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Indaial – 2021 Saúde do Trabalhador Prof.a Natália Ferraz Mello 1a Edição FiSioTerapia na Elaboração: Prof.a Natália Ferraz Mello Copyright © UNIASSELVI 2021 Revisão, Diagramação e Produção: Equipe Desenvolvimento de Conteúdos EdTech Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Ficha catalográfica elaborada pela equipe Conteúdos EdTech UNIASSELVI Impresso por: C397 CENTRO UNIVERSITÁRIO LEONARDO DA VINCI. Núcleo de Educação a Distância. MELLO, Natália Ferraz. Fisioterapia na saúde do trabalhador. Natália Ferraz Mello. Indaial - SC: UNIASSELVI, 2021. 209p. ISBN 978-65-5663-875-1 ISBN Digital 978-65-5663-876-8 “Graduação - EaD”. 1. Saúde 2. Fisioterapia 3. Trabalhador CDD 610 Bibliotecário: João Vivaldo de Souza CRB- 9-1679 Caro acadêmico, seja bem-vindo à disciplina de Fisioterapia na Saúde do Trabalhador! Nesta disciplina, você entenderá como práticas de ergonomia podem contribuir na prevenção de lesões no trabalho e podem servir como ferramentas para o tratamento de diversas disfunções quando já estiverem preestabelecidas. A partir de hoje, você olhará para um posto de trabalho de uma forma diferente, e pensará como otimizar esse espaço com o intuito de promover a saúde e o bem-estar dos trabalhadores. Inclusive, utilizar seus conhecimentos para organizar seu espaço de estudo e atuação profissional, afinal, também pertencemos a uma classe trabalhadora. Na Unidade 1 deste livro didático, você conhecerá a história desta subárea e sua evolução como uma forma de cuidar da saúde. Além disso, conhecerá os principais conceitos e definições, normas reguladoras, e terá todo o suporte básico para a correta utilização da antropometria para o tratamento de pacientes. Já na Unidade 2, você conhecerá formas de avaliar um posto do trabalho e os riscos laborais que diferentes espaços ocupacionais podem oferecer. Abordaremos também, além da biomecânica, questões relacionadas ao bem-estar psicológico e emocional dos colaboradores. Na Unidade 3, falaremos sobre a intervenção da fisioterapia nesse espaço, discutiremos tipos de lesões musculoesqueléticas relacionadas e destacaremos a cinesioterapia como recurso de tratamento. Preparamos também, ao final de cada tópico, um resumo com as principais evidências científicas destas técnicas na prática clínica. Isso permitirá um uso mais eficiente e seguro das técnicas no seu dia a dia. Esperamos que nossos esforços na elaboração deste livro didático contribuam com a construção do seu conhecimento e a sua evolução profissional. Uma ótima leitura e bons estudos! Prof.a Natália Ferraz Mello APRESENTAÇÃO Olá, acadêmico! Para melhorar a qualidade dos materiais ofertados a você – e dinamizar, ainda mais, os seus estudos –, nós disponibilizamos uma diversidade de QR Codes completamente gratuitos e que nunca expiram. O QR Code é um código que permite que você acesse um conteúdo interativo relacionado ao tema que você está estudando. Para utilizar essa ferramenta, acesse as lojas de aplicativos e baixe um leitor de QR Code. Depois, é só aproveitar essa facilidade para aprimorar os seus estudos. GIO QR CODE Olá, eu sou a Gio! No livro didático, você encontrará blocos com informações adicionais – muitas vezes essenciais para o seu entendimento acadêmico como um todo. Eu ajudarei você a entender melhor o que são essas informações adicionais e por que você poderá se beneficiar ao fazer a leitura dessas informações durante o estudo do livro. Ela trará informações adicionais e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto estudado em questão. Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é o material-base da disciplina. A partir de 2021, além de nossos livros estarem com um novo visual – com um formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura –, prepare-se para uma jornada também digital, em que você pode acompanhar os recursos adicionais disponibilizados através dos QR Codes ao longo deste livro. O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com uma nova diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página – o que também contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo. Preocupados com o impacto de ações sobre o meio ambiente, apresentamos também este livro no formato digital. Portanto, acadêmico, agora você tem a possibilidade de estudar com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador. Preparamos também um novo layout. Diante disso, você verá frequentemente o novo visual adquirido. Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa continuar os seus estudos com um material atualizado e de qualidade. ENADE LEMBRETE Olá, acadêmico! Iniciamos agora mais uma disciplina e com ela um novo conhecimento. Com o objetivo de enriquecer seu conheci- mento, construímos, além do livro que está em suas mãos, uma rica trilha de aprendizagem, por meio dela você terá contato com o vídeo da disciplina, o objeto de aprendizagem, materiais complementa- res, entre outros, todos pensados e construídos na intenção de auxiliar seu crescimento. Acesse o QR Code, que levará ao AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo. Conte conosco, estaremos juntos nesta caminhada! Acadêmico, você sabe o que é o ENADE? O Enade é um dos meios avaliativos dos cursos superiores no sistema federal de educação superior. Todos os estudantes estão habilitados a participar do ENADE (ingressantes e concluintes das áreas e cursos a serem avaliados). Diante disso, preparamos um conteúdo simples e objetivo para complementar a sua compreensão acerca do ENADE. Confira, acessando o QR Code a seguir. Boa leitura! SUMÁRIO UNIDADE 1 — FISIOTERAPIA NO TRABALHO: INTRODUÇÃO E CONCEITUAÇÃO ................... 1 TÓPICO 1 — FUNDAMENTOS E HISTÓRICO DA ERGONOMIA ...............................................3 1 INTRODUÇÃO .......................................................................................................................3 2 HISTÓRIA E CONCEITO .......................................................................................................3 2.1 ERGONOMIA NO MUNDO .................................................................................................................... 13 2.2 ERGONOMIA NO BRASIL ................................................................................................................... 15 2.3 EVIDÊNCIAS CIENTÍFICAS SOBRE ERGONOMIA NA FISIOTERAPIA ...................................... 18 RESUMO DO TÓPICO 1 ........................................................................................................ 20 AUTOATIVIDADE .................................................................................................................. 21 TÓPICO 2 — ORGANIZAÇÃO E SEGURANÇA NO TRABALHO E NOÇÕES SOBRE AS NORMAS REGULAMENTADORAS (NR) .............................................................................. 23 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................... 23 2 PRINCIPAIS NORMAS REGULAMENTADORAS DO TRABALHO ..................................... 24 3 REGULAMENTAÇÃO DA ATUAÇÃO DO FISIOTERAPEUTA NA SAÚDE DO TRABALHADOR ................................................................................................................ 26 RESUMO DO TÓPICO 2 ........................................................................................................ 30 AUTOATIVIDADE .................................................................................................................. 31 TÓPICO 3 — ANTROPOMETRIA E FERRAMENTAS DE ANÁLISE ERGONÔMICA PARA CLASSIFICAÇÃO DOS FATORES DE RISCOS DO POSTO DE TRABALHO ......................... 33 1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................................33 2 CLASSIFICAÇÃO INTERNACIONAL DE FUNCIONALIDADE (CIF) NA SAÚDE DO TRABALHADOR ...........................................................................................................37 3 FERRAMENTAS DE ANÁLISE ERGONÔMICA PARA CLASSIFICAÇÃO DOS FATORES DE RISCOS DO POSTO DE TRABALHO .................................................................................. 44 3.1 AET – ANÁLISE ERGONÔMICA DO TRABALHO ........................................................................... 48 3.2 EWA – ERGONOMICS WORKPLACE ANALYSIS ............................................................................50 3.3 NIOSH – NATIONAL INSTITUTE FOR OCCUPATIONAL SAFETY AND HEALTH .....................52 3.4 OWAS – OVAKO WORKING POSTURE ANALYSING SYSTEM .....................................................52 3.5 RULA – RAPID UPPER LIMB ASSESSMENT RAPID UPPER LIMB ASSESSMENT ...............54 3.6 PROTOCOLO SAPO .............................................................................................................................59 3.7 AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DE VIDA NO TRABALHO SEGUNDO O MODELO DE WALTON ...........................................................................................................................61 LEITURA COMPLEMENTAR ................................................................................................ 63 RESUMO DO TÓPICO 3 ........................................................................................................ 69 AUTOATIVIDADE ..................................................................................................................70 REFERÊNCIAS ......................................................................................................................72 UNIDADE 2 — AVALIAÇÃO E INTERVENÇÃO PREVENTIVA NAS DISFUNÇÕES RELACIONADAS À SAÚDE DO TRABALHADOR ..................................................................75 TÓPICO 1 — ANÁLISE E AVALIAÇÃO DAS SITUAÇÕES DE RISCO NO TRABALHO: ABORDAGEM .................................................................................................. 77 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................... 77 2 ANÁLISE E AVALIAÇÃO DAS SITUAÇÕES DE RISCO NO TRABALHO COM ÊNFASE BIOMECÂNICA .................................................................................................... 77 2.1 POSTURA E ADAPTAÇÕES ................................................................................................................ 79 2.2 ANÁLISE ERGONÔMICA ....................................................................................................................82 2.3 RISCOS NO TRABALHO .................................................................................................................... 84 3 ABORDAGEM COM ÊNFASE BIOMECÂNICA OCUPACIONAL ......................................... 85 3.1 ANÁLISE MULTIFATORIAL ..................................................................................................................86 3.2 EVIDÊNCIAS CIENTÍFICAS .............................................................................................................. 88 RESUMO DO TÓPICO 1 ......................................................................................................... 91 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................. 92 TÓPICO 2 — IMPLICAÇÕES DE POSTURAS, MOVIMENTOS E CONDIÇÕES ADVERSAS ...95 1 INTRODUÇÃO .....................................................................................................................95 2 EXCESSO DE CARGA E IMPLICAÇÕES ............................................................................95 2.1 RECOMENDAÇÕES AO TRABALHO COM CARGA .........................................................................96 2.2 CONSTRUÇÃO CIVIL ........................................................................................................................... 97 2.3 ATIVIDADES DE FABRICAÇÃO DE MÓVEIS ..................................................................................101 3 IMPLICAÇÕES DE POSTURAS, MOVIMENTOS E CONDIÇÕES ADVERSAS DURANTE ATIVIDADES SEDENTÁRIAS ........................................................................................... 101 3.1 IMPLICAÇÕES FÍSICAS E PSICOLÓGICAS DO TRABALHO HOME OFFICE ............................101 3.2 TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO E ATENDENTES DE TELEMARKETING .............................103 3.3 IMPLICAÇÕES EM ATIVIDADES EM PROFISSIONAIS DA SAÚDE ........................................... 107 RESUMO DO TÓPICO 2 ....................................................................................................... 118 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................ 119 TÓPICO 3 — VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA NA SAÚDE DO TRABALHADOR ................... 121 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 121 2 EIXOS DE ATUAÇÃO ....................................................................................................... 121 2.1 POLÍTICA NACIONAL DE SAÚDE DO TRABALHADOR E DA TRABALHADORA – PNSTT .............................................................................................................. 122 2.2 REDE NACIONAL DE ATENÇÃO INTEGRAL À SAÚDE DO TRABALHADOR (RENAST) ............................................................................................................. 123 2.3 NOTIFICAÇÕES DE DOENÇAS E AGRAVOS RELACIONADOS AO TRABALHO .......................................................................................................................................... 125 3 EQUIPAMENTOS DE PROTEÇÃO ....................................................................................126 3.1 EQUIPAMENTO DE PROTEÇÃO INDIVIDUAL................................................................................ 127 3.2 TIPOS DE EPIS ..............................................................................................................127 3.3 PREVENÇÃO DE ACIDENTES .......................................................................................129 LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................... 131 RESUMO DO TÓPICO 3 .......................................................................................................138 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................139 REFERÊNCIAS .................................................................................................................... 141 UNIDADE 3 — INTERVENÇÃO FISIOTERAPÊUTICA NAS DISFUNÇÕES DECORRENTES DO TRABALHO ...................................................................................................................145 TÓPICO 1 — PREVENÇÃO FISIOTERAPÊUTICA NAS LESÕES MUSCULOESQUELÉTICAS RELACIONADAS AO TRABALHO .......................................... 147 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 147 2 ASPECTOS DA INTERVENÇÃO ERGONÔMICA: ANÁLISE DA RELAÇÃO HOMEM-TRABALHO ........................................................................................................ 147 2.1 QUESTÕES PSICOSSOCIAIS ............................................................................................................148 2.2 ASPECTOS FÍSICOS ......................................................................................................................... 149 2.3 FATORES BIOMECÂNICOS, INDIVIDUAIS E ORGANIZACIONAIS ............................................ 152 RESUMO DO TÓPICO 1 .......................................................................................................154AUTOATIVIDADE ................................................................................................................155 TÓPICO 2 — TIPOS DE LESÕES RELACIONADAS AO TRABALHO ................................... 157 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 157 2 DISFUNÇÕES MUSCULOESQUELÉTICAS RELACIONADAS AO TRABALHO................158 2.1 LESÕES POR ESFORÇOS REPETITIVOS (LER) E DISTÚRBIOS OSTEOMUSCULARES RELACIONADOS AO TRABALHO (DORT) ............................................. 163 2.2 DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO ...................................................................................................... 166 2.3 FISIOTERAPIA NA LER/DORT ........................................................................................................168 3 DERMATOSES DO TRABALHO ........................................................................................169 3.1 ETIOLOGIA E DIAGNÓSTICO ............................................................................................................ 170 3.2 FISIOTERAPIA NAS DERMATOSES OCUPACIONAIS ................................................................. 170 4 DOENÇAS DO APARELHO RESPIRATÓRIO .................................................................... 172 4.1 ATUAÇÃO DA FISIOTERAPIA ........................................................................................................... 172 RESUMO DO TÓPICO 2 ....................................................................................................... 174 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................ 175 TÓPICO 3 — FUNDAMENTOS E RECURSOS UTILIZADOS NA REABILITAÇÃO NA SAÚDE DO TRABALHADOR ......................................................................................... 177 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 177 2 TÉCNICAS DA FISIOTERAPIA UTILIZADAS PARA ANALGESIA NA SAÚDE DO TRABALHADOR ......................................................................................................... 179 2.1 FUNDAMENTOS DA ELETROTERMOTERAPIA ............................................................................. 179 2.2 FUNDAMENTOS DA TERAPIA MANUAL .......................................................................................182 2.3 FUNDAMENTOS DA ACUPUNTURA .............................................................................................183 3 CINESIOTERAPIA ............................................................................................................185 3.1 ALONGAMENTOS ...............................................................................................................................186 3.2 MOBILIDADE ...................................................................................................................................... 187 3.3 FORTALECIMENTO E POTÊNCIA ...................................................................................................188 3.4 GINÁSTICA LABORAL ......................................................................................................................189 LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................... 197 RESUMO DO TÓPICO 3 ...................................................................................................... 204 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................... 205 REFERÊNCIAS ................................................................................................................... 207 1 UNIDADE 1 - FISIOTERAPIA NO TRABALHO: INTRODUÇÃO E CONCEITUAÇÃO OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de: • refletir acerca da história da fisioterapia do trabalho e os fatores contribuintes de sua evolução; • discutir os princípios da prática adequada da ergonomia na saúde do trabalhador; • conhecer os conceitos e terminologias utilizadas na fisioterapia laboral; • conhecer as organizações e normas reguladoras da segurança no trabalho. A cada tópico desta unidade você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado. TÓPICO 1 – FUNDAMENTOS E HISTÓRICO DA ERGONOMIA TÓPICO 2 – ORGANIZAÇÃO E SEGURANÇA NO TRABALHO E NOÇÕES SOBRE AS NORMAS REGULAMENTADORAS (NR) TÓPICO 3 – ANTROPOMETRIA E FERRAMENTAS DE ANÁLISE ERGONÔMICA PARA CLASSIFICAÇÃO DOS FATORES DE RISCOS DO POSTO DE TRABALHO Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações. CHAMADA 2 CONFIRA A TRILHA DA UNIDADE 1! Acesse o QR Code abaixo: 3 FUNDAMENTOS E HISTÓRICO DA ERGONOMIA 1 INTRODUÇÃO TÓPICO 1 - UNIDADE 1 A saúde do trabalhador configura-se como um campo de práticas e de conhecimentos estratégicos interdisciplinares – técnicos, sociais, políticos, humanos – multiprofissionais e interinstitucionais, voltados para analisar e intervir nas relações de trabalho que provocam doenças e agravos (GOMEZ; VASCONCELLOS; MACHADO, 2018). Nesse sentido, o profissional especialista em fisioterapia do trabalho torna-se cada vez mais fundamental no meio laboral por atuar principalmente em áreas como a ergonomia e biomecânica, juntamente a uma equipe multidisciplinar. Sua atuação visa melhorar a qualidade de vida do trabalhador e prevenir lesões musculoesqueléticas. O resultado desta intervenção é uma melhora no desempenho e na produtividade no trabalho (BAÚ; KLEIN, 2009). Os conceitos e definições da ergonomia no trabalho estão em constante discus- são e aprimoramento no âmbito acadêmico. Há, ainda, uma grande dificuldade em relatar suas etapas históricas dentro do âmbito geográfico e a participação de seus precursores. Nessa perspectiva, iniciaremos nosso estudo, compreendendo a evolução his- tórica da saúde do trabalhador, evidenciando a atuação da fisioterapia neste contexto. 2 HISTÓRIA E CONCEITO Desde a Antiguidade, a forma de trabalho é motivo de estudos e de preocupações para a sociedade. A simplificação e a preparação do trabalho provavelmente foram de grande importância, sem as quais possivelmente não existiriam as grandiosas realizações dos egípcios, persas, gregos e romanos (SILVA; PASCHOARELLI, 2010). Os primeiros estudos sobre as relações entre homem e o trabalho se perdem na origem dos tempos: em termos arqueológicos, é possível demonstrar que os utensílios de pedra lascada se miniaturizaram, num processo de melhoria de manuseabilidade e que teve resultados produtivos no ganho de eficiência na caça e coleta (VIDAL, 2000). A eficiência nesse processo de caça permitiu uma nova forma de divisão do trabalho, podendo as mulheres se ocuparem melhor com os bebês e com isso reduzindo a mortalidade infantil. 4 FIGURA 1 – INSTRUMENTOS DE TRABALHO NEOLÍTICOS FONTE: <https://arte-na-idade-da-pedra-blog.tumblr.com/page/2>. Acesso em: 7 jul. 2021. Existem também, no Museu do Louvre, papiros egípcios que denotam recomendações de natureza ergonômica para a construção de utensílios de construção civil, assim como desenhos de arranjos organizacionais para o canteiro de obras de pirâmides (VIDAL, 2000; SILVA; PASCHOARELLI, 2010). No sentido clássico, a ergonomia buscou primeiramente entender os fatores humanos pertinentes ao projeto de instrumentos de trabalho, ferramentas e outros apetrechos típicos da atividade humana em ambiente profissional. FIGURA 2 – ESTRUTURAÇÃO DO TRABALHO EGÍPCIO FONTE: <https://super.abril.com.br/mundo-estranho/como-egipcios-ergueram-blocos-tao- pesados-para-construir-as-piramides/>. Acesso em: 7 jul. 2021. 5 Mais adiante, buscou-se entender, tabelar e organizar dados sobre osfatores humanos que deveriam ser considerados não apenas para os instrumentos, mas para os projetos de sistemas de trabalho, como as linhas de montagem, as salas de controle, os postos de direção de máquinas (cockpits) e assim por diante (VIDAL, 2000; SILVA; PASCHOARELLI, 2010). No seu sentido mais contemporâneo, busca-se entender os determinantes de uma atividade de trabalho através de contribuições num sentido ainda mais amplo, que incluem a organização do trabalho e os softwares, procedimentos e estratégias operatórias (VIDAL, 2000). FIGURA 3 – ERGONOMIA CONTEMPORÂNEA FONTE: <http://www.ergonomia.ufpr.br/Introducao%20a%20Ergonomia%20Vidal%20CESERG.pdf>. Acesso em: 7 jul. 2021. A primeira definição de ergonomia foi feita em 1857, no ápice do movimento industrialista europeu. Esta definição foi feita por um cientista polonês, Wojciech Jarstembowsky, numa perspectiva típica da época de se entender a ergonomia como uma ciência natural em um artigo intitulado Ensaios de ergonomia, ou ciência do trabalho, baseada nas leis objetivas da ciência sobre a natureza. Essa primeira definição realizada por Jastrzebowski estabelecia que a ergonomia, como uma ciência do trabalho, requer que entendamos a atividade humana em termos de esforço, pensamento, relacionamento e dedicação (VIDAL, 2000). Vidal (2000, p. 8) assim descreve o texto pioneiro: A partir de que Wojciech Jastrzebowski da Polônia (1857) definiu er- gonomia juntando dois termos gregos ergon = trabalho e nomos = leis naturais, os pesquisadores têm procurado estabelecer as leis fundamentais baseadas nas quais esta disciplina em desenvolvi- mento pode ser classificada como uma ciência. 6 O conceito de Jastrzebowski para esta proposta trata da maneira de mobilizar quatro aspectos da natureza anímica, nos quais seriam a natureza físico-motora, a natureza estético-sensorial, a natureza mental-intelectual e a natureza espiritual-moral. Esta ciência do trabalho, portanto, significava a ciência do esforço, jogo, pensamento e devoção. Jastrzebowski destaca a proposição-chave de que esses atributos humanos se declinam e deflacionam devido a seu uso excessivo ou insuficiente. Você já refletiu sobre isso? Essas proposições vêm ao encontro do que a ciência moderna propõe tanto quando falamos de biomecânica e sobrecarga, quanto como, por exemplo, consumo alimentar e microbiota, e que a chave para o bom funcionamento do organismo humano é o equilíbrio. Interessante, não é mesmo? Na Antiguidade, aparecem algumas referências como as citações de deforma- ções posturais. Nesse mesmo período, anotam-se trabalhos no campo da toxicologia e da patologia do trabalho, abordando particularmente riscos físicos como os impactos da temperatura e da umidade, riscos ergonômicos como a adoção de posturas inadequa- das (VIDAL, 2000; SILVA; PASCHOARELLI, 2010). FIGURA 4 – PRIMEIRAS INFLUÊNCIAS ESTUDADAS NA SAÚDE LABORAL FONTE: A autora Entretanto, é no período dito moderno em que mais elementos podem ser aludidos, dada a existência de fontes históricas mais consistentes como os estudos de manuseio inadequado de cargas, riscos químicos como inalação de vapores e poeiras (VIDAL, 2000). Existem, também, registros de estudos de biomecânica e antropometria (Leonardo Da Vinci), trabalhos de higiene industrial, basicamente sobre ventilação e iluminamentos dos locais (Désargulires, Hales e Camus, século XVI; D’Arret, século XIX) e de medicina do trabalho, tanto num âmbito específico de afecções profissionais (Ramazzini e Tissot, século XVIII), como na epidemiologia (Villermé e Patissier, século XIX). Este último século é também a origem da higiene do trabalho (D’Arret, regras de higiene nas fábricas (VIDAL, 2000; SILVA; PASCHOARELLI, 2010). Riscos Ergonômicos UmidadeTemperatura 7 FIGURA 5 – HOMEM VITRUVIANO FONTE: <https://docplayer.com.br/45374850-Conforto-ambiental-i-ergonomia-e-antropometria.html>. Acesso em: 7 jul. 2021. Destacam-se menções feitas ao período que circundou a chamada Revolução Industrial, que não pode ser limitada a avanços nos processos técnicos, mas a toda uma evolução das formas de divisão do trabalho e das formas de interação entre pessoas e equipamentos técnicos (VIDAL, 2000; SILVA; PASCHOARELLI, 2010). A virada do século XIX para o século XX caracterizou-se pela passagem dos fisiologistas aos engenheiros como os principais agentes ergonômicos. Já no início do século, a proposta de F. W. Taylor não se limitava a um novo projeto organizacional. Seu estudo sobre as pás – de capacidade maior para o manuseio do carvão, material mais leve, e de menor capacidade para o minério, material mais pesado é, sem sombra de dúvida um dos primeiros trabalhos empíricos (VIDAL, 2000; SILVA; PASCHOARELLI, 2010). F. W. Taylor nasceu na Pensilvânia e foi um engenheiro considerado o pai da Administração Científica do Trabalho. IMPORTANTE 8 Na 2ª Guerra Mundial, a falta de compatibilidade entre o projeto das máquinas e dispositivos e os aspectos mecânico-fisiológicos do ser humano se agravou com o aperfeiçoamento técnico dos motores. Foram registradas situações terríveis, agora atingindo tropas e material bélico em pleno uso. Os aviões, por exemplo, passaram a voar mais alto e mais rápido (VIDAL, 2000; SILVA; PASCHOARELLI, 2010). Os pilotos, porém, sofriam da falta de oxigênio nas grandes altitudes, perda de consciência nas rápidas variações de altitude exigidas pelas manobras aéreas, e vários outros "defeitos" no sub-sistema fisiológico. Os projetistas não consideraram o funcionamento do organismo em diversas altitudes e submetidos a acelerações importantes! Como consequência, muitos avi- ões se perderam. A perda do material bélico era importante. No entanto, dado que o treinamento de um piloto levava de dois a quatro anos, a perda de um piloto treinado se constituía em perda irreversível na duração da guerra. Nessas novas circunstâncias foram formados, tanto na Inglaterra como nos Estados Unidos, novos grupos interdisci- plinares, agora com a participação de psicólogos somados aos engenheiros e médicos (VIDAL, 2000; SILVA; PASCHOARELLI, 2010). Os trabalhos desses grupos foram voltados para a adaptação de veículos militares, aviões e demais equipamentos militares, às características físicas e psicofisiológicas dos soldados, sobretudo em emergências e de pânico. E o que nos interessa, particularmente, são os estudos que se baseavam na análise e nos estudos dos materiais que retornavam e no relato de seus problemas operacionais. Assim, em seu nascedouro, a ergonomia se alimentou profundamente de dados e estudos de manutenção bélica. Segundo nos relata Vidal (2000), os cientistas que haviam participado desse esforço de guerra decidiram continuar a empreitada voltando-se para a produção civil, utilizando os métodos, técnicas e dados obtidos para a indústria. Numa precursora forma de extensão universitária são formados laboratórios universitários para atender às demandas industriais, com sucesso. Em decorrência é formada, em 1947, a primeira sociedade de ergonomia do planeta, a Ergonomics Research Society (VIDAL, 2000; SILVA; PASCHOARELLI, 2010). Nasce a corrente de ergonomia chamada de fatores humanos (Human Factors Engineering ou HFE), como uma continuidade da prática acima mencionada em operações civis. Desde então, a corrente HFE tem buscado responder à seguinte pergunta: o que se sabe acerca do ser humano e que pode ser empregado nos projetos de instrumentos, dispositivos e sistemas? Em suas interfaces com o operador humano, a HFE, até o presente, tem sido baseada em procedimentos experimentais que vão do laboratório clássico ao estudo de fatores humanos em si mesma até às modernas técnicas de simulação, buscando uma melhor conformação das interfaces entre pessoas e sistemas técnicos. 9 Os principais tratados de ergonomia foram produzidos nos anos 1960, tendo como dominante a abordagem HFE. Os mais interessantes, a nosso ver, são Woodson e Conover (USA, 1966)e Grandjean (Suíça, 1974), aqui lançado pela Editora Qualimark sob o título Ergonomia. Uma compilação acessível desses livros pode ser obtida em Lida (1991). Para um uso prático de especialistas, recomendamos o Ergonomic Checkpoints, editado pela International Labour Office, em Genebra, com o apoio da International Ergonomics Association – IEA (VIDAL, 2000). No período do pós-guerra surgiu outra vertente da ergonomia, ensejada pelas necessidades da reconstrução do parque industrial europeu dizimado. No bojo de um amplo pacto social, o projeto de reconstrução abria uma janela para o estudo de condições de trabalho, tendo como emblema a fábrica de automóveis Renault que, dadas suas características peculiares, tornar-se-ia um modelo da nova política industrial francesa (VIDAL, 2000; SILVA; PASCHOARELLI, 2010). Essa segunda vertente partiu da seguinte questão: como conceber adequada- mente os novos postos de trabalho a partir do estudo da situação existente? Dessa pre- ocupação nasce, em 1949, com Suzanne Pacaud, a análise da atividade em situação real. Suzanne Pacaud: nascida em Cracóvia, é conhecida como pioneira da psicologia ocupacional e da ergonomia. Esses autores preconizavam que o projeto de um posto de trabalho deveria ser precedido por um estudo etnográfico da atividade e mostravam o distanciamento entre as suposições iniciais e o auferido nas análises. A proposta foi formalizada somente em 1966 por Alain Wisner, já como Análise Ergonômica do Trabalho (AET). A década de 1970 marca a passagem definitiva da análise situada para o campo da ação com uma crescente integração da ergonomia na prática industrial, para o que, foi decisivo o mesmo ambiente que engendra o movimento pela gestão da qualidade. Surge em especial, na Europa, um conceito novo, a intervenção ergonômica, hoje expressão corrente nos EUA, Japão, França, Alemanha, Canadá, Suécia e Brasil, apenas para citar os países onde existe um maior avanço da ergonomia. As mudanças de paradigmas econômicos, no limiar dos anos 1980, ampliaram esse quadro fazendo brotar duas novas considerações que dão à ergonomia seu forma- to atual da ação ergonômica (VIDAL, 2000; SILVA; PASCHOARELLI, 2010). IMPORTANTE 10 A primeira delas, nos Estados Unidos e Países Nórdicos, preconiza que os projetos de melhoria ergonômica são mais bem-sucedidos numa perspectiva maior e inseridas na estratégia organizacional, e que foi chamada a partir de 1990 de Macroergonomia (VIDAL, 2000). A segunda é proposta para que sejam utilizadas contingências sociais e culturais simultaneamente, para processar da melhor forma as transferências tecnológicas nos países, que foi cunhada por seu autor em 1974 de Antropotecnologia (VIDAL, 2000). Examinemos, pois, esses três formatos da ação ergonômica contemporânea. O conceito de intervenção ergonômica, inicialmente desenvolvido pela escola francesa de Ergonomia, é hoje uma forma internacional de atuação do profissional que trabalha nesta área (VIDAL, 2000). A efetividade da ergonomia consiste no fato de resultar em transformações positivas no ambiente de trabalho (ambiente aqui tomado em seu sentido amplo, o que inclui a tecnologia e a organização como seus componentes). Segundo um consultor norte-americano contemporâneo (Burke, 1998), o trabalho de preparar um diagnóstico é irrelevante se este não criar mudanças positivas. Isso significa que a intervenção ergonômica é uma tecnologia da prática que objetiva modificar a situação de trabalho para torná-la mais adequada às pessoas que nela operam (VIDAL, 2000). Diferencia-se, desta forma, de estudos e análises de caráter apenas descritivo ou sem comprometimento de fato com as mudanças no trabalho, como a produção de lau- dos ou diagnósticos puramente acadêmicos (VIDAL, 2000; SILVA; PASCHOARELLI, 2010). O que caracteriza uma intervenção ergonômica é a construção que vai viabilizar a mudança necessária, e que possa inserir os resultados da ergonomia nas crenças e valores das organizações que as demandam e recebem os seus resultados. Essa construção divide a intervenção e se realiza em distintas etapas: a instrução da demanda, a análise da atividade e dos riscos ergonômicos, a concepção de soluções ergonômicas e a implementação ergonômica (VIDAL, 2000; SILVA; PASCHOARELLI, 2010). A instrução da demanda compreende todo o encaminhamento contratual da intervenção, o que passa pelo ajuste e foco do problema, identificação do processo e tomada de decisão. A expressão é empregada em realidades diversas como Estados Unidos, Suécia, Japão Austrália e Brasil (VIDAL, 2000; SILVA; PASCHOARELLI, 2010). A análise da atividade e dos riscos ergonômicos consiste no conjunto de coletas de dados e informações que permitem ao ergonomista realizar as modelagens necessárias para prover mudanças no ambiente de trabalho (VIDAL, 2000; SILVA; PASCHOARELLI, 2010). 11 Por risco ergonômico entenderemos a condição ou a prática que traga obstáculos à produtividade, que desafie a boa qualidade ou que traga prejuízos ao conforto, segurança e bem-estar do trabalhador. A etapa de concepção de soluções ergonômicas varia de acordo com a natureza do problema e da forma como a demanda foi instruída e ainda dos resultados da fase anterior. A implementação ergonômica se constitui na fase final de uma intervenção (VIDAL, 2000; SILVA; PASCHOARELLI, 2010). A definição, hoje internacionalmente aceita (ABERGO, 2000), chama a atenção para três aspectos: • O tipo de conhecimento e suas inter-relações. • O foco nas mudanças. • Os critérios da ação ergonômica. A consideração desses aspectos configura contemporaneamente a ergonomia como uma disciplina de síntese entre vários aspectos do conhecimento sobre as pessoas, a tecnologia e a organização. Numa boa ergonomia, a antropometria física (as dimensões estáticas e dinâmicas do corpo), a fisiologia do trabalho (o funcionamento de nossos sistemas fisiológicos em diversos regimes), a psicologia experimental (a percepção de sinais, a discriminação de indícios, a leiturabilidade de instrumentação), a higiene e a toxicologia (os riscos envolvidos nas atividades) contribuem com a adequação da tecnologia e da organização do trabalho aos trabalhadores reais. É importante destacarmos que não se pode adequar o trabalho ao ser humano se não se sabe de que ser humano se trata, portanto, que características, habilidades e limitações estamos nos referindo, não é mesmo? Precisamos falar de um trabalhador real! Estamos nos referindo a quem? Talvez um operador efetivo numa situação bem definida. Por exemplo: Trabalhador de 1,60 m não tem como alcançar adequadamente uma estante situada a 2,20 m do chão. Se o fizer, seu manuseio será certamente impróprio, podendo causar queda própria ou do objeto manuseado. Vemos aqui que as perdas materiais e os acidentes podem ter a mesma origem. Porém, este trabalhador entende que não poderá deixar cair a caixa de lâmpadas que tenta retirar desta estante. Por falta de uma escada ou acessório equivalente pode ser levado a improvisar com o que esteja disponível. Isso é avaliar os riscos ergonômicos e pensar no bem-estar do colaborador. IMPORTANTE 12 FIGURA – TRABALHADOR CARREGANDO CAIXAS FONTE: <https://www.youtube.com/watch?v=VjyVK2oto0A>. Acesso em: 18 set. 2021. A partir dos anos 1980, no Brasil, surgiram diversas iniciativas em direção à Saúde do Trabalhador. Um importante feito para a ergonomia no nosso país foi a criação da Associação Brasileira de Ergonomia – ABERGO, em 13 de julho de 1983. Nesse sentido, a ergonomia compreende um campo de estudo que objetiva modificar os sistemas de trabalho para adequar a atividades existentes, às caracterís- ticas, habilidades e limitações das pessoas com vistas ao seu desempenho eficiente, confortável e seguro (ABERGO, 2000). Em meados de 1998, um primeiro grupo de fisioterapeutas atuantes na saúde do trabalhador se mobiliza para criar a Associação Nacional de Fisioterapia do Trabalho, com o objetivode organizar e normatizar essa área em grande crescimento no Brasil. Contudo, somente em 2003, o Conselho Federal de Fisioterapia e Terapia Ocupacional (COFFITO) publicou a Resolução 259/03, que reconhece a área de atuação da Fisioterapia do Trabalho, dando referência aos procedimentos em saúde do trabalhador do profissional fisioterapeuta. Interessante, não é mesmo? Entender a história e conceito nos ajuda compreender a atuação profissional nos dias de hoje. Que tal aprofundarmos um pouco mais sobre o assunto? No próximo subtópico, destacaremos em âmbito mundial e, na sequência, em âmbito nacional. 13 2.1 ERGONOMIA NO MUNDO Possivelmente, o primeiro estudo realizado sobre o assunto foi o do general e filósofo ateniense Xenofonte, por volta de 427 a 355 a.C., que preconizou a divisão do trabalho de maneira que cada operário efetuasse sempre em uma só operação, durante a fabricação de coturnos da armada grega. O estudo do trabalho continuou com Leonardo da Vinci (entre 1452 e 1519), que se destacou por suas ideias nesse campo, como já mencionamos anteriormente. Suas anotações continham ideias de organização racional de trabalho, que indicam a divisão das atividades profissionais, a mensuração do tempo e o uso de quadros visuais de ordenação e de lançamento, semelhantes aos atuais quadros de planejamento. Em meados do século XVII, verifica-se que foram determinadas e estabelecidas algumas tarefas diárias que poderiam ser exigidas dos trabalhadores (VIDAL, 2000; SILVA; PASCHOARELLI, 2010). Além disso, institui-se um salário incentivo, sendo essa talvez a primeira vez que surge a ideia de remuneração humana do trabalho. Nesse mesmo período, o médico italiano Bernardino Ramazzini escreveu sobre doenças e lesões relacionadas ao trabalho. Seus estudos foram publicados por volta de 1700, em um livro denominado De Morbis Artificum Diatriba (Doenças ocupacionais). Porém, foi censurado ao visitar seus pacientes nos locais de trabalho a fim de identificar as causas de suas doenças (VIDAL, 2000; SILVA; PASCHOARELLI, 2010). FIGURA 6 – BERNARDINO RAMAZZINI FONTE: <https://www.fcm.unicamp.br/boletimfcm/mais_historia/bernardino-ramazzini-um- medico-cada-vez-mais-necessario>. Acesso em: 18 set. 2021. 