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André Lissner Planejamento e Administração Tributária Planejamento e administração tributária IESDE 2019 André Lissner © 2019 – IESDE BRASIL S/A. É proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo, sem autorização por escrito do autor e do detentor dos direitos autorais. Capa: IESDE BRASIL S/A. Imagem da capa: Marian Weyo/Shutterstock Todos os direitos reservados. IESDE BRASIL S/A. Al. Dr. Carlos de Carvalho, 1.482. CEP: 80730-200 Batel Curitiba PR 0800 708 88 88 www.iesde.com.br CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ L754p Lissner, André Planejamento e administração tributária / André Lissner. - 1. ed. - Curitiba [PR]: IESDE Brasil, 2019. 170 p. : il. Inclui bibliograa ISBN 978-85-387-6529-5 1. Direito tributário - Brasil. 2. Administração e processo tributário. 3. Planejamento tributário - Brasil. I. Título 19-59922 CDU: 34:351.713(81) André Lissner Pós-graduado em Tutoria em Educação a Distância pela Faculdade de Educação São Luís. Graduado em Administração pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Atuou como CFO e CEO em diversas organizações. Atualmente é CFO de um grande grupo farmacêutico, além de consultor empresarial e empreendedor. Sumário Apresentação 7 1. Introdução ao sistema tributário 11 1.1 Sistema tributário 12 1.2 Espécies tributárias 15 1.3 Entes envolvidos no sistema tributário 17 1.4 Tratamento constitucional 25 1.5 Competências tributárias 29 2. Sistema Tributário Nacional 33 2.1 Contextualizando sistemas tributários 33 2.2 Entendendo o modelo tributário nacional 35 2.3 Conhecendo as espécies tributárias 39 3. Planejamento fiscal e tributário 61 3.1 Planejamento fiscal 61 3.2 Elisão fiscal e evasão fiscal 74 3.3 Limites e principais penalidades 77 4. Obrigações tributárias 83 4.1 Principais obrigações federais e estaduais 83 4.2 O Sped e suas principais divisões 104 5. Incentivos fiscais 115 5.1 Imunidade e isenção 115 5.2 O Estado brasileiro e a guerra fiscal 117 5.3 Guerra fiscal e desenvolvimento regional desigual 122 5.4 Reforma tributária 124 6. Reflexões sobre o Brasil tributário 139 6.1 Reflexões gerais 139 6.2 Considerações sobre investidores financeiros 142 6.3 Função social do tributo 146 6.4 Imposto sobre Bens e Serviços 152 6.5 Reforma tributária e a PEC 45/2019 154 Gabarito 163 Apresentação O Sistema Tributário Nacional (STN) é de extrema relevância para qualquer cidadão. Vemos nos noticiários que a carga tributária do Brasil inviabiliza novos investimentos e que a burocracia desse sistema assusta investidores estrangeiros e locais. Nossas vidas particulares e profissionais estão diretamente interligadas a esse assunto, e muito do alto custo dos produtos no Brasil está relacionado à carga tributária. Se formos trabalhar em qualquer empresa, como funcionário ou como empreendedor, precisamos entender o funcionamento básico do STN para podermos tomar decisões corretas que nos ajudem a prosperar. Esta obra foi organizada partindo desse entendimento e visa, por meio de uma linguagem simples e direta, explicar esse mundo à parte que é o STN. Longe de nos aprofundar nas tecnicidades e fazer longas discussões teóricas, temos o objetivo de proporcionar uma leitura agradável, que consiga dar um bom embasamento sobre a estrutura básica do STN. A obra está dividida em seis capítulos que se conversam. No Capítulo 1 conceituamos tributos e apresentamos seus principais objetivos e termos básicos, necessários ao entendimento da obra. Esse capítulo trata do sistema tributário em si, de espécies tributárias, entes envolvidos, tratamentos constitucionais e competências tributárias. No Capítulo 2, buscamos aprofundar um pouco mais a estrutura básica de tributação no Brasil. Buscamos, nesse capítulo, a compreensão da diferença entre impostos, taxas e contribuições, bem como os motivos históricos que levaram o Brasil à atual estrutura tributária. Conhecer o histórico sempre é importante para entender onde estamos e para onde deveremos ir. Avançando um capítulo e mergulhando mais nessa jornada que é entender o STN, tratamos, no Capítulo 3, de planejamento fiscal e tributário, tema tão importante e tão temido por diversos profissionais. Importante porque a carga tributária incidente no Brasil é uma das maiores do mundo; temido devido à estrutura do nosso STN, que não é 100% clara. Muitas vezes, a diferença entre um correto planejamento e a sonegação é muito tênue, trazendo, assim, uma série de riscos. Pela complexidade do nosso STN, com normas, regras e diversas obrigações acessórias, focamos, no Capítulo 4, nas principais obrigações que as organizações possuem e que fazem parte de qualquer empresa. São aproximadamente 170 obrigações acessórias, mas focamos apenas nas mais comuns, federais e estaduais. Entender melhor os Speds e discutir um pouco as dinâmicas tributárias no Brasil são os objetivos desse capítulo. No Capítulo 5, buscamos compreender a chamada guerra fiscal e seus efeitos para o país como um todo. Além disso, começamos a tratar da reforma tributária. Finalmente, no Capítulo 6, fazemos uma reflexão final sobre as oportunidades e os riscos tributários no Brasil. Entramos em alguns conceitos econômicos para tratar sobre investidores e discorremos mais sobre a função social dos tributos, bem como sobre algumas alternativas de reforma tributária. Com todo esse conhecimento, você vai, seguramente, entender melhor o dia a dia de nossas empresas e do Brasil. Bons estudos! 1 Introdução ao sistema tributário Quando pensamos em sistema tributário, logo imaginamos regras complexas e muito controle, além de um governo que busca cada vez mais arrecadações. Porém, se pensarmos historicamente, desde quando temos registros da humanidade vivendo em sociedade, já temos diversas formas de tributação, tanto obrigatórias como voluntárias. Estudos mostram que, desde os primeiros passos da humanidade, era comum o homem dar presentes a seus protetores. Dessa forma, aqueles que eram mais fortes eram agraciados com tributos, como forma de serem pagos por sua proteção e por concederem aos outros o direito de viver em sociedade com eles. Conforme as sociedades foram crescendo e os primeiros feudos se formaram, a cobrança de tributos foi inevitável, pois existiam benfeitorias comuns a serem feitas e, para realizá-las, era necessário ter riquezas que as financiassem. A certeza é de que, independentemente de formato, política, regime governamental ou outros fatores, a tributação é algo essencial para a vida em sociedade. Cabe a cada ente arrecadador transformar essa necessidade em políticas inteligentes, utilizar esses recursos da melhor forma possível e facilitar ao máximo a apuração e o recolhimento destes. Neste capítulo, iremos explicar o histórico tributário brasileiro e exibir um panorama geral da estrutura atual do Sistema Tributário Nacional. Essa compreensão irá permitir avaliações mais profundas das questões tributárias, mesmo que não sejamos especialistas nelas. 12 Planejamento e administração tributária 1.1 Sistema tributário A descoberta arqueológica mais antiga de que temos notícia sobre a formalização de tributos e sua cobrança é uma placa datada do ano de 2350 a.C., descoberta em Lagash, na antiga Suméria, que relata tributações, confiscos e exploração de funcionários naquele local (COÊLHO, 2003). Na época dos romanos, a cobrança de impostos e taxas se profissionalizou e o Estado passou a ser mais estruturado na execução dessas cobranças que serviam para financiar todo o funcionamento da máquina governamental e as guerras. Também os nobres passaram cada vez mais a se dedicarem à gestão da sociedade em troca de serem sustentados pela máquina governamental. Ou seja, a história nos mostra que, para uma sociedade existir, a cobrança de tributos tem de existir também. Dos sumérios (primeiro sistema tributário escritoconhecido) ao Brasil de hoje, sempre houve um sistema tributário; civilizações conquistadas, exploradores, religiões, dominadores, capitalistas, socialistas etc. sempre tiveram suas formas de cobrança de impostos e taxas, para prover o estado ou sua sociedade dominante. Hoje, no Brasil, temos um sistema tributário extremamente complexo e intrincado, com milhares de regras que mudam constantemente. Por isso, todos os brasileiros devem no mínimo conhecer as bases dessa estrutura, pois todos somos afetados pelos tributos, seja no preço do que compramos ou vendemos, seja em nossas rendas. Os índios com certeza tinham alguma forma tributária, provavelmente por meio de serviços, caças, colheitas para toda a tribo, mas os maiores registros que temos da história de tributação brasileira são a partir da dominação portuguesa. Enquanto a corte portuguesa não estava no Brasil, éramos tributados por extrativismo e construções demandadas por Portugal; foi nesse Vídeo Introdução ao sistema tributário 13 período que mais se extraiu pau-brasil, ouro e outros elementos das nossas terras. Também com o passar do tempo, como aponta Balthazar (2005), a Coroa portuguesa passou a exigir a coleta de produtos que deveriam ser enviados a Portugal. Relatos mostram que, embora não houvesse leis específicas sobre as coletas, seus responsáveis deveriam suprir as demandas da Coroa e tinham diversos poderes para efetuar as cobranças. Com a vinda da Coroa ao Brasil, iniciou-se a formalização de regras e leis, mas estas focavam basicamente em suprir a corte e eram alteradas conforme as demandas dos governantes. Em 1834, o Brasil começou oficialmente a ter uma estrutura tributária, a partir da decretação de atos, por parte da Coroa portuguesa, que visavam criar regras a esse respeito (BALTHAZAR, 2005). Na Constituição de 1946, o Brasil passou a considerar mais fortemente aspectos da economia além das atividades primárias, passando a legislar também para atividades industriais e urbanas. Com essas mudanças conceituais sobre