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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ CAMPUS DE SOBRAL PROGRAMA DE PÓS- GRADUAÇÃO EM SAÚDE DA FAMÍLIA MESTRADO ACADÊMICO EM SAÚDE DA FAMÍLIA LISANDRA TEIXEIRA RIOS TENDÊNCIA DA POLÍTICA NACIONAL DE SAÚDE BUCAL, 2009-2019: ESTUDO DE SÉRIE TEMPORAL NO ESTADO DO CEARÁ SOBRAL – CE 2021 LISANDRA TEIXEIRA RIOS TENDÊNCIA DA POLÍTICA NACIONAL DE SAÚDE BUCAL, 2009-2019: ESTUDO DE SÉRIE TEMPORAL NO ESTADO DO CEARÁ Dissertação de Mestrado apresentado à banca examinadora do Programa de Pós-Graduação em Saúde da Família da Universidade Federal do Ceará, Campus Sobral, como requisito parcial para obtenção do Título de Mestre em Saúde da Família. Linha de Pesquisa: Gestão de sistemas e serviços de saúde Orientadora: Profa. Dra. Maria Socorro de Araújo Dias Coorientador: Prof. Dr. Jacques Antonio Cavalcante Maciel SOBRAL – CE 2021 Dados Internacionais de Catalogação na Publicação Universidade Federal do Ceará Biblioteca Universitária Gerada automaticamente pelo módulo Catalog, mediante os dados fornecidos pelo(a) autor(a) R453t Rios, Lisandra Teixeira. TENDÊNCIA DA POLÍTICA NACIONAL DE SAÚDE BUCAL, 2009-2019: ESTUDO DE SÉRIE TEMPORAL NO ESTADO DO CEARÁ / Lisandra Teixeira Rios. – 2021. 87 f. : il. color. Dissertação (mestrado) – Universidade Federal do Ceará, Campus de Sobral, Programa de Pós- Graduação em Saúde da Família, Sobral, 2021. Orientação: Profa. Dra. Maria Socorro de Araújo Dias . Coorientação: Profa. Dra. Jacques Antonio Cavalcante Maciel. 1. Política de Saúde. 2. Atenção Primária à Saúde. 3. Saúde Bucal. 4. Estudos de Séries Temporais. I. Título. CDD 610 LISANDRA TEIXEIRA RIOS TENDÊNCIA DA POLÍTICA NACIONAL DE SAÚDE BUCAL, 2009-2019: ESTUDO DE SÉRIE TEMPORAL NO ESTADO DO CEARÁ Dissertação de Mestrado apresentado à banca examinadora do Programa de Pós-Graduação em Saúde da Família da Universidade Federal do Ceará, Campus Sobral, como requisito parcial para obtenção do Título de Mestre em Saúde da Família. Linha de pesquisa: Gestão de sistemas e serviços de saúde Data da Defesa 20/01/2021 BANCA EXAMINADORA ________________________________________ Profª. Drª. Maria Socorro de Araújo Dias (Orientador) Universidade Estadual Vale do Acaraú (UVA) _______________________________________ Prof. Dr. Jacques Antonio Cavalcante Maciel (Coorientador) Universidade Federal do Ceará (UFC) _________________________________________ Prof. Drª. Pollyanna Martins Pereira (Examinadora) Programa de Pós-Graduação em Saúde da Família – RENASF/UVA _________________________________________ Prof. Dr. Fernando Daniel de Oliveira Mayorga (Examinador) Universidade Federal do Ceará (UFC) AGRADECIMENTOS A Deus e Nossa Senhora, por terem sido meus guias, meus escudos, minha luz e minha força. Aos meus pais pela educação, amor e carinho dedicado a mim durante toda a vida. A eles todos os méritos de minhas conquistas. Ao meu irmão Samuel por toda sua ajuda durante esta caminhada e por acreditar em mim mais do que eu mesma. Aos meus orientadores, professora Socorro pela paciência e por não desistir de mim. A professora Lielma, por ter me incentivado a conquista deste título e pela disponibilidade de sempre. Ao professor Jacques, por ter aceitado este desafio e por ter “aberto o caminho” desde sua chegada. Aos meus avôs, Mundinho e Dedé (em memória), por me fazerem entender a importância de se ter estudo. Conquisto espaços acadêmicos inimagináveis para um agricultor e um comerciante do interior de Itapipoca. As minhas avós, Joana (em memória) e Ivani, por serem exemplos de mulheres fortes e pela forte oração e proteção de vó, sem isso nada seria possível. Aos meus familiares (tias e primos), meus amigos e meu namorado por toda preocupação comigo e por torcerem para que esta etapa chegasse ao fim com muito sucesso. Aos meus colegas de trabalho, Vaneza, Bianca, Debora e Lia, e ao meu gerente Oseias, pela compreensão e apoio. Á ausência da Railana, luto diariamente para não sucumbir a dor da sua partida. RESUMO Seguindo os princípios do Sistema Único de Saúde (SUS), a Política Nacional de Saúde Bucal (PNSB) visa reorientar a assistência odontológica por meio da promoção de saúde como eixo principal do cuidado. Além de universalizar o acesso pela inserção transversal da saúde bucal nas linhas de cuidado e garantir a integralidade. Nesse sentido, passadas década e meia de institucionalização da PNSB, entende-se ser necessária a realização de pesquisas que discorram sobre seus avanços, que indique seu alcance e seu foco de atuação. O objetivo deste trabalho é analisar a tendência de indicadores da PNBS no Estado do Ceará com foco no acesso, na promoção e na integralidade do cuidado no período de janeiro de 2009 a dezembro de 2019. Para isso, será realizada análise do tipo série temporal, com abordagem quantitativa. A fim de facilitar a busca de dados lançou-se mão de um instrumento de busca confeccionado pela autora que abrangesse os dados e indicadores de interesse disponíveis em domínio público. Para análise de tendência dos indicadores de saúde bucal, foi utilizada modelagem de regressão de Prais-Winsten. As variáveis encontradas como ascendentes foram Cobertura das equipes de Saúde da Família e equipes de Saúde Bucal do Estado do Ceará, Cobertura de Saúde Bucal do Estado do Ceará e do Brasil e Média de Profilaxia e Evidenciação de Placa. As variáveis classificadas como decrescentes foram Média de Primeira Consulta Odontológica Programática, Média de Escovação Dental Supervisionada e Média de Ação Coletiva de Aplicação Tópica de Flúor. As ditas como estacionárias foram Número de Equipes de Saúde Bucal, Média de Aplicação Tópica de Flúor, Média de Aplicação de Selante e Cariostático e as variáveis referentes a Recuperação e Reabilitação. Evidencia-se a necessidade de novos estudos que contemplem os aspectos não abordados e que explorem os resultados advindos desta pesquisa. Palavras-chave: Política de Saúde; Atenção Primária à Saúde; Saúde Bucal; Estudos de Séries Temporais. ABSTRACT Following the principles of the Unified Health System (SUS), the National Oral Health Policy (PNSB) aims to reorient dental care through health promotion as the main axis of care. In addition to universal access through the transversal insertion of oral health in the lines of care and ensuring integrality. In this sense, after a decade and a half of institutionalization of the PNSB, it is understood that it is necessary to carry out research that discusses its progress, indicating its scope and focus of action. The objective of this paper is to analyze the trend of PNBS indicators in the State of Ceará with a focus on access, promotion and comprehensive care from January 2009 to December 2019. For this, a time series analysis was performed, with a quantitative approach. In order to facilitate the search for data, a search instrument made by the author was used, covering data and indicators of interest available in the public domain. Patins-Winsten regression modeling will be used to analyze the trend of oral health indicators. The variables found to be ascending were Coverage of the Family Health teams and Oral Health teams of the State of Ceará, Oral Health Coverage of the State of Ceará and Brazil and Average Prophylaxis and Plaque Disclosure. The variables classified as decreasing were Average of First Programmatic Dental Consultation, Average of Supervised Dental Brushing and Average of Collective Action of Topical FluorideApplication. The ones said to be stationary were Number of Oral Health Teams, Average Topical Application of Fluoride, Average Application of Sealant and Cariostatic and the variables referring to Recovery and Rehabilitation. It is evident the need for new studies that contemplate the aspects not addressed and that explore the results from this research. Keywords: Health Policy; Primary Health Care; Oral Health; Time Series Studies. LISTA DE FIGURAS Figura 1- Principais ações da Política Nacional de Saúde. Figura 2- Linha cronológica do Brasil Sorridente. Figura 3- Distribuição percentual do número de municípios com mais de 50 mil habitantes, segundo a situação quanto à fluoretação por região. Brasil, 2010-2015. Figura 4- Indicadores de saúde bucal propostos no Programa Nacional de Melhoria do Acesso de Qualidade da Atenção Básica (PMAQ). LISTA DE QUADROS E TABELAS Quadro 1- Definição dos indicadores de saúde bucal do Pacto da Atenção Básica 2006, segundo a Portaria nº 493/GM, de 10 de março de 2006. Quadro 2- - Cronologia dos principais resultados epidemiológicos relacionados à saúde bucal, 1986-2013. Brasil, 2020. Quadro 3- Síntese de indicadores utilizados nesse estudo, bem como suas respectivas fontes. Brasil, 2020. LISTA DE GRÁFICOS Gráfico 1- Evolução no número de equipes de saúde bucal entre os anos de 2009 e 2019, segundo os dados do Ministério da Saúde. Gráfico 2- Investimentos do Governo Federal na Saúde Bucal entre o período de 2003 a 2017, de acordo com o Fundo Nacional de Saúde (FNS). Gráfico 3- Número de eSF e eSB no ano de 2019, segundo o SIA- SUS. Gráfico 4- Série temporal da Média de Primeira Consulta Odontológica Programática no Estado do Ceará entre os anos de 2009 a 2019, segundo os dados dos Sistema de Informação Ambulatoriais do SUS (SIA- SUS). Gráfico 5- Evolução do número de Equipes de Saúde Bucal implantadas no Estado do Ceará entre os anos de 2009 e 2019, segundo dados do e-gestor. Gráfico 6- Série temporal da Cobertura de Saúde Bucal do Estado do Ceará entre os anos de 2009 e 2019, segundo dados do Sistema de Informação em Saúde (SIS- APS). Gráfico 7- Evolução da Cobertura das equipes de Saúde da Família e equipes