14 Ramazzini é considerado um dos primeiros estudiosos das causas das doenças ocupacionais. No fim do século XVII já se observavam estudos referentes à substituição dos seres humanos por máquinas nos postos de trabalho, principalmente em construções, para poupar a saúde e integridade física dos trabalhadores. É exatamente nessa ocasião que se incluem os estudos de Bernard Forest de Bélidor, com planejamento do trabalho e das interfaces ergonômicas na organização do trabalho (VIDAL, 2000; SILVA; PASCHOARELLI, 2010). Bernard Forest de Bélidor: nascido na Espanha, dedicou-se às ciências e à engenharia civil tornando-se especialista em hidráulica e matemática. Realizou várias contribuições para a ergonomia, em muitos dos seus desenhos demonstrava como o ser humano interagia com as máquinas e de que forma o trabalho era realizado com instrumentos que facilitavam o carregamento de peso, entre outros esforços que anteriormente eram realizados pelo próprio trabalhador. Foram exatamente as inquietações e divergências em sua definição que possibilitaram o surgimento e crescimento da ergonomia, principalmente nas sociedades criadas em meados do século XX, destaque para a Ergonomics Research Society, na Inglaterra, e a Societé d´Ergonomie de Langue Française, na França. As discussões sobre o que era de maior importância – a pesquisa ergonômica e a divulgação de seus resultados ou o desenvolvimento e aplicação da ergonomia na indústria – de certa forma fizeram com que ambas as coisas acontecessem e evoluíssem (VIDAL, 2000; SILVA; PASCHOARELLI, 2010). De forma geral, observa-se que na América Latina, o interesse pela ergonomia é recente, ficando, na maioria das vezes, confinada na academia ou em cursos específicos, não se desenvolvendo plenamente na área industrial (VIDAL, 2000; SILVA; PASCHOARELLI, 2010). É primordial que se mobilizem esforços no sentido da busca de políticas adequadas à realidade da América Latina, de tal forma que possa se prever o estabelecimento de um processo contínuo de industrialização, em consonância com as condições ambientais e culturais dos países desse bloco latino (VIDAL, 2000; SILVA; PASCHOARELLI, 2010). IMPORTANTE 15 Você certamente já deve ter visto o filme Tempos Modernos, mas que tal olhar por uma outra ótica? Vamos refletir sobre as implicações desse meio laboral na biomecânica e no psicológico deste trabalhador? Como você, futuro fisioterapeuta, poderia intervir nessa situação? Qual seria seu objetivo principal? E suas condutas? Reflita enquanto assiste. FIGURA – CENA DO FILME TEMPOS MODERNOS FONTE: <https://www.youtube.com/watch?v=3tL3E5fIZis>. Acesso em: 7 jul. 2021. 2.2 ERGONOMIA NO BRASIL Ao mesmo tempo que o levantamento histórico da ergonomia no Brasil revela que uma investigação sobre ergonomia foi realizada no século XIX, com enfoque na antropometria, verificou-se que houve um longo período sem estudos nessa área. Somente a partir da década de 1970, pesquisadores de várias universidades brasileiras passam a introduzir a ergonomia no escopo dos estudos de diversas áreas do conhecimento (VIDAL, 2000; SILVA; PASCHOARELLI, 2010). Desse período em diante, a pesquisa em ergonomia vem se consolidando no país, porém ainda foi pequena a quantidade de livros produzidos no Brasil até o início da primeira década do século XXI. A razão dessa pequena produção de livros por autores brasileiros está relacio- nada ao fato de que efetivamente as pesquisas em ergonomia são recentes no país, visto que o primeiro trabalho publicado data de 1973 (VIDAL, 2000; SILVA; PASCHOA- RELLI, 2010). INTERESSANTE 16 Já os congressos de ergonomia têm contribuído significativamente para fazer a divulgação das pesquisas já desenvolvidas e em desenvolvimento pelos grupos de pesquisa e estudiosos da área, especialmente aquelas realizadas em programas de pós-graduação. Todavia, é oportuno ressaltar que o primeiro congresso de ergonomia ocorreu em setembro de 1974 – 1° Seminário Brasileiro de Ergonomia – e foi considerado um marco para a história da ergonomia brasileira (VIDAL, 2000; SILVA; PASCHOARELLI, 2010). A ergonomia no Brasil viveu seu momento de destaque a partir da década de 1980, quando vários pesquisadores brasileiros retornaram da França após desenvolverem mestrado e doutorado, sob a orientação do professor Alain Wisner ou do professor Maurice de Montmollin, e ingressaram em universidades de vários estados brasileiros, criando ou contribuindo para a realização de cursos de especialização em ergonomia. Alain Wisner: foi um médico francês fundador da ergonomia centrada em atividades, diretor honorário do laboratório de ergonomia do Conservatoire National des Arts et Métiers (CNAM) e presidente da Sociedade de Ergonomia da Língua Francesa. Ele realizou, em 1955, o primeiro serviço de ergonomia da montadora francesa Renault. Maurice de Montmollin: estudou filosofia e psicologia, trabalhou na área de consultoria e gestão de pessoas, psicologia e ergonomia. Tornou-se professor de ergonomia na Universidade de Paris-Nord. Dirigiu, em sociedade com o professor Alain Wisner, o laboratório de ergonomia do Conservatoire National des Arts et Métiers (CNAM). Sem dúvida, esse fato contribuiu para a divulgação da ergonomia no país, bem como para despertar o interesse de pesquisadores que se envolveram com essa área de pesquisa na formação de novos ergonomistas (VIDAL, 2000; SILVA; PASCHOARELLI, 2010). Outro fator importante para o crescimento das pesquisas em ergonomia está relacionado à organização desses estudiosos e profissionais, que ocorreu com a criação da Associação Brasileira de Ergonomia (ABERGO), em agosto de 1983. A ABERGO passou a organizar congressos, uma forma de divulgar as pesquisase de estabelecer um debate crítico sobre a produção científica entre pesquisadores nacionais e internacionais. Mais recentemente, em 2004, criou a Certificação para Ergonomistas, uma forma de incentivar a especialização na área para poder obtê-la (VIDAL, 2000; SILVA; PASCHOARELLI, 2010). IMPORTANTE 17 Até a década de 1980, a atuação do fisioterapeuta estava restrita à recuperação e à reabilitação, incorporando a partir daí também as de promoção e prevenção da saúde da população como área de atuação. Entre as especialidades fisioterapêuticas, a Saúde do Trabalho e Ergonomia são exemplos que vêm aumentando em relevância clínica, com um crescente número de profissionais atuando nessas áreas em todo o mundo, refletida por um aumento na demanda por melhorias no trabalhador, saúde e produtividade da empresa (VIDAL, 2000; SILVA; PASCHOARELLI, 2010). A regulamentação do fisioterapeuta nesta área possui uma importância singular, devido ser um membro da equipe de saúde com sólida formação científica, que atua no desenvolvimento de técnicas de prevenção, avaliação, tratamento e reabilitação, que utilizando programas de orientações e promoção em saúde atua nos três níveis de atenção (VIDAL, 2000; SILVA; PASCHOARELLI, 2010). Frente a essa nova realidade, o fisioterapeuta do trabalho se volta ao ramo da saúde que estuda, avalia, previne e trata os distúrbios da cinesiologia humana, decorrentes de alterações de órgãos ou sistemas provocados pelo trabalho. Nesse pensamento, o Conselho Federal de Fisioterapia e Terapia Ocupacional (COFFITO) coloca o fisioterapeuta do trabalho como o profissional formado em curso superior de Fisioterapia, responsável pela avaliação, prevenção, tratamento e reintegração do indivíduo as suas atividades laborais (VIDAL, 2000; SILVA; PASCHOARELLI, 2010). FIGURA 7 – SÍMBOLO DO COFFITO FONTE: <https://www.coffito.gov.br/nsite/?p=2610>. Acesso em: 18 set. 2021. Que tal assistirmos a um documentário sobre a realidade do trabalho na indústria brasileira? O documentário Carne e Osso retrata o dia a dia de trabalhadores de frigoríficos que se deparam cotidianamente com uma série de riscos que a maior parte das pessoas sequer imagina. Vamos refletir sobre a atuação do fisioterapeuta neste contexto? Que contribuições poderíamos trazer para esses trabalhadores? Reflita. DICAS 18 FIGURA – IMAGEM DOCUMENTÁRIO FONNTE: <https://www.youtube.com/watch?v=imKw_sbfaf0>. Acesso em: 7 jul. 2021. 2.3 EVIDÊNCIAS CIENTÍFICAS SOBRE ERGONOMIA NA FISIOTERAPIA O ambiente de trabalho necessita da atuação do fisioterapeuta, profissional apto a atuar preventivamente, orientando adequadamente o trabalhador quanto aos cuidados com a postura e a saúde, de modo a minimizar os fatores de risco de surgimento de doenças ocupacionais (VIDAL, 2000; SILVA; PASCHOARELLI, 2010). Porém, há necessidade de propostas terapêuticas intervencionistas que favoreçam a redução ou remissão da incidência de agravantes contra a saúde do trabalhador no ambiente (laboral) que tenham evidências científicas comprovada, para que possam ser reproduzidas em diferentes ambientes. No entanto, as pesquisas científicas ainda são incipientes, com um número limitado de estudos publicados em comparação a outras especialidades (VIDAL, 2000; SILVA; PASCHOARELLI, 2010). As intervenções ergonômicas para prevenir desordens musculoesqueléticas do membro superior e pescoço relacionadas ao trabalho em funcionários administrativos, o uso de um suporte de braço com um mouse de computador em postura neutra, podem ou não prevenir doenças musculoesqueléticas relacionadas ao trabalho nos funcionários administrativos. Outro estudo destaca que ainda há incertezas quanto à efetividade de outras intervenções ergonômicas físicas, organizacionais e cognitivas. Há evidências de baixa qualidade de que diferentes frequências de pausa no trabalho podem não ter efeito na dor musculoesquelética, desconforto e fadiga relatados pelos participantes. 19 Para produtividade e desempenho no trabalho, há poucas evidências fidedignas. Estudos de qualidade são necessários para determinar a eficácia da frequência, duração e tipo de intervenções na saúde do trabalhador. Todavia, a prática clínica do fisioterapeuta, quando analisada qualitativamente, se mostra eficiente e proporciona maior qualidade de vida aos trabalhadores de um modo geral. 20 Neste tópico, você aprendeu: • A atuação do fisioterapeuta do trabalho visa melhorar a qualidade de vida do trabalhador e prevenir lesões musculoesqueléticas, e essa intervenção propicia uma melhora no desempenho e na produtividade no trabalho. • Desde a Antiguidade até os dias de hoje, a forma de trabalho é motivo de estudos e de preocupações para a sociedade. • A ergonomia compreende um campo de estudo que objetiva modificar os sistemas de trabalho para adequar a atividade nele existente às características, habilidades e limi- tações das pessoas com vistas ao seu desempenho eficiente, confortável e seguro. • Há necessidade de maiores pesquisas científicas na área, pois há poucas evidên- cias fidedignas. RESUMO DO TÓPICO 1 21 AUTOATIVIDADE 1 Com base na definição da ABERGO (Associação Brasileira de Ergonomia), a Ergonomia é a ciência que: a) ( ) É uma ciência que objetiva modificar os sistemas de trabalho para adequar a atividade nele existentes às características dos trabalhadores. b) ( ) É um campo de estudo que faz parte da Engenharia Econômica e discute processos Químicos e Legislação Trabalhista. c) ( ) É uma ciência que trata lesões provenientes do trabalho, somente. d) ( ) É um campo de pesquisa operacional da legislação trabalhista e logística. 2 Em sua atividade de trabalho, o ser humano interage com os diversos componentes do sistema de trabalho: com os equipamentos, instrumentos e mobiliários, formando interfaces sensoriais, energéticas e posturais, com a organização e o ambiente formando interfaces ambientais, cognitivas e organizacionais. Nesse sentido, sobre ergonomia é correto afirmar que: a) ( ) Quando analisamos o risco ergonômico, levamos em conta somente o ambiente de trabalho. b) ( ) Há inúmeros estudos que comprovam a eficácia da fisioterapia do trabalho. c) ( ) Desde os primórdios, passando pela Antiguidade até os dias de hoje, a forma de trabalho é motivo de estudos e de preocupações para a sociedade. d) ( ) O mobiliário adequado é o único requisito para preservar a saúde do trabalhador. 3 A ergonomia é defendida como o “estudo do trabalho a não ser enquanto abordagens ou explicações mais ou menos superficiais, que devem ser mais cedo ou mais tarde aglutinadas num todo mais global e coerente” (MENDES, 2003, p. 1778). Nesse senti- do, classifique V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas: ( ) O fisioterapeuta do trabalho se volta ao ramo da saúde que estuda, avalia, previne e trata os distúrbios da cinesiologia humana, decorrentes de alterações de órgãos ou sistemas provocadas pelo trabalho. ( ) Não há necessidade de propostas terapêuticas intervencionistas que favoreçam a redução ou remissão da incidência de agravantes contra a saúde do trabalhador no ambiente. ( ) A Ergonomia compreende um campo de estudo que objetiva modificar os sistemas de trabalho para adequar a atividade nele existentes às características, habilidades e limitações das pessoas com vistas ao seu desempenho eficiente, confortável e seguro. 22 Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA: a) ( ) V – F – F. b) ( ) V – F – V. c) ( ) F – V – F. d) ( ) F – F – V. 4 A regulamentação do fisioterapeuta na saúde do trabalho possui uma importância singular, devido ser um membro da equipe de saúde com sólida formação científica e conhecimento biomecânico e fisiológico. Nesse sentido, disserte sobre a atuação do fisioterapeuta na saúde do trabalho. 5 Existem muitas estratégias de intervenção a serem adotadas nas atividades ergonômicas. Nesta perspectiva, cite três adequações que podeminterferir no cotidiano do trabalhador. 23 ORGANIZAÇÃO E SEGURANÇA NO TRABALHO E NOÇÕES SOBRE AS NORMAS REGULAMENTADORAS (NR) 1 INTRODUÇÃO UNIDADE 1 TÓPICO 2 - A Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT) é a principal referência de direitos dos trabalhadores brasileiros. Criada através do Decreto-Lei n° 5.452, de 1° de maio de 1943, sancionada pelo presidente Getúlio Vargas, com objetivo de unificar toda a legislação trabalhista então existente no Brasil. FIGURA 8 – PRESIDENTE GETÚLIO VARGAS FONTE: <http://dibrarq.arquivonacional.gov.br/index.php/getulio-vargas>. Acesso em: 18 set. 2021. Composta por 8 capítulos e 922 artigos que abrangem e especificam direitos trabalhistas e informações sobre diversos temas, e no seu capítulo V trata da Segurança e Medicina do Trabalho, que determina: Da Segurança e Medicina do Trabalho Art. 154 da CLT – A observância, em todos os locais de trabalho, do disposto neste Capítulo, não desobriga as empresas do cumprimento de outras disposições que, com relação à matéria, sejam incluídas em códigos de obras ou regulamentos sanitários dos Estados ou Municípios em que se situem os respectivos estabelecimentos, bem como daquelas oriundas de convenções coletivas de trabalho (BRASIL, 2017, s.p.). 24 Nessa perspectiva, as Normas Regulamentadoras (NR) complementam a CLT, e são relativas à segurança e medicina do trabalho, são de observância obrigatória pelas empresas privadas e públicas e pelos órgãos públicos da administração direta e indireta, bem como pelos órgãos dos Poderes Legislativo e Judiciário. O não cumprimento das disposições legais e regulamentares sobre segurança e medicina do trabalho acarretará ao empregador a aplicação das penalidades previstas na legislação pertinente. 2 PRINCIPAIS NORMAS REGULAMENTADORAS DO TRABALHO As Normas Regulamentadoras relativas à segurança e medicina do trabalho são de observância obrigatória pelas empresas privadas e públicas e pelos órgãos públicos de administração direta e indireta, bem como pelos órgãos dos Poderes Legislativo e Judiciário, que possuam empregados regidos pela CLT. As disposições contidas nas NR aplicam-se, no que couber, aos trabalhadores avulsos, às entidades ou empresas que lhes tomem o serviço e aos sindicatos representativos das respectivas categorias profissionais. Existem diversas normas em vigência, e você não precisa conhecer todas, mas é interessante que ao se inserir em locais como ambulatórios de indústrias, ou prestação de serviços a empresas, você leia e esteja por dentro das normas específicas para estes locais. Por isso, citaremos as principais normas vigentes: • NR 01 - Disposições Gerais • NR 02 - Inspeção Prévia • NR 03 - Embargo ou Interdição • NR 04 - Serviços Especializados em Eng. de Segurança e em Medicina do Trabalho • NR 05 - Comissão Interna de Prevenção de Acidentes • NR 06 - Equipamentos de Proteção Individual - EPI • NR 07 - Programas de Controle Médico de Saúde Ocupacional • NR 08 - Edificações • NR 09 - Programas de Prevenção de Riscos Ambientais • NR 10 - Segurança em Instalações e Serviços em Eletricidade • NR 11 - Transporte, Movimentação, Armazenagem e Manuseio de Materiais • NR 12 - Máquinas e Equipamentos • NR 13 - Caldeiras, Vasos de Pressão e Tabulações e Tanques Metálicos de Armazenamento • NR 14 - Fornos • NR 15 - Atividades e Operações Insalubres • NR 16 - Atividades e Operações Perigosas • NR 17 - Ergonomia 25 • NR 18 - Condições e Meio Ambiente de Trabalho na Indústria da Construção • NR 19 - Explosivos • NR 20 - Segurança e Saúde no Trabalho com Inflamáveis e Combustíveis • NR 21 - Trabalhos a Céu Aberto • NR 22 - Segurança e Saúde Ocupacional na Mineração • NR 23 - Proteção Contra Incêndios • NR 24 - Condições Sanitárias e de Conforto nos Locais de Trabalho • NR 25 - Resíduos Industriais • NR 26 - Sinalização de Segurança • NR 27 - Registro Profissional do Técnico de Segurança do Trabalho no MTB (Revogada pela Portaria GM n° 262/2008) • NR 28 - Fiscalização e Penalidades • NR 29 - Segurança e Saúde no Trabalho Portuário • NR 30 - Segurança e Saúde no Trabalho Aquaviário • NR 31 - Segurança e Saúde no Trabalho na Agricultura, Pecuária, Silvicultura, Exploração Florestal e Aquicultura • NR 32 - Segurança e Saúde no Trabalho em Estabelecimentos de Saúde • NR 33 - Segurança e Saúde no Trabalho em Espaços Confinados • NR 34 - Condições e Meio Ambiente de Trabalho na Indústria da Construção, Reparação e Desmonte Naval • NR 35 - Trabalho em Altura • NR 36 - Segurança e Saúde no Trabalho em Empresas de Abate e Processamento de Carnes e Derivados • NR 37 - Segurança e Saúde em Plataformas de Petróleo • NRR 1 - Disposições Gerais (Revogada pela Portaria MTE 191/2008) • NRR 2 - Serviço Especializado em Prevenção de Acidentes do Trabalho Rural (Revogada pela Portaria MTE 191/2008) • NRR 3 - Comissão Interna De Prevenção De Acidentes Do Trabalho Rural (Revogada pela Portaria MTE 191/2008) • NRR 4 - Equipamento De Proteção Individual (EPI) (Revogada pela Portaria MTE 191/2008) • NRR 5 - Produtos Químicos (Revogada pela Portaria MTE 191/2008) As empresas privadas e públicas, os órgãos públicos da administração direta e indireta e dos poderes Legislativo e Judiciário, que possuam empregados regidos pela Consolidação das Leis do Trabalho, manterão, obrigatoriamente, Serviços Especializados em Engenharia de Segurança e em Medicina do Trabalho, com a finalidade de promover a saúde e proteger a integridade do trabalhador no local de trabalho. Os Serviços Especializados em Engenharia de Segurança e em Medicina do Trabalho devem ser compostos obrigatoriamente por: • Médico do Trabalho. • Engenheiro de Segurança do Trabalho. • Técnico de Segurança do Trabalho. • Enfermeiro do Trabalho e Auxiliar ou Técnico em Enfermagem do Trabalho. 26 Além desses profissionais, também podem fazer parte fisioterapeutas e psicólo- gos, não sendo caráter obrigatório, mas que agregam muito no trabalho interdisciplinar. Os Centros de Referência em Saúde do Trabalhador (CEREST) atuam na produ- ção de ações de vigilância em saúde, segundo o modelo de atenção orientado pela pro- moção, prevenção e proteção da saúde, buscando se organizar de forma intersetorial entre as áreas que abrangem e afetam a saúde do trabalhador. FIGURA 9 – FISIOTERAPEUTA ATUANDO NA CEREST FONTE: <http://g1.globo.com/pi/piaui/especial-publicitario/governo-do-estado-do-piaui/ noticia/2016/08/cerest-proporciona-qualidade-de-vida-aos-trabalhadores.html>. Acesso: 9 jul. 2021. O fisioterapeuta, enquanto participante do processo de consolidação de ações de vigilância, tem o desafio de compreender a abrangência de suas habilidades, o conhe- cimento do perfil epidemiológico de adoecimento dos trabalhadores e, assim, agregar em sua atuação novos elementos para análise, por exemplo, de Distúrbios Osteomus- culares Relacionados ao Trabalho (DORT), que falaremos mais adiante, possibilitando melhores condições para o desenvolvimento de ações de saúde integrais. 3 REGULAMENTAÇÃO DA ATUAÇÃO DO FISIOTERAPEUTA NA SAÚDE DO TRABALHADOR Dentro de uma empresa, o fisioterapeuta tem muitas atribuições, sendo caracterizadas pelo Conselho Federal de Fisioterapia e Terapia Ocupacional, conforme a Resolução 259, de 18 de dezembro de 2003: 27 I- Promover ações profissionais, de alcance individual e/ou coletivo, preventivas a intercorrência de processos cinesiopatológicos. II- Prescrever a prática de procedimentos cinesiológicos compen- satórios as atividades laborais e do cotidiano, sempre que diag- nosticar sua necessidade. III- Identificar, avaliar e observar os fatores ambientais que possam constituir risco à saúde funcional do trabalhador, em qualquer fase do processo produtivo, alertando a empresa sobre sua existência e possíveis consequências. IV- Realizar a análise biomecânica da atividade produtiva do trabalhador, considerando as diferentes exigências das tarefas nos seus esforços estáticos e dinâmicos, avaliando os seguintes aspectos: a) No EsforçoDinâmico – frequência, duração, amplitude e torque (força) exigido. b) No Esforço Estático – postura corporal exigida, estimativa de duração da atividade específica e sua frequência. V- Realizar, interpretar e elaborar laudos de exames biofotogramé- tricos, quando indicados para fins diagnósticos. VI- Analisar e qualificar as demandas observadas através de estudos ergonômicos aplicados, para assegurar a melhor interação entre o trabalhador e a sua atividade, considerando a capacidade humana e suas limitações, fundamentado na observação das condições biomecânicas, fisiológicas e cinesiológicas funcionais. VII- Elaborar relatório de análise ergonômica, estabelecer nexo causal para os distúrbios cinesiológicos funcionais e construir parecer técnico especializado em ergonomia (COFFITO, 2003, p. 1). Em 2007, foi realizado um projeto de lei para inclusão do fisioterapeuta do trabalho na NR4, para que seja obrigatório, em todas as empresas, a presença de um fisioterapeuta do trabalho no quadro de funcionários. Atualmente, percebe-se o aumento de profissionais atuando em fisioterapia do trabalho, somando esforços, a ABRAFIT, por meio de seus Conselheiros atuantes em diferentes estados brasileiros, buscou-se o reconhecimento da especialidade pelo COFFITO e a divulgação às empresas desse profissional, sua importância, diferencial e competências, o que frutificou, em 13 de junho de 2008, na aprovação da Resolução 351/08 pelo COFFITO, que reconhece a especialidade em fisioterapia do trabalho (BAÚ; KLEIN, 2009). 28 FIGURA 10 – ABRAFIT FONTE: <https://www.coffito.gov.br/nsite/?p=4375>. Acesso em: 18 set. 2021. Nesse sentido, o Ministério do Trabalho (MTE), por meio da Classificação Brasileira de Ocupações (CBO), descreve para o mercado brasileiro quem é esse especialista, especificando e detalhando suas práticas comprovadas nessa área, distinguindo áreas de atividade, competências pessoais e recursos de trabalho, o que aconteceu nos meses de junho e julho de 2008 (BAÚ; KLEIN, 2009). A descrição emitida pelo MTE/CBO destaca que: O especialista fisioterapeuta do trabalho executa: avaliação a clientes e pacientes (funções musculoesqueléticas; avaliação ergonômica; qualidade de vida no trabalho); estabelece o diagnóstico fisioterapêutico (coleta dados; solicita exames complementares; interpreta exames; estabelece prognóstico; prescreve a terapêutica; estabelece nexo de causa cinesiológica funcional ergonômica); planeja estratégias de intervenção (define: objetivos, condutas e procedimentos, frequência e tempo de intervenção; indicadores epidemiológicos de acidentes e incidentes; programas de atividades físicas funcionais; participa na elaboração de programas de qualidade de vida); implementa ações de intervenção (interpreta indicadores epidemiológicos de acidentes e incidentes; implementa ações de conscientização, correção e concepção; analisa fluxo de trabalho; O reconhecimento da especialidade em fisioterapia do trabalho pelo COFFITO e Ministério do Trabalho/CBO: Uma conquista para a fisioterapia e a saúde do trabalhador presta assessoria; adequa as condições de trabalho às habilidades do trabalhador; adequa fluxo, ambiente e posto de trabalho; implanta programas de pausas compensatórias; organiza rodízios de tarefas; promove a melhora de performance morfofuncional; reintegra trabalhador ao trabalho; aplica a ginástica laboral); educa em saúde (propõe mudanças de hábito de vida; orienta clientes, pacientes, familiares e cuidadores; ensina e corrige modo operatório; implementa a cultura ergonômica; 29 desenvolve programas preventivos e de promoção de saúde); gerencia serviços de saúde (elabora critérios de elegibilidade; elabora projetos; elabora e avalia processos seletivos; supervisiona estágios; analisa custos); executa atividades técnico-científicas; trabalha com segurança; comunica-se (registra procedimentos e evolução de clientes e pacientes; orienta profissionais da equipe de trabalho; emite relatórios, pareceres técnicos, atestados, laudos de nexo de causa laboral) (MTE apud BAÚ; KLEIN, 2009, p. 1). Essa é uma área em franca expansão não apenas no Brasil, mas em vários países e que tem sido gratificante para os fisioterapeutas que a escolheram. É uma realidade diferente das outras áreas da fisioterapia, pois esse profissional se relaciona contratualmente com pessoas jurídicas, necessita de uma visão empresarial, raciocínio estratégico bem estruturado, grande conhecimento da ergonomia, biomecânica ocupacional, legislação trabalhista e previdenciária, além das habilidades conquistadas na graduação. Temos ainda muito a percorrer nesse caminho, em que a união de profissionais atuantes na fisioterapia do trabalho, que organizadamente se prontificam a continuar buscando o reconhecimento legal e técnico-científico, faz com que, cada vez mais, essa área de atuação receba o merecido reconhecimento pelas empresas, governo, sociedade e, principalmente, pelos trabalhadores, foco da nossa atuação. Vamos conhecer um pouco da atuação e do campo da fisioterapia na saúde do trabalhador? Assista ao vídeo a seguir, produzido pelo CREFITTO 3 sobre o assunto. Disponível em https://youtu.be/CqRirRB2PVg?t=3. DICAS 30 RESUMO DO TÓPICO 2 Neste tópico, você aprendeu: • As Normas Regulamentadoras (NR) relativas à segurança e medicina do trabalho são de observância obrigatória pelas empresas privadas e públicas e pelos órgãos públicos de administração direta e indireta, bem como pelos órgãos dos Poderes Legislativo e Judiciário, que possuam empregados regidos pela Consolidação das Leis do Trabalho (CLT). • As empresas privadas e públicas, os órgãos públicos da administração direta e indi- reta e dos poderes Legislativo e Judiciário, que possuam empregados regidos pela Consolidação das Leis do Trabalho, manterão, obrigatoriamente, Serviços Especiali- zados em Engenharia de Segurança e em Medicina do Trabalho, com a finalidade de promover a saúde e proteger a integridade do trabalhador no local de trabalho. • Em 13 de junho de 2008, na aprovação da Resolução 351/08 pelo COFFITO, reconhece a especialidade em fisioterapia do trabalho. 31 AUTOATIVIDADE 1 Os Centros de Referência em Saúde do Trabalhador (CEREST) atuam na produção de ações de vigilância em saúde, segundo o modelo de atenção orientado pela promoção, prevenção e proteção da saúde, buscando se organizar de forma intersetorial entre as áreas que abrangem e afetam a saúde do trabalhador. Nesse sentido, fazem parte da equipe mínima: a) ( ) Fisioterapeuta, Engenheiro, Médico, Enfermeiro e Técnico em Enfermagem. b) ( ) Técnico em segurança, Engenheiro, Médico e Enfermeiro. c) ( ) Médico, Engenheiro, Técnico de Segurança, Enfermeiro e Técnico em Enfermagem. d) ( ) Técnico em segurança, Engenheiro, Psicólogo, Médico e Enfermeiro. 2 O Ministério do Trabalho (MTE), por meio da Classificação Brasileira de Ocupações (CBO), descreveu para o mercado brasileiro quem é o fisioterapeuta especialista no trabalho. Assim, analise as sentenças a seguir: I- Avalia e trata clientes e pacientes que tenham exclusivamente disfunções musculoesqueléticas provenientes do trabalho. II- Realiza avaliação ergonômica, buscando a qualidade de vida no trabalho, estabele- cendo o diagnóstico fisioterapêutico, prognóstico e prescreve a terapêutica. III- Não pode estabelecer nexo de causa cinesiológica funcional ergonômica, ficando somente sob responsabilidade médica. Assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) As sentenças I e II estão corretas. b) ( ) Somente a sentença III está correta. c) ( ) A sentença II está correta. d) ( ) Somente a sentença I está correta. 32 3 Somente em 13 de junho de 2008, os fisioterapeutas conquistaram a aprovação da Re- solução 351/08 pelo COFFITO, que reconhece a especialidade em fisioterapia do traba- lho. Nessa perspectiva, classifique V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas: ( ) O fisioterapeuta tem o desafio de compreender a abrangênciade suas habilidades, o conhecimento do perfil epidemiológico de adoecimento dos trabalhadores e, assim, agregar em sua atuação novos elementos para análise, por exemplo, de distúrbios osteomusculares relacionados ao trabalho. ( ) A ABRAFITO é responsável pela aprovação dessa resolução, exclusivamente. ( ) O fisioterapeuta é membro obrigatório de Serviços Especializados em Engenharia de Segurança e em Medicina do Trabalho, com a finalidade de promover a saúde e proteger a integridade do trabalhador no local de trabalho. Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA: a) ( ) V – F – V. b) ( ) V – F – F. c) ( ) F – V – F. d) ( ) F – F – V. 4 Normas são o conjunto de regras colocadas de forma simples ou pode ser um documen- to que contém especificações técnicas ou outros critérios a serem seguidos ou respeita- dos. Neste contexto, disserte sobre a função das Normas Reguladoras do trabalho. 5 Os Centros de Referência em Saúde do Trabalhador (CEREST) são entidades que fazem parte do Sistema Único de Saúde, que articulam intervenções nas relações entre o pro- cesso de trabalho e a saúde. Nesse sentido, disserte sobre a atuação do CEREST. 33 TÓPICO 3 - ANTROPOMETRIA E FERRAMENTAS DE ANÁLISE ERGONÔMICA PARA CLASSIFICAÇÃO DOS FATORES DE RISCOS DO POSTO DE TRABALHO 1 INTRODUÇÃO UNIDADE 1 A ergonomia pode ser definida como o estudo da adaptação do trabalho ao homem, que visa proporcionar maior conforto e segurança ao trabalhador e conta com os conhecimentos da Fisiologia, Biomecânica e Antropometria. Pode-se dizer, portanto, que a antropometria é o estudo das medidas do corpo humano, que auxilia no levantamento de dados para o desenvolvimento de um estudo ergonômico. FIGURA 11 – DIFERENÇAS ENTRE AS PROPORÇÕES CORPORAIS DE INDIVÍDUOS DE DIFERENTES ETNIAS 25.000 Es ta tu ra (c m ) Branco americano Negro americano Japonês Brasileiro N° da amostra Idade média Estatura (médial) Peso (kg) 23 174 70 6.684 233 249 173 161 167 23 25 26 69 55 63 180 160 140 120 100 80 60 40 20 0 FONTE: <https://www.efdeportes.com/efd149/antropometria-contribuicao-na-area-da- ergonomia.htm>. Acesso em: 7 jul. 2021. 34 Os dados antropométricos definem as medições de tamanho, peso e proporção do corpo humano aplicáveis a um correto dimensionamento de projetos de produtos, equipamentos e postos de trabalho (BAÚ; KLEIN, 2009). FIGURA 12 – REPRESENTAÇÃO BIDIMENSIONAL PARA A IDENTIFICAÇÃO DAS MEDIDAS FONTE: <https://www.efdeportes.com/efd149/antropometria-contribuicao-na-area-da- ergonomia.htm>. Acesso em: 7 jul. 2021. Com o passar do tempo, a necessidade de encontrar medidas mais exatas do ser humano foi crescendo cada vez mais. Nesse sentido, para o desenvolvimento de produtos ergonômicos, faz-se necessária a aplicação correta das dimensões humanas, pois proporciona a aplicação equânime da ergonomia (BAÚ; KLEIN, 2009). Na ergonomia são encontrados dois tipos de dimensões antropométricas: estáticas e dinâmicas, no qual as dimensões estáticas estão relacionadas às medidas físicas do corpo parado, enquanto a dinâmica são as medidas do corpo em movimento (BAÚ; KLEIN, 2009). A antropometria pode ser dividida em estática e dinâmica. A estática refere- se às medidas retiradas enquanto o indivíduo está na posição em repouso; e a dinâmica, com o indivíduo realizando algum movimento corporal específico. Para aplicar corretamente os dados é preciso avaliar os fatores que influenciam os dados antropométricos: raça, etnia, dieta, saúde, atividade física, postura, posição do corpo, vestuário, horário do dia etc. (BAÚ; KLEIN, 2009). ATENÇAO 35 A intervenção ergonômica é um processo ao mesmo tempo: • Construtivista: dando destaque às singularidades e demais características diferencia- doras de cada caso em que se busque conseguir realizar mudanças e transformações. • Participativa: no sentido possível da realidade de cada organização, de sua realidade social e de suas múltiplas microssociologias reais. • Consensual: onde as verdades se pautam por convergência de pontos de vista, buscando administrar o impacto das revelações possíveis e argumentar sobre as realidades e materialidades inequivocamente apresentáveis. É importante que o fisioterapeuta ergonomista escute e dialogue sobre como transformar as situações de trabalho em cada local que estiver inserido. Conheça o posto de trabalho, situação de trabalho, contexto da atividade realizada, entre outros aspectos. FIGURA 13 – FISIOTERAPEUTA ATUANDO NA ÁREA DE ERGONOMIA FONTE: <https://www.metropoles.com/dino/ergonomia-e-home-office-como-aliar-a-necessidade- do-teletrabalho-com-a-saude-psicofisiologica>. Acesso em: 18 set. 2021. Em suma, a ação ergonômica se caracteriza como uma consultoria dinâmica, que parte das definições inicialmente delineadas pela organização. Paulatinamente, vai construindo um objeto preciso de intervenção, focos definidos de sua ação e modalidades ajustadas de atuação. 36 Todo esse funcionamento pode ser simbolizado por um itinerário que evita perigosos atalhos causadores de insucesso. Busca-se a instrução da demanda para permitir se trabalhar com problemas reais, efetivos e cujo tratamento seja possível pela organização; isso feito, não se procura a passagem imediata a uma solução de algibeira, mas se deflagra todo um processo de análise e modelagem que permite à organização do resultado, inclusive tomando parte ativa na especificação e implantação dela. O resultado é uma solução adaptada às necessidades das pessoas daquela organização. Como estamos podendo nos dar conta, o escopo da ergonomia é efeti- vamente amplo. Isso levou às pessoas que trabalham com ergonomia a desenvolver maneiras de dar conta dos problemas que lhes surgem em sua vida profissional. O importante, na intervenção, é chegar à tomada de providências úteis, práticas e aplicadas ao caso. A intervenção de produção não necessariamente significa uma mudança física, mas pode ser um parecer que fundamente uma opinião ou uma atitude. Vidal (2000, p. 30) destaca que: Numa ocasião fomos chamados para periciar um acidente, onde um trabalhador de uma usina de álcool havia sofrido uma queda do alto da coluna de destilação. A primeira avaliação – a nosso ver simplória – era de que aquele trabalhador havia cometido um ato inseguro pois nada teria que fazer naquele local. Ocorria, no entanto que o processo de destilação é catalisado mediante a adição de uma pequena quantidade de enxofre. Esse procedimento, embora eficaz e responsável pelo bom aproveitamento químico, não era formalizado e, portanto, a cada vez que a destilação apresentava tendência de queda, um dos operadores escalava a coluna da usina e fazia o acréscimo de enxofre. A queda ocorreu num dia chuvoso decorrente de um escorregão, mas não se tratava de ato inseguro, mas de uma operação do processo – informal, certamente – mas que não havia sido devidamente aparelhada. Nosso parecer ao mesmo tempo desqualificou a noção de ato inseguro, como apontou a necessidade de dotar esta operação dos acessos adequados: escada, plataforma de trabalho, roldana para subida do insumo, enfim um conjunto de providências de relativo baixo custo, além da incorporação formal do procedimento na equação química do processo. Você percebe, acadêmico, como é preciso analisar além do que nossos olhos es- tão vendo? É preciso investigar a fundo, ouvindo e estando atento a várias peculiaridades. 37 2 CLASSIFICAÇÃO INTERNACIONAL DE FUNCIONALIDADE (CIF) NA SAÚDE DO TRABALHADOR Atualmente, no Brasil, a notificação referente a agravos na saúde do trabalha- dor é feita por meio da Classificação Internacional de Doenças (CID). No entanto, para conhecer a funcionalidade e a incapacidade, a Classificação Internacional de Funciona- lidade (CIF) é mais adequada, por constituir-se numa ferramenta capaz de gerar dados sobre a funcionalidade humana no trabalho e sobre a influência do ambiente no desem- penho das atividades ocupacionais(ARAÚJO; BUCHALLA, 2013). Nesta perspectiva, o uso da CIF permite obter dados mais específicos, tanto sobre a funcionalidade, como em relação ao ambiente de trabalho e ao desempenho das atividades relacionadas a ele (ARAÚJO; BUCHALLA, 2013). FIGURA 14 – MODELO DE ESTRUTURAÇÃO DA CIF FONTE: <https://www.researchgate.net/figure/FIGURA-1-Interacoes-entre-os-componentes-da- CIF-Fonte-OMS-CIF-2004-CIF-usos-e_fig1_263895635>. Acesso em: 9 jul. 2021. Muito mais do que estabelecer uma linguagem comum e um padrão para a área, a CIF pode servir como ferramenta para ações estratégicas visando melhorar a produtividade, a eficiência do trabalho e o direcionamento dos recursos financeiros. O conhecimento do estado geral de saúde do trabalhador pode partir de dados gerados pela avaliação dessa população, visto que as leis do país exigem, por exemplo, exames admissionais, demissionais e periódicos, que podem alimentar ParticipaçãoAtividade Estado de Saúde (distúrbio ou doença) Funções & Estruturas Corporais Fatores Ambientais Fatores Pessoais Fatores Contextuais 38 sistemas de informação em saúde. Embora atualmente tenhamos esses dados, eles não incluem a funcionalidade. Contar com mais essa informação para a área de saúde do trabalhador pode ser um ganho importante (ARAÚJO; BUCHALLA, 2013). FIGURA 15 – EXEMPLO DO USO DA CIF NA SAÚDE DO TRABALHADOR FONTE: <https://www.rbmt.org.br/details/1496/pt-BR/avaliacao-de-incapacidade-e- funcionalidade-de-trabalhadoras-com-ler-dort--uso-da-cif-em-checklist>. Acesso em: 7 jul. 2021. 39 A CIF é formada por categorias e suas subdivisões, ou constructos, de diversas dimensões, incluindo as partes do corpo. Abrange a funcionalidade como atividade e participação, ou seja, o que o ser humano pode fazer em diferentes situações ou sob a influência de diferentes ambientes, por exemplo. A cada categoria ou constructo se relaciona um conjunto que deve ser completado por qualificadores, números que indicam a magnitude de um problema dentro de uma categoria específica (ARAÚJO; BUCHALLA, 2013). Apesar do seu reconhecimento como ferramenta útil e de uso internacional, a utilização prática da CIF para avaliar a incapacidade e funcionalidade tem sido descrita na literatura como bastante difícil pelo excessivo número de códigos (ARAÚJO; BUCHALLA, 2013). Assim, para facilitar seu uso, a Organização Mundial da Saúde (OMS) propôs a criação do checklist da CIF, que é uma versão reduzida da CIF. Embora, por um lado, o checklist não possua validade universal, por outro lado, pode-se argumentar que ele representa melhor o ambiente sociopolítico de forma realista, tornando-se assim uma abordagem mais pragmática (ARAÚJO; BUCHALLA, 2013). Você já viu ou ouviu falar nos checklist da CIF? Essa simplificação pode nos auxiliar no cotidiano clínico. A seguir, conheça um modelo que você pode utilizar: QUADRO – CHECKLIST DA CIF DICAS 40 41 42 43 44 FONTE: <http://www.fsp.usp.br/cbcd/wp-content/uploads/2015/11/LISTA-DE- CONFERE%CC%82NCIA-DA-CIF-2004.pdf>. Acesso em: 7 jul. 2021. 3 FERRAMENTAS DE ANÁLISE ERGONÔMICA PARA CLASSIFICAÇÃO DOS FATORES DE RISCOS DO POSTO DE TRABALHO As ferramentas, métodos e protocolos de análise ergonômica avaliam e apontam as condições em que o trabalhador está submetido ao realizar determinada atividade. A partir destes diagnósticos é possível identificar as situações prejudiciais à saúde do colaborador, desde o levantamento de carga excessiva, às posturas inadequadas e aos movimentos repetitivos. 45 FIGURA 16 – LEVANTAMENTO DE CARGA EXCESSIVA FONTE: <https://zonaderisco.blogspot.com/2008/10/excesso-de-carga.html>. Acesso em: 18 set. 2021. FIGURA 17 – POSTURAS INADEQUADAS FONTE: <http://saobernardo.com/blog/riscos-ergonomicos/>. Acesso em: 18 set. 2021. 