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Prévia do material em texto

UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ
FACULDADE DE DIREITO
BACHARELADO EM DIREITO
DENIS ÁDAMOUR MACHADO DE ALBUQUERQUE
O USO ANORMAL DA PROPRIEDADE PRIVADA IMÓVEL NO MUNICÍPIO
DE FORTALEZA
FORTALEZA
2019 
DENIS ÁDAMOUR MACHADO DE ALBUQUERQUE
O USO ANORMAL DA PROPRIEDADE PRIVADA IMÓVEL NO MUNICÍPIO DE
FORTALEZA
Monografia submetida à Faculdade de Direito
da Universidade Federal do Ceará, como
requisito parcial para a obtenção do título de
Bacharel em Direito.
Orientador: Professor Dr. William Paiva
Marques Júnior
FORTALEZA
2019
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação 
Universidade Federal do Ceará
Biblioteca Universitária
Gerada automaticamente pelo módulo Catalog, mediante os dados fornecidos pelo(a) autor(a)
A299u Albuquerque, Denis Ádamour Machado de.
 O Uso Anormal da Propriedade Privada Imóvel no Município de Fortaleza / Denis
Ádamour Machado de Albuquerque. – 2019.
 70 f. 
 Trabalho de Conclusão de Curso (graduação) – Universidade Federal do Ceará,
Faculdade de Direito, Curso de Direito, Fortaleza, 2019.
 Orientação: Prof. Dr. William Paiva Marques Júnior.
 1. Propriedade. 2. Fortaleza. 3. Direito de Vizinhança . 4. Uso Abusivo. 5. Função Social
da Propriedade. I. Título.
 CDD 340
DENIS ÁDAMOUR MACHADO DE ALBUQUERQUE
O USO ANORMAL DA PROPRIEDADE PRIVADA IMÓVEL NO MUNICÍPIO DE
FORTALEZA 
Monografia submetida à Faculdade de Direito
da Universidade Federal do Ceará, como
requisito parcial para a obtenção do título de
Bacharel em Direito.
Orientador: William Paiva Marques Júnior
Aprovada em: ___/___/_____.
BANCA EXAMINADORA
________________________________________
Prof. Dr. William Paiva Marques Júnior (Orientador)
Universidade Federal do Ceará (UFC)
_________________________________________
Profª. Mª. Fernanda Claudia Araujo da Silva
Universidade Federal do Ceará (UFC)
_________________________________________
Mestrando Breno Silveira Moura Alfeu
Universidade Federal do Ceará (UFC)
AGRADECIMENTOS
À minha mãe Lúcia, pelo amor e os pelos cuidados ao longo de minha
vida. 
Ao meu pai Raimundo, que desde minha infância intercede por mim no
plano espiritual. 
Aos meus irmãos Danilo, Iara e Eutália, por estarem sempre presentes na
minha vida.
Ao copo docente da Faculdade de Direito da UFC, pelas excelentes aulas
ministradas e pelas dúvidas esclarecidas.
Ao meu orientador Prof. Dr. William Paiva Marques Júnior, pela paciência
nas orientações para a realização deste trabalho, pela grande vocação à docência,
bem como, pelo exemplo de pessoa humana e generosa que demonstra ser.
À professora Mestra Fernanda Claudia Araujo da Silva e ao Breno Silveira
Moura Alfeu, por terem prontamente aceitado compor a banca examinadora desta
monografia.
Ao grupo de amigos denominado “Ilibados”, a saber: Joathan (Jhony),
Fernando, Letícia, Emilly, Jonh Lennon, Monaliza, Bruna, Graciele, Pedro, Viviane e
Tales; pelos momentos incríveis compartilhados nessa jornada acadêmica.
Ao meu grande amigo e colega Jonas, pelo companheirismo e pelo
grande coração que possui.
Ao meu querido amigo e colega Sérgio Brissac, pelo precioso incentivo
que me permitiu concluir este trabalho e por se colocar sempre à disposição para me
ajudar e aconselhar sobre diversas questões pessoais e acadêmicas.
Aos meus amigos servidores da Corregedoria-Geral do Ministério Público
do Ceará, quais sejam: Ana Denise, Ana Cláudia, Daniela, Elaine, Érica, João Paulo,
Marcelo, Marcos, Cláudio Roberto, Sérgio e aos Membros do MPCE os Doutores:
José Wilson, Maria José, Daniel, Francimauro, Xavier, Magda e Diassis, pelos
prestimosos ensinamentos, pela paciência e pelo carinho que sempre demonstraram
ter pela minha pessoa durante o meu estágio naquele Órgão.
 
“Civilização é, antes de mais nada,
vontade de convivência” 
José Ortega y Gasset 
RESUMO
O uso anormal da propriedade imóvel privada é conceituada, pelo direito de
vizinhança, como sendo a utilização de um bem particular imóvel, por seu
proprietário ou possuidor, de forma abusiva, causando interferências nocivas à
saúde, à segurança e à tranquilidade das pessoas situadas no entorno e
desatendendo-se à sua função social. Analisa-se, a priori, o conceito, os elementos,
as características, a fundamentação jurídica da propriedade e a origem histórica
desse direito. Em sequência, aborda-se o conceito de função social da propriedade
e a sua evolução histórica no mundo e no Brasil. Ato contínuo, estabelece-se o
conceito de uso anormal da propriedade descrevendo-se critérios de análise da
normalidade do uso do bem imóvel. A verificação do Código da Cidade como lei
regulamentadora da política de desenvolvimento urbano também compôs a estrutura
desse trabalho. Por fim, analisa-se a legislação municipal de Fortaleza para verificar
os dispositivos legais da referida cidade que garantem a saúde, a tranquilidade e a
segurança das pessoas restringindo-se o uso da propriedade imóvel. A metodologia
aplicada foi a análise bibliográfica a respeito dos conceitos de propriedade, de
função social da propriedade e do uso anormal da propriedade; por conseguinte, a
observação do ordenamento jurídico nacional a respeito da política de planejamento
urbano e da Legislação Municipal de Fortaleza que regulamenta o uso da
propriedade imóvel privada.
Palavras-chave: Propriedade; Fortaleza; Direito de Vizinhança; Uso Abusivo, 
Função Social da Propriedade. 
ABSTRACT
Abnormal use of private immovable property is conceptualized by the right of
neighborhood to be the misuse of a particular immovable property by its owner or
possessor, causing harmful interference with the health, safety and tranquility of
people in the surroundings and neglecting it. to their social function. It analyzes in a
first time the concept, the elements, the characteristics, the legal basis of the
property and the historical origin of this right. In sequence, we approach the concept
of social function of property and its historical evolution in the world and in Brazil.
Then, the concept of abnormal use of property is established by describing criteria for
analyzing the normal use of immovable property. The verification of the City Code as
a law regulating urban development policy also made up the structure of this work.
Finally, the municipal legislation of Fortaleza is analyzed to verify the legal provisions
of that city that guarantee the health, tranquility and safety of people by restricting the
use of immovable property. The applied methodology was the bibliographical analysis
about the concepts of property, social function of property and the abnormal use of
property; therefore, the observation of the national legal system regarding the urban
planning policy and the municipal legislation of Fortaleza that regulates the use of
private immovable property.
Keywords: Property; Fortaleza; Neighborhood law; Abusive Use; Social Function of
Property.
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO……………………………………………………………………….…...11
2 O DIREITO DE PROPRIEDADE: CONSTRUÇÃO HISTÓRICA, DELIMITAÇÃO
CONCEITUAL, FUNDAMENTAÇÃO E FORMAS DE AQUISIÇÃO E DE PERDA E
RESTRIÇÕES LEGAIS……………………………………………………………..……..13
2.1 Construção histórica.............................................................................................13
2.2 Elementos conceituais e teóricos da propriedade................................................15
2.2.1 Características do direito de propriedade.........................................................17
2.2.2 Fundamentação jurídica da propriedade..........................................................18
2.2.3 A Aquisição da propriedade em geral …...........................................................19
2.2.4 A Propriedade imóvel.......................................................................................192.2.4.1 Aquisição da propriedade imóvel....................................................…..........20
2.2.4.2 Aquisição por usucapião..........................................................…...................20
2.2.4.3 Aquisição por registro de título e os princípios do Sistema de Registro
Públicos......................................................................................................................21
2.2.4.4 Aquisição por acessão...................................................................................22
2.3 A perda da propriedade.......................................................................................23
2.4 Restrições legais impostas ao direito da propriedade.........................................26
3 FUNÇÃO SOCIAL: CONSTRUÇÃO HISTÓRICA E PRESENÇA NO
ORDENAMENTO JURÍDICO BRASILEIRO E OS ELEMENTOS CONCEITUAIS DO
USO ANORMAL DA PROPRIEDADE …....................................................................28
3.1 A Propriedade e sua transformação do Estado Liberal ao Estado Social............29
3.2 A função social da propriedade nas Constituições brasileiras históricas.............30
3.3 A função social da propriedade na Constituição de 1988...................................32
3.4 A função social da propriedade e a função social posse....................................34
3.5 O uso anormal da propriedade...........................................................................35
3.5.1 Critérios para verificar a normalidade da utilização de um imóvel..................40
3.5.2 Soluções para a composição de conflitos.......................................................40
3.5.3 Ação de Dano Infecto......................................................................................41
3.6 O estatuto da cidade como norma reguladora do planejamento urbano municipal
…...............................................................................................................................42
3.6.1 O Estudo de Impacto de Vizinhança.................................................................43
3.6.2 O Plano Diretor.................................................................................................44
4. O USO ANORMAL DA PROPRIEDADE PRIVADA IMÓVEL NO MUNICÍPIO DE
FORTALEZA...............................................................................................................46
4.1 Panorama da Política de Desenvolvimento Urbano de Fortaleza........................46
4.1.1 A Fiscalização Municipal de Fortaleza..............................................................48
4.2 Presença nos imóveis de Fortaleza de criadouros de mosquitos da espécie
Aedes aegypti, transmissor dos vírus da dengue, da chikungunya e do zika, como
interferência nociva à saúde da vizinhança...............................................................50
4.3 A Legislação Municipal de Fortaleza referente à poluição sonora emitida em
propriedade imóvel privada como interferência nociva à tranquilidade da vizinhança
…...............................................................................................................................54
4.3.1 Som automotivo...............................................................................................55
4.3.2 Regulamentação de vibrações e ruídos pelo Código da Cidade de
Fortaleza....................................................................................................................56
4.3.2.1 Templos religiosos..........................................................................................56
4.3.2.2 Alarmes e sinais acústicos de alerta....................................................................57
4.3.2.3 Nocividade do som excessivo à saúde, à segurança e ao sossego..............57
4.3.2.4 Festividade culturais......................................................................................58
4.4 Necessidade de inspeção predial nos imóveis para evitar o risco de
desabamento...........................................................…...............................................58
4.4.1 Casos de desabamentos de prédios no Município de Fortaleza em 2019.......60
CONSIDERAÇÕES FINAIS.......................................................................................63
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.............................…..........................................66
11
INTRODUÇÃO
A elaboração do presente estudo busca apresentar um panorama a
respeito do uso anormal da propriedade imóvel privada na cidade de Fortaleza. 