a base econômica do país e com o federalismo se fortificando, essa Constituição começou a delegar competências arrecadatórias. A partir desse novo arcabouço legal, em 1965 foi feita uma reforma tributária no Brasil (Emenda Constitucional n. 18/1965), a qual buscava basicamente a redução da carga tributária incidente, bem como a criação de um melhor formato de repartição do montante arrecadatório, de forma a privilegiar mais estados e municípios. Nessa reforma, passou-se a vincular os fatos geradores de tributação a acontecimentos econômicos, e não mais a fatos jurídicos, como era feito antes. Essa base de motivação econômica é importantíssima até hoje, visto que, em muitos julgamentos sobre economias fiscais (falaremos disso mais adiante), questiona- se se o fato gerador da economia se deu apenas como uma forma 14 Planejamento e administração tributária de redução tributária ou se existe um conceito econômico que justifique uma determinada ação. Em 1967 foi feita mais uma alteração constitucional, que visava sistematizar a tributação no Brasil e que culminou na criação do Sistema Tributário Nacional (STN) como o conhecemos. Com a criação do STN, o Brasil começou a estabelecer normas que também focam os direitos e as garantias do cidadão. A última grande reforma constitucional até o presente momento, que alterou bastante a tributação no Brasil, foi a da Constituição de 1988, uma reforma participativa e que reformulou muito o STN existente à época. Novamente foi alterada a distribuição dos tributos, alocando-se ainda mais recursos para os estados e municípios, inclusive com a criação do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), unificação de dois tributos federais, que passou a ser arrecadado diretamente pelos estados (BRASIL, 1988). Com o crescimento do Brasil, a criação de novos estados e municípios e o estabelecimento de benefícios sociais, a necessidade de recursos para sustentar essa estrutura foi crescendo e novas estruturas tributárias foram sendo criadas dentro do STN. Dessa forma, podemos dizer que o STN nada mais é do que um conjunto de regras e leis que rege impositivamente as obrigações e os deveres dos entes envolvidos (órgãos públicos e contribuintes), de forma a gerar, definir e relacionar tudo o que disciplina o recolhimento e a utilização de recursos para o funcionamento do país. Para compreender melhor o STN, no entanto, primeiro temos de conhecer a definição de tributo. Por isso, na próxima seção, entenderemos melhor o que é tributo e quais são as espécies que o compõem. Introdução ao sistema tributário 15 1.2 Espécies tributárias De acordo com o artigo 3º do Código Tributário Nacional, “tributo é toda prestação pecuniária compulsória, em moeda ou cujo valor nela se possa exprimir, que não constitua sanção de ato ilícito, instituída em lei e cobrada mediante atividade administrativa plenamente vinculada” (BRASIL, 1966). Embora existam diversas discussões a respeito de quantas são as espécies tributárias do Brasil, o mais aceito é que elas são cinco, a saber: • Impostos; • Taxas; • Contribuições de melhoria; • Empréstimos compulsórios; • Contribuições especiais. Segundo o artigo 16 do Código Tributário Nacional (CTN), “imposto é o tributo cuja obrigação tem por fato gerador uma situação independente de qualquer atividade estatal específica, relativa ao contribuinte” (BRASIL, 1966, grifo nosso). Isso significa que não existe necessariamente uma prestação de serviço do governo para que ele possa cobrar impostos. No entanto, ao prestar algum serviço específico ao contribuinte, o Estado pode tributá-lo em função da prestação continuada desse serviço. Assim, até mesmo a simples disponibilização de um serviço ao cidadão, mesmo que não seja utilizado por ele, pode ser cobrada por meio de uma taxa, desde que sejam realizados os devidos trâmites. As obras públicas que valorizem o imóvel do contribuinte, por sua vez, podem ser reembolsadas ao órgão público por meio da contribuição de melhoria. Esse reembolso é limitado ao gasto total Vídeo 16 Planejamento e administração tributária da obra e ao aumento de valor imobiliário do contribuinte – o que for menor entre os dois. Para casos específicos, a União está autorizada a obter empréstimo compulsório do cidadão. A lei é bastante específica a esse respeito: Art. 15. Somente a União, nos seguintes casos excepcionais, pode instituir empréstimos compulsórios: I - guerra externa, ou sua iminência; II - calamidade pública que exija auxílio federal impossível de atender com os recursos orçamentários disponíveis; III - conjuntura que exija a absorção temporária de poder aquisitivo. Parágrafo único. A lei fixará obrigatoriamente o prazo do empréstimo e as condições de seu resgate, observando, no que for aplicável, o disposto nesta Lei. (BRASIL, 1966) Esses prazos e condições para a devolução ao cidadão nem sempre são cumpridos pelo governo, ainda que sejam determinados por lei. Por sua vez, a contribuição especial não é um imposto nem uma taxa, é uma tributação que se encontra nesse limbo, mas que tem o objetivo de financiar atividades específicas do governo. O artigo 149 da Constituição Federal estabelece que “compete exclusivamente à União instituir contribuições sociais, de intervenção no domínio econômico e de interesse das categorias profissionais ou econômicas” (BRASIL, 1988). Todavia, o parágrafo 1º do artigo 149 e o artigo 149-A preveem contribuições sociais cuja instituição compete aos estados, ao Distrito Federal e aos municípios. Essas espécies tributárias apresentadas podem ser diretas ou indiretas, progressivas ou regressivas. As diretas são toda tributação que é paga pelo próprio devedor, ou seja, aquelas em que quem recolhe o valor é quem efetivamente gerou o tributo, como no caso Introdução ao sistema tributário 17 do Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores (IPVA), quedeve ser recolhido pelo proprietário do veículo. As espécies indiretas, por sua vez, não são necessariamente recolhidas pelo devedor do imposto, visto que são tributos que normalmente estão embutidos no preço. Assim, o contribuinte que o recolhe está recolhendo pela cadeia econômica do processo, podendo inclusive antecipar esse imposto por meio de uma presunção de venda, como no caso do ICMS, em que o comerciante recolhe para o estado, mas o custo está embutido no preço pago pelo cliente final. Os impostos que possuem alíquotas diferentes para situações econômicas diferentes são as espécies tributárias denominadas progressivas, e suas alíquotas podem subir conforme indicadores específicos. Um exemplo dessa espécie é o Imposto de Renda Pessoa Física (IRPF), que aumenta a alíquota conforme a faixa salarial do contribuinte. Por fim, existem as espécies denominadas regressivas, que são impostos cobrados dos contribuintes com a mesma alíquota, independentemente de qualquer situação social ou econômica. O ICMS é também um exemplo de tributação regressiva, já que sua alíquota não muda, não importam as particularidades do comprador. 1.3 Entes envolvidos no sistema tributário Agora que já sabemos quais são as espécies tributárias nacionais, precisamos nos aprofundar um pouco mais e entender os entes envolvidos no STN. Os entes tributantes no Brasil são a União, os estados, os municípios e o Distrito Federal. Cada uma das espécies tributárias deve estar vinculada a um ou mais entes. Vídeo 18 Planejamento e administração tributária O Imposto de Importação (II), o Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) e o IRPF, por exemplo, são vinculados à União. Já o ICMS e o Imposto sobre Transmissão Causa Mortis e Doação (ITCMD), por exemplo, são vinculados aos estados e ao Distrito Federal. E como exemplo de impostos vinculados aos municípios temos o Imposto sobre Serviços (ISS) e o Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU). Essa vinculação direta das espécies tributárias a seus entes e o destino obrigatório de despesas são a base do STN como o conhecemos hoje. Por isso, muito antes de se pensar em reduzir a carga tributária no Brasil, devemos pensar em simplificar a estrutura que se criou com o passar do tempo e que gerou os 94 impostos, taxas e contribuições brasileiros, com milhares e milhares de regras que mudam diariamente. Hoje, a estrutura brasileira é tão complexa que sequer olhamos para muitos dos tributos existentes como os tributos que são. Temos 94 tributos que se dividem entre impostos, taxas e contribuições. Vejamos a seguir quais são. Segundo o artigo 16 do CTN: “Imposto é o tributo cuja obrigação tem por fato gerador uma situação independente de qualquer atividade estatal específica, relativa ao contribuinte” (BRASIL, 1966). São eles: • Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS); • Imposto de Exportação (IE); • Imposto de Importação (II); • Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores (IPVA); • Imposto sobre a Propriedade Predial e Territorial Urbana (IPTU); • Imposto sobre a Propriedade Territorial Rural (ITR); • Imposto de Renda (IR) – pessoa física e jurídica; • Imposto sobre Operações de Crédito (IOF); Introdução ao sistema tributário 19 • Imposto sobre Serviços de Qualquer Natureza (ISSQN); • Imposto sobre Transmissão de Bens Intervivos (ITBI); • Imposto sobre Transmissão Causa Mortis e Doação (ITCMD) • INSS – autônomos e empresários; • INSS – empregados; • INSS patronal (sobre a folha de pagamento e sobre a receita bruta – substitutiva); • Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI); • Programa de Integração Social (PIS) e Programa de Formação do Patrimônio do Servidor Público (Pasep). Cobradas pela União, pelos estados, pelo Distrito Federal ou pelos municípios, as taxas “têm como fato gerador o exercício regular do poder de polícia, ou a utilização, efetiva ou potencial, de serviço público específico e divisível, prestado ao contribuinte ou posto à sua disposição” (BRASIL, 