de Saúde Bucal do Estado do Ceará entre os anos de 2009 e 2019, segundo dados do Sistema de Informação em Saúde (SIS- APS). Gráfico 8- Evolução da Cobertura de Saúde Bucal do Estado do Ceará e do Brasil entre os anos de 2009 e 2019, segundo dados do Sistema de Informação em Saúde (SIS- APS). Gráfico 9- Série histórica da Média de Ação Coletiva Dental Supervisionada no Estado do Ceará, segundo os dados do Sistema de Informações Ambulatoriais (SIA-SUS) até março de 2013 e do Sistema de Informação em Saúde para a Atenção Básica (SISAB) (abril de 2013- 2019). Gráfico 10- Série histórica da Média de Ação Coletiva Aplicação Tópica de Flúor no Estado do Ceará, segundo os dados do Sistema de Informações Ambulatoriais (SIA-SUS) até março de 2013 e do Sistema de Informação em Saúde para a Atenção Básica (SISAB) (abril de 2013- 2019). Gráfico 11- Série histórica da Média Tópica de Flúor (individual por sessão) no Estado do Ceará, segundo os dados do Sistema de Informações Ambulatoriais (SIA-SUS) até março de 2013 e do Sistema de Informação em Saúde para a Atenção Básica (SISAB) (abril de 2013- 2019). Gráfico 12- Série histórica da Média de Aplicação de Cariostático e Selante no Estado do Ceará, segundo os dados do Sistema de Informações Ambulatoriais (SIA-SUS) até março de 2013 e do Sistema de Informação em Saúde para a Atenção Básica (SISAB) (abril de 2013- 2019). Gráfico 13- Série histórica da Média de Profilaxia e Evidenciação de Placa no Estado do Ceará, segundo os dados do Sistema de Informações Ambulatoriais (SIA-SUS) até março de 2013 e do Sistema de Informação em Saúde para a Atenção Básica (SISAB) (abril de 2013- 2019). LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS AB- Atenção Básica ACD- Auxiliar de Consultório Dentários ACS- Agente Comunitário de Saúde APS- Atenção Primária à Saúde ASB- Auxiliar de Saúde Bucal BBO- Biblioteca Brasileira de Odontologia BVS- Biblioteca Virtual em Saúde CD- Cirurgião Dentista CECOL- Centros Colaboradores em Vigilância da Saúde Bucal CEO- Centros de Especialidades Odontológicas CEP- Comitê de Ética em Pesquisa CFO - Conselho Federal de Odontologia CNBS- Conferência Nacional de Saúde Bucal CNS- Conferência de Saúde CONASEMS - Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde CONASS- Conselho Nacional de Secretários Estaduais de Saúde CONEP- Comissão Nacional de Ética em Pesquisa DF- Distrito Federal eSB- Equipes de Saúde Bucal ESF- Estratégia de Saúde da Família FDI- Federação Dentária Internacional IBGE- Instituto Brasileiro de Geografia e Pesquisa INAMPS- Instituto Nacional de Assistência Médica e Previdenciária LRPD- Laboratórios Regionais de Prótese Dentária MEC- Ministério da Educação MS- Ministério da Saúde OMS- Organizção Mundial de Saúde PC- Procedimentos Coletivos PIAB- Pacto de Indicadores da Atenção Básica PMAQ- AB- Programa Nacional de Melhoria do Acesso e da Qualidade da Atenção Básica PNAB- Política Nacional de Atenção Básica PNAD- Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios PNS- Política Nacional de Saúde PRECAD- Programa Nacional de Prevenção da Cárie PSE- Programa Saúde na Escola PSF- Programa Saúde da Família SB- Saúde Bucal SESP- Serviços Especializados em Saúde Pública SI- Sistema Incremental SIA- Sistema de Informações Ambulatoriais SUS- Sistema Único de Saúde SESA- Secretária de Saúde do Estado do Ceará TC- Tratamentos Concluídos THD- Técnico em Higiene Bucal TSB- Técnico de Saúde Bucal UBS- Unidade Básica de Saúde UFMG- Universidade Federal de Minas Gerais UOM- Unidades Odontológicas Móveis SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................ 14 2 JUSTIFICATIVA E RELEVÂNCIA .................................................................................. 17 3 OBJETIVOS ..................................................................................................................... 19 3.1 Objetivo geral................................................................................................................. 19 3.2 Objetivos específicos ....................................................................................................... 19 4 REVISÃO DE LITERATURA ........................................................................................... 20 4.1 Políticas de Saúde Bucal no Brasil: perspectiva histórica .................................................. 20 4.2 Trajetória da Política de Saúde Bucal no Ceará ............................................................... 25 4.3 Saúde Bucal na Estratégia de Saúde da Família: Avanços e Desafios ................................ 26 4.4 Levantamentos Epidemiológicos das Condições de Saúde Bucal dos Brasileiros ................ 33 4.5 Indicadores em Saúde Bucal na Atenção Básica ............................................................... 38 5 METODOLOGIA ............................................................................................................. 41 5.1 Tipo e abordagem do estudo ........................................................................................... 41 5.2 Cenário do estudo ........................................................................................................... 42 5.3 Coleta de dados ..............................................................................................................43 5.4 Período do estudo ........................................................................................................... 45 5.5 Análise dos dados ........................................................................................................... 45 5.6 Aspectos Éticos ............................................................................................................... 46 6 RESULTADOS ................................................................................................................. 46 6.1 Eixo acesso ao cuidado odontológico ................................................................................ 47 6.2 Eixo Proteção/Assistência à Saúde Bucal ......................................................................... 51 6.3 Eixo Recuperação e Reabilitação ..................................................................................... 56 7 DISCUSSÃO ..................................................................................................................... 58 7.1 Eixo acesso ao cuidado odontológico ................................................................................ 58 7.2 Eixo Proteção/Assistência à Saúde Bucal ......................................................................... 60 7.3 Eixo Recuperação e Reabilitação ..................................................................................... 63 8 CONCLUSÃO .................................................................................................................. 68 9 REFERÊNCIAS................................................................................................................ 70 APÊNDICE A- INSTRUMENTO DE BUSCA ..................................................................... 82 APÊNDICE B- SUMARIZAÇÃO DA COLETA DE DADOS ................................................ 84 14 1 INTRODUÇÃO A Federação Dentária Internacional (FDI) durante o Congresso Mundial de Odontologia, em 2016, definiu um novo conceito de “saúde bucal”. Conferiu a este uma compreensão multifacetada que inclui a capacidade de falar, sorrir, cheirar, saborear, tocar, mastigar, engolir e de transmitir emoções, através de expressões faciais, com confiança e livres de dor ou desconforto e sem doença do complexo craniofacial. Considerou ainda que a saúde bucal é um componente fundamental para a saúde geral, como um bem-estar físico, sofrendo influência dos valores e atitudes dos indivíduos e de seus coletivos, das experiências, suas percepções e expectativas, como também da capacidade de adaptar-se as transformações internas e externas do ser. Além de ser um reflexo da essência da qualidade de vida, formada por atributos fisiológicos, psicológicos e sociais (FDI, 2016). Assim sendo, a Saúde Bucal (SB) abrange o denominado complexo craniofacial, constituído por estruturas e tecidos dentários, bucais, faciais e do crânio. Desta forma, desordens neste complexo podem ocasionar dores, infecções e sofrimentos físicos e psicológicos. Diante disso, necessita-se de muito mais do que ações assistenciais em saúde bucal, requer integração de ações preventivas e curativas de doenças ou agravos e de promoção e reabilitação da saúde. Pelo exposto, é requerido a garantia da universalização do acesso, por meio do envolvimento do Estado nos três níveis da esfera de governo, assim como determina a Constituição da República Federativa (WHO, 2003; BRASIL, 2004; NARVAI, 2011). Contudo, a odontologia esteve durante muitos anos à margem das políticas públicas de saúde no país. A inserção de práticas odontológicas no Sistema Único de Saúde (SUS) se deu de maneira paralela aos demais serviços, colecionando experiências locais exitosas de inserção na Atenção Primária à Saúde (APS). Foi a partir destas que se conseguiu ampliar o acesso, desenvolver ações de promoção da saúde e prevenção de agravos e ofertar serviços curativos mais complexos. A Saúde bucal, no Brasil, apenas contemplaria a universalização do acesso e a integralidade do cuidado em 2004, quando foi lançada a Política Nacional de Saúde Bucal (PNSB), conhecida como “Brasil Sorridente” (PEREIRA, 2003, COSTA, 2006). Desta forma, a APS brasileira passa a ter três importantes requisitos que a difere dos demais modelos de assistência no mundo, são eles: responsabilização da população adscrita em territórios