O entendimento contemporâneo de propriedade privada sofreu influências
de vários povos em diferentes momentos históricos. Pode-se definir analiticamente a
propriedade como sendo o direito que a pessoa natural ou jurídica tem, dentro dos
limites normativos, de usar, gozar e dispor de um bem corpóreo ou incorpóreo, bem
como, de reivindicá-lo de quem injustamente o detenha.
O direito de propriedade evoluiu de uma noção totalmente individualista
para uma concepção social. Essa mudança de paradigma ocorreu paralelamente
com o surgimento de uma nova concepção de liberdade e de uma nova ideia acerca
do papel do Estado de garantir não apenas os interesses individuais, mas de dar
prioridade ao bem-estar da sociedade, assim, o titular do direito pode usufruir do
bem de modo que não acarrete prejuízo às outras pessoas. 
 O Texto Constitucional em vigor faz menção expressa à função social da
propriedade em vários dispositivos. Ficou estabelecendo no inciso XXIII do Art. 5º
que a propriedade atenderá a sua função social. Pode-se conceituar o uso anormal
da propriedade imóvel como sendo aquele que causam interferências prejudiciais à
segurança, ao sossego e à saúde dos que habitam as propriedades vizinhas,
ofendendo-se, assim, a função social dessa propriedade. 
Como critérios de análise da utilização de um imóvel com relação à sua
normalidade, verifica-se: a extensão do dano ou incômodo causado; a zona onde
ocorre o conflito, bem como os usos e costumes locais e a anterioridade da posse. 
A ação de dano infecto pode ser ajuizada diante de fundada preocupação
de dano iminente por conta de desabamento de prédio adjacente ou de problemas
estruturais, assim, possui o caráter preventivo e cominatório, como o interdito
proibitório. Fundamenta-se nos arts. 1277 e 1.280 do Código Civil. Essa Ação
também é admitida nos casos de mau uso da propriedade vizinha, com
interferências no sossego, na segurança e na saúde do proprietário ou inquilino de
um prédio. 
12
Para que todas as pessoas que habitam o município possam conviver em
harmonia, a Legislação Municipal de Fortaleza dispõe de normas que restringem o
uso da propriedade privada imóvel em prol da coletividade, para que esse uso seja
feito dentro da normalidade sem interferências nocivas à saúde, à tranquilidade e à
segurança das pessoas.
A Lei Complementar nº 270 de 2 de agosto de 2019, conhecida como o
Código da Cidade de Fortaleza, substituiu o Código de Obras e Posturas de 1981 e
trouxe diversas inovações urbanas.
O proprietário que mantém criadouros de Aedes aegypti em seu imóvel
está fazendo, mesmo que por um ato omissivo, um uso anormal da sua propriedade,
pois haverá uma interferência nociva à saúde de seus vizinhos. 
Conceitua-se poluição sonora como sendo toda emissão de som que,
direta ou indiretamente, seja ofensiva ou nociva à saúde, à segurança e ao bem-
estar da coletividade.
As estruturas das edificações sofrem desgastes causados pela corrosão
natural. Nas regiões litorâneas, essa corrosão é ainda mais acentuada por conta do
efeito da maresia, o que acelera o processo de oxidação das estruturas metálicas. Por
conta disso, as edificações precisam passar por manutenções periódicas para garantir
segurança aos seus moradores e vizinhos. 
O proprietário de um prédio que se omite com os cuidadosnecessários à
conservação da sua propriedade compromete a incolumidade pública, provocando uma
interferência nociva à segurança das pessoas que residem, trabalham ou que apenas
transitam pelas suas adjacências. O responsável pela edificação estará, portanto,
fazendo um uso anormal de sua propriedade.
A Lei da Inspeção Predial dispõe sobre a obrigatoriedade de vistoria
técnica, manutenção preventiva e periódica das edificações e equipamentos
públicos ou privados no âmbito do município de Fortaleza. Ela foi, posteriormente,
regulamentada pelo Decreto nº 13.616, 23 de junho de 2015.
 A metodologia aplicada foi a análise bibliográfica a respeito dos conceitos
de propriedade, de função social da propriedade e do uso anormal da propriedade;
por conseguinte, a observação do ordenamento jurídico nacional e da jurisprudência,
a respeito da política de planejamento urbano e da Legislação Municipal de
Fortaleza que regulamenta o uso da propriedade imóvel privada.
13
DIREITO DE PROPRIEDADE: CONSTRUÇÃO HISTÓRICA, DELIMITAÇÃO
CONCEITUAL, FUNDAMENTAÇÃO E FORMAS DE AQUISIÇÃO E DE PERDA E
RESTRIÇÕES LEGAIS
O entendimento contemporâneo de propriedade privada sofreu influências
de vários povos em diferentes momentos históricos. Essa senhoria da pessoa sobre
a coisa é compreendida como um direito que decorre diretamente da organização
política. Por isso, ainda há certa dificuldade em se conceber um conceito que
abranja todos os pormenores desse instituto. Assim, faz-se necessário um estudo
histórico do tema com a finalidade de desenvolver uma assimilação contextualizada
e apta a refletir, de forma aprofundada, o assunto do vertente capítulo. 
2.1 Construção histórica
As notícias mais antigas que temos da propriedade privada remontam às
sociedades persa, babilônica e hebraica. O Código de Hamurábi, conjunto de leis
babilônicas com caráter punitivo, possuía normas relativas à propriedade de coisas
materiais, da mulher e do escravo. No mesmo sentido, os hebreus possuíam os Dez
Mandamentos, conjunto de leis que teriam sido entregues por Deus a Moisés e que
continham normas proibindo o furto e a cobiça dos bens alheios.(ALVES, 2012, p.
13)
Venosa (2013, p. 157) explica que nas sociedades primitivas pré-
romanas, a propriedade existia exclusivamente para objetos de uso pessoal, bens
móveis como: peças de vestuário, utensílios de caça e pesca. Já o solo pertencia a
toda a coletividade, todos os membros da tribo ou da família, não havendo o poder
de determinada pessoa. Portanto, essa propriedade coletiva primitiva seria a
primeira manifestação de sua função social.
 Marques Júnior (2017, p. 101) explica: 
O direito de propriedade é imemorial. Remonta aos primórdios da história
das civilizações. No Direito Romano preponderava um regime individualista
de propriedade, que resultou da evolução da propriedade comum. Com
efeito, a Roma primitiva conheceu duas formas de propriedade coletiva: a
da gens ou cidade e, depois, a da família. Essa modalidade de propriedade
desapareceu e cedeu lugar à família, outro tipo de propriedade coletiva, que
14
foi sendo, entretanto, aniquilada paulatinamente, diante do crescente
fortalecimento da autoridade do pater familias.
Entre os antigos romanos, a propriedade era da cidade ou gens, o
indivíduo tinha a posse de uma determinada porção de terra para cultivar e apenas
os bens móveis eram alienáveis. Com o tempo, esse modelo deu lugar à
propriedade familiar, onde a terra pertencia a família. Com a Lei das XII Tábuas
surgiu ali a primeira noção de propriedade imobiliária individual. Nesse sentido,
Venosa (2013, p. 158) diz:
Nesse primeiro período do Direito Romano, o indivíduo recebia uma porção
de terra que devia cultivar, mas, uma vez terminada a colheita, a terra
voltava a ser coletiva. Paulatinamente, fixa-se o costume de conceder
sempre a mesma porção de terra às mesmas pessoas ano após ano. Ali, o
pater familias instala-se, constrói sua moradia e vive com sua família e
escravos. Nesse sentido, arraiga-se no espírito romano a propriedade
individual e perpétua. A Lei das XII Tábuas projeta, na verdade, a noção
jurídica do ius utendi, fruendi et abutendi. Considerava-se o domínio sobre a
terra de forma absoluta.
Tanto em Roma como na Grécia antiga, a propriedade privada estava
relacionada à religião e à família. O lar era o lugar onde situava o altar para o culto
dos antepassados e os deuses que habitavam aquele solo. A casa, portanto,
mantinha um caráter sagrado, pois as divindades pertenciam somente a uma família.
Dessa forma, a religião foi a instituição que primeiramente garantiu a propriedade.
(COULANGES, 2013, p. 158)
Os gregos diziam que o lar havia ensinado aos homens a construir casas.