46 FIGURA 18 – MOVIMENTOS REPETITIVOS FONTE: <https://www.youtube.com/watch?v=ou6Vj1JdQ6o>. Acesso em: 18 set. 2021. Segundo Abrahão e Pinho (1999), a execução do trabalho e a base da análise ergonômica podem ser compreendidas sob diferentes dimensões: FIGURA 19 – DIMENSÕES DA ANÁLISE ERGONÔMICA FONTE: A autora 47 O ambiente de trabalho, segundo a ergonomia, deve ser adequado às características biomecânicas e psicológicas dos colaboradores, contudo é importante salientar que essas características são particulares e específicas a cada indivíduo, o que corrobora a aplicação das ferramentas de análise ergonômicas de forma pontual (ABRAHÃO; PINHO, 1999). As ferramentas, métodos e protocolos atuam em pontos específicos e, portanto, para que seu emprego seja efetivo, elas não devem ser aplicadas de forma isolada, mas conjuntamente a outros métodos como laudos ergonômicos e, principalmente, de maneira multidisciplinar (ABRAHÃO; PINHO, 1999). Um instrumento confiável e fidedigno, para classificação do risco de desenvolvimento de distúrbios osteomusculares nos ambientes de trabalho, deve verificar todos os fatores (biomecânicos e ambientais) de risco, estabelecer critérios para quantificar a intensidade de cada fator, aplicar-se aos hemicorpos direito e esquerdo separadamente e, por fim, possibilitar a identificação do risco específico de cada zona corporal (coluna lombar, coluna dorsal, coluna cervical, ombros, cotovelos, punhos, mãos, quadril, joelhos, tornozelos e pés) (LIGEIRO, 2010). Este trabalho pode auxiliar profissionais da área de ergonomia e de áreas correlatas como Engenheiros de Segurança do Trabalho a selecionar as ferramentas mais adequadas para aplicação e desenvolvimento de ambientes de trabalho. Segundo Shida e Bento (2012), alguns métodos utilizados para análise das condições de trabalho, tais como a Análise Ergonômica do Trabalho (AET) e o Ergonomics Workplace Analysis (EWA) são importantes na avaliação e organização do trabalho, bem como do ambiente ocupacional, a fim de torná-los adaptáveis às necessidades, habilidades e limitações das pessoas. Além das duas ferramentas citadas anteriormente, a NR-17 aponta o método National Institute for Occupational Safety and Health (NIOSH) para a análise de trabalhos com carga estática e, portanto, ela será apresentada também nesse capítulo. A ferramenta Ovako Working Posture Analysing System (OWAS) será estudada a fim de elucidar a análise de postura. Por fim, será abordado o protocolo Rapid Upper Limb Assessment Rapid Upper Limb Assessment (RULA), indicado para avaliações detalhadas dos membros superiores e suas movimentações (SHIDA; BENTO, 2012). O protocolo SAPO é uma proposta de pontos de marcação e medidas para ava- liação postural estática de fácil acesso e manuseio. Além disso, também temos questio- nários que podem ser utilizados com intuito de avaliar a qualidade de vida do trabalhador. 48 3.1 AET – ANÁLISE ERGONÔMICA DO TRABALHO O aperfeiçoamento teórico e o aprofundamento dos métodos da ergonomia focada na análise da atividade se deram a partir de 1955, após a publicação do livro de Faverge e Ombredane sobre a análise do trabalho, o que proporcionou a aplicação e a transformação das condições de trabalho mais elaboradas (GUÉRIN et al., 2001). Segundo Shida e Bento (2012, p. 3), a AET é “oriunda da escola franco-belga de ergonomia e que, desde os seus primórdios, tem possibilitado a compreensão e a transformação de inúmeras situações de trabalho”. O principal objetivo dessa ferramenta é aplicar os conhecimentos da ergonomia a fim de analisar, diagnosticar e corrigir determinada situação de trabalho. Essa técnica foi desenvolvida por pesquisadores franceses e pode ser considerada um exemplo da ergonomia corretiva, ou ergonomia de correção (LIDA, 2005). A ergonomia corretiva fundamenta-se nas modificações do ambiente físico atuando pontualmente na dimensão, iluminação, ruídos e temperatura, com foco no conforto e condições de salubridade (LIDA, 2005). A AET é direcionada à análise da atividade e embasada na averiguação das situações de trabalho, ademais, ela promove a adaptação do trabalho ao homem e centraliza suaatenção na transformação dos agentes determinantes de dado cenário de trabalho. De acordo com Guérin et al. (2001), a priori, a ação ergonômica é transformar o trabalho. Sendo assim, com a análise ergonômica do trabalho pode-se verificar as condições reais do ambiente de trabalho, as funções desempenhadas e as condições reais da tarefa executadas pelos trabalhadores (LIDA, 2005). Shida e Bento (2012) denotam que, para o ergonomista, essa transformação deve ser realizada de forma a contribuir para: • A concepção de situações de trabalho que não alterem a saúde dos operadores e nas quais estes possam exercer suas competências, ao mesmo tempo num plano individual e coletivo. • Encontrar possibilidades de valorização de suas capacidades e alcançar os objetivos econômicos determinados pela empresa, em função dos investimentos realizados. A análise ergonômica faz com que se tenha uma compreensão de tudo que aconteceu no trabalho, mostrando, principalmente, o desempenho de produção do funcionário, e Lida (2005) sugere que a AET seja elaborada a partir de cinco etapas e o processo metodológico, como é apresentado na figura: 49 FIGURA 20 – ANÁLISE ERGONÔMICA DO TRABALHO FONTE: Adaptada de Strabeli e Neves (2015) DIAGNÓSTICO MODELO OPERATIVO DA SITUAÇÃO DE TRABALHO REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS SOBRE O HOMEM EM ATIVIDADE DE TRABALHO ANALISE DA DEMANDA DEFINIÇÃO DO PROBLEMA ANÁLISE DE TAREFA CONDIÇÕES DE TRABALHO ANÁLISE DE TAREFA CONDIÇÕES DE TRABALHO DADOS DADOS DADOS HIPÓTESES HIPÓTESES HIPÓTESES HIPÓTESES SÍNTESE ERGONÔMICA DO TRABALHO RECOMENDAÇÕES CADERNO DE ENCARGOS DA AÇÃO ERGONÔMICA A Análise da demanda compreende a parte da identificação da problemática do sistema, seja em nível gerencial, seja por parte dos trabalhadores; também é necessário entender a origem e a dimensão dos problemas identificados (LIDA, 2005). Já na Análise da tarefa são identificados os procedimentos executados pelos colaboradores, que devem estar documentados por escrito. Essa análise objetiva descobrir as discrepâncias entre o que é prescrito de maneira formalizada 50 e o que é realmente executado (LIDA, 2005). Enquanto na análise da atividade são caracterizados os comportamentos dos trabalhadores ao realizar determinada tarefa. Trata-se da forma como os colaboradores trabalham e podem ter influências internas e externas à organização. Na sessão Diagnóstico são identificadas as origens e as causas da demanda, que podem significar desde a falta de treinamento até condições insalubres de trabalho. E, por fim, as Recomendações, em que o desfecho desse programa deve apresentar as providências necessárias para a solução dos problemas diagnosticados, as recomendações devem conter todos os passos da ação ergonômica de forma clara, objetiva e eficiente (LIDA, 2005). O ergonomista não deve ficar passivo perante a demanda que lhe é dirigida, mas deve buscar informações acerca não só dos problemas como também do contexto sociotécnico da empresa junto à direção, aos diversos departamentos que possam estar envolvidos na demanda e aos trabalhadores. Tais dados podem ser obtidos através da realização de entrevistas, da análise de documentos e a partir da utilização de instrumentos complementares, como questionários e checklists (GUÉRIN et al., 2001). 3.2 EWA – ERGONOMICS WORKPLACE ANALYSIS Shida e Bento (2012) destacam que este instrumento foi baseado na fisiologia do trabalho, biomecânica ocupacional, aspectos psicológicos, higiene ocupacional e em um modelo participativo da organização do trabalho. Segundo os mesmos autores, sua aplicação é mais eficaz em trabalhos manuais e atividades que envolvam movimentação manual de materiais. Eles ainda postulam que a utilização do EWA é necessária uma descrição detalhada e criteriosa das tarefas e/ou dos postos de trabalho e, para tal, deve-se obter as informações necessárias através da aplicação de questionários (check-list) e a observação sistemática in loco (LIDA, 2005). Os autores ainda articulam que o “EWA é uma ferramenta bem completa, além dos aspectos ambientais e físicos, ela avalia também os aspectos psicossociais e mentais, tais como, a comunicação entre os trabalhadores, atenção ao executar a atividade bem como tomada de decisões” (LIDA, 2005, p. 17). Por possuir uma abordagem ampla, que possibilita enfoques subjetivos e objetivos, o método é capaz de desenvolver análises sob diferentes aspectos, que consequentemente resultam em material informativo capaz de transmitir informações a profissionais (projetistas como arquitetos e designers e especialistas da saúde) que podem auxiliar e/ou facilitar ações como: a contratação de pessoal, realização de 51 correções checando a qualidade das melhorias feitas, tanto em um posto de trabalho como nas tarefas, seja de um único posto de trabalho ou fazendo comparação de diferentes postos com o mesmo tipo de atividade e/ou desenvolvimento de novos projetos com configurações seguras, saudáveis e produtivas para os trabalhadores (LIDA, 2005). É recomendada a aplicação do EWA para a realização de análise ergonômica detalhada do local de trabalho, através de itens que enfocam aspectos da fisiologia do trabalho, biomecânica ocupacional, psicológicos e higiene ocupacional, em um modelo participativo com a organização do trabalho. QUADRO 1 – ERGONOMICS WORKPLACE ANALYSIS FONTE: <https://www.fateppiracicaba.edu.br/regent/index. php?journal=FATEP&page=article&op=view&path%5B%5D=15&path%5B%5D=17>. Acesso em: 7 jul. 2021. 52 3.3 NIOSH – NATIONAL INSTITUTE FOR OCCUPATIONAL SAFETY AND HEALTH Em 1981, o NIOSH – National Institute for Occupational Safety and Health (Instituto Nacional de Saúde e Segurança Ocupacional) publicou um informe técnico intitulado Work Practices Guides for Manual Lifting (Guia de Práticas de Trabalho para Levantamento Manual) (MATEUS JUNIOR, 2009; LIGEIRO, 2010; SHIDA; BENTO, 2012). O manual tinha como objetivo prevenir ou reduzir a ocorrência de dores causadas por levantamento manual de cargas e para isso foi desenvolvida uma equação para calcular o peso limite recomendável em tarefas repetitivas de levantamento de cargas (LIDA, 2005). Composto por um sumário da literatura sobre o tema, procedimentos analíticos, uma equação para cálculo do peso recomendado para atividades de levantamento com uso das duas mãos e com movimento simétrico e algumas recomendações para controle do risco de lombalgia devido a esse tipo de atividade (LIDA, 2005). A equação desenvolvida em 1981 pelo NIOSH passou por um processo de revisão em 1985, por um comitê de especialistas, a fim de aprofundar e aperfeiçoar o manual de cargas e, em 1991, foi sumarizada em um documento intitulado Scientific Support Documantation for the Revised 1991 NIOSH Lifiting Equation (Documentação científica de suporte para a equação NIOSH de levantamento, revisada em 1991 (LIDA, 2005). Baseado nessa revisão, deu origem a uma ferramenta para identificar os riscos de lombalgia, adquirida graças à manipulação de cargas no trabalho, considerando três critérios: biomecânico, fisiológico e psicofísico (LIDA, 2005). A equação revisada de levantamento NIOSH é uma ferramenta para avaliação do estresse físico das atividades com uso das duas mãos. 3.4 OWAS – OVAKO WORKING POSTURE ANALYSING SYSTEM Desenvolvido na Finlândia por Karhu, Kansi e Kuorinka, em 1977, Ovako Working Posture Analysing System ou apenas OWAS é uma ferramenta que tem por objetivo avaliar as posturas assumidas pelos colaboradores por meio da observação do pesquisador (LIGEIRO, 2010). 53 Segundo Iida (2005), a identificação das 72 posturas típicas admitidas pela ferramenta (combinação das 4 posições típicas do dorso, 3 dos braços e 7 das pernas), é definida por 6 dígitos, em que 3 descrevem a posição dos seguimentos corpóreos, 1 a carga e 2 o local ou estágio em que a postura foi observada (LIDA, 2005). Em seguida, a identificação da postura é classificada em uma dasquatro cate- gorias que apontam diferentes níveis de desconforto e a urgência de uma intervenção: • Classe 1: postura normal, que dispensa cuidados, a não ser em casos excepcionais. • Classe 2: postura que deve ser verificada durante a próxima revisão rotineira dos métodos de trabalho. • Classe 3: postura que deve merecer atenção a curto prazo. • Classe 4: postura que deve merecer atenção imediata. Diferentes analistas treinados, observando o mesmo trabalho, fizeram registros com 93% de concordância, em média (IIDA, 2005). No método OWAS, a atividade pode ser subdividida em várias fases e, posteriormente, categorizada para a análise das posturas no trabalho. Na análise das atividades, aquelas que exigem levantamento manual de cargas são identificadas e categorizadas de acordo com o esforço imposto ao trabalhador, embora não seja este o enfoque principal do método. Não são considerados aspectos como vibração e dispêndio energético (LIDA, 2005). Posteriormente, as posturas são analisadas e mapeadas a partir da observação dos registros fotográficos e filmagens do indivíduo em uma situação de trabalho (SHIDA; BENTO, 2012). O método OWAS é um dos mais simples de observação da análise postural, pois requer pouco tempo para realizar a observação. Ele provou ser bem funcional na prática de níveis de solo e ser útil nas melhorias do sistema de trabalho e na prevenção de problemas de doenças ocupacionais (KIVI; MATTILA, 1991). Segundo Ligeiro (2010), a priori é necessário observar o local de trabalho a ser avaliado para identificar as atividades da tarefa e classificá-las como cíclicas ou não cíclicas. Outro elemento importante nesse software é a frequência e o tempo despendido em cada postura, que pode ser verificado com a ajuda de um cronômetro. Em seguida, devem-se registrar as posturas identificando-as pelo código, a partir da seleção da atividade em intervalos constantes ou variáveis. Essa avaliação pode ou não utilizar como auxílio, imagens para registro da tarefa (LIGEIRO, 2010). Após a definição da postura no software, representando um código por ele estabelecido, o mesmo classifica-a em quatro categorias ou classes. 54 A percentagem de tempo de duração da postura na jornada de trabalho ou a combinação dos quatro primeiros dígitos do código, determinado pelo software, refere- se às variáveis de posição dos elementos (dorso, braços, pernas e carga) que a postura recebeu, classificando sua categoria (LIGEIRO, 2010). Para Shida e Bento (2012, p. 7), o OWAS “é uma ferramenta ergonômica que se mostrou muito útil na detecção de posturas inadequadas. Sua aplicação aponta possíveis posturas que podem levar o trabalhador ao afastamento devido a lesões por esforços excessivos”. Os autores ainda complementam que sua utilização se restringe às posturas, isto é, apresenta baixa sensibilidade em relação à utilização de cargas, aspectos vibratórios e dispêndio energético. Outra desvantagem do OWAS é que ele não avalia a região cervical, punhos e antebraços e não é possível aplicá-la quando o trabalho é realizado na postura deitada. 3.5 RULA – RAPID UPPER LIMB ASSESSMENT RAPID UPPER LIMB ASSESSMENT A Avaliação Rápida de Membros Superiores, de onde deriva as siglas RULA, é uma ferramenta de avaliação do risco de DORT e foi desenvolvida em 1993 por McAtamney e Corlett. Objetivando a classificação integrada de riscos de doenças ocupacionais, particularmente ao posicionamento postural, o método RULA prioriza as intervenções com base numa perspectiva epidemiológica da incidência, por meio das observações realizadas pelo pesquisador sobre o ambiente de trabalho (SHIDA; BENTO, 2012). Utiliza diagramas de posturas do corpo e três tabelas que avaliam o nível de exposição a fatores de risco, que incluem o número de movimentos, a postura estática, a força, a postura de trabalho determinada por equipamentos e mobiliários e tempo de trabalho e pausa, sendo processado em três estágios, a saber: 1. identificação da postura de trabalho; 2. aplicação de sistema de escore; 3. aplicação de escala de níveis de risco. O RULA é um método observacional de postos de trabalho cujo objetivo é a classificação integrada do risco de Lesões musculoesqueléticas do membro superior ligadas a trabalho – LMEMSLT. O objetivo geral é identificar o esforço associado com a postura de trabalho assumida na realização de atividades estáticas ou repetitivas e que podem contribuir para a fadiga muscular e eventual gênese LMEMSLT (SERRANHEIRA; UVA, 2010). 55 Ligeiro (2010) afirma que sua aplicação resulta em um sistema de códigos, dando origem a uma classificação e uma lista categorizada de ações, indicando o nível de intervenção com o objetivo de reduzir o risco de DORT devido à carga física imposta ao operador. Por meio dos resultados obtidos é possível criar uma tabela ordenada pela pontuação encontrada, relativa à existência de fatores de risco para doenças ocupacionais. A interpretação dos resultados, segundo a RULA, segue a pontuação da se- guinte forma: • 1 ou 2: aceitável; • 3 ou 4: investigar; • 5 ou 6: investigar e mudar logo; • 7: investigar e mudar imediatamente. O RULA é um método rápido de análise postural, estático e dinâmico que foca mais em esforços repetitivos e força, ideal para ser aplicado em funcionários de escritório e atividades que requerem maior esforço de membros superiores (SHIDA; BENTO, 2012). Porém, apenas é possível avaliar um lado corporal (unilateral – direito ou esquerdo) em cada aplicação do RULA. Se existirem vários fatores de risco relativos à postura assumida ou à atividade exercida, é importante avaliar cada um deles em utilizações singulares do método. Por outras palavras, podem-se executar vários registros em cada posto de trabalho e, consequentemente, obter várias classificações de risco das componentes principais da atividade, em cada posto de trabalho (SHIDA; BENTO, 2012). FIGURA 21 – APLICAÇÃO DO RULA 56 57 58 FONTE: Adaptada de Shida e Bento (2012) 59 3.6 PROTOCOLO SAPO A avaliação da postura corporal na posição ortostática tem sido amplamente utilizada há várias décadas, tanto na prática clínica quanto na pesquisa, como um instrumento diagnóstico de planejamento e de acompanhamento do tratamento fisioterapêutico (SERRANHEIRA; UVA, 2010). De maneira geral, estudos relatam diversos métodos de análise biomecânica da postura em posição estática, entre estes, a fotogrametria digital. O protocolo SAPO é uma proposta de pontos de marcação e medidas para avaliação postural (SERRANHEIRA; UVA, 2010). A escolha desses pontos foi baseada na relevância clínica, base científica, viabilidade metodológica e aplicabilidade. Avaliar medidas angulares no corpo humano remete à investigação de disfunção articular, sendo um parâmetro importante no acompanhamento fisioterapêutico, na motivação e adesão do paciente ao tratamento, quantificação dos distúrbios, registro da eficácia da intervenção e, ainda, como critério importante na confecção de órteses (SERRANHEIRA; UVA, 2010). Porém, a ausência de padronização das referências anatômicas e do significado das medidas angulares utilizadas nos estudos com fotogrametria são fatores que dificultam a comparação entre estudos e a própria validação dos resultados encontrados. As fotografias seguem as recomendações do software SAPO, com um fio de prumo preso ao teto, com duas bolinhas de isopor distanciadas um metro uma da outra, coladas sobre o fio para posterior calibração da imagem (SERRANHEIRA; UVA, 2010). Após a aquisição das fotografias, estas são transferidas para o computador, para a análise fotogramétrica da postura corporal de todos os sujeitos. É preciso marcar pontos pelo protocolo, gerar o relatório de análise e exportar para o Excel, e a quantificação dos ângulos entre os pontos anatômicos, de acordo com o protocolo, foi gerada automaticamente e seguiu as convenções do programa (SERRANHEIRA; UVA, 2010). 60 QUADRO 2 – PONTOSDE MARCAÇÃO SAPO FONTE: Souza et al. (2011) FIGURA 22 – SOFTWARE SAPO FONTE: <https://docs.google.com/document/d/1j9Vk8L0s2bXuMomzKk80bWCyQE- r7Z26cx1RwYVJVUY/edit>. Acesso em: 7 jul. 2021. Vista anterior Cabeça A1- Alinhamento horizontal da cabeça: 2-3 e a horizontal. Tronco A2- Alinhamento horizontal dos acrômios: 5-6 e a horizontal. A3- Alinhamento horizontal das espinhas ilíacas ântero-superiores: 12-13. A4- ngulo dois acrômios e as duas espinhas ilíacas ântero-superiores:5-6; 12-13. Membros inferiores A5- ngulo frontal do membro inferior direito: 14-16-22 (ângulo de fora). A6- ngulo frontal do membro inferior esquerdo: 15-19-25 (ângulo de fora). A7- Diferença no comprimento dos membros inferiores: D(12;23)-D(13;26). A8- Alinhamento horizontal das tuberosidades das tíbias: 18-21 e horizontal. A9- ngulo Q direito: ângulo entre 12-17 e 17-18. A10- ngulo Q esquerdo: ângulo entre 13-20 e 20-21. Vista lateral esquerda Cabeça A11- Alinhamento horizontal da cabeça (C7): 2-8 e horizontal. A12- Alinhamento vertical da cabeça (acrômio): 5-2 e vertical. Tronco A13- Alinhamento vertical do tronco: 5-23 e vertical. A14- ngulo do quadril (tronco e membro inferior): 5-23-30. A15- Alinhamento vertical do corpo: 5-30 e vertical. A16- Alinhamento horizontal da pélvis: 21-22 e horizontal. Membros inferiores A17- ngulo do joelho: 23-24-30. A18- ngulo do tornozelo: 24-30 e horizontal. Vista Posterior Tronco Assimetria horizontal da escápula em relação à T3. Membros inferiores A19- ngulo perna/retropé direito: 32-35-37. A20- ngulo perna/retropé esquerdo: 33-39-41. 61 3.7 AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DE VIDA NO TRABALHO SEGUNDO O MODELO DE WALTON Walton é o primeiro autor norte-americano que dá início a uma linha de pesquisa de satisfação em qualidade de vida no trabalho, explicitando critérios sob a ótica organizacional (SERRANHEIRA; UVA, 2010). Ele dispõe da ideia de que a Qualidade de Vida no Trabalho (QVT) é representada na humanização do trabalho e na responsabilidade social, envolvendo o atendimento às necessidades e aspirações do indivíduo pela reestruturação do desenho de cargos e novas formas de organizar o trabalho, aliado à formação de equipes de trabalho, com um poder de autonomia e melhoria do ambiente organizacional (SANTOS, 1997). O modelo de Walton sugere oito categorias que enfatizam os fatores de influência na QVT, sendo eles: compensação justa e adequada, condições de trabalho, uso das capacidades, oportunidades, integração social, constitucionalismo, trabalho e vida, relevância social (SANTOS, 1997). Vamos conhecer esse questionário? Que tal aplicar este instrumento em seu colega, ou até mesmo com seu professor? QUADRO – QUESTIONÁRIO INTERESSANTE 62 FONTE: Santos (1997) 63 UTILIZAÇÃO DA CIF EM FISIOTERAPIA DO TRABALHO: UMA CONTRIBUIÇÃO PARA COLETA DE DADOS SOBRE FUNCIONALIDADE (ADAPTADO) Eduardo Santana de Araújo Cassia Maria Buchalla RESUMO Introdução: A notificação da saúde do trabalhador, no Brasil, é feita por meio da Classifi- cação Internacional de Doenças (CID). No entanto, para se conhecer a funcionalidade e a incapacidade, a Classificação Internacional de Funcionalidade (CIF) é mais adequada, por constituir-se numa ferramenta capaz de gerar dados sobre a funcionalidade huma- na no trabalho e sobre a influência do ambiente no desempenho das atividades ocupa- cionais. Objetivo: Este trabalho tem como objetivo o desenvolvimento de uma ficha de coleta de dados para uso em Fisioterapia do Trabalho com o intuito de facilitar a noti- ficação de incapacidades ou de influências ambientais na funcionalidade. Método: Por meio de um consenso com especialistas, baseado na técnica Delphi, foram escolhidas categorias relevantes da CIF e estruturado um instrumento de coleta de da- dos que, ao final, foi remetido aos participantes desse processo de seleção para avaliação de sua aplicabilidade. Resultados: Obtivemos um instrumento de coleta de dados contendo 24 categorias da CIF com a possibilidade de uso de três qualificadores criados para esse propósito. Essa ficha de coleta foi considerada de fácil uso, segundo avaliação dos parti- cipantes. Conclusão: O instrumento de coleta que resultou deste estudo está disponível para ser testado na área de Fisioterapia do Trabalho e espera-se que possa ajudar na obtenção de dados sobre a funcionalidade do trabalhador. INTRODUÇÃO: O uso da Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde (CIF) como ferramenta estatística que permita a obtenção de informações sobre funcionalidade humana ode ser uma das mais importantes formas de sua aplicação. Apesar de transcorridos 12 anos de publicação da CIF, ainda não existem dados sobre funcionalidade do trabalhador baseados na linguagem comum e padronizada oferecida por essa classificação. O sistema de informação sobre saúde do trabalhador, no Brasil, inclui apenas dados da doença, condição ou lesão, para os quais se utiliza a Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde (CID). A CID, desde sua adoção, foi usada para codificação da mortalidade e da morbidade, com importante papel epidemiológico. Sendo assim, os sistemas de informação sobre saúde do trabalhador geram informações importantes do ponto de vista patológico, porém, incompletas do ponto de vista dos determinantes das condições de funcionalidade. O uso da CIF permite obter dados mais específicos, tanto LEITURA COMPLEMENTAR 64 sobre a funcionalidade, como em relação ao ambiente de trabalho e ao desempenho das atividades relacionadas a ele. Muito mais do que estabelecer uma linguagem comum e um padrão para a área, a CIF pode servir como ferramenta para ações estratégicas visando melhorar a produtividade, a eficiência do trabalho e o direcionamento dos recursos financeiros. O conhecimento do estado geral de saúde do trabalhador pode partir de dados gerados pela avaliação dessa população, visto que as leis do país exigem, por exemplo, exames ad- missionais, demissionais e periódicos, que podem alimentar sistemas de informação em saúde. Embora atualmente tenhamos esses dados, eles não incluem a funcionalidade. Contar com mais essa informação para a área de saúde do trabalhador pode ser um ganho importante. A Fisioterapia é uma das principais áreas que vem tentando usar a CIF em todo mundo, principalmente pela necessidade de se unificar a linguagem diagnóstica destes profissionais. No entanto, no Brasil, os fisioterapeutas têm pouco contato com a classificação, sendo que uma parte desses profissionais conhece apenas o modelo de funcionalidade que ela propõe. A CIF é formada por categorias e suas subdivisões, ou constructos, de diversas dimensões, incluindo as partes do corpo. Abrange a funcionalidade como atividade e participação, ou seja, o que o ser humano pode fazer em diferentes situações ou sob a influência de diferentes ambientes, por exemplo. A cada categoria ou constructo se relaciona um conjunto que deve ser completado por qualificadores, números que indicam a magnitude de um problema dentro de uma categoria específica. De forma geral, o usuário deve selecionar as categorias e os qualificadores que identificam e expressam cada caso. A classificação deve ser feita com base no modelo multidirecional de funcionalidade, o qual integra as diferentes dimensões, estabelecendo relações entre o ambiente, o desempenho das atividades e a participação social. Uma subcategoria da CIF, por exemplo, d4500 (andar distâncias curtas - menos que 1 Km), sempre faz parte de uma “categoria-mãe”, de nível mais geral (ou de primeiro nível), que, neste caso é d4 (mobilidade). Considerando apenas o primeiro nível, a CIF tem 30 categorias. Cada categoria da CIF pode ter até quatro níveis de especificidade, numa classificação hierarquizada. Também é possível utilizar um número menor de categorias, usando apenas aquelas de menor complexidade. Além disso, a utilização dos qualificadores também pode ser simplificada.Qualificadores são dígitos acrescentados às categorias e separado destas por um ponto (por exemplo: andar distâncias curtas sem problemas: d4500.0). Uma condição sem alterações (ou sem problemas) tem seu complemento com o uso do qualificador “0” (zero). Já a magnitude de um problema é definida com o uso dos qualificadores de “1” a “4”, sendo “4” a identificação de um problema completo, ou de magnitude máxima. A CIF também propõe o uso do qualificador “8” (não especificado), que significa a existência de alguma alteração, sem que seu grau de magnitude esteja especificado, e ainda o “9” (não aplicável). Para facilitar, pode-se propor o uso de apenas dois qualificadores: “0” para ausência e o “8” para presença de determinado problema numa categoria 65 específica. Esse recurso pode evitar a calibração entre os qualificadores da CIF e os instrumentos de medida, sugerida pela OMS, tornando possível a criação de um instrumento classificatório de fácil uso e de grande serventia na geração de dados sobre funcionalidade e incapacidade. OBJETIVO: Este estudo visa estruturar um instrumento para a coleta de dados sobre funcionalidade, utilizando categorias da CIF, para uso na especialidade de Fisioterapia do Trabalho. MÉTODO: ‘Foi realizado um estudo de consenso, com a participação de uma amostra de profissionais da área, indicados pela Associação Brasileira de Fisioterapia do Trabalho - ABRAFIT. O desenvolvimento deste estudo constou de seis fases, detalhadas a seguir. Fase 1: Seleção Na primeira fase, entramos em contato com a instituição, apresentamos o projeto e solicitamos a indicação de potenciais participantes. Dos 120 profissionais indicados, 27 participaram da pesquisa. Fase 2: Convite aos profissionais e envio do material didático sobre a CIF Na segunda fase, os participantes receberam um convite por meio eletrônico, com os detalhes da pesquisa e a declaração de aceite em relação à participação no estudo. Enviamos junto com esse convite um material descritivo sobre a CIF. Um questionário eletrônico, disponibilizado no sítio do Laboratório de Estudos Populacionais (LEP) da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo, deveria ser preenchido por cada participante. Os formulários encontram-se no link http:// www.fsp.usp.br/ site/paginas/mostrar/556.O material descritivo disponibilizado continha dois arquivos, o primeiro para leitura obrigatória e o segundo para leitura complementar. O primeiro arquivo tratava-se da tradução de um documento sobre a CIF feito por grupos de trabalho da OMS, denominado ICF Overview. O segundo arquivo continha a versão integral da CIF em Português. Os participantes só tiveram acesso ao questionário após declarar ter lido e entendido o material encaminhado. Assim, o aceite, a leitura e entendimento do material eram a condição para participar do estudo. Fase 3: Apresentação das categorias da CIF para seleção das mais utilizadas pela especialidade, por meio do sistema eletrônico do LEP Na terceira fase, os participantes foram urgidos a responder ao questionário que continha a descrição e explicação de cada categoria da classificação. Deveriam apontar/selecionar quais categorias da classificação eram fundamentais para a sua especialidade dentro da Fisioterapia. Para os participantes, um item deveria ser considerado para compor a lista, se fosse indispensável para uso nas atividades do especialista durante sua prática profissional, com o objetivo de estruturar um instrumento com o mínimo de categorias da CIF, mas que permitisse o máximo de informações possíveis e necessárias. O prazo para o encaminhamento das respostas foi de 30 dias após a disponibilização do material. Na metade do período, todos receberam uma mensagem de alerta sobre o prazo de entrega. Cada participante selecionou as categorias da CIF aplicáveis na sua área de atuação e intervenção, indicando, no questionário, SIM ou NÃO ao lado de cada uma delas. 66 Fase 4: Análise das respostas, elaboração da lista mínima de categorias da CIF, com base nas informações obtidas na fase anterior, envio do resultado final aos participantes. Com o total de questionários obtidos, foi feita a lista das categorias da CIF e a frequência com que foram indicadas pelos participantes. As categorias que tiveram 80% ou mais de indicação passaram a fazer parte da lista resumida de categorias da CIF para uso nessa área. Essa lista foi apresentada aos participantes para conhecimento e novas considerações. Fase 5: Proposta de uso dos qualificadores e questionamento sobre a viabilidade do instrumento A lista final, contendo as categorias selecionadas e a proposta para uso dos qualificadores, foi enviada a todos os participantes para que eles opinassem sobre a viabilidade de sua utilização. Essa informação foi coletada em um segundo questionário (Anexo 1). Este continha questões que buscavam identificar se o instrumento final era de fácil uso, se unificava a linguagem, se seria capaz de gerar dados sobre funcionalidade e qual seria o grau de importância dele. Fase 6: Compilação e análise das respostas As respostas ao segundo questionário foram compiladas a fim de conhecer a opinião dos participantes sobre a possibilidade de uso da ferramenta na prática profissional diária. [...] RESULTADOS E DISCUSSÃO: Neste trabalho, o processo foi conduzido por meio da rede mundial de computadores, num sistema eletrônico de aplicação de questionários. As atividades do especialista em Fisioterapia do Trabalho envolvem prevenção e tratamento. É importante que uma ficha de notificação seja amigável, que contenha o mínimo de questões que possibilitem o máximo de dados. Apesar de já existir um “core set” vocacional, ele não pode ser comparado ao instrumento proposto neste estudo já que é menos específico por abranger diferentes áreas do conhecimento. Assim, verificar a aceitabilidade de quem efetivamente a usará é um dos principais passos para garantir sua adoção. A ferramenta criada foi aceita por mais de 90% dos entrevistados. Os resultados obtidos neste trabalho dão conta da qualidade prática da ferramenta e da importância dos dados que ela coleta, tendo sido aprovada para uso pelos participantes, incluindo a forma baseada na especialidade e não baseada em uma condição de saúde. Esse tipo de lista resumida busca informações de funcionalidade para determinada área de atuação, gerando dados relevantes sobre a situação das pessoas avaliadas. A forma apresentada inclui o uso das categorias da CIF diretamente. O uso de perguntas que represente as categorias poderia facilitar ainda mais o uso da ferramenta, aumentando sua aceitabilidade. Em estudo de revisão sobre uso da CIF em Fisioterapia, verificou-se que a unificação da linguagem é uma das vantagens mais citadas do uso dessa ferramenta na área de Fisioterapia. Segundo a maioria dos profissionais entrevistados neste, especialistas consideram mais importantes. O instrumento elaborado a partir do consenso se baseia no uso dos qualificadores da CIF, porém, de forma simplificada: o uso do “8” (problema de magnitude não especificada) substitui o uso do “1” (problema de magnitude leve), do “2” (problema de magnitude moderada) e do “3” (problema de magnitude grave). Excluímos assim, a necessidade de 67 calibrar instrumentos de avaliação com os qualificadores da CIF, o que demanda mais tempo para uso e dificulta a execução da classificação. Como a CIF tem um padrão único, ela deveria ser constantemente calibrada sob a perspectiva das ferramentas de avaliação existentes. A elaboração de listas específicas e resumidas, que facilitem ao usuário aplicar a CIF, têm obedecido a um processo de consenso entre especialistas. Nessa forma, tem sido utilizado o método Delphi, importante etapa para a obtenção dessas listas, e utilizado pelo projeto denominado core sets, pioneiro nessa área. Um estudo de revisão sobre a publica- ção de core sets da CIF encontrou 44 trabalhos publicados entre os anos de 2001 e 2010. Algumaslistas resumidas da CIF foram publicadas e são conhecidas como “Core Sets” da CIF para condições de saúde, como para diabetes, obesidade e artrite reumatoide. Há “core sets” para condições de saúde específicas que foram analisados sob outras perspectivas, como também a criação dessas listas com base em especialidades. Muitos “core sets” por condições de saúde foram desenvolvidos como parte de um projeto multicêntrico, envolvendo especialistas do mundo todo e utilizando diferentes níveis de complexidade da CIF. Alguns foram validados sob a perspectiva de determinada área e podem ser instrumentos úteis na coleta de dados sobre funcionalidade de um grupo de pacientes com a mesma condição de saúde. No entanto, no caso de um instrumento de coleta de dados para uso por determinada especialidade, é possível abranger um maior número de condições de saúde (como as mais comuns da área) com o uso mais simplificado das categorias da CIF, sendo esta uma vantagem sobre os “core sets” por condição de saúde. Mesmo assim, é possível levantar dados relevantes sobre a funcionalidade. Os aspectos básicos de atividades aliados aos de fatores ambientais esclarecem de forma mais ampla os impactos na saúde que as alterações de funcionalidade e de ambiente acarretam. O envolvimento dos profissionais da Fisioterapia com sistemas de informação de saúde ainda é pequeno. O reconhecimento da importância, aplicabilidade e vantagens do uso da CIF depende de diversos fatores, como a clareza sobre o que essas informações podem gerar de retorno para a atividade da área. O que defendemos é que o instrumento que facilita o uso da CIF em Fisioterapia do Trabalho tenha uso amplo e que possa ser utilizado com segurança, garantindo maior detalhamento sobre o estado de funcionalidade de determinada população. A lista criada gera um instrumento de fácil uso, que pode ser adaptado aos prontuários físicos ou até mesmo aos prontuários eletrônicos, em serviços e sistemas de saúde. Assim, desenvolvemos uma forma rápida e viável de aplicação da classificação por meio de um instrumento prático, capaz de gerar informações sobre a funcionalidade, mesmo que de forma superficial. É importante salientar que dados essenciais para o conhecimento da incidência e da prevalência de incapacidades nas populações, assim como de sua tendência temporal, não são coletados (ou não estão disponíveis) no Brasil, apenas com o uso da CID. Sendo CIF e CID complementares entre si, existe a necessidade clara de um sistema de informação mais completo. 68 CONCLUSÃO: A primeira versão de um instrumento de classificação baseado na CIF, para uso em Fisioterapia do Trabalho, estruturado pela seleção de categorias mais relevantes e pelo uso do qualificador “não especificado”, foi desenvolvida e está pronta para ser testada como geradora de dados sobre funcionalidade humana. Anexo 1. Sugestão para instrumento de avaliação do trabalhador Instrumento de coleta de dados sobre funcionalidade e incapacidade Especialidade: Fisioterapia do Trabalho Nome: Idade: Sexo: Raça/Cor: Antecedentes pessoais: CID (se houver): b260 Função proprioceptiva b270 Funções sensoriais relacionadas com a temperatura e outros estímulos Perda completa da função Perda parcial da função Função preservada b280 Sensação de dor Presente ( ) Ausente ( ) b710 Funções da mobilidade das articulações b715 Funções da estabilidade das articulações b730 Funções da força muscular b735 Funções do tônus muscular b740 Funções da resistência muscular Perda completa da função Perda parcial da função Função preservada s1 Estruturas do sistema nervoso s7 Estrutura Existe lesão/alteração Não existe lesão/alteração Desempenho (o profissional pergunta ao paciente sobre sua vida habitual) d230 Realizar a rotina diária d475 Dirigir d7 Interações e relacionamentos interpessoais Não faz Faz com dificuldade parcial Faz sem dificuldade Capacidade (o profissional avalia a condição física do paciente) d410 Mudar a posição do corpo d415 Manter o corpo numa posição d420 Realizar transferências d430 Levantar e carregar objetos d435 Mover objetos com MMII d440 Utilizar movimentos finos da mão d450 Andar Dificuldade completa Dificuldade parcial Sem dificuldade Fatores ambientais (informações adicionais/complementares) Sobre os produtos e tecnologias disponíveis ao indivíduo Sobre os itens do ambiente natural do local de trabalho e entorno Sobre as atitudes de pessoas próximas no trabalho, segundo a impressão do paciente Sobre serviços, sistemas e políticas disponíveis no país Atrapalham Facilitam FONTE: <https://www.revistas.usp.br/actafisiatrica/article/view/103735/102209>. Acesso em: 7 jul. 2021. 69 RESUMO DO TÓPICO 3 Neste tópico, você aprendeu: • A Classificação Internacional de Funcionalidade (CIF) é mais adequada para a avaliação laboral por constituir-se numa ferramenta capaz de gerar dados sobre a funcionalidade humana no trabalho e sobre a influência do ambiente no desempenho das atividades ocupacionais. • A Análise Ergonômica do Trabalho (AET) e o Ergonomics Workplace Analysis (EWA) são importantes na avaliação e organização do trabalho, bem como do ambiente ocupacional, a fim de torná-los adaptáveis às necessidades, habilidades e limitações das pessoas. • O método National Institute for Occupational Safety and Health (NIOSH) é utilizado para a análise de trabalhos com carga estática. • A ferramenta Ovako Working Posture Analysing System (OWAS) é utilizada para a análise de postura. • O protocolo Rapid Upper Limb Assessment Rapid Upper Limb Assessment (RULA) é indicado para avaliações detalhadas dos membros superiores e suas movimentações. • O protocolo SAPO é uma proposta de pontos de marcação e medidas para avaliação postural estática de fácil acesso e manuseio. • Questionários podem ser utilizados com intuito de avaliar a Qualidade de Vida do Trabalhador. 70 AUTOATIVIDADE 1 A CIF classifica "domínios" da saúde e "domínios" relacionados à saúde, que nos ajudam a descrever alterações ou mudanças na função e na estrutura corporal, o que uma pessoa com uma condição de saúde pode fazer em um ambiente padrão (seu nível de capacidade), assim como o que ela de fato faz no seu ambiente real (seu nível de desempenho). Sobre a Classificação Internacional de Funcionalidade (CIF), assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) É mais adequada para a avaliação laboral por constituir-se numa ferramenta capaz de gerar dados sobre a funcionalidade humana no trabalho. b) ( ) Avalia exclusivamente o desempenho do ser humano na execução de suas ativida- des de trabalho e está relacionada às condições de trabalho que lhe são impostas. c) ( ) Deve ser usada somente por médicos para caracterização de doenças. d) ( ) É usada para pesquisa clínica e não tem aplicabilidade prática por ser extrema- mente extensa. 