geográficos pelas equipes multiprofissionais de saúde, a existência dos agentes comunitários de saúde e a inclusão da atenção odontológica no serviço público. Sendo assim, a promulgação da PNSB foi um importante marco nas políticas públicas de saúde destinada a 15 integralidade e universalização do cuidado, destacando o sistema de saúde público brasileiro no cenário internacional (SILVA, 2016). Além de proporcionar a ampliação e qualificação da Atenção Básica (AB), a saúde bucal colaborou para aumento da resolutividade no pronto-atendimento, inclusão de procedimentos mais complexos na atenção básica, destacando a inclusão da reabilitação protética, com ressalvas para realidades e possibilidades de cada local. Esta ampliação do acesso ao cuidado odontológico corrobora para a superação do modelo biomédico vigente durante décadas, por meio da inserção transversal da saúde bucal nos programas integrais de saúde, como por linhas de cuidado e por condição de vida (SILVA, 2016; BRASIL, 2004). Logo, seguindo os princípios do SUS, a PNSB visa reorientar a assistência odontológica por meio da promoção de saúde como eixo principal do cuidado. Além de universalizar o acesso pela inserção transversal da saúde bucal nas linhas de cuidado e garantir a integralidade, por meio de Equipes de Saúde Bucal (eSB) na Estratégia de Saúde da Família (ESF), abertura de Centros de Especialidades Odontológicas (CEO) e Laboratórios Regionais de Prótese Dentária (LRPD) e a odontologia hospitalar (GOES, 2012; PUCCA, 2020). No contexto do Ceará, o Estado sempre esteve na vanguarda quanto aos investimentos públicos em saúde, contudo, no campo da saúde bucal não foi diferente. Antes mesmo da criação da PNBS existia em vigor no Estado uma Política Estadual de Saúde Bucal, contando com estratégias como, a presença de consultórios odontológicos no ambiente escolar, afim de reduzir a alta prevalência de cárie nesta faixa etária, em hospitais, realizando, em sua maioria, procedimentos mutiladores (MELO, 2019; VIEIRA, 2013). Além do Programa Dentista da Família, cujo intuito era equiparar o número de equipes de saúde da família e de saúde bucal. Como critério para aderir ao programa a Secretária de Saúde (SESA) usou os municípios com menor Índice de Desenvolvimento Humano (IDH). Como, até então, o incentivo do governo federal para a área de saúde bucal era muito pequeno, o governo do Estado repassava incentivo financeiro que possibilitasse o pagamento do salário do cirurgião dentista ficando a cargo da gestão municipal a manutenção do consultório e a compra de insumos. A partir de tal programa notou-se um expressivo aumento na cobertura das equipes de saúde bucal (VIEIRA, 2013; PORTO 2004). Passadas década e meia de institucionalização da PNSB, entende-se ser necessária a realização de pesquisas que discorram sobre seus avanços, que indique seu alcance e seu foco 16 de atuação. Na literatura atual estudos debruçam-se a avaliar, prioritariamente, o cuidado em saúde bucal na Atenção Primária, seguido por estudos acerca da qualidade do serviço e acessibilidade do mesmo. Sendo assim, lança-se como pergunta norteadora deste estudo: Como a produção do cuidado em saúde bucal na APS tem se expressado historicamente no Ceará com vistas a ampliação do acesso, promoção da saúde e a integralidade do cuidado, enquanto diretrizes orientadoras da PNSB? 17 2 JUSTIFICATIVA E RELEVÂNCIA Problemas de saúde bucalsão relevantes problemas de saúde pública, contudo, considerando a trajetória da Política Nacional de Saúde Bucal (PNSB), a saúde bucal não apresentou lugar de destaque na agenda nacional até os anos 2000, mudando este panorama após a inserção das equipes de saúde bucal na Estratégia de Saúde da Família. Apesar do importante papel indutor do Ministério da Saúde para expansão das diretrizes da PNSB, deve- se levar em consideração a configuração local dada a diversidades dos estados brasileiros e suas características singulares. Diante disto, optou-se por analisar no Estado do Ceará a implementação de tal política, com vistas a ascendente abrangência de serviços públicos odontológicos na última década, bem como, a cobertura populacional por estes serviços, que representa uma expressiva adesão dos municípios cearenses aos dispositivos da política. Além de analisar quais ações a Política Estadual de Saúde Bucal desenvolveu antes mesmo da PNSB, que foram de sucesso e atuaram como genitoras para a estabilidade da PNBS no Ceará. Por fim, outro ponto de destaque, é o fato de a autora atuar por quatro anos como estudante e trabalhadora no serviço público odontológico em um importante município do Estado. Assim, diante dos enfretamentos e conquistas cotidianas no “fazer” da odontologia pública a mesma entende a necessidade de compreender quais avanços já foram conquistados pela saúde bucal e quais pontos chaves precisam ser melhorados. Vale ressaltar, o importante papel de diagnóstico situacional que tal pesquisa tem o poder de ofertar a nível de gestão, apontando numericamente onde devem ser investidos esforços e recursos. Nesse sentido, é necessário conhecer a implementação da política como parte do planejamento que deve anteceder a avaliação da efetividade de uma política. Para isso, os estudos de séries temporais podem trazer benefícios, pois permitem prever não somente futuros cenários da distribuição de doenças na população, mas também os fatores que podem modificar essa distribuição, neste caso, indicadores do cuidado. Permitem ainda aos gestores de saúde preverem os coeficientes de morbimortalidade em sua região, podendo programar iniciativas de promoção da saúde. Para antever esse panorama é necessário levar em consideração não apenas o que ocorreu no último ano, mas também a movimentação recente que essa medida sofreu no tempo. A realização deste estudo justifica-se pela necessidade de conhecer a evolução temporal de indicadores de saúde bucal que orientam o desempenho da PNSB, assim como identificar a 18 tendência das ações de cuidado à saúde destinadas à população, que podem ter como um dos fatores a ausência de avaliação da efetividade de ações com base no olhar aos indicadores. Nesse sentido, os resultados desta pesquisa pretendem contribuir para o monitoramento do desempenho dos serviços e o cumprimento de atributos da APS, colaborando para a realização com informações para subsidiar os planos municipais para o enfrentamento e controle dos agravos diretamente relacionados ao cuidado em saúde bucal. Além disso, produz conhecimento a fim de oferecer elementos aos gestores e técnicos do Sistema Único de Saúde para o planejamento e organização de intervenções de vigilância em saúde bucal. As informações apresentadas neste estudo poderão subsidiar demais estudos em locais com contextos semelhantes ao do estado do Ceará. 19 3 OBJETIVOS 3.1 Objetivo geral Analisar a implementação da Política Nacional de Saúde Bucal no Estado do Ceará por meio de indicadores de acesso, proteção e assistência à saúde bucal, e integralidade do cuidado na Atenção Primária a Saúde, no período de 2009- 2019. 3.2 Objetivos específicos Identificar evolução da implementação da PNSB, segundo os eixos promoção e proteção da saúde, recuperação e reabilitação. Examinar, na linha do tempo de implementação da PNSB, evidências ou não de ampliação de acesso da população as ações de saúde bucal. Verificar a tendência temporal dos indicadores de saúde bucal correspondentes aos eixos indicativos de integralidade do cuidado na Atenção Primária à Saúde. 20 4 REVISÃO DE LITERATURA 4.1 Políticas de Saúde Bucal no Brasil: perspectiva histórica A primeira referência à inclusão do dentista no serviço público aconteceu no Estado de São Paulo em 1892, mas, somente em 1929, é que se regulamentou o Serviço Dentário Escolar e se oficializou a presença de consultórios odontológicos nas escolas (TELAROLLI, 1996; NARVAI 2008a). Tais atendimentos eram realizados por demanda livre, sem que houvesse nenhum planejamento, perdurando até 1988. As ações eram individualizadas, não existia um plano de tratamento e, tecnologias de promoção da saúde e prevenção de doenças ou agravos eram impensadas neste momento (NARVAI, 2009). Um importante fato que norteou o rumo da odontologia aconteceu em 1926, quando o governo Norte Americano publicou o Relatório Gie, o qual detalhava os principais problemas e deficiências dos cursos de Odontologia dos Estados e Unidos e Canadá, além de recomendar que a formação deveria dar maior ênfase as ciências biológicas e clínicas, a busca pela especialização precoce e nas práticas curativas-mutiladoras. Recomendava ainda que o mercado privado deveria ser o principal foco de atuação odontológica (MOYSES, 2008). A partir de então, o modelo que preponderou no cenário brasileiro foi a Odontologia de Mercado, centrada em uma base biológica e individual e na transformação dos cuidados em saúde em mercadoria, voltando-se para o mercado capitalista hegemônico (NARVAI, 2006). Na década de 50, através do Serviço Especial de Saúde Pública, foi implantada, a Odontologia Sanitária, disseminando ainda que de maneira discreta, novas perspectivas para ações de saúde bucal, incorporando ações relativas ao campo da promoção da saúde bucal (NARVAI, 2006). O modelo de ações foi importado dos Estados Unidos, o chamado Sistema Incremental (SI), eram voltadas exclusivamente para escolares. Esta lógica impulsionou mudanças intersetoriais, como a fluoretação das águas de abastecimento público (RAMIRES, 2007). Avançando para década de 70, o surgimento do movimento da Reforma Sanitária no Brasil, passou a difundir ideias acerca da universalização, equidade e participação