Com efeito, o homem, fixado pela religião em um lugar que não pensava
abandonar jamais, logo deve ter pensado em levantar aí uma construção
sólida. A tenda convém ao árabe, o carro ao tártaro, mas uma família que
tem um altar doméstico precisa de uma casa que dure. À cabana de terra ou
de madeira seguiu-se logo a casa de pedra. E esta não foi construída
somente para a vida de um homem, mas para a família, cujas gerações
deviam sucederse na mesma morada.
Na época clássica, com o Digesto, o Direito Romano passou a reconhecer
o direito de vizinhança e a reprimir o uso abusivo do direito de propriedade, mas o
elemento individual ainda era preponderante. (VENOSA, 2013, p. 158)
Na Idade Média, os feudos eram dados aos vassalos que faziam um
15
juramento de absoluta fidelidade ao suserano e a estes se comprometiam a prestar
serviços, inclusive, militares. Com o tempo, tais feudos passaram a ser propriedades
perpétuas que eram transmitidas apenas pela linha sucessória masculina. (DINIZ.
2014, p. 126) 
O sistema feudal teve fim na Europa no século XVIII com o advento da
Revolução Francesa que recepcionou a ideia romana de propriedade. O Código de
Napoleão possuía uma concepção extremamente individualista desse instituto, como
podemos notar no seu Art. 544: “A propriedade é o direito de gozar e dispor das
coisas do modo mais absoluto, desde que não se faça uso proibido pelas leis ou
regulamentos”. As ideias da Revolução repercutiram em todos os ordenamentos que
se espelharam no Código Civil francês. (VENOSA, 2013, p. 159)
Na concepção contemporânea, a propriedade depende do regime político.
Nos países comunistas, como na extinta URSS, a propriedade particular exclusiva é
admitida sobre os bens de consumo pessoal e a propriedade usufrutuária é exercida
sobre bens de utilização direta como casa, móveis, dinheiro ou valores mobiliários.
Já os bens de produção são socializados. Nessa conjuntura, jazidas, água, meios de
transporte e indústrias pertencem exclusivamente ao Estado. (DINIZ, 2014, passim).
Nos países ocidentais predomina a propriedade individual exclusiva. No
entanto, no século XIX após a revolução e o desenvolvimento industrial e com a
popularização das doutrinas socializantes, buscou-se um sentido social na
propriedade que passou a sofrer certas restrições ao seu caráter absoluto com o fito
de se evitar o abuso e impedir que o exercício do direito acarrete prejuízos ao bem-
estar da sociedade e permitir, dessa forma, o desempenho da chamada função
social da propriedade (DINIZ, 2014, 127).
2.2 Elementos conceituais e teóricos da propriedade
O direito de propriedade encontra-se, no direito brasileiro atual, elevado à
condição de categoria constitucional, pois no Art. 5º, caput, e XXII da Carta Magna
está escrito que
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a
inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à
propriedade, nos termos seguintes:
16
(...)
XXII – égarantido o direito de propriedade. [grifou-se]
O Código Civil brasileiro não apresenta um conceito de propriedade, mas
descreve no Art. 1.228, caput que: “o proprietário tem a faculdade de usar, gozar e
dispor da coisa, e o direito de reavê-la do poder de quem quer que injustamente a
possua ou a detenha”.
Dessa forma, Diniz (2014, p. 134) define analiticamente a propriedade
como sendo “(…) O direito que a pessoa natural ou jurídica tem, dentro dos limites
normativos, de usar, gozar e dispor de um bem corpóreo ou incorpóreo, bem como
de reivindicá-lo de quem injustamente o detenha”.
O direito de usar da coisa (jus utendi) confere ao proprietário o poder de
extrair dela todas as benesses que ela pode prestar, em seu próprio proveito ou no
de terceiro, sem que haja modificação na substância, bem como de deixar de utilizá-
lo. (DINIZ, 2014, p. 135)
Nas palavras de Diniz (2014, p. 135): “(…) o jus utendi é o direito de usar
a coisa, dentro das restrições legais, a fim de se evitar o abuso do direito, limitando-
se portanto, ao bem-estar da coletividade”.
O direito de gozar da coisa (jus fruendi) confere ao seu titular o direito de
utilizar os produtos da coisa, de perceber seus frutos ou de explorá-la
economicamente. É o que está garantido no Código Civil em seu Art. 92, quando
afirma que a existência do acessório supõe a do principal, bem como, no Art. 1232:
“Os frutos e mais produtos da coisa pertencem, ainda quando separados, ao seu
proprietário, salvo se, por preceito jurídico especial, couberem a outrem”.(DINIZ,
2014, p. 135)
O direito de dispor da coisa (jus abutendi ou disponendi) é o poder de
aliená-la a título oneroso ou gratuito, de consumi-la, de gravá-la em ônus (penhor,
hipoteca, etc). (DINIZ, 2014, p. 135)
Já a rei vindicatio é o poder do proprietário de ajuizar uma ação
reivindicatória para retomar o bem de quem injustamente o detenha. (DINIZ, 2014, p.
136)
17
2.2.1 Características do direito de propriedade
À propriedade atribui-se o caráter absoluto, pois é o mais completo de
todos os direitos reais, garantindo, ao seu titular, o direito de usar e dispor do bem
como quiser, respeitando-se às limitações impostas pelo interesse público ou da
coexistência do direito de propriedade de outro titular. (GONÇALVES, 2018, livro
digital não paginado)
Esse direito possui, ainda, oponibilidade erga omnes, cabendo aos
demais o dever de respeitar todos os direitos do proprietário sobre o seu bem,
restando ao contestante o ônus de provar que a propriedade não é absoluta por
existir alguma limitação legal (DINIZ, 2014, p. 136). Nesse sentido, o Art. 1.231 do
Código Civil pátrio prescreve que “a propriedade presume-se plena e exclusiva até
prova em contrário”.
O artigo retromencionado também atribui à propriedade o caráter da
exclusividade, em consonância com o princípio de que o mesmo bem não pode
pertencer a mais de uma pessoa simultaneamente. Assim, o direito de uma pessoa
sobre determinada coisa exclui o direito de outra sobre a mesma. No caso do
condomínio, apesar de todos os condôminos serem titulares conjuntamente do
mesmo bem, há uma divisão abstrata da propriedade, sendo cada condômino
possuidor de uma quota ideal desse bem. (DINIZ, 2014, p. 136 e 137)
A propriedade possui ainda a característica da perpetuidade, assim,
enquanto não houver causa extintiva legal ou oriunda da vontade do próprio titular,
ela subsiste independentemente do tempo de exercício desse direito. (DINIZ, 2014,
p. 137)
O caráter da elasticidade decorre da possibilidade do desmembramento
dos direitos de propriedade, o que acontece, por exemplo, no usufruto, onde o direito
de usar e gozar a coisa fica com o usufrutuário e o direito de dispor e reivindicar fica
com o nu-proprietário. No direito de superfície, é transferido ao superficiário o poder
de usar, gozar, dispor e reivindicar até certo tempo, depois, esses poderes são
restituídos ao proprietário. Já na servidão, o direito de propriedade é limitado na
medida em que o proprietário deve tolerar a passagem de cabos e tubulações do
18
imóvel dominante ou a passagem de pessoas titulares de imóvel encravado (PINTO,
2013, p. 75). 
2.2.2 Fundamentação jurídica da propriedade
A origem e a legitimidade do direito de propriedade têm sido objeto de
discussão entre juristas, filósofos e sociólogos na tentativa de se definir os
fundamentos jurídicos desse instituto. Dessa forma, várias teorias foram formuladas.
A teoria da ocupação é a mais antiga e reconhece o direito de ocupação
das coisas, quando não pertenciam a ninguém (res nullius), como sustentação para
o título de propriedade. Essa teoria não é a mais aceita, pois compreende-se a
ocupação apenas como um dos modos de aquisição do bem, não sendo suficiente
para sustentar juridicamente o seu direito.(GONÇALVES, 2018, livro digital não
paginado)
A teoria da especificação aduz que o que justifica o direito da propriedade
é apenas o trabalho humano que transforma a natureza e a matéria bruta. Também é
muito criticada, pois o trabalho deve ter o salário como recompensa e não a própria
coisa por ele produzida. Além disso, se essa concepção fosse verdadeira, um
proprietário perderia o seu bem para os empregados que nele trabalharem, o que
não ocorre na esfera dos fatos. (GONÇALVES, 2018, livro digital não paginado)
A teoria da lei sustenta que a propriedade é instituição do direito positivo,
pois a lei a criou e a garante. No entanto, críticos argumentam que a propriedade já
existia antes mesmo de ser regulada por lei. (GONÇALVES, 2018, livro digital não
paginado)
A teoria da natureza humana é a mais aceita, ela alude que a
propriedade é inerente à natureza humana, sendo condição da existência e da
liberdade de todo homem, não deriva do Estado e nem de suas leis, mas da própria
natureza. Assim, não pode ser abolida pela autoridade pública, mas apenas
regulamentada em seu uso para acomodá-la ao bem da sociedade. (GONÇALVES,
2018, livro digital não paginado)
19
2.2.3 A Aquisição da propriedade em geral 
A doutrina classifica os modos de aquisição da propriedade em dois: nos
modos originários, a aquisição é direta e independente da intermediação de outra
pessoa, ou seja, o adquirente faz seu o bem sem que seja necessário alguém
transmiti-lo, como ocorre na ocupação, na especificação, na acessão e na
usurcapião; já nos modos derivados, implica-se um ato de transmissão por meio do
qual a propriedade se transfere para o adquirente, assim como acontece no registro
e na tradição e no direito hereditário. (MONTEIRO, 2013, p. 117)
2.2.4 A Propriedade imóvel
De acordo com o Art. 79 do Código Civil brasileiro de 2002: “são bens
imóveis o solo e tudo quanto se lhe incorporar natural ou artificialmente”. Já os
artigos 80 e 81 afirmam que:
Art. 80. Consideram-se imóveis para os efeitos legais:
I – os direitos reais sobre imóveis e as ações que os asseguram;
II – o direito à sucessão aberta.