2 Os conceitos ergonômicos objetivam evitar riscos acidentais, operacionais e mini- mizar a fadiga. Alicerçado nessa demanda, as ferramentas, métodos e protocolos de análise ergonômica são muito importantes na saúde do trabalhador. Nesse sentido, sobre a Análise Ergonômica do Trabalho (AET), assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) É direcionada à análise da atividade e embasada na averiguação das situações de trabalho, ademais, ela promove a adaptação do trabalho ao homem e centraliza sua atenção na transformação dos agentes determinantes de dado cenário de trabalho. b) ( ) É mais adequada para a avaliação laboral por constituir-se numa ferramenta capaz de gerar dados sobre a funcionalidade humana no trabalho. c) ( ) Deve ser usada somente por médicos para caracterização de doenças. d) ( ) Tem como objetivo prevenir ou reduzir a ocorrência de dores causadas por levantamento manual de cargas. 71 3 Os conceitos ergonômicos objetivam evitar riscos acidentais, operacionais e mini- mizar a fadiga. Alicerçado nessa demanda, as ferramentas, métodos e protocolos de análise ergonômica são muito importantes na saúde do trabalhador.Nesse senti- do, sobre o protocolo Rapid Upper Limb Assessment Rapid Upper Limb Assessment (RULA), assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) É mais adequada para a avaliação laboral por constituir-se numa ferramenta capaz de gerar dados sobre a funcionalidade humana no trabalho. b) ( ) Avalia exclusivamente o desempenho do ser humano na execução de suas atividades de trabalho e está relacionado às condições de trabalho que lhe são impostas. c) ( ) É direcionada à análise da atividade e embasada na averiguação das situações de trabalho, ademais, ela promove a adaptação do trabalho ao homem e centra- liza sua atenção na transformação dos agentes determinantes de dado cenário de trabalho. d) ( ) É um método observacional de postos de trabalho cujo objetivo é a classificação integrada do risco de Lesões musculoesqueléticas do membro superior ligadas ao trabalho. 4 Desde a década de 1970, vêm sendo desenvolvidos roteiros para execução de uma análise ergonômica, alguns dos quais se converteram em modelos e serviram de base para outras propostas metodológicas. Nesse sentido, discorra sobre a importância das ferramentas para avaliação ergonômica. 5 A CIF (Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde) é hoje o modelo da Organização Mundial da Saúde (OMS) para saúde e incapacidade, constituindo a base conceitual para definição, mensuração e formulação de políticas nesta área. Nessa perspectiva, discorra sobre as vantagens de se utilizar a CIF ao invés do CID na saúde do Trabalhador. 72 REFERÊNCIAS ABERGO. A certificação do ergonomista brasileiro - Editorial do Boletim 1/2000, Associação Brasileira de Ergonomia. 2000. Disponível em: https://www.abergo.org.br/ certifica%C3%A7%C3%A3o. Acesso em: 19 set. 2021. ABRAHÃO, J. I.; PINHO, D. L. M. Teoria e prática ergonômica: seus limites e possibilidades. Escola, Saúde e Trabalho: Estudos Psicológicos, Brasília, v. 1, n. 1, p. 1-10, jan. 1999. Disponível em: http://www.luzimarteixeira.com.br/wp-content/ uploads/2009/09/teoria-pratica1.pdf. Acesso em: 19 set. 2021. ARAÚJO, E. 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Acesso em: 19 set. 2021. 75 AVALIAÇÃO E INTERVENÇÃO PREVENTIVA NAS DISFUNÇÕES RELACIONADAS À SAÚDE DO TRABALHADOR UNIDADE 2 — OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de: • aprender a analisar o risco de atividades laborais; • entender a importância da biomecânica no exercício laboral; • explorar as principais implicações de posturas e movimentos em condições adversas; • compreender o fluxo da vigilância epidemiológica na Saúdedo Trabalhador. A cada tópico desta unidade você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado. TÓPICO 1 – ANÁLISE E AVALIAÇÃO DAS SITUAÇÕES DE RISCO NO TRABALHO: ABORDAGEM COM ÊNFASE BIOMECÂNICA TÓPICO 2 – IMPLICAÇÕES DE POSTURAS, MOVIMENTOS E CONDIÇÕES ADVERSAS TÓPICO 3 – VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA NA SAÚDE DO TRABALHADOR Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações. CHAMADA 76 CONFIRA A TRILHA DA UNIDADE 2! Acesse o QR Code abaixo: 77 TÓPICO 1 — ANÁLISE E AVALIAÇÃO DAS SITUAÇÕES DE RISCO NO TRABALHO: ABORDAGEM COM ÊNFASE BIOMECÂNICA UNIDADE 2 1 INTRODUÇÃO A avaliação e intervenção preventiva nas disfunções relacionadas à saúde do trabalhador inclui campanhas educacionais e implantação de diversos programas de prevenção que podem trazer diversas vantagens para o empregado e para a empresa, como diminuição da fadiga, do desconforto físico, do estresse emocional e da incidência de doenças ocupacionais, aumento da eficiência no trabalho, diminuição dos gastos da empresa e do número de acidentes, além de aumento da produtividade e o lucro. É muito importante, como em todas as áreas da fisioterapia, a avaliação inicial e identificação da situação de um modo geral, incluindo fatores como queixa principal e fatores psicossociais relacionados. Nesse sentido, no Tópico 1, abordaremos a análise das situações de risco no trabalho, observando principalmente aspectos biomecânicos relacionados ao processo. Já no Tópico 2, exploraremos os tipos de trabalhos e as implicações de cada posto, incluindo trabalhos que envolvam carga, sedentários e a nova modalidade de home office. E, por fim, conheceremos as ações da vigilância epidemiológica e sua atuação na saúde do trabalhador e o sistema de notificações de acidentes de trabalho. 2 ANÁLISE E AVALIAÇÃO DAS SITUAÇÕES DE RISCO NO TRABALHO O estudo da ergonomia ampliou a tendência atual para o aumento da eficiência do desenvolvimento e produção do trabalho, despertando interesse generalizado pelos benefícios que esta proporciona ao trabalhador e à sociedade. 78 A análise ergonômica pode contribuir para solucionar muitos problemas relacionados com saúde, segurança, conforto e eficiência. Quando consideradas adequadamente, as capacidades e limitações humanas, as condições de trabalho incluindo seu ambiente, com certeza o desempenho do trabalhador será mais eficaz, e a empresa poderá apresentar uma boa produtividade. Nesse sentido, devemos destacar que todo o processo de trabalho envolve situações de risco, de acidentes e de formas de adoecimento, segundo as condições de gênero e de qualidade de vida no trabalho. Desequilíbrios entre estruturas corporais responsáveis pela postura adequada ou alinhamentos defeituosos podem resultar em sobrecarga e tensão sobre os ossos, articulações e músculos. Para Martins (2005), quando um indivíduo apresenta uma lesão por sobrecarga biomecânica ocupacional, os fatores etiológicos estão relacionados à organização do trabalho e envolvem: • Equipamentos, ferramentas, acessórios e mobiliários inadequados. • Desrespeito aos posicionamentos, angulações e distâncias. • Técnicas incorretas para a execução de tarefas. • Sobrecarga biomecânica estática e dinâmica. • Uso de instrumentos com excessiva transmissão de vibração. • Temperatura, ventilação e umidade inapropriadas no ambiente. O mesmo autor relata que o indivíduo pode apresentar lesões musculoesquelé- ticas específicas sem que estejam relacionadas as suas atividades de trabalho. Assim, além das sobrecargas biomecânicas, outras causas devem ser consi- deradas como potenciais agentes causais destas enfermidades musculoesqueléticas. É importante destacar que os profissionais que não mudam seus hábitos de trabalho apresentam um maior risco de agravar os distúrbios já existentes ou o aparecimento de novos distúrbios. 79 FIGURA 1 – AMBIENTE INSEGURO FONTE: <https://www.conceitozen.com.br/o-que-e-ato-inseguro.html>. Acesso em: 30 jul. 2021. Podemos perceber que o ambiente em que o trabalhador está inserido tem cru- cial importância no desenvolvimento de dores e doenças ocupacionais, mas convém abordar também o ambiente psicológico, pois o estresse psicológico negativo também pode ser um fator de risco para o desenvolvimento de tais distúrbios. 2.1 POSTURA E ADAPTAÇÕES Segundo Tribastone (2001), o termo postura (na língua italiana) deriva da síncope da palavra positura que, modernizando-se, não só perdeu uma vogal, mas complicou notavelmente o seu significado original de posição, atitude ou hábitos posturais. A postura é composta das posições de todas as articulações do corpo em um dado momento e do equilíbrio muscular. Nessa perspectiva, os trabalhadores possuem uma tendência maior a adaptar sua postura ao ambiente de trabalho do que adequar esses ambientes as suas neces- sidades. Assim, faz-se importante na compreensão entre o previsto e o realizado pelo trabalhador, ou seja, tarefa e atividade. Neste sentido, a produtividade, a organização do trabalho, a postura assumida, os movimentos e o ambiente possibilitam identificar vari- áveis presentes nas situações com vistas a propor melhorias nas condições de trabalho. 80 As estratégias de avaliação e prevenção estão na análise dos postos de trabalho, na diminuição da repetitividade e o uso do sistema de revezamento das tarefas, no descanso durante a jornada de trabalho e a conscientização dos trabalhadores pelas atividades educativas. FIGURA 2 – SEQUÊNCIA DE POSTURAS UTILIZADAS NO TRABALHO FONTE: <https://www.bringit.com.br/blog/dicas-e-tutoriais-para-notebook/dicas-para-usar-o- notebook-e-manter-uma-postura-correta/>. Acesso em: 30 jul. 2021. Você sabe se posicionar durante um atendimento? Que tal dar uma conferida em algumas posturas não recomendadas para o nosso exercício profissional? DICAS 81 FIGURA – POSTURAS NÃO RECOMENDADAS PARA O EXERCÍCIO PROFISSIONAL POSTURAS INCORRETAS DOS FISIOTERAPEUTAS. Não estamos avaliando a técnica de nenhum tratamento, apenas a postura do fisioterapeuta que deve procurar inserir pausas entre cada sessão para realizar exercícios compensatórios, veja alguns exemplos na matéria principal. Evite ficar por muito tempo curvado e ultilizando o mesmo ponto de apoio dos membros inferiores sem alternar. Não esqueça faça exercícios compensatórios entre cada sessão. Evite sobrecarga nos seus braços, ombros e coluna vertebral. Use o sistema de alavanca e posicione-se distribuindo mais o seu peso com o membro inferior do paciente. Postura Incorreta dos Fisioterapeutas Observe a posição de seus membro inferiores e a que esta fazendo de forma unilateral. Analise quantos pacientes você atende realizando a mesma manobra. FONTE: <https://www.escoladepostura.com.br/main.asp?link=indep&id=262>. Acesso em: 30 jul. 2021. 82 2.2 ANÁLISE ERGONÔMICA Baseia-se no estudo dos movimentos corporais do ser humano, necessários para executar uma tarefa, e na medida do tempo gasto em cada um desses movimentos. A sequência dos movimentos necessários para executar a tarefa é baseada em uma série de princípios de economia de movimentos, sendo que o melhor método é escolhido pelo critério do menor tempo gasto. O desenvolvimento do melhor método é feito, geralmente, em laboratório de engenharia de métodos, onde os diversos dispositivos, materiais e ferramentas, são colocados em posições mais convenientes, baseados em critérios empíricos e em experiências pessoais dos próprios analistas de métodos. O estudo ergonômico do posto de trabalho comporta as seguintes fases: • Análise da demanda: é a definição do problema a ser estudado, a partir do ponto de vista dos diversos atores sociais envolvidos. • Análise da tarefa: análise das condições ambientais, técnicas e organizacionais de trabalho. • Análise das atividades: análise dos comportamentos do serhumano no trabalho (gestuais, informacionais, regulatórios e cognitivos). • Diagnóstico: o diagnóstico procura descobrir as causas que provocaram o problema descrito na demanda. • Recomendações ergonômicas: as recomendações ergonômicas referem-se às providências que deverão ser tomadas para resolver o problema diagnosticado. Como diagnósticos, podemos ter vários fatores, por exemplo: • absenteísmo (faltas ou atrasos); • rotatividade (pode ser devido ao treinamento insuficiente ou elevada carga de estresse no ambiente); • acidentes (pode ocorrer por falta de manutenção nas máquinas, sinalização mal interpretada, pisos molhados, entre outros); • baixa qualidade: pode ser por consequências de erros de dimensionamento do posto de trabalho, ou pela sequência inadequada de tarefas. 83 Vamos refletir quais os possíveis problemas deste ambiente de trabalho que podemos observar? Qual seria seu diagnóstico? FIGURA – OBSERVAÇÃO DE POSSÍVEIS PROBLEMAS FONTE: <http://riscofisicoo.blogspot.com/2015/04/risco-fisico-no-ambiente-de- trabalho.html>. Acesso em: 30 jul. 2021. Além disso, quando falamos em recomendações, devemos prescrever todas as etapas necessárias para resolver o problema. Estas podem vir acompanhadas de figuras com detalhamento das modificações a serem feitas em máquinas ou postos de trabalho, e indicar as respectivas responsabilidades (pessoa e seção do departamento encarregado, com indicação do respectivo prazo). IMPORTANTE 84 FIGURA 3 – ANÁLISE ERGONÔMICA DO TRABALHO FONTE: <http://www.ergonomianotrabalho.com.br/analise-ergonomica.pdf>. Acesso em: 30 jul. 2021. 2.3 RISCOS NO TRABALHO Todos os trabalhadores são expostos a situações inseguras, perigos ou riscos diariamente, e para evitá-los ou reduzir os níveis de exposição é necessário conhecer os riscos ocupacionais relacionados aos diferentes agentes de exposição inerentes às operações industriais ou atividades executadas pelos trabalhadores. Risco é considerada qualquer situação de algum elemento (máquinas, produtos químicos, ruído etc.) ou circunstância (excesso de horas de trabalho, falta de uso de EPIs, EPCs, layout, atitudes inadequadas.) existentes relacionadas com um processo ou ambiente de trabalho que possa causar danos à saúde, seja por meio do acidente de trabalho, doenças ocupacionais ou pelo sofrimento social ou psicológico dos trabalhadores, ou ainda, por poluição ambiental (BRASIL, 1995). Os riscos podem ser provenientes de ruídos, vibrações, temperatura, vapores, iluminação, seres vivos, instrumentos de trabalho, postura inadequada, dentre diversos outros agentes causadores. 85 QUADRO 1 – RISCOS NO TRABALHO FONTE: <https://onsafety.com.br/fique-atento-aos-riscos-de-acidentes-de-trabalho/>. Acesso em: 30 jul. 2021. A presença de um fisioterapeuta pode contribuir com a saúde física e funcional dos trabalhadores, identificando quais são os riscos relacionados à ergonomia através de uma avaliação detalhada do ambiente de trabalho. 3 ABORDAGEM COM ÊNFASE BIOMECÂNICA OCUPACIONAL A Biomecânica Ocupacional está relacionada ao estudo das posturas e tarefas do homem no trabalho, as relações entre as dimensões corporais e a postura no trabalho se refletem principalmente quando o trabalhador tem de se ajustar ao equipamento, assumindo posturas inadequadas, e/ou quando o equipamento é ajustado ao trabalhador em relação as suas dimensões corporais, permitindo a adoção de posturas adequadas (VANÍCOLA; MASSETO; MENDES, 2004). A capacidade de carga é influenciada pela sua localização em relação ao corpo e outras características como formas, dimensões e facilidade de manuseio. Em relação à localização relativa, para movimentos repetitivos, a força máxima para o levantamento de peso é exercida quando a carga se encontra a 30 cm de distância do corpo e a 30 cm de altura do solo (VANÍCOLA; MASSETO; MENDES, 2004). MAPEAMENTO DOS RISCOS DO AMBIENTE DE TRABALHO Tipo de Risco Ação de Melhoria Riscos Físicos mapeamento de risco para os funcionários expostos a ruído, calor, frio, pres- sões, umidade, radiações (ionizantes ou não) e vibrações. Riscos Químicos mapeamento de risco para os funcionários expostos à poeiras, fumo, gases, va- pores, névoas, neblinas, substâncias compostas ou produtos químicos em geral. Riscos Biológicos mapeamento de risco para os funcionários expostos à fungos, vírus, parasitas, bactérias, protozoários e bacilos. Riscos Ergonômicos mapeamento de risco para os funcionários expostos à esforço físico intenso, levantamento e transporte manual de peso, exigência de postura inadequada, controle rígido de produtividade, imposição de ritmos excessivos, trabalho em turno e noturno, jornadas de trabalho prolongadas, monotonia e repetitividade e outras situações causadoras de stress físico e/ou psíquico. Riscos de Acidentes mapeamento de risco para os funcionários expostos à arranjo físico inade- quado, iluminação inadequada, probabilidade de incêndio e explosão, eletrici- dade, máquinas e equipamentos sem proteção, armazenamento inadequado, quedas e animais peçonhentos. 86 Essa capacidade diminui quando a carga se afasta para 60 cm do corpo, chegando praticamente a zero quando se afasta a 90 cm do corpo (IIDA, 2005). A análise biomecânica de uma tarefa implica medir múltiplos ângulos articulares e, frequentemente, movimentos complexos durante uma atividade prescrita (VANÍCOLA; MASSETO; MENDES, 2004). As articulações movem-se sobre múltiplos eixos, sendo necessária a utilização de sistemas de medida complexos. É necessário que os sistemas meçam as rotações articulares sobre três eixos e que sejam autoalinháveis, isto é, transladem de acordo com as mudanças de posição do centro da articulação (SANTOS; MEIJA, 2008). Entretanto, nos primeiros estudos que utilizaram goniômetros na análise de tarefas de trabalho, verifica-se que esses instrumentos eram muito simples, permitindo somente análises bidimensionais dos deslocamentos angulares. 3.1 ANÁLISE MULTIFATORIAL O levantamento de peso é acompanhado de um considerável aumento da pressão nas cavidades abdominais devido à contração dos músculos abdominais, a pressão intra-abdominal ajuda a estabilizar a coluna enquanto se levanta cargas com as mãos, os modelos biomecânicos também estabelecem que a postura agachada para levantar cargas grandes, próximas aos joelhos dobrados, envolve forças de compressão maiores do que levantar cargas à mesma carga em uma postura curvada (SANTOS; MEIJA, 2008). Em outras palavras, se a carga é muito volumosa para ficar entre os joelhos, pode ser mais vantajoso curva-se do que se agachar para levantá-la, as forças de cisalhamento, no entanto, são maiores na postura curvada, comparado à postura agachada. Isso sugere que as pessoas devem manter o tronco em uma postura ereta sempre que possível (COUTO, 2007). Na análise multifatorial, um conjunto de variáveis (psicológicas, biomecânicas, fisiológicas e epidemiológicas) é utilizado para definir o limite de peso recomendável a ser manuseado e um índice de levantamento de cargas (SANTOS; MEIJA, 2008). O índice de levantamento é calculado a partir da razão entre o peso real do objeto levantado na condição de trabalho e o limite de peso recomendável, e é utilizado para determinar um limite de segurança da atividade de levantamento (SANTOS; MEIJA, 2008). Atualmente, os métodos mais utilizados pela biomecânica ocupacional para a análise das posturas de trabalho são os equipamentos de cinemetria, de eletromiografia, além da plataforma de força e do eletrogoniômetro. 87 FIGURA 4 – CINEMETRIA E PLATAFORMA DE FORÇA FONTE: <https://ufmg.br/comunicacao/noticias/ufmg-inaugura-laboratorios-de-analise-do- movimento-e-de-estudos-da-dor>. Acesso em: 30 jul. 2021. FIGURA 5 – ELETROGONIÔMETRO FONTE: <https://www.researchgate.net/figure/Figura-14-Sensores-a-Eletrogoniometro-ao- potenciometro-central-sao-fixadas-as_fig7_309541637>. Acesso em: 30 jul. 2021. É importante lembrar que umprojeto de ergonomia utiliza-se de análises de outras relações entre o homem e aspectos físicos do ambiente de trabalho, como a quantidade de luz, sons e outros, mas estas fogem ao escopo deste trabalho. 88 3.2 EVIDÊNCIAS CIENTÍFICAS De acordo com uma revisão de literatura, recentemente realizada pela National Institute for Occupational Safety and Health (NIOSH) nos EUA, mais de 40 artigos pesquisados apresentaram evidência na relação entre problemas na coluna lombar e cinco fatores associados às tarefas laborais, que são: trabalho físico pesado, levantamentos de peso, posturas de trabalho em que são exigidas constantes flexões e rotações da coluna, vibração corporal e posturas estáticas (VANÍCOLA; MASSETO; MENDES, 2004). Muitas tarefas laborais exigem essas demandas do aparelho locomotor, e por tal razão, esse tema é muito importante na Biomecânica Ocupacional. A sobrecarga imposta aos discos intervertebrais da coluna já foi muito estudada pela Biomecânica. O aumento da pressão exercida no disco na manutenção de uma postura estática para a realização de uma tarefa é um dos fatores que contribui para a degeneração discal. Nessa situação, o disco intervertebral fica exposto ao risco de perda ou diminuição da elasticidade e resistência, o que pode levar à degeneração precoce e aumentar a probabilidade de ocorrência de hérnia discal (VANÍCOLA; MASSETO; MENDES, 2004) Diferenças de pressão intradiscal, que podem ser originadas a partir de solicitações excessivas impostas à coluna vertebral, esforços de flexão (levantamento e transporte), esforço excessivo na manipulação ou trabalho físico pesado (empurrar, puxar, empilhar) e/ou esforço inadequado (rotação do tronco, inclinações laterais e outras) também são situações consideradas nocivas por oferecerem risco à coluna vertebral (VANÍCOLA; MASSETO; MENDES, 2004). Um estudo muito citado na literatura em Biomecânica apresenta resultados da pressão intradiscal medidos diretamente. Nessa pesquisa, foram introduzidos transdu- tores de força de alta sensibilidade no III disco intervertebral lombardos sujeitos analisa- dos e a eles era solicitada a tarefa de realizar alguns movimentos. Ela reúne os principais resultados desta pesquisa a respeito da sobrecarga no disco intervertebral em diferen- tes posições corporais (NACHEMSON apud VANÍCOLA; MASSETO; MENDES, 2004). Um estudo utilizou a Eletroneuromiografia (EMG) para identificar como o sinal de três músculos envolvidos na tarefa de digitação variavam conforme a altura da mesa (HAGBERG apud VANÍCOLA; MASSETO; MENDES, 2004). Com os seus resultados, o au- tor pôde identificar que o músculo trapézio é muito solicitado quando a mesa está muita alta para o digitador e que o músculo deltoide é mais solicitado quando há uma abdução dos braços na realização da tarefa. Isso pôde determinar que um ajuste preciso nas mesas dos postos de trabalho se faz necessário, bem como evidenciar a necessidade de um trabalho compensatório de exercícios, principalmente para o músculo trapézio, quando não houvesse a possibilidade de reestruturação do posto de trabalho (VANÍCO- LA; MASSETO; MENDES, 2004). 89 Outro estudo muito interessante patrocinado pela Volvo na Suíça utilizou a EMG por telemetria para comparar cinco tarefas distintas na montagem de um de seus carros (VANÍCOLA; MASSETO; MENDES, 2004). As tarefas incluíam a colocação do vidro, a pré-montagem do vidro, a instalação da bateria, a instalação do tanque de gasolina e a montagem da quinta porta. Todas as tarefas foram executadas com o operador portando o eletromiógrafo e um eletrogoniômetro em duas situações distintas: com a utilização de uma ferramenta e sem o uso da ferramenta. O objetivo era verificar em qual situação (ferramenta e sem ferramenta) havia uma frequência maior de ativação de alguns grupos musculares sujeitos à fadiga, nas cinco tarefas distintas. Para a maioria das tarefas, a utilização da ferramenta foi determinante na redução da frequência da ativação dos grupos musculares analisados (VANÍCOLA; MASSETO; MENDES, 2004). Atualmente, o desenvolvimento tecnológico tem permitido que sejam utilizadas câmeras de alta frequência na análise de tarefas laborais e também sistemas optoeletrônicos já têm sido utilizados na indústria. Discussões a respeito de melhores artefatos para a realização de medidas laborais como, por exemplo, quais os melhores tipos de marcadores articulares a serem utilizados para filmagens dos movimentos na indústria, têm sido tema de algumas investigações. 90 Vamos revisar a anatomia da coluna para entender melhor? FIGURA – ANATOMIA DA COLUNA FONTE: <https://www.mdsaude.com/neurologia/hernia-de-disco/>. Acesso em: 30 jul. 2021. Vértebras cervicais Vértebras torácicas Vértebras lombares DICAS 91 RESUMO DO TÓPICO 1 Neste tópico, você aprendeu: • A análise ergonômica pode contribuir para solucionar muitos problemas, relacionados com saúde, segurança, conforto e eficiência. • Podemos perceber que o ambiente em que o trabalhador está inserido tem crucial importância no desenvolvimento de dores e doenças ocupacionais. • As estratégias de avaliação e prevenção estão na análise dos postos de trabalho, na diminuição da repetitividade e o uso do sistema de revezamento das tarefas, no descanso durante a jornada de trabalho e a conscientização dos trabalhadores pelas atividades educativas. • Risco é considerada qualquer situação de algum elemento como: máquinas, produtos químicos, ruído. Ou circunstância: excesso de horas de trabalho, falta de uso de EPIs, EPCs, layout, atitudes inadequadas. • A análise biomecânica de uma tarefa implica medir múltiplos ângulos articulares e, frequentemente, movimentos complexos durante uma atividade prescrita. 92 AUTOATIVIDADE 1 Os riscos ocupacionais são os riscos de acidentes aos quais os trabalhadores estão sujeitos em um ambiente de trabalho. Sobre os riscos no ambiente do trabalho, assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) Podem ser considerados riscos ergonômicos o esforço físico excessivo, levantamento e transporte de peso, postura inadequada, controle rígido de produtividade, trabalho noturno, jornadas de trabalho extensas, dentre outros. b) ( ) São riscos ergonômicos: fumos, gases, vapores. Substâncias compostas ou produtos químicos em geral que possam causar algum dano. c) ( ) Bactérias, protozoários, vírus, fungos e parasitas são riscos químicos. d) ( ) Máquinas e equipamentos sem proteção, ferramentas e iluminação inapropria- das, risco de choque elétrico, risco de incêndio, atmosferas explosivas são ris- cos biológicos. 2 A ergonomia no ambiente de trabalho é fundamental para manter a saúde e seguran- ça do trabalhador. Nos postos de trabalho, a ergonomia atua facilitando a interação entre os colaboradores, o local de trabalho e a forma como esses profissionais exe- cutam suas tarefas. Analise as sentenças a seguir: I- Análise das atividades é responsável pela análise dos comportamentos do ser humano no trabalho, incluindo gestuais, informacionais, regulatórios e cognitivos. II- Análise da tarefa avalia as condições ambientais, técnicas e organizacionais de trabalho. III- Análise da demanda é a definição do problema a ser estudado, a partir do ponto de vista dos diversos atores sociais envolvidos. Assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) As sentenças I e II estão corretas. b) ( ) Somente a sentença II está correta. c) ( ) As sentenças I, II e III estão corretas. d) ( ) Somente a sentença III está correta. 93 3 A Biomecânica Ocupacional está relacionada ao estudo das posturas e tarefas do homem no trabalho, ou seja, as relações entre as dimensões corporais e a postura no trabalho. Nessa perspectiva, assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) A análise biomecânica de uma tarefa implica medir múltiplos ângulos articulares e, frequentemente, movimentos complexos durante uma atividade prescrita. b) ( ) É a área das ciências da saúde que aplica o conhecimento sobre as adaptaçõesagudas e crônicas ao esporte. c) ( ) Trata dos processos mentais utilizados pelo ser humano na realização de suas atividades e como eles afetam suas interações com outros elementos. d) ( ) Explora os riscos biológicos dos profissionais expostos ao contato com inúme- ras pessoas. 4 Muitas tarefas laborais exigem demandas do aparelho locomotor e, por tal razão, esse tema é muito importante na Biomecânica Ocupacional. Disserte sobre a sobrecarga que a coluna pode sofrer se realizada uma tarefa inadequada. 5 Existem muitas estratégias para diminuir os riscos laborais. Nesse sentido, destaque as principais medidas que podem ser tomadas para evitar problemas laborais relacionados à má postura. 94 95 IMPLICAÇÕES DE POSTURAS, MOVIMENTOS E CONDIÇÕES ADVERSAS 1 INTRODUÇÃO UNIDADE 2 TÓPICO 2 - A avaliação da carga física de trabalho foi o primeiro problema tratado pela fisiologia do trabalho e continua sendo uma questão central para a maioria dos trabalhadores do mundo, inclusive para aqueles que trabalham em setores mais modernos e com esforços físicos menores. Em estudos ergonômicos medem-se os índices fisiológicos com o objetivo de determinar o limite da atividade física que um indivíduo pode exercer, sendo possível determinar a duração da jornada de trabalho e a duração e frequência de pausas (ALVES; MINETTE; SOUZA, 2000). Acadêmico, no Tópico 2, abordaremos o excesso de cargas no trabalho, elementos que interatuam dinamicamente entre si e no corpo do trabalhador, gerando processos de adaptação que se traduzem em desgaste, perda da capacidade efetiva e/ou potencial corporal e psicológico. E as recomendações das organizações que regulamentam a Saúde do Trabalhador para o levantamento de peso no trabalho. E, por fim, abordaremos a atuação em diferentes segmentos como construção civil. No Tópico 3, discutiremos as implicações de um trabalho com postura sedentária, e iremos explorar a nova modalidade de trabalho em home office. Por fim, abordaremos os trabalhos mistos, que incluem os profissionais da saúde como odontólogos, fisioterapeutas e enfermeiros. Interessante, não é mesmo? Vamos lá! 2 EXCESSO DE CARGA E IMPLICAÇÕES A exposição às cargas de trabalho pode desencadear problemas de saúde entre os trabalhadores. O limite de carga máxima no trabalho pode ser calculado com base na frequência cardíaca do trabalho (FCT) ou pela Carga Cardiovascular (CCV). O limite de aumento da Frequência Cardíaca durante o trabalho, aceitável para uma “performance” contínua, é de 35 e 30 batimentos por minuto (bpm), no homem e na mulher, respectivamente. Isso significa que o limite é atingido quando a frequência cardíaca média do trabalhador estiver 35 bpm acima da Frequência Cardíaca Média de Repouso (FCR) (FIEDLER, 1998). 96 A carga cardiovascular corresponde à percentagem da frequência cardíaca do trabalho, em relação à frequência cardíaca máxima utilizável, não devendo ultrapassar 40% da frequência cardíaca do trabalho (FIEDLER, 1998). O aparecimento de sintomas de fadiga por sobrecarga física depende do esforço desenvolvido, da duração do trabalho e das condições individuais, como estado de saúde, nutrição e condicionamento decorrente da prática da atividade. À medida que aumenta a fadiga, reduz-se o ritmo de trabalho, atenção e rapidez de raciocínio, tornando o operador menos produtivo e mais sujeito a erros e acidentes (SILVA, 1999). Segundo Fiedler (1998), um trabalho que exige frequência cardíaca média inferior a 75 batimentos por minuto deve ser classificado como muito leve, de 75 a 100 como leve, de 101 a 125 como medianamente pesado, de 126 a 150 como pesado e, acima de 151, extremamente pesado. 2.1 RECOMENDAÇÕES AO TRABALHO COM CARGA Nessa perspectiva, existem tabelas de recomendação para o levantamento e transporte de cargas, considerando sexo, idade, frequência de levantamento e movimento realizado. No Brasil, adota-se a tabela publicada na Norma Regulamentadora 17 (NR- 17), segundo a qual, o limite para transporte e descarga individual de peso é de 60 kg, enquanto que, para o levantamento, o limite máximo é de 40 kg (BRASIL,1994). No entanto, os dados da NR-17 não correspondem aos critérios da OIT (Organização Internacional do Trabalho), que leva em conta as diferenças entre sexo, idade e frequência de realização da tarefa. A OIT considera que, para o levantamento de uma carga de 25 kg (15 kg a me- nos do que o recomendado pela NR-17), a compressão intradiscal entre a IV e a V vérte- bras lombares (L4 e L5) é considerada de grande magnitude e, portanto, de risco para o trabalhador. O conflito nesses dados indica a dificuldade de se estabelecer um limite de carga para a realização (VANÍCOLA; MASSETO; MENDES, 2004). A sobrecarga imposta aos discos intervertebrais da coluna já foi muito estudada pela Biomecânica. O aumento da pressão exercida no disco na manutenção de uma postura estática para a realização de uma tarefa é um dos fatores que contribui para a degeneração discal. 97 Nessa situação, o disco intervertebral fica exposto ao risco de perda ou diminui- ção da elasticidade e resistência, o que pode levar à degeneração precoce e aumentar a probabilidade de ocorrência de hérnia discal (VANÍCOLA; MASSETO; MENDES, 2004). 2.2 CONSTRUÇÃO CIVIL Diferenças de pressão intradiscal, que podem ser originadas a partir de solicitações excessivas impostas à coluna vertebral, esforços de flexão (levantamento e transporte), esforço excessivo na manipulação ou trabalho físico pesado (empurrar, puxar, empilhar) e/ou esforço inadequado (rotação do tronco, inclinações laterais e outras) também são situações consideradas nocivas por oferecerem risco à coluna vertebral (PEINADO, 2019). Inúmeras são as atividades na construção civil em que os trabalhadores podem adotar posturas inadequadas. Como exemplo, pode-se citar o uso de enxadas, elevação de paredes de alvenaria, execução de regularização de piso, execução de revestimentos argamassados, assentamento e rejuntamento de pisos, dentre outros serviços (PEINADO, 2019). De acordo com Dul e Weerdmeester (2004), as posturas ou movimentos inadequados geram tensões mecânicas nos músculos, ligamentos e articulações, que podem resultar em dores no pescoço, costas, ombros, punhos e outras partes do sistema musculoesquelético. FIGURA 6 – POSTURA DA CONSTRUÇÃO CIVIL FONTE: <https://www.sonoticias.com.br/geral/pedreiro-obras-construcao-civil-1-junho-de-2018- divulgacao/>. Acesso em: 10 set. 2021. 98 A realização de atividades com posturas inadequadas pode provocar fadiga muscular e lesões no corpo do trabalhador. A coluna vertebral do ser humano constitui- se de vértebras, ligamentos, músculos e discos intervertebrais. Intercalado entre as vértebras estão os discos, os quais estão relacionados com as funções de amortecimento de pressões e sustentação de peso. Os discos variam de formato e espessura ao longo da coluna, e possuem o formato de cunha nas regiões da cervical e lombar. As curvaturas côncavas existentes nessas regiões permitem que a coluna exerça com precisão suas funções de flexibilidade e rigidez (VANÍCOLA; MASSETO; MENDES, 2004). FIGURA 7 – COLUNA VERTEBRAL FONTE: <https://www.prevenir.pt/paciente-inteligente/corpo-humano/a-coluna-vertebral/>. Acesso em: 10 set. 2021. O disco intervertebral constantemente se encontra submetido à pressão devido à posição adotada entre as duas vértebras. Essa pressão será menor ou maior, dependendo da postura adotada pelo indivíduo e a sobrecarga, advinda de pesos adicionais, a que a sua coluna está exposta. 99 Segundo Knoplich (1986), uma pressão repetitiva e frequente sobre os discos, mesmo que não seja intensa, pode ocasionar a aceleração de sua degeneração, levando à perda da propriedade de amortecimento. Nas posturas que exigem torções de tronco, o efeito é o tensionamento dos discos existentes entre as vértebras, a carga assimétrica que exigem das articulações e músculos existentes nos doislados da coluna, e ainda, as posturas prolongadas e movimentos repetitivos por tempo prolongado, que podem causar lesões localizadas, resultando em fadiga muscular (COUTO, 1995). Na construção civil, o trabalhador realiza tal tipo de movimento rotineiramente em suas atividades. Por exemplo, no caso da atividade de execução de alvenaria. A argamassa e os blocos cerâmicos, quando dispostos sem análise da altura ideal que esses materiais deveriam estar dispostos para o trabalhador, geram como consequência a necessidade dele flexionar o tronco, e muitas vezes também o rotacionando, visto que tais materiais, em geral, ficam posicionados em paralelo ao local de assentamento, repetindo tais posturas inúmeras vezes no decorrer do dia (PEINADO, 2019). Uma solução ergonômica simples a ser adotada para esse caso é a elevação da argamasseira a uma altura próxima aos cotovelos do trabalhador, evitando o contínuo abaixar e levantar para alcançar a quantidade de argamassa necessária, diminuindo assim, a flexão do tronco. Para isso, podem-se utilizar sobras de madeira das fôrmas da estrutura para se fazer um suporte; no entanto, sugere-se avaliar a possibilidade de uma porta- argamasseira de altura regulável, pois permitiria ao trabalhador ajustá-la as suas características antropométricas. Nesse caso, a argamasseira deve estar em altura adequada, bem como se deve utilizar uma bancada para apoiar os blocos cerâmicos. Desse modo, o pedreiro pode apanhar o bloco com uma das mãos e a argamassa com a outra, mantendo-se em pé sem se curvar, curvando-se somente para assentar os blocos nas fiadas mais próximas ao piso, pois é inevitável (PEINADO, 2019). Outro exemplo de atividade em que se observa a necessidade de flexão e torção de coluna é na execução de revestimento argamassado utilizando a colher de pedreiro. Se a argamasseira estiver disposta na altura incorreta, gerará a necessidade de o trabalhador precisar se abaixar, flexionando o tronco, e muitas vezes também de rotacioná-lo, fazendo o movimento em sentido inverso, ao lançar a argamassa na parede (PEINADO, 2019). 100 Uma solução ergonômica simples a ser adotada para esse caso é a elevação da argamasseira a uma altura próxima aos cotovelos do trabalhador. Uma solução tecnologicamente mais avançada é a adoção de máquinas que projetam a argamassa, diminuindo o esforço do trabalhador, o que exige um maior investimento, mas em contrapartida traz retorno à empresa com o aumento de produtividade. Uma postura inadequada adotada pelo trabalhador é a manutenção por perío- dos prolongados da postura de elevação dos braços acima da altura dos ombros, visto que, de acordo com Couto (2005), todos os movimentos extremos do ombro somente podem ser feitos poucas vezes e contra pequena resistência. Caso contrário, pode gerar desconforto e fadiga, além de oferecer risco, dependendo da duração e frequência dos movimentos. Tal postura pode ser verificada em atividades, como a elevação de alvenaria e a execução de revestimentos argamassados e cerâmicos. Nessas situações, o aumento da altura da parede em construção, ou do local a ser revestido, pode apresentar uma dificuldade de alcance, exigindo que o trabalhador eleve seus braços acima da altura de seus ombros. Isso pode ocorrer devido ao fato de o trabalhador não ter a sua disposição um andaime na altura adequada, ou um complemento disponível para o andaime (PEINADO, 2019). Nesse sentido, convém fazer pausas regulares ou rodízio de atividades, de modo a diminuir o tempo em que se mantém tal postura. Dul e Wenermeeester (2004) afirmam que a movimentação e levantamento de cargas são responsáveis por grande parte dos problemas musculares em trabalhadores. Aproximadamente, 60% das lesões musculares decorrem de levantamento de cargas e 20% da atividade de puxar ou empurrar. Em relação a lesões na coluna, segundo Wirhed (1986 apud PEINADO, 2019), o levantamento de objetos pesados provoca uma pressão elevada no disco intervertebral, podendo romper o anel fibroso que serve como um amortecedor para as vértebras da coluna cervical. Os principais problemas que podem acometer os trabalhadores devido à frequente movimentação e transporte de carga são dor lombar e deformações vertebrais. Nessa perspectiva, é imprescindível que os trabalhadores recebam treinamento sobre a postura correta para o levantamento e transporte manual de cargas, quando necessário, e passem a conhecer e aplicar as formas adequadas de trabalhar nessas condições. Os trabalhadores e gestores devem ter a consciência dos riscos de tal atividade, que quando realizada de forma inadequada, gerará para ambos. 101 2.3 ATIVIDADES DE FABRICAÇÃO DE MÓVEIS A utilização de máquinas na fabricação de móveis em madeira exige uma carga física considerada. Um estudo realizado constatou que a maior carga física de trabalho dos funcionários é na desengrossadeira, a plaina e a serra circular (FIEDLER et al., 2003). Os operadores têm a atividade classificada como medianamente pesada. Todas as outras atividades do processo são classificadas como leves. Porém, é importante destacar que deve-se permitir um maior percentual de pausas voluntárias no trabalho para descanso, principalmente das pernas, já que quase todas as atividades são executadas na posição em pé. Os trabalhadores das marcenarias devem ser especializados em mais funções, para permitir um maior rodízio entre eles nas funções de maior e de menor exigência física (FIEDLER et al., 2003). 