1966). São elas: • Taxa de Autorização do Trabalho Estrangeiro; • Taxa de Avaliação in loco das Instituições de Educação e Cursos de Graduação (Lei n. 10.870/2004); • Taxa de Avaliação da Conformidade (Lei n. 12.545/2011); • Taxa de Classificação, Inspeção e Fiscalização de produtos animais e vegetais ou de consumo nas atividades agropecuárias (Decreto-Lei n. 1.899/1981); • Taxa de Coleta de Lixo; • Taxa de Combate a Incêndios; • Taxa de Conservação e Limpeza Pública; • Taxa de Controle Administrativo de Incentivos Fiscais – TCIF (Lei n. 13.451/2017); • Taxa de Controle e Fiscalização Ambiental – TCFA (Lei n. 10.165/2000); 20 Planejamento e administração tributária • Taxa de Controle e Fiscalização de Produtos Químicos (Lei n. 10.357/2001); • Taxa de Emissão de Documentos (níveis municipais, estaduais e federais); • Taxa de Fiscalização da Aviação Civil – TFAC (Lei n. 11.292/2006); • Taxa de Fiscalização da Agência Nacional de Águas – ANA (MP n. 437/2008); • Taxa de Fiscalização da Comissão de Valores Mobiliários (Lei n. 7.940/1989); • Taxa de Fiscalização de Sorteios, Brindes ou Concursos (MP 2.158-35/2001); • Taxa de Fiscalização de Vigilância Sanitária (Lei n. 9.782/1999); • Taxa de Fiscalização dos Produtos Controlados pelo Exército Brasileiro – TFPC (Lei n. 10.834/2003); • Taxa de Fiscalização dos Mercados de Seguro e Resseguro, de Capitalização e de Previdência Complementar Aberta (Lei n. 12.249/2010); • Taxa de Fiscalização e Controle da Previdência Complementar (TAFIC) – Entidades Fechadas de Previdência Complementar (Lei n. 12.154/2009); • Taxa de Licenciamento Anual de Veículo (Lei n. 9.503/1997); • Taxa de Licenciamento, Controle e Fiscalização de Materiais Nucleares e Radioativos e suas instalações (Lei n. 9.765/1998); • Taxa de Licenciamento para Funcionamento e Alvará Municipal; • Taxa de Pesquisa Mineral – DNPM (Portaria Ministerial n. 503/1999); Introdução ao sistema tributário 21 • Taxa de Serviços (TS) – Zona Franca de Manaus (Lei n. 13.451/2017); • Taxa de Serviços Metrológicos (Lei n. 9.933/1999); • Taxa de Utilização de Selo de Controle (Lei n. 12.995/2014); • Taxas ao Conselho Nacional de Petróleo (CNP); • Taxa de Outorga e Fiscalização – Energia Elétrica (Lei n. 9.427/1996); • Taxa de Outorga – Rádios Comunitárias (Lei n. 9.612/1998 e Decreto n. 2.615/1998); • Taxa de Outorga – Serviços de Transportes Terrestres e Aquaviários (Lei n. 10.233/2001); • Taxas de Saúde Suplementar – ANS (Lei n. 9.961/2000); • Taxa de Utilização do Siscomex (Instrução Normativa n. 680/2006); • Taxa de Utilização do Mercante (Decreto n. 5.324/2004); • Taxas do Registro do Comércio (juntas comerciais); • Taxas Judiciárias; • Taxas Processuais do Conselho Administrativo de Defesa Econômica – CADE (Lei n. 12.529/2011). Segundo o artigo 5° do CTN (BRASIL, 1966), as contribuições são divididas entre Contribuições Especiais e Contribuições de Melhoria. Estas viriam a fazer frente à elevação do custo com obras públicas em decorrência da valorização imobiliária. Dentre os exemplos de contribuições de melhoria temos asfalto, calçamento, esgoto, rede de água, rede de esgoto etc. Outras contribuições são: • Contribuição à Direção de Portos e Costas – DPC (Lei n. 5.461/1968); • Contribuição à Comissão Coordenadora da Criação do Cavalo Nacional – CCCCN (Lei n. 7.291/1984); 22 Planejamento e administração tributária • Contribuição ao Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico – FNDCT (Lei n. 10.168/2000); • Contribuição ao Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), também chamado salário- -educação (Decreto n. 6.003/2006); • Contribuição ao Funrural (Lei n. 8.540/1992); • Contribuição ao Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária – Incra (Lei n. 2.613/1955); • Contribuição ao Seguro Acidente de Trabalho (SAT), atualmente com a denominação de Contribuição do Grau de Incidência de Incapacidade Laborativadecorrente dos Riscos Ambientais do Trabalho (GIIL-RAT); • Contribuição ao Serviço Brasileiro de Apoio à Pequena Empresa – Sebrae (Lei n. 8.029/1990); • Contribuição ao Serviço Nacional de Aprendizado Comercial – SENAC (Decreto-Lei n. 8.621/1946); • Contribuição ao Serviço Nacional de Aprendizado dos Transportes – SENAT (Lei n. 8.706/1993); • Contribuição ao Serviço Nacional de Aprendizado Industrial – SENAI (Lei n. 4.048/1942); • Contribuição ao Serviço Nacional de Aprendizado Rural – SENAR (Lei n. 8.315/1991); • Contribuição ao Serviço Social da Indústria – SESI (Lei n. 9.403/1946); • Contribuição ao Serviço Social do Comércio – SESC (Lei n. 9.853/1946); • Contribuição ao Serviço Social do Cooperativismo – SESCOOP (MP n. 1.715-2/1998); • Contribuição ao Serviço Social dos Transportes – SEST (Lei n. 8.706/1993); Introdução ao sistema tributário 23 • Contribuição Confederativa Laboral (dos empregados); • Contribuição Confederativa Patronal (das empresas); • Contribuição de Intervenção do Domínio Econômico – CIDE Combustíveis (Lei n. 10.336/2001); • Contribuição de Intervenção do Domínio Econômico – CIDE Remessas Exterior (Lei n. 10.168/2000); • Contribuição para a Assistência Social e Educacional aos Atletas Profissionais – FAAP (Decreto n. 6.297/2007); • Contribuição para Custeio do Serviço de Iluminação Pública (Emenda Constitucional n. 39/2002); • Contribuição para o Desenvolvimento da Indústria Cinematográfica Nacional – CONDECINE (MP n. 2.228- 1/2001 e Lei n. 10.454/2002); • Contribuição para o Fomento da Radiodifusão Pública (Lei n. 11.652/2008); • Contribuição Previdenciária sobre a Receita Bruta – CPRB (Lei n. 12.546/2011); • Contribuição Sindical Laboral (não se confunde com a Contribuição Confederativa Laboral); • Contribuição Sindical Patronal; • Contribuição Social Adicional para Reposição das Perdas Inflacionárias do FGTS (Lei Complementar n. 110/2001); • Contribuição Social sobre o Lucro Líquido – CSLL; • Contribuições aos Órgãos de Fiscalização Profissional (OAB, CRC, CREA, CRECI, CORE etc.). Dentre as Contribuições Especiais, temos: 1 Não se confunde com a Contribuição Confederativa Patronal, já que a Contribuição Sindical Patronal é obrigatória, pelo artigo 578 da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), e a Confederativa foi instituída pelo artigo 8, inciso IV da Constituição Federal e é obrigatória em função da assembleia do sindicato que a instituir para seus associados, independentemente da contribuição prevista na CLT. 24 Planejamento e administração tributária • Contribuição Social para o Financiamento da Seguridade Social (Cofins); • Programa de Integração Social (PIS) e Programa de Formação do Patrimônio do Servidor Público (Pasep). Para além de impostos, taxas e contribuições, temos: • Adicional de Frete para Renovação da Marinha Mercante – AFRMM (Lei n. 10.893/2004); • Danos Pessoais Causados por Veículos Automotores de Via Terrestre (DPVAT); • Fundo Aeroviário – FAER (Decreto Lei n. 1.305/1974); • Fundo de Combate à Pobreza (EC n. 31/2000); • Fundo Estadual de Equilíbrio Fiscal – FEEF (Convênio ICMS 42/2016); • Fundo de Fiscalização das Telecomunicações – FISTEL (Lei n. 5.070/1966); • Fundo de Garantia do Tempo de Serviço – FGTS (Lei n. 5.107/1966); • Fundo de Universalização dos Serviços de Telecomunicações – FUST (Lei n. 9.998/2000); • Fundo Especial de Desenvolvimento e Aperfeiçoamento das Atividades de Fiscalização – Fundaf (Decreto-Lei n. 1.437/1975 e Instrução Normativa SRF n. 180/2002); • Fundo para o Desenvolvimento Tecnológico das Telecomunicações – Funttel (Lei n. 10.052/2000). A complexidade do STN é muito grande e existem diversas dúvidas a respeito dos tributos e suas normatizações, uma delas é a respeito do DPVAT, que muitos autores consideram um seguro, logo não faria parte do STN. No entanto, também pode ser considerado como uma taxa, pois se fosse um seguro não poderia ser cobrado como obrigatório. Seja seguro ou taxa, o importante Introdução ao sistema tributário 25 é ressaltar que ainda temos discussões no Brasil que ensejam diversas dúvidas. 1.4 Tratamento constitucional Antes de explorar mais a fundo as definições constitucionais sobre o STN, temos de lembrar uma regra básica: o administrador público somente pode fazer o que lhe é explicitamente permitido em lei, enquanto o cidadão comum só não pode fazer o que é proibido em lei. Essa regra é fundamental para se entender, mais adiante, os conceitos de sonegação e elisão fiscal. O STN é tratado pela Constituição, de maneira mais específica, nos artigos 145 a 162. Esses artigos definem as competências tributárias dos entes arrecadadores, os princípios e as normas gerais do STN, as limitações de poderes dos entes, as repartições dos tributos e as vinculações compulsórias. Veremos então, a seguir, alguns dos principais pontos do STN. Ao longo da obra analisaremos algumas dessas leis de forma mais profunda, mas como este primeiro capítulo é dedicado ao balizamento de conhecimentos, torna-se importante que se conheça a estrutura básica definida na Constituição. De acordo com o artigo 153, por exemplo, os impostos instituídos pela União recaem sobre: I - importação de produtos estrangeiros; II - exportação, para o exterior, de produtos nacionais ou nacionalizados; III - renda e proventos de qualquer natureza; IV - produtos industrializados; V - operações de crédito, câmbio e seguro, ou relativas a títulos ou valores mobiliários; VI - propriedade territorial rural; Vídeo 26 Planejamento e administração tributária VII - grandes fortunas, nos termos de lei complementar. (BRASIL, 1988) Outro artigo importante que devemos conhecer para depois aprofundarmos nosso entendimento é o artigo 155 que, por sua vez, estabelece os impostos que competem aos estados e ao Distrito Federal: I - transmissão causa mortis e doação, de quaisquer bens ou direitos; II - operações relativas à circulação de mercadorias e sobre prestações de serviços de transporte interestadual e intermunicipal