Art. 81. Não perdem o caráter de imóveis:
I – as edificações que, separadas do solo, mas conservando a sua unidade,
forem removidas para outro local;
II – os materiais provisoriamente separados de um prédio, para nele se
reempregarem.
Constata-se que, para a legislação brasileira, bens imóveis não
necessitam estar obrigatoriamente afixados ao solo para assim serem considerados.
E que os direitos reais sobre imóveis, bem como o direito à sucessão aberta são,
para efeitos legais, considerados imóveis. 
20
2.2.4.1 Aquisição da propriedade imóvel
O capítulo II do Título III do Código Civil pátrio trata das formas de
aquisição da propriedade imóvel, sendo elas: a usucapião, o registro de títulos e a
acessão.
O direito hereditário é outro modo de aquisição da propriedade imóvel
disciplinado pelo Art.1.784 do Código Civil pátrio, o qual afirma que “aberta a
sucessão, a herança transmite-se, desde logo, aos herdeiros legítimos e
testamentários”. Para que o herdeiro figure como titular do direito de propriedade
deve ser feito o inventário. A aquisição desse direito dá-se simplesmente em razão
do falecimento do de cujus, quando ocorre a sucessão.
 
2.2.4.2 Aquisição por usucapião
A usucapião, também chamada de prescrição aquisitiva, é disciplinada no
Código Civil nos Arts. 1.238 ao 1.244. Possui como pressupostos: coisa hábil, posse
e decurso de tempo. Na usucapião ordinária também é necessário o justo título e a
boa-fé. (GONÇALVES, 2018, livro digital não paginado)
Vale salientar que, embora o Art. 1.238 do aludido Código dizer que o
possuidor pode pedir ao juiz que declare a aquisição da propriedade, a ação de
usucapião é de natureza meramente declaratória de uma situação preexistente. Ou
seja, presentes os pressupostos legais, considera-se adquirida a propriedade pelo
simples decurso do lapso de tempo previsto na lei. (GONÇALVES, 2018, livro digital
não paginado)
O fundamento da usucapião está assentado, assim, no princípio da utilidade
social, na conveniência de se dar segurança e estabilidade à propriedade,
bem como de se consolidar as aquisições e facilitar a prova do domínio. Tal
instituto, segundo consagrada doutrina, repousa na paz social e estabelece
a firmeza da propriedade, libertando-a de reivindicações inesperadas, corta
pela raiz um grande número de pleitos, planta a paz e a tranquilidade na
vida social: tem a aprovação dos séculos e o consenso unânime dos povos
antigos e modernos (GONÇALVES, 2018, livro digital não paginado)
 
21
Observa-se, portanto, que a usucapião é um instituto que busca dar
segurança e estabilidade à propriedade fundamentada no princípio da utilidade
social.
2.2.4.3 Aquisição por registro de título e os princípios do Sistema de Registro
Públicos
O registro de título translativo é a forma de transferência entre vivos da
propriedade imóvel. A aquisição de bens imóveis causa mortis é regida pelo direito
das sucessões. Assim, para se adquirir a propriedade imóvel no direito brasileiro o
contrato perfeito e acabado não é suficiente para operar a transferência do bem
imóvel, apenas gera direitos e obrigações. (GONÇALVES, 2018, livro digital não
paginado)
O sistema de registros públicos é regulado pela Lei nº 6.015 de 31 de
dezembro de 1973, conhecida como a Leis dos Registros Públicos (L.R.P.), informa
oito princípios básicos para a sua eficácia, quais sejam os listados e descritos
abaixo:(GONÇALVES, 2018, livro digital não paginado)
1) O princípio da publicidade garante que o registro valerá contra
terceiros com a publicidade das transações imobiliárias. Assim, qualquer
um poderá requerer certidão do registro sem necessidade de informar o
motivo.
2) O princípio da força probante diz que presume-se pertencer o direito
real a pessoa cujo nome se encontra registrado, pois os registros
possuem fé pública.
3) O princípio da legalidade obriga o oficial do cartório a examinar a
validade e a legalidade dos títulos que forem apresentados para registro,
analisando, por dever de ofício, se são registráveis ou não.
4) O princípio da territorialidade exige que o título seja feito na
circunscrição imobiliária da situação do imóvel. A escritura pública pode
ser lavrada em qualquer Cartório de Notas brasileiro, segundo o Art. 169
da L.R.P.; mas o registro só pode ser efetuado no local de situação do
22
imóvel, conforme o Art. 1245 do Código Civil pátrio. Isso acontece para
possibilitar a pesquisa a respeito dos imóveis, essencial para a efetivação
do princípio da publicidade. 
5) O princípio da continuidade alude que apenas é admitido o registro de
um título se o alienante for o mesmo que figura no registro como
proprietário. Está disciplinado no Art. 195 da Lei nº 6.015/73 que afirma:
“Se o imóvel não estiver matriculado ou registrado em nome do
outorgante, o oficial exigirá prévia matrícula e o registro do título anterior,
qualquer que seja sua natureza, para manter a continuidade do registro. 
6) O princípio da prioridade protege quem primeiro registra o seu título
por meio da prenotação, que assegura a prioridade do registro. Assim, se
mais de um título for apresentado para ser registrado no mesmo dia, dar-
se-á preferência ao que primeiro tiver sido prenotado no protocolo,
conforme Art. 1.246 do Código Civil. 
7) O princípio da especialidade exige que o título contenha uma
minuciosa individualização do bem a ser registrado, com os dados
geográficos do imóvel relativos a suas metragens e confrontações.
8) O princípio da instância proíbe que o oficial proceda o registro de
ofício, apenas a requerimento escrito ou verbal do interessado.
(GONÇALVES, 2018, livro digital não paginado)
2.2.4.4 Aquisição por acessão
Para Monteiro (2013 p. 129) a acessão é definida como “modo originário
de adquirir a propriedade, em virtude do qual ao proprietário fica pertencendo tudo
quanto se une ou adere ao seu bem”. 
Está disciplinado no Art. 1248 que aduz: “A acessão pode dar-se: I – por
formação de ilhas; II – por aluvião; III – por avulsão; IV – por abandono de álveo; V –
por plantações ou construções.”
Nas palavras de Gonçalves (2017, livro digital não paginado):
A acessão pode dar-se pela formação de ilhas, aluvião, avulsão, abandono
de álveo e plantações ou construções (CC, Art. 1.248). A última forma é
23
denominada acessão industrial, por decorrer do trabalho ou indústria do
homem, sendo acessão de móvel a imóvel. As demais são acessões físicas
ou naturais, por decorrerem de fenômenos naturais, sendo acessões de
imóvel a imóvel.
Monteiro(2013 p. 129) explica que em todos os casos previstos no Código
Civil, a acessão depende de dois requisitos, quais sejam: “a) a conjunção entre duas
coisas até então separadas; b) o caráter acessório de uma dessas coisas em
confronto com a outra”. Dessa forma, a coisa acedida é a principal e a coisa
acendente é a coisa acessória. 
2.3 A perda da propriedade
A perda da propriedade pode acontecer de forma voluntária, como a
alienação, a renúncia e o abandono, ou contra a vontade do proprietário, com o
perecimento do objeto, com a sua desapropriação ou com a sua expropriação. 
No caso da alienação, a perda do bem se dá pela transferência da
titularidade mediante negócio jurídico. A renúncia ocorre através de escritura pública
onde o titular do direito declara abdicar da condição de proprietário. Já o abandono
acontece quando o proprietário deixa de fazer uso, manutenção e o pagamento dos
impostos que recaem sobre o bem e, para que este ocorra, não necessita das
mesmas formalidades da renúncia.
O proprietário perde involuntariamente o bem com o perecimento deste,
por exemplo, quando ocorre um incêndio ou quando uma enchente encobre o imóvel
de forma que o bem desaparece e se torna impossível de ser utilizado. 
Também se perde a propriedade por meio da expropriação por
necessidade, utilidade pública ou por interesse social. É a mais radical forma de
intervenção do poder público na propriedade privada, pois implica em um ato
unilateral da administração pública de despojar, compulsoriamente, o proprietário do
domínio do seu bem. Vale ressaltar que há uma diferença entre desapropriação e
expropriação. Nesta, a transferência da terra prescinde de indenização, já aquela é
prevista na Constituição a indispensável indenização prévia e em dinheiro.
(MAGALHÃES NETO, 2015, p. 21 e 22)
24
Monteiro (2014, p. 216) explica que:
A desapropriação é ato unilateral de direito publico, com reflexos no direito
privado, por via do qual a propriedade individual é transferida, mediante
prévia e justaindenização em dinheiro, a quem dela se utiliza, no interesse
da coletividade
 
O Art. 1228, §§ 3º, 4 e 5 do Código Civil de 2002 disciplina o seguinte: 
§ 3º O proprietário pode ser privado da coisa, nos casos de desapropriação,
por necessidade ou utilidade pública ou interesse social, bem como no de
requisição, em caso de perigo público iminente.
§ 4º O proprietário também pode ser privado da coisa se o imóvel
reivindicado consistir em extensa área, na posse ininterrupta e de boa-fé,
por mais de cinco anos, de considerável número de pessoas, e estas nela
houverem realizado, em conjunto ou separadamente, obras e serviços
considerados pelo juiz de interesse social e econômico relevante.
§ 5º No caso do parágrafo antecedente, o juiz fixará a justa indenização
devida ao proprietário; pago o preço, valerá a sentença como título para o
registro do imóvel em nome dos possuidores.