popular, sendo passo crucial para a uma importante mudança constitucional que viria anos depois. No ano de 1986 ocorre a VIII Conferência de Saúde (CNS), considerada um marco de mudança para a história do sistema de saúde, uma vez que discutia os princípios que norteariam o 21 Sistema Único de Saúde (SUS), constituído dois anos mais tarde. Ainda neste mesmo ano, ocorre também a I Conferência Nacional de Saúde Bucal (CNBS), na qual foi discutida a necessidade de se haver uma política de saúde bucal inserida no novo sistema democrático que se desenhava no país (BRASIL, 2011; MANFREDINI, 2008). Logo, com a promulgação da Constituição de 1988, o SUS foi sendo paulatinamente implantado pelo país e, com muitas divergências e contradições, foi se desenhando ao longo dos anos uma Política Nacional de Saúde Bucal (PNSB). Neste mesmo ano, foi criado o Departamento de Odontologia associado ao Instituto Nacional de Assistência Médica e Previdenciária (INAMPS) e seguindo movimento contrário a Reforma Sanitária, era instituído o Programa Nacional de Controle da Cárie, com ações verticais, centralizadas e técnico- curativas (NARVAI, 2009; NARVAI, 2008a). Decorrendo meses após a promulgação da Constituição Federal, em paralelo ao INAMPS, o Ministério da Saúde (MS) definiu uma PNSB. Tal política baseava-se nos princípios norteadores do SUS, contudo destinava-se a alguns grupos populacionais e os procedimentos prioritários eram os de emergências, seguido pelos de baixa complexidade,como restaurações, porém previa o oferecimento de serviços de especialidades básicas, como endodontia, periodontia, prótese, cirurgia e ortodontia. Ainda fazia de seu escopo as ações voltadas para a prevenção e educação em saúde bucal (MANFREDINI, 2008). Neste ano em questão, foi lançado o documento “Plano Quinquenal de Saúde 1990- 1995- A saúde do Brasil Novo, em que contemplava a odontologia apenas ao explicitar as metas estabelecidas para o câncer de orofaringe, cárie e doença periodontal. Vale mencionar que em 1989, de maneira vertical, foi lançado o Programa Nacional de Prevenção da Cárie (PRECAD). Em 1991, através da Portaria nº 184, foi estabelecido a oferta de serviços que visavam a promoção e prevenção, os Procedimentos Coletivos (PC), que surgiram com o intuito de extinguir os Tratamentos Completados ou Tratamentos Concluídos (TC), como mecanismo de repasse de verbas. Esteve em vigor até o ano de 2006 (MANFREDINI, 2008; NARVAI, 2008a; CARVALHO, 2009). Durante anos e atravessando governos, a PNSB permaneceu sem grandes avanços. Porém, muitas experiências exitosas foram vivenciadas em alguns municípios brasileiros, em que conseguiram organizar suas políticas municipais de saúde bucal de modo que absorvesse princípios do SUS, como universalidade, atendimento por ciclos de vida, condições equânimes 22 da população, que serviram de modelo para a posterior construção da PNSB (NARVAI, 2008a; NARVAI, 2009). Assim, após anos de investimentos na atenção hospitalocêntrica, as políticas de saúde voltaram-se para atenção básica e no ano de 1994 foi criado o programa Saúde da Família (PSF), em que se reorientou, dentre outras coisas, os repasses de recursos públicos, não mais sendo por fator produtivo e sim por números de habitantes e incentivos específicos. No entanto, foi apenas no ano de 2000, através da Portaria nº 1.444 foi inserido o CD na ESF (GIOVANELLA, 2009; ANDRADE, 2007; BRASIL, 2000). Considerando a necessidade de ampliação do acesso dos brasileiros ao serviço odontológico, visando a melhoria dos índices epidemiológicos em saúde bucal e a inclusão das ações desta área na ESF, foi promulgada a Portaria nº 267. Através dela definiu-se as Normas e Diretrizes que integravam o Plano de Reorganização das Ações de Saúde Bucal na Atenção Básica Significando um importante incentivo financeiro para a odontologia no serviço público e aumentando a oferta de tais serviços no Brasil (BRASIL, 2000; BRASIL, 2001). Ainda no ano 2000, mas anterior a inclusão do CD na ESF, o Instituto Brasileiro de Geografia e Pesquisa (IBGE) publicou os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), apontando dados assustadores. Segundo esta pesquisa, cerca de 30 milhões de brasileiros nunca tinham ido ao dentista, correspondendo a 18,7% da população. Contudo, as diferenças deste percentual se acentuavam quanto às regiões e condições sociais. Enquanto os brasileiros com rendimento de até 20 salários mínimos apenas 4,1% nunca tinham ido ao dentista, aqueles em que o rendimento não chegava a um salário mínimo 36,5% nunca tinham sentado na cadeira odontológica. Chegando a proporções drásticas na região Nordeste, atingindo um percentual de 43,4% (NARVAI, 2008a). Sendo assim, no ano de 2004, sob o mandato do Presidente Lula, a mais significativa Política Pública de Saúde Bucal tem sua gênese, o Programa Brasil Sorridente. Fazendo parte, pela primeira vez na história do país, no Plano Nacional de Saúde (NARVAI, 2008a; BRASIL, 2004a). Apresentada oficialmente no documento “Diretrizes da Política Nacional de Saúde Bucal”, somando o termo “Diretrizes” após ricos debates em colegiados estaduais e municipais, Conselho Nacional de Secretários Estaduais de Saúde (CONASS) e Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde (CONASEMS), que tinham a percepção de que não se tratava 23 substancialmente de uma política específica, mas sim de diretrizes para sua construção. Sendo parte da Política Nacional de Saúde (PNS) e, por isso, tendo a sua implementação integrada às demais ações de saúde (COORDENAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE BUCAL, 2011; NARVAI, 2011). Sendo assim, tal política tem como pressupostos propõe reorientar a assistência odontológica ampliando o acesso, qualificando a atenção a partir dos ciclos de vidas, garantindo a integralidade por meio da inserção da odontologia em todos os níveis de cuidado. Além de prever articulações intersetoriais, como com a educação e a viabilização da adição de flúor nas águas de abastecimento público (BRASIL, 2004; PUCCA, 2015). Ainda toma como pressupostos o compromisso com a qualificação da Atenção Básica, assegurar a integralidade de ações, estabelecer uma política de financiamento, definir a Educação Permanente como estratégia para suscitar mudanças na formação técnica dos trabalhadores em saúde bucal. Além da utilização da epidemiologia para o planejamento de ações, o acompanhamento dos impactos destas ações por meio de indicadores, a atuação centrada na vigilância, através de práticas contínuas de avaliação e acompanhamento de danos. Por fim, determinar uma agenda em pesquisa científica. Norteada por princípios como: gestão participativa, acesso, ética, acolhimento vínculo e responsabilização, as ações em saúde bucal devem contemplar atividades de promoção e prevenção. Sendo elas: fluoretação das águas, educação em saúde, higiene bucal supervisionada e aplicação tópica de flúor. Além de ações de recuperação, abrangendo desde procedimentos de baixa complexidade, como exodontias, restaurações, até de média e alta e complexidade, como diagnósticos de lesões e cirurgião de grande extensão. Contando ainda com a faceta reabilitadora, devolvendo função parcial ou total aos pacientes, considerando a capacidade de cada local. (BRASIL, 2004). Figura 1- Principais ações da Política Nacional de Saúde Bucal 24 Fonte: Brasil, 2013. Na Atenção Primária, tendo como campos de atuação a ESF e Unidades Odontológicas Móveis (UOM), criadas no final do final do último mandato do governo Lula, com a premissa de ofertar atendimentos em áreas rurais isoladas e com grande extensão geográfica. Na ESF promoveu uma reorientação de práticas e impulsionou a adesão CD na equipe mínima. No tocante da Atenção Secundária e Terciária, possibilitou a ampliação e qualificação, especialmente com a implantação dos CEOs e LRPD. Concedeu atuação também na promoção de ações intersetoriais e interministeriais, do mesmo modo que promove a integração ensino- serviço, através do GraduaCeo (BRASIL, 2016). Figura 2- Linha cronológica do Brasil Sorridente. 25 Fonte: Brasil, 2020. 4.2 Trajetória da Política de Saúde Bucal no Ceará A atenção odontológica no Estado do Ceará surgiu de diversas maneiras ao longo dos anos. Algumas entidades privadas prestavam serviço odontológico à população, como a Associação de Merceeiros, o Centro de retalhista, além da Faculdade de Farmácia e Odontologia, incialmente uma intuição privada que prestava serviço gratuito aos pobres, integrando-se ao Sistema Federal de Ensino, apenas em 1950. Outros órgãos públicos de níveis federais, estaduais e municipais prestavam assistência odontológica a seus funcionários, como o setor odontológico da polícia militar, o Centro de Especialidades de Polícia Militar (CEOP) em funcionamento até os dias atuais, neste órgão foram criados vários programas de atendimentos voltados a determinadas faixas etárias (PORTO, 2004). Apenas em 1931 surgiu a assistência odontológica no setor público através da instalação de consultórios odontológicos dentro das escolas e com a criação do Centro Estadual de Saúde. No ano de 1965 estes centros são extinguidos e dão lugar aos Centros de Treinamento Odontológico, cuja finalidade era reciclar os dentistas da rede pública, em 1997 passaram a chamar de Centro de Especialidades Odontológicas (CEO).Outro importante órgão deste período era o Centro de Saúde Dercy Vargas atendendo exclusivamente crianças e gestantes (PORTO, 2004; TEIXEIRA, 2009). Em 1938, criou-se o Instituto de Previdência do Estado do Ceará (IPEC) ofertando assistência médica, odontológica e jurídica aos servidores estaduais. Sendo pioneiro na oferta de