e de comunicação, ainda que as operações e as prestações se iniciem no exterior; III - propriedade de veículos automotores. (BRASIL, 1988) Também não podemos deixar de observar que o artigo 156, no entanto, estabelece sobre o que podem incidir os impostos de competência dos municípios: I - propriedade predial e territorial urbana; II - transmissão “inter vivos”, a qualquer título, por ato oneroso, de bens imóveis, por natureza ou acessão física, e de direitos reais sobre imóveis, exceto os de garantia, bem como cessão de direitos a sua aquisição; III - serviços de qualquer natureza, não compreendidos no art. 155, II, definidos em lei complementar. (BRASIL, 1988) Outros artigos também trazem definições estruturantes para o STN, inclusive fornecendo diretrizes que permitem aos municípios o ordenamento e o desenvolvimento de funções sociais. Isso torna facultativa aos municípios, conforme o plano diretor existente, a penalização por não utilização ou subutilização de terrenos por meio do parcelamento, da edificação compulsória ou da geração de IPTU progressivo no tempo (BRASIL, 1988). A ideia é garantir ao município que busque melhorar o bem-estar de seus habitantes por meio da não subutilização de espaços. Introdução ao sistema tributário 27 Ainda que esta obra não tenha como objetivo analisar as leis de maneira mais aprofundada, é fundamental entendermos alguns dos princípios do Direito Tributário que podem ser extraídos dos artigos apresentados. Por isso, a seguir, explicaremos alguns deles. Um dos primeiros a ser observado é o princípio da legalidade, que tem como foco garantir segurança jurídica, econômica e social e proibir qualquer tributação não autorizada em lei. O art. 150 da Constituição deixa bastante explícito esse princípio e ainda esclarece que nenhum dos entes tributantes do país poderá: I - exigir ou aumentar tributo sem lei que o estabeleça; II - instituir tratamento desigualentre contribuintes que se encontrem em situação equivalente, proibida qualquer distinção em razão de ocupação profissional ou função por eles exercida, independentemente da denominação jurídica dos rendimentos, títulos ou direitos; III - cobrar tributos: a) em relação a fatos geradores ocorridos antes do início da vigência da lei que os houver instituído ou aumentado; b) no mesmo exercício financeiro em que haja sido publicada a lei que os instituiu ou aumentou; c) antes de decorridos noventa dias da data em que haja sido publicada a lei que os instituiu ou aumentou […]. IV - utilizar tributo com efeito de confisco; V - estabelecer limitações ao tráfego de pessoas ou bens, por meio de tributos interestaduais ou intermunicipais, ressalvada a cobrança de pedágio pela utilização de vias conservadas pelo poder público; VI - instituir impostos sobre: a) patrimônio, renda ou serviços, uns dos outros; b) templos de qualquer culto; c) patrimônio, renda ou serviços dos partidos políticos, inclusive suas fundações, das entidades sindicais dos trabalhadores, das instituições de educação e de assistência social, sem fins lucrativos, atendidos os requisitos da lei; d) livros, jornais, periódicos e o papel destinado a sua impressão. (BRASIL, 1988) 28 Planejamento e administração tributária Como poderemos perceber ao longo desta obra, a Constituição é bastante explícita em relação a obrigações e direitos. Porém, a complexidade da estrutura criada é tão grande que, mesmo após regulamentações específicas, ainda é possível estabelecer diversas interpretações, e o arcabouço do STN brasileiro acaba por ser considerado um dos mais complexos do mundo. Ainda assim, a Constituição garante que alguns princípios sejam pétreos e estes são os que guiam diversas decisões empresariais e jurídicas. Com o princípio da irretroatividade da lei, a Constituição garante que não se pode criar qualquer tipo de tributo de forma retroativa. Isso impede a cobrança antes de decorrerem todos os trâmites legais para o início desse tributo. O que determina que um tributo novo só pode começar a incidir no exercício fiscal seguinte é o princípio da anterioridade da lei. Essa definição, somada à exigência de no mínimo 90 dias de antecedência da aprovação de um tributo até o início de sua cobrança faz com que apenas tributos aprovados até o início de outubro de um determinado ano possam incidir no ano seguinte. Um dos direitos fundamentais da Constituição, o qual garante direitos iguais a todos, também se estende à tributação: o princípio da isonomia. Esse princípio garante que negócios de empresas similares tenham tributações equivalentes, para que não exista o favorecimento de uma empresa em detrimento de outra. É importante citar que a própria Constituição prevê exceções e que, como temos entes diferentes, existem também diferenças entre eles, ou seja, mesmo que eu tenha a mesma tributação federal em determinado caso, posso ter divergências tributárias entre estados e municípios (fora as exceções previstas). Um princípio relativamente mais delicado é o princípio da uniformidade da tributação, pois, como vimos, é vedado à União criar qualquer tributo que se diferencie entre estados. No entanto, a Constituição permite a criação de incentivos fiscais para o desenvolvimento de determinadas regiões em detrimento de outras. Introdução ao sistema tributário 29 No fim das contas, isso permite que, por meio de outros trâmites, existam diferenças na tributação federal. Outro princípio bastante importante é o princípio da capacidade contributiva, que está diretamente ligado à espécie tributária progressiva e visa diminuir a desigualdade social no Brasil. Para isso, busca a redução ou a isenção tributária para os mais desassistidos. O princípio da proibição de confisco, por sua vez, estabelece a proteção do contribuinte para que não sejam tomados dele, integralmente, seu patrimônio e sua renda, o que o levaria à possibilidade de penúria. É importante esclarecer que esses princípios apresentados aqui servem de base para diversas teses que discutem a tributação, para elisão fiscal ou não (mais adiante abordaremos esse assunto). Também se faz necessário entender que a Constituição já prevê a competência dos entes e seus impostos, o que impede a criação de novos impostos – a não ser que se altere a própria Constituição. A única exceção é em caso de guerra externa ou sua iminência. A Constituição prevê, ainda, o pleno esclarecimento de todos os tributos, assim como a divulgação pública dos valores recolhidos. Essa divulgação, porém, até hoje não está regulamentada e não vem sendo aplicada. 1.5 Competências tributárias Os tributos podem ter competência comum ou privada. Os de competência comum podem ser instituídos pela União, pelos estados, pelo Distrito Federal ou pelos municípios. São tributos específicos, criados em função da prestação de um serviço específico – como a taxa de iluminação ou a taxa de recolhimento de lixo, por exemplo. penúria: pobreza extrema, miséria; ausência daquilo que é necessário. Vídeo 30 Planejamento e administração tributária Cada imposto de competência privada, no entanto, é de competência específica de um ente tributante, não estando vinculado a nenhuma prestação de serviço específica – como o IRPF, o IPI e o IPVA, por exemplo. Antes de seguirmos, é importante separar muito bem o fato gerador do destino específico. Isso porque um tributo pode ou não ser gerado em função de um serviço específico, enquanto a arrecadação pode ou não ter um destino específico, independentemente do fato gerador. Todo esse arcabouço de impostos, conceitos e princípios gera muita confusão e diversas fraquezas no processo arrecadatório. Com tantos detalhes, é bastante comum que pessoas e empresas cometam erros, mesmo que não intencionais. Por outro lado, deixa margem também para que pessoas e empresas reduzam sua carga tributária, utilizando-se não só de meios lícitos, mas também ilícitos. E é esse o assunto que abordaremos no próximo capítulo, quando falaremos de planejamento fiscal e tributário. Considerações finais Agora que esclarecemos os principais objetivos de um sistema tributário e apresentamos quais são suas espécies e os entes envolvidos no STN, torna-se possível entender melhor a estrutura tributária, que faz com que o Brasil perca muita competitividade frente a outros países, tanto na produção e escoamento de produtos e serviços como na atratividade de investimentos. Também com o entendimento dos princípios constitucionais aplicáveis ao STN e conhecendo as competências tributárias, conseguimos avaliar mais profundamente as mudanças realizadas pela União, pelos estados ou pelos municípios para que, inicialmente, possamos avaliar a coerção destas e, como um segundo passo, ajudar as empresas ou o país a começarem o planejamento das mudanças Introdução ao sistema tributário 31 necessárias para um maior avanço na economia, destravando um pouco toda essa complexa estrutura que temos hoje. Ampliando seus conhecimentos • MARTINS, I. G. da S. O sistema tributário brasileiro: história, perfil constitucional e proposta de reforma. São Paulo, 2000. Disponível em: http://www.gandramartins.adv.br/project/ ives-gandra/public/uploads/2013/02/07/662f4dcartigo_145. pdf. Acesso em: 10 set. 2019. Ives Gandra Martins é um dos professores mais respeitados na área tributária. Já ocupou diversos cargos em federações e realizou muitos estudos focados nos temas tributários. Esse artigo apresenta uma visão límpida e clara da atual estrutura brasileira, além de uma visão interessante de uma proposta de reforma que sugere principalmente a simplificação do atual emaranhado de tributos que é o STN. • ALEXANDRINO, M.; PAULO, V. Direito tributário na Constituição e no STF: teoria, jurisprudência e 160 questões. 