3 IMPLICAÇÕES DE POSTURAS, MOVIMENTOS E CONDIÇÕES ADVERSAS DURANTE ATIVIDADES SEDENTÁRIAS Novas configurações no mundo global imprimem diferentes modificações nos processos de trabalho, rotinas e gestão da informação. Cada vez mais, as atividades laborais estão ligadas a posturas sedentárias e dependentes de tecnologias. Uma modalidade de trabalho que surgiu na década de 1970 do último século está o home office, trabalho realizado a partir da própria residência, que tem obtido maior proeminência nos últimos anos, principalmente com o advento da pandemia em 2019. Nesse sentido, iremos discutir as principais consequências ergonômicas dessa ocupação, vamos lá? 3.1 IMPLICAÇÕES FÍSICAS E PSICOLÓGICAS DO TRABALHO HOME OFFICE A modalidade de trabalho home office se caracteriza pela inserção em um es- paço, sem tamanho ou propriedades definidas, destinado somente a atividades profis- sionais e localizado na residência do trabalhador, sendo facultativo o uso de tecnologias informacionais para a realização das atividades (ELLISON, 1999; LIM; TEO, 2000). 102 O trabalho em home office e o teletrabalho, em geral, têm se disseminado como meios de trabalho eficientes e viáveis. São considerados modelos adaptados aos avanços tecnológicos e equivalentes quanto aos ganhos e às perdas de empregados e empregadores; um modo de trabalho a ser amplamente realizado 'no futuro' (RAFALSKI; ANDRADE, 2015). FIGURA 8 – HOME OFFICE FONTE: <https://bynd.com.br/2020/04/vantagens-do-home-office-para-a-empresa/>. Acesso em: 10 set. 2021. FIGURA 9 – DICAS HOME OFFICE FONTE: <https://tvlagartixa.blogspot.com/2015/08/dica-do-dia_29.html>. Acesso em: 30 jul. 2021. 103 A adaptação ao ambiente de trabalho, além de uma negociação com a família, em termos dos costumes e do espaço para realização da atividade, reforça o imperativo da formulação de rotinas que equilibrem a realidade do trabalho a partir de casa e partam da realidade do trabalhador. Por estar em processo de inserção e consolidação no cenário brasileiro, o home office encontra entraves, como a falta de apoio, de reconhecimento e de incentivo à adaptação. De forma semelhante, a cultura vigente no Brasil tende a compreender o trabalho a partir de casa como uma atividade temporária e desqualificada, diminuindo a aceitação por parte dos familiares e dos próprios trabalhadores. Mudanças nos aspectos de socialização são uma das consequências resultantes do trabalho em home office: trabalharde casa promove a diminuição do contato pessoal, direto e diário com pares e superiores e, em contrapartida, aumenta o contato com familiares e cônjuges (RAFALSKI; ANDRADE, 2015). 3.2 TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO E ATENDENTES DE TELEMARKETING O profissional da tecnologia da informação (TI) constitui umas das ca- tegorias de profissionais que se encontram em risco relativo à saúde física e mental. As doenças ocupacionais mais comuns nesses profissionais são LER/DORT, problemas de postura, problemas visuais, estresse. Segundo a Norma Regulamentadora 17 (BRASIL, 2017, p. 375), “as condições ambientais de trabalho devem: em todos os locais de trabalho deve haver iluminação adequada, natural ou artificial, geral ou suplementar, apropriada à natureza da atividade”. Sempre que o trabalho puder ser executado na posição sentada, o posto de trabalho deve ser planejado ou adaptado para esta posição. Para trabalho manual sentado ou que tenha de ser feito em pé, as bancadas, mesas, escrivaninhas e os painéis devem proporcionar ao trabalhador condições de boa postura, visualização e operação e devem atender aos seguintes requisitos mínimos: • Ter altura e características da superfície de trabalho compatíveis com o tipo de ati- vidade, com a distância requerida dos olhos ao campo de trabalho e com a altura do assento. • Área de trabalho de fácil alcance e visualização pelo trabalhador. • Características dimensionais que possibilitem posicionamento e movimentação ade- quados dos segmentos corporais. 104 Para trabalho que necessite também da utilização dos pés, além dos requisitos estabelecidos acima, os pedais e demais comandos para acionamento pelos pés devem ter posicionamento e dimensões que possibilitem fácil alcance, bem como ângulos adequados entre as diversas partes do corpo do trabalhador, em função das características e peculiaridades do trabalho a ser executado. Os assentos utilizados nos postos de trabalho devem atender aos seguintes requisitos mínimos de conforto: altura ajustável à estatura do trabalhador e à natureza da função exercida; características de pouca ou nenhuma conformação na base do assento; borda frontal arredondada; encosto com forma levemente adaptada ao corpo para proteção da região lombar. FIGURA 10 – CADEIRA ERGONÔMICA FONTE: <https://prevencaocuritiba.com.br/solucoes-seguranca-do-trabalho/ergonomia-nr-17/>. Acesso em: 10 set. 2021. Para as atividades em que os trabalhos devam ser realizados sentados, a partir da análise ergonômica do trabalho, poderá ser exigido suporte para os pés, que se adapte ao comprimento da perna do trabalhador. Para as atividades em que os trabalhos devam ser realizados de pé, devem ser colocados assentos para descanso em locais em que possam ser utilizados por todos os trabalhadores durante as pausas. 105 FIGURA 11 – ASSENTOS PARA DESCANSO FONTE: <https://sstemexercicios.wixsite.com/concursos/single-post/2018/01/13/trabalha-em- p%C3%A9-conhe%C3%A7a-os-seus-direitos>. Acesso em: 10 set. 2021. Quanto às mesas de trabalho, as dimensões devem atender às características antropométricas do usuário, do local e do trabalho a ser realizado. O mouse deve ficar ao lado e no mesmo nível do teclado, com espaço em torno do teclado suficiente para apoio dos punhos nos intervalos da digitação. A altura do teclado e do mouse deve garantir que a digitação se dê com ombros e braços relaxados, braços ao longo o corpo, ângulo dos cotovelos igual ou ligeiramente maior de 90°; pode variar entre 60 e 74 cm de altura. Teclado e mouse não podem ficar mais altos do que os cotovelos. A avaliação da altura ideal deve levar em conta a regulagem da altura do assento da cadeira. Após a regulagem da altura da cadeira deve-se garantir apoio confortável dos pés do usuário preferencialmente no chão, ou em suporte (ORSELLI, 2011). Suporte retrátil, geralmente, é útil para garantir a adequação da altura do teclado e do mouse; deverá ter no mínimo 65 cm de comprimento e profundidade suficiente para garantir 30 cm de área útil, instalado abaixo do tampo da mesa (ORSELLI, 2011). Apoio adequado aos pés do usuário é importante para a adoção de posturas corporais corretas; um suporte para os pés dos trabalhadores de baixa estatura pode ser necessário quando não for possível adequar a altura do suporte de teclado e mouse (ORSELLI, 2011). 106 Deve haver espaço suficiente para as pernas embaixo da mesa, evitando a colocação da CPU, de impressoras ou outros materiais. FIGURA 12 – POSTURA EM FRENTE AO COMPUTADOR FONTE: <http://direitosbrasil.com/wp-content/uploads/2016/09/nr17.jpg>. Acesso em: 30 jul. 2021. Já quando falamos de operadores das centrais de atendimento telefônico, área que também está em franca expansão no Brasil e no mundo, envolvendo cerca de 550 mil trabalhadores em nosso país, pode-se destacar a relação ao sofrimento mental, sintomas de fadiga, tensão nervosa, cefaleias, insônias, dificuldades para refletir e para fixar sua atenção. No Brasil, vários autores, como Assunção e Souza (2000), Abrahão (2000), Fernandes (2002), Glina e Rocha (2003) descreveram os fatores de estresse no trabalho e repercussões sobre a saúde mental do trabalho das telefonistas e operadores de telemarketing. Quanto aos DORT, o trabalho em telemarketing envolve a utilização intensiva de microcomputadores, permitindo grande intensificação do trabalho e agregando riscos associados ao trabalho com computadores às exigências mentais e comunicacionais características das tarefas desses trabalhadores. Vários estudos relacionam sintomas osteomusculares dos ombros, pescoço e membros superiores com o aumento de pressão gerencial e de carga de trabalho, incluindo rotinas de trabalho com poucas oportunidades de tomada de decisões, altas demandas de processamento de informações, posturas desconfortáveis pelo mobiliário, temperaturas inadequadas e número reduzido de pausas (HALES et al., 1994; HOEKSTRA et al., 1995; ROCHA et al., 2005; FERREIRA; SALDIVA, 2002). 107 3.3 IMPLICAÇÕES EM ATIVIDADES EM PROFISSIONAIS DA SAÚDE O desgaste inerente à tarefa dos profissionais da saúde tem sido motivo de preocupação há mais de duas décadas, e esta questão tem se tornado cada vez mais relevante, principalmente pelo grau de importância da função social que estes profissionais exercem em suas comunidades (MACEDO, 2004). Na vida cotidiana, no trabalho e fora dele, as pessoas adotam posturas para o desenvolvimento de atividades e para o descanso. Essas posturas podem produzir cargas adequadas para a manutenção da saúde e do sistema musculoesquelético, ou podem ser excessivas ou mesmo insuficientes, levando a distúrbios nesse sistema (RIO; PIRES, 2001). Distúrbios musculoesqueléticos são muito comuns em cirurgiões-dentistas, principalmente devido à posição de trabalho. O posicionamento da cabeça do paciente sempre muito próxima ao operador e a pequena área de trabalho que é a cavidade bucal fazem com que o profissional adote posturas estáticas inflexíveis, laboriosas e prolongadas. FIGURA 13 – POSTURA DO ODONTÓLOGO FONTE: <https://pt.dreamstime.com/ergonomia-dental-pose-errada-e-correta-do-assento- image113097260>. Acesso em: 30 jul. 2021. Como consequência disso, é frequente o aparecimento de lesões de esforço repetitivo ou doenças osteomusculares relacionadas ao trabalho (LER/DORT), derivadas de atividades profissionais em que o esforço repetitivo é uma constante, onde há grande demanda muscular por várias horas diárias. 108 É de extrema importância que o cirurgião-dentista se conscientize dos meios de prevenção dessas patologias, visto que apresenta grande susceptibilidade para desenvolver esses tipos de doenças, devendo se atentar aos primeiros sinais e sintomas para que o tratamento seja feito o mais precocemente possível, aumentando assim o tempo de exercício da profissão e a qualidade de vida profissional. Grande parte dasvezes, os distúrbios osteomusculares passam despercebidos e o profissional acaba se acostumando com a dor ou incômodo, esquecendo-se dos cuidados com a própria saúde. A ergonomia aplicada à odontologia tem como propósito reduzir o estresse cognitivo e físico, bem como o de prevenir as doenças relacionadas ao exercício da profissão, por meio de adequações do ambiente de trabalho e da otimização do atendimento, eliminando passos desnecessários para a execução dos procedimentos, uma vez que o profissional, quando confortável em seu trabalho, consegue prevenir distúrbios musculoesqueléticos, melhorar sua qualidade de vida e proporcionar mais conforto ao paciente (SALIBA et al., 2016). O cirurgião-dentista deve, durante o procedimento odontológico, sentar-se no mocho simetricamente ereto e o mais para trás possível. Essa postura deve permitir que o osso esterno esteja um pouco avançado e levantado, já os músculos abdominais devem estar suavemente comprimidos. As costas ficam apoiadas na parte posterior dos ossos da bacia, isso fará com que ele consiga permanecer em posição ereta (SALIBA et al., 2016). Durante os procedimentos pode observar-se a diminuição do ângulo formado entre a parte posterior da coxa e a panturrilha do operador, e uma maior angulação do seu pescoço. A força exercida para a exodontia faz com que o operador eleve demasiado seu antebraço, podendo levar a problemas tardios em todos os músculos superiores, bem como dores imediatas devido à sobrecarga. Para prevenir lesões osteomusculares nos procedimentos de cirurgia, o cirurgião-dentista deve posicionar sua perna formando, entre a parte posterior da coxa e a panturrilha, um ângulo de 110° ou um pouco mais, mantendo-a levemente esticada (SALIBA et al., 2016). 109 FIGURA 14 – POSTURA DE EXODONTIA FONTE: <https://www.novafisio.com.br/analise-das-posturas-criticas-de-cirurgioes-dentistas/>. Acesso em: 10 set. 2021. Os membros superiores devem sempre estar ao lado do corpo e levemente à frente do tronco durante o atendimento, essa posição irá minimizar o peso fixo dos om- bros e dos membros superiores. Todos os movimentos devem ser minimizados, sendo que os laterais devem ficar entre 15°e 20°, já os frontais podem se estender até os 25°. Os antebraços podem ser elevados de 10° a 25°. O local correto para o pedal é sempre próximo ao pé de acionamento, preferencialmente a frente deste, para que não haja necessidade de movimentar o pé lateralmente durante a operação (SALIBA et al., 2016). Para muitos autores, os trabalhadores de enfermagem são especialmente suscetíveis a lesões nas costas pelo fato de terem que movimentar e transportar pacientes regularmente. A maioria dos episódios de lombalgia entre a equipe de enfermagem ocorre durante a movimentação de pacientes. Contudo, Harber et al. (apud ALEXANDRE; BENETTI, 1998) investigaram fa- tores pessoais e de trabalho associados com a ocorrência de dores nas costas entre enfermeiras de hospitais, e verificaram que as atividades que não envolvem o conta- to direto com pacientes podem ser as principais colaboradoras no desenvolvimento deste problema. 110 FIGURA 15 – POSTURA ADEQUADA DO ENFERMEIRO AO FAZER MUDANÇA DE DECÚBITO FONTE: <http://www.eerp.usp.br/movpac/estudar/regras/index03.html>. Acesso em: 30 jul. 2021. É importante discutirmos o levantamento de peso excessivo, no Brasil, o dispositivo que rege essa matéria é a Norma Regulamentadora n° 17, como já discutimos anteriormente. Contudo, os estudos são voltados para trabalhadores de indústrias e existem poucas pesquisas que procuram utilizar destas novas abordagens ergonômicas na questão da movimentação e transporte de pacientes. Porém, há associação entre os problemas na coluna vertebral com a movimentação de pacientes acamados e com o excesso de esforço físico ao transportá-los. Já se sabe, inclusive, que durante a realização desses procedimentos, o peso levantado por funcionários de enfermagem iguala-se ou mesmo excede as recomendações (ALEXANDRE; BENETTI, 1998). Além disso, são realizados sob condições desfavoráveis, com uma equipe insuficiente e com equipamentos inadequados e sem manutenção. Para avaliar a manipulação de um paciente, além de todas as variáveis já citadas, deve-se pensar em fatores como disponibilidade de auxílios mecânicos; tipos de transportes; equipamentos utilizados; espaço físico disponível; e, finalmente, não se pode esquecer da segurança e conforto do próprio paciente. É importante ressaltar que o pessoal de enfermagem provavelmente está levantando cargas excessivas tanto ao movimentar e transportar pacientes, como quando mobiliza determinados materiais e equipamentos. Entre estes, pode-se citar: monitores, respiradores, caixas com frascos de soro, galões, pesos para tração e sacos de roupas (ALEXANDRE; BENETTI, 1998). Além disso, outro fator que auxilia no desenvolvimento de lesões é o levantamento, na posição incorreta, de pesos abaixo dos limites permissíveis. Isso ocorre quando uma pessoa levanta uma carga com os membros inferiores estendidos e o dorso encurvado. 111 Ainda, é importante destacar aos profissionais da enfermagem, a necessidade de obter condições seguras do solo, posicionar os pés corretamente, evitar movimentos de torção do eixo vertical do corpo e segurar a carga usando totalmente as mãos. É importante observar se o trabalhador de enfermagem está manuseando cargas e pacientes de um modo correto e, também, obter informações se este pessoal recebeu treinamento quanto aos métodos de trabalho que deverá utilizar para salvaguardar sua saúde e prevenir acidentes. Segundo Couto (1995), o efeito do esforço físico crônico sobre a coluna vertebral é semelhante ao processo de envelhecimento: há degeneração do disco, com diminuição do conteúdo de água do mesmo. Em consequência, as vértebras tornam-se aproximadas, e a coluna vertebral fica diminuída de tamanho. Ao discutir aspectos fisiológicos e mecânicos do disco intervertebral, Kapandji (2000, p. 31) fez as seguintes observações: Se a aplicação de cargas e descargas sobre o disco são repetidas de um modo demasiado próximo no tempo, o disco não tem tempo para recuperar a sua espessura inicial. Também se cargas e descargas repetem-se de maneira demasiado prolongada, mesmo com a espera do tempo de recuperação necessário, o disco não recupera sua espessura inicial. Observa-se aqui um fenômeno de envelhecimento. Dentro desse contexto, é importante ressaltar que a equipe de enfermagem, além de executar atividades que produzem tensão emocional, também está sujeita a causas não ocupacionais. Apesar de a fisioterapia ser uma profissão cujo objetivo maior é promover a saúde do indivíduo, na maioria dos ambientes de trabalho, as condições ergonômicas são precárias, o que proporciona a execução de tarefas de trabalho que induzem danos a sua própria condição física no atendimento a seus pacientes (PERES, 2002). O fisioterapeuta, para desenvolver sua função, utiliza-se de meios de trabalho muito simples. O principal instrumento de trabalho é seu próprio corpo, para tanto, ele precisa ter boa flexibilidade, força muscular e posicionar-se adequadamente. Segundo Peres (2002), a fisioterapia é a ciência da saúde que estuda, previne e trata os distúrbios cinéticos funcionais, intercorrentes em órgãos e sistemas do corpo humano, gerados por alterações genéticas, por traumas e por doenças adquiridas. O fato de os fisioterapeutas trabalharem com a reabilitação de pacientes altamente dependentes e de sobrecarga física, induz à participação desses profissionais em um grupo de alto risco de comprometimentos musculoesqueléticos desde o início de sua carreira profissional. 112 Dessa forma, acaba exigindo do profissional fisioterapeuta um maior condicionamento físico, pois este irá impor ao seu organismo posturas, sobrecargas, tensões e estresse, durante todo o atendimento (LIANZA, 1995). Pode-se observar, na prática diária do processo de reabilitaçãofísica neurológica, que essas características adotadas tendem a ser intensas do que em qualquer área de atendimento fisioterápico, uma vez que se trata de pacientes e/ou totalmente dependentes, que apresenta distúrbio como a falta de controle postural e equilíbrio, déficits de programação motora, diminuição de flexibilidade e outras alterações fisiológicas. FIGURA 16 – FISIOTERAPEUTA NEUROFUNCIONAL FONTE: <http://clinicaortoped.com.br/index.php/blog/29-fisioterapia-neurologica-ou- neurofuncional-o-que-e>. Acesso em: 30 jul. 2021. Devido a essas alterações fisiológicas, o fisioterapeuta necessita realizar um esforço físico maior ao executar o tratamento no paciente. É importante lembrar que essas técnicas são realizadas com o paciente na altura do solo, sobre colchonetes, tatames ou bolas. Isso exige que o fisioterapeuta realize excessivamente os movimentos de flexão e extensão de tronco em oposição à força gravitacional. Alguns estudos ressaltam que muitos dos problemas existentes no contexto de trabalho do fisioterapeuta estão relacionados à ausência de padrões ergonômicos e ausência de aplicação dos princípios de mecânica corporal, mesmo que esses profissionais sejam detentores desses conhecimentos (SILVA; MEIJA, 2010). Nas posturas assumidas pelo fisioterapeuta em seu dia a dia, é comum observar posições como permanecer em pé por tempo prolongado, muitas vezes com inclinação de tronco sobre o paciente para realização das atividades de manipulação ou utilização de equipamentos, realizar agachamento, levantamento, ficar ajoelhado ou ainda permanecer em posição estática. 113 FIGURA 17 – POSTURA AGACHADA DO FISIOTERAPEUTA FONTE: <https://www.clinicaneuroreab.com/therasuit>. Acesso em: 30 jul. 2021. Segundo Peres (2002), as atividades desenvolvidas pelos profissionais exigem padrões posturais que podem contribuir para o surgimento dos distúrbios osteomusculares. Nesta circunstância, os profissionais que atuam nessa área estão mais propícios a desenvolver quadros sintomatológicos, sendo necessário adotar um programa de prevenção para que minimize o aparecimento desagradável induzida por estímulos nocivos e geralmente recebido por terminações nervosas. Programas como exercícios de fortalecimento, entre outros, visa a uma melhor condição física, promovem adaptações fisiológicas, físicas e psíquicas, por meio de exercícios adequados ao ambiente de trabalho (LIMA, 2003). Isso possibilita uma melhora no desempenho laboral do profissional, diminuindo a possibilidade de adquirir algumas patologias provenientes do trabalho realizado durante seu atendimento em fisioterapia. Para Deliberato (2002), as estratégias de prevenção estão na mudança dos postos de trabalho, na diminuição da repetitividade e o uso do sistema de revezamento das tarefas, no descanso durante a jornada de trabalho e a conscientização dos trabalhadores pelas atividades educativas. Os trabalhadores possuem uma tendência maior a se adaptar ao ambiente de trabalho do que adequar esses ambientes as suas necessidades. A literatura aponta o fisioterapeuta como um dos profissionais da área da saúde que mais sofrem carga física durante suas atividades de trabalho, pelas posturas adotadas durante os atendimentos aos seus pacientes (PERES, 2002). Peres (2002 apud MIERZERJEWSKI; KUMAR, 1997; BORK et al., 1996; CROMIE; ROBERTSON; BEST, 2000) afirma o aparecimento de sintomas de dores em membros superiores e coluna vertebral por movimentos repetitivos e posturas inadequadas durante as atividades de trabalho dos fisioterapeutas. 114 Os esforços repetitivos, trabalho estático, esforço físico intenso, ritmos intensos de trabalho e posturas inadequadas estão presentes na maioria das atividades profissionais, inclusive no trabalho do fisioterapeuta. Essas condições de trabalho são causas para o aparecimento ou agravamento de lesões, principalmente no sistema musculoesquelético (MAZIERO; ALMEIDA; BAUMER, 2005). Segundo Romani (2001), a fisioterapia é uma profissão cujo exercício implica em exigências do sistema musculoesquelético, como a força física dinâmica e estática, movimentos repetitivos de membros superiores, manutenção de posturas estáticas e movimentos não fisiológicos de coluna vertebral e membros. Esses movimentos e posturas são descritos na literatura corrente como fatores de risco para o desenvolvimento de DORT (INSS, 1997; RIO, 1999). O mesmo autor relata que os desequilíbrios entre essas estruturas responsáveis pela postura adequada ou alinhamentos defeituosos podem resultar em sobrecarga e tensão sobre os ossos, articulações e músculos. Diante da realidade vivida pelos profissionais da saúde, inclusive os fisioterapeutas, é explícito que em seu ambiente de trabalho, submete- se a agressões, tornando-se um grande candidato a adquirir afecções e desta forma provocar inquietação quanto à saúde do profissional, devido à falta de qualidade dos serviços oferecidos aos seus pacientes, já que o fisioterapeuta tenderá a apresentar- se desconfortável em sua plenitude de oferecer o melhor de si aos que entregam suas esperanças de recuperação ou cura nas mãos dos que se propõem a essa missão (CIARLINI et al., 2005). A cada ano surgem novas queixas de Lesões por Esforço Repetitivo (LER) em profissionais de fisioterapia, sendo importante conhecer a prevalência dessa disfunção para detectar os fatores causais, lançando possíveis sugestões de medidas preventivas, visando a uma melhoria na qualidade de saúde desse profissional (CIARLINI et al., 2005). FIGURA 18 – ATUAÇÃO DO FISIOTERAPEUTA FONTE: <https://secad.artmed.com.br/blog/fisioterapia/cuidados-retomada-sessoes-de- fisioterapia/>. Acesso em: 30 jul. 2021. 115 Para Maziero, Almeida e Baumer (2004), quando um indivíduo apresenta uma lesão por sobrecarga biomecânica ocupacional, os fatores etiológicos estão relacionados à organização do trabalho e envolvem, sobretudo, os equipamentos, ferramentas, acessórios e mobiliários inadequados; desrespeito aos posicionamentos, angulações e distâncias dos mesmos; técnicas incorretas para a execução de tarefas; sobrecarga biomecânica estática e dinâmica; uso de instrumentos com excessiva transmissão de vibração; temperatura, ventilação e umidade inapropriadas no ambiente de trabalho. Os mesmos autores relatam que o indivíduo pode apresentar lesões musculoesqueléticas específicas sem que estejam relacionadas as suas atividades de trabalho. FIGURA 19 – USO DE EQUIPAMENTOS PARA REDUZIR SOBRECARGA FONTE: <https://nucre.com.br/conceito-mulligan-o-que-e-e-quais-os-beneficios/>. Acesso em: 30 jul. 2021. Assim, além das sobrecargas biomecânicas, outras causas devem ser consi- deradas como potenciais agentes causais dessas enfermidades musculoesqueléticas. Portanto, percebe-se que o ambiente em que o trabalhador está inserido tem crucial importância no desenvolvimento de dores e DORT, mas convém abordar também o am- biente psicológico, pois o estresse psicológico negativo também pode ser um fator de risco para o desenvolvimento de tais distúrbios. Os fisioterapeutas estão incluídos entre os grupos de risco para DORT, como mostram os estudos epidemiológicos de Holder et al. (1999), com prevalência de 33% de DORT em fisioterapeutas norte-americanos, e de Cromie et al. (2000), que detectaram, entre profissionais australianos, 91% de DORT em algum momento de sua vida profissio- nal. Bork et al. (1996) identificaram 17 fatores associados ao trabalho para o desenvolvi- mento de DORT em fisioterapeutas e, Cromie et al. (2000) afirmaram que somente 16% dos profissionais de fisioterapia australianos fazem algum tipo de prevenção para DORT. 116 A ocorrência acentuada desses distúrbios parece estar relacionada às cargas físicas e psíquicas às quais esses profissionais estão expostos no ambiente de trabalho (ROMANI, 2001). Em relação às regiões anatômicas de maior frequência de acometimento, pôde-se identificar seis regiões: colunas lombar, torácica e cervical; ombro,punho e dedos/polegar e cotovelo. As três regiões com menor frequência foram quadril, joelho e tornozelo. Dentre as regiões mais acometidas cabe destacar os distúrbios musculoesqueléticos relacionados à coluna lombar, a qual apresentou maior prevalência em 7 dos 8 estudos selecionados, com exceção apenas ao estudo realizado por Peres (2002). As lesões em fisioterapeutas em início de carreira podem estar associadas a uma menor experiência e um menor conhecimento e habilidade nos primeiros anos de carreira. Cromie et al. (2000) acrescentam ainda a relutância desses jovens em pedir ajuda. A massificação dos atendimentos, relacionada ao baixo valor repassado pelos planos de saúde responsáveis pela maior demanda dos atendimentos, contribui substancialmente para esse processo. Evidencia-se também a permanência no posto de trabalho mesmo na presença da DORT. A OIT redigiu um documento que apresenta exemplos de violência e assédio relacionados com o trabalho que foram denunciados em vários países no contexto da Covid-19: “Convenção (N° 190) da OIT sobre a eliminação da violência e do assédio no mundo do trabalho (2019): 12 contribuições possíveis para a resposta à crise da COVID-19 e recuperação da pandemia”. Que tal conferir? Disponível em: https://www.ilo.org/wcmsp5/groups/public/-- -dgreports/---gender/documents/publication/wcms_750461.pdf. IMPORTANTE 117 FIGURA – SÍNTESE DA OIT FONTE: <https://www.ilo.org/wcmsp5/groups/public/---dgreports/---gender/documents/ publication/wcms_750461.pdf>. Acesso em: 10 set. 2021. 118 RESUMO DO TÓPICO 2 Neste tópico, você aprendeu: • O limite de carga máxima no trabalho pode ser calculado com base na frequência cardíaca do trabalho (FCT) ou pela carga cardiovascular (CCV). O limite de aumento da frequência cardíaca durante o trabalho, aceitável para uma “performance” contínua, é de 35 e 30 batimentos por minuto (bpm), no homem e na mulher, respectivamente. Isso significa que o limite é atingido quando a frequência cardíaca média do trabalhador estiver 35 bpm acima da frequência cardíaca média de repouso (FCR). • Para trabalho manual sentado ou que tenha de ser feito em pé, as bancadas, mesas, escrivaninhas e os painéis devem proporcionar ao trabalhador condições de boa postura, visualização e operação e devem atender aos requisitos mínimos. • A ocorrência acentuada desses distúrbios parece estar relacionada às cargas físicas e psíquicas às quais esses profissionais estão expostos no ambiente de trabalho. • É imprescindível que os trabalhadores recebam treinamento sobre a postura correta para o levantamento e transporte manual de cargas, quando necessário, e passem a conhecer e aplicar as formas adequadas de trabalhar nessas condições. 119 AUTOATIVIDADE 1 O monitoramento da exposição dos trabalhadores às cargas de trabalho, dos processos de desgastes gerados e suas consequências é uma medida que transcende à promoção e proteção da saúde. Sobre trabalhos com carga, assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) Na Norma Regulamentadora 17 (NR- 17), o limite para transporte e descarga individual de peso é de 60 kg, enquanto que, para o levantamento, o limite máximo é de 40 kg. b) ( ) Na Norma Regulamentadora 17, o limite de carga e descarga é de 80 kg para homens e 60 kg para mulheres. c) ( ) Segundo a Organização Internacional do Trabalho, fatores como gênero, idade e antropometria não são necessários para avaliar a quantidade de peso tolerada pelo trabalhador. d) ( ) O recomendado pela Organização Internacional do Trabalho é seguido pela NR- 17, norma que regulamenta esse tipo de trabalho no Brasil. 2 A ergonomia para considerado sedentário é indispensável para evitar dores na coluna, pescoço e ombro. Nesse contexto, a postura e os movimentos realizados para desenvolver uma determinada atividade são fundamentais na ergonomia ocupacional tanto quanto o mobiliário utilizado. Sobre trabalhos com sedentários, assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) É preciso ter altura e características da superfície de trabalho compatíveis com o tipo de atividade, com a distância requerida dos olhos ao campo de trabalho e com a altura do assento b) ( ) A altura do computador, por exemplo, deve estar alinhado com os ombros e deve seguir um padrão para todos os profissionais. c) ( ) A área de trabalho não necessita ser funcional, com alcance sem necessidade de levantar e sem visualização pelo trabalhador. d) ( ) As características dimensionais devem ser padronizadas rigidamente sem necessidade de adequação dos segmentos corporais. 120 3 A eficácia de uma intervenção ergonômica depende de sua capacidade de controlar ou amenizar os fatores de risco das lesões/distúrbios musculosesqueléticos. É de grande importância que o fisioterapeuta adote medidas visando à ergonomia no ambiente de trabalho. Porém, muitas vezes, o próprio fisioterapeuta adota algumas posturas prejudiciais a sua prática cotidiana. Nesse sentido, analise as sentenças a seguir: I- O fato de os fisioterapeutas trabalharem com a reabilitação de pacientes altamente dependentes e de sobrecarga física induz à participação desses profissionais em um grupo de alto risco de comprometimentos musculoesqueléticos desde o início de sua carreira profissional. II- As lesões em fisioterapeutas ocorrem após 20 anos de carreira, normalmente, podem estar associada a uma maior experiência e um maior conhecimento e habilidade. III- A ocorrência acentuada desses distúrbios parece estar relacionada às cargas físicas e psíquicas às quais esses profissionais estão expostos no ambiente de trabalho Assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) As sentenças I e II estão corretas. b) ( ) Somente a sentença II está correta. c) ( ) As sentenças I e III estão corretas. d) ( ) Somente a sentença III está correta. 4 Home office é uma forma de relação de trabalho na qual o colaborador atua a distância, e cada vez mais frequente no mundo moderno. Disserte sobre a importância da adequação do ambiente de trabalho ao trabalhador em home office. 5 A fisioterapia é uma profissão cujo exercício implica exigências ao corpo do profissional, que pode levar a lesões se o profissional não souber usar a biomecânica corporal a seu favor. Nesse contexto, disserte sobre os riscos ocupacionais que envolvem os profissionais fisioterapeutas. 121 TÓPICO 3 - VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA NA SAÚDE DO TRABALHADOR 1 INTRODUÇÃO UNIDADE 2 A Vigilância em Saúde do Trabalhador e da Trabalhadora (VISATT) é um conjunto de ações feitas sempre com a participação dos trabalhadores e articuladas intra e intersetorialmente, de forma contínua e sistemática, com o objetivo de detectar, conhecer, pesquisar e analisar os fatores determinantes e condicionantes da saúde relacionados ao trabalho, cada vez mais complexo e dinâmico. A partir dela surgiu a Rede de Atenção Integral à Saúde do Trabalhador (RENAST), que é uma rede nacional de informação e práticas de saúde, organizada com o propósito de pôr em prática as ações de vigilância, assistência e promoção da saúde, nas linhas de cuidado da atenção básica, da média e alta complexidade, ambulatorial, pré-hospitalar e hospitalar, sob a égide do controle social, nos três níveis de gestão do SUS. Acadêmico, no Tópico 2, abordaremos os eixos de atuação da vigilância, destacando o papel da RENAST e da Política Nacional de Saúde do Trabalhador. Na sequência, falaremos dos Equipamentos de Proteção Individual e sua importância na prevenção de acidentes. Vamos lá? 2 EIXOS DE ATUAÇÃO O trabalho ou atividade laboral pode ser determinante e condicionante do processo saúde-doença e assume grandes e profundas transformações no mundo. O mercado de trabalho trouxe algumas problemáticas, como a precarização, os contratos por prazo determinado ou intermitente, a terceirização de serviços, a degradação das condições de trabalho e a negação de direitos previdenciários e trabalhistas historicamente conquistados.Nesse sentido, a VISATT surge para discutir e fiscalizar esse mercado, para reduzir a morbimortalidade de trabalhadores e trabalhadoras nas mais diferentes ocupações e formas de inserção no mercado de trabalho. Ela se divide em três eixos complementares: 122 • Vigilância Epidemiológica: coordenação dos procedimentos técnicos para sistematização da informação e a notificação compulsória das doenças e agravos relacionados ao trabalho. Por meio do acompanhamento periódico de indicadores de saúde e sistemas, como o de informação de agravos de notificação (SINAN-NET), busca-se conhecer o perfil de morbimortalidade dos trabalhadores e trabalhadoras, bem como o cruzamento com variáveis, tais como as atividade econômica e ocupação. • Atenção à Saúde: objetiva a consolidação da Política Nacional de Saúde do Trabalhador e Trabalhadora por meio do fortalecimento das ações dos Centros de Referência em Saúde do Trabalhador (CEREST). Esses centros, comumente de abrangência estadual ou regional, deixam de ser porta de entrada prioritária e assumem o lugar de suporte e retaguarda técnica no seu território de abrangência. Atuam como polo irradiador da cultura da centralidade do trabalho e produção social no processo saúde-doença. Além disso, a Atenção à Saúde almeja a ampliação e estímulo às ações do controle social, exercido, por exemplo, através das Comissões Intersetoriais de Saúde do Trabalhador e da Trabalhadora (CISTT) vinculadas aos respectivos Conselhos de Saúde. • Vigilância dos Ambientes e Processos de Trabalho: compreendida como um conjunto de ações interventivas; planejadas, executadas e avaliadas a partir da análise dos agravos/doenças e de seus determinantes relacionados aos processos e ambientes de trabalho; que visam atenuar ou controlar os fatores e as situações geradoras de risco para a saúde dos trabalhadores. É a essência da ação de VISATT e é desenvolvida por análises de documentos, entrevistas com trabalhadores e observação direta do processo de trabalho (forma de trabalhar, relação do trabalhador com os meios e processos de produção e da relação dos meios de produção com o ambiente). 2.1 POLÍTICA NACIONAL DE SAÚDE DO TRABALHADOR E DA TRABALHADORA – PNSTT A Política Nacional de Saúde do Trabalhador e da Trabalhadora – PNSTT – tem como finalidade definir os princípios, as diretrizes e as estratégias a serem observados pelas três esferas de gestão do SUS, para o desenvolvimento da atenção integral à saúde do trabalhador, com ênfase na vigilância, visando à promoção e à proteção da saúde dos trabalhadores e à redução da morbimortalidade decorrente dos modelos de desenvolvimento e dos processos produtivos (BRASIL, 2017). Todos os trabalhadores, homens e mulheres, independentemente de sua localização, urbana ou rural, de sua forma de inserção no mercado de trabalho, formal ou informal, de seu vínculo empregatício, público ou privado, assalariado, autônomo, avulso, temporário, cooperativado, aprendiz, estagiário, doméstico, aposentado ou desempregado são sujeitos desta Política. Uma das estratégias da PNSTT é a estruturação da Rede Nacional de Atenção In- tegral à Saúde do Trabalhador – RENAST – no contexto da Rede de Atenção à Saúde – RAS. 123 Vamos conhecer essa política na íntegra? Ela está disponível no link: https://bvsms.saude. gov.br/bvs/saudelegis/gm/2012/prt1823_23_08_2012.html. 2.2 REDE NACIONAL DE ATENÇÃO INTEGRAL À SAÚDE DO TRABALHADOR (RENAST) A Rede Nacional de Atenção Integral à Saúde do Trabalhador, RENAST, foi criada em 2002, por meio da Portaria n° 1.679/GM, com objetivo de disseminar ações de saúde do trabalhador, articuladas às demais redes do Sistema Único de Saúde – SUS. Com a definição da Política Nacional de Saúde do Trabalhador em 2005 (BRASIL, 2005), a RENAST passou a ser a principal estratégia da organização da ST no SUS, sob a responsabilidade da então Área Técnica de Saúde do Trabalhador do Ministério da Saúde, hoje Coordenação Geral da Saúde do Trabalhador – CGSAT. A RENAST compreende uma rede nacional de informações e práticas de saúde, organizada com o propósito de implementar ações assistenciais, de vigilância, prevenção, e de promoção da saúde, na perspectiva da ST. Em sua atual formatação institucional, prevista na Portaria n° 2.728 de 11 de novembro de 2009, a RENASt deve integrar a rede de serviços do SUS por meio de Centros de Referência em Saúde do Trabalhador (CEREST). Além disso, elabora protocolos, linhas de cuidado, e instrumentos que favorecem a integralidade das ações, envolvendo a atenção básica, de média e alta complexidade, serviços e municípios sentinela. DICAS 124 Essa portaria também estabelece que a RENAST seja implementada de forma articulada entre o Ministério da Saúde (MS), as Secretarias de Saúde dos estados, o Distrito Federal, e os municípios, com o envolvimento de outros setores também participantes da execução dessas ações. Definida dessa forma, a RENAST se constitui em uma complexa rede que se concretiza com ações transversais, que incluem a produção e gestão do conhecimento, e todos os níveis e ações definidas. Grandes esforços e avanços têm sido feitos para a institucionalização da rede, e para a formalização de mecanismos de funcionamento, bem como a relação entre seus componentes. FIGURA 20 – PROGRAMA DE REABILITAÇÃO DE TRABALHADORES Perícia Médica CRP Formação de RH Produção de Conhecimento Assistência Extensão Representatividade Negociação Organização po Local de Trabalho - O.L.T. SUS Rede Própria Rede Complementar Rede Suplementar - Condição de trabalho - Processo e organização de trabalho - Trabalhadores - Gerência e Supervisão - Equipe de Saúde e RH INSS RENAST/ SUS VIGILÂNCIA <=> ASSISTÊNCIA PESQUISA <=> FORMAÇÃO CESAT CEREST US NUSAT DIRES ASSISTÊNCIA A SAÚDE AMBIENTE DE TRABALHO CONTROLE SOCIAL UNIVERSIDADE TRABALHADOR COM LER/DORT Esquema de interação dos atores envolvidos no Programa de Reabilitação de Trabalhadores proposto pelo Cesat FONTE: <https://www.scielo.br/j/rbso/a/m7wxhQ4LH8Yp3vyvYnFHmtc/?lang=pt>. Acesso em: 30 jul. 2021. 125 2.3 NOTIFICAÇÕES DE DOENÇAS E AGRAVOS RELACIONADOS AO TRABALHO O conhecimento dos riscos e agravos à saúde relacionados ao trabalho é de fundamental importância para o planejamento das ações de assistência, de vigilância e de intervenção sobre os ambientes de trabalho. Assim, os sistemas para notificar/registrar casos de doenças e agravos relacionados ao trabalho são o Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN), do Ministério da Saúde, e o Sistema de Informações em Saúde do Trabalhador (SIST), que tem objetivo epidemiológico e envolvem casos suspeitos e confirmados de relação com o trabalho, independentemente do vínculo de trabalho (BRASIL, 2006). A notificação de doenças e agravos relacionados ao trabalho é compulsória e obrigatória para os médicos e outros profissionais de saúde ou responsáveis pelos serviços públicos e privados de saúde, que prestam assistência ao paciente, em conformidade com o Art. 8° da Lei n° 6.259, de 30 de outubro de 1975. A notificação compulsória será realizada diante da suspeita ou confirmação de doença ou agravo. Portanto é necessário implementar, na Rede de Atenção à Saúde do SUS, e na rede privada, a notificação compulsória dos agravos à saúde relacionados com o trabalho. Estudo realizado por Calvalcanti et al. (2014) objetivou descrever o perfil dos agravos relacionados ao trabalho notificados no estado do Rio Grande do Norte, Brasil, de 2007 a 2009, e encontrou como dados os expostos na tabela a seguir: 126 TABELA 1 – PERFIL DOS AGRAVOS RELACIONADOS AO TRABALHO NOTIFICADOS NO RIO GRANDE DO NORTE, 2007 A 2009 SEGUNDO SINAN FONTE: <https://www.scielo.br/j/ress/a/94yNZVR3drFyKPcR9Bw7y9R/?lang=pt>. Acesso em: 5 ago. 2021. 