A desapropriação por necessidade e utilidade pública também está
regulada pelo Decreto-lei n. 3.365 de 21.6.1941 e pelos Art. 1275, V do Código Civil
de 2002. A doutrina considera como casos de necessidade pública: a defesa do
território nacional; a segurança pública; os socorros públicos, nos casos de
calamidade e a salubridade pública. Consideram-se casos de utilidade pública: a
fundação de povoação e de estabelecimentos de assistência; educação ou instrução
pública; a abertura, alargamento ou prolongamento de ruas, praças, canais estradas
de ferro e, em geral de quaisquer vias públicas; a construção de obras ou
estabelecimentos destinados ao bem geral de uma localidade; sua decoração e
higiene e a exploração de minas. (MONTEIRO, 2014, p. 217)
A desapropriação da propriedade rural por interesse social está prevista
no Art. 184 da Constituição Federal de 1988, que aduz que: “Compete à União
desapropriar por interesse social, para fins de reforma agrária, o imóvel rural que
não esteja cumprindo sua função social, mediante prévia e justa indenização em
títulos da dívida agrária […]”. 
25
Essa forma de desapropriação é disciplinada pela Lei nº 4.123 de 10 de
setembro de 1962 que em seu Art. 2º aduz que:
Art. 2º Considera-se de interesse social: 
I – o aproveitamento de todo bem improdutivo ou explorado sem
correspondência com as necessidades de habitação, trabalho e consumo
dos centros de população a que deve ou possa suprir por seu destino
econômico;
II – a instalação ou a intensificação das culturas nas áreas em cuja 
exploração não se obedeça a plano de zoneamento agrícola, VETADO;
III – o estabelecimento e a manutenção de colônias ou cooperativas de 
povoamento e trabalho agrícola:
IV – a manutenção de posseiros em terrenos urbanos onde, com a 
tolerância expressa ou tácita do proprietário, tenham construído sua 
habilitação, formando núcleos residenciais de mais de 10 (dez) famílias;
V – a construção de casas populares;
VI – as terras e águas suscetíveis de valorização extraordinária, pela 
conclusão de obras e serviços públicos, notadamente de saneamento, 
portos, transporte, eletrificação armazenamento de água e irrigação, no 
caso em que não sejam ditas áreas socialmente aproveitadas;
VII – a proteção do solo e a preservação de cursos e mananciais de água e 
de reservas florestais.
VIII – a utilização de áreas, locais ou bens que, por suas características, 
sejam apropriados ao desenvolvimento de atividades turísticas.
 
O Art. 142, §§ 3 e 4, III da Constituição Federal trata da desapropriação
de propriedades urbanas por interesse social, o dispositivo aduz, em síntese, que o
Poder Público municipal pode exigir, nos termos da lei federal, do proprietário do
solo urbano não edificado, subutilizado ou não utilizado, que promova seu adequado
aproveitamento e que o não cumprimento dessas exigências pode acarretar em
desapropriação do imóvel, entre outras penas.
A desapropriação pode ocorrer amigavelmente através de acordo entre
expropriante e expropriado. Se não houver anuência entre as partes, poderá ser
efetivada pelo Poder Judiciário por meio de uma ação de desapropriação, onde o
juiz examinará a legalidade do ato declaratório da necessidade ou utilidade pública.
(MONTEIRO, 2014, p. 223)
26
2.4 Restrições legais impostas ao direito da propriedade
A concepção contemporânea de propriedade perdeu o caráter absoluto e
passou a sofrer diversas limitações de várias naturezas como as de ordem
constitucional e administrativa que buscam preservar o meio ambiente, a fauna, a
flora, o patrimônio artístico e cultural e etc, também como as impostas pelo Código
Civil de 2002 por conta do direito de vizinhança.(MAGALHÃES NETO, 2015, p. 18)
Nesse sentido, preleciona o § 1º do Art. 1.228 do Código Civil brasileiro:
§ 1º O direito de propriedade deve ser exercido em consonância com as
suas finalidades econômicas e sociais e de modo que sejam preservados,
de conformidade com o estabelecido em lei especial, a flora, a fauna, as
belezas naturais, o equilíbrio ecológico e o patrimônio histórico e artístico,
bem como evitada a poluição do ar e das águas.
O § 2º do mesmo artigo diz, por sua vez, que: “São defesos os atos que
não trazem ao proprietário qualquer comodidade, ou utilidade, e sejam animados
pela intenção de prejudicar outrem”. 
A lei restringe, portanto, o uso da propriedade de forma inconveniente,
sem nenhum benefício ao proprietário e que tenha, por fim, apenas causar algum
dano a uma terceira pessoa. Seria o caso, por exemplo, de alguém plantar várias
flores no seu quintal apenas para prejudicar o seu desafeto vizinho que é
gravemente alérgico ao pólen. Podemos concluir que a norma analisada possui
natureza subjetiva, pois não basta a mera conduta. Não há nada de ilegal em plantar
flores no quintal de sua propriedade, mas, se ficar comprovado que o proprietário
não gosta de flores e que só plantou as referidas plantas porque sabia que seu
vizinho se prejudicaria, configurar-se-á o abuso do direito. 
Nesse mesmo sentido, o Art. 187 do Código Civil aduz: “Também comete
ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo, excede manifestamente os limites
impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou pelos bons costumes”.
Maria Helena Diniz afirma que (2014, p.291):
No direito moderno, o primado do interesse coletivo ou público vem influindo
sobremaneira no conceito de propriedade. As medidas restritivas ao direito
de propriedade, impostas pelo estado em prol da supremacia do interesse
publico, vêm diminuindo o exercício desse direito. De modo que os
princípios gerais de direito como os da igualdade das propriedades e
27
repressão ao ab uso do direito foram sendo aplicados tão amplamente que
o domínio passou a encontrar neles restrições cada vez mais fortes,
acarretando o seu enfraquecimento interno e a consolidação da política de
intervenção estatal.
 
É importante destacar que as restrições trazidas pela legislação pátria,
quanto ao uso, gozo e disposição do bem pelo proprietário, são inúmeras. Diniz
(2014, passim) classificou essas restrições entre 1 – aquelas que se dão em virtude
de interesse social: a) restrições constitucionais, b) administrativas, c) da
propriedade rural, d) de natureza militar, e) em razão de lei eleitoral; e entre 2 –
aquelas que se dão em virtude do interesse privado: a) dos direitos de vizinhança, b)
das similares à servidão, c) das oriundas das relações de contiguidade entre dois
imóveis e, por fim, d) as referentes ao uso normal e anormal da propriedade. 
28
3 FUNÇÃO SOCIAL: CONSTRUÇÃO HISTÓRICA E PRESENÇA NO
ORDENAMENTO JURÍDICO BRASILEIRO, OS ELEMENTOS CONCEITUAIS DO
USO ANORMAL DA PROPRIEDADE E O ESTATUTO DA CIDADE
O presente capítulo pretende tratar sobre a função social da propriedade,
a evolução de sua concepção, a presença desse princípio no ordenamento jurídico
brasileiro, bem como tratar do uso anormal dapropriedade.
O direito de propriedade evoluiu de uma noção totalmente individualista
para uma concepção social. Essa mudança de paradigma ocorreu paralelamente
com o surgimento de uma nova concepção de liberdade e de uma nova ideia acerca
do papel do Estado de garantir não apenas os interesses individuais, mas de dar
prioridade ao bem-estar da sociedade. (MAIA, 2018, p. 41)
O direito de propriedade consiste no poder de usar, usufruir, dispor e
reivindicar de um proprietário sobre um bem. Observou-se que o direito de usar não
é absoluto, pois deve estar dentro das restrições legais para se evitar o abuso do
direito limitando-o ao bem-estar da coletividade. 
O titular do direito pode usufruir do bem de modo que não acarrete
prejuízo às outras pessoas. Por exemplo, um indivíduo muito rico que adquire vários
terrenos sem edificação em zona urbana para realizar mera especulação imobiliária,
aumentando, assim, o seu patrimônio com a simples valorização do preço dos solos
urbanas ao longo do tempo e deixando uma parte da cidade sem produzir e sem
servir de moradia. Neste caso, percebe-se claramente o não atendimento dos
preceitos da função social.(CAVALCANTE, 2014, p 31)
Importante explicar que essa função social não significa a permissão para
que as demais pessoas da sociedade utilizem um bem privado, como se todos
possuíssem o direito de uso sobre a propriedade. Também não deve ser um
impeditivo para que o proprietário use razoavelmente a coisa. A propriedade privada
deve atender aos interesses do indivíduo enquanto titular do direito de usá-la,
usufruí-la, dispor-se dela e de reivindicá-la. O que não pode ocorrer é o abuso, ou
seja, esses direitos devem ser exercidos com responsabilidade para que não se
extrapolem os limites legais pelo simples desejo do proprietário de fazer um uso
abusivo de determinado bem. (CAVALCANTE, 2014, p 31)
29
3.1 A Propriedade e sua transformação do Estado Liberal ao Estado Social
No final da Idade Média e, consequentemente, no começo da Idade
Moderna, os detentores dos bens de produção formaram uma nova classe social, a
burguesia. Este novo estrato social detinha um enorme poder econômico, porém,
não possuía poder político. Com as revoluções liberais, este poder foi conquistado
estabelecendo-se o Estado Liberal onde tal classe social passou a deter as
condições necessárias para moldar a sociedade de acordo com seus interesses e
para que fossem atendidas as demandas de suas atividades.(CAVALCANTE, 2014,
p 33)
Assim, no período do Liberalismo, a propriedade foi moldada para atender
aos interesses da burguesia de acumular riquezas. Preconizavam, para isso, a
necessidade de que o Estado não interviesse nos direitos individuais, principalmente
o da propriedade.(CAVALCANTE, 2014, p 33)
O surgimento do Iluminismo no século XVII, e seu posterior
desenvolvimento ao longo do século XVIII, serviu de supedâneo
epistemológico para o constitucionalismo burguês surgido após a Revolução
Francesa consagrando a propriedade com um caráter absoluto e
individualista. (MARQUES JÚNIOR, 2017, p.104)
Foi nesse cenário que se instituiu uma noção absoluta da propriedade,
onde as leis que versavam sobre o tema deveriam ser interpretadas de forma literal
e dogmática para que os burgueses pudessem gozar de uma maior segurança
jurídica nas relações que envolviam suas atividades. (CAVALCANTE, 2014, p 33)
Não obstante, o uso abusivo do bem imóvel acarretou em significativos
problemas sociais como a miséria da classe proletária que era explorada pela
burguesia de forma incompatível com a dignidade da pessoa humana. No entanto,
tal conjuntura econômica e social passou por grandes transformações após o fim
Primeira Guerra Mundial, quando muitos países sofreram graves crises econômicas,
causando severo prejuízo na qualidade de vida de seus habitantes. (CAVALCANTE,
2014, p 33)
Com isso, os governos foram forçados a interferir na economia em busca
do bem-estar da sociedade. Surgiu, assim, o Estado Social preocupado em garantir
à população serviços públicos, como saúde, educação, transporte, dentre outros.