atendimentos odontológicos especializados. Até 1922 existiam ações pontuais em alguns municípios do Ceará mais voltadas a extrações dentárias, além dos consultórios instalados nas escolas que voltavam suas atividades a prática de bochecho fluoretado, a fim de diminuir a grande prevalência de cárie dentária (PORTO, 2004). Apenas nos anos 2000, fomentou-se as primeiras discussões acerca da necessidade de uma política específica para a saúde bucal no estado. No ano de 2003 o governo estadual criou o Programa Dentista da Família, visando ampliar a cobertura das equipes de saúde bucal, principalmente nos municípios do interior. Neste mesmo ano, foi aprovada pela Comissão Intergestora Bipartite a Política Estadual de Melhoria da Assistência à Saúde Bucal, uma das vertentes foi o investimento em serviços especializados através da implantação de centros de 26 especialidades em todas microrregiões do estado. Com a criação do PNSB no ano seguinte, os CEOs estaduais passaram a receber recursos federais (VIEIRA, 2013). Logo, vale ressaltar um importante marco para o Ceará, no ano de 2004, o primeiro CEO proveniente da PNSB foi inaugurado no município de Sobral, na região Norte do estado, contando com a presença do então Presidente da República, Lula. Tal fato demonstra o protagonismo do Estado na fomentação e expansão da política de saúde bucal (SILVA, 2019). Outra importante ação neste mesmo período foi o Projeto de Rastreamento do Câncer de Boca, em que foram capacitados os cirurgiões dentistas (CD) para além de identificar, realizar busca ativa de lesões. Em 2005, a Secretaria Estadual de Saúde, organizou um concurso público para médicos, enfermeiros e dentistas da Estratégia de Saúde da Família, assim fortalecendo o vínculo empregatício destes profissionais e estimulando o investimento na atenção básica (LESSA, 2010; PEQUENO, 2005). O rumo da política de saúde bucal foi modificado durante a gestão de 2007 a 2012, priorizando a atenção odontológica secundária e terciária. Assim, em 2008 foi lançado pelo governo do estado o Monitoramento e Acompanhamento dos projetos prioritários do governo (MAPP), cuja previsão era a implantação de 17 CEO em todo o estado. Quanto a Atenção Primária, ainda foram destinados recursos para sua estruturação, contudo, o governo extinguiu o Programa Dentista da Família, pois as atribuições da atenção básica passaram a ser de responsabilidade dos munícipios (VIEIRA, 2013). Portanto, observa-se que no Ceará desde os primórdios da trajetória da Política de Saúde Bucal Estadual houve um empenho tanto no incentivo financeiro como no desenvolvimento dos serviços públicos odontológicos. Inicialmente, tais serviços eram ofertados na capital para atender a população do interior. Contudo, a Secretária Estadual de Saúde (SESA) por meio do Programa Dentista da Família incentivava a organização municipal deste serviço. E em 2007, além de contribuir com a atenção básica ainda ampliou a prestação de serviços odontológicos especializados por meio dos CEO regionais (VIEIRA, 2013). 4.3 Saúde Bucal na Estratégia de Saúde da Família: Avanços e Desafios A inserção do CD nas equipes de saúde da família (eSF) ocorreu através da Portaria MS-1.444, de 28/12/2000. Resultado de um longo processo de discussão, entre muitos atores e instituições da classe odontológica, insistindo na necessidade de dentistas compondo o quadro de profissionais prestadores de serviços da Atenção Básica. Segundo Baldin (2005), o objetivo 27 desta inclusão foi melhorar os índices epidemiológicos, ampliar o acesso e transformar o processo de trabalho. Logo, a Atenção Primária à Saúde (APS) constitui-se como um dos principais pilares para a efetivação do PBS, uma vez que, reorganizados as ações de saúde bucal neste nível concretiza-se a possibilidade de mudança no modelo de assistência (BRASIL, 2008). Foram definidas duas modalidades de equipe, a modalidade I, composta por um CD e um Auxiliar de Saúde Bucal (ASB) e a modalidade II, composta por um CD, um ASB e um Técnico de Saúde Bucal (TSB). Na tabela pode-se observar a evolução no número de equipes entre os anos de 2009 a 2019. Gráfico 1- Evolução no número de equipes de saúde bucal entre os anos de 2009 e 2019, segundo os dados do Ministério da Saúde. Fonte: Brasil, 2020. Conseguinte, quando em 2004 é lançada as Diretrizes da PNBS, destacavam-se: o cuidado como eixo da reorientação do modelo, a humanização do processo de trabalho e a cor responsabilização dos serviços, imbricando- se nas diretrizes do SUS e também da ESF. Trouxe ainda o enfoque nas linhas de cuidado, como de crianças, adolescentes, adultos e idosos, além de ações voltadas para condições especiais de vida, como saúde da mulher, do trabalhador de portadores de necessidades especiais (KNAUTH, 2006). 20626 21999 23076 23586 24131 25327 25891 25827 27082 28050 28991 0 5000 10000 15000 20000 25000 30000 35000 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019 Evolução do NÚMERO DE EQUIPES DE SAÚDE BUCAL 28 Deste modo, o trabalho em saúde bucal passa a fundamentar-se na universalidade equidade, integralidade da atenção, trabalho em equipe e interdisciplinar, foco de atuação centrado no território-família-comunidade, humanização da atenção, responsabilização e vínculo. Exigindo da eSB o relacionamento com os usuários, participação na gestão dos serviços, a fim de que se responda as demandas das pessoas assistidas, ampliando assim o acesso (BRASIL, 2017). Sendo assim, o processo de trabalho foi aspecto de transformação fundamental, ao passo que, insere-se os trabalhadores de saúde bucal em uma equipe multiprofissional afronta- se valores, lugares e poderes já consolidados pela “forma de fazer odontologia” dos sistemas passados. Configurando-se como um grande desafio a integração da categoria as equipes, podendo ser explicada pela inserção tardia, a formação tecnicista e individualista, dificultando a abordagem holística e a demanda excessiva (BALDANI, 2005). Desta maneira, a demanda excessiva pode ser explicada pela dívida na assistência odontológica perpetrada ao longo dos anos e pela falta de políticas públicas e de ações programáticas. Por isso, as ESB devem atuar de maneira individual, com o cuidado de não reproduzir a concepção de odontologia de mercado, e de maneira coletiva, adotando medidas de promoção, prevenção e controle epidemiológico das doenças do complexo estomatognático. Então, cabe a estes profissionais advogarem políticas públicas saudáveis e de estimular o autocuidado (LOURENÇO 2012; EMMI, 2015). Posto isto, a Portaria 648 do Ministério da Saúde de 2006, elenca como procedimentos básicos odontológicos: restauração, periodontia básica, exodontias, profilaxia e aplicação tópica de flúor. Define ainda as atribuições dos profissionais que compõem a eSB. Cabendo a estes profissionais além da realização das práticas técnico- odontológicas, ações que visem o cuidado integral em saúde bucal, tais como de promoção, prevenção, proteção, tanto no âmbito individual como coletivo. Logo, de acordo com o Caderno de Normas e Manuais Técnicos da Atenção Básica de número 17, publicado em 2008 pelo MS, os principais desafios enfrentados pelas ESBs na ESF são: unificação da porta de entrada, enfatizando a necessidade de se integrar as ações e serviços odontológicos e da atuação multiprofissional e interdisciplinar destes profissionais. Garantir o acesso a demanda espontânea, adotando o acolhimento como uma forma de ampliar o acesso e qualificaro atendimento, a fim de que seja possível dá respostas satisfatórias para as necessidades das populações. Desenvolver ações programadas de promoção da 29 saúde, e assistência voltadas ao controle das patologias crônicas e/ou às populações mais vulneráveis do território, construindo as agendas de acordo com as necessidades locais. Organizar a Atenção Domiciliar, através de visitas domiciliares programadas e agendadas para o acompanhamento de pacientes em situações de vulnerabilidade. Por fim, encaminhamento para outros níveis de atenção, como os CEOs e hospitais (BRASIL, 2008). Ainda no ano de 2006, através da Pacto de Indicadores da Atenção Básica, foi redefinido os indicadores que constituem o instrumento nacional de monitoramento e avaliação das ações e serviços de saúde bucal referentes à AB. Sendo os dois principais indicadores: cobertura de primeira consulta odontológica programática e cobertura da ação coletiva de escovação dental supervisionada e dois outros complementares: média de procedimentos odontológicos básicos individuais e proporção de procedimentos odontológicos especializados em relação às ações odontológicas individuais (BRASIL, 2006a). O quadro apresenta a definição de cada indicador. Quadro 1- Definição dos indicadores de saúde bucal do Pacto da Atenção Básica 2006, segundo a Portaria nº 493/GM, de 10 de março de 2006. COBERTURA DE PRIMEIRA CONSULTA ODONTOLÓGICA PROGRAMÁTICA É o percentual de pessoas que receberam uma primeira consulta odontológica programática, realizada com finalidade de diagnóstico e, necessariamente, elaboração de um plano preventivo-terapêutico (PPT), para atender as necessidades detectadas. Não se refere a atendimentos eventuais como os de urgência/emergência que não tem seguimento previsto. 