3 EQUIPAMENTOS DE PROTEÇÃO Conhecidos os perigos a que algumas atividades laborais estão sujeitas, é preciso criar estratégias para evitar acidentes. Por meio de medidas de prevençãoa acidentes de trabalho, sendo o Equipamento de Proteção Individual (EPI) um dos meios mais básicos e conhecidos instrumentos para tal. A NR-9 estabelece a obrigatoriedade da elaboração de um programa de prevenção de riscos ambientais no trabalho, considerando a proteção do meio ambiente e dos recursos naturais. Indica a adoção de equipamentos de proteção coletiva (EPC), bem como quando for necessário, em caráter complementar, a utilização de equipamentos de proteção individual (EPI). 127 3.1 EQUIPAMENTO DE PROTEÇÃO INDIVIDUAL De acordo com a Norma Regulamentadora 6 do Ministério do Trabalho, considera-se Equipamento de Proteção Individual (EPI) “todo dispositivo ou produto, de uso individual utilizado pelo trabalhador, destinado à proteção de riscos suscetíveis de ameaçar a segurança e a saúde no trabalho”. O normativo traz ainda a obrigação da empresa de fornecer aos empregados, gratuitamente, EPI adequado ao risco, em perfeito estado de conservação e funcionamento, sempre que as medidas de ordem geral não ofereçam completa proteção contra os riscos de acidentes do trabalho ou de doenças profissionais e do trabalho; enquanto as medidas de proteção coletiva estiverem sendo implantadas; e para atender a situações de emergência. Na legislação federal, a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) dispõe, no Artigo 166, que “a empresa é obrigada a fornecer aos empregados, gratuitamente, equipamento de proteção individual adequado ao risco e em perfeito estado de conservação e funcionamento, sempre que as medidas de ordem geral não ofereçam completa proteção contra os riscos de acidentes e danos à saúde dos empregados”. Assim, o EPI não apenas deve ser fornecido de forma gratuita como também deve ser adequado à atividade desempenhada. 3.2 TIPOS DE EPIS Os EPIs são classificados a partir da parte do corpo a ser protegida e da atividade desempenhada, divididos pela NR-6 em nove categorias: • Proteção da cabeça: capacete, capuz ou balaclava. • Proteção dos olhos e face: óculos, protetor facial, máscara de solda. • Proteção auditiva: protetor auditivo circum-auricular, de inserção, ou semiauricular. • Proteção respiratória: respirador purificador de ar não motorizado ou motorizado; de adução de ar, ou de fuga. • Proteção do tronco: vestimentas para proteção, colete à prova de balas. • Proteção dos membros superiores: luvas, creme protetor, manga, braçadeira, dedeira. • Proteção dos membros inferiores: calçados para proteção, meia, perneira, calça. • Proteção do corpo inteiro: macacão; vestimentas de corpo inteiro. • Proteção contra quedas com diferença de nível: cinturão de segurança com dispositivo trava-queda, cinturão de segurança com talabarte. 128 FIGURA 21 – EXEMPLOS DE EQUIPAMENTOS DE PROTEÇÃO INDIVIDUAL FONTE: <https://interplast.pt/Artigos/303619-Protecao-individual-(EPI-s-proteger-o-necessario- incomodar-o-minimo.html>. Acesso em: 5 ago. 2021. Com o advento da pandemia em 2019, a Organização Mundial de Saúde (OMS) divulgou recomendações sobre o uso dos equipamentos de proteção individual (EPI) que deve ser utilizada na triagem preliminar do paciente suspeito, o profissional deve manter distância física mínima de um metro e usar estruturas arquitetônicas de vidro/ plástico para criar uma barreira entre os profissionais e os pacientes (BRASIL, 2020). Quando a distância física não for possível, o profissional deve usar máscara cirúrgica e proteção para os olhos. Ao prestar atendimento direto a pacientes com COVID-19, é necessário utilizar máscara cirúrgica, capote, luvas e proteção ocular (óculos de proteção ou protetor facial – face shield) (BRASIL, 2020). FIGURA 22 – EQUIPAMENTOS DE PROTEÇÃO COVID-19 FONTE: <https://www.vitalaire.com.br/blog/lesao-pele-relacionada-dispositivo-medico-epi-covid>. Acesso em: 5 ago. 2021. 129 Ao prestar cuidados diretos aos pacientes com COVID-19 nos procedimentos geradores de aerossóis, o profissional deve utilizar máscara N95 (FFP2 ou FFP3 padrão, equivalente ou simplesmente “respirador”), capote, luvas, protetor ocular e avental impermeável (BRASIL, 2020). O Centers for Disease Control and Prevention (CDC) recomenda as precauções padrão e usar máscara com respirador (ou máscara facial, se não houver um respirador disponível), capote, luvas e proteção para os olhos (BRASIL, 2020). O profissional deve higienizar as mãos antes e após contato com o paciente, com material potencialmente infeccioso e antes de colocar e remover os EPIs. A higiene deve ser feita com solução 60-95% de álcool ou com água e sabão por pelo menos 20 segundos (BRASIL, 2020). 3.3 PREVENÇÃO DE ACIDENTES A prevenção de acidentes de trabalho envolve esforços na área de gestão, previsão, planejamento e empenho, com foco em avaliar riscos e implementar ações. Como formas de prevenção, podemos destacar: 1- Compartilhamento de conhecimentos, especialmente sobre riscos emergentes de novos aparelhos e novas tecnologias, tanto em nível nacional como internacional. 2- Avaliação e gestão de riscos, que inclui ferramentas de prevenção e de controle tradicionais, complementadas por estratégias concebidas para antecipar e controlar os riscos emergentes provocados pelas mudanças no mundo do trabalho, concretizada pela implementação de sistemas de gestão de saúde e segurança no trabalho em nível nacional e da empresa. 3- Promoção da saúde nos locais de trabalho; por meio de programas tradicionais de prevenção de acidentes de trabalho e de doenças profissionais. O Ministério da Defesa do governo brasileiro, em notícia sobre prevenção de acidentes no ambiente do trabalho, trouxe ainda 15 dicas para evitar acidentes: 1- utilize os Equipamentos de Proteção Individual (EPI); 2- mantenha áreas de circulação desobstruídas; 3- não obstrua o acesso aos equipamentos de emergências (macas, extintores, etc.); 4- informe ao superior imediato sobre a ocorrência de incidentes, para que se possa corrigir o problema e evitar futuros acidentes; 5- não execute atividade para a qual não esteja habilitado; 6- não improvise ferramentas. Solicite a compra de ferramentas adequadas à atividade; 7- não faça brincadeiras durante o trabalho. Sua atenção deve ser voltada apenas para a atividade que está executando; 8- oriente os novos colaboradores sobre os riscos das atividades; 130 9- cuidado com tapetes em áreas de circulação; 10- não retire os equipamentos de proteção coletiva das máquinas e equipamentos. Eles protegem você e demais trabalhadores simultaneamente; 11- não fume em locais proibidos. Procure os locais destinados para tal; 12- evite a pressa, ela é “inimiga da perfeição”. Além de se expor ao nível de risco maior, seu trabalho não terá uma boa qualidade; 13- confira sua máquina ou equipamento de trabalho antes de iniciar suas atividades, através do check list; 14- não sentar-se, verifique a firmeza e a posição das cadeiras; 15- não deixe objetos caídos no chão (TRIBUNAL SUPERIOR DO TRABALHO, 2021, p. 1). No âmbito da empresa, a Comissão Interna de Prevenção de Acidentes (Norma Regulamentadora 5) é o órgão encarregado da prevenção de acidentes e doenças decorrentes do trabalho, de modo a tornar compatível permanentemente o trabalho com a preservação da vida e a promoção da saúde do trabalhador. Deve ser instalado em empresas com mais de 20 trabalhadores e tem por atribuição identificar os riscos do processo de trabalho, elaborar plano que possibilite a ação preventiva, realizar verificações nos ambientes e condições de trabalho, visando à identificação de situações que venham trazer riscos, além de divulgar aos trabalhadores informações relativas à segurança e saúde no trabalho, entre outros. 131 A SAÚDE DO TRABALHADOR EM TEMPOS DE COVID-19: REFLEXÕES SOBRE SAÚDE, SEGURANÇA E TERAPIA OCUPACIONAL (ADAPTADO) Bárbara Iansã de Lima Barroso Marina Batista Chaves Azevedo de Souza Marília Meyer Bregalda Selma Lancmand Victor Bernardes Barroso da Costa 1 INTRODUÇÃO No dia 11 de março de 2020,a Organização Mundial de Saúde (OMS) declarou o surto causado pelo novo coronavírus (SARS-CoV-2), uma pandemia global (Cucinotta & Vanelli, 2020). Detectado pela primeira vez em dezembro de 2019, na cidade de Wuhan, China, esse vírus causa uma doença denominada de COVID-19, cujo quadro clínico varia de infecções assintomáticas a quadros respiratórios graves. No Brasil, o primeiro caso foi notificado no dia 21 de fevereiro de 2020 (Gorbalenya et al., 2020). Desde então, diversos países e instituições vêm atualizando os números sobre a doença quase em tempo real. Como exemplo de vias de divulgação dessas informações, temos o site criado pela Universidade Johns Hopkins e a OMS, que libera relatórios diários sobre a evolução da pandemia e descreve as principais mudanças ocorridas em relação à situação do dia anterior (Candido et al., 2020; World Health Organization, 2020). No relatório n° 94 de 23 de abril de 2020, a OMS confirmou a existência mundial de 2.544.792 casos e 175.694 mortes. Esses números ultrapassaram rapidamente os da última pandemia - a da gripe suína (H1N1) - que causou 18 mil mortes em todo o mundo, entre 2009 e 2010. No Brasil, em abril, já havia 43.079 casos confirmados e 2.741 mortes causadas pela COVID-19, co- locando-o como o país da América do Sul em que mais se detectaram casos. O número de mortes no país por COVID-19 dobra a cada cinco dias e supera os índices da Europa e dos Estados Unidos (Candido et al., 2020; Pierre, 2020; Comitê Científico de Combate ao Coronavírus do Consórcio Nordeste, 2020; World Health Organization, 2020). Ao quase continente chamado Brasil - devido ao seu vasto território – com sua diversidade cultural, a distribuição econômica desigual e a grande variabilidade dos seus equipamentos de saúde, acrescentam-se desafios no que tange à efetividade da vigilância na área de Saúde do Trabalhador. A redução de investimentos e o constante processo de precarização do Sistema Único de Saúde (SUS), principalmente nos LEITURA COMPLEMENTAR 132 últimos três anos, depois da inclusão de um novo A saúde do trabalhador em tempos de COVID-19: reflexões sobre saúde, segurança e terapia ocupacional Cadernos Brasileiros de Terapia Ocupacional, 28(3), 1093-1102, 2020 1095 regime fiscal no âmbito dos Orçamentos Fiscal e da Seguridade Social da União, por meio da aprovação da Emenda Constitucional 95, vêm colocando à prova a organização e a estrutura do sistema brasileiro de vigilância e assistência (Lacaz et al., 2019). Aspectos como o despreparo e a desproteção das equipes de saúde em relação a essa pandemia são identificados como pontos importantes a serem discutidos. O SUS, considerado o maior sistema público de saúde do mundo, mesmo tendo sido subfinanciado desde sua criação, vem fornecendo a base necessária para as ações de enfrentamento da COVID-19, por dispor de uma rede de serviços, equipamentos e recursos humanos. Entretanto, a falta de investimentos, seu desmonte e sua desestruturação ficam mais evidentes nos momentos de crise, denotando o número insuficiente de recursos humanos na saúde; a falta de treinamento das equipes da atenção básica e da média complexidade para lidar com as suspeitas e com os casos da COVID-19; o número insuficiente de equipamentos de proteção individual (EPI); a falta de profissionais especializados em serviços de urgência; as poucas ações de prevenção interna nos espaços de cuidado, dentre outras ações necessárias ao enfrentamento de situações emergenciais de saúde pública (Romero & Delduque, 2017; Lacaz et al., 2019; The Lancet, 2020). As discussões que permeiam as necessidades de produção normativa que envolvam a saúde e a segurança do trabalhador, durante o enfrentamento de emergências de saúde pública – aedes aegypti, H1N1, zika vírus - e a legislação sanitária referente ao controle de doenças carecem de atualização. O Estado brasileiro, para cumprir a Política Nacional de Saúde do Trabalhador e da Trabalhadora (PNSTT), deve garantir a saúde e a segurança durante a execução de suas atividades produtivas (Romero & Delduque, 2017; Brasil, 2018; Lacaz et al., 2019). No que tange ao enfrentamento da pandemia da COVID-19, os estados brasileiros têm promovido ações de cunho individual e coletivo para lidar com os impactos sanitários e econômicos. Governadores dos estados que constituem o Consórcio de Integração Sul e Sudeste (COSUD) reuniram-se em 02 de abril de 2020 e propuseram medidas econômicas e fiscais que contribuam para que os governos locais enfrentem a crise sanitária. Além disso, os nove estados do Nordeste do Brasil formaram o Comitê Científico de Combate ao Coronavírus (C4NE) para auxiliar os governadores a encontrarem a melhor forma de planejar a alocação dos recursos para combater a proliferação do vírus e estruturar o sistema de saúde, associados à adoção de medidas de isolamento social pouco debatidas no âmbito das legislações vigentes. Essas medidas reconhecem o trabalhador e a trabalhadora do SUS como a maior e mais potente força de combate à pandemia (Romero & Delduque, 2017; Lacaz et al., 2019; Comitê Científico de Combate ao Coronavírus do Consórcio Nordeste, 2020). 133 [...] O Governo Federal, por meio da Portaria n° 639, que dispõe da ação estratégica e obrigatória ‘Brasil, Conta Comigo’, apresenta uma proposta “[...] voltada para a capacitação e o cadastramento de profissionais de Saúde, entre eles, fisioterapeutas e terapeutas ocupacionais” (Brasil, 2020c, p. 01). Todos os profissionais regulares no Conselho Federal de Fisioterapia e Terapia Ocupacional (COFFITO) e no Conselho Regional de Fisioterapia e Terapia Ocupacional (CREFITO) precisam se cadastrar, no que tange ao objetivo da normativa, que visa “[...] proporcionar capacitação aos profissionais da área da Saúde nos protocolos clínicos do Ministério da Saúde para o enfrentamento da COVID-19, devendo perdurar até o fim da pandemia” 2 SAÚDE, SEGURANÇA, TRABALHO E CORONAVÍRUS: DIRECIONAMENTOS POSSÍVEIS ACERCA DA ATUAÇÃO DA TERAPIA OCUPACIONAL Tanto no Brasil quanto na China, as primeiras mortes por COVID-19 foram de trabalhadores contaminados no exercício de suas funções. Em Wuhan, os primeiros óbitos foram referentes a trabalhadores do mercado de frutos do mar da cidade, considerado o foco inicial de contaminação devido ao manuseio de animais vivos. No Brasil, que diz respeito ao início dos óbitos, uma das primeiras vítimas foi uma empregada doméstica, contaminada depois de ser exposta ao vírus por seus empregadores que tinham retornado da Itália no início do ano (Goumenou et al., 2020; Leme, 2020; Comitê Científico de Combate ao Coronavírus do Consórcio Nordeste, 2020). No que se refere especificamente aos trabalhadores da área da Saúde, os principais desafios que eles vivenciam no enfrentamento da pandemia são a elevada transmissibilidade do vírus, a falta de EPI, a sobrecarga de trabalho e os impactos na saúde mental. A Comissão Nacional de Saúde da China informou que mais de 3.300 profissionais foram infectados até o início de março. Na Itália, 20% dos profissionais da área de Saúde foram contaminados depois de ter contato com pacientes infectados. A infecção também atingiu os trabalhadores dos serviços de limpeza, e a falta de EPI adequados nos hospitais foi o motivo mais apontado para o aumento das taxas de infecção (Romero & Delduque, 2017; Leme, 2020; Tavares, 2020; Comitê Científico de Combate ao Coronavírus do Consórcio Nordeste, 2020; Goumenou et al., 2020; The Lancet, 2020). A literatura científica sobre o assunto aponta que os profissionais da área de Saúde têm três vezes mais chances de contrair o vírus do que a população em geral. No Brasil, cerca de 3,5 milhões de trabalhadores atuam no Sistema Único de Saúde (SUS). No estado de Pernambuco, mais de 1.353 profissionais da Saúde foram testados positivos para a COVID-19 - uma das mais altas taxas de contaminação do país (Goumenou et al., 2020; Tavares, 2020; Comitê Científicode Combate ao Coronavírus do Consórcio Nordeste, 2020). Entre as 14 categorias profissionais da área da Saúde que constituem a linha de frente no combate e no tratamento da pandemia e considerando 134 o que preconizam o SUS e a PNSTT, entendemos que a terapia ocupacional é uma profissão que pode desenvolver ações tanto com os indivíduos que contraíram a doença e seus familiares quanto com os trabalhadores da Saúde, além de ações para prevenir o contágio (Brasil, 2018) [...] A insuficiência desses equipamentos é apenas um dos aspectos observados no processo de desvalorização e degradação do trabalho em saúde. Pesquisas, publi- cações e reportagens diversas mostram relatos de profissionais da área que descrevem as duras e as prolongadas jornadas de trabalho; a exaustão física e mental; a falta de assistência por parte dos gestores e do sistema governamental brasileiro; e a falta de equipamentos e dispositivos fundamentais para o diagnóstico e o tratamento dos in- divíduos com quadros clínicos suspeitos ou contaminados pelo vírus (testes rápidos, respiradores, balões de oxigênio, entre outros). Esses aspectos também são somados com as angústias para tomar decisões difíceis no momento da triagem, com a dor de perder colegas de trabalho e pacientes, com o risco de infecção tanto de si quanto de familiares e com a impossibilidade de fazer a testagem rápida em larga escala devido à inexistência de vacina e de tratamentos com eficácia cientificamente comprovada (Brasil, 2018; Comitê Científico de Combate ao Coronavírus do Consórcio Nordeste, 2020; Cucinotta & Vanelli, 2020; Candido et al., 2020). 3 TRABALHO PRECÁRIO, DESEMPREGO E SAÚDE DO TRABALHADOR: AÇÕES EMERGENCIAIS EM PANDEMIAS No Brasil, a desvalorização e a precarização do trabalho dos profissionais de Saúde é histórica. O trabalho é caracterizado por baixos salários, falta de plano de carreira, fragilização de vínculos trabalhistas, elevadas cargas horárias de trabalho e insuficiência de ações de educação permanente que tenham como público-alvo os trabalhadores (Romero & Delduque, 2017; Porto & Martins, 2019). A pandemia causada pela COVID-19 nos mostra a fragilidade das leis e das normas que asseguram a saúde e a segurança do trabalhador. Embora sejam necessárias medidas de proteção, capacitação e oferta de condições de trabalho adequadas para os profissionais dos estabelecimentos de saúde, é importante que haja, sobretudo, mais destinação de recursos para essas medidas, contratação de um número maior de profissionais na linha de frente, reflexões e ações que foquem a organização dos processos de trabalho, aproximação da gestão responsável pelos ambientes de trabalho, capacitação/treinamento dos trabalhadores, entre outras ações. O atual governo do Brasil, a partir de 2019, fez diversas modificações nas normas que regulamenta a segurança no trabalho. As mudanças foram apoiadas por empresários, mas, da mesma forma, muitas críticas foram atribuídas por parte dos sindicatos e do Ministério Público do Trabalho (MPT) (Warth, 2020). O governo contabiliza que a modificação nas normas de segu- 135 rança tem o objetivo de reduzir exigências feitas às empresas, o que acarreta mais lucratividade para elas. Em termos de normativas que garantem a segurança dos tra- balhadores, o governo brasileiro vem retrocedendo no que se refere às conquistas trabalhistas anteriores. Nessa perspectiva, compreende-se que, à medida que a pandemia se alastra, a necessidade de usar os EPI e de adotar as medidas de conscientização, capacitação e proteção, é colocada não só para os profissionais de saúde, como também para os trabalhadores que atuam nos demais serviços públicos e privados considerados essenciais em tempos de pandemia, como, por exemplo, os serviços de limpeza, segurança, alimentação, venda e distribuição de medicamentos, venda de combustíveis, serviços funerários e outros. Embora não seja o objetivo central deste manuscrito aprofundar-se na questão da saúde e da segurança dos trabalhadores envolvidos em outros serviços essenciais que não os de saúde, as capacitações, as normativas e as intervenções sobre segurança no trabalho devem abranger todos os trabalhadores. Na Itália, caixas de supermercado relataram que receberam gel desinfetante, luvas e apenas uma máscara, que deveria ser reutilizada (Goumenou et al., 2020). Em São Paulo, o Ministério Público do Trabalho (MPT) contabilizou cerca de 500 denúncias contra empresas que expuseram seus funcionários ao risco de contaminação, registradas entre os dias 1° e 24 de março de 2020 (Rede Brasil Atual, 2020). Acerca da sabida subnotificação do número de pessoas com COVID-19, principalmente na realidade brasileira, os grupos ocupacionais não têm feito uma notificação específica, por isso não é possível avaliar onde e em que circunstâncias os indivíduos testados positivos ou diagnosticados com a doença estavam trabalhando, tampouco identificar focos de disseminação relacionados às atividades de trabalho (Fiho et al., 2020). O isolamento social da população e o uso de EPI para circular são considerados duas das principais medidas a serem adotadas para aumentar a proteção de todos e, em especial, dos trabalhadores e trabalhadoras que têm garantida a continuidade da vida da sociedade em geral (Comitê Científico de Combate ao Coronavírus do Consórcio Nordeste, 2020). Neste momento, o Estado brasileiro deve garantir proteção social para toda a classe trabalhadora, inclusive para a que enfrenta problemas com a desregulamentação, já que, em fevereiro deste ano, atingiu-se o índice de 41,1% de trabalhadores informais, um dos maiores da história do país (Almeida, 2020). Considerando que, em alguns países do mundo, existe uma alta taxa de trabalhadores que têm vínculos formais de trabalho, resguardados por meio de direitos e de proteção social, as medidas adotadas no combate à pandemia serão mais eficientes. Isso se deve ao fato de que a proteção proposta pelo Governo se dará dentro de dispositivos já consolidados. Todavia, no caso dos países em desenvolvimento, que detêm altos índices de desigualdade social e muitos trabalhadores inseridos na economia informal ou desempregados, os efeitos do vírus serão mais devastadores, principalmente no que diz respeito à saúde do trabalhador. Consequentemente, o Governo, juntamente com os profissionais da linha de frente, deve dedicar-se a elaborar medidas contra a pandemia que, no geral, terão mais dificuldade de surtir o efeito desejado (Melo, 2020). 136 Acerca dos trabalhadores informais, é importante pontuar que os profissionais que desenvolvem ações que consideram os impactos do trabalho sobre a vida dos sujeitos precisam refletir sobre a elaboração de ações de educação em saúde que sejam capazes de extrapolar a rede formalizada de saúde e alcançar indivíduos em situações de trabalho atípicas. A partir do momento em que uma pandemia é instalada, os trabalhadores de serviços essenciais que enfrentam a escassez de direitos trabalhistas podem ficar sujeitos a receber menos treinamentos, capacitações e informações para executar seu trabalho de maneira segura. No que diz respeito à garantia de uma renda básica para os indivíduos impedidos de trabalhar, prejudicados financeiramente pela pandemia ou que enfrentam dificuldades financeiras diversas, no Brasil, o Projeto de Lei n° 873, de 2020 foi aprovado com o intuito de proporcionar uma renda auxiliar emergencial no período de enfrentamento à crise causada pela pandemia no valor de R$ 600,00, para até duas pessoas da mesma família - nesse caso, um total R$ 1.200,00, pelo período de três meses, destinado aos indivíduos cadastrados no Programa Bolsa Família e no Cadastro Único, a trabalhadores informais, a microempreendedores individuais (MEI), a autônomos e a desempregados (Brasil, 2020b). É necessário garantir a efetivação dos princípios e das ações preconizados pela Política Nacional de Saúde do Trabalhadore da Trabalhadora e das demais políticas e legislações trabalhistas, bem como criar, reformular e implementar medidas efetivas no âmbito da saúde e da segurança ocupacional de trabalhadores de todos os serviços considerados essenciais no Brasil. Entre outros aspectos desafiadores e sem precedentes colocados pela pandemia, destacam-se a alta carga viral e sua rápida transmissibilidade, que exigem mecanismos de gestão e tomada de decisão céleres e eficientes para garantir proteção, boa qualidade de vida e condições de trabalho mais dignas para todos os trabalhadores da linha de frente. Além disso, o estabelecimento de uma renda básica é de extrema necessidade para populações que enfrentam altos índices de desemprego e grande incidência da economia informal. 4 CONSIDERAÇÕES FINAIS A pandemia recoloca, na ordem do dia, a defesa do SUS e de seus princípios de universalidade, integralidade e equidade, assim como a dos sistemas de garantia de direitos da classe trabalhadora brasileira, a saber: direito ao acesso a serviços de saúde; à proteção social, nos casos de impossibilidade de exercer suas atividades de trabalho; ao trabalho digno, instrumentalizado e protegido aos trabalhadores e trabalhadoras da saúde e dos serviços essenciais públicos e privados; a uma renda básica, em caso de desemprego ou de trabalho desregulamentado; e, mais do que nunca, o direito fundamental à vida. Como se trata de um ensaio teórico e reflexivo escrito em meio a uma pandemia, as situações emergenciais relacionadas às leis, às normas e às orientações dobre a segurança no trabalho bem como às atuações profissionais precisam ser constantemente revistas. 137 A partir desta reflexão, indica-se que devem ser realizadas discussões ampliadas sobre os limites e as possibilidades de praticar a terapia ocupacional na área de Saúde, especificamente no enfrentamento às pandemias, e sistematizar as experiências que já vêm sendo feitas. Nesse cenário de emergência sanitária, terapeutas ocupacionais vêm propondo, no âmbito da Atenção Básica, práticas de prevenção do contágio e/ou de agravos decorrentes da COVID-19, bem como de promoção e recuperação da saúde, entre elas, a reorganização do cotidiano familiar na diversidade de novos contextos; no âmbito hospitalar, desde ações de adequação postural até orientações aos familiares de pessoas internadas por COVID-19; e no âmbito da saúde do trabalhador, práticas de cuidado com os trabalhadores da linha de frente e de reorganização de processos de trabalho dessas equipes, bem como sua permanência e o retorno ao trabalho depois do contágio. A terapia ocupacional apresenta um amplo escopo de atuação nesses três âmbitos e que, em relação à área de Saúde do Trabalhador, suas ações podem abranger todos os trabalhadores das áreas consideradas essenciais, tendo como base a compreensão de suas condições de trabalho, considerando o papel do Estado, a legislação trabalhista, as recomendações da Organização Internacional do Trabalho e a necessidade de intervenções interinstitucionais e intersetoriais. FONTE: <https://www.scielo.br/j/cadbto/a/7K494CxFTXtTtLsynkyJnjF/?format=pdf&lang=pt>. Acesso em: 30 jul. 2021. 138 RESUMO DO TÓPICO 3 Neste tópico, você aprendeu: • A Vigilância em Saúde do Trabalhador e da Trabalhadora (VISATT) é um conjunto de ações feitas sempre com a participação dos trabalhadores com o objetivo de detectar, conhecer, pesquisar e analisar os fatores determinantes e condicionantes da saúde relacionados ao trabalho, cada vez mais complexo e dinâmico. • A Rede de Atenção Integral à Saúde do Trabalhador (RENAST), que é uma rede nacional de informação e práticas de saúde, organizada com o propósito de pôr em prática as ações de vigilância, assistência e promoção da saúde, nas linhas de cuidado da atenção básica, da média e alta complexidade, ambulatorial, pré-hospitalar e hospitalar, sob a égide do controle social, nos três níveis de gestão do SUS. • A NR-9 estabelece a obrigatoriedade da elaboração de um programa de prevenção de riscos ambientais no trabalho, considerando a proteção do meio ambiente e dos recursos naturais. Indica a adoção de equipamentos de proteção coletiva (EPC), bem como quando for necessário, em caráter complementar, a utilização de equipamentos de proteção individual (EPI). 139 AUTOATIVIDADE 1 A Norma Regulamentadora – NR-9 estabelece a obrigatoriedade da elaboração e implementação, por parte de todos os empregadores e instituições que admitam trabalhadores como empregados, do Programa de Prevenção de Riscos Ambientais – PPRA –, visando à preservação da saúde e da integridade dos trabalhadores. Sobre ela, é correto afirmar que: a) ( ) Indica a adoção de equipamentos de proteção coletiva (EPC), bem como quando for necessário, em caráter complementar, a utilização de equipamentos de proteção individual (EPI). b) ( ) Discorre sobre o número de horas trabalhadas e os direitos trabalhistas. c) ( ) Estabelece a criação do CEREST (Centro de Referência de saúde do trabalhador). d) ( ) Indica em kg a carga que um profissional pode erguer. 2 A prevenção de acidentes deve ser o objetivo de qualquer nível hierárquico, organização e procedimento de trabalho. Minimizar ou eliminar os riscos de qualquer atividade não é um privilégio, mas uma meta a ser atingida e perpetuada por todos nós em nosso dia a dia de trabalho. Nesse sentido, analise as sentenças a seguir: I- Compartilhamento de conhecimentos, especialmente sobre riscos emergentes de novos aparelhos e novas tecnologias, tanto em nível nacional como internacional. II- Avaliação e gestão de riscos, que inclui ferramentas de prevenção e de controle tradicionais, complementadas por estratégias concebidas para antecipar e controlar os riscos emergentes provocados pelas mudanças no mundo do trabalho, concretizada pela implementação de sistemas de gestão de saúde e segurança no trabalho em nível nacional e da empresa. III- Promoção da saúde nos locais de trabalho, por meio de programas tradicionais de prevenção de acidentes de trabalho e de doenças profissionais. Assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) As sentenças I e II estão corretas. b) ( ) Somente a sentença II está correta. c) ( ) As sentenças I, II e III estão corretas. d) ( ) Somente a sentença III está correta. 140 3 A Política Nacional de Saúde do Trabalhador e da Trabalhadora – PNSTT – tem como finalidade definir os princípios, as diretrizes e as estratégias a serem observados pelas três esferas de gestão do SUS. Sobre essa política, é correto afirmar que: a) ( ) Deve enfatizar a vigilância, visando à promoção e à proteção da saúde dos trabalhadores e à redução da morbimortalidade decorrente dos modelos de desenvolvimento e dos processos produtivos. b) ( ) Deve focar no tratamento de lesões provenientes do trabalho. c) ( ) Estabelece os princípios e diretrizes de atendimento em nível secundário, exclusivamente. d) ( ) É destinada a trabalhadores urbanos, exclusivamente. 4 A Rede Nacional de Atenção Integral à Saúde do Trabalhador, RENAST, foi criada em 2002, por meio da Portaria n° 1.679/GM. Disserte sobre a importância e finalidade da Rede de Atenção Integral à Saúde do Trabalhador. 5 A notificação de doenças e agravos relacionados ao trabalho é compulsória e obrigatória para os médicos e outros profissionais de saúde ou responsáveis pelos serviços públicos e privados de saúde. Neste contexto, disserte sobre a importância de notificações de doenças e agravos relacionados ao trabalho. 141 REFERÊNCIAS ALVES, J. U.; MINETTE, L. J.; SOUZA, A. P. Avaliação do perfil e condições de trabalho de operários na atividade de propagação de Eucalyptus spp. em viveiros. In: SIMPÓSIO BRASILEIRO SOBRE ERGONOMIA E SEGURANÇA DO TRABALHO FLORESTAL E AGRÍCOLA, 1., 2000, Belo Horizonte. Anais... Belo Horizonte: SIF/DEF, 2000. p.135-140. ALEXANDRE, A.; BENETI, C. Acidentes de trabalho afetando a coluna vertebral: um estudo realizado com trabalhadoresde enfermagem de um hospital universitário. Rev. Latino-Am. Enfermagem, v. 6, n. 2, abr. 1998. ASSUNÇÃO, A. A.; SOUZA, F. P. A. A nocividade no trabalho: contribuição da ergonomia. In: MENDES, R. (Org.) Patologia do trabalho. Rio de Janeiro: Atheneu, 2000. BRASIL. Recomendações de proteção aos trabalhadores dos serviços de saúde no atendimento de COVID-19 e outras síndromes gripais. 2020. 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Atenção à Saúde, v. 2, n. 3, 2004, jan./jun. 2004. 144 145 INTERVENÇÃO FISIOTERAPÊUTICA NAS DISFUNÇÕES DECORRENTES DO TRABALHO UNIDADE 3 — OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de: • entender a importância de reconhecer doenças laborais; • aprender as diferentes formas de atuação na saúde do trabalhador; • planejar intervenções em lesões provenientes do trabalho; • conhecer os principais tratamentos de disfunções relacionadas ao trabalho. A cada tópico desta unidade você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado. TÓPICO 1 – PREVENÇÃO FISIOTERAPÊUTICA NAS LESÕES MUSCULOESQUELÉTICAS RELACIONADAS AO TRABALHO TÓPICO 2 – TIPOS DE LESÕES RELACIONADAS AO TRABALHO TÓPICO 3 – FUNDAMENTOS DA CINESIOTERAPIA EM SAÚDE DO TRABALHADOR Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações. CHAMADA 146 CONFIRA A TRILHA DA UNIDADE 3! Acesse o QR Code abaixo: 147 TÓPICO 1 — PREVENÇÃO FISIOTERAPÊUTICA NAS LESÕES MUSCULOESQUELÉTICAS RELACIONADAS AO TRABALHO UNIDADE 3 1 INTRODUÇÃO A prevenção é uma das ações que têm sido mais discutidas atualmente no que diz respeito ao combate das lesões provenientes do trabalho, porém suas causas estão sendo reconhecidas lentamente e poucas ações preventivas têm sido realizadas. E, devido ao grande destaque desses distúrbios entre as afecções ocupacio- nais, a atuação da fisioterapia nas empresas cresce a cada dia pela descoberta da im- portância do investimento em ações preventivas, e por não estar o fisioterapeuta limita- do, apenas, a curar e reabilitar, mas também promover a saúde e bem-estar. Nesse sentido, exploraremos os diversos recursos que o fisioterapeuta pode utilizarpara promover saúde e prevenir doenças relacionados ao trabalho. 2 ASPECTOS DA INTERVENÇÃO ERGONÔMICA: ANÁLISE DA RELAÇÃO HOMEM-TRABALHO Atualmente, a sociedade se depara com avanços tecnológicos quase que instantâneos, os quais modificam o meio laboral e influenciam cada vez mais a qua- lidade de vida das pessoas, com isso fazem surgir vários modelos de organizações e rotinas sociais. Consequentemente, os diferentes exercícios laborais exigem mais preparação, formação e dedicação para o desenvolvimento das atividades atribuídas ao sujeito den- tro do espaço organizacional. 148 Podemos nos questionar se esta dedicação dos trabalhadores, atualmente, sem limite ao trabalho e à vida material, é válida, e o bem-estar consigo mesmo, com a saúde, com a família, com os amigos está suprida, realmente vale a pena? Se está feliz, satisfeito e realizado? Se a falta do convívio social além de causar danos pessoais, também não poderá afetar o desempenho laboral, os resultados na organização, neste grande ciclo vida-trabalho- satisfação se as condições de trabalho fossem favoráveis, teria uma nova roupagem, um novo sentido pela vida, o porquê e para que trabalhar? Não podemos negar que a organização do trabalho estrutura o social, provê o indivíduo e lhe dá um lugar de significação, sentido, permanência e renúncia. A última é dolorosa, mas não está atrelada somente ao trabalho, está na amplidão da estrutura da vida em sociedade, faz parte do homem. O que você pensa sobre essa reflexão? É importante considerarmos essas questões quando pensamos em promoção em saúde, o ser humano é global, e é rico o trabalho multidisciplinar, nesse sentido podemos encaminhar para outros profissionais para orientação ou usar de técnicas holísticas usadas na fisioterapia para auxiliar nesses questionamentos. 2.1 QUESTÕES PSICOSSOCIAIS Os indivíduos reagem de forma diferente às dificuldades das situações de trabalho e chegam a este trabalho com a sua história de vida pessoal. Os problemas, neste contexto, nascem de relações conflituosas. De um lado, encontra-se a pessoa e sua necessidade de prazer; e do outro, a organização, que tende à instituição de um automatismo e à adaptação do trabalhador a um determinado modelo (MENDES, 1995). Como já comentamos anteriormente, cada categoria profissional está submetida a um modelo específico de organização do trabalho, o qual pode conter elementos homogêneos ou contraditórios, facilitadores ou não da saúde do trabalhador. E que também depende da definição e interesses econômicos, ideológicos e políticos daqueles que dominam o processo produtivo. IMPORTANTE 149 FIGURA 1 – DIA A DIA DO NOVO TRABALHADOR FONTE: <https://digofreitas.com/tag/programador/>. Acesso em: 23 ago. 2021. 2.2 ASPECTOS FÍSICOS A fisioterapia do trabalho é uma especialidade que atua na prevenção, no resgate e na manutenção da saúde do trabalhador, buscando assim, sua melhora no ambiente laboral. O fisioterapeuta do trabalho com especialização em ergonomia possui condições de atender à empresa junto aos programas de saúde e promoção de saúde. A intervenção pode ser feita através de palestras ou workshops discutindo resultados de avaliações ergonômicas a fim de prevenir lesões. Além disso, pode organizar grupos de autocuidado e educação em saúde. FIGURA 2 – PALESTRAS SOBRE ERGONOMIA NO TRABALHO FONTE: <https://copass-saude.com.br/posts/palestra-sobre-ergonomia-e-saude-no-trabalho>. Acesso em: 20 set. 2021. 150 O tratamento preventivo consiste na conscientização com campanhas, um local de trabalho ergonomicamente apropriado, com pausas e ginástica laboral. Pode-se dizer que a prevenção mantém seu enfoque sobre o controle da doença para alcançar saúde, abordando, por exemplo, o controle do sal da dieta dos hipertensos, o uso correto dos métodos contraceptivos, a aplicação de vacinas, as medidas preventivas para evitar quedas em idosos, escovação dentária correta para evitar cáries e outros inúmeros assuntos relacionados à doença. Essas atividades não são condenáveis, pelo contrário, também têm sua importância. Afinal, informar é pré-requisito para que mudanças aconteçam, mas não é suficiente, ou seja, para educar, não basta apenas informar. A promoção da saúde traz à tona assuntos relacionados à saúde, tais como: solidariedade, cidadania e justiça social, entre outros. Portanto, a intervenção proposta por esse conceito deve abranger os hábitos de vida das pessoas. O resultado disso é que as práticas centrais da promoção de saúde mais recentes estão focadas na adoção de um estilo de vida saudável (SANTOS; ROS, 2016). As vivências grupais permitem ao trabalhador transformar percepções individu- ais em percepções coletivas, a partir da identificação de seus próprios processos com os dos outros participantes. Dessa forma, favorecem o estabelecimento de relações do seu próprio adoecimento com o processo de trabalho e facilitam a compreensão de que o processo de adoecimento é mais do que um processo individual e, sim, decorrente do próprio trabalho (MENDES; LANCMAN, 2010). Assista ao vídeo a seguir, a importância do fisioterapeuta no contexto do trabalho dentro das empresas e indústrias de modo geral. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=B8tgxHDr71Y. DICAS 151 FIGURA 3 – ATUAÇÃO DO FISIOTERAPEUTA EM GRUPOS FONTE: <https://prefeitura.pbh.gov.br/noticias/grupo-de-saude-da-pampulha-mostra-trabalho- sobre-violencia>. Acesso em: 18 ago. 2021. Contudo, a ginástica laboral é o instrumento mais conhecido como forma de prevenção e promoção de saúde do trabalhador. Ginástica Laboral (GL) é definida como a realização de exercícios físicos no ambiente de trabalho, durante o horário de expediente, para promover a saúde dos funcionários e evitar lesões de esforços repetitivos ou doenças ocupacionais (MENDES; LANCMAN, 2010). No próximo subtópico, falaremos mais sobre este assunto. Assista aos vídeos a seguir, ginástica laboral nas empresas e indústrias de modo geral. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=4sInvWrwa-4, https://www.youtube.com/watch?v=kEclzXtH9FQ, https://www.youtube.com/ watch?v=iefUmdRVhwc. “Ginástica Laboral nas Empresas: como se aplica”, disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=VWbDLtWlzpE. DICAS 152 FIGURA 4 – GINÁSTICA LABORAL FONTE: <https://deltaplusbrasil.com.br/blog/ginastica-laboral-importancia/>. Acesso em: 23 ago. 2021. 2.3 FATORES BIOMECÂNICOS, INDIVIDUAIS E ORGANIZACIONAIS Na unidade anterior, exploramos as questões biomecânicas puras, neste subtópico, discutiremos sua relação com outros fatores. Nos últimos anos, as questões ligadas à organização e aos fatores psicossociais do trabalho têm sido intensivamente estudadas devido ao advento das novas tecnolo- gias e sistemas de produção e, principalmente, por serem responsáveis por transtornos à saúde do trabalhador, incluindo os distúrbios osteomusculares relacionados ao traba- lho/lesões por esforços repetitivos (LER/DORT) (SILVA et al., 2013). As LER/DORT podem ser explicadas por transformações do trabalho, cuja organização tem se caracterizado pelo estabelecimento de metas e produtividade, sem levar em consideração os trabalhadores e seus limites físicos e psicológicos. Os trabalhadores são obrigados a se adequarem às características organizacionais das empresas, pautadas pela intensificação do trabalho. As exigências psicossociais não são compatíveis com as características humanas (SILVA et al., 2013). Nas áreas operacionais e executivas ressaltam-se os seguintes fatores: • atenção para não errar; • submissão a monitoramento de cada etapa do trabalho; • impossibilidade de pausas; • dificuldade de relacionamento com colegas e supervisores; • mobiliário, equipamentos e instrumentos que não propiciam conforto e bem-estar (SILVA et al., 2013). 