2. ed. Rio de Janeiro: Impetus, 2000. Essa obra é bastante interessante para quem deseja se aprofundar no STN e apresenta,ainda, uma excelente abertura sobre as repartições. Atividades 1. Hoje, no Brasil, a carga tributária é extremamente elevada, principalmente se considerarmos o padrão de serviços e estruturas oferecido pelo país. Mesmo assim, ainda é raro ver a população brasileira realmente se movimentar para 32 Planejamento e administração tributária demonstrar sua insatisfação com isso. Assim, fazendo uma avaliação histórica e sociológica, a que podemos atribuir essa espécie de mansidão da população em relação à carga tributária? 2. Considerando o STN atual, é possível fazer uma redução de alíquotas tributárias de forma singela? Por quê? 3. Se observarmos a legislação em seus capítulos sobre o STN, a primeira impressão é a de que existe uma enorme garantia jurídica tributária; porém, uma das grandes críticas sobre o Brasil é a insegurança jurídica tributária. Como podemos entender essa aparente contradição? Referências AMED, F. J.; NEGREIROS, P. J. L. C. História dos tributos no Brasil. São Paulo: Sinafresp, 2000. BALTHAZAR, U. C. História do tributo no Brasil. Florianópolis: Fundação Boiteux, 2005. BORBA, C. Direito tributário I: Constituição Federal: a competência tributária, suas espécies, características e limitações. Rio de Janeiro: Elsevier, 2007. BRASIL. Constituição Federal. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 5 out. 1988. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/ ConstituicaoCompilado.htm. Acesso em: 20 ago. 2019. BRASIL. Lei n. 5.172, de 25 de outubro de 1966. Código Tributário Nacional. Diário Oficial da União, Poder Legislativo, Brasília, DF, 27 out. 1966. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l5172.htm. Acesso em: 20 ago. 2019. COÊLHO, S. C. N. Teoria geral do tributo, da interpretação e da exoneração tributária. São Paulo: Dialética, 2003. PORTAL TRIBUTÁRIO. Os tributos no Brasil. 15 fev. 2019. Disponível em: http://www.portaltributario.com.br/tributos.htm. Acesso em: 20 ago. 2019. 2 Sistema Tributário Nacional Como vimos no capítulo anterior, o Sistema Tributário Nacional (STN) é extremamente complexo, visto que é composto de uma série de impostos, taxas e contribuições. As mudanças nessas leis são constantes e muitas delas são de difícil compreensão. Essa situação gera um enorme custo ao Brasil e aos brasileiros. Nossa estrutura arrecadadora é enorme e, por isso, as empresas e os cidadãos que buscam estar sempre alinhados às leis perdem muito tempo e muitos recursos para atender a essas exigências. Todo esse processo faz parte do famoso custo Brasil e o empresário, para compensar esses riscos e essas exigências, demanda maiores taxas de retorno, ou seja, além da alta carga, a estrutura tributária brasileira também faz com que os produtos no Brasil sejam caros. 2.1 Contextualizando sistemas tributários Se olharmos o relatório Doing Business 2019 (WORLD BANK GROUP, 2019), podemos entender melhor o quanto nosso sistema tributário é complexo. Esse relatório avalia a facilidade de se fazer negócios em 190 países do mundo. São 10 categorias avaliadas, com diversos marcadores em cada categoria. Na colocação geral, o Brasil ficou na posição 109. Quanto menor essa classificação, mais fácil é fazer negócios no país. Se olharmos apenas para a categoria pagamento de impostos, o Brasil ocupou a posição 184, estando melhor apenas que o Congo, a Bolívia, a República Centro-Africana, o Chade, a Eritreia e a Somália (WORLD BANK GROUP, 2019). Vídeo 34 Planejamento e administração tributária Se nos aprofundarmos ainda mais nessa pesquisa, dentre as métricas para se medir a facilidade de pagamento de impostos é levado em consideração o tempo trabalhado para pagá-los. Nesse quesito, o país ficou em último lugar entre os 190 países. Isso porque, para determinadas características de empresa definidas na pesquisa, no Brasil, precisamos de 1.958 horas de trabalho para fechar a apuração tributária; já na Bolívia, segundo pior colocado entre os países pesquisados, a quantidade de horas gastas para apurar os impostos do mesmo perfil de empresa é de 1.025 horas, ou seja, quase a metade das horas trabalhadas por aqui. A respeito dessa carga tributária, temos o comentário de Rabello e Oliveira (2015, p. 33): No Brasil, é comum o questionamento sobre o tamanho da carga tributária e se ela é adequada ao perfil socioeconômico nacional, especificamente em relação à estrutura produtiva. Recentemente a complexidade tributária também tem recebido a atenção das análises e das críticas quanto a seus efeitos. Todavia, a carga tributária pode gerar efeitos positivos sobre a economia, na medida em que, por exemplo, possibilita o surgimento de investimentos financiados pelas receitas tributárias. Mas também possibilitam efeitos negativos, pois geram distorções sobre as escolhas dos agentes econômicos que resultam em perdas em eficiência. Portanto, a análise dos efeitos da carga tributária sobre a estrutura produtiva torna-se imperiosa. Apenas por curiosidade, ainda segundo esse relatório, os melhores países para se fazer negócios são Nova Zelândia, Singapura, Dinamarca, Coreia do Sul, Hong Kong e EUA. Certamente não é à toa que todos esses países são ricos e têm o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) extremamente elevado. Considerado esse contexto, vamos analisar o STN de modo mais aprofundado, a fim de entendermos melhor como funciona nosso modelo tributário e compreendermos as diferenças entre as espécies tributárias que apresentamos no capítulo anterior. Sistema Tributário Nacional 35 Porém, antes, temos de conhecer a estrutura básica de tributação do Brasil. Isso significa compreender algumas diferenças entre impostos, taxas e contribuições, bem como entender os motivos históricos que levaram o país à atual estrutura tributária. 2.2 Entendendo o modelo tributário nacional Com base na contextualização da seção anterior é possível perceber que, embora não se conheça nenhum modelo tributário perfeito, o Brasil está muito longe dos melhores modelos existentes, uma vez que apresenta uma das piores legislações tributárias do mundo. E isso não se refere apenas à carga tributária nem à sua má utilização, mas sim à estrutura do modelo definida na legislação. Atualmente, muito se fala em reforma tributária e redução dos encargos. Porém, parece muito mais importante que primeiro simplifiquemos o modelo para que, então, possamos pensar em redução de carga tributária. Praticamente todo recurso arrecadado no Brasil tem destino obrigatório, o que dificulta ainda mais a ideia de partir para a redução de alíquotas desde o início de uma reforma. Para compreender, portanto, a necessidade ou não de reforma e a melhor maneira de realizá-la, é importante compreender alguns outros conceitos, que também serão abordados mais adiante. O primeiro desses conceitos é o de fato gerador, que é o que faz nascer a obrigação tributária, essa obrigação pode ser principal ou acessória. O Código Tributário Nacional (CTN) define fato gerador como: Art. 114. Fato gerador da obrigação principal é a situação definida em lei como necessária e suficiente à sua ocorrência. Vídeo 36 Planejamento e administração tributária Art. 115. Fato gerador da obrigação acessória é qualquer situação que, na forma da legislação aplicável, impõe a prática ou a abstenção de ato que não configure obrigação principal. (BRASIL, 1966) Assim, todo tributo tem um fato gerador e, com base nele, pode ser classificado em um dos três grandes grupos a seguir. • Impostos sobre renda – define-se renda como o resultado de capital, de trabalho ou de capital e trabalho juntos expresso em valores monetários. Alguns exemplos desses tributos são o Imposto de Renda Pessoa Física (IRPF), o Imposto de Renda Pessoa Jurídica (IRPJ) e a Contribuição Social sobre Lucro Líquido (CSLL). • Impostos sobre patrimônio – são conjuntos de bens de direito, tanto de pessoa física quanto jurídica. Alguns exemplos desses tributossão o IPVA, o IPTU e as taxas de lixo e de melhoria. • Impostos sobre consumo – é aquilo que se gasta e que se utiliza, seja com um bem material, seja com um serviço. Alguns exemplos desses tributos são o ICMS, o ISS, o PIS, a Cofins e o IPI. Assim como vimos, no capítulo anterior, que existem espécies tributárias diretas e indiretas, o contribuinte também tem classificações conforme o fato gerador, que pode ser diretamente de responsabilidade dele ou, então, o contribuinte pode ser apenas o arrecadador dos tributos. Nesse sentido, podemos entender como contribuinte de fato os empregados, consumidores ou tomadores de um empréstimo, por exemplo. Já o contribuinte responsável é quem efetivamente irá recolher o imposto, mas não é a fonte de geração do tributo, como empresas, vendedores ou instituições financeiras, que recolhem o imposto devido pela ponta final do processo. Sistema Tributário Nacional 37 Além de ter um fato gerador e um contribuinte para pagá- lo, o tributo precisa de uma base de cálculo, isto é, de uma base monetária a ser utilizada para o cálculo desse tributo. Essa base de cálculo é o número após as inclusões ou exclusões de especificidades, muito comum para os cálculos de IR e de Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL). Uma vez estabelecida a base de cálculo, pode-se simplesmente aplicar a alíquota do tributo sobre ela, utilizando esse valor de base e realizando os cálculos correspondentes. Nesse sentido, o valor percentual legalmente definido e aplicado sobre a base de cálculo é o que denominamos alíquota. Com base nessa aplicação é determinado o valor do tributo a ser pago pelo contribuinte. Quando pensamos em base de cálculo e alíquotas para realizar o cálculo dos tributos, é preciso pensar, também, naquilo sobre o que será aplicada essa alíquota. Em muitos tributos, ela é aplicada sobre o lucro, ou seja, sobre aquilo que se ganha por meio de algo ou alguém em um processo econômico. Nem sempre o lucro é ganho em moeda e, por isso, ele pode ser auferido