30
Essa mudança de paradigmas resultou em uma relativização do direito de
propriedade. O titular do direito podia fazer uso do bem imóvel de madeira absoluta,
esse cenário foi mudando ao longo do tempo com a vigência de um Estado Social
de Direito.
A passagem do Estado Liberal para o Estado Social reformulou a maneira
de o Direito pensar a propriedade, esta que antes se revestia de caráter
absoluto passou a ter limites impostos pelo ordenamento com o fim de
conferir-se ao bem caráter social, ou seja, a propriedade tem seu objetivo
último atendimento de finalidades que a harmonizem com o conjunto em
que ela está inserida.(CAVALCANTE, 2014, p 33)
A primeira Carta Constitucional que instituiu a função social da
propriedade no mundo foi a constituição de Weimar na Alemanha em 1919, o seu
Art. 153 estava expresso na limitação de propriedade pela lei e consagrou a função
social da propriedade com a frase "Eigentum werpflichtet"1. (BERCOVICI, 2003, p.
28)
3.2 A função social da propriedade nas Constituições brasileiras históricas
A Constituição da então República dos Estados Unidos do Brasil de 1891
surge após a Proclamação da República em 1889. Possuía clara inspiração na
Constituição dos Estados Unidos, que também exaltou a liberdade, a segurança
individual e a propriedade. (MARQUES JÚNIOR, 2017, p. 108)
Durante o Período da República Velha (1889-1930), predominou o
coronelismo e o clientelismo das oligarquias dominantes nas relações sociais e
econômicas, com consequências no acesso à propriedade (MARQUES JÚNIOR,
2017, p. 108)
A Carta de 1934, inspiradas nas ideias expressas na Constituição de
Weimar, buscou pela primeira vez na história brasileira, impor um limite no exercício
do direito à propriedade. A expressão “função social” não foi empregada literalmente,
mas ali, claramente. estava presente o gérmen do instituto pela deferência ao
interesse social ou coletivo.(PETRUCCI, 2007, p. 78)
1 Tradução do alemão: “A propriedade obriga”.
31
A Constituição de 1934 garantia o exercício do direito de propriedade na
forma da lei, não podendo ir contra o interesse social ou coletivo (Art. 113,
17). No caso de desapropriação por necessidade pública ou em razão de
perigo iminente ou estado de guerra, o proprietário deveria ser indenizado
(previamente ou, em caso de perigo ou de guerra, posteriormente).
(MARQUES JÚNIOR, 2017, p. 110)
 
A carta de 1937 foi outorgada no Estado Novo de Getúlio Vargas. Ela
entregou à lei ordinária o dever de limitar o direito de propriedade. Com o
fechamento do Congresso, esse poder ficou concentrado nas mãos do chefe do
Executivo, acentuando ainda mais o caráter ditatorial desse regime (PETRUCCI,
2007, p. 75). 
(…) a Constituição de 1937, previa o direito de propriedade em seu Art. 122,
14, com redação similar aos textos anteriores: a limitação que se
vislumbrava se restringia ao interesse público, sendo a desapropriação
indenizável. A análise do Art. 135 da Carta de 1937, denota que a ordem
econômica se fundava no preceito conforme o qual a intervenção do Estado
no domínio econômico somente se justificaria para suprir as deficiências da
autonomia individual e controlar os conflitos dos fatores de produção.
(MARQUES JÚNIOR, 2017, p. 110)
 
 A Constituição de 1946 foi elaborada com a redemocratização e garantiu
o direito de propriedade, mantendo as hipóteses de desapropriação por necessidade
ou utilidade pública, repetindo o que disciplinava a Constituição de 1934, e inseriu no
seu Art. 141, § 16 a desapropriação por interesse social, inspirada no conceito de
função social da propriedade. Condicionou, ainda, o uso da propriedade ao bem-estar social, seguindo os ditames da justiça social.(PETRUCCI, 2007, p. 75)
Marques Júnior (2017, p. 110) explica que com a instauração da Ditadura
Militar em 1964 que durou até 1985, o Brasil foi marcada por um regime autocrático
e violador dos direitos humanos. A Constituição de 1967 e a Emenda Constitucional
nº.: 01, de 1969 estabeleceram o direito à propriedade no Art. 150, §22, §24 e §25,
enquanto, a função social da propriedade estava presente no Art. 157, III, tendo o
§1º previsto a desapropriação da propriedade rural, mediante pagamento de
indenização.
32
3.3 A função social da propriedade na Constituição de 1988
 O Texto Constitucional em vigor faz menção expressa à função social da
propriedade em vários dispositivos. Ficou estabelecendo no inciso XXIII do Art. 5º
que a propriedade atenderá sua função social. 
No Art. 170, caput e inciso III, é dito que a ordem econômica tem por
finalidade assegurar a todos uma existência digna, conforme os ditames da justiça
social, observando-se ao princípio da função social da propriedade.
O inciso I do §1º do Art. 173 afirma ainda que: 
A lei estabelecerá o estatuto jurídico da empresa pública, da sociedade de
economia mista e de suas subsidiárias que explorem atividade econômica
de produção ou comercialização de bens ou de prestação de serviços,
dispondo sobre: 
I – sua função social e formas de fiscalização pelo Estado e pela sociedade
 No Art. 182, caput alude que “A política de desenvolvimento urbano,
executada pelo Poder Público municipal, conforme diretrizes gerais fixadas em lei,
tem por objetivo ordenar o pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade e
garantir o bem-estar de seus habitantes.” 
Já o parágrafo segundo do mesmo dispositivo afirma que “A propriedade
urbana cumpre sua função social quando atende às exigências fundamentais de
ordenação da cidade expressas no plano diretor”.
A função social da propriedade rural, por sua vez, está disciplinada no Art.
186, que diz o seguinte:
Art. 186. A função social é cumprida quando a propriedade rural atende,
simultaneamente, segundo critérios e graus de exigência estabelecidos em
lei, aos seguintes requisitos:
I – aproveitamento racional e adequado;
II – utilização adequada dos recursos naturais disponíveis e preservação do
meio ambiente;
III – observância das disposições que regulam as relações de trabalho;
IV – exploração que favoreça o bem-estar dos proprietários e dos
trabalhadores.
33
O Art. 184 atribui à união a competência para desapropriar o imóvel rural
que não esteja cumprindo a sua função social, para fins de reforma agrária. Na letra
do artigo está escrito: 
Art. 184. Compete à União desapropriar por interesse social, para fins de
reforma agrária, o imóvel rural que não esteja cumprindo sua função social,
mediante prévia e justa indenização em títulos da dívida agrária, com
cláusula de preservação do valor real, resgatáveis no prazo de até vinte
anos, a partir do segundo ano de sua emissão, e cuja utilização será
definida em lei. 
 
Já o artigo 185 afirma que “São insuscetíveis de desapropriação para fins
de reforma agrária: I – a pequena e média propriedade rural, assim definida em lei,
desde que seu proprietário não possua outra; II – a propriedade produtiva”.
Como se pode perceber, a Lei Fundamental brasileira em vigor distinguiu
expressamente a função social entre as propriedades rurais das urbanas. 
Ficou condicionada ao cumprimento da função social da propriedade rural
ao atendimento de todos os critérios descritos nos incisos do Art. 186, que tratam de
questões como a produtividade eficiente, uso sustentável dos recursos naturais e
relações trabalhistas. 
A função social da propriedade urbana, por sua vez, está atrelada à
política de desenvolvimento urbano municipal. De acordo com a Lei nº 10.257 de 10
de julho de 2001, conhecida como Estatuto da Cidade, ela é cumprida quando
atende ao que é preestabelecido no plano diretor da cidade e na política urbana do
município.
O plano diretor se trata de uma lei municipal, elaborada pela Prefeitura e
aprovada pela Câmara de Vereadores que estabelece regras, parâmetros, incentivos
e instrumentos para o desenvolvimento da cidade. Ele pode estabelecer obrigações
e exigências aos privados, que podem, por exemplo, restringir os usos permitidos
para os terrenos ou imóveis.
34
3.4 A função social da propriedade e a função social posse
Surgiram duas principais teorias buscando definir o conceito de posse.