153 Os fatores organizacionais e psicossociais do trabalho são reconhecidamente associados às LER/DORT, independentemente do setor industrial. A intensidade e a frequênciadesses fatores no ambiente de trabalho é que vão determinar o acometimento dos trabalhadores (SILVA et al., 2013). As doenças osteomusculares surgem quando os limites físicos, fisiológicos e psicológicos dos trabalhadores são ultrapassados. Quando os fatores de risco do ambiente de trabalho não são manejados corretamente, há sobrecarga no sistema musculoesquelético dos trabalhadores e, consequentemente, transtornos e distúrbios (SILVA et al., 2013). Os fatores de risco para a ocorrência de LER/DORT não são independentes. Eles interagem entre si e devem ser analisados de forma integrada. Desse modo, os estudos centrados apenas nos aspectos físicos podem ser insuficientes para diagnosticar as LER/DORT. É preciso, então, considerar os aspectos organizacionais e psicossociais ligados ao trabalho (SILVA et al., 2013). 154 RESUMO DO TÓPICO 1 Neste tópico, você aprendeu: • Atualmente, os diferentes exercícios laborais exigem mais preparação, formação e dedicação para o desenvolvimento das atividades atribuídas ao sujeito dentro do espaço organizacional. • Nos últimos anos, as questões ligadas à organização e aos fatores psicossociais do trabalho têm sido intensivamente estudadas devido ao advento das novas tecnolo- gias e sistemas de produção e principalmente, por serem responsáveis por transtor- nos à saúde do trabalhador, incluindo os distúrbios osteomusculares relacionados ao trabalho/lesões por esforços repetitivos (LER/DORT). • A promoção da saúde traz à tona assuntos relacionados à saúde, tais como solidariedade, cidadania e justiça social, entre outros. Portanto, a intervenção proposta por esse conceito deve abranger os hábitos de vida das pessoas. • O tratamento preventivo consiste na conscientização com campanhas, um local de trabalho ergonomicamente apropriado, com pausas e ginástica laboral. 155 RESUMO DO TÓPICO 1 AUTOATIVIDADE 1 Mercado de Trabalho é um conceito utilizado para explicar a procura e a oferta das atividades remuneradas oferecidas pelas pessoas ao setor público e ao privado. Sobre o mercado atual é correto afirmar que: a) ( ) Atualmente, os diferentes exercícios laborais exigem mais preparação, formação e dedicação para o desenvolvimento das atividades atribuídas ao sujeito dentro do espaço organizacional. b) ( ) Nos dias atuais, o mercado de trabalho está menos exigente devido ao grande número de profissionais disponíveis. c) ( ) Atualmente, os diferentes exercícios laborais exigem que o ser humano tenha menos habilidades e dedicação. d) ( ) Nos dias atuais, a tecnologia é mais importante do que o fator humano em to- dos os segmentos. 2 Questões ligadas à organização e aos fatores psicossociais do trabalho são intensivamente estudadas devido ao advento das novas tecnologias e sistemas de produção. Com base nesse contexto, analise as sentenças a seguir: I- Os indivíduos reagem de forma diferente às dificuldades das situações de trabalho e chegam a este trabalho com a sua história de vida pessoal. II- O excesso de tecnologia e os fatores psicossociais podem ser responsáveis por transtornos à saúde do trabalhador, incluindo os distúrbios osteomusculares relacionados ao trabalho/lesões por esforços repetitivos (LER/DORT). III- As tecnologias trazem apenas benefícios, pois diminuem a necessidade de mão de obra. Assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) As sentenças I e III estão corretas. b) ( ) Somente a sentença II está correta. c) ( ) As sentenças I e II estão corretas. d) ( ) Somente a sentença III está correta. 156 3 A promoção da saúde traz à tona assuntos relacionados à saúde, tais como solidariedade, cidadania e justiça social, entre outros. De acordo com este contexto, classifique V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas: ( ) A intervenção proposta pela promoção de saúde deve abranger os hábitos de vida das pessoas. ( ) A reabilitação deve ser o centro da atuação em promoção da saúde. ( ) A prevenção deve ser focada em evitar que ocorram disfunções ou doenças relacionados com o trabalho. Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA: a) ( ) V – F – F. b) ( ) V – F – V. c) ( ) F – V – F. d) ( ) F – F – V. 4 A promoção da saúde é o processo de capacitação da comunidade para atuar na melhoria da sua qualidade da vida e saúde, incluindo uma maior participação no controle desse processo. Discorra sobre estratégias que podem ser utilizadas para promover a saúde dos trabalhadores. 5 Na saúde do trabalhador, o fisioterapeuta pode atuar com a promoção, prevenção e reabilitação, utilizando diferentes estratégias e recursos. Neste contexto, disserte sobre a diferença entre a promoção e prevenção da saúde do trabalhador. 157 TIPOS DE LESÕES RELACIONADAS AO TRABALHO 1 INTRODUÇÃO UNIDADE 3 TÓPICO 2 - As disfunções mais comuns relacionadas ao trabalho são as musculoesque- léticas. Contudo, também observamos dermatoses e disfunções respiratórias. Essas disfunções afetam milhões de trabalhadores, com um custo de milhares de milhões de reais para as entidades patronais (SILVA et al., 2013). Normalmente, não existe uma causa única para essas disfunções, elas resultam frequentemente da combinação de vários fatores de risco, incluindo fatores físicos e biomecânicos, fatores organizacionais e psicossociais, bem como fatores individuais. Os fatores de risco físicos e biomecânicos podem incluir: • movimentação de cargas, especialmente quando isso induz a movimentos de torção e de flexão; • movimentos repetitivos ou com esforço; • posturas incorretas e estáticas; • ambientes com má iluminação ou temperaturas baixas e exposição a vibrações; • trabalho em ritmo acelerado; • estar de pé ou sentado, na mesma posição, muito tempo (SILVA et al., 2013). Além disso, existem fatores de risco organizacionais e psicossociais como: • elevadas exigências de trabalho e pouca autonomia; • ausência de pausas ou de oportunidades para mudar de postura de trabalho; • trabalhar a um ritmo acelerado, incluindo como consequência da introdução de novas tecnologias; • longas horas de trabalho ou turnos; • intimidação, assédio e discriminação no local de trabalho e pouca satisfação no trabalho; • exposição a riscos químicos e físicos que muitas atividades laborais expõe (SILVA et al., 2013). Neste sentido, iremos discutir as principais lesões laborais, a sua etiologia e o processo de reabilitação. Vamos lá? 158 2 DISFUNÇÕES MUSCULOESQUELÉTICAS RELACIONADAS AO TRABALHO As lesões por esforços repetitivos (LER) ou distúrbios osteomusculares relacionados ao trabalho (DORT) são um conjunto de doenças que afetam músculos, tendões, nervos e vasos dos membros superiores (dedos, mãos, punhos, antebraços, braços, ombro, pescoço e coluna vertebral) e inferiores (joelho e tornozelo, principalmente) e têm relação direta com as exigências das tarefas, ambientes físicos e com a organização do trabalho (CHIAVEGATO FILHO; PEREIRA JUNIOR, 2004). Estas são as disfunções ocupacionais que mais acometem os brasileiros, principalmente os ativos economicamente. A pesquisa indica que, entre os anos 2007 e 2016, mais de 67 mil casos de LER/DORT foram diagnosticados, o que constituiu um aumento de 184% desde o primeiro ano de análise até o último. Os resultados despertam preocupação em relação à saúde dos trabalhadores (CHIAVEGATO FILHO; PEREIRA JUNIOR, 2004). O levantamento também aponta um aumento na exposição de trabalhadores a fatores de risco, o que pode acarretar incapacidade funcional. As mais afetadas foram as mulheres (51,7%), pessoas entre 40 e 49 anos (33,6%), e indivíduos com ensino médio completo (32,7%). A região que registrou o maior número de casos foi o Sudeste, com 58,4% do total de notificações do país no período (CHIAVEGATO FILHO; PEREIRA JUNIOR, 2004). Já quando se trata dos setores ocupacionais, as ocorrências de LER e DORT foram maior nos profissionais de setores industrial, comercial, alimentício, transporte e serviços domésticos/limpeza. Entre asprofissões, faxineiros, operadores de máquinas fixas, alimentadores de linhas de produção e cozinheiros foram os mais atingidos com algum desses problemas de saúde no trabalho (CHIAVEGATO FILHO; PEREIRA JUNIOR, 2004). 159 FIGURA 5 – SETOR INDUSTRIAL FONTE: <https://gauchazh.clicrbs.com.br/economia/noticia/2016/10/producao-industrial-cai-0-2- no-rio-grande-do-sul-em-agosto-diz-ibge-7700470.htm>. Acesso em: 20 ago. 2021. De acordo com publicação do Ministério da Saúde, dentre as doenças conside- radas como ocupacionais, que são enquadradas como LER/DORT, estão: tendinite de flexores e extensores dos dedos, bursite de ombro, tenossinovite de Quervain, tenos- sinovite do braquiorradial, síndrome do túnel do carpo, tendinite de supraespinhoso, tendinite de biciptal, epicondilite (CHIAVEGATO FILHO; PEREIRA JUNIOR, 2004). FIGURA 6 – TENDINITE DE FLEXORES E EXTENSORES DOS DEDOS FONTE: <https://www.ceot.com.br/noticia/tendinite-no-pulso-conheca-a-prevencao-sintomas-e- tratamento-desta-lesao>. Acesso em: 20 set. 2021. 160 FIGURA 7 – BURSITE DE OMBRO FONTE: <http://se3.adam.com/content. aspx?productid=126&isarticlelink=false&pid=69&gid=003171>. Acesso em: 20 set. 2021. FIGURA 8 – TENOSSINOVITE DE QUERVAIN FONTE: <https://usefixit.com.br/patologias/tenossinovite-de-de-quervain/>. Acesso em: 20 set. 2021. 161 FIGURA 9 – TENOSSINOVITE DO BRAQUIORRADIAL FONTE: <https://www.youtube.com/watch?v=Z1S7V0r1y-o>. Acesso em: 20 set. 2021. FIGURA 10 – SÍNDROME DO TÚNEL DO CARPO FONTE: <https://www.hong.com.br/sindrome-do-tunel-do-carpo/>. Acesso em: 20 set. 2021. 162 FIGURA 11 – TENDINITE DO SUPRAESPINHOSO FONTE: <https://alfenashoje.com.br/noticia.asp?id_noticia=16447>. Acesso em: 20 set. 2021. FIGURA 12 – TENDINITE BICIPTAL FONTE: <https://olharfisio.blogspot.com/2015/04/tendinite-do-biceps.html>. Acesso em: 20 set. 2021. tendões do bíceps região dolorida músculo do bíceps 163 FIGURA 13 – EPICONDILITE FONTE: <https://drmarciosilveira.com/epicondilite-cotovelo-do-tenista/amp/>. Acesso em: 20 set. 2021. No entanto, as tendinites, tenossinovites e bursites são as mais conhecidas atualmente no Brasil, podendo ser ocasionadas por diversos fatores como: tocar piano, dirigir, realizar atividades domésticas, fazer crochê, no entanto, a digitação constante é uma das causas que mais propiciam para sua incidência (CHIAVEGATO FILHO; PEREIRA JUNIOR, 2004). 2.1 LESÕES POR ESFORÇOS REPETITIVOS (LER) E DISTÚRBIOS OSTEOMUSCULARES RELACIONADOS AO TRABALHO (DORT) As LER e DORT são disfunções que atingem as partes moles dos músculos es- queléticos causada pela atividade contínua e repetitiva que sobrecarrega o organismo, em que não há uma causa única para a ocorrência. Há fatores psicológicos, biológicos e sociológicos envolvidos na gênese desses distúrbios (CHIAVEGATO FILHO; PEREIRA JUNIOR, 2004). Inicialmente, as LER/DORT eram reconhecidas como decorrentes prepon- derantemente das condições de trabalho, e que desafiam gestores e os profissionais de saúde. 164 Esse tipo de lesão inflamatória vai se instalando de forma lenta no organismo humano e muitas vezes só é percebida quando se encontra em estado mais avan- çado, onde a musculatura já está comprometida causando dor intensa, dormência e impotência, podendo chegar à dor crônica e até mesmo à depressão (RAGADALI FILHO et al., 2015). Trata-se de disfunções de importância crescente em vários países do mundo, com dimensões epidêmicas em diversas categorias profissionais, apresentando-se sob diferentes formas clínicas, de difícil manejo por parte de equipes de sande e de instituições previdenciárias (RAGADALI FILHO et al., 2015). Nesse sentido, geram inquietações e, por vezes, questionamentos sobre os limites do papel dos profissionais dentro da equipe de assistência, necessitando de uma assistência interdisciplinar. A categoria das doenças do trabalho ou relacionadas ao trabalho são enquadradas em disfunções nas quais não se identifica apenas um agente causal, mas vários, dentre os quais, os laborais. FIGURA 14 – DOENÇA COM UM AGENTE CAUSAL FONTE: <https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/ler_dort.pdf>. Acesso em: 20 ago. 2021. 165 FIGURA 15 – DOENÇA LABORAL COM MAIS DE UM AGENTE FONTE: <https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/ler_dort.pdf>. Acesso em: 20 ago. 2021. No Brasil, a Previdência Social passou a reconhecer a tenossinovite do digitador como doença ocupacional somente a partir de l987, não porque já não houvesse farta bibliografia internacional antes disso, mas porque somente nesse ano, a pressão social da categoria dos digitadores obteve essa conquista (MAENO et al., 2001). O reconhecimento de doenças relacionadas ao trabalho depende de negocia- ções entre os setores sociais e legislação de cada país. A síndrome de origem ocupacio- nal foi realmente reconhecida por meio da Norma Técnica de Avaliação de Incapacidade de 1991. Em 1997, com a revisão dessa norma, foi introduzida a expressão Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho (DORT) (MAENO et al., 2001). Você sabia que, no Brasil, a primeira referência oficial às LER foi destacada pela Previdência social, com a terminologia tenossinovite do digitador, através da Portaria n° 4.06n, de 06/08/87? INTERESSANTE 166 FIGURA – PROFISSÃO DE DIGITADOR EM 1987 FONTE: <https://comunidadedoestagio.com/blog/a-mulher-e-o-mercado-de-trabalho>. Acesso em: 20 ago. 2021. No diagnóstico, prevenção e tratamento das LER/DORT pelas equipes de profissionais do sistema de saúde tem-se adotado recentemente a perspectiva da multideterminação desses distúrbios, ou seja, de que são afecções multifatoriais cuja abordagem exige investigação das dimensões biomecânicas, cognitivas, sensoriais e afetivas da atividade de trabalho. O Ministério da Saúde orienta para a constituição de uma equipe multidisciplinar, dentro dos serviços especializados, baseada nesta abordagem multifatorial, para investigação do diagnóstico, prevenção e tratamento (MAENO et al., 2001). 2.2 DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO O diagnóstico das LER/DORT é essencialmente baseado no histórico ocupacional e no exame clínico e físico dos pacientes. Se possível, considera-se importante realizar também uma análise ergonômica do trabalho realizado pelo indivíduo que apresenta os sintomas (CHIAVEGATO FILHO; PEREIRA JUNIOR, 2004). Muitas vezes, os portadores de LER/DORT apresentam quadros clínicos onde os sintomas e a dor crônica não condizem com os resultados do exame clínico. Seu maior sintoma é a própria dor do paciente, que pode apresentar, ainda, queixas de parestesias, edema, perda da força muscular e/ou diminuição dos controles dos movimentos (CHIAVEGATO FILHO; PEREIRA JUNIOR, 2004). 167 A dor não segue curso linear e não tem estágios definidos. Ela depende de in- terações entre a percepção do sintoma, suas interpretações, expressão e os comporta- mentos de defesa. Neste contexto, os fatores culturais e sociais devem ser considera- dos. A sensação dolorosa é acompanhada de reações cognitivas e emocionais, podendo explicar o comportamento do indivíduo (CHIAVEGATO FILHO; PEREIRA JUNIOR, 2004). Na evolução do quadro clínico, em relação ao estabelecimento da sintomatologia, com base no desenvolvimento da dor e da capacidade funcional do paciente, pode-se estabelecer graus que variam do I ao IV. O nível I corresponderia a uma sensação de peso e desconforto do membro afetado, com caráter ocasional, enquanto o nível IV corresponderia a uma dor forte e um sofrimento intenso, com manifestação de edema persistente e aparente deformidade (CHIAVEGATO FILHO; PEREIRA JUNIOR, 2004). O tratamento ideal é considerado como resultante da colaboração de diversos profissionais (psicólogos, terapeutas ocupacionais, fisioterapeutas, enfermeiros, assis- tentes sociais, médicos e ergonomistas), ou seja, de uma equipe multidisciplinar, que deve responsabilizar-se pela avaliação de cada um dos casos atendidos e pela definição de um procedimento terapêutico individualizadocorrespondente (CHIAVEGATO FILHO; PEREIRA JUNIOR, 2004). Esta equipe deve orientar e informar o paciente acerca de sua condição e contexto, visando: • participação ativa deste no processo de recuperação; • propiciar emancipação e autonomia do paciente em relação ao tratamento adequado a sua sintomatologia; • discutir as repercussões das LER/DORT no seu cotidiano familiar e social; • possibilitar a ressignificação da doença, seus determinantes e suas consequências, diminuindo a ansiedade, angústia e depressão do cotidiano; • aumentar gradativamente a capacidade laboral e possibilitar o seu retorno ao trabalho (CHIAVEGATO FILHO; PEREIRA JUNIOR, 2004). As atividades a serem desenvolvidas e que englobariam esses objetivos incluem a terapia corporal, fisioterapia, grupos de informação e aconselhamento, grupos terapêu- ticos, tratamento medicamentoso etc. (CHIAVEGATO FILHO; PEREIRA JUNIOR, 2004). A abrangência de todos esses aspectos no tratamento deve-se à pouca eficácia dos tratamentos isolados e à conduta dos portadores de LER/DORT, que frequentemente, apresentam dependência, passividade, resignação. Com o surgimento das LER/DORT, há uma desestruturação da identidade, frequentemente seguida de quadros graves de de- pressão. Neste caso, a possibilidade de uma reavaliação da vida afetiva e profissional pode ocorrer durante as atividades de reabilitação, ou ser incluída como parte de um programa interdisciplinar de recuperação (CHIAVEGATO FILHO; PEREIRA JUNIOR, 2004). 168 Os programas de prevenção das LER/DORT são considerados eficientes e consistentes se todos os aspectos, organizacionais, ergonômicos, psicossociais e biomecânicos, forem considerados simultaneamente, sendo esta a melhor forma de obter os resultados positivos esperados. Uma ação preventiva pode ser construída baseando-se numa abordagem de natureza ergonômica, organizacional ou psicossocial. No caso do ambiente de trabalho, quando se fala em prevenção, as empresas, em sua maioria, preferem trabalhar apenas com aspectos biomecânicos, pelas mudanças nos equipamentos e no mobiliário e de uma orientação para a correção de posturas, ignorando os aspectos ligados à organização do trabalho. Essa postura pode contribuir para piorar ou não resolver o quadro clínico dos distúrbios, dependendo da configuração que se obtém dos outros fatores determinantes das LER/DORT no local de trabalho (CHIAVEGATO FILHO; PEREIRA JUNIOR, 2004). 2.3 FISIOTERAPIA NA LER/DORT Dentro do escopo da fisioterapia existem várias condutas possíveis para o controle do quadro álgico no tratamento dessas disfunções, que podem englobar acupuntura e osteopatia, inclusive. Na fisioterapia convencional no início do tratamento, com quadro clínico instável, pode ser utilizado o laser, ultrassom e TENS associado à massoterapia e cinesioterapia (CHIAVEGATO FILHO; PEREIRA JUNIOR, 2004). Quando a lesão já é crônica, a utilização do TENS tem se mostrado eficaz nas desordens musculoesqueléticas, devido a uma memória dolorosa vinculada a uma sensibilização de fibras de grandes diâmetros, não nociceptivas, secundária à lesão tecidual, faz com que ocorram modificações no sistema de fosforilação dos receptores e dos canais iônicos, o TENS pode agir tanto na dessensibilização do Sistema Nervoso Central, estimulando a liberação de neuromoduladores medulares, como nas fibras de grande diâmetro, não nociceptiva, auxiliando na melhora da memória dolorosa que não é mais proveniente apenas da lesão tecidual (CHIAVEGATO FILHO; PEREIRA JUNIOR, 2004). 169 FIGURA 16 – APLICAÇÃO DO TENS FONTE: <https://praticandofisio.com/estimulacao-nervosa-eletrica-transcutanea-tens/>. Acesso em: 20 set. 2021. 3 DERMATOSES DO TRABALHO As dermatoses ocupacionais representam parcela ponderável das doenças profissionais. Sua prevalência é de avaliação difícil e complexa. Grande número dessas dermatoses não chega às estatísticas e sequer ao conhecimento dos especialistas. FIGURA 17 – DERMATOSES OCUPACIONAIS FONTE: <https://www.qualicorp.com.br/qualicorp-explica/saude-do-trabalhador/dermatoses- ocupacionais/>. Acesso em: 21 set. 2021. Muitas são autotratadas, outras são atendidas no próprio ambulatório da empresa. Algumas chegam até o clínico e ao especialista nos consórcios médicos que prestam assistência em regime de convênio com o Instituto Nacional de Segu- ridade Social (INSS). Apenas uma pequena parcela dessas dermatoses chega até os serviços especializados. 170 Dermatoses causadas por agentes físicos, químicos e biológicos decorrentes da exposição ocupacional e das condições de trabalho são responsáveis por desconforto, dor, prurido, queimação, reações psicossomáticas e outras que geram até a perda do posto de trabalho (BRASIL, 2006). 3.1 ETIOLOGIA E DIAGNÓSTICO Dois grandes grupos de fatores podem ser enumerados como condicionadores de dermatoses ocupacionais: • causas indiretas ou fatores predisponentes; • causas diretas: são constituídas por agentes biológicos, físicos, químicos, existentes no meio ambiente e que atuariam diretamente sobre o tegumento, quer causando, quer agravando dermatose preexistente (BRASIL, 2006). Já para o diagnóstico e o estabelecimento das condutas adequadas das dermatoses ocupacionais, confirmadas ou suspeitas, é importante considerar os seguintes aspectos: • quadro clínico; • história de exposição ocupacional; • melhora com o afastamento e piora com o retorno ao trabalho; • teste epicutâneo positivo, nos casos de dermatites de contato por sensibilização. 3.2 FISIOTERAPIA NAS DERMATOSES OCUPACIONAIS Como recurso fisioterapêutico, pode-se utilizar as radiações de UVB ou UVA (ultravioleta A, ondas longas entre 320 e 400 nm), acompanhadas por um sensibilizador, ultrassom e laser. A radiação ultravioleta (UV) é fornecida por lâmpadas especiais, utilizadas no tratamento da psoríase. Essa modalidade terapêutica traz vários benefícios, pois altera as biologias cutâneas, levando ao efeito terapêutico desejado. Alguns desses efeitos são aparecimento de eritema, pigmentação da pele (melanina); espessamento das camadas superficial da pele; produção de vitamina D, efeito bactericida (BRASIL, 2006). 171 FIGURA 18 – RADIAÇÃO UV NO TRATAMENTO DE PSORÍASE FONTE: <https://saude.novartis.com.br/psoriase/o-que-e-fototerapia/>. Acesso em: 21 set. 2021. A fototerapia é indicada para diversas dermatoses, muitas de alta incidência e difícil controle. Algumas doenças em que a radiação ultravioleta pode atuar são a psoríase, eczema (particularmente eczema atópico), escabiose, vitiligo. Os pacientes com placas resistentes aos tratamentos tópicos ou comprometendo mais de 20% da superfície corporal também se beneficiam dessa modalidade. Também é indicada para o controle da dermatite atópica mediante seus mecanismos anti-inflamatórios e imunossupressores (DUARTE; BUENSE; KOBATA, 2006). A terapia com raios laser de baixa potência é uma técnica capaz de acelerar o processo de reparação de tecidos biológicos traumatizados. Segundo alguns autores, os mecanismos que envolvem o processo de bioestimulação ocorrem em nível molecular. Neste caso, a luz laser penetra o interior do tecido onde é absorvido por determinados cromóforos, resultando no aumento do metabolismo celular através do aumento da síntese de ATP pelas mitocôndrias. Pesquisas recentes demonstram que a aplicação do laser de baixa potência em determinadas patologias cutâneas possui a capacidade de estimular a proliferação de fibroblasto, além de diminuir o edema local, favorecendo a neovascularização (DUARTE; BUENSE; KOBATA, 2006). 172 FIGURA 19 – TERAPIA COM LASER DE BAIXA FREQÊNCIA FONTE: <https://interfisio.com.br/terapia-com-laser/>. Acesso em: 21 set. 2021. 4 DOENÇAS DO APARELHO RESPIRATÓRIO As doenças respiratórias ocupacionais, no Brasil, embora muito frequentes, são pouco conhecidas do grande público. Asma ocupacional, rinite ocupacional, DPOC, câncer de pulmão e pneumoconioses, como a silicose, estão entre os principaisproblemas adquiridos ou agravados em ambiente de trabalho devido à exposição a agentes específicos, como a poluição do ar, gases, fumos ou partículas nocivas (BRASIL, 2006). Mas os diversos tipos de partículas produzem diferentes ações no organismo. Algumas causam reações alérgicas, como o pólen das plantas, responsável pela febre do feno ou por um tipo de asma. As partículas como o pó de carvão, o carvão e o óxido de estanho não produzem muita reação nos pulmões. Outras, como o pó de quartzo e de amianto podem causar cicatrizes permanentes no tecido pulmonar (fibrose pulmonar). Em quantidades importantes, certas partículas, como o amianto, podem causar cancro nos fumadores (BRASIL, 2006). 4.1 ATUAÇÃO DA FISIOTERAPIA A fisioterapia respiratória nas doenças obstrutivas tem como objetivo tratar o paciente proporcionando a melhora da sua funcionalidade pulmonar através da limpeza brônquica, estimulando a eliminação das secreções, relaxando a musculatura brônquica, otimizando a ventilação pulmonar e melhorando o condicionamento cardiopulmonar do paciente. As técnicas convencionais da fisioterapia são a drenagem postural, percussões, expiração forçada e técnicas de tosse (tosse explosiva e huffing). 173 FIGURA 20 – FISIOTERAPEUTA AUXILIANDO NA TOSSE EXPLOSIVA FONTE: <https://docplayer.com.br/64655454-Tecnicas-de-remocao-de-secrecoes-bronquicas.html>. Acesso em: 21 set. 2021. 174 RESUMO DO TÓPICO 2 Neste tópico, você aprendeu: • As lesões por esforços repetitivos (LER) ou distúrbios osteomusculares relacionados ao trabalho (DORT) são um conjunto de doenças que afetam músculos, tendões, nervos e vasos dos membros superiores e inferiores e que têm relação direta com as exigências das tarefas, ambientes físicos e com a organização do trabalho. • No diagnóstico, prevenção e tratamento das LER/DORT pelas equipes de profissionais do sistema de saúde, tem-se adotado recentemente a perspectiva da multideterminação desses distúrbios, ou seja, de que são afecções multifatoriais cuja abordagem exige investigação das dimensões biomecânicas, cognitivas, sensoriais e afetivas da atividade de trabalho. • Os programas de prevenção das LER/DORT são considerados eficientes e consistentes se todos os aspectos, organizacionais, ergonômicos, psicossociais e biomecânicos, forem considerados simultaneamente, sendo esta a melhor forma de obter os resultados positivos esperados. 175 AUTOATIVIDADE 1 A reabilitação em saúde do trabalhador deve ser multiprofissional e possibilitar a reinserção do trabalhador no meio laboral. Nesse sentido, assinale a alternativa INCORRETA sobre os objetivos da reabilitação: a) ( ) Participação ativa deste no processo de recuperação e propiciar emancipação, autonomia do paciente em relação ao tratamento adequado a sua sintomatologia. b) ( ) Discutir as repercussões das LER/DORT no seu cotidiano familiar e social. c) ( ) Possibilitar a ressignificação da doença, seus determinantes e suas consequên- cias, diminuindo a ansiedade, angústia e depressão do cotidiano. d) ( ) Diminuir gradativamente a capacidade laboral e possibilitar o seu afastamento ao trabalho. 2 As LER e DORT são disfunções que atingem as partes moles dos músculos esque- léticos causada pela atividade contínua e repetitiva que sobrecarrega o organismo, em que não há uma causa única para a ocorrência. Nesse contexto, analise as sen- tenças a seguir: I- As lesões por esforços repetitivos (LER) ou distúrbios osteomusculares relaciona- dos ao trabalho (DORT) não têm relação direta com as exigências das tarefas, am- bientes físicos e com a organização do trabalho. II- Os fatores de risco para a ocorrência de LER/DORT não são independentes e interagem entre si e devem ser analisados de forma integrada. III- Os estudos centrados apenas nos aspectos físicos podem ser suficientes para diagnosticar as LER/DORT. Assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) As sentenças I e II estão corretas. b) ( ) Somente a sentença II está correta. c) ( ) As sentenças I e III estão corretas. d) ( ) Somente a sentença III está correta. 176 3 Classifique V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas: ( ) As lesões por esforços repetitivos (LER) ou distúrbios osteomusculares relacionadas ao trabalho (DORT) são um conjunto de doenças que afetam músculos, tendões, nervos e vasos dos membros superiores e inferiores. ( ) No diagnóstico, prevenção e tratamento das LER/DORT pelas equipes de profissionais do sistema de saúde, tem-se adotado recentemente a perspectiva da multideterminação desses distúrbios. ( ) Os programas de prevenção das LER/DORT são considerados eficientes e consistentes se apenas um aspecto for considerado. Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA: a) ( ) V – F – F. b) ( ) V – V– F. c) ( ) F – V – F. d) ( ) F – F – V. 4 A dermatose ocupacional é qualquer alteração na pele ou em seus anexos que esteja relacionada direta ou indiretamente com a atividade profissional desempenhada ou ambiente de trabalho. Disserte sobre a atuação da fisioterapia nas doenças dermatológicas relacionadas ao trabalho. 5 As doenças respiratórias ocupacionais, no Brasil, embora muito frequentes, são pouco conhecidas. Têm sua origem ocupacional relacionada à inalação de partículas, névoas, vapores ou gases nocivos no ambiente de trabalho, a qual denominamos de agentes químicos. Neste contexto, disserte sobre a atuação da fisioterapia nas doenças do aparelho respiratório do trabalhador. 177 TÓPICO 3 - FUNDAMENTOS E RECURSOS UTILIZADOS NA REABILITAÇÃO NA SAÚDE DO TRABALHADOR 1 INTRODUÇÃO UNIDADE 3 Apesar dos programas de tratamentos e reabilitação na saúde do trabalhador indicarem uma abordagem multidisciplinar, a fisioterapia é muitas vezes o primeiro e único procedimento terapêutico acessível e pode ser uma etapa de longa duração no tratamento desses trabalhadores (MENDES; LANCMAN, 2010). A utilização de recursos físicos é importante para o controle da dor dos trabalhadores. Os recursos analgésicos devem ser associados à cinesioterapia para proporcionar a redução do edema e da inflamação, a melhora das condições circulatórias, o relaxamento da musculatura, a amenização da dor e uma potencialização da capacidade funcional desses pacientes (MENDES; LANCMAN, 2010). É necessário estabelecer os objetivos gerais do tratamento e da reabilitação e os objetivos específicos para cada caso, entendendo-se que esses dois processos devem ser concomitantes. Essas metas devem ser conhecidas pelo paciente, pois, do contrário, as pequenas conquistas não serão valorizadas, esperando-se curas radicais e imediatas. Cada passo conquistado deve ser ressaltado e devidamente valorizado. Nesse sentido, discutiremos técnicas e recursos que podem ser utilizados. No primeiro tópico, falaremos de métodos mais utilizados na analgesia. Já no segundo tópico, falaremos da cinesioterapia, recurso essencial para as lesões laborais e sua reabilitação. E, por fim, iremos discorrer sobra a prática da ginástica laboral e formas de aplicação. A fisioterapia (eletrotermoterapia, massoterapia, cinesioterapia) se faz da combinação de técnicas adequadas que deve ser definida para cada caso, não é possível padronizar o tipo e nem a duração do tratamento. A conduta fisioterapêutica que trata o quadro álgico pode utilizar crioterapia, bandagens e TENS, o edema com ultrassom e massoterapia, a cinesioterapia trabalha com FES, movimentos ativos e ativos resistidos, e a sensibilidade pode ser tratada com diferentes texturas como, por exemplo, chumaços de algodão, buchas e escovas (BRASIL, 2001). 178 Deve-se lembrar que tão importante quanto o uso adequado de aparelhos é a presença ativa do fisioterapeuta, que deve avaliar cada caso no decorrer do tratamento e modificar as técnicas de acordo com a evolução. A “mão” e a experiência do fisioterapeuta são cruciais para a definição e redefinição do tratamento. Essa unidade é muito importante para suaatuação nessa área, pois lhe dará ferramentas para intervir neste meio, mas não esqueça sobre o que já falamos anteriormente, as disfunções laborais são multifatoriais e, por isso, é muito importante o trabalho de uma equipe multiprofissional para uma reabilitação efetiva. FIGURA 21 – FISIOTERAPIA NO TRATAMENTO DE LER/DORT FONTE: <https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/diag_tratamento_ler_dort.pdf>. Acesso em: 23 ago. 2021. Antes de entrarmos no tratamento, lembre-se de que é muito importante saber quem é o paciente a ser tratado. É apenas um paciente com uma tenossinovite ou uma síndrome do túnel do carpo? Ou é um trabalhador que se encontra debilitado sob o ponto de vista físico, e que por isso, tem inúmeras preocupações e ansiedades adicionais em relação a sua vida pessoal e profissional? Como já falamos, isso é crucial no resultado da reabilitação. IMPORTANTE 179 FIGURA – QUEM É O TRABALHADOR? FONTE: <https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/diag_tratamento_ler_dort.pdf>. Acesso em: 23 ago. 2021. 2 TÉCNICAS DA FISIOTERAPIA UTILIZADAS PARA ANALGESIA NA SAÚDE DO TRABALHADOR A dor é a principal causa do paciente que procura o serviço, deverá ser abordada e a equipe procurará os meios adequados para o alívio e, em seguida, estabelecerá os objetivos do tratamento (DIAS, 2012). Os objetivos, procedimentos e etapas serão compartilhados com o paciente, de modo a incentivar sua percepção da evolução do quadro, no tocante a pequenos avanços, como melhora do sono, capacidade de realizar cuidados pessoais (se vestir, se lavar) que exigem posturas extremas dos braços. 2.1 FUNDAMENTOS DA ELETROTERMOTERAPIA A eletrotermofototerapia é muito utilizada na prática clínica da fisioterapia, e sua efetividade foi observada em revisão sobre desordens osteomioarticulares. Com a redução da dor há, consequentemente, aumento na amplitude de movimento, força muscular, mobilidade, resistência física, habilidade de andar e estado funcional (FERREI- RA; MARINO; CAVENAGHI, 2011). O laser de baixa potência é amplamente utilizado em pacientes com desordens osteomioarticulares e os efeitos terapêuticos desse tipo de laser são a ação anti- inflamatória, a analgesia e a modulação da atividade celular. 180 FIGURA 22 – LASER FONTE: <https://blog.carcioficial.com.br/laserterapia/>. Acesso em: 25 ago. 2021. A estimulação elétrica pode trazer inúmeros benefícios quando indicada no controle da dor, pois, com a sua redução, o paciente aumenta o seu nível de função e atividade, pode participar de programas de exercícios físicos e melhorar a sua qualidade de vida (QV) (FERREIRA; MARINO; CAVENAGHI, 2011). A estimulação elétrica nervosa transcutânea (TENS) tem como ação mais reconhecida a analgesia, que ocorre por meio de corrente elétrica de baixo limiar que inibe a transmissão dos estímulos dolorosos na medula espinhal e liberam opioides endógenos, como as endorfinas. FIGURA 23 – TENS FONTE: <https://www.tuasaude.com/fisioterapia-tens/>. Acesso em: 25 ago. 2021. 181 O ultrassom (US) terapêutico é utilizado pela fisioterapia por seus efeitos fisiológicos decorrentes tanto de sua ação mecânica como térmica. A ação mecânica aumenta a permeabilidade celular, diminui a resposta inflamatória, reduz a dor por meio da diminuição da velocidade de condução nas fibras nervosas e facilita o processo de cicatrização dos tecidos moles. O US contínuo tem ação térmica que contribui para o aumento da vasodilatação local e melhora da inflamação crônica, reduz o espasmo muscular e a dor (RICCI; DIAS; DRIUSSO, 2010). FIGURA 24 – ULTRASSOM FONTE: <https://www.shopfisio.com.br/sonopulse-iii-ibramed-aparelho-de-ultrassom-1-e-3mhz- 2x1--p1060492/p>. Acesso em: 25 ago. 2021. O calor e o gelo também podem ser utilizados, inclusive é orientado ao paciente realizar no período que não estiver na fisioterapia. A crioterapia é uma técnica em que se utiliza o frio, com a finalidade de absorver calor do tecido corporal em que está sendo aplicado, tendo como consequências a diminuição do metabolismo, efeitos anti- inflamatórios e analgésicos (SILVA et al., 2018). O mecanismo de ação analgésico da crioterapia envolve a redução na velocidade de condução das fibras nervosas pela transmissão assincrônica nas fibras da dor, libera- ção de endorfinas e inibição dos neurônios espinhais, além de um aumento no período refratário, o que leva à redução gradativa na transmissão de impulsos nos nervos sensi- tivos, e tem aplicabilidade com melhor resultado em doenças agudas (SILVA et al., 2018). Já o calor é utilizado para lesões crônicas, com função de promover a vasodilatação, usado, principalmente, para os músculos. Ele ajuda a aliviar a dor de espasmos musculares, pontos de gatilho (espasmos localizados ou nós musculares) e o estresse psicológico (que pode ser um fator importante em muitos problemas de dor) (SILVA et al., 2018). 182 2.2 FUNDAMENTOS DA TERAPIA MANUAL A terapia manual reúne diversas técnicas, a liberação miofascial, mobilização e a manipulação vertebral (movimentos oscilatórios que visam liberar a vértebra e reposicionamento dela, respectivamente) são utilizadas no tratamento de várias patologias, incluindo as LER/DORT. FIGURA 25 – MANIPULAÇÃO DE JOELHO FONTE: <https://clinicabalance.com.br/fisioterapia/>. Acesso em: 25 ago. 2021. FIGURA 26 – LIBERAÇÃO MIOFASCIAL DE TRAPÉZIO FONTE: <https://www.girajunto.com.br/massagem-de-liberacao-miofascial/>. Acesso em: 25 ago. 2021. 183 As técnicas de mobilização articular e neural requerem dos profissionais fisioterapeutas o conhecimento biomecânico, para que então ocorra melhoras nos resultados do tratamento de pacientes com comprometimento musculoesquelético. Os parâmetros devem ser considerados e determinados antes da aplicação da técnica. Podemos considerar, os mais importantes, a posição da articulação, direção da força, quantidade de movimento e velocidade durante aplicação da técnica e a dor do paciente (SILVA et al., 2018). Os efeitos da terapia manual são satisfatórios, pois seu objetivo principal vai além do aumento da flexibilidade. Atua também na prevenção de aderências intra-articulares e fibrilação cartilaginosa, em resumo, o objetivo é a restauração dos movimentos e prevenção articular quando há movimento limitado. 2.3 FUNDAMENTOS DA ACUPUNTURA A LER e DORT são acometidos por diversos fatores. Na Medicina Tradicional Chinesa, acredita-se que o fator do problema é um desequilíbrio energético do meriadiano do fígado. A acupuntura é uma intervenção complexa que varia de acordo com o pacien- te, ainda que as queixas sejam similares. O número e a extensão dos tratamentos e os pontos específicos utilizados variam de indivíduo para indivíduo e até mesmo durante o tratamento. Da mesma forma que em outros tipos de tratamentos não tenha uma boa resposta, na acupuntura também há alguns indivíduos que não respondem tão bem como o esperado. A Medicina Tradicional Chinesa defende que para você ter uma boa saúde, é preciso estar em equilíbrio e harmonia entre Ying e Yang, na qual são duas energias diferentes, mas que se completam. Existem 365 pontos no corpo humano, que estão relacionados com os meridianos correspondendo com os órgãos e vísceras. Alguns pontos tendem a convergir o chi para o interior do corpo, enquanto outros trazem energia para a superfície. Cada caso é um caso, portanto a escolha dos pontos a serem aplicados para pacientes dependerá disso (MINORI, 2005). 184 FIGURA 27 – PONTOS DE ACUPUNTURA FONTE: <https://www.tuasaude.com/pontos-de-acupuntura/>. Acesso em: 25 ago. 2021. 185 3 CINESIOTERAPIA Os recursos analgésicos devem ser associados à cinesioterapia para propor- cionar a redução do edema e da inflamação, a melhora das condições circulatórias, o relaxamento da musculatura, a amenização da dor e uma potencialização da capaci- dade funcional destes pacientes (MENDES; LANCMAN, 2010). Esse recurso pode ser realizado individualmente ou em grupo quando há mais de umfuncionário com disfunção. Estudo realizado por Mendes e Lancman (2010) utilizou intervenção grupal e individual. Os dois tipos de intervenção ocorreram em dez sessões, com uma frequência de duas vezes por semana. O protocolo de cinesioterapia foi o mesmo para as duas intervenções: individual e grupal. Os exercícios foram baseados em técnicas de autoalongamento, fortalecimento muscular, mobilização articular ativa, facilitação neuromuscular proprioceptiva, reedu- cação postural e exercícios respiratórios (MENDES; LANCMAN, 2010). FIGURA 28 – PROTOCOLO DE MENDES E LANCMAN ADAPTADO Resumo do protocolo de cinesiosterapia - Exercícios respiratórios. - Autoalongamento dos músculos: serrátil anterior, elevador da escápula, peitoral maior, flexores e extensores de punho, intrínsecos dos dedos das mãos, inclinadores laterais, rotadores e flexores de coluna cervical. - Mobilização ativa de coluna cervical, ombros, punhos, coluna lombar e pelve. - Fortalecimento dos músculos rombóides, musculatura flexora, abdutora e rotadora de ombros e da musculatura intrínseca das mãos. - Autopostura: cadeia posterior, cadeia anterior de membro superior e cadeia anterointerna de quadril. - Facilitação neuromuscular proprioceptiva: diagonais de membros superiores. FONTE: <https://www.scielo.br/j/rbso/a/ qv3xm3bfWsPYyCxkhZbsFnc/?lang=pt#ModalFigfig04q01>. Acesso em: 25 ago. 2021. Este autor discorre que o tratamento cinesioterapêutico individual e o associa- do às dinâmicas de grupo permite uma abordagem mais global do processo de adoeci- mento, recuperação e reabilitação do paciente com LER/DORT, mesmo não sendo sufi- ciente de forma isolada para garantir o retorno ao trabalho (MENDES; LANCMAN, 2010). 