de diversas formas, como aumento patrimonial e até mesmo pode ser considerado intangível. Para fins de cálculo do IR e do CSLL, podemos entender o lucro apurado de três formas diferentes: • lucro real, que é aquele apurado contabilmente com base em adições e exclusões de itens, conforme normas contábeis; • lucro presumido, apurado de acordo com as normas de presunção, que são alíquotas aplicadas sobre o faturamento e que estimam o lucro gerado pelas operações; e • lucro arbitrado, que costuma ser utilizado quando não se confia nas bases contábeis apresentadas e, então, com alguma 38 Planejamento e administração tributária base alternativa de cálculo (normalmente definida por um fiscal), estima-se o lucro. Além do lucro, outra base de cálculo importante para a tributação é o valor que pode ser agregado no processo de industrialização, que é o processo de transformação de algum bem que modifique sua natureza, seu funcionamento, seu acabamento, sua apresentação, sua finalidade, ou então que aperfeiçoe o produto para o consumo. Apesar de termos a alíquota e a base de cálculo, devemos considerar também a existência da imunidade tributária, que está prevista na Constituição Federal e funciona como uma proteção para certas operações, impedindo que sejam tributadas. Alguns exemplos de operações que têm imunidade tributária são: • livros, jornais, periódicos e o papel destinado à impressão deles; • produtos industrializados destinados ao exterior; • ouro (quando este for definido como ativo financeiro ou como instrumento cambial); • energia elétrica, derivados de petróleo, combustíveis e minerais do país. A isenção, por sua vez, é um privilégio concedido por meio de lei ou de outro ato legal com força de lei. Um exemplo disso é o regulamento do IPI, que é a consolidação das normas para os casos relacionados a esse imposto. Há também o que denominamos desoneração. Esse é o caso de produtos que normalmente são tributados de acordo com as normas gerais do STN e as regulamentações de cada tributo, mas que, por definição do ente gestor desses tributos, podem ter sua alíquota zerada ou reduzida, ou mesmo seu tributo suspenso. Normalmente, esse tipo de política é aplicada quando o ente gestor busca desenvolver um determinado mercado em dificuldade Sistema Tributário Nacional 39 ou produtos estratégicos, ou quando deseja ajudar a melhorar a economia. É algo comum no Brasil, mas que gera diversos questionamentos jurídicos, visto que a desoneração normalmente é dada apenas a alguns setores ou empresas que se enquadrem em determinados preceitos, o que pode ferir o princípio da isonomia (vide Capítulo 1). Ao retomar o conceito de lucro e pensar em sua apuração, temos o conceito de regime de tributação, que é a forma como a empresa irá tributar seu lucro. O STN permite às empresas que se enquadrem em diferentes regimes de tributação, os quais apresentam normas bastante distintas sobre burocracias a serem seguidas. Esses regimes podem ser: Lucro Real, Lucro Presumido ou Simples Nacional. É importante ressaltar que o regime de tributação é mais amplo do que a forma de apuração do lucro, visto que altera também a estrutura arrecadatória, a exigência de burocracias e as alíquotas cobradas. Assim, a definição do regime de tributação possui diversos limites para cada tipo de regime, de maneira a impedir que determinados tamanhos de empresas se beneficiem de estruturas criadas para facilitar as operações menores. 2.3 Conhecendo as espécies tributárias No entendimento de Silva (2010), os tributos não são cobranças de sentido vazio ou meramente deflagradores de despesas adicionais para o contribuinte. Todo país para ser mantido e se desenvolver necessita da cobrança de tributos. No capítulo anterior, vimos as cinco espécies tributárias e identificamos que temos 94 tributos, entre impostos, taxas e contribuições. Agora, vamos analisar os principais atores desse emaranhado de siglas que são os nossos tributos. É importante frisar Vídeo 40 Planejamento e administração tributária que foram selecionados apenas os mais abrangentes e que receberão maior atenção nesta obra. 2.3.1 Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços O primeiro desses tributos que veremos aqui é o Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS). Esse imposto é um dos maiores problemas da tributação brasileira, pois tem diversas regras geridas pelos estados brasileiros e pelo Distrito Federal, com diferentes alíquotas e formas de apuração em cada estado. Os estados brasileiros são criativos na hora de estabelecer burocracias, criam diferenças até mesmo quanto aos equipamentos necessários para a apuração desse imposto – Santa Catarina, por exemplo, obriga o uso de impressora fiscal, enquanto São Paulo obriga a utilização da máquina SAT, que é um sistema autenticador e transmissor do cupom fiscal eletrônico. Além disso, todos os estados possuem suas próprias regras de cálculo, apuração e prestação de contas. O ICMS é um imposto que tem como fato gerador a circulação de uma mercadoria ou um serviço, que incide sobre toda a cadeia. Assim como alguns outros tributos no Brasil, o ICMS é apurado por meio de débitos e créditos conforme cada transação. Isso faz com que muitas empresas fiquem com enormes saldos de ICMS ainda a utilizar, porém, em função de sua atividade, nunca conseguem a realização deste, tentando recuperar o valor recolhido na justiça, chegando a considerar esse saldo acumulado como “crédito podre” ou desconsiderando esse ativo. De modo geral, embora exista uma simplicidade básica na apuração do ICMS, isso ainda gera muita dificuldade, devido à enorme quantidade de classificações de produto, alíquotas diferentes e, mais do que isso, a substituição tributária, que foi criada inicialmente para resolver alguns problemas arrecadatórios de Sistema Tributário Nacional 41 produtos com alta incidência de sonegaçãoe acabou sendo utilizada para diversos outros itens. Hoje o STN é extremamente injusto com as empresas e com o consumidor, pois presume um valor de venda final que nem sempre acontece. Além disso, já se converteu em um enorme passivo para os estados, visto que diversas empresas estão ganhando na justiça o direito de serem ressarcidas pelo montante pago a mais em função dessa presunção de preço de venda. O sistema de não cumulatividade do ICMS e de diversos outros tributos impede que aconteça a bitributação, gerando o crédito e o débito mencionados. 2.3.2 Impostos sobre a exportação e a importação De competência da União, o Imposto de Exportação (IE) e o Imposto de Importação (II) são extremamente importantes para a gestão de políticas macroeconômicas e internacionais. O artigo 23 do CTN apresenta a seguinte definição para o IE: “o imposto, de competência da União, sobre a exportação, para o estrangeiro, de produtos nacionais ou nacionalizados tem como fato gerador a saída destes do território nacional” (BRASIL, 1966). Cabe salientar que o fato gerador se relaciona diretamente com o fato material da saída de produto nacional para outro país, independentemente do objetivo do remetente, significando que esse aspecto nada tem a ver com transações jurídicas de compra e venda do exportador para o estrangeiro. Há casos como o de bagagens, estabelecidos no artigo 23 do CTN e no artigo 1º do Decreto-Lei n. 1.578/1977, que entram como exceção rara. Cabe ao Poder Executivo relacionar os produtos que estão sujeitos ao imposto. É importante mencionar que não faz diferença se o material é uma mercadoria para doação ou se pertence ao remetente. O fato gerador será ocasionado todas as vezes que algum produto sair do 42 Planejamento e administração tributária país e ocorre no momento da expedição da Guia de Exportação ou de documento equivalente. 2.3.3 Imposto Predial e Territorial Urbano De competência municipal, o Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU) é uma das principais fontes de arrecadação dos municípios. De maneira simplificada, é possível dizer que esse é um imposto cobrado em território nacional de todos os indivíduos que possuem qualquer tipo de propriedade imobiliária urbana. Esse imposto se aplica a casa térrea, sobrado, apartamento, sala comercial, prédio ou imóvel de qualquer natureza que esteja localizado na zona urbana. Nesse sentido, Machado (2004, p. 370) afirma que: O fato gerador do imposto sobre a propriedade predial e territorial urbana é a propriedade, o domínio útil ou a posse de bem imóvel por natureza ou por acessão física, como definido na lei civil, localizado na zona do Município (CTN, art. 32). Não a lei civil atual, mas a vigente na data da edição do Código Tributário Nacional, em cujos dispositivos restou definitivamente incorporada. A existência do IPTU está assegurada no artigo 156 da Constituição Federal, inciso I, e sua validade e vigência se estendem às duas categorias de contribuintes: pessoa física e pessoa jurídica. O CTN, por sua vez, determina, nos artigos 32 e 34, o que é fato gerador e quem é o contribuinte efetivo do IPTU, sem que possa a priori sobre isso pairar qualquer pressuposto de exceção: Art. 32. O imposto, de competência dos Municípios, sobre a propriedade predial e territorial urbana tem como fato gerador a propriedade, o domínio útil ou a posse de bem imóvel por natureza ou por acessão física, como definido na lei civil, localizado na zona urbana do Município. […] Art. 34. Contribuinte do imposto é o proprietário do imóvel, o titular do seu domínio útil, ou o seu possuidor a qualquer título. (BRASIL, 1966) Sistema Tributário Nacional 43 Embora esse imposto tenha o objetivo claro de ser arrecadatório, também é utilizado para fins sociais, com foco às propriedades para que estas cumpram a sua função social em razão de uma maior. 