Para Savigny (apud MONTEIRO, 2013. p. 28), adepto da teoria subjetiva, “(...) posse
é o poder que tem a pessoa de dispor fisicamente de uma coisa, com intenção de tê-
la para si e de defendê-la contra a intervenção de outrem”. Ihering (apud
MONTEIRO, 2013. p. 29), por sua vez, é adepto da teoria objetiva, “(...) sustenta que
para constituir a posse basta o corpus, dispensando o animus” pois o corpus é o
único elemento visível suscetível de comprovação. 
O Código Civil de 2002, em seu Art. 1.196 afirma que: ”Considera-se
possuidor todo aquele que tem de fato o exercício, pleno ou não, de algum dos
poderes inerentes à propriedade. ”
Conforme visto, uma das características do direito de propriedade é a sua
elasticidade, a qual possibilita que os diferentes poderes atribuídos a esse direito
(usar, usufruir, dispor e reivindicar) possam ser distribuídos a pessoas distintas do
seu titular. Assim, o uso de um bem não se restringe ao proprietário, pois terceiros
podem ter a sua posse e, consequentemente, alguns direitos sobre ele.
Em consequência disso, a posse pode ser considerada de duas formas:
uma quando é atributo da propriedade, sendo o direito exercido pelo proprietário
como parte do jus proprietatis; e a outra é quando a jus possessionis é exercida de
forma independente ao direito de propriedade. Ou seja, quando o possuidor da coisa
não é o proprietário dela. (CAVALCANTE, 2014, p. 45)
A função social da posse exercida pelo proprietário está relacionada com
o uso responsável da coisa. Ou seja, é atinente às ações de um indivíduo titular do
domínio de um bem ao utilizá-lo de forma adequada às restrições legais e aos
parâmetros estabelecidos para o interesse coletivo. (CAVALCANTE, 2014, p. 45)
A função social da posse, na sua acepção independente do exercício do
jus proprietatis, não busca limitar o direito de posse, mas implica na exteriorização
do conteúdo possessório, de sua importância social, de sua autonomia e de seus
valores sociais que são a vida, a saúde, a moradia, a igualdade e a justiça. Ela
busca atender à dignidade da pessoa humana e emana do direito natural do homem
ao uso dos bens e à apropriação desses bens por meio da posse com o escopo de
35
atender à necessidade individual do possuidor e ao bem comum. (CAVALCANTE,
2014, passim)
(…) a função social é muito mais evidente na posse e muito menos evidente
na propriedade, que mesmo sem uso pode se manter como tal. A função
social da propriedade corresponde a limitações fixadas no interesse público
e tem por finalidade instituir um conceito dinâmico de propriedade em
substituição ao conceito estático, representando uma projeção da reação
anti-individualísta. O fundamento da função social da propriedade é eliminar
da propriedade privada o que há de eliminável. O fundamento da função
social da posse revela o imprescindível, uma expressão natural da
necessidade. (FACHIN, 1988, p. 19)
Apesar de a função social da posse não estar positivada no ordenamento
jurídico brasileiro, ela está presente nos princípios constitucionais, nos interesses da
sociedade e nas decisões dos Tribunais. (CAVALCANTE, 2014, p. 39)
 
3.5 O uso anormal da propriedade
O direito de propriedade, no ordenamento jurídico brasileiro, deixou de ser
absoluto e individualista e agora possui restrições no seu exercício para garantir a
realização de sua função social. Verifica-seainda que a Constituição brasileira
estabeleceu diferentes critérios para o atendimento da função social entre a
propriedade rural e privada, sendo esta atrelada à política de desenvolvimento
urbano municipal e aquela condicionada aos critérios descritos nos incisos do Art.
186 da Carta Magna. 
O uso anormal da propriedade está descrito no Código Civil no capítulo
que trata dos direitos de vizinhança. Estes objetivam restringir a propriedade para
conciliar o seu exercício por parte do proprietário confinante, tanto no meio rural
como no meio urbano. 
Com grande potencial para gerar conflitos, os vizinhos devem estabelecer
boas práticas de convivência agindo com solidariedade, boa fé e exercendo a sua
propriedade atendendo à sua função social. O que vale aqui é o princípio de que “o
nosso direito vai até onde começa o de nosso semelhante” (DINIZ, 2014, p. 307).
Explica Diniz(2014, p. 306) que:
36
Cumpre à norma jurídica, em face dessa realidade, limitar os domínios dos
proprietários de prédios contíguos, em favor da harmonia social, reduzindo
ao máximo as prováveis discórdias, impondo-lhes um sacrifício que precisa
ser suportado para que a convivência social seja possível e para que a
propriedade de cada um seja respeitada.
Gonçalves (2017, livro digital não paginado) afirma que: “Os direitos de
vizinhança são obrigações propter rem, porque vinculam os confinantes,
acompanhando a coisa”. Ou seja, por consequência dessa natureza, as obrigações
decorrentes do direito de vizinhança se transmitem aos sucessores a título particular,
isso é, aos novos ocupantes da propriedade. Vale ressaltar que, apesar da
colocação do autor, a expressão vizinhança não se restringe aos proprietários dos
imóveis confinantes, mas sim até onde o ato praticado no prédio se propague
causando prejuízos.
 O uso anormal da propriedade está relacionado com a intensidade do
seu exercício. Trata-se, portanto, de um problema complexo, pois o ato praticado
pelo vizinho, mesmo dentro do âmbito de seu direito, pode causar incômodos que
afetam os vizinhos.
Diniz (2014, p. 308) explica que o direito de vizinhança limita “(…) o direito
de propriedade quanto à intensidade de seu exercício em razão do princípio geral
que proíbe ao indivíduo, um comportamento que venha a exceder o uso normal de
um direito, causando prejuízo a alguém”.
Vale ressaltar que se houver um dano em decorrência de uma conduta
dolosa ou culposa do proprietário, não se tratará de direito de vizinhança, a
responsabilização, nesse caso, se dará, portanto, nos moldes do direito comum.
Caso o prejuízo ocorra em decorrência do exercício anormal de um
direito, além dos limites impostos à zona de garantia de cada um, o prejudicado terá
o direito de reagir contra o incômodo, pois todos devem respeitar o domínio
garantido de cada indivíduo. No entanto, se estiver, por exemplo, determinado no
regulamento de um condomínio a possibilidade de fazer barulho até as 22 h, o
morador desse condomínio que assistir a um filme com o volume alto, dentro dos
limites aceitáveis, até esse horário, exercerá um direito dentro dos limites normais,
mesmo diante do incômodo dos vizinhos. (DINIZ, 2014, p. 308)
Isso ocorre por conta do Art. 188, I do Código Civil que diz que: “não
37
constituem atos ilícitos: I – os praticados em legítima defesa ou no exercício regular
de um direito reconhecido”.
O uso anormal da propriedade é tratado do Art. 1.277 ao Art. 1281, do
aludido Código que assim regulamenta na letra da lei:
Art. 1.277. O proprietário ou o possuidor de um prédio tem o direito de fazer
cessar as interferências prejudiciais à segurança, ao sossego e à saúde dos
que o habitam, provocadas pela utilização de propriedade vizinha.
Parágrafo único. Proíbem-se as interferências considerando-se a natureza
da utilização, a localização do prédio, atendidas as normas que distribuem
as edificações em zonas, e os limites ordinários de tolerância dos
moradores da vizinhança.
Art. 1.278. O direito a que se refere o artigo antecedente não prevalece
quando as interferências forem justificadas por interesse público, caso em
que o proprietário ou o possuidor, causador delas, pagará ao vizinho
indenização cabal.
Art. 1.279. Ainda que por decisão judicial devam ser toleradas as
interferências, poderá o vizinho exigir a sua redução, ou eliminação, quando
estas se tornarem possíveis.
Art. 1.280. O proprietário ou o possuidor tem direito a exigir do dono do
prédio vizinho a demolição, ou a reparação deste, quando ameace ruína,
bem como que lhe preste caução pelo dano iminente.
Art. 1.281. O proprietário ou o possuidor de um prédio, em que alguém
tenha direito de fazer obras, pode, no caso de dano iminente, exigir do autor
delas as necessárias garantias contra o prejuízo eventual.
A partir dos dispositivos acima descrito, pode-se conceituar o uso anormal
da propriedade imóvel como sendo aquele que causam interferências prejudiciais à
segurança, ao sossego e à saúde dos que habitam as propriedades vizinhas,
ofendendo-se, assim, a função social dessa propriedade. 
É Possível observar que o legislador buscou contemplar tanto o
proprietário como o possuidor de um imóvel com o direito de fazer cessar as
interferências do uso anormal de uma propriedade adjacente, o que condiz
perfeitamente com o que preceitua a função social da posse.
No Código Civil de 1916 no seu Art. 554, o uso anormal da propriedade já
era reconhecido. Na letra daquela Lei: “’O proprietário, ou inquilino de um prédio tem
o direito de impedir que o mau uso da propriedade vizinha possa prejudicar a
segurança, o sossego e a saúde dos que o habitam”. Como podemos perceber, o
referido artigo era o equivalente ao Art. 1.277 do atual Código Civil.
38
Monteiro (2013, p. 167) conceitua ofensas à segurança pessoal, ou dos
bens, como sendo “todos os atos que possam comprometer a estabilidade e a
solidez do prédio, bem como a incolumidade de seus habitantes”. Como exemplos: a
instalação de indústrias perigosas, como a de explosivos e inflamáveis; o
funcionamento de indústria que provoquem trepidações excessivas, capazes de
produzir fendas no prédio; armazenamento de mercadorias excessivamente
pesadas, acarretando o recalque do terreno; as escavações muito profundas; a
existência de árvores de grande porte, que ameaçam tombar na propriedade vizinha;
edifício que ameaça ruína; etc.