30 COBERTURA DA AÇÃO COLETIVA ESCOVAÇÃO DENTAL SUPERVISIONADA É o percentual de pessoas que participaram da ação coletiva escovação dental supervisionada. Tal ação é dirigida, necessariamente, a um grupo de indivíduos. Expressa o percentual de cobertura correspondente a média de pessoas que tiveram acesso à escovação dental com orientação/supervisão de um profissional treinado, considerando o mês ou meses em que se realizou a atividade, em determinado local e ano, visando à prevenção de doenças bucais, mais especificamente cárie dentária e doença periodontal. MÉDIA DE PROCEDIMENTOS ODONTOLÓGICOS BÁSICOS INDIVIDUAIS Consiste no número médio de procedimentos odontológicos básicos, clínicos e/ou cirúrgicos, realizados por indivíduo, na população residente em determinado local e período. PROPORÇÃO DE PROCEDIMENTOS ODONTOLÓGICOS SPECIALIZADOS EM RELAÇÃO ÀS AÇÕES ODONTOLÓGICAS INDIVIDUAIS Consiste na proporção de procedimentos odontológicos especializados em relação às demais ações individuais odontológicas realizadas no âmbito do SUS. Fonte: Brasil, 2006. Desta maneira, a assistência odontológica na ESF deve estar preparada para atender as necessidades e ser resolutiva em, pelo menos, 80% dos casos. Sendo a ordenadora para os demais serviços do PBS, sendo assim a sua plena concretude está atrelada ao sucesso da PNSB, representada pelo PBS (BRASIL, 2008). Outrossim, trazendo a luz da discussão os avanços da PNSB, as eSBs tendo como palco a APS, desenvolveram relevantes ações de promoção e educação em saúde, através da criação de espaços de conversas e trocas de saberes e de atividades promotoras, preventivas e de controle das doenças bucais, o que promove o autocuidado do público assistido. Conseguinte, contribui para a universalização e acessibilidade aos serviços odontológicos. Pois, de acordo 31 com a PNAD de 2008, o percentual de brasileiros que não nunca haviam ido ao dentista decaiu de 15,9% (27,9 milhões) para 11,7% (22,1 milhões) (ANJOS, 2011; CHAVES, 2017). No entanto, a ampliação da atenção secundária, através da criação e expansão dos CEOs, é a linha de ação com maior visibilidade da Política e, segundo Narvai (2009), chegando até se confundir com a mesma. Estas unidades propõem realizar procedimentos complementares aos da APS, os ofertando de acordo com a realidade epidemiológica de cada local. Devem estar articulados em rede e integrados a todos os níveis de atenção, em especial a Atenção Primária. Porém, há diversos relatos de descaracterização dos CEOs, atuando muitas vezes como “porta de entrada” do sistema, fenômeno descrito por Narvai como “atalho ao CEO. No tocante de avanços intersetoriais, a fluoretação das águas de abastecimento teve grande avanço. Já sendo implantada desde a década de 50 e sendo ampliada nos anos seguintes. No entanto, no início dos anos 2000 houve a ascensão do movimento antiflúor, em que foram encaminhados muitos projetos preterindo a suspensão da fluoretação. O Conselho Federal de Odontologia (CFO) e outras entidades odontológicas, posicionaram-se de maneira decisiva no Congresso Nacional. Desta forma, foram elaborados pareceres contrários aos projetos e socializadas informações sobre os benefícios do flúor com a sociedade (FRAZÃO, 2017). Contudo, apesar da importância de a fluoretação das águas de abastecimento público ser reconhecida como um fator crucial para o declínio da cárie dentária no Brasil e de trazer benefícios diretos na qualificação dos sistemas de tratamento e distribuição de águas, observa- se que existe uma desigualdade quanto ao acesso de água (CURY, 2015). No estudo de Roncalli et al. (2019) foram apresentados os níveis de distribuição dos percentuais nos municípios com mais de 50 mil habitantes, como mostra a figura 2, no período de 2010 a 2015. Figura 3- . Distribuição percentual do número de municípios com mais de 50 mil habitantes, segundo a situação quanto à fluoretação por região. Brasil, 2010-2015. 32 Fonte: RONCALLI, 2019. Logo, é visível a discrepância entre a região Sul e Norte, em que, na primeira os percentuais de municípios com o abastecimento de águas fluoretadas próprias para consumo humano chegam a ultrapassar 70% e, já na região Norte quase 90% dos seus municípios não tem flúor nas águas disponíveis para o consumo. Diante do exposto, conclui-se que os avanços da PNSB são substanciais, contudo, o maior desafio, segundo Narvai (2011), é não permitir a dissociação da saúde bucal das demais políticas públicas de saúde. Para que, dessa forma, não seja reduzido a um simples programa odontológico e sim há uma política que visa enfrentar e superar as misérias e desigualdades sociais. 33 4.4 Levantamentos Epidemiológicos das Condições de Saúde Bucal dos Brasileiros Levantamentos ou inquéritos epidemiológicos trata-se de estudos de caráter transversal que tem por finalidade apropriar-se da extensão e severidade de um determinado problema em saúde. Visam ainda diagnosticar as necessidades acumuladas, auxiliam na definição de prioridades e avaliam programas, podendo serem utilizados como instrumento de gestão. Seus dados são de grande importância para serem utilizados em comparações futuras (BONITA, 2006; ANDRADE, 2013). Logo, os levantamentos odontológicos têm por objetivo avaliar as necessidades da população, de acordo com as condições de saúde oral, desta forma, subsidiando o desenvolvimento de programas e políticas públicas a nível municipal, estadual e federal, embasadas em dados confiáveis (ANDRADE, 2013). Permitem, a partir das informações colhidas, controlar as mudanças nos padrões e prevalências dos condicionantes avaliados (FLETCHER, 2014). Contudo, a odontologia brasileira apresenta tímidas experiências em avaliação de políticas de saúde utilizando inquéritos em Saúde Bucal. Na década de 50 estes estudos eram realizados apenas na população de escolares, sendo que somente em 1986 foi realizada a primeira pesquisa de base populacional. Sendo assim, comparandoa outros países, como a Inglaterra que realizou levantamentos desde as primeiras décadas do século XX, o Brasil inseriu-se tardiamente neste processo (RONCALLI, 2012; BRASIL, 2012). Assim sendo, as principais produções obtidas através de estudos primários datam de 1986, sendo esta a primeira grande experiência. Teve abrangência de diferentes grupos etários (de escolares a idosos) e vinculada ao PRECAD, sendo examinadas 22.709 pessoas nas 15 capitais do país e Distrito Federal (DF). Buscou avaliar a cárie dentária, doença periodontal e edentulismo (RONCALLI, 2006; BRASIL, 1988). Adiante, os principais resultados obtidos por este levantamento foram a alta prevalência e severidade de cárie dentária em escolares, em que o ICPO-D (Índice de Dentes Cariados Perdidos e Obturados) na faixa etária de 12 anos, considerado como um dos principais indicadores para avaliar saúde dental mundialmente, indicou que, de acordo com a escala da OMS, que o Brasil era o terceiro pior índice do mundo, perdendo apenas para Brunei e República Dominicana. (BRASIL, 1988; PERES, 2007). Observou-se também alto índice de edentulismo em adultos e idosos, afamando o Brasil como o “país dos desdentadados”. Além das desigualdades regionais no perfil epidemiológico. Em que a região Norte apresentava os 34 piores indicadores, seguido pela ausência de atendimentos odontológicos, em que na faixa etária de 6 a 12 anos apenas 26% teriam recebido assistência odontológica, em contrapartida, na região Sul o índice para esta mesma população era de 49% (BRASIL, 1988). Deste modo, teve fundamental importância, pois foi a primeira vez que se mencionou a intenção de estabelecer um modelo de atenção à saúde bucal com base epidemiológica (RONCALLI, 2006). Logo, principais causas para que se realizasse este inquérito seria a necessidade de dados confiáveis, a constatação de que a oferta de serviços odontológicos para a população era escassa e a possibilidade de se implantar um programa nacional de assistência odontológica (BRASIL, 1988). Cabe ressaltar o momento político que o país passava, com apenas dois anos de governo de um presidente civil eleito por voto direto e, no campo da saúde, neste mesmo ano, ocorreu a histórica 8ª Conferência Nacional de Saúde (RONCALLI, 2012). Apesar dos importantes resultados obtidos nesta pesquisa, sendo utilizados em muitos estudos para traçar o perfil epidemiológico dos brasileiros, não houve continuidade das práticas epidemiológicas e nem tais dados foram usados para embasar uma política pública de SB, que só ocorreria anos depois. A divulgação desses resultados ficou restrita ao relatório do levantamento e, até o presente momento não estão disponíveis em bases de dados públicos, como o Datasus (RONCALLI, 2006). Confirmando isso, apenas dez anos mais tarde executa-se um outro levantamento em SB, contudo, pouco se aproveitou do levantamento passado. Roncalli (2006), afirma que houve um retrocesso, uma vez que, a amostra da era apenas de escolares de 6 a 12 anos, avaliando somente a condição de cárie dentária. Apesar da SB ocupar espaço como uma área técnica no MS, diferente do governo passado, em que se tratava apenas de uma divisão, tais resultados não foram vinculados a nenhuma política de saúde vigente, havendo descontinuidade da prática epidemiológica nesta área (PEREIRA, 2009). Logo, os principais dados dessa pesquisa foi a tendência de declínio da cárie dentária na faixa etária avaliada e, assim como encontrado no estudo anterior, diferenças epidemiológicas regionais. Vale ressaltar que estes resultados não seguiram uma metodologia de publicação, aliás, o relatório final não chegou a ser publicado, contudo, diferindo do anterior, tais dados estão disponíveis para tabulação na plataforma Datasus (RONCALLI, 2006). Sucessivamente, em 2000, inicia a ser projetado o que se tornaria o terceiro levantamento epidemiológico em SB a nível nacional sob os cuidados do MS, o Projeto 35 SB2000 – Condições de Saúde Bucal da População Brasileira, posteriormente denominado SB Brasil 2003. Este viria ser um marco para a epidemiologia odontológica, apresentando um maior rigor metodológico