186 3.1 ALONGAMENTOS As técnicas de alongamento podem ser enquadradas em três tipos: alonga- mento estático, balístico e por facilitação neuromuscular proprioceptiva. Os métodos para alongar tecidos moles podem ser divididos em: alongamento passivo e autoalon- gamento (MORCELLI; OLIVEIRA; NAVEGA, 2013). FIGURA 29 – ALONGAMENTO PASSIVO FONTE: <https://www.cnotortopedia.com.br/post/tratamento-conservador-de-tendinites-ao- redor-do-joelho>. Acesso em: 21 set. 2021. FIGURA 30 – AUTOALONGAMENTO FONTE: <http://resumofisioterapia.blogspot.com/2017/12/cinesioterapia-alongamento.html>. Acesso em: 21 set. 2021. No alongamento estático, músculos e tecidos conjuntivos são mantidos em posição estacionária no maior comprimento possível por um tempo determinado. Não é aplicada força por parte do paciente, diminuindo a chance da ocorrência de microtraumas (MORCELLI; OLIVEIRA; NAVEGA, 2013). 187 No alongamento balístico são utilizados movimentos rápidos que modificam o comprimento do músculo e tecido conjuntivo. Porém, as chances de ocorrer microtraumas após um alongamento excessivo do músculo são maiores que no alongamento estático (MORCELLI; OLIVEIRA; NAVEGA, 2013). O alongamento passivo é de curta duração e requer uma força externa aplicada pelo terapeuta, o qual controla a direção, velocidade, intensidade e duração da ação e ultrapassa o comprimento de repouso (MORCELLI; OLIVEIRA; NAVEGA, 2013). A inibição ativa ou manter-relaxar (FNP) baseia-se no processo de contração isométrica do músculo que, após a contração, irá se relaxar como resultado da inibição autogênica, permitido pelo OTG, inibindo a tensão muscular e tornando o alongamento mais efetivo (MORCELLI; OLIVEIRA; NAVEGA, 2013). No autoalongamento, o próprio paciente realiza o alongamento. A orientação do paciente para realizar com segurança procedimentos de autoalongamento em casa é importante para a prevenção de novas lesões ou futuras disfunções. Os princípios de intensidade e duração de alongamento que se aplicam ao autoalongamento são os mesmos do alongamento passivo (MORCELLI; OLIVEIRA; NAVEGA, 2013). As estruturas que estão envolvidas no processo de alongamento podem ser divididas em dois grupos: macroscópicas e microscópicas. As estruturas macroscópi- cas são: ossos, cartilagens, sinóvia, disco e menisco, cápsulas articulares, ligamentos, músculos, tendões e fáscias. As microscópicas são: elementos contráteis do músculo, as propriedades neurofisiológicas do tecido contrátil e os tecidos moles não contráteis (MORCELLI; OLIVEIRA; NAVEGA, 2013). 3.2 MOBILIDADE Os exercícios de mobilidade ainda são confundidos com alongamento, flexibilidade e até mesmo com amplitude de movimento. Contudo, podemos definir mobilidade como a capacidade de explorar nossas articulações em toda sua amplitude, onde um único movimento pode envolver mais de uma articulação, e a mobilidade pode ser afetada por tensões musculares, aderência, tecidos moles e cápsula articular, adaptações neuromusculares e propriocepção (MORCELLI; OLIVEIRA; NAVEGA, 2013). Existe uma relação entre mobilidade e estabilidade de natureza inversa, onde uma articulação com excesso de mobilidades provavelmente terá uma menor estabilidade, e uma articulação que não é muito móvel irá apresentar uma estabilidade maior (MORCELLI; OLIVEIRA; NAVEGA, 2013). 188 Os exercícios de mobilidade normalmente são movimentos dinâmicos realiza- dos nas articulações do tornozelo, quadril, torácica e glenoumeral (ombro). Têm como objetivo melhorar, restaurar ou manter a amplitude do movimento, e estão atrelados à performance funcional, nome dado à capacidade de desempenhar ações das ativi- dades da vida diária ou gesto motor específico de algum esporte com máxima efici- ência e sem gerar compensações, reduzindo o risco de lesões (MORCELLI; OLIVEIRA; NAVEGA, 2013). 3.3 FORTALECIMENTO E POTÊNCIA O treinamento de força com ou sem resistência são essenciais nos programas de condicionamento e para quem deseja manter a saúde e o bem-estar físico, favorecendo potencialmente o desempenho de habilidades motoras. Pode ser definido como uso de protocolos de resistência progressiva como levantamento de pesos livres, que aumentam a capacidade de exercer a força ou resistir a ela (PEREIRA et al., 2018). Exercício de fortalecimento é o procedimento sistemático, de um músculo ou grupo muscular, de levantar, abaixar ou controlar cargas pesadas (resistência) durante um número relativamente baixo de repetições ou um curto período de tempo (PEREIRA et al., 2018). Os resultados são as adaptações do treinamento de força são consequências da exposição repetida a exercícios específicos que ativam mecanismos fisiológicos relacionados à capacidade de “moldar” a necessidade de exercer força (esse aumento é tanto devido a fatores neurais quanto a quantidade de fibras musculares). Como consequência direta dos padrões de estimulação nervosa ou do perfil mecânico da contração, tem-se, na força, distintas formas de manifestações. FIGURA 31 – FORTALECIMENTO DE MEMBRO SUPERIOR FONTE: <https://secad.artmed.com.br/blog/fisioterapia/como-mensurar-grau-forca-muscular/>. Acesso em: 30 ago. 2021. 189 3.4 GINÁSTICA LABORAL A intervenção de ginástica laboral deverá propor ações didático-pedagógicas que proporcionem a consecução dos objetivos propostos por essa atividade, o foco da ginástica laboral é contemplar a população de “trabalhadores saudáveis”. A ginástica laboral pode ser realizada antes (preparatória), durante ou após (compensatória) a jornada de trabalho. Efetuada no próprio local de trabalho em sessões de 5, 10 ou 15 minutos, tem como principais objetivos a prevenção aos DORT (Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho) e diminuição do estresse através de exercícios de alongamento e relaxamento (SOUZA, 2011). Utilizando os três aspectos (físico, psicológico e social), a ginástica laboral constitui-se de séries de exercícios diários realizados no local de trabalho, durante a jornada, que visa atuar na prevenção das lesões ocasionadas pelo trabalho, normalizar as funções corporais e proporcionar aos funcionários um momento de descontração e sociabilização, durante a jornada (SOUZA, 2011). Também pode ser conceituada como uma atividade física realizadadurante a jornada de trabalho, com exercícios de compensação aos movimentos repetitivos, à ausência de movimentos, ou a posturas desconfortáveis assumidas durante o período de trabalho. A atuação educativa precisará acontecer neste tempo e cenário, exigindo do professor, domínio metodológico e didático. Essa intervenção pode utilizar-se dos diversos conteúdos relacionados à cultura corporal de movimento, dentre eles: ginástica (com exercícios de resistência muscular localizada, flexibilidade, equilíbrio, coordenação motora), jogos (cooperativos, dinâmicas de grupo), práticas complementares (técnicas de massagem, técnicas respiratórias), entre outros. A prática de exercícios físicos e preventivos devem ser planejados de acordo com as características de cada tarefa laboral, realizados durante a jornada de trabalho. Os programas de ginástica laboral são adequados a qualquer tipo de empresa, desde que seja conhecido o sistema de trabalho, atividades e demandas físicas, conhe- cimento do grupo para que os exercícios adotados sejam os mais adequados à realidade da empresa (SOUZA, 2011). Para um melhor resultado do programa, ele deve ser elaborado com a participação de diversas áreas. O envolvimento com as áreas de Segurança e Medicina do Trabalho promovem a prevenção de acidentes e doenças ocupacionais, através do diagnóstico ergonômico detalhado da empresa e informação quanto à saúde dos trabalhadores envolvidos no programa (SOUZA, 2011). 190 Dados como índice de absenteísmo, afastamentos temporários ou por queixas ou dores musculares, são importantes para que o planejamento de metas e prioridades esteja focado para as áreas críticas da empresa. O envolvimento dos responsáveis pelos setores e áreas de produção na empresa é necessário para adequar os melhores horários para a realização das pausas com exercícios, sem comprometer o andamento do trabalho (SOUZA, 2011). Na avaliação de custo ou investimento da implantação de um Programa de Ginástica na empresa, Poletto (2002, p. 23) faz o seguinte questionamento: Quem você acha que, provavelmente produzirá mais e melhor: um indivíduo cansado, desmotivado, fatigado, com dores pelo corpo, estressado, deprimido, com baixa autoestima e com sua saúde global comprometida ou aquele indivíduo saudável, equilibrado emocionalmente, satisfeito, feliz e motivado? A autora supracitada avalia que investir em saúde é indispensável. A ginástica laboral aparece neste contexto como um investimento, sem custo elevado. A experiência indica que a aparente perda de tempo com a pausa não acontece, pelo contrário, é necessária e mostra-se indispensável para o equilíbrio funcional e a maior produtividade. Trata-se de uma importante forma de prevenção contra o surgimento de doenças, acidentes do trabalho e afastamentos temporários e permanentes que significam grandes custos para as empresas (POLETTO, 2002). Segundo a mesma autora, muitos são os benefícios alcançados com os exercícios da ginástica laboral, tais como: • Melhora os movimentos bloqueados por tensões emocionais. • Aumenta a amplitude muscular. • Melhora os movimentos bloqueados por tensões emocionais. • Aumenta a amplitude muscular. • Melhora a coordenação motora. • Realiza a eliminação de toxinas pela melhora da circulação sanguínea. • Reduz o sedentarismo. • Reduz a fadiga mental e física. • Melhora a concentração e a agilidade. • Previne lesões musculares. • Motiva para a mudança de estilo de vida com a realização de atividade física regular. • Desenvolve a consciência corporal. • Melhora o bem-estar físico e mental. • Melhora a socialização. • Aumento da produtividade, com relatos de terminar a jornada de trabalho menos cansados. • Ameniza o estresse, diminui a ansiedade e a depressão. • Reduz o sedentarismo. 191 • Relaxa e diminui a tensão. • Melhora a qualidade do sono. • Aumenta a flexibilidade, a força, a coordenação, o ritmo, a agilidade e a resistência. • Reduz afastamentos do trabalho. Alguns estudos mostram que há relação entre a participação de empregados em programas de atividades físicas na empresa e a redução de faltas ao trabalho, aumento de produtividade, diminuição de custos com a saúde e rotatividade de funcionários (POLETTO, 2002). Os benefícios vêm da prática habitual de atividades físicas com relação à depressão e ansiedade. O estudo mostra que um melhor resultado no desempenho do trabalho foi observado em trabalhadores que nas horas livres praticavam atividades físicas. Indica também que a prática regular de exercícios físicos auxilia na redução da ansiedade e da depressão (POLETTO, 2002). O aspecto psicossocial da ginástica laboral é muito importante na implantação do programa. Algumas modalidades de exercícios são planejadas previamente com este enfoque. Desta forma, são realizados exercícios em dupla e em grupo, para promover a integração e socialização entre as pessoas do setor ou da empresa que estão participando da pausa com exercício. Muitas pessoas despertam para uma maior afetividade no ambiente de trabalho, que é estabelecida a partir do toque. Um aperto de mão, um abraço, promove a aproximação das pessoas, que muitas vezes se conhecem há anos e não estabeleceram, no entanto, uma relação mais cordial e afetiva (POLETTO, 2002). O ponto de vista motivacional e de integração também é enfocado através de exercícios durante as pausas, voltadas para atividades em grupo, com jogos e brincadeiras, promovendo a descontração e um clima mais leve. Desta forma, quebra a rigidez do ambiente e as tensões da rotina diária. As pessoas parecem mais alegres, descontraídas, promovendo um clima familiar e de amizade. A motivação está diretamente ligada com a questão de liberdade, se processa nos indivíduos de dentro para fora. Desta forma, as pessoas agem de forma motivada, quando conseguem ver na atividade a possibilidade de atingir algum objetivo interno (POLETTO, 2002). O programa de ginástica laboral motiva as pessoas para a prática de atividades físicas também fora do trabalho. Logo, muitas promoções de jogos, competições em diversas atividades esportivas acabam ocorrendo e as empresas promovem competições internas e até olimpíadas entre setores. Como o já citado caso da empresa Sadia S.A., que promove anualmente uma olimpíada interna, apostando na integração entre funcionários através da prática de atividades físicas (POLETTO, 2002). Para o aumento da produtividade, a ginástica laboral pode contribuir, desde que associada a outras medidas que melhorem as condições do posto de trabalho. Neste sentido, as intervenções ergonômicas contribuem para a melhoria de qualidade de vida 192 no trabalho, reduzindo os acidentes de trabalho e incidência de lesões, melhorando a produtividade relacionada à redução de afastamentos do trabalho. Já a ginástica laboral melhora a qualidade de vida, quando promove a quebra do ritmo, rigidez e monotonia no trabalho (POLETTO, 2002). Os ganhos em produtividade relacionados à ginástica laboral referem-se mais aos efeitos alcançados com a melhoria da qualidade de vida através da promoção da saúde das pessoas envolvidas com os programas de exercícios. O bem-estar geral que se estabelece com as pausas com exercícios podem se refletir nos ganhos com produtividade, quando reduzem as faltas no trabalho, aumentam a disposição e motivação dos trabalhadores. Que tal conhecermos um exemplo de protocolo? Poletto (2002) desenvolveu um protocolo utilizado em uma empresa gráfica, com um grupo formado exclusivamente por mulheres dos diferentes turnos com objetivo de melhorar o bem-estar físico dessas trabalhadoras. QUADRO – EXEMPLO DE PROTOCOLO EXERCÍCIO 1 Pernas semiafastadas, braços estendidos lateralmente, flexionar o tronco para frente e retornar bem devagar, 10 repetições. EXERCÍCIO 2 Pernas semiafastadas levemente flexionadas, apoiar as mãos no quadril e flexionar o tronco para trás lentamente. Duas repetições cada repetição segurar 10 s. EXERCÍCIO 3 Pernas afastadase estendidas, descer o tronco para frente e tentar aproximar a mão direita no pé esquerdo e vice- versa, 10 s cada lado, após movimentar lentamente alternando de um lado para o outro 10 repetições. EXERCÍCIO 4 Afastar as pernas, deixar uma perna flexionada a outra estendida, manter 10 s, após trocar a posição das pernas manter novamente 10 s, os braços ficarão soltos à frente do corpo abrindo e fechando as mãos. EXERCÍCIO 5 Pernas unidas, braços estendidos acima da cabeça, fechar as mãos e girar os pulsos para os dois lados manter a posição por 10 s. EXERCÍCIO 6 Pernas unidas e estendidas, flexionar o tronco para frente estendendo os braços para trás, manter a posição por 10 s. EXERCÍCIO 7 Pernas levemente afastadas, apoiar as mãos na cintura, flexionar o pescoço para o lado direito e após para o lado esquerdo, sempre encostando a orelha no ombro, após flexionar o pescoço para frente encostando o queixo no peito 8 s em cada posição. EXERCÍCIO 8 As pernas afastadas e um pouco flexionadas, descer o tronco para frente deixando os braços bem soltos, relaxando os ombros, as costas e o pescoço, para terminar vai balançar os braços e elevar o tronco lentamente. DICAS 193 EXERCÍCIO 1 Dois a dois, mãos nos ombros um do outro, estender bem as costas deixando a cabeça entre os braços 10 s. EXERCÍCIO 2 De lado um para o outro, pegar um na mão do outro por sobre a cabeça, flexionando o joelho externo, após 10 s, troca-se de lado e mantém a posição mais 10 s. EXERCÍCIO 3 De costas um para o outro, pegar as mãos, deixar as pernas juntas e suspender o corpo para frente 10 s, e coloca-se a perna direita flexionada à frente e a direita estendida para trás, mantém 8 s, troca-se a posição das pernas e mais 8 s. EXERCÍCIO 4 De costas um para o outro, flexionar o tronco para frente, com as mãos por entre os braços pegar um a mão do outro e bem devagar um puxar o outro, 10 s. EXERCÍCIO 5 De frente um para o outro, apoiar as palmas das mãos, com uma perna para frente flexionada e a outra para trás estendida, movimentar alternadamente flexionando e estendendo os braços, apenas troca-se a posição das pernas 10 s em cada posição. EXERCÍCIO 6 De frente um para o outro, um segura a mão do outro, e vai suspendendo o corpo para trás, as pernas devem estar juntas, 10 s. 194 EXERCÍCIO 7 De frente um para o outro, segurando as mãos um do outro, pernas unidas, os braços bem estendidos, agachar soltando o corpo para trás e deixar toda a sola do pé no chão 15 s. EXERCÍCIO 8 Fazer massagem nos ombros, braços e pescoço, 1 minuto cada um. EXERCÍCIO 9 Estender os braços acima da cabeça, entrelaçando os dedos, 10 s. EXERCÍCIO 10 Braços estendidos cabeça no ombro, 10 s cada lado. EXERCÍCIO 11 Flexionar o tronco para frente, apoiar uma das mãos na perna e elevar o outro braço acima da cabeça. 10 s cada braço. EXERCÍCIO 12 Flexionar o tronco para frente tentando encostar as mãos nos pés, com os joelhos estendidos, por 10 s. 195 EXERCÍCIO 13 Leve flexão dos joelhos, olhar para cima e empurrar o tórax para frente e os cotovelos para trás, manter por 10 s. EXERCÍCIO 14 Flexionar o tronco para frente, estender as costas com os braços para trás, mantendo por 10 s. EXERCÍCIO 15 Realizar a inclinação do tronco com as pernas abertas, com uma das mãos no joelho e a outra acompanhando a inclinação por cima da cabeça. Manter por 10 s e repetir três vezes cada lado. EXERCÍCIO 16 Mesmo exercício anterior, agora pressionando as palmas das mãos, descendo até aonde conseguir deixar as mãos unidas. Repetir 10 vezes. EXERCÍCIO 17 De pé, pés paralelos e com as mãos no quadril, realizar a circundução do quadril para um lado, depois para o outro, com movimentos amplos. Repetir cinco vezes para cada lado. EXERCÍCIO 18 Com as pernas afastadas e as palmas das mãos unidas acima da cabeça, realizar o alongamento para o alto. Manter por 10 s e repetir três vezes. 196 EXERCÍCIO 19 De pé com as pernas afastadas, transferir o peso do corpo de uma perna para outra, realizando o alongamento do meio da coxa a que está esticada. Manter por 10 s e repetir três vezes cada lado. EXERCÍCIO 20 Mesmo exercício de número 18, agora com as mãos entrelaçadas e as palmas das mãos voltadas para baixo. Manter por 10 s e repetir três vezes. EXERCÍCIO 21 Em pé com as pernas afastadas e o encaixado, mãos abertas, junte as pontas dos dedos sem deixar as palmas das mãos encostarem. Nesta posição, pressione uma mão contra a outra e relaxe. Manter por 10 s e repetir três vezes. EXERCÍCIO 22 Em pé, com as pernas unidas, tentar tocar as mãos no chão. Manter por 10 s e repetir cincos vezes. FONTE: <http://www.producao.ufrgs.br/arquivos/publicacoes/Sandra%20Salete%20Poletto.pdf>. Acesso em: 17 set. 2021. 197 LER – LESÃO POR ESFORÇOS REPETITIVOS: UM CONCEITO FALHO E PREJUDICIAL José Teotonio de oliveira RESUMO - O conceito de que movimentos repetitivos ou posturas prolongadas causam lesões não tem suporte científico. Os sintomas dolorosos e sensitivos apresentados pelos pacientes são melhor explicados como um fenômeno psicológico e psicossocial, como insatisfação e desadaptação no trabalho e desejo de obter benefícios. O conceito de lesões por esforços repetitivos é iatrogênico e de custo elevado para a sociedade, devendo ser abandonado. PALAVRAS-CHAVE: lesão por esforços repetitivos, traumas cumulativos. LER – lesão por esforços repetitivos - é um diagnóstico feito em trabalhadores empregados (o fenômeno praticamente não acomete trabalhadores autônomos) apresentando-se com queixas dolorosas e sensitivas, de localização em determinadas regiões do corpo, de modo geral a mais utilizada nas suas funções e nas quais não são detectadas alterações ao exame físico. LER adquiriu nos últimos anos grande destaque, tanto na prática médica quanto nos meios de comunicação de massa, em que é apresentada como novo flagelo da humanidade. O fenômeno LER começou na década de 70, primeiramente nos países mais ricos e tecnicamente desenvolvidos. Posteriormente difundiu-se para os setores mais desenvolvidos dos países em industrialização, como o Brasil. Com o passar do tempo, foi atingindo setores menos sofisticados da economia. O conceito é muito atraente para a classe médica, pois oferece um diagnóstico simples de pacientes com sintomatologia complexa e intrigante. Também é atraente para os pacientes, pois atribui os sintomas à esfera física e não psicológica, a qual, de modo geral, não é bem aceita. Além da satisfação psicológica de terem os sintomas atribuídos a uma lesão, os pacientes são ainda gratificados com pensões especiais e indenizações e assistência médica diferenciada. O conceito de LER é também atraente para os empregadores, pois permite que o peso dos trabalhadores mal adaptados seja transferido para o sistema previdenciário. O conceito de LER transformou o local de trabalho em um ambiente perigoso, para cuja solução implantou-se uma burocracia reguladora e fiscalizadora. LEITURA COMPLEMENTAR 198 A National Coalition on Ergonomics (NCE) estima que serão necessários US$600 bilhões em 5 anos para as adaptações dos ambientes de trabalho nos Estados Uni- dos se forem aceitas as exigências da Occupational Safety and Health Administration (OSHA), atualmente em tramitação no congresso americano. HISTÓRIA DO DESENVOLVIMENTO DO CONCEITO DE LER Nos tempos mais recentes, a atribuição de sintomas musculoesqueléticos a determinado trabalho começou no Japão em 1958, em perfuradores de cartões, cujas queixas dolorosas regionais começaram a ser rotuladas inicialmente de tenossinovite e posteriormente de síndrome cervicobraquial, refletindo uma atenção maior às queixas cervicais, também presentes. A partir de 1973 estes sintomas passaram a serem denominados “distúrbio cervicobraquial ocupacional”, sendo introduzido neste termo uma conotação causal. Na década de 80 ocorreu na Austrália uma epidemiade sintomas dolorosos na região cervicobraquial, que em alguns locais chegou a atingir 80% dos trabalhadores. Estes sintomas passaram a ser denominados “repetitive strain injury” (“RSI”), que era um termo até então utilizado na literatura ortopédica para descrever lesões apresentadas por corredores de longa distância. Lesão por esforços repetitivos (LER) é a tradução de “repetitive strain injury”. Esta nova denominação presume a presença de uma lesão e o mecanismo pelo qual ela ocorre. Recentemente, ensaia-se o uso do termo “distúrbios osteomusculares relacionados ao trabalho” (DORT). Este é muito abrangente, dispensa a relação causal, não exige qualquer explicação quanto ao mecanismo de acometimento, sendo suficiente a relação com trabalho. Um grande evento na história da LER ocorreu em 1986 quando após reunião de consenso, o National Institute of Occupational Safety and Health (NIOSH), nos Estados Unidos, emitiu a seguinte declaração: “Quando as exigências do trabalho ...repetidamente excedem a capacidade biomecânica do trabalhador, as atividades tornam-se indutoras de trauma. Portanto, traumatógenos são as fontes de lesões no local de trabalho que afetam o sistema musculoesqueléticos”. Com esta declaração o “distúrbio por traumas repetitivos” (“DTR”), tradução de “cumulative trauma disorder” (“CTD”), termo mais utilizado nos Estados Unidos, foi colocado na lista das preocupações nacionais. Funcionários de sindicatos e da segurança do trabalho, bem como a mídia, foram ágeis em avisar seus membros e o público em geral dos perigos potenciais do “DTR”. O impacto econômico nas empresas foi dramático. Os prêmios dos seguros, nos Estados Unidos, que antes representavam 1 a 5% das folhas de pagamento, em alguns casos atingiram 30%, afetando a competitividade das empresas. No Brasil, o conceito ergonômico foi rapidamente absorvido. Foi oficializado através da Portaria 40062/ 1987 e das “Normas Técnicas para a Perícia Médica do INSS” (NTPMINSS) de 1991, revistas em 1993 e recentemente em agosto de 19987. Na elaboração das normas participaram sindicatos, empregadores, órgãos de classe, Ministérios do Trabalho, da Previdência Social e da Saúde, não sendo, portanto, normas puramente técnicas. 199 As NTPMINSS destacam várias patologias reumáticas, ortopédicas e neurológicas que acometem os tecidos moles dos membros superiores e passam ao largo do grande grupo de pacientes sem sinais físicos que suportem as queixas dolorosas. As NTPMINSS dão a impressão de que as queixas dolorosas são geralmente consequências de diversas patologias, para as quais estabelece critérios diagnósticos muito liberais. Relaciona as queixas e patologias ao trabalho e ignoram a ocorrência delas na população em geral. Estabelecem que a queixa de dor isolada, sem sinais clínicos de lesão, pode ser suficiente para o diagnóstico de LER, com todos os desdobramentos médicos e de benefícios sociais, desde que tenham um nexo com a atividade laboral. LER é definida como toda dor regional ocorrendo no trabalhador em uma atividade de risco. Os fatores do trabalho que podem provocar LER são abrangentes e universais: posturas inadequadas, carga estática, carga musculoesquelética, pressões locais sobre os tecidos, invariabilidade das tarefas, exigências cognitivas, fatores organizacionais e psicossociais ligados ao trabalho, grau de adequação do posto de trabalho, zona de atenção e visão, frio e vibrações. Estes fatores podem ocorrer isoladamente ou em combinações. São considera- dos fatores de risco porque causam LER. A definição oficial de LER, que está colocada no plural é, pois, baseada em um raciocínio circular. As NTPMINSS abrem caminho para qualquer trabalhador com sintomas dolorosos regionais habilitar-se a um benefício. O número de pessoas com queixas atribuídas a traumas repetitivos tem aumentado em todo o mundo industrializado. As causas deste aumento são a disseminação do diagnóstico LER por uma mídia ávida por novidades médicas e interesses dos setores beneficiados, além da própria expansão e liberalidade do conceito. É difícil de acreditar que o aumento seja devido a piores condições de trabalho. CAUSAS DOS SINTOMAS DOLOROSOS O termo LER produz a impressão de que os fatos são inequívocos e o diagnóstico muito claro. Na realidade, o termo é enganoso e o conceito de que esforços repetitivos provoquem lesões, que seriam responsáveis pelos sintomas, é polêmico. Não há acordo a respeito da causa dos sintomas, a patologia não foi inequivocamente demonstrada e a literatura é falha e criticável. As características clínicas são confusas e inespecíficas e não há método diagnóstico útil. Há duas correntes de opiniões opostas sobre a causa dos sintomas dolorosos. A corrente de ergonomistas, lideradas por Armstrong e Silverstein, acredita que os sintomas são devidos a lesões verdadeiras, embora não ainda demonstradas, causadas por força, repetição, posturas anormais e vibrações. A outra corrente é liderada por Hadler nos Estados Unidos e por Ireland na Austrália e atribui os sintomas a fatores psicossociais e políticos. 200 Devido à ausência de alterações patológicas convincentes nas regiões dolorosas, os defensores do conceito ergonômico da LER têm atribuído a persistência dos sintomas dolorosos a distúrbios dos mecanismos de percepção e interpretação da dor localizados no corno posterior da medula e nos centros encefálicos. Na verdade, isto equivale dizer que o mecanismo de persistência da dor é psicológico. Alguns autores acham que a LER é um fenômeno social. Shorter iguala a epidemia de diagnóstico de LER a modismos diagnósticos de outras eras como “apendicite” no fim do século passado (desapareceu quando os cirurgiões passaram a operar alguns casos), “colite”, “hipoglicemia”, “brucelose”. Ele atribui os sintomas a uma cultura e a uma mídia que encorajam as pessoas a considerar sintomas vagos e inespecíficos como evidência de doença real e a procurarem a ajuda de especialistas. A escolha (inconsciente) de sintomas sensitivos deve-se a serem eles difíceis de ser desmentidos pelos médicos. Até o carácter litigante da LER tem paralelo na história na figura da “síndrome das ferrovias” em que pessoas envolvidas em acidentes ferroviários e que não sofriam lesões graves desenvolviam sintomas dolorosos e mentais altamente incapacitantes, para os quais exigiam indenizações, com frequência vultuosas. A maioria dos autores nacionais defende o conceito ergonômico das LER, reconhecendo que elas (seguem o conceito de que são várias as LER) não podem ser explicadas pela metodologia médica ortodoxa. Atribuem a epidemia às relações e métodos de trabalho, sendo o trabalhador visto não como uma pessoa que trabalha para adquirir seu sustento, mas como uma vítima do sistema. Os autores descrevem várias patologias reumáticas, ortopédicas e neurológicas, transmitindo a impressão de que elas ocorrem com frequência nos pacientes com as queixas dolorosas e, como nas NTPMINSS, ignoram os aspectos psicológicos e psicossociais como causa, preferindo colocá-los como consequência. O diagnóstico é feito a partir do trabalho, não a partir do paciente. AVALIAÇÃO CLÍNICA DOS DISTÚRBIOS DOLOROSOS RELACIONADOS AO TRABALHO Os trabalhadores com queixas dolorosas devem ser avaliados pelo método clínico tradicional, no qual as atividades físicas, seja do trabalho ou do lazer, devem fazer parte da anamnese. O médico deve estar atento para os aspectos psicológicos que podem influen- ciar a percepção de dor. A dor que uma pessoa sente não é devida somente à lesão. Dor, de acordo com a definição da International Association for the Study of Pain, é uma expe- riência sensitiva e emocional desagradável associada com uma lesão atual ou potencial de um tecido. A dor é sempre subjetiva. Cada indivíduo aprende através da experiência o que isto significa realmente e quais ganhos secundários podem ser gerados. A dor, por- tanto, tem dois componentes: um físico, que pode ser real ou potencial(o paciente supõe que um evento pode ser fonte de dor) e um emocional, psíquico. A falha em identificar os aspectos psicossociais, aqui incluídos benefícios como afastamento do trabalho e indenizações, pode deixar o médico perplexo com os fracas- sos dos tratamentos e intervenções. Os pacientes, de modo geral, não fornecem infor- 201 mações sobre o estado psicológico espontaneamente, devendo estas informações ser procuradas por iniciativa do médico. A maioria dos trabalhadores com queixas dolorosas não apresenta alterações físicas detectáveis pelos diversos métodos diagnósticos. Exceto pela cronicidade, os sintomas da denominada LER ocorrem com frequ- ência na população em geral. Sintomas musculoesqueléticos, como dor e fadiga, ca- racterizados por desconforto com o uso da região acometida, até mesmo com alguma restrição da amplitude de movimentos, são comuns em pessoas normais, independen- temente do tipo de atividade, ocorrendo em donas-de-casa, atletas, estudantes, traba- lhadores sedentários, embaladores de material. Em um estudo epidemiológico, 36,7% das pessoas relataram ter sofrido dor articular, 31,5% dor lombar e 24,3% dor na perna. A imensa maioria das pessoas tolera, suporta e supera estes problemas, considerando-os fatos da vida e os sintomas desaparecem espontaneamente. A conduta de investigações excessivas e desnecessárias e a falha em tranquilizar o paciente quanto à natureza benigna dos sintomas, pode alarmar o paciente, reforçar a convicção da existência de uma doença e perpetuar um comportamento de doente. A supervalorização de sintomas comuns pelo médico, combinada ao excesso de intervenções é um fenômeno conhecido como medicalização. Esta pode contribuir significativamente para a amplificação e perpetuação do problema inicialmente simples. Mesmo intervenções aparentemente inofensivas, como o repouso, podem ter implicações importantes no modo como as pessoas percebem a doença. A informação dada aos trabalhadores de que sintomas dolorosos relacionados a certas atividades são o prenúncio de uma lesão grave, progressiva e irreversível, além de falsa, tem potencial iatrogênico elevado, sendo um desserviço gigante ao paciente. Esta informação terá grande impacto nas pessoas somatizadoras e nas impressionáveis. Ela agrada plenamente aos que pretendem conseguir privilégios e benefícios. A informação de que há uma catástrofe à frente caso não sejam tomadas me- didas imediatas dificulta a recuperação, que ocorre em razão de adaptação, tolerância a certo grau de desconforto e dor. A pessoa só se sentirá protegida na ausência de qualquer sintoma, o que nem sempre será possível. Assim inicia-se o processo de inca- pacidade, que pode atingir um estágio irreversível. Neste processo, o paciente tende a ampliar as queixas para convencer a si próprio e a quem o examina e concede o benefí- cio, pois quanto mais lesão e quanto maior o tempo de incapacidade de maiores são as chances de se obter os benefícios máximos. Frequentemente os trabalhadores envol- vem-se em litígio, processo emocionalmente carregado e que pode ter consequências psicológicas dolorosas. Nos casos litigiosos, a possibilidade de incapacidade permanen- te é grande, pois o trabalhador passa a ser interessado na permanência dos sintomas, geralmente sob o incentivo e orientação de um advogado, sindicato ou colegas. Mesmo quando o caso é finalmente encerrado, os sintomas dolorosos podem persistir devido ao medo de que a cura possa ser interpretada como prova de que tudo não passou de uma fraude, tanto na perspectiva do paciente quanto das pessoas do seu meio social. A possibilidade de uma revisão médica no futuro com possível retirada do benefício também funciona como mecanismo de codificação dos sintomas. 202 Os trabalhadores com queixas dolorosas crônicas sem patologia demonstrável respondem mal, de modo geral, às intervenções médicas, ao contrário daqueles com patologia, sendo uma indicação de que o problema não é de natureza física. A perspectiva de uma aposentadoria ou indenização tem efeito negativo sobre recuperação, desencorajando os trabalhadores a retornarem ao trabalho após uma lesão, reforçando os sintomas. PROPOSTAS PARA O ABANDONO DO CONCEITO DE LER Autores e entidades médicas vêm propondo o abandono do conceito de LER por falta de suporte científico e pelo seu caráter iatrogênico. Hadler acha que LER não é um evento clínico, mas um fenômeno social, igualando LER a vários diagnósticos populares que recebem suporte da mídia para suas autenticidades, e que têm como finalidade evitar que os médicos designem certos sintomas como de origem psíquica. Wright considera LER “uma má ideia, que é melhor ser esquecida” e Bell, após análise da literatura, concluiu que LER caracteriza uma epidemia de lesão simulada, causada e propagada por médicos, ergonomistas e outros profissionais de saúde e de segurança do trabalho. Devido à observação de que sindicatos, organizações do trabalho, grupos de pressão e imprensa leiga ativamente difundem o conceito de LER, Cleland considerou LER um exemplo de iatrogênese social. Várias sociedades médicas têm se posicionado contra o conceito de LER. Um relatório do Comitê de Lesões Industriais da Sociedade Americana de Cirurgia de Mão conclui: ...” não existe evidência suficiente na literatura médica para concluir que o trabalho é a única causa do chamado trauma cumulativo. Denominando erroneamente as queixas de um paciente, e equivocadamente relacionando-as queixas ao trabalho, é prejudicial”. Segundo o relatório de um grupo de trabalho da British Orthopaedic Association, baseado em revisão da literatura, ...”A terminologia usada nos trabalhos publicados sobre lesões por esforços repetitivos é altamente insatisfatória e deve ser descartada. Nenhuma condição deve ser diagnosticada como doença industrial a menos que possa ser definida patológica e clinicamente sem ambiguidades. No momento, as evidências de causa ocupacional são inconclusivas para diagnosticar quaisquer tipos de “LER”. CONCLUSÃO - Sintomas dolorosos e sensitivos mal definidos e mal localizados dos membros superiores e cintura escapular raramente são devidos a lesões estruturais. Na maioria das vezes são fenômenos inerentes ao trabalho muscular. Não foi demonstrado até o presente que esforços repetitivos sejam responsáveis por lesões, sendo que o incipiente uso do termo “distúrbios osteomusculares relacionados ao trabalho-DORT” sinaliza o abandono desta hipótese. O conceito de LER, além de não ter bases científicas, é iatrogênico, indutor de comportamento de doente. É um conceito que desvia as atenções para longe do problema real, provavelmente insatisfação no trabalho, problemas psicológicos pessoais, 203 e até mesmo fraude. O conceito está levando à proposição de soluções inapropriadas e custosas que, combinadas com o grande número de pessoas em benefícios sociais, muito custam à sociedade. O maior drama, todavia, é a legião de incapacitados e o sofrimento que está produzindo. FONTE: <https://www.scielo.br/j/anp/a/r4hL53MjzDVxLSK8Gh3LYwm/abstract/?lang=pt>. Acesso em: 30 ago. 2021. 204 RESUMO DO TÓPICO 3 Neste tópico, você aprendeu: • Os recursos analgésicos devem ser associados à cinesioterapia para proporcionar a redução do edema e da inflamação, a melhora das condições circulatórias, o relaxamento da musculatura, a amenização da dor e uma potencialização da capacidade funcional dos pacientes. • Os programas de ginástica laboral são adequados a qualquer tipo de empresa, desde que seja conhecido o sistema de trabalho, atividades e demandas físicas, conhecimento do grupo para que os exercícios adotados sejam os mais adequados à realidade da empresa. • A fisioterapia (eletrotermoterapia, massoterapia, cinesioterapia) se faz da combina- ção de técnicas adequadas e deve ser definida para cada caso, não é possível padro- nizar o tipo e nem a duração do tratamento. • O protocolo de reabilitação pode incluir eletroterapia, laser,ultrassom e terapia manual para analgesia, e posteriormente, inclui cinesioterapia, com exercícios de fortalecimento, alongamento e mobilidade. 205 AUTOATIVIDADE 1 Na reabilitação das LER/DORT, a fisioterapia e seus recursos são de suma importância, pois visam restabelecer a saúde física do trabalhador para seu retorno ao trabalho. Nesse sentido, marque a alternativa correta: a) ( ) Os recursos analgésicos devem ser associados à cinesioterapia, e seus efeitos dependem de cada caso. b) ( ) A analgesia é a conduta mais importante na reabilitação, não sendo necessários outros recursos. c) ( ) Sempre deve-se iniciar a reabilitação pela cinesioterapia. d) ( ) A acupuntura deve ser utilizada somente em fase final de reabilitação. 2 Os programas de ginástica laboral são adequados a qualquer tipo de empresa, desde que seja conhecido o sistema de trabalho, atividades e demandas físicas, conhecimento do grupo para que os exercícios adotados sejam os mais adequados à realidade da empresa. Nesse sentido, analise as sentenças a seguir: I- A ginástica laboral pode ser realizada antes (preparatória), durante ou após (compensatória) a jornada de trabalho. II- A prática de exercícios físicos e preventivos devem ser planejados de acordo com as características de cada tarefa laboral, realizados durante a jornada de trabalho. III- A ginástica laboral tem o objetivo de reabilitar o paciente e auxiliar o retorno a suas atividades, exclusivamente. Assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) As sentenças I e III estão corretas. b) ( ) Somente a sentença II está correta. c) ( ) As sentenças I e II estão corretas. d) ( ) Somente a sentença III está correta. 206 3 A fisioterapia do trabalho é uma especialidade que atua na prevenção, no resgate e na manutenção da saúde do trabalhador, buscando assim, sua melhora no ambiente laboral. Uma de suas atribuições é evitar o desenvolvimento das doenças crônicas degenerativas, tais como DORT e LER. Nesse contexto, classifique V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas: ( ) A Fisioterapia é resultado da combinação de técnicas adequadas para cada caso, não sendo possível padronizar o tipo e nem a duração do tratamento. ( ) O protocolo de reabilitação pode incluir eletroterapia, laser, ultrassom e terapia manual para analgesia, e posteriormente, inclui cinesioterapia, com exercícios de fortalecimento, alongamento e mobilidade. ( ) O acesso exclusivo à fisioterapia garante que o paciente tenha um tratamento efetivo. Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA: a) ( ) V – F – F. b) ( ) V – V – F. c) ( ) F – V – F. d) ( ) F – F – V. 4 A ginástica laboral é uma série de exercícios físicos realizados no ambiente de trabalho, no horário de trabalho, com o objetivo de melhorar a saúde do trabalhador. Nesse sentido, disserte sobre os benefícios com a implantação da ginástica laboral. 5 Normalmente, os recursos analgésicos devem ser associados à cinesioterapia para proporcionar melhor resultado na reabilitação do trabalhador com LER. Neste contexto, disserte sobre os principais exercícios que podem ser utilizados. 207 REFERÊNCIAS BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção À Saúde. 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