A respeito da ofensa à segurança, há o seguinte julgado:
COMPETÊNCIA RECURSAL. DIREITO DE VIZINHANÇA. USO ANORMAL
DA PROPRIEDADE. A agravante, na petição inicial, pretende a condenação
do agravado à obrigação de fazer atinente ao reparo de seu imóvel. Teria o
agravado, proprietário de imóvel vizinho, promovido demolição, que causou
ao imóvel da agravante "rachaduras, infiltrações" e danos ao telhado. O Art.
50, inc. III. 4, da Resolução n° 623/2013, atribuiu às Câmaras de Direito
Privado, numeradas de 25 a 36, a competência para julgamento de "ações
relativas a direito de vizinhança e uso nocivo da propriedade, inclusive as
que tenham por objeto o cumprimento de leis e posturas municipais quanto
ao plantio de árvores, construção e conservação de tapumes e paredes
divisórias". Remessa dos autos determinada. Recurso não conhecido.
(TJ-SP - AI: 20411625320148260000 SP 204116253.2014.8.26.0000.
Relator: Carlos Alberto Garbi. Data de Julgamento: 01/04/2014,10ª Câmara
de Direito Privado, Data de Publicação: 03/04/2014)
 
 
Monteiro (2013, p. 167) conceitua ofensas ao sossego como “ruídos
exagerados que perturbam ou molestam a tranquilidade dos moradores”. Por
exemplo: gritarias e desordens; diversões espalhafatosas; bailes perturbadores;
atividade de discoteca ou danceterias; barulho ensurdecedor da indústria vizinha;
empregode alto-falante de grande potência nas proximidades de casas residenciais
para transmissões de programas radiofônico ou televisivos; instalação de aparelhos
de ar-condicionado ruidosos; móveis arrastando durante a madrugada; badaladas de
sinos de uma paróquia que ultrapassem em 6 decibéis o limite estabelecido para
áreas residenciais (50 decibéis); animais de estimação que fazem muito ruído;
barulhos excessivos causados por cultos religiosos. Sobre o assunto, Diniz (2014, p.
310) complementa que “todos temos direito ao sossego, sobretudo nas horas de
39
repouso noturno, devido à grande influência nefasta do barulho nas gêneses das
doenças nervosas”.
A respeito da ofensa ao sossego, há o seguinte julgado:
CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. APELAÇÃO CÍVEL. PREPARO
EXTEMPORÂNEO. RECOLHIMENTO EM DOBRO. CONDOMÍNIO
EDILÍCIO. USO ANORMAL DA PROPRIEDADE. PERTURBAÇÃO AO
SOSSEGO. DANOS MORAIS.
1. O recorrente que recolhe o preparo extemporaneamente deve ser
intimado para fazê-lo em dobro, sob pena de deserção, nos termos do Art.
1007, § 40, do Código de Processo Civil.
2. Os barulhos excessivos e em horários inoportunos suportados por
condômino ensejam a fixação de verba indenizatória a título de danos
morais de forma razoável e proporcional.
3. Apelo do réu não conhecido. Recurso da autora desprovido.
(TJ-DF 20160111183334 DF 0034075-37.2016.8.07.0001, Relator: MARIO-
ZAM BELMIRO, Data de Julgamento: 12/04/2018, 8ª TURMA CÍVEL. Data
de Publicação: Publicado no DJE: 19/04/2018. Pág.: 586/592) 
 
 Por fim, as ofensas à saúde são aquelas com o potencial de ocasionar
doenças aos vizinhos, por exemplo: a poluição de águas pelo lançamento de
resíduos; funcionamento de estábulos ou matadouros; emissão de gases tóxicos e
de fumaça ou fuligem; criação de animais que exalem mau cheiro e o escoamento
de suas fezes no prédio inferior; a presença de substâncias putrescíveis ou de
águas estagnadas; a descarga de esgoto sobre o outro prédio;
DIREITO DE VIZINHANÇA – OBRIGAÇÃO DE FAZER – TERRENO
BALDIO SEM CERCAMENTO – ACÚMULO DE ENTULHO E LIXO – USO
ANORMAL DA PROPRIEDADE CARACTERIZADO – CUMPRIMENTO DA
MEDIDA LIMINAR – FECHAMENTO DO TERRENO QUE, ENTRETANTO,
NÃO OBSERVOU A LEGISLAÇÃO MUNICIPAL PERTINENTE –
PROCEDÊNCIA DO PEDIDO MANTIDA – Demonstrado nos autos o uso
anormal da propriedade pelo requerido, consubstanciado na manutenção de
terreno baldio sem o necessário fechamento, possibilitando o acúmulo de
entulho e lixo no local, de rigor é a procedência do pedido cominatório,
mesmo porque o “cercamento” do terreno, procedido pelo réu em
cumprimento à determinação judicial liminar, não observou os ditames da
legislação municipal pertinente – Apelo improvido.
(TJ-SP – APL: 992070278104 SP. Relator: José Malerbi, Data de
Julgamento: 29/11/2010, 35ª Câmara de Direito Privado, Data de
Publicação: 09/12/2010)
40
Observa-se, portanto, que a jurisprudência reconhece os limites do uso da
propriedade em observância à sua função social, privilegiando o interesse da
coletividade.
3.5.1 Critérios para verificar a normalidade da utilização de um imóvel
Como critérios de análise da utilização de um imóvel com relação à sua
normalidade, verifica-se: a extensão do dano ou incômodo causado; a zona onde
ocorre o conflito, bem como os usos e costumes locais e a anterioridade da posse. 
Se o dano for considerado tolerável, não é necessário reprimi-lo. Certos
incômodos são naturalmente impostos à sociedade que deve suportá-los até o limite
do razoável e do tolerável. Além disso, não se pode atribuir os mesmos padrões de
normalidade de um bairro residencial às de um bairro industrial. (GONÇALVES,
2017, livro digital não paginado)
De acordo com o princípio da pré-ocupação, aquele que primeiramente se
instala em determinado local estabelece a sua destinação, portanto, não pode
reclamar quem resolveu construir sua residência em local barulhento e perigoso. No
entanto, essa teoria não é aceita em todos os casos, se o barulho for exagerado ou
proibido por lei, o proprietário não pode usar o princípio da pré-ocupação para
continuar incomodando o próximo. (GONÇALVES, 2017, livro digital não paginado)
3.5.2 Soluções para a composição de conflitos
A doutrina e a jurisprudência estabelecem algumas propostas para a
solução de conflitos atinentes ao uso nocivo de propriedades vizinhas.
Não há conflito se o incômodo for considerado normal ou tolerável, desse
modo, não há motivos para reprimir um ato que não acarrete em um prejuízo
insuportável a um homem mediano. (GONÇALVES, 2017, livro digital não paginado)
Se o dano for intolerável, ele deve ser, primeiramente, reduzido às
proporções aceitáveis, caso não seja possível fazer essa mitigação, a atividade
deverá ser cessada. 
Não se pode determinar, no entanto, a cessação da atividade se a
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causadora da perturbação exercer essa prática por conta de interesse social, mas
pode ser determinada a imposição do causador do dano à obrigação de indenizar o
vizinho. Nesse caso, há um conflito entre os interesses público e privado, quando
isso ocorre, o interesse público deve prevalecer, sacrificando-se o interesse privado
em seu favor. (GONÇALVES, 2017, livro digital não paginado)
3.5.3 Ação de Dano Infecto
A ação de dano infecto pode ser ajuizada diante de fundada preocupação
de dano iminente por conta de desabamento de prédio adjacente ou de problemas
estruturais. Assim, possui o caráter preventivo e cominatório, como o interdito
proibitório. Fundamenta-se nos arts. 1277 e 1.280 do Código Civil. (GONÇALVES,
2017, livro digital não paginado)
Gonçalves (2017, livro digital não paginado) explica que na ação de dano
infecto: 
A legitimidade ativa é do proprietário ou possuidor. Sujeito passivo é dono
do prédio vizinho que provoca a interferência prejudicial. O pedido consistirá
em proibi-la, podendo a pena consistir na demolição, na interdição ou
mesmo na indenização.
A ação estudada também é admitida nos casos de mau uso da
propriedade vizinha, com interferências no sossego, na segurança e na saúde do
proprietário ou inquilino de um prédio. 
Se já ocorreu o dano, não restando mais atos com interferências nocivas,
cabe ação indenizatória. Para isso, o vizinho atingido deve provar efetivamente a
lesão que sofreu ou o que deixou de ganhar. Se o ato persistir, a ação é para obrigar
o autor dessa nocividade a fazer ou não fazer, com cominação de multa diária,
também chamada de astreinte. (VENOSA, 2013,p. 292)
42
3.6 O estatuto da cidade como norma reguladora do planejamento urbano
municipal
O adensamento populacional das cidades, se não ocorrer com
planejamento prévio e com a devida organização, pode acarretar em diversos
transtornos estruturais e provocar diversos conflitos nas relações pessoais dos seus
habitantes, sobretudo nas questões relacionadas ao direito de vizinhança. Assim,
para que o crescimento das cidades brasileiras aconteça de forma planejada e
organizada, o ordenamento jurídico pátrio dispõe de algumas normas.
A Constituição Federal impõe, no caput do artigo 182, que a
Administração Pública municipal deve executar a política de desenvolvimento
urbano para ordenar o desenvolvimento das funções sociais da cidade e garantir o
bem-estar de seus habitantes. 
Essa política de desenvolvimento urbano deve ser executada conforme a
Lei nº 10.257 de 10 de julho 2001, também conhecida como Estatuto da Cidade, que
regulamenta os arts. 182 e 183 da Lei Maior.
O Art. 1º do Estatuto da Cidade, aduz no seu parágrafo primeiro que:
Art. 1º – Para todos os efeitos, esta Lei, denominada Estatuto da Cidade,
estabelece normas de ordem pública e interesse social que regulam o uso
da propriedade urbana em prol do bem coletivo, da segurança e

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