em relação aos anteriores. Pela primeira vez se incluiu municípios de médio porte, não apenas as capitais, alcançando um número considerável de 250 municípios ao todo (BRASIL, 2003). De modo que, foi avaliado os principais agravos em SB, como cárie dentária, doença periodontal, edentulismo, alterações nos tecidos moles (jamais analisadas anteriormente, fluorose. Permitiu que os grupos etários fossem compostos por todos os ciclos de vida, além de uma avaliação de teor qualitativo em três dimensões: condição socioeconômica, acesso a serviços de saúde e auto percepção dos participantes quanto a sua condição de SB (RONCALLI, 2012; BRASIL, 2003). Sendo assim, dentre os principais resultados deste levantamento, cita-se: queda da cárie dentária na população de escolares, confirmando o achado do levantamento de 1996. Persistência nas desigualdades regionais, em que este declínio é maior em zonas urbanas das regiões Sul e Sudeste e melhores condições de SB foram encontradas em alunos de escolas particulares. A quantidade de brasileiros edêntulos ainda era alarmante e o surgimentos de novas necessidades de saúde, como as oclusopatias (BRASIL, 2003). Desta forma, os dados gerados por este levantamento serviram de subsídio para a implantação do PSB no ano seguinte de sua publicação. A partir deste inquérito, foi possível estabelecer um diagnóstico aprofundado acerca da situação de SB no Brasil, conhecendo expressão de doenças jamais pesquisadas em magnitudes nacionais, como as oclusopatias e fluorose. Outro grande feito foi ter dado bases a sua metodologia que permitisse a replicação nos diferentes níveis de governança, desde a secretarias de saúde de pequenos municípios a grandes metrópoles. Consentiu ainda que fossem realizadas comparabilidades a nível internacional. Também se arquitetou para que fosse possível criar uma matriz para uma futura construção de um modelo de vigilância em SB, por meio da obtenção de dados primários (BRASIL, 2003; RONCALLI, 2006; RONCALLI, 2012). Apesar do rigor no delineamento amostral e de treinamento e calibração prévia dos pesquisadores, sendo inclusive publicados e absorvidos pela academia e serviços, segundo Queiroz (2009), tal inquérito sofreu inúmeras críticas no que tangia a representatividade da amostra, pois não houve cautela na escolha da mesma, de modo que, as estimativas não foram consideradas válidas para a população brasileira. 36 Conseguinte, em março de 2010, seis anos após a instituição da PNBS, por meio do Caderno de Saúde Pública, o MS lança o editorial sobre o Projeto SB Brasil 2010 – Pesquisa Nacional de Saúde Bucal, em dezembro deste mesmo ano foi publicado seus primeiros resultados. Executado em parceria com secretarias estaduais e municipais de saúde das cinco regiões do país, com o apoio de entidades de classe odontológicas e das Universidades, teve proposta metodológica sugerida como estratégia para o desenvolvimento do eixo de vigilância em saúde na PNBS, sendo inserido na mesma (BRASIL, 2010; RONCALLI, 2011). Desta forma, foi realizada em 26 capitais e no DF, além de cento e cinquenta municípios do interior com distintos portes populacionais. Participaram como pesquisadores cerca de dois mil trabalhadores do SUS, das três esferas governamentais e foram examinadas e entrevistada em média de 38 mil pessoas, dos diferentes grupos etários (crianças, adolescentes, adultos e idosos) (BRASIL, 2010). Logo, em comparação aos levantamentos anteriores, teve resultados animadores a nível nacional. Novamente se confirmou a tendência de declínio da doença cárie em escolares, apresentando dados que apontavam para um maior acesso aos serviços odontológicos, como o aumento no percentual decrianças livres de cárie, que em 2003 era de 31% e em 2010 chegou a 44% em 2010. Tal declínio estendeu-se também para as outras faixas etárias. Outro ponto, foi o aumento em 69% dos dentes tratados, além da queda quase pela metade dos dentes extraídos, em comparativo com o levantamento de 2003 (BRASIL, 2010; BRASIL, 2003; BRASIL, 2012). Contudo, houve ainda persistência nas desigualdades regionais, o endetulismo, apesar de apresentar queda principalmente na população adulta, ainda consistia em um número significativo na população de idosos. Constatou-se uma diminuição na necessidade do uso de prótese em adultos e adolescentes, porém na população idosa ainda há um importante déficit. E a prevalência de oclusopatias não tratadas em adolescentes era de 10%, apontando a necessidade de se reorganizar a oferta de tratamento ortodôntico na atenção secundária (BRASIL, 2010; RONCALLI, 2011; BRASIL, 2012). Por fim, em 2013 o IBGE realiza a Pesquisa Nacional de Saúde, incluindo o componente SB. Foram realizadas auto avaliações sobre a percepção de saúde dos brasileiros, em que foram entrevistados pessoas de 18 ou mais anos de idade, os indicadores referentes a SB analisados foram divididos em duas categorias: higiene bucal e condições de Saúde Bucal (IBGE, 2015). 37 Quanto a higiene bucal foi avaliada: Proporção de pessoas de 18 anos ou mais de idade que escovam os dentes pelo menos duas vezes por dia b) Proporção de pessoas de 18 anos ou mais de idade que usam escova de dente, pasta de dente e fio dental para a limpeza dos dentes; c) Proporção de pessoas de 18 anos ou mais de idade que trocam a escova de dente por uma nova, pelo menos, a cada três meses IBGE, 2015). Quanto as Condições de saúde bucal forma avaliados: a) Proporção de pessoas de 18 anos ou mais de idade que consideram sua saúde bucal como boa ou muito boa; b) Proporção de pessoas de 18 anos ou mais de idade que têm grau intenso ou muito intenso de dificuldade para se alimentar por problemas nos dentes ou dentadura; c) Proporção de pessoas de 18 anos ou mais de idade que perderam todos os dentes; d) Proporção de pessoas de 18 anos ou mais de idade que perderam 13 ou mais dentes; e) Proporção de pessoas de 18 anos ou mais de idade que usam algum tipo de prótese dentária (IBGE, 2015). Logo, os dados obtidos mostraram que homens, idosos, aqueles que se consideravam pretos e pardos, residentes de zona rural e da região Nordeste apresentavam os piores indicadores de higiene bucal, bem como os maiores relatos de grau intenso ou muito intenso de dificuldade para se alimentar por problemas nos dentes ou dentadura. A perda dentária afetou cerca de 16 milhões de indivíduos, atingindo principalmente mulheres, desta maneira, tais dados corroboram com os achados em levantamentos de anteriores, como por exemplo o SB Brasil 2010. (IBGE, 2015; NICO, 2016). O quadro a seguir compila os levantamentos epidemiológicos abordados nesta sessão e seus principais resultados epidemiológicos. Quadro 2- Cronologia dos principais resultados epidemiológicos relacionados à saúde bucal, 1986-2013. Brasil, 2020. Ano Resultados epidemiológicos 1986 - Alta prevalência e severidade de cárie em escolares; - Alto índice de edentulismo em adultos e idosos; - Desigualdades regionais no perfil epidemiológico 1996 - Declínio da doença cárie em escolares; - Persistência de desigualdades regionais 38 2003 - Declínio na cárie da população escolar; - Persistência de desigualdades regionais; - Edentulismo ainda alarmante; - Aparecimento de outras necessidades epidemiológicas 2010 - Declínio de cárie em escolares e em outras faixas etárias; - Persistência das desigualdades regionais; - Maior acesso aos serviços odontológicos; - Edentulismo em queda na população adulta, porém números alarmantes em idosos; - Declínio da necessidade de prótese em adolescentes e adultos e déficit na população de idosos. - Prevalência de oclusopatias não tratadas. 2013 - Piores índices de higiene bucal em homens, idosos, pretos e pardos e residentes na zona rural; - Persistência das desigualdades regionais; - Edentulismo em números alarmantes; - Melhora considerável na condição de SB de adolescentes e adultos; Diante do exposto, torna-se possível afirmar que a condição de SB da população adulta brasileira teve significativa melhora com o passar dos anos, contudo, os idosos ainda apresentam situação preocupante (BORGES, 2014). No entanto, apesar das relavantes informações obtidas neste estudo, apontou-se como limitação a a realização de apenas entrevistas, sem que houvesse exame clínico, porém, a autopercepção de SB possui alta validade aceitável, além de referir-se a questões muito mais subjetivas do que clínicas, de fato (MOURA, 2014; MOREIRA, 2005). Dada a importância de se ter dados primários em SB para subsidiar tomadas de decisões quanto ao futuro das políticas públicas, o realocamento de recursos humanos, financeiros e materiais, o MS prever uma nova versão do projeto SB Brasil para o ano de 2020. 