2.3.4 Imposto sobre renda e proventos de qualquer natureza Ferragut (2019) defende que “com os valores arrecadados com o Imposto sobre a Renda, o Governo Federal, dentre outras coisas, repassa verbas para Estados e Municípios aplicarem nas áreas de saúde, educação, habitação, transportes e segurança pública”. É uma questão essencial do funcionamento do país e, assim, é possível que não exista uma relação mais direta e próxima entre um governo e seu povo do que essa troca entre receita e investimento. Previsto no inciso III do artigo 153 da Constituição, o imposto sobre a renda tem como principal legislação de regência o Decreto n. 3.000/1999 depois alterado pelo Decreto n. 9.580/2018, que “regulamenta a tributação, a fiscalização, a arrecadação e a administração do Imposto sobre a Renda e Proventos de Qualquer Natureza” (BRASIL, 2018). Existem quatro categorias de cobrança de imposto sobre rendimentos: Imposto de Renda Pessoa Jurídica (IRPJ), Imposto de Renda Pessoa Física (IRPF), Imposto de Renda Retido na Fonte (IRRF) e Imposto de Renda Definitivo (IR Definitivo). Segundo Ferragut (2019, grifo do original), “todos eles têm por critério material auferir renda ou proventos de qualquer natureza, e critério espacial a renda auferida no Brasil ou no exterior”. São diversos os princípios constitucionais tributários informadores do Imposto de Renda. Antes de observar cada um deles, porém, é necessário compreender que o significado de princípio é base e, a exemplo de toda base, serve para alavancar e estabelecer ações. Contudo, seguindo a esteira e o fluxo de toda norma, seu significado depende da maneira como o intérprete o constrói. De acordo com Ferragut (2019), 44 Planejamento e administração tributária princípios são postulados fundamentais que informam a interpretação e aplicação das normas jurídicas, e têm como função importantíssima a de servir de integração para o sistema, permitindo soluções onde exista falha ou lacuna normativas. Diante do Texto Constitucional, quem confere o status de princípio a um comando normativo é a dogmática jurídica. O que diferencia princípios das demais regras é que eles são portadores de elevada carga axiológica, a ponto de informar a produção e interpretação de diversas outras normas. Agora que entendemos o que são os princípios e qual função eles exercem, vejamos cada um separadamente: • Princípio da capacidade contributiva: os impostos devem, sempre que possível, ser graduados de acordo com a capacidade econômica de cada contribuinte e, além disso, ter caráter pessoal. • Princípio da universalidade: à exceção das imunidades e isenções previstas em lei, todas as rendas devem receber o mesmo tipo de tratamento no que se refere à tributação. • Princípio da progressividade: a alíquota para determinação do valor devido deve ser progressiva, de acordo com a base de cálculo. • Princípio da anterioridade e irretroatividade: qualquer tributo, para ser cobrado, deve ser publicado em lei antes do exercício financeiro em que se pretenda cobrar ou majorar o tributo, com ao menos 90 dias a partir da data de publicação para que entre em vigor. Outro fator importante a se considerar quando tratamos de impostos sobre a renda é o conceito constitucional de renda. A questão que deve ser imperiosa é se o conceito de renda é da alçada da Constituição, ou se compete ao legislador infraconstitucional, por meio de lei complementar, delineá-lo. Infraconsti- -tucional: norma, preceito, regramento, regulamento e lei que estão hierarquicamente abaixo da Constituição. Sistema Tributário Nacional 45 2.3.5 Imposto sobre Operações de Crédito Embora seja mais comumente relacionado como Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), a abrangência e o significado desse imposto abarcam operações de crédito, câmbio e seguro. O pagamento dele recai tanto sobre pessoas físicas quanto jurídicas que realizam essas transações, incluindo operações de títulos mobiliários. As alíquotas do IOF são variáveis e dependem do tipo de transação financeira realizada. A tabela das alíquotas do IOFnão é fixa e está propensa às alterações, visto que essas alíquotas não são reguladas pela aprovação ou reprovação do Congresso Nacional. Para se ter uma ideia mais extensa do alcance do IOF e sobre quais operações ele incide, pode-se citar algumas operações de crédito elementares, como uso de cartão de crédito ou do limite do cheque especial, contratação de empréstimos e financiamentos e venda ou compra de moeda estrangeira. Os seguros de vida e de automóveis também incorrem em pagamento de IOF, com alíquota de 0,38% sobre o montante do prêmio do seguro. O IOF é um imposto federal aplicado pela União e entre seus objetivos centrais de cobrança está um ideal de acompanhamento e regulação das operações financeiras. Isso porque é por meio de sua arrecadação que o governo toma conhecimento da situação do mercado de operações de crédito no país. Tendo em vista que o IOF não depende da votação do Congresso, o governo tem a liberdade de promover mudança, se necessário. O intento é o incentivo ou desestímulo das operações financeiras às quais o IOF é aplicado. No tocante à alíquota cobrada das pessoas físicas, os percentuais são os seguintes: 6,38% para compras internacionais com cartões; 1,1% para câmbio; 0,38% mais 0,0082% por dia para rotativo do cartão de crédito; e 0,38% mais 0,0082% ao dia para empréstimos 46 Planejamento e administração tributária e financiamentos. A cobrança de IOF geralmente já é embutida nas parcelas na hora do contrato. É cobrado 0,38% sobre o valor do empréstimo mais uma porcentagem diária de 0,0082%. O financiamento de imóveis residenciais é uma das exceções de IOF: não existe cobrança para esse caso. A cobrança de seguros, porém, é com base em 0,38% sobre o seguro de vida; já nos seguros de bens, como os carros, o percentual é de 7,38%. No que se refere a investimentos, essa alíquota pode chegar a 9,6% dos rendimentos. 2.3.6 Imposto sobre Serviços de Qualquer Natureza O Imposto sobre Serviços de Qualquer Natureza (ISSQN), que remonta ao período monárquico brasileiro, tem seus contornos iniciais encontrados no antigo Imposto Sobre o Serviço Bancário, ainda em 1812, e no Imposto Sobre Lojas, datado de 1836. Antes da sua atual nomenclatura jurídica, estabelecida pela Emenda Constitucional n. 18/1965, esteve presente nas Constituições de 1891 e 1934, desta vez classificado como Imposto Sobre Indústrias e Profissões. Apesar de se apresentar como um imposto relativamente recente, historicamente, trata-se de um tributo que acompanha o cidadão brasileiro desde longa data. Em que pese se tratar de um imposto de competência municipal, positivado em leis municipais, sua previsão é constitucional, estando discriminado textualmente nos artigos 145 (inciso I) e 156 (inciso III), ambos da Constituição Federal (BRASIL, 1988). Diante de tamanha força normativa, não raramente leis ordinárias promulgadas pelos municípios são declaradas inconstitucionais, por possuírem comandos que escapam às diretrizes gerais traçadas pela Carta Magna. A Emenda Constitucional n. 37/2002, ao tratar de matéria relativa ao ISSQN, restringiu a autonomia dada aos municípios, de maneira a mitigar a possibilidade de ocorrência da chamada guerra Sistema Tributário Nacional 47 fiscal (BRASIL, 2002). No intuito de atrair empresas para as suas regiões, os municípios reduziam, de maneira competitiva, as suas alíquotas, na busca de se apresentar como localidade mais atraente, tendo como base reduções consideráveis nos percentuais do imposto sobre serviços. É importante ter em mente que a previsão constitucional não concede ao Governo Federal qualquer espécie de competência tributária sobre o ISSQN, pois, conforme o artigo 7º do CTN, a competência para instituir o imposto sobre serviços é indelegável, isto é, não pode ser repassado para ente diverso da federação (BRASIL, 1966). O único sujeito ativo de tributação que ultrapassa de alguma maneira essa norma é o Distrito Federal, visto que acumula tanto os tributos municipais quanto os estaduais. O ISSQN também tem a sua extensão legal limitada pelas bases estabelecidas na Lei Complementar n. 116/2003. Significa dizer, por exemplo, considerando os artigos 8º e 8º-A dessa LC, que os municípios não poderão cobrar alíquotas inferiores a 2% nem superiores a 5%, de modo que a sua discricionariedade fica limitada ao intervalo citado (BRASIL, 2003). Até mesmo os serviços passíveis de incidência são legalmente apresentados na lista anexa à Lei Complementar, como estabelece seu artigo 1º. Esse rol, inclusive, conforme jurisprudência pátria, é taxativo, situação que impossibilita que os municípios tributem serviços ali não previstos. Cada município deverá, portanto, estabelecer suas próprias alíquotas, sem que isso importe em desrespeito aos ditames da norma federal. Uma consulta nas leis municipais ou até mesmo nas Secretarias de Finanças ou da Fazenda pode esclarecer quais alíquotas determinado município pratica para o ISSQN e demais tributos de sua competência. Assim como na definição das alíquotas máximas, a Constituição Federal de 1988, por meio do artigo 146, inciso III, alínea a, reservou discricionariedade: particularidade de discricionário, que permite a liberdade de escolha. 