projeto de construção de um resort na área, o Complexo 
Turístico-Residencial Fazenda São Bento da Lagoa (IDB, 2016). Para complexificar 
ainda mais a questão, a área do empreendimento fica dentro da Área de Proteção 
Ambiental (APA) de Maricá. A efetivação do mesmo acabou sendo contestada na justiça. 
Nesse impasse, houve um entendimento entre a Prefeitura Municipal de Maricá, 
a IDB Brasil e a Tekoa Ka’aguy Hovy Porã de que a aldeia comporia o complexo turístico. 
Segundo Vera Mirim, a regularização da situação dos indígenas na região estaria em 
processo que envolveria a FUNAI, o INEIA, a Prefeitura e a IDB Brasil. Em nota oficial, 
disponibilizada no site da Prefeitura de Maricá, temos as seguintes considerações sobrea 
questão: 
 
Com relação aos índios tupi-guaranis que ocuparam uma área na 
restinga de Maricá onde está sendo licenciado um grande Complexo 
Hoteleiro e Turístico, a prefeitura de Maricá informa: 
1 – Os índios serão bem acolhidos no município e terão todo apoio da 
prefeitura para organizar em Maricá sua aldeia, dando a ela, inclusive, 
uma característica cultural e turística; 
2 – Ao mesmo tempo é prioritária para o desenvolvimento da cidade a 
implantação do Complexo Hoteleiro e Turístico das praias da restinga 
de Maricá; 
3 – Sendo assim, a prefeitura propõe que uma boa solução seja 
encontrada, com base em uma negociação com apoio da Funai, para 
garantir aos índios a conquista da sua aldeia, e ao mesmo tempo, a 
construção do complexo turístico e a tranquilidade da vila de 
pescadores de Zacarias; 
4 – Para isso, a prefeitura disponibilizará uma área pública e irá 
viabilizar, junto aos empreendedores, a estrutura para o estabelecimento 
da aldeia indígena com viés cultural e turístico; 
 
 
5 – Com isso, a Prefeitura Municipal de Maricá garante uma vida digna 
aos índios com a manutenção das suas tradições e costumes, através de 
um projeto cultural e turístico (ZARÔR, 2013). 
 
Atualmente a aldeia continua na área de restinga, tendo como fonte de renda a 
venda de artesanato e uma ‘barraca’ de venda de bebidas, e possui uma escola, a Escola 
Municipal Indígena Guarani Para Poty Nhe E Já, que oferta a primeira etapa do Ensino 
fundamental, em uma turma multisseriada. 
Já a Aldeia Ara Owy Re é formada atualmente por 26 indígenas de uma mesma 
família. Segundo dados coletados na mídia, os indígenas Guaranis M’byás migraram de 
Porto Alegre no ano de 2000 com o objetivo de visitar parentes em Aracruz/ES. Em 2013 
chegaram em Maricá e se estabeleceram em Morada das Águias, em área do Parque 
Estadual Serra da Tiririca. O Prefeito Washington Quaquá comprometeu-se a comprar 
um terreno para “abrigar” os indígenas (ZARÔR, 2015). 
De acordo com reportagem do Jornal O Dia (PEDREIRA; MAGALHÃES, 2015), 
a aldeia vive de forma precária, sem acesso à energia elétrica e à água encanada. Além 
disso, de acordo com o cacique Félix Karaí Brisuela, a aldeia fica distante do centro da 
cidade, não tem transporte nem boas condições de plantio. A aldeia tem como fonte de 
renda a venda de artesanato, bijuterias e animais talhados em madeira, assim como, duas 
indígenas, filhas do cacique, teriam acesso ao Bolsa Família. Outra questão preocupante 
apresentada é a falta de oferta escolar. 
Ainda não foi possível realizar trabalhos de campo na Aldeia Ara Owy Re, por 
isso as informações coletadas são exclusivamente de reportagens do site da Prefeitura de 
Maricá e de jornais. Nesse sentido, se faz necessário dialogar com os membros da aldeia 
para verificar os dados e conhecer com mais detalhes as motivações para as migrações e 
para o estabelecimento em Maricá. 
Na próxima etapa da pesquisa pretendemos realizar ao menos mais um trabalho 
de campo na Tekoa Ka’augy Hovy Porã, entrar em contato com a aldeia Ara Owy Re 
para realização de trabalhos de campo e entrevistas na aldeia e, por fim, concluir o 
levantamento de dados na mídia, preparando um material para consulta dos estudantes do 
campus Avançado Maricá. 
 
CONSIDERAÇÕES PARCIAIS 
 
 
 
 Com a pesquisa sobre a territorialidade dos Guaranis foi possível compreender 
que as migrações fazem parte de sua historicidade. Se a busca pela Terra Sem Mal foi, 
inicialmente, a principal motivação dessa mobilidade, atualmente as visitas aos parentes 
em diferentes aldeias e a luta por território parecem demarcar novas territorialidades, que 
conformam-se também como resistências. 
A partir das informações coletadas, ainda preliminares, percebemos que o 
movimento de territorialização da Tekoa Ka’aguy Hovy Porã vem sofrendo diversos e 
complexos conflitos, desde sua saída de Paraty/RJ. Tanto a tentativa de territorialização 
em Camboinhas/Niterói-RJ quanto a em Maricá foram alvos de disputa e contradições. 
Entretanto, em que pese as tensões, o apoio do poder público municipal em Maricá 
parece ser um ponto de fortalecimento da luta territorial dos indígenas, nas reflexões 
apresentadas pelo Cacique em algumas mídias e no diálogo com o vice-cacique Vedra 
Mirim. Por meio das reflexões apresentadas pelo vice-cacique, consideramos que os 
indígenas da Tekoa Ka’aguy Hovy Porã parecem reivindicar um território de paz, para 
além da lógica do capital. 
A situação da Aldeia Ara Owy Re, segundo o levantamento de dados, gera graves 
preocupações, indicando que, além das tensões referentes à ocupação do território, essa 
aldeia passa por situações de precariedade. O diálogo com os sujeitos indígenas da Aldeia 
Ara Owy Re mostra-se fundamental para compreendermos a questão. 
Por fim, trabalhar a questão indígena no contexto do campus Avançado Maricá do 
IFFluminense faz-se urgente e necessário, tanto pela persistência da violência (CIMI, 
2015) contra esses povos no Brasil quanto pela presença de duas aldeias no município de 
Maricá, proximidade que pode, através do diálogo e da parceria, enriquecer nossas 
experiências formativas. A articulação entre ensino, pesquisa e extensão, no âmbito da 
implementação da Lei n.º 11.645/08, é um desafio complexo e potencialmente 
transformador. Cabe a nós tensionar, provocar e vivenciar esses desafios, construindo 
coletivamente outras possibilidades. 
 
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http://marica.rj.gov.br/?s=noticia&n=5062

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