4.5 Indicadores em Saúde Bucal na Atenção Básica O monitoramento dos indicadores em saúde tem um papel fundamental para o fortalecimento da AB, uma vez que, através de sua pactuação é possível refletir sobre quais 39 medidas devem ser tomadas para que se consiga alcançar os resultados esperados. Além disso, durante o processo de criação, pactuação e aperfeiçoamento ocorre uma maior integração entre as unidades gestoras, sejam elas Secretarias Municipais ou Estaduais de Saúde, desta forma, melhorando a capacidade de gestão e avaliação (BATISTA, 2010). Sendo assim, através da Portaria 476 de 1999, o MS instituiu o Pacto de Indicadores da Atenção Básica (PIAB). Tinha o intuito de ampliar o monitoramento dos recursos e o impacto na saúde da população, este instrumento formal baseava-se na negociação entre as três esferas do governo. Contudo, em relação a SB os indicadores eram escassos, segundo Corrêa (2015), no Pacto de 2003, somente dois indicadores estavam relacionados a esta área. Enquanto no Pacto pela Saúde para biênio de 2010-2011, não havia nenhum indicador de SB, posteriormente corrigido pela Portaria 3.840, em que foram incluídos dois indicadores: cobertura populacional estimada das eSB da ESF e média da ação coletiva de escovação supervisionada. (BRASIL, 2009, BRASIL, 2010b). Ademais, deve-se elucidar a importância do levantamento epidemiológico de 2003, a partir dele subsídios foram dados para que se traçasse o planejamento e avaliação das ações em saúde bucal. Logo, no ano de 2006, um conjunto de reforma institucionais foi pactuado, sendo incluídos novas portarias e indicadores constituindo o Pacto pela Saúde, Pacto em Defesa do SUS, Pacto pela Vida e Pacto de Gestão. Neste mesmo ano, foi o instituído o CECOL, a fim de se fortalecer a vigilância e monitoramento em SB, como supracitado neste estudo (BRASIL, 2006a, BRASIL, 2006b). Portanto, no âmbito da SB, os indicadores instituídos pelo PIAB de 2000 a 2010 foram: cobertura de primeira consulta odontológica programática, cobertura da ação coletiva escovação dental supervisionada, média de procedimentos odontológicos básicos individuais, proporção de procedimentos odontológicos especializados em relação às ações odontológicas individuais, cobertura populacional estimada das eSB da eSF e média da ação coletiva de escovação supervisionada. (BRASIL, 2010b). Outrossim, em 2011, através do Decreto nº 7.508, que regu-lamenta a Lei nº 8.080, de 1990, outro instrumento de pactuação foi instituído, o Contrato Organizativo da Ação Pública da Saúde (COAP). Segundo Tamaki (2012), este instrumento teve como principal propósito organizar e integrar as ações e serviços em regiões de saúde, de tal maneira que garantisse a integralidade do cuidado aos usuários. Ainda neste ano, reconhecendo as iniquidadesno acesso e utilização dos serviços de saúde, publica-se a segunda edição da Política Nacional de Atenção 40 Básica (PNAB), introduzindo o Programa Nacional de Melhoria do Acesso e da Qualidade da Atenção Básica (PMAQ-AB) (BRASIL, 2014; BRASIL, 2011). Desta forma, o PMAQ surge como uma estratégia promotora de melhorias no acesso e qualidade da Atenção Básica AB. Organizado em quatro fases, sendo a primeira etapa dirigida para a contratualização de compromissos e indicadores, contando com um total de 47 indicadores pactuados entre as equipes participantes e a gestão (BRASIL, 2012; FAUSTO, 2014). Deste indicadores, sete tratavam da SB, sendo quatro aferindo o desempenho- média da ação coletiva de escovação dental supervisionada, cobertura de primeira consulta odontológica programática, cobertura de primeira consulta de atendimento odontológico à gestante e razão entre tratamentos concluídos e primeiras consultas odontológicas programáticas; e três referiam-se ao monitoramento- média de instalações de próteses dentárias, média de atendimentos de urgência odontológica por habitante e taxa de incidência de alterações da mucosa oral, tais dados eram oriundos do siab e do esus/sisab (BRASIL, 2012). Na figura 3 observa-se os indicadores propostos pelo PMAQ, bem como sua categoria, segundo França (2020), e sua fórmula. Figura 4- Indicadores de saúde bucal propostos no Programa Nacional de Melhoria do Acesso de Qualidade da Atenção Básica (PMAQ). Fonte: França, 2020. 41 Conforme as Diretrizes da PNS, os acompanhamentos dos impactos das ações em saúde bucal devem ser acompanhados através de adequados indicadores, devendo ser de fácil registro e devem garantir dados confiáveis e contínuos (BRASIL, 2010b). Contudo, segundo França (2020), poucas dimensões são abordadas na área da SB, apontando para a necessidade de incorporação de novos indicadores. Porém, é importante salientar os avanços propiciados pelo PMAQ, que expandiu o número de indicadores e ampliou a avaliação da qualidade dos serviços prestados, bem como o desempenho das políticas públicas (MACHADO, 2018). Em março de 2019, o Ministério da Saúde lança o Previne Brasil, tratando-se de uma nova forma de financiamento da APS. De acordo com tal modelo, a distribuição dos recursos terá como métrica o desempenho das eSF, os indicadores de saúde que antes contabilizavam mais de setecentos, passam a ser considerados apenas vinte e um. E destes apenas um refere- se a saúde bucal: proporção de gestantes que passaram por atendimento odontológico. Entretanto, as ações odontológicas também entram como medida chave para o cálculo de escores (BRASIL, 2019; GOBBO, 2019). 5 METODOLOGIA 5.1 Tipo e abordagem do estudo Trata-se de um estudo observacional, analítico, ecológico de série temporal, ancorado na abordagem quantitativa. Séries temporais ou séries históricas, são dados observados em intervalos regulares de tempo, que podem ser obtidos por meio da observação periódica de um evento (ANTUNES, 2015) Na epidemiologia tais estudos são de grande importância, pois permitem prever futuros cenários da distribuição de eventos relacionados a saúde da população e, mais relevante ainda, os fatores capazes de modificar essa distribuição. Sendo assim, propiciam aos gestores tomadas de decisões embasas em informações confiáveis, efetivando recursos e esforços no correto campo de necessidade (LATORRE, 2001; ANTUNES, 2015). Para Gomes (2007), a pesquisa documental está para além de uma técnica ou procedimento de coleta de dados, configura-se como uma metodologia de pesquisa. Uma vez que, considera a epistemologia, a teoria que orienta os conceitos e princípios do trabalho 42 científico, a morfologia que estrutura sistematicamente o objeto de estudo e, por fim, a técnica que controla a escolha da coleta de dados que deve propiciar um diálogo entre os achados documentais e a teoria. Ao que tange a abordagem quantitativa, esta subsidia análise de grandes aglomerados de dados, do ponto de vista social, a fim de classificá-los e torná-los inteligíveis através de variáveis. Os dados se apresentam como indicadores, tendências observáveis, de forma confiável e sem vieses. Tal modelo baseia-se na formulação de hipóteses e técnicas de verificação sistemática, a fim de explicar os fenômenos estudados por meio de estatística (PONTE, 2012; TURATO, 2009). Sendo assim, este estudo realiza análise de um grande conjunto de dados, seja pela expressão quantidade de informações exploradas, seja pelo corte temporal e ou pela magnitude de se analisar uma política vigente. Ademais, além de realizar a mensuração estatística de tal política circunscrito no estado do Ceará. 5.2 Cenário do estudo O estado do Ceará conta com 184 municípios e uma população estimada de 9,1 milhões de habitantes em 2019, sendo o 8º estado mais populoso do país e sua capital, Fortaleza, a segunda mais populosa da região Nordeste. Apresentando um IDH de 0,682 e uma esperança de vida 73,6 (IBGE, 2020). Torna-se cenário deste estudo a Estratégia de Saúde da Família (ESF) e as Equipes de Saúde Bucal (eSB) do Estado do Ceará. Desde o ano de 1994 a Coordenadoria de Saúde da Família do Estado do Ceará adotou a atenção à Estratégia Saúde da Família como estratégia central de atuação. Em 1998, o Estado começou a passar um por processo de regionalização e descentralização, sendo um dos pioneiros. Desde então, busca-se adotar um sistema regionalizado e hierarquizado em níveis de complexidade de atenção em territorialidades de micro e macrorregiões de saúde, estando a Atenção Primária na responsabilidade das regiões de saúde (SESA, 2007; SESA, 2019). Até dezembro de 2019, o estado do Ceará contava com 2.469 eSF e 1.893 eSB implantadas e distribuídas em todos os munícipios e organizadas, de acordo com o decreto 33.602 de 2020, em cinco superintendências (Fortaleza, Sertão Central, Norte, Cariri, Litoral Leste) e em 22 Áreas Descentralizadas de Saúde (ADS). Quanto a cobertura 43 populacional a eSF possuía cobertura de 82,9% e a cobertura de eSB era de 66,74% (BRASIL 2020; SESA, 2019). 5.3 Coleta de dados Os dados de cada município do Ceará foram coletados no site oficial do Departamento de Informática do SUS (DATASUS), via Tabnet. Para isto, utilizou-se um instrumento de busca (APÊNDICA B), composto por dados sociodemográficos e de saúde bucal, correspondente a série temporal de 2009 a 2019. Foram coletados dados sociodemográficos como: estimativa da população municipal para o ano de 2019, Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM) e Índice de Gini, ambos para o ano de 2010. O IDHM, mede e avalia a qualidade de vida de uma população utilizando como critérios indicadores de educação, esperança de vida e renda. Já o Índice de Gini é uma medida de desigualdade, uma vez que assinala a diferença entre o rendimento dos mais pobres e mais ricos, genericamente. Por fim, para a população foi utilizada a estimativa populacional para cada ano. Vale ressaltar que as variáveis população e IDHM foram captados do banco de dados do IBGE, enquanto o e Índice de Gini do Datasus. Os dados relacionados a saúde bucal foram organizados em categorias de busca de acordo com os eixos da Política Nacional de Saúde Bucal, sendo eles: acesso, promoção/ prevenção à saúde, recuperação e reabilitação. De modo que, fosse possível mensurar acesso ao serviço por meio de: número de primeira consulta odontológica programática, número de equipes de saúde bucal (eSB) e cobertura populacional de saúde bucal. Para mensurar a promoção e assistência à saúde foram considerados: escovação dental supervisionada, ação coletiva de bochecho fluoretado, ação coletiva de aplicação tópica de flúor, Aplicação tópica de flúor (individual por sessão), aplicação de cariostático, aplicação de selante, profilaxia/ remoção
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