48 Planejamento e administração tributária aos cuidados da Lei Complementar n. 116/2003 a definição da base de cálculo do imposto. Com a autorização constitucional, a LC fixou como base de cálculo para fins de incidência do ISSQN o preço do serviço prestado. Como exceção para isso, temos a autorização legal dada pelo Supremo Tribunal Federal (STF) por meio da Súmula n. 663, que validou o permissivo para o estabelecimento de uma base de cálculo diferenciada para serviços prestados por profissionais autônomos e sociedades profissionais, não revogando, por este caminho, os parágrafos 1º e 3º, pertencentes ao artigo 9º do Decreto-Lei n. 406/1968. Um ponto que usualmente gera dúvidas no contribuinte é a relação entre ISSQN e espaço geográfico, ou seja, como saber qual alíquota adotar quando o estabelecimento do prestador diverge do local da prestação dos serviços. Para superar as possíveis dúvidas, a Lei Complementar n. 16/2003, de modo preponderante, adotou o critério da territorialidade da norma jurídica, o que significa dizer que o ISSQN é devido no local do estabelecimento do prestador (regra – artigo 3º caput) e no local de prestação dos serviços (à exceção do que é disposto nos incisos I a XXII do artigo 3º). O regime jurídico brasileiro adotou um formato híbrido quanto ao local a ser considerado competente para a cobrança do imposto, haja vista ter considerado tantas exceções à regra geral. Dessa forma, o contribuinte deve ficar atento a cada uma das 22 exceções contidas no artigo 3º, pois, nesses casos, os serviços ali elencados são devidos ao município tributante do lugar onde os serviços são prestados. Vejamos um resumo no Quadro 1: Sistema Tributário Nacional 49 Quadro 1 – Incidência de ISSQN Considera-se ocorrido o fato gerador... Regra geral (caput do artigo 3º, LC 116/03) Serviços dos incisos I a XXII (artigo 3º, LC 116/03) Serviços provenientes do exterior (artigo 6º, §2º, inciso I, LC 116/03) Serviços prestados em águas marítimas (artigo 3º, §3º, LC 116/03) onde o serviço foi prestado X X onde está o esta- belecimento do prestador X X Fonte: Bacaro; Belussi, 2015, p. 49. Um ponto ao qual se deve ter muita atenção é o momento de remunerar o serviço de aluguel de móveis, pois a tentativa de normatização pelo legislador municipal deve ser afastada, consoante Súmula Vinculante n. 31 do STF, cujo teor relata que: “É inconstitucional a incidência do imposto sobre serviços de qualquer natureza – ISS sobre operações de locação de bens móveis” (STF, 2010). Quanto às isenções, a Lei Complementar n. 157/2016 disciplinou a matéria ao introduzir a proteção ao percentual mínimo da alíquota do imposto, sobretudo frente às possibilidades de concessão deisenções, incentivos ou benefícios tributários e financeiros, bem como reduções da base de cálculo ou de crédito presumido ou outorgado (BRASIL, 2016). Se alguma das circunstâncias acima for aplicada, a alíquota mínima não poderá ser contornada, ou seja, aplicadas as reduções, o cálculo final do montante não pode resultar em uma aparente alíquota inferior a 2%. A Lei Complementar n. 116/2003, por meio do inciso I do artigo 2º, positivou que o ISSQN não incide sobre exportações de serviços para o exterior do país, configurando a chamada isenção heterônoma, 50 Planejamento e administração tributária uma exceção que significa, neste caso, que a isenção do imposto municipal foi concedida pela União Federal (BRASIL, 2003). O renomado procurador do Ministério Público de Contas do Estado de Pernambuco, Ricardo Alexandre, na sua obra Direito Tributário, resume o ISSQN da seguinte forma: Antes da Constituição de 1988 os municípios eram uma categoria federativa da União. Após a CF/88 adquiriram autonomia, sendo a eles delegada autonomia municipal tanto no que tange a ações políticas, financeiras, administrativas e legislativas. Sendo assim, a instituição, arrecadação e administração dos tributos foram transferidos para a competência de cada município. Certamente que a delegação não implica necessariamente na execução. Estados como São Paulo ainda dependiam consideravelmente das transferências. Em outras palavras, a CF/88 não dizimou as transferências, mas instituiu critérios para o repasse de impostos federais e estaduais, mantendo voluntária parte das transferências. (ALEXANDRE, 2017, p. 123) Ao regulamentar a arrecadação própria dos municípios, a Constituição de 1988 aumentou potencialmente as bases dos municípios e ampliou os deveres locais. Com a regulamentação da Lei de Responsabilidade Fiscal, por sua vez, que entrou em vigor com a Lei Complementar n. 101/2000, ampliou ainda a possibilidade de base tributária dos impostos de cada município. Com a nova lei, estados e municípios ficaram impedidos de manter deficits indissolúveis que, invariavelmente, eram absorvidos e transferidos pelo Governo Federal, ficando sob sua tutela a resolução dos deficits. Especialmente nos anos 1990, essa prática era muito comum, até porque, deficits municipais e estaduais são, em geral, problemas de gestão que recaem sobre o Governo Federal. Particularmente, cabe observar o artigo 11 da lei citada: Art. 11. Constituem requisitos essenciais da responsabilidade na gestão fiscal a instituição, previsão e efetiva arrecadação de todos os tributos da competência constitucional do ente da federação. Sistema Tributário Nacional 51 Parágrafo único. É vedada a realização de transferências voluntárias para o ente que não observe o disposto no caput, no que se refere aos impostos. (BRASIL, 2000) Em outras palavras, instituir, prever e arrecadar tributos da própria competência dos municípios (ISS, ITBI, IPTU, taxas, contribuições, entre outros) confere uma exigência ou requisito indispensável à gestão fiscal. O parágrafo único enuncia com clareza que o ente fica excluído das transferências voluntárias caso negligencie ou se distraia com as implicações de uma gestão fiscal responsável. Isso significa que uma gestão competente no exercício da arrecadação resulta em dois benefícios incontestes para o município: o aumento de arrecadação, o qual, por sua vez, alavanca o aumento nas transferências voluntárias. 2.3.7 Imposto sobre Transmissão de Bens Intervivos De acordo com Tiago Silva, procurador da Fazenda Nacional em São Luís, no Maranhão, o Imposto sobre Transmissão de Bens Intervivos (ITBI), “imposto de competência dos municípios por expressa atribuição do art. 156, II, da Constituição Federal, incide sobre a transferência de propriedade e demais direitos reais – exceto os de garantia – correlata a bens imóveis” (SILVA, 2010). O ITBI, já conhecido como Serviço de Imposto de Sua Alteza (SISA), era, no regime da Constituição de 1969, imposto de competência estadual, consoante o inciso I do artigo 23 dessa Constituição e o artigo 35 do CTN. Com efeito, está disposto no CTN: Art. 35. O imposto, de competência dos Estados, sobre a transmissão de bens imóveis e de direitos a eles relativos tem como fato gerador: I - a transmissão, a qualquer título, da propriedade ou do domínio útil de bens imóveis por natureza ou por acessão física, como definidos na lei civil; II - a transmissão, a qualquer título, de direitos reais sobre imóveis, exceto os direitos reais de garantia; 52 Planejamento e administração tributária III - a cessão de direitos relativos às transmissões referidas nos incisos I e II. Parágrafo único. Nas transmissões causa mortis, ocorrem tantos fatos geradores distintos quantos sejam os herdeiros ou legatários. (BRASIL, 1966) Desse modo, nota-se que o antigo regime jurídico do ITBI angariava hipóteses de incidência do atual Imposto sobre Transmissão Causa Mortis e Doação (ITCMD), mas “com o advento da Constituição de 1988, aquele ITBI de competência dos Estados foi ‘cindido’, originando o ITBI municipal hodierno e o já mencionado ITCMD, este de competência estadual” (SILVA, 2010). Consoante ao exposto cabe a leitura dos artigos: Art. 156. Compete aos Municípios instituir impostos sobre: […] II - transmissão inter vivos”, a qualquer título, por ato oneroso, de bens imóveis, por natureza ou acessão física, e de direitos reais sobre imóveis, exceto os de garantia, bem como cessão de direitos a sua aquisição; […] § 2º O imposto previsto no inciso II: I - não incide sobre a transmissão de bens ou direitos incorporados ao patrimônio de pessoa jurídica em realização de capital, nem sobre a transmissão de bens ou direitos decorrente de fusão, incorporação, cisão ou extinção de pessoa jurídica, salvo se, nesses casos, a atividade preponderante do adquirente for a compra e venda desses bens ou direitos, locação de bens imóveis ou arrendamento mercantil; II - compete ao Município da situação do bem. (BRASIL, 1988) No entendimento de Hugo de Brito Machado, citado por Silva (2010), “A função do imposto de transmissão é predominantemente fiscal, vale dizer, a de obtenção de recursos financeiros para a Fazenda Pública”. E, assim, realmente é inegável Sistema Tributário Nacional 53 que o ITBI se iguala ao IPTU em termos de fonte arrecadatória para os municípios do Brasil. De acordo com Silva (2010), o sujeito passivo do ITBI “é qualquer uma das partes da operação de transferência imobiliária, conforme previsto no art. 42 do CTN”. No entanto, em quase toda a legislação acessível, a adimplência do tributo é responsabilidade daquele que adquire o bem. A base imposta e inconteste do ITBI está explicitada no inciso II do artigo 156 da Constituição: é a “transmissão ‘inter vivos’, a qualquer título, por ato oneroso, de bens imóveis, por natureza ou acessão física, e de direitos reais sobre imóveis, exceto os de garantia, bem como cessão de direitos a sua aquisição” (BRASIL, 1988). A competência de arrecadação incide sobre o município onde o bem está localizado. E a base de cálculo do ITBI é o valor venal do bem imóvel ou do direito transmitido, de acordo com clara alusão ao artigo 38 do CTN, não podendo se basear no custo de celebração do negócio jurídico. Na mesma esteira do que se apresenta até aqui, a Administração Fiscal pode encontrar razões para não acolher o valor atribuído pelas partes, tanto por dúvida quanto por má-fé. Nesse caso, será orquestrada a transferência tributária, cabendo à administração, conforme autorizado no artigo 148 do CTN, arbitrar o valor correspondente para a base de cálculo. As alíquotas do imposto de transmissão, para estarem em conformidade com a lei do município, devem ter um percentual único. A doutrina majoritária e a jurisprudência do STF julgam inadmissível o progresso de alíquotas para o ITBI. Seguindo essa vertente, a Súmula n. 656 do STF dita que: É inconstitucional
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